legítima interpretação da bíblia, lúcio navarro

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LEGÍTIMA INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA

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"A unidade da Igreja vem da própria essência da verdade. A verdade é essencialmente una. A sua realidade necessariamente impõe a adesão da nossa inteligência e do nosso coração. Os princípios ontológicos da nossa razão impõem a permanênciada unidade da verdade, em qualquer terreno em que ela se situe. Por isso mesmo, a verdade foge ao relativismo e à dependência. É ela independente do tempo, do espaço e dos homens. Pois, na realidade, a que se reduziria, se ela devesse submeter-se ao capricho dos homens, às modificações dos momentos históricos ou dos lugares do espaço?" Prefácio...

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LEGTIMA INTERPRETAO DA BBLIA

.,S. ':. i*

LCIO NAVARRO

LEGTIMA INTERPRETAO DA BBLIA

CAMPANHA DE INSTRUSO RELIGIOSA BRASIL.PORTUGAI, RECIFE 1958

NIETII,

OBSTAT.

Recife, 3 de janeiro de 1958. Paire Daniet Lnta. Censor ad hoc.

Concedemos o IMPRIMATAR. t Antnio, Arcebispo de Olinda e Recife.

Recife. 10-1-1958.

DOCE

E HU}IILDII \TIRGE}I

StrN,fPRE

I\fARIA, cheia de graa (Lucas I-28); me de meu Senhor(Lucas I-a3); bendita entre as mulheres (Lucas LaZ\; em quem fz grandescousasAqule que poderoso(Lucas I-a9); tdas as geraes(Lucas I-a8); e a quem proclamarn bem-aventurada ofereo, dedico e colsagro ste livrcO AUTORRecifc, 8 de dezembro de 1957.

r T

PRET'CIOdo Ex.mo e Rev.mo Sr. D. AxrNro DE Ar,unrne Monars Jnron

A unidade da fgreja vem da prpria essncia tla verdade. A verdade essencialmente una. A sua realidade necessriamente impe a adeso da nossa inteligncia e do nosso corao. Os princpios onolgicos da nossa raz"o impem a permanncia da unidade da verdade, em qualquer terreno em que ela se situe. Por isso mesmo, a verdade foge ao relativismo e depenCncia. eta ind.ependentedo tempo, do .espao e dos homens. Pois, tra realidade, a que se reduziria, se ela devesse submeter-se ao capricho dos homens, s modificaes dos momentos histricos ou dos lugares do espao? por isso que a verdade no uma criao da inteligncia do homem. Os olhos humanos podem divisar astros na ampido dos espaos,por si ss ou com o auxlio poderoso dos telescpiosI no podem, porm, cri-los nos espaos vazios. Tambm a mente humana traz, em si, a capacidade par apreender a verdade, mas no pode criar a verdade. Nem Deus cl.ia a verdade, sendo le a verdade eterna, infinita, absoluta. A densidade metafsica do seu ser a realidade absoluta e, por isso mesmo, a verdade absoluta. Deus manifesta a verdade. Foi por isso que Jesus Cristo no disse: eu sou o pregador da verdade, mas afirmou: (eu sou a verdade". A prpria verdade cientfica que aquisio humana (no criag"odo homem, porm mera descoberta do homem ) , exige essa unidade intangr'el, sem o que seria impossvel a existncia da cincia. A multiplicidade aparente da verdade cientfica existe enquanto os homens tateiam o terreno das hipteses. Quando, porm, les conseguem romper as camadas movedias das hipteses e tocar a rocha eterna da verd.ade, a unid.ad,ese impe com uma sobe' rania absoluta.

LcIo

NAVARRo

Nem seria possvel construir a cincia sern sse postulado essencial da unidade. Donde se depreende como a verdade religiosa, reveada por Deus, deve exigir essa profunda unidade. J no se trata apenas desta ou daquela opinio de como se deve prestar Deus um cuto, mas da revel ago do prprio Deus, ditando, diretamente ou pelos seus enviados, o modo pelo qual quer ser cultuado peos homens. Dste modo, ningum pode presumir tenha o direito de escolher a cloutrina reigiosa, a seu capricho, para servir a Deus. S urna reigio revestida de tdas as garantias sobrenaturais da revelao pode seguramente impor ao homern o verdadeiro aminho a seguir. B coisa to natura ao nosso esprito, nossa inteligncia, que jamais poderamos imaginar que a verdadeira reigio no implicasse a falsidade de tdas as outras. S uma religio pode ser verdadeira e s verdadeira aquela que conserva, atravs clos sculos e dos espaos, a mais perfeita unidade doutrinria. sob sse aspecto, a rgreja catlica Romana apresenta a fisionomia da'mais intangvel unidade. Ns que nos acostumarnos a contemplar as instituies simpesmente humanas no desenrolar dos sculos, sabemos que jamais puderam conservar essa nota dominante. At mesmo sse sinal da precariedade das oisasclos homens deveria serl'ir como ndice evidente para distinguirmos o que humano do que divino. A histria a est para testemunhar a eterna versatilidacle das coisas humanas. os sistemas filosficos nasceram, floresceram e passaram. As hipteses cientficas mutipicaram-se com os mais variados aspectos. a matria, a vida, as fras csmicas, desde l)emcrito, Leucipo, Epicuro, anaxgoras, Scrates, pato, aristteles at Moleschott, vogt, Bchner, rraeckel, Meyerson, De Rgnon, Irir, Laplace, Faye, Ligond, Moreux, Lackowiski, passaram pelas mais estranhas concepes. Gemelli expe admirr'emente tdas as hipteses sbre a vida no seu beo livro: (,os novos horizontes da biologi", e conhecido sbio moderno reuniu os mais variados aspectos da cincia atual sbre o mundo no seu brihante estuclo ('Da criao poca atmicat,. Mas, como poder a verdade religiosa, rerreada por Deus, submeter-se a essa versatilidade contnua, s mutaes constantes das coisas humanas? Para que a sua divindade brihasse, para que sua verdade inconcussa se impusesse inteligncia humana,

T,EGITII{

INTERPRETACO

DA

BIBLIA

era imprescindvel que ea permanecessena e imutve atrar's dos tempos. E ste, sem dvida, o caracterstico primordial da, doutrina da fgreja Catica. Para quem raciocina, com serenidade, sbre a multiplicao das seitas protestantes, impossvel admitir a verdade do Protestantismo. As suas mltipas d,ivises caracterizam essencialmente o rro. \ro Congresso do Panam, 1916, havia representaes de 36 seitas existentes na Amrica Latina; Ifoje, as estatsticas que possumos do a existncia de 28 seitas diferentes na Combia, 45 seitas diversas no Brasil e 1.47 na Argentina. A colcha de retalhos de Martinho Lutero, de Calvino, de Illrico Zuinglio, de Henrique VfIf, de l\feanchton, de Carlostadt, de Ecolampdio, Bucer e Munzer, continua na oficina en que as divises do orgulho e da ambio humana vo ajuntando ainda outros retalhos. No , pois, de estranhar que o fruto d.essaabsurda diviso de doutrinas e igrejas seja o ceticismo amargo de milhes de almas. Na fnglaterra, a diviso e contradio protestantes criaram crca de 44.000.000de pessoasque dizem ((no ter nenhuma religio particular" e, nos Estados Linidos, crca de 65.000.000 de ateus prticos Mas, talvez, mesmo essas mltipas seitas e divises se transformem em um grande motivo de proselitismo. Poderamos afirmar que mesmo um motivo real, quando lemos na publicao protestante ((World Christian rrandbook" e, na Colmbia, as seitas lutam, entre si, numa espcie de competio. {o se pode negar que est havendo uma verdadeira invaso protestante na Amrica. Essa invasor como diz Damboriena, grande especialista no assunto, pode caracterizar-se por diversos perodos. Primeiro: a vinda ocasional de imigrantes das seitas durante o sculo XIX at o Congresso do Panam (1916) ; segundo: do Congressodo Panam at o Congressode Montevidu (L925), com fundaes de seminrios em cinco naes e editras protestantes em outros cinco pases; terceiro: do Congresso de Montevidu at o congresso de Madras; quarto: do congressode Madras at o presente. Pelas circunstncias poticas, as seitas precisavam um novo campo para empregar o seu pessoal e o seu dinheiro. Escoheram a Amrica Latina. E as estatsticas confirmam o seu tremendo esfro para multiplicar proslitos no Brasil. Poderamos, porm, afirmar com o grande apstolo Eduardo Ospina: (No tememos o Protestantismo, porque para fazer protestantes

Loro

Ny,,lBo

a 150.000.000de catlicos no bastam todos os d"laresdo mundo, nem mesmo nas mos de um sectarismo metdico, obstinado e provido de tcnica de propaganda. Mas tememos e muito a falta de instruo em muitos caticos. Tememos a ignorncia retigiosa de no poucos e tambm a pobreza de nossa gente. . . H urgncia em atender a sses setores necessitados de auxlio espiritual; o perigo protestante um novo aviso para trabalharmos mais afim de remediar as necessidadesdos nossos irmos". E nos atrevemos a dizer que o ataque protestante Amrica Latina, como o ataque comunista humanid.ade, um perigo e um castigo providencial, que nos pem em p e nos impulsionam mais do que nunca para a defesa da Verdade. ste livro que temos a honra de prefaciat uma prova evidente do que estamos afirmand.o. Nossos grandes e sbios polemistas, como Leonel Franca, Nascimento Castro, meu saudoscr mestre, Padre Joo Gualberto, Carlos de Laet e outros, acompanharam os contraditores da verdad.e nos pontos diretamente atacados. Faltava-nos um livro especializad.o assunto, nascido no da observao e da experincia dirias, em que fpssem tratadas metdicamente, em linguagem simpes, clara e acessvel, as objees formuladas pelos protestantes contra a fgreja Catlica. B com imensa alegria vemo-lo surgir em nossa Arquidiocese, escrito por um mestre da lngua, como realiza"o apostlica de um sonho que h muito aimentvamos, pois desde que assumimos o govrno da Arquidiocese de Olinda e Recife, pelos jornais, pelo rdio, pelas pregaes,.peas misses volantes e pelas Misses Gerais do Recife, o que temos procurado , com sinceridade, lealdade e dedicao, escarecer os fiis sbre os erros do Protestantismo. Eis, portanto, o livro que tanto desejvamos: "Legtima fnterpretag,o da Bblia". (Livro nascido - como diz o prprio autor - da observao direta d.o que a propaganda protestante no Brasil, apresentando uma refutao minuciosa das doutrinas da Reforma, com argumentago tda baseada em textos bblicos e em linguagem popular e acessvel a todos; servindo assim de amplo esclarecimento para os protestantes, desfazendo as suas confuses e preconceitos, de instruo e adestramento para os bons catlicos, que desejam todos sinceramente estar bem armados e prevenidos para rebater as objees dos hereges, bem como de preventivo para que no se deixem iludir pelo canto de sereia do Protestantism".

LEGTII

TNTEBPRETO DA BBLIA

Sabemos quanta dedicao esta obra exigiu do seu iustre autor e quantos bices se levantaram contra esta notvel realiza.o. Acreditamos, porm, que o apoio que lhe demos, desde o primeiro instante, foi um grande estmulo e temos a cetteza de que ser algo de notvel realizado em defesa do Dogma Catlico. Resta-nos, agora, pedir a Deus que abenoe esta grande obra e a faga frutificar em benefcio das almas iludidas pelo rro do Protestantismo e fortalea na f as que vivem sombra da nica e verdadeira fgreja de Nosso Senhor Jesus Cristo. Recife, 1.4 de fevereiro de l-958.

f AnrNro, Arcebispo Metropolitano de Olinda e Recife.

PRLOGO

DO

AUTOR

Prezado leitor protestante: Era muito conceituado, em certa cidade, um professor que ensinava, havia 50 anos. As noes qre le ministrava sbre a matemtica, a histria, a geografia, a lngua verncula etc, as tinha recebido de outros mestres, ainda mais antigos e to conceituadoscomo le, os quais por sua yez tambm j haviam aprendido cle outros preceptores. Mas um dia apareceu um jovem aluno que se rebelou contra o ensino de seu mestre. No lhe agradava o mtodo usado naquelas aulas, nem concordava corl o que nelas se aprendia. Ao seu rer, estava tudo errado. E resolveu abrir uma nova escola, em oposio do velho e ministrando uma instruo completamente diversa. N[as todo o mundo notou ogo que o ensino do iovem revolucionrio era completamente desordenado: o moo titubeava, confundia-se, ca,a em evidentes contradies. Isto seryiu apenas para aumentar o prestgio do velho professor, ee podia agora dizer com desdm ao seu antagonista: V estudar, menino, porque Voc ainda no est em condiespara abrir uma escola! O grande navio, pertencente a uma antiga emprsa de navegao, singrava os mares em demanda do seu destino, quando o velho comandante foi surpreendido pela revota de muitos dos passageiros, que o procuraram para pRorDsrAR. O avio, segundo les diziam, estava seguindo uma direo completamenteerrada. Pois les entendiam tambm de navegao... Embora hes fatasse a longa experincia, tinham no entanto em mos o mesmo livro, os rlesmos napas que serviam de guia ao comandante e a seus auxiliares e tinham chegado concluso de que stes estavam redondamente enganados. E diante da recusa do comandante a modificar a sua rota, resolveram em nome da r,rsnnpeon, abandonar o navio, construir, les prprios, suas embarcaes e seguir o caminho que lhes parecia mais acertado. Boa sorte ! - respondeu-lhes o comandante. Mas os passageiros que ficaram a bordo, que tinham confiana na veha emprsa, no navio, naqueles que o dirigiam, nem tiveram tempo para ver surgir no seu esprito qualquer sombra de dvida, porque logo observaram que aqules que rRoTESTARAM coalhavam o mar de barcos e barquinhos e barcaas de tda qualidade, mas cada um seguia um rumo diferente.. . Esta precisamente a histria do choque entre o Protestantismo e a Igreja Oatlica. Agum que esteja. de parte observando a luta doutrinria, sem ser nem de um lado nem de outro, ao ver a grita dos pro-

LCIO

NAYRR,o

testantes e o entusiasmo com que vivem a citar a Bblia, pode ainda ficar com uma certa nuyem de dvida no seu esprito sbre se a Igreja est mesmo em perfeito acrdo com as Escrituras. Mas, se tiver o cuidado de ver os protestantes, como so, como divergem, como discutem, como titubeiam e se contradizem, ver aumentar aos seus ohos o prestgio da lgreja. Ea como o antigo mestre a rir-se dos arclores do jovem revolucionrio ou como o velho comandante a achar graa na 'eegueira dos barqueiros improvisados. Sim, porque uma eoisa est clara vista de todos: Dizer que agum est errado muito fci, porque falar flego e cada um tem o seu modo de pensar. l\{as h tambm o reYerso da medalha: euDM acusa A ourno DEEsrAR nu nno,rnM a oBRrco MosrRAR, nn coMo o cunro. E a que se mostra com evidncia todo o fracasso do Protestantismo, Voc, caro leitor protestante, est metido nesta balbrdia de mais de trezentas seitas que ensinam as doutrinas mais diversas. Se, por acaso, os seus correligionrios o tm enganado, afirmando que so divergncias de muito pouca monta, f-lo-emos conhecer melhor o que o Protestantismo e Voc ver como estas divergncias so profundas, escandaosas e sbre pontos importantssimos. Gritar que s a sua seita est com a verdade e que tdas as outras esto erradas, no adianta nem resove a. questo; os elementos de que Voc dispe para conhecer a verdade, so os mesmos de que os mithes de adeptos de outras seitas dispem tambm: a Bblia e o raciocnio humano. a Bblia a mesma para todos; e como Voc pode garantir que raciocina melhor do que os outros? No ser o caso de nonxaMrNAnagora e confrontar calmamente com a Bblia esta doutrina catlica, que Vocs, protestantes, rejeitaram no sculo XVr e qe vem sendo a interpretao do Livro Sagrado, sempre antiga e sempre nova, tradicionalmente seguida, durante 20 sculos, pelos Santos Padres e Doutres e telogos da lgreja? Pouco importa, no caso, que o seu esprito esteja cheio de preconceitos, que o seu corao esteja abrasado de dio contra a Igreja Catliea. Se assim , o seu maior desejo combat-la, no verdade? Mas para combat-la, precisa conhecer melhor a sua doutrina. Nada mais ti para quem vai entrar em luta, do que eonhecer bem a fundo o adversrio. E no nosso caso, atribuir Igreja doutrinas que ela nunca ensinou (como, por exemplo, a doutrina de que o homem se sava ExcLUsrvaMENrE pelas suas obras, pelo seu esfro pessoal), querer atacar a fgreja, atribuindo-he teorias por ela mesma eondenadas, seria ridculo e seria l'arrTADD coNscrNcree Voc uma pessoa de conscincia, pelo menos assim o supomos; pois do contrrio pode fechar o livro e j" temo,s conversado. Sendo Voc uma pessoa de conscincia, claro que no vir armado de tnuuns, nem de sorrsuas, nem de cavrr,ans. Nem adianta recorrer a estas armas; o livro mesmo se encarregar de inutiliz-las, Separar a frase bblica do seu verdadeiro contexto, para dar a ela o sentido que Yoc quer, no conseguir faz-lo; veremos, nas passagens bblicas susceptveis de ser exporadas em sentido errneo, no s o que disseram Jesus e o'Sapstotos, mas tambm em que ocasio, com que fim, em que sentido o disseram.

LEGTIMA

INTERPBETAo

DA BBLIA

Como tambm no vir eom a idia de apegar-se de unhas e dentes a uns te, xtos, DDSPRDZANDo E DNTDRRANDo oUTRos. A mesma Bblia que nos ensina que o homem se salva cRENDo urr Jnsus (Atos XVI-31), nos (Mateus XIX-17). ensina que o homem se salva oBsDRvaNDo MANDAMENTos os A mesma Bblia que nos diz que o homem justificado pela r snrvr oBRAs as DA LDr (Romanos III-28), nos diz igualmente que o homem justificado pelas oBnas E No pnr,a 116sunwrn (Tiago II-24). Ora nos diz que a pedra angular da Igreja Jesus Cristo (1.o Pedro II-4 a 6), ora nos diz que Pedro a pedra sbre a. qual Cristo edificou a sua Igreja (Mateus xvr-18). ora .nos.diz que o sangue de cristo nos purifica de todo pecado (1.o Joo 1-7), ora nos mostra a remisso dos pecados realizada pelo Batismo (Atos II-38) ou pelo poder das ehaves conferido aos Apstolos (Joo XX-23) ou, at mesmo, pela Extrema-Uno (Tiago V-15). Ora nos apresenta a vida eterna eomo uma ddiva (Romanos vr-23), ora eomo um prmio (1.o Corntios rX-24 e 25). Tanto nos fara de Cristo como nico Salvador de todos (1.n rimteo rr-5 e G), como fala do homem salvando a si mesmo e salvando os outros (1.r Timteo IV-16). Se o ensinaram a interpretar a Bbtia aceitando, nestes contrastes, a primeira parte e desprezando, no tomando em nenhuma considerab a segunda, ento lhe ensinaram uma interpretao muito errada, porque, se a Bblia roe ela inspirada por Deus, havemos de aceitar rpa a Bblia e no andar a fazer escohas entre textos, para ver smente os que nos . agradam, porque da que nascem as seitas, as divergncias, as heresias. A prpria palavra rrnnnsra etimotgieamente quer dizet Dscor,rra. E mesmo no h homem algum que fique satisfeito, quando dizem que le No r,rce DUAS, no verdade? Para que no desmoralizem assim a nossa interpretao, ela tem que conciliar todos stes pontos e mais outros que primeira vista parecem inconciliveis e com a graa de Deus havemos de faz-lo. - , dir Voc, estou de pleno acrdo. rpe a ssr,ra u s n BBua. - Calma, caro amigo. Toe E nnlrl, isto j est assentado de pedra e cal, porque tda a Bblia palavra de Deus, e a palavra de Deus no pode ser rejeitada. Quanto a dizer s e ssLre, isto no poderemos dizer agora: vamos consult-la primeiro, estud-la carinhosamente. Se ela nos disser que s ela que deve ser ouvida, ento aeeitaremos o prinepio: s A snr,ra. se ea, porm, nos apontar outra fonte de ensino da verdade, teremos que aceitar a esta igualmente, porque no podemos ir de encontro Bblia, no acha? Quanto traduo portugusa que usaremos no nosso estudo, no h perigo de Voc nos acusar de nos trmos baseado num texto novo, para arranjar as coisas a. nosso favor. Usaremos uma traduo muito antiga da Bblia e muito utilizada tanto pelos catlicos como pelos protestantes: a. do Pe. Antnio Pereira de n'igueiredo. Servimo-nos, para maior comodidade, de uma edio da Livraria Garnier; Rio de Janeiro, do ano de 1881. Mas a 1.0 edio saiu em Portugal no sculo XVIII, portanto numa poca em que o Protestantismo no havia ainda penetrado no Brasil. Citaremos sempre risca o Pe. Pereira, comparando, quando fr necessrio, com o texto original e eom outros textos de lngua portugusa tanto catlieos, como protestantes. A nica altera-

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NAVARRO

o que faremos substituir peo verbo nen r,rtz o verbo pARrRee, principalmente quando aplicado ao nascimento de Cristo, pode parecer estranho, indecoroso ou pouco educado aos ouvidos de hoje, embora no o.fsse absolutamente no tempo em que o Pe. Pereira fz a sua traduo. X'inalmente uma ltima paavra. Vamos estudar a Bblia com roe srNcaRrDDE, assim? Pois bem, STNCERTDADE dizer o seguinte: quer no se por acaso, pelo nosso estudo, Voc depreender que nsr nu nno (e coisa do outro mundo um protestante reconhecer que est ern rro? h no Protestantismo doutrinas inteiramente contrrias umas s outras e onde h contradio h rro, todos sabem disto, porque o mais universal de todos os princpios que uMA corsA No poon sDRD DErxaR, sERAo DE MEsNrornrrno) se voc depreender que est em rro, colto amos dizendo, no se ponha obstinadamente a querer agaruar-se a argumentos ridculos, nem se limite a dizer dispicentemente: "Veremos isto depois", dando como sujeito a discussoaquilo que j est por tlemais examinado e esclarecido,porque, caro amigo, nada Ttodemos contra q, uerdade, sen,o pela, uerclade (2.u Corntios XIII-8). E se, por acaso, pastor, lcler, tem admiradores simples e rudes que confiam na sua doutrinao e Voc reconhece agora que lhes ensinou doutrinas emneas (mxine se foi por escrito) a sua obrigao retratar-se ENSTNANDo vERDaDE, pora que s assim que pode seguir a Jesus Cristo, que a prpria Verdacte. Assim faz todo homem de bem, e com maioria de raz"o todo seguidor do Divino h{estre. E sem esta sinceridade ningum pode ir ao Cu, porque, como diz S. Paulo, Deus retribui com iro e indigna,o aos que s,od,e contenda e que No sn RENDEM vonoaop(Romanos II-8). No h nada mais belo do que o homem curvar-se perante a verclade. Nisto no h desdouro, nern motivo para constrangimento, mas sim uma verdadeira libertao. Quanto a Voc, estimacoleitor catico, que vai tranqilo e sossegado no seu navio, enquanto l fora as barcaas revotosas se desencontram, pouca coisa temos para lhe dizer. Que ste livro lhe sirva para enriquecer o conhecimento de Cristo e de sua Religio, e o ajude a rebater aincla mehor os ataques e as objees dos hereges protestantes, so stes os nossos sinceros votos. Lticio l{aaarro.

N. B. Deixamos aqui a expresso do nosso profundo reconhecimento ao Ex.mo e Rev.*o Sr. D. n'ilipe Conduru, DD. Bispo de Parnaba, e aos Rev.mosP.es Marcelo Pinto Carvalheira e Zefirino Barbosa Rocha, Qe, aps erem algumas partes do nosso trabaho (quando ste ainda estava datilografado), se dignaram fazer-nos crticas e sugestes muito interessantes. I,'. N.

PnruErRA Penrn

A

SALVACO

PE,LA

FE

Caprur,o PnrunrnoDESMANTELO E DBSBQUILBR,IO TEORIA PROTtrSTANTE DA

A TESE DO PASTOR. l. Bem se pode imaginar com que nsia, emoo e contentamento o nosso amigo, pastor protestante, se aproximou do microfone, para fazer a sua dissertao peo rdio, naquele dia. Tratava-se de uma mensagem sensacional, que le pensara em transmitir. O seu objetivo era nada mais, nada menos que dar uma bonita rasteira em tdas as religies do mundo, sem respeitar nem sequer a Santa lgreja Catlica Apostlica Romana, ficando de p exclusivamente a doutrina dos protestantes. Para isto, idealizou o jovem e fervoroso pastor a argumentao seguinte: Tdas as religies ensinam que o homem se salva pelas suas prprias obras; o Protestantismo, ao contrrio, ensina que o homem se salva pela f. Ora, sabemos que a Bblia a palavra de Deus revelada aos homens; palavr infalvel, porque Deus no pode errar. E a Bblia em inmeros textos afirma que o homm se sah'a pela f. Logo, se v pela Bblia que o Protestantismo a nica religio verdadeira, e assim est refutada a doutrina perigosa (perigosa, sim, foi o que disse o pastor, e o que dizem, e geral, os protestantes) a doutrinz perigosa de que o homem alcana a salvao pelas suas obras. TEXTOS EVANGLICOS. 2. No vamos aqui logo repetir todos os textos citados pelo pastor em abono de sua tese, porque temos que analisos cuidadosamentemais adiante (captulos 4.e a 8.0), no s os. apresentados por le, seno tambm outros alegados pelos seus colegas sbre o mesmo assunto. Queremos apenas dar ua amostra de como os textos eram mesmo de impressionar o desprevenido ouvinte que no tivesse um conhecimento competo da verdadeira doutrina do Evangelho. Veja-se, por exemplo, o seguinte trecho do Evangelho de S. Joo: Assim qnxou Deus ao mundo, que l,he cleu a, seu Fi,tho (Ini,gnito, para que rrrDo o eun cn NEr,u No pEREa, porque DqUS n,O enai,Au yew FilhO AO MAS TENrrA A VIDADTERNA, mundo paro condenar o mu,ndo, nxas para que o mundo seju sal,aopor le. MAs o eun uo cn r nsr coNDENADo, Qunu ryr,n cn rvo corvonmaDo, porque n,o cr no nonle do Fi,l,h,oAni,gnito de Deus (Joo III-16 a 18)

14

LcIo

NAVARRo

Textos como stes que asseveram to abertamente quem cr em Jesus se salva, quem no cr se condena - seriam suficientes para convencer qualquer pessoa: 1.q se no fsse to mpio, t"o absurdo, e, portanto, to indigno dos lbios de Jesus o que se quer provar com les, ou seja, a doutrina de que, para o homem salvar-se, basta que tenha f em Cristo e nada mais; 2.e se no houvesse outros textos, igualmente claros, dos Evangelhos, para ros provar a necessidade clas boas obras para a conquista do Cu, como ste por exemplo: Bom xrestre, que obras boas deto eu faaer poro alcanar a uida eterna?... Sn ru euERDs ENTRAB (llateus XIX-16 e 17). os NA vrDA,cUARDA MANDAMENTos Dos TExTos.

coNcrlrao

3. claro que fazer uma boa interpretao da Bblia no consiste em aferrar-se algum a uns textos, desprezanclo,esquecendo, refuganclo, pondo de lado outros, igualmete valiosos: tudo quanto est na Bbia palavra de Deus. A interpretao imparcial, conscienciosa, legtima, procura harmonizar inteligentemente os textos das Escrituras. E bastante tomar na devida consideraoas duas afirmativs -.- quem cr em Jesus se salva, quem no cr se condena - f)ara, entrar na vida eterna, preciso guardar os mandamentos - para se chegar concluso de que para a sah'ao eterna, tanto necessria a. f nas palayras de Cristo, como a obedincia aos mandamentos divinos. n o que nos ensina a Igreja Catlica, a qual no afirma que o homem se salva s peas obras, como queria fazet crer o nosso amigo, pastor protestante, baseando a sua argumentao em que tdas as reigies assim o ensinam; segundo a teoogia catlica, a f no ensino de Cristo que nos apresentado tambm indispensvel. V-se logo por a quanto a doutrina da Igreja desconhecida, at mesmo por aqules que ardorosamente a combatem. Temos, portanto, que expor (e o faremos no captuo seguinte) a. doutrina catlica sbre o assunto, mxime porque ela fala de um terceiro elemento, importantssimo e igualmente indispensve salvao, como seja, o auxlio da graa de Deus; explicado ste ponto, se esclarecem muitos textos das Escrituras que tanta confuso provocam na cabea dos protestantes. PERANTE A LGICA E A BBLIA: O CASO DOS PAGOS. 4. Basta igualmente esta palavra de Cristo - se tu qu,eresentrur na uida, guarda, os mandamentos (llateus XIX-17) - para mostrar que, se o Protestantismo se distingue ce tdas as religies do mundo ensinando que o homem se sava s pela f e no peas obras, isto no sinal de que seja a. nica Religio Verdadeira; sinal, apenas, de que ensina uma coisa que evidentemente est contra a lgica e o bom senso. ste princpio estabelecido por Jesus Cristo - guardar os mancamentos, para salvar-se - vigora em tdas as reiigies, porque tambm um imperativo da raz.o humana, e a razo, assim como a f, procede de Deus, nosso Criador. A Humanidade viyeu milhares de anos antes de

IEGTIMA

INTEBPRETACo

DA BBLIA

Jesus Cristo vir a ste mundo e, durante todo sse tempo, excetuando o povo judaico, pequenino povo que tinha a revelao dada por Deus a Moiss e aos profetas, tdas as naes da terra estavam imersas no paganismo, desconhecendo as verdades da f. Mesmo depois da vinda de Jesus Cristo, quantos milhes e milhes de pessoastem havido e.ainda h, como por exemplo entre budistas, bramanistas, confucionistas, maometanos, ndios selvagens etc, que sem cupa nenhuma sua, elesconheceram ou ainda desconhecema revelao de Nosso Senhor Jesus Cristo I Podiam ou podem stes homens sar'ar-se? 1 Sim, sem drvida alguma, porque no admissvel que Deus os condenasse a todos irremedivelmente ao inferno, se es no tinham culpa nenhuma em desconhecera revelao crist. Mas salvar-se como? Seguindo o que Cristo disse: rSetu queres entrar na aid,a, guarila os nt,andantentos (Mateus XIX-17). E aqui perguntar o eitor: Se os mandamentos foram revelados aos judeus por intermdio de Moiss, e as religies pags no conheciam esta revelao, como podiam admitir ste princpio: - guarda os mandamentos, se queres salvar-te? Conheciam por acaso stes mandamentos? - conheciam, sim; embora no to perfeitamente como ns os conhecemos. Porque stes mandamentos, Deus os gravou no corao do homem. Honrars pai e me, no matars, no furtars, no levantars faso testemunho, no dese.jars a mulher de teu prximo etc, so leis que se impem a todos os homens pela voz imperiosa de sua conscinciase a Religio tem por fim o aperfeioamento mora do homem e a sua unio com Deus, esta unio, ste aperfeioamento no se reaiizam seno, quando ie obedece r'oz da conscincia, que a prpria voz de Deus" falando a sua alma, a seu corao. S assim poclia (ou pode ainda hoje) o pago que nunca ouviu falar de cristo, agradar a Deus e, agradando" a Deus pelas suas obras, conseguir a salvao. - Mas, dir o protestante, esta histria da possibilidade de se salyarem os pagos, pode-se pro\:ar petas Escrituras? Perfeitamente. abra-se a Epstola de s. pauto aos Romanos. Lemos a que Deus hri' cle retribuir a cada unL segunclo as suas obras; conx a vrDA ETERNA, por certo, a,os qule, IJerseerandoem, faaer SBRAS Boas, buscant,glria e honra e imortali,d,ade; rnas conx ira e incligna,o aos que s'o d'e contenda e que n,ose renclenr d, aerclacle, ntas que obeclecem, i,njusd, tia'. A tribula,o e a angstia, airt sbre lAa a alnta d,o ltomem que obra m'al, ao judeu, pri,mei,ram,ente,e ao grego; nxos a cr,nra E a rroNRA D A PAz ser dada a todo o obrad,or rJo bent, ao ju,cleu,prmeirantente, e ao grego; porqLte n,o hri; para cont Deus aceTtdo de pessoas (Romanos rr-6 a 11). o grego, a que se refere a s. pauo, em contraposio ao judeu, o gentio, o pago, o que no conhecia a tei de Moiss. Deus, no tem acepo de pessoas: todo o que opera o bem recebe a vida eterna* seja judeu, seja gentio. Porque, como diz em continuao o apstolo" S. Paulo, se os judeus tinham uma ei escrita dada por Deus e os gentios; no a tinham, o que interessa a Deus no que sE ouA a lei que fo dada por le, rnas sim que sE pRArreuno que ordena esta mesma Ie. E o gentio, cumprindo a lei qrie estava escrita no seu corao, se podia tornar tambm justificado diante de Deus. Vejamos as palavras do Apstolo: N,o sd,ojustos diante de Deus os que our)em a lei; tns os

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LUCIO

NAVBRO

QUE FAZEM O QUE MANDA A r/Er SEROJUSTTFTCANS; p7rq%e,

qUA,ndO OS gentios

que n,o tm lei,, faaem naturalmente as cousas que s,o da, lei, sses tais, n,o tendo semelha,nte lei, a s mesnxos seruem de lei, os quais MosrnAl\r A oBRADA r,Er DScRrraNos sEUs coneos,dando testem,unho a Zesa sua MEsMAcolrscrivcra(Romanos II-13 a 1). - Mas perguntar algum: No diz a Bblia que sem a f impossvel agradar a Deus? Como podiam sses pagos agradar a Deus sem a f? - A dificuldade muito fcil de resolver. Na mesma ocasio em que diz a Bblia - ser impossvel sem a f agradar a Deus - mostra imediatamente qual o programa mnimo de f que exigido dsses que no cheguem a ter conhecimento da revelao divina; dles se exige apenas que creiam o seguinte: que existe um Deus e que ste Deus recompensa os bons. Vejamos o texto: Sem f, impossael, agradar a Deus; porquanto necessrro que o que se chega a Deus creia que h, Deus e que remunerador dos que O buscam (Hebreus XI-6). Se les estavam ou esto, sem nenhuma cupa sua, na ignorncia de muitas outras verdades da f, Deus se contenta com ste mnimo: crer na existncia de um Deus Remunerador; o bastante para se aproximarem de Deus. Portanto, se as reigies pags que existiram antes do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo ensinavam que seus adeptos podiam. conseguir a recompensa divina mediante as suas obras, se as reigies pags ainda hoje existentes ensinam que os seus seguidores (que no tm suficiente conhecimento da doutrina cle Jesus Cristo) se salvam peia maneira digna e correta de proceder, essas religies podem ter l os seus erros grayes em matria de doutrina, mas NDsrEpoNro tm ensinado uma coisa cert, confirmada por S. Paulo, quando afirmou que oS gentios se salyam obedecendo lei que est escrita em seus coraes (Romanos II-15). O caminho do Cu para les ste mesmo. Agora, se de fato foram muitos ou foram poucos os que procederam corretamente e obedeceram a esta lei, isto j outra questo. O homem tem a Sua liberdade; pode usar dela bem ou mal. Infeizmente a tendncia desta nossa corruta Humanidade mais para usar mal do que para usar bem; porm tinha que haver para os pagos, assim como para os cristos (falamos, claro, dos pagos de boa f) algum direito, alguma possibilidade de sayar-Se. Do contrrio Deus seria injusto, no seria bom para todos oS homens que O temem. Bem-aaenturados todos os que tem'em ao Serth'or, E o pago que os que and,any nos selrs com,nhos (Salmos CXXVII-1). no recebeu as luzes da revelao crist, mas cr na existncia de um Deus Justiceiro, embora erre, por ignorncia invencvel, sbre a prpria natureza da Divindade, no tem outro meio para mostrar que teme o Senhor e que quer andar nos seus caminhos, seno obedecendofielmente aos ditames da sua prpria conscincia. PBRANTE A LGICA E A BBLIA: O CASO DOS CRISTOS. 5. Passemos agora s religies crists, que admitem a. revelao feita por Nosso Senhor Jesus Cristo. Se elas ensinam que "o homem se salva pelas obras", esto ensinando uma coisa certa ou errada? Isto

LEGTIMA

INTERPRaTAo

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depende do sentido que se queira dar frase. Se se toma no sentido de que o homem se salva exclusivamente pelas suas obras, desprezando-se a f, como a desprezam aqules que dizem "Tdas as religies so boas, \,em a dar tudo na mesma coisa; minha religio consiste em fazer o bem", a doutrina est errada. Foi precisamente para combater ste ruo, para mostrar que era preciso submeter humildemente a inteligncia a tdas as verdades por le reveladas, que Jesus Cristo tanto insistiu em dizer que - quem cr nle se salva, quem no cr se condena. Mas, se se toma num sentido que.no exclua a obrigao de crer e se leva em conta a absoluta necessidadeda graa para a realizao das boas obras, a frase tem um sentido legtimo e verdadeiro, perante a raz,o e perante a Bblia. Seno, vejamos. Os cristos, ou aqules .que tm conhecimento da doutrina crist, Nosso Senhor veio ao mundo para dispens-los da observncia dos mandamentos, impondolhes nicamente a obrigao de crer? Absolutamente no! porque o prprio Cristo quem diz: rSe tu queres entrar n csida, guarda os ma,ndamentos (Mateus Absolutamente no! porque ningum est dispensado de obe' XIX-17). decer voz da conscincia, de cumprir esta lei que est escrita no corao humano, se quiser conseguir o Cu. X'oram abolidas tdas as cerimnias e prescries da lei mosaica, mas o Declogo ficou de p, porque a lei eterna, que rege a alma do homem, a fonte de tda a moral, de tdas as leis. O que acontece com o cristo eu, tendo um conhecimento mais vasto das coisas de Deus, dos preceitos e da vontade divina, a observncia dos mandamentos the abre novos horizontes. Tem maiores obrigaes e responsabilidades, desde que por sua yez recebeu maiores luzes, mais abundantes graas e tem mais facilidade para savar-se. A todo aqule o quenx mui,to fo dado, mui,to Lhe serd, peddo (Lucas XII-48). le sabe que o grande mandu,mento d,q,l,ei, ste: Amu,rds ao Senhor teu Deus de todo o teu corad,oe de tda q, tua al,ma e de todo o teu entendimento (Mateus XXII-37). Bem como, cnhece pelo Evangelho as palavras de Jesus Cristo. Ora, no estar amando a Deus com todo o seu entendimento, se no crer nas palavras do Divino Mestre. Logo, a obrigao de crer nas palavras de Jesus, que so palavras de Deus, pois Jesus Cristo Deus, j est includa na lei: observa os mandamentos. Porque no posso amar a Deus e, ao mesmo tempo desacreditar a sua palavra. E quando Jesus lhe diz que quem cr nle se salva, quem no cr se condena, o cristo sabe que tem que aceitar tdas as palavras de Jesus; ogo, no pode desprezar a verdade que est contida nestas palavras: rSe tu queres entrq,r na ada, guarcla os ntand,antentos (lVlateus XIX-17). Veja-se, portanto, que equilbrio, que lgica se encerra na doutrina catlica ! Os mandamentos incluem a obrigao da f em Cristo, e a f em Cristo traz como conseqncia a obrigao dos mandamentos. DESEQUILBRIO DA DOUTRINA PROTESTANTE. 6. Comparemos isto com o desequilbrio da doutrina dos protestantes. Ns lhes apresentamos um nmero incalculvel de pagos que existiram antes de Cristo ou que existem ainda hoje (milhes dos quais tm adorado

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o Deus verdadeiro, como os maometanos, por exemplo) pagos stes que no chegaram a ter conhecimento da doutrina de Cristo e que tm a f mninta, a que se refere S. Paulo na sua Epstola aos Hebreus, isto , crern que existe um Deus e que le remunerador; quanto ao mais, nada sabem da doutrina revelada. Ora, segundo a doutrina protestante, s a f que salva, as boas obras do indivduo lvo vocat\ para a salvao. Agora perguntamos: esta f mnima - crer em um Deus Remunerador suficiente para a salvao ou no? Se suficiente, todos sses pagos se salvaram ou ainda se savam, s vo para o inferno os ateus, pois segundo os protestantes, o que salva a f, e no as obras. Neste caso, onde est a justia de Deus, colocandoassim no Cu a todo o mundo, indistintamente, sem nenhuma ateno maneira de proceder de cada um? Se no suficiente, ento todos les se condenam, meso que pratiquem as melhores obras dste mundo e se mostrem corretssimos na sua maneira de proceder, pois as boas obras, segunclo os protestantes, no influem na salvao. Esto sses pagos irremedivelmente perdidos, porque sua f , na hiptese, insuficiente para salvar. Neste caso, onde est a justia de Deus condenando, por no terem f em Cristo po\-os inteiros que, sem culpa sua, desta f foram privados! (r)(1) Aqui naturalmente perguntaro os protestantes: E os eatlicos tarnbm no ensinam que FoR D TGREJA No u ser,vlo? Logo, segundo les, tambm todos os pagos se condenam, pois esto fora da Igreja. preciso que se tome bem em eonsiderao o sentido que o Catolicismo empresta a esta frmua: X'ora da Igreja no h salvao. Esta mesma fgreja que eusina, como veremos, (a.o 22) que o Batismo indispensvel para a salvao, nas afirma tambm que o Batisrno de gua pode ser suprido pelo Batismo de desejo, ou seja, a reta eonscineia naqueles que no eonhecem o Sacramento do Batismo, e que ensina que, enl caso de impossibiidade, a Confisso sacramental pode ser suprida pelo ato de eontrio perfeita, ensiua igualmente que se pode pertencer Igreja ou reamente ou E\[ voro. Ou, frara usar uma linguagem mais acessvel a todos, pode-se pertencer Igreja por lma adeso explcita e pode-se pertencer a ela rnlo con.lo. Aqules que DE nol r esto separados da fgreja, mas buscam sinceramente a verdade e querem do ntimo dalma servir a Deus e realmente o fazem, obedecendo aos ditames da prpria eonscincia, pertenceriam Igreja Vcrdadeira, como devotados fiis, se tela tivessem suficiente conheeimento. So, portanto, filhos seus, que ela no conhece; perteneem ar,ue DA TGREJA fa,zem a seu modo, nA sua ignorncia, o que ela ; quer que todos faam: servir a Deus de todo o corao. Por isto disse o Papa Pio IX: "Aques que esto em ignorncia invencvel a respeito de nossa Santa Religio, mas observem fielmente os preceitos da lci natural gravados por Deus no corao de todos e, prontos a obedecer a Deus, eyam uma vida proba e honesta, podem, pela luz divina e pea operao da graa, obter a vida eterna: porque Deus penetra, perscruta e conhece os coraes, os espritos, os pensamentos e a conduta. Em sua bondade e clemncia supremas, no eonsentir jamais em punit eom suplcios eternos urn homem que no culpvel de falta voluntria" (Enccica Quanto conficiamur). Mas aques qre receberam a luz da revelao crist tm obrigao de conhecer a Yerdadcira fgreja que Cristo fundou e de pertencer a ela ; estar deliberadamente separado da fgreja de Cristo o mesmo que estar separado de Cristo, pois Crslo a cabea d'a Igreia (Efsios V-23). Se algum ndo ouui,r a lgreja, tent-tto par um, gentio ou un?, Ttnblicano (i\{ateus XVI[-17). Desta possibilidade de salvar-se o pago, baseada em que Deus r a to.Jos a graa sufieiente para a salvao, no se conclui absolutamentc que scja intil pregao do Evangelho: 1.o porque a fgreja recebeu a incumbncia de pregar o Evangelho a tda a criatura, de levar a todos o conhecimento da verdade; 2.0 porque

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Os protestantes j esto salvos aqui na terra... apesar de tdas as SuaS faltas e imperfeies, aS quais temos todos ns humanos, quando morrem, vo diretamente para o Cu (pois os protestantes no acreditam na existncia do purgatrio). . . mas fora do Protestantismo, so muitos os que inevitvelmente se condenam.. . Deus seria neste caso, no um Pai de llisericrdia, mas um Soberano evidentemente injusto e monstruoso, que predestina uns para o Cu e outros para a perdio. ste Deus que assim concebem os protestantes, que a intmeros homens nega qualquer oportunidacle para se salvarem, pois para a salvao crer,o d,quele que nd,o ouairqm? e S aceita a f e nada mais, mas Conl,o corlr,oouaro senl pregad,or? (Romanos X-14), ste Deus to parcial que aos protestantes d tudo e a outros nega tudo em matria de salvao, ser o mesmo Deus da Bbiia que quer" que todos os hontens se salaeno (1.u Timteo II-4) ? (2) que no tem acepo de pessoas (2.q ParalipmeRomanos II-11, Efsios VI-g, ColossensesIII-25; 1.u Pedro nos XIX-7; I-17) ? O nico Mediador que les pregam ser mesmo Jesus Cristo DE que se deu a s mesnto par nnonNo roDos (1.4 Timteo II-6), Q nl,as pecados, e n'o smente pelos ??ossos, o ytropi,ca,,o Itelos ??ossos pelos d,e rvlrno MUNDo (1.u Joo II-2) ? No h gica, portanto, o tanr,bm, nesta matria de doutrina da salvao,se no se admite aquilo que vimos agora mesmo a Bbia dizer pela pena de S. Pauo, na sua Epstola aos Romanos: que Deus h( de retribuir & cada um sEcuNDoAS suAS oBRas (Romanos II-6).a pregao da doutrina de Cristo vai excitar ao rrependimento muitos pagos que se acham de rn f ou mergulhados no pecado e que assim se cneontram francamente no caminho da eondenao; 3.0 porque stes prprios que observam fielmente a lei natural e que no parecem ser em grande nmero podem, com a abundncia de meios sobrenaturais que a Igreja lhes oferece, fortifiear-se ainda mais na graa e atingir uma melhor perfeio, para maior gria dc Deus. 2. Quando dizz' como crer.o qu,ele que ndo ouui,ram? e conro erero sen REpregador?, S. Pauo toma a f no sentido restrito da palavra, f mes vERDADES vnr,enes, as quais no so eonhecidas onde no foi anunciada ainda a palavra de Deus. E quando diz: Senr,f i,mttossael agradar a Deus, porquanto necessdrio O que o qxee se chega o Deus a"ei,a qu,e ltc Deu,s e que rernu,nerad'or clos c1u,e bu'scant, (I{ebreus XI-6), S. Paulo toma a f em um sentido lato, a crena em verdades provar euE poDEr[ sEr arrNcrDAS pnr,e pnr,nr-q.nazo HUtrrANA, a qual no s pode existncia de Deus, mas tambm ehegar iclia cle sua justia, bondade e perfeio. Ais, le estava falando naquele momento (I{ebreus XI-4 e 5) em Abe e lenoque, os quais viveram num tempo em que no haviam sido feitas ainda as neveaes transmitidas a Abrao, a l\{oiss c aos profetas. Ora, ns, catlicos, admitimos que a todos os homens que gozam do tlso da raz.o a guarda dos mandamentos indispensve para a salvao; a f em Cristo indispensvel para aqules a quem chega a notcia do Evangelho; a f em Deus Remunerador, ou seja, a f em sentido lato, indispcnsvel mesmo para aqulcs que nunca ouviram falar em Cristo. n{as a mentalidade dos protestantes inteiramente outra; tomam as palavras evanglicas: Quent, a' em Jesu's se salua, quent' ndo cr se condena ( as quais se referem naturalmente queles a quem o Evangelho anunciado) no sentido de que quem no ouyc A lrregao do Evangelho est irremedivemente perdido; quem aceita o Evangeho est savo com tda a certeznSim, porque les vem como caminho para o Cu, pura e exclusivamente ORER EI Obras, absolutamente no ! XIas se crer em Jesus , segundo les, coNJrsus. FrAR euE Jnsus Nos salv^, eis a um sentimento que intciramente ineapaz de ter aqule que ainda no foi devidamente instrudo a respeito da cloutrina do Evangeho.

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LUCIO NYABR,O

Lutero pensava e ainda pensam os protestantes de hoje que se pode alterar fcilmente a doutrina verdadeira que Deus deixou neste mundo e que vem sendo ensinada pela sua rgreja, a rgreja Catlica. Com a sua ampla liberdade para mexer na Bblia e dela extrair apenas os textos que mais hes convenham e agradem, os protestantes entenderam de tornar para si muito fcil a salvao, fazend,o-a depender smente da f, tornando-a inteiramente independente das boas obras. l\{as ao mesmo tempo a tornaram impossvel para os pagos que nenhum conhecimento tiveram de Nosso Senhor Jesus Cristo. a doutrina da salvao s pea f, sem as obras, logo se fz acompanhar da doutrina horrorosa e blasfema de que Deus predestina uns para o Cu e outros para o inferno, a qual j estava contida claramente nas obras de Lutero e foi abertamente ensinada por Calvino. Por mais que repugne a alguns modernos protestantes esta monstruosa teoria, no h como fugir a ela, na hiptese de que s a f e nunca as obras do indivduo que podem influir na salvao. aqutes a, quem no chega a luz da revelao ficam assim numa situao irremedive. No entanto, nada mais contrrio ao ensino da Bblia, segundo a qual Deus infinitamente bom e quer salvar a todos. E muito de admirar que os protestantes vejam perigo (de favorecer ao orguho e presuno) na teoria de que o homem se sava praticando boas obras - j veremos (n., BZ; 185 e 186) at onde existe ste perigo na doutrina eatliea - e no vejam perigo nenhum em ensinar-se ao povo que pela f le i est salvo e que as boas obras no influem nem direta nem indiretamente ria salvao da nossa alma... ESTRANHO REMDIO PARA OS MALBS DO MUNDO. 7. Quem quiser ouvir ensinamentos que aberram contra tda gica e bom senso, s prestar bem sentido doutrina da salvao, doutrina do Evangelho ta qual vem sendo apresentada pelos protestantes. Ns sabemos que o mundo sempre foi perverso e corrompido, e especialmente nos dias de hoje. fsto decorre da decadncia da nossa natareza humana, fortemente inclinada para o mal. O homem tem que lutar contra suas paixes: h de venc-las pelo sacrifcio, pela mortificao e pela renncia ou h de sucumbir a eas. abrace qual religio abraar, esta luta continuar sempre. Mesmo que se eleve mais alta santidade, est sujeito a cair, pois continua sempre livre e sempre inclinado parQ o mal. claro que a doutrina do Evangelho uma doutrina santificadora, que estimula o homem a dominar-se, a cantar vitria sbre si mesmo, sbre seus instintos, que o eleva prtica da virtude, a qual muitas e muitas vzes requer herosmo. Eta se apresentar, assim, como um incentivo para o bem, a contrapor-se malfica influncia do mundo que, pso no m,aligno (1.e Joo v-19), arrasta o homem para o mal, com suas mximas funestas, seus escndalos e seus maus exempios. Mas qual a doutrina que traz o Protestantismo para o mundo corruto de hoje?

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Dizem os protestantes: H quem ensine que a salvao se acana: praticando boas obras; fazendo penitncias; fazendo sacrifcios e renncias: tezando; recebendo sacramentos ete, etc. Nada disto ! A salvao se alcana simplesmente pela f em Jesus. E em que consiste a f em Jesus, segundo a doutrina protestante? a Consiste apenas nisto: em ADrraR Cnrsro coMo Nossowrco E suFrCIENTE SALVADOR. COMO NOSSO SALVADOR PESSOAL.

Se o pecador se arrepende de seus pecados e aceita a Cristo eomo seu Sar'ador, est salvo e, segundo ensina um grande nmero de seitas protestantes, est savo para sempre, no pode perder-se jamais, rn panl o'cu cou roe cERTEZA. A salvao he dada de graa. Basta estender a mo para receb-Ia. No prmio de virtudes, nem de boas obras, nem de prtica da Religio, nem da observncia da lei de Deus. E quando se objeta que esta salvao assim dada "de graa" est batata demais, os protestantes respondem que uma loucura recusar-se uma eoisa, s porque dada de graa: a luz do sol e o ar que respiramos tambm nos so dados gratuitamente e ningum os vai reeusar por isto... ste o Evangelho que vai regenerar e santificar o homem, segundo o ensino protestante! No se fala na necessidade da mortificao, do sacrifcio para ganhar o Cu; barateia-se a salvao para que ela fique ao alcance de todos. ONDE EST O DESMANTLO. lu.uroe.rteque existe neste sistema uma bruta fal8. Ora, percebe-se sificao da doutrina do Evangeho. Enquanto o Protestantismo ensina que o remdio para os males do mundo, a salvao do homem est na r ulr Jnsus, tudo vai muito bem. Porque a Humanique realmente sEGUTNDo DourRrNA a eun Jnsus ENSTNo, dade encontra o bom caminho e o homem se salva. Todo o mal do homem est em no crer em Jesus, ou em crer, mas no viver de acrdo com a sua crena, o que seria uma f morta, uma f contradita, negada e desmoralizada pelas obras. Mas, quando o Protestantismo nos vem dizer que a f em Jesus conern aceitar a Cristo como nosso Savador, a que siste ExcLUsrvaMENrE est a" completa e escandalosa adulterao do Evangelho. Esta noo de f mera inveno de Lutero; procura-se assim misturar a verdade evanglica com o rro luterano. No h 'dvida que, se o Evangelho nos diz que o homem se salva orr cRENDo Cnrsro, compete ao prprio Evangelho dizer-nos nsra nrem que consiste. isto o que vamos examinar minuciosamente com a Bblia na mo, daqui a pouco (captulo 4.o). Mas se os protestantes dizem s admitir aquilo que est na Bblia, que parte da Bblia les viram que esta f em Cristo, esta f que nos em

LUCIO NVARRU

salva, consiste srrENrEeln aceitar a Cristo como Salvador? euem autotizoa os protestantes a andar preganclo pelo mundo esta aceitao cle Cristo, to mesquinha, to parcial e to incompleta? por que motivo haYemos de aceitar a Cristo como nosso Salvador e no havemos de aceit-Lo tambm corlo nosso LEcrsLADoR, nos imps uma lei, a qlal terernos que de observar, se quisermos acanar a salr-ao? Por que motivo no havemos de aceitar a Cristo como o I{ESTRE, nos ensinou una DourRrN. que um conjunto de vDRDADEs, estamos obrigados a aceitar, porque ne que Deus e Deus no pode errar? Por que motiyo no havemos de aceitar a Cristo como FUNDADoR ur(A fcnp,ra que le deixou aqui na terra, inDE separvemente unida a te que a cabea clo corgto cta Igreja (Colossenses I-18) ? No falam tanto os protestantes na atleso a Nosso Senhor Jesus cristo? E como que acham que vo para o cu aqules que vem em Cristo urn Sa1r.'ador nada mais? e acErTAo TNTEGRALDE CRTSTO. 9. Se aceitamos a Cristo exclusivamente como Sah,ador, se tapamos a sua bca quando le nos vai doutrinar, se no Lhe damos outro direito seno o de estender os braos sbre a crvz e morrer por ns, ento fci lanarmos mo do Evangeiho e fazermos a savao do tamanho que a quisermos; mas se aceitamos a Cristo integralmente, se O deixamos faar colxo nosso Legislador, cotno nosso Mestre, como fundador da sua e nossa rgreja, logo chegaremos concluso de que para a sah'ao: necessria a observncia dos mandamentos: Se ttc queres etttra,r na atda, GUARDA MANDAMENTos os (Llateus XIX-12); so necessrias as boas obras, como se deduz claramente cla descriCo do juzo final (Mateus XXV-81 a 46): de grande importncia a penitncia: ai d,e ti, coroaaint; ai cle t, Betsaida; qu,e se en't,Tiro e si,d,niase tiuessetn,obrad,o as ma,raailhas que se obraront enr s, lt"tmuito tenrpo que elas teram feito rnNrrNcre, coBRrNDo-sE crr,cro E DE crNz^. Por isso haaerti, sem cltcaiclano d,ia de DE jupo p&ra Tiro e sidni.a nxenosr.igor que para."*ds (Lucas X-18 e 14); preciso fazet sacrifcios e renncjas: ,Se o teu ttto te escand,a,liaa, r,AN-o roRA; mellrcr te e entrar no reino cle Deus senl unl llto clo que, ten'do dons, ser lana,dotto fogo clo inferno (Marcos IX-46). ,Se algrtnt, quer air aps de tnim, NDcuE-sE sr r\rESMo, ToMEA suA cRUzcADA a D Drr\ siga-m,e (Lucas IX-23); preciso orar para se obter a graa, pois sem a graa no se pocle praticar a virtude: Importa orar scnl,pre e n,o cessar cle o aeer (Lucas f xvrrr-1). vigia e orei, pa,ra qLce ndo entreis enl tentao (nafuus XXVr-41) ; preciso receber os sacramentos: Quem, no renascer cla ae, clo e Esprto santo ncio pocte entrar no reino d,e Deus (Joo rrr-5). se n,o com,erdes ca,rne do Filho do Honrcnt e beberileso sexc sangne, wo rERErs YrDA EM vs (Joo VI-54). Aos que us percloard,es Ttecaclos, os ser-llres-Co l,esperdoados, e aos que as os retiaercles,ser-lhes-,o les retclos (Joo

xx-23);

LEGTI}A

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preciso obedecer lgreja: Tudo o que .lgares s6bre a terca serd, ligado tambnv nos Cus, e ttcdo o que desatares sbre o terra sert desatado tambm,nos Cus (Mateus XVI-19), disse Jesus a Pedro, pedra da lgreja. E se n,o ouuir a, Igreja, tent-no por unv gentio ou unL gtublicano (Mateus

xvrrr-17).

E veremos que, em vez desta salvao baratssima, le nos prega uma salvao rdua e penosa: Larga a porta e espaosoo cantinho que guia, para a perd,io e ntuitos sd,o os que entrant ytor ela. euo Dsrnnrra e poRTAa eun apERTADo cAMrNHo eun curA rARA a vrDA e que poucos sd,o o os que d,cert,am, com le! (l[ateus YII-13 e 14). Por que motivo ento havemos de aceitar a Cristo como Aqule que nos d a salvao e no havemos de aceit-Lo como Aqule que tem o direito de nos impor, de nos indicar as condies em que esta salvao obtida? Reduzindo a f que salva simples aceitao de Cristo como Salvador e ao mesmo tempo dando a cada um o direito de interpretar a Bblia como bem entende, o Protestantismo abre o Cu de par em par a todos os hereges. Isto de doutrina, de ensinamentos de Cristo passa a ter muito pouca importncia, cada um os aceita como acha mais conveniente; o que vae smente para a vida eterna aceitar a Cristo coMoSALVADOR.

Como veremos mais adiante (ns. 225 a 243): h, entre os protestantes, uns qne negam a SS-4. Trindade e outros que a admitem; uns que dizem que Jesus Cristo Deus, e outros, que um simpes h om em : uns que crem na existncia do inferno e outros que a rejeitam; uns que admitem a imortalidade da alma e outros que a negam; uns que erem que Jesus est realmente presente na Eucaristia e outros que dizem que a Eucaristia no mais do que po e vinho; uns que batizam e outros que no batizam etc, etc. Todos stes entram de roldo no Cu. Pois a pergunta de ordem smente esta: Aceitais a Cristo como vosso unico e Suficiente Salvador, como vosso Salvador Pessoal? Aceitamos - respondem todos. Pois ento, todos estais salvos. No se podia inventar uma doutrina que fsse mais a gsto para contentar a todos os hereges. Alm disto (e a questo agora com aqules inmeros protestantes j que acham que aqule que ACErrouA Cnrsro coro sALvADoR no se pode perder mais) perguntamos: IJm homem se arrependeu de seus pecados e aceitou a Cristo como Salvador. De agora por diante, que homem vai ser le? O mesmo homem combatido pelas paixes prprias e pelas tentaes do inimigo, livre para pecar ou deixar de pecar - ou um homem impecrrel? Cada um olhe sinceramente para si e veja se se tornou impecr'el, depois que aceitou a Cristo como Salvador... Se ste homem depois peca, engolfa-se no pecado, no se arrepende mais, no quer mais emendar-se,como pode ter jfl neste mundo a salvao garantida? A savao dada por Cristo ser uma licena ampla para cada um fazer o que bem he apraz e ir para o Cu de qualquer jeito?

24

f,cro

NAvARRo

Ou, por acaso, esto os protestantes eonfiados em que aqule que pecava quando tinha mdo da condenao eterna, agora espontneamente, rxrar,vsr,MpNrE vai deixar de pecar, depois que se considera j com a salvao garantida? Isto seria ser ingnuo demais e no ter nenhum conhecimento do que a nossa natureza humana.A BBLIA MAL COMPREENDIDA.

10. Ser possvel que o Evangelho nos ensine esta doutrina to ilgiea de que'as boas obras, o nosso modo de proceder no infuem na salvao da nossa alma? claro que no. Se os protestantes vivem a ensinar isto e julgam ver nas pginas da Sagrada Escritura uma doutrina to estranha, porque les No ENIENonu certas passagens da Bblia. Esta que a verdade. E no fiquem de cara amuada os protestantes, no se mostrem ofendidos eonosco, pelo fato de dizermos que les no entendem certos yersculos da Bblia. A Bblia tem de fato muitas coisas orrcnrs DDENTENDEB, ela prpria quem o diz, falando a respeito das epstolas de S. Paulo, rzns quas }I aLcuMAs cousAs orrcnrs DE ENTENDaR, quais ADULTERA os os i,ndoutos e i,nconstq,ntes, coMo ralrnu As ourals EscnrruRAs, pa,ra runa cle s m,esmos (2.n Pedro III-16). E ver o leitor que iustamente nas epstolas de S. Pauo, cot especialidade, Q os protestantes se atrapalham e se confundem, quer.enclo ver a uma teoria sbre a salvao que o prprio Paulo nunca ensinou. {o h nenhuma desonra em no entender a Bblia, que tem como Autor a Deus, cuja inteligncia infinita. Desonra e crime hii, sim. em no entend-la e ao mesmo tempo meter-se a doutrinador cesastrado, apresentando uns textos e desprezando outros, basfemando daquio que ignora e incutindo no povo uma doutrina que no passa de nma caricatura da legtima doutrina do Evangeho. Deus nos podia ter deixado uma Bblia sempre clara e fci de entender. Por que quis que ela fsse to obscura e to difcil ern certos pontos? X'oi para que ningum se arvorasse em forjador de cloutrinas, quando Deus deixou tambm aqui na terra a sua Igreja encarregacla de ensina.r a doutrina da verdade. natural, portanto, que procuremos, primeiro que tudo, conhecer, em suas linhas gerais, a doutrina da rgreja sbre a salvao. Depois veremos como foi que surgiu no sculo XVI a teoria cla savao pela f sem as obras. E ser interessante yer como foi urn homem que procurou arrancar do Evangelho uma doutrina Murro cuooa, de acrdo com os seus intersses pessoais; e depois muitos outros ficaram viciados nesta histria de savao baratssima. n'inalmente analisaremos os textos apresentados peos protestantes, com os quais pretendem provar a sua tese de salvao pela f sem as obras e Yeremos como todos les se baseiam numa interpretao errnea, seja porque no tomam a n no mesmo sentido em que a tomam as Escrituras, seia porque no percebem o verdadeiro mecanismo da saivao, no qual a graa de Deus exerce um papel muito importante, sem excluir, no entanto, a necessria cooperao humana.

Caprur,o Sncuxno DOUTRI{A CATLICA SOBRE A SALVACO1.A-

A PARTE REALIZADA

PON./,ESUS CRISTO

A VISO

BEATFICA.

11. Quando f)eus eriou Ado e Eva, destinou-os a irem para o Cu, depois de viverem algum tempo aqui na terra. Dizendo - ir para o Cu entendemos: ir gozar da felicidade de Deus, vendo-O face a face. o que se chama vrso rnarnrca: l/ds agor aenlos a, Deus como por unx esXtelho,em eni,gma,s;nlas ento F,acEa FAcE. Agora conheo-O em parte, mas entd,o he de conhec-Locomo eu nLesrno sou tambnt dle conhecido (1.u Corntios XIII-12). Ora, esta viso beatfica est acima das fras da nossa natureza. Nossa alma no pode ver a Deus diretamente, mas s poce conhec-Lo como por um espeho, isto , atravs do conhecimento das criaturas. Para usarmos uma comparao: assim como na ordem material a 7uz demasiada cega os nossos olhos e, se nos chegssemosmais perto do sol, no poderamos contempt-lo de maneira alguma (seria preciso, ento, q.ue Deus concedesse aos nossos olhos uma fra especial para isto) assim tambm preciso que Deus eleve a alma a um estado superior sua natureza, e qne lhe d uma fra tda especial ( o que os telogos chamam o r,uME na cr,nra) para que ela possa gozat da glria divina, vendo a Deus diretamente I no Cu. Em outros trmos, foi para um Fnr SoBRENATuRAL Deus destinou que a Humanidade, quando criou o primeiro homem.

A GRAA

SANTIFICANTE.

12. Mas um fim sobrenatural exige tambm meios sobrenaturais. Para chegar glria, na qual o homem vai ser um rrERDETRo Deus, de gozando, quanto possvel, da prpria felicidade divina, preciso que aqui na terra i seja elevado a um estado sobrenatural, que se torne ltm Frr,llo aDorrvo Dn Dnus, pela graa santificante. Por esta graa santificante, ns nos tornamos partci,pa,ntes (Ia natureaa cluna (2.u Pedro I-4). No no sentido de que ficamos iguais a

LcIo

NAVARBO

Deus, mas no sentido de que tomamos uma grande semelhana com le. Costuma-se comparar com a barra de ferro que se mete no fogo; no deixa de continuar a ser ferro, mas torna-se como uma brasa viva pela semelhana com o fogo - ou com o cristal banhado pelos raios co sol, recebendo dste modo o seu briho e espendor. X'oi assim que Deus criou o primeiro homem: sua imagem e semelhana, estado de justia e de santidade.

DONS

GRATUITOS.

13. Alm dste dom sobrenatural da ama, ou seja, a graa santificante, Deus concedeu a Ado e Eva outros dons, como por exempo: a imortaidade do corpo. No haveriam de morrer. Aim disto, no senisto , as suas paixes tiam os movimentos desordenados concupiscncia, da no resistiam, nem se antecipavam yoz da raz"o. E viviam num estado de felicidade, sem dores nem agruras, l no Paraso terrestre. Mas tnto a graa santificante e a destinao viso beatfica, como stes dons de imortaidade do eorpo, imunidade concupiscncia e felicidade terrena eram dons gratuitos. Deus os concedeu ao homem simplesmente porque quis, pois podia t-Io criado para. um fim meramente natural, isto , destinado a ser eternamente feliz. mas feliz sem er a Deus, como pode ser feliz uma pessoa aqui na terra, com o conhecimento indireto do Criador, por intermdio das criaturas; podia ter deixaclo o homem em seu estado natural e entregue s suas prprias fras, sem a graa santificante e fazendo o que pucesse sem o auxlio especial da gra4. Como tambm podia t-lo criado j sujeito morte que o fim natural do nosso fraco e imperfeito organismo e sujeito aos movimentos desenfreados da concupiscncia, que so uma conseqncia tambm das inclinaes do nosso corpo para as coisas sensr'eis e materiais corno e. Mas no! Quis dar-he aqules dons gratuitos, os quais passariam aos descendentes,porm com uma condio, a saber, se Ado obececesse ao preceito divino: Come de todos os frutos das druores do paraso, rn&s nd,o conxas do fruto da draore da cincia do bem e (lo mal; porQUo, en't' qua'lquer dia, que conl,eres dIe, m,orrerds de ntorte (Gnesis II-16 e 17). Cometido o pecado da desobedincia eu, diga-se de passagem, no foi o pecado da carne, como pensam muitos erradamente, pois Ado e va eram legtimos esposos,a quem Deus j havia dito: Crescei e multi'trt'l,ica-aos enche a terca (Gnesis r-28) - ficaram ado e Eva sue jeitos concupiscncia,o que sentiram imeriatamente (pois logo se envergonharam de sua nudez), ficaram sujeitos s dores, s enfermidades e morte e perderam a graa santificante. Seus descendentesnascem nas mesmas condies e a esta priYao da graa santificante em ns que chamamos pEcADo onrcrNArr: nascemos fora da graa. de Deus. I{o que no h nenhuma injustia da parte de Deus com relao a ns, pois somos privados de dons que estavam acima da nossa prpria natureza,

LEGTTIMA INTERPRETAO

DA BBLIA

27

PROMESSA

DO REDENTOR.

14. Naquela hora em que Ado e Eva pecaram, ficou a Humanidade em um estado deplorabilssimo. Ado e Eva estariam peo seu pecado condenados ao inferno. Os seus descendentes,mesmo que observassem em tda a vida os ditames da prpria conscincia e jamais cometessemum pecado mortal, seriam felizes depois da morte, mas de uma felicidade natural, sem ver a Deus, nern ir para o Cu, porque a Ilumanidade, com o pecado de Ado, havia decado do estado sobrenatural, havia perdido o direito viso beatfica. Mas o que era pior que bastaria que um de ns cometesse um s pecado mortal para ser irremedivelmente condenado ao inferno pelo motivo seguinte: O pecado mortal uma ofensa de malcia infinita, pois a ofensa cresce na proporo da dignidade da pessoa ofendida. A ofensa feita a um homem comum um crime comum; feita ao rei, jfl se torna um crime de lesa-majestade; feita a Deus, uma ofensa ilirnitada, pela infinita grandeza de Deus. Ora, o homem, sendo uma criatura limitada, no podia nunca oferecer a Deus uma satisfao suficiente pela , ofensa feita pelo pecado mortal, que um total afastamento de Deus, Infinitamente Perfeito. E no entanto era muito fcil ao homem cair num pecado mortal por causa da concupiscncia desenfreada que apareceu em Ado e em ns, aps o pecado de Ado, a qual no destri o nosso livre arbtrio, mas o deixa muito enfraquecido e inclinado para.o mal. O homem precisa da graa de Deus para observar os preceitos da lei divina impressos no seu corao e, naquele estado de afastamento de Deus em que estaramos pela triste herana recebida de ado, no poderamos receber graa de Deus. a Ilumanidade haveria de cair no inferno aos borbotes. Havia, alm disto, as dores e enfermidades aqui na terra, que foram conseqncia do pecado de Ado. I\{as o estado lamentabilssimo da Humanidade no durou muito tempo. Logo depois da queda de Ado, Deus, compadecido de nossa misria, o procurou e fz imediatamente a promessa do Redentor, nas palavras dirigidas serpente: Eu pore inimipades entre t e a mulher, entre a tua' posteri'dct'de a sua dela. Ela rn prsan caBEA, tu armae e rds tra'ies ao se'u calcanhar (Gnesis III-15). Com esta promessa foi outra vez a Humanidade posta em condies de atingir o fim sobrenatura, podendo novamente receber a graa santificante. tr isto se realizou em virtude dos futuros merecimentos de Cristo, ou seja, na previso de sua morte redentora. Quanto aos outros dons gratuitos, no puderam mais ser readquiridos por ns aqui na terra, mas por outro lado, com o auxlio da graa de Deus as dores, as enfermidades, a morte, as tentaes da concupiscn. cia podiam e podem tornar-se uma fonte riqussima de merecimentos para o homem, pela resignao, pela pacincia e peo herosmo em yencer-se a si mesmo, amparado com a ajuda divina. E assim aquelas vantagens no que diz respeito ao corpo, as quais possuam ado e Eva e possuiriam seus descendentes,se es no houvessem pecado, ns as conseguiremos em grau mais esplndido e elevado, depois da ressurreio da earne, se merecermos a salvao que Deus, na sua infinita misericrdia, quer conceder a cada um de ns.

28

LUCIO

NAVRRO

O NICO

SALVADOR.

f5. Quando chegou a penitude dos tempos (Gatas IV-4) Delts, para restaurar em, Cristo td,as os corrsas (Efsios I-10), enviou o seu prprio n'ilho Unignito, Segunda Pessoa da SS.-* Trindade. E o Verbo se fa carne e habitou entre ns (Joo I-14) e se fz para ns sabed,ori'a iustia e sa,ntifica,o reden'o (1.8 Corntios I-30). e e A salvao obra de Jesus Cristo, que o nico Salvador, o nico nos poder resgatar, porque le que era homem e Deus ao mesmo tema po; homem, para poder sofrer e expiar por ns; Deus, para que seu sofrimento, sua expiao tivessem um valor infinito. E neste sentido que S. Paulo o chama: nico l\[ediador entre Deus e os homens. S h um Medi,ador entre Deus e os homens que Jestcs Cristo honlent, qLte paRAnnonNo roDos (1.* Timteo II-5 e 6). Sbre DE sE DDUo sr MDSMo isto falaremos mais a vagar nos n.os 372 a 374. E disse S. Pedro falando a respeito qo mesmo Nosso Senhor Jesus Cristo: N,o ht salaad,o em, nenltum outro, porque do cu a'batno nenhum, outro nonle loi da(Io aos homens pelo,qual, ns deuamos ser salaos (Atos IV-12). BM QUE SENTTDOMARrA SSMA. CHAMADA CO.RBDENTORA. 16. Quando alguns escritores catlicos chamam a Nfaria SS.-u co-redentora do gnero humano, les empregam ste trmo no no sentido de que os merecimentos de Maria SS.*a pudessem acrescentar alguma coisa aos merecimentos de Jesus Cristo quanto ao resgate do gnero humano: os merecimentos de Cristo eram infinitos, e os de Maria, finitos, como de criatura que ; alm disto, os prprios merecimentos da Virgem j so efeitos dos merecimentos de Jesus. .[em no sentido de que o Messias necessitasse da ajuda de Maria para realizat a sua obra salvadora. O que sses escritores querem significar com tal denominao o papel que DeuS, nos desgnios de sua Providncia, fz conr que llaria SS.*u, embora simples criatura, exercesse na obra da Recleno. Pelo poder divino, Cristo podia ter aparecido neste mundo, como homem feito; mas tendo que mostrar-se em tdas as coisq,s' nossa sent'elluana, euceto o pecad,o(Hebreus IV-15) era preciso, segundoos desgniosde Deus, que nascesse de um ventre materno. Ilma mulher, Eva, se associara ao primeiro homem no pecaclo,oferecendo-lhe o fruto da rvore proibida. Outra mulher, I\faria, foi associada ao novo homem, Jesus Cristo, na obra da salvao, pois foi escolhida por Deus para ser a IIe do Savador. Para isto era preciso, em ateno honra e dignidade do prprio X'ilho, que Deus escolhesseuma mulher pura, imaculada, sem a mnima sombra de pecado, afim de ser o sacrrio onde havia de formar-se o corpo de Jesus Cristo. Deus lhe manda o anjo Gabrel para anunciar-lhe que ela, cheia de graa, havia sido escothda para a grande honra da maternidade divina. E s depois que Maria v resolvido o problema de sua virgindade, que d o consentimento: Es aqu a escr&ao do Senhor,

LEGTIITA INTERPRETA('io

DA BBLIA

faa-se em mi,m, segu,ndo a, tua ytalat;rct (Lueas I-38). E em seguida a ste eonsentimento que o Verbo se faz carne e habita entre ns, tornando-se Maria, nessa hora, a espsa do Esprito Santo: O Esprito Santo descer sbre ti, e a airtude do Alt,ssimo te cobrird, de sua sombra, (Lucas I-35). Se o Verbo se faz carne para nossa salvao, n'faria contribui para isto, pois a carne de Cristo carne de NIaria, o sangue de Cristo sangue de Nlaria, pela ntima unio que h entre o fiho e a me, a mesma unio que h entre o fruto e a rvore que o produz, e por isto the diz S. Isabel, falando cheia do Isprito Santo: Benta s tu entre as mulheres e bento o fru,to clo teu aentre (Lncas I-42). Aqule Menino que ela trouxe no seu ventre purssimo e virginal durante 9 meses, Maria depois O nutrin, O guardou, O educou durante trinta anos e Jesus he foi obediente: E estaua d, obeclincia dles (Lucas II-51). E na erlz, no momento da Redeno, l\{aria que pela ao prgservativa de Deus, graas aos merecimentos de Cristo, jamais teve o mnimo pecado, ai estava sofrendo .juntamente eom Jesus Cristo, fazendo resignada e hericamente o sacrifcio cle seu Ifilho Amantssirno para a redeno do gnero humano. frisando esta atuao que l{aria, embora simples criatura, foi destinada a exercer junto a seu Divino I-ilho, que sses escritores dizem que Maria SS.tu on uu cnnro MoDoco-redentora do gnero humano. Se o trmo est bem ou mal empregado - uma questo cle gramtica e de linguagem. Mas os catlicos nada querem significar atm do que est exposto, quando do a Maria SS.'nao aludido ttulo. o QUE JBSUSMERECBUPOR NS. 17. Jesus Cristo morreu por todos os homens: le a prolticia,o nxas tanr,btttttelos trtelos ,?osSospecados, e n,o smente pelos ??ossos, DE roDo o MUNDo (1.4 Joo II-2). Oferecendo sua vida por ns, no sacrifcio da crliz, Jesus Cristo: 1.4 ofereceu uma reparao ntegra, condigna e perfeita pela ofensa feita a Deus, no s pelo pecado de ado e Eva, mas tambm por todos os pecados,passados,presentes e futuros. Ito do agrado d,o Pa... reconcl,iar por l,e a, si m,esmotd,a,s cousos (Colossenses as r-19 e20). Sendo ns inmigos, fomos reconcIiados com Deus pela morte d,e seu, Filho (Romanos V-10); 2.4 restaurou a Humanidade no seu destino sobrenatural, clando aos homens o direito de receberem a. graa santificante neste munclo, tornando-se fiihos adotivos de Deus para chegarem'a ser herdeiros de Deus no Cu pela viso beatfica. A todos os que O receberatn, cleu le pocler de se faaerem filhos de Deus (Joo r-72) E se sotnos fthos, tambm herdeiros,' herdeiros uerdaderantente de Deus e co-hercleiros de Cristo (Romanos YIII-17); 3.4 mereceu para todos os homens a graa necessria para alcanarem a salvao, de modo que tdas as graas recebidas pelos homens e que dizem respeito sua salvao pror'm da morte redentora cle Cristo. Ns aimos a sua glria,, a sua glria comn d,e Firho unigni,to rlo pai,

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LCIO NAVARRO

crrDro DE cRAae de Derdade.. . E todos ns partcipdmos da sua p\eni,tude e cRAa poR cnaa (Joo I-14 e 16). n'icar mais salientada esta contribuio de Cristo, quando falarmos na influncia e necessidadeda graa de Deus em todos os nossosatos meritrios para o Cu (n.os24 a 30). Esta Redeno, Cristo a realizou abundantssima e generosssimamente. Onde a,bund,ou o yteca,clo, suyterabun(lou a gra, (Romanos V-20). Bastaria uma gta de seu sangue, bastaria um suspiro seu para redimir tda a Humanidade, mas le quis sofrer tdas as dores e tdas as ignomnias por nosso amor. Agora naturalmente ocorrem ao esprito do teitor duas perguntas. A primeira sbre os quE vrvERaM ANTES DE CRTSTO. 18. Passaram-se milhares e milhares de anos, antes de Jesus Cristo vir ao mundo. Aqules que viveram antes de Cristo, como podiam salvar-se, se Cristo ainda no tinha moruido por les? Como j dissemos,'com a simples promessa do Redentor, os homens passaram a receber novamente o dom sobrenatural da graa, na previso dos merecimentos de Jesus Cristo que um dia havia de morrer por todos. o que se , mostra claramente pelas palavras de S. Pedro, no Concio de Jerusalm, em que o Apstoo mostra que seus antepassados foram salvos pela graa de Jesus Cristo: Por que tentas agora a, Deu,s, pondo um jugo sbre as ceraiaes dos disc,pulos,ga nenl, nossospas nem ns ttudenxossuportar? Mas ns cremos que pela gr& do Senhor Jesus (Atos XV-10 e 11). Cri,sto sornos sa,laos,a,ssm conxo r,os reMsru o x,oRAM Deus j distribua a graa a todos pelos futuros merecimentos de Jesus Cristo, assim como (perdoe-sea comparao) um homem que distribusse cheques sacando para o futuro, em vista de uma riqueza que infalvelmente lhe seria oferecida. Esta graa, claro, tambm os gentios a recebiam, pois a ningum Deus torna impossvel a salvao. Os gentios podiam salvar-se crendo em um Deus Remunerador e fazendo o que estivesse ao seu alcance, pela observncia da lei natural impressa em seus coraes; uma vez que no haviam recebido a revelao mosaica. Sim; os homens podiam salvar-se antes de Cristo, e salvar-se em virtude da futura morte do Redentor. Mas da no se segue que entrassem Iogo no Cu, no gzo da viso beatfica; a morte de Cristo ainda no lhes havia aberto as portas do Cu. Depois de purificadas, as almas justas eram felizes sem ver a Deus face a face, num lugar que designado na parboa de Lzaro e o mau rico como o sei,o de Abra,o (Lucas XVI-22) e que ns, catlicos, chamamos o limbo. a ste mesmo lugar que Jesus Cristo aude quando diz ao bom ladro: Hoje serts comi,go no para,so (Lucas XXIII-43), porque o limbo com a presena de Cristo seria um paraso e a alma de Cristo ai desceu (enquanto o corpo aguardava no sepulcro a ressurreio) para anunciar queas almas, que em breve entraria no Cu triunfalmente com tdas elas.

I,EGTIMA

INTERPRETAO

DA BBLIA

31

A PARTE DE DEUS B A NOSSA.

19. A outra pergunta esta: Se Qristo ofereceu uma satisfao condigna e perfeita pelos nossos pecados, ento que nos resta mais fazer? no se segue da que todos estamos salvos e vamos todos para o Cu? Absolutamente no ! Se Cristo viesse morrer por ns neste sentido de que pagou por ns, fz tudo em nosso lugar, no nos resta fazer mais nada e nos salvamos de qualquer maneira, isto seria a licena ampla para todos os crimes, todos os pecados, tdas as perversidades, tdas as misrias. A obra realizad,a por Cristo seria neste caso no uma obra regeneradora, mas o incentivo para a mais desbragada corruo. A salvao de Cristo tem outro sentido. Somos todos pecadores. Todos ns tropeamos em, mwtas couss (Tiago III-2). Mas, por maiores e mais grayes que tenham sido os nossos pecados, no devemos desesperar da salvao, temos a Deus de braos abertos para nos perdoar, contanto que faamos o que da nossa parte para nos pormos novamente no caminho da vida eterna, o que no possvel se no nos voltarmos de todo o corao para Deus. E se le est pronto a nos reabilitar, foi porque a sua ira foi aplacada pela morte eterna para todos os que Lhe de Cristo. Cri,sto o autor d.a sal,aa,,o obeilecem (Hebreus V-9). Cabe, portanto, ao prprio Cristo que no s nos veio abrir a porta do Cu, oferecendo a reparao a Deus, mas tambm mostrar-nos o verdadeiro caminho, ensinar-nos a doutrina da salvao, cabe a le indicar em que condies nos so aplicados os mritos infinitos de sua Paixo, o, em outras palavras, em que condies poderemos salvar-nos e conquistar o Cu. o que veremos agor exponclo

2.e -

I'iOSS CO{TRIBUIO E{TRELAADA COIW A AO DE DEUS

a REGBNERAO DAS CRrANAS PAGS. , 20. Em conseqncia da cupa de Ado, nascemos com o pecado original e, portanto, sem a graa santificante: Assm comn por unx homem entrou o pecado neste mundo e Itelo pecado a, morte, assm passou tambm' (Roo morte a todos os homens por um, homern, no qual, rooos pEcaRAM manos V-Iz). O texto grego traz assim: a mortepassou a todos os homens, pon rsro eun roDos pncaRAM. Mas no se altera o sentido. De qualquer forma se exprime que todos os homens esto sujeitos morte poRerJE roDos pEcaRAM nrr Aoo, em virtude da solidariedade entre Ado, cabea do gnero humano e seus descendentes. As criancinhas, que no cometeram nenhum pecado pessoal, esto tambm suieitas morte, porque pecaram em Ado. Um pouco mais adiante ainda diz o Apstoo: Pelo peoa,dodunt s, i,ncorreram todos os homens na, condenao... pela desobednca dum s homem, fora,m mutos feitos peoadores (Romanos V-18

LUCIO NYARRO

e 19). (3) O texto grego traz os Murros (rror ror,r,r) o que significa a totalidade; por isto a verso da SociedadeBblica do Brasil no hesitou em colocar roDos: pela desobed,ncia unt, s roDos f oram constitttclos d,e pecadores (Romanos V-19). sendo assim, mesmo a criana que no tem o uso da taz.o precisa, para conseguir a viso beatfica, receber a graa santificante pelo Batismo, que produz um verdadeiro renascimento espiritual: {a rerclacle, na aerclade te digo que n,o pode ,er o reino rre Deus sen,oaqu,leque ren(rscer de nouo... Quem n,o rena,scer cla tgu,a e do Esp,rito Santo n,o ltotle entna,r no reno de Deus (Joo III-B e 5). Esta , segundo a prpria norma traada por Cristo, a condio para que se he aplique o benefcio da Recteno. As crianas que morrel sem atingir o uso da razo e sem receber o Batismo, no vo gozar ca viso beatfica, mas no sofrem nenhuma pena pessoal, poilem neslo gozar duma felicidade natura, sem a direta viso de Deus e sem ter idia da felicidade sobrenatural que perderam. Nisto no h injustia, porque a feicidade do Cu est acima de sua natureza e elas no fizeram nenhum ato ivre pelo qual pudessem merec-a, desde que no chegaram a atingir a laz da raz,o. como a vida das crianas muito frgil, a rgreja manda que os pais providenciem para que seus filhos se batizem quanto antes, afim ce que no se prive o Cu de mais um feliz habitante. a JusTrrrcao Dos ADULTOS PAGOS.

21. acontece s vzes, porm, que em virtude cle uma conr-erso, ou por causa do descuido dos pais ou por outra circunstncia quaquer, (3) No haver contradio entre estas paavras de S. Paulo e o dogma da imaculada Conceio de Maria SS.-u, ou scja, de que ela foi eoncebida se o pecado original? Nenhuma. Se Ado e Eva no tivessem pecado, tdas as eriaturas teriam, segundo os desgnios de Deus, a graa santificante pon uM DrRErro DE TJEBANI; seramos descendentes de um homem que se tinha conservado no eevado estado em que Deus o criou. I\{as Ado, antes de gerar, decaiu dste estado. Dizendo que ToDos rEC^l.R}I, ToDos TNCoRRERM N coNonNeo, S. Paulo est mostrando que tda a Ilumanidade sem exceo aguma, rNcLUSrvE Menra ServrssruA, perdeu ste direito de herana. Aeontece, porm, que aquilo a que no temos direito por herana, ns podemos receber por uma lotvA, e assim puderam os homens novamente receber de Deus a graa santificante, em virtude dos merecimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo. que um dia havia de morrer por ns na craz. l\fas Deus senhor absouto das suas ddivas; le no estava proibido de dar a graa santifieante a unra pessoi, mesmo antes que esta pessoa nascesse. Assi.m que S. Joo Batista j foi santificado, j recebeu a graa santificante e se libertou do pecado original antes de seu nascimento: i d,esde o aentre (le sua rne serr chei,o do Dsqtrito Santo (Lucas I-15). Tudo indica que esta regenerao de Joo Batista se deu no prprio momento em que Maria SS.*u visitou a S. fsabel, pois esta diz Santssima Virgem: assim (lue chegou a uoz rla tua saudao os lneus ouuiilos, logo o rnenino d,ew saltos rle praaer no rew uentre (Lucas I-44). Pois bem, Maria SS.-u foi santificada tambm no ventre de sua me, Sant'Ana, porm no prprio instante da sua coneeio, no houve um s instante em que estivesse sujeita ao peeado original; isto aeonteeeu, no em virtude de um direito seu, mas por concesso de um priviIgio espeeial de Deus e em virtude dos futuros merecimentos de .[osso Senhor Jesus Cristo. Jesus foi, portanto, o Salvador, o Redentor para ela, como foi para todos os homens; e a Redeno foi para ela uma Redeno preservativa.

LEGTI}A

INTER,PRETAO DA BBLIA

uma pessoaque j tem o uso da raz,o (e que para ste efeito de recepo dos Sacramentos chamada um aour,ro) que vai receber o Sacramento do Batismo. Para isto, necessrio que a pessoa se disponha pela f nas verdaclesreveladas, tenco um certo conhecimento dos principais mistrios da Religio e que tenha o arrependimento de seus pecados, com o firme propsito de evit-os pela guarda dos mandamentos. ste arrependimento supe, caro, a esperana do Cu que se deseja alcanar e' pelo rnenos, um certo como de amor a. I)eus, a quem no Se deseia ofender. Ern virtuce dos nrerecimentos cla Paixo de Cristo, o batismo recebiclocom estas boas disposiesno s apaga o pecado original, como tam5rn perdoa os pecados pessoais cometidos at aqule mornento. Aos adlltos que ouviram a pregao cla palavra divina no dia de Pentecostes no seu cora,o (Atos II-37) perguntaram o que deviam e conxpungiclos fzer, S. Petlro respondeu: Fape Ttenitttca'e cadd, um de as seiu, bae DE ttpq,cloent, nonxe de Jesus Cristo paRAREMrsso vossosPDCADOS;rece' d,o bereis o d,om, EsQtrito Santo (Atos II-38). A iustificao que se segue ao batismo convenientementerecebido no smente a remisso dos pecados, no sentido de que externamente no nos so mais imputados, fingindo Deus considerar-nos justos, quando continussemos a ser os mesmos lanchados pecadores, como queria Lutero. No; a remisso dos pecados, com a -nossa renovao interior, operada pelo batismo de rege' (Tito III-5); em virtude da imennerao e renouao d,o Esprito Scr,nto filhos de Deus e sa bondade de Deus que quer que ns sejantos ch,ama,dos (1.u Joo III-1) ; ittficaclos ytela sua, graa e torcont, efeito o sejam,os a nados herd,eiros segu,nclo esperana cla atla eterna (Tito III-7). a graa santifieante com os dons do lNsprito Santo: Os ttossos ntembros s,otemytto rto Esprito Santo, qu,e habita em as (1.u Corntios VI-19). DE DE BATTSNTO DESEIO E BATTSNTO SANGUE. pro22. Em vista da necessidadedo Batismo' surge naturalmente o forma alguma a pregao do Evanblema clos adutos que no ouviram de geho e a quem, portanto, no chegou a notcia de que o Batismo era Urigatrio para a salvao. O Batismo pode ento ser supriclo pela caridade perfeita naquees Q, no tendo o conhecimento da Revelao, mostram a Deus o seu amor pela obedincia aos ditames da prpria conscincia. Nessa boa disposio esto cispostos a fazer o que possvel para agradar a Deus e de boa vontade receberiam o Batismo' se dle tivessem conhecimento. Chama-se isto voro rupr,crro Do BArrsMo. a stes que, assim amando a Deus, amam conseqentemente Jesus Cristo' que a Seguncla Pessoa tla SS.-u Trinclaile, potlem tambm receber a graa santificante: Aqute que tent, os nteus ntattclam'entose que os guarcla, SSee o qve nl,e anla,; e .a,quleque nLe Atna serri' arnado de nt'eu Pai, e e,u,o antarei tambem e nr,e mani,festarei a te (Joo XIV-21). rSeA,IgUyt n1,e AryI,A, gUArcl,A,rti a tninluv IlAlAt;rCt,, e nLeU PA O antUrti; e nS

airentos q, te e farem,os nIe nt'orarla (Joo XIV-23). O. outro caso em que o batismo suprido, o daques que antes cle receb-lo, so martirizados por causa da f: O que perder & slt'a aicla (Marcos YIII-35). Todo por &nxor d,e rninr e d,o Eaangelh,o,satad,-ta-d,

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Lcro NAvARRo

aque-le,-pois, que nxe confessar d,iante clos homens, tqmbm en o confessare dia'nte de meu pai que estd; nos cus (l{ateus x-gz). A GUARDA DOS MANDAMENTOS. 23. Voltamos agora ao caso daquele que com boas disposies de f e contrio recebeu o Batismo. o mesmo caso daquele que recebeu o Batismo pouco depois de nascido e agora v chegar o uso da raz.o. eue Ihe necessrio fazer para salvar-se? Conservar a graa santificante recebida no Batismo. Morrendo neste estado de graa, aaoar a salvao. Para conservar a graa santificante, preciso eyitar o pecado morta e, por conseguinte, observar os mandamentos: Se tu queres entrar na uda, guarda os mandamentos (Mateus XIX_12). A Escritura no faz :uma relao completa e minuciosa dos pecaclos mortais e dos veniais. Mas Jesus Cristo fala em alguns pecados que impedem a salvao,como o dio (Mateus VI_15), o escndalodos pequeninos (Marcos IX-41), a falta de caridade para com os necessitados (llateus xxv-41 a 46). E s. paulo, pelo menos, enumera vrios pecados gra\:es: Acaso n'o sa,bei,sque os inquos n,o hd,o d,e possuir o reino d,e Deus? No aos enganeis: ne.nxos forni,cd,ri,os,nena os icllatra,s, nenx os acttitteros, nen1,os efemi,nados, nent, os sod,omitas,nen, os lad,res; ?renLos aaarentos, nenv os que se d,,o bebed,ices, a nent, os mu,ldiaentes,ne(n os roqba'dores h'o de possuir o rei,no de Deus (1.n corntios vr-g e 10). y-se pelo contexto que o Apstolo a se refere a sses pecadores, se no se convertem e se nesse estado deptorve de pecado so colhidos pela morte: E tais haaeis sdo atguns; mas haaeis sid,olaaaclos, h,aaeis sd,osantifica_ dos (1.n Corntis VI-11). Jesus Cristo no foi smente o nosso Redentor, no foi smente o Mestre que nos ensinou a sua doutrina, mas tambm o Legislador que promugou preceitos que tm de ser observados: rd,e, pois, e ensina a td'as as gentes, batiaa,n(Io-as eln nonxe d,o pad,re, e rro Flho, e d,o Esprto Santo; ensi'nq,ndo-as oBsERvAR a rnes as cousAs eun vos rENEro MANDAD9 (Mateus XXYIII-19 e 20). NBCESSIDADE DA GRAA PARA O CUMPRIMENTO DA LEI DIVINA. 24. o homem, para sarvar-se, precisa cumprir com os mandamentos e observar o que Jesus mandou. Mas da no se segue que le possa fazer isto nicamente por suas fras naturais. Quando apareceu pergiq em princpios do scuo v, afirmando que no havia necessidade da graa para alcanar a vida eterna' bastando para isto o tivre arbtrio ou a liberdade do homem, de modo que o homem podia por suas fras naturais vencer as tentaes e observar os mandamentos, servindo a graa apenas para ajuo-to a cumprir com mais facilidade a tei divina, se insurgiram contra a heresia pelagiana os santos Padres da rgreja, tendo frente s. agostinho, que ficou sendo chamado o Doutor da Graa. E o rro de pgio foi formalmente condenado pela Igreja em vrios Conclios particulares e pelos

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Papas s. rnocncio r e S. Zsimo. n'oi ao conhecer a condenao do pelagianismo pelo Papa, que S. agostinho proferiu a clebre frase: Roma locuta, causa finita. Roma falou; acabou-se a questo. Segundo a doutrina da fgreja, no simplesmente mais difcil, impossvel ao homem, sem o auxlio da graa de Cristo, veneer a propria concupiscncia e cumprir a lei divina. L-se em S. Paulo: snto nog nxeu,smembros outra lei, que repugna d, lei, do meu esp,ri,to e que me faa cu'ti'uo nq, lei, do pecado, Iue estd, nos meus membros. rnel,i,z homem, eu,, quent me l,urard, do corpo desta morte? A graa d,eDeu,s por Jesus cristo [osso Senhor (Romanos vrr-23 a 25). o texto grego diz: Graa's q, Deus por Jesus Cri,sto .lfosso Senhor - mas isto no modifica o sentido: do-segraas a Deus pelo auxlio que nos vem de Jesus Cristo, ou seja, de sua graa que e mereceu por ns na crvz. E o mesmo S. Paulo diz ainda aos Efsios; Fortalecei-aos no Senhor e no pod,er d,a su artude. Ret;esti,-aos da ennnaounaDE Dnus f)ara que possais estar frmes contra as ciladas do d,iabo (Efsios VI-10 e 11). Jesus Cristo nos ensinou a dizer no Padre Nosso: Nd,o nos (leires ca,ir (Mateus vr-13). E disse aos Apstolos: vigiai e orai, para em tent,a,o que n'o entres em tenta,o. o esprito na aerdad,eestd pronto, ntas a carne fraca (Mateus xxvr-41). o que nos mostra que para nos livrarmos do pecado, no basta o nosso cuidado, o nosso esfro, a nossa vigilncia; necessrio tambm o auxlio da graa divina que se alcana pela orao.

NECESSIDADE GRAA PARA QUALqUER OBRA MERITRIA. DA 25. H ainda mais: no s necessria a ajuda da graa de Cristo para o cumprimento da lei divina, de modo geral, mas para realizar qualquer obra, por mnima que seja, meritria para a vida eterna. Isto se v claramente pelas palavras do prprio Cristo: Sem mm nd,o pod,es faaer nada (Joo XV-5). A mesma doutrina vemos em S. Paulo: N,o que seianxos capzes de ns nxesm,osde ter algum pensd,mento como d,e ns mesnxos;nxas a nossa,capacidadeaem'd,e Deus (2.n Corntios III-5). NECESSIDADE GRAA PARA A F. DA 26. Para a salvao indispensvel a f. sem f i,mttossuer, agradar a Deus (Hebreus xr-6). E aques a quem chega o conhecimento do Evangelho tm que crer em tudo que direta ou indiretamente se deduz da reveao trazida por Jesus Cristo. uma conseqncia necessria do primeiro mandamento em que se nos prescreve uma plena submisso de tda a nossa alma, de todo o nosso corao, de tda a nossa inte, ligncia a Deus. Mas, embora seja a f um ato livre da vontade, pois o homem pocle crer ou deixar de crer, no podemos ter a f sem a ajucla da graa ce Deus. Jesus Cristo disse, falando aos judeus que no queriam crer nas suas palavras: Ningum, ytode air a nti,n'r,, o Pai que me enaiou n,o o se trouner (Joo VI-44). Hd, alguns (Ie as outros que n,o crem... por

L-CIO

NAVARRO

isso eu aos tenho dto que nngunt,pode ar a tninr, se per meu Pai lhe n,o fr isso conceclido(Joo VI-65 e 66). ' Depois dos pelagianos, apareceram os semipeagianos que, embora admitindo a necessidade da graa para a salvao, afirmavam que o incio da f, ou seja, o piedoso a'feto de boa disposio para crer, que excitado pela pregao do Evangeho, ste prirneiro movimento do homem para a f seria feito s pela iberdade do homem, sem a graa de Deus. Realizado ste ato, Deus entraria com a sua graa. A coutrina dos semipelagianos foi iguarnente condenada pela fgreja, em 529, no 2.e Conclio de Arles, em definio confirmada pelo Papa Bonifcio II. Tambm o incio, o primeiro moviinento de f no corao do homem feito com o auxlio da graa civina, pois a f unt dom de Deus (Efsios II-8). E o mesm