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1 PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA PIC DEPARTAMENTO DE PINTURA ORIENTADOR: Prof. Dr. Ingo Harald Moosburger ALUNA: Edisa de Athayde Costa e Silva ALFREDO ANDERSEN E SUA CONTRIBUIÇÃO COMO PROFESSOR PARA A PINTURA PARANAENSE Curitiba, 11 de agosto de 2010.

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PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – PIC

DEPARTAMENTO DE PINTURA

ORIENTADOR: Prof. Dr. Ingo Harald Moosburger

ALUNA: Edisa de Athayde Costa e Silva

ALFREDO ANDERSEN E SUA CONTRIBUIÇÃO COMO

PROFESSOR PARA A PINTURA PARANAENSE

Curitiba, 11 de agosto de 2010.

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PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – PIC

DEPARTAMENTO DE PINTURA

ORIENTADOR: Prof. Dr. Ingo Harald Moosburger

ALUNA: Edisa de Athayde Costa e Silva

ALFREDO ANDERSEN E SUA CONTRIBUIÇÃO COMO

PROFESSOR PARA A PINTURA PARANAENSE

Relatório contendo os

resultados finais do projeto de

iniciação científica vinculado

ao Programa PIC-Embap

Curitiba, 11 de agosto de 2010.

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RESUMO

O Estado do Paraná tem em sua história grandes pintores e entre eles, Alfredo Andersen

merece destaque especial. A obra deixada pelo artista é de imenso valor para a cultura do

estado, porém esta pesquisa visa mostrar a importância de Andersen como professor, já que

de seu atelier saíram artistas que, seguindo o caminho do mestre, também contribuíram

muito para o desenvolvimento da arte no Paraná. A pesquisa é caracterizada como pesquisa

histórica, e foi realizada com base na bibliografia encontrada em instituições como:

Biblioteca Pública do Paraná, Biblioteca da EMBAP e Casa da Memória. Durante a

realização deste trabalho pode-se perceber caminhos para novas pesquisas sobre o artista.

No material consultado foram encontrados depoimentos de alunos e pessoas que conviveram

com o artista, que confirmam a disposição de Andersen para o ensino da arte.

Palavras-chave: escola de artes, desenvolvimento, formação de artistas, desenho, pintura.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 5

2. OBJETIVOS ................................................................................................................... 6

2.1 Objetivo Geral .............................................................................................................. 6

2.2 Objetivos Específicos .................................................................................................... 6

3. DESENVOLVIMENTO ................................................................................................. 7

3.1 Alfredo Andersen .................................................................................................................. 8

3.2 Andersen no Brasil ............................................................................................................. 10

3.3 O professor ........................................................................................................................ 12

3.4 Os discípulos ...................................................................................................................... 14

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................... 18

5. CONCLUSÕES ............................................................................................................ 19

6. REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 20

7. ANEXOS ....................................................................................................................... 21

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1. INTRODUÇÃO

Ao se falar da arte paranaense, um dos primeiros nomes lembrados é Alfredo

Andersen, conhecido como o “pai da pintura paranaense” título criado por Carlos Rubens. A

casa onde funcionava o atelier de Andersen, hoje é um museu dedicado ao artista. Tanto

reconhecimento explica-se por todo o esforço dispensado por ele em favor da arte no estado.

Estando em frente a uma tela pintada pelo artista não é difícil entender o motivo de

tanto alvoroço. As pinturas de Andersen falam por si só, não é preciso explicá-las, isso já

bastaria para justificar o título dado a ele por Carlos Rubens. No entanto, outra atividade

exercida foi tão importante para o seu reconhecimento quanto a produção artística, a

transmissão de seus conhecimentos a quem pudesse interessar, ou seja, sua atividade como

professor.

Esta pesquisa foi feita com base na atividade de Alfredo Andersen como professor,

mais especificamente ressaltando sua contribuição como professor para a pintura no estado. A

primeira questão surge com o título “pai da pintura paranaense”, pois cria a dúvida sobre o

que acontecia no estado antes de sua chegada, se já havia alguma movimentação artística e,

principalmente, a prática docente.

Sabendo-se que prosperou em sua atividade como professor cabe, então, a busca pela

formação acadêmica de Andersen na tentativa de compreender a metodologia utilizada por

ele, assim como a aplicação dessa metodologia na prática do ensino. Uma terceira e última

questão diz respeito a formação de novos artistas, o que talvez seja o fator de maior relevância

para comprovar sua eficiência como professor.

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2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Analisar a influência e importância de Alfredo Andersen, como professor, na pintura

paranaense.

2.2 Objetivos Específicos

Identificar os métodos de ensino utilizados pelo pintor;

Quantificar os discípulos de Andersen;

Verificar as possíveis relações entre a pintura deste artista com a de seus alunos;

Difundir o trabalho de Alfredo Andersen, bem como o de seus alunos citados na

pesquisa, já que são de grande importância para o desenvolvimento da pintura no

Paraná;

Divulgar as diferentes maneiras de fazer pintura.

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3. DESENVOLVIMENTO

Antes da chegada de Alfredo Andersen ao Paraná, o estado já havia contado com

alguma movimentação feita por artistas que estiveram, principalmente, nos arredores de

Curitiba e Paranaguá. Alguns passaram pelo estado, outros fixaram residência nele, mas

nenhum trabalhou com o entusiasmo que Andersen demostrou anos depois. O artista soube

aproveitar os recursos e oportunidades existentes na terra que escolheu para viver.

Glauco Menta em sua Monografia “Artistas do séc. XIX no Paraná” fala sobre os

artistas que deram sua contribuição para a formação da história da arte paranaense citando os

seguintes nomes: Frederico Guilherme Virmond, Jessica e Willie James, Iria Correia, John

Henry Elliot, Jean Leon Pallière Grandjean Ferreira, Joseph e Franz Keller, William Michaud,

Gustavo Rumbelsperger, Caroline Templin, William Lloyd, Hugo Calgam.

Embora todos esses artistas possuam registros e obras no Paraná tendo, assim,

comprovada sua importância para o desenvolvimento da arte no estado, para esta pesquisa o

fundamental é destacar aqueles que, além do próprio trabalho como artistas, deixaram

também um legado como professores.

No entanto, é importante mencionar esses pintores para mostrar que antes da chegada

de Andersen ao Paraná, esse tipo de atividade já havia começado. Mais próximo à sua

chegada há ainda a atuação de Antonio Mariano de Lima que será comentado a seguir. Antes,

porém, é preciso destacar o trabalho realizado por Jessica e Willie James. Segundo Menta,

Jessica e Willie foram as precursoras do ensino da arte no Paraná. Fundaram uma escola para

meninas em Paranaguá em 1849 onde estudou Iria Correia, citada pelo autor como a primeira

pintora paranaense e brasileira.

Já Elizabeth Prosser afirma que pintores e professores de desenho e pintura

trabalhavam em Paranaguá desde 1791, fosse em escolas de ensino regular, que eram em sua

maioria particulares, ou ensinando particularmente. A autora cita dois nomes atuantes em

Paranaguá além de Jessica e Willie, Amaral Gurgel e Noel Guillet. Um dado importante

trazido pela autora é a dificuldade em abrir uma escola até 1853, já que para isso eram

necessários “todos os empenhos das autoridades e influências locais junto da Legislatura de

São Paulo”1.

A autora refere-se a escolas de ensino regular, não necessariamente de artes. Mas se

para criar uma escola de ensino regular era tão complicado, como o caso da primeira escola

1 PROSSER: 44.

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pública de Morretes que levou 8 ou 9 anos para ser aberta, a criação de uma escola de artes

seria, no mínimo tão complicado quanto isso.

Em Curitiba a primeira escola de artes foi criada por Antônio Mariano de Lima, a

Escola de Belas Artes e Industrias, em 1886. Claro que Mariano de Lima não foi o primeiro a

atuar na capital, mas foi aquele que implantou o ensino regular das artes na cidade, o restante

dos acontecimentos foram casos isolados de pessoas que mesmo tendo trabalhado como

pintores, fizeram-no por questões de sobrevivência.

Com o surgimento da escola de Mariano de Lima o Paraná tornou-se, junto a Bahia e o

Rio de Janeiro, um dos primeiros estados a possuir escolas regulares de arte. Mas, segundo

Carlos Rubens, os “Liceus de Artes e Ofícios” criados em outros estados, não formavam

pintores ou escultores, apenas artífices. Já a escola de Mariano de Lima apresentou nomes

como João Turin, Zaco Paraná, Aureliano Silveira, Paulo Ildefonso D'Assumpção e Benedicto

Antonio dos Santos, todos artistas.

O segundo passo para o crescimento das artes no estado foi a inclusão de conteúdos

relacionados à arte no ensino oficial, que aconteceu quatro anos depois da criação da Escola

de Belas Artes e Indústrias. As disciplinas de “desenho como aplicação à indústria e às artes e

o desenho geométrico e de ornamentos” foi incluída no conteúdo programático2.

Apesar da inclusão do desenho no ensino oficial, a abertura de escolas como a de

Mariano de Lima foi o que, de fato impulsionou a arte no Paraná. Outro estabelecimento foi

aberto em Curitiba, mas de toda a bibliografia consultada, apenas Elizabeth Prosser enfatiza a

criação do Conservatório de Belas Artes por Paulo Ildefonso D'Assumpção, ex-aluno de

Mariano de Lima, que foi na época o grande concorrente da escola de Mariano. Portanto,

antes da chegada de Alfredo Andersen a Curitiba, duas escolas haviam sido abertas na capital.

3.1 Alfredo Andersen

Alfredo Andersen nasceu em Cristiansand, em 3 de novembro de 1860, na Noruega.

Com o consentimento dos pais, foi para a Itália estudar pintura, onde conheceu as obras

realizadas pelos grandes mestres e entusiasmou-se com a ideia de um dia poder fazer algo

parecido. Na época sem condições financeiras para cumprir seu objetivo na Itália, voltou à

Noruega, frustrado e pensando na ideia de estudar engenharia, como queriam seus pais.

Já no seu país, a encomenda de um retrato fez com que o sonho de estudar pintura

2 OSINSKI: 146.

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continuasse vivo. Enviou alguns desenhos ao famoso cenógrafo e decorador Wilhelm Krogh,

em Christiania, atual Oslo, pedindo que o aceitasse como discípulo. Pedido aceito, Krogh foi

o primeiro professor de Andersen.

Em 1879, matriculou-se na Academia Real de Belas Artes de Copenhague, em seguida

conseguiu ser professor da escola de desenho do Dr. Thelmann. Nessa escola pode mostrar

sua eficiência como professor, introduziu o modelo vivo no ensino do desenho, a técnica

utilizada até então era a de cópias de gravuras impressas. O sucesso de sua inovação resultou

em um convite para lecionar em um dos mais renomados ginásios da cidade.

É importante ressaltar essa fase da vida de Andersen por se tratar de sua formação, ou

seja, dela é possível retirar as informações referentes à metodologia de ensino utilizada pelos

professores de Andersen e que, consequentemente foi utilizada por ele, já que o aluno sempre

carrega alguma característica do professor.

Para encontrar informações sobre possíveis professores de Andersen foi feito um

contato, via correio eletrônico, com a Academia Real de Belas Artes da Dinamarca. O

objetivo do contato foi encontrar dados para fazer uma comparação entre os métodos

utilizados pelos professores de Andersen com os do artista. Dessa forma seria possível

mostrar que o professor ensina baseado no que aprendeu, obviamente com as modificações

naturais advindas da própria experiência, da prática.

As respostas recebidas mostraram que esse tipo de pesquisa só é possível indo até a

Academia para estudo local. Entretanto, uma resposta recebida da Biblioteca Nacional da

Dinamarca trouxe dois nomes que foram pesquisados na internet. Frederik Vermehren, que foi

professor de pintura da Academia Real de Belas Artes da Dinamarca entre 1873 e 1901.

Conhecido principalmente por pintar a gente do campo de seu país, suas representações

idealizadas ajudaram a definir e incentivar o período artístico romântico nacional da

Dinamarca.

O segundo é C. F. Andersen, não foram encontrados dados refentes a este na internet.

E mesmo em relação ao primeiro, para fazer uma análise mais profunda precisaria de dados

mais completos. Esses dados seriam sobre sua atuação como professor e até mesmo pinturas

de sua autoria. As poucas imagens encontradas não se pode afirmar serem de suas pinturas.

Então, a maneira mais eficaz de fazer a pesquisa relacionada a professores da

Academia é indo até a Dinamarca para consultar o material da Academia Real de Belas Artes.

Sem acesso a esse material, o trabalho fica focado nas informações encontradas nos acervos

de Curitiba, suficientes para a conclusão da presente pesquisa.

Andersen teve ainda contato com o dramaturgo Knut Hamsun e com o pintor Olaf W.

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Isaachsen.

3.2 Andersen no Brasil

Sua chegada ao Brasil aconteceu de maneira inesperada, pois Andersen fazia uma

viagem, em 1892, um acidente no navio o fez parar em Paranaguá, passaria alguns meses na

cidade e dali seguiria para Buenos Aires, África do Sul, Ásia, América do Norte e, finalmente,

para a Noruega.

No ano seguinte, Andersen visitou Curitiba e conheceu a escola de Mariano de Lima, a

qual lhe causou boa impressão:

Quando cheguei ao Paraná, em 1893, visitei em Curitiba, a 'Escola de Artes e

Indústrias', dirigida pelo Sr. Marianno de Lima, impressionando-me bem essa ligeira

visita. Encontrei as diferentes classes cheias de alunos: crianças, moças, rapazes e

homens, todos trabalhando na melhor ordem. Esta breve visita fez de mim um

admirador do Paraná progressista3.

Tal admiração fez com que Alfredo Andersen decidisse ficar no Paraná. Morou em

Paranaguá durante dez anos aproximadamente e nessa cidade começou sua atividade como

professor na nova terra, atendendo a pessoas que demonstraram interesse em aprender com o

artista.

Chegou, definitivamente, a Curitiba em 1902. Na capital elaborou projeto para a

escola oficial de arte, lecionou na Escola Alemã e no Colégio Paranaense e em 1909, na

escola de Mariano de Lima. Seu primeiro atelier situava-se na atual Rua Marechal Deodoro,

lá começou sua atividade como artista e professor, com a mesma qualidade do trabalho que

realizava na Europa.

Para compreender o tamanho do esforço de Alfredo Andersen naquela época é preciso

ter uma ideia de como era Curitiba. Theodoro De Bona cita em seu livro “Curitiba pequena

Montparnasse” que no começo da década de 20 Curitiba tinha em média 50 mil habitantes.

A época em que Andersen iniciou seu trabalho em Curitiba foi um pouco anterior ao

período citado por De Bona, é possível imaginar as dificuldades encontradas pelo artista para

fazer seu trabalho prosperar, no que diz respeito ao tamanho da cidade em comparação às

cidades europeias. Havia uma grande quantidade de oportunidades, pelo simples fato da

3 RUBENS: 51.

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capital estar em pleno desenvolvimento, mas da mesma forma, a falta de recursos dificultava

o desenvolvimento desse tipo de profissão.

O Correio Paranaense de 01 a 08/11/98 mostra a situação cultural da cidade na época:

No início do século XX, se a literatura já havia conquistado algum espaço no

Paraná, o mesmo não ocorria para as artes plásticas, que ainda dependiam da

burguesia abastada, que adquiria alguns quadros de flores ou de paisagens para

decorar suas casas, ou então de algum político que desejava se ver retratado ou com

seu busto na praça. Nos finais dos anos 20, no entanto, já havia uma centelha do

espírito de renovação4.

Esse cenário era favorável ao desenvolvimento da arte, à educação do povo em relação

a ela e, percebendo essa necessidade, Andersen escolheu permanecer na capital ao invés de

aceitar as propostas de retorno a Europa. Valfrido Piloto comenta que o artista optou por ficar

em Curitiba devido, entre outras coisas, às promessas de criação de uma escola como ele

gostaria. Mais tarde Andersen diz não ter sido aproveitado como deveria.

Dulce Osinski relata a importância da iniciativa de imigrantes como Alfredo Andersen

“os quais, com a experiência acumulada nos países de origem, trouxeram novas ideias e a

certeza da importância do lugar da arte no panorama cultural de um povo”5. Essa “certeza da

importância” é que talvez tenha feito a diferença.

A época dos acontecimentos também foi fator decisivo para o sucesso do trabalho de

Andersen. O artista viera de um continente onde aconteciam revoluções, brigas políticas,

movimentos artísticos e culturais, acontecimentos vistos por ele. Pode-se imaginar a sensação

do artista, saindo do meio daquela tempestade e chegando a um lugar completamente pacato,

mas ao mesmo tempo, em pleno desenvolvimento, como já citado.

Alfredo Andersen viu o crescimento de países europeus e conhecia o motivo que levou

esses países a tal desenvolvimento, a industrialização. Tinha plena consciência da importância

do desenho nessa situação, além da vontade de ver o desenvolvimento industrial do estado

que escolheu para morar e constituir família. Carlos Rubens cita um trecho de uma palestra

feita por Andersen que confirma sua visão:

Sabemos que a Alemanha era há 40 anos um Estado agricultor e pelo desenho se fez

um Estado Industrial. Sabe-se também que o seu 'debut' na Exposição Industrial de

4 CORREIO PARANAENSE.

5 OSINSKI: 144

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Chicago foi um fiasco. Barato e ruim, assim definiram a Alemanha industrial

naquele certame. Ainda nesse tempo pouco remoto a Inglaterra e a França a

sobrepujaram, porque ao ensino de desenho, nestes dois países, se tinha ligado um

interesse especial6.

Continua sua afirmação dizendo que a Alemanha baseou-se na metodologia utilizada

nas escolas inglesas. A Alemanha buscou informações também na França, no Japão e na

América do Norte e assim:

... preparou pois a Alemanha o seu grandioso plano de ensino de desenho, tendo por

objetivo uma educação em harmonia com o indivíduo. Daí nasceram a sua arte e as

suas indústrias modernas – quer dizer – o seu imenso progresso nesses dois ramos da

conquista humana7.

Então, os motivos que diferenciaram Andersen dos demais artistas que trabalharam no

estado antes de sua chegada foram diversos, não é possível quantificá-los ou qualificá-los,

mas sua teimosia foi, sim, um fator decisivo. Teimosia no sentido de que, mesmo não vendo

cumpridas as promessas que lhe eram feitas, insistia em tentar novamente. Às vezes aceitava

até mesmo uma nova promessa da mesma pessoa que já falhara uma vez.

As promessas referidas são em relação à criação de escolas, pois, na época,

encaminhou vários projetos às autoridades com o objetivo de criar uma Escola Técnica

Primária ou uma Escola Profissional de Arte Aplicada, assim como uma Escola de Belas

Artes. Apesar de não ter visto seus sonhos realizados, seu empenho foi de grande importância

já que resultou na criação da Escola de Música e Belas Artes do Paraná, em 1948, treze anos

após sua morte.

Essa crença na promessa das autoridades foi o que motivou o artista a permanecer no

Paraná e até recusar excelentes convites vindos da Europa, ou seja, Andersen continuava

tendo a “certeza da importância” da arte na cultura do povo que ia conhecendo aos poucos.

3.3 O professor

Não tendo a Escola de Belas Artes, Andersen atuava como professor em seu atelier. Ali

surgiram nomes reconhecidos fora do estado e lembrados mesmo após a morte dos artistas.

6 RUBENS: 52.

7 RUBENS: 52

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Andersen dividia sua atenção “entre a formação de artistas e a capacitação do

operariado para o trabalho na indústria”8. Dulce Osinski lembra que essa preocupação com a

capacitação do operariado era também de Mariano de Lima e faz uma comparação entre a

metodologia utilizada pelos dois artistas. A autora diz que Mariano de Lima, vindo do Rio de

Janeiro, tinha por base a metodologia utilizada na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro,

impregnada de conceitos do neoclassicismo. Já Alfredo Andersen “dava um passo à frente,

privilegiando os estudos do natural, tanto de estúdio como ao ar livre”9.

A verdadeira diferença entre esses dois artistas está no fato de que Mariano de Lima

possuía um sistema voltado ao ensino oficial e regular de arte, já Andersen, apesar da

preocupação com o desenvolvimento industrial do estado, manteve-se firme como artista e,

tirou da sua produção os conhecimentos necessários para a atuação como professor que

formaria gerações de artistas.

Trabalhando no ensino, da pintura propriamente dita, utilizava métodos de observação

dos modelos, como ele mesmo praticava em seus trabalhos, fosse natureza morta, modelo

vivo ou paisagem, partia sempre da observação do motivo a ser pintado.

Alguns autores ao referirem-se a Andersen mostram sua maneira de ensinar como

sendo limitadora. Entretanto, a escolha do professor acontece pela afinidade, sendo assim, se

uma pessoa procurava Andersen para ensinar-lhe pintura, provavelmente, era por já gostar do

trabalho do artista e perceber que dele poderia receber informações para o amadurecimento de

seu trabalho. Se ao longo do tempo o aluno continuasse exatamente na linha sugerida pelo

professor, talvez a falha estivesse no próprio aluno.

Theodoro De Bona narra a rotina de ensino de Andersen em seu atelier, mais tarde

transformado em Museu. Segundo o autor, o mestre recebia os alunos a noite, duas vezes por

semana, para aulas de desenho artístico de modelo vivo. “Controlava e aconselhava os alunos

sem interferir no trabalho dos mesmos”10

. Cabeças e bustos masculinos eram o tema das aulas

durante o dia, reservadas para a pintura a óleo. Quanto as paisagens, eram feitas fora do atelier

na ausência do professor e levadas para sua crítica, importante para a compreensão dos

ensinamentos e conselhos de Andersen através da análise dos próprios trabalhos.

Ao perceber que um aluno tinha capacidade para realizar bons trabalhos, Andersen

fazia com que todos a sua volta soubessem. Procurava atingir o maior número possível de

familiares com a novidade, para que o discípulo recebesse a atenção merecida e, assim,

8 OSINSKI: 146. 9 OSINSKI: 150.

10 DE BONA: 19.

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mostrasse todo seu potencial. No entanto, Andersen tinha plena consciência do que poderia

acontecer se o aluno criasse demasiada confiança em si próprio precocemente, então, fazia-o

ver que o caminho a ser percorrido ainda seria longo.

3.4 Os discípulos

Andersen formou uma grande lista de artistas, porém os de maior destaque foram:

Frederico Lange de Morretes, João Ghelfi, Gustavo Kopp, Maria Amélia d'Assunção,

Estanislau Traple, Waldemar Curt Freyesleben e Theodoro De Bona.

Frederico Lange de Morretes, trilhou o mesmo caminho de Andersen com relação ao

ensino da arte, formou artistas como Arthur Nísio, Augusto Comte, Erbo Stenzel, Kurt Beiger

e Oswald Lopes. Andersen considerava Lange o maior pintor paranaense de sua época, tanto é

que, quando achou necessário que o discípulo fosse buscar conhecimentos fora do país,

aconselhou o pai de Lange a mandá-lo para a Alemanha e teve seu conselho atendido

prontamente.

De volta ao Paraná, Frederico Lange de Morretes optou por pintar a beleza da terra

que tanto gostava, foi um dos chamados “Paranistas”, ao lado de João Turin e João Ghelfi.

“Paranista” segundo o historiador Romário Martins “é todo aquele que tem pelo Paraná uma

afeição sincera, e que notavelmente a demonstra em qualquer manifestação de atividade digna

útil à coletividade paranaense”11

.

Outro admirador da natureza paranaense foi João Ghelfi, mais um discípulo de

Andersen. Mas, apesar dessa admiração, tanto o mestre quanto os colegas de Ghelfi viam sua

inclinação para a pintura figurativa em especial para o retrato, não se mostrando tão

interessado ou inclinado para a pintura de paisagem, prova disso é pequeno número de

trabalhos desse tipo deixados por ele. Existia estima mútua entre Ghelfi e Andersen.

Mais um discípulo de Andersen destacou-se nessa época e teve ligação com João

Ghelfi, Gustavo Kopp que, seguindo sua aptidão, deixou o trabalho com o pai e matriculou-se

na escola de Andersen, a quem admirava e respeitava. Esteve na Europa em 1916, voltou com

óleos e aquarelas e segundo Valfrido Piloto, colaborou para o reconhecimento do Paraná e de

Alfredo Andersen por artistas e críticos.

Maria Amélia d'Assunção foi aluna exclusivamente de Andersen, assim como Traple e

11 Publicado no jornal Gazeta do Povo de 13/02/94.

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Freyesleben. Segundo Piloto, considerada “de modo inconteste e no consenso da crítica

nacional [...] a maior pintora de natureza morta, do Brasil, depois de Pedro Alexandrino”12

.

Estanislau Traple e Waldemar Curt Freyesleben estudaram apenas no atelier de

Andersen na mesma época e eram grandes amigos. Traple trabalhava desde os dezesseis anos

na Impressora Paranaense e já se aventurava na litografia e na pintura. Aos dezoito anos

procurou o mestre que já possuía grande reconhecimento na cidade.

Aconselhado por Ghelfi, De Bona procurou Andersen. Até então, o jovem havia tido

aulas com Gina Bianchi que ensinava a partir de cópias. De Bona queria ir além e por isso sua

professora sugeriu que procurasse Ercília Cecchi cuja diferença de método consistia apenas

no fato das cópias serem de pinturas renascentistas. De Bona acatou a sugestão de Ghelfi e ao

mostrar alguns trabalhos a Andersen, foi dispensado das aulas de modelo de gesso partindo

direto para o modelo vivo.

Mais importante do que falar de cada aluno de Andersen é mostrar a visão dos

discípulos em relação ao mestre. Ghelfi e Kopp, por exemplo, respeitavam e admiravam o

mestre Andersen, porém esse respeito não impediu que os dois tramassem uma campanha

contra os ensinamentos de Andersen. Segundo De Bona, foi provavelmente esse plano que fez

Ghelfi cortar relações com Kopp, ressentimento que durou até o final da vida de Ghelfi. No

entanto, De Bona não fala exatamente como teria sido essa campanha, diz somente que ela

aconteceria como uma “renovação” para a “eclosão de uma Arte autêntica, paranaense”13

.

Assim, o objetivo não seria diminuir o valor do mestre.

Em qualquer área trabalhada a renovação é um necessidade, não é exclusividade da

pintura ou das artes em geral. Mas essa mudança não deve ser feita negando o passado, ou em

detrimento dele. Se um artista negar o passado em busca de uma arte autêntica, essa

autenticidade pode ser ilusória. Obviamente o profissional, seja em qual área for, não precisa

seguir a linha daquilo de que tomou conhecimento, mas se o objetivo é contrapor determinado

assunto, é preciso saber do que se está falando.

Portanto, a atitude de Ghelfi e Kopp é admissível levando em conta o respeito que

tinham por Alfredo Andersen e que seu objetivo era dar um passo sem a ajuda do professor e

não desmerecer seu trabalho . De Bona faz um comentário que se encaixa nesse contexto:

“Leonardo dizia que quem anda atrás não pode estar na frente. Em arte é melhor fazer pouco,

muito pouco mesmo, mas da gente do que fazer muito e dos outros”14

. O que os artistas

12 PILOTO: 33. 13 DE BONA:10.

14 REVISTA INDÚSTRIA: 22.

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queriam, então, era fazer o seu “pouco”.

Outro nome que pode mostrar um pouco do que foi o trabalho de Andersen é Maria

Amélia d'Assumpção, sobre a qual De Bona afirma ter sido enorme o progresso após receber

os ensinamentos do mestre e continua:

Diria mesmo, que passou do nada à talentosa e vigorosa, pintora. Sendo assim, uma

prova de quanto vale uma segura orientação artística, quando se trata de uma pessoa

de talento. Acredito também, que Andersen não teria dúvida nenhuma em qualificá-

la como sua melhor aluna15.

Estanislau Traple e Waldemar Curt Freyesleben são nomes que comprovam que a

afinidade com o trabalho do artista é talvez o fator de maior relevância para o aluno ao optar

por um ou outro professor. Ambos estudaram apenas no atelier de Andersen, na mesma época

e eram grandes amigos, além de admiradores de suas pinturas.

Mesmo longe dos ensinamentos de Andersen, Traple não poupava elogios ao falar do

artista e do valor de sua obra, “foi um andersista sem receio da obumbrante luz”, segundo

Piloto. O autor traz também uma nota de Altino Flôres sobre Traple:

O discípulo seguiu as lições do mestre no que este possuía em mais alto grau: a

seriedade, a honestidade na arte, a consciência do esforço, a nobre compreensão do

sentimento pictural e a maneira de exprimi-lo objetivamente”. E mais adiante diz

que Traple “não ocultou, nunca, e até com excessiva modéstia, sua fidelidade ao

feitio andersista16.

Traple não costumava pesquisar e para ele renovações não eram bem vindas. Com esse

pensamento manteve-se no mesmo caminho sempre.

Se Traple sofreu tanta influência do mestre, Freyesleben surgia ao mesmo tempo para

mostrar que uma figura completamente oposta também existia naquele atelier. Grande amigo

de Traple, porém com personalidade diferente, comparecia às aulas, mas não desenhava ou

pintava, pois considerava já não precisar mais estudar desenho.

Freyesleben quis e buscou sua própria linguagem, mas também não admitia

renovações na arte. Como visto, até abriu mão dos ensinamentos de Andersen quando não

julgou mais necessários, porém não deixou de ter contato com o professor e até mesmo lutar

por aquilo que acreditava não ter sido feito em favor do mestre.

15 DE BONA: 33.

16 PILOTO: 26; 27.

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Um desabafo de Freyesleben foi citado por Valfrido Piloto, esse trecho define bem sua

inquietação referente a situação de seu professor:

... vivia mergulhado numa penumbra de obscuridade ante o resto do país, embora

houvesse criado um belo núcleo de artistas, os quais hão-de saber fazer justiça à

proficiência notável, que já há sido, por vezes, deprimida por Aristarcos idiotas. Em

seguida: ... Certo os anos passam fugazes e ele sempre à espera da realização de

promessas feitas, que nunca chegam a ser efetuadas...17.

Cada discípulo encontrou sua maneira de homenagear o mestre, Freyesleben o fez

escrevendo artigos para jornais como crítico de artes plásticas e assinando com o pseudônimo

de Alfredo Emílio.

Quanto à De Bona, era um defensor da arte pura, aquela que não precisa de

explicações para justificar sua existência e tampouco precisa estar ligada a formas, figuras ou

cores existentes para tornar-se bela. De todos os discípulos, talvez tenha sido o que mais se

afastou das características do mestre, entretanto, nunca perdeu o respeito e admiração por

Andersen, tanto que no centenário do nascimento do artista, De Bona pronunciou palavras em

frente ao seu túmulo, algumas das quais não podem deixar de ser citadas:

...Andersen, em contato com os alunos, não era somente o professor, era também o

amigo e conselheiro... Como um pai, mais que um amigo, muitas vezes procurava

orientar-nos em momentos indecisos, preocupado sempre com a nossa integração

como artistas, e como homens. […] Procurem, disse-nos um dia Andersen, realizar-

se enquanto forem moços, a mocidade é uma alavanca que tem um imenso poder de

realização. A velhice, é verdade, possui acúmulo de experiências, mas vem

acompanhada de uma série de fatores que complicam quando não inutilizam o

artista...”18.

Alfredo Andersen passava aos discípulos ensinamentos referentes não só à pintura,

mas também à vida de forma geral. Transmitia valores, dava conselhos, como disse De Bona,

era um pai. Acima de tudo, mesmo sendo enganado por governantes, mesmo desiludido, não

deixava de encorajar os jovens que sonhavam viver da arte e mantinha sempre viva a

esperança de um dia ver realizadas as promessas feitas a ele.

17 PILOTO: 29.

18 DE BONA: 60.

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A pesquisa foi realizada em quatro etapas, a situação artística do Paraná antes da

chegada de Andersen, uma breve biografia acompanhada de sua formação acadêmica, a

chegada ao estado e seus esforços para a abertura da Escola de Belas Artes e os discípulos

deixados por ele.

Foi possível concluir que antes de sua chegada ao Paraná alguns artistas haviam

trabalhado no estado, tanto no ensino quanto no comércio de artes. No ensino das artes o

nome mais relevante do período anterior à chegada de Andersen foi o de Mariano de Lima

criador da Escola de Belas Artes e Indústrias, principal empreendimento até então e no qual

Andersen lecionou durante algum tempo.

A partir das informações colhidas na segunda etapa da pesquisa foi analisada a

diferença entre Andersen e os artistas que estiveram no estado antes de sua chegada,

principalmente Mariano de Lima. Concluiu-se que sua formação acadêmica foi um dos fatores

que mais influenciaram para o sucesso de seu trabalho, já que os demais artistas não possuíam

um currículo comparável ao de Andersen.

Em seguida foram apontados seus esforços no começo da atividade na capital, assim

como as tentativas de criar uma Escola de Belas Artes. Nessa etapa consta também a

preocupação de Andersen em relação ao desenvolvimento industrial do Paraná. Tudo isso

mostra o grande interesse do artista em ver o progresso do estado, assim como o

desenvolvimento cultural do povo, reforçando sua vontade de transmitir seus conhecimentos

através das várias propostas de abertura de escolas enviadas às autoridades.

Na última etapa são apontados os discípulos de Andersen, a forma mais concreta de

apresentar seus resultados como professor. Foram vários os nomes que passaram por seu

atelier, mas alguns tiveram maior destaque. De fato, cada um à sua maneira deu continuidade

às lições recebidas de Andersen e assim, fortaleceram seus próprios nomes dentro e fora do

estado.

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Com base nessas quatro etapas é possível perceber que a importância de Alfredo

Andersen como professor deve-se a fatores como: a situação política e econômica de Curitiba

e do Paraná no começo do século, o conhecimento e a maturidade do artista ao chegar ao

estado e, principalmente, a ideia de desenvolvimento do estado através da arte.

5. CONCLUSÕES

A história da arte paranaense, como a de todos os outros estados, países, etc, é

composta por fases. Alfredo Andersen optou por morar em um estado jovem e em pleno

desenvolvimento, a época era propícia para um acontecimento de peso em relação às artes.

Esse fator aliado ao conhecimento adquirido na Europa e à dedicação ao trabalho fizeram com

que Andersen prosperasse na capital.

O sucesso do artista, entretanto, é bastante relativo, pois ele mesmo por vezes relatou

seu desagrado em relação a falta de incentivo por parte das autoridades. Promessas não

faltaram, mas nem todas foram cumpridas. A mais importante, a criação da Escola de Belas

Artes, só foi concretizada anos após sua morte. Analisando por esse ponto de vista, talvez

Andersen não se considerasse tão bem sucedido como é dito.

O fato é que, mesmo com as decepções, Andersen continuou investindo seu tempo no

ensinamento de suas técnicas àqueles que tivessem interesse. Nesse ponto sim, pode-se dizer

que foi bem sucedido, deixando artistas que trabalharam com a mesma seriedade, colaborando

para o desenvolvimento da cultura no estado. É fato também que nenhum dos discípulos

sobrepujou o mestre, tarefa difícil, mas fizeram obras de grande qualidade e deram

continuidade à história da arte paranaense, do contrário essa fase teria morrido em 1935 junto

com Alfredo Andersen.

Por isso a importância do trabalho de Andersen como professor, pois se ele não tivesse

transmitido seus conhecimentos, o Paraná teria hoje um grande acervo deixado pelo artista,

mas uma história com um capítulo a menos, já que muitos artistas conhecidos atualmente,

alguns ainda vivos, foram alunos de discípulos de Andersen. Essa brecha talvez nunca

chegasse a existir, pois poderia ter sido outro a atuar no lugar de Andersen, mas já que foi ele

quem construiu toda essa parte da história, é justo que seu trabalho seja reconhecido.

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6. REFERÊNCIAS:

CATÁLOGO MUSEU ALFREDO ANDERSEN. Curitiba: Secretaria de Estado da Cultura.

2006.

CORREIO PARANAENSE. 01 a 08/11/98. Arquivo Casa da Memória de Curitiba.

DE BONA, Theodoro. Curitiba: Pequena “Montparnasse”. Curitiba, 1982.

MENTA, Glauco. Artistas do séc. XIX no Paraná. Monografia. Especialização em História

da Arte Moderna e Contemporânea. Embap, 2003.

OSINSKI, Dulce. Os pioneiros do ensino da arte no Paraná. Revista da Academia

Paranaense de Letras. Curitiba, p. 143-152, 2000.

JUSTINO, Maria José. Passeio pela pintura paranaense. Curitiba: Ed. UFPR, 2002.

PILOTO, Valfrido. O Acontecimento Andersen. Ed. Mundial, 1960. Curitiba-Pr.

PROSSER, Elizabeth Seraphim. Cem Anos de Sociedade, Arte e Educação em Curitiba:

1853 – 1953: da Escola de Belas Artes e Indústrias, de Mariano de Lima, à Universidade

do Paraná, e a Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Curitiba: Imprensa Oficial,

2004.

REFERÊNCIA EM PLANEJAMENTO. V. 3. nº 12. jan/mar 1980. Curitiba. P. 24.

REVISTA INDÚSTRIA. Maio de 1986.

RUBENS, Carlos. Andersen, pai da pintura paranaense. Fundação Cultural, 1995.

Curitiba-Pr.

SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA – Caderno de Artes Plásticas, nº 1 – Alfredo

Andersen. Curitiba, 1988.

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7. ANEXOS