absorÇÃo de Água: propriedades tÉrmicas e mecÂnicas do ... · as propriedades físicas,...

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ABSORÇÃO DE ÁGUA: PROPRIEDADES TÉRMICAS E MECÂNICAS DO POLIESTIRENO E DA BLENDA POLIESTIRENO/POLI (ɛ-CAPROLACTONA) ¹D. D. Siqueira, ¹D. D. S. Morais, ¹D. C. França, ¹E. B. Bezerra, ¹R. S. B. Ferreira, ¹E. M. Araújo ¹Universidade Federal de Campina Grande Unidade Acadêmica de Engenharia de Materiais, Av. Aprígio Veloso, 882, CEP 58429-900, Campina Grande-PB, Brasil. ¹[email protected] RESUMO Este trabalho teve como objetivo analisar a influência da absorção de água no poliestireno (PS) e na blenda (poliestireno/(copolímero de estirenoetilenobutileno-estireno enxertado com anidrido maléico)/poli(ε-policaprolactona) (PS/SEBS-g-MA/PCL). Utilizou-se o processamento em uma extrusora de rosca dupla corrotacional e, posteriormente, em uma injetora para a produção de corpos de prova de tração e impacto. Em seguida, estes foram expostos em um banho térmico sob temperatura de aproximadamente 50°C por 15 dias. Os corpos de prova foram pesados antes e após a imersão em banho térmico para determinar a absorção de água. Foi realizado ensaio de tração, impacto, absorção de água, DSC e TG. Observou-se que apenas os 15 dias de imersão em banho térmico foi o suficiente para obterem-se algumas modificações nas propriedades térmicas e mecânicas do PS e da blenda PS/SEBS-g-MA/PCL. Palavraschave: Poliestireno, poli (Ɛ-caprolactona), blenda, absorção de água. 1 INTRODUÇÃO Polímero é um composto sólido, não-metálico (normalmente orgânico), de alta massa molar, cuja estrutura é composta por pequenas unidades de repetição (ou mero). Os polímeros que ocorrem naturalmente são aqueles que derivam de plantas e animais, e têm sido usados por muitos séculos. Esses materiais incluem: a madeira, a borracha, o algodão, a lã, o couro e a seda. Outros polímeros naturais, tais como, as proteínas, as enzimas, os amidos e a celulose são importantes em processos biológicos e fisiológicos. Ferramentas modernas de pesquisa científica tornaram possível a determinação das estruturas moleculares deste grupo de materiais, bem como o desenvolvimento de numerosos polímeros, os quais são sintetizados a partir de moléculas orgânicas pequenas. Muitos dos plásticos, borrachas e materiais fibrosos que nos são úteis nos dias atuais consistem em polímeros sintéticos. Os materiais sintéticos podem ser produzidos com baixo custo, e as suas propriedades podem ser administradas em um nível em que muitas delas são superiores às suas contrapartes naturais. 22º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 06 a 10 de Novembro de 2016, Natal, RN, Brasil 8821

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ABSORÇÃO DE ÁGUA: PROPRIEDADES TÉRMICAS E MECÂNICAS DO POLIESTIRENO E DA BLENDA POLIESTIRENO/POLI (ɛ-CAPROLACTONA)

¹D. D. Siqueira, ¹D. D. S. Morais, ¹D. C. França, ¹E. B. Bezerra, ¹R. S. B. Ferreira, ¹E. M. Araújo

¹Universidade Federal de Campina Grande – Unidade Acadêmica de Engenharia de Materiais, Av. Aprígio Veloso, 882, CEP 58429-900, Campina Grande-PB, Brasil.

¹[email protected]

RESUMO

Este trabalho teve como objetivo analisar a influência da absorção de água no poliestireno (PS) e na blenda (poliestireno/(copolímero de estireno–etileno–butileno-estireno enxertado com anidrido maléico)/poli(ε-policaprolactona) (PS/SEBS-g-MA/PCL). Utilizou-se o processamento em uma extrusora de rosca dupla corrotacional e, posteriormente, em uma injetora para a produção de corpos de prova de tração e impacto. Em seguida, estes foram expostos em um banho térmico sob temperatura de aproximadamente 50°C por 15 dias. Os corpos de prova foram pesados antes e após a imersão em banho térmico para determinar a absorção de água. Foi realizado ensaio de tração, impacto, absorção de água, DSC e TG. Observou-se que apenas os 15 dias de imersão em banho térmico foi o suficiente para obterem-se algumas modificações nas propriedades térmicas e mecânicas do PS e da blenda PS/SEBS-g-MA/PCL. Palavras–chave: Poliestireno, poli (Ɛ-caprolactona), blenda, absorção de água. 1 INTRODUÇÃO

Polímero é um composto sólido, não-metálico (normalmente orgânico), de alta

massa molar, cuja estrutura é composta por pequenas unidades de repetição (ou mero).

Os polímeros que ocorrem naturalmente são aqueles que derivam de plantas e animais, e

têm sido usados por muitos séculos. Esses materiais incluem: a madeira, a borracha, o

algodão, a lã, o couro e a seda. Outros polímeros naturais, tais como, as proteínas, as

enzimas, os amidos e a celulose são importantes em processos biológicos e fisiológicos.

Ferramentas modernas de pesquisa científica tornaram possível a determinação das

estruturas moleculares deste grupo de materiais, bem como o desenvolvimento de

numerosos polímeros, os quais são sintetizados a partir de moléculas orgânicas

pequenas. Muitos dos plásticos, borrachas e materiais fibrosos que nos são úteis nos dias

atuais consistem em polímeros sintéticos. Os materiais sintéticos podem ser produzidos

com baixo custo, e as suas propriedades podem ser administradas em um nível em que

muitas delas são superiores às suas contrapartes naturais.

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As Blendas poliméricas são materiais formados pela mistura física de dois ou mais

polímeros e/ou copolímeros e que podem ser preparadas a partir da solução dos

polímeros constituintes em um solvente comum, seguida da evaporação do solvente, ou,

a partir da mistura mecânica dos constituintes, seguida da fusão e posterior resfriamento.

Ou ainda a partir de reticulados poliméricos interpenetrantes (IPN). Normalmente, as

propriedades resultantes da mistura são associações entre as propriedades dos

polímeros puros, e por isso, normalmente o preparo de uma blenda pode atender a

diferentes propósitos, tais como: associar as propriedades apresentadas por diferentes

polímeros ou reduzir custo de um material sem alterar de forma crítica as propriedades de

interesse para uma determinada aplicação (1).

Em algumas aplicações, peças metálicas e de madeira foram substituídas por

plásticos, que possuem propriedades satisfatórias e podem ser produzidas a custos mais

baixos. Em sua maioria, os polímeros e as blendas são prejudiciais ao meio ambiente,

pois estes podem ter uma durabilidade de até 400 anos na natureza. Desse modo, existe

uma grande preocupação com o descarte dos resíduos plásticos e o acúmulo dos

mesmos, nos lixões (1, 2, 3).

Os polímeros biodegradáveis são materiais que se desintegram sob condições

ambientais em um período razoável e demonstrável de tempo pela ação de

microorganismos, tais como bactérias, fungos de fermento e algas. Alguns deles têm

ganhando bastante espaço no mercado são eles: PCL (poli (-caprolactona)), PLA (poli

(ácido lático)) e PHB (Poli(hidroxibutirato)). No mercado atual, os polímeros

biodegradáveis estão limitados a aplicações específicas, pois não possuem condições de

concorrer com os polímeros de grande utilização, tais como: polietileno (PE), polipropileno

(PP), poliestireno (PS) ou poli (tereftalato de etileno) (PET), devido ao seu elevado custo.

Muito embora hoje em dia, existam o PE verde e o PP verde produzidos em grande

escala, apesar de não ser biodegradável, mas obtidos de fontes renováveis. (4).

A PCL é um poliéster alifático, semicristalino e biodegradável. As propriedades

físicas, mecânicas e térmicas da PCL dependem da sua massa molar e do grau de

cristalinidade. À temperatura ambiente, a PCL é altamente solúvel em clorofórmio,

diclorometano, tetracloreto de carbono, benzeno, tolueno, ciclohexanona; ligeiramente

solúvel em acetona, acetato de etila, dimetilformamida; e insolúvel em álcoois, éter de

petróleo e éter. A PCL exibe uma propriedade rara de ser miscível com muitos outros

polímeros, tais como: policloreto de vinila - PVC, estireno-acrilonitrila - SAN, acrilonitrila-

butadieno-estireno - ABS, poli (bisfenol-A). Sendo também mecanicamente compatível

com os outros, como o polietileno, polipropileno, borracha natural, poliacetato de vinila–

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PVA. A PCL apresenta propriedades físicas parecidas com a do (PE), temperatura de

transição vítrea (Tg) entre -60°C e -72°C e temperatura de fusão (Tm) em torno de 60ºC.

É flexível à temperatura ambiente (~25ºC), sendo utilizada no campo da biomedicina.

Possui compatibilidade com uma ampla variedade de técnicas de processamento e possui

propriedades elétricas e termogravimétricas desejáveis, além de ter boa estabilidade à luz

UV (5, 6, 7).

Diante do exposto, pretende-se com este trabalho estudar a influência da absorção de

água nas propriedades mecânicas e térmicas do PS e da blenda PS/PCL/copolímero de

estireno – etileno – butileno - estireno enxertado com anidrido maléico (SEBS-g-MA).

MATERIAIS E MÉTODOS

Materiais

O Poliestireno cristal PS U249® de I.F= 19 g/10 min (200 °C/ 5 Kg), densidade=1,04

g/cm3 fabricado pela Unigel S.A, foi utilizado como a matriz polimérica da blenda.

A Poli (ɛ-caprolactona) – PCL, CAPA 6500®, I.F= 7 g/10 min (160 °C/ 2,16 Kg),

fabricada pela Perstorp Winning Fórmulas, foi à fase dispersa da blenda.

O copolímero em bloco estireno-(etileno-butileno)-estireno grafitizado com anidrido

maleíco – (SEBSMA), utilizado como agente compatibilizante da blenda e fabricado pela

Kraton Polymers, nome comercial, Kraton FG 1901G®, contendo 1,4 - 2,0% de anidrido

maleíco, IF =14-28 g/10 min. A Figura 4 ilustra a estrutura química do SEBS-g-MA.

Preparação das Blendas

A blenda PS/PCL/SEBS-g-MA foi preparada na seguinte proporção, conforme Tabela

1. O PS puro foi processado e analisado no trabalho para efeitos de comparação com a

blenda PS/PCL/SEBS-g-MA.

Tabela 1: Composição da blenda

Composição PS (m/m) % PCL (m/m) % Compatibilizante

PS puro 100

Blenda 70 25 5

A blenda e o PS puro foram processados em uma extrusora dupla rosca

corrotacional, Coperion ZSK 18. Antes da mistura por extrusão, os materiais foram

misturados a frio manualmente para promover uma maior homogeneização. O perfil de

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temperatura utilizado na extrusora foi de 180°C – 200°C, com velocidade da rosca de 250

rpm e taxa de alimentação de 4kg/h.

Após a extrusão, o material foi granulado e seco a 40°C, em estufa a vácuo durante

24h. A blenda e o PS obtidos por extrusão foram moldados por injeção em uma injetora

Fluidmec, modelo H3040, com T= 160°C e temperatura do molde de 20°C, para obtenção

de corpos de prova segundo as normas ASTM (impacto e tração). Em seguida eles foram

condicionados em um dessecador até o momento das caracterizações.

Caracterização das Blendas

Os ensaios de absorção de água foram realizados em um banho térmico,

FISATOM 577E587, no qual os corpos de prova foram mantidos por 15 dias imersos em

água destilada a uma temperatura de aproximadamente 50°C, sem agitação. As amostras

foram pesadas antes e após o banho. Após os 15 dias, as amostras foram secas por 24h

em estufa a vácuo antes da realização dos demais ensaios (impacto e tração) de acordo

com a norma ASTM D570.

Os valores obtidos para a perda de massa foram medidos, antes e após imersão o

banho térmico. Os cálculos foram feitos pela norma D 570 onde se tem a fórmula:

WL% = 100(W0 – Wr) /W0 (A)

W0= massa inicial do polímero

Wr= massa depois do banho térmico

O ensaio de tração foram realizados numa máquina universal de ensaios EMIC DL

2000, com velocidade de 5,0 mm/min, com carga de 20Kgf, de acordo com a norma

ASTM D 638. Os ensaios foram conduzidos em temperatura ambiente. As análises foram

realizadas e obtida uma media a partir de 15 corpos de prova moldados por injeção antes

e após a imersão no banho térmico.

O ensaio de resistência ao impacto Izod foi realizado nos corpos de prova

entalhados a temperatura ambiente, em um entalhador Notschvis da Ceast, utilizando-se

um equipamento do tipo Resil 5,5 da Ceast e pêndulo de 2,75 J, O ensaio foi realizado

conforme a norma ASTM D 256 e conduzidos em temperatura ambiente. As análises

foram obtidas a partir de uma media de 15 corpos de prova antes e após a imersão no

banho térmico.

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As análises de TG foram conduzidas em aparelho TGA 51H, empregando cerca de

3 mg de amostra, taxa de aquecimento de 10°C/min e vazão do gás de 50 mL/min, da

temperatura ambiente até 500°C, sob atmosfera de nitrogênio. As análises foram

realizadas nos corpos de prova de tração moldados por injeção antes e após a imersão

no banho térmico.

O ensaio de DSC foi realizada nos corpos de prova de tração moldados por injeção

antes e após a imersão no banho térmico, em um equipamento DSC-Q20 da TA

Instruments, da temperatura ambiente até 250 °C e resfriadas até 10 °C, submetendo as

amostras a um segundo aquecimento até 250 °C, visando com isso apagar o histórico

térmico anterior. Utilizou-se uma taxa de aquecimento de 10ºC/min, vazão do gás de 50

mL/min e atmosfera de nitrogênio.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Tração

Tabela 2: Influência do banho térmico nas propriedades mecânicas sob tração do PS e da blenda PS/SEBS-g-MA/PCL.

Composição Módulo (MPa) Ten. Max. (MPa) Along. até a ruptura(%)

PS (0 dias) 945,1 ± 48,5 34,7 ±1,1 5,3 ± 0,7

PS (15 dias) 863± 23,4 33,4 ± 1,6 5,5± 0,3

Blenda (0 dias) 555,3 ± 31,4 25,4 ± 0,9 10,4 ± 1,6

Blenda (15 dias) 619,5± 25 23,2 ± 0,4 6,6 ± 0,7

Inicialmente, observa-se na tabela 2 que sem a imersão no banho (0 dias), a

adição da PCL e do copolímero (SEBS-g-MA) ao poliestireno promoveu uma diminuição

na rigidez, o que se deve ao decréscimo na tensão máxima, assim como também,

aumento de duas vezes o valor do alongamento até a ruptura na blenda, isto se deve

possivelmente, à presença da PCL que apresenta uma flexibilidade maior em relação ao

PS, bem como, o favorecimento nas interações entre o copolímero e as fases PCL e PS.

Em relação ao módulo de elasticidade, nota-se um brusco declínio nos resultados da

blenda, indicando decréscimo na rigidez da mistura, o que já era esperado, uma vez que

a incorporação de materiais com características elastoméricas, tal como a PCL e o

SEBS-g-MA ao PS, o torna menos rígido (8).

Após os 15 dias de imersão em água, verifica-se para o PS um declínio pouco

significativo nas propriedades mecânicas sob tração do mesmo, o que demonstra a

estabilidade térmica e mecânica desse material ao ensaio realizado. Já para a blenda

PS/SEBS-g-MA/PCL, observa-se que após os 15 dias de imersão em água houve um

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aumento do módulo de elasticidade, com consequente diminuição da tensão máxima e

alongamento até a ruptura (diminuição de ≈4% do valor inicial), tornando-o um material

mais rígido. Tal fato ocorreu provavelmente devido à degradação. A degradação ocorre

quando a água penetra as cadeias poliméricas, rompendo-as ou por interações dos

polímeros com a água, levando a formação de ligações, mesmo que está sejam de breve

duração como as ligações secundárias. Em seguida, á agua pode ir penetrando na

blenda, formando ligações e espaçando as que já existem até quebrá-las pela cisão de

algumas cadeias da fase amorfa da PCL, que é um material semicristalino. Como a fase

amorfa é inicialmente degradada, o módulo de elasticidade aumenta (9).

Impacto

Os resultados obtidos no ensaio de impacto antes e após imersão no banho

térmico estão expostos na Tabela 3.

Tabela 3: Influência do banho térmico nas propriedades mecânicas de resistência ao impacto do PS e da blenda PS/SEBS-g-MA/PCL.

Composição Resistência ao Impacto (J/m)

PS (0 dias) 18,1 ± 0,8

PS (15 dias) 20,6 ± 1,3

Blenda (0 dias) 24,5 ± 1,1

Blenda (15 dias) 21,7 ± 1,6

Verifica-se para blenda (PS/SEBS-g-MA/PCL) com 0 dias de imersão maiores

valores que os obtidos para o PS, devido a uma melhoria das propriedades do PS após a

adição da PCL (características elastoméricas) e o copolímero que garantiu melhor

interação entre as fases PCL e PS.

Para as amostras submetidas à imersão em banho térmico (15 dias), ocorreu uma

diminuição da resistência ao impacto em torno de ≈11% para a blenda, provocado

possivelmente pela cisão das cadeias amorfas da fase da PCL e aumento na região

cristalina, deixando com isso o material mais rígido. Entretanto, para o PS ocorreu um

aumento de ≈ 12% no valor da resistência ao impacto, isso se deve provavelmente a

entrada de água entre as cadeias do PS, afastando-as e tornando com isso o polímero

um pouco mais dúctil.

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Absorção de água

Os valores obtidos para a perda de massa foram medidos, antes e após imersão

no banho térmico e foram dispostos na forma de Tabela (4 e 5) conforme pode ser visto

abaixo.

Tabela 4: Valores da absorção de água dos corpos de prova de tração para o PS e a blenda PS/SEBS-g-MA/PCL.

Composições 0 dias 15 dias

PS puro 0 0,105%

Blenda 0 0,302%

Tabela 5: Valores da absorção de água dos corpos de prova de impacto para o PS e a blenda PS/SEBS-g-MA/PCL.

Composições 0 dias 15 dias

PS puro 0 0,1105%

Blenda 0 0,3405%

A partir dos valores expostos, observa-se um ganho de massa com 15 dias para

ambos os corpos de prova (impacto e tração), sendo este evento o resultado da absorção

de água no interior dos corpos de prova. Esse ganho se deve ao fato de que quando os

polímeros são expostos a líquidos, as principais formas de degradação são o inchamento

e a dissolução. Com o inchamento, o líquido ou o soluto se difunde e é absorvido no

interior do polímero; as pequenas moléculas de soluto se ajustam no interior e ocupam

posições entre as moléculas do polímero. Assim, as macromoléculas são separadas, o

que faz com que a amostra expanda, ou inche. Além disso, o aumento na separação das

cadeias resulta em uma redução das forças de ligação secundárias intermoleculares;

como consequência, o material se torna menos resistente e mais dúctil (10).

Verifica-se que a absorção da água e consequentemente aumento da massa

resultam em alterações nas propriedades do PS (melhora na resistência ao impacto) e da

blenda (piores resultados de impacto e aumento da rigidez, devido à degradação da fase

amorfa da PCL).

Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC)

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As curvas típicas obtidas por Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC) para o PS

e para a blenda PS/SEBS-g-MA/PCL antes e após a imersão no banho térmico estão

apresentadas nas Figuras 1 e 2, respectivamente.

0 100 200 300

-4

-2

0

2

4

Flu

xo

de

Ca

lor

(mV

)

Temperatura (°C)

PS (15 dias)

PS (0 dias)

92,7°C

93,87°C

Figura 1: Curvas DSC para o PS sem imersão (0 dias) e com imersão (15 dias) em banho térmico.

0 100 200 300

-6

-3

0

3

Flu

xo

de

Ca

lor

(mV

)

Temperatura (°C)

PS/SEBS-g-MA/PCL(15 dias)

PS/SEBS-g-MA/PCL(0 dias)

56,0°C

55,6°C

96,5°C

97,8°C

Figura 21: Curvas DSC para a blenda PS/SEBS-g-MA/PCL sem imersão (0 dias) e com imersão (15 dias) em banho térmico.

Verifica-se que após o banho térmico ocorre uma pequena variação no valor da Tg

do PS, provavelmente devido ao afastamento das cadeias de estireno causada pela água,

como reportado anteriormente.

É possível observar para a blenda antes e após a imersão no banho térmico, a

temperatura de transição vítrea (Tg) referente a fase do PS e, temperatura de fusão

cristalina (Tm) e um pico de cristalização característicos da PCL (0 dias) nas curvas DSC

da Figura 2. Observa-se que não houveram praticamente diferença nos valores da Tm da

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blenda com 0 dias (55,6°C) e com 15 dias (56,0 °C) de imersão. Entretanto, nota-se que a

intensidade dos picos diminuíu, provavelmente devido à quebra das ligações das cadeias

da fase cristalina na PCL, a medida que a água penetrou na blenda, causando uma

diminuição da cristalinidade, o que também foi verificado pelo desaparecimento do ombro

de cristalização no intervalo entre 10° e 33,0°C, presente na blenda com 0 dias de

imersão.

Termogravimetria (TG)

Verificam-se nas Figuras 3 e 4 as curvas TG do PS e da blenda PS/SEBS-g-

MA/PCL antes e após a imersão em banho térmico, respectivamente.

0 200 400 600

0

50

100

Pe

rda

de

Ma

ssa

(%

)

Temperatura (°C)

PS (0 dias)

PS (15 dias)

Figura 3: Curvas TG para o PS sem imersão (0 dias) e com imersão (15 dias) em banho térmico.

Pode-se notar que para o PS com 0 dias de imersão uma perda de 100% de sua

massa inicial, na faixa de 318,5° a 423,37 °C. Após a imersão em banho térmico, o PS

apresentou uma perda de massa na faixa de temperatura de 322,8°C a 465,5°C.

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0 200 400 600

0

50

100

Pe

rda

de

Ma

ssa

(%

)

Temperatura (°C)

PS/SEBS-g-MA/PCL(0 dias)

PS/SEBS-g-MA/PCL(15 dias)

Figura 4: Curvas TG para blenda PS/SEBS-g-MA/PCL sem imersão (0 dias) e com imersão (15 dias) em banho térmico.

Verifica-se que para a blenda com 0 dias ocorre 100% de perda de sua massa

inicial na faixa de temperatura entre ≈ 345,4°C a 469,8°C. Após 15 dias de imersão no

banho térmico, a blenda apresentou uma perda 92,82% em relação a sua massa inicial,

que ocorre na faixa entre 285,1°C e 465,5°C. Isto pode ser devido a uma diminuição na

estabilidade térmica da mesma, embora com menor percentual de perda de massa em

relação à blenda com 0 dias de imersão. Estes resultados corroboram com os valores das

propriedades mecânicas de tração e impacto.

CONCLUSÕES

A influência da absorção de água nas propriedades mecânicas e térmicas do

poliestireno e da blenda PS/SEBS-g-MA/PCL submetidos ao banho térmico foi avaliada.

Por meio do ensaio de tração, observou-se um aumento na rigidez da blenda PS/SEBS-g-

MA/PCL após a imersão no banho térmico, observou-se para os resultados de resistência

ao impacto após a imersão em água, um aumento da resistência para o PS e uma

diminuição desses valores para a blenda, corroborando com os resultados obtidos por

tração. Tanto para o PS quanto para a blenda verificou-se ganhos de massa após a

imersão. Por DSC, percebeu-se para a blenda uma diminuição na intensidade dos picos

de fusão cristalina, assim como também o desaparecimento do ombro de cristalização

referente à fase PCL. Por TG, verificou-se uma diminuição na estabilidade térmica da

blenda com 15 dias de imersão, embora com menor percentual de perda de massa em

relação à blenda com 0 dias de imersão. Diante do exposto, conclui-se que apenas os 15

dias de imersão em banho térmico foi o suficiente para obterem-se modificações nas

propriedades térmicas e mecânicas do PS e da blenda PS/SEBS-g-MA/PCL.

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Agradecimentos

Os autores agradecem a UFCG e a UAEMa pela concessão dos laboratórios e

equipamentos para a realização desse estudo, bem como a Kraton pela doação do SEBS-

MA.

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WATER ABSORPTION: THERMAL AND MECHANICAL PROPERTIES OF POLYSTYRENE AND POLYSTYRENE/POLY(ɛ-CAPROLACTONE) BLEND

ABSTRACT

This study aimed to analyze the influence of water absorption on polystyrene (PS) and blends (polystyrene / (styrene-ethylene-butylene-styrene copolymer grafted with maleic anhydride) / poly (ε-polycaprolactone) (PS / SEBS- g-MA / PCL). We used the process co-rotating double screw extruder and subsequently in a fuel injection for the production of test specimens tensile and impact. Then, they were exposed to a thermal bath at a temperature of approximately 50 ° C for 15 days. The specimens were weighed before and after immersion in thermal bath to determine the water absorption. It was conducted tensile testing, impact, water absorption, DSC and TG. It was observed that only 15 days in a thermal bath immersion was enough to give up some modification in the thermal and mechanical properties of the blend of PS and PS / SEBS-g-MA / PCL. Keywords: polystyrene, poly (ɛ-caprolactone), blends, water absorption.

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