período pós-industrial: tempo de...

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REVISTA DIREITO CULTURA E CIDADANIA CNEC OSÓRIO / FACOS VOL. 4 Nº 1 MARÇO/2014 ISSN 2236-3734 . Página 318 Período pós-industrial: tempo de ócio Ed da Silva Moraes 1 Resumo: Enfoca a sociedade pós-industrial, compreendendo o período histórico a partir do final da Segunda Guerra Mundial até aos nossos dias, enfatizando alguns aspectos gerais relevantes, fazendo-se um apanhado retrospectivo sobre os principais acontecimentos ocorridos na década de 1989 a 1999, quando para alguns, passamos a presenciar “uma nova ordem mundial”, identificando- se alguns problemas, sob o ponto de vista das relações de trabalho, decorrentes do processo de globalização e integração regional e ao final tecendo-se algumas considerações sobre as perspectivas. Palavraschave: pós-industrial trabalho globalização integração - tempo livre - ócio criativo. Abstract: Focuses on the post-industrial society, comprising the historical period from the end of World War II to the present day, emphasizing some important general aspects, making a retrospective overview about the main events in the decade 1989-1999, when for some, we are witnessing a "new world order", identifying some problems from the point of view of labor relations, arising out of globalization and regional integration and end-weaving process some considerations about the prospects. Keywords: post-industrial work globalization integration - free time - creative leisure. Revolução Industrial: generalidades Se o tempo é de todos os bens o mais precioso, a perda de tempo tem de ser o maior dos desperdícios. Como o tempo perdido jamais é reencontrado, aquilo que chamamos ‘tempo suficiente’ sempre demonstra ser ‘tempo insuficiente’. Vamos então tomar uma atitude e ter um objetivo para que, com perseverança, cuidemos em fazer mais com menos confusão 2 (FRANKLIN apud COVEY, 2004, p.58). Segundo Alvin Toffler (1998, p. 35), “[...] ouviu-se uma explosão que enviou ondas de concussão em cadeia através da Terra, demolindo sociedades antigas e criando uma civilização inteiramente nova. Essa explosão foi, naturalmente, a revolução industrial”. Continuando nesta linha de raciocínio, ele afirma que “[...] a força da maré gigante que ela desencadeou no mundo a Segunda Onda colidiu com todas as instituições do passado e modificou o modo de vida de milhões”. Até então, conforme Toffler (1998, p. 35), “a civilização da Primeira Onda reinou suprema, [...]. Os chamados povos primitivos, vivendo em pequenos bandos e tribos 1 Professor do curso de bacharelado em Direito FACOS/CNEC. 2 Encontrado em: COVEY, Stephen R. Princípios essenciais das pessoas altamente eficazes. Trad. Iva Sofia Gonçalves Lima. Rio de Janeiro: Sextante, 2004, p. 58.

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VOL. 4 – Nº 1 – MARÇO/2014 – ISSN 2236-3734 .

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Período pós-industrial: tempo de ócio

Ed da Silva Moraes1

Resumo: Enfoca a sociedade pós-industrial, compreendendo o período histórico a partir do final da Segunda Guerra Mundial até aos nossos dias, enfatizando alguns aspectos gerais relevantes, fazendo-se um apanhado retrospectivo sobre os principais acontecimentos ocorridos na década de 1989 a 1999, quando para alguns, passamos a presenciar “uma nova ordem mundial”, identificando-se alguns problemas, sob o ponto de vista das relações de trabalho, decorrentes do processo de globalização e integração regional e ao final tecendo-se algumas considerações sobre as perspectivas. Palavras–chave: pós-industrial – trabalho – globalização – integração - tempo livre - ócio criativo.

Abstract: Focuses on the post-industrial society, comprising the historical period from the end of World War II to the present day, emphasizing some important general aspects, making a retrospective overview about the main events in the decade 1989-1999, when for some, we are witnessing a "new world order", identifying some problems from the point of view of labor relations, arising out of globalization and regional integration and end-weaving process some considerations about the prospects. Keywords: post-industrial – work – globalization – integration - free time - creative leisure.

Revolução Industrial: generalidades

Se o tempo é de todos os bens o mais precioso, a perda de tempo tem de ser o maior dos desperdícios. Como o tempo perdido jamais é reencontrado, aquilo que chamamos ‘tempo suficiente’ sempre demonstra ser ‘tempo insuficiente’. Vamos então tomar uma atitude e ter um objetivo para que, com perseverança, cuidemos em fazer mais com menos confusão

2 (FRANKLIN apud COVEY, 2004, p.58).

Segundo Alvin Toffler (1998, p. 35), “[...] ouviu-se uma explosão que enviou ondas

de concussão em cadeia através da Terra, demolindo sociedades antigas e criando

uma civilização inteiramente nova. Essa explosão foi, naturalmente, a revolução

industrial”. Continuando nesta linha de raciocínio, ele afirma que “[...] a força da

maré gigante que ela desencadeou no mundo – a Segunda Onda – colidiu com

todas as instituições do passado e modificou o modo de vida de milhões”.

Até então, conforme Toffler (1998, p. 35), “a civilização da Primeira Onda reinou

suprema, [...]. Os chamados povos primitivos, vivendo em pequenos bandos e tribos

1Professor do curso de bacharelado em Direito – FACOS/CNEC.

2Encontrado em: COVEY, Stephen R. Princípios essenciais das pessoas altamente eficazes. Trad.

Iva Sofia Gonçalves Lima. Rio de Janeiro: Sextante, 2004, p. 58.

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e subsistindo de coleta, pesca e caça, foram ultrapassados pela revolução agrícola”.

Com o advento da máquina a vapor, deu-se início ao período, que historicamente

ficou conhecido como a Revolução Industrial ou Segunda Onda, para Toffler (1998).

Tal transformação no processo produtivo iniciou pela Inglaterra, em 1850,

alastrando-se mais tarde pela Europa Ocidental e Estados Unidos da América. Para

fins didáticos, alguns estudiosos costumam dividir este fenômeno histórico em duas

fases: a primeira que vai do final do século XVIII até a I Guerra Mundial e a segunda,

após a II Guerra Mundial até ao início da década de 1950.

O prenúncio de uma nova fase para a humanidade: passos para a transição da sociedade industrial para uma sociedade pós-industrial

É difícil precisar o exato momento em que uma transformação histórica possa ter

ocorrido. Somente após uma sucessão de acontecimentos e desdobramentos, torna-

se possível classificar os diferentes períodos históricos.

No que se refere aos aspectos laborais e econômicos, a humanidade civilizada

percebeu a transição da sociedade rural para a industrial, entre o final do século

XVIII e no início do século XX. Para De Masi (2000, p. 50), “a sociedade pós-

industrial nasce em 1950”. Segundo ele, muito embora não tendo ainda contornos e

elementos constitutivos precisos, tal sociedade pode ser definida como ‘pós-

industrial’(DE MASI, 1999, p. 48).

Segundo De Masi (1999, p. 18), na fase mais madura da sociedade industrial,

emergem três fenômenos novos quase prenunciando sua já próxima superação. O

primeiro consiste em uma convergência progressiva entre os países industriais –

sobretudo EUA e URSS – independentemente de seu regime político. O segundo

fenômeno consiste no crescimento das classes médias no âmbito da sociedade e da

tecno-estrutura da empresa. Finalmente, o terceiro fenômeno, é constituído pela

difusão do consumo de massa e da sociedade de massa.

No entender de De Masi (1999), enquanto que na sociedade industrial, os recursos

principais são os meios de produção, matérias-primas, patentes e produtividade, na

sociedade pós-industrial tais recursos são a inteligência, o conhecimento, a

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criatividade, as informações, os laboratórios científicos e culturais. No tocante à

estrutura funcional, na primeira estariam os operários, os engenheiros, os

empresários, os funcionários de escritório, enquanto que na segunda estariam os

profissionais liberais, os técnicos, os cientistas, a indústria do lazer e a tecno-

estrutura. Já no que se refere aos atores sociais centrais, na sociedade industrial

seriam os empresários, os trabalhadores e os sindicatos, sendo que na sociedade

pós-industrial estariam os técnos, as mulheres, os cientistas, os administradores da

informação e os intelectuais.

Um autor que não considera adequado o uso do termo “pós-industrial” para o atual

momento é Toffler (1998), preferindo dividir os diferentes períodos históricos em

“ondas”, em que a primeira começou por volta de 8000 a.C. e que dominou a terra

sem qualquer desafio até 1650 e 1750 d.C. A partir deste momento, a Primeira Onda

perdeu ímpeto, enquanto a Segunda Onda ganhava força. A civilização industrial,

produto desta Segunda Onda, dominou o planeta por sua vez, até atingir a altura

máxima. Este último ponto máximo histórico ocorreu nos Estados Unidos, durante a

década iniciada por volta de 1955 – década que viu os trabalhadores de colarinho

branco e de serviços gerais excederem em número os trabalhadores de macacão.

Ainda segundo Toffler (1998, p. 23), essa foi a mesma década “que viu a introdução

generalizada do computador, o jato comercial, a pílula anticoncepcional e muitas

outras inovações de alto impacto”.

[...] a transição para uma sociedade sem trabalhadores, a sociedade da informação, é o terceiro e derradeiro estágio de uma grande mudança nos paradigmas econômicos, marcados pela transição de recursos energéticos renováveis para os não renováveis e de fontes de energia biológicas para as mecânicas (RIFKIN, Jeremy 1995, p. 63).

Para este autor americano, a Primeira Revolução Industrial teve início na Inglaterra,

logo após o final da Era Medieval, com a união do carvão e das máquinas para

produzir “vapor”. Posteriormente ocorreu a Segunda Revolução Industrial entre 1860

e a I Guerra Mundial, mencionando que “o petróleo passou a competir com o carvão

e a eletricidade foi efetivamente utilizada pela primeira vez, criando uma fonte de

energia para operar motores, iluminar cidades e proporcionar comunicação

instantânea entre as pessoas”. Já a Terceira Revolução Industrial surgiu

imediatamente após a II Guerra Mundial e somente agora está começando a ter um

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impacto significativo no modo como a sociedade organiza sua atividade econômica

(RIFKIN, 1995, p. 63 e 64).

No entanto, outro autor americano, Daniel Bell, em seu livro “O advento da

Sociedade Pós-industrial”, garante que “a formulação original de conceito de

sociedade pós-industrial foi apresentada (por ele) durante um debate público sobre

tecnologia e mudança social, realizado em Boston, em 1962”. (1977, p. 11).

Segundo o mesmo, o conceito de sociedade pós-industrial é uma generalização

muito ampla. Visando ser mais facilmente compreendido, ele especifica cinco

dimensões ou componentes do termo:

Setor econômico: a mudança de uma economia de produção de bens para uma de serviços;

Distribuição ocupacional: a preeminência da classe profissional e técnica;

Princípio axial: a centralidade do conhecimento teórico como fonte de inovação e de formulação política para a sociedade;

Orientação futura: o controle da tecnologia e a distribuição tecnológica;

Tomada de decisões: a criação de uma nova “tecnologia intelectual”(1977, p. 27 e 28).

Na busca de uma definição de “sociedade pós-industrial”, encontramos no francês

Touraine (2002, p. 389) a seguinte consideração: “[...] eu defini a sociedade pós-

industrial como aquela onde a produção dos bens materiais cedia o lugar central à

produção de bens culturais e onde o conflito principal opunha a defesa do Sujeito à

Lógica do sistema de produção, de consumo e de comunicação”. Continua

Touraine: “Hoje eu defino a modernidade tanto pela subjetivação como pela

racionalização”.

Evoluindo para uma nova denominação de “sociedade pós-industrial”, novamente

Touraine (2002, p. 258) traz outra contribuição, chamando-a de “sociedade

programada” – expressão mais precisa que a de sociedade pós-industrial, que só é

definida por aquilo a que ela sucede – aquela em que a produção e a difusão maciça

dos bens culturais ocupam o lugar central que fora o dos bens materiais na

sociedade industrial. O lugar pontuado pela metalurgia, a indústria têxtil, a química,

assim como as indústrias elétricas e eletrônicas na sociedade industrial, segue a

produção e a difusão dos conhecimentos, dos cuidados médicos e das informações,

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portanto a educação, a saúde e os meios de comunicação na sociedade

programada.

Mas por que “sociedade programada”? Segundo Touraine (2002, p. 259), “porque o

poder de gestão consiste, nessa sociedade, em prever e modificar opiniões,

atitudes, comportamentos, em modelar a personalidade e a cultura, portanto em

entrar diretamente no mundo dos ‘valores’ em vez de se limitar ao campo da

utilidade”.

Considerando a proximidade histórica do período que começou a sacudir a chamada

“era industrial”, - segundo os diversos autores em estudo, - ficaremos com um fato

histórico que afetou o mundo tragicamente e que, sem dúvida alguma serviu de

alerta para o futuro da humanidade: a 2ª Guerra Mundial. Mais precisamente, a partir

do fim deste enfrentamento bélico.

Final da II Guerra Mundial: consequências

Mais uma vez o mundo foi sacudido por uma grande guerra. No período entre 1939

até a explosão da segunda bomba atômica sobre o Japão, no dia 06 de agosto de

1945, muitas vidas humanas foram sacrificadas, primeiro sob um condenável

pseudo-objetivo de purificação da raça ariana, associada a outros interesses de

regimes nacionalistas, depois para rechaçar tal iniciativa.

Tanto de um lado como do outro se formaram grandes eixos. Liderados pela

Alemanha, formou-se o eixo Berlim – Roma – Tóquio, enquanto que a reação iniciou

com a Inglaterra, que recebeu a ajuda indispensável dos Estados Unidos da América

e da Rússia, que ao final saíram-se vitoriosos.

O custo social e econômico da II Guerra Mundial foi elevadíssimo e, embora

razoavelmente quantificado, é bastante difícil qualificá-lo. Além da destruição

propriamente dita, foram gastos um trilhão e meio de dólares – ao valor de 1939 –

durante o conflito que envolveu diretamente 72 países e mobilizou 110 milhões de

soldados. Houve 55 milhões de mortos, 35 milhões de mutilados e 3 milhões de

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desaparecidos. A maioria das vítimas era constituída de civis. A nação com maior

número de vítimas foi a URSS, com 25 milhões, enquanto os EUA tiveram apenas

350 mil mortes3.

Como era de se esperar, os vencidos sofreram as consequências, através de

punição aos seus altos dirigentes, restrições econômicas, além de ficarem com uma

dívida enorme. Aos vencedores, especialmente os Estados Unidos e a Rússia,

secundados pela Inglaterra e França, coube a tarefa de financiar a reconstrução da

Europa e passarem à condição de guardiões da paz mundial, uma vez que com a

criação da Organização das Nações Unidas (ONU) em 1948, tais países passaram a

fazer parte do Conselho de Segurança da ONU, juntamente com o concurso da

China.

Grandes descobertas e invenções

Com o propósito de ilustração, menciona-se as principais invenções ou descobertas

do século XX4, adiantando que cabe um filtro no rol apresentado, sobretudo se

quisermos delimitar as grandes invenções e descobertas, para àquelas que

realmente trouxeram influência significativa para a humanidade.

Neste sentido, mesmo considerando todo o século XX e não apenas o período a

partir do qual, alguns autores passaram a denominá-lo de “pós-industrial”, - que para

este estudo foi convencionado como sendo após o término da II Guerra Mundial, -

entendo que merece destaque algumas descobertas e invenções. Começando por

aquelas que trouxeram contribuição para a preservação da vida humana, no campo

da saúde, temos o eletrocardiograma, a quimioterapia, a penicilina, o microscópio

eletrônico, a vacina contra a febre amarela, o fator Rh do sangue, a máquina de

diálise, James Watson e Francis Crick decifram a estrutura do DNA, a primeira

vacina eficiente contra a pólio, o primeiro transplante de rins, o coração e o marca-

passo artificial implantável, o primeiro transplante cardíaco bem-sucedido, o

3Dados extraídos do artigo “60 anos do fim da Segunda Guerra Mundial”, disponível em

http://educaterra.terra.com.br/vizentini/artigos/2005/05/18/000.htm> Acesso em 20Junho2006. 4O Anexo I do presente trabalho apresenta um rol exemplificativo, jamais taxativo, das invenções e

descobertas do Século XX, o qual foi extraído de : http://www.felipex.com.br/invenções01.htm.

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desenvolvimento da tomografia computadorizada, o aparelho de ultrassom, o

primeiro bebê de proveta, uma bactéria que produz insulina para diabéticos, dentre

outras; já no sentido inverso da vida, no campo da tecnologia voltada para a

destruição, podemos citar: o tanque de guerra e a primeira explosão de uma bomba

atômica.

Afastando-se destes dois campos opostos, verificam-se algumas invenções e

descobertas, que em campos diversificados, geraram grandes transformações, tais

como: a teoria da relatividade, a invenção do avião, - apesar de algumas opiniões

contrárias, - Henry Ford cria a primeira linha de montagem industrial, a divisão

artificial de um átomo, o primeiro vôo de um avião a jato, a criação do helicóptero, o

primeiro computador eletrônico, o transistor, a tecnologia de TV a cabo, a fibra ótica,

o primeiro satélite artificial, o Sputnik, a fotocópia, o primeiro circuito integrado, o raio

laser, o modem que liga o computador ao telefone, a chegada do homem à Lua, a

Internet, o computador pessoal (PC), o primeiro ônibus espacial a Microsoft lança o

Windows, sistema operacional que passa a ser adotado na maioria dos

computadores do mundo, dentre outras.

Um destaque especial para a descoberta da estrutura do DNA: Há 53 anos, no dia 7

de março de 1953, no laboratório Cavendish, na Inglaterra, Francis Crick e James

Watson concluíram que a molécula do DNA tem a estrutura de uma dupla hélice,

uma descoberta que daria novos rumos à ciência. A partir de então, a biologia

molecular tornou-se, de fato, uma ciência que hoje, com meio século de avanços,

traz à cena a transgênese, a genômica e a possibilidade da clonagem reprodutiva5.

Guerra fria e a divisão do mundo em dois grandes blocos

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, as potências Aliadas entregaram parte do

território alemão à Polônia e à URSS. O restante, que hoje corresponde à nova

Alemanha, foi dividido em quatro zonas de ocupação temporária (americana,

inglesa, francesa e soviética), o mesmo ocorrendo com Berlim, que ficava encravada

5Extraído da reportagem: A descoberta da estrutura do DNA.. Disponível em http://www.comciencia.br

, acesso em 15/05/06.

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no centro da zona soviética - que representava a sede do regime nazista, - foi

loteada em quatro partes, sendo que a maior, do lado oriental passou a ser

administrada pela URSS, enquanto que França, Inglaterra e Estados Unidos

passaram a administrar o lado ocidental.

Em 1949 as três zonas ocidentais fundiram-se, dando origem à República Federal

da Alemanha (RFA, capitalista, 60 milhões de habitantes), enquanto no leste era

criada a República Democrática Alemã (RDA ou DDR, socialista, 17 milhões de

habitantes). As tropas de ocupação aliadas permaneceram, sendo que Berlim

ocidental ficava encravada na RDA, com suas fronteiras abertas, bastando

atravessar a rua.

Muitas pessoas moravam na zona oriental de Berlim e trabalhavam na ocidental. O

governo socialista sempre desejou fechar a fronteira, sendo que em 1961 após uma

série de negociações entre Kennedy e Krushov que não lograram êxito, a RDA foi

autorizada a construir um muro, isolando a parte ocidental da cidade, que somente

teria acesso por três corredores rodos-ferroviários e aéreos com a RFA.

O muro - de 3,5 m de altura, por uma extensão de 145 km, - selou a divisão do

mundo em dois grandes blocos: o capitalismo e o comunismo. Tal obra de

engenharia deteve a sangria demográfica da RDA, cuja economia avançou

rapidamente nos anos 1960 e 1970, atingindo o padrão sócio-econômico mais alto

de todos os países socialistas.

Iniciava-se então uma fase denominada de “guerra-fria”, onde as duas potências

mundiais passaram a investir altas cifras em busca das melhores tecnologias,

especialmente aquelas voltadas para aumentar seus respectivos poderios bélicos.

No final da década de 1980, depois de tais potências terem protagonizado algumas

guerras contra outras nações, mas nunca entre ambas, tais como a Guerra do

Afeganistão com a participação da Rússia e a guerra do Vietnã, com a participação

desastrosa dos Estados Unidos da América, só para citar uma de cada, os líderes

da época, - Ronald Reegan, sucedido por George Bush de um lado e Mikhail

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Gorbachoev do outro, - iniciaram conversações com vistas a diminuir a corrida

armamentista.

O despertar para uma nova ordem mundial

A queda do Muro de Berlim e o fim da guerra fria

Até chegar-se no dia 09 de novembro de 1989, muitos fatores contribuíram para

viabilizar aquele ato simbólico, ou seja, o momento em que o mundo assistiu uma

das maiores e mais aguardadas manifestações de repúdio ao símbolo da separação

de um povo, por motivação ideológica: a queda do muro de Berlim.

Sem dúvida alguma, que independentemente das contribuições que as lideranças

que simbolizam os dois regimes da época: capitalismo e comunismo, mais

especificamente os dirigentes dos EUA e da URSS, não se pode olvidar da

fundamental participação do Papa João Paulo II, que muitos o intitulam como o

“Papa peregrino da paz”.

Sua origem polonesa facilitou os primeiros movimentos de apoio para que o

sindicato Solidariedade chegasse ao poder na Polônia. É claro que motivos de

ordem econômica também contribuíram, talvez de forma concomitante com a

participação de João Paulo II, para que fosse desencadeado um processo de

rompimento com o então regime que reinava na Europa Oriental e URSS.

Mas tudo começou com a queda do muro. Bastou a população de Berlim Oriental,

escutar uma notícia que dava conta da possibilidade de permissão gradativa de

passagem para o lado ocidental, para que milhares de “alemães orientais”

avançassem contra as cancelas localizadas no famoso portão de Brandemburgo. Os

guardas soviéticos, atônitos, não esboçaram reação e o início da queda do muro de

Berlim foi comemorado por grande parte do mundo livre ocidental.

Terminava assim a guerra fria e, vários analistas viram neste conjunto de

acontecimentos a vitória dos Estados Unidos da América, introduzindo a

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unipolaridade, com a queda das ditaduras, a abertura das economias e a

inauguração de uma nova era marcada pela paz, democracia e prosperidade, que o

Presidente George Bush denominou de “Nova Ordem Mundial”, durante o encontro

de Malta com Gorbatchov em dezembro de 19896.

Retrospectiva histórica – 1989 a 1999

Uma significativa parcela de estudiosos, considerada o período pós 1989 como o

marco de uma nova era. Uma nova ordem mundial passou a estabelecer-se.

Fazendo-se uma retrospectiva do período compreendido entre 1989 a 19997, alguns

acontecimentos merecem destaque, tanto pelo significado histórico como pelo efeito

gerado, onde uns tiveram abrangência regional, enquanto que outros ganharam

alcance e importância mundial.

Começa-se pelo final dos anos 80, mais especificamente o ano de 1989, quando de

início, o republicano George Bush assume a presidência dos Estados Unidos, Carlos

Menem é eleito presidente da Argentina, o Solidariedade vence eleições na Polônia,

formando o primeiro governo não comunista, a Hungria estabelece eleições livres e

reforma da Constituição, dentre outros, mas talvez o mais simbólico e ao mesmo

tempo significativo ato foi a derrubada do muro de Berlim, em novembro de 1989, já

mencionado anteriormente. Foi em última análise, o rompimento e o repúdio ao

modelo comunista. A partir deste ato, desencadeou-se uma série de outras

iniciativas que tinham por objetivo, além da mudança do regime, a opção por formas

democráticas de governo, banindo-se uma série de ditaduras até então existentes.

No Brasil, foi eleito presidente Fernando Collor, constituindo-se no primeiro

mandatário eleito democraticamente após o regime militar.

6 VIZENTINI, Paulo Fagundes. A nova ordem global. Relações internacionais do século XX.

Disponível em http://educaterra.terra.com.br/vizentini/livro/index.htm. Acesso em 22Maio2006. 7 O Anexo II do presente trabalho apresenta o destaque dos principais acontecimentos ocorridos no

período de 1989 até 1999, que para muitos se encaixa como o marco de uma nova ordem mundial, o qual foi adaptado do livro de VIZENTINI, Paulo Fagundes. Disponível em http://educaterra.terra.com.br/vizentini/livro/livro_05.htm. Acesso em 30Mai2006.

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Nos anos subseqüentes o mundo acompanhou atentamente uma série de fatos

importantes, os quais estão listados no Anexo II do presente trabalho, no entanto

cabe referenciar alguns, pela sua importância histórica.

Em 1990, houve a reunificação da Alemanha e teve início a Guerra do Golfo; em

1991, houve a criação oficial do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) e a Criação

da Comunidade de Estados Independentes com 12 ex-Repúblicas Soviéticas, pondo

fim a URSS; em 1992, o Acordo de Maastricht transforma a CE em União Européia

(UE) e o democrata Bill Clinton é eleito presidente dos Estados Unidos; em 1993, foi

criada a Organização Mundial de Comércio (OMC); em 1994, Entrada em vigor do

Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA), eleição de Nelson

Mandela na África do Sul e de Fernando Henrique no Brasil; em 1995, eleição de

Jacques Chirac na França e assinatura do Acordo de Cooperação Inter-regional UE-

MERCOSUL; em 1996, Boris Ieltsin é reeleito presidente da Rússia e os Talibãs

afegãos conquistam Kabul e implantam regime fundamentalista; em 1997, eleição do

trabalhista Blair põe fim à era conservadora na Grã-Bretanha e países latino-

americanos rejeitam criação da ALCA tal como proposta pelos EUA; em 1998, o

Papa João Paulo II, em sua cruzada pela resolução dos problemas da humanidade,

visita Cuba e condena o bloqueio imposto pelos EUA e em 1999, ocorreu a entrada

em vigor da moeda única europeia, o Euro, enquanto que no Brasil houve crise

financeira e maxidesvalorização do Real.

Verifica-se também neste período, que países que até então suportavam uma

coexistência de diversos interesses em nome de um suposto ideal, optaram pela

volta ao antigo status quo, como por exemplo o que ocorreu com a URSS e com a

Iugoslávia, sendo que a última dividiu-se em diversas nações, - não sem passar por

período de intensa beligerância – onde recentemente, uma dessas nações que

ainda mantinha a união de povos diferentes, Sérvia e Montenegro, o lado

montenegrino decidiu tornar-se independente, gerando uma situação ao menos

inusitada, pois em plena Copa do Mundo de Futebol, têm-se uma equipe

representando dois países.

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Os grandes blocos econômicos

A partir da segunda metade do século XX, surgiram novas modalidades de

parcerias, especialmente no campo econômico, as quais logo foram denominadas

de “blocos econômicos”.

A título ilustrativo, reproduz-se o Mapa-múndi8 com a abrangência dos blocos:

O Ministério da Fazenda apresenta em seu site, importantes informações sobre os

Blocos Econômicos da atualidade, o que possibilita uma melhor compreensão da

divisão do mundo com base nos interesses regionais.9

8 Mapa disponível em http://www.esaf.fazenda.gov.br/parcerias/ue/cedoc-ue/bloco-economico.html.

9 ALADI (Associação Latino-Americana de Integração) Criada em 12 de agosto de 1980 pelo Tratado

de Montevidéu. São Países-Membros da ALADI: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, México, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela. ALCA (Área de Livre Comércio das Américas) Uma idéia lançada pelos Estados Unidos, surge em 1994, durante a realização da Cúpula das Américas. ANZCERTA - Criado em 1983, tornou-se o principal instrumento de administração das relações econômicas entre Austrália e Nova Zelândia. APEC - Organismo intergovernamental para consulta e cooperação econômica, na verdade constitui-se em um bloco econômico para promover a abertura de mercados entre vinte países, com Hong Kong representando a China. São Países-Membros da APEC: Austrália, Brunei, Darussalam, Canadá, Indonésia, Japão, Malásia, Nova Zelândia, Filipinas, Cingapura, Coréia do Sul, Tailândia e Estados Unidos da América, desde 1989; China, Hong Kong (China), Taiwan, desde 1991; México, Papua Nova Guiné, desde 1993; Chile, a partir de 1994; e Peru, Rússia e Vietnã, a partir 1998. ASEAN - Surgiu em 1967, liderada pela Tailândia, com o objetivo de assegurar a estabilidade política e de acelerar o processo de desenvolvimento da região. São Países-Membros da ASEAN: Indonésia, Malásia, Filipinas, Cingapura e Tailândia, desde 1967; Brunei, a partir de 1984; Vietnã desde 1985; Mianmar e Laos a partir de 1997 e Camboja desde 1999. CARICOM - É um bloco de cooperação econômica e política, criado em 1973, formado por quatorze países e quatro territórios da região caribenha. São Países-Membros do CARICOM: Antigüa e Barbuda, Bahamas, Barbados, Belize, Dominica, Granada, Guiana, Haiti, Jamaica, Montserrat, Santa Lúcia, São Cristóvão e Neves, São Vicente e Granadinas, Suriname e Trinidad e Tobago.

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Cabe ressaltar que a velocidade com que as mudanças acontecem na atualidade

afeta até mesmo as informações contidas num singelo trabalho que ora está sendo

desenvolvido, pois com relação aos Blocos Econômicos, pelo menos duas

informações devem ser acrescentadas aos dados acima elencados. A primeira se

refere ao Mercosul, uma vez que desde o dia 24 de maio de 2006, a Venezuela

passou a fazer parte deste bloco, como o mais novo Estado-Membro. Já a segunda

se refere ao recente desfazimento de uma novel união, pois a Sérvia e Montenegro,

que se tornaram independente ao desmembrarem-se da antiga Iugoslávia no início

dos anos noventa, resolveram, por iniciativa dos montenegrinos, mais uma vez

separarem-se, aumentando assim mais um país que passará a fazer parte da União

Européia e da nova geografia mundial.

CEI – No dia 08 de dezembro de 91, os presidentes das repúblicas da Rússia, Ucrânia e Bielo-Rússia, reunidos na cidade de Brest, criaram a Comunidade de Estados Independentes (CEI), decretando o fim da União Soviética. Na seqüência, no dia 21 de dezembro, os líderes de 11 das 15 repúblicas soviéticas reuniram-se em Alma-Ata, capital do Cazaquistão, para referendar a decisão da Rússia, Ucrânia e Bielo-Rússia e oficializar a criação da Comunidade de Estados Independentes e o fim da União Soviética. COMUNIDADE ANDINA (CAN) é uma organização sub-regional com personalidade jurídica internacional composta por: Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela. EFTA - Foi constituída pela Convenção de Estocolmo, assinada em 04 de janeiro de 1960, tendo como primeiros parceiros Áustria, Dinamarca, Noruega, Portugal, Suécia, Suíça e Reino Unido (Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte). MCCA Surgiu em 1960 na tentativa de promover a paz na região, afetada por graves conflitos bélicos. Em 4 de junho de 1961 foi assinado o Tratado de Integração Centro-Americana com o objetivo de criar um mercado comum nessa região. São Países-Membros do MCCA: Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua. MERCOSUL O Tratado de Assunção (26/03/1991) e o Protocolo de Ouro Preto (17/12/1994) criaram o Mercado Comum do Sul ou MERCOSUL, uma organização internacional formada por quatro países membros, Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai e dois Associados, Bolívia (Tratado assinado em 28/02/1997) e Chile (Tratado assinado em 25/06/1996), na região denominada Cone Sul do Continente Americano. NAFTA - Constitui-se em um instrumento de integração das economias dos EUA, do Canadá e do México. O NAFTA (North America Free Trade Agreement) foi iniciado em 1988. SADC - Foi criada em 1992, para incentivar as relações comerciais entre seus 14 países membros. São Países-Membros da SADC: África do Sul, Angola, Botsuana, Lesoto, Malavi, Maurício, Moçambique, Namíbia, República Democrática do Congo, Seicheles, Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbábue. UNIÃO EUROPÉIA A União Européia representa o estágio mais avançado do processo de formação de blocos econômicos no contexto da globalização. Originada da Comunidade Econômica Européia (CEE), fundada em 1957, pelo Tratado de Roma, a União Européia (UE) é o segundo maior bloco econômico do mundo em termos de PIB: 8 trilhões de dólares. Formado por 15 países da Europa Ocidental, sua população é estimada em 374 milhões de habitantes. No momento, cuida-se da incorporação de mais 11 países do Leste Europeu à União Européia. (Disponível em http://www.esaf.fazenda.gov.br/parcerias/ue/cedoc-ue/bloco-economico.html. Acesso em 15Maio2006.)

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Principais características da sociedade pós-industrial10

A Globalização

O italiano De Masi11 oferece um rol de palavras-chaves para caracterizar a

sociedade pós-industrial. Começa pela globalização. Para ele, o efeito da

globalização, assemelha-se ao resultado do impacto de uma pedra num lago,

quando se obtém uma série de ondas concêntricas que se propagam, de forma

contínua, por toda a superfície aquática. Graças ao progresso tecnológico, o nosso

planeta tornou-se hoje como um pequeno lago, onde cada onda atinge e envolve

rapidamente até os cantos mais remotos (DE MASI, 2000, p. 140).

A miniaturização dos componentes e a melhora dos transportes incrementam uma

troca permanente, pela qual cada objeto, contém partes que provêm de vários

continentes. Como exemplo pode-se mencionar que um carro da Fiat contém pelo

menos 12 mil peças, das quais só duas mil são produzidas pela Fiat. Outras duas

mil são compradas na Itália e as oito mil peças restantes são compradas em outros

países da Europa e fora dela. (DE MASI, 2000, p. 141).

Mas globalização não é um fenômeno recente. Nessa linha de ideias, Arion Sayão

Romita apresenta as seguintes considerações:

A primeira globalização foi a do Império Romano, que findou a feudalização política e comercial. A segunda globalização coincide com as grandes descobertas dos séculos XIV e XV, que propiciaram grande surto do comércio internacional, freqüentemente interrompido pelas guerras religiosas e pelas lutas dinásticas das monarquias européias. A terceira globalização aparece no século XIX, após as guerras napoleônicas e determina a supremacia do liberalismo sobre o mercantilismo, quando coincidentemente começa a prosperar a democracia política. A quarta globalização, na qual nos encontramos atualmente, surge depois da Segunda Guerra Mundial, mas só atinge o apogeu com o colapso do regime socialista, ocorrido em 1989/1991”. (apud CHIARELLI, 2004, p. 75 e 76)

10

Conforme sugestão oferecida por DE MASI, Domenico. O ócio criativo. Tradução de Lea Manzi. 4. ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2000, p. 140-169. 11

Os parágrafos seguintes, que tratam das características da sociedade pós-industrial, decorrem de sugestão extraída do estudo da obra: DE MASI, Domenico. O ócio criativo. Tradução de Lea Manzi. 4. ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2000.

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Já Voltaire Shilling (2003), divide os períodos de globalização em três, conforme

quadro abaixo, no entanto, deixa de considerar a expansão do Império Romano,

como mencionado anteriormente.

Períodos da Globalização

Data Período Caracterização

1450-1850 Primeira fase Expansionismo mercantilista

1850-1950 Segunda fase Industrial-imperialista-colonialista

Pós-1989 Globalização recente Cibernética-tecnológica-associativa

No entanto, o processo de globalização atual, não abrange todo o mundo. Chiarelli

(2004, p. 90 e 91) sintetiza o seu pensamento sobre o que chama de “repartição

geo-econômica desigual, de inquietantes e inequívocas conseqüências sócio-

políticas no mapa-múndi” da seguinte forma:

a) Países que já são ricos e, com aceleração continuada do processo de globalização, o serão muito mais, como os Estados Unidos, o Canadá, o Japão, e, especialmente, a elite econômico-tecnológica da União Européia. E são poucos; b) Países (ou, quem sabe, sociedades) que não são ricas mas aspiram sê-lo, seguindo os padrões – com suas limitações – e tratando de ajustar-se à modelagem que a Globalização e o Primeiro mundo propõem (mesmo com focos internos de reação, desajustes e exacerbadas críticas de mutável incidência: ora mais fortes, ora mais débeis), como o Brasil, a Índia, a nova Rússia, os “tigres” asiáticos (particularmente, Coréia do Sul, Malásia etc.). E são alguns;

c) Países (ou sociedades), tidos na linguagem de seus críticos como radicais (xiitas, bárbaros ou primitivos), e qualificados como anacrônicos, no enfoque da civilização judaico-cristã-ocidental; não privilegiam meros ou valiosos avanços tecnológicos e ou aberturas externas de relacionamento (processos de intercâmbio e ou integração), não admitindo mudanças no seu status quo cultural, religioso, político, ideológico e mesmo econômico, como o Afeganistão dos talibãs, Sudão, Mianmar, Irã e, em certos aspectos, Iraque, Líbia, Coréia do Norte etc. E são raros; d) Países (ou sociedades) que, dado a sua mui desfavorável colocação no ranking da informação, dramático pauperismo, absoluto atraso tecnológico, total inabilitação técnica, primitivismo comportamental da sociedade – ainda o oscilando entre o clã e a tribo – vivem tempos remotos, num estágio de ruralização primeva: são coletividades incapazes de se quer querer, porque desconhecem. A ignorância coletiva não lhes enseja a perspectiva de ambicionar. Em síntese, não querem, porque não sabem. E são muitos. Infelizmente, a maioria;

e) País (ou sociedade) em mutação acelerada, representando 20% da população mundial. Emergiu de milenares transformações históricas, esparramando-se por interminável território. Vindo de revolução sangrenta, criou estratificada estrutura sóciopolítico-econômica, fechada e estatizante,

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passando, agora, por mudança, que altera, acelerando, sua genética econômica (com reflexos mundiais) e lentíssimo – quase imperceptível – câmbio político, deixando, em todos, sérias interrogações sobre os futuros eixos universais do poder. Fala-se da China E é única.

Neste contexto, o nosso Brasil encontra-se no que poderia se chamar de Segundo

Escalão, pois apesar das gritantes diferenças sociais e econômicas verificadas nas

diferentes regiões do país, temos um enorme potencial, principalmente em recursos

naturais, expansão agrícola, além de possuirmos um amplo mercado interno, o que

leva a crer numa possível inserção entre os países mais desenvolvidos, ao menos

numa expectativa de longo prazo.

O tempo livre

O tempo sem trabalho ocupa um espaço cada vez mais central na vida humana. É

preciso, então, reprojetar a família, a escola, a vida, em função não só do trabalho,

mas também do tempo livre, de modo que ele não degenere em dissipação e

agressividade, mas se resolva em convivência pacífica e ócio criativo (DE MASI,

2003, p. 25).

Intelectualização

Cada vez mais difundida está a consciência de que as atividades cerebrais

predominam em relação às manuais. Por isso investe-se na formação dos filhos, no

estudo de várias línguas, em viagens ao exterior, por exemplo (p. 149). Entre as

atividades intelectuais a mais apreciada é a criatividade, que é um outro elemento

distintivo, um outro valor central da sociedade pós-industrial. (p. 149)

Criatividade e Estética

No entender de De Masi (p. 280), “à medida em que as empresas crescem tendem a

se burocratizar”, sendo assim “a luta entre criativos e burocráticos se tornará mais

acirrada”. Tal conflito também acontecerá no interior de cada um de nós, pois no

plano psicológico, existe a parte criativa e burocrática.

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De um lado, os burocratas têm medo da inovação, do outro, os criativos têm medo

do imobilismo, sugerindo que tais posições sejam inconciliáveis. Mas no final,

“vencerão os criativos, porque a sociedade pós-industrial se alimenta de invenções,

não tem outra saída, premia a iniciativa e joga fora do mercado o imobilismo”(p.

280).

No que se refere à estética, segundo De Masi (2000), ela será o diferencial para a

escolha dos objetos, pois estes se apresentam tecnologicamente mais avançados,

mais potentes, mais rápidos e mais precisos do que é o necessário para o usuário

comum. Da mesma forma os serviços serão escolhidos de acordo com o

refinamento e a cortesia que oferecem.

Sendo assim, “quem se dedicar a profissões ligadas à estética (design, arte,

cenografia, moda, arquitetura de exteriores e de interiores, computação gráfica, etc)

talvez será mais apreciado e gratificado do que quem se dedicar a atividades ligadas

à política, à administração ou à ciência”(p. 283).

Subjetividade

Ao contrário da sociedade industrial, que fundou seu sistema em grandes

organizações coletivas: fábrica, partidos, sindicatos e instituições, a sociedade pós-

industrial reivindica, decisivamente, o papel fundamental do sujeito e leva ao fim dos

modismos, a uma desmassificação. Desta forma, a motivação individual e o

consenso das massas se tornará bem mais útil do que o controle tanto de uns como

dos outros (p. 283).

A possibilidade de escolher entre produtos infinitamente variados alimenta o desejo,

que é muito humano, de se sentir diferente dos outros, em vez de igual. Na

sociedade industrial usavam-se sapatos de uma determinada marca para se sentir

iguais aos colegas, enquanto que na sociedade pós-industrial, usa-se tamancos

justamente para se diferenciar (DE MASI, 2000).

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Emotividade

A sociedade industrial fundava-se na razão, enquanto que a sociedade pós-industrial

aparecem dois valores emergentes que são a emotividade e a feminilidade. Hoje o

racional está conquistado e então se pode voltar a valorizar também a esfera

emotiva. Emoção, fantasia, racionalidade e concretude são os ingredientes da

criatividade. Para ser criativo é essencial o cruzamento entre racionalidade e

emotividade (feminilidade). O resultado é uma sociedade de tipo andrógino. (p. 152)

Androginia

No entender de De Masi, os homens continuam exercendo a grande maioria dos

papéis dirigentes. Os homens em seu espaço “reservado” ficam de manhã à noite

inclusive em horas extras, mesmo sem que essas sejam necessárias e sem que

sejam remuneradas por elas, para não terem que voltar para casa e se rebaixarem

fazendo serviços domésticos ou cuidar dos filhos. É o que o feminismo chamou de

“separatismo machista”: seja no estádio ou no trabalho, os homens se concebem

como uma comunidade “pura e superior”.

Fazendo um paralelo com a antiguidade e o momento atual, De Masi (p. 154) afirma

que “na Atenas de Péricles, o separatismo elitista dos homens desembocava

frequentemente em relações homossexuais”. Hoje isto continua acontecendo, mas

uma outra forma de homossexualismo, existe uma preferência, generalizada entre

os executivos, de trabalhar só com homens.

O autor ainda diz que as mulheres são cúmplices desta segregação homossexual e

cita uma frase de uma estudiosa americana para justificar sua posição: “O machismo

é como a hemofilia: quem padece da doença são os homens, mas quem transmite

são as mulheres”(p. 155).

O sonho de uma sociedade andrógina não marcada por papéis hierárquicos e

rígidos para homens e mulheres, já está se realizando segundo o autor, citando ao

menos dois motivos: o primeiro é que a mulher pode ter filho sem ter um marido,

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enquanto que o contrário ainda não ocorre; o segundo, é que as tarefas cansativas e

repetitivas, hoje, são feitas por máquinas, e aos humanos ficam as atividades

flexíveis, intuitivas e estéticas. Atividades estas para as quais as mulheres são mais

bem preparadas pois os homens foram educados para agirem de forma racional,

rígida e programada (p. 156).

Ressalta o autor que num primeiro momento a androginia pode ser confundida com

a homossexualidade, mas não é disso que se trata. De Masi, utiliza deste termo para

classificar a sociedade atual, mas no sentido de dizer que os homens estão

começando a adotar muitas características femininas, como cuidar do corpo,

demonstrar maior ternura, usar alegremente cores vistosas no modo de vestir, cuidar

mais da casa, por exemplo, enquanto que a mulher, por sua vez, começa a adquirir

desenvoltura na vida pública, consciência de que têm direito ao acesso às poltronas

do poder e à justa pretensão de que também os homens participem no cuidado dos

filhos. (p. 157)

A desestruturação do tempo e do espaço

Na sociedade industrial, o tempo era uma mania, uma neurose. O espaço também

em grande parte obrigatório. Todas as ações do homem, até mesmo os

pensamentos, possuíam tempos e lugares específicos: o amor, de noite em casa; o

trabalho, de manhã no escritório; as compras, num determinado bairro; a diversão,

noutro e assim por diante. Com o avanço tecnológico, por exemplo, com o advento

do fax, do celular, correio eletrônico, Internet, a secretária eletrônica, “nós podemos

fazer tudo em todo e qualquer lugar”. (p. 159)

Qualidade de Vida

Trata-se de outro valor fundamental na sociedade pós-industrial, a qual era tratada

como uma espécie de ‘pecado’. À visão do mundo do sacrifício contrapõe-se a do

bem-viver, até porque, segundo Luciano De Crescenço ‘se vive uma vez só’, sendo

assim todos querem viver mais e melhor. (p. 160)

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Nomadismo

Por um lado a tecnologia permite que se trabalhe de roupão, usando telefone, faz e

correio eletrônico, por outro as exigências de estudos especializados, de trabalho,

de cultura e de lazer impõem cada vez mais frequentemente a mudança de cidade,

de país, de um continente a outro.

A sociedade pós-industrial é fundada no deslocamento e na reunião de pessoas,

mercadorias e informações provenientes dos lugares mais disparatados. “Até no

frango que comemos há mais informática do que carne”. (p. 166) Portanto,

“superada a secular vida sedentária dos nossos antepassados, só nos resta

aproveitar e dar sentido ao nosso destino de nômades pós-industriais, que à viagem

física soubemos ainda acrescentar a viagem virtual na Internet”. (p. 168)

Criatividade

Mas o que é a criatividade? Segundo De Masi (2000, p. 300), “consiste em um

processo mental e prático, ainda bastante misterioso, graças ao qual uma só pessoa

ou um grupo, depois de ter pensado algumas ideias novas e fantasiosas, consegue

também realizá-las concretamente”. Para este autor, não basta ter idéias, mas

saber realizá-las: é unir fantasia e concretude. É possível aprender-se a ser

criativo? Na visão do autor, isto poderá ocorrer da seguinte forma:

Educar um jovem para a criatividade significa ajudá-lo a identificar sua vocação autêntica, ensiná-lo a escolher os parceiros adequados, a encontrar ou criar um contexto mais propício à criatividade, a descobrir formas de explorar os vários aspectos do problema que o preocupa, de fazer com que sua mente fique relaxada e de como estimulá-la até que ela dê à luz uma idéia justa. (p. 304)

Sobretudo, continua o autor, significa educá-lo para não temer o fluir incessante das

inovações: “É na mudança que as coisas repousam” (HERÁCLITO, apud DE MASI,

2000, p. 304)

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O Trabalho na sociedade pós-industrial

O trabalho, que já teve um viés de sacrifício, quando era uma espécie de sentença

condenatória em razão do trabalho escravo, paulatinamente foi ganhando maior

importância, sendo considerado pelos liberais como elemento na disputa mercantil,

ao passo que para a teoria marxista era o elemento indispensável para a revolução

(CHIARELLI, 2006). Evoluindo-se até a sociedade industrial, o sentido do trabalho,

na visão de De Masi (2000, p. 51), pode ser colocado nos seguintes termos:

Para os católicos, o trabalho é uma sentença condenatória, como reafirmará a Rerum Novarum, em 1891. Para os liberais, é uma disputa mercantil. Para Marx, é a única possibilidade de redenção junto com a revolução, e por isso é um direito a ser conquistado. Somente Taylor, no plano prático, e Lafargue, no plano teórico, consideram o trabalho um mal que deve ser reduzido ao mínimo, ou evitado.

Já para Marx (1975, p. 150), o trabalho tem um significado maior na vida humana,

que não se limita a ser meio de prover a subsistência. O trabalho é ação objetiva que

transforma o mundo, como possibilidade de hominização.

[...] Quando o trabalhador chega ao mercado para vender sua força de trabalho, é imensa a distância histórica que medeia entre sua condição e a do homem primitivo com sua forma ainda instintiva de trabalho. Pressupomos o trabalho sob forma exclusivamente humana. Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha supera mais de um arquiteto ao construir sua colméia. Mas o que distingue o pior arquiteto da melhor abelha é que ele figura na mente sua construção antes de transformá-la em realidade. No fim do processo do trabalho aparece um resultado que já existia antes idealmente na imaginação do trabalhador.

Sobre o trabalho na sociedade pós-industrial, De Masi (2000) utiliza a teoria de

Zsuzsa Hegedus sobre a distribuição internacional do trabalho. Segundo esta teoria,

o ciclo econômico teria quatro fases: a ideação, onde os grandes laboratórios fariam

pesquisa; a decisão, onde se determinaria em quais invenções investir; a produção

propriamente dita; e o consumo, compreendendo a distribuição e o uso.

De Masi (2000, p. 126) salienta a diferença na fase de produção "que era a mais

importante na fase industrial e que agora vem sendo, progressivamente, deslocada

para o terceiro mundo". E o consumo, segundo o autor, passaria pela colonização do

mercado.

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Prosseguindo na exploração do pensamento de De Masi (1999), verifica-se que

enquanto na sociedade industrial, os recursos principais são os meios de produção,

matérias-primas, patentes e produtividade, na sociedade pós-industrial tais recursos

são a inteligência, o conhecimento, a criatividade, as informações, os laboratórios

científicos e culturais. No tocante à estrutura funcional, na primeira estariam os

operários, os engenheiros, os empresários, os funcionários de escritório, enquanto

que na segunda estariam os profissionais liberais, os técnicos, os cientistas, a

indústria do lazer e a tecno-estrutura. Já no que se refere aos atores sociais

centrais, na sociedade industrial seriam os empresários, os trabalhadores e os

sindicatos, sendo que na sociedade pós-industrial estariam os tecnos, as mulheres,

os cientistas, os administradores da informação e os intelectuais.

A ideia de trabalho na sociedade pós-industrial não é a mesma da industrial. Cresce

a preocupação e busca da realização pessoal no trabalho, de saúde, do equilíbrio

entre tempo dedicado ao trabalho e à família e uma valorização das relações sociais

entendendo que o tempo livre também é produtivo, porque nele se pode criar. Os

valores emergentes se reportam à intelectualização da atividade humana pela

evolução tecnológica, confiança e ética devido ao crescimento do setor de serviços

que requerem precisão, qualidade e confiabilidade e atendimento diferenciado.

Para Gifford e Elizabeth Pinchot (1994), o trabalho está sofrendo e sofrerá

mudanças significativas, que ilustrativamente são colocadas no quadro abaixo:

As Mudanças no Trabalho:

Atual Futuro

De trabalho com conhecimentos técnicos. Tarefas repetitivas e sem sentido.

Para a inovação e assistência.

De trabalho individual e baseado na função.

Para trabalho em equipes e baseado em projetos.

De qualificação única. Para multiqualificação. Do poder dos chefes e da coordenação de cima para baixo.

Para o poder dos clientes e a coordenação entre os colegas.

Fonte: adaptado de PINCHOT, Gifford; PINCHOT, Elizabeth. O Poder das pessoas: como utilizar o poder de todos dentro da empresa para conquista de mercado. Rio de Janeiro: Campus, 1994.

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Estas mudanças no trabalho, em princípio, criarão uma zona de desconforto, como

toda mudança. Passarão a exigir das pessoas mudanças em seus perfis

profissionais, como maior grau de escolaridade e desenvolvimento de novas

habilidades, podendo vir a contribuir para a qualidade de vida no trabalho, uma vez

que pessoas com maior grau de escolaridade, em tese, são mais exigentes com

relação a este assunto.

No que se refere à organização do trabalho, em princípio, primava pela busca da

eficiência, pelo lucro e custos baixos, sem considerar prioritariamente as

necessidades físicas ou até mesmo psicológicas do homem. O modelo de

produtividade do começo do século e que perdura de certa forma até hoje, privilegia

o capital em desfavor dos seres humanos.

Algumas organizações, no entanto, conseguiram romper com este modelo,

invertendo a situação e adaptando as máquinas e processos de trabalho ao homem.

A preocupação com as condições de trabalho como ruído, iluminação, condições

sanitárias e embelezamento do espaço da fábrica, cresceu fazendo com que o poder

público fiscalizasse as indústrias.

As linhas de montagem tornaram os ciclos de trabalho muito curto, e faziam com

que o operário repetisse várias vezes às mesmas tarefas. É claro, que a exaustiva

repetição causou alguns transtornos como a fadiga, monotonia, lesões por esforços

repetitivos e estresse, dentre outros.

Com relação ao emprego na sociedade pós-industrial, cabe parafrasear Rifkin

(1995), ao mesmo tempo concordando com a idéia, de que o emprego de execução

diminui em progressão geométrica, enquanto que a criação cresce em progressão

aritmética.

Pode-se afirmar que a moeda do futuro será o conhecimento, quando a criatividade

e o exercício de atividade mental será muito mais utilizado do que o repetitivo e

exaustivo trabalho braçal, cuja tendência é cada vez maior em ser desempenhado

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por máquinas. Acredito que essa tendência dá sentido a uma famosa frase de Albert

Einstein: "a imaginação é mais importante que o conhecimento".

Perspectivas das Organizações

No que se refere à atividade comercial, chega-se ao momento em que o cliente é o

objetivo mais importante a ser alcançado. Este cliente ou consumidor estará cada

vez mais diante de um número infinito de opções, sendo que o diferencial será o

atendimento que lhe será oferecido. Daí o que se vê na atualidade, onde as grandes

empresas investem largamente em treinamento de vendas e pós-vendas, visando

preparar seus integrantes para cativar o cliente.

Nesta linha de raciocínio constata-se que a clássica estrutura piramidal das

empresas, que se assemelhava à estrutura militar, tende a ser invertida.12 Temos no

topo o dono da empresa ou o presidente, na parte intermediária os gerentes, sendo

que os empregados formam a base. Os empregados olham mais para cima do que

para o cliente, pois estão mais preocupados em cumprir as ordens superiores do

que agradar aquele, que na comparação com a estrutura militar está colocado junto

com o inimigo (fig. 1).

A tendência atual indica que o empregado é, em última análise, o cartão de visitas

da empresa, levando-se em conta que é ele quem se depara com o cliente, – cada

vez mais exigente – com vistas a vender o produto, garantindo que suas verdadeiras

necessidades estejam sendo satisfeitas. O supervisor da linha de frente, por sua

vez, terá que ver os empregados como clientes e se dedicar a identificar e preencher

suas necessidades. E assim por diante, pela pirâmide abaixo. Isso iria requerer que

cada gerente adotasse uma nova atitude, um novo paradigma, reconhecendo que o

papel do líder não é impor regras e dar ordens à camada seguinte. Em vez disso, o

papel do líder é servir. (fig. 2)

12

Ideia extraída de HUNTER, James C. O Monge e o Executivo. Trad. De Maria da Conceição Fornos de Magalhães. 17. ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2004, p. 47-50.

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Antigo Paradigma Novo Paradigma

Cliente

Cliente Inimigo Fig. 1 Fig. 2 ________________________________________________________________________ Fonte: HUNTER, James C. O Monge e o Executivo. Trad. De Maria da Conceição Fornos de Magalhães. 17. ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2004.

Recorrendo-se mais uma vez a De Masi (2000, p. 304), temos que “na empresa pós-

industrial, onde a maioria é composta de trabalhadores intelectuais, a ênfase se

desloca do processo executivo ao ideativo, da substância à forma, do duradouro ao

efêmero, da prática à estética. Ou seja, da aproximação, do pré-científico ao pós-

científico”.

Seguindo nesta linha, ele explica melhor: “significa substituição de uma cultura

(moderna) do sacrifício e da especialização, cuja finalidade era o consumismo, por

uma outra (pós-moderna) do bem-estar e da interdisciplinaridade, cuja finalidade é o

crescimento da subjetividade, da afetividade e da qualidade de trabalho e de vida”.

(DE MASI, 2000, p. 305)

Enfim, a empresa deste período pós-industrial deverá estar preparada para

concepções mais flexíveis, ao invés da rigidez, onde a criatividade substitua a pura e

simples execução, sob pena de sucumbir. (DE MASI, 2000)

Empregados (Associados)

Supervisores

Gerentes Intermediários

Vice-presidente

Presidente

Presidente General

Vice-presidente Coronéis

Gerentes Intermediários Capitães e Tenentes

Supervisores Sargentos

Empregados (Associados) Soldados (tropas)

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E o tempo do ócio?

A obra13 de Domenico De Masi, sugere a possibilidade de uma sociedade vivendo

sob a égide do ócio. Apesar da qualidade do autor e de seu profundo senso de

previsão futurística, cabe ressalvar os excessos de generalidade, e até mesmo

alguns exemplos inapropriados para alguns ambientes, em que o ócio seria

adequado, como por exemplo, o Carnaval brasileiro.

Se considerarmos apenas determinadas pessoas, que em razão da atividade que

executam, tais como, compositores, escritores, pintores e outros ramos ligados à

arte, bem como atividades que requeiram uma significativa parcela de criatividade

para a concretização de seus trabalhos, como àquelas que o próprio De Masi (2000,

p.283) sugere, como por exemplo, design, arte, cenografia, moda, arquitetura de

exteriores e de interiores e computação gráfica, aí sim poder-se-ia falar de um

“tempo de ócio”. Isso é claro, se a referência for com relação ao ócio criativo, pois do

contrário, teríamos apenas o ócio, ou seja, o descanso, a folga, o lazer, dentre

outros sinônimos, e neste caso, o resultado poderia ser danoso, se exagerado,

senão vejamos o pensamento de Leonardo da Vinci14: “O ferro enferruja pela falta de

uso, a água estagnada perde a sua pureza e no frio fica congelada – do mesmo

modo, a ociosidade exaure a vitalidade da mente”.

Mas qual seria então o destino desta sociedade pós-industrial? No meu entender,

apesar da velocidade com que as transformações vêm ocorrendo, o mundo ainda

está longe de ser atingido por completo, por esta nova fase do avanço tecnológico.

Concordo inteiramente com o professor Chiarelli (2004), quando se refere aos

mundo do mundo, pois enquanto alguns países do chamado “primeiro mundo” já

estão experimentando o período pós-industrial, ou pelo menos possuem “manchas

virtuosas [...] com algumas características desta nova fase”, outros ainda nem

conheceram a fase industrial.

13

DE MASI, Domênico. O ócio criativo. Tradução de Lea Manzi. 4. ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2000. 14

Encontrado em: COVEY, Stephen R. Princípios essenciais das pessoas altamente eficazes. Trad. Iva Sofia Gonçalves Lima. Rio de Janeiro: Sextante, 2004, p. 114.

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De qualquer maneira, o trabalho terá que receber maior atenção, tanto por parte do

empregado como do empregador. O primeiro deverá demonstrar maior

comprometimento para com a empresa, visualizando ela como uma espécie de time,

onde a participação individual deverá estar voltada para atingir os objetivos

estabelecidos. De outra banda, deverá igualmente o empregador, incentivar o

empregado, através do reconhecimento, do estímulo à co-gestão, de uma justa

participação nos lucros e, acima de tudo, facilitando para que seja criado melhores

condições no ambiente do trabalho.

Mesmo aqui no nosso Brasil, - que ainda está longe de ser classificado

genericamente como um país industrial, - verificam-se algumas ilhas de

prosperidade, onde já afloram algumas características desta fase da humanidade.

Algumas empresas, já estão investindo significativas quantias com o fito de propiciar

encontros de funcionários, acompanhados de seus respectivos familiares, para

aproximar um pouco mais a família do trabalho e o resultado apresenta-se muito

animador.

Enfim com um novo enfoque nas relações laborais, acredito que será possível criar

melhores condições para que as pessoas, de uma maneira geral, possam aumentar

a auto-estima, buscar maior realização pessoal no trabalho, valorizar as relações

sociais e, sobretudo, distribuir melhor o tempo, inclusive o destinado ao trabalho,

pois o tempo livre também pode se constituir num grande aliado, se utilizado

igualmente de forma livre e descompromissado com resultados imediatos em que o

lucro esteja no primeiro plano.

Conclusão

A guisa de oferecer algumas considerações para a conclusão deste trabalho

associa-se mais uma vez ao pensamento do autor italiano De Masi (2003), para

dizer que dos dois grandes modelos que se defrontaram no século XX, o comunismo

demonstrou saber distribuir a riqueza, mas não saber produzi-la; o capitalismo

demonstrou saber produzi-la mas não saber distribuí-la – nem distribuir

eqüitativamente o trabalho, o poder e o saber. Neste sentido, recolhe-se uma frase

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emblemática, proferida pelo então Presidente da Tchecoslováquia: o comunismo

perdeu, mas o capitalismo não venceu15.

O atual processo de globalização, que a nosso ver afeta muito mais a economia de

mercado do que qualquer outro aspecto, acelera a mudança de paradigmas,

fazendo com que os investimentos sejam apenas virtuais, onde cifras vultuosas são

negociadas, sem no entanto aparecer dinheiro algum. Vale dizer também, que se

trata de um processo inevitável, fazendo com que as nações venham a repensar

valores, como fronteira, soberania, dentre outros.

Já no que se refere aos movimentos de integração, em especial o Mercosul, ao qual

estamos diretamente envolvidos, pode-se afirmar que já gerou algum progresso,

principalmente no campo econômico e até mesmo, facilitou algumas relações

laborais, em especial àquelas que ocorrem nas zonas de fronteiras, envolvendo

trabalhadores de ambos os países, que hoje já podem adentrar por até vinte

quilômetros de um lado para o outro, protegidos pela assinatura de um protocolo

entre os países membros, desde de 2004.

Verifica-se que o nosso mundo está saindo da era unipolar para se tornar um mundo

multipolar. As alianças estabelecidas, os blocos de interesses constituídos e a

própria balança de poder estão sofrendo alterações significantes. É nessa nova

ordem mundial, que o governo brasileiro busca criar uma posição de liderança para

o Brasil, ao estabelecer por exemplo a Aliança Estratégica e Comercial com o

Gigante da Ásia: a China (TANG16, 2005).

A importância dessa aliança reside no fato de que os chineses têm o que a empresa

brasileira necessita, ou seja: 1) capital de custo baixo e de longo prazo em

abundância;

15

Frase proferida pelo então Presidente da Tchecoslováquia, Vaclav Havel, num debate radiofônico com o autor italiano Domenico De Masi, pouco tempo depois da queda do Muro de Berlim. Encontrado in DE MASI, Domenico. O futuro do trabalho. Tradução de Yadyr A. Figueiredo. 7.ed.Rio de Janeiro: José Olímpio, 2003, p. 15. 16

Charles Tang é Presidente binacional da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China e membro do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial.

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2) máquinas de boa qualidade e de custo muito competitivo; 3) experiência de

comércio internacional, que inundou as prateleiras do mundo com o "Made in China".

No que diz respeito ao trabalho, concorda-se com Rifkin (1995, p.313), pois

realmente “estamos entrando em um novo período da História em que as máquinas,

cada vez mais, substituirão o trabalho humano na produção de bens e serviços”,

implicando em um número cada vez mais crescente de pessoas desempregadas,

contribuindo assim para aumentar o já elevado número de pessoas que dependem

diretamente das chamadas “políticas públicas” para terem um mínimo de condições

de subsistência. É claro que nem tudo está perdido, pois a esperança possui

longevidade que só acaba com o ocaso da própria vida, mas acreditar-se que as

novas tecnologias, produtos e serviços que estão surgindo numa velocidade

assustadora, possam abrir oportunidades para atender a demanda da grande massa

de desempregados, requer um exercício no mínimo paradoxal: se cada vez mais a

máquina continuar substituindo o homem, gerando mais desemprego e por

conseqüência, diminuindo o poder aquisitivo, quem vai consumir aquilo que vier a

ser produzido? O certo é que alguma fórmula haverá de ser colocada em prática

para, pelo menos, manter-se um equilíbrio mínimo necessário, com vistas à própria

preservação da nossa civilização.

Quanto ao tipo de organização que está surgindo, não mais alicerçada somente na

volúpia desenfreada do lucro, talvez o pensamento de De Masi possa sugerir

alguma perspectiva positiva, quando afirma que:

o novo desafio que marcará o século XXI é como inventar e difundir uma nova organização, capaz de elevar a qualidade de vida e do trabalho,

fazendo alavanca sobre a força silenciosa do desejo de felicidade(DE MASI 2003, p. 330).

Finalmente, resta outra indagação: que modelo e que tamanho deverá ter o Estado

para enfrentar esta nova era? Arriscando alguns palpites, diria que

independentemente do modelo de Estado ou regime que esteja sendo adotado, o

mínimo deverá continuar sendo oferecido para a população, principalmente para

atender suas necessidades essenciais, como saúde, educação e segurança,

priorizando programas que contemplem a preservação ambiental, buscando-se o tão

decantado “desenvolvimento sustentado” e acima de tudo, estimulando atividades

que possam contribuir para um melhor desempenho criativo, em especial, investindo

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nos primeiros anos de vida das crianças, pois elas terão a dura missão de enfrentar

uma nova realidade, daí a necessidade de ao menos, estarem melhor preparadas

para tal. Uma coisa porém é certa: o trabalho não será substituído por outra coisa

senão pelo próprio trabalho, talvez com outras formas, como o teletrabalho, por

exemplo.

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