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1 UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO FACULDADE DE ENGENHARIA E ARQUITETURA CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL João Vitor Sachetti Proposta da metodologia da Produção mais Limpa em Setor de pintura de uma empresa Metalmecânica Passo Fundo, 2011.

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UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO

FACULDADE DE ENGENHARIA E ARQUITETURA

CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL

João Vitor Sachetti

Proposta da metodologia da Produção mais Limpa em Setor de pintura de uma empresa Metalmecânica

Passo Fundo, 2011.

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João Vitor Sachetti

Proposta da metodologia da Produção mais Limpa em Setor de pintura de uma empresa Metalmecânica

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Engenharia Ambiental, como parte dos requisitos exigidos para obtenção do título de Engenheiro Ambiental. Orientador: Prof. Adalberto Pandolfo, Doutor.

Passo Fundo , 2011.

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João Vitor Sachetti

Proposta da metodologia da Produção mais Limpa em Setor de Pintura de uma empresa Metalmecânica

Trabalho de Conclusão de Curso como requisito parcial para a obtenção do título de

Engenheiro Ambiental – Curso de Engenharia Ambiental da Faculdade de Engenharia e

Arquitetura da Universidade de Passo Fundo. Aprovado pela banca examinadora:

Orientador:_________________________

Prof. Dr. Adalberto Pandolfo

Faculdade de Engenharia e Arquitetura, UPF

___________________________________

Prof. Dra. Aline Ferrão Custódio Passini

Faculdade de Engenharia e Arquitetura, UPF

___________________________________

Prof. Mestre Eduardo Pavan Korf

Faculdade de Engenharia e Arquitetura, UPF

Passo Fundo, 2011.

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RESUMO

O presente estudo teve como objetivo geral propor ações de Produção mais Limpa em empresa do ramo Metalmecânico, em específico o Setor de Pintura, e propor o uso de técnicas que foquem uma produção mais limpa. Para alcançar este objetivo, foi feito um estudo de caso, que utilizou uma abordagem qualitativa com aportes quantitativos. A pesquisa foi orientada em seu meio por pesquisas bibliográficas e pesquisa de campo, tendo seu fim caracterizado por propostas e sugestões. Quanto aos dados para a realização do estudo, estes foram coletados por meio de arquivos, entrevistas e observação. O estudo apresentou dados relevantes ao Desenvolvimento Sustentável e à Gestão da Produção mais Limpa, além de dados relativos à Fabricação Mecânica. Com base nos resultados, a pesquisa pode constatar que o Setor de Pintura não seguia a metodologia de Produção mais Limpa, embora adotasse ações que visavam minimizar o impacto ambiental. Portanto, a organização deve verificar os problemas localizados no processo fabril do Setor e, a partir disso, encontrar as melhores soluções ambientais, sociais e econômicas, visando um processo fabril mais limpo, agregando mais qualidade produto.

Palavras-chave: Desenvolvimento Sustentável; Administração de Produção; Produção mais

Limpa.

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AGRADECIMENTOS

Ao professor Dr. Adalberto Pandolfo pela oportunidade em realizar este trabalho,

além da amizade, orientação, compreensão e incentivo ao longo deste.

Ao professor Leandro Doro, pelo incentivo e motivação nas horas difíceis.

A Empresa Equipagiro e aos funcionários, por permitirem a obtenção dos dados

necessários e dedicarem parte de seu tempo para contribuir com o preenchimento das fichas

aplicadas.

A todos os profissionais que entenderam os objetivos deste trabalho e tiveram o

desprendimento em colaborar com suas experiências, apresentando suas pesquisas,

tecnologias adotadas

Aos meus familiares e amigos que acompanharam esta importante etapa da minha

vida, pela compreensão demonstrada nos momentos em que estive ausente, pela convivência e

pelas palavras de incentivo constantes.

A Deus por mais esta conquista.

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SUMÁRIO

1.1 Considerações Iniciais ................................................................................................ 7 1.2 Problema de Pesquisa ................................................................................................. 8 1.3 Justificativa ................................................................................................................. 9 1.4 Objetivos ................................................................................................................... 10

1.4.1 Objetivo Geral ....................................................................................................... 10 1.4.2 Objetivos Específicos............................................................................................ 10

2 REVISÃO DA LITERATURA .......................................................................................... 11 2.1 Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente ...................................................... 11 2.2 Produção mais Limpa ............................................................................................... 13 2.3 Metodologias de aplicação de Produção mais Limpa ............................................... 16

2.3.1 Método da Rede Brasileira de Produção mais Limpa ........................................... 16 2.3.2 Método do SENAI-RS .......................................................................................... 27

2.4 Benefícios decorrentes da implementação da produção mais limpa ........................ 36 2.5 Barreiras na implementação da Produção mais Limpa ............................................. 38 2.6 Soluções para as empresas (ações internas) .............................................................. 40 2.7 Soluções para o governo e instituições de apoio ...................................................... 40 2.8 Estudo de Caso .......................................................................................................... 41

2.8.1 Indústria de plásticos de Caxias ............................................................................ 41 2.8.2 Indústria Alimentícia ............................................................................................ 42 2.8.3 Aplicação em fazendas ......................................................................................... 43

3 METODOLOGIA .............................................................................................................. 45 3.1 Local de Estudo......................................................................................................... 45 3.2 Estudo do setor de pintura ......................................................................................... 46

3.2.1 FASE 1 – Caracterização dos aspectos ................................................................. 48 3.2.2 FASE 2 - Realização do diagnóstico ambiental .................................................... 49 a) levantamento dos aspectos ambientais...................................................................... 49 b) Priorização das oportunidades identificadas na avaliação ............................................. 51 3.2.3 FASE 3 - Proposta do uso da técnica de Produção mais Limpa. .......................... 54

4 RESULTADOS .................................................................................................................. 55 4.1 FASE 1 – Caracterização dos aspectos ..................................................................... 55 4.2 FASE 2 – Realização do diagnostico ambiental ....................................................... 58 4.3 FASE 3 - Propostas de Produção mais Limpa .......................................................... 62

4.3.1 Alteração na pressão de ar das pistolas de pintura ................................................ 62 4.3.2 “Uniforme Sempre Limpo” ................................................................................... 63 4.3.3 Disposição da borra de tinta .................................................................................. 63 4.3.4 Redução de energia no uso do equipamento ......................................................... 64 4.3.5 Redução de energia elétrica .................................................................................. 64 4.3.6 Otimização do Sistema de ventilação ................................................................... 64 4.3.7 Reutilização do Pano mecânico ............................................................................ 65 4.3.8 Redução da Geração de Resíduos de Embalagens ................................................ 65

5 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 66 5.1 Conclusão do Trabalho ............................................................................................. 66 5.2 Recomendações para trabalhos futuros. .................................................................... 66

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................................... 68

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1 INTRODUÇÃO

1.1 Considerações Iniciais

A humanidade passou por profundas transformações no último século. Houve um

aumento da industrialização, da taxa de crescimento populacional, um crescimento da

produção e do consumo em massa, da urbanização e da modernização agrícola. Estas

transformações geraram desenvolvimento econômico, mas também provocaram uma

degradação ambiental sem precedentes (CMMAD, 1991).

Percebe-se que a preocupação com os efeitos ou impactos ambientais gerados pela

ação do homem no meio ambiente, somente passou a ter maior ênfase a partir da década de

1950, motivada pela queda da qualidade de vida ocasionada pela rápida degradação ambiental.

A partir deste período, houve o surgimento de movimentos ambientalistas em nível mundial,

criação de entidades não-governamentais sem fins lucrativos e de agências governamentais

voltadas especificamente para as questões ambientais dos países, além da realização de

conferências, em nível internacional, para a discussão dos problemas ambientais (CMMAD,

1991).

Na Conferência das Nações Unidas, realizada em 1972, em Estocolmo, a educação

ambiental foi apontada como um elemento crítico para o combate à crise ambiental do mundo.

Essa ênfase para a educação ambiental é importante, pois é um marco para a obtenção do

engajamento do ser humano na compreensão do seu envolvimento e responsabilidade perante

o uso racional dos recursos naturais do meio ambiente. É a busca da interação do homem com

a natureza de forma harmônica. Em 1987, a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e

Desenvolvimento, órgão criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1983,

publicou o Relatório Nosso Futuro Comum, aprofundando o debate sobre a interligação entre

as questões ambientais e o desenvolvimento.

Nesse relatório, foi definido o conceito de desenvolvimento sustentável como sendo

aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer as possibilidades das

gerações futuras atenderem as suas próprias (Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e

Desenvolvimento). Apesar de todos os avanços sobre a preocupação ambiental no mundo, era

difícil debater este tema quando este se referia ao meio empresarial, pois não se vislumbrava a

possibilidade de preservar o meio ambiente e obter lucro em função desta ação.

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1.2 Problema de Pesquisa

A relação entre crescimento econômico e meio ambiente apresenta conflitos desde

tempos remotos. A degradação dos recursos naturais renováveis e não renováveis, a poluição

(água, solo, ar) e a criação de situações de risco de desastres ambientais são as manifestações

básicas deste processo de destruição (CNTL, 2003).

A natureza apresenta-se de forma dinâmica, mantendo-se em um ciclo constante, em

perfeita harmonia. Essa harmonia é proveniente das trocas de energia existentes entre os seres

vivos. A ação do homem tem desequilibrado esse sistema, colocando em risco sua qualidade

de vida. A questão ambiental é considerada uma área cada vez mais urgente e importante para

a sociedade, pois o futuro da humanidade depende da sua relação com a natureza (ROHDEN,

2005). O lixo industrial contribui bastante para esse panorama, podendo ser representado por

cinzas, lodos, óleos, resíduos alcalinos ou ácidos, plásticos, papéis, madeiras, fibras,

borrachas, metais, escórias, vidros e cerâmicas. Nesta categoria, inclui-se a grande maioria do

lixo considerado perigoso (BRASIL, 2004).

O lançamento de resíduos industriais nos cursos d`água, como forma de destino final,

pode causar assoreamento, aumento da turbidez e variação do gradiente de temperatura,

causando a quebra do ciclo vital das espécies. Quando despejos industriais com temperatura

elevada são lançados na água, a sobrevivência de algumas espécies da fauna e da flora

aquáticas pode ser comprometida, visto que essas espécies só podem existir dentro de um

gradiente relativamente pequeno de temperatura (LIMA, 1995).

Na indústria metalmecânica, por ser inerente ao processo produtivo algum impacto

ambiental, deve ser dada especial atenção à forma pela qual se convive e gerencia as questões

ambientais. Contudo a empresa em estudo, mais especificamente no setor de pintura tem-se

uma grande quantidade de resíduos a serem destinados corretamente. Então surge a seguinte

pergunta – quais são a técnicas de Produção mais Limpa adequadas ao setor de pintura?

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1.3 Justificativa

Apesar do crescente número de pesquisas, no nível acadêmico e empresarial,

relacionados à preservação e conservação do meio ambiente, são raros os casos de temas

relacionados à minimização de resíduos na fonte para o setor Metalmecânico. A maioria dos

estudos concentram-se em propor técnicas de reciclagem para os resíduos gerados nos

processos fabris, com destaque especial para o resíduo metálico. Neste sentido, verifica-se

que, geralmente, procura-se agir após a ocorrência do problema, medida esta caracterizada

como corretiva, pois não age na causa do problema, e sim nos sintomas por ele produzidos

(MÜLLER, 2000).

Segundo a CNTL, 2003, a humanidade atualmente vem enfrentando problemas

ambientais extremamente complexos, cuja solução parece estar mais na aplicação de uma

estratégia ambiental preventiva, do que em ações corretivas. Sendo assim, verifica-se a

importância de se utilizar métodos consagrados de gestão ambiental. Diante da situação

exposta, surge a Produção Mais Limpa que, com sua metodologia de aplicação, visa tornar

acessível para empresas de pequeno, médio e grande portes, de todos os setores industriais,

formas de se obter a minimização de resíduos. Neste sentido, o termo prevenção passa a ser o

elemento chave da metodologia, pois considera que se há uma menor geração de resíduos no

processo produtivo, consequentemente menos resíduos serão gerados.

O desafio das indústrias está em tornarem-se e manterem-se hábeis para aumentar seus

ganhos econômicos, com a diminuição da degradação ambiental causada por seus processos e

produtos. A Produção mais Limpa se apresenta como uma alternativa que, por meio de uma

avaliação técnica, econômica e ambiental no processo produtivo e no produto das indústrias,

proporciona melhorias contínuas que geram redução de custos e o aumento dos ganhos

(MÜLLER, 2000).

Sendo assim, busca-se através da implementação da Produção Mais Limpa identificar

e implementar ações voltadas para melhoria da performance ambiental no setor

Metalmecânico, principalmente, através da minimização de resíduos na fonte, ou seja,

evitando que sejam gerados. Isto conduz as empresas do setor a otimizarem seus processos

produtivos, demonstrando a possibilidade de implementação ações voltadas para o meio

ambiente(CNTL, 2011).

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1.4 Objetivos

1.4.1 Objetivo Geral

Este estudo objetivou propor a aplicação da Técnica de Produção mais Limpa no Setor

de Pintura de uma empresa do ramo Metal-mecânico, visando adequação ambiental.

1.4.2 Objetivos Específicos

O presente trabalho tem por objetivos especifico:

a) Caracterizar o processo em estudo;

b) Realizar o diagnostico do setor de pintura;

c) Propor o uso da técnica de Produção mais Limpa do setor em estudo.

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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente

A produção sem limites passou a consumir uma quantidade extrema de recursos finitos

da natureza, o que fez a sociedade repensar sobre o seu desenvolvimento e, acima de tudo, a

sua sobrevivência. Frente à necessidade de cuidar do meio ambiente, aliada ao

desenvolvimento da nação e a qualidade de vida da população, as Nações Unidas criaram a

Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), em 1983.

À CMMAD coube a responsabilidade de elaborar um estudo sobre a situação da

qualidade ambiental mundial. Após o estudo, a Comissão apresentou os resultados no relatório

publicado em 1987 com o nome de Our Common Future (Nosso Futuro Comum) ou Relatório

Brundtland. Esse documento foi e ainda é importantíssimo na busca do equilíbrio entre

desenvolvimento e preservação dos recursos naturais. Nele destaca-se o conceito de

desenvolvimento sustentável, definido como “aquele que atende às necessidades do presente

sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias

ecessidades.” (CMMAD, 1991).

Pode-se dizer que a sustentabilidade é fundamental para a sobrevivência da sociedade e

do meio ambiente. Frente a essa realidade, as organizações precisam se enquadrar às

necessidades humanas, sociais e ambientais, sem esquecer do desenvolvimento empresarial.

Assim, a execução de ações sustentáveis torna-se indispensável na gestão das organizações.

Schenini (1999) lembra que para cada ator social existem perspectivas próprias a fim de

abordar o Desenvolvimento Sustentável. As instituições governamentais devem planejar e

executar políticas, normas, decretos, leis, multas, entre outras; à comunidade e às

Organizações não Governamentais cabe identificar, executar e fiscalizar o processo sistêmico;

e as organizações devem agir de forma a minimizar e recuperar os estragos já realizados,

prevenindo futuros impactos. Partindo para as organizações, podem ser consideradas ações

sustentáveis, a adequação à legislação ambiental, a responsabilidade social e o uso de

tecnologias limpas.

O Brasil possui, atualmente, inúmeras leis, decretos, portarias, resoluções e normas

que dizem respeito ao meio ambiente. Dentre esses se destacam: Constituição Federal

Brasileira, promulgada em 1988, é o principal norteador do país, tendo os Artigos 20, 21, 23,

24 e 225 um realce voltado à questão ambiental; Lei nº 6.938 de 1981, dispõe sobre a Política

Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação; Lei nº 9.605

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de 1998, Lei de Crimes Ambientais, visa punir os gerentes ou entidades jurídicas envolvidas

com os crimes ambientais.

Frente às necessidades estratégicas de melhorar e/ou manter a imagem das

organizações, surge o tema responsabilidade social. Segundo o Instituto Ethos (2006) a

empresa socialmente responsável é “aquela que possui a capacidade de ouvir os interesses das

diferentes partes [...] e conseguir incorporá-los ao planejamento de suas atividades, buscando

atender às demandas de todos, não apenas dos acionistas ou proprietários”.

Muitas medidas têm sido adotadas pelas organizações para atenderem as normas

gerenciais e operacionais da responsabilidade social. Essas medidas, ou seja, as chamadas

ações sociais praticadas pelas organizações, podem ser separadas em três aspectos: legais,

normativos e benemerentes(SILVA FILHO, 2003).

As ações sociais legais são aquelas determinadas por leis, decretos, entre outros,

apresentadas pelos órgãos responsáveis e das quais as empresas precisam cumprir. As ações

sociais normativas são aquelas que seguem uma linha de certificação. Atualmente, voltadas

para a responsabilidade social estão as Normas SA8000 e AA1000. As ações sociais

benemerentes são aquelas que têm por base o voluntariado. No escopo dessas ações estão: o

auxílio a instituições sem fins lucrativos e/ou entidades carentes, o patrocínio de eventos

culturais e artísticos, entre outros(SILVA FILHO, 2003).

Tendo como foco as tecnologias limpas, Schenini (1999) ressalta que essas são

definidas por qualquer medida técnica tomada para reduzir ou mesmo eliminar na fonte, a

produção de alguma poluição ou resíduo, além de ajudar a economizar matérias primas,

recursos naturais e energia.

Voltando-se para as ações empresariais sustentáveis, Schenini (1999) distingue as

tecnologias limpas em gerenciais e operacionais. As tecnologias gerenciais estão ligadas ao

controle e implantação de uma mentalidade ecologicamente adequada, ou seja, são os

processos de gestão. Dentre as principais tecnologias limpas gerenciais estão as normas de

gestão ambiental (ISO 14000), elaboradas pela International Organization for Standardization

(ISO) e representadas no Brasil pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

As tecnologias limpas operacionais são aquelas atreladas aos processos produtivos, ou

seja, visam torná-los menos nocivos ao meio ambiente. Destacam-se: infra-estrutura básica;

gestão de resíduos sólidos; tratamento de efluentes líquidos e das emanações aéreas;

eliminação/substituição de processos poluentes; entre outros. (SCHENINI, 1999).

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Algumas empresas são receosas quando se trata do processo fabril, todavia, precisam

reconhecer as vantagens ambientais da adoção das tecnologias limpas, visando o

posicionamento estratégico das empresas, adotando um processo ecologicamente correto,

economicamente viável e socialmente adequado.

2.2 Produção mais Limpa

O ponto de partida da produção mais limpa é internalizar em uma empresa a percepção

de vantagens inerentes à mudança de procedimentos e atitudes. Despertada a consciência

coletiva sobre a preservação do meio ambiente e quanto aos riscos para a sustentabilidade das

gerações futuras, embutidos em ações predatórias no uso dos recursos naturais (SENAI,

2010).

A responsabilidade é de todos os integrantes da empresa, tanto os que atuam

internamente, como os que fazem parte da cadeia produtiva, de fornecedores a distribuidores e

até mesmo os clientes. Em síntese, o programa de Produção mais Limpa pode ser usado como

uma ferramenta para melhoria da gestão ambiental da empresa (SENAI 2010).

Com o crescimento e a diversificação das atividades produtivas e o consequente

aumento da geração de resíduos, os órgãos ambientais estaduais, que são responsáveis pela

qualidade do meio ambiente, passaram a solicitar das empresas o Licenciamento Ambiental,

bem como o controle e tratamento de suas emissões atmosféricas, resíduos sólidos e águas

servidas (efluentes líquidos). Tornou-se necessária a figura de um responsável pela área

ambiental dentro da empresa (CNTL, 2003).

Segundo Silva Filho (2003), com o passar do tempo e em função de alguns graves

acidentes ambientais que ocorreram nas últimas décadas, muitas empresas resolveram

melhorar seu desempenho ambiental, reduzindo emissões.

Desaparece a figura do responsável único pela área ambiental e tem início uma fase em

que todos os trabalhadores da empresa são responsáveis pelo meio ambiente (essa

responsabilidade coletiva está prevista na Lei dos Crimes Ambientais ). Surgiram também as

certificações de empresas pela ISO 14001. São atestados de que elas, além de cumprirem a

legislação ambiental, estão comprometidas com a melhoria contínua (CNTL, 2003).

No modo de produção atual - tanto primária como industrial - existem pelo menos duas

características comuns a ambos. Elas são o desperdício de matérias-primas e de energia, que

ocorrem, geralmente, pela intensa geração de resíduos e emissões. Com o objetivo de reverter

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ou modificar esta situação, é que começa a surgir o conceito de Produção mais Limpa

(SENAI, 2010).

Pode-se dizer que não existe ainda consenso com relação à terminologia. Encontra-se na

literatura referências à “tecnologia limpa”; “tecnologia mais limpa”; “produção limpa”;

“produção mais limpa”; “tecnologias de baixo desperdício” e “prevenção da poluição”

(ACOST e Jackson apud Christie et al., 1995). Também encontra-se a produção mais limpa

relacionada com a qualidade. Desta forma, o conceito de TQEM propõe a inclusão da variável

ambiental nos Princípios da Qualidade Total (Epstein, 1996; Wever, 1996).

Neste estudo adota-se a terminologia “Produção Mais Limpa” por entender-se que é a

tradução correta para a expressão inglesa “cleaner production”. Na língua espanhola também

está sendo mais utilizada a expressão “producción más limpia”.

A Produção mais Limpa foi definida pela UNIDO/UNEP como “a aplicação continuada

de uma estratégia ambiental preventiva e integrada aos processos, produtos e serviços, a fim

de aumentar a eficiência e reduzir os riscos para os homens e o meio ambiente”

(UNIDO/UNEP, 1995).

O termo “produção” engloba técnicas de gestão, bem como tecnologias de hardware e

software (Christie et al., 1995). A expressão “Produção mais Limpa” carrega em seu interior a

noção de que não existem processos ou produtos inteiramente “limpos” (Christie et al., 1995 -

grifo nosso). Contudo, a Produção mais Limpa encerra um conceito de melhoria contínua,

visando tornar o processo produtivo cada vez menos agressivo ao meio ambiente. Portanto, o

que existe são processos produtivos mais limpos do que outros.

A Produção mais Limpa não baseia-se somente em tecnologia ou em inovação

tecnológica. Ela também baseia-se na mudança na forma de gestão das empresas. Esta

mudança é que propicia a adoção de abordagens preventivas da poluição, ao invés de

abordagens “fim-de-tubo” ou “end-of-pipe” (Berkel, 1995; Christie et al., 1995).

Tendo-se visto o que é Produção mais Limpa, faz-se necessário explicar-se, também, o

que não é Produção mais Limpa. Assim, tem-se que reciclagem e tratamento de efluentes não

dizem respeito à Produção mais Limpa, pois são abordagens essencialmente fim-de-tubo e

não-preventivas.

Define-se estratégias de Produção mais Limpa como as abordagens preventivas aos

processos industriais e aqui inclui-se também processos de produção primária e desenhos de

produtos que permitam o progresso através dos objetivos de minimização do desperdício;

redução no uso de matérias-primas e energia; maximização da eficiência da energia e

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minimização total dos impactos ambientais em todos os estágios da produção e do consumo,

através de mudanças no projeto, produção, distribuição, consumo e disposição final dos

produtos (Christie et al., 1995).

Segundo Berkel (1995), o conceito de Produção mais Limpa pode ser, simplesmente,

minimizar ou eliminar resíduos e emissões nas suas fontes, ao invés de tratá-los após sua

geração.

A Produção mais Limpa baseia-se em novas tecnologias especializadas e abordagens de

desenho, projeto e gestão da produção; assim como, em novas maneiras de pensar e agir dos

gestores em relação à questão ambiental (Christie et al., 1995).

Segundo Oliveira (2003), a Produção Mais Limpa teve como marco inicial campanhas

ambientalistas do Greenpeace na década de 80, que floresceram com atividades da UNIDO

(Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento industrial) e da UNEP (Programa

das Nações Unidas para O Meio Ambiente), os quais deram origem à instalação de vários

centros em países em desenvolvimento. No Brasil, o CNTL (Centro Nacional de Tecnologias

Limpas) está localizado, desde 1995, na Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul –

FlERGS, junto ao SENAI-RS.

Silva (2003), afirma que a Produção mais Limpa é uma ferramenta com característica

preventiva, que, aplicada à Gestão Ambiental, possibilita que a empresa funcione de forma

ambiental e socialmente correta, além de obter melhorias econômicas e tecnológicas.

De acordo com Lemos (1998), o conceito de Produção mais Limpa começou a surgir

exatamente para combater o desperdício de matérias-primas e de energia, que ocorrem,

geralmente, pela intensa geração de resíduos e emissões.

Oliveira (2001) afirma que as tecnologias de Produção mais Limpa têm a finalidade de

reduzir ou eliminar todo tipo de rejeitos antes que eles sejam criados. Para tanto, podem ser

necessárias mudanças nos produtos e/ou em seus processos de produção, tanto através da

redução da necessidade de insumos para um mesmo nível de produção, quanto pela redução

da poluição resultante do processo de produção, distribuição e consumo.

A Produção mais Limpa é a aplicação contínua de uma estratégia ambiental preventiva e

integrada, atingindo os processos produtivos, os produtos e serviços da empresa, para reduzir

riscos aos seres humanos e ao meio ambiente. Sua finalidade é ajustar o processo produtivo,

de modo que sejam reduzidas a emissão e geração de resíduos, através de pequenos ajustes no

modelo existente ou até mesmo através da aquisição de novas tecnologias. Além da mudança

tecnológica, deve haver na empresa a aplicação de know-how, melhorando a eficiência,

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adotando melhores técnicas de gestão e revisando políticas e procedimentos quando

necessário. Outra mudança a ser realizada é a de atitudes por parte de todos que trabalham na

empresa, encontrando uma nova abordagem de relacionamento entre a indústria e o ambiente,

pois repensando um processo industrial ou um produto, em termos de Produção mais Limpa,

pode ocorrer a geração de melhores resultados, sem requerer novas tecnologias (UNEP,

2004).

Para Nascimento (2000 apud Araujo, 2002), a Produção mais Limpa é, antes de tudo,

uma ação econômica, porque se baseia no fato de que qualquer resíduo de qualquer sistema

produtivo só pode ser proveniente das matérias-primas ou insumos de produção utilizados no

processo. Todos os resíduos, foram comprados e pagos como tal.

Ford (1926, apud Romm, 1996), já defendia a idéia de evitar o desperdício dizendo:

“Não vamos apenas desperdiçar menos matéria-prima somente porque podemos recuperá-la.

Segundo Romm (1996, apud Andres, 2001), reciclar resíduos gerados de processos

industriais é importante, mas o melhor, mais econômico e ambientalmente correto é evitar ou

diminuir sua geração.

Até o surgimento do conceito de Produção mais Limpa, as empresas utilizavam as

técnicas tradicionais, comumente chamadas de técnicas de fim de tubo ou end-of-pipe, nas

quais os resíduos são gerados, tratados e levados para sua disposição final. Uma das

conseqüências disso é que muitas vezes, os problemas ambientais não são eliminados, mas

sim transferidos de um local para outro. A Produção mais Limpa busca exatamente o

contrário: eliminar a poluição durante o processo de produção, não no final.

2.3 Metodologias de aplicação de Produção mais Limpa

2.3.1 Método da Rede Brasileira de Produção mais Limpa

A Rede Brasileira de Produção mais Limpa (2004), organiza a implantação da

Produção mais Limpa em uma série de dezoito tarefas, as quais estão citadas e descritas na

seqüencia:

a) Tarefa 01 Comprometimento da direção da empresa;

b) Tarefa 02 Sensibilização dos funcionários;

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c) Tarefa 03 Formação do ECOTIME;

d) Tarefa 04 Apresentação da metodologia;

e) Tarefa 05 Pré-avaliação;

f) Tarefa 06 Elaboração dos fluxogramas;

g) Tarefa 07 Tabelas quantitativas;

h) Tarefa 08 Definição de indicadores;

i) Tarefa 09 Avaliação dos dados coletados;

j) Tarefa 10 Barreiras;

k) Tarefa 11 Seleção do foco de avaliação e priorização;

l) Tarefa 12 Balanços de massa e de energia;

m) Tarefa 13 Avaliação das causas de geração dos resíduos;

n) Tarefa 14 Geração das opções de PmaisL;

o) Tarefa 15 Avaliação técnica, ambiental e econômica;

p) Tarefa 16 Seleção da opção;

q) Tarefa 17 Implementação;

r) Tarefa 18 Plano de monitoramento e continuidade.

Referente as tarefas acima citadas, a Rede Brasileira de Produção mais Limpa (2004)

explica detalhadamente cada uma a serem executadas, conforme segue:

a) Tarefa 01 - Comprometimento da direção da empresa

O primeiro passo para o início do trabalho é a direção desejar que o Programa

aconteça. Ela deve apoiar seus funcionários para que esse objetivo seja atingido. O

comprometimento explícito do dono da empresa, da direção e da alta gerência é fundamental

para a realização do trabalho.

b) Tarefa 02 - Sensibilização dos funcionários

Após a realização da primeira tarefa, a diretoria deve comunicar a todos os

funcionários sobre a realização do programa, dizendo-lhes que esse trabalho será totalmente

apoiado e expressando claramente a vontade de que todos participem, colaborando sempre

que solicitados. É importante estipular algum tipo de contribuição pelo esforço extra que será

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necessário para a realização das atividades. Pode-se, por exemplo, inscrever a empresa em

prêmios ambientais, distribuindo camisetas que abordem o assunto e outros recursos que

podem ser inventados.

c) Tarefa 03 - Formação do ECOTIME

O próximo passo é a identificação do ECOTIME, que são os funcionários que

conhecem a empresa mais profundamente e/ou que são responsáveis por áreas importantes,

como produção, compras, meio ambiente, qualidade, saúde e segurança, desenvolvimento de

produtos, manutenção e vendas.

O ECOTIME é formado por um funcionário de cada setor. Se um mesmo funcionário

desenvolve mais de uma atividade, ou se a empresa é de pequeno porte, devem ser escolhidos

dois ou três funcionários. Eles serão o ECOTIME, que é a equipe de responsáveis por repassar

a metodologia aos demais colegas e fazer acontecer sua implantação na empresa.

Deve-se definir um coordenador para o ECOTIME, o qual terá a responsabilidade de

manter a direção informada sobre o desenvolvimento das atividades.

Identificados os funcionários, é importante que seja estruturado um organograma

funcional, que é um diagrama com a finalidade de identificar claramente quem são as pessoas

responsáveis por cada atividade na Empresa. Isso ajuda a todos nas etapas seguintes de busca

de informações.

d) Tarefa 04 - Apresentação da metodologia

Nesta etapa, inicia-se uma série de reuniões técnicas com o ECOTIME, com a

finalidade de apresentar os objetivos de cada tarefa da metodologia e como atingi-los.

A metodologia que será utilizada deve ser explicada aos integrantes do ECOTIME,

que, em seguida, deverão fazer o mesmo com o restante do grupo.

Deve-se comunicar também que cada atividade exigirá interação entre os setores e que

para isto foi elaborado o organograma funcional.

e) Tarefa 05 - Pré-avaliação

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Nesta tarefa é realizada uma pré-avaliação do licenciamento ambiental, da área externa

e da área interna da empresa:

a) Pré-avaliação do Licenciamento Ambiental: deve-se verificar se a empresa possui

a Licença Ambiental que permite o desempenho de sua atividade.

b) Pré-avaliação da área externa: o trabalho deve ser iniciado pedindo aos integrantes

do ECOTIME que caminhem pela área externa da Empresa para que possam

observar e tomar consciência de todos os resíduos sólidos, efluentes líquidos e

emissões atmosféricas que são gerados. Eles devem observar os impactos

ambientais causados e como os resíduos se apresentam dentro das “lixeiras”: se

misturados ou separados. Devem também conhecer os sistemas de tratamento

que a empresa possui, tais como: a Estação de Tratamento de Água (ETA), a

Estação de Tratamento de Efluentes (ETE), a área de disposição dos resíduos

sólidos, filtros para as emissões atmosféricas e outros tratamentos de “fim de

tubo”.

c) Pré-avaliação da área interna: nesta atividade o ECOTIME percorre as áreas

internas da empresa passando por todos os setores. É interessante fazer um lay-

out da organização no papel, contendo a disposição de equipamentos, bancadas e

materiais. É importante lembrar de posicionar neste lay-out, áreas, geralmente

externas à área de produção, como caldeira, geração de frio, armazenagem de

combustível, manutenção, localização da ETE etc. Indique também, usando

setas, os caminhos de movimentação interna dos produtos intermediários que são

fabricados em cada etapa.

f) Tarefa 06 - Elaboração dos fluxogramas do processo

Após a realização da visita de reconhecimento na fábrica, os integrantes do

ECOTIME se reúnem e elaboram Fluxogramas Qualitativos.

O fluxograma é uma representação gráfica de todos os passos de um processo e do

modo como estão relacionados entre si.

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O ECOTIME deve identificar o tipo de fluxograma que melhor representa o processo.

Poderá ser um Fluxograma de Processo Linear ou de Rede.

O Fluxograma Qualitativo é obtido definindo-se o tipo de processo praticado pela

Empresa e identificando-se os resíduos gerados, as matérias-primas utilizadas e os produtos

fabricados.

a) Fluxograma Qualitativo Global: para prepará-lo, deve-se utilizar o diagrama que

representa toda a empresa e relacione as principais matérias-primas consumidas,

que são as Entradas, e os principais produtos e resíduos gerados, que são as

Saídas. Poderá acontecer que alguns resíduos não tenham sido observados no

pátio pelo ECOTIME. Essa questão será resolvida na etapa seguinte, quando for

elaborado o Fluxograma Intermediário.

b) Fluxograma Qualitativo Intermediário: os integrantes do ECOTIME voltam a seus

postos de trabalho e cada um relaciona as macro-atividades de seu setor,

registrando as matérias-primas utilizadas em cada atividade e os resíduos gerados

em decorrência de cada uma.

g) Tarefa 07 - Tabelas quantitativas referentes aos fluxogramas Global e Intermediário

A próxima tarefa é o preenchimento dos dados quantitativos nas tabelas referentes aos

fluxogramas Global e Intermediário.

O objetivo dessa etapa é a obtenção de dados e informações que estão registrados em

notas de compras de matérias-primas, de material de escritório, de produtos químicos, contas

de água e notas de quantidades de resíduos transportados, as quais poderão estar na Empresa

ou com o contador.

São necessárias as seguintes informações: consumo de água, vazão de efluente

líquido, resíduos sólidos, matérias-primas e consumo de energia. Algumas poderão não estar

disponíveis nas notas de compra.

Nesse caso, são necessárias as medições. Para as medições, são necessários os

seguintes equipamentos:

a) consumo de água: hidrômetro, ou horímetro, ou balde e relógio/cronômetro;

b) vazão de efluente líquido: medidor de vazão ou balde e relógio/cronômetro;

c) resíduos sólidos: balança adequada para as quantidades a serem medidas;

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d) matérias-primas: balança adequada para as quantidades a serem medidas;

e) consumo de energia: horímetro, analisador de energia, amperímetro;

f) outros materiais necessários: planilhas em papel definidas pela própria empresa,

calculadora e muita criatividade.

Para a avaliação da energia consumida na empresa, são importantes as últimas contas.

Deve-se verificar o consumo mensal; e o aparecimento de multas por ultrapassagem de

demanda contratada ou por baixo fator de potência.

Reunido o material, são feitas as contas e preenchidas as tabelas com os valores

quantitativos de resíduos gerados, de matérias-primas, água e energia consumidas e de

produtos fabricados, considerando 1 (um) ano como base de cálculo.

O próximo passo é a implantação da segregação dos resíduos sólidos gerados na

empresa, separando-os conforme a classificação de cores descritas na Figura 1:

Fonte: Guia de Produção mais Limpa, 2004.

Figura 1 - Recipiente de classificação por cores.

AZUL - papel / papelão. VERMELHO – plástico.

VERDE – vidro. AMARELO – metal.

PRETO – madeira. LARANJA - resíduos perigosos.

BRANCO - resíduos de saúde. ROXO - resíduos radiológicos.

MARROM – orgânicos. CINZA - resíduos em geral, não recicláveis ou

misturados ou contaminados e não passíveis de separação.

Além das cores, os recipientes devem ser de tamanho e material adequados ao tipo de

resíduo que vai ser armazenado. Devem ser colocados perto dos pontos de origem dos

resíduos.

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Deve ser definido um responsável pela pesagem e anotação das quantidades dos

resíduos pesados. O cuidado da anotação nesta etapa é fundamental para o trabalho.

h) Tarefa 08 - Definição de indicadores.

Nesta tarefa são definidos os indicadores que poderão ser utilizados para monitorar a

empresa. A base de dados é anual. Exemplos de indicadores ambientais globais: consumo de

água, de energia e de matéria-prima do produto produzido.

i) Tarefa 09 - Avaliação dos dados coletados.

Preenchidas as tabelas com os valores quantitativos, deve-se fazer a primeira análise

para definir onde serão realizadas as medições efetivas, isto é, aquelas que serão utilizadas no

Balanço Específico (que será mostrado mais adiante) e que deverão ter grande precisão.

Em seguida deve-se reunir o ECOTIME e discutir o preenchimento das tabelas. Neste

momento, uma análise crítica das informações obtidas deve ser realizada, focando:

a) quantidade e toxicidade dos resíduos gerados e das matérias-primas consumidas;

b) regulamentos legais que devem ser cumpridos para utilização e disposição dos

materiais e resíduos;

c) custos envolvidos: de compra, tratamento e relativos a possíveis punições do órgão

ambiental.

Para isto deve-se considerar e observar em cada etapa as maiores quantidades de

resíduos gerados; os que apresentam algum grau de toxicidade; aqueles que, tendo legislação

específica não estão com tratamento ou disposição adequados, além de avaliar o custo do

resíduo. Deverão também ser avaliados os valores gastos com as matérias-primas, a água e a

energia consumidas na Empresa.

j) Tarefa 10 – Avaliação das Barreiras

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Algumas barreiras relativas ao levantamento dos dados poderão surgir. Valores altos

de resíduos gerados e de consumo de materiais podem causar desconforto aos responsáveis

pelas áreas avaliadas.

Essas informações são parte de um trabalho novo. Não é necessário, nesse momento,

identificar os responsáveis pela geração dos resíduos.

Comente com eles que esse trabalho está sendo feito justamente para reduzir a geração

de resíduos, utilizando-se uma nova abordagem: a da produção mais limpa.

É, para todos, um desafio gerar menos resíduos e começar a preocupar-se com eles

como se fossem, em termos de custos, matérias-primas.

Barreiras que poderão ser encontradas durante o trabalho:

a) dificuldades de executar as medições;

b) dificuldades de envolvimento efetivo da empresa com a proposta de trabalho;

c) dificuldades de assimilar os conceitos e a metodologia de Produção mais Limpa;

d) dificuldades de conseguir os equipamentos de medição (balanças).

k) Tarefa 11 - Seleção do foco de avaliação e priorização

Com base na análise anterior e na disponibilidade de recursos financeiros da Empresa,

devem ser definidas etapas, processos, produtos e/ou equipamentos que serão priorizados

para as efetivas medições e realização dos balanços de massa e/ou energia.

l) Tarefa 12 - Balanços de massa e de energia

Após a definição dos pontos críticos das medições, a tarefa seguinte é a realização do

balanço de massa e/ou de energia. Neste momento é necessário construir um Fluxograma

Específico para a realização desse balanço. É importante lembrar os seguintes pontos:

O Balanço Global é composto pelas entradas e saídas de toda a Empresa. Os Balanços

Intermediários são as entradas e saídas em setores da Empresa (corte, forjaria, usinagem,

tratamento térmico, acabamento, montagem, expedição, manutenção, ETE...). Já, o Balanço

Específico é feito, identificando-se um setor a ser estudado, e realizando o balanço neste setor

como um todo e detalhadamente em cada máquina e/ou operação identificada como

importante.

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Deve-se definir:

Setor, equipamento ou processo que será analisado; período representativo para a

realização do balanço: quando começa e quando termina (uma semana, duas semanas, um mês

ou mais). A empresa precisa estar funcionando normalmente para que o balanço de massa

e/ou de energia possa ser realizado e seja representativo; depois de realizadas as medições,

transformar os valores para o período de 1 (um) ano; equipamentos necessários para medição:

poderão ser utilizados os mesmos procedimentos e equipamentos que você adotou para a

realização do balanço global; para o preenchimento dos dados quantitativos medidos nesta

etapa você deverá utilizar tabelas iguais às utilizadas na Tarefa 07.

m) Tarefa 13 - Avaliação das causas de geração dos resíduos

Feito o balanço de massa nas etapas e/ou setores priorizados, o ECOTIME deve

avaliar as causas da geração de cada resíduo identificado. Verificar por que, como, quando e

onde os resíduos são/foram gerados.

n) Tarefa 14 - Geração das opções de melhoria (Produção mais Limpa)

Depois de realizadas todas as medições e de ter discutido com o ECOTIME as causas

de geração dos resíduos, deve-se identificar oportunidades de mudar essa situação, ou seja,

opções de produção mais limpa para deixar de gerar o resíduo.

A análise deve ser realizada utilizando o enfoque do Nível 1. Se não ficar demonstrada

sua viabilidade, passe para o Nível 2. Se a solução também não for viável, examine o Nível 3.

Além desses, outros pontos devem ser avaliados para identificar oportunidades. Pode-

se, por exemplo, considerar as oportunidades no que diz respeito a retrabalho de produtos,

qualidade, saúde, segurança, tempos de produção, procedimentos organizacionais e muitos

outros.

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Fonte: Adaptado de Rede Brasileira de Produção mais Limpa (2004).

Figura 2 – Fluxograma de Geração de Opções de Produção mais Limpa

o) Tarefa 15 - Avaliação técnica, ambiental e econômica

Após identificar as oportunidades de PmaisL, deve-se fazer a a) avaliação técnica, b)

econômica e c) ambiental de cada opção identificada.

a) Avaliação técnica: nessa avaliação são consideradas as propriedades e requisitos

que as matérias-primas e outros materiais devem apresentar para o produto que

se deseja fabricar, de maneira que se possam sugerir modificações. Sendo

possível tecnicamente implementar-se a opção, procede-se à avaliação ambiental.

b) Avaliação ambiental: nesta avaliação deverão ser observados os benefícios

ambientais que poderão ser obtidos pela empresa. Dentre eles, podemos citar:

redução do consumo de matéria prima, redução de carga orgânica, inorgânica e

metais tóxicos no efluente final e modificação da classificação dos resíduos

sólidos da Classe I, para II ou III (Ver Anexo B). Esses resultados são medidos e

comprovados por meio da realização de análises laboratoriais. Para isso, você

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deverá buscar o auxílio de um laboratório que realize análises laboratoriais

ambientais.

c) Avaliação econômica: será realizada a avaliação econômica, através de um estudo

de viabilidade econômica. Deverá ser considerado o período de retorno do

investimento, a taxa interna de retorno e o valor presente líquido.

p) Tarefa 16 - Seleção da opção

Feita a avaliação das diversas opções identificadas para a redução do resíduo, escolhe-

se aquela que apresente a melhor condição técnica, com os maiores benefícios ambientais e

econômicos.

Esse mesmo procedimento deverá ser seguido para cada resíduo que foi priorizado e

para o qual foram realizadas medições por meio dos balanços de massa e energia.

q) Tarefa 17 – Implantação

Após a realização de todas as atividades anteriores, seria muito bom se todas as

oportunidades identificadas pudessem ser implementadas, pois seria a concretização de todo o

trabalho desenvolvido.

Porém, neste momento, deve-se analisar a disponibilidade financeira da empresa e

definir o momento da implantação das opções.

r) Tarefa 18 - Plano de monitoramento e continuidade

Implementadas as opções, deve ser estabelecido um Plano de Monitoramento para a

avaliação do seu desempenho ambiental. Esse Plano consta de análises laboratoriais de metais

e de carga orgânica, medições e documentação para acompanhamento do Programa. Destina-

se a manter, acompanhar e dar continuidade ao Programa.

Os indicadores estabelecidos no início do trabalho e medidos na realização dos

balanços serão as ferramentas para o acompanhamento que, com certeza, você deseja manter

em sua Empresa.

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2.3.2 Método do SENAI-RS

O SENAI-RS (2003), apresenta a implantação da Produção mais Limpa em cinco

etapas que devem ser executadas após uma fase chamada de pré-sensibilização, que é quando

acontece o comprometimento gerencial, sem o qual não é possível dar início ao programa. O

Quadro 1 apresenta estas cinco fases e logo após estão descritas.

Fonte: Adaptado do SENAI-RS (2003).

Quadro 1 - Etapas da metodologia para a implantação de Produção mais Limpa.

O SENAI-RS (2003) explica detalhadamente cada uma das atividades a serem

executadas, conforme segue:

A Etapa 01 contempla quatro atividades, que são:

a) Comprometimento gerencial

Nesta etapa, o comprometimento gerencial é fundamental para garantir o sucesso do

programa com a obtenção de resultados consistentes.

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b) Identificação das barreiras

Nesta atividade, devem ser localizadas as barreiras à implantação e selecionadas

soluções para superá-las.

c) Estudo da abrangência do programa

É necessário definir a abrangência do programa, verificado se incluirá toda a empresa,

iniciará em um setor crítico etc.

d) Formação do ecotime

É preciso definir um grupo de profissionais da empresa que tenham como objetivo

conduzir o programa de Produção mais Limpa. Este grupo tem as funções de realizar o

diagnóstico, implantar o programa, identificar oportunidades e medidas de Produção mais

Limpa, monitorar e dar continuidade ao projeto.

A Etapa 02 é formada por três atividades:

a) Estudo do fluxograma do processo

O processo produtivo todo deve ser analisado, definindo-se em cada etapa deste, o

fluxo qualitativo de matéria-prima, água e energia. Além disso, deve-se analisar a geração de

resíduos durante o processo, agindo desta forma como uma ferramenta para obtenção de dados

necessários para a formação de uma estratégia de minimização da geração de resíduos,

efluentes e emissões.

Após a elaboração do fluxograma do processo produtivo são determinadas as

estratégias para identificação e quantificação dos fluxos de massa e energia nas diversas

etapas deste processo.

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c) Diagnóstico ambiental e do processo

Após o levantamento do fluxograma do processo produtivo da empresa, o ecotime fará

o levantamento dos dados quantitativos de produção e ambientais existentes, utilizando fontes

disponíveis como, por exemplo, estimativas do setor de compras:

a) quantificação de entradas (matérias-primas, água energia e outros insumos), com

maior enfoque para água e energia;

b) quantificação de saídas (resíduos, efluentes, emissões, subprodutos e produtos);

c) dados da situação ambiental da empresa;

d) dados referentes à estocagem, armazenamento e acondicionamento.

d) Seleção do foco da avaliação

De posse das informações do diagnóstico ambiental e da planilha dos principais

aspectos ambientais é selecionado entre todas as atividades e operações da empresa o foco de

trabalho. Estas informações são analisadas considerando os regulamentos legais, a quantidade

de resíduos gerados, a toxicidade dos resíduos, e os custos envolvidos.

Por exemplo: se a empresa tem um determinado prazo para cumprir um auto de

infração para reduzir a quantidade de cromo no seu efluente tratado, será priorizado o item

regulamentos legais, independente de quanto este efluente representa em termos de custo,

toxicidade ou quantidade.

A Etapa 03 é composta por três atividades:

a) Balanço material e estabelecimento de indicadores

Esta fase inicia com o levantamento dos dados quantitativos mais detalhados das

etapas priorizadas durante a atividade de Seleção do Foco da Avaliação. Os itens avaliados

são os mesmos da atividade de Realização do Diagnóstico Ambiental e de Processo, o que

possibilita a comparação qualitativa entre os dados existentes antes da implantação do

Programa de Produção mais Limpa e aqueles levantados pelo Programa:

a) análise quantitativa de entradas e saídas;

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b) quantificação de entradas (matérias-primas, água, energia e outros insumos);

c) quantificação de saídas (resíduos, efluentes, emissões, subprodutos e produtos);

d) dados da situação ambiental da empresa;

e) dados referentes à estocagem, armazenamento e acondicionamento de entradas e

saídas.

A identificação dos indicadores é fundamental para avaliar a eficiência da metodologia

empregada e acompanhar o desenvolvimento das medidas de Produção mais Limpa

implantadas. Serão analisados os indicadores atuais da empresa e os indicadores estabelecidos

durante a etapa de quantificação. Dessa forma, será possível comparar os mesmos com os

indicadores determinados após a etapa de implantação das opções de Produção mais Limpa.

b) Identificação das causas da geração de resíduos

Com os dados levantados no balanço material (quantificação) são avaliadas pelo

Ecotime as causas de geração dos resíduos na empresa. Os principais fatores na origem dos

resíduos e emissões são:

Operacionais

a) consumo de água e energia não conferidos;

b) acionamento desnecessário ou sobrecargas de equipamentos;

c) falta de manutenção preventiva;

d) etapas desnecessárias no processo;

e) falta de informações de ordem técnica e tecnológica.

Matérias-Primas

a) uso de matérias-primas de menor custo, abaixo do padrão de qualidade;

b) falta de especificação de qualidade;

c) deficiência no suprimento;

d) sistema inadequado de gerência de compras;

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e) armazenagem inadequada.

Produtos

a) proporção inadequada entre resíduos e produtos;

b) design impraticável do produto;

c) embalagens inadequadas;

d) produto composto por matérias-primas perigosas;

e) produto de difícil desmontagem e reciclagem.

Capital

a) escassez de capital para investimento em mudanças tecnológicas e de processo;

b) foco exagerado no lucro, sem preocupações na geração de resíduos e emissões;

c) baixo capital de giro.

Causas relacionadas aos resíduos

a) inexistência de separação de resíduos;

b) desconsideração pelo potencial de reuso de determinados resíduos;

c) não há recuperação de energia nos produtos resíduos e emissões;

d) manuseio inadequado.

Recursos humanos

a) recursos humanos não qualificados;

b) falta de segurança no trabalho;

c) exigência de qualidade – treinamento inexistente ou inadequado;

d) trabalho sob pressão;

d) dependência crescente de trabalho eventual e terceirizado.

Fornecedores / parceiros comerciais

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a) compra de matérias-primas de fornecedores sem padronização;

b) falta de intercâmbio com os parceiros comerciais;

c) busca somente do lucro na negociação, sem preocupação com o produto final.

Know-how / processo

a) má utilização dos parâmetros de processo;

b) uso de tecnologias de processo ultrapassadas.

c) Identificação das opções de Produção mais Limpa

Com base nas causas de geração de resíduos já descritas, são possíveis modificações

em vários níveis de atuação e aplicações de estratégias visando ações de Produção mais

Limpa.

As atividades devem ser caracterizadas por ações que privilegiem o Nível 1 como

prioritárias, seguidas do Nível 2 e Nível 3.

Deve ser dada prioridade a medidas que busquem eliminar ou minimizar resíduos,

efluentes e emissões no processo produtivo onde são gerados.

A principal meta é encontrar medidas que evitem a geração de resíduos na fonte (nível

1). Estas podem incluir modificações tanto no processo de produção quanto no próprio

produto:

a) sob o ponto de vista de resíduos, efluentes e emissões e levando-se em consideração

os níveis e as estratégias de aplicação, a abordagem de produção mais limpa pode se dar de

duas formas: através da minimização de resíduos (redução na fonte), efluentes e emissões ou

através da reutilização de resíduos (reciclagem interna e externa), efluentes e emissões;

b) redução na fonte: contempla modificação no produto e no processo;

c) modificação no produto: é uma abordagem complexa, geralmente de difícil

implantação, pois envolve a aceitação pelos consumidores de um produto novo ou renovado.

Geralmente é adotada após terem sido esgotadas as opções mais simples. A modificação no

produto pode incluir: substituição completa do produto; aumento da longevidade; substituição

de matérias-primas; modificação do design do produto; uso de matérias-primas recicláveis e

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recicladas; substituição de componentes críticos; redução do número de componentes;

viabilização do retorno de produtos; substituição de itens do produto ou alteração de

dimensões para um melhor aproveitamento da matéria prima;

d) modificação no processo: as medidas de minimização mais encontradas em

Programas de Produção mais limpa são aquelas que envolvem estratégias de modificação no

processo. Por processo entende-se todo o sistema de produção dentro da empresa. As medidas

deste tipo podem ser: boas práticas operacionais (good housekeeping) – utilização cuidadosa

de matérias-primas e materiais auxiliares, operação adequada de equipamentos e melhor

organização interna; substituição de matérias-primas e materiais auxiliares e modificações

tecnológicas;

e) boas práticas operacionais: também denominadas de melhor cuidado operacional ou

de manutenção da casa (good housekeeping), implica na adoção de medidas de procedimento,

técnicas, administrativas ou institucionais que uma empresa pode implantar para minimizar os

resíduos, efluentes e emissões. Boas práticas operacionais são freqüentemente implementadas

com baixo custo e incluem mudança na dosagem e na concentração de produtos; maximização

da utilização da capacidade do processo produtivo; reorganização dos intervalos de limpeza e

de manutenção; eliminação de perdas devido à evaporação e a vazamentos; melhoria de

logística de compra, estocagem e distribuição de matérias-primas, materiais auxiliares e

produtos; elaboração de manuais de boas práticas operacionais; treinamento e capacitação das

pessoas envolvidas no programa de Produção mais Limpa;

f) substituição de matérias-primas e materiais auxiliares: inclui: matérias-primas e

materiais auxiliares toxicologicamente importantes, que podem afetar a saúde e a segurança

do trabalhador e obrigam à utilização de equipamentos específicos de proteção (Equipamentos

de Proteção Individual - EPIs); matérias-primas e materiais auxiliares que geram resíduos,

efluentes e emissões perigosos ou não-inertes, que necessitam de controle para evitar impactos

negativos ao meio ambiente. Pode incluir: substituição de solventes orgânicos por agentes

aquosos; substituição de produtos petroquímicos por bioquímicos; escolha de matérias-primas

com menor teor de impurezas; escolha de matérias-primas com menor possibilidade de gerar

subprodutos indesejáveis; substituição de fornecedores; uso de resíduos como matérias-primas

de outros processos; modificação de embalagens de matérias primas; uso de matérias-primas

biodegradáveis; redução do número de componentes para reduzir a complexidade dos

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processos; uso de substâncias livres de metais pesados; uso de matérias-primas que tenham

um ciclo de vida conhecido e que facilitem o sistema de fim de vida de produtos;

g) modificação tecnológica: as mudanças tecnológicas são orientadas para as

modificações de processo e de equipamento para reduzir resíduos, efluentes e emissões no

sistema de produção. Podem variar desde mudanças simples, que podem ser implementadas

num curto período, até mudanças complexas e onerosas, como a substituição completa de um

processo. Estas opções podem incluir: substituições de processos termo-químicos por

processos mecânicos; uso de fluxos em contracorrente; tecnologias que realizam a segregação

de resíduos e de efluentes; modificação nos parâmetros de processo; utilização de calor

residual; substituição completa da tecnologia;

h) reciclagem Interna: A reciclagem interna ocorre no nível 2 das opções de

Produção mais Limpa e refere-se a todos os processos de recuperação de materias-primas,

materiais auxiliares e insumos que são feitos dentro da planta industrial. Podem ser citados

como exemplos: − Utilização de matérias-primas ou produtos novamente para o mesmo

propósito - recuperação de solventes usados; − Utilização de matérias primas ou produtos

usados para um propósito diferente - uso de resíduos de verniz para pinturas de partes não

visíveis de produtos; − Utilização adicional de um material para um propósito inferior ao seu

uso original – aproveitamento de resíduos de papel para enchimentos;

i) reciclagem Externa e Ciclos Biogênicos: Somente quando tecnicamente

descartadas as medidas relacionadas aos níveis 1 e 2, deve-se optar por medidas de reciclagem

de resíduos, efluentes e emissões fora da empresa (nível 3). Isto pode acontecer na forma de

reciclagem externa ou de uma reintegração ao ciclo biogênico (por exemplo: compostagem).

A recuperação de matérias-primas de maior valor e sua reintegração ao ciclo econômico –

como papel, aparas, vidros, materiais de compostagem é um método menos reconhecido de

proteção ambiental integrada através da minimização de resíduos.

A Etapa 04 é formada por duas atividades:

a) Avaliação técnica, econômica e ambiental

Na avaliação técnica é importante considerar:

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a) impacto da medida proposta sobre o processo, produtividade, segurança etc.;

b) testes de laboratório ou ensaios quando a opção estiver mudando

significativamente o processo existente;

c) experiências de outras companhias com a opção que está sendo estudada;

d) todos os funcionários e departamentos atingidos pela implantação das opções;

e) necessidades de mudanças de pessoal, operações adicionais e pessoal de

manutenção, além do treinamento adicional dos técnicos e de outras pessoas envolvidas.

Na avaliação ambiental é importante considerar:

a) a quantidade de resíduos, efluentes e emissões que será reduzida;

b) a qualidade dos resíduos, efluentes e emissões que tenham sido eliminados –

verificar se estes contêm menos substâncias tóxicas e componentes reutilizáveis;

c) a redução na utilização de recursos naturais.

Na avaliação econômica é importante considerar:

a) os investimentos necessários;

b) os custos operacionais e receitas do processo existente e os custos operacionais e

receitas projetadas das ações a serem implantadas;

c) a economia da empresa com a redução/eliminação de multas.

b) Seleção de oportunidades viáveis

Os resultados encontrados durante a atividade de avaliação técnica, ambiental e

econômica possibilitarão a seleção das medidas viáveis de acordo com os critérios

estabelecidos pelo Ecotime.

A Etapa 05 é dividida em duas atividades:

a) Plano de implantação e monitoramento

Após a seleção das opções de Produção mais Limpa viáveis será traçada a estratégia

para implantação das mesmas. Nesta etapa é importante considerar:

a) as especificações técnicas detalhadas;

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b) o plano adequado para reduzir tempo de instalação;

c) os itens de dispêndio para evitar ultrapassar o orçamento previsto;

d) a instalação cuidadosa de equipamentos;

e) a realização do controle adequado sobre a instalação;

f) a preparação da equipe e a instalação para o início de operação.

Juntamente com o plano de implantação deve ser planejado o sistema de monitoramento

das medidas a serem implantadas. Nesta etapa é essencial considerar:

a) quando devem acontecer as atividades determinadas;

b) quem é o responsável por estas atividades;

c) quando são esperados os resultados;

d) quando e por quanto tempo monitorar as mudanças;

e) quando avaliar o progresso;

f) quando devem ser assegurados os recursos financeiros;

g) quando a gerência deve tomar uma decisão;

h) quando a opção deve ser implantada;

i) quanto tempo deve durar o período de testes;

j) qual é a data de conclusão da implantação.

b) Plano de continuidade

Após a aplicação das etapas e atividades descritas acima, o Programa de Produção mais

Limpa pode ser considerado como implementado. Neste momento é importante não somente

avaliar os resultados obtidos, mas, sobretudo, criar condições para que o Programa tenha sua

continuidade assegurada através da aplicação da metodologia de trabalho e da criação de

ferramentas que possibilitem a manutenção da cultura estabelecida, bem como sua evolução

em conjunto com as atividades futuras da empresa.

2.4 Benefícios decorrentes da implementação da produção mais limpa

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Considerando que a Produção mais Limpa foca-se na minimização de resíduos na fonte,

Lora (2000) descreve os benefícios decorrentes:

a) o controle de resíduos na fonte leva à diminuição radical da quantidade.

Conseqüentemente, se reduz custos de produção devido à utilização mais eficiente

das matérias-primas e da energia, bem como custos de tratamento;

b) a prevenção de resíduos, diferentemente do tratamento de resíduos, implica em

benefício econômico, tornando-a mais atrativa para as empresas;

c) melhoria da imagem ambiental;

d) maior facilidade em cumprir as novas leis e regulamentos ambientais, o que

implica em um novo segmento de mercado.

Para o IEL (2002), a Produção mais Limpa possibilita:

a) obter ganhos financeiros pela otimização dos processos produtivos através da

melhor utilização da matéria-prima, água, energia e da não geração de resíduos;

b) adequar-se à legislação ambiental e colaborar para o bem-estar das comunidades

local e global;

c) facilitar etapas na implantação do Sistema de Gestão Ambiental para

certificação ISO 14001;

d) aumentar a competitividade através da redução de custos de produção;

e) utilizar o marketing ambiental para consolidar uma imagem positiva no

mercado;

f) reduzir o impacto ambiental pela reciclagem dos efluentes e resíduos.

Para o CNTL (2000), a implementação da Produção mais Limpa possibilita garantir

processos mais eficientes. Descreve que a minimização de resíduos não é somente uma meta

ambiental mas, principalmente, um programa orientado para aumentar o grau de utilização dos

materiais, com vantagens técnicas e econômicas. Considera que a minimização de resíduos e

emissões geralmente induz a um processo de inovação dentro da empresa.

Conforme Valle (1995), a minimização de resíduos, na fonte, possibilita os seguintes

benefícios:

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a) reduzir os custos de tratamento e disposição dos resíduos;

b) economizar em transporte e armazenamento;

c) reduzir prêmios de seguros;

d) diminuir gastos com segurança e proteção à saúde.

Enfim, a Produção mais Limpa combina diversos benefícios sendo eles econômicos,

ambientais e sociais, ou seja, princípios básicos de qualquer organização que deseje promover

o desenvolvimento sustentável.

2.5 Barreiras na implementação da Produção mais Limpa

Segundo a CNTL 2003, a produção mais limpa se focaliza no potencial de ganhos

diretos no mesmo processo de produção e de ganho indireto pela eliminação de custos

associados com o tratamento e a disposição final de resíduos, desde a fonte, ao menor custo, e

com períodos curtos de amortização dos investimentos. A produção mais limpa geralmente

oferece redução nos custos e melhora a eficiência das operações, facilitando às organizações

alcançar suas metas econômicas, ao mesmo tempo em que melhora o ambiente.

Uma das grandes dificuldades na apropriação destes custos é a mensuração dos mesmos,

pois há um desconhecimento da extensão e do risco dos próprios impactos ambientais (que

impedem a identificação dos custos resultantes), assim como uma desinformação e falta de

organização das empresas e dos indivíduos em relação à percepção desses impactos. Uma vez

identificados os custos ambientais dos recursos naturais em risco, a sociedade e a empresa

deveriam determinar o nível ótimo de uso desses recursos. Ou seja, realizar uma análise custo-

benefício (SENAI, 2010).

Contrariando a visão de alguns setores ambientalistas, mas partindo para uma visão da

realidade econômica (sem lucratividade a empresa não sobrevive), o dilema da

sustentabilidade é encontrar o balanço entre estes custos ambientais e o benefício do processo

produtivo, medido pelo valor do produto disponível para consumo que gera estas perdas

ambientais. O princípio econômico é simples: o ótimo da degradação é aquele no qual o custo

ambiental não supera o custo imposto à sociedade pela redução de consumo não ambiental

gerado no processo produtivo (UNIDO, 2001).

Segundo a UNIDO (2001), as principais barreiras para implementação de Produção mais

Limpa nas empresas podem ser classificadas nas seguintes categorias:

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a) barreiras organizacionais: estariam vinculadas ao não-envolvimento dos

empregados; à concentração de poder de decisão no proprietário da empresa; à

ênfase à produção, relegando a um segundo plano qualquer modificação em

função de tempo; alta rotatividade de pessoal técnico, reduzindo o conhecimento

da empresa e a falta de reconhecimento pelas iniciativas dos empregados;

b) barreiras sistêmicas: envolvem falhas na documentação da empresa, falta de

registros e controles de seus gastos; existência de um sistema de gerenciamento

inadequado ou ineficiente; falta de sistemas para promoção profissional

(aprimoramento das habilidades individuais) e planejamento de produção diário;

c) barreiras de atitudes: falta de cultura em relação a melhores práticas de

operação; resistência a mudanças; falta de liderança; falta de supervisão eficaz;

falta de segurança no trabalho e medo de falhar;

d) barreiras econômicas: predominância de preços baixos e disponibilidade

abundante de recursos; falta de interesse das instituições financiadoras em

projeto de Produção mais Limpa; exclusão dos custos ambientais da análise

econômica das medidas de redução de resíduos; planejamento inadequado dos

investimentos; capital restrito para investimentos rápidos e de pequeno valor e

predominância de incentivos fiscais relativos à produção;

e) barreiras técnicas: falta de infra-estrutura; mão-de-obra limitada ou não

disponível; acesso limitado à informação técnica; tecnologia limitada; déficits

tecnológicos e infra-estrutura limitada;

f) barreiras governamentais: políticas adotadas em relação a preços de

determinados serviços públicos (como a água subterrânea, por exemplo, que

serve como recurso para a indústria e seu custo era baseado no gasto de bombear

somente); ênfase no fim de tubo; políticas industriais de isenção fiscal e falta de

incentivos para esforços de redução de resíduos;

g) outras barreiras: falta de apoio institucional; falta de pressão pública para o

controle da poluição; sazonalidade nos processos de produção e espaço limitado

no layout das empresas, impedindo o investimento em melhorias operacionais.

Algumas medidas para superar as barreiras impostas quando da implementação de

Produção mais Limpa que foram sugeridas pela UNIDO/UNEP (1995), voltadas para as

empresas e para o governo e instituições de apoio, são corroboradas neste estudo,

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apresentando-se como fatores importantes para atingir o sucesso em Produção mais Limpa,

tais como:

2.6 Soluções para as empresas (ações internas)

Segundo a CNTL (2003) as ações internas para as soluções são:

a) adotar medidas organizacionais: envolver os empregados por meio de programas

de sensibilização; promover a delegação de poder de decisão; retribuir os

empregados pró-ativos com sistemas de recompensa e buscar gerar evidências para

as questões não produtivas;

b) eliminar as barreiras sistemáticas: melhorar ou criar um sistema de documentação

e controles; promover o desenvolvimento das habilidades dos empregados e

efetuar o planejamento da produção;

c) adotar medidas técnicas: melhoramento da infra-estrutura, por exemplo;

d) adotar medidas econômicas: incluir os custos ambientais na análise econômica;

elaborar um plano de investimento para projetos futuros;

e) buscar a mudança de atitudes: gerenciar a mudança e buscar uma supervisão mais

eficaz.

2.7 Soluções para o governo e instituições de apoio

Conforme a CNTL (2003), são soluções para o governo e instituições de apoio:

a) desenvolver mão-de-obra por meio da disponibilização no mercado de cursos de

aperfeiçoamento em redução de resíduos; gerar maior acesso a informações

técnicas; buscar o desenvolvimento de tecnologias novas; propiciar planos

especiais de financiamento para o meio ambiente; criar incentivos fiscais voltados

à preservação do meio ambiente; reduzir a ênfase na abordagem de fim-de-tubo;

criar políticas industriais estáveis a longo prazo.

De todas essas barreiras, uma que sempre é evidenciada na literatura é a barreira em

relação à mudança de atitudes. O rompimento de paradigmas é crucial para o desenvolvimento

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de programas que envolvam melhoria contínua. Sendo assim, o próximo item abordará mais

profundamente o reflexo dessa barreira em Produção mais Limpa.

2.8 Estudo de Caso

Aconteceu, porém, que muitas empresas, mesmo certificadas, começaram a perceber

que o custo ambiental, ou seja, o custo para tratar seus resíduos, aumentava na mesma

proporção do crescimento da produção(SEBRAE 2010). A seguir serão abordados alguns

casos de implementação de Produção mais Limpa em algumas empresas de diversos ramos

citando suas experiências:

2.8.1 Indústria de plásticos de Caxias

Na indústria de plásticos de Caxias a implementação da Produção mais Limpa exigiu

que todo o processo produtivo fosse avaliado, verificando sua real eficiência quanto ao

emprego de recursos e energia. Essa avaliação se baseia na realização de um balanço de massa

e energia e identificação das medidas que sejam as mais apropriadas.

Segundo Hunt e Auster (1990), as oportunidades para redução do desperdício e

prevenção da poluição podem ser identificadas na gestão de materiais e estoques, manutenção

(housekeeping), separação do resíduo tóxico do não-tóxico, mudança para materiais menos

tóxicos, modernização dos equipamentos, reciclagem interna e externa, modificação do

processo ou produto e adoção de uma nova tecnologia.

A empresa se localiza em Caxias do Sul (RS) e atua no setor plástico desde 1995,

prestando serviços relacionados à confecção de moldes, modelos e peças em fibra de vidro e

outros polímeros. A empresa conta com 40 colaboradores. Apresenta um faturamento anual de

R$ 7.500.000,00, em três unidades de negócio: a modelaria, focada no desenvolvimento de

protótipos e moldes utilizados internamente ou para terceiros; a laminação, onde são

fabricadas as peças em fibra de vidro; e a termoformagem a vácuo, onde são fabricadas peças

plásticas em geral.

O trabalho teve o objetivo de avaliar a utilização das técnicas de Produção mais Limpa

em uma empresa que atua no setor de fabricação de peças e moldes em PRFV (plástico

reforçado com fibra de vidro) e identificar a possibilidade de uso de outras tecnologias limpas

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que representem ganhos econômicos. Para tanto, o trabalho foi desenvolvido com base na

metodologia sugerida pela UNIDO, por meio do CNTL-SENAI. Neste sentido, destaca-se que

a implantação de tecnologias de Produção mais Limpa em um processo produtivo deve ser

pautada pela consecução das seguintes etapas: planejamento e organização, pré-avaliação e

diagnóstico, avaliação da Produção mais Limpa, estudos de viabilidade técnica, econômica e

ambiental, e implementação de opções e plano de continuidade (CNTL, 2006).

Kürzinger (2004) comenta que o valor da matéria-prima, energia e água, insumos

utilizados no processo produtivo, e que não são transformados em produto final, varia de 10%

a 30% do custo total de produção, dependendo do tipo de produto, eficiência do processo

fabril e o nível de tecnologia aplicada. Resultados semelhantes puderam ser percebidos pela

empresa em estudo, uma vez que os resíduos representam algo em torno de 14% em relação

ao seu faturamento total.

Cada ação direcionada à redução do consumo ou desperdício de matéria-prima e

energia previne ou reduz a geração de resíduos, resultando em aumento da produtividade e

benefícios financeiros para a organização. Como o objetivo da Produção mais Limpa é

minimizar ou eliminar a geração de poluentes na sua origem, esta prática também pode ajudar

a reduzir os custos com a implantação de equipamentos para o tratamento dos poluentes no

final do processo, gerando economias significativas (KAZMIERCZYK, 2002; TRIANTIS,

OTIS, 2004).

2.8.2 Indústria Alimentícia

Na indústria alimentícia o estudo abordou as questões ambientais em uma indústria

alimentícia e a adoção da Produção mais Limpa por esta. São analisados os fatores que

levaram a empresa a se preocupar com estes problemas, como foi implementado o programa e

as barreiras encontradas na implantação de Produção mais Limpa. O trabalho mostrou que a

empresa preocupou-se com as questões ambientais de forma gradativa, tendo como estímulo,

em primeiro lugar, as questões legais. A implantação da Produção mais Limpa se deu graças

ao incentivo dos funcionários responsáveis pela área ambiental da empresa, que mostraram à

diretoria a importância do uso desta metodologia.

Através de levantamento bibliográfico e entrevistas com a diretoria da empresa foi

possível constatar que para a implantação da estratégia de Produção mais Limpa existem

algumas metodologias propostas pela literatura, das quais duas delas foram descritas neste

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trabalho: a da Rede Brasileira de Produção mais Limpa e do Serviço Nacional de

Aprendizagem Industrial do Rio Grande do Sul (SENAI-RS). Quanto à utilização destas,

podem-se propor adequações de acordo com cada situação, mescla-las ou até mesmo

desenvolver uma própria metodologia de implantação, respeitando a cultura, objetivos e

limitações de cada empresa, como ocorreu no caso estudado.

Retomando o conceito de sustentabilidade relacionado às empresas, relembra-se que é

fundamental a ação em três aspectos: econômico, social e ambiental. Neste sentido, com esta

pesquisa foi possível analisar que a implantação da Produção mais Limpa pode apoiar estes

resultados. Se aplicada de forma planejada, traz benefícios econômicos através, por exemplo,

do não desperdício de insumos, economia de água e energia. Além disso, a Produção mais

Limpa pode proporcionar a melhoria social, pois colabora com a saúde e segurança no

trabalho, além de distribuir produtos mais saudáveis à sociedade. O terceiro aspecto que é

sustentado pela Produção mais Limpa é o ambiental, que é favorecido, por exemplo, através

da prevenção da geração de resíduos.

Como conclusão da pesquisa, a Produção mais Limpa tem o enfoque preventivo.

Sendo assim, é possível a implantação de técnicas que, muitas vezes não exigem grandes

investimentos ou mudanças no processo de fabricação. O melhor planejamento das atividades

da empresa, bem como organização, limpeza, economia ou não desperdício de matéria prima,

água, energia refletem aspectos positivos da tecnologia.

2.8.3 Aplicação em fazendas

No caso da implementação de Produção mais Limpa numa fazenda o resultado indicou

que a adoção da Produção Mais Limpa está gerando inovação e competitividade para a

empresa. Isto está ocorrendo porque a Fazenda Cerro do Tigre (FCT) consegue realizar a

ligação entre as variáveis “Produção Mais Limpa” e “Competitividade” através da variável

“Inovação”. A adoção da Produção Mais Limpa requer, por parte da empresa, a constante

realização de melhorias contínuas. Estas melhorias facilitam a geração das inovações. As

inovações, por sua vez, facilitam o alcance da competitividade.

A Fazenda Cerro do Tigre possui 2.270,9 ha e está inserida em uma região de várzeas

e coxilhas sita no Tigre, segundo distrito do município de Alegrete, no Estado do Rio Grande

do Sul. Alegrete ocupa uma área de 7.936 km² , sendo o maior município em extensão

territorial do Estado, situando-se na fronteira oeste.

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Os principais produtos e serviços da empresa são o arroz agulhinha, que é

comercializado com casca; e, o arroz cateto ecológico, que é comercializado já beneficiado e

embalado.

Os principais resíduos da produção do arroz é a palha. O principal resíduo do

beneficiamento do arroz é a casca. Há também as embalagens plásticas, oriundas dos produtos

químicos, resíduos da manutenção (graxas e lubrificantes), latas, vidros, papel e papelão. Não

consegue-se identificar, para fins de quantificação, os efluentes líquidos e nem as emissões

atmosféricas. Como efluente líquido pode-se considerar a água utilizada na inundação dos

quadros, que foi pulverizada com herbicidas, e que retorna ao rio. Como emissão atmosférica

pode-se considerar as aspersões dos herbicidas na lavoura, por meio de avião.

Desta forma, é possível dizer que o conjunto das atitudes e das decisões tomadas, com

relação a estes tópicos estudados, é que possibilitam entender que o “como” implementar a

Produção mais Limpa é algo complexo, mas, ao mesmo tempo, realizável, se houver um senso

de objetivo e de metas a alcançar, dentro da organização. Este senso de objetivo está sendo

dado pelas estratégias que a empresa está assumindo para seu futuro em termos da

competitividade, da tecnologia e do meio ambiente.

Portanto, o resultado deste estudo indica que a adoção da Produção Mais Limpa

(Produção mais Limpa) está gerando inovação e competitividade para a empresa. Isto está

ocorrendo porque a Fazenda consegue realizar a ligação entre as variáveis “Produção Mais

Limpa” e “Competitividade” através da variável “Inovação”. A inovação tem sido possível

porque na empresa ocorre o processo de “melhoria contínua”, sendo que este é amplamente

utilizado e constantemente realizado. Estas melhorias facilitam a geração das inovações e

estas, por sua vez, facilitam a geração da competitividade para a empresa.

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3 METODOLOGIA

3.1 Local de Estudo

A Empresa em estudo está localizada no Planalto Médio, na região norte do estado do

Rio Grande do Sul, no Município de Passo Fundo-RS, A Empresa iniciou suas atividades em

setembro de 2003, anteriormente funcionava no local outra empresa do mesmo ramo. Após o

início das atividades foram ampliando os serviços e peças, aumentando o número de clientes e

funcionários. Em 2006 iniciou suas atividades a empresa A, no mesmo endereço, trabalhando

em conjunto a empresa B. Em 2008 efetuando a fusão das duas empresas inicia suas

atividades a Empresa em Estudo, Fábrica de caçambas e peças rodoviárias.

A Empresa possui área construída de 499,5 m2 e área total de 1200 m2 e está inserida no

Município de Passo Fundo no Estado do Rio Grande do Sul. O seu quadro funcional é

composto por aproximadamente 40 funcionários exercendo funções técnicas, administrativas e

operacionais no chão de fabrica. Enquadra-se, como uma empresa de pequeno porte, de

acordo com a classificação do SEBRAE. A Figura 3 apresenta a localização da empresa em

estudo no mapa do estado do Rio Grande do Sul e atualmente está situada no Município de

Passo Fundo-RS, na RS 324 Km 114,5 Bairro Prof. Schisler.

Fonte: Prefeitura Municipal Passo Fundo, (2011)

Figura 3 - Localização da empresa em estudo no Município de Passo Fundo.

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A Empresa em estudo fabrica Caçambas agrícolas para o transporte de materiais. Este

tipo de carroceria vem substituindo em larga escala as antigas caçambas de madeira.

Atualmente, as carrocerias de madeira estão em desuso e estão sendo substituída em

função dos custos e durabilidade e não podemos deixar de comentar a questão ambiental

devido a escassez de madeiras especiais que suportem a intempérie ambiente. Em média a

vida de uma carroceria de madeira é de 5 anos, enquanto a vida útil de uma carroceria de aço

carbono é de 10 anos. A Empresa tem capacidade de produção para atender uma demanda

mensal de fabricação de 21 caçambas de aço carbono.

A empresa em estudo está no inicio das suas atividades como corporação, ainda não

possui todos os seus processos bem definidos. A idéia de incluir as questões ambientais

durante o projeto, não foi almejado no desenvolvimento do produto, mas sim uma tendência

mercadológica. A escassez de recursos renováveis e altos custos da matéria-prima fomentaram

a alteração de se fabricar carrocerias de aço-carbono ao invés das tradicionais caçambas de

madeira.

Atualmente, novos conceitos como o Ecodesign são novas considerações sistemáticas

do desempenho do projeto, objetivando as questões ambientais, de saúde e segurança,

analisando o produto ao longo do seu ciclo de vida, tornando este produto Ecoeficiente, ou

seja, eficiência dos recursos que leva a produtividade, lucratividade e responsabilidade

ambiental.

O estudo teve por objetivo fazer a caracterização do processo, realização do

diagnostico e proposição do uso da técnica de Produção mais Limpa para o setor de pintura de

uma empresa Metalmecanica.

3.2 Estudo do setor de pintura

A análise detalhada do fluxograma permite a visualização e a definição do fluxo

qualitativo de matéria-prima, demonstrado na Figura 4: água e energia no processo produtivo,

visualização da geração de resíduos durante o processo, agindo desta forma como uma

ferramenta para obtenção de dados necessários para a formação de uma estratégia de

minimização da geração de resíduos, efluentes e emissões.

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Fonte: CNTL,(2003).

Figura 4 – Fluxograma qualitativo do processo produtivo.

Após a elaboração do fluxograma do processo produtivo foram determinadas as

estratégias para identificação e quantificação dos fluxos de massa e energia no setor de

pintura.

Para o desenvolvimento da pesquisa evidenciou-se a necessidade de uma abordagem

predominantemente qualitativa com aportes quantitativos. O desenvolvimento deste estudo,

não foi baseado somente em dados numéricos e estatísticos para fundamentar seus

pressupostos, entretanto utilizou dados numéricos para esclarecer algumas análises.

A seguir encontra-se a descrição dos procedimentos adotados para o desenvolvimento da

pesquisa, conforme a estrutura do fluxograma da figura 5:

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Figura 5 - Fluxograma da Metodologia

3.2.1 FASE 1 – Caracterização dos aspectos

Após o levantamento do fluxograma, reuniu-se os operadores para fazer o levantamento

dos dados qualitativos de produção e ambientais existentes, utilizando fontes disponíveis

como por exemplo, estimativas do setor de compras, e a quantidade de material gasto por dia

mostrado no Quadro 2:

i) quantificação de entradas (matérias-primas, água energia e outros insumos), com

maior enfoque para água e energia, mas sem detalhar por etapa do fluxograma;

ii) quantificação de saídas (resíduos, efluentes, emissões, subprodutos e produtos);

ii) dados da situação ambiental da empresa.

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Adaptado de CNTL, (2003).

Quadro 2 – Planilha Qualitativa Intermediaria.

Conforme o CNTL (2003), o diagnóstico ambiental e de processos é a base de dados da

Produção mais Limpa. Este deve fornecer uma previa da real situação da empresa diante da

sua relação com o meio ambiente.

3.2.2 FASE 2 - Realização do diagnóstico ambiental

a) levantamento dos aspectos ambientais

Realizou-se o estudo no que se refere aos aspectos ambientais na fabricação de

caçambas basculantes na empresa em estudo. A análise deste item tem objetivo de

proporcionar a caracterização do sistema hoje adotado, avaliando a sua funcionalidade como

mostra do a Figura 6:

Os estudos foram realizados com embasamento na metodologia da Produção mais

Limpa, que segundo Becker (2007), a metodologia da Produção mais Limpa utiliza-se de

várias estratégias para a redução dos resíduos nos processos produtivos descritos em três

principais níveis:

a) prioriedade é evitar a geração de resíduos, emissões e efluentes, caracterizada nível 1;

b) em segundo lugar, a reintegração dos resíduos que não podem ser evitados ao

processo produtivo, ou seja, o nível 2;

c) sendo impossível aplicar estas duas primeiras estratégias, deve-se procurar medidas

de reciclagem fora da empresa, o nível 3;

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Fonte: SENAI-RS

Figura 6 – Fluxograma da metodologia da produção mais Limpa.

O programa de produção mais limpa, com base na metodologia desenvolvida pela

United Nations Industry and Developement Organization e pela United Nations Environment

Programme – UNIDO/UNEP (2010), consiste na avaliação do processo produtivo, neste caso

o processo de fabricação de caçambas basculantes, para que seja possível implementar pela

empresa em estudo.

A avaliação dos impactos poderá ser observada através da análise dos fluxogramas de

processo e o levantamento dos indicadores ambientais, estes dados norteou o referido estudo e

possibilitou definir que setor foi definido prioritário para implementação da Produção mais

Limpa.

O Quadro 3 apresenta alguns exemplos de dados coletados:

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Adaptado de SENAI, (2010).

Quadro 3 – Planilha Quantitativa do Setor em estudo.

a) Quantidade de Tinta consumida/ quantidade de resíduo de tinta gerado;

b) Quantidade de Água consumida/ quantidade de água com resíduo gerado;

c) Quantidade de pano mecânico/quantidade de resíduo gerado.

b) Priorização das oportunidades identificadas na avaliação

Para a interpretação/classificação/valoração dos impactos ambientais, desenvolveu-se

uma análise criteriosa que permitiu estabelecer previamente um prognóstico sobre eles,

adotando-se os seguintes critérios para cada atributo:

a) magnitude:

Este atributo para classificação do impacto considera o grau de magnitude/importância

do impacto ou de seus efeitos em relação a ação, podendo ser classificado como baixo, médio

ou alto. De modo geral, os impactos indiretos são decorrentes de desdobramentos

consequentes dos impactos diretos.

b) Significância:

Este atributo de classificação/valoração de um impacto corresponde à ação que

desencadeia com o tempo de duração do impacto na área em que se manifesta, variando entre

baixo, médio e alto.

Dessa forma, a partir das inter-relações possíveis de ocorrer, conforme as

classificações de magnitude e sensibilidade, procede-se à classificação do Grau de

Importância de cada impacto identificado. Assim, um impacto de alta magnitude incidindo

sobre um fator ambiental de alta ou média sensibilidade apresenta Grau de Importância

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grande. O cruzamento entre alta magnitude e baixa sensibilidade, ou vice-versa, indica Grau

de Importância médio para o impacto. Por fim, impactos de baixa magnitude incidindo sobre

fatores de baixa ou média sensibilidade são considerados como Grau de Importância

demonstrada na Figura 7.

Figura 7 - Matriz de Leopold. Adaptado de Leopold.

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A matriz de interação que foi utilizada é baseada na matriz de Leopold (GTZ, 1992),

com as adaptações necessárias para o caso específico do empreendimento em análise, bem

como para torná-la de mais fácil leitura.

Foi elaborada com as entradas segundo as linhas representando as ações/atividades do

empreendimento e, nas colunas, os compartimentos ambientais afetados e os impactos

ambientais potenciais decorrentes da interação aspecto/impacto.

Magnitude/significância: Leva-se em consideração a força com que o impacto se

manifesta, seguindo uma escala nominal de baixo, médio e alto.

Considerou-se, numa escala de 1 a 10, a seguinte valoração mostradas nos Quadros 4 e 5:

Quadro 4 - Escala Numérica dos Impactos.

ESCALA IMPACTO

1 Baixo

5 Médio

10 Alto

Adaptado de Leopold.

Ao cruzar essas linhas com as colunas, evidenciam-se as interações existentes,

permitindo identificar aquelas realmente significativas e dignas de atenção especial.

Em cada célula, apresentam-se a categoria e a intensidade do impacto, sendo:

A preocupação em segregar e identificar os resíduos será importantíssimo para a

implementação das políticas internas da empresa, que proporciona a seus funcionários

treinamentos e constantes reciclagens para conscientização.

Quadro 5 - Escala de cores Matriz de Leopold.

COR IMPACTO

Vermelha Negativa

azul Positiva

Adaptado de Leopold.

Merece ser ressaltado que a maioria dos impactos identificados foi classificada como

impactos reversíveis, isto é, eles podem ser revertidos a partir da adoção das medidas

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mitigadoras propostas ou com o encerramento das atividades. Neste aspecto, é fundamental a

aplicação de medidas mitigadoras eficazes, tanto preventivas quanto potencializadoras.

3.2.3 FASE 3 - Proposta do uso da técnica de Produção mais Limpa.

Após realizar as etapas anteriores e escolhido as prioridades em questão traçaram-se

algumas propostas de Produção mais Limpa para o Setor de Pintura.

Nesta fase após serem analisados os dados das fases anteriores, os quais serão

estudados em conjunto da metodologia de produção mais limpa para a elaboração de uma

proposta com ações sustentáveis para o processo de fabricação de caçambas basculantes para

a empresa em estudo.

Será identificada a interferência do processo no meio ambiente, de modo que os

aspectos técnicos de fabricação estejam alinhados as premissas da sustentabilidade.

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4 RESULTADOS

4.1 FASE 1 – Caracterização dos aspectos

O aço tem-se consolidado como um dos principais materiais de fabricação industrial,

mas que devido à corrosão, o sucesso de sua aplicação decorre do emprego de revestimentos

eficazes. Entre estes revestimentos destaca-se o revestimento por pintura, o qual, por ter entre

outras características, a função anticorrosiva, é aplicado diretamente sobre a superfície que se

pretende proteger.

A pintura industrial se constitui por isso num método de proteção anticorrosiva, de

maior utilização na vida moderna, com larga utilização nas construções e objetos

confeccionados em aço.

Em todo o mundo, têm-se hoje inúmeras formulações de tintas diferentes, fabricadas

com matérias-primas das mais diversas, e que atendem às condições mais adversas possíveis a

que ficam expostas as estruturas de fabricadas com aço.

O esquema da pintura destina-se primordialmente a proteger a superfície onde a

mesma é aplicada, da ação corrosiva do meio. As Figuras 8, 9 e 10 apresentam,

respectivamente, os processos de pintura.

Figura 8 - Caçamba no setor em estudo.

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Figura 9 - Caçamba secando ao ar livre

Figura 10 - Caçamba secando ao ar livre

O bom resultado da pintura dependerá, todavia, da observância de fatores básicos, sem

os quais não haverá proteção adequada, por longo período, a custo compatível com o valor e o

tempo de vida esperada para a estrutura. Para tanto terão que ser definidos não só os fatores ou

requisitos que determinam suas propriedades depois da aplicação, como também o seu

desempenho ao longo do tempo, e respeitando-se ainda a determinados passos, por ocasião da

aplicação da tinta conforme descritos a seguir:

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a) preparação da superfície: Tem por finalidade remover óleos, graxas, gorduras e

principalmente produtos de corrosão. Esta limpeza é uma fase de extrema importância, pois as

tintas sempre exigem, antes de sua aplicação uma preparação da superfície, de modo a haver,

um perfeito contato com a mesma. Visa também criar um perfil de rugosidade capaz de

facilitar a adesão mecânica da tinta.

b) aplicação da tinta de fundo ou primer, conforme indicado na Figura 11, são

aplicadas em uma ou mais demãos, e caracterizam-se normalmente por serem as responsáveis

pela proteção anticorrosiva. A maioria dessas tintas é pigmentada com pigmentos de

propriedades anticorrosivas, garantindo no contato com a superfície metálica, maior eficácia

contra a corrosão. Há casos onde a tinta de fundo apenas facilita a adesão ou a aplicação do

esquema da pintura.

Figura 11 - Detalhe caçamba secando ao ar livre

c) aplicação da tinta de acabamento: aplicadas em uma ou mais demãos, conforme

indicado na Figura 12. Têm como objetivo não só conferir a cor final ao equipamento, como

funcionam ainda como uma primeira barreira entre o eletrólito e a tinta de fundo, sendo

conveniente que estas películas de tinta sejam bastante impermeáveis.

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Figura 12 - Aplicação da tinta.

Para que a película de tinta cumpra a sua finalidade de proteção anticorrosiva, deve

apresentar uma espessura mínima em função da natureza da tinta usada e da agressividade do

meio corrosivo, pressupondo a seleção adequada no esquema de pintura para o meio indicado.

Em se tratando de pintura industrial, a abordagem ideal do parâmetro qualidade na

aplicação das tintas é maximizar as ações de prevenção de defeitos, objetivando garantir que a

qualidade prevista para o esquema de pintura possa ser efetivamente alcançada. Contudo os

termos de qualidade de um esquema de pintura, não se deve limitar às tradicionais ações de

detecção de defeito (controle da qualidade) e sim maximizar as ações de prevenção de

defeitos, também conhecidas como administração da qualidade.

A definição da qualidade, num esquema de pintura durante a aplicação, é explicitar as

propriedades e o desempenho esperado. Deve-se definir o preparo da superfície (grau de

limpeza e rugosidade), a especificação das tintas (desempenho, natureza química etc.), as

espessuras de demão, os intervalos entre uma demão e outra e os ensaios a serem realizados,

em um esquema aplicado, com os resultados a alcançar.

4.2 FASE 2 – Realização do diagnostico ambiental

a) Levantamento dos aspectos ambientais

Como resultado do preenchimento da Planilha Quantitativa obteve-se os seguintes

resultados mostrados no Quadro 6:

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Adaptado de CNTL. Quadro 6 - Planilha Quantitativa preenchida.

As Figuras 13 e 14 apresentam a situação atual do setor de pintura da empresa.

Figura 13 - Detalhe do setor de pintura.

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Figura 14 - Detalhe do setor de pintura.

Este tópico foi desenvolvido buscando a melhor forma de identificação e avaliação dos

impactos potenciais decorrentes do empreendimento, considerando-se sempre a relação

causa/efeito. Contudo pode-se verificar que o setor de pintura da empresa em estudo tem

grande potencial para a utilização das técnicas de Produção mais Limpa. Foram identificados

os aspectos e impactos com maior magnitude/significância.

b) Priorização das oportunidades identificadas na avaliação

A matriz de Leopold (Figura 15), permitiu quantificar e hierarquizar os impactos mais

importantes. Como os resíduos sólidos oriundos do processo de pintura são perigosos,

evidencia-se que o desenvolvimento de novas medidas de controle, baseadas no princípio da

tecnologia limpa, pode minimizar os impactos.

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Figura 15 – Matriz de Leopold preenchida.

A partir da discussão interdisciplinar das ações do empreendimento e do diagnóstico

ambiental das áreas de influência, estabeleceu-se uma metodologia própria para identificação

e classificação dos impactos, utilizando-se como instrumento básico uma matriz de interação.

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O setor de pintura da empresa gera uma grande quantidade de resíduos, sendo grande

parte perigosa, tais como borra de tinta, pano mecânico, sobras de tiver, latas de tinta vazias e

outros. Mesmo perigosos, são destinados para aterro sem agregar nenhum valor econômico

com reciclagem.

Essa matriz de interação funciona como uma listagem de controle bidimensional,

dispondo ao longo de seus eixos, vertical e horizontal, respectivamente, as ações do

empreendimento, por fase de ocorrência, e os fatores ambientais que poderão ser afetados,

permitindo assinalar, nas quadrículas correspondentes às interseções das linhas e colunas, os

impactos de cada ação sobre os componentes por ela modificados(SUREHMA/GTZ,1992).

Cada uma dessas interações foi avaliada considerando-se os impactos resultantes quanto ao

seu tipo, magnitude e significância. Os dois fatores ambientais presentes nessa matriz são

definidos e estabelecidos em função do diagnóstico ambiental realizado.

Essa matriz apresenta uma visão integrada das ações do empreendimento, dos

impactos decorrentes delas e fatores ambientais afetados, permitindo observar quais as ações

mais impactantes, qual a fase do empreendimento gerará maior número de impactos e quais os

fatores ambientais mais afetados.

Após o preenchimento da Matriz de Leopold, pode-se verificar alguns aspectos

ambientais se destacaram quando a sua periculosidade que foram eles: Tinta a base d’água,

Tiner, Lixas, Pano Mecânico e a Névoa de tinta que se caracterizou como o aspecto ambiental

mais perigoso recebendo nota 10 na magnitude/significância identificados na área hachurada.

4.3 FASE 3 - Propostas de Produção mais Limpa

Tendo os dados retirados e interpretados pela Matriz de Leopold, traçou-se algumas

propostas de ações de Produção mais Limpa para o setor de pintura.

4.3.1 Alteração na pressão de ar das pistolas de pintura

Analisando o sistema e as regulagens utilizadas na pintura e comparando-os com as

informações disponibilizadas pelo fabricante do equipamento, assim como pelo fabricante da

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tinta utilizada no processo de pintura, verifica-se que há uma discrepância entre os dados

teóricos e os que eram praticados pela empresa.

O processo de pintura utilizava em média 70 psi de pressão nas pistolas e as indicações

dos fabricantes eram de que, para o tipo de técnica de pintura utilizada, seria suficiente a

pressão de 40 psi. Após a adaptação à recomendação específica, recomenda-se o

monitoramento dos dados para verificar a efetividade da alteração.

Como resultados espera-se que a implementação desta medida, a empresa obtenha

benefício ambiental com a redução na emissão de solventes e tintas no ar; benefício

econômico, com a redução na compra total de matéria-prima (tintas e tiner); benefício

tecnológico, com a redução da manutenção do sistema e menor consumo de ar comprimido, e

benefício de saúde ocupacional, com a diminuição do contato dos colaboradores com os

agentes químicos gerados pela exposição ao processo de pintura.

Além disso, o ganho obtido no benefício econômico será gerado por uma medida de

housekeeping (solução caseira), a qual não demandou investimentos, demonstrando que a

produção mais limpa pode ser realizada de forma simples, sem a necessidade de tecnologias

sofisticadas, exigindo, neste caso, somente a mudança de atitudes e a análise crítica do

processo produtivo.

4.3.2 “Uniforme Sempre Limpo”

Esta proposta busca conscientizar o colaborador em relação à importância da higiene

pessoal no ambiente de trabalho. Os colaboradores serão incentivados a enviar seus uniformes

para uma lavanderia industrial, especializada em limpeza de uniformes com resíduos de graxa

e tinta. A empresa assume parte do custo da limpeza dos mesmos.

4.3.3 Disposição da borra de tinta

No processo de pintura da empresa, verificou-se que a cada determinado período é

necessário executar-se uma limpeza geral da mesma, o que acarreta a geração de resíduos de

borra de tinta, material de cobertura das paredes e luminárias, bem como elementos filtrantes.

Esta borra de tinta, por se constituir um resíduo perigoso classe 1, conforme NBR 10004

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(ABNT, 2002), deve ser disposta em sistema apropriado para tal, acarretando um custo de

disposição para a empresa. Como medida de Produção mais Limpa sugere-se o

reaproveitamento das tintas em futuras pinturas como no interior das caçambas que é uma

pintura de menor qualidade.

4.3.4 Redução de energia no uso do equipamento

Devido ao sistema de programação utilizado para o setor de pintura, as peças eram

pintadas conforme chegavam à área, ou seja, o equipamento ficava à disposição e ligado

durante todas as horas do dia de trabalho. Na verificação realizada na área, junto com o

encarregado do setor, percebeu-se que podem ser utilizadas 5 horas por dia para a execução da

tarefa, desde que as peças passassem a ser acumuladas.

Neste estudo, de caso espera-se que a empresa obtenha benefício ambiental com a

menor utilização de energia e menos emanações para o ambiente; benefício econômico, com a

redução do custo da energia elétrica e manutenção do equipamento e benefício de saúde

ocupacional, com a diminuição do contato dos empregados com a tinta.

4.3.5 Redução de energia elétrica

Devido a problemas de má iluminação, uma medida de Produção mais Limpa será a

instalação de telhas translúcidas de polipropileno permitem a passagem de luz, sem permitir,

entretanto, que se vejam nitidamente os objetos. São fabricadas a partir da composição de

resinas termoplásticas especiais que favorecem a passagem de 70% da luz natural

oferecendo iluminação ao ambiente. São leves, flexíveis, duráveis, podendo conter isolantes

térmico e acústico além de possuir aditivo anti-UV. São recomendadas para ambientes que

desejam clariaridade e econômia da energia elétrica como é o desejado pela empresa.

4.3.6 Otimização do Sistema de ventilação

Devido a problemas no equipamento cortina d’água notou-se que não estava

operando de forma adequada, foi constatado pelos funcionários do setor que os exaustores não

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estão exercendo suas funções corretamente. Contudo, como medida de Produção mais Limpa

será necessário o ajuste do equipamento e a inclusão de exaustores na parte superior do galpão

para sim otimizar esse sistema.

4.3.7 Reutilização do Pano mecânico

A empresa utiliza em todo o processo o pano mecânico. Contudo, poderá efetuar o

reuso do pano mecânico, extremamente importante para não causar poluição no solo o

descarte do mesmo. Terceirizando o processo de lavagem deste item pode-se obter um bom

desempenho já utilizado em varias empresas do ramo metalmecanico.

4.3.8 Redução da Geração de Resíduos de Embalagens

No setor em estudo utiliza-se embalagens de pequeno porte na compra dos insumos

como tinta e tiner. Como técnica de Produção mais Limpa será importante entrar em contato

com o fornecedor dessa matéria prima e adequar esse material para embalagens de maior

capacidade para então realizar o reuso do mesmo devolvendo-o para o fabricante.

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5 CONCLUSÃO

5.1 Conclusão do Trabalho

A elaboração da analise baseou-se no problema de pesquisa, bem como nos objetivos

que nortearam o estudo. Dessa forma constatou-se que todos os objetivos propostos

inicialmente pela pesquisa foram alcançados. Primeiramente, foram identificadas e

caracterizadas as etapas do processo de Pintura do Setor Fabril. Foi feita uma visita a empresa

e contato com a gerencia. Em seguida, foi elaborado o fluxograma do processo e também

foram especificados e caracterizados os aspectos ambientais e seus impactos com o auxilio da

Matriz de Leopold. Os aspectos variaram entre a significância/magnitude baixa, media e alta

no processo de pintura.

Após este diagnóstico inicial, entendeu-se que os problemas existiam e mereciam a

devida atenção. Antes de quaisquer propostas, o objetivo seguinte ateve-se em identificar e

analisar as ações de Produção mais Limpa utilizadas no processo fabril. Com base no

levantamento realizado, constatou-se que as ações desenvolvidas no setor de pintura, não

seguiam a metodologia de Produção mais Limpa. Os procedimentos adotados visavam

minimizar o impacto ambiental, porém não tinham a preocupação com a adoção de uma

política que leve em consideração o ciclo de vida do produto, desde a extração das matéria-

prima até a sua disposição final.

Desta forma, alcançou-se o terceiro objetivo apresentando algumas propostas de

melhorias visualizadas no decorrer do estudo, direcionadas tanto à gestão quanto ao processo

fabril e seus aspectos derivados.

Tendo em vista o que foi mencionado, pôde-se responder o problema de pesquisa

proposto. Um processo fabril pode se adequar às necessidades ambientais e sociais adotando

uma Gestão de Produção mais Limpa visto que essa aplica mudanças nas empresas, dando um

passo em direção ao desenvolvimento econômico, sustentado e competitivo, não apenas para

elas, mas para toda a região que abrangem.

5.2 Recomendações para trabalhos futuros.

Este trabalho permite outras oportunidades de investigação. Como sugestões para

outras pesquisas, podem-se citar:

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a) análise dos investimentos realizados e resultados financeiros obtidos com a

implantação das técnicas de Produção mais Limpa nos outros setores da indústria;

b) estudo de possíveis ações a serem tomadas para a superação das barreiras

encontradas durante a implantação da Produção mais Limpa;

c) investigação de resultados ambientais obtidos com a implantação da Produção mais

Limpa;

d) estudo em outros setores.

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