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1 PROJETO DE PESQUISA A SER SUBMETIDO À CHAMADA UNIVERSAL – EDITAL MCTI/CNPQ Nº 14/2014. I IDENTIFICAÇÃO DA PROPOSTA Título do Projeto: Desenvolvendo o Index para Inclusão na Gerência de Educação da Segunda Coordenadoria Regional de Educação da Rede Municipal da Cidade do Rio de Janeiro. Prazo de Execução: 36 meses (de dezembro de 2014 a novembro de 2017) Proponente: Profa. Dra. Mônica Pereira dos Santos CPF: 751398047-00 Instituição Executante: Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)/Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH)/Faculdade de Educação Comitê Assessor: Educação Área de Conhecimento: Planejamento e Avaliação Educacional II QUALIFICAÇÃO DO PROBLEMA: Introdução O presente projeto fundamenta-se em algumas prerrogativas construídas ao longo de nossos anos de experiência investigando e oferecendo formação continuada a profissionais, instituições e sistemas educacionais sobre o tema da inclusão em educação. Trabalhamos nesta vertente desde os anos 80, quando ainda cursávamos mestrado e, na década seguinte, quando cursamos o doutorado, ambos na Universidade de Londres, e quando tal tema ainda estava em seus primórdios em termos de interesse ou campo específico de investigação na área da educação. Ao retornarmos para o Brasil, continuamos trabalhando esta vertente temática em projetos de pesquisa e extensão, como também em nossas práticas docentes. Em todos estes anos investigando e atendendo a escolas públicas e sistemas educacionais (municipais e estaduais), vimos percebendo que, apesar dos esforços nas e das práticas sociais e da proliferação de políticas públicas versando sobre inclusão sobre e dentro das variadas modalidades de educação no Brasil, a queixa permanece a mesma: a escola (e os profissionais da educação) não estão preparados para a inclusão. Estas queixas acontecem até mesmo no nível da gestão de sistemas educacionais,

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PROJETO DE PESQUISA A SER SUBMETIDO À CHAMADA UNIVERSAL

– EDITAL MCTI/CNPQ Nº 14/2014.

I – IDENTIFICAÇÃO DA PROPOSTA

Título do Projeto: Desenvolvendo o Index para Inclusão na Gerência de Educação da

Segunda Coordenadoria Regional de Educação da Rede Municipal da Cidade do Rio

de Janeiro.

Prazo de Execução: 36 meses (de dezembro de 2014 a novembro de 2017)

Proponente: Profa. Dra. Mônica Pereira dos Santos

CPF: 751398047-00

Instituição Executante: Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)/Centro de

Filosofia e Ciências Humanas (CFCH)/Faculdade de Educação

Comitê Assessor: Educação

Área de Conhecimento: Planejamento e Avaliação Educacional

II – QUALIFICAÇÃO DO PROBLEMA:

Introdução

O presente projeto fundamenta-se em algumas prerrogativas construídas ao longo de

nossos anos de experiência investigando e oferecendo formação continuada a

profissionais, instituições e sistemas educacionais sobre o tema da inclusão em

educação. Trabalhamos nesta vertente desde os anos 80, quando ainda cursávamos

mestrado e, na década seguinte, quando cursamos o doutorado, ambos na

Universidade de Londres, e quando tal tema ainda estava em seus primórdios em

termos de interesse ou campo específico de investigação na área da educação. Ao

retornarmos para o Brasil, continuamos trabalhando esta vertente temática em

projetos de pesquisa e extensão, como também em nossas práticas docentes.

Em todos estes anos investigando e atendendo a escolas públicas e sistemas

educacionais (municipais e estaduais), vimos percebendo que, apesar dos esforços nas

e das práticas sociais e da proliferação de políticas públicas versando sobre inclusão

sobre e dentro das variadas modalidades de educação no Brasil, a queixa permanece a

mesma: a escola (e os profissionais da educação) não estão preparados para a inclusão.

Estas queixas acontecem até mesmo no nível da gestão de sistemas educacionais,

Administrador
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formais e não formais, de redes públicas e privadas, em variadas modalidades e níveis

de ensino, conforme temos verificado nos últimos anos (SANTOS, 1995, 2009,

2013).

Neste projeto problematizamos este despreparo. A partir de nossas investigações e

perspectiva analítica sobre inclusão, perguntamo-nos se se trata de um despreparo

efetivamente técnico (do tipo não saber o que fazer), ou se se trata de um despreparo,

digamos, ético (do tipo sabe-se o que fazer, mesmo que intuitivamente, mas, por

vezes, opta-se por não se fazer), por uma série de questões: de (des)crença no ideário

de inclusão, apego a velhas práticas, condições de trabalho, momento histórico-

político das categorias de profissionais da educação, e assim sucessivamente.

Partimos da hipótese de que tal despreparo se dá mais por questões éticas (que aqui

consideramos compostas por três dimensões, que explicaremos mais adiante: das

culturas, das políticas e das práticas) do que técnicas propriamente ditas. Em

complemento a esta hipótese, também supomos que quanto mais uma gestão se

empenha em um processo de autorrevisão de seus valores, de seu próprio estilo de

gestão, de suas diretrizes (se necessário for), e de suas práticas, maiores são as chances

de que o público alvo de sua gestão seja contagiado1 por uma ética cujos princípios

impliquem no engajamento em processos cotidianos e transformadores na e da escola.

Uma ética de princípios investigativos, por assim dizer, que promova a coragem para

descobrir e reconhecer o que está provocando exclusões e combater, moto contínuo

e cada vez mais, tais situações. E mais: quanto mais abrangente for o nível da gestão

(de uma área político-geográfica, de um sistema, ou de toda uma rede, para além de

puramente institucional), maiores os possíveis impactos sobre o público alvo.

Assim sendo, o problema de fundo que permeia a presente pesquisa traduz-se na

seguinte indagação: Se conseguíssemos construir um processo de autorrevisão na e da

gestão local de um sistema educacional público, provocaríamos impactos de aumento

nas culturas, políticas e práticas de inclusão no cotidiano das escolas de sua jurisdição?

1 Utilizamos o termo contágio, aqui, não no sentido estrito utilizado pelo campo da Saúde (de transmissão e contaminação de uma doença), mas no sentido de transmissão de um estado positivo e animado de espírito, que inspire iniciativas de sair de zonas culturais, políticas e práticas de conforto, como proporá a perspectiva omnilética, mencionada mais adiante.

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Breve histórico

Desde 2012 desenvolvemos uma pesquisa em uma escola da Segunda Coordenadoria

Regional da Rede Municipal do Rio de Janeiro (2ª CRE2) com uma equipe de

professores e outros profissionais. A pesquisa, cujo delineamento metodológico é o

de uma pesquisa-ação, vem passando por inúmeras fases que promoveram momentos

de reflexão e de tomada de decisões coletivas, na busca pela participação de todos os

sujeitos envolvidos. No atual momento (junho de 2014), estamos auxiliando a escola

na revisão e reconstrução do seu próprio Projeto Político Pedagógico (PPP). Todas as

ações desenvolvidas na pesquisa tomam como base o Index para Inclusão3 (BOOTH e

AINSCOW, 2011), instrumento de reflexão-ação que, desenvolvido com o apoio da

análise omnilética4, coloca as instituições que o desenvolvem em contínua mobilização

e autodesenvolvimento.

Diante da abrangência do projeto e de sua repercussão positiva na 2ª Coordenadoria

Regional de Educação (CRE), Coordenação Regional na qual se localiza a escola e a

cuja jurisdição ela pertence, fomos convidados para uma reunião com a Equipe

Gestora da Gerência de Educação (GED) da 2ª CRE do município do Rio de Janeiro,

tendo em vista apresentarmos o nosso trabalho na referida escola com mais detalhes,

com o objetivo de iniciarmos uma parceria que pudesse abranger mais escolas em um

novo projeto piloto com o apoio do Index para Inclusão. Durante a reunião,

entretanto, a equipe da GED percebeu que o trabalho do Index é de uma abrangência

que extrapola os muros das escolas, podendo ser, também, contemplado em nível

gestor (central e/ou local) da Rede. Sendo assim, a Gerente da GED nos solicitou –e

assim ficou, portanto, combinado – que, antes de construirmos o projeto piloto com

abrangência de mais escolas, desenvolvêssemos o Index para Inclusão com sua própria

equipe gestora (a da GED/2ª CRE). Assim surgiu o presente projeto.

Referencial Analítico-teórico

Dissemos acima que as queixas quanto a um suposto despreparo dos profissionais da

educação para desenvolverem processos de inclusão na escola têm sido numerosas e

atreladas a variados segmentos: professores, gestores, educadores em geral. No

entanto, quando chegamos aos campos investigados, percebemos que os profissionais

2 A Secretaria de Educação do município do Rio de Janeiro é composta por 11 coordenadorias, que têm por função acompanhar, avaliar e orientar as escolas no tocante à implementação de políticas públicas de educação. A 2ª CRE é responsável por 148 escolas distribuídas por 34 bairros da cidade do Rio de Janeiro, que correspondem a 9,2% do universo de 1617 unidades escolares do município. É a 3ª. maior CRE do referido município. 3 Este instrumento será mais detalhadamente apresentado em seção posterior. 4Conforme explicaremos adiante.

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da escola ou dos sistemas não estão tão despreparados assim, mas sentem-se como tal.

É que o tema da inclusão está atrelado a certas peculiaridades que, se não

compreendidas, geram muita frustração, até porque, seu caráter processual nos impõe

revisões e redirecionamentos de decisões, pensamentos e ações a todo momento,

cotidianamente.

Uma das peculiaridades a que nos referimos diz respeito, justamente, a este caráter

processual. Inclusão não é, como temos repetidamente defendido e mostrado em

nossos estudos e por meio dos estudos de outros colegas (SANTOS, 2009, 2013;

SANTOS & PAULINO, 2008; MELO, 2010; FREITAS, 2010; SANTIAGO, 2011;

SENNA, 2014), um estado final ao qual se pretenda chegar, mas um processo

interminável, dialético e complexo, de luta e combate ao seu oposto plural e

complementar: as exclusões. Ao se encará-la como tal processo, pode-se concluir que

uma pessoa, grupo, instituição ou mesmo país, sempre serão, ao mesmo tempo, tanto

inclusivos quanto excludentes, não sendo possível, neste viés, se fazer uma medição de

grau de inclusividade, como muitos gostariam. Neste sentido é que é possível afirmar

que, ao invés de não estarmos preparados, talvez o mais apropriado seja reconhecer

que não nos sentimos preparados.

A partir deste raciocínio, também é possível compreender (e aqui está uma segunda

peculiaridade) que uma efetiva análise sobre inclusão/exclusão não pode se dar em

termos de certo ou errado. Isto congelaria a visão processual, dando uma impressão

(ilusória) de que nada mais se necessitaria perceber e fazer quanto às exclusões a partir

do momento em que tivéssemos alcançado e estágio “certo” ou “correto” de inclusão.

Assim, parece-nos mais producente que tal análise se faça em termos de

reconhecimento do que se tem de inclusivo e de excludente ao mesmo tempo, tendo em

vista os aspectos relativos implícitos à compreensão da relação processual entre

inclusão e exclusão, como por exemplo: quem são os sujeitos excluídos? Ou: quais são os

lugares da exclusão? Ou ainda: em que condições (históricas, políticas, culturais, econômicas,

práticas, etc....) as exclusões se verificam? E tantos outros.

Por este motivo, vimos desenvolvendo uma perspectiva de análise que intitulamos de

omnilética (SANTOS, 2013). Trata-se de uma construção conceitual que reúne as

noções de dialética, complexidade e tridimensionalidade para compreender os

processos de inclusão/exclusão. O ponto de partida está no reconhecimento de três

dimensões (a tridimensionalidade) que perpassam os fenômenos sociais e humanos: a

dimensão cultural, a política e a prática (BOOTH, 2005).

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A dimensão das culturas refere-se aos valores, à subjetividade, a representações,

crenças, justificativas e certezas presentes nas vidas humanas, das quais podemos ter

consciência ou não. A dimensão das políticas reflete-se nos documentos, ordens

(inclusive verbais), decisões e acordos que têm por intenção orientar as ações dos

sujeitos: no caso de escolas, as regras, o currículo, as circulares, são alguns exemplos

desta dimensão. No caso da gestão local da Rede, as orientações curriculares, as

políticas de avaliação, as diretrizes sobre o funcionamento da escola, das matrículas,

do calendário acadêmico, e tanto mais, seriam alguns exemplos. A dimensão das

práticas refere-se ao que acontece cotidianamente na docência, na aprendizagem, na

gestão (da rede, da escola e da sala de aula), no engajamento dos sujeitos, enfim, aos

seus fazeres e a como se é: como se planeja, como se executa, como se ensina, como

se aprende, como se administra, etc.

Estas dimensões coexistem dialética e historicamente, e são perceptíveis desde as

ações mais micro às mais macro, como também em todas as políticas e valores

presentes na vida institucional ou do sistema, explícitos ou não. Como esta

coexistência é dialética, e também historicamente situada, esta relação tridimensional

é, também, complexa (MORIN, 1977), pois aponta para um exponencial de

possibilidades, visíveis ou potenciais, sobre o que se priorizar e fazer. A ideia de

complexidade no conceito de omnilética implica em compreender o conceito de

pensamento complexo, de Morin (2001):

O pensamento complexo parte dos fenômenos simultaneamente complementares, concorrentes, antagônicos, respeita as coerências diversas que se associam em dialógicas ou polilógicas e, por isso, enfrenta a contradição por vias lógicas. O pensamento complexo é o pensamento que quer pensar em conjunto as realidades dialógicas/polilógicas entrelaçadas juntas (complexos) (MORIN, 2001, p. 432).

Assim, compreender o universo educacional em uma perspectiva omnilética significa

tentar reconfigurar nossa percepção dos fenômenos culturais, políticos e práticos

(como aqui os entendemos) ali presentes (mesmo que invisíveis a priori) e nosso

entendimento de sua tridimensionalidade dialética e histórica a partir da tentativa de

visualizar o que ainda não seja visível, encarar o que ainda nos seja estranho, imaginar

o que ainda não seja passível de concepção em uma primeira mirada, mas que ali está

como possibilidade.

Ou seja, pensar omnileticamente é (também) pensar complexamente. A diferença entre

complexidade e omnilética é que a ideia da omnilética é reforçada por seu “tempero”

triádico: o das dimensões de construção de culturas, desenvolvimento de políticas e

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orquestração de práticas (BOOTH e AINSCOW, 2002) e pela visão destas dimensões em

uma relação dialética uma com a outra.

Quanto ao conceito de dialética, adotamos, na perspectiva omnilética, a releitura, de

Hegel proposta por Marx, que lhe resgata a materialidade histórica em O Capital:

A mistificação que a dialética sofre nas mãos de Hegel não impede, de modo algum, que ele tenha sido o primeiro a expor as suas formas gerais de movimento, de maneira ampla e consciente. É necessário invertê-la, para descobrir o cerne racional dentro do invólucro místico. [...] Em sua configuração racional (a dialética) é um incômodo [...] porque ela inclui, ao mesmo tempo, o entendimento da sua negação, da sua desaparição inevitável; porque apreende cada forma existente no fluxo do movimento, portanto também com seu lado transitório; porque não se deixa impressionar por nada e é, em sua essência, crítica e revolucionária. (MARX, 1996, p. 274-275).

Nas palavras de Konder (1981, p. 36), ao apresentar o conceito marxista de dialética,

Para a dialética marxista, o conhecimento é totalizante e a atividade humana, em geral, é um processo de totalização, que nunca alcança uma etapa definitiva e acabada. [...] Qualquer objeto que o homem possa perceber ou criar é parte de um todo. Em cada ação empreendida, o ser humano se defronta, inevitavelmente, com problemas interligados. Por isso, para encaminhar uma solução para os problemas, o ser humano precisa ter uma certa visão de conjunto deles: é a partir da visão do conjunto que a gente pode avaliar a dimensão de cada elemento do quadro.

Assim, no que tange ao campo da educação, pensar omnileticamente a inclusão significa

pensá-la a partir destas três dimensões de análise, com base nas quais compreendemos

os sujeitos, seus valores e representações (culturas) em jogo em dada arena social (um

grupo, uma instituição, um sistema, etc....) e em estreita relação com o

desenvolvimento de políticas (aqui entendidas como decisões que expressam intenções

organizadas reflexivamente, de modo a orientarem ações e contraditoriamente – ou

não – fundamentadas nas culturas), que se revertem (ou não, dada sua dialeticidade e

complexidade, uma vez mais) efetivamente em práticas orquestradas ao longo do

cotidiano e história educacionais, as quais, por sua vez, podem servir de base para que

novas culturas se desenvolvam, tanto quanto para que novas políticas sejam traçadas,

e assim sucessiva e infinitamente.

Da mesma maneira, o desenvolvimento de políticas tanto se inspira nas culturas e nas

práticas, como dito acima, quanto inspira a construção de novas culturas e novas

orquestrações práticas. A complexidade omnilética reside em que as dimensões, além de

apresentarem forte potencial contemplativo e explicativo de fenômenos sociais (em

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particular os processos de inclusão/exclusão), não se hierarquizam em importância:

todo fenômeno humano e social as contêm e estão nelas contidos, a um mesmo e só

tempo e espaço, ainda que aparentemente imperceptíveis, por vezes.

Compreendida assim, a educação deixa de ser vista como mera ferramenta para ser

concebida como um processo que não deve perder de vista o diálogo e crescimento

de todos os partícipes por meio de práticas educacionais e de gestão mais dialógicas e

menos centralizadas em certos papéis. Cremos que, assim, as responsabilidades

passam a ser coletivamente percebidas como de todos e, por isso mesmo,

compartilhadas, ainda que por processos não livres de tensões.

Justificativa

Considerando, principalmente, que esse projeto prevê o diálogo com e na gestão e,

ainda, a autorrevisão das ações em prol da inclusão da – e na – equipe da Gerência de

Educação da 2ª CRE, o mesmo se justifica pelo processo de reflexão-ação que causará

no trabalho dessa equipe e, consequentemente, nas escolas da Rede coordenadas por

ela. Isso porque se entende, aqui, que inclusão é processo omnilético de (re)construção

dialética, complexa, contínua e coletiva de culturas, políticas e práticas que envolvem

todos os sujeitos da educação.

Nesse sentido, com a preocupação de, colaborativamente, buscar soluções para os

processos de exclusão que possam estar intrinsecamente ligados aos processos de

gestão de uma rede educacional, o presente projeto, visa mapear dificuldades,

oferecer alternativas de modificação de planejamento e auxiliar a equipe da GED/2ª

CRE em suas práticas cotidianas e em direção ao desenvolvimento de culturas,

políticas e práticas de inclusão na rede educacional local pela qual seja responsável.

Deste modo, este projeto justifica-se também porque, além de reunir Universidade e

Educação Básica, possibilita a criação de estratégias que poderão auxiliar a melhora e

compreensão de tais dificuldades por parte do corpo gestor, visando o melhor

desempenho da educação como um todo, e o maior sucesso de suas escolas, em

particular.

Vale ressaltar que o Index para a Inclusão, anteriormente mencionado e a ser utilizado,

no presente projeto, como instrumento estratégico de início da pesquisa, tem sido

desenvolvido internacionalmente em vários contextos que extrapolam os das escolas.

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Aqui no Brasil, somos parte da Rede Internacional do Index para a Inclusão5, que

reúne pesquisadores de vários países em uma grande rede colaborativa e

disseminadora do Index. No contexto brasileiro, além de sermos os tradutores e

principais responsáveis pelo Index – versão brasileira, somos os responsáveis pela

organização da rede em nível nacional, para o quê já contamos com a participação de

várias universidades e instituições públicas interessadas em desenvolver o Index, ou

que já trabalham com o mesmo6. Isto faz deste projeto uma iniciativa relevante na

medida em que, politicamente falando, consolida ações em curso da referida rede,

nacional e internacionalmente, em termos de ações de pesquisa, ensino e extensão e

sob a organização de uma equipe de universidade pública (a nossa, da UFRJ) e com a

participação de outras instituições públicas, o que valoriza os trabalhos das instituições

públicas do país, sejam de ensino ou não.

No que tange às políticas públicas de educação, este projeto se justifica pelo fato de

atender à orientação das diretrizes de várias delas, seja no que diz respeito á

organização da educação como um todo, seja no que concerne especificamente a

aspectos particulares da mesma, como, por exemplo, a gestão – foco de nosso

interesse específico no presente projeto. O Plano de Desenvolvimento da Educação

(PDE 2007), por exemplo, deixa claro que é preciso, para o desenvolvimento da

educação no país, promover uma gestão participativa das Redes de ensino princípio

este intimamente vinculado à promoção de inclusão em educação, tendo em vista o

conceito de participação, hoje visto como um de seus pilares (BOOTH, 2002; 2011).

O recém aprovado Plano Nacional de Educação (BRASIL, 2014), em seu artigo 2º,

estabelece suas diretrizes, todas estreitamente vinculadas ao ideário de inclusão:

I - erradicação do analfabetismo; II - universalização do atendimento escolar; III - superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da cidadania e na erradicação de todas as formas de discriminação; IV - melhoria da qualidade da educação; V - formação para o trabalho e para a cidadania, com ênfase nos valores morais e éticos em que se fundamenta a sociedade;

5Sítio eletrônico: http://www.indexforinclusion.org/index.php 6 Convém assinalar que o presente projeto é parte de um projeto maior de desenvolvimento da inclusão em educação, em rede (intitulado Grupo Internacional de Inclusão em Educação – GRIINE, também coordenada por nós e vinculada à Rede do Index), que tem como aporte metodológico o Index. Participam dele: outras universidades públicas latinoamericanas, secretarias estaduais e municipais de educação, o Tribunal de Contas e Gestão do estado do Rio de Janeiro, havendo previsão de ampliação do projeto (e do Grupo, assim como da Rede) tendo em vista o interesse de novas instituições em participarem do mesmo, à medida que o Index tem se tornado cada vez mais conhecido, junto com nossa perspectiva omnilética de análise.

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VI - promoção do princípio da gestão democrática da educação pública; VII - promoção humanística, científica, cultural e tecnológica do País; VIII - estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do Produto Interno Bruto - PIB, que assegure atendimento às necessidades de expansão, com padrão de qualidade e equidade; IX - valorização dos (as) profissionais da educação; X - promoção dos princípios do respeito aos direitos humanos, à diversidade e à sustentabilidade socioambiental.

De acordo com Santos & Senna (2012), o Plano de Metas Compromisso Todos pela

Educação, integrado ao PDE e amparado legalmente pelo Decreto 6. 094 de 24 de

abril de 2007, estabelece 28 diretrizes que devem ser adotadas nos âmbitos municipal,

estadual e federal na gestão das redes e escolas para a melhoria da educação. Dentre

elas, destacamos duas diretrizes:

XXI - zelar pela transparência da gestão pública na área da educação, garantindo o funcionamento efetivo, autônomo e articulado dos conselhos de controle social; XXII - promover a gestão participativa na rede de ensino (BRASIL, 2007) (grifos nossos).

Essas diretrizes, especificamente, fundamentam, em termos de políticas públicas, a

importância de se desenvolver pesquisas com e na gestão das redes e nas/das escolas,

tendo em vista o desenvolvimento da gestão pública transparente e participativa,

capaz de auto rever suas culturas, políticas e práticas de inclusão e, principalmente,

de colocar em prática planos de ações que possam mobilizar toda a Rede.

Em relação à importância do trabalho colaborativo aqui pretendido, o mesmo se

respalda também na concepção e na orientação do Plano de Desenvolvimento da

Educação que considera o regime de colaboração um “imperativo inexorável”

(BRASIL, 2007b). É importante destacar que o envolvimento da gestão em iniciativas

que primam pelo trabalho em redes colaborativas é fundamental para o

desenvolvimento da educação no país, visto que em colaboração:

[...] os membros de um grupo se apoiam, visando atingir objetivos comuns negociados pelo coletivo, estabelecendo relações que tendem à não-hierarquização, liderança compartilhada, confiança mútua e co-responsabilidade pela condução das ações (DAMIANI, 2008, p. 215).

Desse modo, consideramos que o presente projeto consolida uma rede colaborativa

não apenas entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro – representada pelo nosso

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grupo de pesquisa7 - e a Gerência de Educação da 2ª CRE, mas, principalmente, entre

grupos preocupados com o processo de inclusão/exclusão em educação no país e no

mundo e, aqui, particularmente, a Rede do Index para Inclusão e o Grupo

Internacional de Pesquisadores em Inclusão em Educação.

III- OBJETIVOS E METAS A SEREM ALCANÇADOS:

Objetivos:

Objetivo Geral:

Instituir uma cultura de autorrevisão junto à Equipe da Gerência de Educação da 2ª

Coordenadoria Regional de Educação do município do Rio de Janeiro, tendo em vista

uma orientação inclusiva de gestão e seus respectivos impactos no cotidiano das

escolas de sua jurisdição.

Objetivos Específicos:

1) Levantar a percepção do trabalho relativo à inclusão que a GED/2ª CRE realiza

com as escolas sob sua responsabilidade, por meio de questionários a seus

coordenadores pedagógicos;

2) Desenvolver culturas, políticas e práticas de inclusão com a equipe da Gerência

de Educação da 2ª. Coordenadoria Regional de Educação do município do Rio

de Janeiro, por meio do desenvolvimento de um Index para a Inclusão da

própria GED;

3) Analisar os reflexos do processo descrito no segundo objetivo específico,

tendo em vista avaliar o projeto em si após um ano de execução, e levantar de

novas prioridades de reflexão-ação com a Gerência, a partir da percepção de

seus jurisdicionados.

Metas:

1. Instituir processo de auto revisão na gestão, por meio do desenvolvimento do

INDEX para a inclusão.

7LaPEADE: Laboratório de Pesquisa, Estudos e Apoio à participação e à Diversidade em Educação, vinculado ao Programa de pós-graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (www.lapeade.com.br)

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2. Construir uma Rede de Colaboração entre Universidade e Gerência de Educação

da Segunda Coordenadoria Regional de Educação da Rede Municipal do Rio de

Janeiro.

3. Fomentar uma cultura de gestão orientada para a inclusão na 2ª CRE.

IV – METODOLOGIA:

Abordagem teórico-metodológica:

O presente projeto é de cunho predominantemente qualitativo, na medida em que

nossa equipe encaixa-se, em termos de posicionamento em pesquisa, nos cinco

princípios de uma investigação qualitativa propostos por Bogdan e Biklen (1994, p.

47-51), ou seja: (1) nossa fonte direta de dados será o próprio ambiente em que

transitaremos, e no qual também atuaremos como instrumento de investigação; (2)

nosso objetivo maior é descrever, e não, necessariamente, explicar relações causais (a

exemplo do que se proporia a fazer um estudo experimental, por exemplo); (3)

estamos mais interessados nos processos de desvelamento de exclusões e

desenvolvimento de inclusão do que, puramente, nos produtos (em que pese estes

também serem de nosso interesse); (4) nossa análise segue uma perspectiva própria,

de estilo indutivo de pensamento; e (5) damos enorme valor e prestamos considerável

atenção aos processos de significação em ação ao longo da pesquisa, seja por parte do

campo, seja por nossa própria parte (não somos neutros, embora sejamos

cuidadosos).

Nas palavras dos próprios autores (idem, p. 51), eis o tipo predominante de postura,

adotado por nossa equipe:

Os investigadores qualitativos em educação estão continuamente a questionar os sujeitos de investigação, com o objectivo de perceber "aquilo que eles experimentam, o modo como eles interpretam as suas experiências e o modo como eles próprios estruturam o mundo social em que vivem" (Psathas, 1973). Os investigadores qualitativos estabelecem estratégias e procedimentos que lhes permitam tomar em consideração as experiências do ponto de vista do informador. O processo de condução de investigação qualitativa reflete uma espécie de diálogo entre os investigadores e os respectivos sujeitos, dado estes não serem abordados por aquele de forma neutra.

Em termos de delineamento, fundamenta-se metodologicamente pela pesquisa-ação,

pois acreditamos que essa metodologia nos dará suporte para atender aos vieses aqui

expostos para ensino, pesquisa e extensão que serão desenvolvidos no projeto.

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A pesquisa-ação é um método de investigação em que existe a possibilidade de diálogo

entre o pesquisador e os educadores participantes, em um envolvimento de ajuda

mútua para a solução de um problema detectado. Thiollent afirma que a pesquisa-ação

é:

[...] um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. (THIOLLENT, 1996, p.14).

Desse modo, a pesquisa-ação estimula a participação de toda a equipe gestora, abrindo

possibilidades de descobertas, por meio da reflexão-ação, para descortinar uma

variedade de respostas, com a dedução da melhor resposta possível para solucionar o

problema em questão em dado momento.

Nessa perspectiva, a pesquisa-ação visa superar a separação entre conhecimento e a

prática de gestão, bem como fazer uma ligação entre o conhecimento desenvolvido

dentro do ambiente acadêmico da universidade, e as atividades desenvolvidas dentro

da rede de ensino da educação básica, tornando-se possível interligar teoria e prática.

O processo inicia-se com a inserção in lócus dos pesquisadores no campo (a

Coordenadoria), fazendo análise da realidade e dos problemas existentes junto e com

a participação da instituição interessada e seus integrantes, coletando dados para o

desenvolvimento da pesquisa.

Os pesquisadores fazem o levantamento das necessidades, levando os participantes a

refletirem, emitirem pareceres e, conjuntamente, desenvolverem prioridades. É o

momento de aprofundar conhecimentos, solucionar dúvidas e desenvolver propostas

para a solução do problema detectado.

Identificado o ponto prioritário de partida para o início do projeto, sua continuidade

caracteriza-se por “idas e vindas”: as prioridades são tecnicamente discutidas,

problematizadas, associadas às possíveis soluções, as quais, por sua vez, serão aplicadas

e coletivamente avaliadas em sua eficácia, para então, sempre que for o caso, serem

redirecionadas.

A avaliação e a auto avaliação são, assim, partes integrantes e constantes de todo o

processo da pesquisa-ação. Todo esse processo deve ser registrado por meio de

cadernos de campo, por filmagem e por fotografias para a produção de material de

análise e de construção coletiva de um trabalho crítico e reflexivo, configurando um

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processo de engajamento gradativo dos participantes. No caso do presente projeto, o

foco principal é a gestão local da rede de ensino.

Thiollent (2002), citando Stringer (1999), afirma que:

[...] em um processo de pesquisa-ação, segundo Ernest Stringer, a participação é mais efetiva quando: “Possibilita significativo nível e envolvimento; Capacita as pessoas na realização de tarefas; Dá apoio às pessoas para aprenderem a agir com autonomia; Fortalece planos e atividade que as pessoas são capazes de realizar sozinhas e Lida mais diretamente com as pessoas do que por intermédio de representantes ou agentes” (THIOLLENT, 2002, p.35).

O objetivo central da pesquisa-ação é fomentar novas informações, gerar

conhecimentos teórico-práticos em uma via de mão dupla, e produzir soluções para

o contexto pesquisado. Consequentemente, precisa haver a colaboração e a busca pela

veracidade dos fatos, em um trabalho coletivo. Para ele, “a produção de resultados

pela coletividade e o subsequente feedback dão à pesquisa e às ações propostas uma

legitimidade que é difícil apagar por medidas burocráticas” (THIOLLENT, 1996,

p.61).

Em complemento a esta abordagem metodológica, utilizamos como arcabouço

conceitual nossa perspectiva omnilética de inclusão-exclusão em educação, conforme

explicada na seção anterior.

Instrumentos de coleta de dados:

Para o desenvolvimento de uma pesquisa são necessários alguns instrumentos de

coleta de dados, os quais darão os subsídios necessários para, após a análise dos

mesmos, chegar-se a conclusões e/ou novas proposições. Além disso, a variedade de

instrumentos permite-nos realizar a triangulação, aumentando, assim, a

confiabilidade de nossas análises. Assim sendo, os instrumentos de coleta serão:

levantamento documental, diários de campo; relatórios; questionários; filmagem e

fotografia.

Procedimentos de coleta dos dados:

A pesquisa documental consistirá do levantamento de diretrizes, circulares,

portarias, regimentos, regulamentos e/ou outros documentos normativos, tendo em

vista enriquecer o universo dos dados e a análise e discussão dos mesmos, na medida

em que poderão servir como parâmetros de análise a respeito do que se diz e do que

se faz, identificando momentos de convergência e divergência entre o discurso oficial

e as práticas.

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O diário de campo é um instrumento importante na pesquisa-ação, pois permite

o registro diário para gerar um histórico de desenvolvimento de pesquisa, já que pode

incluir um resumo dos acontecimentos, bem como conversas, debates, opiniões,

questões a serem aprofundadas, observações de eventos e/ou fatos, planejamento

para o próximo dia. Portanto, este instrumento será utilizado para registrar todos os

encontros de pesquisa com o campo.

Os relatórios dão-se, ao longo da pesquisa, de forma parcial. E ao final, na forma de

Relatório Final, ou de Pesquisa. Nos relatórios, apresenta-se (parcial ou finalmente,

conforme for o caso) as informações pertinentes ao estudo, com descrição dos fatos,

dados, procedimentos utilizados e resultados obtidos com o desenvolvimento do

trabalho. A cada momento acordado com o grupo participante da pesquisa, estes

relatórios são checados, de forma que sua produção final seja mais coletiva do que

apenas dos pesquisadores. Vale dizer que eles, em si mesmos, constituem mais um

tipo de dados, tendo em vista que sua produção será coletiva, de alguma forma

refletindo posicionamentos diferenciados entre os envolvidos.

Os questionários visam à identificação da opinião dos pesquisados a respeito do

trabalho em inclusão que estará sendo desenvolvido pela GED/2ª CRE antes, durante

e depois da execução da pesquisa. Segundo Gil (1994, p. 124), o questionário tem

como objetivo “o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses,

expectativas, situações vivenciadas, etc.”. Portanto, esses questionários serão

aplicados sempre que necessário durante a realização da pesquisa tendo como objetivo

obter a visão dos participantes indiretos sobre o assunto em investigação e análise.

A filmagem e a fotografia servirão como subsídios de avaliação dos procedimentos

realizados durante a pesquisa, que permitirão preservar o momento de participação

e de ação dos pesquisados. Segundo Belei et al (2008) uma das vantagens em se utilizar

de filmagem (e nós estendemos esta ideia ao uso da fotografia) está em que:

[...] outros pesquisadores ou colaboradores (juízes) também podem fazer uso do material coletado. Torna-se possível analisar todo o material de pesquisa e manter a neutralidade dos dados. Sendo assim, o uso do vídeo permite um certo grau de exatidão na coleta de informações, uma comprovação frente aos tradicionais questionamentos da subjetividade da pesquisa qualitativa (p. 192)

Em paralelo ao uso destes instrumentos, reuniões periódicas extra-calendário para

planejamento, avaliação e esclarecimento, costumam ser necessárias e parte

corriqueira da pesquisa-ação.

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Procedimentos de análise dos dados:

A análise, descrição e interpretação dos dados, segundo Gil (1994, p. 166) “tem como

objetivo organizar e sumariar os dados de forma tal que possibilitem o fornecimento

de respostas ao problema proposto de investigação”. Dessa forma, será feita uma

leitura crítica e reflexiva a respeito dos dados obtidos, tendo por base nossa

construção conceitual sobre a omnilética inclusão-exclusão, que nos permitirá

identificar, em processo, mudanças ocorridas e verificar se os objetivos foram

atendidos.

De posse de todos esses dados coletados, intencionamos a publicação de um livro

narrando tal experiência. A elaboração de um livro como apresentação dos impactos

gerados com a ação do LaPEADE nas pesquisas e projetos de extensão já é uma

tradição em nosso laboratório.

Plano de trabalho:

Serão organizados encontros quinzenais de duas horas entre pesquisadores e

participantes em que serão promovidas discussões sobre a reflexão da prática, a

criação de novas estratégias na gestão do cotidiano, a percepção dos valores

intrínsecos à prática de gestão, tendo as questões do Index para a Inclusão como ponto

de partida, e tendo por finalidade desenvolver, em processo de pesquisa-ação, o Index

da própria GED, focalizado na temática da gestão. Esperamos, assim, desencadear uma

leitura crítica e reflexiva dos dados em processo por parte dos envolvidos, para que,

cada vez mais, se desenvolvam práticas, culturas e políticas que minimizem as

situações de exclusão verificadas entre/na equipe gestora ou como fruto da sua gestão.

Outros encontros e ações de formação que se façam necessários ao longo do projeto

poderão ser, também, executados.

Pela nossa experiência em desenvolver o Index via pesquisa-ação em outras

instituições e com o aprofundamento desejável, estamos propondo um período de 3

anos de duração do projeto, tendo em vista garantir tempo suficiente para o

desenvolvimento do index, para a aplicação, tratamento e análise parciais e finais dos

questionários a serem aplicados aos coordenadores das escolas jurisdicionadas a serem

selecionadas, a construção e publicação (coletiva) do livro que pretendemos editar

como produto final da pesquisa, e outras ações que, certamente, irão surgindo ao

longo da pesquisa-ação, justamente por ser pesquisa-ação – e, portanto, nem sempre

tão passível de previsão.

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Aspectos Éticos da Pesquisa:

O projeto está sendo submetido à avaliação ética pelo Comitê de Ética em Pesquisa

por meio da Plataforma Brasil.

V – CONTRIBUIÇÕES CIENTÍFICAS E TECNOLÓGICAS:

Este projeto possibilitará, de início, as seguintes contribuições (e não descartando

outras, igualmente prováveis, que irão aparecendo ao longo da pesquisa):

1) Conhecimento teórico fundamentado, tanto epistemologicamente, quanto em

práticas sociais, sobre o tema da inclusão/exclusão em educação;

2) Um livro em que discutiremos a experiência em si, do ponto de vista teórico,

de metodologia de pesquisa e técnico-pedagógico;

3) O Index para a Inclusão voltado para a gestão educacional;

4) Artigos a serem publicados, trabalhos a serem apresentados, e materiais

pedagógicos que sejam idealizados e construídos;

5) Fortalecimento de Redes Científicas de Cooperação, nacional e internacional,

sobre a temática da inclusão/exclusões.

VI – ORÇAMENTO DETALHADO (OBS: ESTES RECURSOS ESTÃO SENDO SOLICITADOS ÀS

AGÊNCIAS DE PESQUISA E CONSTAM DO PRESENTE PROJETO SOMENTE PARA

CONHECIMENTO POR PARTE DO COMITÊ AVALIADOR):

CUSTEIO – Material de Consumo

Quantidade ESPECIFICAÇÃO Total

Parcial (R$) TOTAL

FINAL (R$)

10 pacotes Papel Fotográfico 180g A4 Glossy

100 Folhas 40,00 400,00

50 cartuchos pretos

50 cartuchos pretos para impressora HP Deskjet D2460

49,90 2.495,00

25 cartuchos coloridos

25 cartuchos coloridos para impressora HP Deskjet D2460

59,90 1.497,50

50 cartuchos pretos

50 cartuchos pretos para impressora HP Officejet 8600

76,90 3.845,00

25 cartuchos coloridos

25 cartuchos coloridos para impressora HP Officejet 8600

64,90 1.622,50

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1 Instalação de equipamentos 600,00 600,00

5 Peças de reposição de

equipamentos 200,00 1.000,00

4 Serviços de terceiros 320,00 1.280,00

3 (uma licença por ano) Software N-VIVO 10 1.503,41 4.510,23

1 Software Vimeo Plus 150,00 150,00 3 (uma licença por

ano) Software ATLAS TI 1.902,84 5.708,52

3 (uma licença por ano)

Licenças para Microsoft Office 2013

209,00 627,00

2 Caixas Caneta Esferográfica Azul cx. 50

unidades (Bic Cristal) 25,70 51,40

1 Caixa Caneta Esferográfica Preta cx. 50

unidades (Bic Cristal) 25,90 25,90

2 Caixas Lápis Preto no.2 Bic cx 72 unidades

25,90 51,80

130 Pastas Pastas c/ elástico 235x350 Fume a02

1,70 221,00

6 Kits Kit pincel quadro branco c/ apagador spiral Office BT

(1az/1pt/1apg) 12,90 77,40

1 Pacote Cd-R gravável

(80min/700mb)52x Elgin – pct 100 un.

48,90 48,90

20 Pacotes Capa p/Cd em plástico slim

transparente Emtec - pct 5 un. 5, 50 110,00

3 Rolos Fita adesiva transp polip 48mmx45m Qualitape

Adelbras PT 1 U 4,20 12,60

Total 5.367,55 24.334,75 CUSTEIO – Passagens e diárias

ESPECIFICAÇÃO PASSAGENS DIÁRIAS

O projeto visa a atuação de alunos de graduação e pós-graduação, seguindo a perspectiva de formação acadêmica no tripé ensino, pesquisa e extensão. As passagens e diárias financiarão atividades dos integrantes especialmente na apresentação de trabalhos em eventos científicos da área. Visando a internacionalização do Programa de Pós-Graduação em Educação, também estão previstas atividades com o grupo do professor Tony Booth, na Inglaterra.

Rodoviárias: R$ 600,00 Aéreas nacionais: R$ 2.000,00 Aéreas Internacionais: R$ 9.600,00

Nacionais: R$ 187,83 x 25= 4.695,75 Internacionais (Inglaterra): R$ 220,00 x 20= 4.400,00

Total 12.200,00 9.095,75

21.295,75

CAPITAL – Material Permanente

Quantidade ESPECIFICAÇÃO Total

Parcial (R$) TOTAL

FINAL (R$)

1 Mesa para Reunião em MDF 1.000,00 1.000,00

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2 Dell Inspiron One 2330 2.799,00 5.598,00

2 Tablet Samsung GALAXY

Note 10.1 (2014 Edition) 4G 2.600,00 5.200,00

Total 6.399,00

11.798,00 CAPITAL – Material Bibliográfico

Compra de livros relacionados com Inclusão, Gestão Educacional e Avaliação de Sistemas:

R$ 5.000,00

VII – CRONOGRAMA DE ATIVIDADES:

ATIVIDADES\ANO

2015

2016

2017

INÍCIO DA PESQUISA: LEVANTAMENTO E ANÁLISE DOCUMENTAL E

ADAPTAÇÃO DO INDEX x

ORGANIZAÇÃO DO GRUPO PARTICIPANTE x

IDENTIFICAÇÃO DE DEMANDAS, PRIORIZAÇÃO, PLANEJAMENTO E

EXECUÇÃO DE AÇÕES x

AVALIAÇÃO DE AÇÕES x

IDENTIFICAÇÃO DE NOVAS DEMANDAS, PRIORIZAÇÃO, PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DE NOVAS AÇÕES

x

AVALIAÇÃO DAS NOVAS AÇÕES x

AVALIAÇÃO DAS NOVAS AÇÕES EM DIÁLOGO COM AS ESCOLAS x

IDENTIFICAÇÃO DE NOVAS DEMANDAS, PRIORIZAÇÃO, PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DE NOVAS AÇÕES

x

AVALIAÇÃO DAS NOVAS AÇÕES x

DIVULGAÇÃO DA PESQUISA EM EVENTOS CIENTÍFICOS x x x

AVALIAÇÃO DO PROJETO, CONSTRUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO

RELATÓRIO DA PESQUISA

x

VIII – IDENTIFICAÇÃO DOS DEMAIS PARTICIPANTES:

Sandra Cordeiro de Melo – Professora Adjunta – Faculdade de Educação – UFRJ

Mylene Cristina Santiago – Professora Adjunta – Universidade Federal Fluminense

Manoella Rodrigues Pereira Senna Vasconcelos da Silva – Formada em Pedagogia

(UFRJ)

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Equipe da Gerência de Educação da 2ª. CRE-SME (cerca de 30 participantes)

IX – COLABORAÇÕES E PARCERIAS JÁ ESTABELECIDAS:

Além do Grupo Internacional de Inclusão em Educação (GRIINE), a Rede

Internacional do Index e a própria Gerência de Educação da 2ª CRE do Município do

Rio de Janeiro, temos como parceiro de pesquisa a Universidade Federal Fluminense

(UFF).

X – INFRAESTRUTURA E APOIO TÉCNICO DISPONÍVEL:

A Universidade Federal do Rio de Janeiro dispõe, por meio do LaPEADE –

Laboratório de Pesquisa, Estudos e Apoio à Participação e à Diversidade em Educação

–, de sala para estudos, avaliação e planejamento do andamento do projeto e

computadores. Como apoio técnico, dispomos de profissionais engajados com a

Educação à frente do presente projeto: duas professoras adjuntas, alunos de pós-

graduação e de graduação, e colaboradores de outras instituições, como por exemplo,

o Colégio Pedro II e a Fundação Osório.

XI – RECURSOS DE OUTRAS FONTES:

Ainda não dispomos.

XII – REFERÊNCIAS

BELEI, Renata Aparecida, et al. O uso de entrevista, observação e videogravação em pesquisa qualitativa. Cadernos de Educação. Pelotas [30]: 187 - 199, janeiro/junho 2008.

BOGDAN, Robert C. e BIKLEN, Sari Knopp. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Porto: Editora Porto, 1994.

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BRASIL. Decreto n. 6.094, de 24 de abril de 2007. Dispõe sobre a implementação do Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação. Lex: Presidência da República/ Casa Civil/ Subchefia para Assuntos Jurídicos. Brasília, abr. 2007a.

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MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. São Paulo: Nova Cultural, 1996. Vol I.

MELO, Sandra Cordeiro de. INCLUSÃO EM EDUCAÇÃO: Um estudo sobre as percepções de professores da rede Estadual de Ensino Fundamental do Rio de Janeiro, sobre práticas pedagógicas de inclusão. Tese (Doutorado em Educação). Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2010.

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