apostila de filosofia - 1ª série - ensino médio

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FILOSOFIA DIÁRIA - Blog: PROFEMORAIS.BLOGSPOT.COM e-mail: [email protected] 1 1 – O QUE É FILOSOFIA? As várias formas de definir o que é Filosofia Diversas são as formas de se tentar definir o que seja Filosofia. A primeira delas é procurar analisar a origem da palavra Filosofia. Assim sendo, philosophia é uma palavra de origem grega formada por dois grupos de palavras: philía = amizade ou amor; sophia = saber ou sabedoria. Por essa definição, Filosofia significa “amor à sabedoria”. Mas essa não é a definição que buscamos. A segunda forma é simplesmente dizer que filosofia é aquilo que fazem os filósofos, aqueles que, segundo a crença popular, vivem a vida fazendo perguntas que muitas vezes não encontram respostas. A tudo e a todos questionam... A Filosofia é, muitas vezes, entendida como sinônimo de modo de viver (filosofia de vida), ou ainda como ideias ou princípios que orientam o trabalho de empresas ou profissionais (filosofia de trabalho ou filosofia da empresa) etc. Nenhuma dessas definições anteriores nos interessa em particular, queremos facilitar o entendimento e, não, dificultá-lo mais ainda. Filosofia é uma atividade, é um modo de pensar acerca das coisas. E que coisas são essas? A filosofia desenvolve sua atividade de pensamento, se ocupando das coisas do mundo! A filosofia se preocupa com a vida humana. Mas, contrariamente, ao que pensam a maioria das pessoas, filosofar, não é somente ficar perguntando sobre tudo a todos! Filosofar é, sim, perguntar, mas perguntar e buscar responder de modo lógico, de modo organizado e de acordo com certas regras. Portanto, fazer filosofia (filosofar) não é perguntar qualquer coisa ou dar qualquer resposta! A atividade filosófica exige argumentação, indícios (indicações, provas) que confirmem (corroborem) aquilo que ele está afirmando ou quer saber. Então, filosofar exige que a pessoa saiba do que está falando, saiba fornecer soluções e aponte caminhos possíveis para a solução de problemas existentes ou que os próprios filósofos criaram. 2 – SENSO COMUM, MITO E FILOSOFIA Senso Comum ou Conhecimento (Sabedoria) Popular Segundo a definição dado pelo Dicionário Aurélio: Senso comum = Conjunto de opiniões e modos de sentir que, por serem impostos pela tradição aos indivíduos de uma determinada época, local ou grupo social, são geralmente aceitos de modo acrítico como verdades e comportamentos próprios da natureza humana. A definição dada não deixa dúvidas, senso comum são opiniões geralmente aceitas em época determinada. Isto significa que o senso comum varia com a época, ou melhor, de acordo com o conhecimento relativo alcançado pela maioria num determinado período histórico, embora possa existir uma minoria mais evoluída que alcançou um conhecimento superior ao aceito pela maioria. Estas minorias por destoarem deste “senso comum” são geralmente discriminadas. A história está cheia destes exemplos. O mais conhecido é o de Galileu. Em seu tempo o senso comum considerava que a terra era o centro do universo e que o sol girava em torno dela. Galileu ao afirmar que era a terra que girava em volta do sol quase foi queimado pela “Inquisição”. Teve que abjurar-se para salvar a vida; esta opinião era tão arraigada na mente das pessoas que até a própria Bíblia testemunha isto ao afirmar que Josué deteve o sol. Hoje o senso comum mudou. Quem afirmar que o sol gira em torno da Terra será considerado no mínimo um louco pela maioria”. PROF o : MORAIS TEMÁTICA : 1 a SÉRIE – ENSINO MÉDIO BIMESTRE: PRIMEIRO

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FILOSOFIA DIÁRIA - Blog: PROFEMORAIS.BLOGSPOT.COM e-mail: [email protected] 1

1 – O QUE É FILOSOFIA?

As várias formas de definir o que é Filosofia Diversas são as formas de se tentar definir o que seja Filosofia. A primeira

delas é procurar analisar a origem da palavra Filosofia. Assim sendo, philosophia é uma palavra de origem grega formada por dois grupos de palavras: philía = amizade ou amor; sophia = saber ou sabedoria. Por essa definição, Filosofia significa “amor à sabedoria”. Mas essa não é a definição que buscamos. A segunda forma é simplesmente dizer que filosofia é aquilo que fazem os filósofos, aqueles que, segundo a crença popular, vivem a vida fazendo perguntas que muitas vezes não encontram respostas. A tudo e a todos questionam... A Filosofia é, muitas vezes, entendida como sinônimo de modo de viver (filosofia de vida), ou ainda como ideias ou princípios que orientam o trabalho de empresas ou profissionais (filosofia de trabalho ou filosofia da empresa) etc.

Nenhuma dessas definições anteriores nos interessa em particular, queremos facilitar o entendimento e, não, dificultá-lo mais ainda.

Filosofia é uma atividade, é um modo de pensar acerca das coisas. E que coisas são essas? A filosofia desenvolve sua atividade de pensamento, se ocupando das coisas do mundo! A filosofia se preocupa com a vida humana. Mas, contrariamente, ao que pensam a maioria das pessoas, filosofar, não é somente ficar perguntando sobre tudo a todos! Filosofar é, sim, perguntar, mas perguntar e buscar responder de modo lógico, de modo organizado e de acordo com certas regras. Portanto, fazer filosofia (filosofar) não é perguntar qualquer coisa ou dar qualquer resposta! A atividade filosófica exige argumentação, indícios (indicações, provas) que confirmem (corroborem) aquilo que ele está afirmando ou quer saber. Então, filosofar

exige que a pessoa saiba do que está falando, saiba fornecer soluções e aponte caminhos possíveis para a solução de problemas existentes ou que os próprios filósofos criaram.

2 – SENSO COMUM, MITO E FILOSOFIA

Senso Comum ou Conhecimento (Sabedoria) Popular

Segundo a definição dado pelo Dicionário Aurélio: Senso comum = Conjunto de opiniões e modos de sentir que, por serem impostos pela tradição aos indivíduos de uma determinada época, local ou grupo social, são geralmente aceitos de modo acrítico como verdades e comportamentos próprios da natureza humana.

A definição dada não deixa dúvidas, senso comum são opiniões geralmente aceitas em época determinada. Isto significa que o senso comum varia com a época, ou melhor, de acordo com o conhecimento relativo alcançado pela maioria num determinado período histórico, embora possa existir uma minoria mais evoluída que alcançou um conhecimento superior ao aceito pela maioria. Estas minorias por destoarem deste “senso comum” são geralmente discriminadas.

A história está cheia destes exemplos. O mais conhecido é o de Galileu. Em seu tempo o senso comum considerava que a terra era o centro do universo e que o sol girava em torno dela. Galileu ao afirmar que era a terra que girava em volta do sol quase foi queimado pela “Inquisição”. Teve que abjurar-se para salvar a vida; esta opinião era tão arraigada na mente das pessoas que até a própria Bíblia testemunha isto ao afirmar que Josué deteve o sol.

“Hoje o senso comum mudou. Quem afirmar que o sol gira em torno da Terra será considerado no mínimo um louco pela maioria”.

PROFo: MORAIS

TEMÁTICA: 1a SÉRIE – ENSINO MÉDIO

BIMESTRE: PRIMEIRO

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O senso comum se manifesta através dos ditos populares, das crenças do povo. É um verdadeiro receituário para o homem resolver os seus problemas da vida diária. Apesar de ser um saber não-sistematizado, isto é, por não se basear na investigação e no questionamento, ainda assim, nos dias de hoje, é muito útil para guiar o homem na sua vida cotidiana. Quem nunca se orientou pela experiência dos mais velhos? Quando alguém mais experiente que nós nos alerta para não fazermos tal coisa, nós sempre pensamos duas ou três vezes antes de decidirmos seguir ou não esse conselho!

Mito ou Conhecimento Mítico

Um mito (do grego antigo µυθος ) é uma narrativa de caráter simbólico, relacionada a uma dada cultura. O mito procura explicar a realidade, os principais acontecimentos da vida, os fenômenos naturais, as origens do Mundo e do Homem por meio de deuses, semi-deuses e heróis. O mito é simplesmente então uma história narrada, indiferente do julgamento que façamos sobre ela de verdadeira ou falsa.

Esse sentido original do mito está intimamente ligado à oralidade, vocalização, pois a Grécia antiga do período homérico possuía uma cultura estritamente oral. Isso quer dizer que as histórias não eram escritas, mas eram passadas de geração a geração através do canto do aedo (ἀοιδός), poeta-rapsodo.

Conhecimento Filosófico: tensões entre as formas de conhecimento

O conhecimento filosófico, quando de seu surgimento, provocou inúmeras tensões entre o já solidificado conhecimento mítico. Durante longo período de tempo na história humana e, em especial na história grega, o mito constitui-se na fonte exclusiva de explicação para a existência do ser humano e da criação e organização do mundo. O conhecimento transmitido e a maneira como explicavam os acontecimentos já não eram suficientemente coerentes para os “filósofos”. Os primeiros filósofos tentaram racionalizar

as explicações míticas para o surgimento do mundo e dos problemas humanos, mas aos poucos, essa tendência de manter o mito vivo nas teorias filosóficas foi desaparecendo.

A Filosofia procurava esclarecimentos justificados, ou seja, comprovados através de argumentos sólidos, lógicos; e isto o mito e o senso comum não poderiam fornecer. Por isso a Filosofia se distanciou do mito e do senso comum, mas não os desconsiderou, muitas vezes os utiliza, porém busca questionar, investigar, ampliar os horizontes de conhecimento sobre o assunto abordado.

Questionar o que está aí estabelecido, investigar caminhos para comprovar suas suspeitas e apontar soluções que levem à comprovação ou não de suas perguntas, essa é a atividade desenvolvida pela filosofia. Mostrar que o que sempre nos é dito como certo: “é assim e pronto”, sempre pode ser posto à prova, não simplesmente para discordar, mas para apontar caminhos que até ali não se buscou mostrar ou não se quis que fosse mostrado, essa é a proposta de trabalho da Filosofia!

Rubem Alves, filósofo brasileiro, afirma: “devemos ter espírito de criança para que possamos exercer nossa plena capacidade filosófica. A criança busca saber novas coisas”. Para a criança o diferente é o combustível que a move em busca de conhecimento (de saber) – o novo a leva a querer saber!

ATIVIDADE 1

1) Construa, a partir do que foi exposto aqui, uma síntese da definição de Filosofia. 2) Consulte em um dicionário o significado das palavras filosofia e mito. Depois compare com as definições apresentadas aqui. 3) Descreva, em poucas linhas, as semelhanças e diferenças entre Filosofia e Mito. 4) Leia o texto: “Alegoria da Caverna” do filósofo Platão. Identifique: nos dias de hoje, o que é a caverna, quem são os prisioneiros; o que são as correntes, o que são as imagens projetadas na parede, quem é o prisioneiro que foge. Texto disponível em: http://profemorais.blogspot.com/2011/01/alegoria-da-caverna-imaginemos-uma.html

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LENDO E REFLETINDO A REALIDADE

A Caverna de Platão (e as nossas)

Mário Sérgio Santos O filósofo Platão (427-347 a.C.) nasceu em

Atenas no período de ouro da democracia grega. Seu nome verdadeiro era Arístocles. É o discípulo mais notável de Sócrates (469-399a.C) e pela profundidade e alcance de sua obra ele é considerado um dos pilares do pensamento ocidental.

Uma das maiores contribuições de sua filosofia é apresentada no texto intitulado “Alegoria da Caverna”. Segundo o filósofo, a maior parte da humanidade se encontra como prisioneira de uma caverna, permanecendo de costas para a abertura luminosa e de frente para a parede escura do fundo. Devido a uma luz que entra na caverna, os prisioneiros contemplam na parede do fundo as sombras dos seres que compõem a realidade. O problema maior é que, acostumadas a ver apenas essas projeções, as pessoas tomam essa ilusão como se fosse a realidade.

Platão chega a levantar a hipótese de que algum habitante da referida caverna saia e depois de se acostumar com a luz, consiga enxergar os seres, as coisas, o mundo e não mais suas sombras. Essa figura, segundo o mito, teria dificuldades em conseguir convencer os moradores da caverna de que aquilo que tomavam como realidade era tão somente sua sombra: uma ilusão. Para Platão, essa tentativa de voltar à caverna para resgatar das sombras os antigos conterrâneos é o árduo ofício do educador ou, mais precisamente, do filósofo (amigo da sabedoria).

Mais de vinte e três séculos nos separam do pensador grego e sua metáfora continua nos interpelando e convidando-nos à reflexão. Aprisionamo-nos em um número cada vez maior de cavernas criadas por nós mesmos.

O escritor português José Saramago, por exemplo, em livros como “O Ensaio Sobre a Cegueira” e “A Caverna” com sua absurda lucidez, aponta para o fato de que todos estamos enclausurados nas cavernas da indiferença, da insensibilidade e da incapacidade de ver interiormente. Para o ganhador do Prêmio Nobel de literatura, a libertação dos grilhões de tais cavernas realizar-se-ia por meio de uma espécie de “revolução de bondade”.

O processo de informatização produziu nas últimas décadas o fenômeno da virtualização da vida cotidiana. A produção cultural, o sistema político, a economia, a ética, as relações entre as pessoas e as emoções se tornam cada vez mais virtuais e menos reais.

A chamada globalização é outra caverna aparentemente sem fronteiras. Trata-se, na verdade, conforme Frei Betto – teólogo brasileiro de grande expressão – de uma globocolonização, isto é, a imposição arbitrária e unilateral de um modelo político, econômico e cultural que se apresenta como necessário e único. Parte significativa dos programas e noticiários de TV constitui uma caverna que aprisiona e ofusca a visão de mais de 99% da população brasileira. Eles apresentam amiúde um espetáculo de sombras e ilusões que, sob a máscara da pretensa imparcialidade da imprensa, afiguram-se como a realidade. E é também imprescindível citar a pseudo-democracia brasileira, cada vez mais parecida com o sombrio modelo norte-americano. Os discursos e as propagandas dos partidos de situação e de oposição manipulam o real segundo seus interesses e necessidades, levando-nos a crer que estamos em uma enorme caverna sem saídas. Fato que conduz ao conformismo, ao pessimismo e à apatia. Quase sempre de maneira inconsciente, habitamos um número cada vez maior de cavernas por nós edificadas. No entanto, líderes religiosos e políticos, profetas e poetas, cientistas e filósofos freqüentemente apontam o caminho para a saída de tais cavernas. Tentam nos fazer ver o essencial, transcender a escuridão. Mas nós os caricaturamos como utópicos, loucos, visionários e radicais! Talvez o interior da caverna seja mais cômodo, confortável e seguro.

Disponível em: http://www.gazetadotriangulo.com.br/novo/index.php?option=com_content&view=article&id=1545:a-caverna-de-plate-as-nossas&catid=24:artigos&Itemid=312 Acesso em 18 jan 2011.

ATIVIDADE 2

1) Leia atentamente o texto acima e destaque os pontos principais e a principal mensagem que o autor quer nos mostrar. 2) Elabore uma lista das “principais cavernas” em que nos encontramos nos dias atuais e as “principais correntes” que nos mantém presos dentro dela.

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3 – O QUE É A VERDADE?

Segundo relata a filósofa Marilena Chauí, o desejo da verdade aparece muito cedo nos seres humanos e se manifesta como desejo de confiar (acreditar) nas coisas e nas pessoas.

Quando uma criança ouve uma história, inventa uma brincadeira, vê um filme, está sempre atenta para a diferença entre brincar, jogar, fingir e faltar à confiança (o mentir).

Quando uma criança brinca, joga, finge, está criando um outro mundo, mais rico e mais belo, mais cheio de possibilidades e invenções. Mas, também, sabe que há uma diferença entre imaginação e percepção.

Por isso mesmo, a criança é muito sensível à mentira dos adultos, pois a mentira é diferente do “de mentira”, ou seja, a mentira é diferente da imaginação. E a criança se sente magoada, angustiada quando o adulto lhe diz uma mentira, e a fazê-lo, o adulto quebra a relação de confiança e a segurança infantil.

Toda forma de conhecimento se coloca diante do problema da verdade, quando se pergunta se o que está sendo enunciado (dito, expresso) corresponde ou não à realidade.

De acordo com Maria Lúcia de A. Aranha e Maria Helena Pires Martins, o falso ou verdadeiro não se encontra nas coisas, mas depende de como a coisa aparece para o sujeito que conhece.

O conceito de verdade varia de acordo com o tempo, o lugar e a cultura de cada povo. A verdade buscada pela filosofia deveria ser algo válido para todos sem distinção, acima das particularidades, das raças, das nações, dos mitos regionais. A filosofia, naquele momento, desejava uma verdade válida para todos em qualquer lugar, e, com isso, daria aos seres humanos uma segurança, pois ao conhecer “a verdade” ele deixaria ter medo e seria capaz de antever (prever) as coisas.

Nascia, assim, a noção grega de que é possível ao ser humano conhecer algo sem depender, para tanto, dos mitos e das interpretações religiosas. Conhecendo a verdade o homem seria livre para pensar por si próprio.

Para os primeiros filósofos gregos da antiguidade, algo seria verdadeiro se correspondesse ao que de fato existisse. Ou melhor, o verdadeiro deve ser tal qual nos o percebemos na realidade; o visto deve ser igual ao que é tocado.

Os filósofos escolásticos da Idade Média reafirmam a teoria aristotélica de que o real deve ser igual ao pensado. Melhor dizendo, que as coisas do mundo devem corresponder à imagem feita delas pela mente humana.

Na Idade Moderna passa-se a questionar a própria definição de verdade: como saber se a definição de verdade é verdadeira? Além disso, os filósofos modernos questionam a possibilidade de se conhecer a realidade.

No século XIX, os critérios de verdade puramente intelectuais e teóricos são criticados. Em especial por Nietzsche, para quem é verdadeiro o que contribui para fomentar a vida da espécie e falso tudo o que é obstáculo ao seu desenvolvimento. Já o Pragmatismo norte-americano acredita que a prática é o critério de verdade.

No pensamento contemporâneo, a verdade pode ser entendida: 1) a partir da verificação da coerência interna do argumento. Será verdadeiro o argumento que não apresente contradições e é coerente com o sistema de princípios estabelecido; 2) como resultado do consenso, o resultado de um conjunto de crenças aceitas pelos indivíduos em determinado tempo e lugar e que os ajuda a compreender a realidade e agir sobre ela.

ATIVIDADE 3

Observe as imagens abaixo e diga o que você consegue ver. Agora faça um paralelo entre o que é real e o que ilusório.

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4 – COMO OS FILÓSOFOS ENTENDEM A NATUREZA?

A natureza é o conjunto de tudo que existe. E como algo existente, todas as coisas que a compõem se fazem cognoscíveis, isto é, podem ser conhecidas por todos. Por isso, por dar-se a conhecer, é que qualquer pessoa que deseje pode contemplá-la, conhecê-la e interpretá-la.

Partindo dessa compreensão, para ter acesso à natureza não é necessário intermediários, cada pessoa pode livre e individualmente conhecer tudo que faz parte da natureza.

Na Antiguidade os seres humanos olhavam os fenômenos naturais como ameaça ou vingança divina e, muitas vezes, necessitavam da intermediação de autoridades religiosas para bem compreender o significado dessas ações da natureza. Essa dependência da interpretação religiosa inibia nas pessoas a capacidade de ver as coisas como elas mesmas são, sem mediação de intérpretes.

Com o despertar do conhecimento filosófico, a natureza deixa de ser vista pelo olhar das crenças e das interpretações culturais e passa a ser vista puramente como fenômeno natural. Com a filosofia, a natureza é percebida como autônoma, dotada de regras próprias, totalmente independente do olhar humano.

Nos dias atuais, é o próprio ser humano que procura se adaptar às regras naturais e descrevê-la tal qual observa. Esse é o papel desempenhado pelos diversos ramos da Ciência, seja humana, da saúde, tecnológica etc. 5 – O QUE É SER RESPONSÁVEL?

A partir do século VI a.C., os valores baseados na razão passaram a orientar a vida das pessoas, seja individualmente seja em comunidade. Os pensadores desse período começaram a conscientizar-se de que os bons e maus resultados da organização da cidade dependem das relações sociais, ou seja, do contato e das ações que os seres humanos estabelecem entre si.

Aos poucos se descobre que o alcance (a descoberta) da verdade é capaz de libertar o ser humano de amarras culturais e religiosas. Tudo passa a ser discutido, avaliado e comparado sob a luz de critérios racionais e argumentações lógicas.

A prática filosófica desestabiliza, mexe com as estruturas sociais, políticas e religiosas vigentes e convida o cidadão a construir uma nova sociedade. Essa nova sociedade só poderá prosperar se a verdade

for democratizada, isto é, se essa verdade almejada pela Filosofia for cultivada socialmente.

A verdade implica ter de orientar a própria vida e a vida da cidade não mais pelas determinações míticas (dos mitos), mas pela verdade universalmente válida. Logo, cabe ao filósofo e a todo cidadão em particular, a responsabilidade de conformar (ajustar) as “certezas míticas” à verdade filosófica, promovendo, a partir disso, mudanças sociais e políticas.

Foi com a Filosofia que a cultura grega influenciou nossa forma de pensar e de questionar tanto a natureza quanto o ser humano e as divindades.

Juntamente com a Filosofia surgiu a noção de cidadania, de Estado, de ciência etc. O exemplo dos filósofos gregos nos deixou uma grande lição: “nunca se conformar (acomodar) com

as estruturas existentes como se fossem a únicas possíveis”.

ATIVIDADE 4

1) Diante do que até aqui discutimos, quem é o verdadeiro culpado quando a política e a economia de um país vão mal? Podemos atribuir esses fatos a algum castigo divino? Comente sua opinião.

2) Quais são as responsabilidades que assumimos ao alcançarmos a verdade?

3) Você consegue perceber alguma relação entre Filosofia e cidadania? Cite alguns pontos relacionados entre os assuntos apontados.

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LENDO E REFLETINDO A REALIDADE

O que o verdadeiro filósofo quer dos seus discípulos

Friedrich Nietzsche Sozinho vou agora, meus discípulos! Também vós, ide embora, e sozinhos! Assim quero eu.

(...)

O homem do conhecimento não precisa somente amar seus

inimigos, precisa também odiar seus amigos.

Paga-se mal a um mestre, quando se continua sempre a ser apenas o

aluno. E por que não quereis arrancar minha coroa de louros? Vós me

venerais, mas, e se um dia vossa veneração desmoronar? Guardai-vos que

não vos esmague uma estátua!

(...)

Ainda não vos haveis procurado: então me encontrastes. Assim fazem todos os crentes, por isso

importa tão pouco toda crença. Agora vos mando me perderdes e vos encontrardes; e somente quando me

tiverdes todo renegado eu retornarei a vós...

(NIETZSCHE, F. Obras incompletas. São Paulo: Abril, 1974. p.375. (Os Pensadores, 32)

ATIVIDADE 5

1) A partir da leitura do texto acima, pense: Por que Nietzsche, depois de ter ensinado aos discípulos, retira-se sozinho e também aconselha que eles façam o mesmo?

2) Segundo o texto, o que é mais importante: os laços de amizade ou a procura da verdade? E você o que pensa a respeito?

3) Por que a maior frustração de Nietzsche é ter alunos que nunca pensaram em superá-lo? 4) Em que sentido o aluno pode ser esmagado pela estátua do mestre que ele venera (admira)? 5) Qual a condição imposta pelo mestre para que os alunos possam voltar a dialogar com ele?

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TEXTO SUPLEMENTAR

“Quando a gente pensa que sabe todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas.”

Luís Fernando Veríssimo

O QUE É FILOSOFIA?

Gilberto Dimenstein Para entender o que é Filosofia, é bom conhecer um pouco a atividade dos filósofos. É mais fácil

começar por aquilo que a Filosofia não é: não é uma visão de mundo; não é um conjunto de verdades nem um conjunto de ideias sobre as coisas.

A Filosofia não é uma ideologia; ela também não fornece verdades em que possamos acreditar (como a religião) nem valores para guiar nossa vida (como quando a gente diz “uma filosofia de vida”).

Isso acontece porque a atividade dos filósofos consiste justamente em criar as perguntas, para depois tentar respondê-las. Podemos ter a certeza de que, conhecendo um pouco a Filosofia e os filósofos (não dá para separar um do outro), podemos entender como eles pensam. Podemos pensar como eles. Podemos até pensar nós mesmos, por nossa conta, em excelente companhia.

Por meio da leitura e da compreensão dos textos dos filósofos, temos contato com conceitos e ideias de “primeira mão”. Nossa forma de viver e de ver o mundo deve muito aos grandes filósofos, que são os primeiros a enxergar as questões, a buscar os fundamentos, a questionar as verdades.

Diz-se que a Filosofia é conhecimento crítico que toma distância do senso comum, da nossa experiência do dia-a-dia e das opiniões correntes. Por isso é próprio do filósofo duvidar. Sócrates formulou bem essa verdade da Filosofia ao dizer: “Sei que nada sei”.

A Filosofia é a fonte das ideias que dão origem a novas ideias, seja no campo político, no campo da ética ou no campo das ciências, criando as matrizes do nosso modo de pensar.

Até hoje é tarefa da Filosofia pensar a si mesma, pensar o que são conhecimento, a verdade e a linguagem, além de criar sempre novos conhecimentos, buscando conceitos originais e fundamentais.

(...) Para os antigos, a admiração é o princípio da Filosofia. Admiração é

uma palavra de origem grega que pode ser traduzida como espanto, assombro, encanto ou maravilhamento. A Filosofia nasce do espanto e da admiração do homem diante das coisas. (...)

(...) A Filosofia é uma forma de conhecimento racional que expõe seus

fundamentos e que se expõe à discussão pública. Também é conhecimento que aspira à universalidade, diferente da crença, do dogma e da opinião. Fundada na razão, também é uma forma de conhecimento baseada no pensamento conceitual, e não na criação estética.

Atitudes filosóficas, portanto, são atitudes de questionamento diante do mundo. A Filosofia é a busca do conhecimento, mas de uma espécie determinada de conhecimento: aquele fundado na razão, que pode ser compartilhado por todos.

(DIMENSTEIN, G.; STRECKER, H.; GIANSANT, A. C. Dez lições de filosofia. São Paulo: FTD, 2009. p. 11-12.