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Projeto de Desenvolvimento Rural Sustentável do Estado do Ceará PDRS Relatório de Avaliação de Impacto Socioambiental AISA ANEXOS ANEXO 11 - Marco Conceitual de Povos Indígenas e Anexos Dezembro de 2011 IPP586 Public Disclosure Authorized Public Disclosure Authorized Public Disclosure Authorized Public Disclosure Authorized

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Projeto de Desenvolvimento Rural Sustentável do

Estado do Ceará – PDRS

Relatório de Avaliação de Impacto Socioambiental

AISA

ANEXOS ANEXO 11 - Marco Conceitual de Povos Indígenas e Anexos

Dezembro de 2011

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ANEXO 11 - Marco Conceitual de Povos Indígenas e Anexos

Sumário Executivo

A área de atuação do projeto de Desenvolvimento Rural Sustentável contempla os 13 Territórios Rurais e da Cidadania do Estado (Anexo I). O Projeto contém três componentes: Componente 1 – Inclusão Econômica; Componente 2 – Água e Esgotamento Sanitário Simplificado; Componente 3 – Fortalecimento Institucional - Apoio à Gestão, Capacitação e Administração. O público-alvo é constituído por agricultores e agricultoras familiares, quilombolas, indígenas, pescadores artesanais, rendeiras, ribeirinhos, extrativistas e outros que se encontram em distintos estágios do processo de organização sócioprodutiva. Estima-se atingir através dos dois componentes cerca de 28.300 famílias, em 183 Municípios (exceto a Capital) e 13 Territórios. O conjunto de intervenções associadas entre si visa apoiar os empreendimentos, proporcionando um salto qualitativo nos aspectos de capacitação, produção, geração e difusão de inovações tecnológicas, organização, marketing e conquista de novos mercados, dentre outros. Neste sentido, deverão ser beneficiadas diretamente 10.000 famílias através do Componente 2 e 18.300 famílias através do componente 1. O Projeto desenvolverá atividades preliminares de sensibilização dos Conselhos para uma maior participação dos povos indígenas, capacitação de técnicos da Unidade de Gerenciamento do Projeto, seus parceiros governamentais e conselheiros territoriais em questões indígenas e etnodesenvolvimento, bem como a divulgação e disseminação do Projeto junto a todas as aldeias indígenas no Estado. Através do Componente 3, o Projeto inicialmente focalizará suas ações em três dimensões: a capacitação e o fortalecimento comunitários, a criação de uma Rede de Colaboração Solidária – através do fortalecimento das redes de articulação entre as comunidades indígenas e os órgãos estaduais – e a abertura de canais de acesso das comunidades indígenas aos serviços públicos. As comunidades indígenas também poderão acessar de acordo com sua manifestação de interesse ações que envolvem investimentos em inclusão produtiva e abastecimento de água e esgotamento sanitário simplificado (Componentes 1 e 2). As manifestações de interesse das comunidades indígenas adotarão os mesmos procedimentos que os demais beneficiários indicados nos termos dos Editais de seleção de propostas. Nas terras indígenas demarcadas, o projeto poderá financiar investimentos físicos; nas terras indígenas ainda não-demarcadas, o projeto poderá financiar investimentos físicos em glebas de terra que se comprove que são individualmente possuídas e/ou doadas às entidades indígenas proponentes.

2. Introdução A Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA) tem voltado sua gestão para a participação efetiva do público de suas ações, ou seja, os trabalhadores e trabalhadoras rurais. Assim sendo, o PDRS, elencou como prioridade social estimular cada vez a participação e autonomia de comunidades indígenas e de subgrupos como jovens, mulheres, grupos etnorraciais entre outros. Por esta razão, o social aqui é compreendido como um campo que possibilitará uma maior articulação desses indivíduos inseridos em programas e projetos desenvolvidos pela política pública. O PDRS apresenta-se como um Projeto de Desenvolvimento Rural Sustentável com foco no fortalecimento da agricultura familiar, além de propiciar melhor qualidade de vida nas comunidades rurais com ações de abastecimento de água e saneamento. A nova perspectiva é de aumentar a inserção, a agregação de valor e competitividade dos empreendimentos familiares da área rural, facilitando maiores e mais consistentes fluxos de renda para as famílias, num cenário de sustentabilidade econômica, social e ambiental. O projeto terá como público beneficiário os agricultores familiares, agrupados por interesses comuns em comunidades rurais e representadas por suas formas organizativas, quais sejam: associações comunitárias, associações de produtores, cooperativas, condomínios, colônias ou outras, desde que também legalmente constituídas e comprovadamente atuantes. O PDRS terá um valor total de US$300 milhões (trezentos milhões de dólares americanos), e será executado em duas etapas. A primeira etapa, detalhada neste documento, será executada em quatro anos com recursos da ordem de US$ 150 milhões (cento e cinqüenta milhões de dólares americanos), dos quais o Banco Mundial (BIRD) participará com um financiamento de 65,%, equivalentes a US$ 100 milhões, ficando o Estado do Ceará com a contrapartida de 35,%, equivalentes a US$ 50 milhões. A estratégia de implementação do PDRS consiste no fomento ao desenvolvimento rural a partir da dinâmica territorial, através de financiamento de projetos de apoio à inclusão produtiva - voltados à produção, beneficiamento e comercialização de produtos e ao abastecimento rural - e de segurança hídrica inseridos em três componentes:

Componente 01: Inclusão Econômica Componente 02: Abastecimento de Água e Esgotamento Sanitário Simplificado; Componente 03: Fortalecimento Institucional - Apoio à Gestão, Capacitação e Administração. Estima-se atingir através dos dois componentes cerca de 35.000 famílias, aproximadamente 140.000 beneficiários diretos 183 Municípios (exceto a Capital) e 13 Territórios. O conjunto de intervenções associadas entre si visa apoiar os empreendimentos, proporcionando um salto qualitativo nos aspectos de capacitação, produção, geração e difusão de inovações tecnológicas, organização, marketing e conquista de novos mercados, dentre outros. Neste sentido, deverão ser beneficiadas diretamente 10.000 famílias através do Componente 2 e 25.000 famílias através do Componente 1. Adicionalmente, mais 30.000 deverão ser beneficiadas indiretamente, pela geração de empregos. O Projeto será implementado a partir de parcerias públicas e privadas. A Secretaria do Desenvolvimento Agrário/SDA será o órgão responsável pela coordenação da execução do

PDRS e por outras atribuições que lhe forem cometidas por força do Acordo de Empréstimo do Projeto. Através da Unidade de Gestão do Projeto - UGP, responsável pela coordenação executiva do Projeto, a SDA consolidará sua estrutura institucional mediante aperfeiçoamento de mecanismos e instrumentos para descentralização coordenada e gerenciamento do novo Projeto. Como provedor dos recursos do Empréstimo e de contrapartida, o Governo do Estado, através da SDA, prevê apoiar e capacitar os diferentes níveis de atuação no Projeto, especialmente para os componentes da Unidade Técnica, as instituições parceiras, os Conselhos Municipais e Estadual, Colegiados Territoriais, além das Entidades Representativas dos Beneficiários. Através da UGP, os processos de análise, aprovação, liberação de recursos, acompanhamento e supervisão serão levados a cabo com o apoio de uma rede de parcerias com entidades governamentais colaboradoras (EMATERCE, CAGECE E SOHIDRA) e não governamentais, como o SEBRAE, SISAR, Universidades, Movimentos Sociais e Sindicais, ONG entre outros. Para o desempenho das atividades de execução na implementação do PDRS, a SDA contará de forma integrada com a participação ativa das seguintes instituições:

Secretarias de Estado e suas entidades vinculadas (EMATERCE, CAGECE, SOHIDRA) que são responsáveis pela análise técnica dos projetos bem como no acompanhamento da sua implementação; Entidades representativas dos beneficiários, que são legalmente constituídas, de atuação local e propositoras dos subprojetos; Conselhos Municipais e Colegiados Territoriais: Os Conselhos Municipais são responsáveis pela legitimação e aprovação das demandas oriundas das entidades representativas dos beneficiários. Juntamente com os Colegiados Territoriais, são instâncias institucionais que materializam a descentralização do processo decisório na seleção das prioridades, assim como terão fundamental importância para a divulgação do projeto; Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural Sustentável: Após análises técnica e de sustentabilidade, será a instância máxima para a aprovação dos subprojetos; Prefeituras Municipais: tanto o poder executivo quanto o legislativo municipal não têm obrigações compulsórias para a implantação do Projeto, entretanto a SDA poderá estabelecer com os referidos poderes, as conexões que sejam consideradas essenciais ao bom desempenho do Projeto, como a exigência do PAM (Plano de águas municipal) para elegibilidade de projetos para aproveitamento de recursos hídricos; Organizações Não-Governamentais – ONGs: As organizações Não-Governamentais com forte atuação no município serão estimuladas a participar do Projeto, em campanhas de divulgação, organização e mobilização das comunidades, condução de estudos e avaliação, bem como assistência técnica e capacitação de beneficiários, técnicos e entidades representativas.

A UGP deverá ser organizada de tal forma a garantir sua indispensável proximidade às comunidades rurais beneficiárias na área do Projeto, para atender às suas demandas através das Unidades Territoriais, Instituições Colaboradoras e suas entidades vinculadas.

A participação dos movimentos sociais, do movimento sindical e da sociedade civil está também assegurada através do Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural e dos Colegiados Territoriais onde estão representados. As parcerias estratégicas propiciarão acesso a tecnologias, pesquisas, assistência técnica e informações que deverão atender em diferentes áreas de competência todos os tipos de subprojetos apresentados. Como SEBRAE, SISAR, CENTEC, IFCE, COGERH, Instituto Agropolos, Comitê de Bacias, FAEC, Embrapa, FUNCEME e CONPAM. 3. Povos indígenas no Ceará Até recentemente, o estado do Ceará era uma das quatro unidades da federação brasileira que se considerava como não possuindo população indígena. Ainda no século XIX, a província do Ceará foi a primeira a negar a presença indígena em seu território. A extinção da comunidade indígena do Ceará havia sido declarada em 1863 pelo Presidente da Província e embora imediatamente contestada pelos próprios povos indígenas, esta atitude política deu lugar a um processo de perda de visibilidade e desaparecimento das etnias indígenas no estado, que o assumiram como tática de sobrevivência. Este processo só foi revertido a partir da década de 80, quando, em virtude da mobilização do povo Tapeba, voltou-se a falar sobre a presença indígena no Ceará e deflagrou-se o processo de (re)-emergência de grupos de origem indígena reivindicando o reconhecimento de sua identidade e direitos étnicos data da década de 1980, que se intensificaria após a Constituição de 1988.1 Todavia, o reconhecimento de suas identidades étnicas – quer pela sociedade regional, quer pelo Estado – enfrenta ainda desafios em virtude dos interesses

econômicos associados ao controle da terra, que recorrem à ausência ou parcimônia de sinais culturais que marquem a distância entre os povos indígenas e a população rural pobre do Estado do Ceará para justificar-se. Essa semelhança cultural é, por sua vez, fruto de processos históricos que atingiram de forma geral aos povos indígenas do Ceará e da região Nordeste:

O longo período de contacto com a sociedade colonizadora, a força das políticas de integração e de usurpação dos territórios tradicionais; O aldeamento forçado nas missões religiosas constituídas a partir de doações de terra pela Coroa (cujos títulos constituem, hoje, uma das fontes documentais em que se fundamentam os argumentos a favor da demarcação de terras indígenas); A sedentarização e miscigenação entre diferentes etnias e das diferentes etnias com a população sertaneja; A tendência resultante à indiferenciação econômica, social e cultural que, hodiernamente, constrói as bases que sustentam as justificativas de uma contestação possivelmente leiga, mas freqüentemente resultante de interesses econômicos relacionados ao controle de recursos naturais escassos, a respeito da legitimidade das reivindicações de caráter étnico a partir de representações de senso comum e largamente partilhadas a respeito do que sejam ou de quem sejam os ―índios autênticos‖.

1 Contemporaneamente, o Nordeste do Brasil tem sido uma área privilegiada do processo cultural

Em conseqüência deste processo histórico de disputa em relação às identidades étnicas, as diversas fontes governamentais e não-governamentais divergem amplamente sobre as etnias indígenas existentes no Estado. A FUNAI reconhece 11 grupos distintos, localizados em 16 municípios (ver Tabela 1). De acordo com dados da FUNASA, o Distrito Sanitário do Ceará atende a uma população de 21.938 pessoas, pertencentes a 12 etnias indígenas2 e residentes em 81 aldeias, que estão distribuídas por 18 municípios.3 A população indígena no Estado corresponde, portanto, a cerca de 22.000 pessoas que se concentram em três pólos territoriais: a Região Metropolitana de Fortaleza, o litoral norte do estado e o Sertão dos Inhamuns. Cerca de 80% desta população estão concentrados, contudo, em cinco municípios: Caucaia, Crateús, Itarema, Maracanaú e Monsenhor Tabosa. A Figura 1 (página 6) identifica estes territórios em que estão localizados os Povos Indígenas. Tabela 1: Etnias e Localização dos Povos Indígenas no Estado do Ceará*

Etnias4 Municípios População FUNAI FUNASA

Anacé São Gonçalo do Amarante 1.229 1.278 Gavião Monsenhor Tabosa 70 56 Jenipapo-Kanindé Aquiraz 304 297 Kalabaça Crateús 168 213 Kanindé Aratuba 658 714 Kariri Crato 105 118 Pitaguary Maracanaú e Pacatuba 3.669 3.757 Potiguara Crateús, Monsenhor Tabosa, Novo Oriente,

Tamboril 4.074 3.489

Tabajara Crateús, Poranga e Quiterianópolis 2.521 2.680 Tapeba Caucaia 6.542 6.099 Tapuio Monsenhor Tabosa - 225 Tremembé Acaraú, Itapipoca e Itarema 3.060 3.012 TOTAL 22.400 21.938 *Fontes: Funai, maio de 2011 e FUNASA (sis.renisi)

FIGURA 1: - MAPA DE LOCALIZAÇÃO DOS POVOS INDÍGENAS NO ESTADO DO CEARÁ:

2 Esta relação inclui, além dos 11 grupos identificados pela FUNAI, 225 representantes da etnia

Tapuio. De acordo com organizações indígenas e indigenistas atuantes no Ceará, este número corresponderia a 16 etnias nativas.

3 Além dos 16 municípios relacionados pela FUNAI, a FUNASA refere-se aos municípios de Boa Viagem e Fortaleza.

4 Não há informação demográfica da FUNAI sobre as etnias Tapuio e Payaku, que não estão incluídas neste quadro.

As etnias Pitaguari, Potiguara, Tabajara, Tapeba e Tremembé respondem por 87% do contingente populacional indígena no Ceará. A população de 68% das aldeias indígenas é inferior a 250 habitantes e em apenas 9% delas alcança mais de 1.000 habitantes. Nesta população, a proporção por sexo é de 1,02 mulheres para cada homem, com maior representatividade de mulheres nas faixas etárias mais elevadas. Conforme se observa pelo

Gráfico 1, abaixo, a proporção de crianças e jovens é elevada (52% da população total) e a de pessoas idosas, baixa (6% da população total). Gráfico 1 – População Indígena no Ceará, por gênero e faixa etária (Fonte: FUNASA)

A seguir são apresentadas as principais características etnológicas das etnias indígenas existentes no estado do Ceará, levantadas a partir da revisão de fontes secundárias. Jenipapo-Kanindé5 - O grupo que ficou mais conhecido por esta denominação – embora ela lhes fosse desconhecida até se engajarem nos movimentos indígenas no final do século XX – é composto por descendentes dos Payaku.6 A denominação Jenipapo-Kanindé, até então desconhecida por eles, foi-lhes aplicada com base em pesquisas históricas pouco aprofundadas, confundindo-os com antigos povos vizinhos, quando o grupo começou a participar dos movimentos indígenas. Mas o grupo adotou essa designação. Eles falam exclusivamente o português, mas, apesar da convivência com a população local, há poucos casamentos interétnicos, o casamento preferencial ocorre entre primos (cruzados e paralelos) e a comunidade se caracteriza por baixos níveis de mobilidade espacial, sendo pequenos tanto o êxodo populacional, quanto à entrada de pessoas de fora. Habitam o território da Lagoa Encantada, uma área de lagoas costeiras de 1.640 hectares no município de Aquiraz. Possuem títulos individuais dos terrenos em que vivem, embora o processo de demarcação da Terra Indígena Lagoa Encantada pela FUNAI, que começou em 1997, ainda não se tenha concluído. Sua economia está baseada na agricultura (mandioca e culturas de subsistência nos períodos chuvosos), pesca, coleta e artesanato (cipó, palha de carnaúba e renda). A utilização da lagoa como área de lazer por visitantes e o consumo de bebidas alcoólicas pelos mesmos, bem como a retirada ilegal de água das lagoas para o abastecimento da população e das indústrias do município são problemas enfrentados pela comunidade indígena. 5 Fonte de informações: Instituto Socioambiental, Enciclopédia dos Povos Indígenas do Brasil,

Verbete: Jenipapo-Kanindé, por Maria Sylvia Porto Alegre, 1998, acessível através da página da Internet www.socioambiental.org/pib/epi/jenipapo.

6 Etnia numerosa que, no século XVI, habitava toda a faixa sub-litorânea dos atuais estados do Rio Grande do Norte e Ceará.

Pitaguary7 - Os Pitaguary começaram a se organizar politicamente para pressionar pelo

reconhecimento de sua identidade e pela demarcação de sua terra no início da década de 90. Sua

presença foi oficialmente reconhecida por um projeto de lei da Câmara Municipal de Maracanaú para

doação de 107 hectares de terra ao grupo e pela formação do Grupo de Trabalho da Funai para dar

início aos estudos de identificação e delimitação da Terra Indígena Pitaguary em 1995. Sua auto-

identificação indígena tem como pilares os sentimentos de pertencimento e permanência a um espaço

comum e de uma origem e uma unidade comum, baseado nos laços de parentesco e afinidade, onde os

casamentos interétnicos são raros e os padrões de moradia permitem a formação de famílias extensas.

A Terra Indígena Pitaguary foi definida pela FUNAI em 2000, com 1.735 hectares, tendo por base as

duas datas de sesmarias obtidas pelos jesuítas em 1722 e 1854 e registradas como terreno de posse

coletiva de Santo Antônio de Pitagoary. A terra indígena situa-se ao pé da serra entre os municípios

cearenses de Maracanaú, Pacatuba e Maranguape, na Região Metropolitana de Fortaleza. Seus

arredores caracterizam-se pela concentração de indústrias e pela urbanização crescente. Falantes

exclusivamente do português, os Pitaguary apresentam tendência de forte crescimento populacional.

No início dos anos 90, quando um pequeno grupo de índios Pitaguary começou a pressionar pela

demarcação de sua terra, Neste momento foi criado o Conselho Indígena Pitaguary. Posteriormente se

formaram o Conselho de Articulação Indígena Pitaguary, o Conselho Indígena Pitaguary de Monguba

e a Associação dos Produtores Indígenas Pitaguary. Estas entidades atuam em áreas e temáticas

específicas dentro da terra indígena; suas lideranças estão cada vez mais envolvidas com a

implementação de políticas públicas e interagem com um público de caráter bastante amplo. Seu perfil

varia consideravelmente, incluindo líderes “tradicionais” (caciques e pajés) e as chamadas “jovens

lideranças”, que, em geral, vivenciaram a experiência da educação formal, seja através do programa de

“magistério indígena” ou cursos superiores.

A sobrevivência e a economia dos Pitaguary se baseiam numa diversidade de atividades. Estas

incluem o extrativismo vegetal e a mineração de areia lavada. De grande importância é a atividade

artesanal – colares de sementes nativas, trajes típicos feitos com fibra de tucum, cestos e sacolas em

palha, cerâmica e outros trabalhos manuais em bordado, fuxico e crochê. Contudo, a produção

artesanal é vulnerável aos riscos decorrentes do manejo inadequado dos recursos naturais, do

desmatamento e do assoreamento de rios, que transformaram as questões ambientais em uma grande

preocupação para suas lideranças. Também enfrenta dificuldades de acesso ao mercado ainda

dependente da atuação de atravessadores. A agricultura familiar de subsistência, inteiramente

dependente da estação chuvosa, é importante como fonte dietética e alternativa de renda a partir de

pequenos projetos de auto-sustentação (criação de gado para leite, as hortas comunitárias e a

agricultura familiar irrigada). As rendas monetárias também dependem de um pequeno número de

empregos formais vinculados à implantação de políticas públicas na área indígena e de atividades

informais como diaristas na zona urbana de Maracanaú e Fortaleza.

As relações institucionais mais intensas dos Pitaguary com agências governamentais se dão com a

FUNAI, a FUNASA, a Secretaria Estadual de Educação e as prefeituras municipais de Maracanaú e

Pacatuba. Devido à precariedade da estrutura e do reduzido número de servidores do Núcleo de Apoio

Local - NAL Ceará, a FUNAI se mantém praticamente ausente da área Pitaguary. Já a FUNASA atua

nesta terra indígena desde 2.000, mas os serviços de saúde se caracterizam pela alta rotatividade de

7 Fonte de Informação: Instituto Socioambiental, Enciclopédia dos Povos Indígenas do Brasil,

Verbete: Pitaguary, por Joceny de Deus Pinheiro, 2007, acessível através da página da Internet www.socioambiental.org/pib/epi/pitaguary.

pessoal. Desde 2001 estão em funcionamento escolas indígenas. As Prefeituras de Maracanaú e de

Pacatuba atuam junto às comunidades indígenas na área de Assistência Social, desde 2005. Além

disto, os Pitaguary contaram com recursos financeiros oriundos de duas indenizações pagas às suas

comunidades em virtude da passagem de linhas de transmissão de eletricidade em sua área.

Potiguara – Encontram-se em 18 aldeias e nas áreas peri-urbanas dos municípios de Crateús,

Monsenhor Tabosa, Novo Oriente e Tamboril. Famílias de descendência indígena Potiguara vivem na

localidade de Domingos Pereiros e trabalham com a prática da agricultura de subsistência de sequeiro

(milho e feijão) e com a criação de animais, com baixa incorporação de tecnologia e adotando sistema

de cultivo tradicional à base do desmatamento e de queimadas em áreas que apresentam sinais de

degradação ambiental. A regularização fundiária das propriedades em sua área através do trabalho do

Instituto de Desenvolvimento Agrário (IDACE) viabilizou, recentemente, que a comunidade Potiguara

participasse do Projeto Mata Branca com um subprojeto de recuperação de áreas degradadas. Há

comunidades Potiguara também em áreas serranas dos municípios de Novo Oriente, Tamboril e

Monsenhor Tabosa, que enfrentam problemas similares com o intrusamento das áreas pretendidas, o

desmatamento e as queimadas para plantios e a intensificação das tensões com a comunidade

envolvente a partir da reivindicação e/ou início dos trabalhos de demarcação de terras.

Tapeba8 - A história recente dos Tapeba tem sido marcada pelos processos simultâneos de (a)

valorização progressiva da propriedade imobiliária rural na Região Metropolitana de Fortaleza, (b)

reconhecimento oficial do seu território pelo Estado e (c) identificação da Terra Indígena Tapeba, em

1986, com uma área de 4.675 ha e 75 km de perímetro, bem como pelas conseqüências positivas e

adversas deste processo.

Três processos caracterizam a história recente do povo Tapeba. Em primeiro lugar, verifica-se uma

grande transformação em sua auto-imagem, em que a visão do grupo como uma população com

direitos e poderes especiais substituiu à incorporação tradicional dos estigmas que os representantes

locais da sociedade nacional associavam à sua identidade e em que o termo “tapeba” funcionava como

uma identificação pejorativa que legitimava vítimas constantes arbitrariedades da polícia e ameaças de

supostos proprietários de terra.9 Em segundo, ela se caracteriza, também, pelo confronto entre a busca

dos tapebanos pelo reconhecimento de sua etnicidade e os discursos antropológicos que a apóiam10

8 Fontes de informações sobre os Tapeba: Henyo Trindade Barretto Filho, Enciclopédia dos Povos

Indígenas no Brasil, verbetes referentes à etnia Tapeba, Instituto SocioAmbiental, www.socioambiental.org/pib/epi/tapeba. Henyo Trindade Barreto Filho, ―Invenção ou Renascimento: Gênese de uma sociedade Indígena contemporânea no Nordeste‖, in. João Pacheco de Oliveira (org.), A Viagem da Volta: Etnicidade, política e reelaboração cultural no Nordeste indígena. Rio de Janeiro: LACED/Contra Capa, 2ª. Edição, 2004. Henyo Trindade Barreto Filho, ―Identidades Emergentes, Soluções Heterodoxas: O caso da (não) demarcação da Terra Indígena Tapeba‖, in. Marco Antônio do Espírito Santo (org.), Política Indigenista: Leste e Nordeste

Brasileiros. Brasília: FUNAI/DEDOC, 2000.

9 Associada a condutas como ―comer carne podre (carniça), consumo de álcool, promiscuidade, desonestidade, desrespeito pela propriedade alheia, indolência e indisposição para o trabalho, bem como à imundície em que vivem e à imagem de miséria, em geral, a que estão associados‖.

10 Neste discurso prevalece a teoria de que os Tapeba são produto de um lento processo histórico de individuação étnica de frações de diversas sociedades indígenas nativas (Potiguara, Tremembé, Cariri e Jucá) reunidas, sob a autoridade da administração colonial, na Aldeia de Nossa Senhora dos Prazeres de Caucaia, entre 1741 e 1759. Destaca-se também que os tapebanos vivem em intenso e permanente contato com "brancos" em virtude das atividades produtivas, dos casamentos interétnicos, da manutenção de relações de proximidade social pela constituição de

com os discursos das elites locais que – como parte de uma estratégia jurídica de contestação e

oposição à demarcação da Terra Indígena Tapeba – negam sua existência histórica. Em terceiro,

caracteriza-se por transformações na dinâmica social marcadas (a) pelo aumento da presença não-

indígena na área de terras reivindicada por eles, em decorrência dos loteamentos irregulares

promovidos pelos supostos proprietários; (b) pelo desmoronamento dos padrões de relacionamento

social que tradicionalmente regulavam o acesso dos tapebanos a terra e a seus recursos naturais; e,

enfim, (c) pelo acirramento dos conflitos de origem fundiária e a violência contra suas lideranças.

Em conseqüência dessa dinâmica e como o processo de demarcação da Terra Indígena Tapeba sofreu

inúmeras reviravoltas e permanece inconcluso, apesar da FUNAI ter instalado um posto indígena na

área, os Tapeba não conseguiram assegurar o domínio de seu território tradicional e acabaram sendo

dele expropriado por mecanismos de troca desigual e, em sua maioria, foram levados a: (a) ocupar

domínios da União, ou (b) viver na condição de "moradores" em propriedades de terceiros, a quem

pagavam rendas de suas colheitas anuais, ou (c) residir em bairros do perímetro urbano da cidade.

Em síntese: os diversos grupos locais que constituem a etnia Tapeba ocupam nichos ambientais

diferentes (áreas rurais e urbanas, serras e mangues) e atualizam formas diferenciadas de apropriação

dos recursos naturais e de atividades econômicas. Assim, há: (a) áreas habitadas majoritariamente por

tapebanos que trabalham na agricultura (como diaristas e arrendatários); (b) áreas onde sua presença é

residual, como nos bairros do perímetro urbano da sede do município de Caucaia, em que predominam

o comércio ambulante, os pequenos serviços e o trabalho assalariado; (c) áreas onde eles negociam

com frutas e vivem de atividades extrativas (a produção de carvão vegetal, a coleta e comercialização

de mudas de plantas ornamentais e a captura de animais silvestres); e, (d) áreas onde vivem da pesca

artesanal de crustáceos e da retirada de areia do leito do rio Ceará.

Tremembé11 - À primeira vista, o Povo Tremembé não se distingue culturalmente dos não-índios ou regionais. Seu território abrange áreas dos municípios de Itarema, Acaraú e Itapipoca. O início de sua mobilização étnica, política e territorial coincide com a mobilização social e política dos trabalhadores rurais e agricultores no interior do Ceará ao longo da década de 1980 e está relacionado com a intensificação de conflitos fundiários e com a progressiva concentração fundiária sob controle de empresas agroindustriais, comerciantes e proprietários que se fixaram nas regiões de Almofala e da Tapera. Sua existência deve ser considerada basicamente a partir de três situações históricas distintas de mobilização social, étnica e política: a de Almofala, a da Tapera/Varjota e a do Córrego do João Pereira, que envolveram a intervenção de agentes de diferentes instituições da sociedade civil – a Comissão Pastoral da Terra, missionários católicos e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Itarema.

relações de parentesco fictícias e da cordialidade – em alguns casos – das relações de vizinhança com "brancos". Neste discurso antropológico, o município de Caucaia se originou dos domínios territoriais da Igreja que constituíam a Aldeia de Nossa Senhora dos Prazeres de Caucaia, de que a ―santa‖ aparece como proprietária até 1863 e que tanto os Tapeba, quanto os regionais ainda se lhe referem como "terra da santa", num reconhecimento tácito da existência do aldeamento.

11 Fontes de informação sobre os Tremembé: Marcos Luciano Lopes Messeder, ―Interpretando o Passado, Orientando o Futuro: Uma análise comparativa das divisões políticas entre os Tuxá (BA) e os Tremembé (CE) e suas relações com o Estado‖, in. Marco Antônio do Espírito Santo, op. cit.. Carlos Guilherme do Valle, ―Experiência e Semântica entre os Tremembé do Ceará‖, in. João Pacheco de Oliveira, op. cit.. Carlos Guilherme do Valle, Enciclopédia dos Povos Indígenas do

Brasil, verbetes sobre a etnia Tremembé, www.socioambiental.org/pib/epi/tremembe.

Na Almofala, onde se localizava o antigo aldeamento e a ―terra da santa‖, os Tremembé habitam diversas localidades numa ampla área geográfica onde, desde a segunda metade do século XX, ocorreu grande concentração do controle sobre a terra e outros fatores de produção por parte de proprietários, comerciantes e posseiros que constituem o grupo econômico e politicamente dominante ao nível regional. Os Tremembé vivem em pequenos lotes de terra (1 ou 2 hectares) cercados de plantações de coqueiro e trabalham como pescadores e agricultores. Eles convivem com diversos grupos sociais numa situação interétnica complexa, heterogênea e tensa. A reivindicação do reconhecimento oficial de sua identidade étnica só ocorreu a partir da década de 1980 e à medida que agentes da FUNAI e missionários passaram a intervir localmente. Suas reivindicações étnicas, políticas e territoriais foram consideradas pela FUNAI em 1986, mas a identificação e a delimitação da Terra Indígena Tremembé da Almofala (cerca de 4.900 hectares) foram sendo postergadas, por conta da tramitação de ações judiciais, e ainda causaram o acirramento das posições contrárias à sua regularização e o aumento de investimentos econômicos no território (turismo, criação de peixe e viveiros de camarão). Na zona da mata (área das comunidades de Varjota, Tapera, Amaro, Batedeira e Córrego Preto), os moradores mantinham, tradicionalmente, relações de patronagem e clientela com os donos das fazendas limítrofes da ―Terra do Aldeamento‖. No fim da década de 1970, muitas dessas fazendas foram adquiridas por empresas agroindustriais voltadas ao plantio de coqueiro, muitas famílias foram despejadas de suas terras, mas a grande maioria permaneceu a despeito da pressão de remoção. E os remanescentes formaram, na década de 1980, uma Comunidade Eclesial de Base (CEB), com assessoria da Comissão Pastoral da Terra (CPT) da Diocese de Itapipoca. Seus membros distinguiam-se pelo caráter pastoral e camponês de sua mobilização e ação política e reivindicatória enquanto trabalhadores rurais. Foi apenas a partir de meados da década de 1980, com o início da atuação de missionários católicos, que se redefiniu o perfil da organização e de suas demandas políticas de acordo com princípios de identificação étnica dos membros da ―Comunidade‖. Esta área se encontra em identificação. A situação do Córrego do João Pereira engloba um conjunto de localidades do município de Itarema, numa região que não fazia parte do patrimônio territorial do antigo aldeamento dos Tremembé. Durante a década de 1980, a área foi palco de movimentos de mobilização de trabalhadores rurais em decorrência de conflitos com fazendeiros (queima de roçados, destruição de casas de farinha, ameaças de capangas). Em 1987, com o apoio do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Itarema, os trabalhadores rurais conseguiram a desapropriação das terras do Capim-Açu e de boa parte da fazenda São José junto ao INCRA. A questão étnica emergiu em decorrência de conflitos internos na área do assentamento. Ao criar o assentamento, o INCRA não levou em consideração as diferenças sociais internas, assentando na mesma área antigos moradores, vaqueiros e capangas, perseguidos e perseguidores dos recentes conflitos. Neste contexto, grandes divergências entre os assentados emergiram, assumiram contornos de conflito interétnico e levaram uma das facções em confronto a apelar pela interferência da FUNAI a fim de ―converter a situação fundiária de ‗terra desapropriada‘ para Terra Indígena‖. O faccionalismo envolvendo os assentados na terra desapropriada continuou ao longo de toda a década de 1990; mas, atualmente, as localidades de São José, Capim-Açu, Cajazeiras e Telhas compõem a Terra Indígena Córrego do João Pereira, demarcada e homologada em 2003. As comunidades Tremembé de São José e Buriti situam-se na praia da Baleia, município de Itapipoca, em área de implantação de projeto turístico apoiado pelo PRODETUR. Esta área

se caracteriza pelo intenso desmatamento para a construção de criatórios de camarão. Já a comunidade Tremembé de Queimadas é limítrofe à Terra Indígena do Córrego João Pereira, município de Acaraú. A área pretendida pela comunidade está incluída no Projeto Baixo Acaraú (DNOCS/Governo do Estado do Ceará), havendo conflitos entre os indígenas e os assentados. Dispõe-se de poucas informações atualizadas a respeito das características sócio-culturais das outras etnias. Cerca de trinta famílias da etnia Tapuio se encontram na comunidade de Pau Ferro, no município de Monsenhor Tabosa. Os Kanindé de Aratuba e Canindé vivem na Serra do Baturité; vivenciam problemas de discriminação pela comunidade envolvente e problemas internos, quer quanto à identidade étnica, quer quanto à preservação da vegetação nativa da área do aldeamento. Sua história é marcada por um longo processo de migrações forçadas. As terras que ocupam, no sítio Fernandes (270 hectares), foram desapropriadas pelo INCRA em 1995 como parte do movimento dos trabalhadores rurais locais. O povo Gavião (cerca de 20 famílias e 190 pessoas) encontra-se na comunidade de Boa Vista no município de Monsenhor Tabosa e se engajaram na luta pelo reconhecimento em 2005. Os Kalabassa e os Tabajara vivem na periferia da cidade de Crateús, em condições precárias de moradia, mantendo intenso contacto com a população não-indígena e vivenciando problemas de prostituição, violência e tráfico de drogas. O retorno à terra de origem por parte do grupo Tabajara tem ocasionado conflitos com a comunidade envolvente. Há, igualmente, comunidades Kalabassa e Tabajara vivendo no entorno da cidade de Poranga, ameaçadas pelas invasões sistemáticas das áreas por elas pretendidas. Os Payaku vivem próximo à praia no município de Beberibe. Em sua grande maioria, essas comunidades indígenas também se confrontam com a discriminação pela comunidade envolvente e a falta de respeito à sua condição indígena por autoridades municipais e policiais. Os Kariri também se encontram no município de Crateús (comunidade de Maratoã) e descendem de dois núcleos familiares que migraram dos municípios do Crato e de Lavras de Mangabeiras. Enfim, o grupo Anacé (cerca de 380 famílias) está estabelecido nos municípios metropolitanos de São Gonçalo do Amarante e Caucaia em situação de temor em virtude da ameaça de desapropriação de suas terras tradicionais para a construção do Complexo Industrial e Portuário do Pecém e aguarda a conclusão dos estudos para identificação e demarcação de sua terra pela FUNAI, previsto para dezembro de 2011.12 4. Situação Fundiária 12 Fontes: Centro de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos da Arquidiocese de Fortaleza, Povos

Indígenas do Ceará, HTTP://www.cdpdh.org.br/noticias/arq/n13_povosindigenas_ceara.html. João Paulo Vieira, Alexandre Gomes e Juliana Muniz, Povos Indígenas no Ceará: Organização, memória e Luta. Fortaleza: Memorial da Cultura Cearense/Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, 2007. FUNAI, Projeto de Vigilância e Fiscalização das Terras Indígenas Jurisdicionadas ao Núcleo de

Apoio Local do Ceará – Exercício 2005. Fortaleza: FUNAI, 2005. Instituto Socioambiental, Notícias: Anacés – Funai começa 3º estudo em setembro, 17 de agosto de 2011, disponível através da página HTTP://pib.socioambiental.org/caracterizacao.php?id_arp=5092#10-5541.

A demarcação das terras indígenas do Ceará continua a gerar conflitos legais e políticos e se posterga. Há apenas uma terra indígena homologada (Córrego João Pereira) e duas que estão declaradas e quase que completamente desintrusadas: a Terra Indígena Lagoa Encantada, da etnia Jenipapo-Kanindé, com uma área de 1731 hectares, que foi declarada pela FUNAI em março de 2011, e a Terra Indígena Pitaguary, com área de 1.735 hectares, habitada pela etnia Pitaguary e declarada em 2006. . O Incra também titulou o ―Território Nazaro‖ do povo Tabajara, na região do Sertão dos Inhamuns, que hoje se encontra sem problemas fundiários. Oito outras áreas já tiveram seus trabalhos de identificação, seus laudos antropológicos e seus estudos de delimitação concluídos, mas sua demarcação ainda está em suspenso ou sub judice. A tabela 2, a seguir retrata a situação fundiária das terras indígenas no Estado. Tabela 2: Situação Fundiária

Terra Situação Jurídica População Área (ha) Etnia Localização Anacé Em identificação ( 1.262 n/d Anacé São Gonçalo

do Amarante Córrego João Pereira

Homologada 478 3.162 Tremembé Acaraú e Itarema

Lagoa Encantada

Declarada 304 1.731 Jenipapo-Kanindé

Aquiraz

Mundo Novo/Viração

Em identificação 2.176 n/d Potiguara e Tabajara

Boa Viagem, Monsenhor Tambosa e Tamboril

Nazário Titulado pelo INCRA n/d 5.900 Tabajara Quiterianópolis

Pitaguary Declarada 2.740 1.735 Pitaguary, Tapeba e Anacé

Maracanaú e Pacatuba

Tapeba Identificada 6.542 4.767 Jenipapo-Kanindé, Tapeba e Anacé

Caucaia

Tremembé de Acaraú

Em identificação 1.895 n/d Tremembé Acaraú

Tremembé de Almofala

Em identificação 2.113 4.900 Tremembé Itarema

Tremembé de Itapipoca

Em identificação n/d Tremembé Itapipoca

Tremembé de Queimadas

Em identificação 282 n/d Tremembé Acaraú

Tremembé Mundo Novo/Viração

Em identificação n/d Tremembé Boa Viagem, Monsenhor Tabosa e Tamboril

Fonte: Instituto SocioAmbiental, ―Caracterização das Terras Indigenas‖, acessível através da página <HTTP://www.socioambiental.

A morosidade do processo de regularização das terras indígenas no Ceará constitui um óbice, porém não é um impedimento à sua participação no PDRS. A regra geral para a realização dos investimentos do Projeto em apoio à inclusão produtiva, abastecimento de água e esgotamento sanitário simplificado é que eles estão condicionados à disponibilidade de terras públicas e/ou à doação voluntária de áreas de terra às comunidades beneficiárias para sua implantação. Nas terras indígenas demarcadas, o projeto poderá financiar investimentos físicos; nas terras indígenas ainda não-demarcadas, o projeto poderá financiar investimentos físicos em glebas de terra que se comprove que são individualmente possuídas e/ou doadas às entidades indígenas proponentes. Em relação aos povos indígenas há duas situações distintas. Nas Terras Indígenas demarcadas, por constituírem patrimônio da União em usufruto dos Povos Indígenas, esta doação é dispensada. Todavia, nas áreas não demarcadas, os investimentos poderão ser realizados desde que as comunidades indígenas apresentem domínio e propriedade sobre as glebas de terras necessárias à implantação dos investimentos. 5. Arcabouço Legal O artigo 22 da Constituição Federal de 1988 determina que é de competência exclusiva da União legislar sobre populações indígenas. Fica claro também, a partir da Carta Magna, a garantia de proteção aos grupos indígenas, aos elementos formadores de sua cultura, bem como a demarcação e proteção das terras indígenas. De fato, a Constituição Brasileira estabelece no capítulo VIII, presente no título VIII da Constituição o direito dos povos indígenas onde afirma que ―são reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens‖ (art.231). Com relação às terras indígenas a Constituição Federal garante a posse permanente das terras tradicionalmente por eles ocupadas cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos conforme disposto ainda no artigo 231, parágrafos 2º e 4º. A mesma Constituição Federal de 1998, no caput do artigo 5º, determina que ―todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se a vida, a liberdade, a igualdade, a segurança e a propriedade...‖. No campo dos direitos sociais, a Carta Magna proíbe a diferença de salários, de exercício de funções e de critérios de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil (artigo 7º, inciso XXX). A Lei no. 6.001, de 19 de dezembro de 1973 que dispõe sobre o Estatuto do Índio regula a situação jurídica dos índios e das comunidades indígenas do País com o objetivo de preservar sua cultura e integrá-los de forma progressiva e harmoniosa. As regras supracitadas demarcam no sistema jurídico brasileiro, dispositivos concretos asseguradores do princípio da igualdade formal, indicados no Decreto Legislativo 143/2002, que ratificou a convenção 169 da OIT e garantiu a necessidade de consulta aos povos indígenas em todos os assuntos de seu interesse. Combinado com a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, este decreto torna os princípios básicos da legislação brasileira similares aos condicionantes do Banco Mundial para atividades relacionadas aos povos indígenas (OP 4.10).

6. Contexto Institucional Nesse contexto de ampla contestação às reivindicações fundiárias dos povos indígenas e marcado pela morosidade do Ministério da Justiça em relação aos processos de demarcação de terras indígenas, o reconhecimento da existência dessas etnias (e, por conseguinte, de seus direitos constitucionais) vem-se intensificando a nível estatal. A FUNAI – que tem a missão institucional de proteger e promover os povos indígenas do Brasil e as responsabilidades pela regularização das terras indígenas e a resolução das reivindicações de terras por povos indígenas, bem como pela proteção dos grupos isolados ou de pouco contato – já reconhece 11 grupos indígenas e estabeleceu Grupos de Trabalho para identificação e demarcação de terras para as etnias indígenas Anacé, Kalabassa, Kanindé, Payaku, Potiguara, Tabajara e Tremembé. A Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) e a Secretaria Especial de Saúde Indígena, do Ministério da Saúde, provêem serviços de saúde para membros de 12 etnias, distribuídos em 18 municípios e 81 aldeias. A FUNASA é também responsável pelos serviços de abastecimento de água potável para as comunidades indígenas. Na última década, o Estado do Ceará melhorou o acesso da população indígena aos serviços de educação. A Secretaria de Educação do Estado do Ceará contém o Núcleo de Educação Escolar Indígena, responsável pela prestação dos serviços especiais de educação indígena através de uma rede de 36 escolas estaduais e quatro municipais localizadas em 15 municípios, que atendem a 6.028 alunos de etnias oficialmente reconhecidas e não-reconhecidas nos seguintes níveis: Educação infantil – 828 alunos; Ensino Fundamental – 3.201 alunos; Ensino Médio – 283; Ensino de Jovens e adultos – 1.716 alunos. Esses dados indicam um aumento no número de alunos de 21% com relação ao ano de 2010(dados SEDUC – setembro de 2011) A EMATERCE (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural) desde 2009 participa da PNATER, que tem como objetivo estimular, animar e apoiar iniciativas de desenvolvimento rural sustentável, que envolvam atividades agrícolas e não agrícolas, tendo como centro o fortalecimento da agricultura familiar, visando a melhoria da qualidade de vida e adotando os princípios da Agroecologia como eixo orientador das ações‖. Tem o propósito de realizar as seguintes ações: Mobilizar e sensibilizar técnicos para dar apoio às comunidades indígenas; Realizar oficinas para realização de diagnóstico preliminar; Realizar intercâmbio entre as comunidades indígenas. Enquanto instância de articulação entre as comunidades indígenas e as políticas de estado (ver a seguir, seção 8.3 – Arranjos de Implementação), o projeto terá interfaces com outras instituições federais, estaduais e organizações não-governamentais que desenvolvem atividades junto aos povos e terras indígenas no estado do Ceará como, por exemplo: o Ministério do Meio Ambiente, que implementa o Projeto ―Carteira Indígena‖ e é responsável pelo ―Plano Estratégico Nacional de Áreas Protegidas‖ (PNAP);13 o Ministério do 13 Pelo PNAP, o Governo brasileiro reconhece a importância das terras indígenas e das terras de

comunidades remanescentes de quilombos como parte da política de conservação da

Desenvolvimento Agrário, e desenvolvem as metodologias de prestação de assistência técnica às comunidades indígenas, dentro da Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural e implementa o Programa Territórios da Cidadania; e o Ministério do Desenvolvimento social, responsável pela ―Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais‖ (PNPCT).14

7. Processo de consulta durante a fase de preparação Durante a fase de preparação do presente documento, a SDA realizou uma consulta com representantes das diversas etnias presentes no Estado. A consulta fez parte do processo participativo de preparação dos documentos do PDRS e visou ao mesmo tempo informar sobre a proposta do Projeto de Desenvolvimento Rural Sustentável: objetivo, componentes, salvaguardas e público; obter dessa população suas impressões. Assim, realizou-se uma série de consultas preliminares e preparatórias para uma Oficina de Consulta Pública com os povos indígenas, que foi realizada com apoio da FUNAI e do Instituto Agropolos. Coube à Funai apoiar na mobilização, transporte e local para realização da Oficina. O Instituto Agropolos possibilitou a viabilização de alguns deslocamentos e custeou a alimentação. A SDA disponibilizou seus técnicos, equipamentos e material utilizado durante a oficina e coordenou o evento. A Oficina ocorreu no dia 13 de junho de 2011, na Escola Indígena da comunidade Trilho da Aldeia Tapeba (em Caucaia) e teve oito horas de duração. A Oficina contou com 49 participantes, incluindo: representantes de 13 etnias e 34 aldeias indígenas, localizadas em 14 municípios; representantes de organizações indígenas e órgãos governamentais – Fundação Nacional do Indio (FUNAI), Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA) e EMATERCE. A Oficina foi iniciada com a apresentação e referendo da pauta que fora anteriormente acordada com os parceiros. A seguir foi apresentada e debatida – em grupos e, depois, na assembléia geral – a proposta do PDRS por técnicos da SDA e outras informações relevantes. Os trabalhos em grupos concentraram-se em três temas:

Quais as condições de vida das comunidades indígenas e os principais desafios e dificuldades que enfrentam em sua sobrevivência?

O que fazer para resolver estas dificuldades e superar estes desafios de modo a garantir melhores condições de vida?

Que expectativas os povos indígenas tinham em relação ao PDRS?

biodiversidade brasileira e busca integrá-las ao esforço de planejamento da paisagem, ao lado das unidades de conservação, incluindo o projeto ―Proteção, Conservação, Recuperação e Uso Sustentável da Biodiversidade em Terras Indígenas‖.

14 Criada por meio do Decreto N° 6.040/2007, A PNPCT tem por objetivo a promoção do desenvolvimento sustentável dos povos e comunidades tradicionais, com ênfase no reconhecimento, fortalecimento e garantia dos seus direitos territoriais, sociais, ambientais, econômicos e culturais

Em relação às condições de vida nas comunidades indígenas do Ceará, os participantes destacaram aspectos relacionados com: (i) a situação fundiária, marcada pela lentidão nos processos de demarcação das terras indígenas, conflitos com posseiros e fazendeiros locais e a falta de fiscalização e vigilância das Terras Indígenas; (ii) a economia local caracterizada pelo fato de que ―mais da metade dos Povos Indígenas não produz por falta de Terra e os poucos que produzem esbarraram na burocracia do sistema‖, que há atraso na execução de projetos nas áreas indígenas e que falta acompanhamento e assistência técnica durante e depois da implantação desses projetos; (iii) o desrespeito aos direitos indígenas em decorrência da falta de vontade política das autoridades competentes para fazer cumprir as leis e seria freqüente o desrespeito das instituições governamentais com a forma de organização dos Povos indígenas; (iv) a insegurança hídrica vivida pelas comunidades indígenas; e, (v) as contradições no processo de resgate da cultura indígena em determinadas comunidades e etnias; Em relação às alternativas para se enfrentar e superar estes desafios e obstáculos, os participantes ressaltaram: (i) o cumprimento das leis que garantem os direitos dos povos indígenas, o respeito às especificidades de cada povo, e a mobilização e união dos povos indígenas para garantir seus direitos; (ii) a aceleração do processo de demarcação de terras indígenas, de indenização dos posseiros e de desintrusão das áreas; (iii) o apoio financeiro e o acompanhamento técnico governamental para projetos e políticas específicos de desenvolvimento nas áreas indígenas, voltados para solucionar as dificuldades que os povos indígenas enfrentam, enfatizando-se ações para melhoria dos meios de escoamento de sua produção, garantia governamental de aquisição de excedentes e de seu repasse para outras comunidades indígenas que não produzem; e, (iv) a construção de parcerias com outros grupos e entidades vinculadas à agricultura familiar e com organizações não-governamentais. Enfim, em relação às suas expectativas em relação ao PDRS, os representantes indígenas ressaltaram a necessidade de que o Projeto: (i) respeite a organização das comunidades indígenas e seus valores culturais; (ii) contribua para gerar renda e autosustentabilidade para o povo, apoiando a produção de forma sustentável, ―sem agredir o meio ambiente respeitando a natureza, não desmatando, não queimando, sem uso de venenos, com reflorestamento e implantação de bancos de sementes‖ e oferecendo capacitação e assistência técnica; e, (iii) sirva como porta de ingresso para os povos indígenas acessarem e participarem dos Programas do Governo. Em síntese, como resultados desse momento de oitiva, destacam-se os aspectos relacionados a: Pobreza, vulnerabilidade e insegurança hídrica – os representantes indígenas destacaram a situação de pobreza em que vivem os povos indígenas no estado do Ceará, caracterizada por elevadas taxas de mortalidade infantil e o analfabetismo, pela escassez dos recursos hídricos em suas áreas e pela má remuneração de sua mão-de-obra. Os representantes indígenas pleitearam a liberação de 6.000 cisternas e, em resposta, firmou-se o compromisso de incluir este pleito em projeto ora em negociação entre a Secretaria de Desenvolvimento Agrário e o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Questão fundiária – os representantes indígenas destacaram as condições de escassez e insegurança das terras indígenas, o processo de regularização fundiária das terras indígenas e os interesses antagônicos que o vêm protelando no estado. Os representantes

dos povos indígenas solicitaram do Governo do Estado que lhes fosse dado o mesmo tratamento que se concede aos grandes complexos industriais – ou seja: a aquisição das áreas que estejam com dificuldade de demarcação. Em resposta, os representantes da FUNAI prestaram esclarecimentos sobre o processo demarcatório. Acesso a Serviços Públicos – os representantes indígenas destacaram as restrições ao acesso a serviços de assistência técnica e a condição precária das estradas de acesso a muitas aldeias que são enfrentadas pelas comunidades indígenas. Estas duas carências foram apontadas como fatores que inviabilizam o desenvolvimento de suas atividades produtivas e sua inserção em redes de comercialização, que são vistos como requisito para melhorar a remuneração da mão-de-obra indígena e suas condições de vida. Em resposta foram apresentadas, pelos representantes da EMATERCE, as diretrizes da Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural para Povos Indígenas (PNATER-Indígena). Produção Econômica e Assistência Técnica – os representantes indígenas reivindicaram maior apoio à diversificação da produção nas comunidades indígenas e a inclusão dos produtores indígenas no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Também destacaram as necessidades relacionadas à oferta de novas tecnologias e de maior assistência técnica visando o aumento da produtividade e as necessidades de maior apoio à comercialização dos produtos indígenas. Enfim, destacaram a necessidade de um maior envolvimento dos órgãos governamentais nas políticas indígenas e da provisão efetiva de assistência técnica e extensão rural aos Povos Indígenas. Estas sugestões foram criticamente incorporadas à estratégia de participação dos povos indígenas no Projeto.15 8. Estratégia de participação dos povos indígenas no Projeto O Marco Conceitual de Povos Indígenas do Projeto tem por objetivo garantir a participação das populações indígenas e promover a sua inclusão nos processos de desenvolvimento. A EPPI norteia-se pelos princípios da autonomia das populações indígenas, seu direito à diversidade e o respeito à especificidade de suas visões de mundo e projetos de vida. Neste sentido, tem como pedras angulares o respeito às suas manifestações de interesse ou não em participarem do Projeto e à oportunidade de uma participação que seja efetiva. 8.1. Condições de Elegibilidade Todas as comunidades indígenas presentes na área de atuação do Projeto são elegíveis para suas ações, podendo acessá-las de acordo com sua manifestação de interesse e disponibilidade de áreas para implantação de apoio à inclusãoprodutiva, e abastecimento de água e esgotamento sanitário simplificado. Nas terras indígenas demarcadas, o projeto poderá atender as demandas das comunidades indígenas para os Componentes 1 e 2 e financiar os investimentos físicos necessários. Já nas terras indígenas ainda não-demarcadas, o projeto poderá financiar investimentos físicos

15 A transcrição na íntegra dos trabalhos e depoimentos realizados durante a Oficina, bem como

outros documentos a ela relativos (pauta, cópia da lista de presença dos participantes, mística e uma amostragem fotográfica) foram reproduzidos e armazenados no arquivo do Projeto.

em glebas de terra que se comprove que são individualmente possuídas e/ou doadas às entidades indígenas proponentes. Portanto, todos os Povos que possuírem terras regularizadas ou disponham de áreas cedidas legal e voluntariamente por seus proprietários para as associações representativas dos interesses dos beneficiários poderão demandar ações de quaisquer dos componentes do Projeto. Essas demandas, depois de qualificadas, serão atendidas, sempre respeitando o caráter etnorracial e cultural, porém com o foco no desenvolvimento local. Os Povos que não possuírem terras regularizadas, nem dispuserem de áreas cedidas legal e voluntariamente por seus proprietários para as associações representativas dos interesses dos beneficiários poderão ser contemplados com as ações de capacitação e fortalecimento institucional do Componente 3. Vale ressaltar que, as ações a serem apoiadas pelo Projeto deverão partir de demandas dos próprios Povos Indígenas, referendadas por suas comunidades e organizações através de processos amplamente participativos. 8.2. Áreas de Atuação Através de sua estratégia de comunicação, disseminação e mobilização, bem como de seu plano de capacitação, o Projeto desenvolverá atividades preliminares voltadas para:

A sensibilização dos Conselhos Municipais de Desenvolvimento Sustentável e dos Conselhos dos Territórios onde se fazem presentes as populações indígenas no sentido de se reestruturarem e incluírem – com direito de voz e de voto – representação desses povos e de outras comunidades tradicionais, tendo por objetivo o incremento da participação de representantes das populações indígenas nos colegiados dos municípios, do território e do Estado que tenham caráter decisório em relação ao Projeto, em particular, e ao desenvolvimento sustentável do meio rural, em geral; A capacitação em questões indígenas e etnodesenvolvimento para a equipe da Unidade de Gerenciamento do Projeto, seus parceiros governamentais e conselheiros territoriais; A divulgação e disseminação do Projeto junto a todas as aldeias indígenas no Estado.

Através do Componente 3, o Projeto inicialmente focalizará suas ações junto aos povos indígenas em três dimensões: a capacitação e o fortalecimento comunitários, a criação de uma Rede de Colaboração Solidária – através do fortalecimento das redes de articulação entre as comunidades indígenas e os órgãos estaduais – e a abertura de canais de acesso das comunidades indígenas aos serviços públicos. Assim sendo, prevêem-se:

Atividades de diagnóstico, planejamento participativo e priorização das necessidades e ações de comunidades indígenas. Prevê-se a elaboração de planos e diagnósticos territoriais

Estabelecimento de canais de contato e comunicação entre a UGP e as lideranças indígenas por meio da realização periódica de reuniões ou encontros com lideranças e comunidades indígenas. Estabelecimento de rede de parcerias com instituições governamentais e não-governamentais, indígenas e não-indígenas com competência e credibilidade comprovadas para prestarem assistência e apoiarem atividades voltadas ao etnodesenvolvimento das comunidades indígenas

Estas atividades de mobilização, capacitação, planejamento participativo e fortalecimento e articulação institucional terão por objetivos:

Viabilizar a participação das comunidades indígenas nos Editais a serem lançados pelo Projeto para o Componente 1 e o Componente 2, conferindo-lhes informações e capacidades necessárias à que participem em igualdade de condições com entidades representativas de outros grupos rurais e comunidades tradicionais dos Editais do Projeto; Permitir que a UGP atue efetivamente como um canal de articulação com outras instituições governamentais e não-governamentais visando à formação de parcerias institucionais para atendimento às prioridades e demandas por serviços públicos de modo a potencializar os resultados e a reduzir desperdícios decorrentes da superposição e da dispersão de esforços no atendimento aos Povos indígenas.

Para alcançar estes objetivos, a UGP e suas entidades parceiras (mormente a EMATER-CE) apoiará as comunidades indígenas:

Na preparação das propostas de suas manifestações de interesse, visando acesso aos editais lançados (Componente 1). Na preparação de propostas de intervenção que visem a segurança hídrica e esgotamento sanitário (Componente 2).

8.3. Arranjos de Implementação A Unidade de Gestão do Projeto – UGP, na Secretaria do Desenvolvimento Agrário, organizará, capacitará e manterá uma equipe social e ambiental responsável pela observância das diretrizes das políticas de salvaguarda sociais e ambientais do Projeto definidas no Plano de Gestão Ambiental e Social Matriz da Política de Reassentamento Involuntário, e neste Marco Conceitual dos Povos Indígenas. Através desta equipe técnica, a UGP elaborará e executará – como parte do Componente 3 –aos planos territoriais de capacitação e fortalecimento das organizações indígenas e os diagnósticos territorial da situação social, econômica e ambiental desses povos. Planos e diagnósticos com base territorial permitirão a elaboração de propostas de subprojetos a serem ou (a) financiados pelo próprio Projeto, de acordo com um cronograma de atividades e uma ordem de prioridades a serem acordados entre a UGP e o conjunto de lideranças indígenas,16 ou (b) encaminhados através da Rede de Colaboração Solidária às instituições parceiras para alavancar possíveis apoios financeiros. 16 A UGP manterá um canal de consultas permanente com o conjunto de lideranças indígenas a respeito dos critérios para priorização das comunidades indígenas e do estabelecimento da ordem de prioridade para atendimento.

A constituição Rede de Colaboração Solidária já foi estabelecida durante o processo de preparação do Projeto, quando se mantiveram contatos com a FUNAI, a EMATERCE, o IDACE, a FUNASA e as entidades representativas dos Povos Indígenas do Ceará e será consolidada durante a implementação do Projeto. Nesta metodologia de ações integradas, as relações estabelecidas com a FUNAI e o IDACE surgem como essenciais para se evitar que intervenções do Projeto ocorram em áreas disputadas entre os povos indígenas e outros postulantes e de forma que possa prejudicar aos interesses dos Povos Indígenas. A relação estabelecida com a EMATERCE será essencial para a validação técnica das manifestações de interesse apresentadas pelos Povos Indígenas no que tange à inclusão produtiva (Componente 1) e a com a FUNASA – ente federal responsável pela provisão de abastecimento de água para as comunidades indígenas – para o planejamento integrado de intervenções de abastecimento de água e saneamento básico (Componente 2). Enfim, as articulações com entidades representativas dos Povos Indígenas e da sociedade civil servirão para definir e planejar as ações de capacitação e fortalecimento institucional (Componente 3) e garantir que as ações do Projeto sejam monitoradas e avaliadas por um mecanismo efetivo de controle social. 8.4. Benefícios Esperados Com a inclusão de ações do PDRS para os Povos Indígenas, espera-se contribuir para (a) reduzir sua vulnerabilidade social e econômica; (b) promover alternativas de desenvolvimento que sejam étnica, cultural e ambientalmente apropriadas, e sustentáveis a curto, a médio e longo prazo, e; (c) também para a reversão de processos de empobrecimento, exploração econômica, discriminação, exclusão social e desvalorização cultural. O Projeto não pode lidar com o aspecto crucial da regularização fundiária que é destacado por todas as etnias indígenas e que, institucionalmente, está sob responsabilidade exclusiva da Fundação Nacional do Índio. Todavia, a atuação do IDACE no processo de regularização fundiária do Estado pode contribuir para minorar a condição de insegurança fundiária em que vivem muitas famílias de origem indígena que possuem direitos de posse sobre glebas de terras que poderão ser regularizados. As ações do Componente 1 poderão contribuir para responder a desafios, dificuldades e preocupações ressaltadas pelos povos indígenas no que tange ao aumento de sua capacidade produtiva, à incorporação de novas tecnologias, ao acesso à assistência técnica governamental (através da parceria com a EMATERCE e o Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural) e à comercialização de sua produção. Por sua vez, as ações do Componente 2 poderão contribuir – a partir da articulação das ações do Projeto com os investimentos da FUNASA – para responder aos desafios relacionados à situação de insegurança hídrica vivida por diversas etnias em muitas aldeias. Enfim e respondendo às preocupações manifestas pelos representantes indígenas quanto ao acesso às políticas públicas e à capacidade dos grupos indígenas de se organizarem e competirem em igualdade de condições com outros grupos do meio rural cearense pelos

recursos disponibilizados pelas políticas públicas de desenvolvimento rural sustentável, as ações do Componente 3 permitirão apoiar atividades de capacitação para os povos indígenas e instituições envolvidas com atividades relacionadas aos mesmos, nos diversos níveis, apoio à gestão e comunicação, buscando o fortalecimento desses grupos. Por outro lado, enquanto ação estratégica visa proporcionar espaços de debate na comunidade na perspectiva da autonomia, da gestão e do planejamento participativo para o fortalecimento dos atores sociais no controle e execução das políticas públicas. E ainda, possibilitar uma maior interação entre os moradores locais na perspectiva de criar mecanismos eficientes de participação e clareza dos processos educativos, aguçando a capacidade do questionamento crítico, e, ampliação das possibilidades de revigorar os saberes locais. Com este enfoque o PDRS possibilitará à comunidade beneficiada: (1) uma maior apreensão de si como coletivo; (2) uma maior compreensão dos possíveis projetos e suas interconexões locais e territoriais; (3) a forma como esta dinâmica interferirá na produção, comercialização e consumo. 8.5. Riscos Potenciais e Impactos Adversos Não se prevê nenhum impacto adverso significativo decorrente da participação dos indígenas no Projeto. O maior risco está relacionado à questão fundiária e o obstáculo que pode representar à efetiva participação dos povos indígenas nos investimentos de apoio à inclusão produtiva e à implantação de sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário simplicado. Todavia, dadas as características da situação fundiária no estado e a circunstância de que membros dos diversos grupos indígenas têm direitos de posse individual sobre pequenas glebas, esta situação fundiária constitui antes um óbice do que um impedimento à realização de investimentos do Projeto, em seus Componentes 1 e 2, para os povos indígenas. 8.6. Medidas Preventivas e Mitigadoras Serão adotadas todas as medidas necessárias para garantir que as intervenções do Programa de Desenvolvimento Rural Sustentável – PDRS sejam realizadas em conformidade com as salvaguardas do Banco Mundial para povos indígenas (OP 4.10). Para tanto, o projeto deverá utilizar como referência este ―Marco Conceitual de Povos Indígenas‖ que foi construído com a participação efetiva de todas as instituições que atuam com comunidades indígenas e principalmente com os representantes das diferentes etnias, observando os direitos indígenas e as suas tradições culturais, para orientar os projetos para as essas comunidades. Duas medidas serão particularmente observadas:

Face à preocupação manifesta pelas lideranças indígenas quanto às dificuldades que as comunidades indígenas enfrentariam de concorrer pelos recursos do Projeto com outros agricultores familiares em decorrência de seu menor nível de organização, será elaborado e implementado, como parte do Componente 3 do Projeto, um plano de capacitação e fortalecimento institucional das organizações indígenas.

Face à existência de áreas onde já se identificou a presença de grupos indígenas, mas, devido à contestação dos direitos dos povos indígenas por outros postulantes, ainda não se reconheceram seus direitos fundiários – i.e., terras em identificação ou terras cuja demarcação e regularização foram suspensas judicialmente – e visando garantir que as intervenções do Projeto não venham a prejudicar os interesses e direitos fundiários dos povos indígenas, o Projeto não apoiará investimentos solicitados por outros postulantes sem antes assegurar-se – através de consultas prévias à liberação dos financiamentos à FUNAI e ao IDACE – de que as áreas apresentadas para o investimento não se sobrepõe às reivindicadas pelos povos indígenas.

8.7. Metodologia de monitoramento e avaliação O processo de monitoramento e avaliação da implementação da Estratégia para Povos Indígenas e dos PPI adotará métodos e ferramentas participativos com o objetivo de verificar: (i) a inclusão e o grau de participação dos povos indígenas entre os beneficiários do Projeto; (ii) a ampliação da representação das populações nos Conselhos Municipais e Colegiados Territoriais; e, (iii) os efeitos do Projeto. Os indicadores chaves incluirão: (i) número de comunidades indígenas com participação no processo e nos arranjos de co-gestão; (ii) aumento do número de representantes de povos indígenas nos Conselhos Municipais e Colegiados Territoriais; (iii) número de famílias indígenas com sistemas de abastecimento de água implantado; (iv) número de famílias indígenas com esgotamento sanitário implantados; e, (v) número de projetos produtivos que empregam métodos e técnicas de manejo de recursos naturais. Instrumentos de monitoramento e avaliação incluirão: (a) relatórios de progresso sobre a implementação dos PPI; (b) reuniões ou encontros anuais com as lideranças indígenas para avaliar o desempenho e os resultados alcançados pelo Projeto junto aos povos indígenas; e, (c) definição e análise de indicadores de desempenho e resultados relacionados à ―Estratégia de Participação dos Povos Indígenas‖ nos estudos de avaliação intermediária e na avaliação final do Projeto, sendo os mesmos definidos no Manual de Operações do Projeto (MOP). Ao longo de todo o Projeto, procurar-se-á envolver os povos indígenas em atividades de monitoramento e avaliação das ações implementadas pelo Projeto que os afetem diretamente, através de reuniões periódicas entre a UGP e suas lideranças.

ANEXOS Pauta da Oficina para Consulta aos Povos Indígenas realizada em 13//06/2011; Lista de presença dos participantes da Oficina; Resultado da Oficina; Mística (depoimento e músicas) Registro fotográfico da Oficina. Chamada Pública

ANEXO 1 OFICINA COM POVOS INDÍGENAS PAUTA 08:30h – 09:00h: Abertura - Objetivos do Encontro Apresentação dos Participantes Acordo de convivência 09:00h – 09:15h: Apresentação do Projeto São José III 09:15h – 09:30h: Apresentação da PNATER 09:30h – 09:45h: Apresentação da COPICE 09:45h – 10:00h: Espaço para FUNAI ou outra instituição presente 10:00h – 10:15h: Intervalo para lanche 10:15h – 11:00h: Debates 11:00h – 12:00h: Trabalhos em grupos 12:00h – 13:00h: Intervalo - Almoço 13:00h – 14:00h: Apresentação dos trabalhos dos Grupos 14:00h – 15:00h: Apresentação e validação das informações 15:00h - 15:30h: Avaliação final 15:30h – 16:00h: Lanche – Encerramento ANEXO 2

LISTA DE PRESENÇA DOS PARTICIPANTES DA OFICINA

ANEXO 3 RESULTADO DA OFICINA COM POVOS INDÍGENAS

I - Expectativa em relação ao PDRS:

Que o projeto respeite a organização das Comunidades Indígenas, que venha para ajudar a

gerar renda e autosustentabilidade para o povo, que avance e tenha continuidade, com

capacitação e assistência técnica, respeitando os valores culturais;

Servir como ingresso para participar dos Programas do Governo;

Que realmente aconteça e saia do papel e passe a atender de fato os Povos Indígenas;

Apoio à produção de forma sustentável, sem agredir o meio ambiente respeitando a

natureza, não desmatando, não queimando, sem uso de venenos, com reflorestamento e

implantação de bancos de sementes;

Desconfiança em relação aos projetos e falta de apoio dos governantes para que de fato os

projetos sejam executados;

Melhoria de vida para atender as necessidades dentro do possível;

II - Dificuldades enfrentadas pelos Povos Indígenas:

Desrespeito das instituições com a forma de organização dos Povos indígenas;

Falta de acompanhamento e assistência técnica durante e depois do Projeto;

Regularização fundiária;

Mais da metade dos Povos Indígenas não produz por falta de Terra e os poucos que

produzem esbarraram na burocracia do sistema;

Lentidão nos processos de demarcação das terras indígenas;

Falta de vontade política das autoridades competentes para fazer cumprir as leis;

Conflitos com posseiros e fazendeiros locais;

Contradição no resgate da cultura em determinadas comunidades e etnias;

Falta de água dentro da comunidade ;

Falta de fiscalização das Terras Indígenas (vigilância)

Cumprimento das leis que garantam os direitos com relação aos Povos Indígenas;

Atraso na execução dos projetos (burocracia no desenrolar dos mesmos);

III - Como resolvê-las:

Garantir que os nossos direitos sejam respeitados, através da união e reivindicações dos

Povos Indígenas;

Garantir que o Governo dê o suporte financeiro aos projetos e manutenção dos mesmos;

Acelerar o processo de demarcação de terras;

Indenizar os posseiros;

Buscar parcerias com: sindicatos, quilombolas e ONG;

Políticas voltadas para solucionar as dificuldades enfrentadas pelos Povos Indígenas;

Respeitar as especificidades de cada Povo;

Acompanhamento técnico nas comunidades em que tiverem projetos implantados;

Fazer uma política específica para atender os Povos Indígenas, e procurar os melhores

meios para escoar a produção;

Que o governo comece a receber o excedente da produção e repassar para as comunidades que não produzem

ANEXO 4 MISTICA (DEPOIMENTO E MUSICAS) Depoimento de Luiza Canuto, sobre música em homenagem as mulheres; Tenho vocação muito forte para trabalhar com as mulheres e faço isso nos espaços de trabalho que ocupa nos movimentos sociais, movimentos sindicais, que tem que trabalhar. A música foi feita para homenagear todas as mulheres dentro da realidade que as mulheres enfrentam. Que se for ver a realidade das mulheres, as mulheres indígenas não têm problemas diferentes dos outros que não são indígenas, como os quilombolas. Então, a gente vê que mulher tem tratamento desigual na sociedade, de uma forma geral. Eu fiz essa música pensando em mim mesma e homenageando as mulheres. Ela não é música indígena. È música feita para todas as mulheres dentro de uma realidade de discriminação e preconceitos. Ser mulher é ter tratamento desigual na sociedade, e isso é uma realidade que a sociedade nos coloca. MUSICA Mulher, para você eu canto/ Enxuga o teu pranto/ vem comigo cantar/ Vem mostrar teu sorriso/ lutar é preciso/ Aprender a amar. Refrão: O mundo precisa de nós/ Quero ouvir tua voz / Vem comigo dizer/ Vem, pois a felicidade/ É a nossa liberdade/ Acredito em você.

Mulher, vem mostrar tua cara/ A vida não para/ é preciso viver/ Vem fazer tua história/ a nossa vitória/ Depende só de você.

Mulher, é preciso lutar/ Para transformar, esta situação/ Vem, unir nossa voz/ mulher somos nós/ A força desta nação.

Mulher, o mundo te espera/ A meu Deus quem me dera/ ver a paz entre nós/ Vem lutar pelo teu povo/ construir mundo novo/ Com a bandeira nas mãos.

MUSICA Louvamos o Pai Tupã/ O Deus da criação/ Criou o Céu e a Terra, e/ Entregou em nossas mãos. Vamos cantar/ Vamos dançar/ O Rei Tupã, Tabajara vem louvar/ Vamos cantar/ Vamos dançar/O Rei Tupã, Tabajara vem louvar/ MUSICA Gavião, peneirou, peneirou, peneirou, peneirou, peneirou, peneirou/ Gavião, peneirou, peneirou, peneirou, peneirou, peneirou, peneirou/ Vem, Tabajara vem/Vem peneirar o Gavião/Pois ele quer cantar/Cantar o que canta o Gavião/

ANEXO 5 REGISTRO FOTOGRÁFICO DA OFICINA COM POVOS INDÍGENAS

ANEXO 6 PDRS - Chamada Pública para a Oficina com Povos Indígenas FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO - FUNAI (CE-PI-RN-PB); Coordenação Regional de

Fortaleza - terça-feira, 17 de maio de 2011

SDA e FUNAI articulam-se para ampliar atendimento às etnias

À mesa da reunião o coordenador Regional Paulo Barbosa, o assessor técnico

Ricardo Weibe, as consultoras Cristina Barros e Maria Helena de Araújo e o ouvidor

Vasconcelos Araújo. Na sala, também o chefe do SEMAT Milton Rego (à esquerda)

e um motorista da SDA Uma equipe da SDA-Secretaria de Desenvolvimento Agrário do Ceará coletou informações sobre a atuação da FUNAI no Estado. Neste primeiro contato com a CR de Fortaleza, o ouvidor Francisco das Chagas Vasconcelos Araújo e as consultoras do Projeto São José III, Maria Helena de Araújo e Cristina Barros, fizeram um levantamento da situação atual das T.I.s e serviços prestados aos indígenas junto ao coordenador Regional Paulo Barbosa. A equipe listou todas as etnias, aldeias e localidades, destacando as terras em processo de regularização e as já regularizadas e as ações desenvolvidas pela FUNAI em educação, habitação, saúde, previdência social, apoio à agricultura familiar e comunitária, fiscalização e monitoramento territorial, distribuição de cestas alimentares, parceria jurídica com o MPF-Ministério Público Federal, assistência técnica e outras iniciativas e articulações diversas. O motivo desta sistematização é a qualificação dos povos indígenas, que fazem parte da salvaguarda do Banco Mundial (BIRD-Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento) no âmbito do PDRS, visando a sua inclusão social e a geração de empregos. A equipe da SDA busca agora, de forma participativa, elaborar um documento que defina quais ações serão incluídas no Projeto para atender às comunidades indígenas. ―Desejamos contatar diretamente as lideranças das etnias e realizar oficinas para repassar o que é o São

José III e discutir que ações poderiam ser demandadas por elas ao Projeto‖, informou Maria Helena.

SDA pretende beneficiar os povos indígenas do Ceará no âmbito do Projeto São José III

A identificação das T.I.s regularizadas é relevante porque, segundo a equipe da SDA, as comunidades instaladas em áreas ainda não legalizadas terão tratamento diferenciado, a exemplo dos quilombolas, que para terem acesso às políticas públicas deverão discutir sua própria identidade cultural, buscando a definição do território que ocupam, na busca de sua autonomia. Desta forma, visando fortalecer a governança local, o Projeto São José — originalmente criado em 1995 e retomado com sucesso na gestão Cid Gomes — está ampliando suas parcerias interinstitucionais, como as que mantêm com a FUNASA-Fundação Nacional de Saúde e movimentos sociais, buscando a inclusão social, a geração de renda e o crescimento da agricultura familiar. O Projeto São José III terá basicamente três componentes: Inclusão Produtiva, Aproveitamento dos Recursos Hídricos e Fortalecimento Institucional. O primeiro componente terá início com o incremento das cadeias produtivas da piscicultura, ovinocaprinocultura, apicultura e agricultura irrigada, sendo posteriormente incorporadas outras cadeias emergentes. No que se refere ao aproveitamento dos recursos hídricos, em parceria com as demais políticas vigentes no contexto federal, será buscada a universalização do abastecimento de água no meio rural. Quanto ao fortalecimento institucional, será dada ênfase ao processo de capacitação permanente, abrangendo as áreas tecnológica, gerencial e organizacional. Em reunião do Pacto de Cooperação da Agropecuária Cearense (AGROPACTO), realizada em fevereiro deste ano na sede do Banco do Brasil, o secretário de Desenvolvimento Agrário, Nelson Martins, anunciou a implantação do Projeto São José III, envolvendo

recursos de US$ 300 milhões, dos quais US$ 200 milhões serão financiados pelo Banco Mundial e o restante pelo Governo do Estado. O Programa — denominado Projeto de Desenvolvimento Rural Sustentável — vai atender a demandas de 182 municípios cearenses durante os próximos sete anos, priorizando as cadeias produtivas de importância econômica para o Estado, começando pela promoção de obras de infraestrutura para abastecimento de água e mecanização da produção. De acordo com o coordenador dos Programas e Projetos Especiais (COPPE) da SDA, Josias Farias Neto, no âmbito do último contrato celebrado com o Banco Mundial, o Projeto São José II (2.ª Etapa) foi adequado a partir de 2007, durante o primeiro governo Cid Gomes, com destaque para a produção e ações de abastecimento de água. Foram então tratadas de forma transversal as questões ligadas às etnias, gênero, geração e meio ambiente. Utilizando uma estratégia compartilhada entre instituições parceiras e, principalmente, junto a movimentos sociais, a iniciativa representou, na prática, o embrião para a proposta do Projeto São José III. Atualmente, a SDA está executando 40 ações referentes à universalização da assistência técnica, à democratização da terra, à reforma agrária e à estratégia territorial. Para tanto, estão sendo constituídos 13 territórios, visando territorializar todas as zonas rurais e metropolitanas até 2012. O secretário Nelson Martins anunciou ainda que, também até 2012, todas as propriedades rurais do Ceará serão regularizadas pelo IDACE-Instituto do Desenvolvimento Agrário do Ceará, o que permitirá aos produtores contar com empréstimos e ao Governo do Estado disponibilizar um cadastro completo sobre a área rural. A estimativa do titular da SDA é de que a secretaria investirá R$ 483 milhões em programas de beneficiamento ao produtor rural este ano.

SDA e FUNAI vão elaborar agenda de visitações às aldeias, a partir de encontro previsto para ser realizado em junho

A aproximação entre SDA e FUNAI favoreceria ainda a atração do IDACE para parcerias no

trabalho de identificação e delimitação de Terras Indígenas, já que incumbe-se de realizar o cadastro georreferenciado de terras em todo o Estado e emitir títulos de posse. Antes de qualquer ação o órgão, assim como o INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, questionaria e consultaria mais agilmente a FUNAI sobre a possibilidade de T.I.s nas áreas em processo de regularização. Concluída a visita, ficou pré-definido um encontro inicial, com a presença de lideranças das etnias de todo o Estado, inicialmente previsto para ocorrer em meados de junho, na Aldeia Trilho (Tapeba), visando a elaboração de uma agenda de visitações e um levantamento de suas demandas iniciais. Os recursos exigíveis para o deslocamento e a alimentação dos representantes enviados, que deverão hospedar-se em escolas indígenas nas aldeias situadas na RMF - Região Metropolitana de Fortaleza, serão partilhados entre SDA e FUNAI.

(texto e fotos: Marco Krichanã, com edição de conteúdo publicado

em www.faec.org.br, www.sfiec.org.br e www.sda.ce.gov.br)