problemas ambient a is de uma cidade media de mato grosso

Upload: elio-junior

Post on 11-Jul-2015

478 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE CINCIAS HUMANAS E SOCIAIS DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM GEOGRAFIA

PROBLEMAS AMBIENTAIS DE UMA CIDADE MDIA DE MATO GROSSO: O caso de Barra do Bugres.

LOIVA ZANON DE MAGALHES

ORIENTADOR: PROF. DR. HUGO JOS SCHEUER WERLE.

CUIAB, MT. NOVEMBRO DE 2008

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE CINCIAS HUMANAS E SOCIAIS PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM GEOGRAFIA

PROBLEMAS AMBIENTAIS DE UMA CIDADE MDIA DE MATO GROSSO: O caso de Barra do Bugres.

LOIVA ZANON DE MAGALHES.

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Geografia, Instituto de Cincias Humanas e Sociais da Universidade Federal de Mato Grosso, como requisito parcial para obteno do ttulo de Mestre em Geografia.

ORIENTADOR: PROF. DR. HUGO JOS SCHEUER WERLE.

CUIAB, MT. NOVEMBRO DE 2008

1

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE CINCIAS HUMANAS E SOCIAIS DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM GEOGRAFIAFOLHA DE APROVAO PROBLEMAS AMBIENTAIS DE UMA CIDADE MDIA DE MATO GROSSO: O caso de Barra do Bugres.

Loiva Zanon de Magalhes

Dissertao defendida e aprovada em: 26 de novembro de 2008 pela Banca Examinadora

________________________________________ Prof. Dr. HUGO JOS SCHEUER WERLE Orientador Universidade Federal de Mato Grosso UFMT.

_____________________________________ Prof. Dr. JURANDYR LUCIANO SANCHES ROSS Examinador Externo Universidade de So Paulo-USP.

_____________________________________ Prof. Dr. DEOCLECIANO BITTENCOURT ROSA Examinador Interno Universidade Federal do Mato Grosso UFMT.

2

NDICE

1-Introduo..........................................................................................................13 2-Objetivos........................................................................................................... 16 2.1. Objetivo Geral.;........................................................................................16 2.2. Objetivo Especfico..................................................................................16 3- Metodologia.......................................................................................................17 4-Referencial Terico ...........................................................................................21 4.1. Da conscincia ambiental s polticas urbanas........................................ 21 5- O Meio Ambiente..............................................................................................26 5.1.Classificao..............................................................................................27 5.2.Meio Ambiente urbano ou fsico...............................................................27 5.3.Meio Ambiente artificial ou urbano..........................................................28 5.4.Princpio da conservao...........................................................................29 5.5.Finalidade da Conservao........................................................................30 6- A cidade de Barra do Bugres-MT.....................................................................32 6.1.As cidades..................................................................................................32 6.2.Localizao do municpio de Barra do Bugres..........................................33 6.3.Histrico do municpio de Barra do Bugres..............................................39 6.4.Aspectos fsicos e biticos.........................................................................42 6.5.Aspectos scio econmicos........................................................................46 7-Degradao no meio ambiente urbano em Barra doBugres................................49 7.1.Desenvolvimento econmico e sustentvel............... ................................49 7.2.Desenvolvimento sustentvel.................................................................... 51 7.3. Qualidade de vida......................................................................................52 7.4. Os problemas ambientais de Barra do Bugres..........................................53 7.4.1 Resduos slidos......................................................................................57 7.4.2 Saneamento Bsico..................................................................................64 7.4.3 Eroso......................................................................................................69 7.4.4 Impactos ambientais causados pelas queimadas......................................74 7.4.5 Unidades de conservao.........................................................................84 7.4.6 rea de preservao permanente ............................................................88

3

7.4.7 Reserva Legal.................................................................................................92 8- Consideraes finais ............................................................................................93 9-Referncias bibliogrficas .................................................................................100 Anexos....................................................................................................................108

4

DEDICATRIA.

Aos meus pais Terezinha e Homero por terem dedicado suas vidas a mim; Meu esposo Gilvan pela compreenso e pacincia devido ausncia em casa; Minha irm Deisi pela confiana, amizade e incentivo; Aos amigos e colegas de mestrado Alexandro, Cleiton, Doroty, Edilair e Jorge pelas trocas de conhecimento, angstias e preocupaes; Ana Lcia Gomes (in memria) pelo incentivo e acolhimento durante as aulas das disciplinas do mestrado;

Dedico-lhes essa conquista como gratido.

5

AGRADECIMENTO.

Agradeo a ajuda prestimosa de meu orientador, Prof. Dr.Hugo, pela pacincia e compreenso com que me acolheu; Agradeo ao Prof. Dr. Deocleciano pela ateno e incentivo durante toda a pesquisa; Agradeo ao Prof. Dr. Jurandyr pela ateno e pelas dicas em minha pesquisa; Agradeo aos meus professores que sempre me incentivaram na busca pelo conhecimento cientfico; Agradeo aos meus colegas pelo apoio, amizade e estmulo;

6

Acreditamos que o indivduo (...) um ser no dividido, indifusvel. Porm para alguns, o indivduo um ser integral, com mil faces, mil papis, mil compromissos, vises e relaes que mudam e variam no tempo e espao.

Empresa Natura.

7

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Mapa de Barra do Bugres na mesorregio de Tangar da Serra........................34 Figura 2 Mapa do municpio de Barra do Bugres-imagem satlite.................................35 Figura 3 Mapa com limites do municpio........................................................................38 Figura 4 Mapa da Hidrografia de Barra do Bugres..........................................................44 Figura 5 Tempo de residncia em dos moradores civis de Barra do Bugres....................55 Figura 6 Maior problema ambiental em Barra do Bugres.................................................55 Figura 7 Maior urgncia ambiental em Barra do Bugres...................................................56 Figuras 8 e 9 rea destinada aos resduos slidos Jardim Alvorecer...............................59 Figuras 10 e 11 Lixo de Barra do Bugres no Parque Industrial.......................................60 Figura 12 Fator scio-econmico dos muncipes...............................................................61 Figuras 13 e 14 Esgoto a cu aberto na entrada da cidade...............................................62 Figuras 15 Eroso na Avenida Tropical prxima E.E. Joo Catarino de Souza............ 67 Figuras 16 Eroso na Avenida ......................................................................................... 67 Figura 17 Cana-de-acar plantada na zona urbana..........................................................74 Figura 18 Cana-de-acar plantada na zona urbana .........................................................77 Figura 19 Impactos ao meio ambiente ............................................................................. 77 Figura 20 Queimadas em Barra do Bugres no perodo de 1996 a 2004............................78 Figura 21 Queimada da cana-de-acar em Barra do Bugres...........................................78 Figura 22 Cana-de-acar cortada aps a queimada prximo ao trevo da usina...............79 Figura 23 Levantamento de queimadas em Barra do Bugres..............................................81 Figura 24 Focos de calor em 2004 em Barra do Bugres....................................................82 Figura 25 Focos de calor entre 2006 a 2007 em Barra do Bugres.....................................82 Figura 26 Queimadas no perodo proibitivo em Barra do Bugres.....................................83

8

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Demonstrativo de plantao temporria............41 Quadro 2 Demonstrativo de plantao permanente...........42 Quadro 3 Demonstrativo de empresas no municpio..........42 Quadro4 Demonstrativo da pecuria em Barra do Bugres..43 Quadro 5 Censo demogrfico........................................64 Quadro 6 e 7 Internao hospitalar de crianas...............71 Quadro 8 e 9 Internao hospitalar de idosos..................71

9

LISTA DE SIGLAS E DE ABREVIATURAS

SIVAM................................... Sistema de Vigilncia da Amaznia. IBGE........................... Instituto Brasileiro de Geografia Estatstica. PROLCOOL................................Programa Brasileiro de lcool. SENAL.............................................Secretaria Nacional do lcool. EIA...................................................Estudo de Impacto Ambiental. RIMA.........................................Relatrio de Impactos Ambientais. LA......................................................................Licena Ambiental. EMBRAPA.............Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria. DMLU.....................Departamento Municipal de Limpeza Urbana. CETESB.....Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental. ISA......................................................... Instituto Scio Ambiental. SEMA.....................................Secretaria Estadual Meio Ambiente. ONU ............................................Organizao das Naes Unidas.

10

RESUMO

Esta dissertao de Mestrado em Geografia apresenta que nos ltimos trinta anos, Mato Grosso sofreu um intenso processo de urbanizao. Aps iniciada a Marcha para o Oeste ocorrida na dcada de 40 durante o governo de Getlio Vargas, para incentivar o progresso e a ocupao do Centro-Oeste, onde foi organizado um plano para que as pessoas migrassem para o centro do Brasil, onde havia ainda muitas terras desocupadas. Com esse processo de urbanizao acelerado, diversos problemas ambientais surgiram ou se agravaram, tais como, falta de saneamento bsico, destinao correta para os resduos slidos, desmatamentos; alm da ocupao desenfreada do espao urbano. Todos estes problemas contribuem com a degradao do meio ambiente urbano, afetando a qualidade de vida das cidades, situao esta que se evidencia no municpio de Barra do Bugres, Mato Grosso. Dentro deste enfoque tambm a qualidade de vida das pessoas que ali residem. Foram descritas tambm as diretrizes e os instrumentos propostos no Estatuto da Cidade e no Plano Diretor; alm dos documentos formulados pela (ONU) Organizao das Naes Unidas. Abordouse tambm a questo do desenvolvimento econmico de Barra do Bugres, alm dos problemas ambientais relativos a expanso urbana. Observou-se, por fim, o papel do Poder Pblico e a implantao de polticas pblicas integrandas ao meio ambiente e a qualidade de vida.

Palavras-chave: problemas ambientais, qualidade de vida urbana, Mato Grosso.

11

ABSTRACT:

This Masters thesis of geography shows that over the past thirty years, Mato Grosso has suffered an intense process of urbanization. Once started the march to the west occurred in the 40s decade, during the Getlio Vargas government, to stimulate progress and occupation of the Center-West, where a plan was organized so that people migrate to the heart of Brazil, where there were still many land vacated. With this accelerated urbanization process, many environmental problems have arisen or have worsened, such as lack of sanitation, proper allocation for solid waste, deforestation, in addition to the rampant occupation of urban space. All these problems contribute to the degradation of the urban environment, affecting the quality of life in cities, a situation which is evidenced in the municipality of Barra do Bugres, Mato Grosso. Within this approach also quality of life of people living there. We also described the guidelines and instruments proposed in the Statute of the City and the Master Plan, in addition to the documents made by the (UN) the United Nations. It also addressed the issue of economic development of Barra do Bugres, in addition to the environmental problems related to urban sprawl. There was, finally, the role of public authorities and the implementation of public policies integrands the environment and quality of life.

Keywords: environmental problems, quality of urban life, Mato Grosso.

12

1- INTRODUO.

medida que a preocupao com as questes ambientais vem adquirindo peso nas discusses mundiais nas ltimas dcadas, o padro de desenvolvimento das sociedades urbanas e as relaes que se estabelecem entre estas sociedades e o meio ambiente vem sendo profundamente questionado. O modelo industrial e o consumismo estabeleceram uma sociedade consumista, criando inmeros problemas ambientais, problemas estes, vinculados forma como os espaos so produzidos e como a sociedade se apropria da natureza.

A partir do ltimo sculo, o desenvolvimento industrial e tecnolgico, fez com que as usinas brasileiras que antes fabricavam apenas o acar, colocassem produtos diferenciados no mercado, como o lcool e a energia eltrica, estimulando ainda mais o consumismo, associadas ao crescimento populacional acentuado nos centros urbanos; gerando assim, uma degradao do meio ambiente.

Isto porque, o homem, durante a sua trajetria, estabeleceu a ocupao e o uso espacial da terra, apossando-se dos recursos naturais renovveis e no renovveis. Com o decorrer do tempo passou a adotar um comportamento predatrio em relao natureza.

Para Andrade (2001):

Com a evoluo da cincia, o pensamento ambiental atenuou-se devido s degradaes e alteraes ambientais processadas no planeta. interessante salientar que tais alteraes no ocorreram em um s pas, surgiu em diferentes pases, em diferentes pocas, e foram se formando e sendo construdos, medida que as vrias correntes do pensamento cientfico fossem surgindo e amadurecendo, juntamente com a demanda populacional e o aparecimento de problemas ambientais que envolviam a opinio pblica (ANDRADE, 2001).

Essa demanda populacional nas cidades gerou problemas de habitao, em muitas das grandes cidades, homens e velhos viviam em casa de cmodos, separados de suas famlias que haviam

13

deixado no campo. Segundo Galvas (2003), trabalhadores mais pobres, em quase todas as cidades europias, moravam em horrveis quartos de poro, muitas vezes destitudos de luz, de gua e de esgotos.

A organizao urbana, representada pelas construes de grandes cidades, a maioria delas sem nenhum planejamento e ordenamento (ANDRADE, 2001).

Problemas como as queimadas, destinao dos resduos slidos e saneamento bsico precrio, so ameaas qualidade de vida de toda uma sociedade, tornando-se um problema no apenas ambiental, mas tambm social.

Na atualidade, todo e qualquer espao urbano apresenta problemas ambientais decorrentes de seu crescimento populacional. O municpio de Barra do Bugres, como centro urbano com caractersticas e potencial turstico, tambm apresenta problemas ambientais, que se agravam nos perodo entre os meses de abril a novembro, onde o nmero populacional cresce devido usina de lcool e acar, trazendo ao municpio em mdia, segundo os administradores da usina, dois mil trabalhadores sazonais vindos da regio nordeste do pas.

A cidade de Barra do Bugres possui dois grandes bairros, o Centro tambm conhecido como Cidade Alta, dividido em dez loteamentos: Jardim Alvorada, Cohab So Raimundo, Vila Santa Cruz, Vila Rondon, Cidade Alta, Jardim Elite, So Francisco e So Sebastio, onde est localizado o comrcio mais antigo: frum, bancos, prefeitura e cmara de vereadores; e o bairro Maracan, composto de uma srie de loteamentos, tais como: Maracan, Jardim Amrica, Jardim Aripuan, Pronav, Jardim 13 de Maio, Jardim Alvorecer, Jardim Terra Nova, entre outros, onde se localizam comrcios mais novos, em torno de doze anos. O bairro Maracan cresceu de forma acelerada devido aos trabalhadores contratados pela usina Barrlcool, pois onde o bairro hoje, antes eram pequenas propriedades rurais que foram vendidas prefeitura de Barra do Bugres, surgindo assim novas ruas e pequenos bairros.

A populao de Barra do Bugres defini-se em moradores do bairro Centro ou Maracan, por serem os maiores e receberem estes nomes no incio de seus loteamentos, dando origem aos bairros hoje existentes. Os moradores do bairro Centro so distintos, verificou-se atravs dos questionrios

14

e entrevistas que neste bairro os moradores possuem uma renda mdia de R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais). No bairro Maracan, os moradores so distintos, pode-se verificar atravs dos questionrios e entrevistas que no bairro Maracan os moradores possuem uma renda mdia de R$ 1.200,00 (hum mil e duzentos reais), j os que residem nos loteamentos mais novos deste bairro possuem uma renda mdia de um salrio mnimo; o que demonstra a diferena social entre os moradores. A presente dissertao dedica-se a estes aspectos que indicam a necessidade de alerta da sociedade em geral, para a gravidade da situao atual do municpio, indo ao encontro das propostas de Gesto Ambiental que buscam criar subsdios que possibilitem a implantao de polticas e de programas por parte dos gestores pblicos, envolvendo a sociedade local na busca por possveis solues aos problemas scio-ambientais aqui apresentados. No entanto, no h pretenso de esgotar um assunto to amplo, mas sim apresentar informaes e anlises muitas vezes desconhecidas pela sociedade local; estimulando gestores, educadores, empresrios e a prpria populao a compartilhar essa responsabilidade com os recursos naturais que de todos.

15

2. OBJETIVOS: 2.1. OBJETIVO GERAL: Diagnosticar a degradao ambiental ocorrente no municpio de Barra do Bugres, particularmente na zona urbana; identificando as causas e a amplitude da degradao, sugerindo ao final, possveis solues quanto aos problemas encontrados.

2. OBJETIVOS ESPECFICOS:

Possibilitar a identificao dos problemas ambientais que o municpio de Barra do Bugres vem sofrendo ao longo dos anos, nas zonas rural e urbana;

Levantado os dados acerca de degradao ambiental tendo em vista que no so respeitadas as leis que contemplam o meio ambiente no que tange a legislao ambiental e os povos indgenas;

Identificar pontualmente os maiores impactos na rea urbana j existentes, tais como saneamento bsico, resduos slidos, queimadas, degradao de APPs entre os rios Paraguai e Bugres que drenam a cidade;

16

3. METODOLOGIA:

A temtica que este trabalho se props desenvolver teve como base a escolha de abordagem qualitativa:

Pois, analisar os dados qualitativos significa trabalhar todo o material obtido durante a pesquisa, ou seja, os relatos de observaes, as transcries de entrevistas, as anlises de documentos e as demais informaes disponveis (Ludke & Andr;1986).

J a pesquisa quantitativa considera que tudo pode ser quantificvel, o que significa:...traduzir em nmeros opinies e informaes para classific-las e analislas, onde requer o uso de recursos e de tcnicas estatsticas como percentagem, etc. (Silva e Menezes, 2001).

Minayo (1993) considera a pesquisa como atividade bsica das cincias na sua indagao e descoberta da realidade. uma atitude e uma prtica terica de constante busca que define um processo intrinsecamente inacabado e permanente.

A pesquisa uma atividade de aproximao sucessiva da realidade que nunca se esgota, fazendo uma combinao entre teoria e dados. (Silva e Menezes, 2001).

Nesta pesquisa o procedimento utilizado foi a pesquisa bibliogrfica, elaborada a partir de material j publicado, como livros, artigos de peridicos. Proporcionando assim, maior familiaridade com o problema com vistas a torn-lo explcito ou a construir hipteses. Envolvendo no apenas o levantamento bibliogrfico; mas entrevistas com pessoas que tiveram experincias prticas com o problema pesquisado, registros fotogrficos e anlise de exemplos que estimulem a compreenso dos problemas ambientais urbanos de Barra do Bugres.

Para Gil (1999):...o papel fundamental da hiptese da pesquisa sugerir explicaes possveis para os fatos. Podem ser verdadeiras ou falsas, mas quando bem

17

elaboradas conduzem verificao documental, bibliogrfica ou emprica, que so o propsito de muitas das pesquisas cientficas.

Este estudo procurou salientar o conhecimento e a compreenso da problemtica ambiental existente em Barra do Bugres. Desta forma, a pesquisa tem a inteno de investigar, observar e analisar os locais com maior problema ambiental na atualidade. Um aspecto relevante na pesquisa o utilizado na pesquisa qualitativa, pela riqueza dos dados coletados, pois atravs das anlises efetuadas podem-se descrever fatos e situaes; alm de entrevistas com moradores locais e responsveis pela administrao pblica.

Dmitruk (2004):

... define que a entrevista tem como principal vantagem no exigir que o entrevistado saiba ler e/ou escrever e possibilita captar a expresso, a tonalidade da voz e nfase nas respostas, bem como mecanismos de defesa naturais do ser humano.

Para Ludcke & Andr (1986), a pesquisa qualitativa faz relao entre os moradores e os problemas ambientais identificados no municpio:A pesquisa qualitativa envolve a obteno de dados discutidos, obtidos no contato direto do pesquisador com a situao pesquisada, enfatiza mais o processo do que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes. A pesquisa qualitativa envolve a obteno de dados discutidos, obtidos no contato direto do pesquisador com a situao estudada.

A metodologia qualitativa, que segundo Haguette (1995) fornece princpios ao pesquisador para uma compreenso profunda de certos fenmenos, apoiados no pressuposto da maior relevncia ao aspecto subjetivo da ao social.

Enquanto a metodologia quantitativa supe uma observao de objetos comparveis entre si, os mtodos qualitativos enfatizam as especificidades de um fenmeno em termos de suas origens e de sua razo de ser.

18

Optou-se pela entrevista que, segundo QUEIROZ (1991):...supe uma conversa continuada entre informante e pesquisador, sendo o tema ou acontecimento escolhido por este ltimo por convir ao seu trabalho. A tcnica utilizada foi a entrevista semi-estruturada em que estabeleci um roteiro de questes, mas tendo a possibilidade de insero de novos questionamentos conforme a evoluo do discurso do entrevistado.

Demo (1996, p.34) insere a pesquisa como atividade cotidiana:... considerando-a como uma atitude, um questionamento sistemtico crtico e criativo, mais a interveno competente na realidade, ou o dilogo crtico permanente com a realidade em sentido terico e prtico.

Um fator relevante e imprescindvel no levantamento e transcrio dos dados a observao. A observao uma tcnica til para descobrir novos aspectos de um problema, permitindo a coleta de dados em locais e situaes em que outras formas de comunicao so inexistentes. Assim, a metodologia adotada dividiu-se em fases para o desenvolvimento desta pesquisa.

A primeira fase compreendeu o perodo de reconhecimento das reas com problemas ambientais em Barra do Bugres e se estendeu por um ano e sete meses. O objetivo do trabalho de campo nessa fase foi a de coletar material, como registros fotogrficos, alm de identificar os problemas ambientais nos bairros da cidade e aplicar a entrevista com os moradores.

A segunda fase compreendeu o levantamento bibliogrfico sobre problemas ambientais. Foram levantadas dissertaes e teses que versam problemas ambientais em cidades mdias, livros, jornais e revistas; e material eletrnico disponvel na rede mundial de computadores.

A terceira fase compreendeu as entrevistas qualitativas e semi-estruturadas com moradores que convivem com os problemas ambientais e com os responsveis pela administrao pblica. Para GASKEL (2003) o emprego da entrevista qualitativa a porta de entrada para o pesquisador

19

introduzir esquemas interpretativos para compreender a narrativa dos atores em termos mais conceptuais e abstratos. A entrevista qualitativa fornece os dados bsicos para o desenvolvimento e a compreenso das relaes entre atores sociais e a sua situao, tendo por objetivo compreender crenas, atitudes, valores em contextos sociais especficos (GASKEL, 2003).

20

4. Referencial Terico:

1. Da Conscincia Ambiental s Polticas Urbanas:

certo que os recursos naturais esto em toda parte, em todo o planeta. Um dano praticado em algum lugar pode gerar efeitos em um outro. Devido a essas decorrncias, necessrio haver uma cooperao mundial no sentido de proteger o Meio Ambiente, para presentes e futuras geraes, chamando a ateno para que as normas de cada nao no estejam to preocupadas com questes de territoriedade e soberania nacional, mas busquem a preservao ambiental continuamente, a partir da cooperao entre todas as naes.

A Declarao do Meio Ambiente de Estocolmo (1972) buscou definies e cdigos que regulamentasse a utilizao de recursos naturais. Entre os princpios defendidos pela Declarao de Estocolmo esto: a) Princpio 2: os recursos naturais da terra includos o ar, a gua, a terra, a flora e a fauna e especialmente amostras representativas dos ecossistemas naturais devem ser preservados em benefcio das geraes presentes e futuras, mediante uma cuidadosa planificao ou ordenamento; b) Princpio 24: todos os pases, grandes e pequenos, devem ocupar-se com esprito e cooperao e em p de igualdade das questes internacionais relativas proteo e melhoramento do meio ambiente. indispensvel cooperar para controlar, evitar, reduzir e eliminar eficazmente os efeitos prejudiciais que as atividades que se realizem em qualquer esfera, possam ter para o meio ambiente, mediante acordos multilaterais ou bilaterais, ou por outros meios apropriados, respeitados a soberania e os interesses de todos os Estados.

Na dcada de 70, a Fundao Brasileira para a Conservao da Natureza-FBCN com a colaborao da Unio Mundial para a Conservao-IUCN, e o Fundo Nacional para NaturezaWWF, deu incio a um programa de financiamento de projetos ambientais em colaborao com agncias ambientais.

A dcada 70 tambm foi marcada por transformaes na vegetao mato-grossense, devido valores irrisrios de terras e a no ocupao de boa parte do Estado. Inmeros migrantes da

21

regio sul, sudeste e nordeste do pas mudaram-se para o Estado de Mato Grosso com o propsito de adquirir terras e dar maiores condies financeiras para a prpria famlia. Com novos rumos trazidos por estes migrantes, a economia do Estado passou por vrias transformaes, pois alm de novos migrantes, novas empresas e indstrias comearam a se instalar no Estado; modificando por consequncia o prprio relevo.

Com essas transformaes como a ocupao e a m utilizao do solo, a urbanizao e a industrializao alteram de forma geral todos os aspectos ambientais. Dentre as mais relevantes nesse aspecto, esto o desmatamento, o assoreamento dos rios e o saneamento bsico insuficiente; que com o tempo podem ocasionar a baixa produo de oxignio na atmosfera, aumentando a quantidade de gs carbnico, devido aos altos ndices de indstrias e automveis.

As cidades mato-grossenses, colonizadas boa parte por migrantes da regio sul do pas, cresceram com problemas comuns como em outras cidades brasileiras. Problemas estes como a falta de infra-estrutura, gua potvel, saneamento bsico, desmatamento, assoreamento dos rios, entre outros; que persistem ainda hoje.

O fato preocupante nesse caso que ao exercer atrao para os fluxos migratrios regionais a cidade enfrenta um crescimento urbano em total desajuste com a capacidade de absoro da mode-obra que para ela aflui.

Em conseqncia, houve um considervel aumento nas taxas de crescimento populacional urbano, o que contribuiu para uma rpida expanso da cidade, agravando ainda mais os problemas urbanos, principalmente aqueles relacionados com a falta de moradias, confirmando a idia j discutida por Santos (1989) de que todo crescimento da populao provoca extenso da cidade e de seus subrbios (PEREIRA e SOARES, 2006).

Segundo Loureiro (2000):... as causas da degradao ambiental e da crise na relao sociedadenatureza no emergem apenas de fatores conjunturais ou do instinto perverso da humanidade, e as conseqncias, se originam apenas do uso

22

indevido dos recursos naturais, modernidade.

derivadas do capitalismo e da

A sobrevivncia do capitalismo vem dependendo da produo e ocupao distintas de um espao fragmentado, homogeneizado e hierarquicamente estruturado (Lefebvre, 1974 in Cunha & Guerra, 2007).

A sociedade est estratificada, devido aos interesses sociais presentes nas sociedades modernas e capitalistas. Becker e Gomes (1993) chamam ateno para o fato de que o atual perodo de globalizao da economia colocou a problemtica ecolgica como uma questo de sobrevivncia da prpria humanidade.

Para Duarte e Wehrmann (1996), a crescente institucionalizao das questes ambientais e a tendncia reformista nos discursos e prticas ambientalistas favoreceram a hegemonia, que se relaciona com a problemtica ambiental.

A sociedade moderna ou civilizao industrial est associada a um conjunto de atitudes perante o mundo, como a idia de que o mundo passvel de transformao pela interveno humana (Gidden, 2000).

Para Guimares (2006):

Deve-se ter conscincia de que toda a atividade humana afeta o meio ambiente cujos reflexos no mbito interno do Estado exigem que se organize... capaz de promover a defesa da vida e o desenvolvimento

sustentvel e duradouro, para as atuais e futuras geraes.

A conscincia ambiental vem ao longo dos anos tomando novos rumos, devido ao surgimento de grupos empresariais que demonstram preocupao com o ambiente que o cerca, fazendo um trabalho que atenda o que exige a Secretaria Estadual de Meio Ambiente de Mato GrossoSEMA/MT.

A problemtica ambiental tem a particularidade de ser to ampla, e de seus elementos estarem to interconectados, que sua delimitao torna-se difcil (Foladori, 1999 in Guimares, 2007).

23

O homem deve fazer constante avaliao de sua experincia e continuar descobrindo, inventando, criando e progredindo:[...] a capacidade do homem de transformar o que o cerca, utilizada com discernimento, pode levar a todos os povos os benefcios do desenvolvimento e oferecer-lhes a oportunidade de enobrecer sua existncia (Declarao Estocolmo, 1972).

O crescimento sem precedentes da populao humana tem sobrecarregado os sistemas ecolgico e social. As bases de segurana global esto ameaadas. Essas tendncias so perigosas, mas no inevitveis (Unesco, 2000).

Dcadas e dcadas perdidas no so as nicas a registrar o que podemos chamar de tragdia urbana brasileira - enchentes, desmoronamentos, poluio de recursos hdricos, poluio do ar, impermeabilidade do solo, desmatamento, congestionamento habitacional, epidemias, violncia (Maricato, 2001).

Para Sirkis (1999):Os problemas ambientais urbanos so decorrncias da ao do homem, pois ele tende ao desequilbrio, o ambiente natural certamente reage, trazendo efeitos inesperados para o ambiente construdo e seus ocupantes: inundaes, secas, enchentes, voorocas, ambientes insalubres.

A ecologia urbana, portanto, no se confunde com simples conservao do verde e de amenidades paisagsticas. Para Sirkis (1999):A ecologia urbana envolve a sustentabilidade econmica, social, energtica das relaes humanas e daquelas entre o ambiente natural e o construdo.

Guimares (2007), afirma:

... que a razo instrumental decorrente da viso de mundo concebeu esse desenvolvimento refletindo, e, como reflexo das relaes de dominao entre indivduos humanos, entre classes sociais e entre Ser Humano-

24

Natureza, que justifica a separao ser humano-sociedade-natureza, baseada em posturas antropocntricas.

Para Naime (2005) a avaliao do risco um processo analtico muito til, que gera valiosas contribuies para a gesto do risco, da sade pblica e para a tomada de decises de poltica ambiental.

Segundo Alsina in Bernal-Meza (2005), a sociedade organizada o elemento motriz da eficcia da implantao da poltica e da efetividade das normas ambientais as quais permitiro aos elementos produtivos, implantando medidas ambientais adequadas s suas atividades.La tuttela del ambiente consiste bsicamente en las regulaciones que el Derecho debe imponer a las actividades humanas, susceptibles de impactar sobre los elementos naturales y culturales que constituyen el entorno dentro del cual aqullas se desarrollan

Assim, a atividade privada, mesmo garantida constitucionalmente, cujos fundamentos histricos encontram-se estruturados no direito ambiental de propriedade, dever visar o desenvolvimento social sustentvel que se sobrepe aos interesses privados, do particular (Guimares, 2006).

25

5 . O MEIO AMBIENTE.

No Dicionrio Etimolgico da Lngua Portuguesa, de Jos Pedro Machado, est registrado a etimologia da palavra Ambiente: adjetivo e substantivo, do latim ambiente, do verbo ambio, de ire (donde ir), ir em volta; rodear; envolver algum com solicitaes.

O termo meio por sua vez, sinnimo de ambiente. A expresso meio ambiente se caracteriza por ser o conjunto de condies naturais e de influncias que atuam sobre os organismos vivos e os seres humanos (Ferreira in Puglisi, 2006).

Alguns autores acreditam que a expresso incorreta, embora bem sonante, uma vez que apresenta um pleonasmo, posto que meioe ambiente so sinnimos na lngua portuguesa (Machado apud Puglisi, 2006).

Em biologia, especialmente na ecologia, o meio ambiente inclui todos os fatores que afetam diretamente o metabolismo ou o comportamento de um ser vivo ou de uma espcie; incluindo a luz, o ar, a gua, o solo (chamados fatores abiticos) e prprios os seres vivos que coabitam no mesmo ambiente, chamado de bitopo.

Segundo Jos Afonso Silva (2000):(...) O meio ambiente a interao do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado de vida em todas as suas formas.

A expresso Meio Ambiente possui um significado amplo e prprio:Meio ambiente o universo natural que, efetiva ou potencialmente, exerce influncia sobre os seres vivos. No havendo como impor uma definio sustentada em critrios cientficos, os autores divergem sobre o conceito e contedo do que se formou denominar ambiente.(Freire, 2000)

26

A Lei de Poltica Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81), define no artigo 3, I, o conceito de meio ambiente:Art. 3. Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I- meio ambiente o conjunto de condies, leis, influncias e interaes de ordem fsica, qumica e biolgica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.

A Constituio Federal de 1988 recepcionou e ampliou o conceito exposto pela Lei de Poltica Nacional do Meio Ambiente (PNMA), ao apresentar que o meio ambiente constitui um direito de todos e bem de uso comum, incluindo a responsabilidade compartilhada entre populao e Poder Pblico em preserv-lo e defend-lo (Constituio Federal, Art. 225).

5.1. Classificao:

O Meio Ambiente pode ser dividido em quatro classes: 1) meio ambiente natural ou fsico; 2) meio ambiente artificial ou urbano; 3) meio ambiente cultural; 4) meio ambiente do trabalho (FIORILLO, 2004). O objeto de estudo nesta pesquisa o meio ambiente artificial ou urbano.

Tratamos da descrio de dois aspectos importantes para nossa pesquisa nos prximos captulos, dando maior relevncia aos aspectos do meio ambiente artificial ou urbano e meio ambiente natural ou fsico.

5.2 Meio ambiente natural ou fsico:

Correspondem ao meio ambiente natural ou fsico a fauna, a flora, o solo, a gua e o ar atmosfrico.

Conforme exposto na Constituio Federal, artigo 225, caput I e VII:

27

Art. 225. Todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida, impondose ao poder pblico e coletividade o dever de defend-lo e preserv-lo para as presentes e futuras geraes. 1 - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder pblico: I - preservar e restaurar os processos ecolgicos essenciais e prover o manejo ecolgico das espcies e ecossistemas; (...) VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as prticas que coloquem em risco sua funo ecolgica, provoquem a extino de espcies ou submetam os animais a crueldade.

Talvez seja o primeiro do qual nos recordamos por sua condio primordial: a ausncia de preservao ou de utilizao racional dos recursos ambientais de nosso planeta, trazendo conseqncias catastrficas.

Segundo Calil (2003), cenrios antes apenas imaginados em filmes futuristas, de gosto duvidoso, com a Terra transformada em um imenso deserto e pessoas travando lutas mortais pelas fontes de gua, agora se tornaram preocupao patente para a Organizao das Naes Unidas (ONU) com a diminuio dos nveis de gua potvel, atravs da ocupao das reas de mananciais e da poluio dos reservatrios existentes. Podemos sustentar que, o meio ambiente natural o resultado de uma interao de componentes naturais que permitem o equilbrio dinmico, entre os seres vivos e o meio em que vivem. Considera-se meio ambiente natural, aquele que, pr-existe ao ser humano, se no considerarmos a poluio causada de todas as formas possveis.

5.3- Meio ambiente artificial ou urbano:

O meio ambiente artificial constitudo por diversas obras desenvolvidas pelo ser humano, como: as rodovias, as casas, os hospitais e demais obras que formam o espao urbano. Este seguimento do meio ambiente no est s regulamentado no artigo 225 da Constituio Federal de

28

1.988, est tambm nos artigos 182 e 183, referentes poltica urbana, a funo social da propriedade, dentre outros (DUARTE, 1996).

O meio ambiente artificial, produzido pela ao do homem ao transformar a natureza: as cidades. Segundo Calil (2003), existem cidades que nos parecem limpas, arborizadas, bonitas, pois tiveram seu crescimento planejado, e outras, que ao crescerem desordenadamente, como o caso da cidade em estudo Barra do Bugres, apresentam mudanas na natureza urbana.

A planejada ocupao do solo urbano, determinando as limitaes ao direito de construir, informa como a cidade ir crescer e para onde, como fluir o trnsito, onde estaro localizadas as reas verdes para o lazer to necessrio aos seus habitantes.

Para Calil (2003), um meio ambiente construdo sadio contribui para o bem estar da populao que ali vive; e, ao contrrio, um meio ambiente artificial hostil gera no apenas sensao de angstia em seus habitantes como tambm termina por levar ao abandono e descaso s vezes, agresso para com o espao pblico.

Para estabelecer normas de ordem pblica e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurana e do bem-estar dos cidados, bem como do equilbrio ambiental surge em 2001, o Estatuto da Cidade (Lei n.10.257/01), regulamentando os artigos 182 e 183 da Constituio Federal (Brasil-Senado Federal, 2001).

O Artigo 21, XX, da Constituio Federal, institui diretrizes do desenvolvimento urbano, inclusive habitao e saneamento bsico. Em linhas gerais, a poltica urbana tem dois objetivos: 1) o pleno desenvolvimento das funes sociais da cidade; 2) garantir bem-estar de seus habitantes.

5.4- Princpio da Conservao Ambiental:

Em portugus a palavra conservar significa agir com antecipao, conservando o que j existe, evitando dano ou mal. O mesmo sentido se d em outros idiomas, como espanhol conservacin.

29

O princpio da conservao, assim como o da preservao est disposto no caput do artigo 225 da Constituio Federal, que segundo Puglisi (2006) em decorrncia da imposio, ao Poder Pblico e coletividade, do dever de defender e preservar o meio ambiente para as presentes e futuras geraes.

A conservao um conjunto de medidas que devem ser adotadas por todos, de forma a garantir o futuro do nosso planeta para as novas geraes. Atualmente, a preservao ambiental se torna praticamente obrigatria em todo o mundo, devido s graves conseqncias originadas pela degradao do meio ambiente, sendo a preservao a nica maneira de amenizar ou at mesmo acabar com tais conseqncias.

A Conservao Ambiental envolve questes diversas, como conscientizao sobre a natureza, manuteno dos recursos naturais e melhoria da qualidade de vida nas cidades. O objetivo maior da conservao ambiental a conscientizao de todos sobre a grande importncia da colaborao, de procurar desenvolver na populao uma conscincia preocupada com o meio ambiente e com os problemas que lhe so associados na busca de possveis solues.

A sociedade torna-se cada vez mais complexa e numerosa, aumentando, conseqentemente, os impactos ao meio ambiente e na vida das pessoas. De fato, quanto maiores e mais numerosas as sociedades, maiores e mais complexos tornam-se os recursos necessrios a sua sobrevivncia.

O momento atual marcado, pela necessidade de mudanas globais e pela busca de novos caminhos que conduzam manuteno do crescimento econmico para atender a toda a populao mundial com uma disponibilidade de bens compatveis com a dignidade humana, sem esgotar os recursos naturais.

5.5- Finalidade da Conservao Ambiental :

O Brasil exps ao mundo a importncia de se conservar os recursos biticos presentes nas florestas para a manuteno da qualidade ambiental do planeta. A situao do meio ambiente no globo nos desafia a preservar os recursos naturais e, ao mesmo tempo, possibilitar um desenvolvimento social justo, permitindo que as sociedades humanas atinjam uma melhor qualidade

30

de vida em todos os aspectos. A necessidade de consolidar novos modelos de desenvolvimento sustentvel no Pas exige a construo de alternativas de utilizao dos recursos, orientada por uma racionalidade ambiental e uma tica da solidariedade (FUNIBER, 2000).

Nos ltimos anos, observamos que a destruio da natureza, atravs da contaminao e degradao dos ecossistemas cresceu em um ritmo acelerado, motivo pelo qual se torna necessrio reduzir o impacto ambiental para a obteno de um desenvolvimento ecologicamente equilibrado em curto prazo para todo o planeta, garantindo a qualidade de vida s pessoas.

Segundo Camanhani (2006), preservar preciso, pois a Constituio Federal de 1988 contempla a preservao ambiental visando uma harmonia entre natureza e os seres humanos:

Mas para que isso acontea, necessrio que todo esse ecossistema colabore entre si e interaja em paz. Na verdade todos os seres vivem uns pelos outros, com os outros, e para os outros, pois tudo tem a ver com tudo, em todos os momentos, em todos os lugares, e em todas as circunstncias.

31

6. A Cidade de Barra do Bugres.

6.1-As Cidades:

Em portugus a palavra cidade significa complexo demogrfico, formado por importante concentrao populacional.

Devido concentrao populacional, entendem-se que as recentes transformaes na organizao espacial mato-grossense suscitando diversos estudos sobre o novo Brasil urbano, pois as cidades incorporam, na atualidade, novas funes polticas, econmicas, sociais e culturais. Assim, a acelerao do crescimento das cidades pode ser considerada como o mais expressivo elemento de identidade na atualidade, constituindo objeto de estudo, sob as mais diferentes abordagens.

Geralmente, uma das tendncias mais comuns na maioria dos estudos que se reportam a essa temtica (Santos, 1996; Corra, 1989; Castells, 1983) tem sido a concepo do urbano como uma expresso da sociedade, como produto social, resultado das aes acumuladas atravs do tempo e engendradas por agentes que produzem e consomem o espao (PEREIRA & SOARES, 2006).

Santos (1996) considera que as cidades so cada vez mais diferentes umas das outras. Cada cidade tem uma relao direta com a demanda da sua regio. A cidade um espao complexo e cheio de contradies, pois o urbano no se restringe a ela, abarca todo o sistema de produo e a rede de consumo, numa relao estreita com a regio.

O Estatuto da Cidade, aprovado em 2001, pelo Projeto Lei n. 10.257/01, artigo 2 especifica as diretrizes da poltica urbana, ou seja, apresenta as orientaes gerais para se ordenar o pleno desenvolvimento das funes sociais da cidade e da propriedade urbana. Entre suas diretrizes esto: garantir o direito s cidades sustentveis (inciso I); planejamento do desenvolvimento das cidades (inciso IV); ordenao e controle do uso do solo (inciso VI); a proteo, preservao e recuperao do meio ambiente natural e construdo (inciso XII).

32

A participao da populao na execuo da poltica urbana tambm est prevista no Estatuto da Cidade como diretriz geral, especificada nos incisos II (gesto democrtica das cidades) e XIII (audincias da populao interessada com o Poder Pblico Municipal), do artigo n. 2.

6.2- Localizao do Municpio de Barra do Bugres-MT:

Conforme a SEPLAN/MT Secretaria de Planejamento do Estado do Mato Grosso, o municpio de Barra do Bugres est localizado na regio Centro-Sul do Estado, na Mesorregio Sudoeste Mato-grossense, na Microrregio de Tangar da Serra. Segundo IBGE (2000), sua rea de 7.228,90 km2 e a altitude da sede de 171m, a 160 km de distncia da capital, Cuiab. Os municpios limtrofes so: ao Norte: Nova Olmpia, Tangar da Serra e Denise; a Oeste: Pontes e Lacerda e Lambari DOeste; a Leste: Rosrio Oeste e Porto Estrela; e Sul: Cceres, Salto do Cu, Jauru, Araputanga e Reserva do Cabaal. A figura 2 apresenta a mesorregio sudoeste mato-grossense, a microrregio de Tangar da Serra e o municpio de Barra do Bugres.

33

Mapa localizao do municpio de Barra do Bugres-MT.

Fig. 1 Localizao do municpio de Barra do Bugres na Mesorregio Sudoeste Mato-grossense e na microrregio de Tangar da Serra no Estado do Mato Grosso.(Fonte: Tecnomapas, 2008).

34

Fig. 2: Mapa do municpio com cobertura vegetal, rea indgena e rea urbana. Fonte: Tecnomapas, 2008.

35

As principais vias de acesso ao municpio de Barra do Bugres so: a MT-343 uma rodovia diagonal, no pavimentada, liga Barra do Bugres Porto Estrela Cceres. A rodovia tem representatividade no desenvolvimento econmico do mdio norte, haja vista, que a mesma uma das principais vias de escoamento da produo mato-grossense j que a trafegabilidade de caminhes para descarregar parte do escoamento da safra no Porto fluvial de Cceres uma realidade. A MT-246 uma rodovia transversal, que foi aberta na dcada de 70. O trecho entre os municpios de Jangada e Barra do Bugres, pavimentado, a rodovia recebe um trfego intenso de caminhes que transportam a produo agrcola das regies de Tangar da Serra e Campo Novo dos Parecis e do noroeste do estado. A rodovia MT-247, transversal, no pavimentada, liga Barra do Bugres a Lambari DOeste, e tambm apresenta sua importncia no desenvolvimento local. A MT 358, diagonal liga a comunidade de Barra do Bugres a Tangar da Serra. A cidade de Barra do Bugres tipicamente interiorana, com seus 31.809 habitantes - baseado na contagem populacional do IBGE (2006) -, Barra do Bugres uma referncia da agricultura moderna, pois atinge a veiculao perfeita entre a produo primria e a transformao agroindustrial, e por sediar o Festival de Pesca h quatorze anos, durante a data comemorativa do aniversrio de emancipao poltica do municpio, 19 de abril. Festival de Pesca este, que todos os anos atraem turistas de todo o Estado e tambm do pas, devido pesca de espcies provenientes apenas na Bacia do Paraguai. Sua colonizao est atrelada ao extrativismo vegetal, e a histria do seu povoamento est intimamente ligada aldeia Umutina e a histria do Municpio de Cceres, que teve incio com as penetraes levadas a efeito no Rio Paraguai, pelas primeiras bandeiras que subiram o rio at suas cabeceiras, e, posteriormente, a fundao da Vila Maria onde hoje situa-se a cidade de Cceres, que iniciou, efetivamente, o povoamento da extensa zona que compreendia aquela parte da Capitania de Mato Grosso e Cuiab, conforme IBGE (2002). Dentro desse contexto histrico Cceres evoluiu, enquanto Barra do Bugres ficou no isolamento, sem estradas. Apenas em 1878 que se d a sua colonizao quando chegaram os primeiros desbravadores, que iniciaram o processo de povoamento do local. Para melhor discernimento do assunto far-se- um breve relato do processo de ocupao e formao do municpio de Barra do Bugres.

36

Com o surgimento da expanso agrcola em Mato Grosso e o crescimento populacional das cidades, surge a fase migratria, aonde inmeros migrantes vindos de vrios estados brasileiros se dirigem Mato Grosso para conquistar um pedao de terra, que na poca o valor de mercado era abaixo do valor Nacional.

37

Fig. 3: Mapa rodovirio de Barra do Bugres-MT. Fonte: Tecnomapas, 2008.

38

Diante da fase migratria campo-cidade na dcada de 70, comeou a se estabelecer as primeiras redes urbanas no norte do estado. Estas redes serviram de base para o desenvolvimento da base de relaes que surgiam nas cidades.

Na regio Centro-Oeste foi bastante marcante a mudana da base da economia:... que passou por um processo de modernizao e ocasionou a migrao de pessoas do campo para a cidade e a conseguinte formao de uma rede de servios urbanos. (BIUDES, 2002).

Esta mudana, desde a demanda por uma rede de servios bsicos para a manuteno da vida urbana at o fato de mesmo morando na cidade, os trabalhadores ainda terem sua renda atrelada ao campo, diminuindo seu poder de consumo, excluindo-o da sociedade moderna contempornea. Havendo ento a diviso da sociedade em pobres urbanos e rurais.

Segundo Biudes (2002), os pobres urbanos eram classificados como mais pobres que os do campo, ainda mais aqueles que moravam na cidade mais ainda garantiam a sua renda em atividades agrcolas, imprimindo uma crescente diviso social e territorial do trabalho.

As cidades brasileiras so cada vez mais diferentes umas das outras. Cada cidade tem uma relao direta com a demanda da sua regio. Pois ela um espao complexo e cheio de contradies, pois o urbano no se restringe a ela, consolidando todo o sistema de produo e a rede de consumo (SANTOS, 1996).

6.3-

Histrico do municpio de Barra do Bugres MT: Antes de retomarmos aos fatos histricos do municpio de Barra do Bugres, interessante

salientar a origem do nome Barra do Bugres. Conforme informaes da Prefeitura Municipal [s.d], a cidade de Barra do Bugres tem seu nome derivado da barra formada pelo Rio Bugres ao desaguar no Rio Paraguai.

Barra, so bancos ou coroas de detritos carregados pelos cursos dgua e depositados na foz dos rios GUERRA (1997), o autor ainda tece comentrios a respeito da barra, quando diz, que a entrada da barra significa, tambm, do ponto de vista geogrfico, a entrada de uma baa.

39

J o bugre1, a designao genrica dada ao ndio, especialmente o bravio e/ou guerreiro, relata o tradicional dicionrio da lngua portuguesa.

Como j mencionado anteriormente, foi somente em 1878 que as terras de Barra do Bugres foram colonizadas, quando chegou na regio Pedro Torquato Leite Rocha, procedente de Cuiab, acompanhado de seus familiares. Ele construiu seu rancho e iniciou o cultivo de produtos de subsistncia e cuidou de explorar os arredores do local em busca da ipeca ou poaia (Cephaelis Ipecacuanha), como popularmente conhecida a raiz facilmente encontrada nas matas e utilizada na indstria farmacutica.

Com a ocupao do povoado de Barra do Bugres iniciada em 1878, recebe ento atravs da Lei 145 de 8/4/1896 a condio de parquia, sendo denominada Parquia de Barra do Bugres, pertencente So Luiz de Cceres, que em 1943 tornou Cceres municpio (SIQUEIRA apud ZAMPARONI, 1995). O povoado iniciou-se as margens dos rios Bugres e Paraguai. Mais tarde outros exploradores chegaram regio e descobriram outras potencialidades que existiam alm da poaia, como: borracha nativa e depois a madeira. Sua histria faz parte de ciclos de explorao e extrao de recursos naturais, presentes na regio. Em 1870 com a explorao dos seringais no sul da microrregio de Tangar da Serra-Mato Grosso. A regio de Barra do Bugres passa a explorar a poaia ou ipecacuanha, onde extraiam a emetina, utilizada em medicamentos.

A explorao da borracha e da poaia continuou por muitos anos nesta regio. A poaia era exportada para a Europa via rio Paraguai, atingia valores superiores aos da borracha. No incio do sculo XX, em 1907, o marco histrico dessa regio foi a chegada de Marechal Rondon para fazer a instalao da primeira sede da Comisso Rondon, com a primeira Estao Telegrfica, inaugurada em 1908.

1

Aurlio Buarque de Holanda. Dicionrio Aurlio, p.107. Editora Nova Fronteira, RJ, 1998.

40

J no ano de 1.910 por meio da Lei n. 541, o governo do Estado atravs da Assemblia Legislativa, desapropriou 2.000 hectares de terras para a formao de Barra do Bugres.

A intensa procura pela poaia transformou em pouco tempo o vilarejo em adensado urbano, sempre acrescido por novos imigrantes que buscavam fixao.

Com a desvalorizao nos preos da ipeca (ipecacuanha) e borracha, decai a produo e surge o ciclo da madeira. O povoamento passa a ser um centro comercial e industrial com base na explorao e processamento de madeiras, principalmente o cedro e a peroba.

Um marco na histria de Barra do Bugres foram os conflitos com a comunidade local, em meados 1926 e 1927,durante a passagem da Coluna Prestes.

Com o declnio da poaia em 1950, o municpio passa a sofrer um novo processo de explorao de seus recursos naturais, onde a madeira passa a ser a maior gerao de riquezas.

As populaes locais surgiram devido explorao dos recursos naturais. Ainda na dcada de 50, inicia-se o processo de colonizao por um ncleo. Com a ajuda dos ndios Umutina, abrem o acesso ao territrio desse municpio.

Na dcada de 60 comeam a chegar migrantes dos estados de So Paulo, Bahia, Cear e Alagoas, atrados pelos valores irrisrios das terras, pela possibilidade de ainda explorar poaia e pelas facilidades para a criao de gado. A partir da dcada de 70, Barra do Bugres foi beneficiada pela construo da Rodovia MT- 246, incentivou a implantao de grandes projetos de agricultura, pecuria e agroindstria.

Na atualidade, a atividade agroindustrial de cana-de-acar e a pecuria predominam. O municpio organizado do ponto de vista das estruturas de apoio produo, considerando os servios de comercializao, armazenagem, agroindustrializao, cooperativismo, crdito rural e assistncia tcnica rural.

41

A populao de Barra do Bugres em sua maioria composta por migrantes vindos de outros estados como: So Paulo, Paran, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Bahia, Minas Gerais e Gois. Hoje j mesclam o quadro Alagoas e Paraba, devido aos trabalhadores sazonais que se dedicam ao corte da cana-de-acar.

6.4- Aspectos Fsicos e Biticos Para entender a dinmica ambiental de Barra do Bugres, preciso conhecer as caractersticas dos aspectos fsicos e biticos da regio. O municpio de Barra do Bugres beneficiado pela sua geografia, que se reflete na sua referncia como precursor da agricultura moderna. O espao geogrfico do municpio foi fortemente modificado ao longo das dcadas, da poaia a agricultura moderna, transformaes que foram facilitadas pelo relevo e desenvolvimento tecnolgico (ROSS, 2005). Com uma rea de 7.186 Km2 o municpio de Barra do Bugres est situado na Depresso do Alto Paraguai, o que caracteriza a sua topografia com grandes extenses de levemente onduladas. Segundo a Associao da Unio de Bairros, at 1994 a rea urbana era dividida em cinco bairros, entre eles: Centro, Maracan, Cohab So Raimundo, Cohab Nhambikuara, Feira e Aeroporto. Com a acelerao do crescimento populacional a partir de 1995 a urbanizao cresce, surgindo novos bairros. Em 2000 j eram quinze bairros: Centro, Maracan, Cohab So Raimundo, Pronav, Jardim Alvorecer, Jardim Aeroporto, Treze de Maio, Jardim Paraguai, Jardim dos Pssaros, Feira, Jardim Elite I, Jardim Elite II, Cohab Joo Cristante, Planalto, So Francisco; alm dos trs Distritos: Assar, Curupira e Nova Fernandpolis. Devido ao elevado nmero de bairros, a sociedade local juntamente com os lderes de bairro se mobiliza para que haja uma nova diviso, a fim de reduzir o nmero de bairros no municpio. Atravs da Lei Municipal 1724/07, ficam institudos nove bairros e trs distritos. Segundo o presidente da Associao da Unio de Bairros, os novos bairros ainda no receberam nome, pois necessrio um plebiscito para que a escolha seja democrtica. plancies, s vezes

42

O questionrio e entrevista realizado com muncipes apontaram que a populao local possui uma renda, assim como nos grandes centros, que divide a sociedade. A regio central da cidade possui moradores com renda mensal entre R$ 1.000,00 (hum mil reais) e R$ 12.000,00 (doze mil reais). J bairros como o Jardim Alvorecer, Pronav, Treze de Maio possuem uma renda em mdia de R$ 200,00 (duzentos reais) e R$ 1.000,00 (hum mil reais). Caracterstica que Santos (2006) afirma sobre a diviso da sociedade:Por serem diferentes, os pobres abrem um debate novo, indito, s vezes silencioso, s vezes ruidoso, com as populaes e as coisas j presentes. Diante das redes tcnicas e informacionais, pobres e migrantes so passivos, como todas as pessoas, sendo superiores na esfera

comunicacional, onde so fortemente ativos.

Segundo o Departamento de Engenharia do municpio e a SEMA-Secretaria de Meio Ambiente do Estado de Mato Grosso, ocorre na regio vrios tipos de solos, dentre os quais esto areias quartzosas, latossolos, combissolos, gley hmicos e pouco midos, numa proporo de 50 a 60% e textura 03, 5% solo textura 01.

Nas reas onde as condies fsicas do solo so adequadas e formas de relevo pouco inclinada, a intensificao da agricultura e pecuria se destacam no municpio. Por estar situado na Depresso do rio Paraguai, que corresponde s extensas reas rebaixadas e drenadas pelos rios tributrios do alto curso do rio Paraguai, pode-se dizer que o municpio rico em nascente de crregos, sendo banhado ainda pelos rios mais importantes da regio: Paraguai, Sepotuba, Rio Branco, Vermelho Grande, Vermelhinho, Bracinho, Bugres, Jauquara, Juba, Queimado e Rio do Sangue, alm de vrios outros crregos de menor importncia, todos eles piscosos. A figura 3 apresenta a hidrografia de Barra do Bugres.

43

Fig. 4: Mapa da hidrografia do municpio. Fonte: Tecnomapas, 2008.

44

Embora, seja rico em recursos hdricos, somente o rio Juba apresenta potencial hidroeltrico, no qual foi implantada uma hidreltrica com capacidade de 84 megawatts.

Todos os rios mencionados, devido ao desmatamento indiscriminado em suas margens, apresentam em alguns trechos assoreamento, principalmente o Paraguai e o Sepotuba. A bacia hidrogrfica ao qual o municpio pertence a Grande Bacia do Prata. Para o Prata contribui a bacia do Paraguai. O Paraguai recebe pela direita os rios Bugres (confluncia), rio Branco, Sepotuba e Jauru e pela esquerda o rio Jauquara.

A vegetao predominante de mata em torno de 60%, seguida pelos campos cerrados 30% e cerrados 10%, sendo que as matas mesofticas um tipo de formao florestal que no est associada com cursos d'gua e apresenta diferentes ndices de deciduidade durante a estao seca. Pode ser de trs tipos: Mata Seca Sempre-verde, Mata Seca Semidecdua e Mata Seca Decdua, aparecem em terra firme e terrenos periodicamente inundados.Limite Municipal Desmate At o ano de 1986* Desmate ano de 1989 Desmate ano de 1992 Desmate ano de 1994 Desmate ano de 1997 Desmate ano de 1999 Desmate ano 2000 e 2001 Desmate ano de 2003 Desmate ano de 2006 Desmate ano de 2007 Desmate Total At 2007 Desmate Total At 2007** (SEMA) 5.364,6759 1.975,3081 221,1466 335,4611 235,0588 273,0980 398,0238 0,0000 0,0000 4,3826 15,1837 3.457,6627 3.144,5142 100 % 36,82 % 4,12 % 6,25 % 4,38 % 5,09 % 7,42 % 0,00 % 0,00 % 0,08 % 0,28 % 64,45 % 58,63 %

Quadro 1: Quadro do desmate perodo de 1986 a 2007. Fonte: Tecnomapas, 2008.

45

Os remanescentes florestais no municpio compreendem principalmente cerrados e floresta estacional. Em Barra do Bugres predomina a floresta estacional, com pequena parte constituda por reas de transio cerrado/floresta.

Todo municpio est sob forte presso de ocupao, devido expanso econmica, apresentando altos ndices de desmatamento da cobertura vegetal original.

Segundo dados do IBGE (2006), o clima tropical quente e sub-mido com precipitao mdia anual em torno de 1.800 mm, com maior concentrao nos meses de dezembro, fevereiro, maro e as menores no perodo de seca, que compreendem os meses de junho, julho, agosto e setembro.

Barra do Bugres possui uma temperatura mdia anual de 24 C , onde a temperatura mdia do ms mais quente de 26 C. A temperatura mxima absoluta anual de 36C. Os meses mais frios, entre junho e julho, apresentam uma temperatura mdia de 20C e a temperatura mnima absoluta anual fica em torno de 4C. (NIMER apud ZAMPARONI, 1995).

Os meses mais quentes vo de setembro a maro e os mais frios de abril a agosto. A altitude mdia est a 129 m acima do nvel do mar.

6.5- Aspectos Scio-econmicos:

A vida econmica foi transformada com a vinda de colonos de Minas Gerais, So Paulo e Cear, trazendo alteraes no plano agrcola, sendo que a pecuria ocupa lugar de destaque neste perodo mais recente da economia.

Em 1979 o Governo Federal lana o primeiro programa incentivo ao lcool, o Prolcool. No fim de 1980, vrios empresrios se renem e juntos formam uma associao a fim de elaborar o projeto da criao de uma destilaria em Barra do Bugres. Tendo sido aprovado no SENAL Secretaria Nacional do lcool, e nasce a Barralcool usina de lcool de Barra do Bugres-MT, que alguns anos depois comeam a produzir acar, e atualmente gera energia eltrica, 24 MW/H com o prprio bagao da cana de acar.

46

As indstrias foram de muita importncia no progresso da cidade. Barra do Bugres possui indstrias bem desenvolvidas nos setor moveleiro, raes, frigorficos e de cermicas.

Outro aspecto importante so os de lavoura temporria e a lavoura permanente, que movimentam os pequenos produtores. Segundo IBGE (2005):

LAVOURA TEMPORRIA Amendoim ( em casca) Arroz ( em casca) Cana-de-acar Feijo Mandioca Milho Soja

PRODUO/ TONELADAS 110 1.950 2.508.593 2 1.695 1.149 11.202

Quadro 2: Demonstrativo da plantao temporria 2005. Fonte: IBGE, 2005.

LAVOURA PERMANENTE Banana Borracha (ltex coagulado) Castanha de caju Cco-da-baa

PRODUO/TONELADAS 3.618 436 84 28 mil frutos

Quadro 3: Demonstrativo da plantao permanente 2005. Fonte: IBGE, 2005.

O comrcio local forte, tendo uma vasta linha de lojas comerciais que atendem ao consumidor local e dos municpios vizinhos. Entre essas lojas comerciais destacam-se lojas de roupas; calados; esporte; pesca; sales de beleza; bancos; escritrios contbeis; escritrios de advocacia; panificadoras; aougues; entre outros. Segundo IBGE (2004), as empresas no municpio de Barra do Bugres esto distribudas em:

47

Agricultura, pecuria, silvicultura e explorao florestal Indstrias extrativistas Indstrias de transformao Construo Educao Sade e servios sociais Outros servios coletivos, sociais e pessoais Comrcio, reparao de veculos automotores, objetos pessoais e domsticos Alojamento e alimentao Transporte, armazenagem e comunicao Atividades imobilirias, aluguis e servios prestados s empresas Administrao pblica, defesa e seguridade social Intermediao financeiraQuadro 4: Demonstrativo de empresas no municpio de Barra do Bugres. Fonte: IBGE, 2004.

19 unidades 6 unidades 51 unidades 12 unidades 7 unidades 14 unidades 58 unidades 249 unidades 17 unidades 19 unidades 28 unidades 4 unidades 7 unidades

A pecuria outra grande fonte de renda para o municpio. Pois no municpio, apresentamse grandes fazendas de gado bovino, suno e cavalos, ovinos e galinceos. Segundo IBGE (2005):

Tipo de rebanho Bovino Suno Eqinos Asininos Muares Bubalinos Ovinos Galinceos Caprinos

Nmero de cabeas 247.365 5.240 2.748 35 587 440 8.531 75.000 307

Quadro 5: Demonstrativo da pecuria no municpio de Barra do Bugres. Fonte: IBGE, 2004

48

7. Degradao no Meio Ambiente Urbano de Barra do Bugres-MT.

7.1 Desenvolvimento econmico e sustentabilidade ambiental.

O sculo XX se caracterizou pelo fim dos imprios coloniais e pelo surgimento de naes com economias fortes, como a China, Taiwan, Coria do Sul e Brasil em alguns perodos. Essas naes representam o progresso, gerando mais empregos e melhores salrios. Para Puglisi (2006) tal progresso tem um custo ambiental, pois, com o aumento do consumo, novas indstrias e estradas precisam ser construdas , alm da rea destinada agricultura, que consequentemente fora ampliada.

O prprio surgimento das cidades acabam por destruir a vegetao existente, dando lugar a casas e ruas e poluindo os cursos dgua, que em muitas cidades brasileiras so usados como esgoto. Por esse fato, se deve pretender minimizar as perdas ambientais, de modo a preservar os recursos naturais da melhor maneira possvel, conciliando preservao ambiental e progresso; buscando equilbrio e harmonia ao desenvolvimento do meio ambiente urbano.

O desenvolvimento do meio ambiente urbano est relacionado com o homem e seu meio, considerando aspectos espaciais e temporais. Este desenvolvimento deve atender s diversidades locais e extenso dos efeitos das aes praticadas.

Para Puglisi (2006), o crescimento econmico necessrio ao desenvolvimento:

...mas no suficiente ao desenvolvimento sustentvel, devendo haver sempre um equilbrio, a busca da harmonia entre o crescimento econmico e a preservao dos recursos naturais, para que o desenvolvimento sustentvel seja alcanado.

O conceito de crescimento econmico aponta para a necessidade de superao da pobreza e a excluso nos pases em desenvolvimento, no que diz respeito a degradao ambiental.

49

A idia de sustentabilidade relaciona-se com a preservao e valorizao da diversidade tnica e cultural, estimulando formas diferenciadas de utilizao da biodiversidade e dos recursos naturais (Nusdeo in Jacobi, 2005).

Desenvolver significa progresso sem prejuzo, sem qualquer tipo de degradao ambiental, pois o desenvolvimento j traz implicitamente, o carter de sustentabilidade (CAMPOS, 2005). Concordamos com a idia de que o desenvolvimento e o meio ambiente devem complementarse e harmonizar-se. Em diversas situaes o desenvolvimento resulta na degradao ambiental.

Para Canepa (2005). a dimenso ambiental refere-se preservao dos recursos naturais. A dimenso econmica da sustentabilidade bastante discutida:...uma vez que as indstrias do mundo todo atualmente tendem a adequar seus padres de produo e de consumo s exigncias ambientais, implantando aes como a coleta seletiva e a reciclagem de lixo.

Em 1997, foi criado no Brasil, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentvel (CEBDS):

...com intuito de contribuir na implantao de uma poltica geral de desenvolvimento sustentvel, mostrando populao que a indstria no sinnimo de predao ambiental, tendo papel fundamental na construo da sociedade.(CANEPA, 2005).

O artigo 3, II, da Lei da Poltica Nacional do Meio Ambiente (Lei n. 6.938/81), estabelece que a degradao da qualidade ambiental consiste na alterao adversa das caractersticas do meio ambiente.

O Brasil nas ltimas dcadas sofreu um intenso processo de urbanizao, em 1970 eram 30,5%; em 1980 eram 38,6%; em 1990 eram 49% e em 2000, atingiu mais de 80%. Para Coutinho (2005):

50

...devido a esse processo de urbanizao concentrado e acelerado diversos problemas surgiram ou se agravaram, tais como, saneamento bsico, destinao indevida de resduos slidos, alm da ocupao desenfreada pela populao de baixa renda, de reas consideradas ambientalmente frgeis.(SANTOS, et al in COUTINHO, et al, 2002).

Este processo verificado na dcada de 70, caracterizado pelo grande movimento migratrio do campo para a cidade, no trouxe consigo o planejamento e a estruturao das cidades, desprovidas de condies mnimas.

Muitos migrantes procuravam emprego e lugar para

se alojar, devido a especulao

imobiliria das reas centrais das cidades, elevando o valor dos imveis, esses migrantes se alojaram ao redor da cidade, em bairros sem infra-estrutura e distantes da parte central da cidade.

Letcia Marques Osrio explica:

Este modelo de desenvolvimento urbano teve como paradigma a segregao e a diferenciao hierrquica dos espaos, s quais se associou um diferencial de preo para o mercado imobilirio e a extenso da cidade cada vez mais em direo periferia, local preferencial de acomodao da populao de baixa renda, que no tem condies de pagar pelo preo da terra e pela infra-estrutura instalada nas reas mais centrais.

7.2 Desenvolvimento Sustentvel O conceito de desenvolvimento sustentvel ocupa uma posio central dentro do ambientalismo, particularmente depois da publicao do relatrio da Comisso Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, Nosso Futuro Comum, em 1987, (VIOLA, 1995), este ficou conhecido como relatrio Brundtland, foi resultado do trabalho de uma comisso, que teve como presidentes Gro Harlem Brundtland e Mansour Khalid. Este relatrio apresenta uma viso

complexa das causas dos problemas scio-econmicos e ecolgicos da sociedade e as inter-relaes entre a economia, tecnologia, sociedade e poltica.

51

De acordo com o relatrio Brundtland das Naes Unidas de 1987, o Desenvolvimento Sustentvel aquele que atende s necessidades do presente sem comprometer as possibilidades das geraes futuras atenderem as suas prprias necessidades. Em seu sentido mais amplo, a estratgia do desenvolvimento sustentvel visa promover a harmonia entre os seres humanos e entre a humanidade e a natureza. Desenvolvimento Sustentvel deve, portanto, significar desenvolvimento social e econmico estvel e equilibrado, com mecanismos de distribuio das riquezas geradas e com capacidade de considerar a fragilidade, a interdependncia e as escalas de tempo prprias e especficas dos elementos naturais. Significa, ainda:... gerar riquezas utilizando os recursos naturais de modo sustentvel e respeitar a capacidade de recuperao e

recomposio desses recursos, criando mecanismos que permitam o acesso a esses recursos por toda a sociedade.(Gesto de recursos naturais, 2001).

Portanto a aplicabilidade do conceito de desenvolvimento sustentvel deve atender as exigncias da populao, e promover a racionalidade de todos os atuantes no processo, e assim criar condies para que gesto dos recursos naturais seja mais cientfica e democrtica. Em geral, o desenvolvimento sustentvel visa qualidade de vida da sociedade, diante disso faz-se necessrio esclarecer o que venha ser qualidade de vida.

7.3 QUALIDADE DE VIDA O conceito de qualidade de vida passou por um processo de evoluo, acompanhando a discusso ocorrida na temtica do desenvolvimento. Foi na dcada de 70 que os estudos sociais se expandiram e o conceito de bem-estar sofreu uma ampliao passando a adquirir um significado mais amplo em direo ao bem estar geral e social. A idia agora melhorar o bem estar da populao exigindo, assim incremento no fluxo de bens de servios para que as mudanas sociais possam ser alcanadas.

52

Nos anos 80, vrios trabalhos passam a incorporar o aspecto ambiental, como elemento central da discusso ganhando corpo o debate sobre sustentabilidade. Mas nos anos 90 que se cria o IDH (ndice de desenvolvimento humano) visando medir a expectativa de vida, taxa de analfabetismo e nvel de renda; esses trs indicadores passariam a refletir a sade, o conhecimento e o acesso a bens materiais, considerados elementos primordiais na avaliao da qualidade de vida (Puglisi, 2006). Dessa forma, so encontradas diversas definies de qualidade de vida, Selene Herculano define de uma maneira abrangente, na qual atende todas as necessidades bsicas, como o nvel de desenvolvimento humano e valores vinculados ao desenvolvimento sustentvel.[....] qualidade de vida [pode ser] definida como a soma das condies econmicas, ambientais, cientfico-culturais e polticos coletivamente construdas e postas a disposio dos indivduos para que estes possam realizar suas potencialidades: inclui a acessibilidade produo e ao consumo, aos meios para produzir cultura, cincia e arte, bem como pressupe a existncia de mecanismos de comunicao, de informao, de participao e de influncia nos destinos coletivos atravs da gesto territorial que assegure gua e ar limpos, higidez ambiental, equipamentos coletivos urbanos, alimentos saudveis e a disponibilidade de espaos naturais amenos urbanos, bem como a preservao do ecossistema. (Herculano Apud Ultramari, 1998:92, In: Keinert e Karrauz, 2002:121).

Assim, na viso da autora acima citada, fica evidente a preocupao com a questo econmica, aliada ao meio ambiente, e que a qualidade de vida se constri atravs da percepo de cada comunidade, atendendo s necessidades bsicas e aos valores vinculados ao desenvolvimento sustentvel. Diante dessa evoluo histrica do pensamento ambiental, buscou-se apontar os problemas ambientais do municpio de Barra do Bugres, Mato Grosso Brasil.

7.4 Os problemas ambientais de Barra do Bugres - MT. A temtica ambiental tem sido foco de ateno e estudo para vrios campos do conhecimento cientfico, pois alm de ser uma rea interdisciplinar, dada a necessidade de compreenso de

53

aspectos polticos, cientficos, sociais e econmicos: incluindo assim aspectos relativos ao meio ambiente.

Embora a qualidade de vida seja uma marca primordial hoje nas cidades brasileiras, inevitvel a ocorrncia de problemas ambientais decorrentes do seu crescimento.

O municpio de Barra do Bugres, inicia tambm os contrastes desta problemtica ambiental. Pois com o aceleramento do crescimento populacional, vrios so os problemas que comeam a surgir de forma desenfreada; entre eles os de saneamento bsico, destinao dos resduos slidos, plantao da cana-de-acar, queimadas e eroso. Em Barra do Bugres o desafio ambiental est no centro das contradies do mundo moderno, j que o progresso e o desenvolvimento rigorosamente sinnimo de dominao da natureza (Beck e Giddens in Porto-Gonalves, 2004). Com o advento do ambientalismo aps os anos de 1960, cresce a conscincia de que h um risco global que se sobrepe aos riscos locais, estaduais e nacionais (Porto-Gonalves, 2004). Drew (2002), afirma que Homem-Natureza esto em constante mudana, pois o homem no passivo, mas sim um agente geogrfico, apto a agir sobre o meio e a modific-lo, dentro de limites naturais do espao e de possibilidades de desenvolvimento.

Na dcada de 80, a populao de Barra do Bugres era de 23.637 habitantes. Com a implantao da usina Barrlcool a populao em 1990 passa para 22.264 habitantes, em 2000 j eram 27.460 em 2005 eram 31.923 habitantes (IBGE - Censo demogrfico, 2005). Pode-se verificar que entre a dcada de 80 e 90, houve a reduo da populao; reduo esta devido perda de territrio e de distritos, como Porto Estrela que foi emancipada em 1991; Bauxi que pertence hoje Rosrio Do Oeste.

54

ANO 1980 1990 2000 2005 2007

HABITANTES 23.637 22.264 27.460 31.923 32.490

Quadro 6: Desmatamento entre 1986 a 2007. Fonte: Tecnomapas, 2008.

O tempo de residncia em Barra do Bugres fica entre mais de 30 (trinta) anos at 1 ano, pois com a safra da cana-de-acar muitos trabalhadores vindos de outra regio acabam fixando residncia na cidade; alm dos habitantes mais antigos, que residem desde o incio do municpio, exposto na figura 5. Conforme abaixo:Tempo de Residncia em Barra do BugresEntre 5 e 3 anos 9% Menos de 3 anos 6% Mais 25 anos 26% Entre 10 e 5 anos 16%

Entre 10 e 15 anos 19%

Entre 15 e 20 anos 24%

Figura 5: Tempo de residncia em Barra do Bugres - MT. Fonte: Loiva Z. Magalhes, 2007.

Durante a coleta de dados, foram entrevistadas cerca de 240 pessoas dos bairros Maracan, Pronav, Jardim Aeroporto, Jardim Alvorecer, So Raimundo e Centro. Quando questionados sobre os problemas ambientais existentes em seus devidos bairros, foram apontados, conforme o grfico 2: a eroso 18%; o saneamento bsico 30%; a queimada da cana-de-acar 37% e o dos resduos slidos 15%. Conforme figura abaixo:

55

MAIOR PROBLEMA AMBIENTAL DE BARRA DO BUGRES Resduos Slidos 15%

Eroso 18% Saneamento Bsico 30%

Queimada de Cana 37%

Figura 6 : Maior problema ambiental em Barra do Bugres - MT. Fonte: Loiva Z. Magalhes, 2007.

Pode-se comparar nos ltimos anos que a problemtica no municpio vem aumentando, e com isso acarretando danos sade tanto da populao da zona urbana, como aos ndios Umutina que moram na aldeia localizada a 9,6 km do municpio.

Atravs das entrevistas realizadas com moradores que convivem com a problemtica ambiental em Barra do Bugres, verificou-se a preocupao dos muncipes com a qualidade de vida de suas famlias e para o futuro de toda uma gerao. Conforme figura 7, podemos verificar o que mais preocupa a populao local.MAIOR URGNCIA NOS BAIRROS DE BARRA DO BUGRES

Eroso 15%

Saneamento Bsico 32%

Controle Queimadas Cana 33%

Coleta Lixo adequada 20%

Figura 7: Maior urgncia Barra do Bugres - MT. Fonte: Loiva Z. Magalhes, 2007.

56

Como a curva de crescimento populacional ascendente e a industrializao diretamente ligada ao aumento da populao e sofisticao dos hbitos culturais da sociedade, pode-se concluir que a gerao de lixo um processo crescente (Grossi, 1989). Com a estrutura apresentada na dcada de 80, foram necessrias inmeras mudanas como a desapropriao de pequenas propriedades rurais prximas zona urbana. Com a transformao da estrutura do municpio, surgem por conseqncia os problemas ambientais, que se agravam a cada nova safra da cana-de-acar, pois surgem os questionamentos sobre a preservao ambiental e a economia local.

Com a economia voltada para a agricultura, que se encontrava ainda em ascenso na dcada de 80:Surgem novos projetos a fim de acompanhar as possveis conseqncias ao meio ambiente, que refletiria nas cidades. Os problemas ambientais decorrentes de sua degradao tm repercusses, muitas vezes, irreversveis (Cunha & Guerra, 2005).

Dentre estes projetos, podemos citar o Plano Diretor e o Estatuto da Cidade, que atendem normas que regulam o uso da propriedade urbana, bem como do equilbrio ambiental (Senado Federal, 2001).

PEREIRA & TAVARES (2000), comparam o sistema de ensino com o Plano Diretor:... por ser o grande responsvel e vinculador da conscientizao e informao da populao quanto importncia imprescindvel dos benefcios advindos de uma gesto ambiental bem sucedida.

7.4.1 Resduos slidos:O resduo conhecido popularmente como lixo definido como:

Resduos slidos e semi-slidos resultantes de toda e qualquer atividade natural, humana e animal considerados sem valor ou utilidade para serem conservados, incluindo pores de materiais sem significao econmica,

57

sobras de processamentos industriais e domsticos, a serem descartados. (Leme, 1984; citado por Resende, 1991).

A ABNT (1989) atravs da NBR-10004, define:

...resduos slidos como os resduos nos estados slido e semi-slido que resultam de atividades da comunidade de origem industrial, domstica, de servios de sade, comercial, agrcola, de servios de varrio, alm de lodos provenientes de sistemas de tratamento de gua, inviveis de lanamento na rede pblica de esgotos ou corpo dgua. (ORSATI, 2006).

A produo do lixo urbano, segundo GROSSI (1989), est relacionada a dois fatores que basicamente so o aumento populacional e a intensidade da industrializao, j que o lixo resulta da atividade diria do homem na sociedade.

Para Naime (2005):

... toda atividade humana produz rejeitos. O crescimento constante das populaes, a forte industrializao, a melhoria no poder aquisitivo e os padres de consumo aceleram a gerao de grandes volumes de resduos. Os resduos quando misturados e sem possibilidade de reutilizao e reciclagem, so denominados lixo. (NAIME, 2005).

Uma das principais fontes de contaminao ambiental do municpio proveniente do manejo e disposio inadequados de resduos slidos urbanos e industriais (PORTO, 2000).

Segundo a Secretaria Municipal de Obras, Viao e Servios Pblicos de Barra do Bugres, as atividades econmicas do municpio esto relacionadas agricultura como a cana-de-acar, a pecuria e o comrcio agroindustrial. O comrcio e os domiclios geram um montante equivalente a 14 toneladas dirias, de resduos slidos urbanos.

Entre os anos 80 e 90 havia no municpio uma rea afastada do centro da cidade na zona urbana destinada aos resduos slidos. Devido curva de crescimento populacional e o surgimento

58

de novos bairros, no final da dcada de 90, houve a necessidade de organizar uma rea afastada das residncias para o recebimento e tratamento do lixo produzido no municpio.

A rea destinada aos resduos slidos entre a dcada de 80 e incio da dcada de 90, trouxe problemas populao que morava prximo, pois o lixo a cu aberto e em decomposio trazia animais e mau cheiro ao local. Conforme figuras 8 e 9:

Figura 8: rea destinada aos resduos slidos na dcada de 80 e 90, Jardim Paraguai. Fonte: Foto de Loiva Zanon .Magalhes, 01/2007.

Figura 9: rea destinada aos resduos slidos na dcada de 80 e 90, Jardim Paraguai. Fonte: Foto de Loiva Zanon .Magalhes, 01/2007

Aps a mudana, a nova rea destinada aos resduos slidos situa-se h dez anos no Parque Industrial, cerca de 6 km da cidade. Ali residem seis pessoas, dentre eles quatro adultos e duas crianas, que sobrevivem exclusivamente do ento chamado lixo. Esta famlia realiza um trabalho

59

que no pas no recente, o de separao dos resduos slidos e a sua revenda. interessante, pois todos, inclusive as crianas auxiliam nesta separao, fazendo o papel da coleta seletiva que ainda inexistente no municpio. Conforme as figuras 10 e 11:

Figura 10: Lixo de Barra do BugresMT(Parque Industrial). Fonte: Foto de Loiva Zanon .Magalhes, 03/2007.

Figura 11: Lixo de Barra do BugresMT(Parque Industrial). Fonte: Foto de Loiva Zanon .Magalhes, 03/2007.

A composio dos resduos slidos est relacionada com fatores que influenciam a origem e formao do lixo no ambiente urbano de Barra do Bugres, tais como: Nmero de habitantes do municpio; rea relativa produo; Variaes sazonais;

60

Condies climticas; Hbitos e costumes da populao; Nvel educacional; Poder aquisitivo; Tempo de coleta; Eficincia da coleta; Tipo de equipamento da coleta; Disciplina e controle dos pontos produtores; e Leis e regulamentaes especficas.

Scio-Econmico/ Renda mensal:

R$ 2.500,00 8%

mais de 2.500,00 10%

R$ 150,00 e 1 salrio mnimo 20%

R $ 1.500,00 29%

R$ 824,00 18% R$ 1.000,00 15%

Figura 12 : Fator scio-econmico em Barra do Bugres - MT. Fonte: Foto de Loiva Zanon .Magalhes, 03/2007.

A variao econmica apresenta reflexos nos locais de disposio e tratamento do lixo. Com o desaquecimento na economia e o trmino da safra canavieira, as fbricas e o comrcio reduzem suas atividades, produzindo menores quantidades de lixo. Pode acontecer o contrrio tambm; porm aps determinado tempo tendncia a estabilizao (INSTITUTO DO ACAR E DO LCOOL 1988).

Outro fator relevante est relacionado com a composio destes resduos, pois tanto do ponto de vista qualitativo como quantitativo, um dos dados bsicos para o devido equacionamento da coleta, seu transporte, tratamento e sua destinao final.

61

Segundo ORSATI (2006):...a disposio inadequada dos resduos slidos urbanos leva a contaminao do meio ambiente, sendo um problema comum em diversos municpios brasileiros. O ndice de qualidade, determinado pela relao entre os critrios funcionais e os impactos ambientais.

A disposio dos resduos nas reas urbanas constitui um grande desafio para a administrao pblica e para a sociedade. Trata-se de um problema de sade pblica, como demonstram os surtos epidmicos relacionados ausncia ou carncia de saneamento bsico.

Sua composio qualitativa apresenta os resduos biodegradveis, reciclveis e combustveis, como a borracha, o couro, a madeira, matria orgnica, metais ferrosos, metais no ferrosos, papel, papelo, plstico duro, plstico filme, trapos e vidro.

Os resduos urbanos de composio quantitativa variam de uma regio para outra, assim como de um municpio para outro, considerando todos os fatores expostos anteriormente relacionados aos fatores de composio. Segundo PRANDINI (1995), os sistemas de limpeza urbana so de competncia dos municpios, devendo promover a coleta, o tratamento e a destinao ambiental e sanitria adequada.

Barra do Bugres coleta atualmente 14 toneladas/dia de resduos slidos, distribudos em materiais orgnicos, papel, plsticos, madeira, trapos, entre outros. A coleta acontece nos bairros duas vezes por semana e so feitos por quatro caminhes apropriados para a coleta, da prpria Secretaria de Obras, Viao e Servios Pblicos e so destinados a rea conhecida como lixo a cu aberto. Algumas vezes pod-se constatar que por manuteno, outros caminhes, estes comuns de caamba, realizaram a coleta do lixo na cidade. A coleta do lixo na Aldeia Umutina ainda insuficiente, segundo lderes umutinas, pois a coleta no regular.

Os resduos slidos urbanos tm destinao inadequada em mais de 80% dos municpios do Brasil, assim como no municpio de Barra do Bugres, esses resduos so destinados a cu aberto em lixes (Naime in Jacobi, 2006).

62

A classificao dos resduos slidos realizada atravs de sua origem: lixo domiciliar, lixo comercial, lixo pblico, de varrio e feiras livres, lixo de servios de sade e hospitalares, lixo de terminais rodovirios, lixo industrial, lixo agrcola e entulho (IPT e CEMPRE, 1995).

As Diretrizes Internacionais para a questo de resduos slidos tm orientado a reduo em sua gerao. Para tanto, criaram a ordem 3R. A nomenclatura 3R significa reduo, reutilizao e reciclagem dos resduos slidos.

O 3R segue o princpio que causa menor ndice de impacto ambiental, evitando a gerao dos resduos, reutilizando no mesmo estado em que se encontram para ento partir para a reciclagem.

Uma alternativa que vem dando certo em Londrina, So Paulo e Porto Alegre; pois a separao e reaproveitamento de materiais retirados do lixo cresceram e deram novos caminhos de emprego s pessoas que vivem dos lixes. Para Jacobi e Viveiros (2006):

A gesto de resduos slidos um processo economicamente vivel, socialmente justo e ambientalmente adequado como alternativa sustentvel (Jacobi & Viveiros, 2006).

Estes resduos sem tratamento adequado causam danos ao meio ambiente fsico, uma conseqncia do lixo, jogado no terreno que os abriga. Segundo Naime in Jacobi (2006) devido decomposio e queimada, ocorrem no apenas danos ao solo e gua, mas tambm vegetao e aos animais; seguido de danos sociedade local.

Sob uma tica mais ampla, resduo um descontrole entre fluxos de certos elementos em um dado sistema ecolgico, implicando na instabilidade desse sistema (Figueiredo, 1995). Para Orsati (2006): ...gerenciamento adequado do lixo, um dos servios de maiorvisibilidade por seus efeitos imediatos: a limpeza da cidade e a proteo ao meio ambiente, garantem o bem estar da populao,

63

sade e investimento de recursos pblicos; garantindo a qualidade de vida da populao.

7.4.2 Saneamento Bsico:

Para Diniz (2007) Saneamento bsico compreende:... o tratamento de gua em suas sucessivas fases: a captao, o tratamento, a aduo, a distribuio e a disposio final dos esgotos, bem como requer a instalao de infra-estrutura compatvel com o transporte da gua a ser fornecida e de coleta do esgoto para tratamento em locais prprios, definidos no Decreto n. 82.587, de 06.11.1978.

O princpio fundamental do servio de saneamento bsico o abastecimento de gua, esgotamento sanitrio, limpeza urbana e o manejo dos resduos slidos; realizados de forma a atender a Lei n. 11.445, de 05.01.2007.

Diniz (2007), ainda, afirma:...que o servio de saneamento bsico, fator de equilbrio aos ecossistemas, abrange o fornecimento de elemento vital, imprescindvel perpetuao da vida e crucial ao desenvolvimento das atividades humanas. prestado para alcanar interesses tutelados pelo Estado, no mbito da sade pblica, ou seja, o Sistema nico de Sade (SUS) e a sobrevivncia digna. essencial o tratamento e o abastecimento de gua, portanto, dignidade da pessoa humana e, como tal, considerado servio pblico.(Diniz, 2007).

Segundo o Decreto

No 82.587, de 6.11.1978, o Art . 2 - So servios pblicos de

saneamento bsico, integrados ao Plano Nacional de Saneamento-PLANA