propriedades mecânicas e térmicas dos materiais

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Propriedades Mecânicas e Térmicas dos Materiais Márcio Nasser Medina Este documento tem nível de compartilhamento de acordo com a licença 3.0 do Creative Commons . http://creativecommons.org.br http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/br/legalcode

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Page 1: Propriedades Mecânicas e Térmicas dos Materiais

 Propriedades Mecânicas e

Térmicas dos Materiais  

Márcio Nasser Medina               

Este documento tem nível de compartilhamento de acordo com a licença 3.0 do Creative Commons.

http://creativecommons.org.br http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/br/legalcode 

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 .  1 . 

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Propriedades Mecânicas e Térmicas dos Materiais

Ao longo do curso de Química, você já pôde perceber que essa ciência estuda a matéria e sua

composição, propriedades, estruturas e reações. Já aprendeu que a matéria é formada por átomos e

compostos que podem ocorrer como substâncias puras ou como misturas. Chamamos de composto as

substâncias em que dois ou mais tipos de átomos estão combinados quimicamente.

As substâncias estão identificadas por suas propriedades físicas, tais como: densidade, solubilidade,

calor específico, ponto de fusão e de ebulição e cor.

As diferenças nessas propriedades permitem que componentes sejam separados de uma mistura:

líquidos podem ser purificados por destilação simples ou fracionada; sólidos, por cristalização

fracionada. A cromatografia, por exemplo, também pode ser utilizada para separação de substâncias

que possuem propriedades de dissolução em dois sistemas, um móvel e outro estacionário. A

separação dos componentes da folha de uma planta pela bipartição dos mesmos em éter e carbonato

de cálcio (giz) é um exemplo de cromatografia.

PROPRIEDADES FÍSICAS

A mudança de fase de uma substância pode ocorrer de diversas maneiras. Quando fervemos um litro de

água na cidade do Rio de Janeiro, que se localiza ao nível do mar, a água inicia sua fervura por volta dos

100 oC. Se você fizer o mesmo procedimento na cidade de São Paulo (que se localiza a uma altitude de

860 metros), a água iniciará sua ebulição em uma temperatura abaixo de 100 oC, por volta dos 96 oC.

Separando os pigmentos de uma planta por cromatografia em giz. 

‐ Macere em um gral uma folha de espinafre (grande conteúdo de pigmentos) e adicione éter comum. 

‐ Coloque a solução obtida em uma placa de Petri e, em cima do sistema, introduza um pedaço inteiro de giz branco. Espere alguns minutos. 

‐ O resultado será surpreendente. 

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 .  2 . 

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Figura 1

Assim, podemos perceber que a pressão atmosférica altera a temperatura de ebulição.

No entanto, nossas roupas molhadas, após serem lavadas, secam à temperatura ambiente e em

nenhum momento a água precisou ser aquecida até a temperatura de ebulição para passar ao estado

de vapor, visto que em locais frios ou quentes a água da roupa é capaz de secar.

Em ambos os exemplos acima, ocorreu mudança da fase líquida para a de vapor em diferentes

maneiras: violenta (ebulição) ou suave (evaporação).

Mas, por que isso ocorre?

Não sei se você já percebeu que, quando andamos de bicicleta, transpiramos muito pouco em relação a

quando paramos. Ou ainda, se você já frequentou a sauna de um condomínio ou clube, notou que há

uma sensação de se transpirar mais na sauna a vapor, do que na sauna seca. O que justifica isso é o que

também explica o fato do ventilador nos refrescar, mesmo soprando ar na temperatura ambiente.

Nosso corpo utiliza a transpiração como regulador térmico que, além de eliminar o calor em excesso

contido dentro do nosso corpo, ainda resfria a superfície da pele ao entrar em contato com correntes de

ar. O fato é que o nosso suor, como a água das roupas, evapora (muda de fase) sem precisar ferver,

retirando do corpo o calor para sua evaporação.

Assim, podemos perceber que a pressão atmosférica altera a temperatura de ebulição.

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 .  3 . 

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No entanto, nossas roupas molhadas, após serem lavadas, secam à temperatura ambiente e em

nenhum momento a água precisou ser aquecida até a temperatura de ebulição para passar ao estado

de vapor, visto que em locais frios ou quentes a água da roupa é capaz de secar.

Em ambos os exemplos acima, ocorreu mudança da fase líquida para a de vapor em diferentes

maneiras: violenta (ebulição) ou suave (evaporação).

Mas, por que isso ocorre?

Não sei se você já percebeu que, quando andamos de bicicleta, transpiramos muito pouco em relação a

quando paramos. Ou ainda, se você já frequentou a sauna de um condomínio ou clube, notou que há

uma sensação de se transpirar mais na sauna a vapor, do que na sauna seca. O que justifica isso é o que

também explica o fato do ventilador nos refrescar, mesmo soprando ar na temperatura ambiente.

Nosso corpo utiliza a transpiração como regulador térmico que, além de eliminar o calor em excesso

contido dentro do nosso corpo, ainda resfria a superfície da pele ao entrar em contato com correntes de

ar. O fato é que o nosso suor, como a água das roupas, evapora (muda de fase) sem precisar ferver,

retirando do corpo o calor para sua evaporação.

Imagine-se em um prédio comercial bem alto, esperando o elevador chegar para apanhá-lo por volta da

hora do rush. Todas as vezes que ele para no andar onde você se encontra, está sempre lotado de

pessoas e você não consegue entrar, por mais que empurre um ou outro passageiro. Eles, por sua vez,

empurram-te de volta para fora. Para você entrar, alguém teria de sair do elevador. Então, acaba

esperando outro chegar ao seu andar ou se irrita e desce pelas escadas.

Agora, imagine-se nesse mesmo prédio em um dia de domingo ou fora do horário comercial. Ao abrir a

porta do elevador, raro será encontrar algum passageiro ali dentro, não é verdade? Então, você

consegue deixar aquele andar facilmente.

Conseguiu imaginar? É mais ou menos assim que acontece na dinâmica dos líquidos. Uma gota de água

da roupa ou de suor do corpo é representada por você naquela situação. Para evaporar, ela necessita da

energia que será fornecida pelo corpo. Mas, mesmo adquirindo essa energia, dependendo da situação,

ela não será capaz de evaporar, pois a atmosfera já se encontra saturada de vapor d’água (lembre-se

dos outros passageiros!). Desse modo, ficará parada na superfície em forma de gota ou escorrerá.

A passagem de moléculas do líquido para a fase de vapor e a passagem de moléculas de vapor para a

fase líquida está constantemente ocorrendo junto à superfície do líquido. É um processo dinâmico, em

que o líquido evapora quando é maior a quantidade de moléculas que passam para a parte de vapor.

No entanto, se a umidade for grande (elevador cheio), isto é, a concentração de vapor junto à superfície

do líquido for elevada, haverá uma diminuição de moléculas evaporadas, o que representa uma

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 .  4 . 

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diminuição da velocidade de evaporação e, possivelmente, uma passagem do vapor para o estado

líquido (liquefação).

A sensação térmica depende da presença de vapor d’água na atmosfera. Na floresta Amazônica, a

atmosfera encontra-se sempre saturada (calor úmido), dificultando a evaporação do suor. Já no deserto

de Atacama (Chile), a presença de vapor d’água na atmosfera é quase nula, o que provoca uma

transpiração adequada, evitando os males da hipertermia.

Para as moléculas se vaporizarem, elas precisam absorver calor. A evaporação produz a sensação de frio

devido à captação de calor pelas moléculas de água durante o processo. É essa sensação que sentimos

ao sair da água, enquanto nosso corpo está molhado. A água, para evaporar, retira calor do nosso corpo,

diminuindo, assim, a temperatura da pele (que cedeu calor!).

O vento que sentimos ao andar de bicicleta e ao sentarmos em frente a um ventilador, aumenta a

velocidade do processo da evaporação, por isso a diminuição da sensação de calor nessas situações.

Digamos que os elevadores descessem e subissem muito velozmente ou que tivessem vários

elevadores disponíveis para que você e todas as demais pessoas abandonassem o prédio. Isso aceleraria

o processo, de forma semelhante ao que o ventilador faz. Ao afastar a umidade de perto da superfície,

haverá uma maior evaporação das moléculas de água, causando uma sensação de frio, igualmente

àquela que sentimos ao sair molhados do banho.

Conforto Térmico Humano: é um conceito subjetivo, associado à sensação

térmica considerada agradável ao homem. Em termos físicos, está associado

ao estado em que o indivíduo encontra-se em equilíbrio térmico com o

ambiente, de forma que seu corpo não necessita despender energia para

elevar ou reduzir a temperatura interna. A rigor, o conforto térmico

dependerá de variáveis do ambiente: temperatura, umidade relativa, vento,

pressão barométrica, calor irradiado pelos corpos vizinhos, etc.; e de variáveis

do indivíduo: peso, superfície, indumentária, estado de repouso ou atividade,

etc.

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PRESSÃO DE VAPOR

Experimentalmente, observou-se que um gás a alta pressão poderia se liquefazer, como o gás dos

isqueiros ou GLP dos botijões de cozinha. Dessa maneira, o experimento consistiu de um cilindro

fechado por um êmbolo móvel. Ao comprimir o gás (diminuir o volume) à temperatura constante, a

pressão exercida pelo vapor aumenta. Continuando a diminuição do volume, a partir de certo ponto o

vapor começa a se condensar (virar líquido).

Simulação 01

Um recipiente provido de um êmbolo vertical móvel com um

gás ocupando o interior. Ao abaixar o êmbolo, a pressão

aumenta e a condensação se inicia. Um manômetro registra a

pressão. Moléculas penetram através da superfície do líquido

que vai se formando.

Nessa temperatura, a pressão em que ocorre a condensação é chamada de pressão máxima de vapor.

Se fizermos o mecanismo ao contrário, a partir de um líquido, ou seja, ir diminuindo a pressão sobre ele,

observaremos o fenômeno inverso.

Simulação 02

Um recipiente provido de um êmbolo vertical móvel com um

líquido ocupando o interior e tangenciando a superfície livre

do líquido. Ao levantar o êmbolo, a pressão diminui e a

evaporação se inicia. Um manômetro registra a pressão e

moléculas se desprendem da superfície do líquido e

vagueiam pelo espaço livre acima da superfície desse líquido.

Podemos observar que a pressão de vapor de um líquido é a pressão onde ocorrerá mudança de fase

daquela substância.

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 .  6 . 

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Em nosso dia-a-dia, esse efeito também pode ser percebido ao abrirmos um vidro de perfume e

sentirmos os seus vapores. Devido ao espaço “vazio”, e ao próprio esvaziamento do recipiente, a

pressão sobre o líquido diminui, permitindo que o líquido se evapore mais rápido. Após certo tempo, o

vapor e o líquido entram novamente em equilíbrio dinâmico e esse processo “para”. Isso ocorre porque

se uma molécula conseguir sair do líquido para o vapor, outra terá saído do vapor e entrado no líquido.

Ao abrirmos o frasco, devido à diferença de pressão (a interna está maior do que a externa), os vapores

são expelidos do frasco, permitindo-nos sentir o seu aroma, mesmo à distância.

F i g u r a 2

Figura 2

Há alguns anos foi comercializada uma tampa PUMP para refrigerantes que prometiam manter a

bebida com gás por mais tempo. Na verdade, sua função era bombear ar para dentro da garrafa,

preenchendo assim o espaço “vazio” com o ar a alta pressão. Dessa forma, o gás carbônico

diluído na bebida não conseguia sair do líquido, mantendo-se “preso”. Podia-se, então, beber a

bebida com gás, mesmo depois de alguns dias. Lembre-se que sempre houve ar atmosférico

naquele espaço “vazio”, mas que a pressão em que ele se encontra não é suficiente para

assegurar que o gás carbônico diluído no refrigerante permaneça preso. Por isso, mesmo

mantendo a garrafa bem fechada, após a primeira abertura, o gás do refrigerante “escapa” depois

de algumas horas na geladeira.

 

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 .  7 . 

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Um uso bem distinto da pressão e da temperatura é na previsão de tempo.

Sabemos que o ar quente é menos denso (mais leve) do que o ar mais frio. Assim, em um dia qualquer,

você poderia esperar que o ar sobre um deserto tivesse uma pressão menor do que o ar sobre uma

calota de gelo. E isso seria verdadeiro. Essa mesma diferença de pressão ocorre em todo o planeta, por

vários motivos. As diferenças de pressão têm um grande efeito sobre o clima, de modo que se você

souber a pressão do ar, assim como a tendência da pressão, será capaz de predizer certas coisas sobre o

tempo. Em geral, uma área de alta pressão estará ensolarada e uma área de baixa pressão estará

nublada e chuvosa.

A partir da meteorologia náutica, utilizada pelos navegantes, a chegada de uma frente fria, com ventos

fortes e chuvas, pode ser prevista pelas alterações bruscas das medidas de um barômetro e de um

termômetro. Uma vez que a pressão do ar caia rapidamente – um barômetro "descendo" indica uma

diminuição da pressão do ar – e a temperatura local suba, aumentará a indicação do termômetro, com

igual velocidade. Da mesma maneira, se a marcação da pressão estiver subindo – um barômetro

"subindo" indica um aumento da pressão do ar – é sinal de que o tempo será bom. Pode-se perceber

que a velocidade com que a pressão se modifica é um parâmetro para saber a duração do tempo bom

ou mau. Por exemplo, se a mudança for brusca, o mau tempo será de curta duração e o bom tempo

logo voltará. Se for lenta, poderemos prever que o mau tempo terá longa duração.

BARÔMETRO TERMÔMETRO TEMPO PROVÁVEL

Subindo Subindo Tempo bom, ventos quentes e secos

Subindo Estacionário Tempo bom, ventos frescos

Subindo Baixando Tempo bom

Estacionário Subindo Tempo mudando para bom

Estacionário Estacionário Tempo incerto, ventos variáveis

Estacionário Baixando Chuva provável

Baixando Subindo Tempo instável, aproximação de frente

Baixando Estacionário Frente quente com chuvas prováveis

Baixando Baixando Chuvas abundantes e ventos fortes

Tabela 1

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Figura 3

Embora a leitura conjunta do barômetro e do termômetro permita acertar, com bastante frequência, as

condições do tempo, não se pode confiar integralmente nesse tipo de previsão. Atualmente, a previsão

do tempo é feita por meio de satélites meteorológicos e data-loggers que registram todas as variações

em diferentes regiões do país.

Temperatura do ar em superfície: é a subtração entre o campo de temperatura do ar em superfície em

um dado horário e o campo 24 horas antes. Valores positivos indicam aumento de temperatura do ar

em 24 horas. Por exemplo, diminuição considerável de temperatura do ar sugere que o modelo está

prevendo a entrada de uma massa de ar frio sobre a região, enquanto que se ocorrer um elevado

aumento de temperatura do ar, indica incursão de uma massa de ar quente sobre a região.

Pressão ao nível médio do mar: é a subtração entre o campo de pressão reduzido ao nível médio do

mar em um dado horário e o campo 24 horas antes. Valores positivos indicam aumento da pressão

atmosférica em 24 horas. Esse campo representa o deslocamento dos centros de alta e baixa pressão ao

nível médio do mar, previsto pelo modelo. Diminuição de pressão (aproximação de um centro de baixa

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 .  9 . 

Sala de Leitura           Propriedades Mecânicas e Térmicas dos Materiais 

pressão) pode indicar condições favoráveis ao aumento da instabilidade na atmosfera, o que favorece a

formação de nuvens. Já o aumento de pressão (aproximação de um centro de alta pressão)

desfavorece a formação de nuvens de chuva. Esse campo é relevante para a previsão de tempo nas

regiões extratropicais.

PONTO DE EBULIÇÃO

Quando colocamos certa quantidade de líquido para ferver em um recipiente aberto, por exemplo, uma

quantidade de água para o preparo de um macarrão, notaremos que, a partir de certo instante,

começam a surgir bolhas, inicialmente no fundo. As primeiras bolhas são do ar que estava diluído na

água. Em seguida, por volta dos 100 oC (se você estiver ao nível do mar) surgem bolhas maiores de

vapor, formando-se em todo o líquido. Essas bolhas sobem para a superfície e se quebram. Nesse

momento, dizemos que o líquido está em ebulição.

A temperatura em que o líquido ferve, como já vimos, depende da pressão exercida sobre ele. Isso

porque a pressão da bolha para conseguir sair e explodir precisa ser maior do que a pressão acima dela.

Concluiu-se que um líquido entra em ebulição a uma temperatura na qual a pressão de vapor iguala-se

à pressão exercida sobre sua superfície. Veja o gráfico a seguir.

Gráfico 1

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Sala de Leitura           Propriedades Mecânicas e Térmicas dos Materiais 

Podemos observar que, conforme a pressão sobre o líquido vai se elevando, aumentará também sua

temperatura de ebulição. Naturalmente, uma diminuição de pressão provoca um abaixamento na

temperatura de ebulição. Isso explica o porquê de em São Paulo a água ferver a uma temperatura

menor do que no Rio de Janeiro, pois em locais situados acima do nível do mar, onde a pressão

atmosférica é menor do que 760 mmHg, a água entrará em ebulição a temperaturas inferiores a 100 oC

(observe a tabela a seguir).

No alto do monte Everest, cuja altitude é de 8.848 m e a pressão atmosférica é cerca de 26 mmHg, a

água entra em ebulição a 72 oC. Então, tentar cozinhar no alto do monte Everest, sem panela de

pressão, é quase impossível para alguns alimentos.

Altitude (m) Pressão Atmosférica

(mmHg)

Ponto de Ebulição da

água (oC)

0 760 100

500 720 98

1000 670 97

1500 640 95

2000 600 93

2500 560 92

9000 240 70

Tabela 2: Ponto de ebulição da água a diversas altitudes

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Tabela 3: Pontos de ebulição de substâncias ao nível do mar (p = 1 atm = 105 Pa = 760 mmHg)

Observando a tabela, podemos perceber que os metais possuem os pontos de ebulição bastante altos,

acima de 1200 oC. Já os líquidos fixos (pouco voláteis) têm pontos de ebulição acima de 100 oC e os

voláteis, abaixo de 100oC.

PONTO DE FUSÃO

Para uma substância pura, o ponto de fusão é igual ao ponto de congelamento. Ele representa a

temperatura na qual as fases líquida e sólida estão em equilíbrio. Os pontos de fusão são geralmente

medidos em um recipiente aberto (submetido à pressão atmosférica).

Substância Ponto de

ebulição (°C) Substância

Ponto de

ebulição (°C)

Água (H2O) 100 Zinco (Zn) 918

Álcool (C2H6O) 78 Alumínio (Al) 2519

Cobre (Cu) 2595 Cloreto de sódio (NaCl) 1465

Chumbo (Pb) 1744 Acetona (C3H6O) 56,5

Enxofre (S) 445 Ácido acético (C2H4O2) 118

Ferro (Fe) 3000 Anilina (C6H7N) 184,1

Hidrogênio (H2) -253 Benzeno (C6H6) 80,1

Mercúrio (Hg) 357 Clorofórmio (CHCl3) 61,3

Nitrogênio (N2) -196 Fenol (C6H5OH) 181,4

Ouro (Au) 2966 Nitrobenzeno (C6H5NO2) 211

Oxigênio (O2) -183 Sulfureto de carbono (CS2) 46,7

Prata (Ar) 2212 Tetracloreto de carbono

(CCl4) 76,7

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Substância Ponto de

fusão (°C) Substância Ponto de

fusão (°C)

Água (H2O) 0 Zinco (Zn) 420

Álcool (C2H6O) -114 Alumínio (Al) 660

Cobre (Cu) 1083 Cloreto de sódio (NaCl) 801

Chumbo (Pb) 327 Acetona (C3H6O) -95

Enxofre (S) 115 Ácido acético (C2H4O2) 16,6

Ferro (Fe) 232 Anilina (C6H7N) -6,3

Hidrogênio (H2) 1535 Benzeno (C6H6) 5,5

Mercúrio (Hg) -259 Clorofórmio (CHCl3) -63,6

Nitrogênio (N2) -39 Fenol (C6H5OH) 40,6

Ouro (Au) 1604 Nitrobenzeno (C6H5NO2) 5,7

Oxigênio (O2) -223 Sulfureto de carbono (CS2) -110,8

Prata (Ar) 962 Tetracloreto de carbono

(CCl4) -22,6

Tabela 4: Pontos de fusão de substâncias ao nível do mar (p = 1 atm = 105 Pa = 760 mmHg)

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Faça você mesmo: mudança do ponto de ebulição pela variação da

pressão

1) Ferva uma pequena quantidade de água (uns 100 ml), para

que seja rápido.

2) Pegue uma seringa grande (de 25 ml ou 50 ml), sem agulha.

3) Assim que a água começar a ferver, apague o fogo e

preencha 1/3 da seringa com essa água a 100 oC (se você estiver ao

nível do mar) e tampe o bico com um pedaço de borracha ou massa

epóxi. Aponte a seringa verticalmente e puxe o êmbolo rapidamente.

Veja que a água volta a borbulhar, embora a temperatura não

seja mais de 100 oC. Ao aumentar o espaço interno (o volume), a

pressão será reduzida, diminuindo também o ponto de ebulição da

água, que estará fervendo abaixo de 100 oC.

Mas os pontos de ebulição e fusão ainda sofrem influência de outros fatores, como, por exemplo, a

adição de soluto não volátil ao solvente, também conhecidos como abaixamento crioscópico

(abaixando o ponto de fusão) ou tonoscópico (aumento do ponto de ebulição). Essas são propriedades

coligativas, não dependem da natureza química das partículas, apenas do número de partículas de

soluto diluídas. Para entendermos isso melhor, podemos realizar uma experiência bem simples:

misturar sal na água. Ao adicionarmos sal à água, os pontos de ebulição e fusão sofrem alterações, isto

é, o ponto de ebulição aumenta e o ponto de fusão diminui. Alguns exemplos interessantes ilustram

essa propriedade.

Nos países temperados, durante o frio de inverno, as estradas ficam cobertas por uma densa camada de

gelo ou neve, o que impede o tráfego de veículos. Uma solução encontrada foi espalhar sal pelo asfalto.

Quando o sal é espalhado pelo piso, há dissolução do sal na água, separando-se os íons Na+ e o Cl-.

Acontece que a temperatura de solidificação da água depende fortemente do teor de sal dissolvido.

Veja na tabela a seguir a diminuição da temperatura de fusão da água em função do cloreto de sódio

(NaCl) dissolvido.

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 .  14 . 

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Percentagem em massa

de NaCl na solução

Concentração de

NaCl em g/L

Temperatura de

fusão em oC.

0 0 0

3,5 36 - 2,1

5 53 - 3,1

10 121 - 6,5

15 176 - 10,9

20 260 - 16,5

Tabela 5

Podemos verificar por meio dos dados que, realmente, conforme a concentração de NaCl aumenta, há

uma sensível diminuição da temperatura de fusão. Atente também para a segunda linha da tabela, essa

concentração registrada é justamente a concentração de sal na água do mar, confirmando o dado que

ela congela a – 2,1oC.

Nos churrascos, é muito comum enchermos uma caixa de isopor ou um latão de gelo para refrescar as

bebidas. Esse processo de resfriamento costuma ser acelerado acrescentando-se sal à mistura de gelo,

água e latinhas. A água líquida conduz melhor o calor do que o gelo. Além disso, o líquido resultante da

mistura de gelo e sal está a uma temperatura abaixo de 0 °C. Tudo isso faz com que a energia térmica da

bebida seja "removida" com maior velocidade, tornando-a mais gelada em menos tempo.

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 .  15 . 

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Faça você mesmo: gelando uma bebida mais rápido.

Você já participou daqueles churrascos de turma em que a comissão

organizadora demorou a colocar as bebidas da festa na geladeira ou no

freezer, ou mesmo foi surpreendido com o término da bebida no meio

da festa e no mercado só havia bebida a temperatura ambiente?

Conhecendo as propriedades físicas da matéria, você pode resfriar

bebidas enlatadas e engarrafadas rapidamente. Teste você mesmo!

1) Encha um recipiente com água e gelo.

2) Adicione sal à mistura. Isso funciona porque a água com sal tem um

ponto de congelamento menor do que a água pura.

3) Adicione as bebidas e mexa continuamente por alguns instantes.

Ao mexer, estará forçando a convecção, o que acelera a transferência

de calor entre a bebida e a água com gelo e sal.

4) Espere dois minutos e meça a temperatura de uma das bebidas,

que deve já ter diminuído perceptivelmente. Se ainda precisar de mais

tempo, mexa o restante por mais um minuto ou dois.

5) Aprecie a bebida gelada. Ela deve estar agora na temperatura ideal.

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 .  16 . 

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Faça você mesmo: mudança do ponto de fusão pela variação da

pressão

1) Congele a água em um pote de sorvete de 2 L.

2) Retire com cuidado o bloco de gelo e coloque-o apoiado em

uma prateleira de vidro ou plástico, de preferência com a mesma

largura que a do bloco.

3) Encha duas garrafas PET de 2 L de água (o que dará cerca

de 2 kg cada uma) e prenda-as nas extremidades com um fio

metálico bem fino (de preferência uma corda de guitarra E ou B).

Atenção: esse fio NÃO deve possuir nenhuma película o envolvendo!

4) Coloque o fio esticado sobre o bloco de gelo de maneira que

as garrafas PET estejam penduradas sem encostar ao chão.

Dependendo das condições locais, essa experiência poderá durar

horas. Veja o que acontecerá com o fio e o gelo. O fio irá transpassar

o gelo, como se estivesse cortando-o (e está!). Assim que o gelo

afundar, haverá um regelo na parte acima. E isso irá continuar até

que o fio passe totalmente (ou o gelo derreta todo!).

Com o aumento da pressão naquele ponto, o ponto de fusão

abaixa, derretendo mais rápido o gelo. Ao transpassar o fio pelo gelo,

a pressão sobre o ponto volta a ser a atmosférica, retornando ao 0 oC

– o ponto de fusão, (que é a temperatura do gelo!) –, colando as

superfícies acima do fio, o regelo.

Há alguns anos, começou a ser vendido no Brasil um líquido curioso, conhecido como anticongelante.

De fato, os proprietários de automóveis ignoraram e até mesmo riram dessa notícia, afinal, para que nos

preocupar com o “congelamento” do motor em um país tropical, cuja temperatura média é de 25 oC?

Vamos entender o porquê da importância desse tipo de produto para o bom funcionamento do carro.

Nos países subtropicais e temperados que possuem invernos rigorosos, a temperatura permanece

abaixo de zero durante horas, às vezes dias.

Os veículos automotores utilizam, em sua maioria, água como arrefecedores (esfriadores) do motor. Em

uma noite de frio (é possível!), a água do radiador congela, pois é fato que a água congela a zero grau.

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Primeiro, é importante saber que, quando a água congela, ela se expande, isto é, aumenta de volume, o

que a Física chama de comportamento anômalo da água. Isso é explicável pela conformação espacial

que as moléculas adquirem ao se atraírem mais fortemente por pontes de hidrogênio no estado sólido.

Então, se a água do radiador congelar, ele irá se romper e, por conseguinte, danificar o motor do

automóvel.

Misturando-se o anticongelante etileno-glicol (OH–CH2–CH2–OH) na água do radiador, esse tipo de

fenômeno estará resolvido. Uma vez adicionado, ele passa a atrair fortemente as moléculas da água.

Isso acontece porque o etileno-glicol carrega dois grupos OH. Em cada um deles há uma carga negativa

no O- e uma positiva no H+. Essas mesmas cargas aparecem na molécula de H2O, possibilitando o

surgimento de forças de atrações eletrostáticas entre esses dois tipos de moléculas, que dificultam a

organização dos cristais de gelo. E, de fato, a água só irá congelar agora a -37 oC (≅ - 35 oF).

Curiosamente, o uso desse anticongelante altera também o ponto de ebulição da água, aumentando-a,

o que possibilita que a água ferva a temperaturas acima de 100 oC. Na verdade, a adição de 50% de

etileno glicol à água do radiador faz com que a temperatura de congelamento seja inferior a -33o C e a

de ebulição superior a 163 oC. Será que os motoristas ririam agora?

Experimentalmente, pode-se perceber um fenômeno muito importante para a manutenção da vida.

Coloque álcool etílico em um cilindro fechado por uma membrana semipermeável e mergulhe-o em

água pura. Após alguns instantes, a membrana começará a inchar consideravelmente, podendo até se

romper. Devido à membrana ser semipermeável, a água poderá atravessá-la, mas o álcool não. O

aumento de pressão no recipiente é determinado pela difusão da água para a solução, que pode ser

alterada pela adição de solutos não-voláteis aos solventes. Esse aumento de pressão é chamado de

pressão osmótica.

Para entender o que é pressão osmótica, é necessário, primeiramente, saber o que é osmose. O

processo no qual duas soluções de mesmo solvente – ou uma solução e seu solvente – são separadas

por uma membrana semipermeável, ocorrendo a difusão do solvente de modo que as duas soluções

fiquem com a mesma concentração, é chamado de osmose. Esse é um tipo de difusão na qual, embora

a membrana semipermeável permita a passagem de solvente nos dois sentidos, o solvente da solução

mais diluída passa para a mais concentrada. Pressão osmótica é, então, a pressão que deve ser exercida

sobre a solução para impedir a passagem de solvente de uma solução para outra, ou seja, impedir a

osmose.

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Soluções de mesma pressão osmótica são ditas isotônicas. Em soluções de diferentes pressões

osmóticas, a solução de menor pressão é dita hipotônica e a de maior pressão, hipertônica.

Os seres vivos se depararam com a osmose desde sua origem, uma vez que tudo indica que eles

surgiram em meio aquoso, como sistemas isolados do ambiente por uma membrana semipermeável

capaz de regular a passagem dos sais e nutrientes para o interior da célula ou o exterior dela.

Durante o processo evolutivo, os seres vivos desenvolveram não só maneiras de evitar problemas

causados pela osmose (inchação ou ressecamento), como também processos que aproveitam a

dinâmica osmótica nos fenômenos biológicos.

A regulação da osmose em meio marinho (a osmorregulação) é um problema importante, tanto para

peixes ósseos, como para peixes cartilaginosos.

Os tubarões, no entanto, lidam com o problema de forma totalmente diferente do restante dos peixes.

Eles reabsorvem praticamente todos os produtos azotados resultantes do metabolismo proteico,

aumentando, assim, a pressão osmótica dos seus fluidos internos. Eles retêm uma grande quantidade

de ureia circulante (menos tóxica), sintetizada a partir da amônia (altamente tóxica), o que aumenta a

pressão osmótica do sangue a ponto de quase igualá-la a do mar. Dessa maneira, os tubarões não têm

os problemas que os peixes ósseos possuem, pois esses gastam muita energia para manter a sua

concentração interna menor do que a da água do mar. O curioso é que, dessa maneira, também não há

ressecamento dos olhos do tubarão, permitindo sua visão embaixo da água salgada. Assim, tornam-se

hipertônicos em relação ao meio salgado, forçando a água a entrar passivamente, por osmose.

Em nosso cotidiano, podemos destacar a salmoura feita nos peixes como um dos mais antigos meios de

conservação de alimentos, a exemplo do bacalhau e da carne kosher dos judeus. Na salga, a ação do sal

é dupla: o sal desidrata a carne por diferença de pressão osmótica entre o meio externo e interno e

penetra na carne, baixando a atividade da água.