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PROBABILIDADES E RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS: relato de uma
experiência
Autor: Maria de Lourdes de Souza1
Orientador: Márcia Cristina de Costa Trindade Cyrino
2
Resumo
Nesse relato de experiência são apresentados algumas reflexões, sobre o ensino de
Probabilidades através da Resolução de Problemas. A experiência foi realizada com
alunos de 2o ano, do Ensino Médio em uma escola pública do Estado do Paraná. O
trabalho teve como objetivo possibilitar aos alunos a compreensão do conteúdo
Probabilidades, o trabalho coletivo e o contato com problemas que envolvessem
situações do dia a dia, oportunizando aos alunos perceber que a matemática
estudada na escola pode ser utilizada em sua vida. Durante a resolução de
problemas, o professor ofereceu aos alunos alguns materiais manipuláveis, teve que
manter muito diálogo para incentivar os alunos. Mediante o trabalho realizado,
percebemos que os alunos construíram conceitos sobre os conteúdos propostos,
aprenderam a trabalhar colaborativamente e desenvolveram autonomia, quando
tentaram resolver os problemas.
Palavras-chave: Educação Matemática; Resolução de Problemas;Probabilidades
1 Professora do Colégio Estadual Professor Izidoro Luiz Cerávolo
2 Doutora em Educação pela USP. Professora do Departamento de Matemática e do
Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Educação Matemática da
Universidade Estadual de Londrina (UEL).
1 Introdução
O presente trabalho surgiu da necessidade de encontrar formas
diferenciadas de trabalhar o conteúdo Probabilidades relacionando-o a
acontecimentos do dia a dia. Conforme as Diretrizes Curriculares da Rede Pública
do Estado do Paraná “o estudo da probabilidade permite diferentes olhares sobre o
mundo, o que leva a uma leitura diferenciada daquela de determinismo e exatidão
que, em geral, encontra-se na disciplina de Matemática.” (PARANÁ, 2006, p.40).
Uma dessas formas de trabalho diferenciado é utilizar a Resolução
de Problemas. Ela surge como uma alternativa pedagógica para trabalhar
Probabilidade, podendo contribuir para a aprendizagem por meio de situações-
problema do cotidiano. Por meio das estratégias de resolução utilizadas, os alunos
podem participar de um trabalho de busca e construção do seu próprio
conhecimento.
Pela minha experiência em sala de aula, percebo que os alunos
frequentemente utilizam fórmulas mecanicamente, não refletindo a respeito das
situações - problema propostas que resolvem por meio delas e nem o porquê de
utilizarem tais fórmulas.Nesse sentido, a utilização da Resolução de Problemas para
o ensino de Probabilidades pode contribuir para melhorar a compreensão dos alunos
a respeito desse conteúdo matemático, pois por meio dela
[...] o pensar e o fazer se mobilizam e se desenvolvem quando o indivíduo está
engajado ativamente no enfretamento de desafios. Essa competência não se
desenvolve quando propomos apenas exercícios de aplicação dos conceitos e
técnicas matemáticos, pois, neste caso, o que está em ação é uma simples
transposição analógica: o aluno busca na memória um exercício semelhante e
desenvolve passos análogos aos daquela situação, o que não garante que seja
capaz de utilizar seus conhecimentos em situações diferentes ou mais complexas.
(BRASIL, 2002, p. 112).
Diante disso, desenvolvemos uma experiência de ensino e
aprendizagem de Matemática com o conteúdo Probabilidade em sala de aula,
utilizando como estratégia metodológica a Resolução de Problemas. Apresentamos
nesse trabalho, o relato dessa experiência. Para isso, apresentamos primeiramente
alguns aspectos teóricos relacionados a essas temáticas, em seguida, o relato dessa
experiência, e por fim, algumas considerações em torno dessa experiência.
Algumas considerações sobre Probabilidade e Resolução de Problemas
Historicamente, a teoria das probabilidades teve inicio nos jogos de
azar. Os primeiros matemáticos a analisar os jogos de dados foram: Girolamo
Cardano (1501-1576) e Galileu Galilei (1554-1642). Tempos depois um jogador,
conhecido com Chevalier de Méré, procurou Blaise Pascal (1623-1662), para
resolver problemas com os quais tinha se deparado em suas partidas com jogo de
dados. Posteriormente houve correspondências trocadas entre Pascal e outro
matemático Pierre de Fermat (1601-1665). Começa assim a se estruturar a teoria
das probabilidades. (DANTE, 2008, p. 314)
Outros matemáticos se dedicaram ao estudo das probabilidades.
Atualmente, a teoria das probabilidades não se limita somente aos jogos de azar.
Seu uso é comum nas áreas de Estatística, Biologia, Medicina, Economia,
Sociologia, Política etc. Sobre o ensino de probabilidade, entre outras
recomendações e orientações, têm-se as seguintes nos Parâmetros Curriculares
Nacionais para o Ensino Médio.
As habilidades de descrever e analisar um grande número de dados,
realizar inferências e fazer predições com base numa amostra de
população, aplicar as idéias de probabilidade e combinatória a fenômenos
naturais e do cotidiano são aplicações da Matemática em questões do
mundo real que tiveram um crescimento muito grande e se tornaram
bastante complexas. Técnicas e raciocínios estatísticos e probabilísticos
são, sem dúvida, instrumentos tanto das Ciências da Natureza quanto das
Ciências Humanas. (BRASIL, 1999, p.44-45)
Assim, ainda de com os Parâmetros Curriculares Nacionais “isto
mostra como será importante uma cuidadosa abordagem dos conteúdos de
contagem, estatística e probabilidade no Ensino Médio, ampliando a interface entre
o aprendizado e as demais ciências e área.” (BRASIL, 1999, p.45) Outro aspecto
importante dessa questão, é o ético. Ao se envolver em jogos de azar, algumas
pessoas acabam sendo levadas ao vício. Essas pessoas passam a alimentar a
indústria da ilusão do lucro fácil. É necessário uma cuidadosa abordagem desse
tema, sem o intuito de incentivar ou levar a prática desse tipo de jogos. Desse modo:
[...] além das justificativas relativas às aplicações e à linguagem, sua
importância está no potencial explicativo, que permite ao aluno conhecer o
mundo e desenvolver sentidos estéticos e éticos em relação a fatos e
questões desse mundo. (BRASIL 2002, p. 119)
Dentre as diversas estratégias que podem ser utilizadas para se
ensinar Probabilidade apresenta-se a Resolução de Problemas.
A Resolução de Problemas é uma das tendências da Educação
Matemática. Ela se apresenta como uma alternativa pedagógica para o ensino e a
aprendizagem da Matemática, com características diferenciadas em relação ao
ensino tradicional e vem ganhando espaço entre pesquisadores e professores, que
estão em busca de apresentar possibilidades para o ensino da Matemática com
novas metodologias.
Nesse sentido, tomamos a Resolução de Problemas como
norteadora do desenvolvimento do trabalho com Probabilidade em sala de aula, que
aqui será relatado.
Para trabalhar com a Resolução de Problemas é necessário
entender que nessa perspectiva problema não é um simples exercício de aplicação
de conceitos previamente trabalhados. O problema é “o ponto de partida e
orientação para a aprendizagem, e a construção do conhecimento far-se-á através
de sua resolução. Professor e alunos juntos, desenvolvem esse trabalho e a
aprendizagem se realiza de modo colaborativo em sala de aula”. (ALLEVATO e
ONUCHIC, 2009, p. 7)
Diante disso, o professor precisa estar atento ao seu papel durante
os processos de ensino e aprendizagem. Não basta apenas ter o conhecimento do
conteúdo, “[...] a postura do professor de problematizar e permitir que os alunos
pensem por si mesmos, errando e persistindo, é determinante para o
desenvolvimento das competências, juntamente com a aprendizagem dos conteúdos
específicos”. (BRASIL, 2002, p. 129)
Convém destacar também que na Resolução de Problemas, os
problemas são apresentados aos alunos antes de ter sido ensinado o conteúdo
necessário para a sua resolução. O ensino e a aprendizagem do conteúdo
matemático têm início com um problema que apresenta elementos do conteúdo a
ser estudado e diferentes estratégias podem ser desenvolvidas para buscar resposta
ao problema em questão, oportunizando ao aluno apropriar de conceitos relevantes
envolvidos no problema (ALLEVATO; ONUCHIC, 2009, p.9-10).
2 Relato da experiência
O presente trabalho foi desenvolvido com 29 alunos de uma turma
da 2oano do Ensino Médio de uma escola pública de Apucarana, no ano de 2011,
por meio da Resolução de Problemas. O conteúdo matemático estudado foi
Probabilidades.
Para alcançarmos nossos objetivos, foram propostos aos alunos 5
problemas, envolvendo conceitos básicos de Probabilidades, como: experimento
aleatório, espaço amostral, número de elementos do espaço amostral, eventos,
cálculo de probabilidades, união e interseção de eventos.
As informações aqui relatadas foram obtidas no decurso das tarefas
realizadas baseadas nas etapas sugeridas pelas autoras Allevato e Onuchic (2009)
para implementação da Resolução de Problemas em sala de aula: entregar o
enunciado do problema; leitura individual; formação de grupos e leitura coletiva;
resolver o problema; observar e incentivar; auxiliar os alunos nos problemas
secundários; registro das resoluções no quadro; realizar a plenária; buscar um
consenso; formalizar o conteúdo.
A seguir apresentaremos os problemas propostos para os alunos e o
relato do trabalho desenvolvido em torno de cada um deles. Iniciamos as tarefas
com os alunos, conversando sobre o trabalho que realizaríamos, e como seria a
dinâmica das aulas. Cabe destacar também que tivemos cuidado para que os
enunciados dos problemas tivessem contextos relacionados com o cotidiano do
aluno ou que pudessem chamar sua atenção. Nos três primeiros problemas, os
alunos receberam material manipulável (moedas e dados) que tinham por finalidade
auxiliá-los na sua resolução.
Problema 1:
Pegue duas moedas. Lance-as simultaneamente, sobre a carteira. Anote:
a) o conjunto de todos os resultados possíveis;
b) as possibilidades de sair faces de mesmo nome;
c) as possibilidades de sair faces com nomes diferentes;
d) as possibilidades de sair pelo menos uma coroa;
e) as possibilidades de sair apenas uma coroa.
Figura A – Moedas (Coroa e Cara)
Fonte: Maria de Lourdes de Souza, 2011
A professora iniciou a aula distribuindo o Problema 1 impresso e
pedindo que, primeiramente lessem individualmente o enunciado do problema e em
seguida se reunissem em pequenos grupos de dois ou três integrantes para reler,
interpretar, discutir com o grupo as possíveis resoluções, usando o material
fornecido pelo professor, quando necessário. Caso tivessem dúvidas, a professora
os auxiliaria.
Imediatamente alguns alunos queriam que a professora explicasse
como resolver. Talvez isso se deva à falta de experiência dos alunos com esse tipo
de trabalho. Muitos estavam preocupados em entregar as resoluções certas e
preocupados com a nota a ser atribuída às resoluções. Diante do exposto, a
professora esclareceu que a avaliação nessas aulas se daria mediante a observação
dos alunos no trabalho de resolução no grupo, levando em conta aspectos como
participação e cooperação durante a resolução dos problemas, estratégias e
procedimentos de resolução utilizados.
Transcorrido esse momento, os alunos passaram a buscar as
resoluções para os itens do problema. Foram incentivados a utilizarem seus
conhecimentos prévios ou estratégias já conhecidas, bem como o material
manipulável (duas moedas) que dispunham, para resolverem o problema. Muitos
estavam compartilhando no grupo seus conhecimentos e discutindo seu ponto de
vista. Quando havia alguma dificuldade por parte dos alunos, a professora fazia
questionamentos de modo a tentar ajudá-los a sanarem as dúvidas, para que
pudessem resolver os itens e construírem os conceitos envolvidos em cada item do
trabalho.
Com a utilização de material manipulável os alunos foram
descrevendo as possibilidades como mostram os registros da figura 1, para chegar
ao resultado.
Figura 1- Resolução apresentada pelo aluno H
A professora previa que os alunos resolveriam o problema em uma
aula, chegando à plenária. Mas isso não aconteceu. Foi necessário mais tempo para
que os grupos discutissem e apresentassem na plenária suas resoluções.
Seguindo as etapas, apresentadas anteriormente neste trabalho, na
aula seguinte, os grupos registraram as resoluções na lousa para serem discutidas.
Houve certa resistência por parte de alguns grupos. Mas a argumentação por parte
da professora, e o registro das resoluções de alguns colegas no quadro auxiliou para
que essa resistência inicial fosse sendo amenizada. Então, realizamos a plenária.
Nesse momento, como não estavam acostumados com essa dinâmica de trabalho,
todos queriam falar ao mesmo tempo. O caos se instalou!! A professora teve que
mediar as discussões, estabelecendo uma ordem das falas, e acalmá-los nesta
primeira plenária. Nas discussões dos itens a, b e c, os alunos chegaram a um
consenso quanto às respostas apresentadas, conforme a figura 2.
Figura 2- Resolução apresentada por uma dupla de alunos
Mas não houve um consenso quanto as respostas dos itens d e e.
No item d, “as possibilidades de sair pelo menos uma coroa”, a
maioria dos grupos respondeu que seria {Cara, Coroa; Coroa, Cara}.
Figura 3- Resolução apresentada por um grupo
O aluno T, não concordava com essa resposta dos grupos. Leu a
pergunta para a turma novamente.
T: – Aqui tá perguntando a possibilidade de sair pelo menos uma coroa. Pode ter
duas coroas.
A aluna A respondeu:
A: – Não concordo. A resposta do meu grupo está correta. É somente uma coroa.
T: – Você não entendeu ainda, tá falando que pode ter pelo menos, ou seja, no
mínimo uma, mas pode ter mais de uma. A resposta é {cara, coroa; coroa, coroa;
coroa,cara}.
Além desse grupo, somente outros 2 grupos resolveram
corretamente esse item do problema. Após essa discussão, os alunos deram
indícios de ter compreendido o significado do “pelo menos” no enunciado do
problema. No item e, “as possibilidades de sair apenas uma coroa”, alguns grupos
haviam resolvido incorretamente. Escreveram { cara, coroa; coroa, coroa; coroa,
cara }. Observaram o erro, relendo a pergunta “apenas uma coroa” e corrigiram no
quadro com o auxílio do grupo.
Encerrada a plenária, na qual os alunos sanaram suas dúvidas,
foram formalizados os conceitos de experimentos aleatórios, espaço amostral e
evento a partir da resolução do problema.
Problema 2
Lançando-se simultaneamente dois dados não viciados e considerando o número
exibido na face voltada para cima de cada dado, escreva:
a) o conjunto de todos os resultados possíveis;
b) o número de elementos do conjunto de todos os resultados possíveis;
c) as possibilidades de se obter números iguais;
d) as possibilidades de se obter, números cuja soma é igual a 5;
e) o número de possibilidades de se obter, números cuja soma é igual a 5;
f) as possibilidades de se obter, números cuja soma é igual a 12.
Figura B - Dados
Fonte: Maria de Lourdes de Souza, 2011
No início da aula, foi distribuído o enunciado do problema 2, a
professora pediu aos alunos que lessem o enunciado individualmente, em seguida
que formassem grupos com os mesmos colegas das aulas anteriores. Em seguida,
relembrou algumas recomendações anteriores quanto a Resolução de Problemas,
enfatizando que deveriam resolver as questões propostas com ajuda dos colegas,
num trabalho colaborativo.
Nessa aula, os alunos não estavam mais tão ansiosos. Começaram
a entender melhor a dinâmica do trabalho mostrando-se mais participativos.
Circulando pelos grupos, a professora observou que os alunos não compreendiam o
significado das palavras “dados viciados”. Sugeriu que buscassem e consultassem
primeiramente um dicionário e depois a internet. Sanada a dúvida, os grupos se
empenharam nos experimentos, de modo que, alguns integrantes do grupo
realizavam o experimento e outros anotavam os resultados com mais atenção e
organização nos registros. Utilizaram a notação de conjuntos e nomenclaturas
formalizadas no problema 1, mas ainda procuravam a professora para confirmar se
estavam corretos os procedimentos, evidenciando que não queriam registrar no
quadro respostas incorretas. A professora salientou mais uma vez que não se
preocupassem, pois discutiríamos as resoluções na plenária. Alguns grupos
utilizaram a árvore de possibilidades e outros listaram todas as situações possíveis
como mostram os registros seguintes.
Figura 4 - Resolução apresentada por um grupo de alunos
Foi possível observar no registro das resoluções na lousa que
alguns dos grupos apresentavam dificuldades ao utilizar a notação de pares
ordenados e conjuntos. Registraram cada lançamento como {1,1;1,2;...;1,6} e não na
forma de pares ordenados {(1,1);(1,2); ...;(6,6)}, por exemplo. O mesmo ocorreu no
itens b e e, que pedia o número de elementos do conjunto e número de
possibilidades de ocorrência de eventos, foram utilizados a notação de conjuntos,
evidenciando uma possível falta de compreensão quanto à representação. A
professora não interferiu nas respostas do grupo. Então, realizamos a plenária. Com
relação às resoluções, todos concordaram que estavam quase todas corretas,
exceto de um grupo conforme registro na figura 5.
Figura 5 - Resolução apresentada por uma dupla de alunos
No item a par ordenado (3,1) aparece duas vezes e o (2,1) não
aparece. O erro apresentado pelos alunos da dupla na resolução foi analisado e
discutido, dando-lhes oportunidade de esclarecer possíveis dúvidas.
Após a plenária a professora chamou novamente à atenção dos
grupos para a leitura e interpretação dos itens. Formalizou o conteúdo, registrando
na lousa as definições de pares ordenados, eventos, notações de pares ordenados,
uso do símbolo de conjuntos nos eventos, ressaltando como indicar o número de
elementos do espaço amostral e número de possibilidades de ocorrência de um
evento.
Problema 3
No lançamento de um dado, observando a face superior, determine a razão entre o
número de elementos do evento descrito em cada item do problema e o número de
elementos do espaço amostral.
a) ser um número par; b) ser um número menor que 3.
Figura C - Dado Fonte: Maria de Lourdes de Souza, 2011
Nesse problema, era esperado que os alunos chegassem à
definição e ao cálculo de probabilidade. Descreveram o espaço amostral e os
eventos para cada item do problema. Entretanto, a professora observou que muitos
alunos tinham dificuldade na interpretação da palavra “razão”. Os próprios alunos
tiveram a iniciativa e novamente foram buscar e consultar o dicionário de língua
portuguesa. Pesquisaram o significado da palavra razão e chegaram à palavra
quociente. Foi necessário relembrar então o significado da palavra quociente, como
resultado de divisão. Dessa forma os grupos resolveram as questões, calculando o
quociente, para cada item, de forma fracionária e percentual. A partir disso foi
possível formalizar o conceito de probabilidade, conforme registro a seguir.
Figura 6 - Registro apresentado por uma dupla de alunos
Dois grupos inicialmente resolveram de outra forma, escrevendo no
item a “3 em 6” e no item b “2 em 6”. Perguntaram para a professora se essa forma
de registro estava correta. Foram questionados então por ela se poderiam
reescrever isso utilizando algum símbolo matemático. Em um desses grupos
estavam alunos que tinham bastante dificuldade na disciplina e a todo momento
solicitavam a presença da professora. Ela então pediu que relessem o significado da
palavra razão. Os alunos responderam que era quociente, escrevendo 3:6. Alguns
disseram que poderia também ser escrito na forma de fração, ou seja,
. Com esses
encaminhamentos, procederam da mesma forma com o item b.
Problema 4
João e Maria planejam ter dois filhos. Qual é a probabilidade de:
a) serem dois meninos?
b) ser pelo menos uma menina?
Uma das intenções na elaboração desse problema foi mostrar aos
alunos que a Probabilidade é utilizada em outras áreas, por exemplo, a Biologia.
Antes de resolver esse problema, os alunos tiveram algumas aulas de Biologia
focando aspectos relevantes da Genética.
Além disso, pretendia-se com base nas resoluções apresentadas
pelos alunos, verificar se houve a compreensão do conceito de probabilidade
formalizado no problema anterior. A maioria dos grupos resolveu corretamente os
itens a e b. Determinaram a razão entre o número de possibilidades de ocorrência
dos eventos pedidos e o número de elementos do espaço amostral, mostrando por
meio de suas resoluções indícios de ter compreendido o conceito de probabilidade.
Mas indicaram de forma incorreta, utilizando E para indicar número de elementos do
espaço amostral e A para o número de possibilidades de ocorrência de evento.
Conforme o registro a seguir.
Figura 7-: Resolução apresentada por um grupo de alunos
Depois de serem questionados pela professora a respeito dessas
notações, perceberam o erro e corrigiram, usando as notações n(E) e n(A).
Problema 5
Numa urna existem etiquetas numeradas de 1 a 17. Ao ser retirada uma única
etiqueta dessa urna, determine a probabilidade de ser:
a) um número par;
b) um número primo;
c) um número par e primo;
d) um número par ou primo.
Nesse problema, os alunos estavam bem descontraídos e
familiarizados com as etapas do trabalho que desenvolvíamos a cada aula. Durante
a resoluções, os grupos registraram o espaço amostral e identificaram os números
pares. As dificuldades surgiram no momento de identificar os números primos.
Alguns alunos não se lembravam da definição de número primo. Tentando auxiliá-los
a relembrar esse conceito que possivelmente já haviam estudado anteriormente, a
professora fez perguntas para toda a sala, pois era uma dúvida comum a todos. No
diálogo a seguir, a letra P será utilizada para indicar que a fala é da professora, e as
demais letras, para a fala de algum aluno.
P: – O que é um número primo? Alguém se lembra?
D: – Não sei. Não me lembro.
P: – Quais seriam os divisores naturais do número 4? Ou seja, números naturais
pelos quais divido o 4, sem sobrar resto?
A professora solicitou que um aluno fosse ao quadro e escrevesse
esses números. O aluno D foi o voluntário.
D: – Professora, posso dividir o número 4 por 1, 2, hum...3 ? Não! Sobra resto. Pelo
número 4.
P: – D, quais são os divisores naturais do número 4 então?
D: – São os números 1, 2 e 4.
P: – É isso mesmo.
A professora pediu então aos grupos que determinassem no
caderno os divisores de mais alguns números e anotassem regularidades. Por
exemplo: Divisores dos números 2, 3, 5, 6, 7, 8, 9 e 11. Devido ao pouco tempo que
ainda restava de aula, apenas um grupo registrou as respostas no quadro para
discussão.
P: – O que vocês perceberam nos resultados obtidos?
G: – O número 1 é divisor de todos os números e o último divisor é sempre ele
mesmo.
H: – Alguns números tem mais de dois divisores. E alguns deles somente dois.
K: – Bom, a gente notou que a maioria dos números que têm dois divisores são os
ímpares.
T: – Mas tem um número que é par aí, o número 2.
P: – Quais destes números têm somente dois divisores; o número 1 e ele próprio?
H: – Os números 2, 3, 5, 7 e 11.
P: – Os números que têm somente dois divisores distintos; o número 1 e ele próprio,
são números os primos.
De posse dessas informações, os grupos resolveram os itens b e c.
O item d foi retomado na aula seguinte. Esse item foi elaborado com
o intuito de que os alunos chegassem à relação que permite calcular a probabilidade
de ocorrência da união de dois conjuntos.
Muitos grupos utilizaram às resoluções dos itens anteriores para
resolvê-lo, mas não observaram o elemento comum aos dois conjuntos. Não
considerando o número 2 como número par e primo. Registraram como resultado de
união 17
15.
Figura 8 - Resolução apresentada por um grupo
Foi necessário relembrá-los de algumas idéias da Teoria dos
conjuntos, que havia sido estudada por eles na 1a série do Ensino Médio. Por
exemplo, os conceitos de união e interseção de conjuntos e a relação n (AB) = n
(A) + n(B) – n (AB), a partir da qual a professora formalizou junto aos alunos que P
(AB) = P(A) + P(B) – P(AB).
Os alunos então apresentaram resoluções semelhantes a essa que
segue.
Figura 9 - Resolução apresentada por um grupo
A seguir apresento, a resolução de um outro grupo de alunos para o
item d. Essa resolução baseou-se apenas na definição de probabilidades. Os alunos
solucionaram o problema, encontrando primeiro o valor de cada item, depois
finalizaram o item d. Não utilizaram o resultado formalizado P(AB)=P (A) + P (B) –
P(AB ).
Figura 10 - Resolução apresentada por um grupo de alunos
3 Considerações Finais
A experiência realizada foi bastante rica, pois permitiu desenvolver
reflexões sobre a utilização da Resolução de Problemas. Por meio dela, os alunos
puderam vivenciar uma nova forma de trabalho em sala de aula.
Os três primeiros problemas foram apresentados juntamente com
material manipulável, que tinha como finalidade auxiliar os alunos na sua resolução.
O uso do material manipulável, contribuiu para o entendimento e resolução das
questões. No enunciado de cada problema havia aspectos relacionados ao cotidiano
do aluno ou que pudessem chamar sua atenção, mostrando por meio da
contextualização a possibilidade de um aprendizado de forma mais prazerosa.
Partindo dos conhecimentos prévios dos alunos, procurou-se
incentivar a autoconfiança e torná-los protagonistas na construção de seus
conhecimentos e não meros expectadores. Por meio da participação ativa dos
mesmos na aula, em discussões com os colegas, ajudando-os a dar sentido ao que
estavam aprendendo, foi possível estabelecer relações e conceitos nesse trabalho
com a Resolução de Problemas.
No decorrer da aplicação dos problemas, também foi possível
observar algumas dificuldades dos alunos, tais como: falta de compreensão em
relação a vocabulário, dificultando o entendimento dos enunciados dos problemas,
não relacionar e relembrar conteúdos já estudados.
Apesar das dificuldades, os alunos buscaram construir
conhecimentos sobre o conteúdo proposto, associando os conceitos discutidos a
cada problema com os do problema seguinte, aprendendo a trabalhar
colaborativamente, desenvolvendo sua autonomia quando tentavam resolver os
problemas.
Foi possível perceber a satisfação dos alunos, em depoimentos
como:
“– Os problemas com o uso de moedas e dados são muito bons,
porque a gente resolve brincando.”
“– Nós já vimos esse assunto, mas o professor explicava e
mandava a gente fazer sozinho.”
“– Foi muito bom, e acho que era para acontecer mais vezes,
porque a gente resolve com ajuda dos colegas”.
“– Nós já estudamos Probabilidade, mas o trabalho foi bem legal, foi
bem diferente e aprendemos a fazer de outra forma”.
Nessas falas foi possível perceber também a visão do aluno a
respeito do trabalho desenvolvido, contribuindo de forma positiva para melhorarmos
a nossa prática pedagógica.
Saliento que este trabalho constituiu-se em um desafio para mim
enquanto professora, pois estava habituada a apresentar um problema aos alunos
apenas para aplicação dos conteúdos vistos anteriormente, e não para ensinar
algum conteúdo matemático partindo da resolução dos alunos. Foi a primeira vez
que utilizei a Resolução de Problemas nessa perspectiva. Considero necessário que
a Resolução de Problemas seja objeto de discussão e estudo entre nossos pares,
oportunizando um espaço importante de debate e reflexão, pois às vezes o que é
praticado em nossas salas de aulas, é uma visão míope e distorcida dessa
metodologia.
Finalmente, esperamos que este trabalho possa incentivar outros
professores a utilizarem essa estratégia metodológica em suas aulas.
Referências Bibliográficas
ALLEVATO, N. S. G; ONUCHIC, L. R. Ensinando Matemática na sala de aula
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BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio.
Brasília: MEC/SEMTEC, 1999.
______. PCN+Ensino Médio: Ciências da Natureza, Matemática e suas tecnologias.
Brasília: MEC/SEMTEC, 2002.
DANTE, Luiz Roberto. Matemática: contexto e aplicações. São Paulo: Ática, 2008.
PARANÁ. Secretaria do Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação
Básica Matemática. Curitiba: SEED, 2008.