poesias - 2º parte -...

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31 DECÉSTROFES Poema construído em dez estrofes (termo e estrutura criados pelo autor Alexander Herzog Cardoso e que deriva da aglutinação de Deca + Estrofes), constando nove estrofes de quatro versos e um (o último) de cinco versos. A primeira estrofe é necessariamente introdutória, as oito seguintes são usadas para desenvolver o assunto, seja pela produção de sentidos e imagens, seja pela descrição ou puramente pelo encadeamento lógico. A última estrofe é construída para a finalização e conclusão da idéia no poema, sempre com um dissílabo para marcar o pensamento. Os versos das nove primeiras estrofes possuem a estrutura silábica 6,5,4,3 e a última estrofe é composta pela estrutura silábica 6,5,4,3,2. Tem um total de 182 sílabas poéticas (sempre recorrendo ao emprego da sinérese ou diérese para determinar a divisão silábica). O objetivo da estrutura é marcar o poema entre um estilo métrico a rigor e semi-livre, com frases diretas e intercaladas, não necessariamente incorrendo em rigidez formal nem em esgarçamento agudo da estrutura do poema, obedecendo à mesma para discorrer em uma forma de linguagem que evoque frases, palavras ou locução que tenham sentido na teia do poema, que produza símbolos e signos. O último verso do poema, na 10º estrofe, é dissílabo e tem que evocar uma palavra ou locução de sentido último para o leitor, ressaltando o motivo final da produção do poema. O Decéstrofes busca facilitar a escrita e a comunicação de mensagens, provendo como possibilidade a supressão de locuções, verbos de ligação, preposições e etc., durante a composição do poema permanecendo o desenvolvimento do sentido da mensagem de forma direta e encadeado entre os versos. Exemplo: A idéia da estrutura surgiu da observação de uma situação cotidiana. A dinâmica de mensagem em um bilhete pregado, em várias ocasiões, em lugar qualquer visível e que pretende comunicar a alguém onde uma pessoa qualquer está. Eu estou no mercado Estou no mercado Estou mercado No mercado Marca uma mensagem em verso e afunila o sentido preservando a sua comunicação e sentido do que é importante. Passa de bilhetes com a mensagem “Eu estou no mercado” para a mensagem “No Mercado”. O que importa para uma determinada pessoa é comunicar a alguém de interesse que na sua ausência ela está no mercado e a estrutura da mensagem enxuga a frase preservando a comunicação do local onde se encontra, que é o que importa a quem precisa localizar, mentalmente, a pessoa ausente. Desta forma, dentro da elaboração de uma Decéstrofe, os signos, símbolos e mensagem são passados, durante o poema, por esse afunilamento. A primeira intenção da Descéstrofe, e de acordo com as primeiras pesquisas, é propor e desenvolver um estilo de produção poética um pouco mais próximo do estilo da poesia experimental e que represente a linguagem dos dias de hoje, tentando preservar alguma estrutura formal na escrita poética. Segue abaixo exemplos:

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DECÉSTROFES Poema construído em dez estrofes (termo e estrutura criados pelo autor Alexander Herzog Cardoso e que deriva da aglutinação de Deca + Estrofes), constando nove estrofes de quatro versos e um (o último) de cinco versos. A primeira estrofe é necessariamente introdutória, as oito seguintes são usadas para desenvolver o assunto, seja pela produção de sentidos e imagens, seja pela descrição ou puramente pelo encadeamento lógico. A última estrofe é construída para a finalização e conclusão da idéia no poema, sempre com um dissílabo para marcar o pensamento. Os versos das nove primeiras estrofes possuem a estrutura silábica 6,5,4,3 e a última estrofe é composta pela estrutura silábica 6,5,4,3,2. Tem um total de 182 sílabas poéticas (sempre recorrendo ao emprego da sinérese ou diérese para determinar a divisão silábica). O objetivo da estrutura é marcar o poema entre um estilo métrico a rigor e semi-livre, com frases diretas e intercaladas, não necessariamente incorrendo em rigidez formal nem em esgarçamento agudo da estrutura do poema, obedecendo à mesma para discorrer em uma forma de linguagem que evoque frases, palavras ou locução que tenham sentido na teia do poema, que produza símbolos e signos. O último verso do poema, na 10º estrofe, é dissílabo e tem que evocar uma palavra ou locução de sentido último para o leitor, ressaltando o motivo final da produção do poema. O Decéstrofes busca facilitar a escrita e a comunicação de mensagens, provendo como possibilidade a supressão de locuções, verbos de ligação, preposições e etc., durante a composição do poema permanecendo o desenvolvimento do sentido da mensagem de forma direta e encadeado entre os versos. Exemplo: A idéia da estrutura surgiu da observação de uma situação cotidiana. A dinâmica de mensagem em um bilhete pregado, em várias ocasiões, em lugar qualquer visível e que pretende comunicar a alguém onde uma pessoa qualquer está.

Eu estou no mercado Estou no mercado

Estou mercado No mercado

Marca uma mensagem em verso e afunila o sentido preservando a sua comunicação e sentido do que é importante. Passa de bilhetes com a mensagem “Eu estou no mercado” para a mensagem “No Mercado”. O que importa para uma determinada pessoa é comunicar a alguém de interesse que na sua ausência ela está no mercado e a estrutura da mensagem enxuga a frase preservando a comunicação do local onde se encontra, que é o que importa a quem precisa localizar, mentalmente, a pessoa ausente. Desta forma, dentro da elaboração de uma Decéstrofe, os signos, símbolos e mensagem são passados, durante o poema, por esse afunilamento.

A primeira intenção da Descéstrofe, e de acordo com as primeiras pesquisas, é propor e desenvolver um estilo de produção poética um pouco mais próximo do estilo da poesia experimental e que represente a linguagem dos dias de hoje, tentando preservar alguma estrutura formal na escrita poética. Segue abaixo exemplos:

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A Vida

A vida é o indissolúvel, O maior mistério

Irresolúvel Acrotério

No pico do edifício Templo construído

Tempo abinício Derruído

São as mesmas questões

Visões diferentes E entre milhões

Entrementes

De certezas que vão E vem e se chocam Com o real desvão Que nos chegam

Transitória certeza

Conceitos sublimam Frente à crueza Dos que pensam

Conhecer nosso abismo Entre nós e a verdade

Poder entender Arduidade

Nosso conhecimento

Universo e o ser Mente e o momento

Ser ou não ser?

A vida após a morte A mecânica quântica

Destino e a sorte Choro e a cântica

Que diz que não sabemos

Por onde os caminhos Vamos vivendo Néscios senhos

Sem o conhecimento

Sentido da vida Todo momento Sem acolhida

Mistério!

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Sua Carta

A carta na algibeira Com letras de açoiteira

Nossa carreira Frioleira

A pensar com ardor

No dia que a dor O abatedor Prosador

A carta com essas letras

Palavras Palestras Profere outras Onze-letras

Cala a gota da lágrima Que molha e me grima

Não vejo a rima Minha esgrima

Sentido que morreu O amor seu liceu O teu androceu

Cadaceu

Que cura e me abarca Em ti minha marca Com minha tarca:

Genearca

E extrai minha louseira E acende a clareira

A verdadeira Passageira

De minha alma e da mente

Surgiu de repente Provavelmente

É fremente

E por fim a sua carta Saudade me farta E a dor me parta

Sobrecarta

Que lhe escrevo agora O Meu mundo afora Prenuncio e a hora

Que ri e chora Embora...

34

Que querem?

Veja lá no horizonte Se nesse país

Não brilha o sol Cada canto

O que querem as pessoas?

Elas sabem o quê. Querem ser ricas, Mas não podem.

O que querem as pessoas?

Ser especiais. Sim, elas podem!

Podem ser!

O que querem as pessoas? Querem ser famosas. Nem todas podem,

Podem ser

Felizes, elas podem. Que querem as pessoas?

Criar seus filhos, Ser felizes!

O que querem as pessoas?

Ter tranqüilidade. Pergunte a elas:

Terem paz.

Pessoas não querem Chorar. Ser felizes,

Querem viver. Indague-as!

O que querem as pessoas?

Querem confiar, Querem criar,

Dormir em paz!

O que querem as pessoas? Oportunidades,

Ser elas mesmas, Conversar.

O sol não brilha à todos? Que querem as pessoas?

Desenvolver Esperança

Futuro

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Refrão

Se toca a minha mão Não faça de novo

O meu olhar Seu refrão

Se toca minha tez Não cale de novo Os meus sentidos

Alusão

Se toca a minha boca Não cante de novo

As belas notas Emoção

Se toca meu humor Não faça de novo

Do meu olhar Ilusão

Se toca minha dor Não toque de novo No mesmo ponto

Coração

Se bate com seus olhos Não tente me ver Nem olhe a minha

Expressão

Se bate com sua raiva Saia! Vá embora Eu não disfarço

Turbulência

Se bate com sua ira Despeja o veneno

Não adianta: Consciência

Se tenta me ver

Não pode, não dá Não há de crer:

Existência

Se tenta entender Com sua visão Não pode ver Minha índole:

Missão

36

Numa Tarde

Que vemos no horizonte? As luzes acesas.

Que conseguimos? Enxergar.

Enxergamos na tarde?

Só vemos de fato O que nos deixam

Sentir e ver.

Que sentimos na tarde? Nada mais do que

Eles desejam Que sejamos.

Que vivemos na tarde?

Nada mais do que Eles desejam Que vivamos.

Que aprendemos na tarde?

Nada mais do que Eles desejam

Que saibamos.

Que respiramos à tarde? Nada mais do que

O vil oxigênio Poluído.

O que eles querem de nós?

Que nos sacrifiquemos Em pró da vida

Farta deles.

O que querem de nós? Que a nossa vida

Justifique as Suas vaidades.

Que desejamos à tarde?

Que saibamos como Nos defender, Numa tarde.

Que nós saibamos o que

Fazer e o que mudar. E criar sonhos,

Existir, Viver.

37

Caminhos

Eu vi a palma do mundo Pintada real

Em minhas mãos Seus caminhos...

Nossa sociedade

O que construímos Nossa verdade

Seus caminhos...

As instituições Criaram ilusões Desmanteladas Submergiram

Povos desnorteados

Criaram ilusão Cooperação Disfarçada

Entre guerras veladas

E sofismas legais Discursos vis

E vazios

Parecem muito mais Protelar o fim Certo de anos Construídos

Fome, seca, doença Pobreza e riqueza Poucos com muito

Outros nada...

A política é o show Por detrás o discurso

Falso e engano Catalepsia

O que mudou até hoje?

Foi a Tecnologia. Que esperamos?

Harmonia.

Que vemos pela frente? A desarmonia.

O que queremos? Amor e paz.

Justiça!

38

Classes

Pessoas e suas ações São a razão de tudo

Bom e ruim Que acontece

Alegria de alguns Tristeza de muitos

É quase sempre A esse modo

A estrutura fundada De tempos remotos

À sociedade Atual

Nos remete a canoa

Furada e o mal: “Mais vale os meus

Interesses

Do que o bem estar da Maioria e meus Valores devem Ser perpétuos”

A convivência entre

Os objetivos Muito Distintos Entre as classes

Nas inúmeras culturas

Na face da terra Naturalmente São conflitos

Querer e não querer: "Digo o que é você

Para afanar O seu ego"

O que resulta disso?

Luta perpétua O Bem e o mal

Agressões

Alguém feliz por um lado E os outros revoltos

Na outra ponta. Que vai dar

No fim?

39

Traços

O som de um horizonte Pálido e anil Ao revoar

De alguns pássaros

A vida parecia Acabar ali.

Não há passado Nem futuro

Eu apenas paisagem

Pintada sem tinta Fotografada No momento

Sem lembranças nem tempo

Nada me sustenta Nem me pressiona

Um detalhe

A balsa corre solta E o balanço é firme

Nem esse mar Diz quem sou

Sou um nada em meio

Ao tudo mais desse Caos organizado

Natureza

Não há nem o início E tão pouco o fim É só o momento

Paisagem

E o homem que se acha Dono disso tudo...

Mãe natureza Nos empresta

Mas expurga e retira

O que não presta E o que machuca

Nesse mar

O som do horizonte Rouco, acaba ali. Não há céu anil Nem pássaros.

Futuro

40

Consumo

Notícias nos jornais Deixam-me decrépto

A violência Natural

Entre familiares Amigos e irmãos

E crianças Objetos

Os fatos sem limites

E muito cruéis A Falsidade

Nos fiéis

Parece que em ninguém Pode confiar Às vezes nem Em ti mesmo

Tecido social O capitalismo

Selvageria A disputa

Relações esgarçadas Fingimos e levamos

Nossa existência O Consumo

As regras de intercâmbio

Os padrões de vida Meu carro e a Minhas contas

São quase tudo que Representa o que Sou nesse mundo

Etiqueta!

E não é por esta razão Que as notícias e os jornais

Cansam os nossos Frágeis olhos?

Não raiou natural

Aos olhos e sentidos Essa disputa

Que nos mata? As Posses!

41

Imortalidade

O homem vive na busca Ao longo dos séculos

Fazer sua vida Prolongar

Dos relatos a ficção

Na imaginação Nas pesquisas

Solução

Para uma vida eterna Vivida em mil anos Ou mais, debruça

Seus esforços

Na perpetuação Dos seus poucos dias

Aqui vividos Nessa terra

Esquece que a sua alma

É por natureza Divina e a mente

Sua é Eterna

Desde que encontre seus Caminhos e assim faça

As suas escolhas Comungando

Com as energias e leis

Do saber divino Da natureza E dos céus

Da ciência ao querer

Ser deus por um tempo Poder viver

Todos os erros

Novamente e de formas Outras, diferentes, Mas que nos levam

Ao lugar

De sempre, sempre ao Mesmo ponto de onde

Um dia partimos: Novamente

Mortais

42

Os sóis do futuro

Quando os sóis se põem Eu me pergunto: Que do meu amor

Restará?

Alguma fabulosa História ou canção?

Alguma coisa A aprender?

Irá me engajar

Em alguma luta Que valha a pena

O sofrer?

Irá me despojar Do escudo e espada

Das estratégias E da lança?

Aquelas de outrora Usadas nas minhas

Sutis e internas Batalhas

Que sempre colocava

Para fora e agora Eu mais duvido Da sua prática

Quando os sóis fenecerem

No morno horizonte Ao fogo pálido

Das paixões

Não me restará muito Dos amores passados

Nem dos valores Dormecidos

Pela sua inconstante

Inutilidade Nos novos tempos

Pensamentos

Que então sugere os novos Conceitos e visões

Sobre o amor Libertista Liberto

43

Pêras

Em meio a uma colheita Plantação qualquer

Caiu uma pêra Bem madura

Esfolou a tênue pele

Vi ao olhar para baixo Desci a escada Bem Perplexo

Então me abaixei para

Pegá-la e assim Vi suas sementes

Bem Expostas

Úmidas e mais viscosas Embebidas em mel

Fragilizadas E sensíveis

Olhei a volta e não vi

O Pé de Pereira De nenhum fruto

E de nada

A pêra em minhas mãos E nada havia a volta

De onde veio? Para quê?

E suas mil sementes Começaram a brotar Em meio ao pasto

Minha mão

Os brotos exasperaram Uma cor tênue verde

Pequenas folhas Fina seda

Exalou um odor Pálido de novo,

De virgem plástico E pomposo

Lembranças que vieram

Da complexidade Vida que surge

De um nada Qualquer

44

Olhos

Olhos janelas da alma Olhos de Emoção

Índole calma Coração

Vento sopra o refrão

Olhos de cadáver Absorve hão Meu ferrão

A brisa bate louca

Olhos ribeirão Corre o rio solto

Solteirão

Olhos me dizem tudo Olhos canastrão São muito falsos

Enganam não

E o tempo corre solto Olho o meu relógio

Daqui a pouco Vem o presságio

De que meus ditos olhos

Estão vendo tudo Alhos e bugalhos Todo o mundo

Olhos não me separam

Essa confusão Uma mistura

É alusão

Olhos muito precisos São muito famintos

Eles vasculham Os detalhes

Eu preciso dos meus olhos

Para que bem saiba Trilhar caminhos

Dos sentidos

Para ver o meu mundo E usar os do espírito

Entender a fundo Ser humano

Sua alma

45

Centros

O calor dos centros Sapatos no chão

Que marcam passos Pelas ruas

As mulheres entoam Nos centros urbanos

Um belo bailar De cabelos

Os homens trafegam

Impõem gravatas Em ternos pretos

Azul, cinza

As Pessoas marchando De encontro ao trabalho

Com suas pastas E laptop

As bancas de jornais Represam as pessoas

Meio às calçadas As notícias

E são passos pra lá

E o calor entoa Bufos de alívio Goles d’água

E são passos pra cá

E o calor entoa Improvisados Gesto e abano

Em meio a um refresco

No corre-corre Do dia-à-dia

Eu me lembro

De vários compromissos Das horas que passam

E apresso o passo Como o outro

Pela Avenida Rio Branco

No Centro do Rio Como em qualquer

Centro urbano Do mundo

46

O Povo

Viver e tentar outra vez Tentando viver

Todas essas coisas Impossíveis

Do amor ao esplendor

E quebrando a cara Se levantando

Tentar

De novo e caindo Ainda de quatro Levanta e cai Novamente

Quer viver o impossível Entre mais uma queda

Não pára quieto E levanta

E ainda vive e chora

E olha pro céu Pede perdão

E levanta

As mãos ensangüentadas E escora no chão

E dá risada Coração

Dá dois passos e pára

E volta e tenta O impossível

De novo

Não reclama e não pára Não cansa, não geme

Tenta de novo Caminhar

Essa gente não cansa

É povo briguento Nasceu na terra Povo agreste

E se for perdigueiro

Povo bandoleiro Isso é mentira!

Brasileiro Não cansa

47

Órgãos

O seu pensar é plástico A sua inteligência

Sabedoria Sua voz clara

O seu olhar é pintado Embebeu de lágrimas

A tez escura Da tua face

Seu nariz é perene Alinhado ao queixo

E até quase ele Vai de encontro

Se sorriso encanto Dentes em dúzias Sagaz e Brilhantes

Da tua boca

Seu pescoço é esguio E guarda um perfume

Flor de sândalo Um encanto

Seu colo é soberano É completamente

Acolhedor Paz na mente

Seus seios são macios

De afagar a gente Lembro de coisas

De repente

A sua enxuta barriga Me leva a pensar Breve mergulho

Sem orgulho

Seu umbigo profundo Ensalivo-o todo

Uma piscina Língua envolto

E agora pra acabar É melhor deixar

Essa história Para o leitor

Findar

48

A Experiência

Toda a experiência Devia levar Praticidade Ao homem

E saldar suas rugas

Elasticidade Com as ações

Na vida

O viver guarnece A Sabedoria Fator flexível Nem sempre

Corações velhos são Sempre carregados De muitas imagens

Mas são duros

E puros, muitas vezes Também arredios Às coisas novas

Da vida

São resistentes aos novos Padrões e às matérias

Explicações As dinâmicas

Deste mundo atual

Sofreguidão E Nostalgia Do passado

Cheios de argumentos

Com muita razão Eles preservam

A visão

Do seu mundo passado Ainda presente Seus corações

E ainda

Demandam mais vivências Flexibilidade

Enquanto guardam O saber E o ser

49

Sentidos e lembranças

Não diga e não esconda Não grite e não cale

Não olhe e não Fique cega

Diga-me e não mendigue

Meu verbo e refrão Para o prazer

Coração

Minhas sutis palavras Não grite e não cale

Para o prazer Emoção

Não me peça lembranças

Que não quero ver Brilhar em seus olhos

Não mendigue

Chega de tanta lástima De coisas passadas

Nosso passado Vale pouco

Então diga e esconda Meu verbo e refrão

Para o prazer E tensão

O passado já foi

Meu amor, não grite Não olhe e deixe

Correr solto

Não lembre e não reviva As coisas usadas

Feneceram Desgaste

Peça apenas lembranças

Do que valeu a pena Do que ficou Aprendizado

Memórias são facetas Para o bem e pro mal

Você decide O sentido

Real

50

Frenesi não é amor

O amor é feito pote Infinito não é O seu varia

Com a forma

Se insiste em nos dizer Que o amor é fogo Chama que pulsa

Não entendes

Que não é seu amor puro Idealização

Sua, seu amor: Não o meu

Se é amor o que ti prega Por que não me entende?

Acha que pode Resumir

As coisas aos seus conceitos Se é amor, então não cobre

E não me peça “Por favor”

Não se define: sente-se

E não se descobre Fato é que sabe-se

Aqui dentro

Quando bate mais forte O meu coração O seu, o nosso Tudo o mais

O amor ordena sem Mandar, sem exigir

Conquista Sem prender

Faz sentido a ordem A mais pura súplica A sua chantagem

De emoções

O amor é mais confundido Com a pura vaidade

Com a possessão Frenesi

Da tua alma

51

Sombras nas paredes

Reflexos na parede São mares de sombras

Pretas e brancas E mais ondas

O vento bate nas árvores

Um caos natural Interpreso

Entre as folhas

Entre claros e escuros Sem forma nem céu

Surgem rabiscos Do vento

Balançam sutis folhas

Decanta o artífice A Natureza

Das imagens

Folhas ao sol e ao vento Tilintam na parede

Eu me lembro De imagens

Do meu inconsciente Do início, do útero

Minha visão É soturna

Sem forma nem céu: caos

Decanta os rabiscos Minha visão Meu artífice

O vento e a luz e o vórtice

Da sombra na parede Reflete um caos

Consciente

Construído na mente Muitos rabiscos Minha parede Com imagens

Tão sutis e naturais Que jamais deixo De olhar e pensar

Na origem Da vida