planejamento estratégico em uma empresa...

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Revista Ciência Contemporânea jun./dez. 2018, v.4, n.1, p. 61 - 78 http://uniesp.edu.br/sites/guaratingueta/revista.php?id_revista=31 Planejamento estratégico em uma empresa rural Élcio Henrique dos Santos 1 Amanda Freitas Vilela Pinto 2 RESUMO Levando em consideração o aumento do setor agrícola no Brasil, é cada vez mais relevante a atenção atribuída a ele. Insistir na maneira tradicional de gerenciar uma fazenda parece não obter o mesmo impacto obtido no passado. Administrar uma fazenda parece não fazer muito sentido a quem sempre levou sua organização sem ao menos conhecer o significado da palavra administração. Porém, assim como toda e qualquer organização, a empresa rural precisa ser administrada para obter os resultados esperados pelos proprietários. O presente artigo aborda o conceito de planejamento estratégico, uma ferramenta bastante complexa da administração, com o objetivo de analisar a necessidade ou não da aplicação do mesmo em uma pequena empresa rural, abordando, de início, a seguinte pergunta de pesquisa: “A organização rural tem necessidade de planejamento? ”. O método utilizado foi um estudo de caso, através de uma entrevista para coletar dados e informações relevantes para a decisão da necessidade ou não da aplicação do planejamento estratégico. PALAVRAS-CHAVE: Gerenciar. Planejamento Estratégico. Agronegócio. ABSTRACT Taking into account the increase of the agricultural sector in Brazil, the attention attributed to it is increasingly relevant. Insisting on the traditional way of running a farm does not seem to have the same impact as it did in the past. Managing a farm does not seem to make much sense to those who have always led their organization without even knowing the meaning of the word management. However, just like any and every organization, the rural enterprise needs to be managed to get the results expected by the owners. This article discusses the concept of strategic planning, a very complex management tool, with the objective of analyzing the need to apply it to a small rural enterprise, addressing the following research question: “Does the rural enterprise need planning?” The method used was a case study, through an interview to collect data and relevant information to the decision whether or not to apply strategic planning. KE WORDS: Manage. Strategic planning. Agribusiness. 1 Filosofia pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo U.E de Lorena S.P (1999). Especialização em Gestão de Recursos Humanos pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo U.E. de Lorena SP (2003), Mestrado em Administração com Ênfase em Gestão de Pessoas e Organização na Universidade Metodista de São Paulo (2010) e Especialização em Gestão Universitária pelo Centro Universitário Salesianos de São Paulo U E. de Campinas - SP (2018). Atualmente é Professor e Coordenador do Curso de Administração no Centro Universitário Salesiano de São Paulo na unidade de Lorena. Leciona também na Faculdade Canção Nova nos Cursos de Filosofia e Administração. 2 Bacharel em Administração do UNISAL, Lorena- SP. e-mail: [email protected]

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Revista Ciência Contemporânea jun./dez. 2018, v.4, n.1, p. 61 - 78 http://uniesp.edu.br/sites/guaratingueta/revista.php?id_revista=31

Planejamento estratégico em uma empresa rural

Élcio Henrique dos Santos1

Amanda Freitas Vilela Pinto 2

RESUMO

Levando em consideração o aumento do setor agrícola no Brasil, é cada vez mais relevante a atenção

atribuída a ele. Insistir na maneira tradicional de gerenciar uma fazenda parece não obter o mesmo

impacto obtido no passado. Administrar uma fazenda parece não fazer muito sentido a quem sempre

levou sua organização sem ao menos conhecer o significado da palavra administração. Porém, assim

como toda e qualquer organização, a empresa rural precisa ser administrada para obter os resultados

esperados pelos proprietários. O presente artigo aborda o conceito de planejamento estratégico, uma

ferramenta bastante complexa da administração, com o objetivo de analisar a necessidade ou não da

aplicação do mesmo em uma pequena empresa rural, abordando, de início, a seguinte pergunta de

pesquisa: “A organização rural tem necessidade de planejamento? ”. O método utilizado foi um estudo

de caso, através de uma entrevista para coletar dados e informações relevantes para a decisão da

necessidade ou não da aplicação do planejamento estratégico.

PALAVRAS-CHAVE: Gerenciar. Planejamento Estratégico. Agronegócio.

ABSTRACT

Taking into account the increase of the agricultural sector in Brazil, the attention attributed to it is

increasingly relevant. Insisting on the traditional way of running a farm does not seem to have the

same impact as it did in the past. Managing a farm does not seem to make much sense to those who

have always led their organization without even knowing the meaning of the word management.

However, just like any and every organization, the rural enterprise needs to be managed to get the

results expected by the owners. This article discusses the concept of strategic planning, a very

complex management tool, with the objective of analyzing the need to apply it to a small rural

enterprise, addressing the following research question: “Does the rural enterprise need planning?” The

method used was a case study, through an interview to collect data and relevant information to the

decision whether or not to apply strategic planning.

KE WORDS: Manage. Strategic planning. Agribusiness.

1 Filosofia pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo U.E de Lorena S.P (1999). Especialização em

Gestão de Recursos Humanos pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo U.E. de Lorena SP (2003),

Mestrado em Administração com Ênfase em Gestão de Pessoas e Organização na Universidade Metodista de São

Paulo (2010) e Especialização em Gestão Universitária pelo Centro Universitário Salesianos de São Paulo U E.

de Campinas - SP (2018). Atualmente é Professor e Coordenador do Curso de Administração no Centro

Universitário Salesiano de São Paulo na unidade de Lorena. Leciona também na Faculdade Canção Nova nos

Cursos de Filosofia e Administração. 2 Bacharel em Administração do UNISAL, Lorena- SP. e-mail: [email protected]

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INTRODUÇÃO

O PIB do agronegócio, que responde por pouco mais de 20% da atividade econômica

do Brasil, deverá crescer 3,4% em 2018, impulsionado por uma retomada da atividade da

agroindústria, estimou o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da

Esalq/USP.

Tomando por base a importância do setor do agronegócio no Brasil e o seu

crescimento com o passar dos tempos, verifica-se que junto a esse crescimento há uma grande

necessidade de gestão e planejamento.

Em relação aos problemas “fora da porteira” que afetam diretamente o produtor rural,

surge a necessidade de investir novamente na identificação de outros mecanismos que

possibilitem aumentar sua margem de lucro, uma vez que os aumentos em produtividade não

foram suficientes para fazê-lo. (OLIVEIRA e SPERSE, 2010).

O planejamento estratégico é requisito para o sucesso e deve ser feito para o curto,

médio e longo prazo, sendo definidas metas e estratégias para alcançá-las. Sem planejamento

não se sabe se realmente chegou-se onde era preciso.

O propósito do planejamento estratégico está em lidar com a incerteza do futuro.

Futuro incerto para as empresas quando não há informações suficientes sobre a concorrência,

fornecedores, fontes de financiamento, tecnologia e outros segmentos relevantes do ambiente

em que o empreendimento está inserido (MAXIMIANO, 2004).

O presente trabalho será desenvolvido para demonstrar aos proprietários rurais a

necessidade da implementação do planejamento estratégico dentro de suas organizações.

Ao escolher a fazenda a ser estudada, o artigo tem por objetivo analisar a necessidade

ou não de um Planejamento estratégico em uma pequena empresa rural. Sendo assim, o

trabalho visa responder a seguinte pergunta: “a organização rural tem necessidade de

planejamento? ”.

A metodologia utilizada será o estudo de caso em uma fazenda de pequeno porte,

localizada na cidade de Itanhandu MG, através de entrevistas estruturadas, constituídas por

perguntas definidas e formuladas, que serão respondidas oralmente pela filha do proprietário

da organização, auxiliando na busca pela necessidade ou não da aplicação no planejamento

estratégico, com o intuito de atingir o objetivo e responder à pergunta proposta neste trabalho.

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1. REVISÃO TEÓRICA

Diante de um cenário de produção competitiva, globalização da economia e exigências

legais, insistir no tradicional não remete a empresa ao mesmo patamar que ocupava no

passado. Em decorrência das exigências do mercado, surge a necessidade de uma atenção

maior a sua propriedade e um planejamento de ações a serem tomadas. Saber onde se quer

chegar e criar meios para isso é fundamental em qualquer organização, independentemente do

tamanho da mesma.

Araújo (2013) diz que o produtor rural precisa estar preparado para enfrentar desafios,

buscando a sobrevivência junto à sustentabilidade da sua propriedade rural. “É preciso que o

produtor saiba exatamente como andam seus negócios, suas despesas, seus custos, suas

finanças, seu estoque e suas margens de lucro para decidir e projetar bem o futuro de seu

negócio” (ARAÚJO,2013, p.18). Em decorrência às exigências do mercado para com o

produtor rural, o planejamento e a gestão da empresa rural delegam uma atenção especial

dentro da mesma.

O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, disse que praticamente todo o crescimento

do país em 2017 veio do agronegócio e dos negócios relacionados ao setor. Maggi gravou um

vídeo, divulgado pelas redes sociais, para comemorar o resultado do Produto Interno Bruto

(PIB) da agropecuária, que avançou 13% em 2017 ante 2016. "Esta é a grande vocação que o

Brasil tem", disse o ministro. "Estamos nos preparando para que em 2018 o agronegócio

tenha também uma participação muito forte", afirmou. "E já se preparando para 2019, porque

a agricultura não para nunca. Colhe uma, planta outra. É o Brasil indo pra frente." (REVISTA

GLOBO RURAL, 2018).

Segundo Lourenzani (2006, apud ARAÚJO,2013, p.19), a gestão de uma empresa

rural é um processo de tomada de decisão que avalia a alocação de recursos escassos em

diversas possibilidades produtivas, dentro de um ambiente de riscos e incertezas

característicos do setor agrícola. Independentemente do seu tamanho, a gestão da propriedade

rural é um dos fatores indispensáveis para alcançar o desenvolvimento sustentável da

propriedade como um todo.

A agropecuária foi o setor com melhor desempenho na economia em 2017, se

destacando com alta de 13%, enquanto a indústria ficou estagnada e serviços tiveram

recuperação moderada (0,3%). O Produto Interno Bruto (PIB) do ano, no valor de R$ 6,56

trilhões, em alta de 1% em relação a 2016, foi divulgado nesta quinta-feira (1º) pelo Instituto

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Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). O valor do PIB agropecuário, que representa o que

foi produzido nas atividades primárias ligadas ao setor, alcançou R$ 299,47 bilhões,

representando 4,56% do PIB. A média de crescimento da agropecuária nos últimos 22 anos é

de 3,8%. Segundo a SPA/Mapa, o crescimento da agropecuária, de 13%, é a maior taxa obtida

desde 1996, quando foram revisadas pelo IBGE as Contas Nacionais (NOTÍCIAS

AGRÍCOLAS, 2018).

Visto a necessidade do planejamento em uma propriedade rural, é preciso primeiro

entender o conceito do mesmo, junto à suas aplicações. Barbalho (1997) diz que o

planejamento estratégico surgiu com a necessidade militar e as organizações adaptaram-no

buscando responder às mudanças do mercado, proporcionando assim um maior

desenvolvimento no meio ambiente onde atuam e assegurando a sobrevivência.

Frota (2011) ressalta que a abordagem estratégica sofreu uma série de modificações e

afirma que hoje, sem planejamento, uma empresa não sobrevive. A elaboração do

planejamento estratégico aumenta a probabilidade de que, futuramente, a organização esteja

no local certo, na hora certa. Um plano estratégico oferece uma visão de futuro, independente

do porte da organização, indicando a direção certa a ser seguida pela mesma. O conceito de

estratégia vem adquirindo força no meio empresarial, pois realiza uma exploração detalhada

do ambiente e para a importância do raciocínio intuitivo além do quantitativo.

Para Drucker (1984, p. 25):

[...] planejamento estratégico é um processo contínuo de, sistematicamente e com o

maior conhecimento possível do futuro contido, tomar decisões atuais que envolvam

riscos; organizar sistematicamente as atividades necessárias à execução destas

decisões e, através de uma retroalimentação organizada e sistemática, medir o

resultado dessas decisões em confronto com as expectativas alimentadas.

Segundo Barbalho (1997), no cenário atual, de constantes mudanças mundiais, as

organizações lançam mão do planejamento estratégico como forma de delinear os novos

rumos e os futuros caminhos que irão seguir. Existe uma ampla literatura sobre os princípios e

processos da abordagem e do planejamento estratégico. Alguns estudos já foram realizados

pela área de informação. Esses estudos apresentam em comum a necessidade de a Unidade de

Informação coletar dados quantitativos com seriedade e utilizá-los com eficiência quando da

elaboração do plano estratégico. Morais (1992) afirma ser um processo da alçada da alta

administração que, tendo como parâmetros diversas condicionantes, deve ser capaz de

direcionar os objetivos organizacionais globais, cogitando alternativas para o seu alcance,

procurando acompanhar de perto a dinâmica dos conhecimentos e se posicionando

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sistematicamente durante todo o processo de planejamento estratégico. Trata-se, portanto, de

um processo de gestão com o objetivo de estabelecer de forma integrada o rumo a ser seguido

pela organização.

Carr (1992) define estratégia como sendo o caminho que a organização irá perseguir

para efetivar a sua participação no ambiente e planejamento estratégico como sendo

preliminarmente interessado nas relações entre a organização e o meio ambiente, suas

implicações com os procedimentos operacionais.

Meyer Jr. (1991) entende o planejamento estratégico como uma metodologia gerencial

que objetiva proporcionar aos tomadores de decisão uma estrutura que permita o exame do

ambiente onde atua a organização.

Para Hobrock (1991), o planejamento é fundamentalmente compreendido como um

exercício intelectual onde os processos estão concentrados na disponibilidade dos recursos

como forma de antecipar o futuro e Bryson (1989) complementa afirmando ser o

planejamento estratégico a condução disciplinada de esforços para produzir decisões e ações

fundamentais para conduzir a organização aonde ela deseja chegar.

De acordo com Peradelles (2016) o planejamento é essencial para alcançar o sucesso,

pois determina onde a empresa quer chegar e como ela fará para executar o seu objetivo.

Ressalta que, para que um planejamento dê certo, é preciso envolver pessoas de vários níveis,

se comunicar claramente, garantir que todos conheçam os seus objetivos e coordenar as

atividades da organização para que as coisas aconteçam. Para isso, é preciso compreender

os principais níveis de planejamento: estratégico, tático e operacional, que se diferenciam no

prazo das ações, nos níveis hierárquicos envolvidos e como uma influência no resultado geral

da organização.

Peradelles (2016) diferencia os 3 tipos de planejamento de uma forma simples e de

fácil compreensão. Inicia-se com o planejamento estratégico, visto como a visão do futuro da

organização, baseia-se nos fatores do ambiente externo e interno, onde definimos os valores,

visões e missão da organização. As decisões tomadas nesse planejamento são de

responsabilidade da alta administração da empresa, sendo eles, proprietário, presidente ou

diretoria. As ações são criadas pensando em longo prazo (5 a 10 anos) e devido a isso o

planejamento deve ser revisado e atualizado continuamente para que as informações sejam

mais reais e sirvam como fatos e dados para tomadas de decisão. Esse passo é essencial para

que não haja variações entre o que foi planejado e o que será executado. O planejamento

tático tem um envolvimento mais limitado, a nível departamental, envolvendo, às vezes,

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apenas um processo de ponta a ponta. O planejamento tático é o responsável por criar metas e

condições para que as ações estabelecidas no planejamento estratégico sejam atingidas. As

decisões podem ser tomadas por pessoas que ocupam os cargos entre a alta direção e o

operacional, como executivos da diretoria e gerentes. As ações são aplicadas no período de 1

a 3 anos, mensurando-as para um futuro mais próximo do que o visado no planejamento

estratégico, ou seja, médio prazo. Pode se dizer que o planejamento tático é a decomposição

do planejamento estratégico, ele traduz e interpreta o plano estratégico para transformá-lo em

planos concretos, onde vamos desenvolver o plano de marketing, produção, pessoal, ou seja,

financeiro empresarial. Por fim, o planejamento operacional é de onde saem as ações e metas

traçadas pelo nível tático para atingir os objetivos das decisões estratégicas. Nesse

planejamento, as ações são aplicadas em curto prazo, geralmente no período de 3 a 6 meses.

Todos os níveis da organização estão envolvidos, garantindo que todas as tarefas e operações

sejam executadas, de acordo com os procedimentos estabelecidos, preocupando-se em

alcançar os resultados específicos.

Peradelles (2016) conclui salientando a importância da correlação entre os mesmos,

visto a importância de entender que um planejamento estratégico não vai sair do papel se os

planos do nível tático e operacional não forem bem estabelecidos, pois é um processo

integrado e interdependente. Todos os níveis são necessários: o estratégico para orientá-lo na

visão, o tático para desdobrar essa visão em planos de ação menores, e o operacional para

levar os planos a execução. Por isso, os planejamentos devem envolver todos da empresa e

é um incentivo para que as pessoas se comprometam com os resultados.

Figura 1 - Planejamento Estratégico, Tático e Operacional – O Guia completo para sua

empresa garantir os melhores resultados.

Fonte: Fernandes (2015)

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Araújo (2013) diz que os tipos de problemas que envolvem uma empresa são variados,

assim como serão também os modos de resolvê-los. Os problemas e as decisões de uma

propriedade rural podem ser divididos em estratégicos, gerenciais e operacionais. Estratégicas

são as decisões que envolvem a empresa como um todo: seus objetivos, seus recursos de

produção e as condições ambientais. As decisões desse nível são do tipo o que fazer e o

quanto fazer, envolvendo o longo prazo.

Araújo (2013, p.23) fala sobre um exemplo de decisão dentro da empresa rural em nível

estratégico:

[...] Pode-se citar o caso de um pequeno produtor de leite que decide ampliar 6

hectares em pastagens e dobrar o número de animais de sua propriedade. O

investimento deste produtor será produto de sua decisão estratégica porque o

período de tempo entre a tomada da decisão e a obtenção do resultado é amplo.

Em seguida, Araújo (2013) fala sobre as decisões gerenciais, explicando serem as

decisões que produzem efeitos em médio prazo se constituindo de menor impacto na

estratégia da organização, contendo informações sintetizadas por uma atividade da empresa.

As decisões nesse nível são tomadas por atividade e envolvem a definição das tecnologias a

serem utilizadas (como fazer). Cita como exemplo de decisões gerenciais: a opção pela

produção de leite a pasto, com sistema de manejo rotativo, racionalmente conduzido.

Araújo (2013) conclui falando sobre as decisões operacionais, as quais produzem

efeitos no curto prazo. São específicas e referem-se às operações do dia a dia da empresa. A

decisão operacional tem o ciclo curto, ou seja, o tempo de tomada de decisão e a obtenção dos

resultados estão próximos. Cita como exemplo desse tipo de decisão estratégica a quebra de

um maquinário, gerando a necessidade de comprar novo equipamento ou realizar determinado

serviço, manter o controle de caixa e preparar o orçamento financeiro da agroindústria.

Avellar e Duarte (2017) enfatizam que o planejamento estratégico organizacional é realizado

em diversas etapas, de acordo com o porte, a estrutura e a mobilização das lideranças. As

etapas desse processo incluem:

Formulação dos objetivos organizacionais e das prioridades a curto, médio e longo

prazo. Inclui a definição da visão – o que se “sonha” para a organização, o futuro

realizável que motiva o presente. a missão, declaração que identifica a organização,

suas áreas de atuação, seus rumos.

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Análise das forças e limitações internas – para o fortalecimento dos pontos fortes e

superação dos pontos fracos.

Análise do ambiente externo, desafios e oportunidades. Da conjuntura econômica.

Tendências políticas, do mercado e do público, das empresas que atuam na mesma

área, dos fornecedores e parceiros e da conjuntura tecnológica.

Formulação das alternativas de melhoria, linhas de ação para alcançar os objetivos,

tendo em vista as condições internas e externas.

Criação da estratégia (processos, produtos, estrutura, cultura, liderança), com o

desenvolvimento de métricas de desempenho, planos de contingência, prazos e outras

iniciativas para a implementação dos objetivos estratégicos. Uma análise dos projetos

em realização verifica se estão alinhados aos objetivos a curto e médio prazos.

Consolidação ampla dos planos em toda a organização, de modo que cada unidade

seja sistematicamente parte do planejamento e sua revisão e alinhamento sejam

permanentemente avaliados pela comunidade organizacional.

Controle estratégico dos resultados em relação aos objetivos do planejamento

(através de ferramentas como Balanced Scorecard – BSC, por exemplo). O

monitoramento da performance pode ser sistematizado através de relatórios

periódicos.

Avaliação dos resultados, com indicadores que evidenciem se os resultados estão

aquém das expectativas e precisam de interferência gerencial. Leva ao

aprimoramento do planejamento e sua adaptação ao ambiente e à cultura corporativa.

Assim sendo, nota-se a importância do planejamento estratégico em qualquer

ambiente que se pretende obter um sucesso significativo. É fundamental que a empresa tenha

um propósito e um caminho a seguir para atingir o mesmo.

Simões (2014) afirma que toda estratégia de sucesso, em grandes ou pequenos

empreendimentos, na carreira profissional e até na vida pessoal, depende sempre do

planejamento. Simões (2014) cita o mesmo como indispensável, especialmente no setor

produtivo, o planejamento define o roteiro que deve ser percorrido no alcance do objetivo

estabelecido e permite a montagem de um ambiente seguro, conhecido.

Simões (2014), em artigo publicado no Jornal Estado de Minas, fala sobre a

necessidade de uma política agrícola de longo prazo e as principais áreas que precisariam ser

contempladas no planejamento. Afirma que na agricultura não é diferente. Os produtores

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rurais, já limitados pelas incertezas do clima, como a seca, precisam de políticas agrícolas de

médio e longo prazo que estimulem investimentos em inovação, competitividade e aumento

da produtividade. As grandes potências agrícolas mundiais sabem planejar bem e não se

descuidam nunca, reduzindo a níveis toleráveis os riscos de frustração de safras.

2. METODOLOGIA DE PESQUISA

Segundo Yin (2001, p.32): “o estudo de caso é uma investigação empírica de um

fenômeno contemporâneo dentro de um contexto da vida real, sendo que os limites entre o

fenômeno e o contexto não estão claramente definidos”. Yin (2001) enfatiza ser a estratégia

mais escolhida quando é preciso responder a questões do tipo “como” e “por quê” e quando o

pesquisador possui pouco controle sobre os eventos pesquisados.

Segundo Duarte e Barros (2006, p. 229) “o caso-piloto auxilia o pesquisador a

melhorar planos, seja em relação ao conteúdo, seja quanto aos procedimentos, que poderão

ser previamente testados. ” O estudo de caso utiliza para coleta de dados, principalmente, seis

fontes distintas de informação: “documentos, registros em arquivos, entrevistas, observação

direta, observação participante e artefatos físicos” (DUARTE e BARROS, 2006, p. 229).

A etapa da coleta de dados, segundo Yin (2001), requer habilidades específicas do

pesquisador, treinamento e preparação, desenvolvimento de um roteiro e a condução de um

“estudo-piloto”.

A empresa estudada é uma fazenda de médio porte, localizada na cidade de Itanhandu

MG. Será realizada uma entrevista com o proprietário, com o objetivo de verificar se há

planejamento estratégico na mesma, mostrando a ele a importância desse planejamento. A

entrevista será realizada de forma estruturada, constituída por perguntas definidas e

formuladas, que serão respondidas oralmente pelo proprietário da organização, com o objetivo

de coletar dados e informações relevantes para a decisão da necessidade ou não da aplicação

do planejamento estratégico. Havendo a necessidade, será estudada a maneira como o

Planejamento será aplicado dentro dessa empresa rural.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A entrevista foi realizada com a filha do proprietário da fazenda, que trabalha

auxiliando-o nas tomadas de decisões da organização, às dezesseis horas e quarenta minutos

do dia 8 de setembro. De início foi explicada à entrevistada a proposta do trabalho,

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apresentando o conteúdo desenvolvido no decorrer do mesmo, seguido de uma breve síntese

sobre o tema abordado.

Vocês trabalham com metas na fazenda?

L.H - Ih Amandinha, agora você me apertou, porque a gente não tem um esquema

de metas assim, uma coisa que você sente e fala “vou seguir essa meta” não tem

isso, que meu pai é das antiga né?! meu pai tem quase 80 anos, você pensa. Ele

faz da cabeça dele, sabe Deus o que que ele faz. Eu.. eu não tenho nada assim pré-

programado, quer dizer assim, na verdade o que que eu tomo conta mesmo aqui são

as bezerras, eu vigio as bezerras do dia que nasce até o dia que elas são desmamados

e vão até 6 meses, então eu fico em cima disso vigiando, eu sei que tem um padrão

de peso isso, aí é em cima disso que eu vigio. sempre funciona. Só não funciona

quando elas ficam doentes ou tem alguma coisa assim, mais assim se não tem

nenhuma doença que a gente não consiga socorrer a tempo, que não faça perder peso

então assim, é nisso que eu que eu mexo aqui na parte da cria né. Depois recrio em

outro lugar. E aí não tem esse esquema de metas, é uma coisa mais assim da

cabeça, não tem um negócio sabe programado, não tem aqui na fazenda, e meu

pai não gosta desse tipo de coisa, se eu quisesse colocar com ele eu teria que fazer

isso com algum funcionário por que ele faz o jeito dele tanto que as minhas bezerras,

agora por exemplo que eu tô de cama e vou ficar um mês parada aqui em casa, ele tá

bagunçando na fazenda do jeito dele então eu não sei nem como te ajudar

nesse.Nesse tipo de pergunta porque eu não sei na verdade o que que você espera

disso porque eu não tenho mesmo aquela coisa pré-programada entendeu.?!

Tem até um sistema do IDEAGRI que você deve conhecer, ou já deve ter

ouvido falar, não sei se conhece, e eu ainda tô na parte zootécnica Eu tenho seis

meses que eu tô trabalhando com ele e 6 meses não, Sete meses que eu trabalho

com ele e não consegui passar para parte de gestão porque ele é muito

complexo, ele é muito cheio de detalhes, então eu ainda estou na parte da

zootécnica ainda. Assim tem muita parte que eu posso não fazer não tem problema,

mas a maioria eu já estou conseguindo preencher tudo, alimentar a gente fala né, o

sistema, a parte de gestão mesmo eu não consegui nem entrar porque ela é

muito difícil e eu vou ter que fazer um curso só para isso porque eu fiz um curso

para os dois, mas é muito por cima sabe? Eles dão as palestras, é muito por cima, e

aí a parte de gestão que eu acho que seria mais nisso que você quer eu acabei não

conseguindo entrar.

Muitos fazendeiros sempre se saíram bem ao administrar sua organização da forma

“antiga”, ou melhor dizendo, sempre da mesma forma, obtendo resultados positivos, sendo

esse o maior motivo de se optar sempre pelo mesmo caminho. A filha do proprietário cita a

tentativa de implantar um sistema de gestão na propriedade, porém demonstra uma certa

dificuldade no manuseio desse sistema, por conta da excessiva quantidade de informações que

o sistema exige, dificuldade essa que pode ser encontrada por muitos outros produtores rurais,

aliás, tudo provindo de novidade é algo assustador.

Godinho (2016) diz que por meio de análises de softwares e aplicativos no campo

conclui-se que os produtores rurais são resistentes quanto ao uso das tecnologias de

informação para o auxílio na gestão e que encontram dificuldades em utilizar e extrair o

potencial dos sistemas de informações, para ele, muitos produtores não conseguem utilizar o

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potencial das ferramentas por desconhecimento conceitual relacionado a sistemas de

gestão. Informa ainda que alguns produtores relatam que se sentiram inseguros com relação

aos seus dados armazenados nos computadores. Embora tenham recebido informações sobre o

controle de acesso e meios de armazenamento, esses produtores demonstraram não desejar

compartilhar informações referentes aos negócios, mais precisamente informações financeiras

e temem que outros possam conseguir acesso se estiverem no computador.

Isso que você disse, sobre não ter meta, seu pai ser mais velho e acabar seguindo

o método que sempre seguiu, você sente falta de um planejamento? De saber o

que fazer, o caminho a ser seguido, metas a bater.

L.H – Claro, sim, porque você atingir meta é sinal que você está no caminho

certo, mas acho que não atingir meta é tão importante quanto, por que você

descobre que você tem erros onde você precisa...é, consertar e às vezes a maneira

mais fácil de “cê” gerir uma coisa. Às vezes está dando volta né, e você tendo

assim uma gestão, você vai no caminho certo, você não fica dando volta, você

não perde tempo você não perde dinheiro né?! Isso tudo. Claro, sem dúvida.

Ela demonstra total consciência sobre a importância das metas dentro da fazenda. Saber

se está fazendo o certo, tomando as atitudes corretas e percorrendo o caminho devido é, sem

dúvida, um dos grandes desafios de qualquer organização, pois, só assim os colaboradores e

proprietários saberão se é o momento de mudar o caminho ou continuar nele mesmo; saberão

inclusive sobre a veracidade das decisões que estão sendo tomadas na organização. Simões

(2014) fala sobre o planejamento como algo indispensável, pois o mesmo define o roteiro que

deve ser percorrido no alcance do objetivo estabelecido e permite a montagem de um

ambiente seguro. A proprietária cita a importância de não atingir metas também, pois é nesse

momento que descobre onde estão os erros, o que está sendo feito de errado, um método que

pode ser seguido por algumas organizações, mas pra isso ainda é preciso traçar as metas a

serem seguidas.

E quando algo foge do planejado na fazenda? Algo que vocês não estão acostumados a

lidar, como vocês lidam com isso? Em relação a tomar uma decisão diferente do que já foi

tomado, visto que vocês seguem sempre a “tradição”?

L.H – Ahh.. Amandinha, é..geralmente quando dá algum... algum “pepino” é da

cabeça dele que sai a decisão, nem ele sabe como, na parte de Gestão, na parte já

de zootécnico aí acaba correndo atrás de alguma opinião, é.. mas assim, o certo

seria ter que procurar saber onde que errou, o que que é né, o que que é e onde

foi que errou, o que que a gente tem que mudar, mas aí geralmente é ele quem

toma a decisão. E aí é assim... sei lá viu, é da cabeça dele, alguma coisa que não sei.

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Percebe-se a sua plena consciência em relação ao certo a ser feito dentro da

organização, encontrar o erro e verificar a mudança, porém, a decisão acaba ficando

centralizada no proprietário, algo que acaba a inibindo de tomar alguma decisão, levando-os a

optar sempre pela forma tradicional das decisões. Porém, conforme informado pela

entrevistada, ao se depararem com uma situação diferente do que já estão acostumados,

acabam precisando recorrer a uma opinião de fora. Algo que não seria necessário caso tivesse

sido previamente planejado.

Araújo (2013) diz que o produtor rural precisa estar preparado para enfrentar desafios,

buscando a sobrevivência junto a sustentabilidade da sua propriedade rural. Informa também

que é preciso que o produtor saiba exatamente como andam seus negócios, suas despesas,

seus custos, suas finanças, seu estoque e suas margens de lucro para decidir e projetar bem o

futuro de seu negócio.

Quais os planos para a organização dentro de 2 anos? Você imagina a fazenda em

algum lugar?

L.H – Na verdade eu tenho muitos planos. Eu só sou um pouco travada por

conta do meu pai, porque eu também não posso passar por cima dele, não que ele

não deixa, segundo que tem o que ele respeita mas eu tenho sim na cabeça, ervilha

né.

Já em relação ao leite, a gente até ta comprando um novo tanque de leite, a gente já

de um ano..um ano para cá a gente aumentou a 1.500 L diários, então a gente tá

comprando novo tanque, mas desse último ano que eu vim para cá. muita coisa

foi mudada, muita coisa melhorou, então a gente tem feito isso entendeu, já com

meta de mais leite mesmo.. Eu não sei nem se vamos aumentar a quantidade de

gado, mas a gente vai ficar mais na qualidade talvez, e não a quantidade de cabeça

de gado, a quantidade menor dando mais leite eu acredito mais nisso “tendeu”?! Que

“cê” trabalha melhor. Isso no primeiro momento né quando “ocê” consegue arrumar

tudo isso, aí a tendência é outra aí já..já começa a pensar em outras coisas, claro.

Essa melhora que você citou, que a fazenda conseguiu, o aumento diário do leite,

foi algo planejado ou a organização conseguiu sem planejamento algum? O que foi

feito?

L.H – Não... isso aí a gente que esperava sim, porque foi comprado um maquinário

novo né?! A nossa silagem melhorou muito porque compramos um equipamento

novo de fazer silagem que é o Tracker né?! Ele pica mais o milho, então faz uma

silagem de qualidade muito melhor, e isso fez uma diferença muito grande,

Tínhamos só dois compost, e fizemos agora mais o terceiro, e não tinha pré-

parto,agora tem. Então isso essa melhora foi muito grande, mas tudo em cima

disso sim.. Seria até meta né?! Mas é claro tudo que você faz é pensando que

você vai melhorar, são metas, mas a gente não tem uma coisa assim né, que você

coloca no papel que vai falar assim “ó isso aqui que a gente vai fazer para tingir

isso” você vai fazendo e você vai tendo resultado, então é mais ou menos, é

quase a mesma coisa, mas em outro sentido, acredito né?

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Barbalho (1997) entende por planejamento estratégico um processo que tem por objetivo

estabelecer o rumo a ser seguido pela organização, assim como afirma Frota (2011), a

elaboração do planejamento aumenta a probabilidade de que, futuramente, a organização

esteja no local certo, na hora certa. Nota-se com clareza as metas impostas na organização,

porém nada formalizado, e até mesmo encarado como metas, tendo como consequência a

realização de algo que não foi previamente planejado. Segundo BARBOSA (1985), muitas

vezes, uma fazenda aparentemente não tem planejamento; porém, analisando com mais

profundidade o andamento dos trabalhos e outros aspectos, percebe-se que a atividade está

planejada – só que empiricamente, “na cabeça do dono ou do administrador”. Infelizmente,

nesses casos, o dono passa a ser insubstituível na atividade, e se, por algum acaso ele

ausentar-se, os negócios podem “tropeçar”.

Você nunca teve curiosidade/vontade de implementar na fazenda um sistema de

gestão?

L.H – Sim, estamos tentando com o IDEAGRI. Mas eu ainda não consegui

entrar na parte de gestão porque ela é muito difícil, que tem 6 meses que eu to.. 7

meses que eu tô usando. Então..porque ele tem muita coisa para fazer, muita

coisa para alimentar, então não consegui entrar no de gestão ainda “tendeu”? só no

de zootécnica mesmo, por enquanto.

Segundo Godinho (2016), no início de qualquer processo de mudança, o lado racional

é importante, com as ferramentas administrativas adequadas, mas isso não garante o sucesso

do plano, e nesse momento, torna-se mais importante a atuação da liderança. Um programa de

gestão bem-sucedido é aquele que promove a melhoria dos resultados da fazenda. Se a

fazenda não conseguiu atingir uma maior eficiência, houve falhas na sua implantação.

Podemos apontar diversas possíveis causas de insucessos na implantação de um programa de

gestão, que podem ser observadas isoladamente ou em conjunto:

Compromisso do proprietário/gestor;

Despreparo para as mudanças;

Ansiedade por resultados;

Ausência de planejamento;

Falta de métodos e de técnicas;

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Atuação da assistência técnica;

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O planejamento estratégico faz com que o proprietário de uma empresa olhe para o

futuro da mesma, saiba o local onde deseja chegar, traçando caminhos que possam ser

percorridos para o sucesso. Tem por objetivo enxergar onde a empresa precisa chegar,

selecionando caminhos viáveis para o desenvolvimento das ações necessárias para que a

empresa de fato chegue lá.

Muito se discute sobre a necessidade ou não de um planejamento estratégico dentro de

uma organização rural. Muitos proprietários estão acostumados a levar a organização da

forma como sempre levaram, optam sempre pelo tradicional “eu sempre fiz assim” “meu pai

sempre fez assim”, porém, o que muitos não levam em consideração são as evoluções para

fora das porteiras da fazenda, e não acompanhar essa evolução acaba sendo um risco para

muitos fazendeiros.

A produção agropecuária tem passado por várias transformações ao longo do tempo,

evoluindo de um estágio amador para um estágio profissional, exigindo do empresário rural

uma nova visão de administrar e fazer a gestão de sua fazenda.

Foi realizada uma entrevista com a filha do proprietário de uma fazenda, ela atua auxiliando-o nas

tomadas de decisões da organização. A entrevistada contou sobre a dificuldade enfrentada na

tentativa de implementar um sistema de gestão dentro da organização, falou sobre a quantidade de

informações necessárias para “alimentar” o sistema, algo que demanda muito trabalho e tempo.

Outro assunto abordado no decorrer da entrevista foi o fato de que seu pai, o proprietário da

empresa, se mostra bastante inflexível em relação às novidades, e também em relação a metas e

planejamentos, diz não ter nada programado e que as decisões saem da cabeça de seu pai. No início

da entrevista, ela afirma que a organização não segue nenhum tipo de meta e não tem planejamento

algum; porém, no decorrer da conversa, ela percebe que há sim metas e planejamentos dentro da

organização.

Após o estudo de caso e a análise dos dados, percebeu-se que essa fazenda acaba

sendo levada da forma tradicional, não tendo algo já previsto para seguir no papel, porém, na

cabeça do proprietário está articulado todo o planejamento da fazenda.

O objetivo do trabalho foi realizar uma análise da necessidade ou não da aplicação de

um planejamento estratégico em uma pequena empresa rural. Dessa forma, ao verificar os

resultados da entrevista, certifica-se que o objetivo foi alcançado. A filha do proprietário da

organização não sabe ao certo onde querem chegar, acaba se deixando levar pelo que

acontece, pensando somente a curto prazo, sem olhar o futuro da organização. O proprietário

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tira todas as decisões da própria cabeça, evitando que sua equipe saiba o que vai acontecer, e

acabam sendo pegos de surpresa para os acontecimentos dentro da organização. Tendo um

planejamento estratégico, o proprietário saberá exatamente onde se quer chegar e poderá

traçar o caminho que o levará junto com a equipe a alcançar todas as metas almejadas,

buscando meios para isso e preparar-se para qualquer imprevisto que possa ocorrer no

decorrer desse caminho. Visto que sem metas a empresa fica à deriva, sem saber um lugar

certo a se chegar.

Conclui-se que a fazenda estudada tem sim metas a serem alcançadas, porém essas

metas ficam dispersas, sem a formalização de um planejamento, evitando que se possa

planejar e organizar o caminho a ser seguido, tendo o alcance da meta como algo incerto, algo

que com o planejamento escrito e formalizado seria um caminho mais confiável a se seguir.

De início, foi colocada a seguinte problematização: “a organização rural tem

necessidade de planejamento? ”. Assim, com base na pesquisa teórica e no estudo de caso

realizado, nota-se que a organização rural tem sim a necessidade de planejamento,

evidenciando essa afirmativa, a entrevistada informa que a fazenda não tem metas, porém no

decorrer da entrevista a mesma percebe que eles seguem sim um padrão de metas, mas sem

seguir caminhos certos e já planejados para o alcance das mesmas, sem nada formalizado no

papel, impedindo que o proprietário e seus colaboradores saibam o que fazer para se alcançar

as metas que lhe foram propostas.

Esse não é um trabalho conclusivo. As informações presentes nesse artigo poderão

servir como auxílio para estudos relacionados ao tema. Desse modo, como sugestão de uma

nova pesquisa, propõe-se: realizar um estudo aprofundado de diversas fazendas, buscando

encontrar a forma correta de se seguir um planejamento rural, realizando a tentativa de

implementação do planejamento estratégico em uma organização que se ausente desse

método.

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Artigo recebido em 07/12/2018

Artigo aceito em 20/12/2018