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Projetos de Educação Social Animação Comunitária em contexto rural - Almodôvar 2 Índice Introdução........................................................................................................................................... 3 Breve caracterização histórica e territorial ......................................................................................... 4 Análise SWOT....................................................................................................................... 6 Animação no contexto ........................................................................................................................ 7 Animação, Cultura e Sociedade............................................................................................. 9 Considerações finais ......................................................................................................................... 10 Referências Bibliográficas ............................................................................................................... 12 Índice de Ilustrações Ilustração 1 - Análise SWOT da Freguesia de Almodôvar ...................................................... 6

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Projetos de Educação Social Animação Comunitária em contexto rural - Almodôvar

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Índice

Introdução ........................................................................................................................................... 3

Breve caracterização histórica e territorial ......................................................................................... 4

Análise SWOT....................................................................................................................... 6

Animação no contexto ........................................................................................................................ 7

Animação, Cultura e Sociedade............................................................................................. 9

Considerações finais ......................................................................................................................... 10

Referências Bibliográficas ............................................................................................................... 12

Índice de Ilustrações

Ilustração 1 - Análise SWOT da Freguesia de Almodôvar ...................................................... 6

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Projetos de Educação Social Animação Comunitária em contexto rural - Almodôvar

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Introdução

O presente trabalho enquadra-se no conteúdo programático da Unidade Curricular de

Projetos de Educação Social, do 3º ano – 1.º semestre da Licenciatura de Educação Social

(pós laboral), orientada e coordenada pelo professor Joaquim do Arco, o qual incide na

elaboração de um ensaio teórico sobre uma comunidade de intervenção, sendo que optamos

por escolher a comunidade em que iremos trabalhar em Práticas I e II, ou seja, a Vila de

Almodôvar, tendo como entidade acolhedora a Junta de Freguesia local.

Numa perspectiva de futuros Educadores Sociais, onde o “traço marcante é, sem

dúvida, a capacidade para saber encontrar e ajudar a percorrer caminhos que vão no sentido

do bem-estar da pessoa e da sociedade” (Cardoso, 2006:14), pretendemos, neste sentido,

elaborar um trabalho, tendo como princípios fundamentais o despertar da participação ativa;

da consciência crítica, procurando desenvolver as capacidades do individuo e da comunidade;

fomentar o desenvolvimento comunitário em prol do bem-estar, de modo a envolver as

próprias pessoas da comunidade e que proporcionar um contributo para a resolução dos

problemas existentes.

Propõe-se assim projetar um plano de intervenção, usando a animação comunitária

como estratégia dinâmica, procurando, de forma simples mas objetiva, contribuir para uma

boa política de desenvolvimento comunitário, promovendo o empowerment e a participação

ativa desta comunidade, prevalecendo o sentimento de pertença territorial, patrimonial e de

desenvolvimento.

A elaboração deste trabalho iniciou-se pela observação da Freguesia de Almodôvar, de

uma forma geral, de modo a caracterizá-la, procurando perceber, quais os seus problemas, as

suas necessidades, as potencialidades, as aspirações sentidas, os valores, as representações, as

tradições, com a finalidade de fazer uma descrição da comunidade pra futura intervenção.

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Breve caracterização histórica e territorial

Sem podermo-nos abster de abordar a história da Vila de Almodôvar e a sua origem,

Almodôvar aparece pela primeira vez nos mapas do tempo dos Árabes, que tiveram, como é

sabido, uma grande influência na Península Ibérica, com o nome de Al-Mudura, que significa

«a coisa em redondo, ou cercada em redondo». E, de fato, Almodôvar foi reedificada pelos

árabes no século VII, altura em que a vila foi cercada de muralhas e edificado um castelo,

cujos vestígios, no entanto, desapareceram. Almodôvar pertenceu ao mestrado de Santiago a

quem concedeu Foral EL-Rei D. Dinis em 17 de Abril de 1285, o que demonstra, já nessa

época, ser um centro comunitário importante.

Mas, para Almodôvar, há um acontecimento de grande valia e objeto de grande estima e

orgulho: trata-se da existência da primeira espécie de Universidade de Teologia do Sul de

Portugal, que funcionou no Convento de S. Francisco, que ainda hoje existe, e foi fundado em

1680 por Frei José Evangelista, catedrático jubilado da Universidade com os bens que herdou

dos seus pais, sendo a primeira pedra lançada por si a 2 de Setembro de 1680, encontrando-se

parte da Biblioteca desta Universidade na Câmara Municipal.

O património histórico e arqueológico de Almodôvar constitui-se pelas igrejas edificadas,

com destaque para as igrejas Matriz de Almodôvar (é o mais imponente monumento da Vila e

concelho de Almodôvar, na simplicidade das suas colunas toscanas, na riqueza dos altares

laterais e na sumptuosidade do altar-mor, mandado construir por D. João V) e Santa Cruz e o

Convento de Nossa Senhora da Conceição, sendo de destacar a importância da estação

arqueológica das Mesas do Castelinho, em Sta. Clara a Nova, assim como dos achados

ligados à mais antiga escrita conhecida de Portugal, com mais de dois mil e quinhentos anos.

Estes podem ser apreciados no Museu da Escrita do Sudoeste de Almodôvar – „MESA‟.

Outro dos patrimónios históricos marcantes é ainda o museu municipal Severo Portela -

denominação em homenagem a este artista (pintor) - que se radicou em Almodôvar, espaço

este que tem igualmente funções de galeria de exposições temporárias, e que reaproveita o

imóvel onde estiveram instalados, primeiro os Paços do Concelho (para cujas funções foi

edificado) e, depois, a cadeia civil.

Quanto ao território de Almodôvar, enquadrado no contexto tipológico, considera-se

como sendo um território rural, dado o seu cariz fundamentalmente agrícola, em que a

atividade principal deriva da agricultura e dos recursos naturais deste espaço, mas em via de

urbanização (Reis, 2001). Ou seja, dadas as suas características organizacionais, munida de

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várias infraestruturas, equipamentos e serviços e a sua relação de proximidade geográfica,

social, económica e política, existente entre este espaço rural, recorrendo-nos do paralelismo

referido por Campêlo (2000) entre o rural piscatório e rural agrícola, quer com a sua capital de

distrito, Beja, quer com os concelhos contíguos e respetivas freguesias sediadas no limítrofe

fronteiriço da sua área e mais concretamente pela proximidade com o Algarve, fazem com

que este território sem envolva numa fonte de oportunidades benéficas para o seu

desenvolvimento. Parte do desenvolvimento territorial de Almodôvar deve-se muito à

abertura do complexo mineiro de Neves-Corvo, denominado Somincor, tendo o ano de 1982

marcado o início das atividades neste couto mineiro. Com uma área de 13,5 km², distribui-se

pelos concelhos de Castro Verde e Almodôvar, onde o seu início de atividade veio aumentar a

oferta de emprego e uma certa animação de alguns setores do tecido social, tendo atualmente

cerca de 1300 trabalhadores (diretos), dos quais 90% são oriundos da região envolvente

(Castro Verde, Almodôvar, Aljustrel, Ourique e Mértola). A título de curiosidade, em 2005, a

Somincor, empregava 163 trabalhadores residentes em Almodôvar (CECA, 2006), com

salários muito acima da média, mostrando pouco significativos os índices de pobreza quer em

Almodôvar quer na região.

As perspetivas de Reis (2001) e Ferrão (2000), vão ao encontro do conceito de rurbano

e apostam nas competências e valorizações das pessoas, motivando-as a encarar o território

como património. O reaproveitamento e valorização do território, centrado na renaturalização

– conservação e protecção da natureza; a procura de autenticidade – com vista a criar

identidade própria e privilegiar a conservação e protecção do património histórico, com

capacidade de suportar as tendências actuais da globalização; e a comercialização das

paisagens – valorizando as actividades de turismo e lazer, num sentido de resposta à expansão

de novas práticas de consumo, são medidas que, não só promovem o território em si,

tornando-o multifuncional e com valor patrimonial, como fomentam a pluriatividade das

famílias camponesas, levando a que estas contribuam na manutenção e expansão do mundo de

produção tradicional, quer em termos económicos quer também em termos sociais e

ambientais (Ferrão, 2000).

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Análise SWOT

Procurámos saber como a comunidade está organizada, quer a nível funcional -

comércio, equipamentos, infraestruturas, espaço residencial e lazer e também a nível de

ocupação - quem são os habitantes, quem utiliza este espaço, quem são os líderes e

representantes da população, quer os seus recursos, fragilidades e identificação com o

território. A análise SWOT, permitiu-nos sistematizar os aspetos considerados mais

pertinentes na comunidade, tendo servido para uma melhor perceção das potencialidades e

estrangulamentos existentes.

Após esta análise descritiva (SWOT) da comunidade procuramos identificar os fatores

positivos e negativos, tendo em conta os fatores internos e externos, que nos pareceu simples

mas objetiva. Desta análise detetámos que um dos problemas sentidos pela comunidade

relacionava-se com o fato de existir uma fraca participação da comunidade em ações sociais,

culturais, económicas e políticas e um claro desânimo para o reaproveitamento dos recursos

Ilustração 1 - Análise SWOT da Freguesia de Almodôvar

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(naturais, físicos e humanos). Para colmatar esta lacuna desenvolvemos o nosso trabalho

tendo em conta os fatores positivos que esta comunidade apresenta. Não obstante da forte

relação e sentimento de pertença que esta comunidade tem com o território, pretende-se de

uma forma geral estimular a valorização deste espaço, elevando a sua conscientização para a

riqueza do ambiente natural, ambiental, humano, a valorização do espaço rural, a presença de

estruturas de apoio ao turismo de natureza e a sua própria localização geográfica.

Partindo do pensamento Freireano e do empowerment da comunidade da Freguesia de

Almodôvar, e, não obstante da crise económica actual que o país (e o mundo) atravessa,

consideramos que esta componente económica podia ser “espicaçada”. Através de acções de

formação, enquadradas na modalidade não formal do sistema educativo, quer para a vertente

social e educacional, numa clara aposta na formação da agricultura e num volte-face para a

atividade agrícola e dos seus derivados, quer para a vertente económica, no sentido de

valorizar as atividades económicas em articulação com a preservação dos recursos naturais e

patrimoniais e que podem ser usados como propensores à atividade turística de lazer

enquanto fatores de competitividade e geração de riqueza. É deste modo também possível

promover uma maior dinâmica à população local, onde encontramos alguma resistência, para

que sejam desenvolvidas soluções para os problemas atuais, contribuindo assim para uma

maior aprendizagem baseada nos saberes locais e na capacitação individual dos sujeitos.

A participação das pessoas está intimamente ligada ao processo de conscientização, tal

como foi definido por Paulo Freire (1987) e todos os resultados conseguidos através desta

participação fazem com que as próprias pessoas sintam que é possível transformar a sociedade

que as rodeia e toda a sua realidade social. Esta conscientização, alargando os horizontes e

permitindo que as pessoas enfrentem desafios e os tomem como alavanca de dinamização,

autonomia, capacitação, espírito crítico e reflexivo, etc., irá emancipar esta comunidade e

fazer com que exista uma maior potencialidade e competitividade saudável entre todos,

reforçando as suas próprias capacidades, que irão não só impulsionar como potenciar o

desenvolvimento, e, como refere Fragoso (2005), “Corresponde a valorizar as vivências das

populações para atingir finalidades mais orgânicas.” (p.68).

Animação no contexto

«Una comunidad es una agrupación o conjunto de personas que habitan un

espacio geográfico delimitado y dilimitable, cuyos miembros tienen conciencia de

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pertenencia o de identificación com algún símbolo local y que interaccionan entre

sí más intensamente que en otro contexto, operando en redes de comunicación,

intereses y apoyo mutuo, con el prepósito de alcanzar determinados objectivos,

satisfacer necesidades, resolver problemas o desempeñar funciones sociales

relevantes a nivel local.» (Ander-Egg, 2003, p.25).

A Animação acontece nos métodos de desenvolvimento da comunidade através de um

conjunto de iniciativas, desde que, haja o envolvimento ativo e comprometido dos grupos

sociais nas práticas de ação comunitária, e, no seguimento da conceção de Ander-Egg sobre

desenvolvimento comunitário e local, e, porque falamos de Animação, educação para o

desenvolvimento e participação, o desafio atual não deve centra-se em transmitir

conhecimentos a partir de um programa preconcebido com conteúdos elaborados à margem

da participação das gentes e da sua realidade, dos seus saberes e experiências, mas sim num

currículo aberto. Nos territórios deprimidos social, cultural e economicamente, os atores

sociais precisam de acreditar no futuro, nas suas capacidades enquanto comunidade capaz de

mudar o entorno social. Seguramente, os métodos da Animação contribuirão para que a

comunidade tome consciência da sua realidade e desenvolva competências para alterá-la.

Consideramos que a utilização da animação comunitária como abordagem interventiva,

será a mais adequada perante o contexto, faixa etária populacional e o objetivo geral

identificado, e, neste sentido, atendendo ao considerável índice de envelhecimento da

comunidade em estudo, Hervy (2001, citado por Jacob, 2007), reitera isso mesmo quando

afirma que, «A importância da animação social das pessoas mais velhas é facilitar a sua

inserção na sociedade, a sua participação na vida social e, sobretudo, permitir-lhes

desempenhar um papel, inclusive reativar papéis sociais» (Jacob, 2007, p.6).

A Animação Comunitária encontra ainda um campo fértil de atuação no fomento do

associativismo, nas atividades de voluntariado e do trabalho juvenil, nas políticas de educação

cívica e de pedagogia de consciência crítica, nas iniciativas que promovam a identidade

comunitária nomeadamente, a promoção do património cultural e natural, símbolo vivo da

cultural local. Animar o desenvolvimento comunitário é educar para os valores do “local”,

sensibilizar para o papel que cada indivíduo pode cumprir para o bem comum e

“ (…) deve privilegiar novas formas de olhar a realidade na perspectiva das

gentes, trabalhar com elas um conjunto de competências, valores e princípios

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desde as suas raízes culturais, no sentido da valorização da auto-estima e da

cultura, elemento central da ideia de comunidade” (Viveiros, 2008, p.8).

O consolidar espaços de construção alternativos à realidade presente, tende a provocar a

mudança social com a comunidade e as pessoas deverão assumir o protagonismo da ação

comunitária. Sabemos que é um processo difícil de se construir na sustentabilidade da

participação, mas certamente, mais ativo, consciente, democrático e libertador de preconceitos

culturais e estigmas sociais associados ao território local.

A Animação Comunitária tem que suster a sua ação num projeto de educação para o

desenvolvimento e será entendida como forma de educar para o sentido cívico, para a

formação de cidadãos conscientes e participantes no próprio processo de desenvolvimento. A

educação para o desenvolvimento está direcionada para a provocação da mudança de

mentalidades, atitudes e comportamentos do indivíduo e do grupo. A Animação enquanto

método educativo tem que educar para a solidariedade, para a responsabilidade coletiva, para

a auto-estima e valorização da cultura do território.

Animação, Cultura e Sociedade

Em termos culturais pretende-se dotar a comunidade de criatividade expressiva e

artística, levando-a a dinamizar e desenvolver a forte dimensão cultural já existente (cantares

alentejanos, por ex.) e promover uma maior interação entre todos (crianças, jovens, adultos e

idosos). Na vertente social a animação pretende combater desigualdades sociais, desenvolver

a capacidade de participação e associativismo e melhorar as relações humanas da

comunidade. Na dimensão educativa, não no caráter de ensinar mas sim com o propósito de

educar para intervir, e, munindo-nos do pensamento de Paulo Freire (1983), pretende-se

provocar mudanças reais nas relações das pessoas e na sua autonomia, no trabalho, na

educação e na saúde. Estas devem poder ter os meios para fazer uma reflexão constante sobre

a sua vida e decidir conscientemente sobre ela. O mesmo educador, também referiu que as

pessoas, ao refletirem sobre determinados desafios ou problemas do contexto que os rodeia,

leva a que essas mesmas pessoas se vejam como sujeitos, se valorizem, se organizem e acima

de tudo que tenham capacidade de espírito crítico e que lhe permitam lutar pelos seus direitos,

não somente como um ser adaptado mas sim integrado à realidade (1980).

Pretende-se assim estimular o desenvolvimento comunitário como desafio permanente,

espaço de construção de uma cidadania ativa e fundamento da democracia participativa. A

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comunidade é o nervo central para a sustentabilidade da construção de alternativas de

desenvolvimento dos territórios, capaz de gerar sinergias criativas localizadas no

envolvimento das populações.

Alguns princípios funcionais do desenvolvimento local ou comunitário encontram

correspondência no documento “Desenvolvimento de Comunidade e Serviços Conexos” das

Nações Unidas, de 1956, onde o desenvolvimento de iniciativas direcionadas para a economia

doméstica, tratando-se de um modo de educação informal das famílias rurais e outras de

educação para a saúde, para a capacidade produtiva e bem-estar da comunidade são alguns

dos serviços. O desafio do desenvolvimento local e comunitário reside na inspiração “pensar

global, agir local”, ou seja, é partindo da realidade social que devem ser encontradas soluções

participadas, integradoras e valorizadoras das gentes e dos recursos comunitários (Viveiros,

2008).

A motivação do animador é a base fundamental para o sucesso numa intervenção

comunitária. Esta, deve ter uma perceção o mais real e aprofundado possível do contexto que

irá experimentar, e, não basta saber ou conhecer os princípios da animação, sendo o lado

intrínseco (motivação, vontade, crer, ética, envolvimento pessoal, etc.) do investigador

fundamental para o seu progresso. Rui Fonte (s/d), afirma pelo mesmo diapasão na revista dos

animadores, «O destino da animação não depende da origem etimológica. Depende sim das

capacidades e motivações de cada animador» (p.22).

Considerações finais

É nestes pontos que baseamos as nossas estratégias de desenvolvimento comunitário:

apostar nas potencialidades e nos recursos endógenos da Freguesia de Almodôvar (naturais,

ambientais, humanos) com vista a criar novos horizontes sociais e económicos, partindo da

própria participação da comunidade. Verifica-se, em parte, algum ceticismo quanto às novas

tendências de reaproveitamento do espaço rural, quer por motivos económicos, dada a débil

conjuntura financeira actual, quer por motivos sociais, pela dificuldade em cativar e fixar

pessoas nestes meios. Partindo das condições físicas (quanto ao espaço) e sociais (quanto à

mão de obra; as pessoas) pretende-se assim romper com as resistências de afastamento da

comunidade do seu território de origem e fazer com que vejam e sintam este seu território

com sentimento de pertença, valorizando-o e levando a que esta mesma comunidade se

identifique com este espaço e interiorize o conceito de mais-valia, reaproveitando-o e tirando

partido da sua riqueza. Com isto, cremos que existem medidas de dinamização. Tais medidas,

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partem da formação de novos agentes de desenvolvimento agrícola, desenvolvendo projetos

de cooperação além-fronteiras a fim de se trocarem experiências e desencadear processos de

desenvolvimento nos mundos rurais e criar condições de acesso a infra-estruturas e contribuir

para uma melhoria da baixa densidade física e social. É com esta dinâmica de valorização do

território, de capacitação e participação das pessoas, de promoção da reflexão e espírito crítico

e criativo, de promoção de autonomia (social, económica, política) que este trabalho assenta a

sua funcionalidade.

Consideramos também que existem várias estratégias de intervenção num contexto

rural, das quais há algumas que se destacam. A visão do “voltar às origens” e (re) aproveitar

os recursos naturais, quer do ponto de vista económico através da mercantilização das terras e

optando por abrir o mundo rural a novos horizontes de mercado, onde a predominância da

produção agrícola deixa de ter tanta expressão e passa a considerar os recursos naturais

carregados de simbolismos como património histórico, social e cultural, como parte

multifuncional da realidade actual; quer do ponto de vista social que permite cativar e fixar

pessoas para este meio através da criação de infraestruturas e políticas sustentáveis, gerando

de uma forma geral alguns empregos e partindo da capacitação das pessoas, permitindo assim

uma participação mais ativa e de (des)envolvimento social, são, em nosso entender, as

principais formas de contribuição positiva para o desenvolvimento local desta comunidade.

Pretende-se, assim, estimular a comunidade da Freguesia de Almodôvar para refletir

sobre as novas perspetivas de reaproveitamento e valorização do território, baseando esta

política de desenvolvimento territorial como uma mais-valia para o património e

impulsionando o fato de que a produção agrícola/rural pode ser uma forma de resposta à atual

situação de crise económica, quer como forma de subsistência quer como forma de impulso à

produção agrícola (turística e rural) como “veículo” de dinamização e capacitação social,

impulsionando as pessoas a envolverem-se mais ativamente nos processos de

desenvolvimento.

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