preferências do consumidor de notícias em plataformas ... · ... linguagens de programação e de...

15
1 Preferências do consumidor de notícias em plataformas móveis Marina Lisboa Empinotti 1 Resumo: Este artigo reúne pesquisas recentes sobre as preferências dos consumidores de notícias em plataformas móveis – tablets e smartphones -, buscando avaliar técnicas de produção jornalística que atendam às expectativas e necessidades dos usuários. Retoma-se a evolução do jornalismo digital em suas duas décadas de desenvolvimento para elucidar como a produção de notícias foi se adaptando às novas fases de produção, sempre guiadas pelas inovações tecnológicas que permitem diferentes modos de fazer, divulgar e consumir informação na rede. Chega-se a incipiente quinta geração do jornalismo digital, que tem nos dispositivos móveis seu centro, e às atuais formas de acesso à informação. Cada vez mais, as características fundamentais da redação na internet – multimidialidade, hipertextualidade, instantaneidade, interatividade, personalização e memória - precisam ser potencializadas A informação, atualmente, deve ser altamente adaptada às preferências de quem a recebe, atualizada e distribuída rapidamente, em qualquer lugar, a qualquer hora, pronta para a colaboração e feedback, e disponível para consulta de forma simples e perene. Palavras-chave: Jornalismo móvel, Dispositivos móveis. Convergência. Tablet. Smartphone. 1 Mestranda em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), graduada em Jornalismo pela UFSC e pesquisadora do Laboratório de Suporte Operacional e Pesquisa a Novos Formatos aos Produtos Jornalísticos do Departamento de Jornalismo (LabProJor). E-mail: [email protected] 2 Dados de Gartner, IDC, Canalys and Strategy Analytics. Disponíveis em http://www.quirksmode.org/blog/archives/2011/02/smartphone_sale.html. Acesso em 09/07/2014

Upload: lamhanh

Post on 07-Dec-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Preferências do consumidor de notícias em plataformas ... · ... linguagens de programação e de publicação, sistemas de ... em junho de 2007, grandes empresas de comunicaçao

1

Preferências do consumidor de notícias em plataformas móveis

Marina Lisboa Empinotti1

Resumo: Este artigo reúne pesquisas recentes sobre as preferências dos consumidores de notícias em plataformas móveis – tablets e smartphones -, buscando avaliar técnicas de produção jornalística que atendam às expectativas e necessidades dos usuários. Retoma-se a evolução do jornalismo digital em suas duas décadas de desenvolvimento para elucidar como a produção de notícias foi se adaptando às novas fases de produção, sempre guiadas pelas inovações tecnológicas que permitem diferentes modos de fazer, divulgar e consumir informação na rede. Chega-se a incipiente quinta geração do jornalismo digital, que tem nos dispositivos móveis seu centro, e às atuais formas de acesso à informação. Cada vez mais, as características fundamentais da redação na internet – multimidialidade, hipertextualidade, instantaneidade, interatividade, personalização e memória - precisam ser potencializadas A informação, atualmente, deve ser altamente adaptada às preferências de quem a recebe, atualizada e distribuída rapidamente, em qualquer lugar, a qualquer hora, pronta para a colaboração e feedback, e disponível para consulta de forma simples e perene. Palavras-chave: Jornalismo móvel, Dispositivos móveis. Convergência. Tablet. Smartphone.

1 Mestranda em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), graduada em Jornalismo pela UFSC e pesquisadora do Laboratório de Suporte Operacional e Pesquisa a Novos Formatos aos Produtos Jornalísticos do Departamento de Jornalismo (LabProJor). E-mail: [email protected] 2 Dados de Gartner, IDC, Canalys and Strategy Analytics. Disponíveis em http://www.quirksmode.org/blog/archives/2011/02/smartphone_sale.html. Acesso em 09/07/2014

Page 2: Preferências do consumidor de notícias em plataformas ... · ... linguagens de programação e de publicação, sistemas de ... em junho de 2007, grandes empresas de comunicaçao

2

1 INTRODUÇÃO

Durante duas décadas de desenvolvimento, o webjornalismo foi marcado por fases

bem definidas pelas circunstâncias, sobretudo tecnológicas, do momento em que vivia.

Com a massificação do ciberespaço, a partir dos anos 1990, houve rápida migração das

mídias para a internet. O advento das novas Tecnologias da Informação e Comunicação

(TICs) introduziu novas rotinas e linguagens no meio jornalístico.

O suporte mais recentemente adotado pelo jornalismo foi lançado em 2010. O iPad

foi o primeiro computador portátil na forma de tabuleta, com acesso a internet e sensível

ao toque, eliminando a necessidade do teclado e do mouse como mediadores da

interação. O aparelho seguia a tendência dos smartphones – telefones com as mesmas

características acima citadas – que após três anos no mercado venderam mais de meio

bilhão de unidades2.

Lima (2008) reconhece que nem todas as possibilidades abertas pelas novas

TICs são imediatamente exploradas pelos sites jornalísticos, mas, progressivamente, as

empresas de comunicação buscam se moldar para integrá-las à sua produção. Quando se

percebeu a necessidade de disponibilizar na nova rede que se espalhava pelo globo os

conteúdos de suportes convencionais, o que se observou foi uma transposição ipsis

litteris dos conteúdos para a web. Nesta primeira fase, somente o jornal impresso passou

a distribuir seu conteúdo na internet. Mais tarde o rádio e a TV aderiram ao novo meio.

Na segunda fase do webjornalismo, experiências novas são iniciadas na

tentativa de explorar as potencialidades do meio digital e de construir linguagem e

modelos próprios. Neste momento começam a surgir, por exemplo, espaços para reunir

notícias sobre fatos que acontecem no período entre as edições, chamadas de “Últimas

Notícias” ou “Plantão”.

Posteriormente aparecem sites e produtos exclusivos, pensados de forma mais

apropriada para a internet. Criam-se portais jornalísticos desvinculados do jornal

impresso. Abandona-se a ideia de que a internet serve para distribuir uma versão online

2 Dados de Gartner, IDC, Canalys and Strategy Analytics. Disponíveis em http://www.quirksmode.org/blog/archives/2011/02/smartphone_sale.html. Acesso em 09/07/2014

Page 3: Preferências do consumidor de notícias em plataformas ... · ... linguagens de programação e de publicação, sistemas de ... em junho de 2007, grandes empresas de comunicaçao

3

do que estava no papel e busca-se entender o que as pessoas querem saber através da

rede. É um estágio em que boa parte dos usuários está habituada a consumir notícias

online, o que contribui para se experimentar novos formatos de produtos e de narrativas,

bem como de apresentação e disponibilização do conteúdo (BARBOSA, 2004).

É durante a terceira geração, no início da década de 2000, em que são

definidas as características fundamentais da web. São recursos que devem ser

explorados pelos produtores para melhor aproveitamento do conteúdo por parte dos

consumidores: interatividade, memória, personalização, instantaneidade,

multimidialidade e hipertextualidade, segundo Mielniczuk (2003).

O bom aproveitamento das características torna a informação na rede

imersiva e o usuário sente-se à vontade para participar no processo jornalístico, pois

suas contribuições são instantanea e facilmente levadas ao veículo noticioso ou aos

demais usuários. O jornalismo diário, no entanto, segue inspirado no modelo impresso,

composto majoritariamente por texto e foto, e as coberturas próprias da internet, que

demandam mais tempo para elaboração – ainda pela incipiência do processo – exploram

melhor os recursos previstos por Mielniczuk.

A quarta geração do webjornalismo dá-se com a efetiva industrialização dos

processos de produção no âmbito da apuração, edição e veiculação de informações

através da utilização de tecnologias de banco de dados (SCHWINGEL, 2005). Os

bancos são uma forma cultural típica da sociedade das redes e desempenham três

funções: de formato; de suporte para modelos de narrativas multimídia ou estruturação

da informação; de memória dos conteúdos publicados. No meio digital, os elementos

constitutivos da narrativa jornalística são formatados como banco de dados.

Produtos e narrativas dinâmicas são pensadas para se potencializar as

características do ambiente virtual e as redações são integradas para que o conteúdo

esteja de acordo com demais veículos da empresa. Começam a ser pensados produtos

para visualisação em dispositivos móveis – smartphones e tablets.

Mas o poder do mobile toma proporções maiores. Os gadgets inundam o

Page 4: Preferências do consumidor de notícias em plataformas ... · ... linguagens de programação e de publicação, sistemas de ... em junho de 2007, grandes empresas de comunicaçao

4

mercado e se tornam os meios mais comuns de acesso à rede, ultrapassando os desktops

em maio de 20143 em países como os Estados Unidos. O que se observa, a partir do

início da década de 2010, com smartphones difundidos e com o lançamento do iPad,

iniciando a era dos tablets, é um mercado de internet pautado pelos dispositivos móveis.

O jornalismo segue a tendência.

A quinta geração do webjornalismo ainda cresce, regida pela noção do que

Barbosa (2013) denomina continuum multimídia de fluxo horizontal e dinâmico. Essa

noção vê os mobile se juntando ao impresso, ao rádio, à televisão, aos sites web e às

redes sociais em um contexto de convergência. A lógica atual não é de oposição entre

os meios e seus conteúdos em diferentes suportes, mas de integração.

A autora toma como parâmetro a categoria da medialidade para indicar que,

na contemporaneidade, a produção jornalística dos diversos formatos de conteúdos

criados, editados e distribuídos pelas organizações jornalísticas para multiplataformas é

totalmente realizada por profissionais, empregando tecnologias digitais e em rede. As

atuais rotinas de produção pressupõem o emprego de softwares, de bases de dados,

algoritmos, linguagens de programação e de publicação, sistemas de gerenciamento de

informações, técnicas de visualização, metadados semânticos, entre outros. Assim, já

não se tem uma oposição entre meios tradicionais e os new media.

Medialidade, assim, explica melhor esse panorama, quebrando a retórica

do “novo” e dissipando a equivocada ideia de concorrência entre meios que

compõem um mesmo grupo jornalístico multimídia. (BARBOSA, 2013, p.

34)

Nesse atual estágio, os dispositivos móveis reconfiguram a produção, a

publicação, a distribuição e a circulação de conteúdos jornalísticos em

multiplataformas. Ao mesmo tempo, provocam mudanças nas rotinas das redações e em

novas habilidades para o profissional da área.

3 Dados do relatório da Enders Analysis de janeiro de 2014. Disponível em: <http://www.endersanalysis.com/category/publications/telecoms/mobile> Acesso em 29 de junho de 2014.

Page 5: Preferências do consumidor de notícias em plataformas ... · ... linguagens de programação e de publicação, sistemas de ... em junho de 2007, grandes empresas de comunicaçao

5

Westlund (2013) alerta para a necessidade de se pensar um novo modelo para

o jornalismo diante da cultura da mobilidade estabelecida com os tablets e smartphones

– e consequentemente das propriedades das telas touchscreen -, que podem, inclusive,

adicionar uma nova categoria às seis definidas para o webjornalismo: a tactilidade

(PALACIOS et CUNHA, 2012), ou seja, o aproveitamento de uma habilidade natural

ao ser humano e a sua curiosidade, o toque.

2 MODOS DE ACESSO À INFORMAÇÃO EM DISPOSITIVOS MÓVEIS

Embora o termo Mobile Journalism (MoJo), esteja bastante difundido, concerne

principalmente a apropriação, por parte dos jornalistas, de ferramentas móveis para a

produção e distribuição ágil de conteúdo. Entendemos que a discussão agora deve se voltar

à audiência: Como a mídia deve se relacionar com o público móvel?

O primeiro passo é entender a reconfiguraçao da leitura nesses dispositivos.

Com a popularizacao da web, ainda nos desktops, já houve uma importante ruptura. Uma

tradição linear de leitura de mais de quatro mil anos deu lugar a uma versão fragmentada,

hipertextual: o leitor escolhe o caminho a seguir, percorrendo os diferentes nós de

informação, como define Canavilhas (2007) os links e elementos de conexão da rede.

Agora segue o desafio de entender como os dispositivos móveis incorporam a

webleitura e em que pontos se diferenciam dela, afinal, Agner (2012) e Paulino (2012)

concordam que nao se tratam apenas de novos suportes de leitura, com telas menores do que

as dos computadores. São meios híbridos entre a mídia impressa e o meio digital, com

possibilidades interativas potencializadas a partir do toque.

O mercado de notícias parece concordar com a visão dos pesquisadores. Logo após

o lançamento do iPhone – o primeiro aparelho a reunir as características do que hoje é

considerado um smartphone -, em junho de 2007, grandes empresas de comunicaçao já

desenvolviam modos de vender seus produtos no novo gadget. No caso do iPad, como já se

conhecia o sistema operacional desde o anúncio do produto, em janeiro de 2010, o

desenvolvimento de conteúdo jornalístico adaptado ao novo suporte nem esperou sua

chegada às lojas, em abril do mesmo ano e apostou, acertadamente, no sucesso que viria.

Page 6: Preferências do consumidor de notícias em plataformas ... · ... linguagens de programação e de publicação, sistemas de ... em junho de 2007, grandes empresas de comunicaçao

6

Uma primeira possibilidade para acessar conteúdo online nos dispositivos móveis

era o uso do web browser, assim como feito nos computadores. A ideia de aproveitar algo

feito para um meio em outro mais recente nos lembra o processo de adaptação do

jornalismo à vida digital. A resposta mais rápida foi com os mobile-optimized websites,

versões simplificadas dos sites, pensadas para conexões limitadas.

Esse modelo exige alta capacidade de edição e seleção dos fatos, para escolher as

poucas coisas que serão mostradas, pois nem todo o conteúdo é destacado, para que a

navegaçao seja a mais rápida possível. Limitam-se também fotos, anúncios, widgets e

números de colunas de texto em nome de um layout de simples acesso e carregamento.

A principal desvantagem dos mobile-optimized websites, no entanto, é que eles

dividem a audiência entre dois domínios: as do site convencional, pensado para o desktop, e

as do modelo adaptado4. Ambas as versões precisam ser também programadas, mantidas e

atualizadas de formas diferentes, demandando grandes esforços. A resposta para isso veio

com o design responsivo.

Com ele não é preciso fazer uma versão extra do site para que seja visualizado

adequadamente em telas menores, mas uma só programação identifica o tipo de acesso do

usuário e responde da melhor maneira. Embora ainda exija bastante trabalho com

JavaScripts, frames e códigos, o fato de se ter apenas uma URL e mesma base de código

economiza pessoal, tempo e acaba com o problema da audiência dividida. Tal centralização

é melhor para SEO, já que o número de acessos maior destaca o site nos mecanismos de

busca.

É um grande desafio jornalístico trabalhar com informação não textual, como

infográficos animados, que funcionem bem em diferentes plataformas. Encontrar a

performance certa, um equilíbrio entre estética, funcionalidade e tempo, demanda trabalho e

testes.Mas quando bem desenvolvido, o responsive webdesign atende bem às necessidades

dos usuários mobile e tende a substituir os mobile-optimized websites

Em 2008, contudo, o lançamento da App Store dá início a uma revolução no acesso

mobile. Novos aplicativos podem ser desenvolvidos e comercializados fora dos portões da

4 As versões otimizadas modificam a URL de acesso, geralmente adicionando “m.”ao domínio.

Page 7: Preferências do consumidor de notícias em plataformas ... · ... linguagens de programação e de publicação, sistemas de ... em junho de 2007, grandes empresas de comunicaçao

7

Apple – ainda que a ela subordinados. Até então usava-se apenas os apps que o iPhone

disponibilizava no momento da compra. Desde então, 1,2 milhão de aplicativos foram feitos

para o sistema iOS da Apple, para iPhones, iPads e iPods5.

No mesmo ano foi lançado o Android Market, principal rival da Apple no segmento

mobile (hoje pertencente ao Google e chamado Google Play), para que os usuários do

sistema operacional Android também pudessem desenvolver, comercializar e baixar

aplicativos. Hoje, o número de aplicativos na loja virtual é de 1,3 milhão6.

Números de pesquisa da ComScore7 ajudam a ilustrar a preferência do usuário em

usar aplicativos em vez de buscar o que precisa no navegador. Em maio de 2014, pela

primeira vez o tráfego mobile representa mais de 50% dos accessos à conteúdo midiático

digital. As plataformas móveis alançaram 60% dos acessos, contra 50% do ano passado. O

que talvez seja ainda mais impressionante é que os aplicativos de mídia corresponderam a

51% do tempo gasto do usuário, confirmando a preferência do acesso via app do que via

browser.

Analisando as categorias de mídia definidas pela ComScore, percebe-se que algumas

se direcionaram quase que totalmente às plataformas móveis, não sendo mais praticadas por

usuários a partir de desktop. Rádio digital e Fotografia são dois itens que tem engagamento

96% proveniente de dispositivos móveis. Mapas e Mensagens Instantâneas também têm

índices acima dos 90%.

Optar por aplicativos em vez de browser para navegacao permite aproveitar uma das

maiores caracteristicas dos dispositivos moveis, a interaçao por touchscreen atraves de

movimentos pré-determinados, além de ter-se a possibilidade de aproveitar componentes do

hardware dos dispositivos, como microfone, câmera e bluetooth, o que potencializa

interatividade e multimidialidade.

5 Dados de junho de 2014, de ipod.about.com. Disponível em: http://ipod.about.com/od/iphonesoftwareterms/qt/apps-in-app-store.htm Acesso em 27 de julho de 2014. 6 Dados de agosto de 2014, de appbrain stats. Disponível em: http://www.appbrain.com/stats/number-of-android-apps Acesso em 27 de julho de 2014. 7 Dados de maio de 20124 http://www.comscore.com/Insights/Blog/Major-Mobile-Milestones-in-May-Apps-Now-Drive-Half-of-All-Time-Spent-on-Digital Acesso em 23 de agosto de 2014.

Page 8: Preferências do consumidor de notícias em plataformas ... · ... linguagens de programação e de publicação, sistemas de ... em junho de 2007, grandes empresas de comunicaçao

8

Apps também tiram muitos dados da rede, tornando-os disponiveis offline, a partir

da memória do próprio dispositivo, deixando a navegação mais ágil - importante na era da

instantaneidade – e tem presença constante no menu, através de seu ícone, o que é sempre

um convite para que o usuário acesse o conteúdo.

Uma vez instalado no smartphone, a capacidade de personalização e memória do

aplicativo são outras chaves do sucesso. Recebe-se informação mesmo com ele fechado,

salvam-se preferências de acesso que são repetidas nas vistas futuras, e alguns servem como

banco de dados, onde se fazem registros de caracteristicas pessoais para acompanhamento a

longo prazo. Quando necessário, o app pode redirecionar o usuário ao browser, permitindo a

hipertextualidade, a navegaçao com idas e vindas definidas pelo consumidor, com acesso

rápido e fácil entre as etapas pela rede hipertextual .

Do ponto de vista dos produtores de informação, contudo, é preciso ponderar se o

investimento de tempo e dinheiro na criação de um aplicativo vale a pena. O processo de

aquisição e instalação pode ser demorado, já que exige a compra na loja, instalação,

abertura do app e reabertura a cada novo acsso. Precisarei interagir com os componentes do

hardware do telefone, que justificam a necessidade da instalação? Estou pronto para arcar

com investimentos de tempo e dinheiro maiores para o desenvolvimento de aplicativo

próprio? São perguntas iniciais pré-desenvolvimento do aplicativo.

Deve-se também estar ciente que a necessidade de download em vez de acesso em

browser limita o acesso das pessoas e cria dependência da App Store, Google Play ou loja

comercializadora. Perde-se também precisão na contagem de acessos, já que o número de

downloads pode não corresponder ao de usuários regulares. Os apps ganharam a

preferência dos usuários, mas podem não ser a melhor opção técnica e financeira para o

produtor de notícia.

3 PREFERÊNCIAS DE LEITURA

Nesta abordagem centralizada na audiência (audience-first approach) de conteúdo

mobile, entendemos ser essencial a priorização do conhecimento de como o público cresce,

consome e se comporta antes do desenvolvimento do produto. Estudos de rastreamento

ocular (eye-tracking) são boas ferramentas que ajudam a entender a experiência dos

usuários. Eles monitoram o comportamento do olhar do consumidor enquanto navega.

Page 9: Preferências do consumidor de notícias em plataformas ... · ... linguagens de programação e de publicação, sistemas de ... em junho de 2007, grandes empresas de comunicaçao

9

O Instituto Poynter, na Flórida, realizou pequisa8 desse tipo, decisiva para o

entendimento do consumo de notícias mobile. O primeiro aspecto observado foi a

preferência (70%) pela posição horizontal, também denominada paisagem, para a leitura na

tela.

Preferência pela posição da tela do dispositivo. Reprodução Poynter Institute (2012)

Foi investigada também a disposição do menu que melhor atrai o usuário para a

entrada no conteúdo noticioso. Três protótipos foram construídos, chamados: tradicional,

carrossel e azulejo (tile). Respectivamente, são caracterizados por i) semelhança com portais

atuais, com tamanhos diferentes para conteúdos com importância distinta e bastante texto;

ii) sem destaques por tamanho, todos os elementos têm mesmas características, que são uma

foto com texto embaixo; iii) fotos hierarquizadas por tamanho e posição, mas sem textos na

tela.

8 Publicado em outubro de 2012. Disponível em: http://www.poynter.org/how-tos/newsgathering-storytelling/visual-voice/191875/new-poynter-eyetrack-research-reveals-how-people-read-news-on-tablets/ Acesso em 23 de agosto de 2014.

Page 10: Preferências do consumidor de notícias em plataformas ... · ... linguagens de programação e de publicação, sistemas de ... em junho de 2007, grandes empresas de comunicaçao

10

Modelo tradicional. Reprodução Poynter Institute (2012)

Modelo carrossel. Reprodução Poynter Institute (2012)

Page 11: Preferências do consumidor de notícias em plataformas ... · ... linguagens de programação e de publicação, sistemas de ... em junho de 2007, grandes empresas de comunicaçao

11

Modelo azulejo. Reprodução Poynter Institute (2012)

Usuários relataram que, apesar de reconhecerem o layout tradicional como o que mais usam

quando acessam conteúdo noticioso online (83%), o modelo do carrossel foi o mais atraente (50%).

Tradicional é reconhecido como modelo mais comum. Reprodução Poynter Institute (2012)

Page 12: Preferências do consumidor de notícias em plataformas ... · ... linguagens de programação e de publicação, sistemas de ... em junho de 2007, grandes empresas de comunicaçao

12

Modelo carrossel teve preferência de metade dos usuários. Reprodução Poynter Institute (2012)

Foram registrados os seguintes comentários positivos acerca de cada um dos

protótipos:

- Tradicional: mais hierarquizado, mais descritvo;

- Azulejo: mais limpo, mais econômico (tempo), mais focado;

- Carrossel: resume melhor as opções, mais fotos, impressão de haver mais assuntos

disponível

Foram registrados os seguintes comentários negativos acerca de cada um dos

protótipos:

- Tradicional: hierarquizado demais;

- Azulejo: mais trabalhoso, exige mais cliques, falta de texto;

- Carrossel: nenhum.

Page 13: Preferências do consumidor de notícias em plataformas ... · ... linguagens de programação e de publicação, sistemas de ... em junho de 2007, grandes empresas de comunicaçao

13

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Compreende-se, a partir do exposto, que os dispositivos móveis, especialmente com

os aplicativos desenvolvidos especialmente para eles, potencializam as seis características

da web que devem ser buscadas pelos produtores de informação ao distribuir conteúdo na

rede. Estudos já indicam as preferências dos usuários e dão pistas para que produtores sejam

norteados no momento da disponibilização do conteúdo.

A abordagem centrada na audiência de uma área ainda em formação, como o

jornalismo nas plataformas móveis, pode ser a chave para enfrentar um desafio ainda não

superado nem mesmo pelo jornalismo online de um modo geral, que há duas décadas se

reinventa atrás de modelos de negócios rentáveis na rede: encontrar modelos de negócios

rentáveis. A partir de agora, com apps somando mais da metade do tempo gasto no consumo

de mídia, precisa-se trabalhar para acelerar este processo e consolidar um mercado rentável

para os produtores e totalmente ajustado às necessidades de seus consumidores.

5 REFERÊNCIAS

AGNER, Luiz. Usabilidade do jornalismo para tablets: uma avaliação da interação por gestos em um aplicativo de notícias. Anais do 12o. Congresso Internacional de Ergonomia e Usabilidade de Interfaces Humano-Computador. Natal: UFRN, 2012.

BARBOSA, Suzana. Banco de Dados: Agentes para um webjornalismo inteligente?. Paper apresentado no V Congresso IberoAmericano de Periodismo em Internet, FACOM/UFBA 2004. Disponível em: <http://www.facom.ufba.br/jol/pdf/2004_barbosa_agentes_inteligentes.pdf >. Acesso em: 11/06/2014.

CANAVILHAS, João. Webnotícia: Propuesta de Modelo Periodístico para la WWW. Coleção Estudos em Comunicação. Covilhã: Livros Labcom, 2007.

GUIMARÃES, Célio Cardoso. Fundamentos de banco de dados. Modelagem, projeto e linguagem SQL. Campinas (SP): Unicamp, 2003.

Page 14: Preferências do consumidor de notícias em plataformas ... · ... linguagens de programação e de publicação, sistemas de ... em junho de 2007, grandes empresas de comunicaçao

14

LIMA, Érika Hollerbach. O webjornalismo de terceira geração: um estudo de caso. Revista Especialização em Comunicação Social, UFMG, 2008. Disponível em:http://www.fafich.ufmg.br/~espcom/revista/numero2/erika.html. Acesso em: 30/05/2014.

MARTÍN-BARBERO, J. Oficio de cartógrafo. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2004.

MIELNICZUK, Luciana. Jornalismo na web: uma contribuição para o estudo do formato da notícia na escrita hipertextual. 2003. 246f. Tese (Douturado) – Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Comunicação, Salvador. Disponível em: <http://www.facom.ufba.br/jol/producao_teses.htm> Acesso em: 14/06/2014.

PALÁCIOS, Marcos. Jornalismo Online, Informação e Memória: Apontamentos para debate. Trabalho apresentado nas Jornadas de Jornalismo Online, Universidade da Beira Interior (Portugal), 2002. Disponível em: <http://www.fafich.ufmg.br/~espcom/revista/www.facom.ufba.br/jol/pdf/2002_palacios_informacaomemoria.pdf>. Acesso em: 14/06/2014.

PALÁCIOS, Marcos (et al). Um mapeamento de características e tendências no jornalismo on-line brasileiro e português. Comunicarte, Portugal, vol. 1, nº 2, p. 159 – 170, set. 2002. Disponível em: < http://www.fafich.ufmg.br/~espcom/revista/www.ca.ua.pt/comunicarte/artigos/r02a16.pdf >. Acesso em: 30/06/2014.

PALACIOS, M. S.; CUNHA, R. do E. S. da. A Tactilidade em Dispositivos Móveis: primeiras reflexões e ensaio de tipologias. In: Contemporânea, v. 10, n. 3, set/dez. 2012. p. 668-685.

PAULINO, Rita de Cássia Romeiro. Conteúdo digital interativo para tablets-iPad: uma forma híbrida de conteúdo digital. In: Anais do XXXV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Universidade de Fortaleza: 2012. Disponível em: <http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2012/resumos/R7-2159-1.pdf>. Acesso em: 13/06/2014.

SCHWINGEL, Carla. Jornalismo digital de quarta geração: a emergência de sistemas automatizados para o processo de produção industrial no Jornalismo Digital. Disponível em: <http://www.ufrgs.br/gtjornalismocompos/doc2005/carlaschwingel2005.doc>. Acesso em: 11/06/2014.

THOMPSON, J. B. Comunicação e contexto social: In: ____. A mídia e a modernidade. 3. ed. Petrópolis-RJ: Vozes, 2001, p. 19-46.

Page 15: Preferências do consumidor de notícias em plataformas ... · ... linguagens de programação e de publicação, sistemas de ... em junho de 2007, grandes empresas de comunicaçao

15

WESTLUND, O. Mobile news. Digital Journalism. In: Digital Journalism. v. 1, n. 1, 2013. p. 6-26.