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1 PÓS-EMANCIPAÇÃO, RACISMO ESTRUTURAL E PRODUÇÃO DE ESQUECIMENTO ACERCA DA POPULAÇÃO DE AFRICANAS/OS E DESCENDENTES EM NARRATIVAS DE MEMÓRIA DAS CIDADES: O CASO DE BELO HORIZONTE 1 Josemeire Alves Pereira 2 A transferência da sede do Governo de Minas Gerais para outra localidade, discutida com frequência pelas classes dirigentes, durante as últimas décadas do século XIX, é coetânea às mudanças econômicas e políticas que ocorreram no país a partir do processo emancipacionista e da instauração do regime republicano. Estas mudanças estão relacionadas ao surgimento de novas forças econômicas no Estado que, com a emergência da República que em alguma medida também as representava se mobilizaram em torno da garantia de poder político correspondente à sua expansão econômica. A concepção e instituição de uma nova Capital é tributária destas transformações. 3 As preocupações das elites políticas e econômicas de então, quanto à necessidade de criação de um novo centro administrativo já se anunciavam nos debates políticos, entre as décadas de 1880 e 1890 4 . De acordo com Tito Flávio Rodrigues Aguiar 5 , esperava-se que o empreendimento viabilizasse a superação do atraso no desenvolvimento em relação aos centros econômicos do país Rio de Janeiro e São Paulo , que atraíam municípios mineiros situados próximos às fronteiras com estas regiões, representando risco de desagregação político-administrativa do Estado de Minas 1 Texto apresentado no 9º Encontro Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, Florianópolis (UFSC), de 14 a 18 de maio de 2019. Anais completos do evento disponíveis em http://www.escravidaoeliberdade.com.br/ 2 Doutoranda em História Social (Unicamp), Mestre em História, pela mesma universidade. Contato: [email protected]. 3 Cf. REZENDE, Maria Efigênia Lage de. Uma interpretação sobre a fundação de Belo Horizonte. Revista Brasileira de Estudos Políticos. Belo Horizonte, UFMG (30) p. 601. Apud Dutra, Eliana Regina de Freitas. Caminhos operários nas Minas Gerais: um estudo das práticas operárias em Juiz de Fora e Belo Horizonte na Primeira República. São Paulo: Hucitec; Editora UFMG (com apoio do MinC-Pró-Memória Instituto Nacional do Livro), 1988, p. 82. 4 Cf. AGUIAR, Tito Flávio Rodrigues de. Vastos Subúrbios da Nova Capital: formação do espaço urbano na primeira periferia de Belo Horizonte. 2006. 443 p. Tese (Doutorado em História) Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2006, p. 34. 5 Ibid.

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Page 1: PÓS-EMANCIPAÇÃO, RACISMO ESTRUTURAL E PRODUÇÃO DE … · 2020. 1. 27. · 2 Gerais.6 Em tais debates, conquistava espaço a noção de “modernização mineira”, remetendo,

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PÓS-EMANCIPAÇÃO, RACISMO ESTRUTURAL E PRODUÇÃO DE

ESQUECIMENTO ACERCA DA POPULAÇÃO DE AFRICANAS/OS E

DESCENDENTES EM NARRATIVAS DE MEMÓRIA DAS CIDADES: O

CASO DE BELO HORIZONTE1

Josemeire Alves Pereira2

A transferência da sede do Governo de Minas Gerais para outra localidade, discutida com

frequência pelas classes dirigentes, durante as últimas décadas do século XIX, é coetânea às

mudanças econômicas e políticas que ocorreram no país a partir do processo emancipacionista e da

instauração do regime republicano. Estas mudanças estão relacionadas ao surgimento de novas

forças econômicas no Estado que, com a emergência da República – que em alguma medida

também as representava – se mobilizaram em torno da garantia de poder político correspondente à

sua expansão econômica.

A concepção e instituição de uma nova Capital é tributária destas transformações.3 As

preocupações das elites políticas e econômicas de então, quanto à necessidade de criação de um

novo centro administrativo já se anunciavam nos debates políticos, entre as décadas de 1880 e

18904. De acordo com Tito Flávio Rodrigues Aguiar5, esperava-se que o empreendimento

viabilizasse a superação do atraso no desenvolvimento em relação aos centros econômicos do país –

Rio de Janeiro e São Paulo –, que atraíam municípios mineiros situados próximos às fronteiras com

estas regiões, representando risco de desagregação político-administrativa do Estado de Minas

1 Texto apresentado no 9º Encontro Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, Florianópolis (UFSC), de 14 a 18 de

maio de 2019. Anais completos do evento disponíveis em http://www.escravidaoeliberdade.com.br/ 2 Doutoranda em História Social (Unicamp), Mestre em História, pela mesma universidade. Contato:

[email protected]. 3 Cf. REZENDE, Maria Efigênia Lage de. Uma interpretação sobre a fundação de Belo Horizonte. Revista Brasileira de

Estudos Políticos. Belo Horizonte, UFMG (30) p. 601. Apud Dutra, Eliana Regina de Freitas. Caminhos operários nas

Minas Gerais: um estudo das práticas operárias em Juiz de Fora e Belo Horizonte na Primeira República. São Paulo:

Hucitec; Editora UFMG (com apoio do MinC-Pró-Memória Instituto Nacional do Livro), 1988, p. 82. 4 Cf. AGUIAR, Tito Flávio Rodrigues de. Vastos Subúrbios da Nova Capital: formação do espaço urbano na primeira

periferia de Belo Horizonte. 2006. 443 p. Tese (Doutorado em História) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas,

Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2006, p. 34. 5Ibid.

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Gerais.6 Em tais debates, conquistava espaço a noção de “modernização mineira”, remetendo, à

defesa de uma política favorável ao progresso econômico do Estado. A nova Capital surgiu, assim,

como elemento fundamental deste projeto, que envolvia ainda uma política de fomento à

“modernização agrícola” por meio de investimentos iniciais na tentativa de formação da mão-de-

obra constituída agora por trabalhadores nacionais livres; mas também através do estímulo à

imigração de trabalhadores europeus.7

Concebida como polo agregador da economia do estado, a então Cidade de Minas emergia,

em meados dos anos 1890, dos planos produzidos sob a coordenação de Aarão Reis, que assumiu

como Engenheiro Chefe, a Comissão Construtora da Nova Capital, depois de coordenar os

trabalhos da Comissão de Estudos que indicou as localidades viáveis para a construção da Capital.

A escolha do antigo arraial do Curral Del Rey, em 1893, realizada mais por razões políticas que por

oferecer as melhores condições, dentre as cinco localidades indicadas8, foi definida mediante

acirrada disputa política. As obras iniciadas a partir de 1894, resultaram no surgimento de uma

cidade concebida sob o discurso que articulava modernidade e do progresso – sob o signo da

República recém-instaurada no país. O “canteiro de obras” inaugurado no antigo arraial do Curral

Del Rei alterou profundamente o espaço e as formas de organização da vida de seus habitantes que,

como veremos, eram majoritariamente gente de origem africana.

Simultaneamente à destruição de antigas casas e “cafuas” e à chegada constante e em

número cada vez maior de migrantes – predominantemente mineiros, mas também brasileiros de

6 As relações econômicas desenvolvidas entre as regiões do Sul mineiro e a Zona da Mata com São Paulo e Rio de

Janeiro, eram intensas desde o século XIX, tendo se estreitado ainda mais com a instalação de ferrovias, a partir de

1860. Cf. REIS, Liana Maria. Escravos e Abolicionismo na Imprensa Mineira – 1850/1888. (1993). Dissertação

(Mestrado em História). Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG. Belo Horizonte, 1993, p. 33. 7 Os núcleos coloniais agrícolas constituíam o cerne desta outra vertente da política de modernização, que

posteriormente se apresentou inviável. Cf. AGUIAR, Op. cit. 8 O Relatório d’Estudo das Localidades indicadas para a Nova Capital, elaborado pela Comissão de Estudos, indicava

as seguintes localidades: Curral Del Rey, Paraúna, Barbacena e Várzea do Marçal. Sob pressão política foi incluído o

município de Juiz de Fora. Sobre a construção de Belo Horizonte ver, dentre outros: SALGUEIRO, Heliana Angotti.

Engenheiro Aarão Reis: O Progresso Como Missão. Belo Horizonte: Ed. Fundação João Pinheiro. Centro de Estudos

Históricos e Culturais, 1997. (Col. Centenário); SILVA, Regina Helena Alves; SILVEIRA, Anne Jackeline Torres.

Cenas de um Belo Horizonte. Belo Horizonte, Prefeitura Municipal de Belo Horizonte – PBH, 1994.

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outras regiões do país e, em número que depois se reduz, de europeus9 –, emergia profundo silêncio

sobre a presença preponderante da população de Cabindas, Congos, Benguelas, Minas, Monjolo,

também de “pretos” e “pardos”, que, como veremos, é documentada em fontes demográficas do

século XIX, figurando em número sempre maior, quando somados os diferentes grupos, que o da

população identificada como branca.

Sobre quem lá estava

Movemo-nos à compaixão por vermos as dificuldades com que lutavam os pobres, para de novo se

estabelecerem, por vermo-los, muitas vezes, com as lágrimas nos olhos, se queixarem da sorte, pelas peripécias

e amarguras porque iam tão bruscamente passando. Era uma cena triste e comovedora essa da emigração da

maioria dos habitantes para outras paragens mais recônditas e solitárias de seu querido Curral D’El-Rei! (...)

Há quem acuse o dr. Aarão Reis de violento, injusto e cruel para com o povo, nas desapropriações. (...) Mais de

uma vez ouvimo-lo dizer, é verdade, que não queria nenhum dos antigos habitantes de Bello Horizonte dentro

da área urbana ou suburbana traçada para a nova cidade, e que tratasse o povo de ir se retirando.10

A mirada do Padre Francisco Martins Dias11 sobre os acontecimentos que, a partir de 1894,

incidiram na vida do povo e no território do Distrito de Bello Horizonte – que até a instituição da

República era conhecido como Curral Del Rey, um dos antigos povoados surgidos nas imediações

de regiões de extração minerária nas Minas, ainda no início do século XVIII – é um dos preciosos

testemunhos que nos possibilitam acessar vestígios da vida no lugar que foi violentamente

transformado na nova Capital do então Estado de Minas Gerais, em fins do século XIX. Suas

observações foram publicadas no livro Traços Históricos e Descriptivos de Bello Horizonte,

publicado em julho de 1897 – seis meses antes da inauguração da Capital, Belo Horizonte. O livro

põe em relevo aspectos negligenciados pela narrativa produzida para construir a memória histórica

sobre a cidade; aspectos tais como os que no excerto acima evidenciam a remoção forçada – ainda

que mediante compra de terrenos pelo Governo do Estado – da população que habitava os terrenos

9 Cf. BOTELHO, Tarcísio R. A migração para Belo Horizonte na primeira metade do século XX. Cadernos de História,

Belo Horizonte, v. 9, n. 12, p. 11-33, 2º sem. 2007. 10 Cf. DIAS, Pe. Francisco Martins. Traços Históricos e Descriptivos de Bello Horizonte. Arquivo Público Mineiro.

Belo Horizonte, 1997 [1897], p. 83. 11 Agradeço ao escritor Ricardo Aleixo pela importante consideração sobre o fato de que o Padre Francisco Dias

Martins era um homem negro, em diálogo no qual me sugeriu aproximação à obra de Beatriz Magalhães – O Caso

Oblíquo, em que o Padre Francisco figura como um dos personagens (Cf. MAGALHÃES, Beatriz de Almeida. Caso

Oblíquo. Belo Horizonte: Autêntica, 2009).

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correspondentes aos limites do Plano traçado pela Comissão Construtora da Nova Capital para

abrigar a nova cidade.

Dentre as famílias afetadas por estas mudanças estavam, como já referido, aquelas formadas

por africanas/os, pretas/os e pardas/os constituintes da maior parte da população do Curral Del Rey ,

ao longo de todo o século XIX, conforme em registros demográficos do período (Tabelas 1, 2 e 3).

Tabela 1 – População Curral Del Rey, 1816 (Cor, Sexo e Condição)

Homens Mulheres Totais

Branca 1629 1607 3236

Preta Livre 582 762 1344

Preta cativa 3670 2064 5734

Mulata12 Livre 3466 3838 7304

Mulata cativa 360 336 696

Totais 9707 8607 18314

Fonte: (APM) Mappa da População do Termo da Villa Real do Sabará em o anno de 1816

Tabela 2 – População do Distrito da Paróquia do Curral Del Rey, 1840 (Cor, Sexo, Condição) Homens Mulheres Totais

Branca 191 188 379

Parda cativa 542 633 1175

Parda cativa 38 44 82

Preta Livre 83 105 188

Preta cativa 246 171 417

Totais 1100 1141 2241

Fonte: Mappa da População existente no Distrito da Parochia do Curral D' El Rei em o anno de 1840 (APM Coleção Mapas de População)

Tabela 3 – População da Freguesia de Nossa Sra. da Boa Viagem do Curral Del Rey , 1872 (Raça13, Sexo e Condição)

Branca Parda Preta Totais

Homens livres 770 1212 336 2318

Mulheres livres 884 1449 376 2709

Homens cativos 0 155 86 241

Mulheres cativas 0 111 84 195

Totais 1654 2927 882 5463

Fonte: BRAZIL. Império. Recenseamento de 1872.

12 Os termos “mulato” e “pardo” conforme registrados na documentação analisada. 13 Mantida a expressão utilizada na Fonte. Cf. BRAZIL. [Império] Recenseamento do Brazil em 1872. Rio de Janeiro:

Typografia G. Leuzinger, [1874?].

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Considerando-se a predominância da população de africanas/os e seus descendentes nas

Minas setecentistas e, especialmente, na Comarca do Rio das Velhas, é bastante provável que a

predominância desta população no Curral Del Rey já fosse experienciada desde o século XVIII.14

Certo é que a presença de população de origem africana no Curral Del Rey daquele tempo fora

notada também pela Inquisição que, em 1756 investigava o Calundu de Francisca Correia, liberta,

descrita como Mina e seu companheiro Manoel da Rocha, Benguela, cativo. As denúncias

registradas pelos agentes do Santo Ofício registravam que em casa de Francisca e Manoel

cultuavam-se Nzambi e São Benedhy. Ali também eram administradas rezas e manipulações de

ervas com fins curativos, atendendo às inúmeras pessoas que os procuravam.15 Nesta e em outras

Devassas ocorridas durante o século XVIII, nas Minas Gerais, as denúncias registradas no povoado

referem-se notadamente a pessoas pretas ou pardas, em geral por não aderirem ou não

demonstrarem adesão ao rito e aos sacramentos católicos – como o matrimônio, a confissão e a

eucaristia.16

A experiência de liberdade em tempos de escravidão fora vivenciada, já à essa época, nas

Minas Geraes, pela maioria destas pessoas que, mesmo diante das limitações que lhes eram

impostas pela condição de subalternidade, forjavam estratégias que possibilitavam a aquisição da

alforria e, eventualmente, ascenção econômica17 – muito embora a maioria das pessoas não brancas

compusesse os setores mais empobrecidos da população, acessando algumas, quando muito, os

setores médios da sociedade. De todo modo, a predominância de mulheres pardas livres na

população do Curral Del Rey , em diferentes momentos do século XIX, sinaliza para a agência

destas na conquista da liberdade para si e para os seus, mesmo que esta liberdade fosse exercida em

14 Um estudo que possibilita bem dimensionar este fenômeno para Minas Gerais, no setecentos, é o trabalho de Eduardo

França Paiva. Cf.: PAIVA, Eduardo França. Escravidão e Universo Cultural na Colônia: Minas Gerais, 1716-1789.

Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006. 15 Cf. SOUSA, Giuliano Glória. Negros Feiticeiros das Geraes: Práticas mágicas e cultos africanos em Minas Gerais,

1748-1800. 2012. Dissertação (Mestrado em História), Universidade Federal de São João Del Rei. São João Del Rei

(MG), 2012, p. 90-91; MORAIS, Mariana Ramos. Nas teias do sagrado: Registros da religiosidade afro-brasileira em

Belo Horizonte. Belo Horizonte, Espaço Ampliar: 2010. Ver, ainda: RESENDE, Luciana Lelis. A Relação entre o

Sagrado e o Profano na Paisagem Urbana: a Igreja Católica e a Umbanda como agentes atuantes na paisagem urbana.

2015. Dissertação (Mestrado em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável). Escola de Arquitetura, UFMG, 2015. 16 Cf. CAMPOS, Adalgisa Arantes. A mentalidade religiosa dos setecentos: o Curral Del Rey e as visitas religiosas.

VARIA HISTÓRIA, Belo Horizonte, no 18, Set/97, p. 11-28. 17 Cf. PAIVA, op. cit.

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condição de precariedade: as alforrias condicionais, as coartações, os riscos de reescravização eram

situações frequentes.

Durante o século XIX, as condições de trabalho de africanos e mestiços, libertos/as, livres/as

ou cativos/as eram exercidas no âmbito das atividades de agricultura e produção de outros víveres

em regime de subsistência, principalemente, sendo também os produtos exportados para regiões

próximas ao arraial ou mesmo vendidos ou permutados com quem ali chegava aos domingos, como

testemunhou o Pe. Francisco Dias:

Aos domingos, porém, era outro o aspecto do arraial, que, como por encanto, ser transformava em uma

verdadeira feira local – alegre e animado que era! (...) era ao mesmo tempo o dia de maior commercio no

logar, pela vinda e reunião dos lavradores e fazendeiros dos arrabaldes da freguezia à assistência da missa

conventual. / As transações de compras, vendas e trocas, eram ordinariamente feitas, nesse dia, em maior

escala: - aqui era um compadre que oferecia a seu compadre, para comprar para carro, uma boiada de pegar

p’ra sahir (como diziam); de uma bonita novilha que eles diziam uma teteia; ali era outro que querendo

passar a seu compadre, ou a seu primo, um bonito poltro andador (...); acolá eram outros contractando troca

de milho por café, de café por feijão etc. ou fazendo outras transacções; todos, emfim (sic), compravam

vendiam ou trocavam: os do arraial, para aproveitarem a vinda e a influência dos de fora; e estes, para

evitarem frequentes vindas à povoação durante a semana, o que só em último caso faziam.18

No Largo do Rosário estava localizada a Capela homônima, vinculada à Irmandade dos

Homens Pretos de Nossa Senhora da Boa Viagem do Curral Del Rey, desde 180919. No entorno

dela residiam famílias como a de Pedro do Rosário, cujos herdeiros precisaram disponibilizar, ao

Governo do Estado, suas casas e terrenos, para viabilizar a construção da Capital. O mesmo ocorreu

com outras famílias negras do povoado.20 Também a Capela do Rosário foi demolida, em função

das obras da Comissão Construtora. A negociação entre o Governo e o Arcebispado de Mariana,

contudo, garantiu que o imóvel fosse substituído por uma outra capela do Rosário, construída pela

Comissão no atual cruzamento das Ruas São Paulo, Tamoios e Avenida Amazonas, no Centro de

Belo Horizonte. Contudo, a nova capela foi destituída de qualquer referência à história da

população negra do Arraial e à Irmandade do Rosário, sendo oficialmente conhecida como “Capela

Curatorial Nossa Senhora do Rosário” e, popularmente, como “Igrejinha de Santo Antônio”.

18 Cf. DIAS, Pe. Francisco Martins. Traços Históricos e Descriptivos de Bello Horizonte. Arquivo Público Mineiro.

Belo Horizonte, 1997 [1897], p. 29-30. 19 Cf. APM. Copia de um Instrumento em Publica forma com o teor da Confirmação de Compromisso da Irmandade de

Nossa Senhora do Rosario dos Pretos da Freguesia de Nossa Senhora da Boa Viagem do Curral De El-Rey Commarca

de Sabará como abaixo se declara (sic). 20 Cf. APCBH. Acervo da CCNC. op. cit. Especialmente: APCBH-310(010) – Tombamento de Propriedades à Rua do

Rosário; APCBH-310(033) – Processo De Desapropriação da casa e Quintal de José Pedro da Costa – Rua do Rosário;

APCBH-346 – Processo de Tombamento da Casa e quintal de herdeiros de Manoel do Rosário.

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Figura 3: Largo do Rosário

Fotógrafo: João Salles (1895c.) Fonte: Arquivo Público Mineiro (APM) - Fundo Secretaria da Agricultura | Série: Comissão Construtora da Nova Capital. A antiga Capela do Rosário, ao fundo, à esquerda.

Figura 4: Capela Curatorial Nossa Senhora do Rosário, 1895

Autoria não identificada. Fonte: Museu Histórico Abílio Barreto

Racismo estrutural e segregação como fundamento de uma cidade moderna

Imagem 1 – Planta Cadastral do Arraial de Bello

Horizonte, 1894

Fonte: Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte (APCBH). Acervo da Comisão Construtora da Nova Capital.

Imagem 2 – Planta Geral da Cidade de Minas,

1895

Fonte: Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte (APCBH). Acervo da Comissão Construtora da Nova Capital.

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A comparação das imagens 1 e 2 possibilita-nos dimensionar a amplitude da trasformação

que se projetava sobre o território e que foi produzida, ainda que com modificações projeto original

da Capital (Imagem 2): operou-se forte emprego das técnicas consideradas mais modernas em

engenharia e arquitetura, no período, para dominar relevo, alterar o curso de córregos e rios, destruir

habitações que se interpusessem à planificação da qual nasceu, por fim, a Cidade de Minas. No

espaço projetado na Planta Geral da Cidade de Minas, a área central – o perímetro urbano –

destinava-se a abrigar os prédios do Governo do Estado e as novas moradias dos funcionários de

alto e médio escalão da administração pública. Parte das populações que já habitavam o Arraial,

contrariando as determinações do engenheiro Aarão Reis, permaneceram no território, tendo sido

obrigadas a deslocarem-se para os arredores do perímetro urbano, identificado na referida Planta

como Zona Suburbana e mesmo na Zona de Sítios (no detalhe à esquerda e abaixo, na Imagem 2,

correspondentes às áreas em verde escuro e verde claro, respectivamente). Este foi o destino de

muitas daquelas famílias negras que certamente figuravame entre as que foram assistidas pelo Pe.

Francisco Martins Dias. Quando das desapropriações ocorridas no Arraial, entre 1894 e 1895,

algumas delas acompanharam antigos fazendeiros para quem trabalhavam como agregadas ou

mesmo mediante remuneração, em atividades domésticas de lavoura, dentre ouras.21

Quanto aos operários que possibilitavam tornar realidade o projeto da Capital, é conhecido o

fato de que nos planos da Comissão Construtora não havia espaço para os mesmos. Estes, contudo,

afluiam em número cada vez maior para o lugar, atraídos pelas possibilidades de emprego nas obras

de construção da nova cidade:

A fama dos serviços da nova capital mineira, echoando por todos os pontos do Brasil, atraiu grande número de

operários e especuladores. A emigração (máxime a italiana) veio completar o número de uns e de outros, e

concorrer, a princípio, para o aumento da lucta pela existência em circumstâncias tão anômalas. (...) A

comissão constructora admitia maior numero (sic) de pessoal à proporção que o andamento dos serviços o

exigia; e, como os serviços progrediam, progrediam sempre, também de dia para dia augmentava esse o

número da população, que, de 2600 almas que era até março de 1894, subiu logo, aproximadamente, a 3500,

até dezembro do mesmo anno; a 5000, até dezembro de 1895, e a 6000, até dezembro de 1896.22

21 Cf. In: ROMANO, Olavo. Muito Além da Cidade Planejada: Uma contribuição à História da região nordeste da

Capital. Belo Horizonte: Editora Magnum, 1997. 22 Cf. DIAS,. op. cit., p. 87.

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Umas centenas de cafúas e barracões que se veem agrupados ou disseminados aqui, acolá, são tendas dos

operários da nova cidade, e que são demolidos com a mesma facilidade com que são construídos, conforme as

exigências do andamento dos serviços o reclamam.23

Dentre os operários mineiros afluia grande proporção de trabalhadores que haviam

testemunhado os tempos de cativeiro nas Minas Gerais, mesmo que já integrando as diferentes

gerações de libertos e nascidos livres. Isso a julgar pelo contexto de que a origem da maioria desses

migrantes era a região central do Estado,24 que correspondera, nos séculos anteriores a regiões de

forte concentração de população africana, preta e mestiça.25 Além disto, registros médicos

hospitalares da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte – que é aqui considerada, a despeito

de seus limites, como um vestígio importante, diante da escassez de dados censitários aferindo

informações de cor/raça – apontam para a predominância de pretos/as e pardos/as na população

atendida entre 1908 e 1935, o que tende a corroborar nossa interpretação acerca da preponderância

de trabalhadores negros migrantes na Capital, desde então.

Tabela 4: Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte Doentes admitidos, 1908-1935 (Cor/Raça)

1908

1910

1911

1912

1913

1914

1915

1916

1917

1918

1921

1923

1928

1929

1930

1931

1934

1935

Brancos 90 321 381 616 896 859 764 774 756 1016 1087 1089 1150 1444 2267 223 1450 1999

Pretos 39 230 376 538 636 556 615 640 848 621 771 687 1287 1222 1123 2530 1390 1383

Mestiços 79 708 861 1165 1282 1068 819 825 603 1295 1405 1557 2595 2781 2208 1140 2725 2675

Totais 208 1259 1618 2319 2814 2483 2198 2239 2207 2932 3263 3333 5032 5447 5598 3893 5565 6057

Fonte: APM – Relatórios da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte (1908-1935) 26

A presença deste número cada vez maior de população preta e mestiça na cidade,

paulatinamente formando, juntamente com operários europeus que chegavam subsidiados pela

política de incentivo à imigração, aquelas que foram consideradas as primeiras “favelas” de Belo

Horizonte, já em 1898 – a Favella do Leitão e o Alto da Estação, além da Barroca – tornava-se

23 Ibid. p. 105. 24 Cf. BOTELHO, op. cit. 25 De acordo com Eduardo França Paiva, a região da Comarca do Rio das Velhas, à qual corresponde, em parte, a região

central de Minas, concentrava maior população de origem africana. Cf. PAIVA, op. cit. 26 Foram analisados os Relatórios do período entre 1902 a 1935. Contudo, somente a partir de 1908, são registradas

neles informações sobre cor.

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indesejada à luz das concepções de modernidade e progresso que guiavam o empreendimento da

Nova Capital. Consideradas pelos gestores da administração pública como um problema, tais

populações foram alvos de remoções forçadas, desde então.

Os processos de remoção que inauguraram os procedimentos para a execução das obras de

construção da Capital, em 1894, apresentam-se, assim, como uma prática de segregação do espaço

racialmente estruturada pelo impacto que tiveram sobre as sociabilidades e a organização da vida

das/os habitantes negras/os do Curral Del Rey e por seu principal efeito: o embranquecimento

progressivo da região central da cidade e daquelas que iam tornando-se valorizadas pelo mercado

imobiliário, nos anos subsequentes.

Tais processos mostraram-se também úteis às sucessivas iniciativas de reordenamento

urbanístico, nas primeiras décadas do século XX, sendo reeditados quando da eliminação da favela

Alto da Estação, ainda em 1901, da Barroca, nos anos 192027 e de outras populações indesejadas

que se instalassem no perímetro urbano ou em áreas adjacentes a ele, que se tornassem alvo de

interesse mercadológico, ao longo de todo o século XX. As remoções passaram a afetar, desde a

então, especialmente as favelas que se formavam em número cada vez maior, acompanhando o

fluxo constante e intenso de migração para Belo Horizonte, a partir dos anos 1940, mas também

sobre famílias negras remanecentes dos processos de gentrificação da cidade.

Considerações

A “completa destruição do Arraial do Curral Del Rey” para dar lugar à nova Capital mineira

é uma imagem que repercute, ainda hoje, no discurso público sobre o processo do qual emergiu

Belo Horizonte. Tem sido acionada por estudiosos sobre a cidade para referenciar as sucessivas

trasnformações urbanas que a têm constituido – com destaque para a destruição de patrimônios

27 Os operários foram transferidos dali para a Vila Concórdia, na região leste de Belo Horizonte – Bairro Concórdia, na

atualidade.

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arquitetônicos como prática que caracteriza a própria cidade, desde sua origem.28 Contudo, a

perpetuação desse discurso sem atenção ao aspecto de racialização que fundamenta a produção do

espaço em Belo Horizonte e em outras cidades brasileiras, faz com que o mesmo consolide as

práticas de invisibilização e silenciamento que cacarcterizam e dão sustento ao racismo estrutural e

seus impactos limitantes sobre quem é por ele diretamente afetado mas também sobre toda a

sociedade.

Com efeito, o ordenamento da nova Capital não envolveu apenas o esforço de destruição do

patrimônio edificado que constituía representação da sociedade colonial; mas foi fundamentado no

afastamento da população original do Curral Del Rey, majoritariamente constituída por população

preta, parda e africana que se distribuída pelas diversas regiões do Arraial (Mapa 1), incluindo os

Largos da Matriz e do Rosário. O plano e a edificação de Belo Horizonte, desta forma, inauguraram

no território do antigo Arraial uma experiência de segregação racial até então inédita no espaço que

fora produzido a partir de referências culturais e experiências sociais também fundamentadas na

forte presença e agência de pessoas de origem africana em diáspora, vivendo em uma sociedade

fortemente hirarquizada, em situação de subalternidade e, ainda assim, forjando seus projetos de

vida em liberdade.

As narrativas de memória sobre Belo Horizonte elaboradas unicamente a partir da

perspectiva governamental negligenciam, contudo, estas experiências. Tais narrativas apresentam-

se mais coerentes com o discurso de modernização que fundamenta a construção da cidade29,

enfatizando, desde as primeiras décadas do século XX, o aspecto da destruição do Arraial e

inscrição de uma outra lógica de urbanização que representa bem o intento de superação dos

aspectos indesejados da experiência colonial que obstaculizam os intentos liberais que orientam as

forças políticas e econômicas mineiras, no Pós-Abolição. Este procedimento repercutiu, assim, em

processos de apagamento voluntário – porque naturalizado – da existência simbólica da população

28 Cf. Modernidade Canibal. Estado De Minas. Caderno Pensar, 18.01.2019. Disponível em:

<https://tinyurl.com/y5jnw7wr> Consulta em 01.03.2019. 29 A obra de referência sobre a memória da cidade é a do historiador Abílio Barreto. Cf. BARRETO, Abílio. Belo

Horizonte: memória histórica e descritiva. ed. atual. rev. e anotada. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro/Centro de

Estudos Históricos e Culturais, 1996 [1928; 1937]. (v.1 – História Antiga; v.2 – História Média).

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de origem africana e sua experiência diaspórica como agentes da produção do espaço ao qual se

impôs uma cidade planejada e construída a partir de referências culturais europeias.

É importante ressaltar que papel importante na disseminação desta imagem tem exercido as

sucessivas gestões da administração pública, até bem recentemente; tanto por meio de práticas

efetivas de aniquilação da existência simbólica das populações negras na cidade, como a demolição

de edificações referenciais de moradia ou culto para as populações negras – a Capela do Rosário

original, as casas e cafuas do Curral Del Rey, as habitações de operários, as casas construídas nas

favelas –; quanto pela naturalização da omissão, na produção de memória e história públicas sobre a

cidade, de referência à existência e participação fundamental destas populações na história de

produção do território e da sociedade nele estabelecida, desde o século XVIII.30

Neste último caso, o enfrentamento ao racismo estrutural no âmbito das práticas de gestão

pública, são fundamentais para que a agência de mulheres e homens de ascendência africana na

construção da cidade seja reconhecida em sua amplitude, como epistemologia que propõe outras

formas de pensar a experiência urbana; e não tratada como episódica ou como mera contribuição.

Os caminhos possíveis – que podem incluir desde mudanças nas práticas de tratamento de acervos

documentais31, até compromisso com a formação adequada de profissionais da administração

pública – são assunto para outra oportunidade, não cabendo nos limites desta comunicação.

De todo modo, a despeito dos esforços por apagamento e silenciamento por meio de

negligências oportunas aos projetos de cidade ancorados na segregação, a ancestralidade de

30 Algumas exceções, bem recentes, têm sido resultado das repercussões, na esfera da administração pública municipal,

de debates e estudos protagonizados por pesquisadores/as e ativistas dos movimentos negros da cidade. Destacam-se,

neste caso, dentre algumas outras ações: a instituição das festas de Iemanjá e do Preto Velho, nos anos 1980; o

tombamentos da Guarda de Nossa Senhora do Rosário do Jatobá e do Terreiro Ilê Wopo Olojucan, em 1995; o

mapeamento de grupos tradicionais de matriz africana na cidade (cf. BELO HORIZONTE. Prefeitura Municipal.

Heranças do Tempo, Tradições afro-brasileiras em Belo Horizonte. Coordenação: Ana Cristina Pontes e Fernanda

Emília de Morais. Belo Horizonte, Fundação Municipal de Cultura|PBH: 2006.); a recente criação do Centro de

Referência da Cultura Popular e Tradicional Lagoa do Nado, a exposição “Faca Cega”, do artista Paulo Nazareth, no

Museu de Arte da Pampulha (nov. 2018 a mar. 2019) e a exposição “NDÊ! Trajetórias Afrobrasileiras em Belo

Horizonte”, no Museu Histórico Abílio Barreto (nov. 2018 a nov. 2020). 31 Ver, a respeito: BARBOSA, Nila Rodrigues. Museus e Etnicidade: o Negro no Pensamento Museal. Curitiba|PR,

Appris: 2018.

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matrizes africanas, em Belo Horizonte, anuncia-se de maneira inequívoca, nas transfluências32

construidas na diáspora e que se fazem presentes nas celebrações, nas formas de vida familiar, nas

festas, nas plantas dos terreiros e quintais, nas lutas pelo direito ao território e à cidade; mas

também nos testemunhos produzidos pelo próprio aparato administrativo da sociedade escravista –

tal como observamos nas fontes aqui abordadas.

32 Cf. SANTOS, Antônio Bispo dos. Colonização, quilombos: modos de significações. Brasília, INCTI|UnB: 2015.

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Fontes

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- APM. Copia de um Instrumento em Publica forma com o teor da Confirmação de Compromisso

da Irmandade de Nossa Senhora do Rosario dos Pretos da Freguesia de Nossa Senhora da Boa

Viagem do Curral De El-Rey Commarca de Sabará como abaixo se declara.

- (Coleção 585) Relatórios da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte (1901-1935)

- (Coleção Mapas de População) Mapa da População do Termo da Vila de Sabará (1816).

- (Coleção Mapas de População) Mappa da População existente no Distrito da Parochia do Curral

D’El Rei, anno de 1840

- BRAZIL. [Império]. Recenseamento do Brasil em 1872. Rio de Janeiro: Typ. De G. Leuzinger &

filhos. s.d.

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Acervo da Comissão Construtora da Nova Capital (CCNC)

- Processo De Tombamento dos Passos 1 a 4 da capela e casa e terreno do Bispado de Mariana –

ruas Deodoro, Sabará e Rosário. APCBH-310(431-436). AI.01.04.10_319-431_30.07.1895.

- APCBH-310(010) – Tombamento de Propriedades à Rua do Rosário.

- APCBH-310(033) – Processo De Desapropriação da casa e Quintal de José Pedro da Costa – Rua

do Rosário

- APCBH-346 – Processo de Tombamento da Casa e quintal de herdeiros de Manoel do Rosário

- APCBH. Acervo da CCNC. Op. cit. Processo de tombamento do terreno dos herdeiros de Thomé

Joaquim - Rua de Congonhas. APCBH. AI.01.04.01 - 310 (343). 15.12.1894.

- Planta Geral da Cidade de Minas

- Planta Cadastral do Arraial do Curral Del Rey

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Horizonte, 2006.

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Appris: 2018.

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