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Disciplina PSICOMOTRICIDADE

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Disciplina

PSICOMOTRICIDADE

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Disciplina

PSICOMOTRICIDADE

Dina Lúcia Chaves ROCHA

Revisado e atualizado por Fátima ALVES

www.avm.edu.br

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05 Apresentação

07 Aula 1

Fundamentos da psicomotricidade

25 Aula 2

Áreas de Atuação da Psicomotricidade

41 Aula 3

Psicomotricidade funcional e relacional

76 Aula 4

Instabilidades, defasagens, perturbações psicomotoras

89 Referências bibliográficas

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É com enorme satisfação que lhe apresentamos A PSICOMOTRICIDADE. Neste caderno. Você terá a oportunidade de ter um panorama histórico sobre a Psicomotricidade, sua origem, seus conceitos, seus objetivos. O trabalho psicomotor é de suma importância para o desenvolvimento humano, sua motricidade e suas habilidades. Através da psicomotricidade funcional e relacional poderemos aplicar a psicomotricidade através das áreas de atuação, que são: estimulação, educação, reeducação e terapia psicomotora. Um trabalho preventivo com a psicomotricidade permitirá evitar certas defasagens, dificuldades, instabilidades psicomotoras e irá favorecer o processo de ensino-aprendizagem.

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Este caderno de estudos tem como objetivos:

Apresentar como se deu o surgimento do termo PSICOMOTRICIDADE, estudos e pesquisas desenvolvidas.

Favorecer o entendimento sobre a Psicomotricidade funcional (áreas psicomotoras) e relacional (conceitos relacionais).

Discutir as quatro áreas de atuação do Psicomotricista, que são: estimulação, educação, reeducação e terapia psicomotora.

Demonstrar como se dá o desenvolvimento motor, afetivo e cognitivo e a sua importância para o desenvolvimento das habilidades.

Abordar as possíveis dificuldades, defasagens e instabilidades na falta de um adequado desenvolvimento da psicomotricidade humana.

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Fundamentos da Psicomotricidade Dina Lúcia Chaves Rocha

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Nesta aula iremos abordar um breve histórico da Psicomotricidade, conceitos e definições de alguns teóricos da área. Veremos que a Psicomotricidade é uma ciência e tem como objetivo um adequado desenvolvimento motor, afetivo, cognitivo e um ato motor econômico, harmonioso e preciso. O processo evolutivo pode ser percebido e observado tanto do ponto de vista das espécies, quanto do ponto de vista de cada ser humano e suas habilidades. Sendo assim finalizaremos esta aula abordando três conceitos fundamentais estudados por Vitor da Fonseca, que são: Ontogênese, Filogênese e Retrogênese.

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Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: Saber sobre a origem da Psicomotricidade e sua evolução

histórica; Analisar as diferentes definições sobre a psicomotricidade; Conhecer os estudiosos e teóricos da área e suas contribuições; Compreender os objetivos do trabalho psicomotor; Entender e analisar a importância da Filogênese, Ontogênese e

Retrogênese para o desenvolvimento da motricidade humana e suas habilidades.

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Aula 1 | Fundamentos da Psicomotricidade 8

Resumo da História da Psicomotricidade

O termo Psicomotricidade apareceu pela

primeira vez com Dupré, no ano de 1920 (início do

século XX), significando um entrelaçamento entre o

movimento e o pensamento.

Dupré, que era médico, precisou as diferentes

etapas do desenvolvimento psicomotor e os distúrbios

que podem surgir no decorrer de tal desenvolvimento.

Tendo sua origem na Medicina, a

Psicomotricidade se apoiou por muito tempo no modelo

médico para estruturar a razão de suas práticas.

É também da década de 1920 a associação entre

as dificuldades de aprendizagem e as doenças.

Inúmeros outros pesquisadores realizaram

importantes estudos que se refletem até os momentos

atuais no âmbito da Psicomotricidade. Foram

significativos os trabalhos de Claparède, Montessori,

Shilder, Gesell, Wallon, Piaget, Ajuriaguerra, dentre

outros.

Especialmente nas duas últimas décadas

podemos contar com os trabalhos de importantes

pesquisadores como: Jean Le Boulch, Germaine Rossel,

Dalila Molina de Costallat, Simone Ramain, André

Lapierre, Bernar Aucouturier, Aleksandr Luria, P. Vayer,

J. Bèrges, G. Lagrange, J. Legido, Jean – Claude Coste,

S. Lebovici, R. Diatkine, Françoise Désobeau, J.

Guillarme, Vítor da Fonseca e outros.

Os estudos de Maria Helena Souza Patto (1991,

p.41) enfatizam a medicalização do fracasso escolar, ou

seja, de que forma as crianças que tinham dificuldades

escolares eram vistas como necessitadas de

atendimento/tratamento médico.

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Aula 1 | Fundamentos da Psicomotricidade 9

Os primeiros especialistas que se ocuparam de

casos de dificuldade de aprendizagem escolar foram os

médicos. O final do século XVIII e o século XIX foram

de grande desenvolvimento das ciências médicas e

biológicas, especialmente da psiquiatria. Datam desta

época as rígidas classificações dos “anormais” e os

estudos de neurologia, neurofisiologia e

neuropsiquiatria conduzidos em laboratórios anexos a

hospícios. Quando os problemas de aprendizagem

escolar começaram a tomar corpo, os progressos da

nosologia já haviam recomendado a criação de

pavilhões especiais para os “duros de cabeça” ou

idiotas, anteriormente confundidos com os loucos; a

criação desta categoria facilitou o trânsito do conceito

de anormalidade dos hospitais para escolas: as

crianças que não acompanhavam seus colegas na

aprendizagem escolar passaram a ser designadas como

anormais escolares e as causas de seu fracasso são

procuradas em alguma anormalidade orgânica.

Inicialmente a pesquisa teórica, no campo da

Psicomotricidade, fixou-se no desenvolvimento motor

da criança. Depois foi estudada a relação entre o atraso

no desenvolvimento motor e o atraso intelectual. Em

seguida, surgiram estudos sobre o desenvolvimento da

habilidade manual e aptidões motoras em função da

idade cronológica.

Esses estudos facilitaram o entendimento e

abriram novos questionamentos sobre as relações

existentes entre o desenvolvimento psicomotor

adequado, o desenvolvimento intelectual e a idade

cronológica.

Além dos médicos, os psicólogos também se

interessaram pelo desenvolvimento psicomotor da

criança, entre os psicólogos temos: Piaget e Zazzo.

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Wallon em seus trabalhos apresenta

informações relevantes sobre o desenvolvimento de

recém-nascidos, sobre o desenvolvimento psicomotor

da criança e a relação existente entre tônus corporal e

emoção.

Também a neuropsiquiatria, educação física,

psiquiatria, evoluíram e reconheceram que a melhora

física e comportamental poderia ser realizada a partir

do fluxo motor, utilizando as técnicas corporais.

Atualmente, pesquisa-se também as ligações

entre as áreas psicomotoras e as dificuldades escolares

das crianças de inteligência normal.

Fica evidenciado, portanto, na história da

Psicomotricidade como campo de estudo, que em seu

início houve ênfase na doença. Isso possivelmente se

deve a sua origem na Medicina. Contudo, os estudiosos

não ficaram focando somente a área clínica e

oportunizaram um trabalho psicomotor educativo de

base. Tal trabalho, além de ser preventivo dos desvios

e defasagens no processo evolutivo de aprendizagem

escolar da criança, pode contribuir para o

desenvolvimento psicomotor adequado desde a mais

tenra idade, priorizando a harmonia e firmeza nos

movimentos e uma melhor ligação desses movimentos

com o pensamento.

Em Alexandre Mello encontramos referências

mostrando que em 1982, no 1º Congresso Brasileiro de

Terapia Psicomotora, Psicomotricistas brasileiros

buscaram uma definição que viabilizasse o

entendimento do termo Psicomotricidade,

especialmente no âmbito da Sociedade Brasileira de

Terapia Psicomotora¹.

Você sabia?

¹ A partir de 1987, a Sociedade Brasileira de Terapia Psicomotora passou a denominar-se Sociedade Brasileira de Psicomotricidade.

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Psicomotricidade é uma ciência que tem por objetivo o estudo do homem, através do seu corpo em movimento, nas relações com seu mundo interno e externo.

(Mello, 1987, p.31)

Ajuriaguerra (apud Loureiro, 1983), definiu a

Psicomotricidade como “a realização do pensamento

através do ato motor preciso, econômico e

harmonioso.” (p.01)

Segundo Meur e Staes (1991), inicialmente:

(...) a pesquisa teórica fixou-se sobretudo no desenvolvimento motor da criança. Depois estudou a relação entre o atraso no desenvolvimento motor e o atraso intelectual da criança. Seguiram-se estudos sobre o desenvolvimento da habilidade manual e aptidões motoras em função da idade.

(p.06)

O que é Psicomotricidade?

Neste item iremos colocar algumas definições de

psicomotricidade.

Observe como cada autor define

psicomotricidade. Provavelmente você irá encontrar

muitas semelhanças entre as definições, mas cada

autor ao defini-la acrescenta um detalhe singular à

psicomotricidade ao seu modo de vê-la.

PSICOMOTRICIDADE

“É a ciência que tem como objeto de estudo o

homem através do seu corpo em movimento e em

relação ao seu mundo interno e externo. Está

relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é

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Aula 1 | Fundamentos da Psicomotricidade 12

a origem das aquisições cognitivas, afetivas e

orgânicas. É sustentada por três conhecimentos

básicos: o movimento, o intelecto e o afeto.

Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado

para uma concepção de movimento organizado e

integrado, em função das experiências vividas pelo

sujeito cuja ação é resultante de sua individualidade,

sua linguagem e sua socialização.” (Associação

Brasileira de Psicomotricidade – 1999-2003)

Historicamente o termo "psicomotricidade"

aparece a partir do discurso médico, mais precisamente

neurológico, quando foi necessário, no início do século

XIX, nomear as zonas do córtex cerebral situadas mais

além das regiões motoras. Com o desenvolvimento e as

descobertas da neurofisiologia, começa a constatar-se

que há diferentes disfunções graves sem que o cérebro

esteja lesionado ou sem que a lesão esteja claramente

localizada. São descobertos distúrbios da atividade

gestual, da atividade práxica. Portanto, o "esquema

anátomo-clínico" que determinava para cada sintoma

sua correspondente lesão focal já não podia explicar

alguns fenômenos patológicos. É, justamente, a partir

da necessidade médica de encontrar uma área que

explique certos fenômenos clínicos que se nomeia, pela

primeira vez, o termo Psicomotricidade, no ano de

1870. As primeiras pesquisas que dão origem ao campo

psicomotor correspondem a um enfoque

eminentemente neurológico (ABP, 2003).

É a relação entre o pensamento e a ação,

envolvendo a emoção. Fátima Alves

Psicomotricidade é a ciência de síntese, que com

a pluralidade de seus enfoques, procura elucidar os

problemas, que afetam as interrelações harmônicas,

que constituem a unidade do ser humano e sua

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convivência com os demais (Costallat apud ISPE-GAE,

2007).

As funções cognitivas, motoras, sociais,

simbólicas e afetivas são promovidas através da

psicomotricidade numa atuação com a educação,

reeducação e terapia psiconotora.

A psicomotricidade quer justamente destacar a

relação existente entre a motricidade, a mente e a

afetividade e facilitar a abordagem global da criança

por meio de uma técnica. (De Meur & Staes, 1991, p.

5).

A Psicomotricidade no Brasil foi norteada pela

escola francesa. Durante as primeiras décadas do

século XX, época da primeira guerra mundial, quando

as mulheres adentraram firmemente no trabalho formal

enquanto suas crianças ficavam nas creches, a escola

francesa também influenciou mundialmente a

psiquiatria infantil, a psicologia e a pedagogia. Em

1909, a figura de Dupré, neuropsiquiatra, é de

fundamental importância para o âmbito psicomotor, já

que é ele quem afirma a independência da debilidade

motora, antecedente do sintoma psicomotor, de um

possível correlato neurológico. Neste período o tônus

axial começava a ser estudado por André Thomas e

Saint-Anné Dargassie. Em 1925, Henry Wallon, médico

psicólogo, ocupa-se do movimento humano dando-lhe

uma categoria fundante como instrumento na

construção do psiquismo. Esta diferença permite a

Wallon relacionar o movimento ao afeto, à emoção, ao

meio ambiente e aos hábitos do indivíduo, e discursar

sobre o tônus e o relaxamento. Em 1935, Edouard

Guilmain, neurologista, desenvolve um exame

psicomotor para fins de diagnóstico, de indicação da

terapêutica e de prognóstico. Em 1947, Julian de

Ajuriaguerra, psiquiatra, redefine o conceito de

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debilidade motora, considerando-a como uma síndrome

com suas próprias particularidades. É ele quem delimita

com clareza os transtornos psicomotores que oscilam

entre o neurológico e o psiquiátrico. Ajuriaguerra

aproveitou os subsídios de Wallon em relação ao tônus

ao estudar o diálogo tônico. A relaxação psicotônica foi

abordada por Giselle Soubiran (ABP, 2003) e (ISPE-

GAE, 2007).

CONCEITOS DA PSICOMOTRICIDADE SEGUNDO

DIVERSOS AUTORES:

Ajuriaguerra, médico psiquiatra, considerado

pela comunidade científica como o “Pai da

Psicomotricidade”, define assim: “ Psicomotricidade se

conceitua como ciência da saúde e da educação, pois

indiferentes das diversas escolas, psicológica,

condutista, evolutista, genética, e etc, ela visa a

representação e a expressão motora, através da

utilização psíquica e mental do indivíduo”.

Dalila M. M. de Costallat, “A Psicomotricidade

como Ciência de Síntese, que com a pluralidade de seus

enfoques, procura elucidar os problemas que afetam as

inter-relações harmônicas, que constituem a unidade

do ser humano e sua convivência com os demais”.

Germaine Rossel, “A Educação Psicomotora é a

educação de controle mental e da expressão motora.”

Giselle B. Soubiran “Psicomotricidade e

Relaxação, bases fundamentais da estrutura psico

corporal, estática e em movimento, precedente e

condicionante a toda atividade psíquica”.

Vítor da Fonseca, “A psicomotricidade visa

privilegiar a qualidade da relação afetiva, a

mediatização, a disponibilidade tônica, a segurança

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Aula 1 | Fundamentos da Psicomotricidade 15

gravitacional e o controle postural, à noção do corpo,

sua lateralização e direcionalidade e a planificação

práxica, enquanto componentes essenciais e globais da

aprendizagem e do seu ato mental concomitante. Nela

o corpo e a motricidade são abordados como unidade e

totalidade do ser. O seu enfoque é, portanto, psico

somático, psico cognitivo, psiquiátrico, somato-

analítico, psico neurológico e psico terapêutico”.

P. Vayer, “É a educação da integridade do ser,

através do seu corpo”.

Beatriz Loureiro, “Psicomotricidade é a

otimização corporal dos potenciais neuro, psico-

cognitivo funcionais, sujeitos às leis de

desenvolvimento e maturação, manifestadas pela

dimensão simbólica corporal própria, original e especial

do ser humano”.

Hurtado (1983), diz que a psicomotricidade é a

educação dos movimentos, ou através dos

movimentos, visando a melhor utilização das

capacidades psicofísicas da criança. Neste caso utiliza-

se o movimento como meio e não como fim a ser

atingida. A Psicomotricidade é o suporte básico que

auxilia a criança a adquirir tanto sensações e

percepções como conceitos, os quais lhe darão o

conhecimento de seu corpo e, através desse, do mundo

que o rodeia.

Coste (1981), define a Psicomotricidade como

uma técnica em que cruzam e se encontram múltiplos

pontos de vista, e que utiliza numerosas ciências

constituídas, entre a biologia, psicologia, psicanálise,

sociologia e lingüística. É considerada como uma

terapia, “a terapia psicomotriz” a qual desenvolve a

capacidade de expressão do indivíduo, fazendo com

que haja um novo conhecimento do corpo.

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Aula 1 | Fundamentos da Psicomotricidade 16

Schinca (1992), o controle e conhecimento do

próprio corpo são essenciais para o estabelecimento da

ligação entre o indivíduo e o meio externo. A relação

entre cada ser e o exterior se manifesta através de atos

e comportamentos motores, adaptados e ajustados

mediante as sensações e percepções.

Meur e Staes (1984), relatam que o estudo da

psicomotricidade é recente sendo que só no início deste

século abordou-o assunto ainda que superficialmente.

Em uma primeira fase, a pesquisa teórica fixou-se,

sobretudo no desenvolvimento motor da criança.

Depois se estudou a relação entre o atraso no

desenvolvimento motor e o atraso intelectual da

criança. Seguiram-se estudos sobre o desenvolvimento

da habilidade manual e aptidões motoras em função da

idade. Hoje em dia os estudos ultrapassam os

problemas motores, pesquisando também as ligações

com a lateralidade, a estruturação espacial e a

orientação temporal por um lado e, por outro, as

dificuldades escolares de crianças com inteligência

normal. Faz também com que se tome consciência das

relações existentes entre o gesto e a afetividade.

Psicomotricidade é uma ciência que tem como objetivo o estudo da relação entre o pensamento e a ação, envolvendo a emoção.

(Rocha, 2003, p.03)

Elizabete José e Maria Coelho (1999) afirmam:

A psicomotricidade integra várias técnicas com as quais se pode trabalhar o corpo (todas as suas partes) relacionando-o com a afetividade, o pensamento e o nível de inteligência. Ela enfoca a unidade da educação dos movimentos, ao mesmo tempo que põe em jogo as funções intelectuais. As primeiras evidências de um desenvolvimento mental normal são manifestações puramente motoras.

(p.108)

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Aula 1 | Fundamentos da Psicomotricidade 17

Como estamos vendo, a função motora, o

desenvolvimento intelectual e o desenvolvimento

afetivo estão intimamente ligados. A Psicomotricidade

tem como foco a relação existente entre a

motricidade, a mente e a afetividade e facilitar a

abordagem global da criança se configurando como

uma técnica, cuja aplicação se dá através da

Estimulação Psicomotora, Educação Psicomotora,

Reeducação Psicomotora e Terapia Psicomotora.

A psicomotricidade é, inicialmente, uma determinada organização funcional da conduta e da ação; correlatamente é um certo tipo de prática da reabilitação gestual.

(Chazaud, 1987, p.11)

Objetivos da Psicomotricidade

Ajuriaguerra (apud Costallat in Rocha, 2003,

p.04) em relação ao ato motor, representa a tríade da

atuação da Psicomotricidade na escola.

“ECONOMIA”

“PRECISÃO”

ATO MOTOR

“HARMONIA”

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Aula 1 | Fundamentos da Psicomotricidade 18

ECONOMIA

Gerenciamento Cerebral = PODER

HARMONIA

Qualidade em sentimentos = QUERER

PRECISÂO

Determinação no espaço e tempo = FAZER

Costallat (in Rocha, 2003, p.4) complementa

dizendo: “Nenhuma atitude humana se realiza sem o

poder, o querer e o fazer (...)”.

É justamente em busca deste movimento

harmonioso e econômico que Psicomotricistas - através

da técnica psicomotora - tentam educar o movimento,

acreditando que o ato motor acompanha os

componentes de ordem cognitiva e afetiva.

A psicomotricidade tem como objetivo destacar

a relação existente entre motricidade, mente e

afetividade, facilitando a abordagem global da criança,

já que a função motora, o desenvolvimento intelectual

e afetivo estão intimamente ligados (Meur e Staes,

1991).

Filogênese, Ontogênese e Retrogênese da

Motricidade Humana

Por que falamos sobre a origem da vida e das

espécies quando falamos da filogênese, ontogênese e

retrogênese?

Qual será a ligação que esses termos têm com a

motricidade humana?

Para entendermos o desenvolvimento humano,

da motricidade humana, se faz necessário, abordarmos

FETO NO LÍQUIDO AMNIÓTICO.

Fonte:

www.fotosearch.com.br .

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Aula 1 | Fundamentos da Psicomotricidade 19

os termos estudados por Vitor da Fonseca (1998):

ontogênese, filogênese e retrogênese.

Diante do conhecimento da filogênese, da

ontogênese e da retrogênese, é possível observar que

a evolução está ligada à origem da terra, para chegar à

origem da vida, determinando a origem das espécies,

os primeiros vertebrados, os primeiros répteis, os

primeiros mamíferos, aonde se chega ao homem.

Filogenética e ontogeneticamente falando, a

motricidade humana é adquirida primeiro e depois se

adquire o pensamento, pode-se comprovar isto quando

observamos o feto locomover-se no líquido amniótico e

a motricidade que leva ao desenvolvimento do cérebro.

FILOGÊNESE

Filogênese, evoluções pelas quais as formas

vivas inferiores vão se modificando através dos

tempos, para produzirem outras, cada vez mais

elevadas. Os caminhos da Filogênese nos levam até o

homem, destacando o princípio da vida e seu

significado para haver a transformação.

Quando falamos da filogênese, falamos da

origem da vida.

Para compreendermos os caminhos da filogênese, que nos levam até o Homem, temos, em primeiro lugar, de destacar a unidade da vida e o significado da sua síntese, que nos impede de separar radical e abruptamente o mundo inorgânico do mundo orgânico e, evidentemente, o mundo vegetal do mundo animal.

(Filogênese, Ontogênese, Retrogênese. p. 34)

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Aula 1 | Fundamentos da Psicomotricidade 20

HABILIDADES FILOGENÉTICAS

Gallahue e Ozmun (2001):

As habilidades filogenéticas são resistentes às influências ambientais externas. Habilidades motoras – como as tarefas manipulativas rudimentares de alcançar, agarrar e soltar os objetos; as tarefas estabilizadoras de ganhar controle da musculatura total do corpo; e as habilidades locomotoras fundamentais de caminhar, pular e correr – são exemplos do que pode ser considerado como habilidades filogenéticas.

(p.67)

ONTOGÊNESE

A ontogênese é uma série de transformações

sofridas pelo ser vivo desde a fecundação até o ser

perfeito.

A ontogênese da motricidade encontra-se na embriologia e na neonatologia, daí a importância dos estudos da concepção, da fecundação, da nidação (localização do óvulo no endométrio) e da gestação do zigoto (por onde um ser humano, único e determinado, começa a sua vida). (Filogênese, Ontogênese, Retrogênese.

p. 125) A ontogênese compreende, em primeiro lugar, a medula e, em segundo, o encéfalo.

(Filogênese, Ontogênese e Retrogênese. p. 144)

HABILIDADES ONTOGENÉTICAS

Gallahue e Ozmun (2001):

As habilidades ontogenéticas ao contrário, dependem basicamente do aprendizado e das oportunidades

TRANSFORMAÇÕES DESDE A FECUNDAÇÃO ATÉ O SER

PERFEITO.

Fonte: www.fotosearch.com.br

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Aula 1 | Fundamentos da Psicomotricidade 21

ambientais. Habilidades como nadar, andar de bicicleta e patinar no gelo são consideradas ontogenéticas porque não aparecem automaticamente nos indivíduos, mas requerem um período de prática e de experiência e são influenciadas pela cultura do indivíduo. Todo o conceito de filogenia e ontogenia precisa ser reavaliado à luz do fato de que muitas habilidades antes consideradas filogenéticas podem ser influenciadas pela interação ambiental.

(p.67)

RETROGÊNESE

A retrogênese é a maturação, a transformação

da forma, da estrutura e da função.

Voltando ao assunto da filogênese, ontogênese

e retrogênese, podemos então, falar no

desenvolvimento humano da vida intra-uterina para a

vida extra-uterina até a morte, fazendo surgir às

evoluções, as maturações, biológica e socialmente

falando. Essa afirmação pode-se resumir pelo quadro

seguinte:

Filogênese

Ontogênese

Estádio do Desenvolvimento Humano

Peixe Réptil

Feto recém-nascido

NEUROMOTRICIDADE (protomotricidade) Hipotonia axial Hipertonia das extremidades Reptação ventral

Mamífero

10 meses

TÔNICO-MOTRICIDADE (paleomotricidade) Quadrupedia Simetria funcional Mimanualidade

Primata

12 – 24 meses

SENSÓRIO – MOTRICIDADE (arquimotricidade) Controle postural Segurança gravitacional Lateralização funcional Independência do polegar

TRANSFORMAÇÃO DA FORMA DA ESTRUTURA

E DA FUNÇÃO. Fonte:

www.fotosearch.com.br

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Aula 1 | Fundamentos da Psicomotricidade 22

Homem

6 anos

PERCEPTIVO – MOTRICIDADE Desenvolvimento da locação dextralidade Assimetria funcional Especialização hemisférica Somatogmosia

Adolescência

PSICOMOTRICIDADE (neomotricidade) Desenvolvimento prático Melodia cinética Planificação motora Maturidade sociomotora

(Filogênese, Ontogênese e Retrogênese, 1998, p. 14)

O que se pode concluir é que a filogênese e a

ontogênese, através de seus processos evolutivos,

produzem a motricidade.

O adulto constrói a ontogênese da motricidade da criança. As grandes mudanças da infância à adolescência, desta à vida adulta e à velhice são inevitáveis, elas atingem todas as áreas do comportamento humano e, naturalmente, da Psicomotricidade.

(Filogênese, Ontogênese e Retrogênese. p. 347)

RESUMO Vimos até agora:

O termo Psicomotricidade apareceu pela

primeira vez com Dupré no ano de 1920.

Nesta época associavam as dificuldades

escolares às doenças;

O corpo está posicionado como origem do conhecimento e meio de relação e comunicação com o mundo exterior. O corpo é, portanto o experimento da criança no mundo é ele que recebe calor, luz, pressão, afeto, e reagindo a essas sensações poderá se desenvolver e ter consciência de sua existência, podendo, então, fazer escolhas e evoluir.

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Aula 1 | Fundamentos da Psicomotricidade 23

Psicomotricidade é uma ciência que tem como

objetivo o estudo da relação entre o

pensamento e a ação, envolvendo a emoção.

Mantendo o foco na motricidade, na mente e

na afetividade;

A função motora, o desenvolvimento

intelectual e o desenvolvimento afetivo estão

intimamente ligados;

Os termos Filogênese, Ontogênese e

Retrogênese estão diretamente associados a

origem da terra, da vida, das espécies;

Filogênese- é a evolução das formas vivas

inferiores, para produzirem outras mais

elevadas;

Ontogênese- é uma série de transformações

sofridas pelo ser vivo desde a fecundação até

o ser perfeito;

Retrogênese- é a maturação, a transformação

da forma, da estrutura e da função;

O corpo está posicionado como origem do

conhecimento e meio de relação e

comunicação com o mundo exterior.

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24

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Áreas de Atuação da Psicomotricidade Dina Lúcia Chaves Rocha

AU

LA2

Apr

esen

taçã

o

Estudos de pesquisadores apontam como principais campos de atuação ou formas de abordagem da Psicomotricidade a Estimulação Psicomotora, Educação Psicomotora, Reeducação Psicomotora e Terapia Psicomotora. Em certos momentos os três campos de atuação se confundem, apesar de possuírem características próprias que serão abordadas a seguir. Muitos são os materiais possíveis de serem utilizados (bola, tatame, bambolês, entre outros) independente da área de atuação. O psicomotricista deve ter claro o seu objetivo ao utilizar os materiais, no caso da bola, pode ser usada para massagear o corpo do bebê, para um jogo simbólico ou de regras.

Obj

etiv

os

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

Diferenciar as áreas de atuação da Psicomotricidade, que são:

Estimulação, Educação, Reeducação e Terapia Psicomotora; Entender o momento, local adequado de utilizar as técnicas; Identificar e diferenciar as técnicas e os objetivos do trabalho

psicomotor com a Estimulação, Educação, Reeducação e Terapia Psicomotora.

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Aula 2 | Áreas da atuação da Psicomotricidade 26

Estimulação Psicomotora

Contribui para o desenvolvimento harmonioso da

criança no começo de sua vida. Caracteriza-se por

atividades que visam o adequado desenvolvimento da

sua capacidade maturacional. Tais atividades procuram

despertar o corpo e a afetividade por meio de

movimentos e jogos. Este programa é indicado a

recém-natos e pré-escolares.

Alguns autores referem-se à estimulação

psicomotora como sendo estimulação precoce, mas

o termo mais adequado, segundo Bueno (1998) é

estimulação essencial.

Estimulação= Despertar, desabrochar o

movimento.

Os atos cotidianos (diários) de amamentar, dar

banho, vestir, despir, dar colo, ninar (embalar), colocar

na cama, são manipulações que não devemos

subestimar. Ao manipular o corpo da criança (bebê)

seja para massagear, para fazer carinho (acariciar) ou

para realizar algum movimento, mencionado

anteriormente, estamos estimulando e favorecendo a

motricidade e o psiquismo da criança.

Estas manipulações devem ser acompanhadas

de afetividade, o contato da mãe com a criança deve

ser agradável, prazeroso. Esse contato estreito com a

mãe dá à criança segurança e proteção.

Educação Psicomotora

Começaremos citando um dos mais conceituados

autores da área da Psicomotricidade.

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Aula 2 | Áreas da atuação da Psicomotricidade 27

Le Boulch (1992 a, p.24 e 25) apresenta o

objetivo da educação psicomotora proposta pela

comissão de renovação pedagógica para o 1º grau, na

França:

A educação psicomotora deve ser considerada como uma educação de base na escola primária. Ela condiciona todos os aprendizados pré-escolares; leva a criança a tomar consciência de seu corpo, da lateralidade, a situar-se no espaço, a dominar seu tempo, a adquirir habilmente a coordenação de seus gestos e movimentos. A educação psicomotora deve ser praticada desde a mais tenra idade; conduzida com perseverança, permite prevenir inadaptações difíceis de corrigir quando já estruturadas (...).

Já Morizote (1979, p.16) define a Educação

Psicomotora como:

Uma atividade através do movimento visando um desenvolvimento de capacidades básicas–sensoriais, perceptivas e motoras -, propiciando uma organização adequada de atitudes adaptativas, atuando como agente profilático de distúrbios da aprendizagem.

A Educação Psicomotora permeia todas as

aprendizagens da criança e tem um papel fundamental

nas aprendizagens escolares, principalmente na

Educação Infantil. É realizada em todos os

momentos da vida do indivíduo, por meio das

percepções vivenciadas.

É, portanto, trabalhada através de uma série de

atividades, principalmente exercícios e jogos,

procurando promover um adequado desenvolvimento

físico, mental, afetivo e social. Levando em conta tais

exercícios e jogos estão sempre colaborando para o

desenvolvimento das áreas psicomotoras, uma

atividade psicomotora nunca trabalha somente uma

área.

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Aula 2 | Áreas da atuação da Psicomotricidade 28

A educação psicomotora promove uma

intervenção direta a nível motor, emocional e cognitivo,

estruturando o indivíduo como um todo. Promove a

facilitação das condições naturais e prevenção de

dificuldades, defasagens, inadequações, distúrbios

motores, afetivos e cognitivos. É realizada,

primeiramente, na família, depois na escola e no meio

social.

A educação psicomotora para Lapierre, é uma ação psicopedagógica que utiliza os meios da educação física, com a finalidade de normalizar ou melhorar o comportamento do indivíduo.

(in Alves, 2003, p.115)

Segundo, Vayer & Picq (1985), a consciência

do corpo, o domínio do equilíbrio, o controle e mais

tarde a eficácia das diversas coordenações (gerais e

seguimentares), a organização do esquema corporal, a

orientação no espaço e melhores possibilidades de

adequação ao mundo exterior, são os principais

objetivos da educação psicomotora.

Reeducação Psicomotora

Objetiva a retomada das vivências,

aprendizagens, fases ou etapas ultrapassadas

inadequadamente. Na reeducação ou terapia

psicomotoras, o psicomotricista, por meio do diálogo

corporal e afetivo, deve favorecer vivências para

retomar fases ou movimentos corporais mal-

estruturados.

A reeducação psicomotora é dirigida às crianças que sofrem perturbações instrumentais (dificuldades ou atrasos psicomotores). Trata-se de diagnosticar as causas do problema e de fazer um balanço das aquisições e das carências, antes de fixar um programa de reeducação.

(Meur e Staes, 1991, p. 21)

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Aula 2 | Áreas da atuação da Psicomotricidade 29

A Reeducação Psicomotora, segundo Mello

(1989) trabalha com portadores de sintomas de ordem

psicomotora, como: debilidade psicomotora, atraso e

instabilidade psicomotora, dispraxias, distúrbios do

tônus da postura, do equilíbrio e da coordenação, e

deficiências perceptivo motoras.

Célia Barreto (1982) ressalta que muitas vezes

os distúrbios psicomotores não se apresentam

sozinhos, mas num contexto global, onde problemas

mentais, psiquiátricos e neurológicos, podem estar

presentes.

Coste (1981, p.10) coloca de uma forma muito

clara os objetivos da reeducação psicomotora:

A reeducação psicomotora tem por objetivo desenvolver esse aspecto comunicativo do corpo, o que equivale a dar ao indivíduo a possibilidade de dominar seu corpo, de economizar sua energia, de pensar seus gestos a fim de aumentar-lhes a eficácia e a estética, de completar e aperfeiçoar seu equilíbrio.

Terapia psicomotora

Atua diretamente nos conflitos mais profundos,

seja funcional ou relacional (desorganização total de

sua harmonia corporal e pessoal, agressividade

acentuada, pulsões motoras incontroladas, casos de

excepcionalidade, dificuldades de relacionamento

corporal, transtornos psicomotores com transtornos da

personalidade).

Jean-Claude Coste (1981, p.76) afirma que “o

aspecto relacional e afetivo da relação terapêutica pode

ser o elemento determinante da dinâmica da cura”.

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Aula 2 | Áreas da atuação da Psicomotricidade 30

A Terapia Psicomotora é indicada segundo

André Lapierre e Aucouturier (1980) às crianças com

grandes perturbações e cuja adaptação é de ordem

patológica.

Vítor da Fonseca (1993) coloca como indicação

para a Terapia Psicomotora a debilidade motora,

crianças psicóticas, deficientes motores, debilidade

mental, deficiência visual e a reinserção profissional.

REFORÇANDO:

- Estimulação Psicomotora

A estimulação psicomotora na educação visa

prevenir distúrbios perceptíveis precocemente em

algumas crianças, interferindo nos diversos níveis de

expressão corporal; sabe-se, portanto, que a ausência

desses estímulos pode diminuir a maturação e algumas

funções inatas.

É a possibilidade de se oferecer à criança acesso

a todas as etapas de aprendizagem necessárias no

processo de alfabetização, por meio de experiências

psicomotoras que criam facilitadores no caminho de

aquisições, até estar apta a integralizar esses

aprendizados. Tanto que a psicomotricidade pode atuar

No Dicionário Michaelis (2000) encontramos as seguintes definições: Estimular= Excitar, encorajar, Incitar à atividade fisiológica característica (um nervo ou músculo). Estímulo= Qualquer coisa que torna mais ativa a mente, ou inicia à atividade ou a um aumento de atividade. Educação = Desenvolvimento das faculdades do ser humano; Desenvolvimento e aperfeiçoamento de uma função pelo próprio exercício; Ensino; Civilidade. Reeducar = Tornar a educar; Aperfeiçoar a educação de. Terapia = Terapêutica. Terapêutica = Tratamento das doenças.

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Aula 2 | Áreas da atuação da Psicomotricidade 31

em crianças com prematuridade e bebês de alto risco,

crianças com dificuldades e atrasos no desenvolvimento

global, pessoas com deficiência sensoriais, motoras,

mentais ou psíquicas, dificuldades de aprendizagem,

entre outros.

- Educação Psicomotora

A educação psicomotora concerne uma formação

de base indispensável a toda criança que seja normal

ou com problemas. Responde a uma dupla finalidade:

assegurar o desenvolvimento funcional tendo em conta

possibilidades da criança e ajudar sua afetividade e

expandir-se e a equilibrar-se através do intercâmbio

com o ambiente humano (LE BOULCH,1992, p.13).

- Reeducação Psicomotora

Segundo A. De Muer e L. Staes (1991, p.23)

afirmam que:

A reeducação psicomotora – como qualquer

outra reeducação – deve começar o mais cedo possível:

quando mais nova for a criança sob nossa

responsabilidade, menos longa será a reeducação. É

relativamente fácil fazer com que uma criança bem

nova adquira as estruturas motoras ou intelectuais

corretas; mas se a criança já assimilou esquemas

errados, o reeducador deverá primeiro fazer com que

os esqueça, antes de poder inculcar-lhe os esquemas

corretos. A reeducação é urgente sobre tudo para os

problemas afetivos. Quanto mais o tempo passa, mais

a criança se bloqueia em um tipo de reações, sente-se

mais angustiada, e as punições ou observações de seus

conhecidos só agravam essa angústia. A reeducação

ajudará a adotar um novo comportamento e, pouco a

pouco, os que a cercam a verão de forma mais positiva.

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Aula 2 | Áreas da atuação da Psicomotricidade 32

- Terapia psicomotora

A terapia psicomotora considera o

desenvolvimento infantil como uma combinação de

movimento, vivência, pensamento, sentimento e

interacção. Num jogo, a criança descobre e inter-

relaciona os seus movimentos, o mundo dos seus

sentimentos e os seus pensamentos. O conceito de

“psicomotor” salienta a interligação entre os processos

motores e psíquicos. Toda a personalidade das pessoas

que se movimentam está ligada ao ato do próprio

movimento.

A educação psicomotora concerne uma formação

de base indispensável a toda criança que seja normal

ou com problemas. Responde a uma dupla finalidade:

assegurar o desenvolvimento funcional tendo em conta

possibilidades da criança e ajudar sua afetividade e

expandir-se e a equilibrar-se através do intercâmbio

com o ambiente humano (LE BOULCH, 2001, p.13).

Encontra-se permeada por uma

interdisciplinaridade que abrange atividades oferecidas

de forma sequenciada, as quais visam a educação por

meio do movimento, atuando sobre o intelecto humano

de forma a estabelecer relações entre ação e

pensamento, evidenciando sua importância para o

desenvolvimento cognitivo da criança. Estimulá-las

utilizando meios que têm por objetivo seu

desenvolvimento motor, afetivo e cognitivo é uma das

funções do profissional na educação infantil, que devem

considerar também seu aluno de maneira geral, ou

seja, enxergá-lo como habilidoso e também com

algumas habilidades ainda a serem exploradas.

A educação psicomotora é uma técnica, que

através de exercícios e jogos adequados a cada faixa

etária leva a criança ao desenvolvimento global de ser.

Devendo estimular, de tal forma, toda uma atitude

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Aula 2 | Áreas da atuação da Psicomotricidade 33

relacionada ao corpo, respeitando as diferenças

individuais (o ser é único, diferenciado e especial) e

levando a autonomia do indivíduo como lugar de

percepção, expressão e criação em todo seu potencial

(NEGRINE, 1986, p. 15).

Alguns dos materiais utilizados

As áreas ou campos de atuação – Estimulação,

Educação Psicomotora, Reeducação e Terapia -

poderão fazer uso de materiais, dinâmicas, brincadeiras

e jogos específicos ou adaptados. Entre eles podemos

citar colchões ou tatami, bolas de vários tamanhos e

materiais diversos, aros, bambolês, minhocão, barras,

guache, giz de cera, lápis de cor, corda, tesoura, cola,

jogos educativos, cilindros, papéis de cores e texturas

variadas, cadeiras, escada, massa de modelar, argila,

espelho, brinquedos sonoros, instrumentos musicais e

muitos outros.

Contudo, uma das principais diferenças entre os

campos está no projeto/objetivo de trabalho, e é isto

que vai diferenciar a forma de utilização dos diversos

recursos.

As atividades lúdicas passam a ter mais funções, deixam de ser somente recreativas e socializadoras para permitir um trabalho entre o pensamento destas crianças e o seu corpinho. Os pensamentos, os sentimentos, os desejos destes pequenos seres tomam uma outra dimensão, passam a comandar e a direcionar seus corpos de forma mais harmônica e equilibrada. Seus movimentos ao longo deste processo parecem mais seguros e determinados, ter a intenção de um movimento e conseguir realizá-lo é gratificante e nos faz acreditar que somos capazes, nos traz uma certa segurança emocional.

(Rocha, 2003, p.55)

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Aula 2 | Áreas da atuação da Psicomotricidade 34

Em Bueno (1998) encontramos a descrição de

alguns materiais utilizados em sessões psicomotoras,

são eles:

Colchonetes e colchões – Usado para

atividades no chão (geralmente essas atividades são

sensório-motoras), em jogos dinâmicos de jogar, pular,

jogos de equilíbrio.

Em atividades simbólicas: de cobrir, fazer

desaparecer (morte simbólica); como uma agressão

(sufocar, enterrar, esconder); para a regressão

(repousar, local de receber toque afetivo).

Bolas ou balões – Facilitam a integração e a

livre expressão, principalmente nas primeiras sessões.

Tem um dinamismo próprio de movimento, são usados

como facilitadores sensório-motores. Podem ter sua

função simbólica de sensualidade, sexualidade,

afetividade e agressividade.

Tecidos coloridos, lençóis, panos diversos,

cobertores de lã e similares – Favorecem muito as

atividades simbólicas, ideais para momentos mais

regressivos, afetivos e fusionais, transmite maciez,

calor, pode fazer desaparecer, virar fantasia, envolver,

esconder.

Cordas – Podem ser usadas nas áreas sensório-

motora e simbólica. Segundo Bueno despertam desejo

de agressão, dominação e união, são mediadores de

contato, de posse, facilitam o jogo e a relação à

distância ou aproximada (podem amarrar ou apenas

unir).

Caixas de papelão – Prioritariamente

favorecem as situações simbólicas que estimulam a

fantasia (espaço para entrar, entrar e sair, passar por

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Aula 2 | Áreas da atuação da Psicomotricidade 35

dentro, projetar-se para dentro de corpo inteiro, pode

virar berço, abrir, fechar, provocar sons.

Papel – Pode ser usado nos espaços sensório-

motor e simbólico.

No espaço cognitivo, ao utilizar a coordenação

motora fina, dobramos, manuseamos e transformamos

em diversas construções.

Arcos, bambolês, anéis de borracha e

similares – São mais abordados a nível sensório-

motor. Exercem fascinação, pelos seus movimentos

(favorecem a dinâmica e o jogo de ações no jogar,

lançar, saltar, no provocar sons e ritmos).

Nos jogos simbólicos, podem trazer à tona:

agressividade (bater, prender), afetividade (casa,

espaço), inclusão , sedução do envolver, entrar e sair,

o comunicar-se a distância.

Blocos de espuma ou almofadas e

travesseiros – São materiais que favorecem os jogos

simbólicos, propiciam a construção, agressividade,

afetividade, envolvimento.

Terra, argila, massinha – Para moldar,

amassar, deformar. São símbolos da fase anal.

Bancos e cadeiras – Favorecem as

construções, jogos e limites. Servem para os jogos

sensório-motores e simbólicos.

Instrumentos musicais – Propiciam o som e o

ritmo. Desenvolvem o prazer, a auto afirmação

(através da expressão pelo instrumento) e a

criatividade.

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Aula 2 | Áreas da atuação da Psicomotricidade 36

Música – Pode funcionar como ponto de

referencia, propicia segurança, facilita o relacionamento

e é capaz de quebrar o “clima desagradável” (criado

por dificuldades pessoais, projeções, e transferências).

Sucata – Favorece as atividades cognitivas, de

construção. O trabalho com a sucata projeta a

criatividade do indivíduo. Temos dois tipos de Sucata,

são elas:

Sucata Natural – sementes, pedras, folhas,

penas, galhos, pedaços de madeira, areia,

terra.

Sucata Industrializada – embalagens, copos

plásticos, chapas metálicas, tecidos, garrafas

plásticas, papéis, papelão, isopor, caixas de

ovos, etc.

Materiais variados – Podemos chamar de

materiais variados: tintas, giz, pneus, sapatos e mais

todos os descritos à seguir.

Para um espaço sensório-motor - tobogãs,

camas elásticas, escorregadores, balanças,

tatames, materiais para construir (montar,

fazer conexões).

Para um espaço simbólico – bonecos de

trapo, fantoches assexuados (vários

tamanhos), bebês, mamadeiras, bichos de

pelúcia, bichos de plástico, telas.

Para um espaço cognitivo – brinquedos

educativos, pedaços de madeira sem cor

(diferentes em tamanhos, formas,

espessuras), quebra-cabeças.

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Aula 2 | Áreas da atuação da Psicomotricidade 37

Rocha (2004, p. 58) nos diz que:

A observação deste indivíduo nas atividades livres, num primeiro momento, onde vamos deixar que ela interaja com os materiais e quem sabe proponha as próprias atividades irão nos dar um parâmetro do que é para este indivíduo o mais fácil e o mais difícil, neste momento ela vai estar nos dizendo de onde devemos partir. Trabalhar com as crianças, adolescentes, adultos, idosos sempre do mais fácil para o mais difícil é uma forma de inclusão, pois, possibilita que este indivíduo e nós profissionais percebamos as suas possibilidades e tentemos superá-las. Quando propomos uma atividade e a criança (pessoas de todas as idades) reconhece que pode fazer, percebe que tem chances de êxito, diminuímos a possibilidade dela criar resistências, agora, se pedimos a ela que faça algo que julgue não conseguir, ela poderá se negar a tentar, temendo um resultado não satisfatório.

PARA REFLETIR

Apenas Brincando... Quando estou construindo com blocos no quarto de brinquedos, Por favor, não diga que estou apenas brincando, porque enquanto brinco, estou aprendendo sobre equilíbrio e formas. Quando estou me fantasiando, arrumando a mesa e cuidando das bonecas. Por favor, não me deixe ouvir você dizer: - ele está apenas brincando. Porque enquanto eu brinco, eu aprendo. Eu posso ser mãe ou pai algum dia. Quando estou pintando até os cotovelos, ou de pé diante do cavalete, ou modelando argila, por favor, não diga que estou apenas brincando, porque enquanto eu brinco, eu aprendo. Estou expressando e criando. Eu posso ser artista ou inventor algum dia. Quando estou entretido com um quebra-cabeça ou com algum brinquedo na escola, por favor, não sinta que é um tempo perdido com brincadeiras. Porque enquanto brinco, estou aprendendo. Estou aprendendo a me concentrar e resolver problemas. Eu posso estar numa empresa algum dia. Quando você me vê aprendendo, cozinhando, ou experimentando alimentos. Por favor, não pense porque me divirto, é apenas uma brincadeira.

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Aula 2 | Áreas da atuação da Psicomotricidade 38

RESUMO

Vimos até agora:

O psicomotricista tem como alternativa

trabalhar a psicomotricidade à partir das

seguintes técnicas: Estimulação, Educação,

Reeducação e Terapia Psicomotora;

Contribui para o desenvolvimento harmonioso

da criança no começo de sua vida;

Alguns autores referem-se à estimulação

psicomotora como sendo estimulação

precoce, mas o termo mais adequado,

segundo Bueno (1998) é estimulação

essencial;

A educação psicomotora promove uma

intervenção direta a nível motor, emocional e

cognitivo, estruturando o indivíduo como um

todo. Promove a facilitação das condições

naturais e prevenção de dificuldades,

defasagens, inadequações, distúrbios

motores, afetivos e cognitivos;

Aquisição de conhecimento, chama-se:

desenvolvimento cognitivo;

Eu estou aprendendo a seguir instruções e perceber as diferenças. Eu posso ser um chefe algum dia. Quando você me vê aprendendo a pular, saltar, correr e movimentar meu corpo. Por favor, não diga que estou apenas brincando. Eu estou aprendendo como meu corpo funciona. Eu posso ser um médico, enfermeiro ou um atleta, algum dia. Quando você me pergunta o que fiz na escola hoje. E eu digo: - eu brinquei. Por favor, não me entenda mal. Por que enquanto eu brinco, estou aprendendo. Estou aprendendo a ter prazer e ser bem sucedido no trabalho. Eu estou me preparando para o amanhã. Hoje, eu sou uma criança e meu trabalho é brincar.

(autor desconhecido)

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Aula 2 | Áreas da atuação da Psicomotricidade 39

A reeducação psicomotora objetiva a retomada

das vivências, aprendizagens, fases ou etapas

ultrapassadas inadequadamente;

A terapia psicomotora atua diretamente nos

conflitos mais profundos, seja funcional ou

relacional;

Muitos são os materiais utilizados nos trabalhos

psicomotores.

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Psicomotricidade Funcional e Relacional Dina Lúcia Chaves Rocha

AU

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esen

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o

Iniciaremos nossos estudos abordando, nessa aula, a psicomotricidade funcional e suas áreas psicomotoras. O movimento é o caminho para trabalharmos cada parte do corpo desta criança que vivência, percebe, aprende, se relaciona e interage através do seu corpo. Este trabalho corporal auxilia na formação e na estruturação da personalidade. Finalizaremos esta aula abordando a psicomotricidade relacional e seus principais conceitos. Devemos estar atentos a estes conceitos e muitos outros que compõem as relações. A afetividade é importantíssima e fundamental na relação estabelecida entre o psicomotricista, professor e seu cliente, aluno. Toda relação, terapêutica ou não, deve ser pautada no afeto se queremos obter progressos e resultados positivos.

Obj

etiv

os

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

Saber diferenciar o trabalho com a psicomotricidade funcional e

relacional e identificar a importância de se trabalhar com o funcional e o relacional em qualquer trabalho psicomotor;

Conhecer todos os conceitos funcionais e relacionais; Reconhecer a importância do desenvolvimento das áreas

psicomotoras para um desenvolvimento adequado, harmonioso, e preciso;

Entender a função do desenvolvimento da lateralidade e sua predominância para a escrita e leitura.

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Aula 3 | Psicomotricidade Funcional e Relacional 42

Psicomotricidade visa Desenvolver:

- Esquema Corporal

- Lateralidade

- Estruturação Espacial

- Estruturação Temporal

- Controle das Diversas Coordenações

- Equilíbrio

- Controle da Respiração

- Tônus Muscular e Outros.

Está relacionada ao processo de maturação,

onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas,

afetivas e orgânicas. É sustentada por três

conhecimentos básicos: o movimento, o intelecto e o

afeto.

Psicomotricidade, portanto, é um termo

empregado para uma concepção de movimento

organizado e integrado, em função das experiências

vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua

individualidade, sua linguagem e sua socialização.

- Como campo de estudo e pesquisa, é estudar

e pesquisar a psicomotricidade;

- Como intervenção é o de Fomentar a

Individuação.

É gerar alguma transformação no sujeito,

levando a Individuação, termo usado na Psicologia

Analítica de Carl Gustav Jung, que de outra maneira

podemos dizer que se refere ao Desenvolvimento

Integral do Indivíduo.

Para a Psicomotricidade o objetivo da

intervenção psicomotora ou da Psicomotricidade

enquanto intervenção é o de fomentar o

Desenvolvimento Integral do Indivíduo, ou como

preferimos dizer, Fomentar a Individuação.

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Aula 3 | Psicomotricidade Funcional e Relacional 43

Melhorar os movimentos do corpo, a noção do

espaço onde o indivíduo está, coordenação motora,

equilíbrio e ritmo.

A Psicomotricidade contribui de maneira

expressiva para a formação e estruturação do esquema

corporal e tem como objetivo principal incentivar a

prática do movimento em todas as etapas da vida de

uma criança.

Contribui para o desenvolvimento integral da

criança no processo de ensino-aprendizagem,

favorecendo os aspectos físicos, mental, afetivo-

emocional e sociocultural, buscando estar sempre

condizente com a realidade dos educandos.

Permite ao homem sentir-se bem com sua

realidade corporal, possibilitando-lhe a livre expressão

de seus sentimentos, pensamentos, conceitos,

ideologias.

Portanto, Psicomotricidade trabalha:

Conceitos funcionais - São as possibilidades

percebidas através da ação e da qualidade dos

movimentos, integrando-os num tempo e espaço.

Que são as áreas da: Coordenação, Postura,

Tônus, Equilíbrio, Respiração, Reconhecimento

Corporal, Lateralidade, Relaxamento, Orientação e

Estruturação Espaço-Temporal, Ritmo e Percepções.

Conceitos Relacionais - Os conceitos

relacionais facilitam a relação entre esses corpos

através dos desejos, das frustrações e ações.

Que são as áreas da: Expressão, Comunicação,

Afetividade, Agressividade, Limite e Corporeidade.

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Conceitos Funcionais

Muitas são as áreas psicomotoras que compõem

os conceitos funcionais. Nesta aula iremos abordar as

seguintes: Tônus, Coordenação Motora Global ou

Ampla, Coordenação Motora Fina, Óculo-Manual, Óculo-

Pedal, Esquema Corporal, Lateralidade, Estrutura

Espacial, Estrutura Temporal, Ritmo, Percepção.

As áreas psicomotoras, à seguir, fazem parte da

psicomotricidade funcional:

TÔNUS

A tonicidade revela o tono ou tônus muscular.

Todo movimento é realizado sobre um fundo tônico que

tem ligação com as emoções.

Verificamos, às vezes, que existem crianças que não conseguem controlar o tônus de seus braços e pernas. Umas são hipertônicas, isto é, possuem um aumento do tônus. Seus músculos apresentam uma grande resistência, pois estão contraídos em excesso. Têm seus movimentos voluntários e automáticos comprometidos, não balançam os braços ao andar, ou escrevem tão forte que chegam a rasgar a folha. Outras são hipotônicas. Apresentam uma pequena resistência muscular, isto é, têm uma diminuição da tonicidade muscular da tensão. Seu traçado é tão leve que mal se enxerga.

(Oliveira, 2000, p.27 e 28)

Exerce um papel fundamental no

desenvolvimento psicomotor. Permitem atitudes,

postura, emoções e garante manifestações de todas as

atividades motoras.

Fonseca (1995) diz que o grau de tônus dos

músculos para a realização de determinadas tarefas,

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em repouso ou em movimento, possui papel

fundamental no desenvolvimento motor e psicológico.

Costallat in Bueno (1998) “Considera o tônus

como um estado de atenção necessário para a

harmonia do gesto e equilíbrio do organismo.” (p.54)

São classificações do tônus, segundo Bueno (op.

cit.):

Tônus Muscular - refere-se ao movimento

executado.

Tônus Afetivo – refere-se ao estado de

espírito.

Tônus Mental – capacidade de atenção no

momento da atenção.

EQUILÍBRIO

Capacidade de assumir e manter uma posição

corporal, seja em pé, sentada, de joelhos.

Trata-se do equilíbrio postural do indivíduo.

Sobre o equilíbrio postural encontramos em Oliveira

(2000):

Através da movimentação e da experimentação, o indivíduo procura seu eixo corporal, vai se adaptando e buscando um equilíbrio cada vez melhor. Consequentemente vai coordenando seus movimentos, vai se conscientizando de seu corpo e das posturas. Quanto maior o equilíbrio, mais econômica será a atividade do sujeito e mais coordenadas serão as suas ações. (p.41)

A criança ao exercitar o seu equilíbrio postural

atua com o equilíbrio estático e equilíbrio dinâmico.

Aonde muitas das vezes ela se encontra em movimento

e para, ou está parada e dá impulso em seu corpo para

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Aula 3 | Psicomotricidade Funcional e Relacional 46

se movimentar. Uma das atividades que retrata bem o

que acabamos de relatar é a brincadeira de estátua,

onde a criança está correndo e ao comando tem que

parar e ficar estática, equilibrando todo o corpo.

COORDENAÇÃO MOTORA GLOBAL OU AMPLA

A Coordenação Motora Global ou Ampla está

ligada à atividade dos grandes músculos, na realização

de uma seqüência de movimentos com o máximo de

eficiência, economia.

Com base em Dalila Costallat (1983), a

Coordenação Motora Ampla é definida como a ação

simultânea de grupos musculares diferentes, com vistas

à execução de movimentos amplos e voluntários,

envolvendo o trabalho de membros inferiores (pernas),

superiores (braços) e do tronco.

Em Gislene Oliveira (2000) encontramos

referências a estas atividades que envolvem os grandes

músculos na execução de movimentos amplos.

Diversas atividades levam à conscientização global do corpo, como andar, que é um ato neuromuscular que requer equilíbrio e coordenação; correr, que requer, além destes, resistência e força muscular; e outras como saltar; rolar; pular; arrastar-se; nadar; lançar - pegar; sentar.

(p.42)

Ainda em Oliveira (op.cit.) encontramos uma

citação que fala da importância da Coordenação Motora

Global e da conscientização do corpo.

Através da movimentação e da experimentação, o indivíduo procura seu eixo corporal, vai se adaptando e buscando um equilíbrio cada vez melhor. Consequentemente, vai coordenado seus

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movimentos, vai se conscientizando do seu corpo e das posturas. Quanto maior o equilíbrio, mais econômica será a atividade do sujeito e mais coordenadas serão as suas emoções.

(p.41)

Tal movimentação e experimentação de forma

Global e Ampla, leva, portanto, à conscientização do

corpo e seu Esquema Corporal.

A coordenação motora global diz respeito à atividade dos grandes músculos. Através da movimentação a da experimentação, o indivíduo procura seu eixo corporal, vai se adaptando e buscando um equilíbrio cada vez melhor. Consequentemente, vai coordenando seus movimentos, vai se conscientizando do seu corpo e das posturas. Quanto maior o equilíbrio, mais econômica será a atividade do sujeito e mais coordenadas serão as suas ações.(Oliveira, 2000, p.41)

COORDENAÇÃO MOTORA FINA

Se expressa através dos movimentos

coordenados que utilizam os pequenos músculos,

movimentos precisos, específicos. Tais como: picar,

cortar, desenhar, pintar, escrever, agarrar.

A coordenação motora fina diz respeito à habilidade e destreza manual e constitui um aspecto particular da coordenação motora global. Temos que ter condições de desenvolver formas diversas de pegar diferentes objetos. Uma coordenação elaborada dos dedos da mão facilita a aquisição de novos conhecimentos. É através do ato de preensão que uma criança vai descobrindo pouco a pouco os objetos de seu meio ambiente.

(Oliveira, 2000, p. 42)

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Aula 3 | Psicomotricidade Funcional e Relacional 48

Trabalhamos a coordenação motora fina quando

utilizamos as extremidades do nosso corpo, as mãos,

os pés, os olhos, a boca.

Muito escutamos falar do movimento de pinça e

da sua importância para o desenvolvimento da

habilidade da escrita. O movimento de pinça utilizado

em algumas atividades trabalha os pequenos músculos

das mãos, trabalha a tonicidade desses músculos,

torna-os mais capazes de segurar adequadamente

objetos, acariciar, escrever, desenhar, pintar.

ÓCULO-MANUAL

É o movimento coordenado dos olhos e das

mãos, na realização de uma tarefa. Os olhos

acompanham o movimento das mãos. Faz parte da

coordenação motora fina.

É necessário que haja também um controle ocular, isto é, a visão acompanhando os gestos da mão. Chamamos a isto de coordenação óculo-manual ou viso-motora.

(Oliveira, 2000, p.43)

Esta coordenação é primordial para a escrita.

Elizabete José e Maria Coelho (1999, p.80) falam

da importância da Coordenação Visomotora no

processo de Alfabetização (escrita e leitura).

As crianças que não conseguem coordenar o movimento ocular com os movimentos das mãos terão dificuldade nas atividades que envolvem a coordenação visomotora olho-mão. Nesse caso, a dificuldade na escrita fica caracterizada, uma vez que os olhos não guiam os movimentos motores da mão, impossibilitando a criança de perceber por onde deve iniciar o traçado das letras.

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Aula 3 | Psicomotricidade Funcional e Relacional 49

ÓCULO PEDAL

É o movimento coordenado dos olhos e dos pés,

na realização de uma tarefa. Os olhos acompanham o

movimento dos pés. Também faz parte da coordenação

motora fina.

Este movimento é bem estimulado quando o

indivíduo sofre amputação ou já nasce com alguma

deficiência nos membros superiores.

O movimento coordenado dos olhos com os pés

facilitam o desenvolvimento da escrita, pintura,

desenho, movimentos do cotidiano (comer, escovar os

dentes, etc.) com os pés.

ESQUEMA CORPORAL

A criança, a partir das interações, das relações

que estabelece, dos estímulos, das experiências, vai,

não só, descobrindo o mundo que a cerca, as pessoas,

os objetos, ela vai principalmente se descobrindo de

um modo geral.

As interações afetivas e emocionais, o

reconhecimento de sensações, sentimentos,

percepções, possibilita que ela vá se percebendo como

alguém que pensa, deseja, tem sentimentos. Estas

interações possibilitam a formação do EU, a formação

da sua personalidade.

O corpo é uma forma de expressão da individualidade. A criança percebe-se e percebe as coisas que a cercam em função de seu próprio corpo. Isto significa que, conhecendo-o, terá maior habilidade para se diferenciar, para sentir diferenças.

(Oliveira, 2000, p. 47)

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Paralelamente, a criança, vai tomando

conhecimento da sua estrutura física, conhecendo o seu

próprio corpo, suas partes, suas possibilidades e

potencialidades. A criança aos poucos vai descobrindo a

sua composição corporal e a função de cada parte, vai

descobrindo a conexão entre essas partes e o que é

possível fazer, a partir dela. Ao se movimentar,

vivenciar experiências através do seu corpo ela vai se

conscientizando, não só, das possibilidades, mas

também das potencialidades.

EX. Ela pode utilizar as suas mãos para pegar

um copo com água e matar a sua sede (possibilidade).

Estas mesmas mãos podem em sua escola, ao

trabalhar com massinha de modelar, imprimir a força

necessária para amassar e modelar tal material

(potencialidades).

Para utilizar o corpo como forma de expressão

da individualidade se faz necessário desenvolver,

explorar, dominar, conhecer este corpo suas

possibilidades e diferenças. Consequentemente sua

interação com o mundo e o que nele existe será de

uma forma mais harmônica, precisa e emocionalmente

segura.

Meur (1991) diz que: Primeiro a criança percebe

o seu corpo num todo, tem uma percepção global. Após

este primeiro momento ela começa a tomar consciência

dos seguimentos corporais.

Esta consciência se realiza de forma interna e

externa:

Interna (sentindo cada parte do corpo);

Externa (vendo cada seguimento no espelho,

num colega, em uma figura).

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Aula 3 | Psicomotricidade Funcional e Relacional 51

Rocha (2003) afirma:

Para se locomover e manipular objetos com desenvoltura, habilidade e equilíbrio a criança precisa ter um bom desenvolvimento de sua coordenação motora. Ao desenvolver a sua coordenação motora a criança vai adquirindo consciência do próprio corpo e das possibilidades de expressar-se por meio dele. A criança, ao perceber que pode utilizar o seu corpo, não somente para movimentar-se, mas também para agir, para expressar-se através dele, irá tornando precisa sua imagem corporal e consequente mente estruturando seu esquema corporal.

LATERALIDADE

É a capacidade de movimentar, controlar os dois

lados do corpo, junta ou separadamente.

A criança percebe que o seu corpo tem

membros repetidos, uns compõem o lado esquerdo e

outros o lado direito. Percebe as coisas que estão

localizadas de acordo com esses lados.

Vai descobrindo que a sua atuação é mais

confortável, segura, precisa quando utiliza um

determinado lado. Aos poucos vai se definindo, vai

definindo a sua lateralidade.

A lateralidade é a preferência da utilização de

um dos lados. Ao utilizar-mos o nosso lado

predominante temos mais força, precisão, harmonia,

menos gasto de tempo e energia. Esta predominância

acontece em três níveis mão, olho e pé.

A predominância do lado direito caracteriza os

destros, já a predominância do lado esquerdo

caracteriza os canhotos.

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Aula 3 | Psicomotricidade Funcional e Relacional 52

A lateralidade é a propensão que o ser humano possui de utilizar preferencialmente mais um lado do corpo do que o outro em três níveis: mão, olho, e pé. Isto significa que existe um predomínio motor, ou melhor, uma dominância de um dos lados. O lado dominante apresenta maior força muscular, mais precisão e mais rapidez. É ele que inicia e executa a ação principal. O outro lado auxilia a ação e é igualmente importante. Na realidade os dois não funcionam isoladamente, mas de forma complementar.

(Oliveira, 2000, p.p. 62 e 63)

A criança precisa experimentar os dois lados

sem interferências. Ela precisa se descobrir. Não

devemos direcioná-la. Aos 2, 3 anos ela usa os dois

lados de forma indiscriminada, hora ela desenha com a

mão esquerda e hora ela desenha com a mão direita.

Somente aos 6 anos (encontramos autores que definem

a idade máxima para esta definição aos 7 anos)

podemos trabalhar no sentido de fixar a sua escolha.

Esta fase coincide, muitas das vezes, com o período da

alfabetização, onde a cobrança é maior.

Podemos definir a predominância da

lateralidade, da seguinte forma:

Destra – Atua com o lado direito em 3 níveis -

olho / mão / pé.

Canhota - Atua com o lado esquerdo em 3

níveis – olho / mão / pé.

Ambidestra - Atua com os dois lados,

esquerdo e direito do corpo em 3 níveis –

olho – mão – pé.

Lateralidade Cruzada - Tudo desencontrado, a

sua atuação não é unificada. Pode ser:

Olho esquerdo – Mão direita – Pé esquerdo.

Olho direito – Mão esquerda - Pé direito.

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Aula 3 | Psicomotricidade Funcional e Relacional 53

Em uma revisão histórica do significado da mão

direita e da mão esquerda, concluímos que a maioria

das culturas conceituou a mão direita como a mão

positiva, boa. Já a mão esquerda teria uma conotação

negativa, ruim, má.

Em Pinto (1995) encontramos as seguintes

referências, quanto ao simbolismo, da direita e da

esquerda:

(...)na Bíblia, o Gênesis relata que os justos serão situados à direita e os injustos à esquerda. No indo-europeu existia a raiz daks que significava ser útil ou valer. Esta raiz dá origem à palavra daksina, que significava a direita no sentido de franqueza, lealdade e amabilidade. Pelo contrário, a palavra vama significava esquerdo também oblíquo, curvado, hostil, desfavorável e malvado. Em inglês, a direita se designa com o termo right, que significa reto, direito; a mão direita é a mão reta. Em francês, gauche significa canhoto e por sua vez esta palavra dá origem ao verbo guenchir, que significa dar um rodeio, rodear. Em latim, dexter significa destro ou direito, porém a esquerda se denomina sinester (obscuro). Em castelhano, o canhotismo era interpretado como sinal de equívoco e de abatimento de ânimo.

(pp. 07 e 08)

Esse simbolismo de direita e de esquerda prejudica as crianças canhotas. Era freqüente ver-se como as crianças canhotas eram forçadas a empregar a mão direita porque a mão esquerda era “má para escrever”. Numerosos transtornos de linguagem, dificuldades escolares, transtornos de aprendizagem de leitura/escrita e alterações de conduta eram devidos à contrariação de uma lateralidade que vinha determinada, não de forma caprichosa e sim escrita no sistema nervoso de cada indivíduo. Se observarmos nossas cidades, nossos veículos, os diferentes objetos de consumo que requerem a execução uni-

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Aula 3 | Psicomotricidade Funcional e Relacional 54

manual de forma preferente, veremos como tudo está em função dos destros e que aos canhotos se impõe um esforço maior para se adaptarem a um mundo destro.

(p. 08)

ESTRUTURA ESPACIAL

O desenvolvimento adequado do esquema

corporal é primordial para o desenvolvimento da

estrutura espacial. Ter, primeiramente, a percepção do

seu corpo e a localização espacial de suas partes,

possibilita posteriormente fazer isso fora do corpo.

A estrutura espacial vai se concretizando da

seguinte forma:

A criança percebe a posição de seu próprio

corpo no espaço.

A posição dos objetos em relação a si mesma.

Aprende a perceber as relações das posições

dos objetos entre si.

Para que uma criança perceba a posição dos objetos no espaço, precisa, principalmente, Ter uma boa imagem corporal, pois usa seu corpo como ponto de referência. Ela só se organiza quando possui um domínio de seu corpo no espaço. Isso significa que ela apreende o espaço através de sua movimentação e é a partir de si mesma que ela se situa em relação ao mundo circundante. Numa verdadeira exploração motora inicial, ela necessita pegar os objetos, manuseá-los, joga-los, agarra-los, lança-los para a frente, para trás, para dentro e fora de determinado lugar.

(Oliveira, 2000, p.78)

Para Meur (1991) a estruturação espacial é:

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Aula 3 | Psicomotricidade Funcional e Relacional 55

Tomada de consciência da situação de seu

próprio corpo em um espaço, isto é, do lugar

e da orientação que pode ter em relação às

pessoas e coisas;

Tomada de consciência da localização das

coisas entre si;

Possibilidade de organizar-se perante o

mundo que o cerca, de organizar as coisas

entre si, de coloca-las em um lugar, de

movimenta-las”.

Ao lidar com um espaço físico, com uma

estrutura espacial a criança precisa tomar consciência

de alguns conceitos para conseguir se orientar. Em

Oliveira in Rocha (2003) encontramos tais conceitos:

Situações – dentro, fora, no alto, abaixo,

longe, perto;

Tamanho – grosso, fino, grande, médio,

pequeno, estreito, largo;

Posição – em pé, deitado, sentado, ajoelhado,

agachado, inclinado;

Movimento – levantar, abaixar, empurrar,

puxar, dobrar, estender, girar, rolar, cair,

levantar-se, subir, descer;

Formas - círculo, quadrado, triângulo,

retângulo;

Qualidade - cheio, vazio, pouco, muito,

inteiro, metade.

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Aula 3 | Psicomotricidade Funcional e Relacional 56

ESTRUTURA TEMPORAL

O espaço é um instantâneo tomado sobre o curso do tempo e o tempo é o espaço em movimento. (Jean Piaget in Gislene Oliveira, 2000,

p.85)

Como foi enfatizado anteriormente, não será

possível conceber a idéia de espaço, sem abordar a

noção de tempo. Espaço e tempo são indissociáveis.

Piaget (s/d, p.11-12) declara:

O tempo e a coordenação dos movimentos quer se trate dos deslocamentos físicos ou movimentos no espaço, quer se trate destes movimentos internos que são as ações simplesmente esboçadas, antecipadas ou reconstituídas pela memória mas cujo desfecho e objetivo final é também espacial(...).

Oliveira (2000) enfatiza a importância das

noções de corpo, espaço e tempo estarem intimamente

ligadas, para facilitar o entendimento do movimento

humano, e diz:

O corpo coordena-se, movimenta-se continuamente dentro de um espaço determinado, em função do tempo, em relação a um sistema de referência.

(p.86)

É essa a opinião de Defontaine (1980):

O ser humano é um corpo concebido dentro de um espaço e de um tempo concebido e ágil. É através do seu corpo inteiro, espacial de ação e de representação, que o sujeito aquiesce ao tempo e é através do tempo que projeta sua ação possível, a antecipa e, enfim, a realiza.

(p.144)

Em Meur (1991) encontramos que a

estruturação temporal é a capacidade de situar-se em

função da (o):

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Aula 3 | Psicomotricidade Funcional e Relacional 57

Sucessão dos acontecimentos: antes, depois,

após, durante:

Duração dos intervalos:

Noções de tempo longo, de tempo curto (uma

hora, um minuto);

Noções de ritmo regular, de ritmo irregular

(aceleração, freada);

Noções de cadência rápida, de cadência lenta

(diferença entre a corrida e o andar);

Renovação cíclica de certos períodos: dias da

semana, os meses, as estações;

Caráter irreversível do tempo: o tempo

passou... Não tem como voltá-lo; noção de

envelhecimento.

RITMO

É um dos conceitos mais importantes da orientação temporal. O ritmo não envolve, porém, somente as noções de tempo, mas está ligado ao espaço também. A combinação dos dois dá origem ao movimento.

(Oliveira, 2000, p.92)

O ritmo não é movimento, mas o movimento é meio de expressão do ritmo.

(Defontaine, 1980, p. 206)

Elisabete José e Maria Coelho (1993) enfatizam

suas visões sobre o ritmo e sua importância para a

parte gráfica/escrita e leitura.

É uma habilidade importante, pois dá à criança a noção de duração e sucessão, no que diz respeito à percepção dos sons no tempo. A falta de habilidade rítmica pode causar uma leitura lenta, silabada, com pontua-ção e entonação inadequadas. Na parte gráfica, as dificuldades de ritmo contribuem para que a criança escreva duas ou mais palavras unidas, adicione letras nas palavras ou omita letras sílabas.(p.80)

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Aula 3 | Psicomotricidade Funcional e Relacional 58

PERCEPÇÃO

Envolve a capacidade, não só de perceber, mas

também reconhecer e compreender os estímulos

percebidos pelos órgãos dos sentidos.

O que é percebido gera sensações e cada

indivíduo irá significar e/ou re-significar essas

sensações ocasionadas por experiências estimulantes,

de forma única.

Podemos encontrar a Percepção dividida em:

Percepção Visual, Percepção Auditiva, Percepção Tátil,

Percepção Gustativa, Percepção Olfativa.

Sobre a percepção encontramos referências em

Elisabete José e Maria Assunção (1999):

É através do órgãos dos sentidos que a criança estabelece o contato com o mundo exterior, organizando e compreendendo os fenômenos que ocorrem.

(p.78)

A Percepção de si, do meio, dos indivíduos,

objetos, animais, acontece através dos órgãos dos

sentidos.

De acordo com o Dicionário Michaelis (2000):

Visão- Ato ou efeito de ver, percepção

operada pelo órgão da vista. O sentido da

vista. Fisiol. Função pela qual os olhos, por

intermédio da luz, põem os homens e animais

em relação com o mundo externo.

Audição- Percepção dos sons pelo ouvido;

capacidade de ouvir. Ação de ouvir ou

escutar.

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Aula 3 | Psicomotricidade Funcional e Relacional 59

Tato- Sentido pelo qual temos o

conhecimento da forma, temperatura,

consistência, pressão, estado da superfície e

peso dos objetos. Sensação causada pelos

objetos quando os apalpamos. O ato de

apalpar, de tatear.

Tais descrições nos possibilitam perceber a

influência que tais Percepções exercem para o processo

da Alfabetização (escrita, leitura), para a descoberta do

mundo, do próprio corpo, do corpo do outro, dos

movimentos precisos ou não, das formas das cores,

das posições, das diferenças, etc. que sem dúvida

possibilitam o desenvolvimento das áreas

psicomotoras.

Em todas as áreas psicomotoras trabalhamos e

precisamos desenvolver cada vez mais a Percepção.

Conceitos Relacionais

Os conceitos apresentados são conceitos

presentes nas relações, em que estabelecemos na vida.

Nas relações de estimulação, educação, reeducação e

terapia psicomotora, enquanto psicomotricistas,

devemos estar atentos a todas as formas de

comunicação e expressão da criança.

São objetivos da Psicomotricidade Relacional:

Consentir que a criança expresse suas

dificuldades relacionais;

Ajudar a criança a superar estas dificuldades;

Estruturação da criança, com seus

sentimentos e emoções reprimidas;

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Aula 3 | Psicomotricidade Funcional e Relacional 60

Na socialização: dificuldade de integração e

participação em atividades grupais, inibição,

isolamento, falta de iniciativa, passividade,

etc.

Na aprendizagem: queda de rendimento,

dificuldade de expressão verbal ou gráfica,

déficit de atenção, etc.

No comportamento: agressividade, falta de

limites, medos, TODA/H (hiperatividade),

hipercinesia, depressão, TOC.

São alguns dos conceitos relacionais:

comunicação, expressão, afetividade, agressividade,

limite e corporeidade.

COMUNICAÇÃO

A comunicação e a expressão se inter-

relacionam. Quando nos comunicamos, expressamos de

forma verbal (oral) ou não-verbal (expressões faciais,

gestuais, corporais, escrita) nossos sentimentos,

dificuldades, intenções.

Bueno (1998) fala da comunicação que nós

estabelecemos com os nossos corpos, ao nos

expressarmos.

Os professores, na educação, geralmente esquecem que o corpo de seus alunos comunica, sendo necessário um diálogo entre os dois. É com o corpo que os dois são capazes de ver, ouvir, perceber, sentir e falar. O diálogo se dá pela comunicação e pela linguagem que cada corpo é e possui. Ao se expressarem revelam seu eu, tornando-se meios de comunicação com o mundo, revelando-se seres ativos nesse mundo.

(p. 74)

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Aula 3 | Psicomotricidade Funcional e Relacional 61

Cada pessoa tem uma forma diferenciada e

ímpar de se comunicar corporalmente.

Santin (1992) coloca que através dos

movimentos o homem expressa seus sentimentos,

como amor, alegria, medo, entre outros, descobre sua

sensibilidade e singularidade na forma de criar elos de

comunicação com o mundo.

EXPRESSÃO

Podemos nos expressar de várias formas.

Uma expressão plena, de corpo inteiro, só é atingida com a coordenação física e psíquica integradas.

(Bueno, 1998, p.72)

Cabe ressaltar que a expressão pode acontecer,

mesmo sem intenção. Devemos valorizar a livre

expressão da criança através de atividades lúdicas,

como: mímica, dramatizações, danças, entre outras.

A expressão corporal e facial favorecem a

comunicação. Lapierre & Aucouturier (1986) dizem que

o corpo é o principal material da expressão.

(...) a forma como o sujeito se expressa com o corpo traduz sua disposição ou sua indisposição nas relações com coisas ou pessoas.

(Meur e Staes, 1991, p.10)

AFETIVIDADE

A afetividade é capaz de estimular o adequado

desenvolvimento psicomotor. Portanto é fundamental

na relação com o educador, reeducador e terapeuta um

clima emocional favorável baseado no afeto.

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A afetividade é este estimulante constante e necessário em todo desenvolvimento psicomotor.

(Chazaud, 1987, p. 51)

O corpo exerce um fundamental papel na

impressão e expressão da afetividade, da

agressividade, de outros comportamentos e

sentimentos.

AGRESSIVIDADE

A agressividade deve ser vista como estruturante e o excesso de agressividade, levando à agressão e à auto-agressão, devem ser pontuados e limitados. Por meio da agressividade a criança tem a possibilidade de assumir e de afirmar sua identidade. A agressividade bem canalizada ajuda a criança a esgotar as manifestações próprias de uma fase, canalizando-as de forma mais elaborada ou modificada para a fase seguinte, ajudando-a a crescer. Reprimir a agressividade ou leva à introversão ou à compulsão. Reprimida, a agressividade contida em algum momento estoura.

(Bueno, 1998, p.76)

A agressividade surge como resultado de um

conflito, por não saber lidar com uma situação, questão

ou sentimento.

LIMITE

Dar limite a uma criança não é ficar dizendo

“não” o tempo todo. Dar o verdadeiro limite é permitir

que ela vá descobrindo, através de suas experiências,

os próprios limites. Ela vai descobrindo o que é capaz

de fazer, suas habilidades, facilidades, suas limitações,

suas deficiências e estabelece o seu limite diante das

situações. Este limite pode ser superado quando ela

tem consciência do que precisa superar.

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Ao descobrir o limite interno e o seu limite

corporal, será capaz de perceber de fato os limites

externos e seus sentidos.

Adquirir consciência do limite corporal é um

aspecto importante no processo de diferenciação do eu

e do outro e da construção da identidade.

CORPOREIDADE

Entende-se por corporeidade a vivência do

corpo, seja na relação com o outro ou com o mundo. A

experiência vivida é que torna possível a construção e

conscientização da noção de corpo.

Unidade corporal, corpo e movimento

integrados.

Corporeidade é o corpo com todas as suas

experiências, vivências, aprendizagens, relações,

adquiridas em função da sua idade. A corporeidade de

uma criança é diferente da de um idoso. Cada um tem

uma quantidade diferente de vivências e aprendizados

que formam a sua corporeidade.

Conceito de corporeidade

Entender a corporeidade é, também, distanciar-

se do paradigma natural-essencialista e inserir-se no

paradigma social-existencial. A construção da

corporeidade só é possível pela estimulação

sócioecossistema. É preciso reconhecê-la na sua

inserção com a corporeidade cultural lingüístico-

ecossistêmica.

Algumas áreas que estudam a atividade física,

tradicionalmente, seguem a linha do racionalismo

instrumental, trabalhando com o corpo e a mente, ou

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Aula 3 | Psicomotricidade Funcional e Relacional 64

melhor, com o corpo e a mente fragmentados, o que

impossibilita a percepção e as implicações práticas e

teóricas da corporeidade.

O corpo é movido por intenções provenientes da

mente. As intenções manifestam-se através do corpo,

que interage com o mundo, que dá uma resposta para

o corpo, que informa a mente através de seus órgãos

sensoriais, que, analisando as respostas obtidas do

ambiente, muda ou reafirma suas intenções, utilizando

o corpo para novas manifestações.

A esta capacidade de o indivíduo sentir e utilizar

o corpo como ferramenta de manifestação e interação

com o mundo chamamos de corporeidade.

A corporeidade do indivíduo evolui com a idade.

É lógico que a corporeidade do recém-nascido é

totalmente diferente daquela da criança de dez anos,

do adulto ou do velho de oitenta anos; a do homem é

diferente da mulher; como a do indivíduo doente o é da

que possui quando sadio.

http://www.guiasatya.com.br/assuntos/corporeidade/

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Aula 3 | Psicomotricidade Funcional e Relacional 65

Durante a evolução da criança, a qualidade da

corporeidade é um dos principais determinantes da

estruturação neuropsicomotora. Por outro lado, a

estruturação corporal na mente da criança é

fundamental para o desenvolvimento do próprio corpo

como organismo físico.

Crianças privadas de relacionamentos

adequados corporais com o mundo tendem a ter

desenvolvimento físico comprometido em relação às

demais (o que chamamos em clínica de nanismo psico-

afetivo).

A qualidade da corporeidade depende como em

todas as funções neurológicas, da qualidade e

desenvolvimento das relações neuroniais estabelecidas

entre as áreas sensoriais e motoras do cérebro. Estas

relações, na maioria estabelecida durante a primeira

infância, desenvolvem-se através do treinamento

corporal.

Estimular e desenvolver a corporeidade

Vivenciar o mundo pelo corpo é um processo

natural que, apesar de seguir padrões mais ou menos

comuns a todos os seres humanos, pode apresentar

grandes diferenças em termos de qualidade e

intensidade, dependendo do tipo de atividades

adotadas.

O bebê que permanece no berço deitado o dia

inteiro ou vive preso em cercados tem possibilidades

mais limitadas de desenvolvimento do que o bebê

adequadamente estimulado. É importante ter-se em

mente, também, que o aspecto corporal contribui em

muito para a estruturação da inteligência como um

todo, inclusive quanto aos processos verbais.

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Aula 3 | Psicomotricidade Funcional e Relacional 66

O estímulo do desenvolvimento da corporeidade

do bebê é realizado com algumas técnicas simples,

desde que envolvam tanto o aspecto sensorial quanto o

motor.

Acostumar a criança a passear no colo (apesar

do trabalho que isto possa representar) é fundamental

para o desenvolvimento do processo corporal. Não só

passear no colo, mas passear em diversas posições,

principalmente com as costas voltadas para quem a

carregue, de modo que possa ver as coisas ao redor.

Bebês a partir de um mês de idade podem

usufruir de técnicas como a de "voar", que consiste em

apoiar o tronco da criança com uma mão e as pernas

com a outra, levando a criança a explorar os detalhes

da casa, frontalmente e com as mãos livres.

Durante a exploração, a criança é elevada e

abaixada várias vezes, devagar, estabelecendo noções

de tridimensionalidade.

Um lençol também pode ser de grande ajuda no

desenvolvimento dos aspectos motores. Dobrado em

uma faixa e colocado sob o tronco do bebê de três ou

quatro meses que esteja no chão "em quatro apoios",

ou seja, apoiado nas mãos e nos joelhos, pode fornecer

a sustentação necessária para que a criança tente seus

primeiros deslocamentos engatinhando.

Se este mesmo lençol dobrado em uma faixa for

colocado envolvendo o tórax, logo abaixo das axilas e

seguro nas extremidades perto das costas da criança,

serve como sustentação para que o bebê de três ou

quatro meses troque seus primeiros passos andando.

A piscina também é uma grande no

desenvolvimento da corporeidade. Por mudar

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Aula 3 | Psicomotricidade Funcional e Relacional 67

completamente o referencial de espaço contribui como

estímulo para as áreas cerebrais responsáveis pela

coordenação motora e o equilíbrio. Além disso, propicia

sensações cutâneas diferentes, incentivando novas

formas de motricidade e é uma diversão de primeira

linha, promovendo interação de muito prazer com os

pais.

REFORÇANDO:

# Esquema corporal – é o saber pré-consciente a

respeito do seu próprio corpo e de suas partes,

permitindo que o sujeito se relacione com espaços,

objetos e pessoas que o circundam. As informações

proprioceptivas ou cinestésicas é que constroem este

saber acerca do corpo e à medida que o corpo cresce,

acontecem modificações e ajustes no esquema

corporal. Exemplo: a criança sabe que a cabeça está

em cima do pescoço e sabe que ambos fazem parte de

um conjunto maior que é o corpo.

# Imagem corporal – é a representação mental

inconsciente que fazemos do nosso próprio corpo,

formada a partir do momento em que este corpo

começa a ser desejado e, consequentemente a desejar

e a ser marcado por uma história singular e pelas

inscrições materna e paterna. Um exemplo de como se

dá sua construção é o estágio do espelho que começa

aos 6-8 meses de idade, quando a criança já se

reconhece no espelho, sabendo que o que vê é sua

imagem refletida. A imagem, portanto, vem antes do

esquema, portanto, sem imagem, não há esquema

corporal.

# Tônus – é a tensão fisiológica dos músculos que

garante equilíbrio estático e dinâmico, coordenação e

postura em qualquer posição adotada pelo corpo,

esteja ele parado ou em movimento. Exemplo: a

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Aula 3 | Psicomotricidade Funcional e Relacional 68

maioria das pessoas portadoras da Síndrome de Down

possui uma hipotonia, ou seja, uma tonicidade ou

tensão menor do que a normal, o que faz com que haja

um aumento da mobilidade e da flexibilidade e uma

diminuição do equilíbrio, da postura e da coordenação.

# Coordenação global ou motricidade ampla – A

coordenação motora em geral está instintiva e ligada

ao desenvolvimento físico. Envolve movimentos amplos

de todo o corpo para a movimentação mais complexas

como correr, saltar, andar, rastejar, engatinhar, etc. É

a ação simultânea de diferentes grupos musculares na

execução de movimentos voluntários, amplos e

relativamente complexos. Exemplo: para caminhar

utilizamos a coordenação motora ampla em que

membros superiores e inferiores se alternam

coordenadamente para que haja deslocamento.

# Motricidade fina ou visomanual – é a capacidade

de realizar movimentos coordenados utilizando

pequenos grupos musculares das extremidades.

Exemplo: escrever, costurar, digitar. Engloba portanto,

movimentos com capacidade de controlar pequenos

músculos para atividades refinadas utilizando dedos,

mãos e pulsos. Exemplo: recorte, colagem, encaixe,

escrita, dobradura, pintura, etc.

# Óculo-manual - o papel que esta atividade pode

desempenhar na ligação entre o campo visual e a

motricidade fina da mão e dos dedos. Na coordenação

entre espaço cinestésico e espaço visual, o arremessar

e o apanhar são atividades maiores e de grande

alcance educativo.

# Organização espaço-temporal – Orientação ou

estruturação espacial/temporal é importante para a

criança no processo de adaptação ao ambiente, já que

correspondente à organização intelectual ligada a

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Aula 3 | Psicomotricidade Funcional e Relacional 69

consciência, a memória e as experiências vividas por

ela. É a capacidade de orientar-se adequadamente no

espaço e no tempo. Para isso, é preciso ter a noção de

perto, longe, em cima, embaixo, dentro, fora, ao lado

de, antes, depois. Alguns autores estudam a

organização espacial e a organização temporal

separadamente. Exemplo: a brincadeira “Batatinha frita

1, 2, 3”.

# Ritmo – é a ordenação constante e periódica de um

ato motor. Para ter ritmo é preciso ter organização

espacial. Exemplo: pular corda.

# Lateralidade – Diz respeito à lateralidade a

percepção dos lados, esquerdo e direito quanto aos

seus equilíbrios, desenvolvimento e experiências com

sua desenvoltura sejam desiguais ou não. O ser

humano domina melhor um lado do corpo, ou seja, um

lado dominante que apresenta mais força, rigidez e

precisão, que realiza uma ação principal, embora

definitivamente os lados não trabalhem isoladamente

como, por exemplo: lavar um prato, vestir e abotoar

uma camisa, pregar um botão. É a capacidade de

vivenciar os movimentos utilizando-se, para isso, os

dois lados do corpo, ora o lado direito, ora o lado

esquerdo. Por exemplo: a criança destra, mesmo tendo

sua mão direita ocupada, é capaz de abrir uma porta

com a mão esquerda. É diferente da dominância lateral

que é a maior habilidade desenvolvida num dos lados

do corpo devido à dominância cerebral, ou seja,

pessoas com dominância cerebral esquerda, tem maior

probabilidade de desenvolverem mais habilidades do

lado direito do corpo e, por isso, são destros. Com os

canhotos, acontece o inverso, já que sua dominância

cerebral é do lado direito.

# Equilíbrio – é a capacidade de manter-se sobre uma

base reduzida de sustentação do corpo utilizando uma

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Aula 3 | Psicomotricidade Funcional e Relacional 70

combinação adequada de ações musculares, parado ou

em movimento. Um exemplo de equilíbrio dinâmico é

caminhar sobre uma prancha e de equilíbrio estático é

manter-se sentado corretamente.

Articulação entre Psicomotricidade e

Aprendizagem

Desde o nascimento, o que salta aos olhos no

desenvolvimento infantil é o corpo e seus movimentos

que, inicialmente, não apresentam significados ainda

inscritos. Aos poucos, este corpo em movimento

transforma-se em expressão de desejo e,

posteriormente, em linguagem. A partir daí, a criança é

capaz de reproduzir situações reais, fazendo imitações

que se transformam em faz-de-conta. Assim, a criança

consegue separar o objeto de seu significado, falar

daquilo que está ausente e representar corporalmente.

Este processo nada mais é do que a vivência dos

elementos psicomotores dentro de contextos histórico-

culturais e afetivos significativos. E isso é que garantirá

a aprendizagem de conceitos formais aliados à

aprendizagem de conceitos do cotidiano: construir

textos, contar uma história, dar um recado, fazer

compras, varrer a casa, utilizar as operações

matemáticas para contar quantas pessoas vieram,

quantas faltaram, etc.

Além disso, para chegar a uma coordenação

motora fina, necessária à construção da escrita, a

criança precisa desenvolver a motricidade ampla,

organizar seu corpo, ter experiências motoras que

estruturem sua imagem e seu esquema corporal.

Portanto, com o conhecimento da

psicomotricidade podemos entender que uma criança

que não consegue organizar seu corpo no tempo e no

espaço, não conseguirá sentar-se numa cadeira,

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Aula 3 | Psicomotricidade Funcional e Relacional 71

concentrar-se, segurar num lápis com firmeza e

reproduzir num papel o que elaborou em pensamento.

Na teoria piagetiana da equilibração diz que a criança,

ao se confrontar com conflitos, para resolve-los, cria

estratégias a partir de esquemas que já dispõe.

Os conceitos básicos da aprendizagem

(dentro/fora, em cima/embaixo, escuro/claro,

mole/duro, cheio/vazio, grande/pequeno,

direita/esquerda, entre outros) são experimentados

primeiramente no corpo do sujeito para que depois

possam ser representados, “inscritos pelas palavras

para serem escritos por palavras”. Assim, fica

constatada a importância do professor estar oferecendo

vivências motoras adequadas às crianças para que seu

corpo vivido haja positivamente no processo de

aprendizagem de conceitos formais e informais.

Portanto relembrando:

Verificamos, às vezes, que existem crianças que não conseguem controlar o tônus de seus braços e pernas. Umas são hipertônicas, isto é, possuem um aumento do tônus. Seus músculos apresentam uma grande resistência, pois estão contraídos em excesso. Têm seus movimentos voluntários e automáticos comprometidos, não

PARA REFLETIR A psicomotricidade é uma sabedoria humana que leva ao conhecimento, comportamento e atitudes, fazendo com que cada pessoa se torne um ser integral. Com comprometimento e o desejo de querer aprender. Ela nos leva acalmar algumas circunstâncias apesar das tempestades exteriores e interiores do ser humano. Fátima Alves

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Aula 3 | Psicomotricidade Funcional e Relacional 72

balançam os braços ao andar, ou escrevem tão forte que chegam a rasgar a folha. Outras são hipotônicas. Apresentam uma pequena resistência muscular, isto é, têm uma diminuição da tonicidade muscular da tensão. Seu traçado é tão leve que mal se enxerga.

(Oliveira, 2000, p.27 e 28)

Exerce um papel fundamental no

desenvolvimento psicomotor. Permitem atitudes,

postura, emoções e garante manifestações de todas as

atividades motoras.

Fonseca (1995) diz que o grau de tônus dos

músculos para a realização de determinadas tarefas,

em repouso ou em movimento, possui papel

fundamental no desenvolvimento motor e psicológico.

Costallat in Bueno (1998) “Considera o tônus

como um estado de atenção necessário para a

harmonia do gesto e equilíbrio do organismo.” (p.54)

RESUMO

Vimos até agora:

A Psicomotricidade se divide em: Conceitos

Funcionais e Relacionais;

Fazem parte da Psicomotricidade Relacional,

aborda neste caderno: tônus, equilíbrio,

coordenação motora global, coordenação motora

fina (óculo-manual, óculo pedal), esquema

corporal, lateralidade, estrutura espacial,

estrutura temporal, ritmo, percepção;

Comunicação, expressão, afetividade,

agressividade, limite e corporeidade, são termos

que fazem parte da psicomotricidade relacional;

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Aula 3 | Psicomotricidade Funcional e Relacional 73

O adequado desenvolvimento do esquema

corporal favorece a formação do EU;

A lateralidade é a preferência da utilização de

um dos lados. Ao utilizar-mos o nosso lado

predominante temos mais força, precisão,

harmonia, menos gasto de tempo e energia.

Esta predominância acontece em três níveis

mão, olho e pé. A predominância do lado

direito caracteriza os destros, já a

predominância do lado esquerdo caracteriza

os canhotos;

A estrutura espacial vai se concretizando da

seguinte forma: 1º - A criança percebe a

posição de seu próprio corpo no espaço; 2º -

A posição dos objetos em relação a si

mesma; 3º - Aprende a perceber as relações

das posições dos objetos entre si;

Estruturação temporal é a capacidade de

situar-se em função da (o): Sucessão dos

acontecimentos: antes, depois, após,

durante; Duração dos intervalos: noções de

tempo longo, de tempo curto (uma hora, um

minuto); noções de ritmo regular, de ritmo

irregular (aceleração, freada); noções de

cadência rápida, de cadência lenta (diferença

entre a corrida e o andar); Renovação cíclica

de certos períodos: dias da semana, os

meses, as estações; Caráter irreversível do

tempo: o tempo passou... não tem como

voltá-lo; noção de envelhecimento;

O ritmo não envolve, porém, somente as

noções de tempo, mas está ligado ao espaço

também. A combinação dos dois dá origem ao

movimento. É um dos conceitos mais

importantes da orientação temporal;

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Aula 3 | Psicomotricidade Funcional e Relacional 74

A comunicação e a expressão se inter-

relacionam e revelam o ser;

A afetividade é a base da relação terapêutica

“bem sucedida”.

A qualidade da corporeidade depende, como

em todas as funções neurológicas, da

qualidade e desenvolvimento das relações

neuronais estabelecidas entre as áreas

sensoriais e motoras do cérebro.

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Instabilidades, Defasagens, Perturbações Psicomotoras Dina Lúcia Chaves Rocha

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o

Devemos nos perguntar, não só o que é instabilidade, defasagem, perturbação? Para respondermos esta pergunta precisamos ter um entendimento sobre o significado de cada palavra. Mas também, devemos nos perguntar, o que é estar instável, O que é estar em defasagem, O que é estar perturbado? Já estas perguntas nos remete a uma comparação com alguém, onde supostamente está em um nível diferente do nosso. As respostas destas indagações servem para pensarmos e nos colocarmos no lugar do outro. Enquanto profissionais da área da psicomotricidade devemos pensar no quanto é desagradável, incomodo e doloroso para nossos alunos e/ou clientes estarem nestas posições, estados.

Obj

etiv

os

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

Saber diferenciar o que é instabilidade, defasagem,

perturbações psicomotoras; Entender como se dá para Oliveira, Meur e Staes as

perturbações e dificuldades em determinadas áreas psicomotoras e compreender a importância de um adequado desenvolvimento psicomotor e um trabalho preventivo, a fim de evitar tais perturbações;

Associar as dificuldades e defasagens apresentadas ás áreas psicomotoras em questão.

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Aula 4 | Instabilidades, Defasagens, Perturbações Psicomotoras 77

O que é “Instabilidade Psicomotora”?

O que é “Defasagem Psicomotora”?

Instabilidade- Qualidade de instável. Falta de estabilidade. Falta de permanência. Instável- Que não é estável, que não tem segurança. Que não está firme, que não permanece na mesma posição. Inconstante, mutável, volúvel.

(Michaelis, 2004)

Defasagem- Diferença de fase entre dois fenômenos. Diferença, discrepância. Diferença- Qualidade de diferente. Alteração; diversidade. Desigualdade; desproporção.

(Bueno, 2004) “DEFASAGEM PSICOMOTORA”

É a instabilidade motora, emocional e intelectual (Chazaude, 1987)

“(...) a defasagem psicomotora pode ser uma das causas do déficit de aprendizagem.” (Mastroianni, 2004)

“INSTABILIDADE PSICOMOTORA”

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Aula 4 | Instabilidades, Defasagens, Perturbações Psicomotoras 78

O que são “Perturbações Psicomotoras”?

Segundo Gislene de Campos Oliveira

Perturbações do esquema corporal

Não tem consciência de seu próprio corpo. Pode

experimentar algumas dificuldades como, por exemplo,

insuficiência de percepção ou de controle de seu corpo,

incapacidade de controle respiratório, dificuldades de

equilíbrio, de coordenação.

Conhecimento pobre de seu corpo. Para elas a

representação e nominação das diferentes partes do

corpo são muitas vezes difíceis. Não localizam ou

confundem essas partes. Não percebem a posição de

seus membros e conseqüentemente seu desenho da

figura humana torna-se pobre.

“PERTURBAÇÕES PSICOMOTORAS”

“As perturbações psicomotoras são também chamadas “perturbações instrumentais”, termo que evidência que um problema de natureza psicomotora repercutirá na formação do esquema corporal e talvez da estruturação espacial e temporal.”

(Meur e Staes, 1991, p. 27)

Perturbação- Confusão, desordem. (Bueno, 2004) Confusão- Ação ou efeito de confundir. Estado do que se acha atrapalhado. Falta de ordem. Tumulto, revolta.

(Michaelis, 2004)

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Aula 4 | Instabilidades, Defasagens, Perturbações Psicomotoras 79

Podem apresentar dificuldades em se locomover

em um espaço predeterminado e em situar-se em um

tempo, pois o esquema corporal está intimamente

ligado à orientação espaço-temporal.

Manifesta normalmente dificuldade de

coordenação dos movimentos, apresentando certa

lentidão que dificulta a realização de gestos

harmoniosos simples – abotoar uma roupa, andar de

bicicleta, jogar bola – por falta de seu corpo em ação.

Elas, às vezes, conseguem realizar alguns movimentos,

mas, não planejam seus gestos ao agir, desprendem

tanto esforço nessas ações, que logo acabam

desestimulando-se.

Outro sintoma de esquema corporal mal

estabelecido pode ser visto quando a criança se

confunde em relação às diversas coordenadas de

espaço, como em cima, embaixo, ao lado, linhas

horizontais, verticais; e também não adquire o sentido

de direção devido a confusões entre direita e esquerda.

Uma perturbação do esquema corporal,

portanto, pode levar a uma impossibilidade de se

adquirirem os sistemas dinâmicos que correspondem

ao hábito visomotor e também intervém na escrita e na

leitura. Na escrita, por exemplo, pode não se dispor

bem e nem obedecer aos limites de uma folha, não,

conseguir trabalhar com vírgulas, pontos, nem armar

corretamente contas de somar. Além disso, esta falta

de conhecimento de sua presença no mundo pode levar

a uma dificuldade de contato com as pessoas que a

rodeiam.

Uma consequência séria da falta de esquema

corporal é o não desenvolvimento dos instrumentos

adequados para um bom relacionamento com as

pessoas e com seu meio ambiente, e, pior ainda, leva a

um mau desenvolvimento da linguagem.

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Aula 4 | Instabilidades, Defasagens, Perturbações Psicomotoras 80

Perturbações da Lateralização

O problema reside quando uma pessoa

apresenta uma lateralidade cruzada ou é mal

lateralizada, o que pode resultar em muitos efeitos

negativos tais como:

Dificuldade em aprender a direção gráfica.

Dificuldade em aprender os conceitos

esquerda e direita. A criança toma seu corpo

como ponto de referência no espaço e, se ela

se confunde ou não conhece sua dominância,

pode não perceber o eixo de seu corpo e

consequentemente será difícil saber qual lado

é o direito ou esquerdo.

A lateralidade é importante porque permite à

criança fazer uma relação entre as coisas existentes em

seu meio.

Comprometimento na leitura e escrita. O

ritmo da escrita pode ser mais lento. A

criança talvez não tenha força e precisão

suficientes para imprimir maior velocidade.

A escrita torna-se muitas vezes ilegível e mesmo

especular.

Má postura - o que pode resultar em um

desestímulo decorrente do esforço que

precisa fazer para escrever.

Dificuldade de coordenação fina, isto é, há

uma probabilidade de maior imprecisão dos

movimentos finos.

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Aula 4 | Instabilidades, Defasagens, Perturbações Psicomotoras 81

Dificuldade de discriminação visual: a criança

pode apresentar confusão nas letras de

direções diferentes como d, b, p, q.

Perturbações afetivas que podem ocasionar

reações de insucessos, falta de estímulo para

a escola, baixa auto-estima.

Distúrbios da linguagem e do sono, segundo,

Grunspün e Orton (in Defontaine, 1980) cita a

gagueira.

Aparecimento de maior número de

sincinesias.

A sincinesia é o comprometimento de alguns

músculos que participam e se movem, sem

necessidade, durante a execução de outros

movimentos envolvidos em determinada ação. É

involuntária e geralmente inconsciente.

Dificuldade de estruturação espacial, pois

esta faz parte integrante da lateralização.

A lateralização é a base da estruturação espacial

e é através dela que uma criança se orienta no mundo

que a rodeia.

Dificuldades na estruturação espacial

Muitas dificuldades podem advir de uma má

integração da orientação espacial. São diversos os

motivos que impedem ou retardam o pleno

desenvolvimento da criança, como por exemplo:

Limitação de seu desenvolvimento mental e

psicomotor.

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Aula 4 | Instabilidades, Defasagens, Perturbações Psicomotoras 82

Crianças tolhidas em suas experiências

corporais e espaciais e que não têm

oportunidades de manipular os objetos ao seu

redor.

As que não desenvolveram a noção de

esquema corporal, acarretando prejuízo na

função de interiorização.

As que não conseguiram ainda estabelecer a

dominância lateral do seu eixo corporal.

“insuficiência ou déficit da função simbólica. A

criança é incapaz de associar termos

abstratos como direita e esquerda,

puramente convencionais, ao que sente ao

nível proprioceptivo” (Le Boulch, 1984 p. 208)

Dificuldade de representação mental das

diversas noções.

Dificuldades em estruturação temporal

Oliveira (2000) se utiliza das análises feitas por

De Meur, Santos, Morais, Kephart, para relatar as

principais dificuldades que podem advir de uma má

orientação temporal.

Uma criança com problemas de orientação

temporal pode não perceber os intervalos de

tempo, isto é, não perceber os espaços

existentes entre as palavras. Não percebe

também o que vai mais depressa e mais

devagar. Normalmente esta criança escreve

as coisas de forma ininterrupta, sem espaço

entre elas, além de misturar os fatos.

A criança pode apresentar confusão na

ordenação e sucessão dos elementos de uma

sílaba, isto é, não percebe o que é primeiro e o

que é último, não se situa antes e depois.

Estas noções são importantes porque sem

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Aula 4 | Instabilidades, Defasagens, Perturbações Psicomotoras 83

elas a criança tem dificuldade em iniciar seu

gesto no lugar certo. Por exemplo, na

formação das palavras, escreverá inicialmente

a segunda letra antes da primeira. Escreve

porblema, em vez de problema, pois distorce

a seqüência gráfica (questão de espaço) de

movimentos e não distingue o som da letra r

como vindo antes (noção temporal). Este

problema diz respeito ao tempo e ao espaço

concomitante.

A criança não se organiza, também, na direção

esquerda-direita. Possui, muitas vezes, dificuldade na

retenção de uma série de palavras dentro da sentença

e de uma série de idéias dentro de uma história.

Pode haver problema de falta de padrão

rítmico constante.

A falta de ritmo motor ocasiona uma falta de

coordenação na realização na realização dos

movimentos. A criança se movimenta, anda, corre, por

exemplo, num intervalo de tempo inconstante, isto é,

não coordena o ritmo dos braços em relação às pernas.

O ritmo auditivo normalmente está ligado ao

motor, pois se estuda junto com os movimentos de

dança, de jogos e é mais difícil detectar.

Uma criança que tenha falta de padrão rítmico

visual, ao ler algum trecho, seus olhos “grudam” em

um canto da página e não se movem visualmente nem

para frente, nem para trás, tornando a leitura pobre e

comprometida.

Dificuldade na organização do tempo. A

criança não prevê suas atividades. Demora

muito em uma tarefa e não consegue

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Aula 4 | Instabilidades, Defasagens, Perturbações Psicomotoras 84

terminar as outras por “falta de tempo”. Muitas

vezes não tem noção de horas e minutos.

Uma organização espaço-temporal inadequada

pode provocar também um fracasso em

matemática, pois os alunos precisam ter noção

de fileira e coluna para organizar os elementos

de uma soma.

Em cálculo, não percebem os números que

faltam.

Ex.: 250

- 22_

Eles podem apresentar também, má utilização

dos termos verbais. A criança deve saber distinguir:

“ontem eu fui ao cinema” de “amanhã irei a...”

Dificuldade em representação mental sonora.

As crianças se “esquecem” da

correspondência dos sons com as respectivas

letras que os representam, especialmente

quando se trata de realizar ditados.

Kephart (1986) ressalta ainda uma outra

dificuldade que uma criança pode apresentar

quando tem desenvolvida só a orientação

espacial ou só a temporal.

Quando ela desenvolveu as estruturas espaciais

mas não tem ainda as temporais, torna-se uma

“repetidora de palavras”. Isto evidencia que reconhece

as relações espaciais existentes na página, identifica as

palavras, mas não consegue integrá-las no tempo; elas

ficam separadas e, portanto, a criança não percebe o

sentido. Acaba, conseqüentemente, compreendendo

muito mal o conteúdo. Sua escrita também fica

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Aula 4 | Instabilidades, Defasagens, Perturbações Psicomotoras 85

comprometida, pois esta envolve uma seqüência de

acontecimentos no tempo. A criança apresenta, então,

inversões, omissões e adições.

Quando a criança é organizada no tempo, mas não no espaço, torna-se uma leitora pobre, demora muito tempo para ler e, portanto, fica muito dependente do contexto. Muitas vezes substitui sinônimos que preservam o contexto, mas não reproduz o que está na página. Ela odeia ler, mas assimila um vasto número de informações auditivas, as quais pode manipular com grande facilidade. Seqüências complexas não lhe causam problema, mas exibições visuais simples frustram-na.

(Kephart, 1986, p.156)

A. De Meur & L. Staes estruturam as

perturbações psicomotoras da seguinte forma:

Perturbações Motoras:

Atraso do desenvolvimento motor:

Sintoma: Uma criança que não consegue andar

para trás ou subir uma escada.

Grandes déficits motores:

Sintoma: Hemiplegia

Perturbações do equilíbrio:

Sintomas Subjetivos: A criança cai com

regularidade, choca-se contra seus companheiros, anda

com pés afastados, corre com o tronco para frente.

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Aula 4 | Instabilidades, Defasagens, Perturbações Psicomotoras 86

Perturbações da coordenação:

Sintomas Subjetivos: a criança não tem um

gesto harmônico; nas refeições é desajeitada à mesa;

suas habilidades manuais são inadequadas, “recorta”

mal, seu grafismo é hesitante; leva muito mais tempo

para vestir-se.

Perturbações da sensibilidade:

Sintomas Subjetivos: A criança não faz os

mesmos gestos que lhe mostramos, exceto diante de

um espelho; deixa cair das mãos objetos que segura ou

freqüentemente torce os tornozelos; é relativamente

sensível ao contato, ao calor.

Perturbações Intelectuais – o atraso

intelectual.

Sintoma: A debilidade pode ser leve, moderada

ou profunda. As realizações da criança são de uma

idade inferior à sua idade real.

Perturbações do Esquema Corporal.

Sintomas: A criança não conhece as partes do

seu corpo; A criança não situa bem seus membros ao

gesticular; A criança não coordena bem seus

movimentos.

Perturbações da Lateralidade.

Sintomas: A criança não sabe qual mão

escolher, é desajeitada, “recorta” com a mão direita,

mas brinca com a mão esquerda.

Os exercícios de precisão são executados com

uma mão, os exercícios de força com a outra; assim,

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Aula 4 | Instabilidades, Defasagens, Perturbações Psicomotoras 87

escreve com a mão esquerda e joga a bola com a mão

direita.

A lateralidade não é homogênea: a criança

escolhe bem a mão ou o pé dominante, mas nunca

está segura de saber qual é o lado direito e qual é o

lado esquerdo.

Perturbações da Estrutura Espacial.

Sintomas: A criança ignora os termos

espaciais; As crianças percebem os termos espaciais,

mas mal percebe as posições; A criança percebe bem o

espaço que a circunda, mas orienta-se com dificuldade;

A criança orienta-se bem, mas não tem memória

espacial; A criança não tem organização espacial; A

criança não assimila a reversibilidade e a transposição;

Dificuldade para compreender relações espaciais.

Perturbações da Orientação Espacial.

Sintomas: A criança é incapaz de descobrir a

ordem e a sucessão dos acontecimentos; A criança não

percebe os intervalos; A criança não tem um ritmo

regular; A criança não tem noção da hora, não

consegue organizar seu tempo.

Perturbações do Grafismo.

Causas: Má coordenação motora; Rigidez ou

crispação dos dedos; Problemas psicológicos

(Instabilidade da criança; A criança quer terminar bem

depressa).

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RESUMO

Vimos até agora:

Instabilidade Psicomotora - é a instabilidade

motora, emocional e intelectual;

Defasagem Psicomotora – diferença,

discrepância;

A defasagem psicomotora pode ser uma das

causas do déficit de aprendizagem;

Perturbações Psicomotoras - são também

chamadas “perturbações instrumentais”,

termo que evidência que um problema de

natureza psicomotora repercutirá na

formação do esquema corporal e talvez da

estruturação espacial e temporal;

Gislene de Campos Oliveira dá exemplos de

perturbações e dificuldades em algumas áreas

psicomotoras: perturbações do esquema

corporal; perturbações da lateralidade;

dificuldades na estrutura espacial;

dificuldades em estruturação espacial;

A De Meur e L. Staes estruturam as

perturbações psicomotoras da seguinte

forma: perturbações motora; perturbações da

sensibilidade; perturbações intelectuais;

perturbações da lateralidade; perturbações da

estrutura espacial; perturbações da

orientação espacial; perturbações do

grafismo.

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