pedro henrique medeiros de azevedo seguranÇa … · este trabalho tem por objetivo analisar esses...

18
PEDRO HENRIQUE MEDEIROS DE AZEVEDO SEGURANÇA NOS TRABALHOS EM ALTURA EM CONFORMIDADE COM A NR-35 NA CONSTRUÇÃO E MANUTENÇÃO DAS TORRES EÓLICAS NA REGIÃO DE JOÃO CÂMARA/RN. NATAL-RN 2017 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

Upload: vuxuyen

Post on 07-Nov-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: PEDRO HENRIQUE MEDEIROS DE AZEVEDO SEGURANÇA … · Este trabalho tem por objetivo analisar esses fatores por meio de checklist embasado na ... de um trabalhador. Um trabalho em

PEDRO HENRIQUE MEDEIROS DE AZEVEDO

SEGURANÇA NOS TRABALHOS EM ALTURA EM

CONFORMIDADE COM A NR-35 – NA CONSTRUÇÃO E

MANUTENÇÃO DAS TORRES EÓLICAS NA REGIÃO DE

JOÃO CÂMARA/RN.

NATAL-RN

2017

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

Page 2: PEDRO HENRIQUE MEDEIROS DE AZEVEDO SEGURANÇA … · Este trabalho tem por objetivo analisar esses fatores por meio de checklist embasado na ... de um trabalhador. Um trabalho em

Pedro Henrique Medeiros de Azevedo

Segurança nos trabalhos em altura em conformidade com a NR-35 – Na construção e

manutenção das torres eólicas na região de João Câmara/RN.

Trabalho de Conclusão de Curso na

modalidade Artigo Científico, submetido ao

Departamento de Engenharia Civil da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

como parte dos requisitos necessários para

obtenção do Título de Bacharel em Engenharia

Civil.

Orientador: Prof. Dr. Marcos Lacerda Almeida

Natal-RN

2017

Page 3: PEDRO HENRIQUE MEDEIROS DE AZEVEDO SEGURANÇA … · Este trabalho tem por objetivo analisar esses fatores por meio de checklist embasado na ... de um trabalhador. Um trabalho em

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede

Azevedo, Pedro Henrique Medeiros de.

Segurança nos trabalhos em altura em conformidade com a NR-

35 - na construção e manutenção das torres eólicas na região de

João Câmara/RN / Pedro Henrique Medeiros de Azevedo. - 2017. 17 f.: il.

Artigo Científico (graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Tecnologia, Curso de Engenharia

Civil. Natal, RN, 2017.

Orientador: Prof. Dr. Marcos Lacerda Almeida.

1. Parques eólicos - TCC. 2. Segurança do trabalho em altura

- NR-35 - TCC. 3. João Câmara/RN - TCC. I. Almeida, Marcos

Lacerda. II. Título.

RN/UF/BCZM CDU 621.548

Page 4: PEDRO HENRIQUE MEDEIROS DE AZEVEDO SEGURANÇA … · Este trabalho tem por objetivo analisar esses fatores por meio de checklist embasado na ... de um trabalhador. Um trabalho em

Pedro Henrique Medeiros de Azevedo

Segurança nos trabalhos em altura em conformidade com a NR-35 – Na construção e

manutenção das torres eólicas na região de João Câmara/RN.

Trabalho de conclusão de curso na modalidade

Artigo Científico, submetido ao Departamento

de Engenharia Civil da Universidade Federal

do Rio Grande do Norte como parte dos

requisitos necessários para obtenção do título

de Bacharel em Engenharia Civil.

Aprovado em 24 de 11 de 2017:

___________________________________________________

Prof. Dr. Marcos Lacerda Almeida – Orientador

___________________________________________________

Prof. Dr. Leonardo Flamarion Marques Chaves - Examinador interno

___________________________________________________

Profa. Dra. Sônia Maria Machado Prado - Examinador externo

Natal-RN

2017

Page 5: PEDRO HENRIQUE MEDEIROS DE AZEVEDO SEGURANÇA … · Este trabalho tem por objetivo analisar esses fatores por meio de checklist embasado na ... de um trabalhador. Um trabalho em

RESUMO

Com o crescimento aquecido das usinas eólicas nos últimos anos, principalmente na

região nordeste do Brasil, surge uma série de fatores que colocam em risco a segurança dos

trabalhadores em seus serviços em grandes alturas, que mesmo possuindo experiência em

campo, acabam se deparando com situações atípicas como ventos, atividades em altura por

muito tempo, o isolamento, confinamento e entre outros, gerando possíveis acidentes. O

trabalho em altura causa em média 600 mortes por ano no Brasil, quando não tão grave,

causam sequelas irreversíveis. Esses acidentes podem estar relacionados a uma capacitação

ineficiente ou até inexistente. Este trabalho tem por objetivo analisar esses fatores por meio de

checklist embasado na NR-35, que é uma norma que estabelece os requisitos mínimos de

proteção para o trabalho em altura, envolvendo o planejamento, a organização e a execução,

de forma a garantir a segurança e a saúde dos trabalhadores envolvidos direta ou

indiretamente com esta atividade, em um parque eólico situado na região de João Câmara/RN,

cidade que detém o maior número de aerogeradores instalados no Brasil. Inicia-se o artigo

mostrando todo potencial brasileiro no campo eólico e todo seu crescimento de um tempo

atrás para os dias atuais. Logo em seguida aborda-se toda a problemática, mostrando dados de

acidentes em todo mundo e também informações retiradas In Situ. Por se tratar, ainda, de um

campo relativamente novo na construção civil, é evidente que se possuem diversas incertezas

quanto à origem dos problemas. Para isso a análise dos resultados com especialistas na área é

exposto ao fim desse artigo, com possíveis soluções para amenizar o problema.

Palavras-chave: Parques Eólicos. Segurança do trabalho em altura. NR-35. João Câmara/RN.

ABSTRACT

Due to the heated growth of wind power plants in the recent years, mainly in the

Brazilian northeast, there are several factors that endanger workers’ safety in their services at

great heights. Even for the experienced workers, atypical situations such as heavy winds,

height activities for a long time, isolation and confinement, might cause possible accidents.

Working at heights causes an average of 600 deaths per year in Brazil, and if it is not too

severe, it might cause irreversible sequels. These accidents may be related to inefficient or

non-existent professional training. This paper aims to analyze these factors through a checklist

based on the NR-35, which is a standard that establishes protection requirements for working

at heights. It involves planning, organization and execution procedures, in order to guarantee

safety and health for the workers directly or indirectly related to this activities. The research

was developed in a wind farm located in the region of João Câmara/RN, a city that holds the

biggest number of wind turbines installed in Brazil. The wind energy potential in Brazil is

shown in the article, and all the growth that has occurred in the recent years. Afterwards, the

whole issue is presented, showing accident data across the world and also information

collected in situ. Because it is still a relatively new field in civil construction, it is clear that

there are several uncertainties about the origin of the problems. This paper brings a discussion

among experts in the field, with possible solutions for the issue.

Keywords. Wind Farms. Work safety at heights. NR-35. João Câmara/RN.

Page 6: PEDRO HENRIQUE MEDEIROS DE AZEVEDO SEGURANÇA … · Este trabalho tem por objetivo analisar esses fatores por meio de checklist embasado na ... de um trabalhador. Um trabalho em

5

Pedro Henrique Medeiros de Azevedo, graduando em Engenharia Civil, UFRN

Prof. Dr. Marcos Lacerda Almeida, Departamento de Engenharia Civil da UFRN

1- INTRODUÇÃO

A energia eólica vem crescendo de forma muito rápida em âmbito mundial e

principalmente no setor energético brasileiro. Hoje, o Brasil está na 5ª posição no ranking

mundial e o maior da América Latina de capacidade instalada no setor eólico. Em 2015, o

Brasil assinou um compromisso internacional na COP 21, de aumentar em 33% o uso de

fontes renováveis até o ano de 2030. (Global Wind Energy Council GWEC, 2016).

O nordeste do Brasil está na liderança na produção, sendo o Rio Grande do Norte o

maior produtor em todo o Brasil no ano de 2016. As usinas potiguares produziram 1.206 MW

médios no período, número que representa um aumento de 50% em relação a 2015. Isso se

explica pela grande quantidade de vento que é ofertado na região. (CCE - Câmara de

Comercialização de Energia Elétrica, 2017).

O cenário brasileiro é bastante propício ao setor eólico e algumas características

conspiram para isso, como as propriedades dos ventos que possuem direção

predominantemente uniforme durante o ano e constantes em todas as estações do ano, com

isso tornando bem mais rentável e produtiva do que em relação a uma usina européia por

exemplo, onde seus ventos não possuem propriedades tão boas e também a redução dos

custos devido às políticas de leilões de energia, tornando, hoje, uma das energias mais baratas

do país. (PORTAL BRASIL, 2017)

Esse crescimento acaba potencializando uma série de fatores em detrimento do setor

de segurança do trabalho, principalmente no trabalho em altura realizado nos parques, seja

durante a construção de uma torre, durante sua manutenção ou até mesmo no eventual resgate

de um trabalhador.

Um trabalho em altura abrange atividades realizadas a partir de 2,00m de altura. No

caso do setor eólico, os profissionais são submetidos à altura de até 130 metros. O nível de

conhecimento do trabalhador em relação à complexidade do problema está longe de ser o

ideal. A não realização das análise de risco ou até uma precária análise que não prevê as

diversas medidas de segurança coletiva e individual, ou, ainda, o uso inadequado de EPC

(equipamento de proteção coletiva), como sinalização de segurança, proteção de partes

móveis de máquinas e equipamentos, corrimãos e de EPI (equipamento de proteção

individual), como capacete, óculos, luvas, cintos, talabartes, assim como a falta de norma e

regulamentação específica na área faz, com que o risco de acidente aumente

consideravelmente.

________________

Page 7: PEDRO HENRIQUE MEDEIROS DE AZEVEDO SEGURANÇA … · Este trabalho tem por objetivo analisar esses fatores por meio de checklist embasado na ... de um trabalhador. Um trabalho em

6

Este artigo visa estudar e demonstrar a complexidade, os perigos inerentes atribuídos a

um profissional da área, e por meio de um checklist, embasado na NR-35, verificar junto a.

um parque eólico situado na região de João Câmara/RN, a qual possui o maior número de

aerogeradores do Brasil, todas as ações realizadas em campo na prevenção contra essa

problemática e ao final, mostrar toda a origem do problema e elaborar, por meio de análises,

soluções que aumentem a prevenção.

2- REVISÃO DE LITERATURA OU ESTADO DA ARTE

2.1 – RISCOS ENVOLVIDOS NO TRABALHO EM UM PARQUE EÓLICO

Os trabalhadores de um parque eólico estão expostos à diversos riscos no seu ambiente

de trabalho, sendo o principal a queda de pessoas e cargas em alturas elevadas, que acabam se

intensificando pelo exercício dessas funções em ambientes enclausurados, cujo lugares não

são projetados para permanência continua de humanos, possui meios limitados de entrada e

saída, no qual a ventilação é insuficiente para remover contaminantes, assim, também,

prejudicando o abastecimento de oxigênio para o operário.

A fase de construção pode ser considerada a fase mais complicada e perigosa no ciclo

de vida de um aerogerador, principalmente na execução de elementos como a fundação, peças

de transição e a montagem da turbina. Os principais riscos em que estão submetidos os

trabalhadores nessas fase, são a movimentação manual das cargas e também pelos guindastes

principalmente na suspenção das peças, em até 130 metros de altura, encaixe da nacele,

compartimento que abriga os componentes essenciais para a geração de energia, e das pás dos

rotores, com cerca de 65 metros de comprimento, riscos ergonômicos como resultado de

trabalhos repetitivos e pesados, junto com a fadiga em subir escadas e/ou trabalhar em

espaços confinados, efeitos de clima, como ventos, raios, chuvas, ondas, por motivos

organizacional, como a pressão do fator tempo exercida pelos engenheiros, falta de

equipamentos de segurança suficientes para todos e até exposição ao ruído e vibrações

excessivas. (TEXEIRA, Ana; COSTA, Silvia, 2014)

Na fase de manutenção, o número de funcionários cai e chega a cerca de 2

funcionários para cada 20 a 30 aerogeradores. Esses são responsáveis por atividades como

limpeza das lâminas, substituição de componentes e reparação de unidades no controle

elétrico. Na manutenção da nacele, há alguns riscos associados às partes móveis, partes

quentes que podem causar queimaduras no operário e cabos de alta tensão. O acesso dessa

Page 8: PEDRO HENRIQUE MEDEIROS DE AZEVEDO SEGURANÇA … · Este trabalho tem por objetivo analisar esses fatores por meio de checklist embasado na ... de um trabalhador. Um trabalho em

7

parte da turbina se dá por uma escada de até 80 metros de altura, ou em algumas torres mais

modernas, por meio de elevadores. (TEXEIRA, Ana; COSTA, Silvia, 2014).

2.2 – DADOS ESTATÍSTICOS

De acordo com o Ministério de Trabalho e Emprego (MTE), 20% a 40% dos acidentes

de trabalho no Brasil estão relacionados ao trabalho em altura, sendo a principal causa de

mortes na indústria no país. Considerando-se que no ano de 2013, segundo o Anuário

Estatístico da Previdência Social, o Brasil registrou 2797 óbitos. Com isso, pelo menos 559

destes óbitos, equivalente a 20% do total, teriam sido ocasionados por quedas em trabalho em

altura, podendo esse número ser superior, considerando que foram registrados apenas

trabalhadores de carteira assinada. (FEITEN, 2015)

As principais causas de quedas em altura estão ligadas diretamente, principalmente, se

não for precedida de uma análise de risco ou se a mesma for deficiente ao não prever todas as

medidas de proteções coletivas e individuais necessárias, ou também, o uso e seleção

inadequado de EPC’S e EPI’S ao tipo de atividade, treinamento incompleto sobre zona livre

de queda e fator de queda, noções de primeiros socorros e resgate muito aquém do necessário,

síndrome de suspensão inerte, e priorização do EPI como solução para redução de riscos.

(FEITEN, 2015)

2.3 – NR-35

A Norma Regulamentadora (NR-35) estabelece os requisitos mínimos de segurança ao

trabalhador envolvido direta e indiretamente em trabalho em altura, tudo isso, envolvendo o

planejamento, execução e a organização. A não aplicação correta da NR 35 pode ser

relacionada à falta de informação ou até a resistência em mudar os hábitos que já estariam

bastante arraigados, principalmente quando o trabalhador está acostumado a lidar com a

altura, fazendo com que ele não perceba a iminência ao risco e acaba deixando de realizar os

procedimentos de segurança. Por isso a importância, também, da fiscalização. (FEITEN,

2015)

Responsabilidades de acordo com NR-35(2012):

Cabe ao empregador:

a) Garantir a implementação das medidas de proteção estabelecidas nesta Norma;

b) Assegurar a realização da Análise de Risco - AR e, quando aplicável, a emissão

da Permissão de Trabalho - PT;

Page 9: PEDRO HENRIQUE MEDEIROS DE AZEVEDO SEGURANÇA … · Este trabalho tem por objetivo analisar esses fatores por meio de checklist embasado na ... de um trabalhador. Um trabalho em

8

c) Desenvolver procedimento operacional para as atividades rotineiras de trabalho

em altura;

d) Assegurar a realização de avaliação prévia das condições no local do trabalho em

altura;

e) Adotar as providências necessárias para acompanhar o cumprimento das medidas

de proteção estabelecidas nesta Norma pelas empresas contratadas;

f) Garantir aos trabalhadores informações atualizadas sobre os riscos e as medidas

de controle;

g) Garantir que qualquer trabalho em altura só se inicie depois de adotadas as

medidas de proteção definidas nesta Norma;

h) Assegurar a suspensão dos trabalhos em altura quando verificar situação ou

condição de risco não prevista;

i) Estabelecer uma sistemática de autorização dos trabalhadores para trabalho em

altura;

j) Assegurar que todo trabalho em altura seja realizado sob supervisão;

k) Assegurar a organização e o arquivamento da documentação prevista nesta

Norma;

Cabe aos trabalhadores:

a) Cumprir as disposições legais e regulamentares sobre trabalho em altura.

b) Colaborar com o empregador na implementação das disposições contidas nesta

Norma;

c) Interromper suas atividades exercendo o direito de recusa, sempre que

constatarem evidências de riscos graves.

d) Zelar pela sua segurança e saúde e a de outras pessoas.

2.4 – ACIDENTES REGISTRADOS

A tabela 1 inclui todos os casos documentados de acidentes e incidentes relacionados

às turbinas eólicas em todo o mundo que podem ser encontrados e confirmados através de

relatórios de imprensa ou lançamentos de informações oficiais até 30 de setembro de 2017.

Page 10: PEDRO HENRIQUE MEDEIROS DE AZEVEDO SEGURANÇA … · Este trabalho tem por objetivo analisar esses fatores por meio de checklist embasado na ... de um trabalhador. Um trabalho em

9

Os dados da tabela não são totalmente abrangentes, acredita-se que pode ser apenas a

"ponta do iceberg" em termos de números de acidentes e sua frequência. (CAITHNESS

WINDFARM INFORMATION FORUM, 2017)

Quadro 1 – Número total de acidentes em parques eólicos no mundo. Até setembro de 2017.

Número total de acidentes: 2159

* Até 30 de setembro de 2017 apenas

Ano Antes

de

2000 00 01 02 03

04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 * 17

Nº. 109 30 17 70 66 60 71 83 125 131 131 120 170 168 174 164 153 164 153

Tabela 1 - Casos documentados de acidentes e incidentes relacionados às turbinas eólicas.

Até 30 de setembro de 2017

Fonte: disponível em: http://www.caithnesswindfarms.co.uk/AccidentStatistics.htm

Fonte: disponível em: http://www.caithnesswindfarms.co.uk/AccidentStatistics.htm

Page 11: PEDRO HENRIQUE MEDEIROS DE AZEVEDO SEGURANÇA … · Este trabalho tem por objetivo analisar esses fatores por meio de checklist embasado na ... de um trabalhador. Um trabalho em

10

Quadro 2 – Número de acidentes fatais em parques eólicos no mundo. Até setembro de 2017.

Número de acidentes fatais: 136

* Até 30 de setembro de 2017 apenas

3- MATERIAS E MÉTODOS - METODOLOGIA

3.1 – CIDADE DE JOÃO CÂMARA/RN

Para um trabalho mais aprofundado no tema, foi realizada uma visita à cidade de

João Câmara no estado do Rio Grande do Norte. De acordo com o CERNE (Centro de

Estratégias em Recursos Naturais e Energia) essa cidade foi bastante beneficiada com o

surgimento da energia eólica. De acordo com o IBGE, ela obteve um crescimento de cerca de

90% do Produto Interno Bruto (PIB) entre 2008 e 2012. João Câmara é a cidade que possui o

maior acervo de aerogeradores no Brasil. No ano de 2016 possuía cerca de 305 turbinas

eólicas, com capacidade de gerar 576MW de energia. A economia e seu comércio local

sofreram uma enorme ampliação, também gerando alto lucros aos produtores rurais, que antes

possuíam terras que pouco produziam e agora são arrendadas para a construção de novos

parques, chegando a ganhar, segundo fontes locais, cerca de R$ 2000,00/mês de royalties, por

cada torre instalada em sua terra. (CERNE, 2016)

3.2 – PARQUE CABEÇO VERMELHO

Foi realizada uma visita ao Parque Cabeço Vermelho, localizado entre as cidades de

João Câmara e Jandaíra, no estado do Rio Grande do Norte. Administrada pela empresa

espanhola GESTAMP, o parque ainda está na fase de execução e possui construção prevista

de 21 aerogeradores, cuja altura chega próximo a 120 metros. A empresa espanhola TSK,

contratada pela multinacional GESTAMP, tem como responsabilidade a parte executiva da

obra, como também, a parte de segurança do trabalho, foco deste trabalho.

Ano Antes

de

2000 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 * 17

Nº. 24 3 0 1 4 4 4 5 5 11 8 8 15 16 4 2 7 6 9

Fonte: disponível em: http://www.caithnesswindfarms.co.uk/AccidentStatistics.htm

Page 12: PEDRO HENRIQUE MEDEIROS DE AZEVEDO SEGURANÇA … · Este trabalho tem por objetivo analisar esses fatores por meio de checklist embasado na ... de um trabalhador. Um trabalho em

11

3.3 – CHECKLIST NR-35

Para uma melhor obtenção de resultados e afim de obter uma discussão mais

aprofundada, foi realizada uma entrevista com um dos técnicos de segurança responsáveis

pela obra, com o apoio de um checklist embasado na NR-35, ajudando a observar melhor

vários pontos que buscam auxiliar a segurança do trabalhador.

4- RESULTADOS

Primeiramente foi constatado no que se diz respeito à execução, que a empresa

estabelece anteriormente a qualquer trabalho em altura, um sistema de autorização para a

realização daquela tarefa, onde é feita uma APR (Análise Preliminar de Risco) que se trata de

uma técnica de avaliação prévia de riscos existentes na execução de uma determinada

atividade, baseando-se num detalhamento minucioso de cada etapa da atividade assim como

seus riscos. Também é realizado uma PT (Permissão de Trabalho), a qual trata-se de uma

ferramenta de prevenção, controle e de autorização para a execução das atividades. A APR é

umas das etapas para poder conseguir a PT, ou seja, uma é complementar a outra. A PT é

aprovada pelo responsável que concede a autorização da permissão e é disponibilizada no

local da execução da atividade. Ao final, é encerrada e arquivada afim de permitir sua

rastreabilidade, caso necessário. Ela possui validade limitada à duração da atividade, restrita

ao turno de trabalho, podendo ser revalidada pelo responsável. Quando prestes a subir na

torre, o trabalhador é submetido a uma avaliação de saúde, feita por um técnico de

enfermagem, que verifica a pressão arterial do trabalhador. Qualquer anormalidade

encontrada, o operário é suspenso das atividades até normalizar o seu estado de saúde. Mesmo

quando não há algo visível ou aparente ao seu superior em seu estado de saúde, o trabalhador

tem total direito de recusa, sempre que constatar evidências que coloque a sua segurança e

saúde em risco, como também a de terceiros. A cada 6 meses os trabalhadores são submetidos

a exames médicos para manutenção da sua saúde, como exames de eletrocardiograma,

eletroencefalograma e acuidade visual, a qual trata-se de uma patologia em que olho

reconhece dois pontos muito próximos um do outro, tornando a visão incômoda e com

dificuldade de enxergar formas e contornos dos objetos.

A realização do trabalho em altura dentro dos aerogeradores é controlado para que os

trabalhadores não ultrapassem o tempo de duas horas enclausurados e sempre operado por

dois operários ao mesmo tempo, pois em caso de emergência, há a possibilidade de um pronto

atendimento ao operário em perigo, tendo com eles rádios transmissores para comunicação

Page 13: PEDRO HENRIQUE MEDEIROS DE AZEVEDO SEGURANÇA … · Este trabalho tem por objetivo analisar esses fatores por meio de checklist embasado na ... de um trabalhador. Um trabalho em

12

com pessoas no solo. Eles são submetidos a treinamento teórico e prático para trabalho em

altura com carga horária de 40 horas/aula, quando na NR-35 estabelece um mínimo de 8

horas/aula. A norma também estabelece um treinamento periódico bienal aos trabalhadores.

Porém no Parque Cabeço Vermelho, eles são submetidos a uma reciclagem anual. Uma

empresa terceirizada com instrutores qualificados, é a responsável por ministrar o curso de

treinamento. Foi optado pela terceirização desse serviço com a prerrogativa de melhor

controle na qualidade do curso oferecido aos seus colaboradores. Ao término do treinamento é

emitido o certificado contendo o nome do trabalhador, conteúdo programático, carga horária,

data, local da realização do treinamento, nome e qualificação dos instrutores e assinatura do

responsável. Esse certificado é entregue ao trabalhador e um cópia é arquivada na empresa,

sempre mantendo a capacitação atualizada no registro do trabalhador.

Foi acompanhado, a montagem de uma torre eólica durante a visita, que em apenas

uma dia e meio tem sua montagem concluída, dependendo do operador do guindaste. Foi

constatado, a realização de análise de riscos no locais em que os serviços serão executados e

nos seus entornos. São feitas análises em relação às condições meteorológicas, como a

medição do vento no local, quando, por exemplo, em dias com ventos fortes o trabalho é

suspenso. Por isso a preferência em trabalhos noturnos, cujo vento possui menor intensidade.

Ocorre também, o isolamento total do entorno, podendo passar apenas pessoas autorizadas e

com os EPI’S devidos e os carros são sempre postos em rota de fuga para maior rapidez em

Figura 1 – Estrutura interna

de uma torre eólica

Foto: Autor

Page 14: PEDRO HENRIQUE MEDEIROS DE AZEVEDO SEGURANÇA … · Este trabalho tem por objetivo analisar esses fatores por meio de checklist embasado na ... de um trabalhador. Um trabalho em

13

qualquer emergência. O parque é auxiliado por duas ambulâncias equipadas com rádios

transmissores e socorristas devidamente treinados para resgate em altura e estão sempre em

prontidão nas montagens das torres.

Figura 2 – Ambulância acompanhando a montagem

de uma pá do rotor do aerogerador.

Foto: Autor

Figura 3 – Ambulância fazendo ronda pelo canteiro de obra.

Foto: Autor

Page 15: PEDRO HENRIQUE MEDEIROS DE AZEVEDO SEGURANÇA … · Este trabalho tem por objetivo analisar esses fatores por meio de checklist embasado na ... de um trabalhador. Um trabalho em

14

Os EPI’S, acessórios e sistemas de ancoragem são inspecionados rotineiramente antes

do início dos trabalhos, quando apresentam problemas, degradação, deformações ou outros.

Eles são prontamente descartados e inutilizados. O cinto de segurança usado pelos

trabalhadores é do tipo paraquedista e dotado de dispositivo para conexão de sistema de

ancoragem, sendo que operários permanecem conectados a esse sistema durante todo o

período de exposição ao risco de queda. Este ponto de ancoragem é selecionado por

profissional habilitado e feito com cabos de aço para uma resistência máxima e inspecionado

antes da sua utilização.

5- DISCUSSÃO

Tendo em vista os resultados obtidos embasados na NR-35, no Parque Cabeço

Vermelho em João Câmara/RN, mostra que o cuidado com a segurança nesse canteiro de obra

é realizado com grande maestria. Durante a visita, ficou totalmente claro a grande

preocupação com a segurança de seus operários e também de terceiros, por parte da TSK e

Gestamp. Prevista para o fim desse ano de 2017, a obra, que possui 6 meses de inicialização,

não possuía nenhum tipo de acidente registrado. Informações retiradas da entrevista com o

técnico de segurança da TSK, mostra que em 6 anos de empresa, ele não presenciou, ou

soube, de nenhum acidente grave registrado na empresa. Pode-se dizer que isso se deve ao

fato da empresa cumprir, às vezes até além, todos os quesitos da NR-35. Foram constatados

também, procedimentos para rápida ação em casos de emergências, como a utilização de duas

ambulâncias com socorristas capacitados em resgate em altura e com uso de rádios

Figura 4 – Isolamento no entorno da área em que está sendo

executada tarefas que possuam algum risco.

Foto: Autor

Page 16: PEDRO HENRIQUE MEDEIROS DE AZEVEDO SEGURANÇA … · Este trabalho tem por objetivo analisar esses fatores por meio de checklist embasado na ... de um trabalhador. Um trabalho em

15

comunicadores, como também carros postos sempre em sentido de fuga ou estacionados de ré,

mostrando uma responsabilidade em qualquer caso de urgência que ocorra no canteiro.

De acordo com Alexandre Nakashato, gerente de Treinamento da Capital Safety, de

Curitiba/PR, o ponto crucial para esses tipos de acidentes, é o treinamento ineficaz realizado,

que tem como objetivo apenas conseguir o certificado para seus funcionários por mera

formalidade e quando isso acontece, a segurança é vista apenas como despesa e não se

consideram as possíveis consequências que um acidente causa. O instrutor é responsável em

passar as informações e procedimentos corretos para seus alunos em treinamento. Por isso a

importância desse instrutor ser bem capacitado, com experiência e domínio nas técnicas,

normas e equipamentos. Também é necessário um local de treinamento que possibilite ao

profissional colocar em prática todas as técnicas aprendidas na teoria, contando com uma

infraestrutura adequada, com apoio de equipamentos de boa qualidade e dentro das normas

vigentes. Elton Renan Fagundes, consultor e especialista na área de trabalho em altura e

resgate, afirma que mesmo sabendo que o treinamento de capacitação em uma empresa pode

ser falho, ele concorda que o trabalhador estando muito acostumado com a altura faz com que

não preste a atenção devida e tenha menor cuidado nos procedimentos, aumentando as

chances de acidentes, mesmo sendo um trabalhador bem treinado, por isso sendo essencial

uma fiscalização rigorosa às tarefas em altura. (FEITEN,2015)

Com foco em obter o melhor treinamento para o seus operários, a empresa contrata

uma equipe terceirizada, com instrutores muito bem qualificados, com a finalidade de

ministrar o treinamento com um curso de 40 horas/aula, muito superior ao mínimo exigido

pela NR-35, que conta com 8 horas/aula apenas. Possui cursos de reciclagem de ano em ano,

ao invés de dois em dois anos previsto na norma, algo muito importante para contribuir em

uma atualização necessária em manejos de equipamentos como também na sua teoria e evitar

a criação de vícios que prejudiquem a atenção quanto a iminência do risco.

6- CONCLUSÃO

Este presente artigo teve por objetivo, demonstrar alguns pontos que afligem os

especialistas a respeito da segurança do trabalho em altura e expor procedimentos vistos na

prática. Com o auxílio da NR-35, norma regulamentadora do trabalho em altura e resgate e

com uma visita ao Parque Cabeço Vermelho, na cidade de João Câmara no estado do Rio

grande do Norte, foram realizados levantamentos junto à norma, dos procedimentos

Page 17: PEDRO HENRIQUE MEDEIROS DE AZEVEDO SEGURANÇA … · Este trabalho tem por objetivo analisar esses fatores por meio de checklist embasado na ... de um trabalhador. Um trabalho em

16

realizados pelas empresas que administram o canteiro da obra, a respeito da segurança em

altura dos seus operários.

Especialistas demonstram uma grande preocupação quanto à capacitação dos

trabalhadores que exercem trabalho em altura, e afirmam que os treinamentos estão muito

aquém do necessário, pela dificuldade de se encontrar instrutores bem capacitados e

treinamentos que realmente mostrem a realidade de um procedimento em altura.

(FEITEN,2015). Também são colocadas em pauta, problemáticas relacionadas à fiscalização

das tarefas realizadas. Será que elas estão sendo supervisionadas por pessoas capacitadas?

Será que os operários estão sendo bem ancorados? Será que eles estão utilizando os

procedimentos corretos? A solução para estas perguntas é possível apenas com a fiscalização,

auditoria, treinamento adequado, atualizações, exames médicos periódicos e aumento no

comprometimento dos gestores com a segurança.

Indo na contramão do que os especialistas indicam, as empresas citadas neste artigo,

possuem uma responsabilidade rigorosa quanto ao assunto e tratam o treinamento não apenas

com uma mera formalidade ou obrigação, mas sim como uma forma de prevenção real de

acidentes, como mostram os resultados citados neste artigo.

Por fim, conclui-se que o problema é mais complexo do que todos imaginam, o

problema não está apenas na eficiência de treinamento de um operário, mas sim num conjunto

de medidas. Um funcionário bem treinado, por exemplo, poderá cometer algum erro que pode

causar danos a sua vida e a de terceiros, apenas por ter esquecido, ou mesmo porque não

estava com vontade de realizar um determinado procedimento de segurança. Deve-se mudar

esse comportamento e assimilar a cultura da prevenção, aplicando de maneira adequada a NR-

35, uma ferramenta de extrema importância na prevenção de acidentes.

7- REFERÊNCIAS

PINHEIRO, M.T.G. Um modelo para análise de riscos em usinas eólicas utilizando a

técnica fuzzy ahp. Rio de janeiro, 2014. Disponível em:

<http://monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10010056.pdf> Acesso em:

25.abr.2017.365saúde.

Riscos de segurança de um parque eólico. Disponível em:

<http://www.365saude.com.br/pt-public-health-safety/pt-environmental-

ealth/1009071439.html> Acesso em: 25.abr.2017.

Page 18: PEDRO HENRIQUE MEDEIROS DE AZEVEDO SEGURANÇA … · Este trabalho tem por objetivo analisar esses fatores por meio de checklist embasado na ... de um trabalhador. Um trabalho em

17

TEXEIRA, Ana; COSTA, Silvia. Segurança e saúde no setor da energia eólica. Cidade do

Porto, 2014. Disponível em: <https://pt.slideshare.net/Luafonso/seguranca-e-saude-no-setor-

da-energia-eólica> Acesso em: 27.abr.2017

Honeywellsafety. Soluções de Proteção em Altura para o Segmento Eólico. São Paulo,

2013. Disponível em:

<http://www.honeywellsafety.com/Supplementary/Documents_and_Downloads/Fall_Protecti

on/4294986586/1046.aspx> Acesso em: 27.abr.2017

Revista Planeta. Vento a favor. 2015. Disponível em:

<http://www.revistaplaneta.com.br/vento-a-favor/> Acesso em: 27.abr.2017.

BATISTA, M.F. RESUMO NR 35 – TRABALHO EM ALTURA. Disponível em:

<http://www.sistemaambiente.net/CIPA/Marcio_F_Batista_NR_35%20_TRABALHO_EM_

ALTURA.pdf> Acesso em: 30.abr.2017

PORTARIA SECRETARIA DE INSPEÇÃO DO TRABALHO. NR-35: Trabalho em

altura. 2012. 6 p. Disponível em:

<http://www.federacaodosestivadores.org.br/painel/lateral/NR-35 (Trabalho em Altura).pdf>.

Acesso em: 27 abr. 2017.

BRASIL. PORTAL BRASIL. (Ed.). Brasil é o maior gerador de energia eólica da

América Latina. 2017. Disponível em:

<http://www.brasil.gov.br/infraestrutura/2017/03/brasil-e-o-maior-gerador-de-energia-eolica-

da-america-latina>. Acesso em: 28 abr. 2017.

EUROPEAN AGENCY FOR SAFETY AND HEALTH AT WORK (Luxembourg).

European Agency For Safety And Health At Work (Org.). Occupational safety and health

in the wind energy sector: European Risk Observatory Report. 2013. Disponível em:

<https://osha.europa.eu/en/tools-and-publications/occupational-safety-and-health-in-the-wind-

energy-sector>. Acesso em: 1 jun. 2017.

CAITHNESS WINDFARM INFORMATION FORUM (United Kingdom)

(Comp.). Summary of Wind Turbine Accident data to 31 March 2017. 2017. Disponível

em: <http://www.caithnesswindfarms.co.uk/AccidentStatistics.htm>. Acesso em: 01 jun.

2017.

FEITEN, Jéssica. Capacitação para Trabalho em Altura. 2016. Disponível em:

<http://www.protecao.com.br/materias/leia_na_Íntegra/capacitacao_para_trabalho_em_altura/

AJjgAQ>. Acesso em: 18 out. 2017.

CERNE. 2016: continua a escalada ascendente das eólicas no RN. 2016. Disponível em:

<http://cerne.org.br/2016-continua-a-escalada-ascendente-das-eolicas-no-rn/>. Acesso em: 15

mar. 2017.