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PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA •Nº 470 •ANO XLII JANEIRO 2013 • MENSAL • 1,50

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PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA •Nº 470 •ANO XLII JANEIRO 2013 • MENSAL • € 1,50

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MUSEU DE MARINHAO Museu de Marinha foi enriquecido no ano de 2012 com dois modelos dos navios-escolas Sagres

que prestaram serviço na Marinha Portuguesa no século XX.

Sagres I Modelo construído nas Oficinas do Museu de Marinha. Incorporado na exposição permanente do Museu de Marinha em 8 de março de 2012.

Sagres IIModelo construído pela empresa Modellbau Georgi GmbH, de Berlim. Oferecido ao Museu de Marinha pelo grupo industrial alemão Thyssenkrupp Marine Systems, detentor dos estaleiros Blohm + Voss, de Hamburgo, onde o navio foi construído. Modelo entregue em 20 de Julho de 2012 por Reinhard Kuhlmann, membro do Conselho Executivo da Thyssenkrupp Marine Systems.

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CONTRACAPA

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MUSEU DE MARINHAREFLEXÃO ESTRATÉGICA 6

OCEAN REVIVAL . “A NOVA MISSÃO”

ACTIVIDADES DO NÚCLEO DE RADIOAMADORES DA ARMADA

NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (19)

O COMBATE DO NRP VEGA. HOMENAGEM AO CABO ANÍBAL JARDINO, EM BRAGANÇA

TOMADA DE POSSE / ENTREGA DE COMANDO

OS NÁUTICOS

QUARTO DE FOLGA

O ARPÃO NO SNMG2. CONCLUSÃO

TOMADA DE POSSE

CURSO “OLIVEIRA E CARMO” VISITA A ESCOLA NAVAL

NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS

COMISSÃO CULTURAL DA MARINHA

A “PEDRA FILOSOFAL” DA DIRECÇÃO DO SERVIÇO DE ELECTRICIDADE E COMUNICAÇÕES

HIERARQUIA DA MARINHA 20 / VIGIA DA HISTÓRIA 50

NAVIOS HIDROGRÁFICOS

A DIVERSIDADE DE EMBARCAÇÕES TRADICIONAIS DO ESTUÁRIO DO TEJO

COMANDANTE SOEIRO DE BRITO

ESTÓRIAS

Mensagem de Natal e de Ano Novo do Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada e Autoridade Marítima Nacional

Escola NavalAbertura do Ano Letivo

O NRP Álvares Cabral no POST

Jornadas do Mar

Publicação Oficial da MarinhaPeriodicidade mensal

Nº 470 • Ano XLIIJaneiro 2013

DiretorCALM EMQ

Luís Augusto Roque Martins

Chefe de Redação CMG Joaquim Manuel de S. Vaz Ferreira

Redação1TEN TSN Ana Alexandra Gago de Brito

Secretário de RedaçãoSAJ L Mário Jorge Almeida de Carvalho

Colaboradores PermanentesCFR Jorge Manuel Patrício Gorjão

CFR FZ Luís Jorge R. Semedo de MatosCFR SEG Abel Ivo de Melo e Sousa

1TEN Dr. Rui M. Ramalho Ortigão Neves

Administração, Redação e PublicidadeRevista da Armada

Edifício das InstalaçõesCentrais da Marinha

Rua do Arsenal1149-001 Lisboa - Portugal

Telef: 21 321 76 50Fax: 21 347 36 24

Endereço da Marinha na Internethttp://www.marinha.pt

e-mail da Revista da [email protected]

Paginação eletrónica e produçãoSmash Creative

Tiragem média mensal:4500 exemplares

Preço de venda avulso: € 1,50Revista anotada na ERC

Depósito Legal nº 55737/92ISSN 0870-9343

ANUNCIANTES:LISSA - AGÊNCIA DE DESPACHOS E TRÂNSITOS, Lda; ROHDE & SCHWARZ, Lda.

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SUMÁRIO

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JANEIRO 2013 • REVISTA DA ARMADA4

MAHAN: O HOMEM NO SEU TEMPOMAHAN: O HOMEM NO SEU TEMPO

Na sequência do artigo publicado na edição de Junho do ano transacto, e para se continuar a analisar a valia

de Mahan como teórico da estratégia naval, é indispensável recordar o homem e situá--lo no seu tempo.

Mahan nasceu em West Point, Nova Ior-que, a 27 de Setembro de 1840, e morreu a 1 de Dezembro de 1914, em Washington. Era filho de Dennis Hart Mahan, professor da United States Military Academy.

Depois de concluir a United States Na-val Academy em 1859, prestou serviço activo na United States Navy durante cerca de 40 anos, tendo embarcado em diversos navios como oficial de guarni-ção e comandante. Também foi instrutor na United States Naval Academy.

Em 1885, após ter sido promovido ao posto de capitão-de-mar-e-guerra, foi nomeado instrutor de História e Táctica Naval no United States Naval War Col-lege, que acabara de ser criado. Mahan presidiu a esta instituição de 1886 a 1889 e de 1892 a 1893. Foi no exercí-cio dos cargos referidos que organizou as notas das aulas, a partir das quais redi-giu a sua obra mais conhecida e relevante, The Influence of Sea Power Upon History, 1660/1783, publicada em 1890 e que teve enorme influência no pensamento estraté-gico naval do início do século XX. Nesta obra, analisa a competição pelo domínio dos mares entre a França e o Reino Unido durante os séculos XVII e XVIII, para demonstrar que o poder naval é o factor decisivo no controlo do co-mércio marítimo e na vitória em caso de conflito.

Em Maio de 1893, sen-do já muito conhecido, foi nomeado comandante do USS “Chicago”, um cruza-dor que realizou uma visita de demonstração de força à Europa, onde foi recebido e homenageado aos mais altos níveis políti-co, académico e social. Depois desta mis-são retomou o cargo de instrutor no United States Naval War College, onde passou à reserva em 1896.

No ano de 1898, durante a Guerra Hispano--Americana, voltou ao serviço activo no Naval War Board, como consultor de estratégia naval do Secretário da Marinha e do Presidente dos EUA. Foi promovido a contra-almirante em 1906, quando o Congresso dos Estados Unidos aprovou a legislação que determinou a promo-ção ao posto superior, de oficiais de marinha que serviram na Guerra Civil Americana.

Depois de retirado da vida militar, Mahan continuou a escrever artigos e livros, a profe-rir conferências e foi distinguido com diver-sos diplomas honoríficos pelas Universida-des de Harvard, Yale, Columbia, Dartmouth e McGill. Até ao fim da sua vida manteve uma profunda devoção religiosa e uma visão do mundo determinada pela convicção de que a Providência Divina traça o destino dos povos e alimenta a inspiração que produz

novas ideias. Foi com base nesta devoção e convicção que justificou e apresentou o expansionismo progressivo dos EUA, como um contributo para o dever ocidental de ci-vilizar a Humanidade, e que considerou a dinâmica conflitual entre os Estados como inevitável, recorrente, aceitável e necessária ao engrandecimento de todos eles.

O tempo de Mahan foi muito favorável à divulgação do seu pensamento estratégico no Reino Unido e nos EUA, embora por ra-zões distintas.

No Reino Unido vivia-se um momento particularmente difícil, por a tecnologia ter desvalorizado os elementos estruturantes da utilidade e valia da Royal Navy como instru-mento político. Com efeito, por um lado, de-corria um processo particularmente difícil de transformação da marinha da era da vela e da madeira para a marinha da era do vapor e do aço, e da artilharia de carregar pela boca para a artilharia de culatra e percussão central,

com a incorporação simultânea das tecnolo-gias e das tácticas associadas às granadas de alto explosivo e aos torpedos. Por outro lado, o incremento do volume e da diversidade do comércio marítimo internacional, ques-tionava a predominância do transporte das mercadorias em navios britânicos. Acrescia, ainda, que a ferrovia mostrava a possibilida-de dos países continentais se desenvolverem sem recurso a marinhas, enquanto o telégrafo

reconfigurara as possibilidades das co-municações terrestres. Nestas circunstân-cias, a outrora inquestionável utilidade e o valor decisivo da Royal Navy, como instrumento político preferencial do Rei-no Unido para garantir a sua prosperida-de e afirmação internacional, pareciam condenadas à irrelevância.

Nos EUA a situação era completa-mente diferente da descrita para o Rei-no Unido. O país estava empenhado na ocupação progressiva e efectiva do vasto território do continente norteame-ricano. Por isso, os assuntos marítimos tinham sido colocados numa prioridade política remota. É certo que esta situação

contribuiu, de forma relevante, para o facto de, na época de Mahan, a United States Navy ser composta apenas por unidades cos-teiras, que se encontravam em grande obso-lescência tecnológica e não dispunham de capacidade militar válida numa guerra entre potências navais de primeira ordem. Porém, não se pode esquecer que o almirantado nor-

te americano, após a Guerra Civil dos EUA, se havia opos-to ao abandono dos navios à vela, a favor da adopção da tecnologia emergente dos navios a vapor!

Nestas circunstâncias, o pensamento estratégico de Mahan serviu perfeitamente as pretensões políticas do Reino Unido e dos EUA no início do século XX, porque, ao colocar as prioridades

navais na primeira linha dos requisitos ne-cessários à riqueza e grandeza ambiciona-da pelos líderes dos dois países, contribuiu decisivamente para viabilizar os investi-mentos necessários à aquisição de meios materiais e de conhecimentos técnicos, bem como à experimentação de procedi-mentos, que são os factores determinantes do sucesso de toda a estratégia naval.

António Silva RibeiroCALM

N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico.

USS Chicago.

US Naval War College.

REFLEXÃO ESTRATÉGICA 6

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REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2013 5

MENSAGEM DE NATAL E DE ANO NOVODO ALMIRANTE CHEFE DO ESTADO-MAIOR DA ARMADA

E AUTORIDADE MARÍTIMA NACIONAL

MENSAGEM DE NATAL E DE ANO NOVODO ALMIRANTE CHEFE DO ESTADO-MAIOR DA ARMADA

E AUTORIDADE MARÍTIMA NACIONAL

Ao entrar neste Novo Ano, e no espírito desta qua-dra em que nos encontramos, saúdo todos os que servem Portugal na Marinha.

Gostaria de começar, manifestando toda a minha solida-riedade para com aqueles que, no mar ou em terra, por motivos de serviço, não podem estar no seio da sua famí-lia, pois esta é sem dúvida uma época para celebrar a paz e a amizade com os nossos entes queridos.

Terminamos um ano de grande exigência e rigor, onde as restri-ções que foram impos-tas ao País refletiram--se sobremaneira na Marinha. No entanto, e fruto do esforço de to-dos os que, apesar das dificuldades, continu-am a lutar por um fu-turo melhor, consegui-mos honrar os nossos compromissos.

Cumprimos um con-junto alargado de mis-sões, das quais relevo as relacionadas com a segurança e autorida-de do Estado nas águas de jurisdição nacional, a presença nos países de língua oficial portuguesa, a manutenção de paz em Ti-mor-Leste, no Kosovo e no Afeganistão, a participação de uma fragata na Operação Atalanta, no âmbito do combate à pirataria, e a integração de um submarino no SNMG2. Ainda, e em tempo recorde, aprontámos e fizemos ao mar a Força Naval Portuguesa, como componente da Força de Reação Imediata (FRI), para eventual apoio à evacuação de cidadãos nacionais da Guiné-Bissau.

É, assim, oportuno reconhecer publicamente o trabalho efectuado pelos que no mar, a partir do mar, no litoral e nos serviços em terra, independentemente de serem mili-tares, militarizados ou civis, dão o melhor do seu esforço e dedicação ao País e à Marinha.

No que respeita a 2013, estou bem ciente das dificuldades que temos de enfrentar. Será, indubitavelmente, um ano de enormes restrições onde apenas com o engenho e a arte que caracteriza os que cumprem Portugal no mar, vamos poder continuar a cumprir as nossas missões. Conto assim com o rigor, a dedicação e a entrega de todos, na procura de soluções que permitam resolver as dificuldades e desta

forma encontrar o caminho adequado para manter a nossa Marinha como uma instituição de referência, otimizada e eficiente.

Iremos, finalmente, receber o tão aguardado NPO Figuei-ra da Foz, mais uma unidade de um programa que é fun-damental para substituir as envelhecidas corvetas. Iremos também assumir o comando e prover o navio almirante da EUNAVFOR, força da união europeia que combate a pira-

taria no oceano Índico, para além de continuar-mos a assegurar a ma-nutenção do Dispositi-vo Padrão.

Estão em curso im-portantes alterações ao corpo legislativo que rege toda a instituição militar, alterações estas que visam uma melhor adaptação aos tempos modernos e torná-la mais eficaz. Estou cer-to que todos sairemos a ganhar, pois com o trabalho, o empenho e a dedicação de todos os homens e mulheres que servem na Marinha, podemos auspiciar um futuro melhor, e destes

tempos difíceis sairemos mais fortes e mais capazes de dar o nosso contributo para o desígnio nacional de tornar o mar num vetor essencial do desenvolvimento português.

Podem contar com o Comandante da Marinha, para de-fender os superiores interesses da nossa centenária insti-tuição, como sei que posso contar com a vossa coesão, dis-ciplina e sentido de missão para superar esta “tempestade” e rumar à “bonança”.

Termino esta minha mensagem fazendo votos para que o Ano Novo proporcione, a todos, a realização dos vossos anseios, pessoais e profissionais, e vos traga satisfação pelo dever cumprido e orgulho em servir na Marinha.

Desejo a todos um Feliz Natal e um próspero 2013.

José Carlos Saldanha LopesAlmirante

Militares, Militarizados e Civis da Marinha:

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JANEIRO 2013 • REVISTA DA ARMADA6

O COMBATE DO NRP VEGAÍNDIA–18DEZ1961

Homenagem ao Cabo Aníbal Jardino, em Bragança

Na sequência das comemorações ocorridas no ano passado, no âmbito do cinquentenário dos

combates navais na Índia, a Câmara Mu-nicipal de Bragança convidou a Marinha a participar na homenagem a um «filho da terra» que neles participou, o Cabo Aníbal Jardino. As diversi-ficadas cerimónias decorreram nos dias 2 e 3 de novembro, tendo a Marinha tido uma par-ticipação ativa nas mesmas. A representação foi ao mais alto nível, contando com a presença do Almirante Chefe do Estado--Maior da Armada (CEMA), com o Vice-almirante Vice-chefe do Estado-Maior da Armada e com o Vice-almirante Diretor da Co-missão Cultural da Marinha. Es-tiveram ainda presentes diversas entidades locais e o Professor Doutor Adriano Moreira, trans-montano ilustre que, à data dos acontecimentos, era o ministro com a tutela do Ultramar.

No dia 2 de novembro prestou--se homenagem aos militares falecidos, no talhão dos Com-batentes do cemitério do Toural. No dia 3, com a presença, de-signadamente, do Presidente da Câmara de Bragança, do Almi-rante CEMA e do Presidente da Liga dos Combatentes, realizou--se nova cerimónia de home-nagem, agora ao Cabo Aníbal Jardino e junto ao monumento que celebra a sua memória. Am-bas as cerimónias incluíram a deposição de coroas de flores e contaram com a intervenção de uma guarda de honra assegura-da pela Marinha, através de uma secção de fuzileiros e um terno de clarins. Na tarde desse mes-mo dia 3 inaugurou-se, no Cen-tro Cultural Adriano Moreira, uma exposição dedicada aos úl-timos combates navais da Índia, organizada pelo Museu de Mari-nha. À noite ocorreu uma sessão cultural no Teatro Municipal de Bragança. Numa primeira parte, fez-se a evocação do combate da lancha Vega. Após curtas in-tervenções do Almirante CEMA e do Presidente da Câmara Municipal de Bragança, usou da palavra o Professor Doutor Adriano Moreira, o qual fez o en-quadramento das circunstâncias políticas

conducentes à ação da União Indiana so-bre os territórios do então Estado da Índia. Seguiu-se uma entrevista aos marinheiros sobrevivos da Vega, os Sargento-ajudan-te Francisco Mendes Freitas, Primeiro--sargento Venâncio dos Ramos e Cabo

Armando Cardoso da Silva, entrevista que foi coordenada pelo Capitão-de-mar--e-guerra Engenheiro Maquinista Naval José Vitoriano Cabrita, o qual também

participou nos combates navais de 18 de dezembro de 1961, a bordo do aviso Afonso de Albuquerque. A noite encerrou com um concerto pela Banda da Armada, que contou com a participação da canto-ra Dulce Pontes.

Exposição «Os últimos com-bates navais na Índia»

Nesta exposição procurou--se evocar a participação da Marinha nos combates contra as forças da União Indiana nos territórios que integravam o Es-tado Português da Índia. Desde 1947, ano da sua independên-cia que a União Indiana recla-mava a anexação dos territórios portugueses. A situação degra-dou-se significativamente em 1960, culminando com a inva-são em final de 1961. Na defesa do espaço português participa-ram dois navios, o aviso Afonso de Albuquerque, em Mormu-gão, e a lancha Vega, em Diu.

Na madrugada de 18 de de-zembro de 1961, a fortaleza de Diu foi atacada pela aviação indiana. A Vega, sob o coman-do do Segundo-tenente Olivei-ra e Carmo, foi empenhada na proteção da fortaleza contra os ataques aéreos. O combate foi muito desequilibrado, pois a Vega apenas dispunha de uma peça Oerlinkon de 20 mm, para fazer frente à aviação inimiga. Após cerca de uma hora e meia de combate, o navio foi afunda-do, em resultado dos inúmeros projécteis que o atingiram. Per-deram a vida o seu comandante e os marinheiros António Fer-reira e Aníbal dos Santos Fer-nandes Jardino. O marinheiro Aníbal Jardino foi promovido por distinção ao posto de Cabo, a título póstumo, tendo-lhe sido concedidas a Medalha de Cobre de Valor Militar, com Palma e a Medalha Militar por Promoção. De acordo com o documento de concessão da Medalha de Cobre de Valor Militar, Aníbal Jardino demonstrou, perante o

combate, extraordinária coragem e in-vulgar abnegação.

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REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2013 7

O Arpão no SNMG2O Arpão no SNMG2CONCLUSÃO

No último artigo – PARTE 2 – havíamos fi-cado com o Arpão em trânsito para Car-tagena, após ter terminado a 2ª patrulha

integrada na OAE, a qual a NATO designa por SURGE, dada a sua natureza anti-terrorista. Na manhã de 29 de Outubro chegámos a Cartage-na, após um trânsito sem problemas tendo sido recebidos por toda a estrutura de Coman-do da nossa Esquadrilha “irmã”.

Cartagena é uma cidade desconhecida para a maior parte do pessoal da nossa Marinha, no entanto para a comunidade submarinista é uma cidade não só conhe-cida como muito importante. Durante 3 décadas Cartagena representou um local de encontro entre as duas Esquadrilhas Ibé-ricas, tantos eram os aspectos em comum da vida de ambas as comunidades de sub-marinistas, centrada numa plataforma co-mum, os submarinos da classe “Daphné”. Os 3 dias passados em porto ofereceram muitas oportunidades de interacção entre as guarnições do Arpão e do “host ship”, o “Tramontana”. Foi possível ficar com uma primeira impressão da forma como se encontra o desenvolvimento dos futuros submarinos espanhóis, designados “S80”. A Marinha de Espanha aponta para um submarino com um desenho nacional, ba-seado na classe Scorpene, mas com carac-terísticas semelhantes ao nosso “209PN”, estando atualmente projetadas 4 unidades. Assim, foi de uma forma emotiva que lar-gámos no final da tarde dia 1 de novem-bro deste relevante porto, o qual constitui um excelente ponto de apoio naval para os nossos submarinos quando em missão nesta área do Mediterrâneo e para a ma-nutenção de uma longa relação bilateral efetiva com nossos “irmãos” espanhóis. O trânsito entre Cartagena e Lisboa fez-se sem sobressaltos, tendo o Arpão realizado a sua primeira passagem em imersão, no sentido Leste-Oeste do Estreito de Gibraltar.

O regresso a Lisboa deu-se na tarde do dia 6 de novembro, após ter largado da Base Naval de Lisboa em 28 de agosto e ter integrado, pela pri-meira vez na história dos submarinos portugueses, a Força Naval Permanente da NATO (SNMG2). Em termos de resumo da missão realizada pode-mos afirmar que a integração concretizou-se no período de 4 de setembro e 27 de outubro, onde efectuou duas patrulhas no âmbito da Operação “Active Endeavour” (OAE) e participou no exercí-cio “Noble Mariner 12” (NOMR12).

A OAE é a única operação militar no âmbito do artigo 5º do Tratado da Aliança Atlântica, ten-do como objectivo principal combater todas as atividades que podem sob qualquer forma con-tribuir para o aparecimento, desenvolvimento e concretização de actividades de natureza terro-rista em ambiente marítimo no Mediterrâneo.

O exercício NOMR 12 teve como objectivo principal a certificação da Força de Reacção Rá-

pida (NRF) da NATO para 2013, permitindo a integração e o treino da interoperabilidade dos diferentes meios participantes.

A participação do submarino Arpão nesta mis-são teve a duração de 71 dias, dos quais 31 foram em patrulha nas áreas de operações da OAE, com uma taxa de navegação total cerca de 83%.

Das tarefas efetuadas pelo submarino portu-guês destacam-se as seguintes actividades:

Recolha de dadosContribuição para a compilação do panorama

marítimo em áreas sensíveisControlo do tráfego marítimo no MediterrâneoApoiar as operações do SNMG2O resultado desta missão foi bastante positivo,

tendo a participação do Arpão sido bastante elo-giada pelas entidades da NATO, tanto referentes à sua participação no exercício NOMR 12, quer pelas capacidades demonstradas na OAE.

Reflexo disso foi a carta elogiosa enviada pelo Comandante da Força de Submarinos NATO para o Mediterrâneo, CALM Roegge, da US Navy, o qual havia detido o OPCON do submari-no durante o período da integração:

“Quero aproveitar esta oportunidade para elogiar o sucesso da participação do NRP “Ar-pão” e pelo seu apoio à NATO e na guerra contra o terrorismo. Fiquei impressionado pela

mostra de profissionalismo, pela determinação e pelo espírito do NRP Arpão. A sua atitude sempre vigilante contribuiu bastante para com-pilação do panorama marítimo e para esta im-portante operação da NATO.

Além disso, o seu desempenho no exercício Noble Mariner 2012 foi digno de nota e con-

tribuiu significativamente para o sucesso deste complexo exercício. Apreciei es-pecialmente as contribuições inteligen-tes e francas durante e após o exercício. Essas contribuições terão um impacto na melhoria futura dos exercícios da NATO.

Os meus sinceros agradecimentos pelo profissionalismo, dedicação e devoção à missão durante a integração do NRP Ar-pão. A sua contribuição para a NATO e para a guerra global contra o terrorismo foi louvável.”

De igual forma o CALM Kheeler, da GE Navy, Comandante do SNMG2 enviou as melhores referências do Arpão, salientan-do as suas capacidades enquanto platafor-ma e igualmente a relevante capacidade de adaptação dos submarinistas a novas realidades indicando que a missão havia sido cumprida com elevado mérito.

Finalmente chegou o dia de chegada a Lisboa a 6 de novembro. De facto não nos sentíamos a chegar de uma missão de 2 meses e meio, mas sim recordávamos que havíamos saído de Lisboa no dia 7 de março para realizar o PTO da Álvares Ca-bral, provas de calibração ao sonar IDRS, “Instrex 12”, trânsito para Kiel, docagem de garantia no estaleiro construtor – a qual durou 4 meses e meio, o trânsito para Lis-boa e apenas após uma semana de prepa-ração na BNL, a integração no SNMG2 o que totaliza praticamente 8 meses de missão contínua com 14 dias de paragem em Lisboa. Foi com base neste registo e com o consequente estado de espírito que

recebemos a bordo o Ministro da Defesa Nacio-nal, Dr. José Pedro Aguiar-Branco, acompanhado pelo Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, General Luís Evangelista Esteves de Araújo e pelo Chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante José Saldanha Lopes.

O embarque das altas entidades realizou-se como previsto na Baía de Cascais tendo sido oferecido um almoço no Posto a vante durante o trânsito à superfície para a BNL, tendo con-tado com a participação de representantes da guarnição e onde se trocaram impressões so-bre os mais diversos aspectos que revestiram o cumprimento da missão do Arpão.

Foi desta forma que às 1600 horas o Arpão atra-cou no cais 6 sul da Base Naval de Lisboa com o sentimento do dever cumprido, após termos na-vegado aproximadamente 1500 horas, 1480 das quais em imersão e percorrido 6670 milhas.

Colaboração do COMANDO DO NRP ARPÃO

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JANEIRO 2013 • REVISTA DA ARMADA8

O NRP ÁLVARES CABRALNO PORTUGUESE OPERATIONAL SEA TRAINING

O NRP ÁLVARES CABRALNO PORTUGUESE OPERATIONAL SEA TRAINING

INTRODUÇÃOCom partida de Lisboa em 10 de setem-

bro e regresso a 28 de outubro, o NRP Álvares Cabral, após quase 50 dias de mis-são, cumpriu o Portuguese Operational Sea Training (POST), em Inglaterra sob a égide do Flag Officer Sea Training (FOST), no período de 17 de setembro a 25 de outubro de 2012.

Após um longo período de manu-tenção, com a realização de uma revisão intermédia que decorreu de Janeiro a novembro de 2011, a Álvares Cabral iniciou o seu treino em fevereiro de 2012 através do Plano de Treino Básico (PTB), com uma duração de 4 semanas e acom-panhamento da Equipa de Avalia-ção do Centro Integrado de Treino e Avaliação Naval (EACITAN). Este treino nacional teve como objetivo garantir a preparação do navio para participar em exercícios básicos e para ações de presença naval, mas permitiu sobretudo elevar o patamar de desempenho de modo a retirar o máximo rendimento do treino sub-sequente, a realizar em Inglaterra, no POST 2012.

O POST da Álvares Cabral decor-reu durante as habituais 6 semanas, tendo desta feita sido distribuídas por uma semana de terra e quase 5 semanas de mar, uma vez que a quarta semana de treino, tradicional-mente uma semana de terra, foi pas-sada no mar de terça a quinta-feira.

O MASCO POST 2012 iniciou-se com a

inspeção inicial, designada por Ma-terial Assessment and Safety Check (MASC), que teve como objetivo a avaliação do estado do material e dos procedimentos de segurança durante a condução de séries de tiro, combate a incêndios e testes aos sen-sores, sistemas de comando e contro-lo e sistemas da plataforma.

O dia do MASC, em excelentes condições meteorológicas, foi bastante positivo e o navio cumpriu todas as séries previstas, no horário planeado, de forma eficaz e em se-gurança, tendo nesta sequência sido consi-derado seguro e pronto para iniciar o treino.

PRIMEIRA SEMANA DE TERRAOs restantes dias da primeira semana decor-

reram com o navio atracado na Base Naval de Devonport, onde foram realizadas várias ações de treino, palestras, reuniões e exercí-cios diversos, que tiveram como objetivo a

preparação para a primeira semana de mar.Esta primeira semana de terra permitiu o

início da adaptação da guarnição a um rit-mo de trabalho específico, mas foi também a oportunidade de conhecer os Seariders (avaliadores) que acompanhariam o navio durante as 6 semanas de treino.

No dia 20 de Setembro, foi oferecida uma receção a bordo, que teve a presença do Almirante FOST - Rear Admiral Clive Jo-hnstone CBE. Na receção, a boa disposição garantiu um momento de agradável conví-vio e troca de experiencias entre a guarni-ção da Álvares Cabral e os elementos do FOST.

AS DUAS PRIMEIRAS SEMANAS DE MAR

Após o MASC, as duas primeiras semanas de mar revelaram-se igualmente um desa-

fio para a guarnição, exigindo uma adapta-ção rápida a um plano de treino exigente, com o cumprimento de um seriado intenso em áreas tão diversas como operações, me-cânica, eletricidade, limitação de avarias, marinharia, logística, saúde, armas e eletró-nica e navegação.

Este período de treino foi uma prova à determinação e destreza da guarnição. Os dias começam cedo e acabam tarde, sempre com um calendário de treino muito exigente e ao mesmo tempo aliciante. Nesta fase, os avaliadores têm a preocu-pação de acompanhar a execução das séries de forma mais próxi-ma, mantendo uma abordagem de maior ajuda e ensinamento, com o objetivo de garantir a consolidação de procedimentos corretos que per-mitam a posterior evolução gradual do desempenho.

As duas primeiras semanas de mar marcaram também o início dos “dias de guerra”, conduzidos às terças e quintas-feiras, com a realização das séries em postos de combate. Es-tas séries caracterizam-se pela sua complexidade e intensidade, com toda a guarnição envolvida na con-dução da guerra área, de superfície, submarina, minas e assimétrica, e ao mesmo tempo também envolvida in-ternamente nas áreas da mecânica, eletricidade, limitação de avarias e emergência médica, no combate aos incidentes, emergências e avarias causados pelo “inimigo” ou decor-rentes da normal operação do navio em situação de combate.

Durante este período foram joga-das duas grandes séries com inci-dentes de significativa dimensão e necessidade de estabelecimento de postos de emergência: o F4 (gran-de incêndio em espaço de máqui-nas) e o “Crash on deck” (queda do helicóptero no convés de voo), nas quais foram testadas a capacidade

de comando e controlo e controlo de da-nos e avarias, em cenário particularmente difícil.

SEGUNDA SEMANA DE TERRA

Apesar de designada “Semana de Terra”, esta edição do POST revelou uma semana de terra com três dias de mar para a reali-zação de duas “Training War” e exercícios na área da marinharia e operações. Foi, à semelhança das duas semanas anteriores, um período de treino intenso e culminou

A iniciar aproximação para reabastecimento.

O Lynx armado com torpedos e pronto a descolar.

Reabastecimento no mar com RFA Wave Knight.

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com a realização do Disaster Relief Exercise (DISTEX) na 6ª feira.

O DISTEX é uma experiência que marca todos os que já participaram no POST. Trata--se de um exercício que se desenrola num cenário de ajuda humanitária a uma vila afetada por uma catástrofe natural. O na-vio é chamado a prestar o primeiro apoio à população sinistrada, através de ajuda médica e especializada para restaurar as in-fraestruturas de primeira necessidade. Para o efeito, procedeu-se a um trabalho exaustivo de planeamento e identificação das equi-pas e meios necessários para prestar o auxílio à população sinistrada e, nesse sentido, foi projetada no terre-no uma equipa de 100 militares que prestaram o auxílio solicitado.

Neste exercício, o FOST contou com a colaboração de civis (alguns verdadeiros atores) que personifica-ram os sobreviventes da população afetada e cuja representação tornou difícil a distinção entre a realidade e a ficção, de tão credível que é a caracterização e encenação dos participantes.

AS DUAS ÚLTIMAS SEMANAS DE MAR

Na penúltima semana de treino, a Álvares Cabral foi nomeada navio--chefe da força naval em treino, o que implicou um esforço acrescido no planeamento, coordenação e condu-ção das principais séries da semana.

Esta semana, exigente em termos de treino e marcada por condições de mar muito adversas, foi para além das habituais “Training War”, orientada para a execução de exer-cícios de tiro real, luta anti-superfí-cie e anti-submarina e atividades na área de marinharia.

Na 6ª feira, à chegada do navio à Base Naval de Devonport, a semana terminou com a realização do Ship Protection Exercise (SPE), com o na-vio atracado. Este treino decorre num cenário em que o navio atraca para reabastecer e reparar avarias, e em que após atracar é confrontado com um estado de anarquia em terra, com a incapacidade das autoridades locais de garantirem a proteção ao navio e ao mesmo tempo com a existência de ameaça terrorista. Este quadro, cumpri-do de forma realista através de um número muito significativo de figurantes, colocou à prova a defesa própria em situações de ame-aça assimétrica e demonstrou a mais-valia do pelotão de fuzileiros embarcado e a ade-quabilidade do planeamento e da reação da guarnição, que permitiu enfrentar com assi-nalável sucesso as dificuldades associadas a esta situação.

Na última semana de treino, destaca-se a re-alização dos exercícios SALVEX, BOARDING, F7 (grande alagamento) e a Inspeção Final.

O SALVEX permitiu treinar a guarnição para apoio a um navio sinistrado no mar e o BOARDING concentrou-se numa ope-ração de interdição marítima, através de uma ação de abordagem e vistoria na qual se desenvolveu um cenário de múltiplas complicações, incluindo o ataque a tiro à equipa de boarding e a posterior necessida-de de prestação de primeiros socorros e de evacuação do militar atingido.

No exercício F7, primeiro exercício des-te género realizado por navios da Marinha no POST, o cenário jogado foi baseado em

factos reais, que ocorreram no encalhe do navio Inglês HMS Nottingham em Julho de 2007, quando navegava ao largo da costa da Austrália. Foi simulada uma situação de graves danos no casco, resultando em grandes alagamentos em diversos compar-timentos. Neste cenário, o navio em “postos de emergência” envolveu toda a guarnição no combate ao sinistro, tendo o período da manhã sido passado a efetuar escoramentos de grandes dimensões, assistência a cerca de duas dezenas de feridos, combate a in-cêndios provocados pelo encalhe e recupe-ração dos circuitos de alimentação elétrica.

Este exercício, de elevado nível de desgaste físico, foi um teste ao trabalho de equipa, revelou uma guarnição coesa e com ele-vado espírito de entreajuda e constituiu-se como uma valiosa experiência que pode-rá eventualmente vir a ser usada no treino nacional. Deve ainda ser referido, a título de curiosidade, que o chefe da equipa de avaliação deste exercício era o oficial que exercia funções de Chefe de Departamen-to de Propulsão e Energia no HMS Nottin-gham quando ocorreu o respetivo encalhe e, no exercício das suas funções, lidou na

realidade com aquele grave sinistro.No último dia de treino decorreu

Inspeção Final, em que embarcaram o Oficial Inspetor – Comodoro Mike Mansergh CBE e 40 Seariders que avaliaram e inspecionaram estrutu-ras, sistemas e desempenhos, com um formalismo e protocolo tradicio-nais e muito vincados. Este dia, espe-cial para todos, revelou um navio que soube aproveitar as seis semanas de treino que lhe foram proporcionadas, que atingiu os padrões de prontidão exigidos à classe e que, mais impor-tante que tudo, se encontra pronto a ser empenhado operacionalmente e a defender os interesses de Portugal no mar.

CONCLUSÃOO POST é uma missão peculiar

que marca todos os que já tiveram oportunidade de nela participar. Treinar no FOST é sem dúvida uma experiência única. O acesso ao co-nhecimento consolidado e extraído das melhores práticas de várias ma-rinhas e os meios aéreos e navais dis-poníveis constituem uma excecional mais-valia que importa continuada-mente manter, porque é garante dos melhores padrões de desempenho na nossa esquadra.

O POST 2012, com início na Base Naval de Lisboa muitos meses an-tes da largada para Inglaterra, só foi possível com o inexcedível apoio de todos aqueles que em terra apoiam a esquadra no mar e que, apesar das consabidas dificuldades que todos atravessamos, através do seu melhor trabalho dotaram a Álvares Cabral

dos meios humanos, financeiros e mate-riais que permitiram a robustez e o suporte necessário ao cumprimento da missão em Plymouth.

Deve ainda, e em justiça ser referido o apoio da equipa de ligação (Portuguese Liaison Team) que integrada no Staff do FOST acompanhou e apoiou o navio, de forma incansável, durante todo o período de treino.

Colaboração do COMANDO DO NRP ÁLVARES CABRAL

Treino de socorrismo durante o exercicio de defesa no porto.

Carregamento da Phalanx.

DISTEX - Posto de Comando em Terra.

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ABERTURA DO ANO LETIVO NA ESCOLA NAVAL

ESCOLA NAVAL

ABERTURA DO ANO LETIVO NA ESCOLA NAVAL

Decorreu na Escola Naval, no dia 16 de novembro, a Ses-são Solene de Abertura do

Ano Letivo, e a Sessão de Encerra-mento das Jornadas do Mar 2012.

Este ano, a cerimónia contou com a presença do Ministro da Defesa Nacional e do Secretário de Esta-do Adjunto e da Defesa Nacional, fazendo também parte da Mesa da Presidência o Chefe do Estado-Maior da Armada, o Chefe do Estado-Maior da Força Aérea, o Presidente das Jor-nadas do Mar 2012, o Presidente do Conselho do Ensino Superior Militar e o Comandante da Escola Naval.

A cerimónia foi iniciada com o Hino da Escola Naval, entoado pelos cadetes, seguindo-se uma alocução do Comandante da Escola Naval, CALM Bastos Ribeiro. Do seu discur-so destacam-se as seguintes palavras:

“A Escola Naval entregou à Marinha vinte e dois Guardas-marinhas do Curso Dom Rodrigo de Sousa Cou-tinho, com mestrado integrado, bem como oito oficiais do serviço técnico com o grau de licenciatura. Prepa-rámos ainda nove oficiais, técnicos superiores navais e especialistas. (…) Completaram e defenderam a dis-sertação quarenta oficiais, em com-plemento de estudos, convertendo os cursos antigos para o modelo de Bolonha. Aprontámos ainda para as Marinhas amigas de Moçambique e de Cabo Verde, respetivamente dois e um oficial. Atingimos taxas de suces-so escolar acima dos 65% no primei-ro ano e acima dos 95% nos restantes anos, o que muito nos apraz.”

(…) “Sabemos onde estamos e para onde queremos ir. Temos tido avanços significativos, mas também temos consciência que ainda temos um caminho a percorrer. (…) Preten-demos centralizar funcionalmente

a gestão da qualidade em todos os processos e actividades de forma-ção, reforçando os procedimentos existentes e formalizando um plano com medidas para a melhoria contí-nua do ensino”.

A lição inaugural, subordinada ao tema “Redes sem fios de sensores”, foi proferida pelo Professor Dr. Pe-dro Silva Girão, que colabora desde 1993 com a Escola Naval, lecionan-do a unidade curricular de Tecnolo-gia e Medidas Eléctricas.Para além da entrega dos Diplo-

mas de Mestrado e de Licenciatura, e dos Prémios Escolares, foram tam-bém entregues nesta cerimónia os Prémios das Jornadas do Mar 2012, o que possibilitou aos participantes deste colóquio assistirem à cerimó-nia militar de maior dimensão reali-zada anualmente na Escola Naval.

A cerimónia ficou também marcada pela oferta, ao Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada, de uma ré-plica do primeiro Estandarte da Com-panhia dos Guardas Marinhas pela Delegação da Escola Naval Brasileira que participou nas Jornadas do Mar 2012. Esta oferta foi efetuada no âm-bito da relação fraterna entre as duas academias irmãs, que se tem vindo a estreitar com a presença de delega-ções da Escola Naval do Brasil em su-cessivas edições das Jornadas do Mar.

Destacam-se ainda as presenças de antigos CEMA e comandantes da Es-cola Naval, do representante do Ge-neral Chefe do Estado-Maior do Exér-cito, do Vice-presidente da Câmara Municipal de Almada, do Presidente da Sociedade de Geografia de Lisboa, de Adidos de Defesa e Militares, e de representantes de instituições de Ensi-no Superior Militares e Civis.

Colaboração da ESCOLA NAVAL

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ESCOLA NAVAL

“O REENCONTRO COM O MAR NO SÉC. XXI”De 12 a 16 de novembro tiveram

lugar na Escola Naval, as Jorna-das do Mar 2012, subordinadas

ao tema “O Reencontro com o Mar no Século XXI”.

As Jornadas do Mar têm a configu-ração de um colóquio onde são apre-sentados trabalhos realizados pelos estudantes num ambiente de convívio saudável que conjuga o estudo com os aspetos lúdicos, numa experiência ím-par e única na formação do estudante universitário.

Foi a VIII edição deste colóquio, que tem vindo a ser organizado pela Escola Naval desde 1998 com periodicidade bienal, com o objetivo principal de pro-mover o estudo e a reflexão sobre o Mar, destacando o seu papel no passado e no presente e perspetivando a sua utiliza-ção no futuro.

Esta iniciativa, única, por ser dirigida apenas aos estudantes do Ensino Su-perior, pretende constituir um estímulo para a apresentação e discussão temá-tica orientada, proporcionando a con-vivência entre os alunos de diferentes instituições do Ensino Superior e per-sonalidades ligadas às várias áreas em debate. Pretende-se incentivar assim as novas gerações para as questões rela-cionadas com o Mar, nas suas diversas vertentes, tendo sempre em mente os benefícios que podem advir da nossa condição de país marítimo que tem no mar o mais importante fator de afirma-ção do país e de criação de riqueza.

Nas Jornadas do Mar 2012 foram con-siderados todos os trabalhos, tendo o Mar como objeto de estudo, abrangidos pelos seguintes domínios do conheci-mento:∙ Matemática, Modelação e Engenharia ∙ Geografia, Oceanografia, Ambiente e Ciências Naturais∙ História e Sociologia∙ Economia e Gestão ∙ Relações Internacionais, Direito e Estratégia∙ Literatura e Linguística∙ Tecnologias da Informação e Comunicação∙ Ciências MilitaresCom o tema “O Reencontro com o Mar

no Século XXI” procurou-se potenciar a apresentação de trabalhos que dessem realce às seguintes ideias-força:

∙ O papel do mar no mundo globa-lizado e a importância da situação es-

tratégica de Portugal que deve levar o país a explorar as vantagens do seu cen-tralismo atlântico em diversas vertentes, nomeadamente no que concerne ao comércio internacional e ao desenvol-vimento do sistema marítimo-portuá-rio associado a uma cadeia logística que reforce as potencialidades do país como plataforma de distribuição à es-cala global;

∙ A importância e a afirmação de Por-tugal na ligação à sua maritimidade, e nesta senda, para que o mar continue a constituir um fator de competitividade e valorização do país, é muito impor-tante a aposta determinada no desen-volvimento sustentável das atividades económicas associadas, desde a pesca ao turismo, e na investigação científica que igualmente terá efeitos potenciado-res na economia;

∙ Os largos benefícios que o país pode obter, caso as Nações Unidas aceitem a proposta nacional elaborada pela equipa da Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental tendo em vista a extensão da nossa Pla-taforma Continental, o que representará um acréscimo de cerca de 2 milhões de km2 aos espaços marítimos sob sobera-

nia ou jurisdição nacional, ou seja, um acréscimo de superfície correspondente a 22 vezes o território nacional;

∙ A crescente necessidade de se velar pela segurança do mar face à sua im-portância geoestratégica e às ameaças e riscos variados a que está exposto, desde os acidentes poluentes até à cri-minalidade organizada com crescentes sintomas de globalização;

∙ A visão estratégica do mundo duran-te este século e o papel do mar devido à sua importância como meio importante de comunicação, de exploração de re-cursos e de potencial fonte geradora de conflitos devido à luta quer pelos espa-ços quer pelos recursos.

As jornadas tiveram o seu início com uma sessão solene, presidida pelo Se-cretário de Estado Adjunto e da Defesa Nacional, Dr. Paulo Braga Lino, com a presença do Secretário de Estado do Mar, Prof. Doutor Manuel Pinto de Abreu, e aberta pelo Comandante da Escola Naval, Contra-almirante Bastos Ribeiro. Na sua alocução, o Coman-dante da Escola Naval enalteceu o in-teresse e o apoio que merecem estas iniciativas que, contribuindo para a afirmação de Portugal na ligação à sua

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maritimidade, apelam ao estu-do e reflexão sobre a impor-tância do Mar através de uma partilha de saberes e valores entre diferentes instituições de ensino superior nacionais e estrangeiras. Seguiu-se a apre-sentação de boas vindas a to-dos os participantes por parte do aluno mais antigo, cadete Andrade da Cunha, e uma conferência de abertura profe-rida pelo CMG Augusto Alves Salgado, subordinada ao tema “O CINAV e o Património Cul-tural Marítimo”.

Foram admitidos 67 traba-lhos de 90 autores, em nome individual ou coletivo, oriun-dos de 24 instituições de ensi-no, abrangendo as 8 áreas do conhecimento pré-definidas. Para além dos estudantes na-cionais, registou-se com agra-do a participação de estu-dantes estrangeiros da Escola Naval brasileira, da Escola Naval espanhola, da Univer-sidade de Oviedo, da Univer-sidade Itinerante do Mar e de um estudante português da Universidade de Kyoto - Ja-pão. Esteve também presente, durante toda a semana, uma delegação da Escola Naval alemã que, não apresentando trabalhos, participou, quer nas sessões de apresentação, quer nas outras atividades;

Durante o tempo em que de-correram as jornadas, a Escola Naval proporcionou alojamen-to a 24 participantes;

Os trabalhos analisados e apreciados pela Comissão Científica foram apresentados em 9 sessões plenárias, presi-didas por professores universi-tários e outras personalidades, civis e militares, ligados às áreas em debate;

Efetuaram-se duas mesas redondas, subordinadas aos temas “A pesca do bacalhau” e “Universidade Itinerante do Mar”, com moderadores e participantes de excelência académica e profissional que despertaram grande interesse e participação das audiências;

Esteve ainda patente durante esta semana uma exposição de fotografia, “Raízes de Mar”, alusiva às atividades de pesca;

No domínio das atividades culturais, aconteceu uma noi-te de tunas universitárias, com a atuação das Tunas académi-cas da Faculdade de Medicina

Veterinária da Universidade Técnica de Lisboa e do Insti-tuto Superior de Ciências So-ciais e Políticas e um concerto da Banda da Armada. Ainda neste âmbito, foram efetuadas visitas ao Museu de Marinha, à Fragata D. Fernando II e Glória e ao Planetário Calous-te Gulbenkian. No domínio da divulgação das atividades científicas da Marinha, foi proporcionada uma visita ao Instituto Hidrográfico.

A meio da semana houve um jantar convívio nas instalações do Farol da Guia, acompanha-do com a excelente atuação do dueto intimista de voz e guitarra “In Two”, que contou com a presença de alunos par-ticipantes, membros das Co-missões Científica e Executiva, professores que participaram no evento, representantes das instituições patrocinadoras e apoiantes e outros convidados envolvidos na organização das Jornadas.

Após uma semana intensa de atividades, as Jornadas do Mar 2012 encerraram no dia 16NOV numa cerimónia que coincidiu com a abertura so-lene do ano letivo 2012/2013 da Escola Naval, sob a presi-dência do Ministro da Defesa Nacional, Doutor José Pedro Aguiar Branco. A solenidade abriu com o discurso do Co-mandante da Escola Naval, Contra-almirante Bastos Ri-beiro, que fez um balanço da atividade escolar do ano letivo transato e uma breve referên-cia ao que se perspetiva para o próximo a que se seguiu a oferta pela Escola Naval brasi-leira, através da sua delegação que participou nas Jornadas do Mar, de uma réplica do 1º estandarte da Companhia de Guardas-Marinhas. Terminada esta alocução, foi dada a tra-dicional lição inaugural pelo Professor Doutor Pedro Silva Girão, docente na Escola Na-val através do convénio com o Instituto Superior Técnico, a que se seguiu a entrega dos di-plomas de mestrado e licencia-tura e dos prémios escolares. Cumpridas as formalidades inerentes à abertura do ano le-tivo, o Presidente da Comissão Executiva das Jornadas do Mar 2012, Contra-almirante Hen-rique Lila Morgado, fez um sucinto balanço das Jornadas,

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REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2013 13

terminando com o desejo que o contributo do colóquio “O Re-encontro com o Mar no Século XXI” prestado à causa do Mar concorra para o agitar de cons-ciências, melhor compreensão dos problemas e incentivo para concretizar as soluções ne-cessárias ao progresso do país através da utilização do Mar. Seguiu-se a entrega de prémios para os melhores trabalhos de cada área temática, tendo a ce-rimónia terminado com o hino

nacional cantado por todos os presentes.

Em jeito de conclusão pode--se seguramente afirmar que os objetivos deste colóquio foram plenamente atingidos, quer no aspeto académico, pela quanti-dade e qualidade dos trabalhos apresentados, quer no que con-cerne à satisfação pessoal dos intervenientes, por terem con-tribuído para a divulgação dos diversos temas ligados ao Mar.

ÁREA

Área da Matemáti-ca, da Modelação e da Engenharia

Área da Geografia, da Oceanografia,

do Ambiente e das Ciências Naturais

Área da História e da Sociologia

Área das Relações Internacionais, do Direito e da

Estratégia

Área da Economia e Gestão

Área da Ciências Militares

TRABALHO

Utilização de Materiais Compósitos na Construção Naval: - Utilização do GLARE em Superestruturas

Desafios na Gestão da Zona Económica Exclusiva Portuguesa à Luz da Directiva-Quadro da Estratégia para o Meio Marinho

A Obra Social da Fragata D. Fernando II e Glória - As-sistência, Educação e Trabalho no Estado Novo.SS Dago: Historiografia de um destroçoToo big to patent: Patenting, non-patenting and anti-patent-ing in the emergence of mature marine engineering and industrial naval architecture in nineteenth century BritainO Porto da Figueira da Foz: onde o passado conta e o futuro desafiaFatores de Stress no Contexto da Marinha Portuguesa: Efeitos das Auto-Imagens e Consequências para a Satisfação LaboralO caso da classe Almirante Pereira da Silva - ilações para o futuroNo termo da Ilha. Moradores, comércio e acesso à terra no continente fronteiro à Ilha de Moçambique (c. 1763 – c. 1800)Deploying Warships, Employing Diplomacy: Portuguese Diplomacy at Sea and NRP SagresThe Naval Dimension of East Asian Regional Security: Expenditures, Disputes and Solutions

Brasil e Portugal: Baluartes Marítimos do novo século

Do conhecimento situacional marítimo: Os projetos Blue Mass Med e Blue Eye como meio

O Parque Marinho dos Açores – tensões à vista?

O Mar Português: Passado Histórico ou Futura Potência Económica?

Quantificação e Análise de Setores do Cluster do Mar PortuguêsEl Papel de la Armada en la Gestion del tesoro Submarino EspañolSegurança Nacional: nova definição para Defesa Nacional e Segurança Interna?Candidatos à Escola Naval: atividade, aptidão, antropometria

NOME DO PARTICIPANTE

Luis Tiago de Matos Filipe

Ana Rodrigues André Lopes

Américo José Vidigal Alves

Jorge Russo

Sandro Mendonça

Olinda Maria Martinho Rio

Carina Veludo

Pedro Filipe Figueira Saial

Maria Paula Pereira Bastião

Tiago Maurício

Tiago MaurícioRaphael Cid Fonseca Dias Bernardo Filipe de Oliveira Lopes Walmor Cristino Leite JuniorRamon Dantas VaqueiroJosé Miguel Neves de Sousa Assis Santa

Maria Inês Gameiro

Fábio Manuel de Nogueira Camelo Ana Catarina Carvalho Ana Lúcia Barracho OliveiraJéssica Ribeiro MirandaIsabel Beatriz Machado Pinto

Abel da Silva Simões

Luis Garcia CardoAlberto Hernandez de la Fuente

André Nunes Pedro

Helena Sofia Fonseca Paiva de Sousa Teles

INSTITUIÇÃO

Escola Naval – Departamento de Enge-nharia Naval, Ramo de Mecânica

Universidade Nova de Lisboa - Faculdade de Ciências e Tecnologias

Universidade de Lisboa/Escola Naval

Universidade Aberta

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras

Instituto Superior de Economia e Gestão

Escola Naval – Departamento de Marinha

Centro de História de Além Mar|FCSH/UNL & CEHC e ISCTE/ IUL

Universidade de Kyoto

Universidade de Kyoto

Escola Naval do Brasil

Escola Naval – Departamento de Marinha

Universidade Nova de Lisboa – Faculdade de Direito

Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna

Universidade Noval de Lisboa – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas

Escuela Naval Militar

Escola Naval – Departamento de Fuzileiros

Escola Naval – Departamento de Médicos Navais

ESCALÃO

MH 1º

MH 1º

MH 2º

MH 1º

“O REENCONTRO COM O MAR NO SÉCULO XXI”PRÉMIOS

Colaboração da ESCOLA NAVAL

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MUSEU DE MARINHALANÇAMENTO DE LIVRO E INAUGURAÇÃO DE EXPOSIÇÃO

COMISSÃO CULTURAL DA MARINHA

Realizou-se no passado dia 5 de novem-bro, no Pavilhão das Galeotas do Mu-seu de Marinha, o lançamento do livro

Recordações de um Marinheiro – Timor 1973--1975 do CALM Leiria Pinto. Tendo obtido uma licenciatura em História, após passar à si-tuação de Reserva, o autor desempenhou, du-rante quase cinco décadas, diversas funções na Marinha. Entre o comando de navios e de unidades em terra destacam-se os comandos de um Destacamento de Fuzileiros Especiais na Guiné e o da Escola Naval, e a direção da Biblioteca Central da Marinha, em acumula-ção com a presidência da Comissão Cultural. Foram escolhidas estas funções como teste-munho de uma carreira multifacetada, abran-gendo tanto missões operacionais de combate como atividades de cariz cultural.

O livro em questão descreve, detalhadamente, a comissão desempenhada no mais longínquo território do então Ultramar Português, num pe-ríodo bastante conturbado que abrange os dois últimos anos da existência do Timor Português.

Após umas palavras introdutórias proferidas pelo VALM Vilas Boas Tavares, Diretor da Co-missão Cultural da Marinha, a editora do livro, o CALM MN Rui Abreu, também ele antigo Presidente da Comissão Cultural, fez a respeti-va apresentação, com uma descrição bastante completa em que destacou os pontos principais.

O Almirante Leiria Pinto divide a sua missão em três períodos distintos. O primeiro destes inicia-se com a sua chegada ao território, para desempenhar os cargos de Comandante da De-fesa Marítima, de Chefe da Repartição Provin-cial dos Serviços de Marinha e por inerência Capitão dos Portos, de Presidente da Comissão Adminis-trativa dos Serviços de Transportes Marítimos e de Presidente da Junta Autónoma do Porto de Díli, mais tarde seria também Diretor dos Serviços de Transportes Aéreos de Timor. Este primeiro período carateriza-se por uma situação de rotina e tranquilidade, executan-do a Marinha, além da patrulha e fiscalização marítimas, tarefas de apoio às populações ribeirinhas. De realçar o importante papel desempenhado pela Estação Radionaval de Díli nas comuni-cações com Lisboa, Macau e Lourenço Mar-ques e com os navios-petroleiros portugueses que navegavam de e para o Golfo Pérsico.

O segundo período começa com a revolu-ção do 25 de abril e prolonga-se até 1975, sendo apresentado em relatórios diários o de-gradar da situação política e social, mercê de fatores internos e externos, perante a vizinha

Indonésia que não admitia que essa instabi-lidade constituísse uma ameaça à sua segu-rança. Em finais de agosto de 1975, diante de uma situação descontrolada e em clima de pré-guerra civil, o Governador e Comandante--Chefe ordena a saída para a Ilha do Ataúro.

No terceiro e último período são referenciadas as missões cometidas à Marinha quando da es-tadia no Ataúro. Ao longo da obra o Almirante Leiria Pinto tece rasgados elogios a todo o pes-soal de Marinha que serviu sob as suas ordens e destaca o papel fundamental e imprescindível da Estação Radionaval de Díli nas comunica-

ções entre aquela parcela do território português e os centros de decisão no Portugal Continental.

O lançamento deste livro coincidiu com a inauguração de uma exposição, igualmente no Pavilhão das Galeotas, sobre a presença da Marinha em Timor desde o século XVI até ao presente.

Na Exposição organizada pelo Museu de Ma-rinha, um extenso quadro apresentava a crono-logia histórica da Ilha de Timor onde nasce o

sândalo, no qual estavam identificados os vários acontecimentos desde a chegada dos portugue-ses, no século XVI, até à atualidade, com desta-que para aqueles em que participou a Marinha.

À entrada encontravam-se modelos de em-barcações tradicionais timorenses a que se se-guia a apresentação de testemunhos escritos, pertença do Arquivo Histórico, distribuídos por três expositores.

No primeiro, constava documentação desde o século XIX até à conclusão das Campanhas de Pacificação, nas quais a Marinha desempe-nhou um papel importante. Foi dado especial destaque à Guerra do Manufai (1911/12), a mais grave e duradoura revolta indígena timo-rense. Estava exposto um modelo da canho-neira Pátria que, na ocasião, muito contribuiu para que a paz fosse alcançada. Igualmente, referente a esse período, podia ser observado um modelo da canhoneira Bengo.

O segundo expositor referia-se à ocupação ja-ponesa, entre fevereiro de 1942 e setembro de 1945, sendo apresentados vários documentos, especialmente os Diários Náuticos dos avisos Afonso de Albuquerque, Bartolomeu Dias e Gonçalves Zarco, que participaram no reassu-mir da soberania portuguesa no território.

O último espaço expositivo reportava-se ao período pós II Guerra Mundial até aos nossos dias, sendo exibidos relatórios dos aconteci-mentos que se registaram depois do 25 de Abril de 1974 até à invasão da ilha, em dezembro de 1975, por forças indonésias e Diários Náuticos das corvetas então presentes em águas timoren-ses. Após uma ausência de 24 anos a Marinha

voltaria a Timor, a partir de novem-bro de 1999, com a chegada da fragata Vasco da Gama integrada na INTERFET (Força Internacional de Timor-Leste) que seria rendida pela fragata Comandante Herme-negildo Capelo cujos modelos também estavam apresentados.

Ao mesmo tempo, Companhias de Fuzileiros integraram diversas missões de imposição e manu-tenção de paz no território, sob a égide das Nações Unidas.

Encontravam-se igualmente re-ferências à cooperação técnico-militar que a Marinha Portuguesa levou e leva a efeito para a edificação da Marinha Timorense.

A concluir a Exposição figurava a última Bandeira Nacional que esteve içada na Esta-ção Radionaval de Díli e foi definitivamente arriada em 26 de Agosto de 1975, quando da saída dos portugueses de Díli.

Colaboração da COMISSÃO CULTURAL DA MARINHA

MUSEU DE MARINHA

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A Diversidade de Embarcações Tradicionaisdo Estuário do Tejo

A Diversidade de Embarcações Tradicionaisdo Estuário do Tejo

ENQUADRAMENTOO património marítimo-fluvial do Estuário

do Tejo, na sua dupla vertente material e imaterial, constitui a marca indelével de uma profunda relação histórica e cultural das po-voações ribeirinhas com o Tejo. Gentes que fizeram deste estuário o seu modo de vida, gentes cujas vidas se confundem e foram marcadas pelas cadências do Tejo e pelas vi-vências por este propiciadas.

Na vertente material, as embarcações tra-dicionais do Estuário do Tejo apresentam-se talvez como os principais elementos patri-moniais simbolicamente representativos da cultura ribeirinha e da identidade local dos territórios da borda d’água. A diver-sidade de embarcações tradicionais deste estuário constitui, aliás, um dos mais importantes conjuntos pa-trimoniais flutuantes portugueses e europeus.

Neste sentido, o presente artigo procura esboçar uma síntese desta diversidade tipológica de embarca-ções vocacionadas para o transporte fluvial de mercadorias: as Fragatas, os Varinos, as Faluas, os Canguei-ros, os Botes, os Botes-de-fragata, os Botes do Pinho, os Barcos de Água Acima, as Canoas e os Catraios. Um objectivo enquadrável no desígnio de preservação e salvaguarda da memória histórica e cultural deste património, através da dissemina-ção do conhecimento sobre as suas especificidades e funções.

Com efeito, recuando até à pri-meira metade do século XX, en-contramos um Estuário do Tejo que, para além de se constituir como o sustentáculo do desenvolvimento de um amplo conjunto de activi-dades, se afirmava como um meio de transporte fulcral para a Região de Lisboa. Na actividade das em-barcações tradicionais de carga destacava-se então o abastecimento da cidade de Lisboa, o transporte de mercadorias de e para o Porto de Lisboa, assim como as operações de carga e des-carga dos navios de grande porte fundea-dos neste porto.

Importa ainda destacar que no plano de água estuarino existiam (e existem) con-dições diferenciadas de navegabilidade, facto que obrigou a adaptações técnicas das embarcações que nele navegavam. É o caso dos Varinos (fundo chato), utilizados para navegar nas águas pouco profundas da generalidade dos esteiros que permitiam penetrar nas margens recortadas do arco ri-beirinho Sul. É também o caso dos Barcos

de Água Cima, cujo pequeno porte e ca-racterísticas do fundo tornava-os embarca-ções aptas a navegar ao longo do rio Tejo (incluindo os seus afluentes e valas), até aos portos do “rio acima”.

Desde matérias-primas até produtos aca-bados (incluindo o fornecimento de frescos e cereais e de lenha para os fornos de pão de Lisboa), sal e vinho, areia e cortiça, açúcar e cereais, carvão ou lixo, era vasta a gama de mercadorias/produtos transportados por estas embarcações. Foi, assim, possível sus-tentar o desenvolvimento de uma vasta frota fluvial, cuja diversidade e especificidades importa considerar (Figura 1).

FACTORES EXPLICATIVOS DA DIVERSIDADE DE EM-BARCAÇÕES TRADICIONAIS

Para NABAIS (2009: 3), a grande diver-sidade de embarcações tradicionais por-tuguesas é explicada pelo estilo próprio de cada estaleiro/povoação, pelas funções que estas embarcações desempenhavam e pelas suas áreas de operação. Tais factores explicativos são passíveis de transposição para o caso específico das embarcações tradicionais do Estuário do Tejo.

Quanto ao primeiro factor, importa ter em conta que estas embarcações eram construídas, em grande medida, sem re-curso a planos geométricos de construção. Eram antes utilizados moldes (ou grades) próprios de cada estaleiro, os quais respei-tavam a técnica, o estilo do Mestre carpin-teiro naval e as especificações requeridas pelo armador. Ora, a multiplicidade de estaleiros que povoavam as margens do estuário e que se dedicavam à construção e reparação de embarcações tradicionais deixa perceber como este factor contri-buiu para a existência de embarcações com características técnicas diferenciadas

no quadro da tipologia de embar-cações existentes. Ademais, há que considerar que são vários os casos de embarcações tradicionais do Estuário do Tejo construídas em es-taleiros navais localizados noutros pontos do país (e.g. região da ria de Aveiro), nomeadamente Varinos.

Quanto ao segundo factor, este prende-se com a necessidade de resposta às diferentes procuras do transporte fluvial, associadas às quais se verificavam requisitos es-pecíficos de transporte. Cita-se um exemplo. A embarcação Cangueiro apresentava um conjunto de carac-terísticas técnicas que decorria da especificidade do serviço de trans-porte para o qual foi concebida: o transporte de materiais de constru-ção – portanto, materiais pesados –, cuja operação de carga era muitas vezes realizada com a embarca-ção “abicada à praia”; como tal, o formato da popa da embarcação – “popa fechada” – (principal ca-racterística técnica diferenciadora), era de grande utilidade para cortar a vaga, minimizando o efeito do embate da mesma.

Quanto ao último factor explica-tivo (as áreas de operação das em-barcações), as condições naturais

do Estuário do Tejo (e “rio acima”) deter-minaram o desenvolvimento de adapta-ções técnicas nas embarcações. O fundo chato dos Varinos e dos Barcos de Água Acima é disso exemplo maior.

Para além destes factores, também a existência de vários tipos específicos de embarcações precedentes, a partir das quais foram desenvolvidas adaptações ao longo do tempo (decorrentes das evolu-ções técnicas, tecnológicas e funcionais), terá influído na diversidade de embarca-ções verificada em momento posterior.

Referidos os factores explicativos da di-

Fig.1 - Embarcações tradicionais atracadas no Cais da Ribeira Nova, Lisboa.

Fig.2 - Fragata “Ninfa” navegando no Estuário do Tejo.

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versidade de embarcações tradicionais de carga do Estuário do Tejo, apresenta-se de seguida uma breve descrição das suas ca-racterísticas e funções.

CARACTERÍSTICAS E FUN-ÇÕES DAS EMBARCAÇÕES TRADICIONAIS

As Fragatas, embarcações à vela de um só mastro (com um ligeiro caimento para a ré, aparelhando uma vela latina quadran-gular e uma triangular de estai) e “de fun-do redondo e proa direita” (Leitão, 2002: 41), possuíam as maiores dimensões, em-bora a sua tonelagem fosse muito variável (Figura 2).

O calado destas embarcações constituía, contudo, um factor condicionador da sua navegação em águas pouco profundas, restringindo o seu acesso aos designados “portos baixos”. Não obstante, era uma embarcação rela-tivamente rápida, conforme é expli-cado por António Fernandes Júnior (2011), um antigo Arrais de Fragata: “As fragatas tinham quilha e por isso aguentavam mais a bordejar. Já os varinos, como tinham o fundo chato rolavam mais com a vela cheia; por isso, andavam menos”.

De acordo com Leitão (2002: 91), as Fragatas, conjuntamente com os Varinos, tinham como ocupação principal “a descarga de navios e o transporte da sua carga de trigo, fa-rinha, carvão de coque, maquinaria, etc., para várias zonas do porto de Lisboa”, carregando também “azei-te em Vila Franca de Xira, cimento em Alhandra, cortiça em Sacavém, Montijo, Moita, Alhos Vedros, Bar-reiro, Seixal, Amora e Caramujo”. O leque de produtos transportados pelas Fragatas era, naturalmente, mais amplo, destacando-se ainda: “o vinho, que era carregado (…), por exemplo desde a Arealva. Também transportávamos muito açúcar, café, feijão, madeiras, amendoins e peles proveniente das colónias. No Cais do Ginjal laborava a firma João Theotónio Pe-reira Júnior, Lda. (…). A Fragata “Maria Ali-ce” era propriedade desta empresa, na qual transportávamos vinhos, azeite, vinagre para exportação para as ex-colónias, mas tam-bém para abastecimento da frota bacalhoei-ra nacional” (António José Fernandes, 2011).

Por sua vez, os Varinos apresentavam como principais características estrutu-rais diferenciadoras a arqueação da proa (“proa redonda”) e o fundo chato, que lhes garantia a acessibilidade a locais de águas pouco profundas, nomeadamente nos bra-ços de rio e esteiros da margem Sul, onde a profundidade é reduzida. À semelhança das Fragatas, possuíam um só mastro com caimento para a ré, aparelhando uma vela latina quadrangular e uma ou duas velas

triangulares de estai à proa.Os Varinos destinavam-se, em grande

medida, ao transporte de mercadorias en-tre as margens do estuário, nomeadamente produtos hortícolas, rama de pinho seco, cortiça, ferro, areia, farinha, açúcar, vinho e sal, entre outros.

Os pequenos Varinos, utilizados para navegar nas águas pouco profundas a montante de Lisboa (incluindo os esteiros, valas, canais e pequenos rios afluentes do Tejo), eram também conhecidos como Barcos de Água Acima (em geral, com to-nelagem inferior a 50 ton.) – Figura 3.

Para além das características do fundo, o leme apresentava-se muito comprido para compensar a menor área submersa e, assim, poder chegar a locais de águas pouco pro-

fundas, fruto do seu reduzido calado. Transportavam, entre outros produtos, a

madeira e o arroz provenientes das Lezírias, o arroz e a pasta de tomate produzida nas fábricas de Salvaterra de Magos ou o vinho a partir do Carregado, Azambuja, Cartaxo, Salvaterra, Muge e Almeirim (Cf. Leitão, 2002: 91). O transporte de cortiça até às unidades industriais localizadas no Estuário do Tejo ou o transporte de carga geral era também assegurado por estas embarcações.

No que diz respeito ao Cangueiro, as suas características eram muito próximas de uma Fragata (incluindo o velame, ainda que o mastro apresentasse maior caimento), em-bora fosse, em geral, de dimensão inferior (Figura 4).

Sendo uma embarcação que se destina-

va, essencialmente, ao transporte de carga pesada, com destaque para os materiais de construção (incluindo areia e saibro), possuía algumas adaptações técnicas: a proa era mais arqueada e a “popa fechada” para aliviar o embate aquando das operações de carga e descarga (Cf. Leitão, 2002: 93). “Íamos à praia do Alfeite carregar areia, que transportávamos para a Doca de Santo Amaro, para as obras. Transportávamos ainda pedra da Doca de Santo Amaro para os fornos de Salvaterra e Benavente, para fazer cal. Depois, quando descíamos o rio vínhamos carregados de pi-nho para a Doca de Santo Amaro, para abas-tecer os fornos de pão de Lisboa. Quando o cangueiro não tinha serviço, dava entrada no Grémio e andávamos no rio a carregar cortiça e madeira, isto por volta de 1942. Chegámos

a vir ao porto de Sarilhos carregar ma-deira para a Covina, localizada a se-guir a Sacavém. Este cangueiro (“Ma-ria Júlia”) tinha 50 toneladas” (António Fernandes Júnior, 2011).

Os Botes apresentavam traça seme-lhante às Fragatas, embora sendo de menor porte. Armavam “uma vela grande de carangueja e, por vezes, duas velas à proa – um estai e uma bujarrona” (CarrasCo, 1997: 23). Lei-tão diferencia os Botes, propriamente ditos, dos Botes de meia-quilha, con-siderando que “as diferenças funda-mentais que existem entre [eles] são a consequência natural do fundo forte-mente abaulado e dos bojos volumo-sos do bote de meia-quilha”, acres-centando ainda que este último barco ao ser concebido “para navegar em sítios com pouca água e assentar no fundo na maré baixa, (…) é um pouco mais pequeno que o bote da mesma época, calando menos não só em consequência do seu tamanho mais reduzido, mas também porque os bojos bem cheios lhe proporcionam uma maior flutuabilidade em relação ao tamanho” (Leitão, 2002: 96).

A capacidade média de carga destas embarcações oscilava, em geral, entre 20 e 50 ton., destinando-se essencial-mente ao transporte de produtos hor-

tícolas, rama de pinho seco, cortiças, cereais e vinho. Estas embarcações “carregavam tam-bém encomendas (as mercearias) para Salva-terra, Benavente e outros portos (…) a partir da doca do Jardim do Tabaco. Havia igualmente vários botes que transportavam encomendas para Lisboa e para o Barreiro” (António Fer-nandes Júnior, 2011).

Um outro tipo de Bote era o Bote do Pi-nho. Destinava-se ao transporte de rama e toros de pinho para os fornos de pão da cidade de Lisboa, com uma capacidade de carga que variava entre 20 e 50 ton., apare-lhando uma pequena vela latina triangular (vela de estai) à proa e uma grande vela la-tina quadrangular de carangueja junto ao mastro (é conhecida uma excepção a este velame; trata-se do Bote do Pinho “Fernan-

Fig.3 - Barco de Água Acima carregado de cortiça.

Fig.4 - Cangueiro (à direita) atracado no Porto de Lisboa.

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do I”, de Sarilhos Pequenos - conhecido como “Bote Gaião” -, que armava uma grande vela latina triangular). Estas embar-cações destacavam-se também pelas suas minuciosas pinturas, apresentando cores garridas, motivos florais e figuras míticas (Figura 5).

Os Botes do Pinho transportavam pinho a partir de vários pontos, incluindo a Raposa (Seixal), Corroios, Samora, Lançada ou Sa-rilhos Pequenos. Ocasionalmente transpor-tavam palha, proveniente dos mouchões do Tejo, para Sarilhos Pequenos, Alcoche-te, Moita, Rosário e Montijo, onde era utili-zada para cobrir as serras do sal produzido nas salinas aqui existentes.

Quanto aos Botes-de-fragata, estes asse-melham-se ora a uma Fragata (ainda que de dimensões substancialmente inferiores a estas embarcações), ora a um Bote, daí serem considerados um tipo híbrido. Leitão (2002: 109) identifica, contudo, as seguin-tes particularidades neste tipo de embarca-ção: “nas bordas; no número de cabeços à popa; na existência ou não de barbados na proa, e no tipo de barbados montados à ré; na existência ou não de paus de entre cintas; na construção do painel de popa; na existência ou não de falquitos”.

Estas embarcações tinham, normalmen-te, uma capacidade de carga entre 20 e 50 ton., aparelhando uma pequena vela latina triangular à proa (estai) e uma grande vela latina quadrangular de carangueja junto ao mastro. Os Botes-de-fragata eram muito utilizados no transporte de cortiça, ferro, cereais e carga geral entre as duas margens do Tejo.

No seu “Barcos do Tejo”, CarrasCo (1997: 23) descreve as Faluas como situando--se entre o Bote e a Fragata em termos de dimensão. Por sua vez, Leitão (2002: 111) destaca, entre outras especificidades, que as linhas de água destas embarcações “são muito mais delgadas que as dos botes, e que são prolongadas à proa e à ré para pro-duzir entradas finas que alargam para cima, e saídas compridas terminando num painel de popa pequeno e estreito” (Figura 6).

Outra característica da Falua prende-se com a especificidade do convés: “O con-vés de vante ocupa um pouco mais que uma metade do barco e tem duas escoti-lhas, uma no bico da proa, no lado de esti-

bordo, e a outra por ante-a-vante do mastro principal. O convés da ré é muito reduzi-do, porque o espaço normalmente ocupa-do pelo leito da popa é sacrificado para aumentar a casa de carga aberta, também utilizada pelos passageiros” (Leitão, 2002: 111). Em termos funcionais, o convés de vante era muito utilizado como alojamen-to, onde os passageiros se abrigavam do frio, da chuva e do calor durante a viagem. Este convés servia ainda de resguardo para as mercadorias.

Estas embarcações armavam, geralmente, duas velas latinas, tendo havido segundo Leitão (2002) uma evolução ao longo do tempo nas suas velas, passando a predomi-nar as Faluas de um só mastro.

A Falua era utilizada no transporte de pas-sageiros e de mercadorias, oferecendo “um serviço de transporte relativamente regular, de passageiros, numa rota certa, em oposi-ção ao transporte de carga geral, sem horá-rio pré-estabelecido, e eram utilizadas para carregar produtos deterioráveis, tais como batatas, uvas, figos, laranjas e legumes fres-cos até à cidade e voltar com mercearias na viagem de retorno. Tinham, por isso, de ser de bom porte e rápidas, visto que cobriam nesta ocupação distâncias que podiam atingir 50 km” (Leitão, 2002: 110).

Finalmente, são de referir as embarca-ções vocacionadas, essencialmente, para o transporte de passageiros e pequenas mercadorias, designadamente as Canoas (ou Botes-canoas) e os Catraios (ou Botes--catraio).

No que se refere às Canoas, identificam--se diferentes tipos, decorrendo as suas es-pecificidades técnicas das funções e áreas privilegiadas de operação. Destaca-se a Canoa Cacilheira e a Canoa do Tejo. A pri-meira utilizada no transporte de pessoas, animais (Cf. Ecomuseu Municipal do Seixal e CCDRLVT, 1995: 114) e pequenas merca-dorias entre Lisboa e Cacilhas. A segunda, destinada, essencialmente, ao transporte de pequenas mercadorias e mercearias entre as povoações ribeirinhas do Estuário Tejo (embora tivesse sido também utiliza-da na pesca), sobrevivendo no exercício destas funções até à década de 1970. Os demais tipos de Canoas eram utilizados, es-sencialmente, na pesca e no transporte do pescado (Canoa da Picada, Canoa Enviada

do Montijo, do Seixal e do Barreiro, Canoa do Alto, Canoa Grande e Canoa Pequena da Trafaria).

Por sua vez, os Catraios apresentavam--se como embarcações de pequeno porte (“embarcações miúdas”), cujo comprimen-to não ia além dos 6,5m. Eram normalmen-te utilizados no transporte de pequenas mercadorias e passageiros, na pesca artesa-nal e ainda como embarcações de recreio. Usualmente armavam uma vela latina quadrangular de carangueja e uma vela triangular de estai, existindo ainda alguns Catraios aparelhados com vela de espicha e vela latina triangular.

André FernandesInstituto de Dinâmica do Espaço (FCSH-UNL)

Mário PintoAssociação Naval Sarilhense

Fontes das FigurasFig.1 - Centro de Documentação e Informação da APL - Administração do Porto de Lisboa, SA (Autoria: Desconhecido).

Fig.2 - Mário Pinto (Autoria: Desconhecido).

Fig.3 - Centro de Documentação e Informação da APL - Administração do Porto de Lisboa, SA (Autoria: Desconhecido).

Fig.4 - Mário Pinto (Autoria: Desconhecido).

Fig.5 - Museu de Marinha (Colecção Seixas).

Fig.6 - Extraído de Joaquim Baldrico, Montijo, Aldeia Galega: Memória Fotográfica, 2002.

Referências BibliográficasBaLdriCo, J. (Org.) (2002) – Montijo, Aldeia Galega: Me-

mória Fotográfica. s.l.: Cygnuscolor Design, Lda., C.M. Montijo/J. F. Montijo.

CarrasCo, E. (1997): Barcos do Tejo, Lisboa, Edições Ina-pa, 153 p.

Ecomuseu Municipal do Seixal, CCRLVT (1995) “Os Barcos Típicos do Tejo – Caracterização Genérica”. In MagaLhães, F. (Coord.), Navegando no Tejo. Lisboa: CCRLVT, pp. 110-117.

Leitão, M. (2002): Barcos do Tejo. Lisboa, Museu de Ma-rinha, 216 p.

NaBais, A. (2009) – “Barcos do Tejo”. In AÇAFA On-Line (n.º 2). Vila Velha de Ródão: Associação de Estudos do Alto Tejo, 6 p.

Fontes OraisAntónio José Fernandes – Entrevista realizada em 2011.

Natural de Sarilhos Pequenos, Marítimo entre 1963 e 1967 (61 anos).

António Fernandes Júnior – Entrevista realizada em 2011. Natural de Sarilhos Pequenos, Marítimo entre 1942 e 1961 (84 anos).

NR - Os autores não adotam o novo acordo ortográfico.

Fig.5 - Bote do Pinho “Fernando I”, de Sarilhos Pequenos. Fig. 6 - Falua atracada na Quinta do Esteiro Furado (Sarilhos Pequenos).

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JANEIRO 2013 • REVISTA DA ARMADA18

OCEAN REVIVAL “A NOVA MISSÃO”

Um dia cinzento de prometida chuva. Felizmente, as previsões meteoroló-gicas tão esperadas para a realização

da operação de afundamento dos navios mostram mar com ondulação inferior a um metro e ventos fracos. Às sete da manhã a azáfama já é grande no PAN (Ponto de Apoio Naval) da Marinha, ultimam-se os prepara-tivos para o reboque da Oliveira e Carmo. Meia hora mais tarde a imponente corveta inicia o percurso para o local do seu afun-damento.

Por volta das 12h30, a partir do Hotel Pesta-na Alvor Praia, a viúva do Comandante Oli-veira e Carmo, a Senhora D. Maria do Carmo Oliveira e Carmo, dá início à contagem re-gressiva para o início do afundamento. Cinco, quatro, três, dois, um, fogo. Três bolas amarelas com laivos alaranjados e avermelhados elevam-se no céu, ao mesmo tempo que doze aberturas são instantaneamente desenhadas nos cas-cos de estibordo e bombordo. A Cor-veta inicia a sua descida progressiva, mantendo-se orgulhosamente na hori-zontal, até ser engolida em pouco mais de dois minutos, pelas águas da Baía de Lagos duas milhas frente à Praia dos Três Irmãos em Alvor. A Oliveira e Carmo re-pousa agora no fundo do mar esperan-do ser visitada por milhares de turistas subaquáticos e dar abrigo a centenas de espécies ao longo dos próximos anos, cumprindo assim a sua derradeira mis-são ao serviço de Portugal.

Umas horas mais tarde, perto das 15h30, segue-se o afundamento do Pa-trulha Oceânico Zambeze. Imediata-mente após a ordem dada pelo CALM Nunes Teixeira, três novas bolas de fogo elevam-se no céu cinzento, oito aberturas surgem como por milagre no casco dando entrada a milhares de li-tros de água. Devido às suas características, mais leve que a Corveta e com maior peso a vante, o navio, já a meia água, inclina a proa para o fundo do mar, tocando o mesmo, caindo e assentando a popa na areia poucos segundos depois.

Os dois afundamentos decorreram com grande perfeição técnica, excedendo larga-mente todas as expectativas. A façanha nun-ca antes realizada, digna do Guiness: afundar com sucesso dois navios de forma controlada no mesmo dia, deve-se à equipa de explosi-vos minas e armadilhas dos Mergulhadores da Marinha e da Canadian Artificial Reef Consul-tants, que em conjunto realizaram ao longo de duas semanas todos os preparativos para a fase final da operação até ao premir do botão dando início ao afundamento de cada navio.

Em pouco mais de dois minutos os navios

tomaram o seu lugar no fundo mar. Dois mi-nutos precedidos de mais de cinco anos de trabalho intenso, milhares de palavras escri-tas e argumentadas, estudos e relatórios, de-bates e apresentações, críticas e apoios, de-salentos seguidos de novas esperanças, mas sempre na crença que era possível vencer cada obstáculo, um de cada vez, de forma sistemática. Enormes adversidades, não só pelos problemas burocráticos e as várias in-terpretações e entendimentos, normais num projecto inovador como este, mas também pelos “Velhos do Restelo” sempre prontos a criticar e a ditar o fracasso da iniciativa.

Apesar das contrariedades, existiu sempre apoio, boa vontade, orientação e conselho

das entidades envolvidas no processo de aprovação do Projecto e uma equipa de-terminada e empenhada na resolução dos problemas e requisitos formais. No dia 30 de Outubro de 2012, o Parque Ocean Revival tornou-se realidade.

Devidamente sinalizado com quatro bóias que delimitam a área que está situada a sul da zona de recifes artificiais já existentes, repou-sando nas batimétricas dos 26 e 32 metros com um mínimo de 15 metros de água livre. Encontra-se a uma milha do fundeadouro de Portimão, a cerca de três milhas da barra de Portimão e a duas milhas da costa não cau-sando assim qualquer perigo à navegação.

Logo após o afundamento da Corveta Oli-veira e Carmo, um destacamento de Mergu-lhadores efectuou um mergulho cuja finali-dade foi a de verificar as condições em que a

embarcação se encontrava para futura autori-zação de utilização.

No caso do Patrulha Oceânico Zambeze, esse mergulho por parte dos Mergulhadores da Marinha só foi possível realizar na manhã seguinte, uma vez que o final do dia do afun-damento estava próximo e as condições de visibilidade não seriam as melhores.

Apesar das condições meteorológicas e do mar nesse dia do afundamento, os dois navios repousam agora na sua posição original como se “navegassem no fundo do oceano”.

Constituíram desde esse momento a primeira fase do museu subaquático que irá ficar com-pleto no final do primeiro quadrimestre de 2013 com o afundamento da Fragata Herme-

negildo Capelo e do Navio Oceanográfi-co Almeida Carvalho.

Esta “nova missão” destes navios veio alterar o habitual destino de desmante-lamento a que são sujeitos todos os que em fim de vida são descomissionados, mas que pelo sonho e empenho na concretização desse sonho de Luís Sá Couto e da Marinha de Guerra Portu-guesa foi possível tornar realidade.

Em vez de serem destruídos, estes na-vios carregados de história vão conti-nuar a perpetuar o seu nome e a serem o destino de mergulhadores que vão percorrer os seus espaços. De salientar que praticamente logo após o seu afun-damento começaram a ficar com vida subaquática.

O projecto OCEAN REVIVAL nasceu há quase seis anos e para a sua concre-tização foram necessárias catorze enti-dades que com o seu parecer favorável autorizaram esta operação. Foram ainda efectuados vários estudos prévios que es-tão disponíveis para consulta e que ates-tam a qualidade do trabalho efectuado bem como os benefícios inerentes.

Os navios já afundados foram limpos e pre-parados seguindo as mais rigorosas normas e regulamentos que devem respeitar este tipo de operações de limpeza com destaque especial para a remoção do amianto, dos óleos, dos combustíveis, assim como todos os cabos eléc-tricos e de comunicações. Desta forma procura garantir-se que o meio ambiente envolvente não recebe quaisquer impactes nocivos.

Quanto aos dois navios a afundar, eles tam-bém já em fase de preparação, foram limpos do amianto que pela especificidade requer um cuidado muito especial.

Após análise na pesquisa dos locais onde existe o amianto, segue-se a selagem da área onde se irá retirar a substância para que os tra-balhadores que efectuam esta tarefa de remo-ção com a suas protecções individuais numa área que está em pressão negativa.

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É pois dessa forma feito um controlo aperta-díssimo no sentido de que quando há variação na pressão significa que haverá uma fuga, sen-do de imediato interrompido o trabalho para reparar a falha. A rotina dos trabalhadores que executam esta função é a de entrar no local de trabalho através de três cabines sendo que na primeira deixarão as suas roupas passando pela segunda e entrando na terceira onde devem vestir a sua roupa habitual de trabalho. Após completarem a sua jornada voltam à cabine onde deixam a sua roupa de trabalho e de se-guida passam à segunda cabine onde tomam banho dirigindo-se de seguida à terceira cabine onde vestem as suas roupas de saída.

Quanto à matéria recolhida ela é embalada e selada para posterior re-tirada do local.

No que respeita aos outros mate-riais retirados dos navios eles são se-parados consoante a sua natureza e reaproveitados.

Como característica de um navio e sobretudo de um destinado a uma marinha de guerra eles são compar-timentados como regra de segurança para que em caso de inundação de uma determinada área ela seja selada das restantes e não comprometa a flu-tuabilidade da embarcação.

Ora como destino de mergulho será possibilitado o acesso a quase todos os compartimentos das embarca-ções, serão abertas passagens quer no interior quer no casco que para além de facilitar o afundamento tem como preocupação fundamental a seguran-ça ao criar mais do que uma entrada e uma saída para que os visitantes mergulhadores não fiquem retidos. Esta preocupação também se verifica com portas e escotilhas que quando fiquem no seu sítio original não será possível movê-las para que se evitem possíveis acidentes.

Outra preocupação é a de que não fiquem espaços onde possam ser criadas bolsas de ar que poderiam desestabilizar o navio no seu afun-damento e que também não sejam criadas com a passagem de mergu-lhadores em determinados locais.

As imersões neste parque estão pensadas para três níveis de certifi-cação que se definem da seguinte forma:

No primeiro nível (branco) onde estão englo-bados os mergulhadores menos certificados e com menos experiência, pelo que é recomen-dado que visitem os navios pelo seu lado exte-rior e só devendo fazer alguma penetração em espaços que se encontrem a menos profundi-dade pois são os que também estão mais ilu-minados pelas características base dos navios e pelas aberturas neles efectuadas.

No segundo nível (amarelo) já estão englo-bados os mergulhadores que detêm experi-ência e certificação de especialidade de mer-gulho recreativo correspondente a naufrágio

que lhes permitem explorar o navio no seu interior em níveis em que a luz natural pene-tra na embarcação ou que no seu percurso esteja sempre em linha de vista uma saída.

Por fim no terceiro nível (Negro) destina-se a mergulhadores com certificação de espe-cialidade de mergulho técnico correspon-dente em naufrágio que lhes permita fazer as penetrações e que disponham de material adequado como seja a iluminação a gestão dos gases etc.

Cada navio do Parque dispõe de duas ou três bóias, determinando em função do seu comprimento, para amarração temporária

das embarcações com mergulhadores e ser-vindo de ponto de entrada e saída de mer-gulhadores do navio visitado. As amarrações vulgarmente denominadas de poitas tem como finalidade aumentar o grau de segu-rança aos mergulhadores assim como evitar que de cada vez que uma embarcação visite o Parque tenha de lançar ferro e danificar os navios ou o meio envolvente.

Na preparação dos mergulhos devem os guias de mergulho realizar os briefings prévios no sentido de informar os mergulhadores so-bre as características do navio a visitar, os itine-rários, cuidados a ter, regras e procedimentos

de mergulho e de emergência e comporta-mentos a ter perante a vida existente no recife. Pelo que foi referido é de toda a conveniência que os mergulhadores que desejem visitar o Parque procurem um centro de mergulho as-sociado ao Projecto Ocean Revival.

Importa referir que o Parque é de acesso gra-tuito e universal a todos os operadores, cen-tros, escolas e clubes de mergulho desde que cumpram a lei vigente no território nacional.

Este projecto nasce com a finalidade de pro-mover o turismo subaquático criando num só local através do conjunto de navios represen-tantes da Marinha de Guerra Portuguesa cuja

história será perpetuada com o seu afundamento criando dessa forma um recife artificial sem par a nível mundial

A Câmara Municipal de Portimão e a SUBNAUTA uniram esforços e criaram a MUSUBMAR – Associa-ção para a Promoção e Desenvol-vimento do Turismo Subaquático que sendo uma associação sem fins lucrativos desenvolve através do projecto OCEAN REVIVAL um objectivo comum de colocar à disposição de todos os operado-res turísticos da região os navios cedidos pela Marinha Portuguesa direccionado em primeiro lugar ao mercado nacional mas dada a magnitude também e principal-mente mercado internacional

Mas este projecto OCEAN RE-VIVAL não se fica só pelo recife artificial e envolve também uma câmara hiperbárica que ficará ins-talada no Hospital de Portimão. Sendo um equipamento que pode ser utilizado no tratamento de acidentes de descompressão que podem ocorrer aos mergulhadores não se irá destinar só a esse fim e tendo em consideração que cada vez mais as câmaras hiperbáricas existentes no nosso País são utiliza-das no tratamento de variadíssimas doenças através da Oxigenotera-pia Hiperbárica passará a ser uma mais valia da população envolven-te uma vez que em situação de ne-cessidade de tratamento terão que actualmente deslocar-se a Lisboa.

Também o Museu de Portimão vai possuir um Núcleo Museológico OCE-AN REVIVAL onde a história dos navios de guerra da Marinha Portuguesa será perpetua-da, assim como a história dos patronos e dos respectivos comandantes. Também diversas peças representativas dos navios estarão ex-postas aos visitantes.

OCEAN REVIVALhttp://oceanrevival.org/pt/

facebook/oceanrevival.org

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JANEIRO 2013 • REVISTA DA ARMADA20

COMANDANTE DA FLOTILHA

CHEFE DO GABINETE DO ALMIRANTE CEMA

● Em 15 de novembro ocorreu no Salão Nobre do Palácio do Alfeite a cerimónia de entrega de comando da Flotilha, do CALM Mina Henriques para o CMG Silvestre Cor-reia, presidida pelo Comandante Naval. As-sistiram diversos oficiais generais, convida-dos civis, comandantes e representações das unidades subordinadas da Flotilha, além de outros oficiais. A cerimónia iniciou-se com o discurso do Comandante cessante que salien-tou a forma como os atuais constrangimentos financeiros e de pessoal estão a afetar a Esquadra e realçou o importante trabalho de entrea-juda que existe ao nível dos diversos órgãos de apoio logístico que vem permitindo mitigar os problemas existentes. Seguiu-se a leitura do louvor ao CALM Mina Henriques e o ato formal da entrega de comando. O novo Comandante usou da palavra manifestando estar ciente dos constrangimentos existentes e da reorganização em curso nas FA´s, e que orientará o esforço da Flotilha, não obstante o contex-to de forte contenção orçamental, para a manutenção dos padrões de qualidade do aprontamento dos meios navais. Seguiu-se o discurso do VALM Monteiro Montenegro que se dirigiu ao camarada e amigo que termina uma carreira de 40 anos no ativo agradecendo a lealdade e sublinhando o permanente sentido do dever, o calor humano sem-pre evidenciado nas suas relações com superiores, pares, ou subordi-nados, a determinação, o espírito de diálogo e a entrega pessoal aos objetivos traçados. O CMG Silvestre Correia, realçou a riqueza da sua experiência naval, considerando-a adequada aos difíceis desafios que se colocam à Esquadra e à necessidade de adaptação aos constran-gimentos externos assumindo solidariamente riscos e compartilhan-do responsabilidades. Terminou recordando as palavras do distinto

● Em 26 de outubro efetuou-se no Salão Nobre do Gabinete do CEMA e por ele presidida a cerimónia da tomada de posse do seu Chefe do Gabinete, em que o CALM Brás da Silva foi rendido pelo CALM Seabra de Melo, estando presente vários Oficiais Generais e muitos militares e civis do Gabinete e do EMA. No início da cerimónia foi condecorado com a medalha de Serviços Distintos-prata o CALM Brás da Silva. Após a leitura da ordem usou da palavra o recém-empossado de que se destaca. “… Nos tempos que correm que não lamentaremos, mas tentaremos viver com esperança e motivação, eu gostaria de os resumir do modo seguinte: não fazer apenas o possível, não desistir à primeira e teimar não desesperando perante a adversidade, obviamente salpicando a ação com algum prazer…”.

Por fim o ALM CEMA depois de elogiar o anterior Chefe do Gabinete referiu-se ao novo empossado e ao seu trabalho no Gabinete sendo de realçar que é a estabilidade, coesão e disciplina que deve nortear a sua ação.

No final o novo Chefe de Gabinete foi cumprimentado por todos os presentes.

ALM Silva Horta: “um homem mede-se pela força dos sentimentos que domina, e não pela dos que o dominam a ele, e só mantendo um perfeito e inalterável domínio próprio é que o chefe consegue fazer aquilo que mais ninguém pode: infundir con-fiança nas horas de maior dificuldade” e realçou que “só coesos e confiantes conseguiremos ajudar a construir a Marinha do futuro, uma Marinha imprescindível a Portugal”.

TOMADA DE POSSE

ENTREGA DE COMANDO

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Júlio

Tito

O CMG Alberto Manuel Silvestre Correia nasceu, em Abrantes, ingressado na EN e sendo promovido a G/M em 1 de Outubro de 1982.

É especializado em A/S´s, frequentou vários cursos de carreira, designadamente o CGNG e o CCNG, para além de outros na área operacional, onde se incluem o “Maritime Tactical Course” e o “Maritime Warfare Course” no Reino Unido.

Desempenhou vários cargos em UN’s, de onde se salientam o comando dos NRP´s Quanza e Cunene e no NRP Vasco da Gama, e como Oficial Imediato nos NRP´s Afonso Cerqueira e Álvares Cabral.

Foi instrutor de Luta A/S e subdirector do CITAN e, posteriormente, também na gestão do pessoal. Assumiu o comando da Esquadrilha de Escoltas Oceânicos e em Junho de 2007 passou a acumular essas funções de comando administrativo, com o cargo operacional de Comandante do Grupo de Tarefa – CTG 443.20. e acumulou ainda o cargo de Comandante da Força de Reacção Imediata (FRI).

Concluiu o Curso de Promoção a Oficial General, tendo assumido funções como Chefe do Gabinete do VALM SSP cargo que ocupou até ser designado para comandar a força naval europeia em missão no Oceano Índico empenha-da no combate à pirataria – European Union Naval Force Somalia - Operation Atalanta.

Em Março de 2011 foi graduado no posto de Comodoro para assumir o coman-do daquela força europeia no combate à pirataria.

Serviu no EMGFA como Chefe de Gabinete do Chefe do Estado-Maior Conjunto.Tem vários louvores e condecorações.

O CALM José Luís Branco Seabra de Melo nasceu em Benavente, ingressou na EN e foi promovido a G/M em 1 de outubro de 1979. Especializou-se em Hidrografia e concluiu o mestrado em Oceanografia Física, ministra-do na Naval Post-Graduate School, Monterey, nos EUA. Frequentou com aproveitamento o CGNG e o CCNG, no ISNG, bem como o Curso de Promoção a Oficial General (2008), no IESM.

Esteve embarcado, como aspirante estagiário, no NRP Sacadura Cabral e no navio da 6ª esquadra “La Moure County”. Foi Chefe do Serv. de Comunicações

e de Navegação, no NRP João Roby, imediato no NRP Geba e oficial de hidro-grafia no NRP Almeida Carvalho. No ano 2000, comandou o NRP Alm Gago Coutinho e foi comandante do Agrupamento de Navios Hidrográficos.

Prestou serviço no IH: primeiro, como adjunto do Chefe da Div. de Dinâmica de Cos-tas e Estuários e, depois na Chefia da Div. de Oceanografia. Nesta qualidade, foi o repre-sentante nacional no Comité Científico da NATO do Centro do SACLANT para a Inves-tigação Submarina (SACLANTCEN) e no Grupo NATO de Oceanografia Militar (NATO MILOC GROUP), tendo igualmente participado em diversos projetos de investigação nacionais e internacionais no domínio das Ciências do Mar, com trabalhos publicados em revistas da especialidade. Foi adjunto do Chefe da Div. de Pessoal e Organização do EMA. Foi presidente da Comissão de Receção e Integração do navio americano Assurance, tendo conduzido a sua reativação em San Diego e a sua transferência para a Marinha como NRP Alm Gago Coutinho.

No ano letivo 2000/01 foi professor de oceanografia na EN e no ano seguinte Diretor de Instrução da Escola de Hidrografia e Oceanografia do IH. Foi assessor pessoal do ALM CEMA. Foi Adido de Defesa junto das Embaixadas de Portugal em Paris, Bruxelas e Luxemburgo. De 2008 a 2010 ocupou o cargo de Coman-dante da BNL. Foi Comandante da EN, até outubro de 2012. É detentor de vários louvores pessoais e condecorações.

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REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2013 21

DIRETOR DO SERVIÇO DE PESSOAL

DIRETOR DE FARÓIS

● Decorreu em 31 de outubro, no gabinete do SSP VALM Bonifácio Lopes, que presidiu, a to-mada de posse do CALM Braz da Silva como diretor do Serviço de Pessoal, substituindo na-quele cargo o CALM Casqueiro de Sampaio que, passou à RES. Estiveram presentes oficiais generais e outros militares dos vários setores da Marinha, militares e civis da área dos recur-sos humanos e foi precedido da imposição de condecorações a vários militares que prestam serviço na área dos R/H´s, entre o quais o diretor cessante.

Após a leitura da OA tomou a palavra o novo DSP que, referiu o seguinte: “… Mas a sua complexidade aumentou bastante nos últimos anos tendo em conta: As restrições no recrutamento e nas promoções; contínua redução de efetivos; diminuição de cargos dirigentes; redução incremental mas contínua do nosso rendimento disponível; e a falta de recursos para a melhoria das condições de trabalho e habitabilidade quer nos navios quer nas instalações em terra. Acresce o desencanto que se apoderou de muitos de nós ao verificarmos que o nosso futuro será bas-tante mais difícil do que seria expetável até há bem pouco tempo e que o Estado tem cuidado melhor de outros grupos sociais, levando à renúncia a objetivos pessoais e até à desistência e saída de muitos dos que esco-lheram servir o país nas FA´S e, mais especificamente, na Marinha…”

Em seguida usou da palavra o VALM SSP que, na sua alocu-ção, mencionou: “... Não obstante, elencarei, sinteticamente, algumas das matérias em que a DSP não poderá deixar de se empenhar, de uma forma particularmente intensa, no curto e médio prazo, em paralelo com a sua ati-vidade de rotina:

● O acompanhamento e a avaliação das implicações, no âmbito das suas competências de gestão: das orientações plasmadas na recente diretiva do ALM CEMA para a reorganização da estrutura superior da Marinha; da reforma e racionalização do Ensino Superior Militar; e do novo modelo de educação e formação dos oficiais, em fase final de estudo no âmbito do Conselho Coordenador do Ensino e Formação;

● Decorreu em 22 de novembro, nas instalações da Direção de Faróis, a cerimónia de tomada de posse do novo Diretor de Faróis, CMG Gouveia e Melo, a qual foi presidida pelo Diretor-Geral da Autoridade Marítima, VALM Cunha Lopes. Assistiram à cerimónia diversas entidades civis e militares, uma pequena delegação de Faroleiros representativa dos faróis do continente e os militares, militarizados e civis em serviço na Direção. Após a leitura da ordem procedeu-se a uma breve cerimónia de imposição de condecorações, finda a qual o empossado proferiu uma alocução onde historiou as sucessivas soluções organizacionais do serviço de faróis até aos nossos dias, na dependência ininterrupta da Marinha desde 1892, realçou a importância atual da Direção de Faróis como direção técnica de todas as infraestruturas de assinalamento marítimo, costeiras e portuárias, bem como do dispositivo nacional de posicionamento marítimo, e afirmou o seu empenho em “…defender um assinalamento marítimo eficaz e de qualidade… e contribuir para a necessária atualização legislativa que envolve o assinalamento marítimo…”

No final, o VALM DGAM usou da palavra, referindo que “...A Direção de Faróis, como direção técnica nacional em matéria de assinalamento marítimo dependente da DGAM, é, àquele título, um excelente

● A reavaliação das carreiras dos militares, militarizados e civis e das necessidades em pes-soal, em função, por um lado, da modificação dos requisitos internos e externos e, por outro, da otimização do emprego dos recursos huma-nos disponíveis, na certeza de um quadro de evolução negativa dos seus quantitativos.

● A reflexão sobre a estrutura orgânico--funcional da DSP, já vertida como tarefa da DSRH, mas que deverá, também, articular-se

com a futura entrada em produtivo do módulo de R.H. e Vencimentos do Sistema Integrado de Gestão da DN”.

exemplo de quão eficazes, céleres e ágeis podem ser os quadros cooperativos com as entidades civis …”

TOMADAS DE POSSE

O CALM Francisco José Nunes Braz da Silva nasceu em Ervidel, Baixo Alentejo, entrou para a Escola Naval e foi promovido a G/M em 1 de Outubro de 1982.

Foi oficial imediato dos NPR´s Geba, S. Roque, João Coutinho e Oliveira e Carmo. Especializou-se em mergulhador-sapador (1983/84) tendo prestado serviço em unidades de mergulhadores e frequentado o NATO EOD Course na Naval School EOD, Indian Head, EUA.

Em 1989 frequentou o Aircraft Controller Course no R.U., tendo assumido funções como instrutor no CITAN e embarcado como Controlador de Heli´s nas FF´s Sacadura Cabral, Vasco da Gama e Álvares Cabral. Naquelas funções efectuou o BOST e integrou a STANAVFORLANT, ambos por duas vezes. Durante a estadia no CITAN, frequentou os cursos de Abordagem Sistémica ao Treino.

Prestou serviço no CN, onde teve oportunidade de embarcar em vários navios, na qualidade de oficial de EM de Comandos de Força Naval.

Prestou serviço no CINCIBERLANT, em Oeiras, onde teve a oportunidade de frequentar o ACE Abbreviated Staff Officers Orientation Course e o NATO Crises Management Course, ambos na NATO School, Oberammergau.

Em Julho 97 passou a prestar serviço no EMA e, frequentou o Senior Course no NATO Defense College, em Roma e, foi colocado no E.M. Militar Internacional no Q.G. da NATO, em Bruxelas.

Em Outubro 04, foi nomeado Chefe do Gabinete do 2º- Comandante do Comando Aliado Conjunto de Lisboa, em Oeiras e depois foi nomeado Assessor do CEMA. Após frequentar o Curso de Promoção a Oficial-General (2008/09) no IESM, foi Chefe da Divisão de Planeamento do EMA até ser nomeado Chefe do Gabinete do CEMA.

Recebeu vários louvores e condecorações.

O CMG Henrique Eduardo Passaláqua de Gouveia e Melo nasceu em Quelimane, Moçambique, ingressou na Escola Naval e em 19 setembro de 1983 foi promovido a Aspirante.

Integrou a Esquadrilha de Submarinos, tendo navegado nos NRP´s Albacora, Barracuda e Delfim, exercendo di-versas funções operacionais como Oficial de guarnição até 1992. Especializou-se em Comunicações e Guerra Elec-trónica. Foi promovido às funções de Oficial Imediato em

1992, tendo exercido essas funções nos NRP´s Albacora e Barracuda até 1994.Frequentou o Curso “International Diesel Electric Submarine Tracking Course” em

Norfolk, Estados Unidos e o CGNG no ISNG.Fez três comissões de Comando nos NRP´s Delfim e Barracuda no período de outu-

bro de 1994 a abril de 1998. De janeiro 98 a dezembro 02 foi de Chefe do Serviço de Treino e Avaliação da ES e Chefe do Estado-Maior do SUBOPAUTH nacional.

Em 2000 fez uma pós-graduação em “Information Warfare” na Universidade Independente.De dezembro de 2002 a dezembro de 2005 foi Chefe do Serviço de Informação e

Relações Públicas do Gabinete ALM CEMA.Frequentou o CCNG no IESM. De março a setembro de 2006 foi 2º comandante da

Flotilha de navios.Foi Comandante do NRP Vasco da Gama de setembro 06e 08, e depois Comandante

da Esquadrilha de Submarinos até setembro 11.Frequentou com sucesso o curso de promoção a oficial general no IESM.Foi agraciado com diversos louvores e condecorações.

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JANEIRO 2013 • REVISTA DA ARMADA22

A ”PEDRA FILOSOFAL” DA

DIRECÇÃO DO SERVIÇO DE ELECTRICIDADE E COMUNICAÇÕES

A ”PEDRA FILOSOFAL” DA

DIRECÇÃO DO SERVIÇO DE ELECTRICIDADE E COMUNICAÇÕES

Em 1952, extinta que fora a Aviação Naval, estava na Di-recção do Serviço de Electri-

cidade e Comunicações a chefiar a Secção de Comunicações; era en-tão 1.º tenente.

Trabalhava numa mesa grande, com tampo de vidro, tendo na pa-rede fronteira um “mapa mundi” de grandes dimensões e alta qualidade que, salvo erro, fora mandado ad-quirir pelo então Comandante Ra-mos Pereira.

À minha frente, sobre a mesa, alinhavam-se encostados uns aos outros, num equilíbrio instável, li-vros técnicos, instruções de comu-nicações, publicações várias e ele-mentos de trabalho, entre os quais as previsões ionosféricas que foram de minha iniciativa.

A um encosto mais brusco espa-lhavam-se pela mesa, obrigando--me a repô-los no seu lugar, o que, dada a frequência, me aborrecia.

Não dispondo de pára-livros efica-zes, mandei uma ordenança buscar dois paralelepípedos de granito a uma rua das redondezas que estava em obras; garanti com eles uma maior estabilidade aos elementos de trabalho.

Eram sem dúvida peças insólitas na-quela mesa e por isso várias vezes me perguntavam por que razão estavam ali. Enfastiado de repetir a mesma história, resolvi dizer que eram fonte de inspira-ção para o trabalho que realizáva-mos.

Aliás, esta ideia deve ter surgido por me permanecer na mente uma frase de um oficial inglês que muito prezava, pelos seus conhecimentos de comunicações e pelas soluções que apresentava nas reuniões em que se preparavam os primórdios das comunicações navais NATO.

Tendo-o procurado no seu gabine-te de trabalho no Almirantado Britâ-nico, ocorreu-me perguntar-lhe de onde provinha a inspiração para as suas propostas. Fitou-me por alguns momentos, olhou demoradamente à sua volta, e respondeu-me: - “Está imbuída nestas paredes”.

Vários anos volvidos, quando fui desempenhar o cargo de Director

do Serviço de Electricidade e Comunica-ções, vieram trazer-me uma peça que me surpreendeu, formada por uma lâmina de granito, extraída de uma daquelas pe-dras, encastrada numa base de mármore preto, na qual estava uma placa com os seguintes dizeres:

PEDRA FILOSOFAL DA

DIRECÇÃO DE ELECTRICIDADE E COMUNICAÇÕES

Necessariamente que muito apre-ciei não só a ideia, como a sua ma-terialização; uma peça sem dúvida invulgar que passou a permanecer na minha secretária onde desperta-va a curiosidade.

Quando entreguei o cargo de Di-rector do Serviço de Electricidade e Comunicações ao comandante Dias Martins, a passagem para as suas mãos da “Pedra Filosofal” fez necessariamente parte da cerimó-nia, como a fotografia junta teste-munha.

Muitos mais anos volvidos, numa sessão da Academia de Ma-rinha, com a presença do Almi-rante CEMA Mendes Cabeçadas, em que se evocaram os “100 anos de Comunicações na Armada” e na qual fizeram intervenções três vice-almirantes ligados à especia-lidade – Almeida d’Eça, Alves Sa-meiro e Moreira Rato – e também o então capitão-de-fragata Gamei-ro Marques, lembrei-me de pedir

à Direcção de Infra-Estruturas, onde a “Pedra Filosofal” se encontra, que me deixassem levá-la à Academia de Ma-rinha, ao que o Director prontamente acedeu.

A “Pedra” ficou na mesa da presidên-cia. Após as palavras de introdução proferidas pelo contra-almirante Rogé-rio de Oliveira, Presidente da Acade-mia, e terminada a minha intervenção

que se lhe seguiu, fui buscar a “Pedra” e entreguei-a ao Vice--almirante Alves Sameiro, que falava logo depois, revivendo o cerimonial havido quando deixei a Direcção do Serviço de Electri-cidade e Comunicações.

Aqui fica, em breves palavras, esperando que a memória me não tenha atraiçoado, a história da “Pedra Filosofal” da Direcção do Serviço de Electricidade e Co-municações, Organismo que nos seus 54 anos de existência pres-tou valiosos serviços à Marinha.

Vicente Almeida d’EçaVALM

Comandantes Almeida d’Eça e Dias Martins - 1973.

Tendo havido vários leitores a indagar a Revista da Armada sobre a origem de uma pedra existente na Direcção de Infra-estruturas com os dizeres “Pedra Filosofal da Direcção de Electricidade e Comunicações”, e não havendo ninguém que pudesse dar uma resposta cabal, acabei por pedir ao V/Almirante Vicente Almeida d´Eça que nos esclarecesse.

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REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2013 23

COMANDANTE SOEIRO DE BRITOCOMANDANTE SOEIRO DE BRITO

Em 9 de Dezembro de 1921 nascia, em Elvas, Joaquim Baptista Viegas Soeiro de Brito. Desde cedo demonstrou pos-

suir elevados níveis de inteligência e capa-cidade de estudo, facto que o levou a ser um dos três melhores alunos do país que completaram o ensino liceal no ano lectivo 1938/39. Em Setembro de 1940, após ter obtido altas classificações no Curso de Preparatórios Militares na Es-cola Politécnica, em Lisboa, ingressa na Escola Naval, tendo sido admitido no “Curso do Restaurador”. Faz a sua via-gem de adaptação na velha Sagres, visi-tando portos de Cabo Verde e do Brasil, em plena II Guerra Mundial quando o Atlântico era palco de sangrentas bata-lhas navais em que a supremacia dos submarinos alemães era então evidente. Concluída a viagem, inicia em Feverei-ro de 1941 o curso da Escola Naval, du-rante o qual tem elevadas qualificações.

Promovido a guarda-marinha, em Se-tembro de 1943, efectua o respectivo es-tágio como oficial imediato do patrulha P1. Este navio, cedido por empréstimo pela Inglaterra, efectuava a rocega do porto açoriano da Horta, importante es-tação de cabo submarino, e a fiscaliza-ção entre as ilhas do Faial e do Pico onde por vezes surgiam submarinos alemães.

Em Outubro de 1944, tinha sido promo-vido no mês anterior a 2º tenente, assume o cargo de Chefe do Serviço de Navegação do contratorpedeiro Lima, sob o comando do Capitão-tenente Sarmento Rodrigues, navio que já tinha nos Açores salvo centenas de náufragos de navios torpedeados e que nas mesmas águas, debaixo de violenta tempestade, atingira uns incríveis 67º de inclinação. Este início de carreira muito in-fluenciou o jovem 2º tenente.

A Guerra termina em Setem-bro de 1945 e logo em Outu-bro, na Escola de Mecânicos, em Vila Franca de Xira, é cria-da uma nova especialização para oficiais, o curso de De-tecção Anti-Submarina (DAS), sendo o Tenente Soeiro de Bri-to um dos quatro oficiais no-meados para este curso, cuja base era o estudo e operação do Asdic, equipamento que seria instalado em alguns navios da Armada. Obtida a especialização, é, a partir de Março de 1946, imediato da canhoneira Zaire, na-vio adstrito à Escola de Mecânicos para trei-no prático dos alunos, em acumulação com a função de instrutor dos cursos de DAS para sargentos.

Em Setembro de 1947 é nomeado para fazer parte da Missão de Fiscalização dos Contratorpedeiros que em Glasgow, nos estaleiros da Yarrow, ia acompanhar a mo-dernização dos navios do Programa Naval

Magalhães Corrêa. Terminada, em Maio de 1948, a missão em Inglaterra, onde teve a oportunidade de aumentar os seus conhe-cimentos técnicos sobre os novos sonares e radares, regressa a Lisboa para logo embar-

car como Chefe do Serviço de Navegação no aviso Afonso de Albuquerque que larga em Julho com destino a Angola, a fim de participar nas cerimónias do 3º Centenário da Restauração. Em Setembro, concluída a missão em África, apresenta-se novamente na Escola de Mecânicos e, em acumulação

com o cargo de instrutor dos cursos de DAS, frequenta o curso de Especialização em Rádio-Comunicações, o qual lhe abre no-vos horizontes na área da Electrónica. Igual-mente, também em acumulação, reassume

o comando da Zaire, que para treino dos alunos se desloca ao Algarve, tendo subido o rio Guadiana até ao Pomarão.

Em fins do ano de 1950, termina tam-bém a primeira fase da sua carreira na-val. Durante sete anos tinha sido Chefe do Serviço de Navegação de um contra-torpedeiro em zona de guerra e de um aviso em missão em Angola, comandan-te de uma canhoneira, enriquecido a sua formação técnica com duas especializa-ções e acompanhado em Inglaterra a modernização dos contratorpedeiros.

Segue-se a fase de Hidrografia, que tem início em Janeiro de 1951, com o seu embarque no NH Almirante Lacerda da Missão Hidrográfica de Moçambique.

Os métodos de posicionamento até então utilizados na Missão estavam limi-tados a curtas distâncias, o que impos-sibilitava o levantamento do Banco de Sofala que se estende até cerca de 100 milhas da costa, pelo que havia neces-sidade de adquirir modernos equipa-mentos electrónicos. Assim, mercê da sua vasta preparação técnica, o Tenente Soeiro de Brito vai para os Estados Uni-dos a fim de acompanhar a construção

do Raydist, na época o mais avançado equi-pamento para posicionamento. Com a utili-zação do Raydist foi em 1952 completada a cartografia do Banco de Sofala. Em Março de 1953 é promovido a 1º tenente. A Mis-

são elabora nos anos seguintes não só cartas de toda a costa moçambicana até à foz do Ro-vuma, incluindo a Ilha de Mo-çambique e o Arquipélago das Quirimbas, como também dos principais portos. Entretanto, em meados dos anos 50, a África do Sul tinha iniciado o desenvolvimento do Tellu-rometer, equipamento para a medição rigorosa da distância em trabalhos geodésicos. Para estudar a avaliação do novo sistema, o Governo Geral de Moçambique solicita-lhe a co-laboração, que atingiu tal nível

que a firma construtora, sedeada na Cidade do Cabo, o convida para cooperar na apresenta-ção dos fundamentos do sistema, que mais tarde seria adoptado pela Missão Geográfica de Moçambique e pelos Serviços Geográficos e Cadastrais do Continente. Profundo conhe-cedor das técnicas de medição electrónica de

Joaquim Soeiro de Brito.Cadete da Escola Naval - 1940.

Canhoneira “Zaire”.

Intelectual. Cientista. Homem de Cultura.

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JANEIRO 2013 • REVISTA DA ARMADA24

distância, publica então dois livros, um sobre o Sistema Raydist e das Redes Hiperbólicas e outro relativo ao Sistema Tellurometer.

Anos mais tarde surgiram outros trabalhos da sua autoria, um dos quais, Características Métricas de Alguns Sistemas Coordena-dos na Esfera, obteve o “Prémio Interna-cional Gago Coutinho” instituído pela Sociedade de Geografia de Lisboa. Igual-mente, devido ao seu elevado prestígio a nível internacional, a firma Hastings, construtora do Raydist, encomenda-lhe um estudo referente ao sistema Micro Omega e envia-o como seu represen-tante aos países da América do Sul, para prestar esclarecimento sobre os equipa-mentos que estavam a adquirir. Durante a sua estadia na Missão foi iniciado o levantamento hidrográfico das águas do lago Niassa que, na ocasião e após lon-gas negociações, tinham ficado sob juris-dição portuguesa.

Em Abril de 1959 é promovido a ca-pitão-tenente e termina a sua comissão no NH Almeida Carvalho, sendo então louvado pelas suas muito elevadas qua-lidades profissionais de que deu provas na Missão Hidrográfica de Moçambique, e que, aliadas a uma excepcional inteli-gência e cultura, o tornaram um colabo-rador precioso e o afirmaram como um oficial distinto. É um louvor que caracte-riza claramente as qualidades que o Co-mandante Soeiro de Brito demonstrou ser possuidor durante toda a sua vida.

Já depois de deixar a hidrografia faz uma comunicação em Tananarive, sobre os tra-balhos realizados na Missão, quando do II Congresso da Pan Indian Ocean Science Association, instituição científica criada para o estudo do Oceano Índico.

Os oito anos passados na hidrografia constituíram a segunda fase da sua carreira.

Após uma breve passagem pela Di-recção do Serviço de Electricidade e Comunicações, como Chefe da Secção da Detecção Anti-Submarina, frequen-ta na Universidade Livre de Bruxelas, com uma bolsa NATO, no ano lectivo 1959/60, o curso de Ciências Nucleares Aplicadas. Este curso de pós-graduação, que versava as utilizações pacíficas do nuclear na produção de energia, haveria de anos mais tarde ter influência na sua vida profissional.

No regresso de Bruxelas, no Instituto Superior Naval de Guerra, é o primeiro classificado do Curso Geral no ano lec-tivo 1960/61.

Em Julho de 1961, atendendo às suas elevadas aptidões e capacidade de estu-do, assume o cargo de Adjunto da I Di-visão do Estado-Maior da Armada (EMA). Num ano marcante para Portugal, com o sequestro do paquete Santa Maria, o início da guerra de guerrilha em Angola, a queda do Estado da Índia Portuguesa, além de im-portantes ocorrências no âmbito de política interna, o Comandante Soeiro de Brito inte-

gra o Serviço de Informações Militares (SIM) que, entre outras tarefas, é responsável pelos briefings semanais para o EMA e a publica-ção de um boletim semanal, que destaca as ameaças possíveis sobre navios portugueses

atribuídos a todos os Comandos Navais e Co-mandos de Defesa Marítima.

Nos meses de Outubro e Novembro de 1963 é Capitão–de-Bandeira do transporte de tropas Ana Mafalda numa viagem a Cabo

Verde e à Guiné. Cite-se os casos que na oca-sião mereceram especial atenção do SIM: o Bloqueio do Porto da Beira e o incidente com o navio Angoche em águas moçambicanas. Durante o período em que prestou serviço no EMA, organiza e dirige o Centro de Estu-

dos Especiais da Marinha, que se dedicava ao estudo de navios, armas, especialmente munições autopropulsionadas e o Centro de Investigação Operacional cuja actividade incidia sobre a aplicação da área militar na

nova ciência. A acção do Capitão-de-fragata Soeiro

de Brito, que tinha sido promovido em Março de 1966, muito contribuiu para que a Marinha pudesse evoluir tecnolo-gicamente e adaptar novas metodologias.

De salientar, na qualidade de represen-tante do EMA, a sua participação em ac-tividades da área de Oceanografia Militar e a criação da Estação de Rastreio, na ilha das Flores, e do Polígono de Acústica Sub-marina, na ilha de Santa Maria. No âm-bito do Planeamento destaca-se o louvor que recebeu, em Outubro de 1967, pelo seu contributo para o estudo e elaboração do Projecto de Plano Naval, documento que definiu a Política Naval Portuguesa da época e foi o sustentáculo da sua doutrina.

Considerando os seus vastos conheci-mentos sobre energia nuclear após a fre-quência do curso, em Bruxelas, tinha sido admitido como consultor no Laboratório de Física e Energia Nuclear e mais tarde representante do Ministério da Defesa Nacional no Conselho Consultivo da Jun-ta de Energia Nuclear (JEN). Em Janeiro de 1969 é nomeado seu Vice-Presidente, em acumulação com o EMA.

Em Setembro de 1968, o Chefe do Esta-do-Maior da Armada (CEMA) tinha-o louvado pelo muito que tem feito para elevar o nível do organismo em que trabalha, pelos estudos de muita importância que tem elaborado, pelos seus vastos e actualizados conhecimentos de

política militar e internacional – é chefe do SIM – que tem demonstrado através de ex-posições de uma clareza meridiana, tudo aliado a uma saliente dedicação pelo ser-viço, pelo que é de flagrante justiça con-siderar os serviços prestados pelo coman-dante Soeiro de Brito de extraordinários, relevantes e distintos, e por consequência agraciado com a Medalha Militar de Prata de Serviços Distintos.

Em Novembro de 1969 passa a exercer o cargo de Presidente da JSN dado que o titular, General Kaulza de Arriaga, ti-nha sido nomeado para uma comissão em Moçambique. O Comandante Soeiro de Brito começa então a dar forte dinâ-mica ao organismo a que preside pois se admitia que a energia nuclear seria, em breve, introduzida no sistema energético nacional, dado que o petróleo se poderia esgotar nos vinte anos seguintes.

Vários são então as conferências e con-gressos internacionais em que representa Portugal. Igualmente é, na qualidade de

Presidente da JSN, membro de instituições científicas onde os seus conhecimentos sobre energia nuclear são amplamente apreciados e reconhecidos e promove vários acordos e parcerias com empresas estrangeiras, com vista a valorizar os recursos energéticos na-

Representando Portugal numa reunião em Viena de Áustria – 1965.

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cionais. Com o regresso do General Kaulza de Moçambique, em Setembro de 1973, re-assume as funções de Vice-Presidente da JEN, em acumulação com o EMA.

Em Dezembro completa o tirocínio para promoção como Capitão-de-Bandeira do transporte de tropas Niassa, onde embar-cam dois Batalhões do Exército, que foram as duas últimas forças militares organizadas com destino à Guiné. No transporte maríti-mo de forças para o Ultramar, esta viagem teve a particularidade única de ser escolta-da, em permanência, por duas fragatas e sobrevoada diariamente por um avião da Força Aérea durante todo o percurso Lis-boa-Bissau, já que havia suspeitas de poder surgir uma revolta a bordo do navio.

Promovido a capitão-de-mar-e-guerra em Março de 1974, é nesse mesmo mês convi-dado, pessoalmente pelo Professor Marcelo Caetano, para o cargo de Sub-Secretário de Estado da Energia. Inicialmente declina o convite mas perante a repetida insistência do Presidente do Conselho de Ministros aceita. Com o 25 de Abril é exonerado.

Em Julho inicia as suas últimas funções na Marinha, a de professor do Instituto Superior Naval de Guerra, que termina em Setem-bro, por ter sido transferido para o Quadro da Reserva da Armada, por Decreto do Conselho de Chefes dos Estados Maiores das Forças Armadas do dia 2 desse mês.

As suas marcantes qualidades humanísticas, de que se destacam a tolerância, a simplici-dade e a honestidade ajudam-no a suportar a flagrante injustiça a que tinha sido sujeito.

De 1976 a 84 exerce, a convite do Presiden-te do Centro Democrático Social, que tinha sido seu oficial no EMA, o cargo de Director do Gabinete de Estudos daquele partido po-lítico, gabinete que tinha a missão principal de preparar pareceres sobre os diplomas apresentados à Assembleia da República, estudar os programas geral e sectoriais e representar o Partido junto de organizações internacionais. Tem então a oportunidade de participar em reuniões da Comunidade Económica Europeia, em Bruxelas e em Estrasburgo, o que lhe permite aprofundar os conhecimentos sobre a organização e objectivos daquela instituição.

Os tempos conturbados pós-revolução vão-se extinguindo e assim, por Despacho do CEMA, o Comandante Soeiro de Brito foi considerado como tendo sido convoca-do para a efectividade do serviço a partir de 10 de Novembro de 1981, data em que foi nomeado representante do Vice-Primeiro Ministro e Ministro da Defesa Nacional no Grupo Consultivo e de Apoio, relativo ao Plano Energético Nacional e na Comissão Nacional de Emergência Petrolífera.

Entretanto, a sua elevada competência profissional, apesar das profundas alterações políticas, nunca deixa de ser reconhecida já que continua a ser convidado para realizar palestras sobre o tema Energia Nuclear, em universidades portuguesas e nos Institutos Superiores Militares.

A actividade que dedica ao estudo e à di-vulgação de saberes sobre a área energética, especialmente a nuclear, e a Oceanografia é ampliada quando, em 1984, assume as fun-ções de Docente Convidado para leccionar as disciplinas de Energia e Oceanografia, na

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, funções que exerce até 1992.

Referido que foi o seu brilhante desempenho na área científica, torna-se necessário descre-ver o de âmbito cultural, que teve especial in-cidência a partir da década de oitenta.

Anos antes, a convite do Almirante Sarmento Rodrigues, integra o restrito grupo de persona-

lidades que, em 1970, constituem o Centro de Estudos de Marinha, organismo antecessor da actual Academia de Marinha.

Vasta é a sua participação em realizações da Academia, especialmente quando das co-memorações dos 50 anos da primeira ligação aérea Lisboa-Madeira e em Macau, num en-contro com professores da Universidade de

Xangai, onde apresenta um estudo sobre mé-todos de navegação. Em 1982 e 1986 rejeita, possivelmente por modéstia, a proposta para se candidatar à presidência da Academia, sendo em Dezembro deste último ano Vice--Presidente e Presidente da Secção de Artes,

Letras e Ciências para o biénio 1987/88 e eleito, em 1992, académico emérito.

Outra organização cultural de que faz parte é a Sociedade de Geografia de Lisboa, onde em 1978 e anos seguintes desempenha as funções de Presidente da Secção de Geografia dos Oceanos, tendo organizado diversas conferências sobre a Convenção das Nações Unidas do Decreto do Mar e por ocasião do 25º aniversário da criação do Ano Ge-ofísico Internacional. Em 1983 é eleito Vice-Presidente da Direcção, cargo que exerce até 2006. De referir que em 2000 declina, por razões familiares e de saúde, a proposta apresentada pela Direcção no sentido de se candidatar à presidência.

Igualmente na área cultural, em Julho de 1985 é nomeado Presidente da Co-missão Organizadora das Comemora-ções do V Centenário da Passagem do Cabo da Boa Esperança que constituiria o embrião da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos

Portugueses, onde foi integrado em Janeiro de 1987 e nomeado Coordenador Adjunto da Comissão Executiva, em Setembro de 88.

As suas provadas qualidades humanas e intelectuais, aliadas a uma excepcional ca-pacidade de trabalho, muito contribuíram para a concretização de um vasto número de eventos promovidos pela Comissão durante a sua existência, isto é, de Junho de 1986 a

Novembro de 2001. Destacam-se as Come-morações da Viagem de Bartolomeu Dias, de Colombo, da Chegada dos Portugueses ao Japão, do Tratado de Tordesilhas, do VI Centenário do Nascimento do Infante Hen-rique, da Descoberta do Caminho Marítimo para a Índia e do Centenário da Descoberta do Brasil.

Em 3 de Julho de 2012 falecia, em Lisboa, o Capitão-de-mar-e-guerra Joaquim Baptista Viegas Soeiro de Brito. Desde a sua entrada para a Escola Naval tinham passado sete décadas durante as quais sempre assumiu uma vincada simplicidade e uma modes-ta exibição da sua excepcional craveira intelectual, científica e cultural. A enorme injustiça que sofreu ao ser passado compul-sivamente à Reserva, pelo desempenho de um cargo governamental para o qual tinha sido convidado unicamente pela suas qua-lidades e competências e não por razões políticas, apesar de o terem magoado pro-

fundamente jamais foram objecto de qualquer recriminação da sua parte.

Deixava o mundo dos vivos um Homem Bom!

José Luís Leiria PintoCALM

NR - O autor não adota o novo acordo ortográfico.

CMG Soeiro de Brito

No gabinete da Comissão dos Descobrimentos.

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ATIVIDADES DO NÚCLEO DE RADIOAMADORES DA ARMADA

Como habitualmente, o Núcleo de Radioamado-res da Armada (NRA) no seguimento do seu progra-ma anual de atividades, pôs em prática alguns dos

eventos previstos, nomeadamente o “Con-curso do Dia da Marinha”, “Um Dia de CW QRS”, Naval Radio Party e o Portuguese Museum Ships Rádio Activity. De particu-lar relevo o facto de o “Um Dia de CW QRS” ter sido organizado em conjunto com a REP - Rede de Emissores Portugueses e no caso do Portuguese Museum Ships Rádio Activity a organi-zação partilhada com a ARAM - Associação de Radioamadores do Alto Minho, uma vez que quer o Núcleo quer aquela As-sociação têm sob sua responsa-bilidade as Estações de Amador existentes a bordo dos dois mais relevantes navios – museu por-tugueses, a fragata D. Fernando II e Glória e o navio hospital Gil Eanes, sendo aliás o bordo des-te navio que a Associação tem a sua sede.

É importante referir que esta atividade põe em prática um substancial incremento à promo-ção do património histórico naval português, não só in loco como também levando além fronteiras a sua divulgação.

Para assinalar a entrega dos prémios alusivos as estas ativida-des, a REP e o NRA promoveram no passado dia 29 de setembro, na Casa do Alentejo em Lisboa, um almoço ao qual compareceu aproximadamente uma vintena de radioamadores, vindos alguns deles acompanhados de fami-liares e de lugares tão distantes como o Porto ou a Corunha.

Terminado o período de sã con-fraternização e degustação de sabores do Alentejo seguiu-se, no salão de leitura da Biblioteca da Casa, o ato de entrega de troféus, diplomas e certificados aos par-ticipantes. Antes porém, o Presi-dente da Direção do NRA fez uma breve introdução, partilhada com o Presidente da Direção da REP, sobre o motivo pelo qual o epílogo daquelas atividades convergiu num único ato.

No Dia Nacional dos Castelos, celebra-do anualmente em 7 de outubro, o NRA

juntou-se à APAC - Associação Portuguesa dos Amigos dos Castelos, para com a ati-vação do Forte de S. Bruno, na Avenida Marginal,em Oeiras, associar-se à efemé-ride. Esta ativação contou para o World Castles Award bem como para outras refe-rências, entre elas o “Diploma dos Castelos

e Fortalezas de Portugal” e o “Diploma dos Monumentos Históricos Portugueses”.

Logo pela manhã de sábado a equipa de radioamadores deu início à montagem das antenas consideradas necessárias bem como das posições de operação, quer em morse acústico quer em fonia - SSB, ambas constituintes da estação com o indicativo

CR5SB. Às 10:30h UTC deu-se início efe-tivo à operação que contou com a partici-pação dos radioamadores CT4GN - Rafael Costa, CT1DRB - David Quental, CT1ETL - Miguel Andrade e CT1GZB - José Proença. É ainda meritório assinalar a extraordinária colaboração dada pela APAC na pessoa do

seu Presidente, o Engº Francisco de Sousa Lobo e da Drª. Marisa Cristino.

A ativação decorreu de acordo com as expetativas nela deposita-das tendo-se efetuado duas cen-tenas de QSO´s distribuídos por 122 sufixos em 34 países, durante as 6 horas de operação.

Para assinalar o evento foi feito um cartão especial de QSL que consolidará a confirmação dos contactos efetuados.

No passado fim de semana de 20/21 de outubro, a convite do Agrupamento de Escuteiros nº 510 de Cacilhas, o NRA esteve presente no “55º Jamboree no Ar” com a estação do Núcleo existen-te a bordo da fragata D. Fernando II e Glória. Com o beneplácito do Comandante do Navio, CMG Rocha e Abreu, concedido aos responsáveis do Agrupamento e a colaboração dos radioama-dores CT1DRB – David Quen-tal, CT1FYY – José Simeão e CT1CZT - António Gamito desde as 23:30h de 19 de outubro, hora a que a Estação Nacional fez a abertura do Jamboree, o NRA esteve presente no evento até às 17:30h do dia 21, operando em CW e em fonia – SSB com pre-dominância neste último modo de emissão. Ambos os modos despertaram bastante interesse entre os escuteiros, particular-mente nos mais novos, contudo haveria de ser a fonia que mais os motivou, já que lhes era possível entender a mensagem dos irmãos escutas e retribuir quer fosse em língua portuguesa quer fosse em inglês. Durante o período, além de se ter verificado uma conside-rável movimentação e presença

de escuteiros junto da estação, o normal fluxo de visitantes foi substancialmente au-mentado por radioamadores que ali quise-ram testemunhar o evento.

Colaboração do NÚCLEO DE RADIOAMADORES DA ARMADA

“Concurso Dia da Marinha”. CT1ELF - Fernando Silva Pintocontempla o seu troféu, uma réplica da Sagres.

Agrupamento de Escuteiros nº 510 de Cacilhas.

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OS NÁUTICOSOS NÁUTICOS

Na primavera de 1970 começava a des-pontar no Grupo nº 2 de Escolas da Armada, no Alfeite, o embrião de um

agrupamento musical que haveria de deixar o seu nome indelevelmente gravado na memória, não só dos que com eles conviveram na Mari-nha, mas também de muitos militares dos outros ramos das Forças Armadas e civis, dispersos pela Guiné, Cabo Verde, Angola e Moçambique.

Este agrupamento musical, Os Náuticos, ini-cialmente constituído pelos elementos: ∙ Ernesto Dabó - Voz∙ Rui Almeida - Guitarra Solo∙ José Ricardo - Guitarra Ritmo e Voz∙ Pedro Serigado - Baixo Elétrico∙ Carlos Portugal - Bateriafoi posteriormente alargado com mais dois instrumentistas de sopro, oriundos da Ban-da da Armada:∙ José Araújo Pereira - Trompete∙ Francisco Ribeiro Jr - Saxofone Tenor

O conjunto ensaiava no Grupo nº 2 de Escolas da Armada e as suas atuações gratuitas eram essencialmente de caráter social. Participou também em festas de Natal, organizadas pela Cruz Vermelha, no Natal dos Hospitais e no programa “Estúdio sem Marcação”, gravado pela RTP na Escola de Artilharia Naval.

A digressão pela Guiné, Cabo Verde, Angola e Moçambique teve como prin-cipal papel levar uma lufada de ar fresco e elevar a moral dos militares em serviço naquelas paragens.

O grupo que encetou essa digressão, em abril de 1971, embarcados no paquete Niassa, era coordenado pelo Capelão Delmar Barreiros e para além dos Náuticos atuava isoladamente o acordeonista Orlandino.

Antes de iniciar a viagem os elementos foram recebidos pelo Ministro da Marinha, Almiran-te Pereira Crespo, que a todos exortou para o cumprimento da missão.

Começava assim uma digressão que ainda hoje é recordada por muitos que assistiram às suas atuações, como um dos momentos mais emotivos da componente lúdica.

Chegado a Bissau, o grupo ficou instalado no Comando da Defesa Marítima e, daí, par-tia para os locais onde iria efetuar as atuações e naturalmente os meios mais utilizados no transporte foram as lanchas de desembarque e os patrulhas que naquela altura se encontra-vam ao serviço na Guiné.

Assim, foram efetuadas, entre outras, atuações em Bissalanca, Bolama, Farim, Ganturé e Bissau.

Relembro o interesse e boa vontade com que os militares se esforçavam por adaptar os escassos meios de que dispunham para rece-ber Os Náuticos e proporcionar as melhores condições de atuação.

A grande participação e entusiasmo sentido nas diversas atuações, raiado por vezes com uma lágrima de saudade, foi concerteza fruto

do encurtar das várias milhas náuticas de dis-tância da terra Natal pelo poder inigualável de uma canção de Lisboa ou temas de folclore regional, elevando cada ser humano no mais profundo do seu nostálgico sentimento.

E comprovando o carácter universal da arte musical, recordo o episódio em Ganturé, onde as escaramuças invariavelmente diárias faziam pensar ser impossível terminar a atuação pro-gramada, mas, ao invés, decorreu na íntegra sem qualquer interrupção; e até depois da refe-ria atuação, já pernoitando num abrigo, o gru-po não vislumbrou qualquer problema.

A digressão pela Guiné culminou numa gran-de iniciativa do Quartel General, no estádio Sarmento Rodrigues (cidade de Bissau), com-pletamente lotado, com muitos agrupamentos indígenas, sendo o encerramento do espetáculo feito pl’Os Náuticos. O êxito retumbante, com os elementos do grupo absorvidos pela assistên-cia e passeados em ombros, em grande apoteo-se, indicou o cumprimento integral do objetivo de proporcionar aos militares em serviço alguns momentos de lazer e elevação moral. Durante a estadia em Bissau, o agrupamento foi recebido pelo Comandante Chefe das Forças Armadas na Guiné – General António de Spínola.

Na viagem de regresso a Lisboa, ainda hou-ve oportunidade para fazer uma escala no Mindelo (Cabo Verde) e atuar em dois espe-táculos no cinema Miramar ao qual assistiram muitos militares e civis.

A segunda viagem já estava praticamente definida e em função do sucesso da primeira tudo se conjugava para que Angola e Moçam-bique fossem os próximos destinos.

Pouco tempo depois iniciava-se a viagem a bordo do paquete Vera Cruz – destino: Lu-anda! O navio levava militares dos três ramos das Forças Armadas que iam com a finalidade de substituir outros que lá se encontravam.

Durante a viagem, tal como nas situações an-

teriores, o agrupamento realizou atuações para o pessal que se encontrava a bordo e numa dessas exibições, nas imediações de São Tomé e Prín-cipe, repentinamente desencadeou-se uma tem-pestade tropical que por pouco não danificou os instrumentos e aparelhos eletrónicos que tive-ram de ser retirados à pressa do convés do navio.

Chegados a Luanda logo se iniciaram espetá-culos na própria capital e em unidades próximas com assinalável êxito.

Depois foi tempo de zarpar até Santo Antó-nio do Zaire, onde o agrupamento atuou em alguns locais, na Pedra do Feitiço e também em

Cabinda. De volta a Luanda, Os Náuticos foram convidados a atuar num grandioso festival que se realizou no cinema Avis e a sua performance foi de tal forma empol-gante que a assistência invadiu o palco. Há coisas que perduram na memória e tenho a certeza que tal como nós, muitos dos que assistiram devem ter ficado com essa recordação por muito tempo.

Outra das mais significativas atuações d’Os Náuticos aconteceu na Reclusão Militar, onde também se apresentou o cé-lebre ator Raul Solnado e que a propósito cantou uma das suas canções acompa-nhado pl’Os Náuticos.

O rumo seguinte foi Moçambique onde estava programada a continuação da di-gressão. Em Lourenço Marques (atual Ma-puto), Os Náuticos ficaram alojados nas instalações do Comando Naval.

A maior parte das deslocações foram feitas por meio aéreo pois as distâncias

eram longas: Nampula, Porto Amélia, Tete, Vila Cabral e Metangula (no lago Niassa).

Numa das atuações feitas no ringue da uni-dade, em Metangula, o baterista desmaiou com o calor e só recuperou com a ajuda do enfermeiro que assistia ao espetáculo.

Numa das noites em Metangula, alguns ele-mentos deslocaram-se ao Cobué para uma pe-quena atuação e para quem conhece o lugar pode imaginar a emoção que é ouvir “O Silên-cio”, tocado naquele ambiente quase desértico, a altas horas da noite. É mais um momento único que fica gravado na memória para toda a vida.

No regresso de Moçambique Os Náuticos fi-zeram a viagem a bordo da fragata Hermenegil-do Capelo e mais uma vez efetuaram algumas atuações a bordo, gerando-se uma grande em-patia com a guarnição e amizades muito fortes que se prolongaram até aos dias de hoje.

Em traços largos, aqui fica um pequeno contri-buto para recordar a existência d’Os Náuticos, um agrupamento musical que ainda hoje é lem-brado por muitos dos que serviram na Marinha, Exército e Força Aérea nos anos de 1970/71 e que com eles se cruzaram em terra ou no mar.

José Araújo PereiraCFR Músico

Alguns momentos inesquecíveis de uma digressão por terras de África

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O curso “Oliveira e Carmo” visita a Escola NavalO curso “Oliveira e Carmo” visita a Escola Naval

No âmbito das comemorações do cin-quentenário da entrada na Escola Na-val dos cadetes do Curso “Oliveira e

Carmo”, a visita efectuada àquele estabeleci-mento de Ensino Superior Público Militar no dia 25 de outubro representou o ponto mais alto de entre todas as visitas realizadas, não só pela sua carga simbólica, mas também pela sua envolvente emocional. Poucos fo-ram os que faltaram e os presentes voltaram a entrar no átrio do edifício escolar por onde passaram tantas vezes, todos os dias e duran-te alguns anos. Aparentemente, o aspecto das velhas salas de aulas não se alterou significa-tivamente, o mesmo não se podendo dizer de toda a ala Sul do edifício escolar e dos alo-jamentos, completamente moderniza-dos e aumentados. Bem mais evidentes eram as mudanças sofridas pelos jovens cadetes de 1962, agora exibindo a sua natureza quase septuagenária.

Apesar do dia chuvoso e da hora matu-tina a que se iniciou a visita, os elementos do Curso “Oliveira e Carmo” e os seus professores que puderam estar presentes, foram pontuais e, na sala AORN, apre-sentaram cumprimentos ao CALM Bastos Ribeiro, Comandante da Escola Naval, assinando depois o Livro de Honra, onde ficou registada a mensagem:

Um muito Bem-Haja à Escola Naval que neste dia nos proporcionou rejuve-nescer 50 anos.

É com emoção que aqui voltámos a esta Casa que nos formou como Homens e Marinheiros. Que ela continue a honrar a Marinha e o País na senda da sua divisa henriquina “Talant de bien faire”, são os votos do curso “Oliveira e Carmo”.

Seguidamente, o grupo posou para a tradicional fotografia de conjunto na es-cadaria principal do átrio do edifício es-colar. Seguiu-se uma missa na Capela da Escola Naval por intenção dos elemen-tos do curso já falecidos, que foi celebra-da pelo CALM Capelão Costa Amorim e, depois, no pequeno auditório do edifício escolar, uma sessão de apresentação da Escola Naval e da sua missão, feita pelo Co-mandante e pelo 2º Comandante, respectiva-mente CALM Bastos Ribeiro e CMG Soares Ribeiro, que permitiu que nos inteirássemos das alterações havidas, quer nas instalações escolares quer no plano de estudos, de forma ao seu adequado enquadramento no sistema educativo nacional e nas necessidades da Marinha.

Para a tradicional lição proferida por um an-tigo professor foi convidado o CMG Martins e Silva que, numa evocação cheia de interesse e boa disposição, recordou a sua relação com o Curso “Oliveira e Carmo” e lembrou alguns episódios da sua vida naval, nomeadamente durante as suas comissões a bordo do NE Sa-gres, nos quais teve a colaboração de alguns

membros do curso, com os quais intensificou os laços de amizade que já vinham dos tem-pos da Escola. A aula foi atentamente segui-da pelos cadetes, que muito a apreciaram e aplaudiram.

O nosso camarada e Chefe de Curso CALM AN Nunes da Cruz usou da palavra para agra-decer ao Comandante Martins e Silva a exce-lência do seu contributo para as comemora-ções do cinquentenário do Curso “Oliveira e Carmo” e ler mensagens recebidas de alguns membros do curso ausentes por motivos de força maior, casos de Rodrigues Rodolfo, Pai-va de Andrade, Aires da Silva e Raul Leitão, assim como as mensagens de agradecimento pelo convite e de felicitações pela efeméride,

que foram enviadas ao curso por alguns pro-fessores também ausentes, nomeadamente, VALM Carmo Fernandes, VALM Quesada Andrade, CALM AN Pereira de Oliveira, Co-mandantes Serra Brandão, Abel de Oliveira, Conceição e Silva, Castro Guise, Bandeira Duarte, Duarte Costa, Brilhante Pessoa, Pas-coal Rodrigues e Prof. Doutor Noémio Ma-cias Marques. A leitura destas mensagens, por vezes de conteúdo muito fraterno e emocio-nal, foi um momento de grande significado para todos os presentes.

Os elementos do Curso “Oliveira e Carmo” dirigiram-se depois para a sala Macau, onde tiveram a oportunidade de consultar alguma documentação relativa à sua vida escolar, seguindo depois para o átrio do edifício do

antigo internato onde, devido ao mau tempo, o Batalhão do Corpo de Alunos se encontrava em formatura.

O Chefe de Curso fez uma breve alocução dirigida aos cadetes em formatura, de que se salienta a seguinte passagem:

A profissão que escolheram não vos irá dar poder nem riqueza, realidades endeusadas na sociedade actual. Vão enfrentar muitas agru-ras, muitas dificuldades e muitas incompre-ensões e têm de estar preparados para saber ultrapassá-las. Porém, há muitas satisfações sem contrapartida material que hão-de sa-borear no desempenho da vossa profissão, e essas, por isso mesmo, são mais duradouras e gratificantes.

Lealdade, disciplina, frontalidade, hon-radez, coragem moral e cívica, integrida-de, ética, liderança, são valores que os vossos mestres aqui vos hão-de incutir e ajudar a desenvolver. É um investimento em que vale a pena todo o empenha-mento e, dele, a vida se encarregará de vos trazer o consequente e gratificante retorno. As Forças Armadas em geral e esta escola em particular, são um cadi-nho onde germinam esses valores. Fazê--los florescer é a vossa obrigação.

O cadete não é - apenas, direi eu - um estudante universitário, mas é mais, já que o seu nível académico tem de ser completado com outras valências, mili-tares e marinheiras, que o universitário civil não tem.

Mais do que palavras, a nossa presen-ça aqui, passados 50 anos, significa que valeu a pena o termos escolhido esta profissão, que a vivemos o melhor que soubemos e pudemos e que a Marinha continua a ocupar um lugar privilegiado nas nossas vidas.

No final das suas palavras agradeceu a presença dos professores do curso presentes – VALM Garcês de Lencastre, CALM Victor Crespo, CALM Pereira Ger-mano, Comandantes Cyrne de Castro, Eurico Matiolli e Costa Catalão e Profes-sor João Afonso Freire. Agradeceu, tam-

bém, as presenças do Comandante Almada Contreiras e do VALM Neves de Bettencourt, representantes dos cursos que o Curso “Oli-veira e Carmo” encontrou na Escola Naval em Setembro de 1962 – “Luís de Camões” e “Nuno Tristão” – e do Eng. Luís Filipe Penedo, representante do 5º Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval que entrou para a Escola Naval em Outubro de 1962, tendo como pa-trono o Comandante Oliveira e Carmo.

Seguiu-se o descerramento de uma placa comemorativa dos 50 anos do Curso, que foi muito aplaudido e, depois, um almoço de convívio no hall do Grande Auditório.

Colaboração do CURSO “OLIVEIRA E CARMO”

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REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2013 29

COMPETÊNCIASCOMPETÊNCIAS

GALEOTEnados pudessem obter perdão da pena, através dos ouvidores e dos comissários que advogavam perante o Rei, isso era muito raro, pelo que o serviço de gale-ote equivalia, frequentemente, a uma pena perpétua ou capital.

Na iminência dos combates, e para não fugirem sob o efeito do medo, os gale-otes eram acorrentados aos bancos das galés. Fernando Oliveira (ibid, ibidem) refere-se à violência exercida sobre os galeotes, dizendo que os comitres «…os açoitam à sua vontade e os mandam para onde querem…», pelo que «… o trabalho de remar é tão intolerável que ninguém o faz bem senão por força, a qual resulta de açoite ou de necessi-dade...». Os galeotes feridos e doentes eram lançados ao mar. Embora sujeitos a severas privações, os galeotes tinham alguns direitos relativamente aos sa-ques efectuados e ao soldo pelo serviço prestado.

António Silva RibeiroCALM

Na Baía, onde o navio arribou foi, em 12 de Maio de 1679, nomeado como Te-nente do Capitão de Mar e Guerra (2) da mesma charrua Nª Srª da Visitação em acumulação com o cargo que já de-sempenhava.

Com. E. Gomes

Notas(1) Embora a lei assim o obrigasse são muitos os pilotos e sota pilotos que não se conhece se teriam efectuado exame isto para não referir as outras categorias em que a situação é bem pior. (2) As funções daquele cargo poder-se-iam comparar às desempenhadas pelo imediato do navio competindo-lhe, em caso de algo suceder ao Capitão-de-Mar-e-Guerra, que, certamente não por acaso, havia sido aprovado em exame como piloto, substitui-lo.

Fonte: Documentos Históricos da Biblioteca do Rio de Janeiro vol. 27

GALEOTE

O termo galeote terá a sua origem no italiano, onde galiotto signifi-ca marinheiro, forçado, ou con-

denado a remar nas galés ou galeotas. José de Vasconcelos e Menezes, em Os Marinheiros e o Almirantado (p. 156), afir-ma que «…o galeote era o remador…, obrigado ao serviço militar do Rei, nas armadas, do mesmo modo que os ho-mens de armas o eram na hoste». Fer-nando Oliveira, na Arte da Guerra do Mar (parte I, cap. XII, p. XXIX verso), eviden-cia as competências técnicas necessárias aos galeotes: «Os remeiros a quem em especial chamam galeotes são quase ma-rinheiros, e pelos mesmos respeitos de-vem ser escolhidos práticos no marinhar do navio, porque também tiram pela cor-da, e acodem aos aparelhos, e hão mester conhecê-los, e entender o apito».

Inicialmente, em Portugal, os galeotes eram jovens barões livres das popula-ções ribeirinhas. José de Vasconcelos e Menezes (ob. cit., p. 156) afirma que, até ao reinado de D. Pedro I, os concelhos mandavam apresentar um determina-

Nem sempre os cargos dos ofi-ciais dos navios, mormente na Carreira da Índia, eram atribu-

ídos a indivíduos adequadamente ha-bilitados; os pilotos, os sota pilotos, os mestres e os contramestres obtinham tal habilitação através de exame efectu-ado pelo Cosmógrafo Mor (1), os cirur-giões e os físicos através da apreciação efectuada respectivamente pelo físico mor e pelo cirurgião mor, desconhecen-do como seriam as restantes categorias (meirinhos, condestáveis, artilheiros etc…).

Seja como for o que é um facto é que são conhecidas inúmeros nomeações, para o desempenho de cargos a bordo das naus da Índia de indivíduos que, pelo menos, aparentemente não esta-riam habilitados para o seu desempe-nho ou mesmo não teriam as adequadas qualificações para o fazer.

O sucedido com a nomeação de Antó-nio da Silva, ocorrida em 1769, parece ser um desses casos.

do número de homens para o serviço de remador. Acrescenta que, do reina-do de D. Pedro I ao de D. João I, como o sistema de recrutamento designado por “vintena do mar” ainda não se en-contrava uniformizado, manteve-se em vários locais o processo anterior. Do rei-nado de D. João I ao de D. Manuel I foi estabelecido um imposto sobre o pesca-do, para pagar aos galeotes que se apre-sentassem voluntariamente. Depois desse tempo, as exigências das guerras, associadas ao facto do serviço de rema-dor ser extraordinariamente violento e perigoso, os galeotes livres começaram a ser substituídos por delinquentes e ca-tivos, muitos deles sem qualquer expe-riência de mar.

A condenação de um individuo ao serviço de remador era uma forma es-cravizante de privação da liberdade, aplicada em caso de delito grave, ou im-posta a inimigos capturados durante os combates, a membros de etnias social-mente estigmatizadas, e a alguns nobres caídos em desgraça. Embora os conde-

No respectivo diploma de nomeação é referida a sua experiência que começara a servir, no mar, anteriormente a 1760, como cirurgião, nalgumas armadas da costa.

Fora o cirurgião mor da armada da Ín-dia, de 1670, em que seguira o Vice Rei Conde do Lavradio tendo, ao chegar a Goa, sido nomeado cirurgião mor do Estado da Índia e do Hospital de Todos os Santos. No ano seguinte foi nomeado escrivão da Câmara de Goa e nomeado em vida Guarda Mor da Relação da Câ-mara, cargos em que pelo seu desempe-nho merecera a atribuição do grau de cavaleiro da Ordem de S. Tiago.

Tendo renunciado aos cargos embar-cou para o Reino vindo a perder a maior dos seus bens no naufrágio do navio em que seguia viagem.

Em Moçambique, para onde seguira na sequência do naufrágio, foi nomeado escrivão da charrua Nª Srª da Visitação que, em Maio de 1679, regressava da Ín-dia a Lisboa.

HIERARQUIA DA MARINHA

VIGIA DA HISTÓRIA

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a “Gina” era navio pouco cómodo para esta tarefa, sobretudo com nortada que ocasionava um forte balanço proa-popa, pondo os operadores de câmara do avesso, estes foram falar com o comandante para diminuir a velocida-de do navio.

Na impossibilidade de o fazer sem correr o risco de se afastar demasiado da “Sagres”, o comandante sem se dar bem conta de que estava a escrever uma mensagem para a história daquele navio, pede-lhe que diminua a velocidade para o poder acompanhar.

Claro que o navio mais rápido da Armada a pedir à “Bela Barca” para reduzir velocidade, teve direito a ver a sua mensagem encaixilha-da e exposta na Câmara de Oficiais como troféu.

CMG José Ferreira Júnior (2009)(Texto enviado pelo Curso “Luís de Camões”)

VENTOS DE BOLINAVENTOS DE BOLINA

Por falar em nortadas rijas de Verão junto à costa ocidental, re-

lembro um episódio que, não tendo vivido, é do conheci-mento de todos os que tive-ram o ensejo de passar pelo Navio-Escola “Sagres”.

Em ano que não posso pre-cisar, a “Sagres” fazia o seu período de adestramento básico antes de iniciar uma viagem de instrução de ca-detes e foi determinado que uma equipa de televisão ou cinema, talvez, embarcasse na “Gina”, Fragata “Pero Escobar”, que na altura era capaz de atingir os seus trinta e dois ou trinta e três nós de velocidade, a fim de tomar imagens da “Sagres” a navegar.

É preciso referir que esta “Sagres” tinha ainda pouco tempo ao ser-viço da Marinha Portuguesa e não havia grande documentação foto-gráfica sobre ela.

Assim, depois de várias tentativas sem êxito da equipa que seguia a bordo da fragata para recolher as imagens para a posteridade, já que

ESTÓRIAS

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REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2013 31

O Natal deste ano...NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (19)

Nesta manhã de Natal meninos, felizes Vão aos saltos pela casa

Descalças ou com chinelos Procurar suas prendas Depois há danças de roda No Natal todos se sentem irmãosSe isto fosse verdade Para todos os Meninos Era bom ouvir os sinos tocar.Poema popular de Natal, lido por uma criança.

Todos os anos escrevo por esta altura uma história alusiva ao Natal…Este ano está difí-cil. Nem o ambiente parece propício, nem a minha alma parece pronta e até estas his-tórias parecem diferentes agora que – com sincera pena – perdi o meu ilustrador…

Nada me parece Natal este ano, nem a mú-sica copiada de uma América distante, nem os Pais do Natal da Coca Cola, ou aqueles condenados velhos barbudos pendurados em cabos gastos de uma China, tão em que-da como eles, que adornam as varandas das cidades dormitório, objetos de um desejo es-tranho, alheio aos “meninos jesus “ de outros

● No dia 16 de novembro realizou-se na Sala dos Actos da Faculdade de Ciências Médicas de Lis-boa a cerimónia de Doutoramento em Medicina do CMG MN Luís Bronze dos Santos Carvalho perante numerosa assistência constituída essen-cialmente por médicos e oficiais de Marinha.

O júri foi constituído pelos Professor Miguel Oliveira Presidente (Vice-reitor da Universidade Nova de Lisboa) Professora Ana Aleixo, Professor Palma dos Reis e Professor Nuno Cardim (FML). Professor Manuel Bicho (FML), Professor Silva Cardoso e Professor Paulo Bettencourt (FM Porto).

A lição proferida pelo Dr. Bronze dos Santos Carvalho versou o tema Marcadores Inflamató-rios da Placa Aterosclerótica Coronária: Carate-rização e potencial retilização clínica.

Este tema prende-se com a “teoria inflamatória da aterosclerose“, que explica aquela entidade médica com base em pressupostos inflamatórios. De forma sucinta, explicitou-se que o organismo reage a estímulos metabolicamente agressivos (como a gordura da dieta e outros) do mesmo modo como reage a estímulos agressivos de um outro tipo – como uma infeção microbiana, por exemplo. A aterosclerose apresenta-se assim como um mecanismo de defesa, acessível por marcado-res colhidos por análise de sangue periférico.

Após a apresentação da sua Tese o doutorando foi interpelado por todos membros do júri.

No final o júri atribuiu ao candidato, por una-nimidade e distinção o grau de Doutor.

O nosso Doc já é DOUTOR!

tempos… Nem sequer os pinheiros de plás-tico, ou as luzinhas cintilantes, me aquecem nesta época, ou me recordam o velho espírito de Natal…Tenho mesmo que me lembrar do sabor a azevias e filhoses, da minha avó – o melhor de um tempo que nunca passou…

Contudo, presenciei este ano muitos mila-gres nos meses que passaram: vi o meu filho encontrar paz, eu próprio venci inúmeras adversidades e acreditei…Acreditar já é sufi-cientemente bom e, sei-o eu e sabem muitos, já é metade do Natal, qualquer Natal de qual-quer ano, em qualquer lugar…

Consegui mesmo, durante o passado ano, nos olhos de muitos ver a vida a renascer apesar dos cortes, das trocas e baldrocas e de toda a bru-ma que rodeia o país…Verifiquei, com grande satisfação, que muitos retornaram a um país de menos ostentação e mais afirmação…Acreditei na vitória dos pequenos. Aceitei os sofrimen-tos presentes…Recordei-me nos muitos que encontro e comigo partilharam a experiência Naval. Sobrevivi…e isso também é Natal…

Verifiquei, para lá de tudo, que ainda sou médico… Dediquei toda a minha vida ao sa-ber e isso foi recompensado, após um longo

período de trabalho. No processo nunca me senti só, antes seguro no calor dos amigos…Também isso foi um bom presente de Natal…

Muitas coisas novas nos esperam no novo ano. Espera-se, por exemplo, que dos escom-bros do Hospital da Marinha, nasça algo que mantenha algum do espírito Naval, do velho Hospital da Marinha, que está perto do seu es-tertor final. Espero que se reconheça na nova estrutura, alguma da maresia que transpirava nos corredores da atual Unidade de Santa Cla-ra, do Centro Hospitalar das Forças Armadas, que está a nascer. Espera-se que a nova estrutu-ra conquiste – de algum modo - o lugar que a estrutura antiga tinha no coração de muitos…

Espera-se, por fim, que o novo ano traga esperança a todos e ventos de uma orien-tação que todos compreendam, para lá das brumas que a incerteza agora traz…

Feliz Natal a todos. Esperança para 2013…Que bom seria ouvir de novo os sinos a to-car…assim diz a criança…que finalmente me fez acreditar, que é Natal…

Doc

O Natal deste ano...

DOUTORAMENTO EM MEDICINA

CMG MN Luís Bronze Carvalho

Licenciado pela Faculdade de Medicina de Lisboa.Especialista em Cardiologia pelo Hospital de Santa Cruz.Doutorado em Medicina/Cardiologia pela Faculdade de Ciên-cias Médicas, Universidade Nova de Lisboa.Comissões de embarque como Chefe de Serviço de Saúde no NRP João Roby 1990/1991, NRP António Enes e NRP Pereira d’Eça (1995), NRP Álvares Cabral (1998) e NRP Vasco da Gama (1999/2000).Cardiologista do Hospital da Marinha até 2005.Cardiologista e Chefe do Departamento de Cuidados de Saúde Primários do Centro de Medicina Naval entre 2005 e 2009.Subdiretor do Centro de Medicina Naval entre 2010 e 2011.Atual presidente da Junta de Recrutamento e Seleção e Respon-sável pelo Serviço de Cardiologia da Unidade de Santa Clara, do Pólo de Lisboa, do Centro Hospitalar das Forças Armadas.

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JANEIRO 2013 • REVISTA DA ARMADA32

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REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2013 33

JOGUEMOS O BRIDGE PALAVRAS CRUZADAS

QUARTO DE FOLGA

JOGUEMOS O BRIDGE

SOLUÇÕES: PROBLEMA Nº 158

SOLUÇÕES: PALAVRAS CRUZADAS Nº 440

Problema Nº158

PALAVRAS CRUZADASProblema Nº440

Todos vuln. S joga 3ST e recebe a saída a ♠ R. Analisando as 4 mãos será que S conseguirá encontrar a 9ª vaza que lhe falta para cumprir o contrato?

Solução neste número

Com uma distribuição desfavorável 4-2 dos ♦ só tem 8 vazas rápidas, pelo que vamos ver a linha de jogo que S deve seguir para encontrar a 9ª vaza fazendo 3 ♥. Vejamos como: deixa fazer ♠ R e ganha à segunda com A; joga 3 voltas de ♦ e verifica que estão 4-2, continuando com o 4º para obrigar a 2 baldas de W que terão de ser ♣; E fica em mão e se atacar ♣ S faz AR e coloca a mão em W em ♠, sendo este obrigado a jogar ♥ e permitindo que S faça 3 vazas no naipe, como facilmente se pode verificar; se E tivesse atacado ♥ em vez de ♣ deixaria correr para o morto e W teria de jogar D ou V para o A de N; depois o carteador jo-garia do mesmo modo deixando W sem defesa na saída de mão obrigatória a ♥, face ao 10x em N e Rx em S contra os seus V9.

Nunes MarquesCALM AN

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Horizontais: 1-Duro como pedra; humedecer por irrigação. 2-Ovário dos peixes; envia. 3-Fel; ilha de Moçambique. 4-Jogo que se joga ordinariamente entre dois parceiros, com trinta e duas cartas; rio da Itália. 5-Navegara (Náut); é quase cave. 6-Ri-queza (Poét); mamífero marsupial trepador, da Austrália, 7-Uma das cícladessentre Naxas e Santorim; misturassem. 8-Estás; fi-lha de Agámémnon, vingou a morte de seu pai, matando sua mãe Clitemnestra (sing). 9-Nome próprio; penai na confusão. 10-Compositor francês (1683-1764); vento frio (inv). 11-Cidade da Sírianas margens do Oronto, célebre pelo seu tempo do Sol; planta rasteira, com folhas nauseabundas.

Verticais: 1-Advogado e convencional francês, tendo reinado pelo terror com a Junta de Salvação Pública, de que era a alma. 2-Pequenos ornatos ovai antes do meio-dia. 3-Planta malvácea (pl); goste. 4-Tricas na confusão; acreditas. 5-Satao na confu-são; átomo gasoso electrizado sob a acção de certas radiações. 6-Também (ant); pedra de moinha. 7-Soberano; cidade e muni-gípio do estado do Rio Grande do Norte (Bras). 8-Região petrolí-fera da Rússia entre o Ural e o Cáspio; acto ou efeito de sopesar (inv). 9-Prefixo de terra; tornara nulo. 10-Símb. quím. do astato; esporear na paleta (Bras). 11-Renovação.

Horizontais:1-rocal;regar.2-ovas;remete.3-bilis;ibo.4-ecarte;po. 5-sulcara;cav.6-pluto;coala.7-ios;amassem.8-es;oreste.9--ari;ipaen.10-rameau;orat.11-emeso;asaro.

Verticais: 1- robespierre. 2 - oviculos; am. 3 - calalus; ame. 4 - asirct; cres. 5 - staoa; iao. 6 - er; mo. 7 - rei; acari. 8 - emba; osepos. 9 geo; cassara. 10 - at; palatear. 11 - renovamento.

Carmo Pinto1TEN REF

Norte (N)

Sul (S)

Oeste (W) Este (E)

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JANEIRO 2013 • REVISTA DA ARMADA34

NOTÍCIAS PESSOAIS

CONVÍVIOS

COMANDOS E CARGOS

RESERVA

REFORMA

FALECIDOS

NOMEAÇÕES

● CMG Henrique Eduardo Passaláqua de Gouveia e Melo nomeado Diretor de Faróis ● CMG Alberto Manuel Silves-tre Correia nomeado Comandante da Flotilha e de 2º. Co-mandante Naval ● CMG Paulo Jorge da Silva Ribeiro nome-ado Chefe da Repartição de Militarizados e Civis da Direção do Serviço de Pessoal ● CMG José Nuno dos Santos Chaves Ferreira nomeado Chefe de Divisão de Recursos do Estado Maior da Armada.

● CALM Carlos Manuel Mina Henriques ● CALM Rui Ma-nuel Costa Casqueiro de Sampaio ● CALM MN Armando Fi-lipe da Silva Roque ● CMG SEF António dos Santos Pereira ● CMG Luís Filipe Correia Andrade ● CTEN STC José Salvado dos Santos ● CTEN SEL Rui Alberto Pires do Rosário.

● VALM Rui Cardoso Teles Palhinha ● CMG José António Ruivo ● CMG EMQ António de Castro Figueiredo ● SMOR L Carlos Eduardo Vendeirinho dos Santos ● SMOR FZ António Maria Romano ● SMOR FZ José Coelho da Piedade ● SMOR

● CMG SEM REF Manuel da Silva Conde Guedes ● CTEN REF Jorge Henrique Dias dos Reis ● 1TEN OT REF Jorge Iná-cio Medina ● SMOR L REF Marcelino Filipe David ● SAJ H REF Jaime Marques ● SAJ CM REF Joaquim Batista ● SAJ M REF José António Pinto Rego ● SAR V REF Mateus de Jesus Vicente ● SAJ A REF António Patrício Cristóvão ● 1SAR MQ REF Augusto Lenine Gonçalves Abreu ● 1SAR B REF Mar-celino António Eugénio Guerreiro ● 1SAR H REF Manuel da Silva Marques ● CAB FZV REF António José Rosado Mendes ● CAB TFD REF João Martins Terrôa Mendes ● 1MAR Q REF António Pereira Silveira ● 1GR L Rui Miguel Cabrita de Lima ● AG/ 1/A CLAS PM APOS José Brás Gomes.

ALMOÇO DOS TRIPULANTES DAS ESTAÇÕES SALVA VIDAS DO INSTITUTO DE SOCORROS A NÁUFRAGOS

1º ENCONTRO DE “FILHOS DA ESCOLA” DE VENDAS NOVAS

● Realizou-se no passado dia 8 de dezembro, no Restaurante “Lobo do Mar” em Sesimbra, o tradicional almoço dos tripu-lantes das Estações Salva Vidas (ESV) do Instituto de Socorros a Náufragos (ISN). O encontro contou com a presença de 30 convi-vas, entre eles tripulantes e seus familiares.Representadas as seguintes ESV:Viana do Castelo, Apúlia, Povoa de Varzim, Vila do Conde, Vila Chã, Douro, Peniche, Paço d’Arcos, Sesimbra (organização) e Sagres.Representantes do ISN:Diretor do ISN, CMG Peixoto Queiroz, o Subdiretor, CFR Rato Rodri-gues e o Chefe do Serviço de Salvamento Marítimo e seu adjunto, CFR Silva de Pinho e CTEN Mário PintoCapitania da Setúbal:Adjunto do Capitão do Porto para a Delegação Marítima de Sesimbra, 1TEN ST Marinho.O convívio decorreu em ambiente de grande camaradagem e amizade e serviu para rever camaradas e amigos. O momento foi aproveitado para, em reconhecimento de todos os tripulantes, se proceder à entregar simbólica de uma Cresta do ISN ao proprie-tário do restaurante, neto do falecido Patrão Justino da Silva, tri-pulante da extinta ESV do Portinho da Arrábida.Por sorteio, em 2013 a responsabilidade da organização deste en-contro caberá à ESV de Sagres.

● Realizou-se no dia 1 de dezembro, no restaurante “A Fonte”, o 1º encontro de “Filhos da Escola” de Vendas Novas que contou com a presença de cerca de 50 militares e respetivas famílias. O convívio decorreu em ambiente de amizade e sã camaradagem.

FZ António dos Anjos Lopes ● SCH E Francisco de Carvalho Pereira ● SAJ TF Abílio dos Santos Simões ● SAJ L Gaspar Manuel Pinto Monteiro ● SAJ C José Bento Marques ● SAJ L Carlos Manuel Neves Canais ● SAJ T Alberto Manuel Guer-reiro Pires ● SAJ T António Jorge Serra Saraiva Rocha ● SAJ FZ Luís Correia Lopes Barbosa ● 1SAR E Jairo Joaquim Pereira Fernandes ● 1SAR E José Francisco Mendes Lopes ● 1SAR CM Flamínio José Picanço Robusta ● 1SAR CM José Caeta-no Vieira ● 1SAR E Demétrio de Alegria Meira Gavetanho ● 1SAR T José Maria Carapuça Pacau ● 2SAR A Abílio Armando Pereira ● CAB L Paulo Fernando da Silva Rodrigues ● CAB A José Augusto de Almeida Lemos.

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Navios HidrográficosNavios Hidrográficos

23.

24.

O DRAGA-MINAS S.JORGE

A LANCHA HIDROGRÁFICA MIRA

O S. Jorge era um draga-minas oceânico, construído em Washington, tendo servido a Marinha dos E.U.A. com a designação USS MSO 478, até ser cedido a Portugal ao abrigo do Acordo de Defesa e Assistência Mútuas entre os dois países.

Em 1 de junho de 1955 foi aumentado ao Efetivo dos Navios da Ar-mada, ostentando na amurada a inscrição “M415”. Largou de Seattle a 5 de setembro daquele ano, atravessou o canal da Panamá e demandou o porto de Lisboa em 30 de novembro.

Dispunha de uma peça “Bofors” de 40 mm e, enquanto draga-minas, partici-pou em diversos exercícios navais e vi-sitado vários portos de países europeus como Harwich, Brest e Toulon.

A atribuição da denominação S. Jorge ao referido draga-minas foi feita em alu-são à ilha açoriana com o mesmo nome, o qual evoca o célebre soldado romano, ao tempo do Imperador Diocleciano, que foi feito mártir e cujo culto foi introduzido em Portugal pelos cruzados ingleses, tendo mais tarde vindo a substituir Sant’Iago no campo de batalha entre as hostes por-tuguesas.

O navio apresentava as seguintes características:Deslocamento máximo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 780 toneladasComprimento (fora a fora) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52,72 metrosBoca. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . 10,62 “Calado máximo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3,81 “Velocidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137 nósPropulsionada por dois motores Diesel com a potência de 800 cavalos

cada, a sua guarnição era composta de 69 homens (5 oficiais, 6 sargentos e 58 praças).

A partir de abril de 1967 ficou na dependência técnica do Instituto Hi-drográfico, tendo sido adaptado para o desempenho da sua nova missão com a instalação de dois laboratórios e a adaptação das condições de alo-jamento a fim de poderem embarcar pessoal de investigação. Iniciou em junho uma série de comissões nos Açores em trabalhos de oceanografia, que se repetiram nos anos seguintes.

Entretanto, em 18 de fevereiro de 1969, um violento incêndio destruiu por completo as instalações do Instituto Hidrográfico, na rua do Arsenal. Este acidente perturbou de alguma forma atividade de navio na medida

A Mira era uma antiga lancha torpedeira, adquirida por Portu-gal em 1961 e rebatizada com o nome Arrábida. Prestou serviço na Missão Hidrográfica do Continente e Ilhas Adjacentes juntamente com o N.H. João de Lisboa. Adaptada a lancha hidrográfica, veio a ser aumentada ao Efetivo dos Navios da Armada em 1 de novembro de 1968, ostentando na amurada a inscrição “A 5200”.

A atribuição da denominação Mira à referida lancha foi feita em alusão ao rio Mira que nasce na Serra do Caldeirão e vai desaguar ao Oceano Atlântico, junto à Vila Nova de Mil-fontes.

A lancha apresentava as seguintes características:Deslocamento máximo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 toneladasComprimento (fora afora) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19,2 metrosBoca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4,6 “Calado máximo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1,2 “Velocidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 nós

em que as atenções passaram a centrar-se na reinstalação do Instituto e em garantir a continuidade de alguns serviços considerados essenciais, como a publicação de cartas náuticas e a edição dos grupos de avisos aos navegantes. Em consequência do ocorrido, apenas em 1970 foi possível o S. Jorge dar apoio à campanha oceanográfica “Internacional 70”.

Em 1970, participou nas campanhas oceanográficas para apoio às pes-cas do Continente (CAPEC), as quais prosseguiram até 1974, numa se-

gunda fase a bordo do N.R.P. Almeida Carvalho. A missão destinou-se a reco-lher informação física, química e bio-lógica junto à costa do Continente, de forma sistemática e em regime sazonal, incluindo dados relativos à salinidade e temperatura, colheita de amostras de plâncton e outros elementos biológicos. Em dezembro desse ano seguiu para os Açores, com escala no Funchal, tendo

regressado alguns dias depois à Base Naval de Lisboa. Durante o curto período de permanência no Arquipélago da Madeira, foram efetuados estudos às cagarras nas Ilhas Desertas, uma espécie protegida de aves marinhas que possuem ali o seu habitat.

No ano seguinte, deu apoio aos estudos sismológicos na zona do ca-nhão da Nazaré, operação considerada arriscada atendendo ao facto de que os mesmos incluíam o rebentamento de cargas explosivas, controla-do de bordo, cujos impactes faziam-se sentir fortemente no navio. O pros-seguimento destes estudos estava previsto para outubro de 1971 mas, devido às deficientes condições do navio, os mesmos foram suspensos, tendo prosseguido no ano seguinte com o N.R.P Almeida Carvalho.

Em 10 de novembro de 1971, regressou à Base Naval de Lisboa, tendo terminado a sua dependência do Instituto Hidrográfico. Em setembro do ano seguinte foi atribuído ao Agrupamento nº. 1 de Draga-Minas, do qual também faziam parte os draga-minas Pico, Graciosa e Corvo, todos da clas-se S. Jorge. Em 30 de junho de 1973 passou ao estado de desarmamento e em 20 de abril de 1974 foi o draga-minas S. Jorge, que de abril de 1967 a novembro de 1971 na dependência do Instituto Hidrográfico efetuou trabalhos de oceanografia, abatido ao Efetivo dos Navios da Armada.

Colaboração do INSTITUTO HIDROGRÁFICO

Propulsionada por dois motores Diesel, a sua guarnição era de 6 homens (1 oficial e 5 praças).

Entre os trabalhos em que partici-pou na costa continental portuguesa, destaca-se o apoio às atividades de hidrografia e oceanografia no estuá-rio do rio Tejo e na área entre a Fi-gueira da Foz e Sines, que incluíram a obtenção de valores de correntes, colheitas de amostras de água, segui-mento de drogues e o apoio aos es-tudos preliminares para a edificação de uma estação nuclear em Peniche.

Em 20 de maio de 1981, a Mira pas-sou ao estado de desarmamento, tendo sido abatida ao Efetivo os Navios da Armada em 16 de dezembro de 1983.

Colaboração do INSTITUTO HIDROGRÁFICO

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O DRAGA-MINAS S.JORGE

A LANCHA HIDROGRÁFICA MIRA