pretexto 3 edicao

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Repressão e imprensa Colóquio reúne estudantes e professores para discutir as memórias do regime militar Ano 2 - 3ª Edição - 26 de Setembro a 2 de Outubro de 2014 Conheça a diferença entre o taekwondo olímpico e o tradicional Pag. 11 Com produção de sabão, Dona Iraci ajuda a quem precisa Pag. 12 Festival Kinoarte movimenta o cenário cultural londrinense Pág. 10

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Repressão e imprensa

Colóquio reúne estudantes e professores para discutir as memórias do regime militar

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Conheça a diferença entre o taekwondo olímpico e o tradicionalPag. 11

Com produção de sabão, Dona Iraci ajuda a quem precisaPag. 12

Festival Kinoarte movimenta o cenário cultural londrinensePág. 10

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Jornal Laboratório produzido pelo4º ano do Curso de Comunicação Social, habilitação Jornalismo, da Universidade Estadual de Londrina

Coordenação Editorial(docentes responsáveis):Emerson S. DiasPaulo César BoniLauriano Benazzi

Editor-Chefe:Nathalia Corsi

Chefe de Redação:Milliane Lauize

Projeto Editorial:Emerson S. DiasFábio SilveiraGisele RechLauriano Benazzi

Projeto Gráfico:Erick LopesLais TaineLauriano Benazzi

Diagramação:Carol FereziniPaola Cuenca MoraesYudson Koga

Chefe do Departamentode Comunicação:Mário Benedito Salles

Coordenador do Colegiadode Jornalismo:Ayoub Hanna Ayoub

Correspondência:Coordenação do Curso de JornalismoUEL – Universidade Estadual de LondrinaRodovia Celso Garcia Cid, BR 445, Km 380CEP 86057-970 Londrina – PRTel.: (43) 3371-4328E-mail: [email protected]

PreTexto na Internet:facebook.com/JornalismoUEL www.issuu.com/jornalpretextowww.jornalismouel.com

Minha mãe sempre me diz que eu nasci com cara amarrada. Como se um despertador tivesse soado às seis da manhã de uma segunda-feira pós-feriadão. Eu não sorria. Estava de mal com o mundo e com todas aquelas pessoas que falavam co-migo como se estar na terra fosse uma coisa boa. Mas, minha progenitora diz, ainda, que um dia, depois de uns seis meses, por algum motivo eu sorri. E não parei mais. Sorria para os carros, para o vento, para a comida e para o desconhecido que fazia caretas na fila do mercado. Às vezes sorria até dormindo, como se precisasse recuperar os meses perdidos com lábios cerrados.

E cresci. De tempos em tempos algumas coisas conseguem me fazer rir mais que outras. Na maioridade era conseguir equilibrar cursinho, amizade, namoro e família. No início da faculdade, era rever o namorado que estava em outra cidade. Ano passado, era estar rodeada de pessoas queridas para uma tarde de conversas e guloseimas. E agora... Bom, agora, ando meio poeta, meio louca, meio sensível. Tenho sorrido como no tempo que nem dentes tinha na boca.

Vai ver o determinismo não está tão errado. O meio tem

Uma carona para a paixãoPaola Cuenca Moraes

CRÔNICA

Opinião02 26 de setembro a 2 de outubro de 2014

Lembrar para que não se repitaEDITORIAL

No cinquentenário do golpe de 1964, não se pode deixar de tratar sobre os resquícios e as lembranças de um período severamente marcado pelo autoritarismo e por graves vio-

lações aos direitos humanos. A ditadura militar no Brasil se estendeu por 20 anos, e até hoje muito do que aconteceu não foi revelado. Familiares ainda lutam para desvendar o que houve com seus mortos e desapare-cidos políticos.

A concentração da propriedade e de renda, a lei da anistia, a consti-tuição promulgada, o monopólio dos meios de comunicação e a priva-tização do ensino superior são exemplos do que é considerado herança dessa época. Mas o que tem a dizer quem viveu o regime ditatorial? De que maneira a ditadura foi sentida aqui, em Londrina? É o que a Comis-são da Verdade do Paraná, batizada de Teresa Urban, buscava conhecer por meio da audiência pública que realizou na UEL, no último mês.

Histórias vividas durante o regime militar foram ouvidas, principal-mente depoimentos de vítimas ou testemunhas de violações aos direitos humanos, na intenção de serem encaminhadas à Comissão Nacional da

Verdade. Apesar de não ter poder legal para punir os acusados, a Comis-são tem a função de colaborar para a apuração dos fatos e é movida pelo desejo de justiça frente ao período de governo em que a perseguição política e a tortura se fizeram presentes de maneira intensa.

A censura é outro marco da época que não pode ser silenciado. En-tendendo a importância histórica do árduo regime, focamos nesta edição o I Colóquio Nacional de Estudos do Autoritarismo. O evento objetivou ampliar e popularizar debates acadêmicos em torno dos efeitos da dita-dura, especialmente no que diz respeito à censura e à repressão às artes e à imprensa. Caracterizou-se também pela proposta de discutir mani-festações de oposição ao regime militar, que compuseram um amplo movimento de resistência cultural. O Colóquio cumpriu o papel de des-centralizar essas discussões, sempre tão atreladas ao eixo Rio-São Paulo.

Falamos, enfim, de uma época que deve permanecer viva na memó-ria dos brasileiros, mas para nunca se repetir. Quanto mais se aprende sobre a ditadura, maior a certeza de que a democracia deve ser preser-vada e reconhecida como melhor opção de governo.

MEMÓRIA PRETEXTO

me influenciado a sorrir por encantamento. Além de observar pessoas que vem e vão com mochilas cheias de esperança pron-tas para serem compartilhadas na mesa do café-da-manhã, tenho admirado o amor passageiro. Uma americana e uma argentina que atrasam suas viagens por semanas para ficarem alguns dias juntas. Um alemão que vai atrás de uma mexicana até a cidade natal dela, porque uma noite era muito pouco. Um convite de um russo para seguir viagem pelo mundo, juntinho, para preencher a mala com um pouquinho de paixão.

É o amor de verão em escala internacional. É viver a paixão sem pensar que amanhã seu amado pode estar a 10 mil quilôme-tros. É dispensar joguinhos e ter pressa de sentir, é ter urgência de viver sob as regras do coração. É ser meio poeta por um final--de-semana e jurar que será “eterno enquanto dure, posto que é chama”. É ser meio louco para rasgar o bilhete de viagem, afinal as pirâmides do Egito podem esperar. É ser meio sensível para sofrer a despedida de alguém que você conheceu só há três dias, mas te fez sentir calores desconhecidos por 72 horas.

(Crônica escrita durante intercâmbio internacional realiza-do pela autora no primeiro semestre de 2013.)

O Pretexto de abril de 1994 trazia o anúncio da vitória da chapa “Um Salto de Qualidade”, dos professo-res Jackson P. Testa e Nitis Jacon, na corrida pela reitoria da universidade como chamada principal.O destaque, para nós da Redacão, fica por conta da matéria sobre os temidos Trabalhos de Conclusão de Curso que casa perfeitamente com nosso momento acadêmico. A 23 dias da entrega do TCC, o desespero começa a tomar conta!

CHARGE

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Parecer

DUELO

Nesta semana o senador Álvaro Dias fez críticas ao governador Beto Richa, am-bos do PSDB e candidatos à reeleição. Durante o horário eleitoral, Dias disse que es-taria “ficando cada vez mais difícil” de se entender com Richa, que é seu aliado nes-sa campanha. “Quanto pior o governo mais apoio polí-tico ele tem, especialmente quanto pior no campo da ética”, disparou o senador. Ainda durante a propaganda eleitoral, Dias apresentou um argumento semelhante ao do senador Roberto Re-quião, do PMDB. “O Paraná vai mal. A impressão que fica é que quem se elegeu em 2010 não tomou posse até hoje, porque não se vê nada de concreto, de objetivo”. Requião tem feito campanha dizendo que o Paraná está “sem governo”.

DUPLICAÇÃO

Foi adiada para segunda-feira (29) a liberação dos dez quilômetros da duplicação da Rodovia PR-445, entre a Universidade Estadual de Londrina (UEL) e a Sandoz, em Cambé. Até então a in-formação do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) é que seria liberado esse trecho na quarta-feira (24). De acordo com o su-perintendente regional do DER em Londrina, José Fer-reira Heidegger, o motivo do adiamento são as chuvas. No trecho em questão exis-tem quatro quilômetros de responsabilidade do DER: da UEL até o viaduto da ro-dovia BR-369. Outros seis quilômetros estão sob o co-mando da concessionária de pedágio Econorte: do viadu-to da BR-369 até a fábrica da Sandoz. O restante da duplicação, entre a UEL e o cruzamento com a Avenida Dez de Dezembro deve ser liberado até o final de outu-bro, prazo final também do contrato com a construtora.

Em 13 de maio de 1888, a princesa Isabel assi-nou a Lei Áurea abolindo a escravidão no país. Com isso, milhares de escravos receberam a sua liberdade. Escravos e também pobres e negros. Essas eram as características daqueles que eram

mantidos pelos seus “donos”, ou seja, tratados como pro-priedade de alguém.

A escravidão acabou, mas a discriminação paira há dois séculos sobre nós e isso se reflete em muitos problemas que encontramos atualmente na sociedade. Um deles

é o preconceito racial. O que di-fere em direitos, segundo a Cons-tituição brasileira, alguém ser de raça preta, branca ou parda? Perante

a lei, nada. Porém, não é raro encontrarmos disparidades sócioeconômicas entre brancos, negros e índios – e pior – pessoas que ainda julgam alguém pela sua etnia ou cor.

Podemos relembrar o caso do goleiro santista Aranha. Algumas semanas atrás, ele foi o foco das mídias do Brasil inteiro. Em um jogo entre Grêmio e Santos, a torcedora gremista Patrícia Moreira dirigiu xingamentos ao goleiro, chamando-o de “macaco”. A gaúcha teve de arcar com as consequências, já que ser racista é crime e é passível de responder processo judicial. O goleiro Aranha disse que perdoava a torcedora gremista pelas injúrias depois de ela ter se desculpado publicamente, mas cobrou justiça, di-zendo que ela deveria “pagar pelo que fez”. E negou um

pedido para se encontrar com Patrícia.Outro assunto atual na mídia é o programa “Sexo e

as Negas”, da Rede Globo. Antes da estreia, o autor Mi-guel Falabella, foi acusado de racismo, sexismo, machismo entre outros. O título do programa andou pelas redes sociais, onde muitas mulheres negras argumentavam “eu não sou as suas negas”. Falabella defendeu que a série caminha para a comédia dramática e pauta o universo de quatro mulheres negras. Será preciso acompanhar com atenção a série para comprovar que nada no programa denigra a imagem ou o orgulho das brasileiras afrodes-cendentes.

De proprietários de escravos a Hitler e nazistas, o pre-conceito de uma raça contra outra também tem resultado em atrocidades. Para combater a doença do preconceito racial, são elaboradas legislações para garantir que as pes-soas se tratem com respeito e dignidade, permitindo a todos o direito inalienável da vida e liberdade. Embora a ação do homem possa ser legislada, os seus corações e temores não podem. Assim, a sociedade continua a so-frer de discriminação. Fóruns, coligações e outras inicia-tivas continuam a ser formadas para promover a união, compreensão e tolerância.

Em meio a tantas polêmicas, o importante é não escon-der ou menosprezar o tema. Discussões sobre o racismo deve sempre vir à tona, seja em conversas informais, em salas de aula ou na televisão. Nenhum tipo de discrimina-ção é justificável. A última nação do mundo a acabar com a escravatura, ainda continua na prática o que foi abolido no papel. Mais de 100 anos deveriam ser suficientes para diminuir a discriminação, mas não diminuiu.

Discriminação é crimeMilliane

Lauize

Milliane Lauize

Opinião 0326 de setembro a 2 de outubro de 2014

DEBATES

Nathalia Corsi

REGISTRO

As condições das ruas internas da UEL e a falta de manutenção têm incomodado quem circula diariamente pela universidade. A Prefeitura do Campus está estudando medidas para recapear o asfalto, mas ainda não há orçamento, nem previsão para a execução de uma reforma que possa solucionar os danos causados pelas chuvas e pelo grande fluxo de veículos. Para amenizar a situação, foi feita neste mês uma operação tapa-buracos. A ação não recuperou os trechos mais danificados (que são vários), segundo o próprio Prefeito do Campus, Dari de Oliveira Toginho Filho: “Os trechos mais graves, onde o asfalto já está comprometido, o tapa-buraco não vai resolver.” No primeiro semestre, uma parceria foi firmada com a Prefeitura de Londrina para o recape de 12 mil metros², o qual teria início em abril deste ano. Nada foi feito até agora.

NAS REDES

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Confira o PreTexto e as pro-duções dos estudantes do curso de Jornalismo da UEL na internet. Mande seus co-mentários e sugestões de pauta através do Facebook e do Twitter. Acompanhe também a versão digital dos jornais laboratórios e as pro-duções das demais séries no portal de notícias do curso.

A última nação do mundo a acabar com a escravatura ainda continua na prática o que foi abolido no papel

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Londrina04 26 de setembro a 2 de outubro de 2014

RondaLucas

Nabesima

ECONOMIA

Estudo coloca aeroporto de Londrina entre os mais promissores do paísSegundo números, a cidade supera Cascavel em potencial econômico, mas fica atrás de Maringá na maioria dos índices

Fernando Bianchi

Investimentos

ASSALTO

Um homem morreu após confronto com a Polícia Militar na manhã desta quarta-feira (24). Segundo a PM, o rapaz foi abordado pelos po-liciais após assaltar um posto de combustíveis, no centro da cidade. Ele foi perseguido e, durante luta corporal, tentou pegar a arma de um dos policiais. O outro policial atirou no suspeito, que morreu na hora. Um dos dois policiais ficou ferido na perna.

DETIDO

O motorista que causou um acidente ao dirigir embriagado segunda feira, 15, teve liberdade provisória negada pela Justiça. Ele teve sua pena de prisão em flagrante convertida em prisão preventiva e ficará detido por perío-do indeterminado.

SINAL VERMELHO

Desde o início de 2014, a Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU) deixou de contar com a fiscalização através dos videovigias, que somente em 2013 fla-graram mais de 28 mil avanços da faixa de re-tenção e do sinal ver-melho. Apesar disso, o número de multas não diminuiu, inclusive a média diária de autua-ções cresceu.

MULTAS

Em 2013, a CMTU contabilizou 118.087 multas, 30.242 delas de excesso de veloci-dade e 27.612 de avan-ço do sinal vermelho, o que dá uma média de 323 autuações por dia. Já no primeiro semes-tre deste ano, a média subiu para 352, com um total de 67.713 e novamente destaque para velocidade aci-ma da permitida, com 16.008.

Um estudo divulgado pela empresa paulista de inteligência de mercado Urban Systems conside-ra que o aeroporto de Londrina é o oitavo com maior potencial de cres-cimento no país. Além de outros dados econômicos, os números do estudo tra-zem quatro aeroportos do Paraná entre os vinte mais promissores do Brasil. Ma-ringá é a cidade paranaen-se mais bem colocada no ranking, figurando em sex-to lugar, seguida de Casca-vel e Londrina em sétimo e oitavo lugares, respecti-vamente. O aeroporto de Foz do Iguaçu aparece na décima colocação.

A metodologia adota-da pela Urban Systems é uma avaliação própria denominada Índice de Qualidade Mercadológi-ca (IQM), que classifica o potencial de crescimento de determinadas regiões buscando orientar novos investimentos. No caso dos aeroportos, são consi-derados os fatores infraes-trutura, passageiros, carga, desenvolvimento imobiliá-rio e receitas acessórias. O aeroporto de Londrina aparece com 44,26 pontos na avaliação, e n q u a n t o Maringá apre-senta 47,11 pontos. O a e r o p o r t o de Casca-vel, também à frente de Londrina, ficou com 44,70 pontos.

Outros númerosDe acordo com outros

dados econômicos levan-tados na avaliação, Londri-na fica atrás de Maringá em números como o Índice de Desenvolvimento Hu-mano (IDHM) de Renda: Londrina tem 0,79, contra 0,81 de Maringá. O Pro-duto Interno Bruto (PIB) percapta da microrregião maringaense também su-pera o de Londrina: R$ 26.810 ao ano, contra R$

21.071 na região londri-nense. Maringá também tem vantagem em indica-dores como exportações, importações, renda média e crescimento do PIB – neste último indicador, se-gundo a pesquisa, Maringá cresceu mais que o dobro em relação à Londrina no período entre 2010 e 2011: 17,60% contra 8,40%.

Segundo o presidente da Associação Comercial e Industrial de Londrina (Acil), Valter Orsi, o es-tudo realizado pela em-presa paulista considerou somente o período entre os anos 2010 e 2011. De acordo com Orsi, “núme-ros de um só ano não são suficientes para elaborar cenários futuros de médio e longo prazos”. Ainda de acordo com o presidente da Acil, o período estuda-do na cidade de Londrina corresponde a uma épo-

Nesta semana, o pre fe i to A lexan-dre K i ree f f anun-c iou a l iberação de R$ 50 mi lhões pe lo Governo do Es tado, a t ravés da Secretar ia do De-senvo lv imento Ur-bano (Sedu) , para inves t imentos in-dust r ia i s e ampl ia -ção do Aeroporto In ternac iona l José R icha, em Londr i -na .

R$ 30 mi lhões serão des t inados a desapropr ia-ções de terrenos para ampl iação da p i s ta do aeropor-to, o que permi t i -r i a a ins ta lação do ILS, equ ipamen-to ut i l i zado para or ientar pousos e deco lagens com cond ições c l imát i -cas adversas .

A pre fe i tura es-pera consegu i r ins ta lar o equ ipa-mento a té o f im de 2016.

Embarque de passageiros na pista do Aeroporto de Londrina

ca de instabilidade políti-ca, fato que, segundo ele, certamente comprometeu os indicadores econômi-cos. “Os prognósticos se referem ao período entre 2010 e 2011, justamente a época em que a cidade foi mais abalada por es-cândalos de corrupção e viveu uma terrível crise de insegurança jurídica”, diz Orsi.

O presi-dente da Acil considera que os indicadores e c o n ô m i c o s de Londrina não devem ser compara-dos com os de cidades como Casca-

vel e Maringá. “Ser maior é mais difícil. A compa-ração mais racional seria com cidades de porte se-melhante, como Ribeirão Preto e Caxias do Sul”, justifica Orsi. Para ele, o crescimento econômico de Londrina depende do incentivo à industrialização e investimentos em infra--estrutura. “Não há outro caminho a não ser a indus-trialização, e finalmente parece que o poder pú-blico optou por essa via”, declara o presidente.

TMA Londrina

Maringá é a cidade paranaense mais bem colocada no ranking. O aeroporto do município vizinho é o sexto com maior potencial de crescimento no país. Cascavel e Londrina aparecem em sétimo e oitavo lugares, respectivamente.

Page 5: Pretexto 3 edicao

Paraná 0526 setembro a 2 de outubro de 2014

INTERNET

“Convite” do Casamento divulgado na página das prefeituras no Facebook

Após brincadeira na internet, desenvolvedores de perfis decidiram fazer uma mobilização por doação de sangue

Agência Brasil

“Casamento Vermelho” marcará

união de prefeituras após brincadeira

Divulgação

NAUFRÁGIO

Um barco-hotel com 16 turistas de Londrina e Alvo-rada do Sul (71 km de Lon-drina) naufragou no final da tarde dessa quarta-feira (24), no Rio Paraguai. Os mora-dores do Paraná estavam no Pantanal para uma pescaria e foram atingidos por uma tempestade com ventos de 90 km/h, que causou o tom-bamento da embarcação El Sonho del Pantanal em Por-to Murtinho, no Mato Gros-so do Sul.

BIOGÁS

Agricultores de Marechal Cândido Rondon, no oeste do Paraná, começaram a ga-nhar dinheiro com um pro-jeto que transforma o dejeto de animais das propriedades em energia elétrica. A ener-gia elétrica é produzida com o uso do biogás, que surge com a decomposição dos dejetos animais. A princípio, a energia será utilizada para alimentar o maquinário das propriedades, mas o objeti-vo é que parte dessa eletri-cidade seja vendida à Copel, gerando lucro extra aos agri-cultores.

TEMPESTADE

Na manhã desta quarta--feira, 35, uma tempesta-de com rajadas de ventos derrubou quatro torres de energia de Furnas em Cafe-lândia, no oeste do estado. As estruturas danificadas fazem parte do sistema de transmissão da energia elé-trica produzida pela usina de Itaipu, em Foz do Iguaçu, à subestação de Ivaiporã. Equipes foram acionadas e cerca de 140 técnicos estão trabalhando na recuperação das torres que medem em média 43 metros e altura e pesam 14 toneladas cada uma. A previsão é que os trabalhos sejam concluídos em até dez dias.

PARALISAÇÃO

Cerca de 300 servidores do Poder Judiciário Federal fizera uma manifestação na tarde desta quarta-feira, 24, em frente ao Tribunal Regio-nal Eleitoral (TRE) em Curiti-ba. Os funcionários cobram a aprovação do projeto de lei 7920/2014, que cria um plano de carreira e reajuste salarial. Segundo os servi-dores, já são oito anos sem reposição da inflação nos salários, somando uma defa-sagem de cerca de 50% de perdas para os funcionários. Ainda de acordo com os tra-balhadores, houve um con-gelamento dos salários por parte do Governo Federal, o que é contra a Constitui-ção Federal.

ExtrasLucas

Nabesima

O “ c a s a m e n -to virtu-al” entre a p r e f e i t u r a

de Curitiba, (simboliza-da por uma capivara) e a prefeitura do Rio de Ja-neiro (representada por uma arara-azul) começou como uma brincadeira despretensiosa, mas vi-rou coisa séria. Desde o último dia 22, quando as duas prefeituras anuncia-ram o “casamento ver-melho”, a fim de incen-tivar doações de sangue no próximo sábado, 27 em ambas as cidades, di-versas instituições e ou-tras prefeituras de todo o Brasil aderiram à ação.

Todos os dias à noite, a página da prefeitura de Curitiba postava na rede social músicas para dese-jar bons sonhos àqueles que a seguiam. Apesar de receber inúmeras decla-rações de amor, continu-ava sozinha até que uma, em especial, despertou sua atenção. O texto, acompanhado de foto, dizia: “Quer se casar co-migo?”. Ela fez charme, quis saber no que se pa-reciam. Uma campanha na própria internet apoia-va, foram muitos posts com a marcação #acei-

tacuritiba. E a cidade, até então conhecida por ser fria, cedeu.

A ação, que começou com uma brincadeira de internet, ficou séria. To-dos os seguidores das páginas das prefeituras de Curitiba e do Rio de Janeiro no Facebook já estão convidados para o casamento neste sábado, dia 27. Prefeituras de ou-tras cidades, que também aderiram à brincadei-ra, estão se mobilizando para ajudar. E a cerimônia vai ter direito à festa, que será feita nos hemocen-tros. Com o lema “Mos-tre que você tem amor nas veias”, as prefeituras pedem doação de sangue para celebrar a união.

A ideia foi dos respon-sáveis por alimentar os perfis da rede. “Doação de sangue e cadastro de medula óssea são coisas que a gente leva a sério. Então, quando começou a brincadeira com o pedi-do de casamento, a gente começou a conversar por telefone com a equipe do Rio para conseguir uma forma de fazer com que o cidadão visse que es-távamos trabalhando. Aí decidimos finalizar essa história toda, com uma coisa bacana, de cunho social, que é a doação de

sangue”, explica o diretor de Mídias Sociais da pre-feitura de Curitiba, Mar-cos Giovanella.

Todas as pessoas, de todas as cidades do Bra-sil, estão convidadas a participar dessa campa-nha de doação de san-gue. Para doar, basta ir ao hemocentro de sua cida-de levando a carteira de identidade. A doação não pode ser feita em jejum. Os menores de 18 anos devem levar também uma autorização dos pais ou responsáveis.

Divulgação

Momento da doação de sangue

Data: Dia 27 de setembroHorário: 8 às 16 horasOnde: Hemobanco, na Rua Capitão Souza Franco, 290, Bigorrilho

Casamento

Vermelho

em Curitiba

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Campus06 26 de setembro a 2 de outubro de 2014

DITADURA

Quando lembrar

é resistirColóquio recupera memória da ditadura pelo olhar de diversos pesquisadores

A repressão no período da ditadura militar no Brasil dilacerou e mutilou histórias de vida. Deixou sufocados sentimentos em muitas famí-lias e sobreviventes das tortu-ras. Mas uma coisa a repres-são não pôde fazer: silenciar as memórias que insistem em se expressar.

Foi pensando na impor-tância de juntar fragmentos de memórias registradas e apresentar olhares sobre os fatos pertinentes daqueles anos que a professora do Departamento de História, Miliandre Garcia, decidiu or-ganizar o I Colóquio Nacional de Estudos do Autoritarismo, realizado de 23 a 26 de se-tembro. “Não era possível

passar em branco um evento tão significativo para a história do Brasil”, explica.

O evento contou com diversas mesas com foco no teatro, música, cinema, artes e imprensa, um importante momento de diálogo com diversos olhares sobre a dita-dura. Todas as mesas de de-bate foram pensadas para que houvesse um pesquisador de renome no Brasil, outro do Paraná e um da UEL.

Márcia Neme Buzalaf, uma das organizadoras, vê com bons olhos a reunião de diferentes especialistas no as-sunto. Para Buzalaf, “cada um tem uma visão, trabalha com um foco, com um jeito de olhar para o assunto. E aí as

coisas vão se encaixando, às vezes se conflitam, e isso traz outras discussões”.

A intenção, de acordo com Miliandre, é dar conti-nuidade ao colóquio nos pró-ximos anos. Como “estudos do autoritarismo” é uma área abrangente, a ideia é ir crian-do especificidades a cada nova edição. Por exemplo, discutir análises comparativas entre regimes autoritários no Brasil e em Portugal e até mesmo estudar o período do Estado Novo (regime político funda-do por Getúlio Vargas entre os anos de 1937 e 1945). “Cada edição vai contemplar um assunto dentro do tema geral do autoritarismo”, conta a idealizadora.

Por extenso

O jornalista Mario Fragoso, esteve presente no dia de exibição do documentário “Um dia nublado: crônica de um fim de semana” e disse que se identifi-cou profundamente com as cenas do documentário, pois era jornalista sindical e participou da primeira reunião da Conclat - Conferência Nacional da Clas-se Trabalhadora, no começo da década de 80. Essa conferência resultou na criação de uma comissão pró-CUT, em que idealizavam a aprovação de uma Central Única de Trabalhadores.

Fragoso falou de um episódio que ocorreu em 1985, no período pós-ditadura, quando ainda se observava resquícios do regime. O Grupo Delta de Teatro fez uma montagem da peça “Toda nudez será castigada”, de Nelson Rodrigues, e faria parte da programação do Festival Internacional de Londri-na (FILO), que havia sido classificado pela censura, ainda presente, como impróprio para menores.

De acordo com Fragoso, a atriz e diretora do fes-tival, Nitis Jacon, decidiu - de surpresa - permitir que a peça fosse apresentada na abertura do festival. A Polícia Federal foi acionada com a denúncia de que haviam menores presentes no Ouro Verde. Os poli-ciais esvaziaram o teatro e informaram que só entra-riam para assistir o espetáculo quem apresentasse a carteira de identidade. Em protesto, “aquele mar de carteira de identidade” foi apresentada por pessoas de todas as idades. “No fim das contas, prevaleceu a imposição da censura, de impedir que o espetá-culo fosse assistido por todo mundo. Mas a gente aprendeu naquele momento que era preciso criar situações de enfrentamento”, destaca. (R.O.)

Fragoso destaca que em 1984, o grupo PROTEU - Projeto Experimental de Teatro Universitário, do qual Fragoso fazia parte, montou um espetáculo com o nome Bodas de Café. Naquele período, todos os textos dos espetáculos tinham que ser mandados para avaliação na Divisão de Censura de Brasília. O texto, que colocava em cena a questão do conflito agrário, foi vetado na íntegra.

Meses depois, esse espetáculo foi selecionado pelo INACEN - Instituto Nacional de Artes Cênicas, para repre-sentar o Paraná em 1985, no Membembão. De acordo com Fragoso, diante disso, “o Fernando Peixoto (diretor teatral), se mobilizou, mexeu os pauzinhos, e conseguiu o seguinte: a gente devia pegar um pouco mais leve na questão agrária. Mas, de qualquer forma, antes de a gente se apresentar no Rio de Janeiro, a gente teria que fazer uma sessão fechada para três censores, no teatro Cacilda Be-cker”. A peça seria apresentada aos censores dali a dois dias, tempo que dedicaram a ensaiar falsas falas. E no dia seguinte a peça foi apresentada em sua forma original. “Nós demos um nó nos caras”, comemora Fragoso. (R.O.)

Ruthe Oliveira e Rafael Gratieri

Censura no teatro Bodas de café

Jorge Correa

TRIATHLON MIRIM

O Centro de Educação Física (CEFE), da UEL, irá receber, no domingo (28), a 6ª edição do “Meu Primeiro triathlon”. O evento, uma ini-ciativa da RPC TV em parceria com o Corpo de Bombeiros de Londrina, deve reunir cerca de 630 atletas-mirins que irão participar de um circuito composto por natação, ciclismo e cor-rida. O objetivo é conscientizar os pais e filhos sobre a importância da prática de atividade fí-sica, e também promover a inclusão social, já que parte das vagas são destinadas a crianças de instituições carentes. Saiba mais em http://www.bombeiroslondrina.com.br/projeto-meu-1o-triathlon.

TV UEL EM HD

Completando cinco anos de história, a TV Educativa e Cultural da UEL – TV UEL, passa a produzir e veicular sua programação em alta definição (HD). Nesta primeira etapa da ade-quação, o primeiro programa a ser produzido e veiculado em HD é o boletim diário REPÓRTER UEL. Até o final do ano, todos os programas produzidos e veiculados pela TV UEL poderão ser vistos em alta definição. A produção pode ser acessada no http://www.uel.br/tv/site/

A cerimônia de abertura do I Colóquio Nacional de Estudos do Autoristarismo teve a participação de Marcos Napolitano, doutor e

pela Universidade de São Paulo (USP), que discorreu sobre arte, resistência e lutas culturais. A palestra reuniu um público de

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Campus 0726 de setebro a 2 de outubro de 2014

PerobalVanessa

Tolentino

CICLO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

O Centro de Ciências Biológicas (CCB) da UEL promove, na próxima se-gunda (29), o 2º encon-tro do Ciclo de Atividades Integradores de Iniciação Científica Júnior. O Ciclo é direcionado aos estudan-tes de Iniciação Científica Júnior da UEL e do Pro-grama Institucional de Bol-sas de Iniciação Científica (PIBIC/CNPq), do Ensino Médio.

SIMPÓSIO NO HU

No próximo dia 17 de outubro, será realiza-do no Anfiteatro do Hos-pital Universitário (HU), o Simpósio Internacional sobre Gerenciamento e Conservação de Sangue do Paciente. O destaque do evento é o pesquisador austríaco Axel Hoffmann, que fará a palestra de aber-tura, realizada pela manhã. O Simpósio, promovido pelo Departamento de Ginecologia e Obstetrícia, do CCS/UEL, seguirá por todo o dia com a partici-pação de especialistas de Curitiba, Salvador, Jundiaí e Londrina.

PESQUISA EM COMUNICAÇÃO

Estão abertas as ins-crições para o Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem da UEL. Para os que irão apresentar trabalhos, o prazo final é no dia 9 de novembro, já os ouvintes, têm até o dia 19. O evento será realizado nos dias 24 e 25 de novembro, no Cen-tro de Estudos Sociais Apli-cados (CESA) e no Centro de Educação, Comunica-ção e Artes (CECA). O valor da participação é de R$ 80,00 para professores e de R$ 30,00 para alunos de graduação, pós-gradu-ação ou apresentadores. Mais informações www.uel.br/eventos/encoi

O regime militar brasileiro teve início no ano de 1964 e perdurou até 1985. Nesse meio tempo, o país viu sua Cons-tituição ser substituída por uma nova em 1967, a supressão de liberdades civis e, no ano de 1968, a promulgação do Ato Ins-titucional Nº 5, que dava poderes excepcionais ao Presidente da República. Miliandre Garcia entende que aquele contexto histórico não se encerrou na década de 80: “O modo como as instituições se estruturaram, as práticas da época, não aca-bam do dia para a noite. Existe todo um resquício. E por mais que tentemos nos livrar, eles continuam presentes”, explica.

Para Manoel Dourado Bastos, um dos organizadores e doutor em História e Sociedade pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), mesmo 50 anos após o golpe, o tema do regime militar ainda gera tensões ao ser discutido. “Por mais que tenhamos criado a ideia quase consensual de que o gol-pe é um problema, ainda não está tudo inteiramente resol-vido”, diz. O pesquisador cita um exemplo no qual, para ele, estas questões ainda perduram: “Uma das ruas de Londrina tem nome de um ditador (referindo-se à Avenida Castelo Branco). Acaba ficando normalizado, e isso é um problema.”

A doutora em História pela UNESP e também organiza-dora do colóquio Márcia Neme Buzalaf defende a importân-cia de se revisitar o período histórico a fim de que este não se repita. “Olhar de novo para isso não é nem questão de querer teses revisionistas, mas de construção. Estamos em uma fase de construir bases para que isso não aconteça mais”, explica Márcia. (R.G.)

O autoritarismo pro-voca a resistência. Foi nesse cenário que estu-dantes resolveram fundar um jornal de resistência, o Poeira, que durou de 1974 a 1978. O jornal teve trinta edições, mais dez boletins de edições especiais.

Tadeu Felismino, fun-dador do jornal e atu-almente professor do Departamento de Comunicação da UEL, explica que o Poeira nasceu três anos depois da própria universidade.

Segundo Felismino, ele e vários outros estudantes co-meçaram a fazer o jornal, que, aos poucos, foi ganhando leitores por sua linguagem e humor. Em 1974, quando o Poeira se colocou como chapa nas eleições do Diretório Central dos Estudantes (DCE), ele já era amplamente co-nhecido na universidade.

As grandes conquistas do Poeira foram a derrubada do exame obrigatório, o passe escolar para universitários, o regimento 169, ou chamado de Código Disciplinar, ba-seado no decreto federal 477, que normatizava o movi-mento estudantil; e a vitória contra a reforma universitária. O ensino gratuito foi conquista de outra gestão, em 1992, mas iniciada na gestão Poeira. De acordo com Felismino, depois do Poeira, surgiram vários jornais setoriais.

Hoje o Poeira está com todo o acervo digitalizado no site http://issuu.com/jornalpoeira (R.O.)

Por que ainda hoje se estuda o período militar?

Poeira em movimento

Mariana Somensi

Reprodução

A cerimônia de abertura do I Colóquio Nacional de Estudos do Autoristarismo teve a participação de Marcos Napolitano, doutor em História Social

pela Universidade de São Paulo (USP), que discorreu sobre arte, resistência e lutas culturais. A palestra reuniu um público de 260 participantes.

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Geral08 26 de setembro a 2 de outubro de 2014

DIREITOS HUMANOS

Comissão da Verdade resgata histórias de antigo centro de tortura em MarabáEntre 2012 e o ano passado, crescimento das matrículas foi de 3,81%. No ano anterior, expansão tinha sido de 4,4%

EBC

Às margens da Rodovia Transamazônica, em Marabá, no Pará, um local guarda histó-rias que muitos moradores da cidade nunca ouviram falar. O nome Casa Azul pode até pa-recer um título de contos infan-tis, mas em nada combina com os horrores vividos por quem passou pelo local na década de 70.

Utilizada como centro clan-destino de tortura e morte, na época da ditadura militar, a Casa Azul foi o destino de mui-tos guerrilheiros que atuaram no Araguaia e também de cam-poneses. Para dar um ar de le-galidade e evitar desconfianças, lá funcionava também o extin-to Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER). Hoje o local abriga a sede do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).

Em um imenso quintal cheio de árvores e sombras, o lugar é um complexo de pequenas casas espalhadas em um ter-reno. Uma, especificamente, foi apontada por sobreviventes como o local da maioria das torturas. Ela estava abandonada e lacrada quando, na segunda quinzena de setembro, a Co-missão Nacional da Verdade

foi a Marabá fazer uma de suas últimas diligências na região do Araguaia. Foi preciso arrombar o portão de grades para entrar. A poeira e as teias de aranha nas janelas azuis dividiam es-paço com entulho em alguns cômodos.

Depois de décadas, Rai-mundo de Sousa Cruz, mais conhecido como Barbadinho, entrou novamente nas salas em

que levou choques elétricos, tapas e chutes. Acompanhan-do a Comissão, o senhor de 84 anos que era dono de uma pequena mercearia se emo-cionou. Na época, Barbadinho não sabia direito porque apa-nhava, mas quando foi questio-nado pelos militares, confirmou ter conversado com pessoas que o regime classificava como terroristas. “Eu levei choque

demais ali. Empurrão, ponta pé. Eles perguntavam se eu conhecia alguém. Eu dizia: ‘co-nheci sim’. Aí eu contei a histó-ria de seis horas da manhã até onze e meia da noite”. Dentro da pequena sala, ele tremia, e a voz ficava embargada.

A psicóloga da Comissão Estadual da Verdade do Pará, Jurelda Guerra, explica que a reação de Barbadinho é co-

Div

ulga

ção

Ex-soldado Guido Ribeiro e camponês Pedro Nascimento reconhecem local onde

foram presos e torturados durante campanha militar contra a Guerrilha do Araguaia

Agência Brasil

A Anistia Internacional de-fende que o aborto seja tratado como uma questão de saúde pú-blica e de direitos humanos, e não criminal. O pedido pelo debate urgente no país veio depois da confirmação das mortes de Jan-dira Magdalena dos Santos Cruz, de 27 anos, e Elisângela Barbosa, de 32, após interromperem gra-videz, de forma clandestina, no Rio de Janeiro.

No Brasil, estimativas apon-tam que em torno de 1 milhão de mulheres fazem abortos clan-destinos todos os anos, e 200 mil morram em consequência da operação.

O assessor da Anistia Inter-nacional lembra que em países que legalizaram a prática, como o Uruguai fez em 2012, o número de abortos diminuiu e a morte por essa causa zeraram. “Impres-sionante como as mulheres para-ram de morrer no Uruguai, por causa do aborto”, argumentou, “porque [o procedimento] pas-sou a ser feito de maneira segura, controlada.”

Aborto é problema de

saúde pública

EDUCAÇÃOSAÚDE

140 mil jovens ainda estão

fora das escolas

Ebola já matou 2.917

pessoas em 6.263 casosAgência Lusa Yara Aquino - Agência Brasil

mum. Segundo ela, todos os torturados - a maioria senhores com mais de 70 anos – apre-sentam sintomas parecidos, por causa dos traumas físicos e psicológicos. “Medo, sonhos na madrugada, sonhos assim com terror. Acordam com taquicar-dia. Acordam com medo, mui-to choro.Todos eles choravam ao falar. O sentimento de de-sesperança pode ser uma con-sequência da depressão. Todos têm uma melancolia, todos têm uma tristeza, um sentimento de impotência”, ressaltou.

Apesar de as vítimas apre-sentarem dificuldades para ex-por o que passaram na Casa Azul, o coordenador da Co-missão Nacional da Verdade, Pedro Dallari, ratifica a impor-tância do ritual. “A presença da Comissão Nacional da Verdade em locais onde houve graves violações de direitos humanos, é muito importante porque estimula os testemunhos, os depoimentos tanto de vítimas, como de agentes. E isso forma a convicção da comissão”, des-tacou.

Barbadinho não foi o único a entrar na casa novamente. Outras vítimas e até um sol-dado recrutado pelo Exército resolveram voltar lá e contar o que passaram no lugar clas-sificado por eles como casa dos horrores.

Os três países mais afetados pela epidemia – a mais grave desde que o vírus foi identifica-do, em 1976, e que ressurgiu no final de dezembro do ano passado – são a Libéria, a Gui-né-Conacri e Serra Leoa.

Outra epidemia de ebola, distinta da que atinge a África Ocidental, já matou 41 pesso-as em 68 casos no Noroeste da República Democrática do Congo, desde que apareceu em 11 de agosto e até 18 de setembro, segundo dados di-vulgados nesta quinta-feira pela OMS.

De acordo com a agência das Nações Unidas, só é possí-vel dizer que não há mais trans-missão do vírus em um país “42 dias após o último caso registra-do”.

A infecção ocorre por con-tato direto com fluidos corpo-rais, sangue, ou secreções. O período de incubação dura de dois a 21 dias. Nesta fase, a do-ença não é contagiosa. Apenas a partir do momento em que os sintomas se manifestam é que pode ser transmitida.

Cre

ativ

e C

omm

ons

A doença atinge uma taxa de mortalidade de cerca de 70%, segundo estudo divulgado pela OMS.

No pa í s , cerca de 140 mi l c r ianças e jovens es-tão fora da esco la dev ido a de f i c iênc ia , t rans tornos de desenvo lv imento, au-t i smo e superdotação, segundo levantamen-to na base de dados dos que recebem o Benef í c io de Pres tação Cont inua-da (BPC) na Esco la e têm até 18 anos . A d i scussão sobre garant i r o d i re i to à educação inc lus iva a to -dos os que têm def i c iên-c ia é tema da Semana de Ação Mundia l , que ocorre entre 21 e 27 de setem-bro e es te ano tem como tema o Dire i to à Educa-ção Inc lus iva – Por Uma Esco la e Um Mundo para Todos. Como par te das a t iv idades da semana, um seminár io fo i rea l i zado ho je (23) , em Bras í l i a .

A coordenadora execu-t iva da Campanha Nac io -na l pe lo Dire i to à Educa-ção, I racema Nasc imento, ava l i a que houve avanços s ign i f i ca t ivos na inc lusão

das pessoas com def i c iên-c ia nas esco las . No entan-to, d iz que, para ampl iar os resu l tados do t raba lho e garant i r as matr ícu las das pessoas com def i c iên-c ia em esco las regu lares , é prec i so superar f a tores como a fa l ta de es t rutura esco lar e também ampl iar a qua l i f i cação de pro fes-sores e vencer a res i s tên-c ia de famí l i a s . “Às vezes , há res i s tênc ia a té das fa -mí l i a s , que f i cam temero-sas de que suas cr ianças se jam mal t ra tadas” , d i s se I racema.

Dados da Campanha Nac iona l pe lo Dire i to à Educação, obt idos a par-t i r do Censo Esco lar de 2013, do Ins t i tu to Nac io -na l de Es tudos e Pesqu isas Educac iona i s An í s io Te i -xe i ra ( Inep) , apontam que apenas 6% dos pro fesso -res que a tuam na educa-ção bás ica têm formação cont inuada espec í f i ca em educação espec ia l de, no mín imo, 80 horas .

DEBATE

Page 9: Pretexto 3 edicao

Giro 0926 de setembro a 2 de outubro de 2014

Ana Maria Simono

MARGINALIZAÇÃO

A Organização das Na-ções Unidas (ONU) prome-teu lutar contra a exclusão social dos indígenas, na aber-tura da 1ª Conferência Mun-dial sobre Povos Indígenas. O Secretário Geral da Orga-nização, Ban Kin-moon, afir-mou que “os povos indígenas estão no centro dos debates sobre direitos humanos e de-senvolvimento global”.

De acordo com dados da ONU, os indígenas re-presentam 5% da popula-ção global. São mais de 5 mil comunidades espalhadas por mais de 90 países (Folha-press).

PEDOFILIA

O ex-arcebispo polonês Jozef Wesolowski, acusado de pagar para fazer sexo com crianças quando era embai-xador papal na República Dominicana, está em prisão domiciliar. Ele pode ser con-denado a 12 anos de prisão em um julgamento sem precedentes no Vaticano. O ex-arcebispo é a pessoa mais importante da Igreja Cató-lica a ser presa desde Paolo Gabriele, mordomo papal condenado em 2012 por va-zar documentos privados de Bento XVI (Folhapress).

EBOLA

Serra Leoa pôs sob qua-rentena mais três regiões do país onde vivem 1,2 mi-lhão de pessoas para evitar a propagação da epidemia de ebola. Atualmente, estão sob quarentena cinco dos 14 dis-tritos do país.

“As pessoas que vivem nas áreas sob quarentena vão enfrentar numerosas dificul-dades, mas a sobrevivência dos cidadãos do país é a nos-sa prioridade”, disse o presi-dente Koroma.

A epidemia de ebola já matou 2.917 pessoas na África Ocidental, em 6.263 casos, segundo o último ba-lanço da Organização Mun-dial da Saúde. (Agência Lusa)

CONTRA INTOLERÂNCIA RELIGIOSA

A 7ª Caminhada em De-fesa da Liberdade Religiosa reuniu cerca de mil pesso-as na orla de Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro, na manhã do último domin-go (21). Debaixo de chuva os manifestantes, em sua maio-ria vestidos de branco, em-punhavam cartazes contra a intolerância religiosa.

Para a ministra da Secre-taria de Direitos Humanos da Presidência da República, Ideli Salvatti, a caminhada reuniu adeptos de todas as religiões praticadas no país pelo mes-mo objetivo. “O do respeito, da paz, da boa convivência. A caminhada sinaliza a cultura da paz”, comentou Ideli.

Curtas

“Homens também não tem o benefício da igualdade.

Quando eles estiverem livres, as coisas vão mudar para as

mulheres como consequência natural. Se homens não tem a necessidade de controlar, mulheres não precisarão ser

controladas”.

Emma Watson em discurso proferido em 20/09 no lançamento da campanha He for She da Organização das Nações Unidas (ONU). O projeto tem intenção de atrair os homens para a luta feminista.

FINALISTA DO JABUTI

Na 56ª edição, o Prêmio, considerado o mais importante do mercado editorial brasileiro,

recebeu 2.240 inscrições. A cerimônia de premiação será em 18 de novembro, no Auditório

Ibirapuera, em São Paulo.

Lançado pela editora da UEL, a Eduel, o livro “Mito e Filme

publicitário – estruturas de significação” do pesquisador Hertz

Wendel de Camargo está entre os finalistas do Prêmio Jabuti 2014 na categoria Comunicação.

Escolas públicas que atendem a estudantes do Ensino Fundamental NÃO atingiram a meta do Índice

de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Foram consideradas 2974 escolas, e a única cidade que não está incluída no levantamento

é São Paulo, que não teve os resultados divulgados.

(Dados da Agência Brasil)

894MELHOR

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO

PAÍS5ªA UEL está entre as melhores

universidades do mundo, segundo a 3ª edição do QS Word

University Ranking. De acordo com o levantamento, a UEL é a 5ª melhor estadual e a 17ª entre as brasileiras, públicas e privadas.

A pesquisa foi realizada entre 800 instituições.

(Agência UEL de Notícias)

Divulgação ONU

Reprodução

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Mix10 26 de setembro a 2 de outubro de 2014

Chegando em sua 16ª edição, o Festival de Cinema Kinoarte traz uma programa-ção de filmes e oficinas que reafirmam sua importância para o cenário paranaense e também nacional.

Para o curador e organiza-dor do festival, Arthur Ianckie-vicz, a maior diferença entre essa edição e as outras, é que pela primeira vez foi possível realizar uma competitiva de curtas internacionais.

“Esse ano está bem pare-cido com o ano passado. A competitiva Íbero Americana é o grande diferencial. E tam-bém viemos com alguns fil-mes a menos”, afirma Arthur.

Exibição dos filmesNesta edição, as mais de

70 obras clássicas e contem-porâneas estão sendo exibi-das em três locais diferentes da cidade: no Londrina Nor-te Shopping, na UEL e no ComTour, com o objetivo de atingir um número maior de pessoas.

A programação traz uma ampla seleção de filmes, bus-cando principalmente desta-car o cinema brasileiro e in-dependente.

Mantendo a tradicional vi-sita dos estudantes, cerca de dois mil alunos das escolas públicas de Londrina partici-pam das mostras dos filmes gratuitamente e com a ajuda dos patrocinadores também recebem pipoca e refrigeran-te.

“Esse ano em especial os alunos estão sendo levados às sessões da Globo Filmes, particionadas pela Rede Pa-

ranaense de Comunicação (RPC)”.

Competitiva InternacionalIdealizada já há alguns

anos, a proposta de trazer filmes internacionais para as disputas de prêmios foi final-mente concretizada em 2014, depois de muito contato com curadores estrangeiros. Para Arthur, a maior dificuldade que impedia a realização era a forma de envio dos materiais.

“Esse ano encontramos uma plataforma espanhola que facilitou o envio.”, conta.

Em números, quase me-tade dos trabalhos são es-

panhóis, mas o organizador destaca a participação de toda América do Sul e países euro-peus.

“Tivemos um número grande de interessados e de países diversos. Peru, Colôm-bia, República Dominicana, Portugal e Caribe são alguns países que também enviaram obras”.

DesafiosTrazer arte no nosso país

não é uma missão fácil. Para os responsáveis pelo Festival Kinoarte, o maior desafio en-contrado no caminho é a aju-da financeira.

ALUGA-SE

Um novo negócio está surgindo no Brasil: o alu-guel de gadgets eletrônicos, principalmente de tablets e de aparelhos inusitados como o Google Glass. Para utilizar por um mês as em-presas cobram cerca de 7 reais a diária para alugar tablets da Apple, Samsung e Blackberry; já o Google Glass chega a 200 reais por dia, pela raridade do apa-relho no país. Para quem quer experimentar antes de investir, ou para usar os eletrônicos em eventos, pode ser uma boa ideia. As empresas são Startup, que aluga tablets, e a GoGlass, para os óculos.

DINHEIRO NO PULSO

Um novo relógio inteli-gente chegou ao mercado americano há pouco tem-po. Batizado de Cash, o aparelho que custa cerca de R$ 340 acompanha as finanças do usuário e avi-sa quando você começa a gastar mais do que deve. O uso é simples: basta inserir uma cota mensal de gasto para programar o telefone, e registrar suas compras, escolhendo o valor gasto e a categoria (como roupas, alimentação, etc). O relógio então vai calculando e aler-tando sua porcentagem de gasto e avisa quando você deve começar a economi-zar a grana.

Divulgação

Kinoarte marca cenário

cultural londrinenseEm mais um ano, o Festival atrai o público para as telas de cinema com filmes contemporâneos e diversificados

Divulgação

Filme “Castanha” trata o temática LGBT de forma dramática

“Cada ano nós contamos com um número diferente de patrocinadores e essa mudan-ça no orçamento é complica-da, porque acaba mudando também o que oferecemos no evento”, pontua Arthur. “Esse ano, por exemplo, con-tamos apenas com um patro-cínio, o que é um pouco mais de um terço do orçamento do ano passado”.

A localização também é uma outra dificuldade a ser driblada. É preciso encontrar local adequado para o núme-ro de pessoas e claro - que possa transmitir os filmes.

Filme de 2012

abre o FestivalNa 16ª edição, o filme de abertura foi o brasilei-

ro “O Homem das Multidões”, exibido no Londrina Norte Shopping.

Se passando na capital mineira, o drama duas his-tórias diferentes são contadas. A de Juvenal (Paulo André), condutor de trem do metrô, que enfrenta a impossibilidade de estar só. Para se sentir melhor, ele se mistura na grande multidão da cidade. Margô (Sílvia Lourenço), controladora de estação do me-trô, não consegue se desprender das redes sociais, trocando o mundo real pelo mundo virtual.

O filme foi um sucesso de crítica e lotou a primei-ra sessão do festival paranaense.

Filmes LGBT são tema de

projeto na UELO projeto “Cinema e Diversidade Se-

xual na UEL”, que teve início em outubro de 2013, propõe a realização de debates e discussões entre as comunidades aca-dêmica e externa sobre o tema da di-versidade sexual. Ao considerar a impor-tância do cinema para a educação e para a conscientização, o projeto tem como fio condutor a linguagem cinematográfi-ca. Assim, para promover essas discus-sões tem sido realizada anualmente uma Mostra de Cinema que acontece durante uma semana no CLCH/UEL. As sessões

são seguidas de debates como forma de problematizar as questões relacionadas às práticas hegemônicas de comporta-mento sexual.

O Festival Kinoarte também se pre-ocupa com a temática. Na última quarta-feira foi exibido na UEL o filme “Casta-nha”, de Davi Pretto. Que conta a história do ator que se divide trabalhando à noite como transformista em bares GLS e fa-zendo pequenas participações em peças de teatro infantis, filmes e programas de televisão.

Alessandra Galletto

Tech&Cult

Divulgação

Isadora Lopes

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NOVAMENTE...

Classificado como a ter-ceira melhor campanha da série D do Campeonato Bra-sileiro, com cinco vitórias e três empates, o Londrina vai enfrentar o sexto pior coloca-do entre os classificados para a segunda fase da competição.

... SANTOS

O adversário é o Santos do Amapá. A equipe do nor-te do país fez 16 pontos em 10 jogos: foram cinco vitórias, um empate e quatro derrotas, marcando 16 gols e sofrendo 12.

DATAS

O LEC joga fora de casa dia 28 de setembro e no Café dia 4 de outubro.

DISTÂNCIA

O jogo de ida vai ser reali-zado no Estádio Corrêa, mais conhecido como Zerão, lo-calizado em Macapá. A capital amapaense fica a 3.523 quilô-metros de Londrina, uma dis-tância e tanto para a viagem.

JOGO...

A direção do Londrina pediu para a CBF alterar o horário do jogo de volta das oitavas de final. A partida pas-sou das 16h para as 19h.

...NOTURNO

O jogo de volta será no dia 4, véspera de eleição. Como o comércio da cida-de funcionará o dia todo no sábado, a diretoria do clube acredita que o público da par-tida poderia ser reduzido se o jogo fosse realizado no perío-do da tarde.

CAMPANHAS

Além do Londrina, outros três times ainda não sabem o que é perder na série D. Confiança (SE), Brasiliense (DF) e Moto Club (MA) com-pletam o grupo dos invictos. Tombense (MG) e Rio Branco (AC) são os mais vitoriosos da competição, com seis partidas ganhas cada um. Porém o time do Acre jogou 10 vezes (grupo com um time a mais) enquanto os outros clubes jo-garam 8.

EntreLinhas

Esporte 1126 de setembro a 2 de outubro de 2014

João Victor Evangelista

TRADIÇÃO

A luta originária da Coreia não é exatamente o que se vê nas Olimpíadas

Adriana Gallassi

Taekwon-do: a arte marcial coreana dividida pela política

O Taekwondo se tornou es-porte olímpico de apresentação em 1988 e de competição em 2000. Foi quando a modalidade recebeu maior atenção, apesar de já ser praticada no Brasil des-de os anos 1970. O que muita gente não sabe é que essa arte marcial coreana pode ser prati-cada de uma forma diferente da que se vê nas Olimpíadas.

HistóriaO Taekwon-do nasceu den-

tro do 29° batalhão do exército coreano, em 1955, e era vol-tado para a guerra. O general Choi-Hong-Hi juntou as seis maiores escolas de luta da Co-reia do Sul e criou uma associa-ção que unificou a modalidade, a Internacional Taekwon-do Fe-deration (ITF), e espalhou mes-

Tradicional e olímpico: diferenças e futuro

Basicamente pode-se dizer que a modalidade olímpica (WTF) tem ênfase nos chutes e o foco do treinamento são as compe-tições. Já o Taekwon-do tradicional (ITF) utiliza socos e chutes quase na mesma proporção e não é focado apenas em competi-ções. Essa separação que diferencia o Taekwon-do em duas lutas diferentes pode acabar. Na Coreia do Sul existe um movimento entre a ITF e a WTF que pede a volta do Taekwon-do original. Porém não existem apenas essas duas polaridades no esporte. Nos EUA, principalmente, foram desenvolvidas outras vertentes de Taekwondo. Entre elas, a mais conhecida é o Songahm, defini-da pelo Mestre Queiroz como um MMA do Taekwondo.

Tae-Kwon-Do, Taekwon-do ou Taekwondo?

A palavra Taekwondo, originariamente era separada em três partes: Tae-Kwon-Do. O “Tae” significa pés e movimen-tos relativos aos pés como chutar, pisar e empurrar. “Kwon”, por sua vez, é relativo às mãos. “Do” representa a união dos outros dois elementos dentro de uma filosofia. Tradicional-mente, as três palavras eram separadas e davam a ideia de que o Tae-Kwon-Do era a junção dessas três partes. Depois passou a se entender que o “Taekwon”, os golpes, pé e mão, eram uma coisa e o “Do”, a filosofia e a tradição, outra. A ITF mantem essa definição. Já nos anos 1980, a WTF juntou todos os elementos e os destacou como uma coisa só.

tres pelo mundo para difundir a arte.

No entanto, em plena Guer-ra Fria, o general era partidário da unificação da Coreia do Norte e do Sul, visão que o go-verno sul-coreano condenava. Essa posição de Choi-Hong-Hi custou-lhe um convite para se retirar do país. Assim, ele se exilou no Canadá e levou a ITF com ele. Em 1973, o governo da Coreia do Sul criou a World Taekwondo Federation (WTF), como oposição à ITF e, poste-riormente, com o objetivo de seguir o caminho olímpico.

BrasilO Taekwon-do chegou ao

Brasil nos anos 1970. Jair Quei-roz, psicólogo e mestre de Taekwon-do, começou a treinar em 1974, aos 14 anos de idade, na cidade de Londrina. Ele conta

que em sua origem, o Taekwon-do era uma luta para matar o inimigo na guerra. “É claro que isso não poderia se tornar um esporte, mesmo tirando os gol-pes mais contundentes ele era violento, era muito difícil trei-nar Taekwon-do”, conta mestre Queiroz.

Ele explica que, para se tornar esporte olímpico, o Taekwondo precisou agregar di-versos protetores – toráx, cabe-ça, perna, braço, mão, pés – e os golpes mais contundentes fo-ram retirados. “Então se tornou uma luta que prima por muita agilidade, porém com o objetivo de pontuar”, afirma.

Carlos Roberto da Silva Ju-nior, professor de Taekwon-do há dois anos, chegou até a fai-xa preta lutando a modalidade olímpica do esporte e afirma que

durante esse tempo não teve acesso ao Taekwon-do tradicio-nal. “Não é divulgado. A própria história do WTF mesmo, é de queimar livro, literalmente” conta o professor e acrescenta que o governo sul-coreano che-gou a inventar outra origem do Taekwon-do para não fazer re-ferência ao general Choi-Hong-Hi. Essa outra história diz que o Taekwondo tem mais de mil anos e está registrada em livros.

O Taekwon-do tradicional, representado pela ITF, tem um treinamento mais difícil. Mestre Queiroz compara essa moda-lidade com o Muay Thai, mas com mais chutes e chutes mais altos, “o Taekwon-do tem uma certa agilidade e uma plasticida-de acima e os golpes de mão são bem semelhantes”, com-pleta.

Para Mestre Queiroz, aprender a socar e chutar qualquer um aprende, mas aderir à filosofia é mais

João Victor Evangelista

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Perfil12 26 de setembro a 2 de outubro de 2014

Iraci Andrade dos Santos, conhecida mesmo como a Dona Iraci, tem a aura, o carinho, a garra e a exigên-

cia de uma grande mãe. Viveu em Atibaia, em São Paulo, pe-quena cidade de referência tu-rística, onde ficou até que ela e o marido se aposentassem. E sempre teve o sonho de ajudar a quem precisa. “Toda a vida eu falei: a hora em que eu me aposentar eu vou fazer um projeto social, mas em que eu possa acompanhar as coisas, porque quando nós (familia-res) éramos pequenas sofría-mos muito com tudo isso”.

E assim surgiu a ONG CA-MAR, mais conhecida como Projeto Sabão: Ela e sua fa-mília vieram para Londrina, onde também têm parentes, e começaram a procurar quem e como ajudar. Em 2004 Iraci foi atrás da Pastoral da Crian-ça, onde teve a ideia de co-meçar a fazer sabão. Algumas senhoras da Pastoral lhe disse-ram, “Se a senhora conseguir arranjar soda e óleo, a gente pode fazer”. “Começou com a limpeza né. Muita gente até

hoje pergunta por quê Projeto Sabão, e é porque começou com sabão mesmo! Projeto sabão!”, conta Dona Iraci.

Mas hoje em dia o Proje-to Sabão tem mais sabão no nome do que na prática. Apesar de ainda pro-duzi-lo de vez em quando, agora a ONG tem uma grande e s t r u t u r a , que além de distri-buir doa-ções para a po-p u l a ç ã o c a r e n t e , tem bazar, aulas de artesanato, costura, com-putação, culi-nária e nutrição. O projeto vive de doações e voluntários: não aceita doações diretas em dinheiro.

Dona Iraci tem todo um sistema: há uma lista de cadas-tro que já possui 60 famílias que são atendidas pelo Pro-jeto. Um caminhão busca as

Há 10 anos fazendo o melhor do trabalho voluntário, Dona Iraci, do Projeto Sabão, não para por nada desde a aposentadoria

Alessandra Galletto

Fotos: Alessandra Galletto

Solidariedade da limpeza à família

doações, e quando chegam ao espaço da ONG tudo é or-ganizado e separado. Roupas e sapatos são vendidos em u m b a z a r

a preços simbólicos. “É che-gar até a pessoa né. Às vezes com roupas, cadernos... eu peço tudo, aqui vende tudo o que tiver. Até uma sacolinha

A dedicação e organização da Dona Iraci acolhe todo tipo de doação, montando o bazar e organizando os objetos para distribuir aos necessitados

de mercado a gente apro-veita para ensinar as mulhe-res; tinha gente que não fazia nada...”. O espaço do Projeto tem de tudo, desde alimentos até muletas, macas e cadeiras

de rodas. Quando vai até um dos bairros para en-

tregar doações, Iraci é cumpri-

mentada e acolhida com carinho; to-dos a co-n h e c e m . Ela coman-da o pro-jeto com coração de

ouro e sem pes tane j a r ;

conversa com famílias com

problemas, ga-rante que seus ca-

dastrados fiquem em dia, agenda todas as aulas,

e chega até a ir dar palestras em algumas organizações e igrejas.Para levar as doações, tem até sacolas numeradas para cada família, feitas com calças e saias jeans recicladas.

Os assistidos do projeto

acabam muitas vezes se en-volvendo e virando voluntá-rios, ajudando a expandir o al-cance do trabalho da CAMAR. 8 voluntários ajudam na sede enquanto os assistidos for-mam uma verdadeira rede de solidariedade; algumas famílias cedem espaço em suas casas para guardar parte dos obje-tos e roupas doados para faci-litar a distribuição entre quem precisa.

Hoje o Projeto Sabão está com a sede em reforma, gra-ças a doações feitas por diver-sas empresas. As aulas estão suspensas até que a estrutura esteja pronta, mas a ampliação dará espaço para mais alunos e até mesmo para palestras. Dona Iraci “Continua firme e forte, faça chuva ou faça sol”, como descreveu uma das vo-luntárias. “Não vou dizer que vou resolver tudo no mundo, mas pelo menos um pouco né, ajudar as crianças e tudo mais...!”, sorri a fundadora.

Para informações, doar ou fazer parte do Projeto, o te-lefone é (43) 3328-4134. A sede da ONG fica na Avenida Alexandre Santoro n° 630, no bairro Alto da Boa Vista.