barragem de tijuco alto: misÉria e destruiÇÃo … · etapas de formu- lação, imple- mentação...

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li» i yj -•T / A, BARRAGEM DE TIJUCO ALTO: MISÉRIA E DESTRUIÇÃO PARA O POVO, MAIS RIQUEZA PARA O GRUPO VOTORANTIM. A ser construída no rio Ribeira de Iguape, a barragem de Tijuco Alto, cujo único objetivo é produxlr energia para o Grupo Votorantlm, deverá destruir 11 mil hectares de Mata Atlântica, além de boa parte do Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (PETAR), que possui a maior concentração de cavernas do Brasil e o pior: deverá deixar centenas de famílias sem suas terras e sem meios de sobrevlverl O Ribeira de Iguape é o único rio sem barragens do Estado de São Pau- lo, mas isso pode ser por pouco tempo. Quatro usinas hidrelétricas estão sendo planejadas para serem construídas na região do Vale do Ribeira. Três delas - Itaoca, Funil e Batatal - estão nos planos das Centrais Elétricas de São Paulo (Cesp). Outra, a de Tijuco Alto, deve ser construída para gerar energia exclusivamente para a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), empresa do Grupo Votorantlm. As três primeiras estão apenas no papel. Tijuco Alto foi aprovada pelo Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema), mas entidades ecológicas como a SOS Mata Atlântica e de lutas políticas como o Movimento dos Atingidos por Barragens e a Comissão Pastoral da Terra (CPT), brigam na Justiça e pressionam as autoridades do Poder Executivo, para impedir o início da Construção. Antes mesmo de se pensar no desequilíbrio ecológico que essas barragens podem trazer -11 mil hec- tares de Mata Atlântica que irão por água abaixo -, a grande preocu- pação agora são as conseqüências que a novidade pode trazer para a população. "Muita gente vai perder suas melhores terras e não vai ter para onde ir", afirma o padre Efraim Flores, seis anos pároco de Iporanga e um dos líderes do movimento contra a construção das usinas. A pequena e histórica Ivaporunduva, uma comunidade de negros remanescentes de escravos que trabalhavam na extração de ouro, vai desaparecer debaixo d'água com a barragem de Tijuco Alto. Entretanto a história das hidrelétricas engana e fascina pessoas mais simples, que sonham com a possibilidade de empregos e desenvol- vimento para a região. pura ilusão", esclarece o padre Efraim. As promessas do megaempresário Antônio Ermírio de Morais, do Grupo Votorantim, são de que mais de três mil empregos devem ser criados com a construção de Tijuco Alto. "Esses empregos não duram mais do que dois anos, até a fase de construção. Depois disso, vão precisar de meia dúzia de pessoas especia- lizadas para operar a usina",afirma o Pe. Efraim, deixando claro que o movimento quer o desenvolvimento do Vale do Ribeira. "Mas existem outras maneiras de desenvolvimento, a partir da criação de animais, piscicultura e a instalação de pequenas indústrias de extração e cultivo de palmito e doce de ba- nana", exemplifica Flores, que sugere: Ao invés de gastar dinheiro em novas usinas (as do Vale do Ribeira devem consumir US$ 800 milhões, grande parte na compra de cimento do próprio Grupo Votorantim) porque não terminar as 23 hidrelétricas' espalhadas pelo país, cujas obras estão paradas anos?". ALTO RELEVO O Valt do Ribeira fka na raglio sul da Sio Paulo, próximo da d|yiu com o Paraná. E uma região montanhosa da relevo bastante acidentado, onde está o Parque Estadual Turístico do AKo Ribeira (Petar).

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Page 1: BARRAGEM DE TIJUCO ALTO: MISÉRIA E DESTRUIÇÃO … · etapas de formu- lação, imple- mentação e mo- nitoramento de políticas e pro- ... A construção da barragem da Usina

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BARRAGEM DE TIJUCO ALTO: MISÉRIA E DESTRUIÇÃO PARA O POVO, MAIS RIQUEZA PARA O GRUPO VOTORANTIM.

A ser construída no rio Ribeira de Iguape, a barragem de Tijuco Alto, cujo único objetivo é produxlr energia para o Grupo Votorantlm, deverá destruir 11 mil hectares de Mata Atlântica, além de boa parte do Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (PETAR), que possui a maior concentração de cavernas do Brasil e o pior: deverá deixar centenas de famílias sem suas terras e

sem meios de sobrevlverl

O Ribeira de Iguape é o único rio sem barragens do Estado de São Pau- lo, mas isso pode ser por pouco tempo. Quatro usinas hidrelétricas estão sendo planejadas para serem construídas na região do Vale do Ribeira. Três delas - Itaoca, Funil e Batatal - estão nos planos das Centrais Elétricas de São Paulo (Cesp). Outra, a de Tijuco Alto, deve ser construída para gerar energia exclusivamente para a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), empresa do Grupo Votorantlm.

As três primeiras estão apenas no papel. Tijuco Alto já foi aprovada pelo Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema), mas entidades ecológicas como a SOS Mata Atlântica e de lutas políticas como o Movimento dos Atingidos por Barragens e a Comissão Pastoral da Terra (CPT), brigam na Justiça e pressionam as autoridades do Poder Executivo, para impedir o início da Construção.

Antes mesmo de se pensar no desequilíbrio ecológico que essas barragens podem trazer -11 mil hec- tares de Mata Atlântica que irão por água abaixo -, a grande preocu- pação agora são as conseqüências que a novidade pode trazer para a população. "Muita gente vai perder suas melhores terras e não vai ter para onde ir", afirma o padre Efraim Flores, há seis anos pároco de Iporanga e um dos líderes do movimento contra a construção das usinas. A pequena e histórica Ivaporunduva,

uma comunidade de negros remanescentes de escravos que trabalhavam na extração de ouro, vai desaparecer debaixo d'água com a barragem de Tijuco Alto.

Entretanto a história das hidrelétricas engana e fascina pessoas mais simples, que sonham com a possibilidade de empregos e desenvol- vimento para a região. "É pura ilusão", esclarece o padre Efraim. As promessas do megaempresário Antônio Ermírio de Morais, do Grupo Votorantim, são de que mais de três mil empregos devem ser criados com a construção de Tijuco Alto. "Esses empregos não duram mais do que dois anos, até a fase de

construção. Depois disso, vão precisar de meia dúzia de pessoas especia- lizadas para operar a usina",afirma o Pe. Efraim, deixando claro que o movimento quer o desenvolvimento do Vale do Ribeira. "Mas existem outras maneiras de desenvolvimento, a partir da criação de animais, piscicultura e a instalação de pequenas indústrias de extração e cultivo de palmito e doce de ba- nana", exemplifica Flores, que sugere: Ao invés de gastar dinheiro em novas usinas (as do Vale do Ribeira devem consumir US$ 800 milhões, grande parte na compra de cimento do próprio Grupo Votorantim) porque não terminar as 23 hidrelétricas' espalhadas pelo país, cujas obras estão paradas há anos?".

ALTO RELEVO O Valt do Ribeira fka na raglio sul da Sio Paulo, próximo da d|yiu com o Paraná.

E uma região montanhosa da

relevo bastante acidentado,

onde está o Parque

Estadual Turístico do

AKo Ribeira

(Petar).

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Solidariedade ABRIL/95 - 2

Vale do Ribeira: Uma proposta alternativa

Organizações da socie- dade civil contestam proposta oficial e sugerem tratamento alternativo para a questão do desenvolvimento do Vale do Ribeira, hoje conhecido como o Vale da Fome, região mais pobre do estado de São Paulo.

A população do Vale do Ribeira está longe de ser a principal interes- sada na cons- trução das bar- ragens.

Sabe-se que o projeto de Tijuco Alto será realiza- do totalmente pela Companhia Brasileira de Alu- mínio (CBA), do Grupo Votorantim, que utilizará toda a energia produzida, enquanto Batatal, Funil e Itaoca serão construídas pela Com- panhia Energética de São Paulo (Cesp). . ,.._,.

Dados disponíveis indicam que a energia da Tijuco Alto não será suficiente para as ne- cessidades da CBA, que pretende ampliar a produção de alumínio em suas fábricas, incluindo a de Mairinque, região de Sorocaba/SP. Isso significa que a CBA vai ter de utilizar a energia das outras três usinas previstas pela Cesp, num total estimado em 63% do que for produzido.

A promessa de indeniza- ção das terras inundadas, o discutível aproveitamento da mão-de-obra local eo aumen- to da arrecadação dos municípios atingidos pela barragens ( de acordo com o que estabelece a Constituição Federal) são questões que se perdem no ar.

Em termos de mão-de- obra, por exemplo, dos 3.200 empregos previstos para o período de construção da Ti- juco Alto, não mais de sessenta seriam mantidos para operar o sistema, em sua maioria espe- cialistas.

Estes e outros dados apresentados aqui são citados no documento "Terra sim, bar- ragens não", elaborado por mais de trinta organizações da sociedade civil que atuam di- reta ou indiretamente no Vale.

De acordo com os estudos

e levantamentos técnicos fei- tos por essas organizações, os problemas sociais, ambientais e culturais decorrentes dessas barragens superariam, em muito, alguns prováveis bene- fícios.

Município de Iporanga-SP

O Vale do Ribeira vive economicamente da agri- cultura, ocupando cerca de 76% da mão-de-obra ativa da região. A banana e o chá são as principais culturas, representando respecti- vamente 75% e 100% da produção do Estado, sem contarcom um contingente de produção de outras culturas, mais destinadas à subsistência da população local.

A pergunta que se faz é: qual o projeto do gover- no estadual para uma das regiões mais atrasadas do Estado - com um dos maiores índices de mortalidade infantil do país -, tendo em conta as reais necessidades da popu- lação do Vale, o respeito ao direito de posse da terra pelas comunidades negras e a preservação do meio am- biente.

Estudos do Instituto Agronômico de Campinas re- velam que 75% das terras do Vale apresentam nítida "vo- cação florestal". As unidades de conservação (estações, parques, reservas) ocupam aproximadamente 25% da área total, constituindo-se num dos mais importantes remanescentes de Mata Atlântica do país.

Na análise da realidade regional merecem destaque a questão da titulação das terras pelo Estado (muitas dessas terras são devolutas), a

da deficiência da estrutura viária - que dificulta o escoa- mento e a comercialização da produção - e a falta de escolas, saneamento básico, postos de saúde, moradias, etc.

O uso irracional de agrotóxicos e metais pesa- dos que contaminam o rio Ribeira, a mineração e o desmatamento indevido contribuem sobremaneira para a degradação sócio- ambiental, com a conse- qüente perda de qualidade de vida das populações ribeirinhas.

Desenvolvimento não é uma simples palavra, lem- bram as organizações que se opõem ao projeto de cons- trução das barragens, no documento já citado. No Brasil, "isso que chamam de- senvolvimento significou, na verdade, a marginalização

de parcelas cada vez maiores da população, do ponto de vista social, político, econô- mico, além da degradação de sua qualidadede vida".

"O desenvolvimento que queremos - continua o docu- mento - deve trazer respostas globais para solucionar os problemas da população do Vale." As propostas até agora apresentadas, inclusive a da construção das barragens, são incapazes de solucionar os graves problemas regionais, "ao contrário, contribuem para agravá-los."

Como alternativas, pro- põem-se, entre outras medi- das, o reordenamento fundiá- rio do Vale do Ribeira, a con- solidação econômica da agricultura familiar, a prote- ção ambiental e o reconhe- cimento da cultura e das terras ocupadas pelas comunidades remanescentes de quilombos.

Acima de tudo, as organi- zações reivin- dicam a garantia de ampla parti- cipação da so- ciedade civil nas etapas de formu- lação, imple- mentação e mo- nitoramento de políticas e pro- gramas de de- senvolvimento para a região.

QUILOMBO X

Com a construção da barragem de Tijuco Alto , cerca de 20 comunidades negras, remanescentes de quilom- bos, deverão desaparecer debaixo d'agua. Essas comuni- dades se organizam para exi- gir a demarcação de suas ter- ras. São remanescentes de qui- lombos, fundadas por negros que escapavam dos seus senhores nos tempos da es- cravidão, e que segundo o artigo 68 das Disposições Transi- tórias da Constituição de 1988, tem reconhecida a proprie- dade definitiva de suas terras.

Distante 40 km. de Eldorado - município de 8 mihhabitantes no Vale do Ribeira -, a comunidade negra de Ivaporunduva lidera o movimento contra a cons- trução das barragens para as hidroelétricas de Batatal, Funil, Itaoca e Tijuco Alto, que deixa- rão boa parte do Vale debaixo d'agua. Mas as 88 famílias de Ivaporun-

duva não lutam apenas para se livrar do risco de ter que aban- donar o povoado para ver tudo sendo inundado pelas águas. Junto com as demais comuni- dades negras da região, como Pilões e Praia Grande, querem o reconhecimento de posse legal da terra em que vivem, terra dos antepassados, há séculos.

Uma coisa está muito clara para todos os moradores: a ter- ra é do negro, e já faz bastante tempo. Eles contam que seus antigos parentes, que foram escravos, conquistaram a liber- dade e ali se instalaram bem antes da abolição da es- cravatura em 1888.

ONDE RCA JVAPORUNDUVA

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Solidariedade ABRIL/95 - 3

As conseqüências das barragens: O triste exemplo de Tucuruí

Três municípios inundados, 14 povoados destruídos, três reservas indígenas submersas, 2500 Km de matas que desapareceram, 4300 famílias desabrigadas, pragas e conflitos rurais;

estas são apenas algumas das mórbidas conseqüências da construção de Tucuruí.

A construção da barragem da Usina Hidrelétrica de Tucuruí (UHT), concluída em 1984, formou o maior lago artificial do mundo em volume de água, com 2.500 Km2 de extensão, e inundou terras de três municípios, atingindo ao todo 14 povoados, três reservas indígenas, 3.000 propriedades rurais, 160 Km de rodovias federais, várias áreas de garimpo e desapropriou 4.300 famílias.

Em torno de 1000 famílias foram transferidas para a área de assentamento Gleba Parakana, situada ás margens do lago da UHT, onde enfrentaram uma praga de mosquitos.

A mutuca, o cabo-verde e a muriçoca já existiam na região, mas em equilíbrio natural; com a implantação do lago, aumentaram as condições de vida destes insetos. Além do lago, como criadouro primário, existe a floresta inun- dada que forma os "paliteiros" (árvores mortas por afogamento) e uma grande quantidade de fitomassa e macrofitas, e os criadouros secundá- rios oriundos da ação do próprio homem. Esses foram os fatores básicos que causaram o pro- blema da proliferação de mosquitos, a partir de 1985.

Ao invés da "ação do homem no domínio da natureza, em benefício ao progresso", espe- rada e prometida pelos construtores da UHT, pouco tempo depois de iniciada a geração de energia, já apareciam grandes impactos eco- lógicos e sociais.

Os lavradores não conseguiram trabalhar nas roças, devido a intensidade do ataque dos mosquitos, que em média atingia 500 picadas por pessoa/hora, causando uma série de problemas de saúde como: stress, insônia, dor de cabeça, feridas, manchas, edemas etc. Em 1991, foi de- cretado estado de emergência e insalubridade das Glebas Parakana, Pucuruí e Tucuruí.

O assentamento de Rio Gelado

Pressionado pelos lavradores, que acam- param mais de 3 anos em frente à Eletronorte, em Tucuruí, criando o movimento "terra sim, mosqui- to não", o Presidente da República solicitou em 1992, a solução definitiva do problema. A qual, redundou no remanejamento das famílias a uma área de terras da União. Em 02/09/92, foi criado o Projeto Assentamento Rio Gelado, sob a competência do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra), com capacidade de assentar 2.150 famílias, numa área de 260.000 hectares.

Mesmo sem que o Projeto de Assentamento estivesse pronto para receber as famílias de

camponeses, os primeiros traba- lhadores rurais foram levados para a área, e em trabalho de mutirão prepararam uma roça comunitária de 125 hectares, com uma colheita de aproximadamente 335 toneladas de grãos.

Preservação X Destruição

Quando tudo indicava que o único problema dos lavradores era reivindicar infra-estrutura para o assentamento, pois o Estado só tinha garantido um pedaço de terra no meio da mata, os assentados começaram a enfrentar um outro problema: uma madeireira que se diz proprietária da área e que esta explorando madeira de lei, principalmente o mogno, na área destinada aos camponeses.

Avisada pelo Incra que a área era uma gleba de terra pertencente a União, que estava destinada ao assentamento dos trabalhadores ru- rais atingidos pela praga de mosqui- to da Hidrelétrica de Tucuruí, a em- presa contra-argumentou que tinha "documentos" de suas terras, e não seria o Incra ou um grupo de "invasores" que iria impedi-la de re- tirar madeira de "suas terras". Desde então, a empresa madeireira, de forma pouco amistosa, vem atuando com intuito de impedira permanência dos assentados e coibindo b trabalho do órgão estatal.

Os trabalhadores rurais buscam

uma nova relação com a natureza, a partir de um trabalho comunitário que leva em consideração a biodiversi- dade existente na floresta. Eles sabem que a preservação das matas nativas representa segurança para suas famílias e seus descendentes.

A Paróquia de Confissão Luterana em Belém (PCBL) atua através do Programa Integral de Desenvolvimen- to (PID) há cerca de cinco anos no sudeste paraense, assessorando, acompanhando e apoiando a luta dos atingidos pela UHT. Atualmente, com base na conjugação de quatro temas, que são: produção, comer- cialização, saúde popular e forma- ção/organização, vem realizando um trabalho de parceria com a Associação de Trabalhadores Rurais de Rio Gelado, através da discussão crítica que envolve duas outras Associações: a do Pitinga e do Novo Repartimento.

A discussão pretende se aprofundar sobre os Sistemas Agro- florestais como uma alternativa ao Sistema de Agricultura Migratória, visando diversificar a produção, com recuperação da cobertura florísti- ca e de áreas em processo de de- gradação. E, para tanto, começaram a desenvolver, junto com os trabalhadores, atividades práticas em um canteiro próximo à roça comunitária contendo 3.000 mudas de mogno (sementes da própria área) e 5.000 mudas de café. Existe no planejamento outros canteiros com

(Continua na página 04)

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Solidariedade ABRIL/95 - 4

(Continuação da página 03)

diversas espécies de fruteiras e essências florestais, assim como a construção de uma cantina comunitária para atender as necessidades das famílias assentadas.

O conflito se dá, então, diante de um confronto entre trabalhadores rurais que desenvolvem um projeto piloto, tentan- do viver na floresta amazônica, sem des- truí-la e a Madeireira Abrolho Verde que retira ilegalmente madeiras de alto valor da área, ficando aí patente, quem destrói a mata amazônica.

O conflito é de um lado judicial: a Abrolho Verde entrou em 21/12/93, na justiça de Tucuruí com um interdito de manutenção de posse, sendo que no dia 15/08/94, outra liminar foi concedida pe- lo juiz de direito da Comarca de Tucuruí, tendo como base de sustentação da madeireira, documentos de pretensa proprieda- de e um plano de manejo aprovado pelo Instituto Brasileiro de Meio Am- biente (Ibama) .Otítulode propriedade da madei- reira está sendo contes- tado judicialmente pelo Incra na justiça federal, pois não pode haver dois donos de uma mesma área. Quanto ao plano de manejo aprovado, a licença é conseguida somente com a apresen- tação dos documentos de propriedade e um projeto de manejo elaborado por um téc- nico, ou seja, vistoria "in locum" para verificar se realmente existe o projeto ou como ele está sendo desenvolvido.

Violência contra os assentados

De outro lado, o conflito é marcado pela violência: no dia 19/10/94, onze trabalhadores rurais da gleba, voltando de uma assembléia do Sindicato dos Trabalhadores Rurais numa Toyota da Paróquia de Confissão Luterana em Belém, foram alvo de uma emboscada. Quatro elementos dirigindo um Gol sem placa, investiram contra a Toyota atirando e fe- rindo três trabalhadores. Mais tarde, constatou-se que os emboscadores eram policiais da Delegacia de Pacajá.

Durante o verão de 1994 foram queimadas roças e casas dos lavrado- res assentados na gleba e destruídas pon- tes e ruas, impossibilitando, dessaforma,

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de ter acesso aos locais de moradia, os funcionários do Incra, que ainda foram ameaçados caso continuassem demar- cando os lotes para assentar os traba- lhadores rurais. O lavrador, líder sindical e monitor do Programa Integral de Desenvolvimento (PID), Raimundo Nona- to Carmo Silva, foi intimidado várias ve- zes, e recebeu ameaças de morte. Todas essas violências partiram de gerentes e empregados da Abrolho Verde.

No dia 18/01/95, Raimundo Nonato Carmo Silva foi preso, em Tucuruí, por ordem judicial. Os motivos desta prisão são no mínimo obscuros e sem provas. Raimundo Nonato é acusado de ser o autor intelectual de uma emboscada contra um empregado da Abrolho Ver- de. Mais uma vez a vítima se encontra na posição de réu!

Para completar o quadro de vio- lência, no dia 19/01/95, um trabalhador rural que mora no assentamento, Antônio Dorismar de Souza (conhecido por Borracha), foi preso ilegalmente e tortu- rado dentro da delegacia.

Os advogados da Sociedade de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH) já tomaram as medidas legais para libertar os dois lavradores, contudo a conquista da liberdade não significa que os problemas serão resolvidos e a violência cessará, muito pelo contrário, se se confirmarem as promessas dos "geren- tes" da Abrolho Verde, o líder sindical Raimundo Nonato do Carmo será assassinado e as centenas de famílias de trabalhadores rurais não poderão conti- nuar nos seus lotes, porque o interesse de uma madeireira tem mais peso do que o direito dos lavradores à sua terra.

Solidariedade Internacional

Acusação Ilegal e tortura a casal no Peru '

Pelagio Sacedo Pizarro e seu marido, Juan carlos Chuchón Zea, foram detidos em 11 de dezembro de 1992 por policiais do departamento anti-terrorista em Lima.

Os dois foram obrigados sob tortura a "confessar" que possuíam explosivos e folhetos do Sendero Luminoso (Grupo Guerrilheiro do Peru que tenta derrubar o regime capitalista no Peru).

Em 1993, ambos foram condenados a 30 anos de prisão pela Justiça Militar. Não há provas de que eles tenham usado ou pregado a violência.

Apelos para a libertação dos acusados devem ser enviados para:

Alberto Fujimori - Presidente de La República dei Peru Palácio dei Gobiemo - Plaza de Armas Lima - Peru.

ou

Embaixada da República do Peru SES - Avenida das Nações - lote 43 Brasília - DF - CEP 70.428-900

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