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1 Pobreza e Exclusão Social Maria do Carmo Freitas Coimbra, 2010

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Pobreza e Exclusão Social

Maria do Carmo Freitas Coimbra, 2010

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Fontes de Informação Sociológica – Pobreza e Exclusão Social

“Pobreza e Exclusão Social” Trabalho realizado no âmbito da unidade curricular de Fontes de Informação Sociológica, sob a orientação do Professor Doutor Paulo Peixoto. Ficha Técnica: Título: A Pobreza e Exclusão Social Trabalho académico realizado por: Maria do Carmo T. de Freitas Nº: 2009115089 Ano: 1º Ano de Sociologia Imagem da capa: Fonte: http://thikmy.files.wordpress.com/2008/10/pobreza.jpg

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Pobreza e Exclusão Social

1. Introdução……………………………………………………………….. 1 2. Desenvolvimento………………………………………………………… 2 2.1. Definição de pobreza………………………………………………… 2 2.2. Tipos de pobreza……………………………………………………... 6 2.3. Algumas variáveis de medição da pobreza……………………….... 9 2.4 Linhas de Pobreza……………………………………………………11 3. Evidências para Portugal Continental……………………………......12 4. Localização e Cálculo das Linhas de Pobreza…………………… … 15 5. Algumas medidas de combate à pobreza………………………….… 24 6. Descrição detalhada da pesquisa……………………………….……. 29 7. Ficha de leitura…………………………………………………….….. 30 8. Avaliação página internet………………………………………….… 33 9. Conclusão…………………………………………………………….... 36 10. Referências Bibliográficas………………………………………..…. 38 Anexo A: Página da internet consultada Anexo B: Livro utilizado da ficha de leitura

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1. Introdução

No âmbito da disciplina de Fontes de Informação Sociológica, decidi elaborar um

trabalho sobre a pobreza (absoluta e relativa) em Portugal. O que mais despertou a minha

atenção relativamente a este tema foi o facto de Portugal ser considerado um país

desenvolvido e, mesmo assim, registar valores bastante elevados de pobreza e uma

percentagem da população viver em condições mínimas de subsistência. Considero

também que esta pesquisa me fez reflectir sobre vários sintomas da pobreza em Portugal,

que desconhecia, e sobre a importância das linhas de pobreza. Neste trabalho irei definir

alguns tipos de pobreza de forma generalizada, o que se entende por exclusão social,

como medir as linhas de pobreza e de que forma as aplicar ao caso de Portugal.

Escolhi retratar a pobreza absoluta e relativa, centrando a minha atenção

sobretudo na pobreza absoluta, porque não tinha conhecimento que essas situações

pudessem existir em Portugal e de que formas eram retratadas. Ao ler algumas fontes

sobre pobreza absoluta e relativa, apercebi-me da importância destes conceitos, tendo-me

debruçado sobre eles.

O meu trabalho retrata a pobreza em Portugal Continental entre 1989/1990 e

1994/1995. O objectivo é medir a pobreza absoluta no país, através da linha de pobreza

absoluta e utilizando um adulto equivalente como representação de um agregado

doméstico.

Numa abordagem teórica apresentarei um conceito amplo de pobreza, que tipos

de pobreza existem e quais as variáveis de medição da mesma. Em seguida, introduzirei o

tema das linhas de pobreza, a sua importância e aplicação relativamente ao Coeficiente de

Engel e o cálculo dessa linha relativamente à situação de Portugal.

Por último, irei referir medidas de combate à pobreza, que poderão ser aplicadas

não só pelas organizações que as defendem, mas também pelos governos nacionais e por

todos aqueles que não querem que a “pobreza se transforme em paisagem”.

Na década de 90, a falta de recursos disponíveis para que uma grande parte da

população pudesse ter um padrão de vida pelo menos satisfatório foi assustadora e

degradante. Na sociedade portuguesa, a pobreza tem sido considerada um problema com

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crescente preocupação social e relevância, apesar de muitas vezes não serem tomadas

medidas, nem o governo encarar a pobreza como um problema central.

Neste trabalho irei apresentar em linhas gerais a situação de Portugal, a linha de

pobreza absoluta e algumas medidas de combate a este fenómeno.

A análise deste trabalho é socioeconómica, na medida em que se preocupa com o

carácter sociológico da pobreza e o seu impacto na sociedade, mas utiliza indicadores

económicos e dados estatísticos para o comprovar: cálculo da linha de pobreza

relativamente ao coeficiente de Engel) e variáveis de medição da pobreza como o método

directo, despesa ou rendimento. Os conceitos discutidos no trabalho pretendem realçar o

impacto que a pobreza tem a nível qualitativo e quantitativo.

2. Desenvolvimento

Estado das Artes

2.1 Definição de Pobreza e exclusão social

O fenómeno da pobreza, seja no plano individual, familiar ou comunitário,

constitui sempre uma experiência humana especialmente dolorosa, marcando os rostos de

todas as idades. Diversas iniciativas surgiram nas últimas duas décadas sobre a crescente

importância deste problema humano, que justifica a urgência de respostas operacionais

eficazes.

Sendo a pobreza um fenómeno complexo que marca tragicamente a vida de

muitas pessoas, afectando-as “na sua carne, na sua alma e na sua humanidade”, é difícil

criar uma definição suficientemente abrangente para a explicar. Ser pobre não representa

apenas uma ausência de recursos materiais, ou um conjunto de privações, de necessidades

não satisfeitas daqueles que sobrevivem com menos do que a grande maioria da

população; “no olhar do pobre que, quotidianamente, cruza o nosso caminho,

encontramos uma inquietante ausência de expressão” (Batista, 2000: 88).

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A figura de um indivíduo pobre está carregada de um conjunto de sensações

aliadas à solidão, ao desespero, ao vazio, que muitas vezes cria repulsa naqueles que não

compreendem nem vivem esta realidade. Em muitos casos, a pobreza representa a

ausência de possibilidade de escolha, a radical falta de recursos ou a constante

deterioração de condições de vida. No que diz respeito às necessidades básicas como a

habitação, a saúde, a alimentação ou a educação, aquele que se vê afastado delas não

sofre apenas uma privação, mas também uma grave diminuição dos direitos de cidadania

e dos direitos humanos.

Em muitos casos, a existência de situações de pobreza cria um círculo de ruptura

e isolamento: o pobre é visto na sociedade como alguém vulnerável, humilhante,

destituído de dignidade, de igualdade de oportunidades, autonomia e fundamentalmente

promotor de uma ausência constante de integração social. Não ter emprego, ter um

trabalho mal remunerado, possuir uma casa sem capacidades para satisfazer as

necessidades básicas, não trazem apenas carência de recursos e impossibilidade de

adquirir bens de consumo; traz também ao próprio indivíduo uma sensação de

inutilidade, incapacidade de se realizar pessoalmente. “Ser pobre não é pois um modo de

vida, é antes um modo de morte”: impede os seres humanos de fruírem do mundo e é

deste modo uma luta que deve ser travada por todos, de forma a tentar reduzir

substancialmente situações de pobreza e de exclusão social.

Neste contexto, importa referir que o problema da pobreza não é apenas uma

questão geral, porque, além de ser da responsabilidade de todos, é da responsabilidade de

cada um. Deste modo, deve promover-se um conjunto de políticas sociais, de forma a

promover a possibilidade dos indivíduos definirem a sua vida e a participarem mais

activamente na sociedade onde estão integrados.

Mais à frente, neste trabalho, serão propostas medidas de combate à pobreza,

sendo especificada a existência de dois programas: o PNLCP (Programa Nacional da

Luta Contra a Pobreza) relativamente a Portugal e o GCAP (Campanha Global contra a

Pobreza). Existem outras medidas de combate à pobreza que se baseiam num conjunto de

políticas que passarei a explicar.

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Outro conceito intimamente ligado ao de pobreza é o conceito de exclusão social.

Actualmente é utilizado de diferentes formas, nem sempre da melhor forma no meio

científico, daí a necessidade de o operacionalizar. Considerando que a desigualdade é um

princípio inerente a qualquer estruturação social é importante esperar que diferentes

indivíduos se articulem e actuem de forma diferente na sociedade. A exclusão surge pela

agudização dessas desigualdades, resultando da oposição entre aqueles que mobilizam os

seus recursos no sentido de uma participação activa na sociedade e aqueles que, por falta

desses recursos, se encontram incapacitados para o fazer. A exclusão resulta desta forma

de uma desarticulação entre os indivíduos e a sociedade, levando a não usufruírem de um

conjunto mínimo de recursos e que impedem esses indivíduos de se integrarem

socialmente. Coexistem com a exclusão social diferentes fenómenos, tais como o

desemprego, a marginalidade, a discriminação e, claro, a própria pobreza em si.

A exclusão social origina, na maioria dos casos, situações de ruptura de coesão

social e, por isso mesmo, caracteriza-se não só como uma acentuada privação de recursos

materiais e sociais, mas também afastando da sociedade todos aqueles que não partilhem

dos valores e representações sociais dominantes. Um excluído é aquele que não consegue

configurar uma identidade social no trabalho, na família ou na sociedade; torna-se

excluído das relações sociais o que causa a nível pessoal grandes fracturas, uma

desintegração e quebra de laços sentimentais. O indivíduo afasta-se do sistema que o

deveria proteger, as redes de entreajuda diminuem e a solidão instala-se. Assim, a

pobreza é representativa de um conjunto de carências e de escassez de recursos que não

permitem ao indivíduo satisfazer as suas necessidades mínimas; a exclusão social por

outro lado acentua os aspectos desse fenómeno e o conjunto de privações emocionais

vividas.

A pobreza constitui, nos nossos dias, um fenómeno de grande dimensão e

continua a provocar sentimentos de repulsa e desprezo na maioria da população. Em

muitos casos, os indivíduos encaram a realidade da pobreza julgando-a segundo os seus

padrões individuais, que têm por base questões morais da sociedade ou conhecimentos do

senso comum. Deste modo, a pobreza é encarada em muitos casos como um juízo de

valor, vista de forma depreciativa e levando os indivíduos que se encontram nessa

situação a serem vítimas de exclusão social.

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Importa agora distinguir outras concepções que se confundem frequentemente

com a definição de pobreza, a desigualdade e privação.

A privação está incluída no conceito de pobreza na medida em que, para se ser

pobre, o indivíduo está sujeito a determinadas privações. No entanto, o contrário não é

totalmente verificável: a existência de privações não quer dizer necessariamente que o

indivíduo seja pobre; são necessários mais componentes para um indivíduo ser

considerado pobre. Um homem pode ser privado de ter um carro de melhor marca ou

uma casa maior e isso não significa obviamente que viva uma situação de pobreza. O

conceito de privação recai sobre necessidades que não são satisfeitas, enquanto que a

pobreza é um conceito mais global, de carácter material e que implica a insatisfação

prolongada de necessidades. A pobreza constitui, desta forma, um problema de carácter

social muito complexo e difícil mediação e explicação.

Outro conceito ligado a este é o de desigualdade: na maioria dos casos, a pobreza

é a tradução das desigualdades nas classes mais baixas e desfavorecidas, ou seja, a

existência de pobreza é reveladora de desigualdades no acesso aos bens essenciais. Outra

importante distinção a ter em conta é o facto da desigualdade registar a quantidade de

recursos existentes pelos agregados familiares, não tendo em conta os respectivos níveis

de vida.

Por outro lado, a pobreza é um conceito que se aplica a um indivíduo

independentemente das pessoas que o rodeiam, enquanto a desigualdade implica pelo

menos a existência de duas pessoas para ser feita uma comparação: deste modo, é

necessário recorrer a instrumentos estatísticos e índices de desigualdade.

Além da questão da pobreza, surge o conceito de equidade, que considero

influenciar em muito toda esta temática. Neste contexto, segundo os princípios da

equidade, todo o indivíduo deveria, de acordo com os direitos universais, enquanto parte

integrante da sociedade, ter o direito a um emprego e uma vida que proporcione bem

estar. Segundo diversos autores, qualquer um deve poder aceder às necessidades básicas,

ter uma nutrição adequada, acesso à saúde, abrigo, vestuário, educação e sobretudo viver

sem vergonha, integrando as diversas estruturas sociais actuais (Nunes, 1999).

É também importante ter em conta que acabar com a pobreza não significa apenas

dotar de recursos os elementos pobres de uma sociedade, é necessário assegurar a

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convertibilidade desses recursos em bens e serviços que satisfaçam as necessidades de

que se sofre privação. O grande problema baseia-se nessa convertibilidade, devido ao

facto de existirem grandes falhas na oferta de bens e serviços (alimentação, fornecimento

de água potável e habitação) aos agregados domésticos. Por outro lado, também é

necessário dotar os pobres de capacidades suficientes para obterem os recursos que

precisam e esse é o verdadeiro desafio (Nunes, 1999).

2.2 Tipos de pobreza

A evolução do conceito de pobreza dá origem a diferentes dicotomias do conceito

de pobreza: pobreza absoluta/relativa (aquela em que irei centrar o meu trabalho),

pobreza objectiva/subjectiva, pobreza tradicional/nova pobreza, urbana/rural e

temporária/duradoura. A pobreza absoluta/relativa faz parte da pobreza objectiva, por

oposição à pobreza subjectiva. A pobreza absoluta trata-se de um conceito normativo,

que presume a possibilidade prática de definir o limiar da pobreza por critérios de base

científica. Este tipo de pobreza absoluta baseia-se num conjunto de necessidades básicas

tendo em conta várias dimensões inerentes à noção de recursos (rendimentos, bens de

capital), enquanto a pobreza relativa relaciona essa situação com os padrões sociais em

geral, ou seja, com o tipo de sociedade em que o indivíduo está inserido. A pobreza

objectiva como o nome indica é directa, ou seja, baseia-se num padrão de referência que

distingue as diferentes situações de pobreza caracterizando objectivamente os pobres.

A pobreza tradicional é aquela que existe há mais tempo por estar inteiramente

ligada com uma situação crónica, ligada ao mundo rural, bastante inferiorizada.

Actualmente, em oposição a este tipo de pobreza, surgem os “novos pobres”, vítimas do

novo sistema produtivo, da reestruturação económica, novo capitalismo e mudanças no

sistema produtivo. Esta nova pobreza afecta os indivíduos em questões sobretudo

relacionadas com o emprego: poucos postos de trabalho, desemprego estrutural, a longo

prazo, entre outros.

A pobreza rural está directamente relacionada com o meio em que ocorre, o meio

rural. Existe sobretudo devido à escassez de recursos que provêm da baixa produtividade

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agrícola como base do sustento das famílias, da dependência face a subsídios do estado,

pensões de reforma (grupos de idosos) entre outros. A pobreza urbana, as formas de

pobreza são mais visíveis ou pelo menos mais contrastantes: qualquer um, devido a

questões de emprego, doença, invalidez, problemas sociais (toxicodependência,

alcoolismo, deficiência), pode estar sujeito a ser vítima de exclusão, segregação ou

discriminação. Nestes casos, os rendimentos são baixos e as qualificações dos indivíduos

ditam o seu futuro; no meio rural, como a forma de subsistência é a agricultura, as

diferenças socioculturais são muito menores.

Os casos de pobreza suburbana também começam a ter grande impacto, devido a

questões problemáticas cada vez mais conhecidas na nossa sociedade, como a

delinquência, a prostituição e o tráfico de droga.

Por último, importa distinguir a pobreza temporária de duradoura: a primeira

relaciona-se directamente com a entrada e saída de determinados fluxos num período de

tempo estipulado; a segunda remete para um processo de longa duração, que pode ter um

carácter cíclico e agravar ainda mais a situação de pobreza. Um dos exemplos mais

representativos diz respeito ao desemprego de longa duração que pode potenciar

situações de precariedade e grandes privações.

O meu trabalho recai essencialmente sobre a pobreza absoluta e relativa,

calculando a linha de pobreza absoluta para um indivíduo equivalente e algumas questões

sobre a linha de pobreza relativa.

A concepção de pobreza absoluta entende a natureza da pobreza como associada

à não satisfação de um conjunto de necessidades básicas e portanto na ideia base de

subsistência. Estas necessidades são identificadas através de processos próprios, podendo

estar relacionado com o contexto social. Para se viver numa situação de pobreza absoluta,

diz-se que os indivíduos carecem de requisitos fundamentais para a existência humana:

comida suficiente, abrigo e roupa. Um indivíduo que se encontre abaixo deste padrão

universal, é considerado vítima de pobreza absoluta. Rowntree é considerado o primeiro

autor a utilizar este termo, tendo mais tarde sido seguido por outros autores, como

Orshansky (Rowntree e Orshansky apud Nunes, 1999).

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A concepção relativa de pobreza apareceu como alternativa por parte de alguns

autores que não se identificaram com a concepção de pobreza absoluta. Segundo esta

concepção, um elemento da sociedade é pobre quando não tem recursos suficientes para

sustentar um nível de vida que é generalizado e aceite na sociedade que integra,

mantendo-se numa posição de exclusão social. Enquanto a concepção absoluta de

pobreza considera primordial a incapacidade de subsistência biológica das necessidades,

na concepção de pobreza relativa é o contexto social que determina as necessidades a

satisfazer. Na pobreza absoluta trata-se de casos mais extremos, enquanto a relativa

permite comparar com outros dentro da própria comunidade. Os defensores do conceito

de pobreza relativa, argumentam que é mais apropriado utilizar um conceito que

relaciona a pobreza com o padrão de vida geral prevalecente numa determinada

sociedade, visto que as necessidades podem variar consoante a sociedade considerada.

Em muitos países industrializados o uso de casas de banho com água corrente,

autoclismos e o consumo regular de frutas e vegetais pode ser visto como uma

necessidade básica para uns e como algo supérfluo para outros indivíduos.

Entre as diversas definições, existem duas ideologias diferentes relativamente á

pobreza absoluta: Rowntree formulou a sua ideia base de pobreza absoluta, seguida por

Towsnsend que estimavam este tipo de pobreza através de um padrão fixo e universal (in

idem). Segundo este último autor, se os elementos de uma sociedade forem ordenados

por nível de rendimento, à medida que vai diminuindo o rendimento, a exclusão social

começa a diminuir mais do que proporcionalmente em relação ao rendimento. No

entanto, esta ideia nem sempre funciona, pois aponta o limiar da pobreza para uma

proporção constante da média ou da mediana do rendimento da sociedade, o que será um

instrumento de medida da desigualdade e não da pobreza em si.

Algumas críticas à abordagem relativa defendem que a pobreza deve ser vista

como um fenómeno absoluto, para que seja possível distinguir as situações de privação

extrema das outras, obviamente considerando padrões distintos, adaptáveis às situações

em questão.

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2.3 Algumas Variáveis de Medição da Pobreza

Além da existência de diversos tipos de pobreza, é importante ter em conta a

existência de diferentes variáveis de medição da pobreza. As principais variáveis

utilizadas numa análise socioeconómica são: o método directo e o consumo, os recursos

totais ou riqueza, a despesa e o rendimento.

O método directo e o consumo adopta como unidade de mediação, o cabaz de

necessidades mínimas, definido previamente, sendo este uma unidade não monetária. O

que realmente importa neste método é saber se a satisfação das necessidades traduzidas

pelo cabaz determinado é ou não satisfeito, não sendo influenciado pelos preços ou por

outras variáveis. Este método consiste na identificação dos pobres que não satisfazem as

necessidades mínimas diariamente. No entanto, não permite equacionar a situação de

forma a permitir a medição em termos monetários, logo surge a alternativa do consumo.

O consumo representa o estilo de vida a nível material que um indivíduo ou um

agregado doméstico consegue ter, incluindo a parte correspondente à autoprodução e ao

auto consumo. Através do consumo não é possível explicar o padrão de “vida potencial”

visto que tudo o que está incluído no consumo, quer sejam bens primários ou

secundários, é contabilizado da mesma forma. Assim, um indivíduo que esteja abaixo da

linha de pobreza poderá consumir diferentes tipos de bens, até os bens supérfluos, sem se

saber ao certo como. O consumo poderá também traduzir os rendimentos da pessoa ao

longo da vida, ou a forma como utiliza esse rendimento.

A despesa é uma variável que tem muitas características semelhantes ao consumo,

porque representa em grande parte o nível de vida dos indivíduos. Através da despesa

também não é possível saber qual a estrutura dos gastos efectuados (se as despesas feitas

são as que cobrem as necessidades essenciais ou não). Também não é tido em conta se a

despesa feita é considerada despesa potencial ou sustentada, mas apenas aquela que é

efectivamente sustentada. Podem, deste modo, surgir situações em que as despesas feitas

por um agregado doméstico não estejam de acordo com os seus rendimentos, gastando

mais do que devem (gerando endividamento) ou poupando por receio de eventuais

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necessidades. A despesa é mais representativa das condições de vida dos agregados e

poderá constituir uma das principais preocupações desses mesmos agregados.

Para estimar as linhas de pobreza podemos recorrer a dados relativos aos recursos

totais disponíveis de cada indivíduo na sociedade. Esta variável representa um “stock” e é

considerada a mais indicada para medir a pobreza, dado que engloba todos os recursos no

momento da análise. Evidencia desde modo o bem-estar do indivíduo na sociedade,

Apesar de ser um bom instrumento de análise, a sua implementação implica algumas

dificuldades visto ser complicada a sua medição. Alguns bem são facilmente avaliados ou

equivalentes a uma determinada riqueza: outros bens, não são devidamente representados

na relação preço-riqueza. Torna-se então difícil generalizar a informação necessária

devido à falta de dados existentes ou, os custos da sua obtenção.

O rendimento é a variável mais conhecida e mais utilizada na medição da

pobreza, visto ser aquela que representa exactamente a forma como os agregados

domésticos e familiares gerem a sua economia. O rendimento corrente é aquele que é

usado na maioria dos casos, visto que representa a generalidade da situação. No entanto,

existem algumas desvantagens nesta variável: em primeiro lugar, representa a situação

económica de um agregado num determinado período de tempo, que pode não

corresponder à situação real existente; outra desvantagem é devido ao facto de, nos dados

relativos ao rendimento, haver uma tendência para a aproximação de extremos, não tendo

em conta os que auferem maiores ou menores rendimentos.

Por outro lado, o rendimento inclui a poupança, que representa uma parte

fundamental da economia dos agregados, permitindo contabilizar a parte que não é

utilizada na aquisição de bens. O rendimento é, em termos gerais, de mais fácil obtenção

do que as outras variáveis, representando, deste modo, preferência, a variável de medição

da pobreza.

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2.4 Linhas de Pobreza

De forma a estudar um fenómeno como a pobreza, é necessário recorrer a um

importante instrumento de medição e análise: a linha de pobreza. Assim, torna-se

importante definir este instrumento e explicar como actua. Em termos gerais, pode ser

visto como um patamar de referência em que se define se um elemento da sociedade deve

ou não ser considerado pobre. Deste modo, a aceitação da sua existência determina o que

chamamos “limiar da pobreza”, dependendo é claro do contexto em questão e de forma a

fazer uma análise rigorosa sobre a população em estudo.

A definição de uma linha de pobreza absoluta requer a prévia resolução de um

conjunto de questões: quais as necessidades que devem considerar-se como básicas?

Quais os indicadores representativos dessas necessidades? É possível reunir todos os

indicadores num só único indicador síntese numa única linha de pobreza?

Para definir a linha de pobreza relativa, é necessário ter em conta estas questões

mas sobretudo relacioná-las com os costumes, padrões de vida e actividades correntes na

sociedade. Neste trabalho, irei estimar a linha de pobreza absoluta para um elemento da

sociedade que será considerado, de uma forma geral, como estando numa situação de

pobreza que não lhe permite aceder a um conjunto mínimo de bens.

No entanto, é importante referir que se um indivíduo se encontra numa situação

ligeiramente afastada da linha de pobreza, isso não significa que ele não sofra privações

profundas, ou iguais àquele que esta dentro dos “padrões” da linha de pobreza. Assim,

uma linha de pobreza é um instrumento de orientação e não fornece um conjunto de

respostas exactas e fiáveis, mas sim aproximadas, que procurem reflectir a realidade

social. A linha de pobreza tem então como principal objectivo distinguir os indivíduos na

sociedade, como elementos pobres ou não pobres.

Independentemente do valor dessa linha, ou do seu grau de imprecisão, ela é

indispensável para uma análise rigorosa da pobreza e aqueles que se encontram abaixo

desse valor, constituem a população realmente preocupante no nosso país.

O estudo em causa diz respeito aos anos de 1989-90 e 1994-95, retratando

ficticiamente um indivíduo Português (Nunes, 1999).

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3. Evidências para Portugal Continental

Nesta parte do trabalho irei falar sobre a situação de Portugal nas questões de

pobreza e rendimento dos agregados familiares, em linhas gerais na primeira metade da

década de 90, utilizando como principais fontes, informação dos Inquéritos aos

Orçamentos Familiares (IOF) realizados pelo Instituto Nacional de Estatística para os

anos de 1989-90 e 1994-95 (INE apud Nunes, 1999).

O processo de desenvolvimento da economia Portuguesa traduziu-se, na primeira

metade década de 90 (até 1995 consideravelmente), num crescimento significativo do

rendimento médio disponível real das famílias. No entanto, deu-se de uma forma

significativa um agravamento das assimetrias na distribuição do rendimento traduzido

num aumento da pobreza. O desempenho da economia Portuguesa contribui de forma

geral para o agravamento das assimetrias existentes. Em 1991, o ritmo de crescimento

começou a desacelerar significativamente, vindo a registar, em 1993, uma quebra de

perto de 1,5%. Outros factores importantes, como a recessão, afectaram não só as

economias Europeias mas também Portugal, tendo sido registado com mais intensidade

em 1992/1993. A juntar a esta situação, registou-se um agravamento do desemprego, uma

degradação do poder de compra dos salários, assim como uma progressão do PIB em

média anual (entre 1991-1995) apenas 1,3% (in idem).

Em 1994, Portugal registou uma elevada taxa de pobreza relativamente aos

agregados domésticos privados (26%) e as taxas referentes aos indivíduos não se

afastaram muito dos agregados familiares podendo concluir-se que a dimensão da família

não altera em muito a situação de pobreza, sendo a escassez de recursos o problema

essencial. Nas características estruturais da economia Portuguesa importa referir que as

actividades da indústria, serviços e da própria criação de emprego, originam grandes

desigualdades na repartição do rendimento, potenciando maiores custos com o apoio

social.

Desde 1990 a 1995, relativamente ao leque salarial, a diferença entre os

trabalhadores não qualificados e os mais qualificados foi bastante significativa, fazendo

aumentar as desigualdades sociais.

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No entanto, no que se refere ao padrão de vida médio da população Portuguesa é

de salientar que o nível de vida tem vindo a melhorar significativamente o que é

evidenciado por diversos padrões de consumo. Revela também por outro lado, um

recurso ao endividamento e uma redução do nível de poupança das famílias. De 1990 a

1994, a taxa de poupança reduziu-se de forma generalizada e os agregados familiares têm

começado a optar por consumir bens duradouros, em detrimento da poupança.

Relativamente às receitas Médias Anuais ‘por adulto equivalente’ dos Agregados

Familiares, têm-se verificado no mesmo período em questão, profundas desigualdades. O

rendimento disponível dos agregados familiares aumentou significativamente, sobretudo

naqueles que possuíam escalões com rendimento mais elevados.

Tendo em conta uma análise mais direccionada com o problema da pobreza, é

possível retirar algumas conclusões nesta matéria: a taxa de pobreza em Portugal,

avaliada pela percentagem de agregados familiares com receita média anual, por adulto

equivalente, inferior a 50% da média nacional, passou de 19,1%, em 1990, para 22,5%,

em 1995.

Na maioria dos casos, as situações mais graves de pobreza devem-se a um

conjunto de fenómenos que caracterizam os agregados domésticos como o tamanho dos

agregados (por ex: nº de filhos), a existência de pessoas idosas a receber pensões,

instrução do representante do agregado e situações de desemprego de longa duração.

Relativamente às condições de habitação em Portugal, é possível, através de uma

quadro exemplificativo, explicitar a existência de sintomas de pobreza no nosso

continente.

Quadro 1:Sintomas de Pobreza em Portugal Continental

Característica do Alojamento Número de alojamentos Barraca 17.792

Área habitável inferior a 20 m2 46.358

Sem água canalizada 218.067

Sem electricidade 56.781

Sem sistema de esgoto 244.218

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14

Principal fonte de receita do

agregado

Número de agregados

Assistência Social 29.471

Pensões 897.525

Fonte: INE – Instituto Nacional de Estatística (1997) - dados relativos a 1994-95 (INE

apud Nunes, 1999: 15).

Através dos dados relativos à habitação e às principais fontes de receita destes

agregados domésticos, é possível compreender que a pobreza existe e de forma bastante

significativa. Segundo dados do INE (Instituto Nacional de Estatística, relativos a

1994/95), Portugal Continental tinha cerca de 3,145 milhões de agregados domésticos,

existem perto de 18.000 barracas que servem de alojamento e quase 30.000 agregados

domésticos cuja principal fonte de receita é a assistência social1. Importa referir que neste

estudo não são incluídos indivíduos sem-abrigo nem alojamentos colectivos, como os

lares de idosos (in idem).

No entanto, as condições de habitação em Portugal apesar de terem vindo a

melhorar desde 1991 até 1995 continuam a estar longe do que deveriam demonstrar:

segundo dados do INE, apesar de se ter vindo a verificar uma melhoria das condições de

habitação (mais casas com água canalizada e electricidade), ainda existe uma

percentagem significativa da população que não acede a elas. Se por um lado, cerca de

79% da população tem acesso ao uso da electricidade, 17,8% não tem instalações de

banho ou duche.

Deste modo, apesar de Portugal representar um país desenvolvido, continuam a

persistir situações de pobreza e diversos agregados domésticos vivem nesta situação.

1 Esta situação alterou-se recentemente podendo não corresponder aos dados aqui indicados.

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4. Localização e Cálculo das Linhas de Pobreza

O conceito de linhas de pobreza é um tema muito controverso e difícil de lidar,

podendo existir propostas de abordagem subjectiva e abordagens absolutas e relativas da

pobreza.

Numa abordagem subjectiva considera-se que um investigador ao estipular certas

linhas de pobreza saberá fazê-lo da mesma forma que o público em geral ou um conjunto

de pobres em particular. Deste modo, qualquer um destes grupos terá capacidades de

estipular o que deve ser o limiar da pobreza aceitável, sabendo quanto estão dispostos a

pagar para assegurar um rendimento mínimo. Assim, esta abordagem subjectiva recai no

facto de um investigador não ter necessariamente melhores opiniões do que o resto da

sociedade, ou com aqueles que realmente são vitimas de pobreza.

Em oposição a esta visão, surgem as abordagens absoluta e relativa, que

defendem que a linha de pobreza deve ser realizada com base em opções que tenham a

maior objectividade possível. No entanto, opta-se na maioria dos casos por uma

abordagem subjectiva, tentando descobrir qual o nível de rendimento considerado

(individualmente) como mínimo indispensável. Deste modo é assim essencial ter em

conta o nível de rendimento mínimo relativamente ao nível de privações sofridas.

Importa também realçar que a linha de pobreza deve ser susceptível de ser financiada,

que consiste no montante que as pessoas estão dispostas a pagar de forma geral como

garantia de rendimento.

A pobreza, como problema central, tem de ser distinguida do problema da

desigualdade e das diferentes linhas de pobreza. Torna-se então importante distinguir as

linhas de pobreza absolutas das relativas, tendo em conta a forma como são calculadas.

Segundo Rowntree, a linha de pobreza consistia no orçamento necessário para se adquirir

o cabaz de bens essenciais definido como os bens sem os quais se estaria em pobreza. É

também necessário referir a definição de certos bens alimentares indispensáveis,

nomeadamente atribuindo-se valores do orçamento de subsistência com base na

estimação das necessidades alimentares e de Coeficientes de Engel (in idem). O

coeficiente de Engel relaciona a despesa de um consumidor/consumidores em certo

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bem/conjunto de bens com o seu rendimento total. Assim, o coeficiente representa a

proporção do rendimento que é despendido em produtos alimentares. Deste modo, a linha

de pobreza absoluta consiste no nível de rendimento que permite adquirir um cabaz

baseado na dieta alimentar que traduz as necessidades alimentares pelos hábitos

alimentares locais e na aplicação do coeficiente de Engel.

Em oposição à linha de pobreza absoluta, surge a linha de pobreza relativa,

concepção desenvolvida sobretudo por Townsend (Townsend apud Nunes, 1999). Esta

linha de pobreza relativa surge quando o rendimento é tão baixo para a participação do

agregado doméstico na sociedade é posta em causa, isto é, á medida que o nível do

rendimento vai diminuindo na escala de rendimentos e a diminuição da participação

social começa a aumentar mais do que proporcionalmente, aí se encontra a linha de

pobreza. Diferentes métodos de estudo surgiram nesta área procurando definir linhas de

pobreza fixadas numa proporção da média ou da mediana da variável de mediação da

pobreza, sendo esta proporção normalmente fixada em metade ou numa percentagem

próxima da metade (ex: linha da pobreza em 50% da mediana da variável).

De forma a estimar as linhas de pobreza escolhi aquela que considerei mais

pertinente: falarei brevemente da linha de pobreza relativa, e essencialmente da linha de

pobreza absoluta e de que forma a devo calcular.

A linha de pobreza absoluta seleccionada é a referente à aplicação dos

coeficientes de Engel dada a maior qualidade de informação sobre as necessidades

alimentar por ser de mais fácil explicação. Irei calcular a linha de pobreza absoluta em

Portugal, tanto no período de 1989/1990 como no período de 1994/1995, tentando

explicar como cheguei a esses resultados. Cada linha de pobreza será estimada para um

adulto equivalente, como já referi, correspondendo a linha de pobreza, para cada tipo de

agregado (segundo a sua composição) à multiplicação desse valor pelo número de adultos

equivalentes do agregado em questão (Nunes, 1999).

Os dados que serviram de base neste estudo são relativos ao Orçamentos

Familiares retirados de um estudo do Instituto Nacional de Estatística nos anos de 1989-

1990 e 1994-1995. Estes dados correspondem a agregados familiares residentes em

Portugal Continental, representativos do país. Neste agregado foram incluídos apenas

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indivíduos que vivem em alojamentos não colectivos, deixando outros tipos de sub

grupos sociais como os residentes em alojamentos colectivos, os sem abrigo, ou aqueles

que não têm morada fixa para outros estudos.

A unidade de observação recai sobretudo nos agregados domésticos privados,

estabelecendo a relação entre os indivíduos e o alojamento. O tipo de dados recolhidos

para cada agregado são baseados na ponderação da população, nas características da

demografia e geográficas e, claro, nas receitas líquidas desses agregados. As amostras no

que concernem a Portugal Continental tiveram em 1989-90 uma dimensão de 9640

agregados e de 8130 em 1994-95. Primeiro serão estimadas as linhas de pobreza para

1989-90 e só depois para as de 1994-95 (in idem).

A estimação das linhas de pobreza absolutas requer mais trabalho e tempo do que

as linhas de pobreza relativas. Quatro passos fundamentais para a estimação das linhas de

pobreza absoluta devem ser tidos em conta: escolha de um padrão nutricionista adequado;

tradução do padrão adoptado numa dieta de referência; estimação do custo da dieta a

preços de mercado e por fim estimação da linha de pobreza a partir do custo da dieta e

dos Coeficientes de Engel. Devido a diferenças significativas entre as necessidades

nutricionistas consoante o sexo, surge a necessidade de se usar uma escala de

equivalência específica. Deste modo, estabeleceu-se um estudo em que as necessidades

nutricionistas de um adulto equivalente correspondem às de um adulto masculino, devido

à quantidade de informação disponível nesta matéria.

Para estimar as linhas de pobreza absoluta para 1989-90 foi escolhido um padrão

nutricionista diário que consta dos seguintes pontos: quantidade diária de energia, fibras e

principais vitaminas e oligoelementos; proporção de cada um dos cinco principais grupos

alimentares e de cada um dos três principais tipos de nutrientes no contributo para a

energia total da dieta. Por último importa referir a proporção de energia de cada uma das

origens das proteínas no total da energia proveniente de proteínas. O padrão em questão

foi seleccionado com base nas recomendações presentes em duas importantes fontes: a

tabela de necessidades em calorias e nutrientes por grupos de idades e sexos, produzida

em 1997, apresentada pelo Centro de Estudos de Nutrição do Instituto Nacional de Saúde

e também baseada em estudos do mesmo, presentes na obra a “Alimentação Racional e

Nutrição”.

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Quadro 2: Padrão Nutricionista Diário Adoptado

Bem Medida Padrão Energia kcal 2800

Proporção do Grupo I (%) 7 a 10

Proporção do Grupo II (%) 7 a 10

Proporção do Grupo III

(%)

15 a 20

Proporção do Grupo IV

(%)

40 a 50

Proporção do Grupo V (%) 20 a 30%

Hidratos de Carbono Proporção da energia (%) 60 a 65

Gorduras Proporção da energia (%) 20 a 30

Em relação a esta fonte, convém notar que a única actualização disponível da tabela é a

de 1982 (Instituto Nacional de Saúde, 1987), resultante da revisão pelo Centro de Estudos

de Nutrição, também aprovada oficialmente (por despacho de Julho de 1982). Esta

revisão é a que corresponde, de facto, à primeira fonte seleccionada para o padrão

nutricionista.

Proteínas Proporção de Energia (%) 10 a 15

Proporção de Origem

Animal (%)

40

Proporção de Origem

Vegetal (%)

60

Fibras G 11

Vitamina A Mg 1.5

Vitamina B1 Mg 1.5

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Vitamina B2 Mg 1.8

Vitamina PP Mg 18

Vitamina B6 Mg 2

Vitamina B12 Ug 3

Vitamina C Mg 75

Cálcio Mg 1200

Fósforo Mg 1200

Magnésio Mg 350

Sódio Mg 2200

Potássio Mg 3700

Ferro Mg 15

Zinco mg 15

Fonte: (Instituto Nacional de Saúde [1987] apud Nunes, 1999: 56-57)

São várias as dietas que podem ser concebidas com base no padrão proposto, mas

nenhuma seria adequada ao fim proposto, sendo que se procura uma dieta diária de

referência que seja barata, mas variada. Tem como principais objectivos garantir que a

dieta permita uma vida saudável a par com um trabalho bastante moderado, sendo

enquadrada em determinados hábitos alimentares e seja tão acessível quanto possível.

Deve assim ser escolhida uma dieta de referência diária, que serve como orientação,

podendo fazer-se pequenas alterações quando necessário.

Quadro 3: Dieta Diária de Referência

Alimento Peso Edível (g) Peso Bruto (g) Leite de vaca magro - UHT 290 290

Requeijão (13% prot.) 60 60

Ovo inteiro 20 23

Frango inteiro 60 125

Sardinha gorda 30 50

Carapau 20 38

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Margarina de mesa com sal 15 15

Azeite 35 35

Pão de mistura trigo e

centeio

300 300

Arroz corrente 40 40

Esparguete 20 20

Grão-de-bico 10 10

Feijão branco 30 30

Açúcar branco 30 30

Couve-galega 110 200

Cenoura 100 122

Agrião 75 208

Alface 125 266

Batata 410 471

Banana 25 42

Laranja 100 145

Maçã 100 118

Pêra 150 192

Sal 1 1

Nota: a conversão do peso edível em peso bruto foi feita de acordo com os coeficientes

de conversão presentes na Tabela da Composição dos Alimentos Portugueses (Ferreira,

F.;Silva,M, 1985), (Ferreira e Silva apud Nunes, 1999: 58-59).

Uma vez determinada a dieta de referência será oportuno explicar que esta dieta

representa apenas um padrão de orientação e que pretende evitar doenças, mau

funcionamento do organismo, ou questões de má nutrição nomeadamente falta de

energia, alimentação desequilibrada, carência de fibras entre outros. O custo da dieta foi

calculado com base nos preços praticados no mercado, em 1989-90.

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Quadro 4: Preços considerados para o cálculo do custo da dieta em

1989-90

Alimento Peso Bruto (g) Preço unitário

(escudos/kg)

Preço total

(escudos) Leite de vaca magro

- UHT

290 55,5 16,1

Requeijão (13%

prot.)

60 868,3 52,1

Ovo inteiro 23 269,3 6,1

Frango inteiro 125 314,4 39,3

Sardinha gorda 50 167,0 8,4

Carapau 38 376,9 14,2

Margarina de mesa

com sal

15 300,8 4,5

Azeite 35 621,2 21,7

Pão de mistura trigo

e centeio

300 117,7 35,3

Arroz corrente 40 196,3 7,9

Esparguete 20 77,3 1,5

Grão-de-bico 10 166,5 1,7

Feijão branco 30 217,0 6,5

Açúcar branco 30 147,2 4,4

Couve-galega 200 147,2 4,4

Cenoura 122 89,0 10,9

Agrião 208 264,1 55,0

Alface 266 207,0 55,1

Batata 471 34,1 16,1

Banana 42 200,4 8,5

Laranja 145 117,0 17,0

Maçã 118 134,0 15,8

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Pêra 192 130,0 25,0

Sal 1 30,4 0,0

Fonte: INE, 1990, 1991, 1994. Pingo Doce: distribuição alimentar. Nota: Foram

consideradas as seguintes conversões: Leite: 1litro= 1,035 Kg; Ovos: uma

dúzia=0,765kg; Azeite: 1 litro = 0,915 Kg (INE apud Nunes, 1999: 60-61).

Assim, a importância estimada como necessária diariamente para se adquirir um

cabaz composto pela dieta considerada é de 452,4 escudos, o que equivale em termos

anuais a 165.113,5 escudos (equivaleria a 824€ aproximadamente).

Após estimar a componente alimentar da linha de pobreza, resta calcular a

componente não alimentar através do recurso ao Coeficiente de Engel. Esta análise será

baseada não nas relações existentes entre o rendimento total e a despesa em produtos

alimentares dos agregados que despendem o equivalente ao custo da dieta considerada

em produtos alimentares. Decidi, neste trabalho, não seguir esta linha porque estaria a

aproximar-se de despesas em produtos não alimentares, despesas em serviços e

poupanças em níveis inferiores aos que poderiam ser considerados aceitáveis. Assim, o

valor do coeficiente de Engel será o valor médio da proporção dos rendimentos totais

despendidos em produtos alimentares verificado para os agregados domésticos de

Portugal Continental. O coeficiente de Engel médio será o melhor instrumento para

caracterizar a especificidade das necessidades e o modo de vida dos indivíduos que

compõem a sociedade em geral.

O valor verificado pelo coeficiente de Engel médio para Portugal Continental em

1989-90 segundo os dados dos inquéritos aos orçamentos familiares foi de 0,3018. Deste

modo, a linha de pobreza absoluta para um adulto equivalente em Portugal Continental

para este período corresponde a 547.117 escudos por adulto equivalente

(165.113/0,3018= 547.117 escudos, o que corresponderia a cerca de 2729€ por ano).

A linha de pobreza absoluta para 1994-95 foi estimada de forma semelhante.

Foram adoptados o mesmo padrão de necessidades nutricionistas e a mesma dieta

alimentar diária. A variação dos preços reflectiu-se na variação do custo da dieta, como

se pode observar no quadro 5.

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Quadro 5: Preços considerados para o cálculo do custo da dieta em

1994-95

Alimento Peso Bruto (g) Preço unitário

(escudos/kg)

Preço total

(escudos) Leite de vaca magro

- UHT

290 75,9 22,0

Requeijão (13%

prot.)

60 1160,1 69,6

Ovo inteiro 23 240,9 5,5

Frango inteiro 125 370,9 46,4

Sardinha gorda 50 317,7 15,9

Carapau 38 579,1 21,8

Margarina de mesa

com sal

15 531,3 8,0

Azeite 35 743,2 26,0

Pão de mistura trigo

e centeio

300 219,5 65,9

Arroz corrente 40 220,5 8,8

Esparguete 20 98,9 2,0

Grão-de-bico 10 275,4 2,8

Feijão branco 30 276,4 8,3

Açúcar branco 30 202.8 6,1

Couve-galega 200 183,1 36,6

Cenoura 122 102,4 12,5

Agrião 208 443,6 92,4

Alface 266 227,6 60,5

Batata 471 131,3 61,9

Banana 42 249,3 10,6

Laranja 145 141,4 20,5

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Maçã 118 160,3 18,9

Pêra 192 171,0 32,9

Sal 1 43,6 0,0

Fonte: INE, 1994, 1995. Pingo Doce: Distribuição Alimentar, S.A. Nota: foram

consideradas as seguintes conversões: Leite: 1 litro = 1,035 Kg; Ovos: uma dúzia = 0,765

kg; Azeite: 1 litro = 0,915 Kg (INE apud Nunes, 1999: 64-65).

A importância estimada como necessária diariamente para se adquirir o cabaz

composto pela dieta é de 655,7 escudos, o que equivale em termos anuais a 239.330,4

escudos (1193€).

O valor do Coeficiente de Engel médio para Portugal Continental também sofre

alteração, sendo em 1994-95 igual a 0,1926, segundo os dados do inquérito aos

orçamentos familiares neste período. Deste modo, a linha de pobreza absoluta para um

adulto equivalente, em Portugal Continental neste período corresponde a 1.242.826

escudos por adulto equivalente (6199€).

5. Algumas medidas de combate à pobreza

A tomada de consciência sobre a necessidade de lutar contra a pobreza é algo que

se torna óbvio para qualquer pessoa que conheça o mundo em que vive. A falta de

recursos disponíveis para uma enorme população ter um padrão de vida pelo menos

satisfatório tem sido assustadora ao longo dos tempos. No entanto, importa não só

sensibilizar a população, mas também as autoridades políticas para este combate.

Deste modo, existem várias medidas de combate à pobreza e à exclusão social

implementadas em Portugal. Neste trabalho decidi falar sobre três medidas: um programa

nacional chamado “Programa Nacional da Luta Contra a Pobreza”, a GCAP (Global Call

to Action Against Poverty) a e a outra baseia-se num conjunto de medidas gerais para a

definição de uma política de erradicação da pobreza.

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O Programa Nacional da Luta Contra a Pobreza existe em diferentes países mas

vou concentrar-me no programa relativo a Portugal. Em Portugal, este programa iniciou-

se na década de 80 e continua ainda hoje a propor variadas medidas e a desenvolver

projectos na luta contra a pobreza e exclusão social. Este programa tem como pilares

fundamentais os Comissários Regionais (Norte e Sul) de Luta Contra a Pobreza, criados

como estruturas dependentes do Ministério do Emprego e da Segurança Social.

O Programa Nacional de Luta contra a Pobreza, focalizado nas camadas mais

pobres (30% da população), pretende ser um instrumento integrador, que virá dar um

novo ânimo aos esforços que vêm sendo feitos no combate à pobreza. O principal

objectivo baseia-se em “construir sobre o existente”, tentando reforçar e melhorar as

estruturas sociais e explorando novas formas de lutar contra a pobreza, mais eficazes e

mais globais.

A luta contra a pobreza não é, nem pode, ser um exclusivo do Governo. O

programa pretende incluir alguns quadros do governo, os municípios, as organizações da

sociedade civil, as ONG’s (organizações não governamentais), as organizações

comunitárias e o sector privado, na tentativa de coordenar os esforços, para uma redução

sustentada da pobreza. É também importante referir no combate à dependência do

Estado, tentando manter uma posição positiva, através de um esforço próprio e coerente.

O PNLP constitui um instrumento que actua em diferentes locais; o objectivo é

fazer a luta onde estão os pobres e com os próprios pobres. Este trabalho desenvolve-se

em rede não só com a participação de diversas autoridades locais mas também com as

próprias populações e comunidades pobres (em alguns locais, foram desenvolvidos

programas municipais de luta contra a pobreza extremamente importantes).

Os principais objectivos metodológicos deste programa baseiam-se em três

pontos fundamentais: promoção de projectos especiais no combate à pobreza, face a

situações humanas inaceitáveis; coordenação de actividades dos diferentes departamentos

e entidades envolvidas neste combate, incluindo diversas iniciativas particulares e a troca

de conhecimentos e avaliação das acções empreendidas. Estas linhas gerais podem ser

desenvolvidas e especificadas em outras: adopção de uma visão multidimensional de

pobreza, de forma a definir estratégias para a sua erradicação e compreender as várias

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dimensões pessoais, sociais, económicas, profissionais, educacionais, culturais, políticas

e mesmo ambientais que estão envolvidas; estabelecer parcerias entre algumas entidades

paternais (rentabilizar e mobilizar recursos); mobilização da participação das populações

envolvidas de forma a implicar uma mudança, do próprio excluído para uma vida

diferente (auto avaliação e produção de conhecimentos teóricos e práticos no domínio da

intervenção/investigação); concentração das acções em zonas prioritárias e de maior risco

social, sobretudo zonas particularmente sensíveis do ponto de vista dos processos de

manifestação da pobreza. Este programa desenvolve também grandes processos de

mudança nas comunidades locais, através da criação de iniciativas de emprego,

actividades de integração social e acções de solidariedade.

A GCAP, em português “Campanha Global contra a Pobreza” é uma organização

mundial criada em Moçambique, no ano de 2003, de que fazem parte países dos cinco

continentes e que tem como principal objectivo não só o combate à pobreza como

também a consciencialização das forças políticas sobre o impacto deste fenómeno. Esses

grupos formam uma rede de coligações nacionais em mais de 100 países, apoiando cada

vez mais campanhas. Irei falar da organização de uma forma geral não especificando

nenhum país em particular.

A “faixa branca” é o seu símbolo e todos os que a usam fazem-no para chamar a

atenção deste problema em diferentes locais no mundo, relembrando a necessidade de

unir forças nesta luta.

O trabalho desenvolvido pela GCAP é sobretudo em sete áreas distintas,

relativamente ao fenómeno da pobreza: género, paz e segurança, comércio, dívida,

mudanças climáticas, prestação pública de contas e ajuda ao desenvolvimento. Todas

elas indicam medidas de combate à pobreza apelando a participação de diferentes

organizações internacionais. O principal objectivo é promover uma política de

desenvolvimento e realização dos direitos humanos, o cancelamento de dívidas, a

igualdade de géneros e a toda uma política de integração social dos mais pobres.

Relativamente à política de prestação pública de contas, justiça e direitos humanos os

principais objectivos são os de promover mecanismos redistributivos que assegurem a

equidade, implementar políticas que assegurem o emprego, garantir a igualdade de

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género, a paz e a justiça social. Por outro lado, no âmbito do “comércio” pretendem

assegurar o acesso ao alimento, à saúde, à não obrigação dos países em vias de

desenvolvimento serem forçados a abrir os seus mercados ao estrangeiro, proteger os

serviços públicos, entre outros. É também fundamental promover medidas de

desenvolvimento de forma a melhorar o PIB e a promover políticas de inserção social,

combatendo a exclusão social e a discriminação.

O que este programa traz de realmente novo é o facto de estar em rede com tantos

países e possibilitar a participação de um número cada vez maior de indivíduos, não só

colaboradores mas também de voluntários que poderão dar um pouco do seu contributo.

Nos anos de 2005, 2006 e 2007, foram levadas a cabo várias propostas de forma a

pressionar os líderes políticos mundiais a agir e tomar decisões sobre o fenómeno da

pobreza. Em 2006, uma das medidas tomadas mais conhecida foi o movimento “Levanta-

te contra a pobreza” em que 23,5 milhões de pessoas em todo o mundo participarem

neste ano. Ao fazê-lo estabeleceu-se um novo Recorde Mundial do Guinness e foi

enviada uma grande mensagem aos líderes mundiais de muitas potências.

Relativamente a outras medidas de combate à pobreza podem ser postas em

prática um conjunto de variadas políticas: política de emprego, de educação e valorização

dos recursos humanos (qualificações profissionais, requalificação de desempregados),

políticas de produtividade (relação trabalho/salários ganhos, ou mesmo políticas de

preços e consumo). Importa também referir que essas políticas podem ser redistributivas,

de urbanização e equipamento colectivo ou mesmo de participação social.

Irei falar brevemente de cada uma delas, de forma a explicar que se cada governo

nacional actuar em prol dessas medidas, poderemos diminuir significativamente o

impacto da pobreza nos nossos dias.

A política de emprego é uma das principais medidas tomadas pelo governo com o

objectivo de facilitar o acesso a novos postos de trabalho e a pôr em prática uma política

educativa. Pretende-se promover a qualificação dos desempregados e a qualificação dos

recursos humanos de forma a dotar os indivíduos de maiores competências para

integrarem o mercado de trabalho. Assim, com uma maior qualificação profissional, os

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indivíduos poderão aceder a melhores empregos, a diferentes cargos e essa situação

poderá influenciar os seus salários e consequentemente o nível de vida.

Muitos dos indivíduos que se encontram em situações de pobreza, devem-no ao

facto de não terem um emprego estável ou suficientemente remunerado, sendo por isso

cada vez mais importante a formação profissional.

Quanto às políticas educativas, é importante referir dois níveis distintos: por um

lado é importante motivar as populações para a importância da formação profissional,

assegurada por uma educação acessível a todos e que permita um bom emprego no

futuro; “no entanto, não basta tornar o ensino gratuito para que seja efectivamente

acessível as pobres”. Deste modo é importante promover políticas educativas nos meios

mais pobres, entre jovens de forma a combater o abandono escolar, o insucesso escolar e

nos próprios pais desses jovens. A qualificação profissional é mais uma vez fundamental

para garantir melhores empregos, visto existir uma forte correlação entre o nível de

instrução e a pobreza.

A política de salários, produtividade e preços é outra política directamente

relacionada com a subsistência de diversos agregados familiares. Um dos principais

motivos para a existência de situações de pobreza deve-se ao facto de muitos empregos

serem mal remunerados e portanto os salários não serem suficientes para cobrir todas as

despesas dos agregados familiares. Assim, é necessário associar políticas de preços com

políticas de produtividade, para gerar bons salários. É também fundamental assegurar a

existência de salários mínimos e pensões mínimas.

Relativamente às políticas de segurança social é fundamental referir uma das

mais conhecidas, as pensões. No entanto, muitas dessas pensões são atribuídas a

indivíduos que se encontram abaixo do limiar da pobreza, o que revela uma situação

particularmente crítica. É também importante ter em conta que se não existissem

determinadas prestações, subsídios e abonos de família, não seria possível alguns

agregados subsistirem o que revela uma situação de pobreza bastante acentuada.

A falta de urbanização adequada, associada a um modelo de crescimento

económico baseado na indústria, está relacionada com um tipo de pobreza muito

conhecido actualmente: a pobreza urbana. Muitos agregados domésticos vivem em

condições de habitação mínimas, com falta de equipamentos básicos (água, esgoto,

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electricidade etc). Esta política de urbanização tem como principal objectivo acabar com

essas situações, dando prioridade à construção de algumas infra estruturas e processos de

urbanização.

Por último, importa referir uma política recentemente adoptada e que tem vindo a

ganhar importância: a política de participação social. O seu principal objectivo é retirar o

pobre de uma situação de exclusão, discriminação ou afastamento, integrando-o nas

estruturas sociais. As camadas mais pobres da sociedade não têm participação activa na

sociedade em áreas como a política e em questões sociais. É então necessário

incrementar a participação desses pobres na sociedade, ajudá-los a ter “uma voz”, a

aceder aos recursos necessários para lutarem pelos seus direitos e se inserirem

socialmente. “A participação deve ser entendida na dupla dimensão de dignificação do

pobre, como cidadão e como pessoa” (Batista, 2000: 88).

6. Descrição detalhada da Pesquisa

Ao iniciar o trabalho e antes de começar a pesquisa, procurei delimitar, a partir

dos conhecimentos que dispunha, o campo de trabalho que pretendia realizar. Com o

progredir do trabalho fui juntando novas informações à medida que consultava novas

fontes.

Com o intuito de procurar as fontes de informação necessárias à concretização

deste trabalho dirigi-me à biblioteca da faculdade de Economia da Universidade de

Coimbra e pesquisei no catálogo on-line alguma informação de grande interesse.

Seguidamente procurei informação numa tese de mestrado de um aluno da Universidade

do Minho que estava em exposição na faculdade de economia e que se revelou essencial

em todo o meu trabalho.

Na biblioteca encontrei um conjunto variado de livros, alguns sobre pobreza e

exclusão social em Portugal e outros sobre diferentes tipos de pobreza e as principais

medidas de combate a este fenómeno. Os livros que utilizei constituíram a fonte de

informação mais rica, variada e pertinente.

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Outra forma bastante simples de aceder a informação relevante, foi através da

Internet, pelo que pesquisei inicialmente através do motor de busca Google e na

biblioteca de conhecimento on-line. As palavras-chave que utilizei foram: pobreza

absoluta/relativa, exclusão social, políticas em Portugal, rendimentos e Programa

nacional de Luta contra a Pobreza. Neste último encontrei 1.020.000 resultados, sendo de

todas as pesquisas a que mais tive de ir seleccionando e aproveitando a informação mais

importante.

Depois de algumas pesquisas de menor interesse, encontrei extractos de livros e

teses em algumas páginas da internet, que foram úteis para consulta sobre os diversos

tipos de pobreza e ocorrências no nosso país.

No entanto, a informação mais detalhada e útil que consegui obter foi relativa a

um estudo do Ministério do Planeamento sobre a “Distribuição do Rendimento e Pobreza

em Portugal e suas regiões” que disponibilizou não só grandes conhecimentos sobre o

impacto da pobreza mas também um conjunto de dados estatísticos ilustrativos do

mesmo.

Nos sites oficias do “Programa nacional da luta contra a pobreza” pude encontrar

informação mais detalhada tal como no site do INE (Instituto Nacional de Estatística)

devido a uma melhor organização da informação, esquematizada e de fácil leitura e

compreensão. A informação retirada de diferentes quadros e dados estatísticos tornou-se

essencial no cálculo da linha de pobreza absoluta.

Repeti esta pesquisa com diferentes motores mas não obtive grandes resultados e

decidi abandonar a experiência.

7. Ficha de Leitura

Nesta parte do trabalho redigi uma ficha de leitura de acordo com a ficha modelo

proposta, mas exposta em texto corrido.

O livro escolhido para a elaboração da ficha de leitura requerida neste trabalho

tem por título “A pobreza em Portugal”, da autoria de A. Bruto da Costa, Manuela Silva,

J. Pereirinha e Madalena Matos. Encontra-se disponível na Faculdade de Economia da

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Universidade de Coimbra com a cota 304-POB. O livro pertence à colecção “Cáritas” e

foi subsidiado pela Fundação Calouste Gulbenkian. O livro tem como área de interesse as

ciências económicas, sociais e humanas, mais conhecidas por socioeconómicas. Foi

editado em Outubro de 1985 na cidade de Lisboa e tem 207 páginas. Este livro é

resultado de um projecto de investigação sobre a Pobreza em Portugal, baseado num

inquérito às receitas e despesas das famílias (1980-81) e num Inquérito directo a uma

amostra de pobres (IDP) em Fevereiro de 1985.

Alfredo Bruto da Costa é coordenador do estudo “Um olhar sobre a pobreza” e

membro da Comissão Nacional de Justiça e da Paz. Este autor tem larga experiência de

estudo e investigação no domínio da pobreza, tema do seu doutoramento na Universidade

de Bath (Reino Unido). Manuela Silva é economista, professora Universitária, presidente

da CNJP e J. Pereirinha e Madalena Matos são também professores. O capítulo escolhido para a elaboração deste livro tem como título “V Parte:

Coordenação para a definição de uma política de erradicação da Pobreza” e tem 14

páginas. As palavras que considero ser palavras-chave são as seguintes: pobreza, tipos de

pobreza, escassez, erradicação da pobreza, recursos, repartição, desigualdade, exclusão

social, riqueza, desemprego, segurança social, pobreza absoluta/relativa, inadaptação,

crise, precariedade, reforma, insegurança, formação profissional e políticas sociais. O

texto está contextualizado com o período histórico em causa, recaindo sobretudo na

década de 80, mas estabelecendo um conjunto de medidas que devem ser aplicadas em

qualquer época.

Como introdução, pretendo explicar o tema do texto. O tema principal deste

capítulo recai sobre um conjunto de medidas ou politicas que devem ser postas em prática

independentemente do governo que esteja no poder, pois são medidas possivelmente

aplicáveis tanto nos anos 80 como nos anos 90 ou mesmo actualmente.

O fenómeno da pobreza em Portugal tem vindo a desenvolver-se com a existência

de novos tipos de pobreza, como os “novos pobres” e com o desenvolvimento de crises

económico-financeiras que fazem aumentar as desigualdades na repartição dos

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rendimentos. Esta questão afecta tanto as populações do meio urbano, como as do meio

rural, influenciando a economia do país e dando origem a fenómenos de exclusão social.

A pobreza encontra-se associada a diversos mecanismos de repartição do

rendimento, acesso a bens públicos e a equipamentos sociais. Deste modo, as

desigualdades existentes entre os empregados/desempregados, activos/não activos são

cada vez mais visíveis. As situações de pobreza existente no país têm particularmente três

tipos de origem: escassez de recursos para uma parte da população, existência desses

mesmos recursos mas aliados a um fraco desenvolvimento e utilização dos mesmos,

necessidade de produção de bens e serviços que satisfaçam as necessidades básicas da

população, insuficiência de planos de desenvolvimento e repartição desigual da riqueza e

do rendimento, não só relativamente aos salários pagos e aos impostos, mas também na

oferta de bens públicos.

Neste capítulo, como síntese, os autores referem a existência de cinco tipos de

pobreza: pobreza rural, associada à agricultura como base de subsistência, às condições

de vida precárias e ausência de valorização dos recursos humanos; trabalhadores manuais

não qualificados, sujeitos à insegurança constante no emprego; idosos e reformados que

vivem de pensões da Segurança Social; famílias vivendo em zonas degradadas, sem

condições e excluídas socialmente; os “novos pobres” que vivem a crise, o desemprego e

os maus salários e as situações de delinquência, doença crónica ou famílias

monoparentais. Como medidas de combate à pobreza surgem políticas de emprego,

educação, participação social, valorização de recursos humanos, políticas redistributivas e

de salários. Pretendem integrar os pobres na sociedade, requalificá-los, promover novos

empregos, oportunidades e criar um “rendimento social de base” como apoio aos mais

carentes.

Relativamente aos pontos fortes e fracos do documento, todo o texto revela um

conjunto de fenómenos explicados de forma clara, precisa, objectiva e de muito fácil

compreensão. O texto recorre a questões económicas e sociais estabelecendo um paralelo

entre elas e possibilitando a articulação entre os tipos de pobreza existentes e as políticas

no combate à erradicação da pobreza. O texto adquire assim um carácter explicativo, não

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só pelos conceitos existentes, mas também por conseguir resumir de forma estruturada o

verdadeiro combate à pobreza: melhoria do nível de habitação, instrução, saúde,

formação profissional, assistência técnica e da segurança social e reintegração dos pobres

na vida social.

Como conclusão devo dizer que a pobreza em Portugal não é um fenómeno

facilmente modificável, não só devido à existência de diferente tipos de pobres, mas

também pela dificuldade de pôr em prática algumas das políticas de combate referidas.

Importa principalmente referir que o combate à pobreza está relacionado com as forças

políticas do país, e segundo os autores do texto, deveria fazer parte das prioridades do

governo, de forma a poder ser extinta. Deste modo, as várias organizações de luta contra

a pobreza nacional e as pequenas organizações devem pactuar com o governo para travar

este fenómeno prejudicial ao país.

Todo o texto parece-me trazer grandes contributos para a questão da pobreza, na

medida em que explica de forma clara o seu impacto em Portugal. No entanto, mais

importante que se focar no nosso país foca-se nas verdadeiras políticas, ou seja, nas

soluções para este problema central que é a pobreza.

O facto de se basear em diversos autores tais como Benjamin Rowntree, Amartya

Sem ou Wolf Scott revela um conhecimento extenso sobre as temáticas da pobreza, as

linhas que a definem e as políticas que a combatem.

8. Avaliação da página da Internet

http://www.whiteband.org/

A página da Internet que decidi avaliar é a da GCAP (Global Call to Action

Against Poverty), em Português, Campanha Global Contra a Pobreza – Uma aliança pela

igualdade. O seu site oficial é http://www.whiteband.org/ cuja principal função é

estabelecer uma aliança entre sindicatos, grupos comunitários, associações religiosas,

organizações de mulheres e jovens, ONGs e outros participantes que trabalham em

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conjunto em mais de cem países na luta contra a pobreza. Esta associação apela a que

todos os membros participantes cumpram um conjunto de medidas que são a base da luta

contra a pobreza: aumento da qualidade e quantidade de ajuda e financiamento ao

desenvolvimento, igualdade de género, justiça comercial e sobretudo realização dos

direitos humanos.

A informação disponível nesta página tem como principal objectivo dar a

conhecer o plano desta campanha, não só no nosso país mas como em todos os países

integrantes com o objectivo de pressionar os seus líderes nacionais a tomadores de

decisões a mudar o rumo da pobreza. A página está direccionada para qualquer tipo de

público, visto que mesmo os que não participam nesta campanha pode aceder a todas as

informações sobre projectos desenvolvidos, parcerias feiras pela GCAP, organizações,

grupos criados neste âmbito e o trabalho desenvolvido ao longo dos anos. A língua

original do site é Inglês, mas ele pode ser acedido em Francês, Espanhol, Português e

numa quinta língua que não consegui identificar, mas que não pertence à União Europeia.

Esta campanha surgiu em Setembro de 2003 em Moçambique e a partir daí

desenvolveu-se em diversos países, tendo tipo alguns pontos altos em 2005 (diversos

apoiantes da GCAP conduziram mais de 38 milhões de acções em torno do mundo para

pressionar políticos e líderes mundiais), em 2006 (23,5 milhões de pessoas em torno do

mundo participaram no programa “Levanta-te contra a Pobreza”, estabelecendo um

novo Record Mundial do Guinness, enviando uma poderosa mensagem aos líderes

políticos nacionais e mundiais e em 2007, o ano de maiores coligações. Em 2008

actuaram sobretudo no Dia Internacional da mulher.

Os autores desta página não estão logo à primeira vista identificados visto ser uma

campanha que integra cem países dos cinco continentes: Europa, América, África, Ásia e

Oceania. Pertence deste modo a uma instituição e a última actualização parece ser de

Março de 2010, visto não estar agendada nenhuma programação para os meses de Abril e

Maio de 2010.

Como o site diz respeito a uma organização mundial, só conseguimos aceder ao

contacto da GCAP de Média e Imprensa: Ciara O'Sullivan, Campanha Global de Ação

contra a Pobreza – GCAP. No entanto, é possível saber quem são os porta-voz desta

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organização: Ana Agostinho é Co-presidente, assim como Sylvia Borren, entre outros

coordenadores.

A dimensão de autoria do site parece-me muito grande, dado que envolve não só

muitos colaboradores de diferentes países, mas também um número considerável de

voluntários que participam em muitas das manifestações e que têm como principal

objectivo criar “uma voz” que defenda os mais pobres.

A estrutura do endereço é bastante interessante pois remete para a sua importância

simbólica: a “facha branca” (white band) é uma facha que une todos os membros da

GCAP: um símbolo que pessoas, vilas e cidades em todo o mundo podem adoptar para

mostrar que fazem parte dessa organização. Esta facha tem uma grande visibilidade e

ajuda ao sentimento de pertença nessa organização.

Os instrumentos de pesquisa existentes são de fácil compreensão, a navegação na

página é bastante fácil e todas as ligações são pertinentes, de fácil acesso e divididas em

capítulos: “O que é a GCAP?”; “Notícias”; “Recursos”; “Documentos”, entre outros.

Toda a informação está exposta de forma muito objectiva e qualquer pessoa que a visite

não terá dificuldade em encontrar aquilo que pretende sobre o tema.

A única publicidade que existe na página diz respeito a programas contra a

pobreza que se vão realizar durante o ano. Essa publicidade por estar directamente

relacionada com o tema atrai facilmente qualquer um para as mais variadas campanhas.

Assim, posso concluir que a dimensão de estrutura e navegação no site é simples

e objectiva.

A informação que recolhi desta página diz respeito a um conjunto de medidas de

combate à pobreza aplicadas por todos os países integrantes no projecto. Apesar do meu

trabalho recair sobre a pobreza em Portugal, a informação que retirei do site foi relativa

às políticas que devem ser postas em prática independentemente do país e das forças

políticas. Deste modo, pude enquadrar esta pesquisa nas “medidas de combate à pobreza”

dado que propõe toda uma sensibilização para esta temática e incita à mobilização de

vários indivíduos a participarem neste programa. Importa também referir que a

informação retirada deste site está de acordo com a informação que tirei de outros livros e

de outras fontes de informação, pelo que se tornou mais fácil compreender cada medida.

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Este site está interligado com muitos outros, pelo que se procurarmos “GCAP” na

internet através do motor de busca google iremos obter 158.000 resultados.

Quanto ao grafismo da página penso que ajuda em muito toda a sua leitura. Está

devidamente subdividido e esquematizado, tendo uma parte dedicada só ao

funcionamento do programa, outra para as notícias e outra para os projectos em curso. O

site dispõe de algumas fotografias elucidativas das medidas de combate à pobreza,

bastante coloridas mas que permitem uma fácil leitura. A impressão é possível realizar-se

com sucesso e todo o formato da página é adequado.

Por último, é fundamental realçar a qualidade da informação disponível, não só

para o trabalho mas para qualquer indivíduo que queira estar informado sobre os vários

projectos em execução não só em Portugal mas também em muitos outros países. Deste

modo, quem quiser tornar-se voluntário pode aceder a esta página e tornar-se membro

desta iniciativa. Avalio assim esta página da internet de forma muito positiva pois fornece

dados consistentes, importantes e particularmente interessantes como o projecto “Pobreza

Zero” entre outros.

9. Conclusão

“No olhar do pobre que, quotidianamente, cruza o nosso caminho,

encontramos uma inquietante ausência de expressão. Em vez de um brilho de

liberdade encontramos solidão e vazio. No lugar da imagem poética do

vagabundo, surge-nos agora a figura do mendigo com toda a sua estranheza

de excluído e de marginal. Há algumas décadas atrás, o pobre, aquele a quem

estava prometido o reino dos céus, espera-nos, pacífica e humildemente, em

locais certos da cidade e as famílias tinham até aquilo a que podíamos chamar

os pobres de estimação que, de uma forma previsível e até afectuosa, batiam

à porta de casa em dia combinado do mês para recolher roupa e alimento.

Acontece que cada vez mais a figura do pedinte nos surge confundida com a

figura do estranho que inspira repulsa e medo” (Batista, 2000: 88).

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Esta citação de Isabel Batista demonstra uma realidade muitas vezes ignorada nos

nossos dias: a pobreza não é apenas um problema económico e social, é também uma

questão pessoal, pois inspira “repulsa e medo” a muitos indivíduos. Ao longo do meu

trabalho apercebi-me que o tema da pobreza e exclusão social é evitado por muitos

indivíduos na sociedade, que desprezam aqueles que não têm possibilidade de se integrar.

Os pobres são vistos como “mendigos ou marginais” sem muitas vezes conhecermos as

suas situações ou os motivos que os levaram a ficar nessa situação. A figura do mendigo

é vista como alguém que está à margem da sociedade e que não se pode inserir

socialmente como os outros.

Durante todo este trabalho tentei focar-me sobretudo no conceito de pobreza

absoluta, sem esquecer outros tipos de pobreza e as principais medidas de combate à

pobreza. Como o meu objecto de trabalho recaía sobre Portugal, procurei calcular a linha

de pobreza absoluta de um adulto equivalente a título exemplificativo. Ao escolher uma

variável sócio económica pude explicar o conceito da pobreza numa variável social, mas

também através de informação estatística e dados quantitativos. Os resultados obtidos

revelam uma linha de pobreza mais baixa do que poderia imaginar e apesar de Portugal

ser um país desenvolvido, alguns indivíduos continuam a viver em condições mínimas.

Com este trabalho aprendi não só como calcular a linha de pobreza absoluta e a

importância do Coeficiente de Engel, como compreendi que a pobreza em Portugal existe

e de forma significativa. Apesar de Portugal ser um país desenvolvido, continuam a

existir diferentes tipos de pobreza, não só pobreza absoluta, mas também formas

evidentes de pobreza urbana, o aparecimento dos “novos pobres” vítimas do desemprego

e da crise, entre outros.

No período em estudo (1989-90; 1994-95) pude concluir que apesar do nível de

vida das famílias portuguesas ter registado uma melhoria significativa, ao mesmo tempo

verificou-se um ligeiro agravamento das desigualdades na distribuição dos rendimentos.

Deste modo, existem programas nacionais e internacionais de luta contra a

pobreza que têm por objectivo mudar pouco a pouco a forma como os pobres são vistos

na sociedade, as suas condições de vida, de emprego e de inserção social. No entanto,

mais importante que esses programas são as medidas que todos os governos nacionais

deveriam tomar para a erradicação da pobreza: política de emprego, de educação e

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valorização dos recursos humanos (qualificações profissionais, requalificação de

desempregados), políticas de produtividade (relação trabalho/salários ganhos, ou mesmo

políticas de preços e consumo) entre outras. Estas políticas podem ser e devem ser postas

em prática em qualquer país do mundo, pois são a base para a construção de uma

sociedade mais justa e igualitária.

10. Referências Bibliográficas

a) Livros:

Almeida, J.Ferreira; Capucha, Luís; Costa, António Firmino; Machado, Fernando Luís;

Nicolau, Isabel e Reis, Elizabeth (1992), “Condições de Vulnerabilidade”, in idem (orgs),

Exclusão Social: Factores e tipos de pobreza em Portugal. Oeiras: Celta Editora, 13-16.

Barros, Carlos Pestana e Santos, J.C (1997), “Elementos para uma abordagem integrada

da questão habitacional em Portugal”, in idem (orgs), A Habitação e a Reinserção Social

em Portugal. Lisboa: Vulgata Lda., 30-31.

Bureau Internacional do Trabalho (2003), “A criação do PNLCP”, in Bureau

Internacional do Trabalho, A Luta Contra a Pobreza e a Exclusão Social em Portugal.

Genebra: BIT/STEP – Bureau Internacional do Trabalho – Programa de Estratégias e

Técnicas contra a Exclusão Social e a pobreza, 57- 64.

Capucha, Luís (2005), “À Volta dos Conceitos”, Desafios da Pobreza, in idem (org),

Oeiras: Celta Editora, 69-71.

Costa, A. Bruto ; Silva, Manuela; Pereirinha, J. e Matos, Madalena (1985),

“Coordenadas para a definição de uma política de erradicação da pobreza”, in Costa, A

Bruto; Silva, Manuel; Pereirinha, J e Matos, Madalena (orgs), A Pobreza em Portugal.

Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 187-201

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Fontes de Informação Sociológica – Pobreza e Exclusão Social

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Departamento de Estudos, Prospectiva e Planeamento do Ministério do Trabalho e da

Solidariedade (1998), Dizer não à pobreza: Um combate para ganhar: erradicação da

pobreza : 1997 – 2006. Lisboa: DEPP.

Ferreira, Maria Leonor (2000), “Pobreza, Equidade e Exclusão Social”, A Pobreza em

Portugal na Década de Oitenta, in idem (org), Lisboa: Conselho Económico e Social, 55-

59.

Giddens, Anthony (2009), “Pobreza, Previdência e Exclusão Social”, in José Manuel

Sobral (org), Sociologia. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 310-320.

IFCOOP- Instituto de Formação e Cooperação Internacional (2000), “O fenómeno da

Pobreza”, in Isabel Batista, A pobreza e a marginalização social no século XV aos nossos

dias. Porto: Publicação do Departamento de centros Históricos e da Educação da

Universidade Portucalense Infante D. Henrique, 87-90.

Nunes, Celso Luís Pereira (1999), “Linhas de Pobreza para Portugal Continental:

1989/90 e 1994/95”, Tese de Mestrado em Estudos Económicos e Sociais. Gualtar:

Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho.

b) Referências na Internet:

Departamento de Prospectiva e Planeamento (2000), “Distribuição do

Rendimento em Portugal e suas Regiões”, Página consultada a 28 de Maio de

2010 em http://www.dpp.pt/pages/files/rendimento.pdf

GCAP – Campanha Global Contra a Pobreza (2009). Página consultada no dia

27 de Maio de 2010 em http://www.whiteband.org/

REAP - Rede Europeia Anti Pobreza/Portugal (2008). Página consultada no

dia 27 de Maio de 2010 em http://www.reapn.org/

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Anexo A: Página da Internet consultada

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Anexo B: Livro utilizado para ficha de leitura: “A Pobreza em Portugal” de Alfredo Bruto da Costa, Manuela Silva, J. Pereirinha e Madalena Matos. Referência Bibliográfica: Costa, A. Bruto ; Silva, Manuela; Pereirinha, J. e Matos, Madalena (1985), “Coordenadas para a definição de uma política de erradicação da pobreza”, in Costa, A Bruto; Silva, Manuel; Pereirinha, J e Matos, Madalena (orgs), A Pobreza em Portugal. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 187-201