processo nos tribunais e recursos - processo civil
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1 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
PARTE I – DO PROCESSO NOS TRIBUNAIS1 Competência dos Tribunais2 Composição e Funcionamento dos Tribunais3 Da Ordem dos Processos no Tribunal (procedimento)4 Incidentes no Tribunal4.1 Uniformização da Jurisprudência4.2 Declaração de Inconstitucionalidade5 Ações de Competência Originária do Tribunal5.1 Homologação de Sentença Estrangeira5.2 Ação Rescisória
PARTE II - SISTEMA RECURSAL DO PROCESSO CIVIL BRASILEIRO1 Teoria Geral dos Recursos2 Dos Recursos em Espécie2.1 Embargos de Declaração2.2 Apelação2.3 Agravo: de Instrumento e Retido2.4 Embargos Infringentes2.5 Recurso Ordinário Constitucional2.6 Recurso Especial2.7 Recurso Extraordinário2.8 Embargos de Divergência2.9 Recursos nos Juizados Especiais Cíveis
PARTE III - MANDADO DE SEGURANÇA
PARTE I – DO PROCESSO NOS TRIBUNAIS
1 COMPETÊNCIA DOS TRIBUNAIS
A competência do Tribunal pode ser exercida em grau de recurso; duplo grau obrigatório ou
necessário; e na forma originária.
1.1 em grau de recurso (última instância)
Nesse caso, o processo chega ao tribunal através de um instrumento denominado recurso, a
fim de que a decisão do juízo inferior seja reexaminada, diminuindo, em regra, a margem de erro e
de injustiça.
Isso se dá em virtude do princípio do duplo grau de jurisdição, a que passaremos estudar
agora.
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A Constituição do Império garantia expressamente o duplo grau de jurisdição, mediante a
interposição de recurso ao chamado Tribunal de Relação (depois de Apelação,e, hoje, de Justiça).
As Constituições que se seguiram, no entanto, apenas preveram a existência de tribunais, dando-
lhes competência recursal, sem garantir de forma explícita o referido princípio.
Em virtude dessa omissão, permitiu-se a possibilidade de o legislador infraconstitucional
vedar ou limitar o direito de recurso em alguns casos (Exemplo: não cabe apelação nas execuções
fiscais de valor igual ou inferior a 50 OTN’s1 - art. 34 da Lei n. 6.830/81; não cabe recurso de
despachos – art. 504, CPC), sem que se possa imputar inconstitucionalidade.
O mesmo não se pode dizer quanto aos recursos especial e extraordinário, cujo cabimento
não pode ser limitado, salvo se por emenda constitucional.[Exemplo: a EC 45/04, que deu nova
redação ao §3º do art. 102, da CF, no sentido de exigir do recorrente, em recurso extraordinário, a
demonstração da “repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso (...)”, criando
mais um requisito de admissibilidade, como veremos mais adiante], pois os requisitos já estão no
próprio texto constitucional e somente eles devem ser exigidos do recorrente.
Por outro lado, embora o princípio do duplo grau de jurisdição não se encontre
expressamente previsto na Constituição Federal de 1988, é ele consectário direto do princípio do
devido processo legal (art. 5º, inc. LIV), segundo a doutrina mais balizada. Outro argumento que
justifica o caráter constitucional, ainda que implícito, do referido princípio é a previsão na nossa
Constituição Federal da competência recursal dos tribunais, bem como a sua própria existência e
organização hierarquizada. Ademais, o Código de Processo Civil o adota como regra geral.
José Frederico Marques (2000, p. 5-6) sustenta a existência não do duplo grau, mas da
pluralidade dos graus de jurisdição face à previsão constitucional dos recursos especial e
extraordinário, cujo julgamento compete ao STJ e STF, respectivamente, aludindo a um suposto 3º
grau de jurisdição, o que, com a devida vênia, não existe.
São, na verdade, juízos extraordinários, pois não reapreciam matéria de fato, mas tão
somente matéria de direito, com o fim de velar pelo direito objetivo, garantindo a ordem jurídica.
Não obstante as críticas, principalmente diante da aparente contradição com o princípio
constitucional da celeridade (art. 5º inc. LXXVIII), pois que tende a perpetuar a marcha processual,
o princípio do duplo grau de jurisdição consiste na possibilidade de provocar reapreciação e o
julgamento de matéria já decidida, mediante recurso, por órgão hierarquicamente superior.
1 Conforme orientação do STJ, a atualização deve ocorrer pela conversão sucessiva da OTN em BTN e UFIR. Da exegese jurídica da evolução desses índices resulta a seguinte fórmula, a ser considerada quanto ao valor de alçada recursal, a ser apurado na data da distribuição da execução fiscal: 50 OTN = 440,30 BTN = 444,85 UFIR.
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E é com base nesse princípio que se estruturou o atual sistema recursal previsto no CPC,
garantindo uma dualidade da jurisdição, em nítida observância extensiva ao princípio da
acessibilidade ao Judiciário.
1.2 em duplo grau obrigatório ou necessário (reexame necessário – art. 475, CPC)
Entretanto, o processo não sobe ao tribunal apenas em razão de um recurso interposto pela
parte vencida. Independentemente da vontade e iniciativa das partes, a matéria decidida pelo juízo
de 1º grau, em alguns casos, pode ser reexaminada pelo tribunal por força do interesse público.
É o caso do chamado duplo grau obrigatório ou necessário; ou remessa, reexame
necessário; ou para alguns, ainda, simplesmente recurso de ofício, previsto no art. 475 do CPC.
Mas não se trata propriamente de recurso, pois veremos que este pressupõe provocação,
decorrendo do princípio do dispositivo. Portanto, é contraditório dizer recurso de ofício.
A remessa ou o reexame necessário é, na verdade, um ato administrativo vinculado e
complexo do juiz de remeter a sentença, quando desfavorável à Fazenda Pública, ao órgão
hierarquicamente superior para reexame, ficando seus efeitos condicionados à confirmação deste,
por motivo de interesse público, sob pena de o presidente do tribunal avocá-lo (§1º, art. 475).
Segundo Nelson Nery Júnior, o reexame necessário ou a remessa obrigatória, por
independer da provocação das partes, é manifestação do efeito translativo no processo civil (e não
decorrência do efeito devolutivo), o que autoriza a interposição concomitante e independente do
recurso de apelação pela parte vencida, e até mesmo a reforma para piorar (reformatio in pejus) a
situação da Fazenda Pública, em confronto com a Súm. 45 do STJ.
E é em razão dessa Súmula, que estende a proibição da reformatio in pejus para a Fazenda
Pública no reexame necessário, e da Súmula 253, da mesma Corte, que prevê, também no reexame
necessário, a aplicação do art. 557, do CPC, destinado exclusivamente para recursos, que faz com o
STJ posicione-se de forma contrária à doutrina majoritária que não reconhece o caráter recursal da
remessa ou do duplo grau obrigatório.
A par de toda essa discussão, remetemo-nos à leitura do art. 475:
“Art. 475. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de
confirmada pelo tribunal, a sentença:”
A interpretação dada pela doutrina é restritiva, no sentido de que se trata de sentença de
mérito, o que implica dizer que não se sujeita ao duplo grau necessário às sentenças terminativas.
Mas não são quaisquer sentenças de mérito, mas tão somente aquelas proferidas contra o Poder
Público, conforme os incisos que se seguem:
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I – proferida contra a União, o Estado, o Distrito Federal, o Município, e as respectivas
autarquias e fundações de direito público;
II - que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução de dívida ativa da
Fazenda Pública (art. 585, VI).
Vale lembrar que, nesse último caso do inciso II, os embargos julgados procedentes tratam-
se de decisão contrária à Fazenda, já que ela é exequente de execução fiscal. Poder-se-ia questionar
se tal previsão específica não estaria abrangida no inciso I? A resposta é não.
O legislador foi específico quanto aos embargos em execução fiscal, pois, do contrário,
poder-se-ia supor que toda vez que a Fazenda Pública sofresse uma decisão, inclusive em sede de
embargos, seja se embargante (execução contra a F.P.), seja se embargado (exec. fiscal), estaria a
referida sentença sujeita à remessa necessária. E isso não é verdade!
Nem toda decisão, em sede de embargos, contra a Fazenda Pública está sujeita à
remessa necessária. A decisão contra a Fazenda Pública quando a mesma é o embargante (exec.
contra a F.P.) não se submete ao duplo grau obrigatório simplesmente porque já houve tal
oportunidade de reexame em anterior processo de conhecimento, donde o título contra a Fazenda
foi formado. Obviamente que, nesse caso, está a falar de execução fundada em título judicial, pois,
do contrário, ou seja, se o título for extrajudicial, aplicar-se-á a remessa necessária normalmente,
porém com base no inciso I do art. 475.
Mas o legislador previu hipóteses de dispensa do reexame, como o §2º (condenação não
excedente a 60 salários mínimos), o §3º (sentença fundada em jurisprudência do Plenário do STF ou
em suas Súmulas, ou dos tribunais superiores) e MP 2.180-35, de 24.08.01 (decisão fundada em
súmula administrativa editada pelo Advogado Geral da União).2
Obs:. Quanto às ações coletivas, a LACP (Lei da Ação Civil Pública – Lei 7.347/85) não
faz previsão do reexame necessário, mas a doutrina entende cabível se a decisão for contra o
Poder Público. Entretanto, a LAP (Lei da Ação Popular – Lei 4.717/65), em seu art. 19, faz
tal previsão, mas em benefício do cidadão. Por uma interpretação analógica, aplica-se esse
regime ao reexame na ação civil pública.
2 Art. 12. Não estão sujeitas ao duplo grau de jurisdição obrigatório as sentenças proferidas contra a União, suas autarquias e fundações públicas, quando a respeito da controvérsia o Advogado-Geral da União ou outro órgão administrativo competente houver editado súmula ou instrução normativa determinando a não-interposição de recurso voluntário.
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1.3 na forma originária (ou única instância)
Nesse caso, o processo inicia-se diretamente no tribunal, sendo, portanto, excluído da
competência dos juízes de 1º grau. Tais processos de única instância assim o são em função de:
a) natureza especial da lide: é o caso da ação rescisória, que visa anular ou desconstituir uma
sentença já transitada em julgado;
b) condição da pessoa em litígio: mandado de segurança, por exemplo, que a depender da
autoridade coatora, será de competência originária do tribunal. Ex: MS contra ato de governador
de Estado.
c) razões de ordem política: ações criminais contra prefeitos.
Os processos de competência originária dos tribunais não estão sujeitos ao princípio do
duplo grau de jurisdição; eles são de única instância (≠ última instância – após interposição dos
recursos ordinários, quais sejam, daqueles cabíveis quando houver mera sucumbência). Portanto,
não desafiam esse tipo de recurso, mas tão-somente recursos extraordinários em sentido amplo (que
incluem o recurso extraordinário em sentido estrito – RE; e o recurso especial – Resp), posto que a
remessa destes ao órgão superior dá-se não apenas em virtude de mera sucumbência, mas também
em função de se resguardar o direito objetivo (normas constitucional e infraconstitucional,
respectivamente). É por isso que mais uma vez que o STF e o STJ, quando do julgamento destes
recursos, não constituem um 3º grau de jurisdição, mas graus extraordinários.
Ciente das três formas pelas quais um processo pode subir ao tribunal,
chega-se a conclusão de que a matéria a ser estudada encontra-se,
topograficamente, nos Títulos IX e X do Livro I, que trata “Do processo de
conhecimento”, do atual CPC. O Título IX cuida dos incidentes de
uniformização da jurisprudência, da declaração de inconstitucionalidade, da
homologação da sentença estrangeira e da ação rescisória; enquanto que o
Título X trata, de forma minuciosa, dos recursos cabíveis tanto das decisões de
1º quanto das de 2º grau.
2 COMPOSIÇÃO E FUNCIONAMENTO DOS TRIBUNAIS
Sabe-se que o modo de julgar ou de exercer a competência do tribunal
difere completamente em relação ao juízo de 1º grau ou singular, pois que,
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neste caso, a decisão será fruto de uma manifestação unilateral do juiz,
enquanto que, no outro, haverá uma conjugação de opiniões de seus vários
membros. Por isso, diz-se acórdão, pois deriva do verbo “acordar”.
Mas nem sempre todos os membros do tribunal participam,
conjuntamente, dos julgamentos. Na prática, há uma divisão de trabalhos e
funções que, tendo por parâmetro o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás,
conforme sua Lei de Organização Judiciária (Lei 9.129/81, modificada pela Lei
13.644/00) e seu Regimento Interno (Resolução n. 2, de 23.06.82,
recentemente alterada), podem ser assim explicitados:
a) Tribunal Pleno (art. 8º, RITJ/GO) – 36 desembargadores (des.), que se
reúnem apenas em sessões solenes para decidir questões administrativas e
por ocasião de datas festivas (eleição e posse do Presidente, Vice e Corregedor
Geral; comemorações cívicas; indicação e agraciamento com o colar do Mérito
Judiciário etc).
b) Órgão Especial (arts. 9º e 9º-A, RITJ/GO) – 17 des. mais antigos, com
atribuições ou funções atípicas (legislativas – aprovar seu RI; administrativas –
organizar e realizar concursos, organizar lista de promoção dos magistrados
etc) e típicas (processar e julgar). Antes da Lei n. 13.644/00, todas estas
atribuições pertenciam ao Pleno, inexistindo no TJ/GO Órgão Especial. Portanto,
este é de criação recente.
c) Seção (art. 10, RITJ/GO) – composta por 12 des., veio substituir às chamadas
Câmaras Reunidas, tanto Cíveis como Criminais. Elas só podem decidir com a
presença da maioria absoluta de seus membros, incluídos os Presidentes, que
são eleitos, por votação secreta, para um mandato de dois anos, na penúltima
sessão do biênio findante (mandato).
1ª Câmara Cível – 4 des. distribuídos, pela ordem de
antiguidade e
1ª Seção Cível – 12 des. de forma alternada, em 4 Turmas, com 3 des.
cada.
(art. 10, RITJ/GO) 2ª Câmara Cível – 4 des. – 4 Turmas, com 3
des. cada.
3ª Câmara Cível – 4 des. – 4 Turmas, com 3 des. cada.
2ª Seção Cível – 12 des. 4ª Câmara Cível – 4 des. – 4 Turmas, com 3
des. cada.
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(art. 10, RITJ/GO) 5ª Câmara Cível – 4 des. – 4 Turmas, com 3
des. cada.
6ª Câmara Cível – 4 des. – 4 Turmas, com 3 des. cada.
Seção Criminal – 10 des. 1ª Câmara Criminal – 5 des. – 5 Turmas, com 3
des. cada.
(art. 10, RITJ/GO) 2ª Câmara Criminal – 5 des. – 5 Turmas, com 3
des. cada.
d) Câmara Cível (arts. 12 a 15, RITJ/GO) – 4 des. distribuídos em 4 Turmas, por
ordem decrescente de antiguidade, alternativamente. Cada Câmara funciona
com a presença mínima de 3 membros, incluído o Presidente, devendo este ser
eleito dentre seus membros, também por votação secreta, para um mandato
de dois anos, na penúltima sessão do biênio findante (mandato).
e) Turma (art. 12, §1º, RITJ/GO) – 3 des., sendo um relator, um revisor e um
vogal (ordem decrescente de antiguidade – art. 12).
Exemplo: 1ª Câmara (4 des. => A, B, C, D)
1ª Turma = A (relator), B (revisor), C (vogal)
2ª Turma = B (relator), C (revisor), D (vogal)
3ª Turma = C (relator), D (revisor), A (vogal)
4ª Turma = D (relator), A (revisor), B (vogal)
Percebe-se que os desembargadores revezam-se nas Turmas, ora
atuando como relator, ora como revisor e ora como vogal.
Importante lembrar que em qualquer dos órgãos fracionados, quais
sejam, Seções, Câmaras (exceto Turmas), possuem:
a) Presidente:
O Presidente do Pleno e do Órgão Especial é o presidente do Tribunal. No
caso do Pleno, na falta do presidente do tribunal, assume o desembargador
mais antigo. Antes da lei de 2000 não era assim.
Em cada Câmara e Seção o respectivo presidente é fixo, eleito por
votação secreta para mandato de 2 anos na penúltima sessão do biênio
findante.
b) Relator (arts. 175 a 178, RITJ/GO)
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O relator é o desembargador mais importante, pois é ele quem conduz os
trabalhos, competindo-lhe ordenar as intimações; receber as contra-razões;
despachar os requerimentos das partes; delegar competência ao juízo de 1º
grau para oitiva de testemunhas ou realização de perícia; e fazer o relatório
geral do processo.
c) Revisor (art. 179, RITJ/GO)
O revisor é o desembargador que se segue ao relator na ordem decrescente de antiguidade
(art. 551, §1º, CPC e art. 179, 1ª parte, RITJ/GO).
Atua apenas no julgamento da apelação, de embargos infringentes e da ação rescisória (art.
551, caput, CPC), exceto ainda, mesmo nesses casos, se tratar de causa de procedimento sumário,
de despejo e nos casos de indeferimento liminar da petição inicial (art. 551, §3º, CPC). Obviamente
que, não atuando revisor, a Turma passará a contar com 2 vogais.
É ele quem fiscaliza os trabalhos do relator, podendo alterá-los ou não, concordando ou não
com o voto dele. Dado visto aos trabalhos do relator pelo revisor, o processo está pronto para o
julgamento (art. 551, §2º, CPC e art. 180, RITJ/GO).
Caso o revisor concorde só com o voto do relator, ou só com o do revisor, o julgamento dar-
se-á por maioria (2 a 1); caso o revisor concorde com o voto tanto do relator quanto do vogal, o
julgamento dar-se-á por unanimidade (3 a 0).
d) Vogal (art. 179, 2ª parte, RITJ/GO) - É o desembargador imediato ao revisor, se houver, ou ao
relator.
3 DA ORDEM DOS PROCESSOS NO TRIBUNAL (procedimento) – arts. 547 a 565, CPC.
A) autos recebidos e registrados no protocolo (art. 547);
B) distribuição para Câmara (se for o caso) e relator pelo princípio da publicidade,
alternatividade (1º processo – 1ª Câmara; 2º processo – 2ª Câmara e assim por diante) e sorteio (art.
548), para não haver abarrotamento de processos numa só Câmara. Cada Câmara tem uma
Secretaria, que realiza a parte administrativa, tendo o seu presidente, eleito de 2 em 2 anos;
C) conclusão dos autos ao relator, que, em 48 horas, fará a exposição dos pontos controvertidos
sobre que versar o recurso (art. 549. pu), devolvendo-os com o respectivo visto à Secretaria. O
relator analisa o objeto do processo, as razões e as contra-razões, fazendo um relatório que enviará à
Secretaria;
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D) quando funcionar, os autos vão ao revisor, que, após revisar o trabalho do relator, porá seu
visto e pedirá designação de dia para julgamento (art. 551, §2º);
E) Presidente de órgão fracionado (Seção, Câmara ou Turma) designará o dia de julgamento,
mandando publicar a pauta no órgão oficial – DJ (art. 552);
F) em casos de embargos infringentes e ação rescisória, após a devolução dos autos pelo relator,
a Secretaria expedirá cópias autenticadas do relatório a todos os desembargadores que irão
participar do julgamento (art. 553);
G) na sessão de julgamento, exceto em casos de embargos declaratórios e agravo, os advogados
das partes poderão fazer sustentação oral de suas razões, pelo prazo improrrogável de 15 minutos
para cada um (art. 554);
H) após a sustentação oral, procede-se à votação dos desembargadores, podendo qualquer deles
pedir VISTA, por uma sessão, se não estiver habilitado a proferir imediatamente o seu voto (art.
555, pu). O primeiro voto é do relator, que é proferido após a leitura do relatório. Segue-se o do
revisor, se houver, e, após, o do vogal. O julgamento da Turma ou Câmara será tomado apenas pelo
voto de 3 desembargadores, se tratar de apelação ou agravo (art. 555, caput). Todo voto tem que ser
fundamentado, salvo se um acompanha o voto do outro;
I) etapas de julgamento da matéria: primeiro, as questões preliminares ou prejudiciais, e, depois,
o mérito (art. 560).
As preliminares são aquelas que normalmente anulam o processo, extinguindo-o sem julgar
o mérito. Sendo reconhecidas, obstado ficará o julgamento do mérito, pelo que o recurso não será
conhecido. Mas pode acontecer de o recurso não ser conhecido por uma série de outros motivos,
como a ausência de pressupostos recursais, que estudaremos em momento oportuno.
Se a preliminar gerar nulidade suprível, o tribunal poderá converter o julgamento em
diligência, remetendo os autos ao juízo inferior para que o supra o vício.
Por outro lado, rejeitada a preliminar ou sendo ela compatível com a apreciação do mérito.
Prosseguirá normalmente o julgamento da questão principal, pelo que se diz ter sido o recurso
conhecido, ou seja, está pronto para ser julgado. A partir de então, poderá ele ser provido, caso em
que o acórdão substituirá a decisão do juízo de 1º grau, ou improvido, não ocorrendo tal
substituição.
J) proferidos os votos, o presidente anuncia o resultado do julgamento, devendo o acórdão ser
redigido pelo relator. Se for vencido, designa-se o autor do primeiro voto vencedor para faze-lo (art.
556);
K) o acórdão conterá ementa, ou seja, o resumo do que ficou decidido (art. 563);
L) assinado o acórdão, segue a publicação de suas conclusões no órgão oficial (DJ) em 10 dias
(art. 564). As partes serão intimadas através desta publicação.
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Obs:. O CPC tem ampliado consideravelmente os poderes do relator, dando-lhe competência para
decidir, singularmente, questões incidentais, como atribuição de efeito suspensivo ao agravo e à
apelação, quando não o tiver (art. 558, pu); negar seguimento a recurso manifestamente
inadmissível, improcedente, prejudicado ou contrário à súmula do respectivo tribunal ou tribunal
superior (art. 557) etc.
4 INCIDENTES NO TRIBUNAL
4.1 UNIFORMIZAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA
Vimos que os processos chegam aos tribunais mediante recurso, reexame necessário, ou ali
surgem em função de ser o feito de competência originária destes. Percebe-se que nos dois
primeiros casos pressupõe-se um processo já em curso, proveniente do 1º grau; e, no segundo, a
inauguração de uma relação jurídica diretamente no 2º grau.
Mas o que deve ficar claro é que num ou noutro caso podem surgir incidentes, que os
afastarão do seu curso normal até que sejam decididos, repercutindo no resultado do processo
principal.
É o caso da uniformização de jurisprudência e da declaração de inconstitucionalidade.
O Título IX do CPC peca ao elencar como “Processo nos Tribunais” tais institutos que, na
verdade, não são processos, pois que não geram a formação de nova relação processual, mas que
são meros incidentes processuais que ocorrem dentro de um determinado processo de competência
do Tribunal, que pode ser recursal, em duplo grau obrigatório ou original.
É desses incidentes que nos ocuparemos a partir de agora.
4.1.1 Conceito
Sabemos que todo juiz é livre para interpretar a lei conforme sua consciência (princípio do
livre convencimento motivado). Porém, isso pode implicar na existência das mais diversas
interpretações para uma mesma norma. Portanto, com o fito de realizar um controle sobre a forma
como as normas jurídicas são interpretadas pelos diversos órgãos judiciários, o legislador criou uma
série de mecanismos capazes de dirimir eventual divergência de interpretação.
Tais mecanismos são repressivos, ou seja, o seu cabimento dá-se quando já surgiu a
divergência, ou seja, a decisão divergente já foi prolatada. Exemplo clássico é o do recurso especial
que, no art. 105, III, c da CF, traz como hipótese para o seu cabimento a demonstração de que a
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decisão recorrida deu interpretação à lei federal divergente da que foi dada por outro tribunal. [Não
se trata aqui de instituição de súmula vinculante, cujos requisitos são totalmente diferentes e efeitos
operam-se de forma muito mais contundente, MAS mero controle da legalidade, como já foi dito,
com o fim de velar pelo direito objetivo.]
Mas há mecanismos que são preventivos, destinados a EVITAR que a divergência surja,
como é o caso do incidente de uniformização de jurisprudência.
Ademais, se há preocupação na possível aplicação do direito nacional de forma diversa entre
os tribunais (justificando a interposição de Resp), quanto o mais será se essa diversidade ocorrer
dentro do mesmo órgão jurisdicional! Há, portanto, um interesse público em manter a unidade do
direito. E não seria coerente que pessoas, residentes no mesmo local, sujeitas à mesma ordem
jurídica, recebessem tratamento diverso pelo poder jurisdicional, evitando-se que a sorte de cada
uma dependesse exclusivamente da distribuição do feito a um ou outro órgão do tribunal, cujas
interpretações são diferentes.
CONCEITO:
Consiste num incidente processual/ cabível nos julgamentos de recurso, remessa necessária
ou ação originária perante Turma, Câmara ou Seção/, por provocação dos próprios
julgadores ou por iniciativa das partes/, destinado a dirimir divergência jurisprudencial no
âmbito do tribunal/, cuja solução ou interpretação correta da norma (tese jurídica)/ dada
pelo órgão competente/ (no TJ/GO – Órgão Especial – art.378, RITJ/GO) será aplicada à
hipótese deduzida no respectivo feito, para tanto suspenso.
4.1.2 Natureza jurídica – a uniformização não é recurso, nem processo autônomo, mas mero
incidente processual, caracterizado pela clássica prejudicialidade que ele impõe ao feito principal.
Este não será julgado enquanto não se dirimir a divergência, a fim de evitar, ao final, decisões
conflitantes.
Dessa prejudicialidade decorre o fato de que, suscitado o incidente e reconhecida a
existência da divergência pelo órgão fracionado, suspenderá o julgamento do recurso, da remessa
necessária ou da ação originária, até que seja apreciado o direito aplicável à hipótese concreta, ou
seja, até que se uniformize, de fato, a jurisprudência.
4.1.3 Pressupostos:
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Do teor do disposto no art. 476 do CPC, podem-se extrair os seguintes pressupostos para o
referido incidente:
a) que haja julgamento em curso, seja de recurso, de remessa necessária ou de ação originária;
Essa conclusão decorre do fato de que, enquanto o inciso II, especificamente, prevê a
aplicação do incidente da uniformização no “julgamento recorrido”, ou seja, quando do julgamento
de recursos, o inciso I, de forma genérica e residual, contempla-o nos demais casos de competência
do tribunal, seja a originária, seja a decorrente do reexame necessário. Neste último caso, alguns
justificam a aplicação do incidente pelo fato da semelhança que o reexame guarda com os recursos.
b) que esse julgamento seja perante turma, câmara ou seção (não perante pleno ou órgão especial,
que lhe faça às vezes). Essa interpretação decorre da lei e é feita a contrario sensu. Ademais,
obviamente, não há que se falar em divergência de interpretação quando a competência estiver
concentrada nas mãos de um só órgão, pois que ele não terá com quem divergir. É o caso do Pleno
ou do Órgão Especial, onde existir, pois que suas atribuições são de sua exclusividade, não estando
distribuídos em outros órgãos da mesma natureza. A eles competirá o julgamento, e não a
suscitação, do incidente através de súmulas.
c) que haja, do mesmo tribunal, decisão em que se tenha adotado tese jurídica diferente;
É talvez o pressuposto principal, pois só se uniformiza o que se encontra divergente.
Primeiramente, deve-se entender que a divergência jurisprudencial atenha-se ao âmbito do
tribunal.
Depois, que a divergência seja de questão de direito, e não de fato, ou seja, que se
verifiquem interpretações distintas a uma mesma norma pelo tribunal (processos de subsunção
feitos diferentemente).
Porém, cumpre mencionar as mais variadas interpretações dadas pelos doutrinadores no que
tange aos dois incisos do art. 476, chegando, em alguns casos, entender que o inciso II trata de
divergência entre a decisão recorrida, ou seja, proferida pelo órgão a quo, e uma outra decisão já
proferida em segunda instância por um órgão fracionado.
Ora, isso não pode proceder, pois que desnatura o caráter preventivo do incidente de
uniformização. Se foi a decisão recorrida quem divergiu de uma decisão qualquer já proferida pelo
tribunal, presume-se, quando da subida do recurso para o julgamento pelo órgão fracionado, já
estava instalada ou configurada a divergência. Mas o objetivo é evitá-la, e não remediá-la. Portanto,
a divergência deve ser entre a iminente decisão da Turma, Câmara ou Seção, e outra decisão já
proferida por um outro órgão fracionado do mesmo tribunal.
13 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
PORTANTO, é cabível quando se verifica a IMINÊNCIA (mecanismo prévio) de surgir um
dissídio jurisprudencial entre uma ou mais decisões já proferidas pelo tribunal e a que se vai proferir
no julgamento de um recurso, reexame necessário ou processo de competência originária do
tribunal.
Mas como saber, de forma prévia, que a tese a ser adotada no julgamento será divergente da
que já tenha sido adotada por outro órgão fracionado do tribunal?
A suscitação do incidente dá-se durante o julgamento (por isso, o caput diz: “ao dar o
voto"), ocasião em que já pode haver votos proferidos (ou até mesmo não) e já se pode prever em
que sentido deva ser o acórdão, de sorte a que se possa antever a divergência final com outra
decisão que tenha sido proferida por outro órgão fracionado.
d) que seja suscitado por membro do órgão julgador, pelas partes ou pelo MP.
O incidente pode ser provocado por qualquer magistrado que esteja participando do
julgamento no órgão fracionado, de ofício, no momento adequado para que o mesmo profira seu
voto.
Pode, ainda, ser suscitado por qualquer das partes, por petição ou quando das razões do
recurso (pu, art. 476). O conceito de parte, aqui empregado, e que se encontra no pu do art. 476, é
amplo, devendo-se considerar também incluído o MP.
4.1.4 Procedimento:
ESQUEMA:
Julgm. em curso na Tur- julgador, partes, juízo de admissibi-
ma, Câmara ou Seção MP suscitam o lidade do pedido de ....
(recurso, remessa obrig. incidente uniformização
ou ação originária)
não reconhece a di-
vergência (não ad- o julgm. do feito principal segue normalmente
mite o incidente)
.....
<não cabe recurso>
14 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
reconhece a diver- lavra-se acórdão nesse sentido e remete os autos (aparta-
gência (admite o do) ao Presidente do Tribunal p/ designar o julgm. pelo
incidente) Pleno ou Órgão Especial
[Secret. distribue cópia do acór-
dão aos des. q. vão participar
suspende o feito prin- do julgm. do incidente]
cipal
não reconhece a retorno dos autos p/
divergência prosseguimento do
Pleno ou OE outro juízo de admis- julgm.
sibilidade <não cabe recurso>
reconhece oitiva do PGJ ......
maioria relativa – devolve os autos e a decisão vinculará o órgão fra-
cionário.
..... votos fundam.
DECISÃO maioria absoluta – Súmula (vincula tbm. apenas o órgão fracionário
quando do julgm. do feito principal).
não cabe recurso
cabe recurso
Suscitado o incidente pelo julgador, pela parte ou pelo MP, compete à Turma, à Câmara ou à
Seção, onde se desenvolve o julgamento, conhecer e decidir a respeito do pedido de uniformização.
Reconhecida a divergência, será suspenso o julgamento, lavrando acórdão no sentido de
admissão do incidente remetendo os autos do incidente (que são em apartado) ao Presidente do
Tribunal para designação do julgamento da uniformização pelo Órgão Especial (ou Pleno, onde este
não existir). Deverá a secretaria do tribunal distribuir, aos magistrados que irão participar do
15 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
julgamento do incidente, cópia do acórdão do órgão fracionado que reconheceu a divergência (art.
477, CPC).
Na sessão de julgamento do incidente, deve o tribunal, pelo Pleno ou Órgão Especial,
apreciar a admissibilidade do incidente, analisando a existência ou não de divergência. Entendendo
que não existe, dele não conhece, determinando a volta dos autos para o órgão fracionado a fim de
que dê o prosseguimento no julgamento. Reconhecida, cada magistrado dará seu voto sobre a tese
jurídica que lhe pareça mais acertada, devendo fundamentá-lo (art. 478, caput, CPC). Necessário se
faz, entretanto, que seja antes ouvido o chefe do MP que funciona perante o tribunal (procurador
geral de justiça – pu, art. 478). O resultado, que poderá ser por maioria relativa, vinculará apenas o
julgamento do processo onde se instaurou o incidente. Entretanto, se for por maioria absoluta, a tese
será incluída na súmula da jurisprudência dominante do tribunal, constituindo precedente na
uniformização da jurisprudência (art. 479), que não vincula nenhum magistrado, ainda que de
instância inferior, embora sirva de guia seguro do entendimento dominante do tribunal.
Obs: O mesmo não se pode dizer acerca da uniformização da jurisprudência do STF que, atendidas
as exigências (decisão de 2/3 dos membros; decisões reiteradas sobre matéria constitucional) do art.
103-A da CF, acrescido pela EC 45/04, vinculará os demais órgãos do Judiciário e a Administração
Pública, em todas as esferas da federação.
POR OUTRO LADO, não reconhecendo o órgão fracionado a divergência, prosseguirá o
julgamento do processo principal normalmente.
Da decisão do órgão fracionado, reconhecendo ou não a divergência, não cabe recurso. Da
decisão do tribunal que julga o incidente também não cabe recurso. Só há que se falar em recurso da
decisão do órgão fracionado que decidir o processo principal.
4.1.5 Uniformização de jurisprudência x mecanismo de prevenção ou composição de
divergência – art. 555, §1º, CPC (Lei n. 10.352/01)
Dispõe o art. 555, §1º, CPC:
“Art. 555 – No julgamento de apelação ou de agravo, a decisão será tomada, na câmara ou
turma, pelo voto de 3 ( três) juízes.
16 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
§1º - Ocorrendo relevante questão de direito, que faça conveniente prevenir ou compor
divergência entre câmaras ou turmas do tribunal, poderá o relator propor (que) seja o
recurso julgado pelo órgão colegiado que o regimento indicar; reconhecendo o interesse
público na assunção de competência, esse órgão colegiado julgará o recurso.”
Trata-se de um novo mecanismo preventivo de composição de divergência, mais eficiente
que o incidente de uniformização, tendo em vista que não ocorre cisão da competência, mas
assunção dela. Ou seja, o órgão indicado no regimento interno do tribunal, no nosso caso o Órgão
Especial, ASSUME (= assunção) a competência para o julgamento, não se limitando apenas a
estabelecer a tese jurídica a ser aplicada, mas julgando a causa. Com isso, esse novo instituto atende
às exigências da celeridade, economia e segurança jurídicas, fazendo com que seja mais usado, em
detrimento do tradicional incidente de uniformização.
As diferenças para a uniformização de jurisprudência clássica ficam por conta de:
a) incide apenas nos recursos, especificamente de apelação e agravo, cf. caput do art. 555.
Portanto, não cabe nas causas de competência originária do tribunal. Já no reexame
necessário, Wambier entende ser cabível segundo aquela idéia de semelhança entre este instituto e
os recursos;
b) a questão de direito deve ser RELEVANTE;
c) que a divergência entre os órgãos fracionados seja composta, ou seja, resolvida, e não só
prevenida;
d) a iniciativa é EXCLUSIVA do RELATOR, como uma espécie de preliminar de seu voto,
manifestando pela transferência da competência ao órgão colegiado que o regimento interno do
tribunal indicar. Os demais votantes devem manifestar-se quanto a esse ponto como se fosse
preliminar. Vencido o relator, mantém a competência do órgão fracionado para julgar o recurso.
Já na uniformização tradicional, a iniciativa é de qualquer julgador (relator ou não) do
recurso, da remessa ou da ação originária, ao dar o voto; das partes ou do MP.
e) o recurso, e não só o incidente, será julgado pelo órgão que o regimento interno do tribunal
indicar.
Não há, como falamos, cisão da competência: ou seja, o órgão colegiado decide não só a
questão de direito, mas o próprio recurso. Não se fixa somente a tese jurídica, mas se decide o caso
à sua luz. Não se volta ao órgão fracionado originário para se decidir o recurso, que é julgado pelo
próprio órgão colegiado.
f) o acórdão lavrado, portanto, conterá não só a questão de direito, mas também o julgamento do
próprio recurso. Por isso, ao contrário da uniformização clássica, tal acórdão será recorrível. O
17 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
recurso será o mesmo que seria cabível se o julgamento tivesse se dado sem a suscitação do
incidente.
4.2 DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE (arts. 480 a 482, CPC)
ESQUEMA ILUSTRATIVO:
CF STF ABSTRATO objeto principal: inconstituciona- ou CONCENTRADO lidade de lei ou ato normativo contra:
CE TJ’s
Juízes 1º grau – não declara inconst., mas apenas deixa de aplicar a lei ou o ato normativo no caso concreto.
CONCRETO a inconst. é um incidente, ou DIFUSO uma prejudicial do mérito Tribunais (art. 97, CF) – através do Pleno
ou do OE pode declarar, por maioria absoluta, a inconst. suscitada em processos de sua competência e em processos de competência dos órgãos fracionados (cláus. Reserva de Plenário).
mediante o incidente de declaração de inconstitucionalidade (arts. 480 a 482, CPC)
18 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
4.2.1 Introdução
Antes de estudarmos mais um incidente nos tribunais, consistente no incidente da declaração
de inconstitucionalidade, necessário que se faça uma breve incursão no nosso sistema de controle da
constitucionalidade.
Como já é sabido, a CF goza de uma supremacia em relação às outras espécies normativas,
cujo importante escudo ou sustento é a rigidez do seu texto (modificações formais na Lei Maior
devem obedecer a limites mais exigentes do que para a legislação ordinária).
Porém, pode ocorrer que a atuação abusiva dos órgãos constituídos venha desrespeitar essa
supremacia. Surge, então, a necessidade de se adotar um controle de constitucionalidade como um
instrumento de defesa da Lei Maior.
A inconstitucionalidade pode ser conceituada como a desconformidade do ato normativo
(inconstitucionalidade material) ou do seu processo de elaboração (inconstitucionalidade formal)
com algum preceito ou princípio constitucional (Clémerson Cléve).
Sabendo que a inconstitucionalidade possui uma classificação vasta, a qual é objeto próprio
do Direito Constitucional, interessa-nos no momento apenas identificar os tipos de controle
adotados no Brasil.
De acordo com a identificação dos órgãos credenciados ao seu exercício, o controle pode
ser concentrado ou difuso. No Brasil, a fiscalização é mista, pois que há mecanismos de controle
concentrado e difuso no mesmo sistema, senão vejamos:
CONTROLE ABSTRATO OU CONCENTRADO:
Nessa espécie, um só órgão, colocado na cúpula da organização estatal, está autorizado a
desempenhar o controle. É, portanto, realizável pelo STF quando houver incompatibilidade de lei
ou ato normativo com a Constituição Federal, bem como pelos Tribunais de Justiça dos Estados,
quando a incompatibilidade se der com a respectiva Constituição Estadual.
O controle abstrato é aquele que tem por objetivo principal examinar, em tese, se um ato
normativo é compatível ou não com a Constituição, independentemente da existência de
controvérsias intersubjetivas quanto ao tema.
Portanto, a inconstitucionalidade corresponde ao próprio objeto da causa, ao seu próprio
pedido, feito por pessoas especialmente previstas no rol do art. 103 da CF, no caso de ADIN
federal, e art. 60 da Constituição goiana, no caso de ADIN estadual.
19 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
A decisão proferida terá efeito vinculante aos demais órgãos judiciais e administrativos e
eficácia erga omnes (art. 28, pu, da Lei n.9.868/99).
Obs: Questão já analisada pelo STF é a da propositura de ação direta perante o Tribunal de Justiça,
quando o dispositivo da Carta local, invocado em socorro da tese de inconstitucionalidade do
normativo estadual ou municipal, reproduz dispositivo da Constituição Federal. Em casos assim, é
cabível, em tese, na via do recurso extraordinário, impugnação do acórdão do Tribunal de Justiça
que tenha julgado a ação direta, fazendo o julgado no RE coisa julgada dotada de eficácia erga
omnes. Na hipótese de ajuizamento simultâneo, perante o STF e o TJ, de duas ações diretas para
impugnar o mesmo normativo estadual, por ofensa a dispositivos idênticos das duas Cartas, o STF
tem entendido que é caso de sobrestamento da ADI estadual, a fim de aguardar o julgamento da
outra.
Mas o que nos importa, para fins de estudo do incidente da declaração de
inconstitucionalidade, é o controle concreto ou difuso.
CONTROLE CONCRETO OU DIFUSO:
Neste caso, vários órgãos (p. ex., todos os juízes e tribunais de um Estado), estão
autorizados a exercer o controle. O poder de controle, de fiscalização constitucional das leis e dos
atos normativos está pulverizada nas mãos de vários juízes, sejam de 1º ou de 2º grau.
Entretanto, deverá ele ser exercido dentro de um processo já em curso, ou seja,
incidentalmente. Haverá um controle concreto, isto é, o órgão declarará a inconstitucionalidade
da norma a fim de decidir uma demanda entre partes, ou seja, com o objetivo de resolver um
conflito de interesses. Nesse caso, poderá o aplicador negar aplicação a uma lei, invocada por
qualquer dos contendores, por se considerar tal normativo inconstitucional.
O sistema de controle difuso de constitucionalidade foi claramente inspirado no modelo
norte-americano, com a atribuição aos juízes e tribunais da competência para negarem a aplicação
ao caso concreto das leis reputadas inconstitucionais. Faltou, todavia, o reconhecimento da
eficácia erga omnes e de efeitos vinculantes para suas decisões, a exemplo do que, nos Estados
Unidos, foi chamado de stare decisis.
É, pois, um controle judicial de constitucionalidade que opera no caso concreto, no curso de
um processo. A questão da inconstitucionalidade é decidida como prejudicial de mérito,
concluindo o juiz ou tribunal se a lei acoimada de inválida deve ou não ser aplicada.
20 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
Historicamente, o controle difuso surgiu pela chamada via de exceção, pois a
inconstitucionalidade da norma legal, norma esta invocada pelo autor em socorro de sua pretensão,
era, como matéria de defesa, atacada pelo réu.
Posteriormente, passou-se a admitir também a argüição de inconstitucionalidade como
causa de pedir de alguma pretensão deduzida no pólo ativo da demanda. Tal possibilidade, hoje
indiscutivelmente reconhecida pela doutrina e pela jurisprudência, permite que o autor invoque a
tese da invalidade de normativo para ver acolhido o seu pleito em juízo.
Deve-se notar, todavia, que a pretensão do autor, nesses casos, nunca será a pura e
simples declaração de inconstitucionalidade de uma lei, mas que, por via de tal declaração,
algum direito lhe seja reconhecido. A tese da inconstitucionalidade, aqui, atua sempre como causa
de pedir, não integrando o pedido do requerente.
Por ser matéria de ordem pública, pode ser também argüida de ofício pelo juiz; porém, é
necessário verificar o pedido ou a causa de pedir às quais está vinculado, sob pena de julgar citra,
extra ou ultra petita.
É importante lembrar que a declaração de inconstitucionalidade não vem expressa no
dispositivo. Por isso, não transita em julgado, podendo outro tribunal decidir no futuro
diversamente (art. 469 – “Não fazem coisa julgada a apreciação da questão prejudicial, decidida
incidentemente no processo”).
Se a inconstitucionalidade for suscitada perante o juiz de 1º grau, entende a doutrina que
ele não poderá DECLARAR a inconstitucionalidade, mas tão-somente considerar
inconstitucional a lei ou o ato normativo e deixa de atuá-lo no caso concreto.
MAS, sendo a questão da inconstitucionalidade levada a um tribunal, em feito de sua
competência, só poderá vir a DECLARAÇÃO de inconstitucionalidade, segundo prescreve o
art. 97 da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos membros do plenário ou do órgão
especial, onde houver. Essa exigência é chamada de cláusula de reserva de plenário e impede
que órgãos da competência fracionária dos tribunais (Turma, Câmara e Seção) declarem a
inconstitucionalidade de uma lei ou qualquer outra espécie normativa.
Em virtude disso, o CPC previu um instituto capaz de fazer com que o conhecimento da
inconstitucionalidade, presente como uma prejudicial nos feitos de competência dos órgãos
fracionados, chegue ao Pleno ou do OE para a devida declaração. Este instituto é chamado de
incidente de declaração de inconstitucionalidade, que está previsto nos arts. 480 a 482 do CPC.
4.2.2 Cabimento
21 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
O incidente se instaurará toda vez que, perante o órgão fracionado, se questionar a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público, no curso de qualquer processo
de competência do Tribunal, quais sejam, nos recursos, na remessa necessária ou nos processos de
sua competência originária.
Portanto, esse incidente vai ser estudado somente no caso de processos que correm perante o
tribunal (recurso, remessa ou ação originária) e não perante o juízo de 1º grau, posto que para ele
não há procedimento previsto em lei (como se viu, o juiz não declara a inconstitucionalidade,
deixa apenas de aplicar a lei ao caso em julgamento).
4.2.3 Iniciativa da argüição incidental - Podem argüir o incidente de inconstitucionalidade:
a) qualquer das partes, inclusive as assistentes: seja o autor em sua causa de pedir; seja o réu em
matéria de defesa.
b) o MP, seja atuando como parte ou como fiscal da lei.
c) de ofício por juízes que iriam participar do julgamento do feito principal no tribunal.
4.2.4 Momento da argüição: a qualquer momento (não há preclusão em se tratando de matéria de
direito):
a) quando a iniciativa for das partes: mediante petição inicial, contestação, razões ou contra-razões
de recurso, petição avulsa, verbalmente quando da suscitação oral;
b) se for do MP: mediante parecer ou oralmente quando da manifestação perante o órgão julgador;
c) por qualquer dos juízes que integrem o órgão julgador: ex officio.
4.2.5 Procedimento – arts. 480/482.
ESQUEMA DO PROCEDIMENTO:
Julgam. de recurso, Argüição de incons- Pronunciamentoremessa ou ação ori titucionalidade Oitiva do MP do órgão julgador ... ginária em órgão fra- (partes, assist., MP ou acerca da questão cionário (T, C, S) julgador) suscitada Rejeita a argüição retoma o julgm. do oitiva de pessoas autos voltam, julgam. feito principal (art. 482, §§1º, 2º e 3º) prossegue... (não cabe recurso)
rejeita a inconstit. Acolhe a argüição lavra-se acórdão remete os autos
22 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
ao Pleno ou OE (não cabe recurso) p/ julgm. do incid. declara a inconst.
suspensão do feito principal maior. abs. (art. 97)
..... decisão final do órgão recurso (Sum. 513, STF) fracionado
vinculado à decisão do Pleno ou OE
O procedimento da declaração de inconstitucionalidade é o mesmo da uniformização da
jurisprudência. É idêntico, o que muda é só o objeto.
Argüida a inconstitucionalidade, deverá o órgão julgador ouvir o MP, que só não se
manifestará quando tiver sido ele próprio a suscitar a questão. (art. 480).
Após a manifestação do MP, pronunciar-se-á o órgão fracionário sobre a questão
suscitada, seja pelas partes ou seus assistentes, seja pelo MP ou por um dos julgadores. Poderá ele
adotar duas posições:
a) REJEITAR a argüição de inconstitucionalidade : caso em que a tramitação do feito principal
será retomada imediatamente.
Obs: qtº a uma possibilidade específica de rejeição:
O órgão fracionário poderá rejeitar a argüição do incidente quando já houver
pronunciamento do Pleno ou do OE ou do Plenário do STF sobre a inconstitucionalidade
suscitada (art. 481, pu).
Este parágrafo único, que foi acrescentado ao art. 481 pela Lei n. 9.756/98, estabelece uma
hipótese de exclusão do cabimento do incidente em estudo, cuja inconstitucionalidade é
apontada por Alexandre Câmara por violar o princípio do contraditório. Isso pois que a decisão
já proferida num processo não pode produzir efeitos sobre outro, onde as partes são diferentes
e não tiveram oportunidade de influir na formação da decisão paradigmática.
É importante ressaltar que a decisão-paradigma foi proferida em controle difuso, pelo
Pleno ou OE, ou pelo Plenário do STF, o que implica dizer que não há eficácia erga omnes, mas
sim intra partes. Qualquer conclusão em contrário acabaria por estabelecer uma confusão entre os
sistemas concentrado e difuso de constitucionalidade.
23 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
Ademais, permitir que o órgão fracionário, ao rejeitar a argüição, declare a
inconstitucionalidade da norma, ainda que com base em pronunciamento anterior do Pleno (ou
OE) do Tribunal ou do STF, viola a cláusula de reserva de Plenário, prevista no art. 97 da CF.
b) ACOLHER a argüição de inconstitucionalidade : quando, então, suspende-se o julgamento do
feito principal e será lavrado acórdão, a fim de se submeter a questão ao Pleno ou ao OE.
O acolhimento da argüição pelo órgão fracionário não implica em declaração de
inconstitucionalidade, mas tão-somente o reconhecimento que há uma incompatibilidade entre a lei
ou ato normativo e a Constituição. Essa incompatibilidade será declarada pelo Pleno ou OE. Na
verdade, ao órgão fracionário parece ser inconstitucional a norma que incide sobre o caso concreto.
Submetida a questão ao Pleno ou ao OE, este deliberará acerca da constitucionalidade
ou não da lei ou ato normativo.
Porém, antes do julgamento do incidente, conforme preceitua os §§1º, 2º e 3º do art. 482,
o MP, os titulares direito de propositura [leia-se: legitimados para ajuizar ADIN – art. 103, CF;
crítica: não faz sentido permitir tal intervenção em um processo que se busca resolver conflitos
interindividuais, tendo o incidente por escopo verificar se é caso de aplicar ou não a norma em um
caso concreto], bem como outros órgãos ou entidades admitidos pelo relator, em virtude da
relevância (questão constitucional relevante?) da matéria e a representatividade das partes, podem
se manifestar.
Os três parágrafos do art. 482 têm o nítido propósito de permitir que se possa obter, antes
do julgamento do incidente, a manifestação de todos aqueles que, de algum modo, manifestem
interesse na questão constitucional suscitada.
A inconstitucionalidade deverá ser declarada apenas mediante o voto da maioria absoluta
de seus membros.
A decisão, que também será irrecorrível, terá efeito vinculante em relação ao órgão
fracionário, o qual, ao retomar o julgamento do feito principal, deverá acatar a solução da
questão prejudicial.
ESSA DECISÃO DO ÓRGÃO FRACIONÁRIO, TODAVIA, PODERÁ SER
ATACADA POR VIA DE RECURSO, CF. DISPÕE A SÚMULA 513 DO STF (“A decisão que
enseja recurso ordinário ou extraordinário não é a do plenário, que resolve o incidente de
Da decisão que rejeitar ou acolher a argüição ou a suscitação
de inconstitucionalidade não caberá qualquer recurso.
24 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
inconstitucionalidade, mas a do órgão – Câmaras, Grupos ou Turmas, que completa o julgamento
do feito.”).
Percebe que houve uma cisão da competência, pois que ao Pleno ou OE coube decidir da
inconstitucionalidade da lei e ao órgão fracionário coube decidir o feito à luz do que tiver sido
decidido pelo Pleno ou OE.
5 AÇÕES DE COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO TRIBUNAL
5.1 HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA (arts. 483 a 484, CPC)
5.1.1 Conceito e natureza jurídica
Homologar não é dar eficácia, mas reconhecer para que se produzam efeitos. No caso, é
tornar igual, dar as mesmas condições à sentença estrangeira como se daria aquela que fosse
proferida no Brasil. É ato formal do reconhecimento da sentença estrangeira, em função do qual a
sentença adquire eficácia no território nacional.
A homologação não é incidente, nem recurso, muito menos remessa obrigatória, mas ação
de competência originária do STJ (por força do art. 105, I, i, CF, cuja nova redação foi dada pela
EC n. 45/04). Tal ação é de conhecimento, em que se busca obter sentença constitutiva, pois que,
25 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
com a homologação, a sentença produzirá efeitos (nascerá p/ o futuro executado uma nova relação
jurídica).
Obviamente que o efeito será constitutivo se houver homologação, pois, do contrário, ou
seja, se o STJ não homologar, indeferindo o pedido do autor, o efeito é meramente declaratório
negativo.
5.1.2 Requisitos
Ao apreciar o pedido de homologação, o órgão competente (no caso, o STJ) não deverá
julgar, novamente, a demanda original, já julgada pelo tribunal estrangeiro, mas tão-somente
apreciar a presença dos requisitos necessários para que se homologue a sentença alienígena.
Tal apreciação é chamada de “juízo de delibação” (sentido denotativo – “provar com os
lábios”) e os requisitos são os constantes no art. 15 da LICC (Lei de Introdução ao Código Civil),
quais sejam:
a) houver sido a sentença estrangeira proferida por juiz (juízo) competente: cabe ao STJ verificar
tão-somente se a sentença é proveniente de países que pudessem, na hipótese, exercer função
jurisdicional, ou seja, se trata de competência concorrente ou cumulativa, pois, do contrário, sendo a
competência exclusiva do Brasil, não há que se falar em homologação de sentença estrangeira.
Mas qual seria a diferença entre elas?
Sabe-se que a jurisdição é uma função soberana do Estado, ao lado das funções legislativa e
executiva. A princípio, deveria ser exercida ilimitadamente, podendo submeter à apreciação do
Judiciário causas de quaisquer natureza, independentemente da nacionalidade das partes e de onde o
fato ou ato fora praticado.
Entretanto, se assim considerasse, dois Estados, igualmente soberanos, entrariam num
conflito intolerável para à boa convivência internacional. Sendo assim, a jurisdição deverá ser
delimitada, assim como já o é internamente dentro dos limites do território nacional. Essa
delimitação traça linhas divisórias da jurisdição do Estado em face da jurisdição de outros Estados,
estabelecendo, assim, a chamada competência internacional.
Está ela prevista na LICC, em seu art. 12, cuja regra foi reproduzida e ampliada pelo Código
de Processo Civil, nos seus arts. 88 e 89. Da leitura destes, percebe-se que a competência
internacional pode ser cumulativa ou concorrente, que é aquela em que pode ser tanto no Brasil ou
no estrangeiro, ou seja, a causa pode ser proposta aqui ou no exterior (art. 88, CPC); ou exclusiva,
pois há causas que só podem ser propostas perante autoridades judiciárias brasileiras. Se propostas
no estrangeiro, o Brasil não as reconhecerá (art. 89, CPC).
26 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
Convém reiterar, portanto, que só sobre as causas de competência concorrente ou cumulativa
que recairá homologação de sentença estrangeira.
b) terem sido as partes citadas ou haver-se legalmente verificado a revelia: há um equívoco na
redação da norma contida na LICC já que a conjunção ou dá a falsa impressão de que poderia haver
revelia sem prévia citação.
Na verdade, quer dizer que, tendo havido citação, ocorrer a revelia. Trata-se de requisito
decorrente da garantia constitucional do contraditório, não se podendo admitir a homologação de
sentença proferida em processo que não tiveram, ao menos, oportunidade de participar os sujeitos
que estão submetidos aos efeitos da sentença homologanda.
c) ter a decisão estrangeira transitado em julgado e estar revestida das formalidades necessárias para
que produza efeitos no país em que foi proferida: homologar sentença ainda não transitada em
julgado seria permitir a produção de efeitos, no Brasil, de ato estatal estrangeiro ainda sujeito a
modificação (reforma ou invalidação). Não se exige, porém, que a sentença estrangeira seja
irrecorrível, mas tão-somente que tenha já passado em julgado.
Exige, ainda, nosso ordenamento que a sentença estrangeira esteja revestida das
formalidades necessárias para que produza efeitos em seu país de origem. Se fosse aqui, no Brasil,
tais formalidades seriam que a sentença fosse proferida por um juiz investido de jurisdição,
competente, que ela fosse fundamentada etc.
d) estar traduzida por intérprete autorizado: precisar estar a sentença homologanda traduzida por
intérprete autorizado (tradutor juramentado), porque não se pode exigir que os membros do STJ
conheçam todos os idiomas estrangeiros.
e) não ofender a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes (art. 17, LICC): sob pena
de vulnerar a própria ordem jurídica e política. Trata-se do reconhecimento de um ato de império de
um Estado soberano por outro também Estado soberano.
5.1.3 Cabimento ou objeto de homologação
Atualmente é cabível o pedido de homologação de toda e qualquer sentença que seja
proferida no estrangeiro, desde que o respectivo tribunal (leia-se tbm: juízo monocrático – interpret.
extensiva) esteja investido de competência concorrente ou cumulativa.
27 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
Porém, nem sempre foi assim. Da dicção do art. 15, parágrafo único da LICC, nota-se que
foi feita distinção, para fins de cabimento, das sentenças meramente declaratórias do estado das
pessoas.
Entretanto, o art. 483 do CPC, ao tratar da homologação de sentença estrangeira, não fez tal
distinção, exigindo a homologação para que qualquer sentença estrangeira possa produzir efeitos
entre nós.
Tal contradição de ambas as leis se deve ao fato de que, quando da entrada em vigor da
LICC, em 1942, a CF de 37 conferia ao STF a competência para a homologação de sentenças
estrangeiras, enquanto a CF de 46, que a ela é posterior, fala em homologação das sentenças
estrangeiras, deixando claro, portanto, que TODAS elas precisam ser homologadas para que
produzam efeitos no Brasil.
Conclui-se, no caso, que o respectivo dispositivo da LICC não foi recepcionado pela CF de
46, nem pelas que se seguiram, pois que reproduziram a referida regra. Eivada está, portanto, de
inconstitucionalidade superveniente.
Por outro lado, o art. 35 da Lei de Arbitragem (Lei n. 9.307/96) expressamente prevê a
produção de efeitos no Brasil de decisões proferidas em processos arbitrais estrangeiros quando
observado o procedimento ora em estudo.
Todavia, duas situações têm que ser analisadas:
1ª) há países em que se exige, para que a decisão arbitral produza efeitos, que seja a mesma
homologada judicialmente (v.g., na Itália, e no Brasil antes da Lei n. 9.307/96). Neste caso, dever-
se-á homologar no Brasil a sentença judicial estrangeira que, por sua vez, conferiu eficácia à
decisão arbitral;
2ª) já outros países não fazem tal exigência. Neste caso, não será possível, por óbvio, homologar
uma sentença que nem foi proferida, que não existiu por dispensada. Para esta hipótese é que o art.
34 veio prever a homologação da própria decisão arbitral. Alguns têm a considerado
inconstitucional, pois o art. 102, hoje 105, da CF não fez tal previsão.
De qualquer modo, o que deve ficar bem claro é que será objeto de homologação pelo STJ
qualquer ato que tenha características, conteúdo e efeitos típicos de uma sentença que,
normalmente, seria proferida no território nacional. Basta que possa ser executada.
5.1.4 Iniciativa para a ação: a legitimidade ativa para esta demanda pertence tanto àquele que foi
vencedor no processo em que se prolatou a sentença homologanda, como ao vencido, bem assim
seus sucessores e terceiros que possam vir a ser atingidos pela eficácia da sentença.
28 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
Impende observar que, em se tratando de iniciativa pelo vencedor ou pelo vencido, não há
necessariamente coincidência nos pólos ativos ou passivos com relação à demanda original.
Isso por que, por exemplo, pode acontecer de o autor ser vencido na demanda original e o
réu, como vencedor, ter a iniciativa para a ação de homologação, pois será, teoricamente, o mais
interessado. Nesse caso, o autor da ação de homologação não será o autor do processo primitivo.
Portanto, não pode haver tal confusão: tratam-se de relações processuais totalmente diferentes.
5.1.5 Procedimento
Considerando ser recente a alteração da competência (do STF para o STJ) para a
homologação de sentença estrangeira, feita pela EC 45, que entrou em vigor em 31/12/04, a base
legal que orienta o respectivo procedimento continuará a ser, por enquanto, o Regimento Interno do
STF (arts. 218 a 222). Mas, provavelmente, a alteração do regimento do STJ, inserindo tais regras
procedimentais, não será tão substancial.
Pois bem.
Proposta a ação e estando em termos a petição inicial, deverá ser determinada a citação do
demandado para contestar em 15 dias. Se o demandado residir no território nacional, sua citação
faz-se via carta de ordem; se reside no estrangeiro, via carta rogatória. Era competente para o feito o
presidente do STF, o qual atuará monocraticamente.
A contestação só poderá versar sobre a autenticidade dos documentos, a inteligência da
sentença (se é compreensível) e observância dos requisitos exigidos pela LICC para a homologação.
Não se admite qualquer discussão sobre o objeto do processo onde se prolatou a sentença
homologanda, pois que já transitou em julgado.
Permanecendo revel o demandado ou sendo pessoa incapaz, ser-lhe-á nomeado curador
especial.
Oferecida a contestação, poderá o demandante falar em réplica, no prazo de 5 dias.
Apresentada ou não, em seguida, manifestar-se- á o Procurador-Geral da República, que terá prazo
de 10 dias para apresentar o seu parecer.
Não havendo impugnação à pretensão de homologação por parte do réu, do curador especial
ou do PGR, o presidente do STF julgará o pedido. Da sua decisão caberá agravo regimental no
prazo de 5 dias, pois que se trata de previsão do Regimento, bem como de decisão monocrática.
Porém, tendo havido impugnação, deverá o processo ser distribuído ao Plenário do STF,
onde será julgado, cabendo ao relator (e não mais ao Presidente) a prática de todos os atos
29 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
ordinatórios e instrutórios. Da decisão do Plenário, obviamente, não cabe qualquer recurso, pois que
se trata de decisão soberana e última.
Uma vez homologada a sentença estrangeira, esta se converte em título executivo judicial,
sendo competente para o processo de execução o juízo federal de 1º grau (art. 109, X, CF – o qual
não sofreu modificação).
ESQUEMA:
Ação de homologação revel (curador esp.) Contestação ....
de sent. estrangeira Citação menor incapaz (conteúdo limitado)
(vencedor, vencido, réu (15 dias)
sucessores ou 3ºs)
do Pres. do STF
(não houve impugn. do Agravo regimental
.... Réplica réu, curador ou do PGR) (se negar a homol. )
do autor PGR (10 dias) Decisão
(5 dias) do Plenário do STF Irrecorrível
(houve impugnação)
5.2 AÇÃO RESCISÓRIA
5.2.1 Conceito e natureza jurídica
A formação da coisa julgada tem o efeito de sanar todas as invalidades do processo,
impedindo, inclusive, qualquer nova discussão sobre a matéria já decidida.
Há casos, porém, em que, no momento do trânsito em julgado da sentença, surge um novo
tipo de vício, que enseja a sua rescisão, com a desconstituição da coisa julgada e o conseqüente
30 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
rejulgamento da matéria. São os vícios da rescindibilidade, previstos num rol taxativo de nove
incisos do art. 485 do CPC.
Por tudo isso, pode-se definir ação rescisória como sendo“a ação por meio da qual se pede
a desconstituição da sentença transitada em julgado, com eventual rejulgamento, a seguir, da
matéria julgada” (José Carlos Barbosa Moreira).
O julgamento da rescisória, então, divide-se em duas fases:
- juízo rescindente (iudicium rescindens) – ocorre com todas ações rescisórias; nela julga-se o
pedido de rescisão da decisão atacada.
- juízo rescisório (iudicium rescissorium) – procedente que seja o pedido de rescisão, julgar-se-á
novamente aquilo que fora objeto de apreciação pela decisão rescindida. Exceção: quando a
rescisória se fundar no inciso IV (sentença rescindenda ofender a coisa julgada), porque permitir o
rejulgamento implica em reiteração de ofensa à coisa julgada anterior.
Quanto à natureza, pode-se afirmar que a ação rescisória não é recurso, porque só é cabível
após a formação da coisa julgada, e recurso surge na mesma relação processual em que se proferiu a
decisão atacada. Ela faz surgir processo novo, distinto daquele em que foi proferida a decisão que se
pretende rescindir (chamada de decisão rescindenda). Mas, por se prestar a atacar decisões judiciais,
não obstante pressupondo relação jurídica processual nova, autônoma, diz-se, então, se tratar de
ação autônoma de impugnação.
Conclui-se, assim, que a ação rescisória tem natureza de ação de conhecimento, cuja
decisão, se proferida no juízo rescindente, será constitutiva negativa (ou simplesmente
desconstitutiva), e se proferida no juízo rescisório, será declaratória, condenatória ou constitutiva
(positiva ou negativa), a depender da matéria contida na causa primitiva.
5.2.2 Cabimento
Diz o caput do art. 485 do CPC que “a sentença de mérito, transitada em julgada, pode ser
rescindida quando: (...)”.
Traz o referido artigo nove hipóteses de rescindibilidade da sentença de mérito transitada em
julgado, ou seja, situações ou vícios que autorizam a rescisão daquela sentença que extinguiu o
processo com julgamento do mérito (art. 269) e sobre a qual já pesa os efeitos da coisa julgada
material3.
3 Coisa julgada, segundo o art. 467, é a eficácia que torna imutável e indiscutível a sentença, dentro do mesmo processo se se tratar de coisa julgada formal, ou até mesmo fora do processo se se tratar de coisa julgada material.
31 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
Pela dicção do dispositivo, pode-se, desde logo, concluir que não se rescinde sentença
terminativa, ou seja, aquela que extingue processo sem julgamento do mérito (art. 267), pois sobre
estas pesa apenas a coisa julgada formal.
A propósito, é bom frisar que também não é qualquer sentença de mérito que pode ser
rescindida, mas apenas aquelas que tenham transitado em julgado (no caso, materialmente). Antes
do trânsito em julgado, elas são apenas nulas ou anuláveis; mas, depois, o vício é sanado, podendo
ser agora só rescindido.
Outra observação que deve ser feita com relação a esse caput é que o melhor seria se o
legislador tivesse dito decisão de mérito transitada em julgado, porque não só a sentença pode gozar
de tal status, mas também os acórdãos definitivos e, até mesmo, as chamadas decisões
interlocutórias de mérito (Ex: a decisão que exclui um dos litisconsortes da relação jurídica
processual principal, a qual continuará com os demais litigantes). Portanto, o legislador disse menos
que queria, devendo, aqui, o aplicador utilizar-se de uma interpretação extensiva.
Ademais, é bom lembrar que a coisa julgada, passível de rescisória, pode ser aquela que se
operou pela inércia do recorrente, o que implica dizer que não há que se falar, necessariamente, em
esgotamento da via recursal (Súm. 514, STF).
Feita tais considerações introdutórias, passaremos para a análise de cada hipótese de
rescindibilidade contida no art. 485, a saber:
I – se verificar que foi dada por prevaricação, concussão ou corrupção do juiz;
É o famoso “juiz peitado” do CPC de 39, que corresponde a juiz subornado. Os crimes de
prevaricação, concussão e corrupção passiva encontram-se tipificados, respectivamente, nos arts.
319, 316 e 317 do Código Penal Brasileiro.
Não há necessidade de que o juiz tenha sido condenado previamente na esfera criminal,
cabendo ao juízo competente para a ação rescisória verificar, de forma independente, se ocorreu
algum daqueles ilícitos para que a decisão seja rescindida.
Mas sendo condenado penalmente, a decisão condenatória terá influência sobre o juízo da
rescisória, que não poderá julgar improcedente o pedido de rescisão por entender não ter ocorrido o
ilícito.
Só não haverá comunicabilidade das instâncias se a sentença penal for absolutória por
imaterialidade do fato, ficando o tribunal livre par apreciar a ocorrência ou não da causa de rescisão
da decisão.
32 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
Convém afirmar que, não obstante a causa tramite no tribunal, o relator da rescisória poderá
expedir carta de ordem para o juiz, acusado de ter decidido com prevaricação, concussão ou
corrupção passiva, colha provas (art. 492).
Questão interessante que se coloca é saber se o acórdão é também rescindível quando um
dos magistrados, que participou do julgamento colegiado, tiver praticado algumas dessas infrações?
A resposta é afirmativa se a decisão tiver sido por unanimidade, ou, se por maioria, o seu voto for
vencedor. Aplica-se, aqui, o princípio do prejuízo, entendendo-se que não há invalidade se o ato
processual não prejudicou a parte a quem aproveitaria o reconhecimento do vício.
II – proferida por juiz impedido ou absolutamente incompetente;
É de se notar que há um erro de redação nesse inciso, que se refere a “ juiz absolutamente
incompetente”, quando o certo é incompetência do juízo.
Assim sendo, percebe-se que apenas o impedimento, e não a suspeição, gera
rescindibilidade, pois o sistema processual vigente o considera mais grave. É de se notar que,
quanto às decisões proferidas por órgão colegiado, aplicam-se as mesmas observações feitas para a
hipótese do juiz peitado.
Quanto à incompetência, apenas a absoluta é causa de rescindibilidade, pois que a relativa é
prorrogada, sanada, quando da inércia do demandado, inexistindo qualquer vício que pudesse
fundamentar o pedido de rescisão.
III – resultar de dolo da parte vencedora em detrimento da parte vencida, ou de colusão entre as
partes, a fim de fraudar a lei;
Há, neste dispositivo, duas hipóteses distintas a considerar: o dolo da parte vencedora e a
colusão processual das partes.
No primeiro caso, ocorre dolo quando a parte, faltando com o dever de lealdade e boa-fé,
tiver impedido ou dificultado a atuação do vencido, o que acabou por influenciar a formação da
convicção do juízo, afastando-o da verdade. Portanto, é fundamental que o resultado final do
processo tenha sido em razão do dolo, sem o qual poderia ter sido diverso.
Não se enquadra neste caso a produção de prova que se sabia falsa, pois esta permitirá a
rescisão com base no inciso IV, o qual dispensa a apreciação da intenção de quem a produziu.
É bom que se diga que ao dolo da parte vencedora se equiparam o dolo do seu representante
legal e o de seu advogado.
Hipótese diversa, mas que mereceu tratamento no mesmo dispositivo, é a da colusão ou
conluio processual.
33 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
A colusão processual é o fato consistente na utilização do processo pelas partes para praticar
ato simulado ou atingir fim ilícito (art. 129, CPC). Exemplo é o homem casado que pretenda doar
um bem a sua amante, o que é vedado pela lei. Utilizam-se, então, de um artifício, propondo ela
uma demanda de reconhecimento de propriedade do imóvel, e ele reconhece a procedência do
pedido.
Segundo o art. 129 do CPC, o juiz, nesse caso, proferirá decisão que impeça a intenção das
partes, extinguindo o processo sem julgamento do mérito, por exemplo.
Mas se, porventura, o juiz não verificar a colusão no curso do processo original, permite o
art. 485, inciso III, a rescisão da sentença mediante pedido do Ministério Público4 (art. 487, III,
alínea "c").
IV – ofender a coisa julgada;
Ofende a coisa julgada a decisão que decide demanda idêntica àquela que gerou a sentença
firme, ou seja, aquela em que já pesava, em primeiro lugar, a coisa julgada.
Da mesma forma, haverá ofensa à coisa julgada ainda que a segunda demanda trate de
questão diversa, porém, subordinada àquela proposta na primeira. Ex: se uma sentença declarou
inexistente uma obrigação de pagar dinheiro, ofende a coisa julgada sentença posterior que
determine o réu a pagar os juros devidos em razão daquela obrigação.
Um problema pode surgir se a ação rescisória não for proposta dentro do prazo legal 5,
coexistindo, nesse caso, duas coisas julgadas. Como tal situação não pode ser admitida, tem-se
entendido que a segunda sentença prevalece sobre a primeira, respeitando-se, porém, os efeitos que
aquela tenha produzido, em aplicação da regra de eficácia da norma jurídica no tempo, segundo a
qual norma posterior prevalece sobre a norma anterior (sendo a decisão considerada a norma no
caso concreto - norma individual).
V – violar literal disposição de lei;
Este inciso tem a sua redação muito criticada em virtude de resumir o direito ao texto frio da
lei, sendo a interpretação literal a menos satisfatória dentre os processos de interpretação. Melhor
seria, segundo os doutrinadores, se tivesse dito "violar lei em tese", o que deve ser entendido em
sentido amplo, a abranger lei constitucional, complementar, ordinária, delegada, medida provisória,
e, para alguns como Pontes de Miranda, até mesmo principio, bem como lei material e processual.
4 Para Luís Eulálio Vidigal, só o Ministério Público é legítimo para propor ação rescisória fundada no inciso III, 2ª parte. Mas, segundo Alexandre Câmara, não se está aqui diante de caso de legitimidade exclusiva do Ministério Público, podendo a ação rescisória fundada na colusão ser proposta por qualquer das partes do processo original, ou ainda por um terceiro juridicamente interessado.5 Para alguns a solução seria considerar que o prazo não estaria sujeito à decadência, podendo exercer o direito à rescisão a qualquer tempo. Porém, esta posição esbarra no direito positivo atual, sendo colocado como uma questão de lege ferenda (a ser legislada no futuro).
34 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
Segundo o STF (Súm. 343), considera-se violação literal de disposição de lei aquela decisão
que tenha se baseado em texto legal de interpretação pacífica nos tribunais. Isso significa dizer que
se ainda há controvérsia entre os tribunais acerca da melhor interpretação de uma lei, em qualquer
sentido que for a decisão, não terá ela o condão de violar a lei sobre a qual se funda.
VI – se fundar em prova, cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou seja provada
na própria ação rescisória;
Tem que ser prova que, por si só, alteraria a decisão; em outras palavras, a prova tem que ter
sido o sustentáculo da decisão, não se admitindo a sua rescisão se foi proferida por outro
fundamento.
A falsidade da prova pode ser apurada no próprio processo da ação rescisória,
independentemente de anterior declaração de falsidade no processo original, a qual não se vincula,
salvo se decorrente de incidente de argüição de falsidade, cuja decisão tenha transitado em julgado.
Por outro lado, se a falsidade foi apurada e declarada em processo criminal (seja ele
condenatório ou não - ex: processo de habeas corpus ou de revisão criminal), o tribunal terá que
considerar necessariamente a prova como falsa. A defesa do réu da rescisória, neste caso, só poderá
se fundar em que a prova falsa não era o fundamento único da sentença rescindenda.
VII – depois da sentença, o autor obtiver documento novo, cuja existência ignorava, ou de que não
pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável;
Documento novo não é aquele que surgiu depois da formação da coisa julgada, mas sim
aquele que só nesse momento foi obtido, pois que à época da decisão, embora já fosse existente, não
foi utilizado em virtude de ser desconhecido ou de ter sido impossível a sua utilização (sem culpa
daquele que caberia produzí-lo).
A expressão "depois da sentença" tem que ser entendida como depois do último momento
em que seria lícito à parte utilizar o documento no feito, mas que não o fez pela sua impossibilidade
ou desconhecimento.
Tal momento não seria exatamente após a sentença, contra qual poderá caber recursos
comuns, ou seja, recursos que devolvem discussão não só de matéria de direito como de fato, mas
após o exaurimento destes. Isso porque na ocasião da devolução da matéria de fato é possível ainda
juntar documento novo a fim de alterar a decisão. Assim, se na pendência dos recursos comuns,
ainda não for possível utilizar-se do documento ou ainda não conhecê-lo, será possível rescindir a
decisão que transitar em julgado com base nesse inciso.
35 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
E mais: não é qualquer documento, mas aquele que, por si só, altere a decisão, possibilitando
a sua rescisão.
Por fim, convém mencionar também que "documento novo" se refere a fatos já alegados no
processo original, pois os não alegados estão cobertos pela força preclusiva da coisa julgada.
VIII – houver fundamento para invalidar confissão, desistência ou transação, em que se baseou a
sentença;
Primeiramente, a referência à "confissão" deve ser interpretada extensivamente para
abranger também o reconhecimento do pedido, porque este pode acarretar também a prolação de
sentença definitiva (art. 269, II).
Por outro lado, onde se diz "desistência", leia-se "renúncia", pois esta é que gera sentença
definitiva (art. 269, V), e não aquela (art. 267, VIII).
Portanto, o verdadeiro sentido deste inciso é o de permitir a rescisão da sentença quando
houver fundamento para invalidar confissão, reconhecimento do pedido, renúncia ou transação em
que se tenha baseado a sentença.
Entretanto, nestas hipóteses, o juiz limita-se a homologar o ato das partes, sendo caso,
portanto, de ação anulatória (art. 486), e não de ação rescisória.
Para compatibilizar estes dois dispositivos (arts. 485, VIII e 486), tem-se adotado a seguinte
interpretação: o remédio adequado será ação anulatória se ainda não tiver ocorrido o trânsito em
julgado da sentença homologatória; caso contrário, a única saída será a ação rescisória.
IX – fundada em erro de fato, resultante de atos ou documentos da causa.
Esta causa de rescindibilidade é oriunda do direito italiano, sendo tal inciso melhor traduzido
da seguinte forma: "fundada em erro de fato que transparece (emerge) dos autos (e não atos) e
documentos do processo".
Segundo o CPC, no §1º do art. 485, há erro quando a sentença admitir fato, que existiu,
como inexistente, ou, vice-versa, admitir o fato inexistente como ocorrido.
Além disso, diz o §2º que sobre o fato não pode ter havido controvérsia e, tampouco,
provimento judicial.
Ora, como pode haver erro se não houver sequer pronunciamento judicial sobre o fato, o
qual não foi nem mesmo objeto de controvérsia?
Primeiro: fato incontroverso é aquele que não foi impugnado (Ex: quando houver revelia).
Segundo: o juiz, nesse caso, não tendo atentado para as provas e documentos trazidos nos
autos, silenciou-se sobre o fato, chegando com relação a ele a conclusões alheais à realidade.
36 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
5.2.3 Legitimidade (art. 487)
a) ativa:
- qualquer daqueles que tenha sido parte do processo onde se proferiu a sentença rescindenda, e
seus sucessores a qualquer título (singular ou universal);
- o terceiro juridicamente interessado: ou seja, aquele que esteve ausente do processo principal,
estando, portanto, fora dos limites subjetivos da coisa julgada, embora dele devesse ter participado.
- o Ministério Público: quando obrigatória a sua intervenção, não foi ouvido no processo original; e
quando a ação rescisória for fundada no inciso III, 2ª parte (colusão processual).
b) passiva: todos aqueles que tenham sido partes no processo original e não fiquem no pólo ativo
da rescisória. Convém lembrar que o réu da rescisória não será necessariamente o do processo
original. Se o autor for o MP, serão réus da ação rescisória todas as outras partes.
5.2.4 Procedimento (arts. 488 a 494, CPC)
- competência: a ação rescisória é de competência originária dos tribunais, que a julgarão quando
propostas contra as decisões do 1º grau de jurisdição, bem como contra as suas próprias decisões.
- petição inicial: observará os requisitos do art. 282, além do pedido de rescisão (juízo rescindente)
e, se for o caso, do de novo julgamento (juízo rescisório).
A petição deverá conter também a comprovação do pagamento do depósito obrigatório de
5% sobre o valor da causa, o qual será revertido para o demandado se o pedido for, por
unanimidade, julgado improcedente ou se o processo for extinto sem julgamento do mérito (a sua
natureza é, portanto, de multa). Do contrário, poderá o demandante levantar o depósito ao final do
processo.
São dispensados de efetuá-lo: a União, os Estados, o DF, os Municípios, os beneficiários da
Justiça Gratuita, o Ministério Público e, agora, por força do art. 24-A da MP 2.180-35, as fundações
e autarquias da União e a Caixa Econômica Federal em causa de FGTS.
- não há suspensão dos efeitos da decisão rescindenda enquanto não julgada a ação rescisória, salvo
mediante ação cautelar (fumus boni iuris e periculum in mora) ou antecipação de tutela. A MP
2.180-35, que é de 2001, em seu art. 15, esvaziou essa possibilidade de se buscar a suspensão da
decisão rescindenda, tendo em vista que agora ela tornou-se expressa.
37 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
- distribuição da petição a um relator, que poderá:
indeferí-la: nos casos do art. 295 ou se faltar o depósito;
deferí-la: mediante despacho, ordenando a citação do demandado e fixando prazo para que
este ofereça resposta, o qual não poderá ser inferior a 15 e superior a 30 dias.
- resposta do réu: contestação, exceção ou reconvenção, desde que contenha também demanda
rescisória.
- o rito é ordinário: providências preliminares (julgamento antecipado da lide, p. ex) => audiência
preliminar (possibilidade de conciliação - art. 331) => saneamento do processo, fixando o juiz os
pontos controvertidos e deferindo as provas que serão produzidas => instrução (pode determinar
que sejam colhidas provas na comarca onde devem ser produzidas) => alegações finas (prazo
sucessivo de 10 dias para cada parte) => julgamento (1º - juízo rescindente; 2º - juízo rescisório, se
for o caso).
- recursos: não cabem apelação, agravo (retido e de instrumento) e recurso ordinário constitucional.
Mas cabem embargos de declaração, agravo regimental da decisão do relator; embargos
infringentes (decisão não-unânime que tenha julgado procedente pedido da ação rescisória) e
recursos especial e extraordinário.
5.2.5 Prazo
É de dois anos após o trânsito em julgado da decisão. É decadencial (portanto, não se
suspende nem se interrompe) porque o direito à rescisão é um direito potestativo (gerando uma
decisão desconstitutiva).
Ultrapassados os dois anos, opera-se a chamada coisa soberanamente julgada, pois seu
conteúdo não poderá ser mais alterado, salvo se por nova ação rescisória, a qual poderá ser proposta
a fim de rescindir a decisão proferida na primeira que porventura padeça de algum vício constante
no art. 485.
PARTE II - SISTEMA RECURSAL DO PROCESSO CIVIL BRASILEIRO
38 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
1 TEORIA GERAL DOS RECURSOS
1.1 Justificativa
Ainda que dotado de imparcialidade, é impossível conferir às decisões do juiz o caráter de
imutabilidade, posto que, pela sua condição de ser humano, está sujeito à falibilidade e à má-fé.
Alia-se a essa circunstância, pelo mesmo fundamento, o fato de a parte vencida
naturalmente inconformar-se com o ato decisório, fazendo-se necessária a disposição de um
instrumento capaz de possibilitar-lhe o reexame.
1.2 Conceito
Tal instrumento ou mecanismo revela-se no instituto do recurso, cuja origem etimológica
vem do latim recursus, que significa a repetição de um mesmo caminho, podendo ser conceituado,
como "ato processual por meio do qual o interessado busca o reexame de uma decisão judicial
pela mesma autoridade judiciária que a proferiu, ou por outra hierarquicamente superior,
objetivando o seu esclarecimento, a sua integração, a sua reforma ou a sua invalidação".
É, portanto:
a) ato processual: o recurso é uma extensão do direito de ação, pois não inaugura uma nova relação
processual; é apenas seu prosseguimento em nível de 2º grau.
O recurso, portanto, não é uma ação distinta, mas um ato processual. É um simples aspecto
do direito de recorrer. Como ato voluntário do interessado, trata-se de um ônus processual, pois, se
não praticado, pode acarretar uma risco para a parte.
Andou bem, assim, o legislador em 2005, ao retirar do conceito de sentença, no art. 162,
§1º, CPC, o critério finalístico, já que agora é ato pelo qual compreende uma das matérias
constantes nos arts. 267 ou 269, e, não, o ato que põe fim ao processo, já que este pode ter sua
marcha estendida ao tribunal pela superveniência de recurso.
b) por meio do qual o interessado: diz-se interessado, pois nem sempre é manejado pelo autor ou
pelo réu, vencido no procedimento de 1º grau. Se um terceiro provar que tem um interesse jurídico
no julgamento do recurso, poderá interpô-lo.
c) busca o reexame de uma decisão judicial pela mesma autoridade que a proferiu: quando se tratar
de embargos de declaração, cujo efeito será, em razão de serem apreciados pelo mesmo juiz que
proferiu a decisão, iterativo ou não devolutivo. Aliás, este é um dos motivos pelos quais se
questiona a natureza recursal dos embargos declaratórios.
39 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
d) ou por outra hierarquicamente superior: pressupõe-se, dessa forma, em geral, a reapreciação por
um órgão superior, composto por um corpo de magistrados supostamente mais experientes e
dotados de um maior saber jurídico, organizados em colegiados, com o fito de se alcançar maior
segurança na entrega da prestação jurisdicional.
Trata-se de mais um dos fundamentos ou justificativas dos recursos, a par da falibilidade e
má-fé do julgador, bem como do natural inconformismo do vencido.
Essa ordem escalonada em que se encontra o Poder Judiciário, cabendo aos órgãos
superiores o julgamento de recursos, decorre do princípio do duplo grau de jurisdição, cuja análise
já foi realizada.
e) objetivando o seu esclarecimento, a sua integração, a sua reforma ou a sua invalidação: esclarecer
ou integrar quando o objetivo não é modificar a decisão, mas apenas suprir obscuridades e
contradições nela existentes. É o que acontecesse nos embargos de declaração. Mas o recurso pode
ter por fim também a reforma da decisão, cassando-a e substituindo-a por outra, no caso de error in
iudicando (vício na sua essência); ou a sua invalidação, apenas cassando-a quando eivada de error
in procedendo (vício processual). Em todos os casos visa-se impedir a formação da coisa julgada.
Error in procedendo - quando houver vícios que se apontam no processo e que são
suscetíveis de afetar a decisão.
Error in iudicando - se refere à injustiça da sentença, em virtude erro cometido pelo juiz na
solução das questões de fato ou de direito.
A doutrina clássica de Chiovenda já traçava a distinção entre errores in procedendo ou vício
de atividade, compreendendo os vícios referentes ao desrespeito pelo juiz (ou da parte contrária,
tornando este co-responsável) de normas de procedimento, causando um gravame à parte,
invalidando o ato judicial, pois não relaciona ao seu conteúdo; e errores in iudicando ou vício de
juízo, de natureza substancial, de conteúdo, provocando injustiça do ato judicial; refere-se ao
próprio mérito da causa.
1.3 Classificação dos recursos: Não há uma unanimidade a despeito da classificação dos recursos,
utilizando cada autor de critérios diferenciados, sendo alguns coincidentes e outros não. Em razão
disso, proveitoso parece açambarcar de todos aqueles dispostos na doutrina pátria, sem parcimônia,
a fim de que subsidie, ou pelo menos, nos situe no estudo a ser esposado posteriormente.
Os recursos podem ser classificados:
1.3.1 Quanto à natureza: os recursos podem ser comuns e especiais, dizendo estes respeito ao
direito objetivo,6 e aqueles ao direito subjetivo.7
6 Direito objetivo: norma agendi.7 Direito subjetivo: facultas agendi.
40 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
a) comuns (quanto ao direito subjetivo): comuns são os que objetivam a reapreciação da decisão
por ter havido mera sucumbência; têm por fim o reexame da matéria tanto de fato quanto de direito.
São eles: recurso de apelação (art. 513, CPC); recurso de agravo (art. 522, CPC); recurso de
embargos infringentes (art. 530, CPC); recurso ordinário (previsto constitucionalmente, é interposto
sobre deliberação de um tribunal com competência originária - art. 539, CPC).
b) especiais (quanto ao direito objetivo): os especiais são aqueles cuja reapreciação da decisão
objetiva uniformizar a aplicação do direito objetivo (a norma). Por terem finalidade especial, não
reapreciam matéria de fato (art. 541), somente a matéria de direito. São eles: recurso especial
(dirigido ao STJ, é cabível quando a questão versar sobre lei infraconstitucional); recurso
extraordinário (dirigido ao STF, é cabível quando a questão versar sobre matéria constitucional). Os
embargos de declaração, por sua natureza sui generis, enquadram-se em qualquer das hipóteses
supra, assim como o agravo regimental.
1.3.2 Quanto à importância:
a) principal: é o que, havendo sucumbência total ou parcial, foi interposto por uma ou ambas as
partes no prazo estabelecido pela lei. No último caso, os dois recursos são independentes.
b) adesivo ou dependente: recurso adesivo (ou dependente) é aquele que, havendo sucumbência
parcial ou recíproca, pode ser interposto pela parte no prazo de que dispõe para responder o recurso
principal.
Ou seja, a outra parte, também vencida, deixa de interpor o recurso principal no prazo legal,
deixando-o correr in albis, ganhando uma nova chance de recorrer na ocasião das contra-razões do
recurso principal.
Se, ao contrário, tivesse interposto também o recurso principal, em face, obviamente daquilo
que sucumbiu, não poderia, nas contra-razões do recurso interposto pela outra parte, recorrer
adesivamente, sob pena de preclusão consumativa, pois a parte já praticou um ato processual, o qual
já consumou, não podendo praticar outro substituindo-o.
Nos termos do art. 500 do Código de Processo Civil, não é um recurso autônomo, pois fica
subordinado ao recurso principal, devendo atender aos mesmos pressupostos recursais (preparo,
tempestividade etc) deste, e podendo, inclusive, não ser conhecido, caso o recorrente do recurso
principal dele venha desistir.
41 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
Para os doutrinadores, não é uma espécie de recurso, mas um modo de interposição, assim
como é também o meio independente. Aliás, nem todo recurso é interposto pela forma adesiva, mas
tão-somente a apelação, os embargos infringentes, o recurso especial e o recurso extraordinário.
1.3.3 Quanto à iniciativa recursal:
a) voluntários: iniciativa da parte vencida ou do terceiro.
b) necessários: iniciativa do juiz, de ofício, nos casos expressamente previstos em lei (vg art. 475
do CPC).
Por ser a remessa necessária mero ato administrativo vinculado do juiz, como manifestação
do princípio do inquisitivo, devolvendo o conhecimento ao tribunal de decisão proferida contra a
Fazenda, em atendimento ao interesse público, pode-se dizer, tecnicamente, que ela não é recurso.
Dessa forma, existe apenas recurso voluntário, manejável, como visto, pela parte vencida,
Ministério Público e terceiro prejudicado.
1.3.4 Quanto à extensão:
a) totais: quando a extensão da irresignação abrange toda a sucumbência.
b) parciais: quando se impugna apenas parte ou capítulo da decisão que tenha sido desfavorável.
Não se pode confundir com sucumbência recíproca, quando ambas as partes são vencedoras e
vencidas em parte da decisão, o que não obsta de recorrerem totalmente ou parcialmente, porém,
nos limites da sucumbência de cada uma.
1.3.5 Quanto ao juízo para o qual se recorre:
a) iterativos: se devolve a matéria para reexame ao mesmo órgão que proferiu a decisão recorrida,
como nos embargos de declaração e infringentes;
b) reiterativos: se para órgão imediatamente superior, como na apelação e nos recursos ordinário,
especial e extraordinário;
c) mistos: se houver devolução tanto para o órgão a quo quanto para o ad quem, como no agravo de
instrumento.
1.4 Forma de interposição: será mencionado quando falarmos do pressuposto recursal objetivo
“forma” ou regularidade formal (letra “g”, item 1.8.2, infra).
42 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
1.5 Autoridade a quem o recurso é dirigido: a petição do recurso, normalmente, é dirigida ao
juízo a quo, ou seja, aquele que proferiu a decisão recorrida.
Ele fará uma espécie de saneamento, verificando a observância dos pressupostos recursais,
que denominamos de juízo de admissibilidade, determinando a intimação da parte contrária para
respondê-lo, ou seja, oferecer as contra-razões, e, ato contínuo, remete os autos respectivos ao juízo
ad quem, ou seja, a quem a lei confere competência para julgar o recurso.
Há hipóteses em que a interposição é perante o presidente do tribunal, como no agravo de
instrumento, onde se forma um instrumento para que ele conheça a causa. É uma exceção, mas não
impede o juízo de retratação do juízo a quo, pois que este poderá tomar conhecimento da
interposição de recurso contra a sua decisão, 03 dias após este ato, quando o agravante deverá juntar
aos autos principais cópia da petição do agravo e os documentos que a acompanham, provando a
respectiva interposição.
1.6 Juízo de admissibilidade e Juízo de mérito
Durante a sua apreciação, o recurso submete-se a dois tipos de exame:
o juízo de admissibilidade, onde se verifica, até mesmo de ofício (por se tratar de matéria de
ordem pública) tanto pelo juízo a quo quanto pelo ad quem, o atendimento a todos os requisitos
para a sua admissão, conhecendo-o ou não; e
o juízo de mérito, momento em que o órgão ad quem, depois de conhecer do recurso, verificará
se assiste razão ao recorrente, dando-lhe provimento ou não.
Portanto, o juízo de admissibilidade é sempre e necessariamente preliminar ao juízo de
mérito.
Ambos os juízos deveriam ser realizados pelo órgão hierarquicamente superior, mas, em
razão de economia processual, a lei confere ao juízo a quo, ou seja, aquele que proferiu a decisão
recorrida, o poder de exercer o juízo de admissibilidade, podendo, posteriormente, ser confirmado
ou não pelo juízo ad quem (portanto, não o vincula).
Ademais, excepcionalmente, o CPC autoriza também o juízo recorrido apreciar o mérito do
recurso, reconsiderando sua decisão (é o que se chama de juízo de retratação - art. 296, parágrafo
único; arts. 529 c/c 526; e art. 523, §2º).
Na hipótese de receber ou conhecer o recurso, por presentes aqueles pressupostos, o juiz
proferirá decisão positiva, como, v.g., "recebo o recurso nos seus regulares efeitos"; ou, caso
contrário, proferirá decisão negativa, não o recebendo, ou não o conhecendo, caso em que deverá
43 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
fundamentar. O juiz profere, respectivamente, juízos positivo e negativo de admissibilidade, não
podendo voltar atrás na decisão, por força da chamada preclusão pro judicato, segundo o qual
depois de proferida, não poderá mais modificar a sua decisão.
Da decisão do juízo a quo que nega seguimento ao recurso (juízo negativo de
admissibilidade), não o conhecendo, cabe agravo de instrumento pelo recorrente ao juízo ad quem,
pois que competente para o julgamento do recurso não conhecido. Porém, da decisão que conhece
do recurso, ou seja, do juízo positivo não cabe recurso, por faltar interesse ao recorrido, que poderá
apresentar a sua irresignação na ocasião das contra-razões.
Recebido o recurso, os autos serão remetidos ao tribunal, onde o relator designado proferirá
um segundo juízo de admissibilidade; na ocasião, poderá, liminarmente, não conhecer o recurso
caso verifique a ausência de qualquer pressuposto recursal. Da sua decisão poderá caber agravo
regimental.
Por outro lado, se o relator conhece do recurso, os autos seguem para a apreciação do
colegiado. Este, por sua vez, antes de proferir o juízo de mérito, poderá, ainda, realizar um terceiro
juízo de admissibilidade, que, a exemplo dos dois primeiros, não se vincula ao juízo anterior, feito
pelo relator, podendo conhecer ou não do recurso. Da decisão do colegiado (turma ou seção) que
profere juízo positivo ou negativo de admissibilidade, ou seja, que conhece ou não do recurso, cabe
Resp ou RE.
Nesse diapasão, passar-se-á a analisar pormenorizadamente os requisitos ou pressupostos de
admissibilidade dos recursos, os quais, se atendidos, autoriza a análise do mérito pelo órgão
competente.
1.7 Pressupostos recursais:
Como ato postulatório que é, viu-se que o recurso submete-se, preliminarmente, a um exame
de admissibilidade, verificando-se a satisfação às condições e pressupostos dos quais depende a
análise da pretensão ou do objeto do reexame pleiteado pelo recorrente.
Tais pressupostos têm natureza processual, assemelhando-se àqueles da relação processual
pelo fato de ambos condicionarem o prosseguimento do respectivo procedimento. Assim, entende-
se por pressupostos recursais os requisitos de existência jurídica e de validade formal do recurso.
Também chamados de requisitos de admissibilidade, os pressupostos podem estar
relacionados com o próprio meio impugnativo ou com a pessoa do recorrente, gerando a corrente
classificação em pressupostos recursais objetivos e subjetivos.
44 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
Outras classificações há, com a que os divide em requisitos intrínsecos, ou seja, aqueles
afetos exclusivamente à faculdade de recorrer; e extrínsecos, pois que relativos à forma de seu
exercício. Assim, seriam requisitos intrínsecos o cabimento, a legitimação para recorrer, o interesse
recursal e a inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer (renúncia ao direito de
recorrer, desistência do recurso e aceitação da decisão); e extrínsecos, a tempestividade, a
regularidade formal e o preparo.
Entretanto, ater-se-á considerar e acompanhar a classificação proposta pela maioria da
doutrina pátria, a qual elenca entre os pressupostos objetivos a recorribilidade, a adequação, a
singularidade, a tempestividade, o preparo e a regularidade formal; e entre os subjetivos, a
capacidade, a legitimidade e o interesse de recorrer em razão da sucumbência.
E, por fim, é oportuno lembrar a lição de OVÍDIO BAPTISTA8:
Tais requisitos dizem-se pressupostos genéricos, pois são exigidos para todos os recursos, cada um dos quais, por sua vez, ficará ainda submetido a outras exigências especiais de admissibilidade que apenas a ele digam respeito. Deve-se igualmente observar que mesmo os requisitos genéricos às vezes não são exigidos com condição de admissibilidade para certos recursos
1.7.1 Subjetivos: se referem à pessoa do recorrente. São eles:
a) Capacidade: a capacidade pode ser dividida em capacidade de ser parte da relação jurídica de
direito material, o qual se confunde com a personalidade civil (arts. 1º e 2º do CC/02); capacidade
postulatória, exercida exclusivamente por advogado devidamente inscrito nos quadros da OAB; e
capacidade processual, ou seja, de estar em juízo, que pressupõe a capacidade civil (art. 5º, CC/02; e
arts. 7º, 8º e 9º, CPC).
b) Legitimidade:
Segundo o art. 499, caput, do CPC, "o recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo
terceiro prejudicado e pelo Ministério Público".
Com exceção dos dois últimos sujeitos, percebe-se que o pressuposto para se ter
legitimidade recursal é a sucumbência, ou seja, é necessária a existência de um prejuízo ou gravame
proveniente da decisão para que se justifique a interposição do referido meio impugnativo. Conclui-
se, assim, que tanto o autor quanto o réu têm legitimidade para interpor o recurso; é preciso apenas
aferir se houve prejuízo para uma ou ambas as partes. Portanto, somente aquele que sofreu um
prejuízo está legitimado a praticar o ato.
Há quem defenda a possibilidade do vencedor ter legitimidade para interposição de recursos,
como no caso dos embargos de declaração; ou até mesmo apelação contra decisão terminativa, onde 8 SILVA, Ovídio A. Baptista da. Curso de Processo Civil. 6 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. v. 1. p. 413.
45 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
o interesse do réu (vencedor nesta) era que a mesma fosse definitiva face à defesa de mérito
oportunamente por ele apresentada etc.
Conceituando o termo, CARNELUTTI sabiamente conclui que "a sucumbência nasce do
conflito entre o conteúdo da sentença e o interesse da parte". E a sua extensão pode ser variável,
sendo total ou parcial. Nesse último caso, diz-se que houve sucumbência recíproca, por deduzir ser
a parte ex adversa também vencida, porém na parte ou capítulo da sentença favorável à primeira.
Em razão da sucumbência, presume-se que a parte legítima para recorrer é aquela que
figurou na relação processual de 1º grau, seja no pólo ativo ou passivo. Por outro lado, quanto à
parte que deveria ou poderia, mas não figurou nesta relação, como o revel ou o substituído
processualmente, a lei não lhe veda o direito de recorrer.
Corrobora o entendimento o ilustre professor JOSÉ FREDERICO MARQUES, afirmando
que "mutações subjetivas na lide não tiram a qualidade de parte a quem passa a figurar em lugar de
outrem como sujeito parcial do processo. Evidente é, portanto, que quem sucede ao autor ou ao réu
(retro, nº 682 e 683) no curso do procedimento de primeiro grau, tem o direito de recorrer".
Inclui-se, ainda, no conceito de parte, para fins de legitimidade recursal, além dos
litisconsortes, os terceiros intervenientes, ou seja, aqueles que, de fato, por ter um interesse jurídico,
ingressaram no procedimento de 1º grau. Isso para diferenciar do terceiro prejudicado que, embora
pudesse ingressar em qualquer momento do procedimento até a sentença, ingressou pela primeira
vez para interpor o recurso por estar sujeito a algum reflexo danoso da decisão recorrida,
alcançando-lhes, portanto, a legitimidade recursal, por força do art. 499.
Assim, excepcionalmente, permite-se a extensão, quanto à legitimidade, ao Ministério
Público e ao terceiro prejudicado.
Nunca houve dúvidas a respeito da legitimidade do parquet quando presente no processo
como parte ou substituto processual, ocasião em que se submetia normalmente à exigência da
sucumbência . O ponto de discórdia, hoje superado mediante o dispositivo em questão, era quando
atuava como fiscal da lei. Há que se lembrar que o mesmo goza dos privilégios previstos no art. 188
do CPC, notadamente a despeito do prazo em dobro para recorrer.
Já o terceiro prejudicado, não obstante não ser alcançado pela coisa julgada subjetiva (se ele
preferir não interpor recurso, ser-lhe-á assegurado posteriormente a propositura de ação rescisória
ou o manejo dos embargos de terceiro), para recorrer, deve demonstrar ser titular de um interesse
ligado à relação jurídica submetida à apreciação judicial por intermédio de um nexo de
interdependência, segundo dispõe o art. 499, §1º do CPC. Ademais, o prejuízo deve ser jurídico, e
não de ordem fática, conforme a doutrina dominante.
46 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
c) Interesse:
Da mesma forma que o interesse processual, para a propositura das ações em geral, é
entendido pelo binômio "utilidade-necessidade", o interesse recursal pressupõe também a utilidade
do recurso, ou seja, deve o mesmo ser apto a gerar uma situação mais vantajosa para o recorrente
que aquela alcançada na decisão recorrida, e a necessidade de se obter o resultado mais vantajoso, o
que exige a via mais adequada.
Para que tenha interesse, deve então o recorrente ter de efetivamente sofrido um prejuízo
(sucumbência), ainda que parcialmente.
Na verdade, considerando a sucumbência, que é "a desconformidade entre o pedido e o
resultado prático obtido com a decisão", como pressuposto lógico para o interesse recursal, não
poderiam ser considerados interessados o Ministério Público (o seu interesse em assim atuar resulta
da lesividade ao interesse público que encarna, como órgão do Estado, oriundo da decisão
desfavorável contra a qual se insurge), quando custos legis, e o terceiro prejudicado. Porém, estes,
como se viu, são considerados legítimos para recorrer por força da lei, o que, segundo a maioria da
doutrina, justificaria implicitamente o seu interesse.
Por outro lado, careceria de interesse também o embargante de declaração, pois visa tão-
somente suprir omissão, obscuridade ou contradição na decisão, que pode lhe ter sido até mesmo
favorável, não padecendo de nenhum prejuízo. Trata-se, in casu, de uma excepcionalidade.
Cumpre lembrar que não basta o prejuízo, para que o recurso seja necessário, é preciso que o
recorrente não tenha à sua disposição outro meio impugnativo mais rápido e efetivo.
1.7.2 Objetivos: os pressupostos recursais, que dizem respeito ao recurso em si mesmo,
objetivamente considerado, são:
a) Recorribilidade:
Também conhecida como cabimento, refere-se à perquirição de qual ato do juiz é passível
de impugnação, tendo em vista que o mesmo classifica-se, segundo o art. 162, caput, do CPC, em
sentenças, decisões interlocutórias e despachos.
Não se pode esquecer que, pela inteligência do art. 163 do mesmo diploma legal, também
será considerado ato do juiz a decisão proferida pelos tribunais, a que se chama de acórdão, cujo
termo é amplo, abrangendo tanto decisões que põe fim ao "processo", a exemplo do acórdão que
julga o mérito da apelação (acórdão de mérito – normalmente proferido pelo colegiado, exceto art.
557, §1º-A), como as que resolvem questão incidente, v.g. o acórdão que não recebe a apelação no
efeito suspensivo, ou que faz um juízo negativo de admissibilidade, não conhecendo do recurso
47 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
(acórdão interlocutório – normalmente proferido monocraticamente, pelo relator, presidente ou
vice-presidente do tribunal).
No nosso sistema recursal, são recorríveis todas as decisões de 1º e 2º graus, de mérito ou
terminativas, exceto os despachos, pois que não são dotados de conteúdo decisório (art. 504, CPC).
Importante observar que, na prática, o termo "despacho" é equivocadamente utilizado para decisões
ou acórdão que, são, na verdade, interlocutórios, como, por exemplo, quando o juiz profere
despacho saneador, indeferindo provas; ou quando o tribunal nega seguimento a recurso especial ou
extraordinário. Nesses casos, os “despachos” são perfeitamente recorríveis.
HERMAN H. DE CARVALHO ROENICK, ante à impossibilidade de manejo do recurso
contra despachos, ensina:
Excepcionalmente, e tendo em vista a situação de gravame que o despacho possa criar, será tolerada, como sucedâneo recursal, a medida de índole administrativa conhecida como Correição Parcial ou Reclamação, ou, ainda, dependendo das circunstâncias, o Agravo ou o Mandado de Segurança (...)
Por outro lado, existem decisões que, prima facie, seriam recorríveis, mas não o são por
força de previsão legal, que proíbe cabimento de recurso, como, por exemplo, o art. 865 do CPC,
que não admite recurso no processo de justificação.
Por fim, vale sempre citar as lições de PONTES DE MIRANDA, ao dizer que "não existe o
princípio da recorribilidade necessária de todas as resoluções judiciais, e sim o da recorribilidade
das resoluções judiciais relevantes."
b) Adequabilidade:
Não basta que decisão seja recorrível, é preciso também que o recorrente faça uso do recurso
correto ou adequado, sob pena de sê-lo inadmitido. Isso, pois que o sistema recursal, a depender da
natureza da decisão, destinou um recurso específico, estabelecendo prazos e procedimentos
singulares.
É o princípio da taxatividade, segundo o qual são admissíveis apenas aqueles denominados
e regulados no art. 496 do Código de Processo Civil (CPC) e nas leis extravagantes. Estão
excluídos, portanto, a correição parcial, a remessa necessária e o pedido de reconsideração. A
propósito, convém fazer uma diferenciação entre os chamados “meios impugnativos” existentes no
nosso sistema, a saber:
Recursos – remédio voluntário, previsto em lei, para no mesmo processo, invalidar, reformar,
integrar e esclarecer a decisão.
Ações autônomas de impugnação : é o meio de se impugnar decisão, dando origem a uma
processo novo só para isso. Ex: ação rescisória, reclamação constitucional, habeas corpus, mandado
48 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
de segurança, embargos de terceiro, querella nullitatis insanabilis (ação de nulidade de vício
insanável).
Sucedâneos recursais : para alguns, é tudo o que não for recurso. Para outros, com pensamento
mais amplo, dizem ser tudo o que não for ação autônoma, nem se encaixe no conceito de recurso.
Ex: pedido de reconsideração, correição parcial, pedido de suspensão de segurança (art. 4º, Lei n.
8.437/92; arts. 338 a 340 do RITJ/GO – tem por objetivo suspender a eficácia de qualquer decisão
proferida contra o Poder Público e seus agentes, antes do trânsito em julgado. É apreciado,
monocraticamente, pelo Presidente do Tribunal, o qual fará um controle político, pois a análise não
é pela justiça ou injustiça da decisão, mas atendimento ao interesse público).
Portanto, depreende-se dos arts. 513 e 522 do CPC que da sentença cabe apelação e da
decisão interlocutória cabe agravo, retido ou de instrumento. Partindo desta premissa, ter-se-á por
inadequado o recurso de agravo de instrumento contra uma sentença ou de apelação contra uma
decisão interlocutória, carecendo o recorrente de interesse por não corresponder a decisão ao meio
impugnativo.
A fim de evitar tais problemas e abrandar o rigor do referido pressuposto, o código anterior
previa no art. 810 a possibilidade de o órgão julgador realizar a devida adequação, recebendo um
recurso por outro, desde que não se tratasse de erro grosseiro ou má-fé, consagrando o princípio da
fungibilidade recursal, já mencionado. Entretanto, era indispensável que o recurso inadequado fosse
interposto dentro do prazo daquele que seria cabível.
O erro, que inviabilizava a aplicação da fungibilidade, deveria ser flagrante, ou seja,
desconhecimento ou ignorância do texto da lei que expressamente previa o recurso específico. Já a
má-fé abrangia atos como a interposição de recurso impróprio de maior prazo, por ter perdido o do
recurso apropriado; lançar mão de recurso mais demorado para protelar o processo dentre outros.
O atual sistema recursal consagra o referido princípio com todo o seu alcance e
particularidades, ainda que a referida regra do art. 810 não tenha sido reproduzida no nosso código
vigente, tolerando os órgãos recursais, com a devida proporção, a interposição inadequada de
recursos.
A doutrina e os tribunais são unânimes em acolher o princípio da fungibilidade, admitindo a
interposição de um recurso por outro, desde que não haja erro grosseiro e nem má-fé da parte. O
princípio da fungibilidade recursal, embora não haja previsão no atual Código de Processo Civil (o
Código de 1939 o previa expressamente), é admitido pela jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal.
Regra também inexistente atualmente, mas que poderia ser aproveitada, salvo se não se
esbarrasse na preclusão consumativa recursal, é aquela do art. 809 do CPC de 1939, consagrando o
49 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
princípio da variabilidade, que rezava: "A parte pode variar de recursos dentro do prazo legal" da
interposição do segundo recurso (substituto). Na verdade, desiste-se, tacitamente, de um, ao interpor
outro recurso.
Já contra os acórdãos não cabe, em regra, nenhum recurso comum, salvo recurso ordinário
para o Supremo Tribunal Federal ou Superior Tribunal de Justiça - arts. 102, II e 105, II da CF/88;
e, em casos especiais, embargos de declaração, infringentes e de divergência, bem como o agravo
regimental, se o acórdão for proferido monocraticamente.
Os recursos especial e extraordinário são cabíveis, desde que configuradas uma das
hipóteses previstas na Lei Maior. Interpostos que sejam tais recursos, caso o presidente ou o vice-
presidente negue seguimento a eles, cabe contra sua decisão agravo de instrumento (para destrancá-
los).
Desta feita, podemos visualizar melhor a adequabilidade no seguinte esquema:
- Sentença (mérito ou terminativa) => apelação;
- decisões do 1º grau
- Decisão interlocutória => agravo (retido ou de instrumento).
- relator => agravo regimental, exceto em MS (S. 622, STF)
- Acórdão inter-
locutório - Pres./Vice Trib. => AI (destrancar REsp ou RE); agravo
(monocráticas) regimental na suspensão de segurança.
- decisões do 2º grau
- Acórdão de mérito => Embargos de declaração; Embargos infringentes;
(colegiado) Embargos de divergência; ROC; REsp; RE.
c) Singularidade ou unirrecorribilidade:
É a proibição de interposição simultânea de mais de um recurso contra o mesmo ato
decisório; também chamado de princípio da unirrecorribilidade.
Estava expressamente previsto no CPC anterior, no art. 809, porém o atual omitiu-se, sendo
acolhido apenas pela doutrina e jurisprudência, os quais identificavam no art. 498 uma exceção. Tal
artigo autorizava a interposição concomitante de embargos infringentes da parte não-unânime do
acórdão, e de recurso especial ou extraordinário da parte unânime, desde que violado lei federal ou
50 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
constitucional, respectivamente.
Atualmente, não se pode mais assim ser considerada, pois que, com a nova redação dada
pela Lei nº 10.352, de 26 de dezembro de 2001, o prazo para interposição de recurso especial ou
extraordinário, relativo à parte unânime, deve ficar sobrestado até a intimação da decisão dos
embargos infringentes.
Dessa forma, a única exceção ao princípio da singularidade que se tem notícia é aquela
referente à interposição dos recursos especial e extraordinário quando na mesma decisão houver
violação à lei federal e constitucional.
Portanto, só é possível a simultaneidade de recursos "quando a sentença julgue, ao mesmo
tempo, questões distintas".
d) Tempestividade:
Com o intuito de proporcionar aos jurisdicionados maior segurança, garantindo a
estabilidade das relações jurídicas, o legislador achou por bem estipular prazo para a interposição
dos recursos, evitando, assim, que as demandas se prolongassem indefinidamente.
Os prazos dos recursos são, em regra, legais e peremptórios. Assim, a lei prevê prazos
variados às mais diversas espécies de recursos, sendo de 05 (cinco) dias para os embargos de
declaração; de 10 (dez) dias para agravo retido e de instrumento; e de 15 (quinze) dias para os
demais, quais sejam, apelação, embargos infringentes, de divergência, recursos especial e
extraordinário, e recurso ordinário (art. 508 do CPC). O agravo regimental, próprio dos tribunais
(previsto e regulado por seus regimentos internos), tem normalmente o prazo de 5 dias.
Passado in albis o referido prazo, precluso torna-se o direito ao recurso, operando coisa
julgada formal.
Excepcionalmente, a lei admite a suspensão ou a interrupção do prazo recursal, tendo como
conseqüência, quando cessadas as suas causas, no primeiro caso, a contagem do restante do prazo a
partir do ponto onde se deu a suspensão; e no segundo, a devolução integral do prazo interrompido,
reiniciando a contagem.
Ainda quanto ao prazo para a interposição, observa-se que quando o recurso for interposto
pela União, Estados, Distrito Federal, Municípios, fundações públicas e suas respectivas autarquias,
bem como pelo Ministério Público e os litisconsortes com procuradores distintos é contado em
dobro, observada, com relação a estes últimos, a determinação contida na Súm. 641, STF (arts. 188
e 191 do CPC). Todavia, para as contra-razões, a contagem do prazo não sofre alteração.
Ao Defensor Público aplica-se o disposto na Lei nº 1.060/50, art. 5º, § 5º, ou seja, o prazo
em dobro tanto para interpor o recurso quanto para oferecer as contra-razões.
51 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
O prazo inicia-se a partir da intimação da decisão, que poderá ocorrer em audiência, quando
foi prolatada, ou pelo Diário Oficial, se proferida em gabinete (ressalvam-se as hipóteses de
intimação que deve ser feita pessoalmente, como no caso do membro do MP, Advogado da União,
Procurador da Fazenda Nacional e Defensor Público).
O art. 506 fala ainda, em seu inciso III, que conta-se o prazo recursal “da data da publicação
do dispositivo do acórdão no órgão oficial”. Tal previsão foi com o objetivo de dar publicidade,
conhecimento da decisão para terceiros, a fim de que, se prejudicados, possam também interpor
recurso, já que também são legitimados para tanto.
Uma grande questão que por muito tempo foi discutida na doutrina e, principalmente, em
sede de jurisprudência do STJ e do STF, é se o recurso interposto por quem ainda não foi intimado é
considerado intempestivo por prematuridade. Atualmente, por força de decisões proferidas nos idos
dos anos de 2004 e 2005, ambas as Cortes consideram tempestivo recurso prematuro, sob o
argumento de que não se pode penalizar o recorrente que se deu por comunicado antes da
publicação oficial da decisão, cujo recurso apenas garantiu celeridade processual.
e) Preparo:
O preparo passou a ser considerado pressuposto recursal após a nova redação dada ao art.
511 do CPC pela Lei nº 8.950/94, consistindo num ônus processual a que se sujeita o vencido,
devendo pagar previamente as despesas do processamento do recurso (abrange custas, se houver; e
os valores de remessa e de retorno, se fizer necessário o deslocamento dos autos), quando de sua
interposição, sob pena de deserção e, conseqüentemente, do seu não conhecimento pelo órgão ad
quem.
A nossa lei processual, portanto, adota o sistema de preparo imediato ou simultâneo, já que
se deve comprovar o pagamento do preparo NO ATO DE INTERPOSIÇÃO do recurso (art. 511,
caput), exceto nos recursos interpostos perante os Juizados Especiais, que, segundo o art. 42, §1º, da
Lei 9.099/95, poderá ser após 48 horas da interposição; e perante a Justiça Federal, que, conforme o
art. 14, II, Lei 9.289/95, se o recurso for contra sentença, poderá ser comprovado o preparo até 5
dias após a interposição.
Não se deve confundir a comprovação do preparo, que é concomitante à interposição do
recurso, com o seu pagamento, o qual, obviamente, só poderá ocorrer antes da interposição,
observado o expediente bancário.
Não são todos os recursos que dependem de preparo (agravo retido e embargos de
declaração) e nem todos os recorrentes se sujeitam a tal ônus, como o Ministério Público, a União,
52 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
os Estados, os Municípios, as respectivas autarquias9 (e fundações públicas) e os que gozam de
isenção legal, como os beneficiários da justiça gratuita, conforme preceitua o art. 511, §1º do CPC.
Exclui, obviamente, as empresas públicas e as sociedades de economia mista.
Como dito, a falta do preparo dentro do prazo legal gera deserção, e, por conseqüência, a
inadmissão ou o não conhecimento do recurso.
Todavia, se provado justo impedimento (art. 519 do CPC), a pena de deserção pode ser
elidida, fixando o juiz o prazo para que o preparo seja efetuado.
Essa decisão é irrecorrível, pois que o recorrido terá oportunidade de discuti-la na ocasião
das contra-razões.
Porém, se mantida a decisão de se aplicar tal penalidade, cabe o recurso de agravo de
instrumento (arts. 522, CPC – “nos casos de inadmissão da apelação”).
De outro giro, se feito o preparo de forma insuficiente, o que se entende ser aquele feito a
menor, ou seja, em valor inferior a 50%, poderá o recorrente complementá-lo no prazo de 05
(cinco) dias, sob pena de deserção (art. 511, §2º).
f) Motivação: a motivação diz respeito à necessidade de fundamentação do recurso, as razões pelas
quais se pleiteia nova decisão.
Dizem respeito, portanto, à causa de pedir do recurso, consistente no error in procedendo,
caso se busque a invalidação da decisão recorrida; ou no error in judicando, caso a pretensão
recursal seja a reforma da decisão recorrida. Lembrando, ainda, que no caso específico dos
embargos de declaração, é necessário que se fundamente o pedido de esclarecimento ou da
integração na eventual obscuridade, contradição ou omissão da decisão embargada.
A impugnação do recurso se faz mediante as contra-razões. Porém, estas não são
obrigatórias, não gerando qualquer ônus.
g) Forma:
Para sua interposição, os recursos em geral submetem-se a determinadas regras
procedimentais e formais previstas em lei.
Geralmente, deve ser interposto mediante petição escrita, salvo no agravo retido, que deve
ser interposto oralmente em audiência (art. 523, §3º); e dirigida à autoridade judiciária prolatora da
decisão recorrida (juízo a quo), salvo no agravo de instrumento que deve ser diretamente ao
tribunal, devidamente fundamentada com as razões de fato e de direito, ou seja, do inconformismo,
e com o pedido de nova decisão.
9 O INSS, em ação acidentária na Justiça Estadual, não goza de isenção legal (Sum. 178, STJ).
53 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
Por ser o recurso extensão do direito de ação, deve a petição do recurso conter os três
elementos da ação, quais sejam, as partes (recorrente e recorrido), devidamente qualificadas, o
pedido (de nova decisão) e a causa de pedir (razões do inconformismo).
h) Pressupostos negativos (ou da inexistência de causas impeditivas ou extintivas):
São fatos que não podem ocorrer para que o recurso seja conhecido, tais como:
Renúncia : proferida a decisão - pois não há renúncia prévia -, a parte sucumbente poderá
renunciar, sem a anuência da outra parte, ao direito de recorrer, conforme o art. 502 do diploma
processual civil. A renúncia pode ser expressa ou tácita (art. 503 do CPC).
Desistência : embora seja um instituto diferente da renúncia, a desistência do recurso também
beneficia a outra parte, daí por que o recorrente poderá, a qualquer tempo10, sem a anuência do
recorrido, desistir do recurso11 (art. 501). A desistência, ao contrário da renúncia, pressupõe um
recurso já interposto, razão pela qual deverá ser sempre expressa (salvo no agravo, no REsp e no
RE retidos, quando da interposição principal, não se reiterar a irresignação via de preliminar).
Aceitação : não é desistência, nem renúncia, mas uma preclusão lógica (perda da faculdade de
recorrer por ter praticado um ato incompatível com tal intenção). É ato pelo qual a parte adere,
expressa ou tacitamente, à decisão recorrida, simplesmente cumprindo-a espontaneamente.
1.8 Efeitos do recurso: de fundamental importância é o estudo dos efeitos do recurso, sendo o
principal deles obstar o trânsito em julgado da sentença. Secundariamente têm-se também os efeitos
devolutivo e suspensivo, propiciando o primeiro a devolução da matéria impugnada ao tribunal ad
quem, enquanto o segundo, a suspensão dos efeitos da decisão recorrida. Assim, podem ser
classificados, quanto aos efeitos, em principal e secundários.
1.8.1 Efeito principal: IMPEDIR O TRÂNSITO EM JULGADO DA DECISÃO
Um dos fundamentos do recurso é o inconformismo natural da parte vencida com uma
decisão que lhe é desfavorável. Sendo assim, buscar-se-á, mediante o recurso, a sua reforma ou
anulação etc, de modo que, pela reapreciação, poderá a decisão recorrida ser modificada.
10 O STF entende, porém, que só é possível ao recorrente desistir do recurso até o início da sessão de julgamento. 11 Proposta a ação, e uma vez citado o réu, o autor dela só poderá desistir se houver concordância da outra parte, situação que não ocorre com o recurso, pois a desistência deste beneficia a outra parte.
54 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
Portanto, diz-se que o efeito principal do recurso, quando interposto, é impedir a formação
da coisa julgada, é retardar o trânsito em julgado da decisão recorrida. Por óbvio, pois que, pendente
o recurso, a decisão é ainda modificável.
Porém, vozes uníssonas, como de José Carlos Barbosa Moreira e de seu discípulo Alexandre
Freitas Câmara, ecoam dizendo que apenas os recursos admissíveis (ou seja, naqueles em que houve
um juízo positivo de admissibilidade, autorizando, agora, um novo juízo: o de mérito) impedem o
trânsito em julgado da decisão recorrida, pois que esta será ainda passível de modificação (anulação
ou reforma). Nesse caso, o trânsito só se dará quando esgotada toda a via recursal [e nisso corrobora
o art. 467 do CPC, que define coisa julgada como sendo “a eficácia que torna imutável a sentença,
não mais sujeita a recurso ordinário (leia-se: recurso comum) ou extraordinário (no sentido amplo, a
abranger os recursos especial e o extraordinário em sentido estrito)”].
Com esse raciocínio, os renomados autores excluem os recursos inadmissíveis, ou seja,
entendem que se houve um juízo negativo de admissibilidade (ausência de quaisquer pressupostos
recursais) não há que se cogitar em modificação da decisão recorrida, posto que não será feito o
juízo de mérito, razão pela qual não há que se falar, por conseqüência, em impedimento à formação
da coisa julgada. Esta operará, em tese, de imediato.
Porém, essa doutrina, que, diga-se de passagem, é minoritária, vai mais além, afirmando que
a decisão que proferiu o juízo negativo de admissibilidade terá efeitos meramente declaratórios e,
portanto, retroativos (ex tunc)12, o que significa que o trânsito em julgado operará sempre antes da
decisão que deixou de admitir o recurso.
Entretanto, a maioria da doutrina e da jurisprudência assim não entendem. Para eles, tal
decisão terá efeitos meramente constitutivos (modificou a situação do recorrente, que não verá o
mérito de seu recurso reexaminado pelo juízo ad quem), portanto, não retroativos (ex nunc),
operando, a partir dela, o trânsito em julgado.
Sendo assim, no período compreendido desde a interposição do recurso até a sua
inadmissão, o trânsito em julgado estará impedido.
E é, por isso, que tem prevalecido o entendimento de que o referido efeito de impedir o
trânsito em julgado é extensível a TODOS os recursos, inclusive aos inadmissíveis. Dentre estes,
porém, colocam a salvo (e nisso a doutrina majoritária é concorde com a minoritária) os recursos
intempestivos, cujo trânsito em julgado retroage e opera no dia seguinte à data final do prazo
recursal (16º dia em diante p/ apelação intempestiva, p. ex.), e os manifestamente incabíveis (ex:
12 É bom que se esclareça que, normalmente, decisão com efeitos meramente declaratórios é retroativa, pois que só se declara algo que sempre existiu ou que deixou de existir. Tenha por referência, por exemplo, a decisão do STF que declara a inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo, a qual retroage à edição destes, considerando-os viciados de inconstitucionalidade deste o princípio, o que autoriza a sua imediata retirada do ordenamento jurídico, como se nele nunca tivessem integrado.
55 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
recurso contra despacho), transitando em julgado a decisão desde a data de sua intimação.
É importante se perquirir a exata data do trânsito em julgado da decisão recorrida para fins
de contagem do biênio (prazo de 02 anos) para a ação rescisória, bem como para dar início à
execução definitiva (cumprimento de sentença).
1.8.2 Efeitos secundários: objetivam, como regra geral, devolver ao conhecimento do juízo ad
quem o exame da matéria impugnada, ou ainda, no caso de efeito suspensivo, como o próprio nome
diz, impedir a execução da decisão proferida pelo magistrado.
1.8.2.1 Devolutivo (reiterativo): é aquele em que se devolve ao juízo hierarquicamente superior o
conhecimento da matéria impugnada.
Há que se fazer duas observações:
1ª) de forma mais simples, pode-se afirmar que efeito devolutivo é a possibilidade de reabertura de
discussão (lembre-se da origem latina da expressão recurso – recursus, que significa repetir o
mesmo caminho ou o mesmo curso). Portanto, a rigor, todo recurso tem efeito devolutivo, pois em
todos há reabertura de discussão.
Mas a doutrina diz que, nos embargos de declaração e nos infringentes, não há efeito
devolutivo, pois a devolução é para o mesmo órgão que decidiu a causa. Dessa forma,
excepcionando a regra do efeito devolutivo, a legislação prevê para alguns recursos os efeitos não-
devolutivo (ou iterativo), como nos recursos acima citados, e misto, no caso do recurso de agravo
de instrumento (onde se devolve a discussão primeiramente ao tribunal e, após três dias da
interposição, comunica-se o juízo inferior para fins de retratação).
2ª) quando se diz que “pelo efeito devolutivo devolve-se o conhecimento da matéria impugnada”,
conclui-se que este efeito é manifestação do princípio do dispositivo (art. 128, CPC), na medida em
que o conhecimento do juízo ad quem está limitado ao requerimento da parte. É o recorrente quem
determinará O QUE o tribunal reexaminará no recurso, impugnando a matéria dentro dos limites de
sua sucumbência, sob pena de faltar-lhe interesse recursal.
Dessa forma, pode-se dizer que, quanto à extensão, a devolução pode ser total ou parcial, a
depender do que for impugnado pelo recorrente. Diz-se que, nesse caso, a devolutividade é vista sob
o aspecto ou dimensão horizontal, dando margem à já estudada classificação dos recursos em totais
ou parciais (vide classificação dos recursos quanto à extensão).
PORÉM, dentro dos limites estabelecidos pela impugnação do recorrente, poderá o tribunal
conhecer de questões COM AS QUAIS irá julgar o pedido do recurso, independentemente de
56 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
requerimento.
Estas questões, processuais ou de mérito, consistentes nos fundamentos do autor e do réu,
bem como aquelas conhecíveis de ofício em qualquer grau de jurisdição (v.g. condições da ação,
pressupostos processuais, enfim, as chamadas questões de ordem pública), sofrem uma espécie de
transladação, pois chegam ao conhecimento do juízo ad quem independente de impugnação do
recorrente. É o que Nelson Nery Júnior chama de efeito translativo, o qual decorre diretamente do
princípio do inquisitivo.
Diz-se, nesse caso, que a devolutividade é vista sob o aspecto ou dimensão vertical, ou
quanto à profundidade, sendo sempre integral.
Exemplo:
Pedido de despejo
Causa de pedir (funda- Contestação (fundamentos Sentença (indefere o pedido, reconhecendo Ação de conhecimento mentos: fatos, falta de da defesa: negativa dos fatos; a prescrição) pagm; infração contra prejudiciais de mérito, como tual etc) prescrição etc).
Apelação
Quanto à extensão ou dim. horizontal
Quanto à profundi- dade ou dim. vertical
integral (devolve ao juízo ad quem todos os fundamentos do pedido e da defesa, inclusive as questões de
ordem pública, independente de impugnação do recorrente).
Convém lembrar que a principal conseqüência do efeito devolutivo é a permissão da
execução provisória (art. 475-I, §1º, 2ª parte, CPC), pois a decisão produzirá, desde logo, seus
efeitos. A execução provisória far-se-á conforme determina o art. 475-O, CPC (antigo art. 588,
antes da reforma dada pela Lei n. 11.232/05), in verbis:
“Art. 475-O A execução provisória da sentença far-se-á, no que couber, do
mesmo modo que a definitiva, observadas as seguintes normas (...)”
parcialtotal
57 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
Para tanto, necessário se faz determinar como se faz a execução definitiva da sentença, ou
seja, como se dá a execução fundada em um título judicial definitivo que esteja acobertado pela
coisa julgada material, ou seja, não mais sujeita a recurso.
Sendo assim, podemos afirmar que:
sentenças meramente declaratórias e constitutivas => dispensam execução;
sentenças condenatórias:
- para prestar uma obrigação de fazer, não fazer ou entregar coisa (diversa de dinheiro) =>
adoção, na própria sentença, que tem natureza mandamental ou executiva lato sensu, de
medidas coercitivas de efetivação (como multa por atraso – astreintes; remoção de pessoas ou
coisas; busca e apreensão etc). É a chamada tutela específica (arts. 461, §5º e 461-A, CPC);
- para prestar uma obrigação de dar (dinheiro) => cumprimento de sentença (art. 475-I a 475-R,
CPC), muito semelhante à antiga execução forçada autônoma, que se dá nos mesmos autos do
processo de conhecimento donde originou o título (sentença), numa última fase após o trânsito
em julgado da sentença.
Assim sendo, fácil fica de concluir que, a depender da obrigação que se condena o réu, a
execução definitiva terá um procedimento próprio, e, por conseqüência, a execução provisória caso
sobre a sentença penda julgamento de recurso recebido apenas no efeito devolutivo (art. 475-I, §1º).
Importante notar que o uso das expressões tradicionais execução provisória e execução
definitiva traduz uma idéia equivocada, segundo o qual apenas essa última seria uma execução
completa, que atinge a fase final do procedimento executivo. Porém, é sabido que na execução
provisória isso também é possível, ou seja, de se praticar todos os atos do procedimento executivo,
principalmente quando se trata de sentença condenatória em obrigação de dar quantia, onde há,
inclusive, penhora, arrematação e adjudicação dos bens penhorados, revelando-se também numa
execução completa. Portanto, o melhor seria falar em execução fundada em decisão provisória e
execução fundada em decisão definitiva.
Mas, por se tratar de execução fundada em decisão provisória, portanto, passível de ser
alterada, algumas regras deverão ser observadas.
Uma delas consiste na obrigatoriedade, via de regra, da prestação de caução idônea pelo
exeqüente quando a causa for de natureza patrimonial. Tal exigência legal (inciso III) tem por
objetivo a garantia de eventual prejuízo causado pela modificação da sentença recorrida, sendo
dispensada quando o crédito for de natureza alimentar de até 60 salários mínimos OU nos casos de
execução provisória que penda agravo de instrumento junto ao STF ou STJ, desde que tal dispensa
58 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
não possa resultar risco de grave dano, de difícil ou incerta reparação (§2º).
Por conseguinte, segundo o inciso II, sobrevindo acórdão que modifique ou anule a
sentença, fica sem efeito tal execução, restituindo as partes ao estado anterior e respondendo o
exeqüente, objetivamente (inciso I), pelos prejuízos que o executado venha a sofrer.
Obviamente, que tudo isso será possível se, caso os autos ainda estiverem com o juízo a quo,
o exeqüente pedir cópia autenticada dos documentos previstos no art. 475-O, §3º, para a formação
de autos apartados, já que os autos principais subirão ao ad quem para o julgamento do recurso. Por
outro lado, se já estiverem com o juízo ad quem, é necessário fazer o mesmo pedido (nesse caso, ao
relator) a fim de que, formando os autos apartados, estes sejam remetidos ao juízo de 1º grau, que é
o competente para a execução.
1.8.2.2 Suspensivo
Efeito suspensivo é aquele que obsta ou suspende a eficácia ou os efeitos naturais da
decisão, seja ela condenatória, declaratória ou constitutiva.
Barbosa Moreira critica os autores que resumem este efeito à mera impossibilidade de
executar a decisão recorrida, pois que decisões há, como as declaratórias e constitutivas, que, por
sua natureza, não comportam execução. Para ele, o impedimento atinge toda a eficácia da decisão, e
não apenas o efeito executivo.
Apesar disso, é corrente o entendimento de que, mediante o efeito suspensivo, não é possível
à parte sucumbida ou vencedora tomar medidas tendentes à promoção da execução ou satisfação do
objeto reconhecido no processo de conhecimento, ainda que provisoriamente, até que o recurso seja
julgado.
Assim, interposto o recurso, sendo este recebido também no efeito suspensivo, a decisão
proferida não poderá ser executada nem mesmo provisoriamente, devendo-se aguardar o seu
trânsito em julgado. Portanto, o efeito suspensivo impede a execução da decisão enquanto não
apreciado o recurso e, consequentemente, operada a coisa julgada.
Curiosidade: havendo impugnação parcial de decisão que comporta recurso com efeito
suspensivo, este limitar-se-á a tanto, permitindo execução definitiva apenas da parte não impugnada
da decisão por ter transitada em julgado.
Mas, qual é o termo inicial do efeito suspensivo? As decisões, pelo simples fato de serem
sujeitas a recurso suspensivo, já não produzem efeitos desde o momento em que são proferidas, e
não do momento da interposição do recurso. Se assim não fosse, seria admitir que a decisão
produzisse efeitos entre a sua publicação e a interposição do recurso, admitindo-se início de uma
execução provisória entre aqueles dois termos, e depois a sua suspensão, o que não é aceito em
59 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
nosso ordenamento.
Por isso, não seria correto dizer que se trata de um efeito decorrente da interposição do
recurso, mas sim um efeito decorrente da recorribilidade, ou seja, pela simples potencialidade de se
interpor um recurso cujo efeito sabe-se ser o suspensivo, a decisão já não produzirá efeitos desde já.
Observa-se, por oportuno, que a regra é o recebimento do recurso em ambos os efeitos
(devolutivo e suspensivo). Se o recurso tiver de ser recebido apenas no efeito devolutivo, é
necessário que o legislador seja expresso no texto legal, pois se trata de exceção. Isso porque apenas
em casos especiais que se permitirá a antecipação dos efeitos da decisão antes do trânsito em
julgado. Trata-se de uma situação precária, que pode ser modificada com a decisão final do recurso,
o que justifica tratá-la como excepcionalidade.
Cita-se, a guisa de exemplo, o art. 520 do CPC, quando o legislador foi expresso quanto aos
casos em que a apelação será recebida apenas no efeito devolutivo.
Portanto, no silêncio da lei, deve-se entender que o recurso é dotado de duplo efeito
(devolutivo e suspensivo). É o caso da maioria dos recursos.
1.8.2.3 Outros efeitos
Há, ainda, outros três efeitos dos recursos: como o expansivo e o substitutivo.
Substitutivo : não seria ele propriamente um efeito do recurso, mas um efeito do julgamento do
seu mérito, que pode consistir em:
a) negar provimento;
b) dar provimento, reformando a decisão recorrida em casos de error in iudicando;
c) dar provimento, invalidando a decisão recorrida em casos de error in procedendo.
Não é difícil verificar que, na hipótese de anulação, por estar a decisão eivada de vício, deva
ela ser extirpada do mundo jurídico, sendo outra proferida para o caso; e que, na hipótese de
reforma, ocorre substituição da decisão recorrida pela proferida pelo ad quem, quando do
julgamento do recurso, prevalecendo esta sobre aquela.
O que pode gerar dúvidas é acerca da substitutividade da decisão do ad quem que nega
provimento, parecendo haver uma coexistência de decisões - recorrida e o acórdão, sendo uma mera
confirmação da outra. Esta confirmação, porém, não ocorre. Neste caso, a nova decisão, de teor
idêntico ao da decisão recorrida, substitui aquela, pela simples razão de que não podem conviver
duas decisões sobre a mesma questão no mesmo processo.
Em suma, o efeito substitutivoconsiste em substituir a decisão impugnada pelo acórdão do
tribunal quando este, nas apelações contra sentença de mérito, negar provimento, ou dar provimento
60 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
em caso de error in iudicando (pois se houver error in procedendo a decisão do juízo a quo é
anulada e não substituída).
Sabe-se que, de acordo com o art. 512 do CPC, a decisão a respeito do mérito do recurso
substitui integralmente a decisão recorrida. Porém, em se tratando de apelo parcial ou de
conhecimento parcial pelo tribunal, haverá substituição apenas da parte impugnada ou conhecida,
permanecendo intacta a outra.
Expansivo
Ocorre efeito expansivo quando a decisão do juízo ad quem é mais abrangente do que o
reexame da matéria impugnada, alcançando e modificando o ato impugnado (objetivo interno),
outros atos praticados no processo (objetivo externo) ou a situação das partes que não apelaram
(subjetivo).
Cita-se como exemplo de efeito expansivo objetivo interno o caso de o tribunal ao apreciar
a apelação, dá-lhe provimento, mas acolhe preliminar de litispendência, o que invalidará a sentença
pois que extingue o processo sem julgamento do mérito.
Seria hipótese de efeito expansivo objetivo externo a ineficácia dos atos da execução
provisória quando a apelação, recebida excepcionalmente só no efeito devolutivo, reforma a decisão
impugnada por ter sido julgada procedente pelo tribunal.
Ademais, a decisão do juízo ad quem pode alcançar também aquelas partes ou litisconsortes
que não apelaram, mas que devem submeter à uma mesma decisão por formarem litisconsórcio
unitário. É a regra do art. 509 do CPC que diz que o recurso de um litisconsorte aproveita aos
demais, salvo quando distintos ou opostos seus interesses.
1.9 Julgamento do recurso no juízo competente: no que concerne ao julgamento do recurso no
juízo competente, poderá o mesmo consistir na sua inadmissibilidade, em decisão sobre preliminar
(pressupostos objetivos, por exemplo), no conhecimento do recurso e respectiva decisão sobre o
objeto impugnado.
1.9.1 Reformatio in pejus: inicialmente, registre-se que dar provimento ao recurso significa
acolher o seu objeto, enquanto que negar-lhe provimento, ao contrário, é rejeitá-lo, mantendo-se,
em conseqüência, a decisão atacada. Entretanto, dando provimento ao recurso não poderá haver a
reforma da sentença para piorar a situação da parte que recorreu, ou seja, não se admite a reformatio
in pejus. Por outro lado, e aí não há que se falar em reformatio in pejus, se houver a interposição de
recursos por ambas as partes, como no caso de sucumbência parcial, pois poderá haver a reforma da
61 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
sentença para pior quando o tribunal dar provimento a um recurso e negar em relação ao outro.
2 DOS RECURSOS EM ESPÉCIE
2.1 EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
2.1.1 Conceito: os embargos de declaração são o recurso oposto perante o mesmo juízo que
proferiu a decisão atacada, objetivando o seu esclarecimento ou a sua integração.
Buscam, como se verifica pela leitura do art. 535 do CPC, impugnar decisão judicial eivada
de obscuridade, contradição ou omissão. Nas duas primeiras hipóteses (obscuridade e contradição),
previstas no inciso I deste artigo, os embargos de declaração são destinados a permitir o
esclarecimento da decisão judicial; na segunda (omissão), prevista no inciso II, têm por fim a
integração da decisão.
Perceba que, nos embargos destinados ao esclarecimento, não se quer que o juízo redecida,
mas que dê outra redação ao provimento recorrido, mantendo-se, porém, o seu conteúdo.
Já no que se refere aos embargos contra decisão omissa, em que se pretende a integração,
espera-se que o juízo reabra a atividade decisória, examinando a questão sobre a qual permanecera
omisso, pois que julgara citra petita (aquém do pedido). Isto pode levar à alteração do conteúdo do
provimento embargado. Os embargos, nessa hipótese, terão como efeito a modificação do julgado.
São os chamados embargos de declaração com efeitos infringentes, ou com efeitos modificativos. O
62 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
art. 463, II, segundo o qual “ao publicar a sentença de mérito, o juiz só poderá alterá-la: (...) por
meio de embargos de declaração”, vem confirmar a admissibilidade de modificação do julgado
mediante embargos.
Por isso se diz haver espécies de embargos de declaração: os embargos propriamente dito,
que visam exclusivamente esclarecer contradição ou obscuridade; e os embargos integrativos,
modificativos ou com efeitos infringentes, que visam suprir ou integrar omissão. Sintomática é,
portanto, a regulação dos embargos de declaração em dois incisos distintos no artigo que os prevê,
qual seja, o art. 535.
2.1.2 Natureza jurídica:
Os embargos de declaração é um instituto de natureza bastante controvertida.
Uma primeira corrente não considera os embargos declaratórios uma modalidade de recurso,
mas mero incidente de julgamento, visto que são apreciados pelo próprio juízo que proferiu a
decisão, estando desprovido de efeito devolutivo, e, normalmente, não modificam o julgado.
A segunda corrente, entretanto, considera os embargos declaratórios uma modalidade de
recurso, embora sui generis, uma vez que o próprio Código de Processo Civil, no art. 496, o trata
como tal, bem como podem, excepcionalmente, alterar o julgado quando a decisão for omissa em
relação a algum ponto que o juiz deveria se pronunciar e não o fez.
Esta última é a melhor posição, pois a atribuição de natureza recursal a determinado instituto
é função do legislador, e, nesse caso, nosso legislador previu, expressamente, os embargos de
declaração como uma das modalidades recursais. Além disso, o art. 538 do CPC dispõe que a
oposição dos embargos de declaração interrompe o prazo para o oferecimento de OUTROS
recursos, o que mostra que a lei atribui ao instituto natureza recursal.
2.1.3 Atos atacáveis: os embargos de declaração são cabíveis contra qualquer provimento judicil de
conteúdo decisório: sentenças, terminativa ou definitiva, acórdãos, e, apesar do silêncio da lei,
segundo ampla doutrina, as decisões interlocutórias, todas proferidas em qualquer que seja o
processo: de conhecimento, execução ou cautelar.
Há quem defenda, ainda, a possibilidade de embargos declaratórios contra despachos de
mero expediente. Mas, esse entendimento não prevalece, pois tais provimentos não têm conteúdo
decisório, bastando para que se possa sanar obscuridade, contradição ou omissão neles contida, que
se interponha petição simples, a qualquer tempo.
2.1.4 Efeitos: os efeitos podem ser principais ou secundários.
63 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
2.1.4.1 Principais:
a) evitar o trânsito em julgado da sentença, salvo os embargos forem intempestivos ou
manifestamente incabíveis, quando o trânsito em julgado já se opera muito antes da decisão que os
inadmitiu; ou evitar a preclusão, se tratar de decisão interlocutória;
b) efeito interruptivo: interrompe o prazo, para ambas as partes, de interposição de qualquer outro
recurso contra a mesma decisão, enquanto os embargos não forem julgados. Tal prazo volta a
correr, por inteiro, após a intimação das partes do resultado do julgamento dos embargos.
É de se notar que o efeito interruptivo é um efeito da interposição do recurso, produzindo-se
neste momento, independentemente de ser futuramente admitido ou não.
Vale lembrar que os embargos de declaração opostos nos feitos de competência dos Juizados
Especiais Cíveis (JEC’s), por força do art. 50, da Lei n. 9099/95, suspendem o prazo para a
interposição dos demais recursos.
Como é uma mais uma previsão que não se alinha com o CPC (além da possibilidade dos
embargos se na decisão contiver dúvida), o STJ tem-se posicionado no sentido de restringir a
interpretação do dispositivo no sentido de entender que só haverá suspensão, e não interrupção, dos
prazos para os demais recursos quando os embargos forem opostos contra sentença.
Isto posto, se tratar de embargos contra outras decisões dos Juizados, como acórdãos, o
efeito continuará a ser o interruptivo, como informa a lei formal geral.
2.1.4.2 Secundários:
a) não devolutivo [iterativo ou regressivo (significa que os embargos são apreciados pelo mesmo
juiz que proferiu a decisão)].
Discute-se se haveria vinculação do juiz que prolatou a decisão embargada para o
julgamento dos embargos, isto é, se os embargos de declaração teriam de ser necessariamente
apreciados pelo mesmo juiz que proferiu a decisão recorrida, em atendimento ao princípio da
identidade física do juiz??
Não, tal princípio é inaplicável à hipótese. A competência para o julgamento dos embargos
do mesmo órgão jurisdicional que proferiu a decisão embargada. Isto se dá em razão de não ser o
juiz (pessoa natural) sujeito do processo, mas mero agente público que, no exercício de suas
funções, atua em nome do Estado-juiz.
b) suspensivo (impede a execução da sentença, que não se inicia).
64 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
2.1.5 Prazo de oposição: são opostos no prazo de 5 (cinco) dias contados da intimação da decisão
embargada (sentença, acórdão ou decisão interlocutória).
2.1.6 Procedimento:
São opostos - por apenas uma ou ambas as partes, pelo Ministério Público ou pelo terceiro
prejudicado - mediante petição escrita (salvo nos JEC’s, quando poderão ser opostos oralmente),
perante o juiz ou tribunal que proferiu a decisão, no prazo de 5 (cinco) dias contados de sua
intimação.
Não exigem preparo e não há necessidade de se ouvir a parte contrária. A lei, portanto, não
prevê o contraditório nos embargos, razão pela qual não há oportunidade para oferecimento de
contra-razões pelo embargado, exceto se os embargos produzirem efeito modificativo, quando então
ele disporá, para tanto, do mesmo prazo da oposição, qual seja, 5 dias.
Para Theodoro Jr., nos embargos integrativos ou com efeitos infringentes, deverá a decisão
embargada, primeiramente, ser anulada, para que outra seja proferida em seu lugar, permitindo-se,
então, a ambas as partes recorrer contra esta NOVA decisão. Nesse momento é que se garante o
contraditório.
Essa solução é mais complexa, propondo um contraditório diferido, pois que, na prática,
nada impede que ele se configure desde já no curso dos embargos.
A nova decisão deve ser proferida em 5 dias, intimando-se as partes em seguida. Trata-se de
um prazo impróprio, ou seja, de um prazo cujo descumprimento não acarreta qualquer conseqüência
processual ao juiz, como a maioria dos prazos judiciais.
2.1.7 Embargos de declaração protelatórios: caso haja oposição de embargos com intenção clara
de apenas procrastinar o feito, o Código de Processo Civil, em seu art. 538, parágrafo único,
impõe que o juiz ou tribunal condene o embargante a pagar uma multa, a favor do embargado, não
excedente de 1% sobre o valor da causa, podendo ser elevada (e não adicionada à anterior) até 10%
(dez por cento), na hipótese de reiteração dos mesmos.
Havendo reiteração e o conseqüente complemento da multa, o depósito desta se torna
requisito de interposição (para Alexandre Câmara, trata-se de requisito de admissibilidade –
regularidade formal) de qualquer outro recurso. Assim, o embargante não poderá interpor outro
recurso antes de pagar a multa, embora o prazo já tenha voltado a correr.
Entretanto, segundo a Súmula 98 do STJ, quando os embargos são opostos exclusivamente
65 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
com o fim de prequestionamento13, à título de interposição de recursos especial ou extraordinário,
não terá caráter protelatório.
2.1.8 Embargos de declaração da sentença que julga embargos de declaração: são possíveis
novos embargos de embargos se os posteriores versarem sobre questões surgidas por ocasião do
julgamento dos anteriores; se tal ocorrer, o prazo para outro recurso continuará interrompido.
Assim sendo, pode-se concluir que cabem embargos dos embargos prequestionadores, caso
o magistrado, do julgamento do primeiro, permanecer omisso, sob pena de eternizar a demanda.
A única solução para o caso é a interposição de um novo REsp ou RE contra a decisão que
julgou os embargos original, agora com fundamento na violação dos arts. 128 e 460 do CPC ou art.
5º, inc. LIV, CF/88, já que a omissão renitente traduz numa entrega insuficiente da prestação
jurisdicional, o que contraria os princípios do dispositivo e do devido processo legal.
2.2 APELAÇÃO
2.2.1 Conceito: é o recurso que se interpõe de sentença, definitiva ou terminativa, para levar a causa
ao reexame do órgão hierarquicamente superior, visando obter reforma (total ou parcial), quando
fundar-se em error in iudicando, ou a invalidação da decisão impugnada, quando se tratar de error
in procedendo.
2.2.2 Previsão legal: o recurso está previsto nos arts. 496, I; 513 a 521 do CPC.
2.2.3 Cabimento: a apelação é cabível contra sentença, seja ela definitiva ou terminativa, ou seja,
de ato decisório que põe fim ao processo, resolvendo (art. 269) ou não (art. 267) o mérito da causa,
proferida em qualquer processo, seja de conhecimento, de execução ou cautelar, e em qualquer rito
(salvo no sumaríssimo, no âmbito dos JEC’s, onde há previsão específica na Lei n. 9.099/95 do
13 É a exigência de que na decisão recorrida tenha o juiz se pronunciado sobre questão federal ou constitucional, a fim de se verificar se realmente houve violação ou má interpretação do direito objetivo. Não cabe REsp ou RE contra decisão cuja matéria não tenha sido amplamente debatida; ou seja, é imprescindível que tenha exaurido as instâncias inferiores (1º e 2º graus). Todavia, se a decisão é entregue omitindo-se o juiz sobre ponto que, se enfrentado, poderia haver violação da norma federal ou constitucional, poderá a parte opor embargos de declaração forçando o magistrado suprir tal omissão, e, por conseqüência, deixando a matéria debatida (prequestionada).
66 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
cabimento do recurso inominado; e na execução fiscal, cuja Lei 6.830/80, restringe o cabimento da
apelação em causas cujo valor seja inferior a 50 OTN’s).
Assim, não importa se a decisão decide ou não a lide, julga o autor carecedor da ação, rejeita
a peça vestibular por inépcia etc. Portanto, por exemplo, quando a sentença por fim ao processo sem
resolver o mérito por indeferimento da petição inicial (art. 267, I) é cabível apelação, conforme o
art. 296 do Código de Processo Civil.
Mas, especificamente nessa hipótese, há uma peculiaridade desse recurso: o juiz que
proferiu a decisão apelada, antes do exame de admissibilidade, excepcionalmente, poderá proferir
um exame de mérito, retratando-se e reformando a sua decisão em 48 horas após a interposição do
recurso.
Não a reformando, deverá, independentemente de ouvir a outra parte (que não foi ainda
citada, pois a petição fora, originalmente, indeferida), remeter os autos para o juízo ad quem (art.
296, parágrafo único).
Trata-se do juízo de retratação14, que é uma exceção, pois há modificação da decisão até
mesmo antes do juízo de admissibilidade. Isso pois que, se feito o exame, recebendo ou não a
apelação, significa dizer que o juiz mantém-se em sua decisão, cabendo qualquer modificação
mediante a reapreciação pelo tribunal.
A retratação é uma exceção à regra do art. 463, segundo o qual, com a publicação da
sentença, o juiz não poderá mais alterá-la; opera-lhe a chamada preclusão judicial (pro iudicato).
2.2.4 Forma de interposição: a interposição do recurso de apelação se faz por escrito, em petição
fundamentada (admite-se, por exemplo, a interposição por telegrama), perante o juízo que proferiu a
decisão recorrida. Na prática, costuma ser dividida em duas peças: a de interposição, dirigida ao
juízo a quo; e a das razões, que àquela se anexa, dirigidas ao órgão hierarquicamente superior
(tribunal).
Na petição do recurso deverá conter:
a) o nome e a qualificação das partes – é dispensável se as partes já litigaram no 1º grau, pois já
estão qualificadas, bastando constar seus nomes, a fim de delimitar os efeitos do recurso. Tal
omissão constitui mera irregularidade, não o sendo, entretanto, se o apelante for o terceiro
prejudicado, cuja qualificação se faz obrigatória, tendo em vista que não foi parte da relação
processual original.
b) os fundamentos de fato (pois devolve-se o conhecimento da matéria de fato; por isso, se trata de
14 Cabe retratação também em outros recursos, como no agravo de instrumento (arts. 529 c/c 526) e
no agravo retido (art. 523, §2º).
67 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
um recurso comum) e de direito, ou seja, as razões do recurso, consistentes em indicar se houve
error in iudicando (se refere à injustiça da sentença, em virtude erro cometido pelo juiz na solução
das questões de fato ou de direito) ou error in procedendo (quando houver vícios, inclusive de
ordem processual, suscetíveis de afetar a decisão); e
c) o pedido de:
c.1) reforma, com um novo pronunciamento de mérito que substitua o do juízo a quo, em caso de
error in iudicando;
c.2) a invalidação ou anulação da decisão recorrida, retornando os autos ao juízo inferior, ou ao
órgão competente (se tratar de vício de incompetência), para novo julgamento, em caso de error in
procedendo;
c.3) alternativamente, em observância ao princípio da eventualidade, a anulação da sentença ou sua
reforma, total ou parcial; e
c.4) a reforma, com o retorno dos autos ao juízo inferior para apreciação do mérito, ou o imediato
julgamento da lide, conforme §3º do art. 515, CPC (adiante tratado), se tratar de apelação contra
sentença terminativa.
Conforme a jurisprudência tradicional, a falta de razões impede o conhecimento da apelação
e a falta de assinatura do advogado, na petição de interposição ou naquelas, não implica em
inexistência do recurso, mas mera irregularidade, portanto, sanável (art. 284, CPC).
2.2.4.1 Juntada de documento:
É de nosso conhecimento que a atuação do tribunal quando do julgamento da apelação está
limitada ao pedido do apelante, à matéria que por ele foi impugnada. A regra esculpida no art. 128
do CPC é válida também para atividade jurisdicional de 2º grau, devendo julgar a lide nos limites
em que foi proposta (efeito devolutivo sob a dimensão horizontal, ou quanto à extensão).
O juízo ad quem está em face da mesma lide, mas com a extensão do seu conhecimento
limitada pelo princípio do tantum devolutum quantum appellatum.
Isso não quer dizer que ele deva reexaminar, nos limites da impugnação, tão-somente as
questões decididas na sentença recorrida, mas também aquelas que pelo juízo a quo não foram
enfrentadas, embora a ele foi dada tal oportunidade. É o que chamamos de devolução sob a
dimensão vertical, ou quanto à profundidade.
Mas o que não se pode admitir, de forma nenhuma, é o reexame de questões que sequer
foram ventiladas na lide de 1º grau, que nem chegaram ao conhecimento do juízo a quo, sob pena
de o tribunal fazer julgamento extra ou ultra petita, bem como violar o princípio do duplo grau de
jurisdição.
68 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
Portanto, é proibido, na apelação, alegar questões de fato que não foram suscitadas no juízo
inferior, e, por isso, muito menos juntar novos documentos, salvo:
a) se a apelação for interposta por terceiro prejudicado, visto que para ele não há falar-se em
preclusão, em vista de não ter participado da relação jurídica processual de 1º grau;
a) se for para provar fato novo, superveniente ao último momento em que a parte poderia alegá-lo;
ou mesmo já existente, se provar que deixou de fazê-lo por motivo de força maior (art. 517).
Ficam, obviamente, excluídas da abrangência da regra, contida no art. 517, as questões de
direito (causa de pedir próxima), pois que iura novit curia; as capazes de serem conhecidas e
apreciadas de ofício pelo órgão superior; e as que venham a ser suscitadas pelo terceiro prejudicado,
que certamente só integram o processo após a prolação da sentença.
“Para que seja possível a apreciação da questão nova, é preciso que o fato ainda não tivesse
ocorrido até o último momento em que a parte poderia tê-lo argüido em primeiro grau, ou que não
tivesse ciência dele ou que não pudesse argüí-lo por circunstâncias alheias a sua vontade" (Barbosa
Moreira).
Estende-se o direito de inovar ao réu também, sendo-lhe permitido lançar defesa, desde que
em face de fatos já alegados pelo autor.
2.2.5 Prazo: O recurso de apelação deve ser interposto no prazo de 15 dias contados da intimação
da decisão (em audiência, se prolatada; ou por mandado, se proferida).
Tal regra é excepcionada quando o recurso for interposto pela União, Estados, Distrito
Federal, Municípios, fundações públicas e suas respectivas autarquias, bem como pelo Ministério
Público, que têm o prazo em dobro para recorrer (art. 188 do CPC). Para as contra-razões a
contagem do prazo não sofre alteração. Ao Defensor Público aplica-se o disposto na Lei nº
1.060/50, art. 5º, § 5º, ou seja, o prazo em dobro tanto para interpor o recurso quanto para oferecer
as contra-razões.
Nos Juizados Especiais Cíveis, o prazo para o respectivo recurso, conhecido por recurso
inominado, mas que faz às vezes da apelação, é de 10 dias.
2.2.6 Preparo: sendo um dos pressupostos objetivos, exige a lei que, para a efetivação do
pagamento das despesas de tramitação do recurso, isto é, remessa e retorno dos autos (art. 511), a
parte deverá comprovar o pagamento juntamente com a interposição do recurso, sob pena de
deserção.
É importante notar que se, interposta a apelação, o preparo é efetuado a posteriori, embora
69 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
dentro do prazo de 15 (quinze) dias, ocorre a preclusão consumativa.
Por outro lado, ocorrendo obstáculo na realização do preparo, por justo impedimento, o juiz
relevará a pena de deserção, fixando novo prazo, cuja decisão é irrecorrível. Havendo insuficiência
do valor do preparo, conforme §2º do art. 511 do CPC, a parte deverá ser intimada para completá-lo
no prazo de 5 dias, sob pena de deserção.
A decisão que julga o recurso deserto é interlocutória, podendo ser atacada mediante a
interposição do recurso de agravo por instrumento.
2.2.7 Procedimento:
Interposta a apelação, caberá ao juízo a quo, ao despachá-la, proferir o primeiro juízo de
admissibilidade, dando seguimento ou não à apelação.
Se tratar de sentença (terminativa) que indeferiu liminarmente petição inicial, poderá o juiz
retratar da decisão em 48 hs após a interposição da apelação (art. 296). Caso mantenha a decisão,
remeterá os autos imediatamente ao tribunal (parágrafo único, art. 296).
Negando seguimento (por ausência de pressupostos recursais; ou em virtude de súmula
impeditiva – art. 518, §1º), dessa decisão cabe agravo de instrumento pelo recorrente ao juízo ad
quem, pois que competente para o julgamento da apelação.
Mas, se o juízo for positivo, o juízo a quo receberá a apelação, declarando os efeitos (se
devolutivo e suspensivo, ou só devolutivo) em que a recebe, e, ato contínuo, intimará o recorrido
para, em 15 (quinze) dias, oferecer as contra-razões e/ou interpor recurso adesivo. Segundo previsão
no art. 518, §2º, após a resposta, é facultado ao juiz, em 5 dias, proferir um 2º juízo de
admissibilidade, quando, se positivo, remeterá os autos ao juízo ad quem.
Da decisão do a quo que recebe o recurso, ou seja, do juízo positivo, não cabe recurso, salvo
se, no momento do recebimento, for atribuído efeito diverso do que manda a lei, cabendo, portanto,
agravo de instrumento. Será o agravante aquele que se sentir prejudicado com a decisão.
Subindo os autos ao juízo ad quem, este fará o terceiro juízo de admissibilidade antes de
apreciar o mérito, verificando a existência dos pressupostos recursais, cuja decisão será no sentido
de conhecer ou não do recurso.
Convém lembrar a regra do art. 557 que permite ao relator, monocraticamente, não conhecer
da apelação, quando ela for manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em
confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo
Tribunal Federal ou de Tribunal Superior.
Tal artigo, em seu §1º-A, vai mais além, e amplia o poder do relator para, também
monocraticamente, prover a apelação caso a sentença apelada esteja em confronto com súmula ou
70 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
jurisprudência dominante do STF ou de Tribunal Superior.
Das decisões do relator cabe agravo regimental no prazo de 05 (cinco) dias. Se proferida
pela Turma, poderá caber REsp ou RE.
Caso o relator dê seguimento, a tramitação da apelação no tribunal ou juízo ad quem segue o
disposto nos arts. 547 a 565 do CPC (conclusão ao revisor, salvo art. 551, §3º => julgamento pela
Câmara/Turma => ACÓRDÃO, onde será feito, concomitantemente, o 4º juízo de admissibilidade
e, se positivo, o juízo de mérito, provendo ou não a apelação => poderá caber Embargos
Infringentes, REsp ou RE).
2.2.8 Efeitos
Conforme já mencionado na teoria geral dos recursos, de fundamental importância é o
estudo dos seus efeitos, sendo o principal deles obstar o trânsito em julgado da sentença.
Secundariamente, têm-se também os efeitos devolutivo e suspensivo, propiciando o
primeiro a devolução ao tribunal ad quem da matéria impugnada, enquanto o segundo a suspensão
dos efeitos da decisão recorrida.
Nesse sentido, o juiz, ao receber a petição do recurso de apelação, declarará os seus efeitos,
cuja decisão - interlocutória - poderá ser atacada mediante a interposição do recurso de agravo por
instrumento. Da mesma forma também se constituirá em decisão agravável aquela que não receber
o recurso em questão.
2.2.8.1 Efeito Devolutivo
Permite ao órgão ad quem, como regra geral, a reapreciação da matéria objeto de
impugnação, nos termos do caput do art. 515 do Código de Processo Civil, consagrando a máxima
tantum devolutum quantum appellatum.
Dessa forma, a depender do que for impugnado pelo apelante, nos limites de sua
sucumbência, a devolução pode ser total ou parcial (devolutividade sob a dimensão horizontal, ou
quanto à extensão).
O apelante só pode impugnar o que foi decidido, pois está limitado à própria sucumbência.
Não pode, portanto, como já vimos, fatos novos sobre os quais não houve sequer conhecimento ou
oportunidade de julgamento pelo juízo a quo (salvo o caso do art. 517 – fatos supervenientes ou
cuja argüição em momento próprio não foi possível em virtude de força maior).
Assim, o juízo ad quem está em face da mesma lide, mas com a extensão do conhecimento
limitada pela impugnação. Em outras palavras, todas as questões (pedidos) e fundamentos (de fato e
de direito – argumentações) adstritos à parcela da impugnação são devolvidas ao tribunal, ainda que
71 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
não tenham sido apreciadas uma ou algumas delas, embora tenha sido dada tal oportunidade ao
juízo a quo. Estamos, dessa forma, diante da devolutividade sob a dimensão vertical, ou quanto à
profundidade, que é sempre integral.
Esta é a inteligência dos §§ 1º, 2º e 3º do art. 515, bem como do art. 516, CPC.
De acordo com os parágrafos 1º e 2º, devolve-se ao tribunal de todas as questões discutidas
no processo, ainda que a sentença do juiz não as tenhas julgado por inteiro (§ 1º), como, v.g., a
hipótese de o juiz negar um primeiro pedido e deixar de examinar o pedido seguinte.
Ou quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um (§
2º), como, v. g., no caso de pedido de rescisão contratual, onde se discute o defeito da coisa bem
como a falta de manutenção na mesma.
Uma questão muito polêmica merece ser lembrada nesse momento. Trata-se da hipótese de
o juiz não ter enfrentando o mérito propriamente dito (ou seja, não ter apreciado as questões e muito
menos os fundamentos) por ter acolhido prescrição ou decadência, proferindo, in casu, sentença de
mérito.
Considerando o disposto nos §§1º e 2º do art. 515, poderá o tribunal, depois de reformar a
sentença, afastando a hipótese de prescrição ou de decadência, enfrentar o mérito propriamente dito
sem sequer o juízo inferior tê-lo feito? Não haveria aqui violação ao princípio do duplo grau de
jurisdição por supressão de instâncias?
De acordo com a ampla doutrina e jurisprudência, a resposta seria sim, de forma que seria
necessária a devolução pelo tribunal dos autos ao juízo inferior para que este enfrente pela primeira
vez o mérito propriamente dito.
Todavia, há quem sustente o inverso, v.g. Barbosa Moreira, Alexandre Câmara, para quem
não se faz necessário que o juízo a quo tenha se pronunciado sobre todas as questões de mérito para
que o tribunal também possa fazê-lo. Complementam afirmando que basta que tais questões
pudessem ter sido apreciadas, não havendo que se falar em supressão de instâncias.
Por outro lado, esta questão de “supressão de instâncias” ficou mais polêmica com a
inserção do §3º ao art. 515, em 2001, pela Lei 10.352, pois que admitiu o tribunal, depois de afastar
causa acolhida pelo a quo de extinção SEM resolução de mérito, julgar desde logo a lide (o
mérito), se:
- a causa versar questão exclusivamente de direito E
- estiver em condições de imediato julgamento.
Algumas observações importantíssimas merecem ser feitas com relação a este parágrafo:
1ª) melhor teria sido se o legislador tivesse utilizado a conjunção alternativa “OU”, no lugar da
conjunção aditiva “E”, pois que é possível uma causa versar também questão de fato e estar em
72 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
condições de imediato julgamento. Vale lembrar os fatos notórios e os incontroversos, os quais
dispensam completamente dilação probatória, autorizando ao juiz, desde logo, o julgamento;
2ª) sendo a causa exclusivamente de direito, ou sendo de fato e de direito, mas em ambos os casos
estando em condições de imediato julgamento, aplica-se a teoria da causa madura, à semelhança da
regra contida no art. 330, CPC (que trata de julgamento antecipado da lide), permitindo o tribunal
julgar desde logo o mérito;
3ª) desde que não viole o contraditório (o que será impossível se tratar de sentença terminativa que
indeferiu liminarmente – antes da citação do réu – a petição inicial), é totalmente constitucional a
permissão do parágrafo em questão.
Afastadas, então, ficam as acusações de uma pequena parcela da doutrina, que o imputava
inconstitucional por violação ao princípio do duplo grau de jurisdição e ao princípio da
recorribilidade.
No primeiro caso, porque há quem entenda que o duplo grau não é sequer princípio
constitucional (embora entendamos o contrário, por estar ele implícito); e também porque, embora o
juízo a quo tenha extinguido o processo sem adentrar ao mérito, a ele foi dada oportunidade de
enfrentá-lo, se o quisesse, já que o feito já se encontrava pronto pra ser julgado (causa madura).
No segundo caso, porque embora a matéria, mesmo sendo de fato, seja enfrentada
originalmente pelo tribunal, é possível sua rediscussão via de embargos infringentes, caso a
apelação seja provida por maioria de votos15.
Por fim, o art. 516 do CPC preconiza que as questões anteriores à sentença e ainda não
decididas, da mesma forma, são devolvidas (efeito translativo) ao tribunal, pois são omissões de
natureza processual (questões preliminares, como, v. g., os pressupostos processuais e as condições
da ação).
2.2.8.2 Efeito Suspensivo
É aquele que impede, que suspende os efeitos, inclusive executórios, da sentença recorrida,
não podendo ser executada, ainda que provisoriamente.
Esta é a regra geral, mas comporta exceções, ou seja, há hipóteses em que a apelação,
excepcionalmente, será recebida apenas no efeito devolutivo, o que implica dizer que a sentença
apelada pode, desde já, produzir seus efeitos e ser executada provisoriamente (observado o disposto
no art. 475-O, CPC).
15 Há quem entenda, como Manoel Antônio Teixeira Filho, que feriria o princípio da recorribilidade porque a matéria de fato não poderá ser rediscutida em instância superior, já que acima do tribunal se acham apenas juízos extraordinários, como o STJ e o STF, onde só é possível rediscussão de matéria de direito via REsp ou RE.
73 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
Tais exceções constam nos arts. 520 e 1184 do CPC, bem como no art. 58, V da Lei das
Locações (Lei n. 8.245/91), art. 12, parágrafo único da Lei do Mandado de Segurança (Lei n.
1.533/51), entre outros.
Entretanto, ainda nestes casos, se o apelante requerer, de forma acautelatória, ao relator o
efeito suspensivo, este poderá concedê-lo, desde que esteja provado que a produção imediata dos
efeitos da sentença (conseqüência direta da apelação recebida apenas no efeito devolutivo) gere
risco de um dano grave, de difícil ou impossível reparação (ou seja, fumus boni iuris e periculum in
mora).
Portanto, todas aquelas exceções podem ser mitigadas, ocasião em que a apelação é
recebida, conforme a regra geral, no seu duplo efeito quando resultar lesão grave ou de difícil
reparação ao apelante, conforme depreende-se do disposto no art. 558, parágrafo único, do CPC.
É oportuno lembrar que a ação do mandado de segurança e a ação cautelar não podem ser
utilizadas como sucedâneo de concessão de efeito suspensivo a recurso que legalmente não o tem.
Assim, se o recurso só tem efeito devolutivo, não é possível ao recorrente perseguir o efeito
suspensivo mediante outros meios, salvo no caso do art. 520, como já dito, que o próprio art. 558,
parágrafo único do CPC permite o manejo de cautelar se provar a existência daqueles requisitos de
urgência.
Por outro lado, pode acontecer a seguinte situação: o recurso ter efeito suspensivo e o juiz
não o conceder. Mas, até mesmo nesse caso, para obtê-lo, deverá o apelante utilizar-se do agravo de
instrumento, posto que este é o meio impugnativo cabível contra a decisão do juiz que recebeu o
recurso, no caso a apelação, nos efeitos diversos do que manda a lei (art. 522).
O mandado de segurança só terá guarida se, depois de interposto o agravo de instrumento, a
turma não provê-lo, ou seja, confirmar a decisão do juízo a quo no sentido de manter apenas o
efeito devolutivo à apelação.
Fora deste caso e do disposto no art. 558, parágrafo único, não há que se falar em mandado
de segurança ou ação cautelar para obter efeito suspensivo.
Mas, quais são os casos em que, por exceção, a apelação será recebida apenas no efeito
devolutivo? Os mais importantes estão previstos no art. 520, 2ª parte, do CPC, quais sejam:
I - homologar a divisão ou a demarcação – a sentença produzirá logo seus efeitos, pois se trata de
uma opção política do legislador, que quase sempre produz normas que visam tutelar o direito de
propriedade.
II - condenar à prestação de alimentos – seria contrário ao princípio da efetividade processual
admitir que a apelação contra tal sentença seja recebida também no efeito suspensivo, pois que o
direito nela reconhecido é de caráter alimentar e urgente.
74 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
III – revogado pela Lei 11.232/05 – tratava de sentença de liquidação.
IV - decidir o processo cautelar – é em razão do caráter provisório, acautelatório e urgente, pois um
dos requisitos para a concessão de uma medida cautelar é justamente o perigo de lesão face à
demora do provimento principal no processo de conhecimento.
V - rejeitar liminarmente embargos à execução ou julgá-los improcedentes – visa nitidamente
beneficiar o exeqüente que verá a sua execução prosseguir normalmente face à produção imediata
dos efeitos da improcedência ou da rejeição dos embargos.
Calha lembrar que esta hipótese ficou esvaziada, especialmente porque, com o fim do
processo autônomo de execução de título judicial (pela alteração dada pela Lei 11.232/05), só há
que se falar de embargos à execução em casos excepcionais, como na execução contra a Fazenda
Pública.
No entanto, mesmo nesse caso a disposição fica prejudicada na medida em que o
recebimento da respectiva apelação só no efeito devolutivo será ineficaz, já que não será possível
promover execução provisória face à exigência constitucional do precatório, que pressupõe trânsito
em julgado, definitividade da decisão.
Portanto, conclui-se que a apelação interposta contra decisão que rejeitou embargos ou
que os julgou improcedentes, na execução contra a Fazenda Pública, será recebida necessariamente
no duplo efeito.
Por outro lado, em outra execução qualquer (v.g. execução fundada em título
extrajudicial), se considerarmos que a apelação contra a decisão dos embargos será recebida apenas
no efeito devolutivo, deduz-se que será possível a promoção da execução provisória de tal decisão.
Mas como promover uma execução provisória se já há uma execução definitiva em andamento?
Para ampla maioria da doutrina (Theodoro Jr., Araken de Assis, Didier Jr etc), seria um
contra-senso permitir que uma execução que já começou de forma definitiva (posto que fundada em
título extrajudicial) se transforme em execução provisória (por haver decisão provisória pendente de
recurso recebido só no efeito devolutivo).
Tal entendimento, inclusive, foi consolidado pela Súmula 317, do STJ, segundo o qual
“é definitiva a execução de título extrajudicial, ainda que pendente apelação contra sentença que
julgue improcedentes embargos”.
Todavia, a Lei 11.382/06 alterou estranhamente a redação do art. 587 do CPC, no
sentido de considerar tal execução será provisória, mesmo que recebida a apelação no duplo efeito.
VI - julgar procedente o pedido de instituição de arbitragem.
75 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
VII - confirmar a antecipação dos efeitos da tutela – este inciso, inserido no art. 520 pela Lei n.
10.352/01, veio corrigir um defeito em nosso sistema, que acabava por tornar a medida da tutela
antecipada ineficaz ao permitir a suspensão da decisão que a confirmava.
Com o afastamento do efeito suspensivo, agora fica garantida a sua eficácia, pois que a
sentença produzirá efeitos imediatamente.
Segundo Luiz Rodrigues Wambier (in Breves Comentários à 2ª Reforma do CPC, p. 146),
“(...) de nada valeria à parte requerente obter a antecipação da tutela pretendida e, ao mesmo
tempo, ver impossibilitada sua execução por força de efeito suspensivo atribuído ao recurso de
apelação (...)”.
Mas, há quem entenda que o legislador deveria ter previsto também no inciso VII a
sentença que não confirma, ou seja, que revoga, rejeita, cassa a liminar. Isso porque, se admitir o
recebimento da apelação no duplo efeito, implicaria no revigor do provimento antecipatório já
cassado na sentença. Sendo assim, seria necessário retirar o efeito suspensivo também da apelação
interposta contra sentença que rejeita a antecipação de tutela.
Acontece que, embora tal sentença fique com seus efeitos obstados, a liminar cassada não
revigorará, pois o seu cancelamento se dá automaticamente com a decisão final de improcedência,
independentemente, inclusive, de o juiz ser expresso.
Mas tal posição é bastante questionada na doutrina e ainda não restou pacificada ante o
silêncio do legislador da reforma. Entretanto, nas decisões goianas tem sido aplicado o referido
inciso VII na sua maior extensão possível.
2.3 AGRAVO
2.3.1 Noções gerais (conceito, campo de aplicação, modalidades e prazo).
O recurso de agravo se presta a atacar decisões interlocutórias, ou seja, aquelas
proferidas no curso do processo, resolvendo questão incidente, conforme definição legal contida
no §2° do art. 162 do CPC.
Tem aplicação quando a decisão interlocutória for proferida em quaisquer processos
(de conhecimento, de execução ou cautelar) e em quaisquer jurisdições (contenciosa ou
voluntária).
Está previsto nas modalidades retida e de instrumento, as quais não se confundem com
o chamado agravo regimental (também conhecido como agravo interno ou agravinho), cabível
76 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
contra decisão monocrática de tribunal (relator - art. 545, CPC), no prazo de 5 dias, cujo
processamento é definido nos Regimentos Internos dos tribunais.
O prazo para a interposição do agravo, seja retido ou por instrumento, é de 10 dias
contados da intimação da decisão recorrida, salvo quando a interposição for obrigatoriamente oral
(art. 523, §3°, cf. Lei 11.187/05), a qual se dará imediatamente à prolatação da decisão, sob pena
de preclusão.
Tal prazo será em dobro se o recurso for interposto pela União, Estados, DF,
Municípios e suas respectivas autarquias, bem como pelo Ministério Público (art. 188). Será
também em dobro, inclusive para contra-razoar, o prazo para o Defensor Público (art. 5°, §5° da
Lei n. 1.060/50).
2.3.2 Cabimento
Os dispositivos relativos ao recurso de agravo, principalmente aos que dizem respeito
ao seu cabimento, sofreram modificação recente pela Lei n. 11.187, de 20/10/05, a qual entrará em
vigor em 18/01/06, à luz da qual se fará o presente estudo.
Mas, antes de analisarmos propriamente o cabimento do agravo, convém diferenciar as
suas modalidades retida e por instrumento.
No primeiro caso, interposto o agravo, a irresignação e as respectivas razões ficarão
retidas nos autos, aguardando a subida ao tribunal (que é competente para o seu julgamento) até o
momento de se interpor o recurso da decisão final, qual seja, da que tenha dado fim ao processo.
Assim, sendo proferida a sentença, contra qual cabe apelação, na ocasião da remessa desta ao
órgão ad quem é que, ao conhecimento dele, chegará também o agravo outrora interposto. Por isso,
é que se diz que o efeito devolutivo do agravo retido é diferido ou retardado.
Já, no segundo caso, por não ser possível à parte agravante esperar pela decisão final,
para então fazer subir ao conhecimento do tribunal a sua irresignação, sem que isso lhe importe em
um prejuízo grave ou de difícil reparação, é possível a interposição do agravo diretamente no
tribunal.
Entretanto, como os autos continuarão no juízo inferior, cuja marcha processual
prosseguirá (lembre-se que a decisão recorrida é interlocutória, o que implica dizer que não pôs
fim ao procedimento de 1° grau, o qual continuará), o agravo segue direto ao conhecimento do
juízo superior.
77 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
Dessa forma, faz-se necessária a remessa, juntamente com as razões do agravo, de
cópias de documentos, sem as quais se torna impossível o seu julgamento. O conjunto desses
documentos forma o que chamamos de instrumento.
Percebe-se que a diferença básica para a modalidade retida e que justifica a interposição
direta no tribunal mediante agravo de instrumento é a urgência do agravante de ver, tão logo,
reapreciada a decisão interlocutória que lhe fora desfavorável.
E essa é a razão encontrada pelo legislador para definir o cabimento do agravo de
instrumento nos “causar à parte lesão grave e de difícil reparação, bem como nos casos de
inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida” (art. 522, caput,
com a modificação dada pela Lei n. 11.187/05). A palavra-chave sempre foi urgência.
Agora, com a nova redação dada ao art. 522, que trouxe para o seu bojo o cabimento
específico de agravo de instrumento, outrora previsto na 2ª parte do §4° do art. 523, CPC
(parágrafo este que se encontra atualmente revogado), por exclusão, se conclui que a REGRA
GERAL é a interposição de AGRAVO RETIDO.
Senão vejamos a nova dicção legal:
Art 522 - Das decisões interlocutórias caberá agravo no prazo de 10 (dez) dias, na forma retida, salvo quando se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida, quando será admitida a sua interposição por instrumento. (grifo nosso)
Por conseqüência, não se tratando de caso específico de agravo de instrumento (hoje
regulado pelo novo art. 522, 2ª parte), em TODOS os demais casos só é possível interposição de
agravo na modalidade retida.
2.3.3 Modalidades
O recurso de agravo está previsto nas modalidades retida e por instrumento. O referido
recurso não se confunde com o agravo regimental, previsto, v. g., no art. 545 do CPC, que é cabível
contra a decisão do relator que não admitir o agravo de instrumento, negar-lhe provimento ou
reformar o acórdão recorrido.
O prazo para a sua oposição é de 5 (cinco) dias, contados da intimação da decisão,
devendo o mesmo ser dirigido ao órgão competente para o julgamento do agravo.
Tem o agravo regimental processamento definido pelo Regimento Interno dos Tribunais,
com as observações do art. 545 do CPC, recentemente alterado pela Lei nº 9.756, de 17 de
78 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
dezembro de 1998.
Ainda, o agravo (retido ou de instrumento) não se confunde com o agravo que tem
cabimento nas hipóteses de decisões do relator que indeferir embargos infringentes (art. 532 do
CPC).
a) agravo retido
a.1) Forma de interposição
É de responsabilidade do art. 523 a direção quanto à forma de se interpor o agravo
retido, ensinando o seu caput, bem como o seu §1°, que o agravante deverá requerer
expressamente, nas razões ou na resposta da apelação, que o tribunal conheça, preliminarmente, do
agravo quando do julgamento desta (efeito devolutivo retardado ou diferido).
Se assim o agravante não proceder presumir-se-á que desistiu do agravo, tendo em
vista que o mesmo já havia sido interposto no momento oportuno. Portanto, a não reiteração da
irresignação que motivou o agravo, na ocasião da apelação, ensejará o seu não conhecimento pelo
tribunal (juízo negativo de admissibilidade) por desistência tácita16 (requisito de inexistência de
fatos impeditivos ou extintivos do direito de recorrer).
Das decisões proferidas em audiência caberá agravo retido, o qual DEVERÁ ser
interposto obrigatoriamente de forma ORAL e IMEDIATA, sob pena de preclusão e em
prestígio aos princípios da celeridade e economia processuais Por petição escrita só tem cabimento
se o agravo retido for contra decisão interlocutória proferida fora de audiência.
Verifique o raciocínio com a nova redação do §3° do art. 523:
Art. 523 (...)§3° - Das decisões interlocutórias proferidas em audiência de instrução e julgamento caberá agravo na forma retida, devendo ser interposto oral e imediatamente, bem como constar do respectivo termo (art. 457,), nele expostas sucintamente as razões do agravante (grifo nosso).
a.2) Preparo => o agravo retido independe de preparo, pois que nesta modalidade recursal não há
despesas com porte de remessa e de retorno dos autos, pois estes não sobem imediatamente ao
tribunal, mas tão-somente na ocasião da apelação (art. 522, parágrafo único).
a.3) Juízo de retratação => é a possibilidade, excepcional, do juízo a quo modificar a decisão
recorrida, cujos efeitos se equivaleriam aos do juízo de mérito, que é de exclusividade do tribunal.
16 Esta é uma exceção à regra de que a desistência é sempre expressa, pois que, para se desistir de um ato já praticado, deve-se fazê-lo expressamente.
79 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
Entretanto, não pode o juiz retratar-se de oficio; necessário se faz a provocação do
agravante, quando da interposição do agravo retido, mediante pedido expresso. Feito isso, deverá o
juiz ouvir a parte contrária em 10 dias, quando, a partir de então, poderá se retratar. Essa é a regra
contida no §2° do art. 523, que assim diz:
Art. 523 (...)§2° - Interposto o agravo, e ouvido o agravado no prazo de 10 (dez) dias, o juiz poderá reformar sua decisão.
Por outro lado, tal redação induz ao entendimento de que, a contrario sensu, se o
agravante não requerer, não pode o magistrado se retratar e nem é preciso ouvir a parte contrária, o
que implica dizer que o procedimento recursal prosseguirá sem as contra-razões do agravado. O
argumento utilizado pela maioria da doutrina é o de que estas são desnecessárias, só se tornando
imprescindíveis ante a iminência de modificação da decisão pela retratação do juiz. Porém, para
ALEXANDRE CÂMARA17 isso não é aceitável, sob pena de ferir o contraditório. São as suas
palavras:
Nota 94 (...) A nosso juízo, a oitiva do agravado é fundamental, em razão do princípio do contraditório, sendo certo que, ainda que o juiz não pretenda reformar sua decisão, o agravo retido será, posteriormente, apreciado pelo tribunal, e não haverá momento posterior adequado para o oferecimento das contra-razões. Por tais razões, parece-nos indispensável que a oportunidade para seu oferecimento se dê logo após a interposição do recurso.
b) agravo de instrumento
O agravo de instrumento é utilizável quando a decisão recorrida exigir imediata
apreciação pelo tribunal (urgência). Para tanto, o agravante deverá interpô-lo através de petição
fundamentada perante o órgão julgador (dirigido ao tribunal), formando-se autos distintos dos autos
principais.
b.1) Denominação => denomina-se agravo de instrumento por ocorrer, quando da sua interposição,
a formação de autos apartados (ou separados) dos autos principais.
b.2) Forma de interposição => para a interposição do agravo de instrumento deverá a parte fazê-lo
através de petição fundamentada, a qual será protocolizada perante o órgão ad quem, que detém a
competência para o seu julgamento. A peça, dentre outros requisitos, deverá conter a exposição do
17 CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. 17. ed. Rio de Janeiro: Ed. Lúmen Júris, 2009, p. 90.v.2.
80 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
fato e do direito, as razões do pedido de reforma e os nomes e endereços dos advogados (art. 524).
b.3) Juntada de documentos => os documentos que acompanham a petição do recurso de agravo de
instrumento são, nos termos do Código de Processo Civil, obrigatórios e facultativos.
São documentos obrigatórios18 (art. 525, I), sem os quais o recurso não será conhecido
por inobservância ao pressuposto da regularidade formal:
a) decisão agravada;
b) certidão da sua intimação;
c) procurações outorgadas aos respectivos advogados (exceto se Fazenda Pública).
São facultativos (art. 525, II) aqueles que, a juízo da parte, poderão contribuir para o
julgamento do recurso.
b.4) Preparo => sendo um dos pressupostos objetivos, o preparo é fundamental para o
conhecimento do recurso, devendo o agravante comprovar o recolhimento das custas relativas ao
seu processamento, inclusive do porte de retorno (no caso de interior), no ato de sua interposição.
O local do preparo ficará a critério da parte, podendo ser, nos termos do art. 525, §2º: a)
via correio (AR)19, se o advogado atua em comarca que não seja sede do tribunal; b) no local do
tribunal; c) ou outra forma, se prevista pela lei.
b.5) Competência => a competência para a apreciação e julgamento do recurso, conforme já
ressaltada, pertence ao juízo ad quem, ou seja, ao tribunal imediatamente superior ao juízo recorrido
(por exemplo o TJ/GO).
Obs:. Registra-se que o agravo de instrumento, interposto contra o ato que negou o
seguimento aos recursos especial e extraordinário, deverá ser interposto perante o tribunal de
origem (juízo a quo), tendo em vista a nova redação do § 2º do art. 544 do CPC, dada pela Lei
nº 10.352, de 26/12/01 (antes pela existência de Resoluções do STJ e STF nesse sentido).
Art. 544 (...)§ 2º A petição de agravo será dirigida à presidência do tribunal de origem, não dependendo
18 As cópias correspondentes deverão ser autenticadas. Para o agravo de instrumento previsto no art. 544 do CPC, o legislador (de acordo com a nova redação dada ao seu § 2º, pela Lei nº 10.352, de 26/12/01) permite que as cópias das peças do processo possam ser declaradas autênticas pelo próprio advogado, sob sua responsabilidade pessoal (art. 544, § 1º: "O agravo de instrumento será instruído com as peças apresentadas pelas partes, devendo constar obrigatoriamente, sob pena de não conhecimento, cópias do acórdão recorrido, da certidão da respectiva intimação, da petição de interposição do recurso denegado, das contra-razões, da decisão agravada, da certidão da respectiva intimação e das procurações outorgadas aos advogados do agravante e do agravado. As cópias das peças do processo poderão ser declaradas autênticas pelo próprio advogado, sob sua responsabilidade pessoal"). Tal previsão tem sido estendida para o AI comum do art. 522.19 Agravo de instrumento interposto no 10º dia, após o encerramento do expediente forense, em Correios que funcionam 24 hs (como de aeroporto, p. ex.), é TEMPESTIVO se postado antes da zero hora do dia seguinte ao do termo final.
81 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
do pagamento de custas e despesas postais. O agravado será intimado, de imediato, para no prazo de 10 (dez) dias oferecer resposta, podendo instruí-la com cópias das peças que entender conveniente. Em seguida, subirá o agravo ao tribunal superior, onde será processado na forma regimental.
b.6) Juízo de retratação => interposto o agravo de instrumento, a parte deverá requerer a juntada
aos autos principais, no prazo de 3 dias, da cópia da petição do agravo, comprovando a interposição
do recurso, bem como da relação dos documentos que acompanham a respectiva petição.
Esse ato, praticado no interesse partes, visa a permitir o juízo de retratação, bem como
dar conhecimento ao agravado do recurso. O art. 526 do CPC sofreu nova redação com a edição da
Lei nº 10.352, de 26/12/01:
Art. 526 (...) Parágrafo único. O não cumprimento do disposto neste artigo, desde que argüido e provado pelo agravado, importa inadmissibilidade do agravo.
Caso o agravante, no prazo de que lhe dispõe, não providencia a juntada de tais
documentos, impossibilitando a retratação do juízo a quo, será o agravo de instrumento inadmitido
pelo relator do tribunal se o agravado, na primeira oportunidade que lhe couber falar nos autos, a
saber, na ocasião das contra-razões, argüir tal desídia e prová-la (mediante certidão do juízo de 1º
grau, que atestará o seu não conhecimento da interposição do AI).
Vê-se que a conseqüência da omissão do agravante não se resume à impossibilidade de
retratação do juízo a quo, mas poderá importar também na inadmissibilidade de seu recurso.
b.7) Procedimento/processamento => protocolizada a petição diretamente no tribunal competente, o
agravo de instrumento, segundo a nova redação dada ao art. 527 do CPC (Lei nº 10.352, de
26/12/01), observará o seguinte procedimento:
Segundo o caput do referido dispositivo, “recebido o agravo de instrumento no
tribunal, e distribuído incontinenti, o relator: (...)”. Apesar de vernaculidade duvidosa, in
continenti está significar logo após, ou seja, recebido o agravo e distribuído imediatamente após a
protocolização ou o recebimento do registro postal, o relator poderá adotar as seguintes medidas:
I - negar-lhe-á seguimento, liminarmente, nos casos do art. 557. O inciso não diz, mas poderá
também o relator dar por prejudicado o AI, se o juízo a quo comunicá-lo de sua retratação, nos
termos do art. 529, retratação esta possibilitada pelas providências tomadas pelo agravante
constantes no art. 526.
II - converterá o agravo de instrumento em agravo retido, salvo quando se tratar de decisão
82 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil ou incerta reparação, bem como nos casos de
inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida, mandando
remeter os autos ao juiz da causa.
Obviamente que o relator só poderá converter o AI em agravo retido se o requisito da
urgência não estiver presente, o qual está delineado nas hipóteses de cabimento do AI previstos no
art. 522, 2ª parte, e reiterado neste inciso, não deixando mais margem a subjetivismo do relator ao
analisar o cabimento do respectivo recurso (na redação anterior à nova lei do agravo – Lei n.
11.187/05, falava-se em “poderá converter”, já que as hipóteses de cabimento das modalidades do
agravo eram mais amplas e menos definidas, o que justificava o cabimento de agravo regimental da
decisão do relator que fizesse a referida conversão).
Sendo hipótese de conversão, e assim o fazendo o relator, remeterá os autos ao juiz da
causa, onde o agravo ficará retido, aguardando a sua subida quando da reiteração em recurso da
decisão final. Tal decisão monocrática, nos termos do parágrafo único do art. 527, é irrecorrível,
salvo se o próprio relator a reconsiderar.
III - poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso (art. 558), ou deferir, em antecipação de tutela,
total ou parcialmente, a pretensão recursal, comunicando ao juiz sua decisão.
Se não for caso de aplicar o disposto nos incisos I e II, o relator dará seguimento ao
agravo de instrumento, conferindo efeito suspensivo, caso o agravante o tenha requerido e provado
os requisitos previstos no art. 558, quais sejam, o fumus boni iuris (fundamentação recursal
relevante) e o periculum in mora (receio de lesão grave e de difícil reparação face à demora do
julgamento do recurso).
Não havendo tal requerimento, o relator o receberá apenas no efeito devolutivo, que é o
efeito legal do agravo de instrumento.
Todavia, não sendo suficiente a suspensão para evitar danos, poderá o agravante
requerer antecipação dos efeitos da tutela recursal, quando a decisão interlocutória atacada contiver
conteúdo negativo.
Isso porque a suspensão, se requerida e concedida, não tem o condão de transformar
uma decisão de conteúdo negativo (v.g. indeferimento de uma prova) em conteúdo positivo. Tal
resultado só é alcançável com a reforma da decisão. Não sendo possível ao agravante esperar pelo
julgamento do agravo, sob pena de sofrer danos, poderá ele, se provável a pretensão recursal,
antecipar, total ou parcialmente seus efeitos, alcançando, assim, um efeito suspensivo ativo.
O que era construção doutrinária e jurisprudencial, agora se encontra regulado pelo
CPC, com a nova redação dada ao art. 527, III, 2ª parte, permitindo o efeito suspensivo ativo
83 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
quando o relator “deferir, em antecipação de tutela, total ou parcialmente, a pretensão recursal,
comunicando o juiz sua decisão”.
Vale lembrar que a decisão do relator que concede efeito suspensivo ou que antecipa
efeitos da tutela recursal não cabe qualquer recurso, nos termos do parágrafo único do art. 527.
IV - poderá requisitar informações ao juiz da causa, que as prestará no prazo de 10 (dez) dias;
V - mandará intimar o agravado, na mesma oportunidade, por ofício dirigido ao seu advogado,
sob registro e com aviso de recebimento, para que responda no prazo de 10 (dez) dias (art. 525,
§2º) , facultando-lhe juntar a documentação que entender conveniente, sendo que, nas comarcas
sede de tribunal e naquelas que o expediente forense for divulgado no diário oficial, a intimação
far-se-á mediante a publicação no órgão oficial.
VI - ultimadas as providências referida nos incisos III a V do caput deste artigo, mandará ouvir o
Ministério Público, se for o caso, para que se pronuncie no prazo de 10 (dez) dias.
O julgamento do agravo de instrumento será feito por um órgão colegiado, como, v. g.,
uma Turma.20
b.8) Efeitos
O agravo tem efeito devolutivo, o que permite a execução da decisão recorrida, exceto
se for requerido e concedido pelo relator o efeito suspensivo, conforme preceituado pelo art. 558 do
Código de Processo Civil. Conforme o art. 527, III, do CPC, acima citado, poderá o relator não só
atribuir efeito suspensivo ao recurso, mas deferir, em antecipação de tutela, total ou parcialmente, a
pretensão recursal, comunicando ao juiz sua decisão (efeito suspensivo ativo).
b.8.1 Devolutivo: o efeito devolutivo, conforme já ressaltado alhures, permite ao órgão ad quem,
como regra geral, a reapreciação da matéria objeto de impugnação. Todavia, nada obsta, antes
disso, que o próprio juízo a quo assim o faça quando ele retrata de sua decisão. Nesse caso, havendo
retratação, face à provocação do agravante (cf. art. 526), o efeito do agravo de instrumento será
misto.
b.8.2 Suspensivo: o efeito suspensivo, por sua vez, impede a execução da decisão. Entretanto, para
20 Conforme previsão no Regimento Interno do Tribunal c/c o art. 555 do CPC.
84 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
a sua obtenção, deverá haver pedido expresso da parte, conforme previsão do art. 558 do Código de
Processo Civil, e desde que comprovados o fumus boni iuris e o periculum in mora (medida
cautelar requerida, via de preliminar, no bojo do próprio AI).
2.4 EMBARGOS INFRINGENTES
2.4.1 Conceito: inicialmente, embargos significam recurso oposto perante o mesmo juízo que
proferiu a decisão atacada, objetivando a sua declaração e/ou reforma. Os embargos infringentes 21,
nos termos do art. 530 do Código de Processo Civil, constituem uma modalidade de recurso
(comum) cabível contra acórdão, decidido de forma não unânime, proferido em apreciação de um
recurso de apelação ou de uma ação rescisória. Diz o art. 530 do CPC:
Art. 530. Cabem embargos infringentes quando o acórdão não unânime houver reformado, em grau de apelação, a sentença de mérito, ou houver julgado procedente ação rescisória. Se o desacordo for parcial, os embargos serão restritos à matéria objeto da divergência.
2.4.2 Objeto: os embargos infringentes têm por objeto fazer prevalecer o voto vencido22, atacando
parte do dispositivo do acórdão proferido.
2.4.3 Cabimento23: quando o acórdão não unânime houver reformado, em grau de apelação, a
sentença de mérito, ou houver julgado procedente o pedido contido na ação rescisória.
2.4.4 Pressupostos de admissibilidade: os pressupostos de admissibilidade podem ser gerais e
específicos.
a) gerais: são aqueles inerentes a todo e qualquer recurso, ou seja, os pressupostos subjetivos e
objetivos. Com relação ao preparo, não há exigência da lei para que o mesmo seja efetuado.
Excepcionalmente, porém, poderá ser exigido, desde que haja lei dispondo sobre o assunto. O
Regimento Interno do Tribunal de Justiça de Goiás, em seu art. 377, §1º, prevê a sua exigência.
b) específicos (inerentes ao próprio recurso):
a) que o ato decisório atacado tenha sido proferido em grau de apelação, reformando uma sentença
de mérito;
b) ou julgado procedente o pedido na ação rescisória;
c) em qualquer caso, é preciso que o julgamento não seja unânime.
21 Cabíveis contra decisão proferida em acórdão, daí ser um recurso (comum) específico de segunda instância. 22 A divergência refere-se às conclusões dos votos dos juízes, nunca sobre os seus fundamentos.23 Não cabem embargos infringentes em sede de mandado de segurança, ainda que presentes seus requisitos (Súmula 169, STJ e 597, STF). Por outro lado, cabem no agravo retido, por via reflexa, quando reiterado em preliminar de apelação (Súmula 255, STJ); bem como em processo falimentar (Súmula 88, STJ).
85 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
2.4.5 Competência: a competência para apreciar e julgar os embargos infringentes variará
dependendo da origem da decisão recorrida, se proferida pela Câmara Cível ou Seção Cível.24
a) Seção Cível: acórdão proferido por Câmara Cível (Turmas) em apelação.
b) Órgão Especial: acórdão proferido por Seção Cível em julgamento de ação rescisória.
2.4.6 Prazo: o recurso de embargos infringentes será oposto no prazo de 15 dias a partir da
intimação da decisão.
2.4.7 Efeitos: os efeitos dos embargos infringentes são classificados em principais e secundários.
a) Principais:
a.1) obstar o trânsito em julgado; e
a.2) sobrestar (suspender) o prazo para a interposição de recursos especial e extraordinário (art. 498,
parágrafo único, CPC), eventualmente cabíveis da parte do acórdão cujo julgamento foi dado por
unanimidade.
Obviamente que esta pluralidade de recursos cabíveis contra o mesmo acórdão (E.I contra a
parte unânime; e Resp/RE contra a parte unânime) só será possível se a divergência foi parcial (art.
530, 2ª parte).
Todavia, a pluralidade é aparente, não havendo que se falar em violação ao pressuposto
recursal objetivo da unirrecorribilidade ou singularidade, na medida em que só será possível
interpor REsp/RE relativos à parte unânime do acórdão, após a intimação da decisão que julgou os
embargos infringentes, quando, então, o prazo que, com a oposição deste, estava suspenso, volta a
fluir donde paralisou. Esta é a dicção do art. 498, senão vejamos:
Art. 498. Quando o dispositivo do acórdão contiver julgamento por maioria de votos e julgamento unânime, e forem interpostos embargos infringentes, o prazo para recurso extraordinário ou recurso especial, relativamente ao julgamento unânime, ficará sobrestado até a intimação da decisão nos embargos.Parágrafo único. Quando não forem interpostos embargos infringentes, o prazo relativo à parte unânime da decisão terá como dia de início aquele em que transitar em julgado a decisão por maioria de votos.
b) Secundários:
b.1) efeito não-devolutivo (iterativo ou regressivo): os embargos infringentes são opostos e julgados
pelo mesmo juízo contra a qual se recorre (tribunal); daí porque, para alguns, o seu efeito é não-
devolutivo.
24 Conforme Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás.
86 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
b.2) suspensivo: os embargos infringentes têm, no silêncio da lei, efeito suspensivo, não podendo a
decisão ser executada (Barbosa Moreira, Humberto Theodoro Júnior e Luiz Fux).
Se a divergência for parcial, é importante registrar que a suspensividade é somente da
parte do acórdão não unânime (não se estendendo ao recurso de apelação antes julgado ou mesmo
ação rescisória).
Segundo Luiz Fux25, "... se da sentença cabe apelação sem efeito suspensivo, é lícito ao
vencedor promover a execução provisória, que não se susta pelo efeito dos embargos infringentes
ulteriores". Isso porque a suspensão do acórdão, que no caso reformou a apelação, implica
justamente na manutenção da sentença apelada, a qual já vinha sendo executada.
2.4.8 Embargos infringentes adesivos: segundo o entendimento esculpido no art. 500, II, CPC, são
cabíveis embargos infringentes adesivos no prazo de 15 dias. Isso só é possível quando o
julgamento não-unânime se deu por dispersão de votos (qualitativo ou quantitativo), ou seja, por um
resultado de 1 a 1 a 1.
Em outras palavras, se os três julgadores forem divergentes entre si, adotando cada qual
uma decisão, ambas as partes serão tidas por sucumbentes, tendo, entre os votos dispersos, um
“vencido” que lhe favoreça.
Diante da sucumbência parcial ou recíproca, poderão as partes opor embargos
infringentes com o fim de, com o novo julgamento, fazer prevalecer o voto do desembargador
vencido que lhe favoreça.
Caso uma delas deixe o prazo, para tanto, transcorrer em branco, poderá aderir, na
ocasião de suas contra-razões, aos embargos infringentes opostos pela outra parte. Todavia, por ser
um recurso dependente, submeterá ao regramento previsto no art. 500, CPC.
2.4.9 Processamento do recurso / Procedimento
O procedimento dos embargos infringentes está disciplinado nos arts. 531, 533, 534, 551
e 553 (artigo deslocado para outro Capítulo “VII - Da Ordem dos Processos no Tribunal”, pois é
aplicável não só aos embargos infringentes, como também à ação rescisória).
Segundo o caput do art. 531, “Interpostos os embargos (...)”. Aqui, duas observações
merecerem ser feitas:
1ª) o recurso de embargos infringentes deve ser oposto no prazo de 15 dias, contados a partir da
intimação da decisão, através de petição escrita dirigida ao relator da apelação ou da ação rescisória.
25 FUX, Luiz. Curso de direito processo civil. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 921.
87 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
2ª) como os embargos serão julgados pelo mesmo juízo que proferiu a decisão recorrida, o correto
seria se o legislador dissesse “opostos os embargos ...”
OPOSTOS os embargos, “abrir-se á vista ao recorrido para contra-razões (...)”, no
mesmo prazo deferido para o recorrente opor os embargos, qual seja, 15dias. Porém, dentro deste
mesmo prazo, na ocasião das contra-razões, poderá o recorrido opor embargos infringentes
adesivos, se for o caso. É a Secretaria do órgão colegiado, prolator do acordo recorrido (Câmara ou
Seção Cível), quem pratica tal ato.
“(...) após, o relator do acórdão embargado apreciará a admissibilidade do recurso”.
Outras duas observações, aqui, se fazem necessárias:
1ª) o RELATOR do ACÓRDÃO não é necessariamente o relator para quem foi distribuída a
apelação ou a ação rescisória, pois pode acontecer dele ter sido justamente o voto vencido. Nesse
caso, designa-se para redigir o acórdão o 1º magistrado que tenha proferido voto vencedor. Por isso,
melhor seria se o legislador tivesse dito “o redator do acórdão”.
2ª) Ao apreciar a admissibilidade do recurso, redator poderá:
a) não admiti-los, inclusive liminarmente no caso do art 557 (negar seguimento a recurso
manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicando ou em confronto com Súmula ou
jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do STF ou de Tribunal Superior). Nesse caso,
cabe agravo regimental (§1º);
b) admiti-los e até provê-los, no caso do art. 557, § 1º - A (se a decisão recorrida estiver em
confronto com Súmula ou jurisprudência dominante do STF ou de Tribunal Superior). Só cabe
agravo se houver provimento (§1º).
Já o art. 532 leciona que: “Admitidos os embargos, serão processados e julgados
conforme dispuser o regimento do tribunal.”
É uma norma em aberto, permitindo a análise do recurso de acordo com as
características de cada Corte de Justiça.
Porém, segundo o CPC, no art. 534, pode o Regimento Interno prever a regra de que se
pisoteado novo relator, que não tenha funcionado no julgamento do recurso de apelação ou da ação
rescisória, como, por exemplo, por uma Seção Cível, se o acordo foi proferido por Câmara, sob
pena de se manter o mesmo resultado do 1º julgamento, reduzindo a possibilidade de sua
modificação.
Segundo o art. 551 (caput e §2º), devolvidos os autos pelo relator, os autos serão
conclusos ao revisor, que, após das o seu “visto”, pedirá dia de julgamento. Lembre-se: o revisor
atua apenas na apelação, embargos infringentes e ação rescisória, SALVO, mesmo nesses casos, se
88 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
tratar de causa de procedimento sumário, de despejo e no caso de indeferimento liminar da petição
inicial (§ 3°).
Por fim, o art. 553, Secretaria expedirá cópias autenticadas do relatório e as distribuirá a
todos os juízes que participarão do julgamento.
No julgamento, faculta-se às partes a promoção de sustentação oral (pelo prazo
improrrogável de 15 minutos para cada).
2.5 RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL (ROC)
2.5.1 Generalidades: o recurso ordinário, previsto constitucionalmente, tem a mesma natureza da
apelação, permitindo a discussão tanto de matéria fática quanto de direito. Foi introduzido no
ordenamento jurídico brasileiro a partir da Constituição Federal de 1988, não guardando nenhuma
semelhança com o recurso ordinário26 previsto na Consolidação das Leis do Trabalho.
2.5.2 Conceito: é uma modalidade de recurso previsto na Constituição da República Federativa do
Brasil e no Código de Processo Civil, devolvendo ao órgão ad quem todo o conhecimento da
matéria impugnada.
2.5.3 Previsão legal: o recurso ordinário, por ser um recurso constitucional, tem a sua previsão no
Texto Maior, conforme exposto abaixo: a) Arts. 102, II, ‘a’; e 105, II, ‘b’ e ‘c’, da Constituição da
República Federativa do Brasil; b) Arts. 539 e 540 do Código de Processo Civil.
2.5.4 Cabimento: o recurso ordinário tem cabimento nas seguintes hipóteses.
a) Para o Superior Tribunal de Justiça:
quando a decisão no mandado de segurança for denegatória27 (interpretação extensiva: pedido
improcedente e extinção sem resolução do mérito), devendo a mesma ter sido proferida em única
instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais de Justiça dos Estados e do
Distrito Federal => classifica, nessa hipótese, como um recurso secundum eventum litis (pois seu
cabimento condiciona-se a um resultado da demanda);
26 O recurso ordinário, previsto na CLT, é utilizável para atacar a sentença proferida por uma Vara do Trabalho em dissídio individual, ou o acórdão proferido por um tribunal em dissídio coletivo.27 Se a decisão fosse concessiva, ou, mesmo denegatória, mas dada em última instância, o recurso cabível não seria o ROC, mas sim REsp.
89 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
nas causas em que forem partes, de um lado, Estado estrangeiro ou organismo internacional e,
de outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País;
b) Para o Supremo Tribunal Federal:
quando a decisão no mandado de segurança, hábeas data ou mandado de injunção for
denegatória28, proferida em única instância pelos Tribunais Superiores (STJ, TST, TSE ou STM)
=> também aqui se afigura como um recurso secundum eventum litis.
2.5.5 Forma de interposição: a interposição se faz por escrito, via de petição fundamentada
(admite-se a interposição por telegrama etc.), perante o juízo que proferiu a decisão recorrida,
contendo o nome e a qualificação das partes; os fundamentos de fato e de direito, ou razões do
recurso; e o pedido de nova decisão, com novo pronunciamento (reforma), ou a sua invalidação.
2.5.6 Prazo: o recurso ordinário deve ser interposto no prazo de 15 dias contados da intimação da
decisão recorrida.
2.5.7 Preparo: por se assemelhar ao recurso de apelação, todas as regras relativas aos pressupostos
recursais, guardando as devidas proporções, inclusive quanto ao preparo (art. 511, CPC), são
aplicáveis ao ROC.
2.5.8 Admissão do recurso ordinário: admitido o recurso, não poderá o juiz se retratar, uma vez
que a lei processual o impede de inovar no processo, podendo, porém, reexaminar os pressupostos
recursais, se o recorrente o requerer (idêntico à apelação – art. 518, §2º).
2.5.9 Efeitos: ao receber a petição do recurso, o juiz declarará os seus efeitos em decisão passível
de ataque por agravo de instrumento; também se constituirá em decisão agravável aquela que não
receber o recurso em questão.
Em razão do silêncio da lei, subentende-se que o ROC é recebido no duplo efeito, assim
como a apelação, inclusive com toda a amplitude da devolutividade consagrada a esta última, com
previsão no art. 515 e seus parágrafos, bem como art. 516 do CPC.
2.5.10 Procedimento: pela semelhança com o recurso de apelação, como já aludido, aplicam-se ao
ROC as mesmas disposições quanto ao procedimento daquele recurso, ressalvadas as regras
28 A mesma observação feita na nota anterior se faz aqui, com a diferença que o recurso cabível seria RE.
90 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
próprias contidas nos Regimentos Internos do STJ e STF para o referido recurso constitucional
(Art. 540, CPC).
2.6 RECURSOS ESPECIAL E EXTRAORDINÁRIO
2.6.1 Generalidades (conceito, natureza e previsão legal)
- são espécies do gênero “recursos especiais”, em sentido amplo, ou “recursos excepcionais”,
levando em conta a classificação dos recursos quanto à natureza;
- pois visam velar, resguardar o direito objetivo, seja ele infraconstitucional federal, mediante
recurso especial para o STJ (que, aliás, foi criado pela CF/88 com o fim de descongestionar a
atividade do STF), seja ele constitucional, mediante recurso extraordinário para o STF.
Portanto, só podem ser impugnadas questões de direito, federal ou constitucional, o que
os torna recursos de fundamentação vinculada (ou de devolutividade restrita). Não pode, assim,
pedir o reexame de fatos.
Dois problemas surgem: interpretação de cláusula contratual, pois não se trata de lei
federal ou constitucional (Súm. 5, STJ e 279 do STF – “a simples interpretação de cláusula
contratual não enseja recurso especial”) e reexame de provas, as quais estão intimamente ligadas
aos fatos (Súm. 7, STJ – “a pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial”).
Mas é possível, mediante Resp ou RE, discutir regras legais de prova (ônus etc), ou seja,
discutir direito probatório (Súm. 149, STJ - súmula originada de julgamento de Resp, em que se
discutia direito probatório), bem como interpretar cláusula contratual, se for fundamental para se
perquirir a aplicação da lei (Súm. 293, STJ).
- estão previstos nos arts. 541 a 545 do CPC, bem como na CF/88: art. 102, III – RE; e art. 105, III
– Resp.
2.6.2 Cabimento:
RESP RE
causas decididas causas decididas
- a expressão “causas” é criticada pela doutrina, que prefere “questões”, pois que abrange não
91 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
só as questões de mérito, como também as processuais, como as concernentes às condições da
ação, aos pressupostos processuais. Sendo assim, pela dicção do texto constitucional, percebe-
se que, embora as questões processuais sejam de ordem pública, também têm que ter sido
decididas pelo órgão a quo para que sejam conhecidas, em sede de Resp e RE, respectivamente,
pelo STJ e STF, sendo a estes vedado o exame de ofício (o art. 267, §3º, que diz que as
questões de ordem pública são conhecíveis de oficio pelo juiz, em qualquer tempo e grau de
jurisdição, não abrange instâncias extraordinárias).
em única ou última instância pelos TRF’s e
TJ’s dos Estados, DF e Territórios
em única ou última instância
- o Resp e RE só são cabíveis quando tiverem esgotados todos os recursos ordinários
admissíveis (embargos de declaração, apelação, agravo, embargos infringentes, recurso
ordinário ...). Daí a referência a causas decididas “em única ou última instância”. Aliás, das
causas de única instância, como mandado de segurança contra governador do Estado, cuja
competência é originária do TJ, através de seu Órgão Especial, se concessiva a segurança, por
óbvio, só cabível Resp ou RE. Entretanto, se fosse denegatória, cabível seria, ainda, um recurso
comum, que seria o recurso ordinário constitucional para o STJ.
- percebe-se que, quanto ao RE, a CF não faz referência ao órgão jurisdicional prolator da
decisão recorrida. Por isso, tem-se admitido RE contra decisões de quaisquer órgãos
jurisdicionais, desde que contra elas não caiba mais qualquer recurso comum ou ordinário. É o
caso dos Juizados Especiais Cíveis que, embora não sejam considerados tribunal, profere
decisões (acórdãos) em grau de recurso, ou seja, em última instância.
- por outro lado, quanto ao Resp, como a norma constitucional limitou o seu cabimento às
decisões proferidas pelos tribunais locais (acórdãos), não se admite Resp contra decisão de
turma recursal dos JEC’s (ou por qq outro órgão de primeira instância).
Quando a decisão recorrida:
a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-
lhes vigência;
b) julgar válido ato de governo local
contestado em face de lei federal (NR dada
pela EC 45/04);
c) der a lei federal interpretação divergente da
que lhe haja atribuído outro tribunal.
Quando a decisão recorrida:
a) contrariar dispositivo da CF;
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou
lei federal (controle difuso);
c) julgar válida lei ou ato de governo local
contestado em face da CF;
d) julgar válida lei local contestada em face de
lei federal. (NR dada pela EC 45/04).
- a) contrariar é qualquer espécie de ofensa; e negar-lhes vigência está nela abrangida.
Lei federal inclui medidas provisórias, resoluções e regulamentos também.
92 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
A contrariedade, a que se refere o art. 102, que trata do RE, deve ser, segundo a doutrina
predominante e a própria jurisprudência do STF (Súm. 636 e 733), DIRETA e FRONTAL, não
se admitindo de forma indireta ou reflexa (pelo princípio da simetria). Ex: se uma decisão
contraria o art. 322 (que trata da possibilidade de revel ingressar no feito em qualquer fase), por
via indireta ou reflexa, contraria também o art. 5º, LV, da CF, que dispõe acerca do princípio do
contraditório e da ampla defesa. Nesse caso, só caberá Resp por violação ao CPC, que é lei
federal. Então, o cabimento simultâneo de Resp e RE só será possível se a decisão versar sobre
questões distintas, violando, em um caso, lei federal, e, em outro, norma constitucional.
- b) a EC 45/04 tirou a competência do STJ para julgar Resp contra decisão que tenha julgado
válida lei local contestada em face de lei federal, transferindo-a para o STF, sob o fundamento
de que o que se discutia era competência constitucional.
- c) a interpretação divergente sobre lei federal entre os tribunais é comprovada mediante a
cópia do acórdão-paradigma, fazendo um confronto analítico entre este e o acórdão recorrido.
A grande questão é saber se esta letra “c” é autônoma, ou deve ser conjugada com a letra “a” do
art. 105? Parte da doutrina entende que, além da divergência, tem que haver contrariedade a
tratado ou lei federal por parte do acórdão recorrido. Tal interpretação doutrinária aniquila,
esvazia a letra “c”, porque ela passa a ser mero exemplo da letra “a”, estando por ela absorvida.
2.6.3 Pressupostos recursais:
a) genéricos: legitimidade; capacidade; interesse; cabimento e adequação (arts. 102, III e 105, III,
CF/88 – com a redação dada pela EC 45/04); tempestividade (em ambos os recursos o prazo de
interposição é de 15 dias contados da intimação da decisão. Será em dobro e a intimação é pessoal
para os representantes da Fazenda Pública, MP etc); preparo (Súm. 187, STJ).
O pressuposto recursal da unirrecorribilidade ou da singularidade sofre uma mitigação
na disciplina dos recursos excepcionais, pois é possível a interposição de ambos os recursos contra a
mesma decisão (art. 543, CPC).
Mas, lembre-se que será necessária, para tanto, a violação de dispositivos de lei federal e
constitucional que não guardam simetria. Assim, em outras palavras, se for preciso primeiramente
analisar a violação de lei federal para, depois, verificar a de lei constitucional, não cabe RE porque
tratar-se-ia de contrariedade indireta à CF.
Por fim, devem os recursos excepcionais obedecer, como os demais recursos, a
motivação e a regularidade formal.
93 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
Assim, tanto o Resp quanto o RE devem ser interpostos por petição escrita, dirigida ao
presidente do tribunal recorrido, com o nome e a qualificação das partes, os fundamentos de
direito, ou seja, as razões, bem como o pedido de reforma ou invalidação. Portanto, a interposição,
guardadas as devidas proporções, segue as mesmas regras do recurso de apelação.
No caso de interposição simultânea, deverão ser apresentados em petições distintas.
Entretanto, nesse caso, feito o juízo de admissibilidade, sendo ele positivo, o procedimento tem uma
particularidade, a saber:
- em regra, segundo o art. 543 do CPC, os autos serão remetidos ao STJ para que seja julgado, em
primeiro lugar, o Resp. Depois de julgado, os autos são enviados ao STF;
- porém, pode o relator do Resp entender que o julgamento do RE é prejudicial, e, por decisão
irrecorrível, manda sobrestar o julgamento deste, remetendo os autos para o STF. Depois de julgado
o RE, os autos retornam ao STJ, onde será retomado o julgamento deste último;
- mas, o relator sorteado no STF pode considerar inexistente tal prejudicialidade e, por decisão
também irrecorrível, devolver os autos ao STJ, para que este aprecie, em primeiro lugar, o Resp,
como deveria ser desde o início.
b) específicos:
b.1) esgotamento das vias ordinárias (Súm. 207, STJ – “é inadmissível recurso especial quando
cabíveis embargos infringentes contra acórdão proferido no tribunal de origem”).
b.2) prequestionamento (da questão federal, no caso do Resp; e da questão constitucional, no caso
de RE): segundo corrente doutrinária amplamente dominante, trata-se de um requisito específico de
admissibilidade, cuja ausência leva ao respectivo juízo negativo, impedindo a realização do juízo de
mérito.
Por PREQUESTIONAMENTO quer significar a exigência de que a decisão recorrida
tenha se pronunciado sobre questão federal ou constitucional, que será objeto de apreciação no
recurso especial ou extraordinário. OU SEJA, NÃO SE ADMITE QUE SE ALEGUE QUESTÃO
(de direito) INÉDITA, a qual não tenha sido apreciada pelo órgão a quo.
Deriva, assim, do próprio efeito devolutivo, com a diferença que a devolução é de
matéria suscitada E decidida. Portanto, se o órgão recorrido não decidiu a respeito, embora
provocado, a omissão deverá ser suprida via dos embargos de declaração, sob pena de o recurso
especial ou extraordinário não ser conhecido por ausência de prequestionamento.
Este requisito é decorrência do próprio texto constitucional, que só admite Resp ou RE
contra CAUSAS DECIDIDAS. Só é dispensado, obviamente, em casos em que ele fosse
94 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
impossível, como a violação de norma federal ou inconstitucional apenas quando do julgamento
recorrido (v.g., acórdão extra petita); ou interposição de Resp ou RE por terceiro prejudicado, ou
seja, por aquele que não participou do processo (v.g., litisconsorte necessário que alega, em recurso
especial, violação ao art. 47 do CPC).
Há TRÊS CORRENTES que tentam entender o prequestionamento, a saber:
1ª) é um ato da parte: prequestionar é suscitar antes, na instância ordinária, pela parte.
2ª) é um ato composto: exige que a parte tenha suscitado e o tribunal se manifestado. Esta corrente é
mais rigorosa que a anterior que exige apenas a suscitação da parte.
3ª) é um ato do tribunal: o exame do prequestionamento pressupõe a manifestação do tribunal,
independentemente de provocação/suscitação da parte. É o que se infere da dicção do texto
constitucional ("causa decididas").
Para a parte é possível apenas questionar, suscitar no momento oportuno, o que
PODERÁ levar ao prequestionamento. Considera-se momento oportuno: petição inicial, razões da
apelação, se autor; contestação ou contra-razões, se réu; a depender do momento em que surgir a
questão29.
Esta última corrente é a que prevalece e que é adotada pelo STJ.
Para esta Corte, é indispensável que o tribunal se pronuncie sobre a questão federal.
Assim, caso se omita, a parte terá que lançar mão dos embargos de declaração para fins de
prequestionamento (Súm. 211, STJ).
Julgados, mas persistindo a omissão, por entender o tribunal que não há o que suprir, a
parte agora veiculará outro recurso especial, denominado de recurso especial por insuficiência na
prestação jurisdicional, pois ao rejeitar o pedido contido nos embargos de declaração, o referido
juízo viola o art. 535, II do CPC, pois a lide deve ser decidida nos limites em que foi proposta (arts.
128 e 460, CPC), que, no caso, continua citra petita.
Já o STF, ao contrário, tem adotado posição mais flexível, no sentido de reputar a
matéria prequestionada mesmo que o tribunal, em sede de embargos de declaração, permanecer
omisso (Súm. 356, STF). É o chamado prequestionamento ficto, porque reputa prequestionada a
matéria mesmo sem exame do tribunal, relativizando a corrente que entende ser o
prequestionamento um ato do tribunal.
29 É conveniente a utilização de expressões como "com base no artigo tal da Lei tal, o autor tem direito a (...)", pelo autor, de modo a deixar claro que o dispositivo de lei constitui causa de pedir, bem como "o atendimento ao pedido do autor no item tal configurará violação ao artigo tal, razão pela qual o réu pede que seja o pedido julgado improcedente", para que fique claro que o réu se opõe à pretensão do autor com base no dispositivo de lei, vale dizer, que o dispositivo é a razão da defesa do réu. Nesse caso, se o juiz apreciar declarar a existência ou a inexistência do direito postulado à luz de dispositivos legais ou constitucionais, reputa-se prequestionada a matéria.
95 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
Porém, uma das Turmas do STF adota a mesma posição do STJ, o que significa dizer
que, ao interpor recurso extraordinário, melhor seria se a parte, que de antemão não sabe em qual
turma será julgado seu recurso, abrisse uma preliminar e suscitasse a violação ao art. 5º, LIV, CF,
ou seja, ao devido processo legal.
Uma grande questão que se coloca é saber se, para efeitos de prequestionamento, é
necessária a menção expressa a dispositivos legais pela decisão recorrida?
Tem prevalecido o entendimento de que, se a matéria é conhecida, não há
obrigatoriedade de ser mencionado expressamente o dispositivo violado. Uma vez explicitada a
questão, a omissão do preceito legal, por si só, não afasta a apreciação do recurso especial.
Isso, porém, não se confunde com o chamado prequestionamento implícito, segundo o
qual se reputa uma questão decidida em razão de expressa apreciação de outra questão dela
decorrente. Ex: se o juiz julga a questão de mérito, implicitamente reconheceu sua competência.
Não se admite o prequestionamento implícito para efeito de recurso especial, de acordo com a
jurisprudência do STJ, mas tão-somente o explícito, ainda que não haja menção a dispositivo legal,
como vimos.
b.3) repercussão geral da questão constitucional: exigida apenas no recurso extraordinário,
consiste na demonstração da relevância econômica, política, social ou jurídica que ultrapasse, que
transcenda os interesses subjetivos da causa (§1º do art. 543-A).
Tal exigência veio a calhar, pois que o STF só será chamado a atuar em RE’s que
tenham relevância nacional, e não naqueles em que há apenas briga de vizinhos (nos dizeres de
Câmara, 2009, p. 122). Vale citar, como exemplo, causas que cheguem ao conhecimento do STF,
pela via do RE, que discuta direito sucessório de casal homoafetivo; ou no caso em que se discuta a
constitucionalidade de lei que instituiu certo tributo federal.
A repercussão geral da questão constitucional é, pois, um requisito específico de
admissibilidade do RE, inserido ao art. 102, §3º, CF, pela EC 45/04, in verbis:
Art. 102 – (...)§3º - no recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão do recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus membros. (grifo nosso)
Veja que o Supremo só poderá inadmitir o RE pela falta deste requisito pela
manifestação de 2/3 de seus membros (que perfazem 8 dos 11 Ministros).
96 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
Desta feita, é de se notar que a Turma competente para o julgamento do RE poderá
adentrar em seu mérito, sem sequer submeter a questão da repercussão geral à apreciação do
Plenário, se 4 dos seus 5 Ministros acolher tal preliminar. Isto porque, mesmo que os demais
votantes (no total de 7) neguem a existência do requisito, jamais se alcançará os 2/3 exigidos pela
Constituição para fins de inadmissão do RE.
Por outro lado, importante também observar que tal requisito de admissibilidade será o
último a ser analisado pelo relator da Turma, já que o RE pode ser inadmitido liminarmente pela
ausência dos demais, como cabimento, tempestividade, preparo, prequestionamento etc,
dispensando a manifestação do Plenário.
A repercussão geral foi regulamentada em 2006 pela Lei nº. 11.418, que inseriu no
Código de Processo Civil os arts. 543-A e 543-B do CPC.
Segundo o art. 543-A, §2º, deverá o recorrente demonstrar a repercussão geral em
preliminar do recurso, na própria peça de interposição dirigida ao tribunal recorrido. Todavia, o
Presidente ou o Vice-Presidente do Tribunal a quo, ao exercer o juízo de admissibilidade do RE,
não poderá apreciar tal requisito, já que é de exclusividade do Plenário do STF.
A decisão que não admitir o RE por falta de repercussão geral é irrecorrível, uma vez
que se trata de decisão proferida pelo Plenário do STF. Não se pode, porém, descartar o cabimento
de embargos de declaração, pois essa decisão pode estar eivada de obscuridade, contradição ou
omissão.
Registre-se, porém, que sempre haverá repercussão geral (presunção legal absoluta)
se a decisão recorrida for contrária à súmula ou jurisprudência dominante do STF (art. 543-A, 3º).
Interessante observar que, nos termos do §6º, do art. 543-A, poderá o Ministro Relator
admitir a intervenção de algum amicus curiae, a fim de permitir a obtenção de elementos que
contribuam para a decisão do STF acerca da matéria.
Negada a existência de repercussão geral, todos os demais RE’s que também já tramitam
no STF e que versem sobre matéria idêntica serão liminarmente indeferidos (§5º). Dessa decisão é
cabível agravo regimental.
POR OUTRO LADO, o art. 543-B trata da possibilidade de haver a multiplicidade de
recursos extraordinários com fundamento na mesma controvérsia, ou seja, na mesma questão de
direito, mas que ainda não subiram ao STF.
Nesse caso, caberá ao Tribunal a quo selecionar um ou mais recursos representativos da
controvérsia (ou recurso paradigma) e encaminhá-lo(s) ao STF, suspendendo-se o andamento dos
demais até o pronunciamento definitivo da Corte (art. 543-B, 1º)
97 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
Negada a repercussão geral da questão constitucional ao recurso paradigma,
AUTOMATICAMENTE se deverá considerar não admitidos os demais recursos, não sendo
sequer remetidos ao STF (§2º).
De outro giro, reconhecida a repercussão geral e, por conseqüência, admitido o recurso
paradigma, terá ele o seu mérito julgado.
No julgamento do mérito, caso o STF negue provimento do recurso paradigma
(confirmando, por óbvio, a decisão recorrida), o órgão a quo deverá considerar prejudicados os
demais RE’s sobrestados (art. 543-B, §3º).
Mas, ao dar provimento ao recurso paradigma, reformando a decisão recorrida, a
decisão não será aplicada de pronto aos demais recursos extraordinários que estavam sobrestados.
Antes, deverá ser dada oportunidade aos órgãos de origem de se retratarem (juízo de
retratação em sede de recurso extraordinário), caso em que, se mantiverem a decisão recorrida, os
autos subirão ao STF. Todavia, leciona o §4º que, nesse caso, poderá o relator do STF,
liminarmente, cassar ou reformar a referida decisão.
Por fim, convém ressaltar que, com o intuito de também racionalizar o trabalho
desenvolvido nas instâncias excepcionais, a Lei nº. 11.672/08 inseriu no CPC o art. 543-C,
destinado a regular o procedimento dos RECURSOS ESPECIAIS, também, REPETITIVOS.
Ou seja, quando houver multiplicidade de recursos especiais com fundamento em
idêntica questão de direito, o RECURSO ESPECIAL será (e não poderá ser) processado nos termos
do art. 543-C, o qual prevê, quanto ao juízo de mérito do REsp, a mesma disciplina dada pelo
artigo antecedente aos RE’s repetitivos.
2.6.9 Efeitos: além de impedir o trânsito em julgado, a interposição de recurso especial ou
extraordinário produz apenas efeito devolutivo, por força da previsão expressa no art. 542, §2º,
CPC. Isso significa que a decisão recorrida pode ser executada provisoriamente.
Entretanto, provando o recorrente que a produção imediata dos efeitos da decisão poderá
lhe trazer um perigo de dano grave ou de difícil reparação (ou seja, periculum in mora) e que o
fundamento do recurso é relevante (fumus boni iuris), poderá requerer ao presidente do tribunal
recorrido que, ao apreciar a admissibilidade do recurso, a concessão de efeito suspensivo.
Isso é feito através de uma cautelar incidental, que será julgada pelo presidente do
tribunal de origem, se ainda pendente a admissibilidade do recurso (Súm. 634 e 635, STF). Caso
contrário, a competência para apreciar a medida será do próprio Supremo.
2.6.10 Procedimento
98 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
Interposto o recurso, a secretaria do tribunal a quo intimará o recorrido para, em 15 dias,
oferecer suas contra-razões (art. 542, CPC, com redação dada pela Lei n. 10.352/01, que, ao prever
o protocolo na secretaria do tribunal recorrido, tornou possível o protocolo integrado).
Findo o prazo para oferecimento das contra-razões, tenha sido ou não oferecidas, serão
os autos conclusos ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido para apreciar a sua
admissibilidade (art. 542, §1º, CPC). Terá o presidente do tribunal, para o juízo de admissibilidade,
o prazo impróprio de 15 dias.
Não admitindo o Resp ou o RE, caberá dessa decisão AI, nos termos do art. 544, CPC.
Como já visto, este agravo, ao contrário do AI comum, será dirigido ao juízo a quo, é dispensado de
preparo e, para a formação de seu instrumento, são exigidas cópias de documentos obrigatórios
autenticadas pelo próprio advogado, sob sua responsabilidade pessoal.
Será este agravo julgado pelo STJ ou STF, a depender se a decisão indeferiu Resp ou
RE.
Conhecido e provido o agravo (no sentido de destrancar o Resp ou o RE), poderá o
relator, sem a necessidade da remessa dos autos principais (por economia processual), segundo o
art. 544, §3º, CPC:
- dar provimento, monocraticamente, ao Resp ou ao RE, quando o acórdão recorrido estiver com
confronto com súmula ou com a jurisprudência dominante do STJ ou do STF, respectivamente;
- converter o AI em Resp ou RE, desde que haja elementos necessários para o seu julgamento,
observando, a partir daí, o procedimento do recurso excepcional.
Das decisões do relator que não conhece; da que conhece e nega provimento ao agravo;
da que conhece, provê o agravo, e, em seguida, provê também, monocraticamente, o recurso
excepcional, caberá agravo regimental no prazo de 5 dias, nos termos do art. 545 do CPC.
MAS, admitindo o presidente do tribunal o Resp ou o RE, remeterá os autos para o STJ
ou para o STF, onde será observado o respectivo regimento interno.
2.6.11 Resp e RE retidos
Segundo o art. 542, §3º, CPC, "o recurso extraordinário ou o recurso especial, quando
interpostos contra decisão interlocutória em processo de conhecimento, cautelar ou embargos à
execução, ficará retido nos autos e somente será processado se o reiterar a parte, no prazo para a
interposição do recurso contra a decisão final, ou para as contra-razões".
Este artigo é bastante criticado por ter uma redação problemática, de forma que deve ser
assim interpretado:
99 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
a) não se admite Resp ou RE contra decisão interlocutória, e, sim, agravo. Portanto, quis o
legislador se referir a acórdão que não pôs fim ao processo, ou seja, que tenha natureza
interlocutória. Ex: que julga AI, pois, modificando ou não a decisão recorrida, o processo
continuará. REDAÇÃO ALTERNATIVA: "(...) quando interposto contra acórdão que julgar
agravo interposto contra decisão interlocutória (...)".
b) a referência a "embargos à execução" é supérflua, pois que têm natureza de processo de
conhecimento. Por outro lado, entende-se que não se processam de forma retida Resp ou RE contra
acórdão interlocutório proferido em sede de processo de execução.
c) qual é o momento para reiterar o Resp ou RE: na eventual apelação contra a sentença final, ou no
segundo Resp ou RE que, porventura, possa caber do acórdão que julgou a apelação? Em outras
palavras, o que se deve entender por decisão final: a que pôs fim ao procedimento ou aquela contra
qual não cabe mais nenhum recurso comum, esgotando a instância ordinária?
A interpretação, que por "recurso contra a decisão final" entende se tratar da apelação,
deve ser descartada, pois tem o grave inconveniente de fazer com que o recurso excepcional retido
suba ao tribunal sem antes saber se haverá outro contra a decisão que julgar a apelação.
Portanto, decisão final é aquela que enseja Resp ou RE principal, ou seja, aquela contra a
qual não cabe mais qualquer recurso comum ou ordinário.
d) o regime de retenção não se aplica quando o acórdão interlocutório versar sobre as chamadas
tutelas de urgência (tutela cautelar e antecipatória), sob pena de perecimento do direito concedido
provisoriamente (Súm. 735, STF). Assim, o recurso excepcional deve subir de imediato ao STF ou
STJ, não se aplicando o art. 542, §3º, CPC.
Isto não afasta a afirmação de que no processo cautelar se aplica o regime de retenção,
porque nele haverá acórdãos interlocutórios que não versem diretamente sobre concessão de tutela
de urgência. Ex: decisão que exclui do processo cautelar um dos litisconsortes por carência de ação.
2.7 EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA
2.7.1 Conceito: inicialmente, embargos significam recurso oposto perante o mesmo juízo que
proferiu a decisão atacada, objetivando a sua declaração e/ou reforma. Embargos de divergência,
por sua vez, é o recurso oposto contra a decisão da turma que, em recurso especial, divergir do
100 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
julgamento da outra turma, da seção ou do órgão especial; ou, em recurso extraordinário, divergir
do julgamento da outra turma ou do plenário. Portanto, esse recurso só é admissível no Superior
Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal.
2.7.2 Previsão legal: os embargos de divergência estão previstos e regulados no Código de
Processo Civil (art. 546) e Regimentos Internos do Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal
Federal, sendo cabíveis quando houver divergência de interpretações de teses jurídicas.30
2.7.3 Cabimento: como visto, os embargos de divergência são cabíveis quando houver divergência
de interpretações de teses jurídicas dentro do mesmo tribunal, ou seja, quando a decisão da turma,
em recurso especial, divergir do julgamento da outra turma, da seção ou do órgão especial; ou, em
recurso extraordinário, divergir do julgamento da outra turma ou do plenário.
2.7.4 Procedimento: os embargos de divergência são opostos mediante petição, no prazo de 15
(quinze) da intimação da decisão recorrida, perante a secretaria do tribunal, sendo a referida pela
junta aos autos, independentemente de despacho, conforme Regimento Interno do Superior Tribunal
de Justiça (arts. 266, § 2º, e 260) e do Supremo Tribunal Federal (art. 334). Registre-se, ainda, que
deverá acompanhar a petição do recurso documento comprobatório da divergência, podendo, para
tanto, ser mediante certidão ou cópia autenticada, ou, ainda, a citação do repositório jurisprudencial,
oficial ou autorizado, identificando os trechos da divergência. Realizada a distribuição, os autos
serão conclusos para a realização do juízo de admissibilidade, nos termos do regimento interno do
Superior Tribunal de Justiça (art. 266, § 3º) e Supremo Tribunal Federal (art. 335).31
2.8 RECURSOS NOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS
2.8.1 Generalidades: os Juizados Especiais Cíveis32 têm natureza híbrida ou mista, tendo em vista
ser um órgão especial do Poder Judiciário que aprecia causas de menor complexidade mediante um
procedimento especial (rito sumaríssimo); têm como objetivo principal a conciliação/transação.
Ainda, primam os Juizados Especiais Cíveis pelos princípios da oralidade, da simplicidade, da
30 Em observância das normas do processo e das garantias processuais das partes, a ordem jurídica permite aos tribunais a instituição de vários recursos, chamados "recursos regimentais", como, v. g., os embargos (infringentes etc.) e os agravos regimentais.31 Da decisão do relator que não admitir os embargos caberá agravo regimental. Porém, do acórdão proferido somente serão admitidos os embargos de declaração.32 Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995.
101 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
informalidade, da economia processual e da celeridade.
A sua competência é definida pela Lei nº 9.099/95, nos seguintes termos:
a) Ação de conhecimento: causas que não excedam a 40 salários mínimos (inclusive possessórias s/
bens imóveis), as enumeradas no art. 275, II, CPC, e ação de despejo;
b) Ação de execução: execução de seus julgados e de títulos extrajudiciais até 40 salários mínimos
(pessoa física);
c) Ações excluídas: natureza alimentar, falimentar, fiscal, interesse da Fazenda Pública e acidente
do trabalho. Com relação às partes, tem legitimidade ativa apenas a pessoa física, enquanto que
legitimidade passiva tanto a pessoa física quanto a pessoa jurídica (ou entes despersonalizados).
Admite a lei que a parte exercite o jus postulandi, que é facultativo apenas para as causas cujo valor
seja de até 20 (vinte) salários mínimos; ao contrário, exige-se a representação por advogado nas
causas de valor acima de 20 salários mínimos e na interposição de recurso.
A sentença proferida pelos Juizados Especiais Cíveis pode ser homologatória, neste caso
irrecorrível, quando proveniente de conciliação ou laudo arbitral; ou comum, neste caso recorrível
para o Colegiado.
2.8.2 Recursos cabíveis: são cabíveis os seguintes recursos33:
a) Embargos de declaração: são cabíveis quando na sentença quando houver obscuridade,
contradição, omissão ou dúvida(?)34, e podem ser opostos por escrito ou oralmente no prazo de 5
dias da intimação da sentença, não exigindo a participação de advogado. De acordo com a lei de
regência, suspendem o prazo para interposição do recurso inominado.
Porém, com relação ao recurso extraordinário, uma vez que neste caso aplica-se o
Código de Processo Civil, a oposição dos embargos interrompe o prazo para a interposição daquele
recurso.
Por fim, os erros materiais podem ser corrigidos de ofício pelo magistrado.
b) Recurso inominado: o recurso inominado é cabível nos Juizados Especiais Cíveis como meio de
impugnação das decisões interlocutórias e sentenças, devendo ser interposto no prazo de 10 dias
contados da intimação da decisão. O recurso inominado deve ser interposto na forma escrita,
utilizando-se a mesma técnica para a interposição do recurso de apelação, devendo a parte observar
33 Segundo Humberto Theodoro Júnior (Curso de direito processual civil, 21. ed.. São Paulo: Forense, 1997, p. 93), "O Recurso Especial somente é admissível contra acórdão de tribunais. Não se admite sua interposição contra julgamento de juiz singular, mesmo quando proferido em causa de alçada (instância única)."34 O legislador excluiu do Código de Processo Civil, na parte relativa ao recurso de embargos de declaração, a palavra "dúvida", mantendo-a na Lei nº 9.099/95. Registre-se, contudo, que a sentença deve ser certa e determinada.
102 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
os pressupostos recursais nos termos antes estudados.
Porém, com relação ao preparo, a regra aqui diferencia-se da prevista pelo art. 511 do
Código de Processo Civil, uma vez que o preparo só é efetuado, independentemente de intimação,
até 48 horas após a interposição do recurso, sob pena de deserção.
Como regra geral, o efeito é apenas devolutivo (transferência do julgado para o juízo ad
quem); como exceção, o recurso pode ter os efeitos devolutivo e suspensivo, sendo que neste último
caso é preciso, para que o magistrado o confira, que a parte demonstre o fumus boni juris e o
periculum in mora.
O julgamento é proferido por um órgão colegiado, através de uma turma composta de 3
juízes togados, devendo a parte estar representada por advogado.35
c) Recurso extraordinário: cabível o recurso extraordinário, uma vez que o acórdão proferido
pelos Juizados Especiais Cíveis, nos termos supra, constitui-se em decisão final, de última instância,
conforme art. 102, III, da Constituição da República Federativa do Brasil.
Para uma corrente, ao contrário, não é cabível o recurso especial, tendo em vista que o
acórdão, em sendo de última instância, não é decisão de tribunal, conforme art. 105, III, da mesma
Lei Maior. Ainda, por falta de previsão legal (Lei nº 9.099/95), é incabível o recurso de agravo,
mesmo porque atenta contra o princípio da celeridade.
Porém, havendo necessidade de atacar-se uma decisão interlocutória, a parte poderá
fazer uso do recurso inominado, quando nas razões recursais, preliminarmente, abordará a questão;
poderá, ainda, fazer uso do mandado de segurança, nos termos da Lei nº 1.533/51.
35 O órgão colegiado é composto de 3 (três) juízes de 1º grau de jurisdição, que atuarão no exercício do 2º grau de jurisdição.
103 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
PARTE III – MANDADO DE SEGURANÇA
1. Denominação: mandado de segurança (Writ - ordem/mandado).
2. Previsão legal: Constituição Federal/88, art. 5º, LXIX e LXX; Lei nº 12.016/09.
3. Conceito / natureza jurídica:
Ação de conhecimento => procedimento especial
Prestação mais ágil da tutela jurídica (antecipação da tutela)
Prioridade de processamento e julgamento sobre todos os atos judiciais, exceto habeas
corpus.
Amparar direito líquido e certo – direito individual ou coletivo
4. Sentido jurídico de liquidez e certeza:
verdade processual [o direito é reconhecido pelas provas apresentadas (documentais) ou não
(art. 206, IV, C.F. - pagamento de mensalidade)]
direito susceptível de apreciação imediata.
5. Autoridade (arts. 1º e 2º da Lei 12.016/09): toda pessoa representante do Poder Público, ainda
que com função delegada, de categoria que for e independente das funções que exerça (poder de
decisão ou o executor do ato). Também se equiparou à autoridade os representantes ou órgãos de
partidos políticos, que são pessoas jurídicas de direito privado (art. 1º, §1º, Lei 12.016/09).
6. Ato de autoridade - classificação:
Ilegal: o ato praticado é contrário à lei (lançamento de tributo não previsto);
Abusivo: o ato contraria indiretamente a lei; a autoridade vai além (incompetência da
autoridade - delegado de polícia que determina o arresto de um bem);
104 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
por ação: autoridade vai além dos limites (exoneração de funcionário sem poder para fazê-
lo);
por omissão: autoridade está obrigada a praticar o ato, mas não o faz (expedição de alvará).
7. Tipos de mandado de segurança:
Preventivo: o ato (ilegal/abusivo) ainda não foi praticado, mas não paira dúvida de que a
autoridade o praticará - secretário da Educação determina cobrança de mensalidade. É
dedutível que o diretor da escola o fará. A prova pré-constituída será o ato do agente que
prove a iminência da prática de outro, o qual já se antevê ser ilegal ou abusivo. Ex:
notificação; carnê de IPTU.
Repressivo: a ilegalidade ou o abuso de poder já ocorreu.
8. Não cabimento do mandado de segurança:
atos de gestão comercial praticados pelos administradores de empresas públicas, de
sociedades de economia mista e concessionárias de serviço público (art. 1º, §2º da Lei
12.016/09);
ato do qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo, independentemente de
caução (art. 5º, inciso I, Lei 12.016/09; exceto MS p/ omissão, por força da Súmula 429,
STF) => por outro lado, a não interposição do recurso administrativo é considerada uma
renúncia da parte – daí será cabível o writ;
decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo ou correição parcial (art.
5º, inciso II, Lei 12.016/09; e Súmula 267, STF);
decisão judicial transitada em julgado (art. 5º, inciso III, Lei 12.016/09; e Súmula 268,
STF);
lei em tese: incabível (a hipótese é de ação direta de inconstitucionalidade), pois o direito
individual ainda não está sendo ofendido nem sob a forma de ameaça (por exemplo,
aprovação de lei que determina cobrança ilegal de tributo, mas que ainda não foi exigida) –
Sum. 266, STF.
ato disciplinar (baseado no poder discricionário);
9. Legitimidade:
ordinária: pessoa física; pessoa jurídica, de direito público ou privado; entes
despersonalizados (massa falida; herança jacente; espólio; sociedade de fato; condomínio;
assembléias, tribunais, câmara etc);
105 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
extraordinária: substituição processual - art. 3º da Lei nº 12.016/09 (fechamento de uma
escola - legitimidade originária da direção; na omissão, os alunos).
10. Prazo - natureza jurídica (art. 23, Lei 12.016/09): 120 dias da ciência do ato impugnado -
decadencial (não há suspensão e nem interrupção - inclusive nas férias); a perda do prazo não
impede a discussão do direito pelo procedimento comum (art. 19, Lei 12.016/09).
11. Competência:36
11.1 regras gerais:
matéria especial: Justiça Especial (matéria eleitoral; matéria trabalhista etc).
matéria comum: Justiça Comum, a saber:
- STF (art. 102, d, CF.);
- STJ (art. 105, b, CF.);
- TRF (art. 108, c, CF.);
- Juiz Federal (art. 109, VIII, CF; art. 2º, Lei 12.016/09);
- Justiça Estadual (Código de Organização Judiciária e Regimento Interno do
Tribunal de Justiça do Estado de Goiás).
11.2 regras específicas:
11.2.1 Supremo Tribunal Federal (art. 102, I, d, C.F)
- ato do Presidente da República;
- atos das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal;
- ato do Tribunal de Contas da União;
- ato do Procurador Geral da República; e
- ato do próprio Supremo Tribunal Federal.
12.2.2 Superior Tribunal de Justiça (art. 105, I, b, C.F)
- ato de Ministro de Estado;
- ato do próprio Superior Tribunal de Justiça.
12.2.3 Tribunais Regionais Federais (art. 108, I, c, C.F)
- ato do próprio Tribunal Regional Federal;36 Constituição Federal, Código de Organização Judiciária e Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás.
106 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
- ato de juiz federal, de vinculação respectiva;
11.2.4 Juizes Federais (art. 109, VIII, C.F; art. 2º, Lei 12.016/09)37: ato de autoridade federal
(inclusive entidade autárquica), excetuados os casos de competência dos tribunais federais; são
exemplos:
- Universidade Federal de Goiás;
- De pessoa jurídica/natural com função delegada pela União:
- universidade e faculdade particulares (dependem de autorização do Ministério da
Educação e Cultura);
- fundações educacionais particulares de ensino universitário autorizadas pela União
(excetuados os casos em que o Estado organiza o seu sistema de ensino)38;
- serviços de telecomunicações e eletricidade;
- casos de delegação de competência pela União a autoridades estaduais e municipais para
recolhimento de certos tributos;
- Ordem dos Advogados do Brasil - Seção de Goiás;
- Conselhos Regionais (de Química, Farmácia etc.).
11.2.5 Tribunal de Justiça de Goiás (Regimento Interno do Tribunal de Justiça e Código de
Organização Judiciária do Estado de Goiás)39
- Tribunal Pleno (art. 9, inciso XXIV, letra "i", do Regimento Interno do Tribunal de Justiça
do Estado de Goiás):
- ato do Governador do Estado;
- ato da Mesa ou do Presidente da Assembléia Legislativa;
- ato de seus próprios órgãos;
- Câmaras Cíveis Reunidas/ Seções (art. 10, inciso II, letra "c", do Regimento Interno do
Tribunal de Justiça do Estado de Goiás):
- ato de Juiz de Direito;
- Câmaras Cíveis [isoladas (art. 14, inciso III, letra "b", do Regimento Interno do Tribunal
de Justiça do Estado de Goiás)]:
37 Observar o art. 109, inciso I, da Constituição da República Federativa do Brasil, que diz: "Aos juizes federais compete processar e julgar: I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidente de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho". 38 Art. 211 da Constituição da República Federativa do Brasil: "A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino".39 Quando não houver competência estabelecida em razão da matéria ou da pessoa, define-se a mesma pelo foro da sede da autoridade.
107 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
- ato de Secretário de Estado;
- ato do Procurador Geral de Justiça;
- atos do Presidente e membros do Conselho Superior do Ministério Público;
- atos do Presidente e membros do Tribunal de Contas;
- atos do Auditor e membros da Justiça Militar;
- ato do Comandante da Polícia Militar;
- ato de Juiz de Direito;
- Juizes de Direito - na Vara da Fazenda Pública Estadual (art. 30, inciso I, letra "a",
números 1 e 2, do Código de Organização Judiciária do Estado de Goiás):
- atos das autoridades estaduais, inclusive os administradores e representantes de
autarquias e pessoas naturais ou jurídicas com função delegada do poder público estadual,
somente no que entender com essa função, ressalvados os mandados de segurança sujeitos
à jurisdição do Tribunal;
- Juizes de Direito - na Vara da Fazenda Pública Municipal (art. 30, inciso II, letra "a",
números 1 e 2, do Código de Organização Judiciária do Estado de Goiás):
- atos de autoridades municipais, inclusive os administradores ou representantes das
autarquias e das pessoas naturais e jurídicas com função delegada do poder público,
somente no que entender com essa função.
12. Petição Inicial (art. 6º, Lei 12.016/09 c/c arts . 282 e 283, CPC) – são duas vias (sendo uma
para contra-fé), com os documentos necessários, indicando:
o juiz ou tribunal a que é dirigida (arts. 102, 105, 109 e 114 da CF; regras do CPC e Código de
Organização Judiciária e Regimento Interno do TJGO) => define-se pela autoridade coatora;
a identificação e qualificação das partes
a) impetrante => legitimidade ordinária ou extraordinária (art. 3º da Lei nº 12.016/09);
b) impetrado=> a autoridade coatora (§3º do art. 6º define autoridade coatora com sendo
“aquela que tenha praticado o ato impugnado ou da qual emane a ordem para a sua
prática”) E a pessoa jurídica que a autoridade coatora integra, a qual se acha vinculada
ou da qual exerce atribuições;
os fatos e fundamentos jurídicos do pedido (para a admissão do mandamus deve-se comprovar o
direito líquido e certo por meio de documentos; para a concessão da ordem liminarmente40,
40 Tal liminar tem natureza de antecipação de tutela, porém, é concedida com restrições contra a Fazenda Pública (art. 7º, §§2º e 5º, da nova lei do MS). Contra ela cabe o agravo de instrumento (art. 7º, §1º). Seus efeitos, salvo se revogada ou cassada, persistirão até a prolação da sentença (art. 7º, §3º). Pode ser suspensa pelo presidente do tribunal, cf. art. 15 (vigorará enquanto pender o
108 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
deve-se provar ainda o fumus boni iuris e o periculum in mora – art. 7º, inciso III. Pode, ainda,
ser exigida do impetrante, para a sua concessão, a prestação de garantia para assegurar eventual
ressarcimento à pessoa jurídica);
o pedido e suas especificações, como:
a) notificação da autoridade coatora para prestar informações no prazo de 10 dias (art. 7º, I)
natureza jurídica de citação. A autoridade deve prestar as informações pessoalmente,
assinando a peça; poderá fazê-lo juntamente com advogado;
b) a intimação do órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada, para que,
querendo, ingresse no feito (art. 7º, II);
c) procedência do pedido, inclusive liminarmente;
d) intimação Ministério Público
e) benefícios da assistência judiciária (Lei nº 1.060/50), se for o caso;
Observações:
não se requer a produção de provas, pois estas devem acompanhar a inicial;
excepcionalmente, pode haver requerimento no sentido de intimar a autoridade coatora a
juntar aos autos documentos que estejam em seu poder (art. 6º, §2º);
não há condenação de honorários advocatícios - Súmulas 105 do STJ e 512 do STF.
o valor da causa - há divergência se aplicável ou não os arts. 258 e 259 do CPC.
pedido de deferimento;
local, data e assinatura do advogado.
13. Informações/contestação – 10 dias (conforme art. 7º, I, da Lei n. 12.016/09). São obrigatórias,
sob pena de prevaricação; e trata-se de ato personalíssimo, não obstante o advogado público possa
assiná-las também. Quem arca com as conseqüências é a Fazenda Pública, sendo ela o verdadeiro
sujeito passivo (art. 3º da Lei 4348/694, modificado pela Lei n. 10.910/04 – prazo de 48 horas para
suspender o ato e oferecer defesa).
14. Recursos (há divergência na doutrina)
14.1 Indeferimento da inicial/extinção do processo sem julgamento do mérito/denegação da
segurança (1º grau): apelação (art. 14, Lei 12.016/09).
recurso) => cabe agravo regimental.
109 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo
14.2 Concessão da segurança (1º grau): apelação (efeito só devolutivo, art. 14, §3º, Lei
12.016/09) e remessa obrigatória (art. 14, §1º, Lei 12.016/09).
14.3 Liminar (1º grau):
14.3.1 Concedida: pedido de suspensão (art. 15) ou agravo de instrumento (art. 7º, §1º).
14.3.2 Negada: agravo de instrumento (art. 7º, §1º).
14.4 Denegação da segurança (2º grau – o que inclui indeferimento da inicial/extinção do
processo sem julgamento do mérito): recurso ordinário (art. 539, CPC; art. 18, in fine, Lei
12.016/09).
14.5 Concessão da segurança (2º grau): recursos especial e/ou extraordinário (art. 18, 1ª parte,
da Lei 12.016/09).
14.6 Liminar (2º grau): concessão ou indeferimento – pedido de suspensão (art. 15, Lei
12.016/09).
Obs: não cabem jamais embargos infringentes (Sum. 169, STJ), nem agravo regimental (Súm.
622, STF), salvo da decisão do Presidente do Tribunal que conceder suspensão da liminar (art.
15, in fine, Lei 12.016/09).
110 DIREITO PROCESSUAL CIVIL V Profa. Évelyn Cintra Araújo