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Reitor Prof. Clélio Campolina Diniz Vice-Reitora Prof.ª Rocksane de Carvalho Norton Pró-Reitor de Pós-graduação Prof. Ricardo Santiago Gomez Pró-Reitora de Graduação Prof.ª Antônia Vitória Soares Aranha Pró-Reitora de Extensão Prof.ª Efigênia Ferreira e Ferreira

Diretor do Centro de Apoio à Educação a Distância Prof. Fernando Selmar Rocha Fidalgo

Coordenação do evento Fernando Selmar Rocha Fidalgo

Comissão Organizadora

Cláudio do Prado Amaral Nara Luciene Rocha Fidalgo Railander Quintão de Figueiredo Smilys William Rocha Thaísa Vilela Fonseca Amaral Thatiana Marques dos Santos Vanessa Andrade de Barros Walter Ernesto Ude Marques Yara Elizabeth Alves

Entidades Promotoras/Coparticipantes:

Governo Federal Brasileiro Ministério da Justiça (MJ) Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN) Escola Nacional de Serviços Penais (ESPEN) Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Pró-Reitoria de Graduação (PROGRAD/UFMG) Centro de Apoio à Educação a Distância (CAED/UFMG) Faculdade de Educação (FaE) Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)

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APRESENTAÇÃO

O II Seminário de Pesquisa do Observatório Nacional do Sistema

Prisional (ONASP) foi realizado nos dias 16 e 17 de setembro de 2013, na

Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte. O evento, cujo

tema central foi: O universo prisional e a (re)integração de egressos em debate,

objetivou promover o encontro entre os saberes acadêmicos e os saberes da prática

cotidiana nas instituições prisionais, por meio de reflexões e discussões sobre temas

relativos às prisões e aos impactos psicossociais e políticos do encarceramento,

especialmente nos processos de (re)integração social de egressos.

Dois eixos orientaram as discussões do seminário. No primeiro eixo, O

cotidiano do encarceramento, discutiu-se acerca das condições de vida e de

trabalho no sistema prisional a partir da experiência de profissionais, de grupos da

sociedade civil que atuam no sistema e de pesquisadores da área, considerando as

desigualdades sociais, as questões étnico-raciais e a situação das minorias

encarceradas: mulheres, gestantes, grupo LGBT e preso(a)s estrangeiro(a)s. O

segundo eixo, fomentou debates sobre o tema (Re)integração social: possibilidades

e limites, buscando construir alternativas que possibilitem a elaboração de

processos efetivos de (re)integração social do(a) egresso(a) do sistema prisional,

pautados na garantia dos Direitos Fundamentais.

O encontro entre pesquisadores, profissionais e grupos da sociedade civil que

atuam no sistema prisional foi de grande relevância, na medida em que forneceu

elementos que irão subsidiar os trabalhos de criação do ONASP, bem como

constituir uma rede para troca de informações sobre o sistema prisional no Brasil em

suas diferentes dimensões (psicossocial, econômica, política, administrativa e de

segurança pública).

A partir do tema O universo prisional e a (re)integração de egressos em

debate, o diálogo entre os trabalhos científicos, as análises jurídico-políticas, as

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experiências práticas e as vivências pessoais puderam lançar luz sobre o paradoxo

que constitui o discurso sobre encarceramento na atualidade: ao mesmo tempo

punir e reinserir.

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SUMÁRIO DE EIXOS

EIXO 1

O COTIDIANO DO ENCARCERAMENTO..................................................................6

EIXO 2

(RE)INTEGRAÇÃO SOCIAL: POSSIBILIDADES E LIMITES..................................40

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EIXO 1

O COTIDIANO DO ENCARCERAMENTO

MEDIDA DE SEGURANÇA E PENA ........................................................................... 8

CUIDAR OU APRISIONAR? ..................................................................................... 10

ENCARCERAMENTO DE MULHERES: A REALIDADE INVISÍVEL DO SISTEMA

PENAL BRASILEIRO ................................................................................................ 12

ABORDAGEM DE USUÁRIOS DE DROGAS NO SISTEMA PRISIONAL

BRASILEIRO: IMPASSES PARA A (RE) INTEGRAÇÃO SOCIAL ........................... 14

OBSERVATÓRIO DA JUVENTUDE EM SITUAÇÃO DE PRISÃO DO RIO GRANDE

DO SUL ..................................................................................................................... 16

USO DE FILME COMO ESTRATÉGIA DE ENSINO-APRENDIZAGEM PARA

ALUNOS DO EJA CONVENCIONAL E EM CONDIÇÕES ESPECIAIS .................... 18

PERCEPÇÕES DOS AGENTES PENITENCIÁRIOS DO SISTEMA PENITENCIÁRIO

BAIANO SOBRE O AMBIENTE DE TRABALHO POR MEIO DAS REDES SOCIAIS

E RELATOS .............................................................................................................. 20

ENCARCERAMENTO DE MULHERES E A QUESTÃO DE GÊNERO E DA

DESIGUALDADE NO BRASIL .................................................................................. 22

PROJETO FILAS EM PRISÕES: ASSISTÊNCIA PSICOSSOCIAL NO SISTEMA

PRISIONAL ............................................................................................................... 24

PERFIL JURÍDICO-SOCIAL DA POPULAÇÃO CARCERÁRIA NO VALE DO

JEQUITINHONHA: LIMITES, INCONGRUÊNCIAS E DISPARIDADES FRENTE À

REINTEGRAÇÃO SOCIAL DO CONDENADO ......................................................... 26

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POLÍTICAS PÚBLICAS EM PROL DA INCLUSÃO LABORAL DE PACIENTES

PSQUIÁTRICOS APÓS A SAÍDA DO CÁRCERE: DESAFIOS E POSSIBILIDADES

.................................................................................................................................. 28

MULHERES NEGRAS EM SITUAÇÃO DE PRISÃO: INTERSECCIONALIDADE

OPRESSIVA NO SISTEMA PRISIONAL .................................................................. 30

MULHER, RAÇA E ENCARCERAMENTO MASSIVO NO BRASIL .......................... 32

O AMOR INCONDICIONAL, SOBREVIVENDO AO SISTEMA PRISIONAL ............. 33

O ADVENTO DAS “PRISÕES BASEADAS NA FÉ”: POR UM MODELO RELIGIOSO

DE ADMINISTRAÇÃO PRISIONAL .......................................................................... 35

PESQUISA DO OBSERVATÓRIO NACIONAL DO SISTEMA PRISIONAL: ANÁLISE

DA PRODUÇÃO ACADÊMICA SOBRE O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO ..... 37

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MEDIDA DE SEGURANÇA E PENA

Ana Flávia Ferreira de Almeida Santana

Universidade Federal de Minas Gerais

[email protected]

Marília Alves

Universidade Federal de Minas Gerais

Teoricamente, as penas e as medidas de segurança possuem finalidades, causas,

condições de aplicação e modos de execução distintos. A pena é aplicada aos

imputáveis e edifica-se na culpabilidade do delinquente. Baseia-se no caráter ético e

de justiça, é caracterizada como sansão penal imposta a um fato concreto e

passado para retribuir o mal causado pelo crime. A pena possui cunho retributivo,

com intenção aflitiva e proporcional à gravidade do ato cometido. É determinada

proporcionalmente à gravidade da infração, e seu caráter retributivo-preventivo tem

como um de seus objetivos a readaptação do criminoso à sociedade. No entanto, a

pena não tem como foco a cura ou reabilitação do homem considerado livre e

imputável. Em meados do século XX as medidas de segurança passaram a ser

destinadas exclusivamente aos loucos criminosos. A aplicação da medida de

segurança foi destinada ao sintoma do estado perigoso da doença mental, ou seja,

foi destinada ao anormal, ao inimputável, àquele que em razão de sua loucura não

pode ser considerado culpado, mas representa perigo para a sociedade. A profilaxia

social, direcionada aos cuidados com a loucura, permitiu que a medida de

segurança, no campo do direito penal, funcionasse como um dispositivo de atuação

frente a mesma. Atuação apresentada, teoricamente, como possibilidade de

tratamento e assistência, sem qualquer caráter aflitivo. A partir de 1984, com a

modificação da parte geral do Código Penal, a medida de segurança passou a ser

aplicada somente para os semi e inimputáveis e não mais para os imputáveis. O

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conceito de periculosidade tornou-se aplicável somente aos indivíduos

diagnosticados com comprometimento mental. O Código Penal brasileiro parte da

premissa de que existe uma equivalência entre o doente mental e um eminente

perigo. Este estudo teve como objetivo descrever a situação da população carcerária

brasileira e compará-la com a população que cumpre medida de segurança. Trata-

se de estudo descritivo, transversal, realizado com dados secundários do Sistema

Integrado de Informações Penitenciárias. O estudo mostrou que em todas as regiões

do país a população carcerária é superior ao número de vagas existentes no sistema

prisional. Nos anos estudados houve aumento da população carcerária em todos os

estados. O número de pessoas em cumprimento de medida de segurança é muito

inferior ao número de pessoas que cumprem pena em regime fechado, mas a

presunção de periculosidade, na LEP, ainda recai somente sobre o “louco infrator”.

Assumir a responsabilidade pelos próprios atos apresenta para o sujeito portador de

sofrimento psíquico a dimensão da lei, instrumento que pode operar na construção

da convivência com o social no espaço público.

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CUIDAR OU APRISIONAR?

Ana Flávia Ferreira de Almeida Santana

Universidade Federal de Minas Gerais

[email protected]

Marília Alves

Universidade Federal de Minas Gerais

Os manicômios judiciais, hoje chamados de Hospitais de Custódia e Tratamento

(HCT), são instituições totais, um híbrido social parte residência e parte organização

formal, que mantém uma tensão entre o mundo doméstico e o institucional como

estratégia no controle dos homens. São mantidas no Brasil em meio a uma estrutura

que integra e mistura funções hospitalares e prisionais. Foram projetados para os

criminosos monomaníacos e degenerados, que comprometiam o funcionamento e

as intenções da defesa social. Tanto os asilos como as prisões mostravam-se

insuficientes e inadequados à segregação desses indivíduos, que foram

considerados como pertencentes a uma região intermediária entre a sanidade e a

loucura, entre irresponsabilidade e responsabilidade moral. Diante das

circunstâncias, o manicômio judiciário assumiu características tanto de presídio

como de asilo. O caráter ambíguo, tanto da instituição como dos próprios

profissionais aconteceu, inevitavelmente, em função dos objetivos opostos aos quais

cada vertente se destina. Ou seja, os manicômios judiciários são instituições

híbridas, com objetivos contraditórios, de difícil definição. A realidade deste tipo de

instituição, da qual a sociedade lançou mão para dar conta da loucura ligada à

criminalidade, foi o alvo deste estudo. O cuidado dispensado, compreendido como

fato de um todo dialético, foi analisado através da relação existente ente os meios,

instrumentos e práticas que envolvem o sistema material do sistema de saúde.

Dentre todas as particularidades do HCT, por se tratar de uma instituição que

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pretende ser hospitalar, o cuidado com o paciente deve assumir papel de destaque.

As contradições existentes entre o que se espera de um procedimento prisional e de

um procedimento de cuidado de saúde foram alvo de discussão. A instituição

estudada foi o Hospital de Custódia e Tratamento Jorge Vaz em Barbacena, MG.

Perante o problema exposto, o Materialismo Histórico Dialético foi escolhido como

possibilidade teórica, como instrumento lógico de interpretação da realidade. As

análises realizadas mostraram que o manicômio judiciário, com suas cruéis

propriedades iatrogênicas, não propicia um tratamento terapêutico, reforça a doença

mental, sem dar qualquer tipo de oportunidade para que o paciente possa se

responsabilizar por seus atos. O estudo apontou para inúmeras deficiências que

tumultuam os cuidados que deveriam ser dispensados aos pacientes. Não existe um

cuidar em saúde. O que existe é um sistema prisional que conta com a presença de

profissionais da área da saúde. Não podemos considerar a possibilidade de um

tratamento que não possui qualquer tipo de acompanhamento, evolução do quadro e

plano terapêutico específico.

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ENCARCERAMENTO DE MULHERES: A REALIDADE INVISÍVEL DO

SISTEMA PENAL BRASILEIRO

Bárbara Beatriz Costa Araújo

Universidade Federal de Minas Gerais

[email protected]

Este artigo pretende descrever e analisar a situação das mulheres encarceradas no

Brasil. As instâncias de controle do sistema penal operam por, basicamente, duas

vertentes: uma de controle social formal, representada pelas polícias e pelo

judiciário, e outra de controle social informal, que opera através de família, sistema

educacional, mídia, religião e comunidade. Essas instâncias de controle

caracterizam a seletividade do sistema penal. Considerando que a seleção do

sistema reflete a própria estrutura social, se uma sociedade é patriarcal, racista e

capitalista, a seletividade recairá principalmente sobre homens e mulheres jovens,

negros e pobres. Como fatos recentes, o recrudescimento da violência policial, o

encarceramento em massa e a consolidação de um estado penal forte, afetam a

vida das camadas mais pobres, sobretudo das mulheres. Na América Latina, a

população penitenciária feminina praticamente dobrou nos últimos cinco anos,

passando de 40 mil em 2006 para mais de 74 mil em 2010. No Brasil, mais

especificamente, o número de mulheres encarceradas triplicou nesse mesmo

período, atingindo 35 mil. A prisão de mulheres está vinculada à pobreza. A maioria

das encarceradas no Brasil foi acusada de delitos leves e se encontram em situação

de miséria, marginalidade e vulnerabilidade à violência e abusos. É importante

ressaltar que políticas públicas reforçam esse quadro e contribuem para o excesso

de prisões da população feminina. Entre elas, podemos citar a criminalização do

aborto e a ilegalidade de atividades ligadas ao trabalho informal. Com o aumento

progressivo de mulheres que exercem papéis masculinos na esfera pública,

sobretudo no mercado informal de trabalho, elas tornam-se mais vulneráveis a

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seletividade do sistema penal. Como as mulheres negras e pobres são as mais

submetidas à exclusão social e mercadológica, representam a maioria da população

feminina encarcerada. De acordo com dados da Comissão Parlamentar de Inquérito

(CPI) de 2009, o crescimento da população carcerária feminina tem sido maior do

que da masculina. No Brasil, são 508 estabelecimentos penais com mulheres, do

quais 450 são para ambos os sexos. Nesses, não há nenhuma medida que

signifique uma real diferença nas instalações destinadas às mulheres – o que

demonstra que, na prática, as políticas de execução penal ignoram a questão de

gênero. A situação dessas mulheres é uma realidade ignorada pela sociedade e

pelo poder público. Elas representam minorias excluídas por questões étnico-raciais,

econômicas e de gênero.

Palavras-chave: Mulheres; Sistema penal.

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ABORDAGEM DE USUÁRIOS DE DROGAS NO SISTEMA

PRISIONAL BRASILEIRO: IMPASSES PARA A (RE) INTEGRAÇÃO

SOCIAL

Cristiane Santos de Souza nogueira

Associação de Proteção e Assistência aos Condenados

[email protected]

Este trabalho pretende explicitar a necessidade da oferta de cuidados a usuários de

álcool e outras drogas que cometeram delitos e se encontram em cumprimento de

penas privativas de liberdade no sistema prisional brasileiro, a partir de constatações

na APAC de Itaúna. Observa-se um considerável aumento nos índices de faltas

disciplinares e de reincidência criminal por parte dos presos em virtude do uso

drogas. Assim, a adição de substâncias, lícitas e ilícitas, coloca-se, cada vez mais,

como um entrave na promoção da (re) integração social das pessoas privadas de

liberdade, evidenciando a necessidade de se implementar ações para abordagem

dessa problemática dentro das unidades prisionais. Por ter uma metodologia

diferenciada para trabalhar a execução penal, a APAC tem buscado garantir

assistência à saúde dos seus recuperandos e através de iniciativa pioneira tem

trabalhado para a implantação de abordagens à problemática do uso e abuso de

álcool e outras drogas, em consonância com as políticas públicas de saúde,

especialmente o Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário, do Ministério

da Saúde. Observa-se uma precariedade na produção de dados estatísticos e

epidemiológicos sobre a população prisional e a inexistência de dados sobre uso e

abuso de drogas pela população prisional, bem como de sua correlação com a

prática de delitos, dificultando a construção de intervenções que venham de

encontro com as reais necessidades desse público. Assim, acredita-se que a

estruturação do setor de saúde nas unidades prisionais bem como a constituição de

equipe de saúde multidisciplinar e híbrida, em parceria com o SUS local, possa

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viabilizar o cuidado aos usuários de álcool e outras drogas. A Estratégia da Redução

de Danos preconizada pelo Ministério da Saúde em sua Política Integral de Atenção

a Usuários de Drogas, para se abordar estes usuários, na sua condição de cidadãos

e de sujeitos, é a estratégia privilegiada nesse trabalho. Esta estratégia apresenta

aspectos favoráveis para se abordar o usuário de álcool e outras drogas uma vez

que inclui os princípios de pragmatismo, tolerância e respeito à diversidade, não

sendo excludente a outras abordagens. Além disso, tal abordagem favorece a

promoção do Cuidado, através do acolhimento, da formação de vínculos e da

corresponsabilidade, incentivando o protagonismo e a autonomia dos usuários, a

participação comunitária, aspectos estes, que podem favorecer na inserção social

dos presos, quando em sua condição de egressos.

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OBSERVATÓRIO DA JUVENTUDE EM SITUAÇÃO DE PRISÃO DO

RIO GRANDE DO SUL

Fernanda Bassani

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

[email protected]

O Observatório da Juventude em Situação de Prisão do Rio Grande do Sul (OJUSP)

é um projeto desenvolvido pela Superintendência de Serviços Penitenciários do RS,

através da Coordenadoria da Juventude, em parceria com a Faculdade Metodista –

IPA, sob a interveniência dos cursos de Direito e Psicologia. Trata-se de uma

iniciativa que busca estabelecer um espaço qualificado de observação e acolhida do

público jovem (entre 18 e 29 anos) que ingressa no sistema penitenciário. Tem por

objetivos constituir indicadores estatísticos sobre o processo de criminalização da

juventude na região metropolitana do RS, auxiliando na implantação e extensão de

políticas públicas para este público.

O OJUSP surge a partir da preocupação com a crescente juvenilização do sistema

penitenciário, que no RS já alcança índices de 60% da população total (Fonte:

Indicadores Estatísticos DSEP-Susepe/RS). Essa realidade integra-se em um ciclo

de vulnerabilização que tem como fase final um fato ainda mais grave, chamado por

alguns segmentos sociais de extermínio da juventude brasileira. Esse processo tem

sido denunciado por documentos como o Mapa da Violência (Waiselfisz, Julio J.,

2012)1, que aponta um índice crescente de homicídios nos últimos 30 anos tendo

como principal vítima, homens entre 15 e 29 anos, negros e moradores de

comunidades periféricas. Segundo essa publicação, no ano de 2011 foram

realizados cerca de 49.000 homicídios no país, sendo que 70% destes tiveram os

jovens como vitimas. O impacto da violência urbana tem sido tão grande na

1 O Mapa da Violência é uma produção anual do Instituto Sangari e Ministério da Justiça

http://mapadaviolencia.org.br/pdf2013/MapaViolencia2013_armas.pdf.

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sociedade brasileira que o homicídio tornou-se a principal causa de morte entre

homens no país, ultrapassando fatores tradicionais como doenças cardiovasculares

e cerebrais.

No Rio Grande do Sul, essa tendência se repete, porém outro dado chama atenção:

65% dos homicídios realizados na capital tiveram como vítimas, egressos do sistema

penitenciário. Estes dados, colhidos pela Secretaria de Segurança Pública local no

primeiro semestre de 20132, demonstram a estreita relação entre o sistema

penitenciário e o processo de extermínio da juventude. Neste caso, dívidas e

comprometimentos estabelecidos com grupos criminais intramuros (facções)

aparecem como importantes fatores de vulnerabilização em um ciclo criminal ainda

não devidamente observado e compreendido pelo Estado e a meio acadêmico.

Diante da relevância do tema e da ausência de dados confiáveis que relacionem o

processo de extermínio da juventude com o aprisionamento, é que surge o OJUSP.

O mesmo está sendo instalado no Presídio Central de Porto Alegre, maior casa

prisional do Estado, com 4.300 homens presos (Fonte: Infopen, setembro-2013). O

local é um espaço privilegiado por ser uma casa de prisão provisória e reunir uma

grande circulação de presos, com uma media de 350 entradas por mês3 (Fonte:

Infopen- 2013).

No OJUSP, um grupo de estagiárias de psicologia, devidamente capacitadas e

acompanhadas, aplicarão um instrumento com 50 questões para os jovens que

ingressam no PCPA, logo no momento de entrada destes. Estes dados serão

inseridos em um sistema informatizado e acompanhados por estagiários de direito,

que produzirão relatórios mensais. O instrumento construído reúne questões das

áreas de serviço social, psicologia e direito, buscando constituir uma visão complexa

do jovem, a fim de subsidiara políticas publicas mais eficientes para aquela pessoa

que se encontra em franco processo de vulnerabilização.

2 O Governo do RS desenvolve desde 2011 o Programa Rs na Paz, como principal política de segurança pública

local. A mesma incide de maneira territorial, instalando Territórios de Paz nas áreas mais conflagradas. Os dados

de homicídios divulgados envolvem os quatro (4) Territórios de Paz de Porto Alegre no primeiro semestre de

2013. 3 Esse numero corresponde a entrada de presos. Muitos deles receberão, logo em seguida, a possibilidade de

responde RO processo em liberdade.

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USO DE FILME COMO ESTRATÉGIA DE ENSINO-APRENDIZAGEM

PARA ALUNOS DO EJA CONVENCIONAL E EM CONDIÇÕES

ESPECIAIS

Fernanda Rocha Moreira

Universidade Federal de Minas Gerais

[email protected]

Diogo Maia Moreira dos Santos

Universidade Federal de Minas Gerais

Audrey Heloisa Ivanenko

Universidade Federal de Minas Gerais

Introdução

A tecnologia e a conexão digital em larga escala entre pessoas proporcionou

desenvolvimento econômico, cultural e social. A tecnologia tem sido um agente

potencializador das relações humanas uma vez que encurta distâncias, derruba

preconceitos, dinamiza o tempo entre outras tantos empecilhos da vida moderna.

Pensando nisso, professores têm tentado acompanhar essa tecnologia utilizando

recursos midiáticos com fins didáticos.

Objetivo

Avaliar a contribuição dos filmes no processo de ensino-aprendizagem, seguido de

aulas práticas/expositivas. Avaliar a influência do meio social na alfabetização

científica promovida pelo filme seguido de aulas.

Metodologia

Apresentação e análise de forma qualitativa e quantitativa em dois ambientes da

sala de aula EJA do filme ‘127 horas’, que aborda assuntos do ensino de ciências e

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biologia na temática da desidratação. Outra temática escolhida foi a da genética,

com a exibição do filme “Gattaca, uma experiência genética”. Foram elaborados

questionários pré-filme, seguido da exibição do filme, aulas teórica e práticas

(extração de DNA e montagem livre de fitas de DNA) e aplicação de questionário

pós-filme. Os questionários foram aplicados em duas escolas de ensino de jovens e

adultos (EJA): uma do sistema prisional – Presídio José Abranches Gonçalves,

EEFM-PRFJAG e outra de ensino regular – Centro Pedagógico, CP/UFMG.

Resultados

A análise dos pré e pós-questionários foi realizada comparando questões que

abordavam o mesmo conteúdo de forma que as respostas eram classificadas em

incorretas, parcialmente/completamente corretas e em branco. As atividades

relativas ao filme 127h promoveu uma maior aquisição de conteúdo quando aplicado

no sistema de ensino prisional do EJA do que aquela relativa ao filme GATTACA.

No ensino convencional EJA-CP os alunos foram mais participativos em relação às

atividades do filme GATTACA, com aquisição de conteúdo verificado na análise

comparativa dos questionários.

Conclusões

A situação social na qual o indivíduo se encontra durante a escolarização teve

contribuição sobre o conteúdo retido, evidenciada nas respostas dos questionários

pós-filme. Alunas presidiárias tiveram maior foco em questões de sobrevivência,

superação, família e força de vontade. Esse aspecto levanta a possibilidade de o

filme ser utilizado para discussões sobre o modo de vida das alunas presidiárias

O filme contemplou os objetivos propostos de motivar a discussão sobre tópicos

científicos, aquisição de vocabulário, indicando a utilidade desse recurso como

estratégia de ensino.

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PERCEPÇÕES DOS AGENTES PENITENCIÁRIOS DO SISTEMA

PENITENCIÁRIO BAIANO SOBRE O AMBIENTE DE TRABALHO

POR MEIO DAS REDES SOCIAIS E RELATOS

Franklim da Silva Peixinho

Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

[email protected]

Apresentação

O espaço da prisão é um dos locais de trabalho em que se vivenciam tensões

diversas, com impactos sobre os indivíduos que estão diretamente ligados ao

cotidiano do cárcere.

Com este trabalho buscam-se identificar, por meio de relatos dos agentes

penitenciários e da metodologia da análise do discurso, os pontos de maiores

celeumas em termos de condições de trabalhos a que estão submetidos tais

servidores.

Trata-se, ainda, de um trabalho auto etnográfico, pois sendo agente penitenciário,

estou incluindo no objeto da pesquisa.

Objetivos

Pretende-se contribuir para o levantamento de dados qualitativos através dos

sujeitos ligados diretamente a administração da vida carcerária, os agentes

penitenciários, sobretudo, acerca das condições de trabalho e possíveis mudanças.

Desenvolvimento, discussão e resultados.

O trabalho está sendo desenvolvido a partir da coleta de dados nos meios

eletrônicos, blog’s, comunidades virtuais do facebook, como também pelo convite a

colaboração de agentes penitenciários por meio de entrevistas e relatos dos dias de

trabalho na prisão.

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Percebe-se, uma inicial resistência a participação, por conta do receio de ser

identificado, o que, por sua vez, tem incentivado o uso das redes sociais como

espaço de discussão e até mesmo de desabafo.

Assim, tendo por paradigma o modelo dos relacionamentos da sociedade em rede

da pós-modernidade, busca-se, inicialmente, por resultados, encontrar as

motivações antropológicas que conduzem os agentes penitenciários a se

manifestarem por meio das redes sociais; o que, parcialmente, pode-se ser

identificado, em conclusão preliminar, por descrença em melhorias no sistema

prisional e desmotivação para o trabalho.

Considerações finais

Tal trabalho possui uma cariz qualitativa, em que predomina, por meio da análise do

discurso, os aspectos valorativos nas falas dos sujeitos pesquisados. Dessa forma, a

identificação dos significantes que os agentes penitenciários por meio de tais

veículos e o porquê desta forma de expressão, representam dados a ser levados em

consideração para a avaliação das condições de trabalho no sistema prisional

baiano.

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ENCARCERAMENTO DE MULHERES E A QUESTÃO DE GÊNERO E

DA DESIGUALDADE NO BRASIL

Hélio Roberto Braunstein

Universidade de São Paulo

[email protected]

Apresentação e Objetivos

Esta proposta de trabalho é decorrente de experiência profissional, atuando como

Psicólogo, e de pesquisa realizada (Mulher Encarcerada: trajetórias entre a

indignação e o sofrimento por atos de humilhação e violência. FEUSP. 2007) e

concluída, que envolveu um universo de aproximadamente mil mulheres

encarceradas, em uma unidade específica na cidade de São Paulo, do qual foram

analisados quantitativamente e qualitativamente dados de 353 destas mulheres. A

referida pesquisa teve por objetivos: Descrever quem são as mulheres que estão em

privação de liberdade no sistema carcerário no estado de São Paulo? Buscar

compreender o cotidiano e as questões de gênero que envolvem a questão do

encarceramento de mulheres. As lógicas de punibilidade que envolvem o

encarceramento de mulheres, bem como a questão da auto-regulação ética e moral

como hipótese explicativa para o baixo índice de encarceramento de mulheres em

relação à população masculina encarcerada.

Discussão

Diante da baixa taxa de encarceramento de mulheres em relação a taxa de

encarceramento de homens, existe uma baixa produção de pesquisas qualitativas e

quantitativas voltadas à este universo de investigação. Verifica-se certa invisibilidade

no contexto científico e em relação às discussões nas esferas das políticas públicas,

de gestão, e na sociedade em geral. Diante disto, existe uma enorme relevância

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social, acadêmica e científica, no sentido de preenchimento desta lacuna. Quanto a

relevância do encarceramento de mulheres como tema, é importante mencionar que

enquanto dado demográfico, a maioria da população no Brasil é constituída por

mulheres, um número expressivo de famílias são mantidas, cuidadas, chefiadas por

mulheres, outros dados se referem a emancipação das mulheres nos campos da

atuação profissional, do trabalho e vida produtiva, além de sua participação na

esfera educacional, escolar. Por fim, enquanto relevância é importante considerar as

questões que envolvem os direitos das mulheres dentro de suas especificidades,

sobre as questões de gênero.

Resultados

Basicamente, as considerações finais consideram que existem desafios e distâncias

significativas a serem enfrentadas nos campos dos direitos fundamentais, dos

direitos das mulheres e das questões históricas e culturais que permeiam as

questões de gênero, das desigualdades e da questão do encarceramento de

mulheres no Brasil.

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PROJETO FILAS EM PRISÕES: ASSISTÊNCIA PSICOSSOCIAL NO

SISTEMA PRISIONAL

Julia Martins Damas

Universidade Federal de Minas Gerais

[email protected]

Thaís Souza Santos

Universidade Federal de Minas Gerais

[email protected]

Thaís Mendes de Almeida

Universidade Federal de Minas Gerais

[email protected]

Tainá Fernandes Vieira

Universidade Federal de Minas Gerais

[email protected]

O projeto integra o programa Culthis: espaço de atenção psicossocial ao preso,

egresso do sistema prisional, amigos e familiares e tem como objetivo prestar

atendimento aos familiares de presos, o que é feito nas filas que se formam diante

dos muros de prisões em dias de entrega de pertences e de visitas. As filas são

compostas em sua maioria por mulher, que durante horas, de pé, ficam sob sol ou

chuva, e após passar pela revista vexatória, entram enfim. Durante a semana as

filas são para entregar pertences - objetos de higiene pessoal, material de limpeza,

chinelos, uma troca de roupa vermelha, um prestobarba, cinco maços de cigarros e

um isqueiro. As regras institucionais de visitação e entrega de pertences

apresentam-se, muitas vezes, como instáveis, pouco divulgadas e claras, e em

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alguns casos aleatórias, de modo que é comum escutar nas conversas das

mulheres que tudo irá depender se os agentes penitenciários e demais funcionários

“forem com a sua cara”.

Wacquant (2001) afirma que os efeitos do encarceramento não se restringem aos

encarcerados, mas também aos seus familiares. Assim, desenvolvemos este

projeto, inspirados nos “consultórios de rua”, com o objetivo de realizarmos

atendimento, orientações e encaminhamentos nas próprias filas, de forma

sistematizada e regular. Uma vez por semana, alunas de graduação em Psicologia

vão até a fila que se forma no CERESP – Gameleira, em BH, oferecer aos familiares

que lá estão, atendimento psicossocial, orientação jurídica e encaminhamentos

diversos, realizando o acolhimento. As demandas são encaminhadas para o

advogado ou para a psicóloga que participam do programa CULTHIS. Foi observada

uma demanda acentuada de casos para assistência jurídica, relacionados

majoritariamente ao tráfico de drogas. Uma dificuldade encontrada foi a falta de

continuidade do acolhimento, pois na maioria das vezes as pessoas não são

reencontradas e quando são há dificuldade para manter o vínculo, já que estão com

pressa ou não se sentem à vontade para continuar a conversa da semana anterior.

As dificuldades vivenciadas são de toda ordem, como, por exemplo, a falta de

informação sobre o sistema prisional e sobre a vida encarcerada. Muitas vezes a

família não é informada sobre onde está o preso, sobre sua saúde, sobre as

transferências do preso para outras unidades prisionais, sobre os pertences a levar.

Observamos que as filas configuram-se também como um importante campo de

pesquisa para compreendermos as consequências, para a família, da prisão de um

de seus membros. O como organizar a vida cotidiana familiar durante e após o

cumprimento da pena? Este projeto se justifica como uma ação de extensão na

medida em que propõe uma aproximação mais efetiva com a comunidade em

situação de precariedade de condições de vida, buscando oferecer condições para

que possam lutar contra a violação de direitos. Justifica-se também na medida em

que forma alunos para trabalhar com extensão em interface com pesquisa.

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PERFIL JURÍDICO-SOCIAL DA POPULAÇÃO CARCERÁRIA NO

VALE DO JEQUITINHONHA: LIMITES, INCONGRUÊNCIAS E

DISPARIDADES FRENTE À REINTEGRAÇÃO SOCIAL DO

CONDENADO

Marcia Ângela de Souza

Faculdade de Direito e Ciências Sociais do Leste de Minas

[email protected]

Daniela Caramati de Souza Fonseca

Faculdade de Direito e Ciências Sociais do Leste de Minas

[email protected]

Meire Terezinha de Almeida

Faculdade de Direito e Ciências Sociais do Leste de Minas

[email protected]

O Brasil administra um dos maiores e mais complexos sistemas de Justiça Criminal

do mundo, constituído de uma população carcerária de cerca de 550.000 detentos

divididos em penitenciárias, colônias agrícolas e delegacias de polícia, de acordo

com o Ministério da Justiça. Apesar disso, esse universo é ainda pouco estudado de

forma estruturada no país. Os estudos existentes, em sua maioria, estão voltados

para as maiores capitais da federação e são realizados a partir de dados primários

produzidos em campo, com base em amostras representativas e significativas dos

processos criminais. Pouco se sabe sobre a realidade prisional nas pequenas

comarcas do interior dos Estados, o que dificulta a formação de um diagnóstico mais

amplo e dotado e maior rigor científico. O presente trabalho é o desfecho de

pesquisa financiada pela FAPEMIG, na qual se investigou o universo da execução

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penal na Comarca de Diamantina, localizada no Vale do Jequitinhonha,

proporcionando uma visão da realidade do sistema prisional local. A investigação

constou das seguintes etapas. Na primeira etapa foi realizada visita às varas de

execuções penais e tabulação dos dados iniciais colhidos. O universo da

investigação foi constituído por todos os processos de execução penal referentes

aos condenados em cumprimento de pena no estabelecimento prisional da

Comarca. Na segunda fase, a estratégia metodológica adotada pela pesquisa

consistiu na utilização de métodos quantitativos de análise correntes nas ciências

sociais aplicadas, valendo-se assim da metodologia survey para elaboração de

questionários aptos a produzir uma massa de dados conversível em indicadores

quantitativos de aspectos sociais, econômicos e culturais da população encarcerada

no plano individual e coletivo. Nesse ponto, dados foram colhidos mediante

aplicação de um questionário padrão a todo o universo de sujeitos detidos na

comarca de Diamantina, presos definitivos e provisórios e foram sistematizados,

tabulados e interpretados. Analisaram-se, como componentes da pesquisa: a

proporção entre presos provisórios e presos condenados; o grau de escolaridade

dos detentos; idade da primeira prisão; perfil profissional dos detentos; renda

familiar; qual o tipo penal motivou a prisão; percentual de presos assistidos por

advogado particular, defensor dativo e presos sem advogados; condições físicas do

estabelecimento prisional; crença ou descrença dos presos na função de reinserção

social e exercício de trabalho dos presos dentro da cadeia. A pesquisa apontou

diversas incongruências do sistema prisional local e pretende contribuir para a

formação de políticas públicas voltadas para a proposição de uma nova política

criminal que contribua para a prevenção da reincidência.

Palavras-chave: Detentos; Perfil Jurídico-Social; Realidade Prisional; Reintegração.

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POLÍTICAS PÚBLICAS EM PROL DA INCLUSÃO LABORAL DE

PACIENTES PSQUIÁTRICOS APÓS A SAÍDA DO CÁRCERE:

DESAFIOS E POSSIBILIDADES

Marina Aparecida Pimenta da Cruz Correa

Secretaria de Estado de Defesa Social de Minas Gerais

[email protected]

Michelle Santos Sena de Oliveira

Secretaria de Estado de Defesa Social de Minas Gerais

[email protected]

A Reforma Psiquiátrica engendrou novos dispositivos e práticas clínicas que

facilitaram e incentivaram a inclusão do paciente psiquiátrico em diversos espaços

sociais e urbanos, bem como no Mercado de Trabalho. Contudo, tal ação não ocorre

de maneira isolada, mas deve vir amparada com determinadas políticas públicas

que possa facilitar essa inclusão pela via do trabalho sob a égide dos Direitos

Humanos.

A discussão sobre a inclusão de pacientes psiquiátricos, egressos do sistema

prisional, é uma discussão necessária no contexto das mudanças ocasionadas pela

Reforma Psiquiátrica no Brasil e na nova gramática dos Direitos Humanos e

representa um dos maiores desafios da sociedade contemporânea. Tal situação

demanda a necessidade de construir novas práticas sociais e clínicas que facilitem a

inclusão dessas pessoas através da adoção de novas estratégias e políticas

públicas voltadas para essa interlocução entre os diversos atores.

A partir desse cenário, o presente trabalho busca problematizar e apresentar os

desafios dessa relação, bem como pensar em saídas possíveis para promover maior

inclusão dos egressos, portadores de sofrimento mental, no Mercado de Trabalho.

Nesse sentido, foi criado o Programa de Inclusão Social de Egressos do Sistema

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Prisional (PrEsp) que viabiliza o acolhimento às pessoas que já cumpriram pena de

privação de liberdade, facilitando a sua retomada para o meio social, sendo o

portador de sofrimento mental e egresso considerado público do programa. O

programa atua ampliando as condições de acesso ao público em geral aos direitos

previstos na Lei de Execução Penal, bem como promove o acesso a direitos sociais,

a oportunidade de capacitação profissional de inclusão no mercado formal de

trabalho, dentre outros.

Portanto, as transformações devem ir além da mudança de mentalidades, mas é

preciso que ocorra inclusão da temática na agenda política, bem como

estabelecimento de ações e políticas públicas que possam fomentar essa discussão.

O preconceito deve ser trabalhado com a introdução de saber e novas maneiras de

agir e pensar daquelas pessoas. A libertação relativa e possibilidade de circulação e

inclusão nos equipamentos públicos e de proteção social desses sujeitos fazem com

que seja necessário o envolvimento de diversos atores que facilitem essa inclusão e

na construção coletiva de ações e saídas possíveis. A inclusão deve se dá a partir

do caso concreto e com o mapeamento da rede presente em cada município, seja

através do trabalho formal, informal, dentre outras. Portanto, é preciso pensar em

projetos e políticas públicas que possam possibilitar práticas de liberdade e respeito

a condição peculiar dos egressos pacientes psiquiátricos, valorizando a sua história

e sua presença no mundo, trazendo o tempo todo maneiras e meios que possam

possibilitar o acesso a inclusão laboral.

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MULHERES NEGRAS EM SITUAÇÃO DE PRISÃO:

INTERSECCIONALIDADE OPRESSIVA NO SISTEMA PRISIONAL

Naiara Cristiane da Silva

Universidade Federal de Minas Gerais

[email protected]

Por volta do século XI surgem os primeiros sinais do que foi definido como

criminalidade feminina e a partir de então estes atos receberam denominações

específicas, sendo, pois enquadrados como crimes. Os primeiros atos de

delinquência cometidos por mulheres que se tem notícia estão relacionados com a

prostituição e com a bruxaria. Estes atos estavam completamente opostos aos

padrões de papeis aos quais a sociedade destinava às mulheres, como o cuidado

com a família e de esposa submissa. No decorrer da história, os atos cometidos

pelas mulheres denominados como crime estavam atrelados à sexualidade e ao

mundo das drogas; surgem então as casas de arrependidas e controvertidas que

eram destinadas à reintegração social.

Com o passar dos anos, este quadro se alterou no que se refere às mulheres

envolvidas com a criminalidade, mesmo que a prisão afete predominantemente os

homens, várias estatísticas revelam que houve um número crescente de detenções

femininas. O sistema prisional brasileiro reproduz o modelo masculino de presídios e

não absorve as diferenças de gêneros, este é um dado histórico. Se tratando de

detentas negras este quadro se mostra ainda mais complexo e alarmante.

Objetivou-se por meio desse trabalho discutir acerca das condições de mulheres

negras em situação de privação de liberdade. Buscou-se desvelar como o racismo

se manifesta no processo de execução penal para o cárcere feminino: não para

fomentar a vitimização das mulheres negras devido à discriminação racial sofrida,

mas percebendo-as como autoras de crimes, muito além do passional. Foi suscitado

neste trabalho, discussões acerca do sistema penitenciário brasileiro, perpassando

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por aspectos sócio-históricos, conceituais e contemporâneos relacionados às

mulheres em situação de prisão. Fez-se necessária uma investigação sobre o

nascimento das prisões e a influência dos modelos de prisões norte-americanas

para os estabelecimentos prisionais brasileiros.

Muitos estudos assinalam que raça e gênero evidenciam fortes contrastes na

sociedade brasileira, que incidem em esferas distintas da sociedade, como acesso a

educação, a saúde, a qualidade de vida, saneamento básico, acesso a informação,

mercado de trabalho, cidadania e justiça. Procuramos através deste estudo, trazer

algumas considerações acerca do aprisionamento de mulheres negras, fazendo um

percurso histórico e contemporâneo para entendimento da não observância das

especificidades de raça e gênero na prisão.

Os resultados da pesquisa revelam aspectos que há muito tempo o movimento

social negro vem denunciando e anunciando: o racismo está presente em todas as

instituições e estruturas de nossa sociedade, no cotidiano de mulheres e homens

negros, e no sistema prisional isto também é presente. O estudo não se esgota em

si, ao contrário incita o debate em torno da invisibilidade de mulheres no sistema

prisional e o racismo sofrido por elas nesse mesmo sistema, aponta para a criação e

promoção de um debate amplo e profundo do modelo de sociedade que estamos

construindo.

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MULHER, RAÇA E ENCARCERAMENTO MASSIVO NO BRASIL

Rafael Andrés Urrego Posada

Universidade Federal de Minas Gerais

[email protected] A desproporcionalidade racial no encarceramento é um assunto importante dentro

do debate contemporâneo sobre as relações étnico-raciais e a luta contra o racismo

no Brasil. Este estudo objetivou verificar a existência de desproporcionalidade racial

na população carcerária feminina brasileira do ano 2010, para isto, utilizando como

fonte os micro dados do Censo do IBGE, se construiu um modelo de regressão

logística e assim conseguiu-se estimar a razão de chance de uma mulher estar

encarcerada segundo a raça, nível de instrução, idade, estado civil, número de filhos

e região. O modelo revelou que as mulheres negras, sem instrução ou com ensino

fundamental incompleto, jovens, com filhos e das regiões aonde as pessoas brancas

são maioria (Sudeste e Sul), tem uma maior chance de estar encarceradas do que

as mulheres brancas.

Palavras Chave: Encarceramento massivo, Racismo, Raça, Gênero.

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O AMOR INCONDICIONAL, SOBREVIVENDO AO SISTEMA

PRISIONAL

Thaís Souza Santos

Universidade Federal de Minas Gerais

[email protected]

Julia Martins Damas

Universidade Federal de Minas Gerais

[email protected]

Tainá Fernandes Vieira

Universidade Federal de Minas Gerais

[email protected]

Thaís Mendes de Almeida

Universidade Federal de Minas Gerais

[email protected]

O programa CULTHIS é um Espaço de Atenção Psicossocial ao Preso, Egresso do

Sistema Prisional, Familiares e Amigos. Ele é fruto de inúmeras pesquisas

realizadas no sistema prisional pelo Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão em

Psicologia do Trabalho, LabTrab da Universidade Federal de Minas Gerais. A partir

deste, deu se origem ao projeto do documentário ''O amor incondicional,

sobrevivendo ao sistema prisional ''.

O documentário está sendo montado tendo como base a vida de três mães de

presidiários. A montagem se dará através da filmagem de acontecimentos reais; as

mães serão escolhidas nas filas do Centro de Remanejamento do Sistema Prisional

da Gameleira, em Belo Horizonte. Durante um mês, elas serão acompanhadas em

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suas rotinas. O objetivo deste projeto se dá pelo compromisso de explorar a

realidade, apresentando as dificuldades que estão presentes na vivência das mães,

com relação ao sistema prisional. O olho da câmera será o mais fiel ao olho

humano, em questão, aos olhos das mães, aos seus sofrimentos, aos

constrangimentos que são expostas durante o processo burocrático de visita, a

ausência de informação sobre as medidas jurídicas cabíveis que devem ser

tomadas. Serão realizadas entrevistas com perguntas direcionadas, a respeito de

como elas se sentem diante do fato de ter um filho preso, como foi receber a notícia,

qual foi o primeiro apoio recebido. Ocorrerá acompanhamento nas filas de

pertences, de visita, entre outras situações que passam ser frequentes na vida

dessas mães, quando tem seus filhos apreendidos.

''O amor incondicional sobrevivendo ao sistema prisional'' é um projeto de

documentário que ainda está em andamento, no qual a partir dos contatos

frequentes com as mães entrevistadas nas filas do CERESP Gameleira, percebeu-

se que a exibição de tais experiências vivenciadas seria extremamente

enriquecedoras para sociedade, por possuir de certa forma um conteúdo informativo,

de como enfrentar as dificuldades existentes, a vulnerabilidade que os familiares são

expostos pelo sistema prisional, e como os programas governamentais de

assistência aos familiares não atentem as reais demandas.

Desta forma, o projeto visa expor a realidade a partir da visão de mães que

vivenciam o sistema prisional “de fora”, afinal é importante que se tenha uma noção

deste sistema como todo. A justificativa para tal, está relacionada ao fato que, são

escassos a divulgação de como é o cotidiano de pessoas que zelam pelos seus

familiares que estão presos. O documentário em questão é um projeto que visa

apresentar a realidade da comunidade de familiares, amigos, que se forma ao redor

do sistema prisional. Além de obter uma intenção de divulgação, e exploração das

práticas psicológicas de intervenção neste contexto.

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O ADVENTO DAS “PRISÕES BASEADAS NA FÉ”: POR UM

MODELO RELIGIOSO DE ADMINISTRAÇÃO PRISIONAL

Victor Neiva e Oliveira

Universidade Federal de Minas Gerais

[email protected]

A administração de prisões usualmente encontra-se nas mãos de diretores penais

ligados ao poder estatal que, juntamente com os guardas, zelam pela segurança,

disciplina e ordem interna. No entanto, há quase três décadas, assistimos ao

advento de prisões nas quais grupos cristãos da sociedade civil assumem o controle

parcial ou total desses estabelecimentos em cooperação com os próprios presos.

Essa experiência é conhecida pelo nome de “APAC”, em razão de ter sido criada

pela organização não governamental “Associação de Proteção e Assistência aos

Condenados – APAC”. No lugar dos diretores penais são os membros da ONG os

responsáveis pelo comando central da prisão e, por outro lado, são os próprios

presos a ocupar o lugar antes reservado aos guardas, com tarefas ligadas aos

serviços de vigilância, disciplina e segurança. O início desse trabalho religioso junto

aos presos começou na cidade de São José dos Campos no Estado de São Paulo,

em março de 1984. Ao longo dos anos, essa modalidade nada usual de administrar

prisões, disseminou-se para algumas regiões brasileiras, em especial, pelo Estado

de Minas Gerais e países em todo o mundo devido a uma parceria da Fraternidade

Brasileira de Assistência aos Condenados – FBAC com a organização não

governamental americana “Prison Fellowship Internacional – PFI”. No Brasil, existem

35 prisões administradas por APAC’s de forma independente, sendo que 32

localizam-se no Estado de Minas Gerais e as outras três no Estado do Espírito

Santo, em Cachoeira do Itapemirim; no Rio Grande do Norte, em Macau e em

Curuatá, no Maranhão. No exterior, esse domínio progressivo dos grupos cristãos

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sobre os ambientes prisionais é conhecido como o fenômeno das “prisões baseadas

na fé”. Neste trabalho, apresentaremos o percurso histórico dessa experiência, bem

como as singularidades desse modelo religioso de administração prisional. As

condições sociais e institucionais que possibilitaram a emergência desses grupos

cristãos a uma posição de comando nas prisões serão exploradas. Utilizamos como

estratégia metodológica a análise de documentos referentes à história do movimento

apaqueano, códigos oficiais que regulamentam o cotidiano dessas prisões e

entrevistas com líderes desse movimento. Além do mais, realizamos um trabalho de

campo em duas unidades prisionais administradas por APAC’s no Estado de Minas

Gerais, durante os meses de março a setembro do ano de 2012. Essas informações

propiciaram o conhecimento das peculiaridades desse modelo de administração

prisional, novos atores envolvidos com o trabalho prisional, regras e punições

previstas nos códigos. Nessas prisões os presos estão submetidos ao controle de

um staff cristão, são encorajados a se autogovernarem, seguem uma rotina

institucional religiosa altamente estruturada e são avaliados constantemente em

relação ao seu comportamento e comprometimento.

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PESQUISA DO OBSERVATÓRIO NACIONAL DO SISTEMA

PRISIONAL: ANÁLISE DA PRODUÇÃO ACADÊMICA SOBRE O

SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO

Smilys William Rocha

Universidade Federal de Minas Gerais

[email protected]

Yara Elizabeth Alves

Universidade Federal de Minas Gerais

[email protected]

Fernando Selmar Rocha Fidalgo

Universidade Federal de Minas Gerais

[email protected]

Nara Luciene Rocha Fidalgo

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

[email protected]

Este trabalho insere-se no Projeto de Pesquisa do Observatório Nacional do Sistema

Prisional (ONASP), fruto de uma parceria proposta pelo Ministério da Justiça através

do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN) e desenvolvida por

pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O ONASP visa se

constituir como um modelo para a produção de dados e indicadores de gestão do

Sistema Prisional Brasileiro e da reinserção social de apenados e de egressos. Entre

os objetivos do projeto, destacam-se a realização de levantamento bibliográfico,

documental e de fontes de dados para a construção de perfis dos sistemas

prisionais estaduais; a criação de indicadores sobre as condições de detenção dos

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presos, em suas dimensões objetiva e subjetiva, e a apresentação de indicadores de

eficiência e eficácia em garantia de direitos e prestação de assistências e

tratamentos penais nos sistemas carcerários. Como um dos procedimentos

metodológicos da pesquisa, foi realizado um levantamento bibliográfico no Banco de

Teses da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

A pesquisa resultou em 575 trabalhos concluídos entre 1987 e 2011, que abordam

questões concernentes ao sistema prisional nacional. A partir do levantamento, foi

possível verificar que a produção de teses e dissertações concentra-se na Região

Sudeste do país, onde 50,3% do total das pesquisas (o equivalente a 289 estudos)

foram concluídos. Observou-se também que, após o ano 2000 o número de

trabalhos concluídos aumentou significativamente, em comparação ao total de

estudos produzidos na década de 1990. No que corresponde à área de

conhecimento dos estudos, averiguou-se que o Direito é responsável por 36% das

produções, sendo em sua grande maioria abordando a temática de execução penal.

Em segundo lugar está a área de Educação responsável por 10% dos trabalhos

concluídos, posteriormente, na Psicologia foram elaborados 50 trabalhos, o que

representa 9% do total. Em seguida, estão a Sociologia e a Saúde Coletiva e

Medicina ambas com 7% dos trabalhos concluídos. Por fim, Ciência Política e

Serviço Social possuem percentualmente 6% das produções sobre o tema, sendo

que em cada uma das áreas foram produzidos 36 trabalhos. Atualmente, está sendo

realizado o levantado das produções de 2012. Paralelamente, está sendo finalizada

a leitura dos resumos das dissertações e teses levantadas e a categorização da

abordagem desses trabalhos em eixos temáticos, com vistas a analisar os

conhecimentos já elaborados, os temas recorrentes e as lacunas existentes.

Palavras-chave: Levantamento bibliográfico; Produções acadêmicas; Sistema

Prisional.

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EIXO 2

(RE)INTEGRAÇÃO SOCIAL: POSSIBILIDADES E LIMITES

O PROCESSO DE RE INTEGRAÇÃO SOCIAL DE MULHERES APENADAS DE UM

CENTRO DE REINTEGRAÇÃO E INCLUSÃO SOCIAL ........................................... 42

O REAL DO EGRESSO DO SISTEMA PRISIONAL: CIRCULAÇÃO DE NORMAS,

VALORES E VULNERABILIDADES ......................................................................... 45

TRABALHO PRISIONAL: ENTRE A RESSOCIALIZAÇÃO DO APENADO E A

VIOLAÇÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS ........................................................... 47

EGRESSOS DO SISTEMA PRISIONAL E A CATEGORIA TRABALHO: O QUE SE

TEM E O QUE SE VÊ? ............................................................................................. 49

O TRABALHO NA TRAJETÓRIA DE VIDA DE UM PRESO E NAS CONDIÇÕES DE

ENCARCERAMENTO: REFLEXÕES A PARTIR DE UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

.................................................................................................................................. 51

EDUCADORES FRENTE A EDUCAÇÃO PRISIONAL: SUAS PRÁTICAS E SEUS

DILEMAS................................................................................................................... 53

TRABALHO E EDUCAÇÃO COMO FORMAS DE EMANCIPAÇÃO NAS PRISÕES 55

A MORTE, O MORRER E O RESSUSCITAR ........................................................... 57

A LEI 12.433/11: LIVRA OU LIBERTA? PERSPECTIVAS E REFLEXÕES SOBRE A

EDUCAÇÃO NO SISTEMA PRISIONAL ...................... Erro! Indicador não definido.

IMPACTOS PSICOSSOCIAIS DO ENCARCERAMENTO E REINTEGRAÇÃO PELO

TRABALHO ............................................................................................................... 61

CULTHIS: ESPAÇO DE PESQUISA E ATENÇÃO PSICOSSOCIAL AO PRESO,

EGRESSO, FAMILIARES E AMIGOS ....................................................................... 64

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41

OPORTUNIDADES EM GOTAS PARA DESESTABILIZAR O EFEITO DE

SUSPENSÃO EM UM ESPAÇO CONFUSO ............................................................ 66

LÍNGUA INGLESA EM UMA UNIDADE SOCIOEDUCATIVA: A CRIAÇÃO DO

EFEITO DE SUSPENSÃO EM UM ESPAÇO CONFUSO ........................................ 68

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O PROCESSO DE RE INTEGRAÇÃO SOCIAL DE MULHERES

APENADAS DE UM CENTRO DE REINTEGRAÇÃO E INCLUSÃO

SOCIAL

Amanda Márcia dos Santos Reinaldo

Universidade Federal de Minas Gerais

[email protected]

Márden Cardoso Miranda Hott

Hospital Evangélico

Alba Alice Coutinho Viana

Faculdade Anhanguera

Introdução

O isolamento social proveniente do encarceramento tem potencial para gerar a

ruptura dos laços sociais e o adoecimento físico e psíquico. Apesar disso, os

estabelecimentos prisionais frequentemente se ocupam apenas da manutenção da

ordem e do “bom cumprimento da pena”, esquecendo da questão psicossocial dos

sujeitos que lá se encontram em situação de confinamento e vulnerabilidade.

(OLIVEIRA, NASCIMENTO, GUSMÃO, MOREIRA, NERI, 2011; BRASIL, 2008) Em

outros aspectos o sistema prisional não sofreu grande transformação nos últimos

anos no sentido de oferecer possibilidades de atenção a saúde dos apenados,

principalmente no que concerne a saúde mental. (CANAZARO, ARGIMON, 2010)

Objetivo

Discute o processo de re integração social de um grupo de mulheres egressas do

Centro de Reintegração e Inclusão Social de Mulheres Apenadas de São Luís –

Maranhão a partir das expectativas diante da aproximação do término da pena e sua

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percepção sobre a situação de confinamento, os agravos identificados em relação à

saúde e as relações sociais em decorrência da mesma.

Material e métodos

Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa do tipo estudo de caso onde

foram entrevistadas 13 mulheres com idade entre 23 e 33 anos. Foram utilizados

como instrumentos de coleta de dados um roteiro de entrevista e o diário de campo.

Os resultados foram submetidos à análise de conteúdo proposta por Bardin (2007).

Discussão e resultados

As mulheres ouvidas cumpriram pena em sua maioria por furto, tráfico de drogas e

tentativa de homicídio o que corrobora os dados do Diagnóstico Nacional sobre

mulheres encarceradas. (BRASIL, 2008). Identifica-se o cotidiano do

encarceramento como um ato violento que fere a individualidade do sujeito. Quadros

de depressão, alterações do humor, em especial irritação e agressividade são

identificados pelas colaboradoras como algo a ser cuidado. A literatura aponta que

esses agravos estão relacionados à ausência da família e de uma rede social de

apoio. (OLIVEIRA, NASCIMENTO, GUSMÃO, MOREIRA, NERI, 2011; CANAZARO,

ARGIMON, 2010) Elas identificam esse período da vida como algo que deve ser

esquecido. O estigma de ser considerada uma criminosa foi apontado como um fator

que influencia diretamente na saúde dessas mulheres.

Considerações finais

Consideram-se como fatores importantes no processo de re integração social: o

apoio da família, a qualificação profissional e a redução do estigma. Aponta-se a

necessidade de uma política de atenção à saúde clara e sistemática, principalmente

no que concerne a saúde mental. Indicam-se a necessidade de criar, resgatar e

fortalecer os laços familiares e rede social de apoio pelo próprio sistema prisional.

Sugere-se criar novas ações de qualificação profissional e potencializar as já

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existentes, aponta-se como ponto de pauta importante o planejamento e

implementação de campanhas junto à sociedade para sensibilização sobre o tema.

Palavras-chave: sistema prisional, re integração social, saúde, mulheres apenadas.

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O REAL DO EGRESSO DO SISTEMA PRISIONAL: CIRCULAÇÃO DE

NORMAS, VALORES E VULNERABILIDADES

Carolyne Reis Barros

Universidade de São Paulo

Vanessa Andrade de Barros

Universidade Federal de Minas Gerais

[email protected] Este trabalho apresenta algumas reflexões referentes à pesquisa de mestrado

realizada no período de 2009 a 2011 com egressos do sistema prisional de uma

Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (APAC) situada na região

metropolitana de Belo Horizonte. A APAC constitui-se como um método de gestão

prisional caracterizada pela municipalização da pena, e a participação da sociedade

civil neste processo. O objetivo do trabalho foi compreender o mundo real do

egresso do sistema prisional e os limites da proposta de reintegração social. Quanto

ao percurso metodológico, utilizamos a pesquisa-ação no contexto de

acompanhamento de egressos a partir do atendimento no espaço de atenção

psicossocial ao preso, egresso, amigos e familiares (CULTHIS). Também realizamos

entrevistas em profundidade que partiam da seguinte questão: “O que é ser egresso

do sistema prisional?”. A partir das entrevistas e dos acompanhamentos algumas

temáticas sobre a vida do egresso foram recorrentes: a prisão, os familiares, a vida

fora da prisão, o trabalho. A experiência de estar preso envolve uma perspectiva de

inversão entre tempo e espaço no território fora da prisão. Território este onde o

espaço é ampliado e o tempo é cada vez mais escasso. Na prisão, o espaço

encontra-se limitado e o tempo em constante expansão. Tais perspectivas produzem

outro modo de vida, intensificado a partir das humilhações regidas no processo de

cumprimento da pena. O plano racional único da prisão produz e reproduz

humilhação ao submeter a vida do preso à uma heterodeterminação, ou seja, a

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rotina é determinada pelo outro. Os familiares também sofrem as imposições da

prisão. As revistas vexatórias, e a rotina de visita às prisões refletem diretamente no

cotidiano das famílias. Na vida fora da prisão, a família torna-se um dos referenciais

importantes para reconstruir a vida. Enquanto estão na prisão, os relatos frequentes

de que fazem planos incluindo o trabalho como um dos fatores que os manterão

longe do crime. Se nos atentarmos ao trabalho na vida destes sujeitos da pesquisa,

verificamos que antes da prisão, para a maioria dos entrevistados, o trabalho formal

não foi uma alternativa. As atividades no tráfico e no crime em geral começaram

desde a infância e adolescência e os “bicos” em diversas atividades informais foram

comuns. Durante a prisão, quase não foi ofertado um curso de capacitação e

qualificação que ampliasse a possibilidade de um trabalho formal fora da prisão.

Após a prisão, na situação de egresso, as tentativas de emprego esbarrou-se em

burocracia, sendo o “nada consta” um dos maiores entraves, aliando-se à baixa

escolaridade e a falta de qualificação e experiência de trabalho. Diante disto, o

investimento no trabalho como fator de reintegração social do egresso precisa ser

repensado considerando-se a trajetória de trabalho destes sujeitos, a fragilidade do

pleno emprego em nossa sociedade e a ineficácia das prisões.

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TRABALHO PRISIONAL: ENTRE A RESSOCIALIZAÇÃO DO

APENADO E A VIOLAÇÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS

César Vale Estanislau

Universidade Federal de Minas Gerais

Mariana Teodoro de Morais

Universidade Federal de Minas Gerais

[email protected]

Apresentação

O presente trabalho versa sobre um controverso tema do sistema prisional brasileiro:

o caráter obrigatório do trabalho do apenado. Conforme a Lei de Execução Penal, o

condenado está sujeito a sanções disciplinares na hipótese de descumprimento do

dever de trabalhar, muito embora a Constituição vede a pena de trabalhos forçados.

Nessa linha, instaura-se aparente conflito entre a LEP e a Carta Constitucional, o

qual será analisado com base na doutrina e na jurisprudência pátrias.

Desenvolvimento

Tendo em vista a finalidade ressocializadora da pena, considera-se o trabalho, em

suas funções educativa e produtiva, como o principal meio de reintegração social, na

medida em que constitui uma forma de cultivar o hábito do trabalho e de preparar o

condenado para o retorno produtivo ao convívio social.

Ressalta-se que a concepção moderna de trabalho penitenciário difere de sua

origem histórica, na qual o trabalho era um dos fatores sancionatórios da pena.

Atualmente, além da vedação constitucional à pena de trabalhos forçados (art. 5º,

XLVII), valoriza-se o caráter pedagógico do trabalho penitenciário, que é equiparado

ao das pessoas livres, sobretudo em relação à remuneração equitativa e aos direitos

sociais, mantendo-se como norte os princípios da humanidade da pena e da

dignidade da pessoa humana.

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Vale dizer que o trabalho, embora constitua dever do preso, não pode ser forçado,

sendo proibido o uso de qualquer meio de coação. A despeito de tal entendimento, o

art. 50 da LEP considera falta grave o seu descumprimento. Ora, tal dispositivo não

pode ser considerado em acordo com o sistema constitucional vigente, uma vez que

a imposição de sanção ao preso que optar por não trabalhar constitui meio de

coação, e que o trabalho obrigatório, com o qual não tenha o preso a faculdade de

concordar ou não, somente pode ser considerado como forçado. Portanto, impõe-se

a questão de definir o trabalho do apenado como um direito ou uma obrigação.

Considerações finais

Tem prevalecido na doutrina brasileira a ideia de que a obrigatoriedade do trabalho

não viola o dispositivo constitucional que veda a pena de trabalhos forçados, sob

variados e contraditórios argumentos. No entanto, melhor entendimento é o que

considera o trabalho como direito social constitucional, garantindo a liberdade de

escolha de uma atividade laboral e proibindo o trabalho forçado. Conforme o art. 38

do CP, o preso conserva todos os direitos não atingidos pela perda da liberdade,

mantendo a capacidade de se autodeterminar em relação ao trabalho. Dessa forma,

o apenado pode optar por não trabalhar, sendo certo, todavia, que não poderá se

valer dos mesmos benefícios concedidos àqueles que trabalham, como a remição

de pena.

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EGRESSOS DO SISTEMA PRISIONAL E A CATEGORIA TRABALHO:

O QUE SE TEM E O QUE SE VÊ?

Cibelle Dória da Cunha

Centro Universitário UNA

[email protected]

Fernando da Costa Ramos

Centro Universitário UNA

Giordana Gemma de Castro Araújo

Centro Universitário UNA

Liliane Andresa da Silva

Centro Universitário UNA

Luana de Jesus Rossi

Centro Universitário UNA

Este estudo tem o propósito de discutir “o que se tem” e “o que se vê” a partir da

compreensão da categoria trabalho enquanto elemento central das relações sociais

construídas sob a égide do sistema capitalista, sendo esta principal condicionante do

processo de (re)inserção social dos egressos do sistema prisional. Elucidar-se-á a

categoria trabalho constituída sob o bojo do sistema do capital evidenciando suas

características, transformações e necessidades de manutenção que ovacionam e

reforçam a exclusão social. Por conseguinte, apresentam-se os conceitos que

ensejam a exclusão social no contexto do capital e sua relação com o processo de

repressão e, consequentemente, punição dos vulneráveis, entre eles os sujeitos

egressos do sistema prisional. Suscita-se, posteriormente, uma discussão em torno

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da atuação do Estado, da institucionalização e execução da pena privativa de

liberdade e do Sistema prisional que operacionaliza a forma de punir e

responsabilizar os que cometeram delitos que ferem sobremaneira o status quo

postulado pelo sistema capitalista e seus ditames. Far-se-á uma análise da

conjuntura brasileira, no intuito de destacar os elementos que compõem o ideário

social, fruto das instituições e normativas legais, que tanto afetam o retorno ao

convívio social dos egressos do sistema prisional, sendo tal retorno, não

deliberadamente, promovido por meio do trabalho. Correlacionar-se-á os elementos

teóricos demonstrados, com os dados obtidos por meio da pesquisa de campo,

componente elementar dessa construção. Nesta, participaram cinco egressos do

sistema prisional, inseridos no mercado de trabalho, cujo objetivo era aferir se de

fato o trabalho constitui instrumento de (re)inserção e (res)socialização dos egressos

do sistema prisional, e se aquele consegue possibilitar a almejada reintegração

social desses sujeitos, conforme postulado pelos ditames do sistema hegemônico.

Nessa perspectiva, verifica-se o quão perversas são as concepções acerca do

conceito de (re)inserção social e cidadania no contexto do capital, seus desafios,

bem como os reais interesses a estes imbricados. O que de fato vislumbra-se é a

construção de naturalizações no imaginário social que sustentam a permanência da

repressão como forma de justiça, enquanto ocorre a ausência e omissão velada do

Estado Democrático de Direito que, como tal, deveria garantir a proteção social e o

exercício pleno da cidadania de todos os seus cidadãos, antes de impor e legitimar

os mecanismos de repressão e punição da classe vulnerável como cruciais à

manutenção da ordem social.

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O TRABALHO NA TRAJETÓRIA DE VIDA DE UM PRESO E NAS

CONDIÇÕES DE ENCARCERAMENTO: REFLEXÕES A PARTIR DE

UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Daniela Tonizza de Almeida

Faculdade de Minas

[email protected] Este estudo consiste em uma reflexão sobre a função do trabalho na trajetória de

vida de um preso e nas condições de encarceramento a partir do método de

pesquisa História de Vida. Essa experiência se deu através de nossa inserção

voluntária no projeto Chultis (Cultivando Histórias), de extensão e pesquisa no

Laboratório de Psicologia do Trabalho da UFMG, sob a supervisão da Professora

Vanessa A. Barros, desenvolvido na APAC (Associação de Assistência e Proteção

ao Condenado) de Santa Luzia, MG, no período de 2009 e 2010. Nossas reflexões

consideram principalmente a história de João, em que a experiência do uso de uma

droga ilícita na adolescência revelou-se como um dos elementos que modificaram

sua relação com o trabalho formal e favoreceram sua adesão ao tráfico de drogas.

Ser traficante garantia a ele poder e reconhecimento na comunidade e permitia o

consumo de mercadorias que não tinha acesso com o salário de trabalhador.

Embora essa suposta dicotomia entre trabalhador e bandido apareça de forma

marcante no seu discurso, questionamos se o tráfico também não seria um tipo de

trabalho. De qualquer forma, é marcante como o trabalho aparece como fio condutor

da história e em um meio com escolhas tão escassas como é o contexto da prisão,

era através dele que se tornava possível continuar a viver e se projetar no futuro. Na

APAC, ainda que se ofereçam melhores condições de hotelaria e atividades de

trabalho que possibilitem algum processo criativo, na maioria das vezes, são

repetitivas, monótonas, pouco valorizadas socialmente e não garantem a

profissionalização para inserir-se no mercado de trabalho e nem a remuneração que

possa competir com a renda gerada através do tráfico de drogas (BARROS, 2005).

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Entretanto, chamamos a atenção sobre a diferença que fez na vida desse sujeito a

forma como foi tratado na APAC depois de longa experiência de violações e maus

tratos em outras prisões. Nenhum dos castigos a ele infringidos em outras prisões foi

capaz de fazê-lo repensar suas escolhas como o fez o afeto, a confiança e o

reconhecimento “de seu valor como ser humano”, conforme relata que encontrou no

contexto da APAC. Conclui-se que enquanto projeto de reforma do sistema prisional,

a APAC apresenta inegável vantagem sobre o sistema comum, especialmente no

que concerne à garantia de direitos humanos, do envolvimento comunitário, do

despoliciamento, ainda que paire dúvidas sobre seu sentido ético-político. Se

comparada ao sistema prisional comum, a APAC pode até ser considerada como

uma prisão humanizada, entretanto, a humanidade não pode ser medida apenas

pelas condições materiais ou por um check list de direitos garantidos ou não porque

outros tipos de violência e constrangimentos podem estar presentes de forma muito

sutil, tais como a hipervigilância, o domínio exercido pelo discurso religioso, as

chantagens e intimidações que são feitas para forjar um modelo ideal de ser humano

dificilmente alcançável (VARGAS, 2011). Conclui-se que apesar da APAC garantir

alguns direitos mínimos, não deixa de ser um instrumento de dominação de classe,

assim como as demais prisões. Ao se aceitar esse modelo alternativo como ideal,

corre-se o risco de mudar para não mudar, ou seja, com os presos bem ajustados, o

sistema prisional se amplia cada vez mais e os conflitos sociais que geram a

criminalidade permanecem intocados. Essas reflexões nos levam a duvidar da

prisão como um projeto possível e pensar se não existiriam outros modos de fazer

justiça que não estejam pautados na privação da liberdade.

Palavras Chaves: Sistema Prisional, Trabalho, História de Vida.

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EDUCADORES FRENTE A EDUCAÇÃO PRISIONAL: SUAS

PRÁTICAS E SEUS DILEMAS

Karol Oliveira De Amorim Silva

Secretaria de Estado de Defesa Social

[email protected]

Apresentação e objetivo

Esse trabalho refere-se a pesquisa em andamento sobre as formas de pensar, sentir

e agir dos educadores que atuam em estabelecimentos penais acerca da educação

ofertada neste ambiente. A Educação Prisional, ainda, é pouco trabalhada nos

meios acadêmicos, assim, considera-se que esses educadores, formados para

atuarem em instituições escolares, deparam-se com o desafio de atuar em

instituições prisionais, pressionando-o para a inferência, instigando-o à uma

reelaboração em seus conceitos e conhecimentos prévios acerca da educação afim

de conduzir sua prática. Neste sentido, buscou-se a Teoria das Representações

Sociais criada por Moscovici (1978) como aporte teórico, na qual apresenta o

sentido da representação como um conhecimento gerado nas trocas cotidianas e

que se apresenta como lógico e criativo visando tornar familiar o que nos é

novo/estranho. Neste contexto, busca-se com esta pesquisa compreender como os

Educadores Prisionais estão construindo seus saberes sobre a educação no

contexto prisional e quais os obstáculos que vivenciam na reconstrução destes

saberes; constituindo-se um grande desafio em construir e entender o que é

Educação Prisional.

Desenvolvimento/discussão

Segundo Gadotti (1993), do ponto de vista analítico, supõe-se que, por ser o

ambiente da contradição, exercer atividade educativa torna-se um verdadeiro

dilema. As pessoas que trabalham com os detentos não estão preparadas para

promover a sua reabilitação, mas unicamente a punição. Este tipo de atitude vai

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indicando um perfil de profissionais que, na maioria, não tiveram acesso a

informações sobre Educação Prisional, só a partir do ingresso em uma unidade

carcerária é que experimentam o contato direto, na prática, sem qualquer formação.

Para fins deste trabalho foi adotado como recurso metodológico a observação

sistemática de 23 educadores da Escola Estadual César Lombroso, da Penitenciária

José Maria Alkmim – Ribeirão das Neves/MG – em sua rotina diária.

Considerações finais

Pôde-se observar que o educador prisional encontra enorme dificuldade em

assimilar a contradição punir/educar, requerendo a habilidade de saber lidar com

conflitos, com riscos, o que tem gerado um desgaste físico e emocional altíssimos.

Certo é que a educação em prisões não é muito difundida, só recentemente tem-se

voltado os olhos para ela carecendo de uma estruturação. Assim, nota-se a urgência

de políticas públicas e cursos de capacitação, bem como a atuação dos meios

acadêmicos, a fim de garantir uma formação específica dos profissionais que

atuarão na educação prisional. Espera-se que os resultados obtidos possam

contribuir para reflexão e construção de diretrizes pedagógicas que orientem a

prática educativa nos estabelecimentos prisionais.

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TRABALHO E EDUCAÇÃO COMO FORMAS DE EMANCIPAÇÃO

NAS PRISÕES

Lurizam Costa Viana

Universidade Federal de Minas Gerais

[email protected] O presente estudo tem por escopo analisar como o trabalho se insere no cotidiano

das prisões e repercute na vida de pessoas encarceradas. Pretende-se verificar

fatores relacionados com uma maior ou menor presença do trabalho em presídios.

Além disso, busca-se analisar os possíveis benefícios, jurídicos e sociais,

proporcionados ao indivíduo encarcerado mediante a realização de trabalho ou

mesmo de práticas educacionais que têm por objetivo precípuo a reabilitação das

pessoas submetidas ao sistema prisional. Serão tidos como exemplos projetos

inovadores nos quais os próprios presos empreendem esforços no sentido de

concretizar ações positivas voltadas para a sua ressocialização.

Para demonstrar as proposições estabelecidas, serão utilizados como referência

dados do Ministério da Justiça, por meio do sistema InfoPen, e relatórios da

Plataforma Brasileira de Direitos Humanos Econômicos, Sociais, Culturais e

Ambientais e do Subcomitê da ONU para a Prevenção contra a Tortura e Outros

Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes. A dimensão normativa

do assunto também será explorada, com ênfase à Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988, à Lei nº 7.210/84 (Lei de Execução Penal), à

Declaração Universal dos Direitos Humanos e ao Protocolo Adicional à Convenção

Americana sobre Direitos Humanos em Matéria de Direitos Econômicos, Sociais e

Culturais (Protocolo de San Salvador).

Somando-se à importância do trabalho, deve-se salientar o papel transformador da

educação nas prisões, fomentando-se a formação profissional, a capacitação para

futura inserção no mercado de trabalho e o contínuo desenvolvimento intelectual das

pessoas que se encontram privadas de sua liberdade. Nessa perspectiva, e para

além da remição da pena por trabalho prestado já prevista na redação original da Lei

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nº 7.210/84, será abordada a possibilidade de remir-se a pena por meio do estudo.

Trata-se de disposição introduzida pela Lei nº 12.433, que alterou em 2011 a aludida

Lei nº 7.210/84. Visando a cumprir o desiderato da remição da pena pelo estudo,

efetivando o instituto, foi recentemente inaugurado em Campina Grande (PB) o

primeiro campus universitário instalado dentro de um presídio brasileiro. O projeto,

de iniciativa da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), também será abordado

neste estudo.

Em conclusão, admite-se que o trabalho nas prisões, aliado a outras atividades

produtivas, de cunho notadamente educacional, não deve ser visto como algo

tortuoso ou gerador de sofrimentos ainda maiores que o próprio cárcere. Defende-se

que, neste caso, o trabalho se despoja de sua usual conotação negativa e passa a

refletir um direito a ser exercido, revelando-se como autêntico instrumento de

emancipação.

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A MORTE, O MORRER E O RESSUSCITAR

Marcelo de Mesquita Ferreira

Universidade do Estado de Minas Gerais

[email protected]

Apresentação/Objetivos

No livro Recordações da Casa dos Mortos, o autor cria um personagem para contar

sua história real, uma história que ele aclama como período de estado de morte e na

casa dos mortos como o próprio título do livro expressa; talvez esta tenha sido uma

forma sútil de dizer por inferência de sua obra que o tempo vivido nesta experiência

em sua vida morta tenha sido um período no qual ele foi abruptamente submetido à

morte ou ao seu estado decrépito.

Aqui um mundo bem outro, regido por estatutos, disciplinas, horários específicos;

uma casa para cadáveres vivos; uma vida à margem; e homens de vivência muito

outra. É este desvão tão diferente da vida que ora me proponho a descrever, tal

como é (DOSTOIÉVSKI, 1861, p. 21).

O objetivo deste artigo é propor uma reflexão a respeito do livro acima citado em

paralelo a experiência de uma visita em caráter investigativo realizada pelo autor

deste mesmo artigo a uma sala de aula, da Escola Estadual César Lombroso, na

Penitenciária José Maria Alkimin em Ribeirão das Neves/MG, no mês de Novembro

de 2012, e, como o trabalho e a educação podem contribuir de forma direta ou

indireta na vida do sujeito preso.

Discussão

Para a construção deste artigo optou-se pela visita real (pesquisa etnográfica) a uma

sala de aula dentro da penitenciária e desta forma refletir sobre a abstração e

sentido da educação para o sujeito preso tendo como pano de fundo o personagem

criado por Dostoiévski (1861) para contar sua história real de viver no cárcere por

dez anos.

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A penitenciária visitada foi escolhida por possuir um modelo mais aproximado do

que se conhece como escola na sociedade, pois possui todos os departamentos

necessários para sua existência (como por exemplo: direção, coordenação,

pedagogo, biblioteca, sala de computadores) e um trabalho de artesanato com as

turmas.

Considerações

Este artigo nos permitiu contato com as insurgências e fragilidades do sistema

prisional em relação à educação pelo ponto de vista dos condenados. O tempo pode

ser é um, mas para o sujeito preso este mesmo tempo é no mínimo dois e

antagonicamente muito distintos, pois se trata de tempo de vida enclausurada, vida

que envelhece na passagem progressiva ou regressiva da contagem dos anos, dos

meses, das semanas, dos dias. Tempo de vida, de educação e de trabalho.

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LEI 12.433/11: LIVRA OU LIBERTA?

PERSPECTIVAS E REFLEXÕES SOBRE A EDUCAÇÃO NO SISTEMA

PRISIONAL

Marcelo de Mesquita Ferreira

Universidade do Estado de Minas Gerais

[email protected]

Apresentação/Objetivos

O presente artigo problematiza a educação no sistema carcerário: discute, portanto,

sobre o direito de acesso à educação garantido por Lei para o presidiário e a

dualidade de sentido e abstração que a liberdade pode representar para o

condenado, inclusive no que tange a remição de pena e, atendo-se ao pressuposto

de que a educação pode participar direta e indiretamente como meio de reinserção

social, discorre-se sobre as possibilidades da educação nas prisões a partir da nova

Lei.

Os objetivos deste artigo são: refletir sobre os desafios, lacunas, perspectivas e

reflexões sobre a educação no sistema carcerário; problematizar as possibilidades

da educação nas prisões a partir da Lei 12433/11.

Discussão

A educação não é algo isolado, abstrato, mas está relacionada estreitamente com a

sociedade e a cultura de cada época, não nasce com o homem, é adquirida no

decorrer de sua vida. Neste sentido, quanto mais se articulam os significados de

liberdade, mais adversidades se projetam em suas significações, possibilitando,

desta forma, olhar sobre a relação que se dá na contradição, ou seja, que expresse

um movimento de interdependência em que uma não existe sem a outra: liberdade e

ressocialização.

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Este artigo tem como recortes o sujeito preso (do sexo masculino) com idade entre

18 e 31 anos e a Lei 12433/11 que concede remição de parte do tempo de execução

da pena do condenado por meio do estudo e do trabalho, tornando possível a

liberdade em tempo menor para o condenado.

Considerações

A reflexão proposta pelo presente artigo nos mostra a Lei 12.433/11 como um marco

positivo em nossa sociedade porque somente a partir desta lei pode-se pensar em

currículo apropriado e específico para este sujeito preso, um currículo que valorize a

formação humana, a profissionalização, a construção do cidadão cumpridor de

deveres e conhecedor de seus direitos, politizado, crítico e emancipado; com uma

diretriz que privilegie a valorização da convivência, que compreenda a pluralidade e

a individualidade de cada um dentro da sociedade no qual a formação de uma nova

consciência seja mais abrangente em sua singularidade individual. A educação

libertadora freireana (1999) é um caminho a ser trilhado; é um começo.

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IMPACTOS PSICOSSOCIAIS DO ENCARCERAMENTO E

REINTEGRAÇÃO PELO TRABALHO

Tainá Fernandes Vieira

Universidade Federal de Minas Gerais

[email protected]

Julia Martins Damas

Universidade Federal de Minas Gerais

[email protected]

Thaís Souza Santos

Universidade Federal de Minas Gerais

[email protected]

Thaís Mendes de Almeida

Universidade Federal de Minas Gerais

[email protected]

Henrique Almeida

Universidade Federal de Minas Gerais

A pesquisa em tela visa analisar os impactos psicossociais do encarceramento e

suas repercussões na inserção do egresso do sistema prisional no mundo do

trabalho, iniciada há um ano na região metropolitana de BH. Buscamos

compreender como os presos e egressos integram a experiência da prisão e da

reintegração em seus cotidianos e o sentido que atribuem ao trabalho nesse

processo. Por impactos psicossociais referimo-nos aos transtornos e sofrimentos

impostos pela detenção aos presos e a seus familiares tanto durante o

encarceramento quanto na condição de egresso e por reintegração entendemos

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inserir novamente na sociedade aqueles que, por alguma razão, estavam

desinseridos ou inseridos marginalmente.

Teoricamente apoiamo-nos na Psicossociologia do trabalho e seu campo conceitual.

Estaremos em diálogo com as demais clinicas do trabalho, especialmente com a

Ergologia.

Buscamos estar o mais perto possível dos sujeitos que participam de nossa

investigação e de suas realidades, dentro das prisões e junto aos egressos em seus

contextos de vida, na perspectiva de horizontalidade de saberes, buscando

compreender os ‘debates de normas e valores, ’ que permeiam suas ‘dramáticas de

uso de si’. Lançamos mão dos seguintes instrumentos metodológicos: observações

empíricas das atividades realizadas no interior das prisões pelos detentos,

entrevistas em profundidade com presos e egressos onde recolhemos relatos de

experiências que evidenciam os sentidos atribuídos ao trabalho.

O que temos conhecido até então são as dificuldades vividas pelos presos e

egressos e a falta de recursos, materiais, sociais e psíquicos para enfrentar a

pobreza material, o desemprego, a precariedade de condições de vida, o

analfabetismo, a falta de informações e de assistência por parte do Estado. São

condições que colocam esses sujeitos em uma situação de vulnerabilidade quase

sem saída. São os “sujeitos da falta”, como diz Castel e neste sentido são

‘marginais’, geograficamente nas periferias e favelas, à margem da sociedade de

consumo e à margem da lei, agindo contra as normas sociais. Temos ouvido desses

sujeitos que o trabalho constituiria a garantia de reintegração social e o rompimento

com a posição de marginalidade.

No interior das prisões as atividades oferecidas não configuram formação

profissional e não agregam valor. Extramuros, os egressos ocupam os trabalhos que

não oferecem oportunidade de transformação das condições de vida, levando muitas

vezes à reincidência criminal.

É preciso aprofundar as investigações, pois até onde foi possível compreender, as

propostas governamentais são genéricas, abstratas, sem relação com a experiência

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do cárcere e desconhecendo o mundo real do trabalho o que contraria os discursos

oficiais sobre sua função ‘reintegradora’.

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CULTHIS: ESPAÇO DE PESQUISA E ATENÇÃO PSICOSSOCIAL AO

PRESO, EGRESSO, FAMILIARES E AMIGOS

Thaís Mendes de Almeida

Universidade Federal de Minas Gerais

[email protected]

Julia Martins Damas

Universidade Federal de Minas Gerais

[email protected]

Thaís Souza Santos

Universidade Federal de Minas Gerais

[email protected]

Tainá Fernandes Vieira

Universidade Federal de Minas Gerais

[email protected]

O trabalho em pauta refere-se a projeto de pesquisa-intervenção desenvolvido no

sistema prisional de Minas Gerais. Possui como objetivo compreender os impactos

do encarceramento na vida dos presos, dos egressos de prisões e de seus

familiares e trabalhar com essas pessoas visando a construção de alternativas para

a transformação de suas condições materiais de existência e a criação de novas

significações. Nesse sentido busca: realizar pesquisas e promover discussões sobre

o sistema prisional brasileiro, sobre os problemas enfrentados pelos sujeitos

encarcerados, por seus familiares e pelos trabalhadores do sistema carcerário;

fomentar discussões sobre a criminalidade de forma a contribuir para a mudança do

imaginário social em relação aos presos e egressos; oferecer atendimento

psicossocial e clínico ao preso, ao egresso, familiares e trabalhadores do sistema

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prisional; etc. Metodologicamente trabalhamos com recolhimento de histórias de vida

na perspectiva psicossociológica, o que implica a pesquisa e a intervenção, na

medida em que a história individual é uma ponte para a história social e nos permite

ter acesso ‘pelo interior’ a uma realidade que perpassa o narrador e o transforma.

Concretamente essa pesquisa/intervenção se realiza em quatro frentes, cada qual

com seu dispositivo metodológico específico: - no interior de prisões realizamos o

recolhimento de histórias de vida dos presos - nas filas que se formam diante das

prisões, onde realizamos escuta clínica, entrevistas e encaminhamentos

psicossocial e jurídico; - em atendimentos psicossociais realizados na UFMG a

egressos do sistema prisional e a seus familiares e – junto a grupos que trabalham

com presos e egressos onde realizamos atendimentos psicossociais e clínicos aos

agentes de pastoral e participamos de ações relativas à defesa de direitos e

denúncias de violações. Os resultados obtidos demonstram que a prisão deteriora

as referências exteriores da vida em liberdade, substituindo-as por elementos e

estruturas psicoculturais intimamente relacionadas ao ambiente carcerário e

estranhas ao universo social externo e expõem de maneira aclarada a profunda

dificuldade encontrada pelo egresso prisional a reintegração no mundo do trabalho.

Temos constatado que os programas governamentais de referência para o egresso

não atendem às suas reais necessidades e as de seus familiares e não intervém no

sentido de transformar as situações de vulnerabilidade a que estão submetidos. O

que concluímos até o momento diz respeito à importância da construção de

espaços, tanto físicos quanto simbólicos, de acolhimento e orientação aos sujeitos

que saem das prisões. É neste contexto que insere-se a construção desse programa

Culthis: Cultura, Trabalho e História, que apresentamos.

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OPORTUNIDADES EM GOTAS PARA DESESTABILIZAR O EFEITO

DE SUSPENSÃO EM UM ESPAÇO CONFUSO

Valdeni da Silva Reis

Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri

O presente trabalho apresenta uma pesquisa em andamento que cria, investiga e

explora formas de desestabilizar o efeito de suspensão (REIS, 2011) que estagna e

infertiliza o que é nomeado ensino e aprendizagem de inglês como língua

estrangeira (ILE) em uma unidade socioeducativa para adolescentes em conflito

com a lei na cidade de Belo Horizonte/MG. Após um ato infracional grave ou

gravíssimo, o adolescente pode ser encaminhado para uma unidade socioeducativa,

lugar dentro do qual ele deve ter acesso ao ensino regular. O adolescente tem,

desse modo, aulas de língua inglesa em sua grade curricular e em meio as

atividades desenvolvidas no contexto encarcerado. Em pesquisa anterior (REIS,

2011), identificamos que há nesse contexto, um efeito de suspensão que estagna

ações e relações que aí são estabelecidas. O estudo objetiva, portanto, investigar a

instrução formal manejada na aula de língua inglesa, cujo foco está na criação de

oportunidades de aprendizagem, aplicado em curtas e intensas unidades

linguísticas. Essas unidades são denominadas “Oportunidades em Gotas” porque

são conduzidas de forma paulatina e sistemática, convocando a participação dos

alunos em seu próprio processo de aprendizagem. Investigaremos, portanto, todos

os passos que constituem nossa intervenção pedagógica em duas turmas do ensino

fundamental da unidade socioeducativa, na qual, juntamente com a professora,

estabelecemos e avaliamos atividades que promovam o ensino e a aprendizagem

da língua inglesa de forma mais frutífera e efetiva. Trata-se de uma pesquisa de

base qualitativa e interpretativista segundo a natureza de seus dados. A metodologia

empregada é a pesquisa-ação colaborativa cujo processo pode ser compreendido

como uma busca pela compreensão mais elaborada de perguntas e/ou problemas

previamente identificados. Entrevistas e questionários são aplicados em todas as

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fases da pesquisa e analisados a partir dos princípios e procedimentos da Análise

de Discurso. Análise preliminar indica que este aluno responde muito positivamente

quando convocado a aprender a língua inglesa via competições com ou sem

premiação; via uso de canções e biografias escolhidas por ele mesmo e via o uso

efetivo da língua inglesa na sala de aula (ainda que com traduções posteriores).

Percebemos, finalmente, a língua inglesa como ferramenta preciosa para que o

adolescente em conflito com a lei ressignifique não apenas sua posição como aluno,

mas principalmente sua posição como sujeito em sua relação com o outro.

Palavras-Chave: Ensino-Aprendizagem de inglês; adolescentes em conflito com a

lei; Espaço Confuso; Efeito de Suspensão; Oportunidades e Gotas.

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LÍNGUA INGLESA EM UMA UNIDADE SOCIOEDUCATIVA: A

CRIAÇÃO DO EFEITO DE SUSPENSÃO EM UM ESPAÇO CONFUSO

Valdeni da Silva Reis

Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri

O presente trabalho investiga o modo como os sentidos são arrolados em torno do

ensino-aprendizagem da Língua Inglesa (LI) em uma Unidade Socioeducativa para

adolescentes em conflito com a lei da cidade de Belo Horizonte, MG. Após cometer

uma infração grave ou gravíssima, o Estatuto da Criança e do Adolescente

determina que o adolescente seja submetido às medidas Socioeducativas que

podem incluir a internação do infrator. Dentro de uma unidade socioeducativa, o

adolescente deve ter acesso ao ensino regular e ter, deste modo, a língua inglesa

incluída em suas atividades escolares que também constituem seu cotidiano de

encarceramento juvenil. Assim, a investigação objetiva compreender como são

estabelecidos e negociados entre professora e alunos o espaço institucional ou

físico e o espaço discursivo para a constituição do ensino-aprendizagem da língua

inglesa nesse contexto de privação de liberdade. Analisamos uma aula de inglês

gravada em áudio, bem como entrevistas e diário de campo, a partir dos quais

delimitamos uma detalhada descrição acerca do modo como os participantes tomam

a palavra, constituindo sua posição discursiva e revelando o modo como relações –

como o outro e com o ensino-aprendizagem – são ali entrelaçadas. A metodologia é

a análise de discurso, sendo que a coleta e tratamento dos dados estão ancorados

nos princípios etnográficos de pesquisa. A partir da gravação em áudio e da

transcrição da aula, foi estabelecido um minucioso mapa estrutural das tomadas de

palavra/posição dos envolvidos. Os temas emergentes na análise da aula são

confrontados com os diários e entrevistas coletados durante a pesquisa. A análise

aponta a constituição de um espaço confuso advindo da tensão entre os

significantes educacional e prisional, mas, também, do modo com que os

participantes assumem ou não sua posição enunciativa nesse espaço. Também

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constatamos que o espaço confuso é delimitado por meio da dinâmica de (NÃO)

ensino-aprendizagem da LI que se instala no espaço físico e discursivo da sala de

aula. Nossa análise também apontou constituição de um fenômeno que nomeamos

como Efeito de Suspensão. Tal fenômeno surge na medida em que o momento

presente do ensino e da aprendizagem da língua inglesa, mostra-se suspenso, ora

pela repetição de um dado conteúdo linguístico, ora por meio da retomada de

discursos sobre o que acontece(u) aos alunos em outro lugar e em outro tempo,

jogados em cena pelo trabalho da memória que aí circula. Entendemos, enfim, que o

espaço do encarceramento, atrelado à concepção de memória, constitui elemento

chave para a compreensão do que acontece naquilo nomeado ensino-aprendizagem

da LI nesse contexto.

Palavras-Chave: Ensino-Aprendizagem de inglês; adolescentes em conflito com a

lei; Espaço Confuso; Efeito de Suspensão.

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