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Sakeena Yacoobi, Afghanistan

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World's Children's Prize promotes a more humane world. The program is open for all schools and 57,450 schools with 26.8 million pupils in 102 countries supports it. Every year millions of children learn about the rights of the child, democracy and global friendship through the program. They gain faith in the future and a chance to demand respect for their rights. In the Global Vote, the children decide who receives their prestigious award for their work for the rights of the child. The candidates for the Prize are chosen by a child jury who are experts in the rights of the child through their own experiences. The Prize Laureates become role models for millions of children. The prize money is used to help some of the world's most vulnerable children to a better life. The patrons of the World's Children's Prize include Nelson Mandela, Queen Silvia of Sweden, Aung San Suu Kyi and Graça Machel.

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Sakena Yacoobi

Quando criança, Sakena Yacoobi é a única menina na classe. Ela pensa: “Por que uma menina não pode ir à escola?”.

Quando a guerra chega ao Afeganistão, Sakena está estudando nos EUA. Ela quer voltar para casa e ajudar os mais prejudicados pela guerra, crianças e mulheres. Quando fica proibido que as meninas frequentem a escola, ela abre escolas secretas.

Quase 20 anos depois, ela continua lutando pelas crianças afegãs, e mais de 700.000 delas tiveram acesso à educação e saúde através de Sakena e de sua organização, o AIL.

A história de Sakena começa há muitos anos, em Herat, uma

bela cidade antiga. O pai de Sakena compra e vende casas, refrigeradores e apare-lhos de rádios do exterior. Sua mãe é dona de casa.

Sakena é a primogênita e, por um longo tempo, a única filha. Por isso, seu pai deseja que ela seja tanto uma filha quanto um filho para ele. Quando ela tem apenas qua-tro anos, ele a coloca em uma escola religiosa, onde

um mulá, um sacerdote muçulmano, é professor.

– Eu era a única menina em uma classe de 15 alunos. Eu não era tímida, mas acontecia de os meninos me provocarem. Por que uma menina deveria ir à escola? – perguntavam. Eu pensava: por que uma menina não deveria estudar? Às vezes os meninos me batiam. Quando reclamei com o mulá, ele não falou com eles. Pelo contrário, ele ficou bra-vo comigo! Entretanto, eu tinha facilidade para apren-der. Aos 6 anos, eu já sabia tanto quanto o mulá, conta Sakena.

Vestida de menino Quando Sakena é pequena, ela usa um pequeno lenço na cabeça, como as meninas

NOMEADA • Páginas 70–89

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POR QUE SAKENA É NOMEADA?Sakena Yacoobi é nomeada ao Prêmio das Crianças do Mundo 2012 por sua longa e perigosa luta para proporcionar às crianças e mulheres afegãs o direito à educa-ção, à saúde e a apren-der sobre seus direitos.

Sakena fundou sua organização, o Instituto Afegão de Aprendizagem (AIL) em 1995, sob a opressão e a guerra feroz. O regime dos talibãs havia proibido que as meninas fossem à escola. No entanto, Sakena abriu 80 escolas secretas, treinou professores e criou bibliotecas escolares móveis secretas. Atual­mente, Sakena e o AIL administram centenas de escolas, clínicas médicas e hospitais no Afeganistão e no Paquistão, e treinaram 19 mil professores. Todo ano, eles proporcionam saúde e educação a 125.000 crianças. Os professores aprendem novas metodologias e já ajudaram 4,6 milhões de crianças a aprender habilidades de raciocínio crítico. Através do trabalho de Sakena, mais de 5,5 milhões de crianças afegãs conquistaram novas oportunidades e fé no futuro, apesar da pobreza extrema e dos 30 anos de guerra no Afeganistão.

“Você só precisa de uma sala de aula, um quadro negro, um pouco de giz e um professor treinado. Isso basta para mudar as vidas das crianças de toda uma aldeia”, afirma Sakena Yacoobi. Suas professoras dando aula para meninas na sala de computação.

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devem fazer, segundo a tradi-ção afegã. Mas, às vezes, o pai de Sakena a veste como um menino.

– Eu escondia meu cabelo comprido sob um boné. Depois, vestia uma camisa e um par de calças. Eis que eu me transformara em um menino. Era muito divertido! Assim, eu podia participar das brincadeiras dos meni-nos. Brincávamos de luta de braço, de bandido e lutáva-mos. Eu era grande e forte para a minha idade, e vencia muitas vezes.

O pai leva Sakena para todo lado, em viagens de negócios, jantares e festas onde apenas homens participam. Ele quer ter outro filho, de preferência um menino, mas está demo-rando.

– Minha mãe estava sempre grávida, mas as crianças não sobreviviam. Uma vez, ela quase morreu de hemorragia durante o parto. Os bebês

eram natimortos. Ou tão fra-cos que só sobreviviam pou-cas semanas. Era horrível ver como minha mãe ficava triste ao perder um filho que havia carregado por nove meses. A mesma coisa acontecia a outras mulheres do bairro. Então pensei: Por que tantas mulheres e crianças vão mal? Então decidi que eu mudaria aquilo!

O segredo do pai O pai de Sakena é rigoroso. Depois da escola, é hora do dever de casa e nada de brin-car. Toda noite, ela mostra o caderno onde fez o dever de casa, ele olha, torce o nariz e diz: “Você pode fazer melhor! Refaça tudo, faça direito!”. Então ela tem que refazer tudo, começar do zero.

Um dia, quando Sakena tem 10 anos, ela mostra seu dever de casa, como sempre, e ouve a resposta usual: “Isso não serve! Refaça!”. Todavia, como Sakena sabe que há um único erro, ela cria coragem e responde: “Leia e aponte exa-tamente o que está errado!”. Ela devolve o caderno a seu pai. Ele apenas olha para ela e diz baixinho: “Eu não sei ler”.

– Depois, ele virou o rosto. Eu podia ouvi-lo chorando. Foi um choque. Eu pensava

que meu pai sabia tudo, mas ele era analfabeto. Todos aqueles anos, ele havia apenas fingido verificar meu dever de casa. E eu tinha me deixado enganar. Depois desse dia, ele nunca mais me perguntou sobre o dever de casa. Nunca contei a ninguém o que acon-teceu. Era o nosso segredo. Meu pai não queria que sou-bessem que ele não sabia ler e escrever.

Rejeitou pretendentesSakena muitas vezes ouve a avó paterna, tias e outros parentes reclamarem que sua mãe não deu à luz um meni-no. Eles dizem que a mãe de Sakena é inútil, que seu pai deveria arrumar outra espo-sa, mais jovem. É horrível ouvir isso, pensa Sakena. Mas

o pai não quer uma nova esposa, ele está feliz com sua mulher.

Finalmente, quando Sakena tem 14 anos, ela ganha um irmãozinho. Agora ela está no oitavo ano e cuida de toda a papelada dos negó-cios do pai. Ela é sua secretá-ria. Na escola, as outras meni-nas desistem, uma a uma. Elas se casam tornam-se donas de casa, embora sejam apenas crianças. Casamentos infantis são comuns no Afeganistão. Sakena também tem pretendentes.

– Eu era gorda e não era tão bonita, mas muitos queriam se casar comigo mesmo assim, pois eu tinha boa repu-tação. Porém, meu pai sempre me perguntava: “Sakena, você quer se casar com este

Alá significa Deus

País mais perigoso para as mulheres

Os textos sobre Sakena e seu trabalho pelas crianças do Afeganistão, às vezes mencionam Alá e, outras vezes, Deus. Porém, é a mesma coisa. Alá quer dizer Deus.

O Afeganistão é o país mais perigoso do mundo para as mulheres. Violência, ausência de atendimento médico e uma grande miséria tornam as mulheres afe­gãs mais vulneráveis. Uma em cada onze mulheres morre ao dar à luz. Quatro em cada cinco meninas são for­çadas a se casar ou têm o casamento arranjado. Apenas uma em cada dez mulheres sabe ler e escrever.

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homem?” E eu sempre res-pondia: “Não, papai, eu quero ir à escola!”. E meu pai respeitava. Ele era um bom homem.

Lar para as criançasSakena é a primeira da famí-lia a estudar além da escola elementar. Depois do ensino médio ela quer continuar a estudar, mas nesta época exis-te apenas uma universidade no país. Ela fica em outra cidade, longe de casa. O pro-blema tem uma solução quan-do Sakena faz amizade com uma família americana em

visita ao Afeganistão. Eles dizem que podem levá-la aos EUA para estudar. Sakena quer ir. O pai pondera muito. Permitir que sua filha estude perto de casa é uma coisa, mas deixá-la ir sozinha para o outro lado do mundo é outra. De qualquer forma, ela acaba concordando. Sakena fica muito feliz.

Enquanto Sakena Yacoobi se muda para os EUA, a guer-ra começa no Afeganistão. Cidades e aldeias são bombar-deadas, batalhas são travadas em becos e montanhas. Muitos são mortos ou obriga-dos a fugir. A mãe, o pai e o

irmão de Sakena conseguem, depois de muitas dificulda-des, chegar aos EUA. A famí-lia se reúne. A história pode-ria ter terminado aí, mas Sakena não consegue esque-cer sua terra natal. Ela não se contenta em viver em paz e segurança, enquanto seu povo sofre. Eles precisam de esco-las e hospitais.

– Meu coração estava a arder por meu povo. Eu que-ria ajudar todas as vítimas da guerra, principalmente mulheres e crianças. Meus pais não ficaram felizes com minha decisão. Minha mãe disse: “Você não pode nos deixar novamente. Precisamos ficar juntos”. Mas meu pai concordou comigo.

Afeganistão28 milhões de pessoas vivem no Afeganistão. Aqui existem altas montanhas cobertas de neve durante todo o ano, vales profun­dos, florestas e grandes desertos. Os verões são quentes, com temperaturas acima de 40 graus. No

inverno, a temperatura pode chegar a 20 graus negativos, com nevascas e gelo. As maiores culturas são arroz, batata, romã, manga e melancia. Há mui­tos animais selvagens e raros, como os ursos, águias, gazelas, e leopar­

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“Se é isso que você quer, tam-bém é a vontade de Deus”, afirmou.

Sakena viajar para os cam-pos de refugiados afegãos, onde consegue um emprego como diretora de um progra-ma de treinamento de profes-sores. Logo ela abre uma escola para meninas. E mais uma. E outra ainda. Depois

de um ano, 3.000 meninas frequentam as escolas de Sakena. No ano seguinte, são 27.000. Sakena também abre clínicas e cursos de formação de professores. Quando os talibãs, que na época gover-navam o Afeganistão, proí-bem as meninas de frequentar a escola, Sakena não desiste. Ela abre as escolas secretas

A meta de Sakena Yacoobi é certificar que não haja nenhuma menina no Afeganistão que não possa ir à escola ou não tenha permissão para aprender a ler.

Crianças e suas mães aguardam atendimento em um dos hospitais administrados por Sakena Yacoobi e o AIL no Afeganistão.

dos da neve. As pessoas criam ovinos e bovinos como gado, e cavalos, burros e camelos como animais de carga ou de montaria.

Guerras As guerras no Afeganistão já duram mais de 30 anos, só os idosos se lembram de uma época em que havia paz. Algumas vezes, exérci­tos estrangeiros ocuparam o

país; em outras ocasiões, vários grupos afegãos luta­ram uns contra os outros. Muitas pessoas inocentes foram vítimas das guerras. Todos os afegãos têm paren­tes que foram mortos ou feri­dos, e muitas famílias foram obrigadas a fugir de suas casas. Atualmente, o gover­no luta com a ajuda de solda­dos dos EUA e de vários outros países contra o Talibã

e outros grupos rebeldes. Nenhum dos lados parece “vencer”, e a guerra continua.

Os talibãsO maior grupo rebelde se autodenomina os talibãs. Eles já governaram o país, ocasião em que proibiram as mulheres de trabalhar e as meninas de frequentar a escola. Eles também proibi­ram a dança, música, empi­

nar papagaio e TV. Aqueles que desobedeciam eram mortos ou chicoteados. Os talibãs são um movimento de fanáticos islâmicos. Hoje eles estão na guerra para retomar o poder. Eles explodem bom­bas, fazem emboscadas e matam muitas pessoas. Porém, os soldados do gover­no, dos EUA e de outros paí­ses, às vezes, matam civis (pessoas comuns).

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Aprenda dari e pashto Mais de 30 idiomas diferentes são falados no Afeganistão, mas o dari e o pashto são as línguas oficiais.

dari pashtoUm yak yauDois du duaTrês se dreiQuatro chahar tsalareCinco panj penzaSim/Não Bala/Na Bala/NaOlá! Salam aleikum Salam aleikumTchau Khod hafez De kuday pe amanComo é seu Nametan Staa num nome? chist? tse day?Meu nome é Namam Zama num Muhammed! Muhammed hast! Muhammed deh!

para as meninas. No auge, há 80 escolas secretas. O tempo passa e Sakena trabalha dia e noite.

– Eu não tive meus próprios filhos, mas fico orgulhosa e feliz quando penso em todas as crianças que ajudei. Milhares e mais milhares de meninas afegãs. E muitos meninos também. Eu os amo como se fossem meus filhos. As crianças são o futuro do Afeganistão.

Ameaças de morte e guarda-costasÀs vezes, Sakena é ameaçada de morte por homens que acham que meninas não devem ir à escola. Nessas oca-siões, ela é protegida por guarda-costas. Outras vezes, suas escolas e clínicas são fechadas por bandos arma-dos. Ela então os abre nova-mente, em segredo. Sakena Yacoobi nunca desiste. Seu objetivo é que nenhuma

menina seja impedida deir à escola para aprender a ler.

– Todo mundo tem direito de estudar. É tão importante quanto comer ou respirar. Nos EUA e Europa, as crian-ças têm computadores, video-games e telefones celulares. Por que as crianças afegãs não podem nem mesmo ir à esco-la? Isso não requer muita coi-sa. Uma sala de aula, lousa, giz e um professor treinado. Isso é tudo que se precisa para mudar a vida de todas as crianças de uma aldeia. Eu nunca teria chegado tão longe se meu pai não me tivesse permitido estudar.

Quando pequena, Sakena Yacoobi era a única menina na sala de aula e pensava: “Por que não permitir que as meninas frequentem a esco-la?”. Ela devotou sua vida a dar essa oportunidade às meninas e meninos do Afeganistão.

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Nouria

Nouria, 14

foi à escola secreta

Nouria pega uma carona para a escola. Ela não precisa mais frequentar uma escola secreta.

Trovões retumbavam, e a chuva açoitava as casas de sapé da aldeia de Ghani Khel na noite em que ela nasceu, há 14 anos. O pai da menina, Khan Wali, a segurou sob a luz de uma lâmpada a gás e prometeu:

– Você terá as mesmas oportunidades que um menino, irá à escola e aprenderá uma profissão.

O nome da menina é Nouria. Significa luz em árabe. “Ela será um exemplo para outras meninas”, escreveu o pai na parte de trás do Corão, o livro sagrado do Islã, na noite em que ela nasceu.

Os anos passaram. Ao completar sete anos, Nouria foi estudar em

uma escola construída pela organização de Sakena Yacoobi, o AIL. Nouria era boa em leitura e escrita, mas tinha dificuldade em mate-mática. Ela adorava a escola, onde meninos e meninas

estudavam na mesma classe. Porém, um dia quando Nouria chegou à escola, havia um bilhete preso com uma faca na porta. “A escola está fechada. Cortamos as gargan-tas daqueles que mandam seus filhos para cá”, declarava.

Nouria, que completara 11 anos, sabia o que aquilo signi-

ficava. Os talibãs haviam fechado a escola! Ela correu para casa e contou ao pai. No mesmo dia, soldados do tali-bã chegaram à aldeia. Eles foram de casa em casa e disse-ram que agora comandavam a aldeia. Ninguém podia desa-fiar suas ordens.

– Eles tinham barbas lon-gas e turbantes negros. E muitas armas... pistolas, rifles e lançadores de foguetes. Fiquei triste e com medo do que aconteceria, diz Nouria.

Pegaram a comidaOs talibãs faziam visitas for-çadas às pessoas da aldeia. Tarde da noite, eles vieram e bateram à porta. “Dê-nos comida”, eles diziam, “caso

PRATO PREFERIDO: DocesMELHOR AMIGA: Minha prima FatimaQUER SER: ProfessoraGOSTA DE: Escola, poesia, fábulas, docesDETESTA: GuerraANIMAIS PREFERIDOS: Tigres e águias

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contrário, os espancaremos até a morte”. Como eles eram muitos e estavam armados, ninguém se atrevia a desobe-decer. O pai de Nouria pediu à mãe, Amina, para servir tudo que tinham. Arroz, car-ne de carneiro, passas, nozes e legumes. Nouria ficou escon-dida, mas observou através de uma abertura na cortina. Lá estavam os soldados devoran-do a comida da família. Em seguida, eles desapareceram na noite. A mesma coisa se repetiu várias vezes. A família ficou sem comida e Nouria muitas vezes dormia com fome.

Escola secretaA escola permaneceu fechada. Até que o pai de Nouria e os professores da escola de Sakena Yacoobi fizeram um plano para retomar as aulas às escondidas.

– Reuníamos alguns alunos e um professor na cozinha ou sala da casa de alguém. Para poder ir para lá sem sermos descobertos, fingíamos estar fazendo algum serviço. Escondíamos os livros escola-res sob nossas burcas. Depois voltávamos para casa, um por um, e não em grupos. Foi horrível, mas também um pouco emocionante. Nós não confiávamos em todos na aldeia; alguns vizinhos esta-

vam ao lado dos talibãs, e não achavam que as meninas deveriam estudar, lembra Nouria.

Por mais de um ano, os talibãs governaram a aldeia e Nouria frequentou a escola secreta. Um dia, uma notícia chegou pelo rádio. O líder talibã dos homens que aterro-rizavam os aldeões havia sido morto em uma batalha. Agora Nouria e as outras crianças podiam respirar ali-viadas. A escola pode ser rea-berta no local de costume, com salas de aula, carteiras e quadro negro. Os aldeões que haviam apoiado os talibãs fugiram.

Sonhos para o futuroDois anos se passaram, e Nouria completou 14 anos. Recentemente, ela se mudou para a casa de seu avô, na cidade de Herat, para estudar em outra escola. Na aldeia, só é possível estudar até o sexto ano. Nouria sonha se tornar professora e educar meninas sobre os seus direitos:

– Infelizmente, as meninas não têm as mesmas oportuni-dades que os meninos no Afeganistão. Mas não deveria haver nenhuma diferença. Somos iguais. Aprendi isso na escola de Sakena Yacoobi. Sem ela, eu não saberia nem escrever meu próprio nome.

Os pais de Nouria sentem sua falta, pois ela mora muito longe de casa, mas vale a pena, diz o pai.

– Minha filha será um exemplo, uma luz para as outras crianças. Prometi isso quando ela nasceu. Portanto, ela precisa frequentar uma boa escola, mesmo que isso signifique que não possamos nos ver todos os dias. É como diz o poeta: “Uma bela flor muitas vezes tem um tronco espinhoso”.

“Minha filha será um exemplo, uma luz para outras crianças. Prometi isso quando ela nasceu”, diz o pai de Nouria

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Fatima, 15

O pai fumava ópio

Meu pai nos espancava o tempo todo. Ele batia em mim, na

minha mãe e no meu irmão mais novo com as mãos, pedras, paus e chicote. Ele fumava ópio e era viciado em drogas. Quando não

tinha dinheiro para o ópio, meu pai ficava com-pletamente louco. Uma vez, eu esta-va regando a hor-

ta quando ele me agarrou e gritou:

“O que você está fazendo aqui? Você deveria estar dentro de casa”. Ele mirou minha cabeça com sua pistola e disse que atiraria em mim se eu não me compor-tasse. Eu tremia de medo, conta Fátima.

O pai vendeu tudoA família de Fátima vivia em uma aldeia distante no campo, em uma casa simples de sapé, rodeada por muros altos. Fátima estava constantemente amedrontada e triste.

Ela não tinha coragem de contar a ninguém

como era a situação em sua casa. O pai havia dito que, se ela contasse, ele a mataria.

Na escola, Fátima fica-va sempre calada e não

tinha amigos na clas-

se. Os demais alunos a acha-vam estranha. À noite, Fátima tinha pesadelos. Antes de adormecer, ela ficava deitada e fantasiava sobre fugir de casa. Ela desejava ter outro pai; um pai grande, for-te e gentil.

– Meu pai só se importava em conseguir dinheiro para o ópio. Ele foi demitido de seu emprego. Então ele vendeu todos os eletrodomésticos, panelas, copos e talheres. Meu tio nos dava um pouco de comida, caso contrário, teríamos morrido de fome. Porém, meu pai às vezes ven-dia até a comida. Eu sentia dor de cabeça devido à fome e tinha dificuldade de concen-tração na escola.

Uma nova vidaUma vez, o pai de Fátima ten-tou parar de fumar ópio. No início deu certo. Ele conse-guiu um emprego e começou a ganhar algum dinheiro. Mas ele logo foi demitido de novo. Ele tinha voltado a fumar.

– Foi uma decepção. Porém, o pior foi quando vi o meu irmão mais novo, de apenas 5 anos, imitando meu pai. Meu imãozinho queimou um pedaço de cana e fingiu fumar, como um cigarro de ópio. Fiquei de coração parti-do. Ele seria como nosso pai? Será que isso nunca acabaria?

Quando o pai de Fátima invadiu a casa do tio Khan Walis e roubou dinheiro e um telefone celular, foi a última

coisa que ele fez na aldeia. O tio deu uma boa surra em seu pai. Depois, ele levou Fátima, sua mãe e irmão mais novo para sua casa. O pai foi expul-so para longe da aldeia e uma nova vida começou para Fátima.

– Foi como acordar de um pesadelo. Ninguém nos batia e podíamos comer até estar-mos satisfeitos, todos os dias. Eu tinha muita coisa para recuperar na escola, e comecei a estudar à tarde no centro de formação do AIL. Lá, eu aprendi a ler e escrever e supe-rei minha timidez. Minha mãe também começou a estu-dar lá. Ela, que sempre tinha sido tão triste, ficou muito feliz. Agora ela trabalha informando às mulheres da aldeia sobre como cuidar da saúde.

A prima de Nouria, Fátima, cresceu sentindo medo constante de seu pai. Ele batia nela e vendeu tudo que a família tinha para comprar ópio, uma droga perigosa. Hoje, Fátima tem uma vida digna, desde que recebeu ajuda de seu tio.

INTERESSES: A escola, TV, músicaMELHOR AMIGA: Minha prima NouriaFRUTA PREFERIDA: Manga e melãoQUER SER: AdvogadaDETESTA: Drogas e guerraOBJETO PREFERIDO: Minha nova mochila escolarÍDOLO: Meu tio Khan Wali, que acha que as meninas devem estudar

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ÓpioO ópio é uma droga peri­gosa. Ela vem da papoula, uma bela flor vermelha cultivada em grandes campos no Afeganistão. O ópio pode ser fumado, ou pode ser usado para fazer heroína, que é inje­tada com uma agulha. Aqueles que usam a droga tornam­se dependentes e só pensam em conseguir mais, e não se importam em alimentar a família. São principal­mente os homens que abusam. Os agricultores afegãos cultivam a papoula não por gostarem de drogas, mas porque são pobres e recebem bom pagamento.

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Aishacom bateria no coração, deseja ajudar outras crianças

Aisha tornou-se órfã muito cedo; ela ficou muito triste e se recusava a falar. Porém, a tia amável do orfanato e os professores do programa educativo de Sakena Yacoobi gra-dualmente lhe devolveram a esperança no futuro. Após uma cirurgia, Aisha agora tem um “coração com bateria” e sonha tornar- se professora e ajudar outras crianças que enfrentam dificuldades.

Aisha não lembra muita coisa sobre seu pai, mas lembra-se que ele tinha

um rosto amigável e seguro e uma bela barba preta. E de como soube que ele fora assas-sinado.

Aisha estava comendo com sua mãe e sua irmã mais nova quando um parente veio dar a terrível notícia. O pai, Said Ahmed, foi baleado por ban-didos quando estava a cami-nho do Irã em busca de emprego. Makol, a mãe, ficou triste, mas abraçou os três filhos e disse:

– Não se preocupem! Vou garantir nosso sustento. Serei mãe e pai para vocês. É a von-tade de Deus. Deus dá a vida e Deus tira a vida, e nós, huma-nos, devemos aceitar nosso destino.

A mãe adoeceSem um pai para sustentar a família, a vida tornou-se difí-cil. Makol, a mãe, fazia lim-peza em hospitais e casas de pessoas ricas, mas, ainda assim, não tinha como pagar o aluguel. A família teve que se mudar de sua casa para um quarto simples com piso de terra, e só tinha condições de comer pão e tomar chá. Em pouco tempo Makol, a mãe, adoeceu.

– Mamãe tinha um proble-ma no coração. Ela não podia trabalhar e ficava apenas em casa, de cama. Ganhamos um pouco de arroz de uma orga-nização assistencial e dos vizinhos, mas nenhum apoio de nossos parentes. Muitas vezes não tínhamos o que comer, conta Aisha.

Mamãe estava cada dia mais fraca. Certa manhã, ela não acordou. Ela havia morri-do durante a noite. Um vizi-nho encontrou as irmãs sen-tadas junto da mãe, chorando.

Para o orfanatoAssim, Aisha foi levada para um orfanato. Uma casa de concreto no meio da cidade, com um grande pátio interno. Havia muitas crianças na mesma situação. Elas tenta-vam confortar Aisha.

– Não chore, diziam-me. Sabemos como se sente. Nós não temos mães ou

pais, apenas uns aos outros. E era verdade. Algumas

crianças não sabiam onde seus pais moravam, os pais das outras haviam morrido, estavam presos ou eram tão pobres que não podiam cui-dar de seus filhos.

– Seremos como suas irmãs, disseram as meninas do orfa-nato, e deram-me bonecas, lembra Aisha.

Mas ela estava inconsolável. – Eu sentia saudades de

minha mãe e chorava até dor-mir, toda noite. Eu tinha ape-nas seis anos e não entendia bem o que significava mamãe

06h00– Levanto­me, arrumo a cama e faço a oração matinal. Eu peço a Deus para não ficar doente de novo! Depois, vem o desjejum, com ovos, pão e chá.

08h00Professores do AIL chegam ao orfanato.

– Aprendemos inglês, informática e costura. Minha professora favorita é Seddique, ela tem conheci­mentos de inglês e informáti­ca e nos ensina muito. Ela começa toda aula falando sobre a vida e a sociedade, e que as meninas também têm direitos.

11h00Aisha vai para a escola das meninas, localizada bem ao lado.

– Ela é frequentada por crianças do orfanato e crian­ças que vivem com os pais. As meninas do orfanato ficam juntas, dá uma sensa­ção de segurança, principal­mente quando outras crian­ças nos importunam. A esco­la é divertida, mas as aulas são meio confusas. Há alu­nos demais por professor.

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Aisha, 13

com bateria no coração, deseja ajudar outras criançasestar morta. Por muito tem-po, acreditei que ela viria ao orfanato para me levar para casa.

– Inicialmente, eu estava tão triste que eu parei de falar. Eu não participava das aulas, pois sempre corria e me escondia.

Uma tia amávelNo orfanato, havia uma tia muito amável, Bibi Gul. Ela observou como Aisha estava triste, então vinha até ela toda noite para contar histó-rias e abraçá-la. Finalmente, Aisha voltou a falar.

– Você pode ser minha mãe? – perguntou Aisha.

– Comigo, você está em segurança, respondeu Bibi Gul.

Então Aisha começou a ir até Bibi Gul toda noite, deita-va-se ao lado dela e dormia. Bibi Gul nunca a mandava embora, apesar de estar exausta após um longo dia de trabalho. Ela esperava até que Aisha adormecesse e a levava para a cama beliche.

Pouco a pouco, Aisha pas-sou a senti-se mais segura e feliz. Ela começou a ir à esco-la. E também passou a fre-

quentar aulas ministradas pelos professores do AIL. Eles vinham para ensinar as meni-nas a costurar, falar inglês e usar computadores. Um novo mundo se abriu para Aisha.

– Antes de vir para cá, eu não sabia nada. Eu não sabia que “inglês” era um idioma. Nunca tinha visto um com-putador e não sabia nem mes-mo escrever meu próprio nome! Agora sei muitas coisas e aprendo mais o tempo todo, afirma Aisha, que é muito apegada à sua professora Seddique, do AIL.

Tem bateria no coraçãoOs anos se passaram, e Aisha tinha onze anos quando acor-dou com uma forte dor no peito.

– Parecia que tinha uma faca no meu coração. Uma lâmina que girava lentamen-te, volta após volta, diz Aisha.

Como sua mãe, ela tinha um problema no coração. Ele era fraco e não conseguia bombear todo o sangue em seu corpo. Aisha tinha que ser operada, caso contrário pode-ria morrer, disse um médico que a examinou.

AMA: Minha irmã, Fariba.DETESTA: Doenças e guerra.SENTE FALTA DE: Minha mãe, que morreu.ADMIRA: Minha professora, Seddique. DESEJA: Ter o coração saudável!GOSTA DE: Inglês e informática.

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Porém, não era possível fazer cirurgias cardíacas no Afeganistão. Por isso, a equi-pe do orfanato organizou um concerto, com cantores e músicos que se apresentaram sem cobrar. O dinheiro arre-cadado com os ingressos foi para enviar Aisha ao Irã, para um moderno hospital infan-til.

– Eu era a única que não estava acompanhada dos pais, mas as outras crianças e suas mães e pais foram gentis. Deram-me um livro com cumprimentos ou desenhos, e rezavam a Deus para que tudo

corresse bem para mim, conta Aisha.

Durante a cirurgia ela esta-va anestesiada.

– Quando abri os olhos após a cirurgia, estava sozi-nha em um quarto branco. No início, pensei que estava morta, mas logo veio um médico. Ele disse que tinha colocado uma bateria no meu

coração, um pequeno apare-lho que ajudaria meu coração a bater. Tenho uma cicatriz da cirurgia, diz Aisha.

Quer ajudar os outrosDe volta ao orfanato, Aisha sentia-se melhor. Entretanto, ela ainda sente pontadas no peito.

– Às vezes eu acordo duran-O que

dizem de

Aisha

Ela sempre quer desenhar“Quando era menor, Aisha adorava suas bonecas, ela nunca se cansava de brincar com elas. Hoje em dia, elas não têm tanta importância para ela. Agora sua atividade favorita é desenhar. Todo momento livre, ela corre para buscar papel e caneta e começa a desenhar. Nós costumamos desenhar juntas. Princesas, cavalos e belos castelos. Também dese­nhamos famílias, com mães, pais e filhos”.Foziya, 12 anos, amiga

Sozinhas no ano novo“Aisha é minha irmã. Nós ficamos juntas, não importa o que aconteça, pois não temos mais ninguém no mundo. Deixe­me contar sobre o Nowrooz, o ano novo afegão. Nessa ocasião, todas as outras crianças daqui foram para as casas de parentes para celebrar o ano novo, mas ninguém veio nos buscar. Pensamos que nosso tio viria, e esperamos o dia todo, mas ele não apareceu. Foi uma decepção. O orfanato ficou totalmente vazio, pois os funcionários estavam de folga. Apenas eu, Aisha e Bibi Gul ficamos aqui. Apesar de tudo, tivemos um ano novo muito bom; Bibi Gul contou histórias até adormecermos”.Fariba, 10 anos, irmã

13h00– No orfanato, comemos arroz e feijão quase todos os dias no almoço. Às vezes é só arroz, mas, ocasional­mente, temos espaguete à bolonhesa, meu prato favori­to. Estou bastante cansada de arroz.

Aisha parou de falar quando seus pais faleceram. Os profes-sores da AIL a ajudaram, e agora ela quer tornar-se professora para ajudar crianças que passaram por dificuldades.

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te a noite com pontadas no coração. Dói muito. Nessas ocasiões, fico deitada acorda-da e penso na morte, que não quero morrer. Porque há tan-tas coisas que quero fazer, diz Aisha.

Apesar da bateria em seu coração, Aisha não consegue correr tão rápido quanto as outras crianças. Ela perde o fôlego e se cansa facilmente quando se esforça.

– Às vezes, me pergunto por que Deus fez meu coração tão fraco. E rezo para que eu ficue completamente saudá-vel. Só quero ser como as outras crianças, declara Aisha.

Mas na escola, ela é ótima. – Gosto muito dos cursos

do AIL. É muito melhor do que a escola regular. Minha professora Seddique mudou minha vida. Agora sei o que quero, tenho uma ideia sobre o futuro. Desejo um dia poder falar inglês tão bem quanto minha professora. E saber tanto quanto ela sobre o mun-do! Então também quero ser professora, para ajudar crian-ças carentes. É o meu sonho, conta Aisha.

Ela é muito dedicada “Aisha é uma de minhas alunas preferidas. Ela é muito feliz, dedicada e gentil. E aprende rápido! Todavia, estou um pouco preocupada com seu futuro. Ao completarem dezoito anos, as meninas tornam­se adultas e não podem mais ficar no orfanato. Algumas conseguem emprego, outras casam­se com parentes distantes. Mas algumas simplesmente desa­parecem, não sabemos o que acontece com elas!”Seddique, 25 anos, professora

O corpo todo ri “Eu não posso ser mãe de Aisha, pois tenho muitas crianças para cuidar, mas eu tento! Ela precisa de amor e sua vida não foi fácil. Porém, ela é muito meiga e, quando ri, seu corpo todo se sacode. Eu fico muito feliz ao vê­la rir”.

Bibi Gul, 64 anos, cuida das crianças do orfanato.

No orfanato, da cidade de Herat há centenas de meninas, com idades entre 3 e 18 anos. Aqui também há 25 meninos, mas eles são transferidos para outro orfanato ao completarem dez ou onze anos.

As crianças do orfanato dormem em beliches e fazem as refeições em um grande salão. Há dez mulheres que cuidam delas. O jardim tem um parque infantil com balanços e escorre­gadores; no interior há sala de TV e sala de aula.

É o governo do Afeganistão que administra o orfanato, mas, seis dias por semana, professores do Instituto Afegão de Aprendizagem (AIL) de Sakena Yacoobi vêm ensinar as crianças.

A maioria das crianças também frequenta uma escola ali perto.

Professores de Sakena ensinam no orfanato

15h00– Eu volto ao orfanato e descanso um pouco, brinco e faço o dever de casa. Quando não consigo mais estudar, eu desenho. Às vezes vou até Bibi Gul conversar um pouco com ela. Depois vemos um programa com canções e música na TV.

18h30– No jantar, comemos as sobras do almoço. Depois, podemos fazer o que quiser­mos. Eu estudo um pouco, rezo e vou para meu quarto conversar com minha irmã Fariba e desenhar.

22h00Hora de deitar.

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O que você usa?Burca, véu ou xale?

– Eu não gosto da burca, pois acho que um xale é sufi­ciente. A burca me parece um pouco lúgubre. Tenho véus de várias cores, hoje estou usando um vermelho. É uma cor alegre, diz Zarafshan, 16 anos, estu­dante e professora do AIL.

– Eu uso chador, pois, de acordo com nossa tradição e religião, não é adequado que uma mulher mostre o cabelo ou o rosto para estranhos. Em casa, eu uso apenas um xale, explica Makhfi, 14 anos, que estuda costura no AIL.

– Ganhei meu lindo véu de minha mãe. Mas só posso usá­lo aqui no centro. Ao ar livre, eu uso chador. Porque é perigoso atrair a atenção, você pode ser sequestrada, diz Fátima, 15 anos, que aprende inglês no AIL.

– Eu uso um véu branco, que ganhei no orfanato onde moro. Ele é bonito, comenta Malalai, de 7 anos, que estuda com um professor do AIL.

– Uso a burca desde que tinha 14 anos. Todas as mulheres da minha aldeia usam. É a nossa tradição e cultura, e temos orgulho de nossas burcas. Com a burca, eu me sinto segura, declara Freista, 20 anos, mãe de três crianças que visitam a clínica do AIL.

De acordo com o Islã, uma mulher deve cobrir o cabelo, mas nada na religião diz que ela deve cobrir todo o rosto ou olhos. Entretanto, é tradição a maioria das mulheres no Afeganistão usarem a burca, um traje que as cobre totalmen­te, ao sair de casa. Outras usam o cha­dor, um tipo de manto, e poucas usam apenas um pequeno xale.

XaleO xale na cabeça não é mais difícil de

usar do que um chapéu ou um boné. É usado por meninas e mulheres de famílias educa­das e moder­nas nas cida­des.

ChadorUm tecido que cobre o corpo todo, mas deixa

os olhos e o rosto visíveis. A usuária o segura fechado na frente. A cor mais comum é o preto.

BurcaCobre todo o corpo e a cabeça. Uma tela de tecido permite que a mulher enxergue seu entorno. Burcas muitas vezes são azul celeste, mas podem ser brancas, marrons ou verdes. É difícil se mover em uma burca e durante o verão, pois o tecido esquenta bastante.

Quando as meninas começam a usar véu?Quando bebês, as meninas não usam véu. Até os seis ou sete anos, as meni­nas usam saias coloridas, blusas e, às vezes, um pequeno véu de cor pastel. Dos 7 até cerca de 12 anos, a maioria das meninas usa um véu branco ou pre­to. Por volta de 13­15 anos, quando as meninas começam a ter formas femini­nas, costuma ser o momento da burca. Mulheres acima de 60 anos às vezes deixam de usar a burca.

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Farid adora futebol e aprender inglês

A burca protege e reprimeMuitas meninas e mulheres no Afeganistão são oprimidas. Os homens mandam, e a burca é uma forma de limitar a liberdade das meninas e mulheres. Segundo a tra­dição afegã, as mulheres devem ficar em casa e não podem se mos­trar fora dela, enquanto os homens estão na comunidade.

Mas nem todas as mulheres de burca são impotentes. Elas podem ter muito a dizer em casa, em ter­mos de assuntos domésticos, de

casamento e de educação. Elas também podem usar a burca

no caminho para o trabalho, mas tirá­la durante o expe­

diente. A burca serve como uma proteção.

Farid vive com a mãe, o pai e oito irmãos em uma pequena casa de três cômodos.

– Meu pai é professor. Ele trabalha extra como mecânico de bicicletas, mas mesmo assim tem dificuldade de sus­tentar a família. Às vezes recebemos algum dinheiro de parentes, então meu pai compra alimentos e roupas, conta Farid.

Apesar da família de Farid ter pouco dinheiro, todos os filhos, inclusive as meninas, frequentam a escola. O pai sabe como a educação é importante. Entretanto, ele também é rigoroso e tem temperamento difícil. Às vezes ele bate em Farid.

No período da manhã, Farid vai à escola regular e, à tarde, ele aprende inglês no centro educacional de Sakena Yacoobi e do AIL. É disso que ele mais gosta. Além do futebol.

– Meu sonho é aprender inglês fluen­temente; depois, quero me formar em engenharia. Quero construir prédios enormes e modernos, para que as pes­soas tenham onde morar. Cada aparta­mento terá muitos cômodos, para que os moradores não fiquem tão apertados. Mas é difícil ser engenheiro. Talvez eu me torne professor.

Farid nunca perde um jogo de futebol com os meninos vizinhos, nem as aulas de inglês do centro educacional do AIL.

Roupa de escola– Para ir à escola, devemos usar roupas boas, limpas e em bom estado, mas não tão boas que não pos-sam se sujar. Para chegar à escola, eu caminho uma hora por estradas empoeiradas e vielas estreitas. Quando está ensola-rado e quente, a poei-ra faz redemoinho; se chove, fica cheio de lama e grandes poças.

Roupa formal– É importante estar bonito num casamento. Ganhei essa roupa para usar no casamento de meu primo. Foi uma grande festa na aldeia natal, a comida estava deliciosa e havia uns mil convidados. Os homens celebra-ram entre si, e as mulheres separada-mente, segundo nossa tradição.

Roupa esportiva– Eu adoro futebol! Sempre que tenho tempo, eu jogo em um quintal. Eu e meus vizinhos temos um time de futebol, portanto precisa-mos de roupas de futebol. Infelizmente não tenho chu-teiras, mas meu pai prome-teu que vou ganhar um par assim que ele puder pagar. É meu maior desejo!

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Menino padeiro fugiu e tornou-se o segundo melhor da classeMohammed, de sete anos, trabalha das quatro da manhã às seis da tarde junto ao quente forno da padaria. Às vezes ele se queima e é espancado. Quando queima uma fornada inteira de pão, ele foge e nunca mais volta…

O sonho de ir à escola se realiza e em breve, Muhammad, com a ajuda dos professores do cen-tro educacional de Sakena Yacoobi, acompanha os demais alunos e é o segundo melhor da classe.

A vende chicletes e cartões telefônicos no

mercado. Porém, ele não ganha quase nenhum dinheiro.

Uma noite, seu pai vem para casa com um homem estranho.

– Este é o padeiro Hamid. Você será seu ajudante. É um bom trabalho, afirma o pai de Muhammed.

O padeiro observa Muhammed amistosamente e diz:

– Muitos meninos querem trabalhar comigo, portanto fique feliz pela chance de aprender uma profissão. Você começa amanhã às quatro da manhã.

Quente e perigosoNessa noite Muhammad tem dificuldade para dormir. Ele está feliz por ter conseguido um emprego, mas também nervoso. Ele não sabe nada sobre pão e fornos. A padaria fica muito longe da casa de Muhammed, então ele tem que levantar às 3 para chegar no horário. Está totalmente escuro quando ele vai para seu novo emprego.

Não é como Muhammed havia imaginado. Seu traba-lho é colocar e tirar o pão de um grande forno de pedra. É quente e perigoso. Já no pri-meiro dia ele se queima e começa a chorar.

– Pare de berrar e mostre um pouco de gratidão, se não, você será demitido, diz o

padeiro, levantando sua gran-de mão direita. De repente, ele atinge Muhammed com um forte tapa no rosto.

Muhammed sufoca os solu-ços. “Talvez as coisas melho-rem se eu trabalhar mais”, pensa ele. Após seis horas de trabalho, há uma pausa para a oração e o almoço, pão e água. Depois, Muhammed volta a trabalhar até seis da tarde.

No caminho para casa, Muhammed está tão cansado que quase desmaia. Ele leva um saco plástico com o salá-rio: alguns pães secos. Todavia, ele não se queixa com o pai e a mãe.

Foge para casaAssim continuam os dias, semanas e meses. Com o tra-balho duro e perigoso entre os fornos quentes e espanca-mentos. Na hora do almoço, Muhammed sai da padaria e senta-se sozinho sob uma árvore, mordiscando o pão.

Há uma escola bem ao lado, e Muhammed observa com inveja os meninos que vão para casa após as aulas matutinas. Eles riem e balan-çam com suas bolsas escolares. “Eu também quero ir para a escola”, pensa Muhammed.

Após sete meses, Muham-med está farto. Uma manhã, ele acidentalmente queima uma fornada inteira de pão e fica com tanto medo da puni-ção do padeiro que foge para casa. À noite, ele conta ao pai,

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5h00O despertador toca e acorda Muhammed. Ele fica deitado mais alguns minutos antes de acordar seus irmãos, Arif e Amin. O irmão mais novo, Yahya, e a mãe já estão de pé.

5h15 O muezim soa na mesquita. Muhammed se ajoelha voltado na direção da cidade sagrada dos muçulmanos, Meca, e reza o Fajr, a oração matinal.

os sete anos, Muhammed

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Muhammed, 12

Menino padeiro fugiu e tornou-se o segundo melhor da classe

Atiq, como é horrível na padaria, o quanto apanha e como é fácil queimar-se. Ele chora e diz que quer ir para a escola, aprender a ler e escre-ver, e não trabalhar o dia todo. No início, o pai fica furioso, mas depois de algum tempo ele se acalma.

– Você é desobediente, mas também é corajoso. Você pode ir para a escola com uma condição: nunca perder uma aula sequer, diz o pai, Atiq.

– Obrigado, pai, que Alá esteja convosco, diz Muhammed.

A agenda rigorosa do pai Nesta época, o pai de Muhammed conseguiu um emprego remunerado como soldado do governo. Portanto, agora a família tem condições de deixar Muhammed e seus dois irmãos mais velhos estu-darem. Mas o pai é rigoroso. Ele escreve uma agenda num papel e o prega no corredor da pequena casa de tijolos.

– É preciso aproveitar todas as horas do dia. Nem um minuto pode ser desperdiça-do, afirma o pai.

A agenda descreve o que Muhammed e seus irmãos devem fazer, hora a hora. No período da manhã, Muhammed vai à escola e, depois do almoço, ele conti-nua os estudos no centro edu-cacional de Sakena Yacoobi. A agenda rigorosa valeu a pena. Agora Muhammed está no quinto ano e é o segundo melhor de sua classe.

– Quando comecei estudar,

ÍDOLO: O cantor Zahir Shah e meu pai, AtiqINTERESSES: Tae­kwon­do, futebol, TVQUER SER: Soldado ou mestre de artes marciaisPRATO PREFERIDO: Espaguete DETESTA: Trabalho infantil

6h00 Para o desjejum, chá e pão.

6h45 Muhammed corre para a escola, ele não quer se atrasar!

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eu estava atrasado em relação aos outros. Sem os cursos do centro de Sakena Yacoobi, eu nunca teria alcançado a clas-se. Na verdade, o ensino no centro é melhor do que na escola. Os professores são mais gentis, sabem mais e, principalmente, se importam com os alunos. Na escola

família não é rica. Para ganhar algum dinheiro extra, os filhos se revezam tecendo em casa, eles fazem belos tapetes e depois os vendem. Leva três meses para fazer um tapete; portanto, é preci-

so tecer durante várias horas por dia.

Mas nem tudo é trabalho e dever de casa. Cinco dias por semana, Muhammed e seus irmãos praticam a arte mar-cial coreana tae-kwon-do em um clube. Eles ganharam tra-jes específicos e participaram de competições. Uma vez Muhammed ganhou a meda-lha de bronze.

Atualmente, Muhammed está satisfeito com a vida; só

regular, é muito confuso. E isso me deixa um pouco cha-teado, pois sou dedicado.

Preocupado com o paiEmbora o pai de Muhammed agora tenha um emprego, a

11h15 Muhammed estuda inglês no Centro Educacional de Sakena Yacoobi. A professo­ra Zahra Alipour, de 18 anos, o ajuda.

– Mohammed é bom aluno, mas sua família não tem parentes aqui, então não há ninguém que possa ajudá­­los. Eles têm pouco dinhei­ro, e Muhammed usa os mesmos sapatos no verão e no inverno, por exemplo. Obviamente, é muito frio quando neva. Mas eu acho que as coisas correrão bem para ele; ele tem muitos ami­gos e é inteligente, diz Zahra.

13h30 Mohammed e seus irmãos se revezam trabalhando no tear da família.

– Estou tão acostumado a tecer tapetes que costumo colocar um livro na cadeira do tear e estudar o dever de casa enquanto teço, diz Mohammed.

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há uma coisa que o preocupa. A guerra.

– Meu pai é soldado. Ele luta contra os talibãs. Na maioria dos dias, ele trabalha na cidade, fazendo a guarda nas casas de autoridades e em barreiras nas ruas e estradas, mas às vezes vai para as pro-víncias com sua unidade. Ele pode ficar fora por semanas. Por isso, eu oro várias vezes por dia para que ele não seja morto, declara Muhammed.

Quando o pai volta da guerra, ele não conta nada sobre o que aconteceu lá, nem para a esposa nem para os filhos. Ele simplesmente se senta em silêncio e toma chá. E reza muito mais. Às vezes,

Muhammed conversa com ele sobre o que quer ser quando crescer.

– Eu também gostaria de ser soldado, mas meu pai não quer. Ele diz que é uma pro-fissão onde nunca se aprende nada além de obedecer ordens e matar. Isso me parece emo-cionante. E o salário é bom. Meu pai quer que eu seja pro-fessor ou empresário. Vamos ver, diz Mohammed.

Agenda de MuhammedHorário 5–7h Acordar, oração matinal e desjejum7–10h Aulas na escola10–11h Preparo das lições11–12h Aulas no centro educacional

do AIL12–13h Almoço e orações13–16h Tecelagem de tapete16–19h Treino de tae­kwon­do.19–20h Jantar e orações.20–22h Dever de casa.22h Hora de deitar!

Quem não cumpre a agenda tem que fazer o dever de casa 6 vezes!

16h30 Hoje não há treino de tae­kwon­do, porque o treinador está viajando. Mohammed e seus irmãos praticam chutes altos no quintal. Eles fazem flexões, alongamento e socos.

20h00 Muhammed estuda o dever de casa até os olhos arde­rem. O pai certifica que ele não trapaceie.

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Zarafshan tem blog sobre o Afeganistão

História do blog de ZarafshanAlgumas semanas atrás, Ismet, 19 anos, e Hajatullah, 20 anos, não tinham nenhuma ideia do que era internet. Todavia, uma jovem lhes ensinou e agora eles navegam livremente em sites da web com notícias sobre esportes e política.

Uma jovem de véu verme-lho, Zarafshan, de 16

anos, é professora de com-putação no centro educacio-nal de Sakena Yacoobi em Herat. Ela nunca viajou para o exterior, mas tem amigos no mundo todo. Zarahshan é uma blogueira famosa. Em seu blog-diário, ela conta, em inglês, sobre a vida no Afeganistão.

– Escrevo sobre histórias reais e tristes, sobre casa-mento de crianças, a guerra e abusos. Sobre coisas que ouço em casa, no mercado ou no rádio. É importante dizer a verdade sobre o nos-so país. É um primeiro passo para mudar e melhorar as condições para mulheres e crianças, declara ela.

A internet no centro edu-cacional é gratuita para pro-fessores e alunos, ao contrá-rio dos internet cafés. Lá,

isso custa dinheiro, coisa que a maioria não tem nos subúrbios pobres. Graças à conexão de internet, o cen-tro se tornou um mirante para o mundo exterior.

– Através do blog, tenho muitos conhecidos estran-geiros. Enviamos correio eletrônico uns para os outros e falamos de nossas vidas. Tenho aprendido muitas coisas novas, conta Zarafshan.

Mas agora ela não tem mais tempo para conversar. Ismet e Hajatullah querem ajuda. Eles acabam de criar seus endereços de correio eletrônico, mas não têm a quem enviar um correio. Com algumas instruções da professora, Ismet envia o primeiro correio eletrônico de sua vida. Foi para seu primo Hajatullah, sentado ao seu lado.

Onde estão meus filhos?“Aos 14 anos, me mandaram casar com um homem mais velho. Após um ano de casamento, a guerra começou e meu marido perdeu o emprego. A vida era dura. Tivemos três filhos, duas meninas e um menino. Um dia, mandei meu filho ao mercado para vender cigarros, mas ele nunca mais voltou. Eu estava deitada orando a Alá, o todo­poderoso, quando um amigo de meu filho veio à nossa casa. Ele contou que meu filho tinha sido morto quando uma bomba explodiu. Fiquei completamente apática, mas fui até lá. A explosão foi tão poderosa que eu não conseguia encontrar o corpo do meu filho. Foi o pior dia da minha vida. Um ano depois, meu mari­do ficou doente e morreu. Eu estava grávida e tive gêmeos, mas não tinha como sustentá­los; então eu os dei para uma mulher que não podia ter filhos. Muitas vezes penso sobre o que aconteceu com eles. Onde estão eles hoje? Onde estão meus filhos?”.

Zarafshan acaba de ensinar aos primos Ismet e Hajatullah como enviar correios eletrônicos.

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Ahmed

Ahmed Muktar, 12

História do blog de Zarafshan

Ahmed Muktar é quase uma celebridade no oeste do Afeganistão. Ele muitas vezes con-cede entrevistas na TV, rádio e jornais falando sobre o livro que es-creveu. Um livro sobre crianças e para crianças.

– Professores não po-dem bater nas crianças, eles devem ouvi-las, diz Ahmed.

Quando eu tinha oito anos, meu pai matricu-

lou-me em uma escola reli-giosa. Os professores eram muito rígidos e os alunos eram agredidos o tempo todo, conta Ahmed.

Ahmed era frequentemente espancado. Ele tinha dificul-dade de concentração e de lembrar-se do dever de casa. Mesmo quando fazia o dever de casa, ele tinha tanto medo

de responder errado que sim-plesmente permanecia cala-do. Nessas ocasiões, o profes-sor batia-lhe nas costas com um chicote.

– Uma vez, um professor amarrou meus pés com uma corda. Ele tirou meus sapatos e então bateu nas solas dos meus pés. Doeu demais, lem-bra Ahmed.

Para a escola de SakenaCertamente havia silêncio na sala de aula, mas o professor de Ahmed era ignorante. Havia muitos alunos na classe e aqueles que não conseguiam acompanhar não tinham nenhuma ajuda. No final, Ahmed ficou com tanto medo da escola que se recusou a ir para lá, não importando que ameaças ou promessas seus pais fizessem. Então seu pai percebeu que a escola não era boa. Ele matriculou o filho em uma das escolas de Sakena Yacoobi, que tinham boa

os alunos tiveram que escre-ver uma história de ficção como dever de casa. Ahmed achou tão divertido que con-tinuou a escrever. Tornou-se um livro, que o pai de Ahmed ajudou a publicar.

– Quero ser um modelo para outras crianças. E mostrar que existem crianças afegãs que fazem coisas boas e podem escrever livros, afirma Ahmed.

O livro é sobre o que signi-fica ser um menino no Afeganistão, e a diferença entre professores bons e ruins. Foi assim que Ahmed tornou-se o mais jovem escri-tor do Afeganistão. Ele pode dar entrevistas na TV, rádio e jornais, falando sobre seu livro.

– É importante fazer o dever de casa e ser estudioso, mas é igualmente importante que os professores não sejam rígidos demais. Eles não podem bater nas crianças. Eles devem ouvir as crianças, diz Ahmed.

reputação. Foi totalmente diferente!

– Os professores eram gen-tis, atenciosos e cultos. E era proibido bater nos alunos. Passei a gostar muito da esco-la, havia tantas coisas a apren-der, conta Ahmed.

Proibido bater nas crianças Na nova escola, as notas e a autoconfiança de Ahmed melhoraram. Um dia, todos

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foi espan-cado, escreveu um livro

ÍDOLO: Meu pai e meu avôQUER SER: Chefe de organização assistencial ou escritor famosoAMA: Ler livros e criar históriasDETESTA: Adultos que batem em criançasSONHO: Paz no AfeganistãoPRATO PREFERIDO: Guisado de carne