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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO Paula Paques Carreira O papel da afetividade nas aulas de língua inglesa em dois diferentes contextos escolares: cognição e afetividade caminham juntas. MESTRADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO SÃO PAULO 2014

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

Paula Paques Carreira

O papel da afetividade nas aulas de língua inglesa em dois diferentes contextos escolares: cognição e afetividade

caminham juntas.

MESTRADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO

SÃO PAULO 2014

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC/SP

Paula Paques Carreira

O papel da afetividade nas aulas de língua inglesa em dois diferentes contextos escolares: cognição e afetividade

caminham juntas.

MESTRADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Educação: Psicologia da Educação sob a orientação da Profª. Drª. – Laurinda Ramalho de Almeida.

SÃO PAULO 2014

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Ficha Catalográfica

CARREIRA, Paula Paques. O papel da afetividade nas aulas de língua inglesa em dois diferentes contextos escolares: cognição e afetividade caminham juntas.

São Paulo: 2014, 111f. Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2014. Área de concentração: Psicologia da Educação.

Orientadora: Profª. Drª. Laurinda Ramalho de Almeida.

Palavras-chave: ensino de língua inglesa, afetividade, cognição.

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Banca examinadora

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AUTORIZAÇÃO

Autorizo, para fins acadêmicos ou científicos, a reprodução parcial ou

total desta dissertação por processos fotocopiadores ou eletrônicos, desde que

citada a fonte.

São Paulo, março de 2014.

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Dedico este trabalho a minha família,

especialmente aos meus pais, pelo apoio

incondicional, carinho e ensinamentos para a

vida, e também aos professores e

pesquisadores, de quem “herdei” o gosto pela

sala de aula.

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AGRADECIMENTOS Ao Pai do Céu, que conhecendo os segredos do meu coração, me

ilumina com seu Espírito e sua Luz para que eu possa realizar com amor seus

projetos em minha vida.

À Profª. Drª. Laurinda Ramalho de Almeida por, desde o início desta

caminhada, ter acolhido o meu projeto de pesquisa por inteiro, me ajudando a

buscar nas leituras e no contexto de pesquisa aquilo que realmente precisava

enxergar aprofundar e conhecer melhor. Obrigada por me incentivar sempre e

me dirigir neste trabalho através de orientações inteligentes e sinceras.

Às professoras participantes desta banca examinadora, Profª Drª. Abigail

Alvarenga Mahoney, e Profª Drª. Vera Lúcia Cabrera Duarte por terem aceitado

tão gentilmente o convite. Obrigada por compartilharem seus conhecimentos,

seus livros e artigos fundamentais a este trabalho.

Aos professores deste Programa. Obrigada pelos ensinamentos e pelas

partilhas e valiosas contribuições em sala de aula.

Aos professores colegas e participantes desta pesquisa, que tão

gentilmente me receberam em suas salas de aula. Obrigada por toda

disponibilidade. Obrigada também pela participação de seus alunos que me

auxiliaram a obter as informações para esta pesquisa.

Aos meus pais, José Carlos e Jane. Obrigada por me mostrar uma vida

simples, mas de propósitos determinantes. Obrigada por ter lançado em mim

as sementes de amor pelo trabalho.

À minha irmã, Renata quem me apoiou afetivamente nesses dois anos de

estudo. Obrigada por acolher as escolhas que faço em minha vida.

Ao Paulo, meu futuro esposo. Obrigada por estar pertinho de mim em

minhas alegrias e dificuldades durante este estudo.

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Aos meus coordenadores pedagógicos João Paulo, Donizete, Cláudia,

Daniela e Sandra por acreditarem em minha vocação como professora e por

me incentivarem a fazer este mestrado.

Aos colegas de pós graduação, em especial as queridas Liliane, Andrea,

Priscila e Alessandra com quem pude passar ótimos momentos durante esses

dois anos.

À CAPES, pelo apoio financeiro para que fosse possível maior dedicação a

esta pesquisa.

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RESUMO

Este estudo teve como objetivo conhecer qual o papel dos aspectos

afetivos no processo de ensino aprendizagem de língua inglesa em dois

diferentes contextos escolares: escola regular e centro de línguas. O

Referencial teórico baseou-se nos estudos sobre afetividade de Almeida

(2002), Mahoney (2002), Leite (2002), Tassoni (2002), Rossini (2001), como

também estudos sobre a aprendizagem e ensino de língua estrangeira Celani

(2001), Duarte (2010), Almeida Filho (2010), Paiva(1999), Leffa (1988), Arnold

and Brown (1999) . A metodologia escolhida foi a qualitativa e foram utilizados

os seguintes instrumentos de coleta: elaboração de redações e questionário.

Os resultados indicam que o papel primordial dos aspectos afetivos no

processo de ensino aprendizagem da língua inglesa é possibilitar o

envolvimento dos alunos com as atividades propostas, propiciando uma

relação prazerosa com o conhecimento de uma nova língua, pois para os

alunos pesquisados o ensino de língua inglesa deve ser pautado em práticas

pedagógicas que os envolvam em questões de seu cotidiano, que promovam

uma boa interação professor – aluno, aluno-aluno e que lhes traga

oportunidades para viajar, conhecer outras pessoas e uma nova cultura,

agregando valor para seu futuro pessoal e profissional. Em resumo, os

resultados sugerem que façamos uma reflexão sobre uma prática pedagógica

pautada nas necessidades do aluno, apreendido como um todo e que promova

o seu desenvolvimento em todos os aspectos: afetivo, cognitivo e motor.

Palavras - chave: ensino aprendizagem de língua inglesa, afetividade, cognição.

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ABSTRACT

This study aimed at understanding the role of affective aspects in the

English Language teaching and learning process in two different contexts:

regular school and language center. The theoretical background was based

upon the studies about affectivity by Almeida (2002), Mahoney (2002), Leite

(2002), Tassoni (2002), Rossini (2001), as well as studies on foreign language

teaching and learning by Celani (2001), Duarte (2010), Almeida Filho (2010),

Paiva (1999), Leffa (1988), and Arnold and Brown (1999). Qualitative research

methodology was employed and the data collection instruments used were

essay writing and questionnaire.

The results indicate that the main role of affective aspects in English language

teaching and learning is to enable students involvement with assigned activities,

providing a pleasant relationship with the learning of a new language, because

for the students that participated in this study English language teaching should

be guided by pedagogic practices that engage them in their everyday issues,

that foster good teacher – student, student – student interaction and gives them

opportunities to travel, meet new people, a new culture, adding value to their

personal and professional future. In short, the results hint that we should reflect

on a pedagogical practice guided by students’ needs, learned as a whole and

that furthers their development in affective, cognitive and motor aspects.

Keywords: English language teaching and learning, affectivity, cognition.

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Sumário

INTRODUÇÃO – O PERCURSO DA PESQUISADORA ............................. 14

CAPITULO 1 - O ENSINO DE LÍNGUA INGLESA NO BRASIL – UM RECORTE NECESSÁRIO ............................................................................ 28

1.1 As diferentes concepções do ensino de Inglês ....................................... 28

1.1.1 A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) e os Parâmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) ......................................................................................... 32

1.2 O ensino de Língua Inglesa na rede pública do estado de São Paulo.... 37

1.3 Os Centros de Estudos de Línguas (CELs) ............................................ 41

1.3.1 Os Centros de Estudos de Línguas: da criação aos dias atuais .......... 41

1.3.2 O Centro de Estudo de Línguas da escola pesquisada ....................... 45

1.4 Panorama das diversas abordagens do ensino de Língua Estrangeira

(Inglês) .......................................................................................................... 46

1.5 Os aspectos afetivos no processo de ensino-aprendizagem de Língua

Inglesa. ......................................................................................................... 49

CAPITULO 2 - REFERENCIAL TEÓRICO: A TEORIA PSICOGENÉTICA DE HENRI WALLON (1879/1962) ...................................................................... 54 2.1 Integração organismo-meio e integração entre os conjuntos funcionais,

priorizando a dimensão afetiva ..................................................................... 55

2.1.1 O ato motor ......................................................................................... 59

2.1.2 O conhecimento .................................................................................. 60

2.1.3 A dimensão afetiva ............................................................................. 60

2.2 O papel dos meios e dos grupos na constituição da pessoa .................. 62

CAPITULO 3 - PROCEDIMENTO METODOLÓGICO ............................... 65 3.1 Produção das Informações ................................................................... 65

3.1.1 Procedimento de coleta de informações .............................................. 67

3.1.2 Etapas percorridas para a coleta das informações .............................. 69

3.1.3. Procedimentos para análise e discussão das informações ................ 70

CAPITULO 4 - ANÁLISE E DISCUSSÃO DAS INFORMAÇÕES ............... 72 4.1 - Análise das redações .......................................................................... 72

4.2 - Análise dos Questionários ................................................................... 86

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CAPITULO 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................. 98 REFERÊNCIAS .......................................................................................... 104 Anexo 1 – Modelo Redação 1 .................................................................. 107

Anexo 2 – Modelo Redação 2 .................................................................. 108

Anexo 3 – Questionário ............................................................................ 109

Anexo 4 – Termo de consentimento livre e esclarecido. ...................... 110

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Aulas de Inglês no Centro de Línguas, na perspectiva dos alunos.

Quadro 2 – Aulas de Inglês na Escola regular, na perspectiva dos alunos.

Quadro 3 – Concepção de afetividade, na perspectiva dos alunos.

Quadro 4 – Interações em sala de aula de língua inglesa nos dois diferentes

contextos (Escola regular e Centro de Línguas).

Quadro 5 – Sentimentos captados.

Quadro 6 - Práticas que facilitam o processo de aprendizagem da Língua Inglesa.

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INTRODUÇÃO – O PERCURSO DA PESQUISADORA

Nesta pesquisa, um estudo foi desenvolvido para conhecer qual o

papel dos aspectos afetivos no processo de ensino-aprendizagem de Língua

Inglesa em dois diferentes contextos escolares (escolar regular e centro de

línguas). O interesse em realizar esse estudo surgiu a partir de minha trajetória

pessoal e profissional, pois sempre gostei de estudar línguas estrangeiras e de

atuar na área da educação. Quando ainda cursava o ensino fundamental,

iniciei meus estudos em Língua Inglesa em um centro de idiomas e no último

ano do ensino médio tive a oportunidade de fazer um intercâmbio para os

Estados Unidos. Umas semanas após ter voltado ao Brasil, resolvi levar as

fotos da minha viagem para alguns colegas e professores da escola de idiomas

onde havia estudado e que me acolheu sempre muito bem. Nesse mesmo dia,

a dona da escola me perguntou se eu tinha interesse em dar aulas de inglês

para algumas turmas iniciantes. Acabei aceitando o desafio e me lembro que

tive um incentivo muito grande de meus antigos professores, que ao longo do

tempo se tornaram meus companheiros de trabalho. Foi assim que iniciei a

minha tragetória como professora.

Em 2002, após ter começado a lecionar língua estrangeira, resolvi

prestar vestibular e ingressar na Universidade. Escolhi o curso de Letras

Português/Inglês e suas Literaturas, pois era o que me daria mais saberes para

minha prática como professora. Terminei a graduação e logo me matriculei

para cursar Língua Espanhola. Mais um ano e teria as três licenciaturas

No último ano da graduação, em 2006, tive a oportunidade de fazer um

semestre da Faculdade na UBA (Universidad de Buenos Aires) e foi essa a

minha segunda experiência em um país estrangeiro. Naquele mesmo ano,

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comecei a trabalhar também como professora de Língua Inglesa e espanhola

em um colégio particular, escola essa em que leciono até os dias de hoje.

Sempre tive o sentimento de poder fazer mais para meus alunos e

minha prática profissinal. Após ter terminado a faculdade, conheci uma

companheira de trabalho que havia estudado na Pontificia Universidade

Católica de São Paulo (PUC-SP) e passei a pesquisar os cursos de extensão e

especialização que a PUC-SP oferecia. Em 2007, matriculei-me no curso de

especialização ofertado pela Coordenadoria Geral de Especialização,

Aperfeiçoamento e Extensão – COGEAE/PUC-SP sobre a Formação de

professores de Língua Inglesa, e logo após fiz uma pós graduação (lato sensu)

na própria COGEAE/PUC-SP sobre o Ensino de Espanhol para brasileiros.

Iniciei na especialização em 2007, e, ao mesmo tempo, me convidaram

para ser coordenadora da escola de idiomas onde trabalhava. Foram dois

grandes desafios. Continuei dois dias da semana dando aulas de língua

estrangeira no colégio e trabalhava cerca de 30 horas semanais na

coordenação da escola de idiomas. Essa foi a oportunidade que tive de

conhecer mais de perto o trabalho de cada professor daquela escola, e ao

mesmo tempo, comecei a ver com outros olhos a importância de uma boa

formação de professores. Passei, então, a refletir um pouco mais sobre o

processo de ensino-aprendizagem ensino-aprendizagem da língua estrangeira.

Como sempre gostei muito do que fazia, da minha profissão como

professora, das disciplinas que lecionava, enfim da área da educação, e

conhecendo melhor os professores, seus interesses, sua prática, e seu dia a

dia, percebi que nem todos tinham a mesma dedicação, como eu. Muitos o

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faziam sem compromisso e muitas vezes sem nenhuma reflexão sobre sua

prática.

Passei então a pesquisar mais sobre o processo de ensino-

apredizagem de língua estrangeira, na busca de encontar aspectos positivos e

negativos que influenciam no processo de ensino de uma língua estrangeira,

pois sempre acreditei que a aprendizagem da Língua Inglesa possibilitasse ao

estudante aprender a conhecer o mundo culturalmente, dando acesso a outros

discursos, valores, culturas e diferentes formas de viver socialmente.

Com a globalização1, as nações passaram a adotar o Inglês como o

idioma oficial do mundo dos negócios e considerando a importância econômica

do Brasil como país em desenvolvimento, dominar o inglês se tornou sinônimo

de sobrevivência e integração global. Isso, por si só, já justificaria a importância

da sua aprendizagem.

Outra importância dada à aprendizagem de línguas estrangeiras é a

ampliação do próprio espaço cultural, que é uma necessidade incontestável

para a formação de um profissional crítico diante dos novos desafios do

mercado de trabalho. Para responder a essas necessidades, as aulas de língua

estrangeira são geralmente vistas como um espaço adequado para que os

aprendizes desenvolvam a competência do uso de uma nova língua, que

representa mais do que o domínio do código linguístico, pode ser bem

representada por uma reorganização do próprio espaço cultural, una vez que

1Globalização é um conjunto de transformações na ordem política e econômica mundial visíveis desde o final do século XX. Trata-se de um fenômeno que criou pontos em comum na vertente econômica, social, cultural e política, e que consequentemente tornou o mundo interligado, uma Aldeia Global.

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ao depararmos com uma nova cultura e língua, ou com o “outro”, ocorre una

(re)construção de nossa própria identidade.

A Língua Inglesa é um instrumento de comunicação e um ato social que

pressupõe a existência de um emissor, aquele que fala ou escreve, de um

receptor, aquele que ouve e lê, inserido em um determinado espaço social e

cultural. Nesse sentido, a Língua Inglesa não é simplesmente um conjunto de

regras gramaticais e uma lista de vocabulário a ser memorizado. É muito mais

do que isso: a língua passa a ser o instrumento através do qual podemos

interagir com o mundo em que vivemos e assim construir os conhecimentos

necessários para garantir nossa sobrevivência física e emocional.

O processo de aprender uma segunda língua é bastante complexo,

envolve vários fatores: variáveis cognitivas, afetivas, sociais, econômicas e até

políticas. O ensinar envolve também inúmeras variáveis e pode ser

considerado ou como algo estático, tradicional, ou, por outro lado, aberto a

experiências dialógicas, nas quais questões da comunicação são consideradas

essenciais. A linguagem, ao mesmo tempo em que é constituída, tem uma

função social e comunicativa, e é a partir da interação social que o sujeito

constrói sua própria identidade.

Na visão contida nos Parâmetros Curriculares Nacionais (2006), a língua

estrangeira deve funcionar como meio de expandir os conhecimentos e a

capacidade critica. Sendo assim, essa aprendizagem torna-se viável dentro do

processo de aprendizagem do individuo por instigar, inovar, criar e desenvolver

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os mecanismos de aprendizagem da criança que estão em compatibilidade

com os aspectos físicos e psicológicos, proporcionando, assim, um estudo

claro, coerente e com resultados objetivos.

Aprender uma língua estrangeira não é apenas uma necessidade, mas

um direito que não deve ser negado à criança, pois quando se ensina uma

língua, neste caso o inglês, há uma valorização acima de tudo das

competências e habilidades que a criança desenvolve ao longo de sua vida

escolar.

Têm-se como enfoque algumas teorias de Vygotsky (1994) que afirma

que um claro entendimento das relações entre pensamento e língua é

necessário para que se entenda que o processo de desenvolvimento intelectual

da linguagem não é apenas uma expressão do conhecimento adquirido pela

criança. Existe uma inter-relação fundamental entre pensamento e linguagem,

uma proporcionando recursos à outra. Evidentemente, a linguagem ao mesmo

tempo tem uma função e um aprendizado: uma função no sentido de que todo

ser humano normal fala, e a linguagem constrói um instrumento necessário

para ele, e um aprendizado, pois os sistemas simbólicos linguísticos, que a

criança deve assimilar, são adquiridos progressivamente pelo contato com o

meio.

Assim sendo, podemos afirmar que a aquisição da linguagem ocorre

durante toda a infância e constitui uma sequência necessária ao

desenvolvimento biológico, sendo idêntica em todos os seres humanos. A

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linguagem é um aprendizado cultural e está ligada ao meio da criança, na

maneira com que ela dialoga, observa, vive, e principalmente a fatores ligados

à língua: étnicos, culturais, como também fatores decorrentes dos seres

humanos que constituem seu cotidiano.

Abrir espaço na sala de aula para um novo idioma é proporcionar aos

alunos um crescimento cultural fora dos limites estipulados pela nossa língua

materna. A Língua Inglesa deve ser aprendida focada no social, no cognitivo e

também no afetivo, dando oportunidades para os alunos interagirem com o

meio. É fundamental para isso uma relação de autoconfiança entre professor e

aluno para que o processo de aprendizagem viabilize o ensino de um novo

idioma de forma concreta. O papel que a Língua Inglesa desempenha nas

escolas é de auxiliar as relações sociais e culturais do individuo, possibilitando

um desenvolvimento intelectual mais concreto através do aspecto cultural que

o mesmo possui, de forma a desenvolver potencialidades individuais e ao

mesmo tempo coletivas, em busca de um sucesso pessoal e profissional.

Como aponta Paiva (1996, p. 19):

Aprender a Língua Inglesa hoje é tão importante como aprender uma

profissão. Esse idioma tornou-se tão necessário para a vida atual que,

para conseguirmos aprimorar qualquer atividade profissional, seja no

campo da medicina, da eletrônica, física, etc., temos que saber falar

inglês. Ontem o latim era obrigatório em todas as escolas e, como

língua universal, tornou-se símbolo da cultura. Hoje, o “inglês” tornou-

se o mais importante e essencial idioma do século XX.

Para tanto, é essencial que o processo de ensino e aprendizagem de

Língua Inglesa seja baseado em uma forma consistente e dialógica, para que

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professores e alunos interajam em sala de aula, criando muitas oportunidades

de aprendizagem. Assim, no âmbito da Educação, os PCNS (2006) revelam

que o acesso ao inglês permite que os alunos se insiram na comunidade global

e afirmam que a aprendizagem de uma língua estrangeira “não é apenas um

exercício intelectual em aprender as formas de linguagem e de estruturas de

um código diferente, é, sim, uma experiência de vida, pois há maiores

possibilidades de discursar no mundo, assim o idioma inglês é trabalhado na

escola de forma continua e inovadora que permite a abertura de novas rotas”.

Acredita-se que a aprendizagem de uma língua estrangeira abrange não

somente aspectos cognitivos, mas também configurações específicas de

afetividade com relação à língua que se deseja aprender. Os interesses sejam

eles profissionais ou pessoais serão atendidos ou frustrados ao longo do

processo de ensino-aprendizagem, podendo, assim, surgir motivação ou

resistência ao aprender uma segunda língua.

A partir dessas observações sobre o processo de ensinar e aprender

uma língua estrangeira pode-se considerar mais especificamente a afetividade

como parte de uma atividade indispensável para o desenvolvimento do aluno e

que pode influenciar o processo de ensino-aprendizagem de forma positiva e

negativa, respectivamente. Como afirma Mahoney (2002, p. 17):

A afetividade refere-se à capacidade, à disposição do ser

humano de ser afetado pelo mundo externo e interno, por meio

de sensações ligadas a tonalidades agradáveis ou

desagradáveis.

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Como podemos notar, a afetividade consegue englobar uma porção de

estados de ânimo e uma organização viva de significados e conteúdos

psicológicos, tais como tristeza, amor, paixão, entre outros. Partindo desse

ponto, procura-se caracterizar a afetividade não só como um conteúdo

psicológico que sensibiliza de modo agradável e/ou desagradável os seres

humanos, mas como aquele que, com certeza, aloja em si mesma um rol de

significados e conteúdos psicológicos próprios.

É preciso ter cuidado, pois não somente no ensino de línguas

estrangeiras, mas na área educacional como um todo, é comum, ainda hoje, o

uso de uma concepção teórica que leva os educadores a dividirem a criança

em duas metades: a cognitiva e a afetiva. Esse dualismo é um dos maiores

mitos presentes na maioria das propostas educacionais da atualidade. A

crença nessa oposição faz com que se considere o pensamento desprovido de

sentimentos, pois acredita-se que apenas o pensamento leve o sujeito a

atitudes racionais e inteligentes. Por outro lado, os sentimentos são vistos

como “coisas do coração”, e que muitas vezes não levam ao conhecimento e

podem provocar atitudes irracionais. Seguindo essa crença, as instituições

educacionais caminharam para a ênfase da razão, priorizando tudo o que se

relaciona diretamente ao mérito intelectual.

Partindo da compreensão da importância descrita, esta pesquisa focaliza

o ensino de Língua Inglesa a partir de contribuições teóricas acerca dos

aspectos afetivos na relação entre professor e aluno. Pois acredita-se em um

ensino baseado no pressuposto que toda a vida humana deve ser gerada pelo

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afeto e pelo afeto deve continuar e, ainda, que com o cultivo do afeto muitas

complicações seriam evitadas. O desenvolvimento afetivo é básico, presente

na família, entre amigos na escola e, como não poderia ser diferente, é

fundamental para a completude da educação. Portanto, acredita-se que o afeto

é muito importante para o processo de aprendizagem.

Contudo, a partir de alguns estudos e da minha vivência como

professora de língua estrangeira, pude conversar com muitos professores e

percebi que muitos também compartilhavam os mesmos sentimentos que eu

tinha em relação à prática pedagógica, acreditavam que havia uma

necessidade grande de relacionar os aspectos afetivos com o cognitivo, pois

para alguns professores ensinar uma língua estrangeira não bastava somente

ser “conhecedor da língua” e de uma metodologia, era preciso conhecer seu

aluno, suas experiências já vividas, seus sentimentos, suas angústias e suas

necessidades.

Após o término de meu curso de especialização, ingressei no mestrado

em Psicologia da Educação (PED) também na PUC-SP, em busca de uma

linha de pesquisa que estudasse os aspectos afetivos e o processo de ensino-

aprendizagem, no meu caso mais especificamente o da Língua Inglesa. Meus

objetivos iniciais eram investigar a importância dos aspectos afetivos no

processo de ensino e aprendizagem da Língua Inglesa. No entanto, faltava-me

um instrumento teórico-metodológico que me permitisse um estudo mais

aprofundado sobre afetividade, lacuna essa que seria preenchida com os

pressupostos oferecidos pela teoria de Henri Wallon (1986).

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Paralelamente a esses estudos sobre afetividade muitas outras leituras

foram de grande importância para refletir sobre as principais teorias de ensino-

aprendizagem de língua estrangeira. Sob a orientação da professora doutora

Laurinda Ramalho de Almeida, tomei por base a proposta teórico-metodológica

da abordagem walloniana para desenvolver minha investigação.

Desse modo, inicia-se essa pesquisa cujo tema é desenvolver um estudo

sobre o papel dos aspectos afetivos no processo de ensino-aprendizagem da

Língua Inglesa em dois contextos escolares. O problema investigativo é:

Qual o papel dos aspectos afetivos no processo de ensino-

aprendizagem de Língua Inglesa na visão dos alunos em dois diferentes

contextos escolares (escola regular e centro de línguas).

Na busca por uma resposta para essa pergunta, este trabalho se propõe a

investigar o papel dos aspectos afetivos no processo de ensino-aprendizagem

de Língua Inglesa na visão dos alunos em dois diferentes contextos – na rede

pública de ensino, mais especificamente em uma escola pública localizada em

uma cidade do interior do estado de São Paulo e no Centro de Estudos de

Línguas (CELs). A escolha por uma escola que ofertasse o ensino de Língua

Inglesa tanto em sua grade curricular quanto no Centro de Estudos de Línguas

se deu primeiramente pela falta de estudos realizados nesses centros.

A escolha por Wallon aconteceu por esse autor (entre outros)

reconhecer o ser humano dotado das dimensões afetiva, cognitiva e motora,

constituídas e constituintes na pessoa, uma teoria comprometida com a

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educação e com os valores transmitidos pela escola, como também aponta

para a importância da relação dos fatores de desenvolvimento de ordem

orgânica e social. Para Wallon, o motor, afetivo, o cognitivo, a pessoa, embora

cada um desses aspectos tenha identidade estrutural e funcional diferenciada,

estão tão integrados que cada um é parte constitutiva dos outros. E todas elas

têm um impacto no que ele chama de quarto conjunto: a pessoa, que, ao

mesmo tempo em que garante essa integração, é resultado dela (MAHONEY,

2002, p. 15).

A teoria do desenvolvimento de Henri Wallon aborda as atividades

predominantes nas crianças nas diferentes idades, como também analisa os

conjuntos funcionais que a cercam: o brincar, o desenvolvimento da afetividade

e a linguagem. Isso significa que aprender uma língua estrangeira é mais do

que aprender a ler, escrever, compreender e falar; significa poder utilizar a

língua para “impor sua voz no mundo” e, assim, segundo Freire (1987) cumprir

os propósitos da educação de tornar o cidadão capaz de transformar o mundo

de acordo com seus interesses.

Como a proposta deste trabalho é a de destacar o elemento efetividade

aliada à aprendizagem como forma de facilitar, ou não, a aquisição da Língua

Inglesa, basear-me-ei nos estudos sobre afetividade de Henri Wallon, pois sua

teoria psicológica estuda a pessoa completa: analisa-a em seus domínios

afetivo, cognitivo e motor de forma integrada, mostrando como se dá, no

transcorrer do desenvolvimento, a interdependência e a predominância desses

diferentes conjuntos (ALMEIDA, 2002).

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Contribuem para esta pesquisa os estudos recentes de Almeida (2002),

Mahoney (2002), Leite (2002), Tassoni (2002), Arnold (1999), Oxford (1999),

que abordam a importância dos aspectos afetivos, como também serão

referências sobre a aprendizagem e ensino de língua estrangeira os estudos de

Celani (2001), Duarte (2010), Almeida Filho (2010), Paiva (1999), Leffa (1988)

dentre outros autores que contribuem para essa prática.

Celani (2001), por exemplo, defende uma proposta de educação

conectada com a realidade social, que deveria levar em conta a visão de

linguagem do professor e como essa norteia a prática docente. O papel do

professor como educador, nessa perspectiva, é diretamente relacionado à

construção de cidadania, ou seja, pelo ensino de Língua Inglesa, poder-se-ia

conhecer outras culturas e, por essa razão, desenvolver-se-ia uma atitude

crítica em relação a tais culturas, bem como a si próprio. De acordo com essa

perspectiva, o ensino de Língua Inglesa pode promover a compreensão do

significado de certos modos de comportamento e uma atitude de tolerância,

considerando-se as diferenças culturais. O ensino de Língua Inglesa irá tornar-

se um modo singular de focar a relação entre linguagem e sociedade, levando

o aluno a compreender o uso da língua como prática social (CELANI, 2001, p.

34).

Nesse sentido, este trabalho se insere no campo da Psicologia da

Educação, mas se relaciona com outros estudos realizados na área da

linguística aplicada e procura estabelecer um diálogo com esses campos

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científicos no sentido de compreender e melhor interpretar os resultados que

esta pesquisa pode nos revelar.

Aos educadores de Língua Inglesa cabe essa pesquisa, no sentido de

que há poucos trabalhos acadêmicos voltados para construção do

conhecimento da língua, influenciada pela abordagem afetiva. Mas que levará

a uma discussão um pouco mais profunda sobre o ensino de Língua Inglesa na

rede pública de ensino, como também trará uma grande reflexão sobre a

influência dos aspectos afetivos que interferem de uma forma ou de outra no

ensino de Língua Inglesa.

Para alcançar tais objetivos, esta dissertação está estruturada da

seguinte maneira:

Capítulo I – O Ensino de Língua Inglesa no Brasil – Um recorte

necessário.

Primeiramente, faço um breve histórico sobre as diferentes concepções

do ensino de inglês; em seguida, descrevo sua legislação e aponto os objetivos

da sua proposta pedagógica. Logo após, faço um relato sobre o ensino de

Língua Inglesa na rede pública de ensino do estado de São Paulo. E por último,

dentre os estudos voltados para o ensino de língua estrangeira, apresento

especialmente os que abordam o processo de ensino-aprendizagem de Língua

Inglesa e os que dão enfoque a dimensão afetiva.

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Capítulo II – Referencial teórico

Neste capítulo, trago os pontos principais da teoria de desenvolvimento

de Henri Wallon, destacando os que ajudaram no enriquecimento deste

trabalho como as questões: da integração organismo-meio e integração entre

os conjuntos funcionais; do outro; do meio.

Capitulo III – Procedimento Metodológico

Neste capítulo, caracterizo o procedimento metodológico e apresento: as

escolhas para a produção de informações, os participantes, os passos

seguidos para a realização da coleta de dados e o procedimento para a análise

das informações.

Capitulo IV – Análise e discussão das informações

Neste capitulo, analiso os resultados obtidos a partir dos dados

coletados, relacionando-os com as perguntas de pesquisa que norteiam este

trabalho de investigação.

Capitulo V – Considerações finais

As considerações finais trazem algumas reflexões sobre a pesquisa,

assim como contribuições para a área e implicações para estudos futuros.

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CAPITULO 1 - O ENSINO DE LÍNGUA INGLESA NO BRASIL – UM RECORTE NECESSÁRIO

1.1 As diferentes concepções do ensino de Inglês

O objetivo desta seção é apresentar o processo pelo qual o ensino de

Língua Inglesa no Brasil tem se constituído, dentro do recorte necessário para

esta pesquisa.

É a partir da educação jesuítica que se introduz o ensino de língua

estrangeira no Brasil, inicialmente com o Latim e o Grego (Netto, 2001),

prendendo-se à leitura de textos clássicos que funcionavam como subsidio

para o aprendizado da língua materna, da História e da Geografia.

Netto (2001) informa que foi no reinado de D. João VI que se introduziu no

Brasil o ensino de línguas estrangeiras modernas. O rei reconhece em 22 de

junho de 1890, diante dos acordos firmados entre Portugal e Inglaterra, a

importância deste aprendizado. Cita a autora:

(...) mas é apenas na metade do século dezenove que as línguas

estrangeiras modernas conquistam a mesma posição privilegiada das

línguas clássicas: o ensino do Latim é mantido, mas se junta a ele o

ensino do Francês e do Inglês, com caráter obrigatório, e do Italiano,

que assume caráter facultativo. Até o ano de 1870. Estas línguas

passam a integrar o currículo brasileiro, quando o Italiano é, então,

excluído. (NETTO, 2001, p. 5)

Com a reforma de 1900, intitulada Reforma Epitácio Pessoa, ocorre a

valorização das línguas estrangeiras modernas (Francês, Inglês e Alemão) em

detrimento das línguas estrangeiras clássicas (Grego e Latim), ocorrendo sua

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implementação com uma carga horária reduzida a três anos da escola

secundária. Em 1915, na República, o Grego foi retirado definitivamente dos

currículos escolares do Brasil; após a Revolução de 1930, quando na era

Vargas se criou o Ministério da Educação e Saúde Pública, o ensino das

línguas estrangeiras modernas francesas e inglesas, da primeira à quarta série,

recebeu um aumento considerável de carga horária: 17 horas semanais, sendo

que oito horas foram destinadas para o Inglês e nove horas para o Francês.

Netto (2001) relata ainda que a história das leis educacionais brasileiras

apresenta pouco ou quase nenhuma preocupação em relação às propostas

curriculares para o ensino de línguas estrangeira. Durante as incontestáveis

vezes que se buscou regulamentar o ensino de língua estrangeira no Brasil,

ficou evidente, segundo as palavras da mesma autora, a desorientação no que

se refere aos valores culturais nacionais, prejudicando profundamente a

qualidade de seu processo de ensino-aprendizagem.

No período de Getúlio Vargas a língua estrangeira moderna adquire um

maior prestigio em relação ao latim, o Francês e o Inglês que continuam a ser

consideradas disciplinas obrigatórias.

Com a reforma de 1942, a situação do ensino de línguas

estrangeiras continua sendo privilegiado. No ginásio (1° ciclo),

o Latim, o Francês e o Inglês, deveriam ser ensinados,

enquanto que no colégio (2° ciclo, dividido em clássico e

\científico), os alunos tinham aula de Francês, Inglês e

Espanhol, observando-se que apenas no curso clássico o

Grego e o Latim eram ensinados. (NETTO, 2001, p. 6)

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Em 1942, com a reforma de Capanema2 o prestigio das línguas

estrangeiras mantém-se, e o Francês tem ligeira vantagem em relação ao

Inglês: quatro anos de aprendizagem para o Francês e três anos para o Inglês.

Apesar de as duas línguas estarem inseridas no sistema escolar desde o

Império, a influência da França em nossa cultural e no campo científico

ocasionou uma maior prestigio para o ensino de língua francesa em nossa

sociedade. Esse domínio da língua francesa só é abalado com a chegada do

cinema falado nos anos de 1920, pois a Língua Inglesa começa a penetrar na

cultura brasileira.

Com a crise educacional que se instaura no Brasil de 1950 a 1960,

surge a Lei 4.024 do Conselho Nacional de Educação que fixa as Diretrizes e

Bases da Educação Nacional, retirando o caráter obrigatório do ensino de

língua estrangeira e atribuindo essa disciplina um caráter optativo, ou seja, a

implantação de língua estrangeira nas unidades escolares ficava a cargo dos

Conselhos Estaduais que tinham a responsabilidade de organizar currículos.

Esse período caracteriza o declínio do ensino de língua estrangeira no Brasil,

conforme se pode evidenciar no fragmento abaixo:

Fecha-se o quadro de ofertas das línguas estrangeiras em

nossos currículos, permanecendo apenas o Francês e o Inglês.

Começa então uma etapa de decadência do ensino de línguas

estrangeiras no Brasil, dependente do poder das instâncias

estaduais, que evidenciavam, em sua escolha, a ideologia e a

2 Reforma Capanema foi o nome dado às transformações projetadas no sistema educacional brasileiro em 1942, durante a Era Vargas, liderada pelo então Ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capanema, que ficou conhecido pelas grandes reformas que promoveu, dentre elas, a do ensino secundário e o grande projeto da reforma universitária, que resultou na criação da Universidade do Brasil, hoje, Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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política que norteavam a inclusão ou exclusão das línguas

estrangeiras em seus currículos. (NETTO, 2001, p. 6)

Neste arcabouço histórico sobre o ensino de língua estrangeira no

Brasil, pode-se perceber que o ensino de Língua Inglesa, a partir da década de

1960, começa a proliferar em âmbito comercial, operando nas redes de

franquia por força da pressão econômica exercida pelos Estados Unidos.

No período do golpe militar de 1964, surgem leis de reformas

educacionais tanto para os antigos 1° e 2° graus, quanto para a universidade,

fixando leis de diretrizes e bases, e a língua estrangeira passa mais uma vez a

ter, em detrimento de interesses econômicos, um caráter optativo no currículo.

A partir da década de 1980, mais precisamente em 1986, o Conselho

Federal de Educação delega a obrigatoriedade de pelo menos uma língua

estrangeira moderna para o então 1° grau, preferencialmente a partir da 5ª

série. Só por meio da LDB 9394/96 é que finalmente a questão do ensino de

língua estrangeira fica bem clara. Percebe-se no âmbito da LDB que as línguas

estrangeiras modernas voltam a recuperar, de alguma forma, a importância que

durante muito tempo lhes foi negada. Todavia, embora o Ministério da

Educação já tenha demonstrado ter percebido o problema, poucas ações

efetivas foram realizadas. Essa situação do ensino de línguas estrangeiras

modernas fica bem evidenciada a partir dos Parâmetros Curriculares Nacionais

– PCNs:

Consideradas, muitas vezes e de maneira injustificada, como

disciplinas pouco relevantes, elas adquirem, a partir da LDB

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9394/96, a configuração de disciplinas tão importantes como

qualquer outra do currículo, do ponto de vista da formação do

indivíduo. Assim, integradas à área de Linguagens e Códigos,

as línguas estrangeiras assumem a condição de ser parte

indissolúvel do conjunto de conhecimentos essenciais que

permitem ao estudante aproximar-se de várias culturas e,

consequentemente, propiciam sua integração num mundo

globalizado. (PCN, 1998, p. 147)

Parece que mesmo após a LDB e os PCNs a comunidade escolar ainda

reluta para implementar as mudanças necessárias. O ensino fundamental e

médio continua envolvido em uma abordagem de ensino da língua estrangeira

quase igual à do início do século e carente de metodologias apropriadas e

lúdicas, que realmente estejam contextualizadas à vida do educando.

1.1.1 A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs)

A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) foi sancionada em 1996 pelo

presidente Fernando Henrique Cardoso. É o documento que normatiza a

educação no Brasil. Composta por 92 artigos, contempla todos os aspectos

educacionais que merecem destaque. Os Parâmetros Curriculares Nacionais

(PCNs) surgiram como uma forma de fazer valer o que está prescrito na LDB.

Começaram a ser elaborados em 2004, a partir da necessidade de se discutir e

de se refletir acerca do ensino público de nível médio. Consta como objetivos

dos PCNs (BRASIL, 2006, p. 8):

[...] apontar e desenvolver indicativos que pudessem oferecer

alternativas didático-pedagógicas para a organização do

trabalho pedagógico, a fim de atender às necessidades e às

expectativas das escolas e dos professores na estruturação do

currículo para o ensino médio.

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A elaboração dos PCNs teve de seguir o que está previsto na LDB.

Dentre os aspectos constantes na LDB, artigo 35, para o papel do Ensino

Médio na vida do educando, vale salientar:

I – a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no

ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos;

II – a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para

continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a

novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores;

III – o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a

formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento

crítico;

IV – a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos

produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina.

A partir do que prevê a LDB, os PCNs foram criados, priorizando a

elaboração de orientações gerais, contemplando todas as disciplinas do

currículo escolar, como também de orientações específicas para cada

disciplina.

Os PCNs abordam todos os aspectos relevantes no ensino da língua

estrangeira (LE). Neles são citadas diversas contribuições de uma educação

voltada aos interesses dos alunos, como: expansão das habilidades

comunicativas e ampliação cultural, compreensão das diferentes formas de

comunicação e da variabilidade dialetal, adequação linguística de acordo com o

ambiente em que está inserido. Nesse sentido, vale lembrar que, muito mais do

que uma simples aula de regras gramaticais, as aulas de LE podem ser

extremamente ricas, à medida que abrem espaço para que o estudante possa

construir/reconstruir sua carga cultural e linguística. Os PCNs (BRASIL, 2006,

p. 91) ressaltam que:

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[...] a disciplina Línguas Estrangeiras na escola visa a ensinar um

idioma estrangeiro e, ao mesmo tempo, cumprir outros compromissos

com os educandos, como, por exemplo, contribuir para a formação de

indivíduos como parte de suas preocupações educacionais.

Outro ponto importante abordado nesse documento é o fato de a língua

estrangeira servir como colaboradora na função inclusiva e de desenvolvimento

da cidadania na escola. A compreensão do que é ser cidadão abrange diversos

aspectos, entre eles a posição que o aluno ocupa na sociedade em que vive,

quais os motivos que o levaram a estar ali, como ele se sente diante dessa

situação, etc. A língua estrangeira, portanto, segundo os PCNs (BRASIL, 2006,

p. 97):

[...] propõe trabalhar no âmbito da formação de indivíduos, de

cidadãos – se focalizar um aspecto já mencionado

anteriormente: o de trabalhar em prol de uma “alfabetização”

dos alunos (indivíduos, cidadãos) condizente com as

necessidades da sociedade em que vivem, de uma sociedade

que tem as suas próprias características, porque é interpelada

por uma história e uma cultura em constante construção e

reconstrução.

Os alunos, a partir disso, passam a se sentir sujeitos sociais, incluídos

em uma sociedade, porque sabem como expressar-se, como compreender o

que vivenciam e sabem de sua importância como cidadãos. Nessa perspectiva,

o ensino de Língua Inglesa deve ser pautado na adoção de metodologias

específicas e políticas públicas que visem atender às especificidades desses

alunos, objetivando favorecer sua adaptação e integração ao aprendizado de

Língua Inglesa no espaço público de ensino.

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Portanto, em relação aos objetivos do ensino da língua estrangeira, é

importante que primeiro se delimite uma visão de linguagem mais ampla,

vinculada aos contextos socioculturais aos quais se relaciona e que se

considerem os conhecimentos prévios e a “bagagem” cultural que cada aluno

possui para que se possa relacionar o que se aprende ao que já se sabe.

Conforme os PCNs (BRASIL, 2006, p. 109):

[...] os novos conhecimentos introduzidos em determinada

prática sociocultural ou determinada comunidade de prática

entrarão numa inter-relação com os conhecimentos já

existentes. Nessa inter-relação entre o “novo” e o “velho”,

ambos se transformam, gerando conhecimentos “novos”. Para

que ele se torne um processo crítico e eficaz, é importante

evitar, nessa inter-relação, a mera importação do novo, sem

promover a devida interação com o velho, por meio da qual

tanto o recém-importado quanto o previamente existente se

transformarão, criando algo novo.

Em suma, a educação em língua estrangeira pauta-se em uma

incorporação do que se aprende ao que já é sabido, gerando uma

reformulação, que se torna mais fácil quando feita dessa maneira, porque não

tenta desconstruir o que já foi propagado.

Quanto à prática de ensino propriamente dita, é de extrema importância

que o professor conheça teorias linguísticas atuais que sustentam a utilização

da gramática como um instrumento essencial, mas não como o único meio de

ensinar uma língua. É inconcebível que em pleno século XXI, com diversos

recursos, ainda se parta de palavras soltas, descontextualizadas. O professor

deve tentar fazer com que seus alunos compreendam a importância de estudar

a Língua Inglesa para sua vida, fazendo com que assimilem a relevância da

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disciplina na escola. Observa-se a falta de clareza do professor, quando sua

prática tende a se concentrar no ensino apenas linguístico ou instrumental da

Língua Inglesa (desconsiderando outros objetivos, como os educacionais e os

culturais). Esse foco retrata uma concepção de educação que concentra mais

esforços na disciplina/conteúdo que propõe ensinar (no caso, um idioma, como

se esse pudesse ser aprendido isoladamente de seus valores sociais, culturais,

políticos e ideológicos) do que nos aprendizes e na formação desses (BRASIL,

2006, p. 90).

Os PCNs do ensino médio, por exemplo, orientam que sejam

trabalhadas as seguintes habilidades: leitura, comunicação oral e prática

escrita. Sugerem ainda que essas habilidades sejam praticadas considerando a

realidade social/local do grupo. Se a escola e o grupo estão voltados para o

vestibular, devem ser utilizados textos que proporcionem exercícios e

aperfeiçoamento para tal concurso, por exemplo, mas sem esquecer que

questões objetivas sobre regras gramaticais não trabalham as três habilidades

que se objetiva. São sugeridos, ainda, alguns temas para serem abordados,

como: “cidadania, diversidade, igualdade, justiça social,

dependência/interdependência, conflitos, valores, diferenças

regionais/nacionais”.

A questão da leitura e, além disso, a da compreensão dos textos é

evidenciada como fundamental para o efetivo aprendizado de línguas. Todos

os temas anteriormente citados devem ser tratados através de textos que

proporcionem chegar até eles. Por isso, é vital o trabalho contextualizado,

interativo e multidisciplinar. A escolha dos textos de leitura deve, por exemplo,

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partir de temas de interesse dos alunos, que possibilitem reflexão sobre sua

sociedade e ampliação da visão de mundo, conforme a proposta educativa

focalizada neste documento (BRASIL, 2006, p. 114).

Após a apresentação dos PCN à sociedade, seria de grande valor colocá-

los em prática, fazendo com que os alunos tivessem a oportunidade de

participar de cursos de leitura, pudessem ter acesso a, por exemplo, um ensino

planejado de vocabulário, instruções sobre como explorar um dicionário

bilíngue, textos que contribuam para seu conhecimento enciclopédico e

enriquecimento cultural, e a um ensino que favorecesse o desenvolvimento da

competência comunicativa.

1.2 O ensino de Língua Inglesa na rede pública do estado de São Paulo

O objetivo desta seção é apresentar o processo pelo qual o ensino de

Língua Inglesa no estado de São Paulo tem se constituído, no recorte

necessário para esta pesquisa.

Como vimos anteriormente, as línguas estrangeiras (LEs) fazem parte do

currículo escolar brasileiro há mais de dois séculos. Nessa longa trajetória, não

deve causar estranhamento o fato de que tanto a presença quanto o papel das

línguas estrangeiras passaram por alterações significativas. Tais alterações

refletem as mudanças relacionadas à educação em geral e, em particular,

aquelas relacionadas às concepções de língua e de aprendizagem de línguas.

Conforme a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (SÃO PAULO,

2011, p. 108):

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A disciplina Língua Estrangeira Moderna (LEM) contribui

decisivamente para a formação mais ampla do indivíduo, visto

que possibilita o contato do educando com outros modos de

sentir, viver e expressar-se. Assim, é fundamental que o ensino

de língua estrangeira contribua para a construção da

competência discursiva do estudante, o que é possível se

optarmos por uma perspectiva pluricêntrica, ou seja, que

considere a diversidade linguística dos falantes do idioma,

sejam eles nativos ou não nativos, assim como os

conhecimentos e experiências do educando em língua

estrangeira.

Portanto, ao considerar a perspectiva pluricêntrica como fio condutor do

processo de aprendizagem, o currículo elaborado pela Secretaria do Estado de

São Paulo afirma que o texto – tanto aquele impresso quanto aquele produzido

na interação entre alunos, professores e objetos do conhecimento – assume

papel central. E isso está presente tanto no Ensino Fundamental quanto no

Ensino Médio, o que possibilita uma continuidade metodológica no processo de

ensino-aprendizagem.

O currículo referente ao ensino de língua estrangeira – Inglês está

dividido em duas partes: Ensino Fundamental (Ciclo II) e Ensino Médio. A

proposta da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo para o Ensino

Fundamental (ciclo II) afirma que o ensino de Língua Inglesa nessa etapa

merece especial atenção em relação à capacidade de planejar, organizar e

monitorar a própria aprendizagem por meio do engajamento em projetos que

culminem na produção de objetos concretos, ou seja, projetos que façam parte

do cotidiano e da realidade do aluno (SÃO PAULO, 2011, p. 109).

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Desta forma, seria possível promover tanto o engajamento em

práticas de leitura e escrita mediadas pela oralidade quanto a

construção da autonomia necessária para que o aluno

desenvolva sua capacidade de aprender uma língua

estrangeira.

Para o Ensino Médio, propõe-se um ensino pautado nos conhecimentos

adquiridos anteriormente, em situações que propiciem o exercício da reflexão

crítica. Pois, segundo a Secretaria, nessa etapa de escolarização, os alunos se

encontram em uma fase de tomada de decisão em relação ao seu futuro

profissional, seja mediante seu ingresso no mundo do trabalho ou mediante o

ingresso em um curso universitário (SÃO PAULO, 2011, p. 109).

Tanto as escolhas metodológicas quanto a escolha de temas e

conteúdos a serem abordados nesse segmento devem dar

visibilidade ao diálogo entre o conhecimento escolar, a

formação para a cidadania e o mundo do trabalho, ampliando a

afinidade entre os saberes para além das antigas perspectivas

reducionistas que se limitavam apenas à preparação técnica do

educando para o mercado de trabalho ou para o Ensino

Superior.

Os conteúdos trabalhados em Língua Inglesa para o Ensino

Fundamental estão baseados na relevância dos temas adequados à faixa

etária e no potencial para o desenvolvimento das competências de leitura e

escrita por meio de situações de aprendizagem que promovam o uso da Língua

Inglesa de forma contextualizada e significativa, bem como a reflexão crítica

sobre esses usos e significados.

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Os conteúdos3 escolhidos para o Ensino Médio também seguem o

princípio da relevância para o mundo dos jovens e para sua participação na

sociedade contemporânea. Por sua vez, os textos que articulam as situações

de aprendizagem visam à promoção da reflexão crítica e à construção de

opinião a partir das competências de leitura e escrita já desenvolvidas no

Ensino Fundamental (SÃO PAULO, 2011, p. 111).

Espera-se que os alunos, ao final da Educação Básica, tenham

vivenciado diferentes aproximações com a língua inglesa, em

contextos significativos de aprendizagem que possam contribuir

para a sua formação pessoal, acadêmica e cidadã.

Segundo a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, no

desenvolvimento dos conteúdos de Língua Inglesa propostos para o Ensino

Fundamental II e Médio, o ensino e a aprendizagem ocorrem de forma

espiralada: os alunos têm contato com o objeto de estudo (textual, lexical ou

estrutural) diversas vezes, em momentos e contextos diferentes, de modo a

gradualmente ampliar e reelaborar seu conhecimento. Nesse processo, o papel

do professor é central: algumas vezes como parceiro de aprendizagem, que

interpreta, lê e escreve com os alunos; outras, como orientador, que os auxilia

a usar diferentes recursos para aprender, para avaliar seus percursos de

aprendizagem, para lidar com as incertezas, enfim, para aprender a aprender

com seus erros e acertos.

3 Estes conteúdos são descritos em Secretaria da Educação do Estado de São Paulo

http://www.educacao.sp.gov.br/a2sitebox/arquivos/documentos/237.pdf

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Atualmente, o sistema de ensino público no Brasil apresenta como

disciplina obrigatória nos currículos escolares pelo menos o ensino de uma

língua estrangeira moderna (inglês ou espanhol) a partir da 5ª série do ensino

fundamental4 e estendendo-se por todo o período do ensino médio. As escolas

públicas oferecem em sua grande maioria, o ensino de Língua Inglesa, uma

vez que o espanhol está presente em poucas escolas. Essa língua estrangeira

tem uma carga horária de 90 (noventa) minutos por semana, distribuídos em

dois encontros semanais. Além das aulas de inglês ofertadas no currículo

escolar, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo conta com Centros

de Estudos de Línguas que atendem os alunos da rede estadual de ensino do

Estado de São Paulo. Vejamos na seção a seguir informações sobre esses

Centros.

1.3 Os Centros de Estudos de Línguas (CELs)

1.3.1 Os Centros de Estudos de Línguas: da criação aos dias atuais

As informações a seguir, sobre a origem, funcionamento, histórico e

legislação dos CELs, foram extraídas através das informações contidas no site

da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.

O Centro de Estudos de Línguas é um programa da Secretaria de

Educação do Governo do Estado de São Paulo, direcionados aos estudantes

da rede estadual de São Paulo, proporcionam ao aluno a oportunidade de

aprender gratuitamente um novo idioma, além dos oferecidos nos quadros

regulares, e seu objetivo é propiciar aos alunos diferentes oportunidades de

4 A prefeitura do município de São Paulo inseriu no ano de 2013 em seu currículo aulas de Inglês a partir da 4ª série do ensino fundamental.

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desenvolvimento de novas formas de expressão linguística, enriquecimento

curricular e acesso a outras culturas contemporâneas, além de ampliar suas

habilidades para inserção no mercado de trabalho. A criação do CEL decorreu

da necessidade de a escola oferecer ensino de língua espanhola, no contexto

da política de integração do Brasil na Comunidade Latino Americana, em finais

da década de 1980. (SÃO PAULO, 1989a)

Atualmente, em todo o Estado há 223 CELs em funcionamento. O

programa oferece cursos gratuitos de Espanhol, Italiano, Francês, Alemão,

Japonês e Mandarim, voltados a estudantes a partir do 7º ano do Ensino

Fundamental, regular ou Educação de Jovens e Adultos (EJA), e Inglês,

somente aos estudantes do Ensino Médio.

Os cursos são ministrados por professores diplomados e têm seis

módulos semestrais, com duração de três anos. As aulas, quatro por semana,

de cinquenta minutos cada, ocorrem em diferentes horários, visando às turmas

constituídas de alunos que trabalham. O CEL tem funcionamento próprio,

independente da organização curricular, da seriação e do funcionamento da

escola que o sedia. A única exceção é o curso de Inglês, que tem dois

módulos, com duração de 1 ano. Ao término de cada curso o aluno recebe o

certificado de conclusão. Após o término dos módulos, o participante recebe o

certificado de conclusão.

Desde 1987, ano de sua criação, os CELs têm sido instalados em

escolas da rede pública estadual que preencham os seguintes requisitos:

demanda justificada, espaço físico adequado aos cursos, localização de fácil

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acesso e horário de funcionamento que assegure o atendimento aos alunos

que trabalham (SÃO PAULO, 1989a).

Em 10 de agosto de 1987, por meio do Decreto nº 27.270 (SÃO PAULO,

1987a), são criados os Centros de Estudo de Línguas, no âmbito da Rede

Estadual de Ensino. Para cumprimento das determinações do Decreto, foram

viabilizadas as seguintes ações:

Elaboração de um anteprojeto de organização dos Centros;

Uma minuta para um possível Regimento;

Um esboço de proposta curricular;

Coleta de dados sobre escolas da Rede interessadas em abrigar

o Centro, desde que dispusessem de espaço físico e facilidade de

acesso;

Em junho de 1988, uma pesquisa efetuada pelas Coordenadorias de Ensino

da Secretaria de Estado da Educação nas escolas de Rede Estadual permitiu

que se aquilatasse o enorme interesse dos alunos pelo estudo de várias

línguas estrangeiras, resultando no redimensionamento da instalação dos

Centros de Línguas.

A resolução SE nº 193 de agosto de 1988 dá nova redação ao parágrafo

único do artigo 1º da Resolução SE nº 271/87, passando a considerar o ensino

da Língua Espanhola como preferencial e não exclusivo nos CELs, permitindo

assim estender aos alunos a oferta dos outros idiomas de interesse. Pela

Resolução SE nº 210, de 31 agosto de 1988, foi criada uma Comissão

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multisserial, coordenada pela CENP, com vistas a implementar o

funcionamento dos CELs, tendo como objetivos específicos:

Incrementar o intercâmbio cultural entre professores e estudantes do estado de

São Paulo com os dos países cuja língua é objeto de estudos nos CELs;

Incentivar a celebração de convênios entre a SE (Secretaria da Educação) e Instituições ou Entidades Nacionais ou Internacionais, visando à elaboração e produção de livros e materiais didáticos de apoio aos CELs;

Definir e implantar uma sistemática de acompanhamento e de avaliação dos CELs da Rede Pública Estadual;

Manter contato com Instituições Culturais, nacionais e internacionais, objetivando definir programas de cooperação técnico-educacionais;

Promover intercâmbio entre as Organizações e Entidades congêneres, nacionais e internacionais;

Adotar outras medidas necessárias para o desempenho de suas funções.

Para coadjuvar as ações dessa Comissão, foram criadas subcomissões formadas por representantes das Embaixadas, dos Consulados, das Associações de Professores de Línguas, de Escolas e de Instituições afins, visando viabilizar o intercâmbio entre órgãos e os diversos Centros. (SÃO PAULO, 1988b)

No primeiro semestre de 2013, a Secretaria contabilizou cerca de 64 mil

alunos matriculados nos Centros. São 58 unidades na capital e Região

Metropolitana e 166 no interior. Outra informação de grande relevância é que,

até janeiro de 2014, a Secretaria vai levar um total de 356 estudantes dos

Centros para cursos intensivos de 20 dias na Inglaterra, França e Argentina. No

ano de 2013, 228 destes jovens já estiveram no Exterior. A Secretaria oferece

todo o suporte necessário, desde o trâmite para a emissão do passaporte e

visto, até transporte, alimentação, estadia e jaqueta térmica. Além das aulas,

os estudantes do Ensino Médio farão passeios culturais, tudo sem custo.

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1.3.2 O Centro de Estudo de Línguas da escola pesquisada

As informações a seguir, sobre a origem, funcionamento, histórico e

legislação dos CEL da cidade pesquisada, foram extraídas do Documento da

Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas (CENP). Essas informações

foram cotejadas com solicitações, ofícios e atas (documentos encontrados no

acervo histórico da escola pesquisada) e através de uma entrevista com a

coordenadora do CEL.

A primeira instalação de um Centro de Estudos de línguas na cidade da

escola pesquisada começou a funcionar com um número maior de turmas de

Francês do que de Espanhol, por não haver professores de Espanhol

devidamente habilitados na época. No entanto, segundo a coordenadora, o

primeiro CEL que foi instalado na cidade de Sorocaba não contava com espaço

físico adequado e tampouco com recursos suficientes para seu bom

funcionamento, levando professores e a coordenadora, alguns anos mais tarde,

a procurar outra escola-sede para instalar-se. A nova unidade começou a

funcionar dia 11 de fevereiro de 2009, início do ano letivo na rede estadual.

Neste Centro de línguas, inicialmente, ensinava-se apenas as línguas

Espanhol e Francês; a partir do ano de 2003, começaram as primeiras turmas

de Alemão e no ano de 2013 já contou com os cursos de Inglês, Italiano,

Alemão. No ano de 2014 será incluído o curso de Mandarim. Todos os cursos

contam com turmas no período da manhã, tarde e noite.

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Segundo a coordenadora: "O objetivo do CEL é propiciar aos alunos

diferentes oportunidades de desenvolvimento, novas formas de expressão

linguística, enriquecimento curricular e acesso a outras culturas

contemporâneas, além de ampliar as possibilidades de inserção no mercado de

trabalho”. Para ela, o diferencial do ensino de línguas nos CELs, em relação ao

ensino de línguas na grade curricular, é que, nos CELs, o aluno é quem busca

o idioma que quer aprender e o número de alunos em sala de aula é menor; na

grade, o ensino é obrigatório a todos os alunos e a quantidade de alunos em

sala é relativamente grande e acaba dificultando o processo de ensino-

aprendizagem de uma língua estrangeira.

Após esse recorte tanto sobre termos históricos quanto sobre o

funcionamento do ensino de Língua Inglesa no Brasil, vejo a seguir apresentar

um panorama sobre as abordagens do ensino de línguas e também destaco o

papel dos aspectos afetivos no processo de ensino-aprendizagem de Língua

Inglesa.

1.4 Panorama das diversas abordagens do ensino de Língua Estrangeira (Inglês)

Será apresentada a seguir, uma síntese das principais metodologias que

marcaram o ensino-aprendizagem da língua estrangeira, com ênfase na Língua

Inglesa. Pretende-se mostrar os princípios que embasam certas metodologias.

Antes de se passar à exposição das abordagens de ensino de língua

estrangeira, convém mencionar uma dificuldade terminológica entre método,

metodologia e abordagem.

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Dentre outras definições, Leffa (1988) chama de método o próprio

material de ensino; metodologia estaria num nível superior, englobando os

objetivos gerais, os conteúdos linguísticos, as teorias de referência, as

situações de ensino, e subentende a elaboração de um método. Já o

termo abordagem (approach do inglês) é definido pela autora como os

pressupostos teóricos acerca da língua e da aprendizagem. Adotaremos,

portanto, o termo metodologia ou abordagem para designar a forma como o

ensino de língua estrangeira se processa ao longo dos tempos.

Ao longo dos anos, pesquisadores e estudiosos têm discutido sobre qual

a melhor maneira de trabalhar com a língua estrangeira. Esse é um assunto

bastante complicado, pois cada professor possui sua forma de desenvolver

suas aulas. É importante, no entanto, que ele conheça o que está previsto nos

PCNs para que possa fazer uso de metodologias condizentes com o

desenvolvimento das habilidades que devem ser promovidas. Leffa (1988) cita

alguns métodos que vêm sendo utilizados:

1. Abordagem da gramática e da tradução (AGT): trabalha o ensino da

segunda língua a partir da primeira. As explicações ocorrem na língua materna

do aluno e a ênfase está na forma escrita. De acordo com o autor, é o método

que possui mais tempo de uso na trajetória do ensino de línguas, porém vem

sofrendo críticas por deixar de lado o enfoque à oralidade, por utilizar como

fonte de atividades livros, fazendo com que não haja necessidade do professor

dominar o idioma, apenas os aspectos gramaticais. O intuito dessa abordagem

está em tornar o aluno um apreciador da cultura e da literatura da segunda

língua.

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2. Abordagem direta (AD): trabalha somente com a segunda língua, fazendo

um contraponto com a AGT. Todas as aulas são dadas utilizando o novo

idioma, com ênfase na língua oral e a utilização de diálogos situacionais.

Defende a ideia de que a segunda língua é aprendida à medida que o aluno

consegue aprender a “pensar na língua”. Trabalha de forma que primeiro se

conheçam situações para sistematização, e então a gramática surge aos

poucos, mas sem qualquer enfoque de grande importância. Utiliza o método de

repetição.

3. Abordagem para a leitura (AL): esse método surgiu a partir da preocupação

com a língua oral, pois acreditava-se que essa não estava sendo priorizada no

ensino nas escolas norte-americanas. O foco principal dessa abordagem é

desenvolver a habilidade para a leitura, por isso trabalha-se mais com

exercícios escritos e questionários baseados em textos. É uma proposta de

aliar a AGT com a AD, promovendo o enfoque para a escrita da primeira e a

preocupação em expor o aluno à língua da segunda. A gramática apenas é

necessária para auxiliar na compreensão do que está sendo lido.

4. Abordagem comunicativa: preocupa-se em adequar a língua à situação. O

aluno aprende a desenvolver estratégias para se comunicar. Saber comunicar

significa ser capaz de produzir enunciados linguísticos de acordo com a

intenção de comunicação e conforme a situação de comunicação. Na

abordagem comunicativa, a unidade básica da língua, que requer atenção, é o

ato comunicativo, ao invés da frase. A função se sobrepõe à forma, e

significado e situações é que inspiram a planificação didática e a confecção de

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materiais. Competência comunicativa passa ser o objetivo em vez do acúmulo

de conhecimento gramatical ou da estocagem de formas memorizadas. Sem

dúvida, a abordagem comunicativa representa uma evolução inteligente em

direção a um ensino-aprendizado de línguas mais humano e centrado nos

interesses do aprendiz. É a abordagem comunicativa que inspira os métodos

hoje mais eficazes.

Leffa (1988) ressalta que um fator ainda não estabelecido no ensino de

línguas é até que ponto a metodologia empregada faz a diferença entre o

sucesso e o fracasso da aprendizagem. Às vezes, dá-se à metodologia uma

importância maior do que ela realmente possui, esquecendo-se de que o aluno

pode tanto deixar de aprender como também apreender apesar da abordagem

usada pelo professor. As inúmeras variáveis que afetam a situação de ensino

podem sobrepujar a metodologia usada, de modo que o que parece funcionar

numa determinada situação não funciona em outra e vice-versa (1988, p. 229).

Há diversas correntes que defendem suas ideias, mas a verdade é que

não há um método que seja o mais eficaz. A questão está em saber equilibrar o

que cada um apresenta de mais útil ou significativo de acordo com cada

contexto específico.

1.5 Os aspectos afetivos no processo de ensino-aprendizagem de Língua Inglesa.

Como este projeto busca destacar o papel dos aspectos afetivos no

processo de aprendizagem de Língua Inglesa, refletindo de que forma os

afetos, sentimentos e sensações dos alunos podem influenciar o processo de

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ensino-aprendizagem de língua estrangeira – Inglês, achei de grande

importância apontar estudos de uma vertente da linguística aplicada,

denominada Aquisição de Segunda Língua (ASL), que abordam a dimensão

afetiva no ensino e na aprendizagem de línguas, que é a proposta desta

pesquisa.

Desde o início do desenvolvimento do campo de pesquisa denominado

Aquisição de Segunda Língua, por volta dos anos 60 e 70, a pesquisa sobre as

diferenças individuais do aprendiz que tinham relação com o sucesso variado

na aprendizagem tem atraído o interesse de alguns pesquisadores, como por

exemplo Arnold e Brown (1999). O elo que une esses pesquisadores é a

tentativa de se compreender como os aprendizes de uma língua variam em

nível, grau e forma na aprendizagem e, a partir daí, elaborar categorias que

descrevam os estados afetivos individuais, como diagnosticá-los, fomentá-los

ou preveni-los individualmente na instrução formal. Arnold e Brown (1999, p. 1)

argumentam que o termo afeto tem relação estreita com aspectos de nosso

estado emocional, mas que há uma enorme dificuldade de definir o conceito,

de maneira similar à demonstrada nas seções anteriores. Eles definem o termo

da seguinte forma: “No presente contexto, afeto será considerado como amplos

aspectos da emoção, sentimento, temperamento e atitude que condicionam o

comportamento e influenciam a aprendizagem”. Esses aspectos, para Arnold e

Brown (1999, p. 8), têm a ver com fatores internos que constituem a

personalidade dos aprendizes. Para os autores, o processo de aquisição de

segunda língua é influenciado de maneira significativa por traços individuais da

personalidade que residem no aprendiz. Tais traços emocionais podem facilitar

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ou impedir a aprendizagem, apresentando fatores que podem influenciar o

processo de forma positiva e negativa, respectivamente. Esses fatores estão

imbricados e inter-relacionados de tal maneira que tornam o isolamento de

suas influências recíprocas de difícil realização.

Arnold e Brown (1999) argumentam que o processo de aprendizagem

deveria ser apoiado numa visão em que emoção e cognição andassem lado a

lado, seus estudos têm demonstrado que as emoções fazem parte da razão e

que não há processos mentais sem processos emocionais, uma vez que esses

são parceiros no funcionamento do sistema nervoso. Para os autores, uma

compreensão ampla da dimensão afetiva no ensino e na aprendizagem de

línguas é importante por duas razões. Em primeiro lugar, uma atenção para os

aspectos afetivos pode levar-nos a um ensino mais efetivo, ao propiciar que os

alunos superem emoções negativas que inibem sua aprendizagem e fomentar

emoções que facilitem o processo. Em segundo lugar, como consequência de

uma supervalorização do cognitivo, do linguístico e do racional, nós nos

tornamos analfabetos emocionais. O ensino pode ir além do objetivo da

aprendizagem da língua, mas um espaço de educação do afeto e da ética pode

levar os alunos a uma maior responsabilidade com a sociedade. A informação

pode coexistir com a formação. Arnold e Brown (1999) colocam a dimensão

afetiva em paralelo às abordagens humanistas no ensino e na aprendizagem

de segundas línguas.

Dessa forma, Arnold e Brown (1999, p. 3) afirmam que "em uma sala de

aulas de línguas que tem por foco a interação, existe o espaço para lidar-se

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com o afeto". A afirmação dos autores reforça o entendimento que a dimensão

do afeto está imbricada no processo de aprender, não sendo o mesmo nem

puramente cognitivo nem puramente social. No que diz respeito à questão do

afeto, ainda Arnold e Brown (1999) indicam como uma educação afetiva pode

ser resultante da abertura de um espaço no discurso de sala de aula,

colaborando para a inserção do aluno no contexto/processo e,

consequentemente, para sua educação afetiva:

A relação entre afeto e aprendizagem de línguas é desta forma,

bidirecional. A atenção dada ao afeto pode melhorar o ensino e

a aprendizagem de língua, mas a sala de aula de línguas pode,

em contrapartida, contribuir significativamente para educar os

alunos afetivamente. (Arnold e Brown, 1999, p. 3)

Diante do que foi exposto, entende-se que não há interação social sem

afetividade, que também é fundamental para o desenvolvimento cognitivo.

Nesse sentido, pode-se pressupor que as interações que ocorrem no contexto

escolar também são moduladas pela afetividade em todos seus aspectos.

Pode-se supor, também, que a afetividade se constitui como um fator de

grande importância na determinação da natureza das relações que se

estabelecem entre os sujeitos (alunos) e os diversos objetos de conhecimento

(áreas e conteúdos escolares), bem como na disposição dos alunos diante das

atividades propostas e desenvolvidas.

Todo esse recorte sobre o ensino de Língua Inglesa no estado de São

Paulo, suas abordagens de ensino e seus estudos sobre aquisição de segunda

língua que abordam a dimensão afetiva são de grande importância para esta

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pesquisa. No capítulo seguinte, trato do o Referencial Teórico escolhido para a

realização desta investigação.

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CAPITULO 2 - REFERENCIAL TEÓRICO: A TEORIA PSICOGENÉTICA DE HENRI WALLON (1879/1962)

Ao mesmo tempo em que teorias aprimoram nosso olhar, nossa observação, e tornam nossas idéias mais claras e precisas, elas também são uma condição limitadora. É difícil abranger com elas toda a complexidade dos fenômenos estudados: ao mostrar, ao iluminar alguns componentes desses fenômenos, outros ficam obscurecidos. Uma boa teoria, como uma fotografia, é aquela que permite descobrir dimensões para além do seu foco. (MAHONEY, 2004, p. 13)

A teoria psicogenética de Henri Wallon oferece recursos para tentarmos

compreender como se dá o processo de constituição do indivíduo. A criança

tende para a fase adulta, e a transformação, segundo essa teoria, ocorre por

meio da interação das condições orgânicas do ser humano com o meio no qual

ele está inserido e, nesse processo, os chamados conjuntos funcionais

(conhecimento, afetividade e movimento) se desenvolvem como um todo.

Dessa forma, os estudos wallonianos podem nos ajudar a compreender o

indivíduo partindo dessa noção de integração e totalidade.

Referente à educação, apesar de não ter proposto uma teoria

pedagógica e tampouco ter sido criador de um método pedagógico, Wallon

sempre demonstrou grande interesse por ela. Em sua teoria, conforme mostra

Almeida (2007), ideias pedagógicas estão implícitas, podendo indicar caminhos

para pensarmos sobre o desenvolvimento dos indivíduos inclusive como ele

ocorre no meio escolar. Por outro lado, sua atuação como professor em

universidades, sua dedicação à Sociedade Francesa de Pedagogia e ao grupo

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Francês de Educação Nova, e sua participação no Projeto Langevin-Wallon5

apontam sua clara preocupação com os aspectos relacionados à educação.

Quanto à sua teoria, primeiramente serão abordados, de modo sucinto,

os seguintes pontos:

2.1 – Integração organismo-meio e integração entre os conjuntos

funcionais, priorizando a dimensão afetiva.

2. 2 – O papel dos meios e dos grupos na constituição da pessoa.

Oportunamente, no presente estudo, esses itens serão aprofundados a

partir de textos do próprio Wallon e de estudiosos do mesmo. Cabe mencionar

que, ao apresentar os conjuntos funcionais, o destaque será dado aos

aspectos referentes à afetividade dos aprendizes de Língua Inglesa. Essa

escolha foi feita por serem as emoções e sentimentos do aluno o interesse

desta pesquisa, e, através deste estudo, poderemos conhecer qual o papel dos

aspectos afetivos no processo de ensino e aprendizagem de Língua Inglesa em

dois diferentes contextos.

2.1 - Integração organismo-meio e integração entre os conjuntos funcionais, priorizando a dimensão afetiva

Como exposto na primeira parte deste capítulo, a teoria walloniana tem

um enfoque interacionista, ou seja, é da interação das características genéticas

5 “O projeto Langevin-Wallon foi o resultado do trabalho, por três anos (1945 a1947), de uma Comissão de vinte membros nomeados pelo Ministério da Educação Nacional, com a incumbência de reformar o sistema de ensino francês após a Segunda Guerra. Os participantes dessa comissão foram distribuídos em quatro sub-comissões, cabendo a Wallon coordenar a que estudaria e proporia medidas para a formação de professores. Inicialmente, o físico Langevin foi designado presidente da Comissão, e, após sua morte, a presidência ficou a cargo de Wallon. A diretriz norteadora do Projeto foi construir uma educação mais justa para uma sociedade mais justa, com base na solidariedade (...)” (MAHONEY, 2006, p. 3).

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do próprio indivíduo com a variedade dos fatores ambientais que o ser humano

se desenvolve (MAHONEY, 2004). A propósito do meio, ele pode colocar

exigências que o indivíduo necessita para responder a sua adaptação e

oferece recursos para auxiliá-lo nessa adaptação. Nesse processo, além da

mudança que ocorre no indivíduo, há também alteração do meio exterior.

Para melhor compreender todo o desenvolvimento pelo qual o homem

passa desde o nascimento até a fase adulta, Wallon dividiu-o em estágios6:

– Impulsivo Emocional (0 a 1 ano)

– Sensório-motor e projetivo (1 a 3 anos)

– Personalismo (3 a 6 anos)

– Categorial (6 a 11 anos)

– Puberdade e adolescência (11 anos em diante)

A respeito desses, Mahoney (2007, p. 12) esclarece-nos que:

Os estágios só adquirem sentido dentro dessa sucessão temporal,

uma vez que cada um deles é gestado, preparado pelas atividades do

estágio anterior e desenvolve atividades que prepararão a emergência

do próximo. Então, será possível perceber quais os comportamentos

predominantes em cada um deles. As situações às quais a criança

reage são as que correspondem aos recursos de que dispõe.

Dentro do recorte desta pesquisa, daremos um destaque para o último

estágio – Puberdade e adolescência – por ser esse estágio o foco do nosso

trabalho.

6 Esses estágios estão descritos em MAHONEY, A. A. e ALMEIDA, L. R. (Orgs.). Henri Wallon: psicologia e educação. 11ª ed. São Paulo: Loyola, 2012.

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O estágio da puberdade e adolescência é apresentado pela teoria

walloniana como a última e movimentada etapa que separa a criança do adulto

que ela tende ser. Nessa fase ocorrem modificações fisiológicas impostas pelo

amadurecimento sexual, provocando na criança profundas transformações

corporais acompanhadas por uma transformação psíquica.

Segundo Wallon (1975), no jovem voltam a preponderar as funções

afetivas, isto é, a construção da pessoa: sua identidade vai ocupar o primeiro

plano, parecendo absorver e monopolizar as disponibilidades do jovem. A vida

afetiva torna-se muito intensa e toma um relevo que muitas vezes surpreende o

adulto. Na adolescência, uma das características mais marcantes é a

ambivalência de atitudes e sentimentos, resultantes da riqueza da vida afetiva

e imaginativa que traduz o desequilíbrio interior: alternam-se, no jovem, o

desejo de oposição e conformismo, posse e sacrifício, renúncia e aventura. A

esse respeito, afirma Wallon (1975):

Há o lado de sonhos vãos, verdadeiros riscos, mas há também

elementos positivos, e é essa parte positiva que o educador

deve esforçar-se por pôr em evidencia. É preciso utilizar esse

gosto de aventura, esse gosto de ultrapassar a vida cotidiana,

esse gosto de se unir a outros que têm os mesmos

sentimentos, as mesmas aspirações, esse gosto de ultrapassar

o ambiente atual, para ajudar a criança a fazer sua escolha

entre os valores em presença, que podem ser por vezes

valores criminosos, mas também valores sociais, valores

morais.

Trata-se, portanto, de uma escolha de valores morais que o jovem

precisa fazer e implica o estabelecimento de relações com a sociedade que

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podem ser adequadas ou não, conforme a orientação recebida dos adultos de

seu meio ambiente. Para possibilitar que essa orientação aconteça de forma

adequada, Wallon (1975, p. 224) indica que o professor deve evitar que se

estabeleçam entre seus alunos distinções baseadas em sua origem social ou

ética. Deve tomar em consideração as relações que uma sociedade cada vez

mais igualitária exigirá das crianças que estão diante dele nos bancos da sala

de aula.

Segundo Wallon, este estágio só é atingido quando o desenvolvimento

da pessoa e dos conhecimentos pode orientar-se segundo opções e fins

definidos, ou seja, esse plano só é alcançado quando o desenvolvimento da

pessoa começa a ser orientado para objetivos precisos no trabalho e no

estudo, e suas escolhas têm fins definidos. A partir desse momento, observa

Wallon, a adolescência só tem de assegurar o equilíbrio entre possibilidades

psíquicas ainda confusas e as realidades do amanhã.

Mahoney (2007) nos mostra ainda que para entendermos a leitura que

Wallon faz sobre esse processo de desenvolvimento não podemos ter um

pensamento dicotomizado, isto é, não podemos pensar no indivíduo de

maneira fragmentada. Devemos pensá-lo a partir do conjunto dos elementos

motor, cognitivo e afetivo. Isso significa que esses componentes ou conjuntos

funcionais formam um sistema integrado, pois cada um deles participa da

constituição dos outros – o psiquismo funciona como uma unidade.

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A seguir serão apontados separadamente os conjuntos funcionais dando

maior ênfase ao conjunto afetivo. É importante destacar, porém, a colocação

que Mahoney (2004, p. 16) faz sobre os mesmos e sobre o fato de dividi-los

para se fazer uma análise: “Os conjuntos funcionais são, então, constructos ou

conceitos de que a teoria se vale para descrever e explicar a vida psíquica; são

recursos abstratos de análise para separar didaticamente o que na realidade é

inseparável: o indivíduo”. Nesse sentido, ao se separar os conjuntos funcionais,

o intuito é simplesmente de descrevê-los, pois há clareza de que são

inseparáveis no processo de desenvolvimento do homem.

2.1.1 – O ato motor

O conjunto motor segundo a teoria walloniana oferece as funções

responsáveis pelos movimentos das várias partes do corpo que, ao se

combinarem, constituem o ato motor, que é um dos recursos mais organizados

e preponderantes para o ser humano atuar no ambiente. É, portanto,

indispensável para a constituição do conhecimento e para a expressão das

emoções, portanto inerente – junto ao cognitivo e ao afetivo – à constituição da

pessoa.

Wallon (2007) chama a atenção para a questão de como devemos

encarar o ato motor. Para o psicólogo francês, não podemos compreendê-lo

como simples contrações musculares, ou seja, não se pode reduzi-lo a uma

abstração fisiológica ou mecânica somente. Ele afirma que “(...) seria ridículo,

com efeito, limitar a significação da linguagem, por exemplo, ao simples fato da

fonação e não distinguir gestos, mesmo externamente parecidos, conforme as

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situações que os motivam e o tipo de resultados aos quais tendem” (WALLON,

2007, p. 127).

Segundo o teórico, o movimento já se inicia na vida fetal. Ao longo do

desenvolvimento do individuo, o ato motor se aperfeiçoa; isto quer dizer que o

bebê apresenta um movimento global, indiferenciado do corpo, mas ele passa

a ser ajustado com o tempo dependente das situações provocadas pelo meio e

possibilitadas pela maturação funcional.

2.1.2 – O conhecimento

Assim como o movimento, o conhecimento apresenta-se de forma global

e confusa nos primeiros anos de vida e se aprimora ao longo do processo de

desenvolvimento, na interação com o ambiente, principalmente com o meio

social. Do mesmo modo que o ato motor, o indivíduo precisa ter maturidade

funcional para certos aprendizados. A maturidade de certas áreas do cérebro e

a mielinização dos circuitos nervosos é condição necessária para a aquisição

do conhecimento.

2.1.3 – A dimensão afetiva

A afetividade “refere-se à capacidade, à disposição do ser humano de

ser afetado pelo mundo externo e interno por sensações ligadas a tonalidades

agradáveis ou desagradáveis” (ALMEIDA e MAHONEY, 2007, p. 17). Ela

também já se expressa na criança a partir de seu nascimento e em cada

estágio de desenvolvimento pode ser evidenciada de diferentes maneiras. Isso

quer dizer que, conforme os estudos wallonianos, a cada fase é possível

perceber uma predominância de algum conjunto funcional. Com relação ao

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conjunto afetivo, podemos notar sua maior evidência nas etapas em que o

indivíduo está mais voltado para si, que é o caso do estágio do personalismo (3

a 6 anos) e do estágio da puberdade e adolescência (11 anos em diante), foco

da nossa pesquisa.

Quando chega na fase adulta, após ter passado pelas outras etapas no

seu desenvolvimento e diferentemente de como estava nelas, o indivíduo está

mais seguro de si. Ele pode conhecer melhor suas possibilidades, valores,

motivações e sentimentos, possibilitando escolhas mais adequadas nas

diferentes situações. Nesse momento de maturidade, consegue centrar-se em

si e também no outro; há um equilíbrio entre o conhecimento de si e o

conhecimento do mundo (MAHONEY e ALMEIDA, 2012).

No entanto, isso não quer dizer que seu processo de desenvolvimento

tenha chegado ao fim. Na troca com o meio no qual se insere, suas

transformações continuam apesar de ter atingido um estado de maior

equilíbrio. Ao atuar no mundo, o adulto continua influenciando-o ao mesmo

tempo em que permanece sendo influenciado por ele. No tocante às questões

afetivas, isso pode provocar uma variedade de emoções e sentimentos.

Vale ressaltar um ponto importante que a teoria walloniana relaciona à

afetividade; ela apresenta três momentos de evolução: emoção, sentimentos e

paixão.

A afetividade é um conceito amplo que, além de envolver um

componente orgânico, corporal, motor e plástico, que é a emoção,

apresenta também um componente cognitivo, representacional que

são os sentimentos e a paixão. O primeiro componente a se diferenciar

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é a emoção, que assume o comando do desenvolvimento logo nos

primeiros meses de vida; posteriormente, diferenciam-se os

sentimentos e, logo a seguir, a paixão. (MAHONEY e ALMEIDA, 2007)

A emoção é visivelmente percebida, ou seja, é expressa logo no

momento que uma representação foi ativada no indivíduo. Um bom exemplo é

o choro; uma pessoa pode chorar ao ver uma imagem que a deixa entristecida.

No caso do sentimento, não é direto como a emoção; o indivíduo expressa de

forma representacional o que sente. Complementando o exemplo acima, após

o choro, depois que visualizou a imagem, a pessoa pode falar sobre o que

sentiu naquele momento. A paixão evidencia um autocontrole; há uma tentativa

de se dominar uma situação não deixando que as emoções venham à tona.

Alguns comportamentos são compreensíveis em uma criança que acabou de

ganhar um irmãozinho, e um bom exemplo disso é o caso do ciúme.

2.2 O papel dos meios e dos grupos na constituição da pessoa

Analisando os estudos wallonianos, percebemos o quão importante é o

meio no processo de desenvolvimento do homem. “O meio é o complemento

indispensável do ser vivo. Ele deverá corresponder às suas necessidades e às

suas aptidões sensório-motoras e, depois, psicomotoras.” (WALLON, 1986, p.

168). Ademais, o ser e o mundo em que vive se complementam, há uma troca

entre eles, e suas transformações são mútuas.

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Em um meio pode existir diversos grupos como a família7, os grupos que

se formam nas escolas, no ambiente de trabalho, etc., e são nos grupos que

ocorrem as relações interpessoais e, portanto, onde os indivíduos se

humanizam. Ao longo de sua vivência, o individuo pode participar de uma

variedade enorme de grupos desempenhando diferentes papéis: o papel de

filho, de irmão, de pai, de aluno, de namorado, de marido, de funcionário, etc.

Quando a pessoa desempenha papéis dentro dos grupos, ela vai

correspondendo ou não às suas normas, e é nesse processo que se conhece,

formando sua personalidade, enfim, constituindo-se. Na concepção walloniana,

meio e grupo são conceitos distintos, diferentes entre si, mas que em certas

situações podem coincidir e em outras se superpor. Ambos, meio e grupo, são

complementos indispensáveis ao ser humano, pois são partes constitutivas da

pessoa.

Nos meios e, consequentemente, nos grupos, as pessoas relacionam-se

com as outras. Nesse processo, de acordo com os estudos wallonianos, as

relações não são lineares, ou seja, há relações ora de oposição, ora de

acolhimento. É nessa troca que o outro é interiorizado pelo indivíduo; isso quer

dizer que é nas relações que a parte psíquica vai se formando, pois o que é

vivenciado com o outro entra em contato com os conhecimentos do individuo,

estes vão reorganizando-se e, assim, a pessoa vai se constituindo. O outro é

elemento fundamental na constituição do individuo (WALLON, 1986).

7 “Wallon esclarece que certos meios, como a família por exemplo, são ao mesmo tempo grupos, porque sua existência baseia-se na reunião de indivíduos que mantêm entre si relações que determinam o papel ou o lugar de cada um no conjunto.” (ALMEIDA, 2007, p.67)

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A presença do outro humano no processo de aprendizagem é primordial

e indispensável. A aprendizagem é um dos motores do processo de

desenvolvimento, também é um processo contínuo, constante, em aberto. Ao

relacionar-se com o meio humano e físico, a criança está sempre aprendendo.

Segundo Almeida (2010, p. 19), a aprendizagem é, além dos automatismos

naturais, mais um recurso que a criança dispõe para responder às exigências

de adaptação ao meio humano e físico que a rodeia e constituir-se como

indivíduo. Aprender é transformar-se na relação com o outro.

Todos esses aspectos são importantes para a investigação do papel dos

aspectos afetivos a qual se propõe esta pesquisa. Passo a tratar no capítulo

seguinte da metodologia escolhida para a realização desta investigação.

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CAPITULO 3 - PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

3.1 – Produção das Informações

Como mencionado algumas vezes no decorrer desse trabalho, esta

pesquisa busca discutir qual o papel dos aspectos afetivos no processo de

ensino-aprendizagem da Língua Inglesa em dois diferentes contextos escolares

– escola regular e centro de línguas.

Participaram deste projeto de pesquisa 12 alunos que estudam em uma

Escola Pública do interior da cidade de São Paulo e ao mesmo tempo fazem o

curso de Inglês no Centro de Línguas (CEL) desta mesma escola. A faixa etária

destes alunos varia entre 14 a 18 anos, e todos estão matriculados no ensino

médio da rede estadual de ensino. Essas escolas estão localizadas em uma

cidade do interior de São Paulo e pertence à rede pública de ensino.

Escolhi a rede pública estadual de ensino pelas referências que tenho

tido sobre as dificuldades enfrentadas tanto pelos professores como pelos

alunos no processo de aprendizagem da Língua Inglesa. Optei por uma escola

que ensina inglês tanto na grade curricular como no centro de línguas.

É neste contexto educacional que encontro razões para justificar a

importância desta pesquisa. A primeira razão refere-se à carência de estudos

mais direcionados para os CELs.

A segunda e última razão refere-se à contribuição dessa pesquisa para os

professores em serviço na rede pública. Sabe-se como é importante para o

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professor poder refletir sobre sua prática ao longo de sua carreira (ALMEIDA

FILHO, 1999). Este trabalho pretende contribuir com uma reflexão sobre a

relação afetiva entre professores e alunos no processo de ensino e

aprendizagem de Língua Inglesa nessas escolas e proporcionar aos alunos e

professores uma oportunidade de tomarem consciência da importância dos

aspectos afetivos no seu cotidiano escolar.

Do ponto de vista ideal se espera que os dados e as informações obtidas

sejam utilizados de forma positiva mostrando para o professor (de Língua

Inglesa) a importância dos aspectos afetivos no processo de ensino-

aprendizagem de Língua Inglesa, e de que forma favorecem a aprendizagem

do aluno, para que esta seja uma relação (entre professor e aluno) prazerosa e

motivadora, favorecendo seu desenvolvimento cognitivo, social e afetivo. Assim

sendo, essa proposta dirigiu-me a realização de uma pesquisa de abordagem

qualitativa.

Na tentativa de aprofundar e alcançar um bom nível de verdade8 nas

investigações sobre ‘como’ acontecem às interações no contexto da sala de

aula, vários pesquisadores têm buscado a metodologia qualitativa (Lazaraton,

1995). Nessa perspectiva, o pesquisador se preocupa mais em descrever do

que em quantificar dados obtidos, muito embora seja possível e, por vezes,

necessário, quantificar os dados para se fazer algumas generalizações para e

sobre outros contextos.

8 Para Lazaraton (1995, p. 46), o termo verdade não quer ser interpretado como “verdade absoluta, nem causal ou axiomática, mas uma relação de acordos entre a observação, descrição e interpretação, entre o observador e o participante, entre o relator e sua audiência”.

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3.1.1 Procedimento de coleta de informações

O período de coleta de dados se estendeu por todo o segundo semestre

de 2013. Tendo em vista a natureza e os objetivos desta pesquisa, optamos

por empregar a abordagem qualitativa de pesquisa uma vez que essa

metodologia procede à observação de fatos e fenômenos exatamente como

ocorrem no real, objetivando compreender e explicar o problema pesquisado,

como explana Lazaraton (1995, p. 35):

As áreas de estudo, como a Antropologia, Sociologia, Psicologia, Economia, História, Arquitetura, Pedagogia, Política e outras, usam frequentemente a pesquisa de campo para o estudo de indivíduos, grupos, comunidades, instituições, com o objetivo de compreender os mais diferentes aspectos de uma determinada realidade. Exige também a determinação das técnicas de coleta de dados mais apropriadas à natureza do tema e, ainda, a definição das técnicas que serão empregadas para o registro e análise. Dependendo das técnicas de coleta, análise e interpretação dos dados, a pesquisa de campo poderá ser classificada como de abordagem predominantemente quantitativa ou qualitativa.

Portanto, a escolha se deu por uma metodologia que abordasse a

observação de fatos e fenômenos exatamente como ocorrem no real, e para

que o objetivo deste trabalho fosse alcançado, a coleta de dados desta

pesquisa foi dividida em duas partes. Na primeira optamos, pela aplicação de

duas redações em português como os seguintes temas:

Hoje é dia de aula de Inglês no Centro de Línguas, eu imagino

que...

Hoje é dia de aula de Inglês na Escola, eu imagino que...

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Estas redações foram utilizadas com o objetivo de apreender as

interações professor-aluno, aluno-aluno nos dois contextos (escola e centro de

línguas). Optamos pela redação, por ser essa uma situação rotineira de sala de

aula e os deixaria à vontade, permitindo-me “ouvi-los” com a intenção de

conhecer e entender melhor suas emoções e sentimentos.

A proposta da elaboração de redação pelos alunos é outro recurso

para produção de informações (...). Sua vantagem reside no fato de

trabalhar com o aluno em seu próprio ambiente escolar, na sala de

aula, contando com um limite de tempo que lhe é familiar – o tempo de

aula – para realizar a tarefa. Isso propicia um clima livre de ameaças,

porque está dentro de sua rotina escolar diária. É importante que a

proposta do tema da redação seja bem explicitada, que não seja

invasiva ao aluno e que tenha relação clara com o objetivo da

pesquisa. (ALMEIDA, 2012, p. 21)

Após a realização da primeira etapa – aplicação e análise das redações –

foram levantados dados (vide capítulo 4) que nos auxiliaram na elaboração de

um questionário final (vide anexo 3) que foi passado para os alunos

participantes com a finalidade de:

1) verificar o que eles entendem por afetividade;

2) qual a relevância que eles dão para a dimensão afetiva nas aulas de

Língua Inglesa.

A escolha pela aplicação do questionário se deu por ser um instrumento

de coleta de dados que serve para coletar as informações da realidade e,

segundo Gil (1999, p. 128), pode ser definida “como uma técnica de

investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões

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apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de

opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas

etc.”. O mesmo autor apresenta as seguintes vantagens do questionário sobre

as demais técnicas de coleta de dados:

possibilita atingir grande número de pessoas, mesmo que estejam

dispersas numa área geográfica muito extensa, já que o questionário pode

ser enviado pelo correio;

garante o anonimato das respostas;

permite que as pessoas o respondam no momento em que julgarem mais

conveniente;

não expõe os pesquisadores à influência das opiniões e do aspecto

pessoal do entrevistado. (Gil p. 128-129)

Estas duas etapas foram realizadas com o intuito de levantar dados que

nos auxiliassem na busca de respostas para o nosso problema de pesquisa.

3.1.2 Etapas percorridas para a coleta das informações

1º Momento: Entrei em contato, por meio do telefone, com a

coordenadora do Centro de Línguas de uma cidade do Interior de São Paulo

para saber se poderia visitá-los explicando assim o motivo desta pesquisa. A

mesma, atenciosamente, marcou uma reunião comigo, que durou cerca de

uma hora. Após essa conversa, a coordenadora consentiu através de um

documento (vide anexo 4) em participar desta pesquisa e marcou um dia para

que eu fosse conhecer a turma que participaria deste projeto. A escolha desta

turma se deu por ser a única turma de inglês do período matutino acessível a

esta pesquisadora.

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2º Momento: Primeiramente apresentei-me para a turma participante,

falando sucintamente de minha trajetória profissional e, em seguida, expliquei

meu projeto de pesquisa. Foram aplicadas duas redações em português, com

os temas já descritos anteriormente, aos 12 alunos participantes desta

pesquisa. Esta coleta de dados ocorreu na sala de aula e teve duração de

aproximadamente 30 minutos. Após o término das redações, agradeci e as

levei para casa para iniciar a análise.

3º Momento: Através da análise das redações, pude levantar dados que

contribuíram para a elaboração de um questionário cuja finalidade já foi

apresentada anteriormente.

4º Momento: Com o questionário já elaborado em mãos, marquei um

encontro com a mesma turma de alunos em que apliquei as redações, para

que assim pudessem responder o questionário em questão. Após a aplicação

deste questionário, parti para a análise final dos dados.

3.1.3. Procedimentos para análise e discussão das informações

Elaborei inicialmente quadros para transcrever as redações dos alunos,

de per si. Em seguida fiz o mesmo com as respostas dos questionários. Passei

então a analisá-los priorizando os aspectos afetivos.

Neste capítulo, apresentei os parâmetros da pesquisa qualitativa,

especificamente, os contextos educacionais em que trabalho e o perfil dos

alunos participantes. Discorri sobre os procedimentos e os instrumentos de

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coleta utilizados: redação e questionários. Passarei, no capítulo seguinte, à

apresentação dos resultados e à análise dos dados.

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CAPITULO 4 - ANÁLISE E DISCUSSÃO DAS INFORMAÇÕES

A análise revela o papel dos aspectos afetivos no processo de ensino-

aprendizagem de Língua Inglesa na visão dos alunos nos dois diferentes

contextos escolares (escola regular e centro de línguas). O capítulo está

dividido em duas partes, a primeira trata da análise das redações que foram

utilizadas com o objetivo de apreender as interações professor-aluno, aluno-

aluno nos dois contextos e prestar-se ao levantamento de questões para a

elaboração do questionário. A segunda buscou verificar o que eles entendem

por afetividade e qual a relevância dada para a dimensão afetiva nas aulas de

Língua Inglesa.

4.1 - Análise das redações

Em um primeiro momento, elaborei dois quadros que me permitiram

tratar os dados de modo a levantar primeiras categorias de análise,

explicitando, assim, os significados de como suas “falas” foram apreendidas

por nós.

Como apliquei as duas redações com temas diferentes, fiz a análise de

cada uma separadamente, e para preservar a identidade de cada aluno, optei

por identificá-los pela letra A, seguida de numeração sequencial.

O Quadro 1 corresponde à transcrição da redação feita com o tema:

Hoje é dia de aula de Inglês no Centro de Línguas, eu imagino que...

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Quadro 1 – Aula de Inglês no Centro de Línguas, na perspectiva dos alunos

9 (...) é a interpretação da fala do pesquisado pelo pesquisador. 10 (...) O que o aluno espera da aula. 11 (...) como o pesquisador aprendeu (interpretou) a fala do outro.

Registro das redações Explicitação de significados9

Expectativa do aluno nas aulas de Inglês10

Sentimento do aluno em relação à aula

que terá. O aluno sente11

A1 – irei viajar novamente, conhecerei mais coisas a respeito do que iremos tratar, seja da cultura, comida, transporte e até as fantasias e magias da Língua Inglesa. Pelo lado bom da aula é que não fala sobre números, elementos químicos e coisas parecidas. Uma aula viva, uma aula com lazer.

As aulas promovem oportunidade para

viajar, conhecer novas culturas, meios de

transporte e comidas típicas.

O aluno compara o do

ensino de Língua Inglesa ao de outras

disciplinas.

Valoriza a aula de Língua Inglesa como uma aula viva e como

lazer.

Deseja aprender

Inglês para viajar e conhecer novas

culturas.

Satisfação por

perceber que a Língua Inglesa é cheia de fantasias e magias.

Satisfação em

aprender o inglês por ser uma aula que não fala sobre números e elementos químicos.

A2 – tenham novos desafios, que tenha aprendizagem, não só na escrita, como na oral, e ultimamente tenho saído satisfeito das aulas, pois além de ter conteúdo a aula é bem descontraída.

As aulas promovem a

aprendizagem tanto da habilidade escrita

quanto da habilidade oral.

Espera que a aula

garanta avanços na escrita e na oralidade.

Percebe que ultimamente a aula

apresenta conteúdo e é descontraída.

Espera que a aula

garanta avanços na escrita e na oralidade,

como também seja uma aula

descontraída.

Satisfação porque a aula tem conteúdo e

descontração.

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A3 – a aula será boa, pois tenho muita coisa a aprender, eu gosto de Inglês e sei que isso será bom para minha carreira profissional. Imagino que será uma aula produtiva, o professor e os alunos estão em boa sintonia e isto contribui para o andamento das aulas.

O aluno valoriza a aula

e o conteúdo da disciplina de Língua

Inglesa, pois contribuirá para seu futuro profissional.

Aprender a Língua

Inglesa como um fator importante para a sua carreira profissional

Satisfação ao

aprender a Língua Inglesa, pois para ele,

é um idioma importante para seu

futuro.

A4 – vou aprender novas coisas, desenvolver a minha habilidade oral, dar risada, no início vamos fazer uma oração, fazer lição e debater assuntos pessoais do dia a dia.

O aluno reconhece que irá aprender

novos conteúdos nas aulas e aprimorar a sua habilidade oral.

As aulas são

divertidas e seguem uma rotina: os alunos fazem uma oração,

lição e discutem assuntos do cotidiano.

Desenvolver a habilidade oral

Ter uma aula

descontraída e com conteúdo significativo.

Satisfação por

desenvolver a prática oral, como também

sente satisfação pela aula ser descontraída e falar sobre assuntos

do cotidiano.

A5 – aprenda alguma coisa, que meu conhecimento aumente. O Inglês vai ser muito importante para mim no meu futuro porque vai ser usado dependendo da empresa. Espero aprender Inglês tanto na escola quanto no curso.

O aluno valoriza a aula

e o conteúdo da disciplina de Língua

Inglesa, pois contribuirá para seu futuro profissional.

Expectativa com a aprendizagem da

Língua Inglesa tanto na escola quanto no

CEL.

Quer aumentar seu conhecimento no

idioma.

Aprender a Língua Inglesa como um fator importante para a sua carreira profissional.

Deseja aprender a

Língua Inglesa tanto na escola quanto no

CEL.

Satisfação ao

aprender inglês, pois o ajudará a se destacar

no mercado de trabalho.

A6 – o meu conhecimento em Inglês vai aumentar, vou aprender palavras novas e tirar as minhas dúvidas sobre elas ou por qualquer outra coisa que eu não entenda, a professora vai escolher algum assunto novo e nós vamos falar sobre ele e desenvolver outros assuntos a partir dele.

O aluno avalia as aulas como uma oportunidade de

aumentar seu conhecimento na

Língua Inglesa e de tirar dúvidas.

Dá importância para a

aprendizagem de vocabulário nas aulas.

Valoriza a escolha dos

temas por parte da professora.

Para este aluno, as aulas no CEL vão proporcionar um

avanço na aprendizagem do

idioma, promoverá a ampliação do seu

vocabulário e permitirá sanar as suas dúvidas.

Deseja aprender

assuntos novos e falar sobre eles.

Satisfação pelas aulas

e pelas escolhas da professora.

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A7 – hoje a professora antes de começar a aula, ela vai recolher os celulares dos alunos para que os celulares não atrapalhem a aula. Depois disso, imagino que a professora vai dar continuidade na aula de inglês, lendo com nós cada parágrafo do texto e explicando o significado de algumas palavras desconhecidas. Depois imagino que ela vai querer passar alguns exercícios sobre o texto que lemos. Fazemos o exercício, ela espera todos terminarem, e corrigimos juntos. E terminamos a aula com uma oração.

Imagina que a

professora seguirá a rotina de sempre:

recolher os celulares, dar continuidade a aula, ler um texto, explicando

cada palavra e seu significado, aplicará

exercícios sobre o texto lido e os alunos irão

resolvê-los e logo serão corrigidos pela

professora. Finalizará a aula com

uma oração

Que a aula tenha a rotina de sempre.

Expectativa pela aula

que vai ter.

A8 – “eu possa aprender, entender e compreender essa língua, para que eu possa falar fluente e não esquecer. Pois o inglês vai trazer muitos benefícios bons para mim e para o meu currículo, pois o inglês é uma língua muito importante, porque qualquer lugar tem um pouco do inglês. Imagino que vou conseguir ir para algum país e conseguir conversar com as pessoas e compreender o que está escrito, ver um trailer de um filme, ou um próprio filme e conseguir entender um pouco.

O aluno valoriza a aprendizagem do

idioma, pois lhe permite realizar atividades

pessoais e profissionais

Imagina que aprender inglês lhe permitirá

viajar e se comunicar com as pessoas, como também lhe permitirá

ver e compreender um filme.

Aprender as habilidades e

competências da língua (ler, escrever, ouvir e falar) e não

esquecê-las.

Promover benefícios pessoais e

profissionais.

Aprender o inglês para poder viajar a outros

países e saber se comunicar com as

pessoas.

Aprender inglês para poder realizar

atividades cotidianas, como ver um filme, por

exemplo.

Satisfação em

aprender a língua.

Valorização ao aprender o inglês para

se destacar pessoalmente e

profissionalmente.

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A9 – vou conhecer e conviver com pessoas novas, aprender coisas novas, e estudar e conhecer o idioma mais falado do mundo.

O aluno valoriza o

convívio com outras pessoas.

Reconhece a

importância do idioma.

Deseja conhecer e conviver com novas

pessoas

Aprender o idioma mais falado no mundo.

Satisfação por

aprender a língua e fazer partes das aulas,

pois irá conhecer e conviver com outras

pessoas.

A10 – terei que sair da escola e ir o mais rápido possível para não chegar atrasado no curso. Durante o curso, vou prestar atenção para ampliar e melhorar o meu vocabulário o máximo possível, e a cada memorização de uma nova palavra vou sentir aquela satisfação por saber que certamente esse conhecimento me será útil. Imagino que durante o curso, me sentirei mais próxima da cultura americana, para me contentar enquanto não a conheço de perto. Imagino que todo o conhecimento que virei a ter me servirá com extrema importância.

O aluno se preocupa em

não chegar atrasado nas aulas.

Reconhece a

importância de prestar atenção na fala do

professor.

Imagina que com as aulas poderá se sentir

mais próximo da cultura americana.

Valoriza a Língua

Inglesa como disciplina importante para seu

futuro.

Deseja aprender o

inglês para aprimorar seu vocabulário.

Quer aprender Inglês

para ter oportunidades para viajar e conhecer da cultura americana

de perto.

Satisfação ao

aprender a língua e saber que a sua

aprendizagem será útil para seu futuro.

A11 – estarei em uma sala de aula, com os melhores alunos e bem dedicados, aprenderei muitas coisas da língua americana e coisas fundamentais como leitura, aprender escrever, interpretação de texto, e conhecer pessoas novas e interagir com elas.

O aluno reconhece e

valoriza os seus colegas de curso, e afirma que as aulas lhe permitem

aprender muitas coisas da língua, como

também aprende muitas habilidades e

competências da língua.

As aulas permitem conhecer e interagir com pessoas novas.

Conviver com alunos

bons e dedicados.

Aprender as habilidades e as competências do

idioma.

Conhecer e conviver(interagir) com

novas pessoas.

Satisfação com as

aulas.

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Ao analisarmos o Quadro 1, percebemos que as aulas de inglês nos

centros de línguas possibilita uma boa interação entre professor-aluno e aluno-

aluno em classe, e este fator acaba favorecendo a aprendizagem da Língua

Inglesa:

(...) Imagino que será uma aula produtiva, o professor e os alunos estão em boa sintonia e isto contribui para o andamento das aulas. (A3)

Nota-se, também, que as aulas dão um enfoque maior na habilidade

oral, o que acaba motivando o aluno não somente a aprender a ler e escrever

no idioma, como também a comunicar-se para entender e ser entendido. Ao

mesmo tempo o professor realiza atividades que levam o aluno a aprender o

idioma de forma mais lúdica (divertida), como também os envolve em tarefas

que abordam temas de seu cotidiano:

(...) tenham novos desafios, que tenha aprendizagem, não só na escrita, como na oral, e ultimamente tenho saído satisfeito das aulas, pois além de ter conteúdo a aula é bem descontraída. (A2)

(...) vou aprender novas coisas, desenvolver a minha habilidade oral, dar risada, no início vamos fazer uma oração, fazer lição e debater assuntos pessoais do dia a dia. (A4)

Outro fator apontado pelos participantes com relação ao Centro de

línguas, diz respeito à oportunidade que esse espaço traz de conhecer novas

A12 – que eu vá bem no curso e na escola, que eu tire boas notas. Eu imagino que terá prova e será difícil.

O aluno percebe a aprendizagem como forma de ir bem na escola e no curso e de tirar boas notas.

Deseja ir bem e tirar boas notas na escola e no centro de línguas.

Desejo em aprender a língua Expectativa em ir bem no curso.

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pessoas, permitindo, assim, aprender um novo idioma e ao mesmo tempo

conseguir comunicar-se com elas na Língua Inglesa.

(...) estarei em uma sala de aula, com os melhores alunos e bem dedicados, aprenderei muitas coisas da língua americana e coisas fundamentais como leitura, aprender escrever, interpretação de texto, e conhecer pessoas novas e interagir com elas. (A11)

Em síntese, uma boa interação professor-aluno, aluno-aluno, aulas que

promovam a aprendizagem tanto da habilidade escrita quanto da habilidade

oral e a participação do aluno em atividades lúdicas e que envolvam seu

cotidiano são fatores apontados pelos alunos para que a aprendizagem da

língua aconteça. O que podemos inferir é que o aluno associa a aula de Inglês

nos centros de línguas a uma aula descontraída com conteúdo significativo e

de grande importância para seu futuro pessoal e profissional, como também é

um local de boas oportunidades para se relacionar e conhecer novas pessoas.

Segundo a teoria walloniana, o meio, que inclui os objetos físicos e as

relações humanas, é de extrema importância para o desenvolvimento da

pessoa. Nesse sentido, é de fundamental importância que o ambiente físico

das instituições seja planejado e estruturado de acordo com as características

e possibilidades dos alunos. O papel do outro na construção do conhecimento

é indiscutível. Dessa forma, as interações entre professor-aluno, aluno-aluno

tornam-se condição para a construção não só de conhecimentos, mas da sua

personalidade como um todo.

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O professor deixa de ser o agente exclusivo de informação e formação,

uma vez que a interação com as outras crianças e jovens também assume um

papel fundamental no desenvolvimento e aprendizagem de cada uma delas.

Seu papel, contudo, é de extrema importância já que é ele quem irá possibilitar

e mediar as interações dos alunos entre si e delas com os objetos de

conhecimento. A prática pedagógica precisa ser pautada nas necessidades dos

alunos, aprendido como um todo e promover seu desenvolvimento em todos os

aspectos: afetivo, cognitivo e motor.

Nos mesmos moldes do Quadro 1, elaboramos o Quadro 2, o qual

corresponde ao registro da redação com o tema: Hoje é dia da aula de inglês

na escola, eu imagino que...

Quadro 2 – Aula de Inglês na escola regular, na perspectiva dos alunos

Registro das redações Explicitação de significados

Expectativa do aluno nas aulas de Inglês

Sentimento do aluno em relação a aula que

terá. O aluno sente

A1 – a professora, na escola, ensina bem o idioma, mas ela ensina o básico. Na escola você aprende um pouco sobre a língua estrangeira, porém eles ensinam apenas pouco sobre aquilo, mas poderiam ensinar mais.

Percebe que a

professora ensina apenas o básico e

poderia ensinar mais. Busca por uma

aprendizagem que lhe traga desafios.

Deseja aprender cada

vez mais a Língua Inglesa.

Insatisfação pelo pouco

que aprende.

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80

A2 – na escola eu irei aprender regras e a gramática. Eu tenho um material de inglês e a professora explicará como e quando usar as regras. Depois de passar o conteúdo novo e explicá-lo ela marcará alguns exercícios para fazermos o que aprendemos há minutos atrás.

A escola tem uma rotina, na qual se aprendem regras

gramaticais: a professora toma o

material (livro texto) explica o conteúdo

novo (regras) e passa exercícios sobre o

conteúdo.

Que a aula tenha a rotina de sempre

Indiferença pela aula

que vai ter.

A3 – irei estudar bastante teoria e conversar menos em inglês, farei mais lições e terei mais provas e lições de casa, mesmo que as aulas sejam “curtas” às vezes cansam.

A professora seguirá a rotina de sempre: mais

teoria e menos conversação, dará lições e provas, e

lições de casa. Mesmo sendo curtas

as aulas cansam.

Deseja aprender não

somente a teoria, mas também aulas de conversação em

inglês.

Insatisfação em ter muita teoria, muitas

lições e pouca conversação.

A4 – vamos ler um texto, questionar sobre ele, debater sobre as respostas e no final responder corretamente, será legal interagir com outros alunos.

A aula tem uma rotina:

ler o texto e debater sobre ele.

É legal interagir com

os colegas.

Deseja desenvolver as habilidades de leitura

e escrita.

Ter um bom relacionamento com os colegas de classe.

Satisfação por aprender

inglês e por poder interagir com os colegas

na aula.

A5 – será diferente de estudar inglês no centro de línguas, pois na escola, é um ensino mais fraco, as pessoas aprendem obrigatoriamente os idiomas na escola.”

Comparação entre as aulas de inglês na escola e no centro de línguas. Valorização das aulas no CEL. Obrigatoriedade do inglês na escola.

Aprender a Língua

Inglesa como um fator importante para sua carreira profissional.

Aprender a Língua

Inglesa tanto na escola quanto no CEL.

Insatisfação porque na escola o ensino é mais

fraco e obrigatório.

A6 – a aula será com muitos exercícios e correções, com vários exercícios passados na lousa. Várias provas e trabalhos, também recuperações e lições de casa.

A escola tem uma rotina com muitos

exercícios passados na lousa, como

também, provas, trabalhos,

recuperações e lições de casa.

Que a aula tenha a rotina de sempre.

Obrigado a cumprir a

rotina.

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A7 – vamos aprender a gramática do inglês, fazer atividades no caderno, debater os exercícios, será um pouco rápido, será obrigatoriamente.

A rotina será

obrigatoriamente cumprida: aprender gramática e debater

exercícios.

Obrigatoriedade da realização das

atividades na escola.

Que a aula tenha a rotina de sempre.

Obrigados a realizar as

atividades de inglês exigidas.

A8 – vamos estudar bastante gramática, já que o ensino é voltado para o vestibular. A aula é mais escrita, pois em um vestibular não importa se você sabe falar a língua, você tem que saber mais escrever, para se preparar para o vestibular.

A aula é voltada para o vestibular, por isso, mais escrita do que

oral.

Aprender inglês para se

preparar para o vestibular.

Aceitação pelo tipo de aula, mais voltada para

o vestibular.

A9 – será muito pouca atividade oral e muita escrita, mas se a classe não cooperar iremos aprender pouca coisa, somos em muitos alunos na classe, e isso as vezes atrapalha.

As aulas terão poucas

atividade de conversação e muita

escrita.

Se não houver a participação de todos os alunos, aprenderão

pouca coisa.

Deseja aprender não

somente a teoria, mas também aulas de

conversação em inglês.

Insatisfação porque

aprende muitas atividades escritas e

pouca oralidade, como também sente

insatisfação com a classe que nem sempre

colabora com o professor.

A10 – a aula está lá. O professor e o material também, mas como em toda matéria escolar, o foco são notas. Fazer o aluno decorar coisas que vai esquecer um dia depois que fizer a prova. O modo de avaliação nem sempre é justo, mas isso não é um problema só das aulas de inglês. Eu acho que as aulas seriam mais proveitosas se as aulas abordassem situações do uso da língua do dia a dia. Acho também que a conversação e a pronúncia deveriam ser mais priorizadas.

O aluno avalia o ensino não só de

inglês, mas de todas as disciplinas.

O foco são as notas. Não importa que o

aluno esqueça o que decorou depois que

fizer a prova. As aulas seriam mais

proveitosas se abordassem situações

do dia a dia.

Deseja aprender a

língua de forma mais livre (na qual o foco não

seja as notas), como também quer um ensino

que lhe traga mais próximo da sua

realidade, do seu cotidiano.

Insatisfação com o

ensino e com a forma de avaliação proposta.

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Por outro lado, ao analisarmos o segundo quadro, podemos observar

que a aula de Língua Inglesa na escola regular é sentida pelos alunos como

obrigatória, fraca e sem desafios, o que, segundo sua visão, acaba

prejudicando o processo de aprendizagem do idioma:

(...) a professora, na escola, ensina bem o idioma, mas ela ensina o básico. Na escola você aprende um pouco sobre a língua estrangeira, porém eles ensinam apenas pouco sobre aquilo, mas poderiam ensinar mais. (A1)

(...) será diferente de estudar inglês no centro de línguas, pois na escola, é um ensino mais fraco, as pessoas aprendem obrigatoriamente os idiomas na escola. (A5)

Nota-se também, na fala dos alunos, que as aulas dão um enfoque

maior na habilidade escrita e no ensino de regras gramaticais, deixando de

lado a habilidade oral, fato que é visto pelo aluno como algo que acaba

desmotivando-o a comunicar-se na língua-alvo e deixando as aulas mais

cansativas, o que relata o aluno abaixo:

A11 – vou aprender porém menos, afinal, a professora não pode acompanhar o desenvolvimento de cada um, ensina a todos ao mesmo tempo e são muitos alunos.

Percebe que aprende

menos porque o número de alunos é

muito grande, mas não culpa a professora por

ensinar a todos ao mesmo tempo.

Deseja que as aulas tenham um número

menor de alunos, para que, assim, a professora possa dar mais atenção

aos seus alunos.

Empatia pela professora.

(Se coloca no lugar da professora.)

Insatisfação pelo

número de alunos em sala.

A12 – vou estudar mais gramática, do que a pronúncia e aprender poucas palavras novas e aprender o básico.

Percebe que a professora ensina apenas o básico,

poderia ensinar mais.

Busca por uma aprendizagem que lhe

traga desafios.

Deseja aprender não somente a gramática, mas também ter mais

aulas de conversação e vocabulário.

Insatisfação por aprender mais

gramática do que conversação e

vocabulário, por aprender mais como

também pelo pouco que aprende.

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(...) irei estudar bastante teoria e conversar menos em inglês, farei mais lições e terei mais provas e lições de casa, mesmo que as aulas sejam “curtas”, às vezes cansam. (A3)

Outro fator apontado pelos alunos é que, na escola, o foco são as notas,

e as aulas de inglês não abordam situações do seu cotidiano, do seu dia a dia,

e não os envolvem em tarefas que contribuem para a aprendizagem.

(...) a aula está lá. O professor e o material também, mas como em toda matéria escolar, o foco são notas. Fazer o aluno decorar coisas que vai esquecer um dia depois que fizer a prova. O modo de avaliação nem sempre é justo, mas isso não é um problema só das aulas de inglês. Eu acho que as aulas seriam mais proveitosas se as aulas abordassem situações do uso da língua do dia a dia. Acho também que a conversação e a pronúncia deveriam ser mais priorizadas. (A10)

O fator positivo apontado pelos alunos é a interação dos colegas em

sala e a consequente cooperação.

Em suma, o ensino de Língua Inglesa na escola regular, segundo os

alunos pesquisados, é fraco e sem desafios, as aulas são cansativas e a rotina

de provas e lições é pesada, o foco do ensino são as notas, e as aulas não

promovem a aprendizagem da habilidade oral, pois o ensino é baseado na

gramática. Esses fatores nos levam a inferir que os alunos avaliam o ensino de

inglês na escola regular de forma mais negativa, pois percebem que poderia

ser um ensino mais forte e desafiador.

Este primeiro procedimento de produção de informação nos permitiu,

além de captar desejos e sentimentos dos alunos, planejar o roteiro do

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questionário, que será analisado a seguir. Antes, porém, retomaremos as

primeiras impressões que emergiram das análises das redações.

Para os alunos participantes desta pesquisa, o ensino de Inglês nos

Centros de Línguas permite a prática tanto da habilidade escrita quanto da

habilidade oral, possui um ensino mais forte, dá oportunidade para conhecer e

interagir com outras pessoas e promove oportunidades para viajar e conhecer

outros países e culturas. Por sua vez, ensino de Inglês na Escola é obrigatório,

possui um ensino básico (fraco), repetitivo, um número excessivo de alunos na

sala e visa mais a prática da habilidade escrita.

As atividades realizadas nos Centros de línguas e que levam a um maior

domínio da Língua Inglesa atendem as necessidades afetivas dos alunos na

fase da adolescência: viajar, conhecer outros países e culturas, conhecer e

interagir com outras pessoas, sentir-se valorizado porque domina um

conhecimento maior da língua. Portanto, é o cognitivo interferindo no afetivo.

A teoria walloniana postula que as dimensões cognitiva, afetiva e

motora, integradas, constituem a pessoa, o que é claramente explicitado em

Mahoney (2012, p. 15):

O motor, o afetivo, o cognitivo, a pessoa, embora cada um

desses aspectos tenha identidade estrutural e funcional

diferenciada, estão tão integrados que cada um é parte

constitutiva dos outros. Sua separação se faz necessária

apenas para a descrição do processo. Uma das consequências

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dessa interpretação é de que qualquer atividade humana

sempre interfere em todos eles. Qualquer atividade motora tem

ressonâncias afetivas e cognitivas; toda disposição afetiva tem

ressonâncias motoras e cognitivas; toda operação mental tem

ressonâncias afetivas e motoras. E todas elas têm um impacto

no quarto conjunto: a pessoa, que, ao mesmo tempo em que

garante essa integração, é resultado dela.

Na adolescência, as novas exigências afetivas são fruto das reflexões e

questionamentos do jovem que procura um significado, uma justificação, para

as diversas relações de sociedade que anteriormente aceitava e na qual

parecia estar apagado. Confronta valores e avalia-se a si próprio em relação a

eles. Com esse novo progresso termina a preparação para a vida que era a

infância (WALLON, 1981, p. 223).

O jovem precisa receber atenção, ser ouvido, respeitado e valorizado,

tendo em vista desenvolver uma personalidade autônoma. Para que isso

ocorra, é necessário que limites e sanções sejam estabelecidos de forma clara,

com o jovem participando ativamente de sua discussão e elaboração. Essas

discussões permitem atender à necessidade que tem de se posicionar em

relação a diferentes situações, a favor ou contra os problemas apresentados

que podem ser de ordem política, religiosa, moral ou social. O que importa ao

jovem é marcar sua participação com um toque de personalidade, pois o

adolescente apaixona-se por este ou aquele tipo de estudos, julga-se poeta,

pensador ou artista. “São experiências muitas vezes completamente

imaginarias pelas quais põe a prova a sua personalidade”. (Wallon 1975, p.

139).

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O adolescente questiona-se e aos outros sobre sua origem e destino,

sobre a origem e destinos dos indivíduos, das pessoas e das coisas. Além do

interesse pela própria pessoa, ele se encontra bastante interessado nas

relações estabelecidas com seus pares. Ao longo desta etapa de

desenvolvimento, essas relações tornam-se uma forte necessidade, tanto pela

aprendizagem social que propicia como pelo papel que exerce na constituição

da pessoa do adolescente. A necessidade de se relacionar com outros jovens

semelhantes a ele surge, portanto, como condição fundamental para a

construção de sua personalidade.

Através da análise das redações, pudemos levantar dados que

contribuíram para a elaboração de um questionário cuja finalidade já foi

apresentada anteriormente e nos encaminha para a segunda etapa: a análise

dos questionários.

4.2 - Análise dos Questionários

Este segundo movimento de análise nos permitirá conhecer o papel dos

aspectos afetivos no processo de ensino-aprendizagem de Língua Inglesa na

visão dos alunos nos dois diferentes contextos escolares (escola regular e

centro de línguas).

Vale ressaltar que o questionário (vide anexo) foi aplicado aos mesmos

alunos que elaboraram as redações no primeiro momento de coleta de dados

desta pesquisa. Alunos estes que frequentam o centro de línguas e a escola

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regular. (Os identificamos também pela letra A, seguido de numeração

sequencial.)

Os quadros que seguem correspondem às categorias levantadas a partir

das respostas dos alunos às questões do questionário (vide anexo 3)

Quadro 3 – Concepção de afetividade, na perspectiva dos alunos

Aluno Depoimento dos alunos Explicitação de significados A1

Se tem afeto quando há companheirismo nas salas, a pessoa se sente à vontade no ambiente de estudo, ela confia em seu companheiro e professor.

Ter companheirismo entre colegas.

Estar à vontade no ambiente de estudo.

Confiar em seus companheiros e professores.

A2

O afeto na minha percepção é quando uma pessoa tem um relacionamento bom com o próximo, com uma intimidade.

Ter um bom relacionamento com o próximo.

A3 Compromisso e carinho com o aluno.

Compromisso e carinho com o aluno.

A4 Para mim, afeto é quando consigo fazer uma amizade “de outro nível”, quando consigo manter esse relacionamento com os amigos, como algo mais perto, como irmãos.

Fazer grandes amigos, amigos como irmãos.

A5 Na minha opinião, afeto é a maneira a qual você se relaciona com as pessoas, se você se sente bem na presença delas.

Sentir-se bem na presença das pessoas com as quais se

relaciona.

A6 O afeto é dado pela boa relação entre as pessoas dentro de um grupo, e apresenta um importante papel no aprendizado.

Ter uma boa relação com as pessoas do grupo é importante para o

aprendizado.

A7 É importante ter afeto com os colegas de sala, isso contribui na aprendizagem.

Ter uma boa relação com as pessoas do grupo é importante para o

aprendizado.

A8 Bom, de fato a afetividade é importante para uma aprendizagem saudável, não apenas para o currículo, mas ensinar também para amar, a troca de conhecimento é rodeada pela afetividade.

A afetividade é importante para aprendizagem e contribui

na troca de conhecimento.

A9 Uma relação afetiva entre professor e aluno, aluno e aluno é quando elas se relacionam bem, e muitas

Ter um bom relacionamento entre professores e alunos,

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vezes não segue completamente o livro. Tira os primeiros 10 minutos da aula para conversarem sobre como foi o final de semana de cada um, sem deixar de ensinar depois.

alunos e alunos. Falar não somente sobre

conteúdo e sim sobre a rotina de cada aluno.

A10 Quando uma pessoa se relaciona bem com o

próximo, tendo uma intimidade maior.

Ter um bom relacionamento e maior intimidade com o

próximo.

A11 Entendo que é impossível ter uma relação boa sem aspectos afetivos.

Uma boa relação é permeada pela afetividade.

A12 Maior interação e liberdade entre as pessoas.

Interagir e ter liberdade com o próximo.

Ao analisarmos as respostas dos alunos sobre o que eles entendem por

afetividade, pudemos perceber que a afetividade é vista somente em sua

dimensão positiva, ou seja, veem a afetividade como um conjunto que

responde pelos estados de bem-estar somente e não como relatado por

Almeida e Mahoney (2007, p. 17):

A afetividade refere-se à capacidade, à disposição do ser humano de ser afetado pelo mundo externo e interno por sensações ligadas a tonalidades agradáveis ou desagradáveis.

Essa concepção de afetividade apenas ligada às situações agradáveis

não responde aos postulados da teoria Walloniana, pois o que nos afeta

positiva ou negativamente faz parte de nossa constituição.

Para estes alunos, portanto, o conhecimento só acontece quando é

permeado por uma afetividade de tonalidade positiva e que contribui para o

processo de ensino-aprendizagem da língua:

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(...) Se tem afeto quando há companheirismo nas salas, a pessoa se sente à vontade no ambiente de estudo, ela confia em seu companheiro e professor. (A1) (...) Na minha opinião, afeto é a maneira a qual você se relaciona com as pessoas, se você se sente bem na presença delas. (A5)

Nos mesmos moldes do Quadro 3, elaborei o Quadro 4 o qual

corresponde às interações em sala de aula.

Quadro 4 – As Interações na sala de aula de Língua Inglesa nos dois contextos (escola regular e CEL)

Aluno Depoimentos Relações entre professor e

alunos

Relações entre alunos e alunos

A1 O grupo tem que estar em sincronia, em relação a se conhecer, o professor deve saber dar atenção especial a cada aluno, e nunca desprezar ninguém. A interação em aula é importante, pois o aluno se sente mais à vontade e não tem medo se deve ou não se dirigir ao professor.

Atenção especial do professor com cada aluno, não

desprezá-lo. O aluno se sente mais à vontade e não tem medo de

se dirigir ao professor.

O grupo tem que estar em sincronia.

A2 As relações favorecem o diálogo entre o professor e o aluno e isso ajuda a tirar a timidez. Isso incentiva o aprendizado e além disso ajuda a ter um contato maior com aluno.

A relação entre aluno e professor é importante, pois tira a timidez do aluno

e incentiva o aprendizado.

A3 As interações é uma boa forma de trocar conhecimentos.

É uma troca de conhecimentos.

A4 A interação entre professor e alunos é indispensável, pois isso me dá confiança e vontade para aprender a Língua Inglesa.

A interação professor é

indispensável, e faz com que o aluno fique confiante e tenha vontade de aprender a Língua

Inglesa.

A5 Eu acredito que o ensino de Língua Inglesa funciona melhor quando você se relaciona bem com os alunos e com o professor. E quando você se sente bem com essas pessoas o aprendizado fica melhor.

Uma boa relação entre professor e

aluno contribui para o aprendizado da

língua.

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A6 As interações entre alunos e professores são de extrema importância, pois através delas que os estudantes baseiam seus interesses. As boas condições afetivas, como respeito, educação e amizade, oferecem a motivação necessária para o aprendizado de uma nova língua.

As interações são de grande

importância no aprendizado de

uma nova língua, pois favorecem a

motivação do aluno nas aulas.

A7 A boa relação do aluno com o professor na sala é importante, porque muitos alunos não tiram as suas dúvidas por medo, então tendo uma boa relação com o professor ajuda muito. Se não tiver esse vínculo com o professor e alunos, alunos e alunos nós não podemos praticar a língua.

Uma boa relação entre aluno e

professor ajuda no processo de

aprendizagem, pois o aluno se sente mais confortável para tirar suas

dúvidas.

Sem uma boa relação entre

alunos e alunos fica difícil a prática da Língua Inglesa.

A8 Conversas, brincadeiras, distrações, músicas, trocas de ideias e conhecimento, muitas vezes até uma aula fora da rotina, ajuda a convivências entre o dia a dia do professor e aluno, com isso a aprendizagem se torna prazerosa”.

Atividades que saem fora da rotina

favorecem a convivência entre o professor e aluno, contribuindo assim

para uma aprendizagem mais

prazerosa.

A9 Pois cria um ambiente descontraído e divertido, sendo assim fica mais gostoso e interessante de aprender.

As interações fazem com que o ambiente escolar

fique mais descontraído e divertido o que

torna a aprendizagem mais

gostosa e interessante.

A10 Sim, pois se o professor desenvolve um afeto com o aluno, fica mais fácil aprender e na conversação com um colega com mais afeto também fica uma vontade maior de continuar na aula.

Uma boa relação afetiva entre

professor-aluno, aluno-aluno facilita a aprendizagem e

dá mais vontade de continuar na aula.

A11 Sim, porque quando você tem mais confiança de conversar com seus colegas em inglês, sem se preocupar se caso errar não vai ficar desmotivante.

As interações fazem com que o

aluno se sinta mais confiante em

conversar com seus colegas em inglês sem medo

de errar e se sentir desmotivado.

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A12 Com um maior convívio, cria-se uma maior afetividade, intimidade entre o professor e alunos e com isso os alunos acabam tendo maior liberdade, facilitando assim sua desenvoltura no curso.

Com o convívio cria-se afetividade e intimidade entre

professor e aluno o que facilita o

desenvolvimento dos alunos nas

aulas.

Ao analisarmos o Quadro 2, na visão dos alunos, ter uma boa relação

com os professores e colegas de sala facilita o processo de ensino-

aprendizagem da Língua Inglesa, e na visão dos alunos também contribui para

o desenvolvimento das aulas. Essas interações fazem com que o aluno se

sinta mais confiante em realizar as atividades propostas nas aulas. Isto pode

ser observado no excerto abaixo:

A boa relação do aluno com o professor na sala é importante, porque muitos alunos não tiram as suas dúvidas por medo, então tendo uma boa relação com o professor ajuda muito. Se não tiver esse vínculo com o professor e alunos, alunos e alunos nós não podemos praticar a língua. (A7)

Outro fator apontado pelos alunos é que essas interações fazem com

que o ambiente escolar fique mais descontraído e divertido, tornando assim a

aprendizagem mais gostosa e interessante.

Podemos considerar, portanto, que uma boa interação entre professor –

aluno, alunos –alunos em sala de aula é de grande importância para o

processo de ensino-aprendizagem da Língua Inglesa, pois além de favorecer a

aprendizagem, motiva os alunos a aprenderem o idioma. Segundo a teoria

walloniana, devemos estudar a criança contextualizada nas relações com o

meio, avaliando sua dinâmica de determinações recíprocas. Para Wallon, o

meio é um complemento indispensável ao ser vivo, que supre suas

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necessidades e as suas aptidões sensório-motoras e, depois, psicomotoras. É

um processo dinâmico de mutação constante pela presença de novos meios,

novas necessidades e novos recursos que aumentam possibilidades de

evolução do indivíduo, que interage com novos desafios e aprendizados.

O processo de aquisição de uma segunda língua deve ser pautado,

portanto, em um processo subconsciente de assimilação natural, intuitivo, fruto

de interações em situações reais de convívio humano em que o aprendiz

participa como sujeito ativo, desenvolvendo habilidade prático-funcional sobre a

língua.

Elaborei o Quadro 5 para elencar as respostas dadas a questão: “Ter

uma boa relação afetiva com meus colegas em sala de aula me faz sentir...”.

Quadro 5 – Sentimentos captados

Opções: Vergonha Satisfação Confiança Bem Um(a)

tolo(a) Total 0 1 9 1 0

Dos 12 participantes, nove afirmam que ter uma boa relação afetiva com

seus colegas de sala os faz sentir confiantes, o que condiz com o que eles

relatam no quadro anterior, sobre a interação entre professor-aluno, alunos-

alunos em sala de aula, em que afirmam que uma boa interação em sala de

aula favorece o aprendizado da língua e os faz sentir mais à vontade com os

colegas de sala, portanto, mais confiantes:

(...) as boas condições afetivas, como respeito, educação e amizade, oferecem a motivação necessária para o aprendizado de uma nova língua. (A6)

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(...) pois se o professor desenvolve um afeto com o aluno, fica mais fácil aprender e na conversação com um colega com mais afeto também fica uma vontade maior de continuar na aula. (A10)

Portanto, reportamo-nos a Wallon: qualquer situação que interfere no

cognitivo interfere no afetivo e vice-versa, pois as dimensões estão

intimamente imbricadas.

A interação com o outro e a interação com a cultura ampliam o conceito

de socialização: a criança e o jovem tanto podem socializar-se se relacionando

com os membros da família, da vizinhança, do grupo da escola, como também

lendo um livro, ouvindo uma música, apreciando uma pintura. E o professor

não pode esquecer sua função no grupo, como coordenador: é aquele que

observa os processos grupais e intervém, apoiando e dando ao grupo

condições de achar seu caminho. Seu objetivo não é só trazer um

conhecimento novo, mas ver como o processo de aprendizagem se desenvolve

no grupo: aprendizagem de conceitos, de fatos, de valores e de

comportamentos (MAHONEY, 2012, p. 80).

O Quadro 6 corresponde às categorias possíveis de serem levantadas a

partir das respostas dos alunos para a última questão do questionário (vide

anexo 3 ) que solicitava que os alunos marcassem em ordem crescente (1- 6),

as práticas que facilitam o processo de a aprendizagem da Língua Inglesa(a).

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Quadro 6 – Práticas que facilitam o processo de aprendizagem da Língua Inglesa

Práticas 1° lugar 2° lugar 3° lugar 4° lugar 5° lugar 6° lugar O livro didático utilizado

2 0 2 8 1 0

A didática do professor

9 2 0 0 0 0

Aprendizagem das habilidades: escrita, oral, leitora e auditiva

0 1 6 3 1 0

A estrutura física da sala (laboratório, sala de áudio e vídeo, etc.)

0 0 0 0 8 4

Os aspectos afetivos na relação professor-aluno; aluno-aluno.

0 9 3 0 0 0

Como podemos observar no quadro acima, dos 12 participantes nove

escolheram a categoria didática do professor como uma prática de extrema

importância no processo de ensino-aprendizagem da Língua Inglesa. Em

segundo lugar ficou a categoria aspectos afetivos, que foi escolhida também

por nove dos 12 alunos. Já a categoria aprendizagem das habilidades: escrita,

oral, leitora e auditiva, ficou em terceiro lugar e foi mencionada por seis dos 12

participantes. Essas três categorias foram mencionadas pelos alunos como

fator de grande importância no processo de ensino-aprendizagem da Língua

Inglesa, e através desses dados podemos inferir que na visão desses alunos,

estas categorias fazem parte de um processo que contribui tanto para o ensino

da língua quanto para sua aprendizagem.

Por outro lado, as categorias livro didático, estrutura de sala de aula e

número de alunos em sala foram mencionadas como um fator de menos ou

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sem importância no processo de ensino-aprendizagem de Língua Inglesa, o

que nos leva a inferir que questões que não estejam relacionadas aos aspectos

afetivos e cognitivos não são consideradas como fatores que interferem no

processo de ensino-aprendizagem de uma língua, segundo os alunos

participantes desta pesquisa.

Podemos então considerar que a tarefa de educar demanda posturas e

conhecimentos diferenciados da parte do professor, pois ele desempenha o

papel de mediador do processo escolar de aquisição da cultura pelo aluno, e,

portanto, de cultivador de aptidões. Desta forma, apresenta-se a nós uma

tarefa complexa, que requer habilidades e conhecimentos específicos,

autoconhecimento e conhecimento do universo social do professor e do aluno,

para aí então tomar decisões comprometidas com a constituição da pessoa do

aluno.

O conhecimento do desenvolvimento do aluno, das necessidades

específicas de cada etapa, e o reconhecimento da importância dos aspectos

afetivos no processo de ensino-aprendizagem de Língua Inglesa deve pautar a

prática pedagógica dos educadores e deve ser feita de maneira consciente e

responsável, em consonância com valores morais e sociais, objetivos e metas

educacionais.

As novas gerações levantam a necessidade de outra avaliação das

relações interpessoais e da relação com o conhecimento. Há necessidade de

pesquisas capazes de proporcionar uma melhor compreensão dessas

relações, gerando bases para novas práticas pedagógicas.

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Acreditamos que a teoria de Wallon é capaz de contribuir para a

compreensão do desenvolvimento das crianças e dos adolescentes de nossos

tempos e cultura, ao mesmo tempo em que suas ideias pedagógicas nos

parecem bastante adequadas ao tipo de escola capaz de atender aos

interesses e necessidades de nossos alunos da era globalizada.

Uma reflexão extremamente relevante sobre as implicações da teoria de

Wallon para a educação, especificamente sobre o papel do professor, nos é

apresentada por Almeida (2004):

Wallon, psicólogo e educador, legou-nos muitas outras lições. A nós, professores, duas são particularmente importantes. Somos pessoas completas: com afeto, cognição, e movimento, e nos relacionamos com um aluno, também pessoa completa, integral, com afeto cognição e movimento. Somos componentes privilegiados do meio de nosso aluno. (p. 86)

Em síntese, a consequência da presente interpretação da teoria e

princípios wallonianos sobre a educação é a concepção do professor como

pessoa completa e de seu papel como mediador da cultura de seu tempo e,

portanto, um cultivador das novas aptidões possibilitadas por ela.

Neste capítulo, apresentei os resultados obtidos através da análise dos

dados. Primeiramente, apresentei a visão dos alunos sobre as aulas de Língua

Inglesa nos dois diferentes contextos analisados: escola regular e centro de

línguas. Em seguida, pude conhecer qual a concepção sobre afetividade que

esses alunos possuem. E por último busquei identificar através da nossa coleta

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de dados quais aspectos são facilitadores no processo de ensino-

aprendizagem de Língua Inglesa. No capítulo seguinte, retomarei as perguntas

de pesquisa e apontarei as implicações e limitações deste estudo e farei as

considerações finais.

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Capitulo 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como este trabalho de pesquisa se propôs a investigar qual o papel dos

aspectos afetivos no processo de ensino-aprendizagem de Língua Inglesa na

visão dos alunos em dois diferentes contextos, farei aqui um apanhado sobre

os relatos que obtivemos dos alunos a fim de responder a pergunta de

pesquisa.

O ponto de maior destaque tanto nas redações como nas respostas ao

questionário é a representação diferenciada que os alunos têm do ensino de

Inglês nos dois contextos analisados: escolar regular e centro de línguas.

Segundo os alunos as aulas de Língua Inglesa no Centro de línguas:

Proporcionam uma boa interação entre professor-aluno e aluno-

aluno em sala de aula;

São aulas que promovem a aprendizagem tanto da habilidade

escrita quanto da habilidade oral;

O professor realiza atividades que levam o aluno a aprender o

idioma de forma mais lúdica (divertida);

O professor os envolve em tarefas que abordam temas de seu

cotidiano;

Dão oportunidade de conhecer novas pessoas, permitindo, assim,

aprender um novo idioma e ao mesmo tempo conseguir

comunicar-se com elas na Língua Inglesa.

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Por outro lado, as aulas de Língua Inglesa na escola regular:

São aulas fracas, cansativas e sem desafios;

Os professores dão um enfoque maior na habilidade escrita e no ensino

de regras gramaticais, deixando de lado a habilidade oral;

O foco são as notas, e as aulas de Inglês não abordam situações do seu

cotidiano, do seu dia a dia;

As aulas não os envolvem em tarefas que contribuem para a

aprendizagem.

Através dos relatos dos alunos pude constatar que o ensino da Língua

Inglesa na escola regular há um predomínio maior de aulas expositivas,

pautadas na aprendizagem da gramática e na prática da escrita. Essa

perspectiva de ensino geralmente é marcada por um fator normativo e estável,

em que enfatiza os elementos da linguagem, sem relacioná-los a contextos

mais amplos. O professor opta pelo ensino de formas gramaticais, funcionais

ou lexicais descontextualizado, demonstrando, assim, uma compreensão da

língua a partir das estruturas que a compõem, e não das necessidades

concretas de uso, desprezando a importância da qualidade contextual da

linguagem, seu caráter histórico, evolutivo e transformador. Essa percepção de

ensino não leva em conta que todo encontro interacional é marcado pelo

mundo social, pela instituição, pela cultura e pela história.

O segundo ponto que se destaca é que, apesar de os alunos criticarem

o ensino de inglês na escola regular, não culpabilizam os professores por isso

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e por vezes até os defendem. Uma possível hipótese explicativa é que os

alunos percebem que os meios institucionais diferenciados levam a praticas

pedagógicas diferentes.

Tanto nas redações como nos questionários fica evidenciado o papel

dos aspectos afetivos no processo ensino-aprendizagem. Expressam esse

papel mais fortemente no sentido positivo; palavras como carinho,

compromisso, confiança do professor são apresentadas pelos alunos como

tendo repercussão no seu aprendizado, e isto independente do contexto –

escola regular e centro de línguas.

Estudos recentes na área da linguística apontam para a estreita relação

entre afetividade e cognição. Indicando uma forte presença do

desenvolvimento cognitivo através da relação afetiva. Rossini acrescenta

(2001, p. 9):

(...) o que se observa no dia-a-dia é que a afetividade é a base

sobre a qual se constrói o conhecimento racional. A

aprendizagem em qualquer área do conhecimento deverá ser

embasada em um ensino mais afetivo. Portanto, aprender deve

estar ligado ao ato afetivo: deve ser gostoso, prazeroso (...),

esse afeto é mais um instrumento veiculado para acelerar o

processo de aprendizagem, uma vez que a atividade do sujeito

está prazerosa.

Rossini (2001) afirma que um aluno pode ser o mais envolvido em suas

atividades em sala de aula, mas se ele não estiver emocionalmente bem, ele

não terá rendimento nas atividades propostas: “Ele pode ter um quociente

intelectual (QI) altíssimo, porém, se o seu SENTIR estiver comprometido ou

bloqueado, a sua AÇÃO não será energizante, forte, eficaz, produtiva”.

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Também Duarte (2001, p. 13) enfatiza que a área do ensino de línguas

também conta com a preocupação em relação ao componente afetivo no

processo ensino-aprendizagem, assim como em relação à influência das

emoções positivas ou negativas, no desempenho dos alunos. A literatura é

vasta e enfatiza a necessidade de estudos na área: “... affective factors are

those that deal with emocional reactions and motivations of the learners. They

signal the arousal of the limbic system and is direct intervention in the task of

learning English” (BAILEY, apud Duarte 1983, p. 68).

A partir do depoimento dos alunos e dos estudiosos da área da

linguística referidos, podemos responder ao questionamento feito no início do

trabalho: o papel primordial dos aspectos afetivos no processo de ensino-

aprendizagem da Língua Inglesa é possibilitar o envolvimento dos alunos com

as atividades propostas; é propiciar uma relação prazerosa com o

conhecimento de uma nova língua para “conhecer mais coisas a respeito do

que iremos tratar, seja da cultura, comida, transporte e até as fantasias e

magias da Língua Inglesa” (A1).

Dada a importância atribuída às relações afetivas constatadas nesta

pesquisa, é urgente que novos estudos sejam desenvolvidos focalizando

principalmente as práticas pedagógicas que se apresentam nas escolas de

diferentes contextos. Estudos que investiguem não só as práticas dos

professores, mas os recursos que são propiciados aos professores em termos

de formação inicial e continuada bem como de materiais pedagógicos, e

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principalmente investigações que levem em conta as concepções dos

professores sobre o aluno como ser completo para que sejam planejados

processos formativos que produzam mudanças significativas no processo

ensino-aprendizagem.

Espera-se que esta pesquisa tenha contribuído para esclarecer como a

afetividade é vista através do olhar de nossos alunos e ajude a pesquisadores

e professores a se aprofundarem na compreensão dos problemas que afetam

as escolas públicas e a buscar soluções para um ensino mais efetivo da Língua

Inglesa nesse contexto. As sugestões para estudos futuros incluem:

(1) Mais estudos que possam investigar o papel da afetividade nas aulas

de Língua Inglesa, inferidos nos discursos dos alunos e também dos

professores;

.

(2) Estudos que acompanhem professores e alunos que atuam

simultaneamente em escolas públicas e em cursos de idiomas a fim de

perceber melhor o papel da afetividade e como se caracteriza o ensino de

Língua Inglesa nesses dois ambientes.

(3) Estudos que possibilitem aos professores a reflexão de suas práticas,

o conhecimento das expectativas de seus alunos para o ensino de Língua

Inglesa e que possam contribuir para um ajuste no processo de ensino e

aprendizagem nas escolas públicas.

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Mahoney (2012) afirma que o professor precisa conhecer as teorias de

desenvolvimento, de aprendizagem, de personalidade que os livros ensinam.

Mas precisa ter uma atitude permanente de investigador do individuo em

desenvolvimento e de sua própria prática. E o conhecimento que aí adquire –

na prática – volta para enriquecer as teorias. O referencial walloniano será uma

boa lente para estes estudos futuros.

Após este estudo, é possível olhar os dois contextos desta pesquisa e

entender um pouco mais sobre o papel dos aspectos afetivos no processo de

ensino-aprendizagem de Língua Inglesa. No tocante ao papel do professor,

vale considerar que as considerações feitas pelos alunos apresentadas neste

estudo mostram que a afetividade pode influenciar na qualidade e nos rumos

das ações pedagógicas, e na aquisição da Língua Inglesa pelos alunos. E é

fundamental apontarmos que não se deve fazer distinção entre a cognição e a

emoção, pois acredita-se que a aprendizagem de uma língua estrangeira

abrange não somente aspectos cognitivos, mas também configurações

específicas de afetividade com relação à língua que se deseja aprender.

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ANEXO 1 – Modelo Redação 1

PUCSP – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Programa de estudos em Pós Graduação em Psicologia da Educação

Eu e a Língua Inglesa Elabore uma redação que complete o inicio da frase abaixo: Hoje é dia de aula de Inglês no centro de línguas, eu imagino que... _______________________________________________________________

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Anexo 2 – Modelo Redação 2

PUCSP – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Programa de estudos em Pós Graduação em Psicologia da Educação Eu e a Língua Inglesa Elabore uma redação que complete o inicio da frase abaixo: Hoje é dia de aula de Inglês na escola regular, eu imagino que... _______________________________________________________________

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Anexo 3 – Questionário 1) O que você entende por afetividade? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 2) Em sua opinião, as interações entre professor e alunos, alunos e alunos, são fatores importantes no processo de aprendizagem da Língua Inglesa? ( ) Sim. Por quê? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________ ( ) Não. Por quê? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3) Assinale uma afirmação que você acha correta. Ter uma boa relação afetiva com meus colegas em sala de aula me faz sentir: ( ) vergonha ( ) satisfação ( ) confiança ( ) bem ( ) um tolo 4) Dentre as opções abaixo, marque em ordem crescente (1-6) as alternativas que, na sua opinião, facilitam a aprendizagem da língua estrangeira(a). ( ) o livro didático utilizado. ( ) a didática do professor. ( ) a aprendizagem das habilidades: escrita, oral, leitora e auditiva. ( ) a estrutura física da sala (laboratório, sala de áudio e vídeo, etc.) ( ) as trocas afetivas na relação professor-aluno, alunos-alunos. ( ) menor número de alunos em sala de aula.

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Anexo 4 – Termo de consentimento livre e esclarecido. O seu filho (a) está sendo convidado(a) a participar desta pesquisa, cujo

objetivo é destacar o papel da afetividade no processo de aprendizagem de

Língua Inglesa, refletindo de que forma os afetos dos alunos podem influenciar

o processo de ensino-aprendizagem de língua estrangeira – Inglês. Ao integrar

este estudo, seu filho (a) estará permitindo a utilização dos dados fornecidos.

Você tem liberdade de se recusar a aceitar a participação sem qualquer

prejuízo pessoal.

As informações obtidas fornecerão subsídios para o desenvolvimento da

dissertação de mestrado desta pesquisadora no Programa de Pós-Graduação

em Psicologia da Educação da Pontifícia Universidade Católica do Estado de

São Paulo (PUC-SP). Asseguramos aos participantes que as informações terão

caráter confidencial e nenhum nome será mencionado em quaisquer

publicações baseadas nos dados coletados. Esclarecemos que a autorização e

identificação abaixo servem para cumprir com as exigências da ética científica.

Agradecemos sua colaboração e nos colocamos à disposição para esclarecimentos

Projeto de Pesquisa: O papel da afetividade nas aulas de Língua Inglesa em dois diferentes contextos: cognição e afetividade caminham juntas.

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Tendo em vista o esclarecimento acima apresentado, eu manifesto livremente

meu consentimento para que meu filho (a) possa participar da pesquisa.

Nº Nome do participante Assinatura do participante 01 02 03 04 05 06 07

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08 09 10 11 12

_________________________ Pesquisador (a) Responsável