políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM POLÍTICAS PÚBLICAS, ESTRATÉGIAS E DESENVOLVIMENTO (PPED) RUI AMADEU BONDE POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO E QUALIDADE DE ENSINO EM MOÇAMBIQUE Rio de Janeiro 2016

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Page 1: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE ECONOMIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM POLÍTICAS PÚBLICAS, ESTRATÉGIAS

E DESENVOLVIMENTO (PPED)

RUI AMADEU BONDE

POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO E QUALIDADE DE ENSINO EM

MOÇAMBIQUE

Rio de Janeiro

2016

Page 2: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

RUI AMADEU BONDE

POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO E QUALIDADE DE ENSINO EM

MOÇAMBIQUE

Dissertação submetida ao Corpo Docente do Programa de Pós-

Graduação em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento do

Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro

como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de

MESTRE, em Políticas Públicas Estratégias e Desenvolvimento.

Orientadora: Prof. Dra Renata Lèbre La Rovere

Rio de Janeiro, 2016

Page 3: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

FICHA CATALOGRÁFICA

B711 Bonde, Rui Amadeu.

Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em Moçambique / Rui Amadeu

Bonde. -- 2016.

168 f. ; 31 cm.

Orientadora: Renata Lèbre La Rovere.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Economia,

Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento, 2016.

Page 4: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

RUI AMADEU BONDE

POLÍTICAS PÚBLICAS 'DE EDUCAÇÃO E QUALIDADE DE ENSINO EM

MOÇAMBIQUE

Dissertação submetida ao Corpo Docente do Programa de Pós -

Graduação em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento do

Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro

como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre

em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento,

Banca Examinadora:

Prof- Ora Renata Lebre La Rovere (Orientadora)

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Prcf Dr' Maria Lúcia Werneck Vianna

Prof. DI'. Pereira da Rocha Rosistolato

Rio de Janeiro

2016

Page 5: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

À memória da minha mãe, Joaquina Pinto Chirembué(in memoriam), que me trouxe ao

mundo;

À minha esposa, Rabuna Ricardo Castelão, que durante o período que estive ausente ficou

privada de meu auxílio e cedo compreendeu as razões dessa ausência;

Aos meus filhos: Dércio Rui Bonde e Kelven Rui Bonde

Page 6: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos aqueles que de forma direta ou indireta contribuíram para concretização

desta pesquisa. Não conseguirei mencionar todas as pessoas que assim o fizeram. Mesmo

assim, merecem uma atenção especial as seguintes singularidades e instituições:

Muitíssimo obrigado vai para a Professora Doutora Ana Célia Castro, com quem tive os

primeiros contatos sobre a minha candidatura, para o curso que se tornou uma realidade dos

meus sonhos (PPED).

Um agradecimento muito especial vai para a minha orientadora Prof. Doutora Renata Lèbre

La Rovere, que, para mim, é um referencial do mundo acadêmico, pelo seu carinho,

atenção, pelos seus sábios ensinamentos, pela sua paciência e profissionalismo na orientação

deste trabalho, pelas ricas lições e pela maneira como conduziu e me acompanhou em vários

encontros de orientação.

Agradeço à ex- Governadora da Cidade de Maputo- Lucília Hama -, que concedeu-me

autorização para continuar com os meus estudos de Pós- Graduação no Brasil, na UFRJ/IE.

O meu muito obrigado especial vai para o senhor Albino Agostinho, que gentilmente me

patrocinou a passagem aérea para o Rio de Janeiro; sem ele, este sonho não seria realizado.

Ao Prof. Doutor Carlos Mussa, pelas suas sugestões na concepção e desenho do projeto desta

dissertação.

Quero agradecer o suporte incondicional da minha família: aos meus pais, Amadeu e Joaquina

(em memoria), ao meu irmão e as minhas irmãs Isabel Amadeu Bonde e Esperança Amadeu

Bonde. Estudar fora é difícil, a saudade é grande, mas o amor, com o vosso apoio e carinho,

me ajudaram a superar as distâncias.

O meu agradecimento é extensivo aos gestores a nivel central do Ministério de

Educação, Diretores das escolas, professores, funcionários do setor, pela colaboração

prestada no decorrer deste estudo do campo.

Agradeço igualmente aos funcionários da secretaria da pós-graduação do PPED/IE da UFRJ e

aos docentes, pela atenção e afeto que me dispensaram ao longo do curso de mestrado. Fica

uma recordação para o resto da vida.

Agraço ao CNPq pela concessão da bolsa de estudo durante a minha estadia no Brasil.

Page 7: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

RESUMO

A educação tem sido, nos últimos tempos, objeto de várias discussões no que se refere às

políticas adotadas e à qualidade do seu ensino. Na busca da democratização do ensino para

além da universalização do acesso, saída na conferência de Jomtien em 1990 na Tailandia, e

na de Dakar, em 2000 no Senegal, generalizou-se o debate em torno da questão da qualidade

da educação pública. Foi no âmbito desta discussão e de situações vividas no campo

educacional, que decidimos propor uma dissertação sobre Políticas Públicas de Educação e

Qualidade de Ensino em Moçambique.A dissertação tem como objetivo geral analisar as

políticas educacionais contemporâneas para o Ensino Secundário Geral em Moçambique, com

foco nas percepções dos agentes diretamente envolvidos com o cotidiano escolar: professores

e gestores. Para o alcance dos objetivos foram utilizados como métodos de pesquisa: revisão

bibliográfica, pesquisa empírica e pesquisa documental. A pesquisa chegou às seguintes

conclusões: ao longo dos últimos 40 anos após a independencia (1975), Moçambique

apresentou melhorias no seu sistema de ensino no que no que se refere ao acesso e à expansão

da rede escolar. Apesar desses avanços, os desafios são ainda muito maiores no que concerne:

às condições das infraestruturas, àformação dos professores, à gestão escolar e pedagógica. As

políticas de educação em Moçambique são apontadas como regulares pelos pesquisados; por

outro lado, o envolvimento dos professores na formulação das politicas educacionais, não é

abrangente a nível nacional.O sistema carece de uma politica de transparência

interna(sistema de avaliação nacional de ensino para todos os subsistemas). Não restam

dúvidas de que a questão da qualidade da educação ainda é um grande desafio para

Moçambique. Foge ao escopo deste trabalho prescrever soluções. Apesar de ter havido vários

debates sobre a melhoria da qualidade de ensino em Moçambique, ainda há necessidade de

avançar para medidas concretas para mudar a situação atual. Os resultados sinalizam que o

desafio de qualidade hoje não pode ser enfrentado sem alterações profundas na agenda de

políticas educacionais e no envolvimento de todos os atores no processo educativo por meio

de consulta pública nacional.

Palavras-chave: Políticas Educacionais e Qualidade de Ensino

Page 8: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

ABSTRACT

Education has been in recent times, the subject of several discussions in relation to the

adopted policies and the quality of teaching. After the pursuit of democratization of education

beyond universal access wasproposed at the Jomtien Conference in Thailand in 1990 and the

Dakar Conference in 2000 in Senegal, the debate became widespread around the issue of

public education. This is why we decided to propose a dissertation on Public Policy Education

and Quality Education in Mozambique. The dissertation has as main objective to analyze the

contemporary educational policies for the General Secondary Education in Mozambique,

focusing on perceptions of the agents directly involved in the everyday school life: teachers

and administrators. To achieve the objectives the following research methodswre used:

literature review, empirical research and documents research. The research reached the

following conclusions: Over the last 40 years after independence (1975), Mozambique

showed improvements in its education system as regards access and expansion of the school

network. Despite these advances, the challenges are much greater with respect to the

conditions of infrastructure, to teacher training, to school and educational

management.Education policies in Mozambique are seen as regular by respondents; on the

other hand, the involvement of teachers in the formulation of educational policies, is not

comprehensive nationwide. The system lacks an internal transparency policy (that is a

national education assessment system for all subsystems). There is no doubt that the issue of

quality of education remains a major challenge for Mozambique. It is beyond the scopeof this

work to prescribe solutions. Although there have been many debates on improving the quality

of education in Mozambique, there is a need to move towards concrete measures to change

the current situation. The results indicate that the quality challenge today can not be met

without major changes in the agenda of educational policies and the involvement of all

stakeholders in the educational process through national public consultation.

Keywords: Pubic Policy, Quality of Education

Page 9: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO E METODOLOGIA ............................................................................. 1

1.1. CONTEXTUALIZAÇÃO DA PESQUISA ................................................................................. 1

1.2 JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS .............................................................................................. 10

1.2.1 Objetivos da dissertação ................................................................................................ 11

1.2.2. Questões de pesquisa ........................................................................................................... 11

1.3. DELIMITAÇÃO DO TEMA NO TEMPO E NO ESPAÇO ..................................................... 12

1.4. METODOLOGIA ...................................................................................................................... 15

1.5 MOTIVAÇÃO DO TEMA E SUA RELEVÂNCIA .................................................................. 19

1.6 DESCRIÇÃO DO PERCURSO DA PESQUISA ....................................................................... 20

1.7 ESTRUTURA DO TRABALHO ................................................................................................ 24

CAPÍTULO 2: POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO, QUALIDADE DA EDUCAÇÃO E EFICÁCIA ESCOLAR............................................................................................................................................. 25

2.1 POLÍTICAS EDUCACIONAIS ................................................................................................. 25

2.2 QUALIDADE DA EDUCAÇÃO ............................................................................................... 29

2.3 EFICÁCIA ESCOLAR ............................................................................................................... 34

2.4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................................... 39

CAPÍTULO 3: O PROCESSO DE FORMULAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SETOR DE EDUCAÇÃO EM MOÇAMBIQUE ....................................................... 42

3.1 A EVOLUÇÃO DAS POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO EM MOÇAMBIQUE ........................... 42

3.1.1 O Sistema de Educação Colonial ......................................................................................... 42

3.1.3 A educação nas zonas libertadas .......................................................................................... 48

3.1.4 A Educação em Moçambique depois da independência ...................................................... 50

3.2 A FORMULAÇÃO DAS POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO EM MOÇAMBIQUE ..................... 61

3.3 AVALIAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO EM MOÇAMBIQUE ......... 65

3.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................... 72

CAPÍTULO 4: A PERCEPÇÃO DOS ATORES ENVOLVIDOS NAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO EM MOÇAMBIQUE ...................................................................................................... 74

4.1 A VISÃO DOS GESTORES ....................................................................................................... 74

Page 10: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

4.1.1 Sobre a Política Educacional em Moçambique .................................................................... 75

4.1.2 A questão da qualidade de ensino ........................................................................................ 77

4.1.3 Os desafios da gestão ........................................................................................................... 79

4.1.4 Condições de Infraestrutura ................................................................................................. 81

4.1.5 Capacitação dos professores ................................................................................................. 83

4.2 AS PERCEPÇÕES DE ACADÊMICOS E DE PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO ....... 85

4.2.1 Sobre a Política Educacional em Moçambique .................................................................... 85

4.2.2 A questão da qualidade de ensino ........................................................................................ 86

4.2.3 Os desafios da gestão ........................................................................................................... 87

4.2.4 As Condições de Infraestrutura ............................................................................................ 88

4.2.5 A Capacitação e o Envolvimento dos Professores ............................................................... 88

4.3 AS PERCEPÇÕES DOS PROFESSORES ................................................................................. 90

4.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS: OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO EM MOÇAMBIQUE ....... 102

CONCLUSÃO E DESDOBRAMENTOS DA PESQUISA ............................................................... 113

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 124

APÊNDICE I ....................................................................................................................................... 138

APÊNDICE II .................................................................................................................................... 144

APÊNDICE III .................................................................................................................................... 146

APÊNDICEIV .................................................................................................................................... 149

APÊNDICE V ................................................................................................................................... 150

ROTEIRO DE ENTREVISTA COM PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO ............................. 150

APÊNDICE VI ................................................................................................................................... 152

ANEXO 1 ........................................................................................................................................... 156

Page 11: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

ĺNDICE DE GRÁFICOS E TABELAS

Tabela 1: Moçambique: Proporção do total de rapazes e moças que frequentam o ensino secundário, por região (em %) 15

Gráfico 1: Nível de escolaridade dos professores do Ensino Médio em Moçambique 86

Gráfico 2: Tempo de serviço dos professores do Ensino Médio em Moçambique 87

Gráfico 3: Percepção dos professores sobre as políticas educacionais moçambicanas (% das respostas) 88

Gráfico 4: Percepção dos professores sobre os fatores que contribuem para as condições das políticas educacionais moçambicanas (% das respostas) 89

Gráfico 5: Sugestões de melhoria das políticas educacionais 91

Gráfico 6: Percepção dos professores sobre as condições de trabalho 93

Page 12: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

LISTA DE SIGLAS

ADE - Apoio Direto às Escolas

AfriMaP - Africa Governance Monitoring and Advocacy Project

AR - Assembleia da República

BIRD - Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento

BM - Banco Mundial

CAA - Centro de Acompanhamentos de Alunos

CFMPG - Centros Fiscais de Medio Prazo do Governo

CFPP - Centro de Formação de Professores Primários

CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnologico

DICIPE - Desenvolvimento Integrado da Criança em Idade Pré-escolar

DMKPF- Distrito Municipal Kampfumo

DPE- Direção Provincial de Educação.

EB - Ensino Basico

EP1 - Ensino Primário do 1º Grau

EP2 - Ensino Primário do 2º Grau

EPT - Educação Para Todos

ES - Ensino Superior

ESG- Ensino Secundário Geral

ESG1 - Ensino Secundário do 1º Ciclo

ESG2 - Ensino Secundário do 2º Ciclo

ETP - Ensino Técnico-Profissional

FMI - Fundo Monetário Internacional.

FRELIMO Frente de Libertação de Moçambique.

IBIS - Educação Para o Desenvolvimento

IDS - Inquérito Demográfico de Saúde

Page 13: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

IESE - Instituto de Estudos Sociais e Econômicos

IFEP - Instituto de Formação de Professores

IMAP - Instituto do Magistério Primário.

INDE- Instituto Nacional de Desenvolvimento da Educação

INE - Instituto Nacional de Estatística

INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

MANU - Mozambique African National Union

MASC - Mecanismo de Apoio a Sociedade Civil

MEC - Ministerio da Educacao e Cultura

MEPT - Movimento de Educação Para Todos

MINEDH - Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano

MMA - Ministerio da Mulher e Ação Social

OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

ODM - Objetivos de Desenvolvimento do Milênio

OGE - Orçamento Geral do Estado

ONGs - Organizações Não Governamentais

PARPA - Plano de Acção para a Redução da Pobreza Absoluta

PCESG - Plano Curricular do Ensino Secundário Geral

PEC - Plano Estatal Central

PEE - Plano Estratégico de Educação

PEEC - Plano Estratégico da Educação e Cultura

PESD - Programa de Ensino Secundário à Distância

PES - Plano Econômico e Social

PISA - Programme for International Student Assessment

PNE - Política Nacional de Educação.

PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

Page 14: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

PPI - Plano Prospectivo Indicativo

PQG - Plano Quinquenal do Governo

PRE - Programa de Reabilitação Económica

PSA - Passagens Semiautomáticas

RAR- Reunião Anual de Pares

RENAMO - Resistência Nacional de Moçambique.

SACMECQ - Southern African Consortium for Monitoring Education Quality

SNE - Sistema Nacional de Educação

SOICO - Sociedade Independente de Comunicação

SPSS – Statistical Package for the Social Sciences

TBE - Taxa Bruta de Escolarização

TICs - Tecnologias de Informação e Comunicação

TLE - Taxa Liquida de Escolarização

UDENAMO - União Democratica de Moçambique

UEM - Universidade Eduardo Mondlane

UNAMI - União Nacional Africana para Moçambique Independente

UNESCO - United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization.

UP - Universidade Pedagógica

VCM - Visitas Conjuntas de Monitoria

Page 15: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

1

CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO E METODOLOGIA

1.1. CONTEXTUALIZAÇÃO DA PESQUISA

Moçambique é um país cuja independência aconteceu em 1975, quando o Estado português

decidiu reconhecer o direito à autodeterminação dos moçambicanos. Para que tal acontecesse,

o povo moçambicano rebelou-se e organizou uma luta armada de libertação nacional. Mas

antes do início da luta, em 1962, os moçambicanos criaram a Frente de Libertação de

Moçambique (FRELIMO), movimento político armado que conduziu com sucesso a guerra

pela independência.

Quando o país ficou independente, os novos gestores do povo e do território moçambicano

herdaram um pesado fardo: elevada taxa de analfabetismo, estimada em cerca de 90%;

carência de infraestruturas; sistema de saúde precário, no qual o meio rural tinha grande

desvantagem; carência de quadros e de técnicos a todos os níveis e em todos os setores

importantes da economia.

Para a redução desta elevada taxa de analfabetismo, foram levadas a cabo duas estratégias

fundamentais, nomeadamente a massificação do ensino primário e as campanhas de

alfabetização e educação de adultos a partir do ano de 1978.

A FRELIMO, apesar da euforia da vitória sobre o colonialismo, tinha já consciência de que o

desenvolvimento futuro do país recém-nascido exigiria a introdução duma política social

capaz de acelerar a educação e erradicar o analfabetismo.

Ao longo da história de Moçambique existiram propostas diferentes em relação aos contornos

e rumos que a educação deveria tomar no novo país independente. Os diferentes

posicionamentos foram evidentemente acompanhados pela adoção de políticas educativas e

pelas suas estratégias de implementação.

No entanto, ao sistematizar as propostas e ideias para a transformação educacional, constatou-

se a existência de três níveis diferentes das propostas. O primeiro nível propunha a

transformação de caráter organizacional; o segundo dizia respeito às opções políticas, e o

terceiro correspondia à transformação paradigmática, segundo constata CASTIANO(2005).

Em outras palavras, a primeira proposta tinha como objetivo corrigir a forma como o processo

de organização do ensino decorria, desde o topo até a base, mudança organizacional que até

hoje não se concretizou; a segunda proposta envolvia políticas educativas que visavam

apresentar alternativas e estratégias para um melhor sistema educativo e, por último, a terceira

Page 16: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

2

proposta exigia uma pedagogia exequível, se exigia revolucionar os métodos pedagógicos

anteriores.

Foi neste contexto que, imediatamente a seguir à proclamação da independência, foram

introduzidos programas de alfabetização e de educação de adultos e, em simultâneo, o ensino

foi expandido para as zonas rurais. GOLIAS (1993, p. 9) diz que esta política pública do

Estado moçambicano implicou a nacionalização do ensino e educação (Decreto Nº 12/75).

Desde então, os sucessivos governos de Moçambique apostaram na massificação do ensino, o

que só seria viável por meio de formação “acelerada” de professores. Foi nesta perspetiva que

em Moçambique começou a se desenhar o projeto de Sistema Nacional de Educação, centrado

em três níveis ou subsistemas: Ensino Primário, Ensino Secundário Geral e EnsinoSuperior.

Este sistema também incluía os subsistemas de educação de adultos e de ensino técnico

profissional.

A introdução do Sistema Nacional de Ensino(SNE) em 1983, marcou uma nova etapa na

evolução da educação em Moçambique. Contudo, o esforço do governo acabaria por

fracassar, porque logo em 1976, iniciou-se uma guerra interna que só terminou em 1992.

Em termos regionais, a região Centro é que sofreu a maior deterioração do sistema escolar

pela guerra, seguida pelas regiões Norte e Sul, respectivamente. Nas áreas não afetadas

diretamente pela guerra, a estagnação foi resultado, direto ou indireto, da combinação dos

seguintes fatores: aexcessiva centralização da gestão, aliada à fraca capacidade de supervisão

e controle; professores e direção pouco capacitados e o distânciamento sociocultural das

escolas em relação às comunidades (PNUD, 2000).

Desde então, o meio rural foi fustigado e muitas escolas encerraram. Nas cidades houve

maior concentração da população, o que requeria mais escolas e espaços para os alunos

fugidos do campo. Mesmo depois do fim da guerra, a maior parte da população deslocada

permaneceu nas cidades, com todas as implicações sociais, políticas e econômicas

nefastas.Após a introdução do Sistema Nacional de Educação em 1983, a educação em

Moçambique

foi e continuará a ser marcada pela adoção de inovações curriculares à luz dos desafios que se

colocam ao sistema, nomeadamente o incremento do acesso e a melhoria da qualidade de

ensino.

Em 1990 foi introduzida uma nova Constituição que impunha o multipartidarismo. Neste

novo contexto constitucional, o Estado aumentou os ingressos de alunos, sem ter professores

Page 17: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

3

suficientes nem dinheiro e recursos materiais apropriados. Ao mesmo tempo, como apontado

por NORTE (2006), o elevado crescimento populacional e o baixo nível de desenvolvimento

econômico em muitos países africanos gera um ambiente onde a demanda por educação é

muito competitiva. Consequentemente, iniciou-se uma crise institucional que paulatinamente

foi-se refletindo na fraca qualidade de ensino.

O liberalismo político da década de 1990 não permitiu, de imediato, melhorar o desempenho

da educação. Com as cheias de 2000, agravou-se a falta de salas de aulas e, assim, a cifra de

alunos por professor cresceu, chegando a uma taxa média de 80 alunos por turma ou mais

(EPT, 2015). A taxa de alunos por turma varia muito de acordo coma região, indo de um

mínimo de 30 alunos por turma em Namaacha, na região sul do país, para um máximo de 120

alunos por turma em Nampula, na região norte do país (QUINCARDETE,2015).

O sistema de ensino em Moçambique.se caracterizou, desde então, por dois grandes eixos. O

primeiro eixo temático tem como tendência a busca de melhores estratégias para expandir a

instituição escolar a todas as regiões de Moçambique, e a todos os níveis de ensino, desde o

básico ao universitário (CASTIANO &NGOENHA, 2013) Este eixo tem como referência

uma expansão quantitativa das infraestruturas escolares.

Este foi um amplo sistema desenhado para concretizar os compromissos assumidos por

Moçambique na conferência de Jomtien (1990) e na de Dakar (2000). Porém, a demanda pela

ampliação quantitativa das escolas não permitiu que houvesse uma reflexão mais profunda

sobre a forma que deveria assumir o processo educativo com vista à promoção de um ensino

de qualidade.

O segundo eixo temático visou debater a qualidade de educação oferecida nas escolas

moçambicanas. Ora, aparentemente, o debate sobre a qualidade de ensino procura evidenciar

argumentos para se oferecer aquilo que se considera como sendo uma boa qualidade de

educação, cujo indicador de relevo seria ter cada vez mais uma maior quantidade de alunos a

transitarem de classe. Mas a prática mostra o contrário, a transição de um grande número de

alunos duma classe para outra, por si só, não revela na verdade aquilo que deve ser um ensino

de qualidade e equilibrado. Os alunos podem ser aprovados, mas podem não estar

devidamente preparados. Daí o grande equívoco do projeto de passagens automáticas, norma

que foi introduzida após a reforma do ensino básico em 2004. Segundo oex- diretor nacional

do ensino secundário geral do Ministério de Educação, em Moçambique1:

1 Entrevista realizada em 16 de janeiro de 2015

Page 18: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

4

“(…) As coisas não estão a andar bem ao nível do ensino secundário

geral devido à qualidade de ensino. Nós recebemos alunos graduadosdo

ensino básico. Se estes alunos não estão bem preparados na leitura e escrita e

cálculos, ai vamos ter problemas (…). Por isso, a aposta do ministério é

resolver o problema do ensino básico” (QUINCARDETE, 2015)

O problema da qualidade de educação em Moçambique, apesar de ser geral, apresenta

assimetrias regionais segundo NORTE (2006). A região Sul apresenta os melhores

indicadores educacionais, enquanto os piores encontram-se no Norte e Centro.

O problema da qualidadede ensino em Mocambique não é recente, como se deve imaginar, os

antigos ministros de educação pós independência já reconheceram públicamente este

problema. Por exemplo, um ex-ministro de educação, (2005-2009) Aires Ali, reconheceu à

época do seu governo, que a qualidade de ensino em Mocambique ainda não era das

melhores. Dizia ele que a questão da melhoria é uma das traves mestras nas politicas de

educação no pais. Sustentou ainda que a qualidade de educação não deve ser avaliada através

dos resultados avaliativos nas salas de aulas, mas deve envolver múltiplas dimensões,

nomeadamente a reforma curricular, formação de professores, capacitação de gestores, assim

como a distribuição do livro escolar2.

Outro ex-ministro de educação (2013-2014), Augusto Luis Jone, falando em reunião do

Conselho Coordenador que decorreu em Ngondola, na província de Manica, zona centro de

Moçambique, sob o lema: “ Construindo Competências para um Moçambique em constante

Desenvolvimento”, disse que Moçambique também participa num movimento de avaliação da

qualidade de educação ao nível da região , designada Consórcio da Africa Austral e Oriental

para Monitoria da Qualidade de Educação (SACMEQ). Este é um órgão cujas pesquisas

determinaram que muitos alunos moçambicanos concluem o ensino primário com sérias

dificuldades de ler, escrever e fazer cálculos básicos de aritmética3.

A qualidade das capacidades concedidas na educação básica é considerada muito pobre

(PASSOS et al, 2005). Foi feita uma avaliação dos niveis de leitura e matemática dos alunos

das escolas primárias em Moçambique, pela Southern and Eastern Africa Consortium for

2 JORNAL O PAIS, Quinta feira, 18 de junho de 2009 Passagem semi-automática influencia negativamente educação no país (O País, Junho 2009) , Artigos, Educação IESE,http://www.iese.ac.mz/lib/PPI/IESE-PPI/pastas/governacao/educacao/artigos_cientificos_imprensa/rec_223.pdf, acessado em 30 de Dezembro de 2015 3SAPO NOTICIAS, AGÊNCIA DE INFORMAÇÃO DE MOÇAMBIQUE(A.I.M).Moçambique harmoniza qualidade de ensino aos padrões da comunidade de desenvolvimento da áfrica austral (SADC). Disponível em http://noticias.sapo.mz/aim/artigo/875722082013102602.html.Acessado no dia 30/12/ 2015

Page 19: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

5

Monitoring Educational Quality (SACMEQ) em 2012. Constatou-se que Moçambique foi o

único país que, após a análise feita, demonstrou uma deterioração substancial em leitura e

matemática entre 2007–2011. Este declínio dos padrões está provavelmente ligado às rápidas

mudanças estruturais no sistema de ensino durante este periodo, o que resultou num aumento

massivo no número de matrículas, mas não forneceu os correspondentes aumentos nos

recursos humanos e materiais escolares. (OSIA, 2011)4.

Uma pesquisa efetuada pelo Banco Mundial em 2014, num grupo de professores de 10 paises

africanos(Senegal, Mali, Niger, Togo, Nigéria, República Democrática do Congo, Uganda,

Quênia, Tanzânia e Moçambique), constatou que o conhecimento geral dos professores

moçambicanos é fraco (MINEDH, 2015, p.14). A fraca qualidade dos professores impacta

obviamente na fraca qualidade dos seus alunos.

Em 2000, Moçambique posicionou-se em 4º lugar entre os países da SADC5 cobertos pelo

programa SACMEQ e em 2007, as médias da avaliação dos alunos da 6ª classe(série), nas

disciplinas de Língua e Matemática, ficaram abaixo da média global dos países membros do

SACMEQ6.

O problema da qualidade de ensino em Mocambique, duma forma geral, pode ser descrito

como uma crise educacional. NDOY (2008), numa análise do Relatório da UNESCO (2007),

sugere que muitos sistemas de educação em África enfrentam muitos obstáculos: número

insuficiente de cidadãos instruídos, difusão não equitativa da educação, deficiente

desempenho dos sistemas de ensino, má qualidade da educação, inutilidade das aprendizagens

escolares. Esta última barreira (inutilidade das aprendizagens escolares), faz-se sentir nas

escolas moçambicanas e levanta muitos debates na sociedade civil e nos órgãos de

comunicação social. Pois, embora tenham sido introduzidas algumas disciplinas no ensino

secundário, designadas profissionalizantes (Noções de Empreendedorismo e Agropecuária),

os alunos que terminam a 10ª ou 12ª classe do ensino secundário estão longe de fazerem

ligação do conhecimento teórico à prática.

4Open SocietyInitiative for Southern Africa(OSIA), Disponivel em: http://www.osisa.org/sites/default/files/mozambique_yale_por_final.pdf. acessado em 12 de outubro de 2015 5SADC- Significa Comunidade para o Desenvolvimento da Africa Austral(Southern AfricaDevelopmentCommunity), existe desde 1992 e conta com 15 paisesmembros.Antes chamava-se SADCC(Southern AfricaDevelopmentCo-ordinationConference ou Conferência de Coordenação para o Desenvolvimento da África Austral), criada em 1980 6 Fonte: SACMEQ, Policy Issues; Number 2, September 2010 (www.sacmeq.org)

Page 20: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

6

Não existe por enquanto um estudo oficial por parte do Ministério de Educação em

Moçambique sobre a qualidade do ensino no Ensino Secundário Geral (ESG)7. Esta lacuna

setorial, foi-nos confirmada através do contato que efetuamos por via e-mail com o diretor

nacional adjunto do ESG em outubro de 2015. No entanto, existe um consenso generalizado

de que a qualidade de ensino em Moçambique precisa de ser melhorada. Só existem estudos

sobre a qualidade do ensino para o nível básico. Apesar desta lacuna de informação sobre as

competências e habilidades dos alunos do nível médio, os próprios relatórios do setor sobre as

politicas educacionais já demostram que a situação da qualidade do ensino médio em

Moçambique não é das melhores, como ilustra este Plano Estratégico de Educação e Cultura

(PEEC de 2006-2011):

“O Plano Estratégico da Educação e Cultura (PEEC de 2006-2011) aprovado pelo

Conselho de Ministros na sua XXI sessão ordinária em 24/11/2009, respondendo

sobre a qualidade e formação, reconheceu que a baixa qualidade do ensino e

aprendizagem, as reprovações e desistências constituem um grande desperdício de

recursos no sistema de ensino e aprendizagem em Moçambique, e sua melhoria ou

redução constitui uma das prioridades do MEC” (JOAO, 2012, p 36)

O relatório do Ministério de Educação constatou uma estagnação das taxas de aproveitamento

na 10ª classe (série), que pioraram desde 2007 (Relatório de Desenpenho do Setor de

Educação em Moçambique, 2014).

Um estudo efetuado por OSIA (2011)8, em 2011, em cinco países da África Austral (Angola,

Lesotho, Namibia, Suazilândia e Moçambique), constatou que os alunos que entraram no

ensino secundário júnior, frequentemente repetem a mesma classe (35 por cento a 25 por

cento para júnior e sénior secundário respectivamente).

JOAO (2012), citando o PEEC 2006-2011, observa que no Ensino Secundário Geral (ESG),

cerca de 25% de alunos são reprovados anualmente. Por isso, o Ministério de Educação e

Cultura(MEC) decidiu introduzir medidas para melhorar a aprendizagem dos alunos. Em

paralelo seriam introduzidas medidas para desencorajar a reprovação, designadamente a

redução para apenas uma reprovação permitida em cada ciclo.

7 O Ensino Secundário Geral (EGS), “Compreende cinco classes ou séries. O 1º Ciclo ou o ESG1, vai da 8ª à 10ª classe( 3 series) e o 2º Ciclo vai de 11ª Classe à 12ª classe(2 series)” - Artigo 12º da Lei 6/92(UACIQUETE, 2010, p.22) 8Open Society Initiative for Southern Africa (OSIA), Disponivelem: http://www.osisa.org/sites/default/files/mozambique_yale_por_final.pdf. acessado no dia 30/12/ de 2015

Page 21: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

7

O contexto moçambicano na área da educação, concretamente no Ensino Secundário Geral, é

caracterizado por escassez ou insuficiência de recursos didáticos, por exemplo: livros, meios

tecnológicos e outros; pouca produção do conhecimento (investigação) por parte dos

professores e alunos, limitadas competências dos alunos na interpretação científica dos fatos e

nas actividades de aprendizagem. Contudo, há esforços que estão sendo desenvolvidos para

melhorar esse aspecto ao nível das instituições acadêmicas e educacionais. (JOAO, 2012)

Os pais e encarregados de educação estão preocupados porque os alunos nas escolas revelam

muitas limitações, escrevem com muitos erros, não conseguem explicar ou interpretar

conceitos e conteúdos básicos da classe que frequentam, as notas que conseguem em testes e

exames finais não encorajam, a situação da aprendizagem deles não permite confiança, muitos

deles não mostram dedicação nem preocupação pelos estudos. (JOAO, 2012)

Um estudo de caso científico foi realizado em 2011 por um estudante do Mestrado em

Educação da Universidade Pedagógica sobre o desempenho, as competências e habilidades

dos estudantes do ensino secundário geral, na escola secundaria “12 de outubro”, na cidade

Nampula, em Moçambique. A pesquisa envolveu cerca de 698 alunos da 10ª classe, com

idade compreendida entre 15 e 19 anos de idade. Os resultados demostraram que muitos

alunos já foram reprovados uma, duas ou três vezes ao longo do primeiro ciclo do ensino

secundário. No que concerne ao nivel de conhecimentos, cerca de 48,9% dos alunos

pesquisados classificaram-se como fracos, 46,8% consideraram-se médios, 3,6% disseram

que são bons alunos e 0,7% é dos que se afirmaram serem muito bons na aprendizagem. A

pesquisa constatou também que cerca de 54,6% de alunos não estudam em casa. Porém,

10,7% dos alunos disseram que estudam durante 15 minutos, 29,3% fizeram saber que

estudam entre 15 a 30 minutos e outros 5,4% estudam cerca de uma hora de tempo por dia em

casa (JOAO, 2012, p.47).

Estudos efetuados por RIBEIRO (1991) apontam que as reprovações ou repetências

acontecem também nos outros países. As causas são várias e algumas idênticas às de outros

países. Conforme observado por RIBEIRO (1991), as teorias que procuram explicar a

reprovação nas escolas cobrem um largo espectro de análises marxistas de dominação e

poder, de teorias de reprodução social, de prontidão e de privação cultural, entre outras. No

entanto, a repetência não é privilégio da escola dos pobres e muito menos da escola pública.

Uma análise sobre a distorção idade-série (conseqüência direta da repetência), com dados de

1982, mostra que, se controlarmos para o nível socioeconômico da clientela, não há diferença

Page 22: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

8

entre escolas públicas e privadas. RIBEIRO op.cit. questiona nos seguintes moldes sobre as

persistentes reprovacoes nos ultimos tempos nos sistemas educacionais do mundo:

“Como explicar o fato da repetência ser tão alta em todos os estratos sociais?

Existiria uma pedagogia da repetência? Seria este um componente cultural de nossa

praxis pedagógica? Ou apenas uma conseqüência da ineficiência do sistema?As

análises antropológicas até hoje realizadas mostram claramente na cultura do

sistema a imputação do fracasso escolar, ora aos próprios alunos, ora a seus pais, ora

ao sistema sociopolítico, raramente aos professores, sua formação ou à organização

escolar.”(RIBEIRO, 1991,p.17)

Em nossa análise concluimos que a prática da repetência está na própria origem da escola

Moçambicana. Trata-se do mesmo modelo de ensino da elite, onde o papel do professor era

muito mais de preceptor da educação orientada pela família do que autossuficiente, do ponto

de vista do processo de ensino-aprendizagem. É como se a escola tivesse apenas um papel de

administradora da educação formal, que seria realizada em casa pela família.

Hoje, as conseqüências desse processo de repetências adquirem contornos muito mais

importantes do que a noção de educação para a cidadania. A internacionalização da economia

e da tecnologia exige um nível de alfabetização funcional que vai muito além do que desenhar

o próprio nome ou ler uma mensagem simples. Tanto do ponto de vista da mão-de-obra como

dos consumidores, numa sociedademoderna, vamos precisar de uma competência cognitiva

cada vez maior de toda a população. A temática da aprendizagem dos alunos em Moçambique

tem sido objeto de debate em vários órgãos de comunicação social e em seus diferentes

programas. Estudos realizados, como, por exemplo, o denominado “Barómetro da Educação

Básica em Moçambique”, de autoria de CASTIANO, NGUENHA & GURO (2012),

concluíram que a qualidade da educação no país está cada vez mais baixa porque os pais e

encarregados de educação demitiram-se do seu papel nos serviços da educação, porque não

participam. Inferiram ainda que os alunos em Moçambique sabem ler e escrever muito tarde.

Outros estudos indicam que a qualidade da educação é baixa porque o critério para a

indicação ou nomeação dos gestores das instituições escolares é por confiança e não por

competência. Por isso, muitos deles não correspondem às exigências das dinâmicas para que a

educação tenha qualidade necessária. Nota-se desfasamento entre os conhecimentos e a

prática.

Page 23: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

9

Moçambique participa das avaliações regionais de qualidade (SACMEQ9), e tem realizado,

nos últimos anos, avaliações internas de qualidade da educação. O Relatório de Balanço do

Programa Quinquenal do Governo 2010-2014 refere que as avaliações realizadas revelam que

a maioria dos alunos moçambicanos do Ensino Primário (EP) apresentam dificuldades de

leitura e escrita e aritmética básica. As dificuldades que os alunos mostram na aprendizagem,

nas escolas moçambicanas, indicam que as escolas públicas não estão a assumir o seu

papel. De acordo com BROOKE &SOARES (2008), as escolas têm muitas responsabilidades.

Entre as mais importantes se encontra a de transmitir certas habilidades intelectuais, tais como

leitura, escrita, cálculo e solução de problemas. Uma das maneiras de avaliar as oportunidades

educacionais oferecidas pelas escolas é analisar como elas desempenham esta função.

A problemática da avaliação das organizações escolares tem vindo a ocupar um lugar de

destaque na agenda das políticas educativas, onde os processos de avaliação externa e de

autoavaliação são apontados como instrumentos decisivos para a melhoria da qualidade do

serviço educativo e para o desenvolvimento da escola. A tendência para a avaliação do

desempenho da qualidade dos sistemas educativos e dos subsistemas escolares, em particular,

como resultado da regulação que é exercida por alguns organismos transnacionais (AFONSO

& COSTA, 2011), vem reforçar a necessidade da implementação de práticas de avaliação de

escolas, ou de avaliação institucional (SOBRINHO, 2003), associando-as a conceitos como os

de qualidade, eficiência, eficácia. A avaliação sistêmica permitirá medir as habilidades

alcançadas pelos estudantes de forma coletiva. Este é um bom instrumento para monitorar

o progresso das escolas e estabelecer os parâmetros e as metas a serem perseguidas pela

comunidade escolar (ARAUJO& LUZIO, 2006).

O Relatório da Avaliação Nacional da 3ª Série, produzido em 2014, indica que, “somente 1

em cada 16 alunos é capaz de ler fases simples e inferir sobre informações num texto” o que

significa que apenas 6% dos alunos desta classe atingem um nível de leitura exigido ao fim do

primeiro ciclo (E.P.T, 2015, p.28).

Um outro relatório de estudo - Avaliação da Qualidade dos Serviços de Educação no Ensino

Básico na Óptica dos Beneficiários (2011) - mostrou que muitos alunos não dominam as

competências básicas de leitura, escrita e aritmética. Este estudo foi realizado em fevereiro

9 SACMEQ – Southern and Eastern Africa Consortium for Monitoring Education Quality (Consórcio

da África Austral e Oriental para a Monitoria da Qualidade de Educação) é um consórcio formado

por paisesafricanos que realizam avaliações sistemáticas da qualidade de ensino.

Page 24: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

10

de 2011, nas províncias de Gaza (Zona Sul do País), Zambézia ( Zona Centro do País) e Cabo

Delgado (Zona Norte), pelo Centro de Aprendizagem e Capacitação da Sociedade Civil, em

estreita colaboração como Movimento de Educação para Todos (MEPT), o Mecanismo de

Apoio à Sociedade Civil(MASC), e o IBIS.

Tudo leva a crer que até agora, para o caso de Moçambique, ainda não há consensos na

concepção e defesa duma consciência clara acerca do paradigma educacional adotado e

adaptado às condições do país. A escola moçambicana ainda carece de um discurso

paradigmático consequente e objetivo.

1.2 JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS

Pretende-se com esse trabalho analisar as politicas educacionais contemporâneas

moçambicanas para o ensino secundário através de percepção dos agentes envolvidos

(gestores e professores). Considera-se que o sistema educativo formal tem a dupla função de,

por um lado, transmitir ou facilitar a aquisição de conteúdos, valores e condutas, e, por outro,

certificar perante a sociedade que o individuo, depois de convenientemente avaliado, atingiu

certo nível educativo (CANO, 2006, p.9).

O poder politico moçambicano, através dos seus textos legais, procura assegurar a todos o

direito à educação, mas o que se observa é um descalabro total no que tange ao cumprimento

destes preceitos legais, que vai desde a omissão pura e simples até a ignorância de questões

fundamentais como por exemplo: falta de meios didáticos e carteiras nas escolas para todos,

o incumprimento dos objetivos traçados nas suas políticas educativas criadas desde o Plano

Estratégico de 1999-2005, escassez de vagas para os alunos, optando por superlotar as

turmas, péssimas condições de trabalho, excessiva burocratização na mudança de carreiras

dos seus profissionais, conflituosa formação dos professores entre o Ministério de Educação e

as instituições de formação dos professores, que resulta na insuficiência e fraca qualidade

dos mesmos, entre outros.

Apesar dos esforços do novo governo pós-independência, cuja intenção visou reverter o

cenário da educação herdada do regime colonial, fatores adversos - entre eles, o tamanho e o

ritmo de crescimento da população em idade escolar, a crise e a depressão da década 80, bem

como a guerra civil de 1976-1992, entre o Governo da Frente de Libertação de Moçambique

(FRELIMO) e a Resistência Nacional de Moçambique (RENAMO) - fizeram com que até a

fase atual as políticas públicas no setor de educação em Moçambique dependessem em grande

Page 25: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

11

parte de forças e instituições externas (ajudas externas do Banco Mundial e outras

instituições).

É no contexto acima exposto que esse trabalho tem como intenção analisar as politicas

educacionais moçambicanas nos últimos dez anos, através da percepção dos atores das

instituições ( gestores do Ministério de Educação ) e das organizações (diretores das escolas

secundárias e respetivos professores). Para tal, investigamos a percepção dos gestores e dos

professores sobre as politicas de educação em Moçambique e a qualidade do seu ensino.

1.2.1 Objetivos da dissertação

Em vista dos propósitos da pesquisa, tendo em atenção o problema, o objeto de estudo e a

temática escolhida, identificam-se os seguintes objetivos:

Objetivo Geral: analisar as políticas educacionais contemporâneas para o Ensino Secundário

Geral em Moçambique, com foco nas percepções dos agentesdiretamente envolvidos no

cotidiano escolar: professores e gestores

Objetivos Específicos:

- compreender o processo de formulação e implementação das políticas públicas do setor de

educação em Moçambique, através de uma análise da percepção dos atores envolvidos;

- realizar um estudo sobre a qualidade do ensino em Moçambique através da realização de um

estudo de caso sobre a cidade de Maputo;

- diagnosticar os desafios para o Ensino Secundário Geral.

1.2.2. Questões de pesquisa

As percepções dos gestores e professores serão analisadas visando a responder às

seguintesquestões de pesquisa:

1. As mudanças constantes das políticas públicas no setor de educação em Moçambique após

a independência afetam a qualidade no Ensino Secundário Geral?

2. A falta de infraestrutura e de condições de trabalho apropriadas afeta a qualidade do ensino

em Moçambique?

Page 26: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

12

1.3. DELIMITAÇÃO DO TEMA NO TEMPO E NO ESPAÇO

A escolha dos marcos cronológicos do período em estudo desta pesquisa, 2006-2015, teve em

vista analisar, em termos de eficácia, eficiência e efetividade, as políticas adotadas nesse

período, momento em que foram implementadas novas políticas educativas que visaram a

reforma do Ensino a partir de transformação curricular no ensino secundário geral em 2008.

A reforma educacional que ocorreu em 2008 no Ensino Secundário Geral em Moçambique,

surgiu para responder ao Plano Quinquenal do Governo de 2005-2009, à Agenda 2025, ao

PARPA, eao Plano Estratégico de Educação (PEE-2005-2009). O Plano Quinquenal do

Governo (PQG 2005-2009) definiu como prioridades ações e metas como: “a expansão das

oportunidades de acesso a uma educação de qualidade e o envolvimento de parceiros da

sociedade civil incluindo as instituições religiosas” (INDE, 2007, p.8).

Com relação à qualidade, o PQG definiu como objetivos a formação continuada, a reforma

curricular e a introdução das TICs. De acordo com o INDE, a qualidade de educação passa

pela transformação curricular do Ensino Secundário Geral para que “se centre nas

habilidades para a vida, para o mercado de trabalho, [e não] apenas para o ensino superior

(INDE, 2007, p.4). Nesse aspecto, segundo BASILIO (2010, p.140), os desafios da educação

passaram a ser empenhados nas politicas de expansão da rede escolar, apetrechamento das

escolas secundarias e formação do professor para garantir a qualidade.

O segundo projeto que justificou a introdução da reforma do Ensino Secundário Geral em

Moçambique em 2008, foi a Agenda 2025. Segundo este projeto, a educação deve se

fundamentar em quatro pilares propostos por JACQUES DELLORS (1996), que são: saber

ser, saber conhecer, saber fazer e saber viver junto com os outros.

O terceiro motivo que justificou a reforma de 2008 para o ESG foi o Plano de Acão para a

Redução da Pobreza Absoluta (PARPA II-2006-2009). Esse plano apontou como desafio a

redução do índice de pobreza para 45% até 200910. A pobreza absoluta não é relacionada

nesse plano apenas à falta de bens materiais, mas também ao baixo nível da escolarização .

Por isso é tarefa da educação tiraro paisda linhavermelha formando cidadãos capazes de

desenvolver o pais (BASILIO, 2010). 10 O objetivo do PARPA II de reduzir a pobreza para 45% provou não passar de uma utopia. Tanto os doadores como o governo obtiveram uma grande apreciação por parte da comunidade internacional, devido a uma aparente redução massiva da pobreza, mas os dados do Trabalho de Inquérito Agrícola (TIA) mostram que, ao contrário de reduzir, a pobreza de facto está a aumentar, assim como o fosso entre o rico e o pobre ((CUNGUARA & HANLON, 2010, p.1)

Page 27: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

13

Por último, aponta-se o PEE (2005-2009), que definiu como suas grandes politicas

educacionais a serem cumpridas: o aumento de acesso da menina à educação escolar,

construção e reabilitação das infraestruturas educacionais e ligação da educação com o

mercado de trabalho. A partir desse viés, o desafio da educação é oferecer habilidades para

a vida.

Escolhemos o ano de 2006 porque foi o ano em que foi introduzido o segundo PEE(2006-

2011);neste ano aparecem as questões ligadas à melhoria da qualidade de educação em

Moçambique (MEC, 2006, p.5).

Das inovações constantes no Plano Curricular do Ensino Secundário Geral (PCESG, 2007),

destacamos alguns princípios:

(1º) Ensino-aprendizagem centrado no aluno; (2º) Ensino-aprendizagem orientado para o

desenvolvimento de competências para a vida; (3º) Ensino-aprendizagem em espiral

(DUARTE, et ali, 2014, p.27).

No ensino-aprendizagem centrado no aluno, este é visto como um sujeito ativo na busca de

saberes, na construção do conhecimento e de sua visão do mundo; o ensino-aprendizagem

orientado para o desenvolvimento de competências para a vida pretende preparar os jovens

para aplicar os seus conhecimentos na solução dos problemas concretos e para continuar a

aprender ao longo da vida; e o ensino-aprendizagem em espiral permite ao aluno estabelecer

relações entre a informação nova e a anterior num processo contínuo de construção da sua

visão do mundo, tendo em consideração que o aluno é um ser social e este estabelece relações

como meio natural que o rodeia. Estes princípios são os defendidos pela Pedagogia Nova e

Formativa, onde a avaliação formativa desempenha um papel central.

Foi em 2015 que o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano introduziu o Novo

Sistema de Avaliação, com vistas a melhorar a qualidade de ensino como ilustra o seguinte

documento:

“Havendo necessidade de aprovar o Regulamento Geral de Avaliação (RGA) do

Ensino Primário, Ensino Secundário Geral e Alfabetizaçãoe Educação de Adultos,

no uso das competências que me são conferidas, ao abrigo da alínea fdo artigo 3, do

Decreto presidencial n 7/2010, de 19 de Março, determino:

Art. 1 – É Aprovado o Regulamento Geral de Avaliação do Ensino Primário, Ensino

Secundário Geral e Alfabetização e Educação de adultos, em anexo ao presente

Diploma e que dele faz parte integrante.

Page 28: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

14

Art. 2 - É revogada toda legislação anterior que contrarie o presente Diploma

Ministerial.” (MOÇAMBIQUE. Diploma Ministerial de 10 de Dezembro de2014,

anexo 3 )

Nos dias 25/02/2015, 27/03/2015 e 30/04/2015, o Ministro de Educação e Desenvolvimento

Humano, promoveu vários encontros de reflexão sobre a Educação e Desenvolvimento

Humano, com vistas acolher sensibilidades sobre o estágio atual de educação.

O encontro tinha como objetivo geral estabelecer um diálogo consultivoe permanente entre os

diferentes fazedores de educação, visando a busca de um entendimento compartilhado no

contexto do incremento do acesso à educação e melhoriada qualidade de ensino.

Por outro lado, tinha como objetivo específico desenvolver um debate interativo com antigos

ministros e com o conjunto de atores envolvidos na educação pós-independência (professores,

pais e encarregados de educação, alunos e outras personalidades da sociedade civil.).

Constituiu também, como ponto de agenda nesses encontros, estabelecer linhas de orientação

que permitissem encontrar soluções para os problemas do setor nos diferentes níveis - central,

provincial, distrital e até na escola.

O período de análise terminou em 2015 porque neste ano todos os países entregaram os seus

relatórios sobre o desempenho dos seus sistemas educativos. A Declaração do Milênio das

Nações Unidas é um marco para uma visão mais coordenada em nível mundial, voltada para o

desenvolvimento dos países de modo cooperativo no século XXI. Essa declaração definiu

questões centrais a serem enfrentadas, que foram agrupadas nos (oito) Objetivos de

Desenvolvimento do Milênio - ODM. Outro elemento a ter em conta foi a Conferência de

Dakar no Senegal, realizada em abril de 2000, na qual o governo moçambicano tomou parte.

Os participantes comprometeram-se a estabelecer um quadro de educação aceitável para todas

as crianças até 2015.

Também consideramos que o ano de 2015 representa a reta final das políticas educacionais de

2012-2016, porque muitos conselhos coordenadores já tinham apresentado relatórios sobre as

dificuldades da educação moçambicana. Em todos os conselhos coordenadores realizados

pelo setor apareceram, como questões de grande escopo, a melhoria da qualidade da educação

e os desafios a enfrentar.

Também foi durante os últimos dez anos que a educação foi muito criticada pelos pais e

encarregados de educação, pela sociedade civil, pelas mídias, e, a partir de então, o setor se

foi organizando internamente através dos encontros nacionais de conselhos coordenadores.

Page 29: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

15

Nos vários encontros de coordenadores, de 2012 até agora, o tema central de debate tem

sido a problemática da qualidade de ensino em Moçambique.

1.4. METODOLOGIA Para a concretização desta pesquisa recorreu-se à pesquisa bibliográfica e à análise de

documentos. Em complemento, foi feito um estudo de campo que permitiu a coleta de

informações, quer através da observação direta, quer através da aplicação de técnicas de

pesquisa, como aplicação de questionários e realização de entrevistas. Visando alcançar os

objetivos propostos pela dissertação e atender os pré- requisitos de um trabalho de mestrado

(desenvolver capacidade paraa prática de investigação cientifica, dentre outros), quanto à

metodologia o estudo usou ainda a análise das percepções dos gestores e dos docentes, um

método qualitativo acompanhado dos dados quantitativos obtidos e usados para a análise e

para a compreensão do contexto onde os atores se situam.

Considera-se importante tanto a análise quantitativa quanto a qualitativa na área de educação,

pois ambas complementam-se e permitem maior aprofundamento do conhecimento do

problema em questão. Foram utilizados dados quantitativos para complementar a pesquisa de

percepção dos atores.

Na investigação qualitativa, em particularnos estudos de caso, instrumentos dominantes são as

entrevistas, a observação e as análises de documentos (JULIATTO,2005).

As fontes de informação podem incluir itens como: relatos dos estudantes sobre a sua

satisfação quanto aos vários aspectos da sua experiência; relatos dos professores sobre o

desempenho do estudante; observações acerca do seu comportamento; informes sobre a

participação do estudante em atividades extracurriculares e semelhantes.

As maiores vantagens da utilização das abordagens qualitativas incluem: a possibilidade de

capturar alguns aspectos subjetivos da qualidade da educação, especialmente aqueles

relacionados com valores, sempre menos quantificáveis pela sua própria natureza e a

possibilidade de incorporar na aferição da qualidade da educação apreciações pessoais dos

participantes diretamente envolvidos na experiencia educacional.

A pesquisa estudou o caso da cidade de Maputo, a que tem mais alunos na escola, conforme a

tabela 1. Foram analisados dois distritos municipais – um numa área considerada nobre e

outro na periferia.

Page 30: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

16

Tratando-se de distritos que têm mais de três escolas secundárias do primeiro ciclo, pode-se

considerar a pesquisa como um estudo de caso do tipo instrumental. O estudo de caso

instrumental facilita a compreensão de algo mais amplo, uma vez que pode servir para

fornecer insights sobre um assunto ou para contestar uma generalização amplamente aceita,

apresentando um caso que nela não se encaixa.

Tabela 1: Moçambique: Proporção do total de rapazes e moças que frequentam o ensino

secundário, por região (em %)

Região Rapazes Moças Niassa 13 13 Cabo Delgado 8 9 Nampula 14 16 Zambézia 5 10 Tete 9 13 Manica 21 29 Sofala 17 25 Inhambane 31 28 Gaza 26 22 Maputo Província 44 38 Maputo Cidade 56 51 Fonte: Cartaz de Dados sobre a População de Moçambique, 2013. Disponível em:http://www.prb.org/pdf13/mozambique-population-datasheet-2013.pdf.

A dissertação utilizou como principais métodos do estudo a pesquisa qualitativa através das

entrevistas semiestruturadas dirigidas aos gestores do Ministério de Educação e

Desenvolvimento Humano e aos diretores das escolas secundarias, versando sobre as políticas

públicas e a qualidade de ensino em Moçambique. Fizemos também a pesquisa documental

(documentos oficiais do Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano)11,e a análise

qualitativa (observação das condições das infraestruturas educacionais, complementar às

entrevistas). O referencial teórico foi construído a partir de pesquisa bibliográfica.

A partir do portal dos periódicos da CAPES, foram baixados todos os artigos- a lista completa

tinha cerca de 4.524 títulos -, de todos os estratos. Selecionamos, então, somente os do

estrato ou categoria A1 e B2, ou seja, os periódicos (revistas) cuja área de avaliação era a

educação. Depois da identificação das revistas que abordavam o tema da educação, fez-se a

11Ministerio da Educação e Desenvolvimento Humano foi a nova designação dada pelo novo governo no poder desde 15 de janeiro de 2015, no âmbito das mudaçasinstituicionais. Em Moçambique sempre que muda o presidente, há uma reestruturação dos ministerios existentes, diminuindo ou aumentando e outros aglutinando-os.

Page 31: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

17

busca direta dos artigos a partir de bancos de dados da CientificElectronic Library (Scielo-

Brasil). Daí, acessamos o banco de dados do SciELO, e fomos abrindo artigo por artigo,

nacionais e internacionais, de modo a selecionar aqueles que melhor se adequavam ao

tema da dissertação.

Buscou-se igualmente artigos que versavam sobre o tema através de pesquisa no Google

Acadêmico, na DIALNET, SCOPUS, e no repositório cientifico de acesso aberto de Portugal.

Na análise do conteúdo de cada artigo, buscou-se identificar os seguintes elementos:

1. Caracterização dos artigos selecionados: quantidade dos artigos públicados no período

escolhido entre 2004-2014, os anos de públicação desses artigos, o foco de estudo desses

artigos, ou seja, se abordava o tema- políticas educacionais e qualidade de ensino; periódicos

em que foram públicados; classificação dos artigos de acordo com o método (se tratava de

uma pesquisa qualitativa, quantitativa, ensaio ou mista).

2. O modelo teórico proposto ou adotado pelo autor com a descrição das respectivas

variáveis que o integram.

3. Nos artigos selecionados procurou-se ler os resumos, as metodologias, os resultados

das pesquisas, prestando atenção em como os dados foram analisados, ou seja nas conclusões

apontadas pelos pesquisadores.

4. Foram consultadas também teses e dissertações sobre Moçambique, Brasil e Portugal.

Foram também levantados artigos em periódicos nacionais na área de educação do Brasil,

classificados pela CAPES, na base de dados qualis.gov.br , nos extactos mais elevados ( A e

B), que refletem também o impacto dessa produção. Além disso, foram pesquisadas as

bases de dados Sage, Willey, oxfordjournalsAtypon, JSTOR, Proquest, porque abarcam

grande número de periódicos internacionais, a fim de realizar um levantamento o mais

abrangente possível de artigos científicos sobre o tema.

Optou-se por escolher dois descritores: políticas educacionais e qualidade de ensino, assim

como os termos correspondentes em inglês.

Após a leitura dos resumos, foram descartados aqueles que não abordavam o tema das

políticas educacionais e qualidade de ensino para o ensino médio, o foco da nossa

investigação, ou que não atendiam aos critérios de classificação definidos anteriormente.

Foram aproveitados 94 artigos, sendo 20 públicados em periódicos internacionais e 74 em

periódicos nacionais (do Brasil).

Page 32: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

18

O estudo de caso da presente dissertação baseou-se em:

a) Pesquisa documental - relatórios públicados pelo Ministério de Educação e

Desenvolvimento Humanonos últimos dez anos na capital do pais (Maputo)e relatórios da

UNESCO sobre educação no mundo.

Considerando o papel fulcral da revisão da literatura na conceitualização e organização

sistemática de qualquer pesquisa, é importante, tal como refere FORTIN (2009,p. 83),

“proceder de forma metódica à localização das obras de referencia, de modo a retirar destas

os maiores benefícios possíveis”. O autor faz ainda um alerta, particularmente aos

pesquisadores iniciantes, de que “para efetuar uma pesquisa documental de forma eficaz,

interessa ao pesquisador (…) familiarizar-se com as bibliotecas, os centros de documentação e

conhecer bem os serviços oferecidos pelas bibliotecas e centros conexos”.

No estudo, a pesquisa documental baseou-se em documentos escritos (livros, revistas,

dissertações da internet, artigos, Lei 4/83 e Lei 6/92 do Sistema Nacional de Educação

(SNE), Plano Curricular do Ensino Secundário Geral, Planos Estratégicos de Educação

(PEEs) de 2006-2011 e 2012-2016, Política Nacional de Educação e Estratégias de

Implementação, relatórios dos conselhos coordenados do Ministério de Educação, relatórios

anuais do setor, e relatórios das escolas secundárias.

b) Entrevistas semiestruturadas: 116 professores; seis diretores sêniores do Ministério de

Educação e Desenvolvimento Humano (o diretor nacional do Ensino Secundário Geral e o

seu adjunto, o chefe do departamento na Área de Planificação , o chefe dodepartamento do

MINEDH na Direção de Gestão e Garantia da Qualidade,o chefe do departamento do

Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano, da Direção de Planificação e

Cooperação e Equipamentos Escolares - DIPLAC- e uma entrevista com o diretor da

educação da Cidade de Maputo- Secretaria de Educação ); oito entrevistas com diretores de

escolas secundarias (Escola Josina Machel, Escola Secundária da Polana, Escola Secundária

Estrela Vermelha, Escola Secundária Francisco Manyanga, Escola Secundária da Eduardo

Mondlane, Escolas Secundárias do Noroeste 1 e 2, e a Escola Secundária Santo António

do Bairro de Maxaquene).

O estudo usou entrevistas semiestruturadas, onde se fez combinação de perguntas abertas e

fechadas, dirigidas aos entrevistados e conduzida por meio de um roteiro elaborado com o

auxílio da revisão bibliográfica. O objetivo da aplicação desta técnica é de estabelecer

Page 33: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

19

contato direto com as pessoas envolvidas com o problema, e possibilitar ao entrevistado

falar na primeira pessoa sobre os contornos do caso em estudo.

Desta forma, para a nossa pesquisa, privilegiamos a observação não participante, porque o

objetivo foi o de obter dados empíricos, distânciando-nos, de certa forma, dos sujeitos

observados, já que o tempo disponível para a realização do trabalho de campo não nos

permitia a realização de observação participante. Com esta técnica, tivemos oportunidade de

viver in loco a realidade das infraestruturas sociais, bem como o processo de ensino e

aprendizagem tal como está sendo conduzido nas escolas secundárias dos distritos municipais

de Kampfumo e Kamaxaquene.

Durante o nosso período de observação, tivemos oportunidade de visitar as salas das aulas, as

bibliotecas, de interagir com os professores e funcionários administrativos, mas de forma

camuflada, com o intuito nos inteirarmos sobre a situação estudada. .

Para apuração dos dados, o estudo apoiou- se nas entrevistas com 116 professores do 1º ciclo

do ensino secundário e comcatorze gestores de educação ,seis do Ministério de Educação

eoito diretores das escolas secundárias. Ainda fizemos entrevistas com dois jornalistas (um da

Radio Moçambique e o outro de uma televisão privada de grande aderência do grupo SOICO

- STV)12; dois acadêmicos(um docente da Universidade Pedagógica UP13 que é Pro- Reitor

e PhD, e um docente sênior , PhD, também da UP) ; um diretor adjunto do Instituto Nacional

do Desenvolvimento da Educação(INDE)14; e um diretor do Instituto de Administração

Pública(ISAP).

1.5 MOTIVAÇÃO DO TEMA E SUA RELEVÂNCIA Foram várias as razões que nos levaram à escolha deste tema. O interesse pela realização

deste estudo ancora-se, em primeiro lugar, no fato de o autor ser profissional do setor de

educação, como professor do ensino secundário geral, como docente universitário e autor de

manuais escolares para a área de educação, e como funcionário da educação, no distrito

municipal Kampfumo, na Cidade de Maputo, há 10 anos. Este convívio com a questão 12A escolha dos profissionais de midia decorre do fato que são eles que sempre apontam os problemas da educação, relacionados com a qualidade de ensino em Mocambique, nos jornais e na televisão. 13. Universidade Pedagógica ( UP),é uma instituição pública de ensino superior que forma professores para todos os niveis de ensino, assim como outros quadros para as áreas educacionais e afins e tem como objetivos gerais a formação superior, a investigação e a extensão. 14 Instituto Nacional do Desenvolvimento da Educação (INDE). As funções do INDE orientam-se para a planificação e desenvolvimento curricular e realização de pesquisas educacionais.

Page 34: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

20

educacional, de pouco mais de uma década, motivou o autor desta dissertação a procurar

entender, através de uma pesquisa empírica, os elementos que condicionam a qualidade do

ensino secundário em Moçambique. Esta pesquisa poderá constituir uma modesta

contribuição válida para o país, na medida em que poderá ajudar a identificar algumas

questões e fatores que motivam a fraca qualidade no Ensino Secundário Geral, o que poderá

contribuir para a análise e avaliação das políticas públicas na educação.

A contribuição que se espera deste trabalho é ajudar a descobrir e discutir a relevância das

prioridades de políticas públicas e, por via disso, sugerir alguns subsídios na perspectiva de

uma maior coerência e consistência entre os instrumentos de planificação da educação

governativa, acentuando deste modo o papel do setor de educação na busca da resposta ao

principal desafio do governo: o combate à pobreza, que só será efetivo com medidas de

políticas para uma educação efetiva. Do ponto de vista científico, a contribuição que se espera

é fornecer elementos para a análise da eficácia das políticas educacionais adotadas pelo

governo de Moçambique no setor de educação.

Por estas razões, esperamos que esta dissertação possa constituir uma mais- valia nas mãos

dos professores, instituições de formação, formuladores de políticas, gestores, para assegurar

uma educação relevante e de qualidade, indo ao encontro do que é preconizado por

PERRENOUD (citado por DUARTE, et al., 2012) , quando sustenta que devemos “opor-

nos aos problemas com continuidade e paciência, renunciar aos efeitos imediatos e ao

pensamento mágico, compreender que a reforma da escola não é uma guerra relâmpago, mas

uma longa caminhada”, pois é nosso desejo que os alunos possam progredir não só na

escola, mas sobretudo, nas suas vidas.

1.6 DESCRIÇÃO DO PERCURSO DA PESQUISA Após a indicação dos paradigmas da investigação em educação, importa agora, mesmo que de

forma sucinta, descrever a trajetória da pesquisa.

O projeto que hoje se tornou uma realidade de pesquisa empírica foi concebido em 2013 na

cidade de Maputo, em Moçambique, e posteriormente submetido à Universidade Federal do

Rio de Janeiro (UFRJ/IE), do que resultou a aceitação de seu autor no programa de pós-

graduação em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento (PPED/IE) para o ano

acadêmico 2014/2015.

Page 35: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

21

O projeto começou a ser desenvolvido em outubro de 2014 com a colaboração da orientadora

e em dezembro do mesmo ano já estavam criadas as condições para o início do trabalho de

campo. O trabalho de campo foi realizado em Maputo, Moçambique, nos distritos municipais

de Kampfumo e Kamaxaquene, em Dezembro de 2014. O autor da presente dissertação viajou

para este país, e durante dois meses (janeiro e fevereiro de 2015), foi efetuada a coleta de

informações. Essa coleta foi realizada através de:

a) Pesquisa por questionários dirigidos aos professores (veja-se apêndice 1);

b) Entrevistas semiestruturadas gravadas e posteriormente transcritas com os

funcionários sêniores da educação no Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano,

com os diretores das escolas envolvidos no estudo de caso, com os jornalistas da Rádio e

Televisão (RM e STV), e com os acadêmicos experientes na área e com varias públicações

sobre educação em Moçambique;

c) Observação direta não participante feita de forma informal sobre as condições das

infraestruturas escolares;

d) Análise documental.

Tanto as entrevistas como apesquisa realizada através de questionários dirigidos aos sujeitos

envolvidos, foram precedidas por uma introdução explicitadora da identidade do pesquisador

e dos objetivos que norteavam o estudo, de forma que não houvesse equívocos por parte dos

sujeitos da pesquisa quanto à sua finalidade, e foram antecedidas por uma credencial nas

instituições por onde passamos.

Com as informações já recolhidas, seguiram-se as fases de análise dos questionários

preenchidos pelos professores pesquisados, transcrição das entrevistas, codificação e

categorização dos dados, elaboração das dimensões de análise, e tabulação e análise dos dados

dos questionários e finalmente, depois da seleção criteriosa da informação necessária, seguiu-

se a fase de redação da dissertação.

A pesquisa teve dois momentos. O primeiro momento foi a fase de identificação das fontes

bibliográficas, através da revisão da literatura, durante a qual fizemos igualmente a pesquisa

bibliográfica a partir dos periódicos da CAPES e acervos da Scielo Brasil. A pesquisa

bibliográfica teve como objetivo verificar as abordagens metodológicas utilizadas pelos

autores nos artigos, dissertações e teses que abordam o tema em estudo. Também fez-se o

levantamento das fontes documentais que abordam aspectos gerais sobre o objeto de estudo.

Page 36: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

22

A pesquisa bibliográfica permitiu-nos explorar melhor aspectos relativos às discussõesatuais

sobre as políticas educacionais contemporâneas, bem como entender o impacto da

globalização sobre estas políticas. E por último, permitiu-nos esclarecer as diferentes visões

dos autores sobre o que é a qualidade de ensino, e outras categorias de analise relacionados

ao tema.

O segundo momento da pesquisa decorreu entre janeiro e fevereiro de 2015, em Moçambique,

na cidade de Maputo, nos distritos municipais de Kampfumo( área urbana) e Kamaxaquene

(nos arredores da cidade ou zona desfavorecida, com grandes desigualdades socias).

Foi na cidade de Maputo que fizemos a pesquisa empírica, através das entrevistas

semiestruturadas e questionários dirigidos aos gestores, diretores, intelectuais, e

representantes da midia. Para a consecução dos objetivos do estudo, fizemos a coleta dos

documentos no Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano e na Direção Nacional

do Ensino Secundário Geral. Os seguintes documentos foram examinados: Novo

Regulamento Geral de Avaliação, Termos de Referencia para Encontros de Reflexão sobre a

Educação e Desenvolvimento Humano, Regulamento Orgânico da Direção Nacional do

Ensino Secundário Geral, Relatórios sobre as Construções Escolares na Direção de

Planificação e Cooperação e Equipamentos Escolares (DIPLAC).

Também foram analisados: o Plano Estratégico de Educação (PEEC 2006-2011); o PEE

2012-2016; o Plano Curricular do Ensino Secundário Geral;o Relatório de Educação Para

Todos, e outros relatórios inerentes ao tema de pesquisa.

Foram feitas entrevistas previamente agendadas, tendo sido algumas remarcadas após

intervenção do Ministério de Educação, cuja indicação foi fundamental para conseguir os

questionários preenchidos. Aqueles questionários não preenchidos presencialmente foram

posteriormente enviados pelo Correio.

De acordo com o problema que levantamos e os objetivos delineados, associados às hipóteses

da pesquisa, selecionamos as seguintes técnicas de coleta de dados:

a) Questionários

Aplicamos 116 questionários aos professores do Ensino Secundário Geral que nos permitiram

colher informações sobre sexo, ou seja, o nível da representatividade dos professores em

Page 37: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

23

termos de gênero15 nas escolas onde trabalham (34,4% do sexo feminino e 62,6% do sexo

masculino). Os questionários nos permitiram também avaliar o nível de formação profissional

dos professores do universo de entrevistados (68,9% têm o nivel superior), a demanda da

universidade onde os mesmos professores foram formados, o tempo de serviço desses

professores, bem como a relação entre professor e número de alunos na sala de aula.

O questionário permitiu-nos fazer uma análise das atuais políticas educacionais

moçambicanas em termos da sua credibilidade, se são boas ou não; nas respostas, os

professores deram o seu parecer geral. No capítulo 4 daremos o veredito final, do consenso

ou não dos professores em relação às questões formuladas.

A partir do questionário distribuído pelos professores identificamos as percepções sobre as

causas da baixa qualidade do ensino no Ensino Secundário Geral- ESG. Conseguimos

perceber se os professores e outros atores costumam ser solicitados no processo de desenho da

agenda educacional, ou seja, no processo de formulação das políticas educacionais. Para a

compilação das questões do questionário utilizamos o software Statistical Package for the

Social Science (SPSS) versão 13.

O questionário mostrou-nos as reais condições de trabalho dos professores pesquisados. Por

outro lado, mostrou-nos a fragilidade do uso dos manuais, laboratórios e a não existência de

bibliotecas e salas de informática na maior parte das escolas pesquisadas.

Dando prosseguimento ao trabalho, o autor entrevistou treze gestores, seis ao nível do

MINEDHH, um do INDE, oito diretores das escolas secundarias, dois acadêmicos, dois

jornalistas.

Entrevistamos diretores das escolas com o objetivo central de colhermos as sensibilidades dos

mesmos em relação aos problemas da educação, verificando como avaliam o sistema e o que

acham que deve ser mudado no ESG, a curto prazo. Ou seja, o que percebem como grandes

desafios para o Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano para melhorar a

qualidade de ensino.

15Geralmente em Moçambique supõe-se que as mulheres foram concebidas para cuidar dos filhos, marido e de casa. Para tal, cabe ao homem como chefe da família trabalhar para por comida em casa, a prática antiga da comunidade primitiva . Alguns maridos não aceitam que suas esposas estudem estando no lar. Muitos homens alegam que se não haverá respeito em casa se as mulheres forem educadas. Mas a pequena participação de professoras também pode estar aliada à fragilidade da politica de inclusão no sistema, sobretudo para o ensino superior para elas depois da conclusão dos cursos poderem trabalhar.

Page 38: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

24

Todas as entrevistas foram semiestruturadas, ou seja, basearam–se no roteiro de perguntas.

Os dados obtidos através das entrevistas foram analisados com a técnica de análise de

conteúdo, procurando sempre fazer com que esta análise fosse eficaz, rigorosa e precisa. Para

a análise de conteúdo, conforme BARDIN (1995), orientamo-nos pelas seguintes fases: (i)

Pré-fase, ( ii) exploração do material e ( iii) tratamento dos resultados, inferência e

interpretação.

1.7 ESTRUTURA DO TRABALHO No primeiro capitulo desta dissertação se faz um esboço sobre a realidade da educação em

Moçambique no pós independência (1975), caracterizando os paradigmas dos sistemas

educacionais vigentes. Ainda na parte introdutória, são apresentados os objetivos da pesquisa,

as hipóteses, e as metodologias que a nortearam. São apontadas também as razões da

persistência do tema e sua importância para as futuras investigações.

O segundo capítulo deste trabalho discute o que são politicas educacionais;analisa também

a internacionalização das políticas educacionais no mundo. Ainda neste capitulohá um breve

histórico sobre as primeiras preocupações com a qualidade de ensino no mundo, e procura-se

entender oque são políticas educacionais e o que as diferencia das outras políticas públicas.

Discute-se também o que é qualidade de ensino em um sistema educacional. O capítulo

aborda ainda a questão da eficácia escolar, ou seja, quando é que uma escola pode ser

considerada eficaz e quando é que pode ser considerada como uma escola ineficaz.

O terceiro capitulo examina o processo de formulação e implementação das políticas públicas

no setor de educação em Moçambique. Inicia com uma apresentação da evolução das políticas

de educação em Moçambique e faz uma avaliação das políticas de educação no país. O

capítulo fecha em forma de conclusão sobre a história da educação em Mocambique bem

como o processo da sua formulação e implementação.

O quarto capítulo é o capitulo principal da pesquisa porque é onde são apresentadas as

percepções dos atores envolvidos nas políticas públicas de educação em Moçambique - os

gestores a nível do ministerio de educação, os professores e os profissionais de comunicação

da Rádio e Televisão com maior audiência pública. São apresentados os resultados da

pesquisa do campo e os atuais desafios de educação em Moçambique, encerrando-se a

dissertação com as conclusões, as referencias bibliográficas, os apêndices e os anexos.

Page 39: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

25

CAPÍTULO 2: POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO, QUALIDADE DA EDUCAÇÃO E

EFICÁCIA ESCOLAR

2.1 POLÍTICAS EDUCACIONAIS

Entende-se por políticas públicas educacionais aquelas que regulam e orientam os sistemas de

ensino.Cada país define ou formula as suas próprias políticas públicas baseadas na

Constituição desse país e nos instrumentos orientadores dessas políticas, identificados, em

países como Moçambique , sob a denominação “Política Nacional de Educação”.

No caso de Moçambique, a conciliação dos interesses dos diversos setores envolvidos com a

educação tem sido impedida pela exclusão das famílias, professores, alunos, e da sociedade

civil na tomada de decisões sobre as políticas educacionais. Ou seja, sempre que se faz

reajustamento dos currículos escolares, as contribuições da sociedade civilnão são incluídas e

levadas em consideração, fato que cria descrédito em relação às políticas orientadoras.

Como destaca FREITAS (2001), qualquer mudança no âmbito da educação só pode ser feita

“com” os professores mas, para isso, eles têm que ser informados, formados, e,

corroborando COSTA (2007), “avaliados”, na perspectiva do incentivo de boas práticas e

de partilha de experiências. Desta forma, o que diferencia a política de educação de outras

políticas é o conjunto dos seus objetivos e a população alvo dessas políticas para as quais

foram direcionadas, o seu foco. A política pública em geral e a política educacional, em

particular, são campos multidisciplinares, mas cada qual adota um foco diferente. Não se pode

fazer mudanças curriculares dentro de um sistema de ensino ou introduzir novas politicas

educacionais sem fazer uma auscultação aos professores. Introduzir políticas dentro de um

sistema educacional sem consultar os profissionais de base, faz com que o processo da sua

implementação corra mal e gera fracasso escolar dentro do sistema.

As políticas educativas, de forma dialética e consensual, podem construir, junto com os

protagonistas da comunidade escolar, a descentralização e a autonomia das escolas. As

imposições por decretos, circulares e outras formas de comunicar normas e regras de

modelo de cima para baixo não ajudam a escola a desenvolver as suas reais capacidades

de gestão e formação. Portanto, as imposições a todas as escolas e pessoas envolvidas no

processo educativo, criam insatisfação e um fosso entre a escola e os governantes. A politica

educativa, para poder ter uma incidência na melhoria da educação, deve em primeiro lugar

Page 40: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

26

ser coerente, sistêmica, com um foco claro e sustentável no tempo. A comunidade escolar

deve estar preparada para participar de forma ativa e criativa nas mudanças.

Em outras palavras: “uma política educacional é um conjunto de decisões tomadas

antecipadamente, para indicar as expectativas e orientações da sociedade em relação à

escola”(AKKARI, 2011,p.12).As políticas educacionais estão intimamente relacionadas ao

sistema de governo. Nas sociedades democráticas, onde as eleições são o sistema de

designação dos governantes, as políticas educacionais se encontram frequentemente no centro

do debate eleitoral.

Portanto, as políticas educacionais são constantemente avaliadas e discutidas. Um dos

objetivos mais citados na avaliação das políticas educacionais é o de verificar a adequação

entre os elementos de uma política educacional e as necessidades socioculturais encontradas.

As avaliações fornecem informações sobre a eficácia dos investimentos em educação e

confirmam a dominação do conceito de rentabilidade nos sistemas educacionais (DEMAILY,

2001).

Outro objetivo das políticas educacionais é de fornecer os argumentos para o debate sobre

educação. Como sublinha DEMAILY (2001), nas discussões entre os autores do sistema

educacional, afirmar não é suficiente, é necessário argumentar e apresentar provas dos

avanços, sob a forma de elementos concretos destinados a convencer, impressionar, envolver

seus interlocutores.

No confronto entre os sistemas educacionais, existem os “vencedores” e os “ perdedores”. Por

exemplo, a Finlândia aparece, após seus excelentes resultados no Programme for International

Student Assessment (PISA), como o Eldorado das boas políticas educacionais. A capacidade

de regulação e a margem de manobra é notoriamente diferente entre os países desenvolvidos

e os países em desenvolvimento. Os países da Africa subsaariana aparecem como os mais

permeáveis às influências externas sobre suas políticas educacionais, mas também como os

menos preparados para regulá- las (AKKARI,2011,p.16).

A circulação de conceitos considerados relevantes para as políticas educacionais foi

favorecida pela via darwiniana dos sistemas educacionais, segundo AKKARI(2011),como

ilustra o documento do Banco Mundial (1999), que distingue quatro tipos de sistemas

educacionais no mundo:

1) Os sistemas maduros (avançados):encontramos nesse grupo os países da OCDE e

alguns países do leste da Asia e do Oriente Medio, caracterizados por uma boa

Page 41: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

27

infraestrutura educacional e pela aquisição sistemática de conhecimentos adequados pelos

estudantes. Restam ainda alguns problemas residuais, tais como ineficiência ou desigualdade.

2) Os sistemas reformados: os países do Leste Europeu e as antigas repúblicas soviéticas,

cujas infraestruturas são relativamente boas, encontram-se neste grupo. Mas a falta de

qualidade, a demanda nem sempre atendida e a desestruturação de alguns sistemas

educacionais são constatadas.

3) Os sistemas emergentes: estes sistemas fazem referência à América Latina, à Asia e à

África do Norte. A taxa de escolarização é elevada e o crescimento do setor privado é

favorecido. No entanto, alguns setores da população se deparam com serviços educacionais de

baixa qualidade.

4) Os sistemas subdesenvolvidos: a África subsaariana e alguns países da Africa do Sul

(localizados em muitas regiões em desenvolvimento) fazem parte desta última categoria.

A universalização da educação básica continua sendo uma exceção. Intervenções no longo

prazo são necessárias para criar sistemas modernos de educação (AKKARI, 2011).

A UNESCO (2005) faz referência a conferências que se realizaram em torno do debate sobre

políticas educacionais na África, como por exemplo as conferências no Cairo, Egito (1954),

em Addis-Adeba (1961), na Costa de Marfim (1964), e em Dakar, Senegal (2000)

(MASSIMACULO, 2010).

A conferência de Jomtien influenciou fortemente a agenda das políticas educativas dos países

em desenvolvimento na década 90, de tal modo que Moçambique, em tempo de paz e num

ambiente de democracia multipartidária, ratificou muitos documentos internacionais,

comprometendo-se a envidar esforços no cumprimento das suas decisões.

A efetivação das políticas públicas de educação envolve e depende do envolvimento de ações

de diversos segmentos relacionados à educação. Cada um desses segmentos constitui grupos

sociais de vínculos diversos com os processos educacionais, por isso são denominados de

sujeitos da educação (CORDIOLLI, 2011). Os principais agentes envolvidos nesse processo

são: gestores dos poderes executivos; autoridade educacional especificamente designada para

esta função; funcionários de órgãos públicos educacionais; conselhos de educação;

parlamentares; autoridades judiciárias; professores e pedagogos; funcionários de escolas etc.

A elaboração de um plano de educação pressupõe algumas razões e demandas que o exijam.

Isso significa que deve ser constatada a existência de determinado problema para, então,

buscar soluções para ele, formular uma política e um plano de implementação. Ocorre

que um problema nacional, como problema governamental, só existe com uma preocupação

Page 42: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

28

coletiva. Não basta, assim, somente algumas pessoas terem consciência do problema; é

preciso que existam pressões sociais coletivas para que determinado aspecto da realidade

seja considerado problema. Somente quando essa consciência se generaliza e se difunde

amplamente na sociedade é que se pode falar de um problema em tema nacional e de

governança.

As estratégias de formação de professores devem estar articuladas a uma política pública de

educação profissional que contenha um projeto de formação de professores nessa área. Caso

contrário, continuar-se-á a realizar ações pontuais, de pouco alcance e com pouca capacidade

de gerar efeitos sobre o ser humano, o que caracteriza uma educação formal e não um

acontecimento pedagógico (KLIMBERG, 1972). É necessário considerar, também, a

necessidade de definição de estratégias e fontes de financiamento da educação profissional e,

em particular, de formação de professores para a educação profissional.

Na realidade, Moçambique ainda enfrenta enormes desafios, não apenas quanto à formação

dos professores, mas também em relação a temas correlatos, como o controle da criação

e funcionamento de cursos de formação docente, particularmente os oferecidos pelas

instituições privadas, e a melhoria das condições de trabalho para o exercício

profissional, considerando as exigências da dignidade da profissão e do compromisso

social e político dos educadores.

No campo das políticas públicas para o setor, não faltaram soluções para o problema

propostas ao longo dos anos. Algumas, porém,são falsas. Este é bem o caso da atual

argumentação em defesa do ensino à distância ( EaD), para a formação docente. Uma das

justificativas centrais utilizadas é que faltam professores no país, em especial para o ensino

médio (HELENE, 2012)16. De fato, faltam professores em salas de aula, mas qual é a causa

disso? Será realmente a falta de professores formados ou a impossibilidade de formá-los em

cursos presenciais?

HELENE (2012) é claro ao responder essa pergunta:

“Não é verdade que não existem professores em quantidade suficiente para atender

à demanda; eles e elas existem, mas cerca de um milhão de pessoas com cursos

de licenciatura estão fora das salas de aula. Esse número de professores que não

16 Mas também existe uma outra causa. A opção pelo ensino EaD, segundo o ex- Diretor do Ensino Secundario Geral, Ivaldo Quincardete, através da entrevista que efetuamos em janeiro de 2016, é para acolher alunos com idade avançada que não conseguiram vaga ou espaço para se matricular no curso diurno do Ensino Secundario Geral. Uma outra justificativa dada pelo odiretor é para atender os trabalhadores que não tiveram oportunidade de estudar.

Page 43: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

29

se dedicam ao ensino corresponde a cerca de 70% das pessoas que concluíram

cursos de licenciatura nos últimos 25 anos e que, portanto, estão na idade

profissionalmente ativa. E a explicação para esse facto é fornecida pelas

condições de trabalho, pelo baixo prestigio da profissão, pelo desrespeito

profissional que sofrem até mesmo por parte das pessoas responsáveis pela

execução das políticas educacionais do pais e pelas condições salariais.” (p.3)

O sistema de ensino em Mocambique de 2000 a 2014 pode ser assim caracterizado.

“A fraca qualidade de ensino leva à desistência e à reprovação dos alunos. Os

reprovados tendem a favorecer a existência de turmas numerosas e escolas

superlotadas, que acabam funcionando em regime de 3 turnos, reduzindo o tempo

disponível para a aprendizagem, o que conduz o sistema a um ciclo vicioso de

degradação da qualidade de ensino”(E.P.T,2015,p.6.).

2.2 QUALIDADE DA EDUCAÇÃO

A questão da qualidade da educação tem sido objeto de abordagem, discussão e análise desde

a antiguidade. Por isso, o seu significado deve ser devidamente contextualizado, tendo em

conta os processos de desenvolvimento social, econômico, cultural, político, etc., não

existindo um entendimento comum acerca do que é a qualidade de educação (DUARTE, et

ali, 2012, p.18).

O conceito de “qualidade” aplicado à educação em geral, e ao ensino em particular, é desde

algum tempo uma preocupação mundial, que se transformou numa questão de debate a partir

de 1940, quando surgiram oportunidades para a expansão da escolarização da população

(HOBSBAWM, 1995). GUSMÃO (2010) afirma também que a crescente incidência da

questão da qualidade nas discussões e políticas públicas educacionais é um fenómeno de

escala mundial. O problema da qualidade de ensino ocorreu também no Reino Unido, na

França e outras nações desenvolvidas. Evidentemente, as sociedades politicas menos

desenvolvidas contam com maiores problemas sobre a qualidade de ensino. Não há uma

definição universal de qualidade, mas existem algumas bem simples, como a de José

Francisco Soares, a do presidente do INEP no Brasil (2009). Para ele, escola de qualidade é

aquela em que os alunos aprendem oque precisam aprender e saem da escola no tempo certo.

JULIATTO (2005, p. 20), também defende a mesma posição afirmando que a preocupação

com a qualidade da educação não é um assunto isolado de um único país. Ela existe como

crescente desafio mundial. O assunto vem recebendo bem mais atenção em todos os sistemas

Page 44: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

30

educacionais, e se tornando tema frequente e objeto de recomendações dos organismos

internacionais voltadas para a educação.

De uma forma simplificada, o interesse pela qualidade na educação pode ser considerado

como um movimento natural de reação às reformas do ensino dos anos 60 e 70 do século XX,

nos países da OCDE, motivadas por duas pressões: por um lado, a expansão ou crescimento

quantitativo e, por outro, o alargamento do acesso a novos sectores da população (igualdade

de oportunidades) (OCDE, 1992). A década de 1980 também é apontada por ADAMS (1993)

como aquela do advento do “Consenso Internacional” em torno da necessidade de melhoria da

qualidade de educação. Para ele, a questão da qualidade vem em substituição à da igualdade

de oportunidades, a pauta mais tradicional da agenda dos desafios educacionais . A ênfase

desloca-se da expansão do acesso à escola para a garantia da qualidade (GUSMÃO, 2010,

p.30).

Segundo JULIATTO (2005), a qualidade da educação é um conceito complexo e muitas vezes

obscuro, que inclui algumas inelutáveis conotações subjetivas. Pesquisadores e observadores

recomendam que a questão deva ser abordada de modo multidimensional e eclético, visto que

o conceito de qualidade escapa a uma definição singela e sucinta . A literatura sobre a

qualidade do ensino geralmente abrange amplas dimensões, dentre elas os conteúdos e os

métodos de ensino e a administração do sistema educacional.

A qualidade da educação dependerá em boa medida do acesso universal à educação e da

conclusão dos estudos:

“O acesso é um primeiro passo no direito à educação, mas seu pleno exercício exige

que seja de qualidade promovendo o pleno desenvolvimento das múltiplas

potencialidades de cada pessoa com aprendizagens socialmente relevantes e

experiências educacionais pertinentes às necessidades e características dos

indivíduos e dos contextos nos quais se desenvolvem” (UNESCO, 2008, p.32).

O sucesso educacional pode ser definido a partir da realização do direito à educação, previsto

constitucionalmente. A realização desse direito compreende o acesso à educação de

qualidade, que permite o desenvolvimento de habilidades e competências para a vida plena

em sociedade (aprendizagem – desempenho), a partir da progressão nas sucessivas etapas da

escolarização (fluxo – rendimento) conforme observado por RIBEIRO, et. al. (2014). No

informe de monitoramento da Educação para Todos no Mundo (UNESCO, 2005a),

mencionou-se que uma educação de qualidade deveria abarcar três dimensões fundamentais: o

respeito aos direitos humanos, a eqüidade e a pertinência. A essas dimensões haveria que

Page 45: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

31

acrescentar a relevância, assim como duas de caráter operativo: eficácia e eficiência.

(UNESCO, 2008).

A qualidade de ensino pressupõe um julgamento de mérito que se atribui tanto ao processo

quanto aos produtos decorrentes das ações desenvolvidas, o que, de certa maneira, implica um

juízo de valor. A qualidade de ensino tem que ser entendida como satisfazendo critérios bem

definidos que expressam: (1) definição de critérios pedagógicos e sociais; (2) explicação de

indicadores; (3) planificação e execução de estratégias de avaliação mais amplas para

validação ou não da qualidade desejada.

A introdução do currículo para o ensino básico em Moçambique em 2004, que incorporou

como “grande politica educativa” as pasagenssemi-automáticas (PSA), atiçou ainda mais o

debate sobre a qualidade de ensino em Moçambique, porque as crianças passaram a ser

deixadas avançar paraa classe ou serie seguinte sem habilidades e competências na leitura,

escrita e cálculos, o que teria chamado atenção dos pais e encarregados de educação a nível

nacional. Foi a partir dessa constatação que passou se a fazer um debate acirrado na

televisão, radio, e outros órgão de informação. Nos últimos tempos, a questão sobre a

qualidade de ensino em Moçambique passou a incomodar também os políticos moçambicanos

e tem estado a ser debatido na Assembleia da República (no Senado ou Câmara dos

Deputados).

A melhoria da qualidade da educação em Moçambique, deve–se orientar por estratégias

que estabeleçam metas de desempenho, diminuição de numero de alunos nos estágios

muito críticos de aprendizagem, alcance de medidas mínimas satisfatórias na avaliação

externa e regularização de fluxo escolar, diminuindo a evasão, a distorção idade / série e o

abandono. Por outo lado, a melhoria da qualidade da educação passa por melhorar a gestão,

isto é, por intervenção pública estruturada, orientada para resultados claros, longe do

voluntarismo pedagógico que pouco tem contribuído para solucionar os principais dilemas

da educação (ARAUJO & LUZIO, 2006, p.69).

Este problema também tem estado a ser objeto de pesquisa pelos acadêmicos e outros

interessados, em forma de relatórios, livros, mas de forma ainda tímida. Isso porque

Moçambique não dispõe de uma instituição crível, a nível do Estado ou independente

como nos países da OCDE e da América Latina, para avaliação do seu sistema de ensino

e que pudesse oferecer aos pesquisadores resultados divulgados em bancos de dados e

disponíveis para todos.

Page 46: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

32

O relatório intitulado Educação para Todos em 2015 na Cidade Maputo, indica que:

“Em todos os níveis de ensino, a qualidade de ensino é afetada pelo crescimento

acelerado dos efetivos escolares que está desfasado dos efetivos escolares e da

formação e constatação dos professores em quantidade e qualidade para o

sistema”(E.P.T, 2015, p.3).

Daí as elevadas taxas aluno/professor e aluno/turma que existem em Moçambique. O governo

vem fazendo esforços para combater este problema, ampliando a rede escolar para o ensino

secundário geral. Moçambique conta atualmente com cerca de 11.922 escolas primárias do

ensino básico e para o ensino secundário tem cerca de 629 escolas a nível nacional. Deste

numero, 53% são do ESG1. O ESG1 e o ESG2 contam com 47% de escolas. O país tem

também cerca de 120 escolas técnicas a nível nacional e 48 instituições do ensino superior

(MINEDH, 2015).

Para que as políticas educacionais postulem a qualidade da educação, não se deve

prescindirde mecanismos de diagnóstico da situação escolar, como os provenientes de

análises dos dados coletados pelos censos escolares e pelas pesquisas nacionais. As

políticas implementadas, por sua vez, também precisam ser avaliadas para verificar a sua

eficácia e se há necessidade de mudança (KLEIN, 2006, p.140).

A conclusão a que chegamos sobre a qualidade de ensino é a seguinte: o conceito de

qualidade de ensino possui uma gama significativa de estudos, sem que até hoje tenha-se

chegado a um consenso. As rápidas mudanças do mundo moderno não permitem definições

definitivas. Por isso mesmo, a qualidade de ensino é uma matéria de grande complexidade e

sua discussão envolve amplo elenco de questões. O conceito de qualidade na área

educacional, de maneira geral, abarca as estruturas, os processos e os resultados educacionais.

A qualidade da educação depende também do país e mais ainda de quem financia e dirige as

instituições. Estudos realizados pelos autores OLIVEIRA &ARAUJO (2005) mostram que a

política pública da educação adotada por alguns países subdesenvolvidos na expansão da

rede escolar, ao longo dos últimos trinta anos, não tem acompanhado a demanda dos

professores, ou seja, a demanda pela ampliação quantitativa das escolas não permitiu

que houvesse uma reflexão mais profunda sobre a forma que deveria assumir o

processo educativo visando a promoção de um ensino de qualidade.

Page 47: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

33

BEISIEGEL (2005, p.13-14) sustenta esse argumento dizendo que: “[…] o processo

histórico da ampliação do acesso por vezes dificultou a compreensão da qualidade do

ensino”.

O próprio documento do setor reconhece o impacto da politica de expansão da rede escolar

que Moçambique vem adotando desde a independência, como ilustra o excerto abaixo:

“ (…) Ao nível do ensino Pós Primário(ESG), a qualidade é mais prejudicada pela

expansão explosiva da rede escolar, a qual não é acompanhada por um nível

suficiente de investimentos, particularmente nas áreas de formação de professores,

aquisição e distribuição de livros e materiais didáticos, entre outros (PEE2012-

2016, p31)”.

Segundo uma entrevista concedida pelo ex- ministro de educação entre 2011 e 2013, Zeferino

Martins, para o jornal online O País, “a expansão da rede escolar para o ensino secundário

geral contribuiu para a fraca qualidade no ensino secundário geral, porque não foi

acompanhada pela formação dos respetivos professores.”

“ (…) um dos problemas que terão criado altos índices de reprovações a

nível das 10ªs classes, é o fato de o Ensino Secundário ter se expandido

de maneira exorbitante. Expandiu-se a ritmos que não foram acompanhadas

pelos recursos, em termos de professores qualificados, espaços pedagógicos,

etc. Portanto, estamos a ser vitimas do nosso rápido crescimento

secundário. As reprovações são o sintoma, daí que temos que atacar a

doença.17

Concluindo, a qualidade de ensino é reconhecida quando os alunos demostram habilidades e

competências naquilo que aprenderam no sistema educativo de um país. Por outro lado, é

identificada quando o Estado cria as condições condignas de ensino e aprendizagem para seus

alunos, investe no seu sistema de ensino, pauta a equidade educacional, toma providências

para que o currículo se ajuste à realidade do pais e a componentes internacionais, cria os

indicadores de qualidade de ensino para todos os subsistemas, avalia constantemente o seu

sistema de ensino de forma padronizada, faz trabalhos de monitoria e avaliação nas políticas

educacionais implementadas, apresenta resultados dessas avaliações para delinear novas

estratégias e punir os culpados ou os envolvidos em fracassos, forma os seus professores com

17 Jornal O Pais. Ministro da Educação reconhece fraca qualidade do ensino-aprendizagem no pais (O País,Janeiro 2010), Sexta Feira, 21 de janeiro de 2011 In: Artigos Educação IESE. http://www.iese.ac.mz/lib/PPI/IESE-PPI/artigos_educação.html, Acessado em: 30 de Dezembro, de 2015

Page 48: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

34

qualidade, se submete às atuais formas de gestão democrática e participativa, procura deixar

de ser um sistema excludente e centralizador. Enfim, a qualidade do ensino existe quando o

sistema de ensino do país e a sua população caminham juntos e satisfeitos pelas atividades

educacionais e quando a educação contribui para a mudança e o desenvolvimento econômico

e social.

2.3 EFICÁCIA ESCOLAR

A eficácia escolar refere-se ao desempenho alcançado por uma escola. Por outras palavras,

refere-se ao grau em que a escola consegue resultados constantes e positivos (embora nem

sempre quantificáveis), durante um determinado período de tempo, em toda a comunidade

educativa (SCHEERENS, 2000).

Eficácia é uma medida que procura traduzir até que ponto os resultados, metas e objetivos

foram alcançados. Tem foco nas ações e nos resultados tanto em termos de quantidade quanto

de qualidade e, portanto, seus indicadores englobam estas duas facetas. Em projetos na área

social, os resultados são complexos, devido ao grande número de variáveis intervenientes

não previstas, que muitas vezes podem dificultar a aferição das qualidade (MOTA, 1992;

BELLONI, GUIMARÃES & SOUSA, 2000, apud PASSADOR &ALVES, 2011, p.40)

Eficácia em geral é definida como “o grau em que a organização realiza suas metas” (DAFT,

2002, p. 58), sendo diretamente ligada à capacidade de obtenção de resultados válidos

(LACOMBE & HEILBORN, 2003). Relaciona-se, portanto, à “realização das atividades que

provoquem o alcance das metas estabelecidas” (SILVA, 2001, p. 20). É definida em termos

dos fatores considerados mais importantes, no que se refere à capacidade da organização em

adquirir e utilizar recursos na busca de algum tipo de resultado.

Segundo CHIAVENATO (2004; p.196), do ponto de vista organizacional, eficácia é uma

medida que visa medir o alcance do resultado, enquanto a eficiênciaé uma medida da

utilizaçãodos recursos nesse processo. Para PASSADOR&ALVES (2011, p.42), efetividade

é o impacto de uma política pública, ou seja, o impacto da decisão política, eficácia é o

alcance de resultados e qualidade de produtos de serviços, e eficiência é o comprimento de

normas e procedimentos com redução de custos.

Existem vários estudos que se debruçam sobre a questão da eficácia escolar. MORTIMORE

(1991), definiu uma escola eficaz como aquela onde os alunos progridem mais do que se

Page 49: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

35

poderia esperar, dadas as suas características ao serem administrados. Contudo, REID,

HOPKINS& HOLLY (1987) concluíram que “enquanto todas as análises pressupõem que

escolas eficazes podem ser diferenciadas das escolas ineficazes, não existe ainda consenso

do que consiste uma escola eficaz”( REID; HOPKIN; HOLLY, 1987, p.22).

De acordo com os autores BROOKE & SOARES (2008), a escola eficaz está claramente

orientada para bons resultados ao nível da direção – que combina cobrança e apoio-, do

pessoal docente- um quadro estável e com praticas consistentes-e do corpo discente-

solidário e comprometido com o desempenho. Por outro lado, na escola ineficaz, o diretor-

uma liderança inadequada e que administra relações problemáticas-, o quadro de pessoal-

fragmentado por “ panelinhas” e mostrando inconsistência entre os membros-e o corpo

discente- desinteressado e desinformado em relação às regras da escola - estão claramente

predispostos a baixos níveis de “valor agregado” da escola.

O uso de sistemas de monitoramento e avaliação a nível da escola para gerenciar melhor

as instituições escolares é também uma carateristica de escolas eficazes, sendo

frequentemente citadas na literatura de melhoramento da escola como algo necessário para

seu desenvolvimento (HOPKINS et al., 1994). Pesquisas em geral apoiam a crença de que o

envolvimento dos pais é produtivo em escolas eficazes (ARMOR et al., 1976; LEVINE&

LEZOTTE, 1990).

MORTIMORE et al. (1998), citados por BROOKE & SOARES (2008, p.323), nos dizem

que o fato de membros da equipe frequentarem indiscrinadamente, na própria escola,

cursos que não tem relação com a missão principal da mesma está associada à

ineficácia.

Segundo BROOKE&SOARES (2008, p.468) “expressa de maneira simples, a linha de

pesquisa em eficácia escolar está formada pelos estudos empíricos que buscam, por um

lado, conhecer a capacidade que têm as escolas de influir no desenvolvimento dos alunos e

por outro, conhecer o que faz com que uma escola seja eficaz”.

O foco central das pesquisas em eficácia escolar se refere à ideia de que “as escolas são

importantes, as escolas têm efeitos significativos no desenvolvimento da criança e que,

para simplificar, as escolas realmente fazem a diferença” (REYNOLDS, CREEMERS,

1990). As definições de eficácia escolar são dependentes de uma série de fatores, como

afirma SAMMONS(1994). Dentre estes, cabe destacar a eficácia do ensino.

Page 50: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

36

A eficácia do ensino pode ser definida como a capacidade de uma comunidade educativa

proporcionar condições aos seus alunos para que estes maximizem o seu desempenho

acadêmico, apesar da composição social dos seus elementos. Os fatores de influência desta

eficácia passarão inevitavelmente pelos recursos, pela organização e gestão da escola, pela

formação, pelo nível de satisfação dos professores e pelas práticas pedagógicas adotadas

(FRANCO et al., 2007).

A eficácia da escola refere-se ao desempenho alcançado por uma escola. Por outras palavras,

refere-se ao grau em que a escola consegue resultados constantes e positivos (embora nem

sempre quantificáveis), durante um determinado período de tempo, em toda a comunidade

educativa . Escolas eficazes possuem e transmitem uma visão clara e definida sobre como

melhorar a aprendizagem de cada um e de todos os alunos.

Uma escola eficaz é aquela que privilegia o desenvolvimento profissional dos professores. O

desenvolvimento profissional dos professores implica a sensibilizaçãodos professores para a

necessidade de se desenvolverem profissionalmente, pois sóassim se assegura que a equipa de

professores da escola possua os conteúdos, procedimentos, conhecimentos, competências,

disposições e responsabilidades que lhespermitem ajudar todos os estudantes a conseguirem

atingir níveis de excelência.

Uma escola eficaz é aquela que, a partir dos recursos disponíveis e atendendo às

características da comunidade educativa, consegue uma optimização do desempenho

acadêmico dos seus alunos de uma forma consistente e continuada. Para os defensores dos

movimentos das “escolas eficazes” e “melhoria da escola”, as escolas que são capazes de

utilizar os resultados da avaliação institucional, na conceção de planos de melhoria, que lhes

permitam implementar mudanças educativas, são mais eficazes e melhoram mais rapidamente

(BOLÍVAR, 2003; MURILLO; 2003).

Portanto, as condições e os insumos para oferta de um ensino de qualidade são fundamentais

para a construção de uma boa escola ou uma escola eficaz, sobretudo se estiverem articulados

às dimensões organizativas e de gestão que valorizem os sujeitos envolvidos no processo, aos

aspectos pedagógicos presentes no ato educativo e, ainda, contemplem as expectativas dos

envolvidos com relação à aquisição dos saberes escolares significativos e às diferentes

possibilidades de trajetórias profissionais futuras.

As pesquisas sobre escolas eficazes tratam de identificar fatores intraescolares que têm

impacto significativo sobre a aprendizagem dos alunos, conseguindo diminuir as

Page 51: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

37

desigualdades dadas pela condição social familiar de origem deles. A investigação sobre a

eficácia do ensino tem sido polarizada em torno de três domínios: características dos

professores, tais como inteligência, experiência, traços de personalidade, crenças, etc,

métodos de ensino no que concerne a conteúdos e objectivos, materiais, espaços, etc, e

comportamentos do professor, relevando aqui a circulação entre as cadeiras, a colocação do

aluno, etc.

No nível da turma, características do trabalho dos professores e de sua interação com os

alunos também aparecem com tendo poder explicativo do desempenho escolar (BONAMINO;

FRANCO; FERNANDES, 2002).

Uma escola eficaz agrega mais valor ao resultado escolar dos alunos comparativamente ao

que teriam em outras escolas de contexto similar, interferindo positivamente no desempenho

acadêmico, através de políticas e práticas escolares e modificando favoravelmente a realidade

académica de alunos oriundos de contextos socioeconômicos desfavorecidos (SOARES,

2002).

A partir das concepções acima, no presente estudo foram consideradas fatores de eficácia as

características escolares que contribuem para aumentar o desempenho dos alunos ( BROOKE

&SOARES, 2008).

A investigação sobre a eficácia das escolas tem por base a necessidade de contestar a tese de

que as escolas não produzem efeitos nos alunos. LIMA (2008), refere que é consensual entre

os diversos investigadores que a escola acrescenta algo aos atributos iniciais dos alunos que

nela ingressam e que de facto esse é o critério mais adequado para medir a sua eficácia.

Este princípio tem por base o reconhecimento de que os antecedentes e características dos

alunos influenciam de imediato as suas competências quando entram na escola contribuindo

para a teoria de que a escola acrescenta valor aos alunos (o chamado valor acrescentado).

A pesquisa sobre a eficácia da escola confirma que a escola é um lugar onde são produzidos

sucessos ou insucessos e que se traduz na tentativa de provar que existe um efeito da escola

sobre os alunos.

Segundo LIMA (2008):

“o movimento das escolas eficazes deu dois contributos essenciais ao mundo da

educação: combateu o pessimismo sociológico e o determinismo estrutural e cultural

(isto é, a ideia de que a escola é impotente para contrariar as diferenças sociais

existentes), e trouxe uma nova esperança e uma fonte de auto-estima aos

Page 52: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

38

profissionais do ensino, levando-os a acreditar que são capazes de fazer alguma

diferença na vida dos alunos” (LIMA, 2008, p. 420).

Podemos considerar o movimento das escolas eficazes como o pontapé de saída para as boas

escolas, as chamadas escolas democráticas. Parte-se do pressuposto de que a investigação

sobre os efeitos da escola tem contribuído para a produção da igualdade ou desigualdade de

oportunidades nos contextos sociais e educativos em que se vive, desde que a investigação da

eficácia abandone a tendência para a comparação do desempenho das instituições e/ou dos

alunos, e investigue a razão pela qual as escolas fazem a diferença no meio populacional onde

se inserem.

As pesquisas sobre o tema tem identificado um conjunto de características de escolas eficazes,

incluindo visão /estratégia, liderança, elevados padrões acadêmicos, competências sociais e

emocionais, colaboração entre escola, família e comunidade, desenvolvimento profissional de

professores, e constante monitorização.

A eficácia do ensino e da aprendizagem depende do desejo dos estudantes, mais do que da

simples habilidade dos mestres (professores). Se o professor quer ensinar mas o aluno não

deseja aprender, não há aprendizagem (VILLAMARIM, 2003).

Um estudo da UNESCO, citado por OLIVEIRA & ARAÚJO (2005), relata alguns elementos

que poderiam configurar uma escola eficaz e que busca qualidade. Seriam eles: biblioteca

com materiais instrucionais e livros em quantidade suficiente; professores com formação

superior, satisfeitos com sua remuneração e que não precisem dividir a sua carga horária

entre duas ou mais escolas; professores que não atribuam os resultados de aprendizagem às

famílias, mas sim ao próprio desempenho dos estudantes; prática formal de avaliação de

desempenho dos alunos; agrupamento dos alunos por critério de heterogeneidade; e por

último, ambiente de aula adequado com respeito e convivência harmónica (OLIVEIRA

&ARAÚJO, 2005).

Problemas educacionais de um país relacionados com as condições da infraestrutura

escolares, as condições de trabalho dos professores, as praticas pedagógicas, o currículo, a

gestão escolar, o progresso dos alunos e a situação socio económica e cultural das famílias, o

ambiente físico de uma escola, o salário dos professores, entre outros fatores, afetam a

eficácia escolar e a qualidade da educação.

Page 53: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

39

2.4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As políticas educativas são um conjunto de ações definidas pelo Estado com vista a responder

às necessidades básicas de educação (BASILIO, 2010). MONLEVALE (2002, p. 42), define

política educacional como sendo o “conjunto de intenções e ações com as quais os poderes

públicos respondem às necessidades de escolarização dos diversos grupos da sociedade”. Nos

últimos anos, pode-se observar um aumento significativo de pesquisas, públicações, grupos de

pesquisas, linhas de pesquisa em programas de pós- graduação e eventos específicos sobre

políticas educacionais. Cada país formula as suas próprias politicas educacionais, baseadas na

constituição desse país e dos instrumentos orientadores dessas politicas. O que diferencia a

politica de educação de outras politicas são os seus objetivos e a população alvo dessas

politicas para as quais foram direcionadas.

As políticas educacionais dependem das condições históricas, econômicas e culturais de cada

país. Por isso os sistemas de ensino são diferentes. O tema da qualidade de educação, dada a

sua complexidade e abrangência, tem sido abordado de diferentes formas pelos autores que

analisam os seus variados ângulos. Essa diversidade de pontos de vista demostra, por um

lado, a riqueza do conceito e, por outro, a dificuldade prática de se alcançar um fácil consenso

em torno do assunto.

Desta forma, o conceito de qualidade deve ser visto de uma forma dinâmica. O entendimento

acerca do que constitui a qualidade de educação evoluiu. As definições convencionais

incluíam como elementos básicos definidores de qualidade, ler escrever e contar e

desenvolvimento de habilidades para a vida. Atualmente, estes elementos são associados a

componentes como professores, conteúdo, metodologia, currículo, sistema de exame, politicas

e administração e gestão.

Vários autores apontam a necessidade de discutir e definir os padrões de qualidade que a

sociedade almeja. Há de se ter cuidado, conforme advertem OLIVEIRA & ARAUJO (2005),

pois o conceito de qualidade pode levar a um falso consenso devido às diferentes

interpretações e capacidades valorativas. Em razão disso, se torna complexo o processo de

definir, avaliar e mensurar a qualidade de ensino. Para estes autores, não é possível uma

definição de qualidade na educação como um conceito pronto e acabado, mas sim como uma

definição provisória, construída em um processo democrático na comunidade escolar, de

forma permanente e contínua, que permita sua revisão, contextualizada no tempo e no espaço.

Page 54: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

40

Nas últimas décadas, o debate sobre a qualidade do ensino intensificou-se, pois é um conceito

em evolução, que não apresenta uma definição única, restrita e consensual, muito em parte

devido à sua natureza multidimensional (AMANTE, 2007; AVASILCAI, BOIER &HUTU,

2006; OLIVEIRA &ARAÚJO, 2005).

A educação de qualidade deve preparar o aluno com conhecimentos, habilidades e valores

integrados ao mercado de trabalho, para que ele seja capaz de continuar seu aprendizado em

um ambiente de crescente tecnologia (FUENZALIDA, 1994). A educação de qualidade é tida

como um instrumento para a diminuição da desigualdade, uma vez que a distribuição

equitativa de conhecimento, habilidade e valores podem permitir uma melhor participação

de crianças e jovens pobres na vida social (FUENZALIDA, 1994; CASASSUS, 2002). A

educação de qualidade é aquela que permite ao aluno adquirir os conhecimentos, valores e

habilidades adequados ao seu nível de desenvolvimento, permite que o aluno desenvolva suas

potencialidades cognitivas, físicas e artísticas e que prepara o cidadão para desempenhar

seu papel político, social e econômico, (PASSADOR & ALVES, 2011, p.80).

“Para os professores e os demais profissionais da educação, a qualidade

refere-se às condições de trabalho tais como salário, jornadas de trabalho

adequada, razão de aluno/professor, salas com temperaturas adequadas ao

ensino aprendizagem, segurança nas escolas, além de aspectos como

capacitação, formação para o trabalho, valorização e status de sua

profissão na sociedade (CASASSUS, 2002)”

Há um conjunto de variáveis, intra e extra-escolares, que interfere na qualidade de

educação. Segundo os autores DOURADO et al. (2007):

“as dimensões mínimas comuns da qualidade de educação no plano extra-escolar

devem incluir a dimensão socioeconômica e cultural dos entes envolvidos e a

dimensão dos direitos, das obrigações e das garantias no âmbito do Estado”. (DOURADO et al. 2007, p.927)

No plano intraescolar, qualidade de educação inclui as condições de oferta do ensino, a gestão

e organização do trabalho escolar, a profissionalização do professor, o acesso, a permanência

e o desempenho escolar. A qualidade na educação não pode ser boa se a qualidade do

professor, do aluno, do sistema todo, é precária.

ARAUJO (2003), apud PASSADOR & ALVES (2011, p.75), considera a qualidade como

equação complexa, que não pode ser explicada por uma variável ou um conjunto delas. Ela é

responsabilidade de vários atores envolvidos no processo educacional, os quais podem

Page 55: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

41

influenciá-la em diferentes proposições. Desta forma, o conceito deve ser debatido

considerando as perspectivas destes diversos atores: alunos, profissionais da educação,

(professores, diretores, etc.), família, mercado de trabalho, Estado e organismos

internacionais.

Page 56: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

42

CAPÍTULO 3: O PROCESSO DE FORMULAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DAS

POLÍTICAS PÚBLICAS NO SETOR DE EDUCAÇÃO EM MOÇAMBIQUE

3.1 A EVOLUÇÃO DAS POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO EM MOÇAMBIQUE

A história da educação em Moçambique pode ser descrita em dois grandes períodos: a

educação colonial e a educação pós independência. Cada um desses períodos é dividido em

momentos marcados por transformações sociais, econômicas, politicas e ideológicas

significativas que se caracterizaram por um lado, pela imposição de uma ordem social e

cultural hegemônica e negação das estruturas tradicionalmente existentes e por outro, pela

luta, ruturas, superação e implantação de uma nova sociedade (UACIQUETE, 2010).

3.1.1 O Sistema de Educação Colonial

O ensino colonial em Moçambique data da primeira metade do século XIX e vai até aos

finais do século XX (1845-1974)18, sendo marcado por uma educação de dominação,

alienação e cristianização.Foi a partir desse anoque o governo português começou a

regulamentar o ensino e criou escolas públicas nas colônias. O governo colonial estabeleceu a

estrutura do ensino seguindo o modelo de organização de ensino ministrado pelas entidades

religiosas (BASILIO, 2010).

No período anterior a 1845, a educação dos filhos dos portugueses era garantida pelos padres,

alguns professores particulares e em escolas rudimentares. O regime de escolas públicas foi

estabelecido em Moçambique no dia 14 de Agosto de 1845 (CASTIANO & NGOENHA,

2013; UACIQUETE, 2010). Os autores sustentam que antes do estabelecimento deste regime,

já existiam escolas primárias em algumas regiões de Moçambique, como por exemplo na Ilha

de Moçambique, fundada em 1799, em Quelimane e Ibo, fundadas estas últimas em 1818. Os

primeiros sinais da divisão do ensino formal segregacionista começaram em 1845, quandoo

ensino passou a ser dividido em dois níveis. O primeiro grau era ministradonas “escolas

elementares”, onde se ensinavam as seguintes disciplinas: leitura, caligrafia, aritmética,

doutrina cristã e história de Portugal. O segundo grau era destinado às “escolas principais”,

que se localizavam então na antiga Lourenço Marques, atualmente a cidade Maputo. E

18 A primeira regulamentação do ensino nas colónias portuguesas surgiu durante o período da monarquia em 2 de abril de 1845, e no dia 14 de agosto do mesmo ano, surgia o regulamento que procurava diferenciar o ensino nas colonias e nas metrópoles(MARCELINO, 2013, p.56 & UACIQUETE, 2010, p.11).

Page 57: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

43

tinha como disciplinas: português, desenho, geografia, escrituração e economia e física

aplicada.

Entretanto, o número das escolas elementares alargou-se para as outras regiões de

Moçambique como, por exemplo, Inhambane (1856), Mopeia (1895), e Lourenço Marques

(1907). Este processo culminou com o surgimento em 1911, em Lourenço Marques, da

primeira escola secundária e da escola comercial e industrial. Mais tarde esta última viria a

ser transformada em Liceu, em 1918.

Contrariamente à tendência liberal que defendia a ideia de uma educação igualitária e o

estabelecimento de sistemas de educação que servissem tanto aos indígenas como aos

“civilizados”, surgem vozes que defendem a discriminação , ou seja, um sistema que

promovesse um ensino segregacionista. Foi neste período que a educação começa a ter um

cunho racista e marginalizante: os chamados “povos primitivos” deviam ser civilizados

sim, mas lentamente, e a sua educação deveria estar voltada para a formação em trabalhos

manuais (CASTIANO & NGOENHA, 2013, p.24).

João Belo, então Ministro da Marinha e do Ultramar, procurando cumprir as intenções do

regime de tornar os nativos submissos, isolados, marginalizados, controlados e como mão-de-

obra barata, promulgou o decreto n. 12.336 de 13 de outubro de 1926. Este decreto trouxe à

luz o Estatuto Orgânico das Missões Católicas Portuguesas da África e Timor, fazendo

revigorar a intervenção das missões católicas e extinguindo, em simultâneo, as missões laicas.

A partir daí, o governo português começa a coparticipar na educação dos nativos, ou seja,

consagrou um capítulo às questões educativas, missão antes feita exclusivamente pela

Igreja (CASTIANO &NGOENHA, 2013, p.26).

Como forma de clarificar a atitude iniciada por estes ideólogos coloniais, Salazar e o Estado

Novo elaboraram a sua visão colonial nos seguintes princípios:

“ O colonialismo exige essencialmente o desnível de raças e das culturas,

um objetivo da exploração económica pela dominação politica, a qual

geralmente se exprime pela diferenciação entre cidadãos e súbditos(…)

Não é possível conceber (…) a condição de colónia quando é semelhante o

nível de vida e idêntica a cultura, indiferenciado o direito público, igual a

posição dos indivíduos perante às instituições e às leis” (NEWITT, 1997,

p. 27/48).

Page 58: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

44

Foi em parte neste contexto que nasceu o Ato Colonial de 1930. O Acto Colonial de 193019,

consagrou a divisão da população das colônias em duas categorias, que na realidade se

traduziram em três: os portugueses (cidadãos), os assimilados20 - negros que seguiam a

cultura portuguesa (MONDLANE, 1975) -, e a massa africana dos designados indígenas21.

O carácter discriminatório da educação colonial mereceu também destaque em GOLIAS

(1999) ao afirmar que:

“o sistema educacional colonial foi estruturado para atender a clientelas diferentes,

isto é, foram estabelecidos dois tipos diferentes de educação: um destinado à

população negra (nativos) e outro destinado aos brancos e africanos assimilados”

(GOLIAS, 1999, p.57).

Marcelo Caetano, continuador de Salazar, considerava os negros, assim separados,

“indispensáveis como auxiliares podendo estes trabalhar rodeados e dirigidos por europeus”

(MAZULA, 1995, p.75).

Segundo Mazula (1995), o ensino moçambicano era caracterizado por práticas educativas

portuguesas, com auxílio da igreja católica, através dos missionários que tinham como missão

educar a população local. Cabe salientar que todo este processo, caracterizado pela

inferiorização da população nativa, era consubstanciado pela pesquisa dos antropólogos da

época. Esse grupo de nativos frequentava, na maioria, até a terceira classe elementar.

GOMÉZ (1999), analisando esta atitude separatista, esclarece:

“O objetivo implícito desta politica (…) era continuar a manter o “ indígena”

separado, marginalizando para melhor o controlar e o utilizar como mão –de- obra

barata, (…) mantendo o etnocentrismo lusitano para os quais o povo não

ocidental é irracional( GOMÉZ, 1999, p.50). 19 O Acto Colonial de 1930 foi um conjunto de leis elaboradas pelos portugueses no tempo de António de Oliveira Salazar, que deviam ser obrigatoriamente cumpridas nas ex- colônias portuguesas, caso de Moçambique, e criaram grande impacto negativo. 20 Os requisitos para deixar de ser indígena e passar a ser considerado por lei como “assimilado”, são fixados no art. 2. Segundo este artigo, o “assimilado” é o indígena que: 1- abandonou os usos e costumes pretos, 2- que fala, lê e escreve português, 3- é monógamo e 4- com profissão que garanta o seu sustento e dos que dele dependem. Para passar a ser considerado assimilado, o indígena devia apresentar documentos comprovativos, tais como um atestado passado pelo administrador (Perfeito), onde este confirma todos os requisitos formulados anteriormente, uma certidão de instrução primária de primeiro grau, uma certidão de casamento civil ou de compromisso futuro de monogamia. Mas também cabia ao Perfeito, passar ou ir em casa do candidato a assimilado para ver se possuía casas de banho( banheiros) em boas condições, e se o mesmo comia com talheres. Esta lei estabelece que o “mulato” de pai branco é considerado automaticamente um ‘assimilado” (CASTIANO &NGOENHA, 2013, p.29). 21 Em 1917 foi promulgado a Lei do Indigenato que, no seu art.1, define como “indígena” o “ (…) indivíduo da raça negra ou dela descendente que pela sua ilustração e costumes se não distingue do comum daquela raça”(Ibidem).

Page 59: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

45

Foi no contexto dessa discriminação que acabaram introduzindo em Moçambique dois tipos

de ensino no período colonial: ensino indígena (rudimentar ou de adaptação), a cargo da

igreja católica (Anuário de Ensino, 1930, p.33; 1935, p.85, citados por MECUPA,2004) e o

ensino dos “ não indígenas” ou ensino oficial, a cargo do Estado colonial, frequentado

pelos brancos e os assimilados.

Os indígenas que conseguiam abandonar os seus costumes tribais, aprender a ler, escrever e

falar português, e, pelo trabalho, elevarem-se à condição de civilizados, ganhavam o estatuto

de assimilados, ou seja, portugueses de pele preta, portanto, com direitos diferentes dos

demais indígenas (MAZULA, 1995; GOMÉZ, 1999).

A legislação de 17 de Maio de 1930, no seu art.1, define:

“O ensino indígena tem por fim conduzir gradualmente o indígena da vida selvagem

para a vida civilizada, formar-lhe a consciência de cidadão português e prepará-lo

para a luta da vida, tornando–o mais útil à sociedade e a si próprio” (citado por

CASTIANO &NGOENHA, 2013, p.29).

E para BASILIO (2010), o ensino indígena teve como objetivo formar mão de obra barata,

civilizar os negros e inculcar neles o sentimento de pertença à metrópole. Os dois

currículos usados pelo sistema colonial português em Moçambique eram totalmente

diferentes em termos de conteúdos, objetivos e politicas. Pela sua índole, a educação

colonial segregava a população e inculcava os valores que reforçavam os objetivos da

dominação. As escolas elementares, criadas para os indígenas, eram precárias, orientadas

para a reprodução da mão de obra do empreendimento colonial.Mazula (1995) aponta o

Diploma Legislativo nº 238, de 17 de maio de 1930, que justifica a separação dos dois

ensinos: enquanto o ensino indígena, ensino destinado aos indígenas, tinha por fim elevar

gradualmente o da vida selvagem à vida civilizada dos povos cultos a população autóctone

das províncias ultramarinas, o ensino primário elementar, para os não indígenas, visava dar à

criança os instrumentos fundamentais de todo o saber e as bases de uma cultura geral,

preparando-a para a vida social.

A grande preocupação da educação no período colonial, de acordo com o Comité de

Conselheiros (Agenda 2025, 2003: p. 28), era “circunscrever o conhecimento dos

moçambicanos para não poderem concorrer com os colonos. O ensino reservado aos

indígenas era de nível primário rudimentar e ministrado pelas escolas missionárias”.

Page 60: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

46

O ensino indígena foi dividido, na altura, em três tipos22. O ensino primário rudimentar,o

primeiro tipo, era destinado a civilizar e nacionalizar os indígenas da Colônia, difundindo

entre eles a língua e os costumes portugueses (art.70). Ele compreendia três classes ou séries e

era dirigido para as crianças dos sete aos doze anos de idade. O segundo era o ensino

profissional - que tinha por fim“preparar os indígenas de um e outro sexo, maiores de 10

anos, para adquirirem honestamente os meios de manter a vida civilizada e contribuírem

mais eficazmente para o progresso da Colônia” (art.16).Os rapazes aprendiam

fundamentalmente os ofícios de serralheiro e ferreiro, de alfaiate, de sapateiro e de carpinteiro

e marceneiro, enquanto as meninas frequentavam cursos de costura e economia doméstica

(costura, culinária e copa). Finalmente, o ensino normal tinha como objetivo, “habilitar

professores indígenas para as escolas rudimentares.”

A separação e entrega da educação dos africanos à igreja católica pretendia, no essencial,

doutrinar as crianças negras assegurando assim que estas ridicularizassem as escolas

islâmicas, menosprezassem a cultura e a religião dos seus progenitores e se tornassem

assimilados, isto é, uma população dócil e leal ao governo imperial e colonial português e à

população de Portugal (MONDLANE, 1975; MAZULA,1995; GOLIAS, 1993). Deste modo,

a igreja era usada como um instrumento para manter a dominação portuguesa.

As práticas educativas adotaram o modelo centrado no professor em que este era o detentor de

todo o conhecimento e os alunos apenas ‘consumidores’ dos conteúdos ministrados, de

acordo com os objectivos preconizados.

O ensino oficial destinava-se aos filhos dos colonos brancos e aos “assimilados”. Este tipo de

ensino dividia-se em três tipos: ensino primário, ensino liceal, e ensino técnico profissional.

O ensino primário abrangia dois graus de educação: o elementar e o complementar. O ensino

elementar era obrigatório para todos os portugueses, não indígenas física e mentalmente sãos,

na idade escolar. O ensino liceal subdividia-se em três níveis: o primeiro, com duração de dois

anos, o segundo com um ciclo de três anos e o terceiro também tinha a duração de três anos.

O ensino técnico-profissional estava dividido em escolas técnicas elementares, escolas

industriais, e escolas comerciais (CASTIANO E NGOENHA, 2013, p.35).

22Os brancos (“não indígenas”) portugueses e seus descendentes, gozavam de plenos direitos de cidadania; os “assimilados”, negros que sabiam ler e escrever em português, gozavam, ao menos teoricamente, dos mesmos direitos dos brancos; os negros (indígenas) não possuíam direitos de qualquer espécie face à lei portuguesa.Ver ROCHA, A., p.47.

Page 61: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

47

Não raras vezes, o ensino destinado aos moçambicanos restringia-se a saber falar, ler,

escrever e contar em português, visto que a limitação ou bloqueio à progressão dos poucos

que tinham acesso era uma prática freqüente do sistema educacional colonial (PNUD, 2000).

A exigência de que as crianças deveriam ingressar no ensino rudimentar com uma idade

menor que dez anos, aliada ao pequeno número de escolas, deixava de fora grande parte da

população em idade escolar, uma vez que as famílias não tinham estrutura para enviar as

crianças dessa idade às escolas, geralmente distantes.

Como conseqüência deste sistema, o Anuário Estatístico do Ultramar, citado por GOMÉZ

(1999, p. 66), afirma que, em 1958, “a taxa de analfabetismo em Moçambique era de

97,86%”, considerada uma das mais elevadas de África.

Os conteúdos ministrados tinham um nível muito baixo e centravam-se na aprendizagem da

língua portuguesa, geografia de Portugal, na leitura, na escrita e aritmética, por um lado. Por

outro lado, ensinavam-se conteúdos de carácter religioso, e desenvolviam-se atividades extras

escolares. Por outro lado, o conteúdo escolar procurava igualmente transmitir as idéias

coloniais como as mais racionais, tranqüilizando o espírito de dominação econômica e, como

se não bastasse, tentava destruir as estruturas sociais, econômicas e culturais africanas

(MAZULA, 1995).

Face a essa situação de discriminação e violação dos direitos humanos, Portugal foi

pressionado pela comunidade internacional (através da ONU), no início da Segunda Guerra

Mundial, para que deixasse essa prática racista. Com este apelo, Portugal viu-se obrigado a

promulgar uma lei que abolia definitivamente a política indígena em todas as colônias

portuguesas em setembro de 1961. De acordo com CASTIANO & NGOENHA (2013), a

abolição está ligada à conjuntura politica provocada pelas guerras de libertação, uma que já

eclode em Angola e outra que começa em Moçambique com o surgimento, neste ultimo, de

três movimentos de libertação nacional (UNAMI, UDENAMO e MANU), sediados no exílio,

em países vizinhos. Pro outro lado, há a considerar o processo de descolonização em curso

em Africa. Portanto, a partir de 1961, o ensino indígena adquiriu um estatuto jurídico e pela

portaria nr.15.971, de 31 de março, o ensino indígena passou a se chamar “Ensino de

Adaptação”, que tinha como objetivo:

“(…) Colocar o aluno em condições de se servir suficientemente da língua

portuguesa e de adquirir os requisitos indispensáveis para frequentar o ensino

primário comum, (...) será ministrado tendo em vista os altos interesses da Nação

e na ordem das mais nobres tradições” (CASTIANO & NGOENHA, 2013, p.38).

Page 62: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

48

Aqui verifica-se, no geral, que a mudança de nome de “Ensino Rudimentar ou Ensino

Indígena” para “ Ensino de Adaptação “, foi apenas uma estratégia de camuflagem. Na

prática, o sistema manteve-se discriminatório para a população nativa moçambicana.

A abolição do indigenato teve por objetivo transformar as populações indígenas em “cidadãos

portugueses” para se realizar o projeto que Portugal tinha, o de construir um Estado

Federado que associaria as colônias à Metrópole, transformando as províncias ultramarinas

em Estados Federados (BASILIO, 2010) .

3.1.3 A educação nas zonas libertadas

Recordemos que antes da independência nacional em 25 de junho de 1975, o ensino já era em

parte conduzido pela Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO). Colaborando com a

mesma ideia, BASILIO (2010), diz que em Moçambique, o sistema de educação foi

organizado por movimentos revolucionários que subverteram os horizontes da educação

colonial, mas sem se distânciar dos padrões europeus de organização de ensino.

O inicio da luta armada de libertação nacional de Moçambique (1964) desencadeada pela

FRELIMO, marcou o começo de um longo processo que visava essencialmente duas

finalidades: a negação da dominação colonial e a construção de uma nova sociedade, ou

seja, a formação do povo moçambicano como nação soberana e una. Esta luta passou

necessariamente pela eleição da educação como aspecto fundamental para o sucesso

desse projeto (UACIQUETE, 2010).

Desde a sua fundação, a FRELIMO foi consciente de que no campo educacional muitos e

grandes eram os desafios que devia enfrentar. A sua concepção de educação, assim como a

concepção do tipo de sociedade que deveria ser construído, não estavam claramente definidos

desde o começo. Foi no decorrer da luta armada que a FRELIMO foi formulando,

modelando, o seu projeto educacional, seus métodos( GOMÉZ, 1999).

Foi este partido que fundou as primeiras escolas secundárias fora do país, em Dar-Es-Salam

(Tanzânia), em 1960, com a ajuda da Fundação Ford dos EUA. O pensamento dominante, na

época, era que estas escolas viessem, depois da independência, a ser um modelo a seguir para

o novo sistema a montar. O campo epistemológico moçambicano, desde a época da luta

colonial, através das zonas libertadas, sempre teve o campo educativo na agenda política da

Page 63: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

49

FRELIMO. A mensagem dos dirigentes partidários sempre privilegiou a educação nos seus

discursos, pois ela era concebida como a arma capaz de libertar o povo da opressão.

Cabe salientar que estas escolas surgiram em Bagamoyo, Rutunda, Tunduro, todas no

território tanzaniano. Naquela altura, os professores que lecionavam nessas escolas vinham da

Suécia, dos Estados Unidos, da Checoslováquia, da República Democrática Alemã, além dos

próprios professores moçambicanos.

A política de educação da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) foi criada e

dirigida por moçambicanos. Diferenciou-se, desde o começo, dos parâmetros sociopolíticos e

culturais da educação colonial. GOMÉZ (1999, p.92) identifica como objetivo principal dessa

educação: “(...) formar o homem moçambicano, livre da opressão e alienação coloniais, capaz

de recuperar individual e colectivamente a sua história e dignidade”.

Para alargar o acesso à educação, o Comitê Central da FRELIMO tomou as seguintes

decisões: “(…) criar uma escola de formação política; apressar a formação de quadros

técnicos; promover uma campanha de alfabetização de adultos; aumentar o número de escolas

primárias.”(GOMÉZ, 1999, p.132). MONDLANE (1975) observa que até finais de 1966

havia cerca de 100 destas escolas só na zona de Cabo Delgado, para um universo de 10.000

crianças.

A partir de 1965, com a tomada de controle em algumas regiões das províncias de Cabo-

Delgado e Niassa, foram abertas outras infraestruturas escolares, já no território

moçambicano, nas zonas libertadas. Em termos do resultado do processo de ensino-

aprendizagem e do acesso, MAZULA (1995) afirma:

“cerca de 20.000 crianças foram escolarizadas nas zonas libertadas até setembro de

1970, 29.000 crianças continuavam a frequentar o ensino primário e 133 alunos,

incluindo 11 raparigas, frequentavam o secundário de Bagamoyo” (MAZULA,

1995, p. 113).

A primeira escola secundária em Moçambique foi fundada logo após a independência, em

1976, no distrito de Ribaué, na província de Nampula (zona norte do pais).

Cabe notar que nestas escolas não havia a intenção de uma formação profissional. A

formação era orientada para os conteúdos de caráter geral com uma imensa carga política.

Analisando o acesso à educação desenvolvido no processo de luta de libertação nacional, a

FRELIMO afirmava, no seu III Congresso, que: “até o final da guerra tinham sido abertos

numerosos centros de ensino nas zonas libertadas, que eram já frequentados por cerca de

Page 64: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

50

trinta mil crianças. Centenas de professores foram formados e reciclados

(...)”(FRELIMO,1977, p. 36). Muitos milhares de moçambicanos foram alfabetizados. A

escola secundária, no fim da guerra, dispunha já perto de meio milhão de alunos da 5ª a 9ª

classes. Mais de uma centena de jovens foi enviada aos países socialistas a fim de

frequentarem cursos médios e superiores. Com orgulho, a FRELIMO pode afirmar

que“(...)preparou mais moçambicanos que os colonialistas em quinhentos anos”(idem, p.37).

Como o conteúdo popular exigia a democratização dos métodos de ensino, entre janeiro e

fevereiro de 1975, na cidade da Beira, a FRELIMO realizou o I Seminário de Educação, o

qual estabeleceu o primeiro intercâmbio oficial entre professores vindos da Frente

(Bagamoyo) e alguns técnicos e diretores de escolas do interior. Nela, usou-se a experiência

das zonas libertadas como referência para a Reforma Curricular do Ensino Primário e

Secundário e para a Organização e Gestão de Educação no período 1975-1984.

3.1.4 A Educação em Moçambique depois da independência

Desde a proclamação da independência, em 25 de junho de 1975, Moçambique conheceu três

períodos distintos na evolução do sistema educativo.

Primeiro período (1975 até 1982)

Segundo GOMÉZ (1999), após 25 de abril de 1974, e com a tomada de posse do governo de

transição, a situação de setor educacional era de gestão de crise provocado pelo abandono do

país por parte dos professores e técnicos pedagógicos com rica experiência no ensino devido à

guerra. Essa crise alastrou-se para os anos subsequentes à independência nacional,

proclamada a 25 de junho de 1975 (DUARTE, 2012).

Após a independência nacional, a FRELIMO assumiu a direção do país. O novo governo

deparou-se com uma elevada taxa de analfabetismo que rondava entre 95 a 98%, um sistema

educativo precário, uma rede escolar reduzida, com a falta de funcionários e professores,

(MONDLANE, 1975). Para compensar a falta dos professores, na altura, recorreu-se a

professores com baixa formação e, em muitos casos, à incorporação de alunos que,

frequentando classes avançadas, lecionavam nas classes inferiores, o que multiplicou no país

a existência de professores sem formação (SANTOS, 1991).

Page 65: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

51

Como o sistema educativo colonial em Moçambique não foi desenvolvido para atender à

maioria, a expansão do acesso aos serviços educativos se tornou prioritária no país após a

independência. Desde então o compromisso nacional para com a educação nunca saiu da

agenda de desenvolvimento de Moçambique. A necessidade de assegurar a direção do projeto

educacional obrigou a FRELIMO a distribuir por todo o país os poucos quadros disponíveis

que até aí dirigiam os Centros-Piloto e as escolas das Zonas Libertadas. Os primeiros anos

pós-independência foram marcados por um grande entusiasmo, voluntarismo e altos níveis

de apoio popular às iniciativas do governo.

A primeira medida que o governo de Moçambique tomou no campo de ensino foi a

“nacionalização” de todos os setores, incluindo a de educação, ocorrida a 24 de julho de 1976

(alguns preferem o termo “estatização”) das escolas e outros estabelecimentos de ensino, na

base do Decreto n 12/75. Segundo o discurso do então presidente da república, Samora

Machel,“a nacionalização abrange as escolas privadas, principalmente as escolas

missionárias e católicas”.

O objetivo da nacionalização, segundoa FRELIMO (1977, apud MAZULA 1995) foi romper

com os elementos de desigualdade social perpetuados pelo sistema de educação colonial e

com isso possibilitar a planificação da acção educativa com vistas à criação de um sistema de

educação ao serviço de interesses das massas.

A nacionalização do patrimônio escolar das igrejas católica e protestante criou dificuldades

ao governo que passou a ser contestado pelas mesmas. Por isso, em anos subsequentes,“a

intervenção do Estado foi bastante tímida e praticamente ineficaz” (GOMÉZ, 1999,

p.181).

Nesse período, também foi abolida a utilização dos livros coloniais. Em fevereiro de 1976,

foi, pela primeira vez na história de Moçambique, formado um Ministério de Educação e

Cultura (MEC). Os desafios que então se colocaram como urgentes foram: a reestruturação da

administração da educação, a construção de estabelecimentos para o ensino técnico-

profissional, a formação e a contratação de novos professores, a extensão das oportunidades

educativas para os adultos e trabalhadores que até então haviam sido excluídos do

sistema, o desenvolvimento de novos programas de ensino, assim como o desenvolvimento

de novos materiais educacionais (CASTIANO &NGOENHA, 2013, p.57).

Entre 1975 e 1976 alguns programas das disciplinas foram transformados e outras novas

disciplinas introduzidas da 1ª à 11ª classes (séries). Os programas alterados foram de Historia

Page 66: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

52

e Geografia de Portugal, substituídas pelas mesmas disciplinas versando a matéria sobre o

continente africano. Comodisciplinas foram introduzidas: Educação Política, Atividade

Cultural e Produção Escolar. Com o apoio da UNESCO, Moçambique começou a criar

infraestruturas/instituições e a conceber um sistema educacional capaz de ir gradualmente

reduzindo o analfabetismo e preparar o “Homem Novo”. Entre 1975 e 1977 Moçambique

enfrentou a primeira “expansão escolar” que sobrecarregou a rede escolar.

Com a independência, em 1975, a dinâmica política do país pautou uma educação ‘socialista

moderna’ que rompia com as práticas e saberes locais por caracterizá-los como obscuros,

eliminando os aspectos negativos da ‘cultura’ , ou seja, com o fim do sistema colonial houve

um corte radical com as práticas do colono, mas o novo projecto ideológico educativo do país

continuava a não dar um lugar de destaque às práticas e saberes locais (BASÍLIO, 2006;

GONÇALVES, 2009; MAZULA, 1995).

O caráter socialista da educação em Moçambique pós-independência levou o paísà

participação em um seminário internacional realizado em 1978 subordinado ao tema

Alternativas para o sistema de educação para os países da Africa Austral. Neste seminário,

Graça Machel dizia:

“(…) Existem duas alternativas para o sistema de educação: ou uma concepção

capitalista ou socialista. Para nós não se coloca a questão de alternativas. Em

Moçambique, o único caminho através do qual podemos alcançar os nossos

objetivos é o da concepção socialista da educação (CASTIANO &NGOENHA,

2013, p.62).

Cumprindo as decisões do 3º Congresso do Partido FRELIMO, realizado em 1977 e em

conformidade com o centralismo democrático, a partir de 1980, o partido FRELIMO, e o

Estado Moçambicano introduziram o Plano Estatal Central (PEC) e o Plano Prospectivo

Indicativo (PPI), como estratégias de desenvolvimento de Moçambique (GOMÉZ, 1999,

p.279). O PEC apresentou-se como um plano de ajuste da situação económica e de

modernização da sociedade. Definia metas e idealizava grandes projectos econômicos pela

indústria pesada que aceleraria a socialização do campo.

Quanto ao PPI, este foi concebido e aprovado com vista a vencer a batalha contra o

subdesenvolvimento num espaço de dez anos. Não obstante os primeiros esforços de

reformulação dos programas, dando-Ihes um conteúdo de classe (MACHEL, 1979, apud

BASILIO, 2010), e da planificação da educação visando também estabilizar o funcionamento

das escolas, a estrutura do sistema educativo permaneceu inalterada no essencial, subsistindo

Page 67: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

53

a contradição entre o tipo de formação social do sistema antes em vigor e a sua contribuição

real para o desenvolvimento global do país. Entre outros, persistiram os seguintes problemas:

deficiente articulação entre os níveis de ensino, as áreas de formação e os conteúdos

programáticos; rede escolar distorcida, inviabilizando a escolaridade obrigatória. No período

entre 1982 e 1992, a rede escolar diminuiu para metade do que existia anteriormente o que

também foi acompanhado, consequentemente, por uma redução do número de alunos

(MARTINS, 1997).

O PPI reproduzia, na prática, o modelo de desenvolvimento dos países socialistas. A

FRELIMO pretendia dar «o grande salto» para o socialismo. Criava-se a ilusão, como

possibilidade racional, de o subdesenvolvimento ser vencido numa década e o sucesso da

educação resultar do rápido desenvolvimento econômico. O PPI exigia a adequação do

sistema educativo às necessidades de formação de quadros qualificados para responder às

exigências do crescimento dos diferentes setores da economia nacional o que pressupunha

abandonar o sistema de educação transitório e introduzir um novo sistema. Foi nesse

contexto que se iniciou o segundo período do Sistema Nacional de Educação em

Moçambique.

Segundo Período (1983- 1990).

Em resposta às determinações do III Congresso, em 1981, o Ministério de Educação e

Cultura apresentou à Assembleia Popular, na sua 9a sessão, um documento contendo a

concepção de um novo sistema educacional, conhecido por Linhas Gerais do Sistema

Nacional de Educação (SNE), que foi aprovado pela resolução n° 11/81, de 17 de dezembro.

Aquela assembleia considera-o um “sistema (...) capaz de responder às exigências do

crescimento planificado do país” e aponta, como seu objectivo central, “a criação do Homem

Novo, construtor da Pátria Socialista, onde cada um dá o melhor do seu trabalho e onde cada

um encontra a sua realidade e afirmação pessoal” (SNE, 1985, p.5). No processo de

formulação da concepção do Sistema Nacional de Educação (SNE), promulgado em 1983,

houve uma forte intervenção dos “cooperantes” da antiga República Democrática Alemã

(CASTIANO& NGOENHA, 2013).

Após a aprovação do SNE, uma classe em cada ano letivo passou a ser gradualmente

introduzida em todo o país. O sistema tinha sido concebido de modo a tentar corrigir os

vícios do sistema educativo colonial, livrar-se dos seus princípios e objetivos, e introduzir

Page 68: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

54

mudanças radicais em termos da concepção pedagógica e organizacional. O SNE ficou

estruturado em cinco subsistemas e previa também o ensino especial e à distância (RPM,

1985, p115).

O sistema tinha como objetivos:

“Formar cidadãos com uma solida preparação politica, ideológica, científica,

cultural e física e uma elevada educação patriótica;erradicar o analfabetismo

de modo a proporcionar a todo o povo o acesso ao conhecimento científico e

o desenvolvimento pleno das suas capacidades; introduzir a escolaridade

obrigatória e universal de acordo com o desenvolvimento do país, como

meio de garantir a educação básica a todos os jovens moçambicanos;

assegurar a todos os moçambicanos o acesso à educação profissional; formar

o professor como educador e profissional consciente com profunda

preparação politica, científica e pedagógica, capaz de educar os jovens e

adultos nos valores da sociedade socialista;formar cientistas e especialistas

altamente qualificados que permitam o desenvolvimento da investigação

científica; difundir, através de ensino, a utilização da língua portuguesa

contribuindo para a consolidação da unidade nacional; desenvolver a

sensibilidade estética e capacidade artísticanas crianças, jovens e adultos,

educando-os no amor pelas artes e no gosto pelo o belo; e, fazer das

instituições de ensino bases revolucionárias para a consolidação do poder

popular, profundamente inseridas na comunidade”(SNE, 1985,p. 19).

O SNE foi introduzido em condições políticas, econômicas e sociais precárias. A própria

educação enfrentava muitas dificuldades. Machel reconhecia este fato nos seguintes termos:

“(…) não temos no nosso país uma fabrica de papel, de lápis, de canetas, de livros, de

ardosias e quadros (…); não temos fábricas de materiais de construção para podermos ter

mais escolas; não temos professores…”( MACHEL, 1984, p.9).

A política educacional desse período concentrou-se na formação do “ Homem Novo” que

receberia do Estado uma formação profissional no quadro do ideal econômico pré-

estabelecido. Para além disso, seria necessário tornara escola “uma base para o povo tomar o

poder”, o que significava por a ciência e a técnica ao serviço do povo. Porém, este período de

1987 a 1992 pode ser considerado de uma “crise geral” do sistema de educação em

Moçambique que deveu-se, sobretudo, à falta de meios financeiros suficientes para sustentar

o sistema concebido e à guerra dos 16 anos (1977-1992) que se desenvolveu entre a

RENAMO e a FRELIMO.

Page 69: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

55

Foi no contexto das decisões saídas no IVo Congresso do partido FRELIMO, em 1983, que

Moçambique abriu as portas para a economia de mercado em 1987, substituindo o PPI porum

Programa de Reabilitação Econômica (PRE).

Com a aprovação da Constituição de 1990, os princípios filosóficos que orientaram o setor da

educação passaram a estabelecer que:

a) A educação é um direito e dever de todos os cidadãos.

b) O Estado, no quadro da lei, permite a participação de outras entidades, incluindo

comunitárias, cooperativas, empresariais e privadas no processo educativo.

c) O Estado organiza e promove o ensino, como parte integrante da ação educativa, nos

termos definidos na Constituição da República; o ensino público é laico( SNE, 1992,

p.104).

O colapso do sistema de educação só podia terminar com uma mudança radical da orientação

educacional, com o surgimento de estabelecimentos de ensino privado, a mudança na

estrutura do sistema escolar, e as transformações na própria politica da educação, que

viriam a ser as consequências desta crise. As escolas privadas foram divididas em dois

grupos: “escolas privadas”, no sentido restrito do termo, e as chamadas“escolas

comunitárias”. Estes dois tipos de escolas surgem numa época em que a escola pública não

oferecia lugares em quantidade suficiente e nem a qualidade era a mais desejável. As

disposições legais para o surgimento e a abertura de escolas privadas em Moçambique são

estabelecidas a 1 de junho de 1990, através do Decreto n o11/90 do Conselho de Ministros.

Trata-se do decreto que autoriza “atividades do ensino privado e explicações”, as chamadas

políticas híbridas. Este decreto revogou um anterior, o Decreto 12/75, que proibia as

atividades do ensino privado. A parceria tinha em vista aliviar o governo dos encargos

financeiros e permitir a participação da comunidade nos programas educacionais.

Aplicado num período em quem Moçambique vivia os momentos mais difíceis da sua

historia (guerra, seca e crise económica) o SNE (Lei 4/83) mostrou-se inadequado para as

novas condições sociais, económicas e politicas que se registraram principalmente a partir

dos anos 90. Entretanto, a nova constituição de 1990, com impacto na vida social, politica

e económica, as negociações ( ainda secretas) entre o governo da FRELIMO e a RENAMO,

e a pressão dos organismos internacionais ditaram a necessidade de um reajustamento do

quadro geral da educação em Moçambique. Isso veio acontecer através do surgimento da

nova Lei 6/92 (UACIQUETE, 2010).

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56

A aprovação da constituição de 1990 pela Assembleia da República (Câmara dos Deputados)

em Moçambique, trouxe mudanças a nível político, econômico e social. Ocorreu num período

onde Moçambique estava em negociação para o fim da guerra civil que durou cerca de

dezesseis anos entre a FRELIMO e a RENAMO. O entendimento entre estes dois partidos,

depois de muitas negociações fracassadas, culminaram com a assinatura dos acordos de paz

que aconteceu no dia 4 de outubro de 1992.

Durante a guerra, no período de negociações em ambas as partes, o Ministério de Educação já

havia desenhado um plano para a introdução de uma nova lei da educação que pudesse ser

adequada à nova constituição, e também às reformas neoliberais propostas

(AFONSO,1998)23. O plano se insere num movimento de reformas do setor público da década

de 90 e busca se adequar às políticas educacionais propostas pela conferência mundial de

Jomtien em 1990 da qual Moçambique fez parte.

Também a antiga lei 4/83(do tempo do socialismo), era muito criticada e tinha muitas

imperfeições. Por exemplo, quem devia gerir a educação na antiga lei era apenas o Estado, já

a segunda lei admitiu a participação do setor privado na educação. Na primeira lei a criança

era admitida a entrar na escola para o inicio das aulas com 7 anos, já a segunda abriu espaço

para que a criança entrasse com 6 anos.

Foi no âmbito destas mudanças internas e internacionais que a antiga lei 4/83 foi revogada e a

nova lei 6/92 foi aprovada antes do fim da guerra.

Terceiro período (1992 até a atualidade)

Em Maio de 1992, o parlamento aprovou a lei 6/92 sobre o sistema de educação em

Moçambique, revogando a lei 4/83. Na nova lei, como política educacional, a educação

continuou a ser considerada como um “direito e dever de todos os moçambicanos”.

Com a introdução da segunda lei da educação (6/92), o Estado no quadro da lei permite a

participação de outras entidades, incluindo comunitárias, cooperativas, empresariais e

privadas no processo. Foi neste contexto que o estado Moçambicano a partir desta lei abriu

portas para que o setor privado participasse nas atividades de educação em Moçambique,

23 Durante esse período segundo o autor, assistiu-se às tensões entre a comunidade da expansão do Estado, na tentativa de uma maior realização da igualdade de oportunidades e de democratização da escola pública, e à tentativa de reduzir a ação do Estado, abrindo o campo à iniciativa privada e à concretização de uma maior liberdade de ensino, apelidada de neoliberalismo educacional mitigado.

Page 71: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

57

que culminou com o surgimento das escolas privadas ou particulares em Moçambique.

Numa primeira fase surgiram na apital do país, Maputo nos anos de 1990 e desde então

foram se expandido para as outras províncias(estados) de Moçambique

O Estado Moçambicano optou por abrir a gestão da educação à iniciativa como forma de se

livrar da demanda provocada pelo crescimento populacional e diminuir os encargos

financeiros com a educação. Uma outra razão foi devido à imposição ou influência das

politicas neoliberais capitalistas focadas na economia de mercado. Portanto, a

internacionalização das politicas educacionais presenciou o nascimento e a ascensão de novos

atores públicos e privados, com e sem fins lucrativos. (AKKARI, 2011).

MONS (2007), citado por AKKARI (2011), sugere que o domínio do governo central tem

progressivamente cedido lugar a uma pluralidade de atores públicos e privados, organizados

em torno de novas lógicas territoriais, rompendo com a abordagem administrativa vertical

tradicional. As duas principais mudanças ocorridas nas politicas educacionais nas últimas

duas décadas foram a descentralização e a privatização.

Com o movimento da descentralização surgido na década de 1990, as escolas públicas em

Moçambique são geridas pelo Estado e as particulares pelo setor privado. Os programas de

ensino usados no ensino público em Moçambique são também usados nas escolas privadas.

Quem paga os salários dos professores nas escolas públicas é o Estado e nas escolas privadas

ou particulares são as próprias instituições de ensino, mas existem algumas escolas geridas

por entidades religiosas e nestes casos quem paga o salário dos respectivos professores é o

Estado. Nas escolas particulares as mensalidades variam de acordo com a instituição e

localização da escola e os valores podem ser bem altos. Por exemplo para educar uma

criança de 6 anos chegam a cobrar o equivalente a cinco mil meticais por mês24 (R$ 417,00) e

para o ensino superior as mensalidades podem atingir o equivalente a oito mil meticais

(R$667,00). Para fins de comparação, cinco mil meticais é um valor superior ao valor do

salário mínimo de onze setores de atividade econômica em Moçambique25.

24 A moeda usada em Moçambique chama-se Metical, introduzida na década de 1980, antes chamava-se escudo, nome herdado dos portugueses português. Na conversão atual R$1 equivale a 11 ou 12 Meticais dependendo do câmbio do dia . 25 O Governo de Moçambique fixa diferentes salários mínimos de acordo com o setor de atividade, sendo as atividades divididas em quinze grupos. Em 2015/2016, o mais baixo era o do setor de pesca não industrial (3.000 meticais) e o mais alto o do setor de serviços financeiros (7.800 meticais). Ver http://www.meusalario.org/mocambique/main/salario/salario-minimo

Page 72: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

58

É neste período também que se observa o desmembramento do Ministério de Educação e

Cultura, com a criação do Ministério de Educação (MINED) que, em 2015, passou a se

chamar Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano (MINEDH). Esta lei está

atualmente em vigor mas também está num processo para a sua alteração segundo o Ministro

de Educação Jorge Feirão, que em Abril de 2015 admitiu a possibilidade de rever o Sistema

Nacional de Ensino(SNE), para ajustá-lo às novas dinâmicas e necessidades do setor.

A acompanhar essas medidas e encorajado pelo processo de pacificação do país, a partir de

1992, o MINEDH fez a revisão do SNE e aprovou o Decreto- Lei 6/92 que dividiu o sistema

em: pré-escolar, escolar e extra-escolar.

O ensino pré-escolar é atualmente oferecido por creches e escolinhas do Ministério da Mulher

e Acção Social (MMAS), das organizações não-governamentais ou comunitárias e pelo setor

privado. Este subsistema, coordenado pelo MMAS, divide-se em dois níveis: o nível das

creches, que cobre as crianças de 0 aos 2 anos, e o nível dos jardins-de-infância que atende

crianças entre os 2 e os 5 anos. A frequência é facultativa. O ensino escolar compreende: i) o

Ensino Geral, ii) o Ensino Técnico-Profissional e iii) o Ensino Superior. O português é a

língua oficial e a língua de instrução. O ensino extra-escolar engloba actividades de

alfabetização e de aperfeiçoamento e actualização cultural e científica realizadas fora do

sistema regular do ensino (PEE 2012-2016, p.12).

O Ensino Primário público é gratuito e está dividido em dois graus: o Ensino Primário do 1º

grau (EP1, da 1ª à 5ª classe) e o Ensino Primário do 2º grau (EP2, 6ª e 7ª classes). Com a

introdução do novo currículo em 2004, este ensino foi estruturado em três ciclos de

aprendizagem numa perspectiva de oferecer um ensino básico de sete anos para todos: o 1º

ciclo (1ª e 2ª classes), o 2º ciclo (3ª à 5ª classe) e o 3º ciclo (6ª e 7ª classes). A idade oficial de

ingresso na 1ª classe é de seis anos, completados no ano de ingresso. As escolas primárias

funcionam normalmente em dois turnos de seis tempos letivos (45 minutos por tempo letivo),

um de manhã e outro à tarde. Para acomodar a expansão do sistema, algumas escolas

primárias, principalmente nas cidades, funcionam em três turnos de cinco tempos letivos (40

minutos). Algumas escolas lecionam também o EP2 no turno noturno, mas esta situação tende

a diminuir. Menos de 2% dos alunos frequentam o ensino primário em escolas privadas ou

comunitárias. Depois de concluir o Ensino Primário, os alunos podem continuar os seus

estudos no Ensino Secundário Geral ou no Ensino Técnico-Profissional de nível básico.

Page 73: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

59

O Ensino Secundário Geral tem dois ciclos: o primeiro compreende a 8ª, 9ª e 10ª classes.

Depois de completar este nível de ensino, o aluno pode continuar os seus estudos no segundo

ciclo do ensino geral (11ª e 12ª classes) que antecede a entrada no Ensino Superior. Todas as

discplinas lecionadas no 1º e 2º ciclo também têm a duração de 45 minutos, intercalados com

um intervalo de cinco minutos e um intervalo maior de quinze minutos a partir do terceiro

tempo em todos os períodos das aulas(manhã, tarde e noite). Na alínea (a) do ponto 3.3, o

Plano Curricular do Ensino Secundário Geral (PCESG-2007) define que, à luz dos objetivos

gerais do Sistema Nacional de Educação, o Ensino Secundário Geral visa “proporcionar ao

jovem um desenvolvimento integral e harmonioso, através de um conjunto de competências:

conhecimentos, habilidades, atitudes e valores articulados em todas as áreas de

aprendizagem” (MARCELINO, 2013, p.1).

O objetivo principal do Ensino Secundário Geral (ESG) é “ampliar e consolidar os

conhecimentos adquiridos no ensino primário tendo em vista o ingresso no ensino superior ou

a participação em atividades produtivas” (MINED, 1995p.180).

O Ensino Secundário Geral não é gratuito, havendo cobrança de taxas de matrícula

simbólicas, estimadas em R$ 30,00 para o 1º ciclo e R$40,00 a R$50,00 para o 2º ciclo,

(equivalentes a 300 a 600 meticais). Não existe pagamento de mensalidades no Ensino

Secundário Geral, somente a taxa de matrícula, paga anualmente. Não há exames de

admissão. Para responder à grande procura de lugares no ensino secundário, este nível de

ensino opera com turnos noturnos, principalmente para os alunos mais velhos (com mais de

15 anos). Além disso, estão a surgir muitas escolas privadas neste nível de ensino,

particularmente nas cidades. Em 2011, estas escolas privadas eram frequentadas por 10% do

total de alunos do ensino secundário. Recentemente, o MINEDH introduziu um programa de

Ensino Secundário Geral à distância cuja cobertura é ainda limitada (PEE 2012-2016, p.13).

O Ensino Secundário Geral é um subsistema do Sistema Nacional de Educação (SNE)

constituindo ponto de transição e preparação dos jovens para a continuação dos estudos

noutros níveis, para a formação numa determinada área técnico-profissional ou

socioeconómica ou ainda para o mercado de trabalho.

A nova Lei 6/92, deu continuidade à política de expansão da rede escolar. No que se refere às

práticas pedagógicas da Lei6/92, aos professores foi recomendado deixarem de usar métodos

de ensino centrado exclusivamente no professor. Apesar do apelo, esta prática pedagógica

ainda continua. O Executivo justifica a continuação do uso deste método porque é

Page 74: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

60

condicionado pelo número elevado de alunos que dificulta uma atenção mais individualizada

do aluno. Na nova lei, reafirma-se a necessidade de reativação “urgente” do Ensino Técnico

Profissional. Este deveria ser reorganizado e restruturado de modo a adequar-se às

necessidades e às transformações estruturais que o país vinha sofrendo.

No contexto global de desenvolvimento, após as primeiras eleições multipartidárias de 1994,

o governo saído do processo eleitoral definiu a política global de desenvolvimento. A nova

política visa a normalização e reconstrução da vida social e econômica do país. Nesta visão

foi traçada a Política Nacional de Educação (PNE), em 1995. Foi na base do surgimento da

PNE, que o MINEDH começou a formular as suas políticas educacionais, com forte

participação dos parceiros internacionais.

Ao longo dos últimos anos, o país tem se beneficiado de apoio técnico e financeiro dos vários

parceiros internacionais. O diálogo entre o ministério e os seus parceiros tem diferentes

formatos. Esse grupo de parceiros se formou com a elaboração do primeiro plano estratégico

do sector em 1998. Ao longo dos últimos anos, a cooperação desenvolveu-se, evoluindo para

um diálogo aberto, transparente e franco, ao nível político e técnico. Neste momento, o grupo

é composto por 23 parceiros de cooperação26, entre parceiros bilaterais, organizações das

Nações Unidas e diferentes bancos internacionais, que participam activamente numa ou

noutra plataforma de diálogo.

Para facilitar o diálogo com o ministério, os parceiros são coordenados por uma equipe

composta por duas ou três agências27 que fazem o ponto de ligação entre o ministério e os

parceiros. Ao mesmo tempo, existem várias parcerias bilaterais e/ou institucionais como, por

exemplo, com o Brasil, Vietnam, China, Austrália, Banco Islâmico para o Desenvolvimento,

cujo apoio também é alinhado com os planos de governo e do setor, em particular, embora

não estejam integrados no grupo de parceiros de cooperação que subscreveram os termos de

referência acima referidos. Neste momento, os parceiros internacionais financiam cerca de

30% da despesa do setor da educação através de diferentes modalidades(PEE2012-2016).

26Alemanhã, Banco Africano de Desenvolvimento, Banco Mundial, Canadá, Cuba, Dinamarca, DFID

(Inglaterra), Espanha, FAO, Finlândia, Flandres, Irlanda, Islândia, Itália, Japão, os Países Baixos,

PMA, PNUD, Portugal, UNESCO, UNICEF, UNIFEM, USAID. 27 A composição desta equipe de coordenação é anualmente confirmada pelos parceiros e o ministério.

Page 75: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

61

3.2 A FORMULAÇÃO DAS POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO EM MOÇAMBIQUE

Em qualquer sociedade contemporânea, ou em qualquer país do mundo, o processo de

formulação das políticas públicas começa com a incorporação de problemas na agenda28 dos

governos, ponto de partida para a elaboração de propostas de políticas públicas e de

ação governamental, que envolve uma série de etapas. De acordo com a teoria do ciclo

da política pública, o caminho seguido começa com a elaboração de uma agenda, onde

interesses e propostas são colocadas na mesa de negociações, definindo-se preferências

que são adaptadas ao projeto político governamental. Seguem-se as etapas de formulação

de propostas, escolha de alternativas e implementação das políticas públicas, através da

operacionalização em programas e projetos pelas áreas competentes.

Para o caso de Moçambique, segundo a entrevista que fizemos em janeiro de 2015 com o

Diretor Nacional do Ensino Secundário Geral, as políticas públicas no setor de educação são

formuladas após uma consulta nacional a alguns diretores provinciais de educação e

respetivos diretores das escolas (no mínimo dois ou três em cada província) e alguns

professores representativos de certas escolasescolhidas aleatoriamente(um professor por

escola).

O entrevistado justificou essa metodologia afirmando que não seria possível abarcar numa

sala de reunião cerca de 20.000 professores do ensino secundário geral que o país tem.

“No processo de elaboração das políticas de educação em Moçambique, envolvemos

igualmente outros atores como por exemplo, pais e encarregados de educação,

confissões religiosas, conselhos de escolas, deputados, quadros de diferentes

ministérios e parceiros de cooperação, e todos os interessados pelo

setor”(QUINCARDETE, 2015).

A elaboração das políticas é construída a partir da análise e avaliação dos progressos

observados e dos desafios identificados durante a implementação do Plano Estratégico de

Educação anterior, com o objetivo de melhorar o desempenho no setor dos próximos anos.

Depois de toda essa ampla consulta, todas as sugestões são harmonizadas pelo MINEDH,

que elabora o Plano Estratégico de Educação (PEE), que depois de aprovadopelo

Conselho de Ministros, vai para a Assembléia da República(AR) para a sua aprovação e

posterior homologação pelo Presidente da República. Envolve, pois, uma ampla discussão 28. KINDON (1984) define a agenda como sendo a lista de temas que são alvos em dado momento de atenção tanto por parte das autoridades governamentais como de pessoas de fora de governo.

Page 76: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

62

nacional, várias reflexões e consultas internas e externas, nos diversos níveis do setor (PEE

2012-2016, p.3). No âmbito da formulação da política pública, o quadro constitucional, impõe

ao governo uma planificação quinquenal, seguida de uma programação anual, como forma

de a Assembleia da República poder acompanhar ou fiscalizar as atividades do governo.

Portanto, a implementação do Plano Estratégico de Educação é um processo contínuo, sujeito

a ciclos anuais de planificação, execução, monitoria e avaliação. O processo de produção

destes instrumentos de planificação de médio prazo inclui consultas aos parceiros de

desenvolvimento do país e, em certa medida, à sociedade civil (AfriMAP, 2012). Inclui

igualmente, no processo da sua elaboração, os “instrumentos orientadores das políticas

públicas”, nomeadamente o Programa Quinquenal do Governo (PQG), o Plano Estratégico de

Educação (PEE) - todos do período em vigência -, a Agenda 2025, os Programas de Ação

para a Redução da Pobreza Absoluta (PARPA II), os Cenários Fiscais de Médio Prazo do

Governo(CFMPG), o Plano Econômico e Social (PES), e o Orçamento Geral do

Estado(OGE).

As estratégias do setor de educação também incorporam compromissos e metas do governo

no Plano Internacional com os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio(ODM).

Segundo o entrevistado José Luís Pereira Barbosa (2014):

“Moçambique é um país soberano e toma as decisões que melhor achar para o

sucesso de educação em Moçambique. Ao apreciar o Plano Estratégico de

Educação, verificamos que a educação constitui um direito fundamental de

cada cidadão e é um instrumento para integração do indivíduo na vida social,

económica e política, indispensável para a preparação da nova geração e

construção da nação moçambicana. As parcerias são bem-vindas e não poderemos

considerar que elas interferem na elaboração das políticas públicas educacionais29.

(...) esta é uma visão reducionista, imputar ao MINEDH as ‘influencias’,pois existe

um órgão, a Assembléia da República, que representa os interesses nacionais, que

aprova determinada política educacional (…); pertencendo Moçambiqueà aldeia

global, deve naturalmente acompanhar o ritmo de avanços e recuos da referida

globalização.”

Para o caso de Moçambique e muitos países africanos, as propostas de políticas de educação

não se confinam aos atores políticos nacionais. Desde a independência, houve sempre a

participação e intervenção de atores estrangeiros. Segundo CASTIANO&NGOENHA (2013), 29 . Entrevista feita online em 2014, viaemail, com o José Luis Pereira Barbosa, diretor adjunto do Ensino Secundário Geral em Maputo- Moçambique.

Page 77: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

63

“mesmo hoje as políticas educativas nacionais são cada vez mais adotadas tomando em

conta as políticas e, consequentemente, as prioridades e capacidades de financiamento

estabelecidas pelos organismos internacionais tais como o Banco Mundial e o Fundo

Monetário Internacional”. JENSET (2005) defende a mesma ideia, afirmando que as

mudanças que ocorrem na educação em Moçambiquenão derivam apenas de mudanças

internas, mas, sobretudo, são uma resposta às pressões e/ constrangimentos das agências e

organizações internacionais sobre as estratégias de desenvolvimento de sua politica

educativa. O autor diz ainda que:

“Os governos externos (centrais), as agências e organizações internacionais

continuam tendo uma grande influência nas políticas educativas dos diversos

países periféricos, pela imposição dos condicionalismos nos processos de ajudas

setoriais(…) e podem influenciar não somente nas áreas em que prestam, mas na

estratégia nacional de desenvolvimento” (JENSET ,2005, p.39).

O raciocínio sistematicamente reiterado por agências financeiras internacionais, como o

Banco Mundial é o seguinte: novos tempos requerem nova qualidade educativa, o que implica

na mudança nos currículos, na gestão educacional, na avaliação dos sistemas e na

profissionalização. A partir daí, os sistemas e as políticas educacionais de cada país precisam

introduzir estratégias como descentralização, reorganização curricular, autonomia das escolas,

novas formas de gestão e direção das escolas, novas tarefas e responsabilidades dos

professores (LIBANEO et al., 2014).

Apesar dos planos estratégicos de educação,sobretudo o PEE 2012-2016(p.3), enaltecerem a

contribuição da sociedade civil na elaboração das suas políticas,relatórios de estudos

realizados porinstituições independentes refutaram essa afirmativa,constatando que a

sociedade civil tem pouca participação nestes processos de elaboração das políticas públicas

no setor de educação. Estudos efetuados sobre este assunto, como, por exemplo, AfriMAP

(2012) apontam que há atualmente no país uma tradição de fraca participação do

envolvimento da sociedade civil nos processos decisórios. As ações de envolvimento da

sociedade civil no processo de elaboração de políticas públicas no setor de educação são

promovidas mais por imposição dos doadores, por atividades das ONGs e de alguns fóruns

cívicos nacionais (PEREIRA, 2008).São poucas organizações ou fóruns da sociedade civil

que conseguem influenciar o resultado das políticas públicas, o que prejudica a sua

implementação.

Page 78: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

64

“No entanto, não basta reduzir o processo de formulação de políticas públicas a um

único actor (o governo), ou tornar este processo “exclusivista” ou “ elitista”,

porque o sucesso das políticas públicas requer necessariamente que se tomem

em conta os pontos de vista das organizações da sociedade civil,

representando todas as esferas da vida(...)”(CASH & SANCHEZ,2003, p.5).

O governo de Mocambique traça, de cinco em cinco anos, políticas de educação30 que

integrarão os planos estratégicos de educação, que serão implementados pelas autoridades e

instituições educacionais a nível de todo o país. Para o acompanhamento ou o monitoramento

do processo, o MINEDH criou um programa específico chamado Visitas Conjuntas de

Monitoria (VCM), que tem como objetivo verificar a situação no terreno, em termos de

implementação e impacto. Em março/abril de cada ano são públicados Relatórios da Reunião

Anual de Revisão (RAR), onde se discutem os progressos feitos e os desafios do setor com

objetivo principal de estabelecer uma agenda de diálogo para os próximos anos.

Porém, até agora, existem poucos mecanismos de monitoria e acompanhamento do

desempenho do ministerio de educação. Efetivamente, a sociedade civil, para acompanhar e

monitorar com alguma qualidade e de forma interventiva o trabalho e o desempenho do

ministerio da educação, serve-se quase exclusivamente dos relatórios anuais públicados pelo

próprio governo.

Em Mocambique, à semelhança dos outros paises, o ministerio da educação tem vindo a

implementar várias reformas desde 1975 no sistema educacional com intuito de resolver

alguns dos seus problemas. O teor das políticas educacionais que vêm sendo implementadas

em Moçambique nos últimos 20 anos visa responder às exigências que estão postas até

mesmo por organismos internacionais, no sentido de que o país alcance níveis mais elevados

na qualidade e expansão do ensino.

Porém, o sistema de ensino moçambicano caracteriza-se pela centralização e burocratização

excessivas, que condicionam a capacidade de resposta às tensões e aos inúmeros

30 O governo de Moçabique traça de cinco em cinco anos as suas políticas educacionais porque estas são orientadas pelo Plano Quinquenal do Governo(PQG), ou seja os objetivos e as prioridades do PQG para a área de educação devem fazer parte também do processo de elaboração das politicas de educação em Moçambique. As políticas traçadas para cinco anos não costumam ser cumpridas por razões diversas e acabam passando para os cinco anos subsequentes. Por exemplo, algumas políticas formuladas no PEE(2012-2016-em vigor), não serão cumpridas e passarão para o próximo PEE(2017-2021). Mas também existem problemas de insustentablidade das politicas educacionais. Quando um ministro é exonerado o subustituto dificilmente costuma dar continuidade às agendas anteriormente desenhadas. A situação piora ainda com os implementadores das politicas nas escolas (diretores das escolas), devido às substituições constantes de alguns diretores nas escolas em Moçambique quando são avaliados pelos seus superiores hierárquicos como incopetentes ou corruptos.

Page 79: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

65

problemas que povoam o dia a dia de cada escola e, por conseguinte, não têm facilitado o

normal desenvolvimento dos processos de mudanças, nomeadamente o da reorganização

curricular.

O MINEDH, para implementar uma política, faz primeiro uma avaliação do Plano Estratégico

de Educação(PEE) anterior, ou seja, das políticas educacionais dos últimos cinco anos,

onde surgem observações e recomendações importantes para a tomada de decisões no

contexto da elaboração e implementação dum outro Plano Estratégico de Educação

subsequente. Um dos fatores que mais preocupa o MINEDH é a limitação dos recursos

humanos.

“Num contexto nacional em que a procura de pessoal com determinadas

qualificações ainda está acima da sua oferta, e considerando ainda a limitada

capacidade de retenção de técnicos especialistas no setor público, o risco de

mobilidade é alto. Isto implica, entre outras, a necessidade de o setor continuar a

formar, capacitar acima das suas capacidades imediatas, seja professores ou

gestores” (PEE 2012-2016, p.141)”.

3.3 AVALIAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO EM MOÇAMBIQUE

O ministerio de educação avalia o estágio atual no processo de formulação e implementação

das suas políticas educativas da seguinte forma: “nos últimos anos, o setor da educação

registrou grandes progressos, particularmente no concernente ao aumento da oferta da

educação” (PEE, 2012-2016). Considera ainda o Executivo que mais crianças ingressaram

anualmente nas escolas e mais crianças progrediram anualmente de um nível para outro.

Destacou-se também a expansão do ensino secundário e a redução das disparidades

geográficas e de gênero. A politica de expansão de acesso escolar em Moçambique foi

introduzida para responder aos objetivos da politica social denominada Plano de Ação para a

Redução da Pobreza Absoluta (PARPA), como evidencia o documento do governo citado a

seguir. Foi igualmente reafirmado no PARPA (2001-2005) que o ensino secundário geral

tinha como objetivo “ expandir o acesso para responder às necessidades do mercado de

trabalho” (GoM, 2001, p.46).

“Entre 2000 e 2012 foram criados centros infantis tanto privados como estatais,

sobretudo nas cidades, o que levou ao aumento do número de crianças que o

frequentam. O número de centros infantis passou de 49 para 253 em 2012, e o

número de escolinhas atingiu os 526, em 2012.Entre 2000 e 2014, o setor da

Educação fez progressos importantes. O ensino primário observou um crescimento

Page 80: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

66

acentuado dos efectivos escolares,que passaram de 2,27 milhões, para 5,56 milhões.

A taxa líquida de escolarização (TLE) evoluiu de 68% para chegar aos 96,3%, em

2014, e a taxa bruta de escolarização (TBA) ultrapassou largamente os 100% (…)”

(E.P.T, 2015, p.11-p.12).

Nos últimos anos, devido ao aumentodos graduados da 7ª classe, o Ensino Secundário Geral

tem registrado uma expansão marcante. O número de escolas do Ensino Secundário Geral do

1º Ciclo (ESG1) duplicou, passando de226 escolas em 2004 para 561 em 2011, cobrindo todo

o país (PEE, 2012-2016, p.76). O número de graduados no Ensino Secundário Geral do 1º

Ciclo(ESG1) cresceu cerca de quatro vezes, entre 2004 e 2013 (130 mil alunos em 2014), e as

taxas de graduação aumentaram de 8%, para 23%, no períodoentre 2004 e 2013(EPT, 2015,

p.34). O crescimento do número de graduados e das taxas de conclusão no Ensino Secundário

Geral (ESG) foi grande entre 2004 e 2013, mas as altas taxas de reprovação e desistência

impediram que estas tivessem sido ainda maiores (EPT, 2015, p.35).

Segundo o Diretorde Planificação e Cooperação do MINEDH, Manuel Rego, “a taxa bruta

de escolarização de crianças em idade pré-escolar teve aumento de 0,6% para 1,4% em 2012

e a percentagem de crianças a ingressar no primeiro ciclo passou de 30% para 80% em

2014.Nos váriosníveis de ensino houve um progresso considerável, alargamos a rede escolar,

tornando-a mais acessível e gratuita31”.

O Ensino Técnico Profissional Elementar cresceu 14 vezes durante o período de 2000 a 2014,

tendo atingido os 11 mil alunos, enquanto o número de efectivos no Ensino Técnico Básico

decresceu 0,7 vezes, atingindo os 16 mil alunos. Já o Ensino Técnico Médio alcançou os 20

mil alunos, um crescimento de 3,4 vezes. O número de alunos no ensino secundário cresceu

11,8 vezes, enquanto o número de instituições neste nível aumentou 5 vezes (E.P.T, 2015). O

censo de 1997 registrou que a taxa da população com 15 anos e mais e que sabia ler era de

40%.

Em 2003, o Inquérito Demográfico de Saúde (IDS), conduzido pelo INE, mostrou que a taxa

de população alfabetizada era de 37,5% para as mulheres e 67% para os homens com

disparidades importantes entre as províncias, onde a província de Cabo Delgado tinha a taxa

mais baixa para as mulheres e para os homens (15,5% e 53,3%, respectivamente), e a cidade

de Maputo com 82% e 96%, teve as taxas mais elevadas respectivamente para asmulheres e

31 JORNAL PONTOCERTO, quinta-feira, 30 de Abril de 2015 - Edição: 1819 - Ano IX, Compromisso assumido há 15 anos, Moçambique fracassa no acesso à Educação para todos. (Online),in: Jornal%20Ponto%20Certo%201819%20-%2030%20(1).pdf.Acessado no dia 30/12/2015.

Page 81: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

67

para os homens. A situação global melhorou em 2011, pois o IDS desse ano registou uma taxa

média nacional de população alfabetizada de 40,2% para mulheres e 67,8% para os homens

(E.P.T,2015).

A paridade de gênero na educação constitui uma das áreas de maior progresso alcançado pelo

sector. Com efeito, em todas as classes do ensino geral nota-se uma evolução positiva da

paridade de participação de rapazes e raparigas, que se aproxima aos 0.9%, com pequenas

oscilações ( E.P.T, 2015).

O efetivo de mulheres frequentando o ensino secundário aumentou 18% no período o que

permitiu reduzir o fosso de gênero neste subsistema de ensino de 0,4%, em2000, para 0,7%,

em 2014( E.P.T, 2015, p.20).

As estatísticas apresentadas pelo diretor de Planificação e Cooperação do MINEDH apontam

ainda para uma subida de efetivos no ensino secundário à distância, passando-se de 3024

alunos em 2009, quando da sua introdução, para cerca de 28 mil em 2014, no mesmo ano em

que a área técnico-profissional atingiu 20 mil estudantes, sinónimo de crescimento em três ou

quatro vezes nos últimos 15 anos. Os dados oficiais do governo, através do seu relatório,

confirmam esta entrevista concedida aos jornais.

“Entre 2000 e 2014, foi introduzido o Programa de Ensino Secundário à Distância

(PESD) para o 1º ciclo do ESG, que permitiu aumentar o acesso a este nível de

ensino. O PESD cresceu de forma rápida nos últimos anos, tendo passado de 3.024

alunos em 2009, para 28.168 alunos em 2014. Cresceu também o número de Centros

de Acompanhamento dos Alunos (CAA) de 91 em 2009, para 283, em 2014. Porém,

somente 4% dos alunos do ESG1 frequentam o PESD quando a meta do PEE 2012-

2016 era que 10% dos alunos do ESG frequentassem este programa” (E.P.T, 2015).

A taxa de admissão na 1ª classe e os efetivos escolares, tanto no Ensino Secundário Geral

como no Técnico-Profissional, cresceram significativamente nos últimos 15 anos, mas

persistem desafios para que o país alcance os seis Objetivos de Educação Para Todos,

acordados em Dakar, Senegal, em 2000. O relatório divulgado nos finais de abril de 2015,

confirmou que Moçambique falhou nos objetivos que assumiu no quadro da implementação

do programa em educação. Segundo ilustra esse pequeno trecho do documento do Ministério

de Educação em Moçambique:

“Entre os anos 2000 e 2014, o sector da educação em Moçambique realizou

importantes progressos em várias vertentes. Apesar dos esforços realizados, não foi

possível alcançar todos os objectivos desejados e plasmados na Declaração de

Dakar” (E.P.T, 2015, p.9).

Page 82: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

68

Uma das razões apontadas do não cumprimento desses objetivos segundo CASTIANO(2013)

é que não existem sanções legalmente constituídas no caso de o Estado ou os seus

parceiros não cumprirem o memorando tal como aconteceu em 2000 e outos acordos

subsequentes. De acordo com o autor, “(…) deveria haver uma instância formalizada que

arbitrasse esse direito e não ser deixado apenas sob a forma de uma pressão moral”

CASTIANO (2013, p.305).

Jorge Ferrão (ministro de educação desde 2015), ao falar num encontro em Maputo, nos

princípios de abril de 2015, durante a abertura da reunião anual de revisão do Plano

Estratégico de Educação(2012-2016), disse que “o trabalho de consultas sobre o estágio da

instrução no país remete-nos para a revisão da Lei do Sistema Nacional de Ensino (SNE),

cuja última atualização teve sensivelmente há 23 anos, por via da lei 6/92 (…)32.

A grande preocupação com a qualidade da educação e, sobretudo, com o desempenho do

aluno, é central neste PEE (2012-2016, p.35). O mesmo documento refere que: “o setor

continuará a melhorar a qualidade e relevância do ensino pós primário para reforçar o seu

papel no desenvolvimento econômico, social e politico da nossa sociedade” (ibidem, p33)

O PEE de 2012 a 2016 ilustra os problemas de qualidade de ensino que o Ministério de

Educação e Desenvolvimento Humano em Moçambiqueenfrenta, segundo o excerto abaixo:

“(…) ao mesmo tempo, existe a perceção de que há muitas crianças que no

fim do 1º ciclo do Ensino Primário(EP) (2ª Classe-série ) ainda não conseguem ler

e escrever, contrariando as taxas de aproveitamento na 2ª classe que são

relativamente altas. Os resultadosdo estudo de SACMEQIII (2007) mostraram que

a maior parte dos alunos da 6ª classe (série) ainda não atingiram as competências

básicas em leitura e matemática. O desempenho dos alunos no Ensino Secundário

Geral, também é preocupante”(PEE2012-2016, p. 30).

Outras pesquisas também mostraram esta realidade:

“Atualmente, a qualidade de ensino em Moçambique é reconhecidamente umdos

maiores desafios do sistema de educação. Com efeito, o sistema de educação tem

funcionado com inputs insuficientes, com altos rácios alunos professor e alunos por

turma, com professores insuficientemente preparados para a docência e instalações

pouco adequadas para o funcionamento.Como resultado, o sistema tem sido pouco

eficiente, apresentando elevadastaxas de reprovação e de desistência. Muitos alunos

32 JORNAL PONTO CERTO, Segunda-Feira: 06 de Abril de 2015 - Edição: 1802 - Ano IX, Meio milhão de crianças a estudar ao relento, In: Jornal%20Ponto%20Certo%201802%20-%2006%20(2).pdf, Acesso em: 26 de Agosto, de 2015

Page 83: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

69

não concluem o ensinoprimário e os que o concluem fazem-no muito depois de

completarem os 12anos. A reprovação leva a uma elevada distorção idade/classe em

todos níveis,que vai aumentando nas classes mais elevadas” ( EPT, 2015, p.20).

Ao problema da qualidade do ensino soma-se o problema da permanência na escola. Em

2005, dos 100 alunos que ingressavamna 1ªsérie, apenas 37 sobreviviam até a 5ª série. A

proporção de crianças que começavam a estudar na idade considerada correta, de seis anos,

era de 43% para os homens, e 35% para as mulheres (NORTE, 2006, p.1).

Moçambique, como signatário da Declaração de Jomtien de 1990, comprometeu-se em

cumprir as Metas do Milênio definidas para a educação pela ONU. A mais importante meta

refere-se à “universalização” do ensino básico, ou seja, aquela que visa, até 2015, garantir que

todas as crianças em idade escolar e de ambos os sexos tenham acesso àeducação

formal.Entretanto, o aumento da oferta da educação mencionado pelos documentos oficiais

não responde à demanda de infraestrutura das escolas. O aumento dos ingressos dos alunos

em vários niveisse reflete num excesso de alunos nas salas de aula, em cerca de 50 a 70

alunos, o que dificulta o processo de ensino e aprendizagem no sistema.

Os últimos dados disponíveis mostram que a taxa alunos-professor no Ensino Geral cresceu

em ambos os níveis do secundário até 2006/2007,quando atingiu os 76 e 75 alunos por turma,

respectivamente no Ensino Secundário Geral do 1º Ciclo,ESG1, e ESG2( EPT, 2015, p.30).

O número de alunos do Ensino Secundário Geral do 1º Ciclo cresceude cerca de 286 mil

alunos em 2004 para cerca de761 mil alunos em 2011(PEE-2012-2016, p.76). A proporção da

populaçãona escola no ensino secundário aumentou de 30% em 2002/3 para 37,3% em 2008/9

(PEE-2012-2016, p.12).

O excesso dos alunos nas salasde aulas é justificado pelo Ministério de Educação em

Moçambique, nos seguintes termos:

“Este crescimento indica quea oferta escolar que o sistema educativo tem vindo a

proporcionar aos novos ingressos no ensino secundário não é acompanhada pela

entrada em funcionamento de novos edifícios escolares, o que pressupõe o

enquadramento desses alunos nas escolas existentes, elevando deste modo o rácio

de alunos por turma. Acresce-se a tudoas elevadas taxasde reprovações que se

verificamno Ensino Secundário Geral (ESG), ocupando espaços de novos ingressos

(PEE-2012-2016, p.78)”.

Como corolário disso, os alunos nas salas das aulas disputam pelas carteiras, e

consequentemente sentam-se três a três e, nos dias de teste, todos os alunos copiam –se,

Page 84: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

70

contribuindo desta forma para a baixa qualidade de ensino. Em nossa análise, a política

de aumento da oferta da educação deveria se fazer acompanhar por condições das

infraestruturas das escolas

O PEE, Plano Estratégico de Educação (2012-2016), reconhece que permanecem, contudo,

grandes desafios para o futuro, principalmente quanto à capacidade de proporcionar um

efetivo ensino inclusivo, através da retenção dos alunos no sistema e da sua progressão para

o nível seguinte, bem como no que tange à melhoria da qualidade de educação ,

voltada para um melhor desempenho dos alunos em todos os níveis de ensino em

termos do seu aproveitamento e desenvolvimento das competências requeridas

(PEE2012-2016, p..4).

O caminho para o saber passa pela escrita e leitura. Estudos mostram que as crianças

moçambicanas aprendem a ler e a escrever muito tarde em relação aos outros países

vizinhos(CASTIANO,2012). Então, o saber neste sentido tem como pressupostos ensinar a

criança em idade própria a ler e a escrever, e isso não tem acontecido, o que faz com que o

sistema seja críticadopor toda a sociedade, como será visto no próximo capítulo. Essa situação

de não saber ler perfeitamente e a escrever corretamente se arrasta para os outros níveis

subsequentes, sobretudo no ensino secundário investigado pela pesquisa.

Desde a independência nacional (1975) Moçambique já teve mais de 20 sistemas de formação

de professores e não houve tempo suficiente para consolidar um sistema. As sucessivas

mudanças de sistema influenciaram na qualidade da formação dos professores. Então, a

formação dos professores para todos os níveis sofre transformações que nem sempre foram

baseadas em estudos aprofundados que as justifiquem, porque se abandona um sistema e se

adota outro. O sistema é críticado pela insustentabilidade das suas políticas, aliada a

mudanças constantes dos seus governantes. Quando um ministro é exonerado, como tem

acontecido, também algumas políticas ficam na gaveta, e o substituto aparece com outras

regras do jogo.

A distribuição dos professores, tanto em quantidade como em formação, não é igual entre as

províncias. As taxas alunos-turma e alunos-professor são mais elevadas nas províncias

centrais e nortenhas do país, sendo também nessasprovíncias que se encontram menos

professores com os níveis de formaçãoexigidos para leccionarem no Ensino Secundário Geral

(E.P.T, 2015).

Page 85: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

71

Contudo, dados públicados no relatório de Dakar pelo ministeriode educação, através dos

seus bancos de dados de 2004 até 2014, indicam que a média de professoreslicenciados e

bacharéis aumentou nos dois níveis. No ESG1 esta médiapassou de 15 para 45%(EPT, 2015,

p.31)

Um estudo realizado pelo Instituto de Investigação Social e Educacional, coordenado pelos

acadêmicos José Castiano33, Severino N. Ngoenha34e Manuel Guro, intitulado O Barómetro

da Educação Básica em Moçambique”, defende que "os principais responsáveis da crise da

educação são os fazedores das políticas". O estudo observa que "as políticas movediças do

sistema de educação não têm contribuído (ou então não têm tido os resultados esperados) em

termos da melhoria do sistema de educação”(CASTIANO et al, 2012).

Isto quer dizer que os principais responsáveis por aquilo que resulta ser uma verdadeira crise

da educação são os formuladores das políticas de educação.Por isso mesmo, os autores

sugerem que esta crise deve ser endereçada aos formuladores das políticas nacionais de

educação, mas também deve ser extensiva às principais agências de educação que operam em

Moçambique desde a década de 1980.

Refere o estudo que, de forma unânime, encarregados de educação e professores concordam

com a fraqueza atual da escola no domínio do saber na dimensão cognitiva por parte dos

alunos. Como observa CASTIANO (2012), “o debate sobre qualidade de ensino está poluído,

na medida em que se limita a equacionar estatísticas”35.No que se refere à qualidade de

ensino, o estudo diz que o primeiro elemento de crítica é a fraca capacidade do SNE em

formar professores com necessária competência. “Parece existir uma discrepância entre as

políticas traçadas e sua implementação a nível das escolas”(idem).

33 .O perfil acadêmico de José Paulino Castiano é de um pensador irreverente. Professor de história em sua formação básica, formado na ex- faculdade de educação da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), seu percurso acadêmico posterior inclui a licenciatura em filosofia(Universidade de Greifswald)e Doutoramento em Sociologia. J.P. Castiano é, desde 2005, DiretorCiêntifico da Universidade Pedagógica(UP) em Maputo, onde contribuiu com opiniões importantes para o desenvovimento do ensino de Pós- Graduação e da investigação na instituição e no pais. É autor de seguntes livros: Das Bildungssystem in Mozambik(1975-1992): Entwicklungen, ProblemeandKonsequenzen(Hamburg, 1998), A longa Marcha Por Uma Educação para todos em Moçambique(Maputo, 2005, em co-autoria), Educar Para quê?(Maputo 2006) e As Ciências Sociais na Luta Contra a Pobreza (Maputo, 2006, em co- edição ), e publicou varios artigos. 34 Severino Elias Ngoenha é bacharel em Teologia pela Universidade Urbaniana de Roma e Doutor em Filosofia da História pela Universidade Gregoriana de Roma, desde1990. Em Moçambique é Professor na Universidade Pedagógica e na Universidade Eduardo Mondlane. No estrangeiro é professor convidado pelas universidades italianas de Bolonha e de Roma III. É ainda Professor convidade pela Universidade Estadual da Bahia no Brasil. Foi professor Associado pela Universidade de Lausanne, na Suiça e com varias obras como por exemplo: Machel; Icone da 1ª República?, editora, Ndjira,2009, , Intelectual, Alternativa à GovernacaoBipolítica?, Puplifix 2013 e vários artigos públicados. 35 JOSÉ CASTIANO, entrevista a STV(12/4/2012),

Page 86: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

72

Por outro lado, o professor, por razões de tempo e baixos salários, de interesse e de vocação,

não está à altura de realizar cabalmente a sua missão. Isto resulta num grave problema para

todo o sistema nacional de educação, pois a fraca preparação básica acarreta consequências

para todo o sistema de educação (secundário, universitário), e mesmo para o sistema de

profissionalização.

Um estudo efetuado entre março e junho de 2014 pelo Banco Mundial, que envolveu cerca de

1.006 professores entrevistados, e 1.731 alunos de 200 escolas moçambicanas, concluiu que a

competência dos professores moçambicanos é a pior36. “Do grupo de sete países que

participaram na nossa análise, Mocambique tem, ao nível de competência dos professores, o

nível mais baixo”, disse Ezequiel Mulina, pesquisador e economista do Banco Mundial,

durante a apresentação da pesquisa sobre os Indicadores de Prestação de Serviços( IPS)37.

Segundo o estudo, a pontuação média dos professores moçambicanos no teste de língua,

matemática e pedagogia foi de 29%, o pior desempenho na comparação com o Quênia,

Tanzânia, Nigéria, Togo e Uganda ( MINEDH, 2015).

Percebe-se, pela análisedas políticas públicas destacadas, que o país ainda tem um caminho

longo para percorrer , na busca por educação de qualidade para todos.

3.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estudos apontam que não se pode fazeruma pesquisa na área de educação sem conhecer a

história da educação desse país. A história de educação em Moçambique está dividida em três

periodos: tradicional, colonial e pós independência. A maior parte dos pesquisadores dividem

a história da educação de Moçambique em dois grandes periodos: colonial e pós a

independência. Não existe consenso entre os pesquisadores sobre os marcos da história de

educação em Mocambique. Cada um desses periodos foi marcado pelas mudanças históricas,

politicas, e económicas que constituíram o atual Sistema Nacional de Ensino.

No que concerne ao processo de elaboração das politicas de educação em Moçambique, a sua

eficácia ainda constitui um desafio para o setor. O que vem plasmado nos documentos

oficiais do governo sobre educação - os planos estratégicos e as políticas traçadas - não 36JORNAL DIARIO DE NOTICIAS(Online), Quinta-feira, 02 de Abril de 2015 – Edição 2820, http://DN%20Edi%EF%BF%BD%EF%BF%BDo%20n%202820.pdf, Acessado: 26 de Agosto, 2015 37IPS- É um programa desenvolvido pelo Banco Mundial, o consórcio de Pesquisas Econômicas Africanas(AERC) e o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), cujo o objetivo é analisar a qualidade de prestação de serviços básicos nos Países Africanos.

Page 87: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

73

chegaa ser cumprido e nota-se uma exclusão por parte dos seus profissionais

(professsores) no processo de desenho das políticas educacionais. Avaliando as atuais

políticas educacionais constata-se também uma contradição entre aquilo que o setor diz

sobre o estágio atual da educação e a realidade atual do sistema. As pesquisas efetuadas e a

percepção da população moçambiqcana sobre a educação mostram que algo precisa ser

melhorado.

No próximo capítulo serão apresentadas as percepções de alguns atores envolvidos no

processo de implementação de políticas de educação em Moçambique: funcionários do

MINEDH, professores, acadêmicos e profissionais de comunicação interessados na questão.

Page 88: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

74

CAPÍTULO 4: A PERCEPÇÃO DOS ATORES ENVOLVIDOS NAS POLÍTICAS

PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO EM MOÇAMBIQUE

4.1 A VISÃO DOS GESTORES

O Ministério de Educação reconheceu públicamente, nos finais de abril de 2015, o fracasso do

cumprimento dos objetivos de desenvolvimento do milênio, assumidos em Dakar (Senegal)

no ano 2000. Segundo o diretor de planificação e cooperação do MINEDH, Manuel Rego,

“apesar de terem sido registradas melhorias durante o período em referência, principalmente

no que diz respeito ao número de crianças que frequentam a escola em todo o país, as metas

ainda não foram atingidas e há muito trabalho pela frente”.Por seu turno, o ministro da

educação, Jorge Ferrão, considerou os dados legítimos, concordando que ainda há um

percurso pela frente.

Em geral, o sector não irá cumprir com a maioria dos objectivos da Declaração de

Dakar, devendo continuar a trabalhar no sentido de atingir os objectivos nos

próximos anos, conforme refere o relatório de Balanço do ProgramaQuinquenal do

Governo 2010-2014. (...) Considerando que o sector não vai atingir os indicadores

traçados no PEE 2012-2014, que estão alinhados com os Objectivos de Dakar, este

propõe-se a estender o Plano até o ano 2019, com vista a permitir mais tempo para o

seu alcance. Neste contexto, o sector irá continuar a monitorar as acções para atingir

os resultados pretendidos, formar quadros a todos os níveis e debruçar-se sobre a

melhoria da gestão escolar a fim de lograr os resultados da aprendizagem nas escolas

(EPT, 2015 p.3).

Todos os diretores das escolas secundárias que entrevistamos na cidade de Maputo em

Moçambique, entre janeiro e fevereiro de 2015 nesta pesquisa, não possuem a formação

específica da área que dirigem (em administração escolar em pós- graduação).

A pesquisa constatou também que a maior parte dos diretores por nós entrevistados não

possuia o plano de melhoria da escola, ou seja, plano para a melhoria da qualidade de

ensino. Somente o diretor da escola secundária Josina Machel (na zona urbana e de classe

média da cidade, chamada Museu) é que tinha plano para a melhoria da qualidade de

ensino. Entende-se por plano de melhoria da escola um conjunto de procedimentos e

estratégias organizados e implementados com o objectivo de promover a melhoria dos

processos educativos e aumentar a eficácia dos mesmos. Um Plano de Melhoria da Escola é

um processo contínuo de: a) identificação das necessidades e dificuldades dos alunos, dos

Page 89: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

75

professores e da comunidade educativa; b) implementação de estratégias que visam aumentar

a eficácia da escola; e c) avaliação das estratégias e dos sucessos alcançados. Por outras

palavras, um Plano de Melhoria da Escola diz respeito a um conjunto de objectivos

(formulados com base nas evidências da investigação), concretizados em estratégias

(operacionalizadas em termos dos alvos a que se destinam: os agentes envolvidos, os recursos

necessários, o tempo em que ocorrem) e cujo impacto em vários indicadores (incluindo o

desempenho acadêmico dos alunos) é periodicamente avaliado.

O Plano de Melhoria da Escola é um instrumento fundamental para potenciar o desempenho

acadêmico dos alunos e a qualidade dos seus resultados. Um Plano de Melhoria da Escola é

um instrumento organizador de objectivos e estratégias de melhoria, agregador de motivações

e do envolvimento dos agentes envolvidos e potenciador de níveis superiores de eficácia.

Foram entrevistados os seguintes gestores: o ex-diretor nacional do Ensino Secundário Geral,

Ivaldo Henriques de Azevedo Quincardete; o diretor adjunto do Ensino Secundário Geral,

José Luís Pereira Barbosa; o chefe do Departamento de Construções de Obras Escolares,

Eugénio Maposse; o diretor de educação da cidade de Maputo, António Alberto Grachane; o

diretor geral e adjunto do INDE, Ismael Nheze.

4.1.1 Sobre a Política Educacional em Moçambique

A política educacional centrada na expansão do acesso vem sendo implementada desde que

Moçambique aceitou e aderiu aos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio, em 2000, na

defesa da meta de “Educação Para Todos”. Conforme nossas entrevistas:

“Uma das grandes políticas até diríamos de sucesso foi a de acesso de ensino. O que

aconteceu é que nos últimos tempos, as nossas crianças tiveram maior acesso à

escola.Para acompanharmos esse acesso, fomos construindo muitas escolas

sobretudo as do ensino primário.” (QUINCARDETE, 2015)

Apesar disso, muitas crianças ainda continuam sem acesso à escola. Foi por esta razão que o

setor de educação em Moçambique optou por introduzir o ensino à distância38 (EaD) para

minimizar a situação de falta de vagas para os alunos do ensino secundário geral. O Programa 38 Chamariamos a este tipo de ensino “Ensino Modular” em vez de Ea D. O EaD é aquele tipo de ensino onde o professor interage com os alunos via internet ou através de outras TICs (p.ex. TV) e esta situação em Moçambique não existe praticamente no Ensino Secundario Geral. O aluno não tem a possibilidade de apresentar as suas dúvidas ou inquietações ao professor porque não existem esses meios de comunicação à distância.

Page 90: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

76

de Ensino Secundário Geral à Distância (PESD), é um programa promovido pelo Ministério

de Educação em Moçambique, implementado pelo Instituto de Educação Aberta à Distância

(IEDA). O PESD foi lançado pela primeira vez, a título experimental pelo Departamento de

Educação à Distância (DED), em 2004 na província (Estado) de Nampula, na região Norte de

Moçambique com o propósito de responder à crescente procura d vagas.

Os alunos matriculados no programa PESD não necessitam ir à escola todos os dias. O tempo

de aula é substituído por um recurso que se chama Módulo. O Módulo é um manual com

conteúdos de aprendizagem, organizados de forma a permitir que qualquer pessoa, desde que

saiba ler, possa aprender sozinho. Em cada escola onde funciona este programa, tem uma sala

específica onde os alunos têm explicações dos tutores. Esse lugar de dissipação das dúvidas

chama-se Centro de Apoio à Aprendizagem (CAA), onde também procedem à obtenção de

materiais autoinstrucionais (módulos), sob a orientação de um tutor. É no CAA onde também

se realizam as avaliações. No fim de ciclo de aprendizagem, ou seja, depois de fazer a 8ª, 9ª e

ter frequentado a 10ª classe (série), de fevereiro à outubro(o período que decorre as aulas

normais, mas divididos em três trimestres), o aluno é obrigado a faze o exame nacional em

dezembro juntamente com os alunos do curso diurno ou presencial. Caso faça o exame

com sucesso, o aluno obterá o mesmo certificado que se passa para qualquer aluno do sistema

nacional de educação. De acordo com as estatísticas do Ministério de Educação em

Moçambique, de 2011 a 2013, já foram matriculados 24.677 alunos no PESD. Mas este, no

entanto, funciona com vários problemas desde a falta das infraestruturas apropriadas e de

insumos pedagógicos(computadores ligadas a internet, e outros materiais didáticos). Como

não existem professores formados em número suficiente, fazem–se improvisos ou seja, nas

escolas onde funciona o EaD, os pedagógicos costumam contactar um professor ou

professora que eles acham idônea ou responsável e convidam para dar aulas no EaD como

forma de fazer as horas extras. O contato entre aluno e professor é deficiente por conta da

inexistência das TICs. As aulas são dadas de forma modular. E só funciona no curso diurno,

recebe todo tipo de aluno, não interessa a idade e não tem muita aderência. O Ministério de

Educação devia fazer um estudo sobre a satisfação do EaD de modo a corrigir os problemas

que enfrenta.

Page 91: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

77

A outra forma que o Ministério de Educação em Moçambique viu como solução para resolver

o problema de acesso dos alunos nas escolas, para todos os subsistemas de ensino, foi a

criação da lei do ensino privado (11/90) e a lei do ensino superior privado (Lei 1/93 de 24 de

julho e a Lei 5/2003 de 21 de janeiro). Com a introdução destas políticas híbridas, muitos

alunos que não tem acesso ao ensino público, acabaram entrando no ensino particular,por

conta de falta de vagas e também à procura de uma melhor qualidade do ensino.

A política de expansão da rede escolar vem sendo implementada desde os primeiros anos da

independência de Moçambique em 1975. Conforme nossas entrevistas:

“As maiores políticas educacionais nos últimos dez anos foram: a expansão da rede

escolar, fizemos a reforma curricular em 2008, e aumentaram-se professores com

níveis de formação psicopedagógica” (BARBOSA, 2015).

“A outra política de sucesso foi a de expansão do ensino superior. Antes tínhamos

uma única Universidade, a Universidade Eduardo Mondlane (UEM), a mais

antiga; hoje a realidade é outra, temos mais de 45 Universidades espalhadas pelo

o país, estatais e particulares” (QUINCARDETE, 2015).

Porém, esta política não está sendo acompanhada pela formação dos respectivos professores,

pela disponibilização dos recursos didáticos e financeiros, e pela avaliação da própria

política. Segundo nossas entrevistas:

“Em termos de políticas, estão bem definidas, mas o grande problema é a sua

execução; nesta fase as políticas educacionais moçambicanas encontram grandes

desafios. São barradas pela falta de orçamento, este é que é o grande calcanhar de

Aquiles. O setor de educação apresenta problemas de priorização na execução das

suas políticas” (NHEZE, 2015).

De acordo com BESIEGEL (2005), a expansão da escola pública requer uma revisão dos

sentidos e das finalidades da educação. Caso contrário, a escola tende a perder legitimidade

aos olhos das grandes massas populares.

4.1.2 A questão da qualidade de ensino

Quanto à percepção dos gestores sobre a qualidade do ensino em Moçambique, estes

defendem que é polissêmica e relativa ou seja, depende das condições históricas, económicas

e culturais de cada pais.

Page 92: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

78

“Como sabe, a questão de qualidade de ensino é relativa, mesmo os países que

apresentam altos padrões educacionais, alguns apresentam certos problemas.

Nenhum país do mundo já ficou satisfeito com a sua qualidade de ensino”

(QUINCARDETE, 2015).

“Honestamente falando, você acha que não tem qualidade? (...)Nós estamos num

bom caminho, que me prove o contrário, atendendo e considerando as nossas

condições se adequam. Atendendo o contexto sócio-econômico, político e cultural,

estamos a dar o nosso melhor ,estamos a fazer todo o esforço para acabar essa má

imagem” (BARBOSA, 2015).

“Olha, não podemos considerar o setor de educação como se fosse uma ilha. Se

formos a reparar ou comparar as condições das infraestruturas de algumas

instituições do Estado moçambicano como por exemplo as

esquadras(delegacias), hospitais, etc., têm as mesmas condições das

infraestruturas escolares (NHEZE, 2015).

No entanto, reconhecem o problema que o setor enfrenta de melhorar a qualidade do seu

ensino:

“É verdade que temos a questão da qualidade de ensino, este continua a ser o nosso

grande calcanhar de Aquiles” (QUINCARDETE, 2015).

Uma das estratégias que estão sendo usadas para a melhora da qualidade do ensino em

Moçambique é a politica de Apoio Direto Às Escolas(ADE), introduzida no princípio do

ano 2000.

Apesar de tudo, o setor de educação avançou muito nos últimos tempos para a

melhoria da qualidade de ensino com a introdução da política de Apoio Direto às

Escolas (ADE), um projeto que já existe há mais de uma década, financiado pelos

doadores. Há muita evolução, mas muita gente diz que retrocedeu . Estou mais de

trinta anos a trabalhar na educação e já viajei quase todo o país e vejo que

há muita diferença em termos de educação e a própria sociedade no geral. A taxa

de analfabetismo depois da independência era quase 98%, hoje, de acordo com o

último censo de 2007, ronda aos 48%, portanto diminuiu” (NHEZE, 2015).

Porém, as escolas que recebem os repasses dessas verbas ainda continuam a enfrentar

muitos problemas, como será visto na seção sobre gestão das escolas.

A falta dos professores é um dos grandes problemas que o setor de educação em Moçambique

enfrenta nos últimos tempos. A pesquisa constatou que não existe entendimento entre o

Ministério de Educação e a Câmara dos Deputados sobre a prioridade da Educação:

Page 93: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

79

“Eu já submeti um pedido na Assembleia da República [Câmara dos Deputados]

para a contratação de 15.000 professores para 2015, para evitar os enchentes nas

salas de aulas; os legisladores rejeitaram, e só deram 8.000 professores, número

que não cobre a falta dos professores no ESG. Eu recrutando 15.000 professores

resolvo o problema de turmas numerosas e preciso de orçamento para pagá-los”

(BARBOSA, 2015).

Esta é uma das razões que tem estado a contribuir para a fraca qualidade do ensino em

Moçambique porque, na falta dos professores, os professores são obrigados a lecionarem

12 turmas com cerca de 60 a 70 alunos por turma, num turno das 7h até as 12,30h, ou das

13h da tarde até 17h e 30. Caminha-se para uma década que já não fazem as contratações

para os professores, sobretudo para o Ensino Secundário Geral, alegando a falta de

orçamento. As turmas sem professores nas escolas, por motivos de abandono ou outros,

costumam ser entregues a outros professores para fazerem as horas extras, sobrecarregando

ainda mais o professor que já tem doze turmas. Isso traz problemas para a gestão:

“Reconhecemos também as nossas fragilidades por parte do incumprimento dos

nossos gestores a nível micro (diretores), que deixam professores a darem as aulas

numa área pela qual não conhece. Esse é o grande problema, no ato de

implementação de uma política ou adenda [agenda] educacional” (QUINCARDETE,

2015).

4.1.3 Os desafios da gestão

Os gestores a nível central do Ministério de Educação em Moçambique foram unânimes em

afirmar que há problemas de gestão escolar nas escolas do Ensino Secundário Geral:

“(...)os diretores não podem ficar com os braços cruzados quando se estraga

um banheiro por exemplo, ou quando se quebra uma carteira ou vidro de uma

janela. É problema dos diretores das escolas que esperam que o ministério faça

tudo que se precisa ou se estraga numa escola. Os pequenos problemas dentro

de uma escola podem ser resolvidos localmente” (QUINCARDETE, 2015).

“Temos que descolonizar as nossas mentes, a educação é a tarefa de todos nós. Há

mau desempenho dos diretores das escolas que se pautam pelo modelo laissez- faire

de administração, ou seja, deixam as coisas andar, não se importam pelo tudo

que acontece nas escolas, não agem, apenas estão interessados pelo salário e não

pela escola eficaz” (BARBOSA, 2015).

Page 94: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

80

“ (...) o grande culpado é a própria pessoa que se queixa [o diretor da escola]. O

próprio diretor não tem rotina de trabalho, quando chega na sua escola não procura

ver o que esta acontecer a nível da sua escola. Muita das vezes nem se faz presente

na escola a tempo e hora, aparece na hora; quando chega na escola passa 90 % do

seu tempo a falar ao telefone, a ler jornal, não tem o espírito de sentar com os

pedagógicos e professores pelo menos mensalmente para resolverem alguns

problemas pontuais que até às vezes não seria necessário o ministério intervir. O

diretor da escola não pode ficar à espera para fazer a sua monitoria ao MINEDH.

Diretor tem que ser ativo numa escola” (GRACHANE, 2015).

“Os diretores das escolas não podem estar a se lamentar sem que, no entanto, criem

as suas próprias iniciativas. Não podem esperar que o Ministério de Educação

venha colocar as lâmpadas, trocar as loiças dos bainheiros etc. Um bom diretor

de uma escola resolve a metade dos problemas. Um diretor quando está numa

escola é para trabalhar e não se exibir pelo cargo que exerce” (NHEZE, 2015).

Como será visto mais adiante, confirmamos essa afirmativa dos gestores sêniores do

Ministério de Educação quando da realização da nossa pesquisa do campo e a partir de nossa

experiência vivida in loco durante os dez anos na educação em Moçambique.

A culpa aqui é de ambas as partes. Primeiro, o próprio Ministério de Educação não faz o

concurso público para os diretores das escolas; estes são indicados pela filiação partidária

no poder e até por amizade:

“ (...) quando nos deslocamos nas escolas, encontramos outra realidade, isto é

porque ainda persiste sistema de nepotismo nas nossas escolas e temos que

combater isso” (BARBOSA, 2015).

“A política de colocação dos diretores nas escolas não é transparente, ainda há muito

nepotismo. Colocam no cargo dos diretores os seus primos, colegas do partido ou

militantes. Em Moçambique para alguem ser diretor duma escola secundária tem

que fazer atividade política” (NHEZE, 2015).

Segundo, muitas das vezes as políticas são definidas de cima para baixo, situação que torna

difícil sua implementação:

“Quando percebemos o baixo aproveitamento no ESG, o ex- ministro de educação,

AugustoLuisJone, reuniu connosco e discutimos o que devia se fazer. Foi quando ele

decidiu que os alunos do 1º ciclo deviam fazer as provas províncias como forma de

Page 95: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

81

poderem se adaptar e não se assustarem no final de exames nas avaliações

padronizadas. (...)os professores não foram consultados” (QUINCARDETE, 2015).

“Costuma haver envolvimento [dos professores], mas não é possível convidarmos

um número grande dos profissionais da educação atendendo que a nível do país

temos cerca de 20.000 professores no ESG. Costumamos a convidar alguns para

representarem os outos” (QUINCARDETE, 2015).

Uma outra questão: os diretores das escolas, não têm a formação especifica da área que

dirigem, e pouco se interessam pela melhoria da qualidade dos alunos, apenas se

preocupam com as estatísticas ou percentagens dos alunos fabricadas pelos professores no

fim de cada trimestre ou ano letivo, sem no entanto fazer um trabalho de raiz sobre o

desempenho dos alunos:

“Um dos desafios para a melhoria da qualidade de ensino em Moçambique, é a

responsabilidade do professor para com a sua profissão (...) Um segundo desafio

que preocupa o setor de educação em Moçambique são os gestores escolares. O

MINEDHH fez um estudo com diretores das escolas nas mesmas condições: um

tinha bom aproveitamento e o outro não. Isso mostrou- nos que alguma coisa

não está a andar bem” (QUINCARDETE, 2015).

“Sobre o que concerne aos laboratórios, o ministério, nos ultimos tempos, tem

estado a adquirir agunskites de materiais para minimizar a problemática dos

laboratórios. Esses kites contem os microscópios. Numa primeira fase compramos

para 22 escolas, e na segunda fase para 50. Só que verificamos um problema, os

professores não usam” (QUINCARDETE, 2015).

4.1.4 Condições de Infraestrutura

Os gestores de educação reconhecem as péssimas condições das infraestruturas e a falta dos

recursos educacionais:

“Fiz um pedido ao parlamento para construir pelo menos 100 salas por ano, mas

foi rejeitado, diminuíram para 10 salas por ano” (BARBOSA, 2015).

“O que está a acontecer em Moçambique com as más condições das infraestruturas é

o problema de má gestão das infraestruturas. Não existe a cultura de preservação do

bem público. Os grandes culpados nesse processo são os gestores das escolas

(diretores). Os diretores das escolas do país, incluindo os seus chefes das

secretarias, não têm espírito de ver uma coisa estragada nas suas escolas e resolver

logo de imediato com fundos internos. Eles ficam com braços cruzados à espera que

o ministério vá resolver, algo impossível porque o país é vasto. É tarefa do gestor de

Page 96: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

82

uma escola velar sobre a manutenção das infraestruturas da sua escola. Mas também

o próprio governo não tem uma política de manutenção massificada das

infraestruturas escolares” (MAPOSSE, 2015).

“O governo constrói anualmente 900 escolas para o ensino primário e 100 escolas

para o Ensino Secundário Geral. Nos últimos 10 anos em todo território nacional

foram construídas cerca de 103.000 escolas. Em relação às carteiras temos um

déficit muito grande. O governo elegeu para este quinquénio (2015-2019) as

carteiras como um dos principais desafios do setor de Educação e Desenvolvimento

Humano” (MAPOSSE, 2015).

“(..) Deviam ser os conselhos das escolas a fazerem a manutenção das escolas. A

sensibilização dos alunos por parte do diretor é importante para a manutenção de

uma escola” (MAPOSSE, 2015).

“A questão das infraestruturas depende muito dos nossos doadores, os parceiros

internacionais. Quando eles não abrem as mãos a gente também não pode fazer

nada. Um dia havemos de chegar ao patamar dos outros países. ‘Roma não foi

construída num único dia’. Quanto mais nas nossas condições de pobreza, que

nem o nosso Orçamento Geral do Estado não chega para fazer nada. Mas estamos

a fazer um grande esforço para ver se invertemos a situação das infraestruturas

escolares. Para este ano (2015) vamos colocar ou por à disposição para as nossas

crianças 2.500 carteiras” (GRACHANE, 2015).

Dadas estas condições, o ensino à distância foi introduzido para cobrir a falta de vagas:

“No Ensino Secundário Geral, na verdade temos grandes desafios. Temos grandes

problemas a nível do acesso dos alunos, há muita procura e nós não estamos a

conseguir albergar todos os alunos. Para fazer face a este problema, introduzimos o

Ensino à Distância (EaD), já la vão cinco anos até o presente momento (2015). Só

ano passado (2014), foram cerca de 27 a 28.000 alunos para o Ensino à Distância

(EaD) para o 1º Ciclo, de 8ª à 10ª classes” (QUINCARDETE, 2015).

Porém o EaD depara-se com muitos problemas, como falta de salas de aulas específicas, a

falta de computadores ligados à internet e falta dos respectivos professores formados para o

efeito.

Os gestores afirmam que a má gestão e a falta de fundos são as causas principais do atual

estágio das condições das infraestruturas escolares moçambicanas. Há também problemas

de capacitação, conforme mostrado a seguir.

Page 97: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

83

4.1.5 Capacitação dos professores

Moçambique não dispõe de uma política de formação continuada dos professores, como

evidenciam nossas entrevistas.

“Na educação em Moçambique, a nível dos professores e funcionários do setor, não

vai estudar quem quer, tem que reunir uma serie de documentações. Existe uma

política [de capacitação] sim, só que a sua implementação não é transparente”

(GRACHANE, 2015).

“A (...) preguiça intelectual dos professores. (...) Os professores e a sociedade no

geral só reclamam e em nenhum dia já nos escreveram a sugerir as melhorias”

(Pereira, 2015).

“Os professores não são avaliados constantemente (..). A forma como os professores

são avaliados não é transparente. Os diretores pedagógicos das escolas é que

costumam distribuir folhas de classificação aos professores para se autoavaliarem”

(NHEZE, 2015).

Portanto, o Ministério de Educação deve rever a curto prazo os seus modelos de formação dos

professores, criando uma politica de formação continuada dos professores e não uma simples

capacitação que não ajuda em nada para a melhoria da qualidade de ensino. Cabe também

mudar o sistema de gestão e de contratação:

“Os diretores das escolas deviam ser admitidos por via de concurso público e ter

requisitos no Ensino Secundário Geral ” (NHEZE, 2015).

“As escolas públicas devem ter uma gestão estratégica dos recursos” (Nheze,

2015).

“As escolas deviam ter um forte envolvimento das comunidades porque deviam ser

eles a mandar, controlar o diretor e os seus subordinados na escola que dirige.

Temos que democratizar as escolas” (NHEZE, 2015).

Conforme MORAES (2014), parte dos educadores e administradores de sistemas de ensino

tem se mostrado favorável à realização de concursos públicos para a lotação do quadro

dirigente da escola, alegando que o diretor concursado estaria menos submisso às variantes

políticas da escola e do sistema do ensino.

Cabe observar que a alta relação aluno professor, que é vista como um dos fatores que

contribui para a fraca qualidade de ensino em Moçambique, decorre de uma recomendação

do Banco Mundial:

Page 98: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

84

“ As escolas nos países de baixa e média renda poderiam economizar custos

e melhorar a aprendizagem aumentando o numero de alunos por

professores, utilizando deste modo menos professores e alocando os

recursos destinados aos professores a outros insumos que melhoram o

rendimento, tais como livros didáticos e capacitação em serviço”

(TOMASI et al., 1996).

O Banco Mundial tem estado a influenciar nas várias politicas educacionais moçambicanas

como, por exemplo, impôs ao Ministério de Educação em Mocambique que “deixasse a

produção e distribuição dos livros didáticos em mãos do setor privado”(TOMASI et al.,1996,

p.135). Esta política educacional já vem sendo implementada pelo setor de educação em

Mocambique desde que as editoras foram autorizadas a produzirem os manuais didáticos

desde 2008. Foi o Banco Mundial que impôs ao setor de educação em Mcambiquea politica

de fazer múltiplos usos dos locais escolares(vários turnos na mesma escola), segundo

TOMASI (1996). Impôs igualmente a política de capacitação dos gestores escolares e

respectivos funcionários administrativos do setor de educação em Mocambique, já em vigor

desde 2013.

Em palestra proferida no dia 5/8/2015, o diretor adjunto do ESG, José Luis Pereira Barbosa,

afirmou que a solução para os problemas educacionais de Moçambique passa pelos seguintes

pontos:

• “Deve- se fazer a revisão da lei 6/92 para todos os moçambicanos que

entram na escola gozarem o direito de completar o ensino primário e tornar o

sistema menos caro para o Estado;

• Profissionalização do professor para lhe conferir dignidade;

• Revisão das carreiras dos professores do subsistema do ensino geral;

• Ajustamento do modelo e currículo de formação dos professores do

subsistema de educação geral para a sua adequação de modo a responder os

desafios da profissionalização” (BARBOSA, 2015b).

Os gestores entrevistados concordam com estes pontos, como mostrado a seguir:

“Constatamos que existem problemas, ou seja, professores formados numa área e

que estão a dar aulas numa outra disciplina fora da sua área. Face a estes problemas

criamos uma lei para colmatar o problema. Aqueles formados numa área que não faz

parte da educação são enquadrados na carreira de técnico, e aqueles com formação

psicopedagógica são enquadrados na carreira de docentes, onde muitos precisam a

todo custo” (QUINCARDETE, 2015).

Page 99: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

85

“O país está a desenvolver em termos de infraestruturas, mas é preciso desenvolver

o próprio homem, esse é que é o fator principal (NHEZE, 2015).

4.2 AS PERCEPÇÕES DE ACADÊMICOS E DE PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO

Foram entrevistados dois acadêmicos e dois profissionais de comunicação para investigar as

percepções de especialistas sobre as condições do ensino em Moçambique.

Os acadêmicos entrevistados foram: Prof. Doutor José Castiano, Pró- Reitor da Universidade

Pedagógica de Moçambique (UP), docente de Filosofia nesta universidade e pesquisador na

área de educação sobre a qualidade de ensino em Moçambique para o ensino básico e outras

áreas afins; Prof. Doutor Juliano Neto Bastos, professor-auxiliar na Universidade Pedagógica

-onde leciona as disciplinas de História Política, Políticas de Educação, Projectos Educativos

e Monitoria e Avaliação – sendo também pesquisador no Centro de Estudos de Políticas

Educativa da UP.

Os profissionais de comunicação entrevistados foram: Boaventura Manjate (locutor da Rádio

Moçambique) e Francisco Manjate (jornalista da STV).

4.2.1 Sobre a Política Educacional em Moçambique

É consenso, entre os acadêmicos entrevistados sobre a implementação, a falha das políticas

educacionais moçambicanas:

“A política em si quis responder os desafios internacionais e o que está a falhar é o

processo da sua implementação” (CASTIANO, 2015).

“O Executivo pensou que introduzir algumas disciplinas profissionalizantes seria

suficiente para criar um arcabouço para o próprio aluno, mas em contrapartida não é

bem assim porque o país é vasto e cada escola é uma realidade. Existiram

fatores que fizeram com que no processo da implementação desta política não

ocorresse como se previa, como, por exemplo, as condições materiais para a própria

escola. Há ideia sim de se criar uma política, mas muitas das vezes não é

acompanhada de um estudo prévio. Em suma, houve problemas na implementação

da política de profissionalização escolar. O nosso problema, na nossa percepção,

não é o desenho das políticas mas sim a sua implementação” (BASTOS, 2015).

Page 100: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

86

São vários os fatores que concorrem para isso. Primeiro, a ausência de participação dos

profissionais de educação (os professores), na elaboração das políticas de educação em

Moçambique. As politicas vêm de cima para baixo, e são impostas:

“Se não estamos bem no ensino secundário geral é porque algo começou mal a nível

de base. Esse problema tem a ver com as políticas adotadas sem nenhuma

auscultação pública e um estudo prévio, e consequentemente estão deformando

as crianças que passam de classe sem habilidades e competências almejadas pela

sociedade. Como realidade disso, a maioria das nossas crianças não sabe ler

nem escrever” (BOAVENTURA MANJATE, 2015).

Uma segunda razão para explicar a implementação falha das políticas de educação em

Moçambique tem a ver com a falta de coordenação entre as instituições:

“(..) o nosso currículo deve priorizar a componente técnica, cursos

profissionalizantes para atender às adversidades do pais. A formação dos

professores tem que ir de acordo com aquilo que se pretende nas políticas.

Também as instituições de formação dos professores devem rever o perfil do

professor a ser formado. Deve haver uma coordenação entre as instituições de

formação dos professores - por exemplo, a Universidade Pedagógica -, e o próprio

Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano” (BASTOS, 2015).

Cabe acrescentar que os grandes projetos de educação em Moçambique, na sua maioria, são

financiados pelos parceiros internacionais de cooperação . Quando estes não liberam os

fundos acordados a tempo também acabam afetando o processo de implementação destas

políticas educacionais.

4.2.2 A questão da qualidade de ensino

Os acadêmicos consideram que o atual debate sobe a qualidade de ensino em Moçambique

tem a ver com vários fatores, tais como a inexistência de uma politica de formação dos

professores e a falta de um organismo coeso e bem estruturado que pudesse coordenar a

formação dos professores em Moçambique. Também apontam como causa da grande

discussão sobre a qualidade de ensino em Moçambique a falta de uma política de formação

continuada dos professores. Mas não acreditam que a qualidade de educação em Moçambique

seja baixa. Sustentam que é a qualidade de ensino compatível com as condições em que o

país se encontra:

Page 101: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

87

“Em Moçambique existem vários sistemas de formação dos professores, mais de 20

sistemas e isso é corolário da não existência da política de formação dos

professores e dum organismo ou entidade que pudesse coordenar. Não há uma

visibilidade de que o sistema é esse, que é um conjunto de estruturas e princípios.

Por outro lado, não existe ligação entre a formação inicial e a [que está] em

exercício, o que acaba caindo num supérfluo. A educação em Moçambique deve

ser pensada a partir dos seus pensamentos e paradigmas” (CASTIANO, 2015).

“Não acredito que a qualidade de ensino em Moçambique é baixa. É a qualidade

que nos é possível” (CASTIANO, 2015).

Já os jornalistas foram mais categóricos ao afirmarem que a qualidade de ensino em

Moçambique não é das melhores. Essa afirmação é sustentada pelos seguintes argumentos:

“Só para dar um exemplo, aqui na Rádio Moçambique o padrão de admissão para

os novos jornalistas é ter pelo menos o nível mínimo do ensino médio, mas o que

estamos a constatar, após a entrada dos novos ingressos, é outra realidade.

Apresentam-nos textos mal escritos e às vezes sem qualidade, e isso é o reflexo

do atual sistema de ensino (...) O erro de um jornalista tem uma propagação muito

grande [tanto quanto] a do medico. Devido a esse problema, na nossa instituição já

não admitimos muito os candidatos do nível médio” (FRANCISCO MANJATE,

2015).

“Em dezembro de 2014, quando da divulgação dos resultados dos exames finais, na

1ª época cerca de 80% reprovaram. Dá para desconfiar dos resultados da segunda

época porque todos acabaram passando de classe” (FRANCISCO MANJATE,

2015).

4.2.3 Os desafios da gestão

Os acadêmicos entrevistados afirmam que há problemas sérios de gestão e coordenação por

parte do Ministério de Educação com a entidade que forma professores para o Ensino

Secundário Geral, a Universidade Pedagógica de Moçambique. Também apontam a falta do

envolvimento dos gestores na elaboração das atuais politicas educacionais moçambicanas:

Page 102: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

88

“(...) o processo da concepção do currículo não foi abrangente, a Universidade

Pedagógica, sendo uma instituição do Estado que formaprofessores para o

Ensino Secundário Geral, para docência e para outras instituições, devia ter

participado no ato do seu desenho.Infelizmente [isso] não aconteceu e os

resultados estão à vista: as reprovações em massa, por exemplo. O aproveitamento

pedagógico não foi melhor em 2014 devido a esse problema. A transformação

curricular foi problemática para aprendizagens dos estudantes” (CASTIANO, 2015,

grifo nosso).

“Há falta de participação ou envolvimento dos gestores de base ou a nível micro e

incluindo os próprios professores na elaboração das políticas educacionais

moçambicanas” (BASTOS, 2015).

“Moçambique devia fazer avaliações constantes do seu sistema com uma instituição

cedível e responsável como nos outros países da OCDE e da América Latina, com

muita experiencia nessa área” (FRANCISCO MANJATE, 2015).

4.2.4 As Condições de Infraestrutura

Os docentes sêniores da Universidade Pedagógica entrevistados reconhecem a necessidade do

Ministério de Educação fornecer os recursos educativos e as respectivas carteiras em

quantidade para a melhoria da qualidade de ensino. Apontam também como condição

indispensável para a melhoria da qualidade do ensino os seguintes fatores: melhoramento das

condições de trabalho, a eliminação das passagens semiautomáticas e a mudança de

paradigma no que se refere à política de expansão da rede escolar.

“Formar bem os professores [é importante], mas, também, disponibilizar material

didático em quantidade e em qualidade para todas as escolas, e disponibilizar as

carteiras para os alunos” (CASTIANO, 2015).

“Os desafios são vários, mas existem aqueles que mexem com toda a população

que é a questão de melhoramento das condições de trabalho dos professores, a

provisão de material didático para as escolas, a formação de professores, a

eliminação das passagens semiautomáticas e a mudança para um outro paradigma

sobre a politica de expansão da rede escolar!” (BASTOS, 2015)

4.2.5 A Capacitação e o Envolvimento dos Professores

Os acadêmicos denunciam uma ausência total de critérios, por parte do Ministério de

Educação em Moçambique, sobre o recrutamento dos professores que podem lecionar as

Page 103: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

89

disciplinas profissionalizantes introduzidas com a reforma curricular do Ensino Secundário

Geral em 2008:

“É verdade que a introdução da reforma curricular em termos teóricos foi boa, mas,

em termos práticos, houve problemas que resultaram em duas consequências: a

junção das cadeiras, ou seja, a coalizão das disciplinas não foi acompanhada com a

formação dos professores. O que aconteceu foi o seguinte: professores que davam

desenho, por exemplo, vieram a ser forçados a dar aulas de agropecuária, assim

como outras disciplinas novas. Praticamente foi mais uma justaposição do que

integração. Isso resultou numa qualidade baixa, vamos lá dizer” (CASTIANO,

2015).

“Ainda existem problemas de professores sem qualificações. Existem professores

até hoje formados nos antigos Institutos Médios Pedagógicos (IMPE), da década 80,

e continuam a dar aulas no Ensino Secundário Geral . Na dimensão de material de

apoio existem muitos problemas e gravíssimos. Eu iria perceber a qualidade de

ensino nessa perspectiva” (BASTOS, 2015).

“Tem que haver uma interação entre a Universidade Pedagógica, o MINEDHH e as

outras instituições de formação dos professores como por exemplo a ADPP ( Ajuda

de Desenvolvimento do Povo para o Povo), uma ONG dinamarquesa (...) Em

Moçambique não existe a política de formação continuada dos professores”

(BASTOS 2015).

Os jornalistas defendem que para que haja a melhoria da qualidade de educação em

Moçambique, o Ministério de Educação e as escolas devem criar novas formas de

coordenação, de modo a incentivar os pais e encarregados de educação a dar maior

atenção os seus educandos no ensino.

“Mesmo que o Estado ofereça as melhores condições para o aluno, se não houver

acompanhamento por parte dos pais ou encarregados de educação continuaremos

com o problema da baixa qualidade em Moçambique” (Boaventura Manjate, 2015).

“Os pais devem fazer acompanhamento dos seus filhos ao longo de todo o

processo, só assim é que poderemos melhorar a nossa performance da qualidade

de ensino para um dia estarmos no ranking dos paises da OCDE, do sistema de

avaliação do PISA” (FRANCISCO MANJATE, 2015).

De acordo com MENDONÇA (2009), a reforma educacional deve alcançar o país, a escola e

a família:

“A influência da família, com quem sempre se pode contar no aperfeiçoamento do

processo educativo, ficou muito diluída a partir do momento em que se foi

modificando com a evolução da sociedade. Daí a necessidade de se fazer da

Page 104: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

90

educação um elemento catalizador, como uma força capaz de agregar todos os

segmentos ou agrupamentos da sociedade, inclusive a família” (MENDONÇA,

2009).

4.3 AS PERCEPÇÕES DOS PROFESSORES

A pesquisa de campo foi realizada com um grupo de 116 professores, dos quais 62,6% são do

sexo masculino e 37,4% do sexo feminino. O estudo indica que há mais professores do que

professoras. Entretanto, CASTIANO (2013, p.259), citando um grande historiador africanista

falecido em 2007, o Ki- Zerbo, na sua obra “História da Africa Negra”, observa que “aos

africanos e às africanas se deve dar oportunidades iguais para o emprego, para a política, para

a participação na vida da sua comunidade.”

Após a análise dos dados da pesquisa dirigida aos professores, sobre o nível de formação

profissional, a pesquisa constatou que a maioria dos professores tem formação universitária:

68,9% são professores formados pela Universidade Pedagógica (UP), 16% formados pela

Universidade Eduardo Mondlane (UEM), 2,8% tiveram a sua formação noutras universidades,

5,7% têm nível de mestrado, e apenas 6,5 % são formados pelo Instituto Médio Pedagógico

(IMPE), conforme mostra o gráfico abaixo (gráfico1).

Gráfico 1: Nível de escolaridade dos professores do Ensino Médio em Moçambique Fonte: Pesquisa de campo

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Secundário Superior Mestrado

Page 105: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

91

Este nível de formação dos professores, de acordo com este estudo de caso, não deve ser

generalizado a nível nacional tendo em consideração que a cidade de Maputo concentra

grande parte dos acadêmicos por ser capital do país, onde se encontra a maior parte das

universidades públicas e privadas.

No que se refere ao tempo de serviço dos professores nas escolas, a pesquisa constatou que a

maioria dos professores é de veteranos e que pouco se contratou professores eventuais nos

últimos tempos. Uma das razões que têm sido apontadas é a falta de orçamento para pagar os

professores, sobrecarregando desta forma os professores nas escolas que, em média, chegam a

ter 12 turmas. 64,0% têm tempo de serviço superior a 10 anos, como mostrado pelo gráfico 2.

Gráfico 2: Tempo de serviço dos professores do Ensino Médio em Moçambique Fonte: Pesquisa de campo

Um outro problema que a pesquisa identificou como grave, através dos questionários

distribuídos aos professores, está relacionado com a taxa aluno/professor. 70% dos

professores têm turmas entre 40 e 50 alunos, 28% têm turmas entre 50 e 70 alunos e apenas

2% têm turmas de 35 alunos. Estas taxas elevadas constituem o grande entrave que os

professores enfrentam no seu dia a dia nas salas de aulas. O número elevado de alunos nas

turmas dificulta o processo de ensino e aprendizagem. A maioria dos entrevistados apontou

esta taxa como um dos problemas principais que têm estado a contribuir para a baixa

qualidade de ensino em Moçambique.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

1 a 3 anos 4 a 9 anos 10 a 15 anos Mais de 15 anos

Page 106: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

92

Além da elevada taxa aluno/professor, o professor é obrigado a ter 12 turmas para completar

sua carga horária e, aliado a isso, acaba juntando mais seis turmas para fazer as horas

extras39, totalizado 18 turmas. Como consequência disso, os professores tem optado por fazer

provas em grupo ou então, depois da realização da prova, os professores acabam entregando-

as a sobrinhos, primos, esposas, etc, para serem ajudados a corrigir. Assim, quem sai a perder

é o aluno porque muitas vezes a pessoa que vai corrigir a prova não é professor da área e

acaba prejudicando o aluno, por não entender o assunto abordado na prova. Esta questão

apontada é uma realidade no Ensino Secundário Geral.

Sobre a avaliação das atuais políticas de educação em Moçambique, cerca de 42,0 % dos

professores responderam que eram regulares, 26,5% disseram que eram péssimas, e 14,4%

afirmaram que eram boas (ver gráfico 3). Os professores, assim, corroboram a opinião dos

gestores e acadêmicos mencionados anteriormente.

Gráfico 3: Percepção dos professores sobre as políticas educacionais moçambicanas (% das respostas) Fonte:Pesquisa de Campo

Em relação aos fatores que contribuem para as atuais condições das políticas moçambicanas,

mais da metade apontou o fator “questões políticas e dependência dos doadores”. Apenas 9%

apontou os problemas de implementação percebidos pelos gestores e acadêmicos (ver o

gráfico 4). 39 O Diploma Ministerial n. 74/90, de 15 de agosto, atualiza as disposições sobre normas de remuneração do trabalho docente extraordinário e subsídios de direção e chefia.

0 10 20 30 40 50

Muito Boas

Boas

Regulares

Péssimas

Não sei dizer

Page 107: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

93

Gráfico 4: Percepção dos professores sobre os fatores que contribuem para as condições das políticas educacionais moçambicanas (% das respostas) Fonte:Pesquisa de Campo

Apesar de não perceberem desafios na implementação das políticas, os professores confirmam

o seu baixo envolvimento nestas. Os dados falam por si: 84,8% dos entrevistados disseram

que em nenhum dia ou momento teriam sido solicitados no processo de elaboração das

políticas educacionais.

Esta situação também é confirmada por MARCELINO (2013, p.75), citando PATIA (2013,

p.3), ao afirmar que, em Moçambique, alguns requisitos inerentes a esta

participação/democratização da educação são quase que nulos, pois alguns dirigentes não

chegam a envolver os professores ou outros funcionários no processo de tomada de decisão

sobre os problemas que os apoquentam e, nem a comunidade no processo de gestão. Esta

situação contribui negativamente para o desenvolvimento da educação moçambicana, pois

gera descontentamento e falta de motivação por parte dos intervenientes na educação/escola.

Os professores precisam e devem participar de reivindicações e de discussões dos problemas

relacionados à profissão, aos alunos e à escola com consciência e responsabilidade. É preciso

abrir espaços para exposição das suas ideias e para ouvir as dos outros, é preciso dar bons

exemplos. Não são as leis, as normas externas, que irão melhorar a educação, e, sim, o esforço

contínuo e participativo de todos os integrantes da escola.

0 10 20 30 40 50 60

Passagens Semiautomáticas

Superlotação dos alunos em sala de aula

Falta de envolvimento dos professores naspolíticas

Problemas de implementação das políticas

Questões políticas e dependência externa

Não respondeu

Page 108: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

94

DOMINGOS (2010, p.187) observa que o não envolvimento da comunidade escolar na

tomada de decisões na escola pode ser explicado pela dependência do diretor da escola às

estruturas intermediárias do Ministério de Educação a quem presta contas, por ser

nomeado e não eleito.

Porém, a participação dos professores na mudança educacional é essencial para que esta

tenha bom êxito, para o que é preciso criar condições e mecanismos que fortaleçam o

protagonismo e a responsabilidade na gestão das instituições e na formulação de politicas

educacionais. Dessa forma, inverte-se o enfoque tradicional que considerava o docente

como um executor de orientações e decisões definidas sem sua opinião e conhecimento,

o que resultou em limitações para que as politicas se traduzissem em práticas efetivas

nas escolas e nas salas de aulas (UNESCO, 2007, p.15).

Moçambique precisa melhorar cada vez mais a sua forma de gerir e administrar as escolas.

Audiências públicas que incentivem a participação e a igualdade na tomada de decisões são

quase inexistentes em Moçambique eas poucas que se verificam parece que servem para

instrumentalização dos participantes ( UETELA, 2015, p.12).

Hoje, a noção de políticas públicas é uma noção de uma construção coletiva envolvendo o

Estado e a sociedade civil. As políticas educacionais, de forma dialetica e consensual, devem

construir junto aos protagonistas da comunidade escolar a descentralização e a autonomia das

escolas. As imposições por decretos, circulares e outras formas de comunicar normas e

regras do modelo, de cima para baixo, não ajudam a escola a desenvolver as suas reais

capacidades de gestão .

A comunidade escolar deve estar preparada para participar de forma ativa e criativa nessas

mudanças. Em Moçambique as politicas educacionais mudam constantemente devido à

importação de modelos, o que não dá espaço para a devida avaliação do modelo anterior

imposto.

Nas reformas educacionais de vários países os professores aparecem como agentes

inovadores nos processos pedagógicos, curriculares e organizacionais. Já não são

considerados apenas profissionais que atuam em uma sala de aula, mas também membros

integrantes de uma equipe docente, realizando tarefas com responsabilidade ampliada no

conjunto das atividades escolares (LIBANEO, 2014, p.47).

No que se refere às sugestões para responder aos desafios que Moçambique enfrenta, os

professores defendem que se faça o currículo de acordo com a realidade do país. 39,3% deles

Page 109: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

95

advogam que o currículo deve olhar a realidade atual de Moçambique e as suas necessidades.

Apesar de reconhecerem a influência da ajuda externa nas condições das políticas

educacionais, poucos afirmam que seria necessário eliminá-la (ver gráfico 5).

Gráfico 5: Sugestões de melhoria das políticas educacionais Fonte: Pesquisa de Campo

Aqui, os professores defendem o currículo local, ou seja, um currículo que vai ao encontro

da localização geográfica da escola ou da comunidade para resolver os problemas pontuais

do dia a dia. Num país como Moçambique, que tem um território enorme e uma grande

diversidade sociocultural, como se pode explicar um currículo único? Deve-se introduzir um

currículo conforme o contexto social, cultural e conforme os recursos locais (humanos e

materiais), do contrário caminharemos longe da eficácia escolar e aprendizagem dos alunos.

De acordo com TOVELA (2004), o principal objetivo do currículo local é garantir uma

formação que responda às reais necessidades da sociedade moçambicana, dotando as crianças,

jovens e adultos de habilidades, valores e atitudes que lhes permitam ter uma participação

plena no desenvolvimento social, cultural e econômico da sua comunidade e país, criando,

deste modo, condições para a redução da pobreza absoluta e da vulnerabilidade. Com o

currículo local pretende-se dotar o aluno de competências que lhe permitam resolver os

problemas básicos de saúde, alimentação, habitação da sua comunidade de modo a melhorar a

sua vida e a vida dos seus familiares, reduzindo, deste modo, os níveis de vulnerabilidade.

Apesar de apenas 13,1% dos entrevistados serem favoráveis à eliminação das passagens

semiautomáticas, a progressão por ciclos de aprendizagem associados à progressão

automática tem provocado polêmica não só em Moçambique, como noutros países do mundo.

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

Motivação profissional

Currículo local

Formação continuada dos professores

Mudar/abandonar imposições externas

Participação de todos na formulação das políticas

Os alunos devem adquirir competências e…

O Ministério deve providenciar materiais…

Eliminação das passagens semiautomáticas

Page 110: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

96

A progressão continuada tem sido criticada até hoje por ser uma política que tem por objetivo

diminuir a evasão e acelerar a passagem dos alunos no ensino básico.

Sobre o impacto da passagem semiautomática (PSA)40, em Moçambique, o estudo de

DUARTE, et al. (2012), intitulado Progressão por Ciclos de Aprendizagens no Ensino

Básico: Desafios na Mudança do Paradigma de Avaliação foi efetuado entre maio de 2009 e

julho de 2010, em 22 escolas nas províncias de Nampula, Zambézia, Maputo Cidade e

Maputo Província. Algumas das categorias de análise deste estudo foram a percepção e o

desempenho dos alunos, e as percepções dos professores e gestores sobre as passagens

semiautomáticas.

O estudo avaliou o desempenho dos alunos da 5ª classe ao longo da frequência e nos

exames nacionais realizadas em 2008, e realizou um diagnostico das competências dos

alunos na área da escrita, tendo-se, para o efeito, realizado um ditado para os alunos da 3ª

classe ou série e outro para os da 5ª classe. O estudo concluiu que “a PSA está a contribuir

para silenciar uma parte dos alunos na sala de aula, porque estes transitam sem terem

desenvolvido as competências necessárias para o efeito” (DUARTE, 2012, p.124). A

pesquisa aponta igualmente que numa outra classe, para a qual avançaram formalmente,

alguns deles estão apenas presentes, mas sem bases suficientes para acompanhar a

progressão das aprendizagens. Por seu turno, os professores não têm condições para

diferenciar o ensino. Para eles acaba tornando-se importante apresentar resultados positivos,

cumprir metas e garantir uma avaliação positiva do seu desempenho anual.

A reprovação ainda está no imaginário dos atores como sendo a melhor forma de uma

criança aprender. Prevalece o entendimento de que a PSA baixou a qualidade de ensino em

Moçambique (DUARTE, et al., 2012,pp.67 à 125). Outros estudos sobre o impacto da PSA,

foram desenvolvidos pelos acadêmicos JoséCastiano, SeverinoNgoenha, e Guro,

públicados em2012 (Barômetro I), e em 2014, com as duas últimas edições intituladas

Barômetro II e III.

A avaliação por ciclos de aprendizagem pressupõe uma lógica de inclusão, mas o contexto

social mais amplo orienta-se pela lógica de exclusão (FREITAS, 2005, p.57). A política de

promoção automática surge, assim, numa perpectiva de tornar a escola mais democrática, 40 De acordo com os autores DUARTE et al. (2012, p.11), a progressão por ciclos de aprendizagem associada à promoção automática tem provocado polêmica não só em Moçambique, como noutros países do mundo. Importa referir que, na literatura, encontramos conceitos diversificados como: progressão contínua, automática, escolar e, em Moçambique, promoção semi-automática, progressão normal, promoção por ciclo de aprendizagem, progressão automática(INDE, 2003 e MEC, 2OO8).

Page 111: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

97

apoiando a criança no seu processo de desenvolvimento, tornando a escola mais inclusiva.

Como refere ABRAMOWICZ (1999),os altos índices de repetência fazem com que fiquem

de fora crianças e jovens provenientes da população com baixa renda, isto além da elevada

distorção idade e classe . Como forma de solucionar esses problemas, alguns países como

Moçambique adotaram as passagens automáticas. A escola deve organizar-se para introduzir a

política de promoção automática. Para MAINANDRES (2008, p.24-25), instituir a promoção

automática de forma isolada e sem garantia de condições adequadas gera problemas,

provavelmente maiores do que aqueles para cuja solução foi empregada. A progressão por

ciclos de aprendizagem tem que ser acompanhada por medidas adicionais, que possibilitem

uma adequada implementação da política. Para TORRES (2004, p.40), a promoção

automática não assegura necessariamente a aprendizagem, sendo que vários países

interromperam esta política devido ao aumento de alunos que abandonam a escola sem

alcançarem níveis aceitáveis de leitura e escrita. As medidas mais aceitáveis para reduzir a

reprovação são sensibilizar, aconselhar e mobilizar as famílias e a comunidade; estimular a

assiduidade dos pais; rever o currículo, não o sobrecarregando; e propiciar ensino auxiliar

(Ibid.,2004, p.40).

No que se refere às condições de trabalho, o estudo demostrou que apenas 7,3% as

classificou como boas (ver gráfico 6).

Gráfico 6: Percepção dos professores sobre as condições de trabalho Fonte: Pesquisa de Campo

0 10 20 30 40 50 60

As condições de trabalho não são dasmelhores

As condições de trabalho são razoáveis

As condições de trabalho são boas

As condições de trabalho são péssimas

Page 112: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

98

Face às condições de trabalho precárias percebidas pelos professores, a Unesco recomenda

que “o Estado e a sociedade devem garantir aos docentes as melhores condições de trabalho e

estes devem mostrar o mais alto desempenho traduzido em aprendizagens efetivas dos

estudantes” (UNESCO, 2008, p.15). Para a garantia de padrões de qualidade, incluindo a

igualdade ao acesso e à permanência na escola, é necessário oferecer condições escolares que

são fundamentais para a construção de uma educação de qualidade. Pois uma educação de

qualidade é resultado das condições objetivas ofertadas aos sujeitos envolvidos na ação

pedagógica do processo educativo. Portanto, a educação escolar se concretiza mediante as

condições objetivas de todos os sujeitos que dela participam (BIASI, 2009). O docente só

poderá realmente assumir sua função e seu papel, de acordo com aquilo que é posto pelas

políticas públicas no campo educacional, quando forem criadas condições para que ele possa

dedicar-se à solução dos problemas educacionais.

Outro problema grave que o estudo identificou e que o ministério deve resolver a curto prazo

é a não utilização dos manuais escolares nas salas de aulas: 89,2 % dos professores

informaram que seus alunos não usam manuais de ensino.

Porém, o uso dos manuais generalizou-se a partir do momento em que o conceito de

“educação para todos” foi subscrito e reconhecido pelas nações como um direito. Isto é, o

desenvolvimento quantitativo e qualitativo do manual escolar foi um fator decisivo para a sua

difusão e utilização (SÉGUIN, 1989, p. 6). Independentemente das funções para as quais o

manual é concebido, a finalidade de qualquer manual escolar é, primordialmente, a função de

desenvolvimento das competências do aluno e não a simples transmissão de conhecimentos

ao aprendente. O manual assume o papel de auxiliar na aquisição de conhecimentos, de

estimulador do trabalho autónomo e de incentivador da leitura (PEREIRA, 2008).

Cabe observar também que “não é o livro didático que faz a diferença, mas sim um bom livro

didático associado à utilização de todo um conjunto de materiais escritos” (BRASLAVSKY,

2004, p.35). Porém, a pesquisa constatou igualmente a não existência das salas de informática

para professores e alunos ligadas à internet: 80,7% dos professores confirmaram a não

existência das salas de informática nas suas escolas. Nas últimas duas décadas, as utilizações

da informática na educação têm experimentado um enorme avanço no seu potencial e na sua

diversidade de usos. As gerações que temos agora nas escolas e que teremos no futuro pouco

se assemelham às gerações passadas pois usam intensivamente as tecnologias de informação e

comunicação. A formação do professor deve acompanhar este desenvolvimento e o MINEDH

deve criar condições e disponibilizar salas de informática com computadores em quantidade e

Page 113: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

99

qualidade para alunos e professores a nível nacional e providenciar a internet sem fio gratuita

nas escolas. Segundo Zeferino Martins, ex-ministro da educação de Moçambique, “as

tecnologias de informação e comunicação (TICs) são a porta para a escola do futuro, para

universalização do acesso ao conhecimento, para capacitação dos nossos jovens para os

desafios de amanhã”41.

O uso da tecnologia educacional pode proporcionar uma nova oportunidade de escolarização,

pois as TICs estão desterritorializando a instituição escolar, ou seja, aprende-se não apenas na

sala de aula, mas também em casa, ou em qualquer lugar onde se possa ter acesso à

informação. Isto não tira das instituições educacionais (públicas ou privadas) seu papel

preponderante no contexto das novas tecnologias, pois educar significa, entre outras formas,

preparar para desempenhar funções numa sociedade cada vez mais tecnológica, numa

sociedade da informação (ROCHA, 2010). O uso de tecnologias de informação e

comunicação provoca benefícios ao elevar a motivação e aprendizagem no ambiente da sala

de aula.Integrar as TICs no ensino significa ir além do seu uso convencional, significaria

incorporar suas especificidades e contribuições na gestão do ensino e da escola.

Além disso, 68,5 % dos professores disseram de que não possuíam bibliotecas com livros

atualizados nas escolas onde lecionam. Porém, as bibliotecas, ao longo dos séculos, têm sido

o meio mais importante de conservar nosso saber coletivo. Foram e ainda são uma espécie de

cérebro universal onde podemos reaver o que esquecemos e o que não sabemos (ECO, 2003).

Como o Ensino Secundário Geral (ESG) e o ensino técnico básico e médio não são gratuitos,

o MINEDH não distribui livros escolares gratuitos nestes níveis de ensino. Assim, os alunos

devem comprar os seus livros e outros materiais, o que nem sempre é possível, dadas as

dificuldades financeiras da maioria. Muitas das escolas secundárias foram anteriormente

primárias, nem sempre possuem bibliotecas e quando as têm, estão mal apetrechadas de livros

e outros materiais de ensino. Em geral, estas escolas também não dispõem de outras

instalações (EPT, 2015).

Os resultados da pesquisa mostram também que 87,4% dos professores nunca usou um

laboratório. Contudo, as experiências laboratoriais têm um impacto positivo no processo de

ensino-aprendizagem porque além de elevarem o nível de conhecimentos dos alunos,

41 MARTINS, Zeferino, Moçambique aposta nas TICs para a Educação. Disponível em www.computerworld.com.pt, Acesso em 12 de Outubro de 2015.

Page 114: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

100

despertam um grande interesse, estimulando os alunos à reflexão, o que possibilita a formação

de personalidades curiosas, criativas e ativas, como observado por CAMUENDO (2006).

“Frequentei na década oitenta, entre 1984 e 1988, o nível secundário e o pré-

universitário sem nunca ter realizado uma aula laboratorial em todas as

disciplinas, e em particular na disciplina de Química. Os professores sempre

tratavam os conteúdos duma forma teórica, sem nenhuma ligação com a

prática. Eles justificavam essa prática com a falta de condições para realizar

experiências” (CAMUENDO, 2006, p.17).

A falta de experiências nas aulas de química e outras disciplinas das ciências naturais

constitui um entrave no processo de ensino-aprendizagem. Um inquérito realizado em um

universo de 380 professores das disciplinas de Matemática, Física, Química, Biologia e

Geografia, no âmbito do projecto de capacitação de professores UP-STTP42, a nível de todo o

país, testemunha esse fato. Dos 76 professores inquiridos na disciplina de Química, 84%

consideram que é um grande entrave no processo de leccionação, a falta de equipamentos

laboratoriais e substâncias químicas (ISMAEL, 2005).

O MINEDH justifica a falta destes meios da seguinte forma:

“(…) embora não se tenha informação fiável através do orçamento e do

relatório de execução do orçamento, estimativas do setor indicam que a

maior parte da despesa (cerca de 90%) no ensino secundário é destinada

ao pagamento de salários. Isto significa que foram feitos poucos

investimentos, principalmente em termos de equipamentos (laboratórios e as

TICs) e materiais didáticos” (PEE-2012-2016, p.88 a 89).

Este problema é grave e Moçambique continua a formar o aluno com deficiências. O

Ministério de Educação de Mocambique, reconhecendo esta situação, afirmou nos seguintes

termos: “aspectos como infraestruturas degradadas, falta de bibliotecas nas escolas

secundárias, aliados a equipamentos laboratoriais obsoletos, contribuem para a fraca

qualidade nas escolas” (E.P.T, 2015, p.7).

69,1% dos professores inqueridos, disseram nunca terem se beneficiado da formação

continuada dos professores43 e 69% afirmaram de que não existia transparência no atual

42 UP-STTP (UP-SupporttoTeacher Training Programe) é um projecto dirigido aos docentes de UP para a melhoria da assistência científica e pedagógica aos futuros professores em formação. Promove assistência similar aos professores em exercício do ESG. O projecto é assistido financeiramene pelo governo holandês. 43Formação continuada: termo que incorpora as noções de treinamento, capacitação e aperfeiçoamento, permitindo uma visão menos fragmentáriam e mais inclusiva no processo de formação do educador que já concluiu a formação inicial (MENDONÇA, 2009, p.230).

Page 115: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

101

programa de formação dos professores, baseado em planos de formação desenhados pela

divisão de recursos humanos das direções distritais de educação.

A dimensão da formação continuada é reconhecida pelas autoridades e pelos formuladores de

políticas como fundamental para que os professores preencham as lacunas de sua formação

inicial e tenham segurança em sua prática, diante das mudanças que estão ocorrendo na

sociedade e na educação (PARENTE et al., 2015).

A formação inicial e continuada faz parte de um processo continuo que forma o

profissional da educação e, ao mesmo tempo, a profissão do educador e a própria escola

(GENRO, 2004, p.63).O avanço tecnológico e as mudanças em diferentes áreas determinam

que não é possível, na contemporaneidade, aceitar que o profissional da educação se sinta

satisfeito simplesmente com a formação inicial do professor. Mesmo porque a própria prática

educativa instiga para a busca de novos conhecimentos (JACONI et al., 2010).

A formação continuada permite, então, que o professor vá se apropriando, como sujeito

histórico, dos conhecimentos que ele mesmo gerou e que se torne um professor

investigador, podendo rever a sua prática, atribuindo lhe novos significados, e obter

maior espaço para a compreensão das mudanças que o atinjam (Idem).

TERÇÁRIO et al. (2007), citando NOVOA (2001), observam que a formação é um processo

de escuta dos outros , durante o qual se ouvem coisas novas de colegas mais jovens ou mais

experientes; experiências novas que podem, assim, ser partilhadas.

53,3% dos professores declararam que a formação atual não atende às exigências do mercado.

Isso ocorre porque atualmente em Moçambique há falta de consistência dos programas de

formação dos professores. Por exemplo, um estudo levado a cabo pelo professor Adriano

Niquice concluiu que os sistemas de educação em Moçambique foram mudados cerca de 20

vezes nos últimos 40 anos desde a independência (CASTIANO, 2015).

A PNE refere que os professores para o ESG deverão possuir o nível mínimo

de formação de bacharelato. Contudo, dada a forte expansão que o ensino

teve ao longo da década de 2000, o governo introduziu, em 2007, modelos

de formação transitórios para o ensino secundário, onde os professores foram

formados em cursos de 12ª classe mais dois anos de formação. Este modelo

convivia com o modelo de formação de professores de nível de bacharelato e

licenciatura. Este curso foi extinto em 2011, sem que o programa tenha sido

avaliado e, a partir de então, voltou-se exclusivamente à formação de

Page 116: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

102

professores em cursos de bacharelado ou licenciatura, como anteriormente

vinha fazendo ( EPT, 2015,p.40).

4.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS: OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO EM MOÇAMBIQUE

O sistema educacional moçambicano hoje ainda não atende com qualidade à exigência da

democratização. As desigualdades entre as escolas públicas e privadas, ainda marcam

diferenças nos sistemas do seu ensino. O grande desafio contemporâneo no âmbito

educacional é a conquista da escola estatal laica e com excelência de ensino para todos.

A afirmação de que hoje as instituições educacionais não estão respondendo às expectativas

do momento pode ser observação correta. Será mais justa e apropriada do que dizer que

as escolas de ontem eram melhores do que as de hoje. No futuro, as reivindicações serão

ainda maiores. Novos desafios da sociedade exigirão novas respostas da escola. A escola

pública mudou com sua expansão quantitativa; são outros os seus agentes – alunos,

professores, famílias – e suas circunstâncias, e essa mudança reformulou suas funções sociais

e suas condições de funcionamento (BEISEGEL, 2006). Nos dias de hoje, a escola pública se

constitui em um campo vasto, plural e diversificado, marcado por uma série de dificuldades

, ancoradas, principalmente, nas precárias condições educacionais.

Não é mais tolerável a manutenção do modelo secular baseado na dualidade educacional:

escolas de ensino precário para as classes populares e escolas eficientes para as elites. Essa

tradição educacional que deita liames nas profundezas escravocratas do período colonial,

acentuou-se com a introdução em Moçambique de dois tipos de ensino, o ensino rudimentar

para os indígenas (negros) e o ensino para os brancos(oficial). E tornou-se ainda mais

sólida com o Decreto11/90, quando o Estado moçambicano permitiu que o empresariado local

também participasse na educação dos moçambicanos através das escolas privadas(onde as

condições de ensino são consideradas razoáveis) ou seja, no período em que foram

introduzidas as políticas híbridas. Foi exatamente o empresariado local (ou a elite urbana)

que acabou inrtroduzindo em Moçambique, nos anos 90, os dois tipos de ensino

separatista, ruim para as camadas da baixa renda e bom para as camadas da classe média.

Embora as transformações no Ensino Secundário Geral tenham trazido algumas inovações nos

últimos tempos, na prática isso não se faz sentir e os desafios são enormes. Não houve por,

exemplo, nos anos 90, com a masssificação da educação para todos, a troca da quantidade

Page 117: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

103

pela qualidade. Subiu a quantidade, tanto no aumento do acesso como na velocidade do

avanço dentro do sistema, sem que tenha ocorrido o mesmo com a qualidade:.

“Um estudo realizado pelo Ministério do Ensino Superior Ciência e Tecnologia

(MESCT) sobre a qualidade de ensino no Ensino Secundário Geral constatou que

existiam problemas relacionados com:

(1) Fraco domínio da língua portuguesa, fator determinante nos resultados das

provas e exames a nível do ensino secundário e nos exames de admissão para o

ensino superior, assim como para a inserção profissional. A aprendizagem dos

alunos do ensino secundário geral é baseada, fundamentalmente, na memorização

de conceitos, fórmulas e mecanização de procedimentos.

( 2) Fraca articulação horizontal e vertical entre os programas e disciplinas do

Ensino Secundário Geral, por falta de definição clara de objetivos específicos e de

metas comuns entre as várias disciplinas.

(3) Ensino altamente teórico sem, no entanto, privilegiar as habilidades práticas e

competências produtivas que possam permitir uma fácil inserção do graduado no

mercado do trabalho” (JOAO, 2012, p.37).

O nosso estudo aponta ao Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano os desafios de

manutenção da infraestrutura, de envolvimento dos professores na política educacional e de

melhorias na gestão e na qualidade do ensino.

A política de expansão da rede escolar e dos novos ingressos deve ser acompanhada pelas

condições das infraestruturas escolares e a formação dos professores. Não basta estar a

expandir as escolas sem carteiras e sem professores qualificados. De acordo com FONSECA

(2009), a ampliação da escola, por outro lado, estimula a procura por níveis subsequentes de

ensino e produz novos desafios para o sistema, entre eles, a superação do aprendizado

insuficiente e dos altos índices de reprovação e de abandono escolar. Além disso, a expansão

de vagas, segundo CUNHA (2007), atrai para a escola diferentes usuários e, por conseguinte,

surgem novas exigências para a qualidade.

Desafio ainda maior que deverá merecer atenção dos gestores é o problema de não utilização

dos manuais escolares nas salas de aulas. O ministério deveria encontrar um meio termo para

conversar com as editoras de modo a reduzirem os preços para que os alunos possam comprar

os manuais. Caso contrário, o ministério deveria providenciar os manuais escolares em

quantidade suficiente a nível nacional. Não é possível, por exemplo, dar aulas de português

assim como de outras disciplinas sem que os alunos tenham os manuais para o

acompanhamento das aulas. A maioria dos professores inqueridos nesta pesquisa colocou isso

Page 118: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

104

como grande entrave para o processo de ensino e aprendizagem. Devem ser garantidos

recursos de ensino em número e qualidade suficiente, motivação profissional, e benefícios

sociais para o professor como funcionário público.

O processo de implementação de novas políticas sugere, antes de tudo, uma restruturação das

formas de organização, gestão administrativa e pedagógica, assim como a formação dos

professores para o efeito. A reformulação do currículo do Ensino Secundário Geral em 2008,

para as disciplinas profissionalizantes, não foi acompanhada pela formação dos respectivos

professores das disciplinas que iriam lecionar. E como corolário disso, o Executivo acabou

fazendo improvisos, levando, por exemplo, professores de história para dar a disciplina de

agropecuária.

A maneira como eles (professores) são educados e “preparados” para o trabalho constitui um

indicador essencial do tipo de qualidade e pertinência do ensino que se deseja alcançar. É

importante oferecer aos futuros professores uma formação nos métodos didáticos exequíveis

e compatíveis com a modernidade atual. PASSOS(2009) observa a ausência de uma política

de formação de professores coerente no país. A autora afirma que:

“Moçambique tem vários modelos de formação de professores desde a

independência. A fraqueza do sistema de ensino pode ser atribuída em parte à falta

de uma politica coerente de formação de professores. Uma vez que os decisores

não levam em consideração os resultados da investigação no domínio da

formação dos professores, as novas políticas e os programas tendem a replicar os

problemas inerentes a politicas e programas anteriores” ( PASSOS, 2009, p.36).

Os atuais cursos de formação dos professores com curta duração devem ser eliminados.

Novos cursos, de maior duração, que procurem passar aos professores as competências

necessárias para ensinar adequadamente, devem ser introduzidos. Também o Executivo deve

criar a política de formação continuada dos professores. OLIVEIRA & ARAUJO (2005)

defendem que quanto mais elevada a formação do professor (nível universitário, desde a

graduação até o pós-doutorado), maior é o desempenho dos estudantes.

Distinguem-se dois momentos essenciais na formação dos professores: a formação inicial e a

formação continuada. É importante dizer que a formação inicial do professor é aquela que se

dá de modo sistemático ou universitário, nas pedagogias e áreas afins das diferentes

licenciaturas. Ao passo que a formação continuada é aquela que ocorre ao longo da vida

docente, na sala de aula, no cotidiano, na prática diária com os alunos, nos cursos de

aperfeiçoamento e durante a formação continuada (SOUZA, 2012).

Page 119: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

105

Diversos estudos apontam que a consideração destes dois momentos é deveras importante

como mecanismo para se pensar em políticas educacionais comprometidas com as exigências

atuais da sociedade. Recorda-se, desta forma, que a formação continuada, pensada em novas

bases como uma dimensão da formação docente, é o recurso mais eficiente para manter os

professores permanentemente atualizados sobre as mudanças na educação e, o mais

importante, transitar pela reflexão, a teoria e a prática (PARENTE et al., 2015).

Deve haver uma maior coordenação entre as instituições de formação dos professores, como

por exemplo, entre a Universidade Pedagógica e o Ministério de Educação. Para tal, deve-se

criar uma instituição de coordenação para o efeito. Há problemas sérios de coordenação

que resultam no desentendimento e no fracasso do sistema. Qualquer alteração do currículo,

politicas que forem introduzidas pelo Ministério de Educação, devemser comunicadas

antecipadamente à instituição que forma professores. O fracasso escolar, tanto quanto o

fracasso da educação em suas mais variadas formas, é, em primeiro lugar, o fracasso da

cooperação (VILLAMARIN, 2003).

As estratégias de formação de professores devem estar articuladas a uma política pública de

educação profissional que contenha um projeto de formação de professores nessa área. Caso

contrário, continuar-se-á a realizar ações pontuais, de pouco alcance e com pouca capacidade

de gerar efeitos sobre o ser humano, o que caracteriza uma educação formal e não um

acontecimento pedagógico (KLIMBERG, 1972).

Como um dos desafios, o ministério deve criar parcerias com o empresariado local (parcerias

público- privadas), e não apenas depender dos apoios externos para criar estratégias para a

construção e apetrechamento das bibliotecas e laboratórios a nível nacional, já que o

governo não dispõe de recurso financeiros para a sua materialização . A existência dos

laboratórios e bibliotecas nas escolas é crucial para o sucesso do processo de ensino e

aprendizagem pois os alunos poderão fazer as suas experiências nas várias disciplinas e

consultas nas bibliotecas.

Moçambique tem um grande desafio a enfrentar para transformar a educação em alavanca de

desenvolvimento. As aplicações de tecnologias e, particularmente, as tecnologias de

informação e comunicação (TICs), podem ser de grande ajuda nesse processo.

Outro desafio é que Moçambique deve fazer avaliação do seu sistema de ensino

constantemente com uma instituição crível e responsável, como acontece nos outros países da

Page 120: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

106

OCDE e da América Latina, com muita experiencia nessa área, como por exemplo o Brasil e

outros países.

O currículo local deve ter a incumbência de ser preenchido por conteúdos que os membros

da comunidade achem relevantes para a criança conseguir inserir-se na sua própria

comunidade. Para MASOLO (2010), tudo aquilo que é indígena, ou localmente produzido, se

for reinstalado no topo do regime epistêmico terá consequentemente maior valor político e

cultural, em relação ao que é estrangeiro ou importado. Os professores inqueridos pedem

que o atual currículo se ajuste ao currículo local. As políticas de educação em Moçambique

só vão caminhar acertadamente se equacionarem de uma forma prática o currículo local com

vistas ao desenvolvimento das próprias comunidades locais e consequentemente do país.

Portanto, é crucial que a escola moçambicana seja um espaço de diálogo entre as culturas de

natureza local e universal, onde o currículo seja um espaço de integração dos saberes, valores

e práticas locais e também da sua legitimação. Os grupos sociais constróem o conhecimento

que a escola veicula dependendo das políticas educacionais desenvolvidas. As políticas

educacionais devem responder às reais necessidades da comunidade. Segundo nossa pesquisa,

os professores defendem que os conteúdos curriculares devem ter 60% dos conteúdos locais e

40% de conteúdos nacionais e internacionais. Os sujeitos da nossa pesquisa advogam que o

currículo devia privilegiar o ensino técnico profissional para responder aos problemas

pontuais das populações carentes. A maior parte dos professores inquiridos defende que o

Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano deve criar políticas de formação

continuada dos professores, ou seja, capacitação sistemática dos professores, e não a

estratégia em vigor, baseada em “planos de formação”, caraterizada por demasiada

burocracia. O governo deve apostar na boa formação dos professores e estimular a atividade

do professor.

Apesar dos esforços de formação de professores realizado pelo MINEDH, continua o desafio

de recrutar professores para ministrarem as disciplinas profissionalizantes do currículo como,

por exemplo, agropecuária, noções de empreendedorismo ou tecnologias de informação e

comunicação, o que tem dificultado a introdução do ensino secundário profissionalizante em

várias escolas do ESG.

A formação de professores é um processo contínuo, no qual a formação inicial fornece as

bases necessárias para o indivíduo continuar a aprender ao longo da vida. O desenvolvimento

sócioeconômico, científico e tecnológico exige uma outra forma de se encarar o ensino e a

Page 121: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

107

escola. Para formar professores competentes, os sistemas educativos não se podem ater a

modelos únicos e rígidos, mas sim pesquisar formas que mais se adequem à realidade e aos

contextos.

Pelo que podemos perceber, não existe um modelo único de formação de professores e nem

de ser professor. É uma profissão complexa, e não há receitas prontas para exercê-la.

Entretanto, temos a destacar alguns aspectos que nos parecem ser relevantes, designadamente,

o professor tem que ser um profissional competente, que tenha capacidade de aprender e

formar-se continuamente de forma autônoma. Nesse sentido, tem que participar do

desenvolvimento da cultura institucional, saber valorizar o coletivo e, simultaneamente, o

individual.

O governo deve eliminar imposições contrárias a princípios pedagógico-didáticos, como por

exemplo, a situação de 60 alunos por turma ou mais, a regência do professor em 12 turmas e a

exigência de um aproveitamento pedagógico de 100%. Na elaboração das políticas

educacionais, o Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano deve envolver todos os

atores a nível nacional: funcionários sêniores do setor, professores (atores principais do

processo), alunos, pais e encarregados de educação, e a sociedade civil. O estudo constatou

que a participação dos professores na elaboração das politicas educacionais não é

abrangente. Parece-nos que os mais consultados são os diretores das escolas da cidade de

Maputo e os respectivos pedagógicos. As politicas de educação devem ser debatidas a nível

nacional antes de serem implementadas. O diagnostico da educação moçambicana aponta a

urgente necessidade de renovação da agenda e da ampliação do empenho de toda a sociedade

e do governo.

O sucesso qualitativo do sistema, todavia, depende da interação harmoniosa de todos os

elementos, no sentido de se completarem, de se apoiarem e de darem a sua contribuição

específica para os objectivos globais do mesmo. Para PADILHA (2000, p. 15), a escola

cidadã é a escola que defende, trabalha e luta para construir e ampliar a gestão democrática na

escola, a convivência e organização dos colegiados escolares, a avaliação dialógica

continuada no contexto dos ciclos, o planejamento “socializado” (todos participam desde o

início do processo, desde a base, a partir da sala de aula) e “ascendente” (de “baixo” para

“cima”), criando mecanismos de comunicação e de consolidação das decisões nos diversos

níveis educacionais.

Page 122: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

108

Em organizações com regimes centralizados, há altos níveis de burocracia, fraco

envolvimento dos participantes e uma tentativa para um tipo de liderança chamado top down

ou vertical . Daí que a descentralização das decisões no contexto moçambicano, para fazer das

escolas organizações aprendentes, é um desafio para a liderança (UETELA, 2015).

A política de progressão por ciclos de aprendizagem em Moçambique, ou seja, as

progressões semi-automáticas, introduzida no Ensino Básico em 2004, precisa ser ainda

fundamentada, pesquisada, enriquecida, divulgada e discutida. Deixar passar alunos que não

sabem ler nem escrever devidamente está afetando outros subsistemas de ensino, contribuindo

desta forma para a grande discussão sobre a problemática da qualidade de ensino em

Moçambique. Não exite qualidade do aprendizado sem estudantes com hábito de leitura e

com competências para entender os textos escritos. Os alunos devem adquirir as competências

e conhecimentos epistemológicos desejados para o desenvolvimento do país. Que sejam

aprovados apenas os alunos que apresentam competências dos conteúdos.

O Estado moçambicano precisa chamar o setor privado local frente a frente, para incentivá-lo

a participar mais no setor da educação, para evitarmos a dependência externa. A educação,

como qualquer outra atividade humana, exige esforços convergentes de grupos de pessoas

afim de ser eficiente no alcance de seus objetivos. A redução dos recursos disponíveis de

doadores internacionais significa que o Ministério de Educação deve ser mais pró-ativo e

criativo na busca de recursos e na sua gestão. Moçambique deveria começar imediatamente a

explorar os seus recursos minerais de modo a reduzir a dependência da ajuda externa nos

próximos anos. POLIDANO (2011) adverte que, pelo fato de grande parte dos processos de

políticas de reforma resultar da imposição dos doadores, é necessário reconhecer que a

dependência da ajuda numa situação extrema pode trazer um vácuo na tomada de decisões e

resultar em grandes problemas de coordenação de projetos no seio do governo hospedeiro. O

argumento que sustenta esta posição é que o governo hospedeiro aprova potencialmente

programas que são elegíveis para captar mais dinheiro dos seus financiadores, sem ter em

conta as suas reais capacidades de implementação. Para este autor, o fluxo de ajudas pode até

encorajar irresponsabilidade nos oficiais dos países hospedeiros.

Para o caso de Moçambique, De RENZIO & HANLON (2007), citados por GUILICHE

(2011, p.21), consideram que de fato a ajuda externa tem um potencial altamente prejudicial

para o processo de desenvolvimento das instituições nacionais, incluindo a sua capacidade de

formular e implementar suas próprias políticas e programas de desenvolvimento.

Page 123: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

109

Um outro desafio para o Ensino Secundário Geral está na inclusão escolar. As escolas

moçambicanas não estão preparadas, até hoje, para lidar com alunos deficientes. A maioria

das escolas não tem banheiros para deficientes, muito menos as rampas. Parece que o

país não tem esses casos. A inclusão requer transformações radicais de valores e concepções,

com impactos nas práticas pedagógicas, no projeto institucional e nas adaptações do espaço

físico, para assegurar as condições de acesso e permanência de todos os alunos e o clima

de tolerância e respeito entre os diferentes. Para CARVALHO (2003), a inclusão

educacional deve ser entendida como principio e também como processo contínuo e

permanente. De acordo com a autora, a inclusão não deve ser concebida como um preceito

administrativo que determine prazos a partir dos quais as escolas passem a ser inclusivas

apenas em obediências à relação de poder ou a pressões ideológicas.

OMOTE (2005) argumenta que uma educação inclusiva implica mudanças fundamentais de

concepções de sociedade e de escola, requerendo um nova visão de mundo e de homens, um

novo paradigma capaz de valorizar e respeitar a diversidade. O atendimento a pessoas com

deficiência vem modificando-se progressivamente, num longo e lento processo evolutivo,

desde as formas mais extremas de exclusão registradas no passado até as mais recentes, de

rumo à inclusão social e no sentido de evitar qualquer forma de discriminação.

No que concerne às supervisões pedagógicas, urge a necessidade de se rever e criar outros

paradigmas nas supervisões pedagógicas no Ensino Secundário Geral. A supervisão nas

escolas moçambicanas limita-se à fiscalização e controle do processo de ensino, nunca são

apresentados os relatórios públicos a nível das escolas para se corrigir as prováveis falhas.

Porém, não restam dúvidas que, desde sempre, a supervisão pedagógica atuou de fora para

dentro, impondo aos professores soluções técnicas relativamente aos processos, aos

conteúdos, às estratégias, aos materiais e à própria realização do ensino na sala de aulas,

soluções que assentam em teorias mais ou menos estandardizadas. “(...) A supervisão é

entendida como orientação imposta aos professores para que estes se tornem mais eficientes

no exercício da profissão...” (COSTA, 2006, p.39). “O supervisor não é mais aquele sujeito

que possui um ‘superpoder’ de assessorar, acompanhar, controlar e avaliar o trabalho que o

professor realiza nas escolas, mas aquele que constrói com os professores o trabalho diário”

(LEAL,2010.p.364).

O MINEDH precisa revisitar as funções e operações da inspeção, procurando conceder-lhe

mais poderes e expandir a sua função de monitoria dos programas de educação. A sua

Page 124: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

110

abrangência precisa incluir um foco claro nos aspectos qualitativos da educação, uma vez que

esta é uma das grandes preocupações do sistema.

O procedimento para a escolha dos diretores de escola deveria ser mais transparente e

competitivo. Em Moçambique qualquer funcionário da educação pode ser o diretor de uma

escola, independentemente do nível de formação . Os cargos para os diretores das escolas

deveriam ser preenchidos por via de concurso público, com exigência de uma formação em

administração escolar ao nível de mestrado. A indicação de diretores, segundo SOUZA

(2006), representa a face política do cargo de diretor, mas também significa uma forma

patrimonialista de perceber a política e a própria educação.

Em tese, o concurso favorece a estabilidade e, ocasionalmente, maior permanência de tempo

na mesma escola. Esse dado seria favorável a uma gestão competente, de acordo com

ABRUCIO (2009). A escola com pior desempenho entre as estudadas em seu trabalho foi

aquela que teve maior rotatividade de diretores. “Ficará muito difícil fazer uma reforma

educacional sustentável a longo prazo se os atores do sistema sentirem uma grande incerteza

em relação à vigência das regras” (ABRUCIO, 2009, p.1).

Conforme aponta LIBANEO (2001), os gestores escolares deveriam reunir algumas

características que vão desde a capacidade de trabalhar em equipe, liderança, poder de

comunicação até outras mais complexas, que envolvem a consciência das próprias limitações

pessoais e o reconhecimento do potencial dos colaboradores.

Muitos diretores das escolas (não todos) em Moçambique possuem só a formação

universitária , sem formação em administração pública ou educação, trabalhando sem noção

de gestão de pessoal (MARCELINO, 2013). Em praticamente todas as pesquisas sobre a

qualidade da educação constata-se que as características do exercício do papel de direção,

e mais especificamente dos diretores e diretoras de escolas, apresentam uma correlação

importante com a possibilidade de conduzir instituições adequadas para promover

aprendizagem de qualidade ( BRASLAVSKY, 2004).

O ministério deve garantir que os pais e as comunidades que fazem parte dos conselhos de

escola tenham uma função na ratificação das nomeações.

“O maior desafio a ser empreendido em relação à gestão diz respeito à

qualificação dos gestores, por duas razoes: primeiramente, porque o modelo

e o processo de qualificação dos atuais gestores estão ancorados em

parâmetros que não comportam as novas demandas institucionais e sociais;

segundo, tornou-se um dos principais fatores do desenvolvimento

Page 125: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

111

institucional, social e humano. Os novos cenários e as demandas que vêm

sendo esboçadas pela sociedade exigem profunda revisão dos processos de

formação dos gestores educacionais” (PAZETO,2000, p.165).

As instituições de ensino precisam contribuir para o sucesso oferecendo bons recursos

pedagógicos, assim como docentes e gestores com boa qualificação técnica. Como ponto

central para melhoria da qualidade do ensino, os gestores educacionais devem valorizar a

formação inicial e continuada dos professores; tanto em um como no outro caso, deve-se

verificar se a formação oferecida está em consonância com as necessidades de aprendizado

dos alunos (ARAÚJO & LUZIO, 2006). Os autores sublinham ainda que é recomendável que

as escolas promovam programas de formação adequadas às suas especificidades, discutindo

os problemas da unidade educacional.

Os próximos planos estratégicos do sector da educação deveriam estar centrados nos

problemas que estão a afetar o sector. A preocupação com a melhoria da qualidade do ensino

deveria receber destaque nos planos. O MINEDH deveria voltar a abrir concursos públicos

para novos ingressos dos professores e dos agentes de limpeza e guardas para as escolas. Os

diretores das escolas por nós entrevistados lamentaram a falta de contratação dos agentes para

prestação dos serviços nas escolas. Os agentes de limpeza e guardas nas escolas do Ensino

Secundário Geral trabalham de forma ilegal, com desvantagens, e isso de certa forma afeta o

processo de ensino e aprendizagem nas escolas.

O Ministério de Educação em Moçambique deve criar uma instituição crível através de um

concurso público para avaliação da qualidade do seu ensino. Em 2000, o relatório Educação

Para Todos (Forum Mundial de Educação para Todos) observou que a falta de um sistema

adequado também de coleta de estatísticas de dados do setor contribui para a falta de

informações qualitativas (OSIA, 2011). Mocambique precisa de uma base de dados-web

abrangente, sistemática. Essa base de dados deverá conter informações detalhadas de

relatórios, pesquisas, avaliações e outros documentos (Idem, p.29) .

De acordo com MENDONÇA (2009), a públicação destes dados de avaliação na imprensa

acaba por alertar a sociedade para a necessidade de se cobrar dos governos, das escolas e dos

professores a melhoria qualitativa no sistema educacional. A avaliação educacional, em

especial a avaliação das aprendizagens, relaciona-se fortemente com a concepção que temos

sobre o papel social da educação escolar. Em nossa sociedade contemporânea, arriscamos

dizer que a visão que se tem da escola e dos processos avaliativos não é tão contemporânea

assim. Ainda temos uma educação escolar fundada em concepções quantitativas de avaliação

Page 126: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

112

de conhecimentos (FERNANDES, 2014). Moçambique ainda se apega a esse ideário porque

avalia o seu sistema de ensino, nos vários subníveis, de forma quantitativa, ou seja,

avalia os seus alunos de acordo com a percentagens dos alunos aprovados, o que não é

certo.

A avaliação permanece, ainda hoje, como um desafio para os diversos sistemas educacionais,

incluindo o de Moçambique. A inconsistência e a assimetria com que incorporamos à nossa

rotina os processos de verificação de aprendizagem confirmam que estamos ainda, em

nossas culturas moçambicanas, prisioneiros de uma concepção negativa dos processos de

avaliação. Mudar a escola no sentido de torná-la compatível com as novas demandas sociais é

algo que requer uma avaliação efetiva do seu trabalho à luz de novos parâmetros, com os

quais ela não está acostumada a trabalhar (TERÇÁRIO, 2007). Nesse âmbito, a avaliação

surge como processo necessário para a auscultação e melhoria da qualidade no sistema de

ensino e de educação.

Page 127: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

113

CONCLUSÃO E DESDOBRAMENTOS DA PESQUISA

Chegados ao fim dessa pesquisa, importa-nos tecer algumas conclusões. Esse trabalho de

dissertação tem como objetivo geral analisar as políticas educacionais contemporâneas para o

Ensino Secundário Geral em Moçambique, com foco nas percepções dos agentes diretamente

envolvidos no cotidiano escolar: professores e gestores. O Ensino Secundário Geral (ESG),

nas últimas três décadas, tem sido caraterizado por vários objetivos nos seus diferentes

períodos históricos, dependendo dos contextos social, econômico e politico.

Moçambique passou por uma evolução na sua educação, desde o tempo colonial até o

presente momento, marcada por retrocessos e avanços. Apesar de ser um dos países

subdesenvolvidos na África subsaariana, com fraco desenvolvimento socioeconômico,

Moçambique registrou melhorias na área de educação desde o nível primário até o nível

superior. O país tem registrado, ainda que de forma tímida e pouco consistente ao longo dos

últimos 40 anos (1975-2015), melhorias em alguns indicadores educacionais, como por

exemplo, a expansão da rede escolar, o analfabetismo e a freqüência escolar. Tais melhorias

ocorreram, principalmente, nas décadas de 70, 90 e a partir da década de 2000. Entretanto,

a despeito dessa melhoria geral, verificam-se desigualdades regionais nas oportunidades

educacionais, sendo a região norte do país a mais desfavorecida em termos de oportunidades

educacionais comparativamente à região sul. É necessário definir ações e políticas públicas

para melhorar o sistema educacional. Contudo, estas devem estar fundamentadas em estudos

que considerem os principais determinantes educacionais.

Logo após a independência (1975), a taxa de analfabetismo era de 98%. Até 2011 o país tinha

a taxa média nacional de mulheres alfabetizadas na ordem de 40,2% e de homens situada em

67,8%. Os efetivos escolares, tanto para o Ensino Primário (Ensino Basico do EP1 & do

EP2) como para o Ensino Secundário Geral (ESG1 & ESG2 ), cresceram. Moçambique

conta atualmente com cerca de 11.922 escolas primárias de ensino básico. Deste numero,

56% perfazem as escolas do EP1 e todo o ensino básico (EP1 & EP2) conta com 44% de

escolas (MINEDHH, 2015, p.4). E para o ensino secundário há cerca de 629 escolas

secundárias a nível nacional. Deste numero, 53% são do ESG1. O ESG1 e o ESG2 contam

com 47% de escolas. Ainda há cerca de 120 escolas técnicas a nível nacional e 48 instituições

do ensino superior (MINEDHH, 2015, p.4).

Depois da independência, em 1975, Moçambique tinha cerca de 10.300 professores e

atualmente conta com 120mil professores (2015). Registrou–se um aumento do acesso dos

Page 128: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

114

alunos ao Ensino Secundário Geral, ou seja, houve grande melhoria no acesso à educação

em Moçambique. Apesar dos avanços registrados, o estudo aqui realizado conclui que o

ensino em Moçambique, no decurso de sua história, tem sido recorrentemente identificado

como um espaço indefinido, ainda em busca de sua identidade. O país ainda tem um caminho

longo para percorrer, na busca por educação de qualidade para todos, pois, não obstante a

melhoria geral, os indicadores como altas taxas de abandono, repetência e distorção idade-

série ainda constituem alguns dos problemas inerentes ao sistema de ensino moçambicano. Os

índices de desistência no Ensino Secundário Geral têm-se mostrado persistentes, o que nos

coloca ainda distantes do objetivo de universalizar o acesso ao ensino médio e formar

cidadãos com habilidades necessárias para o sucesso no mundo moderno.

O relatório de balanço da implementação do programa do governo na área de educação (2010-

2014) refere que o principal desafio do setor continua ser a fraca aprendizagem dos alunos,

que tem como consequência as elevadas taxas de reprovação, repetição e desistência em todos

os níveis de ensino ( E.P.T p. 2015, p.45).

Os resultados da pesquisa sobre o nível de formação dos professores das escolas pesquisadas

indicam que a maior parte dos professores entrevistados, possui o nível de formação superior.

Mas isto não pode ser generalizado a nível nacional. A maior parte das escolas que se

localizam nas províncias (outros estados), sobretudo no interior, carece de professores com

nível superior. A concentração desses professores nas escolas pesquisadas se deve ao fato de

estarem tais escolas na capital do país onde se concentra também a maior parte das

universidades do Estado, assim como as privadas ou particulares. Muitos estudantes que

saem das províncias para estudar em Maputo (capital do país), quando terminam os seus

cursos não voltam para as províncias e acabam ficando na capital à procura de melhores

condições de vida. No entanto, o país todo enfrenta a falta dos professores. Já se passa metade

de uma década sem concursos para a contratação dos novos professores, justificando o setor

por falta de orçamento para o pagamento de salários dos professores, fator que contribui para

a as superlotações das turmas e, consequentemente, para a queda da qualidade do ensino.

A contribuição dos professores e outros atores no processo de elaboração das políticas

educacionais não é abrangente a nível nacional, segundo as entrevistas com professores e

outros atores. Moçambique desenha políticas muito ambiciosas em termos de objetivos, mas

que não contam com profissionais para sua implementação. As políticas em uso não traduzem

os resultados esperados. A não participação dos professores de forma abrangente e de outros

atores envolvidos nas agendas das políticas educacionais em Moçambique leva-nos a afirmar

Page 129: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

115

que o sistema de ensino em Moçambique carece de uma administração escolar democrática

participativa. De acordo com LÜCK (2009), um sistema de ensino baseado em gestão

democrática existe quando todos caminham juntos. E também uma escola democrática é

aquela onde todos os alunos têm igual oportunidade de aprendizagem e de sucesso. A gestão

democrática pressupõe a decentralização e a autonomia. Na gestão democrática as decisões

são coletivas desde a base até o topo. Os processos devem ser avaliados constantemente,

incluindo a gestão e o trabalho pedagógico.

O Executivo deve criar políticas públicas educacionais que garantam a participação ativa dos

professores nas várias instâncias decisórias do currículo e do trabalho pedagógico,

incorporando a necessidade e o direito à formação continuada.

Em organizações com regimes centralizados, há altos níveis de burocracia, fraco

envolvimento dos participantes e um tipo de liderança chamado top down ou vertical. Daí

que a descentralização das decisões no contexto moçambicano para fazer das escolas

organizações aprendentes é um desafio para a liderança (UETELA, 2015).

BAZO (2010), por exemplo, constata a centralização do poder no sistema escolar

moçambicano e consequentemente sugere uma liderança de transformação que culmina com a

transformação da escola.

Uma outra razão que fragiliza as políticas de educação em Mocambique, contribuindo para

o atual estágio do debate sobre a qualidade so seu ensino, é o incumprimento dos

objetivos traçados para suas políticas educacionais nos planos quinquenais do governo

(PQG). A análise das politicas de educação em Moçambique permitiu-nos concluir que

verifica-se uma contradição no discurso do governo, no que está legislado e no que está

em prática, o que se reflete obviamente na qualidade do ensino e resulta no fracasso do

sistema educacional. Os anteriores planos quinquenais do governo e os subsequentes

espelham esta realidade no que tange à área de educação.

Por exemplo, a Politica Nacional de Educação (PNE), desde que foi aprovada em 1995, traçou

como um dos seus objetivos para o Ensino Secundário Geral (ESG) “a melhoria da da

qualidade do corpo docente favorecendo as ações de formação inicial e contínua, apoio

pedagógico, modernização dos métodos de ensino e provisão de material escolar,

reabilitação das escolas e apetrechamento das escolas” (PNE, 1995,p.181).

A realidade da pesquisa empírica efetuada entre janeiro e fevereiro de 2015, nos distritos

minicipais de Kampfumo e Kamaxaquene, na cidade de Maputo, mostra que o processo de

Page 130: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

116

implementação das políticas educacionais moçambicanas encontra muitos entraves. As causas

destes obstáculos são várias. Primeiro, a falta de fundos para a implementação das políticas

traçadas. Segundo, no processo da sua elaboração não envolvem quem deve trabalhar com

essas políticas (os professores).

A política de expansão da rede escolar não é acompanhada com a formação dos respectivos

professores em quantidade e em qualidade, materiais didáticos, financiamentos, e não é

acompanhada também pelos trabalhos de monitoria e avaliação para se detectar os

problemas e corrigir os erros.

Os resultados da pesquisa sugerem que o processo de escolha dos diretores para as escolas

precisa ser melhorado. Durante as entrevistas que fizemos com oito diretores de escolas,

constatamos que alguns diretores não conhecem a área que dirigem e não têm plano

convincente para a melhoria da qualidade de ensino. Para MORAES (2014), é preciso que um

diretor tenha a macro-visão da educação, que não seja apenas o especialista de um segmento

educacional.

Constatamos igualmente entre os gestores um movimento de “efeito dominó”, ou seja, um

conjunto de cobranças sucessivas que afetam os agentes de acordo com a posição que ocupam

na hierarquia da gestão e/ou das escolas. Há uma espécie de “jogo de empurra” em que os

gestores centrais culpabilizam os gestores intermerdiários, que culpabilizam os gestores, que

culpabilizam os professores, que culpabilizam as famílias e, ao final, todos têm culpa e

niguem tem responsabilidade. Isso ocorre quando, por exemplo, os gestores tentam explicar a

baixa qualidade das escolas. Os gestores centrais e/ou intermediários falam das escolas e da

qualidade como se não tivessem nenhuma responsabilidade sobre elas.

A tese sobre as passagens semi-automáticas não é consensual entre os autores estudados,

divide as opiniões e precisa ainda ser pesquisada, analisada e discutida, comparando-se com

outros países que aderiram a esta politica. Alguns estudos em Moçambique, coordenados pelo

acadêmico José Castiano e outros, já demostram avanços nesta pesquisa. Mas a maioria dos

professores, pais e encarregados de educação estão contra esta prática.

O estudo das percepções dos professores, em particular, permitiu aferir que as politicas de

educação em Moçambique são fortemente influenciadas pelos parceiros internacionais,

fazendo com que o país perca a capacidade de elaborar as suas próprias politicas. SOBHAN

(1996), BRAUTIGHAN (2000), CASTIANO & NGOENHA (2013), TOMMASI (1996),

JENSET, (2005), UACIQUETE (2010) compartilham a mesma ideia, observando que o

Page 131: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

117

processo da construção da educação moçambicana, por um lado, revela contradições

internas e externas (existência de grupos /camadas/classes com interesses diferentes) e, por

outro, sofre de constrangimentos por parte das instituições e agências internacionais (politicas

de reajuste do Banco Mundial e do FMI e de outras agências que obrigam os cortes nas

políticas sociais).

O Banco Mundial há anos impõe uma série de regras para serem cumpridas no setor de

educação em Moçambique. De acordo com os autores TOMMASI et al. (1996, p.101):

“O Banco Mundial tem estado a limitar-se a dar prioridade ao investimento em

educação (…), para os países subdesenvolvidos, incluindo Moçambique, (…)

abrindo linhas de crédito para essa finalidade, deixando que ‘o mercado

educativo’ determine objetivos específicos da educação (…). O BM afirma que

reduzir a menos de 40-50 o número de alunos por professor ou aumentar os

salários dos professores não contribui de forma eficiente para a melhoria do

aprendizado”.

Apesar de esta pesquisa ter constatado através das entrevistas efetuadas entre professores em

oito escolas da cidade Maputo em 2015, que as politicas de educação, são influenciadas pelos

parceiros internacionais, não se pretende desmerecer as contribuições valiosas dos gestores

da educação saídas muitas das vezes nos seminários ou conselhos de coordenadores

realizados em nível nacional, as contribuições de certas comunidades e do setor privado

(representantes das escolas particulares), que na sua maioria vivem na cidade de Maputo.

“Antes da implementação do currículo local foram feitas auscultações ao nível de

todos as províncias, inclusive na de Manica. Este processo de auscultação levou

aproximadamente três anos e foi orientado pelo INDE acompanhado por técnicos

das direcções provinciais e distritais de educação. Nestas auscultações diferentes

grupos sociais expressaram da sua forma o imperativo de se mudar os conteúdos de

ensino.” (CASTIANO, 2006, p.15)

Mas no entanto, tem que se melhorar a forma de participação dos atores chaves no processo,

em particular os professores, os quais em sua maioria não participam do processo de

elaboração das politicas de educação em Moçambique, e também a sociedade civil, quase

invisível e sem voz em Moçambique.

Page 132: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

118

As entrevistas que efetuamos com os professores através de questionários e outros estudos

empíricos confirmaram o elevado número de alunos nas salas de aulas no Ensino

Secundário Geral. O objetivo das políticas educacionais que vêm sendo implementadas em

Moçambique nos últimos 20 anos visa responder às exigências que estão postas até mesmo

por organismos internacionais, no sentido de que o país alcance níveis mais elevados na

qualidade e expansão do ensino.

Somos da opinião que se adote uma abordagem metodológica baseada na planificação e

gestão participativa, envolvendo atores do governo e do setor privado local para a definição

de políticas do setor da educação, num ambiente de autonomia e parceria público-privado.

O estudo confirmou que o processo de ensino e aprendizagem nas escolas pesquisadas do

Ensino Secundário Geral em Mocambique, não conta com materiais didáticos, ou seja, a

maioria dos alunos não usa manuais de ensino, não tem acesso a bibliotecas e a salas de

infomática. A relação de dependência entre a ausência dos recursos educativos ou insumos

educacionais e a queda de qualidade nos sistemas de ensino em Moçambique é aceita quase

por unanimidade pelos professores como uma verdade sedimentada que apresenta poucas

refutações. NICOLELLA et al. (2014) apontam que, por exemplo, na Nicarágua, a

experiência da adoção de um programa de provisão de livros-textos que incluía o

monitoramento de seu uso em sala de aula teve um efeito positivo. Um estudo efetuado no

Quênia, um dos países mais avançados na educação em África, pelos autores GLEWWE,

KREMER & MOULIN (2007), mostra que a provisão de livros-textos neste país teve

impacto positivo sobre o desempenho dos alunos.

Analisando a eficácia das atuais políticas educacionais moçambicanas, ou seja, o desempenho

alcançado pelos alunos, níveis de conhecimentos e habilidades e atitudes por eles adquiridos,

a aceitação dos graduados após a conclusão do ensino médio, a pesquisa chegou às seguintes

conclusões: em termos de conhecimentos e habilidades adquiridos pelos alunos, o sistema é

muito fraco.44 Também constata-se a existência de muitas reprovações, sobretudo na 10ª

classe45. Um documento do setor sustenta que os graduados do Ensino Secundário Geral não

44 A maior parte dos esudantes que concluem o ensino médio em Moçambique não tem conseguido entrar na maior universidade pública do país, a Universidede Eduardo Mondlane (UEM), quando são submetidos aos exames de admissão. Esta situação tem se repetido anualmente nos últimos 15 anos. A maior parte daqueles cujos pais têm condições económicas, opta por igressar nas universidades particulares, onde não se exige exames de admissão. 45Depomento da entrevista efetuada pelo ex- Diretor Nacional do Ensino Secundário Geral, Ivaldo Quincardete, em Janeiro DE 2016 na cidade de Maputo em Moçambique

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119

estão equipados com as capacidades e conhecimentos que lhes dêem uma boa base para

entrar no mercado de trabalho, para ensinarem no ensino primário, ou para prosseguirem

outros cursos especializados no ensino técnico profissional (MEC, 2006).

Autores como DUARTE, et al. (2012), defendem que atualmente, em países como

Moçambique, as escolas enfrentam problemas relativos à aprendizagem dos alunos. Eles estão

na escola, têm professores, existem gestores, procura-se o envolvimento da comunidade;

todavia, nem sempre desenvolvem as competências preconizadas em cada ciclo de estudos.

Este problema pode ser analisado em várias vertentes: políticas educativas, planos

curriculares, metodologia de aprendizagem, sistema de avaliação, infraestruturas e

equipamentos, condições socioeconómicas, professores, entre outros.

O atendimento às novas exigências do mercado de trabalho, caracterizado por transformações

sociais, tecnológicas e por um ambiente de competitividade, exige que os alunos e técnicos

que se formam actualmente tenham conhecimentos e competências de qualidade.

As aspirações da sociedade moçambicana são de ter alunos ativos e participativos nos

processos de ensino-aprendizagem e de desenvolvimento. Com efeito, a preparação dos

jovens passa pelo desenvolvimento de competências orientadas para a produção do

conhecimento, interpretação científica e contextualizada dos fenómenos e processos, com

vista à sua integração bem-sucedida numa sociedade em mudanças rápidas e para novas

exigências e dinâmicas do sector laboral como está acontecendo atualmente em todo o

mundo. MARTINS & BONATO (2009), analisando o estágio atual dos alunos que não

assimilam as matérias e muito menos as habilidades e as competências, e a sua aceitação

para o mercado de trabalho, afirmam que no que diz respeito às expectativas como futuro

do estudante, se há algumas décadas atrás a escola podia até garantir um emprego e

alguma mobilidade social, hoje já não pode.

Em sua maior parte, os alunos que acabam de sair ou graduar no ensino médio em

Moçambique apresentam muitos problemas de conhecimentos adquiridos durante o período

em que estiveram na escola. Apresentam problemas gerais na escrita, leitura e nas ciências

exatas. Esta é a percepção geral dos moçambicanos, através das mídias e opiniões das

pessoas.

Na área do jornalismo o problema é gritante. Alguns jornais têm estado a apresentar erros

ortográficos e gramaticais, e até aqueles que têm sorte de serem indicados para pivôs de

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120

algumas televisões pronunciam mal aquilo que têm estado a ler nas notícias, conforme

Francisco Manjate (2015).

Uma das críticas mais frequentes que se faz à educação é a sua falta de articulação com as

demandas do mercado de trabalho. Essas críticas se aprofundam quando se trata da escola de

ensino médio. A partir dessas constatações, a principal responsabilidade pela falta de

articulação estaria radicada no sistema educativo, que está atrasado em relação às novas

demandas de formação que o mercado atualmente requer.

Não é fácil hoje em dia, em qualquer país do mundo, discutir sobre a qualidade de ensino,

sobretudo quando se trata de um país subdesenvolvido como Moçambique. O conceito de

qualidade de ensino possui uma gama significativa de estudos, sem que até hoje tenha se

chegado a um consenso. As rápidas mudanças do mundo moderno não permitem definições

de uma vez por todas. Por isso mesmo, a qualidade de ensino, é uma matéria de grande

complexidade e sua discussão envolve amplo elenco de questões. Por isso, a qualidade da

educação depende também do país e mais ainda de quem financia e dirige as instituições. O

nosso estudo permitiu rejeitar a hipótese segundo a qual as mudanças constantes das políticas

públicas no setor de educação em Moçambique, após a independência, afetam a qualidade no

Ensino Secundário Geral. E confirmou a hipótese alternativa, segundo a qual a falta de

infraestrutura e de condições de trabalho apropriadas afeta a qualidade do ensino em

Moçambique. A existência de condições materiais mínimas e de incentivos ao

desenvolvimento dos contextos e das populações escolares deve ser considerada uma

condição indispensável, mas não suficiente para a melhoria da qualidade da educação.

Os resultados das entrevistas com os diretores das escolas e os respectivos professores

confirmam que as condições de trabalho são ruins. Todos os diretores se preocupam com a

falta de um pouco de tudo nas suas escolas. Todas as escolas pesquisadas estão há vinte

anos ou mais sem serem restauradas ou reabilitadas.

Olhando para a qualidade de ensino duma forma geral em Moçambique, a qualidade de ensino

tem que ser enquadrada e contextualizada dentro do processo do próprio desenvolvimento do

sistema nacional de educação. É a qualidade que é possível. A qualidade, do ponto de vista de

acesso à escola, é muito boa, porque há muitos alunos a entrar nas escolas ou seja os ingressos

aumentaram. Mas a qualidade do ponto de vista de acesso aos conhecimentos carece de uma

avaliação pois os alunos não tem acesso epistemológico ao saber. O acesso epistemológico

não se reduz ao acesso apenas do material escolar, mas também à criação de condições

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121

analíticas para que o aluno possa ler e interpretar o mundo que lhe circunda (BASILIO, 2012,

p.96).

Resultados de SACMECQ (2007), SACMEQ (2012), OSIA ( 2011) mostram que a qualidade

do ensino básico em Moçambique é fraca. O Relatório de Desempenho do setor de educação

em Moçambique (2014) sinaliza mau desempenho dos estudantes do Ensino Secundário

Geral (10ª classes). Um outro estudo denominado “Diagnóstico do Ensino Secundário Geral

(DESG) ”, realizado em 2004 pelo MEC sobre o desempenho dos alunos, tinha concluído que

os alunos revelavam maiores dificuldades na expressão escrita particularmente na produção

de textos.

Um estudo de caso apresentado numa dissertação de mestrado em 2011, com 698 alunos da

10ª classe, na cidade de Nampula em Moçambique (zona Norte do país), sobre o

desempenho, as competências e habilidades dos estudantes, mostrou que cerca de 48,9%

dos alunos pesquisados classificaram-se como fracos, 46,8% consideraram-se médios, 3,6%

disseram que são bons alunos e 0,7% é dos que se afirmam serem muito bons na

aprendizagem. Isso revela que no ensino secundário moçambicano raramente podemos

encontrar alunos excelentes (JOAO, 2010).

E um estudo também efetuado pelo Banco Mundial (2014) costatou que o conhecimento geral

dos professores moçambicanos é fraco. Não restam dúvidas de que a questão da qualidade da

educação ainda é um grande desafio para Moçambique. O processo de construção de uma

educação de qualidade não termina nunca. Quando avançamos alguns passos, o objetivo se

afasta, porque o mundo se modifica e porque as demandas aumentam. Os resultados sinalizam

que o desafio de qualidade hoje não pode ser enfrentado sem alterações profundas na agenda

de políticas educacionais. Temos certeza de que não há nenhuma possibilidade de

discordância em relação a essas afirmações por todos aqueles envolvidos com os processos de

escolarização. A qualidade de educação em Moçambique não está na altura da expetativa do

público e, fora de dúvida, há muito o que fazer, corrigir e inovar. A preocupação demostra

que se vê inadiável a necessidade de melhoramento imediato, o que demanda critério,

proficiência e, mais que tudo, requer novo paradigma educacional.

Os resultados sinalizam que o Ministério de Educação em Moçambique não dispõe de uma

política de formação continuada dos professores, e isso é grave. Esta constatação nos foi

confirmada pela entrevista que fizemos com o diretor nacional adjunto do Ensino

Secundário Geral e também os professores confirmaram esta realidade. Porém, por melhor e

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122

mais avançado que seja um curso de formação acadêmica ou de formação técnica

específica, os profissionais de educação não saem deles “prontos”. Assim, a formação

inicial e continuada faz parte de um processo contínuo que forma o profissional da educação

e, ao mesmo tempo, a profissão do educador e a própria escola (GENRO, 2004). O avanço

tecnológico e as mudanças em diferentes áreas determinam que não é possível na

contemporaneidade aceitar que o profissional da educação se sinta satisfeito simplesmente

com a formação inicial do professor. A formação continuada permite, então, que o professor

vá se apropriando, como sujeito histórico, dos conhecimentos que ele mesmo gerou e que

se torne um professor investigador, podendo rever a sua prática, atribuindo-lhe novos

significados, e obter maior espaço para a compreensão das mudanças que o atinjam

(idem).

Há várias questões que podem ser desdobramentos desta pesquisa no futuro. Em primeiro

lugar, a questão do acesso ao ensino e a equidade escolar. O acesso à escola significa colocar

a educação à disposição de todas as crianças, jovens e adultos. A educação é um bem que

deve ser oferecido de todas as maneiras (BASILIO, 2012). No entanto, quando a politica de

acesso, ou seja, a universalização do ensino (educação para todos) não é acompanhada por

infraestruturas escolares em quantidade e qualidade, com os seus respetivos insumos

pedagógicos ou recursos escolares, e pela formação dos professores com qualidade, o sistema

de ensino acaba se tornando um sistema excludente por não ter conseguido prover igualdade

de oportunidades aos alunos. Em segundo lugar, a questão sobre acesso à educação e

qualidade do ensino. Apesar dos avanços registrados no que concerne ao acesso de ensino em

Moçambique a partir de1992, onde o número de alunos passou de 1,5 milhões para mais de 6

milhões em 2011, os desafios ainda são enormes, existe ainda um número considerável de

crianças fora da escola, e a qualidade do ensino constitui preocupação não só internamente,

mas também em relação a outros países africanos. Em relação a outros países da África,

Moçambique continua atrás nos indicadores de acesso. Quanto à qualidade, cabe notar que

nos países vizinhos a Moçambique (Zimbabwe e Malawi) os alunos que terminam o ensino

primário são capazes não só de escrever e ler, mas também de exercer uma certa profissão

que, de acordo com o ponto de vista dos pais, um aluno finalista do ensino básico em

Moçambique não seria capaz de fazer (CASTIANO, 2006). Em terceiro lugar, a questão da

definição do currículo em nível local ou em nível universal. O INDE (2003, p.1) define

currículo local como sendo: uma componente do Currículo Nacional correspondente a 20%

do total do tempo previsto para o ensino de cada disciplina. Esta componente é constituída por

Page 137: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

123

conteúdos definidos localmente como sendo relevantes, para a integração da criança na sua

comunidade. Porém, observando as experiências até agora acumuladas nos vários países

africanos na introdução dos conteúdos locais nas escolas, notam-se dificuldades de várias

ordens. A mais séria reside no fato que os elementos do saber local tendem a ser aqueles ao

qual menos atenção se presta por parte dos professores, porque eles exigem muito tempo de

pesquisa e sistematização e alguns deles quebram normas e tradições existentes (EASTON;

CAPACCI; KANE, 2000;.CASTIANO, 2006). É crucial que a escola moçambicana seja um

espaço de diálogo entre as culturas de natureza local e universal, onde o currículo local seja

um espaço de integração dos saberes, valores e práticas locais e também da sua legitimação.

Os discursos sobre o desenvolvimento local ou regional têm espaço se for compreendido o

homem e a cultura que ele próprio constrói. Os grupos sociais constróem o conhecimento

que a escola veicula dependendo das politicas educacionais desenvolvidas (DUARTE et al.,

2014).

Terminamos as nossas conclusões observando que qualquer trabalho científico tem os seus

constrangimentos e imperfeições. Durante a nossa pesquisa deparamo-nos com a relutância

dos professores e gestores educacionais para o preenchimento dos formulários e para a

realização das entrevistas. Esperamos que s outras pesquisas deste tipo venham ampliar e

aprofundar mais o estudo sobre a educação em Moçambique, e contemplar na pesquisa aquilo

que não conseguimos fazer, analisando outros atores importantes para a educação, tais como

os deputados e senadores, os analistas das políticas formuladas, a sociedade civil , os

colaboradores do Ministério de Educação, e alunos, de modo que mais contribuições para

melhorar o ensino em Moçambique possam ser feitas.

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Page 152: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

138

APÊNDICE I

ROTEIRO DE ENTREVISTA

A) Roteiro de entrevista com o Diretor Nacional do Ensino Secundário Geral, Ivaldo

Quincardete

Perfil Profissional:

Nível de Formação Profissional:

Experiência profissional:

1. Senhor Diretor, como avaliais as atuais políticas educacionais dos últimos dez anos?

A questão da qualidade da educação e do processo ensino-aprendizagem constitui,

actualmente, um tema muito debatido no mundo educativo. No que se refere à moçambicana,

a questão da qualidade do ensino não passa despercebida.

2. Como avaliais a nossa qualidade de ensino em Moçambique?

3. Quais são os grandes constrangimentos que o setor enfrenta atualmente?

4. HELOISA LUCK (2012, p196), afirma que o grande desafio na definição das políticas é

maximizar as possibilidades de alocar no cargo de direção escolar uma pessoa que tenha

competência para o seu exercício e condições profissionais de enfrentamento dos desafios

cotidianos da gestão escolar orientada para a transformação de suas práticas educacionais.

O gestor de uma escola tem importância fundamental para que ela (a escola) cumpra sua

missão. Alem de responsável pela parte referente à provisão de recursos materiais para

oferecer condições físicas favoráveis à atividade de docente, de correto aplicador dos recursos

financeiros que recebe, é ponto de referência, constituindo-se no desencadeador privilegiado

das ações que visam à melhoria da qualidade de ensino, à aproximação das famílias, ao

envolvimento da comunidade onde se insere a escola. O responsável pelo funcionamento

harmonioso da escola. Para isso, é preciso que tenha macro-visão da educação, que não seja

apenas o especialista de um segmento educacional. É preciso não esquecer o dia a dia de

uma sala de aula. É preciso ser um autor de diálogo. E saber formar uma equipe (MORAES

2014).

Como avaliais os desempenhos dos diretores das escolas do Ensino Secundário Geral em

Moçambique duma forma geral?

Page 153: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

139

5. As políticas educacionais só têm relevância quando a sociedade de um país reconhece as

competências e habilidades dos seus educandos e provoca mudanças através dos

conhecimentos adquiridos, a nível profissional, econômico, social, cultural e politico.

Quais foram as políticas de maior sucesso nos últimos dez anos?

6. Uma politica educacional é bem-sucedida quando é feita de baixo para cima, envolvendo

uma representatividade maior e antecedida através de uma auscultação nacional, realizações

de seminários debatendo as pautas da agenda, pesquisas qualitativas (entrevistas e inquéritos)

de todos os atores, desde alunos, agentes de educação, professores, diretores das escolas e

seus adjuntos pedagógicos, a sociedade civil e os gestores a nível macro do Ministério de

Educação e instituições tutelares.

Senhor diretor, o processo de elaboração das políticas educacionais moçambicanas, costuma

envolver os professores ou apenas costuma ser uma simples imposição na implementação das

politicas educacionais?

7. Qual é a classe com mais baixo aproveitamento pedagógico no ESG do 1º Ciclo?

8. O que é que teria vos motivado a implementar uma adenda educacional chamada “as

provas provinciais ou distritais” ou espécie de exame regional-trimestral nos últimos três

anos, sem consultar os que estão no terreno (professores), e que só contribui para o atual

estagio de educação?

9. Quais são os grandes desafios do setor para o melhoramento da qualidade de ensino em

Moçambique?

10. A existência das infraestruturas escolares em boas condições, o ambiente escolar, é

também um dos indicadores para a aferição da qualidade de ensino.

O que é que está sendo feito a nível do setor a curto prazo para melhoramento das

infraestruturas escolares : falta das carteiras, a superlotação das salas de aulas, ou seja o taxa

professor-aluno, laboratórios inoperacionais, obsoletos, algumas escolas sem bibliotecas,

outras com bibliotecas sem livros atualizados, falta de salas de informática para professores e

alunos ligadas à internet, escolas com péssimas casas de banho para professores e alunos etc.

B) Roteiro de entrevista com o Diretor Adjunto do Ensino Secundário Geral- José luís Pereira

Barbosa, Docente da Universidade Pedagógica, Mestre em Didática de Historia, em

Comissão de Serviço no Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano

Page 154: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

140

C) Roteiro de entrevista com Caetano Alberto José (arquiteto), chefe do Departamento de

Construções e Equipamentos Escolares-

D) Entrevista para Diretor do Departamento de DIPLAC

Perfil Profissional:

Nível de Formação Profissional:

Experiencia profissional:

" A construção de uma escola pública de qualidade demanda profissionais de qualidade, isto

é, com sólida formação intelectual, cultural, e pedagógica, bem como AS COONDIÇÕES

ADEQUADAS PARA A REALIZAÇÃO DO TRABALHO, por meio da garantia de

tamanho das turmas e da razão professor-aluno (DAMASSENO & OTRANTO, 2014, p.10).

Por outo lado, a polêmica sobre "qualidade" aumenta quando a palavra "quantidade" entra em

discussão. Por exemplo, o racio entre aluno e professor, a política de expansão da rede

escolar, o aumento dos ingressos.

"A qualidade de ensino inclui as condições de oferta do ensino, a gestão, e a organização do

trabalho escolar, a profissionalização do professor, o acesso, e do desenpenho escolar(...)"

A qualidade de educação não pode ser boa se a qualidade do professor, do aluno, do sistema

todo é precária.

Todos os diretores das escolas do distrito Kampfumo, incluindo Kamaxaquene, exepto dois

(do Kurula e da Polana Caniço), por nós entrevistados recentemente neste trabalho de campo

(estudo de caso) falaram das más condições das infraestruturas das escolas, desde:

-Infiltações.

-Falta de reabilitação das escolas, com 15 anos ou mais.

-Falta de carteiras. Este problema é considerado como grnade calcanhar de Aquiles, as

crianças chegam de lutar por conta da carência das mesmas, chegam a sentar três a quatro

alunos em cada carteira.

- Escolas com péssimas condiçõe das casas de banho. Exemplo, noroeste 1 da cidade de

Maputo e as outras escolas espalhadas pelo país.

- Escolas sem laboratórios com equipamentos modernos.

Page 155: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

141

-Algumas escolas sem bibliotecas para o uso dos alunos e professores e/ou com livros

desatualizados.

- Escolas com covas na sala em pleno segundo piso numa zona considerada nobre onde todos

os ministros e vice-ministros recenceam lá no período eleitoral.

- Iluminação deficiente, sem portas, janelas; as crianças sujeitas a intempéries nos dias da

chuva, etc.

1. Senhor Diretor, o que é que está sendo feito a nível das infraestruturas escolares para

melhorar as condições de ensino e aprendizagem dos alunos e de trabalho dos professores a

nível nacional no ESG do 1 Ciclo? Ou seja, quais são os grandes desafios do setor a nível das

infraestruturas escolares no ESG para o melhoramento da qualidade de ensino em

Moçambique?

2. Quantas escolas secundárias já construíram nos últimos 10 anos e quantas carteiras alocam

por ano nas escolas do ESG?

3. Quais são as vossas grandes dificuldades para a mensuração do problema em questão?

4. Quem são os vossos grandes parceiros financeiros para a execução das obras escolares do

ESG?

D)Roteiro de entrevista com António Alberto Grachane, especialista em educação, diretor de

educação da cidade de Maputo (Secretaria de Educação)

Perfil Profissional:

Nível de Formação Profissional:

Experiencia profissional:

A educação, a escola e os professores são frequentemente alvo de pressões por diferentes

atores e meios (por exemplo, pelos pais e órgãos de comunicação social) nas quais é

questionada a qualidade do desempenho das questões que lhes são atribuídas. Atendendo às

exigências crescentes das sociedades atuais, algumas dessas pressões dizem respeito à

ineficácia da escola na preparação de futuros cidadãos, literados, em particular no que

concerne à literacia cientifica ( LOPES, et ali. 2008, p.67).

1. Como é que avaliais as atuais politicas educacionais moçambicanas sobretudo no

Ensino Secundário Geral nos últimos 10 anos? Podeis tecer os vossos comentários.

Page 156: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

142

As políticas públicas incluem a formação da agenda na qual uma demanda ou problema passa

a ser alvo da ação governamental; formulação das alternativas de políticas públicas,

implementação ou execução e por fim, avaliação e monitoria.

2. A maioria dos diretores das escolas por nós entrevistados no estudo de caso queixa-se da

falta da monitoria e avaliação das atuais políticas educacionais.

O que é que está acontecer no terreno?

3. O sistema de ensino em Moçambique está sendo muito críticado nos últimos tempos.

Alguns dizem que o currículo é muito teórico , outros críticam o excesso das disciplinas na

10ª classse. Outro problema é que algumas disciplinas reduziram-se a três cargas horárias

semanais, de três para duas, mas em contrapartida os conteúdos mantêm-se na mesma. E há o

excesso das reprovações nos fins do ano, etc.

- Será que as atuais políticas educacionais satisfazem os anseios da sociedade moçambicana?

- O que está sendo feito para inverter a situação descrita?

4. "Qualidade em educação significa (...) desenvolver a formação continuada dos professores”

(PASSADOR, 2011, p 76).

Qual é a política atual do Ministério para a formação continuada dos professores?

5. Nos últimos tempos, têm sido suscitados muitos debates acalorados no seio das mídias,

intelectuais, e população em geral sobre a qualidade de ensino em Moçambique.

- Que avaliação fazeis sobre a qualidade de ensino em Moçambique sobretudo no ESG do 1º

Ciclo?

- Quais são os grandes desafios atuais do Ministério para inverter a situação da fraca

qualidade do ensino em Moçambique?

6. Os diretores das escolas, os diretores pedagógicos, os professores, em suma todo o processo

como é conduzido o ensino produzem indicadores para a avaliação da qualidade de ensino.

- O que é que o setor tem feito para as escolas onde o diretor deixa as coisas acontecer, não

exerce a sua autonomia?

7. O que é que o ministério está fazendo em relação aos professores formados em áreas

diferentes daquelas em que ministram disciplinas? Por exemplo, professores formados em

Administrarão Pública estão a dar História no 2º Ciclo. Que tipo de história está a dar esse

professor? São muitos os exemplos.

Page 157: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

143

8. As infraestruturas escolares fornecem também indicadores para a aferição da qualidade de

ensino.

- O que é que está sendo feito a nível do setor a curto prazo para melhoramento das

infraestruturas escolares: falta das carteiras, a superlotação das salas de aulas, ou seja a taxa

professor-aluno, laboratórios inoperacionais, obsoletos, algumas escolas sem bibliotecas,

outras com bibliotecas sem livros atualizados, falta de salas de informática para professores e

alunos ligadas à internet, escolas com péssimas casas de banho para professores e alunos, etc.

Page 158: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

144

APÊNDICE II

Roteiro de Entrevista Para Diretores das Escolas do Ensino Secundário Geral do

1º Ciclo

Perfil Profissional:

Nível de Formação Profissional:

Experiência profissional:

Este questionário faz parte de um estudo independente, que está a ser realizado no âmbito de

uma dissertação de mestrado em Políticas Públicas e Estratégias de Desenvolvimento

(PPED/IE), no Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil.

Pretende-se com este levantamento recolher informações sobre a análise da eficácia,

eficiências e a efetividade das atuais políticas públicas educacionais em Moçambique, com

objetivo de identificar aspectos relativos à qualidade do ensino, sobretudo no Ensino

Secundário Geral (ESG) do 1º Ciclo no período compreendido entre 2006 e 2015.

Fazem parte do presente estudo professores (as) e funcionários de educação, cuja opinião é

de extrema relevância para a produção do conhecimento sobre o tema. Daí, a solicitação de

que participe respondendo alguns itens a seguir.

Nesta pesquisa, a expressão “políticas educacionais” abrange as orientações elaboradas pelo

Ministério de Educação (MINEDH) e por outros atores envolvidos, compiladas num único

documento denominado Plano Estratégico de Educação (PEE), depois da sua aprovação pelo

Conselho de Ministros para serem cumpridas num período de cinco anos nas escolas

nacionais.

As suas opiniões são fundamentais para a realização bem-sucedida desta pesquisa. As

respostas serão tratadas de modo a não identificá-lo. Por favor, dê a sua opinião com a

máxima sinceridade, referindo-se unicamente à sua pratica profissional e à forma como

os processos efetivamente decorrem. Caso deseje dar mais alguma informação, por favor

contate: Rui Amadeu [email protected]

1. O que tem a nos a dizer sobre o sistema de ensino em Moçambique, sobretudo no

Ensino Secundário Geral? Está a andar bem ou mal? Pode tecer os seus comentários?

2. Nos últimos tempos, têm sido suscitados muitos debates acalorados, no seio das

mídias, dos intelectuais, e da população em geral, sobre a qualidade de ensino em

Moçambique. Quais são as suas sugestões para o melhoramento do problema?

Page 159: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

145

3. Alguma vezes os seus professores e colaboradores já foram solicitados para dar

contribuição às atuais políticas de educação? Se a resposta for afirmativa, peço que me

mostre esse documento enviado pelo Distrito Municipal a solicitar os professores.

4. O dinheiro que o governo, através do Ministério de Plano e Finanças, tem repassado

tem chegado para cobrir as necessidades da escola para a sua manutenção? Quanto é que o

setor tem repassado?

5. Tem-se verificado em todo o país, nas escolas moçambicanas, as más condições das

infraestruturas escolares. De quem é a responsabilidade para a reabilitação de uma escola

como esta para aquisição de carteiras, quadro preto, laboratório, sala de informática para os

professores com internet, incluindo os alunos?

6. Quais são os constrangimentos, ou seja, as aporias atuais da sua escola ?

7. O que é que tem feito para inverter o cenário da baixa qualidade de ensino na sua

escola?

8. O que sugere que deva ser mudado a curto prazo no sistema de ensino para o Ensino

Secundário Geral do 1º Ciclo?

9. O uso dos celulares nas escolas contribui para o fraco desempenho do(a) aluno(a) ou

não?

10. Haverá uma relação entre salários dos professores e a situação atual do sistema?

Page 160: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

146

APÊNDICE III

Inquérito para professores

Caro/a colega Professor/a

Este questionário faz parte de um estudo independente, que está a ser realizado no âmbito de

uma dissertação de mestrado em Políticas Públicas Estratégias e Desenvolvimento,

(PPED/IE), no Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil.

Pretende-se com este levantamento recolher informações sobre a análise da eficácia,

eficiência e a efetividade das atuais políticas públicas educacionais em Moçambique, com

objetivo de identificar aspectos relativos à qualidade do ensino, sobretudo no Ensino

Secundário Geral (ESG) do 1º Ciclo no período compreendido entre 2006 e 2015.

Fazem parte do presente estudo professores (as) e funcionários de educação cujas as opiniões

são de extrema relevância para a produção do conhecimento sobre o tema. Daí a solicitação

de que participe respondendo alguns itens a seguir.

Nesta pesquisa a expressão “políticas educacionais” abrange as orientações elaboradas pelo

Ministério de Educação (MINEDH) e outros atores envolvidos, compiladas num único

documento denominado Plano Estratégico de Educação (PEE), depois da sua aprovação pelo

Conselho de Ministros para serem cumpridas num período de cinco anos nas escolas

nacionais.

As suas opiniões são fundamentais para a realização bem-sucedida desta pesquisa. As

respostas serão tratadas de modo a não identificá-lo. Por favor, dê a sua opinião com a

máxima sinceridade, referindo-se unicamente à sua prática profissional e à forma como

os processos efetivamente decorrem. Caso deseje dar mais alguma informação por favor,

contate: Rui Amadeu [email protected]

Instruções

Por favor, leia as perguntas a seguir e responda da forma mais detalhada possível de modo

que retrate a sua verdadeira opinião.

1. Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino

2. Nível de Formação Profissional

Page 161: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

147

2.1 ( ) Centro de Formação de Professores Primários (CFPPS)

2.2 ( ) Instituto Médio Pedagógico (IMP)

2.3 ( )Ajuda para o Desenvolvimento de Povos para Povos (ADPP)

2.4 ( )10ª + 15 dias

2.5 Instituto de Magistério Primário (IMAP)

2.6 ( ) Universidade Pedagógica (UP)

2.7 ( ) Universidade Eduardo Mondlane (UEM)

2.8 ( ) Outras Universidades ou instituições. Quais?

2.9 ( ) Mestrado

2.10 ( )Doutorado

2.11 ( )Pós –Doutorado

2.12 ( )Cargo Comissionado

3. Tempo de serviço na organização

( ) menos de 01 ano ( ) de 01 ano a 03 anos ( ) 04 a 09 anos

( ) 10 a 15 anos ( ) mais de 15 anos

4. Número total de alunos que o professor (a ) costuma ter em média nas salas de aulas

( )

5. Como avalia as atuais políticas educacionais moçambicanas:

( ) Muito boas ( ) Boas ( ) Regulares ( ) Péssimas (..) Não sei dizer

6. As condições atuais das políticas educacionais se devem a que fatores? ( destaque em

tópicos).

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------

--------------------------------------------------------------------------

7. Em algum momento já participou na sugestão da melhoria das políticas educacionais

moçambicanas na sua escola? Se afirmativo informe quando e

Page 162: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

148

como?............................................................................................................................................

...................................................................................................

8. Qual é a sua sugestão para que as atuais políticas educacionais formem os alunos

para responder aos desafios que Moçambique enfrenta?

…………………………………………………………………………………………………

……………………………………………………………………………………………

9. Como avalia as condições de trabalho do professor na sua escola e em geral em

Moçambique?

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------

--------------------------------------------------------------------------------------------

10. Na sua escola, os alunos usam manuais de ensino nas aulas? Sim ( ) Não( )

11. Na sua escola há:

a) Sala de informática em boas condições para alunos e professores ligada à internet?

Sim( ) Não( )

b) Biblioteca em funcionamento com livros atualizados? Sim( ) Não( )

c) Laboratório em condições com seus equipamentos? Sim ( ) Não( )

12. Já se beneficiou algumas vezes da formação continuada dos professores(as) em

Moçambique? ( )Não ( ) Sim

13. O processo de formação continuada é transparente ? ( )Não ( ) Sim. Por que?

14. A formação continuada dos professores pode contribuir para a melhoria da qualidade

de ensino em Moçambique? ( )Sim ( ) Não. Por que?

15. O Ministério de Educação tem facilitado aos professores continuarem com os seus

estudos? (…)Sim (…) Não. Por que?

16. O que acha do estágio atual da formação dos professores em Moçambique? Satisfaz

as exigências do mercado? (…) Sim (…) Não. Por que?

Page 163: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

149

APÊNDICEIV

Entrevista para acadêmicos

Perfil Profissional:

Nível de Formação Profissional:

Experiência profissional:

1. As políticas públicas educacionais são aquelas que regulam e orientam os sistemas de

ensino.

Um autor, AKKARI (2011, p.12), diz que é um conjunto de decisões tomadas

antecipadamente para indicar as expectativas e orientações da sociedade, em relação à escola.

CORDIOLLI (2011, p,32), nos diz que as políticas educacionais são produtos da interação

entre as ações governamentais e os diversos sujeitos educacionais.

a) Dr. Castiano, como é que avalia as atuais políticas educacionais nos últimos 10 anos para

o ESG? Foram bem elaboradas ou não ? O que acha que deve ser melhorado? O que é que

falhou?

b) Será que as atuais políticas educacionais satisfazem os anseios da sociedade

Moçambicana?

2. KRAMER (1989) nos diz que a precária formação do professor e a administração

escolar exigem urgente restruturação.

a) Como é que avalia o atual estágio da política de formação dos professores em Moçambique

para o ESG?

b) “Qualidade em educação significa (...) desenvolver a formação continuada dos professores”

(PASADOR, 2001, p,76). O que é que acha que está a falhar nesse aspecto para

Moçambique?

3. A questão da qualidade da educação tem sido objeto de abordagens, discussões e análises

desde a antiguidade. E nos últimos tempos, tem suscitado muitos debates acirrados no seio

dos mídias, dos intelectuais, dos políticos e da sociedade em geral, com relação à qualidade de

ensino em Moçambique. Quais são, na sua opinião, os grandes desafios para Moçambique

no que diz respeito a esse problema?

Page 164: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

150

APÊNDICE V

ROTEIRO DE ENTREVISTA COM PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO

Para profissionais de comunicação (Midia)

Este questionário faz parte de um estudo independente que está a ser realizado no âmbito de

uma dissertação de mestrado em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento,

(PPED/IE), no Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil.

Pretende-se com este levantamento recolher informações sobre a análise da eficácia,

eficiência e a efetividade das atuais políticas públicas educacionais em Moçambique, com

objetivo de identificar aspectos relativos à qualidade do ensino sobretudo no Ensino

Secundário Geral (ESG) do 1º Ciclo, no período compreendido entre 2006 e 2015.

Fazem parte do presente estudo professores(as) e funcionários de educação, cuja a opinião é

de extrema relevância para a produção do conhecimento sobre o tema. Daí a solicitação de

que participe respondendo a alguns itens a seguir.

Nesta pesquisa a expressão “políticas educacionais” abrange as orientações elaboradas pelo

Ministério de Educação (MINEDH) e outros atores envolvidos, compiladas num único

documento denominado Plano Estratégico de Educação (PEE), depois da sua aprovação pelo

o Conselho de Ministros, para serem cumpridas num período de cinco anos nas escolas

nacionais.

As suas opiniões são fundamentais para a realização bem-sucedida desta pesquisa. As

respostas serão tratadas de modo a não identificá-lo. Por favor, dê a sua opinião com a

máxima sinceridade, referindo-se unicamente à sua pratica profissional e à forma como

os processos efetivamente decorrem. Caso deseje dar mais alguma informação, por favor

contate: Rui Amadeu [email protected]

1. O que tem nos a dizer sobre o sistema de ensino em Moçambique, sobretudo no

Ensino Secundário Geral? Está a andar bem ou mal? Pode tecer os seus comentários?

2. Nos últimos tempos, tem havido muitos debates acalorados no seio das mídias, dos

intelectuais e da população em geral sobre a qualidade de ensino em Moçambique. Quais são

as suas sugestões para o melhoramento do problema?

3. Será que o tipo de ensino que temos pode afetar o ramo de jornalismo e outras áreas

interdisciplinares?

Page 165: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

151

4. Como avalia as atuais políticas de educação em Moçambique comparando-as com as

de outros países do mundo desenvolvido?

5. Os finalistas do ensino médio em Moçambique conseguem satisfazer o mercado com

este tipo de ensino?

6. Tem visitado as infraestruturas educacionais em Moçambiques? O que acha que o

Executivo deve fazer para produzir uma educação de qualidade?

7. Faça a sua avaliação do desempenho dos professores nas escolas moçambicanas no

ensino médio.

8. O salário dos professores pode ser considerado como estopim do problema?

9. O que é que o Executivo deverá fazer para motivar o professor a ter melhor

desempenho nas escolas do país?

10. Desde a década 80, Moçambique, sendo um pais subdesenvolvido, não ficou alheio

aos ventos do Ocidente e como resultado disso, para a elaboração das suas políticas , passou a

depender de parceiros internacionais para financiar os seus projetos educacionais. Não acha

que isso retira o papel do Estado na elaboração das suas políticas?

Page 166: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

152

APÊNDICE VI

DEPOIMENTOS DOS PROFESSORES SOBRE AS CONDIÇÕES DE TRABALHO NA

CIDADE DE MAPUTO- MOÇAMBIQUE

Escola Secundária Josina Machel, Escola Secundária Francisco Manyanga, Escola Secundária

Eduardo Mondlane; Escola Secundária Estrela Vermelha, Escolas Secundárias de Noroeste 1

e 2, e a Escola Comunitária Santo Antonio de Maxaquene

Entrevistado: 1

Resposta: “ Na minha escola as condições são aceitáveis, se olharmos para as condições

conjunturais. Em geral, não são boas, deve ser feito grande esforço governamental para que o

docente trabalhe com dignidade”.

Entrevistado: 2

Resposta: “ As condições são razoáveis, mas há muita coisa por melhorar o espaço físico da

sala de aulas, a escola muitas vezes está situada em lugares barulhentos”.

Entrevistado: 3

Resposta: “As condições dos professores devem ser melhoradas tendo em consideração que

ainda trabalham em condições inadequadas (falta de material, formação e imobiliário)”.

Entrevistado: 4

Resposta: “ Não são boas, pois falta material de trabalho; há muita demora para o ingresso

e mudança de carreira e há burocratismo selvagem”.

Entrevistado: 5

Resposta: “As condições não são das melhores. Os professores trabalham sob pressão

(avaliações sobrepostas), com agravante de turmas númerosas.”

Entrevistado: 6

Resposta: “ O governo deve apostar na boa formação dos professores e estimular a atividade

do professor”.

Entrevistado: 7

Resposta: “ Na escola, assim como no país, as condições do professor não são das melhores.

Desde as condições materiais na sala de aula até a própria remuneração”

Entrevistado: 8

Page 167: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

153

Resposta: “Em Moçambique as condições de trabalho de professores são péssimas, pois o

número de alunos em cada turma não ajuda para uma boa aula”.

Entrevistado: 9

Resposta: “Péssimas, porque as secretárias dos professores, na maioria dos casos,

encontram-se sujas, sala suja, uma bata, e por último salário magro”.

Entrevistado: 10

Resposta: “Péssimas, porque os professores continuam a trabalhar em condições precárias

sem mudanças de carreiras, as salas superlotadas”.

Entrevistado: 11

Resposta: “As condições de trabalho são razoáveis na minha escola. Em Moçambique muito

tem que ser feito ainda para melhorar do ponto de vista da qualidade do corpo docente,

salários e infraestruturas”.

Entrevistado: 11

Resposta: “Péssimas, sem condições de higiene e segurança. Não são das melhores,

continuamos a ter uma superlotação das salas, estímulos deixam a desejar”.

Entrevistado: 12

Resposta: “ Na minha escola as condições são normais de um modo geral, nas escolas deviam

ter bibliotecas apetrechadas, laboratório equipado, retroprojetor, data-show, transporte para

excursões, marcadores, não giz, ter formação continuada na área em que leciona, e quadro

branco.”

Entrevistado: 13

Resposta: “Péssimas, sem obedecer às mínimas condições que vêm instituídas no estatuto

geral dos funcionários e agentes do Estado. Exemplo: assistência médica.

Entrevistado: 14

Resposta: “Não muito boas. Há carências, desde salas de aulas, carteiras até laboratórios ,

bibliotecas e ginásio”.

Entrevistado: 15

Resposta: “Penso que deveriam ser melhoradas, para um trabalho positivo é preciso se

considerar a higiene e segurança no trabalho. Se o ambiente da escola não contar com a

Page 168: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

154

proteção do professor na área pedagógica e ambiental, tudo poderá concorrer para a

negatividade”

Entrevistado: 16

Resposta: “Com bastante deficiência. Problemas de números elevados de alunos nas salas,

falta de ventilação nas salas (não são climatizadas), desinteresse pela aprendizagem por parte

dos alunos em geral”.

Entrevistado: 17

Resposta: “Devem ser garantidos os recursos de ensino em número e qualidade suficiente.

Melhorar os benefícios sociais do professor como funcionário público”.

Entrevistado: 18

Resposta: “Péssimas, os professores se arranjam no que podem para administrar o PEA, é

muito difícil com tantos alunos com nível baixo de aprendizagem”.

Entrevistado: 19

Resposta: “Péssimas. O professor trabalha sem nenhuma condição. Não há motivação no

trabalho, não há desenvolvimento profissional na carreira, o salário esta ainda além do

desejar”.

Entrevistado: 20

Resposta: “São duras. A atividade do docente é apenas para a sobrevivência e não para a sua

realização devido às condições e políticas frustrantes.

Seguem transcrições de professores entrevistados:

Professores entrevistados na Escola Secundária da Polana, na Cidade de Maputo

Entrevistado: 1

Resposta: “Na minha escola as condições de trabalho não são boas. A escola carece de

reabilitação há décadas; a falta de janelas dificulta o decorrer das aulas no período chuvoso.

As massas de ar carregadas de umidade fustigam alunos e professores nas salas de aulas.

Entrevistado: 2

Resposta: “As condições de trabalho do professor são péssimas, sem materiais de

laboratórios, sem livros do próprio professor. As condições das salas de aulas são péssimas

(sem carteiras, sem janelas, sem tomadas de eletricidade). (…) Muito má, sem materiais, nem

Page 169: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

155

laboratório, sem portas, nem janelas, nem secretária para o professor sentar (…). As

condições de trabalho do professor são péssimas”.

Entrevistado: 3

Resposta: “Razoável, falta de salas por grupo de disciplina, computadores, giz péssimo,

nocivo à saúde humana. (…) Razoáveis. (…) Péssimas. (…) As condições de trabalho em

Moçambique são péssimas”.

Entrevistado: 4

Resposta: “Não é das piores, mas com o esforço podem ser bem melhores. Por exemplo, o

giz que se usa nas salas é de má qualidade, os quadros pretos estão gastos e invisíveis,

não há carteiras nem secretárias. (…) Péssimas, em todos os aspectos econômicos e sociais.

(…) Não são das melhores, não existem as condições básicas.(…) São suficientes para

alcançar alguns objetivos”.

Entrevistado: 5

Resposta: “Razoáveis; salas sem carteiras; janelas abertas e sem vidros; paredes sujas;

quadros antigos, etc.(…) São péssimas, não motivam o professor a dar o seu melhor. (…)

Péssimas, as instalações são degradadas”.

Entrevistado: 6

Resposta: “São razoáveis tirando a parte que não compete à direção da minha escola. Não são

muito boas. (…) Péssimas, as salas de aulas não reúnem condições mínimas para a

lecionação. (…) Regulares; condições normais; as condições de trabalho são péssimas.Sem

incentivos o professor sente-se forçado a trabalhar muitas vezes face a inúmeras

dificuldades”.

Page 170: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

156

ANEXO 1

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE

MINISTÉRIO DE EDUCAÇÃO

DIRECÇÃO NACIONAL DE ENSINO SECUNDÁRIO

REGULAMENTO ORGÂNICO DA DIRECÇÃO NACIONAL DE ENSINO

SECUNDÁRIO

CAPÍTULO 1

DISPOSIÇÕES GERAIS

Artigo 1º

(Natureza)

A Direcção Nacional de Ensino Secundário, designada abreviadamente por DINES, é um

órgão central do Ministério de Educação que tem como domínio o Ensino Secundário.

Artigo 2

(Atribuições)

São atribuições da Direcção Nacional de Ensino Secundário:

1. A gestão do funcionamento das instituições do Ensino Secundário através da

concepção e elaboração de regulamentos e normas de organização;

2. A coordenação da implementação da política educativa a nível do Ensino Secundário;

3. A formulação de propostas de políticas, estratégias de desenvolvimento do Ensino

Secundário a curto, médio e longo prazo;

4. A promoção da eficácia e qualidade de ensino;

5. O desenvolvimento de acções de monitoria e avaliação do processo de ensino

aprendizagem;

6. A participação no desenvolvimento Curricular;

Artigo 3

(Competências)

Page 171: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

157

Compete à Direcção Nacional de Ensino Secundário:

1. Propor normas e regulamentos orientadores sobre o sistema de avaliação e gestão

educacional para as instituições do Ensino Secundário;

2. Coordenar a realização de olimpíadas, concursos e outras actividadesextra-

curriculares;

3. Assegurar, em colaboração com outros intervenientes, a adequação das instalações,

equipamento escolar e materiais de ensino à situação específica de crianças, jovens e adultos

que necessitam de uma atenção especial;

4. Fortalecer as acções de supervisão e apoio pedagógico através da regulamentação

orientação das actividades relativas à supervisão pedagógica e administrativa das instituições

do Ensino Secundário;

5. Promover e orientar metodológicamente a utilização das novas tecnologias nas

instituições do Ensino Secundário;

6. Promover a elaboração e produção de materiais de apoio ao processo de ensino-

aprendizagem nas instituições do Ensino Secundário;

7. Zelar pelo cumprimento das normas e regulamentos orientadores sobre o sistema de

avaliação e gestão educacional para as instituições do Ensino Secundário.

8. Conceber, elaborar e divulgar os critérios e indicadores para a avaliação da eficácia e

eficiência do ensino ministrado nas instituições do Ensino Secundário;

9. Apreciar e emitir pareceres sobre as propostas de livros e manuais escolares para as

instituições do Ensino Secundário.

CAPÍTULO II

Estrutura e Funções

Artigo 4

(Estrutura)

A Direcção Nacional de Ensino Secundário é constituída pelos seguintes órgãos:

1. Órgãos Executivos:

Page 172: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

158

a) Direcção;

b) Departamento de Comunicação e Ciências Sociais (DCCS), que integra:

i. Repartição de Línguas (RL) - Português, Inglês, Francês, Línguas Moçambicanas;

ii. Repartição de Ciências Sociais (RCS) - História, Geografia, Filosofia, Educação

Moral e Cívica, Introdução a Psicologia e Pedagogia.

c) Departamento de Ciências Naturais e Matemática e Tecnológias (DCNMT), que

integra:

i. Repartição de Ciências Naturais e Matemática (RCNM) - (Biologia, Física,

Química e Matemática);

ii. Repartição de Actividades Práticas e Tecnológicas (RAPT) - (Desenho e Geometria

Descritiva, Educação Visual, Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), Educação

Física, Artes Cénicas e Disciplinas Profissionalizantes).

d) DAGE – Departamento de Administração e Gestão Escolar

e) Secretariado

2. Órgãos Consultivos

a) Colectivo de Direcção

b) Colectivo de Departamento

Artigo 5

(Funções do Departamento de Comunicação e Ciências Sociais)

O departamento deComunicação e Ciências Sociais tem as seguintes funções:

a) Assistência ao (à) Diretor (a) Nacional;

Page 173: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

159

b) Garantir a participação dos técnicos do DCCS na elaboração e reelaboração de Planos

Curriculares, programas de ensino, normas de avaliação e materiais de ensino;

c) Orientar e controlar a aplicação dos planos curriculares, programas de ensino e normas

de avaliação;

d) Orientar a reelaboração de sugestões metodológicas para o apoio ao professor no

processo docente-educativo;

e) Recolher permanentemente informações sobre o desenvolvimento do processo

pedagógico nas escolas;

f) Promover acções de aperfeiçoamento dos professores em exercício, em estreita ligação

com a Direcção de Formação de Professores e as instituições de formação de professores;

g) Propor a valorização científica e social dos técnicos com menções honrosas;

h) Promover e realizar estudos e pesquisas para avaliação dos planos de estudo e

programas de ensino, livros e outros meios didácticos e de avaliação utilizados, em

coordenação com o Departamento de Administração e Gestão Escolar;

i) Promover ou apoiar iniciativas de natureza científico-pedagógico de carácter nacional

e internacional que sirvam os interesses da promoção científica e do melhoramento da

eficiência do ensino.

Artigo 6

(Funções do Departamento de Ciências Naturais Matemática e Tecnologia)

O Departamento deCiências Naturais Matemática e Tecnologia tem as seguintes funções:

a) Assistência ao (à) Diretor (a) Nacional;

b) Garantir a participação dos técnicos do DCNMT na elaboração e reelaboração de

Planos Curriculares, programas de ensino, normas de avaliação e materiais de ensino;

c) Orientar e controlar a aplicação dos planos curriculares, programas de ensino e normas

de avaliação;

d) Orientar a reelaboração de sugestões metodológicas para o apoio ao professor no

processo docente-educativo;

Page 174: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

160

e) Recolher permanentemente informações sobre o desenvolvimento do processo

pedagógico nas escolas;

f) Promover acções de aperfeiçoamento dos professores em exercício, em coordenação

com a Direcção de Formação de Professores e as instituições de formação de professores;

g) Propor a valorização científica e social dos técnicos com menções honrosas;

h) Promover e realizar estudos e pesquisas para avaliação dos planos de estudo e

programas de ensino, livros e outros meios didácticos e de avaliação utilizados, em

coordenação com o Departamento de Administração e Gestão Escolar;

i) Promover ou apoiar iniciativas de natureza científico-pedagógico de carácter nacional

e internacional que sirvam os interesses da promoção científica e do melhoramento da

eficiência do ensino.

Artigo 7

(Funções do Departamento de Administração e Gestão Escolar)

O Departamento de Administração e Gestão Escolar tem as seguintes funções:

1. Assistência ao (à) Diretor (a) Nacional;

2. Formular propostas de leis, regulamentos e normas de organização e funcionamento

das instituições do Ensino Secundário;

3. Orientar e controlar o desenvolvimento da acção social escolar para o Ensino

Secundário;

4. Elaborar e propor a concessão de louvores às direcções de escola, aos coordenadores

de áreas disciplinares, aos delegados de disciplina e aos professores que se tenham destacado

pelo seu trabalho e dedicação em coordenação com as estruturas locais da educação;

5. Recomendar estudos e pesquisas para a avaliação dos planos de estudos, programas de

ensino, livros e outros instrumentos didácticos e de avaliação;

6. Promover a disseminação de conhecimentos modernos no campo de direcção escolar;

7. Identificar as necessidades de formação no domínio de administração e organização

escolar e recomendar a promoção de cursos de capacitação;

Page 175: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

161

8. Realizar acções de apoio e controlo no âmbito de administração e organização escolar;

9. Estabelecer contatos regulares com organizações que apoiam escolas do Ensino

Secundário e buscar outras parcerias;

10. Promover a aplicação das normas, orientações, regulamentos e outros documentos

normativos;

11. Regulamentar, orientar e controlar a aplicação do princípio do envolvimento da

comunidade na vida escolar;

12. Apoiar os órgãos locais na criação, fomento e desenvolvimento de uma rede de

bibliotecas escolares;

13. Elaborar e divulgar os critérios e indicadores para a avaliação da eficácia e eficiência

interna;

14. Promover e incentivar o desenvolvimento e a prática de actividades extra curriculares

nas escolas;

15. Recolher dados estatísticos e outros para a criação da base de dados da DINES;

16. Garantir a participação dos técnicos da Direcção em acções de capacitação, troca de

experiências a nível nacional e internacional.

Artigo 8

(Funções da Repartição de Línguas)

A Repartição de Línguas tem como funções:

1. Participar na elaboração e reelaboração de Planos Curriculares, programas de ensino,

normas de avaliação e materiais de ensino;

2. Monitorar a aplicação dos planos curriculares, programas de ensino e normas de

avaliação;

3. Elaborar sugestões metodológicas e propor meios didácticos para o apoio do professor

no processo docente – educativo;

4. Orientar metodológicamente as DPEC, SDEJT e escolas secundárias nas respectivas

disciplinas;

Page 176: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

162

5. Fazer levantamento do ponto de situação do material didáctico existente nas escolas;

6. Colaborar na apreciação de livros a adoptar para o ensino secundário e emitir parecer

sobre os mesmos;

7. Promover círculos de conversações e de troca de experiências entre professores e

entre escolas, em estreita colaboração com os outros órgãos e instituições relacionados;

8. Elaborar sínteses de experiências pedagógicas positivas realizadas para o seu

aproveitamento na sala de aulas, nas escolas;

9. Realizar pesquisas nas diferentes áreas disciplinares;

10. Elaborar textos de apoio e fichas de trabalhos para os alunos e professores.

11. Promover concursos de leitura e escrita nas Línguas Moçambicanas, Portuguesa,

Inglesa e Francesa;

12. Formular propostas de políticas e estratégias de desenvolvimento do ensino das

línguas moçambicanas em colaboração com o INDE;

13. Identificar obras de leitura obrigatória nas escolas;

14. Promover actividades a serem realizadas pelas escolas nas datas alusivas as línguas

maternas, Lusofonia e CPLP, Anglofonia e Francofonia.

Artigo 9

(Funções da Repartição de Ciências Sociais)

A Repartição de Ciências Sociais tem como funções:

1. Participar na elaboração e reelaboração de Planos Curriculares, programas de ensino,

normas de avaliação e materiais de ensino;

2. Monitorar a aplicação dos planos curriculares, programas de ensino e normas de

avaliação;

3. Elaborar sugestões metodológicas e propor meios didácticos para o apoio do

professor no processo docente – educativo;

Page 177: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

163

4. Orientar metodológicamente as DPEC SDEJT e escolas secundárias nas respectivas

disciplinas;

5. Fazer levantamento do ponto de situação do material didáctico existente nas escolas;

6. Colaborar na apreciação de livros a adoptar para o ensino secundário e emitir parecer

sobre os mesmos;

7. Promover círculos de conversações e de troca de experiências entre professores e

entre escolas, em estreita colaboração com os outros órgãos e instituições relacionados;

8. Elaborar sínteses de experiências pedagógicas positivas realizadas para o seu

aproveitamento na sala de aulas, nas escolas;

9. Realizar pesquisas nas diferentes áreas disciplinares;

10. Elaborar textos de apoio e fichas de trabalhos para os alunos e professores.

11. Identificar Locais de interesse histórico para seu estudo nas escolas;

12. Recolher objectos de valor histórico-cultural;

13. Elaborar materiais (desdobráveis, cartazes, etc.) para a divulgação de figuras, locais e

acontecimentos de interesse histórico e ambiental;

14. Promover concursos e outros eventos que estimulem a aprendizagem e o

desenvolvimento de valores patrióticos, morais e cívicos.

Artigo 10

(Funções da Repartição de Ciências Naturais e Matemática)

A Repartição de Ciências Naturais e Matemática tem como funções:

a) Participar na elaboração e reelaboração de Planos Curriculares, programas de ensino,

normas de avaliação e materiais de ensino;

b) Monitorar a aplicação dos planos curriculares, programas de ensino e normas de

avaliação;

c) Elaborar sugestões metodológicas e propor meios didácticos para o apoio do professor

no processo docente – educativo;

Page 178: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

164

d) Orientar metodológicamente as DPEC SDEJT e escolas secundárias nas respectivas

disciplinas;

e) Fazer levantamento do ponto de situação do material didáctico e laboratorial existente

nas escolas;

f) Colaborar na apreciação de livros a adoptar para o ensino secundário e emitir parecer

sobre os mesmos;

g) Promover círculos de conversações e de troca de experiências entre professores e entre

escolas, em estreita colaboração com os outros órgãos e instituições relacionados;

h) Elaborar sínteses de experiências pedagógicas positivas realizadas para o seu

aproveitamento na sala de aulas, nas escolas;

i) Realizar pesquisas nas diferentes áreas disciplinares;

j) Elaborar textos de apoio e fichas de trabalhos para os alunos e professores.

k) Elaborar propostas para apetrechamento das escolas em equipamentos laboratoriais;

l) Incentivar e controlar a restauração do material laboratorial em desuso;

m) Elaborar propostas de planos de aulas práticas e acompanhamento das mesmas nas

escolas;

n) Orientar as escolas para criação de condições para círculos de interesse para áreas de

Matemática e Ciências Naturais.

Artigo 11

(Funções da Repartição de Actividades práticas e Tecnológicas)

A Repartição de Actividades práticas e Tecnológicas tem como funções:

a) Participar na elaboração e reelaboração de Planos Curriculares, programas de ensino,

normas de avaliação e materiais de ensino;

b) Monitorar a aplicação dos planos curriculares, programas de ensino e normas de

avaliação;

Page 179: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

165

c) Elaborar sugestões metodológicas e propor meios didácticos para o apoio do professor

no processo docente – educativo;

d) Orientar metodológicamente as DPEC SDEJT e escolas secundárias nas respectivas

disciplinas;

e) Fazer levantamento do ponto de situação do material didáctico existente nas escolas;

f) Colaborar na apreciação de livros a adoptar para o ensino secundário e emitir parecer

sobre os mesmos;

g) Promover círculos de conversações e de troca de experiências entre professores e entre

escolas, em estreita colaboração com os outros órgãos e instituições relacionados;

h) Elaborar sínteses de experiências pedagógicas positivas realizadas para o seu

aproveitamento na sala de aulas, nas escolas;

i) Realizar pesquisas nas diferentes áreas disciplinares;

j) Elaborar textos de apoio e fichas de trabalhos para os alunos e professores.

k) Incentivar e controlar o desenvolvimento de programas de produção escolar em

coordenação com a Direcção de Programas Especiais (DIPE);

l) Participar na promoção e organização de jogos e intercâmbios desportivos escolares e

de actividades artístico - culturais;

m) Promover e incentivar a comunidade no desenvolvimento de actividadesagro-

pecuárias, pesca, marcenaria, pequenas construções e outros;

n) Orientar actividades que promovam o amor pelas artes e pelo trabalho, o gosto pelo

belo e pela estética e pela preservação da natureza;

o) Estimular o desenvolvimento de aptidões manuais e técnicas através do uso criativo

dos recursos disponíveis localmente;

p) Promover o uso das novas Tecnologias de Informação e Comunicação no processo de

ensino-aprendizagem;

q) Participar na definição de material e equipamento necessário para a promoção do uso

das Tecnologias de Informação e Comunicação nas escolas.

1.1.1.1.1 Artigo 12

Page 180: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

166

(Funções do Secretariado)

1. O Secretariado tem como função assegurar o apoio técnico-administrativo ao trabalho

da Direcção Nacional de Ensino Secundário

2. Compete ao Secretariado:

a) Assegurar o apoio técnico-burocrático ao trabalho dos diversos órgãos da Direcção;

b) Elaborar requisições de material diverso para o consumo interno da Direcção

Nacional de Ensino Secundário;

c) Elaborar propostas orçamentais do funcionamento da Direcção;

d) Zelar pela manutenção do património do Estado alocado à Direcção;

e) Garantir o registo, encadernação e arquivo de toda a documentação recebida e

produzida pela Direcção;

f) Garantir condições adequadas de trabalho na Direcção a todos os níveis em termos de

equipamento, higiene e limpeza;

g) Programar, secretariar, apoiar e assistir o Diretor e Diretor-Adjunto;

h) Organizar a correspondência e o arquivo da documentação e informação do Diretor e

Diretor-Adjunto e garantir a informação interna;

i) Controlar o livro de ponto, o registo de licenças, das faltas e elaboração dos mapas de

efectividade;

j) Assegurar a comunicação com o público e as relações com outras entidades;

3. O Secretariado é dirigido por um Chefe de Repartição Central.

Artigo 13

(Colectivo de Direcção)

1. O Colectivo de Direcção é dirigido pelo Diretor e integra o Diretor-Adjunto e os

Chefes de Departamento, podendo, sempre que necessário, ser alargado a outros técnicos que

para o efeito forem convidados pelo Diretor.

Page 181: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

167

2. O Colectivo de Direcção tem como função analisar questões fundamentais da

actividade da Direcção Nacional de Ensino Secundário, nomeadamente:

a) Estudar as decisões dos órgãos superiores e formas de sua implementação;

b) Planificar, orientar e avaliar a realização das actividades da Direcção;

c) Promover a troca de experiências e informações entre os membros do colectivo e

quadros do sector;

d) Preparar a execução e controlo do plano de actividades da Direcção, realizando o

balanço periódico e efectuando a valorização e divulgação dos resultados e experiências

avançadas;

e) Partilhar experiências e informações entre os membros do colectivo.

3. O Colectivo de Direcção reúne-se, ordinariamente, de quinze em quinze dias e,

extraordinàriamente, sempre que for convocado pelo Diretor.

Artigo 14

(Colectivo de Departamento)

1. O Colectivo de Departamento é dirigido pelo Chefe do Departamento e integra os

Chefes de Repartição, podendo, sempre que necessário, ser alargado a outros técnicos.

2. Compete ao Colectivo de Departamento a programação e análise do cumprimento do

plano de actividades, bem como a discussão e a adopção de estratégias para o seu melhor

funcionamento e da Direcção em geral.

3. O Colectivo de Departamento reúne-se, semanalmente, podendo realizar sessões

extraordinárias, sempre que for necessário.

Capítulo III

Disposições Finais

Artigo 15

(Dúvidas e Omissões)

Page 182: Políticas públicas de educação e qualidade de ensino em

168

As dúvidas suscitadas na interpretação das disposições contidas no presente Regulamento

serão resolvidas por despacho do Ministro da Educação.

Organigrama

Legenda

DINES – Direcção Nacional do Ensino Secundário

DCCS – Departamento de Comunicação e Ciências Sociais

DCNM – Departamento de Ciências Naturais e Matemática

DAGE – Departamento de Administração e Gestão Escolar

RCL - Repartição de Comunicação e Línguas (Português, Inglês, Francês, Línguas

Moçambicanas)

RCS - Repartição de Ciências Sociais (História, Geografia, Filosofia, Educação Moral e

Cívica, Introdução a Psicologia e Pedagogia)

RCNM - Repartição de Ciências Naturais e Matemática (Biologia, Física, Química e

Matemática)

RAPT - Repartição de Actividades práticas e Tecnológicas (Desenho e Geometria Descritiva,

Educação Visual, Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), Educação Física, Artes

Cénicas e Disciplinas Profissionalizantes).

DINES

DAGE DCCS

RCL RCS

DCNM

RCNM RAPT

Secretariado