preconceito e discriminaÇÃo racial no brasil … · a partir disso construiu-se material...

20

Upload: trinhdang

Post on 09-Nov-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO RACIAL NO BRASIL … · A partir disso construiu-se material didático para o ensino de ... representar e orgulhar o Brasil ao ... quando crescesse,
Page 2: PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO RACIAL NO BRASIL … · A partir disso construiu-se material didático para o ensino de ... representar e orgulhar o Brasil ao ... quando crescesse,

PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO RACIAL NO BRASIL CONTEMPORÂNEO

Autor: Celso Jose Silvestri1

Orientador: Prof. Dr. Fábio Ruela de Oliveira

Resumo

Esta proposta teve como objetivo analisar a trajetória sociológica verificando-se os fatores que fizeram com que aumentasse o preconceito e a discriminação racial no Brasil contemporâneo. Dentro desta proposta verificou-se que o Brasil do século XXI não comporta mais a reprodução da pobreza imposta à população negra, menos ainda as disparidades tão evidentes e tão acentuadas ao longo dos séculos XIX e XX. Cabe ao Estado e ao conjunto da sociedade encontrar caminhos de superação das desigualdades entre brancos, negros e mestiços, seja nos bancos escolares, nas universidades, nos postos de trabalho, na liderança política, nos meios de comunicação, enfim, em todos os campos das atividades humanas. A construção do futuro implica no reconhecimento público do papel dos negros na história, na conquista e consolidação de estatutos de igualdade e de cidadania para todos, sem qualquer distinção, e na efetivação de tratamento livre de preconceito e discriminação. É preciso acabar de vez com o cinismo que permeou, durante muito tempo, as relações sociais entre brancos e negros. Para a realização desse projeto foram realizadas oficinas temáticas com os alunos da 7ª (A) série do Colégio Estadual Costa e Silva do Município de Itaipulândia – PR. Também foram analisados através de oficinas, textos de como ocorreu o racismo na história, na qual se fez a ampliação, discussão de questões em grupo e montagem de texto sobre o que o aluno pensa sobre racismo. Desta forma, estas oficinas tiveram por objetivo principal analisar os fatores que contribuem para o preconceito e a discriminação racial no Brasil contemporâneo deixando mais a vontade os professores para abordar o tema no espaço escolar. Nas oficinas, coube destacar a relevância de discutir a construção histórica de forma que se reforçou o problema do trabalho, que é: utilizar as informações, reflexões e conhecimentos na elaboração de aulas e materiais pedagógicos para melhor atender a perspectiva das Diretrizes Curriculares Estaduais sobre os conteúdos da História.

PALAVRAS-CHAVE: Preconceito Racial. Negros. História.

1 Professor de História no Colégio Estadual Costa e Silva / Itaipulândia/PR – 4ª turma de Professores PDE (2010-2012) da UNIOESTE – Campus de Marechal Cândido Rondon/PR.

Page 3: PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO RACIAL NO BRASIL … · A partir disso construiu-se material didático para o ensino de ... representar e orgulhar o Brasil ao ... quando crescesse,

1 Introdução

A sociedade brasileira caracterizou-se por uma pluralidade étnica, sendo por

um processo histórico que inseriu num mesmo cenário três grupos distintos:

portugueses, índios e negros de origem africana. Esse contato favoreceu o

intercurso dessas culturas, levando à construção de um país inegavelmente

miscigenado (muitas etnias, mistura de raças), multifacetado (muitas faces), ou seja,

uma unicidade marcada pelo esforço de vários subsistemas e pela qualidade,

caráter ou condição de vivência.

A proposta de discutir o tema do preconceito e da discriminação racial no

Brasil recente surgiu através da percepção de que este talvez seja um problema

latente, porém ainda ignorado. Colocando-se tal problema em pauta pudemos

investigar se entre os alunos ou mesmo entre os professores e demais funcionários

do Colégio Estadual Costa e Silva já havia ocorrido indício do problema trabalhado.

Sendo assim, o estudo da cultura Afro-Brasileira e Africana, obrigatório a

partir da Lei Federal2 “nº 10.639 de 2003, que modificou a Lei de Diretrizes e Bases

da Educação Nacional (LDB), estabelecendo a obrigatoriedade do ensino de cultura

africana e afro-brasileira nas escolas públicas e privadas de todos os estados

brasileiros”. (http://opiniaoenoticia.com.br/opiniao/tendencias-debates/lei-da-cultura-

africana-e-afro-brasileira-combate-a-discriminacao-ou-aumento-da-segregacao).

Devido à grandeza do tema, a História Brasileira desde o início da colonização

sempre foi marcada pela presença africana. Também, pode-se dizer que a

observação escolar e o trabalho com os alunos têm se constituído numa das etapas

do processo de ensino aprendizagem, servindo-se para obter conhecimento e

experiência do trabalho do educador na escola.

Por que desenvolver este trabalho sobre preconceito e discriminação no

Brasil contemporâneo? Qual a relação entre esse assunto e o trabalho feito com os

alunos do referido colégio estadual? Qual a real importância de desenvolver esse

projeto pelo PDE (Plano de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná)

sobre a história e cultura afro-brasileira e africana?

2 (http://opiniaoenoticia.com.br/opiniao/tendencias-debates/lei-da-cultura-africana-e-afro-brasileira-combate-a-discriminacao-ou-aumento-da-segregacao).

Page 4: PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO RACIAL NO BRASIL … · A partir disso construiu-se material didático para o ensino de ... representar e orgulhar o Brasil ao ... quando crescesse,

Este artigo procura refletir de que modo o preconceito e a discriminação racial

estão ainda presentes no Brasil contemporâneo. A partir disso construiu-se material

didático para o ensino de história no nível Fundamental. Investigando sobre o papel

da escola na luta contra o preconceito e de outro modo avaliar até que ponto ela

esteve engendrando o processo de discriminação racial mais amplo.

• Buscou-se o embasamento teórico sobre preconceito, discriminação, e as

relações étnicas no Brasil atual.

• Sensibilizaram-se os alunos da rede de Ensino Fundamental fase I, para a

observação e o questionamento sobre os preconceitos contra os negros no

Brasil de hoje;

• Realizou-se a discussão do tema da discriminação racial, a qual se deu a

partir dos textos dos fascículos “Os Negros” da revista Caros Amigos e

demais referências bibliográficas, onde se expôs documentários relacionados

ao tema;

• Elaborou-se material pedagógico, a fim de que as aulas de história tivessem

um bom encaminhamento abordando a temática assim como toda a

problemática que envolveu o assunto.

Sendo assim, observaram-se as questões sobre preconceito e discriminação

racial no Brasil contemporâneo onde se investigou situações vivenciadas no

cotidiano.

O preconceito constitui-se numa atitude interior do indivíduo ou grupo, uma

ideia pré-concebida acerca de algo ou alguém. Neste caso, verificou-se que a

discriminação está relacionada à ausência de conhecimento sobre a realidade do

outro, do diferente. A discriminação é diversamente do preconceito, que se implicou

necessariamente numa ação, que produz um impacto “diferencial e negativo” nos

membro do grupo discriminado.

Torres apud Cadernos Temáticos3 (2006, p. 29) comenta que:

Uma ação educativa e persuasiva pode contribuir para a diminuição do preconceito e para a revisão dos estereótipos, levando à valorização das diferenças da diversidade. Já no caso da descriminação, entretanto, por se tratar de prática, há de se usar também dispositivos legais, ou não se terá alteração no quadro das desigualdades.

3 CADERNOS TEMÁTICOS: História e Cultura Afro-brasileira e Africana. Curitiba: SEED/PR, 2006

Page 5: PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO RACIAL NO BRASIL … · A partir disso construiu-se material didático para o ensino de ... representar e orgulhar o Brasil ao ... quando crescesse,

Verificou-se também que o racismo é um problema mundial, mas, geralmente

no Brasil é tratado como se existisse apenas fora do país. Através deste trabalho

procurar-se-á mostrar que o racismo existe em nossa sociedade, porém, nos últimos

anos este cenário já se transformou bastante. As leis criadas e o trabalho feito nas

entidades educacionais favoreceram essa mudança.

Fez-se necessário discutir o problema para promover a superação do racismo

contra os negros no Brasil. Precisou-se também admitir a existência desse problema

e que o assunto fosse debatido para conscientizar os envolvidos (no caso os

alunos). A situação provocada pelo racismo é tão absurda e tão irracional que,

muitas vezes, ao se tratar da questão, sente-se uma profunda sensação de

impotência. Na sociedade atual, cada vez mais controlada pelos mecanismos de

multimídia, o perigo de cristalização dessas imagens é cada vez mais intensa. Por

isso, com o intuito de contribuir para a eliminação do racismo no Brasil, algumas

ações foram desenvolvidas nos planos educativos e culturais.

Pretendeu-se então colocar em discussão aspectos históricos das relações

entre negros e brancos no Brasil, demonstrando-se dificuldades existentes e

soluções tomadas para o problema, nesta última década.

Para a reflexão proposta utilizamos como fonte primária de análise os

fascículos “Os Negros” da revista Caros Amigos, os quais trataram de várias

questões importantes e decisivas na história do país, em que os negros foram

protagonistas deixando um grande legado histórico e cultural nas Arte, cultura,

música, religião, guerras, resistências e lutas.

Portanto para a realização do referido trabalho partiu-se do presente,

observado na Revista “Carta Capital”4 (09/03/2011) a qual circulou no carnaval de

2011 e trouxe o seguinte editorial: “A maior desgraça: Três séculos de escravidão

vincam até hoje os comportamentos da sociedade brasileira.” Este texto falou do

racismo e da discriminação na questão do indivíduo negro rico e do indivíduo negro

pobre.

Comenta também a referida carta sobre a colonização predatória, “uma

independência se quer percebida pelo povo de então, uma república decidida pelos

generais, avanços respeitáveis”. Pode-se comentar que o que deixa-nos mais

4 Revista Carta Capital. Ecos da Escravidão. Cynara Menezes. 09/03/2011

Page 6: PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO RACIAL NO BRASIL … · A partir disso construiu-se material didático para o ensino de ... representar e orgulhar o Brasil ao ... quando crescesse,

enfurecido, sendo que o rico não vai para a cadeia, mas esta já está cheia de pobres

e miseráveis, pois estes são condenados, até muitas vezes pela cor de sua pele.

1.1 O negro na sociedade hoje

O momento em que estamos vivendo da realidade brasileira, com certeza,

marcará a história deste novo século, quando as classes pobres que são a maioria

passam a ser ouvidas e suas vozes ecoam nos diferentes segmentos clamando por

transformações sociais será possível pensar num país sem preconceito, sendo que

no momento é impossível pensar o Brasil do século XXI sem reconhecer a

significativa e decisiva contribuição dos negros nessa trajetória de 500 anos.

Ainda hoje o preconceito e a discriminação estão presentes nos vários

ambientes sociais, no mundo empresarial e do trabalho, no universo cultural, na vida

política.

É preciso olhar nas entranhas da história para enxergar a presença decisiva

dos trabalhadores negros na primeira onda da cana de açúcar, ainda na época

colonial e dos antigos senhores de engenho. Também é impossível pensar no

acelerado processo de urbanização vivido pelo país, ao longo do século XX, sem a

forte contribuição da população negra, nos mais variados setores e serviços criados

pela vida nas cidades.

A sociedade brasileira, ou melhor, as classes dominantes, que exercem sua

influencia nos sistemas culturais, no sistema educacional, nos meios de

comunicação de massa, ainda devem aos negros, aos afro descendentes, aos filhos,

netos e bisnetos dos ex-escravos, a necessária reparação pelo sofrimento, exclusão

e segregação que viveram no passado.

O principal problema a ser discutido nessa proposta é: como utilizar as

informações, reflexões e conhecimentos na elaboração de aulas e materiais

pedagógicos para melhor atender a perspectiva das Diretrizes Curriculares

Estaduais sobre os conteúdos da História e Cultura Afro-brasileira e Africana?

Segundo as palavras de Mino de Carta:

Page 7: PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO RACIAL NO BRASIL … · A partir disso construiu-se material didático para o ensino de ... representar e orgulhar o Brasil ao ... quando crescesse,

Escrevi certa vez que se Ronaldo, o Fenômeno, se postasse na calada da noite em certas esquinas de São Paulo ou do Rio, e de improviso passasse a Ronda, seria imediata e sumariamente carregado para o xilindró mais próximo. Digo o mesmo Ronaldo que foi ídolo do Brasil canarinho quando adentrava ao gramado. Até Pelé, creio eu, nas mesmas circunstâncias enfrentaria maus bocados, embora se trate de “um negro de alma branca”.Aí está: o protótipo do preto brasileiro, o modelo-padrão, está habilitado a representar e orgulhar o Brasil ao lidar com a redonda ou ao compor música (popular, esclareça-se logo), mas em um beco escuro será encarado como ameaça potencial. Muitos, dezenas de milhões, acreditam em uma lorota imposta pela retórica oficial: entre nós não há preconceito de raça e cor. Pero que lo hay, lo hay. Existem provas abundantes a respeito e a reportagem de capa desta edição traz mais uma, atualíssima. Na origem, obviamente, a escravidão, mal maior da história do Brasil. (Carta Capital5, 09/03/2011, p. 12).

Na leitura atenta da reportagem de capa, no interior dessa edição, de que nos

fala Mino Carta, observamos que a reportagem traz algumas informações bem

significativas. Observe:

No anúncio da TV feito para atrair turistas pelo governo da Bahia, o menino dizia que, quando crescesse, queria ser capoeirista como o pai. Por volta das 10 da noite de 21 de novembro do ano passado, Mestre Ninha, pai de Joel da Conceição Castro, chamou os filhos para dentro de casa, no instante em que a polícia fazia uma incursão pelo bairro onde mora a família, Nordeste de Amaralina, um dos mais violentos de Salvador. Segundos depois, o garoto foi atingido por uma bala perdida e morreu. Tinha 10 anos de idade (Carta Capital, 09/03/2011, p. 24).

E ainda, na continuação desta reportagem, há a indicação de que “até mesmo

entre os suicidas os negros mortos superaram os brancos. Houve crescimento de

8,6% nos suicídios de cidadãos brancos, mas, entre os negros, os que tiraram a

própria vida aumentaram 51,3%”. A reportagem também toca na questão dos

critérios de definição de cor. De acordo com Carta Capital6:

Os critérios utilizados para definir a “cor” das vítimas de violência são os mesmos do censo do IBGE. Nos atestados de óbito do Brasil, a partir de 1996, mais notadamente desde 2002, passaram a ser apontadas as características físicas dos mortos. Foram considerados no estudo todos os classificados como “pardos”, “pretos” e “negros” para chegar a esses números que assustam, em um País onde, como alguns insistem em dizer, principalmente nestes dias de carnaval, “não existe racismo”. Os passistas, puxadores de samba e operários das escolas de samba, que serão saudados como exemplos do “congraçamento de raças” são os mais propensos a perder a vida, sem confete, sem serpentina e em alguma esquina escura da periferia (Idem).

5 Revista Carta Capital. Ecos da Escravidão. Cynara Menezes. 09/03/20116 idem

Page 8: PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO RACIAL NO BRASIL … · A partir disso construiu-se material didático para o ensino de ... representar e orgulhar o Brasil ao ... quando crescesse,

Estas questões articuladas aos conteúdos propostos pelas Diretrizes

Curriculares Estaduais para o ensino de História e sua respectiva fundamentaram a

base para a elaboração teórica de práticas pedagógicas. Em resumo, tanto o objeto

de estudo como os objetivos do projeto de pesquisa foram coerentes com as

políticas públicas recentes do Estado do Paraná na área da disciplina de História,

investigando Preconceito e Discriminação racial no Brasil contemporâneo.

A Educação é o elemento da vida social responsável pela organização da

experiência dos indivíduos na vida cotidiana, pelo desenvolvimento de sua

personalidade e pela garantia da sobrevivência e do funcionamento das próprias

coletividades humanas.

Estudar a trajetória e verificar os fatores que contribuem para a discriminação

e o preconceito do negro no Brasil é fator de busca e conhecimento acerca da

promoção, respeito e valorização das diversidades étnico-raciais.

Segundo Emília Viotti da Costa7 (1989, p. 476),

A abolição representa uma etapa no processo de liquidação do sistema colonial no país, envolvendo ampla revisão dos estilos de vida e dos valores de nossa sociedade. A Lei Áurea é o ponto culminante de um processo que se liga, de um lado, à desagregação do sistema escravista no mundo e, de outro, às modificações ocorridas na estrutura econômica e social do Brasil, na segunda metade do século XIX. Durante mais de três séculos, a escravidão foi uma das peças fundamentais do sistema colonial. No Brasil, e em outras regiões da América onde havia terra em abundância e a mão de obra era escassa e pouco adaptada aos serviços da lavoura, o desenvolvimento da economia de exportação determinou a concentração da propriedade e acarretou intenso tráfico de escravos.

De acordo com Valente8 (1994, p. 12), “Ser negro no Brasil hoje não é fácil.

Aliás, nunca foi”. Hoje, no Brasil, ainda é possível ver os reflexos dessa história de

desigualdade e exploração. Alguns indicadores referentes à população, família,

educação, trabalho e rendimento e que são importantes para retratar de forma

resumida a situação social de brancos, pretos e pardos, revelam desigualdades em

todas as dimensões e áreas geográficas do País. Apontam, também, para uma

situação marcada pela pobreza, sobretudo para a população de pretos e pardos.

Dados retirados do endereço eletrônico do IBGE na internet apontam que:

7 COSTA, Emília Viotti da. Da senzala á colônia. 3.ed. Brasiliense, São Paulo, 1989.8 VALENTE, Ana Lúcia E. F. Ser Negro no Brasil Hoje. Coleção Polêmica. Ed. Moderna. 16ª ed. 1994.

Page 9: PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO RACIAL NO BRASIL … · A partir disso construiu-se material didático para o ensino de ... representar e orgulhar o Brasil ao ... quando crescesse,

Segundo dados da publicação Síntese de Indicadores Sociais - 2000 - que reúne dados de pesquisas do IBGE, em 1999, a população brasileira era composta por 54% de pessoas que se declararam brancas, 5,4% de pretas, 39,9% de pardas e 0,6% de amarelas e indígenas9. (http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2011/04/30/ibge-brasil-e-mais-negro-cuidado-com-o-racismo/ acessado: 01/05/2011, às 18:45h)

Sabemos que muitas coisas mudaram desde a escravidão, porém ainda há

muito que ser feito para que esse cenário realmente se transforme definitivamente.

Procurando compreender mais, Valente10 (1994, p. 14), comenta que:

O racismo entre brancos e negros teve origem no escravismo e foi mantido nas relações de produção posteriores, adquirindo então novas formas. Mesmo com as mudanças nos sistemas econômicos, nas relações de trabalho e nas formas de opressão, verificamos que os negros continuaram e continuam a ser ideologicamente definidos como “inferiores.

O problema do preconceito aos negros se pauta no capitalismo, em uma

estrutura de classe em que poucos têm muito e muitos têm pouco. Por isso, a

grande maioria dos negros sofre discriminação e preconceito, tanto pela raça quanto

pela condição social.

Segundo Conrad11 (1985):

É possível calcular com precisão a quantidade de africanos escravizados que desembarcaram no Brasil por meio do tráfico? Estabelecer limites para esses números é uma das questões que tem dividido muitos historiadores. Os pesquisadores aventuram-se sobre documentos disponíveis, incluindo relatórios de viagem e registros portuários. É um exemplo de como o debate acadêmico compreende não apenas interpretações diferentes de um mesmo fato, mas também conclusões divergentes sobre os mesmos dados.

Pode-se dizer que o número exato de escravos introduzidos no Brasil

durante um período de mais de três séculos jamais será conhecido, mas certamente

o tráfico foi grande e constante durante todo esse tempo.

9 http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2011/04/30/ibge-brasil-e-mais-negro-cuidado-com-o-racismo/ acessado: 01/05/2011, às 18:45h.10 VALENTE, Ana Lúcia E. F. Ser Negro no Brasil Hoje. Coleção Polêmica. Ed. Moderna. 16ª ed. 1994.11 CONRAD, Robert Edgar. Tumbeiros: o tráfico escravista para o Brasil. São Paulo, Brasiliense, 1985.

Page 10: PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO RACIAL NO BRASIL … · A partir disso construiu-se material didático para o ensino de ... representar e orgulhar o Brasil ao ... quando crescesse,

Estudos feitos pelo IBGE12 (2010) na questão de negros e pardos, os dados

trazem ainda a informação de que há mais pessoas se declarando pretas e pardas.

Este grupo subiu para 43,1% e 7,6%, respectivamente, na década de 2000,

enquanto, no censo anterior, era 38,4% e 6,2% do total da população brasileira. Já a

população branca representava, em 2010, 47,7% do total; a população amarela

(oriental) 1,1% e, a indígena, 0,4%. Nessas condições, o:

IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou o crescimento do número de pretos e pardos no ensino superior. Em dez anos, a proporção de pessoas pretas com 25 anos ou mais que têm ensino superior completo passou de 2,3% para 5,3% em 2009. Já entre os pardos a graduação cresceu de 2,3% do total em 1999 para 4,7% no ano passado. Entre a população branca, os percentuais foram 9,8% há dez anos e 15% em 2009.

Segundo o IBGE o negro tem uma vida um pouco melhor, ou melhor dizendo,

eles tem as condições básicas para exigirem o direito a certas coisas que no

passado não tinham como: escola, universidade, saúde, emprego, moradia. Hoje no

Brasil ainda existe racismo e preconceito, tem pessoas que acham que os negros

são inferiores aos outros. O racismo é um crime inafiançável. Para retratar de forma

resumida, a situação social dos brancos, negros e pardos é muito diferente e

apontam também uma situação marcada pela pobreza, sobretudo a população de

negros e pardos.

Para Lara13 (2008, p. 487),

Segundo o relatório Retrato das desigualdades de Gênero e raça, de 2008, os índices de desemprego da população negra são os maiores entre os brasileiros. Situação que piora ainda mais para mulheres negras que tem níveis de desocupação em torno de 11%, seguido por homens negros com 7,1%, em comparação ao índice de desemprego entre brancos que é estimado em torno de 5,7%.

Nesta situação vale ressaltar que a inserção dos negros no mercado de

trabalho geralmente sempre é mais cedo do que os brancos. Mais triste ainda, é que

o trabalho feito pelo negro é sempre o pesado, o mais difícil, que um branco não

faria. Com isso gera situações de subemprego e acima de tudo a exploração.

12 http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2011/04/30/ibge-brasil-e-mais-negro-cuidado-com-o-racismo/ acessado: 01/05/2011, às 18:45h.13 LARA, Silvia H. Escravidão Cidadania e História do Trabalho no Brasil. Revista Projeto Histórias, n.16. São Paulo: Ed. Globo, 2008.

Page 11: PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO RACIAL NO BRASIL … · A partir disso construiu-se material didático para o ensino de ... representar e orgulhar o Brasil ao ... quando crescesse,

Para completar o quadro socioeconômico do negro no Brasil atual verifica-se

ainda que o negro continue sendo mal remunerado, e vivendo em situações na

grande maioria precária, revelando que talvez ainda muito pouco tenha se

modificado realmente, neste último século, nas relações sociais e econômicas do

país.

1.2 O estudo da cultura afro-brasileira nas escolas

Pensando-se assim, pautado nas Diretrizes Curriculares da Educação

Básica14 (2008), a finalidade do ensino de História é a formação do pensamento

histórico dos alunos por meio da consciência histórica e crítica.

Segundo o fascículo 16, “Os Negros” da Revista Caros Amigos15 (p. 483), o

texto ressalta

a presença marcante do Afro-brasileiro na construção do Brasil, no século 21 sem reconhecer a significativa e decisiva contribuição dos negros nessa trajetória de 500 anos. Sejam como força de trabalho escrava ou assalariada, como difusor e gerador cultural, como militância intelectual e política, como criador e artista, os africanos e os afro-descendentes marcaram o desenvolvimento do país.

A história oficial não costuma fazer justiça à população negra, aos

trabalhadores, aos intelectuais, a todos aqueles que forneceram à riqueza nacional e

brasileira com a criatividade e o seu suor.

Gramsci16 indaga:

A elaboração de uma visão organizada de mundo não se faz arbitrariamente em torno de uma ideologia qualquer, vontade de alguma personalidade, de grupos fanáticos filosóficos ou religiosos. A não adesão ou adesão da massa a uma ideologia demonstra a crítica da racionalidade histórica dos modos de pensar. As construções arbitrárias são as primeiras a serem

14 BRASIL. Diretrizes Curriculares da Educação Básica: História. Secretaria do Estado da Educação do Paraná. Governo do Estado do Paraná. Projeto Gráfico e diagramação, 2008.15 Revista Carta Capital. Séculos de escravidão vincam até hoje os comportamentos da sociedade brasileira. Mino Carta. 2011.16 GRAMSCI, Antonio. Introdução ao estudo da Filosofia. A Filosofia de Benedetto Croce. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1999. http://www.faced.ufba.br/rascunho_digital/textos/644.htm, acesso dia 29/01/2011 ás 21:39h

Page 12: PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO RACIAL NO BRASIL … · A partir disso construiu-se material didático para o ensino de ... representar e orgulhar o Brasil ao ... quando crescesse,

eliminadas na competição histórica; já as construções que correspondem às exigências de um período histórico complexo e orgânico terminam sempre por se impor e prevalecer, ainda que atravessem muitas fases intermediárias nas qual a sua afirmação ocorre apenas em combinações mais ou menos bizarras e heteróclitas (GRAMSCI17, 1999, p. 111).

Para Gramsci, o processo hegemônico vincula o ato pedagógico ao político.

Ambos isolados não concretizam, de forma plena, o estado hegemônico. A

educação das massas, para a elevação de sua cultura, é um ato preliminar que

serve de suporte à tomada do poder.

Segundo depoimento de Sodré citado por Domingues em “Uma história não

contada” no capítulo IV, “A luta dos negros pela sobrevivência”, da Revista18 Caros

Amigos (2008, p. 203) diz que:

Para nós o negro constitui tema, assunto, pitoresco, derivativo. A pigmentação ainda classifica ou tende a classificar, não importa, nesse sentido, que a legislação proíba ou esconda o problema. Uma ciência de brancos, isto é, de colonizadores que o processo histórico permitiu tivessem a cor egrégia uma arte de brancos, um corpo cultural de brancos, unge os nossos procedimentos, os nossos ideais, os nossos costumes. O choque consiste, precisamente, em que a realidade é outra, é contrastante, é negra, é eivada de sangue negro, e o negro está por toda a parte, de tal sorte que sua presença, não pode ser negada, tende a ser omitida, refugada para segundo plano, como se tal realidade correspondesse a um pecado original que tivéssemos de pagar a vida inteira.

Nestes termos pode-se considerar que o mito da democracia racial é tão

eficaz no controle da população negra que muitos negros acabam por incorporar a

ideia de que não existe problema racial no país. O mito da democracia racial busca

esconder os conflitos raciais existentes e diminuir sua importância, passam assim

uma ideia mais harmoniosa para a sociedade.

Combater mitos que ainda estão vivos na sociedade é sempre uma tarefa difícil e perigosa. No Brasil, o mito da democracia racial não está completamente morto. Embora profundamente enfraquecido nos centros urbanos, o sistema de clientela e patronagem ainda sobrevive no Brasil – quase intacto, como em algumas regiões do interior, ou remodelado para ajustar-se à sociedade moderna. Isso explica [...] porque os professores Ianni e Fernandes, como muitos outros que consideravam como sua a tarefa de destruir os mitos tradicionais que inibiam o processo de democratização da sociedade brasileira, foram forçados a se retirar da Universidade de São Paulo em 1969. (COSTA19, 1979, p. 242).

17 idem.18 CAROS AMIGOS. Os Negros. Resistência e rebeliões II. Caros Amigos Editora, São Paulo: 2008.19 COSTA, Emília Viotti da. Da Monarquia à República: momentos decisivos. 2. ed. São Paulo, Livraria Editora Ciências Humanas. 1979.

Page 13: PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO RACIAL NO BRASIL … · A partir disso construiu-se material didático para o ensino de ... representar e orgulhar o Brasil ao ... quando crescesse,

Os Cadernos Temáticos, a Secretaria de Estado da Educação enfatizaram

este tema nas Diretrizes Curriculares de História20 (2006), através dos conteúdos

específicos apontando para o tratamento da temática nas aulas de história. Sobre o

ensino de História as referidas Diretrizes fazem uma revisão do período da década

de 1970 aos dias atuais, analisando as principais características do currículo da

disciplina, suas permanências, mudanças, rupturas, aponta uma perspectiva de

inclusão social, considerando a diversidade cultural que busque contemplar novas

demandas da sociedade, entre elas, o cumprimento da Lei n. 10.639/03 sobre a

obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira.

O mesmo possibilita reflexões a respeito dos contextos históricos em que os

saberes foram produzidos. A organização do currículo para o ensino de História tem

como referência os conteúdos estruturantes, entre eles à dimensão cultural, que

aponta, entre outras, a Nova História Cultural, onde o ensino de História pode se

beneficiar dessa corrente historiográfica, porque valoriza, também, a diversificação

de documentos na construção do conhecimento histórico que podem desenvolver

consciência histórica que leve em conta as diversas práticas culturais dos sujeitos.

Para Chartier21 (1987), a cultura não é situada nem acima nem abaixo das

relações econômicas e sociais. No estado do Paraná a participação dos afro-

descendentes foi marcante. O início da presença africana no atual território

paranaense ocorreu na procura de ouro de aluvião, pois eram os práticos na

mineração. Posteriormente a presença africana ocorreu no tropeirismo, setor

hegemônico da economia entre os séculos XVIII e XIX.

Neste período o número de escravos africanos/afrodescendentes aumentará

constantemente. Eram eles que realizavam muitas das tarefas especializadas:

carpinteiros, marceneiros, tropeiros, agricultores, entre outras. No caso da extração

do mate, também temos a presença dos negros, fornecendo mão-de-obra, com

realizações culturais em nosso estado. Porém, ao longo de sua história, tendeu-se a

priorizar o relato a respeito dos imigrantes, minimizando-se a presença e a

participação da população negra na construção da economia, história, cultura e

política do nosso estado, com uma abordagem histórica eurocêntrica. 20 Cadernos Temáticos: História e Cultura Afro-brasileira e Africana. Curitiba: 2006.21 CHARTIER, Roger. A história Cultural: entre práticas e representações. Rio de Janeiro: Bertrand, Brasil. 1987.

Page 14: PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO RACIAL NO BRASIL … · A partir disso construiu-se material didático para o ensino de ... representar e orgulhar o Brasil ao ... quando crescesse,

Esse processo, ao tentar excluir os afro-descendentes, distorceu valores,

conceitos e a própria identidade paranaense, trazendo conseqüências para o

desenvolvimento de sua população, ofuscando um legado que influenciou na

formação do Paraná.

A presença dos negros no Estado do Paraná foi omitida e a historiografia

tradicional relativizou a importância dos negros embasando-se muitas vezes, na

inexistência de grandes plantéis de escravos negros para justificar essa teoria.

Felizmente hoje esta afirmação vem sendo revisada e autores como Pena22 (1999) já

procura tratar dos afro-descendentes e da escravidão no Paraná sob outra ótica,

mostrando o negro como um sujeito atuante da história, desmistificando assim a

idéia de passividade que por tantos anos foi delegada a ele.

Ianni23 (1962) ressalta também a presença dos negros em atividades

econômicas desde os primórdios da História do Paraná, primeiro o indígena foi

explorado como mão-de-obra e depois o africano. Nos engenhos do mate era a

força do braço negro escravizado ou livre que movia a produção. Como podemos

verificar:

Pereira24 (1996, p. 69) comenta que:

O grande contingente populacional de não-brancos sugere que os engenhos de mate utilizavam simultaneamente o trabalho de escravos e de jornaleiros livres negros e mulatos. Os serviços portuários de carga e descarga de navios nos portos de Antonina e Paranaguá também utilizavam mão-de-obra negra, livre ou escravizada em grande escala.

A presença de escravos ao lado dos trabalhadores livres, exercendo as

mesmas funções era uma constante, pode dizer depois de muita leitura que durante

muitas décadas o negro, foi a mão de obra para a produção econômica do Brasil,

sendo de fundamental importância para a formação de riquezas.

A participação dos Afro-descendentes na História do Paraná está sendo

analisada, visando a importância deste estudo e mais uma vez ressaltar que,

22www.google.com.br/search?q=Pena (1999) &ie=utf-8&oe=utf-8&aq=t&rls=org.mozilla:pt-BR:official&client=firefox-a&source=hp&channel=np23 IANNI, Octávio. As metamorfoses do escravo: apogeu e crise da escravaturano Brasil Meridional. São Paulo, Difusão Européia do Livro, 1962, 310 p.24 PEREIRA, Magnus Roberto de Mello. Semeando iras rumo ao progresso:ordenamento jurídico da sociedade paranaense, 1829-1889. Curitiba, Ed. DaUFPR, 1996, 184p.

Page 15: PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO RACIAL NO BRASIL … · A partir disso construiu-se material didático para o ensino de ... representar e orgulhar o Brasil ao ... quando crescesse,

diferente do que muitos autores já tentaram demonstrar, a presença dos afro-

descendentes foi uma constante na realidade paranaense.

Com a vinda dos negros para o Brasil, vieram também suas histórias, seus

personagens e seus conhecimentos que continuam presentes na vida de muitos

brasileiros. Através dos aspectos enfocados, é possível reconhecer a cultura afro e

sua importância para a formação cultural e religiosa do Brasil. Uma forma prática

para que aconteça à inserção dos conteúdos de História e Cultura Afro-brasileira nos

currículos escolares.

O “Folhas”, em seu início propõem aos alunos a investigação da cultura afro-

descendente, em especial o legado religioso, fazendo alusões a alguns contos

populares brasileiros relativos às tradições religiosas predominantes na cultura e na

história do Brasil, no caso, a cristã; como, por exemplo, as parábolas dos

evangelhos.

Ou, ainda, a história de algumas pessoas que tiveram uma vida voltada para

a religiosidade e que posteriormente foram consideradas pela Igreja Católica como

santificadas. É o caso, por exemplo, de São Francisco de Assis e Santa Clara, ou as

histórias de anjos.

Destaca também a importância do respeito à diversidade cultural e religiosa,

que é uma característica marcante do Brasil. A liberdade de consciência e de crença

é um dos direitos e garantias fundamentais do cidadão existentes na Constituição do

Brasil, bem como o livre exercício dos cultos religiosos.

As tradições religiosas possuem vários contos e histórias. Por meio deles, é

possível conhecer um pouco mais sobre outras tradições religiosas que não seja a

sua, já que no Brasil a diversidade cultural e religiosa é uma característica muito

marcante e que deve ser estudada e compreendida para superar toda e qualquer

forma de discriminação.

Para Zibordi25 (2008, p. 264), “quem não conhece não distingue as inúmeras

diferenças entre os rituais religiosos de origem africana no Brasil”. O povo que não

conhece logo fala em “macumba”, onde os cultos são interpretados como mera

algazarra de batuques, danças, comidas e espíritos incorporados em pessoas

vestidas com roupas extravagantes.

25 ZIBORDI, Marcos. Coleção Caros Amigos e História do Negro no Brasil. Fascículo 9. São Paulo: 2008.

Page 16: PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO RACIAL NO BRASIL … · A partir disso construiu-se material didático para o ensino de ... representar e orgulhar o Brasil ao ... quando crescesse,

O preconceito nega a existência de uma teologia afro brasileira, tão ou mais

complexa do que a cristã. Descrever a festa dos “eguns”, durante a qual o espírito

dos mortos visita os descendentes vivos, permite caracterizar e distinguir o ritual

entre os vários trazidos da África.

Antonio26 apud Revista Caros Amigos (2001, p. 264), que presenciou e

escreveu sobre a cerimônia na Ilha de Itaparica, notou bem: “essa festa nada tem a

ver com orixás ou com o comum do candomblé, É única”. Tal singularidade tem

vários motivos: orixá é representação de forças da natureza, como os raios, o mar

ou a floresta; egum “é espírito de pessoa morta, geralmente da família” (p. 265).

Além disso, o culto aos orixás é corriqueiro, motivo da maioria das cerimônias

nos terreiros do país, enquanto a celebração dos “eguns” é raríssima.

As Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Ensino Religioso27 (2008, p.

64) comentam sobre os Ritos onde dizem que: “... São celebrações das traduções e

manifestações religiosas que possibilitam um encontro interpessoal”. Essas

celebrações são formadas por um conjunto de rituais, ou seja, podem ser

compreendidas como a recapitulação de um acontecimento sagrado anterior,

servem à memória e à preservação da identidade de diferentes tradições e

manifestações contemporâneas.

Maçaneiro28 (2011) descreve a possibilidade que temos de sondar e como é o

fascinante mundo da experiência religiosa: busca decifrar antigas hierofanias;

descreve a dança de ‘eros’ no jardim da mística; acolhe o sentido transcendente da

Natureza; indaga sobre a relação entre religião e cultura da paz; reivindica a ternura

como força transformadora do humano. Então, religião, psique e cultura são os fios

que atravessam os oito ensaios deste livro.

Analisando o desenvolver-se dos anos e a história, vemos este labirinto se

desenhando no horizonte global, multipolar, habitado por sujeitos que buscam o seu

lugar no mundo, disposto a dialogar, sabores de que as diferenças não significam,

necessariamente, divergências. Na qual situados em pontos distintos do planeta, tais

sujeitos podem se cruzar na busca do centro ou na procura das saídas, sem que um

26 CAROS AMIGOS. Os Negros. As muitas religiões II. Caros Amigos Editora: São Paulo: 2008.27 SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ. Diretrizes Curriculares da Educação Básica: Ensino Religioso. Paraná: 2008.28 MAÇANEIRO, Marcial. O Labirinto Sagrado: Ensaios sobre religião, psique e cultura. SCJ. Paulus Editora. 2011.

Page 17: PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO RACIAL NO BRASIL … · A partir disso construiu-se material didático para o ensino de ... representar e orgulhar o Brasil ao ... quando crescesse,

ser negue o outro. As dificuldades e problemas até podem ser complexos, porem

sempre haverá uma oportunidade de escolhas e de encontros.

Considerações finais

Ao se findar este trabalho de PDE, pode-se compreender que os negros

chegaram ao Brasil e aqui vivenciaram outras histórias e outros costumes com

diversos grupos sociais: portugueses, crioulos, indígenas e africanos de diferentes

partes da África. Neste lugar tentaram garantir sua sobrevivência, estabelecendo

relações com seus companheiros de cor e de origem, construindo espaços para a

prática de solidariedade. Recriando assim, sua cultura e sua visão de mundo,

associando a sua religião a dos brasileiros que aqui se encontravam.

Pode-se também dizer que, compreender sobre os preconceitos e verdades

sobre a discriminação racial no Brasil contemporâneo, foi um dos caminhos para

afastar atitudes como a indiferença, a intolerância e o preconceito que muitos ainda

têm. Essa perspectiva de compreensão contribui para que muitos negros e também

não negros valorizem todos os cidadãos, respeitando suas diferenças e aceitando as

suas diversidades entendendo-se e reconhecendo-se que todos são importantes.

Portanto, espera-se que essa pesquisa tenha contribuído para o

fortalecimento da escola, a fim de que não haja discriminação, exclusão e evasão.

Outra contribuição foi o material didático produzido, que poderá nos orientar sobre

tal problema, fazendo com que ao ser usado possa favorecer a diminuição do

preconceito e da discriminação racial que existe no Brasil atual.

Podemos também dizer que as oficinas realizadas com os alunos vieram de

encontro a sanar dificuldades encontradas no dia a dia, referentes à discriminação

racial.

Depois de se responder algumas questões referentes preconceito racial

começa-se a se entender, mas, posso dizer que as oficinas não se finalizam, o

trabalho sobre o assunto não se esgota, pois diariamente encontramos preconceitos

e precisamos trabalhar constantemente.

Page 18: PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO RACIAL NO BRASIL … · A partir disso construiu-se material didático para o ensino de ... representar e orgulhar o Brasil ao ... quando crescesse,

Para o momento, os alunos empolgados disseram que eles não fazem, que

por parte deles não existiria o racismo, mas, já presenciaram no seu cotidiano

pessoas sendo discriminadas.

O formato final destas oficinas foi um grupo de alunos conscientes, que

precisam ajudar a disseminar a igualdade entre todos. Que todos são seres

humanos e precisam ser valorizados.

Referências Bibliográficas

BRASIL. Diretrizes Curriculares da Educação Básica: História. Secretaria do Estado da Educação do Paraná. Governo do Estado do Paraná. Projeto Gráfico e diagramação, 2008.

CADERNOS TEMÁTICOS: História e Cultura Afro-brasileira e Africana. Curitiba: SEED/PR, 2006 CHARTIER, Roger. A história Cultural: entre práticas e representações. Rio de Janeiro: Bertrand, Brasil. 1987.

CONRAD, Robert Edgar. Tumbeiros: o tráfico escravista para o Brasil. São Paulo, Brasiliense, 1985.

COSTA, Emília Viotti da. Da senzala á colônia. 3.ed. Brasiliense, São Paulo, 1989.

___________________. A abolição. Global, Ltda. São Paulo, 1986.

___________________Da Monarquia à República: momentos decisivos. 2. ed. São Paulo, Livraria Editora Ciências Humanas. 1979.

CAROS AMIGOS. Os Negros. Resistência e rebeliões I. Caros Amigos Editora: São Paulo, 2008.

CAROS AMIGOS. Os Negros. O que é o racismo. Caros Amigos Editora: São Paulo, 2008.

CAROS AMIGOS. Os Negros. As muitas religiões I. Caros Amigos Editora: São Paulo, 2008.

CAROS AMIGOS. Os Negros. Os fazedores. Caros Amigos Editora: São Paulo, 2008.

CAROS AMIGOS. Os Negros. Resistência e rebeliões II. Caros Amigos Editora, São Paulo: 2008.

Page 19: PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO RACIAL NO BRASIL … · A partir disso construiu-se material didático para o ensino de ... representar e orgulhar o Brasil ao ... quando crescesse,

CAROS AMIGOS. Os Negros. Música popular. Caros Amigos Editora: São Paulo, 2008.

CAROS AMIGOS. Os Negros. O melhor futebol do mundo. Caros Amigos Editora: São Paulo, 2008.

CAROS AMIGOS. Os Negros. Música erudita. Caros Amigos Editora: São Paulo, 2008.

CAROS AMIGOS. Os Negros. As muitas religiões II. Caros Amigos Editora: São Paulo, 2008.

CAROS AMIGOS. Os Negros. Bravas mulheres. Caros Amigos Editora: São Paulo, 2008.

CAROS AMIGOS. Os Negros. Os Movimentos. Caros Amigos Editora: São Paulo: 2008.

CAROS AMIGOS. Os Negros. As muitas religiões II. Caros Amigos Editora: São Paulo, 2008.

CAROS AMIGOS. Os Negros. Arte afrobrasileira. Caros Amigos Editora: São Paulo, 2008.

CAROS AMIGOS. Os Negros. Resistência e rebeliões II. Caros Amigos Editora: São Paulo, 2008.

CAROS AMIGOS. Os Negros. Américas negras. Caros Amigos Editora: São Paulo, 2008.

CAROS AMIGOS. Os Negros. Quem construiu o Brasil. Caros Amigos Editora: São Paulo, 2008.

GRAMSCI, Antonio. Introdução ao estudo da Filosofia. A Filosofia de Benedetto Croce. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1999. http://www.faced.ufba.br/rascunho_digital/textos/644.htm, acesso dia 29/01/2011 ás 21:39h.

_______________. Apontamentos e notas dispersas para um grupo de ensaios sobre a história dos intelectuais. In: GRAMSCI, A. Cadernos do Cárcere, v.2. Edição a tradução Carlos Nelson Coutinho. 4.ed. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2006.

http://mamapress.wordpress.com/2010/09/23/preto-no-branco-no-brasil-ibge-divulga-crescimento-no-numero-de-pretos-e-pardos-com-ensino-superior-no-brasil/

http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2011/04/30/ibge-brasil-e-mais-negro-cuidado-com-o-racismo/ acessado: 01/05/2011, às 18:45h.

Page 20: PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO RACIAL NO BRASIL … · A partir disso construiu-se material didático para o ensino de ... representar e orgulhar o Brasil ao ... quando crescesse,

http://opiniaoenoticia.com.br/opiniao/tendencias-debates/lei-da-cultura-africana-e-afro-brasileira-combate-a-discriminacao-ou-aumento-da-segregacao.

IANNI, Octávio. As metamorfoses do escravo: apogeu e crise da escravaturano Brasil Meridional. São Paulo, Difusão Européia do Livro, 1962, 310 p.

LARA, H. Silvia. Escravidão Cidadania e História do Trabalho no Brasil. Revista Projeto Histórias, n.16. São Paulo: Ed. Globo, 2008.

MAÇANEIRO Marcial. O Labirinto Sagrado: Ensaios sobre religião, psique e cultura. SCJ. Paulus Editora. 2011.

PEREIRA, Magnus Roberto de Mello. Semeando iras rumo ao progresso:ordenamento jurídico da sociedade paranaense, 1829-1889. Curitiba, Ed. DaUFPR, 1996, 184p.

Revista Carta Capital. Séculos de escravidão vincam até hoje os comportamentos da sociedade brasileira. Mino Carta. 2011.

Revista Carta Capital. Ecos da Escravidão. Cynara Menezes. 09/03/2011.

VALENTE, Ana Lúcia E. F. Ser Negro no Brasil Hoje. Coleção Polêmica. Ed. Moderna. 16ª ed. 1994.www.preto-no-branco-no-brasil-ibge-divulga-crescimento-no-numero-de-pretos-e-pardos-com-ensino-superior-no-brasil (acessado em 14/04/2011)

www.google.com.br/search?q=Pena (1999) &ie=utf-8&oe=utf-8&aq=t&rls=org.mozilla:pt-BR:official&client=firefox-a&source=hp&channel=np acesso, (26/06/2012)