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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE PENSANDO FILOSOFIA NO ENSINO MÉDIO Por: Wânia Sant’ Anna Lima de Azevedo Orientador: Professora Fabiane Muniz Rio de Janeiro 2003

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

PENSANDO FILOSOFIA NO ENSINO MÉDIO

Por:

Wânia Sant’ Anna Lima de Azevedo

Orientador:

Professora Fabiane Muniz

Rio de Janeiro

2003

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

PENSANDO FILOSOFIA NO ENSINO MÉDIO

Apresentação de Monografia à

Universidade Candido Mendes como

condição pra a conclusão do Curso de

Pós-Graduação “Lato Senso” em

Docência do Ensino Superior

OBJETIVO:

Auxiliar o educando a desenvolver um

pensamento crítico, voltado para a

investigação dialógica e consciência de si

mesmo como elemento transformador da

sociedade em que vive.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu marido Arlindo, que

tanto me incentivou a enfrentar todas as

adversidades no decorrer do curso, que

não foram poucas. Também aos meus

filhos Rafael e Daniel pela compreensão a

minha falta de tempo e em especial ao

meu filho Gabriel por ajudar-me na

confecção deste trabalho.

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DEDICATÓRIA

A Creuza Sant’ Anna, minha mãe por

acreditar e incentivar-me a

realização do meu sonho de educadora.

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RESUMO

O estudo da filosofia no ensino médio proporciona ao educando contato com

textos filosóficos, incitando-o ao uso de suas habilidades de pensamento. Através

da razão e da lógica conhecer as diversas respostas já existentes sobre um

determinado questionamento e fazer um levantamento dessas respostas

objetivando uma nova resposta.

Essa nova resposta, sendo fruto da sua capacidade de passar do senso

comum à consciência crítica, desenvolvendo assim o hábito de pensar melhor

envolve sentir tudo aquilo que se estuda, se lê, se aprende. Implica levar o aluno a

usar a imaginação, os sentidos, ultrapassando a compreensão puramente

intelectual e levando a reações de caráter afetivo com relação ao que se conhece.

Na dimensão da reflexão os alunos são trazidos a captar o significado mais

profundo daquilo que esta sendo estudado, fazendo relações com outros temas

construindo convicções pessoais sobre fatos, verdades, opiniões e conseguindo

compreender quem é e quem deveria ser em relação aos outros.

Esperando que a filosofia possa contribuir com a nossa educação para que

os alunos sejam capazes de agir. Agir com relação a cada conteúdo, passando a

amar o saber e desejando conhecer mais. Agir em suas próprias vidas, tornando-

se pessoas melhores, interferindo no contexto social, comprometendo-se com a

construção de uma nova sociedade à luz da integração entre democracia e justiça.

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METODOLOGIA

A metodologia se baseia utilização do conteúdo programático de filosofia

para o Ensino Médio, através de assuntos de interesse dos educandos,

observando suas reais necessidades para enfrentar os obstáculos para conclusão

de seus estudos e como entrar em um mercado de trabalho escasso e

competitivo.

Através das obras filosóficas o educando desperta seu senso crítico e sua

capacidade dialógica, possibilitando um entendimento amplo dos mais variados

assuntos e das diversas disciplinas das quais ele deverá dominar para o

prosseguimento de seus estudos.

A utilização de livros didáticos variados, não se detendo a um só autor,

contribui de maneira benéfica para a compreensão da diversidade que compõe o

todo e assim proporcionar a adequação do currículo a real necessidade dos

alunos.

As palestras e seminários contribuem para o engajamento dos alunos no

universo intelectual, pois, eles passam a contribuir ativamente com a descoberta

de novos paradigmas e não apenas aceitando os já existentes.

A proposta metodológica baseia-se na necessidade dos jovens em descobrir

seu potencial para adquirirem auto-confiança e conseqüentemente ousar “pensar”

em seu futuro, mas de maneira autônoma e criativa.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I 09

APRENDER A PENSAR 09

CAPÍTULO II 14

BUSCANDO O PENSAR EM SALA DE AULA 14

CAPÍTULO III 22

PRESSUPOSTOS DE UMA EDUCAÇÃO 22

PARA O PENSAR

CAPÍTULO IV 26

PENSAR EM COMUNIDADE 26

CONCLUSÃO 31

BIBLIOGRAFIA 34

ÍNDICE 36

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INTRODUÇÃO

A filosofia no Ensino Médio deve ser vista como uma perspectiva de

compreensão do mundo e uma visão de pessoa humana que se pretende formar.

Ter como objetivo em destaque, o desenvolvimento global de pessoa que conduz

a uma ação inspirada na democratização do saber, onde a escola possa

oportunizar ao educando um espaço de troca e investigação. Desejando formar

homens e mulheres que se coloquem a serviço dos outros para transformar a

sociedade em um espaço de igualdade e de justiça, onde a cidadania seja

respeitada e compreendida pela maioria dos cidadãos.

Para conseguirmos isso a sala de aula de ser entendida como uma

“comunidade de investigação dialógica”, isto é, um espaço de diálogo e

construção coletiva onde todos tenham vez e voz. Um lugar marcado pela vivência

concreta dos valores éticos e morais, no qual os alunos e professores possam ir

assumindo um verdadeiro protagonismo na transformação das estruturas sociais.

Inspirando-se em Matthew Lipman como orientador intelectual e articulando

seus princípios com os saberes das tendências atuais de educação brasileira,

construir nossa prática segundo as dimensões da importância da filosofia para o

pensar, numa caminhada educativa em busca da excelência acadêmica e

humana.

O objetivo deste trabalho é verificar a importância do estudo da filosofia no Ensino

Médio auxiliando o educando a desenvolver um pensamento crítico, voltado para a

investigação dialógica e consciência de si mesmo como elemento transformador

da sociedade em que vive.

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CAPÍTULO I

Aprender a pensar

“O que a filosofia nos ensina é o risco de tomar por

certo aquilo a que deveríamos prestar atenção

cuidadosa, bem como a possibilidade de descobrir, sob

o prosaico, comum e rotineiro, um universo de

extraordinária riqueza e variedade, diante do qual

podemos somente nos maravilhar”.

Matthew Lipman (1988)

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DESEVOLVENDO HABILIDADES DE

PENSAMENTO

É comum a afirmação de que os jovens ingressam nas universidades sem

saber raciocinar, pensar ou estudar. Diante dessa evidência, a filosofia pode

ajudá-los para que “aprendam a pensar”.

Um bom começo para entender o papel da filosofia é a obra “ Filosofia na

Sala de Aula”, onde Lipman inicia refazendo o percurso histórico da filosofia na

Grécia Antiga, quando os cidadãos começaram a pensar sobre os pensamentos.

A partir de Sócrates, no século V a.C., a filosofia passa a ser relacionada com a

investigação dialógica. Ele nos mostra que pensar é um ofício, e é um tipo de

ofício que não se faz por ninguém. Ele modela a investigação intelectual para nós,

procurando se abster de impor produtos prontos da sua própria investigação. Esta

investigação começa com os assuntos de maior interesse para cada um, para

conhecer a si mesmo, um incentivo de ver a vida se aperfeiçoar a partir do pensar

sobre ela. Ele envolve na conversação, desperta intelectualmente para ouvir

cuidadosamente os outros (que é pensar), pesar as palavras para falar (que é

pensar), considerar o que foi dito, explorar as possibilidades, descobrir

alternativas, reconhecer outras perspectivas, ângulos de visões diferentes.

Nas palavras de Lipman,

“A investigação intelectual é uma disciplina que tem a

sua própria integridade, e não se desfaz em

investigação científica, nem permite ser mascarada com

uma ideologia política ou religiosa”.

(Lipman, 1994, p. 13).

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Sócrates descreve-se como uma “parteira” e nos propõe tal atitude. Platão

aprendeu com Sócrates que a filosofia é diálogo, a vida do filósofo é de aprendiz

de professor; que a filosofia é ensinada tanto quando é aprendida. Ela não pode

ser incutida a força, mas desejada.

A filosofia é essencialmente dialógica. Ela se realiza, acima de tudo, na troca

ou no debate de idéias. O diálogo é debate interessado na solução das questões

controversas, é o melhor recurso para o desenvolvimento das capacidades

reflexivas das pessoas. O diálogo é condição, é essencial para o funcionamento

de uma comunidade de investigação. Ele é de fundamental importância para

estimular os alunos a pensar. O pensamento é internalização do diálogo.

Durante a investigação dialogada a autoridade do professor consiste, no que

se refere a técnica e procedimento da investigação, em estimular ao alunos a

explicar os fundamentos e implicações de seus pontos de vista, garantir os meios

de se defender no curso da discussão filosófica. Ele pode intervir para introduzir

considerações filosóficas relevantes para salvaguardar a integridade da

investigação.

Historicamente a filosofia tem sido relegada a um segundo plano, perdeu seu

caráter popular, tornando-se elitista. Precisamos democratizar a filosofia. Fazer

filosofia é um direito de todas as pessoas por ser uma necessidade de todos os

seres humanos e no Ensino Médio isso se faz necessário pela diversidade de

situações que os alunos vivenciam.

Frente a ineficiência do sistema educacional e dos métodos utilizados, o

critério proposto para mudar a educação do Ensino Médio, baseia-se em ter como

objetivo global, estar voltado, essencialmente para o valor do pensamento que

cada aluno é capaz de desenvolver em contraste com os valores apresentados

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pelo sistema atual, visando a racionalidade e uma unidade metodológica coerente

com as reais necessidades dos alunos.

Um primeiro ponto desta educação é a descoberta de significados das

experiências e experiências significativas. As experiências constituem o

paradigma de compreensão da cognição, pois elas possibilitam a formação de

hábitos de domínio sobre o meio e a capacidade de usá-los para fins humanos. A

vida mental decorre do esforço de adaptação no sentido de pensar, refletir a

experiência e com acúmulo, desse processo, antecipar a ação. A gênese é

sempre o meio social que cria as atitudes mental e emocional do indivíduo, devido

ao acúmulo de respostas e conhecimento em cada cultura. Lipman se inspira em

Dewey e para eles não há cognição sem conhecimento e conhecimento

pressupõe o já acumulado, mas com vista a determinado objetivo, isto é, o como

se conhece está vinculado ao que se conhece. Meios e fins são inseparáveis. O

maior desenvolvimento da vida psíquica ocorre em ambiente social equilibrado,

onde haja cooperação, colaboração, partilha. O uso do aparato mental deve estar

voltado para a vida democrática, participativa em sociedade. Educação e

democracia devem caminhar juntas, pois esta é a forma de propiciar aos alunos

que se tornem mais inteligentes.

A escola deve ser uma destas instituições de caráter democrático com o

ensino ativo, implicando a individualidade de cada um, suas experiências e a

cultura. Ela deverá articular a lógica da investigação, sempre “aberta”, inerente à

espécie e expressa na ação, e o mundo das ciências, da sistematização do

conhecimento. Ela é também a instituição que propicia a democracia.

Os significados das experiências não podem ser dados, transmitidos, mas

tem que ser captados, buscados por meio do envolvimento no diálogo e na

investigação. Eles nascem da reflexão das relações entre as partes e o todo, entre

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meios e fins. A educação está onde surge o significado que pode ser em qualquer

situação da vida do aluno.

Para que os alunos possam trabalhar com significados eles precisam ser

ensinados a pensar por si mesmos “O pensar é a habilidade par excellence que

nos habilita a captar os significados” (Ibid, p.32). O pensar é uma habilidade

passível de ser aperfeiçoada. Lipman coloca o problema pedagógico que é o de

transformar o aluno que já pensa num aluno que pense criticamente. Por isso, ele

alerta que:

“um programa confiável de habilidades de pensamento deveria mais que capacitar os alunos a lidarem de modo efetivo com as tarefas cognitivas imediatas, tais como problemas a serem solucionados ou decisões a serem tomadas. Deveria buscar as potencialidades cognitivas dos alunos, de modo a prepará-los a um pensar mais efetivo” (Ibid, p.35).

Não transformá-los em filósofos, mas ajudá-los a pensar mais, a serem indivíduos mais reflexivos, a ter mais consideração, a ser mais razoáveis e criteriosos, a desenvolver o juízo de valor que é o vínculo entre o pensamento e a ação.

Partindo do pressuposto que as habilidades de pensamento (cognitivas) -

habilidades de raciocínio, de investigação, formação de conceitos e tradução - são

pré-requisitos para o envolvimento e engajamento dos alunos na investigação e a

trabalhar dentro das disciplinas tradicionais. Embora a linguagem e matemática

sejam chamadas de “habilidades básicas” porque são capazes de abrir as portas

para outras habilidades cognitivas e reforçá-las, elas são apenas duas expressões

do processo cognitivo, cujas habilidades que necessitam serem desenvolvidas

para ampliar a capacidade do aluno de aprender. Estabelece uma analogia entre a

boa escrita e literatura e o bom pensamento com filosofia. A lógica formal contribui

com o pensar organizado na medida em que incentiva os alunos a serem

sensíveis às inconsistências, terem interesse pelas conseqüências da

argumentação, estarem conscientes da coerência de seus pensamentos. É claro

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que há limites na lógica formal que devem ser compensadas com a lógica das

“boas razões” que não tem regras específicas que necessitam de avaliação do

próprio pensamento e do pensamento dos outros, dependendo do contexto das

ações ou dos acontecimentos. Esta lógica é necessária dada a ampla variedade

de situações que pedem um pensamento deliberativo.

O pensar filosoficamente acontece na comunidade de investigação. A

prontidão em dar razões, o respeito mútuo, a ausência de doutrinação, o diálogo

são condições intrínsecas à própria filosofia. A filosofia é essencialmente

dialógica. Ela se realiza, acima de tudo, na troca ou no debate de idéias. O diálogo

é debate interessado na solução das questões controversas, é o melhor recurso

para o desenvolvimento das capacidades reflexivas das pessoas. O diálogo é

condição, é essencial para o funcionamento de uma comunidade de investigação.

Ele é de fundamental importância para estimular os alunos a pensar. O

pensamento é internalização do diálogo.

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CAPÍTULO II

Buscando o pensar em sala

de aula

“Todos os homens têm, por

natureza, o desejo de conhecer”.

Aristóteles, Metafísica

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FILOSOFAR É PRECISO

A civilização ocidental não pode ser compreendida sem a filosofia. O exemplo

dos filósofos gregos nos deixou uma grande lição: nunca se conformar com as

estruturas existentes como se fossem as únicas possíveis. Em todas as épocas

tivemos filósofos buscando a verdade e combatendo a ignorância, a dominação do

homem pelo homem, as guerras e outros atos irracionais que infelicitam a

humanidade.

Filosofar é preciso para participar criativamente e ativamente pela

humanização, pela igualdade social e acima de tudo por uma consciência crítica

da realidade através da discussão de questões filosóficas e libertadoras.

Os seres vivos têm potencialidades que se desenvolvem segundo suas

necessidades de sobrevivência. O homem possui a capacidade especial de

pensar, o que lhe possibilita não apenas conviver com a realidade, como também

conhecê-la. Conhecer a realidade significa compreendê-la e explicá-la.

A conversa, a discussão e o diálogo humanos são as matrizes do

pensamento e do raciocínio. O interesse principal da educação foi

tradicionalmente a transmissão de conhecimento de uma geração para a outra. A

educação era entendida como a iniciação do aluno nos conhecimentos do mundo,

o foco estava em aprender o que as outras gerações já sabiam ou pensavam

saber. A grande mudança de paradigma na história da educação redirecionou o

próprio alvo da educação: o aprender deu lugar ao pensar.

2.1- John Dewey (1859-1952)

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O principal filósofo ligado a essa mudança foi John Dewey. Ele descreveu o

curso natural do pensamento na vida diária como uma concatenação de esforços

na solução de problemas. Uma vez que o pensar melhor (racionalidade) foi aceito

como meta da educação, outras coisas, começaram a ter lugar. O professor não

poderia mais ser entendido como um jardineiro que pode cuidar e manter as flores

em canteiros, ajudando-as a tornarem-se aquilo que já estavam geneticamente

determinadas a ser. O professor tornou-se parte de uma intervenção para libertar

o processo de pensamento no aluno, para que começasse a pensar por si próprio,

em vez de repetir o pensamento do professor.

2.2- René Descartes (1596-1650)

Filósofo francês é reconhecidamente o “pai da filosofia moderna”, é o

principal representante do racionalismo. Descartes encaminha suas reflexões

filosóficas em direção à verdade. Ele encontra na dúvida um caminho seguro para

encontrar a verdade:

“Converte a dúvida em método. Começa duvidando de tudo, das afirmações do senso comum, dos argumentos da autoridade, do testemunho dos sentidos, das informações da consciência, das verdades deduzidas pelo raciocínio, da realidade do mundo exterior e da realidade do seu próprio corpo” (Aranha e Martins, 1986, p.166).

A dúvida metódica conduz Descartes a um primeiro conjunto de verdades: “Eu

duvido, isso é certo. Se duvido, é porque eu penso, isso também é certo. Se eu

penso, eu existo: é certo que eu existo porque eu penso”.

Nesse sentido, as idéias são inatas, não porque os homens já nascem com

elas, mas sim porque elas resultam do próprio ato de pensar. O real só pode ser

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conhecido a partir das idéias que resultam da atividade do pensamento. O

homem interroga porque não sabe, e da inquietação ele formula questões ao

longo de sua existência, buscando viver melhor.

2.3- Sócrates (269-399 a.C.)

Caminhando ao encontro dos filósofos gregos, podemos citar que Sócrates

movido pela necessidade de solucionar problemas metafísicos levava o seu

interlocutor a reconhecer o seu falso conhecimento e sua ignorância; “Só sei que

nada sei”. Despojado das falsas verdades, nasce dentro do homem o desejo de

saber, de construir o conhecimento adequado.

2.4- Platão (420-348 a.C.) e Aristóteles (385-322 a.C.)

Elegeram os problemas metafísicos como alvo da filosofia, eles estavam,

preocupados com a busca da verdade para fazer ciência e superar o domínio da

opinião, retomaram uma questão vital e polêmica instaurada por dois filósofos pré-

socráticos: Heráclito de Éfeso e Parmênides de Eléia. O problema metafísico que

se estabeleceu com ambos os filósofos: a conciliação entre o devir (constante vir-

a-ser) e o ser, bem como o valor do duplo conhecimento, quer dos sentidos, quer

da razão.

2.5- John Locke (1632-1704)

Filósofo inglês expõe em sua obra Ensaio acerca do entendimento humano,

os fundamentos do empirismo. Tem como finalidade principal “investigar a origem,

certeza e extensão do conhecimento humano”. Para Locke, a mente humana é

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uma folha de papel em branco (tabula rasa) e todas as idéias têm origem em duas

fontes, a sensação e a reflexão. Diz ele:

“Suponhamos, pois, que a mente é, como dissemos, um papel em branco, desprovido de todos os caracteres, sem quaisquer idéias; como ela será suprida? De onde lhe provém este vasto estoque, que a ativa e que a ilimitada fantasia do homem pintou nela com uma variedade quase infinita? De onde apreende todos os materiais da razão e do conhecimento? A isso respondo, numa palavra, da experiência. Todo nosso conhecimento está nela fundado, e dela deriva fundamentalmente o próprio conhecimento. Empregada tanto nos objetos sensíveis externos como nas operações internas de nossas mentes, que são por nós mesmos percebidas e refletidas, nossa observação supre nossos entendimentos com todos os materiais do pensamento. Dessas duas fontes jorram todas as nossas idéias, ou as que possivelmente teremos”. (Locke, 1973, p.165)

2.6- Immanuel Kant (1724-1804)

Filósofo alemão foi um dos principais representantes do iluminismo. Em três

de suas obras, Crítica da razão pura (1781), Crítica da razão prática (1788) e

Crítica da faculdade de julgar (1790),submeteu a razão a um exame criterioso

para verificar a possibilidade, o alcance e os limites da razão como instrumento de

acesso ao conhecimento. Daí a sua filosofia ser também denominada de

“criticismo kantiano”.

A contribuição inovadora de Kant residiu nos juízos sintéticos a priori:

independem da experiência; portanto, são universais e necessários; enriquecem,

ampliam e fazem o conhecimento progredir.

2.7- Augusto Comte (1798-1857)

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Filósofo francês foi o principal representante do positivismo, corrente

filosófica “que acompanha, promove e estrutura o último estágio que a

humanidade teria atingido, fundado e condicionado pela ciência” (Simon, 1986.

p.120).

Comte é tido como o fundador da sociologia, também denominada por ele

física social.Essa ciência divide-se em duas partes: a estática social, que se

fundamenta na idéia de ordem e estuda os elementos permanentes da sociedade;

a dinâmica social, que se fundamenta na idéia do progresso e estuda as leis do

desenvolvimento fundamental, contínuo e progressivo da sociedade.

2.8- Paulo Freire (1931)

Concebe educação como reflexão sobre a realidade existencial. Articular

com essa realidade nas causas mais profundas dos acontecimentos vividos,

procurando inserir sempre os fatos particulares na globalidade das ocorrências da

situação.

As aprendizagens da leitura e da escrita equivalem a uma releitura do

mundo. Ele parte da visão de um mundo em aberto, isto é, a ser transformado em

diversas direções pela ação dos homens. Paulo Freire atribui importância ao

momento pedagógico, mas com meios diferentes, como práxis social, como

construção de um mundo refletido com o povo.

Para ele o diálogo é o elemento chave onde o professor e aluno sejam

sujeitos atuantes. Sendo estabelecido o diálogo processar-se-á a conscientização

porque:

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a. É horizontalidade, igualdade em que todos procuram pensar e agir

criticamente;

b. Parte da linguagem comum que exprime o pensamento que é sempre

um pensar a partir de uma realidade concreta. A linguagem comum é

captada no próprio meio onde vai ser executada a sua ação pedagógica;

c. Funda-se no amor que busca a síntese das reflexões e das ações de

elite versus povo e não a conquista, a dominação de um pelo outro;

d. Exige humildade, colocando-se elite em igualdade com o povo para

aprender e ensinar, porque percebe que todos os sujeitos do diálogo

sabem e ignoram sempre, sem nunca chegar ao ponto do saber

absoluto, como jamais se encontram na absoluta ignorância;

e. Traduz a fé na historicidade de todos os homens como construtores do

mundo;

f. Implica na esperança de que nesse encontro pedagógico sejam

vislumbrados meios de tornar o amanhã melhor para todos;

g. Supõe paciência de amadurecer com o povo, de modo que a reflexão e

a ação sejam realmente sínteses elaboradas com o povo.

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CAPÍTULO III

Pressupostos de uma educação

para o pensar

“Se não morre aquele que escreve um

livro ou planta uma árvore, com mais

razão, não morre o educador, que semeia

vida e escreve na alma”.

(Jean Piaget)

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“PENSO, LOGO EXISTO”

3.1- O que é o pensar?

Pensar é a função primordial do intelecto, por meio do qual o ser humano

forma as representações da realidade, cria significações para as coisas,

estabelece relações e dá sentido à vida.

No processo de construção do conhecimento, primeiro, os sentidos

estimulam a intuição e, depois, esta contribui na elaboração do pensamento. O

pensamento é a expressão mais ou menos aproximada do real.

Atualmente reconhecemos a crise da educação. Porém falta consenso para

os meios de como equacioná-la. Acreditamos que a idéia de uma educação para o

pensar pode contribuir significativamente para minimizar alguns fatores

motivadores do desinteresse, da apatia e do descrédito dos alunos pela

aprendizagem.

3.2- Pressupostos

Alguns pressupostos devemos levar em consideração para o êxito na

empreitada de uma educação voltada para o desenvolvimento do pensar:

a. A curiosidade, quando aguçada, desperta interesse, suscita a

imaginação. Quanto maior a curiosidade maior será o envolvimento do

aluno com a descoberta e maior o seu prazer para novas descobertas,

e, conseqüentemente alimenta o exercício do pensamento.

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“... a curiosidade como inquietação indagadora, como inclinação ao desvelamento de algo, como pergunta verbalizada ou não, como procura de esclarecimento, como sinal de atenção que sugere alerta faz parte integrante do fenômeno vital. Não haveria criatividade sem a curiosidade que nos move e que nos põe pacientemente impacientes diante do mundo que não fizemos, acrescentando a ele algo que fazemos”. (Paulo Freire, 1974, p.30).

b. Na educação para o pensar, a crítica se inscreve no termo de

estabelecimento de critérios (razões) para a formulação de juízos de

valor (padrões, regras) e para as nossas ações (métodos, testes).

Assim, segundo Lipman (in: O pensar na educação) “pensamento crítico

é tanto o pensamento que emprega critérios quanto o pensamento que

pode ser alcançado através da busca dos mesmos”.

c. Aceitar a idéia da necessidade de mudança da educação que temos

para a que queremos é, sob certo aspecto, compreender que a

metodologia pedagógica da repetição precisa perder completamente

sua hegemonia. Paulo Freire chama essa metodologia de

domesticação. A criatividade é sustentada por uma curiosidade

intelectual e pela paixão da verdade.

d. A coerência é um dos critérios do bom pensar. Ela constitui um

pressuposto fundamental de uma perspectiva de educação orientada

para a autonomia do pensamento.

e. O cuidado é um princípio que fundamenta o comportamento ético. A

atitude de cuidado está associada ao sentido de responsabilidade sobre

nossas ações, o que pensamos e o que fazemos, e isto se remete

diretamente às questões morais e éticas.

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3.3- Refletindo a realidade

Vivemos um tempo de grandes tensões sociais e psicológicas. Há um conflito

entre o que aconteceu no passado e o que está acontecendo no presente. As

novas gerações não estão satisfeitas com a desordem que vêem.

A escola não pode abdicar do seu papel de formar boas consciências no

campo ético-moral. A boa relação entre professor e aluno contribui de maneira

benéfica para a construção de um conhecimento voltado para a compreensão da

realidade atual.

Nesta relação dialética os sujeitos da educação, passo a passo, vão trocando

experiências, adquirindo sabedoria, descobrindo o que são e o que podem ser e

alimentando esperanças para continuar suas buscas.

O professor deve direcionar suas aulas para a reflexão filosófica e utilizar

método dialógico, pois, a filosofia liberta a imaginação, suscita a criatividade e

disciplina o intelecto tanto do professor quanto dos alunos. Tanto professor

quanto alunos podem ser bons, mas serão melhores se guiados pela filosofia.

A filosofia propicia diferentes pontos de vista e, conseqüentemente, múltiplas

visões, segundo os condicionamentos do meio natural e cultural em que vivem os

alunos. O educador não pode ignorar nem negligenciar esses fatores, a fim de

apropriar-se de uma representação da realidade conforme acordo coletivo do

tempo presente. Uma educação para o pensar persegue esses pressupostos.

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CAPÍTULO IV

Pensar em comunidade

“Mestre não é quem sempre ensina, mas

quem de repente aprende”

(Guimarães Rosa).

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O VALOR POLÍTICO DO ATO DE PENSAR

4.1- Pensamento crítico

Objetivando desenvolver algumas considerações úteis para a realidade

brasileira, com subsídios pautados no trabalho de Lipman e acreditando que

pensamento é um processo de descobrir relações existentes na realidade e

representá-las em nossas consciências e que isso nos permite atinar para os

significados ou os sentidos que, de alguma forma estão dados na mesma.

A realidade é complexa nas suas relações e inter-relações, a única forma de

apreender o seu sentido e estar apreendendo as relações que a constituem, nosso

pensamento precisa estar atento e ser competente.

“Pensar é o processo de descobrir ou fazer associações e disjunções. O universo é feito de complexos (não há evidentemente, realidades simples) como as moléculas, as cadeiras, as pessoas e as idéias, e estes complexos têm ligações com algumas coisas e não com outras. O termo genérico para associar as disjunções é relacionamentos. Considerando que o significado de um complexo encontra-se nos relacionamentos que este tem como outros complexos, cada relacionamento, quando descoberto ou inventado, é um significado, e grandes ordens ou sistemas de relacionamentos constituem grandes corpos de significados”. (Lipman, 1995. p. 33)

Apesar da afirmação de que o pensamento crítico faz parte do pensamento

de ordem superior e que ele é fundamental para o próprio pensamento crítico,

Lipman faz as seguintes considerações: Faz parte do pensamento crítico bem

desenvolvido a utilização de habilidades cognitivas, isto é, a capacidade de

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presumir, supor, comparar, inferir, contrastar ou julgar, para deduzir ou induzir,

classificar, descrever, definir ou explicar; sem essa capacidade, nossa própria

capacidade para ler e escrever estariam ameaçadas, além de nossa capacidade

para participarmos em debates em sala de aula, preparamos experimentos e

compormos textos.

4.2- Aspectos que a filosofia contribuí em relação às disciplinas

O objetivo da filosofia é cultivar a excelência no pensar, examinando o

pensar histórico, matemático, etc. Essa abordagem é possível pela filosofia, uma

vez que o que ela oferece é:

“... a familiarização como processo de raciocínio, a sua escrupulosa abordagem da análise conceitual e seu próprio comprometimento na investigação autocorretiva. Além disso, a filosofia fornece uma insistência no desenvolvimento de uma posição crítica, no exame do problemático e do estabelecido e na racionalidade do argumento, da explicação e do diálogo... filosofia aplicada no duplo sentido de que é aplicada recursivamente à disciplina a ser ensinada tanto como aos problemas no mundo como um todo”. (ibid, p. 165)

Assim, a filosofia ensina a pensar e prepara a pensar nas outras disciplinas

porque:

• levanta questões preliminares sobre as pressuposições fundamentais implícitas

(questões metafísicas);

• requer que sejam explicitados os fundamentos e condições do conhecimento

(questões epistemológicas);

• desenvolve hábitos críticos e métodos de investigação;

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• oferece um sentido intelectual de orientação de modo que se possam abordar os

temas do curso com maior segurança;

• trata da forma como os conhecimentos regulam nossa compreensão das coisas

que fazemos em nossas vidas. Esses conceitos são fundamentais para dar

sentido aos aspectos sociais, estéticos e éticos de nossa vida. Esses conceitos

são essencialmente contestáveis. A filosofia é atraída pelo problemático, pelo

controverso, pelas dificuldades conceituais que se esconde nas frestas de nossos

esquemas conceituais. É o exame crítico das idéias. Começamos a pensar

quando nos deparamos frente a algum problema ou situação problemática.

Quando algo nos é apresentado como conhecido, completo e acabado, nós não

somos convidados a pensar nem a dialogar;

• incentiva os alunos a serem rigorosamente críticos ao mesmo tempo criativos;

• incentiva os recursos intelectuais e a flexibilidade que podem capacitar os alunos

e professores a enfrentarem a descontinuidade e a fragmentação escolar e da

vida em geral;

• trabalha com a globalidade / totalidade e senso de perspectiva;

• proporciona aos alunos os instrumentos intelectuais e imaginativos que

necessitam e fornece o meio de transitar de uma disciplina para outra,

estabelecendo conexões entre as disciplinas escolares;

• trabalha com a consistência do pensar, falar e agir, do raciocínio válido, das boas

razões (lógica);

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• desenvolve a compreensão dos aspectos lógicos, epistemológicos, éticos,

sociais, políticos, estéticos já presentes, mas negligenciados nas matérias que os

alunos estudam.

Segundo Ann Sharp, colaboradora de Lipman, o aluno que participa de uma

comunidade de investigação:

“... aceita, com boa vontade, a correção feita pelos colegas; é capaz de ouvir atentamente os outros; é capaz de considerar, seriamente, as idéias dos demais; é capaz de construir sobre as idéias dos demais; é capaz de desenvolver suas próprias idéias sem medo de rejeição e humilhação; é aberta a novas idéias; é capaz de detectar pressuposições; demonstra preocupação com a consciência ao apresentar um ponto de vista; faz perguntas relevantes; verbaliza relações entre meios e fins; mostra respeito pelas pessoas da comunidade; mostra sensibilidade ao contexto ao discutir conduta moral; exige que os colegas dêem suas razões; discuti questões com objetividade; exige critérios”. (Sharp, 1995, pp. 7-8)

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CONCLUSÃO

O estudo da filosofia no Ensino Médio na rede estadual de educação da

Baixada Fluminense se dá de forma muito lenta. Porém o esforço dos educadores

demonstra resultados surpreendentes, pois permite aos alunos não só ter contato

com os temas permanentes da filosofia, com as noções de verdade, de beleza, de

justiça, de moral, etc., mas também pensar por conta própria.

Na verdade não é utilizado uma teoria e sim um conjunto de práticas de

ensino que se apoiando em situações em que o grupo se reúne para discutir

(permitir aos alunos fazer sua própria reflexão).

Centrado no modelo socrático e na técnica desenvolvida por Lipman, a

prática utilizada passa longe do estudo fatídico de autores e doutrinas para

concentrar-se em temas atuais, que são introduzidos nas aulas através de textos

jornalísticos e filmes que retratam a realidade do cotidiano do aluno.

Em nossa sociedade, cada vez mais complexa e desigual, ensinar a pensar

transformou-se em uma tarefa obrigatória. A filosofia inserida na formação

educacional do Ensino Médio, mesmo de forma lenta, vem produzindo grandes

resultados, pois ela estimula a discussão de conceitos através de debates, dando

oportunidade de descobrir os ideais que nortearão de forma definitiva a vida dos

alunos.

O papel do educador deixa de ser menos o de transmitir conteúdos e mais o

de orientá-los na busca de suas necessidades intelectuais e sociais.

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Os educandos ao desenvolverem seu próprio pensamento através do

exercício de seu raciocínio, questionando e investigando as informações que lhe

são oferecidas, desenvolvem assim, a capacidade de criticar e

conseqüentemente contribuir para a formação de uma geração mais atenta,

crítica e apta a discutir, escolher por si mesma, teremos uma sociedade

verdadeiramente justa e politicamente correta.

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ANEXOS

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BIBLIOGRAFIA

CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ed. Ática, 1994.

DEWEY, John. Como pensamos. São Paulo: Ed. Nacional, 1979.

___________. Democracia e educação. São Paulo: Ed. Nacional,

1979.

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro:

Ed. Paz e Terra, 1975.

___________. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à

prática educativa. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra, 1997.

___________. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Ed. Paz e

Terra, 1975.

___________. SHOR, Ira. Medo e ousadia: o cotidiano do professor.

Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra, 1997.

GADOTTI, Moacir. Convite à leitura de Paulo Freire. São Paulo: Ed.

Scipione, 2001.

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LIPMAN, Matthew. A filosofia na sala de aula. São Paulo: Ed. Nova

Alexandria, 1994.

LIPMAN, Matthew. A filosofia vai à escola. São Paulo: Ed. Summus,

1990.

______________. Natasha: diálogos vygostskianos. Porto Alegre: Ed.

Artes Médicas, 1997.

______________. O pensar na educação. Petrópolis: Ed. Vozes,

2001.

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ÍNDICE

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INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I

APRENDER A PENSAR

DESENVOLVENDO HABILIDADES DE PENSAMENTO

CAPÍTULO II

BUSCANDO O PENSAR EM SALA DE AULA

FILOSOFAR É PRECISO

2.1- John Dewey

2.2- René Descartes

2.3- Sócrates

2.4- Platão e Aristóteles

2.5- John Locke

2.6- Immanuel Kant

2.7- Augusto Comte

2.8- Paulo Freire

CAPÍTULO III

PRESSUPOSTOS DE UMA EDUAÇÃO PARA O PENSAR

“PENSO LOGO EXISTO”

3.1- O que é o pensar?

3.2- Pressupostos

3.3- Refletindo a realidade

CAPÍTULO IV

O VALOR POLÍTICO DO ATO DE PENSAR

4.1- Pensamento crítico

4.2- Aspectos que a filosofia contribui em relação às disciplinas

CONCLUSÃO

ANEXOS

BIBLIOGRAFIA

ÍNDICE

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FICHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PROJETO A VEZ DO MESTRE

Pós-Graduação “Latu Sensu”

Título: Pensando filosofia no Ensino Médio

Auto Avaliação: Como você avaliaria este livro?

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Avaliado por: _______________________________ Grau ____________.

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