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PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 23ª REGIÃO 1ª VARA DO TRABALHO DE RONDONÓPOLIS ACP 0000407-51.2015.5.23.0022 AUTOR: MINISTERIO PUBLICO DO TRABALHO DE MATO GROSSO RÉU: ALL- AMERICA LATINA LOGISTICA MALHA NORTE S/A SENTENÇA 1. RELATÓRIO Trata-se de Ação Civil Pública proposta pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO em desfavor de ALL - AMÉRICA LATINA LOGÍSTICA MALHA NORTE S/A, qualificada na inicial, requerendo a condenação da Ré no cumprimento de obrigações de fazer, consistentes em: elaboração de PPRA e PCMSO com adequações necessárias; designar empregados para enlonar e desenlonar caminhões; promover limpeza de caminhões com ar comprimido; manutenção de instalações sanitárias higienizadas; disponibilização de água potável e copos individuais; manutenção de espaço adequado para aquecimento e consumo de refeições, manutenção de ouvidoria e cumprimento do prazo máximo legal de espera para carga e descarga de mercadorias. Requereu também a condenação da Ré em indenização pelos danos morais coletivos. A inicial veio acompanhada de documentos. Atribuiu à causa o valor de R$ 20.000.000,00. A Ré apresentou defesa alegando, em preliminar, incompetência da Justiça do Trabalho; ilegitimidade ativa; impossibilidade jurídica do pedido; inépcia da inicial e perda do objeto da ação. No mérito, sustentou a improcedência da Ação, alegando que todas obrigações já foram satisfeitas. Contestou todos os pedidos e valores. Juntou documentos. Sobre a defesa e documentos manifestou-se o Autor a tempo e modo. Para instrução do processo foi realizada inspeção judicial com presença de todos os interessados (ID 16e482b). Juntado aos autos o auto de inspeção, não havendo acordo, foram as partes regularmente intimadas para manifestação. O Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transporte Terrestre de Rondonópolis e Região STTRR e o Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens do Estado de Mato Grosso - SINDICAM/MT, manifestaram interesse jurídico na causa, sendo admitida a intervenção no processo, na qualidade de assistentes do Autor (ID 157c3dd). A requerimento do Autor foi deferida medida liminar (ID 39c782e - Pág. 4) determinado à Ré o cumprimento de obrigações de fazer: cobertura com cascalho do pátio de apoio; manutenção de instalações sanitárias higienizadas em condições de uso; disponibilização e adequação de bebedouros com água potável; cumprimento do prazo legal para carga e descarga. Da decisão que deferiu a antecipação de tutela, a Ré apresentou Embargos de Declaração (ID 2116c80). Embargos julgados com esclarecimentos (ID 131b3f4). Contra a decisão que deferiu a antecipação de tutela, a Ré apresentou Mandado de Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: ADENIR ALVES DA SILVA CARRUESCO http://pje.trt23.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=16120211030159300000011131508 Número do documento: 16120211030159300000011131508 Num. 74fd023 - Pág. 1

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PODER JUDICIÁRIOJUSTIÇA DO TRABALHOTRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 23ª REGIÃO1ª VARA DO TRABALHO DE RONDONÓPOLISACP 0000407-51.2015.5.23.0022AUTOR: MINISTERIO PUBLICO DO TRABALHO DE MATO GROSSORÉU: ALL- AMERICA LATINA LOGISTICA MALHA NORTE S/A

SENTENÇA

 

1. RELATÓRIO

Trata-se de Ação Civil Pública proposta pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO emdesfavor de ALL - AMÉRICA LATINA LOGÍSTICA MALHA NORTE S/A, qualificada na inicial,requerendo a condenação da Ré no cumprimento de obrigações de fazer, consistentes em:elaboração de PPRA e PCMSO com adequações necessárias; designar empregados paraenlonar e desenlonar caminhões; promover limpeza de caminhões com ar comprimido;manutenção de instalações sanitárias higienizadas; disponibilização de água potável e coposindividuais; manutenção de espaço adequado para aquecimento e consumo de refeições,manutenção de ouvidoria e cumprimento do prazo máximo legal de espera para carga edescarga de mercadorias. Requereu também a condenação da Ré em indenização pelos danosmorais coletivos.

A inicial veio acompanhada de documentos.

Atribuiu à causa o valor de R$ 20.000.000,00.

A Ré apresentou defesa alegando, em preliminar, incompetência da Justiça do Trabalho;ilegitimidade ativa; impossibilidade jurídica do pedido; inépcia da inicial e perda do objeto daação. No mérito, sustentou a improcedência da Ação, alegando que todas obrigações já foramsatisfeitas. Contestou todos os pedidos e valores. Juntou documentos.

Sobre a defesa e documentos manifestou-se o Autor a tempo e modo.

Para instrução do processo foi realizada inspeção judicial com presença de todos osinteressados (ID 16e482b). Juntado aos autos o auto de inspeção, não havendo acordo, foramas partes regularmente intimadas para manifestação.

O Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transporte Terrestre de Rondonópolis eRegião STTRR e o Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens do Estadode Mato Grosso - SINDICAM/MT, manifestaram interesse jurídico na causa, sendo admitida aintervenção no processo, na qualidade de assistentes do Autor (ID 157c3dd).

A requerimento do Autor foi deferida medida liminar (ID 39c782e - Pág. 4) determinado à Ré ocumprimento de obrigações de fazer: cobertura com cascalho do pátio de apoio; manutençãode instalações sanitárias higienizadas em condições de uso; disponibilização e adequação debebedouros com água potável; cumprimento do prazo legal para carga e descarga.

Da decisão que deferiu a antecipação de tutela, a Ré apresentou Embargos de Declaração (ID2116c80). Embargos julgados com esclarecimentos (ID 131b3f4).

Contra a decisão que deferiu a antecipação de tutela, a Ré apresentou Mandado de

Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: ADENIR ALVES DA SILVA CARRUESCOhttp://pje.trt23.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=16120211030159300000011131508Número do documento: 16120211030159300000011131508 Num. 74fd023 - Pág. 1

Segurança, distribuído sob nº 0000087-33.2016.5.23.0000, o qual teve a liminar indeferida peloTRT (ID 842343f - Pág. 1).

Foi determinada exclusão do Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bensdo Estado de Mato Grosso da lide, em razão de inércia processual.

Da decisão proferida no Mandado de Segurança, a Ré apresentou Correição Parcial, a qual foiacolhida em decisão proferida pelo TST (Proc. PROCESSO N°TST-CorPar-11053-94.2016.5.00.0000), suspendendo os efeitos da antecipação de tutela noque se refere à obrigação de cumprir o limite de tempo para carga e descarga de caminhões(ID 7f3a575).

Em audiência de instrução, foram ouvidas duas testemunhas e determinada a realização deperícia técnica.

Realizada a perícia, veio aos autos o laudo correspondente, com regular manifestação daspartes.

Sem outras provas, encerrou-se a instrução processual.

Razões finais foram aduzidas.

Infrutíferas as tentativas conciliatórias.

Esse é o relatório.

 

2. FUNDAMENTAÇÃO

2.1 - PRELIMINARES

2.1.1 - INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO

Alegou a defesa que os pedidos formulados pelo MPT interferem em diferentes relações denatureza comercial, cuja competência para o enfrentamento cabe à Justiça Comum; que aresponsabilidade pela observância das NR's não é imposta pela lei ao embarcador; que opedido relacionado ao limite de cinco horas para a efetivação da carga e descarga demercadorias no terminal nem mesmo possui relação com o meio ambiente de trabalho dosmotoristas.

Passo à análise da preliminar.

Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar as lides decorrentes da relação de trabalho,nos termos do artigo 114 da Constituição Federal.

Concordo que a Justiça do Trabalho não tem competência para processar e julgar as relaçõesentre empresas, tampouco entre empresa e trabalhador autônomo. Entretanto, é importanteressaltar que dentro da área de operação do Terminal da Ré atuam dois grupos detrabalhadores: a) os trabalhadores empregados que prestam serviços para a Ré(empregados diretos e terceirizados); b) os trabalhadores que não prestam serviços

(empregados de transportadoras, empregados dediretamente ou indiretamente para Réembarcadoras e motoristas autônomos).

A Justiça do Trabalho não tem competência para processar e julgar litígios entre a Ré e o

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segundo grupo de trabalhadores acima especificado. Entretanto, em se tratando de discussãosobre o meio ambiente laboral, onde todos, empregados e não empregados, se utilizamindistintamente das mesmas instalações, a competência é da Justiça do Trabalho.

Se a discussão envolve meio ambiente de trabalho, questões de saúde e higiene, acompetência é desta especializada. Nesse sentido colho da jurisprudência pátria atualizada:

 

RECURSO ORDINÁRIO EM AÇÃO RESCISÓRIA. ART. 485, V, DO CPC. AÇÃO CIVILPÚBLICA. MEDICINA E SEGURANÇA DO TRABALHO. MOTORISTA AUTÔNOMO.COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. AUSÊNCIA DE ELEMENTO QUE APONTEPARA RELAÇÃO CONSUMERISTA ENTRE TOMADOR DE SERVIÇO ETRABALHADORES. Para fins de fixação da competência desta Justiça Especializada,interessa que a controvérsia, delineada no pedido e causa de pedir, guarde pertinência como trabalho humano. A exceção a tal regra foi firmada pelo STF que, extraiu do art. 114, I, daConstituição Federal a impossibilidade da Justiça do Trabalho decidir sobre relações entreservidores e o Poder Público, o que não é o caso (ADI 3395). Registre-se, ademais, quenão se verifica, no caso vertente, relação entre cliente e profissional autônomo, que coloqueo primeiro em desvantagem contratual, técnica e econômica capaz de invocar, a seu favor,a proteção do Código de Defesa do Consumidor. Recurso ordinário conhecido e desprovido(TST-RO-327-27.2013.5.23.0000, SBDI-II, rel. Min. Alberto Luiz Bresciani de FontanPereira, 2.8.2016).

 

Nota-se que o julgado acima transcrito cuida exatamente da mesma situação discutida nesseprocesso, inclusive envolvendo a mesma empresa.

Como regra geral, para segurança jurídica e celeridade processual, os juízes devem observar ajurisprudência dos tribunais aos quais estão vinculados (artigo 926 e seguintes do CPC/2015).Também, nos termos do artigo 505 do CPC/2015, nenhum juiz decidirá novamente as questõesjá decididas relativas à mesma lide. É certo que estamos a tratar de outro processo, mas a lideé exatamente a mesma já decidida no processo mencionado (TST-RO-327-27.2013.5.23.0000,SBDI-II), em que figuram as mesmas partes, com o mesmo objeto (proteção do meio ambientede trabalho), mudando apenas a localidade do estabelecimento.

Assim, a discussão sobre as condições de saúde, higiene, conforto e segurança no ambientelaboral, atrai a competência da Justiça do Trabalho.

Por outro lado, em que pese os judiciosos argumentos apresentados pelo Ministério Público doTrabalho, que demonstram a relevância das questões apresentadas e a fundada preocupaçãocom os impactos sociais, econômicos e ambientais decorrentes das atividades do terminalferroviário operado pela Ré em Rondonópolis, certo é que a Justiça do Trabalho não detémcompetência para analisar parte dos pedidos deduzidos na Inicial, em especial os direitos einteresses dos motoristas profissionais autônomos, de transportador pessoa jurídica ou deempresas embarcadoras.

Cabe referir, desde logo, que a Ré não mantém relação de emprego ou relação de trabalho emsentido amplo com usuários do terminal ferroviário, sejam eles autônomos, empregados detransportadoras ou empregados de embarcadoras.

A relação que existe entre os usuários do terminal ferroviário e a Ré é semelhante às relações: taxista autônomos X terminal de aeroportos, motorista de ônibus X terminal rodoviárioou, ainda, entre o . O operador do terminal nãocaminhoneiro autônomo X terminal portuáriomantém relação de trabalho com os usuários da estação ferroviária.

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O deslocamento da competência para a Justiça do Trabalho somente se verifica quandoafetados direitos protegidos pela legislação trabalhista e desde que decorrentes da relação de

(art. 114 da CF/88). As demais causas integram a competência residual da JustiçatrabalhoComum.

Portanto, não compete a esta Especializada processar e julgar os litígios decorrentes deobrigações assumidas pela Ré em virtude do contrato de concessão, das exigências daLicença Ambiental ou de contratos firmados com transportador e embarcador, em benefício

, ou seja, obrigaçõesexclusivo dos usuários da estação ferroviária e da comunidade em geralnão relacionadas a direitos trabalhistas.

Nesse sentido, no que concerne à obrigação descrita como "CUMPRIR O LIMITE DE 5(CINCO) HORAS PARA A EFETIVAÇÃO DA CARGA OU DESCARGA DE MERCADORIASNO TERMINAL FERROVIÁRIO INTERMODAL DE RONDONÓPOLIS/MT", entendo que falececompetência a esta Justiça Especializada. Vejamos.

A atividade principal do terminal de cargas (objeto social), conforme estatuto juntado aos autosconsiste:

 

a) prestar serviços de transporte de cargas através dos modais ferroviário e rodoviário,dentre outros, isoladamente ou combinados entre si de forma intermodal ou multimodal,inclusive atuando como operador de transporte multimodal - OTM;

b) explorar atividades relacionadas direta ou indiretamente aos serviços de transportemencionados na alínea anterior, tais como planejamento logístico, carga, descarga,transbordo, movimentação e armazenagem de mercadorias e contêineres, operaçãoportuária, exploração e administração de entrepostos de armazenagem, armazéns gerais eentrepostos aduaneiros do interior.

C) (...)

 

Como se sabe, o terminal funciona da seguinte forma: as transportadoras ou motoristasautônomos transportam as mercadorias, geralmente do produtor, até as chamadas (astradingsprincipais da região, mencionadas no processo, são: BUNGE, ADM, Cargil, Fertilizantes,Heringer, Galvani, CHS, AMAGGI, Andalli, Ceagro, Louis Dreyfus, Noble, Nidera, CEAGRO,CGG, Seara, Ipiranga; Raizen; Brado e Ciapetro).

Estas , empresas habilitadas para realizar a aquisição, em condições especiais, detradingsmercadorias com o fim de exportação (Decreto nº 1.248/72), são as responsáveis por todos osaspectos comerciais da operação, inclusive contratação do frete e riscos operacionais (perdase danos gerados por causas externas, como acidentes, avarias e roubo, inclusive durante apermanência da carga em aeroportos ou zonas portuárias e diversas outras opções deproteção por prazos específicos).

Na prática as operam tanto no mercado externo quanto no interno.tradings

Assim, a responsável pelo agendamento dos carregamentos/descarga junto ao terminal da Réé a . A relação entre a Empresa de Transporte Rodoviário de Cargas (ETC) ou motoristatradingautônomo (TAC) com o embarcador ( ) não se insere na definição de relação de trabalhotradingde que cuida o artigo 114 da Constituição Federal. Também, por óbvio, não se insere nadefinição de relação de trabalho o vínculo entre os Embarcadores ( ) e a Ré (Terminal).tradings

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Conforme registrado na decisão proferida pelo Ministro Renato de Lacerda Paiva (Proc. N°TST-CorPar-11053-94.2016.5.00.0000 - Id. 7f3a575 - Págs. 4-8), a obrigação em questão estáprevista no artigo 11, § 5º, da Lei 11.442/2007 que dispõe:

 

Art. 11. O transportador informará ao expedidor ou ao destinatário, quando não pactuadono contrato ou conhecimento de transporte, o prazo previsto para a entrega da mercadoria.

§ 1o O transportador obriga-se a comunicar ao expedidor ou ao destinatário, em(sem destaque no original).tempo hábil, a chegada da carga ao destino

§ 2o A carga ficará à disposição do interessado, após a comunicação de que trata o § 1odeste artigo, pelo prazo de 30 (trinta) dias, se outra condição não for pactuada.

§ 3o Findo o prazo previsto no § 2o deste artigo, não sendo retirada, a carga seráconsiderada abandonada.

§ 4o No caso de bem perecível ou produto perigoso, o prazo de que trata o § 2o desteartigo poderá ser reduzido, conforme a natureza da mercadoria, devendo o transportadorinformar o fato ao expedidor e ao destinatário.

§ 5o O prazo máximo para carga e descarga do Veículo de Transporte Rodoviário deCargas será de 5 (cinco) horas, contadas da chegada do veículo ao endereço de destino,após o qual será devido ao Transportador Autônomo de Carga - TAC ou à ETC a

(um real e trinta e oito centavos) por tonelada/hora ouimportância equivalente a R$ 1,38fração (sem destaque no original).

 

Pela disposição legal transcrita, compete ao transportador comunicar, com antecedência, achegada da carga ao destinatário e a este compete agendar as chegadas. A relação é denatureza nitidamente comercial entre transportadores e destinatários da carga. O direito daídecorrente, em caso de excesso de prazo, beneficia o transportador (ETC ou TAC). Não setrata de direito do empregado.

Frise-se que o mesmo diploma legal acima citado cuida de esclarecer anatureza da relaçãodecorrente do contrato de transporte, bem como a para processar e julgar oscompetêncialitígios daí decorrentes, dispondo:

 

Art. 5o As relações decorrentes do contrato de transporte de cargas de que trata o art. 4odesta Lei são sempre de natureza comercial, não ensejando, em nenhuma hipótese, acaracterização de vínculo de emprego.

Parágrafo único. Compete à Justiça Comum o julgamento de ações oriundas dos contratosde transporte de cargas.

 

Note-se que a questão do agendamento foi tratada pelo Ministério Público Federal diretamentecom as e a Ré (ID b1bee1f - Págs. 1-2), sendo certo que a Ré se prontificou,tradignsindependente de obstáculos criados pelas , ela própria firmar o TAC com o MPF. Atradignsatuação do Ministério Público Federal, bem reflete a ausência de causa trabalhista (meioambiente laboral - condições de higiene, segurança e saúde dos empregados).

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Repito. A remuneração pelo excesso de prazo no carregamento ou descarregamento (art. 11, §5º, da Lei 11.442/2007) é parcela de natureza nitidamente indenizatória, para compensar danomaterial (lucros cessantes), pelo período em que o veículo permanece parado.

No particular, compete à Justiça do Trabalho apenas dirimir questões sobre o meio ambientelaboral, ou seja, a garantia da infraestrutura do terminal de forma a assegurar as condições desaúde e higiene aos trabalhadores no local, mas não lhe compete disciplinar as típicas relaçõescomerciais alheias aos empregados da Ré.

Em face do exposto, afasto a alegada incompetência material em relação aos pedidos contidosna inicial, "CUMPRIR O LIMITE DE 5 (CINCO) HORAS PARA Aexceto quanto ao pedido deEFETIVAÇÃO DA CARGA OU DESCARGA DE MERCADORIAS NO TERMINALFERROVIÁRIO INTERMODAL DE RONDONÓPOLIS/MT", reconhecendo a incompetênciadesta especializada em relação a esta discussão.

Julgo extinto, sem resolução do mérito, o pedido para que a Ré cumpra o limite de 5 (cinco)horas para a efetivação da carga ou descarga de mercadorias no terminal ferroviário intermodalde Rondonópolis/MT, nos termos do artigo 485, X, do CPC.

 

2.1.2 - ILEGITIMIDADE ATIVA

A defesa alegou ilegitimidade, sustentando que o Autor não é parte legítima para figurar no poloativo da presente ação civil pública, porque não preenchidos os requisitos exigidos pelo artigo1º, IV, Lei Federal 7.347/1985, haja vista a heterogeneidade da situação.

Preliminar impugnada.

A legitimação extraordinária do Ministério Público está prevista na Constituição Federal, noartigo 127, , e 129, inciso III, dispondo que incumbe ao Ministério Público caput a defesa da

e queordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveisé sua função institucional promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do

.patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos

Assim, o Ministério Público do Trabalho tem legitimidade para propor Ação Civil Pública noâmbito da Justiça do Trabalho, para defesa de interesses coletivos decorrentes das relações detrabalho (artigo 83, incisos I e III, da Lei Complementar n.º 75/93).

A ação civil pública, regulamentada pela Lei 7.347/85, tem por finalidade tutelar os direitos einteresses metaindividuais (difusos, coletivos e individuais homogêneos).stricto sensu

O Autor realmente não teria legitimidade se o objeto da ação fosse a defesa de interessesindividuais heterogêneos.

A tutela da segurança dos trabalhadores regidos pela legislação trabalhista deve ser exercidapelo Ministério Público do Trabalho, enquanto a tutela dos usuários dos serviços públicos deveser exercida, conforme o caso, pelo Ministério Público Federal ou Estadual.

Entretanto, a presente ação visa a imposição de obrigações e responsabilidade por danosmorais (prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais), todas relativas ao meio

, cujos beneficiários não podem ser individualmente determinados. Portanto, oambiente laboralAutor busca nesta ação a tutela de direitos de todos que laboram nas dependências da Ré, ou

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seja, todos que utilizam o mesmo ambiente laboral, sejam eles empregados do terminal,terceirizados ou motoristas. Trata-se de interesses ou direitos transindividuais, de naturezaindivisível (Lei nº 8.078/1990), atraindo a legitimidade do Ministério Público do Trabalho.

Note-se que a legitimação do Ministério Público inclui a defesa, além dos direitos coletivos edifusos, também dos direitos individuais homogêneos.

Essa questão já foi reiteradas vezes decididas pelos tribunais pátrios, todos confirmando esteposicionamento ora sustentado, conforme julgado abaixo transcrito:

 

AGRAVO DE INSTRUMENTO INTERPOSTO PELA BRASIL TELECOM S.A.LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PARA PROPOSITURADE AÇÃO CIVIL PÚBLICA, VISANDO OBRIGAR AS RÉS A TOMAREM MEDIDASRELATIVAS À SAÚDE, SEGURANÇA E MEIO AMBIENTE DO TRABALHO. É sabido quea legitimidade ativa do Parquet, por ocasião do ajuizamento de ação civil pública, na buscada defesa de interesses individuais homogêneos, encontra fundamento na defesa dosinteresses sociais e individuais indisponíveis. Ademais, a legitimação extraordinária doMinistério Público está inserida na Constituição Federal, no artigo 129, inciso III, onde se lêque são funções institucionais do Ministério Público "promover o inquérito civil e a ação civilpública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outrosinteresses difusos e coletivos". A Lei Complementar nº 75/93, que regulamenta asatribuições do Ministério Público da União, trata especificamente das atribuições doMinistério Público do Trabalho , como se verifica do seu artigo 83, inciso III, que determinaa competência do órgão para propor "ação civil pública no âmbito da Justiçado Trabalho,para defesa de interesses coletivos, quando desrespeitados os direitos sociaisconstitucionalmente garantidos". Também o artigo 127 da Constituição Federal, dispõe que"o Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado,incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociaise individuais indisponíveis." A jurisprudência desta Corte também já se pacificou que oMinistério Público tem legitimidade para o ajuizamento de ação civil pública , inclusive paraa defesa de interesses individuais homogêneos. (...). LEGITIMIDADE ATIVA DOMINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PARA PROPOSITURA DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA, VISANDO OBRIGAR AS RÉS A OBSERVAREM MEDIDAS RELATIVAS À SAÚDE,SEGURANÇA E MEIO AMBIENTE DO TRABALHO. É sabido que a legitimidade ativa doParquet, por ocasião do ajuizamento de ação civil pública, na busca da defesa deinteresses individuais homogêneos, encontra fundamento na defesa dos interesses sociaise individuais indisponíveis. Ademais, a legitimação extraordinária do Ministério Público estáinserida na Constituição Federal, no artigo 129, inciso III, onde se lê que são funçõesinstitucionais do Ministério Público "promover o inquérito civil e a ação civil pública, para aproteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos ecoletivos". A Lei Complementar nº 75/93, que regulamenta as atribuições do MinistérioPúblico da União, trata especificamente das atribuições do Ministério Público do Trabalho ,como se verifica do seu artigo 83, inciso III, que determina a competência do órgão parapropor "ação civil pública no âmbito da Justiçado Trabalho, para defesa de interessescoletivos, quando desrespeitados os direitos sociais constitucionalmente garantidos".Também o artigo 127 da Constituição Federal, dispõe que "o Ministério Público é instituiçãopermanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordemjurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis." Ajurisprudência desta Corte também já se pacificou que o Ministério Público tem legitimidadepara o ajuizamento de ação civil pública, inclusive para a defesa de interesses individuaishomogêneos. Precedentes. No caso, os pedidos formulados pelo Parquet - adoção demedidas de proteção à saúde e meio ambiente do trabalho (exposição à energia elétrica) eindenização das rés ao pagamento de indenização por dano moral - se inserem nos

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interesses tutelados pelo Ministério Público do Trabalho. Recurso de revista não conhecido(...). (TST - ARR: 794008120095230002, Relator: José Roberto Freire Pimenta, Data deJulgamento: 05/08/2015, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT 14/08/2015).

 

Com estes argumentos afasto a preliminar de ilegitimidade ativa arguida pela defesa.

 

2.1.3 - IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO

A Ré alegou impossibilidade jurídica sob vários fundamentos: a) Inexistência da relação deemprego a atrair aplicação da norma regulamentadora do MTE; b) Pretensão contrária à lei,condicionada, genérica e dirigida ao futuro. Artigos 293 e 460, do CPC e artigo 5º, II, daconstituição. OJ nº 144, da SDIII, do C. TST; c) Pedido que repete o texto da lei; d)Descabimento de ação civil pública; e) obrigação que depende de autorização do IBAMA.

Razão não assiste à defesa.

De acordo com as novas disposições do CPC/2015 (Lei nº 13.105/2015), a impossibilidadejurídica do pedido deixou de ser condição da ação.

Portanto, em se tratando de pedido não previsto no ordenamento jurídico ou pedido vedadopelo ordenamento jurídico, a questão passa a ensejar decisão de mérito. A antigaimpossibilidade jurídica do pedido resolve-se com resolução do mérito, pela improcedência.

Registro que, pelas regras de direito intertemporal, o novo CPC/2015 tem aplicação imediata,alcançando tanto os processos novos, como os pendentes ao tempo do início da vigência donovo Código (artigo 1.046). Assim, tratando-se de ato processual (sentença) praticado sob aregência do novo código, a este deve obedecer.

Rejeito a preliminar arguida.

 

2.1.4 - INÉPCIA DA INICIAL

Sustentou a Ré que em relação ao pedido de "Cumprir o limite de 5 (cinco) horas para aefetivação da carga ou descarga de mercadorias no terminal ferroviário intermodal deRondonópolis/MT, contadas da chegada do veículo ao endereço de destino, sob pena depagamento de R$ 1,00 (um real) por tonelada, para cada hora excedida, nos termos do § 5º do

", a inicial não apresenta causa do pedir e é ininteligível.art.11 da Lei n° 11.442/2007

Com relação a esse pedido em particular já foi reconhecida a incompetência da Justiça doTrabalho, ficando prejudicada a análise da preliminar de inépcia.

A Ré também afirmou que, em relação à pretensão de compeli-la a "Pavimentar com asfaltotodos os pátios do terminal intermodal de Rondonópolis, tanto os atuais quanto os futuros,

", não apresentou causa de pedir, nem esclareceu quais os agentesincluindo o pátio de apoiode poeira danosos ou os níveis de poeira aceitáveis.

Neste aspecto, também não assiste razão à Ré.

Na inicial o Autor informou que é necessária a pavimentação do pátio porque, como está, há "muita poeira, em evidente prejuízo à saúde dos trabalhadores. Embora a empresa alegue que

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se trata de um pátio provisório, atualmente movimenta muitos caminhões por dia, e osmotoristas não devem permanecer expostos a tanta poeira, até ser inaugurado o novo pátio

".pavimentado

A prejudicialidade ou não dos níveis de poeira é questão afeta ao mérito da demanda.

Ainda que se tratasse de pedido de adicional de insalubridade, o que não é o caso, não seexigiria da inicial a indicação precisa do agente insalubre ou da medição do quantitativo depoeira respirável. Ademais, os níveis de tolerância estão inseridos em normas de ordempública, não dependendo de indicação pela parte.

Preliminar afastada.

 

2.1.5 - PERDA DO OBJETO DA AÇÃO - EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DOMÉRITO

A Ré alegou preliminar de perda do objeto da ação, sustentando que, a despeito de inexistirimposição legal para cumprir os pedidos pleiteados na exordial, de simples análise da anexadocumentação depreende-se que a reclamada, por mera liberalidade, já cumpriu e vemcumprindo todas as obrigações pretendidas pelo Autor.

A exigência do cumprimento de obrigação já satisfeita antes do ajuizamento da ação resulta emimprocedência do pedido e não na sua extinção sem resolução do mérito por perda de objeto.

Quando o cumprimento da obrigação de fazer se dá no curso da lide, realmente há perdasuperveniente do objeto ação, ou seja, a parte, mesmo não reconhecendo a procedência dopedido, demonstra o cumprimento da obrigação na forma requerida.

No caso dos autos é controvertido o cumprimento das obrigações elencadas na inicial, exceto.quanto à questão da pavimentação do pátio de apoio

Assim, ressalvada a exceção destacada, a solução da questão, em relação aos demaispedidos, depende da análise mais detida da prova produzida, razão pela qual remeto ao tópicopróprio, onde, pela praticidade (mais que pela técnica), será decidido sobre perda do objeto daação ou improcedência.

Por outro lado, com relação aos pedidos de obrigações de fazer a serem cumpridas no pátio deapoio (realizar a pavimentação, manter instalações sanitárias submetidas a processopermanente de higienização e que atendam ao mínimo de conforto e prover os lavatórios commaterial de limpeza, enxugo e secagem das mãos), verifico desde já que realmente houveperda superveniente do objeto da ação, pois a Ré firmou acordo com o Ministério PúblicoFederal e Ministério Público do Trabalho, interditando o local (ID Num. 8fa7f05), tornando-sedesnecessário o provimento jurisdicional.

Assim, julgo extintos, sem resolução do mérito, por falta de interesse de agir, os pedidos paraque a Ré seja compelida a pavimentar com asfalto o pátio de apoio; a manter instalaçõessanitárias submetidas a processo permanente de higienização e que atendam ao mínimo deconforto no pátio de apoio e a prover os lavatórios com material de limpeza, enxugo e secagemdas mãos no pátio de apoio, por falta de interesse de agir, nos termos do artigo 485, VI doCPC.

Em relação ao dano moral coletivo pelo período em que houve utilização do pátio de apoio semas devidas condições, a questão será apreciada no mérito.

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2.2 - MÉRITO

2.2.1 - DO PÁTIO DE APOIO PROVISÓRIO - ESTACIONAMENTO -INCIDÊNCIA DASNORMAS DE PROTEÇÃO PREVISTAS NA NR24

Registro inicialmente que não existe imposição legal para que o Terminal de Cargas construaou mantenha ponto de parada e descanso para motoristas profissionais em trânsito (nãoagendados).

A obrigação, observados os termos do contrato de concessão, é manter a infraestrutura daárea de operação do terminal em condições de segurança e higiene, incluindo pátios deestacionamento e de manobra, inclusive o espaço destinado aos veículos e respectivosmotoristas enquanto aguardam o descarregamento ou carregamento, desde que agendados deacordo com a capacidade de movimentação de cargas do Terminal.

Não há exigência legal para que o terminal ferroviário receba em suas instalações todos osmotoristas profissionais em trânsito, ainda que não agendados, independentemente de suacapacidade de operação fixada no contrato de concessão.

Essa exigência somente seria possível se prevista em contratos (contrato de concessão,contratos firmados com embarcador ou transportador, etc.), entretanto, no caso, os direitos daídecorrentes não estariam afetos à competência da Justiça do Trabalho, como amplamentedebatido em sede de preliminar desta decisão.

É certo que a Ré anunciou amplamente na imprensa (fato público e notório que independe deprova) a construção de infraestrutura moderna para atendimento dos usuários, clientes epúblico em geral, divulgando:

 

"O Complexo Intermodal de Rondonópolis (CIR), um empreendimento da ALL cominvestimentos de R$ 750 milhões, será o maior do Brasil. A obra ocupará 400 hectares e irádisponibilizar numa área de 230 mil metros quadrados um centro comercial, pátio paraestacionamento de caminhões e um posto de abastecimento. No Centro Comercial estáprevista a construção de um Shopping Center para atender tanto caminhoneiroscomo a população da região de Rondonópolis, além de contar com lojas comerciais ede serviços (bancos, farmácias, mercados, chaveiros, copiadoras), praça dealimentação, setor de serviços públicos e um hotel com 100 quartos. O posto deabastecimento comporta circulação de 1,5 mil caminhões/dia, oferecendo serviços deborracharia, oficina e conveniência. O pátio de estacionamento, com área de 162 milmetros quadrados, terá em sua operação uma pré-triagem dos caminhões parafacilitar entrada e saída de caminhões e de pessoas, além de possuir em suainfraestrutura, áreas de apoio para motoristas com banheiros equipados com áreas

.Com toda essa estrutura, o CIR irá gerar 3 mil vagasde banho e uma área de refeitóriode trabalho. A capacidade de carga será de 120 vagões em seis horas, com operaçõesindependentes de carga e descarga e um sistema duplo de carregamento ferroviário,permitindo o embarque simultâneo de dois trens com produtos diferentes. Os doisterminais, de Itiquira e Rondonópolis, deverão carregar até 15 milhões de toneladas por anoaté 2015. A previsão é que as obras sejam concluídas no segundo semestre de 2012"( f o n t e s :http://www.atribunamt.com.br/2013/04/ibama-adia-vistoria-para-licenca-de-operacao/;http://www.juaranet.com.br/mato-grosso/8113/Ibama-aprova-licenca-de-trilhos-ate-Rondonopolis/63;http://www.olhardireto.com.br/agro/noticias/exibir.asp?noticia=Terminal_em_Rondonopolis_deve_ser_inaugurado_em_abril&id=4502).

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Entretanto, a exigência desta infraestrutura, destinadas aos usuários, clientes e público emgeral, foge da competência da Justiça do Trabalho.

Não se nega aqui que o direito dos usuários do terminal à segurança e ao conforto éfundamental, tutelado pela Constituição Federal, submetido também às exigênciasinfraconstitucionais quanto à prestação do serviço público adequado e de qualidade. Contudo,na hipótese, não estamos a tratar de direitos trabalhistas.

Sobre os locais de espera e repouso a Lei do Motorista (Lei nº 13.103/2015) em seu art. 9º,assim dispõe:

 

Art. 9 As condições de segurança, sanitárias e de conforto nos locais de espera, deorepouso e de descanso dos motoristas profissionais de transporte rodoviário depassageiros e rodoviário de cargas terão que obedecer ao disposto em normasregulamentadoras pelo ente competente.

§ 1o É vedada a cobrança ao motorista ou ao seu empregador pelo uso ou permanênciaem locais de espera sob a responsabilidade de:

I - transportador, embarcador ou consignatário de cargas;

II - operador de terminais de cargas;

III - aduanas;

IV - portos marítimos, lacustres, fluviais e secos;

V - terminais ferroviários, hidroviários e aeroportuários.

§ 2o Os locais de repouso e descanso dos motoristas profissionais serão, entre outros, em:

I - estações rodoviárias;

II - pontos de parada e de apoio;

III - alojamentos, hotéis ou pousadas;

IV - refeitórios das empresas ou de terceiros;

V - postos de combustíveis.

§ 3o Será de livre iniciativa a implantação de locais de repouso e descanso de que trataeste artigo.

§ 4o A estrita observância às Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho eEmprego, no que se refere aos incisos II, III, IV e V do § 2o, será considerada apenasquando o local for de propriedade do transportador, do embarcador ou do

, bem como nos casos em que esses mantiverem com osconsignatário de cargasproprietários destes locais contratos que os obriguem a disponibilizar locais de espera erepouso aos motoristas profissionais.

 

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Como se vê, as condições de segurança, sanitárias e de conforto nos locais de espera, derepouso e de descanso dos motoristas profissionais, não são exigíveis do operador de

. A Lei diz expressamente que só estão obrigados o transportador, oterminais de cargasembarcador ou o consignatário de cargas, . Issoem relação aos locais de sua propriedadeporque os terminais são locais de operação de embarque/desembarque e não Ponto de Paradae Descanso do motorista.

Note-se que cada um dos intregantes da logística de transporte cumpre um papel específico. é aquele responsável pelo transporte da carga, ou seja, empresas deTransportador

transporte ou motoristas autônomos que possuem transporte a oferecer. (Embarcador tradings) é normalmente o dono das mercadorias (geralmente adquire mercadoria com o fim deexportação), é aquele que necessita do deslocamento do produto entre dois pontos da cadeiade suprimentos. é aquele que recebe as mercadorias, com aConsignatário de Cargasfinalidade de as distribuir para os destinatários.

Como dispõe a Lei nº 13.103/2015, os "locais de repouso e descanso dos motoristas" serão, entre outros, estações rodoviárias, alojamentos, hotéis ou pousadas,profissionais

refeitórios das empresas ou de terceiros, postos de combustíveis e, principalmente, pontos deparada e de apoio nas rodovias, a serem implementados pelo Poder Público.

Repito. Não é obrigação do Operador de Terminal manter "locais de repouso e descanso dos", especialmente em relação aos motoristas não agendados paramotoristas profissionais

carga/descarga, uma vez que é de a implantação de tais locais de repouso.livre iniciativa

Desse modo, as obrigações previstas na Portaria MTE 944/2015, referentes aos locais deespera, de repouso e de descanso dos motoristas profissionais de transporte rodoviário, de quecuida a Lei nº 13.103/2015, não se aplicam aos terminais, sejam eles aeroportos, estaçõesferroviárias, portuárias ou estabelecimentos congêneres.

Nos terminais podem existir instalações sanitárias destinadas ao ,uso do público em geralsubmetidas às normas gerais de proteção aos usuários/clientes (Código de Defesa doConsumidor, Código de Postura do Município, Código Sanitário do Estado, etc.), bem como asinstalações sanitárias destinadas ao .uso dos trabalhadores a serviço do próprio terminalSomente a estas instalações são aplicáveis as normas de Direito do Trabalho, em especial aNR 24 citada na inicial.

O litígio sobre direitos e interesses exclusivos do público em geral (usuários/clientes), regidospelo direito comum (código do consumidor, código de postura do município, plano diretor domunicípio, código sanitário etc.), alheios aos interesses próprios dos trabalhadores, escapa dacompetência da Justiça do Trabalho e da legitimidade do Ministério Público do Trabalho, comorepetidamente já dito nesta fundamentação.

Na espécie vertente, a Ré construiu um "estacionamento" (denominado pátio de apoio), com oobjetivo prevenir os congestionamentos causados pelas a filas de caminhões na BR 163, nasproximidades do terminal, bem como para prevenir os riscos de acidentes e demais transtornospara a população em geral. Aliás, este problema de congestionamento da Rodovia já havia sidoenfrentado em relação ao Terminal da Ré em Alto Araguaia, na BR 164, especialmente nosperíodos de escoamento da safra de grãos (fato público e notório na região).

Também, para tentar solucionar ou amenizar o problema, a Ré, com a participação doMinistério Público Federal, desenvolveu um sistema de agendamento prévio de atendimentoaos motoristas com emissão de senhas.

Foi nesse intuito que, como se observa dos termos da Licença de Operação nº 1203/2013c o n c e d i d a p e l o I B A M A ( d i s p o n í v e l e m

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http://www.antt.gov.br/index.php/content/view/48010/Acompanhamento_Ambiental_das_Concessoes_Ferroviarias.html#lista),foi estabelecida a obrigação de construir o referido estacionamento (que não se confunde com "

"). No particular, assim dispõe alocais de repouso e descanso dos motoristas profissionaisLicença:

 

2.9.4. Garantir que sejam disponibilizadas, no mínimo, 5.000 vagas de estacionamentopara caminhões até o final da implantação de todos os lotes do CIR, além de 544 vagasprevistas no Pátio de Triagem.

 

Assim, partir do momento em que o estacionamento foi agregado à infraestrutura do terminal,por força da Licença Ambiental, a Ré passou a ser responsável pela sua manutenção emcondições de segurança e higiene, porque integrante da área de operação e,consequentemente, do meio ambiente laboral.

Dentro da área de operação do terminal não há como separar instalações destinadas ao uso das instalações destinadas ao do pessoal a serviço do próprio terminal uso do público em

(motoristas autônomos e motoristas de transportadoras, esposas de motoristas,geralvisitantes, etc.).

Cumpre atentar para o fato de que os trabalhadores, a partir do momento em que ingressamárea de operação do terminal ferroviário, permanecem em estado de sujeição em relação ascondições de saúde, higiene, conforto e segurança, não importando se são motoristasautônomos, empregados de embarcador ou empregados de transportador.

Assim, toda a área de operação do terminal é considerada como ambiente laboral, sujeita àsnormas de proteção aos trabalhadores em geral, em especial a NR 24.

As condições de conforto, saúde e higiene devem estar aparelhadas em qualidade equantidade compatíveis com o fluxo de pessoas projetado para o Terminal.

No que tange à alegação da Ré de que dependeria de autorização dos órgãos de defesa domeio ambiente para melhorar as condições do estacionamento, o argumento não prospera,pois estando em risco a saúde, segurança e conforto dos trabalhadores, a medida seriapossível nos termos da Resolução CONAMA 349/2004, artigo 8º, exatamente como previsto naLicença de Operação nº 1203/2013.

Também é oportuno registrar, , queembora fora da esfera de competência desta Especializadanão se compreende a permanência de esposas de motoristas e menores na área de operaçãodo terminal. Até porque, diferente do profissional, esposas e menores não recebem EPI's outreinamentos de segurança. Trata-se de local de trabalho. Esposas, acompanhantes emenores, pela lógica, deveriam permanecer nos locais de repouso e descanso dos motoristasprofissionais, os quais são aparelhados para receber visitas, nos termos da Portaria MTE 944,e não dentro da área de operação do terminal. A incompetência do Poder Público paraimplementar locais de repouso não pode justificar esta prática irregular.

No período em que o pátio de apoio esteve em funcionamento no terminal, integrou a área deoperação da Ré, bem como o seu meio ambiente laboral, sujeito a todas as regras desegurança, higiene e de conforto. Até porque, considera-se área útil, a área total usada peloempreendimento, incluindo-se a área construída e a não construída, porém com utilização (porexemplo: pátio de estocagem, depósito, energia, garagem, curral, etc.), conforme definição daResolução CONSEMA Nº 85 DE 24/09/2014.

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É dever da Ré manter um ambiente de trabalho saudável e seguro a todos trabalhadores queatuam dentro da área do Terminal, sejam os trabalhadores empregados que prestam

(empregados diretos e terceirizados), sejam serviços para a Ré os trabalhadores que não (empregados deprestam serviços para Ré diretamente ou indiretamente para Ré

transportadoras, empregados de embarcadoras e motoristas autônomos), garantindo a todoscondições adequadas de segurança, higiene e conforto.

Assim, fica afastada também a tese da Ré de escusa de sua responsabilidade pelas obrigaçõespleiteadas nesta ação pela mera inexistência de relação de emprego com os motoristas.

A NR 24 regula as condições sanitárias e de conforto nos locais de trabalho e,consequentemente, é aplicável a toda área de operação do terminal (ambiente de trabalho) ede observância obrigatória pela Ré.

Repito que a Portaria MTE Nº 944 de 08.07.2015 só é aplicável aos pontos de parada edescanso e não ao terminal. O pátio de apoio era apenas uma infraestrutura complementaragregada ao terminal, mas não efetivamente um ponto de parada e descanso nos termos doartigo 9º da Lei nº 13.103/ 2015. Aplicável  à Ré é a NR 24.

Além disso, o direito a condições sanitárias adequadas é decorrência natural e corolário lógicodos preceitos relacionados à dignidade da pessoa humana, bem como do direito à saúde, comoprevisto no texto constitucional.

As efetivas condições de higiene, saúde e segurança do pátio de apoio, integrante da área deoperação da Ré (ambiente laboral regido pela NR24), durante o período em que esteve em

, bem como a questão do dano moral coletivo correspondente, serão apreciadasfuncionamentoem tópico próprio desta decisão, mais adiante.

 

2.2.2-DA TUTELA INIBITÓRIA

A tutela inibitória tem por fim impedir a prática, a continuação ou a repetição do ilícito.

O artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal prevê que a lei não excluirá da apreciação do, o que, por si só, já seria suficiente para possibilitarPoder Judiciário lesão ou ameaça a direito

a propositura de uma ação inibitória, sendo desnecessária qualquer previsãoinfraconstitucional. Entretanto, várias normas infraconstitucionais vêm sendo introduzidas,oportunizando a todos um direito positivado que possibilita uma tutela jurisdicional preventivaque iniba ilícitos, sem fazer alusão a quaisquer situações ou direitos específicos.

No plano coletivo, o artigo 84 do Código de Defesa do Consumidor sustenta a possibilidade datutela inibitória não só em proteção aos direitos do consumidor; ele abriga qualquer direitodifuso ou coletivo, isto porque o artigo 21 da Lei da Ação Civil Pública (Lei 7.347/85) dispõe quesão aplicáveis às ações nela fundada as disposições processuais do Título III do Código deDefesa do Consumidor.

Assim, é plenamente possível o ajuizamento de ação em que se requer o cumprimento deobrigação de fazer ou não fazer conforme exatamente previsto em texto legal, pois ainobservância da respectiva norma já configura um ilícito.

A tutela inibitória é uma tutela voltada para o futuro, pois está preocupada com os ilícitos aindaa serem praticados. Desse modo, o cumprimento da obrigação de fazer por parte da Ré nocurso do processo não resulta na perda superveniente do objeto caso a tutela requerida visetambém impedir a repetição do ilícito.

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O Autor ao formular pedidos como "Manter local adequado, fora da área de trabalho, para oconsumo de refeições" e "manter atualizado o Programa de Controle Médico e SaúdeOcupacional - PCMSO" claramente objetiva impedir também a repetição do ilícito, pois exigecondutas permanentes da empresa.

Já há outros pedidos relacionados a obrigações que se exaurem com o cumprimento damedida requerida, como a instalação das grades de proteção e elaboração do PCMSO.

Ainda sobre a tutela inibitória, ela lida com a probabilidade do ilícito; seus efeitos buscamprevenir o acontecimento de ilícitos futuros. Assim, temos como pressuposto para concessãoda tutela inibitória a ameaça da prática, continuação ou repetição do ilícito.

Esta ameaça não pode ser um simples temor subjetivo da parte em relação a uma possívelviolação de seu direito. O receio em acontecer um ato contrário ao seu direito não pode estarsomente no campo de sua imaginação; são necessários fatos concretos e objetivos que ajustifique. A ameaça deve ser real. Assim ensina ARENHART (2003, p. 254):

 

Na tutela inibitória genérica, pois, também se deve exigir que a parte que propõe ademanda possa apontar dados concretos, específicos e objetivos capazes de tornarplausível sua suposição de futura lesão. Deverá o autor indicar razoáveis elementos (aindaque indiciários) da ameaça efetiva de violação que seu direito está sofrendo. ARENHART,Sérgio Cruz. . 1. ed. São Paulo: Editora Revista dosPerfiz da tutela inibitória coletivaTribunais, 2003, p. 254.

 

Os fatos e dados concretos são imprescindíveis para a configuração da ameaça. Deve serdemonstrada a existência de atos preparatórios ou de indícios que resultem numaprobabilidade de que ocorrerá o ato lesivo ao direito temido pelo Autor.

A procedência dos pedidos também está relacionada à existência de pelo menos uma razoávelprobabilidade de ocorrer a repetição do ilícito, ou seja, do real temor da Ré voltar a violar osdireitos dos substituídos.

Passo a analisar a presença ou não dos requisitos autorizadores da concessão da tutelainibitória em relação a cada obrigação de fazer requerida.

 

2.2.3 - ELABORAR, IMPLEMENTAR E MANTER ATUALIZADO O PROGRAMA DEPREVENÇÃO DOS RISCOS AMBIENTAIS - PPRA e ELABORAR, IMPLEMENTAR EMANTER ATUALIZADO O PROGRAMA DE CONTROLE MÉDICO E SAÚDE, DE ACORDOCOM O QUE DISPÕE A NR Nº 07, APROVADA PELA PORTARIA OCUPACIONAL - PCMSO

O Autor, na inicial, alegou que a Ré é obrigada a observar as condições mínimas sanitárias ede conforto prescritas nas Normas Regulamentadoras do MTE, dentre elas: a elaboração eimplementação do PPRA e PCMSO. Alegou, ainda, que a Ré deveria fazer o controle emrelação à poeira.

A Ré, na defesa, afirmou que a referida documentação já havia sido elaborada, tendo juntadoaos autos o PPRA, PCMSO e LTCAT.

Analisando as datas do PPRA, PCMSO E LTCAT, verifico que foram elaborados em novembroAssinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: ADENIR ALVES DA SILVA CARRUESCOhttp://pje.trt23.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=16120211030159300000011131508Número do documento: 16120211030159300000011131508 Num. 74fd023 - Pág. 15

de 2014 (Id. df95c12 e seguintes), ou seja, antes do ajuizamento da ação e vigentes quandodistribuída a ação.

Inclusive, consta no LTCAT a medição da poeira (partículas respiráveis), tendo sidoencontrados resultados abaixo dos limites de tolerância constantes na NR -15 em algunssetores e em outros setores não foi detectada a presença de poeira.

Assim, considerando que as obrigações de elaboração, implementação e manutenção dosPPRA e PCMSO foram cumpridas pela Ré antes do ajuizamento da ação, não há que se falarem condenação nesse sentido.

Também não há qualquer indício de que a Ré não vem mantendo os programas atualizados ouque deixará de fazê-lo, até porque sofre constante fiscalização do Ministério do Trabalho. Nãose vislumbra real a ameaça da prática, continuação ou repetição de ilícito.

Julgo improcedentes os pedidos.

 

2.2.4 - PAVIMENTAR COM ASFALTO TODOS OS PÁTIOS DO TERMINAL INTERMODALDE RONDONÓPOLIS/MT, TANTO OS ATUAIS QUANTO OS FUTUROS, INCLUINDO OPÁTIO DE APOIO

O Autor alegou na inicial que foram realizadas diversas tratativas entre a Ré, os sindicatos, opróprio MPT e o MPF buscando a melhoria das condições ambientais e de logística no local.Sustentou que dentre os problemas detectados, foi verificada a necessidade de pavimentaçãodos pátios dos terminais. Relatou o MPT que o pátio externo não foi asfaltado, ocasionando a

. Destacou aindaformação de muita , em evidente prejuízo à saúde dos trabalhadorespoeiraque a colocação de brita apenas amenizou o problema, mas não eliminou a existência depoeira e que a expectativa de inauguração do novo pátio não garante a inutilização do pátiosem asfalto.

A Ré alegou na defesa que já concluiu o asfaltamento do pátio de classificação e que o pátio deapoio tinha caráter provisório; que a situação desse pátio era bem diferente do que foiverificado em abril/2014, pois teria aplicado cascalho sob o solo e vinha descarregando britas emolhando o terreno constantemente; que não há prova técnica que demonstre que o índice depoeira respirável estava acima dos limites de tolerância previsto na NR 15.

O relatório da inspeção realizada pelo MPT em setembro/2014 mostra claramente que ospátios de espera e classificação já estavam pavimentados, conforme Id. a193a9f - Págs. 5-6.

A obrigação em relação ao pátio de apoio foi extinta, sem resolução do mérito, por perda, conforme já decidido em preliminar.superveniente do objeto da ação

Quanto ao pátio interno, é incontroverso que este já estava pavimentado com asfalto antesmesmo do ajuizamento da ação.

Com relação ao pedido para que sejam pavimentados com asfalto os futuros pátios, entendoimpossível a determinação de tal medida.

Não é possível determinar que seja asfaltado qualquer pátio que seja eventualmente construídopela Ré sem ao menos ter conhecimento do local em que será construído, do fim a quedestinará ou sem mesmo um estudo profundo envolvendo aspectos técnicos de engenharia eimpactos ambientais.

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É verdade que consta dos autos a notícia de que já se está em construção um novo pátio, noentanto, este somente entrará em funcionamento quando estiver com todas as licençasexpedidas pelos órgãos competentes, além de ele não ter sido objeto específico desta ação,pois quando ajuizada não havia nem mesmo a perspectiva de sua construção.

Ademais, o E o sindicato assistente poderão acompanhar a construção desse novoparquetpátio e, conforme o caso e verificadas irregularidades e perigo de lesão, requerer as medidasespecíficas que entendam necessárias em outra ação.

Assim, julgo improcedente o pedido para que a Ré seja compelida a pavimentar com asfalto o.pátio interno e futuros pátios

Pertinente ao alegado dano moral coletivo, referente ao período em que o pátio de apoio esteveem atividade a questão será apreciada em tópico próprio.

 

2.2.5 - DISPONIBILIZAR EMPREGADOS TREINADOS ESPECIFICAMENTE PARAREALIZAR AS ATIVIDADES DE ENLONAR E DESENLONAR VEÍCULOS DE TRANSPORTERODOVIÁRIO DE CARGA

O Autor, na inicial, requereu que fossem disponibilizados empregados treinadosespecificamente para realizar as atividades de enlonar e desenlonar veículos de transporterodoviário de carga, visando garantir o cumprimento das normas de segurança no serviço decolocação e retirada de lonas nas caçambas dos caminhões.

A Ré, na defesa, aduziu que a obrigação já vem sendo cumprida.

Registro que, conforme fundamentos alhures apresentados, a competência da Justiça doTrabalho abrange as discussões sobre segurança e higiene no ambiente laboral. Oenlonamento e desenlonamento, por evolver trabalho em altura, está inserido em medidas desegurança no ambiente de trabalho.

Analisando os autos, verifico que a Ré firmou contrato de prestação de serviços com a empresaKi Barato Serviços e Comércio de Produtos e Cereais Ltda, em que consta como objeto docontrato a prestação dos serviços de limpeza de banheiros e loneiros, devendo utilizar-se de 24pessoas para desenlonar os caminhões (Id. eead496, pág. 13). O contrato de prestação deserviços teve início em 20/08/2014 (Id. eead496, pág. 1), antes mesmo do ajuizamento daação.

Além disso, no relatório de inspeção elaborado pelo MPT na data de 12/09/2014 (Id. 1ffe0b2 eseguinte), consta que havia duas pessoas fazendo o trabalho de enlonamento e que omotorista apenas fazia o serviço de prender a lona nos ganchos.

Ademais, na inspeção judicial realizada em 21/08/2015, ficou constatado que a tarefa deenlonar e desenlonar o veículo é realizada pelo pessoal do quadro da ALL e que não hánecessidade de o motorista subir na carga para soltar as lonas.

A testemunha da Ré também disse, em seu depoimento, que o trabalho de enlonamento edesenlonamento é feito por uma empresa terceirizada, o que é corroborado pelo contrato deprestação de serviços juntado aos autos.

A testemunha da parte autora nada esclareceu sobre a questão.

Por fim, o perito técnico, no laudo pericial, também, afirmou que a Ré disponibiliza no setor de

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classificação funcionários treinados para executar as atividades de desenlonar e enlonar oscaminhões que adentram no setor e que os motoristas entrevistados durante a períciainformaram que possuem uma vareta de manobra com a qual puxam a borracha que prende alona na carroceria do veículo e que em algum local precisam subir na altura do tanque parafazer esse procedimento, sendo essa a única atividade realizada por eles (Id. f7bce28, pág.10).

Assim, ante o exposto, considero que a Ré vem cumprindo a obrigação de disponibilizarfuncionários para enlonar e desenlonar os caminhões, não havendo que se falar emcondenação nesse sentido.

Não se vislumbra real a ameaça de que a Ré pare de disponibilizar tais funcionários já que aatividade é necessária para descarregamento das carretas.

Julgo improcedente o pedido.

 

2.2.6 - GARANTIR A LIMPEZA DOS CAMINHÕES, MEDIANTE JATOS DE ARCOMPRIMIDO, INSTALADOS NA SAÍDA DO COMPLEXO INTERMODAL FERROVIÁRIO DERONDONÓPOLIS/MT

O Autor, na inicial, requereu que fosse garantida a limpeza dos caminhões por meio de jatos dear comprimido instalados na saída do terminal ferroviário.

A Ré, na defesa, aduziu que por liberalidade contratou empresa especializada na limpeza comjato de ar para limpar os caminhões na saída do terminal. Assim, afirmou que a obrigação jávem sendo cumprida.

Analisando os autos, verifico que no relatório de inspeção elaborado pelo MPT na data de12/09/2014 (Id. 1ffe0b2 e seguinte), consta que havia a presença de trabalhadores fazendo ahigienização dos caminhões, com auxílio de pistolas de ar comprimido, embora tenha constadoque não havia como afirmar a frequência dessa atividade.

Na inspeção judicial realizada em 21/08/2015 (Id. 16e482b), ficou constatada a existência dejato de ar comprimido para a limpeza dos veículos após a descarga.

A testemunha da Ré também disse, em seu depoimento, que na saída do tombador existemoperadores do terminal que fazem a limpeza do veículo com ar comprimido.

A testemunha da parte autora nada esclareceu sobre a questão.

Por fim, o perito técnico disse que o tombador possui 7 boxes e em cada um deles há umamangueira de ar comprimido que é utilizada para bater o ar nos pneus dos caminhões. Afirmou,ainda, que em cada box trabalha um operador de equipamento instalado e um ajudante, sendoque esses profissionais são suficientes para atender a demanda. Em que pese o perito ter ditoque nem sempre é batido o ar comprimido nas rodas e estruturas dos caminhões, verifico que aempresa disponibiliza o equipamento e os funcionários, sendo uma opção do motorista realizarou não a limpeza do caminhão.

Ante o exposto, independentemente de haver ou não imposição legal ou contratual, consideroque a Ré vem cumprindo a obrigação exigida pelo Autor, de garantir a limpeza dos caminhõespor meio de jatos de ar comprimido instalados na saída do terminal ferroviário, não havendoque se falar em condenação nesse sentido. Mais uma vez, não se vislumbra real a ameaça daprática, continuação ou repetição de ilícito.

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Julgo improcedente o pedido.

 

2.2.7 - INSTALAR GRADES DE PROTEÇÃO NO ENTORNO DA CALÇADA SITUADA AOLONGO DO PERCURSO ENTRE O REFEITÓRIO E AS INSTALAÇÕES SANITÁRIAS

O Autor, na inicial, requereu a instalação de grades de proteção no entorno da calçada situadaao longo do percurso entre o refeitório e as instalações sanitárias.

A Ré, na defesa, aduziu que por liberalidade instalou a grade de proteção nos termosrequeridos na inicial. Juntou fotos da grade de proteção instalada.

Analisando os autos, verifico que no relatório de inspeção elaborado pelo MPT na data de12/09/2014 (Id. 1ffe0b2 e seguinte), consta que ainda estava pendente a grade de proteção noentorno da calçada.

Na inspeção judicial realizada em 21/08/2015, ficou constatada a existência de grade deproteção separando a área do estacionamento da área de circulação de pessoas (Id. 16e482b,pág. 6), assim como no laudo pericial técnico (Id. f7bce28, pág. 15).

Nas fotos juntadas com a contestação protocolada em 20/05/2015 já constava a grade deproteção. Considero, pois, que a obrigação foi cumprida depois do ajuizamento da ação.

Dessa forma, houve perda superveniente do objeto da ação em relação à instalação da gradede proteção.

Julgo extinto, sem resolução do mérito, por falta de interesse de agir, o pedido de instalação dagrade de proteção, nos termos do artigo 485, VI do CPC.

A questão do dano moral coletivo, relativo à situação pretérita ao cumprimento da obrigação,será apreciada mais adiante, em tópico próprio desta sentença.

 

2.2.8- DISPONIBILIZAR, GRATUITAMENTE, ÁGUA POTÁVEL E FRESCA PARA OSMOTORISTAS PROFISSIONAIS E SEUS ACOMPANHANTES, POR MEIO DE COPOSINDIVIDUAIS

O Autor, na inicial, requereu que fosse disponibilizada, gratuitamente, água potável e frescapara os motoristas e seus acompanhantes por meio de copos individuais.

Registro que a questão diz respeito a condições de saúde e higiene no ambiente laboral.

A Ré, na defesa, aduziu que distribui água potável por meio de poço semi-artesiano, comcapacidade de reserva de 30.000 litros e que a água é tratada. Afirmou, ainda, que instaloubebedouros em todo o complexo, conforme segue: 2 bebedouros instalados ao lado dorestaurante sendo um com capacidade de 100 L e outro com capacidade de 200 L; 2bebedouros instalados ao lado do parque infantil sendo um com capacidade de 100 L e outrocom capacidade de 200 L; 1 bebedouro um com capacidade de 100 L na Classificação; 1bebedouro instalado na lateral do alambrado que dá acesso aos tombadores com capacidadede 200 L; 1 bebedouro instalado ao lado dos Tombadores com capacidade de 200 L; 1purificador d'água na Marcação de fila; 1 purificador d'água na sala de espera; 1 purificadord'água na sala de espera saída de caminhões.

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Analisando os autos, verifico que no relatório de inspeção elaborado pelo MPT na data de12/09/2014 (Id. 1ffe0b2 e seguinte), consta que havia 6 bebedouros em locais abertos, comcobertura e com disponibilidade de água fresca e copos descartáveis. Havia, ainda,bebedouros em alguns ambientes fechados, tais como: refeitório, sala de espera, sala demarcação, etc. No relatório, consta que apenas no pátio provisório não havia bebedouro.

Na inspeção judicial realizada em 21/08/2015 (Id. 16e482b), ficou constatada a existência de 7bebedouros tipo industrial, quantidade suficiente para atender até 350 trabalhadores. Foiverificada ainda a existência de bebedouros tipo doméstico nas salas de espera e norestaurante.

No laudo pericial técnico também foi verificada a existência de 7 bebedouros instalados comcapacidade para atender todos os profissionais que frequentam o ambiente, inclusos osfuncionários da ré, os funcionários das empresas terceirizadas, os motoristas e seus familiares(Id. f7bce28, pág. 14).

A testemunha da Ré também confirmou que a empresa disponibiliza água potável e coposindividuais para todos que estão no terminal.

Em relação a essa questão, a NR 24 dispõe que:

 

24.7.1 Em todos os locais de trabalho deverá ser fornecida aos trabalhadores água potável,em condições higiênicas, sendo proibido o uso de recipientes coletivos. Onde houver redede abastecimento de água, deverão existir bebedouros de jato inclinado e guarda protetora,proibida sua instalação em pias ou lavatórios, e na proporção de 1 (um) bebedouro paracada 50 (cinqüenta) empregados.

24.7.1.1 As empresas devem garantir, nos locais de trabalho, suprimento de água potável efresca em quantidade superior a 1/4 (um quarto) de litro (250ml) por hora/homem trabalho.

24.7.1.2 Quando não for possível obter água potável corrente, essa deverá ser fornecidaem recipientes portáteis hermeticamente fechados de material adequado e construídos demaneira a permitir fácil limpeza.

 

Com isso, concluo que havia bebedouros no complexo com capacidade para atender todas aspessoas que frequentavam o terminal.

Em que pese no relatório do MPT ter constado que não havia bebedouro no pátio provisório,verificou-se na inspeção judicial e no laudo pericial técnico que havia vários bebedourosespalhados em todo o restante do complexo. Ademais, a inspeção judicial constatou que osmotoristas gozavam de livre acesso a todas as estruturas do pátio interno e em vários locais dopátio interno havia bebedouros em que os motoristas podiam ter acesso à água fresca epotável.

Ressalto que o problema da falta de água ocorrido no início de março de 2016 que veio aocasionar a falta de água nos bebedouros foi um problema pontual, tendo sido rapidamenteresolvido pela Ré, não sendo somente esse fato isolado capaz de alterar a conclusão de que aRé vem fornecendo água potável aos motoristas e demais trabalhadores.

Assim, considero que a Ré vem cumprindo a obrigação de disponibilizar gratuitamente águapotável e fresca para os motoristas e seus familiares, não havendo que se falar em condenaçãonesse sentido.

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Julgo improcedente o pedido.

 

2.2.9 - MANTER LOCAL ADEQUADO, FORA DA ÁREA DE TRABALHO, PARA OCONSUMO DE REFEIÇÕES, COM MESAS E ASSENTOS PARA TODOS OS MOTORISTASE SEUS ACOMPANHANTES e GARANTIR CONDIÇÕES DE CONSERVAÇÃO E HIGIENEADEQUADAS E/OU OS MEIOS PARA O AQUECIMENTO, EM LOCAL PRÓXIMO AODESTINADO ÀS REFEIÇÕES, PARA OS TRABALHADORES QUE LEVAM A PRÓPRIAALIMENTAÇÃO

O Autor afirmou na inicial que a Ré não mantinha local adequado aos motoristas para oconsumo de refeições, com condições de conservação e aquecimento dos alimentos levadospor eles próprios.

Na defesa, a Ré sustentou que no pátio interno já havia espaço para o consumo adequado derefeições, em condições adequadas de higiene e equipados com todos os equipamentosnecessários para o conforto e para a conservação e aquecimento dos alimentos. Acrescentouque no terminal havia também um restaurante, onde era comercializada alimentação a preçospopulares, com amplo acesso aos motoristas e acompanhantes.

No dia da inspeção judicial (21/08/2015), foi constatada a existência no pátio interno derefeitórios com mesas, bancos, sofás, fornos de micro-ondas, bebedouros, pia para lavar mãose papel toalha, adequado para o aquecimento ou preparo dos alimentos e para a realizaçãodas refeições. Foi constatada, ainda, naquela oportunidade, que os motoristas gozavam de livreacesso às estruturas do pátio interno, incluído o refeitório.

Embora já cumprida a obrigação exigida, ressalto que em relação aos usuários do terminal(alheios ao quadro de pessoal da Ré) a manutenção de restaurante satisfaz as condições dehigiene e segurança. Lembrando que a aplicação da NR24, quando estabelece obrigação demanter " ", refere-se às obrigações própriasestufa, fogão ou similar, para aquecer as refeiçõesdo empregador.

Os terminais, sejam rodoviários, ferroviários ou portuários, não têm essa obrigação em relaçãoàs pessoas com as quais não mantêm relação de emprego ou sequer relação de trabalho emsentido amplo.

Em relação ao motorista empregado, a obrigação é do seu empregador de conceder o auxíliorefeição ou diária para que adquira suas refeições.

De qualquer forma, diante do cumprimento da obrigação, improcede o pedido.

 

2.2.10 - MANTER A OUVIDORIA INTERNA DA ALL PARA ACOLHER SUGESTÕES,OPINIÕES, CRÍTICAS OU RECLAMAÇÕES DOS TRABALHADORES, INCLUSIVEMOTORISTAS

O decreto n.º 1832 de 04/03/1996 que aprovou o regulamento dos transportes ferroviários, noartigo 9º estabelece que:

 

Art. 9º A Administração Ferroviária é obrigada a receber e protocolar reclamaçõesreferentes aos serviços prestados e a pronunciar-se a respeito no prazo de trinta dias a

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contar da data do recebimento da reclamação.

Parágrafo único. A Administração Ferroviária deverá organizar e manter serviços paraatender as reclamações.

 

A Ré afirmou que mantém ouvidoria interna, cuja existência é amplamente divulgada noterminal.

Durante a inspeção judicial foi constatado que há cartazes em toda a área do pátio comin locodivulgação do telefone da ouvidoria.

Não foi produzida qualquer prova de que a Ré não mantivesse tal serviço de ouvidoria ou quehouvesse defeito em sua divulgação. O simples fato de o Autor ter constatado em sua inspeçãoque os motoristas entrevistados não tinham conhecimento da ouvidoria não é prova da práticade qualquer ilícito pela Ré.

O desconhecimento declarado pelos motoristas pode ser advindo do próprio desinteressedestes pela questão.

Também não vislumbro que exista qualquer ameaça de que este serviço seja desativado.

Ante o exposto, julgo improcedente o pedido de condenação da Ré a manter a OuvidoriaInterna da ALL para acolher sugestões, opiniões, críticas ou reclamações dos trabalhadores,inclusive de motoristas.

 

2.2.11 - DANOS MORAIS COLETIVOS

O Autor pleiteou a reparação por dano moral coletivo, conforme Inicial (Id. 8edcee7 - Pág. 19 eseguintes).

O pedido foi contestado.

Primeiramente, a Ré alegou a impossibilidade de cumulação dos pedidos relativos àsobrigações de fazer e não fazer com condenação em dinheiro a título de dano moral coletivo.

Em relação a essa questão, considero perfeitamente possível a cumulação dos pedidos, eisque as pretensões possuem objetivos diversos, enquanto a primeira visa impedir a ocorrênciados danos, a segunda visa o ressarcimento de um dano já ocorrido. Ademais, o artigo 3º da Lei7.347/85 deve ser interpretado no sentido de ser possível a cumulação, tendo em vista que aconjunção "ou" deve ser considerada com o sentido de cumulação e não de alternativaexcludente. Interpretar o artigo como impossibilidade de cumulação dos pedidos atentariacontra os princípios da instrumentalidade e da economia processual, além de ensejar apossibilidade de sentenças contraditórias.

Feita essa análise prévia, cumpre tecer algumas considerações acerca do dano moral coletivo.

Não é qualquer ilicitude que, por si só, mostra-se apta para embasar a condenação por danomoral coletivo.

O dano moral coletivo é conceituado por João Carlos Teixeira como:

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(...) a injusta lesão a interesses metaindividuais socialmente relevantes para a coletividade(maior ou menor), e assim tutelados juridicamente, cuja ofensa atinge a esfera moral dedeterminado grupo, classe ou comunidade de pessoas ou até mesmo de toda a sociedade,causando-lhes sentimento de repúdio, desagrado, insatisfação, vergonha, angústia ou outrosofrimento psico-físico. (TEIXEIRA, João Carlos. Dano Moral Coletivo na Relação deEmprego. In: . NORRIS, RobertoTemas polêmicos de direito e processo do trabalho(Coord.). São Paulo: LTr, 2000, p. 123.

 

Marcelo Freire Sampaio apresenta o conceito de dano moral coletivo como "a violação daprojeção coletiva da dignidade da pessoa humana, consubstanciada em interesses/direitosextrapatrimoniais essencialmente coletivos (difusos e coletivos em sentido lato), sendo talviolação usualmente causadora de sentimentos coletivos de repulsa, indignação e desapreçopela ordem jurídica". (Dano moral (extrapatrimonial) coletivo. São Paulo: LTr, 2009. p. 71.)

Nesse sentido, para que haja dano moral coletivo é necessário que a coletividade seja atingidapela ilicitude perpetrada pelo ofensor, ou seja, que o fato tenha causado, ainda quepresumidamente, repercussões negativas na coletividade por ofensa a valores e interessesfundamentais.

Assim, o reconhecimento de dano moral coletivo só é possível nas hipóteses em queconfigurada grave ofensa à moralidade pública, sob pena de sua banalização. Nesse sentidocolho da jurisprudência:

 

TRT-PR-18-01-2012 DANO MORAL COLETIVO. NÃO CABIMENTO. Embora reprovável,não se vislumbra que a conduta da ré, ao contratar uma quantidade de aprendizes inferiorao percentual legal, imposto pelo art. 429, da CLT, seja suficiente para caracterizar ofensaà moral da coletividade. Primeiro, porque não houve o absoluto descumprimento da lei, jáque a reclamada comprovou a existência de diversas contratações, embora sutilmenteabaixo do percentual legal (das quatro unidades, apenas em duas havia a contratação deum aprendiz abaixo do número ideal). Segundo, porque, globalmente (somadas todas asunidades da instituição requerida), o número de aprendizes contratados atende ospercentuais do art. 429, da CLT. Terceiro, porque a ré atendeu ao pleito do MPT antesmesmo da decisão judicial de primeira instância, comprovando as contratações faltantes. Enfim, para que haja o reconhecimento de dano moral coletivo é necessário mais doque isso: que seja extrapolado o limite da indignação individual para afetar o grupocomo um todo e causar repulsa coletiva, hipótese incongruente com o caso concreto. Recurso do autor a que se nega provimento. (TRT-9 2465201118905 PR2465-2011-18-9-0-5, Relator: SUELI GIL EL-RAFIHI, 6A. TURMA, Data de Publicação:18/01/2012). Sem grifos no original.

TRT-PR-19-02-2010 DANO MORAL COLETIVO - NÃO CABIMENTO - Embora tenha, em não manterrestado configurada a antijuridicidade da conduta das empresas ré

formalmente registrados alguns de seus empregados, para que haja o reconhecimento dedano moral coletivo é necessário mais do que isso: que seja extrapolado o limite daindignação individual para afetar o grupo como um todo e causar repulsa coletiva. RecursoOrdinário do Ministério Público do Trabalho a que se nega provimento. (TRT-93655820077903 PR 36558-2007-7-9-0-3, Relator: SUELI GIL EL-RAFIHI, 4A. TURMA, Datade Publicação: 19/02/2010). Sem grifos no original.

DECISÃO: ACORDAM os Desembargadores integrantes da Quarta Câmara Cível doTribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimentoao recurso, nos termos do voto e sua fundamentação. EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL.

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AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR DANOS AO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL. CONDENAÇÃO DO AGENTE CAUSADOR AO PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO PORDANOS MORAIS COLETIVOS. NÃO CABIMENTO. AUSÊNCIA DE CONDUTA LESIVAGRAVE SUFICIENTE A PRODUZIR ALTERAÇÕES RELEVANTES NA ORDEM

. RECURSO DESPROVIDO. (TJPR - 4ª C.Cível - AC -EXTRAPATRIMONIAL COLETIVA1496860-6 - Castro - Rel.: Abraham Lincoln Calixto - Unânime - - J. 09.08.2016) (TJ-PR -APL: 14968606 PR 1496860-6 (Acórdão), Relator: Abraham Lincoln Calixto, Data deJulgamento: 09/08/2016, 4ª Câmara Cível, Data de Publicação: DJ: 1894 30/09/2016). Semgrifos no original.

 

No caso concreto, não restou configurada a grave ofensa à moralidade pública a ensejar oreconhecimento da ocorrência de dano moral coletivo em relação ao PPRA e PCMSO, nem emrelação ao enlonamento e desenlonamento dos veículos, aos jatos de ar comprimido, gradesde proteção, água potável e ouvidoria, como passo a expor.

Como analisado no item 2.2.3, houve a implementação dos PPRA e PCMSO antes doajuizamento da ação. Ademais não vislumbro ofensa à coletividade em relação ao atraso naelaboração do PPRA e PCMSO, não havendo que se falar em reparação por dano moralcoletivo em relação a esse ponto.

No que tange ao enlonamento e desenlonamento dos veículos, também foi constatado nestadecisão (item 2.2.5) que a Ré vem cumprindo a obrigação de disponibilizar funcionários paraenlonar e desenlonar os caminhões e que os motoristas apenas auxiliavam a prender a lonanos ganchos com a utilização de uma vareta de manobra. Dessa forma, não vislumbro queessa atividade seja passível de ensejar um dano moral coletivo, não havendo que se falar emcondenação nesse sentido.

Da mesma forma, quanto aos jatos de ar comprimido foi constatada a sua existência para alimpeza dos veículos após a descarga. Ademais, ainda que em algumas vezes não tenha sidorealizada a limpeza dos veículos com jato de ar comprimido, tal fato, por si só, não enseja areparação por dano moral coletivo, pois não se tratar de conduta lesiva grave o suficiente paraa atingir a ordem coletiva. Inclusive, havia funcionários disponíveis para realização da limpezados veículos com jato de ar comprimido.

Em relação à grade de proteção, entendo que a simples falta da grade de proteção entre áreade estacionamento e a área de convivência, durante um período de funcionamento do terminal(até aproximadamente o mês de maio de 2015, eis que nas fotos juntadas com a contestaçãojá havia sido instalada a grade), cujo espaço está perfeitamente delimitado e com controle develocidade, também não caracteriza dano moral à coletividade.

Durante a inspeção judicial foi possível observar que é absolutamente impossível ao motoristaadentrar com o veículo no pátio interno do Terminal com velocidade acima de 10km/h.

Também se constatou, durante a inspeção judicial, que a necessidade de grade de proteçãomais se impunha para que pedestres não invadissem e atrapalhassem a manobra doscaminhões naquela área.

No particular, esta Ação Civil Pública tem como objetivo eliminar eventuais causas de acidentedo trabalho (de pouca probabilidade), sendo certo que não há notícia de qualquer acidente ouincidente por falta das grades. Trata-se de medida preventiva, para evitar que algo aconteça nofuturo.

Reconheço que a construção das grades de proteção é útil para melhor funcionamento econforto na área de operação, entretanto, não reconheço a existência de dano moral coletivo

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indenizável. Mais adequado à singularidade do caso, à luz dos princípios da razoabilidade e dobom senso, é a simples instalação das grades, como já ocorreu, mas sem necessidade depunição da Ré.

Em relação ao fornecimento de água potável, foi verificado nesta decisão que haviabebedouros no complexo com capacidade para atender todas as pessoas que frequentavam oterminal. Ressalto que, apesar de ter constado no relatório do MPT que não havia bebedourono pátio provisório, verificou-se na inspeção judicial e no laudo pericial técnico que havia váriosbebedouros espalhados em todo o restante do complexo e a inspeção judicial constatou que osmotoristas gozavam de livre acesso a todas as estruturas do pátio interno e em vários locais dopátio interno havia bebedouros em que os motoristas podiam ter acesso à água fresca epotável. Dessa forma, não reconheço a existência de dano moral coletivo em relação aofornecimento de água potável.

No que tange à ouvidoria, conforme já analisado nesta decisão, foi constatado, na inspeçãojudicial, que há cartazes em toda a área do pátio com divulgação do telefone da ouvidoria.Ademais, não foi produzida qualquer prova de que a Ré não mantivesse tal serviço de ouvidoriaou que houvesse defeito em sua divulgação. O simples fato de o MPT ter constatado em suainspeção que os motoristas entrevistados não tinham conhecimento da ouvidoria não é provada prática de qualquer ilícito pela Ré. Assim, não vislumbro a existência de dano moral coletivopassível de reparação.

Por outro lado, em relação ao pátio de apoio considero que foi causado dano moral coletivodurante o período em que esteve em funcionamento, tendo em vista as condições precárias aque estiveram expostos os trabalhadores, como passo a expor.

Desde que inaugurado o terminal em Rondonópolis, em setembro/2013, o pátio de apoiofuncionou improvisado, na área de terra, sofrendo as consequências das intempéries, comintensa poeira nos meses de seca, bem como alagamento e lamaçal nos meses de chuva,chegando a ser conhecido como "chiqueirão", motivo de protesto dos trabalhadores.

O relatório da inspeção realizada pelo MPT em setembro/2014 mostra claramente que ospátios de espera e classificação já estavam pavimentados, conforme Id. a193a9f - Págs. 5-6. Éincontroverso, porém, que o pátio de apoio não havia recebido ainda qualquer tipo depavimentação, sendo o local uma grande área coberta de areia e terra apenas.

A própria Ré confessou que apenas aplicou cascalho e britas sob o solo depois das inspeçõesrealizadas pelo Ministério do Trabalho e Ministério Público do Trabalho no ano 2014, sendo queas condições extremamente precárias do pátio externo perduraram pelo menos por um ano.

O terminal recebe por dia cerca de 1.000 caminhões, sendo que grande parte destespermanecia nesse pátio de apoio, o qual era destinado àqueles que chegavamantecipadamente ao respectivo agendamento ou que aguardavam novo agendamento.

O fato de não existir pavimentação nesse local, somado à grande movimentação de veículospesados, causava dois graves problemas: a) na época de seca, a formação de nuvens depoeira e b) na época de chuvas, a formação de muita lama e grandes poças d'água. Asfotografias de Id. d95638f, 1d8acc0, f716e33 e 1ffe0b2 comprovam tais fatos.

Tais situações atentaram contra a saúde e segurança dos trabalhadores.

O item 24.7.5 da NR 24 prevê que os locais de trabalho serão mantidos em estado de higienecompatível com o gênero de atividade. O serviço de limpeza será realizado, sempre quepossível, fora do horário de trabalho e por processo que reduza ao mínimo o levantamento de

.poeirasAssinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: ADENIR ALVES DA SILVA CARRUESCOhttp://pje.trt23.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=16120211030159300000011131508Número do documento: 16120211030159300000011131508 Num. 74fd023 - Pág. 25

Tanto a formação de nuvens de poeira quanto a presença de lama e poças d'águaindubitavelmente comprometiam as condições de higiene no local.

Constata-se ainda que a formação de lama e grandes poças d'água também colocavam ostrabalhadores em risco de sofrer acidentes, pois diante das péssimas condições poderiamescorregar, cair em buracos, etc.

O que se observa é que a Ré agiu com descaso em relação ao pátio de apoio. Enquanto opátio interno foi pavimentado e, ao lado, foi construída uma estrutura física com área deconvivência, o pátio de apoio era apenas uma grande área coberta de areia. Não haviapreocupação com a segurança, saúde e conforto de quem lá estava.

Os meios para melhorar as condições ambientais sempre estiveram ao alcance da Ré; porém,ela própria confessou que apenas aplicou cascalho e britas sob o solo depois das inspeçõesrealizadas pelo Ministério do Trabalho e Ministério Público do Trabalho no ano 2014.

Embora a Ré não tenha esclarecido o exato dia em que o pátio de apoio foi coberto decascalho e brita, é certo que até o dia da inspeção realizada pelo MPT (12/09/2014) isto nãohavia sido realizado. Portanto, as condições extremamente precárias do pátio externoperduraram pelo menos por um ano.

Frise-se que o reconhecimento de que a falta de pavimentação do pátio de apoio atentavacontra a saúde e segurança dos motoristas e acompanhantes não se confunde com oreconhecimento ou não de condições de insalubridade que ensejam o pagamento ao respectivoadicional aos empregados.

É verdade que não foi produzida prova técnica com as devidas medições que demonstrasse aexposição a agentes insalubres em níveis acima dos limites previstos na NR 15. No entanto, apresente ação não diz respeito às atividades ou operações consideradas insalubres a que sereferem os artigos 189 e seguintes da CLT.

A falta de higiene no ambiente provocada pela poeira e lama já é suficiente para caracterizarofensa ao direito dos trabalhadores a um ambiente saudável.

Além disso, o conjunto probatório demonstrou que as condições sanitárias do pátio de apoiotambém eram precárias e inadequadas, pois não havia separação dos sanitários por sexo, osbanheiros eram sujos e não havia material de limpeza e enxugo para as mãos, tendo sidodesrespeitada a NR 24 no tocante às instalações sanitárias.

Em relação a essas questões, a Ré, na defesa, afirmou que por mera liberalidade instalou nopátio de apoio três containers separados por sexo, sendo que foi destinado um dos containerspara o sexo feminino. Aduziu, ainda, que foi disponibilizado material de higienização comosabonete líquido e papel toalha para enxugo das mão, além de 4 chuveiros com águafria/quente para cada grupo de 10 trabalhadores. Assim, pelos termos da própria defesaverifica-se que os containers foram instalados posteriormente no pátio de apoio e não desde oinício de funcionamento do terminal.

A Ré foi notificada em 16/08/2013 pelo MPT, tendo sido recomendado que os locais em que seencontravam as instalações sanitárias fossem mantidos limpos e desprovidos de quaisquerodores durante toda a jornada de trabalho e que fossem disponibilizadas lixeiras com tampanos banheiros, além de mais 2 sanitários, 4 pias e 9 chuveiros para os motoristas queaguardavam a descarga de mercadorias (Id. 862382b, págs. 3 a 4).

No relatório de inspeção elaborado pelo MPT na data de 12/09/2014 (Id. 1ffe0b2 e seguinte),consta que a obrigação havia sido parcialmente cumprida, tendo a inspeção constatado que

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deveria ser dada maior atenção quanto à higienização dos sanitários instalados nos containersdentro do pátio provisório.

Foi constatado, ainda, que no pátio provisório não havia separação entre os sexos nessessanitários nos containers. Além disso, foi verificado que os banheiros do pátio provisório nãoestavam limpos, que não havia material de limpeza (sabonete), nem toalhas para o enxugo esecagem das mãos. Também não havia nos compartimentos destinados aos chuveiros suportepara pendurar as roupas.

A NR 24 ao tratar sobre as instalações sanitárias estabelece, dentre outras normas, que:

 

24.1.2 As áreas destinadas aos sanitários deverão atender às dimensões mínimasessenciais. O órgão regional competente em Segurança e Medicina do Trabalho poderá, àvista de perícia local, exigir alterações de metragem que atendam ao mínimo de confortoexigível. É considerada satisfatória a metragem de 1 metro quadrado, para cada sanitário,por 20 operários em atividade.

24.1.2.1 As instalações sanitárias deverão ser separadas por sexo.

24.1.3 Os locais onde se encontrarem instalações sanitárias deverão ser submetidos aprocesso permanente de higienização, de sorte que sejam mantidos limpos e desprovidosde quaisquer odores, durante toda a jornada de trabalho.

(...)

24.1.7 Os lavatórios poderão ser formados por calhas revestidas com materiaisimpermeáveis e laváveis, possuindo torneiras de metal, tipo comum, espaçadas de 0,60m,devendo haver disposição de 1 (uma) torneira para cada grupo de 20 (vinte) trabalhadores.

24.1.8 Será exigido, no conjunto de instalações sanitárias, um lavatório para cada 10 (dez)trabalhadores nas atividades ou operações insalubres, ou nos trabalhos com exposição asubstâncias tóxicas, irritantes, infectantes, alergizantes, poeiras ou substâncias queprovoquem sujidade.

24.1.8.1 O disposto no item 24.1.8 deverá também ser aplicado próximo aos locais deatividades.

24.1.9 O lavatório deverá ser provido de material para a limpeza, enxugo ou secagem dasmãos, proibindo-se o uso de toalhas coletivas.

24.1.10 Deverá haver canalização com tomada d'água, exclusivamente para uso contraincêndio.

24.1.11 Os banheiros, dotados de chuveiros, deverão:

a) ser mantidos em estado de conservação, asseio e higiene;

b) ser instalados em local adequado;

c) dispor de água quente, a critério da autoridade competente em matéria de Segurança eMedicina do Trabalho;

d) ter portas de acesso que impeçam o devassamento, ou ser construídos de modo amanter o resguardo conveniente;

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e) ter piso e paredes revestidos de material resistente, liso, impermeável e lavável.

24.1.12 Será exigido 1 um chuveiro para cada 10 (dez) trabalhadores nas atividades ouoperações insalubres, ou nos trabalhos com exposição a substâncias tóxicas, irritantes,infectantes, alergizantes, poeiras ou substâncias que provoquem sujidade, e nos casos emque estejam expostos a calor intenso.

 

Assim, verifico que houve o descumprimento da NR 24 pois as instalações sanitárias nãoestavam separadas por sexo, não estavam limpas e não havia material para limpeza esecagem das mãos.

Por outro lado, na inspeção judicial realizada em 21/08/2015 (Id. 16e482b), foi constatado quehavia sanitários com chuveiros, gabinetes e pias em número suficiente. Assim, a partir destadata, neste particular, não há que se falar em condições precárias das instalações sanitárias nopátio provisório.

Em que pese não se possa afirmar o período exato em que as condições das instalaçõessanitárias tenham sido precárias no pátio provisório, ante a prova produzida nos autos,considero que a Ré não propiciou condições adequadas de instalações sanitárias e material dehigienização durante o período de agosto de 2013 (notificação do MPT) até 20 de agosto de2015 (eis que no dia 21/08/2015 foi constatado por esta Magistrada na inspeção judicial que ascondições sanitárias estavam adequadas).

O direito a condições sanitárias adequadas é decorrência natural e corolário lógico dospreceitos relacionados à dignidade da pessoa humana, bem como do direito à saúde, comoprevisto no texto constitucional.

Assim, o funcionamento do pátio de forma inadequada, frustrou as expectativas dostrabalhadores, além de ter descumprido normas de saúde, higiene e segurança dostrabalhadores, certamente causando dano moral coletivo.

As decisões abaixo transcritas apresentam o mesmo entendimento:

 

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. RESPONSABILIDADE CIVIL DOEMPREGADOR. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS COLETIVOS. AUSÊNCIA DEFISCALIZAÇÃO NO EFETIVO CUMPRIMENTO DAS REGRAS DE HIGIENE ERESTRIÇÃO IMPOSTA AOS TRABALHADORES NO USO DE SANITÁRIOS. 1. O quadrofático e probatório reproduzido no v. acórdão recorrido deu ensejo à condenação doSupermercado ao pagamento da indenização por danos morais coletivos. 2. Com efeito, acondenação encontra-se estribada na omissão da empresa na fiscalização destinada agarantir o efetivo cumprimento das regras de higiene, somada à restrição imposta aostrabalhadores pelo uso dos sanitários. 3. O dano restou cabalmente provado, mormente noque tange à saúde dos empregados e da coletividade, por meio das relações de consumo -- Inclusive, além da questão relativa aos sanitários, foram apuradas outras condutasirregulares praticadas pela ré, atentatórias à saúde, segurança e dignidade dostrabalhadores e consumidores, capazes de configurar danos morais coletivos- . 4. Comoreforço de fundamentação, urge ressaltar que o reexame pretendido pelo Supermercado,ora agravante, é inadmissível em sede extraordinária, em face da Súmula nº 126 do TST.

(TST - AIRR: 10388820115120006Agravo de instrumento a que se nega provimento .1038-88.2011.5.12.0006, Relator: Alexandre de Souza Agra Belmonte, Data deJulgamento: 24/04/2013, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT 26/04/2013)

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RECURSO DE REVISTA. DANO MORAL COLETIVO. DESCUMPRIMENTO DEOBRIGAÇÕES TRABALHISTAS. NORMAS DE SEGURANÇA DO TRABALHO. Consoanteregistrou o Tribunal a quo , está comprovado que a ora recorrente incorreu em condutaprejudicial aos seus empregados, ao descumprir as normas referentes à segurança e àmedicina do trabalho. Ora, aquele que por ato ilícito causar dano, ainda que exclusivamentemoral, fica obrigado a repará-lo. Assim, demonstrado que a recorrente cometeu ato ilícito,causando prejuízos a um certo grupo de trabalhadores e à própria ordem jurídica, nãomerece reparos a decisão proferida pela instância ordinária que a condenou a indenizar os

(TST - RR:danos morais coletivos. Recurso de revista conhecido e não provido.155005620105170132 15500-56.2010.5.17.0132, Relator: Dora Maria da Costa, Data deJulgamento: 12/06/2013, 8ª Turma, Data de Publicação: DEJT 14/06/2013)

 

Cabe neste ponto delimitar o valor da indenização.

O Centro-Oeste é a principal região agrícola do país e respondeu por cerca de 42% daprodução brasileira de grãos na safra 2014/2015, que atingiu 209 milhões de toneladas.

A produção brasileira de grãos para a safra 2015/2016 está estimada em 186,4 milhões detoneladas. Dessa estimativa 75.5 milhões de toneladas correspondem ao Centro-Oeste e 43.4milhões de toneladas somente ao Estado de Mato Grosso (dados da Companhia Nacional deAbastecimento CONAB- 12º Levantamento - Safra 2015/16- setembro/2016).

O Terminal da Ré em Rondonópolis, maior Complexo Intermodal América Latina (comodivulgado pela mídia), está localizado na rodovia BR-163, a aproximadamente 28 quilômetrosdo centro da cidade de Rondonópolis-MT (sede desta Vara do Trabalho). O complexo foiinaugurando em 19.09.2013.

A maior parte da carga chega ao Terminal de caminhão oriunda da região produtora de grãosno Centro-Oeste e segue pela ferrovia até o porto de Santos.

Daí a grandeza, relevância social e impacto econômico das operações da Ré na região,exigindo-se maior responsabilidade e comprometimento na sua atuação.

Registro também que a Ré é reincidente no cometimento dos atos ilícitos, como verifico noprocesso n.º 0105800-38.2010.5.23.0022, em que houve a sua condenação por dano moralcoletivo no importe de R$ 500.000,00, em face de práticas ilícitas similares às constatadasnesta ação.

Considerando, ainda, o caráter punitivo e inibitório da indenização, o elevado potencialeconômico da empresa (atos constitutivos de Id. 1194c0d - Pág. 2 - capital social de R$3.448.283.431,62), o valor admitido pela Ré na defesa referente ao lucro líquido em 2013 (R$205.700.000,00, tendo sido distribuídos R$ 51.000.000,00 em dividendos aos acionistas) e avedação ao enriquecimento ilícito, fixa-se o valor, já atualizado, de R$ 1.500.000,00 (um milhãoe quinhentos mil reais), incidindo juros e correção monetária a partir da publicação destasentença.

 

2.2.12 - HONORÁRIOS PERICIAIS

Foi necessária a realização de perícia técnica para análise das condições no ambiente detrabalho.

Honorários periciais a cargo da Ré, eis que sucumbente no objeto da perícia.Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: ADENIR ALVES DA SILVA CARRUESCOhttp://pje.trt23.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=16120211030159300000011131508Número do documento: 16120211030159300000011131508 Num. 74fd023 - Pág. 29

Esclareço que os honorários fixados e adiantados pela Ré, conforme ata de audiência de Id.7b00270, referem-se apenas ao acompanhamento e prestação de assistência aos Magistradosdurante a inspeção judicial e não ao laudo técnico de Id. f7bce28, cuja necessidade foiverificada posteriormente.

Considerando o trabalho do perito, sua qualificação técnica, zelo e dedicação, arbitro seushonorários em R$ 3.000,00.

 

3. DISPOSITIVO

Ante o exposto, na Ação Civil Pública movida pelo emMINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHOface de , julgo extintos, semALL - AMÉRICA LATINA LOGÍSTICA MALHA NORTE S/Aresolução do mérito, os pedidos para que a Ré cumpra o limite de 5 (cinco) horas para aefetivação da carga ou descarga de mercadorias no terminal ferroviário intermodal deRondonópolis/MT; para que a Ré seja compelida a pavimentar com asfalto o pátio de apoio; amanter instalações sanitárias submetidas a processo permanente de higienização e queatendam ao mínimo de conforto no pátio de apoio e a prover os lavatórios com material delimpeza, enxugo e secagem das mãos no pátio de apoio; a instalar a grade de proteção e amanter local adequado para o consumo de refeições com meios para aquecimento da refeiçãopara os trabalhadores que levam a própria alimentação sob o aspecto da objeção àcontinuidade do ilícito. No mérito, em relação aos demais pedidos, julgo-os procedentes em

, nos termos e parâmetros especificados na fundamentação, que passam a integrar estepartedispositivo.

Condeno a ré ALL a pagar indenização por danos morais coletivos no importe de R$1.500.000,00 (item 2.2.11).

A indenização por dano moral coletivo será revertida em favor de entidades públicas ouprivadas, de relevante valor social, que tenham como finalidade a proteção do trabalhador e/oude crianças e adolescentes, futuros trabalhadores, ou, ainda, em favor de outros projetossociais ou entidades sem fins lucrativos e em benefício da comunidade local. A escolha daentidade será feita por este Juízo, com a participação do Ministério Público do Trabalho.

Juros e correção monetária na forma da Lei.

Custas pela Ré calculadas sobre o valor da condenação, no importe de R$ 30.000,00.

Intimem-se as partes e o sindicato assistente.

 

RONDONOPOLIS, 6 de Dezembro de 2016

ADENIR ALVES DA SILVA CARRUESCOJuiz(a) do Trabalho Titular

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