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  • 7/25/2019 PMI como ferramenta para a conservao de parques no Brasil

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    PMI COMO FERRAMENTAPARA A CONSERVAODE PARQUES NO BRASIL

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    PMI COMO FERRAMENTAPARA A CONSERVAO

    DE PARQUES NO BRASIL

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    SUMRIO

    1. O que PMI? 5

    2. Benefcios do PMI: O Instrumento em Favor da Inovao 8

    2.1 Envolvimento da Iniciativa Privada na Elaborao de Projetos: 8

    Exemplos Internacionais e Nacionais

    3. O Uso de PMI pela Administrao Pblica Brasileira: Pontos de Ateno 10

    4. PMI e as Concesses em Parques 12

    4.1 Situao Atual 12

    4.2 Experincias Internacionais 12

    4.3 Novos Caminhos Possveis 15

    5. Concluso 16

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    PMI COMO FERRAMENTA PARA ACONSERVAO DE PARQUES NO BRASIL

    POR QUE ESTE TEMA FOI ESCOLHIDO PELO SEMEIA?

    As concesses iniciativa privada em Unidades de Conservao (UC) no Brasil representam um mercado

    ainda a ser desenvolvido. H diversos exemplos de editais lanados pelo poder pblico que no atraemas empresas ou que seduzem um nmero bastante limitado delas. H ainda aqueles processos iniciadosque sequer alcanam a fase de licitao e so sumariamente engavetados ou que falham no equilbriode riscos e retornos entre o setor pblico, o setor privado e a sociedade.

    Ao mesmo tempo, evidncias internacionais que sero exemplificadas neste trabalho sugerem o enormepotencial de gerao de riquezas, oportunidades de desenvolvimento socioeconmico e lazer a partirdessas reas no Brasil.

    O Semeia acredita que reger a participao de atores privados com contratos consistentes e elaborados

    com tcnicas adequadas pode significar um futuro mais promissor para essas reas, envolvendoorganizaes comprometidas com a conservao e que faam do aproveitamento responsvel dessesespaos - em especial dos Parques - o seu negcio.

    Mesmo que superadas as barreiras ideolgicas relacionadas ao tema de parcerias entre o setor pblicoe privado, esta agenda no acontecer de forma sustentvel sem que haja um dilogo entre o governoe os demais envolvidos e impactados por esses modelos, incluindo, entre outros atores, as organizaesprivadas empresariais e no empresariais.

    Durante os prximos anos, o Semeia pretende apoiar processos junto a rgos pblicos que estejaminteressados em melhorar os nveis de conservao em suas UC e que acreditem que as concesses soum caminho vivel para essa evoluo, sempre que permitido e pertinente. Estamos comprometidostambm em despertar e fomentar, de maneira transparente e isonmica, o interesse do setor privadopor este mercado em desenvolvimento.

    Neste contexto, a elaborao de Procedimentos de Manifestao de Interesse (PMI) por parte degovernos mostra-se como uma alternativa a ser endereada para a estruturao de bons contratos.

    Para trazer mais informaes sobre PMI, referncias nacionais e internacionais de sua aplicao, bemcomo as vantagens e os pontos de ateno em relao ao uso desta ferramenta, elaboramos estecontedo tcnico, em conjunto com a Radar PPP, empresa especializada em servios de inteligncia nomercado de Parcerias Pblico-Privadas.

    Encorajamos os leitores a entrarem em contato conosco para compartilharem suas impresses sobreeste material, de modo que possamos aprimorar continuamente o nvel do debate proposto. Envie seuscomentrios e sugestes para o e-mail [email protected].

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    1. O QUE PMI?

    O Procedimento de Manifestao de Interesse (PMI) consiste em um instrumento disponvel

    Administrao Pblica para colher, de maneira organizada e juridicamente instituda, as percepesda iniciativa privada sobre determinado tipo de empreendimento, antes de se iniciar o processolicitatrio propriamente dito. Sua elaborao pressupe a realizao de estudos tcnicos para compor apreparao e planejamento dos projetos, sendo as entidades privadas, empresariais e no empresariais,as responsveis pela produo desses documentos.

    Os PMI, ou Chamamentos Pblicos, tm sido instrumentos cada vez mais utilizados pelo setor pblicopara colher subsdios tcnicos, jurdicos e econmico-financeiros que sustentem as iniciativas integrantesou que pretendam integrar as carteiras de projetos de concesso iniciativa privada, antes de serempostos em licitao. Dentre todos os contratos de Parceria Pblico Privada (PPP)1assinados no Brasil, 46%

    deles foram precedidos de PMI, portanto, quase metade do total dos mais de 80 acordos j homologados.

    Tipicamente, o PMI comea com uma empresa interessada em desenvolver estudos de viabilidadede uma concesso, s suas expensas e no seu risco, solicitando autorizao para o poder pblicocompetente, por meio de uma Manifestao de Interesse da Iniciativa Privada (MIP). Se o projeto forconsiderado conveniente e oportuno, o poder pblico competente publica um PMI, permitindo quequaisquer interessados, em regra at mesmo pessoas fsicas, possam registrar o interesse de desenvolveros estudos de viabilidade do projeto e, se quiserem, entregar os estudos no prazo estabelecido, sem nuspara o oramento pblico. Uma via alternativa se d quando o prprio poder pblico, espontaneamente,convida a iniciativa privada para apresentar estudos sobre uma ideia originada na prpria Administrao.

    A figura abaixo ajuda a ilustrar este fluxo:

    MODELAGEM

    INTERNA

    DIVULGAO DE PMI

    CONSULTA PBLICA

    PUBLICAODE EDITAL

    ASSINATURA DOCONTRATO

    LICITAO

    ELABORAO DOSESTUDOS DEVIABILIDADE

    ELABORAO EENTREGA DE MIP

    1- As Parcerias Pblico-Privadas (PPP) so contratos de longo prazo entre o governo e uma empresa privada (ou um conjunto de empresas)normalmente utilizados para a construo, financiamento, operao, gesto e manuteno de infraestrutura. No Brasil, podem se dar naforma de concesso patrocinada ou administrativa. Na concesso patrocinada, o poder concedente se responsabiliza por uma contraprestaopblica adicional tarifa cobrada do usurio, que serve para remunerar o parceiro privado. Na concesso administrativa, o objeto aprestao de servios em que o governo seja consumidor direto ou indireto dos servios e no h cobrana de tarifa dos usurios.

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    importante considerar que ainda no existe uma homogeneidade sobre as etapas de preparao dosprojetos de PPP no Brasil. A figura na pgina anterior, de forma bastante simplificada, tenta reproduziros caminhos que tm sido utilizados de maneira mais recorrente. Como se pode perceber, em geralh duas vias principais para a elaborao dos estudos: a modelagem interna (quando o projeto desenvolvido pela prpria equipe tcnica do governo, com ou sem o apoio de consultores contratadospor meio da Lei n. 8.666/93) e o PMI. Entretanto, no incomum, por exemplo, que a divulgao doPMI ocorra sem que tenha acontecido a proposio de uma MIP.

    Os dados da Radar PPP2indicam que em 2012 foram publicados 393 PMI. Em 2013, este nmero subiupara 594e, em 2014, 535PMI foram lanados. Para confirmar a sensao de que este instrumento temsido cada vez mais incorporado prtica pblica brasileira, at julho de 2015, j haviam sido publicados826 PMI. O que mais chama ateno a quantidade de chamamentos publicados nos ltimos trsmeses, em relao ao j significativo nmero de publicaes nos trs trimestres anteriores:

    2- A Radar PPP uma consultoria que presta servios de inteligncia no mercado de Parcerias Pblico-Privadas no Brasil. A empresadesenvolveu o mais completo banco de dados da experincia nacional em PPP e concesses e realiza os eventos mais importantes no passobre o tema, contribuindo para desenvolver as capacidades e habilidades das pessoas interessadas em interpretar o mercado nacional dePPP, alm de oferecer-lhes as informaes que fazem a diferena. A Radar PPP acredita e trabalha por um mercado de PPP cada vez maismaduro e apto a enfrentar os complexos desafios vinculados priorizao, estruturao, licitao e gesto dos projetos de infraestrutura.3- Unio: 7; Distrito Federal: 2; Estados: 28; Municpios: 2.4- Unio: 4; Distrito Federal: 3; Estados: 25; Municpios: 27.5- Unio: 6; Distrito Federal: 3; Estados: 12; Municpios: 31; Consrcio Pblico Municipal: 1.6- Unio: 22 ; Distrito Federal: 0; Estados: 22; Municpios: 49. Dados at 30/07/2015.

    75

    60

    45

    30

    15

    0

    PMIs publicados nos ltimos 4 trimestres

    Ago/14 a Out/14 Nov/14 a Jan/15 Fev/15 a Abr/15 Mai/15 a Jul/15

    14 14

    21

    59

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    Atualmente, no Brasil, temos cerca de 200 PMI em andamento ou encerrados em 26 segmentos, comdestaque para os segmentos de Iluminao Pblica, Resduos Slidos, Saneamento e Prdios Pblicos.Tambm constam nesta lista projetos de tecnologia e cultura.

    Recentemente, o Governo Federal publicou o Decreto n8.428/15, que substituiu o Decreto n5.977e estabeleceu as novas regras para o uso dos PMI no mbito da Unio. A publicao uma claramanifestao da inteno de se valer deste instituto de forma mais organizada nos prximos anos. Provadisso foi o lanamento da segunda etapa do Programa de Investimento em Logstica (PIL) e o posteriorlanamento dos editais de Chamamento Pblico de Estudos para os setores de rodovias e aeroportos.

    O Governo do Estado de So Paulo, por sua vez, publicou o Decreto n 61.371/2015, que rev as normase procedimentos para a proposio de MIP e publicao de PMI. O novo decreto cria uma porta nicapara que qualquer interessado possa encaminhar propostas. Ao permitir que todo o trmite possa seracompanhado pela internet, tanto pelo proponente quanto pela populao, a expectativa que haja

    melhoria na transparncia e no incentivo inovao para os setores, visto que os proponentes deverodestacar em suas propostas qual a ideia inovadora na rea, seja tecnolgica ou de ganhos de eficincia,que pretendem trazer na prestao de servios ao Estado.

    Projetos por Segmentos

    Iluminao Pblica

    Resduos Slidos

    Trem Urbano

    Atendimento ao Cidado

    Ferrovia

    Urbanizao

    Logstica

    Estacionamentos

    Rodoviria

    Rodovia

    Prdios Pblicos

    Aeroportos

    Portos

    Sade

    Educao

    Defesa

    Estdios

    Telecomunicaes

    Saneamento

    Multinegcios

    Mobilidade Urbana

    Cultura

    Sistema Prisional

    Tecnologia

    Energia

    Habitao

    12%

    11%

    10%

    8%

    7%5%5%

    5%

    4%

    4%

    4%

    3%

    3%

    3%

    3%

    3%

    2%2%2%1%1%

    1%1%1%1%

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    2. BENEFCIOS DO PMI: O INSTRUMENTOEM FAVOR DA INOVAO

    Por vrias vezes, o setor pblico se v atado sobre o que fazer a respeito de determinado ativo de que

    dispe, enquanto a sociedade assiste sua degradao e abandono. Os motivos so bastante variados:entraves burocrticos, falta de equipe tcnica, necessidade de priorizao de projetos emergenciais oude curto prazo, dentre outros.

    Quando diante de cenrios como estes, a Administrao Pblica pode, por meio do PMI, legitimamenterequerer que representantes da iniciativa privada se apresentem como interessados na elaborao deprojetos, auxiliando na composio de solues sustentveis e eficientes para as diferentes demandaspblicas identificadas.

    O setor privado tem, por essncia, a necessidade de identificar oportunidades, acompanhar as evolues

    tecnolgicas e as tendncias nos mais variados mercados, at por uma questo de sobrevivncia emambientes cada vez mais competitivos. Portanto, as interaes entre o setor pblico e o setor privado naconcepo de projetos precisa ser incentivada, de modo que os governos possam se beneficiar de novasideias e conceitos para o atendimento do interesse pblico sobre determinada demanda.

    A importncia desta interao se deve tambm ao fato de que um trabalho de modelagem internade uma concesso pode consumir mais do que dois anos de uma equipe de servidores pblicos. Seriato frustrante quanto ineficiente se, somente aps a concluso deste longo trabalho (e no contexto deuma licitao), fosse constatado que no existe interessado no mercado pelo projeto de determinadaconcorrncia.

    Envolver a iniciativa privada nas fases iniciais de projetos estruturados permite uma calibragem maisprecisa de interesses, evitando que decises unilaterais sejam tomadas ao longo da estruturao doprojeto, o que poderia resultar no afugentamento de potenciais licitantes no futuro.

    Na expectativa de se alcanar um retorno social que possa ser combinado com o lucro esperado porpotenciais investidores, injustificvel qualquer constrangimento utilizao desta ferramenta do PMI,uma vez que ela promove o preenchimento de lacunas relevantes. fato que o PMI amplia o volume e o confronto de ideias em uma fase que no gera custos oramentriospara o setor pblico. uma maneira de incorporar inteligncia externa, aglutinando conhecimentosespecficos e integrando-os realidade dos governos.

    Sero descritos no prximo item exemplos de como inovaes originadas pelo setor privado interferiramde forma determinante na realidade de projetos dos governos.

    2.1 Envolvimento da Iniciativa Privada na Elaborao de Projetos:Exemplos Internacionais e Nacionais

    No incio da dcada de 90, foi sinalizada a necessidade de reparos estruturais e de uma expanso paraaliviar o congestionamento em um trecho de um cinturo rodovirio em torno de Washington D.C.,nos Estados Unidos. O poder pblico do Estado da Virgnia desenvolveu um compreensivo projeto dereforma, com o valor estimado de US$3 bilhes. O alto valor de investimento e a oposio necessidadede mais de 300 desapropriaes previstas acabaram por impedir que o projeto seguisse adiante.

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    Em 2002, uma construtora submeteu o equivalente a uma MIP para desenvolver um projeto de faixaschamadas de High Occupancy Toll(HOT), como uma alternativa para amenizar o volume de trfego.A ideia do parceiro privado apresentada autoridade pblica era criar pistas nas quais os motoristaspagariam para trafegar, evitando assim ficarem presos no engarrafamento. Para regular a demanda,foi inclusive criado um modelo que permite a variao do valor do pedgio em funo do volume detrfego corrente, ou seja, quando o trfego aumenta, o valor da tarifa acompanha este crescimento.

    Para contribuir com a reduo do engarrafamento (que o cerne do interesse pblico), a propostaapresentada pelo parceiro privado contemplava tambm a possibilidade de trafegarem nestas faixas osveculos com 3 ou mais passageiros e os nibus, sem que pagassem nenhuma tarifa por isso.

    O resultado dessa iniciativa diminua o nmero de desapropriaes de 300 para 6 e o valor de investimentoprojetado originalmente foi reduzido em 35%. O projeto j est sendo replicado em outros locais dosEstados Unidos.

    O caso das HOT de Virgnia demonstra que o know-how da iniciativa privada pode gerar valor na soluode problemas e de causas coletivas. Exemplos brasileiros tambm corroboram para esta concluso.

    Em maio de 2012, a Mendes Jnior Trading & Engenharia Ltda. e a Lend Lease (BR) Construes Ltda.protocolaram uma MIP no Estado de So Paulo com a inteno de desenvolver estudos para projetosque contemplassem a implantao, operao e manuteno dos servios de apoio no assistenciais de5 hospitais da rede pblica estadual de sade. No ms seguinte, a Construtora Norberto Odebrecht S.A(CNO) props MIP similar, acrescentando uma nova unidade hospitalar.

    O Governo Estadual resolveu, ento, abrir um Procedimento de Manifestao de Interesse para colheros estudos e as sugestes de outros eventuais interessados. Ao todo, 21 empresas se cadastraram paraapresentar os estudos.

    Recebidos tais estudos, foram devidamente tratados e ajustados s possibilidades e limitaes doGoverno. Em seguida, foi lanada uma licitao que previa a concesso de 3 hospitais. O vencedor docertame foi a Construcap-CCPS Engenharia e Comrcio S/A.

    Este episdio reflete uma ideia originada na iniciativa privada, aderente s necessidades pblicas econvertida no objeto de uma das mais relevantes concorrncias do segmento de sade do pas. Omercado se mobilizou para analisar a oportunidade, em um ambiente concorrencial de ideias e depropostas, que culminou em uma contratao bem-sucedida pelo setor pblico. A rigor, o PMI permitiuque a iniciativa privada apresentasse ao governo uma alternativa mais eficiente e mais barata para o

    contribuinte, que consistia em um projeto que permitiu ganho de escala para o agente empreendedorao construir e operar mltiplas unidades hospitalares, ao invs de uma s, sem a integrao dos servios.

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    Fonte: Radar PPP

    3. O USO DE PMI PELA ADMINISTRAOPBLICA BRASILEIRA: PONTOS DE ATENO

    O exemplo do item anterior serve tambm para contradizer uma polmica sobre o uso desta ferramenta:

    a de que os PMI acabam por tornar as licitaes de PPP um jogo de cartas marcadas. O caso mostra queisso no uma verdade absoluta. Mesmo em licitaes precedidas de PMI, empresas que no tiveram seusestudos selecionados pelo poder pblico ou que nem mesmo participaram do PMI sentem-se confortveiso bastante para apresentar propostas e disputar contratos de concesso administrativa e patrocinada.

    Estudo recente da Radar PPP afirma que dos 81 contratos de PPP assinados no Brasil, 37 previram oressarcimento para os estudos de viabilidade obtidos por meio de PMI ou por algum mecanismo similar.Desta amostra de 37 contratos assinados, em menos de 30% foi possvel detectar que algum dosacionistas que compem a sociedade de propsito especfico (SPE) tenha sido tambm o recebedor doressarcimento em funo de estudos apresentados em PMI.7

    A existncia de um ator que, em sede de PMI, contribuiu para o desenvolvimento dos estudos deviabilidade do projeto, no deve ser interpretada como um fato apto a afugentar outros potenciaisinteressados pelo certame. De qualquer maneira, outros pontos de ateno em relao ao uso desseinstrumento precisam ser considerados.

    PMI Publicados

    PMI do ano que viraram Consulta Pblica

    PMI do ano que viraram Edital Publicado

    PMI do ano que viraram Contrato Assinado

    90

    68

    45

    23

    0

    2010 2011 2012 2013 2014 2015

    Converso de PMI em Consultas,Editais e Contratos8

    7- Importante notar que, em alguns casos, os elaboradores dos estudos so consultores que nunca almejaram integrar o grupo deacionistas das concessionrias. Alm disso, esses consultores podem ter assessorado licitantes vencedores das respectivas licitaes.8- Como o ciclo de vida de preparao de projetos de PPP relativamente longo, naturalmente, os PMI publicados no final de 2014 e em2015, em regra, ainda no poderiam ter se convertido em contrato assinado.

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    A taxa de mortalidade dos PMI um ponto que merece ateno. De todos os PMI lanados no Brasilat 2014, apenas 35,3% atingiram o estgio de consulta pblica, 26,6% viraram editais publicados esomente 15,8% se converteram em contratos. O grfico da pgina anterior ilustra esta situao.

    A ausncia de estudos de pr-viabilidade, priorizao inadequada, processos de tomada de decisofrgeis por parte do poder pblico, estudos de viabilidade equivocados por parte da iniciativa privada eincapacidade institucional das partes para lidar com o tema das PPP esto entre os diversos fatores que

    resultam na fragilidade do instrumento.

    Como mencionado, o PMI institucionaliza o relacionamento pr-licitatrio entre o poder concedente e omercado interessado na futura PPP, estabelecendo o dilogo entre mercado e poder pblico. Entretanto,tais procedimentos no substituem a capacidade institucional do poder pblico para avaliar criticamenteos estudos de viabilidade recebidos.

    Vale notar tambm que PMI no uma estratgia que necessariamente torna mais gil o processo detomada de deciso do poder pblico sobre um potencial projeto de parceria com o setor privado. Se opoder concedente no estiver preparado, poder receber os estudos de viabilidade e no ter condies

    de tomar uma deciso sobre o projeto, inviabilizando o processo e tornando o PMI uma ferramentapouco efetiva.

    Ademais, a utilizao dos PMI no pode ser encarada como um subterfgio para que o setor pblico seomita de estruturar um time qualificado para gerir arranjos contratuais sofisticados e de longo prazo.Nos casos em que o know-howsobre a necessidade pblica se encontre no prprio governo e tambmnas situaes cujos projetos componham uma poltica pblica complexa estruturada, concentrar osesforos de modelagem no setor pblico e optar por mecanismos alternativos aos PMI para interagircom o setor privado, podem ser prticas mais eficientes.

    Por ltimo, necessrio garantir um real comprometimento com a transparncia das informaesdurante o PMI para evitar que a utilizao dos resultados obtidos no caracterize vantagens ou privilgiosao particular em processo licitatrio futuro. Os PMI hermticos vm sendo combatidos pelos rgos decontrole e acarretando a suspenso de licitaes, frustrando investidores e governos. O uso efetivodesta ferramenta pressupe a transparncia e a comunicao isonmica e impessoal dos elementosestruturantes dos estudos: para a sociedade civil, para os rgos de controle e para o mercado.

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    4. PMI E AS CONCESSES EM PARQUE

    4.1 Situao Atual

    A conservao da natureza no Brasil est intimamente relacionada existncia e implementao dasUnidades de Conservao (UC), reas com caractersticas naturais relevantes legalmente institudaspelo Poder Pblico, com objetivos de conservao e manuteno de servios ambientais. A falta derecursos de diversas ordens (humanos, financeiros, entre outros) expe essas reas s iniciativas poucosustentveis, deixando-as vulnerveis. Transformam-se em reas vistas como passivos, ao invs de ativos,porque seu real potencial no reconhecido e aproveitado.

    De acordo com a Convention on Biological Diversity, as reas protegidas provm um meio de vidapara 1,1 bilho de pessoas e representam a fonte principal de gua para mais de um tero das 100

    maiores cidades do planeta. Por outro lado, avanos como o do agronegcio e da urbanizao, quandodesregrados, impactam sua existncia. Nas ltimas trs dcadas, 93 parques nacionais brasileiros eoutras UC tiveram suas fronteiras reduzidas ou suas categorias alteradas, o que equivale a 5,2 milhesde hectares de florestas nativas antes preservadas em parques, reservas e estaes ecolgicas. Issocorresponde ao territrio do Rio Grande do Norte.

    Dentre as Unidades de Conservao, esto aproximadamente 340 parques no nvel federal, estadual emunicipal. Somadas, essas UC totalizam cerca de 30 milhes de hectares de natureza to diferenciadaque garantem primeira colocao no ranking do Frum Econmico Mundial, que avaliou 140 pasesno quesito belezas cnicas e recursos naturais. Ao mesmo tempo, no figuramos sequer entre os

    50 primeiros pases quando o ranking avalia o quesito de competitividade em turismo. Ou seja, somospouco competentes em transformar esses espaos em locais que entregam, alm da conservao dabiodiversidade, as oportunidades de desenvolvimento e lazer que justificam sua criao.

    As iniciativas de concesses na realidade das UC brasileiras ainda engatinham. Autorizaes reguladaspor contratos frgeis predominam na relao entre o setor pblico e privado atuantes nesses espaos.Os poucos contratos de concesso existentes so ainda alvo de crticas e questionamentos pelo setorpblico, pelo setor privado e pela sociedade civil organizada. Muitos dos novos editais lanados no soapreciados pela iniciativa privada e no recebem propostas. A assimetria de informaes para tomadade decises segue sendo um grande entrave ao desenvolvimento de parcerias e, dentre outros fatores,

    intensifica a percepo de riscos para ambas as partes.

    4.2 Experincias Internacionais

    Diversos outros pases do mundo conseguiram transformar essas reas em polos dinamizadores daseconomias em que esto inseridos, aprimorando, assim, tambm os incentivos para conservao. NosEUA, por exemplo, 280 milhes de turistas visitam anualmente os parques, comparados aos 7 milhesde visitantes que temos no Brasil. Por meio de parcerias com o setor privado para a estruturao de bense servios tursticos nos parques americanos, so gerados cerca de 25 mil empregos diretos e outros 25mil indiretamente. O discurso do presidente Barack Obama, em abril deste ano, na ocasio do Dia daTerra, corrobora estes nmeros:

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    First, were releasing a report showing that every dollar invested in the National Park Service generates$10 for the economy. Thats a good investment. I dont run a private equity fund, but I know that ifyou invest a dollar and you get $10 back, thats a good investment. In 2014, almost 300 million visitorsto our national parks spent almost $16 billion and supported 277,000 jobs. So protecting our parks isa smart thing to do for our economy.

    - Discurso Presidente Obama, em 22/04/2015, na comemorao do Dia da Terra9

    J na Nova Zelndia, onde o turismo e a conservao coexistem e so parte da agenda estratgicado pas, para cada dlar de faturamento de concessionrias, 43 centavos de dlar so adicionados economia das regies. Na frica do Sul, a poltica do rgo que guardio dos parques, chamadoSANParks, segue o lema Comercializar para Conservar. Com este foco, 75% da sustentabilidadefinanceira para manuteno do sistema de reas protegidas so gerados por contratos de concesso nosparques, reduzindo a vulnerabilidade de sua conservao e garantindo continuidade quando ocorremoscilaes no oramento pblico.

    H tambm evidncias internacionais de agncias relacionadas administrao de parques que permitemas chamadas unsolicited proposals (propostas no solicitadas) para concesses, no dependendoapenas das suas prprias ideias para o lanamento de iniciativas de parceria entre o setor pblico eprivado nos parques. A agncia responsvel pela administrao dos parques estaduais na Califrnia temem seu prprio site um esclarecimento sobre o assunto. Como ilustrado abaixo, prope que possveisinteressados privados desenvolvam sua ideia para uma eventual concesso.

    9 Primeiramente, estamos divulgando um relatrio que demonstra que cada dlar investido no Servio de Parques Nacionais gera umimpacto de 10 dlares para a economia. Isso um bom investimento. Eu no comando um fundo de investimento privado, mas eu seique se voc investe um dlar e resgata 10 dlares, voc fez um bom investimento. Em 2014, quase 300 milhes de visitantes nos nossosparques nacionais gastaram quase 16 bilhes de dlares e justificaram a gerao de 277 mil empregos. Portanto, proteger os nossosparques algo inteligente para a nossa economia. - traduo livre dos autores.

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    Em alguns casos, os detentores das propostas competem em um ambiente aberto com outros potenciaisinteressados na iniciativa desenvolvida, na hiptese em que a autoridade pblica queira seguir adiantecom ela10.

    Outro exemplo acontece em um dos parques mais visitados do mundo, o Parque Nacional do GrandCanyon. De acordo com Deb Collins, presidente da C2Squared, um dos editais mais recentes relacionados explorao de servios no parque incluiu uma questo aos potenciais licitantes para que descrevessem

    como eles gostariam de utilizar um prdio que um dia foi a estao de energia do parque, em uma claratentativa de explorar o potencial de concesso a partir de ideias externas e de novos cenrios para oequipamento pblico.

    No mesmo parque, uma proposta apresentada por um agente privado se converteu em uma experinciade sucesso: o servio de aluguel de bicicletas. O Grand Canyon ocupa uma vasta regio na intercessodos estados do Arizona, Utah e Nevada. Foi identificado que, a despeito da vocao ecolgica doparque, os visitantes se deslocavam para l, em sua maioria, nos seus veculos automotores prprios,sem levar suas bicicletas de passeio. Alm dos congestionamentos, a qualidade do ar foi comprometida,interferindo negativamente na experincia dos usurios.

    Identificando uma oportunidade neste cenrio, a empresa de aluguel de bicicletas Bright Angels Bicycle(BAB) props uma soluo para que se permitisse aos visitantes acessar os locais do parque sem anecessidade de veculos, podendo usar vias exclusivas para ciclistas. Uma licena de uso comercial empresa foi concedida em 2010. A experincia considerada bem-sucedida na avaliao dos usuriose solues mais sofisticadas foram incorporadas por outros parques nacionais, baseadas neste piloto.

    Foto: Bright Angels Bicycle (divulgao)

    10 Alguns governos podem escolher submeter essas ideias avaliao ampla do mercado, para permitir um teste mais fiel da demandae do interesse privado pelo objeto. Em alguns casos, o detentor da ideia se investe no direito de igualar a melhor proposta comercial, nochamado Swiss Challenge. No Brasil, atualmente, no existe nenhuma previso de preferncia para aqueles que apresentam as ideiasao setor pblico.

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    Na frica, a participao privada na gesto de parques tambm merece destaque. Na Nambia, foi criadauma regulamentao para que os governos possam receber ideias de concesso de servios pblicos,para os projetos que envolvam uma carga relevante de inovao, incluindo aqueles relacionados aosparques e reas protegidas. Ao expor uma sugesto que recebe boa avaliao, o detentor da ideiaganha o direito de ter um perodo justo para poder explor-la. Em seguida,o poder pblico pode optarpor criar uma nova licitao em ambiente competitivo mais amplo11.

    Por fim, destacamos que, em setembro de 2014, o Governo do Territrio Norte da Austrlia lanou umchamamento muito similar aos PMI brasileiros, convidando empreendedores, investidores e operadoresdo turismo para apresentarem novas ideias de iniciativas de turismo e recreao em parques e reservas12.

    Estes breves exemplos confirmam a existncia de iniciativas a partir das quais as organizaes privadas,de maneira mais ou menos protagonista, apresentam-se como indutoras de projetos de concesso paragesto de parques e reas protegidas no mundo. Este pode ser um caminho tambm no Brasil.

    4.3. Novos Caminhos Possveis

    Estamos diante da possibilidade de favorecer novos modelos de desenvolvimento que impactempositivamente no apenas a conservao da natureza, mas tambm a gerao de riquezas, renda,empregos, oportunidades de lazer e bem-estar, cooperando, assim, para o desenvolvimento sustentveldo pas.

    Caminhos inovadores para enfrentar tais desafios passam pelo envolvimento do setor privado na buscapor solues que apresentem melhores resultados de conservao e de aproveitamento desses espaos.Nesse contexto, fundamental que o setor pblico assuma o seu papel primordial de reguladorresponsvel pela fiscalizao e monitoramento das entregas de bens e servios pblicos ao cidado.

    Incentivar o uso dos PMI em projetos nas Unidades de Conservao, tais como os Parques Nacionais eEstaduais no significa entregar as nossas riquezas naturais. Tampouco significa restringir o acessoa esses espaos pblicos a uma parcela privilegiada e especfica da populao. Ao contrrio, se bemconduzidos, os PMI podem desencadear justamente um processo democrtico de coleta de ideias e deharmonizao de interesses em favor da viabilidade de um projeto de longo prazo beneficiando o setorpblico, privado e, mais importante, o cidado brasileiro, que poder desfrutar dos benefcios de umambiente natural menos vulnervel, com melhor nvel de servio prestado e, portanto, em melhorescondies para promoo da conservao da biodiversidade.

    11 Thompson, A., Massyn, P.J., Pendry, J., Pastorelli, J. 2014. Tourism Concessions in Protected Natural Areas: Guidelines for Managers.United Nations Development Programme.

    12 http://www.parksandwildlife.nt.gov.au/__data/assets/pdf_file/0006/353922/Prospectus_EOI-Tourism-Investment_NTG_web.pdf

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    5. CONCLUSO

    O uso de arranjos contratuais sofisticados entre o setor pblico e a iniciativa privada, como meio para

    atingir melhores nveis de conservao da natureza em parques, ainda est em fase inicial no Brasil.

    Diante disso, a ferramenta do PMI pode trazer uma srie de vantagens para as polticas de conservaoe uso pblico em parques. Para que este processo funcione de maneira eficiente, os governos precisamter clareza de suas demandas, subsidi-las com dados e informaes que permitam a realizao deestudos de viabilidade robustos e, alm disso, precisam estar preparados para julgar sugestes recebidasdo setor privado, com isonomia e transparncia, assegurando a eficiente proviso de bens e servios sociedade.

    No h como as vantagens e os benefcios do PMI serem apropriados sem um explcito esforo de

    planejamento, capacitao e desenvolvimento de equipe interna do setor pblico. Assim, deve-seperguntar, diante de novas experincias desse tipo: os PMI tero regras claras, transparentes e previsveis,gerando confiana nos investidores para se engajarem nos estudos? Os projetos merecero a prioridadepoltica que lhes necessria para vencer os vrios desafios que sero identificados na modelagem?Haver uma preocupao com a criao de indicadores que possibilitem comparaes de qualidade eeficincia? A administrao dotar as pastas responsveis pelas parcerias com mecanismos necessriospara conduzir os processos de qualificao, formalizao e acompanhamento dos contratos de gesto?Haver profissionais dedicados a fiscalizar o cumprimento dos contratos?

    preciso responder sim a todas essas perguntas para se estimular o uso das concesses e das

    Parcerias Pblico-Privadas como novo paradigma de gesto das Unidades de Conservao, em especialos Parques Nacionais, Estaduais e Municipais do Brasil.

    inegvel que a pavimentao deste caminho no um esforo trivial, mas acreditamos que precisocaminhar na direo da racionalizao dos gastos pblicos e da cooperao com a iniciativa privada parafinanciamento de projetos e para a melhoria da qualidade dos servios. Este trajeto precisa ser construdo,diante da possibilidade de favorecer um modelo de desenvolvimento que impacte positivamente naconservao da natureza, na gerao de riquezas e nas oportunidades de lazer e bem-estar para ocidado brasileiro.