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PROPOSTA DE INTEGRAÇÃO DO CONCEITO DA JANELA DE JOHARE E O MÉTODO DE BELBIN COM IMPACTO NOS TEMAS AUTOPERCEPÇÃO E PERCEPÇÃO EXTERNA Área temática: Gestão do Conhecimento Organizacional Humberto Santos [email protected] Marcelo Meiriño [email protected] Resumo: As organizações empregam variados métodos para desenvolver seus executivos e assim alcançar melhores resultados no negócio. Um dos métodos frequentemente usados está relacionado com o aprimoramento do autoconhecimento desses executivos. No âmbito organizacional este autoconhecimento tem a ver principalmente com o conhecimento das competências e limitações relacionadas ao trabalho. Um dos métodos aplicados nas organizações para ajudar o aprimoramento de seus resultados usa o Teste de Belbin, cuja metodologia requer sua aplicação não somente nos executivos, mas também em seus pares, buscando assim obter a percepção de outras pessoas no processo de autoconhecimento (Belbin, 2004).A importância da percepção do outro no processo de autoconhecimento foi também elaborada por outros dois estudiosos, Luft e Ingham (1955), os quais desenvolveram o conceito da Janela de Johari. Segundo esse conceito, as pessoas têm uma área cega para si mesma, mas perceptível para os outros. O objetivo principal desse artigo é propor uma integração entre o resultado do Teste de Belbin e Janela de Johari.Para isso aplicou o Teste de Belbin em um público definido. O resultado da pesquisa confirmou que o Teste de Belbin evidencia que observadores externos demonstram grau de conhecimento sobre os observados que esses mesmos não demonstram. Palavras-chaves: ISSN 1984-9354

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Page 1: PROPOSTA DE INTEGRAÇÃO DO CONCEITO DA JANELA DE … · 2016. 3. 5. · caracteriza por ser um sistema de avaliação de personalidade que identifica estilos, que Belbin chama de

PROPOSTA DE INTEGRAÇÃO DO CONCEITO DA JANELA

DE JOHARE E O MÉTODO DE BELBIN COM IMPACTO NOS TEMAS AUTOPERCEPÇÃO E PERCEPÇÃO EXTERNA

Área temática: Gestão do Conhecimento Organizacional

Humberto Santos

[email protected]

Marcelo Meiriño

[email protected]

Resumo: As organizações empregam variados métodos para desenvolver seus executivos e assim alcançar melhores

resultados no negócio. Um dos métodos frequentemente usados está relacionado com o aprimoramento do

autoconhecimento desses executivos. No âmbito organizacional este autoconhecimento tem a ver principalmente com o

conhecimento das competências e limitações relacionadas ao trabalho. Um dos métodos aplicados nas organizações

para ajudar o aprimoramento de seus resultados usa o Teste de Belbin, cuja metodologia requer sua aplicação não

somente nos executivos, mas também em seus pares, buscando assim obter a percepção de outras pessoas no processo

de autoconhecimento (Belbin, 2004).A importância da percepção do outro no processo de autoconhecimento foi

também elaborada por outros dois estudiosos, Luft e Ingham (1955), os quais desenvolveram o conceito da Janela de

Johari. Segundo esse conceito, as pessoas têm uma área cega para si mesma, mas perceptível para os outros. O objetivo

principal desse artigo é propor uma integração entre o resultado do Teste de Belbin e Janela de Johari.Para isso aplicou

o Teste de Belbin em um público definido. O resultado da pesquisa confirmou que o Teste de Belbin evidencia que

observadores externos demonstram grau de conhecimento sobre os observados que esses mesmos não demonstram.

Palavras-chaves:

ISSN 1984-9354

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XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015

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1. INTRODUÇÃO

Se a convivência for considerada fator decisivo para se conhecer um objeto de observação

qualquer, seria de esperar que cada indivíduo fosse de si mesmo o maior conhecedor (FUNDER,

1988).

A pretensão do autoconhecimento está presente na história desde o “conhece-te a ti mesmo” de

Sócrates (FOUCAULT, 2004). Entretanto, está cada vez mais reconhecido que o conhecimento que as

pessoas têm de si mesmas é limitado (GALLREIN et al., 2013). O autoconhecimento é limitado por

áreas cegas, ou seja, por características das quais a pessoa não tem consciência que apresentam e

tampouco imaginam que outras pessoas pessoa percebam essas características (LUFT; INGHAM,

1955). Sendo assim, se as pessoas não seguem naturalmente desenvolvendo seu autoconhecimento,

este conhecimento pode ser adquirido ou pelo menos ampliado por processo sistemático?

Segundo Vogt e Colvin (2005):

Por séculos, filósofos tem descrito precisa autoavaliação, e mais genericamente, precisa

percepção do mundo físico e social, como o “bem final” (COPLESTON, 1957). Por exemplo,

Sartre (1957/1972) considerava a aquisição de autoconhecimento como a questão filosófica mais

crítica enfrentada pela raça humana, e Sócrates (PLATÃO, 1920) argumentava que vida não

examinada é vida que não vale a pena ser vivida, presumidamente porque vida não examinada

não permite aquisição de autoconhecimento.

Além do interesse filosófico sobre o tema autoconhecimento, este é também medida para ramos

da psicologia. Autores como M. Johada e C.R. Rogers advogam que o autoconhecimento é parâmetro

para se avaliar o nível de sanidade mental de um indivíduo (ROGERS, 1961; JOHADA, 1958).

Embora o tema interesse a variadas áreas do conhecimento, para a finalidade deste artigo

importa o impacto do autoconhecimento na vida das organizações e de seus profissionais.

Por que meios as pessoas podem alcançar o autoconhecimento? Confiando na própria auto

avaliação, ou contando com ajuda externa, metodologia ou especialistas para alcançar esse fim?

Na década de 50 do século passado os professores Harry Ingham e Joseph Luft (1955)

apresentaram um modelo que chamaram de Janela de Johari1. Neste modelo ambos buscam destacar a

importância que o outro desempenha no processo de ampliação do autoconhecimento.

Frequentemente o outro é capaz de contribuir com o autoconhecimento de uma pessoa, que

será chamado de indivíduo ou avaliado neste artigo, provendo informações que este indivíduo não

pode ou não quer acessar (CONNELLY; ONES, 2010).

1 O nome Johari vem da junção dos nomes dos dois autores que desenvolveram o modelo.

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No âmbito organizacional a questão do autoconhecimento implica conhecimentos das

capacidades e limitações profissionais. Por isso as organizações investem em testes de personalidade

para seus profissionais. Estes testes têm em geral o formato de perguntas ou afirmações acerca das

quais o indivíduo deve se manifestar a partir de suas percepções de si mesmo. Essas percepções

deverão gerar um resultado que classifica a pessoa alvo dentro de modelos de personalidade

predefinidos ou como detentora de determinadas competências.

Considerando-se a limitação das percepções que a pessoa tem de si mesma, este artigo

destacará a importância de se explorar a contribuição do outro no processo de autoconhecimento, sem

deixar de considerar a auto avaliação.

Problema

Este artigo considera que existe falta de conhecimento de modo geral na empresa que será alvo

da pesquisa de campo sobre a relevância da participação do outro no processo de autoconhecimento,

pois esse tema nunca foi tratado em nenhum programa de desenvolvimento aí implementado.

Esta pesquisa aborda qual a relevância do outro no processo de autoconhecimento conforme

abordado pela Janela de Johari (LUFT; INGHAM, 1955). Faz isso analisando o resultado de pesquisa

que consiste na aplicação de um teste (Teste de Belbin) a um grupo de profissionais da referida

empresa.

O resultado desta pesquisa deverá contribuir para que tanto a empresa que será alvo do estudo

de caso quanto outras organizações tirem melhor proveito do investimento no desenvolvimento de seus

executivos

Objetivo O objetivo da pesquisa apresentada neste artigo é propor um modelo de integração entre o

resultado do Teste de Belbin e o conceito da Janela de Johari. Para isso, este artigo irá:

1. Correlacionar os resultados do Teste de Belbin com os conceitos da Janela de Johari, ou seja, se

o Teste de Belbin corrobora o princípio da Janela de Johari, segundo o qual o outro detém

conhecimento sobre um determinado indivíduo que este mesmo ignora.

2. Realizar revisão de literatura para investigar contextos em que a Janela de Johari e o Teste de

Belbin foram aplicados em organizações.

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Referenciais Teóricos A pesquisa abordada neste artigo tem por premissa três referenciais teóricos:

1º) O referencial teórico da Janela de Johari, segundo o qual parte dos comportamentos e

motivações dos indivíduos não são conhecidos por ele mesmo, mas são conhecidos pelas

pessoas que convivem com este indivíduo (conceito da área cega), e que portanto a ampliação

do autoconhecimento (diminuição da área cega) depende de obter esse conhecimento do outro

(LUFT; INGHAM, 1955) e (PRONIN et al., 2001);

2º) O entendimento de que a reputação de um indivíduo, ou seja, a percepção consensual que

outras pessoas têm sobre o sujeito, é critério válido de acuidade sobre as características do

indivíduo (VAZIRE, 2010), que, no ambiente organizacional impacta o resultado dos

investimentos em desenvolvimento;

3º) A capacidade do Teste de Belbin de avaliar comportamentos e características dos indivíduos

e a percepção de seus pares (DULEWICZ, 1995)

O autoconhecimento é ferramenta relevante para o desenvolvimento pessoal, o qual tem

impacto no ambiente organizacional pelo desenvolvimento das potencialidades humanas. Segundo

Silva, “para que haja uma verdadeira transformação pessoal, as organizações devem favorecer ou

propiciar oportunidades objetivas para que as pessoas que nelas trabalham vivenciem o despertar da

consciência, do autoconhecimento e do desenvolvimento do potencial humano” (SILVA, 2009).

Segundo Sue Stockdale (2014) “nossas reações emocionais, padrões de pensamento e comportamento

tendem a variar conforme nosso nível de autoconsciência”.

O conceito de conhecimento neste caso não se baseia em qualquer forma de autoconsideração,

mas nos aspectos subjetivos do sujeito, que este mesmo e os outros percebem, ou não.

É perfeitamente cabível que uma pessoa ignore ou se equivoque acerca do próprio peso e altura,

do que comeu no jantar passado, ou até mesmo a sua data de nascimento. Até mesmo em relação

ao próprio caráter e sentimentos é possível que o sujeito tenha algum tipo de falha cognitiva ou

ignorância, pois é concebível que um amigo, parente ou terapeuta esteja numa posição melhor

para avaliar se o sujeito é uma pessoal fiel, confiável, amorosa etc. (SILVA FILHO, 2014)

As avaliações buscam fazer previsões com alto nível de acuidade sobre personalidade,

habilidade e aptidão para o alinhamento entre o negócio e os profissionais no futuro. “Ao medir vários

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aspectos de comportamentos observáveis e funções adaptativas servidas por esses comportamentos na

economia psicológica2 se infere se a pessoa ‘X’ alcançará ou não, (…) o objetivo ‘Y’” (ZIYAL, 1991).

As avalições de personalidade buscam identificar: traços, tipos e estilos. O Teste de Belbin se

caracteriza por ser um sistema de avaliação de personalidade que identifica estilos, que Belbin chama

de papéis3 (BELBIN ASSOCIATES).

A pretensão do autoconhecimento Alguns fatores são relevantes limitadores da capacidade humana de se auto avaliar de forma

precisa e isenta. Não só a limitação de percepção que a pessoa tem de si é aspecto relevante, mas

também o que Pronin et al. (2001) chamam de “realismo ingênuo”, segundo o qual o “você não me

conhece, mas eu te conheço” gera desinteresse no conhecimento que o outro tem do indivíduo, por não

reconhecer esse conhecimento no outro.

Os indivíduos tendem a acreditar que seu “verdadeiro eu”, mais do que o dos outros, está

debaixo da superfície (GOFFMAN, 1959), portanto não acessível ao outro.

A imagem que a pessoa gostaria de projetar é outro fator limitador da auto avalição, pois as

pessoas são muito caridosas consigo mesmas (GREENWAL, 1980 apud PRONIN et al., 2001).

Os fatores acima revelam as dificuldades de se adquirir o autoconhecimento pela própria

experiência. Essa dificuldade foi esquematizada por Luft e Ingham (1955) como a Janela de Johari.

Janela de Johari: Discussão Sobre o Autoconhecimento

O autoconhecimento é uma utopia ou é algo perfeitamente alcançável? Segundo Luft e Ingham

(1955) não existe tal pleno autoconhecimento. Todas as pessoas têm áreas cegas, ou seja,

comportamentos e motivações que não percebem acerca de si mesmas.

Quando propuseram o modelo gráfico Janela de Johari o propósito era investigar as relações

humanas e o quanto a auto percepção, percepção do outro e as percepções sobre as percepções podem

afetar essas relações. A proposta do modelo gráfico ajuda a inferir possibilidades de como abordar

questão relacionadas às relações humanas (Figura 1).

2 Economia psicológica é a dinâmica de habilidades cognitivas, dimensões da personalidade e funções administrativas que

produzem padrões de comportamentos conscientes em dadas situações. 3 “Roll” em inglês.

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Figura 1: Janela de Johari

Conhecida de si mesmo Desconhecida de si mesmo

Conhecida

pelos outros

Quadrante 1

Área de atividade livre

(Aberta)

Quadrante 2

Área cega

Desconhecida

pelos outros

Quadrante 3

Área evitada ou escondida

Quadrante 4

Área desconhecida

Fonte: LUFT, J.; INGHAM, H. (1955)

A janela possui quatro quadrantes. O primeiro se refere à área de atividade livre, e tem relação

com comportamentos e motivações que são conhecidas pelo próprio indivíduo e por outras pessoas; o

segundo quadrante, área cega, diz respeito àquilo que é desconhecido do indivíduo, mas é conhecido

por outros. Segundo Gallrein et al. (2013) a área cega detém os atributos que não só a pessoa não

percebe em si, mas que também desconhece que outros percebam; o terceiro quadrante, área

escondida, se refere a aspectos conhecidos somente do próprio sujeito e que este tenta manter não

revelado.

Finalmente o quarto quadrante representa aspectos que ainda não são conhecidos nem pelo

sujeito nem pelos outros: área desconhecida.

Sendo esta quarta área ainda não percebida pelo sujeito e pelos outros, cabe perguntar como se

pode inferir sua existência. Segundo Gallrein et al. (2013), existe sim algum nível de percepção sobre

a área desconhecia, embora seja uma percepção limitada, que novas experiências podem trazer à tona.

Por exemplo, como agiria uma pessoa se tivesse de decidir arriscar a própria vida para salva outra

pessoa? A resposta a essa questão está na área desconhecida para a maioria das pessoas, a menos que

tenham passado por experiência em que tenham exercitado essa questão na prática.

Alguns princípios da teoria do modelo gráfico da Janela de Johari (LUFT e INGHAM, 1955)

são: 1) eu posso aprender mais sobre minha área cega (expandir minha área aberta); 2) Eu posso expor

e compartilhar minha área escondida; 3) eu posso explorar minha área desconhecida.

Assim, se a área cega é de “domínio” do outro, o indivíduo depende desse outro para acessar

essa área cega (Figura 2).

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Sendo que os quadrantes 1 e 3 são de domínio do indivíduo a ampliação de qualquer desse

quadrantes implica ampliação do autoconhecimento. Para fim deste artigo importa a relação entre os

quadrantes 1 e 2.

Figura 2: Janela de Johari: Área Aberta Expandida

Conhecida de si mesmo Desconhecida de si mesmo

Conhecida pelos

outros

Quadrante 1

Área de atividade livre

(Aberta)

Quadrante 2

Área cega

Desconhecida

pelos outros

Quadrante 3

Área evitada ou escondida

Quadrante 4

Área desconhecida

Fonte: LUFT, J.; INGHAM, H. (1955)

Qual é a verdade sobre o que o indivíduo “conhece” de si mesmo, ou o que os outros

conhecem? Como medir de forma objetiva quem conhece mais um sujeito, ele mesmo ou o outro?

Segundo Funder (1988), o requisito fundamental para acuidade de qualquer estudo é a existência de

um critério que represente “a verdade”. Este artigo parte do princípio defendido por Vazire (2010) de

que um critério comum de acuidade para avaliar as características de um indivíduo é a reputação, ou a

percepção consensual que outras pessoas têm acerca deste. Além disso, partindo do princípio da

“realidade social”, conforme Gallrein et al. (2013) “essencialmente as impressões consensuais dos

outros são tidas como especialmente válidas medida de personalidade porquanto a percepção de cada

conhecido é uma agregação de vários comportamentos observáveis no tempo”. Também para Dawne

Vogt e C. Randal Colvin só se pode considerar traço de uma pessoa aquilo que se manifesta em ações,

no artigo em que tratam de acuidade no autoconhecimento, afirmam que “acuidade no auto

conhecimento se define pelo conhecimento dos traços de personalidade como estes são exibidos em

comportamentos” (VOGT; COLVIN, 2005).

Como se pode definir a personalidade de uma pessoa, ou conhecê-la? A auto percepção,

conforme argumentado, tem limitações. As pessoas tendem a avaliar aquilo que são em função daquilo

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que pensam (LUFT; INGHAM, 1955). O erro é julgar que pensamento é igual à ação. Conforme

exemplificam o Luft e Ingham, pensar em matar alguém não torna que pensou em assassino até cometa

o ato. Assim, essa fantasia do pensamento limita a auto percepção.

Ao tratar sobre a abordagem de Luft e Ingham, Gallrein et al. (2013) comentam que se trata de

uma abordagem de realidade social, ou seja, leva em conta a auto percepção e a percepção do outro,

mas deixa de considerar uma terceira variável, que seriam outras fontes ou método para buscar

conhecimento sobre um indivíduo, como testes de personalidade, por exemplo.

Teste de Belbin: o autoconhecimento no outro

Nascido em 1926, Dr. Raymond Meredith Belbin, concluiu seu doutorado na Universidade de

Cambridge. Seu pós-doutorado foi obtido na Cranfield University School of Management. Foi na

Henley-on-Thames que Dr. Belbin realizou seus estudos que levaram ao trabalho publicado em 1981

sobre a teoria dos Papéis de Time de Belbin4. “Sua teoria sobre os papéis foi imediatamente

reconhecida pela academia e pelos negócios como uma importante ferramenta na gestão de recursos

humanos” (IVAN, 2010).

Como método para sua pesquisa Dr. Belbin desenvolveu o “Teste de Belbin”, cujo objetivo é

identificar os principais papéis que uma pessoa desempenha na equipe e por meio das quais pode dar

melhor contribuição para a equipe (FERREIRA; LANGERMAN, 2014). Segundo o conceito do

Método de Belbin, as equipes devem ter todos os papéis para serem eficazes. Inicialmente, Dr. Belbin

investigou times já existentes e avaliou seus resultados financeiros, em seguida começou a formar

times com base em baterias de testes de personalidade (BELBIN, 2004). Como resultado, revelou-se

que o sucesso das equipes está justamente baseado na formação com perfis (papéis) diversos e

complementares (IVAN, 2010).

Na Tabela 1 estão listados os papéis identificados pelo Dr. Belbin como sendo necessários para

formação de times eficazes.

4 The Belbin Team Roles em inglês.

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Tabela 1: Descrição dos Papéis de Belbin

Tipo Sigla Descrição

1. Cérebro CE Criativo, Imaginativo, pouco ortodoxo. Resolve problemas difíceis.

2. Investigador de Recursos IR Extrovertido, entusiasta, comunicativo. Busca novas oportunidades. Estabelece

contatos.

3. Coordenador CO Maduro, seguro de si mesmo. Esclarece a metas a alcançar. Promove a tomada de

decisões. Delega bem.

4. Impulsor IS Focado, dinâmico, trabalha bem sob pressão. Tem iniciativa e coragem para superar

obstáculos.

5. Monitor ME Sério, perspicaz e estrategista. Percebe todas as opções. Julga com precisão.

6. Agregador (Cohesionador) CH Cooperador, pacífico, perceptivo e diplomático. Escuta e impede os enfrentamentos

7. Implementador ID Disciplinado, leal, conservador e eficiente. Transforma ideias em ação.

8. Finalizador FI Esmerado, consciente, ansioso. Busca os erros e as omissões. Aperfeiçoa.

9. Especialista ES Interessa-se por uma coisa de cada vez. Aporta qualidades e conhecimentos

específicos.

Fonte: BELBIN, R. M. (2004)

Embora haja discussão na academia sobre a validade nos resultados organizacionais de se

compor os times de trabalho com base nos papéis definidos por Belbin, aprofundar a discussão entre os

que atacam (BATEMBURG, 2013) e os que defendem (STANTON, 1999 e IVAN, 2010) essa

validade não se encaixa no escopo deste artigo. O que é relevante neste artigo é entender alguns

aspectos do teste desenvolvido pelo Dr. Belbin e o quanto esses refletem ou não a Janela de Johari,

notadamente o conceito de área cega. O Teste de Belbin produz três modalidades de resultado: 1) o

resultado da auto avaliação (inventário); 2) o resultado da avaliação externa (folha de avaliação); 3) A

combinação dos resultados das categorias anteriores (resultado global).

Esses resultados consistem em identificar o grau de afinidade dos participantes com os nove

papéis pré-definidos pelo próprio teste, ou seja, em que grau os participantes avaliados exercem esses

papéis com maior ou menor conforto.

As avaliações são feitas para gerar o resultado global, que, conforme será visto adiante, usa

essas duas fontes para identificar o perfil dos indivíduos e o papel que estes cumprem na equipe, para,

finalmente avaliar quantos e quais papéis estão presentes na equipe que está sendo investigada.

Os resultados das duas fases do teste, tanto o de auto avaliação, quanto dos avaliadores, levarão

à lista dos papéis na ordem em que mais se aplicam ao avaliado. Os três mais aplicáveis são

categorizados como papéis “preferidos”, os quatro intermediários, são categorizados como papéis

“capaz de assumir”, os três últimos os “menos preferidos” (Tabela 2).

Uma das contribuições do Teste de Belbin é que ao final aparece para o avaliado o resultado de

sua auto avalição e avaliação externa. Isso deve ajudar o avaliado a perceber possíveis conflitos na

forma como as pessoas o vêm e esperam que haja e a forma como ele se vê agindo.

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As seções anteriores mostraram os seguintes construtos:

As pessoas tendem a não reconhecer no outro uma fonte importante de conhecimento de si

mesmas;

O autoconhecimento é limitado (princípio da área cega);

O “outro” é a melhor fonte para se ampliar o conhecimento de si mesmo (reduzindo a área

cega).

O princípio dos perfis para composição dos times de trabalho

Estudo de Caso

Com objetivo de se avaliar o quanto o Teste de Belbin reproduz ou não o conceito da Janela de

Johari, foi realizado estudo que é descrito a seguir. A empresa que é o alvo do estudo pertence a um

grupo multinacional, com operação em mais de 40 países, cujos negócios estão relacionados à geração

e distribuição de energia elétrica. Na totalidade, a empresa tem mais de 40.000 empregados.

O segmento específico em que opera a empresa que é alvo do estudo, é o segmento de energia

renovável. Este segmento tem, aproximadamente, 3.800 empregados no âmbito mundial, e 880

empregados na América do Sul, onde se concentra o estudo em questão.

Embora o negócio da empresa seja a geração de energia renovável, o mercado latino

americano, conhecido na organização como mercado em desenvolvimento, neste momento se

caracteriza mais pelos novos projetos de desenvolvimento de novas tecnologias de energia renovável.

O público da pesquisa consiste de profissionais executivos da empresa descrita. Todos os

profissionais residem e trabalham em países sul-americanos, embora alguns sejam oriundos também de

países europeus.

Dos respondentes efetivos 19 atuam no Chile enquanto 17 atuam no Brasil. Trata-se de

executivos de determinada empresa multinacional do segmento energia renovável com operação na

América Latina.

Todos os participantes são gerentes de primeira linha, ou seja, gerentes que se reportam

diretamente aos dois presidentes da empresa nos âmbitos geográficos Brasil & Uruguai e Chile &

Países Andinos.

As nacionalidades dos participantes são as seguintes: Espanha, Portugal, Itália, Brasil. Do total

de participantes 21% é do gênero feminino e 78% do gênero masculino.

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Algumas das funções exercidas pelos participantes da pesquisa são: Diretoria de Finanças e

Controladoria, Gerência de Comunicação, Gerência de Recursos Humanos e Organização, Gerência de

Novos Negócios, Gerência Jurídica, Gerência de Operações.

Quanto ao nível acadêmico, todos os participantes têm formação superior, sendo que alguns são

mestres.

A motivação para usar este público deu-se em função do fácil acesso a esses profissionais, por

trabalharem na mesma empresa em que trabalha o autor deste artigo.

A amostra desta pesquisa tem 42 profissionais com perfil para participar da pesquisa, que

correspondem a 100% dos gerentes de primeira linha da empresa nos perímetro geográficos em

questão. Desses, 36 participaram da pesquisa respondendo ao teste e sendo avaliados por seus pares.

Esses 36 respondentes correspondem a 86% da amostra escolhida.

Metodologia

O universo do estudo compreendeu 42 potenciais respondentes, ou seja, profissionais com

perfil para participar da pesquisa como respondentes. Desses 42 potenciais respondentes, 36

efetivamente responderam. Essa amostra de 36 respondentes efetivos corresponde a 86% do universo

total de 42 potenciais respondentes.

Essa amostra é suficiente para representar os gestores do segmento de produção de energia

renovável em geral. No aspecto quantitativo o número de respondentes é suficiente, segundo Carlos

Mourão Jr.:

Se for possível conseguir cerca de 30 sujeitos por grupo, nem será necessário se preocupar com a

distribuição das amostras, pois um importante fundamento matemático denominado teorema do

limite garante que em torno de 30, as médias amostrais apresentam uma distribuição que tende à

distribuição normal, independentemente da forma da distribuição da amostra em si. (Mourão,

2009)

Tanto o questionário de auto avalição quanto o questionário de avaliação externa foram

extraídos do Método Belbin. A pesquisa apresentada neste artigo não se propõe a desenvolver

instrumentos de pesquisas, mas a aplicar instrumentos reconhecidos, e, com base nos princípios que

norteiam este estudo, analisar os resultados em função do objetivo proposto.

O Método de Belbin consiste na aplicação de dois questionários. Os participantes receberam

Questionário de Auto Avalição de forma eletrônica. O questionário está divido em sete seções com

nove afirmações cada uma.

Os participantes foram orientados a distribuir 10 pontos entre as afirmações de cada seção,

conforme essas se aplicam a eles próprios. Se desejassem, poderiam concentrar os 10 pontos em um

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único comportamento descrito, embora isso não seja recomendado. O critério deveria ser distribuir os

pontos entre os comportamentos. Será normal se alguns ficarem sem ponto.

Conforme a métrica do método (BELBIN ASSOCIATES, 2013), cada afirmação se relaciona a

um perfil. Ao pontuar com maior frequência as afirmações relacionadas com o perfil “coordenador”,

por exemplo, o respondente demonstra maior afinidade com esse perfil. De forma oposta, ao atribuir

poucos ou até nenhum ponto às afirmações relacionadas como o perfil “finalizador”, por exemplo, o

respondente está demonstrando pouca afinidade com o referido perfil.

Ao final o respondente terá sido classificado conforme aplicabilidade dos nove papéis que

compõem o Método de Belbin (Tabela 1). Os três primeiros classificados são aqueles papéis que o

respondente desempenha com maior facilidade, os papéis classificados de 4º a 7º lugares são aqueles

que os respondentes conseguem desempenhar, embora não sejam os mais confortáveis para eles. Os

papéis classificados nos 8º e 9º lugares são os “menos preferidos”.

O Resultado dessa fase é uma conta simples de valorização dos papéis, ou seja, os que

pontuaram mais aparecem em primeiro lugar, os que pontuaram menos aparecem nos últimos lugares.

Quanto às Avalições Externas, cada avaliado teve pelo menos quatro avaliações que,

necessariamente, são pessoas que convivam com ele no ambiente de trabalho. Cada um desses

avaliadores recebeu uma folha impressa com uma lista de palavras ou conjunto de palavras, conforme

a modalidade Q-sort de questionário (BLOCK, 1961), totalizando 72 palavras (ver Anexo 2). Cada

uma dessas palavras ou conjunto de palavras corresponde a um dos nove perfis categorizados no

Método de Belbin. Os participantes distribuíram então 10 pontos entre as palavras que mais

caracterizam o indivíduo avaliado.

Os dados tabulados na linha “Avaliação Externa” (ver Tabela 4) não refletem cada um dos

avaliadores, mas os resultados das avaliações de todos os avaliadores. Neste caso, o resultado não se

trata de uma média simples. O instituto Belbin Associates desenvolveu um programa dedicado

chamado Interplace, que utiliza um complexo algoritmo. O sistema Interplace faz cruzamentos

ponderando os valores atribuídos a um papel e os que foram atribuídos aos outros papéis.

O resultado final conjuga os resultados das auto avaliação e as avaliações dos observadores,

sendo que as avalições dos observadores têm mais peso. O Interplace cruza os dados do inventário de

auto avalição com os resultados das avaliações externas para chegar a esse resultado final Resultado

Global.

Os dados do Teste de Belbin foram tabulados de forma a se comparar o grau de coincidência

entre os resultados da auto avaliação e a avaliação global e as avaliações externas e o resultado global.

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Na tabulação cada sigla de duas letras representa um dos nove comportamentos de Belbin (Tabela

1).

As colunas classificam os comportamentos em três categorias: “Preferido”, “Capaz de assumir” e

“Menos preferido”.

As siglas estão organizadas em três linhas. A 1º linha lista o resultado da auto avaliação; a 2º linha

lista o resultado das avaliações dos avaliadores; a 3º linha lista o resultados das avaliações globais,

que conforme explicado anteriormente, se baseia em um algoritmo que leva em conta o resultado

das auto avaliações, das avaliações externas, e da disposição dos demais resultados dos

comportamentos entre preferido e menos preferido.

Tabela 2: Modelo de tabulação gerada pelo Teste de Belbin – Auto Avaliação5

Preferidos Papéis capaz de assumir Menos preferidos

Part. Perfil 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º

C 1

Auto Avaliação ID IR FI CH ME IS ES CO CE

Avaliação Externa ME ID IS CO ES FI CE CH IR

Global ME ID IS CO ES FI ES CH IR

Fonte: O autor

Tabulação dos Dados da Pesquisa

Os dados foram tabulados em tabela igual à Tabela 3. Considerando que o resultado global leva

em conta primordialmente os resultados das avalições externas, e que estas são tidas como

verdadeiras, os dados tabulados conforme modelo da Tabela 3 devem ser analisado conforma abaixo:

As interseções entre a linha “Auto percepção” com as colunas “N°” e “%” demonstram o grau de

coincidência em número e percentual, respectivamente, entre o resultado da auto percepção e o

resultado global, na última linha;

As interseções entre a linha “Avaliações” e as colunas “N°” e “%” demonstram o grau de

coincidência em número e percentual, respectivamente, entre o resultado das avaliações externas

(dos pares) e o resultado global6, na última linha;

5 LEGENDA: CE: Cérebro; IR: Investigador de Recursos; CO: Coordenador; IS: Impulsor; ME: Monitor; CH: Agregador

(Cohesionador); ID: Implementador; FI: Finalizador; ES: Especialista. 6 Faz sentido que os números das avaliações (externas) sejam maiores, pois, conforme já comentado, nas avalições

globais pesam mais os resultados das avaliações dos avaliadores externos, embora processe também as discrepâncias entre as avaliações dos avaliadores.

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O grau de contribuição de um avaliador a um avaliado está demonstrado nas colunas “N°” e “%”.

Quanto maior diferença a maior da interseção das colunas “N°” e “%” com as linhas “Avaliações”

em relação à interseção entre as mesmas colunas e a linha “Auto percepção”, maior a contribuição

que o avaliador (o outro) pode dar ao avaliado.

A análise descrita nos três pontos acima consiste basicamente na integração do Teste de Belbin

com os conceitos da Janela de Johari, objetivo deste artigo.

Tabela 3: Modelo de Tabulação7

Participante Perfil 1º papel 2º papel 3º papel 4º papel 5º papel 6º papel 7º papel 8º papel 9º papel

Autopercepção ID IR FI CH ME IS ES CO CE 1 11

Avaliações ME ID IS CO ES FI CE CH IR 9 100

Global ME ID IS CO ES FI ES CH IR - -

N° %Preferido Capaz de assumir Menos preferido

C 1

Fonte: O autor

No exemplo mostrado na Tabela 3, houve 100% de coincidência na atribuição dos perfis pelos

avaliadores, e 11% na atribuição resultante da auto avalição.

Na coluna “Participante” estão codificados os avaliados pela pesquisa, sendo que “C” se refere

aos respondentes residentes no Chile, e “B” aos respondentes residentes no Brasil.

Com base nos dados tabulados, dois gráficos (Figuras 3 e 4) foram desenvolvidos, o quais

demonstram a análise da tabulação.

Na Figura 3 o eixo “X” mostra números que representam os participantes da pesquisa, 36 no

total. O eixo “Y” mostra a escala de 0 a 100%. A correlação entre os dois eixos mostra o percentual de

coincidência entre as auto avaliações e as avaliações externas tabulados nas linhas denominadas “Auto

percepção” e “Avaliações” (externas) na Tabela 4.

Figura 3: Comparação entre auto avaliação e avalições externas

7 LEGENDA: CE: Cérebro; IR: Investigador de Recursos; CO: Coordenador; IS: Impulsor; ME: Monitor; CH: Agregador

(Cohesionador); ID: Implementador; FI: Finalizador; ES: Especialista.

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Fonte: O autor

A média de coincidência do percentual entre a auto avaliação e avaliação externa é de 18

pontos. A Figura 3 demonstra que dois dos 36 participantes coincidem suas auto percepções em mais

de 50% com os avaliadores externos. Assim fica caracterizado que em 95% dos casos mais da metade

das características percebidas pelos avaliadores externos não são percebidas na mesma intensidade nas

auto avaliações.

A Figura 3 ajuda a visualizar a concentração de coincidências das avaliações externas com o

resultado global. O eixo “X” mostra números que representam os participantes da pesquisa, 36 no

total. O referido eixo, por conta da formatação mostra os números pares, embora haja 36 pontos. O

eixo “Y” mostra a escala de 0 a 100%.

A correlação entre os dois eixos mostra os resultados da tabulação mostrada na Tabela 7. Os

pontos na linha escura indicam o percentual de coincidência entre as auto avaliações e o resultado

global. Os pontos mostrados na linha clara indicam o percentual de coincidência entre as avaliações

externas e o resultado global.

Figura 4: Comparação entre auto avaliação e avaliações externas com resultado global

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Fonte: O autor

Como se pode notar na Figura 7, quando comparado o resultado das auto avalições com o

resultado global a concentração do resultado está na parte inferior da figura, com média 17% de

coincidência. Quando se compara o resultado das avaliações externas com a o resultado global, aceito

como verdadeiro, o resultado se concentra na parte superior da figura, com 78% de coincidência.

Análise de Resultado e Proposta de Integração

O conceito de área cega da Janela de Johari indica que as pessoas têm comportamentos que elas

mesmas não identificam, mas que são identificados pelo outro.

Assumindo-se o resultado global como verdadeiro, pois se trata principalmente da soma das

percepções de outras pessoas (VAZIRE, 2010 e GALLREIN et al., 2013), a comparação entre os

resultados do Teste de Belbin, que foi demonstrado a Tabela 7, resumida na Tabela 8, demonstra que

os avaliadores foram capazes de reconhecer comportamentos recorrentes nos avaliados que estes não

identificaram em si mesmos.

Em 100% dos casos o número de coincidência dos resultados dos avaliadores externos foi

superior ao resultado das auto avalições. Na média final o percentual de “acerto” dos avaliadores

externos foi de 78%, enquanto o percentual das auto avaliações foi de 17%.

Os resultados tabulados demonstram que os avaliadores externos foram capazes de identificar

mais características presentes nos avaliados que os próprios avaliados foram capazes de identificar.

A Figura 5 foi desenvolvida para ilustrar a integração entre a Figura 7 e a Janela de Johari

(Figura 2). Assumindo-se a totalidade das características individuais (comportamentos e motivações)

concentradas nos quadrantes 1 e 2 da Janela de Johari, respectivamente áreas aberta e cega, e,

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considerando o resultado global como verdadeiro, tem-se que a Área de atividade livre ocupa 82% da

Janela e a Área cega ocupando 17% do total da Janela.

Mesmo que não se advogue aqui que o resultado global seja absoluto, mas, conforme

argumentado (ver Seção 2.3), ele é melhor fonte para conhecimento dos comportamentos de um

indivíduo, a Figura 8 demonstra que os avaliadores externos cobrem uma área 4,8 vezes maior na

Figura 8 que a área coberta pelas auto avaliações.

Figura 5: Janela de Johari modificada

Quadrante 1

Área de

atividade livre

(Aberta)

|-----17%----|

Quadrante 2

Área cega

|-----------------------------------78%-----------------------------------|

Fonte: O autor

Considerando-se que o objetivo deste artigo é integrar o resultado do Teste de Belbin com o

conceito da Janela de Johari, fica demonstrado que os conceitos da área cega da Janela de Johari e a

capacidade do Teste de Belbin de identificar a lacuna entre a auto percepção de comportamentos e a

percepção do outro sobre esses mesmos comportamentos.

Tomando em conta que: a) o propósito do Método de Belbin é o desenvolvimento de times de

alto desempenho; b) o Teste de Belbin é o meio para identificar as características dos indivíduos; c) o

propósito da Janela de Johari é ilustrar relacionamentos em termos de autoconhecimento. d) a base do

conceito da Janela Johari é a existência da área cega que só pode ser acessada com a contribuição do

outro.

Conclusão

Neste estudo foi proposta a integração de dois conceitos, o do Teste de Belbin e da Janela

Johari, com o objetivo de colaborar com tema autoconhecimento e seu impacto no âmbito profissional

e organizacional.

Foram encontradas evidências de que o resultado do Teste de Belbin aplicado reflete a Janela

de Johari. A existência de áreas cegas fica demonstrada ao se analisar os dados tabulados da pesquisa.

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Segundo esta análise, de um total de nove comportamentos e características8, 17%, em média, dessas

características são identificadas nos avaliados tanto pelos próprios avaliados quanto pelos avaliadores.

Enquanto 78%, em média, dessas mesmas características são identificadas pelos avaliadores externos

sem coincidir com as características identificas pelos avaliados neles mesmos.

A pesquisa apresentada se baseia no princípio da “realidade social”, segunda o qual as

impressões consensuais dos outros são válidas medidas sobre a personalidade de um indivíduo.

Não há por parte dos autores estudados, tanto Belbin, Luft e Ingham, quanto os demais

articulistas referenciados, o argumento de que seja factível encontrar o pleno autoconhecimento

(LUFT e INGHAM, 1955). Mas todos se baseiam no princípio de que, se por um lado o pleno

autoconhecimento é uma utopia, por outro, ampliar esse autoconhecimento é possível e útil.

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8 Os nove comportamentos do Teste de Belbin.

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