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0 UT-REED+ FUNDO DO AMBIENTE (FUNAB) ESTUDO DAS CAUSAS DE DESMATAMENTO E DA DEGRADAÇÃO FLORESTAL NOS DISTRITOS ABRANGIDOS PELO PROGRAMA DE GESTÃO INTEGRADA DE PAISAGENS DE CABO DELGADO (PROGIP-CD) Relatório final DRAFT Maputo - Abril, 2016

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UT-REED+

FUNDO DO AMBIENTE

(FUNAB)

ESTUDO DAS CAUSAS DE DESMATAMENTO E DA DEGRADAÇÃO FLORESTAL

NOS DISTRITOS ABRANGIDOS PELO PROGRAMA DE GESTÃO INTEGRADA DE

PAISAGENS DE CABO DELGADO (PROGIP-CD)

Relatório final

DRAFT

Maputo - Abril, 2016

1

Ficha Técnica:

Título: Estudo das causas de desmatamento e da degradação florestal nos distritos abrangidos pelo

Programa de Gestão Integrada de Paisagens de Cabo Delgado (PROGIP-CD)

Autores: Andrade F. Egas; Agnelo M. Fernandes; Narciso F. Bila; Ernesto U. Júnior; Teresa G. Nube;

António Wilisone

Coordenação: Andrade F. Egas

Maputo - Abril, 2016

Maputo-Moçambique

2

SUMÁRIO EXECUTIVO

Sete distritos abrangidos pelo Parque Nacional das Quirimbas (PNQ) na província de Cabo

Delgado, nomeadamente Ancuabe, Ibo, Macomia, Meluco, Metuge, Montepuéz, Quissanga,

foram seleccionados para a implementação de um projecto piloto sobre a iniciativa de

Redução de Emissões por Desflorestamento e Degradação Florestal e Aumento dos Estoques

de Carbono (REDD+), o qual na nova visão integrada do REDD+ passou a designar-se

Programa de Gestão Integrada de Paisagens de Cabo Delgado (PROGIP-CD). No âmbito da

preparação de informação de base para a implementação do programa, o presente trabalho

tem como objectivo avaliar o desmatamento e da degradação florestal e a sua tendência,

assim como a proposta de soluções nos distritos abrangidos pelo PROGIP-CD.

A realização deste trabalho foi antecedida de dois estudos, nomeadamente (1) caracterização

de seis distritos abrangidos pelo PROGIP-CD através de um estudo sócio-económico e (2)

análise da cadeia de fornecimento e consumo de combustíveis lenhosos nas cidades de Pemba

e Montepuéz, os quais constituem a base e parte integrante do mesmo. Para a análise do

desmatamento e das emissões foi usado o mapa de cobertura florestal do ano 2000 assim

como dados globais de Hansen et al. (2013).

Os resultados indicam que a taxa de desmatamento nas áreas do PROGIP-CD para o período

2001-2013 foi estimado em 0,31% (5522ha/ano). Considerando um período de 10 anos

(2004-2013), de acordo com as recomendações do FCPF, a taxa de desmatamento foi de

6 087 ha/ano. A maior parte das áreas desmatadas, com excepção de Quissanga-sede e

Mahate, registaram-se nos PA’s em fase de início de transição do modelo de transição

florestal, isto é com cobertura florestal moderada a alta, mas em declínio. De forma geral as

áreas com densidade populacional média a alta estão associadas a altas taxas de

desmatamento.

Grande parte dos agentes reportados na literatura mostraram-se pouco relevantes como

agentes de desmatamento e degradação florestal na área do PROGIP-CD. A agricultura

itinerante foi o único agente considerado relevante no desmatamento enquanto que para a

degradação florestal foram considerados relevantes apenas os agentes produção de

combustíveis lenhosos e exploração madeireira. A análise conjugada dos mapas da densidade

populacional e da localização da agricultura itinerante mostra que de forma geral a

agricultura itinetante é mais frequente em áreas com densidade de população moderada a alta.

As zonas de abastecimento de carvão à cidade de Pemba localizam-se principalmente nos

distritos de Ancuabe, Metuge e Montepuéz e as áreas de abastecimento de carvão à cidade de

Montepuéz e as restantes sedes distritais localizam-se em áreas próximas das sedes distritais.

O presente estudo assume que cerca de 5 522 ha de florestas são desmatados por ano para a

práctica da agricultura itinerante. Por outro lado, a produção de lenha e carvão com destino as

cidades de Pemba e Montepuéz e a produção de carvão vegetal para o fornecimento às sedes

dos distritos abrangidos pelo PROGIP-CD afectam um total de 7 858 ha por ano distribuídos

3

pelos diferentes distritos. Uma parte das áreas degradadas pela produção de combustíveis

lenhosos é posteriormente desmatada pela prática da agricultura itinerante.

Para este estudo foi seleccionado o período 2004-2013 para o estabelecimento da linha de

base das emissões tendo-se obtido a taxa média de desmatamento de 6 087 ha/ano. A emissão

anual de referência para o desmatamento foi de 1 279 624 tCO2eq/ano na área do PROGIP-

CD. Uma parte das emissões acima referidas são emitidas de forma faseada, começando com

as emissões devido a degradação da floresta (ao ser submetida à produção de combustíveis

lenhosos) e finalmente as emissões devido à agricultura itinerante (ao converter as áreas com

floresta degradada em campos cultivados). As emisões provocadas pela degradação da

floresta associda a produção de combustíveis lenhosos situaram-se no intervao de de 534 407

a 1 489 330 tCO2 equivalente por ano. Ao excluir das estimativas as emissões

correspondentes a áreas degradadas convertidas em campos agrícolas, de modo a evitar uma

dupla contagem, as emissões situaram-se entre 318 783 e 888 407 tCO2 equivalente por ano,

pelo que as emissões devido a degradação florestal podem ser contabilizadas uma vez que

têm valor superior a 10% do valor das emissões por desmatamento, em conformidade com as

recomendações do FCPF.

Os resultados indicam ainda que os altos níveis de probabilidade de desmatamento são

verificados de forma geral em regiões com alta densidade populacional e com a floresta na

fase de início de transição. Trata-se de forma geral das mesmas regiões que sofreram

desmatamento entre 2001 e 2013 e que portanto deverão merecer especial atenção na

implementação de medidas para o combate ao desmatamento.

A projecção do desmatamento para os próximos 14 anos (até 2030) indica que, se não forem

tomadas as devidas medidas, o desmatamento irá continuar a afectar grandemente 5 dos sete

distritos (Macomia, Meluco, Quissanga, Ancuanbe e Metuge), em todos os postos

administrativos e particularmente em perímetros próximos das principais estradas.

As opções estratégicas para a redução do desmatamento e da degradação florestal foram

seleccionadas a partir das acções estratégicas da Estratégia Nacional do REDD+ e incluem

(i) promoção de agricultura de maior productividade e rendimento, (ii) promoção de

plantações energéticas, (iii) promoção de tecnologias eficientes de uso de energia e (iv) a

promoção da transparência na gestão florestal e capacitação.

4

ABREVIATURAS

BEF Factor de expansão de biomassa

CEAGRE Centro de Estudos de Agricultura e Desenvolvimento Rural

CO2 Dióxido de carbono

DNFFB Direcção Nacional de Florestas e Fauna Bravia

FCPF The Forest Carbon Partnership Facility

GD Governo do Distrito

GEE Gases de Efeito de Estufa

ha Hectare

IPCC Painel Internacional sobre Mudanças Climáticas

JICA Agência Japonesa para a Cooperação Internacional

m3 Metro cúbico

MICOA Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental

MINAG Ministério de Agricultura

MITADER Ministério da Terra Ambiente e Desenvolvimento Rural

ONU Organização das Nações Unidas

PA Posto Administrativo

PNQ Parque Nacional das Quirimbas

PROGIP-

CD Programa de Gestão Integrada de Paisagens de Cabo Delgado

PROGIP-Z Programa de Gestão Integrada de Paisagens da Zambézia

REDD+

Redução de Emissões por Desflorestamento e Degradação Florestal e Aumento dos

Estoques de Carbono

R-PP Plano de Prontidão para o REDD+

SPFFB Serviços Provinciais de Florestas e Fauna Bravia

t Toneladas

t LEQ Toneladas de lenha equivalente

UEM Universidade Eduardo Mondlane

WD Densidade da madeira

5

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Área total, cobertura florestal e outros usos de terra na área PROGID-CD 13

Tabela 2. Tipos de florestas na área do PROGIP-CD em 2000 14

Tabela 3. Contribuição dos PA’s na área florestal de cada distrito 15

Tabela 4. Taxa de desmatamento por PA e distrito 16

Tabela 5. Desmatamento por tipo de floresta por PA (ha) 20

Tabela 6. Espécies licenciadas em Cabo Delgado em 2000, 2005 e 2010 26

Tabela 7. Área e biomassa explorada anualmente em cada distrito para o

fornecimento de carvão e lenha à cidade de Pemba 32

Tabela 8. Áreas e biomassa explorada para a produção local de carvão nos restantes

distritos do PROGIP-CD (2001 – 2013) 33

Tabela 9. Área explorada para fornecimento de combustíveis lenhosos à Pemba

e sedes dos distritos do PNQ (ha) 34

Tabela 10. Linha de base do desmatamento na área do PROGIP-CD 34

Tabela 11. Estoque de carbono na floresta de miombo na área da Reserva Nacional

do Gilé (tCO2eq/ha) 35

Tabela 12. Estimativa de emissões resultantes do desmatamento em 10 anos

(2004-2013) 36

Tabela 13. Biomassa usada na produção de de combustíveis lenhosos para Pemba

e sedes dos distritos do PROGIP (t LEQ) 36

Tabela 14. Estimativa de emissões devido a produção de combustíveis lenhosos

na área do PROGIP-CD 37

Tabela 15. Emissões devido a produção de combustíveis lenhosos em áreas não

convertidas em campos agrícolas 38

Tabela 16. Proporção de áreas desmatadas em relação às áreas cultivadas nos

distritos de Montepuéz, Ancuabe e Macomia 42

LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Postos administrativos abrangidos pelo PNQ 12

Quadro 2. Principais áreas de agricultura itinerante 24

Quadro 3. Espécies e volume acumulado (m3) licenciado de 2013 a 2015 nos

distritos do PROGIP-CD 27

Quadro 4. Informação sobre a produção de carvão vegetal 29

6

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Limites e distritos do Parque Nacional das Quirimbas 11

Figura 2. Mapa florestal dos distritos do PROGIP-CD 13

Figura 3. Contribuição da superfície florestal na área total dos distritos do PNQ 14

Figura 4. Representação espacial das fases de transição florestal na área do

PROGIP-CD 17

Figura 5. Curva de transição florestal 17

Figura 6. Número de PA’s por fase de transição (FT) dentro área do PROGIP-CD 18

Figura 7. Representação espacial das fases de transição florestal na área do

PROGIP-CD 19

Figura 8. Densidade populacional por posto administrativo 19

Figura 9. Localização de áreas de agricultura (itinerante) 24

Figura 10. Localização das áreas de produção de carvão vegetal 30

Figura 11. Variáveis estáticas usadas para a simulação do desmatamento

dentro dos 7 distritos abrangidos pelo PNQ 39

Figura 12. Níveis de probabilidade de ocorrência de desmatamento na área

do PROGIP-CD 40

Figura 13. Simulação dos cenários de desmatamento para o ano 2030 41

Figura 14. Evolução de áreas cultivadas, 2005-2013 43

7

ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 9

2. OBJECTIVOS DO TRABALHO ..................................................................................................... 10

2.1. Geral ........................................................................................................................................... 10

2.2. Objectivos específicos ............................................................................................................... 10

3. ABRANGÊNCIA E ESTRATÉGIA ADOPTADA PARA O ESTUDO ......................................... 11

4. GENERALIDADES SOBRE A ÁREA DO PROGIP-CD ............................................................... 11

5. ANÁLISE DOS NÍVEIS DE DESMATAMENTO NA ÁREA DO PROGIP-CD .......................... 12

5.1. Cobertura florestal dos distritos abrangidos pelo PROGIP-CD ................................................. 13

5.2. Taxas de desmatamento na área do PROGIP-CD ...................................................................... 15

6. ANÁLISE DOS AGENTES DO DESMATAMENTO E DEGRADAÇÃO FLORESTAL ............ 21

6.1. Caracterização dos agentes de desmatamento e degradação florestal ........................................ 21

6.1.1. Expansão urbana e outras infra-estruturas .......................................................................... 21

6.1.2. Exploração mineira ............................................................................................................. 22

6.1.3. Exploração pecuária ............................................................................................................ 22

6.1.4. Agricultura itinerante .......................................................................................................... 23

6.1.5. Exploração de produtos florestais ....................................................................................... 25

6.1.6. Produção de combustíveis lenhosos .................................................................................... 28

6.2. Quantificação dos agentes de desmatamento/degradação florestal............................................ 31

6.2.1. Agentes de desmatamento ................................................................................................... 31

6.2.2. Agentes da degradação florestal ......................................................................................... 31

7. ESTIMATIVA DAS EMISSÕES ..................................................................................................... 34

7.1. Determinação da linha de base (baseline) do desmatamento ..................................................... 34

7.2. Estabelecimento de factor de emissão ....................................................................................... 35

7.3. Estimativa de emissões anuais de referência ............................................................................. 35

7.4. Emissões devidas à degradação florestal ................................................................................... 36

7.4.1. Produção de combustíveis lenhosos .................................................................................... 36

8. PROJECÇÃO DO DESMATAMENTO PARA 2030 ...................................................................... 38

9. PROPOSTA DE SOLUÇÕES AO DESMATAMENTO E A DEGRADAÇÃO FLORESTAL NOS

DISTRITOS DO PROGIP-CD ............................................................................................................. 42

9.1. Considerações sobre os agentes de desmatamento e degradação florestal para estabelecimento

de opções estratégicas ....................................................................................................................... 42

9.1.1 Promoção de agricultura de maior productividade e rendimento ........................................ 42

8

9.1.2. Promoção de plantações energéticas ................................................................................... 44

9.1.3. Promoção de tecnologias eficientes de uso de energia ....................................................... 44

9.1.4. Promoção da transparência na gestão florestal e capacitação ............................................. 45

9.2. Opções estratégicas para a redução do desmatamento e da degradação florestal ...................... 45

10. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ...................................................................................... 47

10.1. Conclusões ............................................................................................................................... 47

10.2. Recomendações ........................................................................................................................ 48

11. BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................................ 49

Government of Mozambique and FCPF. Etc Terra.196p. .................................................................... 49

ANEXOS .............................................................................................................................................. 51

ANEXO 1 ......................................................................................................................................... 52

ANEXO 2 ......................................................................................................................................... 70

ANEXOS 3 ....................................................................................................................................... 71

9

1. INTRODUÇÃO

Estimativas recentes indicam que 20 por cento das emissões anuais de gases de efeito estufa

(GEE), causadores das mudanças climáticas, provêm do desmatamento e da degradação

florestal. Este número é maior do que as emissões provenientes de todo o sector mundial de

transportes. As mudanças climáticas que o planeta Terra vem sofrendo é um tema que ganha

cada dia maior importância na agenda internacional e dos governos no âmbito do

desenvolvimento.

Moçambique possui cerca de 55 milhões de hectares de florestas e de outras formações

lenhosas. O sector florestal desempenha um papel importante para a redução da pobreza ao

contribuir para o sustento socio-económico de milhares de famílias providenciando-lhes

inúmeros postos de trabalho directos e indirectos. As florestas desempenham um papel chave

na vida das comunidades providenciando material de construção (estacas e diversos tipos de

madeira) fontes de energia (combustíveis lenhosos), alimento (frutos silvestres, raízes e carne

de caça) e lazer, para além de serviços ambientais, sem as quais não seria possível imaginar a

vida do homem. Estas funções são de especial relevância para muitos países em vias de

desenvolvimento como Moçambique onde a maior parte da população vive nas zonas rurais e

sua preservação passa por um uso sustentável desses recursos. De acordo os princípios sobre

florestas estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU, 1992) e a Lei de

Florestas e Fauna Bravia de Moçambique (Lei 10/99), os recursos florestais e áreas florestais

devem ser geridos de forma sustentável para atender às necessidades sociais, económicas,

ecológicas, culturais e espirituais das gerações presentes e futuras.

Apesar das diferentes medidas que têm sido tomadas nos últimos anos, o sector florestal

enfrenta vários desafios, dentre os quais o desmatamento e a degradação das florestas com o

previsível impacto ambiental de escala local e global, incluindo as mudanças climáticas. Com

vista a reverter esta situação, nos últimos dez anos tem sido estabelecidas várias iniciativas

tanto do Governo como de diferentes parceiros em colaboração com o Governo. O FCPF –

“The Forest Carbon Partnership Facility” - é uma das entidades parceiras empenhada no

apoio a diferentes países do mundo na implementação de acções para Redução de Emissões

por Desflorestamento e Degradação Florestal e aumento dos estoques de carbono (REDD+).

Moçambique foi seleccionado para beneficiar-se de fundos do FCPF destinados ao

desenvolvimento e implementação de estratégias para o REDD+. Como ponto de partida em

Dezembro 2008 o Governo de Moçambique, representado pelo Ministério para a

Coordenação da Acção Ambiental (MICOA) e o Ministério de Agricultura e

Desenvolvimento Rural (MINAG) iniciou o processo de elaboração do Plano de Prontidão

para o REDD+ (R-PP), o qual foi aprovado pelo Comité de Participantes do FCPF em Março

de 2012.

Durante o processo de elaboração do R-PP, surgiu a necessidade de elaboração de projectos-

pilotos de nível sub-nacional como forma de permitir a colheita de lições aprendidas que

10

iriam reforçar a estratégia do REDD+. Neste contexto, sete distritos abrangidos pelo Parque

Nacional das Quirimbas (PNQ) na província de Cabo Delgado foram seleccionados para a

implementação de um dos projectos piloto.

Com o surgimento da necessidade de uma abordagem integrada do REDD+, envolvendo para

além das florestas outros sectores de desenvolvimento económico local, o projecto-piloto de

Cabo Delgado passou a ter uma abordagem de programa, passando a designar-se Programa

de Gestão Integrada de Paisagens de Cabo Delgado (PROGIP-CD). De acordo com o

planificado, as primeiras actividades do programa incluem uma importante componente de

planificação, sendo para tal necessário a compilação e produção de informação de base sobre

o desmatamento e a degradação florestal para o apoio na implementação do plano. É neste

contexto, que o Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural (MITADER)

através dos fundos do FCPF contratou serviços de consultoria para a realização de um estudo

sobre causas do desmatamento, e proposta de soluções estratégicas nos sete distritos

abrangidos pelo PROGIP-CD.

2. OBJECTIVOS DO TRABALHO

2.1. Geral

O presente trabalho tem como objectivo avaliar e quantificar os níveis de desmatamento e

degradação florestal assim como as suas tendências futuras (2030) dentro dos distritos

abrangidos pelo PROGIP-CD

2.2. Objectivos específicos

a) Analisar o desmatamento ocorrido na área do PROGIP-CD no período 2001-2013

b) Identificar e quantificar os agentes de desmatamento e degradação florestal nos

distritos do PROGIP-CD;

c) Estabelecer a linha de base para as emissões na área do programa

d) Estabelecer cenário de desmatamento para os próximos 14 anos nessa região; e

e) Propor opções estratégicas para a redução do desmatamento e da degradação florestal

na área de actuação do programa

11

3. ABRANGÊNCIA E ESTRATÉGIA ADOPTADA PARA O ESTUDO

O presente trabalho abrange os sete distritos de actuação do PROGIP-CD, nomeadamente

Ancuabe, Ibo, Macomia, Meluco, Metuge, Montepuéz e Quissanga, assim como a cidade de

Pemba. Para a sua operacionalização foi antecedido de dois estudos, nomeadamente (1)

caracterização de seis distritos abrangidos pelo PROGIP-CD através de um estudo sócio-

económico e (2) análise da cadeia de fornecimento e consumo de combustíveis lenhosos nas

cidades de Pemba e Montepuéz. Estes estudos serviram de base para as análises, discussões e

propostas avançadas neste estudo e constituem parte integrante do mesmo através dos anexos

2 e 3. Os aspectos metodológicos do trabalho são apresentados ao longo das diferentes

secções em função da sua relevância.

4. GENERALIDADES SOBRE A ÁREA DO PROGIP-CD

O Programa de Gestão Integrada de Paisagens de Cabo Delgado (PROGIP-CD) integra sete

distritos abrangidos pelo Parque Nacional das Quirimbas, nomeadamente Ancuabe, Ibo,

Macomia, Meluco, Metuge, Montepuéz e Quissanga, com uma extensão total de 3 639 816 ha

de terra e uma população de cerca de 600 mil habitantes, sendo o Parque Nacional das

Quirimbas (PNQ) uma das principais razões de existência do programa.

O PNQ tem uma área total de 750 639 ha, dos quais 598 402 ha são habitats terrestres e

152 237 ha são habitats marinhos e ilhéus (http://www.wwf.org.mz/) e abarca 7 distritos

acima mencionados.

Figura 1. Limites e distritos do Parque Nacional das Quirimbas

12

Entretanto apenas os distritos de Quissanga e Ibo encontram-se praticamente dentro do

parque enquanto que os restantes distritos contribuem com certos postos administrativos. O

distrito de Montepuéz faz parte apenas da zona tampão através do PA de Nairoto.

Quadro 1. Postos administrativos abrangidos pelo PNQ

Distrito Postos administrativos do

PNQ

Localização da área situada no

parque

Ancuabe Ancuabe-sede Norte e Noroeste de Ancuabe-sede

Meza Norte de Meza

Ibo

Ibo Todo PA

Quirimbas Todo PA

Macomia

Macomia-sede Este de Macomia-sede

Mucojo Norte de Um cojo

Chai Sudeste de Chai

Meluco Meluco-sede Centro e Sul de Meluco-sede

Muaguide Centro e sul de Muaguide

Quissanga

Quissanga-sede Todo o PA com excepção de uma

pequena área no Noroeste

Bilibiza Todo PA

Mahate Todo PA com excepção de uma

pequena área no Sul

Metuge Metuge-sede Noroeste de Metuge-sede

Montepuéz Nairoto Este, faz parte apenas da zona

tampão do parque

5. ANÁLISE DOS NÍVEIS DE DESMATAMENTO NA ÁREA DO PROGIP-CD

Para a análise do desmatamento no presente trabalho foram usados os dois produtos

importantes dos dados globais de Hansen et al. (2013): (1) cobertura de copa na qual foi

usada a cobertura florestal aprovada na nova definição de florestas em vigor no país (30%), e

(2) perda florestal ou desmatamento onde considerou-se somente a perda de cobertura das

áreas com a cobertura florestal igual ou superior a 30%. Os dados globais do Hansen et al.

(2013) tem uma resolução espacial de 30 metros. A metodologia usada está dentro dos

parâmetros estabelecido pelo FCPF para além de ser a medida mais viável e transparente

existente em Moçambique devido a falta de dados nacionais actualizados. É de salientar que

os dados apresentados nestas análises, futuramente deverão ser substituídos por dados mais

precisos a serem gerados não somente a partir do Inventário Florestal Nacional mas também

pelo inventário florestal provincial em curso na de Cabo Delgado.

13

5.1. Cobertura florestal dos distritos abrangidos pelo PROGIP-CD

A análise de cobertura florestal é feita com base no mapa de cobertura de 2000. A figura 2

apresenta o mapa florestal do ano 2000 dos distritos do PROGIP-CD.

Figura 2. Mapa florestal dos distritos do PROGIP-CD

Os sete distritos abrangidos pelo PROGIP-CD têm uma área florestal total de 1,8 milhões de

hectares, sendo a maior cobertura florestal localizada no distrito de Montepuéz seguido pelo

distrito de Meluco, com mais de metade da área florestal (tabela 1).

Tabela 1. Área total, cobertura florestal e outros usos de terra na área PROGID-CD

Distrito Área distrito (ha) Floresta (ha) Outros usos (ha)

Ancuabe 491787 293451 198336

Ibo 7340 2965 4375

Macomia 418829 335558 83271

Meluco 572519 432129 140390

Montepuez 1778968 540255 1238713

Metuge 158705 94284 64421

Quissanga 211668 130978 80690

Total 3639816 1829619 1810197

14

Entretanto o distrito de Montepuéz apresenta a menor percentagem de cobertura florestal com

apenas 30%, sendo o distrito de Macomia o de maior cobertura com cerca de 80%, seguido

pelo distrito de Meluco e Quissanga.

Figura 3. Contribuição da superfície florestal na área total dos distritos do PNQ

O tipo de vegetação predominante nos distritos do PROGIP-CD é a floresta de miombo com

uma contribuição de cerca de 83%, seguido pelas florestas secas decíduas indiferenciadas

com 13%. O mangal é o tipo de vegetação menos frequente com uma contribuição de apenas

0,63% (11,5 mil hectares) nos distritos de Macomia, Metuge e Quissanga, dada a sua

localização costeira (tabela 2).

Tabela 2. Tipos de florestas na área do PROGIP-CD em 2000

Tipo de Vegetação Área (ha) % de florestas

Florestas secas decíduas indiferenciadas 240 236 13,13

Florestas sempre-verdes de montanha 40 799 2,23

Mangal denso 11 569 0,63

Miombo 1 523 238 83,25

Mosaico de vegetação costeira 13 777 0,75

Total 1 829 619 100

A tabela 3 apresenta a contribuição dos postos administrativos na área florestal de cada

distrito. As maiores áreas florestais localizam-se nos postos administrativos sede em todos os

59,67

40,39

80,12 75,48

30,37

59,41 61,88 50,27

40,33

59,61

19,88 24,52

69,63

40,59 38,12 49,73

A N C U A B E I B O M A C O M I A M E L U C O M O N T E P U E Z P E M B A Q U I S S A N G A T O T A L

%Floresta (2000) Outros Usos

15

distritos, com excepção de Montepuéz e Quissanga onde estas localizam-se nos postos

administrativos de Nairoto e Bilibiza respectivamente.

Tabela 3. Contribuição dos PA’s na área florestal de cada distrito

Distrito PA Área do distrito Área do PA % da área

Ancuabe Ancuabe-sede 277663 115473 42

Mesa 80567 29

Metoro 81623 29

Ibo Ibo 2811 2602 93

Quirimba 209 7

Macomia Chai 312598 89413 29

Macomia-sede 118171 38

Mucojo 60232 19

Quiterajo 44783 14

Meluco Meluco-sede 420613 325666 77

Muaguide 94947 23

Montepuez Mapupulo 531977 9243 2

Mirate 98328 18

Montepuez 32107 6

Nairoto 355937 67

Namanhumbir 36362 7

Pemba-Metuge Metuge-sede 89804 87879 98

Mieze 1925 2

Quissanga Bilibiza 122368 56323 46

Mahate 43315 35

Quissanga-sede 22729 19

5.2. Taxas de desmatamento na área do PROGIP-CD

A taxa de desmatamento nas áreas do PROGIP-CD para o período 2000-2013 foi estimado

em cerca de 0,31%, ou seja, cerca de 5.522 ha de diferentes tipos de florestas em média são

perdidos por ano dentro da área do PROGIP-CD. Os distritos de Macomia, Quissanga e

Ancuabe apresentam as maiores taxas anuais de desmatamento, com cerca de 0,55%, 0,52% e

0,43% respectivamente. Considerando um período de 10 anos (2004-2013), usado na secção

7.3 para a determinação das emissões anuais de referência, a taxa de desmatamento foi de

6 087 ha/ano.

16

Tabela 4. Taxa de desmatamento por PA e distrito

Distrito Posto administrativo Distrito

Posto

adminis-

trativo

Desmata-

mento

(2000-2013)

Taxa de

desmata-

mento

(%)

Taxa de

desmata-

mento

Taxa de

desmata-

mento

(%)

Taxa de

desmata-

mento

Ancuabe Ancuabe 5613 0,37 432 0,43 1214

Mesa 2729 0,26 210

Metoro 7446 0,67 573

Ibo Ibo 117 0,34 9 0,41 12

Quirimba 37 1,25 3

Macomia Chai 5784 0,48 445 0,55 1766

Macomia 11113 0,69 855

Mucojo 4802 0,59 369

Quiterajo 1261 0,21 97

Meluco Meluco 5621 0,13 432 0,21 886

Muaguide 5895 0,46 453

Montepuéz Mapupulo 689 0,55 53 0,12 637

Mirate 2753 0,21 212

Montepuez 2081 0,48 160

Nairoto 2128 0,05 164

Namanhumbir 627 0,13 48

Metuge Metuge 4341 0,37 334 0,37 345

Mieze 139 0,53 11

Quissanga Bilibiza 2446 0,33 188 0,52 662

Mahate 2639 0,45 203

Quissanga 3525 1,11 271

Geral 71785 0,31 5522 0,31 5522

A maior parte dos PAs do distritos de Macomia e Meluco assim como alguns PA’s de

Metuge e Ancuabe perdem enumeras áreas de florestas anualmente.

17

Figura 4. “Ranking” dos Postos Administrativos com a maiores perdas anuais de áreas

florestais

O modelo de transição florestal (TF) apresenta quatro fases diferentes, Pré-transição, início

de transição, final de transição e Pós- transição (figura 5).

Fonte: CEAGRE & Winrock (2015)

Figura 5. Curva de transição florestal

854,8

572,7

453,4

444,9

432,4

431,8

369,4

333,9

271,2

211,7

209,9

203,0

188,2

163,7

160,1

97,0

53,0

48,2

10,7

9,0

2,8

0,0 100,0 200,0 300,0 400,0 500,0 600,0 700,0 800,0 900,0

MACOMIA

METORO

MUAGUIDE

CHAI

MELUCO

ANCUABE

MUCOJO

METUGE

QUISSANGA

MIRATE

MESA

MAHATE

BILIBIZA

NAIROTO

MONTEPUEZ

QUITERAJO

MAPUPULO

NAMANHUMBIR

MIEZE

IBO

QUIRIMBA

Desmatamento médio (ha/ano)

50

15

Etapa 1Pré-transição

Etapa 2Inicio de transição

Etapa 3Final de transição

Etapa 4Pós-transição

Tempo

Cobe

rtur

a Flo

rest

al(%

)De

smat

amen

to b

ruto

(% yr

-1) 0.27

100

2.0

18

Os postos administrativos que encontram-se na fase de Pré-transição, são caracterizados por

possuírem uma elevada cobertura florestal e baixa taxa de desmatamento. Já os PA’s que

encontram-se na segunda fase de TF são os mais críticos no momento visto que a perda da

cobertura floresta ocorre de forma alarmante. A terceira fase de TF é caracterizada pela

redução da taxa de desmatamento como resultado da redução da área florestal dentro do posto

administrativo. Por último os PA’s que encontram-se na fase 4 de TF (Pós-transição), são

caracterizados pela baixa cobertura florestal e uma reduzida taxa de desmatamento que

subsequentemente resulta na recuperação natural de algumas áreas com capacidade de

resiliência.

Figura 6. Número de PA’s por fase de transição (FT) dentro área do PROGIP-CD

Cerca de 9 PA’s dos 21 existentes nos 7 distritos, encontram-se na quarta fase de TF o que

significa que possivelmente o desmatamento tenha ocorrido muito antes do período em

análise (Figura 6). Dentre os 9, encontram-se maior parte dos PA’s do distrito de Montepuez

com excepção do PA de Namanhumbir e cerca de 2 PAs do distrito de Quissanga (Quissanga

e Mahate). Sete dos 21 PAs encontram-se na fase de início de transição que é considerada

mais critica (vide o Figura 7 para localização geográfica dos distritos). Estes PA’s, localizam-

se nos distritos de Macomia, Ancuabe, Metuge e Quissanga. Esta análise encontra-se

alinhada aos resultados apresentados na figura 4 que apontam todos estes PA’s como sendo

os mais críticos no que diz respeito ao redução da área florestal. Assim sugere-se fortemente

que a implementação de actividades que visam a redução do desmatamento e degradação

florestal sejam feita de forma prioritária e a curto prazo nestes PA’s.

19

Figura 7. Representação espacial das fases de transição florestal na área do PROGIP-CD

Figura 8. Densidade populacional por posto administrativo

20

De forma geral as áreas com densidade populacional média a alta estão associadas a altas

taxas de desmatamento como é o caso dos postos administrativos de Quirimbas, Macomia,

Metoro, Mapupulo, Mieze, Montepuéz, Mucojo, e Mahate (figura 8), presumindo-se que as

actividades do PROGIP-CD nos próximos anos deveriam priorizar essas áreas. Entretanto

três postos administrativos não seguem essa regra nomeadamente Quissanga, Chai e

Muaguide.

O desmatamento nos distritos de Ancuabe, Meluco e Montepuéz ocorre principalmente na

floresta de miombo enquanto que em Macomia e Pemba-Metuge o desmatamento abrange

tanto a floresta de miombo como as florestas secas decíduas indiferenciadas. Em Quissanga o

desmatamento afecta principalmente as florestas secas decíduas indiferenciadas. Dada a sua

extensão, a floresta de miombo tem sido bastante afectada pelo desmatamento.

Tabela 5. Desmatamento por tipo de floresta por PA (ha)

Distrito

PA

FSDI

FSM

Mangal

Miombo

MVC

Total

PA

Total

distrito

Ancuabe Ancuabe-sede 5613 5613 15788

Mesa 2729 2729

Metoro 7446 7446

Ibo Ibo-sede 117 117 153

Quirimba 37 37

Macomia Chai 1708 4076 5784 22960

Macomia 6542 4570 11113

Mucojo 2005 1364 34 1151 248 4802

Quiterajo 93 731 7 418 12 1261

Meluco Meluco-sede 5621 5621 11516

Muaguide 1371 4524 5895

Montepuez Mapupulo 689 689 8278

Mirate 2753 2753

Montepuez-sede 2081 2081

Nairoto 2128 2128

Namanhumbir 627 627

Pemba-

Metuge

Metuge-sede 2033 814 13 1457 25 4341 4480

Mieze 137 2 139

Quissanga Bilibiza 1926 520 2446 8610

Mahate 1101 1451 40 47 2639

Quissanga-sede 3388 16 121 3525

Grand Total 20303 4359 113 46403 607 71785

21

6. ANÁLISE DOS AGENTES DO DESMATAMENTO E DEGRADAÇÃO

FLORESTAL

No seu estudo sobre as causas do desmatamento e da degradação florestal em Moçambique,

CEAGRE & e Winrock International (2015) identificou 7 agentes de desmatamento,

nomeadamente agricultura comercial, agricultura itinerante, extracção de produtos florestais,

lenha e carvão, expansão urbana e outras infra-estruturas, mineração e pecuária. A análise

desses agentes na área do PROGIP-CD mostrou pouca relevância da maior parte deles como

agentes de desmatamento e degradação florestal. Assim, a agricultura itinerante foi o único

agente considerado relevante no desmatamento enquanto que para a degradação florestal

apenas dois agentes foram considerados relevantes, nomeadamente a produção de

combustíveis lenhosos e a exploração madeireira. As constatações deste estudo coincidem

com as do estudo de Mercier et al. (2016) no Programa de Gestão Integrada de Paisagens da

Zambézia onde os autores identificaram os mesmos agentes de desmatamento e da

degradação florestal encontrados neste estudo na área de actuação desse programa. A seguir

são apresentadas algumas considerações sobre cada um dos 7 agentes.

6.1. Caracterização dos agentes de desmatamento e degradação florestal

6.1.1. Expansão urbana e outras infra-estruturas

6.1.1.1. Expansão urbana

Os dados do censo populacional de 2007 indicam que os distritos abrangidos pelo PROGIP-

CD possuem menor densidade população (17,2 habitantes/Km2) em relação a média nacional

(28,7 habitantes/Km2). Na área do programa as populações vivem geralmente concentradas

em aldeias, o que permite beneficiarem-se facilmente de serviços públicos e de outros

benefícios sociais. Nas aldeias as novas habitações são normalmente erguidas em áreas de

expansão, ou seja em locais já desmatadas por outros agentes, principalmente agricultura. Na

área do PROGIP-CD são escassas as habitações isoladas dentro da floresta que poderiam

propiciar o desmatamento para a habitação. Face a isso no presente estudo estabelece-se que

a expansão urbana não é um agente relevante de desmatamento na área do PROGIP-CD.

6.1.1.2. Outras infra-estruturas

As principais infra-estruturas na área do PROGIP-CD estão dispersas pelos distritos e

incluem infra-estruturas de educação e de saúde, habitação, estradas e furos de água. A

análise sócio-económica realizada na área do PROGIP-CD (estudo do anexo 2) revela um

aumento do número de escolas e de centro hospitalares nos últimos 10 anos. Entretanto, dada

a reduzida área ocupada por unidade escolar ou sanitária e por serem erguidas geralmente

22

dentro ou próximo de áreas de assentamentos humanos, já desmatadas, este grupo de infra-

estruturas não tem impacto significativo no desmatamento.

A partir do estudo do anexo 2 pode-se deduzir igualmente que nos últimos 10 anos a rede de

estradas não sofreu alterações significativas em termos de quilómetros de estrada na área do

PROGIP-CD, tendo havido melhoria na qualidade de algumas estradas em virtude de

manutenção mais frequente. Assim estabelece-se que as vias de acesso não tiveram efeito

significativo no desmatamento no período da análise.

6.1.2. Exploração mineira

Três dos 7 distritos do PROGIP-CD têm grande potencial para a actividade mineira, com

importantes reservas de grafite e mármore em Ancuabe, ouro, ferro e rubí em Montepuéz e

ouro, tromalina e águas marinhas no distrito de Meluco. O estudo do anexo 2 revela a

existência de pouca actividade mineira industrial, estando circunscrita apenas aos postos

administrativos de Nhamanhumbir e Nairoto no distrito de Montepuéz. Há actividades de

garimpo em Mahepe e rio incopete no PA de Mirate no distrito de Montepuéz. Em Ancuabe

o garimpo foi registado nas localidades de Meza-sede, Campine e Minheuene no PA de Meza

e em Nicololo e Mahera no PA de Metoro. Foi igualmente referido a existência de actividade

mineira informal de pequena escala no distrito de Meluco.

Sobre essa base no presente estudo estabelece-se que de forma geral a actividade mineira é

baseada no garimpo que não tem relevância como causa do desmatamento para a área do

PROGIP-CD como um todo. Entretanto há necessidade de incluir algumas medidas no

programa de modo a evitar que esta actividade se transforme num agente relevante de

desmatamento descontrolado nos próximos anos.

6.1.3. Exploração pecuária

Da análise da informação compilada no estudo do anexo 2 constata-se que, com excepção do

distrito de Metuge, a actividade pecuária na área do PROGIP-CD é dominada pelo sector

familiar com predomínio de gado bovino, caprino e aves de capoeira, apesar do grande

potencial dada a existência de condições de pastagem em alguns dos distritos. No distrito de

Metuge onde, de acordo com (GD – Metuge (sd), houve uma aumento significativo de gado

bovino de 2008 a 2012, o crescimento de efectivos bovinos foi mediante o uso de áreas não

florestais. Pela sua natureza familiar, no presente estudo estabelece-se que a actividade

pecuária não é um agente relevante de desmatamento e degradação florestal na área do

PROGIP-CD.

23

6.1.4. Agricultura itinerante

A agricultura itinerante é um sistema agrícola em que parcelas de terra são cultivadas

temporariamente e abandonadas para permitir a sua reversão em vegetação natural enquanto

o agricultor move-se para outra parcela e assim sucessivamente, independentemente do tipo

de culturas produzidas (culturas alimentares, de rendimento ou consociação de ambas). O

ciclo de cultivo geralmente termina quando o solo apresenta sinais de esgotamento de

fertilidade ou quando a machamba é invadida por plantas daninhas. Nos distritos do

PROGIP-CD a agricultura itinerante é movida pela procura de terras férteis, possibilitando

deste modo a obtenção de altos rendimentos agrícolas durante um período que varia de 5 a 10

anos.

A análise feita no estudo do anexo 2 com base em dados colhidos de entrevistas e

observações no terreno em diferentes postos administrativos na área do PROGIP-CD

mostram a relevância da agricultura itinerante como agente de desmatamento.

A informação compilada no estudo do anexo 2 revela por outro que na área do PROGIP-CD

praticamente não há agricultura comercial de grande escala como sucede em outras regiões

com a produção a grande escala de chá, algodão, cana de açúcar, entre outras culturas. A

agricultura comercial na área do PROGIP-CD é confinada à pequenas explorações

principalmente de gergelim e algodão, de natureza familiar.

De acordo com o estudo sócio-económico para a monitoria do REDD+ em 60 aldeias de 10

distritos, incluindo os distritos de Ancuabe e Montepuéz em Cabo Delgado, realizado por

CEAGRE (2013), nos campos agrícolas recentemente aberto (primeira rotação) prioriza-se a

cultura de milho em consociação com outras culturas de subsistência como mandioca, feijões

e amendoim e de rendimento como o gergelim. Em função da demanda do mercado a cultura

do algodão é introduzida depois da primeira rotação. Com esta prática resulta difícil separar a

agricultura comercial familiar da agricultura de substistência como agentes de desmatamento

uma vez que ambas actuam de forma combinada: as culturas de subsistência como o milho, a

mapira e a mandioca impoem a abertura de novas machambas a procura de terras mais férteis

enquanto que as culturas de rendimento podem beneficiar-se dessa fertilidade em

consociação com outras culturas na primeira rotação (gergelim) e nas rotações seguintes

(algodão). Assim, no presente estudo estabelece-se que a agricultura itinerante, incluindo a

agricultura comercial de pequena escala e a agricultura de subsitência, é o agente chave de

desmatamento na área do PROGIP-CD.

A análise conjugada do mapas da densidade populacional e da localização da agricultura

itinerante (figura 8 e 9 respectivamente) mostra que de forma geral a agricultura itinetante é

mais frequente em áreas com densidade de população moderada a alta.

24

Quadro 2. Principais áreas de agricultura itinerante

Distrito Posto

Administrativo Área de prática de agricultura (itinerante)

Quissanga Mahate Todas localidades do PA

Bilibiza Bilibiza e Mpundo

Macomia

Quinterajo Aldeia de Ilala, Natugo 2, Malada e

Mitacate

Mucojo todas localidades do PA

Chai Todas localidades do PA

Montepuez

Nairoto Nairoto-sede e Nrussa

Mirate Todas localidades do PA

Nhamanhumbir Todas localidades do PA

Ancuabe

Ancuabe-sede Nacuale e Geote

Mesa Aldeia de Muaja, Minheuene, Naua e

Nanune

Metoro Todas localidades do PA

Metuge Metuge-sede Nacuta e Messanja

Mieze Nanlia

Meluco Meluco-sede Localidade sede e Minhanha

Muaguide Citate

Figura 9. Localização de áreas de agricultura (itinerante)

25

6.1.5. Exploração de produtos florestais

De acordo com o estabelecido na Lei 10/99 – Lei de florestas e fauna bravia, a exploração de

produtos florestais em Moçambique pode ser efectuado em moldes comerciais ou de auto-

consumo.

6.1.5.1. Exploração comercial de produtos florestais

Nos moldes comerciais existem dois regimes de exploração, nomeadamente licença simples e

concessões florestais. Os principais produtos explorados e com potencial para o

desmatamento e degradação florestal são a madeira comercial, os combustíveis lenhosos e

material de construção. A exploração de combustíveis lenhosos será analisada mais adiante

na secção 6.1.6.

Exploração de madeira comercial

A exploração comercial de madeira incide sobre um reduzido número de espécies de alto

valor comercial, procuradas no mercado doméstico e internacional, dentre as 118 espécies

indicadas no Regulamento de Florestas e Fauna Bravia (Decreto no 12/2002). De acordo com

estatísticas oficiais nos anos 2000, 2005 e 2010 foram licenciados entre 22 199 e 40 071m3 de

madeira em toro por ano na província de Cabo Delgado. Nos três anos foi licenciado um total

de 88 231 m3 de madeira e um pouco mais de 17 espécies madeireiras, sendo 84% do referido

volume pertencente a apenas 4 espécies, nomeadamente Jambire, Umbila, Chanfuta e Pau-

ferro.

26

Tabela 6. Espécies licenciadas em Cabo Delgado em 2000, 2005 e 2010

Nome comercial

Volume licenciado (m3)

Total

Frequência

(%)

2000 2005 2010

Namuno 10 10 0

Chanfuta 4335 3735 6055 14125 16

Mutiria 660 795 1455 2

Sumauma/Mefuma 190 190 0

Messassa 210 210 0

Mucarala 10 10 0

Mondzo 945 945 1

Pau-preto 419 720 1044 2183 2

Mesassa E. 250 10 260 0

Tule 70 70 0

Jambire 4605 7896 13282 25783 29

Muanga 3389 60 3449 4

Umbila 7550 5610 12303 25463 29

Metil 50 50 0

Metonha 750 510 1198 2458 3

Pau-ferro 3200 2406 3407 9013 10

Messinge 850 220 392 1462 2

Ntholo 10 10 0

Outros 815 270 1085 1

Total 22199 25961 40071 88231 100

Fonte: DNFFB (2000); SPFFB- Cabo Delgado (2005) en SPFFB- Cabo Delgado (2015)

Assumindo o nível mais alto de extracção ilegal entre 2007 e 2012 estimado por UEM (2013)

para todo o país (70%), o volume realmente explorado pode estar entre 74 e 134 mil m3/ano;

o último valor, correspondente ao ano de 2010 é superior ao corte anual admissível de Cabo

Delgado (84 a 120 mil m3/ano), o que significa que uma parte do volume de madeira nesse

ano pode ter sido obtida mediante práticas de exploração insustentável tais como o corte de

árvores de menor diâmetro, corte em áreas proibidas, entre outras, provacando deste modo a

degradação florestal.

Nos distritos do PROGIP-CD onde ocorre a exploração madeireira, entre 2013 e 2015 foram

licenciadas apenas 11 espécies com um volume total de 28 099 m3 de madeira em toros

(Quadro 3).

27

Quadro 3. Espécies e volume acumulado (m3) licenciado de 2013 a 2015 nos distritos do

PROGIP-CD

Nome comercial Ancuabe Macomia Meluco Montepuéz

Namuno

X X

Chanfuta X X X X

Sumauma/Mefuma

X

Mondzo

X

Pau-preto X X X X

Jambire X X X X

Muanga

X

Umbila X X X X

Metonha X X X X

Pau-ferro X X X

Messinge X X X X

Total 1 266 2 323 2 924 21 586

Fonte: SPFFB Cabo Delgado (2015)

São escassas as estatísticas sobre os volumes de madeira explorada ilegalmente nos 7 distritos

do PROGIP-CD. Contudo as evidências indicam que, igual que na exploração licenciada, a

extracção ilegal é feita de forma selectiva. Resultados do estudo realizado por UEM (2013)

indicam que as principais espécies sujeitas à exploração ilegal tanto para o mercado

doméstico como internacional, são praticamente as mesmas licenciadas pelos SPFFB,

nomeadamente Chanfuta, Umbila, Jambire, Mondzo, Pau-ferro, Muanga, Pau-preto e

Chanate. O mesmo estudo indica que as principais irregularidades da exploração ilegal

contemplam o corte de árvores de diâmetro pequeno e a exploração fora da área autorizada, o

transporte de madeira sem licença, exploração sem licença, e o abate e transporte de madeira

com o excesso de volume superior a 10% do volume licenciado.

Por sua vez a exploração ilegal de madeira para a exportação é muito selectiva, sendo o

número de espécies exploradas mais reduzido que na exploração licenciada devido a procura

de espécies com características peculiares em certos mercados internacionais sem restrição de

transacção de madeira ilegal, principalmente o pau-ferro.

Tendo em conta o carácter muito selectivo da exploração florestal licenciada e da extracção

ilegal assim como a natureza das irregularidades da extracção ilegal acima descrita, neste

estudo estabelece-se que a exploração madeireira tanto legal como ilegal não é um agente

relevante de desmatamento nos distritos do PROGIP-CD, mas sim pode ser um agente

relevante de degradação florestal.

28

Extracção comercial de material de construção

Constatações do estudo sócio-económico para a monitoria do REDD+ realizado em 60

aldeias de 10 distritos, incluindo os distritos de Ancuabe e Montepuéz em Cabo Delgado

indicam, não mostram a relevância da exploração comercial de matérias de construção

(principalmente estacas e bambú) como agente de desmatamento. De facto as estatísticas dos

SPFFB de Cabo Delgado revelam pouca pressão sobre esses produtos onde as estacas e o

bambú representaram apenas 1,33 e 1,84% respectivamente do volume de combustíveis

lenhosos licenciados em 2014.

6.1.5.2. Exploração madeireira para autoconsumo

Constatações do estudo sócio-económico para a monitoria do REDD+ referido na secção

anterior, indicam que de forma geral as comunidades locais exploram de forma selectiva

praticamente as mesmas espécies contempladas pela exploração comercial, para a obtenção

de material de construção, principalmente estacas e bambú. Tendo em conta o seu carácter

selectivo, o presente estudo estabelece que a exploração madeireira para fins de autoconsumo

não é um agente relevante de desmatamento na área do PROGIP-CD. Entretanto é

recomendável a realização de um estudo sobre o impacto da combinação da exploração

madeireira para o autoconsumo e a extracção comercial de material de construção em

algumas áreas do projecto na eventual degradação florestal, uma vez que na maior parte dos

casos estes produtos são obtidos de árvores de diâmetro pequeno.

6.1.6. Produção de combustíveis lenhosos

Igual que em outras regiões do país, os combustíveis lenhosos (carvão e lenha) são a principal

fonte de energia para a cozinha na cidade de Pemba e na área do PROGIP-CD em geral.

6.1.6.1. Produção de carvão vegetal

De acordo com o estudo do anexo 2, o carvão vegetal é consumido principalmente nas

cidades de Pemba e Montepuéz e nas sedes dos distritos abrangidos pelo PROGIP-CD. De

acordo com o mesmo estudo, as zonas de abastecimento de carvão à cidade de Pemba

localizam-se principalmente nos distritos de Montepuéz, Ancuabe e Metuge. Ás áreas de

abastecimento de carvão à cidade de Montepuéz e as restantes sedes distritais localizam-se

em áreas próximas das sedes distritais. O quadro abaixo apresenta as áreas de produção de

carvão vegetal assim como as respectivas áreas de consumo.

29

Quadro 4. Informação sobre a produção de carvão vegetal

Distrito Posto Administrativo Áreas de produção

de carvão Áreas de consumo

Quissanga

Mahate

Ndrah,

Ancoba,Muaja e

Mahate-sede

Quissanga-sede,

Mahate, Ibo e

Pemba

Bilibiza Lindi, Nivico e

Bilibiza Bilibiza-sede

Macomia

Mucojo

Manica, Ruela,

Nagulue e Mucojo

sede

Mucojo-sede e

Pangane

Chai Litamanda e Chai

sede

Chai-sede,

Macomia-sede e

Meangoleia

Montepuez

Nairoto Não se produz

carvão -

Mirate Todo PA

Mirate-sede e

cidade de

Montepuéz

Nhamanhumbir Mpopene e posto

sede

Nhamanhumbir-

sede

Ancuabe

Metoro Todo PA

Cidade de

Montepuéz e

Pemba

Ancuabe-sede Todo PA Ancuabe-sede e

Pemba

Metuge

Metuge-Sede Nacuta e Messanja Metuge-sede e

Pemba

Mieze Nanlia, aldeia Impiri Metuge-sede e

Pemba

No estudo do anexo 2 os produtores de carvão afirmaram que no processo de obtenção de

matéria prima fazem o corte selectivo das árvores de modo a permitir o crescimento dos

indivíduos mais pequenos ou em regeneração, como forma de prevenir o desmatamento. As

constatações do mesmo estudo com base em a visitas a diferentes áreas de produção nos

distritos de Metuge, Ancuabe e Montepuéz mostram que a produção de carvão vegetal

resulta de forma geral em degradação acentuada da floresta nas áreas de produção, havendo

já casos de desmatamento ainda que de forma incipiente particularmente nos distritos de

Ancuabe e Metuge onde a exploração é intensa.

30

Figura 10. Localização das áreas de produção de carvão vegetal

O mesmo estudo refere ainda que para a produção de carvão vegetal são usadas praticamente

todas as espécies disponíveis no local independemente da sua classe comercial. Após a

produção, as áreas são geralmente usadas para a agricultura familiar. De facto nas visitas de

campo nos distritos de Metuge, Ancuabe e Montepuéz constatou-se que as machambas

recentemente abertas encontram-se próximas das áreas de produção. Assim, no presente

estudo estabelece-se que a produção de carvão vegetal pode ser um agente relevante de

degradação florestal na área do PROGIP-CD.

6.1.6.2. Extracção da lenha

A extracção de lenha para o fornecimento à cidade de Pemba ocorre praticamente nas

mesmas áreas de produção do carvão vegetal referidas acima, sendo provavelmente em

combinação com a produção de carvão, um agente de degradação florestal. A contribuição do

corte de lenha para o uso local nos distritos abrangidos pelo PROGIP-CD, incluindo as sedes

distritais é considerada insignificante no desmatamento/degrdação florestal uma vez que,

dado o reduzido número de habitantes nessas regiões, a lenha obtida de árvores abatidas na

abertura de novas machambas, de ramos secos ou de árvores mortas, é suficiente para

satisfazer a demanda.

31

6.2. Quantificação dos agentes de desmatamento/degradação florestal

6.2.1. Agentes de desmatamento

Na sequência do discutido na secção 6.1.4. no presente estudo assume-se que cerca de

5522 ha de florestas são desmatados por ano para a práctica da agricultura itinerante.

6.2.2. Agentes da degradação florestal

Produção de combustíveis lenhosos

O estudo do anexo 3 estimou o consumo de carvão vegetal em 23 000 e 13 825 toneladas em

2015 para as cidades de Pemba e Montepuéz, respectivamente, o equivalente a 0,12 e

0,14t/habitante. O mesmo estudo estimou o consumo de lenha em 3 056 e 2 113 toneladas em

2015 para as cidades de Pemba e Montepuéz respectivamente, o equivalente a 0,0165 e

0,0208 t/habitante.

Com base no consumo per capita de carvão e no número de habitantes das cidades de Pemba

e Montepuéz e o rendimento médio dos fornos tradicionais de carvão de 19% determiando no

estudo do anexo 3, foi estimado o consumo anual de carvão, a quantidade de matéria prima

usada para a produção de carvão (lenha-equivalente) assim como a madeira usada

directamente como lenha nas duas cidades. Com base na produtividade média da biomassa

das florestas estimada em 36,36 m3/ha, de acordo com Marzoli (2007) e usando a razão

estimada da quantidade de biomassa remanescente nas áreas de produção de carvão na área

do programa de 30%, foram estimadas as áreas exploradas pela produção de carvão vegetal e

lenha para a cidade de Pemba e Montepuéz na área do PROGIP-CD de 2001 a 2013. De

referir que dados sobre a quantidade de biomassa remanescente nas áreas de produção de

carvão na área do programa são escassos e para o presente trabalho esse valor foi estimado de

forma indirecta com base na diferença entre o a produtividade média de biomassa referida

acima por Marzoli (2007) e o volume de madeira usado em fornos nas áreas visitadas durante

o estudo.

Como resultado, a biomassa explorada para a produção de combustíveis lenhosos foi

estimada 97 277 e 58 688 toneladas por ano para as cidades de Pemba e Montepuéz

respectivamente e as áreas exploradas para o mesmo fim em 3 797 e 2 291 hectares para as

mesmas cidades na mesma ordem (vide detalhes na tabela 1 do anexo 1).

Com base na área total média afectada pela degradação devido ao consumo de carvão e lenha

em Pemba, assim como o peso de cada distrito no fornecimento de carvão à cidade de Pemba,

foi determinada a área de cada distrito que anualmente é explorada para o fornecimento de

carvão e lenha à cidade de Pemba. Os pesos foram obtidos a partir estatísticas de

32

licenciamento de combustíveis lenhosos disponibilizados pelos Serviços de Florestas de Cabo

Delgado e da contagem, no ponto de fiscalização de Pemba, da entrada de carvão à cidade de

Pemba apresentado no estudo do anexo 3.

Tabela 7. Área e biomassa explorada anualmente em cada distrito para o fornecimento de

carvão e lenha à cidade de Pemba

Distrrito Peso (%) Área explorada (ha) Biomassa explorada (t)

Metuge 33 1253 32101

Ancuabe 62 2354 60312

Ibo - - -

Macomia - - -

Quissanga - - -

Meluco - - -

Montepuéz 2 76 1946

Chiúre 1 38 973

Mecufi 1 38 973

Mueda 1 38 973

Total 100 3797 97277

O cálculo da biomassa e das áreas afectadas pela produção de combustíveis lenhosos nos

restantes distritos do PROGIP-CD restringiu-se ao carvão vegetal e apenas às sedes distritais

por ser os locais de maior consumo. As estimativas foram feitas assumindo para cada sede

distrital o consumo per capita de carvão registado na cidade de Montepuéz. A tabela 7

apresenta o resumo dos resultados e a tabela 2 do anexo 1 os detalhes dos cálculos.

33

Tabela 8. Áreas e biomassa explorada para a produção local de carvão nos restantes distritos

do PROGIP-CD (2001 – 2013)

Distrito Parâmetro Média anual Total (2001-2013)

Metuge Consumo (t LEQ) 9395 122138

Área (ha) 367 4767

Ancuabe Consumo (t LEQ) 8964 116532

Área (ha) 350 4548

Meluco Consumo (t LEQ) 5859 76163

Área (ha) 229 2973

Macomia Consumo (t LEQ) 14396 187144

Área (ha) 562 7305

Quissanga Consumo (t LEQ) 3228 41958

Área (ha) 126 1638

Ibo Consumo (t LEQ) 3510 45631

Área (ha) 137 1781

Total

Consumo (t LEQ) 45351 589566

Área (ha) 1770 23012

Com base nos dados apresentados nas tableas 6 e 7, a produção de lenha e carvão com

destino as cidades de Pemba e Montepuéz e a produção de carvão vegetal para o

fornecimento às sedes dos distritos abrangidos pelo PROGIP-CD afectam um total de

7 858 ha por ano distribuídos pelos diferentes distritos, conforme mostra a tabela 8,

resultando em degradação mas ou menos acentuada das respectivas florestas. Uma parte das

áreas degradadas pela produção de combustíveis lenhosos é posteriormente desmatada pela

prática da agricultura itinerante.

34

Tabela 9. Área explorada para fornecimento de combustíveis lenhosos à Pemba e sedes dos

distritos do PNQ (ha)

Distrito Fornecimento

à Pemba

Fornecimento

local

Total de área

explorada

Metuge 1253 367 1620

Ancuabe 2354 350 2704

Ibo - 137 137

Macomia - 562 562

Quissanga - 126 126

Meluco - 229 229

Montepuéz 76 2291 2367

Sub-total 3683 4061 7744

Outros distritos 114

Total 3797 4061 7858

7. ESTIMATIVA DAS EMISSÕES

7.1. Determinação da linha de base (baseline) do desmatamento

De acordo com FCPF (2013), a linha de base deve ser igual a média histórica de emissões de

um determinado período de 10 anos. Para este estudo foi seleccionado o período 2004-2013

para o estabelecimento da linha de base das emissões tendo-se obtido como resultado a taxa

média de desmatamento de 6 087 ha/ano, conforme mostra a tabela abaixo.

Tabela 10. Linha de base do desmatamento na área do PROGIP-CD

Distrito

Total 2004-2013

(ha)

Média (ha/ano)

Ancuabe 14077 1408

Ibo 135 13

Macomia 17879 1788

Meluco 9339 934

Montepuez 7225 723

Pemba 4267 427

Quissanga 7947 795

Total 60868 6087

35

7.2. Estabelecimento de factor de emissão

Dados com vista a determinar o estoque de carbono e os factores de emissão em Cabo

Delgado são escassos. Para 2016 está planificado a realização de um inventário florestal na

província de Cabo Delgado pelo projecto JICA o qual deverá providenciar informações sobre

o factor de emissão e os níveis de emissão de referência. Dada a falta de informação básica e

tendo em conta que na área do PROGIP-CD a floresta de miombo ocupa 83% da cobertura

florestal total, para o presente trabalho o factor de emissão foi determinado assumindo os

dados de estoque de carbono obtidos por Mercier et al. (2016) na área do Programa de Gestão

Integrada de Paisagens da Zambézia (tabela 10) para a floresta de miombo.

Tabela 11. Estoque de carbono na floresta de miombo na área da Reserva Nacional do Gilé

(tCO2eq/ha)

Item Biomassa acima

do solo

Biomassa

abaixo do solo

Total

Média 228,4 65,7 297,5

Desvio padrão 119,3 31,7 148,3

90% CI 24,1 6,4 29,9

Adaptado de Mercier et al. (2016)

Uma vez que a emissão do carbono da biomassa abaixo do solo é gradual foi usado o nível de

10%/ano, de acordo com as recomendações do IPCC. Devido a falta de dados consistentes

não foram consideradas as emissões do carbono do solo no cálculo das emissões. Sobre essa

base o factor de emissão para a área do programa situou-se em 210,23 tCO2eq/ha.

7.3. Estimativa de emissões anuais de referência

As emissões anuais de referência devidas ao desmatamento foram calculadas com base na

linha de base de emissões e o factor de emissões para um período de 10 anos (2014-2024). De

acordo com a tabela 11, a emissão anual de referência é de 1 279 624 tCO2eq/ano na área do

PROGIP-CD, sendo os distritos de Macomia e Ancuabe os que mais contribuem em virtude

de apresentarem as taxas anuais de desmatamento mais altas. De referir que, como já foi

discutido em secções anteriores, o desmatamento e portanto as emissões são causadas

principalmente pela agricultura itinerante.

36

Tabela 12. Estimativa de emissões resultantes do desmatamento em 10 anos (2004-2013)

Distrito

Cobertura

florestal

(ha)2000

Taxa de

desmatamento

anual (ha/ano)

Emissões

(tCO2eq)

Emissões

anuais

(tCO2eq/ano)

Ancuabe 293451 1408 2959360 295936

Ibo 2965 13 28329 2833

Macomia 335558 1788 3758643 375864

Meluco 432129 934 1963264 196326

Montepuez 540255 723 1518920 151892

Pemba 94284 427 896956 89696

Quissanga 130978 795 1670773 167077

Total 1829619 6087 1279624

7.4. Emissões devidas à degradação florestal

7.4.1. Produção de combustíveis lenhosos

Uma parte das emissões acima referidas são emitidas de forma faseada, começando com as

emissões devido a degradação da floresta ao ser submetida para a produção de combustíveis

lenhosos e finalmente as emissões devido à agricultura itinerante ao converter as áreas com

floresta degradada em campos cultivados. Assim, resulta interessante determinar as emisões

provocadas pela degradação da floresta associda a produção de combustíveis lenhosos. Para

tal foi incialmente compilado na tabela abaixo os valores de biomassa usada para a produção

de combustíveis lenhosos para o consumo na cidade de Pemba e nas sedes dos distritos do

PROGIP.

Tabela 13. Biomassa usada na produção de de combustíveis lenhosos para Pemba e sedes dos

distritos do PROGIP (t LEQ)

Distrito Biomassa para

Pemba

Biomassa para as

sedes distritais

Total

Metuge 32101 9395 41497

Ancuabe 60312 8964 69276

Ibo - 3510 3510

Macomia - 14396 14396

Quissanga - 3228 3228

Meluco - 5859 5859

Montepuéz 1946 58688 60634

Sub-total 94359 104040 198398

Outros distritos 2918 - 2918

Total 97277 104040 201317

37

Finalmente foram realizados os cálculos das emissões. Com vista a produzir resultados

comparáveis para os PROGIP de Cabo Delgado e Zambézia, foi adoptada a metodologia

usada por Mercier et al. (2016), considerando duas opções de factor de expansão de

biomassa: opção A onde BCEF/WD é igua a 1,22 tdm/tdm, de acordo com IPCC (2003) e

opção B onde BEF é igual a 3,4 tdm/tdm, segundo IPCC (2006). Como já foi acima indicado,

para a conversão do peso de carvão em lenha-equivante foi usado o rendimento de fornos

tradicionais de 19%, obtido no estudo do anexo 3.

De acordo com a tabela 14, as estimativas das emissões nos distritos do PROGIP-CD variam

de 534407 a 1 489 330 tCO2 equivalente por ano para as opções A e B respectivamente.

Tabela 14. Estimativa de emissões devido a produção de combustíveis lenhosos na área do

PROGIP-CD

Distrito

Total de

biomassa

(t LEQ)

Biomassa acima do

solo Eq (t/ano)

Biomassa total

equivalente em

t/ano (Razão

Raízes/parte

aérea= 0,28)

Equivalente em

tC/ano

(Proporção de

carbono = 0,47)

Emissões em

tCO2eq/ano (Razão

molecular= 3,67)

A

B A B A B A B

Metuge 41497 50626 141089 64801 180593 30457 84879 111776 311506

Ancuabe 69276 84516 235538 108181 301488 50845 141699 186601 520037

Ibo 3510 4282 11934 5481 15276 2576 7180 9455 26349

Macomia 14396 17563 48945 22480 62650 10566 29445 38776 108065

Quissanga 3228 3938 10974 5040 14046 2369 6602 8694 24229

Meluco 5859 7148 19920 9149 25497 4300 11984 15781 43980

Montepuéz 60634 73973 206155 94686 263879 44502 124023 163324 455165

Total 198398 242046 674554 309819 863430 145615 405812 534407 1489330

Opção A: BCEF/WD = 1,22 tdm/tdm; Opção B: BEF = 3,4 tdm/tdm

De modo a evitar uma dupla contagem de emissões de CO2, foram excluídas das estimativas

as emissões correspondentes a áreas degradadas convertidas em campos agrícolas uma vez

que a contagem dessas emissões foi incluída nas emissões do desmatamento devido à

agricultura itinerante. Dada a falta de informação sobre a razão de conversão de áreas

degradadas pela produção de combustíveis lenhosos em machambas em cada distrito, optou-

se por usar valores conservadores considerando que todas as áreas degradadas foram

convertidas em campos agrícolas, sempre que a área degradada fosse maior que a área

desmatada. Nos casos em que não se observou esta condição o valor das áreas degradadas

convertidas em campos agricolas foi considerado nulo (tabela 15).

38

Tabela 15. Emissões devido a produção de combustíveis lenhosos em áreas não convertidas

em campos agrícolas

Distrito

Biomassa

de áreas

degradadas

não

convertidas

em

machambas

(t LEQ)

Biomassa acima

do solo Eq

(BEF=3,4

tdm/tdm)

Biomassa total

equivalente (Razão

Raízes/parete

aérea= 0,28

Equivalente em

tC/ano (Proporção

de carbono = 0,47)

Emissões em

tCO2eq/ano (Razão

molecular= 3,67)

A B A B A B A B

Metuge 38173 46571 129789 59611 166129 28017 78081 102823 286556

Ancuabe 3203 3908 10889 5002 13938 2351 6551 8628 24041

Ibo - - - - - - - - -

Macomia - - - - - - - - -

Quissanga 44314 54063 150668 69201 192854 32524 90642 119364 332655

Meluco 32658 39843 111036 50999 142127 23969 66800 87968 245154

Montepuéz - - - - - - - - -

Total 118347 144385 402381 184812 515048 86862 242073 318783 888407

Assim estima-se que as áreas de produção de combustíveis lenhosos não convertidas em

campos agrícolas produzem emissões enttre 318 783 e 888 407 tCO2 equivalente por ano. O

valor mínimo de emissões obtido (318783 tCO2eq/ano) é superior a 10% das emissões por

desmatamento (127 962,4 tCO2eq/ano) e portanto deve ser contabilizado nas emissões

globais, de acordo com as recomendações do FCPF.

8. PROJECÇÃO DO DESMATAMENTO PARA 2030

A projecção espacialmente explicita do desmatamento dentro dos 7 distritos abrangidos pelo

PROGIP-CD teve como base a linha de referência previamente estabelecida. A taxa de

desmatamento anual verificado no período histórico em análise, foi também tomada como

base para a projecção de cenários futuros do desmatamento com a intenção de mapear e

identificar os locais mais vulneráveis a ocorrência do desmatamento nos próximos anos. Para

a calibração do modelo, foi usado o período historico observado tendo sido simulado o

desmtamento para o ano 2013 e a posterir feito a comparação entre o simulado e observado.

Nota que os mapas (simulado vs observado) tiveram um nível de concordância acima de 70%

quando comparados usando uma janela de 11X11 pixeis. Este valor é considerdo satisfatoóio

e aceite para o uso do modelo para a simulação de cenários futuros visto que numa área de

cerca de 11 ha, cerca de 70% das células desmatadas no mapa simulado estão em

concordância com o observado. Para a simulação do desmatamento, foram usados 6 factores

(figura 11).

39

Figura 11. Variáveis estáticas usadas para a simulação do desmatamento dentro dos 7

distritos abrangidos pelo PNQ

As análises mostram que todos os factores usados, tem uma forte correlação com o

desmatamento tendo as estradas e as proximidades as aldeias sido os factores que mais

influência a ocorrência do desmatamento. Com base na interação dos diferentes factores, foi

possível também produzir o mapa de probabilidades de ocorrência do desmatamente em toda

a área de estudo. Este mapa é util no sentido de que indica de forma espacial as áreas mais

vulneráveis e propensas a perdas de áreas florestais (figura 12).

O mapa de probabilidades, claramente evidencia que os distritos mais proximos a costa são

os mais vulneráveis. Esta análise encontra-se alinhada as outras análises apresentadas

previamente neste estudo. Estas áreas obviamente deverão merecer especial atenção na

implementação de medidas para o combate do desmatamento. O PNQ apresenta maiores

probabilidades de desmatamento incluindo a sua zona tampão, sobretudo nos PA’s de

Muaguide, Bilibiza, Quissanga-sede, Mucojo, região Este de Macomia-sede e o Sul de

Mahate.

40

Figura 12. Níveis de probabilidade de ocorrência de desmatamento na área do PROGIP-CD

Por outro lado, a sobreposição do mapa de probabilidade com os mapas das áreas actuais de

prática de agricultura itinerante e da produção de combustíveis lenhosos (figuras 6 e 7)

mostra maior relação probabilidade de desmatamento- agricultura itinerante em relação a

probabilidade de desmatamento-produção de combustíveis lenhosos, o que confirma que a

agricultura itinerante é um agente chave de desmatamento.

A projecção do desmatamento até ano 2030 teve como base na probabilidade de

desmatamento e o nível de referência (RL) estabelecido de forma provisória na secção 7. A

figura 13 indicam que, se não forem tomadas as devidas medidas, o desmatamento irá afectar

grandemente 5 dos sete distritos (Macomia, Meluco, Quissanga, Ancuanbe e Metuge), em

todos os postos administrativos e particularmente em perímetros próximos das principais

estradas.

41

Figura 13. Simulação dos cenários de desmatamento para o ano 2030

42

9. PROPOSTA DE SOLUÇÕES AO DESMATAMENTO E A DEGRADAÇÃO

FLORESTAL NOS DISTRITOS DO PROGIP-CD

Nas secções anteriores ficou evidenciado que a agricultura itinerante, a produção de

combustíveis lenhosos e a exploração madeireira comercial são os principais agentes do

desmatamento e da degradação florestal. Nesta secção iremos propor opções estratégicas em

relação a cada um destes agentes com a final de mitigar o desmatamento e degradação

florestal. Entretanto, antes de apresentarmos a tal proposta, passamos a apresentar algumas

considerações sobre cada um destes agentes como fundamento para estabelecimento de

opções estratégicas.

9.1. Considerações sobre os agentes de desmatamento e degradação florestal para

estabelecimento de opções estratégicas

9.1.1 Promoção de agricultura de maior productividade e rendimento

A fundamentação da proposta de opções estratégicas para a redução do desmatamento

(devido à agricultura itinerante) nos distritos do PROGIP-CD é feita a seguir com base em

dados de três distritos, nomeadamente Montepuéz, Ancuabe e Macomia. Os restantes distritos

não foram incluídos na análise por falta de dados.

A tabela abaixo indica que entre 2005 e 2012 houve uma redução acentuada da área

cultivada, em 57%, nos três distritos, ou seja 124 971 ha de área cultivada deixaram de ser

usadas no referido período, passando para uso “não identificado” ou muito provavelmente ao

pousio ou abandono.

Tabela 16. Proporção de áreas desmatadas em relação às áreas cultivadas nos distritos de

Montepuéz, Ancuabe e Macomia

Ano

Área desmatada

(ha)

Área cultivada (ha)

Proporção de áreas

desmatamento (%)

2005 2282 219769 1,04

2006 3720 191004 1,95

2007 1746 198497 0,88

2008 8732 192492 4,54

2012 1164 94798 1,23

Fonte: Base de dados do TIA (2002-2012)

43

A mesma tendência de redução de área cultivada foi observada no mesmo período para a

província de Cabo Delgado (redução da área de cultivo em 30%) e para o país em geral

(redução em 13%), de acordo figura 14).

Figura 14. Evolução de áreas cultivadas, 2005-2013 (ha)

A tabela 15 indica igualmente que apesar da redução da área cultivada entre 2005 e 2012, os

níveis de desmatamento permaneceram altos. Com excepção do ano de 2008 que apresentou

um valor muito alto, em cada 100 ha terra cultivada foram desmatadas entre 0,88 e 1,23 ha

por ano nos três distritos entre 2005 e 2012.

Na nossa análise este facto deve-se a dois factores:

1. Necessidade permanente das famílias de procura de terras mais férteis para pelo

menos manter os níveis de rendimento das culturas; e

2. Constituição contínua de novas famílias: apesar da redução da área cultivada, com o

crescimento contínuo da população os níveis de constituição de novas famílias

permanecem praticamente os mesmos ou seja o número de novas famílias constituídas

por ano mantêm-se constante e portanto prevalece a necessidade de novas terras

agrícolas.

Face a isso as medidas com vista a redução do desmatamento devem considerar os dois

aspectos acima indicados, ou seja desincentivar a abertura de novas machambas, mediante

criação de condições para que as áreas actualmente cultivadas se transformem em campos

mais produtivos. Esta acção deve merecer especial atenção para as famílias jovens pelo

potencial para abertura de novos campos agrícolas assim como pelo provável maior impacto

das medidas nesta camada social a curto, médio e longo prazo.

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

2002 2003 2005 2006 2007 2008 2012

CD

Nacional

44

Dos trabalhos de FAO (2015) e FAO (sd) pode-se deduzir que agricultura itinerante

representa um estágio desenvolvimento da agricultura, característica de comunidades com

limitações de capital para investir em outras formas de agricultura e praticável onde há

disponibilidade de terra. Assim, uma parte importante das medidas e opções estratégicas a

serem estabelecidas com vista a mudar o cenário desta prática agrícola deve ser faseada e

envolver necessariamente as entidades do governo, de modo a permitir a criação de condições

básicas para o desenvolvimento da agricultura mais intensiva. Entretanto propõe-se certas

medidas que podem ser implementadas a curto prazo sem a necessidade criação de condições

excepcionais, como é o caso da agricultura de conservação e maior parte das acções de curto

prazo propostas na tabela 2 do anexo 1.

9.1.2. Promoção de plantações energéticas

Com o crescimento da população urbana a procura de combustíveis lenhosos irá aumentar

sobretudo nas cidades de Pemba e Montepuéz e a floresta nativa terá dificuldade de satisfazer

essa procura de forma ambiental e economicamente sustentável. A pressão sobre a floresta

nativa pode ser mitigada mediante a introdução de plantações com fins energéticos. As

plantações deverão ser estabelecidas próximo de áreas de maior consumo de combustíveis

lenhosos, podendo-se estabelecer nos distritos de Metuge, Ancuabe e Montepuéz, em função

das condições ecológicas e as espécies a serem seleccionadas. As plantações podem ser de

espécies nativas como as acácias ou espécies exóticas como eucalipto, sendo a vantagem

desta última a sua alta taxa de crescimento. O plano para esta acção é de curto prazo mas a

implementação efectivo do projecto é de médio prazo, dada a necessidade de mobilização de

investimento e o período relativamente longo (7-10 anos) para que as árvores estejam em

condições de produzir lenha e carvão.

9.1.3. Promoção de tecnologias eficientes de uso de energia

Os programas de tecnologias eficientes de uso de energia incluem a introdução de fogões

melhorados nos centros de consumo de carvão e lenha e de fornos melhorados nas áreas de

produção.

Fogões melhorados

A introdução de fogões melhorados é uma medida que pode ter grande impacto nas cidades

de Montepuéz e Pemba uma vez que, de acordo com o estudo do anexo 3 menos de 1% dos

habitantes de ambas cidades usam fogões melhorados. Trata-se de uma medida que pode ser

implementada a curto prazo, sendo condicionada apenas pela existência de fundos para a

aquisição dos fogões e sua comercialização. O desafio é a identificação de tipo de fogões de

preços acessíveis para a população local. A introdução de campanhas de promoção do uso de

fogões melhorados deve ser uma componente importante do pacote do programa.

45

Fornos melhorados

Não obstante que, de acordo com o estudo do anexo 3 o rendimento dos fornos tradicionais é

baixo, a introdução de fornos melhorados nas áreas de produção de carvão na floresta nativa,

não parece viável por duas razões: (1) experiências anteriores mostraram dificuldades de

introdução de fornos tradicionais, como por exemplo o forno casamance, devido a relativa

complexidade para a sua construção e portanto a resistência dos produtores locais a adoptar a

tecnologia; e (2) outros tipos de forno como os fornos de alvenaria são permanentes pelo que

são mais usados em áreas de plantações energéticas com grande concentração de matéria

prima.

9.1.4. Promoção da transparência na gestão florestal e capacitação

A exploração florestal constitui um dos agentes de degradação florestal quando é realizada

em moldes insustentáveis, com destaque para a exploração ilegal que normalmente atropela

os princípios básicos do maneio florestal. Para além da fiscalização, as acções de combate à

exploração ilegal passam pela promoção da transparência na gestão florestal, mediante a

divulgação de informação de interesse público sobre as actividades florestais, incluindo a

delimitação das concessões florestais, as espécies autorizadas para a exploração, os locais

precisos onde ela vai ocorrer, entre outras. A capacitação aos operadores e aos gestores do

governo é uma acção que pode contribuir para o maneio florestal sustentável.

9.2. Opções estratégicas para a redução do desmatamento e da degradação florestal

Nesta secção são estabelecidas as opções estratégicas para a redução do desmatamento e da

degradação florestal nos distritos do PROGIP-CD mediante a selecção das opções

estratégicas estabelecidas na Proposta de Estratégia Nacional para a Redução de Emissões de

Desmatamento e Degradação Florestal (REDD+) 2016-2030, consideradas relevantes para o

PROGIP-CD e a indicação de acções para a sua operacionalização.

A Estratégia Nacional do REDD+ propõe 6 objectivos estratégicos integrando 44 acções

estratégicas para a redução de emissões por desmatamento e degradação florestal. Dessas

acções estratégicas no presente documento foram seleccionadas 19, sendo 13 acções

consideradas de primeira prioridade, 3 de segunda prioridades e 3 acções a serem

implementadas conjuntamente com as acções de primeira e segunda prioridade.

Tendo em conta a abordagem participativa que caracterizou a elaboração da Estratégia

Nacional do REDD+, consideramos esse documento fundamental para as propostas feitas

nesta secção. O quadro 1 do anexo 1 apresenta de forma resumida as opções estratégicas

46

seleccionadas para o PROGIP-CD, assim como a proposta de acções para a sua

operacionalização a curto, médio e longo prazo. O quadro 2 do anexo 1 apresenta informação

mais detalhada. Neste trabalho os termos curto, médio e longo prazos são usados para referir-

se ao período menos de 5 anos entre 5 e 10 anos, em mais de 10 anos respectivamente.

O custo total das actividades é estimado em 860 000,00 USD (detalhes no quadro 2 do

anexo 1)

47

10. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

10.1. Conclusões

A taxa de desmatamento anual na área abrangida pelo PROGIP-CD registou um aumento nos

últimos anos ao passar de 5522 ha/ano no período 2001-2013 a 6087 ha/ano entre 2004 e

2013, o que revela uma tendência crescente das emissões. A maior parte das áreas

desmatadas registaram-se nos PA’s em fase de início de transição do modelo de transição

florestal, isto é com cobertura florestal moderada a alta, mas em declínio, o que representa

um grande potencial de continuação de desmatamento na maior parte das áreas nos próximos

anos

A agricultura itinerante é considerado o principal agente de desmatamento nos distritos

abrangidos pelo PROGIP-CD enquanto que a produção de combustíveis lenhosos e a

exploração de produtos florestais são os principais agentes de degradação da floresta. Outros

agentes, nomeadamente expansão urbana e outras infra-estruturas, mineração e pecuária

foram considerados de impacto insignificante no desmatamento. Estima-se que

desmatamento dos 71785 ha de floresta entre 2001 e 2013 foi devido praticamente à

agricultura itinerante como agente primário e que a produção de combustíveis lenhosos

provoca a degradação de 7 744 ha de floresta por ano.

Para além das emissões devido ao desmatamento na área do PROGIP-CD, estimadas em

1 279 624 tCO2eq/ano, devem também ser considerados para a contabilização as emissões

devido a degradação florestal, nomeadamente a produção de combustíveis lenhosos, por

contribuir com mais de 10% das emissões totais devidas ao desmatamento.

O futuro do desmatamento é preocupante. Se não forem tomadas medidas de mitigação, o

cenário para os próximos 14 anos (2016-2030) indica a continuação do desmatamento

principalmente em locais próximas das áreas actualmente desmatadas e do perímetro das

principais estradas, nos postos administrativos com densidade populacional moderada a alta.

A redução do desmatamento e da degradação florestal é um processo longo e deve combinar

acções de curto, médio e longo prazo. A operacionalização das opções estratégicas

estabelecidas na Estratégia Nacional do REDD+ de Moçambique, ajustadas as

particularidades dos distritos abrangidos pelo PROGIP-CD pode contribuir deforma

significativa na redução do desmatamento e da degradação das florestas.

48

10.2. Recomendações

Os dados usados para o estabelecer a linha de base para as emissões na área do PROGIP-CD

foram obtidos de estudos feitos noutras regiões do país. Assim, as emissões anuais de

referência aqui calculadas devem ser consideradas como provisórias e recomenda-se a sua

actualização logo que estiverem disponíveis dados específicos da área do programa.

A informação sobre a quantidade de biomassa remanescente nas áreas de produção de carvão

na área do programa são escassos e para o presente trabalho foram foi estimada de forma

indirecta conforme foi explicado na secção 7. Por outro lado, dada a falta de informação

sobre a razão de conversão de áreas degradadas pela produção de combustíveis lenhosos em

machambas em cada distrito, optou-se por usar valores críticos conservadores , conforme foi

detalhado também na secção7. Recomenda-se a realização de um estudo com vista a

determinação destes valores com base em amostras representativas em trabalho de campo.

49

11. BIBLIOGRAFIA

CEAGRE & Winrock (2015). Identificação e análise dos agentes e causas directas e

indirectas de desmatamento e degradação florestal em Moçambique. Maputo 33p.

Decreto no 12/2002 – Regulamento da lei de florestas e Fauna Bravia. Conselho de Ministros.

BR no 22, I Série de 6 de Junho de 2002.

DNFFB (2000). Relatório de Estatístico Anual. Ministério de Agricultura. Direcção Nacional

de Florestas e Fauna Bravia, Maputo. 58p.

DNFFB (2005). Relatório de Estatístico Anual. Ministério de Agricultura. Direcção Nacional

de Florestas e Fauna Bravia, Maputo. 50p.

DNTF (2010). Relatório de balanço anual do PES - 2010. Ministério de Agricultura. Direcção

Nacional de Terras e Florestas. Maputo 29p.

FAO (2015). Shifting Cultivation, Livelihood and Food Security - New and Old Challenges

for Indigenous Peoples in Asia. Bangkok. 415p.

FCPF (2013). FCPF Carbon Fund Methodological Framework Discussion Paper #13. Draft.

Operational and Financial Planning for FCPF Emission Reduction Programs. 45p.

GD - Metuge (sd). Plano Estratégico de Desenvolvimento do Distrito – Metuge (2014-2018).

Governo do Distrito de Metuge. Metuge. 160p.

Lei no 10/99. Lei de florestas e fauna bravia. BR n

o 27, I Série – 4º Suplemento, de 12 de

Julho de 1999.

IPCC (2003). Good Practice Guidance for Land Use, Land-Use Change and Forestry. IPCC

National Greenhouse Gas Inventories Programme. Japão

Mercier C., Grinand C., Randrianary T., Nourtier M et, Rabany C. (2016). Background study

for the preparation of the Zambézia Integrated Landscapes Management Program. Report for

Government of Mozambique and FCPF. Etc Terra.196p.

MITADER (2016). Proposta da Estratégia Nacional para a Redução de Emissões de

Desmatamento e Degradação Florestal (REDD+) 2016-2030 - Draft. Ministério da Terra

Ambiente de Desenvolvimento Rural. Maputo.

ONU (1992). Report of the United Nations Conference on Environment and Development.

United Nations General Assembly. A/Conf. 151/26 (Vol. III).

50

UEM-FAO/FLEGT (2013). Assessment of harvested volume and illegal logging in

Mozambican natural forest. Report prepared for the FAO Forest Law Enforcement,

Governance and Trade Support Programme for African, Caribbean and Pacific Countries

(GCP/INT/064/EC). Maputo. 51p.

51

ANEXOS

52

ANEXO 1

53

Tabela 1. Estimativa da evolução das áreas degradadas pela produção de carvão e extracção de lenha para as cidades de Pemba e Montepuéz

Ano

Pemba Montepuéz Total

População Consumo Área População Consumo Área

Consumo Área

Carvão Lenha-eq Lenha Total

Carvão Lenha-eq Lenha Total

2001 110633 13717 72194 1823 74017 2889 60725 8245 43395 1260 44655 1743 118672 4632

2002 114884 14244 74968 1893 76861 3000 63058 8562 45062 1309 46371 1810 123231 4810

2003 119298 14791 77848 1965 79814 3115 65481 8891 46794 1359 48152 1879 127966 4995

2004 123881 15359 80839 2041 82880 3235 67996 9232 48592 1411 50003 1952 132883 5187

2005 128641 15950 83945 2119 86065 3359 70609 9587 50458 1465 51924 2027 137988 5386

2006 133584 16562 87171 2201 89371 3488 73322 9955 52397 1522 53919 2105 143290 5593

2007 138716 17199 90520 2285 92805 3622 76139 10338 54410 1580 55990 2185 148796 5808

2008 143848 17835 93869 2370 96239 3756 78956 10720 56424 1639 58062 2266 154301 6023

2009 149171 18495 97342 2457 99800 3895 81878 11117 58511 1699 60210 2350 160010 6246

2010 154690 19179 100944 2548 103492 4040 84907 11528 60676 1762 62438 2437 165930 6477

2011 160414 19889 104679 2643 107322 4189 88049 11955 62921 1827 64748 2527 172070 6716

2012 166349 20625 108552 2740 111292 4344 91306 12397 65249 1895 67144 2621 178436 6965

2013 172504 21388 112568 2842 115410 4505 94685 12856 67663 1965 69628 2718 185039 7222

2014 178887 22179 116733 2947 119680 4671 98188 13332 70167 2038 72205 2818 191885 7490

2015 185505 23000 121053 3056 124109 4844 101821 13825 72763 2113 74876 2923 198985 7767

Média 18028 94882 2395 97277 3797 79808 10836 57032 1656 58688 2291 155965 6088

Total 270413 1423227 35930 1459156 1197118 162542 855483 24843 880326 34361 2339482 91315

54

Tabela 1. Estimativa da evolução das áreas degradadas pela produção de carvão para as sedes dos distritos abrangidos pelo PROGIP-CD

Ano

Metuge Ancuabe Meluco Macomia Quissanga Ibo Total

Consumo

(ton LEQ) Área

Consumo

(ton

LEQ)

Área Consumo

(ton LEQ) Área

Consumo

(ton LEQ) Área

Consumo

(ton LEQ) Área

Consumo

(ton

LEQ)

Área

Consumo

(ton

LEQ)

Área

2001 8732 341 8331 325 5445 213 11397 445 3000 117 3262 127

2002 8838 345 8432 329 5511 215 11835 462 3036 119 3302 129

2003 8945 349 8535 333 5578 218 12290 480 3073 120 3342 130

2004 9054 353 8638 337 5646 220 12762 498 3110 121 3383 132

2005 9164 358 8743 341 5714 223 13252 517 3148 123 3424 134

2006 9275 362 8850 345 5784 226 13761 537 3186 124 3465 135

2007 9388 366 8957 350 5854 228 14290 558 3225 126 3507 137

2008 9501 371 9065 354 5924 231 14819 578 3264 127 3549 139

2009 9615 375 9173 358 5995 234 15367 600 3303 129 3592 140

2010 9730 380 9283 362 6067 237 15936 622 3343 130 3635 142

2011 9847 384 9395 367 6140 240 16525 645 3383 132 3679 144

2012 9965 389 9508 371 6214 243 17137 669 3423 134 3723 145

2013 10084 394 9622 376 6289 245 17771 694 3464 135 3768 147

Média 9395 367 8964 350 5859 229 14396 562 3228 126 3510 137 45351 1770

Total 122138 4767 116532 4548 76163 2973 187144 7305 41958 1638 45631 1781 589566 23012

55

QUADRO 1. OPÇÕES ESTRETÉGICAS SELECCIONADAS PARA A

IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA DE GESTÃO INTEGRADA DE PAISAGENS

DE CABO DELGADO (PROGIP-CD)

Objectivo 1 - Agricultura: Promover práticas alternativas à agricultura itinerante, que asseguram

aumento da produtividade de culturas de subsistência e de rendimento

Opções estratégicas Acções de curto prazo Acções de médio

prazo

1. Melhorar o sistema de pós-

colheita (armazenamento,

conservação e processamento) e

comercialização agrária;

- Capacitação aos agricultores locais

- Projecto piloto de demonstração de

sistemas pós-colheita

2. Promover o acesso aos meios e

factores de produção agrícolas

(semente melhorada, fertilizantes,

pesticidas, equipamentos de rega, e

mecanização);

- Projecto piloto de promoção de

sementes melhoradas

- Apoiar o governo no

desenvolvimento de um plano de

infra-estruturas agrárias (represas e

regadios), incluindo a mobilização de

fundos

Projecto piloto de

uso de meios e

factores agrícolas

sobre as infra-

estruturas

estabelecidas

3. Promover agricultura de

conservação e sistemas agroflorestais

como medidas de conservação do

solo e água

Implementação faseada da

agricultura de conservação com

apoio do PROGIP-CD

4. Aumentar o acesso a tecnologias

para assegurar a produtividade do

solo e sedentarizar os produtores do

sector familiar (inclui acesso ao

serviço de extensão e cuidados

fitossanitários, técnicas de

conservação do solo, e segurança a

posse de terra)

Apoio aos governos locais na

capacitação de extensionistas para os

objectivos do PROGIP-CD

5. Desenhar e promover programas

de transferência de tecnologias de

fácil adopção e acesso aos mercados

e finanças

-Desenvolvimento de um estudo com

recomendações concretas ligadas ao

ponto 4

- Projecto piloto de implementação

das recomendações com apoio do

PROGIP-CD

6. Estabelecer bancos forrageiros

familiares ou comunitários e

capacitar os produtores em matérias

de suplementação animal

Capacitação dos agricultores em

pecuária

Projecto piloto de

tracção animal com

apoio do PROGIP-

CD

Só participam no programa as famílias comprometidas com práticas que não causam o

desmatamento/degradação florestal

56

Objectivo 2 - Energia: Aumentar o acesso a fontes alternativas à biomassa nas zonas urbanas e

aumentar a eficiência da produção e utilização de energias de biomassa

Opções estratégicas Acções de curto prazo Acções de médio

prazo

1. Viabilizar as plantações energéticas

através de incentivos económicos e

fiscais

- Elaboração de um plano de

plantações energéticas para a

província, integrado num plano

nacional

- Apoiar o governo na mobilização

de investidores

2. Estabelecer sistemas de produção e

utilização eficiente de energia de

biomassa (fornos melhorados para o

fabrico de carvão, fogões melhorados

para cozinhas domésticas e colectivas)

- Projecto piloto de introdução de

fogões melhorados na cidade de

Pemba e Montepuéz

-Capacitação de organizações

parceiras para a promoção de

fogões melhorados

Projecto piloto de

introdução de

fornos melhorados

para biomassa de

plantações

energéticas

3. Reforçar o sistema de fiscalização

de produção, transporte e

comercialização de carvão vegetal

- Apoiar o governo de Cabo

Delgado no desenho de uma

estratégia de fiscalização, integrada

num plano nacional

Objectivo 3 - Áreas de Conservação: Fortalecer o sistema de áreas de conservação e encontrar formas

seguras de geração de renda

Opções estratégicas Acções de curto prazo Acções de médio

prazo

Redimensionar, reclassificar e

restaurar as actuais áreas de

conservação e avaliar o potencial de

incluir novas áreas de conservação

Desenvolvimento de uma proposta

de reclassificação do PNQ em

coordenação com a WWF

Objectivo 4 - Maneio Florestal Sustentado: Promover o sistema de concessões florestais, maneio

comunitário, e fortalecer a governação florestal

Opções estratégicas Acções de curto prazo

1. Reforçar a fiscalização florestal incluindo a

monitorização da implementação dos planos

de maneio florestal, a exploração e o

transporte de madeira, o registo e estatísticas

de produtos madeireiros

Projecto de apoio aos SPF no estabelecimento de

uma base de dados electrónica sobre exploração e

transporte de madeira, integrada num sistema

nacional

2. Treinar e capacitar operadores e

trabalhadores florestais em matérias de

Capacitação dos operadores florestais sobre

exploração sustentável, processamento e mercado

57

operações florestais e processamento de

produtos florestais (madeireiros e não-

madeireiros)

de produtos florestais

3. Estabelecer e dar suporte técnico e

institucional a iniciativas de maneio

comunitário florestal que geram benefício

efectivo

- Estudo sobre opções de implementação do

maneio comunitário em linha com os objectivos

do REDD+

- Projecto piloto de implementação das

recomendações

4. Promover acções que visam a redução de

queimadas descontroladas e conservação

ambiental

- Estudo sobre opções de redução das queimadas

descontroladas em linha com os objectivos do

REDD+

- Projecto piloto de implementação das

recomendações

5. Desenvolver actividades silviculturais para

a restauração e regeneração das florestas

nativas dentro das concessões florestais

- Estudo sobre a situação de degradação florestal

nas concessões florestais em linha com os

objectivos do REDD+

- Projecto piloto de implementação das

recomendações

Objectivo 5 – Restauração de florestas degradadas e plantio de árvores: Estabelecer um ambiente

favorável para negócios florestais, a restauração de florestas naturais e plantio de árvores para

diversos fins

Opções estratégicas Acções de curto prazo

1. Criar as bases de conhecimento,

investimentos e funcionamento de pequenas e

médias empresas no estabelecimento,

restauração e gestão de florestas, incluindo

adição de valor e sistema de mercados de

produtos e serviços florestais

Capacitação das concessões florestais

2. Prover material adequado para plantio de

árvores com a combinação

espécie:sítio:mercado

Compilação/elaboração de um manual sobre

plantio de espécies nativas

- Capacitação das concessões florestais e CGRN

sobre o plantio de espécies nativas

58

QUADRO 2. OPÇÕES ESTRETÉGICAS. PROGRAMA DE GESTÃO INTEGRADA DE PAISAGENS DE CABO DELGADO (PROGIP-CD)

Objectivo 1 - Agricultura: Promover práticas alternativas à agricultura itinerante, que asseguram aumento da produtividade de culturas de subsistência e de

rendimento

Acções estratégicas Intervenção

do PROGIP-

CD

Acções de curto prazo Acções de

médio

prazo

Acções

de longo

prazo

Locais de

intervenção

Beneficiários* Custo

estimado

(USD)

1. Implementar o Zoneamento

Agro-Ecológico (ZAEN) e as

políticas agrárias, como base para

o uso sustentado e integrado dos

recursos naturais;

-

2. Definir as áreas alienáveis para

agricultura comercial com o

mínimo de impacto sobre o

desmatamento:

-

3. Melhorar o sistema de pós-

colheita (armazenamento,

conservação e processamento) e

comercialização agrária;

Sim

Prioridade 1

- Capacitação aos agricultores

locais

- Projecto piloto de

demonstração de sistemas pós-

colheita

Todos os

distritos,

priorizar as

áreas mais

afectados pelo

desmatamento

Priorizar famílias

influentes na

comunidade e

jovens

20000

50000

4. Promover o acesso aos meios e

factores de produção agrícolas

(semente melhorada,

fertilizantes, pesticidas,

equipamentos de rega, e

mecanização);

Sim

Prioridade 1

- Projecto piloto de promoção

de sementes melhoradas

- Apoiar o governo no

desenvolvimento de um plano

de infra-estruturas agrárias

(represas e regadios),

incluindo a mobilização de

Projecto

piloto de

uso de

meios e

factores

agrícolas

Todos os

distritos,

priorizar as

áreas mais

afectados pelo

desmatamento

Todos

agricultores em

função da

viabilidade dos

locais de

estabelecimento

das infra-

100000

50000

59

fundos estruturas

5. Promover agricultura de

conservação e sistemas

agroflorestais como medidas de

conservação do solo e água

Sim

Prioridade 1

Implementação faseada da

agricultura de conservação

com apoio do PROGIP-CD

Todos os

distritos,

priorizar os

mais afectados

pelo

desmatamento

Priorizar famílias

influentes na

comunidade e

jovens

100000

6. Aumentar o acesso a

tecnologias para assegurar a

produtividade do solo e

sedentarizar os produtores do

sector familiar (inclui acesso ao

serviço de extensão e cuidados

fitossanitários, técnicas de

conservação do solo, e segurança

a posse de terra)

Sim

Prioridade 1

Apoio aos governos locais na

capacitação de extensionistas

para os objectivos do

PROGIP-CD

Todos os

distritos

Todos

agricultores

através de

serviços de

extensão mais

activos

20000

7. Desenhar e promover

programas de transferência de

tecnologias de fácil adopção e

acesso aos mercados e finanças

Sim

Prioridade 1

-Desenvolvimento de um

estudo com recomendações

concretas ligadas ao ponto 4

- Projecto piloto de

implementação das

recomendações com apoio do

PROGIP-CD

Todos os

distritos,

priorizar os

mais afectados

pelo

desmatamento

Priorizar famílias

influentes na

comunidade e

jovens

20000

8. Estabelecer bancos forrageiros

familiares ou comunitários e

capacitar os produtores em

matérias de suplementação

animal

Sim

Prioridade 1

Capacitação dos agricultores

em pecuária

Projecto

piloto de

tracção

animal

com

apoio do

Todos os

distritos,

priorizar os

mais afectados

pelo

desmatamento

Priorizar famílias

influentes e

jovens

20000

60

PROGIP-

CD

9. Criar uma unidade de apoio e

troca de experiência técnica com

o MASA e as instituições

integradas

-

10. Estabelecer uma plataforma

de parcerias e sistemas de

fomento agrário que garanta a

segurança alimentar

-

* Os beneficiários devem ser comunidades ou famílias comprometidas com o abandono de práticas que causam o desmatamento

Objectivo 2 - Energia: Aumentar o acesso a fontes alternativas à biomassa nas zonas urbanas e aumentar a eficiência da produção e utilização de energias de

biomassa

Acções estratégicas Intervenção

do PROGIP-

CD

Acções de curto

prazo

Acções de

médio prazo

Acções de

longo prazo

Locais de

intervenção

Beneficiários Custo

estimado

(USD)

1. Prover a população de baixa

renda com alternativas para acesso

a energia limpa e produzida de

fontes sustentáveis, com enfoque

para as zonas urbanas e

suburbanas

-

2. Viabilizar as plantações

energéticas através de incentivos

económicos e fiscais

Sim

Prioridade 1

- Elaboração de

um plano de

plantações

energéticas para a

província,

integrado num

Todos os

distritos, com

prioridade para

Metuge,

Ancuabe e

Montepuéz

Comunidades

locais da área

do PROGIP-

CD e habitantes

dos centros

urbanos

50000

61

plano nacional

- Apoiar o governo

na mobilização de

investidores

3. Estabelecer sistemas de

produção e utilização eficiente de

energia de biomassa (fornos

melhorados para o fabrico de

carvão, fogões melhorados para

cozinhas domésticas e colectivas)

Sim

Prioridade 1

- Projecto piloto de

introdução de

fogões melhorados

na cidade de

Pemba e

Montepuéz

-Capacitação de

organizações

parceiras para a

promoção de

fogões melhorados

Projecto piloto

de introdução

de fornos

melhorados

para biomassa

de plantações

energéticas

- Pemba e

Montepuéz

- Áreas de

concessões de

plantações

energéticas

- Habitantes de

Pemba e

Montepuéz

- Concessões de

plantações

energéticas

150000

4. Aumentar o acesso a energias

limpas e alternativas à biomassa,

incluindo energias novas e

renováveis (solar, eólica, térmica)

-

5. Capacitar utilizadores e

promover o uso de energias

alternativas à biomassa nos meios

urbanos

-

6. Reforçar o sistema de

fiscalização de produção,

transporte e comercialização de

carvão vegetal

Sim

Prioridade 2

- Apoiar o governo

de Cabo Delgado

no desenho de uma

estratégia de

fiscalização,

integrada num

plano nacional

Todos os

distritos, com

prioridade para

Metuge,

Ancuabe e

Montepuéz

Todos os

habitantes

através dos

ganhos

ambientais do

REDD+

20000

62

Objectivo 3 - Áreas de Conservação: Fortalecer o sistema de áreas de conservação e encontrar formas seguras de geração de renda

Acções estratégicas Intervenção do

PROGIP-CD

Acções de curto prazo Acções de

médio

prazo

Acções

de longo

prazo

Locais de

intervenção

Beneficiários Custo

estimado

(USD)

1. Fortalecer o sistema de gestão de

áreas de conservação incluindo um

sistema eficiente de financiamento

-

2. Melhorar a infraestrutura e o

sistema de informação das AC com

vista a atrair tanto o turismo, a

ciência, assim como outras formas

de compensação pela

biodiversidade e outros serviços

ecossistémicos

-

3. Desenvolver mecanismos de

geração de renda nas áreas de

conservação e partilha de

benefícios com as comunidades

locais

-

4. Promover e introduzir, nas

comunidades locais, actividades

compatíveis com a conservação, e

estabelecer um sistema de

educação e treinamento orientado

para a conservação

-

5. Redimensionar, reclassificar e

restaurar as actuais áreas de

conservação e avaliar o potencial

de incluir novas áreas de

Sim

Prioridade 2

Desenvolvimento de uma

proposta de reclassificação do

PNQ em coordenação com a

WWF

Distritos do

PNQ

PNQ 20000

63

conservação

6. Criar zonas de desenvolvimento

turístico preferencial como

incentivos para atrair investimentos

nas áreas de conservação

-

Objectivo 4 - Maneio Florestal Sustentado: Promover o sistema de concessões florestais, maneio comunitário, e fortalecer a governação florestal

Acções estratégicas Intervenção

do PROGIP-

CD

Acções de curto

prazo

Acções de

médio prazo

Acções de

longo prazo

Locais de

intervenção

Beneficiários Custo

estimado

(USD)

1. Reforçar a fiscalização florestal

incluindo a monitorização da

implementação dos planos de

maneio florestal, a exploração e o

transporte de madeira, o registo e

estatísticas de produtos

madeireiros

Sim

Prioridade 2

Projecto de apoio

aos SPF no

estabelecimento de

uma base de dados

electrónica sobre

exploração e

transporte de

madeira, integrada

num sistema

nacional

Área do

PROGIP-CD

SPF-Cabo

Delgado

20000

2. Garantir o melhoramento e

aproveitamento integral e adição

de valor de produtos florestais

madeireiros e não-madeireiros e a

ligação entre os operadores

florestais e o mercado e as

finanças

-

Está

integrado no

ponto 3

3. Treinar e capacitar operadores e

trabalhadores florestais em

Sim

Prioridade 1

Capacitação dos

operadores

Área do

PROGIP-CD

Operadores da

área do

20000

64

matérias de operações florestais e

processamento de produtos

florestais (madeireiros e não-

madeireiros)

florestais sobre

exploração

sustentável,

processamento e

mercado de

produtos florestais

PROGIP-CD

4. Melhorar a relação entre

concessionários e comunidades e

garantir a formalização de

parcerias público-privado-

comunitário na co-gestão de

recursos florestais

-

5. Estabelecer e dar suporte

técnico e institucional a iniciativas

de maneio comunitário florestal

que geram benefício efectivo

Sim

Prioridade 1

- Estudo sobre

opções de

implementação do

maneio comunitário

em linha com os

objectivos do

REDD+

- Projecto piloto de

implementação das

recomendações

Áreas junto ao

PNQ

Comunidades

locais

50000

6. Promover acções que visam a

redução de queimadas

descontroladas e conservação

ambiental

Sim

Prioridade 1

- Estudo sobre

opções de redução

das queimadas

descontroladas em

linha com os

objectivos do

REDD+

- Projecto piloto de

Áreas junto ao

PNQ

Comunidades

locais

50000

65

implementação das

recomendações

7. Desenvolver actividades

silviculturais para a restauração e

regeneração das florestas nativas

dentro das concessões florestais

Sim

Prioridade 1

- Estudo sobre a

situação de

degradação

florestal nas

concessões

florestais linha com

os objectivos do

REDD+

- Projecto piloto de

implementação das

recomendações

Concessões

florestais junto

ao PNQ

Concessões

florestais

50000

66

Objectivo 5 – Restauração de florestas degradadas e plantio de árvores: Estabelecer um ambiente favorável para negócios florestais, a restauração de florestas

naturais e plantio de árvores para diversos fins

Acções estratégicas Intervenção

do PROGIP-

CD

Acções de curto prazo Acções de

médio

prazo

Acções de

longo

prazo

Locais de

intervenção

Beneficiários Custo

estimado

(USD)

1. Esclarecer e simplificar as

questões relativas ao acesso e

segurança de terra para plantações

florestais, tanto para grandes

empresas assim como para o

sector público, comunitário e

familiar

-

2. Criar as bases de conhecimento,

investimentos e funcionamento de

pequenas e médias empresas no

estabelecimento, restauração e

gestão de florestas, incluindo

adição de valor e sistema de

mercados de produtos e serviços

florestais

Sim,

combinar

com o ponto

3 do objectivo

4

Capacitação das concessões

florestais

Área do

PROGIP-

CD

Concessões

florestais do

PROGIP-CD

20000

3. Prover material adequado para

plantio de árvores com a

combinação espécie:sítio:mercado

Sim

Prioridade 1

Compilação/elaboração de um

manual sobre plantio de

espécies nativas

- Capacitação das concessões

florestais e CGRN sobre o

plantio de espécies nativas

Área do

PROGIP-

CD

Concessões e

comunidades

da área do

PROGIP-CD

30000

4. Promover mecanismos de

restauração e reabilitação de

florestas degradadas ou

-

Ver o ponto 7

do objectivo 4

67

desmatadas por meio de

regeneração natural ou assistida

5. Promover o plantio de árvores

para diversos fins, incluindo

culturas agrícolas arbóreas,

ornamentação e protecção do

ambiente

-

6. Massificar o plantio de árvores

para as famílias rurais, e como

parte da urbanização (parques e

arruamentos)

-

68

Objectivo 6 - Acções Transversais: Estabelecer uma plataforma institucional e legal para a coordenação interinstitucional que assegura a redução do

desmatamento

Acções estratégicas Intervenção do

PROGIP-CD

Acções de

curto prazo

Acções de

médio prazo

Acções de

longo prazo

Locais de

intervenção

Beneficiários Custo

estimado

(USD)

1. Coordenação e harmonização de

políticas entre sectores

-

2. Planificação do uso de terra -

3. Adequar a Legislação e

instituições e reforçar a aplicação das

leis nos sectores-chave para reduzir o

desmatamento

-

4. Reforço da fiscalização e

implementação do quadro legal e

institucional nos sectores-chave

-

5. Estabelecimento de sistema de

taxas e incentivos fiscais e não-

fiscais para promover as “boas

práticas”

-

6. Clarificação e simplificação de

procedimentos administrativos com

vista a facilitar os operadores

florestais legais a operarem dentro

das normas

-

7. Capacitação das instituições e

recursos humanos sobre as leis,

regulamento, normas e

procedimentos e as lições aprendidas

de projectos anteriores

-

8. Capacitação sobre o uso de -

69

tecnologias alternativas às causas de

desmatamento e degradação florestal

9. Campanhas de educação e

treinamento sobre conservação de

florestas e plantio de árvores de uso

múltiplo e energias alternativas

-

Custo total das actividades: 860 000,00 USD

70

ANEXO 2

71

ANEXOS 3