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Plano Político Institucional PPI NOVO DEGASE Rio de Janeiro 2012

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Plano Político Institucional

PPI

NOVO DEGASERio de Janeiro

2012

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Departamento Geral de Ações Socioeducativas - NOVO DEGASE 369

Apresentação

O Plano Pedagógico Institucional-PPI é o instrumento direcionador, cuja função é nortear as

ações desenvolvidas pelo NOVO DEGASE no cumprimento de sua missão, enquanto órgão executor

do atendimento socioeducativo no Estado do Rio de Janeiro.

O processo de sua construção teve início na elaboração compartilhada do Planejamento Es-

tratégico da Instituição, a qual produziu as bases de consenso entre as diversas áreas, gerando

alinhamentos estratégicos, conceituais, operacionais e essenciais em prol de engendrar o NOVO

DEGASE, como resultante de um processo de reordenamento institucional, que se arrimou na elabo-

ração do PASE-RJ (Plano de Atendimento Socioeducativo do Governo do Estado do Rio de Janeiro).

OPASE-RJdefineasmudançasdeconteúdo,métodoegestãorequeridaspeloGovernodo

EstadodoRiodeJaneirocomafinalidadedepromoveroalinhamentodesuapolíticadeexecução

das medidas socioeducativas, impostas pela Justiça da Infância e da Juventude aos adolescentes em

conflitocomaleiemrazãodocometimentodeatoinfracional–relacionadasaosobjetivos,estraté-

gias e metas estabelecidos pelo SINASE (Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo), formu-

lado pelo CONANDA (Conselho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente) e com apoio do

UNICEF (Fundo das Nações Unidas Para a Infância).

O PPI com assento no PASE-RJ tem o escopo de propiciar as condições para que a Política

deAtendimentodoECA(descentralização,participação,especificação,sustentabilidade,integração

operacional e mobilização), o novo paradigma da socioeducação e a Doutrina da Proteção Integral

sejam verdadeiramente as diretrizes para a elaboração de instrumentos de avaliação institucional e

operacional, a partir de mudanças no pensar, no sentir e no fazer de todos os atores do sistema de

atendimento socioeducativo através dos projetos pedagógicos setoriais.

O PPI do NOVO DEGASE, portanto, concretiza e expressa o compromisso ético, a vontade

política e o empenho técnico da instituição, visando estruturar-se para o pleno cumprimento de sua

Missão Institucional.

Alexandre Azevedo de JesusDiretor-Geral do NOVO DEGASE

PPI - NOVO DEGASE

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Projeto Pedagogico Institucional - PPI

Objetivo

Criar espaços e condições de atendimento socioeducativo, que possibilitem ao adolescente

emconflitocomaleidesenvolverseupotencialcomopessoa,cidadãoefuturoprofissional,através

das competências pessoais, relacionais, produtivas e cognitivas e que lhes permitam desempenhar-

-se no convívio social sem reincidir, através do emprego de conceitos, métodos e técnicas de ação

socioeducativa comprometidos, ao mesmo tempo, com os seus direitos fundamentais e a segurança

da população.

Crenças, Princípios e Valores

Crenças

O PPI está alicerçado na Doutrina da Proteção Integral, nos termos da Constituição Federal

e do Estatuto da Criança e do Adolescente, nas demais leis que regulamentam o Estado Nacional

Brasileiroedasnormasinternacionaisporeleratificadas.

Princípios

Firme compromisso com o bem-comum e com os direitos e deveres individuais e coletivos.

Respeitoàcondiçãodepessoaemdesenvolvimentodoadolescenteemconflitocomalei,tendo

como princípio estruturador de nossas ações o compromisso com os direitos fundamentais do ado-

lescente e com a segurança da população.

Valores

Os valores que passam a nortear os processos de decisão-ação do NOVO DEGASE são:

Ética da corresponsabilidade da família, da sociedade e do Estado pela qualidade do atendi-

mento socioeducativo no Estado do Rio de Janeiro.

Compromisso político determinado de pôr em prática as diretrizes que presidem a Política de

Atendimento do ECA: descentralização do atendimento, interlocução permanente com os conselhos

de direitos, programas focados nas necessidades de desenvolvimento pessoal, social e produtivo do

nosso adolescente.

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Sustentabilidade por meio do fomento a ampliação dos recursos dos fundos e da mobilização

da sociedade numa ação efetiva em prol da socioeducação (instalação da causa socioeducativa na

sensibilidade, consciência e ação da sociedade).

Aprimoramento constante da qualidade da atenção direta e indireta pela elevação dos níveis

de competência técnica e de compreensão, aceitação e disposição de pôr em prática o ferramental

técnico-metodológico utilizado no atendimento socioeducativo.

Contínuaqualificaçãodocorpofuncionalcom base nas diretrizes determinadas pelas polí-

ticas sociais básicas, pelas políticas de assistência social, pelas políticas e programas de proteção

especial e pelas políticas de direitos humanos que conduzam às ações integradas e sistematizadas

em prol do respeito e da garantia dos direitos fundamentais dos adolescentes e jovens, autores de

atos infracionais.

Fundamentos da Socioeducação

O PPI do NOVO DEGASE tem como princípio fundamental a concepção de que ao execu-

tarmos uma política pedagógica voltada aos adolescentes, autores de ato infracional, estaremos

implementandoaçõesqueatodoomomentonosfarãorefletirsobrequalserhumanoestaremos

formando, sobre qual sociedade este ser humano será inserido e qual a base teórica que dará supor-

te a este processo de transformação, levando-se em consideração o ideário sociopolítico e cultural

dos envolvidos.

De acordo com o artigo 2º da LDB (Lei 9394/96):

“A educação é direito de todos e dever do Estado, terá como base os princípios de liberdade e os ideaisdesolidariedadehumanaeterácomofim,aformaçãoplenadoeducando,suapreparaçãoparaoexercíciodacidadaniaesuaqualificaçãoparaotrabalho.”

Os valores estruturantes da educação nacional são os princípios de liberdade e os ideais de

solidariedade humana. Os princípios de liberdade referem-se às liberdades individuais, no plano

pessoal; e às conquistas do estado democrático de direito, no plano da vida social mais ampla. O

ideais de solidariedade humana estão alicerçados no desenvolvimento da pessoa no sentido da sua

adesão às causas do ser; o apego à vida de todos os seres vivos; aos interesses da coletividade e às

responsabilidadesdeumasociedadeatodoinstantetransformadaedesafiadapelamodernidade.

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Com base nesses valores, e segundo o Prof. Antônio Carlos Gomes da Costa, devemos promover:

“A formação plena do educando”, contribuindo para torná-lo uma pessoa autônoma, isto é, capaz

de analisar situações e tomar decisões fundamentadas diante delas;

“A sua preparação para o exercício da cidadania”, contribuindo para prepará-lo para pôr em

prática“odireitodeterdireitoseodeverdeterdeveres”,ajudando-oatornar-seumsersolidário,

um cidadão prestante;

“E a sua qualificação para o trabalho”,atuando,pormeiodaeducaçãobásicaeprofissional,para

torná-lo capaz de desenvolver competências produtivas capazes de permitir-lhe o exercício de uma

ocupação,serviçoouprofissãonomundodotrabalho.

Assim, devemos ter como ideal norteador o princípio de formar a pessoa autônoma, o cida-

dãosolidárioeoprofissionalcompetente.ParaCostaédefundamentalimportânciatermosclaraa

visão de que tipo de sociedade, para cuja construção queremos contribuir com a socioeducação e

de que tipo de jovem que o NOVO DEGASE está se estruturando para formar. Que tipo de mundo o

NOVO DEGASE aspira ajudar a criar com este ideal formativo?

Encontramos resposta no chamado Paradigma do Desenvolvimento Humano, que segundo Costa,

pode ser resumido nos seguintes 12 (doze) pontos básicos:

I. A vida é o mais básico e universal dos valores.

Respeitá-la acima de tudo é o caminho para a justiça, a solidariedade e a paz.

II. Nenhuma vida humana vale mais do que a outra.

Todo ser humano tem direito ao acesso a condições básicas de bem-estar e de dignidade.

III. Toda pessoa nasce com um potencial e tem o direito de desenvolvê-lo.

Toda condição impeditiva de que isto ocorra é, em si mesma, uma violência.

IV. Para desenvolver o seu potencial, as pessoas precisam de oportunidades.

As oportunidades educativas são aquelas que verdadeiramente desenvolvem o potencial humano.

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V. O que uma pessoa se torna ao longo da vida depende de duas coisas: das oportunidades que

teve e das escolhas que fez.

Nada adianta ter oportunidades e não saber fazer escolhas. Como, tampouco, nada adianta saber

fazer escolhas e não ter oportunidades.

VI. Além de ter oportunidades, as pessoas precisam ser preparadas para fazer escolhas.

As escolhas são feitas com base nas crenças, valores, princípios, sentimentos, pontos de vista e in-

teresses das pessoas.

VII. Cada geração deve legar para as gerações vindouras um meio ambiente igual, ou melhor, do

que aquele recebido das gerações anteriores.

Fazer isto é respeitar o direito à vida daqueles que ainda não nasceram.

VIII. As pessoas, as organizações, as comunidades e as sociedades devem ser dotadas de poder para

participar nas decisões que as afetem.

Só o poder participativo dos cidadãos poderá mudar os demais poderes: Executivo, Legislativo e

Judiciário.

IX. A promoção e a defesa dos DIREITOS HUMANOS é o caminho para a construção de uma vida

digna para todos.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos é um projeto de humanidade a ser construído por

todos e cada um dos povos ao longo da história.

X. O exercício consciente da cidadania é a melhor forma de fazer os DIREITOS HUMANOS transita-

rem da intenção à realidade.

Cidadania entendida como direito de ter direitos e dever de ter deveres.

XI. A política de desenvolvimento deve basear-se em quatro pilares: liberdades democráticas, trans-

formação produtiva, equidade social e sustentabilidade ambiental.

Semisso,comodisseTancredoNeves,“todaprosperidadeseráfalsa”.

XII. A ética necessária para pôr em prática o Paradigma do Desenvolvimento Humano é a ética da

corresponsabilidade.

Corresponsabilidadeentreaspolíticaspúblicas(primeirosetor),mundoempresarial(segundosetor)

eorganizaçõessociaissemfinslucrativos(terceirosetor).

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Segundo Costa, socioeducar é educar para o convívio social, em que especialmente educa-se

mais pelo curso dos acontecimentos e pelos exemplos de vida dos educadores, do que pelo discurso

daspalavrasepelasleituras,influenciando-osnosentidodaconstruçãodeumaconsciênciamais

madura de si mesmos e do mundo.

O caminho a trilhar será o de educar para valores, conferindo ao adolescente a oportunidade

decriarevivenciarsituaçõesquepossibilitemidentificarvalorespositivosdetalformaaintegrá-los

a sua maneira de ver, entender, sentir, decidir, agir, interagir e reagir frente a si mesmo e ao mundo.

Contudo,esseprocessoestruturanteinicia-secomoeducador,oprofissionalresponsávelporfazê-

-lo consigo mesmo.

Deacordocomofilósofoeeducadorcolombiano,JoséBernardoToroeCosta,asseteapren-

dizagens básicas para desenvolvermos com os adolescentes são:

Aprender a Não Agredir o Semelhante

Aprender a valorizar a vida do outro como a sua própria vida.

Aprender a não tratar o diferente como inimigo. Existem pessoas que pensam e agem de ou-

tras formas, mas com as quais podemos estipular regras para resolvermos as diferenças e os

conflitoselutarjuntospelavida.

Aprender a valorizar a diferença como uma vantagem que nos permita compartilhar de outros

modos de pensar, sentir e agir.

Aprender a buscar a unidade com as outras pessoas, mas não a uniformidade e saber conviver

com a diversidade.

Aprender a ter no cuidado e na defesa da vida o princípio maior de toda convivência.

Aprender a respeitar a vida íntima dos outros.

Aprender a Comunicar-se

SegundoToro,aprenderacomunicar-sedábaseparaaautoafirmaçãopessoalesocialepara

ele,aautoafirmaçãopodeserdefinidacomoreconhecimentoqueosoutrosdãoanossaformade

ver, sentir e interpretar o mundo.

Costa destaca que a conversação em família é o primeiro passo para se aprender a comunicar.

A partir daí, a comunicação (verbal, por gestos, escrita) torna-se fundamental para a construção de

umaconvivênciasocialampla,diversificadaesadia.

“A convivência social requer aprender a conversar. Através da conversação, podemos nos expressar,

compreender, esclarecer, concordar, discordar e comprometer“ (Bernardo Toro).

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Aprender a conversar, utilizando-se de espaços e maneiras diversas e de forma clara e obje-

tivacomasdemaispessoas,nosconduzaencontrarformasderesolverosconflitospacificamentee

descobrir mais caminhos e alternativas para viver melhor.

Aprender a Interagir

Para atingir esta meta, Toro nos conduz a outras aprendizagens:

Aprender a abordar os outros com respeito e cortesia.

Aprender a comunicar-se com os outros. Saber conversar e saber decidir.

Aprender a estar com os outros. É aprender a concordar e discordar, sem romper a convivência.

Aprender a ceder e a aceitar que o outro ceda.

Aprender a viver a intimidade. É aprender a cortejar e a amar, respeitando os seus sentimentos

e os sentimentos da outra pessoa.

Aprender a perceber-nos e a perceber os outros como pessoas. É respeitar os direitos humanos

de todos os homens, sem distinções de religião, raça, crença, opinião, nacionalidade, situação

econômica e tantas outras.

Aprender a Decidir em Grupo

Aprender a decidir pressupõe admitir que existam interesses individuais e dos grupos/coletivos

e que os interesses são um fator dinamizador da convivência social se aprendemos a negociá-

-los e a construir consensos.

Anegociaçãoparaserútilàconvivênciasocial,gerandocompromisso,deveteraparticipação

direta ou indireta de todos que serão afetados por ela.

Aprender a negociar e a atingir o consenso é importante para todas as formas de interação

social: na família, na escola, no grupo, no trabalho, no casamento, em toda inter-relação.

Aprender a se Cuidar

Aprender a se cuidar exige:

Aprenderaprotegeraprópriasaúdeeadetodoscomoumbemsocial:terhábitosdehigienee

de prevenção contra doenças transmissíveis, contra doenças ocupacionais e geradoras de estresse;

Aprender a valorizar as normas de segurança tão necessárias no nosso dia a dia, evitando aci-

dentes e promovendo qualidade no ambiente de trabalho;

Aprender a cuidar do próprio corpo como forma de expressão, estando atento para a impor-

tância do esporte, da dança, do teatro, da ginástica, entre outras.

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Aprender a Cuidar do Lugar que Vivemos

Esta é a base da nossa sobrevivência social e a sustentabilidade enquanto seres coletivos e

planetários, pois somos parte da natureza e do universo. Aprender a conviver em sociedade é tam-

bém aprender a estar no mundo, conviver com a natureza e os homens de forma equilibrada.

Aprenderacuidardoambienteemquevivemoséobrigaçãoesignifica:

Aprender a perceber o planeta como um ser vivo.

Aprender a cuidar do ar, das águas, das matas, dos minerais, das reservas naturais e dos ani-

mais como riquezas comuns, patrimônios da humanidade.

Aprender a conhecer e a respeitar todas as formas de vida da natureza.

Aprenderadefendereacuidardosespaçospúblicosdascidades:parques,praçaseruas.

Aprender a usar e controlar o lixo. Evitar desperdícios e valorizar a sua reciclagem.

Aprenderaseoporàproduçãoderesíduosquedanificamoplanetaedestroemavida(resídu-

os atômicos, produtos não biodegradáveis).

Aprenderanegociarconflitoseseoporàguerra,valorizando-seaconvivênciapacífica.

Aprender a Valorizar o Saber Social

Para isso é importante:

Aprenderaconhecerosignificadoeaorigemdastradiçõesecostumesdesuacomunidade.

Aprender como os diferentes grupos sociais cuidaram e construíram as atuais formas de convivência.

Aprender a ouvir e entender as experiências dos outros.

Aprender a aproveitar as oportunidades de conhecimento na escola e em todos os outros es-

paços de saber social.

As Ações Pedagógicas do NOVO DEGASE

Como base pedagógica do Projeto Pedagógico Institucional e alicerçada nos estudos e ex-

periências de Costa e Méndez, dever-se-á ter em mente a balança em que pesa de um lado o viés

pedagógico e do outro lado o viés jurídico da execução das medidas socioeducativas e/ou atendi-

mento socioeducativo.

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Ofieldessabalançadizrespeitoàresponsabilizaçãodoadolescentefrenteaocometimento

do ato infracional. Enquanto sujeito de direitos exigíveis com base na lei, o adolescente deve cumprir

com seus deveres perante a sociedade, o Estado e a família, existindo assim uma reciprocidade entre

seus direitos e seus deveres.

O adolescente enquanto sujeito do processo educativo, se coloca no papel de protagonista

de suas ações, gestos e atitudes frente ao mundo que vive e convive; faz escolhas e se compromete

com seus atos, dentro dos limites decorrentes de sua condição peculiar de pessoa em desenvolvi-

mento. Ao ser considerado responsável pelo cometimento do ato infracional e associado a um pro-

cessojudicial,oprimeiropassoemdireçãoaumajustiçajuveniléodeidentificareexplicitarcom

clareza a dimensão pedagógica das garantias processuais. À medida que o adolescente percebe

que não foi vítima de um ato discriminatório, mas que teve a condição de defender-se, ele passa a

perceber e compreender a justiça como um valor concreto em sua existência.

Esseéocenárioemqueestáinseridaapráticapedagógicaequeoprofissionalsocioeduca-

dor deve estar ciente de que ele é o encarregado de fazer cumprir a lei. A função do socioeducador

é compreender todo o contexto do controle social do delito juvenil no qual está inserido o adoles-

centeemconflitocomaleiepromoveroseudesenvolvimentopessoalesocial,atravésdoconfronto

com a sua própria realidade, estando nela incluídos os seus delitos. Da avaliação de seus atos e de

suas consequências sobre o meio social e suas vitimas é que surge a consciência da responsabilida-

desemaqualasespecificidadesdaaçãosocioeducativanãoterãoêxito.

No viés jurídico, a responsabilização se dá pelo devido processo com todas as garantias bási-

cas asseguradas que somada à sua dimensão pedagógica viabilizará a formação e o desenvolvimen-

to do adolescente no sentido da responsabilidade para consigo mesmo e com os outros, qual seja a

família, a escola, o trabalho, a comunidade e a sociedade como um todo.

No viés prático, as ações pedagógicas do NOVO DEGASE deverão adotar como concepção

sustentadora a educação interdimensional. Considerando a educação acadêmica, em suas formu-

laçõesmaisavançadas,elasebaseianaintegraçãodasdiversasdisciplinaspormeiodeconteúdos

transversais “multi, inter e transdisciplinaridade”. Já aproposta interdimensional, procuradesen-

volver o trabalho educativo com base nos quatro pilares da educação, com luz no saber da antiga

Grécia que desenvolvia a pessoa humana na dimensão do logos (razão), pathos (sentimento), eros

(corporeidade) e mythos (espiritualidade)- Anexo II.

A proposta interdimensional se encontra fundamentada no Relatório da Comissão Interna-

cional de Educação da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cul-

tura), coordenado por Jacques Delors e que se chamou Educação, Um Tesouro a Descobrir:

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“Aeducaçãodevecontribuirparaodesenvolvimentototaldapessoa–espíritoecorpo,inteligência,sensibilidade, sentido estético, responsabilidade social, espiritualidade. Todo ser humano deve ser preparado especialmente graças à educação que recebe na juventude, para elaborar pensamentos autônomos e críticos e para formular seus próprios juízos de valor, de modo a poder decidir por si mesmonasdiferentescircunstânciasdavida.”

As ações pedagógicas do NOVO DEGASE, com base nos estudos do Prof. Antônio Carlos

Gomes da Costa, deverão “buscar articular, de forma incansável, o ideal antropológico da educação

brasileira”—“aformaçãoplenadoeducando”(pessoaautônoma),“suapreparaçãoparaoexercício

dacidadania”(cidadãosolidário)esua“qualificaçãoparaotrabalho”(profissionalcompetente)—

com os quatro pilares da educação do Relatório Jacques Delors:

Aprender a Ser Competências pessoais;

Aprender a Conviver Competências relacionais;

Aprender a Fazer Competências produtivas;

Aprender a Conhecer Competências Cognitivas.

Segundo Costa, todo o processo deve ser desenvolvido de acordo com as bases estabeleci-

das no artigo 2º da Lei 9394/96 (LDB), que são “os princípios de liberdade e os ideais de solidarieda-

dehumana”.

As aprendizagens se traduzirão em comportamentos observáveis, sob a forma de compe-

tências. Estas, por sua vez, serão constituídas por conjuntos de habilidades, que se concretizarão e

expressarão sob a forma de capacidades. Em razão disso, as oportunidades educativas, oferecidas

aos adolescentes, deverão estar divididas em três grandes grupos:

Docência –atividadesconduzidasporprofessoreseinstrutoresnaeducaçãobásicaeprofissional;

Práticas e Vivências – construção de acontecimentos estruturantes, ou seja, capazes de exercer

umainfluênciaconstrutivanavidadossocioeducandosnoscamposdaarte,cultura,esporte,lazer

e educação para a cidadania;

Presença Educativa – expressão da qualidade da relação educador-educando/socioeducador-ado-

lescente, com base na abertura, reciprocidade e compromisso.

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Assim,objetivoseducacionaisdeverãoserformuladosafimdeexpressaremensurarmudan-

ças de comportamentos, passíveis de serem avaliados qualitativa e quantitativamente.

Métodos Técnicas e Planejamento

Na formulação dos métodos e técnicas de atendimento socioeducativo e na elaboração do

seu planejamento lançamos mão da experiência e prática pedagógica do Prof. Antônio Carlos Go-

mes da Costa e nos dispomos a transcrever e aplicar a metodologia por ele desenvolvida com vistas

à reformulação do atendimento socioeducativo centrado nos 04 (quatro) pilares da educação de

Jaques Delors, salvaguardadas as adequações inerentes às singularidades do contexto político-ins-

titucional do NOVO DEGASE.

Como ponto de partida, temos 10 (dez) ferramentas a considerar:

Estudo de Caso

Buscadeconhecimentodatrajetóriabiográficaerelacionaldoadolescente,consigomesmo,

com sua família, com o ambiente social em que vive e com as leis, valores e normas que regem a

vidasocial,buscandoidentificaraspectosobjetivosesubjetivos,quepossamsubsidiaraconstrução

deumitinerárioformativoindividual(PIA–PlanoIndividualdeAtendimento).

Plano Individual de Atendimento

Instrumentodeconstruçãointerprofissional,considerandotodososatoresdosistemasocio-

educativo,respeitadasasespecificidadesdeatuaçãodecadaumdeseusmembros,quetraçarãode

forma conjunta com o adolescente e seus familiares, um itinerário formativo. O adolescente participa

como sujeito de um processo de autoeducação, e os socioeducadores como facilitadores nesse es-

forço para mudança de vida.

Educação para Valores

Trata-sedacriaçãodeacontecimentosquepossibilitemaoadolescentevivenciar,identificar

e incorporar valores positivos à sua maneira de compreender, sentir e agir.

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Protagonismo Juvenil

Consiste em ver o adolescente como fonte de iniciativa, compromisso e liberdade, atuando

como parte da solução e não como parte do problema, no enfrentamento de problemas reais na

unidade educativa, na comunidade e na vida social mais ampla.

Pedagogia da Presença

Promoçãoconstantedamelhoriadaqualidadedarelaçãoprofissional-adolescente(socioe-

ducador-socioeducando), com base nos princípios da abertura, da reciprocidade e do compromisso.

Promoção da Resiliência

Criação de uma ambiência favorável para que o adolescente desenvolva (adquira, aprofunde

e amplie) a capacidade de resistir às adversidades e de utilizá-las para seu crescimento nos planos

da vida pessoal, social e produtiva.

Educação para e pelo Trabalho

Na educação para o trabalho, o adolescente vai aprender para trabalhar. Na educação pelo

trabalho, o educando vai trabalhar para aprender. Essas duas ferramentas pedagógicas devem ser

usadas de forma convergente e complementar.

Educação pea Arte

Oferecimento ao adolescente da oportunidade de ter contato com o fazer artístico, pelo

domínio das linguagens e técnicas e, também, capacitá-lo para a fruição (apreciação) das obras de

grandesartistasnoscamposdamúsica,cinema,dança,artesvisuais,teatroeoutras,demodoaam-

pliar sua sensibilidade e sua criatividade.

Educação pelo Esporte

Organização de atividades que levem o adolescente, além do desenvolvimento do seu corpo

físico, desenvolver também sua consciência corporal (corporeidade), pela vivência concreta de va-

lores como solidariedade, lealdade, espírito de equipe, espírito de luta, autossuperação, espírito de

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competição-cooperação, humor, capacidade de lidar com vitórias e derrotas e respeito às regras e

normas estabelecidas.

Ética Biofílica

Filosofiaexistencialquesebaseianoamor,nozelo,norespeitoenocuidadopelavidaem

todas as suas manifestações.

Autocuidado (cuidar de si mesmo). Altercuidado (cuidar do outro). Ecocuidado (cuidar do

ambientenaturalesocialemquesevive).Transcuidado(cuidardasfontesdesignificadoesentido

da vida humana, ou seja, da dimensão transcendente de cada pessoa, por meio da educação religio-

sae/ouatividadesespirituaisdeoutranatureza–filosofiadevida).

O Projeto Pedagógico Institucional - PPI do NOVO DEGASE, uma vez concebido, deverá gerar

ProjetosPolíticosPedagógicos–PPP’snasdiversasunidadeseprogramasdeatendimentonaexe-

cução das medidas socioeducativas. Cada equipe deverá elaborar sua própria proposta de atuação

pedagógica com base nos conceitos, princípios, valores, objetivos, metas e estratégias contidos no

PPI, aplicadas às singularidades de suas unidades

Acompanhamento e Avaliação do Atendimento Socioeducativo com Base na Educação Interdimensional

O Plano Pedagógico Institucional (PPI), na sua implantação através dos Projetos Políticos

Pedagógicos setoriais (PPP), deverá estar articulado com o PASE-RJ por meio dos seus indicadores,

elaborados a partir das metas estratégicas quantiqualitativas.

Cada indicador PASE-RJ deverá relacionar-se com uma meta e indicador do PPI/PPP através

deumPlanodeAçãoemquedeveráestardefinidocomclareza:

A ação institucional pedagógica a ser atingida;

A meta a ser alcançada para cada ação;

O indicador para aferição da consecução da meta, com as informações necessárias para sua

construção (fórmula);

As fontes onde as informações deverão ser obtidas;

Os métodos de coleta das informações;

Os critérios de aferição do desempenho das ações institucionais pedagógicas.

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Nesse processo de construção dos instrumentos de aferição, acompanhamento e avaliação do

atendimento socioeducativo, com base na educação interdimensional, dever-se utilizar as relações

Aprendizagens Competências

Habilidades Capacidades

Comportamentos observáveis.

Para facilitar a compreensão do instrumento a ser construído, apresentamos no Anexo III, uma

proposta elaborada pelo Prof. Antônio Carlos, em que se tem uma escala de apreciação, extraída do

livro de Radan e formulários de aferição das aprendizagens, as macrocompetências e habilidades a

serem adquiridas e seus indicadores.

Conclusão

O presente documento nos remete à breve história do DEGASE, à fase polêmica da aplicação

do modelo repressivo correcional, com espaços inadequados e corpo técnico com formação perme-

adapelosmoldesdaditadura.Umafasequegerousentimentosdiversosdafrustraçãoàangústia,

emfacedeumatrajetóriamarcadaporepisódiosderebeliões,insuficiênciadeinvestimentosma-

teriais e humanos e a evolução até chegar ao momento presente, na visão atual da instituição de

NOVO DEGASE que busca priorizar a excelência na atenção direta ao adolescente.

Importanterefletirmossobreodesenvolvimentosignificativodoprocessosocioeducativono

EstadodoRiodeJaneiro.ApartirdaconstruçãodoPASE-RJ,-quedefineasmudançasdeconteúdo,

método e gestão requeridas para o alinhamento da política de execução das medidas socioeduca-

tivas às metas preconizadas pelo SINASE -, surge à possibilidade de uma verdadeira mudança de

paradigmanasocioeducação.AconstruçãodoProjetoPedagógicoInstitucional–PPIvemparains-

trumentalizar as ações a serem desenvolvidas na socioeducação, bem como orientar a nova forma

de pensar e agir de todos os atores envolvidos nesse trabalho.

O PPI visa atender a esta demanda, dentro de um processo de maturidade e inconformismo

diante da situação que vivenciamos. Representa o avanço, a conquista de um espaço de discussão

econstanteaprimoramentodeuminstrumentoespecífico,técnico-metodológicodeatendimento

socioeducativo. Um instrumento direcionador que nos aponta para a importância do reordenamen-

todosmétodos,conteúdos,gestão,ealinhamentodasconcepções,objetivosemetasestabelecidas

pelas legislações vigentes e pelo SINASE.

Para que se alcance o êxito almejado, faz-se necessário o envolvimento de todos os seg-

mentosprofissionaisdoDEGASEnessenovoparadigma,atravésdeestudos,discussões,debatese

sugestões que possibilitem uma percepção mais abrangente.

Page 17: Plano Político Institucional - Novo Degase · gias e metas estabelecidos pelo SINASE (Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo), formu-lado pelo CONANDA (Conselho Nacional

Departamento Geral de Ações Socioeducativas - NOVO DEGASE 383

A partir dessa premissa, o adolescente passa a ser visto sob a ótica da educação, dos direitos

humanos, do respeito à vida, do direito de acesso às oportunidades e ser preparado para fazer esco-

lhas mais apropriadas, com direito à formação de sua autonomia e cidadania, como protagonista de

sua história.

O objetivo de todo o processo é de demarcar e efetuar mudanças fundamentais necessárias a

um atendimento socioeducativo de qualidade, embasadas nos quatro pilares da educação, que são

asquatromegaaprendizagens–SER/CONVIVER/FAZER/CONHECERdesdobradaspeloProfessor

Antonio Carlos Gomes da Costa nas quatro macrocompetências - PESSOAIS / RELACIONAIS / PRO-

DUTIVAS / COGNITIVAS.

O Projeto Político Institucional - PPI, uma vez instituído, deverá motivar a revisão e implemen-

taçãodosProjetosPolíticosPedagógicos–PPP´snasdiversasunidadeseprogramasdeatendimento

socioeducativo,compropostaspedagógicasespecíficasacadaumadelas.

Diante desse contexto, entendemos que todo esse movimento de mudança, as ações pratica-

das, os valores que irão nortear as decisões para atuarmos com nossos adolescentes devem nos fazer

repensar atitudes, comportamentos, posturas, e as consequências destas no ser humano que dese-

jamosformareparaqualsociedadequeremosinseri-lo.Domesmomodo,devemosrefletirsobreos

valores que queremos que sejam internalizados pelos adolescentes para desconstrução da violência,

do ilícito, e construção de novos caminhos, escolhas mais acertadas, na construção do possível.

Ao considerarmos para o trabalho socioeducativo, a teoria da Educação Interdimensional, ali-

cerçada nos princípios de liberdade e ideais de solidariedade, objetivando a formação como pessoa,

cidadãoefuturoprofissionalcompetente,umpassodecisivoeradicalfoidadonadireçãodofuturo

da socioeducação, porém não esqueçamos que o início de tudo se dá na relação do educador com

o adolescente, na forma de olhar para este, ouvi-lo, percebê-lo, respeitá-lo e servir-lhe de exemplo

educando-o para a vida em sociedade.