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A INTERPRETAÇÃO JURÍDICA OBJETO DA INTERPRETAÇÃO A Teoria da Interpretação fundamenta o entendimento das fontes do Direito, muito especificamente das leis, sendo estas, portanto, como reiterado aqui, o objeto da interpretação. Muito embora valem-se mencionar os contratos, onde existem regras específicas e singulares que serão estudadas mais adiante na disciplina de Direito Civil. Para a eficaz interpretação das leis, é primordial entender como ela foi escrita. Primeiro, saber que uma lei é dividida em três partes básicas 9 : a) Parte preliminar, que compreende a epígrafe, a ementa, o preâmbulo, o enunciado do objeto e a indicação do âmbito de aplicação das disposições normativas; b) Parte normativa, que compreende o texto das normas de conteúdo substantivo relacionadas com a matéria que está a ser regulada; c) Parte final, que compreende as disposições pertinentes às medidas necessárias à implementação das normas de conteúdo substantivo, às disposições transitórias, se for o caso, a cláusula de vigência e a cláusula de revogação, quando assim couber. Em segundo lugar, como já visto introdutoriamente em Linguística Aplicada ao Direito, formalmente, os textos legais serão articulados com observância dos seguintes princípios: I - A unidade básica de articulação será o artigo, que expressa um princípio ou uma norma jurídica que deve ser seguido ou respeitado na hipótese por ele regrada. O artigo é indicado pela abreviatura "Art.", seguida de numeração ordinal até o nono e cardinal a partir deste. Nas citações legais, o artigo é a única unidade básica da legislação obrigatória, sendo os demais elementos facultativos 10 ; __________ 9 - Art. 3º da Lei Complementar 95/98; 10 - Completa-se a referência dando o número da Lei e a data da sua promulgação ou edição.

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A INTERPRETAÇÃO JURÍDICA

OBJETO DA INTERPRETAÇÃO

A Teoria da Interpretação fundamenta o entendimento das fontes do

Direito, muito especificamente das leis, sendo estas, portanto, como reiterado

aqui, o objeto da interpretação. Muito embora valem-se mencionar os

contratos, onde existem regras específicas e singulares que serão estudadas

mais adiante na disciplina de Direito Civil.

Para a eficaz interpretação das leis, é primordial entender como ela foi

escrita. Primeiro, saber que uma lei é dividida em três partes básicas9:

a) Parte preliminar, que compreende a epígrafe, a ementa, o preâmbulo, o

enunciado do objeto e a indicação do âmbito de aplicação das disposições

normativas;

b) Parte normativa, que compreende o texto das normas de conteúdo

substantivo relacionadas com a matéria que está a ser regulada;

c) Parte final, que compreende as disposições pertinentes às medidas

necessárias à implementação das normas de conteúdo substantivo, às

disposições transitórias, se for o caso, a cláusula de vigência e a cláusula de

revogação, quando assim couber.

Em segundo lugar, como já visto introdutoriamente em Linguística

Aplicada ao Direito, formalmente, os textos legais serão articulados com

observância dos seguintes princípios:

I - A unidade básica de articulação será o artigo, que expressa um princípio ou

uma norma jurídica que deve ser seguido ou respeitado na hipótese por ele

regrada. O artigo é indicado pela abreviatura "Art.", seguida de numeração

ordinal até o nono e cardinal a partir deste. Nas citações legais, o artigo é a

única unidade básica da legislação obrigatória, sendo os demais elementos

facultativos10;

__________

9 - Art. 3º da Lei Complementar 95/98; 10 - Completa-se a referência dando o número da Lei e a data da sua promulgação ou edição.

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Observação 1: Na hipótese de ter de complementar um artigo de lei após a sua edição, o complemento terá o mesmo número do artigo acrescido de uma letra maiúscula em ordem alfabética. Observação 2: Não é admitida a renumeração dos artigos de uma lei.

II - Os artigos vão se desdobrar em parágrafos ou em incisos; os parágrafos

em incisos, os incisos em alíneas e as alíneas em itens;. O caput do artigo é a

parte principal, é o cabeçalho, onde está a informação mais importante trazida

pelo artigo11;

III - Os parágrafos servem para explicitar o princípio ou norma jurídica neles

contidos e serão representados pelo sinal gráfico "§", seguido de numeração

ordinal até o nono e cardinal a partir deste, utilizando-se, quando existente

apenas um, a expressão "parágrafo único" por extenso;

IV - Os incisos servem como divisão de um artigo ou de um parágrafo para

melhor esclarecer o assunto neles contidos. Os incisos serão representados

por algarismos romanos;

V - As alíneas servem como subdivisões do artigo, do parágrafo ou do inciso

para detalhar o assunto e são representadas por letras minúsculas;

VI - Os itens representam a divisão das alíneas para melhor detalhamento do

assunto e devem ser expressos por algarismos arábicos;

VII - O agrupamento de artigos poderá constituir Subseções; o de Subseções,

a Seção; o de Seções, o Capítulo; o de Capítulos, o Título; o de Títulos, o Livro

e o de Livros, a Parte;

VIII - Os Capítulos, Títulos, Livros e Partes serão grafados em letras

maiúsculas e identificados por algarismos romanos, podendo estas últimas

desdobrar-se em Parte Geral e Parte Especial ou ser subdivididas em partes

expressas em numeral ordinal, por extenso;

IX - As Subseções e Seções serão identificadas em algarismos romanos,

grafadas em letras minúsculas e postas em negrito ou caracteres que as

coloquem em realce.

Exemplos: Art. 4°, parágrafo único, IV, “a”, “3”, da Lei n° 10.611/06; Art. 192, parágrafo 3°, VI, “c”, “16” do Código e Processo Civil ou CPC. __________

11 - Um exemplo de artigo que só possui caput é o art. 3˚ da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro: ”art. 3˚ Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.”

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TIPOLOGIA DA INTERPRETAÇÃO

Classificar as várias possibilidades de interpretação não é tarefa fácil

porque muitos aspectos podem ser considerados. Para nossos interesses,

vamos ter em conta quatro critérios dispostos didaticamente à continuação: o

sujeito interpretador, o método ou natureza e sua extensão. O correto

estudo e domínio destes métodos fará a diferença do bom intérprete.

Segundo o sujeito interpretador (ou órgão prolator do entendimento) a

interpretação pode ser:

1) Pública – Quando é realizada por agentes públicos autorizados, membros

dos três poderes da República. Assim sendo, a interpretação pública se divide

em:

1.1) autêntica – realizada pelo Legislativo, através de Lei exclusivamente. O

intérprete autêntico de Kelsen é o Juiz, aquele que além de compreender deve

celebrar o ato de vontade de dizer que a compreensão „é esta‟ ou „é aquela

outra‟. Vale-se frisar que o juiz não cria as normas, ele as expressa.

Exemplo: Art. 150, §4° e §5° do CP em que o próprio legislador procurou estabelecer os

contornos da palavra “casa”.

1.2) judicial – feita pelos juízes e tribunais, através das decisões, sentenças e

acórdãos. Forma a jurisprudência.

Exemplo: O Superior Tribunal de Justiça (STJ) é a corte responsável por uniformizar a

interpretação da lei federal em todo o Brasil, seguindo os princípios constitucionais e a

garantia e defesa do Estado de Direito.

1.3) administrativa – feita pelos órgãos do Executivo. Esta, por sua vez,

ainda pode ser classificada em (1.3.1) regulamentar, quando traça normas

gerais, através de decretos e portarias, por exemplo, ou (1.3.2) casuística,

quando exarada em decisões particularizadas.

Exemplos: portaria do Ministério da Saúde que define o que é droga. Definição, realizada pela

polícia e pelo Ministério Público, do crime cometido.

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2) Privada – Quando é realizada por particulares. Assim sendo, a interpretação

privada se divide em:

2.1) doutrinal – realizada pelos estudiosos, pelo Direito Científico.

Exemplo: A Exposição de Motivos do Código Penal.

2.2) usual – Advém dos costumes interpretativos.

Exemplo: O Código Canônico, em seu art. 29, já estabelecia que “o costume é ótimo

intérprete da lei.”

Segundo a natureza, ou dito em outras palavras, de acordo com as técnicas

empregadas, a interpretação pode ser:

1) Gramatical (exegética, literal ou filológica) – Considera o exame do

significado e alcance de cada palavra do texto que se está a trabalhar, o estudo

das conexões entre os termos, a análise da estrutura das frases. Requer o

conhecimento de ortografia, de gramática, de estilística, de etimologia e

logicamente de lexicologia, para se chegar de forma segura e confiável ao real

significado do texto legal. Está concentrada no texto em si (papel e palavras).

Não considera fatores externos, tais como: os significados político, sociológico,

social, cultural e até mesmo jurídico.

Exemplo: Art. 485 CC de 1916 e o Art. 1196 CC de 2002 (CABRAL, Vera. Apontes de aula. 2012)

Art. 485 - Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício pleno, ou não, de

algum dos poderes inerentes ao domínio, ou propriedade.

Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de

algum dos poderes inerentes à propriedade.

A pergunta que o intérprete faz ao analisar o gramatical de um texto é: na

língua portuguesa, nas tradições e regras desta língua, o que significa esse

texto?

Veja outro exemplo de interpretação exegética na anedota a seguir:

ROCAN X ADVOGADO

Um advogado dirigia distraído quando num sinal de PARE ele passa sem parar, e na frente tem

uma viatura da ROCAN.

Ao ser mandado parar, toma uma atitude de espertalhão.

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Policial: - Boa tarde. Documento do carro e habilitação.

Advogado: - Mas por que, policial?

Policial: - Não parou no sinal de PARE ali atrás.

Advogado: - Eu diminuí, e como não vinha ninguém...

Policial: - Exato. Documentos do carro e habilitação.

Advogado: - Você sabe qual é a diferença jurídica entre diminuir e parar?

Policial: - A diferença é que a lei diz que num sinal de PARE, deve parar completamente.

Documento e habilitação.

Advogado: - Ouça policial, eu sou Advogado e sei de suas limitações na interpretação de texto

de lei, proponho-lhe o seguinte: Se você conseguir me explicar a diferença legal entre diminuir

e parar eu lhe dou os documentos e você pode me multar. Senão, vou embora, sem multa!

Policial: - Positivo, aceito. Pode fazer o favor de sair do veículo Sr. Advogado?

O Advogado desce e é então que os integrantes da ROCAN baixam o cacete, é porrada pra

tudo quanto é lado, tapa, botinada, cassetete, cotovelada etc.

O Advogado grita por socorro, e implora para pararem pelo amor de DEUS.

E o Policial pergunta: - Quer que a gente PARE ou só DIMINUA?

Advogado: - PARE.....PARE...PARE...

Policial: - Positivo..... Documento e habilitação.

Algumas vezes a interpretação gramatical será necessária para a

adequação da lei aos tempos modernos (não confunda-se com método

histórico), bastando somente uma mudança de vocábulos ou pontuação ou

readequação de termos na oração etc.

Exemplo: o art. 4o do CPP que antes, erroneamente, tratava de “jurisdição”, necessitando de outra forma interpretativa. Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas jurisdições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria. Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria. (Redação dada pela Lei nº 9.043, de 9.5.1995)

2) Lógica (Racional) – É o método que investiga o sentido das diversas

locuções e orações, através de suas conexões no texto que se está a trabalhar.

Não se trata puramente de conhecer suas palavras, mas o seu alcance e sua

força. Tem uma premissa: “O Direito é obra da razão e portanto deve ser

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razoável”; qualquer interpretação contrária à razão é equivocada. Trata-se de

reconstruir pelo caminho da lógica o raciocínio do legislador, para perceber

qual, entre duas assertivas possíveis, foi a que o mesmo quis empregar.

A interpretação lógica enquadra-se noutro momento da evolução da ciência

jurídica a partir do qual se passa a adotar o preceito da doutrina expresso por

Celso em D.1.3.17: “Conhecer as leis não é compreender as suas palavras,

mas o seu alcance e a sua força” (scire leges non hoc est verba earum tenere

sed vim ac potestatem). Funda-se no fato de que o estudo puro e simples da

letra da lei conduz a resultados insuficientes e imprecisos, havendo

necessidade de investigações mais amplas.

Os argumentos lógicos mais usuais são:

- A razão da lei (ratio legis) = determinar as razões sociais determinantes da

norma que está a ser interpretada, seus elementos históricos circunstanciais, a

relação existente entre a norma e a vida social,

- a intenção da lei (intentio legis) = diz respeito à finalidade, a forma de

elaboração desta. Um texto legal pode parecer claro, inquestionável; poderá,

contudo, revelar um sentido que não se patenteia de imediato.

- a ocasião da lei (occasio legis) = consiste no levantamento dos elementos

históricos coetâneos desta, pois o clima ideológico predominante na sua

elaboração influi decisivamente.

Exemplos: O art. 127 do CPC brasileiro enseja a interpretação lógica e revela, ao mesmo

tempo, a insuficiência da interpretação gramatical.

Configurar-se-á uma inconsistência lógica quando num mesmo diploma legal for utilizado o

mesmo termo em normas distintas com consequências diferentes.

A pergunta que o intérprete faz ao analisar o lógico de um texto é: qual a

interpretação desta norma satisfaz a lógica do razoável (adequada ao Direito)?

5) Sistemática (orgânica) – Considera que todo fragmento de Lei é parte de

um sistema complexo e amplo (é a interpretação da norma à luz das outras

normas), o ordenamento jurídico, que deve ser harmônico e não deve conter

antinomias: as normas não se devem contradizer umas às outras, e, salvo os

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casos de revogação, devem fazer sentido juntas, não se chocando e

convivendo harmoniosamente.

Logo, a dica é: a compreensão do todo ajuda na compreensão da parte, e a

compreensão da parte é normalmente impossível ou equivocada, sem o

conhecimento do todo. Não julgue precipitadamente.

O método sistemático trabalha em vários níveis:

a) Buscar respostas nas conexões que estão na própria lei onde está o

fragmento que se está a interpretar;

b) Buscar respostas nas leis que traçam os lineamentos do ramos do Direito a

que se refere o fragmento e depois no sistema como um todo e no sistema do

Direito positivo em geral.

Na interpretação sistemática há dois aspectos: I - o de quando é feita em

relação à própria lei a que o dispositivo pertence; II - o de quando se processa

com vistas para o sistema geral do direito positivo em vigor.

Exemplos: A palavra “casamento” é um termo definido pelo Código Civil que envolve aspectos

como capacidade, impedimentos, causas suspensivas, habilitação, celebração, provas,

invalidade, eficácia, dissolução etc. todos com normas previstas no mesmo código.

Quando buscamos saber se uma lei pode, sem limitações, criar restrições à atividade comercial

e industrial de empresas estrangeiras, recorremos em todo o ordenamento, uma noção

padrão de empresa nacional e seu fundamento nas normas constitucionais.

Se analisarmos, separadamente, o artigo 28 do CPP entenderíamos que não há “Princípio da

Obrigatoriedade”, mas se analisarmos juntamente com o artigo 24 percebe-se que o MP está

adstrito ao princípio.

A pergunta que o intérprete faz ao analisar o sistemático de um texto na

verdade está composta por duas vertentes: Há, no ordenamento jurídico, outra

norma que esclareça o significado desta que estou a estudar e qual a

interpretação que mantém essa norma em harmonia com o sistema jurídico?

Ainda sobre o método sistemático, para impedir os conflitos de leis ou

normativos, a ordem jurídica prevê e provê três grandes critérios que são

generalizadamente utilizados:

1º Critério Hierárquico – Quando duas normas entram em rota de colisão o

intérprete deverá verificar se uma delas é hierarquicamente superior à outra.

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Por exemplo, se um regulamento colidir com uma lei, prevalecerá a lei.

2º Critério Temporal (Cronológico) – Quando duas normas de igual

hierarquia entram em rota de colisão, prevalecerá a norma posterior, já que

esta revoga à anterior.

3º Critério Especialização – A norma especial prevalece sobre a norma

geral. Por exemplo, a lei orgânica da magistratura que incide sobre os

magistrados prevalece sobre o estatuto dos funcionários públicos.

6) Teleológica – Refere-se ao entendimento dos fins, dos objetivos, das

metas. Parte da premissa: “toda norma visa proteger um interesse, um valor.”

Porém há de considerar-se também que toda doutrina possui, por trás do texto

legal, um “algo mais: uma intenção, um fim, uma meta, um valor que a norma

quer tutelar.” (MARQUES, 2003. Pg. 66) O problema consiste em desvendar o

que vem a ser concretamente esse algo mais:

a) Mens legislatoris / Voluntas Legislatoris - a vontade do legislador.

b) Voluntas Legis / Ratio Legis - a vontade da Lei. A Lei tem vida autônoma,

livre de seu criador, vale por si só, pode atender finalidades não imaginadas no

tempo de sua promulgação, ou seja, é atualizável.

Exemplo: art. 5º, da Lei de Introdução ao Código Civil, contem uma exigência que serve de

máxima teleológica: “Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às

exigências do bem comum”

7) Histórica – Considera que o Direito atual é uma reprodução, ora integral,

ora modificada, ora melhorada, ora não, de um sistema preexistente e que

evolui com o passar do tempo. O Direito brasileiro contemporâneo tem suas

raízes no Direito do Império Brasileiro (1822 a 1889), que por sua vez tem suas

raízes no Direito Português (1500 a 1822) enquanto o Brasil foi colônia de

Portugal, que tem suas raízes no Direito comum medieval, que tem sua raiz no

Direito romano. Cada Lei leva consigo um pouco do tempo em que foi escrita:

as preocupações, a ideologia dominante, os conceitos e preconceitos, o

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contexto social que a motivou e inspirou etc. Sendo assim, o método consiste

em recorrer à História como auxiliar para perceber o texto legal.

A jurisprudência é a grande ferramenta deste método.

Exemplo: ao interpretar a CF/88 utilizando o método histórico e buscando um antecedente

histórico, pode-se pesquisar nas Constituições de 1824, 1946, 1967 etc., pois ao estudar essa

evolução, percebe-se como chegamos à Constituição atual. Também devemos considerar os

valores antagônicos da sociedade na época12: bipolarização do mundo, redemocratização do

país etc.

A pergunta que o intérprete faz ao analisar o histórico de um texto é:

quais as condições de meio e momento da elaboração da norma legal, e das

causas pretéritas da solução dada pelo legislador?

O método histórico, por sua vez desdobra-se em duas modalidades

diferentes:

7.1) Origo Legis (origem remota da Lei) - Considera a origem da Lei

remontando às primeiras manifestações da instituição regulada. Investiga-se

como era o instituto na sua origem, sua evolução histórica, como tem sido

citado nas legislações que serviram de modelo à lei nacional, e como evoluiu

no sistema jurídico pátrio (Direito Comparado).

7.2) Occasio Legis (origem próxima da Lei) - Considera a circunstância

histórica da regra a ser interpretada. Como bem diz a tradução: ocasião da Lei,

contextualmente, o momento de elaboração da mesma. Há que considerar-se a

sociologia, a política, a economia etc. para entender o momento em que a Lei

foi feita e por que ela foi feita (as razões que levaram o legislador àquela

solução legislativa).

__________

12 - Lendo-se o Preâmbulo da Constituição Federal de 1988 identifica-se cristalinamente o esboço preliminar onde um novo Estado declara a sua nova face, através de ideologias, políticas e identidade própria.

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Segundo a extensão, a interpretação para ser, o máximo possível, fiel, deve

fazer corresponder o que está dito ao que foi querido. Para isto, é necessário

que ora proceda de forma a restringir e ora a alargar a letra da lei; neste

sentido a interpretação pode ser:

1) Declarativa ou Especificadora – quando seu enunciado coincide, em

amplitude, com aquele que, à primeira vista, parece indicado pela norma

interpretada. O intérprete chega a uma conclusão, a respeito da abrangência

da norma, que era, desde o princípio, perceptível no próprio texto. Assim, a

interpretação declarativa reconhece que o texto da norma coincide com o

espírito desta, limitando-se, por definição, a declarar o próprio texto legal, sem

estender seu sentido a situações não previstas. É o tipo mais comum de

interpretação.

Exemplos: É o caso da lei penal quando se trata da qualificação do crime ou da aplicação da

pena. CP, art. 121.

No art. 141. III, CP, deve-se entender que o número mínimo de pessoas exigido é três, pois,

sempre que a lei se contenta com duas pessoas, ela o diz expressamente. Neste caso portanto,

não há ampliação nem restrição do texto.

2) Extensiva ou ampliativa – quando, na conclusão do intérprete, constata-

se que a fórmula interpretada é menos ampla e abrangente do que a mens

legis. O intérprete conclui que o texto legal é mais abrangente (no alcance ou

no sentido) do que aparentemente se constata na sua literalidade. Diz-se que o

legislador escreveu menos do que queria dizer (minus scripsit quam voluit), Ou

em termos mais claros, o intérprete conclui que a norma disse menos do que

queria. É por esse método que se adaptam as normas antigas às

contemporâneas exigências da vida social, “atualizando” o conteúdo da norma

para manter sua eficácia.

Exemplos: "os pais" devem ser entendidos como o pai e a mãe.

O art. 235 do CP: incriminando a bigamia, necessariamente está a incriminar a poligamia e a

poliandria.

O art. 3º. do CPP.

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O art.130 do CP, sobre crime de exposição a contágio de doença venérea, incriminando não só

a situação de perigo como, também, a situação de dano efetivo.

Se a norma pune o lenocínio (explorar, provocar ou facilitar a prostituição),

o interprete dirá que sob esta rubrica deste símbolo está também a exploração de motéis em

que se tolera a presença de casais, dos quais não se indaga se são ou não casados ou se lá

estão apenas por motivos libidinosos. A interpretação, segundo o autor, é extensiva e

admissível, embora o resultado seja discutível e, na atualidade, não se tenda a fazer aquela

extensão, salvo nos casos ostensivos. Se, porém, a norma é omissa quanto ao ato de alguém

oferecer seu apartamento a um amigo afim de que o mesmo utilize para lá passar algumas

horas com uma mulher, não se pode imputar-lhe o lenocínio, pois, não há a tipicidade do

delito, ou seja, a exploração de negócio, e se assim for feito, estar-se-á, por via interpretativa,

criando uma norma.

3) Restritiva – quando o intérprete conclui que o texto interpretado é menos

abrangente do que parece à primeira vista, e que a mens legis tem alcance

menor ou sentido mais estreito do que o texto. Restringe-se, na interpretação, o

conteúdo aparente da norma. O intérprete, na prática, conclui que o legislador

disse mais do que queria (plus scripsit quam voluit).

Exemplos: a lei diz “descendente”, quando na realidade queria dizer “filho”.

A interpretação das leis fiscais deve ser restritiva, posto que em caso de dúvida, a

interpretação deve ser favorável ao erário público.

O art. 28, I, do CP, por exemplo, diz que a emoção e a paixão não excluem a imputabilidade.

OBS. art. 28 do CP, acima mencionado, se cotejado com o art. 26, deve ser interpretado

restritivamente, no sentido de se considerarem os estados, a que se refere, como não-

patológicos, em caso contrário se aplicaria o art. 26.

Recomenda-se que toda norma que restrinja os direitos e garantias fundamentais,

reconhecidos constitucionalmente, deva ser interpretada restritivamente. Assim se a lei impõe

limitação, esta deve conter, em seu espírito (mens legis), o objetivo de assegurar o bem-estar

geral sem nunca ferir o direito fundamental que a constituição garante.

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Veja o quadro-resumo a seguir:

Classificação das espécies de interpretação

Quanto a quem interpreta:

(1)Pública

(1.1)Autêntica (1.2)Judicial (1.3)Administrativa

(1.3.1)Regulamentar

(1.3.2)Casuística (2)Privada (2.1)Doutrinal (2.2)Usual (Costumes)

Quanto aos métodos utilizados:

(1)Gramatical ou Literal

(2)Lógica

(3)Sistemática

(4)Teleológica

(5)Histórica

Quanto à extensão do seu resultado:

(1)Declarativa ou Especificadora

(2)Extensiva

(3)Restritiva

OBS: É possível encontrar-se outros métodos ou outras nomenclaturas diferentes dos aqui apresentados. Isto, porém não se trata de equívoco, mas de abordagem sob outro prismas e outras didáticas e estratégias de ensino. Como a Hermenêutica é ampla e filosófica sempre haverá lugar para uma nova técnica a ser abordada.

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ATIVIDADES

01. Após a leitura de cada um dos conceitos abaixo, identifique a que métodos

de interpretação estão relacionados:

- Consiste na apuração exata das palavras e da linguagem = ______________

- Insere o intérprete nos meandros da mecânica social, na história da formação

da lei e da evolução do direito = _____________________________________

- Analisa a lei atendo-se ao fato de que o direito é organizado em princípios

informadores e hierárquicos = _______________________________________

- A interpretação é feita através da perspectiva histórica da formação da lei,

desde seu projeto, justificativa, exposição de motivos, emendas, aprovação e

promulgação = ___________________________________________________

- Consiste na busca do sentido literal ou textual da norma constitucional. Deve

ser apenas o ponto de partida no momento da interpretação de uma norma,

porque muitas vezes interpretando ao pé da letra, podemos chegar a soluções

hermenêuticas injustas (dura lex, sed lex) = ____________________________

- É aquela interpretação que busca correlacionar todos os dispositivos

normativos de uma Constituição, pois só conseguiremos elucidar a

interpretação a partir do conhecimento do todo = ________________________

- Consiste na busca dos antecedentes remotos e imediatos que interferiram no

processo de interpretação constitucional = _____________________________

- Faz alusão ao bom senso = _______________________________________

- Invoca a genealogia da Lei = ______________________________________

- Quem pode fazer o mais, pode fazer o menos = _______________________

02. CASO-PROBLEMA:

“Novas formas de família impõem desafios à Justiça - Um ex-casal de lésbicas

de São Paulo disputa na Justiça a guarda de um menino gerado com os

óvulos de uma e gestado no útero da outra (...).É como uma família qualquer,

como se fosse pai e mãe. Deve-se levar em conta as condições sociais,

psicológicas e econômicas de cada um e decidir o que é melhor para a

criança.” Já o juiz Edson Namba, especialista em biodireito, pensa que o caso

exige ainda mais cuidado na hora de julgar. “Não é só o fato de ter a guarda. É

preciso avaliar qual delas está mais apta para ajudar essa criança a entender

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esse contexto de ser filha de um casal do mesmo sexo.” Namba afirma que, no

caso das enfermeiras, houve infração ética da clínica de reprodução que

realizou a fertilização in vitro. “A lei é clara: a doação de óvulo é anônima. Isso

é inviolável”. (Folha de São Paulo – Adaptado)

a) Qual é o fato juridicamente relevante?

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b) Na decisão desse caso aplicaram-se normas civis com fundamentação no

art. 5º da CF. Explique, à luz da CF, o que pode ter sido argumentado.

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03. (in MARQUES, 2003 pg. 58) Baseando-se no método gramatical, analise a

seguinte Lei:

“O funcionário que exercer atividades técnico-científicas, de magistério ou

pesquisa, satisfeitas as exigências regulamentares, poderá optar pelo regime

de tempo integral” (art. 49 da revogada Lei 3.780/60)

...agora responda:

- Funcionário que exercer atividade técnico-científica que não for de magistério

e nem de pesquisa, satisfeitas as exigências regulamentares, poderá optar pelo

regime de tempo integral?

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04. Considerando que o Código Comercial tem sua origem na Lei nº 556, de

25 de junho de 1850, com a parte primeira do comércio em geral revogada pela

Lei 10.496 de 10/01/2002, qual o método mais eficiente para o completo

entendimento dessa Lei? Por quê?

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05. Empregue o método lógico e responda:

“O querelado alega vício na queixa-crime, por desatendimento ao art. 44 do

Código de Processo Penal. Mostra que na procuração que acompanha a inicial

não consta a qualificação do querelado, só a do querelante.”

- Tem razão o querelado? Por quê?

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06. Qual o método que está mais relacionado com a premissa: “estudando o

passado, percebe-se o futuro.”? _____________________________________

07. Analise: O art. 312 do Código Penal, agora responda:

- Como sei se um escrivão de Vara Cível se enquadra no conceito de

funcionário público desse artigo em questão?

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08. Considerando o texto original da Lei 2.848 de 07/12/1940 (ver abaixo), qual

foi o argumento usado pelos legisladores ao modificar o art. 215 do Código

Penal na redação dada pela Lei 12.015 de 2009? (Justifique a sua resposta)

“Posse sexual mediante fraude”

Art. 215. Ter conjunção carnal com mulher honesta, mediante fraude:

Pena - reclusão, de um a três anos.

Parágrafo único. Se o crime é praticado contra mulher virgem, menor de

dezoito anos e maior de quatorze anos:

Pena - reclusão, de dois a seis anos.” (Código Penal 1940)

Resposta:

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09. Veja o art. 233 do Código Penal e responda:

- Está definido o conceito de obscenidade no artigo? ____________________

- Em que se concentra a redação do tipo penal do qual trata o art. 233 do CP?

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- Pode o juiz identificar obscenidade de acordo com o caso concreto que está a

julgar?

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10. Leia artigo 271 do CPP e diga quanto à extensão como deve ser a

interpretação? ___________________________________________________

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11. Considere a hipótese do réu que se oculta para não ser citado (CPP, arts.

355, § 2º e 362). Haverá duas correntes de interpretação. Quais são e quais os

métodos de interpretação empregados que as sustentam?

Resposta:

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12. Analise o caso a seguir e complete:

“Quando Rui Barbosa recebeu uma condecoração estrangeira. Seus

adversários alegaram que ele deveria perder seus direitos políticos, conforme

disposição da Constituição de 1891: “os que aceitarem condecorações ou

títulos nobiliárquicos estrangeiros perderão todos os direitos políticos”.

A defesa do jurista recorreu ao método _______________, demonstrando que

o adjetivo nobiliárquicos refere-se não apenas a títulos, mas também a

condecorações. Ele estaria, assim, proibido de aceitar condecoração

nobiliárquica estrangeira e não uma condecoração simples, como a que

aceitara.

13. Complete as sentenças:

- A interpretação _______________ permite resolver contradições entre

termos numa norma jurídica, chegando-se a um significado coerente.

Adotando-se o princípio da identidade, por exemplo, não se admite o uso de

um termo com significados diferentes.

- O método _______________ impede que as normas jurídicas sejam

interpretadas de modo isolado, exigindo que todo o conjunto seja analisado

simultaneamente à interpretação de qualquer texto normativo. Assim, não

podemos buscar o significado de um artigo, de uma lei ou de um código.

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Ambos devem ser analisados em sintonia com a Constituição e as demais

normas jurídicas.

14. No art. 930 CC encontramos quais são as consequências dos danos

causados para evitar um perigo, quando esse perigo ocorrer por “culpa de

terceiro”.

Por ser ambígua a palavra culpa (negligencia, imprudência), todas as

conotações são possíveis, embora, num caso concreto, o aplicador da lei tenha

de identificar uma delas. Qual deve ser a interpretação mais coerente quanto à

abrangência do sentido?

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15. A CF diz que...

“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a

inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à

propriedade, nos termos seguintes:

III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou

degradante;

IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

XXII - é garantido o direito de propriedade;”

Explique por que o método de interpretação literal dá conta do sentido deste

texto.

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16. Complete a tabela com os nomes dos 5 métodos, as premissas ou as

perguntas para interpretar que faltam (utilize os espaços em branco):

Argumento Premissa Pergunta

Só é correta a interpretação que proteja o valor que a norma visa proteger.

Qual o interesse a que a norma visa proteger, ou qual o fim a que se destina?

Lógico

Direito é obra da razão, e suas regras devem estar conformes à razão

Sistemático

Há, no ordenamento, outra norma que esclareça o significado desta em estudo? Qual a interpretação desta norma que mentem-na me harmonia com o sistema jurídico?

Gramatical

A norma é um fragmento de linguagem: um simples texto

Na tradição e regras da filologia, o que significa este texto?

Histórico

A compreensão da história de um instituto e do momento da criação da norma ajudam a entendê-la.

17. Quais normas podemos deduzir, por interpretação lógica, Do inciso III –

Art. 5º da CF?

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18. Analise o Texto a seguir e responda:

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA

Preâmbulo

A Luta Armada de Libertação Nacional,

respondendo aos anseios seculares do

nosso Povo, aglutinou todas as camadas

patrióticas da sociedade moçambicana num mesmo ideal de liberdade,

unidade, justiça e progresso, cujo escopo era libertar a terra e o Homem.

Conquistada a Independência Nacional em 25 de Junho de 1975, devolveram-

se ao povo moçambicano os direitos e as liberdades fundamentais.

A Constituição de 1990 introduziu o Estado de Direito Democrático, alicerçado

na separação e interdependência dos poderes e no pluralismo, lançando os

parâmetros estruturais da modernização, contribuindo de forma decisiva para a

instauração de um clima democrático que levou o país à realização das

primeiras eleições multipartidárias.

A presente Constituição reafirma, desenvolve e aprofunda os princípios

fundamentais do Estado moçambicano, consagra o carácter soberano do

Estado de Direito Democrático, baseado no pluralismo de expressão,

organização partidária e no respeito e garantia dos direitos e liberdades

fundamentais dos Cidadãos.

A ampla participação dos cidadãos na feitura da Lei Fundamental traduz o

consenso resultante da sabedoria de todos no reforço da democracia e da

unidade nacional. (MOÇAMBIQUE, Constituição da República, 16 de novembro de 2004)

a) Quais os direitos que se podem interpretar previstos como nortes que

alimentarão a Constituição?

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b) Quais as técnicas de interpretação mais importantes usadas para o completo

entendimento do Texto? ___________________________________________

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19. Marque a alternativa verdadeira sobre o Preâmbulo da Constituição da

República de Moçambique visto na questão anterior:

( a ) o texto é puramente cultural e desconexo da Lei.

( b ) o texto apresenta diretrizes nas quais estarão assentadas as bases

constitucionais de Moçambique.

( c ) o preâmbulo da Constituição Moçambicana possui força obrigatória e

normativa.

( d ) o preâmbulo não pode ser interpretado como parte componente do texto

constitucional, uma vez que não possui teor imperativo à sociedade.

( e ) a interpretação do texto não sugere uma preliminar que prepara todo

caminho para a chegada da estrutura de um novo povo, regido por novos

ideais e sonhos.

20. O artigo 155 CP trata de “furto simples” e o parágrafo primeiro de sua

figura agravada. O parágrafo segundo traz a figura privilegiada e o quarto trata

das figuras qualificadas. Pode ter um crime qualificado e privilegiado ao mesmo

tempo? Qual método de interpretação justifica a resposta?

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