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PRINCÍPIOS DE DIREITO PENAL Lúcio Valente ([email protected]) Você deve estar se perguntando a razão pela qual estamos estudamos os ―princípios‖ de direito penal somente agora. A experiência de sala de aula tem demonstrado que, por alguma razão, didaticamente é mais eficaz estudá-los após certo conhecimento da matéria. Talvez isso se deva ao fato de que o aluno já tem certo embasamento teórico concreto para tratar de um assunto mais abstrato. Nesta aula, portanto, trataremos dos princípios de direito penal, bem como as regras de interpretação das normas penais. A aula está sendo completamente reformulada, motivo pelo qual publico hoje a primeira parte e, até o fim de semana, a segunda parte, incluindo as questões. Preparado? Então vamos lá! 1. Conceito e funções dos princípios O direito penal cuida do estudo dos princípios e normas que regem as infrações penais, desde sua criação até a sua execução concreta (cumprimento de pena ou medida de segurança). A norma jurídica, em geral, é comumente dividida em duas espécies: as regras jurídicas (ou normas em sentido estrito) e os princípios jurídicos. As regras seriam normas específicas disciplinadoras de comportamentos específicos. Os princípios jurídicos seriam regras de abrangência mais ampla do as que as normas em sentido estrito. A proibição do furto prevista no artigo 155 do CP seria uma regra (ou norma em sentido estrito). A determinação de que só existe crime se houver lei anterior que o defina, art. 1º do CP, é um princípio jurídico.

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PRINCÍPIOS DE DIREITO PENAL

Lúcio Valente ([email protected])

Você deve estar se perguntando a razão pela qual estamos estudamos os

―princípios‖ de direito penal somente agora. A experiência de sala de aula tem

demonstrado que, por alguma razão, didaticamente é mais eficaz estudá-los

após certo conhecimento da matéria. Talvez isso se deva ao fato de que o

aluno já tem certo embasamento teórico concreto para tratar de um assunto

mais abstrato.

Nesta aula, portanto, trataremos dos princípios de direito penal, bem como as

regras de interpretação das normas penais. A aula está sendo completamente

reformulada, motivo pelo qual publico hoje a primeira parte e, até o fim de

semana, a segunda parte, incluindo as questões.

Preparado? Então vamos lá!

1. Conceito e funções dos princípios

O direito penal cuida do estudo dos princípios e normas que regem as

infrações penais, desde sua criação até a sua execução concreta

(cumprimento de pena ou medida de segurança).

A norma jurídica, em geral, é comumente dividida em duas espécies: as

regras jurídicas (ou normas em sentido estrito) e os princípios jurídicos.

As regras seriam normas específicas disciplinadoras de comportamentos

específicos. Os princípios jurídicos seriam regras de abrangência mais ampla

do as que as normas em sentido estrito. A proibição do furto prevista no

artigo 155 do CP seria uma regra (ou norma em sentido estrito). A

determinação de que só existe crime se houver lei anterior que o defina, art.

1º do CP, é um princípio jurídico.

Então, basicamente, as regras são normas mais específicas e os princípios

normas mais abrangentes, que se irradiam para todas as normas jurídicas.

Por essa razão, podemos afirmar que os princípios estão em nível hierárquico

superior do que as normas específicas. Eles têm mais importância para o

direito como um todo.

Os princípios são valores basilares que impõem a criação e a

conservação do sistema jurídico. São alicerces que sustentam todo o

ordenamento jurídico, servindo de critério orientador para a correta

interpretação das regras jurídicas.

Para resumir, os princípios penais são normas orientadoras de interpretação e

aplicação do direito penal.

2. Princípio da legalidade estrita ou da reserva legal (CF, art. 5º,

XXXIX e CP, art. 1º) – nullum crimem nulla poena sine lege.

Em termos gerais, já vimos que normas penais são criadas exclusivamente

por meio de lei (ordinária, em regra). O princípio da legalidade impede que

quaisquer outras espécies legislativas que não leis ordinárias ou

complementares são impróprias para criar regras de direito penal. Vimos,

além disso, que cabe somente à União legislar sobre direito penal. É que se

denomina de princípio da legalidade estrita (ou reserva legal).

Anote!

Normas jurídicas

regras jurídicas

princípios jurídicos

Princípio da Legalidade Estrita (ou Reserva Legal): significa que a

norma penal incriminadora somente pode ser criada por lei federal

(CF, art. 22, I).

Obs.: os penalistas, bem como as provas de direito penal, em regra, não têm

diferenciado os termos ―legalidade‖ e ―reserva legal‖ como fazem os

constitucionalistas. De qualquer forma, para ser mais técnico, o termo

―princípio da legalidade‖ estaria relacionado com o respeito às leis em geral.

Já o princípio da ―reserva legal‖ significa que determinados institutos jurídicos

estão reservados à lei, ou seja, só lei poderia criá-los. Nesse sentido, alguns

doutrinadores ensinam que o termo correto a ser aplicado no direito penal é

―princípio da reserva legal‖, uma vez que está reservada ao direito penal a

criação de normas apenas por leis ordinárias e complementares.

As provas de concurso não têm feito essa distinção.

3. Antecedentes históricos

O princípio da legalidade tem como antecedente histórico a Magna Carta do

Rei inglês João sem Terra, de 1215, ao estabelecer em seu art. 39 que

nenhum homem livre poderia ser submetido à pena sem prévia lei em vigor

naquela terra.

As primeiras Constituições a instituírem o princípio da legalidade foram a dos

Estados americanos de Virgínia e de Maryland (1776), depois repetido na

Constituição americana (art. 1787). Posteriormente, foi inscrito na

Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789). A

concepção moderna do princípio da legalidade apresentado em tais

documentos foi delineada por Feurbach, sob a fórmula latina nullum crimem

nulla poena sine lege.

4. O fundamento político do princípio da legalidade é a proteção do ser

humano em face do arbítrio do poder de punir do Estado. Nesse sentido, a

legalidade impõe a proibição (a) da retroatividade da lei para criminalizar

ou agravar fato anterior à existência da lei, (b) do costume como

fundamento ou agravação de crimes e penas, (c) da analogia como método

de criminalização ou de punição de condutas, e (d) indeterminação dos

tipos penais e das respectivas sanções.

( CESPE - 2011 - STM - Analista Judiciário - Execução de Mandados)

Por meio do princípio constitucional da irretroatividade da lei penal,

veda-se que norma penal posterior incida sobre fatos anteriores, as-

segurando-se, assim, eficácia e vigor à estrita legalidade penal. Nesse

sentido, na Constituição Federal de 1988 (CF), garante-se a ultrativi-

dade da lei penal mais benéfica.

Resposta: errado.

( VUNESP - 2011 - TJ-SP - Juiz) Antônio, quando ainda em vigor o in-

ciso VII, do art. 107, do Código Penal, que contemplava como causa

extintiva da punibilidade o casamento da ofendida com o agente, pos-

teriormente revogado pela Lei n.º 11.106, publicada no dia 29 de

março de 2005, estuprou Maria, com a qual veio a casar em 30 de se-

tembro de 2005. O juiz, ao proferir a sentença, julgou extinta a puni-

bilidade de Antônio, em razão do casamento com Maria, fundamen-

tando tal decisão no dispositivo revogado (art. 107, VII, do Código

Penal). Assinale, dentre os princípios adiante mencionados, em qual

deles fundamento tal decisão.

a) Princípio da isonomia.

b) Princípio da proporcionalidade.

c) Princípio da retroatividade da lei penal benéfica.

d) Princípio da ultratividade da lei penal benéfica.

e) Princípio da legalidade.

Resposta: D

Na aula passada já tratamos da vedação da retroatividade e analogia em

prejuízo do réu no direito penal. Vamos falar um pouco, então, da proibição

da criação de tipos penais de caráter indeterminado:

5. Princípio da Taxatividade (mandato de certeza): o legislador deve

evitar a criação de tipos abertos, indeterminados que são aqueles em a

descrição típica é incompleta.

Mas, por que a criação de normas vagas, incompletas, abertas, fere o

princípio da legalidade? Porque as leis penais indefinidas e obscuras

favorecem interpretações idiossincráticas (segundo o ponto de vista de cada

um) e dificultam o conhecimento da proibição.

É óbvio que toda regra jurídica possui algum nível de indeterminação. Isso é

inevitável. Pense, como exemplo, no tipo penal que descreve ―expor ou

abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria‖ (art. 134). Várias

interpretações podem ser feitas sobre os termos apresentados pela norma.

Por exemplo: até quando uma criança é considerada ―recém-nascida‖? O que

é desonra? Etc.

Seja como for, o princípio da legalidade pressupõe um mínino de

determinação da lei para evitar que direitos fundamentais sejam

desrespeitados.

A Lei de Segurança Nacional ( Lei nº 7170/83), como exemplo, estabelece um

crime por demais indefinido. Veja:

Art. 23 - Incitar: I - a subversão da ordem política ou social.

( CESPE - 2011 - TJ-ES - Comissário da Infância e da Juventude) Uma

das funções do princípio da legalidade refere-se à proibição de se rea-

lizar incriminações vagas e indeterminadas, visto que, no preceito

primário do tipo penal incriminador, é obrigatória a existência de de-

finição precisa da conduta proibida ou imposta, sendo vedada, com

base em tal princípio, a criação de tipos que contenham conceitos va-

gos e imprecisos.

Resposta: correto

6. Princípio da Legalidade e Medidas Provisórias – o art. 62 da CF

proíbe expressamente MP's em matéria penal. Está vedação está presente,

mesmo que a Medida Provisória seja convertida em lei.

Como já tivemos oportunidade de afirmar, somente por meio de lei ordinária,

em respeito ao princípio da reserva legal, pode-se criar normas penais.

Dúvida suscitada em doutrina diz respeito à possibilidade de MPs serem

criadas em matéria penal benéfica.

O STF tem uma decisão em sentido positivo, nos seguintes termos:

EMENTA: I. Medida provisória: sua inadmissibilidade em

matéria penal - não compreende a de normas penais

benéficas, assim, as que abolem crimes ou lhes restringem

o alcance, extingam ou abrandem penas ou ampliam os

casos de isenção de pena ou de extinção de punibilidade.

II. Medida provisória: conversão em lei após sucessivas reedições,

com cláusula de "convalidação" dos efeitos produzidos

anteriormente: alcance por esta de normas não reproduzidas a

partir de uma das sucessivas reedições. III. MPr 1571-6/97, art.

7º, § 7º, reiterado na reedição subseqüente (MPr 1571-7, art. 7º,

§ 6º), mas não reproduzido a partir da reedição seguinte (MPr

1571-8 /97): sua aplicação aos fatos ocorridos na vigência das

edições que o continham, por força da cláusula de "convalidação"

inserida na lei de conversão, com eficácia de decreto-legislativo.

(RE 254818, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal

Pleno, julgado em 08/11/2000, DJ 19-12-2002 PP-00081 EMENT

VOL-02096-07 PP-01480 RTJ VOL-00184-01 PP-00301)

Perceba que a MP 417/08, que posteriormente foi convertida em lei1, permitia

que os possuidores e proprietários de armas de fogo de fabricação nacional,

de uso permitido e não registradas, deveriam ―solicitar o seu registro até o

dia 31 de dezembro de 2008, apresentando nota fiscal de compra ou

comprovação da origem lícita da posse, pelos meios de prova em direito

admitidos, ou declaração firmada na qual constem as características da arma

e a sua condição de proprietário‖. Esse dispositivo acabou por criar uma

hipótese de atipicidade temporária em relação à norma do art. 12 da Lei

10.826/03 (posse irregular de arma de fogo).

Bom, afinal, admite-se ou não Medida Provisória em matéria penal em

benefício do réu?

Para prejudicar o réu já temos certeza que não é possível. Veja a seguinte

questão:

( CESPE - 2009 - PGE-PE - Procurador de Estado-adaptada) Fere o

princípio da legalidade, também conhecido por princípio da reserva

legal, a criação de crimes e penas por meio de medida provisória.

Resposta: correto

Apesar da discussão existente, penso ser mais seguro adotar que medidas

provisórias estão totalmente vedadas em direito penal, pois o art. 62 da

CF não faz qualquer diferença.

Mas, Valente, e a decisão do STF acima mencionada?

Se você observar, ela foi proferida no ano 2000. Ocorre que o art. 62 da CF

teve nova redação determinada pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001.

A decisão do Supremo deve ser repensada sob a nova escrita da Lei Maior.

1 Lei 11.706/2008.

7. Princípio da insignificância

O Direito Penal não pode se ocupar com lesões irrelevantes aos bens

jurídicos. No exemplo do motorista que ao fazer manobra de estacionamento,

culposamente, atinge um pedestre que ali passava, tendo este experimentado

lesão de um centímetro e sem sangramento, podemos afirmar que a

integridade física do pedestre não fora colocada em um perigo tal que

justifique a intervenção do Direito Penal.

A concepção atual do princípio da insignificância nasceu do estudo da

tipicidade conglobante do penalista argentino Eugenio Raul Zaffaroni. Para

ele, a mera adequação formal da conduta ao tipo não seria suficiente para

realização típica. No exemplo do motorista, podemos dizer que formalmente

ele praticou a conduta descrita no art. 303 do Código de Trânsito Brasileiro.

Mas a tipicidade conglobante leva em consideração, além da tipicidade formal,

também o que se denomina de tipicidade material. Nessa, devemos

considerar sempre se o bem jurídico protegido pela norma (no caso, a

integridade física) ficou abalado a ponto de justificarmos a ação do Direito

Penal.

Será que aquele arranhão de dois centímetros causado culposamente pelo

motorista justificaria o acionamento do Direito Penal? Penso que não.

Podemos dizer que o resultado causado por culpa do motorista é

insignificante para o Direito Penal.

Inicialmente, o princípio era aplicado apenas em crimes patrimoniais, com em

pequenos furtos, mas hoje sua aplicação é muito mais abrangente, como

veremos.

( MPE-SP - 2006 - MPE-SP - Promotor de Justiça) Em relação ao prin-

cípio da insignificância ou de bagatela, assinale a alternativa incorre-

ta:

a) seu reconhecimento exclui a tipicidade, constituindo-se em ins-

trumento de interpretação restritiva do tipo penal.

b) somente pode ser invocado em relação a fatos que geraram míni-

ma perturbação social.

c) sua aplicação não é prevista no Código Penal, mas é amplamente

admitida pela doutrina e jurisprudência.

d) somente tem aplicabilidade em crimes contra o patrimônio.

e) exige, para seu reconhecimento, que as conseqüências da conduta

tenham sido de pequena relevância.

Resposta: letra D

8. Observe que o Princípio da Insignificância não pode ser confundido com

as denominadas “infrações de menor potencial ofensivo” da Lei nº

9.099/95.

As infrações de menor potencial ofensivo são aquelas em que a lei prescreve

pena de, no máximo, 2 anos de prisão e/ou multa. Nessas infrações, de

competência dos Juizados Especiais, várias medidas despenalizadoras podem

ser aplicadas ao infrator, evitando-se, assim, pena de privação de liberdade

(ex.: transação penal e suspensão condicional do processo).

( FEPESE - 2010 - UDESC - Advogado) Assinale a alternativa correta.

a) O princípio da humanidade das penas está consagrado na Constitu-

ição Federal.

b) O princípio da aplicação da lei mais benéfica não é utilizado pelo

direito penal.

c) O princípio da intervenção mínima não se confunde com o principio

da ultima ratio.

d) Por força do princípio da insignificância não são punidos os crimes

de menor potencial ofensivo.

e) A existência de crimes funcionais ofende o princípio da igualdade.

Resposta: letra A

9. A análise do princípio da insignificância deve ser realizada no caso

concreto. Para que você possa acertar as questões da prova, preciso reunir os

principais posicionamentos do STJ e do STF a respeito. Seria interessante que

você passe a acompanhar os informativos de jurisprudência e anote as novas

decisões a partir de agora. A aula está atualizada até o dia 26 de maio de

2011.

10. O primeiro posicionamento que gostaria de mencionar, refere-se aos

requisitos para aplicação do princípio da insignificância.

O STF já estabeleceu como requisitos objetivos e subjetivos:

a) mínima ofensividade da conduta;

b) ausência de periculosidade social da ação;

c) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento;

d) inexpressividade da lesão jurídica.

No furto de um cartucho de tinta de impressora de valor aproximado de R$

30, praticado por um detendo, por exemplo, dentro de uma penitenciária

(fato julgado pelo STJ, conforme informativo nº 449/2010). Bom, o valor para

o Estado é relativamente insignificante. Entretanto, um dos requisitos

apontados pelo STF é a reprovabilidade da conduta do agente. Puxa vida, o

sujeito está preso na penitenciária, cumprindo pena e ainda furta um bem do

Estado! Veja como a conduta dele é reprovável, não obstante o valor ínfimo

do dano causado. Assim, todos os requisitos acima devem estar presentes

concomitantemente para o reconhecimento da insignificância.

11. Princípio da insignificância e crimes tributários: aplica-se o

princípio da insignificância aos crimes tributários (ex.: Crimes Contra a Ordem

Tributária( Lei nº 8.137/90), Descaminho (art. 334 do CP)).

O STF tem reconhecido a insignificância de crimes dessa natureza, desde que

o débito tributário devido não seja superior DEZ MIL REAIS. É que a Lei nº

10.522/2002 determinou o arquivamento, mediante requerimento do

Procurador da Fazenda Nacional, dos processos de execução fiscal de débitos

iguais ou inferiores a dez mil Reais.

Com base nesse dispositivo, o STF entendeu o seguinte: se R$ 10 mil Reais

são irrelevantes para o Fisco, não pode ser relevante para o Direito Penal.

(CESPE - 2011 - PC-ES - Delegado de Polícia ) Segundo a jurisprudên-

cia do STF, é possível a aplicação do princípio da insignificância para

crimes de descaminho, devendo-se considerar, como parâmetro, o va-

lor consolidado igual ou inferior a R$ 7.500,00.

Resposta: errado

12. Cuidado! No tocante ao crime de apropriação indébita previdenciária

(Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições

recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional: Pena –

reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. § 1o Nas mesmas penas

incorre quem deixar de: I – recolher, no prazo legal, contribuição ou outra

importância destinada à previdência social que tenha sido descontada de

pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do público; II –

recolher contribuições devidas à previdência social que tenham integrado

despesas contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou à prestação de

serviços; III - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas

cotas ou valores já tiverem sido reembolsados à empresa pela previdência

social), o qual, apesar de apresentar natureza tributária, o STF afastou o

princípio da insignificância, com fundamento no valor supraindividual

(coletivo) do bem jurídico protegido, o que torna irrelevante o pequeno valor

das contribuições sociais desviadas da Previdência Social (HC 100.938/SC).

Anote!

O STF admite a aplicação do princípio a crimes tributários, caso o

débito tributário não ultrapasse dez mil Reais. Entretanto, não tem o

Supremo aceito a aplicação do mesmo princípio ao crime de

apropriação indébita previdenciária.

13. O princípio da insignificância na Lei de Drogas (Lei n

11.343/2006): a jurisprudência do STF tem afastado a aplicação do

princípio da insignificância no que diz respeito à Lei de Drogas,

MESMO QUE SE TRATE DO CRIME DE PORTE DE DROGAS PARA

CONSUMO PRÓPRIO.

Em resumo, o STF alega de forma acertada que ao adquirir a droga para seu

consumo, realimentaria esse comércio, pondo em risco a saúde pública.

Ressaltou, ainda, a real possibilidade de o usuário vir a se tornar mais um

traficante, em busca de recursos para sustentar seu vício. Observou, por fim,

que — por se tratar de crime no qual o perigo seria presumido — não se

poderia falar em ausência de periculosidade social da ação, um dos requisitos

cuja verificação seria necessária para a aplicação do princípio

da insignificância (STF, HC 102940, DJ 05/04/2011).

Anote!

O STF não tem aplicado o princípio da insignificância aos crimes da

Lei de Drogas, inclusive ao art. 28 (Posse de Drogas para uso

pessoal).

14. Posse de drogas para uso pessoal em instalações militares: outra

discussão importante refere-se ao porte de drogas por militares em

instalações militares. Veja que pela especificidade da situação a legislação a

ser aplicada é a castrense, leia-se, o Código Penal Militar (art. 290). Não se

aplica, deste modo, a Lei de Drogas comum. Trata-se de um crime especial

em relação a essa lei.

Bom, na sessão de julgamento realizada em 21.10.2010, nos autos do HC

103.684/DF, rel. Min. Ayres Britto, o Plenário do Supremo Tribunal

Federal consolidou o entendimento de que ―a posse, por militar, de reduzida

quantidade de substância entorpecente em lugar sujeito à administração

castrense (CPM, art. 290) não autoriza a aplicação do princípio da

insignificância‖ (Informativo 605/STF).

Como se nota, não se admite a aplicação do princípio na lei comum

(11.343/2006), nem muito menos na Lei Castrense (militar). Quero que você

observe apenas as razões para que o princípio não seja aplicado em cada um

dos casos. Então, anote:

Lei de Drogas (11.343/2006): não se admite a aplicação do princípio da

insignificância por colocar em risco a saúde pública, por tratar-se de crime de

perigo abstrato e por alimentar a criminalidade (já que há a tendência de o

usuário tornar-se traficante para sustentar o vício).

Art. 290 do CPM: a questão da posse de entorpecente por militar em

recinto castrense não é de quantidade, nem mesmo do tipo de droga que se

conseguiu apreender. O problema é de qualidade da relação jurídica entre o

portador da substância entorpecente e a instituição castrense de que ele fazia

parte, no instante em que flagrado com a posse da droga em pleno recinto

sob administração militar. Em resumo, a disciplina militar não pode admitir o

uso de entorpecentes por parte de sua tropa, por colocar em risco, em última

análise, a própria segurança nacional.

15. Princípio da insignificância e tráfico de armas de fogo: o STF não

admite a aplicação do princípio da insignificância ao tráfico internacional de

armas e/ou munições (art. 18 da Lei nº 10.826/03). Segundo o STF, a

objetividade jurídica da norma penal (leia-se, o que a norma visa proteger)

transcende a mera proteção da incolumidade (segurança) pessoal, para

alcançar também a tutela da liberdade individual e do corpo social como um

todo, asseguradas ambas pelo aumento dos níveis de segurança coletiva que

a lei propicia (STF, HC 97777, DJ 19/11/2010).

16. Princípio da insignificância e crimes contra a fé-pública: o STF, de

igual modo, não tem aplicado o princípio para afastar a tipicidade material de

Crimes Contra a Fé-Pública (ex.: crime de Moeda Falsa do art. 289 do CP).

Imagine que o sujeito falsifique uma cédula de R$ 2 (dois Reais). Podemos

considerar essa conduta insignificante, considerando somente o valor

falsificado?

Para o STF, o bem violado seria a fé pública, a qual é um bem intangível e

que corresponde à confiança que a população deposita em sua moeda,

não se tratando, assim, da simples análise do valor material por ela

representado (STF, HC 96080, DJe 20/08/2009).

( CESPE - 2010 - DPU - Defensor Público) Considere a situação hipoté-

tica em que Ricardo, brasileiro, primário, sem antecedentes, 22 anos

de idade, e Bernardo, brasileiro, 17 anos de idade, de comum acordo e

em unidade de desígnios, tenham colocado em circulação, no comércio

local de Taguatinga/DF, seis cédulas falsas de R$ 50,00, com as quais

compraram produtos alimentícios, de higiene pessoal e dois pares de

tênis, em estabelecimentos comerciais diversos. Considere, ainda, que,

ao ser acionada, a polícia, rapidamente, tenha localizado os agentes

em um ponto de ônibus e, além dos produtos, tenha encontrado, na

posse de Ricardo, duas notas falsas de R$ 50,00 e, na de Bernardo,

uma nota falsa de mesmo valor, além de R$ 20,00 em cédulas verda-

deiras. Na delegacia, os produtos foram restituídos aos legítimos pro-

prietários, e as cédulas, apreendidas.

Nos termos da situação hipotética descrita e com base na jurisprudên-

cia dos tribunais superiores, admite-se a prisão em flagrante dos a-

gentes, considera-se a infração praticada em concurso de pessoas e,

pelas circunstâncias descritas e ante a ausência de prejuízo, deve-se

aplicar o princípio da insignificância.

Resposta: errado

17. A reincidência do agente pode afastar a aplicação do princípio da

insignificância?

Sim. As mais recentes decisões do STF (tanto da 1ª, como da 2ª Turma) têm

considerando que a reincidência e habitualidade da prática delituosa devem

ser consideradas para a aplicação ou não do princípio (STF, HC DJe

23/05/2011). Entretanto, a discussão não está pacificada. Em decisão

também recente, a 2ª turma ficou empatada em votação de Habeas Corpus

em favor de réu reincidente que solicitava a aplicação do princípio. Observe:

Ante o empate na votação, a 2ª Turma deferiu habeas corpus

impetrado em favor de condenado à pena de 10 meses de reclusão,

em regime semi-aberto, pela prática do crime de furto tentado de

bem avaliado em R$ 70,00. Reputou-se, ante a ausência de tipicidade

material, que a conduta realizada pelo paciente não configuraria

crime. Aduziu-se que, muito embora ele já tivesse sido condenado

pela prática de delitos congêneres (similares), tal fato não poderia

afastar a aplicabilidade do referido postulado, inclusive porque

estaria pendente de análise, pelo Plenário, a própria

constitucionalidade do princípio da reincidência, tendo em vista a

possibilidade de configurar dupla punição ao agente. Vencidos os

Ministros Joaquim Barbosa, relator, e Ayres Britto, que indeferiam o

writ, mas concediam a ordem, de ofício, a fim de alterar, para o

aberto, o regime de cumprimento de pena. HC 106510/MG, rel. orig.

Min. Joaquim Barbosa, red. p/o acórdão Min. Celso de Mello,

22.3.2011. (HC-106510)

A briga é feia também no STJ. Observe:

a) Julgado do STJ considerando a reincidência para afastar a

aplicação do princípio:

O paciente teria tentado subtrair do supermercado, ao todo, 12

(doze) cadeados e 6 (seis) cintos de borracha artesanais, avaliados

em R$ 238,08 (duzentos e trinta e oito reais e oito centavos). Não há

como considerar as coisas subtraídas de valor bagatelar,

notadamente tomando-se por base o salário mínimo vigente à época,

de R$ 465,00 (quatrocentos e sessenta e cinco reais).

3. De se ver, ainda, que o paciente é reincidente, possuindo

condenações por receptação e furto qualificado, cujas penas

privativas de liberdade foram substituídas por prestação de serviços à

comunidade (STJ, HC 146.983/RS, DJe 16/05/2011).

b) Julgado do STJ considerando a reincidência para a aplicação do

princípio:

Segundo a jurisprudência consolidada nesta Corte e também no

Supremo Tribunal Federal, a existência de condições pessoais

desfavoráveis, tais como maus antecedentes, reincidência ou ações

penais em curso, não impedem a aplicação do princípio da

insignificância.

Princípio da Alteridade – proíbe a autolesão punível (STJ, HC

196.252/MG, DJe 11/05/2011)

Alguns professores, em situações divergentes como essa, ensinam a seguinte

regra:

a) concursos de Polícia, Ministério Público e etc. costumam considerar

posições menos favoráveis ao réu;

b) concursos para Defensorias, provas de OAB e etc. costumam considerar

posições mais favoráveis ao réu.

Eu, particularmente, não concordo. Independentemente da prova que você

fará, o que determinará a posição adotada vai ser o examinador em si. No

meu concurso, por exemplo, o examinador de penal era Juiz de Direito. O que

eu fiz? Estudei as posições dele. Ocorre que, por falta de legislação específica,

os concursos não costumam publicar a banca examinadora, o que é um

verdadeiro absurdo.

Se esse for o caso, procure interpretar a questão. Exemplo: ―De acordo com

as mais recentes decisões do STF (ou STJ)‖; ou, ―de acordo com

jurisprudência majoritária no STF (ou STJ)‖. Com isso, você, tendo o

conhecimento, pode direcionar melhor o ―chute‖. Sim, porque mesmo

sabendo a matéria, não tem como adivinhar o posicionamento do examinador

muitas vezes.

A propósito, veja a seguinte questão que caiu em uma prova para Juiz de

Direito:

(TJ/TO Juiz de Direito/2007) Assinale a opção correta no que diz

respeito ao entendimento do STJ acerca do princípio da

insignificância e sua aplicação ao direito penal.

A) O fato de o réu possuir antecedentes criminais impede a aplicação

do princípio da insignificância.

B) O pequeno valor da res furtiva, por si só, autoriza a aplicação do

princípio da insignificância.

C) Uma quantidade mínima de cocaína apreendida, em hipótese

alguma, pode constituir causa justa para trancamento da ação penal,

com base no princípio da insignificância.

D) São sinônimas as expressões “bem de pequeno valor” e “bem de

valor insignificante”, sendo a conseqüência jurídica, em ambos os

casos, a aplicação do princípio da insignificância, que exclui a

tipicidade penal.

Veja que a questão é de 2007 e o examinador pede o entendimento do STJ

naquela época. O gabarito da questão, caso a prova fosse em 2011, deveria

ser repensado. Penso que, hoje, as assertivas ―A‖ e ―C‖ estariam corretas. Na

época, a resposta considerada correta foi a letra ―C‖.

No concurso para Procurador do Tribunal de Contas do Estado da Bahia de

2010, o Cespe realizou a seguinte assertiva (os grifos são meus):

( CESPE - 2010 - TCE-BA - Procurador / Direito Penal / Princípios ) Conside-

rando a interpretação do STJ e do STF a respeito da legislação penal extra-

vagante, julgue os itens

Considere que o prefeito de determinado município tenha emitido ordem de

fornecimento de 20 L de combustível, a ser pago por esse município, a indiví-

duo que não era funcionário público nem estava realizando qualquer serviço

público e que conduzia veículo privado nos termos da tipificação estipulada pe-

lo Decreto-Lei n.º 201/1967. Nessa situação, segundo precedente do STJ, não

se aplica o princípio da insignificância, pois, quando há crime contra a

administração pública, o bem penal tutelado não é somente de ordem

patrimonial, mas também relacionado à proteção da moral administra-

tiva.

A banca considerou a questão correta, muito provavelmente baseada na

seguinte decisão do STJ:

1. A 3a. Seção desta Corte possui jurisprudência pacífica sobre a

inaplicabilidade do princípio da insignificância nos crimes contra a

Administração Pública, pois não se busca resguardar apenas o

aspecto patrimonial, mas principalmente a moral administrativa.

2. Ordem denegada, em consonância com o parecer ministerial (STJ,

HC 115.562/SC, DJe 21/06/2010).

No entanto, o STF já decidiu de forma diferente. No caso tratado pelo STF

tratava-se de crime contra a Administração Pública Militar, o que, em tese, é

até mais grave. Veja:

1. A circunstância de tratar-se de lesão patrimonial de pequena

monta, que se convencionou chamar crime de bagatela, autoriza a

aplicação do princípio da insignificância, ainda que se trate de crime

militar. 2. Hipótese em que o paciente não devolveu à Unidade Militar

um fogão avaliado em R$ 455,00 (quatrocentos e cinqüenta e cinco)

reais. Relevante, ademais, a particularidade de ter sido aconselhado,

pelo seu Comandante, a ficar com o fogão como forma de

ressarcimento de benfeitorias que fizera no imóvel funcional. Da

mesma forma, é significativo o fato de o valor correspondente ao bem

ter sido recolhido ao erário. 3. A manutenção da ação penal gerará

graves conseqüências ao paciente, entre elas a impossibilidade de ser

promovido, traduzindo, no particular, desproporcionalidade entre a

pretensão acusatória e os gravames dela decorrentes. Ordem

concedida (STF, HC 87478, DJ 23/02/2007).

Como se vê, o CESPE quis a decisão mais recente na época que, no caso, era

do STJ. Inclusive, esses posicionamentos se mantêm até hoje.

Anote!

O STJ não admite o princípio da insignificância em crimes contra

administração pública (decisões mais recentes), mas o STF, em

decisões mais antigas, já aplicou o referido princípio.

18. Princípio da insignificância e improbidade administrativa: o

agente público, nessa condição, pode ser responsabilizado por seus atos nas

esferas penal, civil e administrativa (que se denomina de ―tríplice

responsabilidade‖). Com a edição da Lei nº 8.429/92 (Lei de Improbidade

Administrativa), o agente público ficou sujeito a mais uma responsabilidade,

criando assim uma quádrupla responsabilidade funcional. A referida lei

descreve, basicamente, que constitui ato de improbidade administrativa o

enriquecimento ilícito e o recebimento de qualquer tipo de vantagem

patrimonial indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função,

emprego públicos.

Como ressaltou o STJ (REsp 746.854/RS), o bem jurídico que a Lei de

Improbidade busca proteger é a moralidade administrativa. Nesse sentido,

não se pode falar em imoralidade insignificante por parte do agente público.

19. Princípio da insignificância e crimes ambientais: o STJ, em relação

ao tema, tem se posicionado no sentido da aplicação do referido princípio

aos crimes contra o meio ambiente, desde que ínfima a lesão causada.

Como na hipótese em que, com acusados do crime de pesca em local

interditado pelo órgão competente, não foi apreendido qualquer espécie de

pescado, não havendo notícia de dano provocado ao meio-ambiente,

mostrando-se desproporcional a imposição de sanção penal no caso, pois o

resultado jurídico, ou seja, a lesão produzida, mostrava-se absolutamente

irrelevante (STJ, HC 143.208/SC, DJe 14/06/2010).

20. Princípio da insignificância e atos infracionais: para o STF, os atos

infracionais cometidos por menores (ECA) são passíveis de aplicação do

princípio da insignificância, desde que preenchidos os requisitos legais (STF,

HC 98381, DJe 19/11/2009).

(CESPE - 2009 - DPE-PI - Defensor Público ) Em relação à aplicação do

princípio da insignificância Segundo entendimento do STF, tal princípio

qualifica-se como fator de descaracterização material da tipicidade pe-

nal. Segundo entendimento do STJ, é possível a aplicação de tal princí-

pio às condutas regidas pelo ECA.

Resposta: correto.

21. Princípio da alteridade: o Direito Penal somente deve-se ocupar de

lesões que saiam da esfera individual do agente. Por isso, não é relevante a

automutilação, a destruição de bem próprio, o suicídio.

Em um caso concreto em que tive a oportunidade de atuar, o sujeito cortou o

próprio dedinho do pé para receber um seguro saúde. Nesse caso, respondeu

por crime. Mas, como assim? Sim, porque ao praticar a automutilação para

receber o seguro, acabou por cometer uma fraude. No caso, a seguradora é a

vítima, sendo ele o autor.

22. Princípio da Adequação Social: é atípica a conduta quando não fere

o sentimento de justiça. Ex.: circuncisão, furar orelha de criança.

Perceba que, a simples falta de fiscalização do poder público, não leva à

aplicação do referido princípio. Em um caso concreto, o STJ entendeu não

haver aplicação do princípio da adequação social na venda de CD’s piratas por

camelôs (STJ, HC 45.153/SC).

23. Princípio da Intervenção Mínima: o Direito Penal deve proteger

somente os bens jurídicos mais importantes. Assim, deve ser invocado

apenas quando a intervenção de outros ramos do direito não for suficiente

para o controle social. O Direito Penal é a ultima ratio (último instrumento) do

legislador para as soluções dos conflitos. A Lei Penal é enfraquecida todas as

vezes que é chamada a intervir em situações em que os Direitos Civil,

Comercial, Administrativo, por exemplo, poderiam trazer solução satisfativa.

Costumo comparar o referido princípio a um cirurgião cerebral. Ninguém vai

se submeter a uma cirurgia dessa natureza por uma simples dor de cabeça,

quando um analgésico resolveria o problema.

No Brasil tínhamos um exemplo emblemático. Até o ano de 2005, o CP punia

a conduta de ―adultério‖ com pena de detenção de quinze dias a seis meses.

Não faz sentido o Direito Penal atuar em esfera tão íntima das pessoas. No

caso, o Direito Civil tem institutos que resolvem muito bem a situação, sem

que seja necessária a intervenção do Direito Penal.

O princípio da intervenção mínima acaba por fundamentar outros princípios,

como o da fragmentariedade, subsidiariedade, insignificância etc.

( CESPE - 2010 - EMBASA - Analista de Saneamento - Advogado)Em

virtude da aplicação do princípio da insignificância, o Estado,

vinculado pelo princípio de sua intervenção mínima em direito penal,

somente deve ocupar-se das condutas que impliquem grave violação

ao bem juridicamente tutelado.

Resposta: correto.

24. Princípio da Fragmentariedade: como consequência da aplicação do

princípio da intervenção mínima, o Direito Penal representará apenas um

fragmento na tutela de bens jurídicos. O Direito Penal protege apenas bens

específicos e, em uma análise a posteriori, acaba representando um pequeno

fragmento nas opções do aplicador da lei. A aplicação do princípio acaba por

relativizar a função de proteção de bens jurídicos pelo Direito Penal,

permitindo a ação de outros ramos do direito.

( FCC - 2009 - TJ-MS - Juiz) O princípio de intervenção mínima do Di-

reito Penal encontra expressão

a) nos princípios da fragmentariedade e da subsidiariedade.

b) na teoria da imputação objetiva e no princípio da fragmentariedade.

c) no princípio da fragmentariedade e na proposta funcionalista.

d) na teoria da imputação objetiva e no princípio da subsidiariedade.

e) no princípio da subsidiariedade e na proposta funcionalista.

Resposta: A

Em resumo, o Direito Penal acaba por ser um pequeno fragmento no

mundo jurídico, assim como o cirurgião cerebral representa um

pequeno fragmento das especialidades médicas.

( FCC - 2010 - DPE-SP - Defensor Público) O postulado da fragmenta-

riedade em matéria penal relativiza

a) a proporcionalidade entre o fato praticado e a consequência jurídi-

ca.

b) a dignidade humana como limite material à atividade punitiva do

Estado.

c) o concurso entre causas de aumento e diminuição de penas.

d) a função de proteção dos bens jurídicos atribuída à lei penal.

e) o caráter estritamente pessoal que decorre da norma penal.

25. Princípio do Direito Penal do Fato: direito penal de ato

(Tatstrafrecht) e não do autor (Täterstrafe)- Isso significa que o autor da

infração penal é punido pelo fato que praticou, não importando suas sua

ILÍCITOS EM GERAL

ILÍCITOS PENAIS

condição social, opção sexual, opção religiosa e etc. Na Alemanha nazista, por

exemplo, as pessoas eram punidas pelo simples fato de serem judias (direito

penal do autor), punindo-os não por fatos concretos praticados, mas por

pertencerem a um determinado povo.

26. Atenção! DIREITO PENAL DO INIMIGO

Após o atentado terrorista de 11 de setembro de 2001, muitos penalistas

passaram a repensar a função do Direito Penal. Assim, nasceu na Alemanha

um pensamento com bases em uma corrente sociológica denominada

―funcionalismo‖.

Grosso modo, o funcionalismo procura entender a sociedade como sendo

uma interconexão de componentes que as integra. A função do padeiro é

fazer pão, a do juiz seria julgar, o da política o de discutir melhorias para a

sociedade, o da educação a de preparar os atores sociais para melhor

integração e exercícios de suas funções sociais, e daí por diante.

E qual seria a função do Direito Penal? Sua função seria, segundo uma

corrente funcionalista, a de criar normas estabelecendo os limites do que seja

lícito ou ilícito. O que diferenciará o sistema jurídico será sua estrutura, ou o

que Luhmann denomina de ―código operativo‖ – lícito/ilícito. A identificação

do código permitirá saber se uma informação transmitida por outro sistema,

como o Político, é capaz de ser efetivamente processada pelo sistema jurídico

e se essa percepção diminuirá as frustrações. Exemplificando: seria plausível

alçar ao sistema do Direito Penal o fim de ―ressocialização das penas?‖ O

Direito, com sua limitação estrutural (código lícito/ilícito), por si só, seria

capaz de garantir a ressocialização de um criminoso ou isto seria tarefa de

outro sistema, como o Político ( através da adoção de políticas públicas,

penitenciárias)?

Como o sistema jurídico teria a função apenas e tão somente de estabelecer o

código lícito/ilícito, as expectativas sobre seu efetivo funcionamento

aumentarão. O direito terá apenas função jurídica e nunca política, filosófica,

ou qualquer outra que não lhe diz respeito. Aí está, pois, uma importante

virtude da Teoria que, delimitando os sistemas, aclara para o intérprete do

Direito a função do sistema jurídico. De outra parte, limitam-se as

frustrações, aclarando-se uma reivindicação racional, pois, os efetivos

responsáveis passam a ser cobrados, evidenciando-se quais sistemas estão

aptos a processar determinadas demandas.

Os sistemas funcionalistas vêm se firmando em todo o mundo sob duas

orientações: o funcionalismo estrutural de Parsons (que no âmbito do Direito

Penal identifica-se como um funcionalismo teleológico e denominado

―moderado’) e o funcionalismo sistêmico de Luhmann ( que no âmbito do

Direito Penal origina o funcionalismo estratégico e normativista, conhecido

por ―radical‖). A segunda orientação funcionalista, qualificada como radical

pela doutrina, tem como maior discípulo Günter Jakobs.

Sobre as bases funcionalistas nascem teorias como a da Imputação Objetiva

e do Direito Penal do Inimigo. Esta segunda, idealizada por Günter Jakobs,

ganha alguma força, principalmente após os ataques terroristas ocorridos nos

EUA no ano de 2001.

O INIMIGO

Para Jakobs, quem afronta a estrutura do Estado, revelando abandono ao

respeito às leis. Ex.: Terroristas; reincidentes habituais; o deliquente

profissional.

CONSEQUÊNCIAS DO DIREITO PENAL DO INIMIGO

Jakobs concebe a existência de dois direitos penais:

a) O Direito Penal do Cidadão: com respeito a todas as garantias legais e

constitucionais;

b) O Direito Penal do Inimigo: com a flexibilização ou eliminação dos direitos

e garantias legais e constitucionais

Exemplos:

a) flexibilização de garantias como a ampla defesa e contraditório;

b) inversão do ônus da prova para quem é acusado ( e não para o acusador);

c) adiantamento da tutela penal para punir atos preparatórios;

d) afastam-se os critérios de Culpabilidade e incidem-se critérios de

Periculosidade;

e) prisões cautelares sem fundamentos legais.

Esse pensamento penal não tem sido adotado no Brasil, e nem poderia por

esbarrar em cláusula pétrea de nossa Constituição (princípio da igualdade).

27. Princípio da continuidade normativo-típica: ocorre quando o crime

deixa de existir em determinado artigo, sendo transferido para outro artigo ou

como parte de outro crime. Exemplo muito recente foi a alteração ocorrida no

crime de estupro (art. 213, CP), que passou a incorporar o atentado violento

ao pudor (revogado art. 214, CP).

Com a nova redação, o estupro passa a consistir no constrangimento de

alguém (homem, mulher ou mesmo transexual), mediante violência (socos,

tapas, esganaduras, imobilizações etc.) ou grave ameaça (coação moral), a ter

conjunção carnal (introdução, mesmo que parcial, do pênis na vagina – antigo

estupro) ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso

(toques e beijos lascivos, introdução de dedos ou o pênis no orifício anal ou

oral da vítima etc. – antigo atentado violento ao pudor.)

Não há que se falar na abolição do crime de Atentado Violento ao Pudor. O que

ocorreu foi apenas uma recolocação típica - mera mudança topográfica -

situação denominada de continuação típico-normativa.

( CESPE - 2011 - PC-ES - Delegado de Polícia) Por incidência do princí-

pio da continuidade normativo-típica, é correto afirmar que, no âmbito

dos delitos contra a dignidade sexual, as condutas anteriormente defi-

nidas como crime de ato libidinoso continuam a ser punidas pelo direi-

to penal brasileiro, com a ressalva de que, segundo a atual legislação,

a denominação adequada para tal conduta é a de crime de estupro.

Resposta: correto.

PRINCÍPIOS PARA SOLUÇÃO DE CONFLITOS APARENTE DE NORMAS

PENAIS

28. É muito comum na análise de um fato criminoso ou contravencional fi-

carmos em dúvida sobre qual norma aplicar, ou seja, decidir o tipo penal mais

adequado ao fato. Veja, por exemplo, a conduta da mãe que mata o próprio

filho recém nascido sob a influência do estado puerperal. Bom, aparentemente

duas normas parecem ser adequadas para tipificar a conduta da autora, a do

art. 121 (―matar alguém‖) e a do art. 123 (―matar, sob a influência do estado

puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após‖). De fato, a mãe não

deixa de ―matar alguém‖, no entanto o art. 123 representa melhor o fato con-

creto analisado. Talvez você não tenha percebido, mas foi aplicado um princí-

pio para resolver esse aparente conflito entre os dois artigos.

29. Os princípios que solucionam o conflito aparente de normas são os se-

guintes:

a. consunção;

b. alternatividade;

c. subsidiariedade;

d. especialidade.

Para memorizar: C.A.S.E. (OU S.E.C.A.)

( FCC - 2009 - MPE-SE - Analista do Ministério Público) Para a solução

de questões relacionadas a conflito aparente de normas, cabível a ado-

ção do princípio da

a) subsidiariedade.

b) fragmentariedade.

c) anterioridade.

d) tipicidade.

e) culpabilidade.

Resposta: A

28. Princípio da especialidade (Lex specialis derogat generali”)

O princípio da especialidade impõe que normas especiais (específicas) prevale-

cem sobre normas gerais. Mas, o que seriam as ―normas especiais‖? Dizemos

que uma norma é especial quando ela possui todos os elementos da geral com

mais alguns detalhes que a fazem mais específica. Falei agora a pouco do in-

fanticídio, lembra-se? Pois então, perceba que o infanticídio é um ―matar al-

guém‖ mais específico (especial). Ou seja, não é matar ―qualquer pessoa‖,

mas sim o próprio filho (detalhe 1) e durante o estado puerperal (detalhe 2).

Perceba, deste modo, que o infanticídio possui detalhes que o torna especial

em relação ao homicídio.

O professor Fernando Capez dá o seguinte exemplo que vou repetir aqui por

ser muito ilustrativo: a norma geral é uma caixa. A norma especial é a mesma

caixa, agora com um laço vermelho (com um detalhe especial).

29. A comparação entre as duas normas independe de um caso concreto.

Posso dizer, apenas ao ler as duas normas, que uma é especial em relação a

outra. Veja outros exemplos: a) o tráfico de drogas é especial em relação ao

contrabando; b) O crime militar é especial em relação ao crime comum; c) o

homicídio culposo no trânsito é especial em relação ao crime de homicídio cul-

poso comum; d) o dano ao meio ambiente é especial em relação ao dano co-

mum e) o crime qualificado é especial ao crime básico (ex.: furto qualificado

pelo arrombamento e furto simples) etc. A norma especial pode ou não ser

mais gravosa do que a norma geral.

( MPE-SP - 2010 - MPE-SP - Promotor de Justiça-adaptada) Segundo o

princípio da especialidade, a norma específica derroga a norma geral,

ainda que aquela contenha conseqüências penais mais gravosas.

Resposta: correto

30. Princípio da subsidiariedade (Lex primaria derogat subsidiariae)

Norma subsidiária é o mesmo que norma secundária. O tipo subsidiário cabe

dentro do tipo primário. No exemplo das caixinhas, o tipo subsidiário está den-

tro da caixinha maior (a norma primária). Não existe relação de especialidade,

mas sim de primariedade.

Veja, como exemplo, o crime de roubo. O roubo nada mais é do que uma sub-

tração com violência ou ameaça. Então, dentro do crime de roubo eu vejo, pe-

lo menos, três tipos secundários (o furto, a lesão corporal e a ameaça). Esses

três cabem dentro do crime de roubo, que é mais amplo. Veja outros exem-

plos: a) crime de lesão corporal cabe dentro do crime de homicídio; b) o crime

de porte de arma cabe dentro do disparo de arma de fogo; c) o crime de cons-

trangimento ilegal cabe dentro do crime de estupro etc.

28. É muito importante observar que a análise do princípio da subsidiarieda-

de depende do caso concreto, ao contrário do princípio da especialidade.

Isso porque vai depender muito da vontade do agente e da circunstância dos

fatos. Se José dispara um tiro contra João, devemos analisar aspectos como: o

dolo, o manuseio da arma, o motivo pelo qual José estava portando tal arma.

29. Vamos criar algumas hipóteses:

1ª José possui autorização para porte de arma e a estava limpando quando

acidentalmente efetuou um disparo contra João, ferindo-o: disparo de arma de

fogo x tentativa de homicídio x lesão corporal. No caso, não houve dolo de ma-

tar (afasta-se a tentativa de homicídio), mas houve a lesão. Restaram duas

normas (disparo x lesão). Veja que o disparo foi uma passagem para a lesão

culposa. No caso concreto, o disparo está dentro da lesão por disparo. Regra:

norma primária absorve a secundária. Por qual crime José responderá? Pela

norma primária (mais ampla), qual seja, a lesão culposa.

2ª José com dolo de matar efetua disparo contra José, matando-o: disparo de

arma de fogo X homicídio por disparo. Prevalece o homicídio.

3ª José dispara contra João com dolo de matar, sem acertá-lo: disparo x peri-

clitação à vida x tentativa de homicídio: o disparo e a periclitação estão dentro

da tentativa de homicídio.

4º José porta a droga com ânimo de usá-la x José porta a droga com ânimo de

vendê-la: o porte para uso está dentro do porte para venda.

Poderíamos criar milhares de situações com o referido princípio. Veja que a

norma secundária fica ali de reserva, caso a norma primária não seja aplicável.

É por esse motivo que a doutrina chama a norma secundária de “soldado de

reserva”.

30. Apesar de não ser obrigatório que isso ocorra, algumas vezes a própria

lei expressa a subsidiariedade. Ou seja, a própria norma reconhece expressa-

mente seu caráter subsidiário. Exemplos: o tipo penal previsto no art. 132 do

CP (Perigo para a vida ou à saúde de outrem) estabelece que ―se o fato não

constitui crime mais grave‖; o art. 129, § 3º (lesão corporal seguida de mor-

te), dispõe que ―as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resulta-

do, nem assumiu o risco de produzi-lo‖. Claro, porque se ele quis ou assumiu o

risco do resultado, estamos falando de homicídio e não de lesão seguida de

morte.

31. Princípio da consunção (Lex consumens derogat consumptae)

O princípio da consunção (ou absorção) é utilizado para resolver as situações

de: a) crime progressivo; b) progressão criminosa; c) crime complexo.

Eu, particularmente, penso que o princípio da consunção é uma consequência

dos princípios da especialidade e da subsidiariedade, tanto que os exemplos

são muito semelhantes. No entanto, a doutrina ensina que na subsidiariedade

comparam-se os fatos concretos para depois comparar as normas. Na especia-

lidade somente se comparam as normas, sem fato concreto. Já na consunção

comparam-se apenas os fatos concretos, sem dar bola para a norma.

Eu acho isso muito confuso. De qualquer forma, vamos ver como o princípio é

aplicado e, assim, fica mais fácil entendê-lo. Vamos lá!

28. Crime progressivo: para alcançar um crime ―X‖ o agente, necessariamen-

te, terá que passar pelo crime ―Y‖ menos grave que o primeiro. Para matar,

primeiramente ele terá que ferir. Veja que o dolo é de matar, mas ele deve

progredir com as lesões até chegar ao resultado desejado. Nesse caso, ele

responde apenas pelo crime que ele pretendeu, pois a lesão ficará absorvida.

( MPE-SP - 2010 - MPE-SP - Promotor de Justiça-adaptada) Segundo o

princípio da consunção, na hipótese de crime progressivo, as normas

que definem crimes mais graves absorvem as de menor gravidade.

Resposta: correto.

( FCC - 2010 - DPE-SP - Defensor Público) A absorção do crime-meio

pelo crime-fim configura aplicação do princípio da

a) sucessividade.

b) alternatividade.

c) consunção.

d) especialidade.

e) subsidiariedade.

Resposta: C

29. Crime complexo: é o que resulta da união de mais de um crime. Exem-

plo: furto + ameaça = roubo. Nesse caso, as partes ficam absorvidas pelo to-

do.

30. Progressão criminosa: compreende três situações:

a. Progressão criminosa propriamente dita: nessa hipótese, o agente pre-

tende praticar um crime ―X‖. Após, resolve progredir para um crime mais gra-

ve. Exemplo: José, após lesionar João, decide matá-lo. Veja que há duas situa-

ções bem definidas e dois dolos (de ferir e de matar), o que não ocorre com o

crime progressivo (quando a vontade é uma só). Apesar de existirem dois fa-

tos bem distintos, o agente somente responde pelo resultado final. Interessan-

te que, ao tempo que escrevo esta aula, a TV está ligada no programa do Da-

tena (ótimo para pegar exemplos, hehe). O programa está mostrando um clás-

sico exemplo de crime progressivo. Um rapaz é espancado por dois sujeitos

que saem do local. Poucos instantes depois, retornam em uma moto e matam

a vítima com um disparo de arma de fogo. Irão responder apenas pelo homicí-

dio.

b. Fato anterior (―ante factum‖) não punível: são os atos preparatórios pu-

níveis que ficam absorvidos pelo crime fim. Exemplo: o porte de arma de fogo

em relação ao disparo. O primeiro fica absorvido pelo segundo. Cuidado com

esse exemplo, pois se entende que somente ocorrerá a consunção se o porte

foi realizado apenas para efetuar os disparos. Desse modo, se João anda ar-

mado para cima e para baixo e, eventualmente, resolver efetuar um disparo

em via pública, responderá pelos dois crimes. No entanto, se portou a arma

especificamente para efetuar o disparo, o porte fica absorvido (ex.: na virada

do ano José pega a arma de João para efetuar um disparo de comemoração).

Outro exemplo: falsificação de documento fica absorvido pelo estelionato (Sú-

mula 17 do STJ: ―quando o falso se exaure no estelionato, fica por ele absorvi-

do‖).

(FCC - 2009 - DPE-MA - Defensor Público) Na consideração de que o

crime de falso se exaure no estelionato, responsabilizando-se o agente

apenas por este crime, o princípio aplicado para o aparente conflito de

normas é o da

a) subsidiariedade

b) consunção.

c) especialidade.

d) alternatividade.

e) instrumentalidade.

Resposta: B

c. Fato posterior (―post factum‖) não punível: trata-se do que a doutrina

denomina de ―exaurimento do crime‖.

A tendência do ladrão é vender a coisa subtraída. O sujeito que falsifica um

documento, o faz para utilizá-lo para algum fim. Essas condutas posteriores ao

fato, realizando nova ofensa contra o mesmo bem jurídico, buscando al-

guma vantagem com o crime anterior, podem ficar absorvidas.

31. Princípio da alternatividade: alguns tipos penais trazem vários verbos

para descrever a ação típica. O verbo do tipo representa o seu núcleo. Desse

modo, tipos penais com vários núcleos são denominados de tipos mistos (de

ação múltipla ou de conteúdo variado). Geralmente, esses tipos penais

trazem a ideia de alternatividade, expressa no termo ―ou‖ ou pela separação

por vírgula. No artigo 33 da Lei de Drogas, por exemplo, temos o seguinte:

―importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender,

expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar,

prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gra-

tuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou re-

gulamentar‖. O tipo traz, ao todo, dezoito verbos. Se o agente, em um mesmo

contexto, importar cocaína, transportar esta droga para depois revender, terá

praticado apenas um crime de tráfico. Isso ocorre porque nos crimes de tipo

misto alternativo a norma descreve várias formas de realização da figura típi-

ca, em que a realização de uma ou de todas configura um único crime.

INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL

32. O Direito Penal possui uma linguagem própria. A interpretação consiste

na atividade de decodificar a norma penal, buscando seu exato alcance e signi-

ficado. Essa interpretação deve ser orientada, como sempre, pelo princípio da

legalidade, impedindo assim deturpações do sentido escrito no texto.

33. Vamos tomar como parâmetro o crime de homicídio (―matar alguém‖).

Parece simples essa expressão ―matar alguém‖, não é mesmo? Se José dispara

contra João, matando-o, temos a conduta de ―matar alguém‖.

Ok, mas pense em outro exemplo: o médico José, ao perceber que João estava

sem atividade cardíaca, aplica-lhe injeção letal, a pedido desde último que não

desejava mais viver. Opa, se não havia mais atividade cardíaca, havia vida pa-

ra ser ceifada? Ou seja, José matou João?

Vou complicar um pouco: João estava sem atividade cerebral, mas ainda havia

batimentos cardíacos. E agora? Mudou alguma coisa?

Para entender o sentido e alcance da expressão ―matar alguém‖ devemos apli-

car técnicas de interpretação.

a. A primeira delas é a denominada interpretação gramatical, literal ou

sintática: inicialmente, devemos entender o sentido literal das palavras. Essa

interpretação é o ponto de partida, mas ela não é suficiente para resolver o

problema. Ao aplicar a interpretação literal, sei que a lei descreve que alguém

mata outra pessoa. Mas a interpretação literal é sempre insuficiente. Assim, o

princípio in claris cessat interpretatio (não se interpreta o que está cla-

ro) não há como ser aplicado, pois não há lei tão suficientemente clara que

não precise ser interpretada.

( CESPE - 2008 - STF - Analista Judiciário - Área Judiciária) Segundo a

máxima in claris cessat interpretatio, pacificamente aceita pela

doutrina penalista, quando o texto for suficientemente claro, não cabe

ao aplicador da lei interpretá-lo.

Resposta: errado.

28. O segundo passo é interpretação lógica ou teleológica: devemos

buscar a vontade da lei, atendendo-se aos seus fins e à sua posição dentro do

ordenamento jurídico. No caso, devo considerar que o crime de homicídio é um

delito contra a vida, descrito no art. 121 do CP. Sei, também, que a vida é um

bem indisponível. Assim, pouco importa que a vítima do homicídio autorize sua

morte (como nos exemplos de eutanásia). Ela não tem esse poder. A eutanásia

fere a lógica do ordenamento jurídico brasileiro.

Na interpretação lógica, o intérprete deve servir-se de todos os recursos dis-

poníveis, como: a evolução histórica da lei; a análise da lei em compasso com

o momento histórico em que ela é aplicada (interpretação progressiva);

direito comparado, ou seja, o tratamento do assunto em outros países; o signi-

ficado de termos jurídicos ou extrajurídicos, como o conceito médico de vida e

morte, o conceito de ―veneno‖, de ―cheque‖, de ―mãe‖ etc.).

No caso utilizado como exemplo, devo saber até quando uma pessoa pode ser

morta. Antigamente, dizia-se que a pessoa estava morta após a ―tríplice para-

da‖ (coração, respiração e cérebro). Atualmente, a Lei de Transplante de Ór-

gãos (Lei nº 9.434/97) determinou que a retirada post mortem de tecidos, ór-

gãos ou partes do corpo humano destinados a transplante ou tratamento deve-

rá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica, constatada e registrada

por dois médicos não participantes das equipes de remoção e transplante, me-

diante a utilização de critérios clínicos e tecnológicos definidos por resolução do

Conselho Federal de Medicina. Para a lei, por conseguinte, a morte encefálica é

o parâmetro legal para determinar o falecimento de uma pessoa, pouco impor-

tando que haja atividade cardíaca ou pulmonar.

Ressalte-se que a interpretação lógica pode ser utilizada, inclusive, em prejuí-

zo do réu.

( FMP-RS - 2008 - MPE-MT - Promotor de Justiça) A interpretação ana-

lógica é permitida somente para beneficiar o acusado.

Resposta: errado.

29. A interpretação da lei penal pode receber a seguinte classificação, de-

pendendo de quem a realiza:

a. Interpretação legislativa, contextual ou autêntica: é aquela reali-

zada pelo próprio parlamento quando explica o termo de uma lei através de

outra norma (ex.: o art. 327 do CP explica o conceito de ―funcionário público‖).

Essa interpretação tem força vinculante.

b. Doutrinária ou científica: sem força vinculante, realizada pelos doutri-

nadores e professores de Direito. Observe que a ―exposição de motivos‖ da lei

é considerada interpretação doutrinária, já que não faz parte da lei.

(MPE-PB - 2010 - MPE-PB - Promotor de Justiça) A Exposição de Moti-

vos do Código Penal é considerada pela Doutrina como uma das formas

de interpretação autêntica e contextual da lei penal.

Resposta: errado.

CESPE - 2008 - STF - Analista Judiciário ) A exposição de motivos do

CP é típico exemplo de interpretação autêntica contextual.

Resposta: errado.

c. Judicial ou jurisprudencial: é aquela realizada pelo Poder Judiciário na

atividade judicante. Em regra, não tem força obrigatória, salvo em dois casos:

coisa julgada material (que vincula as partes no caso concreto) e Súmula Vin-

culante (CF, art. 103-A e Lei 11.417/2006).

(CESPE - 2008 - STF - Analista Judiciário) O presidente do STF, em

palestra proferida em seminário para magistrados de todo o Brasil,

interpreta uma lei penal recém-publicada, essa interpretação é

considerada interpretação judicial.

Resposta: errado.

30. Quanto ao resultado, a intepretação pode ser:

a. Declaratória, declarativa ou estrita: a lei não é ampliada nem reduzi-

da em seu sentido. Isso é quase impossível. Veja que , no caso do homicídio, o

entendimento antigo (tríplice parada) aumentava o sentido da norma, enquan-

to que o posicionamento atual é mais restritivo.

b. Extensiva: amplia-se o sentido da norma, respeitando sua lógica (ex.: o

crime de bigamia pune também a poligamia; a extorsão mediante sequestro

abrange a extorsão mediante cárcere privado).

c. Restritiva: a vontade da lei é restringir, pois a lei disse mais do que

queria dizer.

1. ( CESPE - 2011 - STM - Analista Judiciário - Execução de Manda-

dos) Por meio do princípio constitucional da irretroatividade da lei

penal, veda-se que norma penal posterior incida sobre fatos anterio-

res, assegurando-se, assim, eficácia e vigor à estrita legalidade penal.

Nesse sentido, na Constituição Federal de 1988 (CF), garante-se a ul-

tratividade da lei penal mais benéfica.

COMENTÁRIO: questão muito mal elaborada pelo CESPE. O erro da questão

está em afirmar que o princípio da legalidade é irrestrito. Vimos que as nor-

mas temporárias e excepcionais não devem respeito à retroatividade ou ultra-

tividade benéfica.

Resposta: errado.

2. ( VUNESP - 2011 - TJ-SP - Juiz) Antônio, quando ainda em vigor

o inciso VII, do art. 107, do Código Penal, que contemplava como

causa extintiva da punibilidade o casamento da ofendida com o agen-

te, posteriormente revogado pela Lei n.º 11.106, publicada no dia 29

de março de 2005, estuprou Maria, com a qual veio a casar em 30 de

setembro de 2005. O juiz, ao proferir a sentença, julgou extinta a pu-

nibilidade de Antônio, em razão do casamento com Maria, fundamen-

tando tal decisão no dispositivo revogado (art. 107, VII, do Código

Penal). Assinale, dentre os princípios adiante mencionados, em qual

deles fundamento tal decisão.

a) Princípio da isonomia.

b) Princípio da proporcionalidade.

c) Princípio da retroatividade da lei penal benéfica.

d) Princípio da ultratividade da lei penal benéfica.

e) Princípio da legalidade.

COMENTÁRIO: na época do crime o CP previa uma causa extintiva de puni-

bilidade posteriormente revogada. Como a lei era mais benéfica à época do

crime, aplica-se o princípio da ultratividade da lei mais benéfica.

Resposta: D

3. ( CESPE - 2011 - TJ-ES - Comissário da Infância e da Juventude)

Uma das funções do princípio da legalidade refere-se à proibição de

se realizar incriminações vagas e indeterminadas, visto que, no pre-

ceito primário do tipo penal incriminador, é obrigatória a existência

de definição precisa da conduta proibida ou imposta, sendo vedada,

com base em tal princípio, a criação de tipos que contenham concei-

tos vagos e imprecisos.

COMENTÁRIO: o preceito primário é a descrição típica (ex.: ―matar

alguém‖). O preceito secundário é a pena cominada (ex.: reclusão de seis a

doze anos). Quando o preceito primário é vago, indiretamente o princípio da

legalidade fica ameaça (Lex certa). Assim, tal princípio veda a criação de tipos

com conceitos duvidosos.

Resposta: correto

4. ( CESPE - 2009 - PGE-PE - Procurador de Estado-adaptada) Fere

o princípio da legalidade, também conhecido por princípio da reserva

legal, a criação de crimes e penas por meio de medida provisória.

COMENTÁRIO:

Resposta: correto

5. ( MPE-SP - 2006 - MPE-SP - Promotor de Justiça) Em relação ao prin-

cípio da insignificância ou de bagatela, assinale a alternativa incorreta:

a) seu reconhecimento exclui a tipicidade, constituindo-se em ins-

trumento de interpretação restritiva do tipo penal.

b) somente pode ser invocado em relação a fatos que geraram míni-

ma perturbação social.

c) sua aplicação não é prevista no Código Penal, mas é amplamente

admitida pela doutrina e jurisprudência.

d) somente tem aplicabilidade em crimes contra o patrimônio.

e) exige, para seu reconhecimento, que as conseqüências da conduta

tenham sido de pequena relevância.

COMENTÁRIO: vimos na aula várias situações em que se aplica o princípio

da insignificância que não só crimes contra o patrimônio.

Resposta: letra D

6. ( FEPESE - 2010 - UDESC - Advogado) Assinale a alternativa correta.

a) O princípio da humanidade das penas está consagrado na Constitu-

ição Federal.

b) O princípio da aplicação da lei mais benéfica não é utilizado pelo

direito penal.

c) O princípio da intervenção mínima não se confunde com o principio

da ultima ratio.

d) Por força do princípio da insignificância não são punidos os crimes

de menor potencial ofensivo.

e) A existência de crimes funcionais ofende o princípio da igualdade.

COMENTÁRIO: o princípio da humanidade prescreve que a finalidade da pe-

na não é o sofrimento ou a degradação do apenado. O Estado não pode apli-

car sanções que atinjam a dignidade da pessoa humana ou que lesionem a

constituição físico-psíquica do condenado (Art. 5º, III da CF).

Resposta: letra A

7. (CESPE - 2011 - PC-ES - Delegado de Polícia ) Segundo a jurisprudência

do STF, é possível a aplicação do princípio da insignificância para crimes de

descaminho, devendo-se considerar, como parâmetro, o valor consolidado

igual ou inferior a R$ 7.500,00.

COMENTÁRIO: vimos na aula que o entendimento do STF é que é possível a

aplicação do princípio da insignificância para crimes tributários (inclusive des-

caminho), devendo-se considerar o valor de dez mil Reais como parâmetro.

Resposta: errado

8. ( CESPE - 2010 - DPU - Defensor Público) Considere a situação hipotéti-

ca em que Ricardo, brasileiro, primário, sem antecedentes, 22 anos de idade,

e Bernardo, brasileiro, 17 anos de idade, de comum acordo e em unidade de

desígnios, tenham colocado em circulação, no comércio local de Taguatin-

ga/DF, seis cédulas falsas de R$ 50,00, com as quais compraram produtos

alimentícios, de higiene pessoal e dois pares de tênis, em estabelecimentos

comerciais diversos. Considere, ainda, que, ao ser acionada, a polícia, rapi-

damente, tenha localizado os agentes em um ponto de ônibus e, além dos

produtos, tenha encontrado, na posse de Ricardo, duas notas falsas de R$

50,00 e, na de Bernardo, uma nota falsa de mesmo valor, além de R$ 20,00

em cédulas verdadeiras. Na delegacia, os produtos foram restituídos aos legí-

timos proprietários, e as cédulas, apreendidas.

Nos termos da situação hipotética descrita e com base na jurisprudên-

cia dos tribunais superiores, admite-se a prisão em flagrante dos a-

gentes, considera-se a infração praticada em concurso de pessoas e,

pelas circunstâncias descritas e ante a ausência de prejuízo, deve-se

aplicar o princípio da insignificância.

COMENTÁRIO: o princípio não tem sido aplicado a crimes contra a fé-pública,

como na falsificação de moeda. O entendimento é que, ao falsificar a cédula, o

agente desestabiliza a confiança que a população deposita em sua moe-

da, não se tratando, assim, da simples análise do valor material por ela repre-

sentado.

Resposta: errado

9. ( CESPE - 2010 - TCE-BA - Procurador / Direito Penal / Princípios ) Con-

siderando a interpretação do STJ e do STF a respeito da legislação penal ex-

travagante, julgue os itens

Considere que o prefeito de determinado município tenha emitido or-

dem de fornecimento de 20 L de combustível, a ser pago por esse mu-

nicípio, a indivíduo que não era funcionário público nem estava reali-

zando qualquer serviço público e que conduzia veículo privado nos

termos da tipificação estipulada pelo Decreto-Lei n.º 201/1967. Nessa

situação, segundo precedente do STJ, não se aplica o princípio da in-

significância, pois, quando há crime contra a administração pública, o

bem penal tutelado não é somente de ordem patrimonial, mas também

relacionado à proteção da moral administrativa.

COMENTÁRIO: conforme explicado na aula a banca avaliou a questão como

correta, muito possivelmente fundamentada em decisão da época no STJ.

(STJ, HC 115.562/SC, DJe 21/06/2010). No entanto, o STF já decidiu de

forma diferente. No caso tratado pelo STF tratava-se de crime contra a

Administração Pública Militar, o que, em tese, é até mais grave.

resposta: correto.

10. (CESPE - 2009 - DPE-PI - Defensor Público ) Em relação à aplicação do

princípio da insignificância, segundo entendimento do STF, tal princípio quali-

fica-se como fator de descaracterização material da tipicidade penal. Segun-

do entendimento do STJ, é possível a aplicação de tal princípio às condutas

regidas pelo ECA.

COMENTÁRIO: para o STF, os atos infracionais cometidos por menores (ECA)

são passíveis de aplicação do princípio da insignificância, desde que

preenchidos os requisitos legais (STF, HC 98381, DJe 19/11/2009).

Resposta: correto.

11. ( CESPE - 2010 - EMBASA - Analista de Saneamento -

Advogado)Em virtude da aplicação do princípio da insignificância, o

Estado, vinculado pelo princípio de sua intervenção mínima em direito

penal, somente deve ocupar-se das condutas que impliquem grave

violação ao bem juridicamente tutelado.

COMENTÁRIO: é essa a essência do princípio da insignificância. Isso não

quer dizer, contudo, que o fato não possa ter relevância para outros ramos do

direito (administrativo, civil etc.). Ocorre que o Direito Penal deve ser o último

recurso a ser aplicado (ultima ratio), justamente por ter medidas mais

drásticas em relação às liberdades individuais.

Resposta: correto.

12. ( FCC - 2009 - TJ-MS - Juiz) O princípio de intervenção mínima do Direi-

to Penal encontra expressão

a) nos princípios da fragmentariedade e da subsidiariedade.

b) na teoria da imputação objetiva e no princípio da fragmentariedade.

c) no princípio da fragmentariedade e na proposta funcionalista.

d) na teoria da imputação objetiva e no princípio da subsidiariedade.

e) no princípio da subsidiariedade e na proposta funcionalista.

COMENTÁRIO: o princípio da intervenção mínima tem como aspectos o fato

de que o Direito Penal representará apenas um fragmento das alternativas ju-

rídicas (fragmentariedade) e pelo fato de que o Direito Penal só deve ser invo-

cado se outros ramos do Direito não forem suficiente para a pacificação social

(subsidiariedade).

Resposta: A

13. ( FCC - 2010 - DPE-SP - Defensor Público) O postulado da fragmentari-

edade em matéria penal relativiza

a) a proporcionalidade entre o fato praticado e a consequência jurídi-

ca.

b) a dignidade humana como limite material à atividade punitiva do

Estado.

c) o concurso entre causas de aumento e diminuição de penas.

d) a função de proteção dos bens jurídicos atribuída à lei penal.

e) o caráter estritamente pessoal

COMENTÁRIO: conforme as palavras do prof. ALEXANDRE MAGNO

FERNANDES MOREIRA AGUIA ―é característica marcante do Direito em um

Estado democrático é a sua fragmentariedade, ou seja, o ordenamento jurídico

não deve se ocupar de todas as coisas e atos, o que, além de impraticável,

resultaria em um regime de viés totalitarista, restringindo de forma brutal a

liberdade e, por conseguinte, a dignidade humana.‖ Assim, a fragmentariedade

em matéria penal relativiza a função de proteção dos bens jurídicos atribuída à

lei penal.

Resposta: D

14. ( CESPE - 2011 - PC-ES - Delegado de Polícia) Por incidência do princí-

pio da continuidade normativo-típica, é correto afirmar que, no âmbito dos

delitos contra a dignidade sexual, as condutas anteriormente definidas como

crime de ato libidinoso continuam a ser punidas pelo direito penal brasileiro,

com a ressalva de que, segundo a atual legislação, a denominação adequada

para tal conduta é a de crime de estupro.

COMENTÁRIO: o princípio da continuidade normativo-típica impede que um

delito sofra abolitio, quando o tipo é apenas realocado dentro do Código Penal

ou de outra lei penal. Com efeito, com a entrada em vigor da Lei nº

12.015/2010 o crime de atentado violento ao pudor saiu do art. 214 do CP e

passou a figurar no art. 213 do mesmo estatuto. Não houve revogação, por-

tanto.

Resposta: correto.

15. ( FCC - 2009 - MPE-SE - Analista do Ministério Público) Para a solução

de questões relacionadas a conflito aparente de normas, cabível a adoção do

princípio da

a) subsidiariedade.

b) fragmentariedade.

c) anterioridade.

d) tipicidade.

e) culpabilidade.

COMENTÁRIO: só erra se quiser: SECA.

Resposta: A

16. ( MPE-SP - 2010 - MPE-SP - Promotor de Justiça-adaptada) Segundo o

princípio da especialidade, a norma específica derroga a norma geral, ainda

que aquela contenha conseqüências penais mais gravosas.

COMENTÁRIO: a norma especial derroga (afasta) a norma geral, mesmo que

seja a pena mais gravosa. Isso ocorre porque a norma especial possui algum

detalhe que se encaixa melhor no caso concreto. Não importa, portanto, que a

lei especial seja mais ou menos grave que a geral. Militar que mata militar em

serviço (homicídio militar) não vai responder por homicídio comum.

Resposta: correto

17. ( MPE-SP - 2010 - MPE-SP - Promotor de Justiça-adaptada) Se-

gundo o princípio da consunção, na hipótese de crime progressivo, as

normas que definem crimes mais graves absorvem as de menor gravi-

dade.

COMENTÁRIO: ocorre crime progressivo quando um delito é passagem ne-

cessária para outro mais grave (lesão corporal e homicídio).

Resposta: correto.

18. ( FCC - 2010 - DPE-SP - Defensor Público) A absorção do crime-meio

pelo crime-fim configura aplicação do princípio da

a) sucessividade.

b) alternatividade.

c) consunção.

d) especialidade.

e) subsidiariedade.

COMENTÁRIO: consunção significa ―absorção‖. O crime meio é o de passa-

gem que comentamos acima.

Resposta: C

19. (FCC - 2009 - DPE-MA - Defensor Público) Na consideração de que o

crime de falso se exaure no estelionato, responsabilizando-se o agente ape-

nas por este crime, o princípio aplicado para o aparente conflito de normas é

o da

a) subsidiariedade

b) consunção.

c) especialidade.

d) alternatividade.

e) instrumentalidade.

COMENTÁRIO: trata-se de um pós fato não punível. O estelionato, no caso,

não existe sem o delito de passagem de falso. Perceba, apenas, que se o falso

ainda tiver potencialidade lesiva deverá o agente responder por dois crimes em

concurso material (somam-se as penas). Exemplo: se José falsificar um RG

para se passar por João e, assim, praticar o estelionato, poderá reutilizar a-

quela indenidade várias vezes e para vários crimes (soma das penas). Ao con-

trário, se falsifica um cheque o passa para frente, não poderá utilizar esse do-

cumento em outro estelionato (responde apenas pelo estelionato).

Resposta: B

20. ( FMP-RS - 2008 - MPE-MT - Promotor de Justiça) A interpretação ana-

lógica é permitida somente para beneficiar o acusado.

COMENTÁRIO: como já tivemos a oportunidade de estudar, a interpretação

analógica ocorre quando a lei apresenta um termo e permite que o intérprete,

por analogia, amplie sua aplicação para situações semelhantes. O próprio dis-

positivo permite se aplique analogicamente o preceito mesmo que em prejuízo

do réu.

De tal modo, por exemplo, no estelionato: ―Obter, para si ou para outrem,

vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo alguém em erro, mediante arti-

fício, ardil, OU QUALQUER OUTRO MEIO FRAUDULENTO‖ (art. 171 C. P.); utili-

zando o agente de ―qualquer meio‖ semelhante a ―artifício‖ ou ―ardil‖, pode ser

tipificada a ação como estelionato, por interpretação analógica, pois o preceito

do art. 171 expressamente o permite.

Resposta: errado.

21. (MPE-PB - 2010 - MPE-PB - Promotor de Justiça) A Exposição de

Motivos do Código Penal é considerada pela Doutrina como uma das

formas de interpretação autêntica e contextual da lei penal.

22. CESPE - 2008 - STF - Analista Judiciário ) A exposição de motivos do CP

é típico exemplo de interpretação autêntica contextual.

COMENTÁRIO: a exposição de motivos nada mais é do que as justificativas

do responsável pela elaboração da lei. Trata-se de documento que não faz par-

te dela, sendo apenas doutrinário.

Resposta: errado.

23. (CESPE - 2008 - STF - Analista Judiciário) O presidente do STF, em pa-

lestra proferida em seminário para magistrados de todo o Brasil, interpreta

uma lei penal recém-publicada, essa interpretação é considerada interpreta-

ção judicial

COMENTÁRIO: estava ele na posição de professor da matéria e não de Juiz.

Resposta: errado.

24. ( CESPE - 2008 - STF - Analista Judiciário - Área Judiciária) Segundo a

máxima in claris cessat interpretatio, pacificamente aceita pela doutrina pe-

nalista, quando o texto for suficientemente claro, não cabe ao aplicador da lei

interpretá-lo.

COMENTÁRIO: como vimos, não existe hipótese em que o texto é tão

suficiente claro que não merece adequada interpretação.

Resposta: errado.