estudo das propriedades mecânicas e térmicas de compósitos de polipropileno com casca de arroz

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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO CURSO DE ENGENHARIA QUÍMICA WAGNER CORREA FREITAS ESTUDO DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS E TÉRMICAS DE COMPÓSITOS DE POLIPROPILENO COM CASCA DE ARROZ

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Page 1: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASILPRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO

CURSO DE ENGENHARIA QUÍMICA

WAGNER CORREA FREITAS

ESTUDO DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS E TÉRMICAS DE COMPÓSITOS

DE POLIPROPILENO COM CASCA DE ARROZ

Canoas

2011

Page 2: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASILPRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO

CURSO DE ENGENHARIA QUÍMICA

WAGNER CORREA FREITAS

ESTUDO DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS E TÉRMICAS DE COMPÓSITOS

DE POLIPROPILENO COM CASCA DE ARROZ

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

como requisito para a obtenção do grau de

Engenheiro Químico; Universidade Luterana do

Brasil; Curso de Engenharia Química.

Prof. Orientador: Luis Sidnei Barbosa Machado

Canoas

2011

Page 3: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

WAGNER CORREA FREITAS

ESTUDO DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS E TÉRMICAS DE COMPÓSITOS

DE POLIPROPILENO CASCA DE ARROZ

Trabalho de Conclusão apresentado e aprovado no Curso de Engenharia Química

como exigência para obtenção do título de Engenheiro Químico

Prof. Rubens Zolar da Cunha Gehlen, Msc.

Coordenador do Curso de Engenharia Química

Prof. Luis Sidnei Barbosa Machado, Msc.

Coordenador do Trabalho de Conclusão de Curso

Prof. Luis Sidnei Barbosa Machado, Msc.

Orientador do Trabalho de Conclusão de Curso

Banca Examinadora

Prof. José Carlos Krause de Verney, Dr. Profª Denise Maria Lenz, Dra.

Canoas

2011

Page 4: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

DEDICATÓRIA

Dedico a meus pais, grandes mestres na minha vida, e a todos que de uma

forma ou outra me ajudaram a alcançar este tão sonhado objetivo.

Page 5: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

AGRADECIMENTOS

Meus sinceros agradecimentos...

Principalmente a Deus.

A todos que colaboraram direta ou indiretamente na

Elaboração deste trabalho, o meu reconhecimento.

Ao professor e amigo Luís Sidnei Barbosa Machado pelo auxílio,

dedicação e apoio prestados durante este trabalho.

Ao professor e amigo Leonardo Santos por toda colaboração e apoio.

Aos amigos e colegas Emerson Severo, Mariana Neis e

Rosane Schossler por todo apoio e compreensão durante o semestre.

Page 6: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

“O sucesso nasce do querer, da determinação e persistência em

se chegar a um objetivo. Mesmo não atingindo o alvo, quem

busca e vence obstáculos, no mínimo fará coisas admiráveis”

José de Alencar

Page 7: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

RESUMO

Compósitos poliméricos com cargas orgânicas têm sido cada vez mais

utilizados na obtenção de produtos das mais diversas áreas, dentre estas matrizes o

polipropileno (PP) vem sendo um dos mais utilizados devido ao seu fácil

processamento. Neste trabalho foram estudadas as propriedades mecânicas e

termogravimétricas de compósitos de polipropileno com farinha da casca de arroz

(FCA). Os materiais foram escolhidos devido ao polipropileno possuir excelentes

características de processamento, como estabilidade térmica, boa resistência a

abrasão e a corrosão e a farinha da casca de arroz por ser um material abundante

na região sul do Brasil, que não possui destino adequado, e por possivelmente

conferir boas propriedades ao polímero devido a sua natureza rígida, sendo a

possível melhoria das propriedades do polímero o principal objetivo deste trabalho.

Neste trabalho os teores de farinha de casca de arroz utilizados foram de 10 e 20%

em massa, sendo os corpos de prova preparados através do processo de injeção.

Verificou-se um bom comportamento térmico do material e a perda de algumas

características mecânicas, como elasticidade do material, uma queda maior que

90% em comparação com o PP Virgem, porém com ganho em resistências

mecânicas, como o aumento na tensão de ruptura a tração de cerca de 30% no

compósito com 10% de FCA, além de um aumento na resistência térmica do

material, em torno de 2% com 10% de FCA e 14% com 20% de FCA em

comparação ao PP virgem, possibilitando diversas aplicações para este novo

compósito.

Palavras-chave: Compósitos; polipropileno; casca de arroz.

Page 8: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

ABSTRACT

            Polymeric Composites with organic loads are increasingly frequent in

obtaining products of several different areas, within these the polypropylene (PP)

matrixes are becoming one of the most used due to their simple processing. The

mechanic and thermo gravimetric properties of polypropylene composites with rice

hulls powder (RHP) have been assessed in this study. The materials have been

chosen due to polypropylenes excellent processing characteristics, such as thermal

stability, good resistance to abrasion and corrosion, while the rice hull powder for

being abundant in Brazil’s southern regions, which in itself has no adequate use, and

for possibly good properties being passed on to the polymer due to its rigid nature,

the improvement of the polymer’s properties being the main objective of this study.

The proportions of rice hull powder utilized ranged from 10 to 20 % in mass, the

samples were prepared through the injection process. The results of which show a

good thermal behavior of the material and the loss of some mechanical

characteristics, such as elasticity, a decrease bigger than 90% in comparison with

virgin PP, but with a mechanic resistance gain, with the improvement of the rupture

tension by traction to around 30% in the composite with 10% of RHP, also

improvements on the thermal resistance of the material, between 2% with 10% RHP

and 14% with 20% of RHP in comparison with virgin PP, allowing several uses for

this new composite.

 

Key words: Composites; polypropylene; rice hulls.

Page 9: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Classificação de materiais compósitos......................................................18

Figura 2 - Principais vantagens e desvantagens do tipo de fase dispersa................21

Figura 3 - Força de Van der Waals............................................................................25

Figura 4 - Exemplificação da funcionalidade de uma matriz......................................26

Figura 5 - Polimerização do propeno em presença do catalisador............................27

Figura 6 - Peneiras Tyler em Mesa Vibratória...........................................................29

Figura 7 - Esquema de uma Injetora.........................................................................31

Figura 8 - Fluxograma do processo...........................................................................33

Figura 9 - Casca com impurezas (E) e casca seleciona (D)......................................33

Figura 10 – Torno mecânico com o cilindro acoplado...............................................34

Figura 11 – Cilindro parcialmente preenchido com casca de arroz...........................35

Figura 12 – Casca após moagem..............................................................................35

Figura 13 – Mesa vibratória com série de peneiras Tyler..........................................36

Figura 14 – Farinha da Casca de Arroz.....................................................................37

Figura 15 – Prensa e balança....................................................................................38

Figura 16 – Chapas com 30% de FCA onde não houve mistura...............................39

Figura 17 – Chapas com 10% (D) e 20% (E) de FCA...............................................39

Figura 18 – Moinho de Lâminas................................................................................40

Figura 19 – Injetora Himaco.......................................................................................41

Figura 20 – Molde para corpos de prova...................................................................41

Figura 21 - (a) PP com 10% FCA; (b) PP com 20% FCA; (c) PP Virgem..................42

Figura 22 – MEV da FCA. (a) 50µm; (b) 100µm........................................................44

Page 10: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

Figura 23 - Microscopia eletrônica de varredura em corpos de prova rompidos nos

testes de impacto. (a) PP puro; (b) PP + 10% FCA; (c) PP + 20% FCA..................45

Figura 24 – Curvas termogravimétricas do PP Virgem..............................................46

Figura 25 – Curvas termogravimétricas do PP com 10% FCA..................................47

Figura 26 – Curvas Termogravimétricas do PP com 20% FCA.................................48

Figura 27 – Equipamento executando compressão da amostra................................49

Figura 28 – Gráfico Tensão x Deformação Médio do PP com 10% FCA..................50

Figura 29 – Gráfico Tensão x Deformação Médio do PP com 20% FCA..................51

Figura 30 - Comparativo dos Ensaios de Compressão.............................................52

Figura 31 – Ensaio de tração em andamento............................................................53

Figura 32 – Gráfico Força x Deformação – PP Virgem..............................................53

Figura 33 – Gráfico Força x Deformação – PP 10%..................................................54

Figura 34 – Força x Deformação – PP 20%..............................................................54

Figura 35 - Equipamento para análise de impacto IZOD PANTEC...........................56

Page 11: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Exemplos de Cargas Utilizadas em Termoplásticos.................................20

Tabela 2 - Propriedades gerais de cargas orgânicas comuns...................................22

Tabela 3 - Composição Típica da Casca de Arroz....................................................23

Tabela 4 - Composição Química da Cinza Mineral....................................................23

Tabela 5 - Composição Química de Diferentes Fibras Orgânicas.............................24

Tabela 6 - Principais aplicações do PP.....................................................................28

Tabela 7 - Escalas Granulométricas..........................................................................30

Tabela 8 - Controle de Perda de Carga.....................................................................38

Tabela 9 - Resultados do teste de Tração.................................................................55

Tabela 10 - Resultados do teste de Impacto ISOD....................................................56

Page 12: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS

ASTM – American Society for Testing and Materials

Aw – Área por unidade de massa

d – Diâmetro

DP – Desvio Padrão

Dp – Diâmetro de Partícula

E – Energia lida na escala do aparelho IZOD

FCA – Farinha da Casca de Arroz

I – Resistência ao impacto IZOD

IRGA – Instituto Rio Grandense de Arroz

IRRI – International Rice Research Institute

l – comprimento

m – massa

MEV – Microscopia Eletrônica de Varredura

N – Diâmetro médio da partícula

ρp – massa específica da partícula

PP – Polipropileno

Φp – Esfericidade

t – Espessura do corpo de prova

TGA – Termogravimetria

Tm – temperatura de fusão cristalina

V – Volume

νp – Volume de partícula

Page 13: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..........................................................................................................14

1 OBJETIVOS..........................................................................................................161.1 OBJETIVO GERAL..............................................................................................161.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS...............................................................................16

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA............................................................................172.1 COMPÓSITOS POLIMÉRICOS..........................................................................172.1.1 Compósitos Particulados...............................................................................192.1.2 Cargas – “Fillers’.............................................................................................202.1.3 Interação Interfacial........................................................................................242.2 MATRIZES..........................................................................................................262.2.1 Matrizes Poliméricas.......................................................................................262.2.2 Polipropileno...................................................................................................272.3 ANÁLISE GRANULOMÉTRICA..........................................................................282.3.1 Peneiras Séries Tyler......................................................................................292.4 PROCESSO DE INJEÇÃO..................................................................................30

3 MATERIAIS E MÉTODOS....................................................................................323.1 MATERIAIS..........................................................................................................323.1.1 Polímero...........................................................................................................323.1.2 Casca de Arroz................................................................................................323.2 MÉTODOS..........................................................................................................323.2.1 Seleção da Casca de Arroz............................................................................333.2.2 Moagem da Casca...........................................................................................333.2.3 Peneiramento..................................................................................................363.2.4 Mistura.............................................................................................................373.2.5 Moagem das Chapas......................................................................................403.2.6 Injeção dos Corpos de Prova.........................................................................40

4 ANÁLISES E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS..................................................434.1 MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA (MEV)...................................434.2 TERMOGRAVIMETRIA – TGA............................................................................464.3 COMPRESSÃO...................................................................................................494.4 TRAÇÃO..............................................................................................................52 4.5 IMPACTO – IZOD...............................................................................................55

CONCLUSÃO............................................................................................................58

REFERÊNCIAS.........................................................................................................59

Page 14: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

14

INTRODUÇÃO

O consumo do arroz pela população mundial é um hábito inquestionável e

dificilmente sofrerá substituição. Em análise apresentada pelo Instituto Internacional

de Pesquisa em Arroz (International Rice Research Institute - IRRI, 1994), sobre

projeção de oferta e consumo do arroz para o ano de 2025, ficou demonstrada a

necessidade de um acréscimo de 200 milhões de toneladas aos 550 milhões

atualmente produzidos para atender ao consumo mundial. Segundo o IRRI, tal

produção só será parcialmente obtida pelos países asiáticos, maiores consumidores,

tendo em vista as dificuldades de disponibilidade de terra, água e pela redução do

crescimento da produtividade. Do exposto, fica evidente a necessidade da expansão

de área para a produção do cereal e a região tropical do Brasil, tanto no ecossistema

de terras altas quanto no de várzeas irrigadas, se apresenta como uma das

principais alternativas para fazer frente ao desafio de suprir as necessidades

mundiais (SOUZA, 2007).

Segundo o IRGA – Instituto Rio Grandense do Arroz – somente no estado do

Rio Grande do Sul, principalmente nas regiões centro-oeste e litoral, são produzidas

cerca de 9 milhões de toneladas de arroz por ano (safra 2010/2011).

Na indústria do arroz tem-se, como subproduto mais volumoso, as cascas, as

quais podem ser aproveitadas de diversas maneiras. Sabendo que as cascas

representam mais de 20% do valor produzido, a produção anual desse rejeito no Rio

Grande do Sul é da ordem de 1,8 milhões de toneladas. Há alguns anos, quase todo

esse material ia parar nas lavouras e fundo de rios (IRGA, 2011 e PAULESKI, 2005).

Compósitos poliméricos, que representam cerca de 90% de todos os

compósitos, são feitos com diversos tipos de cargas, inclusive orgânicas, que são

aproveitadas de forma adequada agregando valor ao produto final. Os principais

reforços utilizados são os fibrosos (geralmente de fibra de vidro ou fibras de

Page 15: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

15

carbono), que são revestidos ou cercados por uma resina plástica e geralmente

conferem excelentes propriedades ao material polimérico. O material é misturado em

um molde e solidificado, seja por métodos de moldagem de termoplásticos ou

termofixos (STRONG, 1996).

A grande versatilidade de aplicações, facilidade de obtenção de matéria-prima

e simplicidade no processamento fazem com que os compósitos tenham grande

vantagem, quando comparados a outras classes de materiais, sendo utilizados em

diversos setores, principalmente visando à redução de custos. (MANRICH, 2005).

A tecnologia de produção dos compósitos termoplásticos reforçados com as

fibras lignocelulósicas, caso da casca de arroz, utiliza atualmente como matérias-

primas principais, em função de sua maior disponibilidade e adequação aos

sistemas de produção que requerem a fusão do material, os plásticos polietileno

(PE) de baixa e alta densidade e o polipropileno (PP) em mistura com farinhas e

fibras de madeira e agentes compatibilizadores (ENGLISH, 1996).

A utilização de casca de arroz e plástico surge como uma forma de solucionar

o problema do acúmulo de resíduos e uma alternativa para o desmatamento com o

uso de materiais plásticos com aparência amadeirada. Podendo substituir a própria

madeira, além de eliminar sua propriedade de agente impactante e poluente,

transforma um produto que antes era resíduo em matéria-prima para a indústria

(PAULESKI, 2005).

Com a crescente demanda no uso de materiais poliméricos, torna-se cada

vez mais importante a busca de novos materiais de menor impacto ambiental. Assim

este trabalho visa à redução do consumo de matéria-prima não renovável (petróleo)

utilizada na produção de polipropileno, com o uso parcial da farinha da casca de

arroz, que é uma matéria prima abundante, além de colaborar na conservação do

meio ambiente com a utilização de um resíduo da agricultura.

Page 16: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

16

1 OBJETIVOS

Este trabalho tem por objetivo mostrar uma possível utilização para a casca de

arroz, um material considerado como resíduo, em conjunto com PP, diminuindo o

impacto ambiental causado pelo descarte da casca de arroz e manter as

propriedades comerciais do PP.

1.1 OBJETIVO GERAL

O objetivo geral deste trabalho será a produção de compósitos de polipropileno

com farinha de casca de arroz.

1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Confeccionar corpos de prova, a partir do processo de injeção, com

diferentes proporções mássicas (10, 20% e 30%) de farinha de casca de

arroz com PP;

Realizar ensaios mecânicos – tração, compressão e impacto -, microscopia e

ensaio térmico – TGA – no material desenvolvido;

Comparar as propriedades mecânicas e térmicas do compósito desenvolvido

com o PP puro;

Page 17: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

17

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Para o aprofundamento do assunto neste trabalho devem-se levar em

consideração alguns conceitos teóricos básicos para o entendimento satisfatório do

conteúdo abordado.

2.1 COMPÓSITOS POLIMÉRICOS

Compósitos poliméricos são uma classe de materiais não tem uma definição

universalmente aceita. A palavra compósito deriva de composto, ou seja, qualquer

coisa formada por partes ou constituintes diferentes. Em escala microestrutural,

alguns materiais podem ser considerados compósitos, uma vez que são formados

por agrupamentos atômicos diferentes, e, na escala macroestrutural, na qual os

constituintes são diferentes e podem ser identificados sem o auxílio de instrumentos,

também são considerados materiais compósitos. Portanto, a dificuldade em

estabelecer uma definição reside nas limitações dimensionais impostas aos insumos

constituintes. Para dar uma descrição razoável para compósito, ele pode ser

classificado como um material formado por uma mistura ou combinação de dois ou

mais micro ou macro-constituintes que diferem na forma e na composição química,

os quais na sua essência são insolúveis uns nos outros (DALCIN, 2010 apud

OSKMAN, et. al, 1998).

Os compósitos podem ser divididos de acordo com o tipo de carga que é

adicionada à matriz, neste caso polimérica, conforme exemplifica a Figura 1. Neste

trabalho será dada ênfase aos compósitos com carga particulada, caso da casca de

arroz.

Page 18: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

18

Figura 1 - Classificação de materiais compósitos. Fonte:Faria, Abrão, 2006.

Compósitos poliméricos são definidos como compostos em que pelo menos a

matriz é de natureza polimérica. Em contraste com o uso de engenharia da palavra,

o termo "compósito polimérico" é ocasionalmente usado para abranger não só

misturas heterogêneas de uma matriz resinosa e outro material (partículas, fibras,

outros plásticos, elastômeros, etc), mas também materiais homogêneos

(monofásicos) de duas resinas (mistura homogênea de polímeros). Compósitos de

polímeros, tais são, por sua vez um subgrupo de "sistemas multicomponentes de

polímeros". (SHACKELFORD, 2008).

A principal vantagem dos compósitos de matriz polimérica é que a injeção de

produtos envolve altas pressões e baixas temperaturas, evitando problemas

associados à degradação do reforço. Por este motivo o seu desenvolvimento

cresceu rapidamente. Os plásticos reforçados com fibras de vidro são os mais

utilizados em termos de volume, devido as excelentes propriedades que podem ser

adquiridas. As propriedades dos compósitos de matriz polimérica podem variar em

uma grande faixa, dependendo do tipo de matrizes e reforços utilizados e das

combinações dos mesmos. As suas principais desvantagens são as

impossibilidades de trabalho sob altas temperaturas, instabilidade dimensional

(devido a altos coeficientes de expansão térmica), sensibilidade à radiação e, em

alguns casos, absorve a úmidade do ambiente (DALCIN, 2010 apud OSKMAN, et.

al, 1998).

Page 19: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

19

2.1.1 Compósitos Particulados

Segundo Camargo (2006), as cargas podem ser definidas como materiais

sólidos, não solúveis, que são adicionados aos polímeros em quantidades

suficientes para diminuir custos e /ou alterar suas propriedades. De acordo com as

características dimensionais, os materiais de reforço para compósitos

termoplásticos, podem ser classificados em cargas particuladas e fibrosas que

podem ser tanto orgânicas como inorgânicas.

A distinção entre carga particular e fibrosa é dada pela Equação 1:

(Eq. 1)

Onde M é a relação entre os tipos de carga, l representa o comprimento e d o

diâmetro da fibra. Seguindo a razão:

material particulado

material fibroso

A dispersão de partículas em polímeros tende a aumentar o módulo, porém a

tenacidade e a resistência à tensão nem sempre aumentam, pois dependem da

ductilidade da matriz e do grau de adesão entre as fases. Este aumento do módulo

depende, principalmente:

Da concentração da carga;

Do módulo da carga;

Da forma da partícula.

O aumento do módulo se dá devido às partículas restringirem a mobilidade e

a deformabilidade da matriz através de uma ação mecânica, cujo grau depende do

espaço interfacial e das propriedades da matriz e da partícula (KATZ, MILEWSKI,

1987).

O tamanho médio das partículas e a sua distribuição de tamanho de

partículas influenciam tanto nas propriedades mecânicas como reológicas do

compósito. O excesso de partículas grosseiras ou partículas extremamente finas

pode prejudicar as propriedades reológicas, ocasionando problemas tanto de

dispersão da carga como de processabilidade dos materiais carregados. As

Page 20: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

20

principais características de algumas cargas empregadas em termoplásticos são

apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1 - Exemplos de Cargas Utilizadas em Termoplásticos.

Fonte: Camargo, 2006.

2.1.2 Cargas – “Fillers’

As cargas, também chamadas de “fillers”, são materiais adicionados aos

polímeros durante seu processamento a fim de alterar, de forma controlada,

algumas de suas propriedades ou visando a diminuição de custo. São materiais

sólidos e insolúveis, capazes de produzir um material heterogêneo com fases

sólidas distintas, o que é a definição de compósito (LIMA; KAHN; GOUVEA, 2007).

Page 21: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

21

Existem diversos tipos de carga, que são divididas de acordo com a sua

finalidade. Na Figura 2 são exemplificadas as duas principais, as quais podem

possuir uma ou várias destas características:

Cargas de Enchimento: Tem por finalidade a redução de custos.

Cargas de Reforço: Alteram as propriedades mecânicas do produto.

Cargas Funcionais: Alteram propriedades específicas do produto. Ex.:

Condutividade térmica.

Além desta classificação, é possível classificar as cargas através de sua

natureza ou origem, sendo divididas em inorgânicas (minerais), orgânicas e

metálicas (PAOLI, 2011).

Figura 2 - Principais vantagens e desvantagens do tipo de fase dispersa.

Fonte: Faria, Abrão, 2006.

2.1.2.1 Cargas Orgânicas

As fibras orgânicas vêm sendo cada vez mais usadas devido a diversas

características, e dentre elas estão:

São produzidas por fontes biodegradáveis;

São biodegradáveis;

Page 22: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

22

Melhor capacidade de isolação térmica e sonora;

Geralmente mais leves que cargas minerais e metálicas;

Fator ambiental com o uso de subprodutos / resíduos.

A grande desvantagem é a dificuldade na reciclagem por métodos

mecânicos, podendo ser somente reciclados por métodos térmicos (PAOLI, 2011).

È complicado relacionar um padrão de propriedades químicas e físicas deste

tipo de carga, pois cada produtor faz uso de sua própria especificação de materiais e

métodos utilizados durante a produção (KATZ, MILEWSKI, 1987).

No entanto, as especificações mais importantes podem ser generalizadas

como mostra a Tabela 2.

Tabela 2 - Propriedades gerais de cargas orgânicas comuns.

Farinha de

Madeira

Algodão Celulose Sisal

Teor de Cinzas 0,3% 0,5-1,5% 0,15% 0,3% max.

Sol. Em Acetona 8,5% Max 2,0-3,0% - -

Absorção de

Óleo cc/ 10

gramas

15-30 20-30 - -

Extrato de Éter 5,0% Max 2,0% max 0,24% 0,5-1,5%

% Insolúveis 0,0 1,5-2,5 0,0 0,0

Cor Creme claro ou

escuro

Branco Gelo Castanho Claro

Aparência Fibra Fibra/Macerado Fibra Fibra

Umidade 5,0-8,0% 5,0-8,0% 5,0-8,0% 12,0% max

Densidade ml / 50

gramas

160 – 240 180-300 135-400 140-330

Tamanho de

Partícula

5-140 mesh 10-200 mesh 10-200 mesh Corte aleatório:

10-100 mesh

Fonte: Katz, Milewski, 1987.

2.1.2.2 Casca de Arroz

Um interesse especial vem crescendo em relação aos compósitos de matrizes

termoplásticas contendo materiais lignocelulósicos como carga, tais como, farinha

Page 23: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

23

de madeira, trigo, casca de amêndoa e casca de arroz (Farinha e Cinza). Essas

cargas introduzem algumas vantagens quando comparadas a cargas inorgânicas

tradicionais incluindo, sua natureza renovável, a baixa densidade, resistência

mecânica e rigidez (FERRAN, 2006).

As fibras naturais podem ser usadas como preenchimento orgânico na forma

de pó ou fibra. Nos últimos anos, a utilização de fibra e pó de fibra derivados da

agricultura, tais como banana, sisal e abacaxi, tem se tornado um assunto de grande

interesse na preparação de compostos poliméricos. O uso de casca de arroz como

carga em determinados polímeros resulta em compósito com melhores propriedades

mecânicas, resistência térmica, maior resistência à umidade e menor custo

(PAULESKI, 2005).

A casca de arroz possui uma estrutura granular, é insolúvel em água, possui

alto nível de estabilidade química e alta resistência mecânica, e sua composição

típica é dada conforme as Tabelas 3 e 4.

Tabela 3 - Composição Típica da Casca de Arroz.Composição Percentagem

Celulose

Hemicelulose

Lignina

Extratos

Água

Cinzas Minerais

32,24

21,34

21,44

1,82

8,11

15,05

Fonte: Chuah, 2004.

Tabela 4 - Composição Química da Cinza Mineral.Composição Percentagem

SiO2

K2O

MgO

Fe2O3

Al2O3

Cão

K2O

96,34

2,31

0,45

0,2

0,41

0,41

0,08

Fonte: Chuah, 2004.

Page 24: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

24

A principal diferença entre a casca de arroz e outras cargas particuladas, é o

índice de sílica apresentado, que confere as propriedades únicas a esta, além da

boa concentração de lignina (PAULESKI, 2005). Conforme exemplifica a Tabela 5.

Tabela 5 - Composição Química de Diferentes Fibras Orgânicas.

Fonte: Ferran, 2006.

2.1.3 Interação Interfacial

Diversos fatores influenciam na interação entre a matriz e a carga, durante o

processo de mistura, devido às forças de adesão entre as partículas e a tensão

interfacial entre partícula e polímero, a carga tende a formar agregados. A presença

destes agregados é mais relevante quando a granulação das partículas é inferior a

20 µm de diâmetro, nesta situação as forças atrativas podem vir a ser mais

importantes que seu próprio peso (LIMA; KAHN; GOUVEA, 2007).

Outro fator de vital importância é o molhamento da carga que estará dispersa

no polímero, ou seja, toda a carga particulada deve estar em pleno contato com a

matriz polimérica para que haja um molhamento adequado (FELLICETI, 2004).

2.1.3.1 Adesão

A adesão pode ser definida como a força necessária para desprender uma

partícula que está aderida a uma superfície. Apesar de ser um fenômeno de suma

importância, ainda esta longe de ser compreendido completamente devido a sua

complexidade, dentro deste enfoque são propostos diversos modelos para definir

este fenômeno (SHACKELFORD, 2008).

Page 25: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

25

Dentre os diversos modelos que tentam descrever os diferentes processos de

adesão, podem-se citar, principalmente, a Interdifusão (Forças de Van der Waals),

que é dada pelo entrelaçamento molecular, a difusão eletrostática, dada pela força

de atração entre cargas. Também a ligação química, dada pela reação química

direta, a sinterização reativa, reação química que ocorre na interface, e a adesão

mecânica, que envolve o ancoramento mecânico na interface através da porosidade

e da rugosidade superficial (LIMA; KAHN; GOUVEA, 2007).

As forças de Van der Waals são as mais importantes forças de atração, elas

surgem porque o movimento aleatório de elétrons produz áreas transitórias de

cargas, produzindo forças atrativas, conforme é apresentado pela Figura 3

(FELLICETTI, 2004).

Figura 3 - Força de Van der Waals. Fonte: Felliceti, 2004.

2.1.3.2 Molhamento

O molhamento refere-se à capacidade da matriz de impregnar, neste caso,

por exemplo, a carga. Um molhamento adequado é necessário para haver uma boa

interação entre as fases, influenciando, principalmente, nas propriedades

mecânicas.

Este também é responsável pela homogeneização da carga na matriz, quanto

melhor for o espalhamento dessa carga através da matriz melhor serão as suas

propriedades, concentrações elevadas da carga em pontos específicos da matriz

ocasionam um enfraquecimento nos demais pontos (LIMA; KAHN; GOUVEA, 2007).

Page 26: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

26

2.2 MATRIZES

A principal função das matrizes, apresentada na Figura 4 é a de transferir as

solicitações mecânicas às respectivas cargas, além de proteger as mesmas do

ambiente externo envolvendo o constituinte. Existem vários tipos de matrizes, sendo,

atualmente, o tipo mais utilizado as matrizes poliméricas, por ser um material mais

fácil de ser processado (SHACKELFORD, 2008).

Figura 4 - Exemplificação da funcionalidade de uma matriz. Fonte: Lima; Kahn; Gouvea, 2007.

2.2.1 Matrizes Poliméricas

Etimologicamente, a palavra polímero significa “muitas partes”, sendo assim

um material polimérico pode ser considerado como constituído por muitas partes, ou

unidades, ligadas quimicamente entre si de modo a formar um sólido. Depende do

modo que esta ligação química e estrutura são dadas, os plásticos podem ser

divididos em duas classes: termorrígidos e termoplásticos.

Os polímeros termoplásticos amolecem com a adição de calor ao sistema, se

liquefazendo e endurecendo quando são resfriados, sendo este um processo

reversível que pode ser repetido diversas vezes, sendo esta classe relativamente

maleável e dúctil. Os termorrígidos, quando submetidos ao calor se tornam

permanentemente duros e não amolecem com um aquecimento subsequente,

sendo, geralmente, mais duros, resistentes e frágeis quando comparados aos

termoplásticos, além de possuírem uma melhor estabilidade dimensional (LIMA,

2007).

Page 27: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

27

2.2.2 Polipropileno

O Polipropileno (PP) é considerado um dos mais versáteis termoplásticos,

tanto tecnicamente quanto economicamente. Dada as suas boas propriedades,

como sua baixa densidade, a produção de PP tem sofrido um gradativo aumento,

tanto nas formas de utilização usual como na busca por novas aplicações. A sua alta

temperatura de fusão (Tm), por exemplo, permite que o polímero possa ser

esterilizado, substituindo diversos materiais hospitalares.

O PP é obtido através da polimerização do propeno, como mostra a Figura 5,

em presença de um catalisador do tipo Ziegler-Natta. Com a sua conformação nasce

uma de suas principais desvantagens, que é a suscetibilidade dos átomos de

carbono terciário à degradação termooxidativa (ROSA, 2007).

Figura 5 - Polimerização do propeno em presença do catalisador. Fonte: Rosa, 2007.

Sua alta cristalinidade confere elevada resistência mecânica, rigidez e dureza,

que, se mantém mesmo a temperaturas relativamente elevadas. Devido a sua

apolaridade, possui baixa resistência ao impacto e a ruptura (AMARAL, 2009).

Com essas características, a gama de aplicações do PP torna-se muito

grande, conforme exemplifica a Tabela 6.

Page 28: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

28

Tabela 6 – Principais aplicações do PP.

Fonte: Amaral, 2009.

2.3 ANÁLISE GRANULOMÉTRICA

A análise granulométrica consiste na determinação das dimensões das

partículas que constituem a amostra e no tratamento estatístico dessa informação. A

caracterização mais comum compreende a determinação do diâmetro médio, área

superficial e volume superficial da massa de partícula. Considerando-se uma

partícula homogênea em termos dimensionais, o que não é uma realidade na grande

maioria dos casos, as Equações 2, 3 e 4 podem ser válidas:

(Eq. 2)

(Eq. 3)

(Eq. 4)

Sendo N o diâmetro médio de partícula, m a massa utilizada, é a massa

específica da partícula, é o volume da partícula, a área por unidade de

massa, a esfericidade, o diâmetro da partícula e V o volume total.

Page 29: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

29

Essas equações são aplicáveis somente para tamanhos de partículas

homogêneos ou, pelo menos, com tamanhos aproximados para se obter os

parâmetros desejados (DIAS, 2004).

2.3.1 Peneiras Séries Tyler

Entende-se por peneiramento, a separação de um material em duas ou mais

classes, estando estas limitadas a uma superior e uma inferior.

O método mais comum de seleção granulométrica por peneiramento são as

peneiras Série Tyler, que consistem em uma série de peneiras com uma sequência

de telas de diferentes aberturas. O material é colocado na primeira peneira, de maior

abertura, e manualmente ou acoplado a uma mesa vibratória (Figura 6) é agitado e

atravessa as peneiras de acordo com a granulometria da mesma, ficando retidas as

amostras mais grosseiras.

Figura 6 - Peneiras Tyler em Mesa Vibratória. Fonte: Haver & Boecker, 2011.

As aberturas das peneiras mantém entre si uma relação constante, que

determina o tamanho das partículas. Na escala Tyler a unidade é o mesh, que

representa o número de aberturas, de uma mesma dimensão, contidos num

comprimento de 25,4mm, sendo que 18 mesh correspondem a 1mm de abertura. A

razão de uma peneira Tyler para outra é sempre de 1,414. Existem diversas escalas

Page 30: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

30

granulométricas, conforme mostra a Tabela 7, sendo a mais conhecida para este fim

a Tyler (CARRISO, 2004).

Tabela 7 – Escalas Granulométricas.

Fonte: Carriso, 2004.

2.4 PROCESSO DE INJEÇÃO

O processo de moldagem por injeção consiste em amolecer o material em um

cilindro pré-aquecido e sua consequente injeção em alta pressão para o interior de

um molde relativamente frio, para que haja o resfriamento e então a expulsão da

Page 31: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

31

peça formada através de pinos ejetores, ar comprimido, prato de arranque ou algum

outro equipamento auxiliar.

Este é sempre um processo cíclico, composto de: Dosagem do material,

fusão do material até o ponto de amolecimento, injeção no molde fechado,

resfriamento e extração da peça moldada (JUNIOR, 2008).

A Figura 7 mostra o esquema genérico de uma injetora.

Figura 7 - Esquema de uma Injetora. Fonte: Shackelford, 2008.

A moldagem por injeção é uma das formas de processamentos

predominantes no mercado, acompanhada pela extrusão - que envolve um processo

muito semelhante – na moldagem de termoplásticos. Ambos os processos são

semelhantes ao processo metalúrgico, porém executados em temperaturas mais

baixas (SHACKELFORD, 2008).

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32

3 MATERIAIS E MÉTODOS

Os materiais e métodos, assim como os equipamentos desenvolvidos e/ou

utilizados para o desenvolvimento deste trabalho estão descritos neste capítulo.

3.1 MATERIAIS

Neste seção são apresentados os materiais utilizados para o desenvolvimento

deste trabalho.

3.1.1 Polímero

O polímero empregado para obtenção de corpos de prova foi o polipropileno

homopolímero (H 306) próprio para uso em processos de injeção e extrusão de

fibras. O material foi fornecido pela Braskem S/A por intermédio do Laboratório de

Engenharia de Plásticos da Ulbra. Este PP possui densidade de 0,905 g/cm³ e

índice de fluidez (230ºC/2,16 kg) de 15 g/10 min. Apresentando excelente

processabilidade, boa estabilidade do fundido e boa aplicação onde se deseja obter

rigidez e impacto.

3.1.2 Casca de Arroz

A casca de arroz, proveniente do Interior do Rio Grande do Sul, foram

utilizadas na forma moída, com um diâmetro médio de partícula de 0,147mm e uma

densidade específica de 130 kg/m3.

3.2 MÉTODOS

O fluxograma de todo processo é apresentado na Figura 8.

Page 33: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

33

Figura 8 - Fluxograma do processo.

3.2.1 Seleção da Casca de Arroz

As cascas de arroz foram recebidas na forma in natura, em sacas de

aproximadamente 8 kg, contendo algumas impurezas indesejáveis como folhas,

galhos, entre outros. Para a seleção foi usada uma peneira de malha Tyler 8

(2,362mm) para remoção destas impurezas mais grosseiras e uma segunda peneira

de malha Tyler 10 para refinar, evitando assim contaminantes.

As cascas selecionadas eram colocadas em novas sacas, conforme mostra a

Figura 9.

Figura 9 - Casca com impurezas (E) e casca seleciona (D).

3.2.2 Moagem da Casca

Devido à composição da casca de arroz, que fornece uma alta rigidez, o

processo de moagem torna-se mais complicado, sendo necessário um processo

Page 34: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

34

mais aprimorado para este fim. Segundo Pauleski (2005), o processo de moagem

utilizado que apresenta melhor rendimento é através do uso de um moinho de bolas.

Para este fim, foi desenvolvido um moinho de bolas constituído de um cilindro,

com 0,8 metros de comprimento e diâmetro de 0,37 metros, com o objetivo de ser

acoplado em um Torno Rocco, conforme Figura 10, onde pode haver uma moagem

em bateladas com velocidade de rotação controlada.

Figura 10 – Torno mecânico com o cilindro acoplado.

A casca de arroz foi colocada sempre em uma quantidade que representa

50% do preenchimento total do cilindro, junto com esta casca foram colocadas 14

esferas de aço, de diâmetros variados, para efetuar a moagem, como mostra a

Figura 11. A velocidade era mantida a 90 rotações por minuto, está velocidade foi

definida de acordo com outros estudos semelhantes, conforme mostra Pauleski

(2005). O tempo de cada batelada, determinado a partir de diversos ensaios para

garantir uma maior eficiência, foi de aproximadamente 06 horas, para garantir uma

maior quantidade da fração de interesse (granulo com diâmetro médio de 0,15mm).

Page 35: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

35

Figura 11 – Cilindro parcialmente preenchido com casca de arroz.

Após o tempo programado, todo material moído era retirado e separado em

um novo recipiente, conforme Figura 12, para ser levado ao peneiramento para

seleção da granulometria adequada.

Figura 12 – Casca após moagem.

Page 36: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

36

3.2.3 Peneiramento

A farinha da casca de arroz (FCA) obtida na moagem foi levada para

peneiramento em uma série de peneiras Tyler. A FCA foi colocada em bateladas de

aproximadamente 500g, onde a fração de interesse foi a granulometria inferior ao

Tyler 100 (diâmetro médio de partícula entre 0,147 e 0,107 mm) ou seja, o que

passava pela peneira de Tyler 100 e ficava retido na peneira de Tyler 150. Cada

batelada ficava 10 minutos na mesa vibratória, que pode ser vista na Figura 13, e a

massa retida variou 10 a 15% da massa inicial.

Figura 13 – Mesa vibratória com série de peneiras Tyler.

Depois de separada a fração de interesse, a massa retida fora da

especificação foi levada novamente ao moinho para refino e depois de nova

moagem peneirado novamente, até se alcançar uma massa adequada de FCA.

A granulometria de interesse se apresenta numa forma de pó fino, conforme

mostra a Figura 14.

Page 37: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

37

Figura 14 – Farinha da Casca de Arroz.

3.2.4 Mistura

Para a injeção dos corpos de prova é necessária uma mistura prévia do

material com a FCA, pois, devido a sua composição ser basicamente de sílica, a

casca de arroz torna-se um material muito abrasivo, podendo causar danos ao

equipamento.

Esta mistura foi realizada utilizando-se uma prensa com platôs aquecidos,

que foi produzida no Laboratório de Plásticos da Universidade Luterana do Brasil,

figura 15, para efetuar a fluidização do PP e a consequente incorporação da FCA a

sua estrutura. Conforme Camargo (2006), foi utilizada a temperatura aproximada de

180ºC para este primeiro processo. As chapas foram produzidas uma a uma, nas

proporções aproximadas de 10, 20 e 30%, que serão chamadas assim por maior

conveniência, de casca de arroz em massa, proporções definidas segundo Rosa

(2007), porém sem a utilização da proporção com 40% de casca, a massa de PP foi

mantida em 80+/-0,3g, logo as massas de FCA utilizadas foram 8, 16 e 24+/-0,3g,

para pesagem foi utilizada uma balança de bancada Marte AS500C para até 500g

com precisão de até 04 casas decimais.

Page 38: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

38

Figura 15 – Prensa e balança.

Foi feito um controle da perda de massa em cada chapa, pois o molde

apresentou pequenas incrustações FCA após a chapa pronta, conforme Tabela 8,

sendo aceitável uma variação mássica máxima de 0,5% da massa total inicial, valor

definido para manter as frações mais as mais próximas possíveis.

Cada chapa permanecia na prensa um tempo médio de 40 a 60 minutos, até

que ficasse evidente a fluidização do PP através das frestas do molde. Assim que

alcançado o ponto adequado, o molde era retirado e levado imediatamente a

imersão em água.

Tabela 8 – Controle de Perda de Massa.Fração

Aproximada 10% 20% 30%

Chapa Início Final Início Final Início Final1 88,1g 88g 96g 95,8g 104g 94g2 88,3g 88,3g 95,8g 95,7g 104,2g 92g3 88,1g 87,9g 96g 95,8g 104g 100g4 88,1g 88,1g 96g 95,6g 103,9g 90,2g5 88,2g 88,1g 96,1g 95,9g 104g 88,1g6 88,4g 88,2g 96,2g 96g 103,9g 94g7 88,1g 88,1g 95,9g 95,8g 104,1g 95,5g8 88g 87,8g 95,9g 95,6g 104g 93,2g9 87,9g 87,8g 96g 95,6g 103,8g 95,8g10 88,4g 88,3g 96,1g 95,9g 104,1g 91,7g

Através da Tabela 8, pode-se notar que o material com 30% de PP

apresentou uma taxa de perda de massa muito alta, saindo do padrão máximo

estabelecido (0,5% de perda), além da perda de carga o material não apresentou

Page 39: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

39

ainda uma mistura adequada com o PP, ficando grande parte da massa de FCA na

superfície (Figura 16), o que na moagem subsequente geraria uma perda de carga

ainda maior, por estes motivos torna-se inviável a produção do material com está

quantidade de FCA, sendo levadas em consideração apenas as frações de 10 e

20% de FCA.

Figura 16 – Chapas com 30% de FCA onde não houve mistura.

As chapas com cargas mais baixas apresentaram um bom grau de mistura e,

quando o material é quebrado, uma desagregação da FCA quase nula,

apresentando um aspecto mais homogêneo, como mostra a Figura 17, parâmetros

ideais para a moagem.

Figura 17 – Chapas com 10% (D) e 20% (E) de FCA.

Page 40: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

40

3.2.5 Moagem das Chapas

As chapas foram levadas a um moinho de lâminas da marca SEIBT, Figura

18, para serem fracionados e possibilitar o uso na injeção. Nesta etapa foi dado um

cuidado especial à perda de carga, sendo feito um controle da perda de material no

moinho, por frestas ou retido no filtro, além do controle da possível desagregação da

FCA.

Figura 18 – Moinho de Lâminas.

Durante o procedimento não ficou evidenciado perda por desagregação e a

perda de material, na massa total das chapas, foi inferior a 40g no compósito com

10% de FCA e inferior a 60g no compósito com 20% de FCA, valores aceitáveis,

dado a massa que fica retida na grelha e no compartimento das lâminas do

equipamento.

3.2.6 Injeção dos Corpos de Prova

Com os materiais misturados e fracionados foi iniciado o processo de injeção,

em uma Injetora Himaco LH 150-80, Figura 19, utilizando os seguintes parâmetros

de injeção:

Temperatura de Injeção nas zonas 3 / 2 / 1: 190 / 180 / 170 ºC

Page 41: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

41

Tempo de Injeção: 3,8s

Pressão de Injeção: 100 Bar (10 MPa)

Tempo de Resfriamento: 20s

Figura 19 – Injetora Himaco.

Foi utilizada uma matriz para produção de corpos de prova, seguindo as

dimensões estabelecidas pela norma ASTM 3039 – largura de 14mm e espessura

de 3,5mm – conforme Figura 20.

Figura 20 – Molde para corpos de prova.

Page 42: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

42

Os corpos de prova, PP virgem, 10%FCA e 20%FCA, injetados apresentaram

excelente aspecto e cor amadeirada, com um aparente grau de homogeneização

elevado, Figura 21, e foram separados para serem levados às análises.

Figura 21 - (a) PP com 10% FCA; (b) PP com 20% FCA; (c) PP Virgem.

Page 43: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

43

4 ANÁLISES E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Para caracterização das propriedades do compósito de PP com FCA, foram

selecionados as análises de tração, compressão, impacto IZOD, termogravimetria e

microscopia eletrônica de varredura, pois estes testes fornecem as principais

características do compósito produzido.

4.1 MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA (MEV)

Foi realizado ensaio laboratorial de Microscopia Eletrônica de Varredura

(MEV) utilizando-se corpos de prova de polipropileno com FCA, rompidos através de

impacto exercido em ponto único. O objetivo foi avaliar se na região da interface

rompida realmente houve uma boa homogeneização da FCA com o polímero e se

houve uma boa adesão da FCA ao PP.

A superfície de uma amostra a ser examinada foi varrida com um feixe de

elétrons, e o feixe de elétrons refletido foi coletado e então mostrado à mesma taxa

de varredura sobre um tubo de raios catódicos. A imagem na tela representa as

características da superfície da amostra. A superfície deve ser condutora de

eletricidade e para isto um revestimento metálico muito fino foi aplicado sobre a

superfície devido aos materiais não serem condutores. São possíveis ampliações

que variam entre 10 e 50.000x, da mesma forma que também são possíveis

profundidades de campo muito grandes. Equipamentos e acessórios permitem as

análises qualitativa e semi-quantitativa da composição elementar em áreas muito

localizadas da superfície (DALCIN, 2010).

Na primeira análise foi considerada somente a morfologia da FCA, conforme

mostra a Figura 22.

Page 44: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

44

Figura 22 – MEV da FCA. (a) 50µm; (b) 100µm.

A MEV da casca mostra alguns pontos de acúmulo, porém isto se deve ao

fato das características do material que tende a formar aglomerados. Conforme o

peneiramento feito, o diâmetro das partículas ficou satisfatório, dado que deveria

estar entre 0,15 e 0,07mm.

A microscopia eletrônica por varredura foi realizada até que se observasse,

com boa resolução, a morfologia da FCA, para reconhecimento da mesma dentro da

matriz, e dos compósitos, para que se observasse a distribuição da FCA no

polímero.

Com a morfologia da FCA conhecida, foi feito então a análise das amostras

de PP Vigem e com carga, Figura 23.

Page 45: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

45

Figura 23 - Microscopia eletrônica de varredura em corpos de prova rompidos nos testes de impacto.

(a) PP puro; (b) PP + 10% FCA; (c) PP + 20% FCA.

Por Microscopia Eletrônica por Varredura foi possível observar que as

partículas de casca de arroz apresentam uma superfície muito irregular e, devido à

moagem, formou-se um conjunto de tamanhos bastante variáveis, porém dentro do

proposto, ou seja, partículas com diâmetro inferior a 0,15mm.

Os compósitos apresentaram uma boa homogeneização e uma boa aderência

da FCA em sua superfície, porém ainda é necessário um aprimoramento na etapa

de mistura para não haver problemas de aglomeração da FCA em pontos do

compósito.

A amostra com 10% de FCA apresentou uma adesão da carga

consideravelmente melhor que a com carga de 20% de FCA, possuindo também

uma melhor homogeneização do material com menos pontos de acúmulo de

material.

Em nenhuma das amostras houve a formação de poros nas superfícies do

material, o que poderia atrapalhar o desempenho do material.

Apesar de Sr uma técnica pontual, a MEV passa uma Idea real da morfologia

geral do material, porém o ideal é a análise em diversos pontos para uma melhor

análise.

Page 46: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

46

4.2 TERMOGRAVIMETRIA – TGA

A termogravimetria (TGA) é um importante método para a análise da

estabilidade térmica de materiais. A análise termogravimétrica indica a percentagem

da variação de massa de uma amostra em função da temperatura e/ou tempo.

A estabilidade térmica das fibras foi analisada por termogravimetria em um

analisador TGA, modelo 2050 da TA Instruments, com velocidade de aquecimento

de 10°C/min, em uma faixa compreendida entre 30 e 800°C, sob atmosfera de

nitrogênio.

Na Figura 24 as curvas de TGA demonstram a estabilidade térmica do

compósito de PP virgem até uma temperatura de 270°C, iniciando depois desta

temperatura sua degradação. Este perfil de degradação mostra que a

decomposição, em única etapa, ocorre a 410°C e finalizando em torno de 470°C.

A amostra de PP virgem foi totalmente decomposta até esta temperatura e

não restando resíduos da amostra.

Figura 24 – Curvas termogravimétricas do PP Virgem.

Page 47: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

47

As Figuras 25 e 26 representam, respectivamente, as amostras com 10 e

20% de FCA. As curvas de TGA demonstram a estabilidade térmica do compósito

de PP com 10% de FCA (Figura 25) até uma temperatura de 260°C, iniciando depois

desta temperatura sua degradação. Este perfil de degradação mostra que a

decomposição na primeira etapa ocorre a 390°C e finalizando em torno de 500°C.

Os 98,13 % são o teor da amostra de PP com 10% de FCA decomposta,

sendo os 1,87 % de resíduos da cinza da casca de arroz restantes da amostra.

Figura 25 – Curvas termogravimétricas do PP com 10% FCA.

As curvas de TGA demonstraram a estabilidade térmica do compósito de PP

com 20% de FCA (Figura 26) até uma temperatura de 240°C, iniciando depois desta

temperatura sua degradação. Este perfil de degradação mostra que a decomposição

na primeira etapa ocorre a 430°C e finalizando em torno de 500°C.

Os 85,91% são o teor da amostra de PP com 20% de FCA decomposta,

sendo os 14,09 % de resíduos da cinza da casca de arroz restantes da amostra.

Page 48: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

48

Figura 26 – Curvas Termogravimétricas do PP com 20% FCA.

Analisando o perfil de degradação do PP por aquecimento em atmosfera de

nitrogênio, observa-se que a degradação térmica do PP inicia-se em uma

temperatura próxima a 320ºC. Ao final do processo, em torno de 600ºC, nota-se um

resíduo de PP inferior a 1%. Fica evidenciado que esta matriz polimérica se

decompõe termicamente em uma única etapa, cujo pico de degradação ocorre em

torno de 450ºC.

A amostra com 10% em carga de FCA apresentou um comportamento

semelhante ao do PP virgem, porém, ao final do teste, em uma temperatura

aproximada de 700ºC ainda restavam cerca de 2% de resíduo do material,

apresentando um pico de degradação na temperatura de 455ºC. A adição da carga

de 10% de FCA pouco influenciou nas propriedades termogravimétricas do material.

O compósito com carga de 20% de FCA obteve pequenas alterações, quando

comparado ao PP Virgem. Ao final da análise, na temperatura aproximada de 670ºC,

apresentou cerca de 14% de resíduo ainda presente, tendo seu pico de degradação

na temperatura de 442ºC, mostrando uma maior resistência ao aumento da

temperatura neste compósito.

Page 49: Estudo das Propriedades Mecânicas e térmicas de Compósitos de Polipropileno com casca de arroz

49

Foi constatada uma grande diferença no percentual de massa do compósito

da amostra de PP com 10% de FCA para a amostra de PP com 20% FCA, este fato

pode ter ocorrido pela amostra escolhida para o PP com 20% de FCA apresentar um

acúmulo de FCA maior que o esperado, porém pelo valor elevado, fica evidente o

aumento na resistência térmica do material.

4.3 COMPRESSÃO

No teste de compressão o corpo de prova é testado pela aplicação de uma

carga axial compressiva, e construído o diagrama tensão–deformação,

semelhantemente ao procedimento do ensaio de tração. As mesmas máquinas do

ensaio de tração são utilizadas para o ensaio de compressão, apenas alterando as

condições de fixação do corpo de prova na máquina.

O corpo de prova tem usualmente a forma cilíndrica, com relação

comprimento/diâmetro entre 2 e 8. O comprimento não deve ser muito grande, para

evitar efeitos indesejáveis de flambagem, e nem muito pequeno, pois o atrito nas

superfícies de contato com a máquina de ensaio poderá prejudicar a validade dos

resultados.

Para este teste foi usado um equipamento da marca EMIC, com uma célula

de carga com capacidade 200kN, conforme Figura 27.

Figura 27 – Equipamento executando compressão da amostra.

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Cada teste – Virgem, 10% e 20% de FCA – contou com 6 corpos de prova,

sendo feita a média geral para obtenção dos dados, sendo os cálculos e os valores

obtidos através do software do equipamento, TESC v. 3.04. Os valores encontrados

para o PP virgem, seguindo os padrões estabelecidos pela norma ASTM D695 para

compressão e os desvios padrões (DP), foram os seguintes:

Tensão de Ruptura a Compressão: 56 MPa – DP: 4,6;

Módulo de Elasticidade a Compressão: 998 Mpa – DP: 92,3.

Seguindo as mesmas condições do teste no PP Virgem, foram encontrados,

conforme mostra a Figura 28, os seguintes valores para a amostra de PP com 10%

de FCA:

Tensão de Ruptura a Compressão: 31,84 MPa - DP: 2,3;

Módulo de Elasticidade a Compressão: 394,5 MPa - DP: 62,1

Figura 28 – Gráfico Tensão x Deformação Médio do PP com 10% FCA.

A Figura 29 mostra o gráfico obtido a partir da amostra de PP com 20% de

FCA, da onde se podem tirar os seguintes valores:

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Tensão de Ruptura a Compressão: 43,66 MPa - DP: 5,7;

Módulo de Elasticidade a Compressão: 678,6 Mpa - DP: 104,8

Figura 29 – Gráfico Tensão x Deformação Médio do PP com 20% FCA.

O ensaio de compressão mostrou uma diminuição grande nas propriedades

do PP virgem, conforme Figura 30, porém apresentou uma pequena melhoria de

propriedades com o aumento da carga de FCA na matriz, quanto maior a carga

menor foi à diferença no módulo de elasticidade do compósito, um aumento de 60%

da amostra de PP com 20% de FCA para a amostra com 10% de FCA, e maior foi à

tensão máxima exercida na amostra, um aumento de 28% da amostra de PP com

20% de FCA para a amostra com 10% de FCA mostrando uma maior resistência a

compressão com o aumento da carga. Este fato ocorre também pelo melhor

empacotamento da FCA nos espaços de acúmulo que ocorre enquanto o material é

comprimido.

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Figura 30 - Comparativo dos Ensaios de Compressão.

4.4 TRAÇÃO

O ensaio de tração consiste em submeter o material a um esforço que tende a

alongá-lo até a ruptura. Os esforços ou cargas são medidos na própria máquina de

ensaio. No ensaio de tração o corpo é deformado por alongamento, até o momento

em que se rompe. Os ensaios de tração permitem conhecer como os materiais

reagem aos esforços de tração, quais os limites de tração que suportam e a partir de

que momento se rompe.

Para o ensaio de tração foi utilizado o mesmo equipamento do ensaio de

compressão, fazendo uso também do programa TESC v. 3.04, porém operando no

sentido contrário, como pode ser visto na Figura 31, seguindo o estabelecido pela

norma ASTM D 638.

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Figura 31 – Ensaio de tração em andamento.

A análise inicial foi feita no PP Virgem utilizando o programa TESC, que

podem ser vista na Figura 32.

Figura 32 – Gráfico Força x Deformação – PP Virgem.

As curvas das amostras de PP com 10% de FCA apresentaram as

características da Figura 33.

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Figura 33 – Gráfico Força x Deformação – PP 10%.

O comportamento das amostras de PP com 20% de FCA fica exemplificado

na Figura 34.

Figura 34 – Força x Deformação – PP 20%.

Os resultados médios são apresentados comparativamente na Tabela 9.

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Tabela 9 - Resultados do teste de tração.

Amostras Tensão de Ruptura

Desvio Padrão

Deformação a Tração

Desvio Padrão

PP Virgem 3 14,88 MPa 1,21 458,5 mm 33,2PP 10% 5 17,67 MPa 2,32 12,87 mm 1,65PP20% 5 14,73 MPa 3,10 7,7 mm 1,13

No ensaio de tração fica evidenciada a perda de elasticidade, que chega a ser

superior a 90%, porém um aumento na tensão de ruptura próximo a 25%,

principalmente no compósito com carga de 10%. O compósito com 10% em FCA

apresentou, em geral, propriedades melhores que o compósito com 20% de FCA,

chegando a sofrer um aumento de 30% na tensão de ruptura com uma menor perda

de elasticidade, quando se quer obter um material mais resistente. Este fato deve-se

principalmente a facilidade de aglomeração da FCA, gerando pontos de

aglomeração no compósito com maior carga (PP com 20% de FCA) e gerando

pontos de ruptura devido a menos homogeneização da carga.

4.5 IMPACTO – IZOD

No ensaio de resistência ao impacto Izod, um pêndulo acelerado pela

gravidade bate em um corpo de prova, na forma de uma barra retangular, montado

verticalmente e preso pela sua extremidade inferior. O valor da resistência ao

impacto corresponde à perda de energia do pêndulo com o choque contra o corpo

de prova, obtida pela altura a que o pêndulo consegue elevar-se após o impacto. A

velocidade do pêndulo no momento do impacto é de 3,5 m/s 10%.

O teste de resistência ao impacto de pêndulo de Izod foi realizado conforme

norma ASTM 256 A, em uma máquina PANTEC, conforme Figura 35.

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Figura 35 - Equipamento para análise de impacto IZOD PANTEC.

Foram feitas 5 medições para cada amostra, fazendo-se a média aritmética

dos valores. A resistência ao impacto IZOD, em J/m foi obtida pela equação 5, os

corpos de prova possuíam uma espessura de 3,5mm.

(Eq. 5)

Onde:

I = Resistência ao Impacto IZOD (J/m)

E = energia lida na escala do aparelho (Joules);

t = espessura do corpo de prova (m).

Os resultados obtidos podem ser vistos na tabela 9.

Tabela 10 – Resultados do teste de resistência ao impacto IZOD.

Amostra\Ensaio 1 (kJ/m) 2 (kJ/m) 3 (kJ/m) 4 (kJ/m) 5 (kJ/m) DP

PP Vigem 1,75 2 1,75 1,75 1,5 0,18

10% 0,5 0,5 0,625 0,5 0,625 0,07

20% 0,5 0,25 0,45 0,45 0,55 0,12

Uma das maiores desvantagens do uso de compósitos polímero/carga

orgânica é a sua baixa resistência ao impacto [ROSA, 2007]. Os resultados obtidos

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no teste de impacto evidenciam o esperado, uma considerável redução, chegando a

quase 70%, na resistência ao impacto, quando comparado ao PP Virgem. Quanto

maior a carga orgânica presente na matriz mais frágil se tornará o material, porém a

amostra com 10% apresentou ainda uma boa resistência ao impacto.

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CONCLUSÃO

Neste trabalho foram estudadas as propriedades de compósitos de

polipropileno com farinha de casca de arroz preparados em uma injetora. Foram

preparados compósitos contendo diferentes proporções de farinha de casca de arroz

(10 e 20%) com uma granulometria média de 100 mesh.

Considerando a presença de componentes menos estáveis termicamente na

casca de arroz, verificou-se que o início da degradação térmica dos compósitos

ocorreu em temperaturas muito próximas da temperatura do PP virgem. Após os

testes termogravimétricos a massa de resíduo determinada foi maior para as

concentrações mais elevadas de casca, principalmente devido ao elevado teor de

sílica do material.

Os resultados do teste de tração mostraram uma considerável redução do

alongamento na ruptura com a adição de carga, porém gera um aumento no módulo

e na resistência mecânica dos compósitos, mostrando que esses materiais podem

ser utilizados como reforço para o PP, melhorando suas propriedades.

A análise de compressão mostrou uma redução no módulo de elasticidade,

sendo reduzido de acordo com o aumento da carga, do compósito em relação ao PP

virgem, mas apresentou uma tensão de ruptura semelhante a do PP virgem, sendo

assim a adição da carga pouco altera nesta propriedade.

Com estes resultados pode-se deduzir que a farinha da casca de arroz, uma

matéria prima abundante e de baixo custo, pode ser utilizada como carga em

compósitos de PP, atuando como agente reforçante. O compósito preparado com

10% de farinha de casca de arroz foi o que apresentou as melhores propriedades

finais.

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