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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Processo do Trabalho Transcrições das aulas do professor Diogo Campos Medina Maia PAR_SP - 23618526v1 1

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Processo do Trabalho

Transcrições das aulas do professor Diogo Campos Medina Maia

Rio de JaneiroMarço/Maio 2012

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Processo do Trabalho Aula 1 09-03-2012

Bibliografia:

- Giglio, Wagner – D. Proc. Do Trabalho, Saraiva- Leite, Carlos Henrique B. – Curso de D. Proc. Trabalho, LTR- Malta, Cristóvão Piragibe – Prática do Proc. Trabalhista, LTR- Martins, Sergio Pinto – D. Proc. Do Trabalho, Atlas- Martins Filho, Ives Gandra – Manual de Direito e Proc. do Trabalho, Saraiva *- Nascimento, Amauri Mascaro – Curso de D. Proc. Trabalho, Saraiva- Oliveira, Francisco Antônio – O Proc. na Justiça do Trabalho- Pinto, José Augusto Rodrigues – Processo Trab. de Conhecimento, LTR- Saraiva, Renato – Curso de D. Proc. Trabalho, Método- Schiavi, Mauro – Manual de D. Proc. Trabalho, LTR- Sussekind, Arnaldo e outros – Instituições, LTR- Teixeira Filho, Manoel Antonio - Curso de D. Proc. Trabalho, LTR

São doze livros e essa é a leitura que eu espero de vocês nesse semestre. Eu indico muitos livros porque o livro tem muito a ver com o aluno, que tem que achar que pode extrair algo do autor. Para mim não é importante um livro específico, pois a aula não segue um livro, mas um programa, que não é o que está no site.

A prova vai sempre se pautar pelas aulas. Então se pautem pela aula. Temos quatro que são mais simples. E os mais profundos, para os que querem seguir isso como sua profissão. Livros complexos: Manoel Antonio Teixeira Filho, do Paraná, que tem entendimentos minoritários, mas é um livro abrangente. Livros clássicos, antigos: Instituições, do Sussekind. É o papa do Direito do Processo do Trabalho, um dos redatores da CLT, que ainda está vivo. Livros abrangentes, muito bons: Mauro Schiavi, Renato Saraiva, Francisco Antônio Oliveira, Sérgio Pinto Martins, Carlos Henrique B. Leite. São livros compactos. Ives Gandra, ministro do TST, tem um livro bem resumido, que ajuda na consulta. Wagner Giglio é um livro antigo, muito bom também, está sendo reeditado. Eu sou fã do José Augusto Rodrigues Pinto, mas seu livro não está atualizado e só fala de processo do conhecimento.

Se tiverem que escolher, escolham o que gostarem mais. Mas se forem começar, comecem pelo Schiavi. O mais importante disso tudo é que a turma esteja ciente do conteúdo dado em aula, que não

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necessariamente é o conteúdo do livro e não necessariamente vai convergir a ele.

Com relação às provas: façam a primeira prova. Tem menos matéria e é mais rápida. A primeira prova lembra muito a primeira fase do exame de ordem: tem uma parte expressiva de múltipla escolha e a ideia é essa mesma. Tem parte discursiva também, mas é curta e objetiva. A segunda prova lembra a prova específica do exame de ordem, em que se disserta mais, mas não se poderá escrever à vontade. Deve-se exercitar, além da capacidade de explicar, a capacidade de síntese. Há limite de linhas pra resposta, com uma questão maior, em que se deve escrever mais. Então, a segunda prova é mais difícil, porque abrange a matéria toda. Assim como a segunda chamada, que é nos moldes da segunda prova.

(Ele conta a história de vida dele agora. Ele não cobra presença.)

Processo do Trabalho é fácil, mas em muitos momentos é cruel, porque quebra a lógica. O grande jurista tem que ter bom senso. Se tiver um pouquinho de Direito, está bom.

A CLT é um instrumento de 1943. Sua base em termos processuais começou 1932 e 1939, com decretos que foram dando forma à Justiça do Trabalho. Hoje, ela tem mais ou menos 160, 165 artigos de direito processual, que é pouco. Você tem que fazer processo de conhecimento, processo de execução, trabalhar o procedimento comum ordinário, rito sumário, rito sumaríssimo e isso para 160 artigos é pouco. Por isso, logicamente, existem diversas lacunas e essas lacunas podem ser supridas em dois momentos: no processo de conhecimento, pelo processo civil; e no processo de execução, pela Lei de Executivos Fiscais. Isso está previsto nos arts. 769 e 889 da CLT.

Art. 769 - Nos casos omissos, o direito processual comum será fonte subsidiária do direito processual do trabalho, exceto naquilo em que for incompatível com as normas deste Título.

Então você já abre o processo do Trabalho vendo que há um critério de supletividade. Tem um auto-reconhecimento de que o processo do Trabalho não se basta para resolver suas questões. Para isso, tem que haver omissão, tem que haver compatibilidade.

Art. 889 - Aos trâmites e incidentes do processo da execução são aplicáveis, naquilo em que não contravierem ao presente Título, os preceitos que regem

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o processo dos executivos fiscais para a cobrança judicial da dívida ativa da Fazenda Pública Federal.

No processo de execução, a gente está falando da Lei 6.830/1980. Naquilo que for compatível com o processo de execução trabalhista, vai ser supletiva. Em seu artigo 1º, a Lei diz que, naquilo em que ela for omissa, o CPC vai ser supletivo. Ou seja, a problemática é grande. O CPC é de 1973, e, por sua vez, há um movimento enorme para reformá-lo. Então se o CPC é tido como ultrapassado, imagina a CLT. Ela é hoje uma colcha de retalhos, o que por um lado é ruim, mas por outro é bom, porque deixa em aberto muitas coisas, que permitem ao bom jurista uma liberdade maior. O grande problema é que não se consegue uma unanimidade de magistrados perfeita. Por isso, deve-se conduzir a um regramento mínimo que vai dar maior previsibilidade, segurança.

A CLT tem microssistemas introduzidos nela: o rito sumaríssimo, por exemplo, entrou no art 852-A, 852-B, 852-C, em 2000, não se podendo enumerar os artigos. Por um lado, temos uma CLT que vai exigir uma interpretação subsidiária e, por outro, uma não muito normativada, que te permite evoluir e fazer direito. Por isso, vamos falar muito de súmulas, OJ’s e Instruções Normativas do TST. As súmulas têm a vantagem de pegar justamente os pontos de conflito, tendo grande relevância no Direito do Trabalho. Muitas das coisas que se vê como propostas do novo CPC vêm de coisas que já estão sumuladas no Direito do Trabalho, do TST.

O que é a Justiça do Trabalho hoje? É composta por varas do trabalho, TRTs, que se dividem em 24 regiões, sendo a 1ª a do Rio de Janeiro, capital à época. O TRT não necessariamente tem a jurisdição do estado. A CF/88 tentou impor um TRT por estado, mas isso não deu certo, a começar por São Paulo. São Paulo é tão grande e tem tanto processo que tem o TRT da 15ª, de Campinas e o TRT da 2ª região. Tem também estados que são grandes não têm demanda para um TRT, como o Pará, que divide a jurisdição do TRT com o Amapá.

Vocês vão ver que a Justiça do Trabalho é uma justiça recente, que faz aniversário em 1º de maio. Aliás, 1º de maio é uma data emblemática. Se pedirem em uma prova uma data, chutem 1º de maio, que a chance de acertar é grande. 1º de maio de 1941 foi instituída a Justiça do Trabalho. 1º de 1939 foi instituído o Decreto que deu as bases da Justiça do Trabalho. 1º de maio de 1971 a Justiça do Trabalho se mudou do Rio para Brasília. É uma data de referência. Ela é uma justiça jovem e, quando foi criada, os juízes eram nomeados pelo presidente da República. Era algo com pouca

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expressividade, poucas varas, com carência de jurisdição. Tinha-se uma vara de trabalho por capital. E, onde não tinha vara do trabalho, quem exercia a jurisdição era o juiz de direito, da vara cível, que a exercia como se juiz do trabalho fosse. O TRT não, ele tinha jurisdição no país inteiro. Então, uma ação trabalhista na vara cível, quando houvesse recurso, ia para o TRT. Vamos estudar a história da Justiça do Trabalho na próxima aula, que é importante para entender o que é a Justiça do Trabalho hoje, porque ela é tão carente de regulamentação, etc.

Ex.: aviso prévio não é mais de 8 dias desde a CF/88. Art. 4871. Contudo, as CLTs não estão atualizadas. É melhor sempre ver pelo site do planalto, que está atualizado. Essa questão está numa lei específica sobre aviso prévio (Lei 12.506/2011).

1 Art. 487 - Não havendo prazo estipulado, a parte que, sem justo motivo, quiser rescindir o contrato deverá avisar a outra da sua resolução com a antecedência mínima de:        I - 3 dias, se o empregado receber, diariamente, o seu salário;         II - 8 dias, se o pagamento for efetuado por semana ou tempo inferior;         I - oito dias, se o pagamento for efetuado por semana ou tempo inferior;  (Redação dada pela Lei nº 1.530, de 26.12.1951)        II - trinta dias aos que perceberem por quinzena ou mês, ou que tenham mais de 12 (doze) meses de serviço na empresa.  (Redação dada pela Lei nº 1.530, de 26.12.1951)

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Hoje vamos estudar a história do processo do trabalho. E ela é muito importante. Eu sempre odiei aulas de historia dentro da faculdade de direito porque normalmente elas não trazem nada para prática. E realmente não trouxeram, salvo a história da justiça do trabalho.

Mas porque ela é importante? Como vocês vão ver, a justiça do trabalho se formou, amadureceu e cresceu, transformando drasticamente do que ela era originariamente em relação ao que ela é hoje. E hoje em dia, na prática, temos nomenclaturas referentes as instituições referentes a todo esse tempo.

Por exemplo, por que vocês chamam de reclamante e não de autor hoje? Isto é uma referência à época em que a justiça do trabalho não era um órgão do judiciário. Então você tem inúmeras nomenclaturas, como notificação (em vez de citação), da época em que a justiça do trabalho não era um órgão do poder judiciário.

Então, a gente divide essa aula de história no período pré-constitucional, no período constitucional (onde a JT não é membro do poder judiciário), e o período pós Poder Judiciário.

Qual é então o “big bang trabalhista”? Quando a gente fala de BBT a gente fala de Getúlio Vargas. Então, a gente vai pensar na justiça do trabalho, historicamente (pelo menos com alguma relevância e num sentido de evolução, lógico e sem ruptura) a partir do decreto 19.398/1930 que instituiu o governo provisório. Com base nesse decreto, Getúlio Vargas assume o poder e começa a concentrá-lo em torno de sua figura (tanto do executivo, do legislativo, quanto algumas atribuições do judiciário quanto a suas decisões).

Getúlio foi quem, historicamente, mais fez pelo direito do trabalho e pela justiça do trabalho, até porque ele tinha poderes concentrados, podendo fazê-lo ao critério apenas de sua vontade. O fez, começando por criar o ministério do trabalho indústria e comércio (MTIC). Antigamente, as reclamações trabalhistas estavam vinculadas ao ministério da agricultura, pois nossa economia era eminentemente agrária. (03:20)

Logo depois ele cria o que a gente poderia chamar de a semente do que seria a justiça do trabalho. E por que semente? Porque não é propriamente a justiça do trabalho. Ele cria, então, dois órgãos de solução de conflitos trabalhistas. E o que a gente estuda aqui são formas de solução de conflitos trabalhistas.Então, os decretos 21.396/1932 e 22.132/1932 criam esses órgãos. E uma observação:

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sempre que você citar algo do século passado, coloque o ano com os quatro dígitos.

Esses decretos criaram duas comissões de solução de conflitos trabalhistas:

Comissões Mistas (e Permanentes) de Conciliação, destinadas à solução de conflitos coletivos. E o que eram os conflitos coletivos? Eram aqueles que envolviam a empresa, ou as empresas naquele ramo econômico, e os empregados daquele ramo profissional representados por seu sindicato. Então, os chamados brigas coletivas, dissenso coletivo, dissídio coletivo eram resolvidos pelos conselhos mistos de conciliação, que tinham por escopo conciliar efetivamente. Se não o conseguissem, encaminhavam para o Ministério do Trabalho, ou a quem ele delegasse, para decidir.

Juntas de conciliação e julgamento, onde eram resolvidos os conflitos individuais (nomenclatura que perdurou até a década de 90/2000). Não eram os órgãos de primeira instância da justiça do trabalho, até porque não existia propriamente uma justiça do trabalho (tratava-se de um órgão administrativo de solução de conflitos, mais especificamente os individuais). Por serem órgãos administrativos, não tinha poder jurisdicional, decidiam administrativamente as questões. Uma vez decidida, a decisão podia ser cumprida facultativamente pelas partes. Não sendo cumpridas, elas eram encaminhadas para a justiça comum para a execução do resultado do dissídio. Elas não tinham poder executório por não serem órgãos do poder judiciário.

Tanto as comissões mistas de conciliação como as juntas de conciliação e julgamento tinham uma característica que acompanhou a justiça do trabalho por muitos anos, que é a formação tripartisse: o presidente e de dois outros julgadores, um representando o interesse dos empregados e outro, os dos empregadores.

Então entramos no período constitucional em 1934. Até aqui, a justiça do trabalho não estava incluída na constituição federal. A partir daqui a gente pode falar em justiça do trabalho. Getúlio apresenta, então, no art. 122 da constituição da época a justiça do trabalho. Contudo, ainda não como órgão do poder judiciário. Continuava sendo um tribunal administrativo, vinculado ao Ministério do Trabalho Indústria e Comércio.

A justiça do trabalho foi, então, criada, instituída, porém não regulamentada. Então de 1934 a 39, não mudou muita coisa. Em

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1937 a justiça do trabalho continua com mais ou menos a mesma redação do artigo 122 da constituição de 34 no artigo 139 da constituição de 37. Ela continua sendo uma justiça administrativa. E em 1937 a gente já ta falando do golpe, do Estado Novo, quando Getulio ??? (8:24-8:27) todos os poderes e migrou para o lado sombrio da Força.

A questão trabalhista era tão importante que ele coloca como uma das justificativas do golpe a grande dificuldade que ele tinha de passar o projeto de lei que previa e organizava a justiça do trabalho. Ele não conseguiu passar o projeto. Este era de 1935 e em 1937 já tinha alterações que modificavam sua essência, ou pelo menos da essência daquilo que o presidente queria que fosse. Então, uma das justificativas do golpe foi exatamente essa, a dificuldade de passar o projeto de lei da justiça do trabalho.

Esse projeto tomou em 1939, então, a forma dos decretos lei 1237/39 e 1346/39, nols moldes do projeto de 1935 sem alterações. Então Getulio organiza pela primeira vez a justiça do trabalho. A partir daqui, a previsão constitucional passa a ter reflexo na prática, pela organização de uma justiça do trabalho, reconhecida como órgão administrativo.

Foi organizada com dos órgãos: os órgãos de base, de primeira instância, adotando a nomenclatura do decreto 22132 (Juntas de Conciliação e Julgamento); e Conselhos Regionais do Trabalho, que seriam os órgãos de segunda instância, revisionais. O decreto 1346 organiza o CNT (Conselho Nacional do Trabalho), que era uma corte suprema trabalhista. E a justiça é organizada assim, como um órgão do poder executivo, como um tribunal administrativo.

Também são regulamentados pela primeira vez os nomes das partes que figuram no processo do trabalho, ou no procedimento, melhor dizendo: reclamante e reclamado. É instituído também um sistema supletivo às junta de conciliação e julgamento, que nessa época eram poucas, visando viabilizar o julgamento de questões trabalhistas em áreas que não estavam sob jurisdição de alguma junta de conciliação. Essa possibilidade foi adotada na CLT.

A junta era composta por um presidente e dois vogais, que eram os representantes de classe (trabalhadora e empresarial). Tinham o mandado de dois anos, pois eram nomeados, e não instituídos por concurso. Então, o presidente era nomeado entre magistrados e baixareis em direito pelo Presidente da república, por meio direto. Já os vogais eram nomeados pela escolha, por parte dos presidentes

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dos conselhos regionais do trabalho, de um nome presente nas listas enviadas pelo sindicato.

O conselho regional do trabalho (órgão de instância superior), por sua vez, era composto por um presidente e quatro vogais. Aqui tem uma questão interessante da Justiça do Trabalho: na sua origem, nem sempre os vogais eram representantes classistas. Nos conselhos regionais, portanto, se tinha o presidente, dois vogais classistas e outros dois alheios aos interesses profissionais. Uma coisa estranha para o mundo do trabalho. Pelo menos, profissionalmente, na prática. Eles eram teóricos do mundo do trabalho, porque tinham que ser brasileiros natos, maiores de 25 anos e especializados em questões econômicas e sociais.

Os vogais eram escolhidos pelo presidente da republica (inclusive os alheios aos interesses profissionais), mas desta vez escolhidos dentre listados pelos sindicatos de nível superior (algo como a nossa federação). E o presidente do CRT era escolhido pelo Presidente da República entre desembargadores e juristas de notório saber sobre legislação ??? (14:27).

Essa era a estrutura ordinária da Justiça do Trabalho. A estrutura extraordinária era o Conselho Nacional do Trabalho, que foi criado pelo decreto 1346, que se dedicava exclusivamente a esse fim.

Era dividido em câmaras, com uma grande peculiaridade nessa época: o conselho do trabalho julgava questões trabalhistas e da previdência social. Era uma época onde as questões trabalhistas e previdenciárias não eram muito bem delineadas e afastadas, tanto que se teve depois um ministério do trabalho e previdência social na mesma pasta.

Então era dividido em duas câmaras. O presidente, ??? (15:20) Regional do Trabalho, e dois vice presidentes, os quais exerciam cada um a titularidade de uma das câmaras, uma do trabalho e a câmara da previdência social.

No total eram 19 membros, sendo 8 deles classistas (quatro representantes dos empregados e quatro dos empregadores), quatro membros do ministério do trabalho indústria e comércio e das instituições de previdência social (normalmente 2 e 2). Os sete restantes eram pessoas de notório saber, todos nomeados pelo presidente da república.

Isso me faz lembrar os almoços que eu tinha com meu avô, que era advogado trabalhista em 1949 ??? (16:25). Nessa época o pessoal

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pegava juiz do trabalho na esquina, porque ninguém queria ser. Por isso se pautava no notório saber jurídico, pessoas alheias aos interesses profissionais.

A justiça do trabalho, então, se formou assim, nessas bases. Bases, digamos assim, pouco técnicas. Mas tinha um objetivo. A ideia de você trazer representantes classistas pra dentro do conflito trabalhista era trazer um pouquinho do dia a dia, da prática do trabalho para os tribunais.

Por que você tem hoje a arbitragem? Normalmente quando você escolhe o árbitro, você tenta escolher (pelo menos em determinadas hipóteses, em determinados conflitos) pessoas que entendam a prática. Isso porque, por mais técnico que seja o jurista, ele pode carecer de um conhecimento pratico que pode comprometer o julgamento da demanda.

E a ideia era essa, de trazer pessoas especializadas, fizesse uma sopa geral de pessoas que tivessem conhecimento prático pra que o julgamento e as soluções das lides fossem as melhores possíveis.

Em 1939, portanto, foi instituída a justiça do trabalho nesses moldes. Daí a você levar ela a pratica demorou um pouquinho. Então a instituição da justiça do trabalho foi pelo decreto lei 1237/39, no dia 1º de maio, mas ela só foi instalada em 1941, numa solenidade no clube de regatas vasco da gama, rio de janeiro, então capital federal. Por isso que ano passado teve a comemoração de 60 anos da justiça do trabalho.

Só que em 1943 sobrevém a CLT, que incorpora essa estrutura da justiça do trabalho ao seu corpo. O que não seria estranho de se imaginar, pois a CLT não é um código, e sim uma consolidação, ou seja, ela se baseia na legislação existente fazendo alguns ajustes a ela. Se vocês pegarem a disposição objetivo da CLT vocês vão ver que ele não era de criar nada novo, era simplesmente sistematizar aquilo que existia. Ela conseguiu cumprir esse papel durante um certo tempo, mas vocês vão ver que até em relação ao processo trabalhista está tudo espalhado em legislação avulsa, a gente precisaria de uma nova CLT ou mesmo um código ???? (20:48) ... processo do trabalho. Houve ate um movimento por uma nova CLT, mas era uma nova consolidação, mas que não evoluiu, e se chegar a ser criada, poderá já chegar defasada.

Enfim, estamos na época da CLT. O próximo grande passo da justiça do Trabalho foi a constituição de 1946, que abriu o tapete vermelho

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para a justiça do trabalho ingressar oficialmente no judiciário. A partir daqui podemos falar em justiça do trabalho com poderes jurisdicionais efetivos.

Na pratica, esse foi um processo de transformação, existindo precedentes que foram deflagrando esse movimento de jurisdicionalização da justiça do trabalho. Apesar de não podermos falar em todos, um exemplo foi o RExt do STF de 43 sobre uma decisão do conselho nacional do trabalho. O recurso extraordinário só poderia ser apresentado fundado em decisões jurisdicionais, mas foi apresentado fundado numa decisão do CNT.

Então já se via um reconhecimento prático da JdT como um órgão jurisdicional. Em janeiro de 46 o decreto-lei 8737 exclui as questões previdenciárias da justiça do trabalho. O CNT foi filtrado a fim de dar um foco exclusivamente trabalhista.

Então uma grande questão que se apresenta é o decreto-lei de 9797/46, promulgado em 9 de setembro e entrou em vigor no dia 11 do mesmo mês. Esse decreto lei da a justiça do trabalho uma roupagem jurisdicional. Por ele já se fale em juízes, tribunais que até então não existia na justiça do trabalho. Só que a constituição de 46 é de 18 de setembro de 1945. Logo, esse decreto lei foi inconstitucional por 9 dias, mas não tempo suficiente para ter sua inconstitucionalidade declarada.

Portanto, fica claro que se tratava de um movimento da época absorvido pela constituição de 1946, que passou a reger efetivamente a estrutura judiciária e a substituir a nomenclatura da CLT. Fica mudada, a partir de então, a figura da Justiça do trabalho. As juntas de conciliação e julgamento continuam sendo juntas, mas passam a ser compostas por um juiz do trabalho, e não mais um presidente. Um juiz presidente, na verdade. Essa denominação continuou enquanto ainda mantinha-se a estrutura tripartide das juntas, ainda com os vogais.

O conselho regional do trabalho passou a se chamar Tribunal Regional do Trabalho, e assim é chamado até hoje. Era composto por juízes, e não desembargadores ainda. Já o conselho nacional do trabalho passou a se chamar tribunal superior do trabalho, composto por 11 juízes, 7 nomeados pelo presidente e 4 classistas. Os tribunais regionais também continuavam com os classistas. Por fim, criou-se a magistratura de carreira, logo o ingresso para juiz do trabalho passou a ser realizado por concurso público.

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Com a constituição de 67 aumentou-se o número de juízes no TST de 11 para 17, e passou-se a nomeá-los ministros. Vai amadurecendo a justiça do trabalho. Em 1º de maio de 1971, o TST muda do Rio para Brasília, que já era a capital federal desde 1960.

Em 1988 sobrevém a constituição federal, que mantém a justiça do trabalho no poder judiciário, mas aumenta a quantidade de ministros do TST para 27, sendo 17 togados e 10 classistas.

Aí vem a lei 7701/88, que talvez seja a lei processual trabalhista mais importante, tirando a CLT e o CPC. Por que? Porque essa lei passou a dividir o TST em turmas, pleno e em duas mais importantes: a seção especializada em dissídios individuais e seção especializada em dissídios coletivos. Vocês vão ouvir falar nelas o tempo inteiro, especialmente a SDI, que é dividida em subseção especializada em dissídios individuais I e II.

Essas duas últimas divisões passaram a agregar competências distintas para o TST: a seção especializada em dissídios coletivos para julgar dissídios coletivos e a seção especializada em dissídios individuais passou a ter divisão para questões processuais e questões de direito material especializadas, como, por exemplo, mandado de segurança, mandado de ??? (29:14). Já as turmas recebiam residualmente, isto é, os recursos extraordinários, os de revista que vinham dos TRT.

E vem a EC 24/99, que é muito importante por alguns motivos:

Primeiro, ela acabou com a representação classista no processo do trabalho, agregando mais ainda o caráter jurisdicional, a visão tradicional que temos de justiça a JdT. Mas por quê? Na origem, a ideia foi boa e ajudou muito no julgamento, mas com o tempo os classistas foram perdendo a sua função. Talvez por uma inércia própria, talvez por uma rejeição natural do juiz da vara mesmo. Especialmente nas varas, pois nos tribunais eles ainda votavam, e os votos eram computados para fim de êxito ou derrota da pretensão.

Já nas varas, as decisões eram praticamente inteiramente singulares. O juiz tocava o processo, e depois que decidia perguntava aos classistas se tinham alguma objeção. Eu não cheguei a ver nenhuma, e não conheço quem tenha visto. Então você acabou deixando os juízes classistas para funções marginais como procurar?? as partes no corredor, redigir termos de acordo, ??? (31:25) figuração.

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Tinha também uma questão sensível, que era o fato deles serem nomeados (não aprovados por concurso), e no tribunal eram a maioria (você tinha uma composição mínima de três – 2 classistas e 1 presidente). Logo, se eles quisessem votar de forma distinta eles tinham o poder de dominar a decisão.

Então tinham questões de influência ?? (31:50) do individuo, afinal eles eram indicados, que acabou que eles acabaram. Então em 1999 a emenda constitucional 24 acaba com os juízes classistas. E como acaba com essa representação tripartide nas varas, que eram órgãos colegiados, que deixa de serem-no passam a se chamar vara do trabalho, com juiz singular, monocrático.

Isso gerou vários contratempos. (O professor conta o caso da advogada que renunciou os poderes do mandato por causa da mudança da nomenclatura de junta para vara). Aqui a gente vai ter um problema: você tinha 27 ministros (17 togados e 10 classistas que vão embora). Dos dezessete togados, a constituição diz que três seriam advogados e três membros do MPT.

É o chamado quinto constitucional, que diz que 1/5 dos tribunais deve ser formado por advogados ou membros do ministério público de carreira, pessoas que foram escolhidas em listas das suas próprias entidades. Só que esse quinto era calculado com base no quadro de 27 ministros, mas agora só havia 17. Isso foi resolvido por convocação juízes de 1º grau para a 2ª instância e desembargadores para o TST para ocupar o lugar dos classistas até que eles fossem nomeados.

A EC 24 acabai ainda com um devaneio, até que inteligente, introduzido na CF/88, mas que na prática era ruim: ter um TRT por estado. Então a região da justiça do trabalho seria compatível com um estado da federação. Claro que tinha seu valor, pois você precisa ter representatividade de 2º grau em cada estado. A ideia era que cada capital tivesse um TRT com jurisdição sobre o território integral do estado.

Mas isso não deu certo na prática, pois havia TRTs que não comportavam demanda suficiente para se instruir??, os desembargadores acabavam sem trabalho; já outros ficariam sobrecarregados, tendo que transforma-los em tribunais gigantes, centralizando questões que, as vezes, seriam melhor resolvidas de forma descentralizada. ??? (39:38-39:50). O que aconteceu é que até a EC de 99 não se conseguiu criar TRT em todos os estados,

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enquanto, por exemplo, em São Paulo, foram criados dois. Já em estados menos populosos como Pará, Amazonas um TRT tinha jurisdição em 2 estados. Como era o Rio de Janeiro e Espírito Santo. A EC acaba então com essa necessidade fictícia de se ter um TRT por estado, já que na prática isso nunca se operou.

Aí, em 2004, vem mais uma novidade na justiça do trabalho. ??(40:56-41:00) o tribunal de São Paulo. A justiça do trabalho está bagunçada, financeiramente e orçamentariamente. Cria-se então o conselho superior da justiça do trabalho, que não é órgão jurisdicional. Bom pra colocar em prova pra caramba. Foi a EC 45. É o órgão de cúpula da justiça do trabalho, com a missão de supervisionar os TRTs, art. 111-A, § 2º, inciso II da CF/88.

O CSJT tem autonomia administrativa, e a função de supervisão administrativa orçamentária, financeira e patrimonial da justiça do trabalho de 1º e 2º grau, atuando como órgão central do sistema. Não tem função jurisdicional. Não cabe a ele reformar, revisar nenhuma decisão jurisdicional.

Ele é composto por três membros fixos, do TST, que são o presidente o vice-presidente e o corregedor geral da justiça do trabalho, três outros membros do TST eleitos, que são três outros ministros, e cinco outros membros dos TRTs, cada membro representando uma região geográfica (presidente de um TRT da região).

Pra finalizar, como funciona a justiça do trabalho hoje? (acho que tinha um esquema no quadro). Mas isso não quer dizer que esteja um acima do outro não. Alias, acho isso muito interessante no diálogo com os advogados: “e ai, o processo subiu?”. O processo não sobe. As vezes a vara está num andar acima do tribunal. É engraçado que a gente usa a terminologia subiu, mas o processo apenas se deslocou. Talvez a gente devesse diagramar com setas laterais mais a e mais fácil para a compreensão verticalizar. (acho, tenho certeza na verdade, que aqui o professor se referia apenas a estrutura física dos tribunais, então todos os termos são em sentido físico apenas. Não concordo, mas vai que ele cobra uma merda dessas).

Então primeiramente a gente tem as varas do trabalho, que são os órgão de 1ª instância da JdT. São responsáveis por receber originariamente as demandas individuais trabalhistas, em regra. Divide jurisdição com os juízos do trabalho os juízos de direito nas regiões em que não houver vara do trabalho. O juiz de direito não passa a ser um membro da composição da justiça do trabalho, ele só

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tem jurisdição trabalhista, julga como se fosse um juiz do trabalho. Mas seu recurso não vai para o TJ e sim ara o TRT.

Esse juiz da justiça comum não se subordina ao TRT administrativamente, mas sua decisão é revisada por ele. Hoje eu já não tenho exemplo pratico para dar pra vocês, pois tem outras maneiras de resolver isso, como a constituição de postos avançados, como o realizado pelo juiz de angra em parati, para facilitar o acesso a justiça trabalhista. E essa possibilidade não tem a ver com existir vara própria, e sim com a ausência de jurisdição. Só então o juiz comum poderá exercer esse papel. Do mesmo modo, um município que tenha uma vara com jurisdição que vai alem do território do município também impede essa assunção de papel pelo juízo comum.

Em segundo grau temos o TRT, órgão de 2ª instância. Eminentemente revisional? Sim, para revisar as decisões das varas do trabalho ou do juízo de direito quando exercendo jurisdição trabalhista. Exclusivamente revisional? Não. O TRT tem competências originárias também. Algumas demandas só vão ser ajuizadas direto no TRT, como, por exemplo, a ação rescisória, o mandado de segurança com objeto de caçar abuso de autoridade de um dos juízes do TRT. As varas e o TRT compõe a jurisdição ordinária das demandas individuais.

Acima disto nos temos o TST, que em regra é uma jurisdição extraordinária trabalhista. Por que, em regra, só chega ao TST o que passar pelas varas e TRTs, logo já esgotado o duplo grau de jurisdição. Uma terceira apreciação é possível, mas somente em casos extraordinários, e será exercida pelo TST, que visam menos à defesa do direito individual da parte e mais a defesa do direito objetivamente falando. Isso pode ser um pouco confuso, mas a gente vai destrinchar isso e vocês vão entender. Excepcionalmente o TST pode ser revisional, pois existem ações de competência originaria dos TRTs, logo o TST constitui o 2º grau de jurisdição.

Acima, mas sem papel jurisdicional, se tem o CSJT, que fica de olho tanto no TST como nos TRTs.

Como se divide o TST hoje?

Presidência: órgão administrativo, não julga processos, embora em alguns casos ela possa intervir pra deferir uma liminar ou outra, mas a gente não vai conversar sobre isso por enquanto.

Corregedoria: tem o escopo de fiscalizar os seus membros

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Órgão especial e pleno: são duas divisões diferentes, cada qual destinada a matérias específicas, muitas das administrativas. Isso está relacionado com o que a gente chama de competência funcional. Vocês vão ver que o pleno precisa atuar em ações em que você tem que declarar a inconstitucionalidade de um diploma legal (tanto no TRT como no TST, é o que se chama de reserva de plenário). Já ao órgão especial cabe as questões administrativas internas, como promoção, convocação de juiz, pra supri uma vaga não ocupada.

O SDC, o SDI e turmas: são os órgãos eminentemente jurisdicionais ??? (54:04) processos ajuizados nas varas, tribunais e TST. As turmas recebem os recursos, não tem jurisdição originária, não vão receber ações diretamente. Pode acontecer, no entanto com o SDC e o SDI, que podem receber tanto o recurso como ações diretas, o que a gente vai destrinchar aos poucos. A SDI se divide em SDI I e SDI II, sendo que esta fica mais com questões processuais e aquela com a matéria de direito. Porque esta divisão é especialmente importante? Por que você vai ver súmulas de orientações jurisprudenciais do TST elas são formadas de acordo com precedentes. Tem que ter um limite de precedentes mínimo, de determinadas circunstâncias de fato típico que precisa ser enquadrado para que possa ser editada uma súmula ou OJ. Esta pode ser editada com menos precedentes, pois fala apenas pela SDI, enquanto as súmulas falam por todo TST. As SDIs são órgãos que se pode dizer que estão acima das turmas, pois existe recurso de embargo contra as decisões recursais das turmas, que é julgado pela SDI. E por ela estar num grau de jurisdição elevado, suas decisões tem caráter muito mais forte. Logo são decisões de maio importância como precedente, sendo as OJs formadas a partir dessas decisões. E por que as OJs das SDIs e SDC são importantes, inclusive as transitórias? Porque, como eu havia dito, o processo do trabalho é absolutamente lacunoso, porque ele tem pouco regramento e muitas regras de supletividade. Então ele deixa dúvidas, que são tiradas pela jurisprudência. E os tribunais (TRTs e TST) resolvem essas duvidas através de pareceres dados à sociedade sobre seu entendimento, materializado como orientações jurisprudências ou súmulas. Em processo coletivo você tinha ??? (56:50) informativo. A gente vai recorrer muito a esses elementos jurisprudências, e normalmente as súmulas e OJs são objetos de pegadinhas. Em prova, sempre as consulte, pois há uma possibilidade enorme de você conseguir a resposta nelas. Há ainda o problema de interpretar as sumulas, mas isso é outra história.

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Princípios no Processo do Trabalho

Hoje vamos falar de princípios e da sua aplicação no processo, mais especificamente no Processo do Trabalho. Como não é uma aula de Direito Constitucional, vamos trabalhar apenas umas pequenas premissas básicas para que possamos evoluir. Assim como a aula de historia, esta é uma aula dada em um patamar raso e ela vai evoluindo ao longo do curso, porque, se fôssemos falar de tudo em que os princípios influenciam, teríamos que tratar do curso inteiro de Processo do Trabalho nesta aula de hoje. Então, toda vez que pegarmos um tema que seja sensível à interpretação principiológica a gente vai voltar aos princípios. Por esta razão, a aula de hoje é muito importante.

Para entender basicamente do que se trata quando se fala de princípios temos que entender que há três níveis de normas jurídicas. Para a nossa aula de processo, princípios são normas que ditam valores, normas abstratas que dizem como deve ser o processo. Por exemplo, eu tenho o Princípio da Celeridade, que diz que o processo deve ter uma duração razoável. Eu tenho o Princípio da segurança jurídica, que passa a ideia de que o direito processual deve garantir alguma segurança ao jurisdicionado, alguma previsibilidade. Se eu digo que o processo, como princípio, deve ser público, eu devo garantir publicidade ao jurisdicionado. Entretanto, como eu devo garantir tudo isso?

Aí já não é mais problema do princípio, mas das regras. As regras são normas mais descritivas de conduta. Por exemplo, a regra vai dizer como se faz para que o processo seja célere. O rito processual sumaríssimo, aplicável a demandas menos importantes para o legislador, ainda que esta importância seja definida pelo valor da causa, ele vai ter uma limitação ao recurso de revista. Assim, nem todo recurso de revista vai poder passar pelo TST, devendo estar relacionado com alguma matéria constitucional. Com isso, a regra processual está prestigiando a celeridade, já que faz com que o processo em rito sumaríssimo acabe mais cedo, pelo menos na parte do conhecimento.

Então, a diferença básica é o princípio vai dizer que um valor deve preponderar, mas ele não está preocupado em dar limites a esse valor. A regra pega os valores e tenta equilibrá-los. Por exemplo, há a celeridade, mas não posso criar uma regra que vai dizer que o processo deve ser julgado em 2 dias, já que não terei tempo hábil. Então, em determinados momentos a regra vai prestigiar a

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segurança jurídica, permitindo que você possa contestar, recorrer, tudo em prol de um resultado célere, mas justo e eficaz também.

As normas, em geral, são resultado de toda essa ponderação e mistura de valores e normas de conduta. No direito processual, elas devem ser entendidas como o dispositivo legal, seja ele principiológico ou descritivo de conduta mais a minha interpretação como operador de direito. Então, a norma só é norma depois que ela passa pelo crivo do intérprete.

Como a gente explica isso com um exemplo? Daremos um exemplo de Direito material do Trabalho. O instituto das férias está previsto pelo art. 130 da CLT.

Art. 130-A.  Na modalidade do regime de tempo parcial, após cada período de doze meses de vigência do contrato de trabalho, o empregado terá direito a férias, na seguinte proporção: (Incluído pela Medida Provisória nº 2.164-41, de 2001)

Então, após 12 meses de vigência do contrato de trabalho ele passa a ter direito a férias, em regra de 30 dias, podendo ser maior ou menor. Como essas férias devem concedidas? Vamos então ao art. 134 da CLT.

 Art. 134 - As férias serão concedidas por ato do empregador, em um só período, nos 12 (doze) meses subseqüentes à data em que o empregado tiver adquirido o direito. (Redação dada pelo Decreto-lei nº 1.535, de 13.4.1977)

Em regra, elas serão concedidas em um só período, mas podem ser fracionadas. Nos 12 meses que sucederem aos 12 meses de aquisição, devem se encaixar os 30 dias e é dever do empregador proporcionar isso. Não é direito absoluto do empregado escolher o dia em que ele vai gozar as férias,salvo se de outra forma convencionado. Assim, a regra descritiva de conduta da CLT prevê que você tem 12 meses para adquirir, período que chamarmos de Período Aquisitivo (P.A) e o empregador tem 12 meses para conceder, chamado de Período Concessivo (P.C.).

Como se concedem as férias?

Art. 135 - A concessão das férias será participada, por escrito, ao empregado, com antecedência de, no mínimo, 30 (trinta) dias. Dessa participação o interessado dará recibo. (Redação dada pela Lei nº 7.414, de 9.12.1985)

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Primeiro, avisa-se ao empregado com antecedência de 30 dias para que o empregado se programe para o gozo das férias. A lei estabeleceu como regra e, portanto, norma de conduta, que 30 dias é um período razoável para que empregado possa se programar.

Em relação ao pagamento, determinou o legislador que em 2 dias antes, no mínimo, o empregado deve receber o valor das férias para que possa usufruir bem do seu dinheiro. Esta é a norma do art. 145 da CLT.

Art. 145 - O pagamento da remuneração das férias e, se for o caso, o do abono referido no art. 143 serão efetuados até 2 (dois) dias antes do início do respectivo período. (Redação dada pelo Decreto-lei nº 1.535, de 13.4.1977

Se isto não funcionar, a CLT tem uma penalidade para o empregador que não concede férias regularmente no art.137.

Art. 137 - Sempre que as férias forem concedidas após o prazo de que trata o art. 134, o empregador pagará em dobro a respectiva remuneração. (Redação dada pelo Decreto-lei nº 1.535, de 13.4.1977)

É uma regra descritiva de conduta que diz que, se o empregador conceder férias depois dos 12 meses, deverá pagar em dobro. Esta é a penalidade se ele não conceder e forma de compeli-lo a conceder naquele período.

Bom, estas são as regras sobre férias, mas qual a norma? Qual o resultado da interpretação disso tudo pelo intérprete? O nosso intérprete de hoje é o TST. As regras dizem que, se você não conceder no período subsequente de 12 meses, você vai pagar em dobro. Se você pagar as férias um dia antes, no meio das férias ou até posteriormente, se você avisar no dia do gozo das férias, em regra seria forma de conceder irregularmente as férias. Sabemos que, de acordo com a hermenêutica, as normas de caráter sancionatório devem ter interpretação restritiva. Se você não concedeu como devido, cabe sanção administrativa e você pagará em dobro e ponto.

A OIJ 386 da SDI-1 mostra que tudo é um contexto.

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386. FÉRIAS. GOZO NA ÉPOCA PRÓPRIA. PAGAMENTO FORA DO PRAZO. DOBRA DEVIDA. ARTS. 137 E 145 DA CLT. (DEJT divulgado em 09, 10 e 11.06.2010)É devido o pagamento em dobro da remuneração de férias, incluído o terço constitucional, com base no art. 137 da CLT, quando, ainda que gozadas na época própria, o empregador tenha descumprido o prazo previsto no art. 145 do mesmo diploma legal.

O gozo das férias não são somente o período em que se deixa de trabalhar, mas deve haver o recebimento de dinheiro para que se possa gozar efetivamente daquele afastamento. Se isso não é permitido, viola-se um dos valores sociais do trabalho, a elevação do trabalhador ao ócio, ao descanso. O TST estendeu a norma para as férias. Então, o TST criou norma para as férias que resulta das regras mais a sua interpretação segundo a direção dos princípios. Portanto, norma é a regra com a direção dos princípios passada pelo crivo do intérprete.

Assim, se pegamos todos os princípios e as regras, veremos que surgem conflitos. Por exemplo, se você projetar o princípio da celeridade ao máximo, você estará violando a necessidade de se publicizar adequadamente aquilo, de dar ao seu ex-adverso o direito de defesa. E, no final, das contas, o processo visa ao resultado justo, e não ao resultado do autor. Então, entraremos em conflito da celeridade com a segurança jurídica. Os conflitos são naturais da Constituição, que é uma norma de valores com muitos princípios, e, toda vez que há muitos deles, se eles forem levados ao máximo entrarão em conflito com o outro em um determinado momento. Como se resolve isso? Com as regras de ponderação. O nosso instrumento de ponderação no processo é o Princípio do devido processo legal, que vai dizer se uma norma jurídica está violando um princípio ou não. Ele que vai dizer se um determinado ato do magistrado, ainda que previsto em lei, excede os limites daquilo ou prestigia para o bem ou para o mal um determinado valor. Em muitos momentos do Processo do Trabalho recairemos em dilemas dessa natureza. O Processo do Trabalho é lacunoso e depende da interpretação, de súmulas, de orientações jurisprudenciais, etc.

a) Princípio do devido processo legal

Ele é o princípio-mãe do processo. Ele manda em tudo. Ele pode ser visto de duas formas: uma vertente procedimental e uma vertente substantiva ou material. A vertente procedimental é simples, ela diz que você não pode ser despido dos seus bens, da sua propriedade, da sua liberdade, por exemplo, sem que o processo passe por

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determinados caminhos mínimos. Esses caminhos mínimos são os procedimentos básicos, o mínimo existencial do processo. Se você não passa por isso, você viola o devido processo legal. Não basta que se crie um novo procedimento, porque se ele viola o mínimo ele vai violar o devido processo legal e, certamente, aquele procedimento que o legislador inventar estará fadado à inconstitucionalidade.

Quais são os requisitos mínimos que a doutrina e a jurisprudência normalmente convencionaram? Eles normalmente se confundem com vários outros princípios porque o devido processo legal é o princípio-mãe mesmo, estando acima de todos os outros. As principais garantias do devido processo legal procedimental são:

i) Direito à citação – Não existe processo válido e eficaz sem que réu tenha sido citado;ii) Direito ao conhecimento do teor da acusação – é o direito mínimo existencial do réu de saber o elemento da acusação;iii) Direito a um rápido e público julgamento – vemos aí os princípios da duração razoável do processo e da publicidade. Então, o processo deve ser por natureza público e ter duração razoável;iv) Direito a um juiz imparcial – se juiz for parcial e tiver interesse na causa, estará violando o devido processo legal;v) Direito de estar perante o juiz – os americanos o chamam de “Day in court”. É a oportunidade de você se defender, prestar depoimento. Vemos sempre como possibilidade, e não como necessidade;vi) Direito ao arrolamento de testemunhas e a notificação delas para comparecimento para prestar depoimento;vii) Direito ao contraditório - responder tudo aquilo pelo que se é acusado ou falar tudo aquilo que acontece no processo;viii) Direito de não ser processado, julgado ou condenado por infração à lei que entrar em vigor posteriormente à data do fato;ix) Direito à igualdade entre acusação e defesa;x) Direito contra medidas ilegais de busca e apreensão;xi) Direito de não ser condenado nem acusado com base em provas ilegalmente obtidas;xii) Direito à assistência judiciária, inclusive a gratuitaxiii) Privilégio contra a auto-incriminação;

Isso aqui é o extrato mínimo que se vê na jurisprudência e na doutrina sobre os trilhos mínimos do devido processo legal. Se você espalhar e ramificar esses pontos, você abarca o direito processual

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inteiro, da citação à execução. Tudo está permeado pelo devido processo legal.

Entretanto, nada é absoluto no direito processual e o que vai fazer com que se penda para um lado ou para outro é a ponderação. O sistema de ponderação vai dizer se em uma determinada hipótese o principio mais valioso é o do contraditório absoluto, sem admitir restrição, ou se em outra hipótese o princípio absoluto vai ser o da publicidade, ou se atos precisam ser sigilosos, os se em determinado momento você terá que tratar partes de forma idêntica ainda que uma seja mais fraca que a outra. O devido processo legal em seu viés material ou substantivo vai tomar conta disso. Ele vai dizer em que momento você vai poder restringir direitos que são emanados dos valores e princípios. Temos adequabilidade, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito como regras de ponderação e elas são trazidas pelo devido processo legal.

No direito norte-americano, eles tinham o sistema do The Eldridge Test, que foi retirado de um precedente norte-americano que se chamava Mathews versus Eldridge. Nesse sistema, o americano dizia que, para saber se devido processo legal foi atingido, para fazer essa ponderação e ver se não houve nenhuma violação, tenho basicamente três forma de analisar isso (não que esse sistema esteja imune a críticas):

i) Em primeiro lugar, deve-se avaliar gravidade do que vai ser imposto ao direito da outra parte. Em determinado momento, o magistrado ou o legislador decide criar um recurso que é feito pelo próprio magistrado e ele julgará o recurso de sua própria decisão. Hoje, isso ocorre nos Embargos de Declaração e em algumas formas de retratação de decisões definitivas dentro do processo que são absolutamente excepcionais, como por exemplo a hipótese da decisão interlocutória de trancamento de recurso que veremos mais à frente, ou a decisão que extingue o processo sem resolução do mérito em que o juiz pode reanalisar a questão e voltar atrás. Digamos que o magistrado tenha inventado isso, a primeira coisa que se analisará será qual a gravidade da restrição que será imposta ao direito da outra parte. Ela pode ter uma decisão reformada que era a seu favor.ii) Em segundo lugar, analisa-se qual percentual de decisões equivocadas que podem ser efetivamente reformadas com esse critério novo inventado. Existe um percentual significativo?

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iii) Qual o custo disso? Custos não só financeiros, mas também de tempo, de duração do processo, custos políticos ou qualquer outro custo ou ônus que possa resultar do procedimento.

Na análise disso tudo, se a restrição for razoável, se o procedimento tiver possibilidade efetiva de melhorar decisões equivocadas e custo disso for razoável, está criado um novo procedimento de acordo com devido processo legal. Caso contrário, não estará criado porque ele violará o devido processo legal e, portanto, será inconstitucional.

O princípio do devido processo legal é absoluto e efetivo de todo e qualquer procedimento ou processo. Há quem leva isso até a seara particular. Nos Estados Unidos, por exemplo, ele pode ser usado para questões internas. Por exemplo, o aluno que for jubilado da faculdade. Ele tem direito à defesa? Se ele não tiver, isso violará o devido processo legal? O direito norte-americano vai analisar o devido processo legal e dizer que ele tem direito a alguma coisa. Mesmo que não seja um processo judicial ou um procedimento legislado, ele deve pelo menos poder dar a sua versão dos fatos. Se não puder, a jubilação é passível de anulação.

Tem gente que defende isso também na rescisão do contrato de trabalho. A rescisão do contrato, então, especialmente a por justa causa, tem que ser precedida por algum procedimento, pelo menos da versão do empregado para que se possa respeitar devido processo legal na sua aplicação entre particulares. Em países de língua portuguesa como Portugal e Angola a própria legislação prevê isso. No momento em que você vai demitir um empregado, você deve possibilitar que ele pelo menos diga a sua versão. Cria-se, então, um procedimento mínimo para que garanta o devido processo legal.

Essas situações do devido processo legal procedimental (direito à citação, direito a arrolar testemunhas, etc) elas podem ser aplicadas na prática efetiva sempre que você vislumbrar procedimento que não tenha previsão procedimental, como um procedimento interno ou até administrativo que diga que o investigado atuado não teria direito de defesa. Você pode usar o principio do devido processo legal para se defender nessas hipóteses. Então, é um principio muito amplo, geral.

Então, agora começamos a entrar nas especialidades do Processo do Trabalho. Será que existe um princípio do Direito Processual do Trabalho? No Direito do Trabalho, há o Princípio da Proteção, da norma mais favorável, da condição mais benéfica, do in dubio pro

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operario, e daí para frente. E no Processo? Há princípios específicos? O in dubio pro operario é de Direito do Trabalho e ponto. Há gente que defende que há princípios específicos do Processo do Trabalho, mas tem gente que defende que não existe e o professor concorda com eles.

De acordo com o professor, ele não conseguiu se convencer de que nenhum dos princípios atribuídos ao Processo do Trabalho seja exclusivo dele, assim como é o in dubio pro operario no Direito do Trabalho, assim como princípio da proteção. Quem diz que há princípio específico do Direito do Trabalho normalmente traz o princípio da proteção do direito material para o direito processual. Há também outro princípio que é o da extrapetição. Esses dois princípios, basicamente, vocês vão ver em livros como princípios típicos do Processo do Trabalho.

Nenhum dos princípios é específico do Direito do Trabalho, e nem por isso deixa de ser aplicado tanto no Processo do Trabalho como no Processo Civil.

b) Princípio do Contraditório

Primeiro, é princípio com viés razoavelmente político. Deve-se dar legitimidade ao Judiciário. Como isso é feito? Fazendo com que o juiz do trabalho se convença de que ele é bom, correto, honesto e eficiente para resolver demandas. Então, permitir que a outra parte fale garante legitimidade, já que o poder de julgar passa a ser legítimo não só porque emana do povo, mas porque ele é justo. Todo mundo que fala tem direito de resposta, todo mundo que recebe uma informação pode responder. Essa basicamente é a essência do contraditório, que se baseia no binômio informação e reação.

Informação é o direito de saber o que acontece no processo. É o direito de ser citado, de ser intimado quando ocorre juntada de documento da outra parte no processo, de ser intimado da publicação da sentença ou do acórdão, da decisão que indeferiu ou deferiu a tutela antecipada. É o direito absoluto de ser intimado dos atos processuais.

A Professora Ada Pellegrini Grinover diz com muita ênfase que o processo sem contraditório não é processo desde a sua base e ponto final. Todo processo obrigatoriamente tem que dar informação. Como ele dá a informação? De todas as formas possíveis, e aí você

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vai saber se as formas são proporcionais, se elas prestigiam os princípios da Constituição, se são legítimas ou ilegítimas, constitucionais ou inconstitucionais. Você tem modo de ser informado por publicação em Diário Oficial, por notificação para o próprio endereço, Diário Online. O e-mail é controvertido como forma de intimação hoje ainda.

Eventualmente, você pode até ser intimado em endereço que não é mais seu, prestigiando-se outro princípio do processo. Conforme art. 392 do CPC, você tem obrigação de manter seu endereço atualizado durante curso do processo. Se você não o fizer, todas as intimações que forem para sua casa antiga vão ser reputadas com válidas. Essa previsão tem correspondente tanto no Processo do Trabalho no rito processual sumaríssimo3. Isso não violará princípio do contraditório, pois privilegia a celeridade e impede que você mude de domicílio para se afastar da justiça e afastar alcance do poder jurisdicional. Então, a informação é obrigatória dentro dos moldes do CPC, da CLT, das regras descritivas de conduta que vão mirar os valores e princípios.

Além da informação, você deve poder efetivamente gozar da possibilidade de reagir, de se manifestar por conta da informação. Então, se você foi intimado do resultado de uma sentença, você tem que ter prazo para recorrer. Se você foi intimado da juntada de documento ao processo pela parte contrária, você tem prazo para se manifestar. Isso é a reação, direito de se manifestar. Se você foi citado, você deve ter o direito de contestar. Se você não puder reagir, esse processo é nulo.

Será que todo direito de se manifestar e reagir é suficiente para alcançar a efetivação4 do princípio do contraditório? Não. Essa reação tem que ser qualitativa. O princípio dá a garantia de participar do processo e também de influenciar na decisão. Você deve ter a possibilidade de influenciar no resultado da decisão. Não adianta você juntar sua contestação aos autos se ela não for lida, porque você não terá possibilidade de influenciar na decisão.

2  Art. 39.  Compete ao advogado, ou à parte quando postular em causa própria:        I - declarar, na petição inicial ou na contestação, o endereço em que receberá intimação;        II - comunicar ao escrivão do processo qualquer mudança de endereço.  Parágrafo único.  Se o advogado não cumprir o disposto no no I deste artigo, o juiz, antes de determinar a citação do réu, mandará que se supra a omissão no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, sob pena de indeferimento da petição; se infringir o previsto no no II, reputar-se-ão válidas as intimações enviadas, em carta registrada, para o endereço constante dos autos.3 (difícil compreensão – 49:47).4 (inaudível – 51:10)

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Quem prestigia isso? Os Embargos de Declaração, que trazem não só a impossibilidade de o juiz se afastar do julgamento, de não julgar, mas ele também não pode se negar a julgar por lacuna da lei, ele não pode deixar de apreciar suas manifestações. Para isso, você tem os Embargos de Declaração, que é um “recurso” atípico, que se apresenta ao próprio juiz para suprir omissão. Eventualmente, até de tese jurídica, como uma tese que não foi apreciada, retirando sua possibilidade de influenciar na decisão e violando o Princípio do Contraditório.

Então, essa reação tem que ser de qualidade, permitindo que se influencie na decisão. Por exemplo, se a parte não teve possibilidade de juntar seu memorial, não teve chance de influenciar na decisão com seu memorial. Se juiz deu a sentença sem ler o memorial da outra parte, ela não teve possibilidade de, com aquela peça, influenciar na decisão. Portanto, o princípio do contraditório foi violado.

c) Princípio da Ampla Defesa

Muito similar ao Princípio do Contraditório. Inclusive, alguns autores trabalham com o Princípio do Contraditório e da Ampla Defesa como se fosse uma coisa só. Ele é umbilicalmente ligado porque garante também a participação e a influência, além de que você possa usar todos os meios disponíveis bem como facultados à outra parte. Todos os meio legais para o exercício da participação e influência na decisão devem ser garantidos à parte por meio do principio da ampla defesa. Inclusive, se você criou prazo anômalo para a outra parte, não é só por conta da isonomia que você deve garantir a essa parte o mesmo, mas também pela ampla defesa.

Os dois estão previstos no mesmo inciso da Constituição (art. 5º, LV, CF/88)5

d) Inafastabilidade do controle juridicional

Esse princípio é muito importante. Pela leitura, já se chega à conclusão mínima de que não se pode afastar o Poder Judiciário da

5 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:(...)LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

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apreciação de questões possíveis no ordenamento jurídico6. Entretanto, ele vai muito além disso. O Poder Judiciário não pode ser afastado da apreciação das lesões ou ameaças aos direitos e quem se vale desse princípio tem direito ao acesso ao Poder Judiciário, a uma decisão de mérito e favorável a quem tem direito. Essa é a essência da jurisdição.

Então, a inafastabilidade garante ao jurisdicionado o acesso ao Poder Judiciário, com direito de petição e, além disso, a uma decisão de mérito que fale sobre a questão principal da causa e não encerre o processo exclusivamente por óbices processuais e que ela seja correta, que prestigie quem tem direito. É o acesso de mérito a quem tem razão.

A quem ele é direcionado? Em um primeiro instante, ele é direcionado ao legislador, que não pode criar sistemas que impeçam a pessoa de acessar o poder judiciário. Por exemplo, ele não pode criar sistema em que o estrangeiro não possa acessar o Poder Judiciário, ou o menor de tantos anos, ou o preto, amarelo, verde partidário do partido tal. Se ele fizer isso, violará a inafastabilidade do controle jurisdicional.

Entretanto, não é só isso. Ele não trabalha só em ótica impeditiva e negativa, mas também em ótica prospectiva. A missão do legislador é de reduzir a existência de conflitos não-jurisdicionalizáveis. O processo é uma ferramenta e há vários procedimentos distintos. Por exemplo, o procedimento da ação de alimentos, o rito sumaríssimo no processo do trabalho, o rito comum, a ação rescisória, etc.

Cada processo é como se fosse uma ferramenta distinta. O legislador deve reduzir a possibilidade de existência de conflitos, ameaças ou lesões que não são jurisdicionalizáveis. Quando isso aconteceu com muita expressividade no direito nacional? Nas décadas de 70/80, pouco antes da lei de ação civil pública, havia muitos conflitos não jurisdicionalizáveis, não em tese, mas na prática.

A ação civil pública é por essência uma ação coletiva, que tem objeto uma decisão que vai ser extensiva a mais pessoas do que aquelas que figuram como partes, como autor e réu. Ela tem como legitimados pessoas que não são necessariamente titulares do direito. Por exemplo, o Ministério Público pode defender o consumidor e quando ele defender aquele consumidor estará defendendo, por meio da

6 (inaudível – 55:58)

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ação civil pública, todos os consumidores que estiverem na mesma situação. Pode ser que aquele consumidor tenha descontado da sua conta no banco um centavo a cada mês ou a cada ano. O banco, com milhões de clientes, conseguiu estancar um prejuízo imediato que precisava ser resolvido na contabilidade. Quem vai ajuizar uma ação para receber um centavo de volta? Ele vai perder dinheiro, tempo, terá que pagar advogado... Mas tem ação para isso? Tem, você pode ajuizar ação e pedir restituição do valor, mas na prática ninguém faria isso. Então, você tinha um óbice de acesso ao Poder judiciário.

Direcionando-se pela inafastabilidade do controle jurisdicional, o que o legislador fez foi criar uma ação em que o titular do direito não precisaria necessariamente buscar a reparação a esse direito, pois alguém faria por ele. Alguém fazendo de forma coletiva poderia satisfazer a cada um e impedir o enriquecimento sem causa da instituição financeira. Então, naquele momento você tinha restrição ao direito de acesso ao Judiciário de forma ilegítima e ilegal, mas não por causa de uma lei existente, e sim porque na prática era inalcançável.

Assim, na prática a inafastabilidade do controle jurisdicional visa não só permitir a tutela do direito a quem tem razão, como também que o legislador impeça que restem resíduos de conflitos na sociedade que não são jurisdicionalizáveis, seja na teoria, seja na prática.

Por outro lado, ele é também direcionado ao juiz, não só ao legislador. Se uma ação estranha ao formato ou molde existente hoje aparecer, o juiz não vai poder se furtar de julgar alegando que não há previsão legal, porque com isso criará óbice ao acesso ao Judiciário. Para isso, ele tem outras formas de interpretar o direito processual: analogia, interpretação principiológica, costumes, boa-fé objetiva. Isso tudo garantirá que ele consiga entender e absorver esse poder de jurisdicionalizar aquela questão.

O acesso ao Poder Judiciário é amplo e irrestrito? Eu tenho direito à tutela de mérito em favor de quem tem razão sempre? Não. Nenhum princípio é amplo e irrestrito e a inafastabilidade também não é ampla e irrestrita. Há alguns óbices que são positivos, saudáveis, como os pressupostos processuais, as regras processuais de condições da ação (ex: a pessoa tem que existir). Por exemplo, não havendo legitimidade, dependendo da gravidade o processo pode ser finalizado na raiz, até antes de permitir contestação, sem que isso signifique lesão à inafastabilidade do controle jurisdicional.

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Pergunta: Quando o legislador ou o Judiciário criam restrições para recursos, isso envolve inafastabilidade do controle jurisdicional?

Resposta: Envolve. Você terá que saber se esse óbice é ilegítimo ou legítimo, já que você pode restringir o princípio. As condições da ação e os pressupostos processuais são restrições legítimas. Você terá que saber, então, se essa restrição ao recurso é legítima ou não, pois a decisão você já deu, mesmo que meritória ou não.

Assim, você já deu algum acesso ao Poder Judiciário. Para saber se a restrição é legítima ou não, você deverá ponderá-la com outro princípio. Qual outro princípio se resolveu prestigiar em vez de prestigiar a inafastabilidade do controle jurisdicional? Talvez a celeridade. Por exemplo, no Processo do Trabalho, o rito processual sumaríssimo tem acesso restrito ao TST. Entendendo o legislador que isso prestigiaria a celeridade, uma vez que nas demandas de menor complexidade, interpretando-as como aquelas com valor inferior a 40 salários mínimos, você não precisa permitir mesmo caminho recursal que se prestigia às demandas de maior valor.

Não me parece que se afrontou o núcleo da inafastabilidade jurisdicional, mas que foi uma restrição justa e legal. Então, você terá que sempre analisar o coração do principio e ver se a restrição o afrontou. Quando se prestigia a celeridade processual com as condições da ação, se evita a despensa de tempo e dinheiro que poderiam ser gastos em outro processo, sendo uma restrição legítima.

Outra restrição é a imunidade de jurisdição, quando países não podem, eventualmente, se sujeitar à jurisdição nacional. Há uma súmula ou OIJ recentíssima do TST falando sobre isso, mas aqui é outro ponto que se enfrenta. Não há restrição ao poder jurisdicional, mas à soberania. Você não trata a imunidade de jurisdição de outro Estado soberano como limite propriamente específico da inafastablidade do controle jurisdicional porque ele antecede o controle jurisdicional.

e) Publicidade

A publicidade garante também a legitimidade do poder jurisdicional, porque ela garante que a sociedade saiba o que acontece dentro do processo. Com isso, controlam-se a legitimidade e a imparcialidade,

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a correção da atuação do juiz. Há até uma função interpretativa da legislação. Os tribunais produzem seus entendimentos com base nos resultados do processo.

Então, esse é um princípio muito importante do Estado Democrático de Direito. Ele dá previsibilidade de como os tribunais estão se comportando. Ele é absoluto? Não. Em determinado momento, ele vai ser restringido em atenção e prestígio ao princípio que defende a intimidade da pessoa, ou a própria segurança. Temos como expoente o art. 155 do CPC, que diz que atos processuais são públicos.

Art. 155.  Os atos processuais são públicos. Correm, todavia, em segredo de justiça os processos:        I - em que o exigir o interesse público;        Il - que dizem respeito a casamento, filiação, separação dos cônjuges, conversão desta em divórcio, alimentos e guarda de menores. (Redação dada pela Lei nº 6.515, de 1977)        Parágrafo único.  O direito de consultar os autos e de pedir certidões de seus atos é restrito às partes e a seus procuradores. O terceiro, que demonstrar interesse jurídico, pode requerer ao juiz certidão do dispositivo da sentença, bem como de inventário e partilha resultante do desquite.

No entanto, o interesse público pode prevalecer, por exemplo. Esses processos elencados no artigo também não são absolutamente sigilosos. Eles não são sigilosos ao juiz, aos serventuários, às partes, ao advogado que tem procuração, nem, eventualmente, a terceiros em alguns aspectos que o próprio Parágrafo único do art. 155 traz. Então, até para terceiros o sigilo não é absolutamente prestigiado.

f) Isonomia x Princípio da Proteção

O Princípio da Proteção é princípio exclusivo do Processo do Trabalho ou ele se aplica assim como se aplica ao trabalhador no Direito do Trabalho?

O Princípio da Isonomia é promover igualdade para os iguais (isonomia em abstrato) e a desigualdade aos desiguais (parte substancial do princípio). Então, você trata as partes de forma isonômica quando você consegue equilibrar as suas identidades e as suas diferenças.

Qual é a proposta do Princípio da Proteção? Proteger o mais fraco. Qual é a medida disso? A diferença entre mais fraco e mais forte. Será que o princípio da isonomia já não tem dentro do seu próprio

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conceito essa possibilidade de defender o mais fraco quando ele precisa de defesa? Ao professor, parece que sim. Parece que a proteção dentro do processo do trabalho está embutida dentro do princípio da isonomia, até porque não está destinada ao trabalhador. Dentro do Processo do Trabalho vige um sistema de proteção que protege o idoso com a celeridade. Por exemplo, o Estatuto do Idoso veio prevendo, junto com o CPC, que o processo do idoso tem trâmite preferencial. Essa é uma forma de protegê-lo garantindo que ele vá receber o produto do processo em vida, pois ele é idoso. Se o processo se prolongar, pode acontecer eventualmente que ele morra antes do resultado processual. O necessitado, por sua vez, tem defesa da gratuidade de justiça, da assistência jurídica gratuita e o necessitado pode ser a empresa, o empregador. Assim, o empregador, eventualmente, pode ter assistência judiciária gratuita na Justiça do Trabalho, promovida pelo sindicato de sua categoria patronal. O Estado tem prazos privilegiados para recorrer, a União não recolhe custas. Isso não é reconhecer diferença dentro das diferenças?

Princípio da Isonomia no Processo vai promover igualdade de tratamento entre as partes como regra, e, eventualmente, em determinado momentos ele vai promover a diferença. Tem gente que diz que existe Princípio da Proteção no Processo do Trabalho porque se garante ao trabalhador que, se ele faltar à primeira audiência, ele não vai ser apenado com a confissão. O processo vai ser arquivado e ele vai poder ajuizar nova demanda. A contestação no processo do trabalho é apresentada na audiência e, se o réu não comparece à primeira audiência, ele é apenado com a pena da confissão decorrente da revelia, que é a ausência de defesa, mas o trabalhador não será apenado. Dizem que aí estaria a proteção do trabalhador.

Em primeiro lugar, essa é uma ótica de que trabalhador sempre é autor e isso não é verdade. Em segundo lugar, se aquela audiência for adiada e o trabalhador não vier à segunda audiência, o processo não será arquivado e o trabalhador será apenado. Pior que isso tudo é que, em regra, a CLT prevê que a audiência é una, devendo ser contestada, instruída e julgada na mesma assentada, audiência. O réu vai ao processo levando a defesa, conhecendo a tese da inicial e os documentos da inicial. Ele sabe o que é controvertido e o que precisa provar. O autor chega à audiência sem saber o que o réu vai alegar, que documentos ele vai juntar, o que ele vai ter que provar e o que não vai ter que provar. Então, se for feita audiência una, prejudica-se o autor, sendo empregado ou empregador, já que muitas

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vezes é nitidamente inviável você analisar diversos documentos e uma defesa de cem laudas enquanto há outras vinte audiências esperando para serem produzidas. Isso não me parece ótica de Princípio de Proteção dentro do processo, mas o inverso. Há uma proteção do réu, que tem vantagem enorme sobre o autor.

Vocês vão ver que muitos livros dizem que o Princípio da Proteção é aplicado especificamente ao Processo do Trabalho, mas que diferença ele tem do Princípio da Isonomia? Você vai ter que diferenciar e dar uma ótica mais incisiva ao Princípio da Proteção e aí você vai começar a entrar em outros problemas. O princípio não é exposto só na lei, mas na atitude. A atitude do empregador no direito material tem que se pautar pelo princípio da proteção, e também a atitude do juiz teria que se pautar nele, mas e o princípio do juiz natural, e a imparcialidade? Quer dizer que se empregado não pede bem, você como juiz vai poder corrigir o pedido? Se empregado não comparece, você vai poder facilitar a vida dele? Você vai poder aconselhar? Como conjugar isso com a previsão de que o juiz que aconselhar as partes é suspeito? Então, é muito complicado.

Para você dizer que Princípio da Proteção é princípio do Processo do Trabalho você terá que diferenciá-lo do Princípio da isonomia, você terá que dar algum grau mais incisivo. Aí, você começa a entrar na esfera da imparcialidade do juiz e vai ferir outro princípio, o do juiz natural.

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Na aula passada, na sexta feira, nós fomos até Princípio da Publicidade, Princípio da Economia e ficou faltando falar do Princípio do Juiz Natural.

PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL:

Ele garante aos jurisdicionados que eles serão julgados por juiz competente, imparcial, independente e previamente estabelecido por lei.

- Art. 8º, item I do Pacto de São José da Costa Rica:

Artigo 8º - Garantias judiciais1. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou Tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou na determinação de seus direitos e obrigações de caráter civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza.

Portanto ele é direcionado ao órgão jurisdicional, tem que ser dotado de competência, é o magistrado que tem que estar investido na função e ser imparcial. Esses são os elementos básicos desse princípio:

1- Pessoas têm o direito de serem julgadas por um juiz e não por qualquer outra pessoa

2- O órgão jurisdicional deve ser preexistente. Esse princípio veda a criação de tribunais excepcionais, criados posteriormente para julgar fatos pretéritos. Ou para criados por influencia momentânea, esbulhais externas. O tribunal deve ser preexistente.

3- Esses juízes devem ser competentes segundo a orientação legal ou constitucional anterior.

Há exceções? Sim, há exceções. Nós vamos trabalhar isso quando dermos competências. Mas por exemplo, prorrogação de competência. Uma competência preestabelecida por lei será alterada no curso do processo. Mas para que isso não se torne violação ao princípio do juiz natural, as próprias regras de prorrogação devem ser preestabelecidas. Então eventualmente a competência pode ser alterada. Não por elementos externos, não por influências indevidas, mas sim por regra preestabelecida.Outras questões do princípio do juiz natural a gente vai tratar quando der competência.

PRINCÍPIO DO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO:

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Toda vez que eu enfrento o princípio do duplo grau de jurisdição em uma prova, a primeira coisa que deve ser colocada é que ele não se trata de um princípio constitucional. Não há previsão especifica na CF. se você buscar lá no art. 5º, onde estão a maioria dos princípios que a gente aplica aqui, você não vai achar o princípio do duplo grau de jurisdição. Ele está na legislação infraconstitucional. Via de regra, são os artigos que indicam a possibilidade de recurso. Você vai encontrar na CLT, no CPC... Agora, se é correto dizer que esse princípio não está formalmente inserido na Constituição, seria incorreto dizer que da Constituição você não pode tirar esse valor.

Esse princípio pode ser extraído da CF sim, por quê? Porque a CF prevê competência recursal para os tribunais. Se a CF prevê competência revisional para os tribunais, evidentemente ela abraça essa possibilidade de ter uma revisão de uma decisão. E o duplo grau de jurisdição nada mais é do que isso: o direito que a parte tem de ser a sua decisão revida por um órgão de grau superior e normalmente colegiado. Excepcionalmente essa revisão pode ocorrer monocraticamente, mas em regra é uma decisão colegiada, de instancia de grau superior.

Segundo grau de jurisdição não significa segunda instancia. Segundo grau de jurisdição significa uma segunda decisão, de caráter revisional, tão ampla e tão profunda quanto à primeira.

Segundo grau de jurisdição eventualmente pode ser exercido pelo TST... Em que hipótese? Na hipótese em que a competência originária é do TRT. A regra geral não é essa. Qual é a regra geral?

A regra geral é que a primeira decisão é proferida pela Vara do Trabalho, juízo monocrático, e a revisão é proferido pelo TRT, em órgão colegiado.

Excepcionalmente tem-se o duplo grau de jurisdição exercida por outro órgão que não o TRT. Por exemplo, em uma Ação Rescisória é uma ação que tem competência originaria no TRT. E seu recurso, para o TST, é recurso que visa garantir o duplo grau de jurisdição.

Então o duplo grau de jurisdição é uma segunda análise com a mesma amplitude e profundidade a da primeira analise. Por isso eu não tenho o triplo grau de jurisdição, quando eu levo o processo da Vara para o TRT e do TRT para o TST. A gente vai estudar que a extensão e a profundidade das apreciações do TST são muito menores. As decisões do TRT e das Varas têm a mesma profundidade e extensão. Quando a decisão de segundo grau vai para o TST, a apreciação que o TST faz, já como suposta terceira instancia, mas não é, e sim como instancia extraordinária. Por isso ela não está inserida aqui no duplo grau de jurisdição.

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PRINCÍPIO DA RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO (art. 5º, LXXVIII, CF)

“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:LXXVIII a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)”

Esse é um princípio que já vem previamente ponderado. Ele não é um princípio da celeridade ou da velocidade. A razoável duração do processo ela leva em consideração a uma razoável duração mínima. E o processo tem que ter uma demora mínima. Uma demora mínima que permita a parte exercer o seu direito de defesa, que permita a parte exercer o contraditório, que facilite a vida do juiz, futuramente.

O juiz ele tem uma missão. Caiu o processo no colo dele ele tem que resolver, ele não pode se negar a resolver. Então ele precisa da maior quantidade de elementos possíveis para que ele profira um resultado justo ao processo. Como ele faz isso? Colhendo provas, lendo a inicial, a contestação, ouvindo depoimento pessoal, as testemunhas, elementos documentais, perícia... Tudo isso leva tempo, para que se profira a melhor decisão possível. Se as decisões do magistrado forem arbitrarias, a sociedade perde a confiança no Judiciário, portanto sua legitimidade fica comprometida. A razoável duração do processo não é o princípio da celeridade, mas sim uma ponderação no equilíbrio entre um julgamento rápido e um julgamento eficaz e justo. Esse é um princípio recente, que veio em uma EC, salvo engano há três ou quatro anos atrás. Mas é um valor que sempre esteve presente na CF, sempre foi levada em consideração no processo e pelo legislador.

PRINCÍPIO DA DEMANDA OU PRINCÍPIO DA AÇÃO (alguns também chamam de princípio da inércia da jurisdição)

Para que a prestação jurisdicional seja imparcial, eu preciso não ter interesse na demanda. Para ser imparcial, tenho que ver alguma coisa acontecer e não posso ter interesse em resolver aquilo. A rigor, a jurisdição é inerte. O juiz não pode dar inicio ao processo, mas sim tem que surgir por interesse de alguém, que nem sempre é a parte. A gente vai ver no curso do semestre que nem sempre a pessoa legitimada a ajuizar a ação nem sempre é o titular do direito que se pretende proteger.

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O princípio da demanda deixa muito claro o seguinte: independente de quem for o legitimado da ação, este não será o magistrado. Não há ação judicial de oficial

Art. 2o Nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando a parte ou o interessado a requerer, nos casos e forma legais. – CPCArt. 262. O processo civil começa por iniciativa da parte, mas se desenvolve por impulso oficial. – CPC

Então a demanda ela está intrinsecamente colocada na iniciativa da parte. E por onde esse princípio evoluiu?

Se o processo só pode iniciar pela iniciativa da parte, essa iniciativa vai traçar o limite da evolução. O que isso significa?

Se eu pedir férias de 2010 e 2011, se a iniciativa foi para obter férias de 2010 e 2011, eu, como magistrado, não posso tomar iniciativa e dizer que devem ser pagar as férias de 2009, ou seja, deferir algo de diferente daquilo que foi postulado, pois a iniciativa delimitou a pretensão.

Aqui entra também o princípio conhecido também como o da correlação entre provimento e demanda.

Se eu inicio o pedido 1, eu posso conseguir até 1. Se o juiz me der 2, ele vai estar me dando uma prestação jurisdicional sem provocação. Portanto, o princípio da demanda vai limitar a atuação do juiz, não só no inicio de uma demanda processual em si, mas também no limite da sua atuação. Os limites da extensão do provimento e da profundidade da sua decisão. E aí a gente vai ver no curso do semestre:

(a)Decisões que se o juiz ultrapassar no pedido, será decisão ultra petita (decido mais do que foi pedido, ou seja, pedi 1 e ganhei 2). Eu decido mais do que foi pedido. Ele decide dentro do que foi pedido, mas dá além, a mais do que foi pedido. Ex: autor pediu 2h extras por dia, mas o juiz percebe que na verdade ele fazia 3h e aí o juiz dá essas 3h.

(b)Se eu peço férias e o juiz defere décimo terceiro, o juiz defere além do pedido, fora do pedido... extra petita. Aqui há um item novo, completamente divorciado do pedido.

(c) Se ele decidir menos do que o pedido\foi postulado. O juiz não pode se furtar de julgar. Se ele defere menos do pedido, ele defere citra petita.

Qualquer um dos tipos de decisão pode gerar a nulidade parcial. Então deve haver correlação a apreciação judicial e a demanda que foi ajuizada. Ela pode ser provida ou improvida.

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Tudo isso viola o princípio da demanda, principalmente aqueles que ultrapassam o limite da prestação jurisdicional. Veremos no curso do semestre que cada causa de pedir, cada parte, forma um processo diferente. Então toda vez que eu peço férias, décimo terceiro, FGTS, eu tenho três ações:

(1)Uma ação do autor, em que o réu é réu, postulando férias(2)Uma outra que as partes são iguais e postulam o 13º(3)Uma outra ação em que as partes são iguais e postulam FGTS.

Elas se cumulam em uma ação só, que é o que chamamos de cumulação objetiva de pedido. Por quê? Para que se julgue de forma mais célere. São prestações distintas, que você cumula de forma objetiva em uma ação só, mas na verdade, na essência, você tem três ações.

PRINCÍPIO DA ULTRA PETIÇÃO

Seria exatamente o oposto. No Processo do Trabalho o juiz pode deferir até o que não foi postulado. Seria (MAS NÃO É, COLOCA UMA OBS AÍ) até o que não foi postulado, seria um valor do processo trabalhista, que se diferenciaria do processo civil. É bonito? Teoricamente seria ate bonito, pois seria uma espécie de valorização do Processo do Trabalho, diferente de todos os outros. Seria ate uma certa autonomia do Processo do Trabalho.

Só que você não cria princípio que é divorciado da realidade. O princípio que é diferente da pratica, ou a teoria é ruim ou a pratica é errada.

Na pratica, você não vê a aplicação desse princípio em lugar nenhum na Justiça do Trabalho. Muito pelo contrário. Os artigos do CPC que limitam o provimento jurisdicional

Art. 128. O juiz decidirá a lide nos limites em que foi proposta, sendo-lhe defeso conhecer de questões, não suscitadas, a cujo respeito a lei exige a iniciativa da parte. – CPC

Art. 460. É defeso ao juiz proferir sentença, a favor do autor, de natureza diversa da pedida, bem como condenar o réu em quantidade superior ou em objeto diverso do que Ihe foi demandado. – CPC

O 128 e o 460 do CPC eles dizem o seguinte: é vedado ao juiz dar a mais do que foi postulado. Se você acredita nesse princípio, você vai dizer que esses artigos são incompatíveis com Processo do Trabalho. Só que como você vai explicar um monte de precedentes que se utilizam desses artigos o tempo todo? Eles são aplicados ao Processo do Trabalho o tempo todo.

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É uma questão muito maior do que a pratica em si. É uma questão de lógica. Como é que você justifica um juiz, como um reflexo do princípio da proteção, para aqueles que defendem de que há o princípio da proteção no Processo do Trabalho... Como é que você justifica a participação de um juiz para beneficiar uma das partes? Como você justifica a imparcialidade dele? Aí você começa a comprometer toda a estrutura de prestação jurisdicional em si.

Para você ter um processo liso, correto, legítimo, o juiz não pode ter interesse na ação.Mas como os magistrados enfrentam na pratica essa questão? Haveria o princípio da ultra petição em 2 hipóteses no Processo do Trabalho:

(1)A multa do artigo 467 da CLT:

Art. 467. Em caso de rescisão de contrato de trabalho, havendo controvérsia sobre o montante das verbas rescisórias, o empregador é obrigado a pagar ao trabalhador, à data do comparecimento à Justiça do Trabalho, a parte incontroversa dessas verbas, sob pena de pagá-las acrescidas de cinqüenta por cento". (Redação dada pela Lei nº 10.272, de 5.9.2001)

Você tem que no dia que comparecer na JT, você tem que pagar as verbas incontroversas ao seu empregado. Se você não pagar, você vai, ao final do processo, ter que paga-las com uma multa de 50%. Eventualmente o autor não pede essa multa. E o empregador muitas vezes não paga esse valor logo de início. Muitos magistrados entendem que se poderia aplicar essa multa sem postulação. Mas normalmente quando você justifica essa postura do magistrado, você a justifica por outra ótica. Qual seria a ótica? Que a norma do art. 467 da CLT seria uma norma destinada ao julgamento, seria uma norma destinada ao juiz. Portanto, você não consegue nem justificar pelo princípio da ultra petição, pois se ela é uma norma destinada ao juiz, nunca foi destinada a aparte, então o juiz não vai dar mais do que foi pedido, ele vai dar o que a lei determina que ele dê como magistrado.

(2)Reflexo de parcelas principais ou vinculadas, na medida em que os reflexos não teriam sido postulados. Por exemplo, eu peço o pagamento de horas extras. No momento em que você defere horas extras, elas passam a compor a parcela salarial, então há o reflexo em férias, décimo terceiro e FGTS. E aí digamos que o autor postule “horas extras” e ponto, sem pedir nenhum reflexo. Os juristas que defendem o princípio da ultra petição diriam que o juiz poderia confessar o pedido nesse sentido e deferir um pedido complexo, mesmo que a postulação não fosse nesse sentido. Tem gente que aplica isso? Tem. Talvez esse seja o único fundamento da essência do princípio da ultra petição. Não estando os pedidos reflexos, o juiz pode

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dar os reflexos? Aí sim você estaria trabalhando com o princípio da ultra petição. Agora se vai trabalhar com a ultra petição, rebola para justificar porque o juiz vai poder dar a mais, se toda a estrutura processual limita essa atuação.

Veja bem, é diferente do que alguém perguntou na aula passada no sentido de “Mas professor o 461 do CPC diz que o juiz pode tomar todas as medidas, ainda que não postuladas, para dar provimento especifico?”. Professor diz que é diferente. Uma coisa é (a) o juiz movimentar a maquina processual e alterar as medidas processuais postuladas para chegar ao fim postulado. Ele não dá um fim diferente ao pedido. Ele altera a forma. (b) É diferente também o juiz deferir o que você pediu com o fundamento distinto que você postulou. A gente sabe que no direito processual, a gente vai ate estudar mais isso, que o juiz não esta vinculado ao direito postulado. O juiz ele está vinculado aos fatos. (qualquer coisa em latim que não entendi). Se o autor fundamenta o seu processo em um fundamento jurídico, nada impede que o juiz dê provimento ao pedido por outro fundamento jurídico. É outro meio para alcançar o fim, mas ele não vai estar te dando outro fim. Ele não vai te dar outro pedido, um pedido diferente daquele postulado.

Então o princípio da demanda não obriga ao juiz a julgar conforme os fundamentos jurídicos do pedido, não obriga ao juiz chegar à conclusão que você chegou, o juiz só esta limitado ao resultado que você postulou.

Na minha ótima, o princípio da ultra petição é uma manobra muito mais retórica do que qualquer outra coisa. Porque na pratica você não vê isso acontecendo. Os poucos juízes que dão os reflexos passam batido nessa questão, pois se eles entram nessa seara eles começam a ter que justificar porque eles aplicariam isso. E aí eles começam a s enrolar.Saibam que esse princípio existe, saiba o que é e saibam se posicionar. Nada impede que vocês defendam essa tese.

PRINCÍPIO DISPOSITIVO E PRINCÍPIO INQUISITIVO

Esses princípios estão tão intimamente ligados, que falar de um é falar no outro. Eles não residem sozinhos no processo brasileiro.

O princípio dispositivo ele versa mais ou menos o seguinte: o direito é da parte, ela faz o que elas quiserem com ele. O que significa dizer que ela ajuíza ações e ela quiser, ela pode escolher o procedimento que ela quiser, o tipo de prova que ela vai produzir, e se eventualmente no meio do processo ela encher o saco do processo, ela pode desistir da ação. Então princípio dispositivo está muito

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envolvido com a liberdade do direito da pessoa, está muito envolvido com o direito material.

Qual é a diferença do princípio dispositivo para o princípio da demanda?

O princípio da demanda esta voltada para o magistrado, dizendo para ele que ele não pode dar inicio na demanda. Logo, cabe a parte dar inicio a demanda. Mas isso é muito diferente um do outro? Não, mas o princípio dispositivo vai além, pois não só cabe a parte iniciar a sua demanda, mas também cabe a ela escolher o tipo de demanda que ela quer ajuizar, escolher o tipo de prova que ela pretende produzir, desistir da demanda (eventualmente).

Princípio inquisitivo, por outro lado, é o princípio antagônico: cabe ao magistrado fazer tudo.

Como nem um princípio nem o outro vivem livres no direito processual, a gente acaba falando deles juntos. Está muito mais voltado para o lado processual da coisa. Por que o lado processual? A demanda é ajuizada pela parte, a parte escolhe o tipo de processo que ela pretende ajuizar, mas cabe o juiz impulsionar a demanda, fazer com que atinja o seu fim. O juiz tem que fazer de tudo para que culmine no julgamento. Ele tem que se livrar do processo, ele não pode deixar de julgar, nem que julgue o processo sem resolução de mérito. Ele tem que julgar.

Então, o princípio inquisitivo esta muito mais relacionado a evolução processual da coisa, pois o magistrado vai ter poderes para determinar prova, indeferir diligencias que ele entenda inúteis, para prover todas essas decisões de evolução do processo.No Processo do Trabalho, a gente vai ver isso no art. 765 da CLT:

Art. 765, CLT - Os juízes e tribunais do trabalho terão ampla liberdade na direção do processo e velarão pelo andamento rápido das causas, podendo determinar qualquer diligencia necessária ao esclarecimento delas

Então o dispositivo, de um lado, diz que a parte pode dispor da sua demanda, escolher a sua demanda, e o inquisitivo, ponderado, vai permitir ao juiz o inquérito judicial, ele vai dar poderes ao juiz para tocar a demanda, fazendo com que ela chegue ao seu final da melhor maneira possível.

Há exceções? Há exceções. Há exceções até do princípio dispositivo, que a parte ode enfrentar direitos indisponíveis, que a parte eventualmente não irá poder desistir. Às vezes há ações ajuizadas contra o interesse da parte, que são as hipóteses em que terceiros, não titulares do direito material, são legitimados a ajuizar a ação. È muito comum nas ações coletivas. Tem um caso clássico, que vocês

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já devem ter ouvido, que é o caso do arremesso do anão. Então eventualmente o direito é indisponível, não cabendo a parte dispor. Então há exceções.

Tenham em mente que esses princípios não levam a absoluta aplicação nem de um nem de outro.

PRINCÍPIO DO LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO OU DA PERSUASÃO RACIONAL – ART 131, CPC

O juiz decide como ele quiser. Ponto. Ele pode ir contra as provas? Pode. “Ah, mas a perícia disse que o negocio aconteceu dessa forma...”. Não interessa, Por que o juiz pode decidir como quiser. Tudo bem, mas desde que eu motive a razão pela

Isso quer dizer que o juiz pode decidir contra a (não entendi... havia entendido “Constituição”, mas definitivamente acho q não deve ser isso)? Eventualmente sim, mas não é a regra. Ele pode. Ele pode decidir contra todos os depoimentos? Pode. Volto a dizer: não é a regra. Mas o que vai justificar ele decidir contra as provas nos autos? Ele deve justificar, os fundamentos que ele apresentar. São esses fundamentos que vão prestigiar o princípio da publicidade da decisão e que vão permitir o exercício do contraditório e do duplo grau de jurisdição.

Ele pode dizer por exemplo “eu não aceito essa prova, pois acredito que ela tenha sido feita com coação”, “eu não sigo a pericia Por que acho que as bases fáticas estão equivocadas. A pericia considerou que o empregado trabalhava na sala x, mas ele trabalhava na y”.

Isso não quer dizer que as motivações serão arbitrarias. Isso garante a ausência de arbitrariedade das decisões.

Esse princípio da uma tranqüilidade ao magistrado para que ele decida como ele julga melhor, desde que ele fundamente a razão pela qual.

Qual a observação que a gente tem que fazer no Processo do Trabalho? Quando a gente fala de dois tipos de pedido, você tem uma prova tarifada, que é o que antigamente se falava que era a prova que valia ponto. A rigor, hoje, você não tem prova tarifada. Hoje o juiz não esta vinculado a prova. Só que o Processo do Trabalho faz uma exigência e essa exigência esta em dois tipos de pedido:

(a)A periculosidade(b)A insalubridade

O legislador entendeu que periculosidade e insalubridade são matérias muito técnicas que estão além da capacidade do

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magistrado, então ele tem que determinar a perícia para decidir. Para a periculosidade e a insalubridade a lei de antemão já entendeu que está fora do conhecimento dele, portanto par ao juiz deferir o pagamento de insalubridade ou de periculosidade, ele terá que produzir a prova pericial. E assim alguns doutrinadores chamam essa prova de prova tarifaria do Processo do Trabalho, que é prevista no artigo 195 da CLT.

Art. . 195 - A caracterização e a classificação da insalubridade e da periculosidade, segundo as normas do Ministério do Trabalho, far-se-ão através de perícia a cargo de Médico do Trabalho ou Engenheiro do Trabalho, registrados no Ministério do Trabalho. (Redação dada pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977)

A evolução disso aqui mostrou que o resultado das demandas de insalubridade ou de periculosidade nem sempre exigem a produção de prova pericial. Ex: empregado que freqüentava determinado ambiente e esse ambiente era considerado insalubre ou perigoso, só pode ser feita a determinação por profissional técnico. Como é que você pode resolver isso? Há outras formas? Você pode ate deferir o pagamento de insalubridade e periculosidade sem perito, mas aí é hipótese distinta.

Ex: em janeiro de 2012 o empregado começou a receber insalubridade. Ele ajuíza ação para receber a insalubridade pretérita. A rigor, deve ter pericia. Só que ele não mudou as condições. Desde que ele foi contratado ele trabalhava no mesmo lugar. Ora, se nada foi alterado, há uma certa presunção de que ele já trabalhava em lugar insalubre ou perigoso e já deveria receber a parcela. Da mesma forma que o empregado sempre pagou e de uma hora para a outra deixa de pagar, presume-se que ele não deveria ter deixado de pagar.

Ou seja, existem formas de contornar a exigibilidade da pericia. Ex: se todos os empregados que trabalham do lado do autor da ação recebem insalubridade, menos ele, presume-se que ele também deve ganhar. Se não for uma dessas hipóteses, aí o magistrado terá que determinar a pericia, pois não haveria o seu convencimento livre.

PRINCÍPIO DA ORALIDADE

Ele é um princípio processual geral, mas no processo só trabalho é muito sensível. Especialmente pelas suas origens. Na origem, a demanda trabalhista podia ser ajuizada e contestada oralmente. Ainda que ela fosse reduzida a termo, passada por escrito.

Você podia ir ao cartório e dizer o que queria, era contestado e depois disso, reduzido a termo e autuada. Chegando à Vara, era marcada a audiência e no dia da audiência, que é o dia da

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apresentação da defesa no Processo do Trabalho, você podia apresentar a sua contestação de forma oral. A previsão da CLT ainda hoje é que a Contestação seja apresentada de forma verbal em audiência. Na prática a gente viu que isso acabou. Em primeiro lugar, porque a competência da Justiça do Trabalho se ampliou de sobremaneira. Hoje ela abarca demandas que eram de outras justiças. Hoje você tem demandas complexas, tem muitas questões envolvendo a relação de trabalho.

O princípio da oralidade ainda é muito sensível no Processo do Trabalho, porque a demanda podia ser ajuizada e contestada de forma oral, e você ainda pode contestar de forma oral, se você chegar não portando uma contestação escrita o juiz vai facultar você a apresentar ou não. Em alguns TRTs você não vai conseguir ajuizar oralmente, mas isso é ordem da corregedoria, pois no momento que você chega ao distribuidor, este vai te encaminhar a um sindicato, por exemplo (cabe ao sindicado promover a assistência judiciária). Além disso, há a audiência obrigatória, pois é aí o momento da contestação. Ainda que não precise, o juiz marca audiência.

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Hoje vou começar a aula dando mais uma lição que não está nos livros de Processo do Trabalho. O que o advogado trabalhista tem mais que o juiz do trabalho? Tem mais que esperar, ficar sentado e não reclamar (reclamações sobre o juiz).

Voltando para os princípios que não terminamos aula passada.

Princípio da instrumentalidade das formas

É um princípio muito ativo no processo do trabalho, porque este tem como característica a informalidade. Essa própria sistemática subsidiária do processo do trabalho já deixa transparecer como o processo do trabalho é informal. E a gente busca os valores da instrumentalidade no Processo Civil. Arts. 154 e 244 do CPC, que vão dizer basicamente o seguinte: o processo em geral não tem essa “formalidade”, sua obrigação maior é conseguir dar o seu recado e atingir o seu fim, não interessando se o nome das partes foi invertido com nome das partes, se inverteu a ordem da questão das preliminares. Em regra, o seu caso vai produzir efeito. Você vai ver que pode até denominar equivocadamente um recurso, porque o que importa é a essência do ato. No que ele for perfeito, ele vai ser aproveitado.

Logo, serão aproveitados, a não ser por circunstâncias muito graves que tornem isso possível, os atos.

O art. 154 diz que “os atos e termos processuais não dependem de forma determinada senão quando a lei expressamente a exigir, reputando-se válidos os que, realizados de outro modo, lhe preencham a finalidade essencial.”

Então a essência e o fim são as questões mais importantes dos atos processuais.

O art. 244 diz que “quando a lei prescrever determinada forma, sem cominação de nulidade, o juiz considerará válido o ato se, realizado de outro modo, Ihe alcançar a finalidade.”

Então não basta só a solenidade. Deve haver uma combinação de nulidade.

Isso vai ter o mesmo peso para as partes? Sim, tem o idêntico peso para empregado e empregador. Até porque as circunstâncias que podem atingir um podem atingir o outro da mesma forma. Ex: você pode ter dúvida sobre a denominação do recurso a apresentar. Se essa dúvida pode atingir a Reclamada, pode atingir também o Reclamante.

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Agora, todo e qualquer recurso apresentado pode ser aproveitado, sendo apresentado equivocadamente? Não, senão vira festa. Aqui vem a máxima do princípio da fungibilidade. O advogado que vai para uma entrevista em um escritório, com um advogado experiente, teve perguntado os prazos processuais. Qual o prazo para contestar uma exceção de incompetência, de suspeição do juiz? 24hs, um prazo que quase ninguém sabe. E o do Recurso Ordinário? 24h E embargos de declaração? 24hs. Aí o advogado disse: então o senhor me diga qual o prazo que eu perdi.

Essa também é a nossa máxima. Você pode até apresentar o Recurso equivocado, mas vai ter que cumprir os requisitos processuais do Recurso cabível na hipótese. Na dúvida entre dois recursos, cumpra o prazo do mais curto, porque assim se cumpriu a tempestividade dos dois. Não basta cumprir só os requisitos. Aqui tem um tom de certa austeridade, até de soberba do processo, no sentido de que deve haver dúvida razoável para que se possa receber um recurso em nome de outro e processá-lo.

Isso é muito comum na hipótese de agravo interno. Às vezes, o agravo está previsto no regimento interno. Então é um agravo regimental ou um agravo inominado? Mas geralmente os prazos são os mesmos, então essa diferença é boba, pequena.

Eventualmente, você pode, porém, apresentar um recurso que não tenha nada a ver com outro. Aí o juiz pode dizer que não há dúvida razoável, que o advogado é um ignorante e que não irá aceitar seu recurso.

Um exemplo positivo do princípio da fungibilidade é a Súmula 421, II do TST. Ela diz o seguinte:

“Súmula nº 421 - TST - Res. 137/05 - DJ 22, 23 e 24.08.2005 - Conversão da Orientação Jurisprudencial nº 74 da SDI-IIEmbargos Declaratórios - Justiça do Trabalho - Decisão Monocrática - CabimentoI - Tendo a decisão monocrática de provimento ou denegação de recurso, prevista no art. 557 do CPC, conteúdo decisório definitivo e conclusivo da lide, comporta ser esclarecida pela via dos embargos de declaração, em decisão declaratória, também monocrática, quando se pretende tão-somente suprir omissão e não, modificação do julgado.II - Postulando o embargante efeito modificativo, os embargos declaratórios deverão ser submetidos ao pronunciamento do Colegiado, convertidos em agravo, em face dos princípios da fungibilidade e celeridade processual. (ex-OJ nº 74 - inserida em 08.11.00)”

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Então você recorre, o processo vai primeiro pra mão do relator, e você tem direito a uma decisão coletiva (segundo grau de jurisdição). O relator apresenta uma decisão para o colegiado no dia do julgamento e o voto do colegiado é proferido por mais de um desembargador. Só que o artigo 557 do CPC diz que, para acelerar o processo, se efetivamente se verificar que o recurso não cumpre algum requisito, é intempestivo, o relator pode trancar o processo ali, proferindo uma decisão monocrática, nem levando para o colegiado. Essa decisão é uma decisão interlocutória, em tese, não passível de recurso. Mas, o CPC diz que tem um recurso para ela, o agravo. Por outro lado, a CLT diz que cabe Embargos de Declaração à sentença ou a acórdão. Essa decisão monocrática não é sentença, porque não é de primeiro grau, nem acórdão, porque a decisão não é coletiva. Então cabe Embargos de Declaração? A CLT diz que pode caber. Se a pretensão do embargante tem efeito modificativo, tem efeito de agravo. Aí, quando se fazem os Embargos de Declaração, essa questão de ter efeito modificativo ou não é bem relativa, pois uma simples omissão pode gerar um efeito modificativo. No momento em que o juiz se manifesta por uma omissão, se manifesta por um lado ou outro. Se tiver efeito modificativo, então, tem efeito de agravo e é uma questão delicada. Logo, se ajuíza Embargos de Declaração com pretensão de efeito modificativo, recebe-se como agravo. Qual o efeito prático disso? Quem vai julgar não vai mais ser o relator, porque os Embargos de Declaração têm como característica ser julgado pelo próprio prolator da decisão, que recebe os Embargos de Declaração e esclarece ou tira a omissão, contradição. Recebendo como agravo, manda-se para o colegiado. Esse é o efeito da Súmula 421, TST. Cabem Embargos de Declaração mesmo que não seja em caso de sentença ou acórdão, porque tem conteúdo decisório. No inciso II, diz-se que, com efeito modificativo, são convertidos em agravo, por razão dos princípios da fungibilidade e celeridade. Assim, os princípios da fungibilidade e instrumentalidade são irmãos gêmeos.

Então tem que ter dúvida razoável e quando o advogado é experiente, já coloca que, se não for atendido, que se receba como agravo. Isso é muito comum em execução. Vamos falar nisso em embargos do executado (apresentado pelo réu) e embargos de terceiro. O que acontece é que o sócio do executado vai transitar por esses dois lugares. Enquanto sócio, não é parte, então é terceiro; mas quando incluído no pólo passivo como executado, entra como parte. Isso dá muita confusão de interpretação na justiça do trabalho. Tem um momento nítido de separação. Os dois têm até o mesmo prazo, mas se iniciam em termos diferentes. Na dúvida, pega

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o termo inicial mais próximo e apresenta dizendo “se não se receber dessa forma, que se receba da outra”, fazendo uso perfeito do princípio da instrumentalidade das formas. Se não fizer isso, vai correr o risco de ser taxado de ignorante. É o que nos dizem as OJs 412 e 152, uma da SDI-I e a outra da SDI-II.

412. AGRAVO INOMINADO OU AGRAVO REGIMENTAL. INTERPOSIÇÃO EM FACE DE DECISÃO COLEGIADA. NÃO CABIMENTO. ERRO GROSSEIRO. INAPLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE RECURSAL.   (DEJT divulgado em 14, 15 e 16.02.2012) É incabível agravo inominado (art. 557, §1º, do CPC) ou agravo regimental (art. 235 do RITST) contra decisão proferida por Órgão colegiado. Tais recursos destinam-se, exclusivamente, a impugnar decisão monocrática nas hipóteses expressamente previstas. Inaplicável, no caso, o princípio da fungibilidade ante a configuração de erro grosseiro.

152. AÇÃO RESCISÓRIA E MANDADO DE SEGURANÇA. RECURSO DE REVISTA DE ACÓRDÃO REGIONAL QUE JULGA AÇÃO RESCISÓRIA OU MANDADO DE SEGURANÇA. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE. INAPLICABILIDADE. ERRO GROSSEIRO NA INTERPOSIÇÃO DO RECURSO.  (DEJT divulgado em 03, 04 e 05.12.2008) A interposição de recurso de revista de decisão definitiva de Tribunal Regional do Trabalho em ação rescisória ou em mandado de segurança, com fundamento em violação legal e divergência jurisprudencial e remissão expressa ao art. 896 da CLT, configura erro grosseiro, insuscetível de autorizar o seu recebimento como recurso ordinário, em face do disposto no art. 895, “b”, da CLT.

Não existe um parâmetro para essa questão da dúvida razoável. É mais pela jurisprudência. Às vezes, se comete o que se chama de “erro grosseiro”. Então a dúvida razoável é o antagônico do erro grosseiro.

Ex: essa hipótese do agravo. O agravo de instrumento vai destrancar a instância, sendo apresentado pela decisão monocrática da vara, que trancou o recurso e não deixou ele subir para o TRT, ou pela decisão do presidente ou vice-presidente do TRT, que não permite que suba para o TST. O agravo inominado, interno ou regimental não trancam instância, só fazendo com que saia do juiz monocrático e vá para um órgão colegiado dentro do tribunal, sendo, portanto, horizontal.

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Assim, o erro grosseiro é se o gênio apresenta um agravo vertical numa hipótese de horizontal.

Realmente, o erro é grave, é um erro crasso. Mas vamos combinar que esses agravos internos vieram depois de muito tempo de agravo de instrumento, existindo dificuldade de advogados antigos de entender isso, logo na mudança. Antes, o “nego o recurso” era exclusivo do juiz da vara ou exclusivo do vice-presidente do tribunal em competência delegada. Hoje, você tem um relator.

Essa também é uma questão complicada, quando a gente fala de Ação Rescisória em Mandado de Segurança. Aí cabe a OJ 152, da SDI-II. No segundo grau de jurisdição, o recurso, por excelência, é o Recurso Ordinário, sendo correspondente à apelação no processo cível, tirando o processo da vara e encaminhando para o TRT. Ele faz também com que o processo de competência originária do TRT saia do TRT e vá para o TST, o que significa uma apreciação, num segundo momento, com a mesma extensão e profundidade da primeira, sem restrições. Então, quando a gente fala de competência originária do TRT, que são as hipóteses das ações rescisórias e de alguns Mandados de Segurança, temos o exercício do duplo grau de jurisdição não com o Recurso de Revista, que levaria o processo individual do TRT para o TST, mas sim com o Recurso Ordinário, porque a função é exercer o duplo grau de jurisdição. Só que tem gente que guarda aquilo de que o Recurso de Revista é que leva o processo para o TST e coloca esse nome no recurso. Aqui, eu lamento. Esse é um erro grosseiro. OJ 152, SDI – II. Aqui faz até sentido, porque o RR é um recurso técnico, ele tem hipóteses especificas, de divergência jurisprudencial, violação a lei federal ou constituição federal.

No momento em que se aponta esse tipo de violação, ele pode até ser típico de recurso ordinário, podendo figurar em ambos, mas quando se invoca o art. 896, configura-se o erro grosseiro.

Obs.: No processo do trabalho, não devemos só saber os princípios aplicáveis, mas também os não-aplicáveis.

Princípio da identidade física do juiz

É aquele que diz que se o juiz encerrou a instrução processual, ouviu as testemunhas, leu os documentos, presenciou o circo todo, ele tem que julgar. Não existe pessoa melhor pra julgar. A melhor coisa para o processo é que esse juiz julgue. Parece lógico, óbvio e assim é no processo civil, art. 132 do CPC.

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Art. 132.  O juiz, titular ou substituto, que concluir a audiência julgará a lide, salvo se estiver convocado, licenciado, afastado por qualquer motivo, promovido ou aposentado, casos em que passará os autos ao seu sucessor.(REmbargos de Declaraçãoação dada pela Lei nº 8.637, de 1993)

Parece óbvio, até pelo principio da imediatidade. Enfim, há milhares de procedimentos probatórios que fazem com que o juiz tenha um contato mais profundo com o caso.

Aí vem o TST, infeliz, na súmula 136 e diz:

TST Enunciado nº 136 - RA 102/1982, DJ 11.10.1982 e DJ 15.10.1982 - Ex-Prejulgado nº 7 - Mantida - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003Varas do Trabalho - Identidade Física do JuizNão se aplica às Varas do Trabalho o princípio da identidade física do Juiz.

O STF diz a mesma coisa.

STF Súmula nº 222 - 13/12/1963 - Súmula da Jurisprudência Predominante do Supremo Tribunal Federal - Anexo ao Regimento Interno. Edição: Imprensa Nacional, 1964, p. 108.Princípio da Identidade Física do Juiz - Juntas de Conciliação e Julgamento da Justiça do Trabalho - AplicaçãoO princípio da identidade física do juiz não é aplicável às Juntas de Conciliação e Julgamento da Justiça do Trabalho.

Então tem que explicar que isso não é aplicável na Justiça do Trabalho. Parece naturalmente compatível com o processo do trabalho, mas na prática não é. O pior não é prática, é a teoria. Na prática, esse princípio só vale para o juiz e não para as partes. Por quê? Porque sobe o despacho, no seguinte sentido: o titular saindo, tendo feito a instrução, vai deixar para o substituto, só porque esse princípio não se aplica? Negativo. “Pato novo não mergulha fundo não”. “Ao colega vinculado”, o titular manda para o substituto. Antigamente, existia o despacho de carimbo, aí os juízes mais preguiçosos tinham o carimbo da própria assinatura.

Qual foi o intuito do STF? A interpretação no processo do trabalho, por sua subsidiariedade, leva em consideração, primeiramente, a omissão na CLT, mas também a compatibilidade. Aqui, o problema era a compatibilidade entre o processo civil e o processo do trabalho, porque segundo o TST e o STF, essa norma seria incompatível com a celeridade do processo. E desde quando o processo civil não tem que

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ser célere? É, algumas coisas têm que se engolir mesmo. Nossa missão é tentar mudar isso. Se isso fosse aplicado na prática, até que seria legal, mas na prática, só vale para o advogado. Como assim? Na prática, o advogado que teve sua decisão proferida por aquele juiz substituto que chegou à vara argui a nulidade daquela decisão, porque o princípio não é aplicado à justiça do trabalho? Não, vão jogar na cara dele que o princípio não é aplicado. Se a decisão é proferida pelo titular, que assumiu o trabalho, a outra parte vem e fala que está errado, falando que o substituto que tem que julgar. Aí ele vai receber um não, porque o princípio não é aplicável à justiça do trabalho. Então, na justiça do trabalho, o juiz chega e manda “ao colega vinculado” e pronto. Nos embargos de declaração, isso é um inferno. Na justiça do trabalho do Rio de Janeiro, tem até uma orientação para evitar isso, dizendo que o juiz que iniciou a instrução deve proferir a sentença, mas aí entramos novamente em confronto com a súmula. Vamos passar adiante.

Princípio da irrecorribilidade imediata das decisões interlocutórias.

A gente vai falar disso, não como princípio, mas como normas indicativas de conduta. Para mim, isso é uma norma e não um princípio.

O que é isso? O que são decisões interlocutórias? É um dos atos do juiz, está previsto no art. 162 do CPC.

    Art. 162.  Os atos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias e despachos.        § 1o Sentença é o ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.232, de 2005)        § 2o  Decisão interlocutória é o ato pelo qual o juiz, no curso do processo, resolve questão incidente.        § 3o  São despachos todos os demais atos do juiz praticados no processo, de ofício ou a requerimento da parte, a cujo respeito a lei não estabelece outra forma.        § 4o  Os atos meramente ordinatórios, como a juntada e a vista obrigatória, independem de despacho, devendo ser praticados de ofício pelo servidor e revistos pelo juiz quando necessários. (Incluído pela Lei nº 8.952, de 1994)

O juiz profere sentença, prevista no §1º. É um dos atos do juiz que implica uma das situações previstas no art. 267 ou 269 do CPC. A decisão com resolução ou sem resolução de mérito, em regra, definitiva.

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O juiz profere decisão interlocutória, que é o ato pelo qual o juiz no curso do processo resolve questão incidente. Ex.: defere ou indefere prova testemunhal; toma alguma medida, determina uma medida judicial. Geralmente, está mais atrelado a questões do procedimento, para andamento do processo.

Tem recurso disso? Tem, claro que tem. Mas é imediato? Em regra, não. Em regra, todas as decisões intermediárias do processo vão se acumulando e vão sendo carregadas para o momento da decisão final, da sentença. Lá, podem ser favoráveis ou desfavoráveis. E a gente vai ver que uma das regras da nulidade é que ela não é declarada se não houver prejuízo. O indeferimento de uma testemunha gera uma nulidade se gera um prejuízo. Então, faz com que as decisões intermediárias sejam levadas ao final para análise do efetivo prejuízo. Se houve prejuízo, reforma-se tudo de uma vez. Recorra do mérito, das férias e daquela oitiva de testemunha que foi indeferida, essencial para comprovar as férias. Então, deixa-se para o momento do recurso da decisão definitiva todas as questões intermediárias. Ou seja, quando se recorre da decisão final, por meio do recurso ordinário, recorre-se também das decisões intermediárias. Nesse cursinho, você vai ter que pontuar sua insatisfação, o que se chama de protestos anti-preclusivos, o que não temos que decorar agora. É a manifestação de que você não está feliz com aquela decisão. Se o juiz indefere sua testemunha, você protesta. Numa audiência, se você ouve “protesto”, é trabalhista. Isso é típico do processo do trabalho, porque não tem fundamento, só se marca o protesto, diferentemente do agravo retido, do processo cível, em que se tem que fundamentar. Guarda-se então o protesto para argumentar no recurso. Eventualmente, até se usa um Mandado de Segurança, mas a regra é essa.

Agora, todas as decisões interlocutórias não são recorríveis de imediato? Nem todas também. Porque existem algumas decisões interlocutórias que encerram o processo. Se ela acabar com o processo, recorre-se a quem? Ex.: a EC 45 passou a dar competência inconteste à Justiça do Trabalho para apreciar questões de acidente do trabalho. Digamos que tenha sido o inverso. As demandas seriam do cível a partir de hoje. Aí, o juiz, ao decidir, leva em consideração a aplicação da lei nova. Todo e qualquer processo ou só os ajuizados depois? Então, o juiz declina sua competência, mandando para o cível, sendo essa uma decisão interlocutória. Aí, haveria o protesto, para que no momento do recurso ordinário se pudesse recorrer da situação. Ocorre que o processo estaria indo para o cível, e não haveria esse recurso. Lá, é a apelação, havendo impedimento de se

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acessar a decisão definitiva. Se ele te impede de acessar a decisão definitiva, essa decisão interlocutória vai ser passível de recurso. É o caso, por exemplo, de quando se apresenta uma exceção territorial que é acolhida dentro do mesmo TRT. Aí, entro com um recurso ordinário, apresentando o prejuízo ocorrido. Quando o juiz manda para outro TRT, lá não posso discutir a competência daqui. Quem é responsável por discutir essa competência entre TRTs é o TST. Esse tipo de decisão é uma decisão que manda para outro tribunal e te impede de recorrer ordinariamente daquele assunto. Nessa hipótese, pode-se recorrer da decisão interlocutória. Outras hipóteses também abrangem as decisões terminativas, aquelas que acabam com o processo. É comum nas execuções. Quando o juiz coloca o cálculo, dá uma decisão interlocutória (o valor é tal, cumpra-se), podendo-se impugnar ou embargar a execução. Só que, eventualmente, pode acontecer o seguinte: digamos que seja uma ordem de reintegração do funcionário com pagamento do salário atrasado. Ele pode dizer na decisão interlocutória que o funcionário não tem direito à reintegração, terminando com o processo. Assim, no TRT, um acórdão transitado em julgado diz que deve haver reintegração e pagamento de salário. No dispositivo, ele manda pagar, mas não reintegrar. Só que na fundamentação diz que deve haver a reintegração. Aí, na hora da execução, segue-se o dispositivo, por decisão interlocutória. Aí, pode-se recorrer. Súmula 214, TST:

TST Enunciado nº 214 - Res. 14/1985, DJ 19.09.1985 - Republicação - DJ 22.03.1995 - Nova Redação - Res. 43/1995, DJ 17.02.1995 - Nova redaçaõ - Res. 121/2003, DJ 21.11.2003 - Nova redação - Res. 127/2005, DJ 14.03.2005Decisão Interlocutória - Justiça do Trabalho - Recurso   Na Justiça do Trabalho, nos termos do art. 893, § 1º, da CLT, as decisões interlocutórias não ensejam recurso imediato, salvo nas hipóteses de decisão:a) de Tribunal Regional do Trabalho contrária à Súmula ou Orientação Jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho;b) suscetível de impugnação mediante recurso para o mesmo Tribunal;c) que acolhe exceção de incompetência territorial, com a remessa dos autos para Tribunal Regional distinto daquele a que se vincula o juízo excepcionado, consoante o disposto no art. 799, § 2º, da CLT.

a) O que é isso? Chega o Recurso Ordinário no TRT, que diz que eu tenho direito a tudo que eu pedi, mas, indevidamente, foi arguida a prescrição. O desembargador diz que a decisão está realmente errada, afastando a prescrição e determinando a remessa dos autos à primeira instância, para que a tese seja apreciada. Ele não

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aprecia a tese jurídica de mérito, porque aí se usurparia a função jurisdicional do primeiro grau. Deve haver a manifestação jurisdicional de primeiro grau. Essa decisão que remete os autos à vara é interlocutória e, em tese, é irrecorrível. Ocorre que, se a essa decisão contrariar súmula ou OJ do TST, ela é recorrível, segundo o TST. Então, em tese, daquela decisão eu não posso recorrer de revista, mas, se ele apreciar mal a prescrição e violar alguma súmula do TST, há possibilidade de recurso imediato.

b) É o agravo interno. O recurso aqui é intempestivo, essa é uma decisão interlocutória terminativa, não tendo decidido o mérito, impedindo que um recurso se processasse. Aqui, cabe recurso, de agravo.

c) Aqui é aquele exemplo de incompetência territorial de TRTs distintos. Não tenho como mandar para outro TRT sem prejudicar o direito de recurso definitivo daquela questão.

Isso é confuso? Sim, muito. Por isso, vamos voltar a falar disso quando falarmos de preclusão.

A essência da coisa é que decisão interlocutória não é passível de recurso imEmbargos de Declaraçãoiato, em regra. São exceções as decisões terminativas, por excelência.

Princípio da conciliação

Por fim, para terminar os princípios, vamos falar do princípio da conciliação, que fecha isso tudo. O processo do trabalho é conciliatório por excelência. A semente da Justiça do Trabalho eram as juntas de conciliação e julgamento. Estava até no nome dos “órgãos jurisdicionais” da Justiça do Trabalho. Há inclusive interpretações de que se o juiz não propuser a conciliação na abertura da audiência ou no fechamento, sua decisão é passível de nulidade, dada a importância desse princípio da Justiça do Trabalho. Então, o art. 764 da CLT7 vai dizer que a conciliação é possível em qualquer momento. O art. 831 da CLT8 ainda diz que a decisão será proferida após a rejeição de conciliação. O art. 846 da CLT9 diz que se abre a audiência com a proposta de conciliação.

7    Art. 764 - Os dissídios individuais ou coletivos submetidos à apreciação da Justiça do Trabalho serão sempre sujeitos à conciliação.        § 1º - Para os efeitos deste artigo, os juízes e Tribunais do Trabalho empregarão sempre os seus bons ofícios e persuasão no sentido de uma solução conciliatória dos conflitos.        § 2º - Não havendo acordo, o juízo conciliatório converter-se-á obrigatoriamente em arbitral, proferindo decisão na forma prescrita neste Título.        § 3º - É lícito às partes celebrar acordo que ponha termo ao processo, ainda mesmo depois de encerrado o juízo conciliatório.

8 Art. 831 - A decisão será proferida depois de rejeitada pelas partes a proposta de conciliação.   Parágrafo único. No caso de conciliação, o termo que for lavrado valerá como decisão irrecorrível, salvo para a Previdência Social quanto às contribuições que lhe forem devidas. (REmbargos de Declaraçãoação dada pela Lei nº 10.035, de 25.10.2000)

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Hoje a gente encerra os métodos de solução em conflitos trabalhistas. No quadro tá o método mais comum de solução de conflito trabalhista na justiça do trabalho: homologação de acordo judicial.

O juiz do trabalho faz muito mais acordo do que prolata sentença. Pra ele é um alívio: se ele tivesse que sentenciar tudo que ele acorda, estaríamos marcando audiência para 2016. Porque se faz muito acordo na justiça do trabalho? Duas razões: primeiro pelo interesse do empregado em resolver o seu problema. Não esqueçamos que verbas trabalhistas têm, em tese, natureza alimentícia. Portanto ele está com déficit na sua alimentação. E quem tem fome tem pressa. Então há o interesse natural do trabalhador em receber o dinheiro. Dinheiro justo, dinheiro decorrente da prestação de seus serviços, seu suor. Leve-se em consideração que a justiça do trabalho é a justiça dos desempregados, como se costuma dizer. Geralmente, quem a procura é quem tá sem emprego, quem já foi mandado embora.

É muito difícil um empregado ajuizar uma ação com contrato de emprego, pois, fatalmente, vai mandar o seu emprego pra outro lugar. Então, há um interesse por parte do, em regra, autor, de resolver o processo. E há um interesse por parte do empregador em garantir alguma previsibilidade orçamentária – custo futuro – e uma tranquilidade de que quanto àquele empregado ele não vai ter mais nenhum problema, nenhuma questão. Ele não terá nenhuma outra ação. Ou seja, resolver de forma definitiva todas as questões que ficaram pendentes no contrato de emprego.

O que que pode ser acordado na justiça do trabalho? Quando a gente fala na justiça do trabalho, é que a gente tá falando de homologação de acordo judicial, com a participação do magistrado, portanto decorrente de uma ação judicial. Uma solução endoprocessual. Tudo que for controvertido e disponível pode ser objeto de acordo. E aí você enfrenta a primeira questão: mas o direito do trabalho é disponível? Você pode dispor do aviso prévio? Pode dispor das férias?

Em regra, o direito do trabalhador é indisponível. As previsões específicas de disponibilidade do direito se dão no formato coletivo, com a participação do sindicado. Só que aqui a gente tá falando de ações individuais. E o direito do trabalho, na verdade, ele não é tão indisponível quanto se prega. Em primeiro lugar, porque os direitos indisponíveis têm uma característica: podem ser ajuizados até por quem não é seu titular (é o caso do MP defendendo o interesse de menores - não vai ter ministério público defendendo o direito de um trabalhador isolado de jeito nenhum). Então, se ele não ajuíza a ação, de certa forma, vai dispor de um direito eventualmente violado. Agora, se ele assinar um documento dispondo do direito em favor do seu empregador, não vai conseguir efetivar essa disposição de direito. E se ele quiser fazer um acordo? Ele tá lá pedindo férias, 13º, aviso prévio. O empregador fala: eu pago férias e 13º, você me dá o aviso prévio e não se fala mais nisso! É possível acordar? Vai ser possível se a

9    Art. 846 - Aberta a audiência, o juiz ou presidente proporá a conciliação. (Redação dada pela Lei nº 9.022, de 5.4.1995)        § 1º - Se houver acordo lavrar-se-á termo, assinado pelo presidente e pelos litigantes, consignando-se o prazo e demais condições para seu cumprimento. (Incluído pela Lei nº 9.022, de 5.4.1995)        § 2º - Entre as condições a que se refere o parágrafo anterior, poderá ser estabelecida a de ficar a parte que não cumprir o acordo obrigada a satisfazer integralmente o pedido ou pagar uma indenização convencionada, sem prejuízo do cumprimento do acordo. (Incluído pela Lei nº 9.022, de 5.4.1995)

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parcela for controvertida. E aí a controvérsia é importantíssima dentro do acordo trabalhista. Se você, na sua contestação, diz que o empregado foi dispensado por justa causa, sem receber nada, você torna o aviso prévio incontroverso. E aí o juiz do trabalho vai analisar aquela tentativa de conciliação pagando só férias e décimo terceiro, que também seriam – vamos admitir – provisoriamente incontroversos, e não vai homologar o acordo. Não vai homologar o acordo porque ele seria o resultado de uma disposição de direitos trabalhistas. Então, se você quer dispor dos seus direitos não ajuizando a ação, deixando o prazo prescricional se consumar, o problema é seu. Mas, a partir do momento que você ajuíza essa ação, é necessário que haja controvérsia.

Então, o primeiro ponto é: o direito tem que ser disponível. E a indisponibilidade dos direitos trabalhistas é relativa.

Em segundo lugar, deve haver controvérsia. Então, aí, você enfrenta uma questão... bem, na fase de conhecimento é fácil ver a controvérsia. Ajuíza-se a ação, o réu contesta, diz que nada daquilo é devido, por razões múltiplas. Tá estabelecida a controvérsia. Até que, em determinado momento, o juiz tem que julgar e sentencia o processo. Sentença prolatada, transitada em julgado. Acabou a controvérsia. São devidas as férias, o 13º e o aviso prévio. Eu disse, como juiz. Transitou em julgado. Agregou à minha decisão a qualidade de definitiva, não mais sujeita a recursos. E aí? É possível o acordo na fase de execução? Esse é um grande dilema da justiça do trabalho. Não na possibilidade de existência do acordo, mas na possibilidade de ceder, renunciar a determinadas verbas em fase de execução. Alguns juízes só homologam acordos na fase de execução se houver pagamento integral da execução. Então pra que que eu faço acordo? Pra parcelar. Alguns juízes só admitem o parcelamento da execução, pois entendem que nesse momento não há mais controvérsia. Se não há mais controvérsia, o direito é indisponível. E aí vem a segunda forma de enfrentar a questão: quando você entra em execução, não vai mais estar preocupado com o direito. O direito já foi resolvido. Você vai estar preocupado com quanto aquele direito representa. E aí você admite o acordo na execução levando em consideração que você não está mais abrindo mão do direito, mas sim de valores. E a expressão monetária do direito é disponível. Então uma boa parcela dos magistrados entende dessa forma. Na verdade, não há renuncia de direitos, você não abre mão. Porque a transação constitui um exercício de concessões recíprocas. Então, cede de um lado o autor, cede de um lado o réu. e quando ele vira exequente e executado? Então a maioria do entendimento vai dizer o seguinte: olha, estou cedendo a expressão financeira do direito. Então é possível, sim, o acordo na fase de execução com concessões recíprocas. Só que mesmo aqueles que entendem que o acordo é possível nesse momento olham aquela concessão do trabalhador com muito rigor.

Por exemplo: uma instituição financeira cheia de dinheiro no bolso. Aí vem o trabalhador, na fase de execução, lá nos finalmentes, e aceita receber a metade. Vai ser difícil um juiz homologar isso. Agora, por outro lado: a padaria do seu Zé Manoel, que desapareceu, não tem ninguém mais no mundo, morreu, morreu filho, já tá um neto, na herança da herança, que chega em juízo e solicita uma audiência de conciliação na fase de execução, pois é possível audiência de conciliação a qualquer momento, e oferece 50%. O processo dura 20 anos. O reclamante daqui a pouco morre e não recebe. Tá muito mais propenso a ser homologado um acordo nesses termos.

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Até onde o acordo judicial pode ir? Ele tá limitado ao pedido? Em regra, sim. Você pede férias, 13º e aviso prévio, então não tem porque incluir o FGTS. Você não pediu! Mas nem sempre é assim. O acordo homologado judicialmente tem um escopo maior. Ele não só pretende pacificar o conflito presente, como também os que possam surgir no futuro e resolver a ação. Digamos que eu tenha pedido férias, 13º e aviso prévio mas tenha esquecido de colocar o FGTS. Lá na primeira audiência, quando o réu vem apresentar a contestação, eu me dou conta disso e digo que vou emendar a petição inicial. Se eu for emendar a petição inicial, quer dizer, na verdade trazer um novo fundamento, até um novo aditamento, um novo pedido praquela ação, o juiz teria que adiar o processo, aduzo novo pedido, ele marca uma próxima audiência... e aí sim, nessa próxima audiência, pode haver a conciliação. Porque não conciliar naquele momento? Pensando nessas hipóteses e em outras do processo civil, o art. 475-N, III diz o seguinte: você pode conciliar sim, ainda que a matéria não tenha sido posta em juízo.

“ah, esqueci!! Coloca o dano moral aí.” (não fica claro se o professor dá um exemplo ou se é um adendo ao artigo. Ele simplesmente soltou essa frase e continuou!)

Ou os três pedidos que ele fez dão, juntos, 20000. O acordo é de trinta. Porque? Porque eu já to incluindo o FGTS que realmente não foi pago. Às vezes o trabalhador se esquece de pedir. Mas o empregador já inclui. Às vezes o réu pode, de bom grado, fazer isso. Ele coloca tudo no pacote e resolve a questão. Ele pode, então, homologar. Ele pode e deve! Então pode ser qualquer objeto não posto em juízo. Desde que controvertido e disponível. E nesse caso a controvérsia vai ser presumida. Não é expressa, uma vez que a parcela não foi posta em juízo. É em razão desse artigo que você tem, na justiça do trabalho, uma peculiaridade na homologação. É a tal da quitação quanto ao extinto contrato de trabalho. E vem nas mais variadas formas: quitação rasa, geral, absoluta, integral... enfim, da forma como vier. É uma quitação que envolve a relação jurídica de trabalho. Ela vai além do objeto da ação. Ela vai além dos limites da contestação. Ela encerra a relação jurídica de trabalho. Então quando o juiz de trabalho homologa um acordo, ele pode limitar a quitação ao objeto pedido - e assim o faz expressamente – ou pode, e é muito mais comum acontecer, dar a quitação quanto ao extinto contrato de trabalho, de forma que ele sela aquela relação jurídica pra sempre. “aah, mas eu me esqueci de pedir FGTS, no acordo eu só fiz sobre três parcelas: férias, 13º e aviso prévio...” Lamento! Você não assinou? O juiz não homologou? Um abraço. E o pior pra você é que essa homologação vale como decisão irrecorrível. Vale como se fosse uma sentença transitada em julgado. E é por isso que os empregadores procuram tanto a justiça do trabalho.

Mas como assim “é por isso que os empregadores procuram tanto a justiça do trabalho”? Hoje, menos do que ontem e, certamente, amanhã, menos do que hoje, mas ainda é muito comum o que a gente chama de lides simuladas. As lides simuladas são o porto seguro do empregador. Dispensa o empregado (isso não é regra geral, é a exceção. Mas ainda é comum), não paga as verbas rescisórias e manda-o procurar os seus direitos. O empregador já sabe quanto vale a recisão. Ele já tem o custo da dispensa do empregado. Então o empregado ajuíza a ação, às vezes até com advogados indicados pelo empregador, e na primeira audiência a empresa já apresenta o valor, faz o acordo e o juiz homologa. Pronto, garantia absoluta, quitação rasa, ampla, geral e irrestrita quanto ao extinto contrato de trabalho. Segurança, ou seja, tudo o que o empregador quer. Então isso aqui dá ao empregador uma grande vantagem.

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Então é comum a busca do empregador pela justiça do trabalho em razão desse cheque em branco aqui, dessa quitação absoluta quanto ao extinto contrato de trabalho.

Pergunta inaudível (do Plínio)

Resposta: discute-se muito se pro acordo, se é homologado, seria ação rescisória ou ação anulatória. Me parece que a tendência do processo civil é caminhar para uma ação anulatória, embora hoje, na maioria, se tenha ação rescisória. Embora o novo CPC trate, especificamente, da hipótese, o projeto fala que seria ação anulatória. Mas na justiça do trabalho ainda se tem esse costume (??) de ação rescisória. Então seria uma ação rescisória pra desconstituir um acordo judicial.

Qual o grande problema da quitação? Quando você manda embora o seu empregado, você tem três formas de resolver isso.

1- Se ele tiver menos de um ano de casa, você dá o trct, ele assina dizendo que recebeu aqueles valores, você encaminha os documentos para a recisão, com o aviso de dispensa lá do seguro desemprego no TST, que é conhecido popularmente como a guia do FGTS, e ele segue o seu caminho.

2- Se ele tiver mais de um ano de casa, você vai ter que homologar essa decisão. E aí essa homologação pode ser tanto no sindicato, que tem a obrigação de oferecer esse serviço graciosamente, quanto na superintendência regional do trabalho, que antigamente se chamava delegacia regional do trabalho. Homologando isso, você cumpre os requisitos legais e segue.

3- Só que tanto um quanto outro, pro empregador, dá uma eficácia de liberação dos valores. E não da parcela. “poxa, mas eu paguei o 13º pra ele na recisão. Ele ajuizou uma ação pedindo horas extras. Ganhou. Ainda vai ter reflexo daquele 13º da recisão que eu paguei?” Claro. Pagou com reflexo, é devido. Muito embora isso seja justo de um lado, por outro lado, traz certa insegurança pro empregador. Você quer evitar ao máximo as ações trabalhistas? Contrata um bom profissional e paga tudo. Às vezes, no entanto, o mercado impede, por razões mil, que se contrate um bom profissional. Ao menos formalmente. É um caso comum o dos salões da cabelereiro: você tem uma exigência do mercado que faz com que as comissões do cabelereiro girem por volta de 40 a 50%. Só que quando você contrata um empregado pra pagar 40 a 50% do que ele produz, do que ele fatura, você não tem espaço pra lucro. Se um empregado custa hoje 102%, 103% do salário dele, a mais, quer dizer que 50% foi pro bolso do empregado e os outros 50% foram pra pagar encargos trabalhistas, sociais e tributos. Ainda tem os custos de luz, aluguel... pra você sobre o que? Nada. Mas vai contratar um cara pra pagar 30%... você não consegue no mercado. E aí, o que você tem que fazer? Pagar por fora, trazendo a irregularidade pra dentro do contrato. E isso gera quase sempre uma ação trabalhista. Ok, tem os excessos de um lado, a parte injusta do outro, mas a quitação que você passa ao final do contrato, a recisão, ela vai te dar a quitação de valores. E a quitação de valores é tão eficaz quanto aquela que você faz na mesa de bar, onde você pegar aquele cantinho de guardanapo e escreve “recebi do fulano de tal – cicrano- “ e pum, assina. Fica igualzinho. Ah, mas pra que que tem essa formalidade toda? A formalidade toda é porque o empregado vai se defender melhor quando ele tiver uma homologação. O homologador

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pode verificar um equivoco, uma parcela errada, uma parcela menor... você pode defender o empregado ali na hora da homologação. O governo precisa de informações. Você, quando manda embora o empregado, tem que dar essas informações todas. O governo precisa delas pra saber como anda o mercado de trabalho. Então tem essa burocracia pro empregador cumprir. Só que ele cumpre essa burocracia mas não tem a certeza ou tranquilidade da recisão. Antigamente você tinha a sumula 41, que dizia que a delegacia regional do trabalho e os sindicatos podem homologar. Só que aí os sindicatos começaram a reclamar: “não, eu quero ter poderes pra homologar, sou uma organização sindical desprestigiada.” Só quitar valores não bastava. Então o TST entendeu, na súmula 330, que se o sindicato quer tanto esses poderes, quer tanto ser importante, a quitação passada no sindicato, pra homologação, vai englobar as parcelas. Quer dizer então que se você pagar o 13º e o sindicato homologar, isso vale como quitação daquela parcela. Se ele ganhar hora extra depois, não vai conseguir reflexo da hora extra nessa parcela. O sindicato homologou e disse que a parcela tá correta. Logo depois que eles fizeram a redação da súmula 330, que veio revisar o 41, eles viram que não ia dar certo. Então colocaram uma emenda nela: a quitação que o sindicato passa é da parcela, não só do valor. Desde que não haja ressalva do trabalhador. E aí popularizou-se aquela ressalva no verso do termo da recisão de contrato de trabalho. o empregador paga a decisão, o empregado recebe mas ressalva: tá faltando diferença de hora extra. Minhas horas extras não foram pagas corretamente. Ok, ele conseguiu aí um aval para receber a diferença das horas extras naquele décimo terceiro. Só que depois verificou-se que também não dava certo, porque o cara esquecia de fazer ressalva, o órgão homologador às vezes era despreparado... e aí mexeram na redação da súmula 330 de tal forma, com tantas ressalvas, que ela voltou ao original. No final das contas, por causa dessas ressalvas todas, a quitação homologada no sindicato vale tanto quanto um recibo de padaria, passado em papel de pão. Pro próprio empregador, se sujeitar àquela burocracia toda não vale a pena. Aí ele acaba buscando a solução do acordo judicial trabalhista. Pois assim, ao menos, ele ganha tranquilidade, pois ela é irrecorrível nos termos do art. 831 P.U. da CLT.

Agora, você tem que tomar cuidado. O juiz não é obrigado a homologar. Não é porque eu ofereço 100 e o reclamante aceita 100, não é porque eu queria 100, mas aceitei os 80 que o empregador oferecia, não é porque a demanda vale 100 mas eu to oferecendo 120 que o juiz tem que homologar. Como é comum esse tipo de lide simulada, o juiz tem que ficar sempre esperto e atentar para os detalhes pra ver se aquela lide decorre de uma efetiva controvérsia ou se é homologação de rescisão contratual da justiça do trabalho. a justiça do trabalho não é órgão homologador de rescisão contratual. Então, normalmente, o juiz se utiliza de alguns critérios:

Se ajuizou a ação e, antes do réu ser citado, aparecem os dois pra fazer um acordo, desconfia.

Se o pedido é só de verbas rescisórias e o empregador oferece só as verbas rescisórias, desconfia.

“porque ele tá pagando agora, na primeira audiência, e não pagou à época o que tinha que pagar?”

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Enfim, tem várias formas do juiz defender o trabalhador nesse aspecto. Alguns juízes, por exemplo, não fazem acordos que tenham valores inferiores à parcela rescisória. Não tem muito fundamento aí. Pode se discutir uma justa causa, por exemplo. Mas tem juízes que usam esses critérios pra tentar obstar o êxito da lide simulada.

E aí vem a sumula 418 do TST, pois às vezes o juiz não homologa mesmo e ponto final. E começou a chover mandado de segurança pra obrigar o juiz a homologar o acordo. E vem o TST e fala “olha, lamento. O acordo é faculdade do juiz. Você não tem direito liquido e certo pra ter um acordo homologado.” É a redação da súmula 418. A homologação de acordo judicial é uma faculdade do magistrado. Aqui a gente tá falando da ação ajuizada. Aqui a gente tá falando do acordo que decorre do processo judicial. Inicialmente litigioso. Aí a gente passa pra homologação pelo magistrado de uma transação extrajudicial. O acordo nasce fora do processo e é trazido ao juiz para homologação. Isso é muito raro na justiça do trabalho hoje. Mas antes ele não era possível. A emenda constitucional 45 mudou a competência da justiça do trabalho. antes dizia o seguinte: “compete à justiça do trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos”. Esse tipo de provocação do poder judiciário não é de dissídio. É uma jurisdição voluntária. Portanto era pacífico que não havia jurisdição voluntária na justiça do trabalho até a EC 45. Em 2004, com a EC 45, começou-se a escrever muito sobre o tema e começaram a ser suscitados aspectos da jurisdição voluntária no processo do trabalho, inclusive abarcando aí a possibilidade de se homologar uma transação extrajudicial. Porque? Porque o art. 114 da CF passou a dizer:

“compete à justiça do trabalho processar e julgar:

...

IX – outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho”

E aí começou a se posicionar nesse inciso a justificativa pra um juiz do trabalho homologar a transação extrajudicial, que já era prevista, como título executivo, no artigo 475-N, V.

Qual o objetivo, então, de as partes trazerem o acordo extrajudicial pro processo? Transformar aquele acordo em título executivo judicial e dar a ele a segurança de decisão irrecorrível.

Recentemente eu tive um caso parecido e eu confesso que ainda não tenho certeza de como vou tratar ele justamente pela raridade dessa forma de proceder na justiça do trabalho. se o juiz do trabalho não recebe essas novidades – “novidade” de quase sete anos de idade – eles estranham e refutam. Às vezes se sentem ofendidos de levarem um acordo pra ele homologar, apenas, como se ele fosse um homologador. (LOL)

O caso:

E o empregador me disse o seguinte, olha: “eu tenho um empregado, gosto muito dele, tá trabalhando comigo há quatro anos, já. Os dois últimos ele prestou horas extras. Eu sei que ele prestou horas extras. Eu não tinha controle de ponto, falhei. Deveria ter tido. Eu quero pagar as horas extras pra ele. Vou fazer um acordo com o cara aqui.”

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Isso não vai, necessariamente te livrar de ele cobrar as horas extras posteriormente.

“ah, mas eu vou pagar as horas que ele declarar. Ele!”

ué, vai, paga. Mas isso não vai te dar tranquilidade porque ele não vai ajuizar ação contra você.

“mas eu to pagando o que ele disse”.

Vai, paga, mas não vai ter tranquilidade, ora bolas.

“Então o que a gente pode fazer?”

Uma das alternativas é fazer o acordo com ele e submetê-lo à homologação judicial só quanto ao objeto das horas extras. Não precisa nem ser como decisão irrecorrível, quitação do extinto contrato de trabalho. até porque o contrato nem tá extinto.

Eles adoraram a ideia. Então eu fui pesquisar pra ver como a jurisprudência tá se posicionado.

Vai achar um caso... nada! Um ou dois, só. Um dizendo que tá tudo bem, ok.. o outro dizendo que não... e em abrangência nacional.

Então existe? Existe. Parece justo? Sim. Mas não deixem de considerar que isso é absolutamente excepcional. Às vezes o livro, quando diz que é possível, não faz essa ressalva. Então se você for enfrentar eventualmente uma questão dessas em prova, banca examinadora ou até na própria vida profissional, leva isso em consideração isso: você tem a EC 45 como um divisor de águas, mas há muita gente que diz que sim e muita gente que diz que não. Quem diz que não diz por quê? Não só pela “ofensa” ao juiz, mas também por facilitar a lide simulada. Se você já tem tanta lide simulada dentro do processo, começando aqui, imagina aquela que começa fora e chega no processo já prontinha, só pro juiz assinar embaixo... não teve nem aquele contato inicial, da petição inicial, pra ver o que foi feito, quem assessorou o autor, coisas assim. O juiz fica no escuro. Então tem uma facilidade muito maior aqui de você conseguir homologar uma fraude. Daí essa resistência maior do magistrado. Porque ela começa não na resistência do magistrado, mas do próprio advogado. O advogado é o primeiro filtro do processo. Ele recebe o cliente, Lê ou escuta as suas ponderações, já filtra aquilo que vai ser ou não levado para o judiciário. Muitas vezes o próprio advogado filtra esses acordos, ainda que extremamente plausíveis de homologação, pois já sabe que podem não resultar em uma medida frutífera. Mas é possível? Teoricamente sim. Só é muito raro.

Além dos acordos, nós temos a comissão de conciliação prévia. Comissão de conciliação prévia foi um grande instituto criado no século XX e posto em prática com a lei 9958/00. A comissão de conciliação prévia diz o seguinte, em sua essência: o poder judiciário está assoberbado. Tem muitas ações trabalhistas. Mais do que eu gostaria. Não dá pra resolver com a fiscalização administrativa, não dá pra resolver aumentando a quantidade de juízes. Tem vaga sobrando e não tem candidato, enfim...

Vamos então criar um sistema prévio de conciliação e de filtragem, uma peneira grossa. Já que nós já criamos várias peneiras recursais pros processos não chegarem aos tribunais

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superiores e eles estão chegando, vamos criar uma peneira na base, pra que todas as ações ajuizadas na justiça do trabalho passem, obrigatoriamente, por essa seara administrativa, essa seara extrajudicial prévia. Então o objetivo é esse: antes de se ajuizar uma ação, deve se submeter à comissão. Ela é constituída de membros representantes dos profissionais trabalhadores e de uma comissão representante da entidade patronal dos empregadores. Então eles vão pegar a sua ação judicial, igualzinha. E lá, será submetida a um acordo. A uma tentativa de acordo. Você fez isso? Beleza, pode ajuizar a sua ação. Não fez isso? Um abraço. Vou extinguir o seu processo sem resolução de mérito. Essa era a teoria da coisa. Qual era o grande valor daquilo tudo? A conciliação vai ter uma validade igual à decisão do juiz no extinto contrato de trabalho. ela vai te dar essa eficácia liberatória geral. Isso é muito bom, mas virou um enorme foco de fraudes. Não que a comissão seja um instituto de fraude. Muito pelo contrário, seu intento foi um dos melhores possíveis, foi estimular a conciliação. Mas na prática ficou muito mais fácil pro empregador jogar na comissão é fazer a lide simulada. É muito comum o empregado dizer “olha eu vou pro sindicato homologar”. E aí tem esse ponto, pois as comissões de conciliação prévia poderiam ser instituídas tanto no âmbito do sindicato quanto no âmbito das empresas, mas normalmente eram nos sindicatos. “olha, você foi dispensado, então vai pro sindicato homologar a sua rescisão”. Então quando ele chegava lá pra homologar, ele entrava numa salinha, que tinha duas cadeiras, igual a uma sala de audiência da justiça do trabalho. o empregador apresentava o senhor conciliador como juiz, ele homologava o acordo e o empregado acatava aquilo dali. Ele achava que tinha ido à justiça do trabalho, que o juiz tinha homologado o acordo dele. Isso tinha um efeito moral muito forte. Se ele não tivesse sido auxiliado posteriormente por um advogado, ia morrer achando que tinha resolvido tudo judicialmente. Então foi um foco de fraude. Por conta disso, a justiça do trabalho começou a receber esses termos de quitação muito mal. Assim como ela recebe mal as cooperativas, o direito do trabalho começou a receber mal, também, os termos de quitação firmados nas comissões de conciliação prévia. E porque que começaram a receber mal? Primeiro porque não tinham o que receber. Você faz um acordo, você não tem que submeter ele depois pra justiça do trabalho. você Fez o acordo porque quis, pela livre expressão de sua vontade. Então chegavam lá montes e montes de acordos firmados na comissão de conciliação prévia. Então o primeiro indício do erro é esse. Eu faço um acordo e resolvo voltar atrás? Fica esquisito. Quando isso se torna regra e não mais exceção, fica mais esquisito ainda. Quando se vai a fundo, aí começou a se verificar. Se transformou a comissão em uma homologadora de rescisão. E aí a justiça do trabalho começou a invalidar esse tipo de termo de conciliação que daria uma eficácia ampla, geral e irrestrita dentro do processo.

E aí começou-se uma nova forma de pensar a coisa. Se, em regra, a comissão está sendo mal usada, está sendo usada para fraudes, porque eu tenho que exigir que o empregado passe pela comissão obrigatoriamente, já que eu mesmo não to validando os termos de conciliação? E aí foram ajuizadas duas ADINS no STF. O objetivo era mostrar que passar pela esfera administrativa antes de ingressar no judiciário é um óbice ilegítimo de acesso ao poder judiciário e viola o principio da inafastabilidade do poder jurisdicional. Se é um óbice ilegítimo e viola, eu quero que o STF diga que as comissões são inconstitucionais. E aí se começa a analisar: a previsão da obrigatoriedade tá no 625-D? lá não diz que era obrigatório e que se não for submetido, extinguirá o processo sem resolução de mérito. Mas foi essa a interpretação inicial que se deu. E foi essa interpretação inicial que caiu com a liminar do STF.

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Então hoje, quando se ajuíza uma ação trabalhista, você já faz, por praxe, uma preliminar dizendo: “com base nas liminares das adins 2139 e 2160, é inexigível o esgotamento da instancia administrativa da comissão de conciliação prévia antes do ajuizamento da ação.”

Então hoje não é mais obrigatório. Mas, no inicio, quando essas demandas começaram a chegar no TST, o TST disse que era obrigatório sim. Tudo que até aquele momento chegava no TST deveria ser declarado nulo. O TST fortaleceu a comissão de conciliação prévia. Aí veio o STF, o ministro Marco Aurélio e diz que o artigo não exige o esgotamento da comissão para o ajuizamento da ação. Então hoje funciona assim: ele é um método para a solução de conflitos extrajudicial, a criação da comissão é facultativa (ela não é obrigatória onde não tenha sido criada. Mas, onde foi, em tese é obrigatória), podendo ser no âmbito dos sindicatos ou das empresas. Em composição paritária. Elas ainda existem. Perderam força, mas ainda existem. E hoje elas funcionam mesmo pra quem quer. Mas elas tem 10 dias pra atuar. Significa: você protocolizou a sua inicial. Então a comissão vai ter que fazer a sua audiência em dez dias. E se não fizer? Como ela foi estabelecida para ser um critério que precedia a ação judicial, se você não conseguisse a marcação da ação em dez dias, você receberia um termo de conciliação frustrado. E esse termo deveria ser apresentado para ajuizar a sua ação trabalhista. O termo também era emitido se a audiência não fosse marcada em dez dias. Quais eram os efeitos da distribuição dessa ação? Isso é importante, pois funciona até hoje. Ela suspende a prescrição. Por quanto tempo? Não interrompe. Suspende a prescrição por 10 dias. Porque por 10 dias? Porque é o prazo que a comissão tem pra atuar. Então protocolizou a demanda, a prescrição vai estar suspensa. E quais são os efeitos do termo? Firmado o termo de conciliação, ele tem eficácia liberatória geral sim. E funciona como se fosse a decisão judicial. A diferença é que ele é um titulo executivo extrajudicial. Pode ser anulado numa ação de conhecimento. E você tem que dizer as razões pelas quais aquele termo não é válido: coação, erro, dolo, estado de perigo... todos os vícios do negócio jurídico você vai poder alegar para eventualmente anular esse termo de conciliação firmado na comissão de conciliação prévia. Mas ele vale, ele existe e ainda confere eficácia liberatória geral para a relação de emprego. Portanto, quem quiser fazer uso legítimo da comissão de conciliação prévia, as portas estão abertas.

Esses são os métodos de solução de conflitos trabalhistas não vou dizer mais comuns. O acordo sim, mas existentes hoje fora do judiciário.

Agora, o método normal e, até agora prioritário, que ainda existe hoje e não vai acabar nunca é a jurisdição. É o método de solução de conflitos que a gente passa a estudar de agora em diante.

JURISDIÇÃO

Nosso caso aqui, a jurisdição trabalhista, no caso uma jurisdição especial, exercida em primeiro grau pelo juiz do trabalho, em segundo grau de jurisdição e grau extraordinário, de forma colegiada. É integralmente togada. Não existem mais os juízes classistas. O tripé que estrutura a solução de conflitos trabalhistas: a jurisdição, a ação e o processo. Ilustrando a situação, processo seriam os trilhos do trem. A ação seria a locomotiva e a jurisdição seriam os comandos do maquinista. Você compra o seu ticket para a procedência com que você ajuíza a sua ação trabalhista. Eu realmente to no meio do caminho e falo: lamento, mas eu vou parar na improcedência. O maquinista vai guiar o trem na direção que ele tiver que guiar

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para chegar ao resultado, que vai ser a procedência, a improcedência ou a extinção sem resolução de mérito.

Conflitos de jurisdição:

Jurisdição é uma função estatal, pois ela se constitui no poder do estado e, em contrapartida, também, em um dever estatal. Na medida em que a autotutela é em regra proibida, o Estado assume a obrigação de solucionar os conflitos.

É exercida por quem a lei dispuser. Ela é de quem pode pelos limites estabelecidos pela lei.

É a função estatal, exercida por quem a lei dispuser, de aplicar o direito ao caso concreto.

Isso quer dizer que o judiciário não é um órgão consultivo. Eles podem até criar normas para o caso concreto. Normas no sentido do que a gente falou na primeira aula de princípios: resultado do dispositivo + interpretação = norma jurídica. Podem, na justiça do trabalho, incidios coletivos eventualmente criar normas decorrentes da sentença normativa. Mas não legisla. É bem diferente. A norma da sentença normativa é limitada à categoria que submeteu a demanda à apreciação. A norma criada pelo juiz é aplicada ao caso concreto e decorrente de um dispositivo pré-existente.

O juiz tem a missão de aplicar o direito ao caso concreto por meio de decisões coercitivas. O poder judiciário não é órgão de aconselhamento. Ele determina. Por isso que se diz que decisão não se discute, se cumpre.

Decisões definitivas: a decisão que emana do poder judiciário tem aptidão para ser a última palavra. Não quer dizer que ela vá ser a última palavra. Pode haver recurso, por exemplo.

Essas decisões seriam substitutivas da vontade das partes. O Estado atua proferindo a manifestação jurisdicional e a sua decisão passa a ser a vontade do processo. Não importa se a decisão do juiz é igual à decisão do autor. No momento em que a sentença é proferida, ela substitui a vontade do autor e substitui a vontade do réu.

Objeto: prevenir ou solucionar conflitos. Prevenção e solução de conflitos, ameaças ao direito ou de lesões ao direito. Ou, ainda, administrar interesses sociais relevantes. O que significa isso? Isso daqui é o uso da jurisdição voluntária. Aí vem aquele debate sobre se o conceito de jurisdição engloba ou não engloba a figura da lide. A lide é a pretensão resistida. Pra ter jurisdição você necessariamente precisa de pretensão resistida? Os processualistas mais tradicionalistas – Manuel Antonio Teixeira, no processo do trabalho – vão dizer que jurisdição é daqui pra cima. A lide não é jurisdição. Essa nomenclatura de jurisdição voluntária é imprórpia. São só atos administrativos exercidos pelo magistrado, assim como você tem atos jurisdicionais exercidos pelo poder executivo. Mas jurisdição propriamente dita não é. Ocorre que a nossa lei reconhece a jurisdição voluntária. E chama-a de jurisdição. Não adianta a gente ficar querendo purificar o conceito ao máximo. A gente dificulta quem tá aprendendo e se engessa no passado. Então, hoje, a maioria dos conceitos de jurisdição vai englobar, também, o exercício da jurisdição voluntária. Mas isso é uma questão teórica. Na prática não vai mudar nada.

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Pra finalizar, daqui pra frente começamos a estudar jurisdição processual trabalhista. A jurisdição é una. Ela se divide em trabalhista, federal, estadual, comum, pra fins didáticos. Ela é una e só é vinculada ao território.

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Competência da Justiça do Trabalho

A competência envolve não só competência no que tange a regras internas (regras que põe “ordem na casa”) como também os limites externos à atuação jurisdicional trabalhista.

Competência nada mais é do que uma forma de otimizar e organizar a Jurisdição. Assim, você pega a Jurisdição, “o bolo”, e o fatia em parcelas de competência. Mas qual seria o objetivo em parcelar a competência? O objetivo é fazer com que a Justiça seja melhor, no sentido de proporcionar um julgamento mais justo, célere e eficaz; por isso se divide a Jurisdição trabalhista, comum, federal. São formas que você tem de dividir a Jurisdição e especializar o magistrado para que ele saiba melhor e com mais profundidade o tema que vai julgar. Também dividimos a jurisdição em parcelas territoriais para fazer com que o acesso a Jurisdição seja mais fácil, mais pratico, colocando o órgão jurisdicional mais próximo ao local. Ou seja, existem varias formas de dividir e organizar a casa e tudo isso esta regulamentado nos estudos de competência; é isso que vai definir: qual a medida da Jurisdição passada para cada juiz que vai julgar, é o que diz se o magistrado que está sentenciando o processo poderá exercer ou não a jurisdição naquele caso.

Então a Jurisdição, ou melhor, a Competência se limita primeiro por fatores internos (os próprios fatores que limitam a Jurisdição – onde há Jurisdição, há competência. pode não ser a sua competência, qual seja, pode haver uma parcela da Jurisdição que não tem competência para tal, mas jamais haverá competência sem que haja por trás a jurisdição). Então, em não havendo Jurisdição, portanto, não haverá Competência e os limites impostos na Jurisdição são os limites impostos à competência, por corolário. Já os limites externos da competência são (i) as soberanias estatais onde o estado brasileiro puder “colocar a mão”, ele terá competência; (ii) se limita também por convenções ou tratados internacionais assinados pelo Estado Brasileiro que limitem a sua Jurisdição; (iii) por qualquer outro motivo de interesse nacional de se submeter a decisões que não proferidas por seus órgãos jurisdicionais. Quando falarmos sobre unidade da Jurisdição, veremos que isso não se confunde com o poder ou não poder julgar casos que tenham ocorrido fora do

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Brasil; se pode ou não julgar entes estatais, organismos protegidos por tratados internacionais que me impedem de exercer a Jurisdição.

Assim, três são os fatores externos que limitam a Jurisdição: (a) soberania de outro Estado que não me permite julgá-lo dentro das minhas bases; (b) alguma proteção recebida por algum órgão internacional por meio de tratado ou convenção internacional assinados pelo Estado brasileiro; (c) ou alguma outra razão que leve o Estado Brasileiro a limitar sua soberania. Já os limites internos que limitam a Competência seriam aquelas regras de “organização da casa”, se limita a competência internamente para organizar a Jurisdição; então verdadeiramente segmenta-se a Jurisdição (fatia-se o bolo em parcelas), não limita a atuação Jurisdicional, mas sim limita a atuação do ente que exerce o cargo de dizer o direito (ex. não permite que o magistrado trabalhista mande para cadeia o homicida) – especializando-se a Jurisdição para que o provimento seja mais eficaz, adequado.

As regras de competência interna são encontradas (fontes da competência interna):

(primeiramente) Constituição Federal que estabelece: - art. 102 a competência do STF

- art. 105 a competência do STJ

- art. 114 a competência da J. Trabalho

- art. 108 e 109 a competência da J. Federal

- art. 121 a competência da J. Eleitoral

- art. 124 a competência da J. Militar

- art. 125 § 1 a competência residual da J. Estadual

Leis processuais (em especial no CPC e na CLT na sua parte processual)

Leis de organização Judiciária

(muito comum) Regimentos internos dos tribunais

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Essas regras de competência elas vão ditar como o juiz deve proceder ao receber um processo (orientar o magistrado). Então, primeiramente, a competência pode ser exclusiva ou concorrente, e o que significa? Se eu digo: quem deve julgar os dissídios trabalhistas é o juiz do trabalho, significa que estou dando ao juiz do trabalho a competência para julgar e ponto. Por melhor que seja o juiz estadual, federal, ainda que ele tenha sido juiz do trabalho e saiba muito a respeito da matéria, regras de competência devem ser cumpridas. Se eu disse que a competência é exclusiva do juiz do trabalho, eu não posso atribuí-la a outro órgão. Se eu digo que a competência do juiz do trabalho é daquele juiz que atua no local da prestação do serviço do empregado, eu digo que quem deve julgar é o juiz que atua no local da prestação de serviço do empregado, é a regra do art. 651 da CLT. A competência da Vara para julgar é a da Vara do local da prestação do serviço do empregado; então, se ele prestou serviço em Angra dos Reis a Vara que deve julgar é a de Angra dos Reis, essa competência é exclusiva. Mas eventualmente, eu posso entender que algumas atividades demandam que mais de um juiz possa apreciar a questão, hipótese do §3º do art. 651 que fala sobre atividades transitórias (panorama geral: atividades transitórias como a circense que têm por natureza essa migração, essa evolução territorial, podem ser julgadas por mais de um juiz do trabalho, juízes de competência de territórios distintos; isso é o que chamamos de competência concorrente, portanto um quanto o outro, ao mesmo tempo, podem julgar a demanda).

Alem desse tipo de divisão, temos a distinção entre competência absoluta e competência relativa, esse tipo de divisão é muito importante para pautar o magistrado na evolução do processo. A competência absoluta é aquela que vai visar, preponderantemente, a interesses públicos em razão de sua importância. Já a competência relativa visa, preponderantemente, a interesses privados (ela privilegia interesses públicos, mas da maior valor a interesses privados – como é o caso da competência territorial: posso até, eventualmente, dotar de competência o magistrado de Angra para julgar o caso em que a relação de trabalho evoluiu em Angra, mas se o empregado já tiver se mudado e ajuíza a ação no Rio de Janeiro, e a outra parte não se incomodar, o caso vai poder se processar no Rio. Isso não quer dizer que o juiz do Rio tenha competência concorrente, em regra quem julga é o de Angra, mas como essa regra esta privilegiando interesse mais privado do que

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público, eventualmente, se as partes em seus movimentos processuais - um ajuizando no Rio e o outro não se manifestando - quiserem que o processo corra no Rio, já que se prestigia interesses dos particulares preponderantemente, pode o processo correr no Rio).

Enfim, os interesses prestigiados para a competência relativa são os interesses preponderantemente privados, os interesses prestigiados para a competência absoluta são preponderantemente os interesses públicos, do Estado. E por isso, a sua arguição é diferenciada: a competência (ou melhor dizendo incompetência) absoluta poderá ser arguida a qualquer tempo e qualquer grau de jurisdição; não tem regra própria, pode ser por petição, por recurso, pode ser na contestação, nas contrarrazões, porque ela pode até ser reconhecida de oficio. Ao contrario da incompetência relativa. A incompetência relativa na Justiça do Trabalho ela é a territorial (escolhida no momento em que se ajuíza a ação), o autor manifesta sua escolha ao determinar o local onde ajuíza a ação. O réu, por sua vez, no momento da contestação ele vai ter a oportunidade de concordar ou não com esse ajuizamento – os interesses preponderantemente são os particulares, mas também a regra de competência relativa visa a prestigiar interesses públicos – então eu posso, no momento da minha contestação me manifestar concordando ou não concordando (no prazo da resposta do réu por meio de exceção de incompetência relativa – feita em peça apartada) com a competência escolhida pelo autor.

Uma vez reconhecida incompetência absoluta, ela é tão grave que qualquer ato de decisão que tenha sido proferido no processo será reputado nulo e ainda que você queira aproveitar ao máximo os atos processuais, os atos decisórios não terá como aproveitar. Ao contrario da incompetência relativa, nesse caso, como se prepondera interesses particulares, eventuais decisões proferidas são validadas e simplesmente prosseguem – daquele momento em diante vai ser remetida ao juiz competente que passara a julgar a demanda.

Diferença entre incompetência relativa e absoluta então é que os atos decisórios, na incompetência absoluta são reputados nulos e na incompetência relativa não são reputados nulos, pois os autos são remetidos ao juiz competente desde que toda e qualquer matéria que constar na ação seja de incompetência do juiz que vier a apreciar a questão – ou seja, na J. do Trabalho é muito comum ações com

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acumulação objetiva (vários pedidos cumulados na mesma ação), dentre esses pedidos pode ser que uns sejam de competência do juiz do Trabalho e outros não: se todos os pedidos forem de competência do juiz ele segue julgando o processo, se você tiver todos os pedidos de incompetência do magistrado ele passa o processo ao juiz competente (podendo acontecer na irregularidade territorial, a incompetência não tem a ver com os pedidos e sim com o próprio órgão jurisdicional englobando a integralidade da ação e pode acontecer quanto a matéria que pode ser parcialmente de sua competência ou não – por exemplo: um reclamante ajuiza uma ação demandando 13º salario, férias e que seja mandado seu empregador para prisão pois elo descumpriu normas trabalhista e crime contra organizaçãodo trabalho; por maior raiva que se tenha do empregador não vai conseguir cumular isso numa demanda pois enfrentara incompetencia do juiz do trabalho para julgar demandas desse genero > juiz do trabalho: se mandar o processo integralmente para o juiz criminal outro problema surgira pois tem pedido de sua incompetencia.

Assim, não há como “cortar o processo pela metade” > quando o juiz enfrenta um processo em que ele tenha competencia parcial para julgar, ele julga aquilo que é de sua competencia, sem interessar se isso sera porção maior ou menor da demanda ( pois o juiz não pode se furtar a julgar), o que for de sua competência ele julga com resolução de mérito e o que não for ele extingue sem resolução do mérito. Então, essa regra de enviar os autos ao juiz competente só funciona quando a incompetência é integral, quando a incompetência parcial você julga o que é de sua competência e extingue sem resolução do mérito aquilo que não é de sua competência.

Critério de modificação competência quando há competência absoluta e relativa: a competência ou a incompetência absoluta prestigia interesses públicos, sendo muito importante. Portanto, ela não admite critério de modificação pela vontade das partes. Em razão de um órgão jurisdicional extinto, modificação constitucional de competência, enfim, existem varias formas de modificação desta competência, mas não por vontade das partes. O que já pode acontecer com a competência relativa naquele exemplo que eu dei da competência territorial em que você ajuíza a ação no Rio tendo trabalhado em Angra e o réu não se opõe, o processo segue no Rio mesmo que a ordem da CLT seja que deve ocorrer no local de realização do serviço.

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Absoluta RelativaInteresses prestigiados

Preponderantemente públicos

Preponderantemente privados

Argüição, oportunidade

A qualquer momento por qualquer das partes ou de ofício

No prazo da resposta do réu, pelo réu

Modalidade de argüição

Não existe forma especial

Exceção em peça apartada

Efeitos Reconhecida, autos enviados ao juiz competente. Atos decisórios nulos

Autos enviados ao Juízo competente. Atos decisórios aproveitados

Modificação Não se altera por vontade das partes

As partes podem modificar a regra

A competência se divide em três critérios elementares: objetivo (que envolve a matéria, a pessoa e o valor), territorial (território), funcional (também conhecido como hierárquico ou interno aborda a função do órgão jurisdicional).

A competência quanto à matéria trabalhista é definida basicamente no artigo 114 da CF, são as matérias que o juiz do trabalho pode julgar. Leva em conta, portanto, a natureza da relação subjetiva em analise. Então que matérias podem ser julgadas pela Justiça do Trabalho: regra geral, as matérias previstas no artigo 114 da CF que envolvem relações decorrentes ou ações decorrentes da relação de trabalho. Que são mais especificadas, mas hoje já anacrônicas, no artigo 652A I da CLT. Ela em regra é absoluta e não admite exceção (matéria trabalhista é trabalhista e ponto final), regra artigo 111 do CPC (matéria é uma competência absoluta).

A competência quanto à pessoa não existe na Justiça do Trabalho. Se determinada pessoa figurar no processo, o processo devera ser levado para outra Justiça ou para determinada Justiça, se tem muito isso na JF (Artigo 109 da CF – em que a União, entidade autárquica ou empresa publica federal forem interessadas). Se a União figurasse no processo trabalhista, o processo deveria ser encaminhado à JF, mas isso não acontece, pois a própria CF prevê uma exceção: “exceto as de falência e as de acidente de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho”. Portanto, para a JT a matéria atrai

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a competência sobre a divisão de competência quanto a pessoa, ou seja, não tem processo que será distribuído remetido para JT por conta da interferência de determinada pessoa, não há ninguém que faça o processo ser remetido para a JT em razão de sua situação processual. E mesmo nas causas que há competência especial quanto a pessoa, a matéria trabalhista atrai; portanto, você não tem competência quanto à pessoa no processo do trabalho, mas ela é absoluta pois não admite exceção. O que acontece aqui é que a matéria precede a pessoa.

Competência quanto ao valor são hipóteses em que o valor da causa determina que órgão jurisdicional terá que processar e julgar a demanda, muito comum nos Juizados Especiais. No processo do trabalho isso não existe. Ela é uma competência, em regra, relativa como previsto no art. 111 do CPC, porem pode se tornar absoluta como no exemplo dos Juizados especiais Federais, se a causa for de ate 60 salários mínimos a causa vai ter que obrigatoriamente cair no JEF, mas no processo do trabalho ela não existe porque valor no processo do trabalho determina rito e não competência (“as causa de ate 40 salários mínimos serão tramitadas pelo rito processual sumaríssimo”.) Não há juiz especializado para julgar demanda trabalhista em razão do valor da causa, portanto, o valor da causa não determina a competência no processo do trabalho.

Competência territorial, em regra é relativa, e é o exemplo clássico de competência relativa no processo do trabalho. É a regra de que a demanda trabalhista deve ser julgada pelo órgão jurisdicional, órgão que tenha jurisdição no local da prestação de serviço. Ela ate pode ser absoluta é o que acontece nas ações civis publicas em que a competência é determinada pelo local do dano. É o que acontece no artigo 95 do CPC “as ações fundadas em direitos reais sobre imóveis tem como foro o local da situação da coisa”, pode acontecer na esfera trabalhista como o caso do zelador (mora onde trabalha e é mandado embora não saindo da sua casa, Ação de reintegração de posse de competência trabalhista. Mas o que acontece é que, normalmente, esse tipo de competência é pouco comum na prestação de serviço. Então em regra é relativa podendo ser absoluta.

Por fim, a competência funcional ou hierárquica ou interna é absoluta e não admite exceções. A competência funcional é exatamente a competência da função do órgão jurisdicional analisada dentro de um processo, uma cadeia evolutiva processual; ou seja, a vara do trabalho tem competência funcional para processar e julgar

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as demandas trabalhistas e dissídio individual (as ações individuais trabalhistas tem competência originaria a vara do trabalho no seu julgamento); os tribunais têm competência revisional (para julgar recursos ordinários de sentenças proferidas pela vara do trabalho). Essa divisão é bem esmiuçada nos regimentos internos dos tribunais, em certo grau pode ser encontrada na CLT, na CF, mas o regimento interno organiza bem esse tramite e esse procedimento. É uma competência de “decoreba”.

Quando você determina a competência: no momento em que você estabelece quem é o juiz competente. Em regra a competência é determinada no momento do ajuizamento da ação, é quase isso. A competência, na verdade, é determinada pela situação fático jurídica do momento do ajuizamento da ação. A situação fático jurídica existente (no momento em que você ajuíza a ação) que determina a competência. Por que não é exatamente no momento do ajuizamento da ação? Porque pode haver discussão e a pessoa recorrer; agora uma vez definido o processo volta a sua origem, ou não, e vai ser processado dentro daquela regra de competência. Então o que determina não é exatamente o ajuizamento da ação, mas a fotografia daquele momento fático jurídico que vai determinar. Por exemplo, há uns anos atrás a JT não tinha competência para julgar ações de acidente do trabalho, quando se ajuizou a ação, proposta no cível, ela prossegue. No meio do caminho, a JT passou a ter competência para julgar a ação. O que se faz com aquele processo? Em regra a fotografia fático- jurídica da oportunidade do ajuizamento da ação me diz que ajuizou o processo numa época em que a Justiça Cível tinha competência, mas no meio do caminho ela deixa de ter. Essa competência quanto à matéria é absoluta, seu eu deixo de ser competente, em regra, os atos decisórios são nulos, mas eu vou anular o processo por conta disso? Não. Porque essa é a regra da perpetuação da Jurisdição , a fotografia no momento que ajuizou a ação se perpetua. Uma vez definida ‘definitivamente” a competência ela se perpetua, prossegue ate o final do processo (art. 87 CPC). As regras de competência absoluta determinam, normalmente, uma quebra dessa regra de perpetuação da jurisdição; ou seja, se em determinado momento a competência absoluta (no caso, quanto à matéria) é alterada, eu posso quebrar a perpetuação da jurisdição. Faz-se assim a seguinte concessão: adapto mas não anulo, então se pode remeter os processos da JC para a JT. E assim efetivamente aconteceu, no momento em que a JT passou a ter competência para julgar demandas de acidente de trabalho, a JT fica feliz assim como a JC. Mas como fazer isso? Não tem regra legal que disponha sobre o assunto, assim os juízes fizeram o seguinte: criaram norma para a

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hipótese (a luz do dispositivo da CF e da CLT) que se converte na Sumula 367 STJ (não alcança os processos já sentenciados). Então, primeiramente, a situação fático jurídica do momento do ajuizamento da ação é determinante para se definir a competência; uma vez definida ela se perpetua (vai até o final sendo julgada naquele órgão que tinha competência para julgar a ação); podendo ser excepcionada em situações de alteração de competência absoluta (EC 45) e situações de extinção do órgão jurisdicional.

Quem define a competência é o próprio juiz para quem a causa é ajuizada. Ao receber a demanda ele pode ser incompetente, mas ele tem a competência mínima de auferir a sua incompetência; chamada regra mínima de competência. Isso é como que uma regra geral de competência, a partir daí evoluímos para as regras de competência trabalhista.

Falamos em limites externos da jurisdição, é a chamada competência internacional. Artigo 114 da Constituição Federal:

Compete a JT processar e julgar:

I) as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo”Posso julgar assim o Estado? Se a competência abrange os entes externos, e art. 651 §2º da CLT:

“a competências das varas do trabalho estabelecidas nesse artigo estende-se aos dissídios ocorridos em agencia ou filial no estrangeiro, desde que o empregado seja brasileiro e não haja convenção internacional dispondo em contrário”

Assim pode a JT julgar ações de relação do trabalho ocorridas no estrangeiro? Art. 88 CPC estabelece alguns critérios que ajudam na interpretação

“ É competente a autoridade judiciária brasileira quando:

I) o réu qualquer que seja sua nacionalidade estiver domiciliado no Brasil II) no Brasil tiver de ser cumprida a obrigaçãoIII) a ação se originar de fato ocorrido ou de ato praticado no Brasil”

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Como se resolvem os conflitos que podem ter ocorrido fora de território brasileiro? Você pode ter sido contratado por uma empresa que tem filial no Brasil, contratado “lá para trabalhar lá” e depois de um ano veio morar aqui. Enfim, pode a JT julgar tais demandas? Em parte pode e em parte não. Situação das partes: quando pode julgar demanda cujos fatos transcorreram fora do Brasil? Primeiramente o autor deve ser brasileiro ou estrangeiro residente no Brasil (art.5º CF), alem disso o réu tem que ter domicilio no país seja aqui a matriz ou a filial (art. 81 I CPC c/c 651 §2º CLT). Quanto à obrigação: se tiver que ser cumprida no Brasil a JT será competente; se não tiver que ser cumprida no Brasil: sendo empregado contratado aqui e remetido para o exterior a JT é competente; se o fato pretérito ocorreu no Brasil a JT é competente. > Contratou o empregado aqui e trabalhou aqui, JT é competente. Contratou o empregado aqui e trabalhou fora do Brasil, o réu tem que ter domicílio aqui o autor tem que ser brasileiro ou estrangeiro residente. Contratou fora e trabalhou fora, a JT não é competente ainda que o réu tenha filial no Brasil.

Isso nada tem a ver com o direito a ser aplicado, isso tem a ver com poder ou não de julgar a questão já que eventualmente o magistrado brasileiro vai julgar a demanda e aplica a lei francesa. O problema é quando presta serviço fora, pois ate onde posso ir com minha jurisdição já que a relação é de fora do Brasil. Para finalizar a competência internacional é concorrente prevista no artigo 90 do CPC.

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Processo do Trabalho Aula 8 13-04-2012

Processo do trabalho – aula 08 – 13/04/2012

Competência da justiça do trabalho

Imunidade de Jurisdição: Quem está livre dos tentáculos da jurisdição trabalhista? A imunidade de jurisdição vai se fundamentar basicamente na soberania estatal, nos interesses do Estado soberano em não julgar determinadas situações. Ela significa estar imune do poder-dever do Estado dizer o Direito, é não se sujeitar à apreciação jurisdicional. Essa imunidade, essa não sujeição à jurisdição, ela se divide em duas formas: não estar sujeito a ser julgado e não estar sujeito a ser executado. Ela é quanto ao procedimento de conhecimento e ao procedimento de execução. Aí você pega o artigo 114 da CF que fala da competência da justiça do trabalho e lê o inciso I: “Art. 114 - Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: (Alterado pela EC-000.045-2004).I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;...”

Se os entes de direito público externo estão imunes à jurisdição, por que a Constituição Federal prevê a possibilidade da Justiça do Trabalho julgar esses entes? Em primeiro lugar, quem são esses entes? São os Estados estrangeiros, em geral, e seus chefes, funcionários ou agentes diplomáticos como o cônsul, embaixadores, funcionários consulares e órgãos ou organismos internacionais que podem estar protegidos por tratados ou convenções internacionais que o Brasil tenha ratificado e absorvido para o seu ordenamento jurídico. Os primeiros limitados pelo próprio exercício da soberania nacional e os organismos internacionais, limitados pelo próprio interesse do estado em aderir e ratificar tratados que prevejam a impossibilidade de sua jurisdição alcançar esses organismos. ( ex: ONU, UNESCO, etc.). Então, se eles estão protegidos pela imunidade de jurisdição, por que a Constituição prevê a competência da Justiça do Trabalho de processar e julgar esses entes? Porque essa imunidade de jurisdição pode se sujeitar a renúncia. O órgão pode renunciar à sua imunidade de jurisdição. Como ele renuncia? A

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renúncia precisa ser expressa. Não existe renúncia tácita. Nenhum ato do ente estatal ou do organismo internacional protegido pode ser interpretado com renúncia tácita. Ela pode ser expressa uma vez só? Não! Ela tem que se expressa por um procedimento de conhecimento, tem que ser expressa pro procedimento executório. Então, o órgão ou Estado soberano vai ter que renunciar 2 vezes para ter, eventualmente, seus bens executados. Essa é a teoria da imunidade de jurisdição. Só que para as relações de trabalho desenvolveu-se uma teoria baseada na Convenção europeia sobre a imunidade estatal de 1972, baseada porque a convenção é europeia e não sulamericana, portanto, o Brasil não ratificou. Ela prevê que imunidade de jurisdição não é oponível a relações de trabalho, quando aquele trabalho for prestado no Estado que pretende julgar aquela demanda. No Brasil, baseando-se nisso, criou-se uma teoria chamada “teoria da relatividade ou da imunidade jurisdicional relativa.” Ela foi sendo desenvolvida pela jurisprudência e pela prática do dia-dia. Ela diz: “Olha, você tem imunidade jurisdicional, mas não para todo e qualquer ato. Sua obrigação aqui é a representação diplomática, é a representação do seu Estado. Se você não tá atuando nesse sentido, você não tem imunidade. Então, toda vez que você fizer um ato típico para um particular como por exemplo contratar um empregado, você não tá praticando um ato de representação que é conhecido como ato de império. Portanto, quando você contrata o particular, quando desce ao nível do particular para contratar, pratica um ato de gestão e esse ato não está protegido pela imunidade jurisdicional.” Encontramos exemplo de atos de império no artigo 3º da convenção sobre relações diplomáticas de Viena10, têm vários exemplos. Por exemplo, representar o Estado acreditante perante o Estado acreditado, proteger no Estado acreditado os interesses do Estado acreditante e de seus nacionais, dentro dos limites permitidos pelo direito internacional. Ou seja, atos vinculados à atividade de representação diplomática. E os atos de gestão? Para nossa área os que importam 10 Artigo 3         As funções de uma Missão diplomática consistem, entre outras, em:         a) representar o Estado acreditante perante o Estado acreditado;         b) proteger no Estado acreditado os interêsses do Estado acreditante e de seus nacionais, dentro dos limites permitidos pelo direito internacional;         c) negociar com o Govêrno do Estado acreditado;         d) inteirar-se por todos os meios lícitos das condições existentes e da evolução dos acontecimentos no Estado acreditado e informar a êsse respeito o Govêrno do Estado acreditante;         e) promover relações amistosas e desenvolver as relações econômicas, culturais e científicas entre o Estado acreditante e o Estado acreditado.         2. Nenhuma disposição da presente Convenção poderá ser interpretada como impedindo o exercício de funções consulares pela Missão diplomática.

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são basicamente os atos de contratação. Contratação de serviço, contratação de empregado, Contratação até de domésticos pelo cônsul ou embaixador. Então, esses atos de gestão não estarão imunes à jurisdição. Mas imunidade em que sentido? Esses atos de gestão não estão protegidos, apenas, pela imunidade de julgamento. Então, eu vou poder ser julgado como um representante de um Estado soberano, mas não adianta nada, pois não poderei ser executado. O consulado do Japão, por exemplo, pode contratar um empregado, não pagar verba, apresenta sua imunidade jurisdicional e o juiz do Trabalho julga, condena, o consulado do Japão não paga, o Juiz do trabalho senta, abraço o empregado e os dois choram juntos. Então, para que serve isso, caramba? Para efeito moral e vê se o consulado de bom grado renuncia a imunidade de jurisdição para execução e paga. A exceção a essa imunidade de execução é a renúncia expressa e tem outra que costuma ser dada como exemplo, mas ela é relativa porque não é uma ausência à imunidade de execução em si, é uma ausência de imunidade de jurisdição em geral que é a hipótese de ter uma questão completamente desvinculada da representação diplomática como no caso de uma empresa pública que se instala em outro país e lá ela tem bens, contrata empregado... A empresa é do estado, os bens pertencem ao Estado, mas ela pode ser executada, pois os bens não estão vinculados à missão diplomática.

Um OJ recentíssimo do TST para mexer nessa teoria, OJ 416 da SPDI I11, subsessão especializadas em dissídios individuais I do TST. Ela está dizendo que isso aqui( imunidade de jurisdição) vale para o Estado estrangeiro e que não vale para órgão ou organismo internacionais desde que isso esteja previsto nos tratados ou nas convenções internacionais. O fundamento aqui é que se o tratado fala que o órgão possui imunidade absoluta, essa teoria que funciona para onde não tem tratado não vale.

Competência material da Justiça do Trabalho

11 SDI-1 OJ 416 – Imunidade de jurisdição. Organização ou organismo internacional. (Divulgada no DeJT 14/02/2012) As organizações ou organismos internacionais gozam de imunidade absoluta de jurisdição quando amparados por norma internacional incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro, não se lhes aplicando a regra do Direito Consuetudinário relativa à natureza dos atos praticados. Excepcionalmente, prevalecerá a jurisdição brasileira na hipótese de renúncia expressa à cláusula de imunidade jurisdicional.

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Toda vez que vocês ouvirem essa expressão recorram ao artigo 114 da CF. Ele é o artigo mais importante sobre competência material da Justiça do Trabalho. Junto com ele, o artigo 652, a da CLT12. O 114 da CF é muito mais recente e amplo e possui a redação modificada pela EC 45 que ampliou a competência da Justiça do Trabalho sobremaneira. Como era antes? Falou em Justiça do Trabalho, falou em relação de emprego ou, uma exceção que existia na CLT, hipótese que há no artigo 652, III, de “pequena empreitada”. É o pintor contratado pra pintar uma parede da sua casa, um marceneiro para fazer um móvel. Esse cara não tinha uma relação de emprego, mas tinha competência a Justiça do trabalho pra julgar. Isso existia antes da EC e continua existindo depois da EC. Porém, depois da EC abriu-se o mundo trabalhista e Justiça do Trabalho passou a poder julgar relações de Trabalho. E aí se instaurou o caos porque ninguém até hoje conseguiu definir com tranquilidade o que significa uma relação de trabalho. Pra quem quiser se aprofundar no assunto, o Juiz do Trabalho chamado Fábio Ribeiro Gomes, doutor pela casa, escreveu um livro tentando definir o que seria uma relação de trabalho. Em geral, a jurisprudência e a doutrina convergiram para o determinado sentido: a relação de trabalho é a relação que tem trabalho pessoal em proveito de outrem, qualquer que seja esse outrem, pessoa física, jurídica ou mesmo ente sem personalidade jurídica. Se a relação é de trabalho deve haver uma atividade. Essa atividade é direta. Logo, ela não repousa em obrigações como é comum nos contratos de Direito Civil. Esse trabalho tem que ser pessoal o que significa que quem presta o serviço tem que ser pessoa física. Não existe prestador de serviço como pessoa jurídica na Justiça do Trabalho. E tem que ser em proveito alheio, o trabalho e não o produto do trabalho, não o resultado do trabalho. Definindo isso você tem todos os elementos para saber o que é uma relação de trabalho. E aí o que vai importar é saber se esses elementos estão presentes ou não. O inciso I do artigo 114 da CF diz o seguinte: “Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

12 Art. 652 - Compete às Juntas de Conciliação e Julgamento: (Vide Constituição Federal de 1988) a) conciliar e julgar: I - os dissídios em que se pretenda o reconhecimento da estabilidade de empregado; II - os dissídios concernentes a remuneração, férias e indenizações por motivo de rescisão do contrato individual de trabalho; III - os dissídios resultantes de contratos de empreitadas em que o empreiteiro seja operário ou artífice; IV - os demais dissídios concernentes ao contrato individual de traba

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I as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)”. O que quer dizer esse “oriundas”? Não compete apenas o trabalho prestado e não pago,mas qualquer direito que seja oriundo da relação de trabalho. Como, por exemplo, ações possessórias trabalhistas. O zelador que é contratado para trabalhar em um condomínio e no contrato de trabalho fica estabelecido que ele vai morar lá. O caseiro é outro exemplo. Esses contratos de moradia são vinculados à relação de emprego. Se você não precisar mais dos serviços do caseiro, mandá-lo embora e ele não quiser sair como é que se faz? A ação de reintegração de posse será impetrada na Justiça do trabalho porque a posse daquele imóvel é oriunda da relação de trabalho. Em alguns casos de greve, os trabalhadores ocupam as fábricas. Isso é um esbulho possessório que será levado à justiça do Trabalho porque ela é oriunda de uma relação de trabalho. E danos morais? Por muito tempo afirmou-se que a competência não poderia ser da Justiça do Trabalho porque esse era um assunto de Direito Civil. Porém, competência não tem nada a ver com o direito aplicado. Se houver uma relação de dano moral oriunda de uma relação de Trabalho, o empregador ofendeu seu empregado, na relação de emprego, a competência para julgamento será da justiça do trabalho. Exemplo interessante foi o caso do jogador do Fluminense que ajuizou ação contra a Panini, editora de álbuns de figurinha, por ter usado indevidamente sua imagem. A editora contestou alegando que o Clube havia autorizado a utilização da imagem. O caso foi parar no STJ que decidiu que a competência jurisdicional era da Justiça do Trabalho, pois a controvérsia era oriunda de uma relação trabalhista. Nesse caso é uma relação de emprego, mas poderia ser uma relação de trabalho também como uma contrato de empreitada.

Pergunta inaudível.

R: O problema é saber se a relação é pessoal. Por vezes é muito complicado determinar isso, é uma linha muito tênue.

Pergunta inaudível.

R: Boa pergunta, eu deveria ter falado disso. A relação de trabalho se difere da relação de emprego. Não há aqui para consideração da competência a necessidade da onerosidade. Eu posso fazer trabalho voluntário. Se ocorrer alguma controvérsia oriunda dessa relação ela será da competência da Justiça do Trabalho. Não há necessidade de

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onerosidade, subordinação jurídica e nem técnica. É preciso haver uma relação, um contrato de uma atividade, com uma pessoa física de proveito alheio e esse alheio pode ser qualquer pessoa.

Se a relação é de trabalho, ela é contratual. Pode ser expresso, tácito mas é contratual. Se ela ocorre no curso da relação contratual não há duvidas, a competência é a da justiça do Trabalho. Mas e se essa relação ocorrer antes de estabelecido o contrato e depois de recindido o contrato? Ela continua sendo da competência da Justiça do trabalho? Primeiro exemplo: ação contra um jornal que publicou classificado de emprego discriminatório. É da competência da JT? Tem relação de trabalho ali? Não. Vai ter? Com quem? Não sei. No final das contas o TRT entendeu que não era da Justiça do trabalho, mas eu (professor) tenho dúvidas. Quem atua nesse tipo de caso é o MP do trabalho e se ele ajuizar na Justiça Cível vai exorbitar sua competência. Será que o MPE ou o MPF vai meter a mão nisso? Talvez. Mas ficaria muito mais adequado que essa competência fosse da JT e ela é pré-contratual. Outro caso de lesão pré-contratual é o de promessa de emprego que não se cumpre. A justiça do trabalho tende a absorver esse tipo relação, mas desde que ela esteja diretamente vinculada a um contrato de trabalho que venha a ser formado. Imagine que você está a procura de emprego e entrega o curriculum a um empregador e este observando seu último vínculo de emprego resolve entrar em contato com seu antigo empregador. Seu antigo empregador passa péssimas informações de você, te chama de bandido e mau caráter. Essa situação é pós-contratual. Vejam, a JT possui a tendência de julgar mais pós-contratuais que ações na vigência dos contratos.

Acidente do trabalho: Normalmente gera divergências por confusão interpretativa. A JT, não é competente para julgar todo e qualquer fato decorrente do acidente de trabalho. Este resulta em vários fatos e em várias esferas. Pode resultar em crime, indenização previdenciária e em responsabilidade do empregador. Então, a JT possui competência para julgar a responsabilidade do empregador em qualquer fato que possua decorrência no acidente de trabalho. É igual ao caso do dano moral. Qualquer ato falho do empregador que tenha gerado o acidente. Então, o empregado pode postular indenização por danos morais, dano estético, danos patrimoniais, pensão vitalícia porque perdeu capacidade laborativa. Então, o empregado vai postular todos esses tipos de Direito e indenizações em face do seu empregador, mas o empregado também contribui

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indiretamente para o seguro contra acidentes de trabalho e tem direito de receber o seguro que tem natureza previdenciária. Se ele não receber, vai ajuizar ação contra o INSS e isso não tem nada a ver com a justiça do trabalho. Eventualmente, esse ato pode ser um crime de iniciativa privada e isso não tem nada a ver com a JT. Então, a JT é competente para julgar demandas oriundas de acidente de trabalho , como ações de Danos morais oriundas de relação trabalhista. Antes da EC 45 estas áreas eram de competência da Justiça Cível.

Danos em ricochete:

1 exemplo: O cara sofreu um acidente de trabalho e morreu. Deixou 2 filhas pequenas, uma esposa que dependia dele para criar as filhas e elas sofreram emocionalmente e financeiramente. Ele morreu por culpa da empresa. Trabalhava com rede elétrica, tinha que usar EPI, a empresa não dava e morreu eletrocutado. A culpa do ato é da empresa e ela tem responsabilidade de indenizar a esposa e os filhos. Ela causou danos indiretos à esposa e aos filhos, por isso é denominado danos em ricochete. Quem deve julgar isso? A relação de trabalho para o cara que morreu é induvidosa, mas a esposas e as filhas tinham relação de trabalho? A competência da JT pode ser estendida a esses familiares? Inicialmente o STJ disse que não. Eu falo do STJ porque sempre que houver uma controvérsia se a competência é da JT ou da Justiça Cível a última palavra é do STJ. Uma coisa são os familiares representando os empregados para receber direitos do empregado falecido. No caso aqui a demanda é em relação ao sofrimento dos familiares. A súmula 366 do STJ dizia: SÚMULA N. 366-STJ

Compete à Justiça estadual processar e julgar ação indenizatória proposta por viúva e filhos de empregado falecido em acidente de trabalho.

A JT contestava essa súmula afirmando que a competência de julgar a demanda principal era dela, logo os danos morais em ricochete deveriam ser julgados por ela também.

Com a EC 45 essa interpretação mudou, pois ela acrescentou o inciso IX ao artigo 114 da CF: “IX - outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei”.

Oriundas seriam relações mais diretas e recorrentes relações indiretas em que a competência se enverga em favor de

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situações que originariamente não teriam nada a ver com a relação de trabalho, mas dela são decorrentes.

Relação de consumo e relação de trabalho tem alguma coisa a ver? Vamos ao CDC, lei 8.078, artigo 2º: “Art. 2º - Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produtos ou serviço como destinatário final.”

Se for produto não há a menor dúvida de que a relação não é de trabalho. Eu compro uma geladeira no shopping, essa é uma relação de consumo, um contrato de compra e venda que afasta totalmente a relação de trabalho. Mas se a situação é outra? Vamos ao parágrafo 2º do artigo 3º ver o que é serviço: “§ 2º - Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.”

Aqui tá o ponto de confusão. Ele diz que serviço é toda atividade menos as decorrentes das relações de caráter trabalhista. Só que o CDC é de 1990 e a relação de caráter trabalhista antes da EC 45eram as relações de emprego. Então quando ele diz relações trabalhistas quer dizer relações de emprego. Só que a competência da JT é relação de trabalho + relação de emprego e a zona de controvérsia, a zona cinzenta se encontra na relação de trabalho. A única caracterização de serviço nesse inciso é a de que ele seja fornecido no mercado de consumo. Então, ele é pra alguém. E isso é muito próximo da relação de trabalho. Então, como eu as diferencio? Vamos lá no artigo 2º do CDC: “Art. 2º - Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produtos ou serviço como destinatário final.”

1ª tese: Pronto, é só saber se o cara é destinatário final. Se ele for é consumidor, se não for é uma relação de trabalho.

Ex: Se o padeiro me encomenda um doce e o revende para uma mulher. Minha relação com o padeiro é de trabalho e do padeiro com a mulher é de consumo.

E se eu tenho uma empresa e contrato um padeiro para fazer pães 3 vezes na semana na minha empresa? Eu sou o destinatário final do produto dele? Sim. Essa relação é de trabalho? Sim. Então se percebeu, ao longo do tempo, que esse critério é furada.

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2ª tese e atual: tudo que envolva relação de trabalho com pessoalidade na prestação de serviço e em proveito alheio é da competência da JT.

Essa tese gerou o Enunciado 64 do TST: “Competência da JT. Prestação de serviço pela pessoa física. Relação de consumo subjacente. Irrelevância. Havendo prestação de serviço por pessoa física a outrem, seja a que título for, há relação de trabalho incidindo a competência da JT para os litígios dela oriundos não importando qual solução de direito material será utilizada na lide.”

Então, eventualmente uma relação de consumo poderá ser julgada pela JT se for oriunda de relação de trabalho de pessoa física na prestação de serviço em proveito alheio. E isso bota em cheque outra questão: nas relações de consumo a hipossufiência está de um lado e nas relações de trabalho ela está de outro. O que isso significa? O princípio da proteção não reside dentro do processo do trabalho, ele é um princípio de direito material trabalhista. O processo do trabalho julgará conforme o direito material aplicado podendo deslocar o polo de hipossuficiência de acordo com o direito aplicado. Tanto uma demanda quanto outra será julgada pelo instrumento do direito processual do trabalho, mas de acordo com a relação jurídica material que se estabelecer, o juiz vai deslocar a proteção para um lado ou para o outro.

Relação do profissional liberal como cliente: súmula 363do STJ: “STJ Súmula nº 363 - 15/10/2008 - DJe 03/11/2008Competência - Processo e Julgamento - Ação de Cobrança - Profissional Liberal Contra Cliente    Compete à Justiça estadual processar e julgar a ação de cobrança ajuizada por profissional liberal contra cliente.”

Infelizmente, o STJ, que é o tribunal competente para julgar conflito de competências, baseado em sua súmula 363 tem decidido que a competência para julgar casos que envolvam profissionais liberais como clientes é da justiça comum não reconhecendo a relação de trabalho. Isso tem gerado problemas. Processos desse gênero caminham por todas as estâncias trabalhistas durante anos e quando chegam ao STJ são reportados à justiça comum para serem julgados desde o início. Isso é muito importante, cai em provas, exercícios... Atenção! O que era pacífico virou controvertido.

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Quadro:Competência da Justiça do Trabalho Entes da Administração Pública Direta, Indireta, União, estados, municípios e DF (art. 114, I, CF)

- estatutários- temporários- empregados públicos: regime CLTSTF: ADIN 3395 – AJUFE

Relação entre competência, pedido e causa de pedir

- Ações que envolvam o exercício do direito de greve

Súmula vinculante nº 23 / STF ações possessórias ações indenizatórias

- Ações sobre representação sindical (art. 114, III, CF)

SindicatoSindicato X Empresa

Empregado Conflitos: - intersindicais- intrasindicais- com empresas e trabalhadores

- Mandados de Segurança, habeas corpus, habeas data de matéria sujeita à jurisdição trabalhista (art. 114, IV, CF)

- Ações relativas às penalidades administrativas

- Execução de contribuições sociais decorrentes das sentenças que proferir (art. 114, VIII, CF) art. 195, I, a e II, CF

Aula:Como vimos na aula passada, a competência material da Justiça do Trabalho tem seu ícone exposto no art. 114, CF; é o diploma legal mais importante sobre competência para a Justiça do Trabalho. Falamos também de competência quanto à matéria, relações de trabalho e agora analisaremos todas as outras competências previstas no art. 114.

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: 

I as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;

II as ações que envolvam exercício do direito de greve;

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decorrentes

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III as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores;

IV os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data , quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição;

V os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, o;

VI as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho;

VII as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho;

VIII a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a , e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir;

IX outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei.

§ 1º - Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão eleger árbitros.

§ 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do  Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente.

§ 3º Em caso de greve em atividade essencial, com possibilidade de lesão do interesse público, o Ministério Público do Trabalho poderá ajuizar dissídio coletivo, competindo à Justiça do Trabalho decidir o conflito.

Começamos falando sobre as competências sobre relações de trabalho dos entes da Administração Pública direta, indireta, União, estados e municípios e Distrito Federal, conforme previsão no inciso I do art. 114.

Assim que a EC 45 saiu, essa foi uma das grandes dúvidas a se enfrentar: as relações do servidores públicos serão dirimidas pela Justiça do Trabalho ou não? A Justiça do Trabalho “abriu os braços” para receber essas demandas, o que não agradou os juízes federais, até porque havia por trás disso uma preocupação maior, uma vez que os juízes federais têm uma visão fazendária das demandas, enquanto os juízes do trabalho têm uma visão empregada, profissional. Então, haveria uma revisão de entendimentos muito grave.

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Baseado nessa preocupação, a associação dos juízes federais ajuizou uma Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 3395 no STF e foi deferida uma liminar, concedendo uma interpretação do inciso I conforme a Constituição, dizendo:

Basicamente, existem 3 tipos de pessoas que prestam serviços para a Administração Pública: os servidores concursados (estatutário), os servidores temporários (admitidos para atender a necessidades temporárias e de excepcional interesse público – art. 37, IX, CF _ ex.: o próprio professor é um servidor temporário, pois ele é contratado) e os empregados públicos, que são os empregados que são contratados pelo regime celetista, normalmente são os empregados de sociedades de economia mista ou de empresas públicas.

A questão era se todos esses 3 tipos passariam ou não para a competência da Justiça do Trabalho. A resposta a essa questão foi no seguinte sentido: tratando-se de um servidor público, regido pelo seu estatuto próprio, a competência não será da Justiça do Trabalho; em se tratando de um empregado público, regido pela CLT, ainda que tenha ingressado mediante concurso público, a competência é da Justiça do Trabalho.

Isso quer dizer que toda e qualquer postulação em face de ente da administração pública, ainda que não envolva o regime celetista, serão julgados por outras Justiças que não a Justiça do Trabalho? Aí nós teremos que “fazer um filtro” sobre o que está sendo pedido. Para entender questões de competência, você não tem que se

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preocupar com o fato, mas sim com o que está sendo pedido e a causa de pedir, especialmente o pedido.

Exemplos: se o empregado celetista da Adm.Pública alegar que tem direito a uma determinada verba estatutária e que na verdade ele deveria ser estatutário, essa competência não é da Justiça do Trabalho. Ou se o empregado entrar com uma ação contra o INSS na Justiça do Trabalho, requerendo o seguro referente a acidente do trabalho a competência também não é da Justiça do trabalho para julgar essa demanda.

Isso é importante para analisarmos uma questão muito comum na Justiça do Trabalho que são as ações que visam a responsabilidade subsidiária do empregador nos casos de terceirização que, por sua vez, é muito comum na Adm. Pública. Ex.: o empregado pede vínculo de emprego, parcelas trabalhistas que ele entende devidas pelo seu empregador e não cumpridas e subsidiariamente ele pede a responsabilidade daquele que tomou os serviços do seu empregador. A Administração poderá ter essa responsabilidade subsidiária? Sim, e essa relação é de competência da Justiça do Trabalho, como diz a Súmula 331, incisos IV e V do TST.

Súmula 331, IV e V:

IV- O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador, implica a responsabilidade subsidiária do tomador de serviços quanto àquelas obrigações, desde que haja participado da relação processual e conste também do título executivo judicial.

V- Os entes integrantes da administração pública direta e indireta respondem subsidiariamente, nas mesmas condições do item IV, caso evidenciada a sua conduta culposa no cumprimento das obrigações da Lei nº 8.666/93, especialmente na fiscalização do cumprimento das obrigações contratuais e legais da prestadora de serviço como empregadora. A aludida responsabilidade não decorre de mero inadimplemento das obrigações trabalhistas assumidas pela empresa regularmente contratada.

Portanto, se o pedido fizer referência ao seu vínculo de emprego original (ex.: 13º, férias), com condenação subsidiaria da Administração Pública, ainda que para aquela função que ele prestou todos os trabalhadores forem estatuários e a Adm.Pública irregularmente tivesse contratado um terceirizado, ele não vai conseguir postular a sua vinculação à Administração Pública, pela

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carência de concurso público, mas ele vai conseguir que a União, eventualmente, seja responsabilizada subsidiariamente pelos créditos trabalhistas e isso vai ser de competência da Justiça do Trabalho, pois o pedido foi direcionado ao seu empregador e subsidiariamente à Adm. Pública e aquilo que se postulou eram parcelas do regime celetista. Portanto, a Justiça do trabalho continua com competência para julgar as ações dos empregados públicos com regime celetista e continua sem competência para julgar as dos servidores estatutários.

- Ações que envolvam o exercício do direito de greve

A justiça do trabalho já tinha competência para as ações que envolvessem diretamente o exercício do direito de greve – é o famoso dissídio coletivo de greve. É ajuizado pelo patrão quando entende que o sindicato, representando os empregados da sua empresa excedeu, abusou dos seus direitos de paralisar. Aliás, o direito à greve é um direito coletivo (e não individual) dos trabalhadores de paralisar o serviço para obter melhores condições de trabalho, condições humanas, econômicas etc. Então, se eles abusarem do direito, caberia ao empregador, eventualmente até ao Ministério Público, caso haja paralisação de atividades essenciais, de ajuizar o famoso dissídio coletivo de greve.

Só que quando a Justiça do Trabalho recebeu essa competência, ela foi ampliada, porque ela versa sobre as relações de trabalho. Então, na verdade, o inciso II fala sobre ações que envolvam o exercício do direito de greve. Mas aquilo que envolve o exercício de greve não é só a greve em si, mas todos os contratempos que dela decorrem. Ex.: ações possessórias que decorram do exercício do direito de greve. É muito comum na greve dos bancários os chamados interditos proibitórios na justiça do trabalho, baseando-se no argumento de que quem quiser trabalhar, ou seja, furar a greve, pode trabalhar. Na pratica, a entrada ao local de trabalho fica bloqueada para todos (empregados, clientes, diretoria). Aí, na verdade, você não está somente exercendo o seu direito de greve, você está impedindo o empregador de adentrar no seu estabelecimento, então você está esbulhando a posse. Esse esbulho possessório pode ser afastado pelo interdito proibitório, cominando uma obrigação de fazer de não impedir o acesso às agencias bancárias, por exemplo. Então, esse tipo de ação é uma ação possessória que estaria dentro da competência da Justiça do Trabalho por envolver o exercício do direito de greve. Súmula Vinculante nº 23 do STF, que fala

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sobre o exercício das ações possessórias na Jusiça do Trabalho.

Ex2.: Outro tipo de ação: ações que resultem do exercício abusivo do direito de greve. A paralisação pode ser abusiva e provocar prejuízos consideráveis tanto ao empregador, quanto a um terceiro. Assim, tanto o empregador, quanto terceiros podem ajuizar ação para se ressarcir desses prejuízos. Porém, ajuizar uma ação contra o trabalhador sai da justiça do trabalho (ex.: se você acha que o prejuízo foi causado devido a um empregado específico – uma carga no caminhão pereceu, porque a via foi fechada pelo trabalhador x), porque greve é movimento coletivo, então você tem que ajuizar contra o sindicato. È uma ação coletiva passiva, em que a coletividade figura no polo passivo e será vinculada aos efeitos da decisão. Portanto, você ajuíza a ação, buscando a indenização devida pelo exercício abusivo do direito de greve, podendo ser ajuizada tanto pelo empregador que teve um prejuízo direto, quanto por um terceiro qualquer que tenha sido prejudicado. Então, nesse caso, a competência também será da justiça do trabalho.

Obs.: essa competência do terceiro que sofre danos é relativa. Há quem entenda que, por não ser empregador, você não poderia ajuizar essa ação na Justiça do Trabalho. Porem, a competência trabalhista não se define quanto à pessoa e sim quanto à matéria. E, nesse caso, a matéria é decorrente de uma relação de trabalho e, alem disso, ela envolve o exercício do direito de greve – dois fundamentos pelos quais a Justiça do Trabalho tende a aceitar essa competência com um certo alargamento. Opinião do professor: “isso me parece lógico, pois a Justiça do Trabalho é mais bem aparelhada e habituada a julgar exercício abusivo do direito de greve. Então, o magistrado que for julgar essa ação não terá só o foco nos prejuízos causados, mas também no abuso do direito de greve.”

Pergunta: Casos decorrentes de servidores públicos em greve, em que a competência é da Justiça Comum e não da Justiça do Trabalho.

Resp.: Essa é uma boa pergunta. A greve dos servidores públicos normalmente não é judicializada na Justiça do Trabalho, em regra. Na verdade, isso aqui é uma especialidade do inciso I, que fala de relações de trabalho, desde que não envolvam relações de trabalho para a Adm.Pública pelo vínculo estatutário.

- Ações sobre representação sindical (art. 114, III, CF)

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Antes da EC 45, o sindicato figurava, por incrível que pareça, na Justiça do Trabalho em duas oportunidades: para representar a classe em demandas coletivas (que eram os dissídios coletivos ou eventualmente ações civis públicas) ou para prestar assistência judiciária gratuita para os membros de sua categoria, associados ou não. E aí se o sindicato quisesse discutir com outro sindicato sobre representatividade sindical ele ia pra onde? Para a Justiça Comum, por mais absurdo que isso possa parecer.

E a gente sabe que o nosso sistema sindical é bastante delicado; tem o princípio da unicidade sindical dentro da mesma base territorial, não pode haver dois sindicatos que tratem da mesma atividade, seja patronal, seja profissional, conforme previsto na Constituição. Isso ocorre porque o sindicato aufere muita receita “de graça”. Basta você se constituir como sindicato naquele município que, automaticamente, você recebe a chamada contribuição sindical, que é compulsória. Portanto, uma vez estabelecido, todos os sindicatos daquela categoria naquela localidade terão que doar 1 dia do seu trabalho ao sindicato. Isso gera uma enorme briga por representatividade.

Essa briga antes era processada e julgada na Justiça estadual. A partir da EC 45, ela passou a ser processada e julgada na Justiça do Trabalho. Então, essa competência sobre representação sindical é ampla e passou a incluir não só as hipóteses em que o sindicato pode ajuizar ação no lugar dos membros de sua categoria, como também as hipóteses em que o sindicato postula interesses do próprio sindicato. Então, a partir daí, os interesses do próprio sindicato passaram a ser defendidos na Justiça do Trabalho. Ações de representação sindical passaram a ser julgadas na Justiça do trabalho, ações de sindicatos contra empresas ou do sindicato contra eventuais empregados (ou do empregado contra o sindicato) também. Então, a competência da Justiça do Trabalho abarca os litígios entre empresa e sindicato, os litígios intersindicais (entre sindicatos) e os litígios intrasindicais (dentro da própria relação associativa do sindicato é aquele empregado que foi impedido de votar na assembleia, é aquela ata de eleição que é viciada, é o empregado que é impedido de contribuir, nos casos de contribuições voluntárias, aquele que tem cerceado seu direito de votar, de participar). Isso é muito importante, apesar de a CF esclarecer pouco sobre esse assunto.

- Mandados de Segurança, habeas corpus, habeas data de matéria sujeita à jurisdição trabalhista (art. 114, IV, CF)

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Isso é muito importante, porque quebra um pouco a regra do mandado de segurança. A competência em sede de mandado de segurança se define de acordo com a pessoa, com a autoridade coatora. Mas isso não ocorre na Justiça do Trabalho. O que define a competência da Justiça do Trabalho é a jurisdição trabalhista. Então, se eu envolver relações de trabalho, se o ato da autoridade envolver relações de trabalho, a competência para julgar é da Justiça do Trabalho.

O mandado de segurança é uma ação de natureza constitucional, mandamental (de ordem), processada em rito especial, destinada a defesa de ameaça ou de lesão a direito líquido e certo da parte por ato de autoridade.Por exemplo: atos do auditor fiscal do trabalho, atos de abuso de autoridade do juiz do trabalho, atos de abuso de autoridade do procurador do trabalho no inquérito civil. Esses atos serão processados em uma demanda ajuizada em primeira instancia pra vara do trabalho ou, se decorrerem de atos do próprio tribunal, será processado o mandado de segurança no próprio tribunal. Hoje o rito do mandado de segurança está previsto na Lei 12.016/09.

Obs.: Se a autoridade coatora for um juiz do trabalho, a competência originária para julgar o MS será do Tribunal regional do Trabalho.

Isso é muito comum na área trabalhista, porque cabe mandado de segurança onde não couber recurso, nem habeas corpus e nem habeas data. Na Justiça do Trabalho, nós temos a irrecorribilidade das decisões interlocutórias; são decisões impassíveis de recurso ou de qualquer outra medida. Então, é muito comum a impetração do mandado de segurança nessas hipóteses. Por exemplo: decisão de antecipação de tutela – ela fica sujeita, normalmente, a um mandado de segurança na inexistência de recurso próprio. Então, o mandado de segurança é pra Justiça do Trabalho e como essa decisão da antecipação de tutela é proferida pelo magistrado, o mandado de segurança é impetrado no tribunal, com competência originária funcional.

Mas cabe também habeas corpus e habeas data. Como você vai ter habeas corpus na Justiça do Trabalho? Na Justiça do Trabalho, em regra, você tinha uma situação que poderia ser razoavelmente sujeita ao habeas corpus, que era a hipótese do depositário infiel. Porém, depois que caiu a hipótese do depositário infiel, com a interpretação do STF (Súmula Vinculante nº 25), a competência para o habeas corpus ficou bastante reduzida. Então, normalmente vai depender da interpretação de cada magistrado - por exemplo: o antigo titular da 23ª Vara do Trabalho tinha um entendimento peculiar que ainda não foi seguido por nenhum outro magistrado,

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que é o seguinte: dívida trabalhista de caráter alimentar sabemos que a outra hipótese de prisão civil era por dívida de caráter alimentar, prevista na CF. Então, se tem natureza alimentícia, o empregador não pode deixar de pagar. O que ele (o juiz) fazia? Perguntava para o preposto: “mandou embora? Mandou; pagou aviso prévio? Não pagou; pagou férias proporcionais, verbas rescisórias? Não”. Esse juiz, então, mandava prender o preposto na hora. Então, se você fosse fazer uma audiência na 23ª Vara do Trabalho, você já tinha que ir com um habeas corpus preventivo. Então, por esse motivo, havia muitos habeas corpus nessa vara.

Alguns juízes entendem também que em caso de falso testemunho pode dar voz de prisão em flagrante e, nessas hipóteses, da autoridade administrativa trabalhista, seja ela o juiz do trabalho ou algum outro órgão, vai caber o habeas corpus, que vai ser impetrado no Tribunal Regional do Trabalho.

O habeas data é ainda mais difícil de ser encontrado. Ele serve para você retificar ou ter acesso a informações de listas, informações sigilosas que não lhe sejam franqueadas - artigo 5º, LXXII, CF:

LXXII - conceder-se-á "habeas-data":

a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público;

b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo;

Obs.: a) Como “caráter público” entende-se entidades privadas que prestem serviços para o público ou de interesse público, como o Serasa ou o SPC, por exemplo.

b) Caso das listas. Tem que ser uma lista legítima (por exemplo, uma lista de todos os empregados que ajuizaram ações trabalhistas não é legítima e a própria lista deve ser desfeita) Que listas legítimas trabalhistas nós temos? Certidão negativa de débitos trabalhistas.Digamos que ela seja agora uma certidão de conhecimento restrito,não tenha acesso ao empregador sobre essa informação. Ele poderia, portanto, impetrar um habeas data para ter acesso a isso. Mas normalmente essas listas são públicas (a quem interessa – a própria parte, se quiser, pode ter acesso àquilo). Então, é muito difícil você ter habeas data hoje. Quando você tem listas dessas que são sigilosas, normalmente a própria lista é ilegal e aí a lista em si tem que ser desconstituída. Então, é difícil encontrar, mas

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existe essa possibilidade de habeas data e a competência é da Justiça do Trabalho, pois envolve a matéria sujeita à sua jurisdição.

Então, mandado de segurança, habeas corpus e habeas data vão depender da matéria e não da pessoa.

- Ações relativas às penalidades administrativas

As penalidades administrativas são aquelas previstas pelo auditor fiscal do trabalho por violação à legislação trabalhista – ver artigo 48 e 634, CLT – o auditor fiscal do trabalho vai poder apenar o empregador que infringir a lei trabalhista.

Art. 48 - As multas previstas nesta Seção serão aplicadas pela autoridade de primeira instância no Distrito Federal, e pelas autoridades regionais do Ministério do Trabalho, Industria e Comercio, nos Estados e no Território do Acre.

Art. 638 - Ao Ministro do Trabalho, Industria e Comercio é facultado avocar ao seu exame e decisão, dentro de 90 (noventa) dias do despacho final do assunto, ou no curso do processo, as questões referentes à fiscalização dos preceitos estabelecidos nesta Consolidação.

Como isso funciona? O auto de infração apenas narra o fato e faz a capitulação da infração, sem inserir valores, pois quando você recebe o auto, você passa a ter um prazo para oferecer defesa administrativa. É uma decisão administrativa que vai ratificar posteriormente a validade ou subsistência do auto de infração.

No momento em que se ratifica (“declaro subsistente o auto de infração”), essa decisão será acompanhada do cálculo e aí sim o empregador é intimado a pagar aquele valor. Nesse momento, ele pode optar por não recorrer e recolher a multa com 50% ou eventualmente recorrer (antigamente, havia o entendimento do STF de que ele tinha que depositar integralmente a multa para recorrer, mas hoje isso não ocorre mais).

Então, ele recorre. Esgotada a instância administrativa, o débito “transita em julgado” para a esfera administrativa, ou seja, ele não é mais passível de recurso. Mas você pode também não recorre, ou seja, você recebe uma decisão, não paga e não recorre. O que acontece? Isso passa a ser um crédito da administração, no caso, da União e esse crédito é inscrito na Dívida Ativa, nos termos da Lei 4.320 – artigo 39, § 1º. Então, esse crédito vai entrar no balanço da União como créditos a receber. Essa certidão da Dívida Ativa, uma certidão de créditos a receber da União, tem natureza de título executivo extrajudicial. Quando ele vira título executivo, ele passa a

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poder ser executado no Poder Judiciário e essas ações relativas à penalidades administrativas trabalhistas serão executadas na Justiça do Trabalho – inciso VII do art. 114. Então são as penalidades dos empregadores por infrações impostas pelos auditores fiscais do trabalho.

Esse título executivo vai ser apresentado na Justiça do Trabalho como uma ação autônoma de execução. Vale lembrar que até a EC 45, essa competência era da Justiça Federal. Posteriormente, passou a ser da Justiça do Trabalho.

Mas esse não é o único tipo de ação que pode ser processada. Existem outros tipos de ação que também envolvem as penalidades administrativas e que são de competência da Justiça do Trabalho. Por exemplo: eu entendo que aquela dívida não existe, seja por vício do título ou eventualmente até pela ausência de infração. Na prática, não adianta se defender, recorrer, pois é muito raro uma penalidade administrativa ser anulada pela Administração, simplesmente eles a ratificam e dizem que é subsistente; nunca se viu uma infração administrativa declarada insubsistente administrativamente. Então, se você quiser fazer valer o seu direito, já que você entende que a postura fiscal está errada e que houve algum vício, fatalmente você vai ter que buscar o Poder Judiciário, apesar de haver um procedimento no recurso inclusive com possibilidade de produção de provas.

Assim, você terá que recorrer ao Poder Judiciário e essa competência também é da Justiça do Trabalho para as ações declaratórias negativas de débito (alega-se que aquele débito é inexistente por ausência de infração à lei). Contudo, ela não suspende a exigibilidade do crédito da União na Dívida Ativa. Então, pode acontecer de você ajuizar a ação de um lado e, se demorar muito, já ter uma ação de execução te obrigando a pagar e, posteriormente, para receber isso de volta será muito complicado. Assim, o que se faz normalmente é impetrar um mandado de segurança, se a dívida ainda não tiver sido inscrita, justamente para que ela não seja inscrita enquanto está sendo discutida. Se eventualmente ela já tiver sido inscrita, você pode ajuizar incidentalmente uma ação cautelar, requerendo que seja suspensa a cobrança enquanto se processa a ação de conhecimento (ação declaratória negativa de débito). Todas essas ações são de competência da Justiça do Trabalho, seja o mandado de segurança, que é impetrado na primeira instância, seja a ação declaratória negativa de débito, seja a ação cautelar incidental, seja a ação de execução da certidão da Dívida Ativa.

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Então, se você for punido, multado administrativamente, você poderá exercer a sua defesa de forma administrativa (fora da Justiça do Trabalho) e judicialmente na Justiça do Trabalho.

- Execução de contribuições sociais decorrentes das sentenças que proferir (art. 114, VIII, CF) art. 195, I, a e II, CF

Essa é uma questão super controvertida na Justiça do Trabalho.

VIII a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a , e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir

Então, em primeiro lugar, a Justiça do Trabalho tem competência para uma matéria que não é trabalhista; é uma matéria de ordem previdenciária. Em segundo lugar, o exercício dessa execução deve se dar de ofício, independente de provocação. Em terceiro lugar, essa competência abrange as contribuições sociais de correntes das sentenças que proferir, ou seja, a Justiça do Trabalho não poderá executar contribuições sociais de toda e qualquer espécie, mas apenas daquelas que decorram de sentenças que proferir. Por exemplo: quase toda parcela paga ao empregado é fato gerador de contribuições sociais. Então, se você paga ao empregado salário, sobre aquele salário, você vai ter que recolher contribuições sociais de obrigação do empregador e vai ter que descontar do salário do empregado e repassar à Previdência as contribuições sociais que são de obrigação do empregado.

Assim, no momento em que você condena a pagar salário, automaticamente você está criando um fato gerador de INSS. Esse fato gerado na decisão pode ser executado de ofício perante a Justiça do Trabalho, ou seja, poderá ser julgada na Justiça do Trabalho se uma condenação trabalhista gerou uma contribuição previdenciária.

E aí cumpre definir que tipos de contribuição social poderão ser executadas na Justiça do Trabalho. Primeiro, não é toda e qualquer origem, mas só aquelas que se originem nas sentenças que proferiem. Segundo, não é toda e qualquer contribuição social. Vale dizer que esse inciso é muito mal interpretado, entendendo como se a Justiça do Trabalho pudesse executar qualquer fonte de custeio da Previdência Social, mas não. O próprio artigo 114 já limita, são só contribuições sociais. Analisando a Lei 8.212/91 (lei de custeio da Previdência Social), em seu artigo 11 diz:

Art. 11.  No âmbito federal, o orçamento da Seguridade Social é composto das seguintes receitas:

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I - receitas da União;

II - receitas das contribuições sociais;

III - receitas de outras fontes.

Quando vamos ao parágrafo único, ele diz o que são as contribuições sociais:

Parágrafo único. Constituem contribuições sociais: 

a) as das empresas, incidentes sobre a remuneração paga ou creditada aos segurados a seu serviço;

b) as dos empregadores domésticos;

c) as dos trabalhadores, incidentes sobre o seu salário-de-contribuição

d) as das empresas, incidentes sobre faturamento e lucro;

e) as incidentes sobre a receita de concursos de prognósticos.

Obs.: salário de contribuição é a parcela da remuneração recebida pelo empregado que é tributável. Por exemplo, o FGTS quando você deposita não é salário de contribuição, porque sobre ele não incide contribuição social.

Então, de acordo com esse dispositivo, o lucro da empresa e o seu faturamento também contribuem socialmente para a Previdência Social e as incidentes sobre a receita de concursos de prognósticos (loterias etc).

Lendo esse artigo já vemos que contribuição social é uma espécie das fontes de custeio da Previdência Social. Existem outras receitas que não constituem contribuição social e a Seguridade Social é custeada pela sociedade em amplo e abstrato.

Eventualmente você pode ter parcelas que vão incidir sobre a remuneração do trabalho, que serão recolhidas pela Previdência Social, mas que não são contribuições sociais. É aí que entra a grande divergência na área trabalhista, uma ótima questão para cair em prova.

O artigo 195, VIII, CF diz:

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Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:

“das seguintes contribuições sociais” significa que contribuição social são aquelas previstas nos incisos do artigo 195. E o art. 114, VIII, fala que são aquelas previstas nos incisos I, a e II do art. 195.

I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre:

a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício;

b) a receita ou o faturamento;

c) o lucro;

II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que trata o art. 201;

O inciso I fala do empregador; o inciso II fala do trabalhador. O inciso I se restringe às parcelas creditadas ao trabalhador prestador de serviços e o inciso II se restringe às parcelas recebidas pelo trabalhador.

Então, as contribuições sociais são, do empregador e empresa ou entidade equiparada, sobre folha de salário e demais rendimentos pagos ou creditados, receita e faturamento e lucro (sendo que receita, faturamento e lucro não são de competência da Justiça do Trabalho, pois o art. 114, VIII fala apenas dos incisos I, a e II) e, do trabalhador, as receitas recebidas pelo seu empregador ou tomador de serviços.

Qual é o grande problema da Justiça do Trabalho? Quando você recolhe uma contribuição social, você o faz pela GPS – Guia da Previdência Social. Essa guia tem vários campos e um deles vai constar a contribuição social do empregado ou do empregador; outros campos vão falar do seguro contra acidente de trabalho e tem outro campo que vai falar sobre receitas de outras entidades. O que se debate aqui é a tal da receita de outras entidades, porque ela é recolhida com base na remuneração paga ao trabalhador e na mesma guia. Portanto, o INSS cobra tudo junto na Justiça do

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Trabalho. Ex.: se você paga R$1.000,00 ao seu empregado, em regra, você vai ter que pagar 20% disso como contribuição social; e o seu empregado não vai receber 1.000,00, ele vai receber R$1.000,00 menos o desconto do INSS da parte dele. Além disso, a empresa também vai ter que pagar o seguro sobre acidente de trabalho, que é de percentual variável (1, 2, 3%).

E aí entram algumas variáveis: são as contribuições do Sistema S. Essas parcelas constam como “outras entidades”. Só que essas parcelas não são contribuições sociais. Como isso funciona? Apesar de essas parcelas não serem contribuições sócias, elas têm a mesma base de cálculo das contribuições sociais. Então, o INSS funciona como órgão arrecadador dessas parcelas, repassando-as posteriormente para o Sistema S. Então, o empregador paga ao INSS vários percentuais que serão depois repassados ao Sistema S. Agindo assim, a previdência ganha comissão. Essa comissão é fonte de custeio para a previdência, mas todo o restante que ela repassa não é contribuição social. Portanto, essas contribuições de outras entidades, ainda que sejam devidas e possam ser cobradas pelo INSS, não poderão ser cobradas na Justiça do Trabalho. Essas contribuições estão previstas no artigo 240 da CF:

Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto no art. 195 as atuais contribuições compulsórias dos empregadores sobre a folha de salários, destinadas às entidades privadas de serviço social e de formação profissional vinculadas ao sistema sindical.

Para finalizar...

O final do art. 114, VIII fala o seguinte: a competência da justiça do trabalho decorrentes das sentenças que proferir. Que tipos de sentença que proferir? As condenatórias, as declaratórias ou nenhuma das duas? Essa é uma outra discussão palpitante na Justiça do Trabalho. Digamos que a Justiça do Trabalho vai e reconhece o vínculo de emprego, recolhe todas as contribuições sociais daquele período do vínculo (10 anos de vínculo, por exemplo). Aí o empregado vai lá, usa aqueles 10 anos e pede a sua aposentadoria. Daí o INSS diz não, por não reconhecer sentenças da Justiça do Trabalho para o tempo de serviço. Diante disso, a Justiça do Trabalho editou a Súmula 368. A partir daí, a Justiça do trabalho só passou a executar contribuições previdenciárias nas sentenças condenatórias.

Súmula nº 368 do TST

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DESCONTOS PREVIDENCIÁRIOS E FISCAIS. COMPETÊNCIA. RESPONSABILIDADE PELO PAGAMENTO. FORMA DE CÁLCULO

I - A Justiça do Trabalho é competente para determinar o recolhimento das contribuições fiscais. A competência da Justiça do Trabalho, quanto à execução das contribuições previdenciárias, limita-se às sentenças condenatórias em pecúnia que proferir e aos valores, objeto de acordo homologado, que integrem o salário de contribuição.

II - É do empregador a responsabilidade pelo recolhimento das contribuições previdenciárias e fiscais, resultante de crédito do empregado oriundo de condenação judicial, devendo ser calculadas, em relação à incidência dos descontos fiscais, mês a mês, nos termos do art. 12-A da Lei nº 7.713, de 22/12/1988. 

III - Em se tratando de descontos previdenciários, o critério de apuração encontra-se disciplinado no art. 276, §4º, do Decreto n º 3.048/1999 que regulamentou a Lei nº 8.212/1991 e determina que a contribuição do empregado, no caso de ações trabalhistas, seja calculada mês a mês, aplicando-se as alíquotas previstas no art. 198, observado o limite máximo do salário de contribuição.

Portanto, se houver acordo em que vai ser paga a parcela ou condenação, onde o réu vai ser condenado a pagar (às vezes até mesmo o autor também) algum valor para a outra parte, sobre essa parcela condenatória o juiz poderá executar as contribuições sociais incidentes (se condenou a pagar só FGTS, não vai executar nada, pois o FGTS não é salário de contribuição). Mas se ele apenas declarar o vínculo de emprego, a Justiça do trabalho entende que isso é problema do INSS com o segurado, não sendo competência da Justiça do Trabalho.

Diante disso, o governo pegou o art. 876, CLT e deu uma nova redação para ele em 2007. Ver o parágrafo único:

Art. 876 - As decisões passadas em julgado ou das quais não tenha havido recurso com efeito suspensivo; os acordos, quando não cumpridos; os termos de ajuste de conduta firmados perante o Ministério Público do Trabalho e os termos de conciliação firmados perante as Comissões de Conciliação Prévia serão executada pela forma estabelecida neste Capítulo.

Parágrafo único. Serão executadas ex-officio as contribuições sociais devidas em decorrência de decisão proferida pelos Juízes e Tribunais do Trabalho, resultantes de condenação ou homologação

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de acordo, inclusive sobre os salários pagos durante o período contratual reconhecido.

“salários pagos durante o período contratual reconhecido” são sentenças declaratórias, reconhecer o vínculo. Aí a Justiça do Trabalho ficou “acuada”, rediscutiu a Súmula 368, mas manteve o seu entendimento de que essa lei é inconstitucional, porque viola a CF no inciso VIII do art. 114. A discussão foi para o STF e o Relator Menezes Direito deu razão à justiça do trabalho e propõe uma súmula vinculante, que não evoluiu após o seu falecimento – RE 569.056. Então, o STF também entendeu que essa interpretação era inconstitucional, que as execuções de contribuições previdenciárias na Justiça do Trabalho são apenas nas sentenças de natureza condenatória e não nas de natureza meramente declaratória. Existem juízes que seguem a lei e outros que seguem a súmula, mas é preciso que vocês conheçam essa divergência.

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Competência

Territorial:

- local da prestação de serviços: art. 651, CLT - agente, viajante comercial ou equivalente: art. 651, § 1ª, CLT- atividades itinerantes: art. 651, §3ª, CLT

Funcional (hierárquica ou interna)

- originária

-recursal ou derivada

- executória

Modificação de competência

-alteração de competência absoluta ( art. 87, CPC)-conexão ou continência (art. 102,103 e 104, CPC)-critérios:a)Faculdade (art. 105, CPC)b)Prevenção (art. 841, CLT)

Conflito de competência (art. 114, V, CF)

-positivo: art. 804, a, CLT

- negativo: art. 804, b, CLT

+ art. 115, III, CPC controvérsia acerca da reunião

Legitimados: juízes, partes ou MPT (art. 805, CLT)

Quem tem competência funcional para decidir? Com tribunal superior-STF

Órgão de jurisdição trabalhista Vs. Órgão sem jurisdição trabalhista

Sem tribunal superior-STJ

Órgão com jurisdição trabalhista ponto de convergência

Superior (TRT ou TST)

Hoje a gente encerra competência trabalhista, falamos da competência material, art. 114, CF e desbotamos o tema. Existem as possibilidades de competência quanto a pessoa, quanto ao valor (que não se aplica ao processo do trabalho, então vamos passar batido), e hoje entramos na competência territorial em espécie. Também

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falamos dela um pouco nas outras aulas, mas debateremos mais profundamente.

Competência territorial

A regra geral é da competência territorial trabalhista é o seguinte: tem competência pra julgar o conflito trabalhista o órgão que tem jurisdição sobre a localidade onde se prestou serviço. A vara do trabalho encerra sua jurisdição apenas na sua série? Não. Normalmente as varas de capital, pelo volume, elas se encerram na capital. Mas no interior é muito comum que as varas tenham jurisdição superior ao local da sua série. Pode haver uma vara com jurisdição em mais de um município.

Ex.: Barra do Piraí: se teve algum dissídio trabalhista em Vassouras, será julgado pela vara de Barra do Piraí. Exemplo de vara do trabalho que tem jurisdição superior ao município de sua série.

Isso quer dizer que se você prestou serviço em Campos dos Goytacazes, a vara que vai ter competência territorial pra julgar sua demanda será a de Campos dos Goytacazes.

Essa competência não é absoluta, é competência relativa. Exemplo de competência relativa no direito do trabalho é competência territorial. Ela pode ser modificada, mas essa modificação tem que atender a vontade das partes (autor e réu). O autor exerce a manifestação de sua vontade no momento que ele ajuíza a ação e distribui para aquela vara. O réu, no momento que ele apresenta a exceção de incompetência, ou não.

Aliás, no novo CPC a exceção de incompetência, se tudo der certo, vai acabar. A incompetência relativa passa a ser matéria de defesa. Já poderia ser feito no processo do trabalho, não tem problema nenhum, até porque essa decisão, pelo princípio da irrecorribilidade imediata das decisões interlocutórias, é irrecorrível, só pode recorrer dela no momento do recurso ordinário. A decisão da exceção de incompetência é interlocutória, ela não decide a demanda, ela decide um incidente processual. Portanto, ela é uma decisão irrecorrível, se submetendo ao recurso ordinário que é uma peça que é protocolizada dentro da ação principal. A exceção é feita de forma apartada porque ela pode se sujeitar a um recurso próprio do processo civil que o processo do trabalho não tem. Então não tem nada de mal você apresentar uma exceção de incompetência relativa dentro da contestação trabalhista, mas se você fizer isso, será execrado. Então faça burramente por exceção.

Por que a exceção é mal vista pelo judiciário?

Ela é mal vista pelos processualistas formalistas e o judiciário em geral. Porque a exceção tem uma razão de ser no processo civil, é peça apartada e é apresentada junto da contestação (duas peças). Assim, por que não poderia colocar uma dentro da outra? Tudo

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dentro da contestação? No processo civil tem razão de ser, é peça apartada, com recurso próprio. Mas no processo do trabalho não, ela não tem recurso. Você vai recorrer junto com o recurso da decisão definitiva, porque as decisões interlocutórias não são passíveis de recurso. Tem um artigo da CLT, o 794, que diz que não cabe recurso expressamente. Então, por que ela é mal vista? Não é que seja mal vista, ao que parece é que é um procedimento burro, muito mais procedimental que efetivo, em termos práticos não precisa ser feito autonomamente. Mas no processo a exceção de incompetência relativa é apartada, então se você fizer dentro da contestação será execrado. Aí vem o novo CPC que impede que você recorra dessa decisão, as decisões interlocutórias no novo CPC vão passar a ser mais ou menos irrecorríveis como é no processo do trabalho. E ele diz que a exceção de incompetência relativa tem que ser arguída na contestação. Ele traz inteligência pra coisa.

Assim, o autor manifestou seu interesse ao ajuizar a ação na vara da prestação de serviço como a lei determina ou não, e o réu se manifesta no momento em que ele se opõe ou não no primeiro momento de se manifestar nos autos que é na contestação.

E se você for contratado num local e prestar serviço em outro? É possível ajuizar a ação em qualquer um dos locais? É possível impor ao réu que ele se defenda no local da contratação? Se eu ajuízo a ação em local diverso que o da prestação de serviço, eu já manifesto que não quero cumprir o que a lei diz. E para ter a prorrogação de competência (ter o processo julgado em local diferente da prestação de serviço), tem-se que conjugar as duas vontades. Então se o autor ajuizar a demanda onde a lei determina, ele já diz que não quer diferente, então o réu nada pode fazer. Mas se o autor ajuizou demanda em local diferente, ele manifestou seu interesse em fazer em local diferente, assim, depende da vontade do réu de se manifestar também em local diferente para que aquele processo que, pela lei deveria ser originariamente processado no local da prestação de serviço, seja processado em outro local.

Ex. Fulano foi contratado do Rio de Janeiro para prestar serviço em Campos. Ele resolver ajuizar a ação no RJ, local da contratação. Se ele ajuizar em Campos, o réu não vai ter como tirar de Campos, porque já houve manifestação de vontade de ser no local onde a lei determina. Mas a lei determina que seja no local do serviço e ele ajuíza no local da contratação. Ele pode exigir que réu retire (não entendi muito bem essa palavra) do local da contratação? Esse é o espírito da lei? Art. 651, CLT13.

13 Art. 651 - A competência das Juntas de Conciliação e Julgamento é determinada pela localidade onde o empregado, reclamante ou reclamado, prestar serviços ao empregador, ainda que tenha sido contratado noutro local ou no estrangeiro.  (Vide Constituição Federal de 1988)

        § 1º - Quando for parte de dissídio agente ou viajante comercial, a competência será da Junta da localidade em que a empresa tenha agência ou filial e a esta o empregado esteja subordinado e, na falta, será competente a Junta da localização em que o empregado tenha domicílio ou a localidade mais próxima. (Redação dada pela Lei nº 9.851, de

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O artigo quer dizer que se eu for contratado num lugar isso pouco vai importar para a determinação de incompetência relativa territorial trabalhista. Assim, se foi contratado no RJ para prestar serviço em Campos e o autor ajuizar a ação em Campo, o réu não poderá fazer nada. Se o autor ajuizar a ação no RJ, local da contratação, ele pode ou não concordar.

Pergunta: Se o empregado ajuíza uma ação em local diverso que o da prestação do serviço, entende-se que ali é o interesse dele. Normalmente o empregador tem varias filiais, varias sedes e pode ser do interesse do trabalhador ajuizar em algum desses locais. E aí a outra parte quer enrolar no processo para ele não ir adiante e impugna a competência como forma de enrolar, apresentando exceção de incompetência, quando poderia responder no local ajuizado sem ser prejudicado. O juiz não poderia negar, pelo princípio da proteção?

Resposta: Tem juiz que até pensa assim como você está dizendo. Mas sua hipótese existe (é o próximo ponto da matéria). Mas o raciocínio está correto, mas aí se você pensa nisso de forma aberta, você começou a legislar por você e começa a entrar no perigo da coisa. Outro ponto: você não prestigia só o empregado, o processo rápido prestigia o empregado. Existe o ius postulandi, mas hoje em dia você trabalha muito mais com a acessória do advogado, então é muito mais importante a capacidade do advogado se deslocar do que sua. Pros efeitos práticos do processo são muito mais sensíveis para a produção probatória que o comparecimento uma vez do reclamante para prestar depoimento. Então, você vai ter que ouvir testemunha por carta precatória, tem que colher provas, eventualmente tem que fazer perícia por precatória. Então o processo em si fica mais oneroso. Então como a justiça do trabalho entendeu isso? Olha, o local da prestação do serviço é mais adequado ao trabalhador, em tese sim, porque se prestava serviço num local residia lá (antigamente não existia teletrabalho). Então, na época da CLT, essa foi considerada a melhor alternativa. Mas ela já previu exceções: quando o empregador tem varias filiais, era a hipótese do agente ou viajante comercial, ou, como hoje, seu equivalente. Na época ela dizia assim: o agente ou viajante comercial. Quem é esse cara? É o empregado que vende produtos no Brasil, chamado caixeiro-viajante, tem uma família em cada cidade, coisas do gênero. Nesse caso, o

27.10.1999)   (Vide Constituição Federal de 1988)

        § 2º - A competência das Juntas de Conciliação e Julgamento, estabelecida neste artigo, estende-se aos dissídios ocorridos em agência ou filial no estrangeiro, desde que o empregado seja brasileiro e não haja convenção internacional dispondo em contrário. (Vide Constituição Federal de 1988)

        § 3º - Em se tratando de empregador que promova realização de atividades fora do lugar do contrato de trabalho, é assegurado ao empregado apresentar reclamação no foro da celebração do contrato ou no da prestação dos respectivos serviços.

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empregado tem dentro de sua atividade a itinerância, é da própria atividade. Ele vende em qualquer lugar. Ai a CLT falou que nesse caso não seria justo ele ajuizar ação no local da prestação de serviço até porque esse conceito é vago e ele não tem local de serviço certo. Então se resolveu a questão da seguinte forma: se o empregado é a gente ou viajante ou algo equivalente, como o representante comercial, que a justiça do trabalho tenha competência pra julgar demandas não necessariamente de emprego, mas também de trabalho, aplica-se o parágrafo primeiro do art. 651, que diz o seguinte: quando for parte de dissídio agente ou viajante comercial, a competência será da vara em que o empregado tenha filial e que a esta o empregador esteja subordinado.

Então, primeiro: existe uma agência ou filial a que ele está subordinado? Se existe, é na localidade daquela agencia, filial, sucursal, daquele estabelecimento.

E se não houver aquele estabelecimento ou ele não estiver subordinado a nenhum deles? Será no domicilio do empregado. A CLT chega até a ser mais genérica: na falta da agencia que ele esteja subordinado, será competente e junta/vara que ele tenha domicilio ou a localidade mais próxima. Apurar onde ele tem domicilio é fácil, mas o “localidade mais próxima” abriga divergências.

Tem gente que aplica o princípio da proteção de forma ampla e diz: localidade mais próxima onde ele estiver naquele momento, ou seja, qualquer lugar. E tem gente que diz que a expressão se refere a domicilio. Me parece que a jurisprudência e a doutrina em geral faz interpretação ampliativa: é onde ele quiser.

Então, se for um cara que tem em sua atividade a itinerância, não só o agente ou o viajante comercial, a competência não será do local da prestação de serviço, mas no local da filial a que ele está subordinado. Se não houver, no seu domicilio. Se não houver, no local mais próximo que ele estiver. São graus sucessivos de competência territorial.

Leitura do Parágrafo 3º, art. 651, CLT.

Se a atividade for promovida em mais de um local, é no fórum (não entendi bem a palavra) da contratação ou da prestação de serviço. Isso é uma competência concorrente porque é um ou outro. Não tem uma relação de subordinação (não deu pra entender se ele falou se tem ou não subordinação). Aí você entra num conflito imenso com o caput, porque o caput diz que “a competência das juntas de conciliação de julgamento é determinada pela localidade que o trabalho prestar serviço ao empregador ainda que tenha sido contratado noutro local ou no estrangeiro”. Então o caput fala da prestação de serviço que exclui contrato, e o parágrafo 3º diz que é da prestação de serviço OU do contrato: ou um ou outro em competência concorrente. E aí tem uma grande controvérsia e uma

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má aplicação do parágrafo 3º, porque o juiz acaba aplicando o parágrafo como se fosse caput. E aí o caput morre se você aplica isso como regra geral.

Como se resolve isso?

Entende-se que o parágrafo 3º é destinado a atividades itinerantes: a itinerância não está na atividade do empregado, mas no empregador em si. Por exemplo: atividades teatrais. Então para essas atividades itinerantes, você pode ajuizar demanda no local onde foi contratado ou no local onde prestou seu serviço. Se não for atividade itinerante, o local do contrato não vale.

No parágrafo 1º a itinerância está na pessoa. No parágrafo 3º, está na empresa (=atividade).

Atividade itinerante não é quando o empregado é transferido. Mas se a natureza da atividade é viajar (o que é diferente de ser transferido), você vai trabalhar com o parágrafo 1º, mas, normalmente, supervisores de Banco que viajam muito, por exemplo, estão vinculados a uma filial. Nesse último caso, não se poderá escolher qualquer local para ajuizar a demanda, tem que ser na filial, sucursal, que o empregado está subordinado.

Mas tem outro caso: quem foi contratado e presta serviço num local, mas foi transferido 3 vezes, prestando serviço durante 1 ano num local, 1 ano em outro e 7 anos no último local. Em tese, pelo parágrafo 1º ele poderia ajuizar ação em qualquer lugar que ele prestou serviço. A CLT não limita ao último local da prestação de serviço. Mas tem uma interpretação doutrinária ganhando força, que o professor não concorda, na visão de favorecer o empregado, no sentido de ser a última localidade que ele prestou o serviço. A CLT não fala isso.

Tem uma lógica razoável nisso, a questão de especialmente por ser a prescrição trabalhista de 5 anos, se nos últimos 5 anos você trabalhou no mesmo local. Tem uma lógica que é a mesma de não permitir que o empregado ajuíze ação em qualquer lugar do mundo, qualquer lugar do Brasil, é permitir que a prova se produza mais próxima possível do local da prestação de serviço para que não tenha que deslocar testemunhas, não tenha que fazer prova pericial fora da jurisdição do magistrado. Então, há uma lógica, mas a CLT não estabelece isso, mas tem muito livro que fala isso. Essa não é interpretação absoluta.

Pergunta: Mas isso se aplica mesmo que o fato seja especificamente daquele local da prestação de serviço? Por exemplo, a pessoa sofria perseguição num outro local e já está estabelecida num outro, ela não teria que ir lá por mais que o fato seja exclusivo daquele local?

Resposta: É aquela questão de interpretar no fazer sentido com lógica... faz até sentido o cara dizer que é o ultimo local da prestação

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de serviço nos últimos 5 anos, mas a maioria da jurisprudência entende que é em qualquer dos locais que o empregado prestou serviço. Até porque pode mudar de residência...tem o quê de facilitar o empregado, não é só facilitar o processo.

Competência funcional

É aquela competência que é melhor visualizada num mesmo processo: distribuição no próprio processo - quem deve julgar o quê. Quem é o juiz que tem competência dentro da matéria, dentro do território, para julgar a demanda, para dar a sentença. Quem é o juiz que tem competência para revisar a sentença, para proferir o acórdão. Quem é o que tem competência para executar.

Então ela basicamente se divide em:

Competência (i)originária, (ii)recursal ou derivada e (iii)executória.

(i) Originária: quando tiver que distribuir a ação para aquele órgão originário, pode ser vara, TRT, TST;

(ii)Recursal: quando tiver que direcionar o recurso para aquele órgão ;

(iii)Executória: (o professor não falou)

É de um pouco de lógica quanto à competência recursal, mas também de muita decoreba, porque os órgãos recursais ou derivados, normalmente, se dividem em sub-órgãos, o TRT, por exemplo, que é competente a julgar um recurso ordinário de uma sentença originária de uma vara do trabalho, ele se divide em turmas, em órgão especial, sessão especializada em dissídios coletivos, sessão especializada em dissídios individuais I e II, e cada um tem a sua competência e essa competência é funcional.

A competência originária pode ser da vara ou do tribunal ou tribunal superior. É a lei ou o regimento interno que decide isso

Por exemplo: é da competência da vara do trabalho julgar dissídio individual trabalhista, exceções de incompetência, inquéritos para apuração de falta grave.

Se, nesses casos, distribuir a demanda para o tribunal, ela não vai prosperar porque competência funcional é absoluta.

O tribunal também tem competência originária, por exemplo, de ação rescisória que pode ser do tribunal regional ou superior. Tem a competência pra julgar alguns mandados de segurança. Isso será verificado leis processuais da CLT e do CPC, em leis esparsas sobre competência (no processo do trabalho a lei ???), especialmente nos regimentos internos. Os regimentos internos ainda que não tenham

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previsão exclusiva, eles reproduzem o texto legal e organiza essa questão da competência funcional. Então, ainda que não seja a fonte direta, ele vai dar toda a noção do que é competência funcional de quem.

Então, só umas citações/exemplos para se ter algum parâmetro (não tem que decorar isso agora). É só para ter uma ideia geral de para que a competência funcional serve, “para pôr ordem na casa”:

1) Competência originária das varas do trabalho – arts 652, 653, 659 CLT;

2) Competência executórias das varas do trabalho (as varas têm competência para executar as sentenças que proferir, os títulos executivos extrajudiciais que teria competência para julga a demanda de mérito) – arts 877, 877-A, 659,II CLT;

3) Competência recursal ou derivada da turma do tribunal regional do trabalho para julgar o recurso ordinário de sentença da vara;

4) Competência recursal ou derivada da turma do tribunal superior do trabalho para julgar os recursos de revista;

5) Competência originária administrativa (não são necessariamente jurisdicionais): quando os tribunais decidem sobre lista de promoção de juízes, redação e forma de seu regimento interno.

Todo que qualquer tipo de competência daquele órgão não necessariamente as competências jurisdicionais, de julgamento de causas, mas essas são as que normalmente caem em prova. Por exemplo, “a quem compete julgar mandado de segurança de ato de autoridade coatora juiz do trabalho?

Essa competência é absoluta, não se prorroga de jeito nenhum.

Modificação de competência

Que competências podem ser modificadas? Normalmente as relativas, eventualmente as absolutas. Uma exemplo recente de modificação de competência absoluta é o da emenda constitucional 45/2004. Todas as competências que estudamos aqui são competências que, na maioria delas, foram abertas ä Justiça do Trabalho a partir de determinado momento. Mas não são competências que criaram, nasceram assim, são competências que era de outros órgãos jurisdicionais. E é competência de matéria, portanto, competência absoluta que em determinado momento foi retirada de um órgão para outro.

O que acontece com aquele processo? Ele vai de um órgão para outro? Ou ele permanece com a perpetuação da jurisdição? Nós vimos que a competências absoluta pode ser modificada em determinadas situações e aqui são as situações previstas no art. 87

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do CPC14: se houver alteração de competência absoluta ou supressão de órgão jurisdicional. No caso da justiça do Trabalho, as demandas de acidente do trabalho que eram da Justiça Cível passaram para a Justiça do Trabalho desde que não sentenciadas de uma hora pra outra. Era processo que tinha competência absoluta de jurisdição, deveria se perpetuar ali, mas houve modificação de competência absoluta.

Também se o órgão for extinto, aí é óbvio você não pode porque o órgão jurisdicional foi extinto afastar a jurisdição, tem que reposicionar a demanda em outro lugar.

O que dá mais confusão, controvérsia são as hipóteses de conexão e continência que também são formas de modificar a competência.

Arts. 102, 103 e 104, CPC15

O art. 103 é absolutamente amplo, seria qualquer toque que faça com que uma ação seja minimamente relacionada com a outra.

Primeira lição: para ter conexão não há necessidade de identidade de partes. Precisa de alguma convergência de objeto ou causa de pedir, independente da qualidade das partes. O que se toma como convergência de objeto e causa de pedir? Deve-se entender objeto como objeto mediato ou imediato. E causa de pedir em próxima ou remota.

Ex. pedido de rescisão indireta de contrato de trabalho – mora contumaz (não esta recebendo salário) – art. 483. CLT.

Objeto imediato (o que quer exatamente): as verbas de recisão sem justa causa.

Objeto mediato: a rescisão do contrato.

Causa de pedir próxima: a violação do contrato, a mora contumaz, ausência de pagamento.

Causa de pedir remota: a existência do contrato, ele só pode ser violado, se existir.

14 Art. 87.  Determina-se a competência no momento em que a ação é proposta. São irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem o órgão judiciário ou alterarem a competência em razão da matéria ou da hierarquia.

15 Art. 102.  A competência, em razão do valor e do território, poderá modificar-se pela conexão ou continência, observado o disposto nos artigos seguintes.

        Art. 103.  Reputam-se conexas duas ou mais ações, quando Ihes for comum o objeto ou a causa de pedir.

        Art. 104.  Dá-se a continência entre duas ou mais ações sempre que há identidade quanto às partes e à causa de pedir, mas o objeto de uma, por ser mais amplo, abrange o das outras.

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Então é basicamente esse tipo de conexão. Mas se você levar isso a esse grau de abstração, todas as ações ajuizadas pelo mesmo empregador, praticamente serão distribuídas para a mesma Vara do trabalho por conexão, principalmente se tiver, por exemplo, ações do tipo ponto irregular. Então, não é assim que funciona.

A razão de ser da possibilidade de reunir ações por conexão e continência (ele falou competência, mas acho que se confundiu) está no art. 105, CPC16.

O que o juiz vislumbra quando se depara com uma ação que seja conexa com outra? Eu devo reuni-las ou não?

1) É obrigatório? Não, porque o art. 105 fala em “poder” ordenar. Não é poder-dever. Caso contrário seria o caso das ações trabalhistas no exemplo acima do ponto irregular: todas seriam distribuídas para a mesma vara.

2) Há possibilidade de decisões conflitantes? Já sabe que as ações são conexas, mas tem que verificar se há possibilidade de haver decisões conflitantes.

3) Há situação de prejudicialidade entre elas? A decisão de uma vincula a outra? Precisa decidir uma antes da outra?

Havendo risco de decisões conflitantes, de situação de prejudicialidade, o juiz, em regra, vai coordenar a reunião das ações. Mas ele não pode reunir toda e qualquer ação. Só pode reunir ações que estiverem sob competência matéria do juiz, em mesma instância e em mesmo momento jurídico. Isso quer dizer que não se pode reunir uma ação que está no tribunal se a outra na vara; e não pode reunir duas ações que estão na vara se uma está em fase de execução e a outra em fase de conhecimento. Isso porque elas têm que ser decididas simultaneamente (art. 105, PARTE FINAL).

Então, se estou com uma decisão publicada, ainda sem recurso e outro processo em grau de instrução elas não serão reunidas. Se tem conexão com uma causa civil, elas não serão reunidas por ausência de competência do juiz.

Conclusão: o juiz tem que ser competente, elas tem que estar na mesma instância, e em situação jurídica que permita seu julgamento simultâneo. Isso dá para a hipótese de conexão ou continência.

A continência está prevista no art. 104, CPC: quando o objeto de uma ação, pela sua extensão, abrange o objeto de outra ação. Nesse caso tem que ter identidade de partes.

Como se decide para onde a ação vai, por exemplo, se vai pra 1º vara ou 5º vara? Define isso pela prevenção: quem tem preferência

16 Art. 105.  Havendo conexão ou continência, o juiz, de ofício ou a requerimento de qualquer das partes, pode ordenar a reunião de ações propostas em separado, a fim de que sejam decididas simultaneamente.

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para prestigiar o princípio do juiz natural, caso contrário distribui varias ações, e diz que tudo é conexo para ir para determinado juiz.

A prevenção é critério cronológico que funciona diferente no processo do trabalho do processo civil. No processo civil tem aquela questão do juiz de mesma territorialidade, quem despachou primeiro ou quem promoveu a citação. No processo do trabalho é quem distribuiu primeiro. Vai ver qual a autenticação de protocolo tem dia e horário mais antigo.

Por que isso? Por que não se promove citação do réu, o art. 841 (ele falou art. 241, mas acho que se confundiu) diz que distribuída a ação, o réu é automaticamente citado. Então, não existe a possibilidade da ação ser extinta por ausência de promoção de citação do réu. Quem esclarece isso muito bem que não tem nada a ver com a história é o OJ 392 – SBDI17 – fala sobre prescrição de protesto judicial, mas se aplica perfeitamente a essa hipótese, é o mesmo raciocínio.

O que interessa: “que o seu ajuizamento, por si só, interrompe o prazo prescricional, em razão da inaplicabilidade do § 2º do art. 219 do CPC, que impõe ao autor da ação o ônus de promover a citação do réu, por ser ele incompatível com o disposto no art. 841 da CLT”. É exatamente o que eu disse, no processo do trabalho não se promove a citação. Então, quando se distribui a ação, todos os efeitos da citação – interrupção de prescrição, constituição do devedor em mora, tornar prevento o juízo – ocorrem com a mera distribuição.

Conflito de competência

Situação em que dois ou mais magistrados vão se entender competentes (conflito positivo) ou incompetentes (conflito negativo) para julgar determinada demanda ou, eventualmente, vão entrar em conflito ou controvérsia a cerca de reunião ou separação de processo por conexão ou continência.

Art. 804, alíneas a e b, CLT18.

17 OJ-SDI1-392. PRESCRIÇÃO. INTERRUPÇÃO. AJUIZAMENTO DE PROTESTO JUDICIAL. MARCO INICIAL. O

protesto judicial é medida aplicável no processo do trabalho, por força do art. 769 da CLT, sendo que o seu ajuizamento, por si só, interrompe o prazo prescricional, em razão da inaplicabilidade do § 2º do art. 219 do CPC, que impõe ao autor da ação o ônus de promover a citação do réu, por ser ele incompatível com o disposto no art. 841 da CLT.

18 Art. 804 - Dar-se-á conflito de jurisdição:

        a) quando ambas as autoridades se considerarem competentes;

        b) quando ambas as autoridades se considerarem incompetentes.

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Normalmente quem argui é o juiz porque ele tá ali visualizando a questão. Por exemplo, ajuízo ação para a 5º vara do trabalho e ele diz: isso aqui não é de minha competência, vai para o civil! Aí chega no civil, o juiz diz que tem a emenda 45, quem deve julgar é o juiz trabalhista.

Também quem pode suscitar é o MP e a própria parte. A parte pode suscitar, por exemplo, quando a demanda ajuizada na Justiça do trabalho tenha sido ajuizada com pedido de incompetência em razão da matéria da justiça do trabalho, mas que tivesse com um pedido que fosse da competência do juiz do trabalho (o professor disse que isso foi falado em sala de aula). Quando isso ocorre, o juiz não remete os autos pro outro magistrado, ele julga o que tem competência e extingue o resto. O autor vai, então, ao cível e ajuíza o resquício que não foi julgado no civil. Mas aí o juiz do civil fala que não é competente e extingue sem resolução de mérito. O juiz que recebeu aquela demanda não recebeu a demanda do juiz do trabalho, ele não sabe que o juiz do trabalho se julgou incompetente para aquele pedido. Mas o autor sabe, e pega aquilo e suscita o conflito de competência.

Então também podem suscitar o conflito de competência a parte e o MP em situações análogas.

Quem julga isso, quem tem competência funcional para decidir o conflito de competência?A vara nunca, então tira da vara do trabalho. É o TRT ou o TST. 25% de chance de acertar.

Se o conflito de competência é trabalhista, um dos órgãos já sabe qual é, se não o conflito de competência não seria trabalhista, óbvio. Então, tem que se preocupar em qual é o outro órgão. Esse outro órgão tem jurisdição trabalhista ou não? Se ele tiver, você tem 50% de chance de acertar, porque vai ser o TRT ou o TST. Se ele não tiver, também tem 50% de chance de acertar, porque vai ser STJ ou o STF.

Como define isso? É muito simples, mas muito confuso na lei:

CF, arts 102,I, o; 105,I,b;

CLT, arts 808, a e b;

Lei 7701/1988, arts 2, I

[Melhor tentar entender com a explicação do professor porque na lei está muito confuso.]

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Hióteses:

Os dois órgãos não terão jurisdição trabalhista (será o STJ ou STF)

Um órgão terá jurisdição trabalhista e o outro não terá jurisdição trabalhista (será o TRT ou TST)

I) Dentro da justiça do trabalho: manda quem pode, obedece quem tem juízo. Essa é a filosofia.

Exemplos:

1) Vara do Trabalho X Vara do Trabalho – mesma região1º Vara do Rio de Janeiro X Vara única de Itaguaí quem manda nelas? O TRT da 1ª região.

Toda vez que tiver conflito de competência entre órgãos de jurisdição trabalhista, tem que olhar para o ponto de convergência superior. Vai subindo até encontrar o órgão que seja superior às duas varas, como o tribunal.

2) Vara do Trabalho X Vara do Trabalho – regiões diferentes1ª Vara do rio de Janeiro X 1ª Vara de Belo Horizonte quem manda nelas? Na do RJ é o TRT da 1ª região, na de BH é o TRT da 3ª região. Tem que subir até achar o ponto de convergência. Quem manda nas duas? O TST.

Se há conflito entre vara do trabalho subordinadas a TRTs diferentes, tem que subir um grau, se não é o mesmo grau, sobe mais um, e ao chega no TST.

3) TRT de região “x” X Vara do Trabalho subordinada a região “y”TRT 3ª região X 1ª Vara do Rio de Janeiro a mesma coisa, olha para cima e se chega ao TST.

4) Vara do Trabalho subordinada a região “x” X TRT de região “x”Vara do Rio de Janeiro X TRT da 1ª região se você tá brigando com o seu chefe, abaixa a cabeça. Quem vai resolver é o TRT da 1ª região.

Assim, o TRT da 1ª região resolve os conflitos dele para baixo; o TRT da 3ª região resolve o conflito dele para baixo. Se são órgãos da

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Processo do Trabalho Aula 10 20-04-2012

mesma região, vai parar no TRT. Se são órgãos de regiões diferentes, vai chegar no TST. Esse é o raciocínio quando os órgãos têm jurisdição trabalhista.

II) Conflito entre órgão com jurisdição trabalhista e sem jurisdição trabalhista

É só ver se tem tribunal superior envolvido (será STF ou STJ), não precisa nem olhar para cima.

Exemplos:

1) Vara do Trabalho X Vara Cível/Justiça Federal tem órgão superior envolvido? Não. Então é o STJ. O legislador disse que é o STJ que decide, não tem o que discutir.

2) STJ X Vara Cível tem tribunal superior envolvido? Tem. Então é o STF.

3) TST X 1ª Vara Cível tem tribunal superior, então é o TST (não sei se ele se confundiu e ao invés de falar TST, quis falar STF)

Trabalhista com trabalhista, ponto de convergência superior: se você tá brigando com um cara acima de você, quem manda é quem está acima de você. Se você tá brigando com um igual a você, olha pra cima: se são varas da mesma região, o TRT resolve; se são varas de regiões diferentes, o TST resolve. Se você tá brigando com órgão sem jurisdição trabalhista (vara cível, justiça federal etc), tem que verificar se tem tribunal superior envolvido. Se um dos órgãos for tribunal superior (STJ, STF, TST, TST, TSM etc), será o órgão STF, mesmo que ele mesmo esteja envolvido. Se não tiver tribunal superior envolvido, será o STJ.

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Processo do Trabalho Aula 11 27-04-2012

A gente falou de jurisdição e hoje falaremos de processo e ação. Vamos fechar o critério estrutural da relação jurídica processual.

Esse critério funciona mais ou menos como uma ferrovia. Quem quiser materializar, materialize como uma ferrovia. A ação seria uma locomotiva, porque nela se depositam os pedidos e o juiz seria o maquinista, pois ele conduz a locomotiva encima da rede ferroviária, que é o processo.Quando você está entrando na ferrovia, você compra seu bilhete. O juiz pode levar seu bilhete para estação procedência ou para a estação improcedência. O processo é toda essa malha ferroviária, pois o juiz pode extinguir ele com resolução de mérito, sem resolução de mérito. Pelo meio do caminhoO processo exige determinados pressupostos para que ele possa existir e ser válido, como diz o artigo 267, §4 cpc.

Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: (Redação dada pela Lei nº 11.232, de 2005)        I - quando o juiz indeferir a petição inicial;        Il - quando ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes;        III - quando, por não promover os atos e diligências que Ihe competir, o autor abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias;        IV - quando se verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo;        V - quando o juiz acolher a alegação de perempção, litispendência ou de coisa julgada;        Vl - quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade jurídica, a legitimidade das partes e o interesse processual;        Vll - pela convenção de arbitragem; (Redação dada pela Lei nº 9.307, de 1996)        Vlll - quando o autor desistir da ação;        IX - quando a ação for considerada intransmissível por disposição legal;        X - quando ocorrer confusão entre autor e réu;        XI - nos demais casos prescritos neste Código.

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        § 1o  O juiz ordenará, nos casos dos ns. II e Ill, o arquivamento dos autos, declarando a extinção do processo, se a parte, intimada pessoalmente, não suprir a falta em 48 (quarenta e oito) horas.        § 2o  No caso do parágrafo anterior, quanto ao no II, as partes pagarão proporcionalmente as custas e, quanto ao no III, o autor será condenado ao pagamento das despesas e honorários de advogado (art. 28).        § 3o  O juiz conhecerá de ofício, em qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto não proferida a sentença de mérito, da matéria constante dos ns. IV, V e Vl; todavia, o réu que a não alegar, na primeira oportunidade em que Ihe caiba falar nos autos, responderá pelas custas de retardamento.        § 4o  Depois de decorrido o prazo para a resposta, o autor não poderá, sem o consentimento do réu, desistir da ação. Os pressupostos de constituição são os elementos de existência, pois sem eles o processo não existe.Os pressupostos validos de desenvolvimento e regular, são os requisitos de validade, pois sem eles o processo pode até existir, mas não será válido.

Como se divide isso? Esquematicamente é mais ou menos assim:

1-Os pressupostos de constituição se subdividem em objetivos e subjetivos.

-Os subjetivos se dividem em: Juiz e Partes. É o sujeito do processo. Para existir o processo precisa de 2 sujeitos. Um é o juiz e o outro são as partes, especificamente o autor. No momento em que o autor e o juiz se conectam você tem o processo existente.

Mas é qualquer juiz, qualquer autor? Não. O juiz deve ser investido de jurisdição. Isso exclui os juízes de futebol, xadrez etc.A parte pode ser qualquer figura que aparecer no processo? Não. A parte deve ser dotada de capacidade de ser parte. Que que é isso? Lembra muito a capacidade civil. Significa que você tem que ser capaz de direitos e deveres. Art 1 CC. Tem que ser titular, capaz de ser titular de direitos e obrigações.

Art. 1o Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.

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Eventualmente você vai ter pessoa sem personalidade jurídica e capaz de ser parte. Porque assim o direito recomenda.Ex: sociedade de fato, massa falida, condomínio, espolio, MTP, que são figuras fictícias dotadas de capacidade para figurar no processo, capacidade para ser prte. O que se exclui? Coisa, entidades espirituais.

Ai vocês se perguntam: Para que eu estou estudando isso?É obvio que nenhuma pedra vai ajuizar uma ação, é obvio que nenhum morto vai passar uma procuração para o advogado. É, mas não é! Por exemplo, caso concreto feito por mim. Estou sentado no dia da audiência e falo para a juíza: ”excelência esse processo não existe. E ela: Doutor, o processo está nas minhas mãos!Prof: O autor esta morto! Ele diz que estudou o processo e verificou que o autor havia morrido antes do ajuizamento da ação. O cara tinha morrido antes de dar a procuração ao advogado.Quando eu falei que o cara morreu o advogado ficou desesperado. O que aconteceu? O cara que procurou ele vivo e realmente deu a procuração. O advogado demorou para ajuizar a ação e o pretenso autor morreu. O advogado ficou com vergonha e datou a procuração com a data próxima ao ajuizamento, para não pagar mico e ficarem sabendo que ele sentou durante um ano em cima do processo. Mas para o seu azar, o cara morreu neste período e ninguém avisou ele. Ai quando chegou a hora da audiência ele ligou para o cara e descobriu que havia morrido, pois a esposa do falecido não o avisou. Sabendo disso, ele tentou mexer os pauzinhos, mas o resultado foi desastroso e eu expliquei que o pretenso autor já havia morrida na época do ajuizamento da ação. Resultado: A juíza extinguiu o processo sem resolução do mérito por ausência de um dos pressupostos de constituição do processo. Uma parte sem capacidade de ser parte. Resultado. Como não existia o processo, a citação interrompeu a prescrição e o processo acabou e o direito foi embora para sempre e o réu ganhou. Caso concreto.

Agente estuda isso para se, ao chegar numa audiência e descobrir que o autor morreu, arguir a ausência de um dos pressupostos de constituição do processo.

-Elemento objetivoA postulação

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É O link que se faz entre a parte e o juiz. No momento em que você, a parte, postula, conecta a sua postulação com o magistrado, cria o processo em sua existência.São os pressupostos de constituição do processo.

Ai você passa para o segundo nível, o nível posterior. Que é saber se o processo existente é válido, saber se essa validade vai fazer o processo produzir efeitos.

O juiz:, além de investido de jurisdição, tem que ter a sua parcela de jurisdição adequada, ele tem que ser competente, ele tem que ser imparcial.Resumindo, ele tem que estar revestido das garantias do juiz natural, que a gente estudou. O princípio do juiz natural: Competente, independente, imparcial.

As partes: Aqui complica um pouquinho mais. Passa da capacidade das partes para a capacidade processual. Uma coisa é você figurar no processo e outra coisa é você agir nele.Capacidade de ser parte é você estar lá, figurino, sentadinho. Capacidade processual é você se mexer no processo. O incapaz, por exemplo, pode ser parte, mas não poderá agir e deverá estar representado ou assistido.A capacidade processual é o elemento que vai dar a capacidade de se agir no processo. Normalmente se confunde quando olham o código civil.

Manda ler o art 8, CPC e o art 4, CC:

Art. 8o  Os incapazes serão representados ou assistidos por seus pais, tutores ou curadores, na forma da lei civil.

Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil:

I - os menores de dezesseis anos;II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não

tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos;III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem

exprimir sua vontade.

Inaldível....32,20min.

Só que tem um outro detalhe aqui muito interessante.O detalhe do art 5, §único, V, CC.

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Art. 5o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.

Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:

I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;

II - pelo casamento;III - pelo exercício de emprego público efetivo;IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela

existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.

A constituição veda qualquer trabalho abaixo de 16 anos e então para se empregar deve ter mais de 16 anos, assim versando também o código civil.

Com 16 anos o sujeito é relativamente incapaz e essa incapacidade relativa cessa pela existência de emprego, desde que tenha economia própria.Economia própria é um salario mínimo. Assim diz o legislador, que é capaz de suprir todas as necessidades. rs

E se aparecer um incapaz no processo? Ai depende. Se for um incapaz que não possua representante legal ou tendo, se seus interesses colidirem, o juiz deve nomear um representante para ele. É o que a gente chama de curador especial “alguma coisa”.....inaudível.Ele é especialmente designado para o processo. Essa incapacidade pode ser resolvida pelo magistrado.Isto está no Art 9, I, CPC

Art. 9o  O juiz dará curador especial:        I - ao incapaz, se não tiver representante legal, ou se os interesses deste colidirem com os daquele;        II - ao réu preso, bem como ao revel citado por edital ou com hora certa.

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        Parágrafo único.  Nas comarcas onde houver representante judicial de incapazes ou de ausentes, a este competirá a função de curador especial.

Se for hipótese de ele não ter um representante, ai é o art 13 CPC.

        Art. 13.  Verificando a incapacidade processual ou a irregularidade da representação das partes, o juiz, suspendendo o processo, marcará prazo razoável para ser sanado o defeito.        Não sendo cumprido o despacho dentro do prazo, se a providência couber:        I - ao autor, o juiz decretará a nulidade do processo;        II - ao réu, reputar-se-á revel;        III - ao terceiro, será excluído do processo.

O prazo do artigo 13 é um prazo razoável para o juiz sanar o defeito. Se sanar o processo continua e se não sanar, depende.

Se não for sanado no prazo que o juiz der. Se a parte a ser representada for autor, o processo é extinto sem resolução de mérito, prque precisa do autor para revestir o processo. Se for o réu, este será declarado revel. Se for o terceiro ele é excluído do processo.Isto eta no art 13 CPC.

Além da capacidade processual, a parte deve ter capacidade postulatória.O que é isso?É a capacidade de promover atos técnicos do processo. Ela pode ser do profissional, mas eventualmente ela pode ser dada à própria parte. Estou falando Jus postulandi, que é previsto no art 791, CLT.

        Art. 791 - Os empregados e os empregadores poderão reclamar pessoalmente perante a Justiça do Trabalho e acompanhar as suas reclamações até o final.        § 1º - Nos dissídios individuais os empregados e empregadores poderão fazer-se representar por

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intermédio do sindicato, advogado, solicitador, ou provisionado, inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil.        § 2º - Nos dissídios coletivos é facultada aos interessados a assistência por advogado.        § 3o  A constituição de procurador com poderes para o foro em geral poderá ser efetivada, mediante simples registro em ata de audiência, a requerimento verbal do advogado interessado, com anuência da parte representada. (Incluído pela Lei nº 12.437, de 2011)

Você vê isso é um artigo da época em que a justiça do trabalho não era um órgão do poder judiciário. Só que a gente sabe que a justiça do trabalho tem um processo que é complexo e bastante confuso, onde um leigo, atuando sozinho até o final, como diz o artigo, é perigoso. Ele bota em risco o seu direito, bota em risco o a sua defesa. Num consenso geral, acaba sendo perigoso.

Esta em vigor o artigo, não está? Tem gente que diz que sim. Tem gente que diz que não, que na prática não funciona. Eu sou partidário dessa corrente.

Os que dizem que o JUS POSTULANDI acabou, sustentam com base no artigo 133, CF.

Art. 133. O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei.

Eles dizem que não foi recepcionado pela CF 88.

Mas o TST não poderia extirpar completamente o JUS POSTULANDI. Mas, mesmo sendo uma aberração, ele existe nesses interiores.O TST adotou uma postura intermediária, conferindo capacidade postulatória a parte em determinadas situações. O JUS POSTULANDI só existe na vara e no tribunal. Não pode chegar aqui. Que resolvam os tribunais regionais.Estou falando da SÚMULA 425 do TST:

Súmula nº 425 - TST - Res. 165/2010 - DeJT divulgado em 30.04.2010 e 03 e 04.05.2010Jus Postulandi - Justiça do Trabalho - Alcance - Limitação

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O jus postulandi das partes, estabelecido no art. 791 da CLT, limita-se às Varas do Trabalho e aos Tribunais Regionais do Trabalho, não alcançando a ação rescisória, a ação cautelar, o mandado de segurança e os recursos de competência do Tribunal Superior do Trabalho.

Toda essa divergência de postura tem 2 consensos:

1- É uma exceção. A regra é estar acompanhado por advogado.2- É facultativo, pois ali no artigo da CLT está escrito que

poderão e não que deverão.

Se a parte constituiu advogado, ela abriu mão do JUS POSTULANDI.

Então os elemento, requisitos de validade, pressupostos de desenvolvimento válido e regular subjetivos quanto as partes são:

1- Capacidade processual – poder agir no processo2- Capacidade postulatória – poder agir tecnicamente no processo

Requisitos objetivos, que são os requisitos negativos. São enxergados da seguinte forma: a ação tem que ser original. Original em que sentido? Não pode ter sido ajuizada em outro momento. Tramitando só pode ter uma e não 2 iguais, senão ocorre a litispendência. Não pode ter uma nova ação da que já transitou em julgado. Você tem a coisa julgado. São requisitos negativos.

Segundo:Perempção. Vamos estudar posteriormente, mas é uma forma de abandono da causa. Tem no processo civil e no processo do trabalho tem suas peculiaridades.Vocês podem anotar ai, só para como registro, o artigo 732 da CLT e §único do artigo 268,CPC.

E por fim, convenção de arbitragem. Isso no processo do trabalho é muito delicado e quase pacífico que a convenção de arbitragem, excluindo a apreciação jurisdicional não é aplicável ao direito do trabalho......47,20...

Esse é o resumo esquemático que agente falou. E ai passamos para ação.A ação é muito importante e é definição da ação é que vai dizer o que é litispendência e coisa julgada.

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Os elementos da ação é que definem a identidade da ação.Quais são eles?Você identifica se uma ação é idêntica a outra analisando. PARTE, PEDIDO E CAUSA DE PEDIR.Pedido e causa de pedir. Pedir é o objeto da ação, causa de pedir é o fundamento que leva ao direito e parte são aquelas que figuram no processo. Tem capacidade de ser parte e também aquelas que eventualmente não figuram no processo e são titulares dos direitos e das obrigações debatidos.Eventualmente uma pessoa pode ajuizar uma ação em seu nome, para defender o direito de outra pessoa. Ex: Sindicato, quando ajuíza ação coletiva em nome próprio, para defender interesses de membros de uma categoria. Quem receberá a tutela jurisdicional? O membro da categoria. Mas quem figura como parte? O sindicato. Isso significa dizer, que eventualmente em ação coletiva, outros legitimados podem ajuizar a ação, como por exemplo, o MPT.Digamos que o sindicato ajuíza uma ação civil publica para colocar um filtro num ar-condicionado de uma indústria, que está muito danificado. O MPT ajuíza uma ação idêntica, sem saber. Você tem identidade de pedido e causa de pedir. Só que as partes não são idênticas. Num lado você tem o MPT e no outro o Sindicato.

Você estende a interpretação de parte, como elemento da ação, para não somente aquele que figura no processo, mas aquele que justifica a figura do processo. O titular do direito, ou o titular da obrigação correspondente.

Entendendo isso, vocês têm os elementos da ação.

Pergunta: Em demandas coletivas, geralmente você reúne as ações por conexão. Mas, em regra deveria extinguir a próxima por conta da presença de um elemento negativo de validade do processo. Mas em ações coletivas isso funciona um pouquinho diferente.

As ações são identificadas por causa de pedir e partes do pedido.E as condições da ação? As condições da ação são critérios de otimização do processo que foram estabelecidos pelo legislador para acelerar o resultado da demanda. Então você tem uma demanda mais célere.Par que elas servem? Elas são óbices. O que são óbices? São filtros do trâmite processual. Então você tem, pelo ARTIGO 267, VI, CPC, 3 condições:

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1- Legitimidade de causa.2- Interesse no processual, ou interesse de agir.3- Possibilidade jurídica do pedido.

        Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: (Redação dada pela Lei nº 11.232, de 2005)        I - quando o juiz indeferir a petição inicial;        Il - quando ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes;        III - quando, por não promover os atos e diligências que Ihe competir, o autor abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias;        IV - quando se verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo;        V - quando o juiz acolher a alegação de perempção, litispendência ou de coisa julgada;        Vl - quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade jurídica, a legitimidade das partes e o interesse processual;        Vll - pela convenção de arbitragem; (Redação dada pela Lei nº 9.307, de 1996)        Vlll - quando o autor desistir da ação;        IX - quando a ação for considerada intransmissível por disposição legal;        X - quando ocorrer confusão entre autor e réu;        XI - nos demais casos prescritos neste Código.        § 1o  O juiz ordenará, nos casos dos ns. II e Ill, o arquivamento dos autos, declarando a extinção do processo, se a parte, intimada pessoalmente, não suprir a falta em 48 (quarenta e oito) horas.        § 2o  No caso do parágrafo anterior, quanto ao no II, as partes pagarão proporcionalmente as custas e, quanto ao no III, o autor será condenado ao pagamento das despesas e honorários de advogado (art. 28).        § 3o  O juiz conhecerá de ofício, em qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto não proferida a sentença de mérito, da matéria constante dos ns. IV, V e Vl; todavia, o réu que a não alegar, na primeira oportunidade em que Ihe caiba falar nos autos, responderá pelas custas de retardamento.        § 4o  Depois de decorrido o prazo para a resposta, o autor não poderá, sem o consentimento do réu, desistir da ação.

Para a sua ação prosseguir, você vai precisar, além dos pressupostos processuais, de ter preenchidas as condições da ação. E ai quando se fala de legitimidade se está falando se referindo à partes, que é

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diferente de capacidade das partes, que é diferente de capacidade processual, que é diferente de capacidade postulatória.

Legitimidade da parte significa identificar ela como titular da relação jurídica material em discussão. Como titular do direito material, no caso do autor, ou como titular da obrigação correspondente, no caso do réu.Então, se a mim são devidas horas-extras, eu ajuízo uma ação porque sou o titular delas. Quem me deve? O meu empregador. Então eu coloco no polo passivo o meu empregador. Então eu cumpri o critério da legitimidade AD CAUSA.

Interesse processual. É o interesse de agir. Interesse em latim, é o que esta entre. Então você esta entre duas coisas. Que coisas? Necessidade e utilidade. Isso significa que não é qualquer um que pode ajuizar uma ação, pois você mexerá a máquina do judiciário e isso gerará um custo. Deve ter interesse e necessidade. Isso quer dizer que é necessário que o poder público se mexa. Ex: Fui mandado embora sem justa causa e quero meu FGTS. É só imprimir a guia para isso. Não há necessidade de se ajuizar ação. Já é um direito reconhecido, bastando apenas imprimir uma guia.

É preciso que o que você quer seja útil para você. Tenha alguma utilidade. Ex: acordo na comissão de conciliação prévia. Gera um titulo executivo extrajudicial , que se não for cumprido, você vai executar ele. Você precisa da intervenção judicial unicamente para executar. Sua necessidade é executória. Se você ajuíza uma ação para pedir ao juiz que ele condene o réu a te pagar aqueles 1k que ele mesmo reconheceu e gerou o titulo, você não tem utilidade nenhuma naquilo, pois ele vai te dar exatamente o que você já tem. Agora, você precisa do juiz? Precisa. Para que ele determine a execução. Então você não tem utilidade quando você não tem interesse de agir, não tem interesse processual.

Possibilidade jurídica do pedido: Está para morrer e por isso a cruzinha no quadro. No novo CPC ela sai da condição da ação. Isso é uma das maiores infelicidades que inventaram, porque é bonita na teoria, mas na prática é um inferno porque ela movimenta demasiadamente as contestações e as sentenças. Ela é real, é fática, pois se você pede uma coisa que é proibida pelo ordenamento é claro que ela será indeferida. Você pode extinguir sem resolução de mérito. Com isso, abre-se margem

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para recursos, contestações demasiadas, se tornando um problema. Na pratica é quase nula a probabilidade de se pedir algo juridicamente impossível.

Juridicamente impossível é aquilo que o ordenamento jurídico diz que não pode, ele veta, ele impede.Ex: tortura, não adianta pedir para tortura para um empregador safado, pois o ordenamento impede. Não há possibilidade jurídica. É muito excepcional que são poucas as hipóteses de arguição. Mas se tornou regra na prática. E ai você movimenta o poder judicial.

Essas são os três óbices. Quando o juiz verifica isso?Se a ideia acelerar o processo, ele tem que verificar o quanto antes, não tem que ficar esperando o réu contestar.Para ver se é possível, se não é; se é uma parte interessada, se não é.

Criou-se a teoria da asserção. Asserção é igual a afirmação. Afirmativa.Você só avalia as condições da ação segundo a asserção, segundo a afirmação, segundo a petição inicial.Segundo os próprios elementos da petição inicial, você consegue constatar que ele não tem interesse, ele não é parte jurídica, o pedido é juridicamente impossível.

Ai, pela teoria da asserção, você extingue o processo sem resolução do mérito.

Se você tem que analisar as provas, entrar no mérito, ai você não tem uma condição da ação sendo analisada. Você tem o mérito sendo analisado.

Então a gente fecha jurisdição, fecha processo e fecha ação, como algo estrutural da relação jurídica processual.

Para finalizar a aula, a gente fala um pouco de partes no processo do trabalho. Isso é bem confuso. Especialmente porque todo o sistema começou extrajudicial, virou judicial e mantiveram-se os artigos. Isso pode confundir o aluno o advogado, o juiz. Ai você vê um monte de barbaridade escrita, sentenciada etc.

Então, parte no processo é autor e réu. No processo do trabalho é reclamante e reclamando também. Isso se eternizou assim.

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Reclamante e reclamado era algo típico do procedimento extra judicial. Mas essa nomenclatura foi mantida quando se tornou processo judicial.Se for no site do Planalto, lá eles mantém a nomenclatura Juntas de conciliação e julgamento.Em bora algumas editoras façam essa distinção.

O autor e réu podem ser parte no processo. O artigo 792, CLT diz quem pode ser parte no processo. Quem tem capacidade no processo do trabalho:

        Art. 792 - Os maiores de 18 (dezoito) e menores de 21 (vinte e um) anos e as mulheres casadas poderão pleitear perante a Justiça do Trabalho sem a assistência de seus pais, tutores ou maridos.

Aqui existem aberrações. As descasadas que arrumem um marido. em prol da família. É obvio que isso morreu, a começar pela incompatibilidade com a Constituição. Os maiores de 18 e menores de 21 foi revolucionário, muito importante. Estamos falando do CC de 1916, que dizia que o maior absolutamente capaz é o maior de 21 anos. Aqui basta 18 anos. Hoje se sabe que até um de 16 vai poder se tiver emprego ou economia própria.Então com o CC e a CF este artigo da CLT não serve para nada.

Mas isso existe lá, mas deve ser lido combinado com o artigo 5 do código civil.

Para compreender a CLT temos que ter noção do que é representação e o que é assistência. São termos processuais. Não vamos confundir esses termos com os termos do D.civil.Porque se você for ao Art 791, §1 CLT.

        Art. 791 - Os empregados e os empregadores poderão reclamar pessoalmente perante a Justiça do Trabalho e acompanhar as suas reclamações até o final.        § 1º - Nos dissídios individuais os empregados e empregadores poderão fazer-se representar por intermédio do sindicato, advogado, solicitador, ou provisionado, inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil.

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        § 2º - Nos dissídios coletivos é facultada aos interessados a assistência por advogado.        § 3o  A constituição de procurador com poderes para o foro em geral poderá ser efetivada, mediante simples registro em ata de audiência, a requerimento verbal do advogado interessado, com anuência da parte representada.

Solicitador e provisionado. Vamos começar a distinguir essas figuras que já foram extintas, que estão em extinção.

SOLICITADOR:É uma espécie de rábula, um conhecedor das leis trabalhistas sem formação jurídica.

PROVISIONADO:É o antigo estagiário, que podia assistir a parte. Então, os advogados mais antigos vão te dizer: “olha comecei a pegar meus primeiros clientes como estagiário.”

Quando no §1 encontramos a palavra representar, este representar significa assistir profissionalmente. É assistência, capacidade postulatória, é o que está ao lado do seu cliente assistindo ele profissionalmente e representá-lo. Ai, você podia configurar conjugar na mesma pessoa, representante, vamos pensar em pessoa jurídica para ficar mais fácil. Representante da pessoa jurídica era o advogado e o assistente da pessoa jurídica, o profissional assistente da pessoa jurídica era o advogado. Nessa época o era possível conjugar essas 2 situações. O advogado poderia estar ali como parte e como profissional da advocacia.Isso acabou porque no código de ética e disciplina da OAB, no Art 23, diz que o advogado não pode acumular as funções de advogado e preposto.

Art. 23. É defeso ao advogado funcionar no mesmo processo, simultaneamente,como patrono e preposto do empregador ou cliente.

Então ou ele é patrono, ou ele é advogado empregado, ou ele é preposto.

Então sobrou para quem? O §1, Art 791 CLT, serve para alguma coisa? Serve. Ara o sindicato ainda conta. O sindicato ainda pode

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representar a parte em algumas hipóteses e ele pode assistir a parte. Porque é ele o devedor da obrigação de assistência jurídica gratuita. Nem a defensoria pública da União pode atuar. Resposta: Representação é o seguinte. Pegue ai o Art 12 do CPC.

        Art. 12.  Serão representados em juízo, ativa e passivamente:        I - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Territórios, por seus procuradores;        II - o Município, por seu Prefeito ou procurador;        III - a massa falida, pelo síndico;        IV - a herança jacente ou vacante, por seu curador;        V - o espólio, pelo inventariante;        VI - as pessoas jurídicas, por quem os respectivos estatutos designarem, ou, não os designando, por seus diretores;        VII - as sociedades sem personalidade jurídica, pela pessoa a quem couber a administração dos seus bens;        VIII - a pessoa jurídica estrangeira, pelo gerente, representante ou administrador de sua filial, agência ou sucursal aberta ou instalada no Brasil (art. 88, parágrafo único);        IX - o condomínio, pelo administrador ou pelo síndico.        § 1o  Quando o inventariante for dativo, todos os herdeiros e sucessores do falecido serão autores ou réus nas ações em que o espólio for parte.        § 2o - As sociedades sem personalidade jurídica, quando demandadas, não poderão opor a irregularidade de sua constituição.        § 3o  O gerente da filial ou agência presume-se autorizado, pela pessoa jurídica estrangeira, a receber citação inicial para o processo de conhecimento, de execução, cautelar e especial.

Ele lê até o inciso V e diz que aqui podemos ver algumas entidades com personalidade jurídica e outras sem. Elas precisam fazer se representar no processo. Geralmente vai um preposto. Ele comete os atos de parte. Ele pode receber citação, ele presta depoimento. Já o advogado, ele assiste profissionalmente a parte. Quando o juiz diz para você: “Doutor, representação e assistência”. Ele quer a carta de

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preposto, que confere representação e quer a procuração, que confere os poderes da assistência ao advogado.Representação é o ato de representar efetivamente a pessoa para os atos extrajudiciários, que seriam atos próprios da parte. Assistência são os atos técnicos do advogado, que assiste juridicamente a parte.

O devedor da assistência gratuita no direito do trabalho é o sindicato. Então ele pode assistir. Vamos ver que o sindicato pode, também, representar as partes em determinadas hipóteses. É diferente da substituição processual. A representação é você falar em nome de outra pessoa. Você é o preposto da empresa. Você defende direito alheio em nome alheio, você está representando a pessoa.

Ai, para finalizar a aula, só para entender isso aqui, que talvez seja o mais difícil. Art 843, §1 e 2.

        Art. 843 - Na audiência de julgamento deverão estar presentes o reclamante e o reclamado, independentemente do comparecimento de seus representantes salvo, nos casos de Reclamatórias Plúrimas ou Ações de Cumprimento, quando os empregados poderão fazer-se representar pelo Sindicato de sua categoria. (Redação dada pela Lei nº 6.667, de 3.7.1979)        § 1º - É facultado ao empregador fazer-se substituir pelo gerente, ou qualquer outro preposto que tenha conhecimento do fato, e cujas declarações obrigarão o proponente.        § 2º - Se por doença ou qualquer outro motivo poderoso, devidamente comprovado, não for possível ao empregado comparecer pessoalmente, poderá fazer-se representar por outro empregado que pertença à mesma profissão, ou pelo seu sindicato.

Quando no Caput, ele fala representante, a gente tem que tomar cuidado porque a CLT, quando fala de representante, ele vem com duas significações, que são a representação e a assistência.Então, quando ele esta dizendo aqui que eles deverão comparecer independente de ter um representante lá no lugar dele ou independente de vir o seu patrono. Então é o reclamante e o

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reclamado, independente dos seus representantes devem comparecer à audiência.Salvo no caso de Reclamatórias Plúrimas, que nós entendemos, hoje, como litisconsórcio ativo.Ou nas Ações de Cumprimento, quando os empregados poderão fazer-se representar pelo sindicato da sua categoria. E essa representação é estar no lugar da parte, representando ela, e também defendendo.Como isso ocorre? O sindicato irá designar uma pessoa para representar e nomeará um advogado para assistir a parte.

E ai vem no §1, 843, CLT, quando diz substituir, leiam representar. Porque não é caso de substituição processual.Proponente é aquele que confere poderes ao preposto.

Ele lê o §2, 843, CLT.

Então resumindo o §1, o §2 e o caput do artigo 843:Quem pode representar o empregado e em que condições?Se for reclamatória, se for litisconsórcio ativo, ou ação de cumprimento o sindicato pode representar, com a condição de ser Reclamatória Plúrima ou Ação de Cumprimento. Pelo simples fato da demanda. No dia da audiência vai o sindicato e um advogado do sindicato também. Então condição: Reclamatória Plúrima ou ação de cumprimento, quem representa? O sindicato.Segunda condição. Está no §2. Impossibilidade de comparecimento da parte. O empregado não pode comparecer. Quem poderá representar? Ou o sindicato, ou o sindicato. Requisitos? O sindicato de sua categoria profissional, ou outro empregado da mesma profissão. Não precisa ser empregado do mesmo empregador.Para o empregador é muito mais comum a representação, até porque existem muitos empregadores que não são pessoas físicas, sendo pessoas jurídicas.

Então, como está no §1, independente de condição, o empregador pode se representar com o preposto.Em qualquer hipótese. Pode ser reclamatória Plúrima ou ação de cumprimento.Então, qual é o requisito para que? A pessoa figure como preposto ali, pela lei?Portar uma carta de preposto. O que é isso? É uma espécie de mandato informal.

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Qual a obrigação do preposto, segundo o §1, 843, CLT? Ter conhecimento dos fatos. Quais as consequências dos atos dos prepostos? Suas declarações obrigam o proponente. No momento em que você nomeia o preposto, “ele é o empregador em pessoa ali” e se assinar um acordo dizendo que vai pagar 50k reais para um sujeito que não deve ganhar nem um centavo já era. Paga-se e depois corre-se atrás. Ele obriga você pelas suas declarações.Ele tem que conhecer os fatos, para dar a possibilidade da parte contrária obter confissão real. Se ele não conhece ele é tido como confesso e é aplicada a regra da confissão, porque interpreta isso como negativa de depoimento.Interpreta-se como evasiva e a gente chama a aplicação +ou- analógica do § 2, Art 343 CPC.

Art. 343.  Quando o juiz não o determinar de ofício, compete a cada parte requerer o depoimento pessoal da outra, a fim de interrogá-la na audiência de instrução e julgamento.        § 1o  A parte será intimada pessoalmente, constando do mandado que se presumirão confessados os fatos contra ela alegados, caso não compareça ou, comparecendo, se recuse a depor.        § 2o  Se a parte intimada não comparecer, ou comparecendo, se recusar a depor, o juiz Ihe aplicará a pena de confissão.

Então, o preposto que não conhece o fato, é interpretado no direito do trabalho, como uma parte que se recusa a depor.

Agora, na prática, qualquer um pode ser preposto? Na prática não. Por que? Porque assim entende a jurisprudência. Em regra, pois admite exceção, o preposto tem que ser empregado. Por que? Isso é uma forma da jurisprudência evoluir para evitar a figura do preposto profissional, que é aquele cara muito fera e que vive disso, ele é muito bom, e colocaria a empresa, a ré numa melhor condição de embate.Isso no entendimento majoritário, agora, todo e qualquer empregador, está obrigado a ter empregado? Não, você pode ser uma micro empresa pode ter 1 empregado e o seu funcionário que você mandou embora ajuíza uma ação contra você. E ai, você esta viajando. Você não manda ninguém? Não. Porque? Leiam o Art 54, Lei Complementar 123/2006.

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Art. 54.  É facultado ao empregador de microempresa ou de empresa de pequeno porte fazer-se substituir ou representar perante a Justiça do Trabalho por terceiros que conheçam dos fatos, ainda que não possuam vínculo trabalhista ou societário. 

Até porque, se o cara não tem nem empregado, ou tem pouquíssimos empregados, o cara não vai ter disponibilidade e dinheiro para pagar um preposto profissional. Empregador doméstico se encontra em situação similar, pode-se fazer representar por outra pessoa. Mas tem uma razão até superior, que esta prevista no Art 1 da Lei 5859 de1972

Art. 1º Ao empregado doméstico, assim considerado aquele que presta serviços de natureza contínua e de finalidade não lucrativa à pessoa ou à família no âmbito residencial destas, aplica-se o disposto nesta lei.

Diz que o empregador doméstico não é a pessoa que assina a carteira e sim a família. Família são aqueles que residem no ambiente e dão ordens ao empregado. Tem gente que vai além e diz que não seria só a família os limites da representação do empregador doméstico e sim qualquer terceiro, até porque a CLT não diz que o preposto deve ser empregado.

Por último, admite-se também, em caso de grupo econômico e isto não está na Lei, não está em OJ e não está em Súmula, que empregados de grupos econômicos prestem depoimento em favor de empresas do grupo. Não necessariamente para a empresa em que ele é empregado, mas qualquer uma pertencente àquele grupo econômico.Isso é uma contra partida, na medida que, aquele grupo econômico, responde pelas obrigações integralmente. Então, se uma outra empresa responde pelas obrigações de um de seus membros do grupo econômico, nada mais justo do que permitir ao empregado, de outra empresa, que poderia responder por aquela demanda, compareça para prestar depoimento. Isto esta resumido na súmula 377do TST.

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Súmula nº 377 do TSTPREPOSTO. EXIGÊNCIA DA CONDIÇÃO DE EMPREGADO (nova redação) - Res. 146/2008, DJ 28.04.2008, 02 e 05.05.2008

Exceto quanto à reclamação de empregado doméstico, ou contra micro ou pequeno empresário, o preposto deve ser necessariamente empregado do reclamado. Inteligência do art. 843, § 1º, da CLT e do art. 54 da Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006.

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SUCESSÃO DE PARTES E PROCURADORES

É parecido com o que ocorre no Direito Processual Civil. No art. 41 do CPC, sobre substituição das partes, risca isso: ele fala de sucessão das partes, o que confunde a beça. O que é a sucessão? Um sai e outro entra em seu lugar. Sucessão de procuradores é quando um sai e outro o sucede no processo. É diferente do que vamos falar depois do substituto processual. Essa sucessão pode ocorrer em duas hipóteses, em regra: inter vivos, em que a titularidade do direito ou obrigação é passada ou causa mortis, em razão da morte do patrono. É um dos pressupostos processuais você não ser uma coisa, um defunto, ou seja, ser um sujeito de direito.

Quando a parte morre ou perde sua capacidade, o processo é suspenso. Art. 265, I, CPC. O art. 43 do CPC fala da morte das partes e fala de substituição, leia-se sucessão.

Logo, se a parte morreu, o processo é suspenso. Até quando? Até que você possa efetivamente arrumar um sucessor ou, não arrumando, extinga o processo por ausência de partes.

Pode ocorrer também sucessão entre vivos, no caso de direito das sucessões, o que era comum no direito do trabalho. Era comum o advogado comprar o crédito da ação, valendo-se da hipossuficiência de seu cliente. Você podia se habilitar como sucessor ou fazer contrato em separado cedendo só o crédito. Isso ocorria muito, até que a corregedoria geral da justiça do trabalho decidiu que isso não era possível. Isso foi consolidado no art. 100 de uma resolução da corregedoria.

O advogado sai do processo quando renuncia ao mandato, quando seus poderes são revogados pelo cliente ou quando ele morre. Art. 45 do CPC. Tem que comunicar a renúncia e que avisou ao cliente, tendo que continuar no processo por mais 10 dias. Exceção: desde que necessário para evitar prejuízo. Ele não precisa tomar outras providencias que não as que evitem prejuízo.

A revogação parte do cliente. Art. 44 do CPC. Por que não tem prazo? Porque seu prazo está na sua consciência. Você antes procure outro.

Se o advogado morrer, art. 265, I, CPC. É a parte final do inciso. Também se suspende o processo, até que se constitua novo advogado.

Quem sucede quem? Quem pode suceder os sujeitos?

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Aqui tem uma ligeira confusão.

Se morre só um advogado? Em tese não suspende, porque há outro advogado. Ocorre que, às vezes, quem é notificado morre. É uma questão que a jurisprudência não trabalhou. Como equacionar isso? As publicações vão para onde? Me parece que, tendo outros advogados, a morte por si só não suspende o processo não. Talvez seja a hipótese de relevar alguns procedimentos.

A procuração pode ser para o escritório? Não, está no Estatuto da OAB, no código de ética.

Quem pode suceder?

Se for empregador, é mais fácil, ou talvez mais difícil. Quem é o empregador? Empregador é a empresa (art 2º CLT). Não quer dizer que seja a PJ, mas sim a atividade, é o movimento da atividade do negócio. Quem quer que seja que sente ali para tocar a atividade vai suceder o empregador. Deixando de ser PJ, se a atividade continuou, a empresa que assumiu as obrigações antigas da empresa assume. Se a empresa fechou, nomeia-se um sócio para administrar os bens até o fechamento das atividades. Ex: no caso do empregador doméstico, é a família. No art. 1º da lei do domestico diz isso. Então quem mora ali responde pelo crédito, mesmo sem ser família no sentido do direito civil. Quem sucede então o empregador domestico que faleceu? Qualquer membro da família.

Pessoa física que contrata? Ocorre um processo de habilitação (art. 1055 CPC e ss.), vamos ver que vai ser o herdeiro ou sucessor. É o caso também do empregador doméstico que não família. Vai ser o sucessor da lei civil, nos limites da herança. Isso porque a condenação não pode passar da pessoa do condenado. No caso do empregador, se for PJ, é quem assume a atividade. Se esta não se prorrogar, vai ser o sócio que ficou responsável. Se não tiver responsável, qualquer um dos sócios.

O procedimento de habilitação pode ser requerido pela parte ou pelos sucessores e herdeiros contra a parte, o que, na prática, depende se o caso envolve débito ou crédito.

No caso de desconsideração da personalidade jurídica, a justiça do trabalho caminha nesse sentido, ligando o sucesso da empresa à administração.

Quem sucede o empregado? Ele se comporta como pessoa física, sendo regido, a rigor, pelo direito das sucessões. No direito do

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trabalho, porém, há uma norma especifica, de 1980, que diz que os créditos trabalhistas são devidos a quem é dependente no INSS. Lei. 6858/80 (art. 1º) e Decreto 85845/81 (arts. 1º e 2º). Isso foge da regra da herança. O filho que tenta se habilitar pra receber o crédito pode descobrir que o pai tem outros filhos, dependentes no INSS. É uma questão superdelicada, temos que interpretar a lei. Tem gente que diz que o CC revogou essa lei, não devendo se violar o direito das sucessões.

Tem uma questão moral nisso, que vai além da simples sucessão. Como funciona a habilitação no INSS? Tem um procedimento específico.

Isso tem uma razão de ser. Estamos falando em direitos trabalhistas. As parcelas trabalhistas têm natureza alimentícia e, portanto, esse crédito é transportado aqueles que você alimenta. Além disso, habilitação é um procedimento muito rápido. Se for esperar espolio, partilha, etc., e precisar disso, vai morrer de fome. E aqui também se divide de forma igual, pois quem come, come igual. É uma norma também mais específica, e a norma específica revoga mais genérica. Até porque ela subordina, no caso de não haver habilitados no INSS, às regras da sucessão. O art. 1º do Decreto deixa claro que os valores discriminados serão pagos em cotas iguais aos habilitados. Especifica no inciso I a questão dos créditos trabalhistas. Às vezes, não se habilita ninguém. Aí o juiz pode habilitar os herdeiros.

Então o sucessor entra no processo e passa a assumir as obrigações de quem sucedeu.

Mas e se ele não for apresentado? Se ele não aparecer no processo? O advogado, e.g., que renuncia. O cliente deve apresentar outro advogado ou vai perder a capacidade postulatória. Isso pode ser interpretado de duas formas: se o autor perde a capacidade postulatória, perde um pressuposto processual e extingue-se o processo, ou também pelo abandono do processo (Art. 267, IV, CPC).

Se for o réu, se ele não apresenta advogado, não pode ser igual. O processo segue à sua revelia. Se você não tiver capacidade postulatória não vai poder atuar no processo. Se o réu morrer e não for apresentado o processo nenhum sucessor, extingue-se o processo.

Isso é o resumo da sucessão de partes no processo, que não se confunde com a substituição.

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Substituição é diferente porque significa que você está no processo em seu nome, postulando direito que não é seu, mas de outra pessoa. Essa outra pessoa continua sendo titular do direito ou da obrigação, que não é passada para você. Ex.: sindicato ajuíza ações substituindo os membros da categoria. Não é representação. É sindicato e ponto. Não precisa de autorização, pois essa legitimidade é inferida do sistema legal. Hipótese do art. 6º do CPC. Pro direito processual, o titular do direito tem que ser o autor e o da obrigação tem que ser o réu. Isso é o que se chama de legitimidade ordinária. Se eu sou titular das horas extras, eu devo figurar como autor. Eventualmente, porém, a lei permite que outras pessoas postulem em meu favor. É o caso também de ações coletivas, que vêm em nome da coletividade. Toda vez que falarmos de substituição, lembramos da legitimidade extraordinária, exceção à ordinária, não se confundindo com sucessão processual.

O MP nem sempre age como substituto processual, como quando age como custus leglis. Num ACP, a legitimidade é extraordinária.

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