“precisa-se de creada branca. prefere-se estrangeira.”os libertos e as relações de trabalho...

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1 1 “Precisa-se de creada branca. Prefere-se estrangeira.Os libertos e as relações de trabalho doméstico no pós-abolição nos anúncios dos jornais paulistanos. São Paulo (1888-1910) Maira Oliveira Santos * Resumo: Após o fim da escravidão no Brasil, e mesmo antes da assinatura da Lei Áurea, o destino dos negros libertos era amplamente discutido. As teorias raciais e positivistas do fim do século XIX endossaram o ideal de branqueamento almejado pela sociedade brasileira e fomentou a vinda massiva de imigrantes europeus para as lavouras e indústrias. A exclusão da mão de obra negra foi sumária e nos jornais paulistanos a faceta mais cotidiana desta realidade se ilustra e exemplifica através dos anúncios de empregos domésticos. Palavras-chave: Trabalho doméstico, pós-abolição, São Paulo. A abolição da escravidão no Brasil não foi um evento aleatório ou isolado, como a própria historiografia mais recente comprova. Até a assinatura da Lei Áurea em 13 de Maio de 1888, desenrolaram-se diversos processos e movimentos pró-abolição em todo o país, levando o tema a ser discutido e analisado tanto nas esferas políticas e sociais quanto no panorama econômico. A arquitetura legislativa que culminou na lei final foi um processo gradualista de erradicação do trabalho escravo. Tal processo idealizava a transição lenta e gradual, amortizando os impactos dos movimentos abolicionistas, o fim da relação senhor/escravo, as possíveis perturbações da ordem e o avanço das ações violentas e revoltas que aconteciam por todo o país principalmente em regiões com maior concentração de escravos. No que diz respeito aos conflitos e revoltas de escravos, a manutenção da ordem pública e dos direitos dos senhores sobre suas propriedades demandou a ação das forças policiais na repressão de movimentos abolicionistas e prisão de escravos, como bem nos mostra Maria Helena Machado. A ruína evidente da escravidão desestabilizou as relações sociais criando casos em que a questão do direito dos senhores e as reivindicações dos escravos não poderiam mais ser ignoradas ou minimizadas pela sociedade. * Graduanda de Licenciatura em História pela Universidade Nove de Julho. Artigo apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso sob a orientação do Professor Ms. Juliano Custódio Sobrinho.

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Page 1: “Precisa-se de creada branca. Prefere-se estrangeira.”Os libertos e as relações de trabalho doméstico no pós-abolição nos anúncios dos jornais paulistanos. São Paulo (1888-1910)

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“Precisa-se de creada branca. Prefere-se estrangeira.”Os libertos e as

relações de trabalho doméstico no pós-abolição nos anúncios dos jornais

paulistanos. São Paulo (1888-1910)

Maira Oliveira Santos*

Resumo: Após o fim da escravidão no Brasil, e mesmo antes da assinatura da Lei Áurea, o

destino dos negros libertos era amplamente discutido. As teorias raciais e positivistas do fim

do século XIX endossaram o ideal de branqueamento almejado pela sociedade brasileira e

fomentou a vinda massiva de imigrantes europeus para as lavouras e indústrias. A exclusão da

mão de obra negra foi sumária e nos jornais paulistanos a faceta mais cotidiana desta

realidade se ilustra e exemplifica através dos anúncios de empregos domésticos.

Palavras-chave: Trabalho doméstico, pós-abolição, São Paulo.

A abolição da escravidão no Brasil não foi um evento aleatório ou isolado, como a

própria historiografia mais recente comprova. Até a assinatura da Lei Áurea em 13 de Maio

de 1888, desenrolaram-se diversos processos e movimentos pró-abolição em todo o país,

levando o tema a ser discutido e analisado tanto nas esferas políticas e sociais quanto no

panorama econômico.

A arquitetura legislativa que culminou na lei final foi um processo gradualista de

erradicação do trabalho escravo. Tal processo idealizava a transição lenta e gradual,

amortizando os impactos dos movimentos abolicionistas, o fim da relação senhor/escravo, as

possíveis perturbações da ordem e o avanço das ações violentas e revoltas que aconteciam por

todo o país principalmente em regiões com maior concentração de escravos.

No que diz respeito aos conflitos e revoltas de escravos, a manutenção da ordem

pública e dos direitos dos senhores sobre suas propriedades demandou a ação das forças

policiais na repressão de movimentos abolicionistas e prisão de escravos, como bem nos

mostra Maria Helena Machado. A ruína evidente da escravidão desestabilizou as relações

sociais criando casos em que a questão do direito dos senhores e as reivindicações dos

escravos não poderiam mais ser ignoradas ou minimizadas pela sociedade.

*Graduanda de Licenciatura em História pela Universidade Nove de Julho. Artigo apresentado como Trabalho de

Conclusão de Curso sob a orientação do Professor Ms. Juliano Custódio Sobrinho.

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O acirramento das tensões envolvendo escravos, já nos primeiros

anos da década de 80, colocando a questão servil na ordem do dia, atraía

para as atividades policiais de controle dos movimentos escravos a atenção da opinião pública que, informada pelos jornais, os quais no seu dia-a-dia

procuravam acompanhar a evolução dos conflitos entre senhores e escravos,

sensibilizava-se pelas denúncias das arbitrariedades policiais. De fato, a

atuação dos jornais com relação à questão servil, no decorrer da década de 80, foi bastante expressiva, buscando acompanhar o mais detalhadamente

possível a atuação policial e, através dela, os conflitos envolvendo escravos,

libertos e abolicionistas.1

Mesmo com o apoio de diversos grupos e tendo o acompanhamento da imprensa e da

opinião pública a discussão da abolição e as opiniões a respeito desta eram conflitantes.

Pensar a economia brasileira sem o trabalho escravo era muito difícil para muitos

conservadores que não acreditavam em relações de trabalho livre entre negros e brancos após

a abolição. Por isso mesmo o Estado Imperial dá início desde meados do século XIX a um

longo processo gradualista que consistiu basicamente em uma forma legal de experimentar a

libertação de negros e mediar os poderes dos senhores, assim como tomar a dianteira do

processo abolição da escravidão, evitando o crescimento dos movimentos populares. Todo

este conjunto de ações acabaram por dar ao processo abolicionista brasileiro um aspecto de

luta lenta e, de fato, gradual para os que acompanhavam a evolução das discussões.

Tão longo e socialmente penoso foi o processo de abolição

que, aos contemporâneos – acostumados a décadas de intermináveis

discussões parlamentares que acabavam resultando em tentativas

fracassadas ou tímidos projetos emancipacionistas e/ou gradualistas,

que a todos frustravam e a ninguém atendiam –, parecia que não viria

nunca. Talvez por isso, apesar de tão tardia, tenha sido tão

comemorada pelos populares como evento auspicioso e surpreendente

que, de certa forma, parecia anunciar nova onda de esperança e

otimismo, capaz de restaurar a crença na sociedade brasileira. No

entanto, ao contrário do que apontavam as aparências e afirmavam os

parlamentares e a burocracia imperial, que correram para assumir as

glórias do feito, o fato social da abolição foi realizado em outra parte,

nas esferas menos visíveis da sociedade, nas dobras do mundo

parlamentar, no contexto das militâncias populares nascentes e nas

franjas da política formalista e excludente do império.2

1 MACHADO, Maria Helena. O plano e o pânico: os movimentos sociais na década da abolição. Rio de Janeiro:

UFRJ, EDUSP, 1994. p. 72 2 MACHADO, Maria Helena. “Teremos grandes desastres, se não houver providências enérgicas e imediatas”: a

rebeldia dos escravos e a abolição da escravidão. In: Brasil Imperial. Vol.3. GRINBERG, Keila. SALLES,

Ricardo (orgs). RJ. Civilização Brasileira, 2010.p.369

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A existência dos movimentos em prol do fim da escravidão e as ações de resistência

dos próprios escravos contribuíram para que este contexto estivesse permeado pela tensão

entre os grupos que defendiam o gradualismo como forma de sustentar este sistema por

quanto tempo fosse possível e os que lutavam para que o processo fosse acelerado e que o

trabalhador negro fosse inserido numa nova dinâmica de relações de trabalho. Somou-se a

isso a própria negativação do elemento de cor como um sujeito incapaz de estar nesta

dinâmica de trabalho mais compatível com as expectativas liberais de mercado de trabalho,

por sua presença nos movimentos e por sua própria resistência cotidiana.

Diante disso, ainda seguindo o processo gradualista de transição de escravidão para

trabalho livre, a possibilidade mais acertada para que a abolição não colapsasse a economia

brasileira por falta de braços seria a imigração endossada pelo conjunto de idéias higienistas,

raciais, civilizatórias e modernizadoras que vieram a fundamentar o ideal de branqueamento

social. O texto de Wlamyra Albuquerque traz o panorama tanto do gradualismo quanto da

imigração como partes de um processo para substituir o escravo como força de trabalho e base

da produção nacional sem necessariamente incluí-lo no mundo do trabalho

Às vésperas da abolição, a busca de alternativas ao trabalho escravo

fazia-se então mais incisiva, mais direta. As expectativas dos barões (...)

tiveram eco na presidência da província, João Capistrano Bandeira, que desde então não poupou esforços para impulsionar a imigração de europeus.

Em fevereiro de 1887, ele enviou a todas as Câmaras Municipais um

questionário sobre as necessidades da agricultura e do comércio, a

nacionalidade dos estrangeiros e as possibilidades de acomodarem imigrantes “laboriosos e civilizados”

3

O que podemos perceber pela historiografia é que os escravos urbanos, tanto homens

como mulheres, mas em especial as mulheres, tinham uma mobilidade pela cidade, que

poderia incomodar aos idealizadores da modernidade e urbanização de São Paulo. Estas

mulheres estavam presentes pelos espaços, ocupando lugares públicos, trabalhando para si ou

para suas senhoras, traçando relações e conexões, transitando de forma quase impossível de se

reprimir pelas autoridades, causando pequenas confusões e discussões.

O espaço de sobrevivência das mulheres pobres, brancas, escravas e forras na cidade de São Paulo coincidia com a margem tolerada da relativa

autonomia dos desclassificados sociais; difícil, se não impossível, de ser

devidamente policiada, cresceu com a urbanização, multiplicando

3 ALBUQUERQUE, Wlamyra R. de. O jogo da dissimulação: abolição e cidadania negra no Brasil. São Paulo:

Companhia das Letras, 2009. p. 101-2

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oportunidades de improvisação de papeis informais; na cidade as mulheres

pobres circulavam pelo espaço social – fontes, lavadouros, ruas e praças –,

onde se alteravam e se sobrepunham o convívio das vizinhanças e dos forasteiros, do fisco municipal e do pequeno comercio clandestino, as

fimbrias da escravidão e do comércio livre.4

Podemos então relacionar todo este panorama social do período pré e pós abolição no

qual as mulheres negras estavam inseridas como uma das razões pelas quais as classes

dominantes paulistanas acharam justo e plausível determiná-las como trabalhadoras

indesejáveis e não confiáveis. Seguindo os ecos das ruas, os jornais começam a trazer a visão

das elites para esta movimentação dos negros no espaço urbano.

A imprensa paulista e paulistana demorou a se tornar forte e sólida. Apenas após a

chegada da família real em 1808 é que os jornais em todo Brasil, e principalmente em São

Paulo, tornaram-se um veículo de grande alcance e influência na vida cotidiana. O jornal do

século XIX era muito diferente do jornal que conhecemos, porém algumas características

continuam as mesmas. O jornal é um segmento desta sociedade, uma extensão de seus

pensamentos, sua mentalidade, a ideologia de seu tempo e de seus anseios por modernidade e

civilização. No século XIX, era pelos jornais que as notícias do mundo chegavam, sobre

política, sobre tecnologia e ciência. Mesmo sendo um veículo relativamente novo no Brasil, a

imprensa foi muito disputada pelos grupos políticos que queriam propagar suas ideias e

acabaram ilustrando como a sociedade brasileira do século XIX realmente via e entendia o

escravo negro e seu lugar na hierarquia social. Apesar do grande número de analfabetos no

Brasil e as tiragens pequenas, os jornais já tinham um alcance considerável, sendo passado de

um leitor para o outro e muitas vezes lido para grupos. Esse alcance servia em muitos casos

para criar redes de relações sociais, troca de informações e divulgação de ideias de ambos os

lados.

Na obra de Lilia M. Schwarcz “Retrato em branco e negro” traz um panorama dos

primórdios da imprensa paulista e de como os negros eram retratados pelos jornais e toda a

ideologia cientificista do período apresentada pelos editoriais publicados nos principais

periódicos paulistas. Os conceitos sobre a evolução das espécies, o positivismo filosófico e os

recentes estudos antropológicos sobre as raças e culturas eram os assuntos mais comuns e os

jornais eram uma das formas mais eficientes de divulgar tais teorias entre o público.

4 DIAS, Maria Odila Leite da Silva. Quotidiano e poder em São Paulo no século XIX. São Paulo: Brasiliense,

1984.p.11

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Os diversos jornais, no entanto, não só se utilizavam das teorias

evolucionistas para informar os diferentes artigos buscavam mostrar que na

verdade compactuavam com essas novas ideias. Ou seja, principalmente a Província de São Paulo, (...), aparentava manipular cotidianamente esses

conceitos que a “aproximavam dos países mais desenvolvimentos”. Nesse

sentido, a noção de civilização transformava-se aos poucos num dos valores

mais “caros”, sendo que São Paulo parecia ter, nesse ponto, uma de suas grandes metas.

5

Estas teorias e novas ideias eram a base de políticas sociais muito sólidas para

disciplinar os nacionais pobres, em especial os negros recém libertos. Tal disciplina era

voltada para a devoção ao trabalho, como forma de ser útil à sociedade, e também de repúdio

total ao ócio e a vadiagem, renunciando aos hábitos “incivilizados e primitivos”, com a

adoção de práticas sociais mais condizentes com o modelo moderno e europeu que se

desejava à época.

Rago demonstra as nuances desta política social ideológica de disciplina pensada e

executada pelas elites paulistas e endossadas pelo estado, como forma de por os trabalhadores

livres em seus lugares, indicando-lhes quais posturas deveriam ter daquele momento em

diante, uma vez que, com o fim da escravidão, toda a dinâmica do trabalho livre estava sendo

reestruturada. Era mais do que necessário que o trabalhador estivesse focado apenas em suas

funções, obediente aos seus superiores e nunca vinculado aos crescentes movimentos de

contestação.

Se, pelo lado dos patrões, o período que vai de 1918 a 1922

aproximadamente assiste a uma redefinição dos procedimentos de

disciplinarização do trabalho, que apela para as noções de ciência, de técnica e de progresso, configurando um projeto de construção da “nova fábrica”,

pelo lado dos operários, a intensificação das formas de resistência aponta

para a luta pelo controle do processo de trabalho. Ao lado do trabalho subterrâneo da resistência cotidiana que se trava no interior da produção,

evidencia-se nos horizontes do movimento operário a questão da toada das

fábricas e da reorganização do processo produtivo, neste momento histórico preciso.

6

5 Este trabalho apresenta desde a história da imprensa paulista e paulistana como também as várias maneiras que

os grandes jornais faziam referência aos escravos e negros livres e libertos, destacando as teorias científicas do

fim do século XIX e início do XX. SCHWARCZ, Lilia Moritz. Retrato em branco e negro: jornais, escravos e

cidadãos em São Paulo no final do século XIX. São Paulo, Cia das Letras, 1987.p109. 6 A temática do trabalho citado está focada no operariado formado basicamente por imigrantes, porém, no que

diz respeito aos processos de disciplinarização dos trabalhadores, tanto europeus quanto nacionais, esta temática

se aproxima do tema deste trabalho. RAGO, Margareth. Do cabaré ao lar: a utopia da cidade disciplinar: Brasil 1890-1930 São Paulo, Paz e Terra. 1997.p.47.

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Uma das sessões dos jornais que serve de termômetro para o que acontecia nas ruas

paulistanas é a dos classificados que, no período estudado, chamavam-se anúncios. O espaço

destinado variava de acordo com o jornal e a quantidade de anúncios, principalmente se

comparada aos espaços ocupados por anúncios publicitários de grandes empresas, lojas e

fábricas, mas mesmo assim conseguiam demonstrar o que permeava as relações entre

sociedade, economia e trabalho do período do pós-abolição e início da imigração europeia.

O negro nas páginas dos jornais

George Andrews traz à tona o plano imigrantista já como parte das políticas de

transição e gradualistas para o fim da escravidão e uma realidade após a abolição. Numa

possibilidade de o negro, uma vez livre do trabalho forçado, não se adequar a rotina de

trabalho livre e regrado e pensando nas situações em que os negros já livres não permaneciam

nas fazendas, a salvação seria trazer um contingente de imigrantes europeus que garantiriam a

força de trabalho da economia brasileira.

Mais nefasto ainda era um artigo escrito um ano depois da

abolição, intitulado “A Segregação do Liberto”, que anunciava a

conclusão virtual da competição do mercado de trabalho e a vitória

definitiva dos imigrantes. Ignorando a substância dos debates

legislativos anteriores, o artigo dizia que tal competição não havia

sido pretendida ou antecipada. (...)E agora “o vazio deixado pelo

primitivo trabalhador foi preenchido para sempre... O liberto esta

seggregado, inutilizado, perdido para a vida produtiva. 7

Desde antes do fim da escravidão o negro já era um elemento presente nas páginas dos

jornais e não só como personagem das notícias de crimes e atividades “selvagens” ou nos

artigos sobre inferioridade racial e as estranhas culturas dos países africanos, mas apareciam

também nos anúncios sobre fugas e como “artigos” de compra e venda. Neste aspecto as

referências claras às características físicas e aos hábitos do escravo em questão já fazem parte

da linguagem de tais anúncios e esta linguagem permanece após a abolição demonstrando que

tais características eram importantes na relação de trabalho livre que se estabeleceria.

Mas ainda no tema da disciplina para o trabalho, Gilberto Freyre apresenta um estudo

referente aos escravos nos jornais e sobre os instrumentos de controle para que os negros

fossem normatizados de acordo com a relação senhor-escravo/patrão-empregado.

7 ANDREWS, George Reid. Negros e brancos em São Paulo (1888-1988). Bauru, SP: EDUSC, 1998.p 101.

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Aculturação dirigida. Trabalho forçado. Mas aculturação e trabalho

dirigidos que preparavam o escravo para a própria liberdade dentro da

nova sociedade ou da nova cultura de que ele passava a ser elemento ou membro; e à qual trazia ou acrescentava alguma coisa de seu, ao

mesmo tempo que adquiria dela, juntamente com a língua portuguesa,

nem sempre bem aprendida, e com a religião cristã, nem sempre bem

assimilada, todo um conjunto de ritos, de técnicas, de valores, de hábitos de trajo e de alimentação, que importavam na sua maior ou

menor integração num novo gênero de vida. 8

Nesta sessão de anúncios e classificados, que neste período não era tão extensa ou

elaborada como veio a ser no futuro, encontram-se, lado a lado, anúncios de “precisa-se”,

“compra-se” ou “vende-se”, dos mais diversos produtos e serviços, cebolas, velocípedes,

jumentos e professores, ilustrando a fase de transição que a capital paulista passava, entre o

moderno e o rural ao mesmo tempo. Mas destes anúncios de “precisa-se” os que chamam a

atenção são os que solicitam empregados para serviços domésticos. Mesmo antes de 13 de

Maio de 1888 os anúncios que declaravam intenção de contratar escravos ou livres para

trabalhos como cozinhar, lavar ou para serviços da roça superavam os de escravos fugidos. E

mesmo que “os jornais não dessem conta de todo o mercado de trabalho eles ajudam a

entender o mundo do trabalho na cidade”9

A abolição da escravatura foi não só um ato político como o resultado de movimentos

sociais e transformações econômicas internas e externas, simbolizando também uma

reformulação nas estruturas sociais da época. O lugar dos negros no novo cenário social e

econômico mostrou-se uma questão complicada para o pensamento modernizador

influenciado pelas teorias cientificistas e as correntes racistas. Tanto industriais quanto

senhores de terras não acreditavam que os ex-escravos ou até mesmo os negros já livres

fossem capazes de serem introduzidos na lógica do trabalho livre, sendo assim, a imigração de

europeus supriria tanto a demanda por mão de obra qualificada quanto a do branqueamento da

sociedade brasileira, pré-requisito para a formação de um Estado forte e moderno.

8 O texto trás o olhar antropológico sobre as relações estabelecidas entre escravos e senhores no Brasil e como as

particularidades destas relações ficavam referenciadas nos anúncios de jornais, destacando também as nuances

culturais e os discursos que se fazem notar através destes. FREYRE, Gilberto. Os escravos nos anúncios de

jornais brasileiros do século XIX. São Paulo. Global. 2010.p.71 9As dinâmicas cotidianas do mercado de trabalho as quais os escravos e negros livres estavam submetidos e se

apresentavam de formas variadas tanto em jornais da época como em documentos de órgãos do estado e relatos

de viajantes e cronistas, ilustrando o processo de substituição do trabalhador negro pelo branco europeu.

JACINO, Ramatis. O Branqueamento do Trabalho. São Paulo. Nefertiti. 2008.p.108-109.

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Ao seguirmos esta linha podemos ver que é aqui que se abre um grande paradoxo, pois

a intenção disciplinadora apresentada anteriormente era a de adequar o ex-escravo ao mundo

do trabalho, porém o que se viu na prática foi uma preferência pela mão de obra imigrante e

branca, desconsiderando o que, anteriormente, “tratava-se simplesmente de tornar ocupados

os desocupados ou manter ocupados aqueles que se fossem alforriando, de modo a se instituir

um controle estrito e cotidiano do Estado sobre suas vidas”, para agora ser a exclusão do

mercado de trabalho.

Em 1888, nas páginas d’A Província de São Paulo10

os anúncios de emprego poderiam

passar despercebidos, mas depois da Lei Áurea os anúncios de “precisa-se” ganham uma

característica que traduzia alguns pensamentos correntes na época. Tal particularidade que

chamou minha atenção ao examinar as fontes foram os anúncios que faziam clara referência à

cor da pele ou da nacionalidade do empregado que se desejava contratar, quando antes se

pedia apenas que o candidato à vaga fosse qualificado e com boas referências. Através dos

anúncios de jornais pesquisados, foi possível entender como a substituição acontecia no

tocante ao trabalho doméstico, mas dando uma ideia do que ocorria em todo o mercado da

cidade de São Paulo11

.

Sob a influência das teorias cientificas raciais que então se produziam na Europa e nos Estados Unidos (...), vários reformadores passaram a tratar o

tema do negro livre não mais do ângulo inicialmente proposto – o da coação

do ex-escravo e demais nacionais livres ao trabalho –, mas sim da perspectiva de sua substituição física pelo imigrante tanto na agricultura

como nas diversas atividades urbanas.12

A historiografia sobre as relações de trabalho neste período diz que os negros libertos

foram excluídos da crescente industrialização e de São Paulo e também do comércio,

acusados de indolentes, indisciplinados e incivilizados. A preferência pelos trabalhadores

europeus era endossada pela ideia de que estes seriam mais disciplinados para o trabalho livre,

acostumados com as rotinas das fábricas e postos de trabalho regrados, serem originários de

sociedades civilizadas e culturalmente evoluídas e serem brancos. O branqueamento do

10

O jornal em questão, assim como o Diário Popular e o Correio Paulistano citados neste artigo, encontra-se no

acervo da hemeroteca do Arquivo Público do Estado de São Paulo, tendo sido pesquisadas edições entre os anos

de 1888 e 1910. 11

JACINO, Ramatis. Op.cit.p.60. 12

As perspectivas destes processos de exclusão baseavam-se em parte pelo caráter “selvagem” e “incivilizado”

dos nacionais livres, fossem eles indígenas ou afro-brasileiros, o que era indesejado e temido pela burguesia

brasileira e pelo Estado. AZEVEDO, Célia Maria Marinho de. Onda negra, medo branco; o negro no

imaginário das elites – século XIX. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1987.

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trabalho parecia ser a solução, mas óbvia para esta questão uma vez que a pauta do dia era a

europeização da sociedade brasileira como um todo.

Antes do fim da escravidão o que se tem em toda a sociedade brasileira é o escravo

inserido em relações sociais de diversos graus, resistindo às opressões da relação senhor-

escravo e galgando sua liberdade através destas relações estabelecidas no cotidiano com

outros escravos e homens livres. O estudo de Maria Cristina Wisselbach sobre essas relações

sociais nas quais os negros escravos estavam inseridos demonstram como a opressão do

trabalho forçado levou os cativos a buscarem novas formas de vivência que os permitissem

uma situação menos sofrida.

Sujeitos a um regime baseado na coerção, que os obrigava ao trabalho e às

punições vistas como necessárias, que delimitavam suas vidas por condicionantes, das quais na maior parte das vezes não conseguiam escapar,

os escravos tinham a possibilidade de desenvolver outras relações e práticas

sociais, seja no âmbito do grupo de parceiros ou de escravos de uma mesma vizinhança, seja ainda nos contatos mantidos, num sentido mais amplo, com

os homens livres com os quais conviviam. No interior dessa complexa rede

social, de caráter aparentemente residual, construíam os elementos mais

significativos para remir, em parte, sua escravidão, dimensionando uma série de estratégias de independência no lastro dos vínculos sociais primários que

acabavam por estabelecer.13

Voltando mais uma vez ao período anterior a abolição, temos os escravos em todos os

postos disponíveis no mercado de trabalho brasileiro, convivendo ou competindo com

trabalhadores livres, muitas vezes brancos pobres e imigrantes. Neste quadro os escravos

domésticos que não tinham uma produção economicamente interessante poderiam ser

numerosos em casas mais abastadas e, “apesar da preocupação ostentatória, tamanha

abundância de domésticos induzia, numa medida ou noutra o seu aproveitamento rentável”14

,

“aí o interesse lucrativo prevaleceu e, justamente pela grande demanda, tornou-se bom

negocio vender ou alugar escravos domésticos”. Podemos então vislumbrar um mercado de

trabalho doméstico quase que exclusivamente dominado pela mão de obra negra.

Se, após a abolição da escravidão, nas fábricas e no comércio as vagas de empregos

eram dos imigrantes brancos, deduz-se que trabalhos domésticos mais subalternos e pesados

13

WISSELBACH, Maria Cristina. O escravo e o mundo caipira na comarca de São Paulo. In: Sonhos africanos

vivências ladinas. Escravos e forros em São Paulo (1850 – 1880). São Paulo. Hucitec, 2009.p.110 14

As relações de trabalho escravo durante o período colonial pouco ou nada mudaram durante o Império,

sugerindo que após o fim da escravidão as disparidades e contradições destas relações vazaram para as relações

de trabalho livre entre brancos e negros. GORENDER, Jacob. O escravismo colonial. 4ed. São Paulo: Fundação

Perseu Abramo, 2010.p.505.

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10

que não exigisse grandes conhecimentos técnicos continuariam para os negros, como já o

eram antes do fim da escravidão. Cozinheiras, criadas, amas de leite e secas e lavadeiras

pareciam ser os destinos profissionais das mulheres negras, mas o que se vê pelos anúncios

dos jornais não é bem isso.

Uma preferência discriminatória acontece de forma muito clara e simples nos anúncios

de empregos confirmando que era uma tendência social crescente e comum, respaldada pelas

teorias cientificistas e racistas da época a ideia de livrar o país da presença dos negros e

mestiços. Temos então o seguinte panorama: Na Europa e EUA o pensamento positivista, os

crescentes estudos sobre a saúde e higiene, as teorias antropológicas acerca da evolução das

culturas, os determinismos geográficos e genéticos ou hereditários e superioridade das ditas

“raças-puras” eram uma pauta discutida e praticada, no Brasil todos esses discursos foram

apenas adaptados para a realidade mestiça do povo brasileiro, passando também a ser uma

prática. Em outro trabalho, Lilia M. Schwarcz apresenta as dinâmicas entre essas teorias

cinetificas e realidade social e cultural brasileira.

Neste contexto, onde ficariam os pobres brasileiros, constituídos em sua maioria por

negros indígenas e mestiços? A suposta inferioridade destes era “comprovada” e afirmada

tomando como base os manuais e tratados científicos inquestionáveis naquele período, sendo

assim, estariam todos que não fossem brancos desqualificados e/ou inadequados para

qualquer atividade de trabalho ou convívio social “civilizado”. Representavam o que o Brasil

não deveria mais ser.

Para as famílias burguesas da Europa “a conduta indicada na contratação de uma ama

de leite era apresentada de forma igualmente direta (...). A mãe que fosse privada do prazer de

amamentar seu bebê deve procurar uma ama de leite e examiná-la cuidadosamente”15

,ou seja,

já existia uma preocupação com saúde e higiene. Mas quando transportamos para a realidade

nacional, a carga das teorias raciais e do branqueamento associadas aos preconceitos

estabelecidos ainda no período da escravatura, temos a necessidade da elite paulistana de

excluir os negros livres também dos trabalhos domésticos.

15

GAY, Peter. O século de Schnitzler: a formação da cultura da classe media: 1815-1914. São Paulo:

Companhia das Letras, 2002.p.66.

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Na edição da Província de São Paulo16

, de 29 de janeiro de 1888, encontram-se dois

anúncios do mesmo endereço sobre a intenção de se contratar uma criada e um copeiro. Os

anúncios são simples e não fazem qualquer menção de cor da pele ou nacionalidade. No

mesmo jornal, mas da data de 15 de Maio de 188817

, somente dois dias após a assinatura da

Lei Áurea pela Princesa Isabel, encontra-se o anúncio que requisita a contratação de uma

“creada allemã que saiba costurar”. Os anúncios que se seguem nas datas posteriores, tanto na

Província quanto no Correio Paulistano e no Diário Popular18

continuam em padrões bastante

parecidos, fazendo vez outra menção a cor da pele ou a nacionalidade, quando não

mencionam as duas coisas. Uma família anunciava que precisava com urgência de uma

“Cozinheira, boa em sua arte, branca, preferindo-se estrangeira”; uma mãe procurando “Ama

de leite com leite novo, prefere-se italiana ou alemã”; criadas e lavadeiras também deveriam

ser brancas, limpas e estrangeiras. Esta linguagem tão direta e crua pode parecer estranha aos

nossos olhos hoje, mas transparecem as intenções das elites paulistas do fim do século XIX e

início do XX, sem margem para muitas dúvidas. Sendo assim, fica claro que o branqueamento

do povo brasileiro não era apenas uma teoria, um ideal distante, era uma realidade e um

objetivo a ser alcançado. Não bastava apenas impedir que negros e mestiços fizessem parte da

modernização de São Paulo, era preciso bani-los dos lares das “boas” famílias paulistanas.

Como as teorias afirmavam “os grupos negros, amarelos e miscigenados "seriam povos

inferiores não por serem incivilizados, mas por serem incivilizáveis, não perfectíveis e não

suscetíveis ao progresso" (Renan, 1872/1961).”19

À primeira vista os anúncios das seções de classificados têm sua versão

discriminatória para cada tipo de ocupação, apresentando os “precisa-se” de padeiro francês

ou os trabalhadores rurais no dia 20 de Abril de 1895 na Província de São Paulo.

Trabalhadores para um sítio. – Precisa-se um casal de

trabalhadores italianos, portuguezes ou Ilhéos para tomarem conta de

16 Província de São Paulo, 29/01/1888. Microfilme 01.01.014. Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo. 17 Província de São Paulo, 15/05/1888. Microfilme.01.01.014. Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo. 18 Os referidos títulos fazem parte do acervo do Arquivo Público do Estado de São Paulo – Setor de Biblioteca e

Hemeroteca, tendo sido pesquisadas as edições entre os anos 1888 e 1910. Podem ser visualizados no original

impresso ou em microfilmes. 19

A discussão sobre a negatividade da miscigenação do povo brasileiro e suas consequências para o futuro do

país enquadradas pela distorção sobre a “Origem das Espécies” de Darwin, por exemplo, que deu origem ao evolucionismo social, e tantos outros trabalhos científicos que acabaram por se tornar as bases de discursos

etnocêntricos eugênicos. SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão

racial no Brasil – 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. p.32

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zm pequeno sítio à meia. Para tratar-eu ao Largo do S. Francisco

n.1120

Mas estes anúncios de vagas mais variadas são raros no que diz respeito às menções a

cor da pele e nacionalidade, ficando a maioria deles para os anúncios para trabalhos

domésticos, sendo estes o ponto de maior interesse deste trabalho. Para melhor exemplificar o

que foi encontrado na pesquisa, dividi os anúncios em dois tipos: “Precisa-se” e “Oferece-

se”, sendo, respectivamente, de empregadores a procura de trabalhadores e de trabalhadores a

procura de colocação, contendo ou não especificações ou descrições quanto a cor da pele ou

nacionalidade.

Na edição do dia 12 de Janeiro de 1893, os classificados de empregos do Correio

Paulistano21

traziam um anúncio com a palavra “CREADA” em destaque e logo abaixo o

texto dizia que desejava-se contratar uma “à rua Marechal Deodoro (antiga Imperador), n.12

– Prefere-se extrangeira, e paga-se bem – Não sendo boa é inútil apresentar-se.” . Algumas

vezes ainda era acrescentada ao anúncio um “paga-se bem” ou “para serviços leves” de modo

a atrair as candidatas pelas possíveis vantagens.

O Correio Paulistano era o que apresentava menos anúncios, espremidos entre artigos

diversos, noticiários e publicidades maiores, os discriminatórios aparecem esporadicamente.

A Província de São Paulo tem uma sessão maior e com os anúncios preferindo imigrantes

mais frequentes, alguns até mais destacados do que os demais. Já o Diário Popular tem uma

sessão muito maior do que os jornais supracitados, chegando a ser o equivalente a uma página

inteira de anúncios de empregos apresentados em tamanhos diferentes fazendo menção a

brancos e/ou europeus. Vale a pena dizer que estes anúncios não eram maioria nos jornais,

eles dividiam espaços com outros que traziam a intenção de uma família em contratar uma

empregada, mas não faziam qualquer menção a cor ou nacionalidade, algumas vezes exigindo

apenas que fosse bom em seu ofício.

É importante destacar que alguns anúncios persistem sendo publicados diariamente

por longos períodos. Tanto os que requisitam empregados brancos quanto os que não citam

cor ou nacionalidade, seguem sendo publicados por meses. Isso leva a levantar a hipótese de

que poderiam ocorrer duas situações: primeira, de que os anúncios que exigem que as

candidatas à vaga sejam brancas, no momento em que a mulher comparecia ao endereço

20 Província de São Paulo, 29/01/1888. Microfilme 01.01.014. Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo. 21

Correio Paulistano. 12/01/1893. Microfilme 04.01.045. Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo.

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respondendo ao classificado do jornal, a contratante não ficava plenamente satisfeita, apesar

de a candidata ser branca e estrangeira; segunda, ao responder ao classificado que não fez

qualquer menção racial, a mulher negra ou mestiça era rejeitada na contratação.

Nesse aspecto percebe-se que o que se queria deste trabalhador ideal era a salvação

modernizadora do Brasil, e São Paulo em franco processo de modernização precisava disto

mais do que tudo. Desqualificar os pobres nacionais, negros ou mestiços, negativar seus

modos de vida e o lugar onde viviam fazia parte do discurso corrente da sociedade paulistana

até os anos 1930. Queria-se que fosse imigrante europeu branco supostamente já bem

qualificado e disciplinado para as rotinas de trabalho, porém, “se assim fosse, não seriam

necessárias as várias tentativas de reorientar, disciplinar e controlar esses trabalhadores.”

Assim, a ressaltada e, na maioria das vezes, elogiada modernização e

a expansão incessante de São Paulo sugerem, ao mesmo tempo, a constante

tentativa de superar o que era considerado indesejável, bem como a provável resistência do que se procurava transformar. Buscando perceber a presença

dos nacionais neste processo, é possível surpreender duas situações: a

primeira é quase um silêncio sobre os despossuídos dessa parcela da população e a segunda um discurso desmerecendo e excluindo seus modos

de vida em determinados lugares do perímetro urbano municipal.22

Volto mais uma vez para as fontes deste trabalho, os anúncios de empregos dos jornais

paulistanos. O conteúdo dos anúncios vez ou outra traz a exigência de que o candidato tenha

boas referências ou que “dê fiança de sua conduta”, às vezes mais do que apresentar

qualificação ou experiência para a função. Parece muito significativo que esses termos

comecem a fazer parte do anúncio justamente quando a imigração está em seu auge,

levantando, então, a hipótese de que nesse período as primeiras manifestações de

trabalhadores imigrantes contra as odiosas condições de trabalho nas fábricas começassem a

desabonar os estrangeiros da imagem feita pelos defensores da imigração.

É fato que os imigrantes que foram para as lavouras do interior de São Paulo e para as

frentes de trabalho da indústria paulista não se submeteram às condições subumanas e ao

tratamento que antes era dirigido aos escravos. É bem conhecida a luta das organizações de

trabalhadores e das greves do período que reivindicavam não só para si como grupo, mas

também para outros trabalhadores, independente de suas nacionalidades ou etnias, melhores

22 A política social que pretendia limitar cada vez mais o acesso do negro ao mercado e trabalho livre, tanto em

fábricas quanto no comércio, nas lavouras ou nos lares. SANTOS, Carlos José Ferreira dos. Nem tudo era

italiano: São Paulo e pobreza: 1890-1915. Annablume, 1998. p.62

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condições de trabalho e de vida estando “bastante conscientes das oportunidades táticas que

uma classe trabalhadora étnica e racialmente dividida oferecia aos patroes e ao Estado”

O domínio dos imigrantes no movimento operário paulista, sua insegurança diante das políticas de imigração do governo e o resultante

excesso de mão de obra, e ao lado da marginalização dos trabalhadores afro-

brasileiros em São Paulo, poderia facilmente ter levado a resultados como aqueles dos EUA e da África do Sul, onde os trabalhadores brancos exigiram

– e receberam – barreiras institucionalizadas contra a competição dos negros.

Entretanto, não foi isso que aconteceu. Em busca de estratégias para melhorar sua posição e enfrentar seus patrões e o estado, os trabalhadores de

São Paulo parecem nunca ter considerado a possibilidade da exclusão e

segregação racial que estava sendo buscada em outros lugares.23

Como que confirmando esta possível desilusão das elites com os imigrantes e sua

suposta disciplina é que surgem alguns anúncios como publicado no Correio Paulistano de 19

de Setembro de 1891 que dizia

“Precisa-se de uma cosinheira, não se faz questão da cor, na Rua Carneiro Leão, 2K”

24

Ou este outro publicado na Província de São Paulo/OESP em 7 de Outubro de 1902

“Ama. Precisa-se de uma, na Alameda dos Andradas, 44. Dá-se preferência às brasileiras, não se fazendo questão da cor.”

25

Mas mesmo com as manifestações de descontentamento e as reivindicações dos

trabalhadores, os anúncios dando preferência aos imigrantes continuam a estampar as páginas

dos periódicos diariamente. Na edição da Província de São Paulo/OESP de 15 de Setembro de

1891 foi publicado o seguinte anúncio:

“Lavadeira e engommadeira. Precisa-se de uma, preferindo-se

allemã. Para tratar na Rua dos Andradas i5-G”26

O texto deste anúncio nos leva a pensar a mentalidade das classes média paulistanas

deste período. Pessoas letradas, com certo nível de educação, leitoras de um periódico que

trazia artigos sobre as novas descobertas da ciência, o desenvolvimento da tecnologia e a

modernidade, que agora que não tinham mais escravos, e também não contrataria negros

livres, decidia que a lavadeira deveria ser uma moça branca e alemã, que a cozinheira deveria

ser francesa e que a ama seca que cuidaria das crianças seria italiana. E as italianas tinham

23 ANDREWS, George. op.cit.p.103. 24 Correio Paulistano, 19/09/1891. Microfilme 04.01.043. Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo. 25 Província de São Paulo, 07/10/1902. Microfilme 01.01.036. Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo. 26

Província de São Paulo. 15/09/1891. Microfilme 01.01.017. Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo.

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ainda uma especificação a mais. Em anúncio publicado pelo Diário Popular no primeiro

semestre de 1908, pede-se uma “Creada da alta Itália, de meia idade, decente e limpa”. Não

foi possível entender o que esta especificação quanto à geografia da Itália interveria no

trabalho da dita criada, porém, vendo está preferência por imigrantes como um todo e além do

objetivo de branquear o Brasil, levanto a hipótese de que está sociedade, esta elite econômica

estava tão fascinada pelo que vinha de fora, pelo que era europeu que alimentava o fetiche de

“consumir” empregados domésticos estrangeiros, assim como uma vez usava-se como

ostentação de poder e riqueza vestir seus escravos com luxo.

Esta segregação no mercado de trabalho doméstico da capital teve como consequência

a formação de redes de resistência em modos de vida alternativos e, por isso mesmo,

negativados pelas elites e seus modelos sociais civilizatórios e modernizadores. Expulsos das

funções que antes exerciam como escravos, relegados a rua, os negros organizaram-se de

modo a prover sua subsistência.

Homens e mulheres pobres, livres, nacionais ou africanos, com todas as

singularidades, resistiam e marcavam nas ruas, praças, pontes e chafarizes. Viviam m chácaras e casebres no centro e nos arredores da cidade, causando

desconforto às elites que sonhavam e planejavam um país de brancos,

“morigerados”, subordinados, sem questionamentos à hierarquia social por elas estabelecida.

27

Novamente se abre uma contradição no painel ideológico das elites paulistanas. Como

foi discutido anteriormente, o objetivo era disciplinar e adequar os negros para o trabalho livre

civiliza-los para a modernidade, mas o que se vê é que estes eram considerados naturalmente

incapazes para qualquer função, mesmo as mais subalternas e simples como o trabalho

doméstico, sendo então substituídos por imigrantes europeus.

Em toda esta dinâmica segregacionista estabelecida e ilustrada pelos anúncios de

classificados de empregos dos jornais pesquisados, nota-se que assim como havia uma

demanda de empregadores que desejavam contratar brancos, também surgem os brancos que

se oferecem nos classificados descrevendo sua cor ou nacionalidade como parte da sua

qualificação. Saiu na Província de São Paulo de 5 de Janeiro de 1889 o seguinte anúncio:

27

Não só a segregação no trabalho era uma das facetas do branqueamento como também a negativização das

atividades que os negros exerciam muitas vezes nas ruas ou locais públicos como a prestação de pequenos

serviços e o comercio ambulante, considerando estas atividades como vadiagem ou vagabundagem a ser

combatida. JACINO, Ramatis. op.cit.p.140

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“Ama de leite. Offerece-se uma que tem muito leite. É italiana. Bom Retiro,

venda Camillo Antonio, Largo da Immigração.”28

Já em uma edição do Diário Popular do 2º semestre de 1889 encontra-se outro

exemplo deste nicho de mercado de trabalho doméstico formado aparece no seguinte anúncio:

“Offerece-se um casal, ambos italianos, moços, sem filhos, o marido como jardineiro, a mulher como cosinheira. Tratar-se no Hotel da

Hospedaria de Immigrantes, no Braz.”29

Por outro lado, na categoria “Oferece-se”, existe um grande número de anúncios

publicados e que não fazem nenhuma menção a raça/cor da pele ou nacionalidade. Acredito

que, pelas mesmas razões que levaram os imigrantes a expor sua condição étnica nos

classificados de modo a conseguir melhores colocações, os trabalhadores nacionais talvez

omitissem tais características visando os empregadores que não faziam questão delas. Porém,

assim como a categoria “Precisa-se” com ou sem especificação étnica, estes anúncios se

demoravam nos jornais por meses a fio.

Há ainda que se levar em conta alguns pouco anúncios onde o empregador anunciava

desta maneira como saiu no Diário Popular do segundo semestre de 1907

“CREADA – Precisa-se de uma para copeira e arrumadeira de quartos.

Prefere-se de 15 ou 16 annos. É para casa de pequena família estrangeira; rua Augusta, 192 (perto da Avenida Paulista)”

30

Quando o temos a nacionalidade do empregador destacando-se no anúncio pode-se

concluir que a intenção era excluir os candidatos que não estivessem aptos a lidar com a

família estrangeira, supondo que estes seriam mais exigentes do que as famílias brasileiras.

No caso do anúncio a seguir, publicado na Diário Popular do ano seguinte, a intenção da

família estrangeira em contratar trabalhadoras também de origem europeia demonstra que esta

família também não tinha intenção de ter vínculos de trabalho com os nacionais.

“Precisa-se numa família ingleza, a rua Pirapitinguy 18, Liberdade,

de uma creada como copeira e arrumadeira de quartos, que seja perita e dê referências. Deve ser branca e prefere-se alleman.”

31

Em menor número, mas mesmo assim significativos, estão os anúncios de “precisa-se”

publicados em outros idiomas, normalmente inglês e francês, destinados claramente a um tipo

28 Microfilme 01.01.015 Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo. 29 Diário Popular 2º semestre de 1889. Original. Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo. 30 Diário Popular 2º semestre de 1907. Original. Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo. 31

Diário Popular 1º semestre 1908. Original. Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo.

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específico de trabalhadores, estrangeiros e/ou letrados, como professores, governantas e

acompanhantes de senhoras ricas em viagens para a Europa, fechando assim um ciclo de

exclusão da trabalhadora negra ou mestiça.

E neste ritmo o projeto de modernização da Paulicéia seguiu seu curso, sendo

aplaudido e aplicado sem ressalvas ou maiores protestos além dos próprios nacionais

excluídos. Alinha-se com esta perspectiva o texto de Carlos José Ferreira dos Santos sobre a

marcha conservadora-modernizadora paulistana.

Ao que tudo indica, por um lado seriam conservadas as antigas

desigualdades sociais e o status quo, por outro buscariam o moderno e a

prosperidade ao estilo europeu. O que e quem não pertencessem ao anterior

status e nem possuísse características europeias, confundidas com modernidade, não teria por que permanecer naqueles espaços mais centrais.

Representava, aliás, um obstáculo e por isso deveria ser removido.32

Com o avançar dos anos, após a virada do século, as sessões de classificados dos

jornais parece engessar-se. Talvez sofrendo os agravos das crises econômicas dos primeiros

anos da república ou por uma crescente oferta de mão de obra disponível na capital, o fato é

que os anúncios passam a repetir-se com maior frequência, indicando que as vagas não eram

preenchidas por algum motivo, ou pela falta de qualificação exigida pelas patroas ou porque

as promessas de bons pagamentos e serviços leves e poucos eram tão vãs quanto pareciam. E,

talvez sendo uma consequência disto, os anúncios que não se referem à cor da pele ou a

nacionalidade aumentam significativamente. No Diário Popular do primeiro semestre de 1908

até 1910 os anúncios deste tipo são maioria esmagadora diante dos discriminatórios. É notável

também observar o aumento significativo dos anúncios de trabalhadores se oferecendo para

possíveis vagas de emprego.

Conclusão

A historiografia sobre a escravidão os processos de abolição e emancipação traçam

um panorama de como esses processos ocorreram e suas consequências na formação da

sociedade brasileira após séculos de escravidão negra como uma das bases da economia.

Percebo através dos textos analisados para este trabalho que, tendo sido a propriedade de

pessoas por outras, baseada em diferenças étnicas e culturais, fez com que o fim da escravidão

tenha sido, em alguns aspectos, traumático para aqueles que perdiam suas propriedades e seu

32

SANTOS, Carlos José Ferreira dos. Op.cit. p.74.

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sacro santo direito sobre elas. Tratar com negros como livres ter relações de trabalho onde o

ex-escravo agora era um trabalhador comum, que não poderia mais ser coisificado e, muito

provavelmente, reagiria aos maus tratos de seu patrão, não pareceu soar bem aos ouvidos dos

agora ex-senhores de escravos.

Somando-se a isto temos o florescer da ciência na forma de ideologias sociais

excludentes divulgadas largamente pelos jornais. A ideia do negro como um sujeito de pouca

confiança e de hábitos estranhos e selvagens, que já fazia parte do imaginário das elites bem

antes da abolição, contribui significativamente para a construção paranoica de que a presença

do elemento negro na sociedade é fator negativo. Sendo assim toda e qualquer ação que venha

a excluir esse elemento é considerada positiva e sua prática difundida e encorajada.

No que diz respeito às relações de trabalho doméstico, o que posso afirmar diante do

que foi pesquisado é que o encorajamento à imigração e a substituição dos negros libertos por

trabalhadores europeus era não só uma medida de branqueamento e de modernização, sendo

estas ideias levadas a cabo de maneira muitas vezes exagerada e desmedida, mas uma

expulsão daqueles que agora são legalmente livres e, como tal, são (ainda que virtualmente)

cidadãos portadores de direitos. O que antes era uma propriedade, agora era um alguém. Um

alguém com hábitos culturais, condutas sociais que por mais que se tentou reprimir resistiu e

permaneceu. Sendo assim, levando em conta as transformações que a dinâmica de trabalho

deveriam sofrer para que o negro livre fosse incluído no mercado de trabalho e os

preconceitos das elites quanto a eles, foi mais fácil tentar retirar as negras de dentro das casas

paulistanas, do convívio com as famílias e trazer as brancas imigrantes para as funções mais

básicas e cotidianas, num esforço pelo progresso e modernização do Brasil republicano.

Parece óbvio que a febre de modernidade e branqueamento arrefeceu ao longo da

primeira década do século XX, com a contribuição dos movimentos operários, da insujeição

dos imigrantes às condições precárias de trabalho e de vida nos centros urbanos e da

resistência de negros e mestiços à exclusão pretendida. É óbvio também que os resultados a

longo prazo desses projetos não foram muito longe, ficando no meio do caminho. São Paulo

realmente se tornou uma metrópole moderna, um grande centro de negócios e de agitação

cultural, advinda justamente da quantidade impressionante de nacionalidades distintas que a

cidade atrai desde os tempos da imigração. Por outro lado a capital paulista cresceu desigual,

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conservando e aumentando os abismos entre centro e periferia, brancos e negros, ricos e

pobres.

Bibliografia:

Fontes:

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Hemeroteca Jornais:

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“Correio Paulistano” (1888-1910)

“Diário Popular” (1888-1910)

Livros:

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SCHWARCZ, Lilia Moritz. Retrato em branco e negro. Jornais, escravos e cidadãos São

Paulo no Final do século XIX. Cia das Letras, São Paulo. 1987.

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