pretexto n. 12 jul. 2012

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Pretexto | 1 DIETA DOS GENES Nutrigenômica e nutrigenética prometem revolucionar hábitos alimentares TROCA DE PODERES Lei permite continuidade de projetos na transição de governo PASSANDO A MÁQUINA Sidecut e undercut é a nova moda entre os jovens VIAJANTE APRENDIZ Saiba como fazer um intercâmbio seguro e inesquecível

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Revista Laboratorial do curso de Jornalismo do UniToledo (n. 12 jul. 2012)

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Pretexto | 1

DIETA DOS GENESNutrigenômica e nutrigenética prometem revolucionar hábitos alimentares

TROCA DE PODERESLei permite continuidade de projetos na transição

de governo

PASSANDO A MÁQUINASidecut e undercut

é a nova moda entre os jovens

VIAJANTE APRENDIZSaiba como fazer um intercâmbio seguro e

inesquecível

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Ano 9 – N.12 – Julho de 2012Periodicidade semestral

Revista-laboratório produzida pelos alunos do 7º semestre de Comunica-ção Social – Habilitação em Jornalis-mo como parte da disciplina Jorna-lismo de Revista I. As reportagens e fotos são assinadas por seus atores

como exercício da prática jornalística em produto laboratorial. Portanto,

todo o conteúdo é de responsabilida-de dos alunos. É permitida a reprodu-ção parcial ou total desde que citada

a fonte.

EXPEDIENTEReitor

Bruno Toledo

Pró-Reitoria da GraduaçãoSilvia Cristina de Souza

Pró-Reitor de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão

Sérgio Tumeleiro

Coordenadora do curso de Jornalis-mo e Jornalista responsável

Profa. Ms. Karenine Miracelly Rocha da Cunha

MTB 35.245

Diagramação/ Projeto Gráfico/ Arte Final/ Capa

Ana Paula Araripe (7º semestre)

ImpressãoGráfica Somos

Tiragem500 exemplares

Rua Antônio Afonso de Toledo, 595, Jd. Sumaré - 16015-267 – Araçatuba/SP

(18) 3636-7048www.toledo.br

Dieta da Lua, da maçã, do carboidrato (ou da ausência dele), mediterrânea, desintoxicante... São várias as apostas de quem quer emagrecer ou mesmo mudar os hábitos alimentares em busca de saúde. Algumas têm fundamentação científi-ca, outras nem tanto e se baseiam em crenças populares muitas vezes perigosas.

A dieta do momento que promete revolucionar os pratos é baseada na composição genética de cada um. Por isso, a nutrigenômica e a nutrige-nética são personalizadas e fundamentam-se no código genético para compor os pratos de cada regime. São elas que explicam por que determina-dos alimentos são mais tolerados por uns e para outras pessoas fazem mal, por que certos alimen-tos potencializam as dietas de emagrecimento em alguns pacientes e são desastrosos para outros.

Esta edição de Pretexto traz algumas informa-ções sobre a nutrigenômica e a nutrigenética e como a composição do DNA de cada um pode ser determinante, nas escolhas dos alimentos e no aproveitamento nutricional do que colocamos em nossos pratos diariamente. É um passo importan-te para a qualidade de vida que, comprovadamen-te, passa pela qualidade do que ingerimos.

Mais que quantidade, já está evidente que as dietas de sucesso são aquelas que restringem alimentos pouco nutritivos ou mesmo ricos em substâncias das quais quase nada precisamos. A dieta do DNA busca auxiliar cientificamente pro-fissionais da nutrição a indicarem os alimentos que se adaptam ao perfil genético de cada um, porque o que faz bem para alguém pode não fazer para você.

Boa leitura!Karenine M. Rocha da Cunha

Regime do DNA

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4 DANÇA Pas-de-deux após os 25

6 EMPREGO Os desafios do primeiro emprego

8 VIAGEM Planejando a viagem dos sonhos

10 POLÍTICA Mudou o prefeito. E agora?

12 BEM-ESTAR Mulheres do ringue

14 SAÚDE O poder da persistência

17 EDUCAÇÃO Escola no fim de semana

18 EDUCAÇÃO Ensinar (e aprender) a distância

21 COMPORTAMENTO Os bastidores da faculdade

22 COMPORTAMENTO Sidecut: um corte diferente ou apenas moda?

26 TECNOLOGIA A era dos blogs

28 ESTILO Sertanejo: estilo musical ou raízes?

30 SOCIEDADE Mulheres do lar

32 EMPREENDEDORISMO Das salas de aula para o mundo dos negócios

Nutrigenômica e nutrigenética: solução para viver bem?

p.24

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DANÇA

Quem nunca se encantou ao ver uma baila-rina subir na ponta, saltar e rodopiar com uma leveza que esconde todo o esforço

aplicado? Para Chico Buarque, elas são perfeitas: não tem pecado, não tem pentelho... “só a bailarina que não tem”. Não à toa, tornar-se uma é vontade da maioria das meninas, seja pelo tutu rosa, seja pelas sapatilhas com fitas de cetim. Muitas entram ainda pequenas nas aulas e alcançam a meta; ou-tras, por motivos econômicos ou por falta de incen-tivo dos pais, acabam adiando o sonho.

Essa protelação, no entanto, tem originado uma nova onda nas escolas de balé. O número de mulhe-res com mais de 25 anos que buscam a modalida-de tem crescido vertiginosamente. “Todos os dias, recebemos ligações de mulheres em busca da aula de balé. Por isso, além das turmas de baby class e infanto-juvenil, implantamos, há alguns anos, a grade adulta”, afirma Natália Silva, proprietária e professora da academia Equilíbrio Natália Silva Bal-let de Araçatuba.

Marcia Prado, 43, é uma delas. Praticante de dança do ventre há três anos, a oficial de justiça

decidiu, em 2012, calçar as sapatilhas rosa. Entrou em uma turma iniciante adulta e está aprovando os resultados que o balé tem proporcionado. “Sempre adorei assistir as apresentações, acho lindo. Amo a dança do ventre, aflora a feminilidade da mulher, mas o balé aflora a segurança, o equilíbrio. Sinto-me muito mais consciente do meu corpo”.

BOM PARA CORPO E MENTEE a consciência corporal é só um dos benefícios.

De acordo com Natália, que também é pós-graduada em Fisiologia do Esporte, o balé ajuda no ganho de flexibilidade através do alongamento, na manuten-ção da postura, melhora a capacidade cardiorrespi-ratória, fortalece os músculos, além de contribuir nas

Pas-de-deux após os 25

Entre pliés e afazeres, mulheres buscam o sonho de menina de serem bailarinas

O balé aflora a segurança, o equilíbrio. Sinto-me muito mais

consciente do meu corpo

POR ANA PAULA ARARIPE

Foto

: Div

ulga

ção

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questões psicológicas, como convívio social, discipli-na e concentração.

Apesar de não terem mais a elasticidade dos oito anos, a dinâmica da aula é a mesma ensinada às crianças. O trabalho é dividido por etapas: aque-cimento, alongamento, flexibilidade e exercícios. “Das alunas que desejam apenas realizar a ativida-de para manter a saúde, não é exigido que façam o exercício de ponta (sapatilhas com ponta de gesso). Já as que visam formação e apresentações, o apren-dizado é dividido, normalmente, em dez anos”, completa.

O longo tempo não assusta Jaqueline Souza, 29. No balé há um ano e meio, a farmacêutica aderiu ao estilo, mesmo já fazendo aulas de jazz. Para ela, cada dança causa um efeito diferente no corpo e na mente. “Comecei a estudar há três anos, mas sem-pre gostei de dançar, porém, cresci em uma cidade muito pequena, onde não havia academia. Quando me mudei, as atividades de escola tomavam todo meu tempo. Só depois que me formei e tive uma profissão, pude dar vazão às minhas vontades”.

Outro fator que influenciou na busca do balé foi a forma física. Após uma operação no joelho, Ja-queline não pôde mais frequentar a musculação, en-

Alunas da turma iniciante de balé adulto preparam-se para a primeira apresentação em palco

tão, precisou de uma nova alternativa para modelar o corpo. “Em três meses de aulas, minhas pernas e panturrilhas ficaram muito mais definidas do que com outras modalidades”.

Ao som de Bach, Mozart Beethoven e com tan-tos aspectos positivos, dá para pensar que, de fato, o balé é uma atividade sem defeitos, beirando a perfeição de Chico. Mas Marília entrega alguns: “é bem difícil decorar a coreografia e todos aqueles nomes franceses”, ri.

Fique por dentroChassé - Caçado

Degagé - AfastadoDeveloppé - DesenvolvidoGran Jeté - Grande saltoPas-de-Deux - Uma dança

para duas pessoasPlié - Flexão dos joelhos

Retiré - RetraídoRonds de Jambe - Movimento

circular da pernaSoutenu - Sustentado

Foto: Ana Paula Araripe

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EMPREGO

A corrida atrás do primeiro emprego é sempre muito disputada. Quem não quer ter a chance de praticar o que

aprendeu em sala de aula?Depois de dois, três, quatro anos ou mais estu-

dando para se formar, o aluno sai da sala de aula cumprindo apenas a primeira parte de uma longa jornada. O desafio da sala de aula acabou. Agora é sair porta afora e enfrentar uma nova realida-de: o mercado de trabalho. Por isso, a escolha do curso, manter contatos e estar sempre atualizado são dicas importantes para quem busca oportu-nidades.

Natali Vanali, consultora em Gestão de Re-cursos Humanos, ressalta que definir objetivos, manter-se atualizado, relacionar-se com novas pessoas e ter muita paciência são requisitos im-portantes para os recém-formados.

Para não ter dificuldades em conseguir o primei-ro emprego, o ideal mesmo é aplicar todas essas dicas ainda na sala de aula e encontrar meios de ad-quirir experiência durante os estudos, participando de atividades extracurriculares e fazendo estágio.

Segundo o Núcleo Brasileiro de Estágios, na re-gião noroeste do Estado de São Paulo, oito em cada dez pessoas que entram no mercado de trabalho por meio de estágio conseguem ser efetivadas no cargo.

Lucas Matheus de Carvalho é um deles. Já foi estagiário e hoje desfruta do cargo de repórter no SBT Interior de Araçatuba. Ele começou o estágio no primeiro mês da faculdade e conta que sempre teve grandes oportunidades. Hoje, está efetivado no

cargo, apesar de cursar o terceiro ano de faculdade.

O desafio do primeiro emprego

Conseguir um trabalho na área é a preocupação para muitos universitários; o estágio pode auxiliar na colocação dos jovens profissionais

POR GABRIELA MAZZO

“Buscar experiência, durante a faculdade, é a melhor forma”

Foto: Gabriela Mazzo

Uma pessoa que não tem essa oportunidade

vai sentir um pouco mais de dificuldade ao entrar no mercado de

trabalho

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Para Lucas, o curso superior é muito importante para o currículo de uma pessoa, mas é na prática que você consegue visualizar as coisas de uma for-ma diferente. “Uma pessoa que não tem essa opor-tunidade vai sentir um pouco mais de dificuldade ao entrar no mercado de trabalho”, acredita.

Em 2012, de acordo com o Núcleo Brasileiro de Estágios, as vagas de emprego para estagiários devem crescer 8%. Aqui na região de Araçatuba o aumento é ainda maior, segundo o supervisor da unidade do Ciee (Centro de Integração Empresa Escola), James Lourenço Junior, a previsão para a região é de um aumento de 15% por conta das empresas estarem cada vez mais aquecidas.

O Ciee aponta ainda que mais de quatro mil

Foto: Gabriela Mazzo

Lucas faz estágio desde o primeiro mês de faculdade e foi contratado no segundo ano

estudantes estão cadastrados com os currículos disponíveis para começar um estágio nas mais va-riadas áreas de atuação.

Na Tecnobens, empresa de Araçatuba que atua no ramo de Engenharia, a opção em contratar es-tagiários não tem nada a ver com a vantagem fi-nanceira, mas com a necessidade de capacitar o profissional. “Muitas vezes, é melhor você prepa-rar uma pessoa do jeito da empresa, fazer o jovem profissional crescer dentro do ambiente de traba-lho”, esclarece Rodrigo Andolfato, da Tecnobens.

Para Rodrigo, a empresa tem a chance de formar o estagiário

Foto: Gabriela Mazzo

Prepare-seConfira algumas dicas para se sair bem em

uma seleção de estágio ou emprego:

- prefira trajes formais e deixe em casa bonés, camisetas de times de futebol, acessórios

chamativos, decotes;

- não use gírias;

- tenha boa postura corporal;

- ouça primeiro, depois tire suas dúvidas;- seja pontual.

Fonte: Ciee

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VIAGEM

Imagine ter a oportunidade para viajar para outro país. Imagine poder conhecer outra cultura, outras pessoas, outra língua. Imagine poder pas-sar por situações que resultarão em experiências para o resto da vida. Seria perfeito, não é mes-mo? Mas qual a melhor época para fazer isso? Antes da faculdade ou depois dela?

O agente de intercâmbios Lucas Trindade Meira da Costa afir-ma que qualquer hora é uma boa escolha para viajar. “O que vai realmente in-terferir no momento da escolha é saber com qual propósito uma viagem para fora do país será feita”, orienta.

Da mesma forma, não há um destino único para os inter-câmbios. Um levan-tamento feito em uma agência de intercâmbios de Araçatuba aponta que as viagens mais procuradas são para Argentina, Estados Unidos, Canadá e Espanha. Costa informa que, para quem é da área da saúde, turismo e tecnologia as faculdades mais conceituadas estão nos Estados Unidos. Já os for-mados na área de humanas, devem procurar as universidades do Canadá.

Atualmente a palavra intercâmbio é entendida como qualquer viagem a estudos para outro país. Mas nem sempre foi assim. As primeiras viagens para fora do país eram chamadas de viagens cul-turais e a palavra intercâmbio era usada apenas para determinar viagens que tinha a finalidade de unir povos.

São mais de 400 tipos de programas para quem deseja viajar e eles são extrema-

mente diversificados. O mais pro-curado pelos adolescentes é o

programa High School (en-sino médio no exterior),

pois ele engloba um ano fora do país, na casa de uma família, onde o intercambiário tem a obrigação de cursar a respectiva série le-tiva. Esse programa é o mais escolhido pelos adolescentes, pois lhes proporcio-

nam voltar com uma bagagem cultural mui-

to maior, além de um certificado de conclusão

reconhecido pelo MEC e fluência em outra língua.

Mas quem já saiu da faculdade, também tem a chance de conhecer ou-

tros países através de programas específicos. O Au Pair é indicado para jovens de 18 a 26 anos e envolve relacionamento com a família hospedeira e os filhos durante um ano. Os intercambiários

POR AMANDA MONZANI

Planejando a viagem dos sonhos

Antes da viagem, é preciso responder três perguntas: Qual o objetivo da viagem? Quanto tempo quero ficar fora? Quanto quero gastar?

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desse programa desenvolvem atividades remune-radas de assistência infantil e chegam a receber cerca de 700 dólares por mês, mais acomodação e alimentação na casa da família.

Já as meninas de 20 a 26 anos podem se inscre-ver para o programa Baby Sister. As que optam por esse tipo de intercâmbio trabalham como ba-bás na casa de uma família e podem, através dessa renda, custear a estadia.

Há ainda a possibilidade de se estagiar no ex-terior. Esse programa é desenvolvido para estu-dantes que estão terminando a graduação e para profissionais de início de carreira. É um formato combinado de intercâmbio, em que o aluno tem pelo menos um mês de estudos para aperfeiçoar o idioma antes do período de estágio não remu-nerado.

EXPERIÊNCIASFoi durante a faculdade que a professora de

Português e Inglês Fernanda Xavier de Lima, 27 anos, planejou fazer uma viagem para fora do país. “Para a profissão que eu escolhi já esperava ser necessário fazer esse tipo de viagem. Fazer o intercâmbio foi uma experiência indescritível.”

Fernanda ficou um mês nos Estados Unidos estudando integralmente na Universidade de Kaplan em Nova Iorque. Ela era uma das duas bra-sileiras do curso, que também contava com inter-cambiários chineses, japoneses e portugueses.

Fernanda optou pelo intercâmbio para adquirir fluência na língua inglesa

Acostumada com o verão brasileiro, Fernanda conta que foi difícil suportar os 45 ° do verão americano. A professora também precisou reaprender a fazer ta-refas simples como encontrar o caminho para a faculdade e obedecer à rigidez dos horários de estudos. O turismo não ficou fora dos planos e os 30 dias nos Estados Unidos foram divididos em ho-ras de estudos, Times Square, Estátua da Liberdade e dois musicais da Broadway.

A saudade foi a maior inimiga de Fer-nanda durante o intercâmbio. “O conta-to com a minha família era feito apenas duas vezes por semana e, mesmo assim, era um chororô só”, conta.

A estudante Tatiane da Silva Mila-ré, 17 anos, está nos Estados Unidos há

nove meses e já ensaia sua volta ao Brasil. Tatiane afirma que já pensava em fazer o inter-câmbio na metade do segundo colegial, mas só foi possível realizar o sonho agora no terceiro ano do ensino médio. A estudante, que escolheu o in-tercâmbio High School, explica que foi obrigada a optar por matérias exigidas pelo MEC para que seus estudos fossem validados no Brasil.

Com sorrisos, Tatiane conta as primeiras difi-culdades que teve: “As gírias foram meus maio-res fantasmas no começo. Eu pagava vários micos usando palavras erradas. Ah! Também teve um dia que meu pai americano disse: Eu não quero te assustar, mas tem um tornado vindo e em poucos minutos a gente está indo para o porão. Eu fiquei sem reação!”.

Tatiane Milaré concluiu o ensino médio nos Estados Unidos

Foto: Arquivo pessoal

Foto: Arquivo pessoal

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POLÍTICA

Um grupo de 17 cidades da região de Araçatuba está desenvolvendo um pro-jeto piloto para garantir que a troca de

governantes seja democrática e sem grandes pre-juízos aos cidadãos. Comum em ano eleitoral, Prefeituras definem prazo de contratos até 31 de dezembro e acabam prejudicando a população com a descontinuidade de serviços, como a coleta de lixo terceirizada.

O projeto experimental foi encabeçado pelos municípios de Andradina, Bento de Abreu, Cas-tilho, Guaraçaí, Guararapes, Itapura, Ilha Soltei-ra, Lavínia, Nova Independência, Mirandópolis, Murutinga do Sul, Pereira Barreto, Rubiácea, Su-zanápolis, Sud Mennucci e Valparaíso, que com-põem a Amensp (Associação dos Municípios do Extremo Noroeste do Estado de São Paulo), jun-tamente com Bilac que, apesar de não associada, também está desenvolvendo o projeto. A iniciativa já mobilizou servidores públicos municipais para levantar dados e informações que serão passadas aos futuros prefeitos. Nenhum município no Bra-sil ainda não desenvolveu projeto de transição de governo de forma coletiva como a experiência da Amensp.

O prefeito de Guaraçai, Alceu Candido Caeta-no, acredita que a transição é importante tanto para quem deixa o cargo, quanto para quem assu-me, porque organiza e contribui para o reconheci-mento de toda a estrutura administrativa. “É uma forma de aperfeiçoar o planejamento das ações de governo, o que vai trazer ainda mais benefícios para toda a população.”

Para desenvolver o projeto, os municípios contam com o apoio do Cepam (Centro de Estudos e Pesquisas de Admi-nistração Municipal), cuja coordenadora do projeto piloto,

Maria de Carmo Tole-do Cruz, conta que a transição de governo ocorre imediatamen-te após o anúncio dos resultados das elei-ções e termina no ato da posse do gover-nante. “Mesmo nos casos de reeleição, a transição ocorre por-que começa um novo ciclo”.

Em oficinas promovidas com técnicos dos mu-nicípios, Maria do Carmo apresentou exemplos de abu-sos na troca de go-vernantes. “Já vimos casos em que sumiram docu-mentos, contratos importantes foram encerrados, desaparecimento de objetos e chaves dos gabine-tes. Mas um dos maiores absurdos que soubemos foi a presença misteriosa de uma cobra no gabinete de um prefeito em uma cidade da Bahia. Por isso, acreditamos na importância de institucionalizar esse processo”, relata.

LEGISLAÇÃOA institucionalização que o Cepam cita é o

método que a prefeitura ou governo pode utili-zar para garantir que tais abusos não ocorram. A preocupação com esse período deu-se após uma pesquisa realizada entre novembro e dezembro de 2011 pelo órgão. O resultado apontou que ape-nas 18% dos municípios paulistas possuíam al-gum tipo de instrumento de institucionalização,

Mudou o prefeito. E agora?Projeto da transição de governo determina que

benefícios desenvolvidos pelas Prefeituras continuem após a troca do governante

POR FERNANDA SOUZA

Gestores da Educação discutem quais informações são viáveis ao novo prefeito

Foto: Fernanda Souza

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como lei orgânica, lei, decreto e/ou portaria. A lei orgânica é a metodologia mais usada pelas cida-des pagar evitar que a transição de governo deixe sequelas negativas ao município.

Para isto, o grupo de cidades está trabalhando também a implementação de leis que cobram dos governos o fornecimento de informações sobre programas e atividades, finanças, contratos, pro-cessos jurídicos e outros dados que julgam ne-cessários para conhecimento do próximo prefeito. “Quando eu cheguei à Prefeitura, senti muita di-

ficuldade porque não encontrava in-formações e, por isso, demorava muito para enten-der como a má-quina funcionava. Para quem entrar agora será bem mais fácil, porque deixaremos as in-formações de fácil acesso”, afirma José Antonio Ro-drigues, prefeito de Mirandópolis no segundo man-dato consecuti-vo. “Sem dúvidas o cidadão será o

maior beneficiado com tudo isso, porque terá a garantia de que os projetos e serviços essenciais não serão interrompidos e o prefeito não precisa-rá perder tanto tempo para encontrar informações para governar”.

Das 17 cidades participantes do projeto, três já fizeram a lei e tiveram aprovação unânime das respectivas Câmaras de Vereadores; 11 se com-prometeram a enviar para a câmara ainda no pri-meiro semestre e duas pretendem criar a lei após o período eleitoral. Apenas Bento de Abreu não se interessou em institucionalizar o processo.

De acordo com o prefeito de Sud Mennucci e presidente da Amensp, Celso Torquato Junqueira Franco, a mobilização das cidades para criação da lei é um grande avanço para a democracia brasi-leira. “Estamos dando um grande exemplo, com atitudes que consolidam a sustentabilidade dos

municípios, a melhoria da eficácia do uso dos re-cursos públicos e a busca da excelência dos ser-viços municipais, com desenvolvimento de técni-cas e ferramentas de suporte à gestão pública”, acredita Franco que também encerra o segundo mandato consecutivo este ano.

ORGANIZAÇÃOPara facilitar a comunicação entre Cepam,

Amensp e municípios, foram eleitos interlocutores municipais, que têm o papel de coordenar as ati-vidades referentes ao projeto nas respectivas cida-des. Ainda para viabilizar o contato com as pessoas envolvidas e divulgar o projeto, foi criado o grupo Transição de Governo na Rede CIM (Célula de Inova-ção dos Municípios). A rede é aberta à participação de cidadãos com a possibilidade de interação.

Após a realização de quatro oficinas temáticas com gestores de várias áreas das administrações municipais, os interlocutores reunirão em um rela-tório simplificado os dados classificados como ne-cessários para passar ao próximo governante. “En-tendemos que o prefeito não deva receber apenas um documento técnico, cheio de números, mais um relatório de fácil entendimento, para que a infor-mação seja absorvida de maneira rápida”, relata a interlocutora de Mirandópolis, Roseli Ferri Ferreira.

Gestores da Educação discutem quais informações são viáveis ao novo prefeito

Cidades começam a aprovar a lei de transição democrática

Primeiras cidades a aprovarem a lei: Guaraçaí, Val-paraíso e Mirandópolis

Devem enviar para a Câmara antes das eleições: Castilho, Bilac, Guararapes, Ilha Solteira, Itapura, Lavínia, Murutinga do Sul, Nova Indepêndencia,

Rubiácea, Sud Mennucci e Suzanápolis.

Vão criar a lei após as eleições: Andradina e Pereira Barreto

Não vai criar a lei: Bento de Abreu

Acesse e cadastre-se na Rede CIMwww.redecim.com.br

Faça parte do Grupo Transição de Governowww.redecim.com.br/group/transicao-de-governo

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BEM ESTAR

Foi-se o tempo em que somente os homens uti-lizavam a prática das artes marciais como um meio de encontrar o equilíbrio necessário para enfrentar os desafios diários. A mulher moderna acabou com a visão de que a arte marcial é coisa de homem e, cada vez mais, é notada a presença feminina nas academias. O muay thai, luta originária da Tailân-dia, também conhecido como boxe tailandês, con-quistou espaço no Brasil e se tornou um importante aliado das mulheres na busca pelo corpo perfeito.

Na maioria das vezes, o preconceito vem da pró-pria mulher que, desinformada sobre o assunto, acha que quem luta torna-se menos feminina e com traços masculinos acentuados. As artes marciais, como o muay thai, foram criadas para o desenvolvimento não só do corpo, mas também da mente do praticante.

Para o professor de muay thai, Thales Almeida, a grande procura de mulheres pela modalidade signi-fica uma barreira quebrada. Professor há 11 anos, ele montou a própria academia, que é especializada na prática do muay thai, e garante que 60% da procu-ra pelas aulas é de mulheres. “Elas perceberam que além de trazer grandes benefícios à saúde e ajudar a ter um bom condicionamento físico, a aula de muay thai também ajuda na defesa pessoal”, acredita.

De acordo com Thales, a aula aumenta a auto-estima das mulheres, pois trabalha o corpo intei-ro com aquecimento e abdominais. “O muay thai é muito benéfico para a saúde e para a estética, por-que melhora a capacidade cardiorrespiratória, reduz o percentual de gordura e enrijece os músculos do

corpo. Durante uma aula com duração de uma hora, é possível queimar de 600 a 1000 calorias”, explica.

A publicitária Giovana Breda pratica muay thai há três anos e garante que os benefícios fazem bem ao corpo e à mente. “O muay thai tonifica a muscula-tura, ativa o metabolismo, melhora a coordenação motora, entre outras coisas. Sempre tive vontade de praticar algum tipo de luta e o muay thai foi o que me chamou mais a atenção dentre as artes marciais, por ser uma luta completa e aeróbica, o que promo-ve uma perda maior de calorias”, revelou.

Os benefícios dessa arte marcial podem ser no-tados logo no início, como relata a secretária Jus-sara Cunha. “Estou praticando muay thai há duas semanas, mas já consegui notar algumas mudan-ças no meu corpo, estou bem mais disposta, com a autoestima elevada e muito mais calma”, disse.

Mulheres do ringue

Academias apostam no muay thai, luta marcial que atrai o sexo feminino e se tornou a “queridinha” dentre as atividades físicas

POR LETICIA MAZARINI

Mulheres buscam no muay thai técnicas para autodefesa

Foto: Letícia Mazarini

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Pretexto | 13

Técnicas podem ser aplicadas na autodefesa

Com a insegurança nas ruas e até dentro de casa, os números revelam um dos motivos que levam as mulheres a aprender a se defender: a cada 15 segundos, uma mulher é violentada no Brasil, segundo o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para Mulher (Unifem). De acordo com uma pesquisa realizada pelo Data Senado (órgão ligado à Secretaria de Pesquisa e Opinião Pública do Senado) a cada 100 mulheres brasilei-ras, 15 vivem ou já viveram algum tipo de violên-cia doméstica.

As lutas trabalham também a parte de concen-tração, disciplina, agilidade, coordenação motora, alongamento, noções de defesa pessoal, autocon-fiança e equilíbrio. A sensação de segurança so-mada ao corpo definido são os fatores que mais contribuem para elevar a autoestima daquelas que praticam algum tipo de luta.

Em Araçatuba, a prática de muay thai por mu-lheres já não é mais novidade. A modalidade che-gou à cidade em 2001 e atualmente têm várias adeptas, distribuídas entre as academias. Quem faz garante a eficiência e benefícios do esporte, tanto para quem quer perder alguns quilinhos, quanto para as que querem definir o corpo e fir-mar os músculos ou aprender a se defender.

A vendedora Ivana Grenge conta que já preci-sou usar na rua as técnicas que aprendeu durante as aulas. Vítima de uma tentativa de assalto há quase um mês. Ela afirma que se não conheces-se as técnicas, poderia ter se desesperado. “Fui abordada por um homem que tentou me assaltar. As técnicas que aprendi durante as aulas me aju-daram a agir rapidamente, procurei verificar se ele estava armado e ao ter a certeza que não, conse-gui afastá-lo de mim. Provavelmente ele percebeu que eu lutava e saiu correndo”, lembra. (L.M.)

Os benefícios do muay thai• Acelera a circulação

• Auxilia no combate da fadiga

• Ativa as células do corpo

• Renova os tecidos

• Alivia cólicas menstruais

• Enrijece os músculos

• Favorece a perda de peso

• Promove autoconfiança

• Melhora a qualidade de vida

• Ajuda na concentração

O muay thai melhora a parte física, o autocontrole, a autoestima, a disciplina, além de trabalhar o respeito e a humildade

Foto: Letícia Mazarini

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SAÚDE

“A verdadeira medida de um homem não é como ele se comporta em momentos de confor-to e conveniência, mas como ele se mantém em tempos de controvérsia e desafio”. A conhecida frase do estadunidense Martin Luther King pode ser aplicada à vida da psicóloga Fernanda Fernan-des. Aos 25 anos, a jovem de Birigui, cidade do interior do estado de São Paulo, pode di-zer que conhece muito bem a palavra desafio. Sua história de superação começa com apenas quatro meses, quando seus pais descobriram que havia algo de errado com seus olhos.

Somente aos seis anos de idade, um oftalmologista ain-da residente deu o diagnóstico: Fernanda tinha retinose pigmentar, uma doença que provoca a degeneração progressiva das cé-lulas sensíveis à luz, provocando a cegueira. Um dos primeiros sintomas da doença é a diminuição do campo de visão, ou seja, a visão lateral. Mas, mesmo com a doença, ela não desanimou. Pelo contrário, Fernanda começou sua história de con-quistas.

Na escola, as dificuldades eram grandes. Aos 13 anos, os óculos de Fernanda já estavam com 16 graus e, para escrever, somente com pincel atômi-co. Foi nesta etapa que ela começou a aprender o

braile. A doença se apresentava de forma muito agressiva nos olhos de Fernanda. Nesta idade, ela já começou a usar bengala para conseguir andar com mais segurança, o que não é fácil para uma adolescente. “Aceitar que usaria a bengala foi o mais difícil para mim. Eu elaborei a situação como uma forma de chamar a atenção. Algo de adoles-cente mesmo”.

TRATAMENTOSA busca por alternativas que

pudessem ao menos dar a pos-sibilidade de estabilizar a doen-ça era grande. Em 2001, o tra-tamento que Fernanda fazia em Belo Horizonte, Minas Gerais, que consistia em vitaminas e in-jeções, parou de dar resultado. Ela então decidiu arriscar. De-pois de assistir a uma reporta-gem na televisão sobre o avan-

ço em pesquisas sobre a retinose pigmentar em Cuba, a jovem decidiu partir para Havana com a esperança de resultados positivos.

Como o Brasil não oferecia esse tratamento, Fernanda conseguiu na Justiça, via mandato de segurança, que o governo pagasse o procedimen-to no exterior. Lá, a técnica usada foi a ozono-terapia, que é a aplicação de ozônio nos olhos, e a eletroestimulação. Por a doença já estar em estado avançado, os resultados não foram como o esperado e a melhora foi muito pequena.

De volta ao Brasil, Fernanda passou a se con-

O poder da persistênciaBiriguiense é a primeira paciente no mundo a

receber células-tronco no tratamento de retinose pigmentar, doença que causa cegueira

O processo para tratamento com

células-tronco é simples, feito em laboratório e não envolve cirurgia e

nem cortes

POR BRUNA BERTOLINO

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sultar com o oftalmologista Rubens Si-queira, de São José do Rio Preto. Nes-te período o médico, em parceria com pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo), em Ribeirão Preto, estudava a aplicação de células-tronco no trata-mento da retinose pigmentar. Depois da etapa de estudos com animais, a técnica teria que ser testada em pessoas. Em 20 de abril de 2009, a equipe médica con-seguiu a autorização do Comitê Nacional de Ética em Pesquisa para fazer as aplica-ções em seres humanos, primeiramente com a finalidade de provar a segurança do tratamento. O estudo foi pioneiro a nível mundial na área.

Fernanda então se ofereceu para par-ticipar da primeira turma de pacientes e foi escolhida para ser a primeira do mundo a rece-ber esse tipo de aplicação nos olhos. Outras cinco pessoas também participaram da experiência. O oftalmologista explica que o processo é simples, feito em laboratório e não envolve cirurgia e nem cortes. “Em apenas 60 minutos, é coletada da re-gião do osso da bacia do paciente uma peque-na quantidade da medula óssea com uma agulha especial e uma seringa. Depois, as células-tronco são aplicadas no globo ocular. Para que o paciente não sinta dor, é realizada anestesia”, explica.

Por ser um tratamento a nível experimental, a aplicação pode ser feita em apenas um dos olhos. Em Fernanda, o procedimento foi feito no olho esquerdo, por estar com a doença mais avançada. E o resultado foi melhor do que o esperado. Já na primeira semana, a visão de Fernanda apresentava melhoras, principalmente em relação à definição de contrastes e à visão lateral. “O resultado foi surpreendente para mim e também para os médi-cos. Um mês depois da aplicação eu já conseguia desviar de objetos na rua. Fiquei muito satisfeita!”

Um ano depois, surgiu no olho direito de Fer-nanda um coágulo que fazia com que sua visão piscasse, como se alguém ascendesse e apagasse a luz. Começou então mais um desafio: conseguir a autorização para a aplicação de células tronco no olho direito. Depois de mais de um ano de persistência, a paciente conseguiu a autorização para o tratamento e, em 22 de março de 2012, o

processo foi concretizado.Assim como na primeira aplicação, esta tam-

bém mostrou resultados animadores. Aquele incômodo provocado pelo coágulo apresentou grandes melhoras. “Percebo este ascender e apa-gar na minha visão somente quando estou muito nervosa ou ansiosa. A melhora foi muito grande.” Para os médicos, a primeira fase da pesquisa foi um sucesso. Além de conseguir provar a seguran-ça do tratamento com as células-tronco em do-enças da visão, já foi possível verificar resultados muito positivos.

O médico explica que, neste momento, a equipe de profissionais está trabalhando na segunda fase da pesquisa, que visa a impedir a piora progres-siva da visão, que é a característica da retinose pigmentar. Além disso, eles irão tentar produzir uma melhor qualidade visual para os pacientes.

Nesta etapa, as aplicações já foram feitas em mais de 20 pacientes, mas ainda não há nenhum resultado comprovado. Segundo o oftalmologis-ta, é preciso ainda aguardar os resultados a longo prazo. Mas, as expectativas vão além do que se pretende provar: “Com a evolução da tecnologia da terapia celular nós [ele e a equipe] esperamos que em breve a aplicação seja capaz de restaurar uma porcentagem da visão dos pacientes”. Além da retinose pigmetar, os pesquisadores estão tes-tando o tratamento em outras doenças, como a degeneração macular relacionada com a idade e a retinopatia diabética.

Apesar das dificuldades, Fernanda realizou o sonho de se formar psicóloga

Foto: Bruna Bertolino

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SAÚDE

As conquistas na vida de Fernanda Fer-nandes vão muito além da busca pelo tratamento de sua doença. Ao mesmo

tempo em que lutava para estagnar a retinose, ela também pensava no futuro. Há pouco mais de um ano, Fernanda se formou em psicologia. Mas, re-ceber esse diploma não foi nada fácil. No começo, a universidade ainda não havia tido muitas expe-riências com alunos que têm deficiências.

Para poder estudar, ela pegava todos os dias o ônibus coletivo de Birigui para Araçatuba, o que é um grande desafio para um deficiente vi-sual. Além disso, para acompanhar o conteúdo, Fernanda escaneava todos os livros e usava um programa de computador para fazer as leituras. “No primeiro semestre foi muito complicado. Eu ainda estava me adaptando com a situação e com os programas. Lembro-me de passar madrugadas escaneando livros e estudando para as provas”.

Depois que começou a fazer estágio na área, a jovem teve condições de comprar um computador portátil, o que facilitou os estudos. Além de poder acompanhar melhor as aulas, ela passou a fazer as provas pelo computador. Antes, um funcionário da instituição lia para ela as questões e a estudan-te respondia oralmente.

Já com o diploma nas mãos, a jovem psicóloga começou a atender pacientes na Aadefa (Asso-

ciação de Atendimento aos Deficientes Físicos de Araçatuba). Porém, mesmo empregada, a psicólo-ga não parou de estudar e, em abril de 2012, foi aprovada em dois concursos públicos: Fundação Casa, onde atuaria na sua área, e na Secretaria da Fazenda, em um cargo administrativo. Ela optou pelo primeiro.

Lá, mais desafios surgiram. Ela foi para um trei-namento em São Paulo e logo que seus superiores ficaram sabendo de sua deficiência, entregaram sua carta de demissão. Entretanto, perto de ou-tros obstáculos em sua vida, esse não a assustava tanto. Uma vez aprovada no concurso, ela tinha o direito de trabalhar. Depois de uma conversa com os superiores, Fernanda explicou sua situação e provou com as leis quais eram seus direitos. “Um dia depois, eles me ligaram para me readmitir”, conta.

Hoje, Fernanda é vista na Fundação Casa de todo o estado como um exemplo de bom pro-fissional, mas isso foi conquistado com esforço e dedicação. “Um dos meus relatórios foi citado pelo juiz de Direito em uma sentença judicial. Isso nunca tinha acontecido antes com um funcionário da Fundação. Fiquei muito feliz e virei pop star!”, diz com alegria.

APOIOPara Fernanda, tudo o que aconteceu em sua

vida faz parte do propósito de Deus e tem um objetivo, inclusive o problema de visão. Nenhuma de suas conquistas, tanto profissionais quando pessoais, seriam possíveis sem o apoio de sua fa-mília. “Eles sempre me incentivaram e me deram independência e segurança para eu poder crescer. Eu vi que meus problemas me fizeram saber lidar com conflitos e superar obstáculos.”

Ao lado de seus familiares, está sua fé. Ela conta que pode ver a ação de Deus em cada momento do seu dia, mas mesmo que muitos perguntem se ela não quer a cura, Fernanda afirma que não é isso que pede. “Eu não vejo a ação de Deus em minha vida necessariamente com a cura. Eu vejo a ação Dele me dando essas pequenas conquistas.” (B.B.)

Quando a deficiência visual não é um impedimento

Fernanda usa programa especial no computador para estudar

Foto: Bruna Bertolino

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EDUCAÇÃO

Ser contemplado com uma bolsa de estu-dos pode não ser mais tão difícil. São vá-rios os programas de incentivo à educação

superior oferecidos hoje pelo Governo, tanto Es-tadual quanto Federal, em parceria com diversas instituições de ensino.

Rafael Rodrigues Siqueira, estudante do 5º se-mestre de Jornalismo, foi contemplado logo após matricular-se no UniToledo com uma bolsa de es-tudos do Programa Bolsa Escola da Família. “Sou um garoto de sorte”, considera.

Isso porque a liberação do benefício exige o preenchimento do formulário de inscrição, (dispo-nível no site do próprio programa: www.escola-dafamila.sp.gov.br) e análise dos documentos, o que pode demorar um pouco. Mas não foi o caso de Rafael, que, após alguns dias, já teve a confir-mação do recebimento da bolsa. Só no UniToledo, cerca de 100 estudantes realizam trabalhos co-munitários aos finais de semana a fim de obterem o benefício do Programa Escola da Família.

Entre feltro, missangas e recreação com as crianças da escola em que desenvolve seu projeto de inclusão social, o estudante realiza o sonho de conquistar o diploma de curso superior ao mesmo tempo em que contribui para a inserção de seus alunos no mercado de trabalho.

Para a surpresa do educador universitário,

como é conhecido na escola, seu projeto foi es-colhido como um dos mais populares de Pená-polis, cidade em que desenvolve as atividades do programa. “Para estar no programa você precisa gostar de trabalhar com diferentes tipos de pes-soas, independentemente do seu curso, e ser per-severante para a conquista de seu sonho”, reco-menda.

BOLSATodo esse esforço vale a pena: o convênio ga-

rante aos universitários 100% de gratuidade nos seus cursos, sendo 50% da mensalidade paga pelo Estado (limitada a um teto de R$ 310 mês e renovável semestralmente) e o restante financia-do pela faculdade.

Em Penápolis, a equipe que lidera o projeto é formada pela dirigente Sueli Bonfietti, a supervi-sora Zilce Aparecida Maciel e a coordenadora do Núcleo Pedagógico Marli Pellicioli. Semanalmen-te, a equipe realiza o controle de faltas dos edu-cadores universitários, sendo tolerável o limite de três faltas por semestre.

Além disso, a equipe também supervisiona todo o trabalho desenvolvido nos finais de sema-na e elabora o planejamento das ações. “É grati-ficante ver o empenho dos educadores e o envol-vimento da comunidade nas ações, pois sabemos que irá ampliar horizontes e edificar ambas as partes”, afirma a supervisora.

POR VIVIANE CORTEZ

Alunos de curso superior bolsistas do Pro-grama Escola da Família realizam atividades culturais, educativas e lúdicas aos finais de

semana

Escola no fim de semana

Foto: Viviane Cortez

Rafael Rodrigues Siqueira é bolsista Escola da Família em Penápolis

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EDUCAÇÃO

Ensinar (e aprender) a distância

Engana-se quem acha que a educação a distân-cia é uma modalidade nova dentro do conceito da educação. Com mais de dois séculos de história, a EAD, como é popularmente chamada, teve início com uma forma embrionária de oferecimento de cursos básicos por correspondência, utilizando guias de estudos enviados por correio. Na segun-da geração, desenvolvida na década de setenta, os chamados telecursos foram idealizados com os recursos da televisão, fitas de áudio e vídeo, além de interação por telefone. Atualmente, com a onda da internet e a preponderância da tecnologia digi-tal, a terceira geração se caracteriza pela estação de trabalho multimídia, com suporte e plataforma digital, que possibilita ambientes inovadores e in-terativos, sem tempo fixo para acesso à educação de forma multidirecional, típica do século 21.

Com normatização e o reconhecimento oficial da educação a distânciano Brasil, através da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 1996, pas-sou-se a exigir uma definição de políticas e es-tratégicas para implementação e consolidação nas diversas instituições, seja nível básico ou superior.

A EAD também passou a se caracterizar como uma modalidade educacional na qual a mediação didática e pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorrem com a utilização dos meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo ativida-des educativas em lugares ou tempos diversos. Com a regulamentação desse segmento educacio-nal, a modalidade obteve uma melhor visibilidade das atenções pedagógicase, consequentemente,

POR EMANUEL NABA

A oferta e a procura pelo ensino a distância apresenta crescimento no Brasil e consolida essa modalidade de educação

Foto

: Div

ulga

ção

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maior oferta de cursos por parte das universidades.

Dados divulgados pelo Abrae-ad (Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distân-cia) em 2007 deixam claro que essa forma de educação está consolidada e que a tendência é um grande aumento nos próxi-mos anos.

O professor universitário e de-signer instrucional de EAD He-lerson Balderramas compartilha da idéia e se posiciona: “Sim, é uma grande tendência devido à vida atribulada e cada vez mais corrida que as pessoas enfren-tam no cotidiano.Não pensamos só na educação formal acadêmi-ca, mas na educação corporativa-tem crescido muito a utilização dessa forma de ensino para a atualização dos seus profissionais”.

O Abraead indica que, em um total de 41 em-presas pesquisadas, um quarto delas (25,6%) via-

bilizam seus investimentos na aplicação da edu-cação corporativa e nas metodologias a distância. A flexibilizaçãode espaços e horários, caracterís-ticos dessa educação, garantem maior sucesso e aderência, já que permite que determinados gru-pos da sociedade, que não tinham acesso à edu-cação formal e presencial por motivos diversos, participem e obtenham uma formação.

Dados do Ministério da Educação comprovam uma permanente expansão do sistema educa-cional a distância. Entre 2003 e 2006, o Censo da Educação Superior apontou que o número de cursos passou de 52 para 349 – um aumento de 571%%. O ingresso de estudantes também au-mentou, passando de 49 mil em 2003 para 207 mil em 2006, uma elevação de 315%.

A metodologia gira em torno de táticas espe-ciais com o desenvolvimento de leituras, ativida-des e avaliações especialmente preparadas pela equipe de conteudistas com o propósitode fixa-ção e entendimento do conteúdo programático que são ministrados nas aulas presenciais. Ge-ralmente acontecem uma vez por semana e são transmitidas via satélite de uma central, podendo estar localizada em qualquer parte do país, para os chamados pólos, espécie de filial localizada nas instituições que recebem a transmissão dos conteúdos. As aulas são acompanhadas por tu-tores, que possuem formação em alguma área da educação e oferecem suporte presencial aos alu-

Postura de um aluno na EAD

• Disciplina no cumprimento dos prazos

• Pesquisar outras fontes bibliográficas além das fornecidas

• Integrar-se com os demais alunos do curso por meio dos fóruns e debates das

disciplinas

• Entregar as atividades com antecedência

Fonte: Helerson Balderramas,professor e designer instrucional

José Luiz conquistou o sonhado diploma devido as praticidades oferecidade pela EAD

Foto: Emanuel Naba

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nos, intermediando ações e viabilizando a condu-ção das atividades e avaliações.

O ingresso para os cursos obrigatoriamente é feito por meio de vestibular, igual aos cursos tradicionais. Quanto à pós-graduação, segue as especificações de cada programa, proposta por cada instituição.

Além de estar credenciada pelo Ministério da Educação e de ter um aparato educacional neces-sário, a instituição deve dispor de uma equipe especializada em tecnologia da informação para intermediação e suporte da recepção e envio das informações. Por isso, antes de ingressar em um curso a distância, o interessado precisa verificar a situação do mesmo e da instituição junto ao MEC, para que não existam problemas futuros, como a invalidação do diploma.

PERFILApesar da aparente facilidade e da flexibilida-

de de horários, é necessário ter disciplina e bas-tante planejamento por parte do estudante para o cumprimento de todo o cronograma pretendi-do. “Engana-se quem acha que EAD é fácil! Muito pelo contrário: o aluno para freqüentar esse tipo

Confira algumas dicas para escolher um curso a distância

• Certificar-se que a instituição é credenciada pelo MEC para oferecer este tipo de modalidade

educacional.

• Busque informações sobre como funciona o processo de ensino e aprendizagem:-Ambiente virtual de aprendizagem

-Estratégias pedagógicas-Ferramentas utilizadas

-Material didático

• Troque informações com quem já fez e concluiu o curso

de educação precisa ter um perfil cuja caracterís-tica primordial é a disciplina”, comenta o profes-sor Airton Cavazzana, que é mestre em Educação.

Com o objetivo de melhorar ainda mais o posi-cionamento no ambiente de trabalho e conquistar formação específica, o funcionário público Ale-xandre Naba aderiu a essa modalidade por conta de todos os benefícios e praticidades. “Pela falta de tempo para frequentar um curso tradicional e presencial e pela disponibilidade que o curso oferece, achei excelente a oportunidade. Desse modo, a conquista por patamares mais altos em minha carreira fica mais acessível”.

O funcinário público José Luiz Andreoli Nagas-saki, formado pela modalidade EAD em 2011, res-salta como vantagem a possibilidade de estudar em casa em horários flexíveis. “Um curso de nível superior acaba abrindo portas e a EAD supre de-terminada necessidade, dando oportunidade em tempo recorde a quem necessita ter uma forma-ção e quer alavancar as oportuniadades no am-biente de trabalho”, acredita.

Balderramas lembra que ainda existe bastan-te preconceito, mas que houve grande evolução na área, tanto por parte de quem faz, quanto por quem está no mercado e absorve essa demanda. “O MEC já regulamentou a modalidade e avalia com os mesmos critérios de um curso presencial um curso a distância, já que o ensino é o mesmo, apenas a forma é diferenciada”, ressalta.

Foto: Emanuel Naba

Alexandre aposta na EAD como forma de obter outra graduação

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Na sociedade brasileira, ocorre uma divi-são indireta de valorização do trabalho das pessoas, sendo dado mais valor a

quem tem maior destaque na sua função. Isso gera a chamada classe dos invisíveis.

No UniToledo, também existem muitas pesso-as que passam imperceptíveis para vários alunos que frequentam os corredores da instituição. Po-rém, sem o trabalho dessas pessoas que não têm seu valor exaltado por quem passa por elas, muita coisa não funcionaria.

Exemplos não faltam, como Cesar Antônio de Souza, Elizabeth Maria Bertuol e Jaime Grillo da Silva, profissionais que a maioria das pessoas não se preocupa em conhecer, mas cujo trabalho é es-sencial para o funcionamento da instituição. “Os estudantes me respeitam e conversam comigo, mas acredito que é por eu estar sempre em con-tato com eles durante o trabalho”, diz a zeladora Elizabeth.

O sociólogo Pedro Filardi afirma que este certo

desprezo pelas classes inferiores se dá por ques-tões de aprendizado educacional. “As pessoas aprendem a viver em comunidade sempre respei-tando quem esta um nível acima do seu. Sendo assim, busca conversar com quem está em uma classe superior à sua, esquecendo as classes infe-riores”, explica Filardi. “As pessoas estão com a cabeça em outros assuntos, trabalhos, professo-res e provas. Com isso, não perdem tempo con-versando com outras de classes sociais inferiores e, quando param para conversar, são basicamente assuntos profissionais.”

Cesar, que trabalha no polo tecnológico do UniToledo, ressalta que as pessoas lembram ape-nas de saber quem é responsável por cada setor quando estão descontentes com o trabalho. “No meu caso, quando os computadores estão indo bem, não estão nem aí para quem arruma. Porém, se há algum problema, aí querem saber quem é o responsável”.

Então, comece a observar as pessoas que estão ao seu lado, pois elas podem ser o profissional que você estará procurando um dia para lhe aju-dar com determinados assuntos.

POR RONY MENEZES

Os bastidores da faculdadeCOMPORTAMENTO

Muitas tarefas no UniToledo são realizadas por pessoas que pouco

aparecem, mas cujo trabalho é indispensável

Foto: Rony Menezes

E q u i p e d a z e l a d o r i a é r e s p o n s áv e l p e l a l i mp e z a d o a m b i e nt e

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Undercut ou sidecut hair. Estas são as pa-lavras que estão fazendo, literalmente, a cabeça dos jovens mais modernos. O

nome refere-se ao corte de cabelo em que a pes-soa raspa total ou parcialmente a lateral do próprio cabelo, deixando o restante intacto. Tal corte tam-bém pode ser feito por baixo do cabelo, na nuca.

Usados na maioria das vezes por garotas, o un-dercut e o sidecut hair ficaram conhecidos no Brasil depois que a modelo anglo-brasileira Alice Dellal e a atriz Guilhermina Guile aderiram ao corte. Os mesmos também foram utilizados por cantoras fa-mosas, como Rihanna, Pink, Kelly Osbourne e até

mesmo a filha de Madonna, Lourdes Maria.A expressão undercut vem do inglês under e

cut e quer dizer minar. Quando escritas separada-mente, o significado muda e passa a ser em corte, enquanto que, o sidecut quer dizer costilhar, e que escrito separadamente significa corte lateral.

Criado nos anos 70, o sidecut foi extremamente usado pelos punks da época, tornando-se popular com o cantor David Bowie e comumente confundi-do com o famoso moicano. Mas o que nos Estados Unidos já era comum há muito tempo entre homens e mulheres ousados, no Brasil só virou febre agora.

Mas não foi por causa da moda que a técnica do Instituto de Botânica de São Paulo, Karine Fernandez Rivelino, fez o corte. Segundo Karine, ela se inspirou ao ver o corte no blog da maquiadora Paola Gavazzi.

“Eu aderi ao sidecut desde o ano passado e fiz porque me deu muita vontade mesmo! Depois que eu desencanei de ter cabelo comprido basea-do naquele padrão machista que a sociedade im-põe, acabei por começar a me jogar nos cortes mais diferentes. Comecei a ver um undercut aqui, outro ali, até que vi o sidecut da maquiadora Pao-la Gavazzi e curti bastante, pois era bem diferente dos que eu já tinha visto, além de ser discreto. Aí decidi fazer. Minha cabeleireira não quis, mas eu estava pagando, não é mesmo? Enfim, estou super feliz com meu sidecut e não ligo se está na moda, pois não sofro da síndrome do undergrou-nd”, afirma Karine.

Além disso, Karine acha que a pessoa que ade-re a esta moda é porque gosta mesmo, e quando

COMPORTAMENTO

POR CAROL PORTO

Sidecut: um corte diferente ou apenas moda?

Para quem usa, é um corte de atitude; para alguns profissionais, uma moda criada por

pessoas doentes

Cristiane optou pelo corte porque estava insatisfeita com a cor da nuca

Foto: Arquivo Pessoal

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perguntam se ela teve problemas em arrumar seu atual emprego ou de se acostumar com o corte, ela responde que não. “Tenho total liberdade para exibi-lo no meu trabalho, sendo que não foi nem um pouco difícil de acostumar. Até porque ele pode ser escondido com facilidade, não dá para enjoar! Ah, e os homens de cabelo comprido tam-bém já usavam esse corte muito antes de ter vira-do moda. O que me deixa feliz é ver que a brasilei-ra está ousando mais, rompendo certos padrões”, conta a técnica.

A operadora de caixa, Cristiane Marafanti, foi mais corajosa ainda. Ela mesma cortou os cabelos no começo do ano e diz pretender ficar com o corte por mais algum tempo. “Eu mesma dividi, separei e meti a gilete, mas eu sempre tive cabelo vermelho, sendo que a parte da nuca faz anos que constantemente mudo a cor. Com o tempo, essa parte foi estragando, até ficar elástica, devido à descoloração. Passei tinta preta no cabelo, mas não resolveu muito, e aquilo me incomodava”, re-lata. Ela ainda afirma que o corte só trouxe bene-fícios ao cabelo. “Ele tirou todo o volume do meu cabelo, melhorou o aspecto.”

DISTÚRBIOEntretanto, apesar da fama de ser um corte de

cabelo fácil de fazer e cuidar, na opinião de alguns profissionais que estudam o comportamento hu-mano, o ato de aderir ao corte pode significar até mesmo problemas psicológicos.

A psicopedagoga Eliana Porto Lopes explica que a pessoa que faz este tipo de corte pode estar apenas querendo chamar a atenção. “Não é normal um corte desse tipo, em alguns casos pode signifi-car até mesmo um distúrbio comportamental, de-pressão ou autoflagelo, por não se considerar uma pessoa comum. A moda é muito ingrata, uma coisa que está moderna hoje, pode não estar amanhã e, com certeza, a garota que fizer isso por moda, vai se arrepender mais tarde”, afirma Eliana.

Todavia, as pessoas que quiserem aderir aos cortes precisam ter muita personalidade e estilo. É o caso da blogueira, Letícia Fernandes, do blog “O que ousar”. Ela ainda não raspou os cabelos, mas está louca para fazê-lo. “Já faz algum tem-po que estou de olho nesse corte de cabelo, pois acho lindo e diferente para quem tem as madei-xas longas. Para me acostumar com a ideia, tenho

usado a lateral presa.”

INDICAÇÃOAs pessoas que tem cabelos compridos e lisos

podem comemorar. O corte radical costuma cair muito bem para quem possui as madeixas com este perfil, porque aparece mais, e assim, quando o cabelo cresce, ele não fica volumoso. O sidecut também pode ser usado por jovens que usam ca-belos curtos, combinando com visuais mais femi-ninos e maquiagens que destaquem os olhos.

Lembrando que algumas pessoas costumam pintar o sidecut, cortar o cabelo em formatos de desenhos ou até mesmo fazer tatuagens no local, dependendo do estilo de cada um. Os cortes tam-bém são facilmente camuflados quando a pessoa usa a cabeleireira solta.

Alguns profissionais de salões de beleza não cos-tumam fazer o undercut hair em sua clientela. Mas a cabeleireira Roseni Borges já foi mais atrevida. Não apenas concorda em fazer o undercut em suas clien-tes, como ela mesma já aderiu no passado.

“Quando eu era mais jovem, eu trabalhava em uma empresa na qual sempre tínhamos que usar toucas e boné. Depois de fazer o undercut, eu prendia os cabelos, colocando o boné por cima e, assim, meu chefe sempre achava que meus cabe-los eram curtíssimos. No dia que ele me viu almo-çando de cabelo solto, assustou e perguntou: mas como você vem de cabelo curto um dia e compri-do no outro? Quando eu mostrei a minha nuca, ele entendeu o mistério.”

Mas, se depois de ler todo este texto você ain-da não criou coragem de cortar as madeixas no estilo sidecut, saiba que ainda pode fazer um si-decut falso! A blogueira Letícia dá a dica: “É só puxar todo o cabelo para trás, de um dos lados. Depois prenda esta parte do cabelo com gram-pos, jogando o restante para o outro lado da ca-beça”. De acordo com Letícia, o maior receio das meninas ainda nem é tanto fazer o corte, mas a reação dos namorados.

Para as pessoas mais conservadoras que não querem mudar o corte de cabelo de jeito nenhum, vai outra dica: respeite pelo menos. O mais im-portante de tudo, independentemente de gostar ou não do sidecut é a educação que todos quere-mos receber uns dos outros. Pense nisso antes de olhar torto!

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Conquistar qualidade de vida através de uma alimentação saudável associada à atividade física é o principal discurso de

cientistas, médicos e nutricionistas. No decorrer da última década, o estudo sobre a influência dos alimentos no organismo de acordo com a genética de cada um é outro fator determinante no quesito saúde. Os cientistas chamam isso de nutrigenômi-ca e nutrigenética, ou seja, como o perfil genético de cada pessoa influencia o aproveitamento dos alimentos. Por isso, a nutrigenômica e a nutrige-nética estão relacionadas a uma dieta personali-zada.

A nutrigenômica pesquisa como os nutrientes modificam a expressão gênica. Assim, uma dieta nutrigenômica permite dizer quais os componen-tes efetivamente fazem bem, por que e para quem eles funcionam. A nutrigenética refere-se ao im-pacto da genética em nossas necessidades indivi-duais de nutrientes. O propósito da nutrigenética é criar uma recomendação que possa apresentar os riscos e benefícios do consumo de dietas es-pecíficas ou componentes dietéticos para cada indivíduo.

A nutricionista Adriane Cristina Garcia Lemos,

coordenadora do curso de Nutrição do UniTole-do, explica que, antigamente, o estabelecimento de recomendações nutricionais era com base na análise da ingestão de nutrientes a partir de uma população sadia. Essa ferramenta, embora ainda muito usada, não é considerada precisa, não aten-de a individualidade biológica existente em cada indivíduo. “A nutrigenômica aborda uma alimen-tação mais personalizada no DNA, representando uma alternativa promissora para o estabelecimen-to de recomendações nutricionais mais direciona-das para promoção da saúde”, destaca.

Contudo, para isso se tornar uma realidade ainda existem desafios a serem superados. “O de-safio para os próximos anos é o de traduzir a nu-trigenômica e predizer com precisão o efeito be-néfico e prejudicial para a saúde dos componentes da dieta”, lembra. E, claro, possibilitar que muitas pessoas sejam beneficiadas pela dieta com fun-damentação genética.

A estudante Daniele Barbosa Lessi há seis me-ses é adepta da alimentação balanceada. A cons-cientização de mudar o hábito alimentar ocorreu após descobrir que a taxa de colesterol e trigli-cérides estava alta mesmo pesando na época 47 quilos. O acompanhamento com a nutricionista é constante. Anteriormente sua refeição tinha exces-

POR BEATRIZ BUGIGA NASCIMENTO

Nutrigenômica e nutrigenética:solução para viver bem?

CIÊNCIA

Dieta personalizada baseia-se na genética de cada um e permite manter a saúde e prevenir doenças

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so de carboidrato e pouca proteína. Daniele está empolgada com os estudos sobre nutrigenômica e nutrigenêtica: “Quando houver especialistas ou médicos que atendam nessa área, eu buscarei acompanhamento para saber quais os alimentos posso ingerir de acordo com o meu código genéti-co. Porque a saúde é muito importante!”

EVOLUÇÃO O desenvolvimento da nutrigenética e da nutri-

genômica teve início a partir do projeto Genoma Humano, em 2001, com a divulgação dos primei-ros resultados que mapeou o DNA humano. “Para a nutrição, faltava descobrir boa parte das razões dos benefícios proporcionados pelos alimentos, cujos efeitos eram observados clinicamente, mas ainda sem maiores explicações fisiológicas”, res-salta Adriane.

No momento, as pesquisas realizadas pela USP (Universidade de São Paulo) e Unicamp (Univer-sidade Estadual de Campinas) in vitro e em mo-delos animais têm apresentado vários benefícios, entre eles a prevenção de diversos tipos de câncer. O vínculo entre o câncer e os alimentos é um dos mais explorados pela nutrigenômica. As experiên-cias demonstram que essa relação passa mesmo pelos genes.

“Mesmo que essas ciências sejam relativamen-te novas e demore alguns anos para serem apli-cadas em humanos, através dessas linhas de pes-quisa será possível descobrir quais nutrientes são capazes de atuar na prevenção e controle de do-enças. Assim, estaremos melhorando a qualidade de vida das pessoas”, prevê Adriana.

Daniele Lessi adotou educação alimentar para controlar taxas

Foto: Beatriz Bugiga

Foto: Beatriz Bugiga

Adriane Cristina Garcia Lemos explica que as pesquisas revolucionam a nutrição e as dietas

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Espaço onde as pessoas compartilham opini-ões, divulgam trabalhos e expressam os sentimen-tos. Assim pode ser definida uma das ferramen-tas que mais têm sido utilizadas por apaixonados pelo mundo virtual: o blog. Fácil de usar, esse novo meio de comunicação possui grande poten-cial de abrangência.

Adepto às novas tecnologias, o publicitário, ilustrador e designer gráfico Luís Prates, 29, de Araçatuba, mantém o blog “My Atomic Desing” (http://myatomicdesign.blogspot.com.br/) há cerca de dois anos. Motivado pelo fato de poder trans-formar a página em uma vitrine profissional, Pra-tes utiliza a ferramenta para publicar os trabalhos que desenvolve na agência de comunicação em que trabalha. “Além do resultado final das peças que crio, posso aprofundar o assunto que, muitas vezes, percorre direções que vão muito além da-quilo que foi produzido”, diz.

A facilidade do acesso e a vantagem de poder compartilhar informações sobre a área na qual atua também contribuíram para que Prates criasse o blog. “Criei a página quando percebi que pode-ria explorar meu trabalho e explicar que ele não é só uma questão visual, que há um conceito e um esforço muito significativo na sua concepção. Sem

contar que pessoas de diversos lugares do mundo podem ter acesso a ela.” Luís também publica his-tórias em quadrinhos e caricaturas feitas por ele.

INTERATIVIDADECom o argumento de não querer parar de dese-

nhar, o ilustrador, designer gráfico e publicitário Odair Moura, 21, de Araçatuba, criou o “Blog do Oda” (http://www.blogdooda.com/) em 2009. Se-gundo ele, depois que a página entrasse no ar, ele teria a “obrigação” de postar seus desenhos. “Notei que eu não estava desenhando com a fre-quência que gostaria e encontrei no blog uma oportunidade de não deixar de desenhar e ter a vantagem de mostrar o que eu sei fazer. Não que-ro parar de desenhar nunca”, conta.

A página deixou de ser apenas uma vitrine dos desenhos que Oda produzia. As caricaturas fei-tas por ele fizeram com o que blog tomasse uma projeção que ele não esperava. “Decidi interagir mais com os leitores e resolvi sortear caricaturas feitas por mim. Pessoas de diversas regiões do País começaram a acessar o blog e participar das promoções.”

Os leitores do “Blog do Oda” já estão acos-tumados com a periodicidade dos posts. Ele diz que já foi cobrado por deixar de atualizar por um período. “Alguns já me disseram: ‘Oda, atualize

TECNOLOGIA

POR RAFAELA CÂNDIDO

A era dos blogs

De páginas pessoais, blogs viramestratégias de trabalho e de comunicação

com amigos e profissionais

Foto: Rafaela Cândido

Blogueiro utiliza ferramenta para explorar os trabalhos desenvolvidos na agência em que atua

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o blog. Faz um tempão que está a mesma postagem’. Por isso, hoje faço um pla-nejamento mensal com datas de postagens, tema, promoções e sorteios.”

Na página de Odair, os leitores não encontram so-mente ilustrações e cari-caturas. Em parceria com uma amiga, ele mantém uma coluna semanal de moda, a “Tendências Ra-biscadas”. O espaço, que é assinado pela design de moda Érika Rocha, traz in-formações sobre o mundo fashion. “Para não fugir do objetivo do blog, todos os posts da coluna vêm acompanhados de uma

ilustração feita por mim.” O blogueiro conta com outras ferramentas para divulgar o trabalho. Ele usa o twitter e, inclusive, criou uma fan page (pá-gina no Facebook) do blog. Atualmente, mais de 800 pessoas estão conectadas a ela.

EXPANSÃOO jornalista José Marcos Taveira, 41, de Araçatu-

ba, é o criador do “Blog do Zemarcos” (http://www.blogdozemarcos.com/), que está no ar desde 2006. Na época, o objetivo era divulgar textos jornalís-ticos. Depois, se transformou em um espaço para brincar com os amigos, escrever sobre tecnologia, dicas de vídeos e divulgar tutoriais criados por ele.

“O blog tornou-se um espaço em que os inter-nautas podem conhecer melhor meus textos, mi-nhas opiniões sobre diversos assuntos, meus vídeos, enfim, é um currículo on-line eterno”, explica José Marcos, que também utiliza outras mídias, como Facebook, Orkut, Instagram, Google Plus e Twitter.

Ele conta que, atualmente, o blog é atualizado uma vez por semana. “Antigamente, postava mais e recebia muitos comentários, principalmente de amigos. Quando demorava a atualizar, eles co-bravam. Depois, com as redes sociais crescendo assustadoramente, passei a postar menos e parti-cipar mais delas. Os comentários migraram para o Facebook”, afirma.

O blogueiro conta que os comentários no blog diminuíram, porém, o número de acesso aumen-tou. Segundo ele, a página tem uma média de 2 mil acessos por dia. “Recebo mensagens de pessoas de várias partes do País. Eles entram no blog e compar-tilham o conteúdo no Face. Isso é muito legal.”

CIA. DOS BLOGUEIROSO gosto pelo mundo virtual fez com que José

Marcos administrasse outro blog: o “Cia. dos Blo-gueiros”. A ideia surgiu de uma reunião com a Secretaria da Cultura de Araçatuba, que queria uma interação maior com blogueiros de todo o País. “Criamos o nome, logo e decidimos a coor-denação, que ficou comigo”, conta.

Ele explica que a ideia é unir os blogueiros, dis-cutir temas a respeito do grupo que eles participam no Facebook e divulgar os trabalhos dos membros. “Temos, inclusive, um conselho de ética para admi-nistrar infrações, como plágios”, ressalta.

Em 2010, o “Cia. dos Blogueiros” recebeu o Troféu Odette Costa como destaque em mídias livres e até participou do Conselho de Políticas Culturais da cidade.

Recentemente, o blog lançou o primeiro e-book com poesias dos integrantes. “Outros 11 e-books dos participantes do grupo também foram lança-dos”, afirma.

Atualmente, o “Cia. dos Blogueiros” conta com 465 blogs cadastrados de todo o País e do exte-rior, além de 499 textos de membros publicados no blog oficial da entidade (http://ciadosbloguei-ros.blogspot.com.br/).

Página realiza sorteio de brindes com diversas caricaturas

Blogueiro utiliza ferramenta para explorar os trabalhos desenvolvidos na agência em que atua

Reprodução

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ESTILO

Há quem diga que determinado estilo mu-sical pode interferir no comportamento ou na maneira de se vestir do ser huma-

no. E isso não deixa de ser verdade, afinal, quem teria coragem de ir a um rodeio sem estar usando jeans, camisete e bota? É difícil acreditar que al-guém possa se vestir de outra forma. Estranho mesmo seria alguém chegar a um evento desse porte usando vestido ou algo parecido. Mesmo não gostando do traje, às vezes, é necessário que se vista de acordo com a festa para não se expor ao ridículo.

O fato é que cada pessoa busca encontrar sua identidade através da música, assumindo um esti-lo específico para mostrar o que realmente sente e o que gosta. Por outro lado, há quem tenha se tornado amante da música sertaneja por crescer convivendo com gado, mato, roça e tudo relacio-nado a esse universo.

Prova disso é o comerciante Clóvis dos San-tos, 46 anos, proprietário de uma loja country em Guararapes. Tó, como é conhecido pelos clientes, veio de família muito humilde e sempre morou no sítio com seus pais. Segundo ele, a música ser-

taneja e o estilo cowboy têm tudo a ver com a criação que teve desde a infância. Ele trabalhava todos os dias com seu pai na roça e isso fez com que desabrochasse ainda mais a sua paixão pelo rodeio. Aprendeu a cuidar dos animais, ganhando grandes habilidades profissionais no ramo.

Com o passar do tempo, o comerciante notou que trabalhar em roça já não compensava mais. Decidiu aderir à vida de empreendedor no comér-cio. “Se uma pessoa não curte sertanejo, mas pre-tende ir ao baile sertanejo, ela acabará se vestin-do a caráter, ou muito parecido, porque nenhuma pessoa vai a um evento contrariando o traje que ele requisita”, acredita.

FAMÍLIAEle é casado com Rosimeire Aparecida Mattos

e tem dois filhos: Reiner Mattos, 20 anos e Renan Mattos, 17. A idolatria por rodeio acabou conta-giando outros membros da família, que o acom-panha em todas as festas de peão na região. Mas, como nem tudo segue a tradição à risca, Renan, o filho mais novo do casal não pode nem ouvir falar em rodeio, montaria, cavalgada, enfim nada que seja relacionado a peões. Ele é chegado mesmo em pop rock pop internacional e não perde tempo

POR MAIARA BOMBI

Sertanejo: Estilo musical ou raízes?

Xadrez, jeans e botas são peças que não faltam em guarda-roupas de

muitas pessoas

Foto

: Div

ulga

ção

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e nem dinheiro com roupas de peão, já que prefe-re o look casual.

Por outro lado, Renan, o filho mais velho, se-gue os traços do pai. Desde muito pequeno, já participava dos eventos com a família e foi se apaixonando por cavalos, provas de tambor, are-na etc. Ao atingir a idade necessária, Tó preparou o jovem para o trabalho com gado e hoje Renan tornou-se seu braço direito.“Aprendi a gostar de sertanejo com meu pai. Cresci observando-o laçar os bois, domar cavalos. Acredito que se eu não o tivesse acompanhado, talvez não gostasse de sertanejo como gosto. Para mim, o ritmo musical que ouvimos pode sim mudar nossa maneira de vestir, de agir e, acima de tudo, pode mudar nos-sa rotina.”

TRABALHOA loja de Tó está no mercado há pouco mais

de dois anos e nesse pequeno tempo tornou-se a empresa que melhor oferece mercadorias no esti-lo country no município.

O fluxo de maior venda é entre maio e novem-bro, período em que a região realiza as festas de peão. Por diversas vezes, a loja patrocinou duplas sertanejas, disponibilizan-do os trajes para as suas apresentações. E assim foi se transformando em um ponto de referência e de encontros dos apaixona-dos pelos rodeios.

Pensando em comparti-lhar seu aprendizado com a população, Tó juntamen-te com funcionários está desenvolvendo a criação de um Centro de Treinamento, onde crianças, adolescen-tes, jovens e adultos (de seis anos em diante) pos-sam aprender as provas de tambor, laço e montaria. O prazo para finalizar o pro-jeto é de mais ou menos 50 dias e, após a inauguração, as inscrições serão abertas para todos os interessados.

O empresário também montou uma comitiva, a Comitiva Sertaneja de Guararapes, que viaja as cidades da região para rodeios. Atualmente, ela é formada por 28 pessoas que abandonam suas casas em dia de festa e retornam apenas no ou-tro dia. A comitiva sai de Guararapes em senti-do ao local do evento acompanhada de cavalos, bois e adereços sertanejos. Nos rodeios sempre há premiação com troféus e medalhas para o grupo mais bem organizado e que esteja caracterizado de acordo com os critérios exigidos pelos jurados.

O público das comitivas gosta muito da música sertaneja, que atrai ouvintes de todas as idades. O repertório é romântico e com canções que sem-pre tem algo a transmitir. No momento em que cai na boca do povo, o sucesso deslancha rapi-damente. Além de fãs, a região tem quem pro-duza música sertaneja e grandes nomes já foram lançados, como Léo e Junior (Rubiácea), Liah e Léo (Rubiácea), Augusto César e Leandro (Pra-ta, bairro rural de Araçatuba), João Henrique e Rafael (Araçatuba), João Ricardo e Pachequinho (Araçatuba), Douglas e Daniel (Araçatuba), Tony Mither e Marinho (Penápolis), Lucas e André (An-dradina), dentre outros.

A loja de Tó oferece tudo o que o peão precisa: camisas, calças, botas, chapéus e acessórios

Foto: Maiara Bombi

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Muito tem se falado sobre a ascensão que o Brasil vem tendo nos últimos anos através de projetos do Governo Federal a fim de melhorar a situação financeira das pessoas. A ideia destas melhorias ganhou grande força quando o ex-pre-sidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumiu o cargo em janeiro de 2002 e um de seus principais planos de governo se referia à diminui-ção da pobreza no País. Os trabalhos prolonga-ram-se durante os oito anos de Lula no poder e se estendem na atual gestão presidente Dilma Rous-seff, também do PT.

Para tanto, o slogan da pri-meira mulher presidente do Bra-sil faz referência ao seu objetivo: “País rico é país sem pobreza”. Porém, o próprio governo reco-nhece que acabar com a pobre-za no Brasil ainda não deixou de ser uma utopia e precisa de altos investimentos e grande planeja-mento a longo prazo.

Enquanto isso, o Brasil con-tinua constituído de grandes diferenças sociais, onde se encontram famílias bem estruturadas, com pais que conseguem acompanhar os filhos nas es-

colas e lhes oferecer o conforto do lar, e também de famílias com poucos recursos, ou simplesmente mães que acabam também fazendo o papel de pai e lutam no dia a dia para dar sustento e educação para os filhos.

Este é o caso da jovem Vanessa Faxina, 22 anos, que cuida de seus filhos com amor e de-dicação em dobro, já que cria sozinha a peque-na Victória, de 10 meses, e Adryan, de 3 anos. Vanessa faz parte de uma dura realidade, onde a mãe se vê obrigada a sustentar seus filhos na ausência do pai.

As crianças vivem somen-te com ela desde dezembro de 2010, quando o marido de Va-nessa foi preso por homicídio doloso e aguarda julgamento. O crime ocorreu em Penápolis, cidade onde ela reside. “Foi um momento difícil em minha vida, mas ao poucos estamos nos adequando e amenizando nossa situação”, conta.

Vanessa mantém dois empre-gos para sustentar os filhos, se dividindo entre faxineira e funcionária de uma fábrica de produ-tos de limpeza de seu sogro, local inclusive onde

POR RAFAEL MACHI

SOCIEDADE

Mulheres dolar

Mesmo com grandes diferenças sociais, mães contam a experiência de educa-

rem seus filhos no dia a dia

Mesmo com as dificuldades, Vanessa faz questão de levar os filhos à escola todos os dias

Jamais desanimei em buscar o melhor que

posso oferecer para os meus filhos

Foto: Rafael Machi

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fica instalada sua casa. A sacrificante rotina garante uma renda mensal de R$ 700. A casa é sim-ples, de apenas dois cômodos, e acomo-da ela e os filhos.

Vanessa necessita acordar às 5h30 to-dos os dias para le-var as crianças para a creche e começar sua rotina. Alguns dias precisar acor-dar mais cedo, às 4h, para confeccionar chinelos personali-zados, cujo lucro da venda complementa a renda familiar. Le-var as crianças para

a creche também é um sacríficio, porque Vanes-sa faz o percurso de bicicleta, mesmo que esteja chovendo ou muito frio. Adryan estuda em uma creche municipal próxima de sua casa, na periferia de Penápolis. Já Victória é levada para outra creche no centro, um trajeto que demora 40 minutos de bicicleta. O percurso é repetido às 17h, quando ela os busca para irem para casa.

Mesmo com todas as dificuldades, Vanessa sempre fez questão de sorrir e mostrar alegria para os filhos, afirmando que o amor por eles é incondicional. “Jamais desanimei em buscar o melhor que posso oferecer para meus filhos; quero que tenham uma boa educação e o que co-mer”, afirma. “Quando você é apenas uma filha, não pensa na dedicação e no carinho que sua mãe tem por você, mas quando se vive o oposto, sua concepção muda completamente e, a partir daí, você percebe o verdadeiro valor de se dedicar a um filho”, diz.

OUTRO LADOPara a diretora de uma escola também de Pená-

polis, Juliana de Brito Aires Marangoni, 41 anos, cuidar de suas filhas também é um grande desa-fio, mas com uma realidade bastante diferente. Ela é mãe de quatro meninas: Júlia, 15 anos e as

trigêmeas Carolina, Mariana e Isabela, de 13. Ju-liana é casada com o veterinário Vlademir Maran-goni Filho e moram em uma confortável residên-cia em um bairro nobre da cidade.

A condição financeira da família ofereceu tran-quilidade ao saber da notícia de que Juliana es-perava trigêmeos em sua gravidez. “Foi uma sur-presa muito boa, ficamos extremamente felizes com a notícia, principalmente pelo fato de que queríamos mulheres”, afirma. Juliana diz que a organização dentro de casa foi fundamental na educação das filhas e que as regras são seguidas à risca. “Elas já sabem todas as suas obrigações, principalmente com relação aos estudos. A hora do almoço também é o momento em que sempre estamos juntos, comenta.

As quatro filhas estudam na mesa escola parti-cular, que é considerada uma das melhores da ci-dade. Poder oferecer conforto para as filhas deixa a educadora bastante feliz. Mesmo assim ela diz que procura sempre passar para as filhas lições de vida e mostrar que elas também poderiam estar passando por situações difíceis. “Não quero que minhas filhas vejam com preconceito as pessoas menos favorecidas. Elas sabem que mesmo com a dificuldade, as pessoas se esforçam para ter algo na vida”. Para Juliana, a educação é fundamental para as filhas. “Felizmente sempre tivemos condi-ções de oferecer bons estudos para elas.”

Mesmo com as dificuldades, Vanessa faz questão de levar os filhos à escola todos os dias

Foto: Rafael Machi

Juliana, com o marido e as quatro filhas, valoriza o convívio familiar

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Em uma lista com 20 opções de cursos, Juliano Souza, 26 anos, escolheu Engenharia Civil. A pre-tensão inicial era começar a graduação em 2011 apenas para incentivar a esposa a voltar a estudar Pedagogia. “Na metade do curso eu paro e ela con-tinua”, idealizou o jovem. Entretanto, o ambiente acadêmico lhe apresentou mais do que uma sim-ples oportunidade de apoio à mulher: inseriu-o no universo de empreendedores brasileiros, inte-grado em 52,5% por jovens com idades entre 25 e 34 anos, segundo dados do maior estudo independente do mundo sobre a atividade empreendedora, a pesquisa GEM (Global Entrepreneurship Monitor).

Dentro da sala de aula, ao ser instigado por seu então professor, o engenheiro e também em-preendedor Rodrigo Andolfato, Juliano enxergou a oportunidade para criação de uma empresa es-pecializada na fabricação e instalação de portas prontas para empreendimentos habitacionais.

Desafiado, o ex-mecânico de automóvel iniciou as etapas de pesquisa de mercado, for-necedores, clientes e elaboração de um plano de negócios. Em seguida, aliou os conhecimen-tos práticos e a experiência de seu pai, Vanderli Moreira de Souza, 53, como carpinteiro à de-manda do mercado regional pelo produto e serviço rápido para a instalação. Em novembro de 2011, o negócio saiu do papel e hoje já é au-

tossuficiente, exigindo atenção exclusiva para a gestão.

NOVO MEIOO ingresso no ensino superior, a identificação

da oportunidade e a capacidade de planejamento fazem de Juliano a representação do novo empre-endedor, segundo a professora de Empreendedo-rismo do UniToledo, Marcela Deps.

Com base nos dados da GEM 2011, a docente ex-plica que o perfil do atual empreendedor mudou. Se durante as décadas de 80 e 90, o empreendedorismo era uma prática iniciada pelo profissional que não en-

POR BÁRBARA NASCIMENTO

EMPREENDEDORISMO

Da sala de aula para o mundo dos negócios

Ensino superior assume novo papel na formação de empreendedores ao oferecer ambiente propício para

identificação e orientação sobre oportunidades

Juliano encontrou na faculdade a oportunidade de gerenciar o próprio negócio

Foto: Bárbara Nascimento

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contrava espaço no mercado de trabalho, a realidade atual do segmento é integrada por pessoas que iden-tificam uma oportunidade, pesquisam e planejam antes de iniciarem o negócio.

“Com o tempo as pessoas começaram a ficar receosas diante da taxa expressiva de mortalidade das empresas com menos de dois anos de existên-cia. Além disso, há uma mudança no conceito de empreender, que deixa de ter origem no hobby que se tornou um negócio de sucesso, para se basear na oportunidade e questionamento sobre a durabi-lidade da ideia”, explica. Marcela afirma que a sala de aula é fundamental no processo de análise do cenário mercadológico para o produto ou serviço do empreendedor, além de oferecer instrumentos para inovação e criatividade. “O ambiente acadê-mico orienta àqueles que buscam colocar sua ideia no mercado e disponibiliza as ferramentas necessá-rias para o planejamento ao levar o futuro empreen-dedor a questionar a viabilidade econômica de seu próprio negócio”. (Leia “Como Planejar” na p.34)

TELECOMUNICAÇÕESSeja como empreendedor por necessidade ou

empreendedor por oportunidade, Mauricio Mas-sao da Silva, 30, encontrou na universidade a fon-te inspiradora para a criação da Simtelco em 2004, empresa com serviços de consultoria em TI (Tec-nologia da Informação). As dificuldades finan-ceiras para concluir a faculdade de engenharia de telecomunicações motivaram o jovem a descobrir um perfil empreendedor e criar o próprio negócio.

Se o início profissional foi pela necessidade, a consolidação aconteceu na oportunidade. Após parcerias com a Embratel, Vivo, TIM, Claro e Oi, Mauricio recebeu desta última a proposta para ser-viços exclusivos e, juntamente com o sócio Ádamo Chapenotte, iniciou um novo negócio. O resultado foi o surgimento de um novo empreendimento, que hoje conta com 20 funcionários registrados, sendo 15 somente de TI.

“Um empreendedor sempre aprende a aprender, faz acontecer onde ninguém fez. Assim foi comi-go, em meio às pressões e dificuldades, aprendi a aprender e hoje tenho um patrimônio tecnológico de alta valia e que gera renda e riquezas para toda uma comunidade”, finaliza.

DICASResponsável por incentivar seu aluno Juliano

Souza, o doutor em Engenharia Civil pela USP (Universidade de São Paulo), Rodrigo Andolfato, afirma que o processo de discernimento do perfil empreendedor não é uma tarefa fácil. Antes de criar, em setembro de 2008, a Tecnobens (Tecno-logia Inteligente em Engenharia Civil), Andolfato lutou contra sua natureza empreendedora.

“Meu sonho era ser acadêmico ou apenas ge-renciar um departamento de tecnologia na área da construção civil, mas durante um trabalho em uma empresa da capital paulista fui instigado a empreender e entender o universo da criação de negócios. Montei um projeto e depois foi só juntar a ideia com a vontade de concretizá-la”. Segundo Andolfato, muitas pessoas acham que empreender é fácil e se vislumbram com o sonho de não ter um patrão e poder administrar o próprio tempo.

“Antes de o dinheiro chegar e você ficar na praia só verificando quanto entra de dinheiro na empre-sa, é preciso suar a camisa e trabalhar muito, dedi-car-se integralmente, lidar com desafios e variáveis que muitas vezes não estão em suas mãos”.

Mesmo não tendo iniciado seu negócio dentro do ambiente acadêmico, o engenheiro é enfático em considerar o ensino superior como meio de alta po-tencialidade para o desenvolvimento de empreende-dores. “Está cada vez mais raro encontrar jovens que aceitem o desafio de empreender e com foco no tra-balho. Por isso, os cursos têm a missão de preparar os alunos para um mercado de inovação”, conclui.

Mauricio tornou-se empreendedor em 2004; hoje, emprega 20 pessoas

Foto: Bárbara Nascimento

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Empresa líder em calçado infantil na América do Sul surgiu na faculdade

Está enganado quem considera o empreendedorismo de oportunidade uma prática do século 21. O empresário fundador da Klin, Carlos Alberto Mestriner, utilizou tal estratégia para criar seu negócio em junho de 1983.

Com o sonho de sempre ser e fazer coisas diferentes, Mestriner encontrou nos bancos universitários do curso de Direito do UniToledo os elementos delineadores para a concretização do seu ideal: gerenciar a própria empresa. “Foi olhando para os professores e todo aquele ambiente de conhecimentos e novida-

des constantes que comecei a desenhar o meu sonho e a deixá-lo mais tangível”, conta.Para deixar o emprego de oito anos numa empresa de fornecimento de materiais para a indústria calça-dista e se aventurar no mundo dos negócios com apenas 19 anos, Mestriner optou pelo planejamento,

compra de equipamentos, pesquisa de mercado e fé.“Você precisa acreditar no negócio, ter fé, porque toda obra ou empresa têm ciclos, mas o líder, o verdadei-ro empreendedor, não. Ele tem que acreditar no seu sonho, no seu negócio e manter uma linha de conduta

em equilíbrio e sempre em ascendência, independentemente das circunstâncias”, ressalta. (B.N.)

Como planejar?

Antes de bater o martelo sobre abrir ou não um negócio, responda a estas oito perguntas essenciais para todo empreendedor sobre a ati-vidade que pretende iniciar.

1. O que você faz?Que mercado você quer atuar? É importante

focar em um segmento, pois querer atuar em vá-rios mercados é um dos erros mais comuns de empreendedores que não sobrevivem aos dois primeiros anos de vida da empresa.

2. Para quem você faz?Para responder a essa pergunta, tente visuali-

zar quem são os seus clientes e pense como vai corresponder às expectativas desse público. Ima-gine o que terá que fazer para deixá-los satisfeitos.

3. O que o faz ser diferente dos outros?Todo consumidor compara os produtos e ser-

viços das empresas. Às vezes o fator decisivo é o preço, mas pode ser qualidade, atendimen-to, localização, etc. Para vencer a concorrência, tente fazer algo diferente.

4. Você sabe o que é fluxo de caixa?Essa palavra costuma assustar os empreende-

dores menos experientes, levando-os muitas ve-zes a negligenciar esse aspecto da gestão, que é crucial. Manter um fluxo de caixa que permita o pagamento de todas as contas em dia é o primei-ro passo para o sucesso do seu negócio. Procure se informar por meio de material didático dispo-nível na internet ou em cursos sobre o tema.

6. Quais são suas metas?É importante estabelecer metas. Quanto

você pretende ganhar e em quanto tempo? O que vai precisar fazer para que isso aconteça?

7. O que irá fazer para manter seus clientes?Fidelizar os clientes é tão importante quanto

ter um fluxo de caixa em dia. Pense nas ações que podem criar um relacionamento com o cliente e fazê-lo voltar. Como pretende localizar clientes em potencial?

8. Você realmente quer ser dono de um ne-gócio?

Ao contrário do que muitos pensam, empre-ender dá muito mais trabalho que ser funcio-nário de uma empresa. Além disso, inclui mais riscos. Avalie se você está preparado para ser o responsável por sua vida profissional.

Fonte: Instituto Endeavor

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