moisés feitosa bonifácio o texto jurÍdico modalidades de...

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Moisés Feitosa Bonifácio O TEXTO JURÍDICO As peças jurídicas têm como principal objetivo a eficácia. Não se pode fazer das mesmas, um emaranhado de palavras cuja atenção do leitor se volte para a tentativa de decifrar e compreender aquilo que se pretende (lembre-se do que já foi por nós estudado: significado e sentido, ambiguidades, preciosismo, etc.) e não para o objetivo em si da própria peça. A boa redação também é exigência para sentenças e acórdãos, sob pena de serem alvejados pelo recurso de embargos declaratórios. MODALIDADES DE TEXTOS: 1. Narração: apresenta episódios e acontecimentos costurados por uma evolução cronológica das ações. Essas ações são vistas sob determinada lógica e constroem uma história, que nos é dada por um narrador. É comumente empregada na petição inicial, na denúncia ou na reclamação trabalhista. Principais elementos: a) O fato: o quê? – Quid? b) A(s) personagem(ns): Quem? – Quis? c) O lugar: Onde? – Ubi? d) O tempo: Quando? – Quando? e) O modo: Como? – Quomodo? f) A causa: Por quê? – Cui? Estrutura: - Introdução: apresentação do fato; - Desenvolvimento: complicação – o corpo do relato, a sequência de fatos; - Clímax: o desencadeamento do fato central; - Desenlace ou desfecho. 2. Descrição: apresenta, de um ponto de vista ou foco, objetos, paisagens, lugares, ambientes, personagens e seus estados emocionais. 3. Dissertação: apresenta ou explica ideias, esclarecendo-as, organizando-as, sem, entretanto, tomar uma posição em relação a elas. 4. Argumentação: apresenta idéias e fatos que sustentam um ponto de vista acerca de determinada questão. Argumentar consiste em provar, demonstrar ou defender uma visão particular sobre determinado assunto. Etapas do plano-padrão da argumentação formal: 1 – Proposição. 2 – Análise da proposição. 3 – Formulação dos argumentos (com evidência): a) fatos (comprovados) que necessitam ser narrados; b) exemplos; c) Ilustrações; d) dados estatísticos; e) testemunho autorizado. 4 – Conclusão. O que deve ser pedido ao Juiz ?

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Moisés Feitosa Bonifácio O TEXTO JURÍDICO As peças jurídicas têm como principal objetivo a eficácia. Não se pode fazer das mesmas, um

emaranhado de palavras cuja atenção do leitor se volte para a tentativa de decifrar e compreender aquilo que se pretende (lembre-se do que já foi por nós estudado: significado e sentido, ambiguidades, preciosismo, etc.) e não para o objetivo em si da própria peça.

A boa redação também é exigência para sentenças e acórdãos, sob pena de serem alvejados pelo recurso de embargos declaratórios. MODALIDADES DE TEXTOS:

1. Narração: apresenta episódios e acontecimentos costurados por uma evolução cronológica das ações. Essas ações são vistas sob determinada lógica e constroem uma história, que nos é dada por um narrador. É comumente empregada na petição inicial, na denúncia ou na reclamação trabalhista. Principais elementos:

a) O fato: o quê? – Quid? b) A(s) personagem(ns): Quem? – Quis? c) O lugar: Onde? – Ubi? d) O tempo: Quando? – Quando? e) O modo: Como? – Quomodo? f) A causa: Por quê? – Cui?

Estrutura: - Introdução: apresentação do fato; - Desenvolvimento: complicação – o corpo do relato, a sequência de fatos; - Clímax: o desencadeamento do fato central; - Desenlace ou desfecho. 2. Descrição: apresenta, de um ponto de vista ou foco, objetos, paisagens, lugares, ambientes,

personagens e seus estados emocionais.

3. Dissertação: apresenta ou explica ideias, esclarecendo-as, organizando-as, sem, entretanto, tomar uma posição em relação a elas.

4. Argumentação: apresenta idéias e fatos que sustentam um ponto de vista acerca de

determinada questão. Argumentar consiste em provar, demonstrar ou defender uma visão particular sobre determinado assunto. Etapas do plano-padrão da argumentação formal:

1 – Proposição. 2 – Análise da proposição. 3 – Formulação dos argumentos (com evidência): a) fatos (comprovados) que necessitam ser narrados;

b) exemplos; c) Ilustrações; d) dados estatísticos; e) testemunho autorizado.

4 – Conclusão. O que deve ser pedido ao Juiz ?

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PROCURAÇÃO: O Código Civil, nos artigos 653 a 692, trata do contrato denominado ‘mandato’, através do qual uma

pessoa recebe poderes para, em nome de outra, praticar atos, deliberar ou administrar interesses. O contrato de mandato materializa-se por meio do instrumento chamado ‘procuração’. Portanto, a

procuração é o instrumento do mandato, ou seja, é incorreto usar a expressão “pelo presente instrumento de procuração”. O certo é utilizar “pelo presente instrumento de mandato” – pois o contrato é o mandato e não a procuração.

Trata-se do gênero de texto por meio do qual alguém, nomeado mandante/outorgante, delega poderes a outra pessoa, denominada mandatário/procurador/outorgado, para a realização de certos atos.

Quanto às exigências formais, a procuração deve conter o lugar em que foi instrumentalizada em texto a outorga de poderes; a data; nome do outorgante, com as características de sua identificação: nacionalidade, profissão, estado civil e residência; nome do mandatário ou procurador, com as características de sua identificação; a discriminação dos poderes, expostos com clareza, e, por fim, a assinatura do mandante ou outorgante. A apresentação do instrumento de mandato é obrigatória, conforme artigo 37 do CPC. Exemplo de uma procuração: Outorgante: fulano(a) de tal, brasileiro(a), estado civil, profissão, portador(a) do CPF nº ______________________, RG nº_______________________, residente e domiciliado(a) na (rua, avenida, etc.) ______________________________, bairro __________________, município ______________________, Estado _________________, CEP _____________, fone ____________, pelo presente instrumento nomeia e constitui como seu (sua) bastante Procurador(a) (Outorgado) fulano(a) de tal, brasileiro(a), estado civil, profissão, portador(a) do CPF nº ___________________, RG nº_________________________, residente e domiciliado(a) na (rua, avenida, etc) _______________________________, bairro __________________, município _______________________________, Estado _________________, CEP _____________, fone ____________, com poderes para representar o outorgante perante (todos os órgãos da administração pública Federal, Estadual, Distrital e Municipal, inclusive perante) às Unidades da Receita Federal do Brasil para requerer/solicitar _(exemplo de poderes genéricos:_tudo o que for necessário para solucionar qualquer pendência ou situação minha ante a RFB)_ou (exemplos de poderes específicos: pesquisas sobre situação fiscal e cadastral, solicitar emissão de DARF, impugnação, certidão negativa de débitos, dar vistas ao processo administrativo nº , quitar débitos, inclusive parcelar etc,), responsabilizando-se por todos os atos praticados no cumprimento deste instrumento, cessando os efeitos deste a partir da(o) (extinção do seu objetivo) (dia/mês/ano). __________________________,______de___________________de______ (Local)

______________________________________________ (Assinatura do Outorgante)

Substabelecer é o ato de transferir para outrem encargo ou procuração recebida. Por exemplo, “A” passa procuração para “B”, entretanto, “B”, por algum motivo, não poderá representar “A” como consta na procuração e faz outro documento, chamado Substabelecimento, transferindo para “C” os poderes que lhe foram outorgados por “A”. O substabelecimento pode ser total ou parcial (ou seja, passam-se todos os poderes da procuração ou apenas parte deles); com ou sem reserva de poderes (no primeiro caso tanto o procurador quanto o substabelecido podem agir em nome do mandante, no segundo, somente o substabelecido pode atuar).

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PETIÇÃO: Vamos agora atermos na elaboração de petições, já que são por meio das mesmas que o Advogado,

chamado de patrono, se comunica com o Poder Judiciário; importando muito a qualidade delas, não somente para o resultado das ações movidas, mas para a apresentação da competência do profissional em questão.

A linguagem jurídica trabalha para fins utilitários, antes de mais nada, e não para fins

artísticos. Quem lida com o Direito, em suas diferentes concretizações, deve aspirar a expor o

conteúdo mais exato na expressão mais adequada. (DAMIÃO, Regina T. e HENRIQUES, Antonio. Curso

de Português Jurídico – São Paulo: Atlas, 2004. SADER Emir. Entendimento de Sentença. Jornal A Folha

de São Paulo, 17.11.06). Do ponto de vista linguístico, a petição pertence ao gênero textual do requerimento, mas é um tipo

especial de requerimento. Produzida no domínio jurídico, tem uma forma textual estabilizada, de natureza sociocomunicativa, de prática habitual na sociedade. É um gênero de texto, assim como a contestação, que faz uso de todos os recursos da argumentação.

Tem por função solicitar a tutela jurisdicional do Estado1 a fim de atender a um direito ameaçado ou violado. Independentemente do objeto da demanda, as petições iniciais guardam certas semelhanças formais.

É a peça fundamental para o início de um processo legal, daí sua denominação de inicial, preferível às variações como: peça exordial, preambular, vestibular, ou, ainda, a pior possível, peça ovo2. Muitos advogados e juizes da atualidade estão conscientes de que para a clareza e a objetividade textuais não há que se inventar; o menos é sempre mais, isto é, o uso de palavras técnicas, na medida necessária para a precisão das informações.

“qualquer requerimento necessita ser suficientemente claro para ensejar sua apreciação pelo

órgão competente, que irá avaliá-la e deferir (ou não) o pleito. Isso se materializa com extrema ênfase na petição inicial, que, carente dos elementos mínimos que permitam o exercício do direito de defesa, será indeferida, como preconiza o artigo 295 do Código de Processo Civil (CPC):

A petição inicial será indeferida: I – quando for inepta; (...) Parágrafo único. Considera-se inepta a petição inicial quando: (...)

II – da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão. (Gold, Miriam e Segal,

Marcelo in Português Instrumental para Cursos de Direito, 2007 : 07)

CPC, Art. 285 – “Estando em termos a petição inicial, o juiz a despachará, ordenando a citação do réu, para responder; do mandado constará que, não sendo contestada a ação, se presumirão aceitos pelo réu, como verdadeiros, os fatos articulados pelo autor.”

A petição inicial autuada, juntamente com todos os papéis e documentos relativos à respectiva demanda, formam um corpo físico denominado de autos. Os autos representam, assim, o conjunto de toda autuação.

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Petição Documentos Autos do processo Uma vez aceito patrocinar determinada causa, a elaboração da peça vai seguir determinadas etapas3.

Formalmente, a petição é composta pelo cabeçalho, pela identificação das partes, pelo tipo de ação, pela exposição dos fatos, pela fundamentação jurídica, pela formulação do pedido e pelo fechamento ou conclusão, que podem, assim, ser observadas:

1CPC, art. 2º- “Nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando a parte ou o interessado a requerer, nos casos e forma legais.” 2Na Justiça do Trabalho a petição inicial recebe o nome de “Reclamação”. 3 CPC, Art. 282. “A petição inicial indicará:

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I - o juiz ou tribunal, a que é dirigida; II - os nomes, prenomes, estado civil, profissão, domicílio e residência do autor e do réu; III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido; IV - o pedido, com as suas especificações; V - o valor da causa; VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados; VII - o requerimento para a citação do réu.” CPC, Art. 283 – “A petição inicial será instruída com os documentos indispensáveis à propositura da ação.” CPC, Art. 284 – “Verificando o juiz que a petição inicial não preenche os requisitos exigidos nos arts. 282 e 283, ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor a emende, ou a complete, no prazo de 10 (dez) dias. Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a petição inicial.”

1) Cabeçalho (Encaminhamento)- necessário para que os funcionários do Juízo, principalmente no protocolo, possam encaminhar a ação, pois indica a quem deve ser dirigido o texto, normalmente o juiz ou desembargador responsável pela instrução e pelo julgamento no processo.Tratar os julgadores com o superlativo EXCELENTÍSSIMO, por extenso; - Fórmula de Tratamento; - Designação do juiz ou desembargador; - Fixar o foro competente ao qual deve dirigir o pedido = Vara, foro ou tribunal. - Deve vir logo no início da página. Ex.: 1 - Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da Digníssima Primeira Vara Criminal do Foro Regional de Pinheiros, nesta comarca de São Paulo. 2 - Excelentíssimo Senhor Desembargador Presidente do Egrégio Tribunal de Justiça deste Estado de São Paulo – Doutor Dirceu de Mello. OBS. Lembre-se de que é desaconselhável que se façam muitas abreviações no direcionamento. Ex.: “Exmo. Sr. Juiz de Direito da DD. 1ª Vara Cível”. E o Dr. (Doutor) ? O ‘Dr.’ no endereçamento, tão utilizado no passado, foi abolido, mas muita gente ainda o usa indevidamente. 2) Número dos autos e referência – a petição deve conter o número do processo, para indicar ao cartório em que autos deve ser ela juntada. É recomendável também que entre o encaminhamento e o numero do processo haja suficiente espaço em branco, para que se vá constituindo, na primeira folha da petição, área no papel para que o juiz profira seu despacho. Também é recomendável que se insira, logo abaixo do número do processo, uma referência (nome da peça, o que ela representa dentro dos autos a que será juntada). Ex.: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUÍZ DE DIREITO DA __ VARA CRIMINAL DA COMARCA DE _______________ – ESTADO DE __________. Ref. Proc. nº. xxx/200x Cartório do __º ofício (FULANO DE TAL), já qualificado nos autos em epígrafe que lhe move a Justiça Pública, por seu advogado que esta subscreve, vem, respeitosamente, a[sic] ilustre presença de Vossa Excelência, para apresentar, como ora o faz, suas ALEGAÇÕES FINAIS

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3) pela análise dos fatos e pela consulta à legislação, perceber a espécie de ação adequada; 4) pela consulta às leis processuais, fixar o procedimento apropriado; Ex.: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUÍZ DE DIREITO DA __ VARA CRIMINAL DA COMARCA DE _______________ – ESTADO DE __________. Ref. Proc. nº. xxx/200x Cartório do __º ofício (FULANO DE TAL), já qualificado nos autos em epígrafe que lhe move a Justiça Pública, por seu advogado que esta subscreve, vem, respeitosamente, a[sic] ilustre presença de Vossa Excelência, para apresentar, como ora o faz, suas ALEGAÇÕES FINAIS com fulcro no artigo 500, do Código de Processo Penal, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas: A ABSOLVIÇÃO DO ACUSADO É IMPERATIVO DE JUSTIÇA ! Se existe o clássico principio do livre convencimento do juiz, em contrapartida existe a obrigação legal de se amparar as decisões nas provas contidas nos autos, e, no presente caso as provas são ínfimas, dúbias, na verdade imprestáveis a sustentar um decreto condenatório como passaremos demonstrar - 1. O Acusado foi denunciado, por dita situação, incursa nos artigos 157, § 2º, I e II; art. 288; art. 29 e 69 todos do Código Penal Brasileiro, porque o seu aparelho celular, conforme consta da denúncia de fls. --/--, teria sido usado por assaltantes. 2. Atendendo ao disposto pelo artigo 500 do Código de Processo Penal, o Ilustre membro do Ministério Público apresentou suas Alegações Finais de fls. ---/---, pleiteando pela total procedência da ação, com a condenação do Acusado nos moldes da denuncia, inclusive as penas do artigo 15, III da Constituição Federal. Embora culto, nenhuma razão assiste a pretensão do Ilustre representante do Ministério Público. 3. Mormente, porque dos elementos levantados nos autos, existe somente o fato de ter sido encontrado no local do roubo, um aparelho celular, cuja linha lhe pertencia, porém, que havia sido vendido a pessoa de E. S. H. F. (fls. --), em data anterior ao dito roubo, pessoa que também foi denunciada em aditamento (fls. ---/---). 4. Em suma, toda prova colhida nos autos, é clara no sentido que ninguém reconheceu o Acusado como co-autor do delito. Nem mesmo, co-réus presos em flagrante e condenados citaram seu nome ou afirmaram a sua participação no roubo. Ao contrario ficou cristalino nos autos que sequer se conheciam. 5. E já que o decreto condenatório exige certeza, não podendo haver dúvida quanto à conduta e identificação do acusado, a absolvição aqui se impõe como medida de justiça e conforme preceitua o art. 386, IV, VI, CPP. 6. Vários são os julgados que servem para corroborar este entendimento, dentre os quais, citamos os seguintes: EMENTA: “Se o espírito do magistrado é animado pela incerteza, forçoso convir que outro caminho ele não terá senão o da absolvição, pois é máxima de processo penal que a dúvida, sentimento alternativo que inclui o sim e o não, sempre deve prevalecer em benefício do réu”. (TACRIM – 11a C – AP - 1081141/1 – j. 9.2.98 – Rel. Xavier de Aquino – Rolo-flash 1.155/060). (grifos nossos). EMENTA: “Prova insuficiente em face do material indiciário que serviu de apoio à denúncia não constituir prova satisfatória na instrução criminal – Rejeição da pretensão punitiva – Ocorrência – Se o material indiciário, que serviu de apoio à denúncia, não se converteu em prova satisfatória na instrução criminal, faz-se mister a rejeição da pretensão punitiva”. (TACRIM – 7a C- AP 751383 – j. 19.4.94 – Rel . Correa de Moraes – Rolo-flash 817/ 053). (grifos nossos).

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7. A dita “prova” em que se agarra o Ilustre membro do Ministério Público, é o celular encontrado ainda na fase do Inquérito Policial, porém, durante toda a instrução processual, não restou provado que sua vontade estava dirigida ao fim de entregar seu celular para ser usado em atividade criminosa. NÃO RESTOU CARACTERIZADO NOS AUTOS TAL VÍNCULO. 8. Nesse sentindo é a jurisprudência: ROUBO. AUSÊNCIA DE VÍNCULO PSICOLÓGICO. CO-AUTORIA NÃO CARACTERIZADA. ABSOLVIÇÃO. “Não havendo prova suficiente da participação efetiva na ação delituosa, mas simples acompanhamento, mantendo-se o apelante à distância dos agentes, não há que se falar em co-autoria". (JTACRSP 80/536). (grifos nossos). 9. Tanto assim foi, que em Aditamento à Denúncia (fls. ---/---), com o fim de incluir E. S. H. F. as sanções do artigo 157, §2º, I e II, e 288 c/c artigo 29 e 69, todos do Código Penal Brasileiro, o Ilustre membro do Ministério Público escreveu: “II – Apurou-se nos autos, que o referido telefone fora entregue por (Fulano de tal) à E. S. H.F., E ENTREGUE POR ESTE, AOS OUTROS CO-RÉUS PARA UTILIZAREM DURANTE A REALIZAÇÃO DO REFERIDO ROUBO descrito na denúncia de fls. --/--.” (grifos nossos). 10. Desta forma, vê-se claramente que a acusação não conseguiu provar e/ou atribuir responsabilidades a efetiva e inquestionável participação do Acusado nos crimes investigados, não podendo transferir esse ônus ao denunciado, que nega veementemente sua participação. 11. Nesse sentido: EMENTA: “O réu não precisa provar o que não alegou, máxime não tendo ele aventado qualquer causa de excludente, que aí, sim, precisa demonstrar, sendo certo que o órgão acusador que precisa provar, segura e convincentemente, o que articulou na denúncia” – (TCRIMSP – ap. – Rel. Ary Casagrande – RDJ – 25/330). (grifos nossos). EMENTA: “Não é o réu que tem o ônus de fazer prova defensiva apta a esculpar-se; à acusação que incumbe a demonstrar a sua culpa diante da presunção de inocência, garantida constitucionalmente” – (TACRIMSP – ap. Rel. Walter Tintore – RJD – 06/136). (grifos nossos). EMENTA: “É ônus do Ministério Público provar o fato da autoria na pessoa do acusado. Essas provas devem dimanar de elementos coligados na instrução criminal. Se inexiste esta, não pode a Justiça louvar-se em elementos coligidos no inquérito para condenar o réu.” – (TFR – ap. 5716 – Rel. adhemar Raymundo – DJU – 02/12/82, pág. 12412). (grifos nossos). 12. Diante disto, o Ilustre membro do Ministério Público pleiteia pela condenação baseada, EXCLUSIVAMENTE, em elementos probatórios coligidos na fase preliminar do inquérito policial, o que viola gravemente o princípio constitucional do contraditório e da ampla defesa. 13. Esse é o entendimento que perfilhamos e que encontra respaldo nos seguintes julgamentos, que restaram assim resumidos: EMENTA: “A condenação não pode se fundamentar em provas obtidas no inquérito policial”. (TJSP – S. Plenária - Den. 7.405-0 – j. 20.6.90 – Rel. Weiss de Andrade – RT 666/274). (grifos nossos). EMENTA: “Sentença condenatória – Decreto baseado somente em inquérito policial – Inadmissibilidade – Condenar-se alguém com base unicamente no que se apurou em inquérito policial afronta o princípio constitucional do contraditório e da defesa ampla, dado que estão ausentes tais garantias no

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procedimento investigatório, peça meramente informativa destinada apenas a autorizar o exercício da ação penal”. (TACRIM – SP – AP – Rel. Gonzaga Franceschini – RJD – 19/144). (grifos nossos). EMENTA: “Condenação baseada unicamente em prova colhida no inquérito policial, sem qualquer reflexo na instrução judicial da causa, configura violação ao princípio constitucional do contraditório”. (TACRIM – SP – AP – Rel. Toledo de Assumpção – JUTACRIM – SP – 28/115). (grifos nossos). 14. Conclui-se portanto, que não resta demonstrado nos autos a participação do Acusado, seja direta ou indiretamente nos crimes que lhe foram atribuídos na denuncia.. Ex positis, requer seja julgada improcedente a presente ação, absolvendo-se o Acusado, nos termos do artigo 386, IV e VI, do Código de Processo Penal, como medida única e mais salutar JUSTIÇA. Termos em que, Pede e espera deferimento, Local e data. __________________________________ Advogado OAB nº ____/__ Fonte: http://clovistelles.blogspot.com/2008/05/alegaes-finais-art-500-cpp.html (acesso em 23/03/2010) 5) nomes das partes (qualificação) e o tipo de ação; Ex.:

TÍCIO DA SILVA, por seu advogado, nos autos da ação de reparação de dano que move em face de HERMES DA FONSECA, vem, respeitosamente, à presença de Voxxa Excelência expor e requerer o quanto segue:

Qualificação: - nome completo; - estado civil; - profissão; - documentos de identificação (RG e CPF); - domicílio e residência.

6) exposição dos fatos que motivaram a ação, esclarecendo o relacionamento jurídico entre o autor e o réu e, ainda, indicando a lesão que está sendo praticada contra o direito do autor. É nesta etapa que a narrativa, que é um tipo de texto, é utilizada, percebendo-se a presença de todos os seus elementos: os personagens — autor e réu; o fato — a lesão a um direito do autor; o local — onde se passaram os fatos; o tempo — quando ocorreram; as causas e consequências — o que pode ter motivado os fatos e os danos provocados. É comum a divisão, em grande parte das petições, entre “OS FATOS” (narrativa) e ‘O DIREITO” (argumentação); Ex.: [...] O querelado, no dia primeiro de janeiro do corrente ano, telefonou para dois dos clientes do querelante, afirmando-lhes que os serviços deste eram mal elaborados, e, mais, que o querelante era uma mau profissional. Ainda não satisfeito com tal atitude, telefonou, dois dias depois, à secretária de um terceiro cliente, informando que lhe estaria passando um fax. Naquela oportunidade, aproveitou para falar a ela que a mensagem do fax constituía-se de um texto que explicava o descontentamento co querelado com os serviços do querelante. Foi o que fez: transmitiu via fax o texto de fls. 10, que contém difamações severas, atingindo a honra objetiva do querelante, como se demonstrará posteriormente.[...]

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Selecionar: - os fatos que são juridicamente relevantes (os que importam diretamente para a aplicação da norma jurídica); Ex.: Consta do incluso inquérito policial que, no dia 18 de maio de 2006, no bairro Boa Vista, nesta comarca do Porto, Francisco Vitório Farias matou a tiros a vítima Rodolfo Alves de Lucena, por meio que impossibilitou a defesa do ofendido. Conforme apurado, Rodolfo saía de um bar quando alguém o chamou e, assim que ele se virou para olhar quem pronunciava seu nome, foi surpreendido pelos disparos, sem poder esboçar qualquer reação. Testemunhas reconheceram o autor dos disparos fatais como sendo o Sr. Francisco Vitório Farias. O móvel do crime1 nao foi apurado. Desta forma, denuncio Francisco Vitório Farias como incurso no artigo 121, com a qualificadora do parágrafo segundo, inciso IV do mesmo artigo, o recurso que tornou impossível a defesa do ofendido, todos do Código Penal... (...) 1Motivo particular que impele um indivíduo a praticar certo ato. - os fatos que contribuem para a compreensão dos juridicamente relevantes (contexto); Ex.: [...] O autor, na madrugada do dia 20 de junho de 2007, encontrava-se na festa do Pátio do Forró, a qual, devido ao adiantado da hora, já estava por terminar. Procurando voltar para casa, o autor foi ao encontro do ora réu, seu vizinho, e perguntou se este lhe poderia dar um bigu, em seu carro, até a casa do autor. O réu não negou o favor e dispôs-se a levá-lo, apenas aifrmando que aguardasse, porque o show estava prestes a terminar e ele queria ficar até o final. Poucas horas antes do amanhecer, o réu chamou o autor para que ambos fossem embora. O autor, já cansado, agradeceu a atitude e dirigiu-se ao carro do réu, tomando assento no banco do carona. Para seu espanto, o réu, ainda muito animado pelo ensejo da festa e talvez até alccolizado, saiu em alta velocidade, dizendo que eles deveriam aproveitar a oportunidade que estavam a sós e prolongar a noitada até o nascer do sol, mas o autor expôs sua vontade de ir para casa. O réu, passando a mão na coxa do autor no sentido do joelho para a virilha e insinuando desejos sexuais, insistiu mais uma vez dizendo-lhe que ele não se arrependeria e de que deveriam “curtir” um pouco mais. O autor pediu então que parasse com “aquilo” e que o levasse para casa. Desapontado por estar sendo compelido a parar com seu abuso e voltar para casa, já que estavam muito proximos do local de residência de ambos, imprimiu maior velocidade ao carro, e, talvez com seus reflexos mais retardados que o normal e dirigindo somente com uma mão, já que a outra estava ocupada com suas insistências importunas, perdeu o controle do veículo e, na altura do número 4.505 da Av. Agamenom Magalhães, arrebatou-o contra um poste, causando, com o choque, vários danos ao autor, que ainda se encontra em fase de convalescença. [...] Note-se que no exemplo acima, o fato juridicamente relevante é o acidente de trânsito, que causou danos ao autor, embora possamos pensar que o assédio sexual também o pudesse ser. Aqui, porém convém lembrar que sem testemunhas e na hipótese de versões fáticas diametralmente opostas, controvérsias, dissemelhanças com a narração do mesmo evento sobre pontos de vistas diferentes (o cliente pode dizer ter sofrido ação penal, mas o querelante negar), atemo-nos ao fato, cujas provas processuais poderão provar a verdade. Os outros elementos fáticos descritos não têm relevância jurídica (a exceção do abuso sexual, que poderia ser tema de um processo por dano moral) , mas criam um contexto para o ilícito civil. É o caso, por exemplo, da festa no pátio, ou o fato de o réu pretender estender a farra depois da festa com insinuações sexuais, o que o fez desapontar-se com o contrário desejo do autor. Procure fazer com que seu texto tenha sempre resposta a estas questões: 1 - O quê ? o fato, a ação (no exemplo dado, o acidente) 2 - Quem ? os personagens, agentes. (no exemplo, autor e réu) 3 - Como ? o modo com se desenrolou o fato (a saída do patio, a proposta para sexo, a aceleraçaõ do carro) 4 - Quando ? o momento ou a época em que ocorreu o fato. (madrugada do dia 20 de junho de 2007) 5 - Onde ? lugar da ocorrência (Av. Agamenom Magalhães, Nº 4.505)

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6 - Por quê ? o motivo do fato. ( a irritação do réu por ter sua vontade reprimida, sua imprudência ao dirigir) 7 - Por isso: resultado ou consequência. (os danos ao autor, que serão descritos). - os fatos que contribuem para a ênfase de outros mais importantes; Ex.: Poucas horas antes do amanhecer, o réu chamou o autor para que ambos fossem embora. O autor, já cansado, agradeceu a atitude e dirigiu-se ao carro do réu, tomando assento no banco do carona. Para seu espanto, o réu, ainda muito animado pelo ensejo da festa, saiu em alta velocidade, dizendo que eles deveriam aproveitar a oportunidade de que estavam a sós e prolongar a noitada até o nascer do sol; Convidou o réu, seu carona, para acompanhá-lo para um lugar deserto ou mesmo um motel, mas este negou-se a acompanhá-lo dizendo estar cansado e não concordar com aquela intenção e expôs sua vontade de ir para casa lembrando que ambos precisavam estudar para a semana de provas na faculdade. O réu continuou, enquanto pilotava, a insistir, afirmando-lhe que ele, o autor, não se arrependeria do que iriam fazer e de que deveriam “curtir” um pouco mais. Sua mão roçava insistentemente a perna do autor e chegava-lhe à parte genital. O autor pediu então que parasse com “aquilo” e que o levasse para casa ainda dizendo-lhe que continuariam amigos e de que deveriam esquecer o ocorrido.O réu persistia no seu intento de persuadir o autor a acompanhá-lo e agora tentava pôr a mão dentro da calça do carona, o autor. Aparentemente descontrolado, fazia curvas em alta velocidade, rangendo os pneus, segurando o volante somente com uma mão, distraindo-se em olhar de lado para a perna esquerda do autor, avançando sinais fechados, assim expressando sua indignação ou desapontamento por ter de levar para casa o autor, enquanto este, temeroso, por várias vezes pedia para que a velocidade do carro fosse diminuída. Não foi antendido, e o acidente parecia premente: o carro era dirigido no limite do controle humano.O descontrole mental do réu, talvez por causa de algum elemento alterador do humor consumido na festa e por ter suas pretensões negadas, aflorava naquele momento. Ao entrarem na avenida Agamenom Magalhães, o autor já previa o pior: percebendo que era por conta da sorte que até o momento não se haviam acidentado, clamou ao réu que freasse, tirasse a mão direita de cima da sua perna, a do autor, voltasse a velocidade do carro ao normal e tomassem o rumo de casa. Foi então que a vontade de demonstrar sua contrariedade tomou novo ímpeto: o réu aumentou a velocidade, bateu no meio-fio, perdeu a direção e foi de encontro a um poste de luz no canteiro central da avenida.[...] Note-se que este texto é mais longo e detalhado e traz, além dos elementos necessários para o entendimento do contexto em que houve os fatos juridicamente relevantes, outros atinentes à técnica narrativa em geral e ampliam o próprio contexto nos aspectos da conduta do réu nos limites da sua culpa grave e da reação do autor. - os que satisfazem a curiosidade do leitor ou lhe despertam interesse na leitura . Aqui, referimo-nos à função literária do texto narrativo. Para que isso aconteça é imprescindível um conflito que crie uma expectativa pelo desfecho. Essa expéctativa que provém de um conflito, um embate que é exposto necessita que se inicie com a exposição de índices. O exemplo do texto do acidente na Avenida Agamenom Magalhães procura, além de narrar os fatos, criar um conflito, na tentativa de incitar expectativa no leitor. Ex.: 1º Conflito – A recusa do autor em ir com o réu “para um lugar discreto ou mesmo um motel”. 2º Conflito – A vontade do autor de ir para casa, lembrando ao réu que ambos precisavam descansar e estudar para a semana de provas da faculdade. O leitor, a partir desses índices, passa a perguntar-se: o que decorrerá dessa discussão ? A resposta vem a seguir: Aparentemente descontrolado, fazia curvas em alta velocidade, rangendo os pneus, segurando o volante somente com uma mão, distraindo-se em olhar de lado para a perna esquerda do autor, avançando sinais fechados, assim expressando sua indignação ou desapontamento. A partir daí pressupõe-se que o leitor continua a leitura porque espera o resultado final, e os elementos que vêm a seguir fazem crescer essa expectativa, até o desfecho: : o réu aumentou a velocidade, bateu no meio-fio, perdeu a direção e foi de encontro a um poste de luz no canteiro central da avenida.[...] Portanto, escolha para o seu texto frases que contemplem fatos que sirvam para frisar, realçar elementos que se destacam em importância na demanda. Veja que no texto apresentado acima, vários elementos

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fáticos tendem a realçar uma conduta do réu: a imprudência ao dirigir, objetivando caracterizar a culpa grave do réu. Partamos agora para a análise de outros textos. Os exertos a seguir apresentam dois tipos de discurso diferentes: o da acusação e o da defesa. Leia-se a jurisprudência abaixo: “A defesa do esbofeteado, injustamente, em público, não reclama em revide a morte, mas se o indivíduo sem responsabilidade de refletir, no auge da dor moral, maior que a física, no ato de repulsa, utilizar-se do único meio encontrado e matar o agressor não se lhe pode negar a legítima defesa”. (RT, 170:333) O discurso do júri, referindo-se aqui aos aspectos linguísticos e retóricos, demonstra que as narrativas da acusação e da defesa são construídas pela descrição dos fatos e estes elementos descritivos funcionam como verdadeiros argumentos. Observe o discurso da acusação: “Este é o acusado. Um acusado que vem aqui e mente, se Vossas Excelências observarem, hoje ele diz que é [sic] consta do outro interrogatório que ele estava separado, procura modificar aquilo que já declarou para o próprio juiz, procurando confundi-lo, procurando inverter pequenos detalhes para se amoldar a uma possível e imaginária tese de defesa. É um elemento perigoso, mesquinho. Mesquinho porque quando de uma discussão com um funcionário da Same- Serviço de Assistência e Movimento de Educação- por uma questão de água sacou de um revólver e, também, atirou.” (RT,170 30-35) Justificativa Os dados descritivos do réu: mesquinho, perigoso, mentiroso, cruel, mau caráter, lento (presentes não somente no fragmento acima, mas no conjunto da narrativa dos fatos, representada pelo Promotor de justiça, tem a função dissertativa de criar uma imagem simbólica do acusado como a de um elemento pernicioso à sociedade que deve ser punido. Leia-se, agora, a versão da defesa (RT,170 30-35): “Às vezes escapou que, em vez de justificar, passa a castigar. É o caso, senhores, típico do acusado. Hoje mostraram um quadro aqui, que se não houvesse alguém para rebater, o acusado apodreceria na cadeia. Excelências, nós vamos nos referir ao acusado como cidadão honesto, trabalhador, não é vadio, não é malandro. O acusado foi vítima das circunstâncias. Aconteceu um fato na vida do acusado. O acusado tem uma vida anterior ao crime, e tem uma vida posterior como vou mostrar a Vossas Excelências. Não como disse a nobre promotoria que o acusado praticou crimes. É o primeiro. Ele e primário. É o primeiro delito do acusado. O outro, ele já pagou, Excelências.” (RT,170 30-35). Justificativa Observe a versão da defesa, que procura descrever características positivas do acusado, criando-lhe uma imagem benigna refutando, assim, o retrato oferecido pela acusação. Com os elementos descritivos, a defesa espera convencer o Conselho de Sentença a aceitar a nova imagem do acusado: trabalhador, honesto, não é vadio, não é malandro; argumentando-se, implicitamente, ser ele um cidadão e, como tal, não deve ser injustiçado. 7) fundamentação jurídico-legal, isto é, a indicação do dispositivo legal que ampara o pedido, assim como das normas contratuais violadas pelo réu. Em muitos casos essa etapa se funde com a anterior; assim, a exposição dos fatos pode já ser acompanhada dos dispositivos legais que fundamentam o pedido e com os argumentos (depoimentos, provas técnica e documental etc.); Ex.: Conta-se que, em um plenário do júri, um promotor exibia aos jurados as provas processuais. Procurava, portanto, na prática de um discurso judiciário, convencer os jurados a respeito de sua tese. Mostrava a eles, com muita propriedade – argumentando -, que o laudo elaborado pela polícia técnica concluía que havia 99% de chance de que o projétil encontrado no corpo da vítima fatal houvesse sido disparado pelo revólver de propriedade do réu. Ser-lhe-ia impossível, então, diante de tal prova concreta, negar a autoria do crime.

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Diante desse fortíssimo argumento, o defensor, em tréplica, formulou aos jurados a seguinte pergunta retórica: “suponhamos que eu tivesse um pequeno pote com cem balinhas de hortelã. E que eu, então, pegasse uma delas, tirasse do papel celofane que a envolve e, dentro dela, injetasse uma dose letal de um veneno qualquer. Em seguida, que eu embrulhasse novamente o caramelo letal, colocasse novamente dentro do pote com noventa e nove balinhas idênticas, e as misturassem todas. Teria algum dos jurados coragem de tirar do pote um caramelo qualquer, desembrulhá-lo e saboreá-lo? Certamente que não. Pois, se ninguém pode se arrisca à morte ainda que haja 99% de chance de apenas se saborear um caramelo de hortelã, ninguém pode condenar o acusado, ainda que haja 99% de chance de haver disparado a sua arma contra a vítima!” Conta-se que lançando mão desse argumento, o defensor conseguiu a absolvição de seu cliente.

(http://nandopenafiel.blogspot.com/2008) PROVAS TESTEMUNHAIS: Quando utilizar o texto de depoimentos, não se esqueça de: - escrever o nome da testemunha que proferiu o depoimento; - indicar em que folha dos autos se encontra o depoimento recortado; - não alterar qualquer palavra do texto citado; - destacar o texto copiado, que deve sempre vir entre aspas; - indicar se fal algum realce no texto (sublinha, negrito etc.) - não deixar o texto citado sem conclusão: depois de copiar o depoimento, explicar em que medida ela colabora com a tese exposta, em um parágrafo posterior; - evite longas transcrições, quando desnecessárias. 8) fundamentação doutrinária e jurisprudencial. Quando a causa comporta, pode-se citar trechos de lições doutrinárias, ou precedentes jurisprudenciais que servirão como argumentos a favor da causa. Não faça citação jurisprudencial demasiada. Se necessária e compatível com a situação, coloque-a em relevo, mas não se deixe levar pela necessidade de apontar jurisprudência para cada tópico que for sustentar. Além de tornar a petição muito longa, transmite insegurança; 9) formulação clara do pedido, com suas especificações. Ao final das petições mais longas, deve-se, sempre, repetir resumidamente, em rápidos tópicos e em sequência lógica, as principais conclusões que, espera-se, serão tiradas da leitura da peça. Esse resumo final facilita a leitura da peça e prepara terreno para a formulação do pedido. Articuladas todas as teses, com seus devidos argumentos, o autor passa ao tópico final da peça: o pedido. Lembramos que de nada adianta a perfeita redação da petição, se a mesma não demonstrar de forma objetiva e concisa o que se pretende que o magistrado conceda ao argumentante e de que cada pedido contenha uma menção própria na causa de pedir. Ex.: Posto isso, é a presente para requerer que se digne esse douto Juízo, de:

1. conceder, por expresso, os benefícios da Justiça Gratuita ao autor; 2. determinar a citação, por mandato, do réu da presente ação...; 3. reconhecer a culpa do réu no acidente havido e fixar o ressarcimento das quantias gastas

com tratamento médico, ... 4. condenar o réu a adimplir todas as cobranças das despesas médicas, ... 5. julgar procedente o pedido de pagamento de danos morais e materiais, com a condenação do

requerido na importância de... 6. ao final, condenar o réu ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios...

10) requerimento de citação do réu; 11) declaração dos meios de prova com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados; 12) valor da causa.

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Portanto, como resumo podemos dizer que ao elaborar uma petição deve-se verificar se a mensagem: 1- Está ajustada ao receptor (clareza, sentido, vocabulário, sustentabilidade, etc.); 2- Tem conteúdo significativo; 3- Apresenta todos os personagens estão identificados e as datas e todos os elementos

que situam o tempo estão presentes; 4- Se os fatos juridicamente relevantes ou aqueles que colaboram para o

entendimento, a persuasão foram bem escolhidos e estão apresentados de forma linear;

5- Apresenta sentido claro no desenvolvimento das partes e no todo; 6- Não é inconcludente.

MODO DE DISPOR FATOS SELECIONADOS:

1) Linearidade – A narração progride por meio de ações em sequência, o que as rege é o transcurso do tempo (definir a ordem: cronológica ou alterada); A característica básica da narrativa é a consumação do fato. Lembre-se de que o verbo deve vir no pretérito perfeito do modo indicativo, porque indicará a ocorrência e a consumação do fato narrado. Importante também é a unidade, porque todos os fatos narrados devem inter-relacionar- se em íntima conexão, sendo a disposição dos elementos responsável pela coerência textual. Geralmente, numa Petição Inicial, processa-se a narrativa, utilizando-se de períodos curtos, forma verbal, como já dissemos no pretérito perfeito do indicativo, indicando no início o tempo dos acontecimentos e demais circunstâncias que permitem revelar como aconteceram os fatos e o porquê deles, na ordem linear, para que dessa narrativa se chegue logicamente a uma conclusão, resultado ou consequência do fato vivenciado pelas partes envolvidas.

Ex.: TEXTO 1

O autor, no início do presente ano, terminara a construção de sua casa, simples, no bairro em que mora. Procurando mobiliá-la, viu, no dia 2 de fevereiro do corrente ano, matéria publicitária em jornal, em que eram anunciados “móveis padrão em cerejeira, em oferta”. Achando interessante o produto e atraente o preço anunciado, o autor, no dia seguinte à leitura da matéria publicitária (encartada em documento 1), telefonou para o número ali anunciado, oportunidade em que foi atendido por um vendedor de nome Josias. Conversando com ele, perguntou se de fato os móveis eram feitos de cerejeira, de madeira maciça, e esse vendedor, diante de tal questão, respondeu afirmativamente. Confirmando preço e qualidade do produto, e diante da afirmativa do vendedor de que os estoques estavam-se esvaindo, o autor, horas mais tarde, compareceu à loja. Pela fidelidade natural do cliente, perguntou se o vendedor Josias ali estava, mas foi informado de que este não trabalhava naquele período. Interessado pelo produto, efetuou a compra naquela data de 3 de fevereiro (nota fiscal em doc. 2), com outro vendedor. O autor recebeu o produto, uma estante para televisão e som, uma semana depois, no dia 9 de fevereiro do corrente ano. Ao tentar montá-lo, seguindo o manual de instruções, a madeira lateral da estante, no momento da fixação de um parafuso, rachou-se. O autor pode perceber que o móvel, ao contrário do quanto lhe fora dito pelo vendedor e sugerido pela propaganda em jornal, tratava-se de um compensado de madeira de péssima qualidade, apenas revestido de fina camada de cerejeira. Foi ludibriado. (Rodríguez, Victor Gabriel. Manual de Redação Forense, curso de linguagem e construção de texto no direito, 2ª Ed. –

Campinas: LZN Editora, 2004) TEXTO 2 O autor, no dia 3 de fevereiro do corrente ano, comprou uma estante em loja da empresa-ré, sendo informado de que estava adquirindo um produto feito em madeira maciça. Efetuada a compra em tal estabelecimento (nota fiscal em anexo 1), o autor recebeu, após um semana, o móvel em sua casa. Ao tentar montá-lo, de acordo com o manual de instruções, a madeira lateral da estante, no momento da fixação de um parafuso, rachou-se e, então, o autor pode perceber que o móvel, ao contrário do quanto lhe fora dito pelo vendedor e sugerido pela propaganda em jornal, tratava-se de um compensado de madeira de péssima qualidade, apenas revestido de fina camada de cerejeira.

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Ocorre que antes de ir à loja, o autor telefonou para lá e, atendido por um vendedor de nome Josias, fez-lhe algumas perguntas a respeito do móvel, dentre as quais a se de fato os móveis anunciados eram feitos de cerejeira, de madeira maciça, e esse vendedor, diante de tal questão, respondeu afirmativamente. Não bastasse isso, o autor, no dia anterior a seu comparecimento à loja, havia lido em matéria publicitária veiculada em jornal o anúncio, por essa mesma empresa, de “móveis padrão cerejeira, em oferta” (anexo 2), em que constava foto e preço da estante que, então, passou a pretender comprar, porque precisava mobiliar sua casa construída havia pouco tempo. Esse anúncio já insinuava, como nele se lê, que os móveis eram de cerejeira maciça, e então o telefonema do autor à loja da empresa-ré foi apenas uma tentativa de confirmação, em que, como já se disse, foi novamente engodo. (Rodríguez, Victor Gabriel. Manual de Redação Forense, curso de linguagem e construção de texto no direito, 2ª Ed. –

Campinas: LZN Editora, 2004)

2) Não-linearidade (narrativa em retrospectiva) – Para que, no texto jurídico, a ordem linear seja rompida, deve-se ter uma intenção clara, um objetivo bem evidente.

Ex.: O réu, no dia primeiro de outubro do corrente ano, apropriou-se de dinheiro depositado em conta corrente pelo condomínio Flores, transferindo quantia da conta deste para sua pessoal, e então invertendo indevidamente a posse da quantia em dinheiro, conforme dá conta o extrato bancário (anexo 1).

O réu teve contratados os seus serviços em novembro do ano passado para administrar o condomínio, época em que este, por meio de seu síndico, autorizou ao réu a movimentação da única conta corrente do condomínio vitimado.

Em virtude de tal autorização, as transações bancárias passaram a ser feitas unicamente pelo réu, e vinham sendo efetuadas com regularidade até que, no início de novembro do corrente ano, quando já havia dinheiro depositado em grande quantia para pagamento de reformas previstas no imóvel, bem como para proporcionar o décimo terceiro salário aos funcionários, a assembleia geral de condôminos constatou que suas contas estavam vazias, por conta de saque efetuado, ilicitamente, pelo réu.

Chamado a explicar-se diante da assembleia, o réu segredou passar por dificuldades financeiras, motivo que o levara a transferir o dinheiro do condomínio vitimado para sua conta pessoal, e, pior, gastá-lo para cobrir dívidas de sua própria empresa. (Rodríguez, Victor Gabriel. Manual de Redação Forense, curso de linguagem e construção de texto no direito, 2ª Ed. –

Campinas: LZN Editora, 2004) Note-se que o autor do texto, satisfeito com a prova documental que resguarda sua afirmação principal, quis dar realce a esse fato, expondo-o desde logo. Outro exemplo: sustentação de um advogado de defesa no Plenário do Júri sobre seu cliente que assassinou outro homem devido a brigas, desavenças, ameaças de morte, etc. O advogado faz uma inversão da ordem cronológica dos fatos, narrando de início, o último fato – o evento criminoso – passando, em seguida, a voltar no tempo e expor o que sofria o réu.

Os fatos sob o ponto de vista do narrador:

Em algumas petições, o julgador dá maior atenção à narrativa dos fatos do que a persuasão referente ao direito. Elementos informativos que ocorreram com o personagem réu, no momento do fato delituoso. O bom narrador seleciona elementos da realidade que conduzem o interlocutor a um ponto de vista que ele pretende demonstrar.

Utiliza elementos aparentemente informativos, mas que, na verdade, são argumentos diluídos no texto.

Em um texto evidentemente narrativo está presente a transformação no espaço e no tempo, buscando informar ao ouvinte sobre tais fatos. Mas, por ser criação do intelecto humano, a narrativa assume um ponto de vista que parte de seu autor e é construída a partir da interpretação pessoal. Tal interpretação é tida como uma tese a ser comprovada pela argumentação.

Ao construir uma narrativa, o enunciador transforma os elementos linguísticos, selecionando da realidade os fatos mais importantes para o fim pretendido.

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Ex: narrador esportivo de rádio – é o ponto de vista do narrador esportivo que constrói o percurso dos fatos que os ouvintes “visualizam”.

O bom narrador seleciona os elementos da realidade que conduzem o interlocutor a um ponto de vista que ele pretende demonstrar.

Por ter um vínculo estreito com o processo, não pode se afastar da verdade, mas defenderá a sua tese.

Ex: conturbação mental do autor do crime, que, por estar apaixonado, terá uma reprovabilidade menor. Tese que não pertence à narrativa, mas ficará sedimentada nela. ALGUMAS OUTRAS PEÇAS PROCESSUAIS: - Denúncia - Contestação - Recurso - Parecer - Querela - Auto - Providência - Sentença - Executória - Exorto - Mandamento - Ofício - Notificação - Citação - Requerimento - Testemunho - Escritura Pública - Ata Notarial