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  • ESTUDO SOBRE OS IMPACTOS DAS ATIVIDADES FLORESTAIS NO

    CONTEXTO DO PAR RURAL

    TERMOS DE REFERNCIA TF 053131 - 009/2004

    Levantamento da viabilidade de manejo florestal em pequena escala

    em florestas nativas e alternativas para aproveitamento de reas

    alteradas e/ou degradadas no Estado do Par

    Paulo Amaral1

    Consultor

    1 Mestre em Manejo de Floresta e Conservao da Biodiversidade (contatos: Tel. (91) 3248 7645) [email protected]

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    E1275v 6

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    mailto:[email protected]

  • INDICE

    APRESENTAO........................................................................................................................................4 1. OBJETIVOS ..............................................................................................................................................5

    1.1. OBJETIVOS ESPECFICOS .......................................................................................................................5 2. SITUAO ATUAL DA EXPLORAO MADEIREIRA NO PAR...............................................6 3. MEDIDAS DE COMBATE A EXPLORAO PREDATRIA .........................................................6 4. IMPACTOS DA ATIVIDADE MADEIREIRA NO ESTADO DO PAR ..........................................8

    4.1 IMPACTOS ECOLGICOS DA ATIVIDADE MADEIREIRA .........................................................................10 4.2. IMPACTOS SOCIAIS DA ATIVIDADE MADEIREIRA................................................................................12 4.3. IMPACTOS ECONMICOS DA ATIVIDADE MADEIREIRA........................................................................13

    5. FATORES QUE AFETAM A EXPANSO DA ATIVIDADE MADEIREIRA NO PAR.............16 6. ESTRUTURA LEGAL PARA USO DOS RECURSOS FLORESTAIS DA AMAZNIA ..............18

    6.1. REQUERIMENTOS PARA A AUTORIZAO DE EXPLORAO FLORESTAL ..............................................19 6.2. REQUISITOS PARA A AUTORIZAO DO MANEJO FLORESTAL E DO DESMATAMENTO...........................21 6.3. REGRAS PARA O MANEJO FLORESTAL.................................................................................................21 6.4. REGRAS PARA O REFLORESTAMENTO .................................................................................................22

    7. ESTRUTURA POLTICA E INSTITUCIONAL.................................................................................23 7.1. ASSISTNCIA TCNICA........................................................................................................................25 7.2. ORGANIZAO SOCIAL .......................................................................................................................31 7.3. CRDITO .............................................................................................................................................35 7.4. LINHAS DE FINANCIAMENTO PARA ATIVIDADE FLORESTAL.................................................................38 7.5. INFRA-ESTRUTURA..............................................................................................................................42

    8. POLTICAS E PRINCIPAIS PLANOS DE PROMOO DO MANEJO FLORESTAL E REFLORESTAMENTO NO ESTADO DO PAR..................................................................................43 8.1. PROGRAMAS DE PROMOO DA ATIVIDADE FLORESTAL E AGRO-FLORESTAL.....44

    8.1.1 PROGRAMA NACIONAL DE FLORESTAS - PNF...................................................................................44 8.1.2. PROGRAMA PILOTO PARA PROTEO DAS FLORESTAS TROPICAIS DO BRASIL PP-G7 ..................44

    9. ALTERNATIVAS PARA FORTALECIMENTO DE UMA AGENDA ESTADUAL DE PROMOO DA ATIVIDADE FLORESTAL: PERSPECTIVAS.......................................................46

    9.1. CERTIFICAO FLORESTAL.................................................................................................................48 9.3. MANEJO FLORESTAL COMUNITRIO...................................................................................................51

    10. INICIATIVAS DE REFLORESTAMENTO NO ESTADO DO PAR...........................................59 10.1. AES PARA PEQUENOS E MDIOS PRODUTORES E O ACESSO AO CRDITO........................................64 10.2. IMPACTO DAS AES DESENVOLVIDAS.............................................................................................65

    10.2.1. Ambiental ..............................................................................................................................65 10.2.2. Econmico .............................................................................................................................66 10.2.3. Social......................................................................................................................................66

    10.3. EXPERINCIAS IMPLANTADAS...........................................................................................................68 11. COMO CONCILIAR O DESENVOLVIMENTO E A CONSERVAO NO ESTADO DO PAR............................................................................................................................................................70 12. DIRETRIZES PARA A PREPARAO DE EVENTUAIS PROJETOS FLORESTAIS NO ESTADO DO PAR....................................................................................................................................73

    12.1. ALGUNS REQUISITOS PARA O DESENVOLVIMENTO DO SETOR FLORESTAL NO PAR ..........................74 12.2. POLTICA E LEGISLAO...................................................................................................................75

    2

  • 12.3. MANEJO FLORESTAL.........................................................................................................................76 13. OPORTUNIDADES PARA O PAR RURAL ...............................................................................................77 14 - CONCORDNCIA ENTRE AS AES DE APOIO DO PAR RURAL E AS POLTICAS DE SALVAGUARDAS DO BANCO MUNDIAL.................................................................................................................................78

    15. REFERENCIA BIBLIOGRAFIA........................................................................................................81 ANEXO I. LISTA DE SIGLAS DAS INSTITUIES COM ATUAO NO ESTADO DO PAR 86 ANEXO II . PLANOS DE MANEJO DE REFLORESTAMENTO CADASTRADOS NO IBAMA PAR (IBAMA 2005)..................................................................................................................................87

    3

  • Apresentao O manejo florestal como alternativa socioeconmica para o

    desenvolvimento sustentvel do Estado do Par tem ganhado cada vez mais

    importncia. Embora somente uma pequena parte da produo florestal do

    Estado venha de fontes de manejo, o Par tem demonstrado visvel interesse em

    mudar os rumos de degradao de seu territrio. Uma das aes mais

    importantes tem sido a proposta de macrozoneamento ecolgico econmico,

    tramitando na Assemblia legislativa do Estado. Entretanto, para estimular

    praticas de manejo florestal no Par faz-se necessrio um entendimento dos

    fatores limitantes para a expanso do manejo e que medidas so necessrias

    para foment-la. Dentre os fatores que contribuem para que o manejo no seja

    praticado em larga escala esto: (i) falta de regularizao fundiria, (ii) falta de

    programas de extenso florestal, (iii) polticas distorcidas e (iv) capacidade

    institucional de conduzir os processos.

    Neste relatrio, analisa-se e discute-se os impactos ambientais, sociais e

    econmicos associados explorao de madeira em escala empresarial e

    comunitria, assim como as medias necessrias para estimular o manejo florestal

    madeireiro e no madeireiro e praticas de reflorestamento. Finalmente

    apresenta-se um cenrio alternativo do uso dos recursos florestal do Estado

    como base em manejo florestal.

    Este documento faz parte de um estudo encomendado pela Secretria de

    Estado de Produo sobre os Impactos das Atividades Florestais no Contexto do

    Par Rural - Termos De Referncia TF 053131 - 009/2004. O estudo se prope

    em: (I) Identificar e avaliar os impactos potencialmente adversos de uma poltica

    pblica estadual de apoio e/ou financiamento a iniciativas privadas, de base

    associativa ou cooperativa de pequenos produtores, para o desenvolvimento de

    atividades de manejo de florestais nativas ou de reflorestamento de reas

    alteradas/degradadas e sugerir medidas mitigadoras dos impactos potenciais

    4

  • considerados prejudiciais e inevitveis, e (II) Analisar e identificar/propor

    diretrizes para elaborao de programas florestais no Estado.

    1. Objetivos

    Identificar e avaliar os impactos potencialmente adversos de uma poltica

    pblica estadual de apoio e/ou financiamento a iniciativas privadas, de

    base associativa ou cooperativa de pequenos produtores, para o

    desenvolvimento de atividades de manejo de florestas nativas ou de

    reflorestamento de reas alteradas/degradadas.

    1.1. Objetivos especficos Analisar a estrutura e mecanismos de polticas pblicas (federal e

    estadual);

    Analisar os instrumentos legais e capacidades institucionais;

    Analisar os impactos econmicos, sociais e ambientais relacionadas

    utilizao e prticas de manejo e uso de florestas nativas e de reas

    alteradas ou degradadas no territrio paraense.

    Propor diretrizes para apoio de projetos e aes de manejo florestal no

    mbito do Par Rural.

    5

  • 2. Situao Atual da explorao Madeireira no Par A Amaznia brasileira coberta pela maior rea de extenso continua de

    florestas tropicais do mundo. As estimativas de estoque mais conservadores

    indicam um valor estimado em 60 milhes de metros cbicos de madeira em tora

    de valor comercial. O Estado do Par ocupa cerca de 25% dessa regio

    responsvel por aproximadamente 45% do volume de madeira explorada

    anualmente na Amaznia (Lentini 2005).

    Essas cifras colocam o Par como o maior produtor de madeira da

    Amaznia e ratifica a vocao florestal do Estado. A explorao de madeira

    representa 15% do Produto interno Bruto do Estado, sendo superado, em grau

    de importncia, somente pela atividade de Minerao. Entretanto, essa

    importncia econmica contrasta com uma atividade ilegal. Estima-se que 80%

    da produo de madeira e de fonte ilegal ou predatria.

    3. Medidas de combate a explorao predatria

    O uso predatrio dos recursos florestais no Par tem diversas causas,

    entre as quais se incluem; polticas equivocadas; falta de incentivo ao manejo

    florestal, monitoramento e controle da explorao madeireira deficiente, baixo

    valor dos recursos madeireiros, devido a abundancia dos estoques de produtos

    florestais, e a falta de programas de crdito e extenso florestal.

    O acesso fcil a matria prima abundante e, em muitas reas, com livre

    acesso a quem chegar primeiro, torna-se um atrativo para a explorao ilegal e

    migratrio de madeira. Entre as medidas a serem adotadas para evitar a sub-

    valorizao do recurso florestal encontra-se a necessidade de se implementar um

    programa de efetivo de controle e fiscalizao e ordenar o uso das florestas

    atravs de zoneamento.

    Uma forma de elevar o preo da matria prima torn-la artificialmente

    escassa. Uma maneira de fazer isso atravs do zoneamento florestal. Em

    6

  • essncia, o zoneamento ir delimitar as reas que devem ser protegidas e as

    reas onde a vocao e o potencial para o uso florestal sustentvel. Os critrios

    de zoneamento devem incluir informaes sobre a cobertura florestal, topografia,

    situao fundiria e acesso. Por exemplo, estudos do Imazon geraram um

    primeiro mapa com as reas prioritrias para a explorao e reas que deveriam

    ser conservadas no Par (Souza Jr. 1997). O mapa gerado para o Estado indicou

    que cerca de 20% do territrio no tem recursos madeireiros (so savanas,

    campos naturais e reas desmatadas), 28% eram terras legalmente protegidas

    (terras indgenas, reas militares, unidades de conservao), 20% eram reas

    consideradas de alta prioridade para a conservao da biodiversidade e,

    finalmente, usando critrio de excluso, 32% seriam reas mais indicadas para a

    explorao florestal.

    Em relao ao controle e fiscalizao o importante elevar os preos da

    matria-prima de origem predatria de forma a se aproximar ou igualar com os

    custos do manejo. Para isso, necessrio reformar o atual sistema de controle e

    fiscalizao. O sistema atual excessivamente burocrtico (valoriza mais os

    procedimentos de escritrio do que as aes de campo), ineficiente (custo

    elevado), pouco transparente (difcil controle social) e portanto sujeito a desvios

    e corrupo.

    O sistema atual de controle e fiscalizao do Ibama e dos rgos

    Estaduais de Meio Ambiente precisam ser reformulados. Uma forma de fazer isso

    seria atravs de um programa piloto em parceira do Governo Federal e Estadual

    que enfocasse, no sistema de cadastro e controle das industrias (por exemplo

    usando sistema de monitoramento de satlite dos caminhos das industrias),

    reforma de regras, sistemas amostrais de fiscalizao, procedimentos de

    auditoria independente por parte da sociedade (por exemplo as ONGS).

    Outra mudana importante seria na legislao. H necessidade de

    simplificar o aparato regulatrio para se fazer respeitar a legislao. Ao invs de

    um complexo sistema de leis que largamente desrespeitada, seria mais sensato

    7

  • estabelecer nmero bem limitado de fcil implementao e que assegure o bom

    uso da floresta. Segundo pesquisadores do Imazon, um sistema simples de regra

    poderia ser usada e que seria de fcil implementao. O sistema em questo

    poderia ser definido com 5/30/5. O nmero inicial se refere a quantidade

    mxima de rvore que poderia ser extrada por hectare (5 rvores). O segundo

    nmero refere-se ao intervalo entre uma colheita e outra (ciclo de 30 anos). E

    finalmente o ltimo nmero refere-se a largura mnima de aceiro que deve ser

    usado para a proteo contra fogo (5 metros). A implementao dessas leis seria

    de simples aplicao e de fcil fiscalizao (Uhl 1997).

    4. Impactos da atividade madeireira no Estado do Par

    A extrao de madeireira no Par tem sido praticada por pequenos

    produtores desde o inicio da colonizao da Amaznia, especialmente em reas

    do esturio paraense. Entretanto, a partir do final dos anos 1970 a extrao

    madeireira ganha importncia de escala a partir da abertura estradas de acesso

    a florestas de terra-firme, principalmente no leste do Par. O exemplo mais

    marcante desse processo a abertura da rodovia Belm-Braslia, ligando reas

    com densas florestas a regies de grande demanda de madeira como sudeste e

    nordeste do Brasil (Uhl et al. 1997). Esse perodo coincidiu com o esgotamento

    do estoque de madeira nas florestas das Mata Atlntica e Araucria (Uhl et al

    1997, Verssimo e Amaral 1997).

    Estudos do Imazon tem classificado os diferentes padres de extrao

    madeireira associada a dinmica de uso e a geografia da extrao em: (i) nova

    fronteira onde a atividade incipiente, tem pouca infra-estrutura, causa

    poucos danos ambientais; (ii) fronteira intermedirias - industrias implantadas,

    infra-estrutura so estabelecidas a partir de redes de estradas, espcies de alto

    valor so extradas e, em alguns casos, constitu-se uma fase intermediria para

    a fronteira velha ; (iii) fronteira velha - a extrao e intensificada, mais de cem

    8

  • espcies so extradas, severos danos, a extrao ocorre at o esgotamento e

    migrao das madeireiras para as fronteiras novas, reproduzindo o clico

    migratrio madeireiro (Tabela 1).

    No Par, atualmente, existem quatro padres distintos de explorao

    madeireira, cada qual com seus impactos e benefcios distintos. Em regies de

    novas fronteiras, onde o acesso aos recursos recente (por exemplo, a regio

    da terra do meio), a extrao seletiva. Apenas uma seleta qualidade de

    espcies e fustes so retirados da floresta. Uhl et al. (1991), documentaram que

    nessas regies somente de 2 a 3 indivduos so extrados por hectare. Em reas

    de fronteiras mais antigas, por exemplo, na regio de Paragominas e ao longo da

    rodovia PA-150, cerca de 100 espcies diferentes so extradas com um volume

    estimado 32 m3/ha, com danos estimados de dois metros cbicos de madeiras

    para cada metro cbico extrado (Verssimo et al 1992) (Tabela 1).

    9

  • Tabela 1. Principais caractersticas das fronteiras madeireiras no Estado do

    Par.

    Fronteiras Madeireiras

    Idade da Fronteira

    (anos)

    Tipos de Floresta

    Principais Plos de extrao

    Principais caractersticas

    Antiga > 30 Transacionais (sul) e Densas

    (norte)

    Paragominas, Tailndia, Marab

    Explorao de alto impacto mais de 100 espcies extradas

    Intermediria 10 20 Abertas (sul) e Densas (norte)

    Santarm, Altamira

    Explorao de moderado impacto,

    5-10 espcies extradas

    Novas < 10 Densas Novo Progresso Explorao de baixo impacto 1-2 espcies

    extradas Esturio > 300 Florestas de

    Vrzeas Breves e Porto

    de Moz Ocorre explorao de baixo e alto impactos

    Fonte: Imazon

    4.1 Impactos Ecolgicos da Atividade Madeireira A atividade madeira pode causar importantes mudanas na paisagem do

    Estado. Nas reas de fronteiras, a extrao de madeira tem sido para ocupao e

    desmatamentos. Por exemplo, na regio de Xingu Uhl et al. (1997)

    documentaram que os madeireiros abriam centenas de quilmetros de estradas

    madeireiras por ano para a extrao de Mogno. Posteriormente, essas estradas

    serviam como via de ocupao por agricultores e pecuaristas e

    conseqentemente o desmatamento total das reas.

    As reas afetadas por serrarias variam de uns 50 hectares/ano para

    pequenas serrarias, at reas maiores de mil hectares para as grandes serrarias.

    Se somadas as reas usadas por todas as empresas atuando no Estado, temos

    uma rea estimada de 5.200 Km2 afetada pela explorao de madeira, isso

    considerando uma intensidade de explorao de 25 m3 por hectare. Em termos

    comparativos, lembramos que a rea desmatada em 2003 ficou em torno de

    23.000 Km2 ao ano.

    10

  • No entanto, os madeireiros voltam normalmente a entrar nas reas

    exploradas em intervalos de tempo curtos para retirar espcies de dimetros

    menores e de alto valor, que no foram extrados na primeira entrada, ou

    espcies que entram no mercado e que no tinham valor antes. Isso resulta na

    abertura de novas estradas e trilhas de arraste e, conseqentemente, maiores

    danos na floresta. Desta forma, os impactos ambientais na explorao mais

    intensiva so significativos e afetam a estrutura da floresta de forma irreparvel,

    aproximadamente 30 rvores com mais de 10 cm de dimetro so danificadas

    para cada rvore extrada e a cobertura do dossel da floresta , geralmente,

    reduzido de 80-90%, em florestas no exploradas, para 50% aps a extrao de

    madeira (Uhl e Viera 1989; Verssimo et al. 1992). Alm disso, espcies

    oportunistas e os cips so favorecidos pelas perturbaes ecolgicas causadas

    pela extrao de madeira. Esses cips podem formar uma grossa cobertura nas

    copas das rvores derrubadas impedido que a luz penetre e por conseqncia a

    regenerao dessas reas,

    Mesmo quando a atividade madeireira no precede o desmatamento as

    florestas remanescentes tm pouca capacidade de regenerar. O fogo tambm

    impede a recuperao das florestas exploradas. As reas exploradas tornam-se

    um ambiente rico em materiais combustvel (galhos, folhas secas, pedaos de

    toras de madeira). A abertura do dossel e o aumento da quantidade de radiao

    solar que atinge o solo fazem esse material secar, tornando-os de fcil ignio

    para o inicio de um incndio florestal (Uhl e Kauffman 1990). O resultado final

    desse processo um ecossistema altamente degradado que perdeu suas

    caractersticas naturais de unidade e proteo contra o fogo. Esse padro tem

    ocorrido cada vez mais nas regies que vai de leste a sudeste do Estado, onde as

    fronteiras agrcolas e madeireiras atuam em sinergia.

    11

  • 4.2. Impactos Sociais da Atividade Madeireira Atualmente a atividade madeireira gera cerca de 60 mil empregos diretos e

    de 106 mil indiretos (Banco de dados Imazon). Entretanto uma atividade

    migratria e que investe muito pouco na qualificao sua mo-de-obra.

    Os trabalhadores apontam como principais impactos relacionados a atividade

    madeireira, tais como:

    Grande rotatividade dos trabalhadores

    Baixos salrios e benefcios sociais

    Baixo nvel de organizao dos trabalhadores e de representao

    Competio com a atividade informal

    Pouco ou nenhuma insero das organizaes de base

    Baixa participao e valorizao da mo de obra da mulher

    Falta de plano de cargo e salrios

    Baixa participao relacionada ao desempenho da empresa

    Falta de planejamento e programas de capacitao (definir critrios e

    demandas de treinamento)

    Baixa participao dos operrios na definio de demandas e estratgias

    de treinamento

    Excessiva jornada de trabalho o que leva a muito tempo fora de casa

    Como medidas mitigadoras a estes impactos, o Governo do Estado poderia

    atuar da seguinte maneira:

    Fortalecer a organizao social dos trabalhadores da indstria

    madeireira, atravs de capacitaes em associativismo, mobilizando

    para isso parceria com rgos da indstria (i,e, SESI, SENAI), mas

    12

  • tambm com organizaes de representao e apoio aos movimentos

    sociais (i,e, Federaes de Trabalhadores, etc.);

    Criar indicadores para anlise e vistoria de planos de manejo para

    aumentar ou assegurar a remunerao dos operrios das indstrias,

    especialmente no perodo de entressafra, diminuindo perodo que os

    trabalhadores passam distante da famlia (i,e, banco de horas nas

    empresas certificadas);

    Criar programa de capacitao em manejo florestal (empresarial e

    comunitrio) para qualificar a mo-de-obra local, incluindo a

    valorizao da mulher na atividade de manejo florestal, a partir da

    perspectiva dos trabalhadores envolvidos na atividade florestal.

    4.3. Impactos econmicos da Atividade Madeireira Setor madeireiro tem participao modesta no Produto Interno Bruto-PIB

    nacional. Entretanto em mbito regional, o setor madeireiro ganha da vez mais

    importncia para a economia da Amaznia. Por exemplo, no Estado do Par, a

    atividade madeireira j representa cerca de 15% do PIB do Estado. As projees

    indicam que o setor madeireiro deve nas prximas dcadas continuar sendo uma

    das principais atividades econmicas do Par.

    Estudos do Imazon realizados na regio de Paragominas demonstram a

    importncia da atividade madeireira naquela regio, que considerada como o

    principal plo de produo de madeira do Estado. Por exemplo, na dcada de

    1990 cerca de 238 empresas madeireiras operavam naquele municpio,

    consumindo aproximadamente 2.600 m3 de madeira em tora produzindo em

    torno de 1,3 milho de madeira serrada. Considerando uma produo de 38 m3

    por hectare, estima-se que aproximadamente 68 mil hectares de florestas foram

    exploradas em 1990.

    13

  • Para o mesmo perodo, a renda bruta do municpio de Paragominas

    gerada com a atividade madeireira poderia ser estimada, combinado a renda

    bruta de uma serraria tpica com produo de 4.300 m3 de madeira serrada por

    ano, no valor de US$ 670.800. Ento se pode estimar a renda bruta gerada para

    aquele ano em US$ 191 milhes (1,3 milhes de m3 / 4.300 m3 X US$ 670.800).

    Assumindo uma margem de lucro de 32% (tpicas de uma serraria da regio

    envolvida na explorao e processamento de madeira), os lucros somados

    dessas 238 empresas seriam de aproximadamente 62 milhes de dlares.

    Considerando que as margens de lucros variam de acordo com o preo da

    matria prima e com os custos de explorao (que est relacionado entre outras

    coisas com mo-de-obra). Ento em alguns casos as margens de lucro so bem

    maiores, j que a maioria da explorao ilegal (no se paga pela matria

    prima) e os operrios trabalham de forma clandestina. Considerando que o

    sistema de fiscalizao extremamente deficiente, as condies atuais motivam

    que as indstrias madeireiras operem na clandestinidade.

    Na tabela abaixo so analisadas as conseqncias ambientais, sociais e

    econmicas para a atividade madeireira praticada sem que sejam observadas

    tcnicas de manejo (Tabela 2).

    14

  • Tabela 2. Principais e conseqncia da Atividade Madeireira ligados a

    explorao predatria.

    Para os atores

    Conseqncias Ambientais/ecolgicas

    Conseqncias Sociais

    Conseqncias Econmicas

    Setor Pblico

    -Paisagem fragmentada, -Aumento da degradao dos ecossistemas, -Perda acelerada de cobertura florestal,

    - Elevados nmeros de acidentes, - Altos custos sociais, - conflitos por disputa de terras em reas de novas fronteiras, - xodo rural

    - Altos investimentos sociais em municpios com plos madeireiros decadentes, - perdas de divisas por ilegalidade, - Altos custos para monitorar,

    Sociedade Civil

    - Baixa qualidade de vida, especialmente relacionados a sade,

    - Ciclos migratrios, - baixa estima dos operrios, - Baixa qualificao tcnica e poucas perspectivas de formao,

    - Baixos salrios, - Ausncia de benefcios sociais, - Ciclos rotatrios de emprego,

    Setor Privado

    - Degradao do patrimnio das empresas,- Escassez de matria prima, - Baixa qualidade de vida,

    - Associao do nome da empresa a atividade ilegal, - conflitos por posse da terra,

    - Altos custos de terras legais, - Altos custos de operao, - migrao e necessidades de novas infra-estruturas,

    A mitigao dos impactos econmicos da atividade madeireira demanda

    do Estado algumas mediadas, tais como:

    Diminuir a oferta de madeira ilegal e/ou predatria, atravs do

    aumento da eficincia da fiscalizao e controle. Entre outras medidas

    a serem adotadas, preciso fortalecer a Secretaria de Meio Ambiente e

    mobilizar organizaes da sociedade civil para efetivar mecanismos de

    controle externo (i,e, fruns de discusses tcnicas, grupos de

    trabalhos, etc.);

    15

  • Aumentar a fiscalizao nas indstrias que operam em municpios

    plos madeireiros com intuito de fomentar a mo-de-obra formal na

    atividade, aumentando a arrecadao e economia local.

    5. Fatores que afetam a expanso da atividade madeireira no Par

    Atualmente, cerca de 11 milhes de m3 de madeira em tora so extrados

    no Par, com a operao de 1592 empresas madeireiras, distribudas em 33

    plos de produo (Lentini 2005). Esses nmeros reafirmam o Estado como o

    principal produtor de madeira da regio. Contrapondo a importncia econmica,

    os madeireiros continuam sacando das florestas mais madeira que o crescimento

    natural das florestas pode repor, tornado as espcies de valor mais escassas e

    levando os madeireiros a migrarem para outras reas. Desta forma, reproduzem

    os ciclos migratrios de explorao madeireira no Par (Figura 1).

    Observando a dinmica de expanso da atividade madeireira no Par (que

    em geral ocorrem das zonas estuarinas e das margens das estradas para dentro

    da floresta) podem-se prever alguns cenrios. Por exemplo, se os estoques de

    madeira se tornar escasso nas vrzeas e o preo da madeira subir, pequenas

    indstrias poderiam se estabelecer em grande nmero e de forma rpida nas

    regies de vrzea. Isto tornaria as reas inacessveis (onde a explorao torna-se

    invivel economicamente), viveis explorao e abertura de novas fronteiras,

    como aconteceu no passado e acontece atualmente. J na terra-firme, medida

    que os custos da extrao de madeira aumentam, especialmente referentes aos

    custos crescentes de transporte relacionados com o raio de explorao, os

    menores preos do transporte fluvial tornam-se atrativos para os madeireiros

    (Barros e Uhl 1995). Neste caso, as margens do Amazonas podem ser atraentes

    para as indstrias por causa dos baixos custos da madeira em tora, cerca de 20

    a 30 % mais baixo que na terra-firme, disponibilidade de mo de obra barata,

    baixos custos de transportes, facilidade de acesso a mercados por via fluvial.

    16

  • Ento, se o cenrio atual permanecer possvel que muitas empresas

    madeireiras grandes venham ocupar essas regies.

    Ao mesmo tempo, grande parte das reas de terra-firme j estaria

    esgotada. Por exemplo, no inicio da dcada de 90 os grandes centros de

    explorao de madeira concentravam no leste e sudeste do Par, principalmente

    em Paragominas e Marab. Com aumento da distancia e do raio de explorao

    as madeireiras tiveram que se deslocar para novas reas mais longe (Figura 1).

    Figura 1. Tendncia de migrao dos plos de produo de madeira no

    Estado do Par.

    Fonte: Imazon 2005

    17

  • Ento importante que o Estado, concentre suas aes de promoo nas

    fronteiras abertas consolidando-as, e aes de controle nas reas atrativas

    migrao das indstrias.

    A consolidao das fronteiras abertas demanda investimentos que

    poderiam concentrar em:

    - recuperao de reas degradadas atravs de implantao de sistemas

    agro-florestais,

    - implantao de sistemas de aproveitamento de resduos florestais (plos

    moveleiros),

    - intensificao da agricultura (incentivo a uso diversificado das unidades

    de produo familiar),

    - intensificar cadeias produtivas para aproveitamento de produtos

    florestais madeireiros e no madeireiros.

    6. Estrutura legal para uso dos recursos florestais da Amaznia

    O Novo Cdigo Florestal de 1965 (Lei 4.771/65) objetiva promover o

    ordenamento da ocupao do territrio e proteo dos recursos naturais. Para

    isso, o Cdigo Florestal limita o direito de uso da propriedade privada,

    considerando as florestas e as demais formas de vegetao natural bens de

    interesse comum. O Cdigo Florestal divide o uso da terra privada em trs

    classes principais. Primeiro, as reas de Preservao Permanentes (APP) no

    podem ter a vegetao natural transformada, e esto sob o controle do Poder

    Pblico. As APPs so aquelas localizadas ao longo dos rios, ao redor das lagoas e

    nas nascentes e nos topos de morros; e em dunas, quando declarados por ato

    do Poder Pblico. Na dcada de 1980 a legislao aumentou o poder pblico

    18

  • sobre as APPs, que esto sujeitas a serem transformadas em reservas e estaes

    ecolgicas.

    Segunda, parte da propriedade deve ser mantida como vegetao natural

    (Reserva Legal) independe das situaes previstas para as APPs. Na floresta

    tropical mida da Amaznia a RL deve ser de 80% da propriedade e no cerrado

    deve ser de 35%. A rea de RL na Amaznia foi ampliada de 50% para 80% a

    partir de 1996. Entretanto, a vegetao nativa pode ser manejada (por exemplo,

    para produo de madeira), desde que o manejo no implique a substituio ou

    corte raso desta.

    Terceiro, o uso alternativo do solo refere-se s reas onde a vegetao

    natural completamente removida para qualquer uso do solo. Na floresta

    tropical mida da Amaznia o corte raso permitido em no mximo 20% da

    propriedade e no mximo em 65% no cerrado. O manejo florestal tambm pode

    ocorrer em terras pblicas como Florestas Nacionais, Estaduais e Municipais por

    meio de concesso de uso. Entretanto, as regras para utilizar estas reas ainda

    devem ser estabelecidas. O Ministrio do Meio Ambiente preparou um

    anteprojeto de lei sobre esse assunto que esta em tramite no Congresso

    Nacional.

    6.1. Requerimentos para a autorizao de explorao florestal O governo controla a utilizao das terras florestais mediante um sistema

    que inclui a emisso de autorizaes para desmatamento e para manejo florestal

    e de licenas ambientais, vistorias de campo e fiscalizao do transporte de

    toras. A licena ambiental e a autorizao so mecanismos similares, mas

    distintos. O licenciamento ambiental um instrumento da Poltica Nacional de

    Meio Ambiente criado por Lei Federal em 19815 e deve ser exigido das

    atividades efetivas ou potencialmente poluidoras ou degradadoras do meio

    ambiente. As atividades agropecurias e a explorao de madeira esto sujeitas

    ao licenciamento ambiental com o objetivo de proteger reas de Preservao

    Permanente (APP), reduzir a eroso dos solos, poluio de aqferos com

    19

  • substncias agrotxicas e evitar incndios florestais (Carramenha, 2000). O

    Licenciamento Ambiental tem sido conduzido principalmente pelos rgos

    estaduais de meio ambiente (Oemas).

    As autorizaes para projetos de manejo e desmatamento so originrias

    do Cdigo Florestal Brasileiro de 1965 e normas florestais subseqentes.

    Originalmente, o processo de autorizao era concentrado na proteo da

    cobertura vegetal e no controle do volume explorado. O controle do volume

    explorado uma medida para conservao dos recursos florestais e tambm

    usado para a contabilidade e cobrana da reposio florestal. A reposio

    florestal refere-se obrigao dos consumidores de madeira de origem no-

    sustentvel (isto , de desmatamento e explorao sem manejo florestal) de

    recomporem o volume explorado. No entanto, com o aumento da preocupao

    sobre os impactos ambientais e sociais da explorao florestal, o processo de

    autorizao tambm passou a incorporar critrios mais amplos como segurana

    do trabalho e disposio de resduos poluentes e slidos. A autorizao da

    explorao de madeira tem sido atribuio exclusiva do Ibama. Desta forma, h

    uma sobreposio de requerimentos e processos entre rgos federais e

    estaduais para obteno da licena ambiental e da autorizao de explorao.

    A autorizao para explorao exigida de qualquer escala e tipo de

    explorao florestal (desmatamento e manejo). Contudo, as autorizaes de

    explorao podem ser emitidas sem o licenciamento ambiental quando o

    desmatamento for menor do que trs hectares. Quatro requerimentos principais

    so comuns para a concesso da licena ambiental e da autorizao:

    engenheiros florestais ou agrnomos credenciados devem ser responsveis pelos

    projetos, as reas de Preservao Permanente e Reserva Legal devem ser

    respeitadas, os solicitantes devem demonstrar algum documento de propriedade

    ou posse da terra e os solicitantes devem se comprometer a registrar a Reserva

    Legal em cartrio.

    20

  • 6.2. Requisitos para a autorizao do manejo florestal e do desmatamento O manejo florestal preconizado pela legislao brasileira policclico; ou seja, a

    floresta deve ser explorada de forma a deixar um estoque de rvores que possa

    ser explorado no futuro. Assim, o manejo deve envolver medidas para reduzir os

    impactos da explorao, medidas para estimular a regenerao florestal e o

    respeito a um ciclo de corte. Os requerimentos para a autorizao do

    desmatamento e do manejo variam conforme o tipo de uso, tamanho e tipo da

    propriedade e escala do empreendimento. A seguir, apresenta-se uma breve

    descrio das modalidades de autorizao.

    6.3. Regras para o Manejo florestal A partir de maro de 2002 a explorao de madeira pode ser autorizada

    mediante trs tipos de planos (Instruo Normativa de 04 de maro de 2002 do

    Ministrio do Meio Ambiente, em fase de reviso). As vistorias prvias e de

    acompanhamento, bem como os relatrios de execuo dos projetos so

    obrigatrios para qualquer projeto (Tabela 3). O manejo em escala empresarial

    envolve um nmero maior de requerimentos, pois foi elaborado considerando a

    situao de grandes proprietrios rurais e empresrios madeireiros. Por exemplo,

    o projeto tcnico deve ser completo, deve conter mapas digitais da cobertura do

    solo da propriedade e devem ser apresentados documentos adicionais como o

    comprovante de pagamento do Imposto Territorial Rural e declarao de

    ausncia de sobreposio com Terras Indgenas.

    O manejo em pequena escala que s pode ser usado para reas de

    explorao anual de at 500 hectares - relativamente mais simples, pois seria

    destinado a atender demandas de pequenos proprietrios rurais ou de

    comunidades. Os projetos em pequena escala individuais ou comunitrios

    envolvem os mesmos requerimentos tcnicos, mas so diferentes em termos de

    requerimentos documentais e tipo de propriedade.

    21

  • A explorao de baixa intensidade (mximo 10 m3 /ha) com mtodos

    artesanais de extrao (isto , trao animal, explorao manual e semi-

    mecanizada) pode ser legalizada por meio de projetos de pequena escala

    artesanal.

    Tabela 3. Alguns requerimentos para autorizao do manejo florestal

    Requerimentos Tipos de plano Empresarial Pequena escala Pequena escala

    artesanal Projeto tcnico Completo Simples Simples Volume mximo a explorar

    Baseado no censo comercial

    Baseado no censo comercial

    10 m3/ha

    rea mxima a explorar

    De acordo com demanda

    e ciclo de corte

    500 ha/ano 500 ha/ano

    Vistoria prvia

    X X X

    Relatrio de execuo anual

    X X X

    Vistoria de acompanhamento

    X X X

    6.4. Regras para o Reflorestamento O Decreto N. 3.420, de 20 de abril de 2000, que dispe sobre a criao do

    Programa Nacional de Florestas -PNF, em seu artigo 2 atribui ao PNF o fomento

    das atividades de reflorestamento, notadamente em pequenas propriedades

    rurais; e recuperar florestas de preservao permanente, de reserva legal e

    reas alteradas, bem como em seu artigo 5, desenvolver projetos de estmulo e

    apoio ao reflorestamento e ao manejo sustentvel de florestas nativas, com

    vistas expanso da oferta de matria-prima madeireira e de outros produtos

    no madeireiros.

    O Cdigo Florestal, em seu artigo 18, dispe que nas terras de

    propriedade privada, onde seja necessrio o florestamento ou reflorestamento de

    preservao permanente, o Poder Pblico federal poder faz-lo sem

    desapropri-la, se no o fizer o proprietrio.

    22

  • Para o Estado, a Lei N 6.462, de 4 de julho de 2002, que dispes sobre a

    Poltica Estadual de Florestas, em seu artigo 3, pargrafo XV, tem o objetivo de

    ordenar as atividades de reflorestamento e criar mecanismos de incentivo ao

    cultivo de essncias da flora natural. Este objetivo deve ser contemplado pelo

    instrumento definido no Artigo 4, atravs dos planos de manejo e os planos de

    recuperao de reas alteradas.

    Quando da reposio florestal em reas alteradas, a Lei 63462, em sua

    Subseo III, Art. 9, a lei define que toda pessoa fsica ou jurdica dever

    promover o reflorestamento de reas alteradas, prioritariamente atravs de

    espcies nativas, em nmero sempre superior a uma nica espcie visando

    restaurao, sendo que o bioma original seja utilizado como referncia. Em seu

    artigo 10, obriga a toda pessoa fsica ou jurdica que consuma ou transforme

    matria-prima florestal, a promoo da reposio florestal.

    Quando da reserva legal, o Art. 18 desta lei obriga ao proprietrio rural a

    recomposio da cobertura florestal mediante plantio, a cada trs anos de, no

    mnimo 1/3 da rea total necessria sua complementao, com espcies

    nativas ou exticas, de acordo com os rgos competentes.

    7. Estrutura Poltica e Institucional O tema de uso e conservao dos recursos florestais tem evoludo dentro

    das instituies do estado Par. Com base em consulta a atores chaves das

    instituies do Estado, pode-se organizar as reas de atuao do governo e das

    instituies no-governamentais em: (i) incentivo produo sustentvel

    (assistncia tcnica, organizao social, infra-estrutura), (ii) pesquisa, (iii)

    controle e fiscalizao (licenciamento e fiscalizao), e (iv) planejamento (Tabela

    4).

    23

  • Tabela 4. rea de atuao para desenvolvimento do setor florestal das

    instituies governamentais e no governamentais do Estado do Par.

    Incentivos Controle e fiscalizao Planeja-

    mento Instituies

    Assist.

    tcnica

    Organizao

    Social

    Crdito Infra-

    estrutura

    PesquisaFormulao de

    Polticas

    Licenciamento

    e Fiscalizao

    Governa-

    mentais

    Basa,

    ADA,

    Setran Embrapa,

    MUSEU,

    UFRA,

    UFPa

    MMA Ibama

    Sectam

    Ibama

    Sectam

    SEPROD

    SEP,

    ADA

    No Governa-

    mentais

    IFT,

    INAM

    Fetragri

    Fase, CUT,

    Sindicatos,

    Associaes,

    AIMEX,

    UNI|FOR,

    Grupo de

    Produtores

    Cifor,

    IPAM,

    IMAZON

    a. Ver anexo I para a lista de siglas

    Analisando-se a tabela acima possvel perceber a completa ausncia do

    Estado nas reas de assistncia tcnica e organizao. Por outro lado, as

    organizaes no governamentais (que em alguns casos representam a

    sociedade civil organizada) esto ausentes nas reas de crdito, infra-estrutura,

    controle, fiscalizao e planejamento. Para um modelo eficiente de ao

    integrada das instituies fundamental que as reas cinza da tabela fossem

    ocupadas por aes das instituies tanto o Governo como as instituies scias

    desenvolvem aes para uma agenda positiva florestal. Por exemplo, o Estado

    deve assumir um papel de liderana em todas as reas temticas e que as

    organizaes da sociedade civil tenham assento ou participem, e estejam

    presentes em todas as reas. A seguir analisa-se cada uma das reas temticas

    24

  • 7.1. Assistncia tcnica A pesar da importncia socioeconmica da atividade florestal no Par, no

    existe um programa ou agncia de extenso e assistncia tcnica florestal. Ainda

    que o Estado possua uma Agencia de Assistncia Tcnica Estadual (EMATER),

    este rgo no consegue atender as demandas de assistncia tcnica para o

    setor agrcola e pecuria. Alm disso, suas aes na rea florestal so quase

    inexistentes. Por exemplo, para cada noventa e trs tcnicos que atuam na

    Emater somente um tem experincia ou formao na rea florestal2. As

    principais causas apontadas para a ineficincia da EMATER esto a falta de

    recursos, falta de pessoal capacitado e dificuldade de acesso informao. A

    demanda de assistncia tcnica tem sido atendida pelo prprio setor privado ou

    por instituies no governamentais.

    Alm disso, a escassez de pessoal treinado e capacitado com experincia

    prtica em manejo florestal tem sido apontada com uma barreira para a

    expanso em larga escala de manejo florestal no Estado do Par. Por exemplo,

    empresas intencionadas em manejar tm tido dificuldades de encontrar

    profissionais com experincias e qualidades tcnicas para conduzir os planos de

    manejo. Essas empresas acabam contratando profissionais de outros centros

    como sul e sudeste do pas ou disputando os profissionais mais capacitados entre

    si. A escassez de profissionais est relacionada a trs fatores principais, tais

    como: i) a formao nas universidades e escolas florestais oferece poucas

    oportunidades de treinamento prtico em manejo florestal, ii) nmero reduzido

    de iniciativas de bom manejo no setor florestal (95% da produo de madeira

    vem de explorao predatria Schneider et al., 2002), limitando a oferta de

    treinamentos prticos - como e vivncia a estudantes - nas universidades e

    2 Romier Souza Paixo, comunicado pessoal obtido atravs de pesquisa sobre ATER no Norte encomendado pela FAO-INCRA.

    25

  • escolas, e iii) oferta reduzida de capacitao e treinamentos prticos em manejo

    florestal para tcnicos e operrios do setor florestal.

    At recentemente, no havia no Estado cursos tcnico-profissionalizantes

    na rea de manejo florestal. Somente a partir de 1995 iniciou-se essa

    experincia, com cursos ofertados pelas escolas de nvel mdio, como a Juscelino

    Kubitshek e Escola Agrotcnica de Castanhal e o Instituto Floresta Tropical

    (IFT)3. Por exemplo, o IFT entre os anos de 1996 a 2001 treinou cerca de mil

    pessoas, entre engenheiros, tcnicos de nvel mdio, operrios e tcnicos do

    governo. Outras oportunidades de treinamento tm surgido fora do Estado como

    a Escola Agrotcnica de Manaus e o servio Nacional de Aprendizagem Industrial

    em Rondnia e Mato Grosso.

    Mesmo com o aumento de oferta de treinamento, a escassez de pessoal

    treinado, a falta de servios de extenso dever continuar sendo uma barreira

    para a expanso de manejo florestal no Par. Por exemplo, Barreto (2002)

    simulou trs cenrios de demanda e dficit de pessoal treinado para a produo

    de madeira em florestas manejadas (Tabela 5). Na simulao de Barreto,

    faltariam cerca de 2.400 tcnicos e operrios e aproximadamente 15 engenheiros

    com treinamento prtico em manejo para a demanda potencial dos planos de

    manejo /protocolados no Ibama no ano de 2000.

    3 ONG que trabalha com capacitao em manejo florestal. Possui, em parceria com a Cikel (uma empresa que possui rea certificada) um Centro de Treinamento em manejo florestal, localizado em Ulianpolis/PA.

    26

  • Tabela 5: Demanda e dficit de profissionais treinados de acordo com cenrios de produo de madeira em projetos de manejo na Amaznia (Barreto 2002).

    Resultados de acordo com cenrio de produo Variveis

    Projetos aptos em 2000 de acordo com

    Ibama

    Projetos existentes no Ibama em 2000 (inclui

    todos os projetos)

    50% da produo em

    2001

    Volume de toras (m3) 4.134.519 8.315.822 14.000.000

    Demanda de tcnicos e operrios

    2.894 5.821 9.800

    Dficit de tcnicos e operrios (demanda treinados)

    2.423 5.349 9.067

    Demanda por engenheiros

    207 416 700

    Dficit de engenheiros (demanda treinados)

    15 225 418

    Desta forma, necessrio efetivar um programa de assistncia tcnica

    que possa atender as demandas das indstrias, empresas e iniciativas de manejo

    florestal comunitrio. Neste ltimo caso, a escassez de oportunidade de

    treinamento ainda maior, uma vez que os centros existentes no Estado no

    possuem capacitaes prticas, adaptadas aos diferentes - e complexos

    sistemas de manejo ao nvel local. Embora exista um quadro de assessoria

    tcnica atuando em assentamentos da reforma agrria, atravs de convnio com

    o INCRA, o quadro para assistncia tcnica florestal incipiente. Em

    levantamento realizado junto a oito prestadoras de servios atuando no Estado,

    atravs de convnio com o INCRA, apenas 4% do quadro tcnico possui

    formao na rea de Engenharia Florestal e 2% na rea de tcnico florestal.

    Alm disso, no foi encontrado nenhum programa na rea ambiental na atuao

    destas instituies.

    De um modo geral, os projetos de manejo florestal comunitrio tm

    demandado capacitaes para questes que vo alm de aspectos tcnicos

    relacionados ao manejo florestal. Estes ingredientes devem fazer parte de

    27

  • programas de capacitao. A tabela 6 apresenta as principais demandas

    apresentadas por lideranas comunitrias envolvidas na implementao de

    projetos de MFC.

    Tabela 6. Principais demandas de capacitao junto a projetos de manejo

    florestal comunitrio.

    Temas para capacitao/

    projeto

    Organizao Comunitria

    Manejo e explorao de recursos florestais

    Comercializao de produtos

    florestais

    Outros

    Marab-PA - gerenciamento de recursos - formao lideranas - relaes institucionais

    - aspectos legais e tributao - estudo de mercado

    So Domingos Santarm-PA

    - Gerenciamento de projetos

    - manejo de produtos florestais no madeireiros

    - estudo de mercado - qualidade do produto

    Oficinas Caboclas Santarm-PA

    - tcnicas de corte - manejo de produtos florestais no madeireiros

    - gesto participativa

    Gurupa-PA - gerenciamento de projetos

    - estudo de mercado - comercializao

    Mamiraua/Tef-AM

    - estudo de mercado para produtos florestais no madeireiros

    Resex Cautario-RO

    - contabilidade - gerenciamento de serraria - gerenciamento de projetos

    - manejo de produtos florestais no madeireiros

    - controle de qualidade da produo - relao com clientes

    - certificao

    PAE Poro Das/AC

    - gerenciamento de recursos

    - planejamento de arraste

    - estudo de mercado

    PAE So Luis Remanso/AC

    - contabilidade - manejo de produtos florestais no madeireiros

    - estudo de mercado

    PAE Chico Mendes/Xapuri-AC

    - gerenciamento de projetos

    - manejo de produtos florestais no madeireiros

    - estudo de mercado

    - certificao da castanha

    28

  • A Tabela 7 apresenta o contedo das principais lies aprendidas na

    implementao de programas de assistncia tcnica florestal desenvolvidos em

    outras regies. Tais aspectos poderiam ser considerados pelo Governo na

    definio de um programa de assessoria tcnica na rea florestal, a partir da

    complexidade estabelecida pelas diferentes demandas existentes.

    Tabela 7. Principais lies aprendidas sobre o desenvolvimento de um programa

    de extenso.

    Aspectos externos Aspectos internos - Requer um compromisso efetivo do governo em promover as atividades produtivas e de extenso florestal, aportando apoio institucional e financeiro, - A participao das organizaes de base, ongs e igreja favorecem al xito, pois permite assistir uma ampla gama de populaes, - Um programa de extenso um processo ao longo prazo. Os resultados efetivos podem tardar de 10 a 15 anos, - As polticas estaduais devem promover incentivos para o desenvolvimento rural, incluindo todas as atividades produtivas estimulando a diversificao da produo e intensificao das atividades.

    - A extenso requer uma organizao efetiva e estratgias orientadas para problemas especficos e priorizados, - A extenso deve incorporar mtodos de campos, tecnologias e formas claras de comunicao adequadas aos diferentes atores e condies locais, - Um sistema de extenso deve incorporar e adequar-se a condies concretas de desenvolvimento local, - Devem-se evitar formas complexas e que tente resolver todos os problemas de uma nica vez. Mtodos alternativos devem ser pesquisados de forma a tornar os processos mais simples e baratos.

    (Adaptado de Banco Mundial, 1990).

    29

  • Assessoria tcnica desenvolvida por Ongs na implementao de projetos de

    MFC na Amaznia brasileira: o caso de Marab

    As Ongs ocupam papel relevante na prestao de servios de assistncia tcnica rural na regio Norte (FOA/INCRA, 2000). A implementao de projetos de MFC na Amaznia brasileira segue essa tendncia. No geral, os projetos sempre esto associados a uma ONG, que assumem papel de assessoria tcnica e - na maioria das vezes - so responsveis tambm pela conduo poltica do projeto. As atividades de assessoria tcnica demandadas pela maioria dos projetos so: capacitao em aspectos tcnicos de manejo florestal, elaborao de planos de manejo, gesto e comercializao de produtos florestais, organizao comunitria, etc.

    A maioria das Ongs no est preparada em dar respostas diversidade destes temas no atendimento das questes relacionadas ao MFC, como tambm no dispe de recursos para tratar de questes de natureza scio-organizativa, fortemente relacionada ao MFC. Alm disso, a demanda por assessoria tcnica tem crescido exponencialmente, juntamente com o nmero de iniciativas de MFC.

    Uma experincia importante em assessoria tcnica tem sido implementada na regio de Marab, Sudeste do Par. Uma ONG, associada a UFPa, tem prestado servios de assessoria tcnica a um projeto de MFC, desde 1996. Aps avaliao crtica de sua atuao incluindo a necessidade de repasse total da conduo poltica das aes do projeto s organizaes de agricultores a ONG tem se dedicado em desenvolver um programa regional de ATER Florestal, ampliando a discusses sobre as estratgias dos produtos a serem manejados pelos agricultores (madeira e produtos no-madeireiros), favorecer o acesso a crdito florestal (Pronaf e FNO Floresta) e envolver cooperativas municipais na temtica de MFC.

    Tal mudana na estratgia de atuao da ONG tem possibilitado no s a continuidade das aes do projeto onde estava originalmente envolvida, como a ampliao do MFC na regio de Marab. Atualmente, uma srie de aes relacionadas capacitao florestal tem sido implementada na regio atravs de parcerias com INCRA e FNMA, tais como: capacitao de lideranas comunitrias, tcnicos de prestadoras de servios de assistncia tcnica, jovens agricultores, estudantes, etc.

    Essa experincia de Marab traz algumas lies para a questo de ATER Florestal: (i) definio de papis na conduo dos projetos de MFC; (ii) estratgia para fortalecer ATER Florestal frente ao processo de expanso do MFC e (iii) identificar mecanismos para atuao do Estado no campo de ATER-Florestal, fortalecendo e capacitando instituies que se propem a prestar estes servios.

    30

  • As principais aes do governo para promover a assistncia tcnica para a

    atividade florestal devem concentrar em:

    - fazer convnios com as escolas tcnicas para viabilizar a participao dos

    tcnicos formados em programas de ATER,

    - promover programas de intercmbios intra e entre as comunidades que

    esto envolvidas em projetos de manejo comunitrio,

    - promover intercmbios com experincias de outras regies e paises que

    tenham avanos no tema de manejo florestal,

    - promover nas universidades adequao das grades curriculares a

    questes regionais de manejo florestal, em especial manejo comunitrio.

    7.2. Organizao social O tema de organizao social apresentado como a principal necessidade

    para o desenvolvimento rural. A organizao de base fundamental,

    especialmente quando a produo e feita de forma comunitria. Por exemplo,

    uma comunidade organizada pode demandar de maneira mais efetiva, melhores

    servios de assistncia tcnica, acesso a crdito e participao em processos de

    discusso e elaborao de polticas. Entretanto o papel de organizao social no

    adequadamente reconhecido pelo governo. A pesar da importncia, demanda

    crescente necessidade para esse tema, quase todo o apoio prov de

    organizaes no governamentais. As organizaes de base e Ongs tm ocupado

    o papel principal nessa rea. Essas instituies mostram-se bem preparadas para

    atuarem na organizao social. Entretanto, existe grande desafio sobre os

    investimentos e prazos em que as organizaes devem atuar at que as

    comunidades e populaes locais possam se organizar sozinhas.

    Outro desafio das organizaes da base sair de aes locais de

    organizao para uma escala regional. Essa mudana de escala demandaria uma

    31

  • estratgia regional com maior investimento em pessoal e maior demanda de

    recursos financeiros. Com isso, o governo precisa apreciar o papel e forma de

    trabalho das organizaes no governamentais e da igreja. As principais aes

    estariam voltadas a reduzir processos burocrticos nas instituies publicas e

    reconhecer que existem grupos melhores capacitados e articulados para atuarem

    na organizao social e desta forma recursos pblicos deveriam ser canalizados

    para esses grupos.

    De um modo geral, as questes sociais relacionadas atividade florestal

    remetem a uma questo crucial, onde os complexos mecanismos de dominao

    e explorao do trabalho dos grupos sociais so ignorados. Estas atividades - por

    sua vez so caracterizadas por explorao humana (Cruz, 2002). Basta visitar

    um acampamento de explorao florestal para constatar condies imprprias a

    que os trabalhadores esto sujeitos. Situao semelhante encontrada no

    processo de produo de carvo vegetal para abastecer usinas que demandam

    combustvel vegetal.

    Embora existam mecanismos para equacionar as questes sociais da

    atividade florestal como a certificao tais procedimentos ainda so restritos

    atividade de madeireira. O processamento de produtos ainda demanda de

    estabelecimento de padres sociais para avaliar a sustentabilidade da operao

    florestal como um todo (Carneiro et al., 2003).

    Ainda no caso da explorao florestal empresarial, esta apresenta dois

    tipos de problemas relacionados questo social. Por um lado no existe no

    Estado uma organizao formal que represente a categoria dos trabalhadores da

    indstria florestal4. A inexistncia de mecanismos de presso tende a favorecer a

    permanncia das condies atuais de trabalho na rea florestal.

    4 Embora na rea rural a FETAGRI (Federao dos Trabalhadores da Agricultura) seja a principal organizao de representao da categoria de trabalhadores rurais, esta no incorpora os trabalhadores embora na rea rural da indstria florestal. A nica organizao existente a - patronal FETACOMPRA, que trata da questo dos trabalhadores florestais.

    32

  • Por outro lado, o manejo florestal sustentvel quele que tambm

    considera aspectos sociais tem dificuldade de ser promovido entre os

    empresrios da indstria madeireira. Um dos problemas identificados em

    levantamento feito junto a AIMEX (Associao dos Exportadores de Madeira do

    Par), principal entidade de representao dos empresrios e onde existe um

    grupo de empresas certificadas, foi a existncia de empresas que no

    conseguiram certificao. Entre os motivos levantados, aparece a questo de

    relao de tenso estabelecida entre representantes de empresas, funcionrios e

    moradores de comunidades de entorno rea de manejo.

    As principais aes que o governo deveria observar para atuar em

    processos de organizao social, dentre outras coisas seriam:

    Fortalecer um processo de organizao social dos trabalhadores da

    indstria madeireira;

    Considerar - de forma mais enftica a questo social na

    implementao de planos de manjo florestal sustentvel, nas anlises

    e vistorias de planos de manejo;

    Trabalhar em parceria com as instituies com capacidade e

    articulao local,

    Fortalecer processo de organizao da produo florestal (comunitria

    e empresarial) para fins de comercializao;

    Envolver os atores locais nos processos de formulao e

    implementao de polticas na rea florestal.

    33

  • A organizao para produo e venda da madeira: o caso do Grupo de Produtores Comunitrios do Acre

    A comercializao de madeira oriunda de projetos comunitrios tem sido foco de discusso entre representantes de projetos e compradores. Uma experincia bem sucedida de articulao de diferentes grupos envolvidos em projetos de manejo florestal comunitrio visando uma estratgia coletiva de comercializao tem sido implementada no Acre, atravs do Grupo de Produtores de Manejo Florestal Comunitrio (GPFC).

    A criao do GPFC uma proposta regionalizada de superao de problemas relacionados a mercado. O Grupo recebe apoio do Governo do Estado, de Ongs e centros de pesquisa, que juntos vm dando suporte tcnico para a consolidao da proposta. De um modo geral, o Grupo se prope a organizar a produo e tambm tratar de alguns outros aspectos que envolvem a comercializao, e reduo da carga tributria. At o momento, alm de consolidar o envolvimento de projetos comunitrios em processo conjunto de comercializao os principais resultados dessa articulao so: (i) organizao da produo de madeira oferecida pelos projetos e implementao de uma estratgia coletiva de comercializao; (ii) aumento de poder de barganha na transao comercial de madeira e outros produtos florestais comunitrios, mediante a oferta de maior nmero de espcies e volume; (iii) articulao com Estado e setor privado para criao de um entreposto de comercializao; (iv) obteno de quadro tcnico para prestarem assistncia tcnica aos projetos, atravs do Estado; (v) apresentao de uma proposta de reduo de ICMS para projetos comunitrios e (vi) maior visibilidade das experincias de MFC. Outro aspecto relevante tem sido a busca e insero dos produtos antigos e de novos em segmentos de mercado mais atrativos (i.e., mercado de mveis rsticos, certificados). Experincias como esta, podem trazer lies interessantes para fortalecer estratgias coletivas de comercializao de produtos florestais manejados no Estado e compondo um conjunto de mediadas de fortalecimento do processo de MFC em andamento na Regio.

    34

  • 7.3. Crdito O crdito um instrumento essencial para estimular produtores a mudar a

    forma de uso dos recursos florestais. Por outro lado, a falta de crdito tem sido

    apontada como uma das principais barreiras para que produtores decidam adotar

    formas alternativas de uso dos recursos florestais. A oferta de crdito para o

    setor florestal na Amaznia recente. Somente a partir dos anos de 1990 foi

    estruturada linha de crdito para esse setor. Entretanto somente duas iniciativas

    de manejo foram contempladas com crdito. Um para manejo envolvendo a

    empresa Juru, no Par, e outro para um projeto de manejo comunitrio no Rio

    Cautrio, em Rondnia. As principais barreiras para acessar o crdito do BASA

    so enumeradas em: i) excesso de burocracia, ii) condies de prazos e juros

    incompatveis com os prazos do manejo, iii) falta de ndices de produo,

    especialmente para manejo comunitrio e iv) exigncias de garantias.

    Entretanto existem muitas experincias de sistemas de crdito no mundo

    que poderiam servir de base para elaborar um sistema de crdito para o Estado.

    Segundo Annis (1998) e Uhl et al. (1998), as caractersticas bsicas de um

    sistema de crdito devem considerar: i) fornecimento de emprstimos que

    contemplem pequenos, mdios e grandes crditos, ii) formas de pagamentos

    compatveis com os ciclos e safras florestais, iii) juros e prazos compatveis com

    a escala e ciclo, e iv) considere a floresta com garantia de emprstimo.

    Polticas de fomento sempre estiveram na base para promoo de

    atividades produtivas. O estabelecimento de linhas de crdito, especialmente

    para fortalecimento da agricultura familiar no Estado, sempre apareceu na pauta

    das propostas de desenvolvimento de instituies de representao (i, e,

    associaes, sindicatos, federaes) e assessoria (i, e, Ongs) aos movimentos

    sociais.

    35

  • A principal proposta consolidada at o momento foi o FNO5 (Fundo

    Constitucional do Norte), operacionalizado pelo Banco da Amaznia (BASA). No

    entanto, o acesso ao financiamento por agricultores familiares no foi

    assegurado no primeiro momento, principalmente pelos mecanismos burocrticos

    (i, e, documentao exigida) e condies de pagamento. Atravs de mecanismos

    de presso, com inmeras rodadas de debate e negociao entre o BASA e

    instituies de representao e assessoria aos movimentos sociais, criou-se, em

    1991, algumas modalidades diferenciadas de acesso ao crdito por agricultores:

    o FNO-Urgente, que posteriormente foi denominado de FNO-Especial. (Tura &

    Costa, 2000; Muchagata et al., 2002).

    Os recursos do FNO subsidiaram outras polticas agrrias. Uma delas foi

    o PROCERA, programa criado pelo Governo Federal para regularizao fundiria

    e desapropriaes em assentamentos rurais no incio da dcada de 90. A

    extino do PROCERA deu lugar ao PRONAF, que iniciou em 1996, atravs do

    programa Planta Brasil do governo federal.

    Uma srie de avaliaes tm sido feita na implementao dos recursos

    oriundos do FNO (Tura & Costa 2000; Muchagata et al., 2002; Smeraldi, 1998).

    De um modo geral, possvel destacar os seguintes problemas na implantao

    desses crditos:

    Crditos vinculados a produtos (e no a produo) e com pacotes

    tecnolgicos com pouca flexibilidade de adaptao s diferentes

    realidades amaznicas;

    Obteno dos recursos de forma vinculada (custeio 30 % e investimento

    70%);

    5 O FNO oriundo dos Fundos Constitucionais de Financiamento, regulamentados atravs da Lei n 7.827, de setembro de 1989. Estes recursos foram direcionados para os Estados Norte, Centro-Oeste e Nordeste, sendo destinados 0,6 % para as duas primeiras regies e 1,8% para a Regio Nordeste. (Tura & Costa, 2000).

    36

  • Pouca capacidade operacional do banco na operacionalizao do

    financiamento, ocasionando atrasos na liberao dos recursos e,

    conseqentemente, comprometimento do investimento;

    Mudas e matrizes financiadas de m qualidade;

    Falta de experincia dos agricultores familiares em trabalhar com

    financiamentos.

    O impacto dessas polticas pode ser medido sob diferentes pontos de

    vistas. Por parte do Banco apontado o volume expressivo R$ 6 bilhes

    aplicados com recursos do FNO entre 1989 e 2004 (Verssimo & Gomes, 2004) e

    o nmero de famlias beneficiadas com o crdito. Por outro lado, uma anlise

    mais detalhada dos impactos da alocao destes recursos tem sido feita por

    instituies de pesquisa e rgos de representao e assessoria aos movimentos

    sociais. A tabela 8 apresenta um resumo dos impactos dessas linhas de

    financiamento, oriundas de recursos do FNO.

    Tabela 8: principais impactos relacionados aplicao de recursos oriundos do FNO no Par. Categoria Tipo de impacto Infra-estrutura melhoria das estradas e qualidade habitao no meio

    rural; melhora relativa na oferta de servios (i,e, Assessoria

    Tcnica); eletrificao rural

    Aspectos econmicos aumento na capacidade de investimento dos agricultores;

    maior investimento do setor privado no processamento de produtos pecurios (abatedouros, laticnios, etc.);

    maior movimentao no comrcio regional, aquecendo a economia em alguns municpios plos (i,e, Marab).

    Aspectos Ambientais aumento efetivo das pastagens e rebanhos bovinos; aumento de reas com culturas perenes aumento do desmatamento em reas de assentamento

    com crdito. Aspectos sociais contribuio para reteno das famlias;

    diferenciao social dentro das reas de assentamento podendo levar a um processo de reconcentrao fundiria.

    Fonte: Adaptado de Tura & Costa 2000; Muchagata et al., 2002.

    37

  • De um modo geral, a alocao de recursos creditcios trouxe alguma

    melhoria para qualidade de vida das famlias beneficiadas. O advento do crdito

    impulsionou a poltica agrria no Estado e ao mesmo tempo causou impactos

    ambientais severos. O aumento do desmatamento um fator de consenso nas

    avaliaes mais internas do Banco da Amaznia e nas anlises apresentadas por

    diferentes estudos conduzidos por instituies de pesquisa, de representao e

    assessoria aos movimentos sociais, universidades, etc. Esse aspecto, aliado a

    uma aproximao mais forte do BASA com o Ministrio do Meio Ambiente no

    incio do governo Lula, levou o banco a discutir, com diferentes segmentos da

    sociedade, mecanismos de apoiar atividades voltadas ao manejo florestal e

    reflorestamento.

    7.4. Linhas de financiamento para atividade florestal As linhas de financiamento oriundas do FNO para atividades florestais

    originaram nos anos 90, dado o impacto adverso manuteno da cobertura

    vegetal e presses de instituies ligadas aos movimentos sociais movimentos

    sociais e Ongs ambientalistas. Essas propostas foram catalisadas por novas

    formas de financiamento a prticas conservacionistas experimentadas por

    comunidades rurais e empresrios do setor florestal, especialmente por

    iniciativas de manejo florestal e sistemas agroflorestais no mbito do PP-G76

    (Programa Piloto para Proteo das Florestas Tropicais do Brasil).

    Alm disso, o fortalecimento do componente florestal na agenda de

    alguns estados da Amaznia (i,e, Acre e Amazonas) levou a atual administrao

    do BASA a dar maior nfase aos setores florestal e agroflorestal para

    financiamentos. Para isso, o Banco criou no ano de 2003 um GT-Floresta,

    composto por diferentes grupos de interesses comunitrios (representantes de

    projetos pilotos de manejo florestal comunitrio); setor privado (associaes de 6 Dois subprogramas do PP-G7 apiam projetos pilotos envolvendo comunidades: o PD/A (Projetos Demonstrativos Categoria A) e o ProManejo (Programa de Apoio ao Manejo Florestal na Amaznia). Este ltimo destina-se apenas a atividade de manejo florestal madeireiro a empresas e comunidades. Estes financiamentos do PP-G7 continuam apoiando a consolidao de projetos pilotos de manejo florestal e sistemas agroflorestais, com iniciativas no Par.

    38

  • empresrios do setor florestal), instituies de pesquisa e fomento ao setor

    florestal e rgos de governos estaduais, cuja atividade florestal apresente

    expresso na agenda poltica. Os principais assuntos debatidos neste Grupo de

    Trabalho foram: (i) fatores limitantes para acessar crditos florestais; (ii)

    sugestes de alternativas tcnicas, adaptaes de formas de garantias e

    agilidade nos procedimentos de anlise e (iii) mecanismos de presso para real

    implantao de crdito para o setor florestal, incluindo mecanismos de

    divulgao das linhas de financiamento gerenciadas pelo Banco, alm de

    promoo de dilogo ente equipe do Banco e clientes potenciais das linhas de

    crdito.

    Atualmente, existem algumas modalidades de crdito para o setor

    florestal, com recursos do Fundo Constitucional do Norte: FNO-Floresta,

    originalmente denominado de Pro-Floresta, e algumas modalidades do PRONAF.

    No entanto, essas linhas de financiamento no tm sido acessadas devidamente.

    No caso do FNO-Floresta, os recursos tm sido destinados, principalmente, para

    atividades de reflorestamento. Em uma anlise da destinao destes fundos,

    Verssimo & Gomes (2004) encontraram, em 2002, somente trs projetos de

    reflorestamento aprovados, totalizando um valor de R$ 0,33 milho (equivalente

    a menos de 0,05 % do valor desembolsado pelo FNO naquele ano). Em 2003,

    foram alocados para o FNO-Floresta R$ 22 milhes, sendo comprometido um

    valor inferior a R$ 10 milhes (Verssimo & Gomes cp). No caso do PRONAF, a

    situao similar. Embora exista fluxo relativo na obteno de financiamento das

    linhas PRONAF C e A, o mesmo no ocorre com o PRONAF-Floresta, a principal

    linha de financiamento para agricultores familiares na rea de manejo florestal7.

    As explicaes para dificuldades em acessibilidade dessas linhas de

    crditos tm as mais variadas origens. No caso do FNO-Floresta, possvel

    agrupar os entraves para obteno do financiamento em: (i) falta de divulgao;

    7 Em levantamento realizado junto a tcnicos do Banco da Amaznia, constatou-se inexistncia na alocao desta modalidade de crdito na Regio.

    39

  • (ii) falta de regularizao fundiria; (iii) falhas nos procedimentos operacionais

    adotados pelo Banco e (iv) acessibilidade a informaes pelos funcionrios do

    banco a parmetros tcnicos, econmicos e sociais do manejo florestal o que

    chega a inviabilizar anlises (Verssimo & Gomes, 2004).

    No caso das linhas do PRONAF, ainda preciso readequ-las de modo

    que reflitam as diferentes realidades das iniciativas de MFC em curso na Regio.

    As condies de pagamento so mais atrativas, comparando ao FNO-Floresta. No

    entanto, essa modalidade de financiamento est ainda fortemente

    fundamentada na poltica agrria. Torna-se necessria uma imediata articulao

    entre funcionrios do Banco, tcnicos do MMA e SAF/MDA e pessoal envolvido

    (tcnicos e lideranas comunitrias) na implementao de projetos pilotos de

    MFC para discusso de parmetros tcnicos (para anlise de projetos envolvendo

    madeira e pfnm) para agilizar anlises, enquadramento, e prazos para

    pagamento.

    Um resumo analtico destas recomendaes para aumentar

    acessibilidade s linhas de crdito existentes para atividades florestais encontra-

    se na Tabela 9.

    40

  • Tabela 9. Recomendaes para aumentar a acessibilidade s linhas de financiamento para o manejo florestal.

    Tipo de crdito Aspectos positivos Aspectos Negativos sugestes Pronaf- Grupo C Taxa de juros satisfatrios Limitao para acesso (reedio do

    PRODEX). consolidar parmetros tcnicos para agilizar anlises. Identificar pessoas-chave envolvida com manejo de PFNM para ajudar na (re)formatao e treinar pessoal do Banco.

    Pronaf-Floresta Taxa de juros satisfatrios apia apenas investimento; limite de financiamento muito baixo (at R$ 6.000,00) para atividades florestais; exclui Categoria A de agricultores, justamente queles na fase inicial em assentamentos; indefinio de normas operacionais do crdito; prazo para pagamento previamente estabelecido (12 anos), onde deveria obedecer minimamente o ciclo de corte do sistema de manejo em questo.

    adequar a linha de financiamento de modo que reflita a realidade do MFC, atravs de discusses entre pessoal da SAF, MMA, do Banco e envolvidos na implementao de projetos de MFC; elaborar, junto com BASA, exposio de motivos, a ser encaminhado ao Pronaf para incluso de agricultores Categoria A;

    FNO-Floresta Prazos e limites de financiamento satisfatrios; Apia investimento (at R$80.000,00) e Custeio (at R$ 24.000,0). Normas operacionais relativamente definidas.

    Juros menos atrativos que as linhas do Pronaf, tornando-o no competitivo para agricultura familiar;

    reviso das taxas e limites, (re) adequando-os ao MFC; criar um FNO-Floresta para o MFC.

    41

  • 7.5. Infra-estrutura A falta de infra-estrutura uma grande barreira para a expanso de

    atividades de uso sustentveis. Por exemplo, a falta de infra-estrutura eleva os

    custos de transporte e inviabiliza investimentos e estimula o desmatamento

    Guimares e Uhl (1998). Para esses autores as redes de estradas extensivas

    devem ser substitudas por densas redes locais de transporte para que sejam

    catalisadoras de reas antropizadas consolidando as fronteiras agrcolas e

    madeireiras.

    A indstria madeireira tem criado a sua prpria dinmica e infra-estrutura

    independente das aes de governo. Por exemplo, estudos tm identificado uma

    rede extensa de estradas endgenas abertas por madeireiros para acessar novas

    reas de florestas que antes eram inacessveis.

    Desta forma, o desenvolvimento de um modelo intensivo (especialmente

    consolidando as reas de fronteiras abertas) de estrada estimularia a produo

    florestal e agroflorestal especialmente por baixar os custos de transporte. Alm

    disso, poderia permitir acesso a novos mercados e conseqentemente estimular

    o aumento da produo e com isso o aumento da competio com a produo

    ilegal e predatria. Outro aspecto importante seria o fato que um modelo

    intensivo de estradas poderia beneficiar um nmero de pessoas por quilometro

    de estrada e propiciaria melhor acesso aos servios pblicos como sade,

    educao e assessoria tcnica.

    Para maior eficincia do transporte rural se deve planejar e integrar as

    opes terrestres e fluviais, esse ltimo com custos cerca de 1/3 menor.

    Sistemas de transporte terrestre e fluvial devem operar em conexo,

    especialmente em transporte em longa distncia, a combinao de transporte

    por estrada e rios poderia ser mais eficiente, reduzindo os custos e o tempo de

    transporte.

    42

  • 8. Polticas e Principais Planos de Promoo do Manejo Florestal e Reflorestamento no Estado do Par

    O processo de gesto dos recursos florestais no Par muito recente. At

    1988 no existia nenhuma lei estadual sobre florestas e o Cdigo Florestal e

    outros instrumentos regulamentavam o uso florestal no Estado. A primeira

    tentativa de normatizar o uso dos recursos florestais pelo Estado se deu atravs

    da Lei 5.440, de 10 de maio de 1988 que cria o Instituto de Florestas do Par.

    Entre as atribuies do rgo, previa-se a promoo e execuo da poltica

    florestal do Estado do Par. Outra medida importante foi a Lei Estadual 5.457,

    de 11 de maio de 1988 que cria a Secretaria de Estado de Cincia, Tecnologia e

    Meio Ambiente (SECTAM).

    No entanto, tais medidas foram incipientes ou no criaram as condies

    necessrias para sua operacionalizao. No caso da SECTAM, somente em 1993,

    atravs da Lei 5.752 que foram estabelecidos mecanismos de reorganizao

    do rgo e criao de cargos na Secretaria. De uma certa forma, isso

    impulsionou a formulao da Poltica Estadual de mio Ambiente, em 1995, e -

    no mesmo ano a instaurao do Fundo Estadual de Cincia e Tecnologia,

    atravs da Lei 5.887 de 09 de maio de 1995 e Lei Complementar 29 de 21 de

    dezembro de 1995, respectivamente.

    Outras tentativas de promoo do manejo sustentvel foram feitas -

    ainda mais recentemente - pelo governo estadual. Por exemplo, especialmente

    em relao ao setor florestal, somente em 2002 que foi criada a Poltica

    Estadual de Florestas. Em 1999, ainda houve uma tentativa de instituir Selo

    Ecolgico no Estado do Par. A regulamentao destas foi efetivada muito

    tardiamente (i,e, 5 anos no caso da SECTAM) ou nunca saram do papel e foram

    destitudas (como no caso do Instituto de Florestas do Estado, atravs da

    Poltica Estadual de Florestas). Isto remete necessidade do Estado fortalecer

    43

  • suas estruturas para criar capacidade e executar suas polticas coerentes para o

    setor florestal.

    8.1. Programas de Promoo da Atividade Florestal e Agro-Florestal

    8.1.1 Programa Nacional de Florestas - PNF Vinculado ao Ministrio do Meio Ambiente, o Programa prope-se a

    oferecer investimento, difuso, formao de mo-de-obra especializada em

    prticas de manejo de impacto reduzido, criao de linhas de crdito especficas

    para o setor, desenvolvimento de tecnologias adaptadas e regulamentao da

    gesto de terras pblicas. Possui como foco na Amaznia: o Cerrado, a

    Caatinga e a Mata Atlntica (PNF, 2004). Para isso, apresenta duas aes

    estratgicas para o perodo 2004-2007: (i) expanso da base florestal plantada

    consorciada com a recuperao de reas degradadas e (ii) expanso da rea

    florestal manejada consorciada com proteo de reas de alto valor para

    conservao.

    A principal ao do PNF o Projeto de Lei 4776/2005. Trata-se de uma

    proposta de regulamentao e gesto de florestas pblicas para uso sustentvel

    no Brasil. O Projeto prev a criao do Servio Florestal Brasileiro e do Fundo

    Nacional de Desenvolvimento Florestal. Encontra-se tramitando no Congresso

    Nacional e tem sido alvo debates entre diversos setores da sociedade.

    8.1.2. Programa Piloto para Proteo das Florestas Tropicais do Brasil PP-G7 O Programa Piloto para a Proteo das Florestas Tropicais do Brasil surgiu a

    partir da reunio de cpula dos sete pases mais ricos do mundo chamados de

    G-7 em Houston, em 1990 (Fatheuer, 1998). Os principais Programas do PP-

    G7 com atuao no Par que podem trazer insumos para polticas pblicas na

    srea florestal so: PoManejo (Programa de Apoio ao Manejo Florestal

    44

  • Sustentvel na Amaznia); PD/A (Projetos Demonstrativos A) e Valorizao de

    Recursos Naturais da Vrzea (Provrzea)

    O ProManejo tem como principais objetivos a identificao de formas e

    mecanismos inovadores de promover o manejo florestal. Para isso, apia aes

    de extenso, fomento, pesquisa, fortalecimento institucional, organizao

    comunitria, melhorias nos processos de controle e monitoramento da atividade

    madeireira e formulao de polticas pblicas para atividade florestal. Est em

    fase final de execuo (finalizao prevista para o final de 2006) estruturado em

    quatro Componentes: (i) Estudos Estratgicos; (ii) Iniciativas Promissoras; (iii)

    Sistema de Controle e Monitoramento e (iv) Floresta Nacional do Tapajs.

    O Subprograma Projetos Demonstrativos (PDA) iniciou suas atividades em

    1995, sendo um dos componentes do PP-G7 com maior tempo de

    implementao. O PDA aprovou at abril de 2004 194 projetos, sendo 147 na

    Amaznia e 47 na Mata Atlntica, dentre eles 170 esto finalizados e 22 em

    execuo. Foram comprometidos US$ 22.049.770,00 do PDA e mais US$

    11.602.250,00 de recursos de contrapartida dos beneficirios, totalizando US$

    33.652.020,00. A continuidade do PDA ter como base, por um lado a proposta

    de Consolidao dos projetos promissores, com nfase na consolidao,

    sistematizao e disseminao das experincias e, por outro, o apoio a

    iniciativas que busquem alternativas a problemtica dos desmatamentos e

    queimadas Projeto Alternativas ao Desmatamento e s Queimadas Padeq ,

    neste caso, restrita regio do arco do desmatamento nos estados do Par,

    Mato Grosso e Rondnia, alm de Roraima8.

    O Provrzea, tem como objetivo estabelecer a base tcnica e cientfica

    para a formulao de polticas pblicas para a conservao e gerenciamento

    dos recursos naturais da vrzea da regio central da bacia Amaznica, com

    nfase nos recursos pesqueiros. Para isso, vem apoiando trs tipos de aes:

    (i).estudos estratgicos que contribuam para o aprimoramento das polticas e 8 Tirado de www.mma.gov.br

    45

    http://www.mma.gov.br/

  • regulamentaes para a vrzea; (ii), apoio a iniciativas promissoras para o

    manejo sustentvel dos recursos naturais analisando questes que afetam a

    conservao e o uso sustentvel dos recursos naturais desse ecossistema e (iii)

    monitoramento de uso dos recursos naturais no ecossistema vrzea., tais como

    o manejo comunitrio da pesca, a dinmica e o impacto da pecuria e da

    agricultura nas vrzeas e a identificao de reas prioritrias para conservao.

    9. Alternativas para fortalecimento de uma agenda estadual de promoo da atividade florestal: perspectivas

    Atualmente, o Par produz aproximadamente 39% da madeira nativa do

    Brasil Dessa forma, ao invs de polticas que levem degradao ambiental, o

    governo do Estado poderia adotar um modelo de desenvolvimento que

    valorizasse a floresta em p, respeitando a vocao natural florestal da regio.

    Para isso, deveria adotar polticas que incentivasse o manejo florestal

    sustentado, at ento inexistente na regio.

    As aes desenvolvidas pelos programas de incentivo atividade florestal

    e reflorestamento tm catalisado alguns resultados que poderiam subsidiar o

    Governo do Par na adoo de polticas pblicas para o setor. Tanto o Programa

    Nacional de Floresta-PNF quanto o PP-G7, tm promovido aes estruturantes

    para adoo do manejo florestal e sistemas agroflorestais no Estado, sem que

    haja participao ou correlao destas aes com alguma estratgia dos rgos

    pblicos locais e regionais.

    No caso do PNF, o Projeto de Lei de Concesses Florestais poderia ser

    fortemente refletido na proposta de macrozoneamento apresentada pelo

    governo do estado, principalmente na identificao das modalidades de uso das

    unidades de conservao que comporo o percentual de 65 % de reas

    protegidas no Estado. Este aspecto solidificaria o atendimento mesmo que

    46

  • parcial de um dos mais srios problemas relacionados adoo de manejo na

    Amaznia: a questo fundiria.

    Alm disso, o Estado apresenta potencial para articulao com outras

    propostas discutidas no Ministrio do Meio Ambiente, mas tambm em outros

    ministrios, relacionados poltica de reforma agrria. Entre as alternativas,

    tem-se a proposta de Assentamentos Florestais, uma nova modalidade de

    Assentamentos Rurais lanada no incio do Governo Lula. Este tipo de

    assentamento tem como perspectiva o assentamento de famlias em reas com

    aptido para manejo de uso mltiplo da floresta, organizadas em associaes

    comunitrias, condomnios ou cooperativas. Porm, esta poltica ainda no

    decolou. O Estado do Acre tem sinalizado como o primeiro a assentar famlias

    em Assentamentos Florestais, o que ainda no aconteceu. O Par tem potencial

    para este tipo de polticas em reas no Sudeste do Estado, rea de influncia da

    BR 163, etc.

    Um impacto forte de articulao entre as agendas do Estado e do

    Governo Federal poderia ser medido na regio de Marab, Sudeste do Par.

    Nesta regio, foi intensificada a criao de assentamentos rurais, a partir de

    2006. Em 2002, 76 % dos assentamentos rurais do Par estavam concentrados

    em Marab. Em 2003, existiam 381 Projetos de Assentamentos, com 78 mil

    famlias beneficiadas e R$ 96 milhes aplicados (LASAT, 2004). A introduo de

    um componente ambiental na agenda da poltica de reforma agrria deve ser

    priorizada pelo governo em suas diferentes esferas (federal estadual e

    municipal). No caso especfico da regio de Marab, a ausncia de componente

    ambiental na poltica de reforma agrria, mas tambm a efetivao de outras

    medidas que permitissem atividades mais sustentveis de uso dos recursos

    naturais (i,e, assessoria tcnica, infra-estrutura,acesso a crdito, etc.) levou

    remoo de mais de 60 % da cobertura florestal em menos de 20 anos (LASAT,

    cf). A criao de modalidades de assentamentos que privilegie o uso racional

    dos recursos florestais (i,e, Assentamentos Florestais) e criao de outras

    47

  • modalidades (i,e, PDSA) demandadas no Oeste (e outras regies) do Estado,

    com forte componente ambiental poderia ser mobilizada pelo governo estadual

    e catalisadas na proposta de zoneamento do Governo Estadual. Esse

    mecanismo permitiria um dilogo qualificado entre os diferentes rgos

    governamentais na implementao de polticas oriundas de diversos setores do

    governo federal.

    Em relao ao PPG-7, observa-se, igualmente, potencial para

    implementao de aes de polticas florestais a serem (re)definidas pelo

    Estado. Mais da metade dos recursos (cerca de R$ 11,3 milhes) oriundos do

    ProManejo - principal programa de apoio ao manejo florestal sus