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ipen AUTARQUIA ASSOCIADA À UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO INFLUÊNCIA DA ÍTRIA NAS PROPRIEDADES MECÂNICAS E TÉRMICAS DO COMPÓSITO Al2O 3 -20%NbC ALEXANDRE HENRIQUE RUMBAO Dissertação apresentada como parte dos requisitos para obtenção do Grau de Mestre em Ciências na Área de Tecnologia Nuclear - Materiais. Orientadora: Dra. Ana Helena d e A l m e i d a Bressiani São Paulo 2002

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ipen A U T A R Q U I A A S S O C I A D A UNIVERSIDADE

DE SO PAULO

I N F L U N C I A DA TRIA NAS P R O P R I E D A D E S M E C N I C A S E

T R M I C A S DO C O M P S I T O Al2O3 -20%NbC

ALEXANDRE HENRIQUE RUMBAO

D i s s e r t a o a p r e s e n t a d a c o m o p a r t e

d o s r e q u i s i t o s p a r a o b t e n o d o G r a u

de M e s t r e e m C i n c i a s na r e a de

T e c n o l o g i a N u c l e a r - M a t e r i a i s .

O r i e n t a d o r a :

D r a . A n a H e l e n a de A l m e i d a B r e s s i a n i

S o P a u l o 2 0 0 2

INFLUNCIA DA TRIA NAS PROPRIEDADES MECNICAS E TRMICAS DO

COMPSITO A I 2 O 3 - 2 0 % N b C

\

A L E X A N D R E HENRIQUE RUMBAO

Disser tao apresentada c o m o parte

d o s requ is i tos para o b t e n o do G r a u

de Mestre em Cincias na rea de

Tecnolog ia Nuclear - Materiais

O r i e n t a d o r a :

Dra. Ana Helena de A lme ida Bress ian i

So Paulo

2002

Aos meus pais Mareia e Jose, Ana Carolina, ao meu sobrinho Caio a

minha querida famlia. Muito obrigado por todas as alegrias e ao apoio

incondicional. Sem estas pessoas nada seria possvel.

i

A G R A D E C I M E N T O S

Ao IPEN, pela oportunidade concedida.

FAPESP, pela bolsa concebida e suporte financeiro (projeto n 00/03079-7).

Ao PRONEX e CNPq, pelo suporte financeiro.

Dra. Ana Helena por sua sbia orientao, agradvel convvio e pela honra de ser

seu aluno. Obrigado pelo querer bem, expressado na incompreendida severidade que, ao

contrrio do que parece, nos torna fortes e aptos a galgar e merecer o sucesso.

Ao Dr. Jos Carlos Bressiani pela confiana de abrir sua casa, pelo suporte e pelas

frutferas conversas. Sua aguada e precisa viso cientfica, traz segurana e admirao.

Ao futuro Dr. Luis Gnova, ao Msc. Vanderlei Ferreira e ao Msc. Daniel Moraes,

pelas valiosas discusses e cinergia gerada.

Aos colegas da diviso de materiais cermicos, pelo agradvel convvio e valiosa

companhia.

Aos Drs, Jos Roberto Martinelli e Reginaldo e Eliana Muccillo, pelo agradvel

convvio, e suporte nas anlises de tamanho de partculas e difrao de raios X.

Aos colegas da Diviso de Insumos Especiais, pela utilizao do forno para ataque

trmico, em especial ao Valter Ussui, pela boa vontade, bom humor e prontido no auxlio

nas questes de laboratrio, imagem e de informtica.

Aos colegas do MEV, Celso, Nildemar, Ren e Ana Lcia, pela inestimvel ajuda e

inusitadas conversas.

Ao Jorge, pela excelente qualidade das fotos tiradas, e pelos agradveis e

descontrados bate-papos. Obrigado.

Aos colegas do CPP, em especial ao Ren, pelo auxlio em muitas questes.

Ao Laboratrio de Metalografia, pela preparao de amostras e anlises de imagem,

em especial ao Glauson, por estar sempre disposto a ajudar, com seu peculiar bom humor.

Ao Laboratrio de Metalurgia do P, pelo peneiramento de ps e corte das amostras.

Ao Laboratrio de Difrao de raios X, em especial Marilene, pelas inmeras

anlises e proveitosas discusses.

Dra. Snia Castanho, pela utilizao da balana analtica e proveitosas discusses.

ii

Ao Dr. Filipe, pela indiscutvel prontido e pelas anlises de mdulo de elasticidade.

Ao Laboratrio de Corroso, em especial ao Dr. Ramanathan, pelas valiosas

discusses, e ao Olandir, pelas anlise de termo-gravimetria e proveitosas discusses.

A Dra. Ivana, pelas anlises de BET.

Ao Laboratrio de Tecnologia Cermica do IPT, em especial ao Camargo, pela

amizade e pelas prensagens isostticas a frio.

Ao Laboratrio LACAM do CTM - SP, em especial ao Carlos, pelos ensaios de

dureza Vickers.

Ao Laboratrio LABMAT do CTMSP/ARAMAR, em especial Msc. Ceclia pelo

auxlio nos ensaios de dureza Vickers e anlise de imagens; ao Msc. Thomaz, pelas anlises

de difusividade trmica; e ao Msc. Gomide pela valiosas discusses.

Ao Laboratrio de Fenmenos de Superfcie da Engenharia Mecnica da Poli, pela

utilizao do analisador de imagens.

Aos meus pais, Mareia e Jose, que me deram a oportunidade de me manifestar neste

mundo. Especialmente minha me, que sempre me acompanhou, apoiou e incentivou em

todos os momentos; muito obrigado por sua amizade, seus sbios conselhos e por seu

incondicional amor. Sem voc, este ideal no se concretizaria.

Ana Carolina, minha fonte de inspirao, que com seu amor incondicional torna

plana a ngreme estrada; a eterna gratido pela amizade verdadeira, incentivo e prontido.

minha famlia que sempre me apoiou, incentivou e acreditou no meu potencial. Ao

meu av Joo (in memorian) pelo legado deixado, sua hombridade e humildade jamais

sero esquecidos. Especialmente ao meu sobrinho Caio, por ser mais um incentivo em me

tornar uma pessoa melhor. vocs todos, muito obrigado.

Aos meus amigos, Iara, Roberto Okito, Paulo, Z Maria, Sarro e Rosinha, Marcio,

Alessandro Sapienza (in memorian), Gian, simplesmente pela amizade sincera; e ao Dr.

Alexandre Barros, pelo incentivo em iniciar e continuar a carreira acadmica. A vocs,

muito obrigado.

Alexandre H. Rumbao

iii

Influncia da tria nas Propriedades Mecnicas e Trmicas do

Compsito - 2 0 % NbC

Alexandre Henrique Rumbao

RESUMO

Dentre as cermicas consideradas com uso promissor como materiais para ferramenta

de corte, tem-se os compsitos base de alumina, contendo carbetos. No presente

trabalho estudada a influncia da Y 2 O 3 , como aditivo de sintetizao, na

microestrutura e propriedades do compsito cermico AI2O3-NDC. As adies de Y2O3

variaram entre 0 e 3 % em massa, na composio A A C V N b C 2 0 % em massa. Corpos de

prova foram preparados por prensagem uniaxial e isosttica frio, e sinterizados em

atmosfera de Ar a 1750C por 15 minutos, em forno resistivo de grafite; densidades

acima de 99% DT foram obtidas e as propriedades mecnicas, trmicas e de resistncia

oxidao foram avaliadas. A dureza, tenacidade fratura e mdulo de elasticidade do

compsito Al203-NbC 2 0 % em massa, temperatura ambiente, so respectivamente:

18,9 GPa, 4,7 MPa.m" e 405 GPa; a adio de tria proporciona o aumento do mdulo

de elasticidade, 415 GPa, e causa leve diminuio da dureza e tenacidade, os valores de:

dureza e tenacidade do compsito sem tria, e de mdulo de elasticidade dos compsitos

com tria, so semelhantes aos de ferramentas de corte comerciais de AI2O3-TC. Os

valores de coeficiente de expanso linear dos compsitos, obtidos por dilatometria entre

300C e 1000C, so similares aos obtidos para a alumina sem aditivos. Os valores de

difusividade e condutividade trmica dos compsitos so, aproximadamente, 20%

superiores ao da alumina sem aditivos, na faixa de temperatura entre 800C e 1200C.

iv

INFLUENCE OF YTTRIUM OXIDE ON THERMAL AND MECHANICAL PROPERTIES OF ALUMINA NIOBIUM

CARBIDE COMPOSITES

Alexandre Henrique Rumbao

Abstract

Among the wide variety of ceramics, the most promissing ceramics for cutting tools

aplications are alumina-carbides composites. In this work, the influence of Y2O3 on the

microstructure and properties of Al2Os.NbC composites were investigated. The amount of

Y2O3 was variable (from 0 wt%to 3wt%) in AUOrAOYowt NbC composites. The samples were

uniaxial and cold isostatic pressed and sintered in a graphite resistance furnace at

1750C/15min in Ar atmosphere. The sintered densities is 99% of the theoretical densitie. The

mechanical and thermal properties and the oxidation behavior were investigated. The

hardness, fracture toughness and Young Modulus, at roomt temperature, of the 3%Y2U3

Al2U3.20wt%NbC are 18,9Gpa, 4,7Mpa.m ' and 415 Gpa, respectively. These values are very

close to those of commercial avaliable AUOs-TiC cutting tools. The value of linear thermal

expansion coefficient measured in a dilatometry between 300C and 1000C is quite similar

than the linear thermal expansion coefficient of alumina. The values of thermal diffusivity and

thermal conductivity,between 800C and 1200C,are nearly 20% higher than the values of

AI2O3.

v

NDICE

[.Introduo. 1

10BJETIV0. 5

3.Reviso bibliogrfica 6

3.1 Alumina. 6

3.1.1 Aditivos de Sinterizao d a a - A l o 8

3.2 Compsitos 9

3.3 Sinterizao 13

3.3.1 Mecanismos de Sinterizao 13

3.3.1.1 Sinterizao por Fase Vapor 13

3.3.1.2 Sinterizao no Estado Slido 14

3.3.1.3 Sinterizao Via Fase Lquida 18

3.3.1.4 Sinterizao Via Liquido Reativo 21

3.3.2 Tcnicas de Sinterizao de Compsitos de Matriz Cermica 22

3.3.3 Sinterizao Normal 22

3.3.4 Prensagem a Quente 22

3.3.5 Sinterizao Reativa 23

3.3.6 Prensagem Isosttica a Quente 23

3.4 Propriedades Mecnicas 24

3.4.1 Resistncia Mecnica 24

3.4.2 Mdulo de Elasticidade 28

3.4.3 Dureza 30

3.4.4 Tenacidade Fratura 33

3.5 Propriedades Trmicas 36

3.5.1 Coeficiente de Expanso Trmica Linear 36

3.5.2 Condutividade Trmica 37

3.5.3 Difusividade Trmica 40

3.6 Oxidao 41

4. Materiais e Mtodos 43

4.1 Materiais 43

4.2 Anlise Qumica das Matrias Primas 43

4.3 Anlise Granulomtrica 44

4.4 Superfcie Especfica 45

4.5 Composies Estudadas e Nomenclatura 45

4.6 Processamento das Matrias Primas 46

4.7 Sinterizao 48

4.7.1 Sinterizao em Dilatmetro 48

4.7.2 Sinterizao em Forno Resistivo de Grafite 48

4.8 Caracterizao do Material Sinterizado 50

4.8.1 Densidade 5 0

4.8.2 Fases Cristalinas 51

4.8.3 Microscopia ptica 52

4.8.4 Microscopia Eletrnica de Varredura 52

4.8.5 Propriedades Mecnicas 53

4.8.5.1 Dureza e Tenacidade Fratura 53

4.8.5.2 Mdulo de Elasticidade 56

4.8.6 Propriedades Trmicas 58

4.8.6.1 Coeficiente de Expanso Trmica Linear 58

4 8.6.2 Dfusividade Trmica 59

4.8.6.3 Condutividade Trmica 60

4.8.7 Oxidao 60

5. Resultados e Discusso. 62

5.1 Caracterizao dos Ps 62

5.2 Composies 64

5.3 Sinterizao 66

5.3.1 Sinterizao em Dilatmetro 66

5.3.2 Sinterizao em Forno Resistivo de Grafite (Nukem) 73

5.4 Caracterizao dos Corpos de Prova 73

5.4.1 Fases Presentes 74

5.1.1. Anlise Microestrutural 75

5.4.2 Propriedades Mecnicas 78

5.4.2.1 Mdulo de Elasticidade 78

5.4.2.2 Dureza 80

5.4.2.3 Tenacidade a Fratura 80

5.4.3 Resistncia Oxidao 83

5.4.4 Propriedades Trmicas

5.4.4.1 Coeficiente de Expanso Trmica Linear. 87

5.4.4.2 Dfusividade Trmica 90

5.4.4.3 Condutividade Trmica 92

vii

. Concluses 94

J. Referncias bibliogrficas 9

viii

Esperana decidir pela vitria em cada circunstncia que a vida nos coloca."

" A verdadeira vitria no daquele que chega primeiro, e sim, daquele que primeiro

perdoa."

Masaharu Tanigushi

IX

INTRODUO

1. I N T R O D U O

Os produtos cermicos esto ligados ao desenvolvimento da humanidade desde seus

primrdios. H milnios, tanto no mbito social, como no surgimento de novas

tecnologias, as cermicas esto presentes e so imprescindveis para que isto ocorra. A

denominao das sucessivas Eras, como: Era da Pedra, do Cobre, do Bronze e do Ferro,

reflete a importncia dos materiais para o homem. O destino humano e as fontes de

materiais tem sido estreitamente relacionados desde o incio da histria, todavia, a

associao de um dado material com a Era ou Idade que o define no est somente limitada

pela antiguidade 1 1 .

Os materiais cermicos foram, provavelmente, os primeiros a serem manufaturados

pelo homem, devido a sua facilidade de manuseio e capacidade de ser conformado dentro

de uma grande variedade de formas, com uma enorme gama de cores, translucidez,

reflectividade 1 2 1. Os primeiros objetos de argila so datados de 5000 a .C, pode-se

considerar dessa poca a origem da cincia dos materiais dos dias de hoje. Cientificamente,

as cermicas so definidas como slidos no-metlicos inorgnicos. Esta definio amplia

consideravelmente o significado da palavra grega Kspapocr (keramos), que se refere a

loua ou artefato de barro que imado 1 1 .

Segundo Kingery et al [ 3 1 , cermica a arte e a cincia de fabricar e usar artigos

slidos formados pela ao da temperatura e que possuam como componente essencial

materiais inorgnicos e no metlicos. Devido constante inovao tecnolgica empregada

no desenvolvimento de materiais cermicos, uma nova e mais abrangente definio de

cermica precisa ser elaborada.

Com o passar dos anos, primeiro atravs do conhecimento emprico e depois atravs

da pesquisa, a tecnologia do processamento cermico foi evoluindo de processos simples,

utilizando materiais em estado natural; para processos relativamente sofisticados, onde

materiais sintticos so extensivamente uti l izados 4 1 .

Os materiais cermicos so geralmente classificados em dois grupos: cermica

tradicional e cermica avanada. Enquanto nas cermicas tradicionais so utilizadas

maiores quantidades de matrias primas naturais tais como, argilo-minerais e areia, e

processos simples de manufatura; as cermicas avanadas so confeccionadas a partir de

matrias primas sintticas como, xidos, nitretos, boretos e carbetos de alta pureza atravs

de processos sofisticados. A Fig. 1 apresenta um quadro comparativo entre cermicas

tradicionais e avanadas 1 1 . Esta classificao est ficando desatualizada devido ao alto

i

INTRODUO

nvel de tecnologia introduzido nas indstrias cermicas de base, onde o controle de

processos e de qualidade, so cada vez mais eficientes e produtivos.

Os materiais cermicos so aplicados nas mais variadas formas, para os mais

variados usos, desde telhas, pisos, azulejos, tijolos, sanitrios, at componentes eletrnicos,

componentes de motores, prteses sseas e dentrias, ferramentas de corte, etc.

As aplicaes empregadas s cermicas so diretamente dependentes de sua

composio qumica e microestrutura, que juntas determinam suas propriedades.

M a t r i a

P r i m a

Cermica Tradicional

M a t r i a P r i m a N a t u r a l

A r g i l a

S l i c a

Cermica Avanada

M a t r i a P r i m a S i n t t i c a

S 3 N 4 , etc. *pj

C o n f o r m a o

S m e r i z a

P r o d u t o s

E s t r u t u r a

iij p o m p o n e n t f s

i 1 M e c n i c o s

M i c r o s c o p i a

p t i c a

X100 M i c r o g r a f i a

xSO.000 M i c r o g r a f i E l e t r n i c a

o O s s o

A r t i f i c i a l

Fig. 1 - Quadro comparativo entre cermica tradicional e avanada1!1!

2

INTRODUO

At recentemente, materiais para aplicaes estruturais eram restritos a ligas

metlicas avanadas. Atualmente, para determinadas aplicaes envolvendo alta

temperatura, os materiais metlicos atingiram o limite em seu potencial de

desenvolvimento. A necessidade de utilizao de temperaturas cada vez mais elevadas em

motores de combusto e equipamentos de gerao de energia, tem levado o

desenvolvimento de ligas base de Ni , Cu e Fe a altos nveis de sofisticao

microestrutural e estrutural. Esse desenvolvimento, no entanto, necessariamente limitado

pelo ponto de fuso desses materiais. Os materiais cermicos so uma das poucas opes

de materiais que suportam utilizao em altas temperaturas de servio. Sua baixa

densidade, inrcia qumica e alta dureza oferecem um potencial adicional para estender os

limites de performance alm daqueles oferecidos pelos materiais metlicos 1 5 1 . As questes

fundamentais, ainda a serem resolvidas a contento para as cermicas com fins estruturais,

referem-se ao aumento da tenacidade e a diminuio de microdefeitos capazes de ocasionar

falhas catastrficas em servio, quando h intensas solicitaes.

As ferramentas de corte so um exemplo dessa substituio. A busca por maior

produtividade e menor custo de fabricao est impondo o desenvolvimento de

ferramentas de corte capazes de operar em velocidades cada vez mais altas e,

consequentemente, gerando temperaturas mais elevadas na interface ferramenta / pea

trabalho 1 6 1 .

Ferramentas de corte de cermica tm sido desenvolvidas como uma alternativa para

carbetos cementados, visando o aumento da velocidade de corte e da produtividade. Dentre

a grande variedade de cermicas utilizadas para ferramentas de corte, dada preferncia

para os compsitos contendo carbetos como componentes de segunda fase, tais como,

A l 2 0 3 - S i C e A l 2 0 3 - T i CI 7 I 8 I ' \ Partindo-se do mesmo princpio, de utilizao de carbetos

refratrios associados alumina, foi concebido o compsito Al203-NbC como novo

material com potencial de uso como ferramenta de corte. Neste trabalho estudado a

influncia de adies de Y 2 O 3 nas propriedades fsicas, mecnicas, trmicas e de

resistncia oxidao, do compsito de matriz cermica Al203-NbC 20 % em massa.

O grupo de pesquisas de cermicas estruturais do IPEN, vem desenvolvendo estudos

sobre compsitos de matriz cermica e, duas dissertaes de mestrado j foram

desenvolvidas envolvendo compsitos A l 2 O 3 - N b C I 1 0 I u l . Na primeira 1 1 0 1 , estudou-se a

sinterizao, propriedades fsicas (tamanho, morfologia e estrutura dos gros da matriz e

do reforo) e propriedades mecnicas (dureza e tenacidade fratura), de compsitos de

composio com frmula geral (A 1 2 0 3 - x Y 2 0 3 ) - yNbC (onde: x = 0 e 3% em massa; e y =

INTRODUO

10, 20, 30 e 4 0 % em massa). Na segunda 1 J, foram estudadas as propriedades de dureza,

tenacidade fratura e resistncia ao desgaste (pino sobre disco), de uma das composies

estudadas neste trabalho, (A 1 20 3- 0 ,5% Y 2 O3)-20% NbC. Analisando os valores das

propriedades estudadas nestes dois trabalhos, pode-se afirmar que os compsitos Al 2 0 3 -

20% NbC possuem boas propriedades mecnicas; porm, prematuro concluir que o

compsito Al203-NbC possa ser utilizado como material para fabricao de ferramentas de

corte. O presente trabalho procura otimizar a adio de tria para o processo de sinterizao

e avalia propriedades de fundamental importncia no desempenho de ferramentas de corte,

como: dureza, tenacidade fratura e mdulo de elasticidade, coeficiente de expanso

trmica linear, difusividade e condutividade trmica, e resistncia oxidao.

4

OBJETIVO

2. O B J E T I V O

O estudo do compsito A l 2 0 3 - N b C 20 % em massa, com adies de Y 2 0 3 , tem dois

objetivos principais. Primeiro, avaliar a influncia do xido de trio na: densificao,

microestrutura e propriedades mecnicas e trmicas do compsito. Segundo, avaliar a

aplicabilidade do compsito como ferramenta de corte, comparando suas propriedades

mecnicas e trmicas, as quais possuem importante funo no desempenho de ferramentas

de corte, com dados da literatura de ferramentas comerciais de A l 2 0 3 - T i C 30 % em massa.

5

REVISO BIBLIOGRFICA

3. R E V I S O B I B L I O G R F I C A

3.1 Al.lMINA

A alumina, A 1 2 0 3 , um dos materiais cermicos de maior interesse cientfico e

t e c n o l g i c o I l p I 3 I 4 I 5 I 6 I 1 2 I 1 3 n 4 1 . Desde a sua descoberta no sculo XVTII, at os dias atuais, o

interesse em seu estudo e aplicao contnuo. O termo alumina utilizado na literatura

cermica para denotar, entre outros significados, corindom ou OC-AI2O3,

especificamente I 1 5 1 .

A principal fonte de OC-AI2O3 para uso industrial so: o corindom natural e o produto

da manufaturao do bauxito. O principal e mais econmico mtodo de produo de

alumina de alta pureza e alumnio metlico, para fins cermicos e metalrgicos, o

processo Baye r I 1 5 I 1 6 ] .

O incio do estudo cientfico da alumina data do final do sculo XIX. A primeira

notcia do seu uso comercial foi por volta de 1907, quando uma patente foi solicitada,

descrevendo um material cermico de alta alumina. A produo comercial e aplicao em

larga escala, iniciaram entre final dos anos 20 e comeo dos anos

A estrutura cristalina da 01 -AI2O3 consiste de camadas de ons de oxignio

empilhados na sequncia A-B-A-B, que formam uma estrutura hexagonal compacta. Os

ons de alumnio esto localizados nas posies intersticiais octadricas deste arranjo

bsico, rodeados por 6 ons de oxignio. Os ons alumnio, juntamente com as vacncias,

formam outro tipo de plano de empilhamento, C. Para que a neutralidade do sistema seja

mantida somente 2/3 das posies intersticiais so ocupadas por ons Al3+. As Fig. 2 e 3

ilustram a estrutura hexagonal compacta da a - A l 2 0 3 e os ons Al e O no plano basa l I 1 7 I 2 1 ,

respectivamente.

6

REVISO BIBLIOGRFICA

1

' K Vacncia

Fig. 3 - Representao dos 2/3 dos espaos octadricos no plano basal da O C - A I 2 O 3

ocupados por ctions

7

REVISO BIBLIOGRFICA

Devido a forte ligao qumica, predominantemente de carter inico, entre Al e O, a

alumina apresenta alta estabilidade qumica, elevado ponto de fuso (~ 2050 C) e altas

dureza e resistncia mecnica" 8 1 . A fase OC-AI2O3 a nica forma da alumina, estvel

acima de 1200 C e geralmente utilizada em aplicaes estruturais e eltr icas I 1 8 l

A sinterizao de ps de OC-AI2O3 para produo de corpos densos pode ocorrer por

dois mecanismos distintos, no estado slido e via fase lquida, dependendo das condies

de tratamento trmico e dos aditivos. A sinterizao no estado slido a mais utilizada

para produo de cermicas estruturais e possibilita a obteno de corpos com altas

densidades; densidades prximas terica, 3,98 g/cm , foram alcanadas por Cahoon e

Christensen em 1956 I 3 1 e, alguns anos depois, por Cob le t l 5 l Estes autores demonstraram

que o pr-requisito essencial para a remoo da porosidade, est na supresso do

crescimento descontnuo dos gros, alcanado atravs da adio de um pequena quantidade

de xido de magnsio a lumina I 1 5 l

3.1.1 ADITIVOS DE SINTERIZAO DA a - A L 2 O 3

A a -Al 2 0 3 uma das cermicas estruturais mais freqentemente utilizadas em altas

t empera tu ras I 1 3 I 1 9 I 2 f f | , resistente corroso em quase todos ambientes qumicos em altas

temperaturas, alm de possuir grande resistncia fluncia, comparada com outras

cermicas. As propriedades da alumina podem ser otimizadas quando esta dopada com

ctions especficos, geralmente na forma de xidos, que aumentam sua temperatura de uso

e seu limite de resistncia. Dentre esses dopantes, tem-se: MgO, T i 0 2 , N iO, ZnO, SnO,

L a 2 03 , Y 2 0 3 , entre o u t r o s I 1 9 I 2 , I 2 2 ] .

Pequenas quantidades de MgO (~ 0,2% em massa), inibem o crescimento exagerado

dos gros e o produto final apresenta densidade prxima terica 1 1 5 1 . Desde a introduo

de MgO alumina como aditivo de sinterizao, muitos foram os xidos es tudados I 2 2 l

Warman e Budworth observaram que o uso de NiO, ZnO, CoO, MnO ou Sn2, como

aditivos de sinterizao, tambm altera a cintica de sinterizao, sendo possvel alcanar a

completa densificao I 2 2 1 .

O xido de trio ou tria, Y 2 O 3 , um dos aditivos de alumina para fins estruturais

mais e s t u d a d o s 1 1 9 I 2 1 I 2 3 ] . A Y 2 0 3 responsvel pelo aumento da temperatura de uso e do

limite de resistncia fluncia; pela diminuio da mobilidade atmica e do tamanho dos

gros; o que possibilita um melhor controle microestrutural. Como as propriedades dos

REVISO BIBLIOGRFICA

materiais esto diretamente relacionadas com a sua microestrutura, a adio de Y 2 O 3 ,

permite a melhora das propriedades finais da a l u m m a 1 " 1 2 1 1 2 3 ' 2 4 1 .

O limite de solubilidade da tria na alumina de 10 ppm em volume. Adies de

quantidades superiores a este valor provocam a formao de Y3AI5O12 (YAG), pela reao

de 3 partes de Y 2 0 3 e 5 partes de AI2O3. Alguns estudos tem mostrado que a tria segrega

para as superfcies livres e contornos de gros, ou precipita como Y A G " " 2 5 1 . O YAG, por

ser um dos xidos de estrutura cbica com maior resistncia fluncia, pode ser utilizado

em temperaturas superiores a 1500 C em atmosfera ox idan te 2 6 l Este efeito benfico da

tria, est fortemente relacionado com o processo de segregao/precipitao do dopante,

que influi na energia de superfcie da matriz, diminuindo a difuso e a mobilidade atmica

da fase m a t r i z 2 6 l

Em geral, os aditivos tem como principal finalidade alterar os mecanismos de

mobilidade atmica. A manipulao das quantidades e tipos de aditivos adicionados, dita a

microestrutura aps a sinterizao e, consequentemente, as propriedades finais do

p r o d u t o 1 9 1

3.2 COMPSITOS

Como outras cermicas, a 0C-AI2O3 no aplicada somente em seu estado

monofsico. Existe uma grande variedade de composies que utilizam a OC-AI2Q3 como

material base, ou matriz. So os chamados materiais compsitos.

Materiais compsitos podem ser definidos como uma combinao de dois ou mais

materiais distintos, tendo uma interface identificvel entre eles. O uso de materiais

compsitos est relacionado s suas propriedades estruturais singulares. Geralmente, as

propriedades dos materiais compsitos so superiores s propriedades individuais de cada

componente. A segunda fase, em geral descontnua, e mais resistente e rgida que a fase

que a envolve, chamada de reforo 1 8 1 .

Alguns aspectos gerais devem ser considerados na escolha do reforo e da matriz

adequados: pontos de fuso, volatilidades, densidades, mdulos de elasticidade,

coeficientes de expanso trmica, resistncias mecnica e fluncia, tenacidades fratura

e compatibilidade qumica e trmica entre matriz e reforo. Muitas destas caractersticas

so importantes na escolha do processamento adequado, e determinantes na performance

do compsito formado 1 7 1 .

REVISO BIBLIOGRFICA

Os compsitos so classificados de acordo com o tipo de material constituinte da

matriz. Podem ser: de Matriz Polimrica, CMP; de Matriz Metlica, CMM e; de Matriz

Cermica, CMC.

Os CMCs constituem uma classe especfica de compsitos onde a fase predominante,

que incorpora e envolve em escala microestrutural as demais fases, constituda por um

material cermico. So materiais extremamente recentes quando comparados com as

cermicas estruturais mais convencionais 1 1 3 1 . E so considerados materiais promissores em

diferentes campos de aplicaes: foguetes, j a tos e motores propulso, estruturas e

protees refratrias para veculos espaciais, peas resistentes ao desgaste, prteses sseas,

ferramentas de corte, etc. Suas principais vantagens em relao s cermicas monolticas

so sua elevada tenacidade e maior confiabilidade.

Os compsitos podem ser divididos em dois grupos: microcompsitos e

nanocompsitos. Nos microcompsitos a segunda fase apresenta dimenses micromtricas

e os tipos de reforo so encontrados na forma de particulados, plaquetas, wiskers e fibras.

Os nanocompsitos podem ser divididos em quatro tipos: intergranular, intragranular,

intra/intergranular e nano/nanocompsito [ 5 1 . A escolha dos constituintes de um compsito

cermico dependem das caractersticas finais que se deseja alcanar. As Fig. 4 e 5

apresentam os tipos de compsitos descritos, de acordo com o tipo de reforo.

Fig. 4 - Ilustrao esquemtica dos reforos de microcompsitos cermicos, quanto a

forma 1 7 1 .

10

REVISO BIBLIOGRFICA

[ in t r a CbJ ir*ler

fcHntfa/tnler (d)NanoMano

Fig. 5 - Ilustrao esquemtica da distribuio de reforos particulados em nanocompsitos

cermicos: a) intergranular, b) intragranular, c) intra/intergranular e d)

nano/nanocompsi to [ 2 7 l

A microestrutura de materiais reforados com particulados , em geral, composta de

uma matriz com partculas finas e isomtricas igualmente distribudas. A funo das

partculas primeiramente conter o movimento de deslocamento dos contornos de gros da

matriz, durante o processo de s i n t e r i z a o I 2 8 I 2 9 I 3 0 t 3 1 I 3 2 l

Os compsitos de matriz cermica reforados com partculas apresentam a vantagem

de serem obtidos por tcnicas simples de processamento e conformao de ps e, aps esta

etapa, estarem prontos para a sinterizao. Carbetos (SiC, TiC, ZrC, WC, BC), nitretos

(S3N4, TiN, BN) e boretos (TiB 2) metlicos so exemplos de materiais particulados

utilizados juntamente com a alumina para formao de compsitos de matriz cermica, que

tem assumido notvel importncia em aplicaes onde elevada dureza e resistncia a altas

temperaturas so exigidas ' 1 7 1 .

Em 1996 o estudo e desenvolvimento de uma nova categoria de compsitos de

matriz cermica de alumina com reforo de partculas de carbeto de nibio, NbC, foi

iniciado 1 3 3 1 . Desde ento, o CMC de A ^ 3 - N b C tem sido e s t u d a d o I 3 4 I 3 S I 3 6 I 3 7 I 3 8 I 3 ' [ 4 0 1 como

material potencial para aplicaes estruturais. Neste caso, a segunda fase inerte alm de

atuar como inibidor do crescimento do gros, melhora a tenacidade sem comprometimento

significativo da dureza 1 3 9 1 .

REVISO BIBLIOGRFICA

A utilizao do NbC como reforo da alumina remonta idia do TiC ser utilizado

como reforo em compsitos AI2O3-TC, muito estudado nos ltimos 20

a n o s I 4 1 I 4 2 I 4 3 I 4 4 I 4 5 I 4 6 I 4 7 I 4 8 I 4 , I 5 1 e empregado como ferramenta de corte na usinagem de aos e

ferros fundidos. Assim como o TiC, o NbC um carbeto de metal de transio e, ambos,

possuem propriedades semelhantes, Tabela j[f1[52[53[S4] Q u t r o f a t o r ^ m o t i v a o para o

desenvolvimento do compsito A l203 - N b C , est nas reservas naturais de nibio que o

Brasil possui. 7 2 % das reservas mundiais deste metal esto em territrio nacional 1 5 5 1 , sendo

o Brasil, o maior exportador mundial de nibio metlico, conforme ilustra a Fig. 6 1 1 .

Tab. 1 - Propriedades do NbC e TiC.

NbC TiC

Densidade (g/cm ) 7 , 7 9 - 7 , 8 2 | 5 , i 4 , 9 - 5 2 | 5 1 1 5

Ponto de fuso (C) 3500 I 5 4 1 3 1 4 0 I 5 1 I 5 3 I 5

Expanso Trmica ("C"1 - 1000 C) , 3 [ S 4 [ S 2 ] , [ 5 1]

Condutividade Trmica (W/mC - 20 C) 30 [ 5 4 , 5 2 ] f 5 I [ 5 2 ]

Dureza (Kg/mm 2 ) 2400 I 5 4 1 3200 I 5 3 1

Estrutura cristalina Cbica I 5 4 1 cbica I 5 3 1

C o r p r e t o I 5 4 I 5 2 1 cinza c la ro

Niobium Brazil. Thailand. Canada

Mica India. Brazil, Malagasy Republic

Strontium Mexico. Spain

Gabon. Brazil, South Africa

Thailand, Canada, Malaysia. Brazil

Cobalt Zaire, Belgium-Luxembourg, Zambia, Finland

Jamaica. Australia, Surinam

Cnwnrurn Sojth Africa, Russia, Zimbabwe, Turkey

Plaflmun group South Africa, Russia. United Kingdom

A s b e s t o s Canada. South Africa

Ruwroe Mexico. Spain. SoU". Africa

Tin Malaysia. Bolivia, Thailand, Indonesia

Canada, Norway. New Caledonia, Dominican Republic

Caimium Canada, Australia, Befgium-Luxembourg, Mexico

Canada, Mexico, Australia, Belgium-Luxembourg

Potassium Canada, Israel, West Germany

S e n i u m Canada. Japan, Yugoslavia, Mexico

Msrcuiy Algeria, Canada. Spain, Mex.ce. Yugoslavia

Gokj Canada, Switzerland, Russia

Tungsteff Canada. Bolivia. Peru, Thailand

25 5 0 75 100

Fig. 6 - Quantidade de matria prima exportada por pais de origem, em porcentagem" 1

12

REVISO BIBLIOGRFICA

3.3 SlNTERIZAO

A sinterizao referida como o processo de aquecimento e consolidao de um

corpo conformado de partculas de p, devido a formao de ligaes fortes entre as

partculas adjacentes, e consequente aumento da resistncia mecnica I 2 1 . Para que a

sinterizao ocorra essencial que exista: um mecanismo de transporte de material e; uma

fonte de energia que o ative e mantenha I 5 6 1 .

3.3.l M E C A N I S M O S DE SINTERIZAO

A sinterizao pode ocorrer por vrios mecanismos, resumidamente descritos na Tab.

2. Cada mecanismo pode ocorrer separadamente, ou em combinao I 5 6 1 .

Tab. 2 - Mecanismos de Sinterizao I 5

Mecanismos

Fase vapor

Mecanismos de Transporte de Massa

Evaporao - Condensao

Fora Motriz

Diferena de presso de vapor

Estado slido Difuso Diferena de energia livre ou

potencial qumico

Fase lquida Fluxo viscoso

Difuso

Presso capilar

Tenso superficial

Lquido reativo Fluxo viscoso

Soluo - Precipitao

Presso capilar

Tenso superficial

3.3.1.1 Sinter izao por Fase V a p o r

A sinterizao por fase vapor importante para poucos sistemas de materiais, e ser

discutida resumidamente. A fora motriz para este processo a diferena de presso de

vapor em funo da curvatura da superfcie das partculas. O transporte de matria ocorre

na direo da superfcie das partculas, que tem raio de curvatura positivo e presso de

vapor relativamente alta, para a regio de contato das partculas (pescoo), que possui raio

de curvatura negativo e presso de vapor muito baixa. A Fig. 7 apresenta um modelo dos

caminhos de transporte de massa neste tipo de sinterizao I 5 6 1 .

13

REVISO BIBLIOGRFICA

ormao do pescco per

transporte cie massa via

fase vapor

e distncia entre os centras

Estgio firal: partculas unidas

inalterada; no h retrao

Fig. 7 - Modelo esquemtico do transporte de massa durante os estgios de sinterizao

por fase vapor 5 6 1 .

O tamanho das partculas influencia fortemente o processo. Quanto menor a

partcula, maior o raio de curvatura positivo, portanto, maior a fora motriz para o

transporte por fase vapor I 5 6 1 .

O transporte por fase vapor altera o fonnato dos poros e permite a ligao entre as

partculas adjacentes, com isso a resistncia do material aumenta. Este processo no resulta

em retrao. Para que a densificao do material ocorra, este processo deve ser

acompanhado por outros, que faam o transporte de massa do interior da partcula para o

pescoo, ou transporte de poros para a regio superficial externa I 5 6 1 .

3.3.1.2 Sinter izao no Es tado Slido

A diferena de energia livre ou potencial qumico entre a rea do pescoo e a

superfcie de uma partcula promove a fora motriz que causa o transporte de massa pelo

meio mais rpido disponvel. Se a presso de vapor for baixa, a transferncia de massa vai

ocorrer preferencialmente pelo processo de estado-slido. Como mostrado na Fig 8 e Tab.

3, alm do transporte por fase vapor (processo 3), o transporte de massa pode ocorrer por

difuso de tomos ou vacncias da superfcie ou interior da partcula, atravs do contorno

de gro, da superfcie ou do v o l u m e ^ 5 6 1 . Um ou mais destes processos contribuem para o

14

REVISO BIBLIOGRFICA

processo de sinterizao, desde que paralelamente contribuam para a diminuio da

energia livre do sistema.

Fig. 8 - Modelo esquemtico de transporte de massa durante o estgio inicial da

sinterizao por estado slido I 3 l

Tabela 3 - Possveis caminhos para o transporte de massa'

Mecanismos Meio de transporte Origem Destino

T M " 1 Difuso superficial Superfcie Pescoo

2 Difuso no volume Superfcie Pescoo

3 Transporte por fase vapor Superfcie Pescoo

4 Difuso nos contornos de gro Contornos de gro Pescoo

5 Difuso no volume Contornos de gro Pescoo

6 Difuso no volume Defeitos Pescoo

15

REVISO BIBLIOGRFICA

H diferenas significativas entre estes mecanismos. O transporte de massa da

superfcie para o pescoo via superfcie ou volume, assim como o transporte por fase

vapor, no contribuem para a diminuio da distncia entre os centros de massa das

partculas, no resultando em densificaao ou reduo da porosidade, apenas contribuem

para o crescimento do pescoo. Somente o transporte de massa a partir do volume ou

contornos de gro resulta em densificaao e eliminao de poros, mecanismos 4, 5 e 6 I 5 6 1 .

A sinterizao no estado slido pode ser dividida em trs estgios, identificados pelas

mudanas que ocorrem com o material e pelos diferentes mecanismos que envolvem cada

estgio.

O estgio inicial envolve o rearranjo das partculas e a formao inicial do pescoo

no ponto de contato entre cada partcula. Com o aumento da temperatura, a tenso

superficial entre as partculas diminui, ocorrendo o alisamento da superfcie das partculas,

antes rugosas e irregulares, dando condies para que um melhor empacotamento destas

partculas arredondadas ocorra. A ligao entre estas partculas ocorre nos pontos de

contato, onde o transporte de material pode ocorrer, e onde a energia de superfcie maior.

As mudanas que ocorrem durante o primeiro estgio da sinterizao so ilustrados na Fig.

,[56]

( A ) P a r t c u l a s

/* P o r o s i d a d e

a ^ b

Fig. 9 - Mudanas que ocorrem durante o estgio inicial da sinterizao: a) partculas

iniciais, b) rearranjo e c) formao de pescoos 5 5 6 ' .

O segundo estgio da sinterizao referido como estgio intermedirio, e

caracterizado principalmente, por ser a fase da sinterizao onde ocorre a maior retrao.

Durante o segundo estgio, o tamanho do pescoo entre as partculas cresce, a porosidade

diminui e os centros das partculas originais tornam-se mais prximos. Isto resulta em

retrao, equivalente diminuio da porosidade. Os contornos de gro comeam a se

mover de modo que as partculas, agora chamadas de gros, comeam a crescer enquanto

REVISO BIBLIOGRFICA

gros adjacentes so consumidos. Isto permite mudanas na geometria, necessrias para

permitir a acomodao do crescimento do pescoo e remoo da porosidade. A

sintetizao intermediria continua at os canais comearem a se fechar e os poros se

tornarem isolados. As mudanas que ocorrem durante o estgio intermedirio da

sinterizao so ilustrados na Fig. 10 [ 5 6 1 .

C o n t o r n o de g ro

Gro A P o r o s i d a d e

Fig. 10 - Mudanas que ocorrem durante o estgio intermedirio da sinterizao: a)

crescimento de pescoo e retrao volumtrica, b) alargamento dos contornos de gro e c)

continuao do crescimento de pescoo e alargamento dos contornos de gro, retrao

volumtrica e crescimento de gro [ 5 6 l

O terceiro estgio de sinterizao referido como o estgio final. Este, envolve a

remoo da porosidade residual e crescimento de gro. A porosidade removida por

difuso de vacncias ao longo dos contornos de gro. Os poros devem estar prximos dos

contornos de gro, caso contrrio, sero aprisionados no gro, que est crescendo. Se o

crescimento de gro for muito rpido, os contornos se movimentam mais rpido que os

poros, fazendo com que estes fiquem aprisionados. Por este motivo, o controle da

velocidade de crescimento de gro primordial para a eliminao dos poros e para

obteno de corpos densos. As mudanas que ocorrem durante o estgio final da

sinterizao so ilustradas na Fig. 1 l [ 5 6 l

a b Fig. 11 - Mudanas que ocorrem durante o estgio final da siniciilao: a) crescimento de

gro com poros descontnuos, b) crescimento de gro com reduo da porosidade e c)

crescimento de gro com reduo e eliminao da porosidade 1 5 6 ' .

17

REVISO BIBLIOGRFICA

Os estgios e principais mudanas fsicas que ocorrem durante a sintetizao esto

listados na Tab. 4 1 5 6 1 .

Tab. 4 - Estgios da sinterizao 1 5 6 1 .

Estgios Mudanas fsicas

Primeiro ou inicial

Segundo ou intermedirio

Rearranjo

Formao de pescoo

Crescimento de pescoo

Crescimento de gro

Alta retrao

Poros contnuos

Terceiro ou final Poros descontnuos

Movimentao dos contornos de gro com possvel

eliminao dos poros

Crescimento exagerado de gro

3.3.1.3 Sinter izao Via Fase L qu ida

Neste processo o p compactado aquecido a uma temperatura onde h formao de

lquido, normalmente proveniente de uma composio eu t t i ca 1 ! Durante o aquecimento,

antes da formao do primeiro lquido, h transporte de massa no estado slido, em parte,

devido ao gradiente de potencial qumico entre as espcies do material. Em muitos casos a

difuso no estado slido produz uma densificao considervel antes da formao do

lquido. Os fatores que controlam o grau de sinterizao at o final do processo so: o

tamanho das partculas, a viscosidade e a tenso superficial do lquido fo rmado 1 5 6 1 5 7 ! Onde,

a viscosidade e a tenso superficial do lquido dependem da sua composio e temperatura

de tratamento trmico.

A principal vantagem deste processo o aumento da cintica de sinterizao devido

a formao de uma fase lquida, que aumenta a difusividade das espc ies 1 1 8 1 5 6 1 . So trs as

exigncias bsicas para este tipo de sinterizao ocorrer: (i) haver lquido na temperatura

de sinterizao; (ii) haver boa molhabilidade do lquido no slido (baixo ngulo de contato

REVISO BIBLIOGRFICA

- Fig. 12a); e (iii) boa solubilidade do slido no lquido 1 L 1 J. As desvantagens esto em

relao dificuldade de controle dos parmetros de sintetizao, j que as peas so

suscetveis a distores em formato, caso a quantidade de lquido formado esteja em

excesso.

A l t a S l i d o Baixa M o l h a b i l i d a d e M o l h a b i l i d a d e

(a)

boa molhabi l idade

baixo ngulo de contato

EDlida Solide

molhabi l idade no adequ

alto ngulo de contato

(b)

Fig. 12 - Molhabilidade das partculas pelo lquido: a) ngulos formados por slido e

lquido. Quanto maior o ngulo 9, menor a capacidade do lquido de molhar o slido, b)

molhabilidade entre partculas durante o processo de sinterizao l 5 6 1 .

19

REVISO BIBLIOGRFICA

O processo de sinterizao via fase lquida pode ser dividido em trs estgios

distintos, com diferentes taxas de densificao: rearranjo, soluo precipitao e

coa l e scnc i a 1 5 6 1 5 ! Cada estgio em particular contribui para a densificao do material.

No estgio inicial da sinterizao, vrios processos ocorrem simultaneamente e

consecutivamente. Tanto o slido como o lquido so submetidos a um rearranjo, com

aumento da densidade, devido s foras capilares exercidas pelo lquido no slido. O

lquido entre as partculas age como um lubrificante para o rearranjo, de modo a auxiliar os

gros a se empacotarem melhor. O rearranjo das partculas progride de modo a reduzir a

porosidade. Se existir lquido suficiente no sistema e este apresentar boa molhabilidade em

relao ao slido, pode-se alcanar altas densidades durante o rear ran jo 1 8 5 7 1 . O lquido

concentrado nos pontos de contato entre as partculas equivale ao pescoo formado na

sinterizao no estado slido, devido ao efeito de capilaridade, aproximando os centros de

massa, caso sua viscosidade seja suficiente para molhar os g r o s 1 !

A fora motriz para o rearranjo provm das presses capilares desbalanceadas

devido: (i) distribuio de tamanho das partculas; (ii) formato irregular das partculas; (iii)

variao da densidade no corpo de prova a verde; e (iv) anisotropia das p rop r i edades 1 1 !

Quando o processo de rearranjo no produz mais densificao, inicia-se outro

processo para o aumento da densidade, a so luo- reprec ip i t ao 1 8 t 5 6 l Esta etapa

corresponde a dissoluo dos pontos de contato entre as partculas com o objetivo de

aproximar seus centros. A solubilidade das partculas envoltas pelo lquido varia

inversamente ao seu tamanho; partculas pequenas possuem altas energia e solubilidade,

comparativamente com partculas maiores. A diferena de solubilidade estabelece um

gradiente de concentrao no lquido. O transporte de massa se d dos gros menores para

os maiores por difuso atravs do lquido e o resultado um crescimento progressivo dos

gros maiores em detrimento dos menores. A soluo-reprecipitao contribui para o

arranjo dos gros e densificao do material, permitindo o melhor preenchimento dos

espaos, devido maior mobilidade do material na fase l quida 5 6 1 . A energia superficial do

slido-lquido menor que a energia slido-vapor para lquidos com alta molhabilidade,

resultando em uma reduo de energia do sistema1-56-1.

Diferentes tipos de microestrutura podem ser formadas devido a sinterizao via fase

lquida. Alguns fatores como: tamanho de partcula, quantidade de lquido presente na

temperatura de sinterizao e taxa de resfriamento so fundamentais para determinar o tipo

de microestrutura do material aps a sinterizao. Exemplos destas microstruturas so

apresentados na Fig. 1 3 t ! f 1 .

20

REVISO BIBLIOGRFICA

o o o

o o o

o o o

(a> (b) (c) (d) (e)

Fig. 13 - Modelos esquemticos de tipos de microestruturas resultantes de sinterizaes

via fase lquida: a) vidro sinterizado; b) estrutura cristal-lquido; c) contorno de gro vtreo,

d) fase vtrea no contorno de gro e e) contorno de gro cristalizado [ 5 6 1 .

A Fig. 13 (a) pode resultar da sinterizao de partculas de vidro, no h presena de

gros e contornos de gro, apenas poros esfricos remanescentes. A Fig. 13(b) pode

resultar da densificao de uma composio contendo grande quantidade de fase lquida e

resfriada suficientemente rpido, de forma que o lquido se solidifica como um vidro. As

Fig. 13(c) e (d) ilustram situaes similares. Na Fig. 13(c) a fase vtrea contnua, presente

nos contornos de gro e pontos triplos; enquanto na Fig. 13(d), a quantidade de fase lquida

mnima e visvel apenas nos pontos triplos, por microscopia ptica. A Fig. 13(e), ilustra

um material onde a fase lquida cristalizou durante o resfriamento ou por posterior

tratamento t rmico [ 5 6 l

3.3.1.4 Sinter izao Via Lquido Reat ivo

A sinterizao via lquido reativo tambm denominada sinterizao via lquido

transiente. E semelhante sinterizao via fase lquida, proporcionando a mesma fora

motriz para a densificao com a diferena que, neste caso, o lquido muda sua composio

ou consumido completamente durante ou aps a sinterizao se completar 1 5 6 1 .

O material resultante pode possuir excelentes propriedades, inclusive em

temperaturas superiores temperatura de sinterizao, pois no h a presena de uma fase

euttica resultante do resfriamento da fase lquida 1 5 6- 1.

REVISO BIBLIOGRFICA

3.3.2 TCNICAS DE SlNTERIZAO DE COMPSITOS DE MATRIZ CERMICA

Como foi visto, o processo de sinterizao envolve tratamentos trmicos que, no

obstante, diferem entre si, dependendo da tcnica utilizada, da composio do material a

ser sinterizado e das propriedades finais desejadas para o produto. Na sinterizao de

CMCs, as tcnicas de produo mais utilizadas so 1 1 7 1 :

Sinterizao Normal {Pressureless Sintering);

Prensagem a Quente (Hot Pressing - HP);

Sinterizao Reativa (Reaction Bonding);

Prensagem Isosttica a Quente (Hot Isostatic Pressing - HIP).

3.3.3 SINTERIZAO NORMAL

A sinterizao sem aplicao de presso externa de corpos cermicos conformados

(extruso, colagem, injeo, prensagem uniaxial e t c ) , , um dos mtodos mais econmicos

e convencionais de processamento de CMCs.

Nesta tcnica, a densificao funo da composio, distribuio do tamanho de

partculas, atmosfera, taxa de aquecimento e tempo e temperatura de patamar. Onde,

durante o tratamento trmico controlado, os estgios de densificao so alcanados, de

forma a produzir corpos densos 1 1 7 1 .

3.3.4 PRENSAGEM A QUENTE

A prensagem a quente uma tcnica de produo de CMCs em que maiores

densidades podem ser obtidas com utilizao de temperaturas menores. Isto se deve

simultnea aplicao de presso e temperatura sobre a mistura de ps, que aumenta a taxa

de densificao, a eliminao de poros e a diminuio do tamanho dos gros do corpo

sinterizado.

Apesar dos corpos sinterizados por esta tcnica apresentarem densidades finais

elevadas e baixa porosidade, possui algumas limitaes, como: aplicao somente para

peas com geometria simples, alta retrao do material devido a baixa densidade do corpo

antes de sinterizado, alm de ser um processo caro para produo em larga escala 1 1 7 !

22

REVISO BIBLIOGRFICA

3.3.5 SINTERIZAO REATIVA

O processo de sinterizao reativa muito utilizado para cermica monolticas, mas

tambm pode ser usado para produo de CMCs 1 1 7 1 . Este processo tem como grande

vantagem, a pouca ou nenhuma retrao da matriz que ocorre durante a sinterizao. Pois o

p de partida, conformado por prensagem isosttica, injeo ou colagem, aquecido em

atmosfera e presso controladas para que o material de partida reaja com a atmosfera do

forno, dando origem a outro material. Esta tcnica possui algumas vantagens: muito

eficiente para a produo de peas de formato complexo, sem necessidade de usinagem

posterior; um processo barato e aplicvel em produo em massa; e grandes quantidades

de reforo em forma de fibras ou whiskers podem ser utilizadas; fibras contnuas e sem

orientao preferencial tambm podem ser usadas e; como a temperatura de reao

geralmente mais baixa que a temperatura de sinterizao, no ocorre a degradao

trmica das fibras de reforo. Sua principal desvantagem a alta porosidade aberta que o

produto final possui, pois, como o corpo quase no retrai, tambm no h aproximao dos

centros de massa e, consequentemente, no ocorre densificao. Esta tcnica muito

utilizado na fabricao de refratrios e peas de nitreto de silcio, S3N4 1 " 1 . No caso do

S3N4, peas conformadas de Si metlico, so dispostas em forno com atmosfera controlada

de N 2 , N 2 / H 2 ou N 2 /He e aquecidas inicialmente entre 1200 e 1250C. O nitrognio

penetra nos poros do corpo de silcio e comea a reagir com o Si para formar 01-S3N4. Em

seguida, a temperatura elevada lentamente prximo temperatura de fuso do Si, onde o

a -Si 3 N 4 se transforma em p - S i 3 N 41 5 8 1 5 9 1 .

3.3.6 PRENSAGEM ISOSTTICA A QUENTE

Esta tcnica envolve a aplicao de presso uniforme ao corpo durante o tratamento

trmico em elevadas temperaturas. Pode ser aplicada em corpos verdes pr-conformados e

encapsulados ou em corpos j sinterizados, para promover a densificao total. A presso

aplicada por um gs inerte, geralmente nitrognio ou argnio, em uma faixa de 100 a 300

MPa, enquanto a temperatura elevada. Sob estas condies, a viscosidade do argnio

comporta-se como a gua, e a transferncia de calor ocorre pela combinao de radiao e

conveco. As trs variveis, temperatura, tempo e presso, so parmetros ajustveis, que

podem ser otimizados de acordo com o material. As maiores vantagens deste processo,

comparado sinterizao normal, so que altas densidades podem ser alcanadas com

adies mnimas de aditivos de sinterizao 1 1 7 1 .

REVISO BIBLIOGRFICA

3.4 PROPRIEDADES MECNICAS

A caracterizao dos materiais quanto dureza, tenacidade e mdulo de elasticidade,

necessria para definir suas propriedades, campos de aplicao, limites de uso e assim,

melhor suprir a indstria moderna que requer materiais que resistam a exigncias cada vez

mais elevadas.

3.4.1 RESISTNCIA MECNICA

O conceito de resistncia, de um modo geral, pode ser definido como a fora de

tenso necessria para quebrar as ligaes atmicas de um material. A Eq. 1 derivada da

avaliao da resistncia terica sobre a tenso de carregamento, onde at a resistncia

terica, E o mdulo de elasticidade, a,, o espaamento interatmico e y a energia de

superfcie de fratura 1 5 6 1.

^ = (1) V a o J

A presena de defeitos, tais como trincas, poros ou incluses resultam em

concentrao de tenses. Ao contrrio dos metais e polmeros, em que as tenses so

aliviadas por deformaes locais prximas das trincas, nos materiais cermicos isto no

ocorre 1 5 6 1 ; estas tenses, assim como trincas e microtrincas existentes, influenciam

negativamente na resistncia, tornando os materiais cermicos mais frgeis 1 6 0 1. No caso de

vidros e de cermicas cristalinas densas, estabelecido que defeitos superficiais nos corpos

(trincas e microtrincas), so os principais responsveis pela baixa resistncia 1 3 1. Em

cermicas policristalinas, uma fonte comum de microtrincas a diferena de coeficiente de

expanso trmica entre as fases presentes no corpo. As tenses acumuladas so suficientes

para darem incio a pequenas trincas. Ataques qumicos e a abraso mecnica da superfcie

dos corpos so, em geral, outras fontes de desenvolvimento de trincas 1 3 1 .

A resistncia pode ser medida por diferentes tipos de testes e formatos de corpos de

prova, como ilustra a Fig. 14. Testes de resistncia trao so geralmente usados para

caracterizar a resistncia de metais dcteis. Os materiais cermicos normalmente no so

caracterizados por testes de trao devido ao alto custo e dificuldade de fabricao de

corpos de prova (Fig. 14a) sem variaes dimensionais e isentos de defeitos superficiais.

24

REVISO BIBLIOGRFICA

(a) Resistncia a Trao (b) Trao Hidrosttica (c) Thela

(d) Flexo de 3 pontos (e) Flexo de 4 pontos

(t) Compresso (g) Compresso

Fig. 14 - Esquema de diferentes testes de resistncia 1 ' 5 6 '

O desempenho do material pode ser prejudicado j nas etapas iniciais do

processamento 1 6 0 1 , e alguns fatores que podem influenciar os resultados de resistncia

flexo 1 5 6 1:

S presena e formato de poros: quanto menor a quantidade de poros e quanto mais

esfricos eles forem, maior ser a resistncia do material;

S contornos de gro adjacentes aos poros e presena de trincas: causam falhas muito

maiores que uma trinca ou poro isoladamente, pois no impe resistncia propagao de

trincas por falta de barreiras fsicas nestas regies;

S distncia entre poros e entre poros e a superfcie da amostra: poros prximos

superfcie so nucleadores de trincas e diminuem a resistncia do material;

A presena de incluses: as diferenas de formato, tamanho e propriedades elsticas

e trmicas entre incluses e matriz, afetam os resultados de resistncia do material devido a

gradientes de tenses formados da expanso ou retrao do material durante o

processamento;

S defeitos formados durante a preparao dos corpos de prova: geralmente as etapas

de preparao de corpos de provas para ensaios de flexo envolvem corte e desbaste, os

quais, podem induzir formao de falhas nas superfcies. A remoo dos vrtices de 90 e

o polimento superficial do corpo de prova so etapas essenciais que devem ser realizadas

com extremo cuidado, e visam minimizar nucleadores de defeitos na superfcie.

25

REVISO BIBLIOGRFICA

A resistncia de materiais cermicos geralmente caracterizada por testes de flexo,

Fig. 14 de e [ 5 6 l Os corpos de prova podem ser de seo circular, quadrada ou retangular

ao longo de seu comprimento. Estes tipos de corpos de prova so de fcil fabricao, baixo

custo e maior confiabilidade.

O teste de flexo realizado em mquinas de teste universal geralmente utilizada

para ensaios de tenso e compresso. Como ilustrado na Fig. 14 d e e, o corpo de prova

apoiado em suportes e a carga aplicada uniformemente no centro (ensaio de 3 pontos) ou

em 2 pontos (ensaio de 4 pontos). A resistncia flexo definida como a fora de tenso

mxima de fratura, e tambm denominada de mdulo de ruptura (MOR). A resistncia

flexo de corpos de prova retangulares, os mais comuns, pode se calculada usando a Eq.

geral (2) da tenso de flexo (S) A 6 1 A

Onde: M o momento, c a distncia do eixo central superfcie a ser tencionada, e I

o momento de inrcia.

Para corpos de prova retangulares, algumas substituies so efetuadas na Eq. 2,

conforme as Eq. 3 e 4:

bd

1 2 (3) e c = | (4)

Onde: d a espessura do corpo de prova e b a largura.

A Fig. 15 ilustra a derivao da Eq. 2 utilizada no clculo da resistncia em testes de

flexo de 3 e 4 pontos para corpos de prova retangulares. Existem normas padronizadas

como a MIL STD-1942 1 6 1 1 e a ASTM C328-56 1 6 2 1 , que detalham as condies dos testes e

dos corpos de prova utilizados para testes de flexo [ 5 6 l

As amostras para testes de flexo no necessitam seguir rigorosamente as

caractersticas dimensionais padronizadas nas normas. Muitas vezes, h o interesse na

determinao do limite de resistncia flexo de materiais com suas caractersticas de

26

REVISO BIBLIOGRFICA

fabricao, onde a rugosidade bruta e distores dimensionais, decorrentes do processo,

influenciam no comportamento real deste material. Neste caso, equaes especficas

devem ser desenvolvidas para o clculo da resistncia f l e x o 1 6 !

V i s t a Lateral Perfi l

(a) 3 pontos

L C-4

P/2

M - ( l ) l f )

2 b d

(b) 4 pontos

** 1 L. _ d

4 T

P/2 P/2

M = ( ) a

S = 4 _ p , . = M O R = M A

P/2

I = bdf 12

Fig. 15 - Derivao das equaes de resistncia flexo, a) flexo em 3 pontos e b)

flexo em 4 pontos 1 5 6 1 .

Os valores de resistncia flexo obtidos em ensaio de flexo em 3 pontos so de 10

a 20% superiores que os valores obtidos em ensaios de flexo de 4 pontos. A resistncia

flexo em 4 pontos retrata com maior preciso a resistncia do material, do que a

resistncia em 3 pontos, pois a tenso aplicada em toda a rea entre os dois pontos de

aplicao da carga, Fig. 16. Assim, a probabilidade de se encontrar falhas de tamanho

crtico maior neste caso, do que quando a carga aplicada em um nico p o n t o 3 5 6 l

27

REVISO BIBLIOGRFICA

1

(b) 4 pontos

Fig. 16 - Comparao da distribuio de cargas para os testes de flexo em 3 e 4

pontos 1 5 6 1 .

Uma importante conseqncia da teoria de fratura frgil que a resistncia fratura

de um slido frgil naturalmente estatstica; depende da probabilidade de um defeito ser

capaz de iniciar fratura devido a aplicao de uma determinada carga. Vrias so as teorias

estatsticas desenvolvidas para resistncia de materiais frgeis. Todas envolvem hipteses

sobre o nmero de defeitos crticos relacionados com o volume do corpo de prova e a rea

superficial. Observaes diretas de defeitos que so provveis de causar fratura sugerem

que esta relao alterada de um material para outro e provavelmente depende do mtodo

de fabricao e do tratamento aps fabricao 1 3 ' .

Existem mtodos mais sofisticados de determinao da resistncia mecnica, como o

mtodo snico; este requer corpos de prova mais simples de serem confeccionados, um

mtodo no destrutivo, e apenas um pequeno nmero de amostras com faces paralelas so

requeridos para a determinao do mdulo de elasticidade.

3.4.2 MDULO DE ELASTICIDADE

O mdulo de elasticidade, ou mdulo de Young (E) pode ser definido como a

quantidade de energia necessria para produzir uma determinada unidade de deformao 1 3 1 .

Os materiais cermicos, geralmente, apresentam alto mdulo de elasticidade e

elevada dureza, mas so frgeis. A deformao plstica da maioria dos materiais

cermicos, temperatura ambiente, praticamente desprezvel 1 3 1 .

28

(a) 3 pontos

REVISO BIBLIOGRFICA

O mdulo de elasticidade representa a fora interatmica 1 , assim, quanto maior a

fora da ligao atmica do material, maior ser a tenso necessria para aumentar o

espaamento interatmico. Materiais cermicos de carter inico possuem menor mdulo

de elasticidade que materiais predominantemente covalentes. Materiais compostos

possuem mdulo elstico intermedirio entre os constituintes ou fases, e o valor do mdulo

de elasticidade pode ser estimado usando a regra das misturas, Eq. 5 [ 5 6 1 :

E E E, "'

Onde: E e Eb so os mdulos dos constituintes; Vb, a frao volumtrica de um do

constituinte beE,o mdulo resultante.

As propriedades elsticas so geralmente determinadas por 2 mtodos. O primeiro,

mtodo quase-esttico, baseado nas medidas de tenso aps aplicao de fora mecnica.

Onde o mdulo de Young medido pela aplicao de modos de tenso apropriados 1 6 3 ' . O

segundo, mtodo dinmico, pode ser realizado por duas tcnicas: a tcnica snica, baseada

na aplicao de uma fora e deteco de vibraes de ressonncia nos diferentes niodos; e

a tcnica ultrassnica, baseada na medio da velocidade do som em uma escala de

frequncia de megahertz 1 6 3 ' . O mtodo de velocidade ultrassnica no destrutvel e muito

preciso 1 6 4 ' .

Existem alguns fatores que geralmente afetam o mdulo de elasticidade, so 1 6 3 ' :

S densidade e estrutura dos poros: quanto menor a densidade e maior a

irregularidade no formato dos poros, menor ser o mdulo de elasticidade, pois os poros

no apresentam resistncia deformao causada pela aplicao de tenses;

S orientao preferencial dos gros;

S macro e microtrincas e tenso residual;

S fases secundrias em contorno de gro.

A temperatura tambm afeta o mdulo de elasticidade. Quanto maior a temperatura,

menor ser o mdulo, j que os espaamentos interatmicos ficam maiores devido a

REVISO BIBLIOGRFICA

expanso trmica do material.

A lei de Hook define a proporcionalidade do estado elstico com a tenso aplicada

considerando um corpo sujeito a um nico componente de tenso, a, conforme Eq. geral

. [3 [56 ] .

Onde: E o mdulo de elasticidade e s a componente de deformao elstica resultante

da tenso cr.

3.4.3 DUREZA

A dureza pode ser expressa numericamente como a medida da reao a um

determinado tipo e intensidade de fora imposta sobre um material. A dureza uma funo

que relaciona o mtodo de teste e a natureza dinmica do processo de medida de acordo

com diferentes cargas. Uma grande variedade de testes de dureza foram desenvolvidos:

Teste de Risco (Mohs), Phoughing Test, Cutting Test, Teste de Abraso, Teste de Eroso,

Damping Test, Rebound Test e Teste Esttico de I d e n t a o 6 1 .

Exemplos de teste de dureza realizados para materiais frgeis, como os materiais

cermicos, so os teste de impresso: Brinnel, Meyer, Rockwell, Vickers, Knoop e

Berkovich; a Fig. 17 apresenta o esquema de alguns tipos de identadores 6 5 1 .

30

REVISO BIBLIOGRFICA

(a) Vickers (b> Berkovich

(c) Knoop

Fig. 17 - Esquema de tipos de identadores utilizados em testes de d u r e z a 1 6 !

Os testes estticos de identao retratam claramente a natureza multifuncional e a

falta de uma unidade nica de dureza 1 6 5 ' , pois existem muitos mtodos de ensaios,

dependendo do tipo de identador. O mais comum em forma de uma pirmide que

forada sobre a superfcie polida do material, Vickers.

O mtodo de determinao de dureza por identao Vickers para materiais frgeis,

como as cermicas e os vidros, tornou-se muito difundido por: (i) poder ser realizado em

amostras de pequenas dimenses; (ii) a preparao das amostras relativamente simples,

exigindo apenas o seu polimento para produzir uma superfcie espelhada, plana e isenta de

riscos; (iii) o identador de diamante Vickers usado na produo da identao um item

padro usado em testes de dureza ou em mquinas de ensaio universal; (iv) ser um mtodo

rpido e de baixo cus to 1 6 6 1 6 7 !

A dureza Vickers obtida quando uma pirmide de diamante, de base quadrada com

vrtice de 136, forada sobre a superfcie de um corpo com uma certa carga t 6 5 l As

dimenses das diagonais da impresso remanescente e o valor da carga aplicada so

substitudos na Eq. geral 7, para o clculo da dureza V i c k e r s 1 6 7 1 6 8 1 :

31

REVISO BIBLIOGRFICA

1,8544 P Hv =

V-

REVISO BIBLIOGRFICA

plana, polida e isenta de riscos; (f) porosidade: poros no exercem resistncia ao

penetrador, quanto maior a densidade, maior a d u r e z a 1 6 !

3.4.4 TENACIDADE FRATURA

A tenacidade, de um modo geral, a capacidade que um material tem para absorver

energia no regime plstico. Se a carga aplicada ao material for maior que seu limite de

resistncia, trincas so geradas de forma a aliviar a energia excessiva.

A concentrao de tenses na extremidade de uma trinca descrita em termos dos

fatores de intensidade de tenso Ki, Kn e Km. Os nmeros I, II e III, referem-se a direo

de aplicao da carga em relao trinca. Se a carga perpendicular trinca denominado

Modo I e representado por Ki. Similarmente, cargas aplicadas em planos de cisalhamento

so denominadas como Modo II e III e representadas, respectivamente, como Kn e Km,

conforme ilustrado na Fig. 19 [ 5 6 1 .

O modo I o mais utilizado para materiais cermicos. Dados experimentais de uma

variedade de materiais tem sido obtidos por intensidade de tenso crtica, Kic. Este o fator

de intensidade de tenso no qual a trinca se propagar e induzir fratura. Tambm

denominada como tenacidade fratura 5 6 1 .

A tenacidade fratura pode ser definida mais precisamente, como sendo a habilidade

do material em resistir a propagao instvel de trinca, quando submetido a um

carregamento esttico 1 6 9 1 .

A determinao da tenacidade fratura por medidas do comprimento das trincas

produzidas por impresso Vickers largamente utilizada para determinao da tenacidade

REVISO BIBLIOGRFICA

de materiais cermicos 1 1 1 1 1 . O conceito da utilizao das medidas das trincas para

clculo da tenacidade foi concebido por Pa lmqv i s t 6 7 l E a impresso Vickers utilizada

como padro de identao, devido a sua facilidade de reproduo e por produzir ntidas

trincas em superfcies cermicas.

Diferentes tipos de trincas podem ser geradas nos materiais frgeis pelo contato de

um identador, so cinco, os principais tipos de trincas, Fig. 20 1 7 2 1 :

Trinca Cnica: tipicamente gerada pelo carregamento elstico de identadores

esfricos ou pontiagudos; se propaga da superfcie para o interior, com um ngulo

caracterstico em relao ao eixo de carregamento e uma trinca circular formada na

periferia do contato.

Trinca Radial: pode ser gerada por identadores agudos, Vickers e Knoop, ou devido a

carga excessiva de identadores esfricos. Neste caso, h a formao de trincas paralelas ao

eixo de carregamento.

Trinca Mediana: tambm se propaga paralelamente ao eixo de carregamento na

forma de crculos ou segmentos circulares.

Trinca Half-Penny: formada por identadores Vickers. Durante o carregamento h a

presena de uma componente elstica, responsvel pelo crescimento da trinca e, durante o

descarregamento uma componente plstica, responsvel pela propagao superficial da

trinca.

Trinca Lateral: gerada abaixo da zona de deformao e se propaga paralelamente

ou prxima a superfcie, tem formato circular.

Fig. 20 - Tipos de perfil de trinca possveis em ensaios de dureza'

34

REVISO BIBLIOGRFICA

Os diversos modelos de trincas causados por identadores agudos, como Vickers e

Knoop, so classificados em dois grupos bsicos: radial/mediana (Half-Penny) e radial

(Palmqvist) [ 7 3 1 . As trincas que se formam no plano mediano que contm o eixo de

carregamento so chamadas de radial/mediana; e aquelas que se formam lateralmente, em

planos quase paralelos superfcie de material, so denominadas trincas radiais ou

Palmqvist. A Fig. 21 apresenta a geometria dos dois t ipos 1 7 3 1 .

Radial Mediana P . H . A - - >

Fig. 21 - Perfil das trincas formadas por impresso Vickers [ 7 3 l

Grande nmero de equaes para clculo de K I c encontrado na

l i t e r a t u r a 1 6 5 1 6 6 1 6 7 7 1 1 7 2 1 7 4 1 7 5 1 e h divergncias nos resultados obtidos pelas diferentes

equaes. A primeira seleo de uma equao realizada a partir do tipo de trinca

formada, que pode ser determinada pelas relaes entre os valores experimentais da carga

aplicada e os comprimentos das trincas e diagonais de impresso geradas aps a identao;

as relaes para as trincas tipo Palmiqvist e Half-Penny so apresentadas na Tab. 5. Outra

forma para determinao do tipo de trinca a observao direta, em microscpio, aps leve

desbaste da superfcie do corpo de prova identado. Com o desbaste, uma fina camada

superficial do corpo de prova removida, e a observao da regio prxima ao vrtice da

identao possvel.

35

REVISO BIBLIOGRFICA

Tab. 5 - Condies para determinao do tipo de trinca em materiais frgeis' 176]

P/l independente da carga

Palmqvist

LnP x lnl linear, com coeficiente angular ln P x ln c linear, com coeficiente angular

entre 0,5 e 1. entre 1 e 2.

c / a < 3 c / a > 3

Onde: P a carga aplicada; c, o comprimento da trinca; a, a semidiagonal da impresso e 1,

a somatria de a e c.

3.5 PROPRIEDADES TRMICAS

3.5.1 COEFICIENTE DE EXPANSO TRMICA LINEAR

Uma propriedade de relevante conhecimento para materiais cermicos o coeficiente

de expanso trmica linear, pois determina as alteraes dimensionais do material em

funo da temperatura.

Quando uma cermica policristalina ou a mistura de fases cristalinas e vtreas so

aquecidas, e o coeficiente de expanso nas diferentes orientaes cristalinas no for o

mesmo ou, se as vrias fases cristalinas tiverem diferentes coeficientes de expanso

trmica, os diferentes gros presentes tero contraes diferentes durante o resfriamento e

trincas podem ocorrer, se a tenso de contrao for liberada. Na prtica, cada gro

restringido por gros adjacentes e, microtrincas so desenvolvidas em quantidade

proporcional diferena de contrao entre os gros das diferentes fases 1 3 1 5 6 1 .

Em muitas aplicaes os materiais cermicos so expostos a gradientes de

temperatura. Um grande gradiente de temperatura ou a m combinao de comportamentos

de expanso trmica entre dois materiais, como CMCs, pode resultar em tenses

suficientes para fraturar ou deformar o material. Por este motivo, de grande interesse que

a mudana de volume nos materiais cermicos seja quantificada para assegurar a correta

aplicao destes [ 7 7 1 .

Quando calor fornecido para um material, ocorre uma mudana na temperatura, de

Ti para T 2 , com uma mudana correspondente no volume, Vi para V 2 . Para descrever esta

mudana definido o coeficiente de expanso trmica volumtrica, (3m, dos materiais

atravs da Eq. 8 1 7 8 1 :

36

REVISO BIBLIOGRFICA

V - V

P = y2 (8) V/T2-T)

A definio correspondente, para a expanso trmica linear, ou unidimensional,

dada pela Eq. 9 7 8 1 :

a== '2~n (9) A ( A - 7 1 )

Onde: Li o comprimento inicial; L 2 , o comprimento final, Tj , a temperatura inicial e T2

a temperatura final.

A dilatometria o mtodo mais utilizado para medir a expanso trmica linear de

grande variedade de mater ia is [ 7 7 l Existem normas padronizadas que ditam as condies

dos ensaios de acordo com o tipo de material em anlise; por exemplo a norma ASTM

E831-81 , para materiais sl idos [ 7 9 l

3.5.2 CONDUTIVIDADE TRMICA

A condutividade trmica a razo da passagem de calor, ou energia trmica, atravs

de um material por unidade de dimenso e temperatura 1 3 5 6 1 .

O atrito entre uma ferramenta de corte e a pea usinada gera um gradiente de

temperatura, e a velocidade com que o calor gerado dissipado atravs da ferramenta de

corte, um dos fatores que ditam a vida til desta. Quanto mais rpido o calor passar pelo

material, menor a probabilidade de tenses trmicas serem geradas. Portanto, cermicas

que devem ter aplicao como ferramentas de corte precisam ter alta condutividade

t rmica [ 8 0 l

A condutividade trmica pode ser calculada pelo produto dos valores de difusividade

trmica, densidade e calor especfico do material, obtidos experimentalmente. A equao

geral (10) da difusividade definida a seguir 1 8 1 1 8 2 1 :

K = Cp- p-k (10)

Onde: K a condutividade trmica (W/mK); p, a densidade (kg/m 3 ) ; Cp, o calor

especfico (J/kgK) e k, a difusividade trmica(m 2 /s) .

37

REVISO BIBLIOGRFICA

Os principais transportadores de energia trmica so os fnons e a radiao. Altas

condutividades so alcanadas em materiais que apresentam o mnimo de desordem

estrutural; compostos por elementos de similar peso atmico e sem a presena de tomos

em soluo s l i d a A . A formao de soluo slida diminui a condutividade de materiais

cermicos, uma pequena diferena no tamanho do raio inico e distribuio eletrnica

resulta em suficiente distoro da rede capaz de causar a diminuio da condutividade

t rmica 5 6 1 .

Alm da temperatura, que tem forte efeito na condutividade trmica dos materiais

cermicos; outros fatores tambm a afetam: disperso de segundas fases; impurezas que

no entram em soluo slida; porosidade; microtrincas e no cristalinidade; contornos e

tamanho dos gros.

O efeito da disperso de segunda fase na condutividade varia dependendo da

condutividade e distribuio de cada fase. A Fig. 22 apresenta esquematicamente vrias

distribuies de fases e lista exemplos de cada [ 5 6 l

A configurao de disperso descontinua em matriz contnua, Fig. 22b, muito

comum em materiais cermicos. Isto ocorre em sistemas, por exemplo, onde as impurezas

presentes no formam soluo slida com a matriz. Neste caso, a condutividade trmica da

fase principal domina o processo de transporte de energia trmica por ser a fase em maior

proporo. Microestrutura similar a apresentada na Fig. 22b, ocorre em compsitos de

matriz cermica com disperses de whiskers ou particulados como AI2O3-TC e AI2O3-

SiCw, usados como ferramentas de corte para torneamento em meta is t 5 6 1 .

38

REVISO BIBLIOGRFICA

Compsitos em camadas;

Revestimento de ferramentas de cote;

Revestimento de barreiras trmicas;

Esmaltes ou vidrados.

Impurezas dispersas;

Microestrutura com duas fases;

Compsitos com partculas dispersas;

(b)

Microestrutura comum;

Fases de contorno de gros;

Cermica ligada por fase vtrea.

Fig. 22 - Modelos de distribuio de segunda fase em materiais: a) camadas paralelas, b)

matriz contnua com disperso de partculas descontnuas e c) gros grandes separados por

uma fase contnua minor i t r ia | ! 6 l

A porosidade um caso especial de segunda-fase, como a porosidade fechada um

pssimo condutor de calor, provoca a reduo da condutividade trmica do material.

A crescente competitividade no setor metalrgico tem exigido velocidades de corte

cada vez maiores para aumentar a produtividade, assim como o desenvolvimento de

materiais (ferramentas de corte) que suportem o aumento da temperatura gerado por esse

aumento da velocidade. Como os materiais utilizados para ferramentas de corte so

aplicados em condies severas de temperatura e abraso, torna-se fundamental o

conhecimento de suas propriedades trmicas, como condutividade trmica, para que

atendam as exigncias do mercado. Quanto maior a condutividade trmica do material da

ferramenta de corte, maior ser a resistncia ao choque trmico.

39

REVISO BIBLIOGRFICA

3.5.3 DIFUSIVIDADE TRMICA

A difusividade trmica (k, m /s) est relacionada, e diretamente proporcional

condutividade trmica, como apresenta a Eq. 1 1 [ 8 2 ] .

* '- p-~&p (,( >

Onde: K a condutividade trmica; p, densidade e Cp, o calor especfico.

Existem trs mecanismos de conduo de calor em slidos. Estes podem coexistir

mas, dependendo do tipo de material e da temperatura, um dos mecanismos predomina.

So e les [ 3 ] :

Conduo por Eltrons: predominante nos metais, materiais que possuem eltrons

livres;

Conduo por Fnons: predominante em materiais dieltricos;

Conduo por Ftons: importante nos slidos dieltricos medida que a temperatura

aumenta.

Os fnons so os principais responsveis pela conduo de calor nos materiais

cermicos e, por serem facilmente espalhados por defeitos cristalinos, no so to

eficientes no transporte de calor como os eltrons livres. Por este motivo, os materiais

cermicos so geralmente menos condutores de calor que os meta is [ 6 9 ] .

Vrios so os mtodos de determinao da difusividade trmica em slidos. Um

mtodo muito difundido o que utiliza pulso de laser como fonte de calor. Durante o

ensaio, um pulso de laser de alta energia incide na superfcie da amostra termicamente

estabilizada, e a variao da temperatura do corpo de prova medida 1 3 1 .

A difusividade trmica uma propriedade importante e est fortemente relacionada

com a distribuio da temperatura no interior dos materiais 1 8 3 1 . Ferramentas de corte de

cermica, devem possuir elevada difusividade trmica para que no sofram choque trmico

durante o uso.

40

REVISO BIBLIOGRFICA

3.6 OXIDAO

A oxidao um caso particular de reaes heterogneas do tipo gs-slido. Pois

envolve a reao de um slido com molculas de oxignio, O2. O processo de oxidao

das cermicas, assim como dos materiais de engenharia em geral, um caso tpico de

reao gs-slido. O modelo mais simples para representar este tipo de reao a interao

entre uma partcula slida em um fluxo de g s | 8 4 | 8 ! l

Uma reao genrica que envolve um slido e um gs, pode ser escrita conforme a

Eq. 1 2 I , 4 I , 1 .

A(g) + 6 B ( 8 1 - > ce + t/D, (12)

Onde: b,ced so os coeficientes estequiomtricos.

Existem 5 tipos de reaes gs - s l ido I 8 4 I 8 5 ] :

Tipo I: gs + reagentes slidos - gs + produtos slidos

Tipo II: gs + reagentes slidos - produtos slidos

Tipo III: reagentes slidos -> gs + produtos slidos

Tipo IV: gs + reagentes slidos - produtos gasosos

Tipo V: reagentes slidos - produtos gasosos

Estes tipos de reaes podem envolver as seguintes etapas 1 L .

transporte de massa do reagente gasoso para a superfcie externa da partcula

slida;

difuso do reagente gasoso atravs da camada de produto formado;

absoro do reagente gasoso sobre a superfcie do reagente slido;

desoro do produto gasoso da superfcie da matriz slida;

difuso do produto gasoso atravs dos poros da matriz slida;

transporte de massa do produto gasoso da superfcie externa do slido para o

interior do fluxo de gs.

REVISO BIBLIOGRFICA

Estas etapas podem ocorrer, muitas vezes, simultaneamente e podem ser

acompanhadas de transferncia de calor (endotrmico ou exotrmico) e de mudanas

estruturais, causando a fragilizao do material em questo devido a formao de

microtrincas, por exemplo 1 ! 6 l

A maior parte das aplicaes das cermicas base de alumina ocorre em atmosferas

oxidantes e em elevadas temperaturas. A alumina por ser um xido, tem elevada inrcia

qumica e no reage em ambientes oxidantes, tanto temperatura ambiente como em altas

temperaturas. Entretanto, o mesmo no ocorre com os carbetos refratrios (ZrC, HfC, TaC,

ZrC, TiC e NbC) que, apesar de possurem relevantes propriedades mecnicas em elevadas

temperaturas; em ambientes oxidantes suas excelentes propriedades mecnicas podem ser

reduzidas devido baixa estabilidade q u m i c a 8 6 1 8 7 1 8 8 1 8 ' 1 ' 0 1 " 1 ' 2 1 ' 3 1 ' 4 ' 5 1 . Por este motivo, o

estudo da resistncia oxidao de compsitos envolvendo carbetos refratrios

fundamental.

Os mtodos mais utilizados para avaliao do comportamento de materiais sob ao

da temperatura em ambientes oxidantes so anlises termo-gravimtricas, ATG. Esta

tcnica pode ser realizada separadamente ou em conjunto com outras tcnicas, como

anlise termo-diferencial (ATD) e DSC (Differential Scanning Calorimetryf'\

dependendo do tipo de informaes requeridas. A anlise termo-gravimtrica permite

avaliar variao de massa do material medida que o tempo e a temperatura aumentam,

sendo possvel tambm, avaliar a cintica das reaes envolvidas 1 8 4 1 .

42

MATERIAIS E MTODOS

4. M A T E R I A I S E M T O D O S

Nesta seo so apresentados: os materiais usados neste trabalho, sua caracterizao

e processamento para obteno de corpos de prova; e descritos os mtodos de anlise

utilizados para a caracterizao, tanto destas matrias primas, como dos corpos de prova.

4.1 MATERIAIS

Neste trabalho foram utilizadas as seguintes matrias primas particuladas para a

obteno das composies de interesse:

a - A U 0 3 ( A l c o a A l S G ) ;

NbC (Hermann C. Starck);

Y 2 O 3 (Merck).

4.2 ANLISE QUMICA DAS MATRIAS PRIMAS

Impurezas presentes nas matrias primas ou adquiridas durante o processamento,

dependendo das propores, afetam significativamente a microestrutura das cermicas.

Durante a sinterizao estas impurezas podem precipitar nos contornos de gro e/ou inserir

defeitos na estrutura da rede cristalina, influenciando as propriedades dos corpos

cermicos. Por este motivo, foram determinadas as impurezas dos ps de OC-AI2O3 e NbC, e

o teor de carbono do p NbC.

Os ps de 01-AI2O3 e NbC foram caracterizados quanto ao teor de impurezas

metlicas por anlise de espectroscopia semiquantitativa. A porcentagem de impurezas na

alumina e no carbeto de nibio so de 0 , 1 % e 0,5%, respectivamente. As impurezas em

maior quantidade so: Ca (350 ppm) e Mg (300 ppm) na alumina e; P e Zn ( l500 ppm,

cada) e Fe e Al (800 ppm, cada), no carbeto de nibio.

O teor de carbono do NbC foi determinado pela tcnica analtica de fuso em

atmosfera de oxignio, com determinao do carbono via radiao infravermelho (Leco

CSC244). A quantidade de carbono no NbC de l l , 7 l % em peso. Assumindo a razo

estequiomtrica de nibio-carbono igual a l, a quantidade nominal de carbono de

l l , 4 4 % , portando admite-se que a quantidade de carbono livre seja de 0,27% em peso.

O p de Y 2 0 3 da Merck possui ' ' , ' % de pureza, segundo o fabricante.

43

MATERIAIS E MTODOS

4.3 ANLISE GRANULOMTRICA

A distribuio dos tamanhos de partculas pennite avaliar o grau de compactao e a

reatividade/sinterabilidade de sistemas particulados. Pois, considerando que o dimetro e a

rea das partculas interfere na cintica de reao e/ou difuso; quanto menor o tamanho

das partculas, menores as temperaturas em que a sinterizao ocorre. Um caso extremo, da

influncia do tamanho das partculas na temperatura de sinterizao, so os

nanocompsitos. Partculas nanomtricas de alumina, sintetizadas a 1350 C atingem a

mesma densidade final ( ' 8 % DT), que partculas micromtricas de alumina, sinterizadas a

1500 C" 7 ' .

Recentes avanos em instrumentao tem aumentado a preciso e diminudo o tempo

envolvido nas anlises. A exatido das anlises de tamanho de partculas depende, todavia,

da preparao da amostra, formato da partcula e tcnica utilizada 1 4 1 . A disperso do

material em um lquido pode reduzir a concentrao e o tamanho dos aglomerados.

Contraditoriamente, a aglomerao pode ocorrer em suspenses de partculas bem

dispersas se a tcnica de anlise for demorada 1 4 1 . Considerando estas observaes, a tcnica

de difrao de laser foi utilizada para determinao da distribuio de partculas, tanto das

matrias primas, como das composies, por ser uma tcnica rpida e precisa.

Esta tcnica consiste em incidir um feixe de luz colimada s partculas dispersas em

lquido, causando a difrao da luz quando o feixe atinge as partculas. A intensidade da

luz difratada proporcional ao quadrado do tamanho da partcula. Geralmente utilizado

laser de He-Ne como fonte de luz. O resultado independe da densidade das partculas, o

que permite anlise de misturas de ps, e no apenas de ps monofsicos. Neste trabalho,

foi utilizado analisador de tamanho de partculas por difrao de laser (Cilas 1064) e um

estudo de defloculao dos ps em gua com trs tensoativos diferentes foi realizado.

Dentre os trs tensoativos, Dispersai, Disperlan e detergente comum, a utilizao de 4

gotas de Disperlan em 20 ml de suspenso aquosa gerou resultados reprodutivos e

confiveis.

44

MATERIAIS E MTODOS

45

4.4 SUPERFCIE ESPECFICA

Uma anlise complementar aos dados de distribuio do tamanho de partculas a

anlise de rea de superfcie especfica. A rea de superfcie especfica a rea superficial

das partculas, por unidade de massa ou volume do material, e permite avaliar a reatividade

do p. Pois , quanto maior a rea de superfcie especfica de um p , maior a sua

reatividade. geralmente determinada pela adsoro fsica de um gs ou pela adsoro

qumica de um corante, por exemplo, azul de metileno 1 4 1 .

A adsoro fsica de um gs em temperatura criognica pode ser usada para

determinar a rea de superfcie especfica de ps cermicos. Substncias slidas, como as

partculas de um p cermico, possuem a caracterstica de adsorver molculas de gs em

sua superfcie. Pequenas molculas de gs podem ser adsorvidas formando uma camada de

menos de 2 nm na superfcie dos ps , e o volume de gs adsorvido pode ser calculado da

isoterma de adsoro. Que relaciona o volume de gs adsorvido presso e temperatura

constantes, com a massa de p analisada 1 4 1.

Neste trabalho, a determinao da rea de superfcie especfica de ps de Al203,Y203

e NbC foi realizada em equipamento Micromeritics AS AP 2010 verso 4.0. Que aplica o

mtodo BET (Brunauer, Emmett e Teller) 1 4 1 para determinao da rea de superfcie

especfica.

4.5 COMPOSIES ESTUDADAS E NOMENCLATURA

Para o estudo da influncia de adies de Y 2 O 3 nas propriedades do compsito

alumina-carbeto de nibio, Al203-NbC, foram processadas quatro misturas de ps. Fixou-

se a quantidade de NbC em 20 % em massa e variou-se a quantidade de Y 2 O 3 em relao

alumina, de acordo com a frmula geral ( A l 2 0 3 - Y 2 0 3 x %)-NbC 20%, onde x = 0; 0,5; 1 e

3 % em massa.

As composies for