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PROCESSO DE TRABALHO E SERVIÇO SOCIAL: NOTAS SOBRE O PROCESSO DE TRABALHO, PRODUÇÃO SOCIAL, REPRODUÇÃO SOCIAL E REGULAÇÃO SOCIAL

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PROCESSO DE TRABALHO E SERVIÇOSOCIAL: NOTAS SOBRE O PROCESSODE TRABALHO, PRODUÇÃO SOCIAL,

REPRODUÇÃO SOCIAL E REGULAÇÃOSOCIAL

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O processo de trabalho e serviço social: notas sobre o processo de trabalho, produção social, reprodução social e ...

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PROCESSO DE TRABALHO E SERVIÇO SOCIAL: NOTAS SOBRE O PROCESSODE TRABALHO, PRODUÇÃO SOCIAL, REPRODUÇÃO SOCIAL E REGULAÇÃO

SOCIAL

Maria Aparecida Ramos de Menezes*

RESUMO

Palavras-chave:

A comunicação discute os conceitos de processo de trabalho,produção, reprodução e regulação à luz da economia políticamarxista. A hipótese básica, de origem na dérmarche teórico-marxiana, é a de que o processo de trabalho (forma material)e capital (forma social) compõe uma unidade conceitual,constituindo erro analítico a automação de uma dessasesferas. Ainda mais: esse par conceitual só adquire estatutode totalidade caso imerso no movimento de produção,reprodução e regulação social.

Processo de trabalho. Produção. Reprodução. Regulação.

*MARIA APARECIDA RAMOS DE MENEZESé Doutora em Serviço Social pelaUniversidade Federal do Rio de Janeiro,professora do Departamento de ServiçoSocial da Universidade Federal da Paraíbae Coordenadora do Programa de Pós-graduação em Serviço Social / UFPB.

INTRODUÇÃO

Este artigo, direcionado à revista de ServiçoSocial da Universidade Federal da Paraíba,visa dar notícias de um fragmento de nossa

Tese de Doutorado em Serviço Social, realizadana Universidade Federal do Rio de Janeiro, soborientação do Professor Doutor José PauloNetto, intitulada CRISE CONTEMPORÂNEA ESERVIÇO SOCIAL – AGREGAÇÃO E DISPERSÃO DOPROJETO PROFISSIONAL DE RUPTURA.

Polemizamos, na Tese, em váriasdireções, todas de interesse no debate teórico-acadêmico do Serviço Social. Porém, aqui, demaneira sintético-elíptica e com vários cortesrelativos ao texto original, trataremos somentede uma delas: a da complexa problemáticaconceitual referente à produção material-social,à reprodução social e à regulação social. Objetivaabordar os conceitos de produção material-social, reprodução social e regulação social,quando se trata de iluminar a problemáticarelativa aos diversos processos de trabalho emServiço Social (setor produtivo, setor público,setor privado, setor de serviços sociais etc.),pois só imerso na problemática da produção/reprodução social, é que o debate sobre osprocessos de trabalho em Serviço Social adquire

o estatuto de totalidade. Qualquer processo detrabalho – inclusive os relativos ao Serviço Social– só faz sentido, se concebido na unidadecontraditória entre trabalho e capital, ou seja,na relação entre a forma social mercantil dotrabalho sob o capitalismo e os processos sociaisde produção. Vale observar que essa unidadecontraditória não expressa dois pares iguais,mas a subordinação forma e real dos processosde trabalho à forma mercantil. Assim,resumidamente, o leimotiv da análise de umprocesso de trabalho, enquanto totalidade, dizrespeito a como a mercadoria de trabalho éconsumida pelo capital.

Essa direção não é unívoca no debatesobre processos de trabalho. Pode-seconsiderar que há, no que tange aos estudossobre processo de trabalho, uma clivagemparadigmática de duas posições: uma, queestuda o tema descritivamente, apresentandotendência ao empirismo, deslocando formasocial (o capital) de produção material, trabalhode capital, e outra, que funde, num todoorgânico, trabalho e capital.

Rigorosamente, essa clivagem não éunívoca no pensamento social e político. Pelocontrário, é bastante antiga. Como índice derelativa antiguidade, como forma de ilustração,

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trazemos à baila a crítica de Luxemburgo aBernstein, no célebre debate que envolveu, emcomeços do século XX, as correntesrevolucionária (Luxemburgo) e revisionista(Bernstein) do Partido Social DemocrataAlemão (SPD), cujo tema geral foi a disjuntivareforma e a revolução. Com efeito, um doselementos principais da estratégiabernsteiniana de alcançar o socialismo pordentro do capitalismo e pela via de reformaspaulatinas dizia respeito à possibilidade decontrole social direto da produção pelossindicatos, devido ao crescimento da sociedadede ações, o que provocava o afastamento docapitalista individual do chão-de-fábrica.Porém, há um auto-engano na démarche deBernstein: o capitalista individual tende aabandonar o controle direto da fábrica, mas ocontrole da produção persiste com o capital,agora exponenciando o grau de abstração doseu controle. O fundamento teórico do auto-engano político de Bernstein é exatamente aseparação entre processo de trabalho e capital,uma certa tendência metodológica deautonomizar o primeiro do segundo. EscreveLuxemburgo (1990:78): “para Bernstein a noçãocapitalista abrange não uma unidadeeconômica, mas uma unidade fiscal e por capitalnão entende um fator de produção, massimplesmente uma certa fortuna em dinheiro.”

Este artigo não se prenderá à ricadiscussão recente sobre processos de trabalhoem Serviço Social, em que avultam, em umadireção correta, os trabalhos de Iamamoto(1998: 57-81) e Barbosa/Cardoso/Almeida (1998:109-130), mas a apenas apresentar, em elevadograu de abstração, um antecedente: a inclusãodesse debate na problemática de produçãomaterial-social, da reprodução social e daregulação social, donde sairemos convencidasde que não há um processo de trabalho doServiço Social, mas sim, a imersão deste, comoforma assalariada, nos diversos processos deprodução, reprodução e regulação pelo capital,pela sociedade e pelo Estado. Enfim, de que osprocessos de trabalho em Serviço Social sãoelementos de particularidade atinentes à

produção material-social, à reprodução social eà regulação social sob o capitalismo.

PRODUÇÃO MATERIAL-SOCIAL E REPRODUÇÃOSOCIAL

Na obra de Marx,avara em dissertaçõesde método, um dos raros momentos em queele explicita seu método de trabalho intelectualé na famosa Introdução à crítica da Economiapolítica (1991: 01-25), especialmente na terceiraseção, O Método da Economia Política. Oexemplo é por demais conhecido, mas às vezesincompreendido em sua profundidade econseqüências. Marx parte de um conceitogenérico, o de população, onde as mediações –pelo grau de generalidade do conceito – seapresentam fluidas e indeterminadas, “apopulação é uma abstração, se desprezarmos,por exemplo, as classes que a compõem. Porseu lado, essas classes são uma palavra vazia desentido se ignorarmos os elementos em querepousam, por exemplo: o trabalho assalariado,o capital etc. (...) Assim, se começássemos pelapopulação, teríamos uma representação caóticado todo, e através de uma determinação maisprecisa, através de uma análise, chegaríamos aconceitos cada vez mais simples; do concretoidealizado, passaríamos a abstrações cada vezmais tênues até atingirmos determinações maissimples. Chegando a esse ponto, teríamos quevoltar a fazer a viagem de modo inverso, atédar de novo com a população, mas, dessa vez,não com uma representação caótica de umtodo, porém com uma rica totalidade dedeterminações e relações diversas (...) O últimométodo é manifestamente o métodocientificamente exato. O concreto é concretoporque é a síntese de muitas determinações,isto é, a unidade do diverso. Por isso apareceno pensamento como processo da síntese, comoresultado, não como ponto de partida efetivoe, portanto, o ponto de partida também daintuição e da representação (...)” (16)

Marx observa que, conquanto de maneiraintuitiva, esse era o método de pesquisacientífica de uma de suas fontes de

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conhecimento e elaboração teórica – para usara expressão popularizada por Lênin (1982: 01-39) – a chamada economia política clássica deorigem inglesa, que tem em Smith e Ricardoseus principais corifeus. Segundo ele, “oseconomistas do século XVII (...) começamsempre pelo todo vivo: a população, a nação, oEstado, vários Estados etc.; mas terminamsempre descobrindo, por meio da análise, certonúmero de relações gerais abstratas que sãodeterminantes, tais como a divisão do trabalho,o dinheiro, o valor etc. Esses elementos,isolados uma vez, mais ou menos fixados eabstraídos, dão origem aos sistemaseconômicos que se elevam do simples - tal comotrabalho, divisão do trabalho, necessidade,valor de troca - até o Estado - a troca entre asnações e o mercado mundial.”(16) O simples,no método da economia política clássica, diziarespeito, sempre, à produção material humana,porém não uma produção material indisformee genérica – classificatória de quaisquer dasetapas da história humana – mas materialdeterminada, no caso, não uma produçãomaterial qualquer, mas exarada pela sociedadesob o comando da ordem burguesa.

Essa questão de se dedicar ao estudo deuma produção material determinada (a exaradapela ordem burguesa) é de suma importânciapois, assim, distinguimos essa forma históricade produção material e histórica de outrasformas, também sociais e históricas, deprodução humana, como por exemplo, aprodução material determinada pela ordemfeudal. Obviamente, Marx não comete o errocrasso de negar determinações abstratascomuns a todas as ordens sociais humanas e suasformas de produção material. Evidentemente,há traços comuns em todas as formas deprodução através da história. Assim, segundoconcebe esse pensador (04), “todas as épocasda produção têm certas características comuns,certas determinações comuns. A produção é,em geral, uma abstração, mas uma abstraçãorazoável, na medida em que, efetivamentesublinhando e precisando os traços comuns,poupa-nos a repetição.” Tudo isso é sabido, mas

o principal é que, a par dos traços comuns emtodas as formas de produção através da história,é preciso levar em elevadíssima conta o que éespecífico, pois, no entender de Marx (05), “senão existe uma produção em geral, também nãopode haver produção geral. A produção ésempre um ramo particular da produção – porexemplo, a agricultura, a pecuária, a manufaturaetc. – ou ela é totalidade (...)”

Da diferença entre produção material emgeral e produção material historicamentedeterminada, deriva outra questão de sumaimportância: a relação entre produção edistribuição. Radica, nesse ínterim, umadisjuntiva histórica entre a economia políticaclássica e a economia política vulgar (ouneoclássica) de extremo interesse para nós,assistentes sociais, profissão situadaprincipalmente na esfera da reprodução e dadistribuição e, mais residualmente, na esferada produção material, o que acarreta aconclusão de que os processos de trabalhodominantes em que o Serviço Social de inscrevesão os da esfera reprodutiva e distributiva,especialmente a estatal. Para Marx, emoperação contrária à dérmache teórica de Smithe Ricardo, que situavam social e historicamentea produção material social e humana, oseconomistas posteriores tratavam de“representar a produção – veja por exemplo Mill– diferentemente da distribuição, como regidapor leis naturais, imutáveis, da sociedade inabstrato. Essa é a finalidade mais ou menosconsciente de todo o procedimento. Nadistribuição, ao contrário, os homens permitir-se-iam, de fato, toda classe de arbrita-riedade.”(06)

REPRODUÇÃO SOCIAL E REGULAÇÃO SOCIAL

Cabe advertir, porém, que não estaremosdando conta de toda a problemática referenteà naturalização da produção material e àhistorização arbitrária da distribuição se nãosituarmos essa relação no âmbito daproblemática – mais abrangente – da

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reprodução social. Isso porque há uma lacunana maneira como estamos abordando a questãoaté o momento: só nos detivemos com ênfase,até agora, na produção material; o elementosocial da reprodução, conquanto considerado,não foi enfatizado. E a produção não caminhacom seus próprios pés, ela só existe comoprodução e reprodução social.

Em outros termos, toda a problemáticaaqui abordada só vai adquirir o estatutoontológico da totalidade se conseguir abrangera sociedade capitalista sob o conceito dereprodução social, pois, desse modo,extrapolaremos o circuito analítico circunscritopela mercadoria tour court e constataremos apresença atuante – formando a totalidade – doselementos que possibilitam a sobrevivência eo funcionamento da relação mercantil, taiscomo as relações de poder (concentradasprincipalmente no Estado “restrito” ou“ampliado”) e as culturais-valorativas(expressas pela ideologia).

Netto (1995: 70-71) situa e resume bem aquestão da reprodução social, quando refere:

“Marx afirmava: todo processo deprodução social é também um processode reprodução social. Eu dizia: isso nãoé uma tautologia. Nessa linhaanalítica, o que fica claro é que essaafirmação, em termos de processohistórico real, significa o seguinte: areprodução social de relações sociaiscapitalistas é a condição de classesocial – e quem fala em reprodução declasse social está falando emreprodução de quê? De indivíduos.[Assim] as classes não são teóricas,sem reprodução do Estado, semreprodução das representações ideoló-gicas, sem reprodução do conheci-mento, é impossível a produçãomaterial capitalista. Notem, esseselementos são relações sociais. Éneste sentido que a reprodução destasrelações se torna absolutamenteindispensável para a manutenção daprodução material. Notem: reproduçãodas relações sociais para a sercondição para a produção material.”

E aqui aparece, derivada da problemáticapertinente à reprodução social, outra questão:a da regulação. Conforme acentua corretamente

Netto (72-73), a possibilidade de regulação docapitalismo deriva exatamente do fato de quea produção material de regulação social significaos momentos distintos e complementares deuma totalidade, ou seja, o fato de que a lógicado Estado é uma lógica política, e não, mercantiltour court, de que as classes, na sua configuraçãosocial, são reproduzidas ideologicamente, enão, apenas, materialmente, etc. a brecha daregulação do capitalismo aparece aí: dapossibilidade parcial de isolar e controlar – porcerto tempo – um ou alguns desses elementosda reprodução social.

Vale uma advertência axial: a regulação éum recorte da realidade, e o enfoqueregulatório não precisa operar com a categoriatotalidade. Conquanto não filiado à tradiçãomarxista, mas um pensador de estatura, assimse refere Furtado (1985: 133) à questão daregulação: “a passagem à macroeconomia foium formidável avanço porquanto privilegiou avisão globalizante. Mas política macro-econômica se cinge à idéia de ‘regulação’, ouseja, de interferência no comportamento decertas variáveis macro com vistas a restabelecerum suposto equilíbrio sempre concebidoestaticamente.”

Voltemos a Netto (1995:72-73), para quema principal instância regulatória sob ocapitalismo é, sem dúvida, o Estado, enformadopor todo o séquito de políticas de que eleemana. De acordo com esse autor (1995),quando se fala, hoje, no capitalismo tardio, de“mecanismos de regulação (...) está [se] falandonecessariamente em políticas econômicas epolíticas sociais. Os mecanismos de regulaçãodessas instâncias reprodutivas [a social e aeconômica] são basicamente dadas pelaintervenção estatal (...) Isso posto, soam àspolíticas econômicas e às políticas sociais osgrandes mecanismos de regulação dessasinstâncias.”

O Estado, indubitavelmente, conquantocomponente da totalidade capitalista, e até porisso, desata uma dinâmica diferente da lógicamercantil. Vale dizer: o Estado obedece, via deregra, a uma lógica expedida por uma

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problemática de natureza política, enquanto,por seu turno, a dinâmica do mercado éintrinsecamente despolitizadora e monocórdica– rege o mercado a nota única do lucro.O’Connor (1997, p. 73) esclarece bem a questão:“o capital organiza a produção para o mercado eemprega a força de trabalho só quando hárazoável expectativa de lucro. A administraçãoestatal organiza a produção em função de umasérie de decisões políticas.” Essa dinâmica doEstado, essencialmente política, é a baseestrutural sobre a qual se baseia todo umconjunto de teorias regulatórias, desde oclássico estudo de Keynes (1985) sobre o juro ea moeda (mecanismos de regulação econômicaessencialmente políticos e estatais), até – paraficar num único e interessante exemplobrasileiro recente – as hipóteses de Oliveira(1996) sobre o surgimento de um anti-valor, debens não-mercantis controlados pelo Estadoatravés de políticas sociais universais.

Em suma, o Estado capitalista não segueunicamente as determinações imanentes da leido valor, o que o faz elemento complementar econtraditório do processo de reprodução socialdo capitalismo, com potencialidades inclusiveregulatórias. Na nossa opinião, em ultimainstância, há um limite nas possibilidadesregulatórias do Estado capitalista, pois a relaçãofundante é mercantil, e não, estatal (Marx nãodizia, em contraponto a Hegel, que a sociedadecivil funda o Estado, e não, ao contrário?), masalongar esse debate fugiria do escopo dopresente artigo.

NOTAS

1 Por estar essencialmente situado na esfera reprodutiva edistributiva, isso não autonomiza os serviços sociais em quetrabalham as assistentes sociais de autonomia absolutaface à esfera material-social. A propósito de reverberaçãodessa velha questão presente na disjuntiva da escola daeconomia política clássica versus a economia política vulgarjunto à teórico-acadêmica do Serviço Social, escreve,corretamente, Iamamoto (1998: 243-244): “concentrarunilateralmente a problemática do Serviço Social nos‘círculos do Estado’ é também concentrar a análise daspolíticas sociais e dos serviços sociais dela derivados nofoco da distribuição de riqueza social, parcela da qual écanalizada para o Estado e por ele redistribuída, sob o crivode seu controle e, diferencialmente, ao conjunto dasociedade. A restrição da análise no mundo da distribuiçãoleva a apreender a questão dos investimentos públicos naárea social numa lógica contábil e administrativa, ou seja,de como distribuir os recursos existentes, sem colocar emquestão como e por que estão sendo assim produzidos (...)O que permanece oculto nessa lógica de análise são ascondições sociais e materiais de produção capitalista dopaís, tidas como um dado, cabendo lutar por umadistribuição mais eqüitativa da riqueza, pela intermediaçãodo Estado, tendo na universalização das políticas sociais asua culminância. Mais uma vez, por rotas não desejadas enão previstas, o debate marxista no Serviço Social poderecair no velho dilema da economia política clássica: oprimado da distribuição sobre a produção, ambasapreendidas como dois mundos paralelos, sendo adistribuição o nódulo das controvérsias porque a produçãoé vista como ‘regida por leis naturais eternas (...).”

2 No caso do Serviço Social, o debate sobre a reprodução socialé essencial, pois, como afirma seminalmente Iamamoto(1991: 71), só podemos elucidar o “significado social daprofissão na sociedade capitalista situando-a como um doselementos da partida da reprodução das relações sociaisde classe e do relacionamento contraditório entre elas”.

3 A problemática atinente à regulação é importante do pontode vista do Serviço Social, visto que este se constitui umaprofissão surgida no âmbito da esfera da reprodução – soba divisão do trabalho instaurada no período histórico docapitalismo monopolista – com tarefas interventivas eoperativas, ou seja, de caráter regulatório.

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This work discusses the concepts of work, production, reproduction and regulation process, in thelight of the Marxist political economy. The basic hypothesis, with its origin in the Marxian-theoreticaldemarche, is the one that the work process (material form) and capital (social form) make up aconceptual unity, constituting analytical error, the automation of one of these spheres. Besides, thisconceptual pair assumes totality status just in case it is inserted in the production, reproduction andsocial regulation movement.

Concepts of work. Production. Reproduction. Regulation.

ABSTRACT

Keywords:

REFERÊNCIAS

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