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FAO HIV/AIDS PROGRAMME Prevenir e mitigar o impacto do VIH/SIDA: o papel da FAO

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Prevenir e mitigar o impacto do VIH/SIDA: o papel da FAO

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O PAPEL DA AGRICULTURA NA PREVENÇÃO E NA DIMINUIÇÃO DO IMPACTO DO VIH/SIDA

Em fases anteriores, a epidemia do VIH/SIDA foi predominan-temente um problema urbano, afectando mais homens do que mulheres e aqueles com rendimentos relativamente altos.

Actualmente, a epidemia mudou-se para as zonas rurais, atingindo os menos capacitados para lidar com as suas consequências. Hoje, 95% das pessoas que vivem e morrem com VIH/SIDA estão nos países em desenvolvimento e a maioria são pessoas pobres do mundo rural.

Os impactos do VIH/SIDA nas populações rurais pobres são muitos e inter-relacionados. Os impactos podem ser sentidos, mais drama-ticamente, na já tão enraizada pobreza, insegurança alimentar e má nutrição, redução da força de trabalho e perda do conhecimento essencial que é transmitido de geração para geração. Os impactos são sentidos desproporcionalmente entre as mulheres. A epidemia está a destruir décadas de desenvolvimento económico e social, e a causar a desintegração rural.

Além do mais, as mesmas consequências do VIH/SIDA – pobreza, insegurança alimentar, má nutrição, redução da força de trabalho e perda de conhecimento – contribuem para tornar os pobres rurais mais vulneráveis à infecção pelo VIH/SIDA. Este ciclo devastador tem de ser quebrado e o sector agrícola tem aí um papel crucial a desempenhar.

Estima-se que 42 milhões de pessoas, em todo o mundo, estão infectadas com o vírus VIH. Presumindo que cada caso de VIH/SIDA influencia directamente a vida de outros quatro indivíduos, pelo menos 168 milhões de pessoas são, provavelmente, afectadas directamente pela epidemia.

Apesar de mais de 80% das pessoas dos países mais afectados dependerem da agricultura para a sua subsistência, a maioria das respostas para a epidemia têm vindo do sector da saúde. O sector agrícola não pode continuar a manter a mesma política em comunidades onde um elevado número de adultos morreu, sobrevivendo apenas os idosos e as crianças. Por isso, tem de rever o conteúdo e a distribuição dos seus serviços, assim como o processo de transferência do conhecimento sobre a agricultura.

As soluções eficazes contam com o sector agrícola e a sua capacidade para reduzir a vulnerabilidade das pessoas em contrair a doença. O sector agrícola está numa boa posição para apoiar tanto a prevenção como a diminuição das consequências do VIH/SIDA, além de que tem responsabilidade para com aqueles que dependem da agricultura para a sua sobrevivência.

A FAO reconhece a necessidade urgente de uma acção que dê uma resposta eficaz aos impactos do VIH/SIDA sobre a segurança alimentar e meios de vida rural e está, actualmente, a desenvolver uma estratégia completa contra o VIH/SIDA para o sector agrícola. A FAO, dentro do sistema das NU, tem uma responsabilidade especial relativa-mente ao desenvolvimento rural e à segurança alimentar. O seu principal mandato consiste em aumentar os níveis de nutrição e padrões de vida, melhorar a produtividade agrícola e as condições de vida das populações rurais. O VIH/SIDA tem um impacto severo na segurança alimentar, afectando-a em todas as suas dimensões – disponibilida-de, estabilidade, acesso e utilização. A FAO concentra-se no VIH/SIDA e na prevenção da uma maior propagação da epidemia e na diminuição dos seus efeitos através de uma resposta concertada do sector agrícola. A FAO, desde 1988, tem vindo a estudar o impacto do VIH/SIDA na agricultura, segurança alimentar, nutrição e sistemas agrícolas. Em anos recentes, o papel da FAO no combate à SIDA tornou-se mais crucial devido ao facto de a epidemia ter criado uma falha significativa na capacidade institucional nos países afectados, especialmente em relação a organizações de trabalhadores do sector agrícola e serviços, organizações nacionais de investigação agrícola e instituições de educação superior e formação, assim como instituições formais locais.

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A FAO foi mandatada pelos seus principais corpos de direcção para controlar o impacto do VIH/SIDA na segurança alimentar, assim como para apoiar os países membros no seu esforço para prevenir o agravamento da epidemia e para diminuir o efeito negativo na segurança alimentar e na nutrição. Todos os departamentos técnicos e algumas delegações regionais e sub-regionais estão a desenvolver actividades relevantes nas suas áreas de trabalho. A FAO, no seu trabalho normativo, está a desenvolver uma política integrada para assegurar uma resposta mais eficaz baseada na segurança alimentar. As ideias principais são:

Aumentar a segurança alimentar e a nutrição; Melhorar o trabalho – práticas e tecnologias de poupança; Resolver as vulnerabilidades, necessidades e interesses específicos de cada sexo, necessidades e interesses; Assegurar que o conhecimento agrícola, as práticas e as competências agrícolas sejam preservadas e transmitidas; Construir a capacidade das instituições rurais formais e informais; Influenciar políticas a nível local, nacional e internacional; e Colocar “os olhos” dos serviços nas situações de emergência devidas ao VIH/SIDA.

Os resumos contidos neste kit descrevem algumas das iniciativas apoiadas pela FAO até à data, na sua corrida para dimi-nuir o impacto do VIH/SIDA na segurança alimentar e na pobreza rural. Se não forem controlados, os riscos da epidemia destroem todos os outros esforços defini-dos e conseguidos pelo Desenvolvimento do Milénio e pela Cimeira Mundial da Alimentação, que consistem em diminuir para metade a pobreza e a fome no mundo até 2015.

RECURSOS DE CONSULTA

Programa da FAO sobre VIH/SIDAhttp://www.fao.org/hivaids

Mitigar o impacto do VIH/SIDA na segurança alimentar e na pobreza ruralhttp://www.fao.org/docrep/005/Y8331E/Y8331E00.htm

23ª Conferência Regional para a África - VIH/SIDA e a crise alimentarhttp://www.fao.org/docrep/meeting/007/J1418e.htm

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M uitas actividades das comunidades rurais, nos países em desenvolvimento, são praticamente dependentes do trabalho

manual. É requerida uma significativa quantidade de tempo e energia para limpar e lavrar as terras, ceifar e tratar da produção, ir buscar água e fazer fogueiras para cozinhar, construir e reparar as casas, criar e manter as estruturas de conservação do solo e para reparar as estradas rurais. Neste contexto, doenças tais como a malária e o VIH/SIDA, que têm uma duração prolongada, são debilitadoras e mortais e podem ter um impacto devastador na sustentabilidade dos meios de subsistência para ambos, indivíduos e comunidades. As famílias têm de suportar a perda da mão-de-obra, não apenas do(s) membro(s) infectado(s) mas também dos que cuidam deles. O VIH/SIDA leva também a que as famílias se desfaçam de bens básicos, de outras formas: as famílias vendem ferramentas, utensílios, máquinas agrícolas e animais de carga para conseguirem dinheiro e dar cobertura às despesas médicas e funerárias ou para compensar a perda dos

rendimentos anteriormente ganhos pelo falecido; os animais de carga são abatidos para cumprir com os costumes do funeral; os familiares do falecido podem apropriar-se do património da família, incluindo as terras e bens; a ausência de aptidões apropriadas entre os sobreviventes pode traduzir-se no desuso das ferramentas e equipamento especializado e, consequentemente, no seu mau estado; o acesso aos recursos de assistência convencional proporcionados pelos serviços de extensão e instituições de crédito é, particularmente difícil para os idosos e órfãos pertencentes a famílias sobreviventes chefiadas por mulheres.

Fica, também, comprometida, a inter-relação entre famílias, tais como, a troca de mão-de-obra ou a partilha de animais de carga. Os agricultores mais ricos e as propriedades comerciais vêem frustrada a sua capacidade para contratar trabalhadores para cultivar grandes áreas, devido à escassez de mão-de-obra. Está ultrapassada a capacidade de apoiar os agricultores nas suas formas tradicionais, como assistência temporária nas principais épocas de colheita.

Muitos agricultores respondem à escassez da força/mão-de-obra reduzindo proporcionalmente as suas actividades. Reduzem a área de cultivo e aumentam as limitadas colheitas que requerem menos mão-de-obra. Lutam para manter o andamento relativamente ao calendário sazonal, tendo como resultado atrasos ou actividades incompletas numa estação, levando a efeitos adversos na outra. Há uma queda na segurança alimentar, no estado nutricional e os membros da família ficam profundamente susceptíveis a infecções, tornando-se menos produtivos. As famílias tornam-se extremamente vulneráveis a golpes externos, tais como a escassez de água. Para recuperar e assegurar o modo de subsistência, comprometem, muitas vezes, irreversivelmente, as estratégias que adoptaram em estações anteriores, para satisfazerem necessidades a curto prazo.

O desafio passa, em parte, por identificar e apoiar as oportunidades de ajuda na grande falta de mão-de-obra e permitir aos agricultores suportar melhor o golpe relacionado com a doença e a morte devidas à SIDA. Para minimizar os impactos do VIH/SIDA nas explorações e mão-de-obra agrícola, a FAO está comprometida com um número de objectivos e actividades de acompanhamento, as quais são descritas nas páginas seguintes.

POUPANÇA DE TEMPO E TRABALHO

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CRIAR CONHECIMENTO: O PAPEL CHAVE DA MÃO-DE-OBRA E O PODER DAS EXPLORAÇÕES NOS MEIOS DE SUBSISTÊNCIA BASEADOS NA AGRICULTURA

O Serviço de Engenharia e Tecnologia Agrícola e Alimentar (Agricultural and Food Engineering Technology Service - AGST) da FAO é reconhecido como um ponto central internacional para todos os aspectos de engenharia tecnológica apropriada, incluindo assuntos políticos. Uma das áreas principais de trabalho é o uso eficiente da mão-de-obra e o poder das explorações. Compreender o significado das diferentes opções das explorações (trabalho manual, facilidade de animais de carga e tractores) é essencial, independentemente do tamanho ou tipo da exploração, especialmente, no contexto da crise do VIH/SIDA.

O AGST, com o objectivo de usar o poder limitado das explorações e a mão-de-obra disponível, de forma a preparar a terra mais eficientemente, está a criar a consciencialização de conceitos de exploração que reduzem o tempo requerido para concluir as actividades agrícolas, principalmente em zonas de preparação da terra, controlo da plantação e das ervas daninhas, em combinação com gestão de resíduos de colheitas e rotações adequadas.

REDUZIR O TEMPO E A ENERGIA GASTOS NA PREPARAÇÃO DA TERRA, NA SEMENTEIRA E PLANTAÇÃO E NO SACHAR DAS ERVAS DANINHAS

Ao alterar o método de preparação da terra e o uso apropriado das alfaias e do equipamento, os agricultores são capazes de plantar as suas colheitas em solos não preparados, que devem ser cobertos por resíduos de colheitas ou cobertos por colheitas. A FAO está a sensibilizar e a disponibilizar informação de apoio sobre um número de sistemas e ferramentas para o uso destas técnicas. Os sistemas de força manual incluem os benefícios do uso de enxadas de grande qualidade e de diferentes formas e pesos, plantação em vasos e sementeira directa por lavoura manual. A FAO, nos sistemas de exploração agrícola de motricidade animal, identificou os benefícios do uso eficiente da limitada força animal disponível, assim como ‘Magoye ripper’ (com ou sem acessório de plantio), sementeiras directas sem lavoura e o cilindro compactador. Nos sistemas de tractores, está disponível uma grande variedade de tecnologias, incluindo rippers profundos para melhorar a compactação do solo sem mexer na superfície (arado de profundidade), o vibroflex (para cultivar sem enterrar os resíduos de colheitas) e as sementeiras directas através de resíduos de colheitas em excesso e a cobertura de colheitas.

Sachar as ervas daninhas é a tarefa que mais requer mão-de-obra intensiva para os pequenos agricultores rurais e, normalmente, é realizada à mão, mesmo que os animais para o trabalho estejam

disponíveis. A FAO, com o objectivo de reduzir este peso, que pode ser determinante para a produção final, distribui informação sobre tecnologias e práticas para ajudar a destruir as ervas daninhas. Esta informação inclui:

Usar a lavoura reduzida nos sistemas de produção, o que leva a uma diminuição da muda das ervas daninhas até a uma profundidade e condições de germinação.

Deixar resíduos da colheita nos campos entre as fileiras da plantação para impedir a passagem da luz do sol e prevenir a germinação das sementes das ervas daninhas. Esta medida, melhora a infiltração da água, reduz a perda da humidade e aumenta a capacidade de matéria orgânica do solo.

Colocar uma camada de material vegetal adicional nos campos para destruir o crescimento das ervas daninhas. Isto requer, inicialmente, mão-de-obra adicional, mas os benefícios são obtidos quando o volume das ervas daninhas é reduzido.

Plantar colheitas de leguminosas no intervalo das colheitas (colheitas de cobertura) entre as fileiras da colheita principal a fim de aumentar a cobertura do solo e eliminar as ervas daninhas.

Aplicar um herbicida benevolente (ex: glifosfato) para eliminar as ervas daninhas que surgem antes do plantio. Esta mediada requer formação e conhecimento, assim como pulverizadores adequados.

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O uso de tecnologias avançadas, para um maior proveito, deve ser complementado com medidas agronómicas apropriadas, tais como a introdução da cobertura de colheitas e outros meios para protecção do solo e a rotação de colheitas. O AGST trabalha em conjunto com outras unidades técnicas da FAO e agências externas para desenvolver e divulgar estes conceitos, que, juntos, são conhecidos como a Agricultura de Conservação.

POUPANÇA DE TEMPO E MÃO-DE-OBRA NAS ACTIVIDADES DOMÉSTICAS

M uita da mão-de-obra é fornecida por mulheres, que têm, igualmente, tarefas domésticas diárias, tais como ir buscar água, fazer fogueiras e cozinhar. Estas consomem uma grande quantidade de tempo. As alternativas tecnológicas domésticas incluem:

Fornalhas (a lenha) para poupar energia. Recolha de água no telhado para consumo doméstico. Transportes rurais, incluindo burros e carroças, para transportar bens de e para as propriedades rurais,

especialmente para os grupos vulneráveis. Pequenos moinhos de aldeia.

PERMITIR AOS GRUPOS VULNERÁVEIS O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS PARA REDUZIR O TRABALHO NAS EXPLORAÇÕES AGRÍCOLAS

A introdução de novas tecnologias, utensílios e opções para um maior poder das explorações agrícolas obriga a que os agricultores compreendam e aceitem os benefícios do uso de tais tecnologias. Isto pode ser conseguido através de interacções intensivas de grupo com agricultores motivados, que estão dispostos

a experimentar as tecnologias nos seus campos, partilhar experiências com outros agricultores e dispor de tempo para discutir questões e problemas que podem surgir.

O AGST colabora activamente com outras unidades da FAO para reforçar as metodologias de introdução das novas técnicas e práticas. Muitas destas tecnologias podem ser relevantes para as intervenções de apoio às famílias afectadas e debilitadas por doenças, tal como o VIH/SIDA. Os conceitos que estão a ser actualmente aplicados e defendidos são:

Troca directa de agricultor para agricultor: os agricultores individuais inovadores recebem apoio directo das direcções regionais de extensão e centros de pesquisa na adopção e adaptação das práticas agrícolas que reduzem a mão-de-obra.

Dias de campo dos agricultores: Nos principais períodos durante a estação de colheita, é organizado um dia de campo dos agricultores realizado numa exploração agrícola inovadora. Os agricultores apresentam os seus conceitos para reduzir a mão-de-obra recentemente aplicados demonstrando o seu impacto nas colheitas.

Escolas de campo agrícolas e grupos participativos no desenvolvimento: estes grupos encontram-se semanalmente para aprenderem sobre um tema ou problema específico. São demonstradas as novas práticas, é disponibilizado equipamento para reduzir o trabalho para os grupos e é dada assistência técnica e formação.

A FAO, liderada pelo AGST, está a implementar projectos-piloto na Tanzânia e no Quénia. Estes projectos usam uma abordagem baseada na “troca de conhecimento de agricultor para agricultor”, assim como nos “dias de campo”. Grupos de agricultores participantes organizam-se de forma a experimentar as tecnologias e técnicas que incluem práticas para reduzir o cultivo das terras. Aprendem, também, quais os benefícios do aumento da cobertura vegetal do solo e a introdução de cobertura de colheitas durante o seu ciclo. Todos os temas são introduzidos e discutidos durante as reuniões semanais das escolas de campo agrícolas (farmer field schools) que têm lugar nos campos dos agricultores. São recrutados, pelo projecto, especialistas técnicos dos próprios países e especialistas internacionais. As opções tecnológicas são discutidas e adaptadas às condições locais. Este projecto leva à introdução de ferramentas e utensílios de plantio adequado para a redução da terra cultivada. Ao longo do tempo, é esperado que os pequenos e médios artesãos, fabricantes e o sector de retalho iniciem o fornecimento das ferramentas e utensílios necessários para a conservação da agricultura.

PROJECTOS DE AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO NO QUÉNIA E NA TANZÂNIA

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Adicionalmente à tomada de consciência das novas tecnologias e práticas, os agricultores também as poderão adquirir. A intervenção do Projecto tem de considerar formas e meios apropriados para proporcionar estas tecnologias e utensílios. A FAO está a estudar a possibilidade do uso de cupões para permitir às famílias de poucos recursos, vulneráveis e que sofrem de uma rigorosa escassez de mão-de-obra, o acesso às tecnologias para redução do trabalho. Os agricultores podem organizar-se em grupos para contratação de equipamento de exploração agrícola (farm power hire groups) para aceder a animais, ou até mesmo a meios de mecanização, como por exemplo o uso da força motriz do tractor. Tais grupos irão necessitar de formação, acesso a recursos e instrumentos, assim como a mecanismos para pagamento. Deve ser incentivado o apoio a pequenos empresários do farm power hire que estejam dispostos a tornarem-se empresários de explorações agrícolas fortes.

ADOPÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIAS E PRÁTICAS PARA PRESERVAR O VALOR NUTRICIONAL DOS ALIMENTOS

O AGST desenvolve e divulga tecnologia prática de pequena escala para processar alimentos aceitáveis culturalmente, direccionada para a

produção de alimentos de boa qualidade e com segurança enquanto preservam o seu valor nutricional. Este processo vai passando de pessoa em pessoa através da formação sobre questões relacionadas com a nutrição e campanhas

de sensibilização. O AGST tem elaborado diferentes tipos de manuais sobre tecnologias simples para a preservação dos alimentos, que podem ser facilmente adoptadas para melhorar as dietas das famílias. O AGST está, também, a participar em vários projectos de campo, nos quais mulheres vulneráveis e de poucos recursos recebem formação sobre como preparar receitas locais com recursos agrícolas sub-utilizados.

RECURSOS DE CONSULTA

Programa da FAO sobre VIH/SIDAhttp://www.fao.org/hivaids

Serviço de tecnologia na engenharia agrícola e alimentarhttp://www.fao.org/ag/AGS/home/en/agst.html

Agricultura de conservaçãohttp://www.fao.org/ag/ags/aGSE/main.htm

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À medida que as taxas de VIH/SIDA continuam a aumentar em todo o mundo, a doença exerce um impacto cada vez maior na segurança alimentar e na nutrição. Quando o VIH atinge um agregado familiar e

as pessoas ficam doentes, é imediatamente afectada a capacidade da família para trabalhar, sustentar-se e obter os cuidados necessários. Com a evolução da doença nos indivíduos, vão-se esgotando os recursos das famílias afectadas pelo VIH/SIDA, que se vêem obrigadas a vender bens para pagar alimentos e despesas médicas. É o avanço da subnutrição, da insegurança alimentar e da pobreza.

A insegurança alimentar e a subnutrição constituem preocupações particularmente sérias para os milhões de órfãos da SIDA que, privados de uma

família alargada, não são capazes de produzir alimentos para consumo próprio ou gerar rendimentos, nem agora nem, muito provavelmente, no futuro, uma vez que lhes faltam a educação de base e as aptidões agrícolas. São também mais um fardo para as famílias de acolhimento e os sistemas de apoio comunitários.

A insegurança alimentar e a falta de capacidade para dispensar cuidados no seio do agregado familiar conduzem à subnutrição, o que pode agravar e acelerar o desenvolvimento da SIDA, além da subnutrição causada pela própria doença: as pessoas que vivem com VIH/SIDA têm maiores exigências energéticas, perdem frequentemente o apetite e, muitas delas, têm dificuldade em comer e absorver nutrientes. O vírus também debilita o sistema imunitário, tornando o organismo mais susceptível a outras infecções e doenças. Os fármacos para tratar o VIH e as infecções associadas, quando disponíveis, também podem interferir na nutrição de alguns doentes.

Uma boa nutrição não cura o VIH/SIDA, mas pode suportar o sistema imunitário e, assim, adiar a instalação da doença e ajudar as pessoas infectadas pelo VIH a viverem mais tempo, com mais saúde e vidas mais produtivas.

Com o intuito de promover a segurança alimentar e a nutrição nos agregados familiares afectados pelo VIH/SIDA, a FAO está a empreender as seguintes acções e actividades:

SENSIBILIZAÇÃO, CRIAÇÃO DE COMPROMISSOS POLÍTICOS A ALTO NÍVEL E OBTENÇÃO DE CONSENSOS A FAVOR DA ACTUAÇÃO

Para quebrar o ciclo vicioso de VIH/SIDA, insegurança alimentar e subnutrição, a FAO está a promover a sensibilização dos decisores políticos, dos responsáveis pelo planeamento dos programas e dos especialistas em desenvolvimento, a todos os níveis de articulação entre VIH/SIDA, insegurança alimentar e subnutrição, e a gerar compromissos para, de forma sistemática, integrar:

Considerações e objectivos de VIH/SIDA nos programas e nas políticas existentes sobre segurança alimentar; e

Objectivos e considerações de nutrição e segurança alimentar nas políticas e nos programas sobre VIH/SIDA.

Para o efeito, a FAO produziu uma série de materiais, incluindo “Linhas directivas para a integração de objectivos e considerações sobre VIH/SIDA nos programas de segurança alimentar e meios de subsistência” (“Guidelines for incorporating HIV/AIDS objectives and considerations in food security and livelihoods programmes”) e um documentário sobre o impacto do VIH/SIDA na segurança alimentar, na África Austral: “Semear sementes para combater a Fome“ (“Sowing Seeds of Hunger”). As orientações fornecem informações sobre prevenção de acções que possam fazer aumentar a magnitude da subnutrição e da epidemia de VIH/SIDA e propõem estratégias e instrumentos de salvaguarda destinados aos decisores políticos e responsáveis pelo planeamento dos programas. O filme foi uma co-produção com o Television Trust for the Environment e transmitido na BBC World em mais de 200 países e territórios, em todo o mundo. O documentário também já se encontra disponível e a ser utilizado como instrumento de salvaguarda em seminários e campanhas de sensibilização nacionais e locais, com anúncios previamente transmitidos nas diversas redes de televisão nacionais.

SATISFAÇÃO DAS NECESSIDADES ALIMENTARES E NUTRICIONAIS

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A FAO está a realizar seminários multissectoriais de salvaguarda e planeamento, reunindo depositários e instituições para explorarem os diversos impactos do VIH/SIDA na sociedade e as melhores formas de proteger e promover a saúde e o bem-estar nutricional de todas as pessoas afectadas pelo VIH/SIDA — no presente e no futuro. Especial atenção está a ser prestada também à satisfação das necessidades das pessoas infectadas pelo VIH e daquelas que vivem no seu rasto de destruição. Embora esses seminários se tenham realizado a nível de projecto, por exemplo, na Zâmbia e em Moçambique, serão necessários mais a nível regional, sub-regional, nacional e local.

PRESTAÇÃO DE CUIDADOS NUTRICIONAIS A PESSOAS QUE VIVEM COM VIH/SIDA

Em virtude do impacto benéfico que uma boa nutrição tem na qualidade de vida e na esperança de vida das pessoas que vivem com VIH/SIDA, a FAO empreendeu uma série de programas para melhorar o acesso e o consumo de uma dieta nutricionalmente adequada, em quantidade e qualidade. Enquanto se desenvolvem materiais genéricos, estão em curso programas específicos

em Moçambique e na Zâmbia:

Segurança alimentar da família. Nas zonas rurais, este programa abrange hortas domésticas e comunitárias e outras intervenções agrícolas capazes de produzir a variedade e a quantidade necessárias de alimentos, com uma boa eficiência de custos.

Assistência à alimentação. Dado que, quando se desenvolve uma explosão de SIDA, as famílias ficam frequentemente privadas dos seus recursos produtivos, podem ser necessários bancos alimentares locais e ajuda alimentar externa quando as famílias já não puderem bastar-se às suas necessidades.

Nutrição, educação e comunicação. A adequação dos cuidados e das práticas de alimentação também dependem da informação divulgada através das organizações de cuidados comunitários e domiciliários e dos órgãos de comunicação social, incluindo a rádio rural. A FAO desenvolveu, juntamente com a OMS, um manual intitulado “Viver bem com VIH/SIDA: um manual sobre cuidados nutricionais e apoio às pessoas que vivem com VIH/SIDA” (“Living Well with HIV/AIDS: a manual on nutritional care and support for people living with HIV/AIDS”). O desenvolvimento de programas de comunicação e educação e de formação relacionada é prática corrente nesta região.

Formação: Está a ser dada formação a trabalhadores na área da saúde e outras áreas da comunidade, com o fim de promoverem melhores práticas de prestação de cuidados e alimentação no seio das famílias afectadas pelo VIH. Em colaboração com a OMS, está a ser desenvolvido um guia de formação complementar para prestadores de cuidados comunitários.

Segue-se a subalimentação, enfraquecendo ainda mais a

resistência do corpo à infecção

A infecção pelo VIH faz aumentar a necessidade de nutrientes, mas, ao

mesmo tempo, as infecções oportunistas concorrem para reduzir a ingestão de

nutrientes.

Aumenta a frequência de infecções e acelera o início da

expansão a SIDA.

Podem seguir-se comportamentos que aumentam de forma insustentável o

risco de infecção pelo VIH e a utilização das bases de recursos.

O VIH/SIDA conduz à doença e à morte. Os comportamentos de risco

e as práticas insustentáveis passam indetectados.

Esgotam-se os recursos dos indivíduos infectados e afectados pelo VIH.

AGREGADO FAMILIAR

As instituições enfraquecem pelo absentismo e pela

perda de pessoal.COMUNIDADES E INSTITUIÇÕES

A vulnerabilidade força as pessoas a estratégias de

vida favoráveis à sobrevivência a curto prazo.

A redução de recursos diminui a capacidade das pessoas para enfrentarem a

vulnerabilidade.

Fica reduzido o acesso aos serviços e bens públicos e

privados e, também, a influência pela sua

intervenção.

O resultado é a incapacidade colectiva e individual para

enfrentar o VIH e o seu impacto.

INDIVÍDUO

Tipicamente, o VIH/SIDA começa por atingir os membros mais produtivos dos agregados familiares. Quando estes adoecem, há uma sobrecarga imediata na capacidade da família para trabalhar, sustentar-se e dispensar cuidados. À medida que a doença progride, a família pode ter ainda mais dificuldade em suportar, principalmente quando os recursos se vão esgotando — por exemplo, pode ser necessário vender bens valiosos, como gado e ferramentas, para pagar alimentos e despesas médicas — e a pobreza avançando.

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PROTECÇÃO E APOIO AOS MEIOS DE SUBSISTÊNCIA E SEGURANÇA ALIMENTAR DAS FAMÍLIAS AFECTADAS PELO VIH/SIDA

Os projectos de nutrição e segurança alimentar das famílias, conforme estão implantados em Moçambique e na Zâmbia, proporcionam uma mistura de intervenções que abrange o recurso a ajuda alimentar, quando necessário, para prestar assistência às famílias afectadas pelo VIH/SIDA, incluindo apoio à produção e

diversidade de alimentar, apresentação de abordagens laborais e de poupança de tempo, promoção da geração de rendimentos ou protecção de meios de produção. A mistura de intervenções aplicada depende das carências das famílias. Por exemplo, os agregados familiares dirigidos por órfãos ou idosos necessitam frequentemente de um apoio e uma assistência mais directos; os agregados familiares dirigidos por mulheres podem ter necessidade da garantia de acesso a mais meios de produção; e os agregados familiares de acolhimento de órfãos e dirigidos por homens podem beneficiar de maior acesso a microcrédito e outros contributos para a agricultura.

REFORÇO DO APOIO A MEIOS DE SUBSISTÊNCIA E DOS SISTEMAS DE CUIDADOS COMUNITÁRIOS

Uma vez que os cuidados e o apoio a famílias afectadas pelo VIH/SIDA dependem em grande medida das organizações comunitárias, os projectos da FAO no terreno estão envolvidos no reforço da capacidade organizativa dos sistemas de cuidados comunitários e, onde não existam esses mecanismos, é promovido o

seu estabelecimento. Os projectos no terreno, como o Orfanato de Mansa, na Zâmbia, estão envolvidos no reforço da capacidade física das organizações de cuidados locais (grupos de ajuda mútua e orfanatos nas zonas rurais), para produzir e/ou adquirir alimentos e prestar cuidados e apoio nutricionais. Devido à elevada rotação dos voluntários da comunidade, estão a ser criados programas de formação localmente adaptados sobre cuidados nutricionais e assistência alimentar a pessoas que vivem com VIH/SIDA ou são de outro modo afectados pela epidemia.

GARANTIR O ACESSO DE ÓRFÃOS E OUTRAS CRIANÇAS VULNERÁVEIS À EDUCAÇÃO, DESENVOLVIMENTO DE APTIDÕES DE SOBREVIVÊNCIA E FORMAÇÃO VOCACIONAL, PARA SALVAGUARDAR A SUA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRIÇÃO A LONGO PRAZO

Os órfãos do VIH/SIDA vivem num ciclo vicioso de insegurança alimentar, VIH/SIDA e falta de cuidados e educação, conducente a subnutrição e a elevada mortalidade. Para quebrar este ciclo, são necessários esforços multissectoriais em grande escala. Na África Austral, o problema assume uma escala maciça, sendo de esperar

que, sem políticas e programas adequados e sem esforços globais, nos anos vindouros se assista a crises semelhantes de disseminação noutros países e regiões com elevada prevalência de VIH.Além do trabalho da FAO em curso na Zâmbia e em Moçambique, que inclui apoio a órfãos e outras crianças vulneráveis, a FAO e a UNICEF iniciaram um programa global para prestar assistência a órfãos e crianças afectadas pelo VIH/SIDA, cuja primeira fase decorre no Lesoto e no Malawi. O projecto procura reforçar a capacidade das famílias, organizações comunitárias e instituições relevantes a nível local, distrital e nacional, para se tornarem mais eficientes na protecção e no melhoramento dos meios de subsistência e da segurança alimentar e nutricional dos órfãos e crianças afectadas pelo VIH/SIDA e respectivas famílias e comunidades, a curto e a longo prazos. Serão demonstrados e disponibilizados aos depositários relevantes modelos e métodos a seguir na acção multissectorial de apoio a crianças em idade pré-escolar e escolar afectadas pelo VIH/SIDA, tanto aos indivíduos infectados como às respectivas famílias e comunidades. Numa segunda fase, procurar-se-ão activamente mais recursos para a expansão dessas actividades a outros países e outros distritos.

Um dos objectivos destes projectos é o de aumentar a participação dos órfãos e crianças vulneráveis no ensino básico, o que se poderá conseguir através da alimentação fornecida pela escola e outros programas de incentivos. Alem disso, a educação nutricional será incluída no currículo e na formação dos professores.No entanto, a verdade é que muitos órfãos e crianças vulneráveis não podem frequentar a escola, mesmo onde existem programas de incentivos, e os que frequentam podem não conseguir ir além dos primeiros níveis. É, portanto, essencial criar oportunidades de ensino e formação por vias de educação formais e informais, proporcionando assim aptidões de sobrevivência e educação vocacional a longo prazo, incluindo educação em nutrição, alimentação e agricultura.

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O projecto servirá de fase de arranque de um programa de acção multissectorial para promover a implantação de uma resposta bilateral entre países e agências e com múltiplos doadores à crise emergente que atinge as crianças nos países afectados pela epidemia de VIH/SIDA. As lições que venham a aprender-se com este projecto, em termos de viabilidade, capacidade de replicação e abrangência, serão amplamente disseminadas e utilizadas em defesa de uma acção mais ampla e da mobilização de recursos a todos os níveis. Será elaborada uma proposta de projecto de continuidade para a expansão e replicação das actividades a maior número de distritos e países da África Austral (incluindo a Suazilândia e a Zâmbia) e, também, a outras regiões, numa segunda fase.

RECURSOS DE CONSULTA

Programa da FAO sobre VIH/SIDAhttp://www.fao.org/hivaids

Mitigar o impacto do VIH/SIDA na segurança alimentar e na pobreza ruralhttp://www.fao.org/docrep/005/Y8331E/Y8331E00.htm

VIH/SIDA segurança alimentar e nutriçãohttp://www.fao.org/es/ESN/nutrition/household_hivaids_en.stm

Aprender a viver com VIH/SIDAhttp://www.fao.org/docrep/005/Y4168E/Y4168E00.htm

VIH/SIDA e nutrição, assistir as famílias a e as comunidades a enfrentar o problemahttp://www.fao.org/docrep/X4390t/x4390t04.htm

No município de Mansa, no Norte da Zâmbia, onde é cada vez maior o número de órfãos que lutam pela sobrevivência, os habitantes estão enfrentar o desafio com a ajuda do programa TeleFood da FAO.

Para proporcionar um lar às crianças, a igreja Adventista do Sétimo Dia de Mansa abriu um pequeno orfanato com donativos e apoio de membros da congregação, dos Rotários e do Governo da Zâmbia.

Com as crianças abrigadas debaixo de um tecto, os organizadores do projecto passaram a ocupar-se da satisfação das necessidades alimentares dos órfãos. Desejavam criar uma horta de meio hectare no terreno do orfanato, que seria cultivada pelas próprias crianças sob a vigilância de um horticultor voluntário e qualificado. Assim, as crianças poderiam não só desfrutar de uma dieta saudável, graças aos alimentos que produziam, como também adquirir no processo competências profissionais valiosas.

Um pequeno financiamento do TeleFood deu ao projecto o alento de que precisava. O investimento de operação única serviu para comprar sementes e outros materiais de plantação, utensílios agrícolas, como enxadas, carrinhos de mão e pás, fertilizantes e um sistema de rega simples e de pequena dimensão. Agora, sob o cuidado zeloso das crianças, a horta está a florescer, produzindo couves, beringela, ervilha, pimento, soja, batata-doce e tomate. Graças a um donativo dos Rotários, o orfanato adquiriu também um hectare de terreno numa aldeia próxima, o qual está a ser utilizado para a produção de milho e para abrigar uma capoeira.

“São totalmente auto-suficientes em legumes, milho e aves de criação”, diz Karel Callens, nutricionista da FAO, que foi recentemente colocado em Mansa e conhece o orfanato. “A produção excedentária é bastante para venderem no mercado e investirem na horta os lucros que aí obtêm. O projecto já é praticamente auto-suficiente”. Callens acrescenta que, como as crianças trabalham em conjunto pelo seu sustento, estão a adquirir aptidões de trabalho em equipa e conhecimentos de agricultura – recursos em que podem confiar para se sustentarem para o resto da vida. “É um retorno impressionante para um investimento tão modesto”, observa Callens.

SATISFAÇÃO DAS NECESSIDADE NUTRICIONAIS DOS ÓRFÃOS – HOJE E AMANHÃ

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As desigualdades entre os sexos são um dos factores determinantes responsáveis pela difusão dos impactos

da epidemia de VIH/SIDA. As relações entre os sexos definem a forma como homens, mulheres, rapazes e raparigas são vulneráveis à infecção pelo VIH, a maneira como a SIDA os afecta e os tipos de respostas que são praticáveis nas diferentes comunidades e sociedades. Para lidar com as questões entre os sexos é necessário considerar, de uma forma mais alargada, os contextos social, económico, político e cultural, nos quais as desigualdades têm origem e são mantidas.

Em muitas partes do mundo, as taxas do VIH/SIDA são, actualmente, mais altas entre mulheres jovens do que entre homens jovens. Estas taxas são, em parte, explicadas por factores fisiológicos, segundo os quais as mulheres são mais susceptíveis, mas reflectem, também, a diferença de idade entre parceiros sexuais— com mulheres mais jovens e incapazes de expressar os seus desejos relativamente à sua sexualidade, escolha dos parceiros e capacidade para exigir relações protegidas.

As desigualdades entre os sexos tornam as mulheres mais vulneráveis ao impacto da epidemia de VIH/SIDA. Quando um membro da família fica doente, o trabalho doméstico das mulheres aumenta, dado que são as únicas a proporcionar os cuidados. Os acessos aos recursos produtivos, incluindo a terra, a mão-de-obra, o crédito, a formação e a tecnologia, são fortemente determinados pelo sexo e, frequentemente, são os homens que obtêm a aprovação destes. À medida que os bens da família ficam reduzidos e mais membros adoecem, o acesso das mulheres a escassos recursos é, ainda, mais diminuto, sobretudo depois da morte do marido, em que o acesso aos mesmos não é garantido à viúva, resultando num maior empobrecimento.

Apesar de as desigualdades, numerosas e bem documentas, contribuírem para a vulnerabilidade das mulheres e das jovens, cerca de um terço dos países têm uma lacuna a nível de políticas que possam assegurar às mulheres o acesso igualitário aos recursos produtivos e serviços.

RESOLVER AS DESIGUALDADES ENTRE OS SEXOS

Page 13: Prevenir e mitigar o impacto do VIH/SIDA: o papel da FAO

RESPOSTA DA FAO

A Divisão para a Igualdade entre Homens e Mulheres e da População serve como o ponto central da FAO para os assuntos relacionados com as desigualdades entre os sexos, VIH/SIDA e população. Assim, promove a integração e inclusão das questões relacionadas com o VIH/SIDA e os sexos nas políticas e programas de trabalho para a

agricultura, silvicultura e pesca, desenvolvimento rural e a segurança alimentar, dando especial atenção à necessidade de diminuir os efeitos do VIH/SIDA na produção agrícola e segurança alimentar. Facilita, também, o acompanhamento da FAO à Plataforma de Acção de Pequim para as Mulheres, ao Programa do Cairo para a Acção do Desenvolvimento e População e das Sessões Especiais da NU sobre o VIH/SIDA.

A FAO, para cumprir com os compromissos internacionais, compreender e combater a relação entre o VIH/SIDA, os sexos e a segurança alimentar, desenvolveu acções-chave relacionadas com;

Capacidade para construir e aumentar as aptidões

Recolha de informação, análise e divulgação

Promover o acesso e o controlo dos recursos produtivos

Análise política, apoio e aconselhamento

CAPACIDADE PARA CONSTRUIR E AUMENTAR AS APTIDÕES

A FAO capacita as organizações nacionais de investigação agrícola para conduzirem pesquisas relevantes sobre os impactos do VIH/SIDA nos sistemas de exploração agrícola e meios de subsistência rural, de modo a que os legisladores e estrategistas concebam estratégias que diminuem estes impactos.

O Programa de Análise Socioeconómica segundo o Sexo da (ASEG) FAO fomenta a consciencialização das questões relacionas com os sexos no desenvolvimento rural. O ASEG faculta aos funcionários ferramentas, tendo em conta as desigualdades entre os sexos, e métodos baseados na participação, para planear, implementar, controlar e avaliar projectos. O ASEG pode ser usado para analisar explorações agrícolas e comunidades a nível institucional e político, e dispõe de material de formação concebido para áreas técnicas, tais como irrigação, extensão, gado e ciclo do projecto. O ASEG trabalha com outros serviços técnicos da FAO, assim como com organizações governamentais e da sociedade civil, em todo o mundo.

PROMOÇÃO DA RECOLHA E ANÁLISE DA DESAGREGAÇÃO DE DADOS SEGUNDO O SEXO

A FAO aumentou o seu apoio aos membros do Estado para assistirem à produção e uso da desagregação de dados segundo o sexo (DDG) e estatísticas. A DDG procura melhorar as estatísticas agrícolas através da promoção da inclusão dos dois sexos, factores demográficos e indicadores do progresso do VIH/SIDA nas sondagens e recenseamentos agrícolas. Os Serviços de Desenvolvimento Agrícola, desde 2002, têm vindo a desenvolver metodologias de formação e materiais para ajudar a melhorar as aptidões dos estatísticos, estrategistas e analistas políticos.

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RECOLHA, ANÁLISE E DIVULGAÇÃO DE INFORMAÇÃO

A s estratégias para dar resposta à epidemia de VIH/SIDA requerem uma abordagem integrada e multidisciplinar baseada na evidência credível. A FAO desempenha um papel importante no apoio à capacidade para recolha de dados e criação de um fórum para divulgação.

PROMOVER O ACESSO E O CONTROLO DOS RECURSOS PRODUTIVOS

A FAO está a consciencializar os legisladores sobre a relação entre o VIH/SIDA, os sexos e acesso aos recursos produtivos. À medida que a epidemia de HIV/SIDA atinge as áreas rurais, torna-se vital para os meios de subsistência dos grupos mais vulneráveis, o acesso aos recursos e serviços. A seguir à morte do

marido, as viúvas podem perder o direito à propriedade comum e à herança. Sem estes bens, a pobreza aumenta consideravelmente. Em alguns países foi feita legislação que dá direitos iguais às mulheres relativamente à herança da terra quando o marido morre. Embora este precedente legal seja de grande importância, o cumprimento desta lei em vez das práticas consuetudinárias locais é, igualmente, crucial. Com este objectivo, é necessário apoiar a capacidade dos magistrados locais para que possam negociar este processo sensível.

ACÇÕES DE FORMAÇÃO DO ASEG

O ASEG está a incluir o VIH/SIDA nas suas actividades e iniciou um trabalho para dar uma melhor resposta à epidemia. Foi desenvolvido um guia pelo ASEG intitulado “Agregados familiares e recursos rurais” (“Rural Households and Rural Resources” ) para apoiar a trabalho dos trabalhadores de extensão nas comunidades na aplicação da análise dos sexos, ferramentas e métodos de participação. O guia focaliza-se nas famílias rurais e membros individuais das famílias e as suas oportunidades para gerir os recursos. O VIH/SIDA tornou-se o principal impedimento do melhoramento dos meios de subsistência rural e as questões relativamente ao mesmo têm sido contempladas em todo o documento inclusive na caixa de ferramentas. O guia tem sido desenvolvido e testado em colaboração com os trabalhadores de extensão na Namíbia em 1999 e, posteriormente, na África Austral e Oriental.

Os materiais do ASEG têm sido utilizados para dar assistência e preparar agentes recenseadores a conduzirem sondagens, tendo em conta as desigualdades entre os sexos e sobre famílias participativas, entre as afectadas pelo VIH/SIDA na Zâmbia, Uganda e Namíbia. Na Zâmbia, por exemplo, a FAO deu formação a delegações agrícolas de extensão, desde a Província do Norte, sobre a recolha de dados e a correlação entre o VIH/SIDA, os sexos e meios de subsistência rural. Identificou quais as estratégias apropriadas para manter o meio de subsistência de famílias vulneráveis e afectadas pelo VIH/SIDA.

Foram conduzidas sondagens de campo, sob a orientação do Fundo de Apoio Integrado Norueguês para a Sustentabilidade e Desenvolvimento e o Programa de Segurança Alimentar, (IP) em zonas rurais seleccionadas no Uganda, Namíbia e Zâmbia, que têm sido duramente afectadas pelo VIH/SIDA. As metodologias do ASEG e da DDG foram adaptadas para obter informação sobre o desagregamento de dados segundo o sexo e a idade, sobre o impacto da doença relativamente à força do trabalho, produção agrícola e meios de subsistência rurais como uma base para desenvolver respostas apropriadas no sector da agricultura.

O IP está a divulgar o resultado das pesquisas junto dos legisladores nacionais e internacionais, assim como das comunidades onde os dados foram recolhidos.

ABORDAGEM COLABORATIVA

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PROGRAMA FAO VIH/SIDA

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RECURSOS DE CONSULTA

Programa da FAO sobre VIH/SIDAhttp://www.fao.org/hivaids

Mitigar o impacto do VIH/SIDA na segurança alimentar e na pobreza ruralhttp://www.fao.org/docrep/005/Y8331E/Y8331E00.htm

Género e desenvolvimentohttp://www.fao.org/sd/pe1_en.htm

Apoio integrado para o desenvolvimento sustentável e o programa de segurança alimentar (IP)http://www.fao.org/sd/ip

Programa de Análise Socio Económica e de Género (ASEG)http://www.fao.org/sd/seaga/index_en.htm

Dados desagregados por género para a agricultura e o desenvolvimento rural http://www.fao.org/sd/2002/PE0901a_en.htm

Publicações sobre VIH/SIDA e igualdade de género www.fao.org/hivaids/publications/gender_en.htm

O estudo da FAO/IP na Namíbia mostrou que depois da morte dos seus maridos, 44% das viúvas perdem o gado, 28% dos pequenos animais domésticos e 41% do equipamento agrícola para a família dos maridos. Como resposta, o IP, em colaboração com o Ministério para os Assuntos de Mulheres e Segurança Social das Crianças (Ministry of Women’s Affairs and Child Welfare - MWACW) e o Centro de Assistência Jurídica (Legal Assistance Centre - LAC) está a implementar um projecto-piloto para lidar com a expropriação da terra na Província do Ohangwena. O LAC tem alguns anos de experiência legal na litigação da propriedade e o MWACW está empenhado em impor a Lei para a Igualdade dos Cônjuges (Married Persons Equality Act). Este projecto irá sensibilizar e formar líderes locais e proporcionar formação jurídica básica para os funcionários de apoio na comunidade, sobre o uso apropriado das matérias e direitos das mulheres, órfãos e crianças vulneráveis. Os membros do MWACW irão ter, igualmente, formação jurídica básica. A matéria de formação sobre a expropriação da propriedade foi adaptada e traduzida para as línguas locais. Será realizada uma campanha nacional de defesa sobre como diminuir a expropriação das propriedades antes da conferência nacional em 2004.

PROMOVER O ACESSO DAS MULHERES À TERRA

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A PROMOÇÃO DA AGROBIODIVERSIDADE E A TRANSMISSÃO DE CONHECIMENTO LOCAL

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A agrobiodiversidade abrange os vários recursos biológicos que as sociedades humanas usam para a agricultura, produção

dos alimentos e meios de subsistência. Muitas das populações rurais pobres têm um conhecimento imenso de tais recursos. Juntos, a biodiversidade e o conhecimento local, representam um bem valioso para a segurança alimentar, nutrição, cuidados de saúde, gestão do trabalho e progresso sustentável dos meios de subsistência rural. No entanto, é profundamente negligenciado e, mais recentemente, está a ser severamente minado por crises, tais como a do VIH/SIDA. É crucial abordar este paradoxo para o desenvolvimento rural no contexto da epidemia de VIH/SIDA, que requer respostas inovadoras nas políticas, projectos e práticas.

A morte de mulheres e homens na força da vida é acompanhada pela perda não apenas da sua capacidade de trabalho mas, também, das suas aptidões e base de conhecimento. Muitos morrem antes de terem tido tempo de partilhar o seu conhecimento com os filhos, reduzindo, assim, o número de opções de meios de subsistência para as gerações vindouras. A influência causada pelo VIH/SIDA no capital humano dentro das comunidades

desfaz, consequentemente, os mecanismos consuetudinários de transmissão de conhecimento entre as famílias e as comunidades.

A agrobiodiversidade e o conhecimento local são, ao mesmo tempo, fundamentais para dar meios à comunidade rural para gerir as suas necessidades agrícolas e alimentares e apoiar uma abordagem sustentável e integral aos meios de subsistência. Representam recursos de apoio local capazes de dar respostas às grandes pressões feitas pela necessidade de nutrição, segurança alimentar e agrícola, em virtude da grande epidemia de VIH/SIDA. As famílias com escassez de mão-de-obra e empobrecimento, tais como as afectadas pelo VIH/SIDA, têm uma maior confiança nas suas práticas agrícolas indígenas, as quais estão prontamente disponíveis para combater a situação, são mais baratas e confiáveis.

A FAO está a promover várias actividades para mobilizar a agrobiodiversidade e o conhecimento indígena associado. No contexto da epidemia do HIV/SIDA, estas actividades fomentam as respostas às zonas rurais, relativamente à insegurança alimentar, má nutrição e tensão laboral. Os princípios estratégicos consistem em:

Colheitas tradicionais, negligenciadas e subutilizadas Diversificação agrícola Hortas domésticas Alimentos de plantas silvestres Plantas medicinais Sistemas comunitários de sementes

Ao serem desenvolvidos os princípios da agrobiodiversidade, assim como o conhecimento indígena que com eles estão relacionados, pode-se não apenas capacitar as comunidades rurais para resolver os impactos do VIH/SIDA mas, também, uma série de desafios relacionados com a alimentação, nutrição, agroecologia e meios de subsistência. Estes recursos podem dar opções mais alargadas a cada família para planear a produção agrícola de acordo com as suas condições específicas e necessidades mais urgentes. Em resumo, é uma estratégia tardia para o avanço do desenvolvimento rural e do pequeno agricultor.

Page 17: Prevenir e mitigar o impacto do VIH/SIDA: o papel da FAO

PROMOÇÃO DAS COLHEITAS TRADICIONAIS, NEGLIGENCIADAS E SUBUTILIZADAS

A s colheitas tradicionais, negligenciadas e subutilizadas representam uma riqueza em diversidade de plantas cultivadas que foram, notoriamente, ignoradas pela agenda do desenvolvimento agrícola. A sua negligência deve-se, também, a desigualdades entre os sexos e preconceitos culturais. No entanto, o seu uso constitui um

meio prático para melhorar a agricultura, a segurança alimentar e os meios de subsistência entre os pequenos agricultores, especialmente num contexto de marginalização e vulnerabilidade. Estas culturas são particularmente úteis para combater o impacto do VIH/SIDA, uma vez que podem contribuir para o fortalecimento dos sistemas de segurança alimentar, melhoramento da qualidade nutricional das dietas, desenvolvimento de práticas agrícolas que dêem resposta à escassez de mão-de-obra, aumento da viabilidade económica e ambiental dos sistemas de exploração agrícola e a ampliação das opções para gerar rendimentos.

PROMOVER A DIVERSIFICAÇÃO AGRÍCOLA

A diversificação agrícola representa uma estratégia bastante favorável para as famílias pobres, vulneráveis e afectadas pelo VIH/SIDA. Consiste na diversidade de sistemas e práticas agrícolas. Serve para uma melhor harmonização de diferentes aspectos, tais como agroecológicos alimentação, nutrição, meios de subsistência e igualdades entre os

sexos, que coincidem nos sistemas agrícolas de pequenas explorações. No contexto da epidemia de VIH/SIDA, alarga as opções das famílias relativamente às dietas nutritivas e produção alimentar, aumenta as fontes para gerar rendimentos, apoia a baixa produção agrícola e ajuda as pessoas a combater a escassez de mão-de-obra.

PROMOÇÃO DAS HORTAS DOMÉSTICAS

A s hortas domésticas são espaços agrícolas que, normalmente, contêm grande diversidade de plantas silvestres, incluindo algumas com excelentes propriedades de fornecimento de micronutrientes. Estas são cruciais para as famílias afectadas com SIDA ou com crianças. Podem representar um suplemento quase contínuo de alimentos e

nutrição, servindo outra missão crucial que é a de assegurar a rede de segurança alimentar. Além de que podem contribuir para as estratégias de resposta à diminuição de mão-de-obra, no contexto da epidemia de VIH/SIDA, uma vez que os jardins de casa tendem a gerar rácios de produção/trabalho e nutrição/trabalho favoráveis. Uma vez que se localizam junto das casas, estas hortas podem, adicionalmente, facilitar ambas as responsabilidades das mulheres: domésticas e de produção alimentar.

PROMOÇÃO DE ALIMENTOS DE PLANTAS SILVESTRES

O s alimentos de plantas silvestres são particularmente importantes para a população rural, que vive em ecossistemas áridos ou semi-áridos, onde estas plantas desempenham um papel crucial na segurança alimentar e nutrição, especialmente durante a escassez sazonal de alimentos. São especialmente importantes para as famílias afectadas

pelo VIH/SIDA, nas suas três necessidades principais: (i) proporcionar uma fonte de alimentos versátil e barata; (ii) melhorar as dietas nutritivas; e (iii) combater as limitações de mão-de-obra, uma vez que a sua colheita requer, normalmente, pouco trabalho e pode ser feita por crianças e idosos.

PROMOÇÃO DE PLANTAS MEDICINAIS

A pesar de um grande número de novas drogas, relacionadas com problemas de saúde consequentes do VIH/SIDA, estar em rápida evolução, os pobres de países em vias de desenvolvimento não podem ter acesso às mesmas devido às desigualdades económicas e comerciais. É, portanto, urgente integrar cada meio disponível para resolver

as necessidades de saúde dos pobres das zonas rurais. Com este objectivo, o uso do tratamento à base de ervas e o apoio ao curandeiro tradicional são acções valiosas para dar resposta aos problemas de saúde pública. Para o povo rural com meios económicos limitados, as plantas medicinais representam um recurso de baixo custo e disponível localmente, dando resposta a muitas doenças e a problemas de saúde, relacionados com o VIH/SIDA.

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PROMOÇÃO DOS SISTEMAS COMUNITÁRIOS DE SEMENTES

A “segurança de sementes” significa que os agricultores têm acesso a uma quantidade suficiente de sementes para realizarem as suas práticas agrícolas, tendo em atenção a diversidade dos recursos de sementes de que precisam para gerir as condições agroecológicas, garantindo a segurança alimentar e mantendo os seus hábitos. A

pobreza e marginalização aumentaram a insegurança de sementes, adicionalmente, a epidemia do VIH/SIDA diminui-a devido à escassez financeira e de mão-de-obra, resultando na insegurança alimentar. Construir sistemas comunitários de sementes representa uma estratégia útil para aumentar a segurança das sementes a nível comunitário, proporcionando benefícios tangíveis para as famílias mais vulneráveis e marginalizadas. Estes sistemas comunitários incluem uma série de iniciativas, tais como feiras de sementes rurais, bancos comunitários de sementes, criação de colheitas participativas, produção de sementes e melhoramento das instalações tradicionais de armazenamento. A criação de sistemas de sementes comunitários exige a integração entre sistemas formais e práticas agrícolas de produção, harmonizadas com as acções dos cientistas agrícolas e os planeadores do desenvolvimento rural e agrícola.

As plantas medicinais representam um meio economicamente viável para resolver um conjunto de preocupações relacionadas com o VIH/SIDA, incluindo:

Os tratamentos com ervas curam doenças transmitidas sexualmente, reduzindo, assim, o risco da infecção com o VIH/SIDA;

Os tratamentos com ervas fortalecem o sistema imunitário e mantêm um bem-estar geral e, consequentemente, levam ao atraso da progressão da infecção pelo VIH/SIDA atenuando o impacto das doenças oportunistas;

Os tratamentos com ervas diminuem a perda do apetite, que é um problema frequente dos pacientes com VIH/SIDA, causando um ciclo sucessivo de má nutrição, fraqueza e doença; e

Os tratamentos com ervas resolvem um número de doenças oportunistas e associadas ao VIH/SIDA, tais como infecções respiratórias, estados diarreicos e problemas de pele.

PLANTAS MEDICINAIS E O VIH/SIDA

Ao registar e partilhar o conhecimento indígena e a agrobiodiversidade, os povos rurais irão aumentar a sua capacidade para manter meios de subsistência seguros e minimizar o impacto do VIH/SIDA. A FAO, em Julho de 2003, numa colaboração com o Governo Holandês, iniciou um projecto na Etiópia, Quénia e Zâmbia, intitulado “A agrobiodiversidade e o conhecimento indígena para mitigar o impacto do VIH/SIDA” (“Agrobiodiversity and indigenous knowledge for the mitigation of HIV/AIDS”). O objectivo deste projecto consiste em desenvolver um plano de métodos que permita às comunidades registarem e partilharem conhecimento, com o objectivo de melhorar a sua nutrição, suavizando o volume de trabalho, incrementando o alívio medicinal e assegurando uma maior sustentabilidade dos meios de subsistência. Estes métodos irão ajudar as comunidades e famílias a:

Estabelecer redes de conhecimento comunitário para desenvolver a base do conhecimento local sobre a agrobiodiversidade e a gestão de recursos naturais. Criar alianças com curandeiros tradicionais e outras pessoas rurais importantes para pôr em acção o uso do conhecimento indígena nos meios de subsistência rural. Estabelecer sistemas para registar e reforçar os mecanismos para a transmissão do conhecimento local.

Conservar, multiplicar, melhorar e facilitar a troca de materiais de plantação através de iniciativas, tais como criação participativa de plantas, multiplicação de sementes nas explorações agrícolas, sistema de armazenamento de sementes e feiras de sementes, implementadas a nível comunitário e promovendo a cooperações através das comunidades.

Criar grupos de apoio para as famílias vulneráveis, em particular, aquelas chefiadas por órfãos e viúvas, actuando como uma base para o desenvolvimento das suas aptidões agrícolas, partilhando a informação e aumentando a coesão e a cooperação sociais.

REGISTAR E PARTILHAR O CONHECIMENTO

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PROGRAMA FAO VIH/SIDA

RECURSOS DE CONSULTA

Programa da FAO sobre VIH/SIDAhttp://www.fao.org/hivaids

FAO, GTZ, HRSC, Oxfam, Save the Children, e PNUD. (2003). Mitigar o impacto di VIH/SIDA através do desenvolvimento agrícola e rural (Mitigation of HIV/AIDS impacts through agricultural and rural development ) – Experiências exitosas e acções futuras. Relatório e artigos de uma acção de formação realizada em Pretória (África do Sul), em Maio de 2003. Disponível na Internet, em: http://www.sarpn.org.za

Garí, J.A. (2003). Estratégias de agrobiodiversdade para combater a insegurança alimentar e o impacto do VIH/SIDA na África rural (edição preliminar). SDWP, FAO, Roma, Itália. Disponível na Internet, em: http://www.geocities.com/rural_Africa

Garí, J.A. (2004). “Diversidade das plantas, meios de subsistência rurais sustentáveis e crise da VIH/SIDA” (Plant diversity, sustainable rural livelihoods and the HIV/AIDS crisis) PNUD/FAO; Bangkok, Thailândia (brevemente disponível na Internet) em: http://www.hiv-development.org

O Projecto LINKS representa um esforço regional na África Austral e tem por objectivo aumentar o conhecimento de como homens e mulheres geram a diversidade biológica. Explora a correlação local entre os sistemas de conhecimento, relações e papéis do género, distribuição alimentar, conservação e gestão da agro biodiversidade.

O projecto procura ajudar os planeadores do desenvolvimento a reconhecer que os agricultores têm o conhecimento, práticas e aptidões que são, muitas vezes, francamente valiosas para a sustentabilidade da agricultura e gestão do ecossistema. Este projecto, iniciado em 1998, foi consolidado pelo Governo da Noruega e posto em prática pela FAO em Moçambique, Suazilândia, Tanzânia e Zimbabwe. O projecto LINKS identificou três áreas-chave para as actividades: capacidade de construção e formação; investigação; comunicação e apoio.

Capacidade de construção e formação. Cada actividade de pesquisa a médio prazo inicia-se com uma acção de formação dirigida à equipa, sobre a análise segundo o sexo, métodos de participação e técnicas de comunicação, para assegurar que os investigadores sejam capazes de aplicar as ferramentas necessárias e fornecer dados de pesquisa precisos. Tem sido desenvolvido o ensino por módulos, assim como um manual de formação para os promotores do projecto.

Pesquisa. Ao apoiar as actividades de pesquisa, o LINKS tem explicado e salientado o papel importante do conhecimento local, especialmente no contexto da gestão e conservação da biodiversidade, aumentando a visibilidade da sabedoria dos homens e mulheres rurais. O projecto tem desenvolvido uma estratégia de pesquisa que dá aos investigadores um enquadramento sobre ética e plano de pesquisa, assim como questões importantes que deverão ser colocadas quando explorada a dimensão da pobreza e da desigualdade entre os sexos na gestão dos recursos. As actividades de pesquisa são implementadas pelas equipas multidisciplinares e seguem uma abordagem de pesquisa baseada na acção participativa, através das quais são realizadas reuniões e formações com os aldeãos.

Comunicação e apoio. O LINKS apoia instituições de investigação e ONG’s para desenvolverem relatórios e casos de estudo. Têm sido preparadas lições, vídeos, newsletters e folhetos distribuídos a diferentes grupos-alvo. Investigadores, legisladores e trabalhadores do desenvolvimento têm participado em formações e seminários para a promoção do conhecimento local e da biodiversidade. Pequenas acções de formação têm sido realizadas para explorar temas como direitos dos agricultores e direitos da propriedade intelectual. O LINKS tem organizado, também, visitas às comunidades, em que comunidades rurais, trabalhadores de extensão e investigadores têm a oportunidade de aprender uns com os outros e de trocarem as suas experiências. Acresce que o LINKS identificou as ONG’s e instituições que têm um interesse específico no conhecimento local e está a construir uma plataforma para facilitar formas mais intensivas de troca de experiências.

LINKS – COMPREENDER COMO HOMENS E MULHERES RURAIS USAM E GEREM A DIVERSIDADE BIOLÓGICA

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REFORÇO DAS INSTITUIÇÕES RURAIS

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A epidemia de VIH/SIDA tem um impacto devastador, não apenas na produção agrícola mas, também, na capacidade de as

instituições rurais disporem de serviços adequados. As instituições rurais dividem-se em duas categorias gerais — formais e informais. As instituições formais são baseadas em “regras escritas” e incluem ministérios e departamentos governamentais, empresas do sector privado, sindicatos dos agricultores, cooperativas, ONG’s e outras organizações comunitárias e registadas. As instituições informais são, geralmente, baseadas em regras “não escritas” de interacção cultural, tradição e práticas consuetudinárias. Aqui estão incluídas as instituições tradicionais, tais como, os sistemas familiares, o sistema do parentesco, clãs e chefias.

Em termos gerais, a epidemia de VIH/SIDA atinge negativamente o sistema rural a três níveis:

Enfraquece a capacidade institucional e interrompe a funcionalidade normal das instituições rurais, através da perda de recursos humanos, alguns dos quais podem constituir pontos cruciais do funcionamento efectivo destas instituições;

Altera drasticamente o grupo-alvo das políticas e programas de desenvolvimento rural, uma vez que aumenta a atenção dada às crianças, adolescentes e idosos sobreviventes; e

Empobrece directamente as famílias e comunidades afectadas.

As estratégias para combater a epidemia de VIH/SIDA precisam de ser direccionadas, não apenas para indivíduos ou famílias mas, também, para as organizações da comunidade e instituições. Alguns pontos importantes são: como assegurar que a tecnologia desenvolvida e promovida por instituições de pesquisa agrícola, financiadas por dinheiros públicos, é relevante para a mudança necessária dos produtores rurais e consumidores, à luz da epidemia de VIH/SIDA; como concretizar as mudanças na tecnologia e cultura das organizações; e como realinhar programas e pesquisas com as novas necessidades geradas pela epidemia.

No Malawi, estima-se que pelo menos 16% dos funcionários do Ministério da Agricultura e Irrigação são seropositivos (Topouzis, 1998).

No Quénia, 58% das causas de morte dos funcionários do Ministério da Agricultura foram atribuías à SIDA (IFAD, 2001).

No Uganda, 3 em cada 12 funcionários de uma Direcção Regional de Extensão morreram de SIDA num ano. Em algumas partes do Uganda, o sexto dia da semana de trabalho foi reduzido, como resultado do aumento da mortalidade e morbidade relacionadas com o VIH/SIDA (Topouzis, 1998).

Na Zâmbia, 70% dos trabalhadores de extensão agrícola do programa distrital cuidavam de órfãos (IFAD, 2001).

O IMPACTO DO VIH/SIDA NAS INSTITUIÇÕES RURAIS — ALGUMAS ESTATÍSTICAS

Page 21: Prevenir e mitigar o impacto do VIH/SIDA: o papel da FAO

RESPOSTA DA FAO

A FAO realizou vários estudos de casos e análises a estes impactos para que as partes interessadas tenham um total entendimento do impacto que o VIH/SIDA está a ter nas instituições rurais e das estratégias que precisam de ser desenvolvidas para atenuar estes impactos. A FAO chamou a atenção para o facto de que, a epidemia está a originar

uma crise com proporções sem precedentes entre a população rural. Tem, igualmente, implicações sérias na intervenção de políticas, distribuição de serviços e implementação de programas pelas instituições, que são responsáveis por assegurar vários serviços a estas populações. A análise sublinhou a urgente necessidade de uma resposta das instituições formais e informais aos desafios impostos pela epidemia, modificando a sua abordagem e metodologias, de forma a torná-las mais eficazes na resposta às necessidades da população rural.

Principais pontos que fundamentam a Resposta da FAO

Plano político para a reorientação institucional

Reorientação dos serviços de extensão rural

Adaptação da tecnologia e pesquisa

Reorientação do microcrédito e de esquemas de poupança

Sensibilização das instituições de posse de terra

Reforço do apoio a mecanismos de famílias alargadas e outras instituições informais rurais

PLANO POLÍTICO PARA A REORIENTAÇÃO INSTITUCIONAL

As políticas existentes, programas e objectivos de produção foram concebidos de forma a irem ao encontro dos requerimentos de clientes “anteriores”, e foram baseados na suposição (já não válida) de que as instituições iriam funcionar,

normalmente, na sua máxima capacidade e eficiência, oferecendo recursos humanos adequados, para alcançar realisticamente os objectivos e resultados planeados. Devido à perda de várias categorias de mão-de-obra, muitas instituições de desenvolvimento agrícola e rural perderam a capacidade de realizar os seus programas com os resultados planeados.

Os ministérios e departamentos de planeamento vivem a experiência de atrasos e roturas na política e no planeamento, implementação e distribuição de serviços essenciais aos agricultores e famílias rurais. Sem os serviços necessários apoiados pelas instituições, o desenvolvimento dos sectores agrícola e rural não consegue atingir as taxas de crescimento previstas e os objectivos de produção planeados. Os agricultores são incapazes de produzir alimentos suficientes para o país, assim como para as suas próprias famílias. Isto resulta numa escassez de alimentos séria, perda de rendimentos, mergulhando algumas regiões dos países mais afectados numa pobreza acrescida e insegurança alimentar.

Distrito de Bondo, um dos mais pobres do Quénia, sofre de insegurança alimentar crónica e largamente difundida – a situação é agravada pela prevalência de taxas elevadas do VIH. Em 2002, a FAO, em cooperação com o Ministério da Agricultura, desenvolveu um modelo institucional para orientar a implementação de programas na comunidade, que têm por objectivo aumentar a segurança alimentar, tendo em conta a realidade do VIH/SIDA, como parte de um plano de acção a curto prazo e a nível distrital. Este projecto colocou à disposição do Governo um modelo prático, para assistir a comunidades rurais na resolução de assuntos institucionais relacionados com o VIH/SIDA, alimentação e agricultura. Outras agências bilaterais e da NU têm seguido este processo de perto e espera-se a participação de algumas na implementação do modelo, assim que, as principais medidas institucionais estejam finalizadas.

CRIAR CAPACIDADE INSTITUCIONAL LOCAL PARA DAR RESPOSTA AO VIH/SIDA

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RESPOSTA DAS INSTITUIÇÕES RURAIS AO VIH/SIDA: UMA AVALIAÇÃO À EXPERIÊNCIA DA FAO NA ÁFRICA AUSTRAL

Foi recentemente conduzida uma avaliação da experiência da FAO com as instituições estabelecidas localmente. * A avaliação foi fundada em três razões:

A amplitude do desafio para sustentar os meios de subsistência rural colocado pela pandemia de VIH/SIDA

A necessidade evidente de as instituições estabelecidas localmente darem assistência às famílias e comunidades afectadas e combaterem esta emergência crescente; e

O envolvimento de um número de unidades da FAO no desenvolvimento de estratégias para adequar o seu programa de actividades ao combate do VIH/SIDA.

A FAO já orientou um grande número de incitavas na África do Sul para apoiar famílias e comunidades afectadas pelo VIH/SIDA. Existe agora uma necessidade de implementar estas actividades a um nível mais alargado e muitas das principais recomendações de avaliação proporcionam áreas concretas para o alargamento deste domínio. Estas incluem:

Preparar um mapa das áreas afectadas pelo VIH, indicando o estado que cada uma atingiu; Preparar um dossier para declarar como emergência humanitária de VIH/SIDA sempre que as taxas predominantes do VIH atinjam 15% ou mais;

Planear uma campanha inovadora de informação dirigida para a prevenção da segurança alimentar, cuidados e apoio;

Desenvolver programas para aumentar a capacidade dos líderes locais sobre como promover respostas sustentáveis ao VIH/SIDA, através da inovação institucional;

Apoiar formação profissional para os jovens rurais; Reforçar as competências das escolas de campo agrícolas (farmer field schools) para adoptar a agricultura de conservação como um meio para diminuir o trabalho; e

Apoiar a reforma da distribuição dos serviços de extensão que se focalizam em centros de serviços distritais, onde as pessoas possam conseguir aconselhamento e formação.

Tal como declarado na avaliação, “Os ajustamentos e adaptações que precisam de ser feitos face à pandemia não requerem a procura de novas soluções, antes, requerem uma aplicação mais rigorosa e focalizada das melhores práticas conhecidas. A capacidade para a sua aplicação é, no entanto, muitas vezes inexistente a nível local”.

*A avaliação foi autorizada pelo presidente da Área de Prioridade da FAO para a Acção Interdisciplinar nas Instituições Estabelecidas Localmente para melhorar a Capacidade na obtenção de Meios de Subsistência Rural Sustentáveis.

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A alteração das práticas agronómicas e padrões de cultivo, assim como os diferentes requisitos tecnológicos para uma nova clientela, tais como adolescentes e idosos, estão a colocar desafios à pesquisa de desenvolvimento rural e agrícola. Os programas de pesquisa precisam de resolver as necessidades especiais dos proprietários agrícolas com poucos adultos activos e uma taxa de dependência superior.

REORIENTAÇÃO DO MICROCRÉDITO E DE ESQUEMAS DE POUPANÇA

As crianças e adolescentes têm sérias limitações na obtenção de créditos. São vistos como “menores”, o que reduz a sua responsabilidade moral e legal em termos do pagamento de

empréstimos, uma vez que, não podem ser processados e levados a tribunal. No eventual não cumprimento do pagamento do empréstimo, as instituições de crédito não poderão fazer uso dos requisitos legais para recuperar o valor do empréstimo, tais como acções, execução de hipotecas e expropriação judicial, além de que, sendo menores, implica também que não têm garantia do direito à propriedade, incluindo a posse das terras. Isto significa que não poderão dar as terras como garantia. Por estas razões, as instituições de crédito não poderão conceder empréstimos aos adolescentes, chefes de família.

A viabilidade dos programas de crédito rural está a ser seriamente posta em causa e muitos chefes de família, por serem jovens, mulheres ou idosos, estão em risco. O aumento da mortalidade e morbidade de adultos na força da vida agrava a quantidade de pagamentos de empréstimos não efectuados pelos membros sobreviventes das famílias afectadas pelo VIH/SIDA.O crédito para a produção agrícola pode ser usado para assegurar

assistência médica a parentes doentes, despesas de funeral e alimentação. Isto resulta numa redução do lucro das colheitas e perda dos rendimentos, levando a que as famílias afectadas tenham dificuldade em pagar os empréstimos. Por sua vez, pode levar à venda de alguns bens da família. Em alguns casos as famílias são forçadas a vender bens produtivos para pagar as despesas médicas e funerárias ou os seus bens podem ser-lhes retirados com a morte do chefe de família.

A FAO, em 2001, desenvolveu estudos no Malawi e Zâmbia sob o tema “O impacto do VIH/SIDA nas organizações de extensão de pesquisa e agrícolas e operações de campo em países seleccionados da África subsaariana, com respostas institucionais adequadas” (“The Impact of HIV/AIDS on Research and Agricultural Extension Organizations and Field Operations in Selected Countries of Sub-Saharan Africa, with Appropriate Institutional Response”). Estes estudos sublinham a necessidade de instituições formais e informais darem resposta aos desafios colocados pela epidemia, modificando a sua abordagem e actividades, com o objectivo de as tornar mais adequadas às necessidades da população rural, tendo em conta aspectos, tais como; a idade, o género, a educação escolar e valores culturais.

SUBLINHAR A NECESSIDADE DE NOVAS RESPOSTAS INSTITUCIONAIS

A FAO, desde 2002, tem estado envolvida no apoio a instituições distritais para conseguir pequenos subsídios e Fundos de Desenvolvimento Distrital no Quénia. O Fundo de Desenvolvimento Distrital é, em primeiro lugar, atribuído a organizações comunitárias, para financiar investimentos de produção de pequena dimensão e infra-estruturas, que fazem parte de programas de desenvolvimento comunitário. Um critério importante de elegibilidade para aquisição de subsídios consiste em beneficiar os membros mais pobres da comunidade, incluindo mulheres e famílias afectadas pelo VIH/SIDA. Os subsídios ascendem até ao valor de 1,000 USA por organização comunitária.

PEQUENOS SUBSÍDIOS PARA GRUPOS VULNERÁVEIS

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A FAO tem, também, estado envolvida em estudos sobre o direito das mulheres à terra no Uganda, Lesoto, Quénia e África do Sul. Todos indicam que a expropriação, particularmente entre as viúvas, é elevada. O Serviço de Proprietários de Terras da FAO tem sido bastante activo na observação do proprietário da terra e do sistema legal. As actividades incluem sondagens sobre o VIH/SIDA e assuntos relacionados com a terra, no Quénia. Foi preparado pelo EASSI/FAO um estudo e vídeo sobre o VIH/SIDA e o direito das mulheres à terra no Uganda e estão a ser pensadas actividades de acompanhamento.

ESTUDOS SOBRE O DIREITO DAS MULHERES ÀS TERRAS

SENSIBILIZAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES DE POSSE DE TERRA

D e acordo com a tradição patriarcal e prática do direito consuetudinário, as terras e outros bens, frequentemente, pertencem e

são herdados por parentes adultos masculinos. Isto significa que, em áreas com uma grande incidência de casos de VIH, há uma tendência para as adolescentes e mulheres perderem o seu direito à terra quando o marido, pai ou outro tutor legal morre. Isto pode dar a origem a problemas associados à débil segurança dos proprietários, tais como a falta da garantia requerida para a obtenção de empréstimos junto das instituições de crédito. Em alguns sistemas de nova colonização das terras, as mulheres podem ser desqualificadas em consequência do divórcio ou da morte do marido.

Na Namíbia, o Apoio Integrado da FAO para a Sustentabilidade do Desenvolvimento e Segurança Alimentar (IP) está em colaboração com o Ministério para Assuntos de Mulheres e Segurança Social das Crianças (Ministry of Women’s Affairs and Child Welfare) e o Centro de Assistência Jurídica, para implementar um projecto-piloto que tem por objectivo tratar os problemas relacionados com a expropriação dos bens, na Província do Ohangwena. O centro tem vários anos de experiência em contestações legais relacionadas com a propriedade e o Ministério está empenhado em impor a Lei para a Igualdade dos Cônjuges (Married Persons Equality Act). Este projecto tem vindo a sensibilizar e formar líderes locais e funcionários doa Ministério. Promove a formação básica em assuntos jurídicos para os trabalhadores de apoio na comunidade relativamente ao uso apropriado da legislação sobre os direitos das mulheres, órfãos e crianças vulneráveis. O material de formação sobre a expropriação da propriedade tem sido adaptado e traduzido para as línguas locais. Será lançada uma campanha nacional de defesa sobre como diminuir a expropriação da propriedade antes da conferência sobre Direitos de Propriedade das Mulheres (Property Rights for Women), em Maio de 2004.

Foram realizadas, também, duas conferências regionais:

Relatório da acção de formação da FAO/OXFAM GB sobre os direitos das mulheres à terra na África Austral e Oriental (Pretória, África do Sul, 17-19 de Junho de 2003)

Acção de formação da FAO/SARPN sobre VIH/SIDA e a terra (Pretória, África do Sul, 24-25 de Junho de 2002)

FORMAÇÃO SOBRE O DIREITO DAS MULHERES ÀS TERRAS

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REFORÇO DOS MECANISMOS DE APOIO AOS SISTEMAS FAMILIARES E OUTRAS INSTITUIÇÕES INFORMAIS RURAIS

E m África, as instituições rurais informais têm actuado, tradicionalmente, como redes de salvação na ausência de sistemas nacionais de saúde e de segurança social.

Os sistemas familiares e de parentesco protegem as viúvas, crianças e idosos. A epidemia está a desgastar esta rede de salvação na medida em que as pessoas na idade activa estão a morrer e os idosos têm de sustentar-se a si próprios e a um número de netos dependentes, muitas vezes em situação de extrema pobreza.

Os sistemas familiares e de parentesco cumprem, também, com o papel crucial da adopção de crianças. Para muitos agregados familiares, isto tem gerado pressões consideráveis, uma vez que muitas famílias não podem suportar o peso acrescido de mais uma criança. As implicações para as crianças adoptadas são de grande dimensão: algumas são retiradas da escola, outras fogem, outras, ainda, terminam nas ruas dos centros urbanos. Enquanto houver relatórios sobre a diminuição da complacência dos sistemas familiares em relação aos órfãos adoptados e, apesar do surgimento de crianças chefes de família, são necessários mais dados que sustentem estas queixas. Está confirmado que sistemas familiares e de parentesco estão a encontrar enormes dificuldades para lidar com o peso que lhes é colocado por este mecanismo tradicional de rede de salvação.

As instituições que apoiam os indivíduos e famílias afectadas e atingidas pelo VIH/SIDA irão precisar de material e apoio

financeiro adicional para compensar o desgaste da capacidade e aumento do trabalho das redes familiares devido ao VIH/SIDA. Ao mesmo tempo, estas instituições irão precisar de se concentrarem em actividades eficientes e de baixo custo. Isto pode incluir apoio a rendimentos gerados por grupos de pessoas que vivem com o VIH/SIDA, viúvas e crianças. Os clubes e outros centros sociais para jovens desempenham um papel importante na criação de uma rede social e apoio a jovens.

As Instituições Rurais da FAO e Serviços de Participação têm desenvolvido Linhas directivas para análise de instituições locais (Guidelines for the Analysis of Local Institutions) e estão actualmente a testá-las no Uganda, Camboja e República Dominicana, para um melhor conhecimento de como instituições locais influenciam e apoiam as vidas dos grupos populacionais mais vulneráveis, incluindo os afectados pelo VIH/SIDA. O objectivo desta análise profunda é identificar pontos de abertura para a construção da capacidade organizacional local dos grupos populacionais mais vulneráveis. As actividades são focalizadas em três dimensões:

Avaliar o fundo social e recursos institucionais vulneráveis; Adaptar as metodologias de formação/aprendizagem existentes e ferramentas de apoio a grupos vulneráveis; e Identificar os mecanismos e estratégias para promover o envolvimento de pessoas vulneráveis no quotidiano das actividades de desenvolvimento que apoiam as necessidades do seu modo de subsistência.

DIRECTIVAS PARA ANALISAR INSTITUIÇÕES LOCAIS

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REORIENTAÇÃO DOS SERVIÇOS DE EXTENSÃO RURAL

O s serviços de extensão devem fazer os ajustamentos necessários nas suas estratégias, métodos e materiais existentes, tendo por base o aumento das necessidades da nova clientela emergente, tais como; viúvas, crianças e agricultores idosos. Deve ser dada uma atenção especial à juventude rural, devido à sua potencial

vulnerabilidade em contrair a SIDA. Os trabalhadores de extensão precisam de formação adequada sobre assuntos relacionados com o VIH/SIDA para educarem a população rural com o objectivo de atenuar a propagação da infecção pelo VIH. A informação educacional sobre o VIH/SIDA deve ser incluída nos programas de extensão que estão a decorrer e a sua divulgação apoiada pelos meios de comunicação, especialmente através dos sistemas de rádio da comunidade rural. Os trabalhadores de extensão devem colaborar com os funcionários de instituições relevantes no terreno, tais como saúde e população, e desenvolvimento da comunidade rural. Devem ser desenvolvidos programas de extensão especiais para lidar com famílias rurais afectadas pela epidemia.

ADAPTAÇÃO DA TECNOLOGIA E PESQUISA

A epidemia de VIH não apenas afectou a dimensão das organizações em termos de redução de capacidade devido à perda de funcionários mas criou, também, novos desafios para as organizações a nível institucional, técnico e operacional. São precisas sessões de formação especial, campos de demonstração, materiais educacionais

adequados e medidas para o desenvolvimento da confiança, para melhorar a capacidade de trabalho dos jovens agricultores inexperientes, incluindo um grande número de mulheres. É necessária uma colaboração significativa com as organizações de pesquisa e maquinaria agrícola para desenvolverem alternativas tecnológicas, sistemas de exploração agrícola e maquinaria que requeira força física relativamente inferior, menos trabalho e práticas de cultura diferentes.

Em 1998, a FAO e o PNUD prepararam a seguinte publicação; “As implicações do VIH/SIDA nas políticas e programas do desenvolvimento rural: Focalização na África Subsaariana” (“The Implications of HIV/AIDS for Rural Development Policy and Programming: Focus on Sub-Saharan Africa”). Esta publicação avalia as implicações da epidemia de VIH nas políticas e programas de desenvolvimento rural na África Subsaariana e, em particular; a inter-relação entre o desenvolvimento rural e o VIH/SIDA; as políticas principais e programas para o desafio que a epidemia coloca às instituições rurais. Foi proposta uma estrutura conceptual para identificar as principais políticas e pontos do programa para o desenvolvimento rural. São facultadas directivas para a concepção e conduta de casos estudados a serem concretizados na África do Sul e Oriental.

RESOLVER OS DESAFIOS POLÍTICOS E PROGRAMAS FACE AO VIH/SIDA

O VIH/SIDA deve ser integrado nos conteúdos programáticos da formação, antes e durante o trabalho, dos trabalhadores de extensão. Isto irá facilitar a sua preparação técnica e é de extrema importância no desenvolvimento da confiança. Quando os trabalhadores de extensão são sensíveis e conhecedores do VIH/SIDA e do seu impacto na segurança alimentar, agricultura e meio de subsistência rural, é mais fácil para eles discutir com os seus clientes o impacto da epidemia nas comunidades e nos indivíduos. O Serviço da Comunicação e Educação, Extensão da FAO, publicou “Enfrentar o desafio da epidemia de VIH/SIDA: Serviços de extensão agrícola na África subsaariana” (“Facing the Challenge of an HIV/AIDS Epidemic: Agricultural Extension Services in Subsaharan Africa”) e a brochura “Equipar os serviços de extensão para lutar contra o VIH/SIDA” (“Equipping Extension Services to Fight against HIV/AIDS”), que podem ser usados como guia para reorientar a extensão de serviços agrícolas e rurais no combate ao VIH/SIDA. No Uganda, em colaboração com a FAO, está a ser desenvolvido um guia de estratégias atenuantes pelos Serviços de Aconselhamento Nacional da Agricultura, para ser usado pelos trabalhadores de extensão no terreno. Adicionalmente a Promotora Global da Gestão Integral de Pragas da FAO desenvolveu uma ferramenta chamada “Perguntas e Respostas” sobre o VIH/SIDA. Este facto regista uma facilidade de comunicação e o aumento da tomada de consciência entre os trabalhadores de extensão e os seus clientes.

PREPARAÇÃO DE SERVIÇOS DE EXTENSÃO RURAL PARA AGIR CONTRA A PROPAGANDA DO VIH/SIDA

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PROGRAMA FAO VIH/SIDA

RECURSOS DE CONSULTA

Programa da FAO sobre VIH/SIDAhttp://www.fao.org/hivaids

Mitigar o impacto do VIH/SIDA na segurança alimentar e na pobreza ruralwww.fao.org/docrep/005/Y8331E/Y8331E00.htm

Departamento de Desenvolvimento Sustentável www.fao.org/sd/index_en.htm

Participação: Recursos, instrumentos no terreno e ligações www.fao.org/participation

Implicações do VIH/SIDA nas políticas e programas de desenvolvimento ruralwww.fao.org/sd/wpdirect/wpre0074.htm

Ocupar-se do impacto do VIH/SIDA nos Ministérios de Agriculturawww.fao.org/sd/2003/PE07063_en.htm

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TRANSMISSÃO E PASSAGEM DO CONHECIMENTO ÀS GERAÇÕES FUTURAS

TRANSMISSÃO DO CONHECIMENTO

N as zonas rurais, a epidemia de VIH/SIDA conduziu ao desmoronamento de muitas redes familiares, arrastando consigo os

conhecimentos locais de agroecologia e práticas agrícolas, fundamentais para a sua sobrevivência. A acrescer, a perda de tantas pessoas das gerações produtivas coloca nos sobreviventes o fardo de se confrontarem com a escassez de mão-de-obra e o aumento das responsabilidades familiares, principalmente cuidando de membros da família doentes ou moribundos. Neste processo, perde-se grande parte dos conhecimentos agrícolas locais que poderiam viabilizar a continuidade da família, cujos horizontes vão ficando mais restritos à medida que os seus mecanismos de confrontação de dificuldades ultrapassam os limites da sua capacidade. Sem

desenvolvimento e com tantas restrições, os agricultores tendem a gerir a crise adoptando uma estratégia de subsistência em que não há lugar para preocupações com a prevenção do VIH. No entanto, quando os agricultores sabem que podem ter um futuro — e até moldá-lo — começam a atribuir significado ao investimento no futuro. À medida que a sua visão do mundo evolui e eles desenvolvem estratégias visando o futuro, a prevenção do VIH/SIDA e de outros riscos que ameaçam a sua vida e sobrevivência começam a fazer sentido.

Por isso, é de importância crítica construir capacidade de resistência ao VIH/SIDA entre as gentes das comunidades rurais e agrícolas, para afastar a potencial explosão da epidemia de VIH/SIDA. A construção dessa resistência requer o desenvolvimento de estratégias concebidas para reduzir a vulnerabilidade ao VIH/SIDA. É preciso dar aos agricultores capacidade para se protegerem a si e às suas famílias e comunidades contra a infecção pelo VIH. E essa capacitação é possível apenas através do conhecimento.

ESCOLAS DE CAMPO AGRÍCOLAS

Oconceito de Escola de Campo Agrícola (Farmer Field School ) baseia-se nas experiências do Programa Integrado de Gestão de Pragas, na Ásia, onde foi pela primeira vez introduzido, no início da década de 1980. O princípio subjacente à escola de campo é o de que os agricultores se tornem especialistas no seu campo.

As escolas de campo agrícolas proporcionam uma excelente “escola sem paredes” para aprendizagem, discussão e experimentação de estratégias agrícolas, onde os agricultores podem melhorar a sua segurança alimentar e de sobrevivência, tendo-se revelado um meio eficaz de chegar aos agricultores e aumentar o seu acesso aos conhecimentos e aptidões necessários à produção de colheitas e à gestão de pragas. Actualmente, mais de 50 países têm escolas de campo implantadas, com mais de dois milhões de agricultores formados.

As escolas de campo baseiam-se em práticas de educação comunitárias e sãs, constituindo uma forma eficaz de transmissão de conhecimentos (locais e externos) através da aprendizagem pela prática. Estão organizadas em grupos de 25-30 agricultores da comunidade sob a mediação de um trabalhador que assegura a ligação. Na realidade, a “sala de aula” é um lote de terreno onde os agricultores conduzem os seus estudos sem riscos pessoais, o que lhes permite tomarem decisões de gestão que, de outro modo, não teriam coragem de experimentar nos

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seus campos. Algumas escolas exploram diversas estratégias comunitárias de segurança alimentar, como a criação de lotes de multiplicação, conservação de recursos genéticos das colheitas e partilha dos conhecimentos locais. Além disso, a participação activa das mulheres e a estreita colaboração entre agricultores de ambos os sexos ajuda a sensibilizar os homens e as mulheres para as questões que os separam, como os conhecimentos, as aptidões e as preocupações, e que ali são levantadas e debatidas em situação de igualdade. Na Tanzânia, por exemplo, os agricultores do sexo masculino, em particular os que têm muitos órfãos e crianças em casa, aprenderam a cultivar determinados géneros tradicionalmente cultivados por mulheres, para aumentarem a sua segurança alimentar e gerarem mais rendimentos para as famílias. Além de oferecerem aptidões técnicas, as escolas de campo agrícolas constituem uma excelente forma de organização e fortalecimento dos grupos, proporcionando uma base de sustentação das actividades do grupo.

ESCOLAS DE CAMPO AGRÍCOLAS: DA ECOLOGIA DE CAMPO À ECOLOGIA HUMANA

A s escolas de campo agrícolas, originalmente desenvolvidas pela FAO e pelo PNUD, baseiam-se no ciclo de aprendizagem da escola de campo agrícola e é onde os agricultores examinam os problemas que ameaçam os seus meios de subsistência, avaliam as opções disponíveis e tomam decisões sobre as medidas a tomar. Os

assuntos abordados vão desde a pobreza, perda de terras, uso de pesticidas, planeamento familiar, alcoolismo, violência doméstica e frequência escolar das crianças, até problemas de saúde específicos, como dengue, malária e VIH/SIDA. As escolas fortalecem as comunidades, ensinando os agricultores a analisarem a forma como o seu comportamento os expõe ao VIH/SIDA. Aprendem a cultivar com mais sabedoria e a utilizar as plantas e ervas que os rodeiam para fins alimentares e medicinais, o que pode ter caído no esquecimento com a introdução das sementes e produtos químicos modernos.O processo fundamental é a ligação da ecologia, organização em grupo e aprendizagem centrada no estudante, aplicada àquilo que se chama “Análise de Ecossistema Humano”, em que os grupos de agricultores investigam diversas ameaças às suas vidas e identificam e classificam soluções. As escolas de campo agrícolas procuram desenvolver conhecimentos sobre avaliação de riscos, que os agricultores já possuem através de uma abordagem holística. Na posse de uma perspectiva de longo prazo, os agricultores ficam mais capazes para resolver os problemas e o impacto das suas decisões com o passar do tempo. O objectivo final é ajudá-los a tornarem-se decisores mais eficientes na sua vida pessoal, na vida das suas famílias e na rede da sua comunidade. Trata-se de um processo de capacitação.

Em Novembro de 2003, o PNUD, a FAO e a World Education publicaram um Manual das escolas de campo agrícolas (Farmer Life School), que descreve o curso de 16 semanas destinado a ajudar o sector agrícola, os programas de luta contra a SIDA e as ONG’s a servirem de intermediários nas comunidades agrícolas durante o processo de confrontação das preocupações locais, construção de resistência e redução da sua vulnerabilidade ao VIH/SIDA.

MANUAL DE ESCOLAS DE CAMPO AGRÍCOLAS

As escolas de campo autofinanciadas na África Oriental constituem uma evolução importante do conceito de escola de campo agrícola. O processo foi desenvolvido por grupos de mulheres que participaram em actividades de expansão na zona Oeste do Quénia, no âmbito de um projecto com o apoio da FAO/IFAD. Os lotes de estudo são complementados por “lotes comerciais”, onde o grupo pode cultivar colheitas para vender e gerar fundos. Este método interno de angariação de fundos permite aos grupos recorrerem a empréstimos à educação para se iniciarem, mas que depois geram retorno com o seguimento dos lotes comerciais, além de contribuírem para aumentar os fundos do grupo. Os grupos também têm oportunidade de definir programas próprios, incluindo o pagamento da mão-de-obra de visitantes.

Os grupos autofinanciados dedicam-se tipicamente a colheitas e gado para venda, mas a escola de campo agrícola também abrange aulas especiais com a duração de cerca de uma hora, sobre assuntos relacionados: colheitas, alimentação, VIH/SIDA, salvaguarda dos métodos do grupo, produção de sementes na quinta e outros. Nas áreas onde a gestão da fertilidade do solo é crítica, as escolas de campo funcionam 30 semanas em cada ciclo de um ano. Para as colheitas perenes, realizam-se reuniões mensais durante 18 meses, que podem ser combinadas com um currículo inicial sobre um legume ou ave de capoeira, como no caso da Escola de Campo da Tanzânia, onde se inclui a preparação de banana e mandioca.

ESCOLAS DE CAMPO AGRÍCOLAS AUTOFINANCIADAS

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PASSAGEM DO CONHECIMENTO ÀS GERAÇÕES FUTURAS

Uma das consequências mais perturbadoras da pandemia de VIH/SIDA é o número de crianças que deixou órfãs. Actualmente, mais de 13 milhões de

crianças com menos de 15 anos de idade perderam um ou ambos os progenitores devido à SIDA, a maior parte delas na África Subsaariana. Até 2010, estima-se que este número se eleve a mais de 25 milhões. Estas crianças sofrem perturbações psico-sociais e carências materiais cada vez mais graves. Muitas vezes, são obrigadas a abandonar a escola para cuidarem de pais doentes e moribundos e ajudarem no campo ou nas tarefas domésticas, ou por falta de acesso a alimentos e serviços de saúde. Muitas estão em risco de exclusão, abuso, discriminação e estigma. De facto, nunca é demais reafirmar o trauma e a miséria a que ficam sujeitas as crianças afectadas pelo VIH/SIDA.

O número cada vez maior de órfãos e a destruição das redes familiares conduzem à perda dos conhecimentos de agroecologia e das práticas agrícolas locais. Os pais morrem sem terem tempo de ensinar aos filhos as práticas agrícolas que se desenvolveram ao longo de gerações. Os sistemas agrícolas rurais dependem da riqueza de conhecimentos de agricultura locais, indispensáveis à continuidade da produção. A perda de gerações produtivas arrasta consigo a via de transmissão de

aptidões de sobrevivência e conhecimentos agrícolas de geração para geração. O resultado? Uma população jovem e mal apetrechada para gerir os impactos da epidemia e manter uma boa produção agrícola. A morte de uma geração representa uma quebra na cadeia.

Para manter a “cadeia” intacta, a FAO está a desenvolver e a promover as Escolas de campo agrícolas e de vida para jovens (Junior Farmer Field and Life Schools), com o intuito de garantir que a experiência e as aptidões de vida dos agricultores sejam salvaguardadas, melhoradas e passadas aos filhos.

ESCOLAS DE CAMPO AGRÍCOLAS E DE VIDA PARA JOVENS

É necessário criar mecanismos para a transferência de conhecimentos através de instituições comunitárias informais e formais que sejam reorientadas para satisfazer as necessidades das famílias que tenham perdido um adulto. As famílias dirigidas por órfãos e mulheres precisam de informação para poderem manter a produção

agrícola. Além disso, as famílias sem um adulto têm de ser capazes de cultivar plantas de colheita, manter práticas de criação de gado, armazenar cereais, colocar a produção agrícola no mercado e possuir conhecimentos sobre práticas de produção específicas de cada sexo. E os órfãos têm de aprender aptidões gerais para a vida e desenvolver autoconfiança e amor-próprio.

Em resposta, a FAO e o PAM estão a desenvolver, em regime de cooperação, um modelo de Escolas de campo agrícolas e de vida para jovens (Junior Farmer Field and Life School - JFFLS), que tem por objectivo dar resposta às necessidades básicas dos órfãos e outras crianças vulneráveis das zonas rurais, através de uma abordagem inovadora que permita chegar a essas crianças e integrá-las nos programas agrícolas. O aumento dos seus conhecimentos agrícolas, aptidões e auto-estima pode reduzir o risco de estas crianças seguirem estratégias de sobrevivência que as exponham ao VIH. As actividades realizadas na escola visarão o aumento do seu acesso a alimentos adequados, a satisfação das suas necessidades de alimentação básica, o aumento da auto-estima e a proporcionar-lhes uma visão de futuro que lhes confira capacidade.

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PROGRAMA FAO VIH/SIDA

RECURSOS DE CONSULTA

Programa da FAO sobre VIH/SIDAhttp://www.fao.org/hivaids

Mitigar o impacto do VIH/SIDA na segurança alimentar e na pobreza ruralhttp://www.fao.org/docrep/005/Y8331E/Y8331E00.htm

Gestão comunitária integrada das pragashttp://www.communityipm.org

Escolas agrícolas http://farmerfieldschool.net

Manual de escolas agrícola e de vida para jovenshttp://www.fao.org/hivaids/publications/knowledge_en.htm

Publicações sobre VIH/SIDA e conhecimentos indígenaswww.fao.org/hivaids/publications/knowledge_en.htm

Em finais de 2003, a FAO começou a criar um modelo para a JFFLS de Moçambique, integrado numa estratégia nacional mais alargada de desenvolvimento e modernização agrários, em que as aptidões de vida dos órfãos são imprescindíveis à construção do seu futuro através de estratégias de desenvolvimento.

Durante 12 meses, serão formados cerca de 100 órfãos e crianças vulneráveis dos 12 aos 18 anos de idade, através de metodologias estabelecidas nas Escolas de campo agrícolas e de vida para jovens e adaptadas para crianças. O primeiro período de dois meses coincide com as férias escolares em Moçambique e com a estação das colheitas, e irá abranger ensino e actividades adaptadas para crianças pelos formadores do grupo, por exemplo, preparação do campo, sementeira e transplantação, sachar as ervas daninhas, irrigação, controlo de pragas, utilização e conservação dos recursos disponíveis, utilização e processamento das safras de alimentos, colheita e armazenamento. A segunda sessão concentrar-se-á na Análise de Ecossistema Humano, adaptada às necessidades das crianças. Durante as férias lectivas, as crianças frequentarão a JFFLS três vezes por semana, em centros abertos e dirigidos por uma equipa interdisciplinar composta por um trabalhador de ligação, um professor e um animador social do teatro local. As sessões terão a duração aproximada de cinco horas e as refeições das crianças serão fornecidas pelo Programa Alimentar Mundial.

Foram seleccionados quatro locais e em cada um vai ser cultivado um campo de demonstração com diversas colheitas para alimentação e nutrição, criação de rendimentos e fins medicinais. As safras abrangem todas as estações do ciclo para guiar as crianças ao longo do processo de aprendizagem que lhes permitirá adquirirem aptidões agrícolas, capacidades enquanto indivíduos e membros do grupo, uma visão de futuro, aumento da auto-estima e promoção de uma vida mais saudável. O recurso a animação social e teatro para o estabelecimento de ligações com a comunidade e para explorar questões delicadas, como o papel dos sexos na agricultura e na epidemia de VIH/SIDA, irá favorecer uma comunicação com significado e permitir às crianças desenvolverem confiança, explorarem riscos, resolverem problemas e desenvolverem atitudes de maior igualdade entre os sexos.

DESENVOLVIMENTO DE UMA ESTRATÉGIA PARA AS ESCOLAS DE CAMPO AGRÍCOLAS PARA JOVENS: CELEIROS DA VIDA EM MOÇAMBIQUE

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Ciclo da Vida

Ciclo do Cultivo

Cultivos a longo prazo (poupanças/actividades geradoras de rendimento)

Plantas medicinais Espécies indígenas

Hortas

CabrasGalinhas

Árvores

Amostras (meio prazo)

Page 32: Prevenir e mitigar o impacto do VIH/SIDA: o papel da FAO

Ao longo dos últimos vinte anos, ocorreram por todo o mundo emergências resultantes de conflitos e catástrofes naturais, com uma

frequência cada vez maior. Infelizmente, as condições que definem uma emergência complexa – conflito, instabilidade social, pobreza e insegurança alimentar – são precisamente as mesmas que favorecem também a rápida proliferação de VIH/SIDA.

As pessoas do mundo em desenvolvimento, em particular os pobres das zonas rurais, são altamente vulneráveis às catástrofes. As comunidades e famílias pobres possuem menos meios para se protegerem das consequências das catástrofes naturais e fazer-lhes frente. Devido à sua pobreza, muitas vezes são também obrigadas a viver em zonas propensas a catástrofes naturais, como deslizamentos de terras e cheias. As famílias afectadas pelo VIH/SIDA e com escassos meios de sobrevivência são ainda mais sensíveis a choques exteriores, como a seca, sofrendo um impacto agudo, devastador, sistémico e cumulativo. Na realidade, o VIH/SIDA é uma emergência dentro da situação de emergência:

Perda de estratégias de confrontação e resistência, conduzindo à pobreza de geração para geração

Passagem a uma rota de meios de vida insustentáveis e de destruição

Elevação das taxas de subnutrição e mortalidade

Incapacidade de muitas famílias de agricultores para recuperarem, agravando o desinvestimento na agricultura

Delapidação irreversível dos bens da família

Aumento sem precedentes do número de órfãos

Agravamento dramático do grau de dependência das famílias

Aumento da vulnerabilidade à infecção pelo VIH

Perda de conhecimentos de geração para geração

O duplo impacto pode provocar a escalada e o prolongamento da insegurança alimentar que, aliada à consequente situação de fome, acelera a proliferação do vírus e o curso da doença. As pessoas com fome vêem-se forçadas a adoptar estratégias de sobrevivência que as colocam em risco. Com a progressão da emergência e da epidemia de VIH/SIDA, ocorre a fragmentação das famílias e das comunidades, ameaçando a estabilidade das relações e conduzindo ao desrespeito ou abandono das normas sociais que regem os comportamentos. Nestas circunstâncias, as mulheres e as crianças ficam mais expostas à violência e podem ser obrigadas a ter relações sexuais para ganharem acesso a necessidades básicas, como alimentos, água e até segurança. As deslocações podem pôr em contacto populações diversas, cada uma com diferentes níveis de prevalência de VIH/SIDA, principalmente no caso das populações que migram para as zonas urbanas para fugir a conflitos ou catástrofes nas zonas rurais.

RESPOSTA A EMERGÊNCIAS

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A emergência pode ter como consequência uma enorme sobrecarga da infra-estrutura de saúde e a insuficiência de provisões, por sua vez, pode constituir um obstáculo aos esforços de prevenção do VIH/SIDA. Durante a fase aguda de uma emergência, esta ausência ou inadequação de serviços favorece a transmissão do VIH/SIDA, através da falta de precauções universais e de preservativos. Nas situações de guerra, é evidente o aumento do risco de transmissão do VIH/SIDA por transfusões de sangue contaminado. A presença de forças militares, soldados da paz ou outros grupos armados contribui para incidências de maior violência sexual, com o consequente risco de transmissão do VIH.

Estudos recentes sugerem que a decisão das pessoas de se envolverem em comportamentos de risco é fortemente influenciada pela segurança da família. Deste modo, quando a doença mina os meios de subsistência das pessoas, o resultado pode ser um ciclo vicioso que se opõe aos esforços para suster a epidemia. Obviamente, isto impõe a necessidade urgente de se integrar o VIH/SIDA na resposta global a uma emergência. Igualmente óbvio é que o impacto do VIH/SIDA se fará sentir muito além do momento da crise em si, influenciando o resultado final da resposta e moldando as perspectivas de reabilitação e recuperação no futuro.

A RESPOSTA DA FAO

Dado que a epidemia de VIH/SIDA é para durar, a FAO está a adoptar uma abordagem aos seus efeitos na segurança alimentar, visando o desenvolvimento a longo prazo, em vez de se limitar ao alívio da mera catástrofe. A emergência humanitária na África Austral demonstrou que o VIH/SIDA, aliado à agudização da insegurança

alimentar, contribuiu para um novo tipo de crise que requer:

Novas respostas para a insegurança alimentar; Formas novas e inovadoras de articular as respostas de curto e longo prazos; e Maior empenho na resolução das vulnerabilidades estruturais subjacentes às situações de crise aguda.

Através do seu Serviço de Operações de Emergência, a FAO mobiliza e executa intervenções de emergência nos sectores agrícola e rural, além de implementar projectos de alívio de emergência e reabilitação nas fases iniciais.

Apresenta-se a seguir uma breve descrição de algumas intervenções de emergência da FAO, destinadas a tratar das respostas essenciais necessárias para aliviar o duplo impacto da “emergência dentro da emergência”.

Fornecimento de sementes para ajuda em caso de emergência alimentar. À medida que as taxas de VIH/SIDA vão subindo, verifica-se uma escalada do impacto da doença na segurança alimentar e na nutrição, com particular agudeza entre as famílias rurais pobres. O fornecimento de sementes é uma maneira de permitir às famílias continuarem a produzir alimentos para consumo próprio nas estações seguintes, abrindo assim caminho à segurança alimentar a longo prazo.

Pobreza e Desigualdade

Novas Infecções por VIH

Subnutrição

Evolução Mais Rápida de VIH para SIDA Insegurança alimentar

Actividades de Risco para Sobreviver

VIH/SIDA E SEGURANÇA ALIMENTAR – UM CICLO MORTAL

Fonte: Save the Children e Oxfam: VIH/SIDA e Segurança Alimentar na África Austral, Dezembro de 2002

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Cuidados domiciliários e apoio nutricional a pessoas que vivem com SIDA. Uma vez que os serviços de saúde pública nem sempre são de fácil acesso nem financeiramente viáveis, ou se encontram em crise, é de importância crítica estabelecerem-se serviços de cuidados domiciliários, a par de assistência à alimentação, para prover às necessidades essenciais das famílias ou comunidades.

Fornecimento e promoção de tecnologias de racionalização do trabalho, específicas para a comunidade. As famílias afectadas pelo VIH/SIDA têm de suportar a perda de trabalho não apenas dos seus membros infectados mas também dos que deles cuidam. A promoção de ferramentas e tecnologias de racionalização do trabalho, específicas para a comunidade, pode ajudar as famílias a suportarem com menos dificuldade o fardo desta escassez de mão-de-obra e os choques das doenças e da morte devidas à SIDA.

Apoio a órfãos e idosos. Em situações de escassez alimentar, a combinação da assistência de alívio com intervenções de desenvolvimento a longo prazo é uma estratégia essencial no tratamento do duplo impacto da epidemia de VIH/SIDA numa situação de emergência. Isto reveste-se da maior urgência quando se trata de ajudar os órfãos e idosos, por serem os mais vulneráveis no seio das famílias afectadas pelo VIH/SIDA.

Transmissão de conhecimentos agrícolas. O valor dos conhecimentos agrícolas locais – segurança alimentar, nutrição, propriedades medicinais, etc. – está sob ameaça do impacto de VIH/SIDA. A morte de mulheres e homens no apogeu da vida produtiva traduz-se também na perda das aptidões e conhecimentos que possuem. O registo, a conservação e a comunicação dos conhecimentos locais contribuirão para salvaguardar a continuidade e a passagem destas estratégias essenciais de subsistência às gerações seguintes.

Reforço da capacidade de auto-suficiência e das redes de segurança locais. Os condicionamentos de tempo e recursos das famílias atingidas pela SIDA reduzem a sua capacidade de participação nas redes comunitárias, o que, por sua vez, diminui o seu acesso a estas redes de segurança social vitais, fazendo aumentar a sua vulnerabilidade. As estratégias de confrontação da epidemia de VIH/SIDA têm de ser dirigidas não apenas aos indivíduos e às famílias mas também aos organismos e instituições da comunidade.

Desde que começou a crise, a FAO já prestou assistência a mais de 250 000 famílias da África Austral. A ajuda de emergência consistiu em: distribuição de sementes, ferramentas e fertilizantes; fornecimento de bombas de rega para agricultura; promoção da produção de mandioca; e restabelecimento de pequenos rebanhos e promoção de programas de controlo de doenças dos animais. O apoio à agricultura de conservação conduziu a uma distribuição mais racional dos picos de trabalho ao longo da estação agrícola. Está a ser prestada assistência à reabilitação e ao desenvolvimento também nas áreas de seguros de assistência, sistemas de segurança alimentar e informação nutricional e desenvolvimento de capacidades.

Em 2002, por exemplo, a FAO, em colaboração com o Governo da Tanzânia e a ONG local Tanzanian Association of Women Leaders in Agriculture and Environment, deu início ao projecto Emergency Supply of Seeds & Tools for HIV/AIDS-affected Households (Região de Tanga), que presta assistência a 5000 famílias afectadas pelo VIH/SIDA no estabelecimento de casas e hortas. As famílias, na maior parte agregados familiares encabeçados por mulheres e identificados pelas autoridades locais como mais vulneráveis, recebem sementes de legumes e alfaias manuais e formação em nutrição, técnicas hortícolas e de gestão da fertilidade dos solos. O projecto funciona em estreita articulação com outros projectos de cuidados domiciliários implantados nos mesmos distritos.

ASSISTÊNCIA DE EMERGÊNCIA E REABILITAÇÃO NA ÁFRICA AUSTRAL

Ao abrigo de um programa regional financiado pela Holanda, a FAO, em parceria com o Hospital de Maluti e a organização “Save the Children”, do Reino Unido, instalou um projecto no Lesoto para dar apoio às necessidades de segurança alimentar de famílias afectadas pelo VIH/SIDA, no distrito de Berea. O projecto permite aos órfãos do VIH/SIDA e às famílias produzirem sementes e outros bens agrícolas, com mão-de-obra da comunidade, estando a revelar-se bem sucedido em manter os órfãos nas respectivas comunidades e encorajá-los a continuarem na escola.

PROJECTO COMUNITÁRIO DE LUTA CONTRA O VIH/SIDA, NO LESOTO

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PROGRAMA FAO VIH/SIDA

RECURSOS DE CONSULTA

Programa da FAO sobre VIH/SIDAwww.fao/hivaids

Mitigar o impacto do VIH/SIDA na segurança alimentar e na pobreza ruralwww.fao.org/docrep/005/Y8331E/Y8331E00.htm

Ajudas de emergência e reabilitaçãowww.fao.org/reliefoperations/index_en.html

VIH/SIDA e segurança alimentar na África Meridionalwww.fao.org/reliefoperations/soafrica/newsletter_06_en.html

Publicações sobre VIH/SIDA e emergênciaswww.fao.org/hivaids/publications/emergency_en.htm

As unidades de reabilitação nutricional (NRU) são centros instalados para prestarem cuidados terapêuticos de emergência a crianças subalimentadas com menos de cinco anos de idade e educação nutricional às mães. As crianças são encaminhadas para os centros por consultas hospitalares. Existem no Malawi 90 NRU que tratam, aproximadamente, 10 000 mães e crianças por ano. Oito NRU dão formação e distribuem conjuntos de sementes às mães de crianças subalimentadas. Em 2003, foram distribuídos cerca de 4000 dos 6000 conjuntos de sementes disponíveis. A FAO também desenvolveu uma parceria com a organização “Save the Children” dos E.U., a CADECOM, a Tvwirane e a SASO, para desenvolver hortas comunitárias e distribuir contributos para a agricultura às comunidades afectadas e infectadas pela epidemia de VIH/SIDA. Estão em marcha pequenos projectos nos distritos de Mzimba, Lilongwe, Mchinji, Salima e Blantyre.

UNIDADES DE REABILITAÇÃO NUTRICIONAL NO MALAWI

Mais de 20 000 pessoas, na Zâmbia, receberam pacotes de segurança alimentar da FAO, contendo contributos para a agricultura. Os beneficiários, em colaboração com o PAM (Programa Alimentar Mundial), receberam também formação de sensibilização para o VIH/SIDA e em agricultura de conservação antes do início da estação das chuvas. Posteriormente, foram distribuídos aos agricultores vulneráveis contributos para a agricultura, por parceiros de implementação da FAO.

DISTRIBUIÇÃO DE PACOTES DE SEGURANÇA ALIMENTAR E SENSIBILIZAÇÃO PARA O VIH/SIDA, NA ZÂMBIA

Nos últimos dois anos, a coordenação de emergências da FAO, no Burundi, deu apoio a agregados familiares afectados pelo VIH/SIDA, através de projectos agrícolas. A FAO trabalha em colaboração com organizações não-governamentais que também estão envolvidas noutras actividades de mitigação, cuidados e prevenção do VIH/SIDA. O projecto dá apoio à produção de legumes, fornecendo sementes e utensílios às famílias, para melhorar a qualidade da sua dieta alimentar e proporcionar-lhes meios para produzirem excedentes que possam vender. Até agora, a FAO já deu apoio a, aproximadamente, 1000 agregados familiares em Gitega, Ngozi e Bujumbura.

PARCERIAS COM ONG’S, NO BURUNDI, PARA APOIO A FAMÍLIAS AFECTADAS PELA SIDA

Em situações de emergência, o VIH/SIDA coloca mais um conjunto de problemas e condicionalismos. A FAO e outras instituições da ONU com representação no Comité Permanente Inter agências prepararam um conjunto de orientações para intervenções de luta contra o VIH/SIDA em cenários de emergência, que se encontram em fase experimental no terreno. Estas orientações destacam a importância das dimensões alimentar e nutricional da epidemia, a par das dimensões de saúde e comportamental.

ORIENTAÇÕES PARA INTERVENÇÕES DE LUTA CONTRA O VIH/SIDA EM CENÁRIOS DE EMERGÊNCIA

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INFLUENCIAR POLÍTICAS

F actores como a pobreza, a desigualdade, a insegurança alimentar e dos meios de subsistência influenciam a transmissão e o impacto da epidemia de VIH/SIDA.

Esta doença, em combinação com os factores referidos, está a diminuir os esforços para o desenvolvimento. Nos países onde a epidemia é grave e um grande número de agricultores de subsistência é afectado, as políticas agrícolas ou de segurança alimentar podem assegurar um enquadramento a nível nacional para resolver o impacto do VIH/SIDA.

Foi salientado pelo Enviado Especial do Secretário-Geral das NU que a falha de enquadramento das políticas para resolver a segurança alimentar e o VIH/SIDA constitui um factor facilitador da crise alimentar na África do Sul. A FAO reconhece que as políticas agrícolas e de segurança alimentar desempenham um papel importante para atingir o objectivo da Cimeira Mundial da Alimentação, de 1996, que consiste na redução do número de pessoas que sofrem da fome para cerca de metade dos 800 milhões.

A importância relativa do VIH/SIDA, para as políticas agrícolas e de segurança alimentar, varia de acordo com a dimensão e o estado da epidemia, da partilha relativa da agricultura na economia nacional e do tipo de sistemas de exploração agrícola e meios de subsistência. Muitos países que sofreram grandes impactos estão agora a incrementar estratégias multissectoriais de prevenção e diminuição do

VIH e da SIDA, as quais, incluem os sectores agrícola e da segurança alimentar. Para que as actividades contra o VIH/SIDA possam ter sucesso, as políticas e estratégias devem ser desenvolvidas através dos sectores para apoiar as formas de vida das pessoas rurais, naturais e multi-facetadas.

RESPOSTA DA FAO

A FAO apoia os países membros, a ONU e as suas agências especializadas e outras instituições globais, regionais e nacionais, na elaboração de políticas e estratégias de desenvolvimento do sector agrícola, com a finalidade de fomentar, com êxito, a segurança alimentar e a sustentabilidade do desenvolvimento rural.

Este apoio envolve as seguintes áreas de trabalho:

(i) Dar assistência aos países membros da FAO para reforçar a sua capacidade de elaboração, implementação e controlo das políticas de desenvolvimento alimentar, agrícola, actividades pesqueiras, silvicultura e rural;

(ii) Fomentar parcerias eficazes, entre e dentro das regiões e países, que tenham o objectivo comum de agilizar o peso global da epidemia de VIH/SIDA; e

(iii) Ajudar os estrategistas e legisladores a elaborarem políticas com um enquadramento multissectorial que incluam respostas do sector agrícola tanto às emergências a curto prazo como à sustentabilidade da segurança alimentar a longo prazo, particularmente no contexto da epidemia de VIH/SIDA.

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REFORÇO DA CAPACIDADE DO GOVERNO

O s países pobres e com a epidemia de VIH têm assistido a um agravamento considerável da capacidade dos recursos humanos existentes. Todos os distribuidores

civis de serviços, incluindo o Ministério da Agricultura, têm sofrido um aumento da perda de funcionários devido ao VIH/SIDA e, deste modo, têm menos recursos para manter as aptidões básicas do pessoal. Neste contexto de diminuição de capacidades profissionais e operacionais, é necessário que haja formação sobre políticas e aptidões para combater o VIH/SIDA. Elaborar políticas e estratégias agrícolas e alimentares sensíveis à questão do VIH/SIDA que orientem o Ministério da Agricultura e os seus funcionários poderá ajudar a satisfazer esta necessidade.

Em 2003, a Divisão da Economia do Desenvolvimento Agrícola da FAO, juntamente com o Serviço da População e do Desenvolvimento, organizou uma acção de formação interna, em Moçambique, para analisar a correlação entre políticas agrícolas e o VIH/SIDA. Esta acção de formação juntou legisladores e estrategistas de nove países africanos, Europa e E.U.A. para identificar como a política agrícola e de segurança alimentar pode desempenhar um papel catalítico na prevenção da disseminação do VIH e diminuição do impacto da epidemia. A acção de formação explorou, também, os ajustamentos necessários para

assegurar a continuidade, relevância e sustentabilidade das políticas agrícolas e de segurança alimentar. Foram discutidas questões tais como a modernização da agricultura, escassez de mão-de-obra, ajuda alimentar e acesso a bens no contexto da epidemia.

Durante a acção de formação de Moçambique, os participantes desenvolveram um modelo constituído por sete medidas, de forma a integrar as questões relativas ao VIH/SIDA nas políticas agrícolas e de segurança alimentar. A integração foi definida como um processo sistemático, considerando as preocupações relacionadas com o VIH/SIDA, na concepção de políticas, formulação, implementação e identificação de partes interessadas relevantes em cada passo.

Passo 1 Análise da situação do contexto socio-económico, impacto da SIDA e acordos institucionais, os quais requerem um bom entendimento da evidência de base.

Passo 2 Revisão política que inclui uma relação das políticas e programas existentes para o desenvolvimento agrícola, segurança alimentar e rural.

Passo 3 Política de diálogo e negociação envolve os Ministérios da Agricultura e outras partes interessadas no governo (Ministérios das Finanças e da Saúde, Comissão Nacional da SIDA) e outras (sociedades civis, ONG, organizações religiosas, etc.)

Passo 4 Formulação de políticas e adaptação implica um ajustamento às políticas existentes ou o desenvolvimento de novas políticas no contexto do VIH/SIDA.

Passo 5 Implementação envolvendo a ligação de políticas a programas a nível nacional ou em zonas piloto.

Passo 6 Controlo e avaliação para medir o progresso e identificar os factores que aumentam ou restringem a obtenção de resultados. Os indicadores precisam de serem revistos periodicamente.

Passo 7 Comunicação para tornar consciente a natureza e dimensão dos problemas relacionados com a epidemia e os objectivos, para ajustar as políticas apoiando a implementação.

INTEGRAR O VIH/SIDA NAS POLÍTICAS AGRÍCOLAS E SEGURANÇA ALIMENTAR

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DINAMIZAR PARCEIROS REGIONAIS

É imperativa uma análise profunda do impacto da epidemia de VIH/SIDA nos meios de subsistência rurais para criar respostas políticas. No entanto, continua a ser necessário identificar abordagens eficazes, para implementar políticas e estratégias que tenham por objectivo integrar os problemas relacionados com o VIH/

SIDA nas actividades agrícolas normais e baseadas em actividades já experimentadas e testadas noutros países. A FAO desempenha um papel importante no desenvolvimento de parceiros eficazes, entre e dentro de regiões e países, com o objectivo comum de conseguir agilizar o peso global da epidemia de VIH/SIDA.

RESOLVER AS NECESSIDADES DE SEGURANÇA ALIMENTAR A LONGO PRAZO EM SITUAÇÃO DE CRISE PROLONGADA

O conflito é uma das causas mais comuns da insegurança alimentar. A relação entre a política de segurança alimentar e a prevenção do conflito requer um debate

adicional. A dimensão da relação do conflito e a emergência da segurança alimentar está a aumentar e o papel do conflito no aceleramento de uma crise natural, tal como a seca, precisa de ser examinado, considerando a emergência da segurança alimentar.

O VIH/SIDA proporciona um nível de complexidade adicional às situações de crise e reduz a capacidade de resposta das comunidades. Para as comunidades superarem e alcançarem um grau de auto-suficiência precisam de assistência alimentar e programas de desenvolvimento agrícola para resolver as suas necessidades. Os estrategistas e legisladores são desafiados a criar políticas com um enquadramento multissectorial que incluam respostas para a agricultura em situações de emergência, a curto prazo, e sustentabilidade da segurança alimentar, a longo prazo.

No ano de 2002, o Programa do NUD para o Desenvolvimento e a Luta contra o VIH/SIDA no Sudoeste Asiático, em colaboração com a FAO, organizou uma consulta conjunta entre países da África e da Ásia sobre a agricultura, o desenvolvimento e a redução da vulnerabilidade devida ao VIH na Tailândia. Foram convidados a assistir participantes dos Ministérios da Agricultura, Diminuição da Pobreza ou Desenvolvimento Rural (Poverty Alleviation or Rural Development ), Autoridades Nacionais para a SIDA e as ONG’s. O objectivo desta consulta foi: dar um entendimento claro da interacção entre o VIH/SIDA e a agricultura, baseado no conhecimento actual; identificar as intervenções agrícolas que podem atenuar o impacto do VIH/SIDA nas comunidades rurais; e trocar experiências, formando uma rede de conhecimento e aumentando a colaboração entre os países africanos e do Sudeste Asiático.

PROMOÇÃO DE PARCEIROS INTER-REGIONAIS

Em 2003, a Divisão da Economia do Desenvolvimento Agrícola organizou uma acção de formação sobre a segurança alimentar durante emergências, com o objectivo de explorar como o enquadramento de políticas pode aumentar o poder de recuperação dos sistemas alimentares em diferentes contextos de emergência e o papel da informação no apoio a este enquadramento. O evento foi financiado pela Comissão Europeia e juntou 36 pessoas de 20 agências, incluindo as NU, governos, ONG’s, sociedades civis, doadores e instituições de pesquisa de todo o mundo.

ENQUADRAMENTO DE POLÍTICAS: SEGURANÇA ALIMENTAR E EMERGÊNCIAS

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PROGRAMA FAO VIH/SIDA

RECURSOS DE CONSULTA

Programa da FAO sobre VIH/SIDAhttp://www.fao.org/hivaids

Mitigar o impacto do VIH/SIDA na segurança alimentar e na pobreza ruralwww.fao.org/docrep/005/Y8331E/Y8331E00.htm

A insegurança alimentar no mundowww.fao.org/docrep/006/J0083E/J0083E00.htm

Segurança alimentar e criseswww.fao.org/crisisandhunger/root/index.jsp?lang=en

Políticas agrícolas e VIH/SIDAwww.fao.org/es/ESA/en/conf_past_hiv.htm

Publicações sobre VIH/SIDA e políticaswww.fao.org/hivaids/publications/policy_en.htm

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RESPOSTAS SECTORIAIS

É reconhecida a possibilidade de se desenvolver o sector dos recursos agrícolas e naturais de forma a aumentar a resiliência das populações

rurais e contribuir de modo relevante para a prevenção do VIH. Além das estratégias em curso para combater o VIH/SIDA, as estratégias de desenvolvimento sectorial e multissectorial — por exemplo, as pescas, a criação de gado e as actividades florestais — podem desempenhar um papel inovador e essencial no controlo da epidemia, principalmente se integrarem uma ou mais das respostas apresentadas nos outros resumos de actuação. Seguem-se alguns exemplos de projectos sectoriais que integraram o VIH/SIDA como prioridade das suas actividades.

SECTOR DAS PESCAS DA FAO

As comunidades piscatórias são, frequentemente, as mais duramente atingidas pelo VIH/SIDA. Considera-se que as gentes ligadas à pesca

estão em alto risco de contrair o VIH porque, em muitos casos, são jovens, têm uma vida de mobilidade e padrões de fixação irregulares. As famílias de pescadores afectadas pelo VIH/SIDA recorrem, muitas vezes, a técnicas de pesca menos trabalhosas, como a pesca de baixa profundidade, em vez de navegarem para águas profundas, onde o peixe é mais abundante. Também dedicam menos tempo à manutenção dos barcos, redes e outro equipamento de pesca. A acrescer, a pesca é uma profissão que requer um elevado grau de aptidões, principalmente em águas profundas, e à medida que os

pescadores vão adoecendo, as comunidades piscatórias perdem os conhecimentos que têm sobre previsão de estações, movimento dos bancos de pesca e segurança na água.

As actividades de processamento do pescado em terra também mudam quando as famílias e as comunidades são atingidas pelo vírus. As mulheres podem optar por secar o peixe ao sol em vez de o fumar, dado que a primeira técnica exige menos trabalho. No entanto, o produto tem menos valor no mercado do que o peixe salgado ou fumado. Muitas famílias de pescadores ganham a vida em actividades exclusivamente associadas à pesca, até porque escasseiam outras oportunidades de emprego nos desembarcadouros. Com a redução da diversidade de opções de subsistência, as famílias mais afectadas dependem de trabalhos esporádicos, normalmente sazonais. O acesso aos alimentos e a sua disponibilização dependem frequentemente da capacidade da família para pagá-los e, assim, os tempos de insegurança de rendimentos são também tempos de insegurança alimentar. Além disso, na África Ocidental, muitas mulheres compram o peixe aos maridos para processarem e venderem, principalmente na linha costeira, onde existem poucas alternativas para gerar rendimentos. Quando um homem adoece ou morre, a mulher perde a sua principal fonte de sobrevivência.

Os meios de subsistência não só influenciam a susceptibilidade das pessoas à infecção pelo VIH como também determinam a sua vulnerabilidade aos impactos da SIDA. Entre os mais imediatamente vulneráveis estão aqueles cuja

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subsistência depende do próprio bem-estar físico, como as tripulações pesqueiras e os vendedores de peixe, que percorrem grandes distâncias até ao mercado. Quando começam a sentir-se doentes, os pescadores deixam de pescar à noite para não se constiparem. Outros membros da comunidade podem continuar com os negócios, mas o medo de serem estigmatizados e discriminados (quando a doença se torna evidente) pode obrigá-los a retirar-se da vida quotidiana e até da comunidade.

A capacidade para suportar os impactos da SIDA (resiliência) é particularmente fraca entre as pessoas com poucos recursos, na sua maioria mulheres e jovens. As mulheres têm uma baixa resiliência, mesmo não estando infectadas, porque se vêm obrigadas a abandonar as suas actividades de subsistência para tratar dos membros da família doentes. Os ricos proprietários de barcos, embora estejam em risco de contrair infecção pelo VIH, constituem muitas vezes o único grupo que a comunidade considera ter alguma resiliência aos impactos, devido à sua relativa riqueza e à natureza diversificada do seu trabalho (contratar tripulações de pesca e operar pequenos negócios). Consideram-se altamente vulneráveis aos impactos da epidemia os filhos de pais doentes e os órfãos e os membros da família que vivem longe.

As comunidades piscatórias tendem a carecer de qualquer forma de resiliência aos impactos da SIDA. É frequente haver: falta de programas comunitários que ofereçam consolo, apoio e cuidados domiciliários aos órfãos; uma base estreita de meios de subsistência (muito dependente da pesca); e, apesar do movimento diário de dinheiro, são poucos os que conseguem fazer economias.

As pequenas comunidades piscatórias são os parentes pobres dos programas de prevenção do VIH/SIDA, em África. No entanto, dadas as condições de migração e pobreza em que vivem, são extremamente vulneráveis à doença. Numa tentativa de reduzir a sua vulnerabilidade, foi estabelecido em pequenas comunidades pesqueiras um projecto de colaboração entre o SFLP e as ONG’s locais, em dois países — Benin e Congo. O projecto abrange um estudo detalhado em aldeias-piloto, para avaliar o nível de conhecimentos sobre VIH/SIDA nessas comunidades e as atitudes das pessoas perante a pandemia. O estudo permitirá conceber mensagens de sensibilização e encorajamento à mobilização social e, eventualmente, promover uma melhor integração daquelas comunidades nas campanhas nacionais de controlo do VIH/SIDA.

O projecto arrancará com uma fase experimental em quatro aldeias ao sul do Benin, mas visa abranger 408 aldeias em parceria com outras instituições (o programa multissectorial do Banco Mundial e outros programas especializados). Trata-se de populações rurais, muitas delas costeiras e compostas por pescadores de alto-mar e lacustres, vendedores de peixe, fornecedores internos, construtores de barcos, mecânicos e pequenos comerciantes. No Congo, o projecto arrancará em três comunidades, uma localizada no Rio Congo e as outras duas na costa, abrangendo no total cerca de 6 000 pessoas.

PROGRAMA DE MEIOS DE SUBSISTÊNCIA PESQUEIROS SUSTENTÁVEIS – (SFLP) DA FAO/DFID PREVENÇÃO DO VIH/SIDA NO BENIN E NO CONGO, ENTRE PEQUENAS COMUNIDADES PISCATÓRIAS

Como todos os sectores da economia no Uganda, o das pescas não foi poupado ao flagelo do VIH/SIDA. As gentes ligadas à pesca foram consideradas entre “os mais vulneráveis à infecção pelo VIH”, mas não existem dados rigorosos e são muitas as lacunas na base de conhecimentos sobre VIH/SIDA e as pequenas comunidades piscatórias.

Este estudo ultrapassou as percepções que a gente da pesca tinha das categorias de alto risco de VIH e procurou compreender a dinâmica de vida nas pequenas comunidades pesqueiras do interior e elaborar um mapa dos seus contextos de vulnerabilidade, a fim de conceber respostas operacionais que proporcionassem um apoio efectivo a estes grupos e, por este meio, influenciar as plataformas políticas relevantes. O trabalho no terreno foi conduzido em quatro locais interiores — dois no Lago Vitória (Regiões Central e Leste) e dois no Lago George (Região Oeste).

ESTUDO DA FAO/GTZ NO UGANDA

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SECTOR PECUÁRIO DA FAO

O impacto da epidemia de VIH/SIDA nas práticas de criação de gado tem-se feito sentir de várias maneiras. Muitas famílias afectadas pelo VIH/SIDA recorrem à venda de

cabeças de gado para pagarem as despesas médicas ou de funerais. Em muitos casos, a venda de gado traduz-se numa redução da venda de leite e dos recursos daí provenientes. A diminuição da mão-de-obra disponível conduz à degradação no tratamento do gado que, em parte, determina uma tendência para a criação de reses de pequeno porte, sobretudo porcos, aves, ovelhas e cabras, que exigem menos trabalho. Perante esta situação, um ou mais membros da família têm muitas vezes de partir em busca de trabalho remunerado (ou casamento), reduzindo ainda mais a força de trabalho e aptidões e conhecimentos valiosos.

Além de afectar a força de trabalho activa na criação de gado, o VIH/SIDA tem efeitos graves também na rede de serviços veterinários e, por conseguinte, na capacidade de um país para conter e eliminar as doenças do gado. No caso de os veterinários locais e inspectores de gado serem reclamados pela SIDA, isso pode comprometer seriamente a capacidade dos serviços veterinários para reagirem a doenças epidémicas.

SECTOR FLORESTAL DA FAO

Para obter informações sobre as respostas do Sector Florestal da FAO ao VIH/SIDA, consultar o resumo intitulado “Actividades florestais e Agro Silvicultura nos Programas Multissectoriais de Combate ao VIH/SIDA” (“Forestry and Agroforestry in Multi-sectoral HIV/AIDS Programming”).

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Os rebanhos comunitários servem vários fins: constituem uma fonte de gado novo, que depois pode ser distribuído pelas famílias mais vulneráveis da comunidade; proporcionam uma fonte de rendimentos que a comunidade ou grupo pode utilizar como ponto de partida para um plano de poupança ou como fundo de emergência (para despesas funerárias, etc.); e podem servir de suporte ao ensino e à transmissão de conhecimentos tradicionais sobre criação de gado, em particular a crianças e adultos jovens.

Dadas estas desvantagens, principalmente nas comunidades afectadas pelo VIH/SIDA, a FAO está a promover na Suazilândia e no Lesoto os ‘rebanhos comunitários’, da propriedade e sob a gestão da comunidade, como um meio de aumentar a auto-resiliência.

O projecto oferece:

Capital inicial para adquirir e estabelecer os rebanhos; Assistência na formação de grupos; Formação a ‘mestres agricultores’ (gestores de rebanhos) e membros dos grupos; Técnicas de resolução de problemas (abordagem pela escola de campo, Farmer Field School); e Melhoria das intervenções de criação de gado (com formação, material informativo adequado às comunidades e o necessário capital inicial para bens de consumo (vacinas, etc.).

PROMOÇÃO DOS REBANHOS COMUNITÁRIOS NO LESOTO E NA SUAZILÂNDIA

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PROGRAMA FAO VIH/SIDA

RECURSOS DE CONSULTA

Programa da FAO sobre VIH/SIDAhttp://www.fao.org/hivaids

Mitigar o impacto do VIH/SIDA na segurança alimentar e na pobreza ruralwww.fao.org/docrep/005/Y8331E/Y8331E00.htm

Produção animal e saúdewww.fao.org/ag/againfo/home/en/home.html

VIH/SIDA e criação de gado na Namíbiawww.fao.org/sd/WPdirect/WPan0046.htm

Pescaswww.fao.org/ag/againfo/home/en/home.html

Programa de meios de subsistência pesqueiros sustentáveiswww.sflp.org/

Comunidades piscatórias e VIH/SIDA no Ugandawww.fao.org/sd/dim_pe3/pe3_040101_en.htm

VIH/SIDA e florestaswww.fao.org/forestry/site/10808/en

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Existem três aspectos transversais entre o sector das florestas e o VIH/SIDA:

O potencial contributo das árvores, matas, florestas e Silvicultura nas respostas pela subsistência das famílias afectadas pelo VIH/SIDA; O impacto na procura e na oferta de produtos florestais a nível local,

nacional e regional; e A perda de mão-de-obra e competências entre as famílias de

agricultores, trabalhadores florestais e especialistas.

É reconhecido que a planificação efectiva de programas deve ser conduzida horizontalmente entre os sectores, mas também verticalmente, a vários níveis, dentro de cada sector. São recomendadas diversas actividades para submeter à consideração dos decisores e executores políticos, entre as quais:

A Nível Nacional: avaliação de probabilidades e desenvolvimento e compilação de instrumentos de apoio à tomada de decisões políticas sobre estratégias agrícolas e florestais.

A Nível Local: documentação do valor das plantações tradicionais como rede de segurança económica e alimentar para agregados familiares afectados pelo VIH/SIDA; gestão sustentável das plantações tradicionais (para alimentação, geração de rendimentos e produtos medicinais) nas respostas do sector florestal à epidemia de VIH/SIDA; promoção de tecnologias de reduzida mão-de-obra para melhorar a fertilidade dos solos; e plantas medicinais nos campos agrícolas.

A Nível Institucional: apoio a instituições de ensino terciárias, através da revisão de políticas e do desenvolvimento de currículos, incluindo componentes de sensibilização sobre o VIH/SIDA e de resposta no sector florestal; cursos breves de actualização para resolver a falta de pessoal na agricultura e nas florestas; aprovisionamento de quadros profissionais com pessoal de outras regiões; dinamização das respostas do sector da agricultura e florestas nos projectos da FAO; e desenvolvimento da capacidade e transparência das instituições locais, formais e informais.

O sector das florestas está a corresponder às respostas dos programas de luta conta o VIH/SIDA, de diversas formas, abaixo descritas.

ACTIVIDADES FLORESTAIS E AGRO-SILVICULTURA NOS PROGRAMAS MULTISSECTORIAIS DE COMBATE AO VIH/SIDA

Uma prática agroflorestal que requer o mínimo de mão-de-obra e pode manter a sustentabilidade da agricultura a longo prazo é a beneficiação dos alqueives. Esta prática consiste no plantio deliberado ou sementeira directa de espécies fixadoras do azoto em terras que, de outro modo, seriam deixadas ao abandono quando começassem a produzir menos, até que o solo readquirisse a sua fertilidade pelo processo lento de repouso e regeneração. Com a beneficiação dos alqueives, os arbustos contribuirão para o abastecimento de forragem e madeira de queima, perto das propriedades rurais, no prazo de dois anos após a plantio. Os alqueives beneficiados também podem ajudar a garantir a posse das terras dos campos abandonados e são adequados à maior parte do território da África Austral, onde prevalecem os sistemas de baixa produção e a rotação agrícola consiste em deixar regenerar a terra. Esta tecnologia está a divulgar-se com êxito na Zâmbia, Moçambique e Malawi.

PROMOÇÃO DA BENEFICIAÇÃO DOS ALQUEIVES

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POUPANÇA DE TEMPO DE MÃO-DE-OBRA

O s sistemas de Silvicultura são diversificados. Uma análise minuciosa dos sistemas de Silvicultura e produção, prevalecentes em zonas fortemente afectadas pelo VIH/SIDA, revela várias alternativas de Silvicultura com reduzidas exigências de trabalho, que contribuiriam para manter o capital do solo e

da produção da terra durante uma geração com pouca de mão-de-obra disponível.

Exemplos de tecnologias específicas que estão a ser promovidas na África Austral para mitigação da epidemia de VIH/SIDA: aumento de alqueives; árvores de fruta; e parcelas de floresta.

SALVAGUARDA DA PROTECÇÃO SOCIAL E ECONÓMICA

P ara garantir a protecção social e económica, as actividades concentram-se na função das árvores, matas e florestas em assegurar a posse de terras e proporcionar uma rede de segurança económica e social em tempos de raras oportunidades de trabalho agrícola e escassez monetária.

O acesso e a propriedade das terras constituem um factor determinante para a viabilidade das famílias afectadas pelo VIH/SIDA. As árvores são, há muito, um símbolo de posse em África. Podem garantir a terra, mas podem também instigar terceiros a apropriarem-se dessa parcela de terreno em que foram plantadas árvores. As intervenções relacionadas com árvores devem ser colocadas no contexto da posse consuetudinária de terras e fazer emergir respostas jurídicas e tradicionais sobre a posse de terras em cada zona tribal afectada pelo VIH/SIDA.

As matas naturais fazem parte integrante dos meios de subsistência e dos sistemas agrícolas da África Austral e a sua posse reparte-se por vários regimes, incluindo a Floresta Estatal, as terras de gestão cooperativa e os terrenos de posse tradicional. As famílias dependem das matas para obterem suplementos de alimentação, através da colheita de plantas alimentares de geração espontânea, carne de caça, frutos secos, folhas e raízes. Estes alimentos silvestres, assim reunidos, constituem uma fonte essencial de micronutrientes. As matas são também uma fonte de remédios tradicionais e proporcionam receitas da venda de produtos florestais comestíveis, como cogumelos, além de madeira para estacas. Nas florestas de gestão comercial de miombo, a madeira continua a ser um produto valioso.

Durante uma missão da FAO, observou-se que as famílias afectadas pelo VIH/SIDA pareciam depender cada vez mais dos recursos de miombo, à medida que declinava a sua capacidade para se dedicarem à agricultura. As famílias incapazes de fazer colheitas também dependem mais daquilo que recolhem nas matas para as suas necessidades diárias de subsistência e rendimento. Além disso, em muitas das aldeias visitadas, as famílias não tinham acesso a fármacos e dependiam inteiramente das plantas e árvores que cresciam espontaneamente nos seus campos agrícolas e nas matas para o tratamento de infecções oportunistas. Dir-se-ia que as matas são, portanto, uma rede de segurança essencial para as famílias afectadas pelo VIH/SIDA. Foi adjudicado um estudo em dois países da África Austral para determinar a utilização e a variação do acesso aos recursos na sequência da pandemia de VIH/SIDA. O estudo irá explorar também o apoio à gestão de recursos que faz falta às instituições locais e respectivos serviços de extensão, as comissões de gestão dos recursos naturais das comunidades e outros mecanismos de gestão de recursos instalados nas aldeias.

As recomendações e os resultados do estudo serão divulgados através do programa de florestas nacional e utilizados para apoiar os países na concepção de programas de cooperação técnica. Estes dados serão comunicados a outros organismos de cooperação que estejam a conceber programas integrando respostas multissectoriais ao VIH/SIDA.

PROMOÇÃO DAS MATAS NATURAIS

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o s sistemas de Silvicultura são diversificados. Uma análise minuciosa dos sistemas de Silvicultura e produção, prevalecentes em zonas fortemente afectadas pelo VIH/SIDA, revela várias alternativas de Silvicultura com reduzidas exigências de trabalho, que contribuiriam para manter o capital do solo e

da produção da terra durante uma geração com pouca de mão-de-obra disponível.

Exemplos de tecnologias específicas que estão a ser promovidas na África Austral para mitigação da epidemia de VIH/SIDA: aumento de alqueives; árvores de fruta; e parcelas de floresta.

SALvAgUARDA DA pROTECçãO SOCIAL E ECONómICA

P ara garantir a protecção social e económica, as actividades concentram-se na função das árvores, matas e florestas em assegurar a posse de terras e proporcionar uma rede de segurança económica e social em tempos de raras oportunidades de trabalho agrícola e escassez monetária.

O acesso e a propriedade das terras constituem um factor determinante para a viabilidade das famílias afectadas pelo VIH/SIDA. As árvores são, há muito, um símbolo de posse em África. Podem garantir a terra, mas podem também instigar terceiros a apropriarem-se dessa parcela de terreno em que foram plantadas árvores. As intervenções relacionadas com árvores devem ser colocadas no contexto da posse consuetudinária de terras e fazer emergir respostas jurídicas e tradicionais sobre a posse de terras em cada zona tribal afectada pelo VIH/SIDA.

As matas naturais fazem parte integrante dos meios de subsistência e dos sistemas agrícolas da África Austral e a sua posse reparte-se por vários regimes, incluindo a Floresta Estatal, as terras de gestão cooperativa e os terrenos de posse tradicional. As famílias dependem das matas para obterem suplementos de alimentação, através da colheita de plantas alimentares de geração espontânea, carne de caça, frutos secos, folhas e raízes. Estes alimentos silvestres, assim reunidos, constituem uma fonte essencial de micronutrientes. As matas são também uma fonte de remédios tradicionais e proporcionam receitas da venda de produtos florestais comestíveis, como cogumelos, além de madeira para estacas. Nas florestas de gestão comercial de miombo, a madeira continua a ser um produto valioso.

REfORçO DAS INSTITUIçõES

A nível institucional, a FAO tem, comparativamente, uma vantagem em termos de prestação de apoio e desenvolvimento da capacidade de investigação florestal, educação e ramificação de instituições. Ao mesmo tempo, as acções no sector dos recursos naturais devem arrancar com apoio e assistência no desenvolvimento da capacidade das instituições locais, formais e informais, para lhes permitir colaborarem desde o início e, assim, aumentarem a probabilidade de uma implementação sustentada das respostas no sector da agricultura e florestas. No sector das florestas, estas instituições incluem comissões e outros mecanismos de gestão dos recursos naturais da comunidade, estabelecidos nas aldeias.

O departamento de recursos humanos dos ministérios das florestas e do ambiente padece de algumas carências, tal como outros ministérios. A manutenção de registos e o controlo dos dados do pessoal não se encontram informatizados e são incoerentes. Nesta situação, não é viável acompanhar com rigor o impacto do VIH/SIDA no pessoal dos serviços civis ou elaborar estratégias para dar resposta às futuras necessidades de aprovisionamento ou formação de pessoal. Neste aspecto, e como elemento essencial da discussão de políticas e assistência ao sector, a FAO irá prestar apoio aos departamentos de recursos humanos dos ministérios do desenvolvimento, junto dos quais implementa as suas actividades.

Na altura, a FAO implementou um projecto. Foram plantadas árvores (Eucalyptus saligna) nas encostas que circundam as aldeias, através de um projecto bilateral (NORAD). Quando atingiram os 13 anos, as árvores foram entregues à comunidade e um Comité de Gestão de Recursos Naturais geriu esse recurso da aldeia durante dois anos. Actualmente, as árvores são a principal fonte geradora de rendimentos da aldeia. Como as florestas da aldeia são predominantemente compostas por plantações exóticas, obter plantas medicinais não é tão fácil como nas aldeias com matas indígenas. Não obstante, os fundos provenientes das árvores servem de apoio a 20 órfãos da aldeia, com menos de cinco anos de idade, e financiam um orfanato, a construção de uma sala de aulas, uma farmácia básica, transporte para o hospital e contribuições para funerais. Embora seja louvável a organização e iniciativa da aldeia, estes fundos, que normalmente se teriam gasto em actividades de desenvolvimento, servem agora de apoio à aldeia na resolução dos problemas emergentes da proliferação do VIH/SIDA. No entanto, sem estes fundos, a aldeia sofreria restrições ainda mais severas do que as que tem agora.

COmITé DE gESTãO DOS RECURSOS NATURAIS DA ALDEIA (vNRmC): ALDEIA DE KATUNgA Durante uma missão da FAO, observou-se que as famílias afectadas pelo VIH/SIDA pareciam depender cada vez mais dos recursos de miombo, à medida que declinava a sua capacidade para se dedicarem à agricultura. As famílias incapazes de fazer colheitas também dependem mais daquilo que recolhem nas matas para as suas necessidades diárias de subsistência e rendimento. Além disso, em muitas das aldeias visitadas, as famílias não tinham acesso a fármacos e dependiam inteiramente das plantas e árvores que cresciam espontaneamente nos seus campos agrícolas e nas matas para o tratamento de infecções oportunistas. Dir-se-ia que as matas são, portanto, uma rede de segurança essencial para as famílias afectadas pelo VIH/SIDA. Foi adjudicado um estudo em dois países da África Austral para determinar a utilização e a variação do acesso aos recursos na sequência da pandemia de VIH/SIDA. O estudo irá explorar também o apoio à gestão de recursos que faz falta às instituições locais e respectivos serviços de extensão, as comissões de gestão dos recursos naturais das comunidades e outros mecanismos de gestão de recursos instalados nas aldeias.

As recomendações e os resultados do estudo serão divulgados através do programa de florestas nacional e utilizados para apoiar os países na concepção de programas de cooperação técnica. Estes dados serão comunicados a outros organismos de cooperação que estejam a conceber programas integrando respostas multissectoriais ao VIH/SIDA.

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Existem três aspectos transversais entre o sector das florestas e o VIH/SIDA:

O potencial contributo das árvores, matas, florestas e Silvicultura nas respostas pela subsistência das famílias afectadas pelo VIH/SIDA; O impacto na procura e na oferta de produtos florestais a nível local,

nacional e regional; e A perda de mão-de-obra e competências entre as famílias de

agricultores, trabalhadores florestais e especialistas.

É reconhecido que a planificação efectiva de programas deve ser conduzida horizontalmente entre os sectores, mas também verticalmente, a vários níveis, dentro de cada sector. São recomendadas diversas actividades para submeter à consideração dos decisores e executores políticos, entre as quais:

A Nível Nacional: avaliação de probabilidades e desenvolvimento e compilação de instrumentos de apoio à tomada de decisões políticas sobre estratégias agrícolas e florestais.

A Nível Local: documentação do valor das plantações tradicionais como rede de segurança económica e alimentar para agregados familiares afectados pelo VIH/SIDA; gestão sustentável das plantações tradicionais (para alimentação, geração de rendimentos e produtos medicinais) nas respostas do sector florestal à epidemia de VIH/SIDA; promoção de tecnologias de reduzida mão-de-obra para melhorar a fertilidade dos solos; e plantas medicinais nos campos agrícolas.

A Nível Institucional: apoio a instituições de ensino terciárias, através da revisão de políticas e do desenvolvimento de currículos, incluindo componentes de sensibilização sobre o VIH/SIDA e de resposta no sector florestal; cursos breves de actualização para resolver a falta de pessoal na agricultura e nas florestas; aprovisionamento de quadros profissionais com pessoal de outras regiões; dinamização das respostas do sector da agricultura e florestas nos projectos da FAO; e desenvolvimento da capacidade e transparência das instituições locais, formais e informais.

O sector das florestas está a corresponder às respostas dos programas de luta conta o VIH/SIDA, de diversas formas, abaixo descritas.

PROGRAMA FAO VIH/SIDA

RECURSOS DE CONSULTA

Programa da FAO sobre VIH/SIDAwww.fao/hivaids

Mitigar o impacto do VIH/SIDA na segurança alimentar e na pobreza ruralwww.fao.org/docrep/005/Y8331E/Y8331E00.htm

VIH/SIDA e florestaswww.fao.org/forestry/site/10808/en

Situação das florestas do mundowww.fao.org/forestry/foris/webview/forestry2/index.jsp?siteId=3321&langId=1

Perspectivas das florestas africanaswww.fao.org/docrep/005/Y4526B/Y4526B00.htm

VIH/SIDA, os sectores florestais e de vida selvagemwww.fao.org/forestry/foris/data/hiv/ForestryHIV-AIDS-EN.pdf

Contribuição das árvores e florestas aos meios de subsistência dos agregados familiares afectados pelo VIH/SIDAwww.fao.org/forestry/foris/data/hiv/HIV-AIDS-EN.pdf

ActividAdes florestAis e Agro-silviculturA Nos ProgrAMAs MultissectoriAis de coMBAte Ao viH/sidA

Nos países onde a epidemia de VIH/SIDA é grave e grande número de agricultores de subsistência são afectados, as políticas florestais podem proporcionar um quadro nacional para tratar o impacto da epidemia. O departamento de florestas da FAO considera que o seu papel em prol do desenvolvimento de quadros e estratégias políticas é uma parte importante do seu trabalho, pelo que está a contribuir para o desenvolvimento de instrumentos de apoio à tomada de decisões políticas. O papel que o sector florestal pode desempenhar na mitigação dos impactos do VIH/SIDA foi apresentado em diversos artigos e resumos emitidos no Comité para as Florestas 2003 (2003 Committee on Forestry), da FAO, e na Comissão Africana para as Florestas e a Vida Selvagem (African Forest and Wildlife Commission), publicados nos estudos 2003 State of the World’s Forests e 2002 Forest Outlook Study, sobre África.

INfLUêNCIA NA pOLíTICA

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Uma prática agroflorestal que requer o mínimo de mão-de-obra e pode manter a sustentabilidade da agricultura a longo prazo é a beneficiação dos alqueives. Esta prática consiste no plantio deliberado ou sementeira directa de espécies fixadoras do azoto em terras que, de outro modo, seriam deixadas ao abandono quando começassem a produzir menos, até que o solo readquirisse a sua fertilidade pelo processo lento de repouso e regeneração. Com a beneficiação dos alqueives, os arbustos contribuirão para o abastecimento de forragem e madeira de queima, perto das propriedades rurais, no prazo de dois anos após a plantio. Os alqueives beneficiados também podem ajudar a garantir a posse das terras dos campos abandonados e são adequados à maior parte do território da África Austral, onde prevalecem os sistemas de baixa produção e a rotação agrícola consiste em deixar regenerar a terra. Esta tecnologia está a divulgar-se com êxito na Zâmbia, Moçambique e Malawi.

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Food and Agriculture Organization of the United Nations

Viale delle Terme di Caracalla00153 Rome, ItalyTel. +39 0657051E-mail: [email protected]: http://www.fao.org/hivaids