pre pojeto politica

22
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA PRÉ PROJETO DE MONOGRAFIA A ANTROPOLOGIA SERÁ VISUAL OU NÃO SERÁ NADA* GIULIA DE VITO NUNES RODRIGUES ORIENTADORA ANA LÚCIA FERRAZ Trabalho realizado para conclusão da disciplina Política V, Professora Maria Antonieta Leopoldi [Type text] [Type text] [Type text] 1

Upload: giulia-rodrigues

Post on 13-Apr-2016

221 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

para a disciplina da professora Antonieta

TRANSCRIPT

Page 1: Pre Pojeto Politica

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSEINSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA

PRÉ PROJETO DE MONOGRAFIA

A ANTROPOLOGIA SERÁ VISUAL OU NÃO SERÁ NADA*

GIULIA DE VITO NUNES RODRIGUES

ORIENTADORA ANA LÚCIA FERRAZ

Trabalho realizado para conclusão da disciplinaPolítica V, Professora Maria Antonieta Leopoldi

Niterói, novembro 2014

[Type text] [Type text] [Type text]1

Page 2: Pre Pojeto Politica

ÍNDICE

TEMA GERAL página 3

TEMA ESPECÍFICO página 5

OBJETIVOS página 6

JUSTIFICATIVA página 7

RELEVÂNCIA DA PESQUISA página 8

EXPLICITAÇÃO DO TEMA página 9

CONCEITOS página 10

TEORIA página 11

PERGUNTAS & HIPÓTESES página 11

METODOLOGIA

ESTRUTURA DA MONOGRAFIA

CRONOGRAMA

BIBLIOGRAFIA

[Type text] [Type text] [Type text]2

Page 3: Pre Pojeto Politica

* A antropologia será visual ou nao será nada é uma frase de Jean Rouch, um etnólogo e realizador francês, que desenvolve a noção de etnoficção, um conceito que embaça as fronteiras entre cinema e ciência. Ele e seus amigos não se contentam com um documentário nem com um filme etnográfico às ordens científicas, mas brincam e dançam entre a ficção e a vida.

TEMA GERAL

A primeira esposa de Zeus tem o nome de Métis, que significa essa forma de inteligência que, como vimos, permitiu a ele conquistar o poder: métis, a astúcia, a

capacidade de prever todos os acontecimentos, de não ser surpreendido nem desorientado por coisa alguma, de nunca abrir o flanco para um ataque inesperado.

Assim, Zeus se casa com Métis e esta logo fica grávida de Atena. Zeus teme que algum filho seu, por sua vez, o destrone. Como evitar? Aqui encontramos o tema do devoramento. Crono engoliu os filhos, mas não chegou à raiz do mal, já que foi por uma métis, uma astúcia, que um vomitório o fez expelir todos os filhos. Zeus quer resolver o problema de forma bem mais radical. Diz que só há uma solução: não

basta que Métis esteja ao seu lado como esposa, ele mesmo tem de se tornar Métis. Zeus não precisa de uma sócia, de uma companheira, mas deve ser a métis em

pessoa. Como fazer? Métis tem o poder de se metamorfosear, ela assume todas as formas, assim como Tétis e outras divindades marinhas. É capaz de virar animal

selvagem, formiga, rochedo, tudo o que quiser. Trava-se então um duelo de astúcias entre a esposa, Métis, e o esposo, Zeus. Quem vai ganhar?

Há boas razões para se supor que Zeus recorra a um processo que conhecemos também em outros casos. Em que consiste? É claro que, para enfrentar uma feiticeira ou um mago extraordinariamente dotado e poderoso, o ataque direto estaria fadado ao fracasso. Mas, se escolher o caminho da artimanha, talvez haja uma chance de vencer. Zeus interroga Métis: ‘Podes de fato assumir todas as formas, poderias ser um leão que cospe fogo?’ Na mesma hora Métis se torna uma leoa que cospe fogo. Espetáculo aterrador. Zeus lhe pergunta depois: ‘Poderias também ser uma gota

d’água?’ ‘Claro que sim’. “Mostra-me”. E, mal ela se transforma em gota d´água, ele a sorve. Pronto! Métis está na barriga de Zeus. Mais uma vez a astúcia funcionou. O soberano não se contenta em engolir seus eventuais sucessores: ele agora encarna, no correr do tempo, no fluxo temporal, essa presciência ardilosa que permite desfazer

antecipadamente os planos de qualquer um que tente surpreendê-lo ou derrotá-lo. Sua esposa Métis, grávida de Atena, está em sua barriga. Assim, Atena não vai sair do regaço da mãe, mas da cabeça do pai, que é agora tão grande quanto o ventre de

Métis. Zeus dá uivos de dor. Prometeu e Hefesto são chamados para socorrê-lo. Chegam com um machado duplo, dão uma boa pancada na cabeça de Zeus e, aos

gritos, Atena sai da cabeça do deus, jovem donzela já toda armada, com seu capacete, sua lança, seu escudo e a couraça de bronze. Atena é a deusa inventiva,

cheia de astúcia. Ao mesmo tempo, toda a astúcia do mundo está agora concentrada na pessoa de Zeus. Ele está protegido, mais ninguém poderá surpreendê-lo. E assim

se resolve a grande questão da soberania. O mundo divino tem um senhor que nada e ninguém pode questionar, pois ele é a própria soberania. A partir daí, nada mais

pode ameaçar a ordem cósmica. Tudo se resolve quando Zeus engole Méits e, assim,

[Type text] [Type text] [Type text]3

Page 4: Pre Pojeto Politica

se torna o Metióeis, ou seja, o deus feito inteiramente métis, a Prudência em pessoa.

As Astúcias do poder: Zeus e Métis, por Jean Pierre Vernant

Zeus aqui é como a matriz falocentrica, branca, ocidental e heterossexual.

Tudo o que foge desses ideais normativos, está fora. Fora da vida, do conhecimento,

da normalidade. É a partir dessa matriz que se produz um saber, o saber normativo.

Tudo o que está a margem, parece não valer. Tudo o que nao passa pela escrita, nao e

saber o suficiente.

Jorge Larrosa Bondía começa Notas sobre a experiência e o saber da

experiência, falando que Aristóteles traduziu mal a conhecida frase o homem é um

animal racional. Na verdade, se nos mantermos às palavras que realmente foram

escritas, o homem é um vivente com palavras. Essas palavras estão desencantadas,

desligadas da vida e de nós, mas pervertidas em ferramenta, em mercadoria, em coisa,

com a finalidade de informar e conformar.

Enquanto sujeitos modernos, sujeitos da informação, opinamos sobre qualquer

coisa e qualquer um, fazemos experimentos, sabemos muito, mas nada nos acontece.

Na escola ou na academia é a mesma coisa. Cada vez mais passamos mais tempo

dentro desses espaços, com o medo de “ficar para trás”, de não produzir, de perder

tempo. E só conseguimos que nada nos aconteça.

Na outra ponta, os sujeitos da experiência, os sujeitos que nao sao

caracterizados pela matriz, produzem saber de outra forma e com outro propósito. Seu

saber está ligado com a vida, com a caminhada, com a construção. Esses sujeitos da

experiência sao os Mbya, os Guarani e os Kaiowá.

Wright Mills, em “A Imaginação Sociológica”, defende o papel público das

Ciências Sociais, algo que se perdeu durante o tempo, a medida que as ciências todas,

tanto exatas quanto humanas, foram se enclausurando na academia, produzindo para

acadêmicos, unicamente. Ele afirma que a imaginação sociológica é a capacidade de

ir das mais impessoais e remotas transformações para as características mais íntimas

do ser humano. É essa imaginação que deve ser despertada no Homem, não uma

produção de conhecimento desconectado da vida social.

[Type text] [Type text] [Type text]4

Page 5: Pre Pojeto Politica

A partir desses autores, elejo a saída da minha pesquisa para essa questão

epistemológica, formal e prática. Elejo o filme. Obrigatoriamente, com o filme, a

antropologia fica localizada no público e não exclusivamente na academia. Conecta-

se com a vida e com a possibilidade incontornável de perigo e insegurança que a

experiência traz. Uma vez que o filme é uma linguagem muito mais horizontal e

acessível do que a linguagem escrita. Enquanto a escrita está desencantada e distante,

a imagem ainda pode alcançar a todos.

TEMA ESPECÍFICO

Ficções são produzidas o tempo todo. Elas não são exclusivas dos filmes sobre

alienígenas ou dos intergalácticos ou mesmo das histórias de bruxas-mãe-madrastas

más. Elas se encontram inscritas em nossas vidas, nossas rotinas, no jornal, na

arquitetura, nas decisões de Estado e em nossos corpos também.

Elas estão exaustivamente nas imagens dos outdoors, na tela da televisão, na

tela do computador, na nossa própria superfície, na nossa linguagem, em nosso

imaginário e na nossa história. Não só as dos quadrinhos ou dos livros, mas na nossa

história de ontem e de hoje, na nossa ação-história.

Há ficções muito curiosas e estranhas e, ao mesmo tempo, familiares. Como

por exemplo, um indígena com uma câmera já não é tão indígena assim. Existe uma

expectativa compulsória, em relação à identidade e a necessidade de uma unidade

dela. Uma produção discursiva da plausibilidade, uma tática fundacionista, que passa

por uma nomenclatura do que é ‘real’ e ‘autêntico’, do que é ilusório ou ‘artificial’, do

que é superficial e do que é profundo. Assim, um indígena com uma câmera não é um

indígena autêntico.

Essa inadequação de toda a estrutura da representação, que trata de pessoas

substantivadas, vai passar pelos eixos de relações de poder na noção singular de

identidade. Ela, na verdade, é efeito das instituições falocêntrica, ocidental, branca e

da heterossexualidade compulsória, que naturalizam, engendram e imobilizam as

categorias de identidade.

[Type text] [Type text] [Type text]5

Page 6: Pre Pojeto Politica

Desse jeito, a identidade, ao invés de ser uma característica descritiva da

experiência, é um ideal normativo, que necessariamente implica ‘coerência’ e

‘unidade’, sendo assim, exclui a possibilidade de ação e transformação.

É preciso reconsiderar a dinâmica do antropólogo, ocidental, branco de falar

no lugar de seus “objetos”. Eles não são objetos, mas pessoas que deveriam falar por

eles mesmo. É preciso se perguntar qual o sentido e a relevância desse conhecimento

que é produzido sobre eles, quando eles podem falar por si mesmos.

Aliás, além de poderem falar por si mesmos, eles podem criar suas próprias

imagens, seus próprios filmes. Nesse novo panorama, o filme etnográfico fica

deslocado e aparece novas formas cinematográficas, como a etnoficçao.

OBJETIVOS

The point is not to embrace the other perspective completely but at least to recognize

it, acknowledge it, take into account, be ready to be transformed by it.

GINSBURG, Faye. The Parallax Effect: The impact of

aboriginal media on ethnographic film. Visual Anthropology

Review, vol.11(2), 1995.

O objetivo desta pesquisa é a experiência. Por muito tempo, ela foi tratada

como experimento, como informação. Trata-se de resgatar a experiência no trabalho

de campo e tudo de perigoso e risco que é possível de se encontrar no caminho.

Enquanto um experimento é repetível, previsível e preditível, a experiência é a certeza

da insegurança, é a irrepetibilidade.

Jorge Larrosa Bondía descreve o sujeito da experiência como um pirata, o

personagem que navega pelo mar e pela sua insegurança. O sujeito da experiência é

um sujeito que é tombado, apaixonado, entregue e nao um sujeito ereto e impávido,

que quer conformar o mundo.

Então, o objetivo desta pesquisa é resgatar essa qualidade pirata para o

antropólogo em trabalho de campo. O importante não é saber falar do outro, mas

trocar com o outro. Trocar saberes, trocar experiências, experienciar juntos, fazer

[Type text] [Type text] [Type text]6

Page 7: Pre Pojeto Politica

filmes juntos. Esse é o objetivo final, fazer mais filmes juntos. Não se trata de fazer

um filme etnográfico, nem de fazer um filme sobre os meus amigos Guarani, Mbya e

Kaiowá, mas fazer um filme com eles.

JUSTIFICATIVA

Há três maneiras de justificar essa pesquisa. A primeira delas é científica.

Infelizmente, ficções sobre o que é uma linguagem culta, eloquente e científica ainda

permanecem com muita força, em diversos meios, especialmente os acadêmicos. Elas

supõe habilidade, raciocínio e neutralidade. Enquanto tudo que seja diferente disso,

supõe subjetividade demais, confusão, impureza, perigo.

Inclusive as prescrições acadêmicas são permeadas por suposições, por ficções

que operam legitimidade e permissão. Essas prescrições operam pelo poder e não pela

ciência. Por isso, penso ser muito importante a forma como essa pesquisa vai se dar.

Ela não vai passar por uma linguagem que segue a norma culta e objetiva, mas vai

estar atravessada de toda a poesia e subjetividade o quanto forem despertadas.

Inclusive no filme, que não seguirá as prescrições malinowkianas de cinema

observacional e puro, mas sim, totalmente contaminado pela incerteza e pelo risco que

fazem parte do trabalho de campo.

A segunda maneira de justificar seria de uma maneira pessoal. Como falei

antes, participar dessas oficinas não foi só um trabalho ou uma pesquisa, mas me

envolvi, assim como meus colegas de campo. Fizemos amigos com os quais

mantemos contato até hoje e continuamos a planejar mais oficinas e mais encontros.

Então, a minha justificativa pessoal é que gostaria muito de continuar a fazer filmes

com meus amigos Guarani, Mbya e Kaiowá. Inclusive porque sempre gostei muito de

cinema, mas nunca me engajei da maneira como me engajei com esse tipo de filme.

Então parece que finalmente tenho um propósito muito interessante, para fazer filmes

que não se justificam apenas da arte pela arte. Está além de uma busca

exclusivamente estética.

Minha última justificativa é justamente a que se opõe a uma proposta

exclusivamente estética, se trata de uma justificativa social. Wright Mills fala da

necessidade das ciências serem públicas, serem para as pessoas e não para discussões

[Type text] [Type text] [Type text]7

Page 8: Pre Pojeto Politica

abstratas e desligadas da realidade e da vida. Essa publicidade se encontra tanto na

forma desta pesquisa, que se dá em forma de filme e alcança muito mais gente por

isso. E se encontra também no conteúdo.

Esse projeto não se trata de alguém falando no lugar de outros, mas justamente

a possibilidade de os indígenas, que participam dessas oficinas, de falarem por eles

mesmos, de contar suas histórias, seus saberes, suas experiências, de fazerem suas

denúncias. Então essa pesquisa é também militante e extensivamente baseada na

realidade e na vida deles. Essa é a justificativa mais relevante de todas.

RELEVÂNCIA

Esses esforços para reassegurar uma presença histórica e cultural, através de

uma mídia acessível são muito importantes, pois sua auto consciência sobre a

produção cultural sugere um paralelo muito próximo ao projeto da antropologia, e

mesmo assim, com uma urgência muito maior que qualquer agenda acadêmica.

GINSBURG, Faye. The Parallax Effect:

The impact of aboriginal media on ethnographic film. Visual

Anthropology Review, vol.11(2), 1995.

A relevância dessa pesquisa se confunde um pouco com a justificativa social e

acadêmica da mesma. É importante pensar e desconstruir os imperativos cientificistas

que se dizem produzir saber. A produção do saber legitimo exclui. É preciso perceber

que há, na verdade saberes diversos que nao cabem nesse circulo fechado e hermético

da academia.

Portanto, essa pesquisa se faz muito relevante para pensarmos, através de

outros meios de produzir conhecimento, um conhecimento muito mais fértil e aberto,

para pensar os nossos próprios cânones de conhecimento e os meios pelos quais sao

produzidos.

A partir desta pesquisa, estraremos em contato com formas mais horizontais e

culturalmente diferentes de saber, exploraremos uma escrita mais livre e

[Type text] [Type text] [Type text]8

Page 9: Pre Pojeto Politica

exploraremos formas de produzir conhecimento que nao vai só passar pelo papel, mas

por imagens e tudo o que se pode ter de surpreendente nisso.

Além disso, tratar de um tema indígena é tocar em questões como a

demarcação das terras, da deslegitimaçao da cultura e práticas indígena, dos

preconceitos e, quem sabe, realmente essa pesquisa possa mudar alguma coisa, ajudar

na caminhada de legitimação e reconhecimento deles, nao só como indígenas, mas

também como indígenas cineastas, sem contradição ou confusão alguma entre os dois.

EXPLICITAÇÃO DO TEMA

A partir da minha experiência nas duas oficinas Vídeo e Transmissão de

conhecimento entre os povos Guarani, Mbya e Kaiowá, do seminário de

sistematização dessas oficinas e do Taller Internacional Sin Fronteras, pensar e pensar

fazendo filmes com os amigos que fiz nesses lugares.

Nas duas oficinas, fomos assistidos pelo Laboratório do Filme Etnográfico, na

Universidade Federal Fluminense, do qual faço parte. A primeira oficina, a de

fevereiro, se deu na Universidade Federal de Grande Dourados, no Mato Grosso do

Sul. A oficina se deu dentro da Universidade, contando com a participação de

Kaiowás, Guaranis e um Mbya. Nosso trabalho se baseava em ensinar a manejar a

câmera, os equipamentos de som e a edição do filme. Majoritariamente, foi uma

oficina de montagem, já que a maioria tinha material para ser editado e já sabia

manejar as câmeras e os equipamentos de som.

A segunda se deu na Aldeia Pirajuy, entre a cidade de Paranhos e o Paraguai,

no mês de julho. Contamos com a participação do Fórum de Inclusão Digital nas

Aldeias, com a supervisão do realizador Ivan Molina. Nessa oficina, começamos do

início, desde como se conta uma história só com sons, passando a contar uma história

com fotos até contar com imagens em movimento. No final, todos os grupos fizeram

filmes nos 5 dias de oficina.

Nem é preciso ser dito o quanto a segunda experiência, por ter sido em uma

aldeia, foi consideravelmente mais intensa. Acordávamos todos juntos, passávamos o

dia inteiro trabalhando, capturando som, filmando, editando, só parávamos para

comer e nos esquentar na fogueira, à noite. A despedida foi molhada. E foi daí que

[Type text] [Type text] [Type text]9

Page 10: Pre Pojeto Politica

minhas amizades se consolidaram mais e é pra esse lugar que eu quero voltar e fazer

um filme com os meus amigos indígenas.

O Taller Internacional Sin Fronteras, o qual fomos convidados pelo realizador

Ivan Molina, que conhecemos em Pirajuy, se deu na Bolívia, no município de

Inquisivi, na cidade de Ichoca, Luruta e Tika. A oficina durou três dias, enquanto que

no restante do tempo, fazíamos os caminhos andinos, mastigando folhas de coca e

passando frio, por conta própria e os filmes também. Diferentemente das outras

oficinas, nessa, os filmes nao eram feitos pelos indígenas, mas por nós mesmos. Foi

uma boa experiência pessoal, mas nao foi uma experiência muito antropológica, com

trocas de saberes.

A próxima etapa, será em março ou abril, em um encontro dos parentes

Guaranis do Brasil com os parentes Guaranis do Paraguai. E, a partir deste encontro,

vou reencontrar meus amigos e poderia me organizar com eles sobre fazer um filme

juntos desde a concepção, roteiro, decupagem até a filmagem e a pós produção. Além

de esse encontro já ser uma oportunidade de fazer um filme com eles.

CONCEITOS E SUAS RELAÇÕES

O principal conceito que vai atravessar toda a pesquisa é o conceito de

etnoficçao. A partir da experiência de Jean Rouch e dos filmes feitos pelos próprios

nao-mais-objetos, o filme etnográfico perdeu seu lugar.

Outro conceito é o parallax effect, vem de parallaxis, mudança, alternância. O

aparente deslocamento ou a diferença na direção aparente de um objeto visto de dois

lugares diferentes. É um conceito da astronomia, mas que serve na antropologia

também, de acordo com Faye Ginsburg.

Na astronomia, esse termo é usado como um fenômeno que acontece, quando

uma mudança na posição do observador cria a ilusão de o objeto ter sido deslocado ou

movido; esse efeito dá um grande entendimento da posição e natureza de um objeto

cósmico. Nos estudos da ótica, o pequeno parallax criado pela leve angulação

diferente de cada olho, nos permite julgar distancias perfeitamente e também nos

permite ver em três dimensões.

Por um princípio parecido, pode-se entender as mídias indígenas, aparecendo a

partir de uma nova posição histórica do observador atrás da câmera, daí o objeto – a

[Type text] [Type text] [Type text]10

Page 11: Pre Pojeto Politica

representação cinemática de cultura – aparece diferente comparado, a partir da

perspectiva observacional do filme etnográfico.

TEORIA

Esta pesquisa vai passar pela etnologia, com autores como Spensy Pimentel em Elementos para uma teoria política Kaiowá e Guarani , Elizabeth Pissolato em A Duraçao da Pessoa: Mobilidade, Parentesco e Xamanismo Mbya (Guarani), a dissertaçao de mestrado de Tonico Benites A escola na ótica dos avá kaiowá: impactos e interpretações indígenas, Adriana Queiroz Testa em Entre o canto e a caneta: oralidade, escrita e conhecimento entre os Guarani Mbya.

Mas vai passar, principalmente por uma literatura que faz flertar antropologia e cinema, com Faye Ginsburg, Ana Lúcia Ferraz, Didi Huberman, David Macdougall. Vai passar também por uma literatura exclusivamente cinematográfica, por uma literatura sobre saber e diversidade cultural e por uma literatura da experiência.

HIPÓTESES

METODOLOGIA

[Type text] [Type text] [Type text]11

Page 12: Pre Pojeto Politica

ESTRUTURA DA MONOGRAFIA

INTRODUÇAO

CAPÍTULO I

A ANTROPOLOGIA SERÁ VISUAL OU NAO SERÁ NADA

CAPÍTULO II

OFICINAS TA’ANGA PU APOHA

CAPÍTULO III

CONCLUSAO

CRONOGRAMA

No decorrer de 2014, tanto o levantamento bibliográfico, quanto a leitura do

material, coleta de dados, o trabalho de campo e os encontros e contatos com a

orientadora, foram iniciados.

1o trimestre de 2015 2o trimestre de 2015 3o trimestre de 2015

Levantamento Bibliográfico X

Leitura do Material X X X

Coleta de Dados X

Trabalho de campo X

Análise dos Dados X

Redação dos Capítulos X X

Encontros com o Orientador X X X

Entrega da 1ª versão da

monografia ao orientador X

Revisão do texto da 1ª versão

da monografia X

Entrega da 2ª versão X

Revisão do texto da 2ª. versão X

Entrega da versão final X

[Type text] [Type text] [Type text]12

Page 13: Pre Pojeto Politica

BIBLIOGRAFIA

BARROS, Moacir. "Caminhada, Canto, Conversação: mise-en-scène reversa em três

filmes do Coletivo Mbya-Guarani de Cinema". Tese de doutorado em comunicação

social, UFMG, 2014.

BOURDIEU, Pierre. IN: O Poder Simbólico. Rio de Janeiro: DIFEL, 1989.

CAIXETA, Ruben. "Relações Interétnicas e Performance Ritual: ensaio de

antropologia fílmica sobre os Waiwai do norte da Amazônia". IN: Descrever o

Visível. Freire, Marcius e Lourdou, P.(orgs.).São Paulo, FAPESP/Estação Liberdade,

2009. Pp:53-76.

CERTEAU, Michel de. IN: A Invenção do Cotidiano: Artes de Fazer. Petrópolis, RJ:

EDITORA VOZES, 1998.

DIDI HUBERMAN, Georges. "Cascas". IN:Serrote 13. Rio, IMS, 2013:98-133.

GALLOIS, Dominique. CARELLI, Vincent. "Diálogo entre povos indígenas: A

Experiência de dois encontros mediados pelo vídeo". Revista de Antropologia vol

38(1), 1995.

GINSBURG, Faye. "The Paralax Effect. The Impact of Aboriginal Media on

Ethnographic Film". Visual Anthropology Review, vol.11(2), 1995.

GOW, Peter. "Filme, Alucinação e Sonho na Amazônia peruana". Revista de

Antropologia.

MACDOUGALL, David. "Whose story is it? Visual Anthropology Review, vol 7(2),

1991:2-10.

[Type text] [Type text] [Type text]13

Page 14: Pre Pojeto Politica

"Beyond Observational Cinema". IN: Principles of Visual 5

Anthropology. P. Hockings, ed. Chicago: Aldine. pp. 109-124

PIMENTEL, Spensy Kmitta. Elementos para uma teoria política Kaiowá e Guarani.

Versao Revisada, USP. Sao Paulo: 2012.

PISSOLATO, Elizabeth. A Duração da Pessoa: Mobilidade, Parentesco e

Xamanismo Mbya (Guarani). São Paulo: UNESP, ISA, Rio de Janeiro,

NuTI, 2007.

RANCIÈRE, Jacques. "A Fábula Cinematográfica". Campinas, Papirus, 2013.

ROUCH, Jean. "The Camera and Man". IN: Principles of Visual Anthropology. P.

Hockings(ed.). Chicago:Aldine:pp.83-102.

RUBY, Jay. "Speaking for, Speaking about, Speaking with, or Speaking alongside:

An Anthropological Dilemma". Visual Anthropology Review 7(2):50-67.

VERNANT, Jean Pierre. IN: O Universo, Os Deuses, Os Homens. TRAD: Rosa

Freire d’Aguiar. Sao Paulo: Companhia das Letras, 2000

FILMOGRAFIA

CARELLI, Vincent. "Vídeo nas Aldeias", 1988.

COSTA, Catarina Alves. Todos os filmes.

GALLOIS, Dominique e CARELLI, Vincent. "A Arca dos Zoé", 1993.

GOW, Peter. "Xapiri", 2012.

KUIKURO, Tacumã. "Cheiro de Pequi", 2006.

"As Hipermulheres", 2011.

[Type text] [Type text] [Type text]14

Page 15: Pre Pojeto Politica

ORTEGA, Ariel e o Coletivo Mbya-Guarani de Cinema:

"Duas Aldeias, Uma caminhada", 2008.

"Tava, a casa de pedra", 2012.

ROUCH, Jean. Todos os filmes.

TONACCI, Andrea. "Os Arara", 1977.

"Serras da Desordem", 2006.

VALADÃO, Virgínia. "Yakwa, O Banquete dos Espíritos", 1995.

WORTH, Sol e ADAIR, J. "Through Navajo Eyes", 1972.

[Type text] [Type text] [Type text]15