pep viabilidade de prontuário eletrônico

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CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC GESTÃO DE SAUDE – TURMA 5 Daniele Oliveira Santos Juliana Fernandes de Ornelas Luciano Lourenço da Silva Rubens Brocco Dolce Viabilidade funcional da implantação de prontuário eletrônico ambulatorial

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Viabilidade do Prontuário Eletrônico (PEP), em Clínica Ambulatorial

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Page 1: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

CENTRO UNIVERSITÁRIO SENACGESTÃO DE SAUDE – TURMA 5

Daniele Oliveira SantosJuliana Fernandes de Ornelas

Luciano Lourenço da SilvaRubens Brocco Dolce

Viabilidade funcional da implantação de prontuário eletrônico

ambulatorial

São Paulo2011

Page 2: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

DANIELE OLIVEIRA SANTOSJULIANA FERNANDES DE ORNELASLUCIANO LOURENCO DA SILVARUBENS BROCCO DOLCE

Viabilidade funcional da implantação de prontuário eletrônico ambulatorial

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário SENAC – Campus Nove de Julho, como Exigência parcial para obtenção do grau de pós graduação em Gestão na Área da Saúde.Orientadora: Prof. Dra. Libânia Rangel de Alvarenga Paes

São Paulo2011

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Page 3: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

Aluno: Daniele Oliveira Santos, Juliana Fernandes de Ornelas, Luciano Lourenço da Silva, Rubens Brocco Dolce

Título: Viabilidade funcional da implantação de prontuário eletrônico ambulatorial.

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário SENAC – Campus Nove de Julho, como Exigência parcial para obtenção do grau de pós-graduação em Gestão na Área da Saúde.Orientadora: Prof. Dra. Libânia Rangel de Alvarenga Paes

A banca examinadora dos Trabalhos de Conclusão em sessão pública realizada em __/__/____, considerou os candidatos:

1) Examinador(a)

2) Examinador(a)

3) Presidente

3

Page 4: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

Aos nossos pais que nos educaram, às nossas esposas e companheiros pela compreensão eaos filhos que nos motivam.

4

Page 5: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

AGRADECIMENTOS

Aos meus colegas

Aos meus professores

À minha orientadora

5

Page 6: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

EPÍGRAFE

“ A verdadeira medida de um homem não se vê

na forma como se comporta em momentos de

conforto e conveniência, mas em como se

mantém em tempos de controvérsia e desafio.”

(Martin Luther King Jr.)

6

Page 7: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

RESUMO

Com o objetivo de alcançar maiores índices de competitividade as organizações

têm lançado mão de uma variada e complexa gama de tecnologias as quais têm

sido adotadas como atalhos para se atingir os melhores resultados.

A contínua busca pela melhoria de processos e oferta de novos produtos e

serviços no mercado levou diversos setores a investir cifras cada vez maiores em

sistemas de informações (SI) e, de forma mais abrangente, em TI.

Atualmente temos o problema do alto custo dos funcionários do SAME, do espaço

físico alocado para estoque de prontuários, da desorganização e perda de

prontuários, da morosidade do processo de levantamento, arquivamento e envio

dos papéis para as salas de atendimento, entre outros.

O preenchimento correto e a letra legível é também um problema vivenciado nas

clínicas, pois esse documento do paciente é partilhado por outros profissionais e

muitas vezes objeto de análise de auditoria, comissões e eventualmente poder

judiciário, fazendo com que o bom entendimento da escrita seja fundamental.

Dentre essas considerações, nosso trabalho tem como objetivo analisar a

viabilidade funcional da implantação de prontuário eletrônico ambulatorial.

Observou-se que adotando o prontuário eletrônico a empresa terá a redução de

impressão de uma folha por atendimento (ficha de atendimento), pois o médico irá

visualizar os dados do paciente diretamente na tela do computador do consultório.

A economia gerada pela realocação de colaboradores será de R$ 5.799,00 como,

somada a economia pela alteração do processo que será de R$ 470,00, teremos

um total de economia de R$ 6.269,00 reais mensais.

Consideramos que a viabilidade e necessidade vêm da convicção de que as

ferramentas e instrumentos da informática no processo do atendimento de

pacientes auxilia os profissionais da saúde no exercício da profissão, facilitando a

coleta e armazenamento das informações, a tomada de decisão, a busca da

terapêutica mais adequada e a troca de informações entre profissionais,

instituições e pacientes.

Palavras chave: prontuário eletrônico; ambulatorial; saúde.

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Page 8: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

ABSTRACT

In order to achieve higher levels of competitiveness, organizations have resorted

to a wide and complex range of technologies which have been adopted as

shortcuts to achieve the best results.

The continuous quest for process improvement and offering new products and

services in various sectors led the market to invest in increasing numbers of

information systems (IS) and, more broadly, in IT.

We currently have the problem of high cost of SAME staff, the physical space

allocated for storage of medical records, the disruption and loss of records, the

lengthy process of survey, archival and dispatch of papers to the treatment rooms,

among others.

The correct filling and legible handwriting are also a problem experienced in the

clinics, because this patient document is shared by other professionals and many

times is analyzed by audits, committees and eventually the judiciary, being

essential the understanding of good writing. Among these considerations, our work

aims to analyze the functional viability of the implementation of outpatient

electronic medical record.

It was observed that adopting electronic medical records, the company will reduce

printing in one sheet per service (patient chart), because the doctor will see patient

data directly on the computer screen at the office.

The savings generated by the reallocation of staff will be R$ 5,799.00. When

adding the savings generated by changing the process, which will be R$ 470.00,

we will have a total savings of R$ 6,269.00 monthly.

We consider that the feasibility and necessity come from the belief that the tools

and instruments in the process of patients’ care help health professionals in their

activities, facilitating the collection and storage of the information, decision-making,

the pursuit for more appropriate therapy, exchange of information between

professionals, patients and institutions.

Keywords: electronic medical records; outpatient; health.

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Page 9: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

LISTAS DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Classificação de projetos de Tecnologia da Informação (TI): segundo

LEITE (2003, p. 50).........................................................................................37

Figura 2 - Benefícios oferecidos pelo uso de Tecnologia da Informação (TI):

segundo ALBERTIN; ALBERTIN (2005, p. 28)..................................................43

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Page 10: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

LISTA DE TABELAS

1 - Custos de mão-de-obra do setor de SAME (Serviço de Arquivo Médico e

Estatístico)........................................................................................................... 58

2 - Economia de mão-de-obra no setor do SAME (Serviço de Arquivo Médico e

Estatístico), com a implantação do GED............................................................. 59

3 - Informações tratadas em projeção financeira viabilidade econômica da

implantação do prontuário eletrônico e GED ......................................................60

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Page 11: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................. 12

2 DESCRIÇÃO DA EMPRESA E DO PROBLEMA ..............................13

2.1 Justificativa ........................................................................................ 13

2.2 Objetivo ............................................................................................ 15

3 REFERENCIAL ................................................................................ 16

3.1 Tipos de sistemas ............................................................................. 16

3.1.1 Sistemas de Registro Eletrônico da Saúde ....................................... 16

3.1.2 Sistema de Gestão Eletrônica de Documentos ................................17

3.2 Evolução da digitalização no Brasil .................................................. 19

3.3 Processo de certificação e segurança ............................................. 21

3.4 Características do Prontuário Eletrônico do Paciente ...................... 24

3.4.1 Vantagens e desvantagens do prontuário em papel e eletrônico..... 27

3.4.2 Desenvolvimento e características ................................................... 29

3.4.3 Aspectos éticos ................................................................................ 31

4 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE FINANCEIRA EM

PROJETOS DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO (TI)................... 31

4.1 Avaliação de investimentos em TI .................................................... 32

4.2 Tipos de investimentos em TI .......................................................... 33

4.3 Custos em projetos de TI ................................................................. 38

4.4 Retornos esperados em projetos de TI ............................................ 41

4.5 Dificuldades na avaliação de investimentos em TI .......................... 44

5 ANÁLISE DO NOSSO PROJETO DE IMPLANTAÇÃO.................... 47

5.1 Problema e solução.......................................................................... 47

5.2 Análise da viabilidade econômica .................................................... 49

6 DISCUSSÃO .................................................................................... 50

7 RECOMENDAÇÃO FINAL ............................................................... 52

8 REFERÊNCIAS................................................................................. 54

9 ANEXOS - TABELAS ...................................................................... 58

11

Page 12: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

1. INTRODUÇÃO

Com o aumento da competição no mercado em geral e especificamente na saúde

as empresas têm desenvolvido variadas e complexas tecnologias. Desde o

planejamento de produtos, da reorganização de processos produtivos, na adoção

de novos modelos de gestão administrativa, as novas tecnologias têm sido

adotadas como meios para serem obtidos melhores resultados. Entre várias

tecnologias que a organização utiliza tem-se destacado a tecnologia da

informação (TI). Para fins deste trabalho, assumir-se-á TI pela definição de IEU

como sendo:

“Recursos computacionais (hardware, software e

serviços relacionados) que provêm serviços de

comunicação, processamento e armazenamento de

dados” (1996 apud SILVA e FLEURY, 2000, p.3).

Discutindo o papel de TI nas organizações, Rockart e Short (1994), defendem a

importância deste recurso principalmente na constituição tanto da rede interna

quando da externa. A TI coordena melhor as funções internas, promove

integração hierárquica, aloca e controla os recursos disponíveis nas organizações

e também conecta e faz interação com outras instituições da cadeia na qual se

insere; o que concorreria para a maior competitividade da organização e garantiria

seu papel estratégico no sucesso do negócio (ROCKART E SHORT,1994, apud

SILVA e FLEURY, 2000, p.3).

A organização inovadora e moderna busca na adoção de novas tecnologias e

processos obter diferenciais que permitam obter retornos melhores que seus

concorrentes. A contínua busca pela melhoria de processos e oferta de novos

produtos e serviços no mercado levou diversos setores a investir cifras cada vez

maiores em sistemas de informações (SI) e, de forma mais abrangente, em TI. Os

SI procuram integrar os diversos setores de uma organização e procuram ser

específicos e cujos bancos de dados detêm informações importantes para que se

tornem acessíveis, passíveis de análise e instrumento de gestão e até estratégia.

O uso de SI na área de saúde constitui exemplo típico, uma vez que diferentes

grupos de pessoas (médicos, enfermeiros, profissionais de apoio e assistentes

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Page 13: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

sociais) podem usar os mesmos sistemas visando o melhor atendimento aos

pacientes. Nessa área, os SI precisam satisfazer diferentes tipos de usuários e

lidar com a mudança de processos e métodos de trabalho profundamente

arraigados nesse ambiente profissional. Na área de saúde, o investimento em

inovação tecnológica, especificamente equipamentos de diagnóstico, constitui a

regra, principalmente em grandes hospitais. A inovação típica diz respeito à

tecnologia de alta sofisticação, como equipamentos de tomografia

computadorizada, ressonância magnética e raios X digitais. Trata-se de

equipamentos complexos que necessariamente são operados por profissionais

altamente especializados e dedicados ao seu uso. O uso do equipamento

constitui a atividade fim desses profissionais e não intervém em rotinas

organizacionais, e as eventuais dificuldades de sua adoção podem ser

associadas ao treinamento desses profissionais. Diferentemente dessa situação,

a inovação em sistemas de informações em geral interpõe dificuldades de outra

natureza que podem redundar na sua rejeição ou resistência dos usuários

(PEREZ e ZWICKER, 2010).

Sendo assim processo desafiador para qualquer organização, ainda mais quando

se trata da área da saúde pelas particularidades de assistencialismo, de tradição,

falta de hábito em relação a TI.

Após essa breve introdução, seguem as justificativas que nos motivaram a

estudar esse tema.

2. DESCRIÇÃO DA EMPRESA E DO PROBLEMA

2.1 Justificativas (problema – oportunidade).

Estamos estudando a clínica Alpha, uma policlínica situada em área térrea de 420

m2 com atendimento ambulatorial. Atende a maioria dos convênios e operadoras

de saúde, tem 50 funcionários contratados, 10 estagiários e 50 médicos

prestadores de serviço nas diversas especialidades e exames. Realiza por mês

13

Page 14: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

aproximadamente 7.000 atendimentos. Funciona com serviço de arquivo médico

e estatística (SAME), em sala de aproximadamente 11 m2, onde seis funcionários

localizam e direcionam ao redor de 300 prontuários de papel às respectivas salas

de atendimento e, ao final do dia, os recolhem e arquivam. Estima-se que no

SAME encontram-se arquivados por volta de 20.000 prontuários de papel.

A Clínica possui um sistema de registro informatizado com ênfase no

agendamento, faturamento e repasse aos médicos parceiros.

O sistema chama-se Real Clínica da TDSA. A TDSA Sistemas é uma software

house fundada em 2005, sendo um dos sistemas de informação disponíveis no

mercado. Atuam também em outras clínicas, policlínicas, hospitais-dia e bancos

de sangue. Eles desenvolveram três softwares para o mercado: Real Clinic,

sistema de gestão para consultórios, clínicas, policlínicas e hospitais-dia; Real

Blood, sistema de gestão para bancos de sangue; e o Real Stored, sistema de

digitalização de documentos.

Na clinica Alpha temos instalado o Real Clinic. Esse sistema já conta com um

módulo, fora de operação, de prontuário eletrônico ambulatorial onde consta uma

ficha clínica que é formatada em de acordo com as necessidades da empresa e

tem objetivo de substituir a escrita em papel. O médico poderia lançar as

anotações pertinentes à consulta diretamente no computador. Além da ficha

clínica, pode aparecer o histórico do paciente, com o registro de todas as vezes

que ele passou em atendimento. Através do Real Storage temos a digitalização

do prontuário de papel que fica acessível na tela do computador. Temos, portanto,

na mesma tela três abas: uma com o histórico do prontuário de papel digitalizado

pelo sistema de gerenciamento eletrônico de documentos (GED) Real Storage,

outra com o histórico de atendimentos já realizados através da ficha clínica

registrada pelo médico nas consultas anteriores e, a última aba, onde aparece a

ficha clínica atual com os espaços a serem preenchidos na consulta atual.

Esse módulo do sistema já existe, mas ainda não foi instalado devido

necessidade de análise de sua viabilidade.

Atualmente vivenciamos um problema em relação ao local onde armazenar o

prontuário de papel (PP). O arquivo físico aumenta a cada dia e mesmo

deslocando-se parte dele (“arquivo morto”) para locais distantes, continua

ocupando espaço nobre nessa clínica estudada, assim como, de forma geral em

qualquer atendimento ambulatorial.

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Page 15: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

O levantamento e o arquivamento desses PP são realizados por pessoas e,

sendo assim, ocorrem com frequência dificuldades de localização de algum

prontuário por arquivamento incorreto e, por vezes, também o envio deste

prontuário para a sala de atendimento incorreta. Quando são agendados mais de

um atendimento em um mesmo período do dia esse PP pode ficar indisponível

para o segundo profissional, pois o fluxo deste prontuário nem sempre é ágil e

depende de várias pessoas.

O tempo e o número de pessoas necessárias para o levantamento manual de

todos os PP são grandes, o que acarreta certa confusão, maior tempo para esse

processo e organização de pessoas neste setor específico.

Esses problemas somam-se a outros relacionados com a escrita que tornam o

prontuário por vezes ilegível, assim como citam Crispim e Fernandes, 2010,

mostrando que o preenchimento correto e a letra legível é um problema real e

vivenciado em ambulatórios, pois o prontuário do paciente é compartilhado por

outros profissionais e por vezes objeto de análise de auditoria, comissões e

eventualmente poder judiciário, fazendo com que o entendimento da escrita seja

fundamental.

2.2 Objetivo

Como vimos na justificativa, vivemos um processo avaliado como difícil, moroso e

passível de falhas. Nosso objetivo é analisar a viabilidade do projeto de

implantação do módulo, chamado de prontuário eletrônico, de nosso sistema de

informação, para promover mais agilidade, menos falhas e tornar o prontuário do

paciente melhor, legível, compartilhado e ágil.

Nessa análise daremos ênfase no aspecto econômico onde abordaremos alguns

conceitos financeiros. Abordaremos também de forma breve alguns aspectos

éticos.

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Page 16: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

3. REFERENCIAL

Fizemos um levantamento a respeito de alguns conceitos relacionados a um

projeto de implantação de prontuário eletrônico, definindo o que é um sistema de

registro eletrônico em saúde, depois o que é gestão eletrônica de documentos e

por fim o que é um prontuário eletrônico do paciente. Teorias envolvidas no

processo de implantação e que ajudam a entender e analisar sua viabilidade.

Abordamos também como foi a evolução da digitalização e certificação desses

sistemas, segurança e funcionalidades.

3.1 Tipos de sistemas

3.1.1 Sistemas de Registro Eletrônico de Saúde (S-RES)

A definição, segundo a SBIS, 2007, é bastante ampla e abrangente todos os seus

subsistemas e componentes (Sistema de Gerenciamento de Banco de Dados,

servidores, bibliotecas etc.). Enquadram-se nesse perfil qualquer sistema que

capture, armazene, apresente, transmita ou imprima informação identificada em

saúde. Existem vários S-RES no mercado brasileiro, inclusive específicos para

diferentes nichos do mercado de saúde.

Os S-RES podem ser de assistência ambulatorial, como sistemas de automação

de consultórios clínicos, de informação ambulatorial, de unidades básicas de

atendimento à saúde. Podem ser isolados ou como a parte ambulatorial de

sistemas hospitalares ou de sistemas integrados de informação em saúde. Podem

também ser de sistemas de apoio diagnóstico e terapêutica (SADT) para

automação de laboratório, emissão de laudos, imagens médicas e outros. Esta

categoria não temos interesse em detalhar pois não faz parte do nosso estudo.

Existem ainda os sistemas de transferência de informação em saúde suplementar

(TISS), especialmente usados por operadoras de planos de saúde e prestadores

16

Page 17: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

de serviços de saúde, que são obrigados a trocar informações usando esse

padrão TISS. Finalmente outro sistema é o de gestão eletrônica de documentos

(GED), especialmente importante no processo de implantação de prontuário

eletrônico, normalmente utilizado no início. Abaixo detalhamos abaixo sua

definição e utilidade.

3.1.2 Sistema de Gestão Eletrônica de Documentos (GED)

Na implantação de prontuário eletrônico em ambulatório é crucial que as

informações contidas nos prontuários de papel estejam digitalizadas e acessíveis

no prontuário do paciente assim como a ficha clínica preenchida nas consultas.

Para a conversão desses arquivos do SAME para o meio digital de forma fiel,

organizada e indexada é importante um sistema de gestão eletrônica de

documentos.

A GED, portanto, apresenta-se como uma alternativa tecnológica para gestão da

informação nas organizações. Na sua implantação, segundo Haddad (2000),

busca-se a aplicação de sistemas eficientes para proceder o gerenciamento

eletrônico visando a necessidade de reduzir o tempo gasto com atividades diárias,

assegurando as informações nelas registradas, preservando os documentos,

dinamizar e democratizar o acesso, e racionalizar a ocupação espacial por

grandes massas documentais. Esses documentos podem ser das mais diversas

origens, tais como papel, microfilme, imagem, som, planilhas eletrônicas, e em

nosso caso particular os prontuários de papel.

O processo se inicia com o preparo dos documentos, nesta etapa, uma

característica peculiar é que todo o processo é executado manualmente, tendo o

auxílio da temporalidade dos documentos. É realizada seleção dos documentos

verificando o que vai e o que não vai ser convertido e o reparo dos documentos

que serão digitalizados. Tais documentos são separados e preparados de acordo

com seu estado, a montagem dos lotes, os controles para rastreamento do lote no

processo, tipo e formato dos documentos, dentre outros (HADDAD, 2000).

Também é necessária a retirada de clips, cola, grampos ou qualquer elemento

que prejudique a passagem do documento no scanner. Esta etapa requer todos

17

Page 18: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

estes cuidados para evitar que a mesma possa impactar negativamente na

produtividade e qualidade das demais etapas (SILVA, et al. 2003) .

Na sequência ocorrem a captura e digitalização do documento. A atividade de

digitalização de documentos está associada à melhoria das imagens, remoção de

ruídos, readequação de imagens tortas, remoção de bordas, entre outras. Todas

essas adaptações reduzem o impacto de armazenamento e tráfego na rede. Para

converter os documentos em formato digital é necessário digitalizar, sendo que

um scanner funciona como porta de entrada na transformação de documentos em

papel ou microfilme para arquivos digitais dentro do computador (HADDAD,

2000).

Parte fundamental do processo é a indexação dos documentos, que proporciona

uma forma de localizar, agrupar, recuperar e gerenciar os documentos. A

indexação é um dos componentes mais importantes no GED e os documentos

não podem ser recuperados sem que estejam indexados. Um índice é o resultado

da indexação, proporcionando um resumo do documento. A precisão da

indexação é fator fundamental para que um documento possa ser localizado entre

dezenas de milhares armazenados em um ou diversos discos, portanto para esse

tipo de situação é recomendado automatizar o máximo possível a indexação

(HADDAD, 2000).

No caso de transformação dos prontuários de papel dos pacientes em

documentos digitalizados, eles devem ser indexados para o nome ou número

daquele paciente, para que possa ser localizado facilmente.

A chave para o sucesso de um sistema de GED é uma indexação precisa e

coesa, pois se o documento for indexado de forma incorreta, quando este for

gravado no disco óptico, ele simplesmente estará perdido sem a menor

possibilidade de localização. Para isso, existem alguns fatores importantes para o

controle de qualidade dos dados de indexação: técnicas de padronização de

dados, verificação e validação; pessoas diferentes (ex. supervisor) examinando os

dados de indexação, dupla digitação para todos os campos ou campos chave de

indexação podem ser considerada. Desta forma, os dados são digitados por dois

operadores diferentes e os resultados são comparados posteriormente, porém a

dupla digitação aumenta o custo da entrada de dados. A preparação dos

documentos para indexação, onde qualquer documento eletronicamente

transferido de um sistema de dados para outro de imagem eletrônica seja enviado

18

Page 19: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

com elementos de índices requeridos, eliminando, através dessa indexação

automática, o processo de entrada manual de dados (HADDAD, 2000).

Dentre as aplicações de GED na área da saúde, destacam-se: documentação de

administração hospitalar, processamento de prontuário das áreas de recursos

humanos, incluindo recrutamento e seleção, processamento de prontuário de

pacientes em hospitais e processamento de resultados de exames laboratoriais,

incluindo serviço de mensageria (GED, 2011).

No princípio, a tecnologia de GED era basicamente a digitalização de um

documento produzido em papel, através de um scanner e poderia ser visualizado

na tela do computador, inclusive em rede. Mas, agora, com o surgimento de

inúmeras aplicações, tornou-se muito mais fácil o gerenciamento dos documentos

digitalizados, facilitando também a pesquisa e localização destes documentos

com segurança, restrição de acesso e com a possibilidade de compartilhamento

dessas informações com outros processos e sistemas.

3.2 Evolução da digitalização no Brasil

Em 2001 foi criada a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-Brasil),

que estabelece os critérios para o estabelecimento e funcionamento do sistema,

servindo de base para os serviços de assinatura, identificação e sigilo. Tem como

objetivo a segurança das transações eletrônicas e aplicações que façam uso de

certificados digitais, assim como a possibilidade da migração total de processos

em papel para meios eletrônicos, sem prejuízo do reconhecimento legal destes

documentos. Nessa fase vários setores do mercado utilizam essa ferramenta para

transações e negócios.

No âmbito da saúde o Conselho Federal de Medicina (CFM) em 2002, menciona

a possibilidade de prontuário eletrônico. Ele começa por definir prontuário médico

e atribui as responsabilidades por seu preenchimento, guarda e manuseio. Torna

obrigatória a existência de comissões de revisão de prontuários médicos e

estabelece quais as informações básicas devem constar seja ele eletrônico ou em

papel. Lembrando que no caso do eletrônico pode-se obrigar o prestador de

serviço a preencher determinados campos tornando o processo melhor e

19

Page 20: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

legalizado. Ainda no ano de 2002, outra resolução do mesmo orgão estabelece a

guarda permanente para os prontuários médicos arquivados eletronicamente, em

meio óptico ou magnético e microfilmados, bem como o prazo mínimo de 20

(vinte) anos para a preservação dos prontuários médicos em suporte de papel. No

ano de 2007 autoriza a eliminação do papel através da digitaliza cão de

prontuários médicos conforme normas específicas (CFM, 2002-2007).

Nessa evolução que envolve a digitalização na área da saúde, surgem em 2005

normas da Internacional Organization for Standardization (ISO), Organização

Internacional de Padronização, definida como um documento que estabelece um

padrão por consenso e que deve ser aprovado por um grupo reconhecido.

Surgiram na área da saúde ISO que estabelece as definições de sistemas de

registro na saúde, descreve as principais categorias de sistemas, define cenários

de utilização, e a necessidade de interoperabilidade semântica entre os diferentes

S-RES. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) é a representante

oficial do Brasil junto à ISO. Em 2006, a ABNT criou a Comissão Especial de

Estudos em Informática em Saúde inspirada no Comitê de Informática em Saúde

da ISO. A criação desta comissão é um marco importante para o desenvolvimento

da área de padrões em saúde no Brasil, e tem os vários trabalhos desenvolvidos

nesse conteúdo para representar a informação em saúde, dedica-se às questões

específicas da área de telemedicina, produz documentos de referência sobre o

tema de terminologias e indicadores em saúde e na segurança. Ela concentra-se

nos padrões da informação em saúde, a questão da assinatura digital e

privacidade. Os padrões em discussão pela Comissão Especial de Estudos em

Informática em Saúde da ABNT são os documentos de referência para o

Processo de Certificação SBIS/CFM (SBIS, 2009).

Surgem então vários comitês internacionais preocupados em estabelecer regras e

normas específicas voltados para a tecnologia da informação e técnicas de

segurança. O código de prática ISO/IEC 27.002:2005 “Information Technology -

Security Techniques - Code of practice for information security management”, é

difundido mundialmente no assunto segurança e apresenta os controles a serem

empregados por qualquer instituição com o objetivo de proteger suas

informações. E assim outros códigos evoluíram até descreverem um processo e

requisitos específicos para certificação de segurança de sistemas (SBIS, 2009).

20

Page 21: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

No Brasil, em fevereiro de 2007, foi criado o Instituto HL7 Brasil a fim de dar

respaldo jurídico e aos padrões relacionados com a troca, integração,

compartilhamento e recuperação de informação eletrônica, para apoio da prática

médica e administrativa; permitindo um maior controle dos serviços de saúde. Por

fim surgiram os processos certificadores que avaliam se os sistemas se

enquadram em padrões pré-estabelecidos de segurança. A Certification

Commission for Healthcare Information Technology (CCHIT) desenvolveu o

processo de certificação de S-RES adotado no mercado americano. Sua origem é

posterior à Certificação SBIS/CFM, uma vez que foi criado em 2005, o processo

americano é voluntário e baseado em conjuntos de scripts para diferentes

categorias de S-RES. Inicialmente apenas sistemas ambulatoriais podiam ser

certificados, mas a CCHIT está expandindo as categorias de sistemas que podem

se submeter ao processo de certificação. Os critérios são bastante detalhados e

analisam a funcionalidade, conteúdo, estrutura, segurança e aspectos de

interoperabilidade dos S- RES. Os S-RES são avaliados por três auditores, à

distância, a partir de ambiente cooperativo especializado para esta finalidade. O

processo do ponto de vista técnico é semelhante ao da SBIS/CFM (SBIS, 2009).

3.3 Processos de certificação e segurança

O Conselho Federal de Medicina (CFM) tem recebido nos últimos anos uma série

de solicitações de pareceres a respeito da legalidade da utilização de sistemas

informatizados para capturar, armazenar, manusear e transmitir dados do

atendimento em saúde. Uma das indagações mais frequentes é a substituição do

papel pelo formato eletrônico. Ciente da complexidade do assunto e da

necessidade de aprofundar os aspectos técnicos sobre esta questão, o CFM,

através da Câmara Técnica de Informática em Saúde e Telemedicina,

estabeleceu convênio de cooperação técnica com a Sociedade Brasileira de

Informática em Saúde (SBIS) para desenvolver o processo de certificação de

sistemas informatizados em saúde.

21

Page 22: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

Resulta da parceria CFM/SBIS a elaboração do Manual de Requisitos de

Segurança, Conteúdo e Funcionalidades para Sistemas de Registro Eletrônico em

Saúde (RES). Quando publicado em 2004 teve início a fase 1 do processo de

certificação SBIS/CFM, que teve objetivo de preparar o mercado para o processo

de certificação, o que foi plenamente atingido. A atualização desse manual reflete

o início da fase 2 do processo de certificação SBIS/CFM, com a auditoria efetiva

dos Sistemas de Registro Eletrônico em Saúde (S- RES). A atualização foi

bastante abrangente, procurando refletir as experiências internacionais

desenvolvidas desde 2004. Naquela ocasião, não havia ainda no mundo um

processo de certificação de S-RES em operação. Os EUA foram os primeiros a

certificar S-RES, começando seu processo em 2006. Outros países ainda estão

em fase de estudos e definições, sem sequer terem iniciado uma etapa de auto-

declaração com requisitos já definidos. A lista das organizações cujos S-RES

forem auditados e vierem a receber o Selo de Certificação SBIS/CFM poderá ser

consultada no sítio da SBIS na internet.

A certificação SBIS/CFM se baseia, portanto, em conceitos e padrões nacionais e

internacionais da área de Informática em Saúde. São princípios da certificação a

imparcialidade, a competência, a responsabilidade, a transparência, a

confidencialidade e a capacidade de respostas a reclamações.

Dentre as categorias passíveis de certificação temos a de assistencial

ambulatorial e os S-RES voltados para esse fim, tais como: sistemas de

automação de consultórios clínicos, de informação ambulatorial, de unidades

básicas de atendimento à saúde, etc., assim como a parte ambulatorial de

sistemas hospitalares ou de sistemas integrados de informação em saúde.

Também devem ser certificados os sistemas de Gerenciamento Eletrônico de

Documentos utilizados para o armazenamento e visualização de documentos

relacionados à informação de saúde.

Um dos requisitos fundamentais para certificação é a segurança e um S-RES

deve garantir a privacidade, confidencialidade e integridade da informação

identificada em saúde. Uma das principais motivações do CFM ao participar deste

processo de certificação foi o de garantir o sigilo profissional, ou seja, que o

acesso à informação identificada só possa ser feito por pessoas autorizadas. Aos

interessados em eliminar o registro das informações em papel, é obrigatória a

22

Page 23: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

conformidade ao Nível de Garantia de Segurança 2 (NGS 2), que contempla o

uso de certificados digitais, conforme descrito abaixo.

O Processo de Certificação SBIS/CFM classifica os S-RES, do ponto de vista de

segurança da informação, em dois Níveis de Garantia de Segurança (NGS). O

NGS 1 é constituído por S-RES que não contemplam o uso de certificados digitais

ICP-Brasil para assinatura digital das informações clínicas, consequentemente

sem amparo para a eliminação do papel e com a necessidade de impressão e

aposição manuscrita da assinatura. O NGS 2 é constituído por S-RES que

viabilizam a eliminação do papel nos processos de registros de saúde. Para isso,

especifica a utilização de certificados digitais ICP-Brasil para os processos de

assinatura e autenticação. Para atingir o NGS 2 é necessário que o S-RES atenda

aos requisitos já descritos para o NGS 1 e apresente ainda total conformidade

com os requisitos especificados para o NGS 2.

A Certificação SBIS/CFM considera em seu processo de auditoria o nível de

segurança para o qual o S-RES se declara em conformidade, já que o NGS 2

incorpora todos os requisitos do NGS 1, e prevê um conjunto adicional de

requisitos.

Os S-RES auditados no NGS 1 devem possuir todas as características

necessárias para que uma perícia técnica possa tirar conclusões satisfatórias

sobre a validade ou não das informações por ele armazenadas. As conclusões da

perícia levarão em consideração também a forma como o sistema está sendo

utilizado, já que o S-RES, por si só, não será suficiente para garantir a

legitimidade de qualquer informação. Por exemplo, o S-RES possui mecanismos

para validar seus usuários através de identifica cão e senha, mas este mecanismo

se torna irrelevante na medida em que todos os usuários do sistema usam a

mesma identificação e senha para acessar o sistema.

Já os S-RES classificados como NGS2 estarão, a princípio, autorizados a

substituir o papel, em conformidade com a ICP-Brasil, desde que atendam

integralmente aos requisitos obrigatórios de estrutura, conteúdo e

funcionalidades. O uso efetivo de certificados digitais, em conjunto com a

observância dos demais requisitos de segurança, dependerá também da forma

como o S-RES for utilizado por seus usuários.

23

Page 24: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

3.4 Características do Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP) Ambulatorial

O prontuário do paciente ou, mais frequentemente chamado prontuário médico, é

crucial no atendimento de saúde dos indivíduos e deve reunir informações

necessárias para continuidade dos tratamentos prestados ao paciente. O

prontuário do paciente foi desenvolvido por médicos e enfermeiros que se

lembrassem de forma sistemática dos fatos e eventos clínicos sobre cada

indivíduo de forma que todos os demais profissionais envolvidos na atenção de

saúde poderiam também ter as mesmas informações . Desta forma, na instituição

onde o paciente está recebendo cuidados, o prontuário representa importante

veículo de comunicação entre os membros da equipe. (SLEE e SCHMIDT, 2000)

Em termos mais gerais, pode-se afirmar que o sistema de saúde de um país, é

estabelecido graças ao que se tem documentado em um prontuário, uma vez que

dele são extraídas as informações sobre a saúde dos indivíduos que formam uma

comunidade e uma nação.

Segundo Van Bemmel (1997), o prontuário em papel vem sendo usado há muitos

anos. Hipócrates, no século V a.C., já estimulava médicos a registrarem a escrita,

dizendo que o prontuário tinha dois propósitos: refletir o curso da doença e indicar

suas possíveis causas. Até o início do século XIX, os médicos baseavam suas

observações e consequentemente suas anotações, no que ouviam, sentiam e

viam e as observações eram registradas em ordem cronológica, assim como se

usa até hoje. Florence Nightingale (1820-1910), precursora da enfermagem

moderna, quando tratava feridos na Guerra da Criméia (1853-1856) já relatava

que a documentação das informações relativas aos doentes é fundamental para a

continuidade dos cuidados, especialmente na enfermagem. É clássica a frase de

Nightingale, quando observa a importância dos registros de saúde:

“Na tentativa de chegar à verdade, eu tenho buscado, em

todos os locais, informações; mas, em raras ocasiões eu

tenho obtido os registros hospitalares possíveis de serem

usados para comparações. Estes registros poderiam nos

mostrar como o dinheiro tem sido usado, o quê de bom foi

realmente feito com ele…”. (MASSAD, 2003, p.2).

24

Page 25: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

Em 1880, William Mayo, que com seu grupo de colegas formou a Clínica Mayo

em Minnesota nos Estados Unidos, observou que os médicos mantinham o

registro de anotações das consultas de todos os pacientes em forma cronológica

em um documento único, o que trazia dificuldade para localizar informação

específica sobre um determinado paciente. Assim, em 1907, a Clínica Mayo

adotou registro individual das informações de cada paciente que passaram a ser

arquivadas separadamente, dando origem prontuário médico centrado no

paciente e orientado de forma cronológica (MASSAD, 2003).

Atualmente entende-se que o prontuário tem como funções apoiar o processo de

atenção à saúde, servindo de fonte de informação clínica e administrativa para

tomada de decisão e meio de comunicação compartilhado entre todos os

profissionais. É um registro legal das ações médicas, devendo apoiar a pesquisa

(estudos clínicos, epidemiológicos, avaliação da qualidade), promover o ensino e

gerenciamento dos serviços, fornecer dados para cobranças e reembolso, servir

para autorização dos seguros, suporte para aspectos organizacionais e

gerenciamento do custo.

Nos últimos anos vem ocorrendo uma forte tendência de mudanças no modelo

tradicional de atendimento à saúde. No novo modelo ocorrem maior integração e

gerenciamento do cuidado, ou seja, o atendimento clínico tem que ser visto como

um todo, a informação integrada para permitir gerenciar e analisar de forma

contínua os sucessos e fracassos da atenção de saúde. O foco do atendimento é

o nível primário, entendendo que os hospitais continuam a ser um centro para

diagnóstico e cuidado de problemas complexos e para procedimentos cirúrgicos e

cuidados intensivos. Muitos tratamentos podem e devem ser feitos em locais com

sofisticação tecnológica adequada para o que se pretende atender. Não adianta

ter mais recursos quando esses não são usados. Assim, vale o bom senso e o

equilíbrio como regras e valores orientadores. O pagamento do atendimento

prestado é dirigido por melhor gerenciamento do processo de atenção, onde o

apropriado é melhor, encorajando a eficiência (custo-benefício) do atendimento e

na utilização de recursos. O procedimento médico é baseado na melhor prática,

exigindo dos profissionais maior competência e capacitação do profissional.

Requer envolvimento e responsabilidade com os avanços da profissão e manter-

se atualizado é dever de cada profissional. A equipe que atende é interdisciplinar,

colaborativa, conduzida por uma organização horizontal. Não existe um

25

Page 26: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

profissional mais importante que outro, uma vez que todos colaboram para que o

paciente se restabeleça. O cliente dos serviços de saúde não é o médico e sim, o

paciente.

Este modelo de atendimento utiliza a informação e a integração como elementos

essenciais de organização. Neste aspecto, a estrutura computacional que surge

oferecendo solução é o chamado Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP), que é

uma forma proposta para unir todos os diferentes tipos de dados produzidos em

variados formatos, em épocas diferentes, feitos por diferentes profissionais da

equipe de saúde em distintos locais. Assim, deve ser entendido como sendo a

estrutura eletrônica para manutenção de informação sobre o estado de saúde e o

cuidado recebido por um indivíduo durante todo seu tempo de vida.

O Institute of Medicine, entende que o prontuário eletrônico do paciente é “um

registro eletrônico que reside em um sistema especificamente projetado para

apoiar os usuários fornecendo acesso a um completo conjunto de dados corretos,

alertas, sistemas de apoio à decisão e outros recursos, como links para bases de

conhecimento médico” (IOM 1997, apud Dias, 2008). Por sua vez, o Computer-

based Patient Record Institute define o prontuário eletrônico ressaltando que esse

registro computadorizado é uma informação eletrônica sobre estado de saúde e

cuidados que um indivíduo recebeu e pode ser acumulado e registrado durante

toda sua vida. (CPRI, 1996, apud DIAS, 2008).

Além das várias definições mencionadas, o PEP também recebe diferentes

denominações, que embora sendo usadas como sinônimos possuem algumas

diferenças, por exemplo: registro eletrônico do paciente, registro do paciente

baseado em computador e registro eletrônico de saúde.

Conforme ressalta Leão (1997), a digitalização de documentos não pode ser

considerada como um prontuário eletrônico, uma vez que não traz mudanças de

comportamento e não possibilita a estruturação da informação.

O prontuário eletrônico é um meio físico, um repositório onde todas as

informações de saúde, clínicas e administrativas, ao longo da vida de um

indivíduo estão armazenadas, e muitos benefícios podem ser obtidos deste

formato de armazenamento. Dentre eles, podem ser destacados: acesso rápido

aos problemas de saúde e intervenções atuais; acesso a conhecimento científico

atualizado com consequente melhoria do processo de tomada de decisão;

melhoria de efetividade do cuidado, o que por certo contribuiria para obtenção de

26

Page 27: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

melhores resultados dos tratamentos realizados e atendimento aos pacientes;

possível redução de custos, com otimização dos recursos.

3.4.1 Vantagens e desvantagens do prontuário em papel e do eletrônico

O modelo de prontuário em papel, considerando o volume e a organização da

informação em saúde, não é mais suficiente para atender as necessidades.

Segundo Massad, 2003, as principais desvantagens do prontuário em papel são:

falta de mobilidade, pode ser perdido, pode não estar disponível, ilegibilidade,

incompleto e difícil disponibilidade para estudo científico.

Já Van Bemmel (1997) compara os do prontuário em papel e eletrônico da

seguinte forma. O de papel pode ser carregado, liberdade de estilo, sem

necessidade de treinamento, não “sai do ar” como ocorre com computadores. O

prontuário eletrônico pode ter acesso simultâneo em locais distintos; legibilidade;

variedade na visão do dado; suporta de entrada de dado estruturada; oferece

apoio à decisão; apoio a análise de dados; troca eletrônica de dados e

compartilha o suporte ao cuidado.

Ainda sobre as vantagens do prontuário eletrônico, o autor Sittig (1999) cita o

acesso remoto e simultâneo, inclusive via Web, os médicos podem rever e editar

os prontuários de seus pacientes a partir de qualquer lugar do mundo. A

legibilidade com os dados na tela ou mesmo impressos de fácil leitura. A

segurança de dados com um sistema bem projetado com recursos de backup. A

confidencialidade dos dados do paciente, onde o acesso ao prontuário pode ser

dado por níveis de direitos dos usuários e monitorado continuamente, além de

auditorias que podem ser feitas para identificar acessos não autorizados. A

flexibilidade de layout, onde o usuário pode usufruir de formas diferentes de

apresentação dos dados, visualizando em ordem cronológica crescente ou não,

orientadas ao problema e à fonte. A integração com outros sistemas de

informação, uma vez em formato eletrônico, os dados do paciente podem ser

integrados a outros sistemas de informação e bases de conhecimento. A captura

27

Page 28: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

automática de dados dos monitores, equipamentos de imagens e resultados

laboratoriais, evitando erros de transcrição. O processamento contínuo dos

dados, estruturados de forma não ambígua, podendo ser checados

continuamente quanto à consistência e erros de dados, emitindo alertas e avisos

aos profissionais. A assistência à pesquisa, facilitando os estudos

epidemiológicos. Possibilidade de saídas de dados diferentes, processados e

apresentados ao usuário em diferentes formatos: voz, imagem, gráfico, impresso,

e-mail, alarmes e outros. Vantagem da confecção de relatórios que podem ser

impressos de diversas fontes e em diferentes formatos, de acordo com o objetivo

de apresentação – gráficos, listas, tabelas, imagens. Atualização de dados que

podem ser integrados onde possam entra no sistema em um ponto,

automaticamente atualizados e compartilhados com outros pontos do sistema.

Outra opinião similar e favorável citando as vantagens do PEP: o texto legível,

possivelmente consistente, possivelmente completo, com sistemas automatizados

de alerta e apoio à decisão, acessibilidade local e remota, pesquisa, os dados não

precisam ser transcritos, armazenamento de imagens, pode destacar importantes

detalhes do prontuário do paciente (como alergias, diagnósticos, problemas

ativos, tratamentos ativos e observações clínicas recentes) constituindo fator de

segurança e pode identificar os usuários do prontuário. (WECHSLER, 2003).

Uma grande variedade de aplicações e de recursos de telecomunicação

suplementa as funções do PEP e graças à integração dos dados clínicos e

administrativos de prontuários individuais ou de coleções de prontuários mantidos

em bases de dados especializadas. Além das bases bibliográficas e de referência,

incluem-se aqui vastos repositórios de dados estáticos e dinâmicos,

processamento e bases de dados distribuídas, bases de conhecimento normativo

e dirigidas por regras, aplicativos inteligentes para a busca e recuperação de

dados, aplicativos de análise, e recursos de comunicação digital. Estes sistemas

dependem de grandes massas de dados de saúde, sistemas automatizados

complexos, e inteligência analítica. O objetivo final destes sistemas é prover em

todas as situações clínicas, independentemente de quão específica sejam elas,

um apoio automatizado que produza prognósticos quantitativos, apoie um

processo decisório otimizado, permita a introdução e manutenção de modelos de

atendimento (protocolos e guias de prática clínica), mensuração uniforme dos

componentes operacionais dos sistemas de atendimento, apoie o controle de

28

Page 29: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

qualidade e auditoria das intervenções de saúde, e maximize o custo-eficácia das

intervenções de saúde sob o prisma de diagnóstico e seleção terapêutica

apropriada, satisfação dos clientes, redução de custos, melhoria da qualidade do

atendimento, e melhores resultados finais (VELASQUEZ, 2007).

Em contrapartida alguns autores citam desvantagens, como McDonald e Barnett

(1990): necessidade de grande investimento de hardware, software e treinamento;

adaptação dos usuários que podem não se acostumar com os procedimentos

informatizados levando à resistências e sabotagens; demora em ver os resultados

do investimento; processo sujeito a falhas tanto de hardware quanto de software;

sistema inoperante por minutos, horas ou dias que se traduzem em informações

não disponíveis; dificuldades para a completa e abrangente coleta de dados.

3.4.2 Desenvolvimento e características

De modo geral, o princípio básico de construção do PEP baseia-se na integração

da informação clínica e administrativa de pacientes individuais. Assim, uma vez

coletada a informação, ela é registrada em um determinado formato para fins de

armazenamento e tal registro passa a ser fisicamente distribuído entre os

hospitais, agências de seguro-saúde, clínicas, laboratórios e demais setores

envolvidos, sendo compartilhado entre os profissionais de saúde, de acordo com

os direitos de acesso de cada um. Além de integração, um dos requisitos básicos

do PEP é a interoperabilidade, que é a habilidade de dois ou mais sistemas

computacionais trocarem informações, de modo que a informação trocada possa

ser utilizada.

O PEP é também apresentado como proposta para atender as demandas dos

novos modelos de atenção e de gerenciamento dos serviços de saúde.

Atualmente, observa-se claramente uma mudança na maneira na qual o cuidado

é prestado, onde e por quem. A missão dos serviços de saúde dos países está

mudando e a tecnologia de informação precisa, consequentemente mudar para

continuar atendendo as necessidades de seus usuários. Os modernos sistemas

de informação em saúde devem ser construídos de forma a apoiar o processo

local de atendimento, sendo, portanto, orientados aos processos, apoiando o

29

Page 30: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

trabalho diário e fornecendo comunicação dentro e fora da instituição, tendo uma

estrutura comum. Deve existir um único registro por paciente que atenda as novas

demandas de acompanhamento da produção, do custo e da qualidade. Para

tanto, alguns pré-requisitos são: estrutura padronizada e concordância sobre a

terminologia, definir regras claras de comunicação, arquivamento, segurança e

privacidade.

Embora sendo apresentado como forte tendência e artigos científicos afirmarem

que todos nós se ainda não temos, vamos ter no futuro um PEP como modelo

para registro de informações clínicas, a maioria dos sistemas em uso infelizmente

ainda não é direcionada por tal metodologia de desenvolvimento.

O primeiro passo para desenvolver um PEP é o entendimento de que a

construção do prontuário eletrônico é um processo. Para definir e enfatizar as

etapas do processo evolutivo na criação de um prontuário eletrônico do paciente e

das diferenças das denominações, Peter Waegemann (1996), diretor do Medical

Records Institute nos Estados Unidos, identifica cinco níveis que vão do registro

em papel ao registro eletrônico de saúde. São eles:

- Nível 1: registro médico automático: formato em papel; 50% das informações

geradas por computadores.

- Nível 2: sistema de registro médico computadorizado: muito semelhante ao nível

1, exceto pelo fato que incorpora imagens capturadas via scanner.

- Nível 3: registro médico eletrônico: requer que o sistema seja implantado na

instituição toda e contenha elementos como integração com sistema de

gerenciamento da prática, sistemas especialistas como alertas clínicos e

programas de educação aos pacientes;

- Nível 4: sistema de registro eletrônico do paciente: o escopo de informação

presente é maior do que o suposto registro médico. As informações vão além das

paredes da instituição que está atendendo o paciente

- Nível 5: registro eletrônico de saúde: inclui rede de fornecedores e redes locais,

tendo o paciente como centro. A informação não é baseada somente nas

necessidades dos serviços de saúde; é baseada na saúde e na doença do

indivíduo.

30

Page 31: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

As qualidades de um sistema com sucesso, apontadas por Stetson e Andrew

(1996) são: rapidez, familiaridade, flexibilidade, possibilidade de melhorar o fluxo

de trabalho, melhorar a documentação com clareza e legibilidade.

3.4.3 Aspectos éticos

Segundo nossa legislação, são definidos como princípios éticos de um prontuário

eletrônico do paciente a: veracidade, integridade, confidencialidade,

disponibilidade e legalidade (auditabiidade, assinatura eletrônica e guarda de

documentos). Cita ainda os conteúdos obrigatórios de um PEP: identificação,

anamnese e exame físico, exames solicitados e resultados, hipóteses

diagnósticas e diagnóstico definitivo e tratamentos, além da evolução. Tem-se

portanto que respeitar o segredo médico (limitando acessos por senhas) e poder

a qualquer momento recuperar os dados (criando-se cópias de segurança). Dessa

forma os fins éticos seriam atendidos no sentido de proteger os pacientes,

capacitando acesso multiprofissional na assistência a saúde, respeitando às

profissões regulamentadas, podendo-se imputar responsabilidade moral e jurídica

aos envolvidos (COHEN, 2005).

4. MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE FINANCEIRA EM

PROJETOS DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO

A análise de investimentos em TI na área da saúde, geralmente é feita em

condições de risco e falta de informações completas, principalmente se as

tecnologias em avaliação forem inovadoras ou com pouco histórico de uso

na própria empresa ou em outras, de forma a não prover uma base sólida

de observação. Este grau de incerteza acarreta a necessidade de o modelo

incorporar a estimativa de risco em sua estrutura. Assim, os fatores de risco

31

Page 32: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

dependem diretamente do tipo de investimento analisado e da forma com que a

empresa aborda o projeto.

Os projetos de TI podem ser de vários tipos, apresentando, dessa forma,

características próprias em termos de recursos usados, retornos esperados e

riscos assumidos. A identificação dos tipos de projetos de TI é fundamental

para a pretensão do estudo, pois fornecerá uma perspectiva mais ampla do

modelo ou, por outro lado, definirá um tipo específico de projeto para delimitar a

pesquisa.

4.1 Avaliação de investimentos em TI

Algumas considerações sobre a avaliação de investimentos em TI devem ser

tratadas, definindo o contexto organizacional, momentos, tipos de avaliação e

níveis de análise são fundamentais. Pode ocorrer de várias formas e com vários

critérios, seguindo metodologias rigorosas ou apenas a intuição, portanto, é um

processo complexo de decisão, envolvendo as várias relações possíveis entre

os stakeholders e suas expectativas.

O tipo de valor se refere aos tipos de retornos esperados do investimento,

podendo ser dados em termos financeiros, econômicos ou estratégicos. Pode-

se observar, que um projeto de TI apresentar tipos variados de retornos, com

diferentes naturezas.

Investimentos em TI podem ser avaliados nos níveis macroeconômicos, em

uma determinada indústria, em uma empresa, em um departamento da empresa,

em um projeto ou, até mesmo, em um indivíduo. No nível macroeconômico, por

exemplo, objetiva-se verificar o impacto agregado dos investimentos

realizados por todos os agentes econômicos. A análise no nível da indústria

verifica os investimentos e retornos obtidos em um determinado setor

industrial, além de permitir identificar particularidades e tendências setoriais

de investimentos. Os estudos no nível empresarial buscam relacionar os

investimentos em TI e o resultado da empresa a partir destes investimentos. De

forma análoga, os estudos em nível departamental e individual buscam

estabelecer essa relação respectivamente em relação aos resultados do

32

Page 33: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

departamento da empresa e do indivíduo. No nível de projeto, por sua vez, o

objetivo é verificar seus benefícios específicos, sem considerar o restante da

carteira de investimentos.

Os investimentos em TI são classificados quantitativos, qualitativos ou uma

combinação deles. Dados quantitativos ocorrem quando os benefícios esperados

podem ser quantificados em termos financeiros ou operacionais. Dados

qualitativos existem quando os benefícios são explicados em termos

subjetivos, com uma pequena capacidade de quantificação, mas não menos

importantes. E, por último, o mais comum: uma combinação de dados

quantitativos e qualitativos, oferecendo um maior espectro para a decisão.

4.2 Tipos de investimentos em TI

Os investimentos em TI relacionados ao negócio principal são, em princípio,

melhor gerenciados e avaliados pelas empresas, dada a expectativa do

profundo conhecimento que os tomadores de decisão têm sobre ele. Espera-se

que a avaliação dos benefícios e dos custos envolvidos seja mais fácil, assim

como as implicações de não realizá-lo. Em princípio, devem existir

relativamente poucas alternativas, com as quais os tomadores de decisão

devem estar razoavelmente confortáveis. Como decorrência, espera-se um

baixo nível de risco neste tipo de investimento, ao mesmo tempo em que

se tem a expectativa de um alto nível de lucratividade, uma vez que seus

retornos esperados devem impactar diretamente no negócio principal (REMENYI

et al., 2000).

Os investimentos obrigatórios são aqueles em que a organização não pode

deixar de incorrer. Como exemplo típico desse tipo de investimento, há as

obrigações legais do governo para adotar determinadas tecnologias. Nesses

casos, os critérios de avaliação possivelmente não apontariam um retorno

positivo e, mesmo assim, dada a imposição legal, devem ser realizados os

investimentos. Em função disso, esperam-se risco e lucratividade

relativamente baixos (REMENYI et al., 2000).

33

Page 34: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

Investimentos em projetos de prestígio normalmente não têm benefícios

facilmente observáveis, o que lhes confere um maior nível de risco. Critérios

como imagem corporativa e satisfação dos colaboradores são intrínsecos a

esses investimentos, que incluem treinamento de pessoal e relações

públicas. Portanto, eles não devem ser avaliados somente em termos

financeiros, um a vez que esses critérios possivelmente terão um acentuado

grau de complexidade para serem determinados, implicando em utilizar

benefícios intangíveis como parte da decisão. Investimentos desse tipo

podem ter um grande número de alternativas, e os tomadores de decisão

normalmente devem encabeçar o projeto. Tais projetos, no entanto, pelo

potencial de retorno em longo prazo, geram expectativas de retornos

substanciais, ainda que em um horizonte temporal distante (REMENYI et al.,

2000).

Investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) objetivam assegurar o

futuro da organização, ajudando-a a manter vantagens competitivas no futuro,

pela inovação em produtos ou processos. As justificativas para esses

investimentos são difíceis, pois os seus horizontes temporais de maturação

são longos e o ambiente futuro é incerto (REMENYI et al., 2000).

Os investimentos do tipo transformação são necessários quando a infra-

estrutura da organização limita sua habilidade de desenvolver aplicações

necessárias ao sucesso de longo prazo. Os investimentos em renovação

ocorrem quando a infra-estrutura está desatualizada e/ou o fornecedor

encerra suas atividades, bem como quando há oportunidades de redução de

custos e aumento da qualidade dos serviços com sua renovação.

Os investimentos em melhoria de processos objetivam incrementar o

desempenho operacional no curto prazo. E os experimentos são aqueles

investimentos em novas tecnologias aplicadas que permitem à organização

oportunidades de adotar novos modelos de negócio.

Investimentos transacionais têm objetivos principais de automatizar tarefas e

reduzir custos operacionais da organização. São, tipicamente, investimentos

em sistemas de informação de uso operacional, e seus custos e retornos

podem ser apresentados e avaliados em termos quantitativos. Estes

indicadores quantitativos podem ser financeiros ou operacionais. Indicadores

financeiros são aqueles expressos em termos de fluxos de caixa

34

Page 35: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

incrementais ou indicadores calculados a partir destes. Se, por exemplo, um

investimento é realizado com o objetivo de reduzir desembolsos

operacionais (custos e/ou despesas), pode-se calcular o retorno esperado com

esse investimento a partir de métodos de engenharia econômica. Indicadores

operacionais não têm necessariamente uma apresentação financeira, mas são

expressos de maneira quantitativa. Como exemplo, podem ser citados

indicadores de eficiência, que relacionam a quantidade de determinado

produto final dados os insumos utilizados. Quanto maior esta relação (mais

saída para a mesma entrada ou a mesma saída para menos entrada),

melhor será o resultado. Se o investimento proporciona melhoria em um

indicador desse tipo, então é observado um resultado positivo.

Investimentos informacionais são aqueles que geram informações pertinentes à

tomada de decisão por parte dos gestores. Seus retornos são menos claros, pois

fornecem subsídios à tomada de decisão gerencial. No entanto, não

apresentam necessariamente benefícios diretamente quantificáveis. As

informações geradas por tais sistemas munem os gestores com informações

preciosas no processo decisório, com a esperança de melhorar o

desempenho da organização, em decorrência de melhores decisões.

Por fim, os investimentos estratégicos são usados com o objetivo de

proporcionar à organização vantagem competitiva. Eles permitem também criar

ou aproveitar oportunidades de negócios, que podem ser realizadas em longo

prazo.

Cada um desses tipos de investimentos representa uma classe diferente de TI,

com suas próprias características de risco e retorno.

Além disso, percebe-se certa hierarquia nas categorias de projetos já

evidenciadas. Em princípio, investimentos em infra-estrutura formam uma base

sobre a qual os demais investimentos podem ser realizados. Portanto, antes

de investir em projetos transacionais, informacionais e/ou estratégicos,

anteriormente devem ter sido realizados investimentos em projetos de infra-

estrutura. Em seguida, também se espera que projetos transacionais precedam

os informacionais e/ou estratégicos, até porque estes últimos dependem das

informações geradas pelo primeiro. Por fim, os investimentos informacionais

também geram importantes subsídios para os classificados como estratégicos,

implicando a continuidade desta hierarquia.

35

Page 36: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

Leite (2003) propõe uma classificação dos projetos de TI baseado nos seus

benefícios esperados, sendo eles: mecanização, redução de perdas, expansão da

capacidade, processo decisório e uso estratégico.

Os projetos de mecanização consistem em eliminar ou diminuir o trabalho manual

através do emprego da tecnologia, reduzindo custo de mão de obra e

aumentando a produtividade pela execução mais eficiente das atividades

Os projetos de redução de perdas objetivam minimizar desperdícios no

processo administrativo e aumentar a eficiência das operações. Seus retornos

ainda podem ser bem observados por métricas quantitativas, uma vez que a

redução de perdas é traduzida em menor nível de insumos para um mesmo

nível de saída.

Outro tipo de projeto é o de expansão da capacidade. Através de certos tipos de

investimentos em TI, podem ser alcançadas maiores escalas de trabalho.

Sem esse auxílio, as organizações se deparariam, em algum momento, com

uma incapacidade de lidar com quantidades substanciais de dados e

clientes, por exemplo. Poderiam também não conseguir ampliar o escopo

geográfico ou deixar de atender a um nicho específico do mercado.

A justificativa para esses projetos já começa a apresentar um maior nível de

dificuldade, pois as técnicas de avaliação quantitativas talvez não reflitam

esses benefícios de maneira tão clara.

Os projetos de melhoria do processo decisório embutem um nível adicional

de complexidade. Seu objetivo principal é auxiliar os gestores em suas

decisões, munindo-os com informações relevantes para tal. Os benefícios

potenciais são grandes, porém dificilmente quantificáveis. Sendo assim, técnicas

de análise baseadas em métricas financeiras provavelmente não indicariam

sua adoção. Por outro lado, pode haver uma expectativa forte de que as

informações geradas por esses sistemas tenham um valor relevante, na

medida em que permitirão decisões melhor embasadas e com resultados

supostamente melhores para a empresa.

Por último, os projetos de uso estratégico objetivam a aquisição de

vantagens competitivas frente aos concorrentes. Os retornos esperados, nesse

caso, são complexos, têm horizontes temporais muito longos e várias

implicações, o que torna sua avaliação um exercício com alto grau de

dificuldade. Apesar dessa dificuldade, esses projetos são normalmente

36

Page 37: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

associados a níveis elevados de benefícios e riscos potencias. Tais projetos

têm a capacidade de alterar toda a dinâmica competitiva em um setor, bem como

mudar as bases de competição. Em outros casos, podem ser criados novos

mercados até então inexistentes.

Ainda segundo o autor, a classificação dos projetos reflete também a

seqüência de investimentos adotada pela maioria das empresas (LEITE, 2003).

A figura 1 resume os conceitos propostos, passando a idéia da hierarquia entre

eles, no que se refere à seqüência de investimentos, benefícios e riscos

potenciais e ao nível de dificuldade em justificá-los.

Figura 1 - Classificação de projetos de TI, segundo Leite

Fonte: LEITE (2003, p. 50)

37

Page 38: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

4.3 Custos em projetos de investimento em TI

Estimar os custos em projetos de investimento de TI é uma tarefa

fundamental para a avaliação. Essa atividade requer identificar todos os

custos envolvidos no projeto, mesmo aqueles não diretamente desembolsados

em função do mesmo. Essa identificação é uma tarefa complexa, por vezes mal

compreendida pelos gestores (REMENYI et al., 2000). No entanto, por mais

árdua que seja essa tarefa, mensurar esses custos é essencial para fazer

uma avaliação objetiva e quantitativa do projeto.

Os custos diretos de TI são aqueles que podem ser atribuídos à

implantação e operação do projeto como por exemplo:

- Custos operacionais ambientais: suprimento ininterrupto de energia;

- Custos de equipamentos: servidores, terminais, backup, impressoras;

- Custos de softwares: Módulos de software, software de banco de dados e

software de gerenciamento de rede;

- Custos de instalação e configuração: consultoria, cabeamento e instalação de

equipamentos;

- Custos “amplos”: custos de operação (energia, aluguel) e material de

consumo

- Custos de treinamento: curso sobre o uso do sistema;

- Custos de manutenção: contratos de manutenção do sistema

Os custos humanos indiretos referem-se àqueles ligados às pessoas que direta

ou indiretamente usarão o sistema em análise. Como exemplos de custos

humanos indiretos têm-se: gestão de recursos, custos de propriedade,

tempo, motivação e treinamento dos colaboradores, esforço e dedicação à

gestão e tempo de gerenciamento (REMENYI et al., 2000).

Os custos indiretos organizacionais ocorrem devido à implantação do

sistema e das mudanças organizacionais subseqüentes. Em um primeiro

momento, por exemplo, pode ocorrer uma perda de produtividade derivada

da curva de aprendizado. Em seguida, podem surgir custos relacionados à

resistência à mudança, reestruturação organizacional, deslocamento de

recursos organizacionais e outros próprios de cada organização (REMENYI

38

Page 39: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

et al., 2000). Tais circunstâncias e impactos nos custos podem variar entre

organizações, porém, independente das ocorrências dessas conseqüências,

espera-se que haja um reflexo nos custos.

Discorrendo sobre orçamentos de TI temos seis categorias de desembolsos:

- Despesas de pessoal: salários, encargos sociais, benefícios e bônus para

todos os colaboradores em tempo integral ou parcial;

- Serviços profissionais: serviços de consultoria, terceirizados e outsourcing;

- Software: aquisição e renovação de licenças e manutenção e atualização de

software;

- Hardware: aquisição de servidores, computadores, notebooks, handhelds,

switches, roteadores e demais equipamentos necessários às atividades de

TI;

- Despesas de viagem: despesas com viagem e estadia são comuns em

organizações mantêm estruturas físicas dispersas

- Comunicação, suprimentos e outras: desembolsos com comunicações (voz

e dados) e compras de suprimentos para uso nas atividades de TI.

Os custos relacionados aos recursos humanos são normalmente ligados às

funções de contratação, treinamento e dispensa de pessoal, mesmo

considerando atividades com terceirizados, onde existe aumento nos últimos

anos, pela valorização do trabalho intelectual dos colaboradores.

Os custos de equipamentos relacionam-se à manutenção do hardware necessário

para as soluções. Essas, cada vez mais, demandam equipamentos sofisticados

e diversos, tais como, por exemplo, computadores móveis, celulares com

capacidade de processamento e equipamentos específicos de telemetria e

captura de dados.

Os custos de produtividade decorrem de uma queda momentânea no

desempenho operacional, inerente aos esforços direcionados à implantação

da solução, ao processo de mudança e à curva de aprendizagem própria

da implantação de novas tecnologias. Estes fatores conduzem a questões

também relacionadas à aceitação e ao uso de novas tecnologias no ambiente

organizacional.

39

Page 40: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

Existem os custos escondidos tecnológicos os quais são relacionados à parte

técnica do projeto, tais como: treinamento técnico, existência de múltiplos

sistemas integrados, requerimentos de segurança e backup, licenças de

softwares e bancos de dados, falhas de conexão e quedas no sistema. Os

não-tecnológicos são relacionados fundamentalmente à mão de obra e à

necessidade de pessoal para executar atividades de planejamento e

manutenção do sistema, por exemplo.

As fontes de informações para determinar os custos do projeto de TI são

fundamentais. Algumas informações são obtidas junto aos participantes do

projeto (fornecedores, contratados, consultores, etc.). Outras decorrem da

verificação dos recursos disponibilizados pela equipe interna (análise de

requisitos, confecção do projeto e desenvolvimento). “Independente das

abordagens para estimar custos, elas devem ser feitas com considerável

cuidado, pois estão sujeitas a erros” (REMENYI et al., 2000, p. 112, tradução

nossa).

Outro aspecto relacionado aos custos é o seu perfil, que mudou com o passar

dos anos e os elementos mais substanciais sofreram mudanças. “À medida que

os gastos com hardware continuam a cair, custos relacionados à pessoal e

à organização estão aumentando” (REMENYI et al., 2000, p. 88, tradução

nossa). O crescente aumento da sofisticação e complexidade das aplicações

necessárias ao suporte das atividades das organizações leva a um maior

desembolso para remunerar o capital intelectual necessário à operacionalização

dos projetos de TI.

Alguns custos, no entanto, não são relacionados apenas a um projeto de

investimento. “Pode ser difícil alocar custos a projetos específicos quando

um produto será usado por toda a organização, tal como o caso de um banco de

dados corporativo ou a instalação de uma rede de telecomunicação“

(REMENYI et al., 2000, p. 28, tradução nossa).

40

Page 41: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

4.4 Retornos ou benefícios esperados de projetos de TI

Empresas, por mais similares que sejam em termos de setor, tamanho,

sistemas de informação em uso e tipos de stakeholders, podem ter visões

completamente diferentes dos valores de seus projetos de T.I. “Tanto o

contexto como a percepção determinam o valor de um investimento em T.I.”

(REMENYI et al., 2000, p. 59, tradução nossa)

Sendo assim, os benefícios esperados podem ser divididos em tangíveis e

intangíveis (REMENYI et al., 2000). Os benefícios tangíveis são aqueles que

permitem uma mensuração direta e observável podendo ser realizada através

de métricas financeiras ou operacionais. As métricas financeiras são

constituídas por custos e retornos de natureza financeira, e as métricas

operacionais avaliam a melhoria de desempenho relacionado às funções

organizacionais afetadas pelo investimento. Os benefícios intangíveis, por sua

vez, são mais sutis e têm um impacto indireto na organização (REMENYI et

al., 2000). Alguns destes benefícios podem ser, por exemplo: melhoria da

percepção do cliente em relação à modernidade da empresa e à

capacidade de melhor atendê-los, referências na imprensa sobre a inovação

no uso da TI e auxílio aos gestores na tomada de decisões pelo

fornecimento adequado e eficiente de informações (REMENYI et al., 2000).

Percebe-se que tais benefícios não têm uma quantificação financeira

simples, não sendo trivial a transformação dessas expectativas em fluxos de

caixa. Segundo o autor, apesar de nem todos os benefícios poderem ser

apresentados de forma satisfatória em termos monetários, isto não significa,

porém, a inexistência de melhoria dos resultados financeiros, mesmo que

indiretamente. As medidas tangíveis ocupam um espaço maior no processo de

seleção e justificativa de tecnologias do que as medidas intangíveis.

Segundo eles, o fato de mensurar benefícios intangíveis ser mais difícil não

deveria restringir a importância destes como justificadores do investimento,

uma vez que eles não são menos importantes e, muitas vezes, são os maiores

benefícios esperados.

41

Page 42: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

Os benefícios podem ser agrupados em: aumento de produtividade, diminuição

de custos, redução do ciclo de produção, aumento da qualidade e

disponibilização de melhores informações. Tais benefícios podem ser inter-

relacionados, apesar de apresentarem diferentes naturezas, e também

demonstram características tangíveis (os três iniciais) e intangíveis (os dois

últimos). Abaixo o resumo dos benefícios esperados de cada classe de

investimento em TI:

Tipo de Investimento Benefícios Esperados

Infra-estrutura Integração dos negócios, flexibilidade dos negócios,

custo marginal das unidades de negócio reduzido,

custos de TI reduzidos e padronização.

Transacional Redução de custos operacionais e aumento de

produtividade operacional.

Informacional Melhoria do controle, melhores informações, melhor

integração melhoria de qualidade e ciclos de tempo

mais rápidos.

Estratégico Inovação de produtos/processos, vantagem

competitiva, disponibilização de novos serviços,

aumento de vendas e melhor posicionamento de

mercado.

Albertin e Albertin (2005) consideram que o tipo de aplicação e o nível de

reconfiguração levam a diferentes proporções dos benefícios esperados.

Eles tipificam tais benefícios pelo uso da TI na figura 2:

42

Page 43: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

Figura 2 - Benefícios oferecidos pelo uso de TI segundo Albertin e Albertin

Fonte: ALBERTIN; ALBERTIN (2005, p. 28)

Os benefícios de custos envolvem a redução dos dispêndios, seja em

termos financeiros, seja em termos operacionais de produtividade. Eles

podem ser classificados em custos de: prevenção (necessários para garantir

a qualidade dos produtos); avaliação (relacionados à inspeção dos produtos

para garantir conformidade dos requisitos); falha interna (custos a partir da

detecção de falhas nos produtos antes de serem enviados aos clientes); e

falha externa (custos com problemas nos produtos descobertos pelos ou

nos clientes). A forma de avaliar é através da comparação entre os custos

novos e os anteriores.

O outro benefício é o aumento da produtividade do negócio e está

fortemente ligado ao conceito de eficiência. Algumas medidas reduzem

tempo de processamento de pedidos e de entrega, tratam de mais

informações com a mesma estrutura e, de maneira geral, com menor uso

de insumos para a mesma ou maior saída. A avaliação da produtividade

acontece também pela comparação entre as métricas antes e depois da

implantação da tecnologia.

43

Page 44: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

O terceiro benefício é relacionado à qualidade. O uso da TI pode conferir aos

produtos e serviços, tanto para os clientes internos como externos da

empresa, um maior nível de qualidade. Isso pode ser conseguido pelo

melhor controle dos processos e pelo maior nível de conformidade com as

expectativas dos clientes. Sua avaliação se dá predominantemente pelo nível

de satisfação dos clientes e pela avaliação de índices de desempenho e de

qualidade de processos e produtos.

O benefício relacionado à flexibilidade apresenta quatro subtipos. A flexibilidade

de novos produtos é a capacidade de introduzir, produzir e modificar produtos.

A flexibilidade de carteira de produtos é a capacidade de variar os produtos

em determinado espaço de tempo. A flexibilidade de volume se refere à

capacidade de mudar o nível produtivo. E, por fim, a flexibilidade de

entrega é a capacidade de alterar datas de entrega de acordo com as novas

necessidades. Esse benefício pode ser medido pela capacidade da empresa ser

flexível frente às novas circunstâncias e/ou estímulos externos.

O último benefício dessa tipologia é a inovação, cuja importância estratégica

nas empresas é cada vez mais forte. Os pontos principais da inovação são

a manutenção ou a criação da vantagem competitiva e a satisfação dos

stakeholders. O uso da TI em busca de inovação tem a capacidade de

proporcionar à empresa um melhor posicionamento no mercado e suas

conseqüências podem ser impactantes na estrutura competitiva do mercado.

4.5 Dificuldades na avaliação de investimentos em TI

Normalmente, avaliar investimentos em TI traz consigo um considerável nível

de dificuldade. As características desses investimentos, em adição à variedade de

retornos potenciais possíveis e aos fatores de risco envolvidos, tornam esse

exercício um desafio “Não é claro porque a comunidade de negócios

deveria ter a expectativa dos benefícios de TI serem tão óbvios. Talvez esta

expectativa não seja razoável nem realista” (REMENYI et al., 2000, p. 2,

tradução nossa).

44

Page 45: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

Alguns pontos devem ser abordados e esperados quando da tomada de decisão

para implantação. O sistema depende da existência e de investimentos em

software, hardware e de infra-estrutura de redes, elétrica; treinamento dos

diferentes usuários do prontuário não são triviais e representam por vezes

dificuldade na aceitação e utilização do PEP; necessita de constante manutenção;

atualização e preservação de integridade dos dados; privacidade dos dados em

meio eletrônico e conseqüente investimento em segurança deve ser considerado;

as dificuldades dos profissionais da saúde que não foram submetidos a um

treinamento prévio, no processo de digitação, manutenção da relação médico-

paciente na frente de um computador e tempo gasto com a consulta diante de um

computador devem ser observadas. (WECHSLER, 2003).

Alguns projetos de investimento em TI não objetivam necessariamente

retornos mensuráveis em termos financeiros “Haverá ocasiões em que a

organização incorre em um investimento que não oferece retorno ou talvez

ofereça um retorno intangível difícil de ser medido” (REMENYI et al., 2000, p. 36,

tradução nossa).

Tais características tipicamente levam a uma análise predominantemente

subjetiva dos retornos e tornam os métodos baseados em retorno sobre

investimentos (ROI) inadequados.

No início da informatização nas organizações, grande parte dos

investimentos em TI objetivava automatizar tarefas operacionais. Tais

investimentos eram relativamente fáceis de avaliar em termos financeiros

com as técnicas disponíveis de engenharia econômica.

Mais do que isso, o foco de tais projetos é agregar valor, tanto tangível como

intangível, tornando sua avaliação mais complexa (REMENYI et al., 2000).

Os mesmos autores identificam os problemas principais na mensuração e

gerenciamento de benefícios dos investimentos em TI. O primeiro se refere à

capacidade de mensurar os benefícios esperados e potenciais antes de

executar o investimento. Enquanto alguns benefícios são de fácil

identificação, outros não permitem uma verificação direta e objetiva, pois

são potencialmente maiores do que se pode prever de forma acurada em um

primeiro momento. O segundo problema se refere aos dois tipos de

benefícios esperados a partir dos investimentos em TI. O primeiro tipo são os

benefícios tangíveis, que podem ser verificados através de métricas financeiras

45

Page 46: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

e/ou operacionais. O segundo tipo são os benefícios intangíveis, que

oferecem um desafio maior na sua mensuração, por não poderem ser

diretamente avaliados através de índices e/ou métricas. Apesar dessa

dificuldade, os benefícios intangíveis são bastante importantes como

justificativas aceitas para incorrer no investimento. O último problema é a

evolução dos benefícios esperados de um investimento em TI, pois eles

não são estáticos e podem sofrer alterações com o passar do tempo. À

medida que o projeto segue no seu ciclo de vida, novos benefícios, antes

não percebidos, surgem e passam a integrar o investimento (REMEENYI et al,

2000).

Existem três outras premissas para análise. A primeira é decorrência da pressão

dos concorrentes no mercado, forçando a organização a investir em TI, mesmo

que não haja uma justificativa em termos financeiros para esse emprego de

capital. A segunda é que há um a dificuldade típica na separação dos

impactos observados devidos ao investimento em TI e em outros ativos ou

atividades. Por último, os gestores, de modo geral, não entendem a TI

como um ativo de capital, considerando-a apenas como despesa.

Nem todos os custos são facilmente previsíveis e essa incerteza tem reflexos

negativos na capacidade de avaliar os investimentos. Porém, a dificuldade que o

setor de TI enfrenta é achar a justificativa para o investimento, uma vez que é

difícil de ser mensurada. Além disso, os processos não são vistos de forma

amigáveis pelos profissionais de saúde, levanto a críticas desses sistemas.

Muitas vezes as melhorias são alcançadas e resistências vencidas pela constante

busca da conscientização dos funcionários em todos os níveis organizacionais.

(Paes, 2011).

46

Page 47: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

5. ANÁLISE DO NOSSO PROJETO DE IMPLANTAÇÃO

5.1 Problema e solução

Temos o problema do alto custo dos funcionários do SAME, do espaço físico

alocado para estoque de prontuários, da desorganização e perda de prontuários,

da morosidade do processo de levantamento, arquivamento e envio dos papéis

para as salas de atendimento, entre outros.

A empresa responsável pela implantação do prontuário eletrônico apresenta a

solução em seu sistema. Ela encontra-se em conformidade com todos os itens do

nível de segurança 1 e está buscando o selo de certificação SBIS/CFM, com o

nível de segurança 2.

Segundo os administradores foi emitida atualização em junho de 2010 com

possibilidade de assinar documentos a partir do certificado digital, através de

arquivo, tomem e cartão. Usado para garantir a integridade do documento.

Funciona no módulo “atendimento consultório”, quando o médico gerar a ficha

clínica de um paciente irá permitir que ele assine o documento digitalmente,

garantindo ao usuário e ao administrador que o documento assinado tem

autenticidade. Para tal será necessário que médico possua o certificado digital, se

for cartão será necessário um aparelho para leitura do mesmo, caso seja token

apenas inserir na entrada USB.

Ainda segundo a empresa responsável pelo S-RES da clínica na resolução do

CFM exposta abaixo:

“Art. 5º Como o "Nível de garantia de segurança 2 (NGS2)", exige

o uso de assinatura digital, e conforme os artigos 2º e 3º desta

resolução, está autorizada a utilização de certificado digital padrão

ICP-Brasil, até a implantação do CRM Digital pelo CFM, quando

então será dado um prazo de 360 (trezentos e sessenta) dias

para que os sistemas informatizados incorporem este novo

certificado.” (CFM, 2007, art 5º)

Portanto vemos que o projeto é o CRM digital, projeto do CFM, com apoio técnico

da SBIS. Previsto para o final de 2010, será um certificado digital ICP-Brasil

47

Page 48: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

gerado de acordo com as especificações do CFM, de forma a melhor atender as

necessidades da área médica. Sua implantação será excelente para difundir e

massificar o uso de certificados digitais ICP-Brasil pelos médicos. Segundo a

Resolução CFM No 1821/2007, a eliminação do papel está autorizada quando o

sistema atender todos os requisitos do “Manual de Certificação para Sistemas de

Registro Eletrônico em Saúde (S-RES)”, com o Nível de Garantia de Segurança 2

(NGS2), o qual obriga a utilização de certificados digitais ICP-Brasil, não se

restringindo nesse momento ao CRM Digital. Sendo assim, a atual utilização de

certificados digitais padrão ICP-Brasil por algumas instituições hospitalares no

Brasil está em conformidade com a resolução do CFM e, desta forma, os

investimentos já realizados na aquisição destes certificados não serão perdidos

com o futuro lançamento do CRM digital, lembrando que os certificados digitais

possuem um período de validade não superior a três anos.

O processo de Certificação de Software SBIS-CFM (auditoria e selo de qualidade)

não constitui requisito obrigatório para a eliminação do papel, desde que a

instituição e o fabricante do sistema garantam que o sistema atende a todos os

requisitos obrigatórios do Nível de Garantia de Segurança 2 do “Manual de

Certificação para Sistemas de Registro Eletrônico em Saúde (S-RES)”. A auditoria

da SBIS agrega maior segurança e respaldo técnico à decisão da Comissão de

Revisão de Prontuários ao esclarecer e certificar que o sistema realmente atende

a esses requisitos.

Segundo o fabricante, apesar de ainda não ter o selo do CFM/SBIS, o sistema da

clínica atende aos quesitos de segurança e tem disponibilizado a possibilidade de

certificado digital, apresentando, portanto, solução para a digitalização sem a

necessidade do arquivo em papel. Com o processo totalmente implantado,

inclusive prevendo-se as certificações digitais em conjunto com a assinatura

tornará o processo claramente mais seguro.

48

Page 49: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

5.2 Análise da viabilidade econômica – avaliar a situação atual do SAME e

comparar com o projeto de implantação do prontuário eletrônico.

Conforme planilha de cálculo (Anexos - Tabela 1), temos no setor 6 colaboradores

fixos que custam mensalmente R$ 10.379,23, incluindo 13º salário, férias, 1/3 de

férias, encargos (como: INSS e FGTS).

Somando-se ao valor dos custos o aluguel proporcional da área do SAME (R$

418,00) e os outros custos diretos como impressão, luz, telefone, insumos

descartáveis, suprimentos de Informática (R$ 1.652,00); chegamos ao valor total

geral de custo mensal de R$ 12.448,75.

De acordo com a proposta de implantação (Anexos - Tabela 3), temos como total

de investimento R$ 45.284,00: referente à compra do sistema GED, treinamento

de pessoal em relação ao GED, 17 licenças dos usuários médicos, cabeamento

estrutural da rede, 1 servidor de backup, 16 estações de trabalho (Think Client),

16 monitores, 16 teclados e mouses, 2 scanners, 1 switch 24 portas, 1 roteador, 1

HD externo, 1 roteador, além do aumento proporcional do contrato de

manutenção com a empresa prestadora de serviços do sistema.

Com a implantação do PEP e GED a proposta é a realocação de três

colaboradores do setor de SAME, responsáveis pela separação e transporte dos

prontuários. No novo processo a empresa irá adotar a digitalização dos

prontuários uma semana antes do atendimento médico. No processo atual a

clínica adota a impressão da ficha de atendimento (recepção), guia TISS e

formulário de atendimento médico. Adotando o prontuário eletrônico a empresa

terá a redução de impressão de uma folha por atendimento (ficha de

atendimento), pois o médico irá visualizar os dados do paciente diretamente na

tela do computador do consultório. A partir da impressão da ficha de atendimento

médico ao término da consulta, o sistema possuí uma “trava de segurança”, não

permitindo qualquer alteração nos dados clínicos do atendimento.

A economia gerada pela realocação de colaboradores será de R$ 5.799,00

(Anexos – Tabela 2), somada a economia pela alteração do processo que será de

R$ 470,00, teremos um total de economia de R$ 6.269,00 reais mensais, como

vemos no Anexos - Tabela 3.

49

Page 50: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

Concluindo, através da análise econômica, temos resultados positivos a partir do

quarto mês (Anexos – Tabela 3), com investimento quitado no décimo primeiro

mês e retorno do investimento no décimo quarto mês, concluindo a viabilidade

econômica do projeto.

6. DISCUSSÃO

Num estágio de sofisticação um pouco mais avançado, a TI pode se transformar

num instrumento imprescindível para a expansão dos negócios. Isto ficou muito

claro quando empresas passaram a dobrar ou triplicar seu faturamento logo

depois de implantar sistemas informatizados. Este fenômeno acontecia porque

existem limites nem sempre muito visíveis para a operação estritamente manual.

Por exemplo, não há como administrar uma carteira com dezenas de milhares de

clientes sem contar com sistemas informatizados. No âmbito da saúde, e

especificamente no atendimento médico, ainda precisaremos de tempo para

avaliar se haverá ganho real de tempo no atendimento ao paciente com

possibilidade de, eventualmente, poder atender mais.

Há um próximo estágio de amadurecimento no uso da TI. Quando se fala da

melhoria do processo decisório, a avaliação dos benefícios associados à

informatização torna-se ainda mais fluida. Sistemas que melhoram a qualidade

das decisões são de grande valia para a empresa e, embora seu custo seja

elevado, o benefício potencial provavelmente será ainda maior.

Em setores de Serviço de Arquivo Médico e Estatística (SAME), vemos uma

transformação com a informatização, além do prontuário eletrônico reduzir a

necessidade de busca e armazenamento de papéis, a análise dos dados fica mais

facilitada.

Temos exemplos mundiais de benefícios denominados de medicina invisível do

prontuário eletrônico, como informa em 2011 a fonte Saúde Business, ela cita um

relatório do Institute of Medicine advertiu que os assim chamados, erros médicos

evitáveis, resultam entre 44 a 98 mil mortes dentro dos hospitais nos Estados

Unidos, gerando perdas da ordem de dois bilhões de dólares todos os anos. Já a

50

Page 51: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

organização norte-americana, Maimonides Medical Center, mostrou que a

introdução de tecnologia como o Prontuário Eletrônico do Paciente reduziu em

30,4% o tempo de permanência do paciente no hospital. Da mesma forma, o

suporte à decisão auxiliou o laboratório do hospital na redução de 48,9% dos

exames de urina e em 41,6% dos exames de microbiologia. Esses ganhos são

frutos da introdução informatizada dos protocolos clínicos que podem ser

monitorados com alertas automáticos e instantâneos, que apóiam a decisão

médica e reduzem o tempo da ação clínica. Seria a chamada Medicina Invisível,

que embora não possa ser tocada ou vista a olho nu, está por trás dos

procedimentos e organizações existentes em um hospital ou clínica de saúde.

Adotado por diversas instituições de saúde públicas e privadas ao redor do

mundo, esse sistema tem mudado o conceito de trabalho, assim como,

despertado o que antes era considerado inimaginável. E, em alguns anos, a idéia

é que as pessoas sejam cidadãos do mundo e, independente de onde estiverem,

tenham atendimento rápido e eficiente em hospitais ou outras instituições. É a

rede de saúde comunitária, que armazena de forma organizada todas as

informações sobre a saúde das pessoas, exames e cirurgias, já realizados.

Segundo o Departamento de Saúde dos EUA (HHS), essa rede de informações

pode auxiliar as instituições a economizar cerca de 140 bilhões de dólares por

ano.

No Brasil, a medicina invisível já é realidade em alguns locais. O Hospital

Português da Bahia, por exemplo, investiu num projeto que integra todos os seus

processos e departamentos, gerenciando toda produção de serviços clínicos com

a introdução do prontuário eletrônico via web. E ao questionar quais os fatores

motivadores para tal implementação, a resposta é certeira: melhoria da eficiência

operacional e garantia da oferta de maior segurança e efetividade aos médicos e

gestores da clínica. O escopo do projeto está centrado na automatização dos

processos internos, da entrada do paciente até a sua saída.

Outra opinião de Velasquez (2007) é de que um prontuário não se restringe

apenas à evidência originada da literatura científica e de revisões sistemáticas. O

prontuário médico tradicional não se presta para a recuperação de dados

confiáveis. A introdução do PEP, por sua vez, permite o estabelecimento e

manutenção de registros longitudinais individuais e coletivos com dados

sistematizados e padronizados constituindo uma fonte de informações de valor

51

Page 52: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

incomparável para as tomadas decisões clínicas e administrativas baseadas em

evidência.

7 RECOMENDAÇÃO FINAL

A necessidade da implantação vem dos nossos anseios de modernizar os

processos, principalmente no intuito de minimizar os riscos referentes aos

extravios de papéis, falhas humanas de arquivamento, lentidão no processo de

levantamento e arquivo manual. Além disso, consideramos que a viabilidade e

necessidade vêm da convicção de que as ferramentas e instrumentos da

informática no processo do atendimento de pacientes auxilia os profissionais da

saúde no exercício da profissão, facilitando a coleta e armazenamento das

informações, a tomada de decisão, a busca da terapêutica mais adequada, a

troca de informações entre profissionais, instituições e pacientes. Facilita a

realização da pesquisa científica, criando assim as condições, hoje tão

necessárias, para melhor enfrentar os desafios do mundo globalizado.

Corroboramos a opinião de autores que se referem à digitalização, como sendo

uma prática nova que gera no início algum receio ou insegurança, bem como

levanta dúvidas sobre a interferência da tecnologia na rela cão médico-paciente.

Assim, é fundamental que se estabeleça um treinamento adequado para

utilização destas ferramentas e instrumentos, tanto para os médicos e secretárias,

como para quaisquer outros profissionais envolvidos no processo, acreditamos

que com o adequado domínio na utilização das ferramentas, a relação médico-

paciente fica preservada. Deve-se ainda dar atenção aos componentes relaciona-

dos com os equipamentos, aplicativos e infra-estrutura como: rede elétrica, rede

de comunicação, computadores, impressoras, scanners, modems e, em especial,

aos programas de gerenciamento da informação do paciente (WECHSLER, 2003

apud BARNETT, 1984).

Em relação ao aspecto jurídico observamos que para o processo desejado pela

Clínica de substituir o prontuário de papel pelo eletrônico temos algumas

questões a serem discutidas. Na hipótese do sistema ter o nível de garantia 1 e o

52

Page 53: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

gerenciamento eletrônico de documentos, como no caso da empresa TDSA,

podemos digitalizar os prontuários existentes e o médico durante o atendimento

poderá preencher os dados no computador e para garantia de autenticidade teria

de imprimir o atendimento em questão carimbar e assinar.

Outra possibilidade seria o médico prestador de serviço obter o certificado digital

em conformidade com as normas exigidas pelo ICP-Brasil, e assinar e certificar

eletronicamente aquela ficha clínica preenchida. Cabe nessa opção uma

discussão, pois nesse caso teria o nível de garantia de segurança 1 e o certificado

digital, porém ainda sem o selo de certificação da SBIS. O risco de não se

imprimir o prontuário para se obter a plenitude da funcionalidade e economia do

processo, passaria por um eventual questionamento pericial para se avaliarem as

seguranças mencionadas.

A terceira opção, e mais segura, seria o aval da SBIS e CFM, com o selo de

certificação. Incorporando à empresa eventuais custos, pois a empresa certificada

repassaria algum tipo de valor pelo fato de ter passado pelo processo de

certificação, além de solicitar aos prestadores o certificado individual de cada um.

Concordamos com autores que citam um longo caminho de riscos e obstáculos

na implantação do PEP, como falta de entendimento das reais capacidades e

benefícios, não usufruindo e não desenvolvendo necessidades reais, além da

constante dependência de profissional especializado em TI. São ainda limitadores

do processo: a falta de padrões que acarreta perda de recursos, a interface com o

usuário, a segurança e sigilo, a resistência do usuário às mudanças, possíveis

sabotagens, falta de infraestrutura (leis, regras, especialistas no desenvolvimento)

e aspectos legais ainda sem jurisprudência (HEIMAR, 2006).

Surgem mesmo assim dúvidas sobre a real segurança desses sistemas, pois

envolvem assunto específico e muito detalhado, de conhecimento específico dos

profissionais da computação, fugindo do domínio de médicos e administradores.

Muitas vezes esses sistemas serão passíveis de auditorias cujas penas e

responsabilidades recairão sobre os responsáveis técnicos frente ao conselho de

ética da classe médica, sobre os diretores clínicos e sobre os administradores,

sendo assim qualquer decisão deve levar em consideração tais aspectos.

Em entrevistas realizadas em Belo Horizonte por Dias, 2008, quando da

implantação de prontuários eletrônicos, foram citadas as principais dificuldades no

uso cotidiano do PEP: falhas constantes do sistema (26,8%), manutenção de

53

Page 54: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

sigilo sobre os dados do paciente, quantidade insuficiente de computadores

disponíveis (14,6% cada) e realização de backups confiáveis (12,2%).

Para o futuro devemos nos atentar para outros aspectos de segurança e não

somente o de certificação e ética. Devemos pensar nos processos que deverão

ser necessários a partir da implantação de um projeto como este. A segurança do

banco de dados, cópias de segurança, talvez dois servidores (um redundante) e

ainda mais dois HD externos, um deixado no local e outro transportado

diariamente para outro local quando se encerrar o atendimento.

Questões ainda merecem ser discutidas de como será o plano alternativo em falta

de energia. Voltaremos para o prontuário de papel e posteriormente nova

digitalização?

E quanto a segurança contra os hackers, que por vezes conseguem entrar e

sistemas super seguros de bancos e de instituições governamentais. Seriam os

processos e sistemas de TI totalmente seguros quanto ao sigilo e guarda dos

dados?

Como a SBIS e o CFM se posicionam frente a esses aspectos mais amplos?

Como vemos ainda existem muitas questões a serem delineadas para

avançarmos com segurança nessa área da gestão da saúde.

8. REFERÊNCIAS

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Page 58: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

9. ANEXOS – TABELAS

TABELA 1

Custos do setor de SAME (Serviço de Arquivo Médico e Estatístico): mão de obra (M.O.), aluguel e custos diretos.

M.O. SAME SALÁRIO + CESTA BÁSICA VALE TRANSPORTE ASSISTÊNCIA MÉDICA TOTAL FUNCIONÁRIO 1 670 140 79 889FUNCIONÁRIO 2 870 140 79 1089FUNCIONÁRIO 3 870 140 79 1089FUNCIONÁRIO 4 1270 140 400 1810FUNCIONÁRIO 5 840 140 88 1068FUNCIONÁRIO 6 840 140 88 106813º SAL +FÉRIAS 1042     1042INSS / FGTS 2324     2324

TOTAL M.O. SAME       10379

VALOR TOTAL ALUGUEL DA CLINICA 16000ÁREA TOTAL DA CLÍNCA EM M2 420VALOR P/ M2 38TOTAL ÁREA - SAME EM M2 11

TOTAL DO ALUGUEL DO SAME 418

CUSTOS DIRETOS TOTAL EXAMES REALIZADOS EM JUNHO 2011: 4262

IMPRESSÃO / TEXTO + SULFITE 1400CONTAS TELEFÔNICAS DO SETOR 20INSUMOS GRÁFICOS - Envelopes 80LUZ 77INSUMOS DESCARTÁVEIS 30SUPRIMENTOS DE INFORMÁTICA 45

TOTAL DE CUSTOS DIRETOS 1652

M.O. 10379ALUGUEL 418CUSTOS DIRETOS 1652

TOTAL GERAL DE CUSTO 12449

Fonte: Clinica Alpha, 2011.

- valores absolutos expressos em reais- valores totais calculados por mês

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Page 59: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

TABELA 2

Economia de mão de obra (M.O.) no Setor do SAME (Serviço de Arquivo Médico

e Estatístico), com a implantação do sistema de Gerenciamento Eletrônico de

Documentos (GED).

REALOCAÇAO DE FUNCIONÁRIOS

SALÁRIO + CESTA BÁSICA

VALE TRANSPORTE

ASSISTÊNCIA MÉDICA TOTAL

FUNCIONÁRIO 1 1270 140 400 1810FUNCIONÁRIO 2 840 140 88 1068FUNCIONÁRIO 3 840 140 88 106813º SAL +FÉRIAS 574     574ENCARGOS: 1279     1279

TOTAL SETOR       5799

Fonte: Clinica Alpha, 2011.

- valores absolutos, expressos em reais e por mês.

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Page 60: PEP Viabilidade de Prontuário Eletrônico

TABELA 3

Informações tratadas em projeção financeira: viabilidade econômica da

implantação do Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP) e do Sistema de

Gerenciamento Eletrônico de Documentos (GED).

Investimento Valor Unidade Total Parcela Mês 1 Mês 2 Mês 3 Mês 4 Mês 5 Mês 6 Mês 7 Mês 8 Mês 9 Mês 10GED -3200 1 -3200 6 -533 -533 -533 -533 -533 -533        Treinamento GED -70 16 -1120 6 -187 -187 -187 -187 -187 -187        Licença (PEP) -400 17 -6800 6 -1133 -1133 -1133 -1133 -1133 -1133        Treinamento PEP -32 32 -1024 6 -171 -171 -171 -171 -171 -171        Rede cabos -3000 1 -3000 3 -1000 -1000 -1000              Servidor backup -4886 1 -4886 10 -489 -489 -489 -489 -489 -489 -489 -489 -489 -489Think client  -699 16 -11184 3 -3728 -3728 -3728              Monitores -237 16 -3792 10 -379 -379 -379 -379 -379 -379 -379 -379 -379 -379Servidor tkink client -1892 2 -3784 10 -378 -378 -378 -378 -378 -378 -378 -378 -378 -378Wireless  -700 1 -700 2 -350 -350                HD externo -150 1 -150 1 -150                  Scanners -1636 2 -3272 3 -1091 -1091 -1091              Teclados - mouse -30 16 -480 10 -48 -48 -48 -48 -48 -48 -48 -48 -48 -48Switch 24 portas -1580 1 -1580 1 -1580                  Manutenção  -313 1 -313 10 -313 -313 -313 -313 -313 -313 -313 -313 -313 -313

Total

investimento -45284   -11530 -9800 -9450 -3631 -3631 -3631 -1607 -1607 -1607 -1607

Economias                            

Funcionários     5799   5799 5799 5799 5799 5799 5799 5799 5799 5799 5799Papel e materiais     470   470 470 470 470 470 470 470 470 470 470Total economias     6269   6269 6269 6269 6269 6269 6269 6269 6269 6269 6269

Resultado geral         -5261

-3531 -3181 2638 2638 2638 4662 46624662 4662

Fonte: Clinica Alpha, 2011.

- valores do resultado: absolutos, expressos em reais e por mês.

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