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UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO
FACULDADE DE ENGENHARIA E ARQUITETURA
CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL
Gecielle Picolotto
PROPOSTA DE PRODUÇÃO MAIS LIMPA APLICADA EM UMA EMPRESA DE BENEFICIAMENTO DE
PEDRAS PRECIOSAS EM SOLEDADE - RS
Passo Fundo, 2013.
1
Gecielle Picolotto
Proposta de Produção Mais Limpa aplicada em uma empresa de beneficiamento de pedras preciosas em
Soledade – RS.
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Engenharia Ambiental, como parte dos requisitos exigidos para obtenção do título de Engenheiro Ambiental. Orientadora: Prof. Viviane Rocha dos Santos, Mestre. Co-orientadora: Prof. Aline Ferrão Custodio Passini, Doutora.
Passo Fundo, 2013.
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Gecielle Picolotto
Proposta de Produção Mais Limpa aplicada em uma empresa de beneficiamento de pedras preciosas de Soledade - RS
Trabalho de Conclusão de Curso como requisito parcial para a obtenção do título de
Engenheiro Ambiental – Curso de Engenharia Ambiental da Faculdade de Engenharia e
Arquitetura da Universidade de Passo Fundo. Aprovado pela banca examinadora:
Orientadora:_________________________
Prof. MSc. Viviane Rocha dos Santos
Faculdade de Engenharia e Arquitetura, UPF
Co-orientadora:___________________________________
Prof. Dr. Aline Ferrão Custodio Passini
___________________________________
Prof. Patrícia de Almeida Martins
Faculdade de Engenharia e Arquitetura, UPF
___________________________________
Prof. MSc. Juliana Kurek
Faculdade de Engenharia e Arquitetura, UPF
Passo Fundo, 14 de junho de 2013.
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AGRADECIMENTOS Primeiramente, agradeço a DEUS pela vida. À minha família, pela educação e formação e que desta forma, permitiram a realização deste feito. Ao meu namorado pela ajuda, compreensão, amor e carinho a mim dedicados. Agradeço à Empresa LEGEP MINERAÇÃO LTDA. pela recepção, auxílio nas atividades, contribuição e incentivo do TCC. Agradeço a minha orientadora Prof.ª Viviane Rocha dos Santos, pela dedicação com o trabalho. A minha co-orientadora Prof.ª Aline Ferrão Custódio Passini pela ajuda e esforço a mim dedicados. Aos meus amigos e colegas que estiveram sempre junto comigo nessa longa caminhada, compartilhando momentos felizes e tristes. Aos Professores do Curso de Engenharia Ambiental pelos ensinamentos durante esta etapa.
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RESUMO A questão ambiental passou a ser inserida em ambientes organizacionais movidos por um cenário de pressão ambiental, composto pela intervenção governamental através da legislação, fiscalização e licenciamento ambiental, e pela sociedade e mercado, exigindo uma adequação e uma performance ambiental mais compatível de seus processos, produtos e serviços. Para a empresa, a Produção mais Limpa (P+L) pode significar: redução de custos de produção; aumento de eficiência e competitividade; diminuição dos riscos de acidentes ambientais; melhoria das condições de saúde e de segurança do trabalhador; melhoria da imagem da empresa junto a consumidores, fornecedores, poder público, mercado e comunidades; ampliação de suas perspectivas de atuação no mercado interno e externo; maior acesso a linhas de financiamento; melhoria do relacionamento com os órgãos ambientais e a sociedade; entre outros. Nessa prospecção, a P+L aponta como uma ferramenta que vem de encontro aos interesses mencionados, uma vez que busca otimizar o uso de matéria-prima, reduzir o consumo de água e energia, bem como os resíduos decorrentes do processo, obtendo assim, uma minimização dos riscos relacionados ao meio ambiente e ao trabalhador. Neste contexto, o trabalho teve por objetivo diagnosticar e avaliar o processo de beneficiamento de pedras preciosas em uma empresa localizada no município de Soledade/RS, a fim de buscar alternativas para reduzir a geração dos resíduos e otimizar o uso de matérias-primas. Para tanto, foi realizada uma pesquisa exploratória, através de dados coletados junto à empresa e de acompanhamento do processo produtivo. Os resultados apontam para algumas oportunidades de melhoria no setor, englobando uma adequação na estrutura física da fábrica e mudanças mais significativas no setor de corte de pedras. Assim, a proposta de adoção da P+L, torna mais eficiente o uso de matéria-prima e dos recursos naturais através de modificações nos processos produtivos e nas práticas industriais. Palavras-chave: Produção mais Limpa. Redução de resíduos. Boas práticas operacionais.
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ABSTRACT The environmental issue has become embedded in organizational environments driven by a scenario of environmental pressure, composed by government intervention through legislation, enforcement and environmental licensing, and market and society requiring an adjustment and a more consistent environmental performance of their processes, products and services. For the company, the Cleaner Production (CP) can mean: reducing production costs; increase efficiency and competitiveness; reducing the risk of environmental accidents; improvement of health and worker safety; improving the company’s image with consumers, suppliers, government, market and communities; broadening their perspectives of performance in domestic and foreign markets; greater access to financing facilities; improvement of relationships with environmental agencies and society; and others. In this prospect, the CP points as a tool that comes in favor the interests mentioned, since it seeks to optimize the use of raw materials, reduce the consumption of water and energy as well as waste from the process, thus obtaining minimization of risks related to the environment and the worker. In this context, the study aimed to diagnose and evaluate the beneficiation process of gems in a company located in Soledade/RS, in order to seek alternatives to reduce waste generation and optimize the use of raw materials. Therefore, we conducted an exploratory study, using data collected by the company and monitoring the production process. The results point to some improvement opportunities in the industry, encompassing an adaptation in physical structure from the manufactures and the most significant changes in the field of stone cutting. Thus, the proposed adoption of the CP, makes more efficient use of raw materials and natural resources through changes in production processes and in industrial practices. Key-words: Cleaner Production. Waste reduction. Good housekeeping.
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Mapa Gemológico da região sul do Brasil (PR, SC e RS), indicando as principais
unidades geológicas e áreas de ocorrência de materiais de interesse gemológico. .................. 17
Figura 2 - Pilha de rejeitos de Pedras Preciosas em uma empresa de Soledade/RS................. 20
Figura 3 - Fluxograma geral das etapas do processo produtivas da pedra ágata e poluentes
geradas ...................................................................................................................................... 21
Figura 4 - Passos para a implantação de um programa de Produção mais Limpa ................... 27
Figura 5 - Fluxograma qualitativo do processo produtivo ....................................................... 29
Figura 6 - Análise quantitativa de entradas e saídas ................................................................. 30
Figura 7 - Fluxograma de geração de opções de Produção mais Limpa .................................. 31
Figura 8 - Estágio da implementação do plano de monitoramento .......................................... 36
Figura 9 - Relação de custos e benefícios com a implementação de medidas de Produção mais
Limpa ........................................................................................................................................ 39
Figura 10 - Mapa de localização de Soledade em relação ao estado do Rio Grande do Sul .... 43
Figura 11 - Localização do município de Soledade – RS......................................................... 44
Figura 12 - Vista superior da empresa Legep Mineração LTDA. ............................................ 45
Figura 13 - Fachada da empresa em estudo. ............................................................................. 45
Figura 14 - Imagens internas da empresa ................................................................................. 46
Figura 15 - Fluxograma do delineamento da pesquisa ............................................................. 47
Figura 16 - Processo produtivo da ágata/ametista na empresa. ................................................ 49
Figura 17 - Estocagem da ametista ........................................................................................... 50
Figura 18 - Chegada da ametista em bruto na empresa ............................................................ 51
Figura 19 - Estocagem de ágata. ............................................................................................... 51
Figura 20 - Corte automático .................................................................................................... 52
Figura 21 - Corte com serra manual ......................................................................................... 52
Figura 22 - Lavagem das pedras ............................................................................................... 53
Figura 23 - Rebolo utilizado no lixamento das pedras ............................................................. 54
Figura 24 - Equipamento utilizado para lixar as pedras em superfícies não planas. ................ 54
Figura 25 - Equipamento que faz o polimento ......................................................................... 55
Figura 26 - Setor de embalagem. .............................................................................................. 56
Figura 27 - Fluxograma dos aspectos ambientais do processo produtivo. ............................... 58
Figura 28 - Processo de fabricação ........................................................................................... 60
Figura 29 - Fluxograma do foco de avaliação .......................................................................... 63
7
Figura 30 - Formação de faíscas com a utilização de água durante o corte. ............................ 66
8
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Desempenho ambiental das empresas de pedras preciosas de Soledade. ................ 22
Tabela 2 - Diferenças entre tecnologias de fim de tubo e Produção mais Limpa .................... 24
Tabela 3 - Indicadores de desempenho ambiental .................................................................... 62
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Exportação brasileira do setor de pedras preciosas e metais preciosos em U$$. ... 15
Quadro 2 - Principais depósitos explorados de pedras preciosas no Rio Grande do Sul. ........ 18
Quadro 3 - Exportação de gemas, joias e bijuterias no estado do Rio Grande do Sul. ............ 18
Quadro 4 - Dados da empresa em estudo ................................................................................. 44
Quadro 5 - Integrantes do ECOTIME da empresa ................................................................... 57
Quadro 6 - Relação de insumos ................................................................................................ 60
Quadro 7 - Resíduos de pedra gerados no processo produtivo da ametista ............................. 61
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 12
1.1 Objetivos .................................................................................................................... 13
1.1.1 Objetivos Específicos ......................................................................................... 13
1.2 Organização do trabalho ............................................................................................ 13
2 DESENVOLVIMENTO .................................................................................................... 14
2.1 Revisão Bibliográfica ................................................................................................ 14
2.1.1 O Setor de Pedras Preciosas ............................................................................... 14
2.1.2 A industrialização e comercialização das pedras preciosas no Rio Grande do
Sul.......................................................................................................................................16
2.1.3 Soledade e as empresas de pedras preciosas ...................................................... 19
2.1.4 Resíduos gerados no setor .................................................................................. 20
2.1.5 Produção Mais Limpa ......................................................................................... 23
2.1.5.1 Histórico da Produção mais Limpa ............................................................. 24
2.1.5.2 Etapas da Produção mais Limpa ................................................................. 27
2.1.5.3 Benefícios e barreiras da Produção mais Limpa ......................................... 37
2.1.5.4 Produção mais Limpa nas Indústrias ........................................................... 40
2.1.5.5 Estudos de casos de aplicação da Produção mais Limpa ............................ 40
2.1.5.5.1 Laboratórios ............................................................................................... 41
2.1.5.5.2 Indústria de couros..................................................................................... 41
2.1.5.5.3 Resíduos da Construção e Demolição ....................................................... 41
2.2 Métodos e técnicas ..................................................................................................... 42
2.2.1 Local de Estudo .................................................................................................. 42
2.2.1.1 Informações Gerais da Empresa .................................................................. 43
2.2.2 Delineamento da Pesquisa .................................................................................. 46
2.2.2.1 Reconhecimento do local de estudo ............................................................ 47
2.2.2.2 Acompanhamento do processo produtivo ................................................... 47
2.2.2.3 Levantamento fotográfico ........................................................................... 47
2.2.2.4 Levantamento dos aspectos ambientais....................................................... 47
2.2.2.5 Etapas de Produção mais Limpa ................................................................. 48
2.2.2.6 Propostas de melhorias ................................................................................ 48
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES ..................................................................................... 49
3.1 O empreendimento ..................................................................................................... 49
11
3.2 Detalhamento do Processo Produtivo ........................................................................ 49
3.2.1 Estocagem ........................................................................................................... 50
3.2.2 Corte ................................................................................................................... 51
3.2.3 Lavagem ............................................................................................................. 52
3.2.4 Lixamento e Polimento ....................................................................................... 53
3.2.5 Embalagem ......................................................................................................... 55
3.3 Medidas de Produção mais Limpa ............................................................................. 56
3.3.1 Formação do ECOTIME .................................................................................... 56
3.3.2 Identificação de barreiras.................................................................................... 57
3.3.3 Estudo do fluxograma dos aspectos ambientais do processo ............................. 58
3.3.4 Análise do processo de beneficiamento da pedra Ametista ............................... 59
3.3.5 Indicadores.......................................................................................................... 62
3.3.6 Seleção do foco de avaliação .............................................................................. 62
3.3.7 Propostas de melhoria ......................................................................................... 63
3.3.8 Avaliação técnica, ambiental e econômica ......................................................... 65
3.3.8.1 Substituição do uso de óleo diesel no processo do corte da pedra .............. 65
4 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 67
4.1 Conclusões do trabalho .............................................................................................. 67
4.2 Propostas para trabalhos futuros ................................................................................ 68
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 69
BIBLIOGRAFIAS CONSULTADAS ..................................................................................... 71
12
1 INTRODUÇÃO
A indústria de beneficiamento de pedras preciosas representa um importante setor da
economia brasileira e mundial com grande crescimento nos últimos anos. Em consequência
disso, ocorre um aumento do consumo de água e matéria prima, bem como da geração de
resíduos. Nesse sentido, o setor vem procurando legalizar-se ambientalmente, e também
existe uma preocupação em adotar técnicas para controlar os impactos ambientais decorrentes
de suas atividades, produtos e serviços, considerando sua política e objetivos ambientais.
Conforme MDCI e IBGM (2005), há séculos a ampla diversidade de pedras preciosas
brasileiras é conhecida e apreciada mundialmente. O Estado do Rio Grande do Sul é
considerado um dos maiores produtores de pedras preciosas em volume, sendo o município de
Soledade referência no beneficiamento, comercialização e exportação destas pedras. No
entanto, geralmente, os processos de beneficiamento realizados são primários e os
equipamentos utilizados são praticamente os mesmos desde o início das atividades no setor,
trazidos pelos imigrantes alemães, por volta da década de 60.
Dessa maneira, os processos de beneficiamento de pedras preciosas empregados ainda
são muito defasados, isto é, artesanais e sem ou quase nenhuma automação. Além disso, há
um grande volume de resíduo gerado, o qual possui alto potencial de causar impactos
ambientais, como por exemplo, a contaminação de solo e da água, uma vez que apresenta em
sua composição elevados teores de óleo diesel.
Assim, o setor carece de estudos e trabalhos que objetivam aprimorar seus processos e,
portanto se faz necessário verificar opções de melhoria para obter produtos finais bem
acabados e, principalmente, reduzir as perdas e elevar a produtividade. Nesse contexto, a
aplicação da Produção Mais Limpa pode ser considerada a melhor solução para este
problema.
Segundo CNTL (2003), Produção mais Limpa é a aplicação de uma estratégia técnica,
econômica e ambiental integrada aos processos e produtos, a fim de aumentar a eficiência no
uso de matérias-primas, água e energia, através da não geração, minimização ou reciclagem
dos resíduos e emissões geradas, com benefícios ambientais, de saúde ocupacional e
econômica.
Nesse sentido, buscou-se diagnosticar e avaliar o processo de beneficiamento de pedras
preciosas em uma empresa localizada no município de Soledade/RS a fim de propor
alternativas para que esse processo reduza a geração dos resíduos, assim, otimizando o uso de
matérias primas.
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1.1 Objetivos
Este trabalho teve por objetivo geral propor técnicas de Produção mais Limpa em uma
empresa de beneficiamento de pedras preciosas no município de Soledade/RS, visando à
otimização do uso de matérias primas, bem como a redução da geração de resíduos.
1.1.1 Objetivos Específicos
O trabalho teve como objetivos específicos:
• Caracterização do fluxo do processo produtivo em uma empresa de beneficiamento de
pedras preciosas;
• Análise individual de cada processo, identificando os respectivos aspectos ambientais;
• Propor opções de melhoria no processo produtivo da empresa.
1.2 Organização do trabalho
O trabalho está dividido em quatro capítulos, sendo este o primeiro. O Capítulo 2
compreende uma revisão bibliográfica sobre o setor de pedras preciosas, expondo um
panorama do desenvolvimento desta atividade no Brasil, no Estado do Rio Grande do Sul e
mais especificamente no município de Soledade/RS. São apresentados também os principais
aspectos ambientais decorrentes deste processo, assim como as técnicas e metodologias mais
utilizadas no processo de Produção mais Limpa.
Ainda, este capítulo, abrange a caracterização do local de estudo, bem como a
metodologia utilizada para a realização da pesquisa, expondo a descrição do procedimento de
Produção mais Limpa adotado para a empresa em análise.
O Capítulo 3 demonstra os resultados obtidos no processo de identificação dos aspectos
ambientais da empresa, e análise crítica dos mesmos. Além disso, são apresentadas as
propostas de opções de melhoria na empresa em estudo.
Por fim, o Capítulo 4 abrange as conclusões e sugestões para futuros trabalhos.
14
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 Revisão Bibliográfica
Neste capítulo serão abordadas, as técnicas utilizadas de produção mais limpa para
análise e melhoria do setor de beneficiamento de gemas, buscando reduzir o máximo as
perdas e gastos.
2.1.1 O Setor de Pedras Preciosas
O Brasil é internacionalmente conhecido pela diversidade e grande ocorrência de
pedras preciosas em seu território. Está entre os principais produtores em larga escala de
citrino, ágata, ametista turmalina, água-marinha, topázio, cristal de quartzo e esmeraldas, além
de ser o único produtor de topázio imperial.
Desde 1725 até 1866, o Brasil foi o principal produtor mundial de diamantes. Na
década de 1940, outros minerais já conhecidos desde o século XVIII, começaram a ser
valorizados em função da crescente indústria eletrônica. Logo após, as pedras brasileiras,
denominadas inicialmente como pedras semipreciosas, foram ganhando mercado nacional e
internacional. Dessa maneira, imigrantes alemães e libaneses do norte do estado de Minas
Gerais iniciaram a exportação de pedras chamadas coradas, onde praticamente 100% destas
eram exportadas em sua forma bruta, resultando assim, uma perda de mão de obra
especializada nesse ramo.
Atualmente, estima-se que o país seja responsável pela produção de aproximadamente
1/3 do volume das gemas do mundo, com exceção do diamante, o rubi e a safira. Ainda, é
considerado um importante produtor de ouro, sendo que em 2010, o país alcançou uma
produção 68 toneladas, o que lhe assegurou o 13º lugar no ranking mundial, segundo o GFMS
(GOLD SURVEY, 2012). No entanto, estima-se que, pouco menos de 80% do volume das
pedras brasileiras, tenham como destino final as exportações, tanto em bruto, incluindo
espécimes de coleção, como lapidadas.
O Quadro 1 apresenta a exportação brasileira do setor de pedras preciosas e metais
preciosos nos últimos anos. Observa-se que, durante o período de 2007 a 2012, houve um
aumento significativo das exportações, demonstrando assim, uma maior procura maior do
setor.
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Quadro 1 - Exportação brasileira do setor de pedras preciosas e metais preciosos em U$$.
Segmento 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Pedras em Bruto 55.559 52.633 28.371 35.996 50.779 47.793
Pedras Lapidadas 85.482 74.031 73.420 81.976 114.581 119.058
Obras e Artefatos em
Pedras
17.326 17.025 14.892 15.433 16.115 14.280
Prata em Barra, Fios,
etc
26.527 8.786 3.323 8.139 11.691 6.026
Ouro em Barras, Fios
e Chapas
790.821 1.032.446 1.384.098 1.801.900 2.324.256 2.663.922
Produtos de metais
preciosos para a
Indústria
70.859 133.878 79.130 83.301 107.199 93.249
Joalheria/Ourivesaria
Metais Preciosos
129.110 132.526 95.203 101.611 115.617 111.186
Folhados de Metais
Preciosos
51.313 58.738 44.627 58.918 75.233 68.057
Outros Resíduos e
Desperdícios de
Metais
83.482 95.811 61.326 134.740 206.845 171.141
Bijuterias de Metais
Comuns
20.754 21.750 17.523 17.310 16.860 11.825
Paládio em formas
brutas ou em pó
- - - 943 1.000 16.639
Outros Produtos 83.482 95.811 61.326 134.740 206.845 171.141
Total 1.333.061 1.630.810 1.802.220 2.340.936 3.042.524 3.324.188
Fonte: Adaptado de MDIC/SECEX, IBGM (2012).
No Brasil, a produção de pedras preciosas é realizada, em sua grande maioria, por
garimpeiros e pequenas empresas de mineração com ocorrências, em quase todo o país. A
forte produção se localiza nos Estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Bahia, Goiás,
Pará e Tocantins.
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Desta maneira, verifica-se que o Parque Industrial é bastante diversificado. Embora os
dados sejam imprecisos, calcula-se que existam, atualmente, aproximadamente 3.500
empresas de beneficiamento de pedras preciosas, como lapidação, de joalheria, de artefatos de
pedras, de folheados e de bijuterias. Elas estão localizadas, principalmente, em São Paulo,
Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Bahia. Porém, novos polos industriais,
como Paraná, Pará, Amazonas, Ceará e Goiás estão despontando.
Neste contexto, a fabricação de obras e artefatos de pedras é praticada, geralmente, por
pequenas indústrias, muitas consideradas “fundo de quintal”. A terceirização tem se
acentuado nos últimos anos, no entanto, existem ainda, poucas indústrias integradas, para
garantir qualidade, prazos e tipos diferenciados de lapidação Além disso, a informalidade e o
desvio são grandes devido à alta carga tributária incidente sobre o setor que faz dificultar a
continuidade sem que houvesse muitas perdas durante o percurso. Entre elas, pode-se
destacar: produtos de pequenos volumes e altos valores; produção de matérias primas;
industrialização e distribuição feitas por pequenos estabelecimentos e indivíduos nas mais
diversas regiões do país, com fiscalização difícil e onerosa (IBGM, 2013).
Ademais, ao longo dos anos, os diversos segmentos da cadeia não têm contado, de
uma maneira geral, com o suporte de crédito. Dadas às características do setor, que necessita
substancialmente mais capital de giro do que fixo, e de sua alta informalidade, o que implica
em balanços contábeis que não retratam a realidade das empresas, tem tido acesso reduzido às
linhas existentes e, normalmente, se auto financia.
Logo, no atual estágio, para alcançar novos patamares, com ampliação de sua
capacidade instalada, principalmente para atender ao mercado externo, será necessário dispor
de mecanismos inovadores de financiamento bancário, particularmente no que se refere a
procedimentos de acesso, tanto para as necessidades de capital fixo quanto de giro. Na última
década, em que pese à elevada carga tributária, que tem ampliada a informalidade, o segmento
joalheiro tem promovido expressivas melhorias em seus padrões de qualidade e
competitividade, inclusive com importação de máquinas, equipamentos, ferramentaria e
insumos.
2.1.2 A industrialização e comercialização das pedras preciosas no Rio Grande do Sul
A região Sul do Brasil apresenta a formação de rochas vulcânicas da Serra Geral que
constitui uma das maiores e mais importantes Províncias Gemológicas do mundo. Abrigando
no estado do Rio Grande do Sul, uma das maiores jazidas de ágata e ametista do Brasil.
17
A maior produção de material gemológico é localizada no Médio e Alto Uruguai com
produção de ametista, e a região que inclui os municípios de Soledade, Salto do Jacuí com
principal produção de ágata. Na Figura 1 é exibido o mapa gemológico da Região Sul do
Brasil com suas respectivas regiões de ocorrência dessas pedras.
Figura 1 - Mapa Gemológico da região sul do Brasil (PR, SC e RS), indicando as principais unidades geológicas e áreas de ocorrência de materiais de interesse gemológico.
Fonte: Modificado de JUNCHEM et al. (2007).
Pode-se observar pela Figura 1 que os principais garimpos de ametista e ágata
localizados no Rio Grande do Sul situam-se em áreas bem distintas, ficando no norte do
estado, na região do Alto Uruguai, onde há a ametista, no centro compreendendo a região do
Salto do Jacuí onde se encontra a ágata e a região da Fronteira Sudoeste onde também existe a
ametista.
O Quadro 2 destaca as regiões e municípios em que são extraídas as principais pedras
preciosas no estado.
18
Quadro 2 - Principais depósitos explorados de pedras preciosas no Rio Grande do Sul. Região Municípios Tipos de Pedras
Alto Uruguai Planalto, Iraí, Ametista do
Sul, Frederico Westphalen
Ametista
Fronteira Sudoeste Quaraí Ametista
Salto do Jacuí Salto do Jacuí, Arroio do
Tigre, Espumoso,
Sobradinho, Soledade,
Barros Cassal
Ágata
Fonte: SOUZA (1966).
O setor, considerado um dos cinco principais aglomerados no país, envolve desde
atividades de extração mineral, nas jazidas existentes no Estado, até a produção e
comercialização do produto final (pedras preciosas brutas, gemas lapidadas, artefatos com
pedras preciosas, joias, folheados e bijuterias). Destaca-se, principalmente, por seu potencial
exportador e como importante fonte de emprego nas regiões onde se localiza.
Neste contexto, o Estado do Rio Grande do Sul é um grande produtor de pedras
preciosas, especialmente ágata e ametista, correspondendo a maior parte das exportações
(SENAI-RS, 1989). A produção destina-se basicamente ao exterior, como China e Inglaterra,
visto que no mercado interno são comercializados apenas de 5% a 10% da produção total. A
venda é destinada, sobretudo para estados com afluência turística, como Rio de Janeiro e São
Paulo, e mais recentemente, para os estados como Paraná e Santa Catarina.
Em 2012, o estado representou 53% das exportações de artefatos em pedras, seguido
de São Paulo e Rio de Janeiro (IBGM, 2012). Além do mais, houve um crescimento
significativo de joias folheadas em 2012, afirmando um grande avanço no setor de
beneficiamento das pedras, como demostrado no Quadro 3.
Quadro 3 - Exportação de gemas, joias e bijuterias no estado do Rio Grande do Sul.
Segmento 2011 2012 Crescimento %
Pedras em Bruto 16.257 17.901 10%
Pedras Lapidadas 50.534 41.722 -17%
Artefatos em Pedras 9.727 7.593 -22%
Joias Folheadas 7.639 10.846 42%
Bijuterias 6.752 2.958 -56%
Fonte: Adaptado de MDIC/SECEX, IBGM (2012).
19
Para muitas empresas de pedras preciosas há um agente comprando sua matéria prima
bruta dos garimpos ou possuem garimpos próprios, também possuem beneficiamento em sua
própria empresa e ainda compram material semimanufaturado ou totalmente faturado das
empresas de pequeno porte ou aquelas que são informais. As mercadorias são expostas em
grandes quantidades dentro da empresa em show-rooms e também se encontram fora, ou seja,
no pátio, denominadas de estoque. A maioria das mercadorias é vendida em lotes,
demostrando que a quantidade exportada é sem dúvida um grande volume, onde é enviada
dentro de contêineres por caminhões ou carretas até o Porto de Rio Grande, após são
transportadas via marítimo e os que são de volume menor são enviados por meio aéreo.
2.1.3 Soledade e as empresas de pedras preciosas
Há mais de meio século, visionários empreendedores perceberam em Soledade o
potencial que essa região teria para alavancar o segmento de pedras preciosas. Desde então, o
processo de beneficiamento de gemas e artefatos vem crescendo dia após dia, com um número
cada vez maior de empresários e colaboradores gerando maior competitividade nesse setor.
O crescimento do número de pequenas empresas de beneficiamento de pedras é bem
expressivo, porém a alta carga tributária e a burocracia do país fizeram com que estas não
acompanhassem as evoluções em tratamentos ambientais e nem cumprissem os requisitos
exigidos pelos órgãos governamentais. Também, a informalidade destas atividades sempre foi
um problema dentro do setor.
Em meados de 2009, houve um princípio de mudança, onde identificou-se que muitas
das empresas que trabalhavam no município de Soledade eram irregulares. Nessa época,
apenas 47 empresas tinham todos os quesitos necessários em sua indústria de
aproximadamente 162 no total.
De acordo com pesquisas realizadas hoje são mais de 82 empresas trabalhando no
ramo de extração e beneficiamento de pedras no município. Dentre as 82 empresas, 29%
atendem apenas ao mercado nacional; 18%, ao mercado internacional e 53%, tanto ao
mercado nacional como ao internacional. Os principais países importadores são os Estados
Unidos, a China, a Alemanha, a Itália e o Japão. (THOMÉ et al., 2010).
Muitas dessas empresas atuam em ramos diversificados, sendo que grande parte se
definem por empresas beneficiadoras de ágatas, onde se caracterizam empresas que prestam
serviços terceirizados como serragem, tingimento e polimento para grandes empresas do
setor. Além destas, o SINDIPEDRAS (Sindicato dos Pedristas de Soledade), e a APPESOL
20
(Associação dos Pequenos Pedristas de Soledade) também buscam produzir grande parte dos
produtos que são exportados pelo município.
Segundo o SINDIPEDRAS estima-se que essas empresas empregam cerca de 1.500
pessoas diretamente e geram mais de 4.500 empregos indiretos.
2.1.4 Resíduos gerados no setor
Dentro do processo de extração e beneficiamento pedras preciosas há uma geração
expressiva de resíduos sólidos, principalmente na forma de refugos, peças semiacabadas,
pouco beneficiadas, que por conterem impurezas ou apenas defeitos de formação natural e de
fabricação, reduzem seu valor comercial. Os resíduos então são armazenados, e acabam
formando grandes pilhas de rejeitos de dezenas de toneladas nos pátios das empresas como
pode ser observado na Figura 2.
Figura 2 - Pilha de rejeitos de Pedras Preciosas em uma empresa de Soledade/RS.
Fonte: IPAR et al. (2012).
Os rejeitos provenientes do processo muitas vezes são brutos, classificados ainda no
garimpo e, geralmente, não possuem qualquer contaminação com produtos químicos. Por
outro lado, os rejeitos oriundos das etapas de corte, lixamento e polimento podem conter óleo
diesel (utilizado na lubrificação e refrigeração do processo de corte) e grãos abrasivos que se
desprendem das ferramentas. Além disso, a maior preocupação é o nível de contaminação que
21
pode ser encontrado em rejeitos tingidos, pois diferentes cores são obtidas através de
processos diferenciados como pode ser visualizado na Figura 3.
Segundo Thomé et al. (2010), dentre os resíduos resultantes do processo de
beneficiamento de pedras, são gerados, normalmente, o pó de pedra, o lodo e os restos de
pedra. Também, há embalagens de papel e metais, que são utilizados nas empresas, porém são
observados em menor escala.
A Figura 3 mostra as etapas do processo de beneficiamento da ágata, de maneira geral
muitas das empresas não passam por todas essas etapas, algumas só possuem o corte e o
acabamento, e outras apenas o tingimento e o acabamento, isso varia conforme o âmbito de
atuação de cada empresa, definindo assim os resíduos resultantes do processo.
Figura 3 - Fluxograma geral das etapas do processo produtivas da pedra ágata e poluentes geradas.
Ágata em bruto Exportação
Corte Pré-formação
Ágata rica em óxido de ferro
Automático Semi
automático
Ágata com cores vivas natural
Lavagem
Tratamento com soluções corantes (processo à frio)
Secagem em estufa 60 oC
Tratamento térmico forno 200
a 260 oC
Obtenção da coloração azul
Obtenção da coloração preta
Obtenção da coloração vermelha
Obtenção da coloração verde
Produto tingido
Polimento fino
Mercado interno Produtos manufaturados
Mercado externo
Lixamento
1a Etapa Corte
2a Etapa Tingimento
3a Etapa Acabamento
Fase 1
Fase 2 10
1
3 2
5 4
6
7
8
9 11
4 12 13
4 12 14 2
4 15 5 1
1 Papel de embalagem
2 Barro de pedra (óleo + pó da peda)
3 Resto de pedra (cascalho)
4 Água com impurezas (óleo, ácidos, pó, etc.)
5 Detergente (xispa)
6 Anilina, álcool e corante
7 Ferrocianeto de potássio, sulfato de ferro
9 Nitrato de ferro
10 Açúcar, ácido sulfúrico
11 Ácido crômico, carbonato de amônia
12 Poeira
13 Pó de pedra
14 Parafina
15 Materiais para acabamento (cola, tinta, plástico)
Resíduos sólidos, efluente e emissões atmosféricas
Importação
Fonte: THOMÉ et al. (2010).
22
Os resíduos de lodo são dispostos previamente em tambores e, posteriormente,
enviados por empresas terceirizadas para deposição final, ou coletado pela Prefeitura
Municipal de Soledade. Esse material contaminado por óleo diesel apresenta grande potencial
de causar impactos ambientais, através da contaminação do solo e das águas, uma vez que
este produto é considerado inflamável, medianamente tóxico, volátil, límpido, isento de
material em suspensão e com odor forte e característico (PETROBRÁS, 2013).
Os outros demais resíduos, como por exemplo, os restos de pedras, são usualmente
estocados e enviados para processamento de outro tipo de material, comumente chamado de
pedras roladas, enquanto que o resíduo de pó de pedra é reutilizado no polimento de futuras
peças.
O efluente gerado no processo produtivo, normalmente, é constituído de produtos
como óleo, ácidos, detergentes, soda e anilina os quais são gerados nas etapas de lavagem
após passarem pelos processos de corte e polimento.
A Tabela 1, exibida abaixo, mostra o desempenho ambiental do setor quanto a
diferentes aspectos ambientais, em um estudo realizado por Thomé et al. (2010).
Tabela 1 - Desempenho ambiental das empresas de pedras preciosas de Soledade.
Aspecto Resposta Satisfatória (%)
Resíduos Sólidos 37
Água 47
Efluente 17
Emissões Atmosféricas 71
Energia 74
Desempenho Ambiental 47
Adaptado: THOMÉ et al. (2010).
Logo, percebe-se que desempenho ambiental das empresas de Soledade é 47%, sendo
esse considerado como um baixo desempenho. Esse valor, provavelmente, se deve à falta de
conscientização dos proprietários das empresas, que geram esses resíduos em seu
processamento.
23
2.1.5 Produção Mais Limpa
Conforme o UNEP (Programa das Nações Unidas para o Ambiente), a Produção mais
Limpa (P+L) pode ser definida como: aplicação contínua de uma estratégia ambiental
preventiva integrada aplicada aos processos, produtos e serviços que tem por finalidade
aumentar a eficiência geral e reduzir riscos aos seres humanos e ao meio ambiente.
Para processos de produção, a P+L resulta da combinação das seguintes atividades:
conservação de matérias-primas e energia, substituição de materiais tóxicos/perigosos por
outros menos prejudiciais, e redução da quantidade e/ou toxicidade das emissões e resíduos
antes de deixarem o local de produção.
Para produtos, a P+L foca na redução dos impactos ambientas de todo o seu ciclo de
vida, desde a extração da matéria prima até a disposição final do produto, propondo um
design apropriado.
Já para serviços, implica incorporar conceitos ambientais no desenho e execução do
serviço. As questões ambientais são introduzidas nas diversas etapas do processo, como as
operações logísticas, reduzindo assim, as emissões de gases causadores do efeito estufa e a
disposição de resíduos sólidos.
Nesse contexto, a P+L considera a variável ambiental em todos os níveis da empresa,
como por exemplo, a compra de matérias-primas, a engenharia de produto, o design, o pós-
venda, e relaciona as questões ambientais com ganhos econômicos. Logo, as ações de P+L
implementadas dentro da empresa objetivam tornar o processo produtivo mais eficiente,
utilizando os insumos de forma adequada e construindo produtos com menor geração de
resíduos (CNTL, 2003).
Segundo SENAI-RS (2003), são apontadas as diferenças marcantes entre a abordagem
de P+L e o uso de tecnologias de fim de tubo, conforme Tabela 2.
24
Tabela 2 - Diferenças entre tecnologias de fim de tubo e Produção mais Limpa
Técnicas de fim-de-tubo Produção mais Limpa
Os resíduos, os efluentes e as emissões são
controlados através de equipamentos de
tratamento.
Prevenção na geração de resíduos, efluentes e
emissões na fonte. Procurar evitar matérias-
primas potencialmente tóxicas.
Proteção ambiental é um assunto para
especialistas competentes.
Proteção ambiental é tarefa para todos.
A proteção ambiental atua depois do
desenvolvimento dos processos e produtos.
A proteção ambiental atua como uma parte
integrante do design do produto e da
Engenharia de processo.
Os problemas ambientais são resolvidos a
partir de um ponto de vista tecnológico.
Os problemas ambientais são resolvidos em
todos os níveis e em todos os campos.
Não têm a preocupação com o uso eficiente
de matérias-primas, água e energia.
Uso eficiente de matérias-primas, água e
energia.
Levam a custos adicionais. Ajudam a reduzir custos.
Fonte: SENAI – CNTL (2003).
A P+L foi se adaptando e se estruturando a partir das deficiências dos controles
ambientais fim-de-tubo. A perda de materiais, de tempo e os impactos ambientais resultam no
aumento de custos das empresas que adotam controles corretivos. Assim, a P+L, e outras
abordagens mais sistêmicas, vêm solucionar estas deficiências quando propõem uma nova
alternativas de tratar os aspectos ambientais das organizações e sua relação com a sociedade.
2.1.5.1 Histórico da Produção mais Limpa
A P+L foi proposta mundialmente pelo UNEP em 1989, através de sua Divisão de
Tecnologia, Indústria e Economia.
Presumia-se que com tal programa as indústrias melhorassem seu desempenho
industrial e ao mesmo tempo protegessem o meio ambiente. No entanto, o conceito de P+L
não foi tão bem aceito e incorporado pelas indústrias como esperado. Por esse motivo, ainda
hoje o UNEP vem trabalhando para conseguir o compromisso necessário dos governos, das
companhias, das associações de indústrias, da academia e de todos os agentes que possam ter
um papel no grande cenário da produção e consumo sustentável.
25
Ao longo dos últimos anos, houve um esforço do UNEP, em associação com a
UNIDO (Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial), para implantar
em vários países Centros Nacionais de Produção mais Limpa.
Em 1992, ocorreu no Brasil, a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente
e Desenvolvimento (Rio 92) onde seu foco, segundo o Greenpeace, foi erroneamente voltado
para discussão sobre Tecnologias Limpas, apresentando estas como solução para os
problemas ambientais, estimulando assim, muito mais o aspecto mercadológico, do que a
discussão propriamente dita sobre os danos ambientais e sociais, provocados pelas mudanças
tecnológicas ocorridas em todo o mundo (PIO, 2000).
O Brasil não havia uma preocupação muito grande com a adoção de P+L até que então
no ano de 1995, foi criado o Centro Nacional de Tecnologias Limpas (CNTL), instalado na
Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (FIERGS), junto ao Departamento
Regional do Rio Grande do Sul do SENAI-RS. Este centro, tem tido como função articular no
país a promoção da técnica de P+L, através de capacitações, consultorias, informação
tecnológica e eventos em vários estados do Brasil. Deste modo, a partir da criação do CNTL,
o Brasil passou a desenvolver efetivamente ações relacionadas à P+L.
Para fortalecer esses centros, o UNEP/UNIDO criaram em 1995 a Rede Global para a
Eficiência de Recursos e Produção mais Limpa (RECP Net), a qual está dividida em regiões
geográficas (América Latina e Caribe, África, Leste Europeu e Ásia), representada pelos seus
Centros Nacionais de Produção mais Limpa, que totalizam atualmente 42 no mundo. O
objetivo da rede é promover ações e projetos através de seus Centros e, desta forma,
incrementar o intercâmbio de conhecimentos e práticas, priorizando o intercâmbio de técnicos
e a implantação de novos centros em outros países (CNTL, 2011).
Em 1997, foi criada sob articulação do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para
o Desenvolvimento Sustentável) e orientação do CNTL, a Rede Brasileira de Produção mais
Limpa. Esta rede resultou da parceria entre sete organizações (CEBDS, SEBRAE Nacional,
Banco do Nordeste, CNI, FINEP, PNUMA e PNUD) e chegou a ter núcleos em todos os
estado do Brasil. Ela buscou unir esforços, trocar experiências e desenvolver sistemas
conjuntos, para fortalecer as práticas de P+L e encorajar as empresas a se tornarem mais
competitivas, inovadoras e ambientalmente responsáveis (CEBDS, 2003).
Os objetivos da Rede Brasileira de Produção mais Limpa foi:
• Reduzir ou minimizar os impactos ambientais;
• Disseminar as práticas de Produção Mais Limpa;
26
• Fortalecer ações integradas entre aspectos de qualidade ambiental, segurança e saúde
ocupacional;
• Promoção à pesquisa, desenvolvimento e transferência de tecnologias mais limpas;
• Consolidar um banco e dados e de informações sobre as experiências dos integrantes
da rede.
Um dos marcos das ações da Rede Brasileira de P+L foi a publicação em 2003 do
“Guia de Produção Mais Limpa – faça você mesmo”, orientando as empresas à implantação
autônoma. Apesar de um início promissor e de sua grande importância, a Rede Brasileira de
P+L teve suas atividades finalizadas em 2009.
Com relação ao governo federal, o Ministério do Meio Ambiente aderiu em novembro
de 2003 à “Declaração Internacional sobre Produção mais Limpa” do UNEP. Neste ano, o
MMA (Ministério do Meio Ambiente) instituiu o Comitê Gestor de Produção Mais Limpa
(Portaria nº 454, de 28/11/2003), e estabeleceu nove Fóruns Estaduais de P+L (Amazonas,
Bahia, Mato Grosso, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São
Paulo e Pernambuco).
De fato práticas limpas ocorrem em muitas empresas, de todos os setores, de todos os
portes, ao longo do território brasileiro, e podem ser motivadas por um processo de
certificação, por pressão das leis, dos clientes ou apenas por ciência de seus grandes
benefícios. Mas, são raros os casos com informações acessíveis, que possibilitem formar um
panorama autêntico da P+L, nas empresas ou nos órgãos governamentais.
Apesar de todos os seus aspectos positivos, a implementação da P+L no Brasil tem
encontrado algumas barreiras, como foi apontado por Pimenta e Gouvinhas (2011). De acordo
com os autores, as principais barreiras incluem: a resistência à mudança; conceitos errados
devidos à falta de informações sobre a técnica e a importância do ambiente natural; ausência
de políticas nacionais que apoiam atividades de P+L; pouca interação entre empresas,
universidades e centros de pesquisa, na tentativa de desenvolvimento de ações conjuntas de
P+L; barreiras econômicas associadas a alocação incorreta dos custos ambientais e
investimentos e baixa capacidade de investimento; e barreiras relacionadas com o papel da
equipe de implantação.
27
2.1.5.2 Etapas da Produção mais Limpa
Para a implementação do programa de P+L, é fundamental que haja uma pré-
sensibilização do público alvo (empresários e gerentes) através de uma visita técnica, para
apresentar os casos bem sucedidos, mostrando os seus benefícios econômicos e ambientais, e
assim, estimular o comprometimento gerencial da empresa.
A Figura 4 exibe a metodologia proposta pelo SENAI, para a implantação de um
programa de P+L.
Figura 4 - Passos para a implantação de um programa de Produção mais Limpa
Fonte: SENAI (2003).
Como visualizado na Figura 4, a metodologia de P+L compreende cinco etapas sendo
que essas serão descritas abaixo para um melhor entendimento do método adotado pelo
SENAI.
• Etapa 1
Para essa primeira etapa é necessário passar pelas seguintes fases: obtenção do
comprometimento gerencial, identificação de barreiras, estabelecimento da amplitude do
programa e formação e capacitação do ECOTIME.
28
a) Obtenção do comprometimento gerencial: para obter sucesso no programa, é
imprescindível obter o comprometimento da gerência, uma vez que os resultados
sólidos dependem disso;
b) Identificação de barreiras: no decorrer do programa, muitas barreiras serão
encontradas. Logo, é fundamental que essas não passem despercebidas para que
durante o desenvolvimento da P+L se possa encontrar alternativas e soluções para
melhorá-las;
c) Estudo da abrangência do programa: a partir da avaliação de vários fatores que
definem o conjunto da empresa, será determinado se o programa irá abranger todo
o processo produtivo ou somente um setor específico;
d) Formação do ECOTIME: grupo de trabalho formado por profissionais da
empresa que tem por objetivo conduzir o programa de P+L. O ECOTIME tem as
funções de realizar o diagnóstico da empresa, implantar o programa, identificar
oportunidades e introduzir medidas de P+L, e monitorar e dar continuidade ao
programa;
Nesta etapa também se promove a capacitação técnica do ECOTIME, explicando os
principais problemas ambientais relacionados ao tipo de processo que a empresa faz com
ênfase para os desperdícios.
• Etapa 2
Esta etapa engloba o estudo do fluxograma do processo produtivo, a realização do
diagnóstico ambiental e de processo e a seleção do foco de avaliação.
a) Estudo do fluxograma do processo: a análise detalhada do fluxograma do
processo permite a visualização e definição do fluxo qualitativo de matéria-prima,
água e energia consumidas no processo produtivo, bem como a visualização da
geração de resíduos durante o processo. Desta forma, o fluxograma atua como uma
ferramenta para obtenção de dados necessários para a formação de uma estratégia
de minimização da geração de resíduos sólidos, efluentes e emissões atmosféricas.
A Figura 5 demonstra genericamente como deve ser o fluxograma do processo
produtivo de uma empresa.
29
Figura 5 - Fluxograma qualitativo do processo produtivo
Fonte: SENAI (2003).
b) Realização do diagnóstico ambiental e de processo: após a elaboração do
fluxograma do processo produtivo da empresa, o ECOTIME fará o levantamento
dos dados quantitativos ambientais e de produção existentes, utilizando fontes
disponíveis como, por exemplo, estimativas do setor de compras, quantificação de
entradas (dando maior enfoque para água e energia, mas sem detalhar por etapa do
fluxograma), quantificação de saídas (resíduos sólidos, efluentes, emissões
atmosféricas, subprodutos e produtos, também sem detalhar por etapa do
fluxograma), dados da situação ambiental da empresa e, dados referentes à
estocagem, armazenamento e acondicionamento.
c) Seleção do foco de avaliação: com os dados obtidos no diagnóstico ambiental e
da planilha dos principais aspectos ambientais é selecionado, entre todas as
atividades e operações da empresa, o foco de trabalho. Analisa-se a partir disto, é
efetuada uma análise considerando os regulamentos legais, a quantidade de
resíduos gerados, a toxicidade destes, e os custos envolvidos.
30
• Etapa 3
Nessa etapa é realizado um balanço material e são estabelecidos indicadores, onde são
identificadas as causas de geração de resíduos, assim como as opções de P+L.
a) Análise quantitativa de entradas e saídas e estabelecimento de
indicadores: se procede ao levantamento quantitativo dos dados mais
relevantes das etapas do processo produtivo, selecionadas no foco da
avaliação. Os itens avaliados são os mesmos identificados na atividade de
realização do diagnóstico ambiental e de processo, possibilitando assim, a
comparação quantitativa entre os dados existentes antes da implementação do
programa de P+L e aqueles levantados pelo programa.
Figura 6 - Análise quantitativa de entradas e saídas
Fonte: SENAI (2003).
Segundo SENAI (2003), a definição dos indicadores é extremamente importante para
avaliar a eficiência da metodologia empregada e acompanhar o desenvolvimento das medidas
de P+L implantadas. Devem ser analisados os indicadores atuais da empresa e os indicadores
31
estabelecidos durante a etapa de quantificação. A ideia é que seja possível comparar com os
indicadores determinados após a etapa de implementação das opções de P+L.
b) Identificação das causas de geração de resíduos: as informações levantadas
de entrada e saída de material (quantificação) serão avaliadas pelo ECOTIME,
para que se possam reconhecer as causas de geração dos resíduos na empresa e
os principais fatores envolvidos na origem destes.
c) Identificação das opções de P+L: com base nas possíveis causas de geração
de resíduos ou em outras que venham a ser identificadas, é possível implantar
modificações em vários níveis de atuação e aplicar estratégias que visem ações
de P+L.
Na Figura 7 é apresentado um fluxograma da geração de opções de P+L. Através da
figura, tem-se que a P+L é caracterizada por ações que priorizem o nível 1, nível 2 e nível 3,
nesta ordem. Nesse sentido, a abordagem de P+L pode se dar de duas formas: através da
minimização de resíduos sólidos, efluentes e emissões atmosféricas (redução na fonte) ou
através da reutilização destes resíduos (reciclagem interna e externa).
Figura 7 - Fluxograma de geração de opções de Produção mais Limpa
Fonte: SENAI (2003).
32
Desta forma, primeiramente, deve-se dar prioridade a medidas que busquem eliminar
ou minimizar os resíduos no processo produtivo onde são gerados. A principal meta a ser
atingida é encontrar medidas que evitem a geração destes na fonte (nível 1). Tais medidas
podem incluir modificações no processo de produção ou no próprio produto.
I. Modificação no produto
A modificação no produto é uma abordagem complexa, geralmente de difícil
implementação, visto que envolve a aceitação pelos consumidores de um produto novo ou
renovado. Geralmente, são adotadas após terem sido esgotadas outras opções mais simples. A
modificação no produto pode incluir:
• Substituição completa do produto;
• Aumento da longevidade;
• Substituição de matérias-primas;
• Modificação do design do produto;
• Uso de matérias-primas recicláveis e recicladas;
• Substituição de componentes críticos;
• Redução do número de componentes;
• Viabilização do retorno de produtos;
• Substituição de itens do produto ou alteração de dimensões para um melhor
aproveitamento da matéria-prima.
II. Modificação no Processo
As medidas de minimização mais comuns em P+L são aquelas que envolvem
estratégias de modificação nos processos, isto é, em qualquer sistema de produção dentro da
empresa. As medidas deste tipo podem ser boas práticas operacionais (“good housekeeping”),
as quais implicam na adoção de medidas de procedimento, técnicas, administrativas ou
institucionais que uma empresa pode implantar para minimizar os resíduos. Normalmente, são
implementadas com baixo custo ou custo zero. As boas práticas operacionais incluem:
• Utilização cuidadosa de matérias-primas e materiais auxiliares;
• Operação adequada de equipamentos;
• Mudança na dosagem e na concentração de produtos;
33
• Maximização da utilização da capacidade do processo produtivo;
• Reorganização dos intervalos de limpeza e de manutenção;
• Eliminação de perdas devido à evaporação e a vazamentos;
• Melhoria de logística de compra, estocagem e distribuição de matérias-primas,
• Materiais auxiliares e produtos;
• Elaboração de manuais de boas práticas operacionais;
• Treinamento e capacitação das pessoas envolvidas no programa de P+L.
III. Reciclagem externa
Quando tecnicamente descartadas as medidas relacionadas aos níveis 1 e 2, deve-se
optar por medidas de reciclagem de resíduos, efluentes e emissões fora da empresa, isto pode
acontecer na forma de reciclagem externa ou de uma reintegração ao ciclo.
A recuperação de matérias-primas de maior valor e sua reintegração ao ciclo
econômico como papel, aparas, vidros, materiais de compostagem é um método mais
reconhecido de proteção ambiental integrada através da minimização de resíduos.
IV. Reciclagem interna
A reciclagem interna ocorre no nível 2 das opções de P+L e refere-se a todos os
processos de recuperação de matérias-primas, materiais auxiliares e insumos que são feitos
dentro da planta industrial. Podem ser citado como exemplos:
• Utilização de matérias-primas ou produtos novamente para o mesmo propósito: por
exemplo, a recuperação de solventes usados;
• Utilização de matérias primas ou produtos usados para um propósito diferente: por
exemplo, o uso de resíduos de verniz para pinturas de partes não visíveis de
produtos;
• Utilização adicional de um material para um propósito inferior ao seu uso original:
por exemplo, o aproveitamento de resíduos de papel para enchimentos.
• Etapa 4
a) Avaliação técnica, ambiental e econômica:
34
I. Avaliação Técnica
Para essa avaliação são consideradas as propriedades e requisitos que as matérias-
primas e outros tipos materiais devem apresentar a fabricação do produto, de maneira que se
possam sugerir modificações. Para a possível modificação tecnicamente para implementar a
opção, deve-se analisar:
• Impacto da medida proposta sobre o processo, produtividade, segurança, etc.;
• Testes de laboratório ou ensaios quando a opção estiver mudando
significativamente o processo existente;
• Experiências de outras companhias com a opção que está sendo estudada;
• Todos os funcionários e departamentos atingidos pela implementação das opções;
• Necessidades de mudanças de pessoal, operações adicionais, e pessoal de
manutenção, além do treinamento adicional dos técnicos e de outras pessoas
envolvidas.
II. Avaliação Ambiental
Na avaliação ambiental, são observados os benefícios ambientais que poderão ser
obtidos pela empresa, para a obtenção dos resultados é necessário fazer a medição para a
comprovação dos mesmos, esses podem ser feitos por meio de análises laboratoriais. Os tipos
de condições que devem ser verificados são descritos abaixo:
• A quantidade de resíduos sólidos, efluentes e emissões atmosféricas que serão
reduzidas;
• A qualidade dos resíduos eliminados (verificar se estes contêm menos substâncias
tóxicas e componentes reutilizáveis);
• A redução na utilização de recursos naturais.
III. Avaliação Econômica
Para a avaliação econômica é importante fazer um estudo de viabilidade, onde se deve
considerar o período de retorno do investimento, a taxa interna de retorno e o valor presente
líquido, para isso seguem algumas considerações:
• Os investimentos necessários;
35
• Os custos operacionais e receitas do processo existente, assim como, os custos
operacionais e receitas projetadas das ações a serem implantadas;
• A economia da empresa com a redução e/ou eliminação de multas.
IV. Seleção de oportunidades viáveis
Os resultados encontrados durante a atividade de avaliação técnica, ambiental e
econômica possibilitarão a seleção das medidas viáveis de implantação de acordo com os
critérios estabelecidos pelo ECOTIME.
• Etapa 5
Nessa etapa, após implementadas as opções, deve-se estabelecer um Plano de
Monitoramento para a avaliação do desempenho ambiental. Esse Plano consta de análises
laboratoriais de metais e de carga orgânica, medições e documentação para acompanhamento
do Programa. Destina-se a manter, acompanhar e dar continuidade ao Programa.
Os indicadores estabelecidos no início do trabalho e medidos na realização dos
balanços serão as ferramentas para o acompanhamento das ações que foram traçadas na
empresa.
a) Plano de implementação e monitoramento: após a seleção das opções de P+L
viáveis, é traçada a estratégia para implementação das mesmas. Nesta etapa é
importante considerar:
• As especificações técnicas detalhadas;
• O plano adequado para reduzir tempo de instalação;
• Os itens de dispêndio para evitar ultrapassar o orçamento previsto;
• A instalação cuidadosa de equipamentos;
• A realização do controle adequado sobre a instalação;
• A preparação da equipe e a instalação para o início de operação.
Juntamente com o plano de implementação deve ser planejado o sistema de
monitoramento das medidas a serem implantadas. Nesta etapa é essencial considerar:
• Quando devem acontecer as atividades determinadas;
36
• Quem é o responsável por estas atividades;
• Quando são esperados os resultados;
• Quando e por quanto tempo monitorar as mudanças;
• Quando avaliar o progresso;
• Quando devem ser assegurados os recursos financeiros;
• Quando a gerência deve tomar uma decisão;
• Quando a opção deve ser implantada;
• Quanto tempo deve durar o período de testes;
• Qual é a data de conclusão da implementação.
Segundo SENAI (2003), o plano de monitoramento é dividido em quatro estágios:
planejamento, preparação, implementação e análise e relatório de dados, como apresentado na
Figura 8.
Figura 8 - Estágio da implementação do plano de monitoramento
Fonte: SENAI (2003).
Os estágios precisam ser descritos em uma proposta que apresente os objetivos,
recursos, instalações, material, funcionários qualificados, logística, escala de horários,
duração e custo geral.
37
b) Plano de continuidade: após a implementação do programa de P+L, é importante não
somente avaliar os resultados obtidos, mas, sobretudo, criar condições para que o
programa tenha sua continuidade assegurada. Esta pode ser realizada através da
aplicação da metodologia de trabalho e da criação de ferramentas que possibilitem a
manutenção da cultura estabelecida, bem como sua evolução em conjunto com as
atividades futuras da empresa.
2.1.5.3 Benefícios e barreiras da Produção mais Limpa
Como qualquer investimento, a decisão de empregar a P+L depende da relação custo-
benefício. Sem dúvida, ao analisara estrutura dos custos totais de uma empresa, quando esta
decide investir em P+L, verifica-se que, com o tempo, os custos diminuem significativamente,
devido aos benefícios obtidos a partir do aumento da eficiência dos processos, e dos ganhos
relacionados à redução do consumo de matérias-primas e energia e da geração de resíduos.
Desta maneira, os programas de P+L focalizam no potencial de ganhos diretos no processo de
produção, e de ganhos indiretos pela eliminação de custos associados com o tratamento e a
disposição final de resíduos.
Existe uma grande relutância para aderir a prática de P+L. Conforme Moura et al.
(2005), os maiores obstáculos ocorrem em função: da resistência à mudança; da concepção
errônea (falta de informação sobre o programa e a importância dada ao meio ambiente); da
não existência de políticas nacionais que forneçam suporte às atividades de P+L; barreiras
econômicas (alocação incorreta dos custos ambientais e investimentos); e barreiras técnicas
(adoção de novas tecnologias).
Segundo a UNIDO/UNEP (1995), a maioria das empresas ainda acredita que para a
implantação de P+L é necessário adotar novas tecnologias, quando na realidade,
aproximadamente 50% da poluição gerada em vários países, poderia ser evitada com a
melhoria em práticas de operação e mudanças simples nos processos. Do mesmo modo,
também já foi verificado que toda vez que uma legislação obrigou as empresas a mudarem
seus processos de produção ou serviços, houve uma maior eficiência e menor custo de
produção.
Quanto às barreiras, Silva Filho & Sicsú (2003) as classificam em Econômica,
Política, Organizacional, Técnica e Sistêmica. Segundo os autores, a falta de recurso
financeiro é uma das barreiras mais importantes para o sucesso da implementação da P+L e
em geral não são grandes quantias. Ainda, percebe-se que uma parte significativa das
38
principais barreiras está relacionada com o comportamento e educação das pessoas envolvidas
na organização.
Segundo CNTL (2003), as principais barreiras para implementação de Produção mais
Limpa nas empresas podem ser classificadas nas seguintes categorias:
• Barreiras Econômicas: preços e disponibilidade de recursos; disponibilidade e custos
de fundos; exclusão dos custos ambientais da análise econômica das medidas de
minimização de resíduos; planejamento inadequado de investimentos; critérios para
investimento eventual; predominância de incentivos fiscais relativos à produção.
• Barreiras Organizacionais: não envolvimento dos empregados; concentração de
poder de decisão; ênfase na produção; alta rotatividade de pessoal técnico; falta de
reconhecimento.
• Barreiras Técnicas: falta de infraestrutura; mão-de-obra limitada ou não disponível;
acesso limitado à informação técnica; tecnologia limitada; déficits tecnológicos;
infraestrutura limitada na manutenção própria.
• Barreiras Sistêmicas: falhas na documentação da empresa; sistema de gerenciamento
inadequado ou ineficiente; falta de sistemas para promoção profissional;
planejamento de produção eventual.
No entanto, por mais que grande parte das empresas ainda resistam à ideia de
implementar a metodologia de P+L, vale ressaltar que esta acarreta em ganhos econômicos à
organização, prevenindo a poluição, inspirada pelo desejo de contribuir com a melhoria
ambiental de uma região. Além disso, investiga o processo de produção e as demais
atividades de uma empresa, e estuda-os do ponto de vista da otimização do uso de materiais e
energia. Logo, são criteriosamente estudados os produtos, as tecnologias e os materiais, a fim
de minimizar a geração de resíduos sólidos, emissões atmosféricas e efluentes, e encontrar
alternativas de reutilizar os resíduos inevitáveis.
Entre as principais vantagens da P+L estão a redução dos custos, aumento da
eficiência e competitividade. Além do mais, com a adoção dessa prática, os produtores
também ficam adequados aos padrões ambientais previstos na legislação, o que propicia a
redução de infrações. Ao mesmo tempo, melhoram as condições de segurança e saúde do
trabalhador, que deixa, por exemplo, de trabalhar com substâncias poluentes. E também, cria-
39
se uma imagem positiva da empresa em relação aos fornecedores, consumidores e poder
público, ampliam-se os mercados e se tem acesso viável às linhas de financiamento.
A relação dos custos e benefícios com a prática de P+L estão demostrados na Figura 9.
Figura 9 - Relação de custos e benefícios com a implementação de medidas de Produção
mais Limpa
Fonte: CNTL (2003).
Com base na figura acima, observa-se que necessariamente, quando não há
investimentos, a composição de custos totais não apresenta variações substanciais ao longo do
tempo, sendo o desempenho representado pela linha horizontal (sem P+L). Por outro lado, no
momento que se decide implantar a metodologia de P+L, primeiramente incide uma redução
dos custos totais pela adoção de medidas sem investimento, como por exemplo, ações de boas
práticas operacionais, o que corresponde ao segmento A do gráfico. No segmento B ocorre
um incremento nos custos totais, resultado dos investimentos feitos para as adaptações
imprescindíveis, incluindo a adoção de novas tecnologias e alterações no processo.
Após a introdução de processos otimizados e novas tecnologias, incide uma redução
nos custos totais que permite a recuperação do investimento inicial e, com o passar do tempo,
os ganhos com a maior eficiência permitem uma redução permanente nos custos totais. Essa
redução de custos pode ser observada pela diferença entre as duas curvas, representada pelo
segmento C do gráfico.
Ou seja, a P+L busca aproveitar ao máximo as matérias-primas utilizadas durante o
processo produtivo com o objetivo de evitar a geração de resíduos. Estimular a adoção desta
40
prática é um compromisso de responsabilidade social, que cabe a cada um de nós,
representantes da sociedade civil, empresários e governos.
2.1.5.4 Produção mais Limpa nas Indústrias
Ao longo da história, o setor empresarial tem enfrentado inúmeros desafios,
envolvendo os mais diferentes assuntos. Com a globalização da economia, novas
oportunidades e ameaças surgiram para as empresas brasileiras. Além disso, as indústrias
passaram a apresentar uma maior preocupação com relação às questões ambientais, uma vez
que o cumprimento de legislações tornaram-se iniciativas direcionadas à prevenção de riscos.
Nesse contexto, as iniciativas adotadas pelas indústrias estão intimamente ligadas à P+L, visto
que esta remete à prevenção e redução de riscos.
A P+L possui uma abordagem preventiva, relacionada ao controle da poluição, que
busca a minimização dos resíduos na fonte, potencializando os ganhos junto ao processo
produtivo ao aperfeiçoar, também, o uso das matérias-primas, insumos e energia. Ainda, ao
eliminar os desperdícios, a organização desencadeia um processo de redução dos custos
relacionados aos tratamentos aplicados no final do processo produtivo.
À vista disso, quando uma organização decide adotar a técnica de P+L, assume um
compromisso de desenvolver uma estratégia ambiental preventiva, que visa, também, ganhos
financeiros. Logo, a P+L está presente em todas as etapas produtivas de uma empresa, desde a
escolha de matérias-primas e projeto do produto até a expedição do produto final,
compreendendo conjuntamente, a preocupação em minimizar o consumo de insumos, água e
energia e a geração de resíduos.
Portanto, a adoção de estratégia, princípios e metodologia de P+L, ou Produção
Sustentável, é decisiva para o aumento da competitividade das indústrias, segundo as
dimensões técnica, econômica e ambiental, permitindo o seu fortalecimento e o incremento de
sua participação no mercado global.
2.1.5.5 Estudos de casos de aplicação da Produção mais Limpa
Segundo Schenini, (1999), muitas empresas começaram a perceber que quando havia
um crescimento em sua atividade, o custo ambiental andava na mesma proporção, ou seja, o
custo para tratar seus resíduos.
41
Nos itens seguintes, são demostrados alguns estudos de casos de P+L que relatam a
experiência de algumas empresas após implementarem a metodologia.
2.1.5.5.1 Laboratórios
Batiz et al. (2009), estudaram o problema de poluição sonora, que é um risco no
trabalho que se converte em um problema para a Segurança do Trabalho. A pesquisa foi feita
em um laboratório de uma universidade, a qual apresentava ruídos de acima de 60 dB. Assim,
foi realizada uma avaliação dos riscos que esse tipo de ambiente causava. A partir das opções
de P+L constatadas, foi elaborado um plano de limpeza e manutenção das fontes, no qual
todos os aparelhos que geravam ruído foram atendidos corretamente e os componentes foram
substituídos, o que levou a redução dos níveis de pressão sonora.
2.1.5.5.2 Indústria de couros
Segundo Elias et al. (2004), a empresa de beneficiamento de couro instalada no
município de Cascavel/CE, industrializa 4000 couros/dia, com visão exclusiva para a
exportação, couros acabados para estofamento. Proprietária de várias outras empresas no
exterior, com processo moderno e automatizado, veio para transformar os couros do nordeste
em produto de exportação acabado. Possuindo duas outras unidades no Estado, uma no
Distrito Industrial de Maracanaú/CE e outra na cidade de Sobral/CE.
Os benefícios obtidos a partir da redução da aplicação de P+L no consumo de água foi
um ganho econômico e ambiental de 21.952,952m³/ano de água bruta; redução da geração de
efluentes no processo de curtimento do couro (4.106,656 m³/ano); redução do uso de produtos
químicos para tratamento de efluente, isso tudo com um beneficio econômico de R$
85.422,67.
Ainda, essa redução no consumo de água foi alcançada através de três procedimentos:
aproveitamento da água da chuva, monitoramento da entrada de água nos fulões e redução do
consumo de água do reuso no processo através do monitoramento de entrada nos fulões.
2.1.5.5.3 Resíduos da Construção e Demolição
Segundo um estudo realizado por Rezende et al. (2012), no ano de 1993, em Belo
Horizonte/MG, havia 143 pontos de deposição de entulho de origem clandestina e uma
42
geração que apresenta a média de 425m³ de entulho e terra por dia, gerando uma despesa que
ultrapassava R$ 1.070.000,00 na remoção do entulho por ano.
Através da implementação da metodologia P+L foi possível identificar aplicações
como a da contratação de uma empresa de consultoria, onde foi feito um diagnóstico que
mostrou a necessidade de se implantar quatro estações de reciclagem e 12 unidades de
recebimento de pequenos volumes para suplementar o volume gerado de resíduo. Através
desses dados, duas práticas para combater o desperdício foram implantadas: a primeira
consistia na rede receptora de resíduo, com instalações de reciclagem de entulho e por aterros
municipais e a segunda foi à rede programática que é composta pelas áreas da educação e
informação.
2.2 Métodos e técnicas
2.2.1 Local de Estudo
O município de Soledade está localizado na região norte do estado do Rio Grande do
Sul, no Planalto Riograndense, no alto da serra do Botucaraí, a 726 metros acima do nível do
mar. Possui 30.044 habitantes e, segundo o IBGE (2012), tem uma área útil de 1.213,41 Km².
Soledade pertence à Microrregião de número 13, à Mesorregião número 1, sendo suas
coordenadas geográficas 29º 03’ 14’’ S e 51º 26’ 00’’ O.
O município situa-se as margens da BR 386, uma das principais rodovias do estado,
que dá acesso ao Mercosul, a Porto Alegre e a região do Planalto. Conta com outras vias de
acesso, como a rodovia BR 153 e RS 471, ligando Soledade ao Porto de Rio Grande e ao sul
do estado, e a RS 332 que liga à região das Missões e ao Vale do Taquari, como exposto na
Figura 10.
43
Figura 10 - Mapa de localização de Soledade em relação ao estado do Rio Grande do Sul
Fonte: IBGE (2013).
2.2.1.1 Informações Gerais da Empresa
O local onde foi realizada a pesquisa é a empresa Legep Mineração LTDA, a qual foi
fundada em 1970. A empresa começou seu trabalho com beneficiamento como corte e
polimento de alguns tipos de minerais, especialmente ametista e ágata, onde eram extraídas de
suas próprias minas localizadas no Rio Grande do Sul, no entanto as vendas foram crescendo
tanto no Brasil como no exterior e então a empresa começou a comercializar uma grande
variedade de pedras brutas e industrializadas de outros estados brasileiros.
A matriz é localizada em Soledade, mas há mais três filiais localizadas em Rio de
Janeiro, São Paulo e Paraná.
A empresa trabalha com o comércio de atacado, varejo, exportação e importação de
pedras preciosas. A maior parte das vendas é destinada a exportação de pedras, sendo em
média quatro exportações por mês, podendo ter picos maiores ou menores durante o ano. A
empresa exporta para países da Europa, América do Norte e, sobretudo para a Ásia, onde o
principal país importador é a China.
A empresa tem um período de funcionamento de 8h/dia, 24 dias por mês e 12 meses
por ano. Os principais dados da empresa são apresentados no Quadro 4.
44
Quadro 4 - Dados da empresa em estudo
LEGEP MINERAÇÃO LTDA
Endereço Avenida Marechal Floriano Peixoto, 2798
Bairro Botucaraí
Cidade Soledade- RS
CEP 99300-000
Telefone (54) 3381-1750
Home Page http://www.legep.com.br
E-mail [email protected]
Nº de funcionários 32
Nº de funcionários do setor de
beneficiamento
4
Área Útil 11.508 m²
Área construída 6.047,42 m²
Área não construída 5.560,58 m²
As Figuras 11 e 12 apresentam, respectivamente, a localização do município de
Soledade e a vista aérea da empresa, as quais foram obtidas no software Google Earth, através
do satélite GeoEye.
Figura 11 - Localização do município de Soledade – RS.
Fonte: MapLink/Tele Atlas (2012).
45
Figura 12 - Vista superior da empresa Legep Mineração LTDA.
Fonte: MapLink/Tele Atlas (2012).
Abaixo seguem algumas imagens da empresa Legep Mineração Ltda, como
demostradas nas Figuras 13 e 14.
Figura 13 - Fachada da empresa em estudo.
46
Figura 14 - Imagens internas da empresa
2.2.2 Delineamento da Pesquisa
Esta pesquisa apresenta-se por ser qualitativa, objetivando conhecer e analisar
detalhadamente o processo produtivo da empresa em questão. Foi realizado um levantamento
direto de dados, analisando e interpretando-os na busca da identificação de opções de P+L,
para tornar a empresa mais competitiva no mercado.
Na Figura15 é apresentado o fluxograma com o delineamento da pesquisa a fim de
explicar de forma detalhada a maneira como o estudo foi executado.
47
Figura 15 - Fluxograma do delineamento da pesquisa
2.2.2.1 Reconhecimento do local de estudo
Nessa etapa, visitou-se a empresa para obtenção de informações prévias do processo
produtivo. As atividades realizadas pela empresa foram acompanhadas de forma geral,
obtendo-se assim, alcançar os objetivos que foram propostos neste trabalho.
2.2.2.2 Acompanhamento do processo produtivo
Após a visita ao empreendimento, buscou-se desenvolver o fluxograma produtivo da
empresa, onde então foi possível analisar os resíduos e a forma como são gerados, para
posteriormente, verificar a minimização desses e propor opções de melhoria para o mesmo.
2.2.2.3 Levantamento fotográfico
Nessa etapa, foram tiradas imagens do local do estudo e, mais especificamente, do
processo produtivo, a fim de visualizar como funciona a fabricação dos produtos.
2.2.2.4 Levantamento dos aspectos ambientais
48
Nessa fase, buscou-se avaliar os aspectos ambientais relacionados durante o
beneficiamento das pedras preciosas até sua destinação final.
2.2.2.5 Etapas de Produção mais Limpa
Após análise das condições do local de estudo, dos aspectos ambientais encontrados,
os tipos de resíduos encontrados, buscou-se, com base na metodologia de P+L proposta pelo
SENAI (2003), as possíveis oportunidades de melhorias que a empresa poderia adotar.
Dessa maneira, inicialmente, seguindo a metodologia de P+L, se procurou realizar
uma sensibilização do empresário e gerente da empresa, salientando que o comprometimento
gerencial é de extrema importância para que o programa siga em frente e tenha sucesso.
Ainda, as barreiras que serão encontradas durante o percurso, a seleção do foco de avaliação,
pois é necessário analisar essa etapa para que possa encontrar melhores opções para a
melhoria do processo.
2.2.2.6 Propostas de melhorias
Depois de identificadas as opções de P+L, buscou-se propor melhorias que sejam, em
longo prazo, significativas para a empresa.
49
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1 O empreendimento
A empresa Legep Mineração Ltda. se caracteriza por ser uma empresa que trabalha
com beneficiamento de pedras preciosas como ágata e ametista, sendo seu faturamento maior
quando destinado ao mercado externo.
É uma empresa que atua na atividade de Beneficiamento de minerais não metálicos,
sem tingimento segundo a LO 139/2012 expedida pelo Departamento de Meio Ambiente
Municipal de Soledade/RS. Processa mensalmente uma quantia de 30.000 kg de matéria
prima (ágata e ametista) para gerar produtos como: drusa de ametista com bordas polidas com
base de madeira e sem base; porta-joias de ágata; porta-joias de ametista; geodos de ágata
com bases serradas; e drusa de ametista com base serrada.
3.2 Detalhamento do Processo Produtivo
A Figura 16 apresenta o detalhamento do processo produtivo da ágata ou ametista.
Figura 16 - Processo produtivo da ágata/ametista na empresa.
50
3.2.1 Estocagem
As pedras em bruto chegam à empresa em caminhões de pequeno e grande porte. As
ágatas apresentam impurezas como terra, pois são extraídas diretamente do solo, e são
acondicionadas no pátio da empresa em forma de lotes com classificação por peso e
coloração. A classificação em relação à coloração é realizada visto que existem ágatas azul e
vermelha, e outras são geodos de ágata, onde esses por sua vez, não são maciços e possuem
uma cavidade no centro onde se encontram cristais de várias tonalidades.
As ametistas acondicionadas nos caminhões são embaladas em papel de jornal, e
papelão, para que não haja perigo de quebra durante o transporte, posteriormente são
acondicionadas dentro da empresa para que não tenham incidência de sol, chuva e outros
aspectos climatológicos que possam agredi-la, já que ela é mais sensível a iluminação,
podendo descolorir.
As imagens dos estoques das pedras em brutos seguem na Figura 17, 18 e 19.
Figura 17 - Estocagem da ametista
51
Figura 18 - Chegada da ametista em bruto na empresa
Figura 19 - Estocagem de ágata.
3.2.2 Corte
O processo de corte é o primeiro processo realizado após a chegada das pedras em
bruto, sendo baseado na utilização de serras rotativas diamantadas, onde é utilizado óleo
diesel. Existem dois tipos de serras para o corte, a automatizada e a manual. Na Figura 20 é
demonstrada uma máquina automatizada, ou seja, a pedra fica presa em uma prensa e a serra
faz um percurso até o corte total. Já na Figura 21 o processo é feito por uma máquina manual
onde é necessário um operador para fazer o corte da pedra.
52
Figura 20 - Corte automático
Figura 21 - Corte com serra manual
3.2.3 Lavagem
A lavagem é realizada para a retirada de resíduos de solo, pó e óleo diesel que ficaram
retidos na pedra. Nessa etapa, para facilitar a lavagem das pedras é utilizado detergente
veicular para a remoção dos óleos e impurezas que se fixam na pedra, visto que ela apresenta
diversas entranhas, como pode ser visualizado na Figura 22.
53
Em razão de que a empresa também trabalha com outros tipos de minerais, alguns
produtos químicos, como por exemplo, ácidos, são utilizados para a remoção de partículas e,
outros tipos de minerais que acabam cobrindo a pedra, esses normalmente são calcitas, um
mineral que possui dureza 3 segundo a Escala de Mohs, são fáceis de remover CPRM (2013).
Figura 22 - Lavagem das pedras
3.2.4 Lixamento e Polimento
Os processos de lixamento e polimento fino consistem em usinar as chapas de pedras
em rebolos e lixadeiras, até que se obtenha uma superfície lisa e adequada. Para tanto, são
utilizadas rebolos e lixas grossas e finas para que possa remover a opacidade que fica a pedra
após o seu corte.
Muitas vezes, o polimento é feito sem precisar fazer o corte da pedra, ou seja, muitas
peças são polidas como são encontradas em seus respectivos formatos, ficando assim
desuniformes.
As Figuras 23, 24 e 25 mostram os equipamentos utilizados para o processo.
54
Figura 23 - Rebolo utilizado no lixamento das pedras
Figura 24 - Equipamento utilizado para lixar as pedras em superfícies não planas.
55
Figura 25 - Equipamento que faz o polimento
3.2.5 Embalagem
Os produtos produzidos durante o beneficiamento são destinados ao setor de
embalagem para que possam ser devidamente acondicionados como é demostrado na Figura
26. A embalagem é feita utilizando materiais como jornal picado, plástico filme, plástico
bolha, madeiras, caixas de papelão.
As peças pequenas são acondicionadas em caixas de papelão de tamanho médio e são
embaladas com plástico bolha e jornal, e após são colocadas sobre pallets de madeira. Estes
são, normalmente, enviados para outros países em containers e são destinados ao porto de Rio
Grande para serem embarcados em navios.
Os produtos de grande porte são embalados com plástico filme e posteriormente
colocados em caixas de madeira com jornal picado para não ocorrer quebra das peças durante
o transporte.
56
Figura 26 - Setor de embalagem.
3.3 Medidas de Produção mais Limpa
As medidas de P+L foram elencadas a partir do diagnóstico realizado no processo
produtivo. Com isto, foram propostas algumas ações visando o melhoramento do processo de
produção e a minimização da geração de resíduos.
3.3.1 Formação do ECOTIME
Para o início das medidas de P+L, é necessário para verificação da implantação de um
programa de Produção mais Limpa, é recomendada a formação do ECOTIME, que consiste
em um grupo de trabalho formado por profissionais da empresa que tem por objetivo conduzir
o Plano de P+L.
Nessa etapa também é importante promover a capacitação técnica dos membros do
ECOTIME, expondo os principais problemas ambientais relacionados à empresa com
destaque para a minimização de resíduos, o desperdício de recursos naturais, a carga orgânica
que o efluente pode gerar a quantidade de efluente gerada pelo processo produtivo.
O Quadro 5 mostra os integrantes que fazem parte do ECOTIME da empresa.
57
Quadro 5 - Integrantes do ECOTIME da empresa NOME SETOR CARGO FORMAÇÃO
Maicon Piovesan Exportação Diretor Superior Incomp.
Adalberto Turela Administração Administrador Superior em
Administração
Volmir Rodrigues Embalagem Supervisor 1º Grau Inc.
Djalma Beneficiamento Encarregado 1º Grau Inc.
O ECOTIME deverá seguir as seguintes medidas para que a realização da P+L seja
feita de forma a conduzir de maneira eficaz as opções encontradas durante o processo, como:
• Realizar de forma explicita o diagnostico da empresa;
• Identificar as possíveis barreiras;
• Identificar as oportunidades de P+L;
• Encontrar as opções de melhoria da empresa;
• Monitorar o programa;
• Dar continuidade ao programa.
3.3.2 Identificação de barreiras
Muitas barreiras foram encontradas durante o acompanhamento do processo. A
identificação dessas é de extrema importância, pois durante o andamento do programa de P+L
estas informações podem ser relevantes na obtenção de dados e resultados finais.
As barreiras encontradas seguem descritas abaixo:
• Aquisição dos dados: muitos dados não foram obtidos devidos alguns impedimentos,
como por exemplo, a necessidade de realizar a limpeza total nos equipamentos para
reiniciar o processo e, assim, obter dados reais e concretos da quantificação de
material beneficiado e dos resíduos gerados.
• Barreiras Sistêmicas: foi verificado não há maneiras de obter dados no que diz
respeito ao consumo de energia elétrica por setor produtivo, uma vez que existe
apenas um contador de energia para toda empresa. Ainda, foi constatado que a
empresa não possui registos de entradas de insumos utilizados durante a fabricação
dos produtos, nem documentos que compactem os gastos de insumos e matérias-
primas por mês, ou seja, a empresa não realiza avaliação de despesas em relação ao
58
faturamento. Além disso, foi observado que a empresa não possui um sistema de
normas para os funcionários, com direitos e deveres de cada um.
• Outras barreiras: verificou-se que durante o período de funcionamento da empresa
existe um problema por parte dos funcionários com relação ao uso de EPI’s. Ressalta-
se que o turn over da empresa é baixo, sendo que há aproximadamente 20 funcionários
com mais de 10 anos trabalhando na empresa. Nesse sentido, muitos destes
funcionários, durante sua jornada de trabalho, não fazem a utilização dos
equipamentos de segurança, pois, relatam que é incomodo e inconveniente o uso do
EPI. Porém, a empresa relata que possui serviços terceirizados para realização de
treinamentos internos sobre segurança do trabalho, mas mesmo assim, parece não ser
o suficiente para conscientizar seus funcionários sobre a importância do uso destes
equipamentos.
3.3.3 Estudo do fluxograma dos aspectos ambientais do processo
Durante o acompanhamento do processo, foi possível diagnosticar os aspectos
ambientais mais relevantes no setor. Na Figura 27 são descritos os aspectos para cada etapa
do processo produtivo da empresa estudada.
Figura 27 - Fluxograma dos aspectos ambientais do processo produtivo.
59
O processo de corte de pedras preciosas é o primeiro processo realizado após a
chegada da pedra em bruto. Este processo possui dois grandes problemas, um deles é que
necessita de elevado volume de óleo para lubrificação e refrigeração e produz um vapor de
óleo que impregna todo o ambiente de trabalho. Além disso, na bandeja coletora da máquina
ficam resíduos sólidos do corte da pedra misturada ao óleo, tomando um aspecto pastoso e
escuro, além do ruído que é significativamente alto.
Os processos de lixamento e polimento geram elevado volume de pó, que fica no
ambiente da fábrica, os ruídos gerados pelas máquinas são elevados e causam assim, riscos a
saúde dos operários.
Durante a lavagem das pedras, há geração de efluente líquido com características de
partículas de pedras, óleos, e vapores em suspensão.
Depois de manufaturado, o produto passa pela embalagem gerando poucas
quantidades de resíduos sólidos.
3.3.4 Análise do processo de beneficiamento da pedra Ametista
O beneficiamento feito na empresa consiste em usinar pedras preciosas como a ágata e
ametista para que se possa obter um produto manufaturado, e então ser destinado à venda na
sua própria loja e posteriormente destinadas ao mercado interno e externo. Embora sejam
processadas ametista e ágata, durante o período em que foram realizadas a análise dos
processos e a obtenção de dados quantitativos, somente foi possível quantificar os cascalhos
de um ciclo de beneficiamento de um produto chamado “Drusa de ametista polida”.
Nesse sentido, para o processamento da pedra preciosa ágata, não foi possível fazer a
quantificação durante seu fluxo de processo, devido às barreiras encontradas com os
empresários da empresa. Estes justificaram que, no momento em que foi executada a análise
do processo produtivo, os funcionários não poderiam perder tempo com a quantificação, pois
teriam outras prioridades.
Logo, foi possível apenas verificar as entradas e saídas do beneficiamento da ametista,
como segue a Figura 28, demostrando seu processo produtivo.
60
Figura 28 - Processo de fabricação
No Quadro 6 são definidos os insumos utilizados e suas respectivas quantidades média
e frequência de utilização tanto no processo da ágata quanto da ametista. Ressalta-se que os
dados são aproximados, sendo que foram obtidos através de consultas no setor de compras da
empresa, e também, de entrevistas com os funcionários responsáveis por cada setor.
Quadro 6 - Relação de insumos
Insumos utilizados Quantidade Média Frequência
Matéria-prima (ametista e ágata em bruto) 30.000 kg Mensal
Energia elétrica R$ 3.500,00 Mensal
Água Poço artesiano -
Óleo diesel 120 L Mensal
EPI’s (luvas de pano, avental, máscaras,
protetores auriculares, botas)
10 Mensal
Rebolos 0,25 peças Mensal
Lixas 0,50 peças Mensal
Serras diamantadas 0,50 peças Mensal
61
O Quadro 7 é apresentada a quantificação dos resíduos gerados durante um ciclo de
produção, para cada respectiva etapa do processo produtivo da ametista.
Quadro 7 - Resíduos de pedra gerados no processo produtivo da ametista.
Etapa Material (ametista em
bruto)
Quantidade (kg) Cascalhos de pedra(kg)
1 Ametista em bruto 56,20 0
2 Pré-acabada (corte da base) 55,025 1,175
3 Pós-lavagem 55,00 0,025
4 Pós-lixamento 53,10 1,900
5 Pós-polimento 52,70 0,400
6 Pós-lavagem 52,60 0,100
7 Produto pronto 52,60 0
Durante a avaliação do processo de beneficiamento da ametista, apenas foi possível
quantificar a geração de cascalho de pedra, ou seja, a matéria-prima perdida no processo. Os
demais resíduos gerados, como o lodo (mistura de pó de pedra e óleo diesel), pó de pedra e
efluente industrial não foram quantificados, devido às barreiras encontradas durante o
acompanhamento do processo produtivo da empresa. Porém, destaca-se a importância de
quantificar o lodo gerado no processo, uma vez que este pode ser considerado um resíduo
perigoso, pois apresenta óleo diesel em sua constituição.
Através do Quadro 7, pode-se verificar que a quantidade gerada de cascalho de pedra
perdida é cerca de 6,4% do total de matéria-prima, significando assim, um baixo índice de
perda. Como a empresa beneficia uma quantia de aproximadamente 30.000 kg de matéria-
prima por mês, há então uma geração média de cascalho de pedra de aproximadamente 2.000
kg ao mês, sendo que os dados de cascalho gerados são apenas no que diz respeito a utilização
de ametista em bruto, como não foi feita uma quantificação em algum produto que utilizasse
ágata, os dados demonstrados são aproximados.
62
3.3.5 Indicadores
Para a obtenção de práticas organizacionais, os indicadores de desempenho ambiental
são importantes para avaliar a eficiência da metodologia empregada e acompanhar o
desenvolvimento das medidas de P+L implantadas.
Serão analisados os indicadores que se referem ao uso de recursos naturais,
representados através de valores absolutos de quantidades e/ou consumos, analisando também
as ações de gerenciamento ambiental.
Os indicadores são estabelecidos durante a etapa de quantificação. Dessa forma, será
possível comparar os mesmos com os indicadores determinados após a etapa de
implementação das opções de P+L.
Os indicadores utilizados para implementação da P+L são demostrados na Tabela 3.
Tabela 3 - Indicadores de desempenho ambiental
INDICADORES
Consumo de energia elétrica (kW) / kg de produto produzido
Matéria-prima utilizada (kg) / kg de produto produzido
Consumo de água (m3) / kg de produto produzido
Efluente líquido gerado (m3) / kg de produto produzido
Custo de disposição de resíduos (R$) / kg resíduo disposto
Resíduo sólido gerado (kg) / kg de produto produzido
Custo de tratamento de efluentes (R$) / kg de produto produzido
3.3.6 Seleção do foco de avaliação
Após, identificados os aspectos ambientais que cada setor da empresa possui, foram
selecionados alguns processos para a avaliação e, posterior, verificação de oportunidades de
melhoria.
Nesse sentido, o foco de avaliação selecionado foi o processo de corte das pedras
como é mostrado no fluxograma da Figura 29. A escolha desta etapa do processo foi
determinada uma vez que o setor do corte é o que possui maior geração de resíduos perigosos,
63
os quais são destinados à disposição final em aterros Classe I, e produção de ruídos em grande
escala.
Figura 29 - Fluxograma do foco de avaliação
3.3.7 Propostas de melhoria
O setor de beneficiamento de pedras preciosas da empresa em estudo apresenta grande
potencial para a utilização de técnicas de P+L, sendo que foram identificadas algumas
oportunidades de melhoria, tanto em termos gerais da estrutura da fábrica quanto para o
processo produtivo em si.
1. Estrutura da fábrica
As oportunidades de melhoria identificadas para a estrutura da fábrica são
basicamente:
• Inserir um contador de energia elétrica para cada etapa do processo produtivo da
empresa, a fim de quantificar a energia gasta e identificar as etapas de maior consumo,
para posterior, elaboração de ações de redução que buscam melhorar a empresa como
um todo;
• Fazer adequações dos aspectos físicos da empresa, como por exemplo: trocar de telhas
de amianto por telhas transparentes, a fim de aumentar a iluminação do ambiente de
trabalho; substituir lâmpadas incandescentes por lâmpadas fluorescentes; inserir
lâmpadas com sensores de movimentos; e colocar refletores brancos para melhorar a
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iluminação do espaço da fábrica e, assim, promover uma diminuição na energia
elétrica consumida, reduzindo também os custos para a empresa;
• Realizar treinamentos dos funcionários quanto ao uso racional da água, visando
sempre a redução do uso deste recurso natural. Dessa maneira, a quantidade de
efluente gerado será em menor volume e, consequentemente, o uso de produtos
químicos durante o tratamento do efluente será reduzido;
• Introduzir sistema de coleta da água da chuva, com o objetivo de utilizar para fins não
potáveis, como a lavagem do piso da empresa e, reduzir assim, o consumo de água
proveniente da rede de abastecimento público;
• Inserir um medidor de vazão na entrada do sistema da empresa, para
ser possível uma verificação de evolução da redução de consumo de água;
• Realizar uma pré-lavagem a seco do piso da fábrica, antes da aplicação da água;
• Utilizar mangueiras para lavagem com menor diâmetro e maior pressão;
• Fazer acoplagem de pulverizadores em torneiras para reduzir o consumo de água;
• Verificar as condições de torneiras e tubulações a fim de identificar possíveis
vazamentos;
• Adequar o sistema de controle de emissões atmosféricas. O sistema disponível na
fábrica não supre as necessidades, já que é grande a geração de pó de pedra nos
processos de lixamento e polimento. Buscar fazer um estudo para verificar o tamanho
das partículas que são geradas para introduzir um sistema mais eficiente, uma vez que
o pó gerado prejudica a saúde dos funcionários podendo causar silicose, doença que
pode provocar a morte do indivíduo exposto;
• Implantar um sistema de isolamento acústico nas paredes da fábrica, visto que o ruído
gerado é muito alto, o que prejudica a saúde dos funcionários e perturba a vizinhança
local.
2. Processo produtivo
As oportunidades de melhoria identificadas para o processo produtivo da empresa
estão relacionadas ao uso de matéria-prima e equipamentos, e são basicamente:
• Reutilizar os resíduos gerados na etapa de corte da pedra em outros processos da
empresa, como fazer um acondicionamento desse cascalho em pacotes de 5 kg para
serem vendidos na loja da empresa e serem utilizados como produtos para embelezar
65
jardins. Logo, esses não necessitarão ser destinados a aterros, diminuindo os custos
para disposição destes resíduos;
• Substituir o óleo diesel utilizado na etapa de corte das pedras por outras substâncias
menos perigosas, como a água;
• Fazer a segregação dos resíduos recicláveis (papel, papelão e plástico), para a
reutilização ou reciclagem interna destes, ou em último caso, a reciclagem externa,
isto é, vender para outras empresas;
• Fazer manutenção contínua das máquinas responsáveis pelo corte das pedras, evitando
dessa maneira, uma maior geração de resíduos;
• Adequar a tecnologia no processo de corte das pedras, visto que as máquinas utilizadas
nesta etapa são as mesmas desde o início do processo de fabricação da empresa. Logo,
estas não passaram por nenhuma evolução em questões técnicas, podendo acarretar
num maior consumo de matéria-prima e insumos e geração de resíduos.
• Fazer treinamentos internos com os funcionários quanto à utilização de EPI’s,
ressaltando a importância do uso destes equipamentos na saúde do trabalhador.
3.3.8 Avaliação técnica, ambiental e econômica
3.3.8.1 Substituição do uso de óleo diesel no processo do corte da pedra
O óleo diesel é utilizado, na etapa de corte da pedra, para que não ocorra o
superaquecimento da serra quando em contato com a matéria-prima. Este óleo, além de causar
um custo elevado de compra para empresa, também gera um resíduo denominado Classe I –
perigoso, visto que apresenta características de inflamabilidade, corrosividade, toxicidade,
segundo a NBR 10.004 (ABNT, 2004). Portanto, deve ser disposto em aterros industriais, o
que acarreta, também, um elevado custo de disposição para a empresa.
Nesse contexto, optou-se em substituir o óleo diesel pela água, a qual é extraída do
poço artesiano localizado dentro da empresa. Com esta substituição, foi observada uma
diminuição dos resíduos gerados durante o processo de corte, bem como uma redução dos
custos da empresa com a compra do óleo diesel, além desse resíduo gerado não possuir mais
características de periculosidade, ou seja, resíduo Classe I, podendo ser disposto em aterros
industriais Classe II, resíduo não perigoso. Com isso, promoveu uma melhoria das condições
de qualidade e segurança do trabalhador, uma vez que este não fica mais exposto ao vapor de
óleo que antes era gerado, sendo considerado relativamente perigoso.
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No entanto, alguns aspectos negativos foram identificados nesta substituição. Foi
constatado que empregando água, há formação de faíscas durante o processo de corte (Figura
30), o que pode interferir negativamente na saúde do trabalhador. Ainda, sua utilização pode
ocasionar uma redução no tempo de vida útil das serras diamantadas, já que a água não possui
viscosidade adequada para lubrificação das serras, ou seja, propicia um maior atrito da serra
quando em contato com a pedra.
Figura 30 - Formação de faíscas com a utilização de água durante o corte.
67
4 CONCLUSÃO
4.1 Conclusões do trabalho
Quando se pensa em meio ambiente, o empresário, geralmente, pensa em custo
adicional à empresa. Dessa maneira, passam despercebidas as oportunidades de uma redução
de custos através da preservação ambiental e a utilização sustentável dos recursos naturais.
Cada ação direcionada à redução do consumo ou desperdício de matéria-prima e
energia previne ou reduz a geração de resíduos, resultando em aumento da produtividade e de
benefícios financeiros para a empresa. Ainda, a adoção de práticas de P+L pode significar em:
redução de custos de produção; aumento de eficiência e competitividade; diminuição dos
riscos de acidentes ambientais; melhoria das condições de saúde e de segurança do
trabalhador; melhoria da imagem da empresa junto a consumidores, fornecedores, poder
público, mercado e comunidades, provendo a ampliação de suas perspectivas de atuação no
mercado interno e externo; maior acesso a linhas de financiamento; melhoria do
relacionamento com os órgãos ambientais e a sociedade; entre outros.
Através do trabalho realizado, foi possível verificar que algumas propostas de
melhoria foram encontradas e com adoção desse tipo de ferramenta, isto é, o programa de
P+L, a empresa pode melhorar seu desempenho de forma a alcançar ganhos ambientais e
econômicos a partir de pequenas mudanças em seu processo, produto ou serviço.
Durante o acompanhamento do processo produtivo da empresa foi possível identificar
ações que ao longo do tempo possam ser mudadas na estrutura da fábrica e no ambiente de
trabalho, com isso diminuindo a geração de resíduos, principalmente aqueles gerados no setor
de corte das pedras preciosas. Além disso, foi possível verificar que o principal resíduo
gerado no corte (mistura de pó de pedra e óleo diesel) pode ser substituído pela água, o que
acarretará na não geração de resíduos Classe I. Com isso, os ganhos econômicos e ambientais
para a empresa serão bons, sendo que terá menor custo anual com a destinação desses
resíduos, bem como promoverá a proteção e conservação dos recursos naturais.
Contudo, é necessário que o programa de P+L seja contínuo e monitorado, para que se
possam obter ganhos significativos e assim, não somente melhorar o processo da empresa
como um todo, mas também, minimizar a contaminação do meio ambiente e promover a
qualidade de vida das pessoas.
68
4.2 Propostas para trabalhos futuros
A partir desta pesquisa, sugere-se fazer um monitoramento dos indicadores de
desempenho ambiental mais relevantes para empresa, para a realização de um balanço de
massa e energia. Assim, será possível identificar todos os processos que necessitam de
melhorias.
Além disso, é de extrema importância executar uma análise técnica, ambiental e
econômica das oportunidades de melhoria identificadas, para então selecionar as propostas
mais viáveis para a empresa.
E por fim, propõem-se buscar soluções para os problemas verificados no processo
produtivo da empresa, com destaque à etapa de corte das pedras, principalmente no que se
refere à questão da utilização água para lubrificação da serra.
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