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Texto de apoio para alunos do ensino secundárioTRANSCRIPT
Jorge Barbosa, 2012
Justiça Social
Filosofia , 10º Ano
Domingo, 22 de Abril de 12
SUMÁRIO Os ideais de liberdade e igualdade na sociedade
moderna A Teoria da Justiça de John Rawls
1.4.4 A justiça social: liberdade, igualdade e direito à diferença John Rawls
Domingo, 22 de Abril de 12
SUMÁRIO Os ideais de liberdade e igualdade na sociedade
moderna A Teoria da Justiça de John Rawls
1.4.4 A justiça social: liberdade, igualdade e direito à diferença John Rawls
Domingo, 22 de Abril de 12
Como é possível uma sociedade justa?
PROBLEMA
Domingo, 22 de Abril de 12
Os homens vivem em comunidade mas têm interesses antagónicos: de um lado, os direitos que são inerentes ao indivíduo, do outro, a necessidade de cooperar para fins sociais
Este conflito é central na filosofia política moderna, desde John Locke (1632 -1704) até Stuart Mill (1806 -1873), que revolucionaram os conceitos de liberdade e igualdade política
Os ideais de liberdade e igualdade na sociedade moderna
Domingo, 22 de Abril de 12
Liberdade e Igualdade
A liberdade política, associada aos direitos de expressão, de reunião, de manifestação, de circulação, de propriedade, foi definida no artigo IV da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (Agosto de 1789), da seguinte forma:
A liberdade consiste em poder fazer aquilo que não prejudica o outro; este é visto como o limite à minha liberdade, mas igualmente como a sua garantia (princípio da reciprocidade)
A igualdade política traduz-se no direito de voto, de participação cívica, de igualdade de acesso ao desempenho de cargos políticos, é reconhecida nos textos constitucionais e nas leis democráticos. A igualdade económica e social é ainda um objectivo por realizar
Domingo, 22 de Abril de 12
“Os Homens nascem livres e iguais”
Pertence a Locke a ideia de que os “homens nascem livres e iguais”; foi retomada por outros pensadores modernos e levou ao reconhecimento do valor e da dignidade humanos, que, todavia, já se encontram no pensamento cristão
Foi a partir destes ideais políticos libertários que se desencadeou a Revolução Francesa, cuja divisa Liberdade, Igualdade e Fraternidade se tornou um ideal a realizar
Domingo, 22 de Abril de 12
Fuzilamento, Francisco Goya
Domingo, 22 de Abril de 12
Liberdade, Igualdade e Fraternidade
Estes princípios foram consagrados na
- Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (França, 1789)
- Constituição Francesa (1791)
- Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948) elaborada pela ONU no final da II Guerra Mundial
Domingo, 22 de Abril de 12
Eugène Delacroix, A Liberdade guiando o Povo
Domingo, 22 de Abril de 12
Declaração universal dos Direitos
Artigo 1.°
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade
Domingo, 22 de Abril de 12
Declaração universal dos Direitos
Artigo 2°
Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação de soberania
Domingo, 22 de Abril de 12
Vivemos ainda um mundo profundamente desigual e a questão da justiça social é uma preocupação moral e política relevante na actualidade. Por isso, continuamos a perguntar:
• Qual é o modelo de organização política mais justo?
• Que tipo de direitos devem ser reconhecidos aos indivíduos?
• É legítimo distribuir desigualmente os bens e os benefícios sociais? Em que proporção?
Situação actual
Domingo, 22 de Abril de 12
Situação actual
• Qual o papel do Estado no combate à desigualdade social?
• Como conciliar igualdade e liberdade?
• Será legítimo limitar ou condicionar a liberdade de alguns para que a sociedade seja mais igualitária?
Domingo, 22 de Abril de 12
1.4.4 A justiça social: liberdade, igualdade e direito à diferença John Rawls
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A Teoria da Justiça de John Rawls
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SUMÁRIO
• A Teoria da Justiça e o utilitarismo
• A escolha racional dos Princípios da justiça social: conceitos de Posição Original, Véu de Ignorância e Contrato Social
• Os princípios da justiça ou de uma sociedade bem ordenada
• Desobediência civil e objecção de consciência
John Rawls (1921-2002), Professor de Filosofia Política
na Universidade de Harvard
Domingo, 22 de Abril de 12
Uma teoria da Justiça
Rawls publicou Uma Teoria da Justiça (1971), onde analisou a questão da justiça social numa perspectiva democrática e liberal, apresentando uma concepção de sociedade justa, com base no desenvolvimento do modelo teórico do Contrato Social
Domingo, 22 de Abril de 12
Uma teoria da Justiça
A Teoria da Justiça de Rawls é uma
das mais importantes filosofias políticas do século XX
>>>
Tem influências da filosofia moral de Kant e das teorias contratualistas; o autor pretendeu apresentar uma teoria que pudesse ser considerada alternativa às concepções utilitaristas em voga, conciliando direitos iguais e sociedade desigual, sem limitar a liberdade individual
Alegoria da Justiça
Domingo, 22 de Abril de 12
Teoria da Justiça e o Utilitarismo
Rawls (como Kant) considera toda a pessoa humana como um ser simultaneamente livre, igual e fim em si mesmo, recusando a sua instrumentalização
Partindo deste pressuposto, discorda do Utilitarismo, alegando:
• a falta de um princípio absoluto que sirva de critério universal para decidir o que é justo ou injusto
• a subordinação do indivíduo a interesses sociais, não lhe reconhecendo direitos fundamentais invioláveis
• que, ao subordinar a política à felicidade global, não fosse tomada em consideração a forma justa ou injusta como ela é distribuída
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A escolha racional dos Princípios da justiça social
Rawls parte do facto de a vida em sociedade oferecer vantagens mútuas, mas também criar conflitos de interesses; reconhece, pois, a necessidade de Princípios
a) que sirvam de critério para a atribuição de direitos e de deveres
b) que definam a distribuição adequada dos encargos e dos benefícios da cooperação social
Domingo, 22 de Abril de 12
Quais os princípios mais adequados?
Com o intuito de obter uma organização político-social justa, Rawls pergunta
1. Como chegar a um acordo unânime sobre os
princípios que devem organizar as sociedade e
acabar com o conflito de interesses, garantindo uma
distribuição equitativa das riquezas?
2. Que tipo de princípios serão?
3. Como formulá-los de modo a garantir a sua
imparcialidade e universalidade?
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Rawls responde
São os princípios que seriam aceites por pessoas livres e racionais, colocadas numa situação hipotética inicial de igualdade, e interessadas em prosseguir os seus próprios objectivos
Chamou a essa situação Posição Original
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Posição Original/ Véu de Ignorância
A Posição Original é uma situação imaginária em que os parceiros são sujeitos racionais/morais livres e iguais, colocados sob o efeito de um véu de ignorância
Véu de ignorância é a situação em que todos os parceiros imaginários se encontram por não conhecerem nem as características pessoais, nem o estatuto social, nem os interesses e objectivos particulares, seus ou dos outros
Domingo, 22 de Abril de 12
Imaginemos uma festa
A Margarida faz uma festa deaniversário. Nessa festa, a mãe pede-lhe para partir o bolo, dizendo-lhe que as fatias serão sorteadas e que cada um dos convidados comerá somente a fatia que lhe couber no sorteio. Suponhamos que a Margarida é muito gulosa e não quer correr o risco de lhe sair no sorteio a fatiamais pequena Pensar Azul, p. 162
Como deverá partir o bolo?
Domingo, 22 de Abril de 12
Como deverá a Margarida partir o bolo?
É óbvio que a melhor estratégia é partir bolo em fatias iguais; isso garante-lhe que não comerá a fatia mais pequena
É uma decisão racional e imparcial
Domingo, 22 de Abril de 12
Justificação da justiça como equidade: Rawls
Na Posição Original, os sujeitos agem como a Margarida. Deste modo,
• o Contrato seria estabelecido em condições ideais de igualdade (pois cada um, não sabendo se será favorecido ou desfavorecido e por estar preocupado em promover os seus interesses, escolheria, para todos, o que pretendia para si próprio)
• as circunstâncias em que o acordo ou Contrato seria celebrado garantiriam a imparcialidade (dado que ninguém pode escolher de forma a beneficiar os seus interesses) e a universalidade (dado que é aceite e reconhecido por todos como sendo a escolha que melhor serve os seus interesses)
Domingo, 22 de Abril de 12
Os princípios da justiça
A sociedade deve garantir a máxima liberdade para cada pessoa compatível com uma liberdade igual para todos
Assegura as liberdades básicas: liberdade política, dereligião, de reunião, de pensamento, liberdade de
expressão, etc; a liberdade da pessoa (direito à integridade pessoal; à propriedade; protecção face
a detenção prisão arbitrárias)
Não pode ser violado a favor da utilidade social; por isso, em caso de conflito de interesses, este princípio tem
prioridade sobre os outros dois
PrimeiroPrincípio
Princípio de Liberdade
igual paratodos
>>>
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As desigualdades económicas e sociais devem estar ligadas a postos
e posições acessíveis a todos em condições de justa igualdade
de oportunidades▼
Não é justa a sociedade que permite que os mais naturalmente talentosos e
com mais condições para os desenvolver tenham mais vantagens,
excepto se essas vantagens contribuírem para beneficiar todos
A sociedade deve promover a distribuiçãoigual da riqueza, excepto se as
desigualdades económicas e sociais beneficiarem os mais desfavorecidos
(princípio da vantagem mútua). Solução ideal para harmonizar os interesses
▼Contribuições marginais dos mais ricos
(incorporação do princípio da fraternidade) ▼
Atenção especial aos que nasceram em posições desfavorecidas, corrigindo estas influências por forma a procurar uma maior
igualdade (Princípio da compensação)
a estar ligadas a funções abertas a todos, em igualdade de oportunidade
Princípio de igualdade de oportunidades
a proporcionarem aos menos favorecidosmaior expectativa de benefício
Princípio da diferença
Segundo Princípio As desigualdades económicas devem ser distribuídas por forma
Os princípios da justiça
Domingo, 22 de Abril de 12
Domingo, 22 de Abril de 12
Síntese
Assim, para Rawls,
• O Primeiro Princípio exige a igualdade na atribuição dos direitos e deveres Básicos
• O Segundo Princípio afirma que as desigualdades económicas e sociais só são justas se delas resultarem vantagens compensadoras para todos, em particular para os mais desfavorecidos da sociedade
• A obtenção de maiores benefícios económicos e sociais não pode servir de justificação para violar o direito a iguais liberdades básicas
• O direito a liberdades básicas iguais é a base da «coexistência pacífica» e da tolerância, e só pode ser limitado quando entrar em conflito com outras liberdades básicas
>>>Domingo, 22 de Abril de 12
Síntese
>>>
• Uma sociedade é justa quando opta por um princípio geral de distribuição igualitária (ainda que não haja injustiça se alguns conseguirem benefícios maiores, desde que a situação das pessoas menos afortunadas seja, por esse meio, melhorada)
• O direito a liberdades básicas iguais é a base da «coexistência pacífica» e da tolerância, e só pode ser limitado quando entrar em conflito com outras liberdades básicas
• Uma sociedade é justa quando opta por um princípio geral de distribuição igualitária (ainda que não haja injustiça se alguns conseguirem benefícios maiores, desde que a situação das pessoas menos afortunadas seja, por esse meio, melhorada).
Domingo, 22 de Abril de 12
O respeito pelos princípios básicos da Justiça
Para Rawls o respeito pelos princípios básicos da Justiça – o princípio de igual liberdade básica e o princípio da igualdade (igualdade de oportunidades e correcção das desigualdades ou princípio da diferença) – permitiria:
• diminuir gradualmente as desigualdades na distribuição dos bens entre ricos e pobres (indivíduos e países)
• atingir o equilíbrio entre a liberdade individual e a igualdade
• conciliar as vantagens de um igualitarismo puro (levaria à estagnação por desencorajar os indivíduos a assumir responsabilidades), e de uma sociedade regida pelas leis de mercado e da concorrência (regulada pela competição a qualquer preço)
Domingo, 22 de Abril de 12
SUMÁRIO O problema da legitimidade da desobediência civil
Caracterização da desobediência civil e da objecção de consciência
O papel da desobediência civil
Desobediência civil e objecção de consciência
Domingo, 22 de Abril de 12
Que tipos de injustiça justificam
a desobediência civil?
PROBLEMA
Domingo, 22 de Abril de 12
Desobediência civil
Desobediência civil é um acto público, de natureza política e não violento, decidido em consciência e contrário à lei, praticado com o objectivo de provocar uma mudança nas leis ou na política seguida pelo governo
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Manifestantes protestam, Filipinas
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A desobediência civil é legítima?
Decorre do Contrato social a obrigação de obediência dos cidadãos ao Estado. Este, por seu lado, fica obrigado a respeitar os princípios de justiça, perdendo a legitimidade se não o fizer
Rawls reconheceu que, mesmo nos estados democráticos, há violações dos princípios da justiça que legitimam a desobediência civil
Domingo, 22 de Abril de 12
O recurso à desobediência civil exige a ponderação destes aspectos
Identificar os tipos de injustiça que constituem causas adequadas de desobediência civil, como:
• a violação persistente dos princípios básicos, das liberdades fundamentais, tais como a negação do direito devoto ou do direito de ocupar cargos públicos a certas minorias, ou a negação da liberdade religiosa
• a violações evidentes da segunda parte do segundo princípio, o da igualdade equitativa de oportunidades
• Recorrer à desobediência civil somente em último caso:
somente quando fracassarem os apelos normais às autoridades legais, quando foram ignoradas todas as tentativas para revogada a lei, e quando os protestos e demonstrações legais não obtiveram resposta favorável
• Ponderar o risco de desordem e anarquia que pode provocar: deve ser auto-limitado devido ao risco de pode vir a provocar ruptura no funcionamento normal das instituições, no respeito pelas leis, com consequências negativas para todos
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Greenpeaceacção contestando o uso da energia nuclear
Desobediência civil
Domingo, 22 de Abril de 12
Caracterização da desobediência civil
● não é um acto público● baseia-se em razões de consciência● são invocados princípios políticos, religiosos ou outros
● os cidadãos aceitam as consequências jurídicas da desobediência
● evita o uso da violência
● apela a princípios e é praticado em público
● dirige-se a quem detém o poder político● é guiado e justificado
por princípios de justiça
Decido emconsciência,dentro dos
limites jurídicos
Acto nãoviolento
Actopúblico
Acto político
Objecção deConsciência:
acto individual de incumprimento deuma ordem públicapor razões deconsciência
Desobediência civil acto público, de natureza política e não violento, decidido em consciência e contrário à lei, sob a forma de concentrações ou desfiles, ocupação de instalações, etc., com o objectivo de provocar mudança nas leis ou na política seguida pelo governo
Domingo, 22 de Abril de 12
O papel da desobediência civil
• A desobediência civil serve para impedir a violação
sistemática dos princípios da justiça ou para os corrigir
• Numa sociedade “quase justa” (democrática) é um factor de estabilidade se utilizada de forma moderada e ponderada
• Ajuda a manter e a fortalecer as instituições justas, (juntamente com eleições livres e com um poder judicial independente e competente)
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Organograma conceptual
Princípio da diferença
Correcção das desigualdades
Princípio de igualdade de oportunidades
Todos devem teracesso equitativo aos bens sociais
Princípio da igualdade
Todos devem ter liberdadesbásicas iguais
Princípios da justiça
Princípios Orientadores para a estrutura básica da sociedadeJustificados com base numa escolha racional das partes – sujeitos livres e
racionais num acto público (Contrato Social)
Posição Original ⇔ Véu de ignorância
Escolha racional equitativa ⇔ Imparcialidade
Uma Teoria da Justiça (Rawls)
>>>
Princípio de igual liberdade
Domingo, 22 de Abril de 12
Desobediência civil
É legítimo desobedecer quando ocorram sérias violações da
justiça
Obedeceràs leis
Dos cidadãos
Organizar a sociedadecom base nos princípiosda justiça; harmonizar
as liberdades individuaiscom a igualdade; respeitar
os princípios da justiça
Obrigações
Garante as liberdades básicas
Atenção especial aos que nasceram desfavorecidos, para promover uma maior igualdade (princípio da compensação); promove contribuições marginais dos mais
ricos (incorporação do princípio da fraternidade); tolera as desigualdades económicas e sociais desde que todos tenham igualdade de oportunidades
Sociedade bem ordenada (justa)
Organograma conceptual>>>
Do Estado
Domingo, 22 de Abril de 12
Atenção: Há exercícios para fazer no “moodle”
Domingo, 22 de Abril de 12