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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE DIREITO PERDA DO PODER FAMILIAR OU PÁTRIO PODER, PELO ABANDONO MATERIAL. ELYN SILVESTRE CAMPOS COUTINHO BIGUAÇU, 30 DE MAIO DE 2008.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE DIREITO

PERDA DO PODER FAMILIAR OU PÁTRIO PODER, PELO ABANDONO MATERIAL.

ELYN SILVESTRE CAMPOS COUTINHO BIGUAÇU, 30 DE MAIO DE 2008.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE DIREITO

PERDA DO PODER FAMILIAR OU PÁTRIO PODER, PELO ABANDONO MATERIAL.

ELYN SILVESTRE CAMPOS COUTINHO

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientada: Prof.a MSc. Maria Helena Machado

BIGUAÇU, 30 DE MAIO DE 2008.

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AGRADECIMENTO

Agradeço, primeiramente a Deus, por me dar

sabedoria e coragem em todos os momentos

difíceis da minha vida.

A meus pais, Jorge Luiz Campos e Elizabete

Silvestre Campos, os quais agradeço por tudo o

que sou, e por sempre terem acreditado na minha

capacidade, principalmente nos momentos mais

difíceis, onde nunca deixaram com que eu

esmorecesse, e sempre seguisse em frente.

Ao meu esposo Fernando Vieira Coutinho, por ser

a pessoa maravilhosa que é, pois devo muito a

ele, sempre foi e será para mim um exemplo a ser

seguido, pelo seu esforço, coragem e dinamismo,

com que enfrenta a vida e sua dificuldades.

A minha amada Avó Ely Monteiro Pinto Perruci(in

memoriam), pela ajuda, possibilitando a

realização de um sonho.

Ao tio Zezinho(in memoriam), que de maneira

muito especial colaborou nas horas difíceis.

As minhas irmãs Evelyn e Emelyn, agradeço por

todo incentivo e confiança.

A minha professora Maria Helena Machado, pela

compreensão e confiança depositada em todas as

fases deste trabalho.

Por fim, aos inúmeros amigos que conquistei, ao

decorrer desta jornada, aos quais muitos deles

serei eternamente grata, por tudo o que fizeram, e

contribuíram para que hoje eu chegasse até aqui.

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DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Jorge Luiz Campos e Elizabete

Silvestre Campos e meu esposo Fernando Vieira

Coutinho.

A todos que acreditam em mim, torcem pelo meu

sucesso e se alegram em me ver feliz.

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“Não podemos fazer muito sobre a extensão de

nossas vidas, mas podemos fazer muito sobre a

largura e a profundidade delas.”

Evan Esar

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Biguaçu, 30 de maio de 2007.

Elyn Silvestre Campos Coutinho Graduando

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do

Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduação Elyn Silvestre Campos

Coutinho, sob o título Perda do poder familiar ou pátrio poder, pela carência do

abandono material, foi submetida em __/__/2008 à banca examinadora

composta pelos seguintes professores:

Biguaçu, 30 de maio de 2008.

Prof.a MSc. Maria Helena Machado Orientadora e Presidente da banca

Helena N. Paschoal Pítsica Responsável pelo Núcleo de prática Jurídica

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GLOSSÁRIO Adoção – Ato ou efeito de alguém, maior de 30 anos, aceitar e adotar uma criança como filho, legalmente. Adultério – Violação grave e dolosa de dever jurídico de fidelidade conjugal. Adulterino – Proveniente de adultério; que sofreu adulteração. Alieni júris – De direito alheio. A mater – Pela mãe. (Refere-se aos filhos adulterinos oriundos de adultério por parte da mãe). A patre – Pelo pai. (Refere-se aos filhos adulterinos oriundos de adultério por

parte do pai).

Bastardo – Quem nasceu fora do matrimônio. Concubinato - Relação entre amantes. Cônjuge – Cada um dos casados em relação ao outro. Despótico – Próprio de déspota, tirânico. Espúrio – Bastardo, ilegítimo. Etimológico – Relativo à etimologia, que trata da etimologia. Extra matrimonium – fora do matrimônio. Fecundação – Ato ou efeito de fecundar, fertilização, concepção. Filiação - É a ação que compete ao filho, ou seus herdeiros, contra os pais, ou seus herdeiros, com a finalidade de provar a sua filiação legítima quando esta for negada ou não reconhecida. Filiatio – Filiação. Heterólogo – Diz-se aquilo que é composto de elementos diferentes pela origem ou pela estrutura. Homólogo – Diz-se dos lados diagonais, segmentos, vértices e outros pontos correspondentes em figuras semelhantes. Ilegítimo – Falso, arbitrário. Incestuoso – Que cometeu incesto, união sexual entre homem e mulher parentes por consaguinidade, em grau vedado ao casamento.

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Júris tantum – De direito até que se prove o contrário. Presunção. Legitimação – Ato ou efeito de legitimar, autenticação. Legítimo – Autêntico, genuíno, legal. Mancipium – Indicava a ausência de liberdade / um tipo de escravo. Múnus público – Encargo público. Ônus – Encargo; obrigação de natureza pessoal ou real. Paterfamilias – O chefe de família. Pater is est quem justae demonstrant – Pai é aquele quem a indica. Patria potestas – Pátrio poder. Patriarcal – Relativo a patriarca ou patriarcado respeitável, venerado, pacífico, bondoso. Pátrio poder – Direitos e deveres que têm os pais no interesse de seus filhos menores legítimos, legitimados, adotivos. Perfilhação - Declaração formal que legitima o reconhecimento de um filho até então não reconhecido. Poder familiar – Uma espécie de cargo privado dos pais, que exercem através do poder familiar um direito-função e um poder-dever. Procriação – Ato de procriar, reprodução (biológica). Progenitor – Na acepção usual refere-se ao pai, mas originalmente referia-se ao avô, a pessoa que procria antes do pai. Prole – Geração, filho ou filhos, descendência. Status – Conjunto de direitos e deveres de uma pessoa, que a caracterizam em suas relações com outras. Varão – Homem; pertencente ao sexo masculino.

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SUMÁRIO

RESUMO........................................................................................... XI

ABSTRACT...................................................................................... XII

INTRODUÇÃO ..................................................................................01

CAPÍTULO 1 .....................................................................................04 FILIAÇÃO NO DIREITOO BRASILEIRO ..........................................04 1.1 Filiação no Brasil ......................................................................................... 04 1.2 Conceito de Filiação .................................................................................... 11 1.3 Efeitos do Reconhecimento da Filiação..................................................... 13 1.4 Presunção da Filiação.................................................................................. 14 1.4.1 Reconhecimento de Filiação ...................................................................... 15 1.4.2 O Direito Sucessório no Reconhecimento de Filiação ............................... 19

CAPÍTULO 2 .....................................................................................22 PÁTRIO PODER OU PODER FAMILIAR .........................................22 2.1 Evolução do Pátrio Poder .......................................................................... 22 2.2 Conceito de Pátrio Poder e Poder Familiar ............................................... 26 2.3 Deveres e Direitos Atribuídos ao Poder Familiar ou Pátrio Poder .......... 29 2.3.1 Deveres em Relação à Pessoa do Filho ..................................................... 30 2.3.2 Deveres em Relação aos Bens do Filho .................................................... 36 2.4 As Várias Formas de Competência do Pátrio Poder ou Poder Familiar . 38 2.4.1 Por Morte .................................................................................................... 39 2.4.2 Na Separação Judicial, Divórcio, União Estável ou Separação de Fato .... 39 2.4.3 Os Filhos Não Reconhecidos e os Filhos Adotivos ..................................... 41

CAPÍTULO 3 .....................................................................................44 PERDA DO PÁTRIO PODER OU PODER FAMILIAR......................44 3.1 Modificação da Terminologia ..................................................................... 44 3.2 Formas de perda ou Suspensão do Poder Familiar ou Pátrio Poder ..... 45 3.2.1 Suspensão do Poder Familiar ou Pátrio poder .......................................... 47 3.2.2 Perda do Poder Familiar ou Pátrio Poder.................................................... 50 3.2.3 Extinção do Poder Familiar ou Pátrio Poder................................................ 56 3.3 Perda do Poder Familiar ou Pátrio Poder Pelo Abandono Material ......... 59

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CONSIDERAÇÕES FINAIS ..............................................................65

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ..........................................68

ANEXOS ...........................................................................................73

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RESUMO O objetivo geral deste trabalho consiste em demonstrar a

ocorrência da perda do poder familiar ou pátrio poder pelo abandono material, realizado através de pesquisa. Observou-se, que o abandono material também pode ser considerado uma forma da perda do poder familiar ou pátrio poder, nos casos em que a carência material da família expõe o menor ao risco eminente. De acordo com o art. 1.638, inciso II do Código Civil, que dispõe sobre a perda do poder familiar nos casos dos pais que deixarem os seus filhos em abandono. Entende-se, que à perda do poder familiar é decorrente do ato de abandono, ou seja, qualquer ato de abandono. Nesse sentido há que se observar o Estatuto da Criança e do Adolescente em seu art. 23, onde diverge sobre a perda desse poder pelo abandono, o mesmo artigo se refere que não perderá o pátrio poder pela falta, ou carência de recursos materiais. Porém, verifica-se que o art. 22 do Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe sobre o interesse do menor. Verificou-se que o abandono material, na maioria das vezes, constitui outros abandonos, como também, outros atos prejudiciais aos interesses do menor. Nota-se que na maioria dos casos em que ocorre a destituição do poder familiar ou pátrio poder, tem-se como fator original o abandono material.

Palavras chave: Perda; poder familiar; pátrio poder; abandono; abandono material; interesse do menor, destituição.

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ABSTRACT

The general objective of this work is to demonstrate the

occurrence of losing power family or paternal power by abandoning material, carried out through research. It was observed that the abandonment material can also be considered a form of loss of the family or paternal power, in cases where the lack of family material exposes the child to imminent risk. According to the art. 1,638, item II of the Civil Code, which has about the loss of the family in cases of parents who leave their children in abandonment. It is understood that the loss of the family is due to the act of abandonment, or any act of abandonment. In that sense we must see if the Statute of the Child and Adolescent in his art. 23, which differs on the loss of that power by abandoning the same article stated that the paternal can not lose by the lack or shortage of material resources. However, it appears that the art. 22 of the Statute of the Child and Adolescent available on the interest of the child. It was found that the abandonment material, in most cases is other defaulters, as well as other acts prejudicial to the interests of the child. There is that in most cases occurring in the dismissal of the family or paternal power, as has been the abandonment factor original material. Key words: Loss; power family; paternal power, abandonment, neglect material; interest of the child, dismissal.

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INTRODUÇÃO

Existem dois tipos de filiação, a biológica constituída de

forma natural, pelos seus genitores, e a filiação sociafetiva, que é aquela

constituída pela adoção.

Entretanto, pouco importa de que forma a filiação foi

constituída, seja ela biológica, sanguínea ou sociafetiva. Na filiação em geral é

resguardados os mesmos direitos, conforme prevê o art. 227, parágrafo 6º da

Constituição federal, bem como o art. 1.596 do Código Civil.

Com o surgimento da filiação, gera-se uma família, sendo

esta família, a célula-mãe, a base estrutural para qualquer pessoa, desde sua

tenra idade. Enfim, é à base de toda a sociedade, como prescreve o art. 226 da

Constituição Federal.

Nota-se, que com o surgimento da paternidade, decorrem

vários direitos-dever dos pais, decorrentes do instituto poder familiar ou pátrio

poder, conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente continua a denominar.

Observa-se, que esse instituto do poder familiar ou pátrio

poder, é um dever, uma obrigação, dos pais com relação aos filhos menores e

não emancipados. Dever esse de criar, educar, alimentar, representá-los, entre

outros.

Porém, existem pais que muitas vezes, deixam de cumprir

com seus deveres com relação ao poder familiar ou pátrio poder. Pensando

nisso, o Código Civil e o Estatuto da Criança e do Adolescente, determinaram

formas de perda desse poder.

Diante de tal descumprimento de obrigações do poder

familiar ou pátrio poder, e destituído esse poder dos pais, passando a guarda

do menor para o estado, onde vai ser colocado para adoção.

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Dessa forma, cria-se a família substituta, decorrente da

perda do poder familiar ou pátrio poder, nesse sentido ocorre a transferência do

poder familiar para os pais substitutos, “adotivos”.

Para tanto, principia-se, o capítulo 1, tratando-se sobre a

filiação no direito brasileiro, buscando elucidar os aspectos histórica da filiação

no Brasil, ate a atualidade, conceituando filiação, os fatores que levam a

presunção da filiação, bem como os seus efeitos a partir do reconhecimento da

filiação, o reconhecimento em si da filiação e o direito sucessório no

reconhecimento da filiação.

No capítulo 2, foi abordado o instituto do poder familiar ou

pátrio poder, analisando a evolução histórica bem como os conceitos que

definem o que vem a ser o instituto do poder familiar ou pátrio poder. Assim

como deveres e direitos atribuídos ao poder familiar ou pátrio poder, com

relação a pessoa do filho e aos bens do mesmo. Nesse mesmo capítulo

também foi pesquisado as formas de competência do poder familiar ou pátrio

poder, que pode ser, por um dos pais, na morte do outro; na separação judicial;

divorcio; união estável ou separação de fato; bem como nos casos dos filhos

não reconhecidos bem ou adotados.

O capítulo 3, descreve a perda do poder familiar ou pátrio

poder, esclarecendo a mudança da terminologia, que antes era pátrio poder

para a atual nomenclatura poder familiar. Além de abordar as formas de perda

do poder familiar ou pátrio poder, estabelecidas por Lei, nas formas de

suspensão; extinção ou pela perda, ou seja, destituição. Por fim a presente

pesquisa aborda a perda do poder familiar ou pátrio poder pelo abandono

material.

A presente pesquisa se encerra com as considerações

finais, nas quais foram compreendidas na realização deste trabalho científico.

Quanto à metodologia empregada, foi utilizada o Método

Indutivo.

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Na elaboração da presente pesquisa, foram utilizados

Técnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da pesquisa

bibliográfica.

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1 CAPÍTULO

FILIAÇÃO NO DIREITO BRASILEIRO

1.1 Filiação no Brasil

Na classe de parentesco, a filiação se constitui no mais

importante instituto decorrente da relação entre um homem e uma mulher1.

Neste contexto, Sílvio de Salvo Venosa define procriação

como, “(...) um fato natural. Sob o aspecto do Direito, a filiação é um fato

jurídico do qual decorrem inúmeros efeitos”2.

De acordo com Cury3, ao ser promulgado o Código Civil

de 1916, distinguiam-se os filhos legítimos e ilegítimos, sendo os primeiros

nascidos de justas núpcias e os demais, fora do casamento. Dentre os

ilegítimos havia os naturais e os espúrios.

Conforme acrescenta o autor acima citado:

Espúrios eram os concebidos no adultério, ou entre parentes em grau que os proibia de se casarem. Os primeiros eram chamados adulterinos e os segundos incestuosos. O art. 358 do Código Civil de 1916 declarava que eles não podiam ser reconhecidos4.

1 ROCHA, Silvio Luís Ferreira da. Introdução ao direito de família. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 150. 2 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direito de família. Volume 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 227. 3 CURY, Munir. Estatuto da criança e do adolescente comentado. 8. ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 102. 4 CURY, Munir. Estatuto da criança e do adolescente comentado. 8. ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 103.

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Anteriormente a Constituição Federal de 1988, os filhos

eram classificados em legítimos, ilegítimos e adotivos5. Eram considerados

filhos legítimos aqueles gerados no decorrer do matrimônio dos pais6.

Segundo José Serpa de Santa Maria, “a filiação legítima é

toda aquela que emana do matrimônio civil, decorrente, pois durante a sua

constância”7 .

Segundo Santa Maria8 observa-se a proposição do jurista

italiano, Antonio Cicu, no tocante aos requisitos essenciais para a identificação

da filiação legítima. (...) quatro são os requisitos ou elementos essenciais para

a filiação legítima, “a) o casamento dos pais; b) o parto da mulher e a

maternidade; c) a paternidade do marido; e d) a concepção durante o

matrimônio”.

Os filhos legitimados eram aqueles que tinham a filiação

reconhecida por parte dos genitores, em conjunto, ou separadamente, ou seja,

era o filho gerado por uma relação sem os vínculos legais do matrimonio9.

Roberto Senise Lisboa define o filho legitimado como,

“(...) aquele concebido em decorrência de união ilícita, porém posteriormente

regularizada pelo casamento válido e eficaz” 10.

Destaca-se que esta legitimação era efetivada na própria

ata do casamento, onde era celebrada a união dos genitores em matrimônio, o

que, atualmente é proibido. Além disso, no passado os filhos gerados de forma

adulterina ou incestuosa não podiam ser reconhecidos11.

5 BRASIL (Constituição/1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988. 6 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 408. 7 SANTA MARIA, José Serpa de. Curso de direito civil: direito de família. Volume VIII. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2001, p 250. 8 CICU, Antonio apud SANTA MARIA, José Serpa de. Curso de direito civil: direito de família. Volume VIII. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2001, p 250. 9 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. Volume 5. 3. ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2004, p. 308. 10 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. Volume 5. 3. ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2004, p. 308. 11 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. Volume 5. 3. ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2004, p. 308.

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Assim, José Serpa de Santa Maria completa, afirmando

sobre a legitimação, que é, “o instituto que confere aos filhos nascidos antes do

casamento a qualidade de legítimos, colocando toda a descendência no

mesmo nível igualitário”12.

A filiação ilegítima decorre de uma relação de parentesco

entre pais e filhos, cuja relação teve sua origem fora do casamento13.

A filiação ilegítima, para José Serpa de Santa Maria é definida

como, “´(...) aquela que descendia de genitores não unidos através do vínculo

matrimonial. Era a descendência não originária das justas núpcias”14.

Lisboa15 destaca, a existência de uma classificação para a

identificação da filiação ilegítima:

a) o natural, eram os filhos descendentes de pais que na época da sua concepção, não existia qualquer tipo de impedimento de se casar; b) o espúrio eram os filhos nascidos de genitores impedidos de casar-se na época de sua concepção, ou seja, o chamado coito danado.

Os espúrios adulterinos, eram os filhos nascidos de pais

que estavam impedidos de se casar, pelo fato de que tanto o pai quanto a mãe,

estavam unidos em matrimônio com outra pessoa16.

Conforme Roberto Senise Lisboa, era observada uma

subdivisão dentre os filhos adulterinos:

(...) a patre, quando o concubinato decorresse do pai, que ao tempo da concepção do filho era casado com outra mulher, a qual não era a mãe do filho gerado. A mater, é o inverso do à

patre, pois nesse caso é a mãe que ocorreu em concubinato,

12 SANTA MARIA, José Serpa de. Curso de direito civil: direito de família. Volume VIII. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2001, p 256. 13 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 408. 14 SANTA MARIA, José Serpa de. Curso de direito civil: direito de família. Volume VIII. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2001, p 262. 15 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. Volume 5. 3. ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2004, p. 308. 16 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 415.

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pois ao tempo da concepção era casada com marido diverso, ao pai do seu filho17 .

Neste diapasão, Orlando Gomes acrescenta que, “a

adulterinidade a matre não é admitida, para alguns, senão quando proclamada

em sentença judicial que exclua a paternidade do marido”18 .

Desta forma, tinha-se que a filiação adulterina a patre

podia ser reconhecida posteriormente, na forma de escritura pública ou de

declaração averbada junto ao registro de nascimento19.

Ressalta-se, que o filho considerado espúrio incestuoso,

era o tipo de filiação onde os pais estavam impedidos de se casar por conta de

parentesco existente no momento da sua concepção20.

Segundo Roberto Senise Lisboa, “filho ilegítimo ou

bastardo era aquele não originário das justas núpcias, isto é, concebido fora da

relação conjugal extra matrimonium”21.

Cumpre salientar, que a falta de ter um filho, levou os

povos antigos, a criar o instituto adoção, ou seja, uma situação com amparo

jurídico, destinados a assegurar o direito de quem não pudesse ter

descendentes de forma natural22.

Fustel de coulanges ensina que a adoção era tida como,

(...) continuidade da religião doméstica, pela salvação do lar, pela continuidade

das oferendas fúnebres, pelo repouso dos manes dos antepassados23.

A religião obrigava os homens a se casar, para procria, no

intuito de dar continuidade ao culto doméstico. No entanto, se por ventura o

17 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. Volume 5. 3. ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2004, p. 308. 18 GOMES, Orlando. Direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 360. 19 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. Volume 5. 3. ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2004, p. 309. 20 GOMES, Orlando. Direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 341. 21 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. Volume 5. 3. ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2004, p. 308 22 PEREIRA, Caio Maria da Silva. Instituições de direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 387. 23 COULANGES, Fustel. A cidade antiga. São Paulo: Matin Claret, 2007, p. 59. 24 COULANGES, Fustel. A cidade antiga. São Paulo: Matin Claret, 2007, p. 58.

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homem fosse estéril era substituído por um parente próximo, mais no caso de

outro impedimento, existia um ultimo recurso, a adoção24.

Conforme Arnoldo Wald, “a adoção é uma ficção jurídica

que cria o parentesco civil. É um ato jurídico bilateral que gera laços de

paternidade e filiação entre pessoas para as quais tal relação inexiste

naturalmente”25.

Corroborando com este conceito Orlando Gomes define a

adoção como:

Adoção é o ato jurídico pelo qual se estabelece independentemente do fato natural da procriação, o vínculo de filiação. Tratá-se ficção legal, que permite a constituição, entre duas pessoas, do laço de parentesco do primeiro grau na linha reta26.

Cabe dizer, que nunca foi pacífico o entendimento sobre a

natureza jurídica da adoção. Ainda, de acordo com a visão de Arnaldo Marmitt:

Na adoção sobressai a marcante presença do Estado, estendendo suas asas protetoras ao menor de dezoito anos, chancelando ou não o ato que tem status de ação de estado, e que é instituto de ordem pública. Perfaz-se uma integração total do adotado na família do adotante, arredando definitiva e, irrevogavelmente a família de sangue27.

De acordo com Maria Helena Diniz:

As espécies de adoção admitidas em nosso direito eram; a Simples, regida pelo Código Civil de 1916 e Lei 3.133/57, e a Plena, regulada pela Lei nº 8.069/90, conhecida como o

25 WALD, Arnoldo. O novo direito de família. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 269. 26 GOMES, Orlando. Direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 369.

27 MARMITT, Arnaldo. Adoção. Rio de Janeiro: Aide, 1993, p. 9 e 10.

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Estatuto da Criança e do Adolescente28 (ECA), em seus artigos 39 ao 5229 .

Em 1979, o Código de Menores, Lei nº 6.697, mais

precisamente nos artigos 27 e 28, ditava que as duas espécies de adoção, a

simples e a plena diferenciavam-se porque a primeira, adoção simples,

aplicava-se a “menores” em situação irregular, de modo que dependia de

autorização judicial, ou seja, era realizada através de alvará e escritura, que

servia para averbação no registro de nascimento do menor. Já, a adoção plena

atribuía a situação de filho ao adotado, desligando-o de qualquer vínculo com

pais e parentes consangüíneos, salvo os impedimentos matrimoniais30.

Destaca-se, que a filiação adotiva sempre observou as

formalidades de um processo de adoção. Os filhos adotados pela adoção

simples, não gozavam dos mesmos direitos que os filhos legítimos, mas no

caso de adoção plena, não ocorria essa distinção31.

Rodrigues32 define a adoção simples como:

A adoção simples, disciplinada no Código Civil, criava um parentesco civil entre adotante e adotado, parentesco que se circunscrevia a essas duas pessoas, não se apagando jamais os indícios de como esse parentesco se constituíra. Ela era revogável pela vontade concordante das partes e não extinguia os direitos e deveres resultantes do parentesco natural.

Já a adoção plena, conforme ensina Gomes33:

Trata-se de adoção plena porque é irrevogável (art. 48 do Estatuto da Criança e do Adolescente), e vincula o adotado à família do adotante, desligando-o por completo da família natural, salvo apenas no tocante aos impedimentos

28 BRASIL, Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto

da Criança e do Adolescente. Disponível em http://www.planalto.gov.br. Acesso em 15/03/2008. 29 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 449. 30 CURY, Munir. Estatuto da criança e do adolescente comentado. 8. ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 108. 31 PEREIRA, Caio Maria da Silva. Instituições de direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 387. 32 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família. Volume 6. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 338. 33 GOMES, Orlando. Direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 370 e 371.

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matrimoniais. Diante da nova família, os direitos do adotado são os mesmos dos filhos de sangue, (...).

Sílvio de Salvo Venosa acrescenta que, “a adoção é a

modalidade artificial de filiação que busca imitar a filiação natural”34.

Cumpre destacar que o art. 227, § 6º da Constituição

Federal de 1988, colocou fim a discriminação que ocorria com os filhos que

adivinhão de pais não unidos em matrimonio, ou adotivos, visto que assegurou

a igualdade de tratamento, sem qualquer ato de discriminação35.

Art. 227: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à

criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à

saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à

cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e

comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,

discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

§ 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificação, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.

Neste mesmo sentido, o artigo 1.596 do Código Civil36,

prevê o fim da discriminação, com o mesmo texto do inciso 6º do artigo 227 da

Constituição Federal.

Bertoldo Mateus de Oliveira Filho, em sua obra citando

Mário Aguiar Moura, no tocante dos filhos gerados dentro ou fora do

casamento:

Os filhos são a grande obra do homem e da mulher que se uniram. Tanto faz que essa união seja ou não vitalícia, dentro ou fora do casamento. Duradoura ou ocasional, pouco importa. Desde que se trate de ver a filiação em si, como o fato natural

34 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direito de família. Volume 6. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 279. 35 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. Volume 5. 3. ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2004, p. 309. 36 BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. http://www.planalto.gov.br. Acesso em 15/03/2008.

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da projeção de um novo ser para a vida, a maneira do relacionamento dos pais deve ser posta entre parênteses, isto

é deve ser isolada do enfoque nuclear37.

A filiação no direito brasileiro, gerou muitos conceitos.

Conforme passa-se a descrever no item a seguir.

1.2 Conceito de filiação

José Serpa de Santa Maria define filiação como, “(...) a

relação de parentesco consangüíneo descendente, que vincula diretamente em

primeiro grau a pessoa do gerado aos seus progenitores”38.

Nesta mesma linha, Maria Helena Diniz diz que, “filiação é

o vínculo existente entre pais e filhos; vem a ser relação de parentesco

consangüíneo em linha reta de primeiro grau entre uma pessoa e aqueles que

lhe deram a vida”39 .

Já Silvio Luís Ferreira da Rocha acrescenta que, “diz-se

filiação o vínculo que liga o filho a seus pais, paternidade o vínculo que liga o

pai ao filho e maternidade o vínculo que liga a mãe ao filho”40.

Segundo Magalhães41, o termo de filiação indica:

A relação de parentesco entre ascendentes e descendentes do primeiro grau, não só resultante da fecundação natural, fruto da união do homem e da mulher, como também a filiação obtida

37 MOURA, Mário Aguiar apud OLIVEIRA FILHO, Bertoldo Mateus de. Alimentos e investigação de paternidade. 3.ed. ver. e ampl. Belo Horizonte: Del Rey, 1998, p. 149. 38 SANTA MARIA, José Serpa de. Curso de direito civil: direito de família. Volume VIII. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2001, p. 249 e 250. 39 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 396. 40 ROCHA, Silvio Luís Ferreira da. Introdução ao direito de família. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 150. 41 MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Direito de família no novo código civil brasileiro. 2. ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2003, p. 147.

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pelas outras formas previstas na lei como fecundação artificial homóloga, inseminação artificial heteróloga e adoção.

Caio Mário da Silva Pereira conceitua filiação como,

“especificamente a relação jurídica que liga o filho a seus pais. Estabelecendo-

se entre pessoas das quais uma descende da outra é considerada como

filiação propriamente dita”42.

Silvio Rodrigues, preconiza que, “a filiação é a relação de

parentesco consangüíneo, em primeiro grau e em linha reta, que liga uma

pessoa àquela que a geram, ou receberam como se a tivessem gerado”43.

Para Sílvio de Salvo Venosa o conceito de filiação e

definido como, “o termo filiação exprime a relação entre o filho e seus pais,

aqueles que o geram ou o adotaram”44.

Walter Brasil Mujalli entende que, “filiação é o laço de

parentesco que une os filhos aos pais. Portanto, filiação é o nome atribuído à

relação jurídico existente entre os pais e filhos”45.

Conforme definição usada por Lisboa46, “a filiação é a

relação de parentesco existente entre descendente e seu ascendente de

primeiro grau. Portanto é o vínculo constituído entre um sujeito e seus pais,

pouco importa o meio de sua formação”.

Para Astried Brettas Grunwald47, o conceito de filiação é:

Etmológicamente tem-se filiação como expressão derivada do latim filiatio, termo utilizado para distinguir a relação de

42 PEREIRA, Caio Maria da Silva. Instituições de direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 315. 43 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família. Volume 6. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 297. 44 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direito de família. Volume 6. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 228. 45 MUJALLI, Walter Brasil. Família e sucessões: sinopse dos art. 1.511 a 2.027. São Paulo: Suprema Cultura, 2002, p. 71. 46 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. Volume 5. 3. ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2004, p. 306. 47 GRUNWALD, Astried Brettas. Laços de família: critérios identificadores da filiação. Jus Navigandi. Disponível em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4362. Acesso em 20/03/08.

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parentesco estabelecida entre as pessoas que concederam a vida a um ente humano e este.

Conforme Luiz Edson Fachin, referindo-se ao vinculo da filiação diz:

O vinculo da filiação esta no centro das relações familiares do parentesco. È da descendência que deriva a teia parental que mantém o laço original e o estende na linha reta continuadamente, com reflexos possíveis na linha colateral, de segundo, terceiro ou quarto grau48.

Edmilson Villaron Franceschinelli, conceitua a filiação como:

Filiação, deriva do latin filiatio, é a relação de parentesco que se estabelece entre os pais e o filho, na linha reta, gerando o estado de filho, decorrente de vínculo consangüíneo ou civil, e criado inúmeras conseqüências jurídicas49.

Finalizando o professor Paulo Luiz Netto Lobo ensina que:

A filiação não é um determinismo biológico, ainda que seja da natureza humana o impulso à procriação. Na maioria dos casos, a filiação deriva-se da relação biológica; todavia, ela emerge da construção cultural e afetiva permanente, que se faz na convivência e na responsabilidade50.

No tocante ao reconhecimento da filiação, em suas duas

formas, bem como a presunção da filiação dos filhos gerados na constância do

casamento, sempre gerou polêmicas, conforme passa-se a analisar.

1.3 Efeitos do reconhecimento da filiação

48 FACHIN, Luiz Edson. Comentários ao novo Código Civil. Volume XVIII. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 40. 49 FRANCESCHINELLI, Edmilson Villaron. Direito de paternidade. São Paulo: LTr, 1997, p. 13. 50 LOBO, Paulo Luiz Netto. Princípio jurídico da afetividade na filiação. Jus Navigandi. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=527. Acesso em 20/03/08.

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Quando a filiação é decorrente do matrimônio, basta que a mãe

compareça no cartório com a sua certidão de casamento, para averbar a certidão de

nascimento do menor. Isso não ocorre, com os filhos gerados de pais não unidos em

matrimônio, nesse caso, é necessário o reconhecimento por parte do pai51.

Verifica-se, que toda a criança seja ela gerada dentro ou fora do

casamento, tem direito de ter uma família, para que possa criar uma relação de fato,

entre pai e filho52.

Segundo o professor Sérgio Gabriel, o efeito da filiação é:

Conseqüência natural da procriação. Não mais acontecerá que aqueles,

que biologicamente eram filhos, não fossem juridicamente

considerados como tais. À filiação civil, que é aquela resultante da

adoção, deu-se o mesmo status de filho de sangue, inclusive para

efeitos sucessórios53.

Através do reconhecimento da filiação, geram-se vários efeitos,

conforme passa-se a verificar.

1.3.1 Presunção da filiação

A presunção da filiação é chamada de pater is est quem

justae demonstrant, pois determina que esse filho fosse gerado na constância

do matrimônio, conforme o art. 1.597 do Código Civil, sendo que o inciso I

refere-se ao filho concebido no prazo de 180 dias, subseqüentes a relação

conjugal do casal; o inciso II trata dos filhos nascidos após 300 dias

consecutivos da dissolução conjugal e os incisos III, IV e V, fazem referências

às diversas formas de fecundação reconhecidas pelo Direito nacional54.

51 CARVALHO NETO, Inácio de. Responsabilidade civil no direito de família. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2004, p. 439. 52 PEREIRA, Caio Maria da Silva. Instituições de direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 339. 53 GABRIEL, Sérgio. Filiação e seus efeitos jurídicos. Direito virtual. Disponível em: http://www.direitovirtual.com.br/artigos. Acesso em 19/05/2008. 54 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família. Volume 6. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 299.

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Diante deste diploma, Rodrigues55 explica que, “a

presunção de paternidade do filho havido na constância do casamento tem

natureza júris tantum, pois admite prova em contrário”.

A prova da paternidade legítima é decorrente do

casamento dos pais, sendo esta, uma presunção relativa e não absoluta, visto

que se funda em duas presunções: a coabitação e a fidelidade da mulher.

Também pode ser legítima, desde que o marido faça o reconhecimento

implícito e antecipado da paternidade do filho que sua esposa esteja

esperando56.

Os genitores devem ser casados antes da concepção do

filho, embora possa ocorrer que o filho seja gerado anteriormente a data do

matrimônio, no entanto ao tempo do seu nascimento os genitores já deverão

estar unidos pelo matrimônio, conforme consta no art. 1.598 do Código Civil.

Assim, o genitor varão fará o reconhecimento implícito e antecipado desta

filiação ao se casar57.

Ressalta-se que, segundo Arnoldo Wald, “a filiação no

casamento pressupõe a maternidade por parte da esposa e a paternidade por

parte do marido”58.

No caso do cônjuge varão negar a paternidade do filho da

sua esposa, a lei lhe dará o resguardo para que o mesmo conteste essa

paternidade, ainda que o mesmo esteja coabitando com a sua esposa. O prazo

para contestar é decadencial, visto que se inicia na data em que o mesmo

tenha elementos seguros para supor não ser ele o pai do filho que lhe é

atribuído por sua esposa59.

55 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família. Volume 6. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 300. 56 GOMES, Orlando. Direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 325. 57 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 399. 58 WALD, Arnoldo. O novo direito de família. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 252. 59 ROCHA, Silvio Luís Ferreira da. Introdução ao direito de família. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 152.

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O Código Civil dispõe em seus artigos 1.561 e 1.617 que

será considerado legítima a paternidade, mesmo que nula ou anulável, desde

que contraídos de boa-fé por ambos os cônjuges60.

Pereira61 explica que a filiação é um jogo de presunção:

Não se pode provar diretamente a paternidade, toda a civilização ocidental assenta a idéia de filiação num jogo de presunções, a seu turno, fundadas numa probabilidade: o casamento pressupõe as relações sexuais dos cônjuges e fidelidade da mulher; o filho que é concebido durante o matrimônio tem por pai o marido da sua mãe.

A filiação, obriga o seu reconhecimento, conforme

verifica-se no item seguinte.

1.3.2 Reconhecimento da filiação

O processo de reconhecimento da filiação tem passado

por várias mudanças no decorrer do tempo, sendo que ora se favorecia a

atribuição de status ao filho, ora se negava essa condição. Salienta-se que na

maioria das vezes este processo era tão restrito que quase esse direito era

negado totalmente62.

O reconhecimento do filho pode ser feito de duas formas,

pelo modo voluntário, onde decorre de manifestação de vontade dos pais, que

espontaneamente, reconhece o filho; ou pelo modo judicial ou compulsório, que

emana de uma investigação de paternidade ou maternidade, onde é declarado,

através de sentença judicial, a prole quem são os seus pais63.

Jose Serpa de Santa Maria, explica que o

reconhecimento voluntário é como, “[...] o vocábulo já indica, é o ato

declaratório emanado da vontade dos pais ou de um deles em benefício de

60 BRASIL, O Novo Código Civil. Brasília: Senado Federal, 2002. art. 1.561 e 1.617. 61 PEREIRA, Caio Maria da Silva. Instituições de direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 315. 62 PEREIRA, Caio Maria da Silva. Instituições de direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 341. 63 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 417.

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certo filho. É um ato personalíssimo, irretratável, indisponível e imprescritível”

64.

Ressalta-se que o reconhecimento voluntário pode ser

efetuado tanto antes como depois do nascimento do filho. Esse tipo de

reconhecimento está tipificado na Lei nº 8.069/90, Estatuto da Criança e do

Adolescente, mais especificamente nos artigos 25, 26 e 27, onde se estabelece

que o reconhecimento possa ser feito, no próprio termo do nascimento, por

testamento ou mediante escritura ou qualquer outro documento de ordem

pública, sendo de qualquer origem essa filiação65.

De acordo com o art. 26 do Estatuto da Criança e Adolescente, os filhos havidos fora do casamento poderão ser reconhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente, no próprio termo de nascimento, por testamento, mediante escritura ou documento público66.

Tal proposição é fundada, conforme Veronese67, na

premissa de que o reconhecimento do estado de filiação é direito

personalíssimo, indisponível e imprescritível, art. 27 Estatuto da Criança e do

Adolescente.

Atualmente, o Código Civil, faz menção do

reconhecimento voluntário nos artigos 1.607 ao 1.617, inclusive em situações

onde os filhos são gerados fora do casamento, art. 1.609 do Código Civil68.

O reconhecimento compulsório ou judicial é aquele

“forçado”, reconhecido por decisão judicial, impulsionado a partir de processo

instaurado pela pessoa que diz ser filha do demandado. Nesse caso, se fala

64 SANTA MARIA, José Serpa de. Curso de direito civil: direito de família. Volume VIII. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2001, p 263. 65 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Estatuto da criança e do adolescente comentado: lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1993. 66 VERONESE Josiane Rose Petry. Direito da criança e do adolescente. Florianópolis: OAB/SC, 2006, p. 26. 67 VERONESE Josiane Rose Petry. Direito da criança e do adolescente. Florianópolis: OAB/SC, 2006, p. 26. 68 SANTA MARIA, José Serpa de. Curso de direito civil: direito de família. Volume VIII. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2001, p. 265.

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em investigação de paternidade, pois a filiação não foi reconhecida pelo seu

genitor69.

José Serpa de Santa Maria define o reconhecimento

compulsório como, “(...) aquele em que há a intervenção da autoridade judicial

decidindo a ação postulada pelo filho para que seja declarado o seu estado

familiar”70.

Nesta ótica, Cury71 acrescenta que:

O legislador tratava com certa complacência o filho natural, permitindo-lhe o reconhecimento espontâneo e o forçado (Código Civil de 1916, art. 363). Aliás, no mais das vezes, herdava ele tudo que seu irmão legítimo herdasse (Código Civil de 1916, art. 1.605). Entretanto, o legislador discriminava impiedosamente contra o espúrio.

O reconhecimento, espontâneo ou forçado, do filho

ilegítimo é a circunstância que estabelece, no campo do Direito, o parentesco

entre o pai e sua prole. Sem o reconhecimento o filho não é considerado

parente do pai, não está sujeito a pátrio poder, não tem direitos sucessórios,

nem alimentícios etc. Logo, diante da lei são dois estranhos72.

Cumpre afirmar que a primeira tentativa de minorar a

condição dos espúrios (provocada, inclusive, pela pressão da enorme

quantidade de filhos de desquitados, por muitos considerados adulterinos)

ocorreu com a Lei 4.732/42, ao depois substituída pela Lei 883/49, enfatiza-

se que esta Lei, para a sua época, trouxe várias inovações, entre as quais73:

Permitiu o reconhecimento do adulterino, ou conferiu-lhe ação de investigação de paternidade após a dissolução do casamento de seu progenitor adúltero; Concedeu-lhe metade

69 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. Volume 5. 3. ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2004, p. 313. 70 SANTA MARIA, José Serpa de. Curso de direito civil: direito de família. Volume VIII. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2001, p 269. 71 CURY, Munir. Estatuto da criança e do adolescente comentado. 8. ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 102. 72 CURY, Munir. Estatuto da criança e do adolescente comentado. 8. ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 103. 73 CURY, Munir. Estatuto da criança e do adolescente comentado. 8. ed. São Paulo: Malheiros, 2006, 104.

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da herança do que coubesse a seus irmãos não espúrios; Facultou-lhe, desde logo, a propositura de ação de investigação de sua paternidade contra o progenitor adúltero apenas para o fim de obter alimentos(...).

Importa ainda salientar que, segundo D´Andrea74, o filho

maior de idade (18 anos) pode ser reconhecido desde que consinta. Ao menor

reconhecido haverá prazo de 4 anos, a partir da maioridade ou emancipação,

para possível ação de impugnação de reconhecimento de filiação, na qual

contestará o reconhecimento.

Venosa75 completa afirmando que:

O reconhecimento tem efeito ex tunc, retroativo, daí por que seu efeito é declaratório. Sua eficácia é erga omnes, refletindo tanto para os que participaram do ato de reconhecimento, voluntário ou judicial como em relação a terceiros.

O último subitem deste capítulo focalizará o direito

sucessório no reconhecimento da filiação. Destaca-se que este tema passou

por uma grande e significante mudança, visto que foi promovida a igualdade de

direitos sucessórios entre os considerados filhos legítimos e ilegítimos,

incluindo também os filhos adotivos, bem como os oriundos de inseminações

heteróloga.

1.3.3 O direito sucessório no reconhecimento da filiação

Como mencionado, o direito sucessório no tocante ao

reconhecimento da filiação passou por varias mudanças ao longo do tempo,

sendo que inicialmente tal direito era negado para os chamados filhos

ilegítimos76.

O Decreto-Lei de 11 de agosto de 1831 declarava que os

filhos considerados espúrios fossem nomeados herdeiros testamentário, na 74 D’ANDREA, Giuliana. Noções de direito da criança e do adolescente. Florianópolis: OAB/SC, 2005, p. 41. 75 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direito de família. Volume 6. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 275-76. 76 PEREIRA, Caio Maria da Silva. Instituições de direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 341.

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falta de outros descendentes. Com a Lei nº 463, de 02 de setembro de 1847,

ficou estabelecido que somente na falta dos filhos naturais o ilegítimo tornava-

se herdeiro universal, sendo que esse caso limitava-se ao reconhecimento da

filiação do ilegítimo por meio do testamento ou de escritura pública. Anterior a

esse diploma, o único direito resguardado aos “filhos naturais”, era somente o

conhecimento alimentar, quando concorriam com legítimos ou com os

ascendentes do genitor77.

Neste contexto, Sílvio Rodrigues adverte que:

O reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento, estabelecendo o liame de parentesco entre estes e seus pais, geram importantes efeitos, principalmente no que diz respeito aos alimentos, à sucessão, ao poder familiar e à guarda dos mesmos enquanto menores78.

A Assembléia Geral das Nações Unidas aprovou em 10

de dezembro de 1948, o direito de igualdade entre os filhos gerados dentro e

fora do casamento, sendo que esta disposição foi ratificada pelo Pacto de San

José da Costa Rica em 22 de novembro de 196979.

Nesta esteira legislativa, a Lei nº 6.515, de 1977,

reconheceu a igualdade de condições entre os filhos, legítimos e ilegítimos,

uma vez que estabeleceu a igualdade dos filhos, quaisquer fosse sua origem,

inclusive na participação da herança de seus genitores80.

Giuliano D´Andrea explica que:

A Lei do Divórcio abriu enormemente as portas da igualdade, ao proclamar a igualdade de filiação para efeito sucessório. Dizia o texto: “Qualquer que seja a natureza da filiação, o

77 PEREIRA, Caio Maria da Silva. Instituições de direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 342 e 43. 78 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família. Volume 6. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 322. 79 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. Volume 5. 3. ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2004, p. 309. 80 PEREIRA, Caio Maria da Silva. Instituições de direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 309.

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direito à sucessão será reconhecido em igualdade de condições”81.

Note-se que a igualdade, abrangendo todos os espúrios,

inclusive os incestuosos, se restringia ao campo sucessório, no entanto não

abrangeu os filhos adotivos, o que para Cury82 se tornou um “defeito” desta Lei.

Este autor explica que:

A Lei 6.515/77, que, em seu derradeiro dispositivo, revogou cerca de 15 artigos do Código Civil de 1916, silenciou a respeito do art. 377 desse diploma. Ora, tal art. 377 justamente proclamava o não envolvimento de sucessão hereditária quando o adotante, no momento da adoção, já tivesse filhos legítimos. Acredito, assim, que a Lei do Divórcio não alterara esse dispositivo.

Reforçando esta disposição a Constituição Federal de

1988 proibiu qualquer tipo de ato discriminatório, referente à filiação, o que

suscitou, através da criação da Lei nº 7.841, de 17 de outubro de 1988, a

revogação do art. 358 do Código Civil de 1916, que proibia o reconhecimento

dos filhos “adulterinos” e “incestuosos”83.

Assim, a proibição de desigualdade de tratamento

introduzida pela Constituição Federal de 1988 estabeleceu a isonomia plena,

onde os filhos havidos, ou não, de uma união matrimonial passaram a ter os

mesmos direitos e garantias84.

Roberto Senise Lisboa completa afirmando que, “pelo

princípio da igualdade de tratamento aos filhos, não poderá haver

descriminação de qualquer espécie da origem da filiação”85.

81 D’ANDREA, Giuliana. Noções de direito da criança e do adolescente. Florianópolis: OAB/SC, 2005, p. 35. 82 CURY, Munir. Estatuto da criança e do adolescente comentado. 8. ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 103. 83 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. Volume 5. 3. ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2004, p. 309. 84 MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Direito de família no novo código civil brasileiro. 2. ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2003, p. 166. 85 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. Volume 5. 3. ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2004, p. 309.

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Com a reforma do Código Civil, o instituto “pátrio poder”

passou a ser denominado de “poder familiar”, já que deixou de ser uma poder

único e exclusivo do pai, para ser uma obrigação indelegável dos pais em

conjunto ou separadamente, para com os filhos, conforme ficará demonstrado

no capítulo seguinte deste trabalho86.

86 ROCHA, Silvio Luís Ferreira da. Introdução ao direito de família. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 157.

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2 CAPÍTULO

PÁTRIO PODER OU PODER FAMILIAR

2.1 Evolução do pátrio poder

Analisando-se o Direito de Família, percebe-se que o

pátrio poder, ou poder familiar, é um instituto que sofreu várias mudanças no

decorrer do tempo87.

Verifica-se que a civilização Romana, deixou vários

legados, em especial o Direito Romano, que vigorou por mais de mil anos,

influenciando de forma decisiva a formação do direito de outros paises, como

Portugal, Argentina, Brasil, entre outros88.

O instituto pátrio-poder, originou-se do direito romano.

Observa-se que, o poder familiar, sofreu influência desse instituto Romano,

porém não existindo mais o seu caráter absoluto da época89.

O Direito Romano estabelecia que pátrio poder era único

e exclusivo ao pater, ou seja, o pai, na qualidade de chefe de família, possuía

direito absoluto e praticamente ilimitado sobre seus filhos90.

87 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direito de família. Volume 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 317. 88 VERONESE, Josiane Rose Petry; GOUVÊA, Lúcia Ferreira de Bem; SILVA, Marcelo Francisco da. Poder familiar e tutela: à luz do novo código civil e do estatuto da criança e do adolescente. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2005, p. 07. 89 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. vol. VI. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 359. 90 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família. Volume 6. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 353. 91 PEREIRA, Caio Maria da Silva. Instituições de direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p.417.

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Esta autoridade, exercida com extrema severidade é

evidente nos textos da época, onde se observa que o pai determinava o direito

da vida ou da morte de seus filhos91.

Roberto Senise Lisboa, verificou que no direito romano:

O filho encontrava-se desde o nascimento com vida sob pátrio poder do chefe da família, que tinha o poder de até mesmo dispor da vida do infante ou, se assim o preferisse, utiliza-lo para o pagamento de dívidas ou simplesmente transmiti-lo para

pagamento a terceiro por mancipium92.

Além disso, no Direito Romano, a patria potestas, não

reconhecia o poder ou a autoridade da mãe sobre seus filhos, tendo em vista

que a mãe, era tida como membro da família, era subordinada á rigorosa do

paterfamilias. O que significava que esse poder não era unicamente sobre os

filhos, pois a paterfamilias abrangia todos os membros da família93. Logo, o

pátrio poder era exclusivo do pai, que representava o chefe da sociedade

conjugal. Cabia a esposa este papel somente no caso de algum impedimento

ou morte94.

O pátrio poder, exercido pelo pai romano, era rigoroso. A

figura do pai conduzia todo o grupo familiar, mesmo sendo este muito

numeroso, assim como os agregados e os escravos. O pai também ditava a

religião, tinha o poder de punir, de vender e até de matar os filhos. O

patrimônio dos filhos era integrado ao do pai, pois os filhos não tinham bens

próprios95.

92 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. Volume 5. 3. ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2004, p. 267. 93 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. Volume 5. 3. ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2004, p. 267. 94 MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Direito de família no novo código civil brasileiro. 2. ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2003, p. 210. 95 WALD, Arnoldo. O novo direito de família. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 283. 96 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direito de família. Volume 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p.318. .

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Com o passar do tempo, o pátrio poder romano se

abrandou, permitindo ao filho adquirir o pecúlio, embora somente através da

vida militar, quando não mais se confundiam ao patrimônio do pai96.

No século XIX e início do século XX, influenciado pela

compreensão da patria potestas do Direito Romano, a sociedade rural

brasileira incentivava a continuação do poder patriarcal. Entretanto, com os

avanços trazidos pela urbanização e pela industrialização, a mulher passou a

assumir uma nova posição no mundo ocidental. Sendo assim, o poder

patriarcal deixou de ser um poder exclusivo do pai, realçando o pátrio poder

deveres dos pais com relação aos filhos97.

Anos mais tarde com a criação da Lei nº 4.121/62,

Estatuto da Mulher Casada, ocorreu um grande avanço no Direito brasileiro,

pois houve a equiparação do direito dos cônjuges, ou seja, o pátrio poder

passou a ser exercido pelo pai com a colaboração da mulher. Cumpre dizer

que esta Lei deu origem ao artigo 380 do Código Civil de 1916, hoje já

revogado98.

Art. 380: Durante o casamento compete o pátrio poder aos pais, exercendo-o o marido com a colaboração da mulher. Na falta ou impedimento de um dos progenitores passará o outro exercê-lo com exclusividade.

Parágrafo único. Divergindo os progenitores quanto ao exercício do pátrio poder, prevalecerá à decisão do pai, ressalvando à mãe o direito de recorrer ao juiz para solução da divergência.

Observa-se, que este artigo, refere-se ao pátrio poder,

que reduz o direito do pai, que era amplo e ilimitado, para tornar-se um

complexo de deveres fundamentados, na limitação temporária desse poder,

97 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direito de família. Volume 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 318. 98 GOMES, Orlando. Direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 389.

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bem como na participação do Estado na proteção do filho menor de idade e a

eventual intervenção no exercício do pátrio poder, quando for necessário99.

Além disso, verifica-se que com a emancipação da mulher

casada, que deixou de ser alieni júris, e à medida que o direito a dignidade dos

filhos foi emergindo, o caráter despótico que regia o poder familiar foi

diminuído100.

Caio Mário da Silva Pereira explica que:

A idéia predominante é que a potestas deixou de ser uma prerrogativa do pai, para se afirmar como a fixação jurídica dos interesses do filho, visando protegê-lo e não beneficiar quem o exerce101.

Com o advento da Constituição Federal de 1988, o artigo

226, § 5° colocou fim a desigualdade de direitos entre os cônjuges na

sociedade conjugal, passando o poder familiar a ser exercido pelo homem e

pela mulher. Diante do reconhecimento da igualdade entre os cônjuges, pela

Constituição Federal de 1988, o Código Civil de 2002, substituiu a expressão

“pátrio poder”, que era o direito reservado ao cônjuge varão, para “poder

familiar”102.

Em contrapartida, o Estatuto da Criança e do Adolescente

estabelece no seu art. 21 que, “o pátrio poder passará a ser exercido em

99 PEREIRA, Caio Maria da Silva. Instituições de direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 420. 100 DIAS, Maria Berenice; PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de família e o novo código civil. 4 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 149. 101 PEREIRA, Caio Maria da Silva. Instituições de direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 420. 102 PEREIRA, Caio Maria da Silva. Instituições de direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 421. 103 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direito de família. Volume 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 320. 104 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direito de família. Volume 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 319.

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igualdade de condições pelo pai e pela mãe”. Portanto, percebe-se que os

legisladores pátrios acharam justo e conveniente que ambos os genitores

tenham as mesmas igualdades de condições de gerir a vida de seus filhos103.

Sílvio de Salvo Venosa acrescenta:

O poder paternal já não é, no nosso direito, um poder e já não é, estrito ao predominantemente, paternal. É uma função, é um conjunto de poderes-deveres, exercidos conjuntamente por ambos os progenitores104.

Sendo assim, o poder familiar deixou de ter mais poder

para passar a ter mais dever. Dever este que não se pode fugir, pois é um ônus

dos pais, que a sociedade atribui aos mesmos, em virtude da circunstância da

paternidade105.

O poder familiar constitui um múnus público, uma espécie

de cargo privado dos pais, que exercem através do poder familiar um direito-

função e um poder-dever. É irrenunciável, visto que os pais não podem abrir

mão deste dever. É inalienável, pois os pais não podem dispor dos filhos a

título gratuito ou oneroso. Também é imprescritível, já que não se extingue pelo

fato de não exercerem, de modo que a extinção deste poder só ocorrerá de

acordo com os dispositivos da Lei. Além disso, tal instituto é incompatível com

a tutela, tendo em vista que não é permitido nomear um tutor, se o poder

familiar menor não for extinto ou suspenso por ordem judicial. Por último, o

poder familiar é considerado uma relação subordinada, onde os genitores

exercem o poder de mando e a prole obedece106.

Assim, percebe-se que com a igualdade de direitos e

deveres entre os pais, o pátrio poder deixou de ser exclusivo do pai, o que

105 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. Volume 5. 3. ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2004, p. 268. 106 DIAS, Maria Berenice; PEREIRA,Rodrigo da Cunha. Direito de família e o novo código civil. 4 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 149. 107 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. Volume 5. 3. ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2004, p. 267 e 268. 108 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 515

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determinou a mudança de sua denominação para poder familiar, conforme

ficará demonstrado através dos conceitos destes dois institutos.

2.2 CONCEITO DE PÁTRIO PODER E PODER FAMILIAR

A Constituição Federal de 1988, estabeleceu o papel de

ambos os genitores na vida dos filhos, papel este que era de exclusividade do

pai com o exercício do pátrio-poder, passando para um dever em conjunto dos

pais, colocando a mãe em igualdade de poder com o pai, em relação aos

filhos107.

No entanto, essa não foi à única e mais importante

mudança no instituto, já que também foram observadas modificações na

relação de interesses, que anteriormente, visava o pai e, hoje, se condiciona ao

interesse do filho, colocando-o em primeiro lugar, para que possa ter uma boa

formação108.

Segundo Lafayette109, o pátrio poder é, “o todo que resulta

do conjunto dos diversos direitos que a Lei concede ao pai sobre a pessoa e

bens do filho famílias”.

Orlando Gomes define o pátrio poder como:

Uma necessidade natural, em que o ente humano, precisa durante sua infância, de quem o crie e eduque, ampare e defenda, guarde e cuide dos seus interesses, em suma, tenha a regência de sua pessoa e seus bens110.

109 PEREIRA, Lafayette Rodrigues. Direito de família. Brasília: Fac-similar, 2004, p. 234. 110 GOMES, Orlando. Direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 389. 111 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. vol. VI. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 358. 112 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família. Volume 6. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 355. 113 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direito de família. Volume 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 319.

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Para Gonçalves111, o poder familiar pode ser conceituado

como, “o conjunto de direitos e deveres atribuídos aos pais, no tocante à

pessoa a aos bens dos filhos menores”.

Conforme Rodrigues112, o pátrio poder é, “nada mais do

que esse múnus público, imposto pelo Estado, aos pais, a fim de que zelem

pelo futuro de seus filhos”.

Venosa113 entende que o poder familiar ou pátrio dever

visa:

Primordialmente a proteção dos filhos menores (...) neste sentido, entendemos o pátrio poder como o conjunto de direitos e deveres atribuídos aos pais com relação aos filhos menores e não emancipados, com relação à pessoa deste e a seus bens.

Para Rizzardo114, o instituto do poder familiar trata-se de:

Uma conduta dos pais relativamente aos filhos, de um acompanhamento para conseguir a abertura dos mesmos, que se processará progressivamente, à medida que evoluem na idade e no desenvolvimento físico e mental, de modo a dirigi-los a alcançarem sua própria capacidade para se dirigirem e administrarem seus bens.

Segundo Maria Helena Diniz, o poder familiar é:

É o conjunto de direitos e obrigações, quanto à pessoa e bens do filho menor não emancipado, exercido, em igualdade de condições, por ambos os pais, para que possam desempenhar

114 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 601. 115 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 514. 116 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. Volume 5. 3. ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2004, p. 269. 117 WALD, Arnoldo. O novo direito de família. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 283.

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os encargos que a norma jurídica lhes impõe, tendo em vista o interesse e a proteção do filho115.

Roberto Senise Lisboa define o poder familiar como

sendo:

Ao mesmo tempo, uma autorização e um dever legal para que uma pessoa exerça as atividades de administração dos bens e de asseguramento do desenvolvimento dos direitos biopsíquicos do filho incapaz, pouco importando a origem da filiação116.

A definição de poder familiar usada pelo autor Waldo117,

constitui-se com:

O direito dos pais sobre os filhos, outrora considerado como verdadeiro direito subjetivo, é definido, pelo direito contemporâneo, como um poder jurídico, ou seja, como poder familiar-dever exercido pelo pai e pela mãe, por delegação do Estado, no interesse da família.

Dias e Pereira118 entendem o poder familiar como:

Conjunto de direitos e deveres tendo por finalidade o interesse da criança (incluindo o adolescente), para proteção de sua segurança, saúde, moralidade, para assegurar sua educação e permitir seu desenvolvimento, em respeito a sua pessoa; os

118 DIAS, Maria Berenice; PEREIRA Rodrigo da Cunha. Direito de família e o novo código civil. 4 ed.. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 149. 119 VERONESE, Josiane Rose Petry; GOUVÊA, Lúcia Ferreira de Bem; SILVA, Marcelo Francisco da. Poder familiar e tutela: à luz do novo código civil e do estatuto da criança e do adolescente. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2005, p. 21. 120 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família. Volume 6. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 359. 121 VERONESE, Josiane Rose Petry; GOUVÊA, Lúcia Ferreira de Bem; SILVA,Marcelo Francisco da. Poder familiar e tutela: À luz do novo Código Civil e do Estatuto da Criança e do adolescente. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2005, p. 19.

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pais devem associar o filho nas decisões que lhe digam respeito.

Para os autores Veronese, Gouvêa e Silva119, o poder

familiar, denominação usada pelo Código Civil é:

O misto de poder e dever imposto pelo Estado a ambos os pais, em igualdade de condições, direcionando ao interesse do filho menor de idade não emancipado, que incide sobre a pessoa e o patrimônio deste filho e serve como meio para o mantê-lo, protege-lo e educá-lo.

Diante desses conceitos, verifica-se a divisão de

responsabilidade, ou seja, dos deveres e das obrigações reservadas aos pais

pelo poder familiar. Que gera também obrigações morais e patrimoniais,

conforme se passa a verificar.

2.3 DEVERES E DIREITOS ATRIBUÍDOS AO PODER FAMILIAR OU PÁTRIO

PODER

O filho menor e não emancipado está sujeito ao poder

familiar exercido pelos pais120.

O Estado outorga aos pais o poder familiar, de maneira

que o primeiro garante direitos que permitem a operacionalização de suas

obrigações. Neste contexto, cabe ao Estado fiscalizar, e se necessário

interferir, nos casos de abuso do poder familiar, suspendendo ou ate mesmo

extinguindo-o121.

Dias122, sobre o poder familiar diz que, “deve-se ter

presente o seu conceito de conjunto e direitos e deveres tendo por finalidade o

interesse da criança e do adolescente”.

122 DIAS, Maria Berenice; PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de família e o novo código civil. 4 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 156.

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Imprescindível para o exercício do poder familiar, é o

direito-dever dos pais para com os filhos menores e incapazes, com relação à

criação, educação, guarda, representação, entre outros direito-deveres que

passa-se a descrever.

2.3.1 Deveres em relação à pessoa do filho

O artigo 1.634 do Código Civil prevê, à competência dos

pais, no instituto do poder familiar, bem como dispõe sobre os deveres para

com os filhos menores não emancipados.

Art. 1.634. Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores:

Ι - dirigir-lhe a criação e educação;

ІІ - tê-los em sua companhia e guarda;

ІІІ - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casamento;

IV - nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar;

V - representa-los, até aos dezesseis anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento;

VI - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha;

VII - exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e condição.

O primeiro inciso do art. 1.634 do Código Civil, deixa claro

o dever dos pais de proporcionar, aos filhos, educação, religião com o fim de

prepará-lo para vida, tornando-o uma pessoa útil para sociedade. Cabe dizer

que esta formação será compatível com o status econômico e social da

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família123. O referido inciso I, do art. 1.634 do Código Civil, trata do zelo material

e moral, sendo este um dever principal dos pais com relação aos filhos124.

Conforme Dias e Pereira125, citando Massimo Bianca,

observa-se que:

Os principais direitos do filho são os de sustento, assistência moral e educação e instrução segundo as próprias capacidades, inclinações e aspirações. Esses são direitos fundamentais de solidariedade que respondem ao interesse essencial desse ser humano a receber ajuda e orientação.

O segundo inciso do art. 1.634 do Código Civil, faz menção

ao direito a companhia e guarda dos filhos, sendo simultaneamente um direito

e um dever dos pais. Logo, engloba o poder e o direito de reter o filho no lar

para conviver em companhia dos pais ou até mesmo para resguardar o menor,

proibindo-o de manter relação com terceiros126.

Neste sentido, ao mencionar o termo direito esse

automaticamente se transporta para o dever dos pais a criação e guarda dos

filhos. Tal dever-direito é de responsabilidade igualmente de ambos os

genitores. Nos casos de separação extrajudicial dos pais observa-se a

tendência de deixar o filho menor com quem se encontre, ou seja, a guarda

provisória, visto que esta só será definida no processo de separação, onde o

123 PEREIRA, Caio Maria da Silva. Instituições de direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 426. 124 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família. Volume 6. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 360 e 361. 125 BIANCA, Massimo apud DIAS, Maria Berenice; PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de família e o novo código civil. 4 ed.Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 157. 126 GOMES, Orlando. Direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 395. 127 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. vol. VI. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 364 e 365.

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magistrado decidirá com quem é mais conveniente, ou tenha melhores

condições, para ficar com a guarda do menor127.

Assim, sendo os pais os responsáveis pelos filhos,

consequentemente pelos seus atos, o direito da guarda é indispensável, para

que possam exercer esse dever e com isso manter constante a vigilância

sobre os filhos128.

De acordo com Rui Ribeiro Magalhães, referente ao

direito constitucional, que resguarda a convivência familiar, “Nessa esteira,

devem os pais reclamar a presença dos filhos de quem quer que ilegalmente

os detenha, ainda que com eles possa ter laços de consangüinidade” 129.

Sendo os pais, ilegalmente proibidos de conviver com o

seu filho, e assegurado ao mesmo o direito de recorrer de busca e apreensão,

conforme o art. 1.634, VI, do Código Civil, para reintegrar ao seu lar e ter o seu

filho em sua companhia, esse direito pode ser exercido sobre quem quer que

ilegalmente detenha esse menor130.

O terceiro inciso, do art. 1.634 do Código Civil, trata sobre

o direito de dar ou negar o consentimento para o casamento do filho menor.

Neste sentindo, verifica-se que não existe ninguém que tenha mais interesse

na felicidade do filho do que os pais, portanto, este consentimento deve ser

128 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família. Volume 6. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 361. 129 MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Direito de família no novo código civil brasileiro. 2. ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2003, p. 221. 130 WALD, Arnoldo. O novo direito de família. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 285. 131 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. vol. VI. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 366.

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específico, para o casamento com determinada pessoa com quem o filho

pretende contrair núpcias131.

Cumpre enfatizar que na ausência de acordo entre pais e

filho, prevalecerá á opinião dos pais. No caso de negativa do consentimento

para o filho contrair núpcias, for injustificável, poderá o filho recorrer à justiça

para que o juiz possa suprir o consentimento132.

O quarto inciso, do art. 1.634 do Código Civil, aborda a

nomeação de tutor, sendo esse nomeado por um dos pais, no caso de um

deles falecer e o que sobreviver não puder exercer o poder familiar. Neste

caso, presume-se que não existe ninguém que tenha maior interesse nisso se

não os pais, por esse motivo cabe a ele (o cônjuge sobrevivente) decidir a

quem confiar à tutela do seu filho133.

Conforme ensina Silvio Rodrigues:

Esse é o campo da tutela testamentária. Ela só se justifica se o outro cônjuge, que também é titular do poder familiar, for morto ou não puder, por alguma incapacidade, exercitar o poder paternal, pois não pode um dos cônjuges privar o outro de um direito que a lei lhe confere134.

Já o inciso quinto, do art. 1.634 do Código Civil, dispõe

sobre a representação civil do filho menor até que o mesmo complete 16 anos

de idade. Assim, serão considerados atos nulos aqueles praticados por menor

absolutamente incapaz, sem a devida representação ou assistência dos pais,

e/ou anulável quando tratar-se de menor relativamente incapaz135.

132 PEREIRA, Caio Maria da Silva. Instituições de direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 428. 133 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. vol. VI. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 367. 134 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família. Volume 6. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 361. 135 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direito de família. Volume 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 326.

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Ressalta-se, que mesmo o filho sendo sujeito de direito,

embora não possa exercê-lo, por falta de capacidade postulatória, o legislador

percebeu a necessidade de proteção dos menores incapazes, nos atos civis

praticados por eles, levando em conta que a inexperiência do menor poderá

levá-lo a praticar atos prejudiciais136.

Verifica-se, que o inciso sexto, do art. 1.634 do Código

civil, aborda o direito dos pais de reclamar os filhos de quem ilegalmente os

detenha. De acordo com esta disposição do Código Civil cabe aos pais o direito

de recorrer à busca e apreensão, os filhos que estiverem ilegalmente detidos,

com o fim de reintegrá-lo ao lar137.

Neste contexto, observa-se que tanto este inciso como o

inciso II preconiza que os pais podem fazer uso do direito de busca e

apreensão138.

Segundo Silvio Rodrigues:

Esse direito conferido aos pais, só se legitima, como diz a lei, quando dirigido contra pessoa que ilegalmente detenha o filho, de modo que, se o réu guarda legalmente em sua companhia o filho de outrem, não há como atender ao pedido do autor (...)139.

O último inciso, do art. 1.634 do Código Civil, refere-se ao

direito dos pais de exigir dos filhos obediência, respeito e que os mesmos

prestem serviços próprios de sua idade e condição.

Mesmo que esse direito não esteja expresso em lei, é

dever dos pais a correção dos filhos. Neste sentido, no exercício do poder

136 MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Direito de família no novo código civil brasileiro. 2. ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2003, p. 222. 137 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 521. 138 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 521. 139 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família. Volume 6. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 362. 140 GOMES, Orlando. Direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 396.

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familiar é possível fazer uso do castigo moderado, com vista à boa formação

dos filhos e exigência da obediência e do respeito140.

Cumpre salientar, que o respeito deve ser recíproco entre

pais e filhos. Logo, não se admite o castigo imoderado, de maneira que todo

tipo de abuso cometido pelos pais, deve ser combatido, uma vez que pode

levar até a perda do poder familiar, conforme o art. 1.638, inciso I, do Código

Civil141.

Nesta visão, Lafayette Rodrigues Pereira preconiza que:

O pai pode corrigir e castigar moderadamente os filhos enquanto forem menores. O Código não enumera entre os direitos do pai, mas o permite desde que estabelece como causa de perda do pátrio poder ou castigo imoderadamente142.

O filho menor pode realizar tarefas e ou serviços desde

que sejam compatíveis com as suas aptidões e condições físicas e que

traduzam a idéia de cooperação e participação com os pais. Desta forma, não

devem infringir as normas constitucionais proibitivas que configuram o trabalho

infantil143.

Neste diapasão, Magalhães144 assevera que:

Corolário da autoridade educativa, os filhos devem respeito e obediência aos pais e, se necessário for, podem trabalhar para ajudar no sustento da economia doméstica, desde que o trabalho executado seja compatível com a sua idade e condição.

141 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direito de família. Volume 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 327 142 PEREIRA, Lafayette Rodrigues. Direito de família. Brasília: Fac-similar, 2004, p. 238. 143 PEREIRA, Caio Maria da Silva. Instituições de direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 431. 144 MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Direito de família no novo código civil brasileiro. 2. ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2003, p. 222.

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Neste mesmo sentido, o art. 229 da Constituição Federal

de 1988 dispõe sobre o dever dos pais em relação aos filhos:

Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.

Em conformidade o art. 22 do Estatuto da Criança e do

Adolescente:

Art. 22. Aos pais incube o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse deste, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais.

Ao tratar de direito-dever dos pais para com os filhos,

verifica-se, que ambos os pais devem administrar os bens dos filhos e

usufruírem dos bens imóveis, em quanto, menores e incapazes os filhos. Essa

administração deve ser feita de forma idônea, zelando pelo patrimônio da prole.

2.3.2 Deveres em relação aos bens do filho

No âmbito patrimonial cabe aos pais, no exercício do

poder familiar, o direito de administração dos bens dos filhos, visto que estes

não possuem capacidade postulatória para administrá-los, conforme o art.

1.689 do Código Civil. Esses bens podem ser adquiridos pelos menores de

diversas formas, dentre elas: a doação, o testamento, a herança ou pelo fruto

do seu próprio trabalho145.

Art. 1.689. O pai e a mãe, enquanto no exercício do poder familiar:

I – são usufrutuários dos bens dos filhos;

II – têm a administração dos bens dos filhos menores sob sua autoridade.

145 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direito de família. Volume 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 327.

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O usufruto recai sobre todos os bens imóveis do filho

menor que esteja sobre o exercício do poder familiar. Este é um direito

irrenunciável, sendo que os pais não são obrigados á caução. Assim, os pais

podem consumir legitimamente as rendas obtidas pelo usufruto sem ter que

prestar contas, uma vez que a lei autoriza a fazê-lo, embora possam conservá-

las para posteriormente fazer uso em proveito do filho. Cumpre enfatizar que a

lei entende esta disposição como uma compensação dos encargos decorrentes

com os gastos na criação e educação do menor. No entanto, os pais poderão

eventualmente prestar contas dos rendimentos obtidos pelo usufruto146. No

caso de administração abusiva, os pais devem prestar contas, esta pode ser

pleiteado pelo filho, pelos herdeiros ou pelo representante legal147.

Neste contexto, Rocha148 acrescenta que o usufruto

conferido aos pais significa, “uma espécie de compensação dos encargos

decorrentes da criação e educação dos filhos e dispensa os pais da prestação

de contas dos rendimentos recebidos”.

O direito de administração dos bens do filho compreende

atos idôneos à conservação e ao incremento do patrimônio do filho. È um dever

atribuído aos pais, no exercício de celebrar contratos, contrair determinadas

obrigações, adquirir novos bens, podendo até aliená-los, salvo se for imóvel e

necessidade ou utilidade do filho, porém será necessária a autorização

judicial149.

146 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 524. 147 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. Volume 5. 3. ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2004, p. 271. 148 ROCHA, Silvio Luís Ferreira da. Introdução ao direito de família. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 158. 149 GOMES, Orlando. Direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 396. 150 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família. Volume 6. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 364 e 365. 151 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família. Volume 6. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 365.

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Neste mesmo sentido, é dever dos pais zelarem pelo

patrimônio dos filhos, sendo que não podem alienar direta ou indiretamente os

bens, pois podem ocasionar uma diminuição do patrimônio do filho150.

No entanto, como já foi mencionado antes, só existe uma

possibilidade de alienação de bens imóveis, por necessidade ou utilidade do

filho, desde que seja autorizado pelo juiz151.

Na administração dos bens dos filhos não é permitida

qualquer tipo de remuneração. No caso de colisão de interesses entre pais e

filhos, no exercício da poder familiar, o filho deve requerer ao Ministério

Público, que por sua vez encaminhará ao juiz, a concessão de um curador

especial, para zelar pelos interesses do menor. A lei também assegura ao filho

o direito de anular os atos praticados pelos seus pais na administração de seus

bens, conforme o art. 1.691 do Código Civil152.

Ressalta-se que o direito do usufruto acompanha o direito

da administração, embora seja possível a existência de um sem o outro,

conforme dispõe o art. 1.693 do Código Civil. Nas hipóteses em que a lei exclui

o usufruto e a administração dos pais, o juiz devera nomear um curador

especial153.

No exercício do poder familiar, ele é considerado um

direito-dever dos pais em relação aos filhos, sendo que não se admite

renúncia, mas podem existir várias formas de competência, ou seja, quem cabe

exercer esse poder, em diversas situações como; na morte de um dos pais,

pela adoção, dos filhos não reconhecidos, entre outras situações que passa-se

a descrever.

152 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 524. 153 GOMES, Orlando. Direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 397. 154 ROCHA, Silvio Luís Ferreira da. Introdução ao direito de família. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 157. 155 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. Volume 5. 3. ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2004, p. 268.

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2.4 AS VÀRIAS FORMAS DE COMPETÊNCIA DO PODER FAMILIAR OU

PÁTRIO PODER

Conforme já foi mencionado, o poder familiar pode ser

exercido em conjunto ou separadamente por um dos pais154.

De acordo com Lisboa155, “o poder familiar é a

autorização legal para atuar, segundo os fins de preservação da unidade

familiar e do desenvolvimento biopsíquico dos seus integrantes”.

Neste sentido, no caso da morte de um dos pais, verifica-

se que compete ao genitor sobrevivente, o exercício do poder familiar,

conforme verifica-se no próximo subitem.

2.4.1 Por morte

No caso da união matrimonial ser dissolvida pela morte de

um dos cônjuges, compete o exercício do poder familiar ao cônjuge

sobrevivente. Se por ventura, o cônjuge sobrevivente contrair novas núpcias,

em nada modificará o direito de exercer o poder familiar, conforme o art. 1.588

do Código Civil156.

Quando o vínculo conjugal é extinto pela morte de um dos

cônjuges, o sobrevivente exercerá o poder familiar com exclusividade. Ao ponto

de conservá-lo mesmo mediante de convalidar de novas núpcias ou viver em

união estável, sendo que o novo cônjuge ou convivente não poderá interferir no

exercício do poder familiar, com relação aos filhos do cônjuge sobrevivente157.

Tratando-se de separação judicial, divórcio, união estável

ou separação de fato, observa-se que os pais não perdem o poder familiar.

156 ROCHA, Silvio Luís Ferreira da. Introdução ao direito de família. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 157. 157 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 517. 158 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direito de família. Volume 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 321.

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Neste sentido, caberá a um dos pais à guarda, sendo ao outro, resguardado o

direito de visita, conforme passa-se a expor.

2.4.2 Na separação judicial, divórcio, união estável ou separação de fato

No processo de separação judicial ou divórcio não ocorre

à perda do poder familiar. Esse poder decorre de um vínculo paternal, e não

puramente de uma união matrimonial. Nesse sentido, com a reforma do Código

Civil, esse poder também passou a ser exercido em igualdade de condições

pelos pais que vivem em união estável158.

Ocorrendo a separação judicial, o divórcio e a dissolução

da união estável, os filhos ficarão sob a guarda de um dos genitores, sendo ao

outro genitor assegurado o direito de visitas159.

Além disso, cabe salientar que o progenitor, não vai

perder o poder familiar com relação aos filhos, que não estiverem em sua

guarda, conforme prevê o art. 1.589 do Código Civil. Logo, os pais deverão

entrar em acordo nas questões referentes a este item, com base no art. 1.588

do Código Civil160.

Gomes161 explica que:

A separação judicial, assim como o divórcio, não altera as relações entre pais e filhos senão quanto ao direito, que aos primeiros cabe, de terem em sua companhia os segundos, mas o exercício do pátrio-poder pode ser alterado pela atribuição do direito de guarda à mãe, e desmembrado pela regulamentação do direito de visita.

159 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 604. 160 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 604. 161 GOMES, Orlando. Direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 392. 162 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 155. 163 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 605.

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Na separação judicial, no divórcio ou na dissolução da

união estável, é o juiz quem decide sobre qual dos progenitores, detém as

melhores condições para exercer o direito de guarda do filho menor162.

Na separação de fato, não se extingue o poder familiar,

observa-se, é que o genitor que exercerá à guarda do menor, fará na prática

com o exercício do poder familiar, o que não significa que o genitor que não

possui a guarda do menor, tenha menos direito sobre o mesmo163.

Na separação consensual, os cônjuges devem mencionar

o convencionado sobre a guarda dos filhos menores, bem como sobre os

cuidados com a criação e educação, que poderá ficar tanto com a mãe ou com

o pai, ou com ambos, no caso de guarda compartilhada, ou ainda á guarda dos

filhos para uma terceira pessoa, que pode ser parente ou não. Quando os

genitores não chegam em um acordo quanto á guarda dos filhos menores,

caberá ao juiz decidir, levando em conta, qual dos pais, terá melhores

condições para criar e educar os filhos, conforme dispõe o art. 1.584 do Código

Civil164.

Conforme já verificou-se, com relação as várias formas de

competência do poder familiar, observa-se a existência dos filhos não

reconhecidos e dos filhos adotados. Nesses dois casos, quem compete o

exercício do poder familiar? Neste sentido passa-se a verificar.

2.4.3 Os filhos não reconhecidos e os filhos adotivos

164 CAHALI, Yussef Said. Divórcio e separação. 11. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 231 e 232. 165 DIAS, Maria Berenice; PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de família e o novo código civil. 4 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 156. 166 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 518. 167 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. vol. VI. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 362.

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O art. 1.633 do Código Civil determina que o filho não

reconhecido pelo pai, ficará sob o poder familiar exclusivo da mãe, e no caso

da mãe não ser reconhecida ou incapaz, a lei dita que seja nomeado um tutor

para o menor165.

Todavia, no caso de ambos os pais reconhecerem a

paternidade simultaneamente ou sucessivamente, o magistrado decidirá quem

ficará com a guarda e com a prática do exercício do poder familiar,

resguardado o direito de visita ao genitor que não possuir a guarda do

menor166.

Esclarece Carlos Roberto Gonçalves, que os filhos

havidos fora do casamento, “ficarão sob o poder do genitor que o reconheceu.

Se ambos o reconheceram, ambos serão os titulares, mas a guarda ficará com

quem revelar melhores condições para exercê-la”167.

Contudo, deve-se levar em conta não só o interesse do

menor, mas também daquele com quem estava sua guarda e o pode familiar

até o presente momento do reconhecimento do pai, pois seria desumano e

injusto com o filho separá-lo de quem sempre esteve presente em sua vida,

para entregá-lo a uma pessoa desconhecida, mesmo sendo essa seu

genitor168.

No âmbito dos filhos adotivos, não há o que se discutir

sobre a titularidade desta filiação, embora, legalmente esta filiação seja

legítima, visto que a adoção busca imitar a natureza, desta forma os direitos-

deveres dos pais adotantes são iguais aos consangüíneos169.

Esta disposição traduz o ditado pelo artigo 227, § 6º, da

Constituição Federal de 1988, onde se observa que os filhos havidos por 168 GOMES, Orlando. Direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 393 e 394. 169 GOMES, Orlando. Direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 393. 170 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil. vol. V. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 187. 171 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 518.

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adoção terão os mesmos direitos e qualificações que os filhos naturais, bem

como está proibida quaisquer designação discriminatória relativa à filiação.

Fabio Ulhoa Coelho alerta que:

No caso da adoção, provém o poder da constituição do vínculo de ascendência e descendência pela sentença judicial: no da filiação sócioafetiva, nasce natural e paralelamente à consolidação da relação afetiva e comportamento social de pais e filho170.

Como se verificou os filhos adotivos terão os mesmos

direitos que dos filhos advindos do matrimônio, sendo assim aos pais compete

o exercício do poder familiar. No caso desta adoção ocorrer apenas por um dos

pais, a este caberá, única e exclusivamente, o direito do exercício do poder

familiar171.

O poder familiar ou pátrio-poder, como foi verificado, é um

instituto, exercido pelos pais com relação aos filhos. Em contrapartida, existe a

figura de uma sanção, para aqueles pais que abusarem desse poder-dever, ou

deixarem de exercer as sua obrigações para com a prole, conforme será

analisado no próximo capítulo.

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3 CAPÍTULO

PERDA DO PÁTRIO-PODER OU PODER FAMILIAR

3.1 Modificação da terminologia

Com o advento da Constituição Federal de 1988, que

passou a determinar a igualdade constitucional entre homem e mulher, ocorreu

também a mudança da denominação pátrio-poder para poder familiar.

Sofrendo uma mudança substancial, o instituto até então

denominado pátrio-poder, perdeu seu sentido original, em função da

modificação das relações familiares. Esse instituto volta-se ao exercício de

poder dos pais sobre os filhos, constituindo um múnus, em que ressaltam os

deveres e as obrigações172.

Também a reforma do Código Civil, seguindo essa

mudança no decurso do tempo, alterou a denominação de pátrio-poder para

poder familiar, conforme verifica-se nos art. 1.630 e seguintes e que no código

de 1916 estavam expostos nos art. 379 e seguintes, com a denominação de

pátrio-poder.

Algumas discussões ocorreram em razão da mudança da

denominação do instituto pátrio-poder. O Código Civil optou pela denominação

poder familiar, preocupando-se em retirar da expressão a palavra “pátrio” por

fazer relação ao pai, sendo que o exercício deste instituto, é dos pais e não

unicamente ou exclusivamente do pai. Neste sentido, o instituto perdeu o seu

real conteúdo, que é a obrigação dos pais para com os filhos e não poder da

família, como sugere a nova denominação, “poder familiar” 173.

172 DIAS, Maria Berenice; PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de família e o novo código civil. 4 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 147. 173 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família. Volume 6. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 355.

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Segundo Gonçalves174, “a denominação “poder familiar” é

mais apropriada que pátrio poder utilizada pelo Código de 1916, mas não é a

mais adequada, porque ainda se reporta ao poder”.

Baseando-se no princípio de isonomia grafado no artigo

226, § 5º da Constituição Federal de 1988, o Estatuto da Criança e do

Adolescente, estabeleceu que o pátrio poder será exercido com igualdade de

poderes, tanto pelo pai quanto pela mãe175.

Segundo Veronese, Gouvêa e Silva176, a denominação

poder familiar, dada pelo Código Civil é:

Um misto de poder e dever imposto pelo Estado a Ambos os pais, em igualdade de condições, direcionado ao interesse do filho menor de idade não emancipado, que incide sobre a pessoa e o patrimônio deste filho e serve como meio para mantê-lo protege-lo e educá-lo.

Diante da transição pela qual passou o instituto poder

familiar, também, neste mesmo sentido, ocorreu a delimitação dos deveres-

direitos dos pais, ou seja, as obrigações inseridas no poder familiar. Sendo

assim, a Lei delimitou algumas sanções ou punições, para os pais que

deixarem de cumprir com suas obrigações para com a família.

3.2 FORMAS DE PERDA OU SUSPENSÃO DO PODER FAMILIAR OU

PÁTRIO PODER

Em Roma a patria potesta era vitalícia e só extinguia-se

com a morte do paterfamilias. No direito português, o instituto pátrio poder

174 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. vol. VI. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 359. 175 PEREIRA, Caio Maria da Silva. Instituições de direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 421 176 VERONESE, Josiane Rose Petry; GOUVÊA, Lúcia Ferreira de Bem; SILVA, Marcelo Francisco da. Poder familiar e tutela: à luz do novo código civil e do estatuto da criança e do adolescente. Florianópolis: OAB/SC, 2005, p.

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também era um direito perpétuo e a extinção só ocorria pela morte, pela

emancipação do filho ou se o filho se casasse177.

Observa-se, que o direito brasileiro diferencia-se desses

dois paises, uma vez que estabeleceu outras formas de extinção, assim como

criou as figuras jurídicas da suspensão e da perda do poder familiar178.

No Brasil o poder familiar é o sistema de proteção e

defesa do filho-família. Sendo assim, além do tempo ininterrupto que deve

durar o poder familiar o legislador também expõe algumas situações em que se

antecipa o seu termino, suspensão ou a sua extinção. O artigo 1.635 do Código

Civil prevê:179.

Art. 1.635. Extingue-se o poder familiar:

I – pela morte dos pais ou filho;

II – pela emancipação, nos termos do art. 5º, parágrafo único;

III – pela maioridade;

IV – pela adoção;

V – por decisão judicial, na forma do artigo 1.638.

Neste mesmo sentido, o artigo 24 do Estatuto da Criança

e do Adolescente estabelece a perda e a suspensão do pátrio poder.

Art. 24. A perda e a suspensão do pátrio poder serão decretadas judicialmente, em procedimento contraditório, nos casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese de descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a que alude o art. 22.

177 MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Direito de família no novo código civil brasileiro. 2. ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2003, p. 224. 178 MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Direito de família no novo código civil brasileiro. 2. ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2003, p. 224. 179 PEREIRA, Caio Maria da Silva. Instituições de direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 432.

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Venosa180, ressalta que o poder familiar é: “um múnus

que deve ser exercido fundamentalmente no interesse do filho menor, o Estado

pode interferir nessa relação, que, em síntese, afeta a célula familiar”.

A interferência do Estado ao fiscalizar o poder familiar,

tem o propósito de evitar que este exercício possa ser nocivo aos filhos.

Verificar se o comportamento dos pais, de um modo ou de outro, possa

prejudicar os filhos. No caso desse comportamento ser nocivo, a lei reage,

conforme for o tamanho ou a gravidade da falta praticada pelos pais, podendo

suspender ou destituir o pátrio poder ou poder familiar181.

É a lei quem disciplina, os casos onde deve ser privado

de forma definitiva ou temporária, o exercício do poder familiar bem como a

extinção deste, conforme previsto nos artigos 1.635 e seguintes do Código

Civil, sendo que a suspensão é a forma menos grave, na lei de punir os pais

que agiram de forma indevida.

3.2.1 Suspensão do poder familiar ou pátrio poder

Ocorre a suspensão do poder familiar ou pátrio poder, em

virtude da má conduta dos pais, ou até mesmo por ato involuntário dos

mesmos, tais atos estão estabelecidos no artigo 1.637 do Código Civil182.

A suspensão do poder familiar é uma pena com previsão

legal, cabe ao magistrado a decisão de aplicá-la. A sanção deve ser requerida

por algum parente ou pelo Ministério Público, em decorrência de pai ou mãe

abusarem do seu poder para com os filhos, faltarem com os seus deveres,

arruinarem os bens dos filhos ou, sendo os mesmos condenados, por sentença

180 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direito de família. Volume 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 331. 181 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família. Volume 6. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 368. 182 GOMES, Orlando. Direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 398.

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irrecorrível cuja pena exceda a dois anos de prisão, conforme o artigo 1.637 e

seu parágrafo único do Código Civil183.

Observa-se, que na suspensão, o exercício do poder

familiar é privado por tempo determinado, sobre os seus atributos ou somente

em parte. Assim sendo, pode atingir todos os filhos ou somente alguns ou um

deles. O Magistrado poderá privar o pai ou a mãe de administrar os bens do

filho ou dos filhos, no caso deste estar colocando em ruína os bens dos

filhos184.

Para Dias185, são quatro as hipóteses de suspensão do

poder familiar com base no artigo 1.637 do Código Civil, “O descumprimento

dos deveres a eles (pais) inerentes; ruína dos bens dos filhos; risco à

segurança do filho e condenação em virtude de crime cuja pena exceda dois

anos de prisão”.

O Estatuto da Criança e do Adolescente refere-se apenas

a perda e suspensão do pátrio poder. Em seu artigo 24 prevê que o

descumprimento injustificado dos deveres e das obrigações dos pais delimitado

no artigo 22 da mesma Lei. Esse artigo refere-se aos deveres de sustento da

prole, da guarda e educação da mesma, assim como as obrigações impostas

por determinação judicial186.

Rodrigues187 define a suspensão como medida

menos grave, de modo que: “extinta a causa que gerou, pode o juiz cancelá-la,

se não encontrar inconveniente na volta do menor para a companhia dos pais”.

Ressalta-se, ainda, que suspensão do poder familiar dá-

se por ato da autoridade judicial, tendo como base o artigo 1.637 do Código

183 MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Direito de família no novo código civil brasileiro. 2. ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2003, p. 225. 184 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 525 e 526. 185 DIAS, Maria Berenice; PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de família e o novo código civil. 4 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 160. 186 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direito de família. Volume 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 333. 187 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família. Volume 6. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 369.

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Civil, assim como o Estatuto da Criança e do Adolescente. Observa-se também

que a pena de suspensão é dada de acordo com o arbítrio do juiz, que neste

caso pode ou não aplicar esta sanção188.

Rizzardo189 considera que existem outras situações em

que o juiz pode usar de seu arbítrio, para suspender o poder familiar:

No caso de interdição de algum dos pais, na embriaguez habitual, no vício em drogas e práticas de crimes contra o patrimônio. Nesta mesma ordem, a improbidade dos pais, a declaração de ausência, os maus costumes, o desemprego contumaz e voluntário etc.

No processo de suspensão do poder familiar ou pátrio

poder, deve-se assegurar o direito do contraditório, com ampla possibilidade

de defesa dos acusados. O artigo 155 e seguintes, do Estatuto da Criança e do

Adolescente, determina como serão feitos os procedimentos para a suspensão

e perda do poder familiar190.

Neste sentido tem decidido os tribunais. Exemplifica-se

com as decisões dos tribunais do estado do RS, RJ, DF:

EMENTA: AGRAVO INTERNO. ECA. SUSPENSÃO DO PODER FAMILIAR. MANUTENÇÃO DAS CRIANÇAS EM ABRIGAMENTO. SOLUÇÃO QUE MELHOR ATENDE OS INTERESSES DAS INFANTES. Embora a manutenção dos filhos junto aos pais biológicos seja a solução ideal e que atende a todos os interesses, diante das suspeitas de abandono e de abuso sexual e dos relatos coletados nos estudos sociais até então realizados, a manutenção das crianças em abrigo institucional é a solução que melhor se ajusta no momento e vai ao encontro dos interesses das infantes, até que haja reversão do quadro familiar. RECURSO IMPROVIDO. (Agravo Nº 70023026370, Tribunal de Justiça do

188 PEREIRA, Caio Maria da Silva. Instituições de direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 434. 189 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 611. 190 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direito de família. Volume 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 333.

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RS, Relator: Claudir Fidelis Faccenda, Julgado em 13/03/2008)191.

EMENTA: SUSPENSÃO DO PÁTRIO PODER. MAUS TRATOS. SENTENÇA CONFIRMADA. AÇÃO DE SUSPENSÃO DO PÁTRIO PODER. EXISTÊNCIA DE MOTIVAÇÃO PARA A MEDIDA JUDICIAL. COMISSÃO E OMISSÃO DO DEVER FAMILIAR. Dentre as causas determinantes da suspensão do poder familiar se inserem os maus-tratos, ou seja, a chamada violência doméstica contra a criança, exatamente o que se verificou no caso concreto, fato confirmado pelos próprios pais/apelantes, sendo extraídas condutas comissivas por parte da mãe e omissivas com relação ao pai, que buscou minimizar fatos graves praticados pela primeira, os quais eram de seu pleno conhecimento, sendo que ainda pretendeu transferir seu dever de preservação da integridade física e psíquica de seus filhos menores a terceiros, como vizinhos. Destarte, no escopo de buscar ambiência sadia para os menores, e de assegurar formação moral, intelectual e material aos mesmos, a única medida que se afigura aplicável é a suspensão do poder familiar dos apelantes com relação aos seus filhos menores. Recurso conhecido e improvido. (Apelação Cível Nº 2004.001.11752, Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, relator Cláudio de Mello Tavares, julgado em 11/08/2004)192.

EMENTA: CIVIL - ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - ATOS CONTRÁRIOS À MORAL E AOS BONS COSTUMES - SUSPENSÃO DO PÁTRIO PODER -

CABIMENTO - BEM-ESTAR E SEGURANÇA DA CRIANÇA –

SENTENÇA-MANTIDA.UNÂNIME.

1 – perdera por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que

praticar atos contários à moral e aos bons costumes (art. 1.638, III, do CC).

2 – na guarda e proteção de menor há de se levar em conta o

191 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Suspensão do poder familiar. Agravo interno nº 70023026370. Relator: Desembargador Claudir Fidelis Faccenda. Oitava câmara cível, jugado em 13 de março de 2008. Disponível em: http://www.tj.rs.gov.br. Acesso em. 30 de abril de 2008. 192 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Suspensão do pátrio poder. Apelação Civel nº 2004.001.11752. Relator: Desembargador Cláudio de Mello Tavares. Décima primeira câmara cível, julgado em 11 de agosto de 2004. Disponível em: http://www.tj.rj.gov.br. Acesso em. 30 de abril de 2008.

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bem-estar e a segurança da criança, resguardando o seu desenvolvimento físico e mental, objetivo maior do ECA.

3 – comprovada a infringência dos deveres ou obrigações

relevantes por parte do genitor quanto ao filho menor, justifica-se a intervenção com a suspensão do pátrio poder.

4 – sentença mantida.(Apelação nº 20010130018019, tribunal

do Estado do DF, relator João Mariosa, julgado 15/03/2004)193.

Conforme pode ser constatado, a suspensão é uma pena

ou sanção menos grave aos pais faltosos com as suas obrigações. Diante de

uma reincidência, entre outras faltas graves, a sanção pode ser agravada com

a perda do poder familiar, nos casos que a lei determina.

3.2.2 Perda do poder familiar ou pátrio poder

A perda do poder familiar é tida como algo de maior

relevância, decorrente de um ato de suma gravidade na infringência dos

deveres paternos194.

A destituição do poder familiar é uma sanção mais grave

do que a suspensão, pois é decorrente da infringência dos pais, é decretada

por sentença, nos casos em que o magistrado verificar a ocorrência de causas

que justifiquem a sua decretação, pois essa medida é imperativa, alcança toda

a prole e não somente um ou alguns dos filhos, como na suspensão195.

Rodrigues196, ensina sobre a perda do poder familiar:

A perda do poder familiar é sanção de maior alcance e corresponde à infringência de um dever mais relevante, (...), não é como a suspensão, medida de índole temporária. Ademais, a destituição é medida imperativa e não facultativa.

193 BRASIL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Suspensão do pátrio poder. Apelação nº 20010130018019. Relator: Desembargador João Mariosa. 2ª turma cível, jugado em 15 de março de 2004. Disponível em: http://www.tj.df.gov.br. Acesso em. 30 de abril de 2008. 194 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 611. 195 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 527. 196 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família. Volume 6. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 369.

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A perda do pátrio poder está prevista no artigo 1.638 do

Código Civil e no artigo 24 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou mãe que:

I – castigar imoderadamente o filho;

II – deixar o filho em abandono;

III – praticar atos contrários à moral e aos bons costumes;

IV – incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo antecedente.

Somente a autoridade judicial, é quem pode decretar a

perda do pátrio poder nos casos em que os pais decorrerem em situações

irregulares com relação a prole, como o descumprimento sem justa causa de

suas obrigações paternas, ou a impossibilidade de prover a subsistência da

prole, ou ainda impor castigos imoderados, bem como expor os filhos a prática

de atos contra a moral e aos bons costumes197.

Pereira198, a perda do poder familiar é, “a mais grave

sanção imposta ao que faltar aos seus deveres para com o filho, ou falhar em

relação à sua condição paterna ou materna”.

Sendo a perda do poder familiar personalíssima, significa

que alcança a penas o pai ou a mãe que der causa, a este fato, ou seja, não

atingindo aquele que não deu causa à medida199.

197 GOMES, Orlando. Direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 399. 198 PEREIRA, Caio Maria da Silva. Instituições de direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 435. 199 COMEL, Denise Damo. Do poder familiar. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 284. 200 MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Direito de família no novo código civil brasileiro. 2. ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2003, p. 226. 201 PEREIRA, Caio Maria da Silva. Instituições de direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 436. 202 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 528.

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Referente ao o inciso І do art. 1.638 do Código Civil, que

trata do castigo aplicado imoderadamente, observa-se que, o pai ou mãe que

castigar o filho de forma moderada, buscando à correção do caráter do filho,

não incide neste artigo, pois este castigo faz parte do dever dos pais na criação

da prole. O que não se aceita é o castigo de forma brutal e imoderado, sendo

nocivo à saúde e à integridade física do menor200.

Segundo Pereira201, “é certo que os pais podem, e devem

mesmo castigar os filhos nos seus erros de conduta, certo é também que não

podem abusar”.

Sendo o filho castigado de forma imoderada, cabe ao

magistrado decretar a perda do poder familiar ao pai ou a mãe que der causa a

essa situação irregular, sendo o menor vitima de maus-tratos, em que o mesmo

é exposto202.

Com relação ao castigo, decorre uma grande

controvérsia, alguns autores entendem que esta infração, prevista pelo art.

1.638, em seu inciso Ι, do Código Civil, refere-se apenas ao excesso,

significando que o Código Civil admite o castigo físico moderado. De outro lado

deve-se levar em conta que o art. 227 da Constituição Federal de 1988,

observa que é dever, tanto da família quanto da sociedade e do Estado,

assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, dentre outros

direitos, o direito à dignidade e ao respeito, além de colocá-los a salvo de toda

violência, crueldade e opressão203.

Nesse mesmo sentido é polêmico o legislador ao tratar do

inciso ΙΙ, do artigo 1.638 do Código Civil, referente a deixar o filho em

203 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. vol. VI. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 373 e 374.

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abandono, que pode decorrer em várias circunstâncias, com intensidade ou

não. Não podendo, portanto, serem julgados todos da mesma forma204.

Conforme ensina Rodrigues205, “o abandono não é

apenas o ato de deixar o filho sem assistência material, fora do lar, mas o

descaso intencional pela sua criação, educação e moralidade”.

Com base no artigo 227 da Constituição Federal de 1988,

onde é resguardado a criança e o adolescente o direito à convivência familiar e

comunitária. Verifica-se que o abandono priva o menor deste direito, além de

prejudicá-lo em vários sentidos206.

Abandonar o filho, é uma infração, exercida pelos pais, na

falta dos seus deveres. Ao abandonar o menor o pai nega o filho assistência

econômica, meios de alimentar, convívio familiar, moral, direito a educação e

assistência médica207.

Neste sentido, verificando a necessidade de destituição

do poder familiar, é obrigatório o processo de destituição, sendo dispensado o

consentimento dos pais, devendo o infrator ser citado por edital na forma do

art. 231, Ι, do Código de Processo Civil208.

Com relação ao inciso ΙΙΙ, do artigo 1.638 do Código Civil,

que trata da prática de atos contrários à moral e aos bons costumes, refere-se

ao pai que leva uma vida desregrada, imoral, indecente e licenciosa.

Praticando atos que estão em desacordo com a moral e os bons costumes,

ficando bem claro que, não existe qualquer condição de exercer a função

paterna209.

204 DIAS, Maria Berenice; PEREIRA Rodrigo da Cunha. Direito de família e o novo código civil. 4 ed.. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 161. 205 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família. Volume 6. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 371. 206 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. vol. VI. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 374. 207 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 612. 208 PEREIRA, Caio Maria da Silva. Instituições de direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 436. 209 COMEL, Denise Damo. Do poder familiar. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003, p. 290

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Rizzardo210 define que os filhos, enquanto menores, são

facilmente influenciáveis, “o que exige uma postura pelo menos aparentemente

digna e honrada dos pais, pois o lar é uma escola onde se forma e amoldam os

caracteres e a personalidade dos filhos”.

O inciso III do art. 1.638 do Código civil, tem uma

amplitude maior, no sentido moral e social, em diversos aspectos, como por

exemplo, o alcoolismo, vadiagem, mendicância, uso de substâncias

entorpecentes, a prática da prostituição, dentre outras condutas que de incluam

na expressão atos contra a moral e aos bons costumes211.

No caso do inciso ІV, do artigo 1.638 do Código Civil, que

se refere a reincidência reiterada, nas faltas previstas no art. 1.637 do Código

Civil, trata-se de uma inovação trazida pelo legislador na reforma do Código

Civil de 2002 que acrescentou este dispositivo visando o abuso cometido pelos

pais, na repetida incidência, que causa a suspensão do poder familiar212.

Nota-se, que tal medida, devido a sua gravidade, requerer

muita cautela ao ser levada em conta pelo magistrado, devendo analisar com

muito cuidado o reincidente do ato, previsto no artigo 1.637 do Código Civil,

devendo aplicá-lo somente em situações excepcionais, pois o interesse do

menor deve prevalecer213.

O inciso IV do art. 1.638 do Código Civil veio para trazer

uma maior proteção ao menor. A perda do poder familiar ocorrerá se os pais

voltarem a cometer as mesmas faltas referentes aos seus deveres paternais.

Neste sentido, houve uma ampliação na proteção do direito do menor,

cuidando para que o bom desenvolvimento e a educação do mesmo não sejam

prejudicadas214.

210 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 613. 211 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. vol. VI. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 375. 212 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família. Volume 6. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 371. 213 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 529. 214 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 529.

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Neste sentido tem decidido os tribunais, exemplificando-

se com as decisões dos Estados de SC e RS:

EMENTA: DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR. ALEGAÇÃO DE SENTENÇA CONTRÁRIA ÀS PROVAS DOS AUTOS. NÃO ACOLHIMENTO. Entrega da menor, pela genitora, por duas vezes, a terceiros, os quais, conforme evidenciado nos autos, tinham a nítida intenção de adota-la. Atitude que configura o abandono e a prática de atos atentatórios à moral e aos bons costumes, ambas de forma reiterada. Hipóteses que ensejam a perda do poder familiar, nos termos do art. 1.638, II, III e IV do CC. Sentença mantida. Recurso desprovido. (Apelação Cível nº 2005.017722-7, Tribunal de Justiça do Estado de SC, Relator: Maria do Rocio Luz Santa Ritta, julgado em 23/08/2005)215.

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - AÇÃO DE DESTITUIÇÃO DE PODER FAMILIAR - AÇÃO AJUIZADA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO - SITUAÇÃO DE RISCO PARA O INFANTE - EVIDENCIADO O ESTADO DE ABANDONO DA CRIANÇA QUE SE ENCONTRA RECOLHIDA EM ABRIGO PARA MENORES - AMBIENTE FAMILIAR INADEQUADO - ELEMENTOS DE PROVA QUE CONFIRMAM A AUSÊNCIA DE CONDIÇÕES ESSENCIAIS AO PLENO DESENVOLVIMENTO DO INFANTE, EM FACE DA VIDA DESREGRADA DOS GENITORES - MÃE QUE NÃO REÚNE CONDIÇÕES PESSOAIS - NEGLIGÊNCIA TOTAL DOS GENITORES CARACTERIZADA - INTELIGÊNCIA DO ART. 1.638 DO CÓDIGO CIVIL E ART. 22 DO ECA - FALTA DE CONDIÇÕES ESSENCIAIS AO PLENO DESENVOLVIMENTO DA INFANTE - ABANDONO CARACTERIZADO - PREVALÊNCIA DO INTERESSE DO DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL DO MENOR - SENTENÇA MANTIDA - RECURSO DESPROVIDO. Em atenção ao princípio do melhor interesse da criança, impõem-se a destituição do poder familiar quando demonstrado que os pais biológicos não possuem capacidade psicológica e não proporcionam a seus filhos, de tenra idade, o mínimo de condições para a sua formação saudável e digna, deixando de oferecer assistência material adequada e submetendo-os a maus-tratos, com prejuízos irreversíveis para a sua formação.

215 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. Destituição do poder familiar. Apelação cível nº 2005.017722-7. Relator: Desembargador Maria do Rocio Luz Santa Ritta. Papanduva, jugado em 23 de agosto de 2005. Disponível em: http://www.tj.sc.gov.br. Acesso em. 30 de abril de 2008.

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(Apelação cível nº 2005.021599-8, Tribunal de Justiça do

Estado de SC, Relator: José Mazoni Ferreira, julgado em 22/09/2005)216.

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR. PROCEDÊNCIA. Tendo a mãe/apelante relegado a filha ao mais completo abandono, e não apresentando condições de exercer as funções parentais, outro caminho não resta senão a confirmação da sentença que a destituiu do poder familiar, possibilitando, assim, que a menor tenha sua situação de vida definida junto às famílias substitutas.

Precedentes. Recurso desprovido. ( Apelação Cível nº 70022808091, Tribunal de Justiça do Estado do RS, relator José Ataídes Siqueira Trindade, julgado em 17/04/2008)217.

Vale destacar a extinção do poder familiar, que é

decorrente de fatores naturais, de pleno direito ou decorre de decisão judicial.

3.2.3 Extinção do poder familiar ou pátrio poder

A extinção é considerada a forma menos complexa, com

relação às outras formas (suspensão e destituição), em razão de sua própria

natureza, que independe da vontade dos pais bem como dos eventuais

eventos a determinem218.

Classificada em “absoluto e relativo” no que diz respeito

ao detalhe de sua extinção ou com relação a pessoa que o exerce, sendo que

os “absolutos” vão implicar em causa de extinção propriamente dita, enquanto

216 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. Ação de destituição do poder familiar. Apelação cível nº 2005.021599-8. Relator: Desembargador José Mazoni Ferreira. Gaspar, julgado em 22 de setembro de 2005. Disponível em: http://www.tj.sc.gov.br. Acesso em. 30 de abril de 2008. 217 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. De destituição do poder familiar. Apelação cível nº 70022808091. Relator: Desembargador José Ataídes Siqueira Trindade. Oitava Câmara Cível, julgado em 17 de abril de 2008. Disponível em: http://www.tj.rs.gov.br. Acesso em. 14 de maio de 2008. 218 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 607.

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os “relativos” vão implicar em causas de perda por suspensão do poder

familiar219.

Observa-se, que o poder familiar se extingue ipso iure,

conforme o artigo 1.635 do Código Civil, que menciona a extinção por morte

dos pais ou prole, emancipação da prole, maioridade dos filhos, adoção e por

determinação judicial220.

Rui Ribeiro de Magalhães, define como causa de extinção

do poder familiar:

Pela morte dos pais ou filho, causa natural; a emancipação, nas formas que a lei prevê; a maioridade, que se atinge aos dezoito anos de idade; e a adoção, esta com relação aos pais biológicos221.

Ocorre a extinção do poder familiar, com base no art.

1.635 do Código Civil, já mencionado, nas seguintes hipóteses que se passa a

elencar:

Consta no inciso І, do artigo 1.635 do Código Civil que,

pela morte do filho ou dos pais, ocorrendo o falecimento do pai ou a mãe, o

poder familiar, se concentrara no que sobreviver. Se ocorrer a comoriência, o

poder familiar ficara extinto. Ocorrendo o falecimento do filho, desaparece o

vinculo de uma relação jurídica, que foi criada pelo pai com relação ao filho, o

então “poder familiar”, que o pai exerce sobre o filho222;

Na hipótese do inciso ΙΙ, do artigo 1.635 do Código Civil,

pela emancipação, conforme o art. 5º, parágrafo único do Código Civil, prevê a

219 COMEL, Denise Damo. Do poder familiar. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003, p. 298 220 WALD, Arnoldo. O novo direito de família. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 286. 221 MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Direito de família no novo código civil brasileiro. 2. ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2003, p. 224. 222 PEREIRA, Caio Maria da Silva. Instituições de direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 433.

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aquisição da capacidade civil, antes de completar a maior idade, onde deixa de

ser submetido ao exercício do pátrio poder, com isso ocorre a extinção223;

No tocante ao inciso ІІІ, do artigo 1.635 do Código Civil,

que refere-se a maior idade, que é determinada por lei, quando o indivíduo

atingir 18 (dezoito) anos, ocorra a capacidade civil, este mesmo indivíduo, não

necessita mais da proteção dos pais, exercida através do poder familiar,

ocorrendo então a extinção do poder familiar224;

Ao tratar do inciso ΙV, do artigo 1.635 do Código Civil,

verifica-se, a adoção, que é decorrente de uma transferência do pátrio-poder,

do pai natural para o pai adotivo. Mesmo assim não deixa de ser uma espécie

de extinção, pois o pai biológico perde o poder e não pode mais restaurar

mesmo que o pai adotivo venha a falecer225;

O inciso V, do artigo 1.635 do Código Civil, trata da

decisão judicial decorrente das hipóteses do artigo 1.638 do Código Civil.

Decisões estas que já foram objeto de estudo nessa monografia no item

3.2.2226.

Lisboa define a extinção do poder familiar como, “o

término do exercício do poder-dever sobre o filho, por fatores diversos da

suspensão ou destituição e que não podem ser imputados em desfavor do

detentor”227.

Neste sentido tem decidido os tribunais, exemplificados

por decisões dos Estados de SC, RS:

223 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p.531. 224 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família. Volume 6. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 372. 225 GOMES, Orlando. Direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 398. 226 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 531. 227 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. Volume 5. 3. ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2004, p. 273.

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EMENTA: DIREITO DE FAMÍLIA - ECA - ADOÇÃO - ENTREGA DE MENOR COM POUCOS MESES DE VIDA MEDIANTE GUARDA A FAMÍLIA SUBSTITUTA POR DELIBERAÇÃO DOS PAIS BIOLÓGICOS - AUSÊNCIA DE CONVÍVIO MÍNIMO PARA A MANUTENÇÃO DE VÍNCULOS AFETIVOS ENTRE A CRIANÇA E SEUS GENITORES - ABANDONO PSICOLÓGICO CONFIGURADO - LAÇOS FAMILIARES ESTABELECIDOS COM OS PRETENSOS ADOTANTES - EXTINÇÃO DO PODER FAMILIAR - ADOÇÃO DEFERIDA - RECURSO DESPROVIDO 1. Configura-se o abandono psicológico dos pais biológicos que entregam o filho, mediante guarda, a família substituta e não conservam nem mantêm o mínimo de convívio necessário para a estabilidade dos vínculos afetivos durante sua criação e desenvolvimento. 2. Deve ser deferida a adoção ao casal que detém a guarda do adotando adolescente desde que ele tinha poucos meses de vida e desde então provê toda gama de obrigações que se impõe aos pais, sendo-lhe conferidos educação, alimentação, lazer e, sobretudo, carinho familiar. (Apelação Cível nº 2003.012201-0, Tribunal de Justiça do Estado de SC, Relator:

Marcus Túlio Sartorato, julgado em 28/05/2004)228.

EMENTA: DIVÓRCIO DIRETO. ALIMENTOS PROVISÓRIOS PARA A PROLE. FIXAÇÃO. FILHA QUE CONTRAI CASAMENTO NO CURSO DA LIDE, CONSTITUINDO NOVA FAMÍLIA. ILEGITIMIDADE DA MÃE. Exclui-se da relação processual a filha que não mais se encontra sob o poder familiar, eis que com plena capacidade para os atos da vida civil. Muito embora não tenha concluído o curso superior, o pensionamento não pode ser objeto de decisão no âmbito do processo de divórcio dos pais. Agravo provido. (Agravo de

Instrumento Nº 70005885215, Tribunal de Justiça do RS,

Relator: José Carlos Teixeira Giorgis, Julgado em 18/06/2003)229.

228 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. Adoção (extinção do poder familiar). Apelação cível nº 2003.012201-0. Relator: Desembargador Marcus Túlio Sartorato . Araranguá., jugado em 28 de maio de 2004. Disponível em: http://www.tj.sc.gov.br. Acesso em. 30 de abril de 2008. 229 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Divórcio direto, Alimentos provisórios para a prole(extinção do poder familiar). Agravo de Instrumento nº 70005885215. Relator: Desembargador José Carlos Teixeira Giorgis. Sétima Câmara Cível, jugado em 18 de junho de 2003. Disponível em: http://www.tj.rs.gov.br. Acesso em. 14 de maio de 2008.

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Constata-se, que a perda do poder familiar ocorre por

vários motivos previstos em Lei. Existe uma divergência com relação a perda

do poder familiar ou pátrio-poder, na forma do abandono. O inciso II, do artigo

1.638 do Código Civil, prevê a perda do poder familiar pelo abandono, não

definindo ou delimitando esse abandono. Já com relação ao artigo 23 caput, do

Estatuto da Criança e do Adolescente, prevê que a falta de carência de

recursos materiais não são motivos suficientes para levar a perda do poder

familiar ou pátrio-poder.

3.3 PERDA DO PODER FAMILIAR OU PÁTRIO-PODER PELO ABANDONO

MATERIAL

O Código Civil, em seu artigo 1.638, inciso II, refere-se a

perda do poder familiar pelo “abandono”, sem delimitar quais tipos de

abandono, levando ao entendimento de que qualquer tipo de abandono, leva

aos pais a perda do poder familiar. Entretanto, o artigo 23 do Estatuto da

Criança e do Adolescente, estabelece que a falta de carência material não é

causa de perda ou suspensão do pátrio-poder, cabendo ao Estado suprir essa

carência, dando condições mínimas de sobrevivência ao menor230:

Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente para a perda ou a suspensão do pátrio poder.

Parágrafo único. Não existindo outro motivo que por si só autorize a decretação da medida, a criança ou o adolescente será mantido em sua família de origem, a qual deverá obrigatoriamente ser incluída em programas oficiais de auxílio.

Segundo Comel231, o abandono do filho é:

Ato que implica desatendimento direto do dever de guarda, bem como do de criação e educação. Revela falta de aptidão para o exercício e justifica plenamente a privação, tendo em vista que coloca o filho em situação de grava perigo, seja

230 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direito de família. Volume 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 334. 231 COMEL, Denise Damo. Do poder familiar. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003, p. 288.

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quanto à segurança e integridade pessoal, seja quanto à saúde e à moralidade.

Quando o abandono do menor ocorre por dificuldades

financeiras ou por problemas de saúde, a solução preferencial é a suspensão

ou guarda, no caso de existir a possibilidade de retorno dos menores para os

pais ou apenas para um deles232.

Observa-se que o artigo 227 da Constituição Federal de

1988, prevê que toda a criança e adolescente tem direito “á convivência familiar

e comunitária”. Porem o estado de abandono priva o menor deste direito, além

de prejudicá-lo de várias formas233.

Verificou-se, que o abandono material, coloca não só a

vida do menor em risco como a sua saúde e sobrevivência234.

Schwertner235, ensina que o abandono do menor é aquele

que:

[...] pode encaminhá-lo à miséria, à fome, ao convívio com a delinqüência, com as drogas e outros fatores extremamente negativos. Se comprovado ficar que o abandono é decorrente de desleixo, desinteresse dos que o Pátrio Poder detém, a destituição ocorrerá, mas não liberará os pais da obrigação alimentar, pois essa surge do vínculo parental e não do Pátrio Poder.

O abandono de menor é muito freqüente nas famílias

brasileiras. Os casos mais comuns são quando um dos pais abandona o lar,

deixando de fornecer meios para mantença da família, ficando esta em total

abandono. O estado de abandono leva o menor, em muitos casos, a vadiagem,

mendigar perambulando pelas ruas, entregue a própria sorte. A situação mais 232 DIAS, Maria Berenice; PEREIRA Rodrigo da Cunha. Direito de família e o novo código civil. 4 ed.. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 161. 233 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. vol. VI. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 374. 234 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. vol. VI. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 374. 235 SCHWERTNER, Vera Maria. Guarda compartilhada. Disponível em: http://www.apase.org.br. Acessado em 15 de maio de 2008.

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grave é quando esse menor é levado a praticar atos criminosos, como

consumo, ou trafico de drogas, prostituição, entre outros236.

Conforme já foi mencionado referente ao artigo 23 do

Estatuto da Criança e do Adolescente, determina que “a falta ou carência de

recursos materiais não constitui motivos suficientes para perda ou suspensão

do pátrio-poder”. Vale salientar que é aceitável esta determinação prevista em

Lei, desde que seja nos casos de omissão ou total ausência de desempenho

dos pais. Por outro lado, observa-se que a maior parte dos menores

abandonados, em estado de delinqüência, que vivem pelas ruas, são

provenientes de famílias carentes que advém de favelas, sendo na maioria dos

casos de pais desconhecidos, e quando identificados não possuem qualquer

condição para manter o filho237.

Conforme expressa Comel238, sobre o caso que justifica a

perda do poder familiar pelo abandono: “é aquele em que o pai deixa o filho à

mercê da própria sorte, ainda que com terceira pessoa ou com o outro pai, mas

que não tenha condição alguma de atendê-lo”.

Segundo Schwertner239 expõe sobre a dificuldade de

determinar quando ocorre o abandono por ato voluntário ou por ato

involuntário, decorrente da pobreza:

A quantidade de menores que, ininterruptamente vimos nas ruas, nos demonstram que difícil é determinar se o abandono é voluntário ou decorrente da pobreza, da situação caótica, sem expectativa e sem esperança dos pais. Programas oficiais de auxílio existem, mas não atingem a maioria dos necessitados.

236 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 612. 237 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 612 e 613. 238 COMEL, Denise Damo. Do poder familiar. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003, p. 288. 239 SCHWERTNER, Vera Maria. Guarda compartilhada. Disponível em: www.apase.org.br. Acessado em 15 de maio de 2008.

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Neste mesmo sentido, verifica-se que existem outras

formas de abandono, que pode ser moral e intelectual, que importam no

descaso com a educação e moralidade do menor240.

O Código Penal, em seu capítulo III, trata dos crimes

contra a assistência familiar, prevê em seus artigos, o abandono material art.

244 do Código Penal; abandono intelectual art. 246 do Código Penal;

abandono moral art. 247 do Código Penal, o Código Penal também prevê o

abandono de incapaz art. 133 e abandono de recém-nascido art. 134241.

Neste sentido vem decidindo os nossos tribunais:

EMENTA: APELAÇÃO. DESTITUIÇÃO DE PÁTRIO PODER MOVIDA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO. NOMEAÇÃO DE CURADOR ESPECIAL AO MENOR. DESNECESSIDADE. Preliminar. Tratando de ação de destituição de pátrio poder promovida pelo órgão ministerial, decorre a desnecessidade de nomeação de curador ao menor, segundo Uniformização de Jurisprudência nº 70005968870. SÚMULA nº 22 do TJERGS ¿ Nas ações de destituição/suspensão do pátrio poder, promovida pelo Ministério Público, n.(Apelação Cível nº 70005810890, Tribunal de Justiça do RS, relator Rui

Portanova, julgado em 26/06/2003)242.

Nota-se, que no Brasil, as famílias passam por diversas

dificuldades. Ao verifica uma dessa situações, como no caso de um menor sob

o poder familiar ou pátrio poder dos pais biológicos, todos vivendo em total

carência material, sem ter ma maioria das vezes comida, vestimentas

adequadas, uma moradia digna, entre outras coisas fundamentais para sua

vida, tal situação de pobreza em que esse menor vive, faz com que o mesmo

não possa ir para a aula. Nesse caso, além do menor estar sofrendo o

240 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. vol. VI. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 374. 241 BRASIL. Decreto Lei n. 2.848, de 07 de setembro de 1940. Código Penal. http://www.planalto.gov.br. Acessada em 15 de maio de 2008. art. 133, 134, 244, 246, 247. 242 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Destituição do pátrio poder. Apelação cível nº70005810890. Relator: Desembargador Rui Portanova, Oitava Câmara Cível, julgado em 26 de junho de 2003. Disponível em: http://www.tj.rs.gov.br. Acesso em. 30 de abril de 2008.

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abandono material, esta situação o leva a sofrer um outro tipo de abandono,

que é o abandono intelectual, decorrente do material.

Outro tipo de situação muito comum, é a da mãe solteira,

de família humilde, com dificuldades financeiras, que é abandonada pelo seu

namorado ou companheiro ao engravidar portanto, vivendo em constante

abandono material. Diante desta situação, que futuro terá essa criança? Será,

esse menor incluído em programas assistenciais?

È constatado, que de fato existem programas

assistenciais, porém não para todos. De qualquer maneira, estes programas só

auxiliam, mas não tiram as famílias da total miséria em que vivem, apenas

ajudam –nas a sobreviver. Será que de maneira digna?

Verifica-se, que no Brasil não existem programas de

natalidade. A existência destes programas iriam minimizar, até mesmo, colocar

fim a essa situação, vivida pela grande maioria da população carente no Brasil,

com numerosos filhos.

Como não existe esse controle de natalidade no Brasil,

observa-se a necessidade da perda do poder familiar ou pátrio poder, para

resguardar o interesse desse menor conforme prevê o art. 22 do Estatuto da

Criança e do Adolescente.

Pôr fim, com a perda do poder familiar ou pátrio poder,

pela carência do abandono material, ocorreria uma grande diminuição da

marginalidade dos menores. Nota-se que, a cada ano, cresce o numero de

menores infratores e que na maioria dos casos são levados a vida criminosa

por não terem outra opção, ou seja, não tiveram uma oportunidade de vida

melhor, a qual todos nós temos direito, conforme prevê a nossa Constituição

Federal.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na pesquisa, que tem por objetivo demonstrar a

possibilidade da perda do poder familiar ou pátrio poder pelo abandono

material.

Verificou-se, que existem grandes divergência, com

relação a essa perda do poder familiar ou pátrio-poder pelo abandono material.

Conforme, o art. 1.638, inciso II do Código Civil, onde

prevê a perda do poder familiar ou pátrio poder, para os pais que deixam os

filhos em abandono. Porém, o mesmo não prevê o conceito da palavra

“abandono”, dando entendimento, para qualquer ato de abandono que o menor

possa vir a sofrer.

Noutra seara, observa-se que o Estatuto da Criança e do

Adolescente, no seu artigo 23, prevê que o abandono material não é causa, por

si só, para perda do poder familiar ou pátrio-poder. Deve-se levar em

consideração as condições de vida da família avaliada, principalmente quando

ela se encontra em estado de carência, assim encaminhando-a para projetos

assistenciais.

Nota-se que esses projetos assistenciais descritos no

Estatuto da Criança e do Adolescente também encontram-se previstos na art.

227, § 1º da Constituição Federal de 1988. Entretanto, esses programas

assistenciais não são suficientes para suprir a necessidade da população

brasileira necessitada, que se encontra em estado de total carência material.

No entanto, o artigo 23 do Estatuto da Criança e do Adolescente, não

especifica em que situação o abandono material não deve ser levado em conta,

não conceituando que tipo de família esse artigo deve atingir.

Existem situações que não seria justificável a perda do

poder familiar ou pátrio-poder pelo abandono. Porém, existem situações em

que o abandono material deve ser levado em consideração, para a sua

destituição.

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O abandono material sempre traz outras conseqüências,

como também outros tipos de abandonos, por exemplo, o intelectual, o moral,

entre outros.

No Brasil, ocorrem situações nas famílias como, filhos

menores sob o poder familiar ou pátrio-poder, dos pais biológicos, que vivem

em situação miserável, sem ter muitas vezes o que comer, esse menor não

tem roupas adequadas nem calçados, entre outras coisa essenciais para a sua

vida, esta situação de pobreza faz com que ele não possa ir para a aula. Neste

caso, além do menor estar sofrendo o abandono material, esta situação leva a

sofrer um outro tipo de abandono, que é o abandono intelectual, decorrente do

material.

Outra situação corriqueira é a da mãe solteira, de família

humilde, com dificuldades financeiras, que é abandonada pelo seu namorado

ou companheiro ao engravidar portanto, vivendo em constante abandono

material.

É constatado que de fato existem programas

assistenciais, porém não para todos. De qualquer maneira, estes programas,

só auxiliam, mas não tiram as famílias da total miséria em que vivem, apenas

ajudam-nas a sobreviver.

Observa-se, que no Brasil não existem programas de

natalidade. A existência destes programas iriam minimizar, até mesmo, pôr

colocar fim a essa situação vivida pela maioria das famílias carentes, com

numerosos filhos.

Como não existe esse controle da natalidade em nosso

país, observa-se, a necessidade da perda do poder familiar ou pátrio-poder

para resguardar o interesse desse menor conforme prevê o art. 22 do Estatuto

da Criança e do Adolescente.

Por fim, esta pesquisa procurou demonstrar que, mesmo

ocorrendo divergência nas leis brasileiras, verifica-se à existência da

destituição do poder familiar ou pátrio-poder pela carência do abandono

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material. Conclui-se, que o abandono material é o fator principal, na maioria

dos casos, para a perda do poder dos pais.

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ANEXO

ANEXO 1: BANDEIRA, Marcos Antônio. Sentença: Tutela – destituição do poder familiar. Disponível em: http://www.amab.com.br/marcosbandeira/sentenca.php?cod=36. acessado em 15 de maio de 2008.

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Tutela - Destituição do Poder Familiar publicada em 09-11-2007 Ementa: TUTELA - NECESSIDADE DE PRÉVIA DESTITUIÇÃO OU SUSPENSÃO DO PODER FAMILIAR - PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 36 DO ECA - ABANDONO MATERIAL - PRESERVAÇÃO DOS INTERESSES SUPERIORES DA CRIANÇA

Proc. nº 14698-1/2005 TUTELA

REQUERENTE: ANTONIO CARLOS SOUZA

ADVOGADO DO REQUERENTE: BEL. CARLOS SAMPAIO MENDES

TUTELADA: PATRICIA SANTOS

ANTONIO CARLOS SOUZA, devidamente qualificado nos

autos, ajuizou AÇÃO DE TUTELA contra MARCOS PAULO E MÔNICA

SOUZA qualificados nos autos, em face da criança Patricia Santos e com

fundamento nos dispositivos pertinentes da Lei nº 8.069/90 e do Código

Civil Brasileiro, alegando , em síntese, que é avô paterno da tutelada , a

qual foi deixada assim que nasceu na sua porta, desnutrida e cheio de

feridas, como se fosse um objeto sem qualquer importância.

Aduz o ilustre advogado que o requerente vem cuidando

muito bem da criança e reúne todas as condições, nos termos estabelecidos

pelo Código Civil para ser tutor, mesmo porque os pais biológicos não

dispõem das condições mínimas de cuidar da infante.

Requereu, por conseguinte, a concessão do pedido após a

ouvida do Ministério Público, bem como o benefício da assistência judiciária

gratuita.

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Atribuiu-se à causa o valor de R$ 500,00(quinhentos reais)

e a exordial veio acompanhada dos documentos de fls.05 a 13.

O pedido foi processado inicialmente perante a 4ª Vara

Cível desta Comarca, cuja juíza titular declinou da competência por

entender que a criança encontrava-se em situação de risco, remetendo os

autos para esta Vara especializada.

Este Juízo determinou a abertura de vistas ao Ministério

Público, o qual pediu providências, as quais foram cumpridas pelo ilustre

advogado do requerente. O s demandados foram citados pessoalmente,

todavia, quedaram-se inertes e deixaram transcorrer “in albis” o prazo legal

para impugnar o pedido, ensejando que este Juízo, em face do caráter

indisponível do poder familiar , se lhes nomeasse defensor dativo, o qual

funcionou regularmente no feito acompanhado toda a fase procedimental.

Nesse interregno foi juntado aos autos o Relatório do Estudo Social do Caso

( fls.50/52) e realizada a audiência de instrução, na qual foram inquiridas

as testemunhas Ronaldo Pinheiro e Sandra Feitosa, arroladas pela parte

demandante. Finalmente, o ilustre parquet, na condição de “custos legis”

emitiu parecer favorável ao pedido, consoante se infere de sua promoção

de fls.39. Vieram-me os autos conclusos.

É O RELATÓRIO.

DA FUNDAMENTAÇÃO E DECISÃO.

Como se sabe o poder familiar consubstancia-se no

conjunto de direitos e deveres atribuídos ao pais para dirigir e reger a vida

dos filhos menores. Logo, como se percebe o poder familiar não coexiste

com a tutela, pois este pressupõe a perda ou pelo menos a suspensão do

poder familiar, consoante dispõe o parágrafo único do art. 36 da lei nº

8.069/90, “in verbis”:

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Art. 36 – A tutela será deferida , nos termos da lei

civil, pessoa de até 21 (vinte e um) anos incompletos.

Parágrafo único – O deferimento da tutela

pressupõe a prévia decretação da perda ou suspensão do pátrio

poder e implica necessariamente o dever de guarda.

É Cediço que o poder familiar é um múnus instituído

fundamentalmente no interesse superior de proteger a criança e

adolescente no seio de sua família de origem. Logo, quando houver falta no

exercício deste poder, capaz de colocar a criança em situação de risco

social ou moral, à guisa do ECA, deve o Estado-Juiz, quando provocado ,

intervir afastando os genitores, sejam definitiva ou temporariamente,

dependendo da gravidade do fato que lhes é imputado.

Na hipótese vertente, vê-se que a tutelada foi abandonada,

entregue a própria sorte e deixada na porta da casa do requerente,

configurando, sem dúvida, estado de abandono material, a teor do que

dispõe o art. 1.638, II do Código Civil Brasileiro, ensejando, destarte,a

perda do poder familiar. As provas constantes dos autos indicam que a

infante encontrava-se exposta à situação potencial de risco, pois

apresentava sinais de desnutrição, feridas expostas e poderia ser alvo de

qualquer agressão. Reforçando ainda essa assertiva, vê-se que durante

mais de quatro anos os genitores simplesmente desistiram de criar a

infante, pois jamais esboçaram qualquer gesto de arrependimento ou

sequer de tentar reaver sua filha, caracterizando, de forma solar, o

descumprimento injustificado dos deveres inerentes ao poder familiar.

Por outro lado, o Relatório do Estudo Social do caso revela

que a criança já se encontra totalmente integrada ao lar substituto, no qual

vem recebendo toda a assistência material e afeto, indispensáveis para o

seu pleno desenvolvimento físico, mental, moral e espiritual.

As demais formalidades legais foram observadas, inclusive

no que toca a incidência do princípio do contraditório e da ampla defesa,

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pois os genitores foram citados pessoalmente e não impugnaram o pedido.

Não obstante, em face do caráter indisponível do poder familiar, este

magistrado nomeou defensor dativo para defender seus interesses, tendo o

mesmo funcionado no feito e reconhecido a observâncias das demais

exigências legais.

Desta forma, verifica-se claramente que o pedido se funda

em motivos absolutamente legítimos e apresenta reais vantagens a tutelada

ou pupila. Demais disso, o pedido mereceu o parecer favorável do

Ministério Público, o qual reconheceu a preservação dos interesses

superiores da criança e a observância das demais formalidades legais.

Posto isso, julgo procedente o pedido para destituir

MARCOS PAULO E MÔNICA SOUZA do poder familiar que exercia sobre

a criança Patricia Santos, em face de abandono material, nos termos do art.

1.638, II do Código Civil Brasileiro, e de igual modo, concedo ao requerente

ANTÔNIO CARLOS SOUZA, devidamente qualificado nos autos, a

TUTELA da criança Patricia Santos, nos termos dos arts. 36 a 38 da Lei nº

8.069/90 e demais dispositivos pertinentes do Código Civil Brasileiro, com

todos os seus consectários legais, cabendo-lhe assim o múnus de reger a

vida da pupila e representá-la em todos os atos da vida civil. Deixo de

determinar a especialização de hipoteca legal, em face da ausência de bens

em nome da menor. Expeça-se o competente termo de tutela, pela devida

forma.

Sem custas, nos termos do § 2º do art. 141 do ECA.

Transitado em julgado, arquivem-se os autos.

P.R.I.

Itabuna-BA, 19 de Novembro de 2005.

Acessado no dia 14/05/08

BEL. MARCOS ANTONIO SANTOS BANDEIRA

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JUIZ DE DIREITO